BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO DE ONDAS – BARREIRAS – BA: A ANÁLISE SÓCIO- AMBIENTAL E SABERES POPULARES Evanildo Santos Cardoso Doutorando em Geografia da Universidade Federal de Goiás [email protected] Maria Geralda de Almeida Profa. do curso de Pós-graduação em Geografia da Universidade Federal de Goiás [email protected] Resumo As bacias hidrográficas cada vez mais se consolidam como unidades de estudo geográfico na medida em que reúnem uma série de elementos humanos e físicos da paisagem. Neste trabalho o enfoque é dado ao conhecimento popular das comunidades que vivem no entorno da Bacia do Rio de Ondas em Barreiras – e ainda destaca as principais formas de uso e ocupação. A região do Oeste Baiano nos últimos vinte anos com a introdução de técnicas agrícolas modernas tem absorvido uma elevada carga de pressão sobre seus recursos naturais e transformado aos poucos os valores culturais. Para a análise e esclarecimento dessa situação, neste trabalho, se revelam como categorias geográficas a paisagem, o território e a territorialidade. Estas definem e proporcionam um arcabouço teórico- metodológico para a compreensão dos processos dinâmicos em bacias hidrográficas. Espera-se contribuir com a preservação da cultura que possui íntima relação com a natureza e sua Biodiversidade. Palavras-chave: Rio de Ondas, saberes populares, paisagem.

Abstract The river basin is increasingly consolidated as geographic units of study in that meet a series of physical and human elements of the landscape. In this work the focus is given to the popular knowledge of the communities living around the Basin in Rio de Ondas Barreiras - Bahia and also highlights the main ways to use and occupation. The region of western Bahia in the last twenty years with the introduction of modern agricultural techniques have absorbed a high load of pressure on its natural resources and turned to the few cultural values. For the analysis and clarification of the situation in this paper, we show how the landscape category, territory and territoriality, which define and provide a theoretical and methodological framework for the understanding of dynamic processes in river basins. Is expected to contribute to the preservation of the culture that has close relationship with nature and its biodiversity. Keywords: Rio de Ondas, popular knowledge, landscape.

Introdução

A bacia hidrográfica do Rio de Ondas drena terrenos sedimentares dos municípios de Barreiras e Luís Eduardo Magalhães. Os dois municípios se destacam como pólos agroindustriais do Oeste Baiano. (FIGURA 1) As nascentes do Rio de Ondas se encontram no chapadão da Serra Geral de Goiás e drena oeste baiano sendo o principal deles o Rio das Pedras e ainda vários riachos. O Rio de Ondas alimenta vários aqüíferos e auxilia na subsistência da população ribeirinha e em várias outras atividades humanas, sejam econômicas, culturais, de lazer ou turístico, como a pesca, o extrativismo vegetal e mineral. Neste estudo os saberes populares respalda-se na cultura ecológica das populações tradicionais. Estas dão outro sentido à natureza, como será destacado mais adiante, cujo conhecimento da flora, fauna e solo e seus diversos usos estão relacionados com a preservação e conservação do Cerrado. Este manejo tradicional da natureza perde, aos poucos, espaço para atividades mais modernas que requerem sofisticação e economia de tempo e insumos. As práticas tradicionais no uso dos recursos naturais acabam por serem incorporadas ou adaptadas no processo biotecnológico que está se desenvolvendo em regiões do agronegócio1. No oeste baiano as formas modernas de produção agrícola têm produzido outro cenário na medida em que intervém na paisagem natural e cultural com o uso de fertilizantes, tratores, colheitadeiras, sementes selecionadas dentre outros insumos. Este estudo lança um olhar à Biodiversidade do Cerrado Baiano e entende que para preservá-la é necessário respeitar os saberes acumulados por várias gerações.

FIGURA 1: Localização da região de estudo. Fonte: Elaboração dos autores, 2009

Material e Métodos A unidade de análise escolhida é a paisagem da bacia hidrográfica do Rio de Ondas, principal recurso natural do município de Barreiras tanto no que diz respeito à recreação, abastecimento e à

1 Discussão presente na pesquisa de Doutorado em Geografia da UFG e do projeto: Apropriação do Território e Dinâmicas Socioambientais no Cerrado: Biodiversidade, Biotecnologia e Saberes Locais. UFG/Instituto de Estudos Sócio- Ambientais/IESA e IRD-França - 2008-2010. produção de energia. A transformação na/da bacia principalmente para o agronegócio tem modificado sensivelmente a diversidade ecológica e cultural do Cerrado.

