VI CONGRESSO INTERNACIONAL DE ESTUDOS LINGUÍSTICOS E LITERÁRIOS DA AMAZÔNIA CADERNO DE RESUMOS

ESTUDOS LITERÁRIOS

Belém – PA 2018

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

Prof. Dr. Emmanuel Zagury Tourinho Reitor

Prof. Dr. Gilmar Pereira da Silva Vice-Reitor

Prof. Dr. Edmar Tavares da Costa Pró-Reitoria de Ensino e Graduação

Prof. Dr. Rômulo Simões Angélica Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação

Prof. Dr. Nelson José de Souza Júnior Pró-Reitoria de Extensão

João Cauby de Almeida Júnior Pró-Reitoria de Administração

Raimundo da Costa Almeida Pró-Reitoria de Desenvolvimento e Gestão de Pessoal

Raquel Trindade Borges Pró-Reitoria de Planejamento

Profa. Dra. Maria Iracilda da Cunha Sampaio Pró-Reitoria de Relações Internacionais

INSTITUTO DE LETRAS E COMUNICAÇÃO Profa. Dra. Walkyria Alydia Grahl Passos Magno e Silva Profa. Dra. Thomas Massao Fairchild

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LETRAS Profa. Dr. Sidney da Silva Facundes Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Letras

Prof. Dr. Carlos Augusto Sarmento-Pantoja Vice-Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Letras COMISSÃO ORGANIZADORA

Prof. Dr. Sidney da Silva Facundes Prof. Dr. Thomas Massao Fairchild Prof. Dr. Carlos Augusto Nascimento Sarmento-Pantoja Prof. Dr. Carlos Henrique Lopes de Almeida Profa. Dra. Fátima Cristina da Costa Pessoa Profa. Dra. Maria de Fátima do Nascimento Profa. Dra. Marília de Nazaré de Oliveira Ferreira Profa. Dra. Tânia Maria Pereira Sarmento-Pantoja Profa. Dra. Alinnie Oliveira Andrade Santos Profa. Ms. Alline Araújo Costa Profa. Ms. Fabíola Azevedo Baraúna Prof. Ms. Francisco José Corrêa de Araújo Profa. Ms. Jaqueline Andrade Reis Profa. Ms. Márcia do Socorro da Silva Pinheiro Profa. Ms. Tereza Tayná Coutinho Lopes Allan Rodrigo Farias Alves Amanda Medeiros Costa de Mesquita Amanda Gabriela de Castro Resque Gabriela de Andrade Batista Helena do Socorro Damasceno Palheta Borges Jeane Barros de Barros Jeniffer Yara Jesus da Silva José Adauto Santos Bitencourt Filho Larissa Wendel Afonso de Lima Natali Nóbrega de Abreu Rayssa Rodrigues da Silva Sheyla da Conceição Ayan Thalisson Assis do Espírito Santo

COMITÊ CIENTÍFICO

Ana Cristina Marinho (UFPB) Antônia Alves Pereira (UFPA) Aroldo José Abreu Pinto (UNEMAT) Carlos Augusto Nascimento Sarmento-Pantoja (UFPA) Carlos Henrique Lopes de Almeida (UNILA) Daniel Serravalle de Sá (UFSC) Dante Lucchesi (UFF) Eduardo Alves Vasconcelos (UNIFAP) Francisco Bento da Silva (UFAC) Humberto Hermenegildo de Araújo (UFRN) José Carlos Chaves da Cunha (UFPA) Márcia Cristina Greco Ohuschi (UFPA) Marco Antonio Rocha Martins (UFSC) Maria da Glória Corrêa di Fanti (PUC-RS) Maria de Fátima do Nascimento (UFPA) Marília de Nazaré de Oliveira Ferreira (UFPA) Marília Fernanda Pereira de Freitas (UFPA) Marília Lima Pimentel Cotinguiba (UNIR) Sidney da Silva Facundes (UFPA) Socorro de Fátima Pacífico Barbosa (UFPB) Stella Virgínia Telles de Araújo Pereira Lima (UFPE) Tânia Maria Pereira Sarmento-Pantoja (UFPA) Thomas Massao Fairchild (UFPA) Viviane Dantas Moraes (UFMA) Walkyria Alydia Grahl Passos Magno e Silva (UFPA) APRESENTAÇÃO

É com grande alegria que a Comissão Organizadora apresenta este Caderno de Resumos do VI Congresso Internacional de Estudos Linguísticos e Literários da Amazônia (VI CIELLA), com data de realização de 5 a 9 de novembro do ano de 2018, na Universidade Federal do Pará (UFPA). Nossa alegria está no fato de termos tido a coragem de realizar esse evento e contarmos com um público cativo que nos encaminhou seus trabalhos, em um momento tão delicado para as Ciências de modo em geral, e bem mais sensível para todos os que estão arrolados em ramos das Humanidades, na perspectiva política de nosso país. Em 2018, o CIELLA – que é um evento do Programa de Pós-graduação em Letras da Universidade Federal do Pará – completa 12 anos de realizações. Nesse tempo, nosso Congresso se consolidou, na Região Norte, no Brasil e mesmo internacionalmente, como um evento de qualidade. Por isso, a cada biênio, o Programa tem sido desafiado a realizar um congresso cada vez melhor. O presente Caderno de Resumos contabiliza 291 resumos de Estudos Linguísticos e 228 de Estudos Literários, em suas mais diversas subáreas e interfaces. São trabalhos teóricos e aplicados que serão apresentados ou em Simpósios Temáticos, ou como Comunicações Individuais. Esses textos seguem organizados em ordem alfabética, considerando-se o primeiro nome do primeiro autor. Desejamos que esse Caderno estimule a curiosidade de nossos congressistas, pesquisadores, estudantes de pós-graduação e de graduação, bem como dos ouvintes e que, de posse dos resumos, todos e todas assistam aos trabalhos interessantes aqui contidos. Com apreço,

A Comissão Organizadora do Caderno de Resumos do VI CIELLA. ESTUDOS LITERÁRIOS

COMUNICAÇÕES EM SIMPÓSIOS

OLHOS RASOS D’AGUA: MELANCOLIA E DEPRESSÃO NA LITERATURA MODERNA

Álvaro Jardel Conceição Santos De Oliveira (UFPA) Luís Heleno Montoril Del Castillo (UFPA) Marlí Tereza Furtado (UFPA)

Resumo: O trabalho pretende numa perspectiva comparada compreender a depressão e a melancolia a partir da vivência dos personagens protagonistas de literaturas modernas a saber, respectivamente: os romances Chove nos Campos de Cachoeira de Dalcídio Jurandir (1941;1997) e Encontro das Águas de Sylvia Aranha de Oliveira Ribeiro (1998; 2011) e o livro de contos Olhos D’Agua de Conceição Evaristo (2016). A ideia é realizar uma análise comparada das diferenças sentidas entre melancolia e depressão apontadas pelas personalidades e vidas das personagens protagonistas, bem como, o sentimento de esperança/desesperança, a experiência do tempo, os lugares que ocupam, a relação com o outro, os conflitos e as luzes que carregam consigo. Um argumento central a ser desenvolvido é que melancolia e depressão são fronteiras da existência humana oriundas, sobretudo, com a emergência radical dos processos modernos, da constituição do sujeito moderno e seus dramas. Tal contexto é possível verificar nos mundos que a literatura cria a partir do romanceiro moderno onde a individualidade dos personagens e seus processos de subjetivação se articulam com os contextos maiores passando pela cultura e sociedade até a elaboração de uma outra história centrada nas experiências e olhares desses protagonistas, reafirmando assim, a coletividade de alguns processos sociais vividos entre a região e nação.

Palavras-chave: Literatura moderna, melancolia, depressão.

MEMÓRIAS DA DITADURA NO PARÁ E O TESTEMUNHO DE PAES DE LOUREIRO

Abilio Pacheco de Souza (UFPA)

Resumo: Annette Wieviorka em seu livro “The era of the Witness“ (A era do testemunho) considera a importância da criação dos arquivos de vídeo como o Yale Video Archive for Holocaust Testimonies para a memória mas também para “deixar o sobrevivente falar [...] como uma terapia social, a fim de restaurar conexões rompidas” (*). Além do Yale, também a Fundação Shoah considerou essencial “conservar a história como ela é transmitida para nós por aqueles que passaram por ela e conseguiram sobreviver” (*) (segundo Spielberg, criador da fundação). Do mesmo os testemunhos sobre a ditadura militar nos países do cone sul (incluindo o Brasil) têm esses compromissos em foco, de modo a cooperarem para o “tribunal da História”. Imbuído de igual disposição, foi desenvolvido no Pará, o projeto “A UFPA e os Anos de Chumbo: memórias, traumas, silêncios e cultura educacional (1964-1985)” organizado pela professora Edilza Fontes, que entrevistou 48 pessoas envolvidas na luta contra o Governo Militar e que sofreram “constrangimentos e violações de direitos” naquele momento de modo que suas trajetórias de vida sofreram significativa mudança de rota. Nesta comunicação, pretendemos análise o testemunho do professor João de Jesus Paes Loureiro que em fins de Março de 1964, era um jovem estudante universitário e poeta estreante (em março de 64, estaria lançando seu livro “Tarefa” com

7 poemas de temática social). Além do testemunho gravado em vídeo, também iremos proceder a leitura de seu romance “Café Central” publicado em 2011, no qual o autor narra o período correspondente aos dias que antecederam o golpe no Pará e o que lhe aconteceu no período do imediato pós-golpe de 1964. (*) (tradução nossa)

Palavras-chave: literatura de testemunho, literatura comparada, literatura amazônica, literatura e história, narrativa de resistência

A TRAJETÓRIA DE CONSAGRAÇÃO PERIÓDICA DE PAULINO DE BRITO NA IMPRENSA BELENENSE OITOCENTISTA

Alan Victor Flor da Silva (UFPA)

Resumo: Paulino de Almeida Brito (1858-1919) nasceu em Manaus, capital da província do Amazonas, mas radicou-se em Belém, capital da província do Pará, onde se tornou uma figura de relevo e prestígio tanto no âmbito da imprensa periódica quanto no domínio da literatura. O escritor e jornalista amazonense colaborou para diversos periódicos que circularam pela capital paraense durante as duas últimas décadas do século XIX, a exemplo do Diário de Belém, A Província do Pará, A Arena, Diário de Notícias, O Abolicionista Paraense, entre outros. Dedicou-se ainda à produção de versos e prosa de ficção. Entre os seus trabalhos mais aclamados pela crítica divulgada em periódicos, consta “O homem das serenatas”, romance lançado no início de 1882, em regime seriado, no rodapé das páginas do Diário de Belém. Além de jornalismo e escritor, também foi professor, advogado, gramático e político. Em meados da penúltima década do Oitocentos, Paulino de Brito já havia se tornado um nome mencionado com frequência nas páginas de periódicos belenenses oitocentistas. O Diário de Belém, por exemplo, divulgou quase todos os passos do escritor amazonense, não apenas em relação à publicação de suas obras tanto em periódicos quanto em livro, como também em relação à sua aparição em eventos artístico-literários e políticos, às suas palestras a favor da causa abolicionista, às suas viagens, entre outros. Desse modo, objetivamos, com este trabalho, traçar a trajetória de consagração periódica de Paulino de Brito em Belém com o intuito de compreendermos como esse autor tornou-se uma figura renomada na capital paraense do final do século XIX.

Palavras-chave: Paulino de Brito, processos de canonização, periódicos, século XIX, Belém.

A REPRESENTAÇÃO DA MULHER AMAZÔNIDA EM CHOVE NOS CAMPOS DE CACHOEIRA, DE DALCÍDIO JURANDIR

Alberto de Barros Molina (UNIR) Maria de Fátima Castro de Oliveira Molina (UNIR)

Resumo: Analisar a representação da mulher amazônida na obra Chove nos campos de Cachoeira (1941), de Dalcídio Jurandir constitui a proposta central de investigação inicial deste projeto de estudo. A proposta de pesquisa apresentada por meio deste projeto envereda por um caminho de tessituras, cujos fios buscam desvelar nos teares de uma literatura produzida no contexto regional amazônico a representação da mulher que

8 em meio à opressão, consegue constituir-se como sujeito capaz de superar e transgredir as amarras e enquadramentos impostos pela sociedade. O aporte teórico utilizado tem suas bases de sustentação constituída a partir das concepções de João de Jesus Paes Loureiro, Antônio Candido, Wlli Bolle e Benedito Nunes. Em consonância com os objetivos propostos para o desenvolvimento da pesquisa, o percurso metodológico adotado é centrado na pesquisa exploratória bibliográfica a partir um estudo analítico sobre a construção da personagem Amélia em relação as outras personagens femininas do romance. A dimensão estética que constitui o romance Chove nos campos de Cachoeira apresenta fortes traços de crítica social revestidos de elementos de composição da narrativa, cuja trama tem o potencial de engendrar na construção de cenários e na constituição da personagem Amélia, questões sociais ligadas ao cotidiano da vida amazônica.

Palavras-chave: Amazônia, mulher, literatura, representação.

A UNIDADE FICCIONAL DE CONTOS AMAZÔNICOS, DE INGLÊS DE SOUSA

Alex Santos Moreira (UFPA)

Resumo: A coletânea "Contos Amazônicos" (1893) é a última obra de ficção do paraense Inglês de Sousa (1853-1918). Esse conjunto de contos movimenta-se entre histórias cujo foco é o sobrenatural e histórias nas quais prevalece a crítica a exploração do homem pelo homem, à violência dos mais fortes sobre os mais fracos e as consequências do imaginário dos habitantes do interior da Amazônia com todos os seus problemas sociais. A tessitura dessa obra de Inglês de Sousa, por meio de conectores da narrativa, apresenta narradores interligados que fazem o revezamento na contação das histórias. Contudo, o funcionamento da obra é articulado por um narrador central, cuja principal característica é pertencer ao mundo letrado, distinguindo-se de outros narradores pertencentes à tradição popular amazônica. Dito isso, o presente trabalho objetiva evidenciar a unidade ficcional dos Contos Amazônicos como uma contundente crítica à realidade de abandono, violência e miséria do homem amazônico no século XIX.

Palavras-chave: Contos Amazônicos, Inglês de Sousa, literatura brasileira; ficção amazônica

A MAQUINARIA DISTÓPICA EM 1984

Alline Araujo Costa (UFPA) Tânia Maria Sarmento-Pantoja (UFPA)

Resumo: O trabalho objetiva considerar a constituição do protagonista no romance analisado, percebendo que o contexto distópico é basilar para discutir a constituição resistente dele, pois entendemos que desde a infância é possível notar que o mesmo já se encontra inserido em um universo violento e amplamente tocado pelos moldes da repressão revolucionária. Deste modo, é possível perceber que 1984, a obra analisada, apresenta características pontuais no que tange o formato da estrutura social de exceção,

9 na forma da governabilidade totalitária. Por meio do romance visamos problematizar diversos campos no âmbito da distopia, nessa perspectiva do totalitarismo, como, a anulação do indivíduo, o controle das mentes e pensamentos, o controle social e a eliminação da diversidade. Com a finalidade de fundamentar o texto proposto apresentamos as teorias de: Hanna Arendt, Origem do Totalitarismo; Giorgio Agamben, Homo Sacer: o poder soberano e a vida nua I; Aleida Assmann, Espaços da recordação: formas e transformações da memória cultural; , Narrativa e Resistência; , e M. Keith Booker, The Dystopian Impulse Modern Literatura.

Palavras-chave: Distopia, Totalitarismo, Resistência, Infância, Exceção

GÊNESE IMATERIAL DA POESIA DE LUIZ BACELLAR

Allison Leão (UEA)

Resumo: Esta comunicação pretende expor dados e conclusões obtidos durante a consecução do projeto “Estudo sobre uma poética da repetição: Frauta de barro, de Luiz Bacellar”, desenvolvido entre 2015 e 2017, no âmbito do Programa de Pós-graduação em Letras e Artes da UEA. Durante essa pesquisa buscamos compreender que sentidos haveria no procedimento de reedição de uma mesma obra, sempre em diferença, uma vez que ela teve sete edições, todas com variações, superficiais e profundas. No decorrer do projeto, levantamos vários aspectos que estruturam, como conteúdo e forma, a obra de Bacellar, tais como a extensa biblioteca haurível na leitura dos poemas, as diversas fontes interartísticas e os vários estilos poéticos revistos ao longo dos textos e os conteúdos da cultura popular que circularam dos espaços públicos (e populares) de enunciação para a obra. É curioso que, mesmo com todas as fontes verificadas pelo nosso projeto como estruturantes de Frauta de barro, seu autor não tenha deixado vestígios da criação – entendidos do ponto de vista tradicional da Crítica Genética: os prototextos, manuscritos, rascunhos, cartas, esboços, estudos em imagem etc. Assim é o que se sabe desde sua morte, em 2012. Porém, o que defendermos nesta comunicação é a ideia de que para uma obra nessas circunstâncias e com semelhantes fontes, especialmente as de caráter imaterial, os bastidores da criação devem ser rastreados também em outros campos, para além dos documentos de processo tradicionais. Assim, primeiramente elencaremos as fontes que nossos estudos encontraram no campo da produção cultural de natureza popular que serviram como uma das bases da composição de Frauta de barro (narrativas ou causos populares, cordel, espaços e práticas comuns à população mais simples da cidade etc.). Em seguida, ponderaremos o grau de inserção e que relações orgânicas esses conteúdos passaram a ter com a obra em questão.

Palavras-chave: Crítica genética, Poesia brasileira, Luiz Bacellar.

PERSONAGEM, FORMA-DE-VIDA.

André Piazera Zacchi (UFSC)

Resumo: Nas últimas linhas de Altíssima Pobreza (2014), Giorgio Agamben diagnostica que a ética e a política atuais estão aprisionadas por uma liturgia secularizada decorrente de um modelo ontológico operativo. Os monges franciscanos,

10 como resistência àquilo que normatiza a vida, propõem uma forma-de-vida: “a forma não é uma norma imposta à vida, mas um viver que, no ato de seguir a vida de Cristo, se dá e se torna forma” (111). Wittgenstein, nas Investigações Filosóficas, diz que os usos das palavras, os jogos da linguagem são formas-de-vida. Não há um conteúdo a ser dito por uma linguagem neutra, instrumental, aplicando uma regra prévia, mas apenas tais jogos que mostram a historicidade e a pura contingência da linguagem. Para ambos a questão não é o ser, mas modos do ser (Espinosa), enquanto potências de interromper a liturgia do espetáculo que roteiriza as vidas. Alguns personagens da literatura, a despeito de lugares ontológicos pré-fixados (o herói, o vilão, o malandro, o louco, etc.) e de funções narrativas pré-determinadas, vivem a pura contingência. Um conceito filosófico (forma-de-vida) e uma figura estética da literatura (personagem) coincidem para resistir à ontologia operativa, que reduz a literatura e a vida a modelos, períodos e tipos. Neste trabalho seleciono alguns personagens de Borges e de Edgardo Cozarinsky e procuro neles a força política das formas-de-vida.

Palavras-chave: Agamben, Wittgenstein, Forma-de-vida, Personagem, Cozarinsky

A PAISAGEM-LIMITE: O EROTISMO TRÁGICO NA PROSA DE

Andréa Jamilly Rodrigues Leitão (USP)

Resumo: O presente trabalho pretende interpretar as figurações do erotismo trágico na prosa de ficção de Hilda Hilst (1930-2004), especificamente no diálogo com Tu não te moves de ti (1980), A obscena senhora D (1982) e Com os meus olhos de cão (1986). Estas três obras estão reunidas em um volume intitulado Com os meus olhos de cão e outras novelas. Parte-se das formulações de Georges Bataille (2016, 2017) para compreender, sobretudo, a forte ligação existente entre o ímpeto erótico e a consciência da morte. A experiência vivida pelas personagens hilstianas as conduzem, no limiar do desconhecido, ao extremo do possível. A vastidão vertiginosa do não saber opera o desnudar-se de si e, ao mesmo tempo, traz voluptuosamente a angústia do não sentido. Entre o êxtase de uma revelação e o horror diante da envergadura abissal do ser, há um movimento de desnudamento em direção ao cerne da condição humana – ou melhor, à “espessa funda ferida da vida” – e do seu quinhão de animalidade. No confronto com os limites, a sua prosa é capaz de colocar em tensão e, por vezes, de reconciliar o sagrado e o profano, o divino e o carnal, o sublime e o grotesco, o apolíneo e o dionisíaco, o humano e o animal, a vida e a morte.

Palavras-chave: Erotismo trágico, morte, Hilda Hilst.

TEORIA DA LITERATURA: ADORNO (TEÓRICO FILÓSOFO) VERSUS BAKHTIN (TEÓRICO LITERÁRIO)

Andre Barbosa de Macedo (UFPA)

Resumo: As relações entre Filosofia e Teoria Literária iniciaram-se no longínquo período de afirmação das bases do pensamento ocidental na Grécia platônica e aristotélica – período para o qual o termo literatura configura, na verdade, um

11 reconhecido anacronismo, pois a literatura, tal como a compreendemos, constituiu-se nos tempos modernos. No século XX, constatamos que filósofos continuam a dedicar escritos à discussão teórica sobre a Literatura. Nesse sentido, podemos recordar e abordar ensaios de marxistas como Theodor W. Adorno. Por outro lado, a Teoria Literária passou, cada vez mais, a ser uma área dos estudos literários – e dentre esses estudos há aqueles que se colocam como uma ramificação da Linguística ou como elaborados em diálogo com essa ciência, reivindicando o estatuto de propriamente literários. Nessa direção, podem ser selecionados e discutidos ensaios de russos como Mikhail Bakhtin. Com isso em vista, o objetivo dessa comunicação é abordar incipientemente o teor de obras-chave de Adorno (Teoria Estética e Notas de Literatura I, II, III e IV) e Bakhtin (Estética da Criação Verbal, Questões de Literatura e de Estética e Problemas da Poética de Dostoievski) para, em seguida, examinar quais características do texto literário o teórico filósofo e o teórico literário priorizam em escritos que fundamentam leituras críticas diversas na Amazônia, no Brasil e no mundo.

Palavras-chave: Filosofia, Literatura, Teoria.

O ESTRANHAMENTO DE SI NO OUTRO: O ESTUDO DA ALTERIDADE EM NARRATIVAS DA MATINTAPERERA

Andressa de Jesus Araújo Ramos (UFPA)

Resumo: Estudar a noção de alteridade é uma tarefa árdua, que exige do pesquisador boa dose de dedicação, pois esse conceito atravessa várias disciplinas, desde a filosofia até a antropologia e vem mudando com o passar do tempo. Dessa maneira, este trabalho possui como objetivo geral refletir sobre a noção de alteridade em narrativas orais da matintaperera recolhidas pelo IFNOPAP (Imaginário nas Formas Narrativas Orais Populares da Amazônia Paraense). Para isso, consideramos os estudos de Freud (1919) Paz (1969), Spielmann (2000) e Sartre (2011). O estudo revelou que a noção de alteridade pautada especificamente no pensamento de Sigmund Freud em seu artigo Unheimlich se manifesta de forma evidente nas narrativas orais da matintaperera, pois esse ser tão repleto de mistérios e descobertas, em sua configuração humana, pode ser (homem-mulher), (idosa-jovem). No que diz respeito a metamorfose, a matinta pode assumir a forma de animal (aéreo-terrestre), bem como, em seres sobrenaturais de difícil representação. Em relação às suas marcas, isto é, a oferta do tabaco e o assobio, a matinta também se revela por meio de pares antagônicos, em que também se encontra a alteridade, visto que o tabaco é oferecido de noite, porém requerido de manhã e o assobio pode ser emitido, tanto pela boca, quanto pelo ânus, o que nos leva a afirmar que a matinta é alteridade em forma de mito. A metodologia desta pesquisa consistiu: a) pesquisa bibliográfica; b) leituras das narrativas ifnopapianas presentes nos livros Santarém conta..., Belém conta..., Abaetetuba conta... e Bragança conta... c) seleção das narrativas da matinta; d) análise das narrativas selecionadas. Sendo assim, acreditamos que este trabalho, de caráter interdisciplinar – visto que dialoga com a psicanálise, a filosofia e a teoria literária-, despertará nos que tem interesse em estudar a matinta novos olhares e direcionamentos, possibilitando assim, o surgimento de novas pesquisas, bem como, a valorização da cultura brasileira, principalmente, a paraense, que ainda é esquecida por muitos estudos acadêmicos, adquirindo assim um compromisso com a ética e a memória ancestral.