Neste estudo, se quer iniciar um debate não somente em relação às águas e sua utilização mas também sobre o discurso da Biodiversidade. A valorização do natural expressa-se como uma necessidade do capital em se (re)significar. Na compreensão de Almeida (2003) as florestas, as matas, manguezais, cerrado e caatinga são incorporados no discurso como fontes primárias de matéria-prima que se deve preservar ao máximo. Quando a natureza é reinventada, como nessa situação, sinaliza que algo está sendo destruído e novos conceitos são criados. O termo Biodiversidade possui muitos significados, com uma visão ainda tradicional, existem idéias e concepções de geógrafos e antropólogos. O entendimento destes está focado na diversidade genética e populacional das espécies animais e vegetais. Para os agrônomos e economistas a biodiversidade é um cenário, um território perfeito para a produção agrícola, ou seja, apenas um celeiro. Para o mercado mundial de drogas e, principalmente para a indústria farmacêutica a Biodiversidade é uma mina de faturamento anual. Para os povos tradicionais biodiversidade é natureza carregada de significados simbólicos. Mesmo com essa constatação Almeida (2003) destaca que os povos tradicionais ainda não perceberam a importância do seu conhecimento sobre a biodiversidade que pode levar à melhoria da qualidade de vida. No oeste baiano a cultura do modo de explorar os recursos naturais é antigo, na fabricação de artefatos e produtos artesanais da palmeira do buriti, na extração do barro nas planícies dos rios, na cerâmica e no couro. Na culinária se destacam os doces das frutas do Cerrado enquanto que nas festas religiosas como a do divino, de São João e de Iemanjá demonstram o sincretismo religioso da região. O mercado através da agroindústria possui um conceito diferenciado dessa Biodiversidade o qual passa pela idéia de melhoramento genético dos cultivos, correção dos solos e variedade de sementes que se adaptem às características ambientais adversas do Cerrado. Diante da agressividade da expansão do agronegócio é de se crer que as populações tradicionais por sua vez estão perdendo para o agronegócio o Território que lhes permite explorar, conviver e conservar a natureza e sua biodiversidade. Antes de avançar na apresentação de resultados, a região estudada precisa de uma maior investigação quanto aos sistemas ambientais para compreender os fluxos de matéria, energia e informação capazes de dar subsídios à compreensão das alterações no ambiente. Estão sendo realizados a coleta de dados pluviométricos, hidrográficos, pedológicos e visitas às agências locais do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), SRH (Secretaria de Recursos Hídricos), IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) e CRN (Centro de Recursos Naturais) para compreender as atuações em relação ao meio ambiente e às populações tradicionais. A produção agrícola, presente em censos agropecuários, da EBDA (Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola) bem como na AIBA (Associação de Irrigantes de Barreiras), demonstram que a região continua obtendo uma elevada produção de carne bovina mas principalmente de grãos, e também de algodão. Dados sócio-demográficos e ambientais estão sendo pesquisados junto aos órgãos públicos municipais como Secretaria de Saúde, de Infraestrutura e de Meio Ambiente e os dados sócios econômicos na SEI (Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia). As visitas à Ongs como a AMINA (Amigos da Natureza), Instituto Mulher Melhor, Bioeste e a Agência 10senvolvimento possuem o objetivo de identificar a relação delas com o Cerrado e a população tradicional. Com o andamento da pesquisa pretende-se realizar um mapeamento da Biodiversidade no município citado focando as áreas de Cerrado e a Bacia do Rio de Ondas com enfoque no manejo sustentável das comunidades tradicionais. Segundo o Programa Nacional de Conservação e Uso Sustentável do Cerrado (2006) os principais problemas socioambientais do Bioma Cerrado recaem sobre o meio biológico; o meio físico; a ordem social e econômica; e a ordem político-institucional. Na ordem social e econômica chama a atenção a perda da base territorial das populações tradicionais e restrições às suas dinâmicas socioambientais (destruição, exaustão ou criação de barreiras para o uso de recursos naturais essenciais para a sua sobrevivência). É um desafio descobrir, na pesquisa, esses povos em meio aos “sertões” do Cerrado pois são agentes conhecedores de uma cultura da natureza ameaçada de extinção. Sobre esses povos e seu conhecimento Leff (2006, p.160) identifica neles um saber ambiental que foge da racionalidade científica: “O ambiente não é o meio que circunda as espécies e as populações biológicas; é uma categoria sociológica (e não biológica), relativa a uma racionalidade social, configurada por comportamentos, valores e saberes, bem como por novos potenciais produtivos.” Nos chama a atenção que nas áreas sujeitas ao setor agroexportador a racionalidade economicista predomina sobre a racionalidade ambiental. As críticas ao modelo de desenvolvimento econômico nas cidades do agronegócio2 como Barreiras recaem sobre a sociedade moderna que fomenta uma rede de poder cuja terra não é somente bem natural, mas também de capital.

2 Conceito adotado por Elias e Pequeno (2006) Resultados e Discussões

Por meio da miscigenação entre portugueses, índios e negros a cultura no oeste baiano se evidencia na relação com a natureza, nos ritmos, e costumes embora tenha havido um aumento significativo da população. Este fato associado com a produção agrícola acelera a urbanização e a assimilação de outros valores culturais. Os múltiplos significados que o Cerrado possui, inclusive para a agricultura agroexportadora, são característicos de um território disputado e muito complexo. De acordo com o QUADRO 01 parte da diversidade de espécies do Cerrado é utilizada em muitos fins principalmente pela população tradicional. O Território onde se materializa essa manifestação corre o risco de se fragmentar e impedir que essas comunidades explorem, convivam e mantenha a riqueza da natureza. Essa preocupação, na verdade, tem possibilitado a identificação da cultura ecológica em regiões do Cerrado, e, no oeste baiano, esta cultura está envolta de um caráter econômico que tenta fragmentar os povos tradicionais, o que é um erro com graves proporções.

QUADRO 1: Espécies vegetais do Cerrado e seus principais usos na Bacia do Rio de Ondas Espécie Nome vulgar Usos Achyocline macela Medicinal e ornamental satureoides Annona classiflora araticum Alimentício, medicinal Hancornia speciosa mangaba Alimentício, medicinal, ornamental, laticífero Mauritia flexuosa buriti Alimentício, artesanal, medicinal, ornamental, oleaginoso, tanífero

Byrsonima murici Alimentício, aromático, medicinal verbascifolia Hymenaea jatobá Alimentício, indústria de verniz, stigonocarpa madeireiro, medicinal, tintorial Calliandra dysantha Flor do cerrado Medicinal e ornamental Inga alba ingá Alimentício, ornamental Tapirira guianenses pau pombo Madeireiro, melífero, ornamental. Fonte: Trabalho de campo de CARDOSO, E.S em maio de 2008.

O conhecimento dessas plantas leva a descoberta e tratamento de doenças, alguns frutos são ainda alimentícios e outros usados para ornamentar ambientes. O uso de remédios extraídos das plantas do Cerrado é tradicional, e esses povos ainda fabricam produtos a partir de várias espécies. (QUADRO 2) QUADRO 2: Produtos criados por comunidades no Oeste Baiano COMUNIDADES MUNICÍPIOS PRODUTOS

Beradeiras do Rio de capim dourado, buriti, , jatobá, Barreiras Janeiro tamboril, mulungu, babatimão e mucanã.

Encanto dos palha de buriti, palha de taboa, semente Barreiras Quilombos dos cerrados.

Produtores de milho e palha de milho, palha de carnaúba e beradeiras do Rio Wanderley sementes de jatobá e tamboril. Grande. Beradeiras do Rio capim dourado, buriti, buritirama e Arrojado outros. Quebradeiras de Baianópolis palha e do Endocorpo de Babaçu. Babaçu Beradeiras do Rio São palha da carnaúba e sementes de jatobá Barra Francisco e tamboril. palha de taboas e sementes dos Agricultura familiar Santana Cerrados. Luís Eduardo Muriçoca capim dourado. Magalhães Luís Eduardo buriti, capim dourado, buritirama, jatobá, Encantos da Caliandra Magalhães tamboril e mucunã.

Fonte: Trabalho de campo, CARDOSO,E.S, maio de 2008.

A venda desses produtos naturais está sendo, aos poucos, organizada em associações de artesãos que os vendem em feiras agropecuárias e em quiosques no Centro das cidades de Barreiras e Luís Eduardo Magalhães.