12 Palavras-chave: Matintaperera, Alteridade, Unheimlich, Narrativas Orais, IFNOPAP.

CLARICE TRADUTORA - ASSIMILAÇÕES DE O RETRATO DE DORIAN GRAY E RECONFIGURAÇÕES POÉTICAS

Andreza Gomes (UFPA)

Resumo: Muitos estudos de tradução, ao abordarem a obra de , referem-se aos livros da autora traduzidos para outras línguas. No entanto, Clarice foi também tradutora, embora se encontre poucos estudos sobre esta outra função de autoria de Lispector. Para esta comunicação, pretende-se realizar uma análise crítica no intuito de redirecionar o olhar para estas obras traduzidas, tendo aqui como objeto o livro O Retrato de Dorian Gray de Oscar Wilde, traduzido por Clarice em 1974( EDIOURO, RJ). Compreende-se que a tarefa da tradução é um exercício constante de leitura e releitura, sendo assim, os livros traduzidos por Clarice, são também o rastro de seu olhar como leitora e autora. C.L. movimenta-se entre a figura do leitor-ator e do tradutor- autor; Lispector interpreta a voz do autor original, assim como apropria-se das imagens e ideias que cintilam no texto. A tradução opera na circulação da linguagem, na formação intercultural. Voltar o olhar para Clarice tradutora é pensar nas ideias que estão em circulação dentro da sua obra poética: de que forma os elementos presentes no livro de Wilde tangenciam outros escritos de Clarice, quais os resíduos poéticos deixados na tradução. A busca de tais vestígios não esta em procurar a semelhança entre uma obra e outra, mas sim através da fragmentação, no recorte de uma obra e outra, onde esses elementos de forma e conteúdo presentes em O Retrato de Dorian Gray são assimilados e recriados em diferentes configurações dentro da poética de C.L.

Palavras-chave: Clarice Lispector, Tradução, Oscar Wilde, assimilações, reconfigurações poéticas

A POÉTICA AMAZÔNICA PELA PERSPECTIVA DIALÓGICA NA OBRA DE ADALCINDA CAMARÃO

Ane do Nascimento Parente Morhy Terrazas (UFPA)

Resumo: O presente trabalho buscou investigar as relações existentes entre a obra da autora Adalcinda Camarão pelo viés bakhtiniano, trazendo em conta os aspectos regionais próprios da Amazônia narrada pela autora, juntamente com a relação advinda de sua biografia como nativa paraense, sendo assim, diversos poemas da autora são analisados tendo em vista o seu período laboral tanto em sua terra natal, Breves, quanto na nostálgica temporada em que se encontrava nos Estados Unidos, mostrando, portanto, o envolvimento existente entre a vida da poeta e o seu desenvolver poético. Este artigo desvela a poética da paraense Adalcinda Camarão, a qual por meio de sentimentos nostálgicos retoma o imaginário e a paisagem paraense em sua expressão amazônica única. Aliado ao conceito anterior já citado, pretende-se utilizar alguns estudos do russo Mikhail Bakhtin. Logo, como este estudo estreitará o conceito bakhtiniano de dialogismo com a dialética amazônica. O artigo apresenta-se subdivido

13 em bases teóricas – a qual se trata das filosofias que permeiam este estudo, reflexão sobre a vida e obra da autora, assim como a análise e recorte de algumas de suas obras.

Palavras-chave: Dialogismo, Literatura Amazônica, Adalcinda Camarão, Mikhail Bakhtin.

MARRONAGE ET CONTE CREOLE DU PLATEAU DES GUYANE

Audrey Fabienne Debibakas (Universidade da Guiana)

Resumo: L’émergence d’une littérature orale en Guyane n’a pas eu de passage harmonieux et progressif comme dans les littératures européennes, d’un tissu littéraire parlé (contes, chanson de geste…) à une production écrite. Il s’est produit une rupture : celle-ci provient du fait que la culture et la langue créoles au sein desquelles l’oralité s’inscrit sont apparues dans la matrice de l’habitation esclavagiste. Le conte créole hérité de la tradition orale relève d’une pratique culturelle qui use de la stratégie et de la ruse comme principes fondamentaux de la liberté de parole, mais aussi comme principes fondateurs de l’expression artistique. S’il naît d’une rupture forcée et de la déserrance des peuples d’Amérique, le conte créole résulte aussi de la rencontre des cultures mais surtout de la nécessité de reconstruire un monde dont on a perdu l’essence. Il s’agit de recréer en face de l’autre un univers propre sur des bribes de cultures pour résister à l’hégémonie du discours occidental imposé. Ne pouvant recréer ses dieux et ses lieux mythiques, le peuple noir recrée son univers imaginaire qui lui permet de sublimer les souffrances de l’habitation-plantation. Les contes, les danses et les chants sont d’emblée l’œuvre du marronnage, tout rassemblement étant interdit et puni par des peines lourdes allant jusqu’aux privations extrêmes. La parole marronne se tient hors de l’habitation, au clair de lune dans la Savane.

Palavras-chave: marronage, conte créole, littérature orale

OS POSSÍVEIS DIÁLOGOS ENTRE NARRATIVAS ORAIS AMAZÔNICAS E EXPERIÊNCIAS RPGÍSTICAS

Breno Pauxis Muinhos (UFPA)

Resumo: As diversas narrativas orais amazônicas carregam profundos sentidos decorrentes de nossa cultura e história, o ato de contar histórias é uma atividade que remonta a nossa herança ancestral. Os jogos de interpretação de papéis são movidos pelo ato de narrar tramas que envolvem personagens que são interpretadas por outros participantes; apesar do nome, em essência, um roleplaying game não é um jogo – seu conceito será a questão principal da atividade a ser desenvolvida. De recorte para a presente comunicação serão utilizadas duas categorias dos estudos literários, para desenvolver de maneira singular uma reflexão sobre os roleplaying games: a narrativa e a oralidade; que aqui serão discutidas como partes integrantes da estrutura do “jogo”; principalmente, na criação por parte de seus participantes, como parcela fundamental das produções a serem discutidas na comunicação. Se levantará a discussão quanto ao “valor” ou “utilidade” dos jogos de interpretação de papéis, como instrumentos de incentivo à leitura e à escrita como já levantado por teóricos a serem citados, o gênero não está restrito ao uso em sala de aula, ou resumido à prática de entretenimento entre

14 amigos e colegas; há uma necessidade na própria prática de refletir sobre a realidade através da ficção, fator inerente a toda diversidade da produção literária, em especial as de característica fantástica, outro ponto essencial para a produção. Na pesquisa, parte da tese em desenvolvimento, foram verificadas as reflexões sobre o jogo de Johan Huizinga, as percepções de história e tempo de Walter Benjamin, as discussões sobre literatura fantástica de Tzvetan Todorov, os estudos sobre RPG em diversos campos, desde o uso em sala de aula por Sônia Rodrigues, discussões sobre exercício de leitura e escrita de Andréa Pavão, aos diálogos com literatura de Edson Cupertino.

Palavras-chave: Narrativa, Oralidade, RPG.

POEMAS MODERNIZANTES E DECOLONIALIDADE ÀS MARGENS DA PARNASO-AMAZÔNIA: O CASO DO JORNAL ACREANO “A NOTICIA” (1918-1919)

Carla Soares Pereira (UNAMA)

Resumo: Este trabalho integra uma pesquisa de doutorado em andamento que estuda poemas publicados em jornais do Acre (1904-1920). Denominaram-se “modernizantes” os poemas do primeiro vintênio do séc. XX que já prenunciavam o Modernismo na Amazônia, destoando da predominância parnasiana nos jornais e do contexto de influência francesa. Este estudo de caso analisa poemas modernizantes do jornal “A Noticia”, em diálogo com a proposta modernista e a crítica decolonial, na perspectiva de que a presença deles no jornal, embora pequena e marginal, refletia vozes dissonantes que empreendiam luta contra a colonialidade, expressando mundividência crítica da realidade. Os métodos de abordagem são a Metalinguística bakhtiniana e a Análise do Discurso, cujas propostas valorizam elementos (extra)textuais na construção dos sentidos do enunciado discursivo nas suas relações dialógicas. Bosi (2003), Carpeaux (2008) e Figueiredo (2001), bem como Quijano (2005) e Mignolo (2005) subsidiaram a construção das relações entre Modernismo e Decolonialidade. Analisaram-se duas seções de poemas: “Troçando” (11 textos) e “A Minuta...” (10). São poemas críticos e satíricos que discutem política, poesia, cânone e a vida alheia; experimentam a mistura de gêneros textuais (poema-diálogo, poema-piada) e uma linguagem dessacralizada. Assim, manifestam características que os aproximam da fase heroica do Modernismo brasileiro, com a particularidade de problematizarem a condição amazônica numa época de imperialismo, mas também de resistência. BAKHTIN, M. Problemas da Poética de Dostoiévski. 3. ed. RJ: Forense Universitária, 2002. BOSI, A. História Concisa da Literatura Brasileira. 41. ed. SP: Cultrix, 2003. BRANDÃO, H. Introdução à Análise do Discurso. Campinas: Unicamp, 2012. CARPEAUX, O. História da Literatura Ocidental (Vol. IV). 3. ed. Brasília: Senado Federal, 2008. FIGUEIREDO, A. Eternos Modernos: uma história social da arte e da literatura na Amazônia, 1908-1929. 315f. Tese. ICH, Unicamp, Campinas, 2001. LANDER, E. (Org). La colonialidad del saber: eurocentrismo y ciencias sociales, perspectivas latinoamericanas. Buenos Aires: CLACSO, 2005.

Palavras-chave: Modernismo, Crítica decolonial, poemas, Jornal "A Noticia"

15 LITERATURA, ARTE E RESISTÊNCIA: O TESTEMUNHO EM TEMPOS DE CRISE

Carlos Augusto Nascimento Sarmento-Pantoja (UFPA)

Resumo: Os estudos literários, nos últimos anos, vêm sofrendo intensas modificações por conta das mudanças que a produção literária moderna e contemporânea, em especial por conta dos traumas de guerra, que potencializaram a criação de obras de arte fundamentadas em duas categorias: a resistência e o testemunho. Alfredo Bosi (1994; 2002) notabiliza que precisamos pensar no século XX (extensivo ao século XXI), como o "Tempo que perdurou na memória dos narradores do imediato pós-guerra, e produziu o cerne da chamada literatura de resistência", uma literatura pautada na ética e na estética do testemunho e que Márcio Seligamann-Silva (2005), considera ser “uma categoria que pode nos ajudar a pensar uma virada de paradigma que vem ocorrendo no âmbito das artes e da literatura”. Walter Benjamin (1989), pensa a narrativa como um pacto inerente entre ouvinte e narrador para a conservação da narrativa. Tal associação está ligada tanto a memória quanto à reminiscência, ou seja, tanto ao testemunho quanto à narrativa (artística, literária, oral, escrita). Dois polos complementares, pois as guerras e as crises potencializam o desenvolvimento de outras formas artísticas, como defende Adorno (1970), quando concebe que “É moderna a arte que, segundo o seu modo de experiência e enquanto expressão da crise da experiência” e da experiência enquanto do belo e da arte. Neste complexo cenário propomos um estudo para pensar como a arte, a literatura e o testemunho, resistem em tempos de crise, seja aquela ligada ao passado, seja estas ligadas ao presente.

Palavras-chave: Literatura, Arte, Resistência, Testemunho, Crise

DAS PROXIMIDADES E DISTÂNCIAS ENTRE LITERATURA E FILOSOFIA

Cláudia Grijó Vilarouca (UFPA)

Resumo: Tratar de proximidades e distâncias entre literatura e filosofia depende da perspectiva e de certo grau de delimitação de qual literatura e qual filosofia se pretende abordar, dada a diversidade de ambas. Ademais, é prudente levar em conta o percurso histórico que aponta para acordos (ou até mescla) e dissensões entre elas: desde os pré- socráticos até polêmicas mais atuais que concernem o status do qual cada uma goza, principalmente, no âmbito acadêmico. Afinal, isso a que chamamos literatura e filosofia são discursos historicamente formados e, como outros, disputam um lugar de destaque como modos de conhecimento de mundo. Assim, devido à amplitude do tema e com base, sobretudo, em Jeanne-Marie Gagnebin, Benedito Nunes e Arthur Danto, proponho abordar os pontos em comuns e diferenças entre literatura e filosofia – considerando o que foi dito anteriormente – a partir de dois tópicos: domínio de conhecimento e forma. Na verdade, o objetivo é menos esquematizar proximidades e distâncias do que discutir possibilidades de entrecruzamentos sem negligenciar as particularidades de cada uma (tal como as concebemos no sentido moderno).

Palavras-chave: Literatura e filosofia, conhecimento, forma

16 CONSIDERAÇÕES DE CANDIDO SOBRE MACHADO DE ASSIS

Cristiane de Mesquita Alves (UFPA)

Resumo: O processo de elaboração de análise de uma obra literária, parte-se do pressuposto teórico de que o escritor, antes de penetrar em seu universo de experiência estética e de observador crítico do texto, é um leitor proativo, leitor-modelo (ECO, 2015), configurando nesses pré-textos lidos, em conceitos que nortearão as possibilidades de interpretação das obras. Diante disso, é que se formula esta comunicação, que tem como objetivo: apresentar alguns apontamentos acerca da obra e das características do processo de criação literário de Machado de Assis, segundo as leituras de Candido, leitor- modelo e crítico da obra do Bruxo do Cosme Velho, desde a sua formação à consolidação de seu texto literário, ao cânone dentro do sistema literário brasileiro e internacional. Para tanto, esta investigação será realizada a partir dos procedimentos metodológicos das revisões de literatura, tendo como base as considerações teóricas fundamentadas nas leituras reflexivas de determinados textos do consagrado crítico literário brasileiro, como: Esquema de Machado de Assis (2004), O sistema literário consolidado (2010), A nova narrativa (2011) e Literatura e Sociedade (2014), tendo como referências bibliográficas: CANDIDO, Antonio. A educação pela noite. 6ª ed. Rio de Janeiro: Ouro sobre Azul, 2011.____. Iniciação à Literatura Brasileira. 6ª ed. Rio de Janeiro: Ouro sobre Azul, 2010. ___¬¬¬__. Literatura e Sociedade. 13ª ed. Rio de Janeiro: Ouro sobre Azul, 2014. ______. Vários Escritos. 4ª ed. São Paulo/Rio de Janeiro: Duas Cidades/Ouro sobre Azul, 2004. ECO, Umberto. Os limites da interpretação. 2ª ed. 4ª reimp. Trad. Pérola de Carvalho. São Paulo: Perspectiva, 2015, aportes bibliográficos responsáveis por justificar os resultados apontados nessa discussão, em relação às colocações atribuídas ao texto machadiano, por Antonio Candido.

Palavras-chave: Candido, Machado de Assis, Apontamentos.

BOOKTUBER: A ASCENSÃO DO LEITOR NO ESPAÇO DA RECEPÇÃO CRÍTICA LITERÁRIA BRASILEIRA

Daniel Prestes da Silva (UFPA)

Resumo: Neste trabalho pretende-se discutir a emergência da figura do Booktuber no Brasil, como um agente que participa do campo literário, interferindo na recepção crítica de textos literários para o grande público. Por consequência, discutir-se-á a ascensão desse leitor, que ocupa também a posição de crítico da obra literária, numa comunidade de leitores que ocupa o espaço da internet, através da plataforma de compartilhamento de videos YouTube. Dessa forma, vamos ao encontro do que propõe Márcia Abreu no texto ‘Problemas de História Literária e interpretação de romances’ (2014), ou seja, do entendimento segundo o qual a História da Literatura deveria levar em consideração o gosto do público leitor, o que, de acordo com a professora, possibilitaria uma forma menos parcial e monolítica de conceber o cânone, de escrever as histórias literárias e de compreender a tradição literária e a produção e recepção de textos literários, nos ajudando a compreender como o surgimento desse novo agente no campo literário transforma as sociabilidades permitindo novos pensamentos e

17 modificando as relações de poder, como uma das questões fundamentais para o historiador, de acordo com Roger Chartier em A ordem dos livros (1999).

Palavras-chave: Recepção crítica, Crítica Literária Brasileira no século XX, Crítica Literária Brasileira no século XXI, Leitores, Booktubers.

A PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL E SUA INTERFERÊNCIA NA LITERATURA RUSSA DA ÉPOCA: A PRESENÇA DE EVENTOS BÉLICOS NA OBRA DE LEONID ANDREEV

Daniela Simone Terehoff Merino (USP)

Resumo: A Primeira Guerra Mundial modificou drasticamente os rumos da História da humanidade. A Rússia foi um dos países em que a marca deixada pela Guerra jamais se apagou. Os eventos bélicos ocorridos no mundo entre 1914 e 1918 influenciaram os russos diretamente, não apenas em sua situação militar, política e social como também no que diz respeito à sua vida cultural, artística e espiritual. Neste contexto, a literatura russa da época trouxe para suas obras temas estritamente relacionados à guerra, tais como a misericórdia, o sofrimento das mães e a desgraça dos feridos nos campos de batalha. Entre os escritores que trouxeram situações e sensações causadas pela guerra para dentro de suas obras, destaca-se Leonid Andreev (1871-1919) que por mais de uma vez incluiu a zona de conflito da guerra em peças, artigos e contos escritos no período. A presente pesquisa – que conta com apoio da FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, processo nº 2017/21093-8) – visa trazer ao Brasil uma abordagem inédita deste tema rico e inexplorado que é a relação de impacto que a Grande Guerra teve sobre a arte russa do período. O ponto de partida desta apresentação será especificamente a leitura de duas obras literárias de Andreev no original russo: a peça “Korol, zakon i svobóda” (“O rei, a lei e a liberdade”), escrita em 1914 e a novela “Nochnoi Razgovor” (“Conversa noturna”), de 1915. Ambas as obras são fundamentais para a compreensão desta inter-relação com a guerra, já que abordam diretamente o episódio da violação da neutralidade belga pelo exército alemão em 5 de agosto de 1914. A apresentação contará ainda com o apoio do texto intitulado “Leonid Andreev v natchale Pervoi Mirovoi Voini” (“Leonid Andreev no início da Primeira Guerra”), escrito pelo Dr. Ben Hellman e publicado em 2009.

Palavras-chave: Primeira Guerra Mundial, Literatura russa, Teatro russo, Leonid Andreev

A IRMÃ DE STANISLÁVSKI. ZINAIDA SOKOLOVA E A ORGANIZAÇÃO DO ESTÚDIO DE ÓPERA E ARTE DRAMÁTICA (1935 - 1938).

Diego Fernandes Garcia Moschkovich (USP)

Resumo: A presente comunicação apresenta Zinaida Serguêevna Sokolova (1965 – 1950), irmã do diretor Konstantin Serguêevitch Stanislávski (1863 – 1938), e responsável pela organização de seu último Estúdio, o Estúdio de Ópera e Arte Dramática (1935 – 1938). Referida muitas vezes como “a mais fiel ajudante” de Stanislávski, ou mesmo “apenas uma atriz fracassada”, Sokolova foi de fato a grande

18 sistematizadora da pedagogia teatral sobre o “sistema” que leva o nome de seu irmão. Esta comunicação apresenta parcialmente os resultados da pesquisa “O último Stanislávski em ação: tradução e análise das experiências do Estúdio de Ópera e Arte Dramática” (pesquisa fomentada pela FAPESP), na seguinte estrutura: I. Zinaida Sokolova. II. A experiência pedagógica de Sokolova. III. Sokolova e a organização do Estúdio de Ópera e Arte Dramática. A fundamentação teórica da comunicação parte das lembranças de alunos de Sokolova (Novítskaia, Gálitch, Kristi) e explora dois excertos autobigráficos inéditos encontrados num recente estágio de pesquisa (BEPE/FAPESP) nos Arquivos do Teatro de Arte de Moscou (Moscou, Rússia).

Palavras-chave: teatro, teatro russo, stanislávski, tradução

A PAISAGEM SONORA NO ROMANCE BELÉM DO GRÃO PARÁ DE DALCÍDIO JURANDIR

Dione Colares de Souza (UFPA)

Resumo: Apesar de negligenciado em nossa sociedade, o fenômeno sonoro revela acontecimentos sociais, bem como é capaz de indicar condições humanas e tendências ideológicas. Mediante esse pressuposto e por meio do processo crítico-reflexivo, analisar-se-ão as construções narrativas carregadas de historicidade, lócus das relações homem-mundo, mediadoras de uma práxis humana que remete aos espaços da vida cultural descritos no romance Belém do Grão Pará de Dalcídio Jurandir. Nesse sentido, propõe-se olhar para este detalhe latente, embora bastante explorado, e presente no referido texto: a paisagem sonora. Desse modo, os elementos para a ação investigadora serão elencados com base na cultura e na história social, contextos em que se entrelaça a trama ficcional e, assim, torna-se agente da reconstrução da paisagem musical manifesta no tempo-espaço do romance. Destarte, a partir dos fragmentos narrativos do romance, previamente selecionados, apontar-se-ão os espaços musicais e os sujeitos sociais como agentes condicionantes dos processos significantes e reveladores da cultura e da paisagem sonora em Belém do Grão Pará.

Palavras-chave: CULTURA, HISTÓRIA, PAISAGEM SONORA, DALCÍDIO JURANDIR.

O CRÍTICO NESTOR VÍTOR E O CÂNONE ESTABELECIDO PELA CRÍTICA NATURALISTA DO SÉCULO XIX

Douglas Ferreira de Paula (USP)

Resumo: O presente trabalho é parte de uma pesquisa ampla sobre o pensamento crítico de Nestor Vítor do Santos (1868-1932). Consiste em uma leitura de sua obra e da relação que esta estabelece com o meio cultural e com o campo literário brasileiro no período da República Velha (1889-1930). O trabalho proposto para o simpósio concentra-se na análise da posição do crítico no interior do campo literário, tendo como pano de fundo a sua relação com a crítica literária naturalista do século XIX, encarnada na tríade consagrada da geração de 1870 (Sílvio Romero, Araripe Júnior e José Veríssimo). No enfoque escolhido, objetiva-se destacar o significado do modelo de

19 crítica naturalista posta em movimento pela tríade e a diferença de posicionamento de Nestor Vítor que representou, no interior da historiografia literária, o primeiro e talvez mais importante crítico do simbolismo brasileiro. Simbolismo que, como se sabe, não foi bem recebido pela crítica oficial naturalista, impedindo a canonização imediata dos seus principais nomes, como Cruz e Sousa, Emiliano Perneta ou Alphonsus de Guimarães. Com o referencial dos principais estudiosos da obra da tríade crítica (Barbosa, 1974; Bosi, 1976; Cairo, 1996; Candido, 2006; Ventura, 1993) e com a perspectiva sociológica da noção de campo (Bourdieu, 2004; Miceli, 2001), busco interpretar a obra de Nestor Vítor como de denúncia dos limites da crítica e da legitimidade do cânone produzido e reproduzido pela crítica naturalista, não tanto por uma oposição de princípio ou metodológica de Nestor Vítor frente ao modelo naturalista, mas pela posição inicialmente secundária e marginal que o crítico assume no interior do campo literário, fortemente atravessado por relações extraliterárias, denominadas por ele como “política literária”, isto é, um conjunto de relações que possibilitavam a consagração (canonização) ou não (esquecimento) de escritores e artistas do período da República Velha.

Palavras-chave: Nestor Vítor, crítica literária, simbolismo brasileiro.

MINÁEV E O HERÓI DO SEU TEMPO

Edelcio Americo (UFF)

Resumo: Cada época produz seus heróis, que servem de "modelos" para escritores e poetas. Cada herói, por sua vez, carrega não apenas traços de sua época, sendo influenciado pelo mundo que o cerca, ou seja, ou ele vive de acordo com seus "semelhantes" ou rompe com os padrões geralmente aceitos de comportamento social. A literatura russa apresentou, desde o século XIX, vários heróis, “Ievgueni Onéguin”, de Puúhkin, um jovem dos anos 20 do século XIX: inteligente, educado, integrante da aristocracia, mas insatisfeito com a realidade existente, tendo passado os melhores anos de sua vida em uma existência sem sentido e sem propósito. O aparecimento de tal herói causou na sociedade e círculos literários da época, uma verdadeira tempestade de paixões. A literatura russa sequer teve tempo de descansar e surgiu Pechórin, "O herói do nosso tempo", de Mikhail Lérmontov, e mais um destino trágico. O desejo apaixonado de entender o sentido de suas vidas e a busca pela verdade, de alguns heróis e a existência parasitária e sem propósito, de outros, ou, simplesmente, o trágico distanciamento entre os sonhos e a realidade. A literatura produziu uma série de outros heróis de seus tempos: Bazárov de Turguéniev, de natureza completamente diferente da de Onéguin e Pechórin. Andrei Bolkónski e Piere Bezúkhov, os melhores representantes da aristocracia, retratados por Lev Tolstói no romance "Guerra e paz". Assim como o alcoólatra Vénechka, da obra de Venedikt Erofeev, "Moscou - Petuchki" (1973), pode ser considerado o último herói da literatura soviética, o herói de Dukhless, escrito por Serguei Minaev em 2006, pode ser considerado um dos primeiros heróis da nova literatura russa, um novo herói do seu tempo. Herói de uma literatura pós-moderna, um "homem supérfluo" ou, como o próprio autor complementa no próprio título da obra: um "homem de mentira".

20 Palavras-chave: Literatura russa moderna, Mináev, Homem supérfluo, herói

“O LIMBO FELIZ DE UMA NÃO-IDENTIDADE”: O CORPO HERMAFRODITA NO DIÁRIO DE HERCULINE BARBIN E A OBSCENIDADE DA EXISTÊNCIA NO SÉCULO XIX

Eder Ahmad Charaf Eddine (USP)

Resumo: Herculine Barbin (1838-1868) é um sujeito intersexo, criado como pertencente ao universo feminino até a juventude e obrigado a trocar de sexo após processo judicial amparado por laudos médicos. Essa decisão lhe impôs uma nova identidade, pois Barbin não se encaixava no próprio corpo. O presente trabalho parte da análise foucaultina da sexualidade para percorrer os caminhos de Barbin, descrevendo suas experiências sexuais e a sua constituição como sujeito que não pertencia a nenhum dos sexos socialmente descritos. A partir das memórias do diário de Barbin, é possível afirmar que o binômio masculino/feminino não foi capaz de definir uma identidade, pois, mesmo sendo criado como menina, aquele sentia atração física e sexual por outras meninas e, quando na posse de um registro que lhe atestava a constituição como menino, não conseguiu se adaptar ao que chamou de sexo forte. Esse conjunto de escritos foi organizado e publicado na França, por Foucault, cem anos após a morte Barbin, em 1978, sob o título Herculine Barbin dite Alexina B. Como conclusão aponta- se que a sexualidade e as definições de Herculine/Alexine não se enquadravam em nenhum padrão estabelecido pela sociedade. As passagens eróticas do seu diário constroem uma obscenidade eivada pelo amor lésbico e pela sexualidade da jovem mulher que descobriu um pênis interno em seu corpo e que, por conta disso, teve que assumir uma identidade masculina.

Palavras-chave: Alexine Barbin, Abel Barbin, identidade sexual, erotismo na literatura, Michel Foucault

PARA ALÉM DE "POESIA AO NORTE"

Edneia Rodrigues Ribeiro (UFMG/IFNMG)

Resumo: Embora ainda não se conhecessem pessoalmente, o primeiro contato literário entre João Cabral de Melo Neto e Antonio Candido foi marcado pela publicação do texto “Poesia ao Norte”, no qual o jovem crítico analisa o livro de estreia do poeta pernambucano, Pedra do sono (1942). Essa análise, como reconheceu o próprio João Cabral, em entrevistas, foi profética acerca da poesia que ele viria a desenvolver . Além de ter sido o primeiro, na Região Sudeste, a publicar um texto crítico analisando o livro do poeta principiante, Candido apontou algo a que outros leitores não haviam se atentado: a inclinação do pernambucano ao cubismo. Enquanto enfatizava-se a recorrência de elementos surrealistas, ele percebeu proximidades entre essa outra corrente de vanguarda e o aspecto construtivista peculiar à poesia daquele que, futuramente, tornou-se conhecido como “engenheiro do verso”. Apesar da relevância do ensaio que marca o batismo crítico de João Cabral, Candido dedicou-se pouco à análise da poesia cabralina. Em contrapartida, o poeta também não fez menção a esse crítico em

21 seus livros, nem mesmo em Museu de tudo composto por vários poemas em homenagem a personalidades de diversos segmentos, em dedicatórias ou em outros registros. A falta de referência explícita em suas obras não representa, no entanto, a ausência de afinidades estéticas e ideológicas nas propostas que ambos desenvolveram para a Literatura Brasileira. Este trabalho pretende observar as convergências de ideias e a relação amistosa mantida por dois dos maiores nomes da Literatura Brasileira, buscando demonstrar, portanto, como seus caminhos se cruzaram desde o primeiro encontro entre Pedra do sono e “Poesia ao Norte”.

Palavras-chave: Antonio Candido, João Cabral de Melo Neto, poética da modernidade, crítica literária.

O CONCEITO DE TEXTO DA CIDADE E AS POSSIBILIDADES DE SUA APLICAÇÃO PARA A CIDADE DO RIO DE JANEIRO NA LITERATURA BRASILEIRA

Ekaterina Volkova Americo (UFF)

Resumo: O objetivo da presente comunicação é abordar as possibilidades de aplicação, ao Rio de Janeiro, do conceito de “texto da cidade”. O conceito de texto da cidade surgiu nos anos 1980, no âmbito da Escola Semiótica de Tártu-Moscou e, mais precisamente, nos trabalhos de Vladímir Toporov e Iúri Lotman que o utilizaram inicialmente à imagem das duas capitais russas, Moscou e São Petersburgo, na cultura russa em geral e na literatura em particular. De acordo com os semioticistas (AMÉRICO, 2011), as descrições das duas capitais, presentes na obra de vários escritores e poetas, possuem pontos de concorrespondência que permitem isolar as características de cada uma das cidades. A imagem literária do Rio de Janeiro também pode ser observada na obra de muitos autores brasileiros, entre eles Machado de Assis, Lima Barreto, Clarisse Lispector e, se falarmos da literatura brasileira atual, Rubens Figueiredo. Ao lançar mão do conceito de texto da cidade, formulado pelos semioticistas russos, tentaremos verificar se é possível apontar para a presença do texto da cidade do Rio de Janeiro na literatura brasileira.

Palavras-chave: texto da cidade, semiótica da cultura, Rio de Janeiro, literatura russa, literatura brasileira

A REPRESENTAÇÃO DO FICCIONAL E DO FACTUAL CONTIDOS NO ENREDO FICCIONAL DE HAROLDO MARANHÃO

Élen Mariana Maia Lisbôa (UFPA)

Resumo: Esta comunicação tem por objetivo discutir a relação entre fato e ficção tendo por referência o romance Cabelos no coração, de Haroldo Maranhão. Para conduzir essa discussão do ponto de vista teórico partiremos das obras de Wolfgang Iser (1996), que explora os atos de fingir em textos ficcionais, partindo do pressuposto de existência de uma tríade construída pelo real, fictício e imaginário, discussão retomada por Karlheinz Stierle (2006). Teóricos como Gerard Genette (1990) também direcionaram seu campo de estudo para o debate entre a relação do caráter ficcional e factual do que está sendo

22 narrado, assim como Linda Hutcheon (1991) ao tratar da metaficção historiográfica, dando espaço para a abordagem da problemática dicotomia entre o ficcional e real, que possibilita identificar, no caso do interesse da presente pesquisa, a existência de características textuais que permitem visualizar representações do real no texto ficcional haroldiano. Ao final, o estudo destaca a existência de uma relação do ficcional com o real, por intermédio da utilização de paródia e recriações de fatos históricos.

Palavras-chave: representação, ficcional, factual

O PROCESSO DE CRIAÇÃO DE GUILHERME COELHO EM ÓRFÃOS DO ELDORADO

Eliane Auxiliadora Pereira (IFAZ)

Resumo: Este estudo propõe uma análise do filme Órfãos do Eldorado, de Guilherme Coelho, lançado no cinema em 2015. O objetivo é verificar o que disse a crítica especializada em cinema sobre o processo de criação engendrado neste filme. O cineasta, em sua obra, procurou mostrar uma Amazônia sem os estereótipos com os quais esta região costuma ser retratada. Nela percebemos o cotidiano das pessoas, os costumes, a música e algumas das atividades desenvolvidas na região. Além disso, há um quê mítico e fabular na trama engendrada por ele, quando, na narrativa fílmica, o cineasta nos traz as lendas, os costumes e os mistérios das águas dos rios amazonenses. O filme Órfãos do Eldorado despertou o interesse da crítica especializada, entre outros motivos, porque a obra é uma adaptação da obra do consagrado escritor amazonense Milton Hatoum. O que esperar desta transposição da linguagem literária para a cinematográfica, já que se trata de uma obra extremamente subjetiva e intimista? Alguns críticos buscaram comparar a questão da fidelidade entre as suas obras; outros atentaram à forma de montagem escolhida por Guilherme Coelho para retratar as peculiaridades presentes na obra de Hatoum e outros como a cenografia construiu esta história. A produção de Guilherme Coelho apresenta uma criação baseada nas estratégias cinematográficas. Utilizando do visual e da sonoridade, a Amazônia é contada a nós na figura de Arminto Cordovil e seu mundo fragmentado e mítico. Para que o espectador pudesse visualizar esse mundo fragmentado e mítico, Coelho optou pelas imagens simbólicas – um rio, uma árvore, uma floresta, um mito – elementos que constituem esse espaço enigmático tão presente aos pensamentos do personagem. Através das entrevistas e análises da crítica especializada, ponderaremos sobre o processo de criação de Guilherme Coelho.

Palavras-chave: Filme. Órfãos do Eldorado. Crítica especializada. Processo de criação.

A CONTRIBUIÇÃO DE HAROLDO MARANHÃO À LITERATURA BRASILEIRA

Elisangela Ribeiro de Oliveira (UFPA)

Resumo: Esta comunicação objetiva refletir sobre a contribuição do romancista paraense Haroldo Maranhão (1927-2004) à literatura brasileira ao longo de sua vida, ora exercendo o papel de uma espécie de mecenas, ao tomar para si a orientação do

23 Suplemento Literário Arte Literatura do jornal Folha do Norte (1946-1951), jornal pertencente a sua família, no qual divulgava o que havia de mais recente no mundo das letras, ora assumindo o papel de crítico literário ao discutir questões pertinentes da transformação por que passava a literatura brasileira e paraense. Tomaremos como base o estudos de Abreu (2014), Jobim (2005), Nascimento (2012; 2018) e Nunes (2012). Haroldo Maranhão tornou-se um grande contista e romancista, mas as histórias literárias não fizeram menção a esse grande autor brasileiro, mesmo as do século XX, a exemplo das história literária de Alfredo Bosi (1970) e Aderaldo Castello (1990). Entretanto, o filósofo e crítico Benedito Nunes tornou-se este bastião da divulgação da obra haroldiana, incluindo a apreciação, em 1984, do primeiro romance O tetraneto del-rei (1982) o que ajudou na divulgação da ficcão de Haroldo Maranhão, a qual passou por instâncias legitimadoras como a Universidade Federal do Pará que incluiu como leitura obrigatória uma de suas obras. Entretanto, pode-se concluir que o ficcionista garantiu o seu lugar na história literária paraense, mas ainda há um longo caminho para que ele seja reconhecido no Brasil.

Palavras-chave: Haroldo Maranhão. crítica literária. Benedito Nunes, O tetraneto del- rei

A TRADUÇÃO FRANCESA DO CONTO "A TERCEIRA MARGEM DO RIO", DE GUIMARÃES ROSA

Elvis Borges Machado (UFPA)

Resumo: A presente comunicação é um breve exame da tradução francesa do conto “A terceira margem do rio”, de João Guimarães Rosa, com o intuito de verificar como a versão de Inês Oseki Depré (“Le troisième rivage du fleuve”), traduzida em 1982, procura recuperar, na língua francesa, o sofisticado trabalho poético que anima a obra rosiana. A importância hermenêutica que a tradução suscita é o que nos permite contemplá-la sempre como uma recepção crítica da obra (JAUSS, 1994), o que nos convida a uma leitura para além da comparação lexical. Neste contexto de compreensão, a simples frase: “nosso pai nada não dizia” (ROSA, 2017, p. 384), não deve ser medida, em sua eminente virtuosidade, pelo pleonasmo de negação que se aproxima de uma descrição da fala popular, mas sim, pela sensualidade que a composição rosiana provoca, distanciando-se do racionalismo da versão francesa, “Notre père ne répondait rien” (ROSA, 1982, p. 35). A inclinação aos sentidos remete a obra rosiana a uma leitura sempre em voz alta, aproximando-se de uma escrita não prosaica. Portanto, o refinamento plástico da linguagem de Guimarães Rosa, não se confundindo simplesmente com uma rica oralidade regional, aguça a percepção crítica do leitor por meio de uma intrigante linguagem pautada, às mais das vezes, num adensamento semântico. Essa ruptura do entendimento habitual da língua portuguesa eleva a obra rosiana a proporções especulativas, enquanto que a tradução francesa, devido a sua inerente tendência racionalista, clarifica e dissolve as especulações que o “verso” rosiano reclama.

Palavras-chave: Tradução francesa. “A terceira margem do rio”. Guimarães Rosa.

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A FARISEIA, DE FERNÁN CABALLERO: BREVES APONTAMENTOS

Esequiel Gomes da Silva (UFPA)

Resumo: O Apóstolo, periódico religioso, moral e doutrinário, consagrado aos interesses da religião e da sociedade circulou no Rio de Janeiro de 1866 a 1901. Em uma época fortemente marcada pelas ideias de moralização e disciplinamento da sociedade, ideias tão caras à medicina higienista, o referido periódico surge com a “missão sublime e indeclinável de guiar os povos pela senda do dever”. Para cumprir seu objetivo, valia-se da mesma estratégia da imprensa comercial, publicando romances-folhetim, em sua maioria traduções e adaptações, com títulos bastante curiosos, como Coisa completa... só na outra vida, Dívidas pagas, Um naufrágio e A fariseia, de Fernán Caballero, pseudônimo da escritora espanhola Cecília Böhl de Faber (1796-1877). Na comunicação que ora proponho, farei uma breve apresentação deste último, que circulou entre 20 de outubro e 21 de novembro de 1886 e narra episódios da vida de Bibiana, uma balzaquiana que se casa com um homem mais velho.

Palavras-chave: Imprensa religiosa; folhetim; século XIX

“UMA FORÇA POTENCIALMENTE EXPLOSIVA”: GUIMARÃES ROSA, TRADUTOR DO BANDITISMO SOCIAL DE ERIC HOBSBAWM

Everton Luís Teixeira (UFPA)

Resumo: Nesta comunicação adentra-se por um caminho metodológico que passa em meio aos pressupostos da análise comparatista e aos da Estética da recepção ao propor um diálogo entre a literatura brasileira e a historiografia contemporânea por intermédio do exame de Grande sertão: veredas (1956) de Guimarães Rosa e das obras de Eric Hobsbawm as quais se voltam especificamente para a temática do banditismo social e dos respectivos desdobramentos dessa em espaços marcados pelo atraso econômico e pela endemia da violência, tais como o Brasil, a saber: Rebeldes primitivos (1959), Bandidos (1969) e o mais recente Viva la revolución (2016). Guimarães Rosa, em diferentes momentos de sua ficção, pareceu aproximar-se dos métodos de pesquisa histórica, realizando uma espécie de análise da realidade e dos comportamentos desenvolvidos por indivíduos simples como, por exemplo, seus modos de agir e de pensar as grandes questões envoltas entre o “superficialmente moderno e o arcaico” (HOBSBAWM, 2016, p. 13) presentes na configuração social de quase toda a América Latina. O maior objetivo a ser atingido por este trabalho é a leitura da produção literária com o aporte historiográfico e a análise da história com base na interpretação da literatura. Em outras palavras, significa, por um lado, ampliar a já longa vereda interpretativa rosiana tendo como lente de aumento o exame do tema inaugurado por Hobsbawm entre as décadas de 1950 e 1960, haja vista que, apesar de contemporâneos, os trabalhos destes dois intérpretes do Ocidente no século XX nunca foram postos devidamente em confronto. Por outro lado, busca-se contribuir com a ampliação desse ramo da história comparada trazendo à tona a figura ambígua do jagunço nordestino, amostra de celerado que escapou à classificação desse historiador, mas que ainda assim

25 obedece a muitos quesitos estabelecidos por Hobsbawm, embora a escrita rosiana os tenha embaralhado intencionalmente em suas páginas.

Palavras-chave: Banditismo social, Eric Hobsbawm, Guimarães Rosa, Grande sertão: veredas, Século XX.

AS ARMAS MIRACULOSAS DE AIMÉ CÉSAIRE

Érika Pinto de Azevedo (UNIFAP)

Resumo: No século XX, a poesia de Aimé Césaire (1913-2008), escritor martinicano, criou novos rumos para a poesia francófona e notadamente para a cognição poética das Antilhas, cuja história foi selada pela escravidão e colonização. Foi em um círculo de estudantes, mas também de escritores, intelectuais e artistas antilhanos e africanos residentes em Paris ou de passagem pela capital que surgiram interrogações sobre questões étnicas, identitárias e sobre a negritude, termo controverso que pode remeter a “uma atitude essencialmente pragmática” (COMBE, 2014, p. 35), uma reivindicação formulada em um cenário intelectual e artístico em ebulição abertamente contrário à “aventura colonial” (NDJÉOHA apud MARTIAL, 2004). Inicialmente, Césaire afirmou-se pela publicação de Cahier d’un retour au pays natal (Diário de um retorno à terra natal, 1939/1947). Ao fazê-lo, divulgou a literatura escrita pelo homem negro, afirmou a presença da literatura antilhana na literatura escrita em língua francesa, participou da revolução estética em curso naquele século, mas também da revolução política que ora combatia o pensamento eurocêntrico e etnocêntrico. Essas foram algumas das atividades que constituíram a trajetória poética, política e militante de Césaire, inscrita no processo histórico das lutas anticoloniais. Essa comunicação resulta das investigações iniciais de uma pesquisa em desenvolvimento realizada na Universidade Federal do Amapá e intitulada: “Relações entre o real e o imaginário nas literaturas modernas francófonas: Aimé Césaire e Léon-Gontran Damas”. A comunicação tem por objetivo examinar a escrita de Les Armes miraculeuses (As armas miraculosas), coletânea que reuniu em 1946 poemas anteriormente publicados por Aimé Césaire, de 1941 a 1943 (ou 1945?), em revistas. Para fazê-lo, analisarei a relação que existe em alguns poemas da coletânea entre a concepção poética particular do escritor e as lutas de caráter geral da descolonização e da emancipação dos homens as quais aderiu.

Palavras-chave: Césaire (Aimé). Poesia. História. Identidade.

LITERATURA AMAPAENSE NO OIAPOQUE – QUESTÕES DE LITERATURA DE FRONTEIRA

Fabíola do Socorro Figueiredo dos Reis (UNIFAP)

Resumo: A fronteira Brasil-Guiana Francesa permaneceu durante um longo tempo isolada e envolvida com as histórias dos garimpos ilegais, da prostituição e do ouro da região. A disciplina Literatura Amapaense, ofertada pela primeira vez em 2018 no Campus Binacional do Oiapoque (Universidade Federal do Amapá), lida com um contexto de Literatura Amapaense como literatura de fronteira/literatura menor (termo advindo da obra de Derrida/Guattari Kafka – por uma literatura menor) de uma maneira

26 diferente da capital Macapá (Campus Marco Zero), distante 600 quilômetros de Oiapoque. Na disciplina há o estudo das origens do termo “literatura de fronteira” e “literatura menor”, o trabalho da crítica literária para entender como as obras que circulam na fronteira não estão no cânone literário, a comparação com outras literaturas de fronteiras e literaturas de povos minoritários no Brasil e no mundo. Esta comunicação tem como objetivo apresentar um panorama dos trabalhos dos discentes de Literatura Amapaense no Oiapoque, centrando no contexto amazônico e a produção literária contemporânea do município, apresentando também autores e obras e a visão histórica e cultural predominantes nos últimos anos.

Palavras-chave: Literatura de fronteira, Literatura Menor, Literatura Amapaense, Oiapoque

CARTOGRAFAR POÉTICAS ESQUECIDAS: COLEÇÕES, A FORMA DA POESIA EM LUIZ BACELLAR E ASTRID CABRAL

Fadul Moura (UNICAMP)

Resumo: A pesquisa que se apresenta é fruto de resultado parcial das pesquisas de doutoramento no Programa de Pós-graduação em Teoria e História Literária da Universidade Estadual de Campinas. Ela versará sobre dois poetas deixados à margem da tradição da crítica literária brasileira: Luiz Bacellar e Astrid Cabral. Tendo como ponto de partida, respectivamente, Frauta de barro (1963) e Infância em franjas (2014), põe-se em evidência dois traços comuns a eles: a representação da Amazônia alheia à perspectiva do exótico e o legado poético-cultural arquivado. Nesses livros, Manaus é apresentada como espaço em ruínas, o qual, com a guinada da memória, é iluminado pelos sujeitos poéticos quando tudo está sendo arruinado pela lógica do progresso; por meio da poesia, os poetas registram esses eventos, fundando suas histórias a contrapelo. Ao lado dessa atitude, no plano da fatura textual, os poetas dialogam com a tradição brasileira e estrangeira, revigorando um legado, uma memória literária. Alinhando seus atos em relação ao passado, observa-se que os poetas não exercem um trabalho de reafirmação do cânone histórico e literário, mas relem-nos para tomá-los como fato contemporâneo, arquivo que sobrevive pela escrita e rastro do que foi na realidade primeira, mas que se distanciou ao ser lido e depositado em outro livro ou poema. À luz das noções de arquivo (DERRIDA, 2012; RICŒUR, 2008), o trabalho poético torna-se resultado de uma deliberação, construção com tempos que resistem ao apagamento em outra era, pois apresenta-se como rastro da resistência da memória eclipsada e afirma-se como uma coleção que sobrevive pela poesia. Por esse motivo, o método de abordagem adotado será o da análise literária, na esteira de Bosi (2000), e da Literatura Comparada (COUTINHO, 1996; MARQUES, 2016), acreditando que o que começa na fatura textual extrapola a matéria literária para apresentar uma nova face da Amazônia.