Mas, mesmo com essa iniciativa por um lado, vê-se a diminuição da vegetação natural por outro quando, o desmatamento, a compactação e assoreamento de rios impactos provocam uma perda de valores culturais. Isso leva a uma desorganização comunitária, política e de fragmentação do sentimento de pertencimento ao lugar. É de conhecimento que a expansão da monocultura da soja nesses ambientes vem favorecendo a balança comercial brasileira, mas está afetando sensivelmente este ecossistema e as populações locais fato que representa a perda do conhecimento acumulado ao longo dos anos.

O quadro que se encontra também no entorno da cidade de Barreiras é a vegetação alterada cujo estágio de conservação natural tem sido submetido à grande pressão urbana registradas pelo crescimento imobiliário e de estradas. Há, no entanto, vegetação fechada ao longo das planícies dos rios como também de matas ciliares em sua maioria do médio ao alto curso e de matas galerias incluindo também as veredas. Os estudos na Bacia do Rio de Ondas abrangem as formas de uso e ocupação e os inúmeros conflitos de uso não somente em relação à irrigação para agricultura mas também para a ocupação por chácaras às margens do rio. Exemplos são inúmeros dados de degradação do Cerrado baiano para dar lugar à pastagem e ao cultivo de grãos. Tal acontecimento vem ao longo da década de 1980 impulsionando a economia da região e transformando a paisagem natural e os costumes. (FIGURA 2)

FIGURA 2. Expansão da agricultura sobre o Cerrado em LEM - análise anual.

Fonte: Santos e Epiphafanio, 2009.

Observa-se que o Cerrado dos municípios de Barreiras e Luís Eduardo Magalhães (LEM) em vinte e dois anos sofreu uma supressão de 201.702,7 ha. As reservas legais foram fortemente afetadas como também as áreas de preservação permanente. Santos e Epiphanio (2009) concluíram que houve na região uma certa estabilidade na expansão de novas áreas devido ao maior uso de modernas técnicas agrícolas do que preocupação com as áreas de proteção ambiental. Essa situação está intimamente ligada com a diminuição dos saberes populares sobre a biodiversidade do Cerrado. Em uma escala curta de tempo foi eliminada parte da herança ecológica do Cerrado baiano. Sendo assim, efeitos negativos têm caracterizado a região. Os campos Cerrados são substituídos pelos campos de soja. A migração para a cidade tem sido um acontecimento freqüente em regiões do agronegócio, pois o campo passa por um processo intenso de modernização. Engordam, assim, as cidades e nelas se intensificam as desigualdades sociais. Para Almeida (2003) esta espetacular exuberância do Cerrado transforma-o em um dos hots pots de biodiversidade do planeta, ou seja, uma das zonas de grande diversidade biológica que não está protegido como deveria, devido à intensa intervenção humana pela agricultura. No desenvolvimento da pesquisa as investigações que se baseiam no histórico de ocupação da região demonstram uma reestruturação espacial que se reflete nessas relações sociais. Foram detectados pelo menos três momentos na história recente que identifica as principais mudanças na ocupação da terra do oeste baiano, são eles:

1º momento - Até 1970

Predomínio da Pecuária, extrativismo e pesca.

2º momento - 1970 a 1980

Migração, Investimento através de crédito agrícola e correção do solo.

3 º momento - 1980 aos dias atuais

Modernização, intensificação da correção do solo (fertilizantes), definição do agronegócio, melhoramento genético.

Atuação de grandes empresas transnacionais: Bunge, Cargil.

Diversidade de culturas agrícolas: soja, cana, algodão, café, trigo, sorgo, milho e frutas.

Aumento da densidade demográfica e da proletarização.

Perda da Biodiversidade.

Esses períodos demarcam objetivamente as etapas que foram determinantes para a implantação hoje do complexo quadro sócio-ambiental. Há, na verdade, uma estrutura produtiva que dificulta o exercício pelas comunidades tradicionais de seus hábitos e costumes. Estas vêm se adequando ao novo modo de produção capitalista e exercendo outras funções no mercado de trabalho.

Os operários de hoje que trabalham na construção civil na cidade foram os agricultores de tempos passados. O Território anteriormente vivido por estes trabalhadores era o da roça de milho e de feijão, a pesca e a criação de gado. Submetem-se, enfim, a um ritmo de transformação espacial que nega as suas raízes. Viram proletários e submetidos a uma lógica do tempo no capital para obterem seu sustento. Diniz em 1982 já registrava que a subárea de Barreiras alcançou o status de capital do oeste baiano, através da agricultura e do crescimento demográfico.