Palavras-chave: Poesia brasileira do século XX; Amazônia brasileira; Coleção; Luiz Bacellar; Astrid Cabral.

27 “QUANDO O POETA DEUS CHAMA O POETA HOMEM...” ECOS FILOSÓFICO-RELIGIOSOS DA TRAJETÓRIA CONSTITUTIVA DO POETA EM “O CHAMADO” DE SMARÁGDA MANTADÁKI

Fernanda Lemos de Lima (UERJ)

Resumo: A comunicação busca oferecer os resultados parciais de um estudo cujos objetivos são a compreensão da construção de uma prosa ficcional que lida com uma espécie de viagem atemporal de constituição do indivíduo-poeta, além de sua tradução para a língua portuguesa. “Το κ?λεσμα” – “O Chamado” – é a obra da escritora grega Smarágda Mantadáki e a hipótese de leitura se refere à ideia de que a obra se constrói em diálogo com o pensamento neoplatônico, especialmente, no que diz respeito aos filósofos Plotino e Jâmblico, além de trazer um evidente referencial cristão ao evangelho de João, justamente aquele que se inicia com a ideia de que no princípio era o logos, as obras desses autores seriam “discursos constituintes” em relação a “O Chamado”. Além disso, objetiva-se investigar o diálogo do texto com a obra de Arthur Rimbaud, em especial, no que diz respeito à figura do potencial poeta constituída ao longo do texto, personagem amparada pela presença sobrenatural de um anjo. A investigação se insere em uma pesquisa mais ampla sobre a presença de uma “estética” neoplatônica em obras pós-clássicas. Em termos de fundamentação teórico- metodológico, optou-se por basear a investigação nas ideias da análise do discurso, especialmente, nas ferramentas de leitura propostas por Maingueneau. Intenta-se observar como a trajetória da personagem Stéfanos se constitui enquanto viagem literária de descoberta e de crescimento em que a transcendência pode ser vista como a chave para a constituição poética do indivíduo.

Palavras-chave: Poeta,Filosofia, Religião, Transcendência.

O LUGAR DOS RELATOS NA ESCRITA DA NARRADORA DE MILTON HATOUM

Flavia Roberta Menezes de Souza (IFPA)

Resumo: A narratologia, desde a década de 60, tem contribuído significativamente nos estudos literários para a compreensão, principalmente, do romance moderno. Os conceitos e termos utilizados ao longo dos anos sofreram releituras que necessitam de acolhimento entre o público brasileiro, que não tem à sua disposição traduções que tornem familiar as discussões mais recentes no campo da narratologia. Nesse sentido, o grupo de pesquisa ANA – Amazônia Narratologia Anthropocene tem se ocupado do estudo das propostas teóricas de Wolf Schmid (2010), que se destaca como uma das mais recentes vozes sobre o assunto. Tendo aplicado suas reflexões teóricas à literatura eslava, Schmid revisa e discute em Narratology: an introduction os tipos de narrador e o ponto de vista na narrativa, apontando como esses dois aspectos têm sido confundidos e não bem delimitados em estudos anteriores. Partindo da distinção proposta por Wolf Schmid entre tipos de narrador e ponto de vista, apresentaremos uma leitura do romance Relato de um certo Oriente de Milton Hatoum (1989), apontando para a sua estrutura e composição. Essa leitura tem o objetivo de mostrar o romance sob uma perspectiva diferente da qual tem sido apresentada pela crítica até o momento. Trata-se, portanto, não apenas de um estudo sobre um dos romances modernos mais significativos e bem

28 recebidos pela crítica literária até hoje, como também uma proposta de discussão teórica que tem tornado bastante produtiva a leitura e interpretação de nossa literatura.

Palavras-chave: Romance moderno, narratologia, tipos de narrador, ponto de vista.

ENTRE MITOS E LENDAS NA PAN-AMAZÔNIA: A CULTURA POPULAR PARA ALÉM DAS FRONTEIRAS

Flávio Reginaldo Pimentel (IFPA) Leticia Marques Silva (USP)

Resumo: O presente trabalho é resultado de leitura e análise acerca dos estudos sobre Cultura Popular, mais especificamente o que podemos denominar de Literatura Oral ou Popular. O corpus desta pesquisa é o livro Cuentos Amazónicos (2007) do escritor colombiano Juan Carlos Galeano que trata dos mitos e lendas da Pan-Amazônia, que é uma extensa área territorial de um importante bioma que inclui além do Brasil, os seguintes países: Bolívia, Colômbia, Equador, Venezuela, Guiana, Guiana Francesa, Peru, Suriname. Galeano é professor, poeta, escritor, folclorista e saiu recompilando por toda Bacia amazônica, histórias, lendas, mitos e narrativas orais para compor seu livro. O mito escolhido para análise é chamado Moniya amena, mito da árvore da abundância e da criação do Rio Amazonas. Etimologicamente, a palavra mito deriva do grego “mythos” que significa narração. É um relato maravilhoso que em geral interpreta a origem do mundo ou de grandes acontecimentos da humanidade. Os mitos são explicações que os homens dão aos fenômenos da natureza que não são possíveis explicar pela lógica racional. Moniya amena faz parte da cosmologia dos índios Uitotos ou Witotos que habitam a floresta amazônica entre o Brasil, Peru e Colômbia, sendo este país onde se encontram em maior número populacional. São utilizados como suporte teórico textos de ARANTES (1981), LUYTEN (1983), AYALA (1995), CUCHE (1999), ROCHA (2004), BURKE (2010), entre outros.

Palavras-chave: Cultura Popular; Literatura Oral; Mitos; Pan-Amazônia

A NARRATIVA MITOPOÉTICA “O BOTO”, EM ANTÔNIO JURACI SIQUEIRA

Francisca Claudia Borges Fernandes (UNIFESPA)

Resumo: RESUMO: O presente trabalho teve como objetivo investigar a construção da narrativa mitopoética “O boto” e a memória a partir da narrativa oral recontada em forma de folheto de Cordel, “O chapéu do Boto”, de Antônio Juraci Siqueira. O autor estudado tem como repertório as obras com temática amazônida e as narrativas orais da região, privilegiando o estilo fantástico. Essa escolha se deu, a fim de valorizar o papel da mitopoética, o mito como fonte de onde verte a poesia, com seus saberes e o imaginário amazônico, bem como a oralidade presente na literatura escrita. A base teórica, em linhas gerais, tratam da questão da literatura oral; os gêneros desse tipo de literatura; o papel do narrador conforme Benjamin (1987); a questão da literatura oral, com Cascudo (1978-2002); os gêneros desse tipo de literatura, de acordo com Todorov (2017); as lendas e mitos presentes no imaginário popular; os arquétipos e memórias

29 amazônidas, segundo Loureiro (1995), assim como a questão da poética, da oralidade e dos elementos performáticos apresentado por Paul Zumthor (1993), de que se vale o contador no momento em que conta seus causos considerando o tripé: texto, corpo e voz, seus elementos fundamentais. Como resultado vislumbramos o fazer literário de Siqueira, autor contemporâneo que através de sua poética, retrata com muita autenticidade as narrativas orais de uma comunidade, o imaginário amazônico ora serve de fundo nas escrituras poéticas, ora como tema e metáfora de mundo.

Palavras-chave: PALAVRAS-CHAVE: Narrador, oralidade, memória.

A RELAÇÃO INTERARTES EM HERBERTO HELDER

Geovanna Marcela Da Silva Guimarães (UFPA)

Resumo: O objetivo deste trabalho é discutir a relação interartes em Herberto Helder como forma de compreender a transformação crítica da discussão clássica em torno do Ut pictura poesis, que relacionava poesia e pintura, no que seria a desconstrução dos limites e fronteiras que outrora separavam as diversas artes, mostrando como, hoje, na poesia, essa relação aponta para uma nova forma de fazer poético. Para isso, nos valeremos da leitura de Lichtenstein (2005); Oliveira (1987); e de fragmentos de textos poéticos de Herberto Helder presentes em Photomaton e Vox (2013a), Poemas completos (2014) e de Os passos em volta (2013b).

Palavras-chave: Relação interartes; Herberto Helder; Poesia.

ANTONIO CANDIDO: LEITURAS DA FICÇÃO BRASILEIRA

Gilda Marchetto (UNIR/UNESP)

Resumo: O ideal romântico-nacionalista encontrou no romance a linguagem mais eficiente de pesquisa e descoberta do país e, conforme Antonio Candido, um dos fatores para compreender sua introdução no Brasil foi a busca de “novas necessidades de expressão, correspondendo a uma visão diferente do indivíduo e da sociedade” (CANDIDO, 1997, p. 99). A moreninha e O moço loiro de Macedo foram as primeiras obras apreciáveis pela coerência e execução, “dando exemplo dos rumos que o nosso romance seguiria, isto é, a tentativa de inserir os problemas humanos num ambiente social descrito com fidelidade” (CANDIDO, 1997, p.107) Segundo o crítico, o romance brasileiro contribuiu para fixar uma consciência viva da literatura como estilização de determinadas condições locais e pendeu, desde cedo, “para a descrição dos tipos humanos e formas de vida social nas cidades e nos campos” (CANDIDO, 1997, p. 99). A partir dessas afirmações e considerando a relação entre literatura e sociedade, temos por objetivo discutir os elementos que são mobilizados por Antonio Candido ao analisar a prosa brasileira no período de formação da nossa literatura e como os aspectos sociais se incorporam à estrutura da obra, tornando-se substância do ato criador.

Palavras-chave: Antonio Candido, Romance, Crítica literária.

30 ANTOINE BERMAN: PENSADOR DA TRADUÇÃO LITERÁRIA.

Gilles Jean Abes (UFSC)

Resumo: Antoine Berman (1942-1991), linguista, tradutor e, sobretudo, teórico francês da tradução, desenvolveu significativas reflexões sobre o ofício do tradutor e o objetivo da tradução. Seu pensamento aflora notadamente os campos da filosofia da linguagem e da teoria literária. Orientando de Henri Meschonnic e estudioso dos românticos alemães, particularmente de seu processo de formação cultural (Bildung), no qual a tradução teve um papel central, Berman elaborou conceitos fundamentais que questionaram um fazer tradutório pautado na hegemonia do sentido e no apagamento do Outro, cuja tradição francesa remonta aos séculos XVI e XVII, com as chamadas "Belas infiéis". O objetivo dessa comunicação é a de discutir e melhor circunscrever conceitos bermanianos que alicerçam seu pensamento. Abordarei sobretudo suas noções de "tradução platônica" e de "ética da tradução", elaboradas em sua obra A tradução e a letra ou o albergue do longínquo (2013 [1999]). Trata-se de apresentar um resultado parcial de minha pesquisa sobre a obra de Berman que visa aprofundar seu pensamento e torná-lo mais acessível aos estudiosos. De fato, a tradução da letra é frequentemente mal compreendida, fora inclusive de seu contexto histórico, os anos 80 na França. Neste período, por ocasião do bicentenário da Revolução francesa e de numerosas manifestações sociais, se debateu a relação com o estrangeiro (sobretudo o imigrante) e o Outro. Melhor compreender seu pensamento significa evitar, por exemplo, entender a tradução da letra como tradução literal, o que se observa com frequência em trabalhos de tradução comentada, quando se busca aplicar suas reflexões a uma prática tradutória.

Palavras-chave: Antoine Berman, Tradução literária, ética, tradução platônica

A. HERZEN E A TRADIÇÃO AUTOBIOGRÁFICA NA RÚSSIA E NO BRASIL

Giuliana Teixeira de Almeida (USP)

Resumo: Esta comunicação, que é fruto de uma pesquisa em andamento em nível de doutoramento, visa refletir sobre a tradição autobiográfica na Rússia e compreender como Passado e Pensamentos, de Alexander Herzen, urdiu essa tradição. Passado e Pensamentos tornou-se uma obra canônica entre o círculo da intelligentsia russa e influenciou muitas gerações no país. A ideia de “homem [e mulher] forjado/a pela História” é uma constante na cultura russa e é o que motivou Herzen, assim como muitos outros escritores do século XX a narrarem suas vidas talhadas pelos acontecimentos da época. Com o intuito de compreender como o legado de Herzen foi apropriado pela tradição literária russa, optamos por analisar textos de caráter autobiográfico de autores do século XX pertencentes ao círculo da intelligentsia como Lidia Guinsburg, Lidia Tchukóvskaia, Ievguênia Guinsburg e Boris Schnaiderman. O estudo comparativo desses textos indicou que a ideia mestra de Herzen - de que as vidas individuais importam e têm significado histórico – encontra-se no cerne de todas essas empreitadas autobiográficas. É interessante atentar para o fato de que, através de Schnaiderman, que se ligava à intelligentsia russa por interesse profissional e pelas suas raízes, o legado de Herzen atravessou o atlântico e deu frutos na tradição literária brasileira. GINZBURG, Eugenia Semynovna. Journey into the Whirlwind. New York: Harcourt INC, 1995. GINZBURG, Lydia A. Blockade Diary. London: The Harvill

31 Press, 1995. GINZBURG Lydia. On Psychological Prose. Translated and Edited by Judson Rosengrant. Princeton/New Jersey: Princeton University Press. 1991 PAPERNO, Irina. Stories of the Soviet Experience. Memoirs, Diaries, Dreams. Ithaca and London: Cornell University Press, 2009. SCHNAIDERMAN, Boris. Caderno Italiano. São Paulo: Perspectiva, 2015. ______. Guerra em Surdina. São Paulo: Editora Brasiliense, 1995. ???????. ????????? ????? ? ????. in http://az.lib.ru/g/gercen

Palavras-chave: Autobiografia, Intelligentsia, História

AFONSO CONTÍNUO, SANTO DE ALTAR: O DILEMA DA CONSCIÊNCIA HUMANA ENTRE O BEM E O MAL.

Gleice do Socorro Bittencourt dos Reis (UFPA) Inara de Araujo Carvalho (UNAMA)

Resumo: O romance Afonso Contínuo, Santo de Altar de Lindanor Celina revela-se uma obra instigante no sentido de suscitar muitas reflexões acerca de temas universais como o bem e o mal, dilemas existenciais, dramas humanos e debates sociais. O referido romance é uma fonte inesgotável de temas interessantes e importantes tanto do ponto de vista literário quanto do ponto de vista social, por abordar temas polêmicos e que provocam debates férteis e necessários. “Seu Afonso” por seus pensamentos vai revelando ao leitor sua vida, seus sentimentos, ressentimentos, mágoas, críticas, etc. A memória é elemento primordial nesse processo de construção da personagem e do fluxo narrativo. “Seu Afonso”, a personagem principal do romance, é considerado por todos um homem bom, devotado, um santo, porém ele vive se questionando se merece esta alcunha, já que se pergunta se realmente já fez algo importante em sua vida que fosse uma atitude santificadora que merecesse esse título. A personalidade de Afonso, seus sentimentos mais profundos, são apresentados ao leitor com riqueza de detalhes, provocando-o a refletir a própria indagação da personagem e o que diríamos afinal? Afonso Romano é mesmo um “Santo de Altar”? A relevância de um estudo como este está na valorização de nossos autores amazônicos que mesmo falando sobre sua terra desenvolveram em suas obras temas extremamente universais, pois conforme explicita Bruno Palma em prefácio ao livro Afonso contínuo, Santo de Altar: “Lindanor Celina foge às armadilhas do regionalismo. Embora o romance se passe em Belém do Pará, e o essencial da ação transcorra no Tribunal de Justiça dessa cidade, isto é apenas uma ‘amostra do mundo’”.

Palavras-chave: Lindanor Celina, Análise, Bem e Mal, Dilema.

REVERBERAÇÕES DA TRADUÇÃO E RECEPÇÃO DE AUTORAS RUSSAS E SOVIÉTICAS NO BRASIL

Graziela Schneider Urso (USP)

Resumo: Embora mulheres brasileiras tenham vivido e estudado na União Soviética, e, assim, tenha havido a possibilidade de trocas culturais, políticas, sociológicas, epistemológicas, e ainda que A. Kollontai tenha começado a ser publicada no Brasil em

32 1958, em traduções indiretas, até agora não há dados concretos de que historiadoras, sociólogas, feministas e pesquisadoras brasileiras tenham lido ou escrito sobre autoras russas, ou seja, ainda não foram encontradas evidências de artigos, livros, relatos, memórias e, até muito recentemente, havia pouquíssimos textos de e sobre mulheres russas e soviéticas publicadas no Brasil e também não havia coleções de fontes escritas por mulheres russas. Dessa forma, com exceção dos livros e textos de A. Kollontai, havia unicamente alguns materiais de N. Krúpskaia, disponíveis exclusivamente na internet, também em traduções indiretas. Além de Marina Tsvetáieva e Anna Akhmátova, quase não havia mulheres em bibliografias, programas de disciplinas ou pesquisas acadêmicas e ainda há pouquíssimas publicações - as mencionadas, pouco mais do que um livro de Nina Berberova, um de Tatiana Tolstaya, e um conto da última, outro de Teffi e um de Petruchévskaia. Nos últimos anos, surgiram alguns artigos, um pequeno número de pesquisas e livros, mas exclusivamente sobre a relevância das mulheres russas e soviéticas em geral, e só em 2014 “Mulher, Estado e Revolução”, de Wendy Goldman, foi editado no Brasil. No momento, há cada vez mais artigos, pesquisas e publicações críticas, mas, novamente, apenas sobre Kollontai ou mulheres russas e a Revolução em geral, e não sobre ou de outras autoras específicas. Somente em 2017 duas antologias de fontes, uma com 11 autoras e outra de textos de N. Krúpskaia, foram publicadas, pela primeira vez em tradução direta do russo, além de edições de Aleksiêievitch e Petruchévskaia, também vertidas diretamente. Assim, a presença das mulheres na historiografia brasileira sobre a Revolução Russa, a chamada "questão das mulheres", bem como as várias e complexas manifestações dos movimentos políticos e artísticos de mulheres na Rússia pré-revolucionária, a emancipação das mulheres na URSS e suas obras literárias e críticas eram e ainda são praticamente inexistentes; além disso, bibliografias e programas de história, literatura e cultura russa e soviética e as epistemologias em geral nas universidades brasileiras são quase exclusivamente de autoria masculina. Esta comunicação traz uma discussão sobre a ausência de pesquisa, tradução e recepção de mulheres russas e soviéticas, seu protagonismo, produção e pensamento no Brasil, argumentando que a visão e registro de estudiosos sobre o assunto é patriarcal e que os possíveis diálogos e reverberações entre mulheres russas e soviéticas e brasileiras também podem ter sido invisibilizados.

Palavras-chave: Mulheres russas e soviéticas; literatura russa de autoria feminina; tradução; recepção

AS REPRESENTAÇÕES AMAZÔNICAS NA LITERATURA ESCOLARIZADA

Haline Fernanda Silva Melo (UNAMA) Hellen Cristina Aleixo Azeredo Moura (UNAMA)

Resumo: Neste trabalho, faz-se uma discussão sobre as representações amazônicas apresentadas no cotidiano escolar, sobretudo as presenças e/ou ausentes dessas representações dentro dos textos literários, sejam eles oral ou escrito. Para tanto, parte- se do princípio de que o espaço da literatura escolarizada é bem pequeno, quase inexistente, devido à ausência de práticas de recepção artística, nesse caso, as literárias. O texto ressalta a relevância de se trabalhar a literatura amazônica em sala de aula, especificamente nos últimos anos do ensino fundamental, pois, é nesse período que fundamentalmente se desenvolvem os primeiros contatos do aluno com os meios de leitura, sendo um livro em mãos ou então com o auxílio de um professor para formar

33 esse aluno leitor. Outra vertente evidenciada nesse estudo, diz respeito ao currículo escolar, já que, acredita-se que a investigação dessa categoria é significativa para vislumbrar o aspecto macro do planejamento escolar. A metodologia empregada tem uma abordagem qualitativa e um cunho bibliográfico. Outros dados aqui apresentados como relatos e dados estatísticos (obtidos de questionários), são decorrentes de dados empíricos sobre a literatura no ambiente escolar. Os resultados preliminares da pesquisa apontam para um apagamento significativo dos textos literários na escola, sobretudo os que se referem a literatura de cunho amazônico. A pesquisa foi realizada dezembro de 2017. A amostra da pesquisa foi constituída de uma professora de língua portuguesa e quarenta alunos do nono ano do turno da manhã. Dentre os autores abordados nas leituras para a construção do texto estão: Durant (1998), Filipouski (2006), Geraldi (2006), Moscovici (2011), Paulino e Cosson (2009), Paes Loureiro (1997), Zilberman e Silva (2008), Zilberman (2010)

Palavras-chave: Escola. Literatura Escolarizada. Representações Amazônicas. Currículo Escolar.

SER UMA PESSOA, TORNAR-SE OBRA: A LIBERDADE HORRÍVEL DE NÃO SER EM ÁGUA VIVA, UM SOPRO DE VIDA E A HORA DA ESTRELA DE CLARICE LISPECTOR

Harley Farias Dolzane (UFPA)

Resumo: Em crônica intitulada “persona”, publicada originalmente no Jornal do Brasil em 1968, Clarice Lispector comentando sobre o filme homônimo de Ingmar Bergman, estabelece uma relação entre a vida e a representação teatral/criação artística que, certamente, ilumina a compreensão do conjunto de sua obra literária, sobretudo em sua última fase. Na crônica, a autora escreve que viver é fabricar a própria máscara (persona) e escolhê-la é o primeiro gesto voluntário humano. Trata-se de gesto solitário e amedrontador, mas que, uma vez tomada a decisão de afivelar a máscara, concede ao corpo uma nova firmeza em que “a cabeça se ergue altiva como a de quem superou um obstáculo. A pessoa é.” E ser, aqui, realiza-se como liberdade que se destina ao ser humano, a “horrível liberdade de não ser” que se doa para que possamos escolher ser o que somos apossando-nos “da única coisa completa que nos é dada ao nascimento: o gênio da vida”. Completar a única coisa completa que nos foi dada, certamente, pressupõe uma travessia que traduz uma procura por apossar, apreender aprendendo-se a si próprio. É isso o que se observa ao longo da ficção de Clarice Lispector. Interessa- nos, neste trabalho, aprofundar essas reflexões, especificamente, a partir da concretude dos três últimos romances da autora, Água viva (1973), A hora da estrela (1977) e Um sopro de vida (pulsações) (1978). Neles, o teatro da vida/linguagem desdobra e explicita a questão que, desde sempre, se apresentava no cerne da escritura Clariceana, mas que, por outro lado, era apenas dissimulada como uma espécie de pano de fundo para o enredo nos romances anteriores, e que, a partir de então, será o próprio espaço de realização da linguagem enquanto linguagem: a arte.