Na verdade, as causas principais foram o baixo preço da terra e a facilidade de financiamento dessas culturas e ainda são, nos dias atuais. Esses fatores são essenciais para compreender o impacto gerado pela expansão agrícola, modificando a cultura, os ecossistemas e a economia local. Mesmo assim, levas de migrantes ainda se vêem atraídos pelas supostas oportunidades desse setor agrícola e muitos vêm de longe, do sul, mas principalmente, de outros estados nordestinos. As mudanças estruturais no município de Barreiras para a “capital” do oeste baiano tem atraído também parte da população trabalhadora de outros municípios vizinhos como , São Desidério e Santa Rita de Cássia. A Bacia do Rio de Ondas reflete de certa forma, essa situação e necessita de um ordenamento territorial quanto a sua utilização com a participação de vários setores governamentais e não governamentais. A adoção da bacia como uma unidade de paisagem permite que se planeje o desenvolvimento estratégico e social do Oeste Baiano. É preciso que esse planejamento leve em conta a cultura local sobre a Biodiversidade do Cerrado fator este importantíssimo para sua preservação, além da limitação de novas áreas de expansão agrícola com zoneamento ambiental. A visão cultural e ecológica pode estabelecer metas em planos de gestão ambiental do Oeste Baiano. A busca pela organização e consciência individual e comunitária relativas ao uso e ocupação da bacia do Rio de Ondas no Comitê da bacia do Rio Grande é uma outra perspectiva. Esses comitês na visão de Menezes (2008) correm o risco de afastamento do cidadão local e a atração, para o interior dos comitês, dos mesmos velhos atores do cenário eco-político: a tecnocracia de esquerda do Estado, os políticos varejistas dos municípios, a tecno-burocracia das concessionárias de água e energia, a militância voluntarista de ONGs – viciadas na perspectiva da fiscalização e denúncia, com pouca ou nenhuma inserção e representividade social, além dos representantes do poder econômico dominante (grandes indústrias, mineradoras, monocultoras etc.). A eleição do Comitê de Bacia do Rio Grande, maior afluente da margem esquerda do Rio São Francisco, há poucos meses é um passo importante para a discussão e efetivação de um manejo que seja sensível à cultura local e menos aos grandes projetos. Em muitos comitês de bacias não se tem discutido os problemas dos conflitos de uso e a lei das águas acaba por não ter função. Este é o momento, no século XXI, de proporcionar novos olhares com participações efetivamente descentralizadas da sociedade de Barreiras e em todo oeste baiano. A visão ampla e, portanto, complexa do entorno da Bacia do Rio de Ondas é pré-requisito essencial para adotá- la como unidade de paisagem nos estudos ambientais. Por fim, a compreensão de natureza que está senso construída absorve a abordagem sistêmica, complexa, pelo que produz de meio ambiente nos estudos geográficos. As paisagens possuem diferentes conceitos e definições e para que o trabalho fosse realizado procurou-se destacar os conflitos existentes que têm levado as mesmas a perderem suas qualidades não somente estéticas mas também sócio-ambientais.

Conclusões

O conhecimento popular sobre a natureza nos apresenta uma excelente possibilidade de proteção da Biodiversidade. Se não fosse o manejo tradicional no uso das águas, solo, flora e fauna, possivelmente a porcentagem de supressão e degradação dos recursos naturais no Cerrado Baiano seria bem maior. A bacia do Rio de Ondas pelos estudos que estão sendo feitos tem revelado sintomas da exploração intensa de todo conjunto da paisagem que a caracteriza. Quando se pensa em progresso muitas vezes a associação se faz apenas com o aumento da produtividade e não com a qualidade de vida da população tradicional. A cultura, as manifestações, as crenças e os valores são deixados de lado como conhecimento inferior. O oeste baiano expressa sua riqueza no agronegócio mas este não é a única fonte de “progresso”. Na verdade existem várias vertentes que não são mensuráveis pois a cultura ecológica requer outros paradigmas, outras visões de natureza e de conhecimento. Ao pensar dessa forma surge a necessidade de identificação de territórios novos escondidos pela visão mecanicista da natureza.

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