Palavras-chave: Obra de arte, criação literária, pensamento poético, romance, Clarice Lispector

34 “LE CORBEAU” ANÔNIMO DE 1853: A PRIMEIRA TRADUÇÃO FRANCESA DO POEMA “THE RAVEN” DE EDGAR ALLAN POE

Helciclever Barros da Silva Vitoriano (UnB)

Resumo: O objetivo desta comunicação é trazer ao debate a tradução anônima do poema “The Raven” de Edgar Allan Poe, publicada em 9 de janeiro de 1853 no Journal D’Alençon. Trata-se, diferentemente, de equívoco comum, que atribui a Charles Baudelaire o posto de primeiro tradutor francês do texto poético mais conhecido de Poe, da inaugural tradução do corvo em solo francês. Neste artigo também desenvolvo um breve estudo comparado entre essas duas primeiras traduções francesas, tendo em vista que ambas se interseccionam não somente do ponto de vista temporal, mas também discursivamente, na medida em que têm em comum um mesmo interlocutor: o editor e bibliógrafo A. P. -M. O mais importante, ao cabo, é trazer a luz da crítica brasileira atual a supracitada tradução anônima, esquecida pelo tempo, apagada que foi pela figura brilhante de uma das maiores expressões da poesia francesa. À luz de Gérard Genette (2010), discuto a relação palimpséstica entre essas duas primeiras traduções do corvo de Poe na França, a primeira caída no esquecimento e a segunda glorificada pelo peso canônico de seu autor. Em anexo à exposição crítica empreendida, a pesquisa ostenta as referidas traduções, a anônima e a de Baudelaire, em fac-símile dos originais publicados nos periódicos D'Alençon e L'Artiste, respectivamente, material inédito em publicações brasileiras.

Palavras-chave: "Le Corbeau", tradutor anônimo, Baudelaire

ACORDE DE CORDÉIS: TESTEMUNHOS EM POÉTICAS DO CAMPESINATO

Hiran De Moura Possas (UNIFESSPA)

Resumo: A pesquisa é parte da memória do PIBIC/UNIFESSPA/2016-2017-2018 “Acordes Oblíquos de Cordéis: Marabá e suas terceiras margens”, objetivando analisar folhetos de cordéis acompanhados de entrevistas com as autorias. Seria um estudo das manifestações do que chamaremos de literatura “subalterna” oral-escrita refratando universos simbólicos da região sul e sudeste do Pará: No momento, Marabá; Brejo Grande do Araguaia; Palestina do Pará, Eldorados dos Carajás e Projeto de Assentamento Palmares II (Município de Parauapebas). Desse exercício epistêmico de aprumada escuta, fundamentado por alguns pressupostos da história oral acompanhados de breves ensaios interpretativos, emergem fragmentos memoriais advindos, dentre outros, da luta pela terra e da Guerrilha do Araguaia. A simples descrição e o reconhecimento dessas texturas não obviamente significarão desnaturalizar, por completo, certos discursos depreciativos impostos aos artífices de manifestações artísticas incompreensíveis aos estudos culturais e/ou literários mais intolerantes, mas conjugam, pelas interfaces da letra com a voz e pelas redes de afetos agenciadas com a pesquisa, Outras Artes e Histórias, que estrategicamente são alijadas e depreciadas por alguns exercícios acadêmicos classificadores-hierarquizantes.

Palavras-chave: Cordel; memória ; testemunho e trauma.

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BIOPOLÍTICA E LITERATURA: CORPOS INDÍGENAS MESTIÇOS (IN)DÓCEIS EM ROMANCES DE NENÊ MACAGGI

Huarley M. Ateus do Vale. Monteiro (UFPA) Tânia Sarmento-Pantoja (UFPA)

Resumo: Este texto resulta da construção do projeto de tese de doutorado em fase de exame de qualificação PPGL/UFPA-Estudos Literários. O objetivo formata-se em contribuir com a fortuna crítica sobre o corpo indígena mestiço enquanto categoria (In)dócil, partindo do referencial de resistência. O corpus, nominados de Romances do Circum Roraima, a ser analisado é da autora roraimense Nenê Macaggi: A mulher do Garimpo: o romance no extremo sertão norte do amazonas (1976), Dadá Gemada, Doçura e Amargura: romance do fazendeiro de Roraima (1980), Exaltação ao Verde (1984), Nará-Sue Uarená – o romance dos Xamatautheres do Parima (2012). A análise do discurso e os delineamentos interdisciplinares aliam-se à teoria literária e aos estudos de base antropológica. Partimos do princípio da genealogia enquanto constituintes metodológico. As chaves interpretativas corpo e resistência ganham força nas abordagens teóricas de M. Foucault (1977), G. Agamben (2002, 2017), R. Esposito (2011), A. Mbembe (2006); bem como Munanga (2008), Bosi (2002), Sarmento- Pantoja (2014), entre outros e outras. Os resultados iniciais constroem-se na perspectiva do corpo indígena mestiço enquanto (In)Dócil, sendo uma das formas de narrar as tensas relações contemporâneas.

Palavras-chave: Biopolítica, Literatura, Corpo (In)Dócil. Indígena. Nenê Macaggi

COMMENTAIRE COMPOSÉ: LEITURA EXISTENCIALISTA DE UM EXCERTO DA PROSA DE FICÇÃO CLARICIANA

Hugo Lenes Menezes (IFPI)

Resumo: A liberdade constitui uma questão palpitante entre todos nós, firmando-se no Ocidente, desde a Antiguidade Clássica, como uma constante no pensamento universal, sob várias perspectivas. Entre essas, destacamos a da corrente existencialista, cujo representante mais popular e na linha ateia é Jean-Paul Sartre. A aludida questão, no que tange à vertente filosófica aqui encimada no título, assenta-se na capacidade que qualquer indivíduo tem para decidir sobre seu percurso vivencial, mediante livre escolha e correspondente responsabilidade, que é bem ampla, recaindo tanto sobre si, quanto sobre toda a humanidade. Cada escolha pessoal gera mudanças coletivas não desfeitas. De onde não ser cabível querer modelar o mundo como um projeto nosso. Por conseguinte, observamos a total negação do determinismo em Sartre, para quem a existência precede a essência, nada então podendo ser esclarecido com base numa natureza humana dada e definitiva. Até porque, ainda segundo tal pensador, o Homem é o senhor de seu destino e “está condenado à liberdade”. Em consonância com o autor de “Os caminhos da liberdade” (1945-1949), para o alcance completo dessa última, a ideia de Deus deve ser eliminada, cabendo somente à pessoa mesma criar valores, significados existenciais, por meio do que pode guiar seus mais diversos atos. Assim sendo, na comunicação ora proposta, resultante de uma sugestão de pesquisa

36 apresentada à professora de Filosofia e de Letras Jeanne Marie Gagnebin de Bons, na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), para nosso trabalho final da disciplina Crítica I, entre os métodos e técnicas da crítica literária, optamos pelo Commentaire Composé, método francês através do qual temos por objetivo analisar, do primeiro romance da escritora brasileira Clarice Lispector, qual seja, “Perto do coração selvagem” (1943), um excerto, enquanto perfeita ilustração do ideário do intelectual parisiense, em particular no tocante à liberdade, entendida por ele, exclusivamente, como absoluta ou inexistente.

Palavras-chave: Liberdade, Existencialismo sartriano, Romances claricianos

O BRANCO NO POEMA: A ICONICIDADE DA ESCRITA NA OBRA DE MAX MARTINS

Ilton Ribeiro dos Santos (UFPA)

Resumo: A presente pesquisa traz reflexões sobre o poema Branco, de Max Martins, estabelecendo relações com outros textos do autor em que a ideia do branco tem força metafórica no poema e ou na página como natureza icônica da escrita, o branco como palavra no seu universo sinonímico e o branco como cor, percepção visual na/da página na poesia. O autor materializa a cor branca (brancura), o esvaziamento cheio de potência para a criação, silêncio entremeado na malha textual, mas penetrado pela escrita e pela fala. Trata-se de uma reflexão metalinguística sobre iconicidade da escrita, ou seja, um estudo sobre a materialidade do objeto escrito. Arbex fala sobre o entrelaçamento da escrita e da imagem como reflexão sobre a natureza icônica da escrita, isto é, “levar em consideração a concepção elementar da imagem de caráter misto que leva em conta, além das figuras, a superfície, o suporte” (ARBEX, 2006, p.). O propósito desta pesquisa é considerar no poema de Max Martins, a concepção de tela (espaço em branco), espaço abstrato, recortado de modo arbitrário da aparência do real, intervalos entre figuras que separam e preservam valores semânticos com marcas de inteligibilidade.

Palavras-chave: PALAVRAS-CHAVE: Branco, Poética visual, Linguagem.

ENTRE O PIONEIRISMO, A MILITÂNCIA E CONDIÇÃO FEMININA: FIGURAÇÕES DE NA HISTORIOGRAFIA LITERÁRIA BRASILEIRA

Ingred de Lourdes Pereira (UFPA)

Resumo: Esta comunicação é resultado de pesquisa realizada no âmbito da disciplina Teoria da História da Literatura, do doutorado em Estudos Literários da Universidade Federal do Pará, acerca do lugar destinado a Rachel de Queiroz e sua obra em algumas das principais histórias literárias produzidas entre 1938 e 2015, a saber: História da literatura brasileira (1938), de Nelson Werneck Sodré; Introdução à literatura no Brasil (1955), de Afrânio Coutinho; História concisa da literatura brasileira (1970), de Alfredo Bosi; História da literatura brasileira (1997), de Luciana Stegagno-Picchio; História da literatura brasileira: da carta de Caminha aos contemporâneos (2011), de Carlos Nejar;

37 e, por fim, Uma história do Romance de 30 (2015), de Luís Bueno. Primeiramente, procura-se contextualizar as histórias abordadas e em que momento da periodização literária cada historiador insere a obra da escritora cearense; em seguida, realiza-se um confronto entre essas histórias procurando identificar que aspectos de sua obra são ressaltados e quais os pontos de convergência e divergência ficam evidentes. Dessa forma, como principais resultados, observou-se que, no tocante à periodização, que a obra de Rachel de Queiroz é reconhecida como precursora do Romance de 30, ao estabelecer em O Quinze (1930) uma linguagem direta e sem adornos, que influenciaria outros escritores do período. Além disso, a maioria das histórias literárias examinadas, de perfil totalizante e enciclopédico, dedica pouco espaço à autora, com ênfase sobretudo a O Quinze em detrimento dos outros títulos de sua bibliografia. O ponto notado fora dessa curva é justamente a história literária mais recente, de Luís Bueno, que seleciona um recorte menor, o Romance de 30, oferecendo, assim, uma análise mais densa do corpus, a fim de revisitar, revisar e ampliar temas que surgiram de forma recorrente ou pontual ao longo das demais histórias, como a seca, a condição feminina e a militância política.

Palavras-chave: Histórias literárias, Rachel de Queiroz, Romance de 30

BENEDITO NUNES: UMA LEITURA DOS ROMANCES PERTO DO CORAÇÃO SELVAGEM E A CIDADE SITIADA, DE CLARICE LISPECTOR

Ingrid Luana Lopes Cordeiro (UFPA)

Resumo: Em 1989, Benedito Nunes, crítico literário e filósofo paraense, publicou O drama da linguagem: uma leitura de Clarice Lispector, livro no qual analisa quase toda prosa de ficção da escritora publicada em vida, bem como Um sopro de vida (1978), obra póstuma. Entre os livros claricianos analisados por Nunes, destacam-se os romances Perto do coração selvagem e A cidade sitiada, respectivamente, lançados em 1943 e 1949. Assim, o presente trabalho objetiva estudar os capítulos “A narrativa monocêntrica” e “A cidade sitiada: uma alegoria”, enfeixados em O drama da linguagem: uma leitura de Clarice Lispector, tendo em vista a importante contribuição desses textos para a fortuna crítica das duas narrativas em foco, especialmente, para A cidade sitiada, romance cuja recepção crítica é pouco avultada, principalmente, em relação à recepção de Perto do coração selvagem, que veio à luz apenas seis anos antes. Nesse sentido, este estudo discutirá as análises realizadas por Nunes acerca das duas obras claricianas, observando as novas possibilidades de leitura que sua interpretação agregou às fortunas críticas desses livros, as quais, na contemporaneidade, foram responsáveis por fazer do referido livro do crítico literário brasileiro uma matriz para os estudiosos de Clarice Lispector.

Palavras-chave: Benedito Nunes, Clarice Lispector, Perto do coração selvagem, A cidade sitiada, Recepção crítica.

38 O TEOR TESTEMUNHAL PRESENTE NO JORNAL RESISTÊNCIA

Ivania da Silva Pereira de Melo (UFPA)

Resumo: Observou-se o teor testemunhal do jornal Resistência durante a pesquisa que resultou na dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação de Letras, da Universidade Federal do Pará, sobre a poesia de resistência relacionada à guerrilha no Araguaia, produção que ganhou destaque nas páginas do mensário durante a ditadura militar no Brasil. O propósito deste texto é mostrar a importante contribuição do periódico no sentido de preservar a memória (individual ou coletiva), relacionada à tortura e à guerrilha durante o período ditatorial, dentro de uma escrita de testemunho. Para isso, buscou-se apoio nos fundamentos de Márcio Seligmann-Silva sobre o testemunho. A adoção do procedimento observacional revelou o comprometimento do jornal com a luta por direitos humanos, uma função que ultrapassou a sua atuação como simples opositor ao regime instaurado no país desde abril de 1964. Quanto a abordagem, adotou-se a fenomenológica por se tratar de dados inseridos em um contexto de militância política. Tratou-se de uma pesquisa quantitativa delineada como bibliografia, desenvolvida em fonte primária (exemplares jornalísticos do período de 1978 a 1984).

Palavras-chave: Jornal. Resistência. Testemunho.

“A MENINA DO CAMISOLÃO BRANCO” OU A REELABORAÇÃO ESTÉTICA EM TRÊS CASAS E UM RIO DE DALCÍDIO JURANDIR

Ivone dos Santos Veloso (UFPA)

Resumo: Três Casas e um Rio (1958) é o terceiro romance do Ciclo Extremo Norte, projeto ético e estético de Dalcídio Jurandir que buscou representar, em termos ficcionais, uma Amazônia de marginalizados e desvalidos. Nessa obra, o menino Alfredo volta a ser o protagonista e há um adensamento das questões em torno do cotidiano familiar, a partir do qual é possível observar a relação entre adultos e crianças, bem como as relações entre Alfredo e a irmã Mariinha, “a menina do camisolão branco”, e, entre Alfredo e Andreza, a menina de “olhos de areia gulosa”. Nessa narrativa, portanto, a infância parece ser um mote relevante no desenrolar do enredo: há personagens infantis, há personagens que rememoram a infância e há a representação do imaginário da criança, que, conforme pretendo demonstrar, pode alcançar o nível estrutural da narrativa, através da incorporação e da reelaboração de contos de fadas, mitos ou lendas, um procedimento já identificado por Vicente Salles (1992) na escrita do romance Marajó (1947). Assim, nesta comunicação, que traz resultados parciais da tese em andamento a respeito da figuração da infância desvalida em romances dalcidianos, proponho analisar como A Bela adormecida, conto de tradição popular que há muito permeia o imaginário das crianças, serve de base para a técnica utilizada por Dalcídio Jurandir na composição da história de Mariinha, especialmente no episódio da morte da menina, demonstrando que essa reelaboração estética ocorre em diálogo com a tradição e compõe uma trama que não, propriamente, repete significados, mas cria novos sentidos. Tal estratégia a meu ver, se alinha ao compromisso ético e estético de Dalcídio Jurandir, cuja escrita alia responsabilidade social e consciência do fazer literário.

39 Palavras-chave: Arte literária, Infância, Dalcídio Jurandir.

NICODEMOS SENA E VICENTE FRANZ CECIM: O PROCESSO DE CRIAÇÃO LITERÁRIA DE ESCRITORES AMAZÔNICOS.

Iza Reis Gomes Ortiz (IFRO)

Resumo: Este trabalho analisa duas entrevistas realizadas com os escritores paraenses Nicodemos Sena e Vicente Franz Cecim sobre o processo de criação literária. O objetivo é compreender o processo de construção dos escritores citados, ou seja, identificar por quais etapas o processo do ‘fazer’ perpassa nas produções literárias. Neste momento, não nos deteremos nas obras publicadas, mas no contexto dos manuscritos, no antes da obra publicada, como as ideias aparecem, com quais materiais trabalham, como surgem os personagens, o espaço, os possíveis elementos literários. O estudo foi desenvolvido dentro de um projeto de pesquisa intitulado: Processos de criação na Amazônia – escritores contam suas experiências literárias, do Grupo de Pesquisa em Educação, Filosofia e Tecnologias (GET) do Instituto Federal de Rondônia. Utilizamos como ferramentas de trabalho a entrevista aberta para coleta de dados; e a Crítica Genética como metodologia de análise do material pautando-nos nos teóricos Almuth Grésillon, Verônica Galindez, Philippe Willemart, Roberto Zular e Cecília Almeida Salles. O processo de criação não é igual para todos. Cada escritor possui suas peculiaridades, suas influências e seu passo a passo. Há alguns que trabalham com cadernetas de anotações, outros que não realizam pesquisas. Pesquisas sobre processo de criação de escritores amazônicos são escassas em nosso meio acadêmico. Com este novo olhar, poderíamos levantar dados e refletir sobre a questão do Regionalismo, do cânone e da Literatura Amazônica. Com esta motivação, a necessidade de se voltar para o antes da obra, para a criação em processo pode nos levar a entender outras realidades do processo literário. A região amazônica é produtora de literatura, apesar de termos muitas dificuldades na publicação e recepção destas obras. E além de termos uma Amazônia estereotipada pela visão mítica e exótica de nossa floresta, deixando o sujeito amazônico de lado em muitas representações conhecidas. Diante deste contexto, propomos investigar como é esse processo de criação dos escritores amazônicos, bem como indagar sobre essa dualidade local e global, regional e nacional. Ouvir dos escritores amazônicos as opiniões sobre essa realidade literária nossa que não é baseada apenas na qualidade da obra, infelizmente, mas também em interesses pessoais, financeiros e preconceituosos. A importância desta pesquisa perpassa na possibilidade de levantar reflexões e discussões sobre a produção literária amazônica e nacional. Nicodemos Sena trabalha com caderneta de anotações, busca in loco informações para a escritura, utiliza a História como um elemento de construção. Vicente Cecim trabalha com a releitura de seu material, é um leitor crítico de seu próprio texto. São processos diferentes e que geram escrituras sobre a Amazônia

Palavras-chave: Nicodemos Sena. Vicente Cecim. Amazônia. Literatura. Processo de criação.

40 A ALTERIDADE ANIMAL NOS CONTOS TOURO GUARUJÁ E COÁGULOS DE SOMBRA EM O OUTRO E OUTROS CONTOS

Jackeline Mendes Brandao (UEA)

Resumo: O presente artigo tem por objetivo analisar as relações alteritárias em dois contos da obra o outro e outro contos, de Benjamin Sanches, a saber: “touro Guarujá” e “coágulo de sombras”. Neste estudo, investigaremos a alteridade a partir da representação do animal. Essas narrativas vão além das representações do animal historicamente conhecidas em fábulas e lendas, justamente pela conscientização do eu em relação ao outro. Para nossa análise, Mikhail Bakhtin nos proporcionará reflexões sobre a constituição do eu a partir das relações alteritárias, pois é mediante a exotopia que o eu tem como saber de si; também, a partir das categorias de pessoa e não-pessoa trazidas por Émile Benveniste, fundamentais para entendermos a subjetividade animal nos contos de Sanches. Ambos os contos mostram como o universo animal se funde com o universo humano. Nossas conclusões evidenciam que há uma espécie de sentimento e consciência, características conhecidamente humanas vividas pelo touro e pelo inseto, protagonistas das narrativas, além do sentimento de pertencer a um universo outro.

Palavras-chave: Alteridade, animal, humano

COVEN: O RITUAL PARTILHADO ENTRE AS BRUXAS DE GAIMAN, FREITAS E IKAROW

Jandir Silva dos Santos (UFAM)

Resumo: Este texto oferece uma leitura comparativa e residual entre três personagens literárias – a Matinta Pereira no conto A casa 26 (FREITAS, 2015), a Cuca na narrativa visual A bruxa (IKAROW, 2017) e a Beldam, na novela Coraline (GAIMAN, 2003) – que mesmo inspiradas em folclores distintos, derivam de um mesmo arquétipo: a mulher-feiticeira, a mulher-criatura, a mulher-monstro. A discussão toma os conceitos da teoria da residualidade elencados por Torres (2011) como parâmetro metodológico, em especial o de imaginário, assim como a abordagem que Tolkien (2010) realiza sobre os contos de fadas, a fim de observarmos as proximidades e afastamentos entre as três feiticeiras, mesmo que sejam distanciadas por construções folclóricas tão diversas. O objetivo de tal comparação não é simplesmente associar elementos do imaginário amazônico – descritos aqui segundo Cascudo (1999) – aos das manifestações folclóricas europeias, mas debater sobre a obscuridade que cai sobre o referido arquétipo, à luz da (in)compreensão que Eliade (1992) traz acerca das particularidades da ordem do Sagrado, de qual participam as três personagens. O que aqui se discute apresenta-se como resultado parcial de minha dissertação de mestrado, que também envolve a investigação do imaginário residual composto em Coraline, aplicada à teoria dos contos de fadas apresentada por Tolkien (2010).

Palavras-chave: Residualidade, feiticeiras, imaginário amazônico.

41 MODERNIDADE, CIDADE E REPRESSÃO EM MILTON HATOUM

Jean Marcos Torres de Oliveira (UFPA) André Luiz Moraes Simões (UFPA)

Resumo: O trabalho aqui proposto é resultado parcial da pesquisa desenvolvida no Doutorado do Programa de Pós-Graduação em Letras da UFPA. Com base no método estético-recepcional, desenvolvido por Hans Robert Jauss (1921-1997), nesta comunicação, procuramos tratar de aspectos da modernidade encontrados nas obras de Milton Hatoum, sobretudo nos romances Dois irmãos (2000) e Cinzas do Norte (2007), nos quais há uma ficcionalização da repressão sofrida pela sociedade amazonense da metade do século XX, repressão esta potencializada pelas autoridades dominantes que são resultado das sociedades modernas, conforme descrito por autores como Anthony Giddens (2007) e Marshall Berman (1988). Num contexto latino-americano, autores como Bravo & Martin (2010) e Carlos Gadea (2007) embasam como a modernidade local mostra-se fragmentada e incapaz de satisfazer a racionalidade pregada pelo pensamento moderno. Renato Gomes (1999) argumenta como as cidades, no Brasil, são projetadas para marginalizar grupos que, na concepção dos governantes, prejudicam o bem-estar dos grupos dominantes, utilizando de muros físicos e ideológicos para afastar parte da população que não atende aos requisitos pregados por uma pequena parcela que detém o poder. Objetivamos expor como Milton Hatoum se valeu desses elementos e ficcionalizou nos romances o desenvolvimento conflituoso da capital amazonense, que carrega os paradoxos da modernidade, bem como a estruturação inacabada e fraturada que, em geral, é marca das sociedades e dos espaços da América Latina.

Palavras-chave: Milton Hatoum; modernidade; repressão; cidade; América Latina.

CORNELIA BORORQUIA: HISTORIETA DO SÉCULO XIX

Jeniffer Yara Jesus da Silva (UFPA)

Resumo: Cornelia Bororquia ou a Vítima da Inquisição, historieta espanhola de Luis Gutiérrez, publicada pela primeira vez em 1802, narra o sequestro de uma moça por um padre, em que o pai da jovem, por meio de cartas, solicita ajuda para o retorno de sua filha. A novela foi noticiada em diversos jornais no Brasil, como Diário do Pernambuco, em 1833, Jornal do Commercio, em 1835, Diario do Commercio, em 1889, entre outros. Considerada a primeira novela anticlericalista, a narrativa esteve presente em terras paraenses também, primeiramente condenada pelo jornal católico A Boa Nova, em 1872 e, no mesmo ano, citada na folha maçônica O Pelicano, além de sua publicação integral no jornal maçônico O Santo Officio, em 1874. Dessa forma, o presente estudo objetiva analisar a crítica moralizante a respeito da narrativa espanhola, sob à luz dos estudos de Márcia Abreu (2003) e Andréa Paraiso Müller (2014), bem como verificar a presença do romance, publicado em formato folhetim e noticiado em diferentes jornais brasileiros, de acordo com o estudo de Germana Sales (2007), a fim de confirmar sua importância no contexto em que foi publicada na Província do Grão-Pará, como parte constituinte de uma história literária paraense do Oitocentos.

Palavras-chave: Cornelia Bororquia, Romance anticlericalista, Periódicos do século XIX, Belém do Pará.

42 CECILIA MEIRELES EM OURO PRETO: ANÁLISE COMPARATIVA

Jessica Braz da Silva (UNIFESSPA) Fernanda Rocha Fonseca (UNIFESSPA)

Resumo: Este artigo tem por objetivo apresentar uma comparação entre textos literários da mesma autora, Cecilia Meireles, em que os textos apresentam temas semelhantes: A Semana Santa e as linguagens abordadas em ambos se dão distintamente. Os textos retratam uma tradição religiosa que é a Semana Santa, ocorrida em Ouro Preto. A justificativa para a escolha do tema é relatar como temas semelhantes são trabalhados de forma distinta de acordo com o público alvo. O texto intitulado “A Semana Santa em Ouro Preto”, publicado na revista Travel in Brazil, em 1942, tem o intuito de atrair turistas estrangeiros. De modo geral, é construído por uma escrita multimodal, de forma a privilegiar figuras, cores e expressões linguísticas. Iniciado com relatos da referida cidade, mencionando seus esplendores da mineração, sua beleza arquitetônica preservada, assim como opções de estadia e de rotas a seguir. Já o texto intitulado “A Semana Santa”, publicado originariamente no jornal Folha de São Paulo, em 1964, e, posteriormente, na coletânea de Cecília Meireles (1999): Crônicas de Viagem, foi destinado a um leitor brasileiro, sem as intenções de divulgação turística da revista Travel in Brazil. Esse texto revela uma tradição religiosa vivida pelos cristãos de forma intensa e comovente. A metodologia aplicada neste trabalho é de estudo bibliográfico e comparativo, tendo sido selecionados alguns livros como: Crônicas de viagem 2 e 3, de Cecília Meireles (1999), A Poeta-Viajante: Uma Teoria Poética da Viagem Contemporânea nas Crônicas de Cecilia Meireles , de Luís Romano (2014), O texto de Fernando Cristóvão (2002): “Para uma teoria da Literatura de viagens”, a revista Travel in Brazil (1942), e artigos que tratam sobre o gênero da propaganda turística e as regras que controlam o funcionamento e a circulação dos discursos sociais.

Palavras-chave: Cecília Meireles, Ouro Preto, Travel in Brazil, Turista.

A TERRA: TRÊS EDIÇÕES DE ÉMILE ZOLA NO GRÊMIO LITERÁRIO PORTUGUÊS

José Adauto Santos Bitencourt Filho (UFPA)

Resumo: No ano de 1857, foi inaugurado em Belém, PA, o Grêmio Literário Português de Leitura, importante espaço para a história cultural da cidade. Em sua biblioteca é possível recuperar as obras recebidas ainda durante o século XIX, dentre elas, constam quarenta e oito títulos do autor francês Émile Zola, escritor consagrado e grande expoente do movimento naturalista. Entre esses volumes, o romance A Terra (1887), livro que gerou forte debate na crítica francesa e brasileira, inclui-se com três edições. Utilizaremos como base teórica estudos da área de História do livro e da leitura, entre os quais destacamos A mão do autor e a mente do editor (CHARTIER, 2014), O livro no Brasil (HALLEWEL, 2005), e Gabinetes de Leitura (MARTINS, 2015) no intuito de cotejar as três edições do romance supracitado, levando em conta as editoras, ano de publicação, tradutores, e elementos para-textuais de cada exemplar, visando traçar um esboço de como o publico leitor local entrou em contato com a obra, e que papel a agremiação paraense cumpriu nessa divulgação, além de reafirmar a importância

43 histórica do Grêmio Literário Português de Leitura na disponibilização e na democratização da leitura na Belém Oitocentista.

Palavras-chave: Grêmio Literário Português de Leitura, Émile Zola, A Terra

O ROMANCE NA EDUCAÇÃO DE SURDOS: ELEMENTOS DE TEXTUALIZAÇÃO E DE RETEXTUALIZAÇÃO

José Anchieta de Oliveira Bentes (UEPA) Rita de Nazareth Souza Bentes (UEPA)

Resumo: Este artigo descreve e analisa a experiência dos autores com o romance Dom Quixote de La Mancha de Miguel de Cervantes (1547-1616), publicado entre os anos de 1605 e 1615 na Espanha. A partir do corpus escrito feito por uma jovem participante do curso de Letras-Libras da Universidade do Estado do Pará, em Belém do Pará, no ano de 2017, é analisado os elementos de textualização da Língua Brasileira de sinais para a Língua Portuguesa escrita, tendo como fundamentação teórica principal Bakhtin (2016). Tal curso visava pesquisar a competência linguística e discursiva da pessoa surda, promovendo oportunidades de leitura em Língua Brasileira de Sinais (Libras) e de produção escrita em Língua Portuguesa. Visava também tornar os alunos surdos proficientes leitores e produtores de textos escritos, razão de ser do bilinguismo para surdos. A metodologia da pesquisa fundamentou-se na análise linguística dos elementos de textualização da Libras para a escrita em Língua Portuguesa, para chegar a uma análise discursiva.

Palavras-chave: Gênero romance, Textualização, Educação de surdos

O NEGRO NA LITERATURA NA AMAZÔNIA: DA DIMINUIÇÃO À AFIRMAÇÃO

Josiclei de Souza Santos (IFPA)

Resumo: No meio literário a cidade amazônica nos é apresentada muitas vezes como uma um lugar que tem como um de seus signos identitários mais disseminados a herança indígena aliada a do europeu europeu. Paralelamente a essa disseminação, construída em fins do século XIX e continuada no século XX, temos a presença do negro muitas vezes diminuída do espaço da cidade enquanto sinônimo de civilização. Criou-se então uma representação de cidade euro-indígena. Autores como José Veríssimo, Inglês de Souza, Márcio Souza e João de jesus Paes Loureiro estão entre aqueles autores/pesquisadores que, em nome da afirmação identitária de herança indígena, diminuíram a contribuição do negro para a identidade amazônica. Partindo da leitura de três autores modernistas paraenses, Dalcídio Jurandir, Bruno de Menezes e José de Campos Ribeiro, este trabalho busca perceber como os mesmos mostraram a importância do negro para a conformação cultural amazônica, desconstruindo o mito identitário amazônico como apenas euro-indígena. O primeiro autor escreveu um ciclo denominado de Extremo Norte, com um protagonista que vai ao longo do referido ciclo assumindo sua identidade negra e se contrapondo ao racismo. O segundo escreveu o primeiro livro de poesia modernista negra do Brasil, Batuque, de (1931). O último

44 escreveu um livro de crônicas, Gostosa Belém de Outrora (1965), que mostra uma forte presença negra cultural na cidade de Belém nas primeiras décadas do século XX. As ferramentas teóricas para leitura das referidas obras são os estudos culturais e a filosofia.

Palavras-chave: Negro, Amazônia, Cidade.

ANTONIO CANDIDO, LEITOR E CRÍTICO DE ROMANCES.

Juliana Maia de Queiroz (UFPA)

Resumo: No ano em que se comemora cem anos do nascimento de Antonio Candido, podemos dizer sem dúvida que seu nome figura entre os maiores críticos literários do século XX. Como se sabe, Candido foi um leitor voraz de romances e se voltou para o gênero romanesco em vários de seus ensaios. Em “Timidez do romance”, por exemplo, o crítico parte das formulações de Arthur Jerrold Tieje para elencar os preceitos que foram caros aos primeiros romancistas e fundamentaram suas produções, variando em maior ou menor grau: divertir, edificar, instruir o leitor, representar a vida cotidiana e despertar emoções de simpatia. Já em Formação da literatura brasileira, Antonio Candido se detém em romancistas consagrados pela historiografia literária, tais como Joaquim Manuel de Macedo e José de Alencar, apresentando-nos um estudo primoroso sobre o romance brasileiro oitocentista que vale a pena ser revisitado. De igual modo, no ensaio acerca de Memórias de um sargento de milícias, o conhecido “Dialética da malandragem”, o crítico parte da novela picaresca e nos apresenta uma visão nova, propondo a noção de um romance malandro tendo em Leonardo não um pícaro propriamente dito, mas um grande herói sem nenhum caráter. A partir da releitura desses textos, buscaremos portanto apresentar e discutir a visão de Candido sobre o romance oitocentista brasileiro.

Palavras-chave: Antonio Candido; leitor e crítico; romance oitocentista brasileiro.

IF I COULD WRITE THIS IN FIRE: A IRA COMO ALIMENTO PARA A RESISTÊNCIA E A LUTA

Juliana Pimenta Attie (UNIFAP)

Resumo: Na coletânea de ensaios If I could write this in fire – cujo texto principal possui título homônimo –, a escritora jamaicana Michelle Cliff retrata e problematiza, a partir do ponto de vista da mulher colonizada, não apenas a opressão patriarcal e imperialista, bem como o processo de resistência e luta. Ao ressaltar o sentimento de não pertencimento e de revolta, Cliff expõe as origens das relações de poder que permeiam o sistema imperialista, especialmente, no caribe anglófono. Nesse sentido, este trabalho busca evidenciar nos ensaios as raízes desses sentimentos além de examiná-los como uma estratégia de resistência e luta frente a opressão racial e de gênero. Dessa forma, a ira, nos ensaios de Cliff, pode ser vista como uma arma produtiva na literatura pós-colonial no intento de desconstruir os pilares da dominação ocidental. Diante disso, a fim de discutir tais questões nos ensaios, trabalharemos a fortuna crítica relacionada à autora e a seu contexto de produção, a teoria pós-colonial

45 fundamentada, sobretudo, no pensamento de Spivak e também a teoria decolonial a partir de Walter Mignolo. CLIFF, Michelle. If I could write this in fire. Minneapolis, London: University of Minnesota Press: 2006 LAZARUS, Neil (Ed). The Cambridge Companion to Postcolonial Literary Studies. Cambridge: Cambridge University Press, 2004. MIGNOLO, Walter. Epistemic disobedience: the de-colonial option and the meaning of identity in politics. Theory, Culture & Society. SAGE, Los Angeles, London, New Delhi, and Singapore, Vol. 26(7–8), 2009, p. 159–181. SPIVAK, Gayatri Chakravorty. Can the subaltern speak? New York: Columbia University Press, 2010. SPIVAK, Gayatri Chakravorty; HARASYM, Sarah. The Postcolonial Critic: Interviews, Strategies, Dialogues. New York: Routledge, 2014.

Palavras-chave: Resistência, Pós-colonialismo, Literatura Anglo-caribenha

A TRAVESSIA PELO CORPO E O DEMASIADO HUMANO EM A PAIXÃO SEGUNDO G.H.

Julie Christie Damasceno Leal (UFPA)

Resumo: Na obra de Clarice, o corpo torna-se presentificado através do seu contato e integração com o próprio espaço que o cerca, bem como com o outro, desvelando-se nas suas particularidades que estão conectadas com a postura e o pensar dos personagens. Dessa forma, Lispector apresenta uma visão de corpo que se espraia para além do âmbito puramente físico ou sensualista, ela, sobre o corpo, recria significados, simbologias, metáforas que se inserem no contexto da narrativa, revelando diferentes perspectivas e interpretações referentes ao indivíduo posto no mundo e sua integração com as demais pessoas/personagens. Esta pesquisa busca dialogar sobre a questão do corpo na obra de Clarice Lispector, mais particularmente no romance A paixão segundo G.H. Busca-se indagar sobre as esferas de articulação que se estabelecem entre corpo e indivíduo, bem como sua interação com aquilo que ele compreende por realidade, real. Para tanto, serão utilizados pensadores e estudiosos tanto do campo literário como do filosófico, centrando-se, no segundo aspecto, no pensamento do filósofo Heidegger. Nesta interação entre interno e externo, Clarice Lispector aborda, em A paixão segundo G.H., o corpo sob um ângulo bastante singular, pois nesta obra, o corpo assimila outro corpo, mas de natureza inumana, no caso, uma barata. A complexidade de tal relação trabalhada por Clarice exige do leitor uma compreensão da busca de G.H. por um conhecimento de si que irá se efetivar com o outro, no caso, a barata. Esta junção entre humano e inumano, pois nesse aspecto deve ser considerado também o corpo da barata, representa um ato de liberdade e individuação de G.H, pois o corpo, em seu vigorar, no sentido de existir, compõe-se e recompõe-se, desfaz-se para em um segundo momento reconstruir-se.

Palavras-chave: Palavras-chave: Corpo, existência, mundo, Clarice Lispector.

46 O ESTILO DOS RELATÓRIOS DE GRACILIANO RAMOS

Karlla Chrystynna Cardoso Pinheiro (FIBRA)

Resumo: Quando foi prefeito de município de Palmeira dos Índios, o escritor Graciliano Ramos produziu dois relatórios, um de 1929 e outro de 1930, dirigidos ao governador do Estado de Alagoas, o Senhor Álvaro Paes, dando conta de suas ações como gestor. Publicados juntamente com diversas crônicas na obra póstuma Viventes das Alagoas, em 1961, esses relatórios, que conseguiram sobreviver ao destino comum dos relatórios, a saber, repousar nas prateleiras dos arquivos mortos, até hoje agradam aos leitores das obras ficcionais de Graciliano, justamente por não lhes parecer propriamente relatórios naquele sentido em que o gênero cumpre o seu papel legal de prestar contas a quem de direito do que era incumbência do relator fazer. A presente análise comparativa do estilo dos dois relatórios de Graciliano Ramos com aquilo que a tradição exige do gênero, constante em obras descritivas como o Dicionário de Gêneros Textuais de Roberto Sérgio Costa, publicado em 2008, por exemplo, pretende explicar em que momentos o texto do escritor modernista desvia-se do modelo oficial dos relatórios e produz no leitor proficiente em obras ficcionais, como são os romances São Bernardo e Vidas Secas, para citar apenas dois exemplos, a sensação de que está diante de uma obra literária, e não técnica, utilizando, para tanto, os conceitos de Tema, Estilo e Composição que Mikahil Bakhtin, em seu ensaio sobre o Gêneros do Discurso, publicado no Brasil em Estética da Criação Verbal (2006), considera os elementos componentes de todo e qualquer gênero discursivo.

Palavras-chave: Gêneros do discurso. Estilo e Gênero. Graciliano Ramos.

ALTERIDADE E MORTE NA POESIA DE CECÍLIA MEIRELES E DE ANA MARQUES GASTÃO

Karoline Alves Leite (UFAM)

Resumo: O objetivo deste estudo é analisar os temas da alteridade e da morte nos livros de poesia Doze Noturnos da Holanda, de Cecília Meireles, e Nocturnos, de Ana Marques Gastão. Tais obras pertencem a poetas de diferentes países que viveram em épocas distintas, mas que usaram a forma poética noturno na composição de sua poesia. Constata-se, pela comparação realizada entre os poemas selecionados das obras em estudo, que a noite, tema central, é o espaço onde o mistério habita e o ambiente noturno é fecundo para o eu lírico tanto do livro de Cecília Meireles quanto do livro de Ana Marques Gastão, pois é o período no qual o outro se revela. Em Doze Noturnos da Holanda, o outro conduz o eu lírico noite adentro, seduzindo-o a desvendar os mistérios que se escondem nas suas sombras. Por outro lado, nos poemas de Nocturnos, o eu lírico chama o outro para permanecer ao seu lado e tal presença, ainda que momentânea, ocasiona mudanças em sua visão das coisas e em seu comportamento. Além disso, há também o tema da morte atrelado ao contato com o outro, ora para gerar contemplação, ora para retardar a morte. Emprega-se como aporte teórico a literatura comparada a partir do pensamento de Tania Franco Carvalhal e de Helena Carvalhão Buescu, o pensamento sartreano em O existencialismo é um humanismo, a discussão sobre a relação entre eu-outro feita por Márcia Jacoby e Sergio Antonio Carlos em O eu e o

47 outro em Jean Paul Sartre, bem como o debate a respeito da solidão levantado por Octavio Paz em A dialética da solidão.

Palavras-chave: Poesia; Morte; Alteridade.

EUCLIDES DA CUNHA EM ESPAÇOS BAIANOS E AMAZÔNICOS: IMPRESSÕES DE UM VIAJANTE SOBRE SERTÕES E DESERTOS BRASILEIROS

Léa Costa Santana Dias (UNEB)

Resumo: Esta comunicação retoma ideias defendidas na tese Euclides da Cunha em terras baianas e amazônicas: impressões de um viajante sobre sertões brasileiros e outros espaços (UFBA, 2015). O objetivo é flagrar impressões de Euclides da Cunha sobre os espaços visitados em duas viagens específicas: a primeira, em 1897, aos sertões/desertos baianos; a segunda, de dezembro de 1904 a janeiro de 1906, aos sertões/desertos amazônicos. As experiências da primeira viagem estão registradas no Diário de uma expedição e na Caderneta de campo – fontes primárias de Os sertões. As experiências da segunda viagem estão registradas nos diversos ensaios amazônicos, que seriam utilizados na composição de Um paraíso perdido. Os termos sertão e deserto são utilizados para designar os dois espaços, pois, conforme Euclides, ambos seriam territórios ainda não explorados pela ciência, que os viajantes evitavam e que os cartógrafos excluíam de seus mapas. Nas duas situações, antes da viagem, o autor teve acesso, por meio de leituras, a dados das regiões que visitaria. Assim, ao entrar em contato com o novo, supunha saber o que ia encontrar e sobre o que teria que falar. Suas descobertas, entretanto, não se encaixaram na forma pré-estabelecida, e a visão clara e precisa dos fatos foi desestabilizada. Em razão disso, nos escritos euclidianos, percebe- se um observador desnorteado perante o que vê, muitas vezes oscilante entre a fidelidade às suas próprias conclusões e o compromisso de interpretar o novo a partir do arsenal teórico de que dispõe. É assim que se configura o narrador na tessitura de impressões sobre os sertões/desertos baianos e amazônicos. Como fundamentação teórica para a elaboração da comunicação, foram utilizados textos sobre literatura de viagens, além de textos de pesquisadores renomados nos estudos euclidianos, como Lourival Holanda Barros, Francisco Foot Hardman, Willi Bolle, Valentim Facioli, Roberto Ventura e José Carlos Barreto de Santana.

Palavras-chave: Euclides da Cunha, Impressões de viagem, Sertões baianos e amazônicos

O FANTÁSTICO EM ‘A MATINTE PERERA DA PEDREIRA’, DE WALCYR MONTEIRO

Lídia Carla Holanda Alcantara (UFPA)

Resumo: O presente trabalho busca estudar um dos contos do livro ‘Visagens e Assombrações de Belém’, de Walcyr Monteiro. O conto é entitulado ‘A Matinta Perera da Pedreira’, e tem como foco principal a personagem do imaginário amazônico Matinta Perera - uma bruxa que se transforma em pássaro agourento, o qual sai pela noite

48 assoviando e pedindo, normalmente, tabaco. Dado seu teor sobrenatural, misterioso e hesitante, levantamos a hipótese de o texto poder ser classificado como pertencente ao fantástico. Levando isso em conta, procuramos enquadrar essa narrativa no referido gênero, sabendo não bastar que uma obra tenha mistério, tenha um final incerto, ou ainda que tenha um teor sobrenatural para ser enquadrado em tal gênero. Até mesmo porque, as definições do que se constitui como uma narrativa fantástica mudaram conforme os séculos, e hoje, pode-se caracterizar este gênero como característico por explorar o ser humano e sua natureza, suas dúvidas, anseios, como já disse Sartre (1997). Acreditamos que o conto presente no livro de Walcyr Monteiro consiga explorar esses últimos aspectos apontados pelo filósofo francês, bem como os pressupostos de Todorov no que diz respeito ao gênero literário em questão. Sendo assim, para a realização deste trabalho, utilizaremos, por meio de pesquisa bibliográfica, escritores que teorizaram sobre o fantástico, como Jean-Paul Sartre (1997), Tzvetan Todorov (1975), Sigmund Freud (1980), para que possamos, dessa forma, justificar nossa escolha de enquadrar o conto sobrenatural amazônico como fantástico.

Palavras-chave: Matinta Perera, fantástico, Amazônia

INFÂNCIA E EXÍLIO EM NARRATIVAS TESTEMUNHAIS E FICCIONAIS

Ladyana dos Santos Lobato (UFPA)

Resumo: Analisamos, nesta comunicação, o testemunho da experiência da infância no exílio de filhos de perseguidos e desaparecidos políticos da Ditadura Militar de 1964, ocorrida no Brasil, e a forma como esta experiência foi representada no campo literário. Esta análise trata-se de resultado parcial de pesquisa de doutorado em Letras. Por isso, selecionamos dois objetos de estudos: 1) a narrativa testemunhal intitulada “O exílio do meu pai foi a nossa despedida”, da sobrevivente Suely Coqueiro (2014) e; 2) a narrativa ficcional “Currupaco Papaco”, da escritora (1982). Utilizamos como referencial teórico os estudos sobre testemunho (Seligmann-Silva, 2003), exílio e narrativas do exílio (Said, 2003; Vidal, 2004; Montañés, 2006), o conceito de estado de exceção (Agamben, 2004), sobrevivência (Pelbart, 2016) e Utopia (Szachi,1972). Neste estudo, verificamos a possibilidade de discutir sobre “narrativa do exílio”, a partir da compreensão do exílio como um lugar utópico, espaço de liberdade e resistência, mas também como um dispositivo de sobrevivência.

Palavras-chave: Testemunho, Infância, Exílio, Sobrevivência, Utopia.

RUBEM FONSECA: UM AUTOR MARGINAL? UM ESTUDO COMPARATIVO DA HISTÓRIA DAS LEITURAS DE FELIZ ANO NOVO.

Lara Mucci Poenaru (UFPA)

Resumo: Quais aspectos formais contribuem para a inserção de uma obra ao cânone nacional? E quais podem colocá-la sob o prisma marginal? Além dos aspectos meramente estilísticos, quais outros elementos entram em cena durante a inserção ou a recusa de um livro ao circuito literário institucionalizado? Tomando-se a obra Feliz Ano Novo (1975), de Rubem Fonseca, esta comunicação pretende discutir como se dão as

49 negociações entre uma obra marginal e o cânone estabelecido. Propomos uma reflexão sobre o caráter marginal arraigado a certas obras literárias, a partir da história das leituras do livro, tomando-se a forma como este aparece nas histórias literarias, almeja- se vislumbrar os aspectos não estéticos que podem influenciar o afastamento de uma obra dos cânones literários de uma determinada época. Entre limite e transgressão, centro e periferia, fronteira e liminaridade, qual o espaço ocupado pelo livro nas histórias literárias contemporâneas? Tomamos como corpus as histórias literárias de Luciana Stegagno (2004), Carlos Nejar (2011) e Temístocles Linhares (1997). Após a análise, observamos que a produção de Rubem Fonseca goza de sólido prestígio no panorama literário brasileiro. Contudo, é preciso pontuar que a marginalidade ocorre em diferentes níveis e, nesse sentido, o caráter marginal da obra diz respeito também às ações transgressoras das personagens, que ultrapassam a lei e a moral estabelecida. Ademais, nota-se que as histórias literárias analisadas pouco se aprofundam na análise de suas produções, limitando-as a seu caráter violento e à sua aproximação com o gênero noir, carecendo de um estudo mais aprofundado, uma vez que atrelam o valor literário do livro a uma mera circustância do contexto histórico. REFERÊNCIAS FONSECA, Rubem. Feliz ano novo. Nova Fronteira, 2013. NEJAR, Carlos. História da Literatura Brasileira: Da carta de Caminha aos contemporâneos. São Paulo: Leya, 2011 STEGAGNO PICCHIO, Luciana. História da Literatura Brasileira. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2004.

Palavras-chave: literatura marginal, cânone, autoritarismo, censura.

FORMAS E PERSPECTIVAS DA LITERATURA INDÍGENA DE AUTORIA FEMININA NO BRASIL

Larissa Fontinele de Alencar (UFPA)

Resumo: Este trabalho tem por objetivo apresentar algumas reflexões acerca da literatura indígena de autoria feminina contemporânea no Brasil. Ressalta-se que, de modo geral, as produções literárias indígenas, são escrituras que rememoram, denunciam e resistem diante de um panorama ainda silenciador e canônico dentro do universo artístico, político e social. É importante esclarecer que, ao se tratar de literatura indígena, as definições e os conceitos esbarram no “preconceito literário estampado no mascaramento de polêmicas doutrinais. No cânone, essa literatura não aparece mencionada; seu lugar tem sido, até agora a margem. Poucos se dão conta de sua pulsação.” (GRAÚNA, 2013, p. 55). Diante do exposto, um dos objetivos deste trabalho é trazer à tona um questionamento latente em debates que giram em torno da escritura literária de autoria indígena, mas, sobretudo reivindicar um espaço de visibilidade para a autoria dos que estão às margens do cânone literário. Assim, lança-se um olhar para a concepção de uma cartografia concisa das autoras brasileiras e suas obras que compõem a literatura de autoria indígena. Portanto, constata-se que as escritoras indígenas subvertem a visão do colonizador, demarcador de estereótipos que se cristalizaram nas sociedades, afinal, rompem com as formas de silenciamento impostas pelos processos de colonialismo através de seus textos literários, difusores da resistência.

Palavras-chave: Literatura, Indígena, Autoria feminina

50 BENEDICTO MONTEIRO – NARRATIVA DA AMAZÔNIA PARAENSE RIBEIRINHA DO SÉCULO XX

Laura Neila Costa da Silva (UFPA- BRAGANÇA)

Resumo: Este artigo apresenta abordagem sobre as representações poéticas, históricoculturais e imagéticas da região amazônica presentes na prosa de Benedicto Monteiro, através de Miguel, protagonista em suas narrativas. Sua literatura é marcada por cenários da diversidade, do trabalho, das tradições, dos saberes locais, da linguagem e práticas culturais do caboclo rural e ribeirinho da região. Dentre suas obras há um destaque para a chamada Tetralogia, primeiro conjunto de romances: Verde Vagomundo (1972), O Minossauro (1975), A terceira Margem (1983) e Aquele Um (1985). Durante viagens pelos interiores do Pará, em sua carreira política, catalogou diversas expressões linguísticas da região, as quais foram destruídas no período da ditadura militar brasileira, quando fora preso, porém essas expressões ganharam vida em seus romances, assim como os personagens, também. Com a leitura da Tetralogia foram selecionados e analisados excertos referenciais. A análise está apoiada em pensadores de Estudos de Literatura, Linguagem e Cultura: Roger Chartier, Jhon Thompson, Alessandro Portelli, Paul Ricouer, José Guilherme Fernandes, Daniel Fernandes, dentre outros.

Palavras-chave:

GUIMARÃES ROSA DAS PÁGINAS PARA A IMAGEM EM MOVIMENTO: O ESTUDO DA ADAPTAÇÃO “A HORA E VEZ DE AUGUSTO MATRAGA (2001)

Leticia Rayane Pereira de Oliveira (UFPA)

Resumo: O presente trabalho tem por objetivo analisar como elementos fundamentais da novela “A hora de vez de Augusto Matraga” (1946), do mineiro João Guimarães Rosa (1908-1967) motivaram as perspectivas estilísticas e linguísticas feitas no projeto de adaptação para o longa-metragem A hora e vez de Augusto Matraga (2011), do cineasta contemporâneo Vinicius Coimbra (1971). Para isso, contaremos com o embasamento teórico proposto por Linda Hutcheon (1947), em seu Por uma teoria da adaptação (2011) (A theory of adaptation, 2006), no original), no qual a autora canadense explora como cada roteirista desenvolve a própria teoria da adaptação e, com base nisso, se ramifica entre uma transposição declarada [declared transposition] de uma ou mais obras reconhecíveis, um ato criativo e interpretativo de apropriação/recuperação [appropriation/recovery] ou um engajamento intertextual extensivo à obra adaptada. Discutiremos as questões da adaptação fílmica, tencionando o exame das relações entre Cinema e Literatura para além de uma dimensão meramente hierarquizante, que considera a obra derivada (o filme) como degradação do material original (o livro). Há de ser feito um apontamento acerca das relações entre o livro e o filme para que não sejam tratados como “correspondência biunívoca”, funcionando o livro-base como um ponto de partida para a produção de uma obra cuja natureza é outra. Para que assim se entenda o meio pelo qual se dá a releitura feita por Vinicius Coimbra e como a proposta metodológica de Linda Hutcheon envolve ainda considerar a

51 transposição como um conjunto de fatores que compõem o processo de transcodificação [process of transcoding] de A hora e vez de Augusto Matraga (2011).

Palavras-chave: Guimarães Rosa. “A hora e vez de Augusto Matraga”. Adaptação. Linda Hutcheon.

TRAMAS DE SABERES & TRADIÇÃO: LITERATURA INDÍGENA, MEMÓRIA, IDENTIDADE ÉTNICA E RESISTÊNCIA

Lilian Castelo Branco de Lima (UEMASUL)

Resumo: De acordo com Lima (2012, p. 42): “Pensar literatura indígena é indiscutivelmente perceber que se está diante de um caleidoscópio que incita visões diversas e por muitos ângulos”, pois ela se apresenta “[...] como uma importante marca identitária da nação brasileira, que desenha, em um cenário metafórico, os valores tradicionais de um povo”. É exatamente no campo das diferenças culturais entre as comunidades indígenas e as não-indígenas, que centraremos a discussão sobre literatura indígena, partindo da premissa de que as narrativas dessas comunidades não seguem o modelo ocidental do fazer literário, contudo não deixam de carregar consigo o poder do saber de um povo que se expressa com a criatividade das artes de fazer (CERTEAU, 1995). Sendo que este trabalho se estrutura com vistas a responder a seguinte problemática: Que marcas identitárias dos saberes tradicionais indígenas são percebidas em contos de três etnias? E para responder esse questionamento se desenvolveu uma pesquisa bibliográfica, colocando em diálogo a literatura e os estudos antropológicos. Sendo que no desenvolvimento desse estudos pudemos constatar que as narrativas indígenas com características de contos literários, e que denominamos como contos indígenas, com base nos estudos de (2005), apresentam elementos importantes para se refletir e discutir sobre a memória, identidade, resistência, considerando a rica herança étnico cultural dos saberes dos povos originários para a nação brasileira.

Palavras-chave: LITERATURA INDÍGENA, IDENTIDADE ÉTNICA, MEMÓRIA, RESISTÊNCIA

RELER BRASIL NUNCA MAIS: REINSCREVER A MEMÓRIA DO DESAPARECIMENTO POLÍTICO?

Liniane Haag Brum (UNICAMP)

Resumo: Brasil Nunca Mais (1985) é um marco na história política brasileira, pois inaugura o processo de formação das memórias sobre a repressão da ditadura (civil)- militar (TELES). A obra tem origem em registros oficiais do próprio regime, tendo sido erguida a partir de processos judiciais que tramitaram no Superior Tribunal Militar entre 1979 e 1985. Durante 5 anos, a partir do impulsionamento do Cardeal Paulo Evaristo Arns e do Reverendo Jaime Wright, da Igreja Presbiteriana do Brasil, com o financiamento do Conselho Mundial de Igrejas, advogados e ativistas constituíram o Projeto Brasil Nunca Mais, copiando e organizando, secretamente, cerca de 707 processos. Brasil Nunca Mais, ao condensar e comentar este arquivo central, tornou-se a

52 grande prova do sistema repressivo e da violência de Estado. A maior fonte documental sobre os crimes da ditadura, mesmo após a publicação do relatório da Comissão Nacional da Verdade, em 2014. Contudo, para além de seu caráter comprobatório, entendemos que a obra compõe-se a partir do gesto anarquivista, ao lançar mão de um modo de apresentação que cumpre “recolecionar as ruínas do arquivo e reconstruí-las de forma crítica”(SELIGMANN-SILVA). Esta comunicação, resultado parcial de nossa pesquisa de doutorado, além da centralidade do conceito de anarquivamento (SELIGMANN-SILVA), depreendido da filosofia de Walter Benjamin, trabalha em confluência à noção derridiana de arquivo: se este “trabalha sempre a priori contra si mesmo”(DERRIDA), pode ser compreendido, no campo da linguagem, não só dentro da concepção corrente de mero repositório. Nossa tarefa: à leitura do prefácio Brasil Nunca Mais, Testemunho e Apelo, assinado por Arns, distinguir e entender o gesto anarquivista, identificando a dimensão testemunhal de sua escritura e tomando-a como potencial reativadora da memória ditatorial. Neste contexto, se sobressai a não inscrição textual do corpo da vítima desaparecida, a escrita (auto)biográfica e a presença narrativa do corpo da mãe do desaparecido político.

Palavras-chave: Brasil Nunca Mais, desaparecimento político, memória e narrativa, arquivo, anarquivo.

A INTERAÇÃO ENTRE LITERATURA E CINEMA NO ESPAÇO FICCIONAL DA CATAGUASES DE LUIZ RUFFATO: UMA PROPOSTA DE LETRAMENTO LITERÁRIO E AMPLIAÇÃO DE REPERTÓRIO

Lucas Neiva da Silva (UFJF)

Resumo: Este trabalho apresenta uma proposta de intervenção pedagógica a ser aplicada em uma escola pública, localizada no município de Cataguases, Minas Gerais, com o objetivo de aproximar os alunos do universo da literatura. Para isso, pretendemos direcionar o olhar dos discentes para as diferentes maneiras de como o espaço físico da cidade de Cataguases é retratado no conto Os amigos e no romance Estive em Lisboa e lembrei de você, ambos do escritor cataguasense Luiz Ruffato, e em suas respectivas adaptações para o cinema. Assim, além dessa categoria da narrativa, será também foco de discussão o processo de adaptação cinematográfica de obras literárias no que se refere às transformações ocorridas na transposição do hipotexto literário para o hipertexto fílmico, principalmente em relação ao espaço, ação e personagens. Devido ao estreito espaço que a literatura ocupa na escola hoje e do afastamento cada vez maior dos jovens em relação à leitura literária, é essencial que se promova meios que contribuam de forma efetiva para o letramento literário e para a ampliação do repertório de leitura dos discentes. Buscando a confluência entre teoria e prática, adotamos a orientação metodológica da pesquisa-ação, conforme diretriz do ProfLetras. Pelo fato de o projeto estar em andamento, apresentaremos as linhas principais da pesquisa, com ênfase na nossa hipótese de trabalho e nos resultados parciais obtidos.

Palavras-chave: Literatura, Cinema, Adaptação

53 O TEATRO DA EXISTÊNCIA: O QUE A ARTE POÉTICA DE CLARICE LISPECTOR DIZ SOBRE NÓS?

Luciana de Barros Ataide (UFPA)

Resumo: O tempo atual é o tempo das necessidades; é o tempo no qual as pessoas vivem buscando os filtros e as edições para mostrarem um bem estar irreal, inalcançável e muito plastificado. Em consequência, o ‘teatro da existência’ invadiu a realidade e o homem não tem conseguido separar o que é uma vida de fantasias do que é possível e alcançável, cobrando de si objetivos inconcebíveis por não viver o mundo humano, tampouco o mundo próprio, mas um mundo de insatisfação com a realidade no qual a competitividade tem produzido o descontentamento e o ser “falsamente amado” (LISPECTOR, 2016, p. 380). Então, quando se alimenta esse mundo de faz de conta, “o ser se perturba porque nem ao menos pode agradecer: não tem o que agradecer (...) De modo que, como se diz sobre o palhaço que ri, o ser às vezes chora sob sua caiada pintura de bobo da corte. LISPECTOR, 2016, p. 381). Disso vem duas grandes questões: Será que “o futuro que estamos inaugurando é uma linha metálica”? (LISPECTOR, 2016, p. 383) e como a arte pode nos ajudar a fugir dessa construção metálica? Pensando tais questões, o presente estudo tem a proposta de expor uma reflexão acerca da necessidade de se buscar a verdade do Ser; o originário do Ser. Assim, as obras Ser e Tempo (2005) de Martin Heidegger, Fenomenologia da Percepção (1999) Maurice Merleau-Ponty, Perfil dos Seres Eleitos e Discurso de Inauguração de Clarice Lispector (2016) serão as principais condutoras desse estudo, já que a proposta é pensar o que tem acontecido com esse homem do atual século para se alojar no mundo do ‘faz de conta’ de maneira a construir uma existência teatralizada?

Palavras-chave: Mundo. Homem. Obra de arte.

SAMUEL RAWET E O PALAVRÃO SABOROSO DA RALÉ ESFARRAPADA

Luciano de Jesus Gonçalves (USP/IFTO)

Resumo: Para o escritor Samuel Rawet, não existe sexualidade sem excitação sexual. Em seus ensaios, denominados “exercícios de ficção”, a excitação do corpo se confunde com a excitação da/na linguagem. Ainda que tenha tentado resistir à pornografia, o intelectual não encontrou motivos para evitá-la. Em seus cinco volumes ensaísticos, publicados entre 1969 e 1978, a linguagem desejosa por uma palavra exata, mágica, não é composta pelo vocábulo polido. Da sua vinculação com as ruas, com os humildes e com os degenerados de toda sorte, sua escrita descamba, quase sempre, no registro do pornográfico como materialidade daquilo que é simples, verdadeiro, poético. O palavrão saboroso da ralé esfarrapada resume a gênese do lugar-comum. Em vista do que já se afirmou, essa comunicação investiga a escrita da pornografia e a pornografia escrita no ensaio rawetiano, tendo como pontos de partida as suas cinco coletâneas publicadas em livro. O recorte desse trabalho compõe um universo mais amplo, de uma pesquisa em andamento, sobre as relações intelectuais do escritor que, no próximo 2019, completaria noventa anos de nascimento. De maneira preliminar, é possível localizar nesses ensaios as formulações de parte significativa das propostas estéticas de Rawet e, de maneira paralela, defender que tais investidas se misturam de modo licencioso com o que poderia ser classificado com a prosa literária, seus contos e novelas, propriamente.

54 Palavras-chave: Samuel Rawet, Ensaio brasileiro, Erotismo, Pornografia, Gênero literários

O IMAGINÁRIO AMAZÔNICO EM TORNO DO RIO EM A HISTÓRIA DAS CRIANÇAS QUE PLANTARAM O RIO DE DANIEL DA ROCHA LEITE

Lucimara de Almeida Melém da Costa (UEPA/FIBRA)

Resumo: O rio é um elemento de suma importância para a região amazônica, apresentando-se como meio de locomoção, meio de sustento, lugar de habitação e fonte para o imaginário da população que o circunda. Dessa forma, com a presente pesquisa – a qual serviu de resultado parcial para a construção do artigo de conclusão do curso de especialização em Língua Portuguesa e Literaturas – objetivou-se analisar a representação do rio no imaginário amazônico retratado em A história das crianças que plantaram o rio de Daniel da Rocha Leite. Para isso, utilizou-se como aporte teórico os estudos de Loureiro (2015) e Fares (2013), os quais teorizam sobre a cultura amazônica do imaginário e sobre a representatividade das águas na cultura amazônica, respectivamente; além das contribuições das teorias de Zumthor (2010) acerca da memória e da oralidade. Dessa forma, pretendeu-se, primeiramente, dissertar acerca do imaginário e do elemento rio na cultura amazônica para, posteriormente, analisar essa representação na referida obra. Após a análise, de caráter bibliográfico, confirmou-se a posição de Loureiro (2015) o qual afirma que a cultura amazônica é geradora de uma estética poetizante, que aparece na memória do narrador personagem por meio da sua subjetividade perante a realidade; ressaltando o recurso da construção da narrativa em prosa poética rica em metáforas e personificações.

Palavras-chave: Literatura. Amazônia. Imaginário.

AQUILINO RIBEIRO: ENTRE O ESQUECIMENTO E A PERSISTÊNCIA DA LEMBRANÇA

Marília Angélica Braga do Nascimento (IFRN)

Resumo: Nosso primeiro contato com a escrita de Aquilino Ribeiro (1885-1963) deu-se no curso de graduação, na disciplina de Literatura Portuguesa, quando nos deparamos com uma linguagem que, a princípio, pareceu-nos um tanto estranha e distante, mas que, ao fim, afigurou-se-nos vigorosa e autêntica. As considerações aqui apresentadas, fundamentadas em pesquisa de natureza teórico-bibliográfica, resultam de reflexões em torno de alguns textos ficcionais desse escritor português e de textos críticos acerca de sua produção literária. Entre as referências bibliográficas consultadas, encontram-se os nomes de Nelly Novaes Coelho (1973), Óscar Lopes (1969, 1985, 1987), Henrique Almeida (1993) e Carlos Reis (2016), por exemplo, os quais têm apontado a relevância da obra aquiliniana no panorama das literaturas de língua portuguesa, persistindo em manter viva sua lembrança. Nossas observações indicam que, apesar de ter sido outrora celebrado por seus compatriotas e por artistas e intelectuais brasileiros de renome, Aquilino é praticamente desconhecido pelos leitores hodiernos e, em grande medida,

55 negligenciado pelos atuais estudos acadêmico-críticos, que parecem ignorar a vastidão e a riqueza plural do conjunto de sua obra. Tal fato parece advir, pelo menos em parte, de possíveis dificuldades em relação ao léxico original e genuíno adotado pelo escritor beirão e de uma visão limitada por parte de certas recensões críticas que lhe foram coevas, as quais não teriam compreendido adequadamente sua proposta estética.

Palavras-chave: Aquilino Ribeiro, obra literária, crítica.

UMA ANÁLISE DA TRADUÇÃO TURCA DO SINTAGMA AGENBITE OF INWIT NO ULYSSES DE JAMES JOYCE

Marco Syrayama de Pinto (USP)

Resumo: Segundo a autora ucraniana Elena Fomenko em seu artigo Is James Joyce Lost in Translation? (2011), em que compara trechos da obra Giacomo Joyce, James Joyce é um autor difícil de ser traduzido. O'Neill (2005, p. 6), por seu turno, afirma que as traduções de Joyce para muitas línguas criam um metatexto, o qual abre caminho para um modelo de tradução transtextual. Em seu livro, Polyglot Joyce: Fictions of Translation, o autor toma as diversas traduções das obras de Joyce para várias línguas e as compara com o fim de determinar áreas tradutórias problemáticas entre elas. É a partir da comparação, como afirma Fomenko, entre as retraduções das obras de Joyce para uma única língua bem como traduções de suas obras para diferentes línguas que potencializam o teórico da tradução com o conhecimento das invariantes linguístico- tipológicas que são comuns a textos-origem sincrônicos e textos originais criados na língua e cultura alvo. É nesse contexto que tomaremos o sintagma do inglês médio Agenbite of Inwit justaposto ao moderno Remorse of Conscience usado por Joyce em Ulysses em sua tradução para o turco por Nevzat Erkmen (1996) e analisaremos sua escolha tradutória, tocando no assunto da revolução linguística turca. Referências bibliográficas Fomenko, Elena. Is James Joyce Lost in Translation? Jazyk a kultúra, 8/2011. Joyce, James. Ulysses. trad. Nevzat Erkmen. Istanbul: Yapi Kredi Yayinlari, 1996. Lewis, G. The Turkish Language Reform: A Catastrophic Success. Oxford: Oxford University Press, 1999. O'Neill, Patrick. Polyglot Joyce: Fictions of Translation. Toronto/Buffalo/London: University of Toronto Press, 2005.

Palavras-chave: Ulysses, James Joyce em tradução, turco

ANTONIO CANDIDO, LEITOR DE POESIA

Marcos Estevão Gomes Pasche (UFRJ)

Resumo: Conforme se pode verificar no próprio resumo do simpósio a que este resumo se dirige, Antonio Candido é especialmente referido por seu trabalho historiográfico (dada a originalidade conceitual e metodológica da Formação da literatura brasileira) e por seus estudos de prosa ficcional, o que se comprova pela grande repercussão de ensaios como "Dialética da malandragem", "De cortiço a cortiço" e "Esquema de Machado de Assis". Entretanto, obras como O estudo analítico do poema e Na sala de aula: caderno de análise literária, além de alguns ensaios publicados em livros diversos, revelam que Antonio Candido também foi um refinadíssimo intérprete do texto poético.

56 Assim, esta comunicação (decorrente de um projeto de pesquisa sobre a crítica literária brasileira) destaca o trabalho de Candido como leitor de poesia, tendo nos dois últimos livros aqui mencionados seu principal (mas não exclusivo) corpus de análise. O objetivo principal deste estudo é dar a ver que, embora menos repercutido, esse segmento da atuação de Antonio Candido confirma expressivamente os pressupostos críticos estruturais de suas obras mais difundidas. Mesmo num livro despretensioso como Na sala de aula, modestamente subintitulado caderno, reverberam a orientação teórica em que convergem olhar social e conhecimento estilístico e a concepção de literatura brasileira como sistema literário, ainda que tais fundamentos teóricos não sejam postos em discussão.

Palavras-chave: Crítica literária - Leitura de poesia - Antonio Candido

BENEDITO NUNES E A RECEPÇÃO DO ROMANCE A HORA DA ESTRELA DE CLARICE LISPECTOR

Maria de Fátima do Nascimento (UFPA)

Resumo: O presente trabalho centra-se no capítulo “O jogo da identidade”, o oitavo da segunda parte de O drama da linguagem: uma leitura de Clarice Lispector (1989), de Benedito Nunes (1929-2011), que discute o último romance clariciano publicado em vida: A hora da estrela (1977). Aqui, objetiva-se averiguar a importância do referido capítulo para a recepção e compreensão de tal romance a partir da visão consagrada de Benedito Nunes, segundo o qual a criação ficcional enfocada narra três histórias: a de Macabéa, jovem nordestina que luta pela sobrevivência na cidade grande, quase sem consciência de sua situação; a do narrador Rodrigo S. M., que tem consciência da situação precária de sua personagem; e a da própria produção da narrativa, que Rodrigo S. M., ao relatar a história de Macabéa, também conta. Benedito Nunes, em nota de rodapé de seu mencionado livro, afirma que semelhante estudo seu passou por duas versões antes da publicação do livro de 1989, cujo capítulo supracitado se tornou referência para investigadores da obra da escritora brasileira, capítulo esse que merece ser revisitado para que o tempo não apague a autoria daquilo que, pioneiramente, Benedito Nunes observou, há quase três décadas, sobre um dos maiores romances de nossa literatura.

Palavras-chave: Benedito Nunes, Clarice Lispector, A hora da estrela, Romance brasileiro, Crítica literária.

MITO E IMAGINÁRIO AMAZÔNICOS

Maria do Perpétuo Socorro Galvão Simões (UFPA)

Resumo: Os relatos, que fazem parte do acervo do Projeto: “O imaginário nas formas narrativas orais populares da Amazônia paraense”, constituem uma amostra da multiplicidade do viver amazônico, envolvendo as emoções, os sonhos, os devaneios, as aspirações, ideais, realizações e frustrações, encantos e desencantos... enfim, toda vida e utopia de um homem dividido entre a floresta e as águas desta vasta planície. Essa Comunicação Oral propõe-se a fazer uma leitura acerca de alguns mitos amazônicos, a

57 partir da visão de Leminski (1994), que considera o mito como a “palavra fundadora, a fábula matriz, a estrutura primordial, leitura analógica do mundo e da vida”. Nesta perspectiva, as narrativas orais relatadas aos pesquisadores do Projeto IFNOPAP durante estes seus 25 anos de existência têm contribuído com a produção científica no campo da crítica da literatura oral na Amazônia paraense e no Brasil, seja através da consulta às narrativas já catalogadas e constituintes do acervo do projeto, das orientações da coordenadora e seus pesquisadores ou das publicações e eventos já realizados ao longo dessa trajetória.

Palavras-chave: Narrativas do imaginário. Crítica. Literatura Paraense.

"MEU DUPLO": A INQUIETANTE ESTRANHEZA

Maria Domingas Ferreira de Sales (UFPA)

Resumo: Esta pesquisa privilegia a influência da poética surrealista na produção literária de Murilo Mendes, especialmente em "A Poesia em Pânico". MEU DUPLO: A INQUIETANTE ESTRANHEZA visa a uma análise psicanalítica do poema “Meu Duplo”, através da qual, buscar-se-á compreender como se efetiva a negação da consciência ou a resistência ao consciente ou lógico – proposta central do Surrealismo (DUROZOI, Gerard & LECHERBONNIER, Bernard, 1972). Para isto, servir-nos-emos de análise psicanalítica aos moldes de Freud, defendidos em "O estranho" (1976), considerando certas aproximações e antagonismos que cercam o binômio Freud-Breton. Por estes caminhos, a Psicanálise se mostra como fonte de valiosas proposições no que tange ao sonho, aos estados inefáveis, à loucura, termos bastante familiares ao Surrealismo. Assim, à Psicanálise e Literatura – áreas parceiras nesta análise –associam- se termos como ‘repressão”, “estranheza” ou “a voz do inconsciente”, localizados também em "Eros e civilização: uma interpretação filosófica do pensamento de Freud" de Herbert Marcuse (1978) e "André Breton ou a busca do início" de Otávio Paz (1976), em suas discussões a respeito das necessidades vitais do homem e os meios pelos quais estas são reprimidas. Ao final da análise, conclui-se que o poema “Meu Duplo” comunga, no seu todo interpretativo, de aspectos propalados pela poética surrealista, em justaposição com elementos defendidos pela Psicanálise – traços imbricados pelo fio único que os conduz: a incessante busca da palavra salvadora, a que pode libertar o homem da inquietante angústia perante o que o torna oprimido.

Palavras-chave: Duplo, Murilo Mendes, Poesia, Psicanálise, Surrealismo

O BILDUNGSROMAN FEMININO NEGRO: DOIS EXEMPLOS CONTEMPORÂNEOS.

Maria Tereza Costa de Azevedo (UFPA)

Resumo: A presente pesquisa em andamento tem como objetivo analisar duas obras da literatura feminina: Hibisco Roxo de Chimamanda Ngozi Adichie e Ponciá Vicêncio de Conceição Evaristo. Dois romances que narram experiências de personagens em formação, em diferentes cenários e com semelhantes impedimentos por se tratar de leituras que trazem o protagonismo feminino e negro. A fim de analisar as obras,

58 faremos a comparação dos dois romances com intuito de constatar as interseções e divergências para levantar a hipótese de as duas narrativas serem consideradas Bildungsroman (Romance de formação) feminino e negro, buscando entender o percurso da apropriação do termo alemão do século XVIII em que concerne o gênero literário e a possibilidade de acomodar o conceito como classificação destes romances contemporâneos. No intuito de aproximar a discussão sobre o gênero literário para os dias atuais, nos guiaremos pelas propostas de Cristina Ferreira Pinto em sua obra O Bildungsroman Feminino: Quatro Exemplos Brasileiros e também pelas considerações de Wilma Maas em O Cânone Mínimo: o Bildungsroman na História da Literatura.

Palavras-chave: Bildungsroman, Literatura Comparada, Protagonismo Feminino Negro.

TRADUÇÃO DE POEMAS DE LÉOPOLD SÉDAR SENGHOR: MODERNISMO, NÉGRITUDE E AFRICANIDADE

Mariana Janaina dos Santos Alves (UNIFAP)

Resumo: A pesquisa proposta tem como objetivo continuar os estudos iniciados no projeto Tradução cultural, intersemiótica e Négritude nos poemas de Bruno de Menezes e Léopold Sédar Senghor: modernismo afro-paraense em Batuque e Les Éthiopiques iniciado em novembro de 2014 e concluído em maio de 2015. O projeto foi realizado na Universidade Federal do Amapá - Campus Binacional de Oiapoque - e foi desenvolvido no Colegiado de Letras. Decorrente das atividades do primeiro, que inscreveu o levantamento teórico sobre a recepção das obras dos autores modernos acima mencionados, o segundo projeto Tradução de poemas de Léopold Sédar Senghor: Modernismo, Négritude e Africanidade tem como objeto principal, a análise crítica e tradução do livro de poemas Éthiopiques, publicado pela primeira vez em 1956 e retirado do acervo Oeuvres poétiques da literatura africana francófona. Dentre os procedimentos metodológicos, o recorte proposto inicia no Brasil uma vertente que trabalha sobre o eixo da recepção dos poemas do autor francófono, propondo a tradução da obra estudada, até então, inédita em língua portuguesa. O surgimento desta demanda, originou-se, com o término da primeira pesquisa, uma vez que se identificou durante o levantamento teórico que, no Brasil não há tradução da obra Éthiopiques de Léopold Sédar Senghor e de nenhuma outra. A importância de consolidar este estudo surgiu da necessidade de traduzir textos representativos da literatura francófona para a língua portuguesa e entendê-los sob o viés dos estudos da tradução e crítica, a recepção destas obras. Por isso, a abordagem contextual pretende relevar por meio deste estudo, aspectos do texto poético, bem como seus desdobramentos, de acordo com as propostas de análise poética de Zumthor (2010), Négritude e Senghor apontadas por Scheinowitz (2009) e reflexões de Bhabha (2008) sobre cultura.

Palavras-chave: Literatura francófona, Poesia, Négritude, Senghor.

59 A CONTINGÊNCIA DO OUVIR E O TRADUZIR POÉTICO: A EXPERIÊNCIA DE MACBETT

Marina Bento Veshagem (UFSC)

Resumo: Eugène Ionesco publicou Macbett em 1972, peça considerada uma paródia de Macbeth, de William Shakespeare, escrita mais de 350 anos antes. Em 2018, ao propor a tradução de Macbett do francês para o português brasileiro, a autora deste trabalho coloca em cena a pergunta: como ouvir o que fica por traduzir do texto de Ionesco? Este é o questionamento central que guia esta comunicação e parte do desmonte do sentido corrente de tradução, que a torna o ponto fraco das noções de linguagem – segundo Henri Meschonnic, em Poética do traduzir (2010) –, por confundir língua e discurso de maneira frequente e desastrosa. A poética do traduzir, proposta pelo autor, encara a tradução como ato de linguagem, que tem sua própria historicidade. A unidade da poética é o discurso, e este é da ordem do contínuo – pelo ritmo, a prosódia. “Se queremos aprender algo sobre o descontínuo do signo e o contínuo do fazer, do agir na e pela linguagem, é preciso aprender, ou talvez reaprender, um modo de escutar aquilo para o qual o signo nos tornou surdos” (MESCHONNIC, 2010, p. XXXI). Se o tradutor/leitor é aquele que ouve em duplicidade cada palavra (Roland Barthes, 2004), é papel dele estar atento às possibilidades de escuta. Meschonnic nos deixa a pista de que talvez o caminho seja a oralidade, que é a organizadora do discurso, e é o que fica por traduzir. A partir desta concepção de poética do traduzir, da compreensão de texto e de leitor de Roland Barthes e da experiência prática de tradução de Macbett (de exercícios de leitura do texto em francês e também de versão da tradução em português), este trabalho busca apontar indícios de como Macbett age na linguagem.

Palavras-chave: Tradução; Teatro; Poética

CLARICE LISPECTOR: A SINGULARIDADE DA LINGUAGEM LITERÁRIA

Marinilce Oliveira Coelho (NPI – UFPA)

Resumo: Clarice Lispector (1920-1977) é considerada como uma das principais escritoras brasileiras do século XX. Sua obra literária expressa inquietante tentativa de explorar as camadas mais profundas da consciência humana. No conjunto, a literatura desta autora é considerada intimista – juntamente com alguns autores da geração surgida após 1945 – por apresentar uma ficção complexa, hermética, mas realmente nova: pela forma como manifesta a consciência construtiva da linguagem. Ou seja, pela tensão que se “assente na consciência individual como limiar originário do relacionamento entre o sujeito narrador e a realidade” (NUNES: 1989). Este estudo tem como objetivo verificar a singularidade da linguagem literária desta escritora através do conto Macacos (in Felicidade Clandestina, 1971) que revela a capacidade singular de Clarice Lispector de captar a verdade que se esconde atrás das simples aparências das palavras.

Palavras-chave: literatura-modernidade-drama-feminino-cotidiano

60 IDENTIDADE, CULTURA E RESISTÊNCIA NO CORDÃO JUNINO DO MAJESTOSO PAVÃO

Marléa de Nazaré Sobrinho Costa (UFPA)

Resumo: O Festival de Cordões Juninos, adaptado a partir da obra Pássaro da terra (1999), de João de Jesus Paes Loureiro, figura como uma das principais estratégias de intervenção social dos Centros de Referência em Assistência Social - CRAS junto aos territórios do município de Abaetetuba. Durante o primeiro semestre de cada ano, técnicos e educadores sociais, além de crianças, adolescentes e seus familiares, usuários dos programas sociais, realizam o trabalho de pesquisa em seus respectivos territórios. Textos teatrais e composições musicais são criados a partir de um conjunto de temáticas sociais já exploradas em reuniões pelos grupos do Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos - SCFV. Objetivamente, as temáticas de maior relevância junto aos grupos são: a) combate ao trabalho infantil; b) violência doméstica e familiar; c) sexualidade; d) cultura de paz; e e) meio ambiente. É nesse sentido que o Festival se apresenta como modelo de intervenção que visa promover a convivência e o fortalecimento de vínculos familiares e comunitários dos usuários atendidos pelos programas socioassistenciais, através da valorização da arte e da cultura popular no município de Abaetetuba, sem perder de vista a preocupação central, que se traduz pela expectativa de minimização das situações de violência, vulnerabilidade e exclusão social. Neste trabalho, fazemos um estudo do texto teatral, das composições musicais e da performance do Cordão Junino do Majestoso Pavão, encenado por usuários pertencentes a uma comunidade quilombola da região das ilhas do município de Abaetetuba, a fim de refletir sobre processos de construção e afirmação de identidade e práticas de resistência de sujeitos historicamente estigmatizados e marginalizados pelo rebaixamento de suas raízes sociais, raciais e culturais. Além disso, procuramos compreender em que medida essa releitura do Pássaro da Terra permite compreender aspectos próprios do ethos ribeirinho da Amazônia Baixo-Tocantina.

Palavras-chave: Identidade, Cultura, Resistência, Cordão Junino.

ESTEREÓTIPOS FEMININOS DA REGIÃO AMAZÔNICA ILUSTRADOS NO CONTO ACAUÃ, DE INGLÊS E SOUSA

Matheus Lustoza Santos (UFES)

Resumo: Justifica-se este artigo no mistério e no diálogo social estabelecido entre a comparação de duas personagens do conto Acauã - ambientado na Vila de Faro no Pará do século XIX, onde ambas representam dois estereótipos femininos opostos no qual uma representa da natureza cultural da indígena (Vitória) e outra alegoriza a mulher com características mais europeias (Aninha), cujo final se entrelaça em encantamentos mergulhados em crenças populares tipicamente tomadas como fatos reais pelo povo da região. Todo embasamento literário provém de citações retiradas do próprio conto, sendo estes de suma importância para a comprovação das análises femininas levantadas aqui. Acauã, conto retirado do livro Contos Amazônicos (1893) vem nos revelar que mesmo em um cenário de desolação perante as políticas tanto do Império quanto da República o povo do Norte sempre existiu e resistiu ao abandono e ao descaso da federação – inclusive as figuras femininas. A publicação desta obra marca que além da

61 fauna e flora, a região amazônica também é fonte de uma gigantesca riqueza folclórica, que os povos lusitanos em contato com os índios da região obtiveram um contato cultural único, deixando um grande legado de lendas, um arsenal singular de tradições e mitos populares que traça culturalmente as fronteiras desta região do país. Para enriquecer e explanar melhor as ideias expostas neste artigo foram alicerceadas publicações de CANDIDO (2006); COUTINHO (2001); MONTELO (1995); MORAES (2002); NALU (1998); VERISSIMO (1903) e WERNECK SODRE (1960) entre outros autores que tanto contribuíram para a sustentação teórica embasada para a melhor elucidação das alegorias femininas da Amazônia brasileira.

Palavras-chave: Literatura; Feminino; Região Amazônica

VOZES NIILISTAS EM GRACILIANO RAMOS

Mauro Lopes Leal (UFPA)

Resumo: Em uma sociedade caracterizada por relações comercias e técnicas, a noção de homem deu lugar à valorização material, superficial e banalizada, tornando-o refém angustiado daquilo que produz e deseja. Nesse âmbito, adentra-se no terreno do niilismo, ou seja, na perda da crença em valores considerados sagrados e intocáveis até então. Com o niilismo, a verdade, a Onipresença, a imortalidade, a justiça, dentre muitas outras certezas, são desfeitas, postas em dúvidas, resultando de tal processo o homem em um estado de vazio, o indivíduo niilista, no qual toda crença é insuficiente para satisfazer a sua racionalidade, o seu materialismo, gerando o sentimento de impotência, desestabilização, insegurança e sofrimento. É este homem melancólico e imerso no nada que Graciliano Ramos irá apresentar em diversas de suas obras. Abordar-se-á na obra Angústia a presença do indivíduo niilista e o seu sofrimento existencial. Este é o canário no qual está imerso Luís da Silva, personagem principal da obra, cuja vida esvaziada e destituída de maiores ambições, situa-o em um contexto de apequenamento do homem moderno. Graciliano Ramos expõe a fragilidade do homem que se mostra incapaz de transformar essa angústia em um sentimento de reconhecimento e aceitação de si e do mundo. A consciência da morte futura, a sua brevidade enquanto ser posto no mundo, deveria suscitar no homem da modernidade um olhar mais reflexivo, o que, efetivamente, não ocorre. Assim, tal homem é impulsionado ao vazio niilista, tornando- o, não raro, fraco e inapaz de uma reação efetiva, preferindo o subsolo da existência do que a responsabilidade pela vigência da sua existência e liberdade vigorante no mundo. Como suporte teórico, serão utilizados, entre outros, o pensamento do filósofo Nietzsche, que abordou a questão do niilismo de modo expressivo. No que tange ao aspecto literário, o pensamento de Antônio Cândido será significativo.

Palavras-chave: homem, niilismo, angústia, tristeza.

NHÁ BENEDITA DE DALCÍDIO JURANDIR E HORTÊNCIA DE MARQUES DE CARVALHO: UMA COMPARAÇÃO DE MULHERES NEGRAS NA LITERATURA AMAZÔNICA

Mayara Cristiny Souza Martins Rodrigues (UFPA)

62 Resumo: Este presente artigo é fruto da disciplina Literatura Comparada, vinculado ao Programa de mestrado em Estudos literários, da Universidade Federal do Pará (UFPA). Essa pesquisa tem como objetivo interpretar as personagens Nhá Benedita do romance Marajó (1947) de Dalcídio Jurandir e Hortência do livro homônimo de Marques de Carvalho (1888). Para tanto, a metodologia utilizada será a teórico-interpretativa dos estudos de cultura e identidade, com os autores Bernd (2013), Carvalhal (2006) e Machado e Pageau (2001), para se compreender a abordagem utilizada na interpretação dos textos, enquanto Evaristo (2008) será necessária no que se refere a entender a perspectiva das imagens das mulheres negras na Literatura brasileira. Nos romances citados, irei considerar as duas personagens negras que marcam os enredos: Nhá Benedita, preta doceira, já senhora, conta histórias fictícias e da época de escravo, aparece como uma Mãe-Preta, isto é, paciente, carinhosa e sempre acolhedora; enquanto Hortência uma jovem mulher, aparece com uma bela encantadora, calma, sempre prestativa e afável. Em ambas, podem-se identificar a figura do orixá Iemanjá a qual será a metáfora usada para se costurar e dialogar essas figuras. Nesse sentido, Odayá ou Iemanjá é orixá reverenciado pela nação Iorubá, ela representa a força, a beleza, a maternidade e a vergonha, mora no fundo do mar. Ao final dessa leitura, possibilitará vermos as representações dos negros em dois momentos literários, em que esses diferentes olhares divulgam as diversas perspectivas na construção das identidades negras da Amazônia. Assim com essa analogia de Iemanjá, comparo Hortência e Nhá Benedita como herdeiras de Iemanjá, não faço referências a religiosidade de matriz africana, o que interessará, na verdade, são traços e características que transitam e direcionam o leitor a associá-las a essa deusa das águas salgadas.

Palavras-chave: Feminino, Nhá Benedita, Hortência, Negra, Identidade.

ELIOT WEINBERGER: POESIA E TRADUÇÃO NO ENSAIO CONTEMPORÂNEO

Mayara Ribeiro Guimaraes (UFPA)

Resumo: O ensaísmo literário, “gênero intranquilo”, conforme denominação dada por João Barrento, nasce livre e conforma-se com uma ambiguidade consciente que o impulsiona a seguir uma lei de hibridismo e um princípio de contaminação. Esses princípios ameaçam constantemente e positivamente sua forma com uma porosidade e provisoriedade que o predispõem a uma vontade de ficção ou poesia. Eliot Weinberger, tradutor, editor, comentador político, ensaísta americano e poeta americano cria textos compostos de listas, colagens de textos híbridos, transcrições, traduções – migrando da arqueologia e antropologia à poesia, da história ao mito, do jornalismo documental e cronístico ao fragmento de natureza metafísica, em uma prosa poética experimental, às vezes política, às vezes simplesmente literária, com imagens e motivos refratários que se ergue no cenário contemporâneo como potência discursiva. An elemental thing, de 2007, escrito à maneira do poema serial americano, e composto por fragmentos, traduções, poemas, mitos, documentos, listas, dispostos em um processo de montagem e colagem de textos, discute os limites e exercícios de leitura, tradução e produção textual a partir do tensionamento e desguarnecimento de fronteiras estéticas, abrindo-se para a indeterminação. Sua ensaística propõe a elaboração de uma forma descontínua e fragmentada de narrar a cultura e o presente, alimentando uma tensão que se coloca entre a realidade e este grande “outro”, seja ele operado por culturas distantes no tempo

63 ou no espaço. O aporte teórico usado para discutir as propostas da comunicação são Georges Didi-Huberman e Henri Meschonic.

Palavras-chave: Ensaio contemporâneo, leitura, tradução literária, hibridismo

O PENSAMENTO POÉTICO NAS OBRAS DE OLGA SAVARY SOB A PERSPECTIVA FILOSÓFICA DO MÉTODO CRÍTICO DE BENEDITO NUNES

Melissa da Costa Alencar (UFPA)

Resumo: O objetivo desta pesquisa é percorrer a obra poética da poeta paraense, Olga Savary, atualmente radicada no Rio de Janeiro. Entender seu repertório selvagem (uma alusão ao título de uma de suas obras) sob a perspectiva filosófica das principais questões da vida e da obra de arte que transcendem em sua poesia. Para iluminar os caminhos da crítica literária propomos estudar o método crítico de Benedito Nunes, por ele tratar da hermenêutica e poesia, articular o pensamento filosófico de Heidegger e buscar a passagem para o poético. Por isso acreditamos ser a tríade ideal para a pesquisa da obra poética de uma escritora tão singular e potente. Sua vida e obra foi/é toda dedicada à poesia. Olga Savary apresenta uma vasta produção literária, jornalística, ensaísta, crítica, tradutora, entre outras, infinitas atividades exercidas por ela. Assim como, ela mesma afirmou presencialmente, na ocasião da Feira do Livro de 2013: “A Literatura é uma dama exigente, não dá descanso. Ou você se entrega a ela toda a sua energia ou ela lhe vira as costas” (SAVARY, 2013).

Palavras-chave: Palavras-chave: Poesia, Filosofia, Crítica literária, Benedito Nunes, Olga Savary.

O TEMPO POÉTICO NAS PÁGINAS DE INGLÊS DE SOUSA

Messias Lisboa Gonçalves (UFPA)

Resumo: O presente estudo é resultado final de pesquisa de mestrado que culminou com a dissertação intitulada Tempo e memória em O Cacaulista e O Coronel Sangrado, de Inglês de Sousa (2018). É possível cogitar que a valorização, apenas, da textura documental sócio-político-histórica pela crítica foi responsável pelo obscurecimento do lastro estético dos romances O Cacaulista e O Coronel Sangrado, de Inglês de Sousa, no entanto é justamente o lastro estético que os mantém vivos. Sendo assim, o objetivo deste estudo foi pesquisar as questões do tempo e da memória postas em obra pelos romances inglesianos. Para uma maior compreensão e aprofundamento, a pesquisa limitou-se à reflexão do personagem Miguel Faria que migra de um romance para o outro. É mister ratificar que “a ideia de tempo é conceitualmente multíplice; o tempo é plural em vez de singular” (NUNES, 1988, p. 23). A partir desse ponto de vista, cabe neste estudo uma noção de tempo que se opõe ao tempo controlado pelo relógio, o que possibilitou perceber o tempo enquanto uma questão. Quanto à metodologia, adotamos a pesquisa bibliográfica, com as seguintes etapas, a saber: realização da pesquisa bibliográfica, leitura e fichamento do material pesquisado, interpretação do corpus e seleção dos dados mais relevantes para esta pesquisa. Diante disso, lançamo-nos no

64 abismo do pensamento e realizamos uma crítica literária enquanto escuta poética das questões do tempo e da memória. Dessa forma, entendemos que esse personagem- questão vive uma experienciação com o tempo, que foge àquele cronometrado pelo relógio ou mesmo àquele pensado pela ciência, e no seu tempo experiencia o tempo humano e poético. Para realizar este intento, buscamos especialmente em Henri Bergson (1859-1941), Martin Heidegger (1889-1976), Benedito Nunes (1929-2011) e Manuel Antônio de Castro (1941 –) um diálogo que permitiu pensar a escuta poética das questões naqueles romances inglesianos.

Palavras-chave: Tempo, Memória, Escuta, Romances, Inglês de Sousa.

CORPOS ESVAZIADOS, VOZES INAUDÍVEIS E MEMÓRIAS RESISTENTES EM “IN THESE DISSENTING TIMES”, DE ALICE WALKER

Milton Fagundes da Silva (UFF)

Resumo: Desde a década de 1990 tem-se preservado que a escritora afro-americana Alice Walker dedicara-se a uma escrita capaz de explorar o sofrimento das mulheres negras nas comunidades afrodescendentes (Cf. Winchell 1992; Gates Jr. & Appiah 1993; Christian 1994; Hsiao 2008; Tembo 2009; Baga 2010; Baluni 2012; Otto-Agede 2013). Essa comunicação, seguindo na contramão, busca propor um caminho alternativo para refletir e discutir a produção de Literária de Walker: amparar-se não mais nas narrativas consagradas, mas sim voltar-se às composições versificadas, para problematizar o discurso opressor que marginalizava a memória e a identidade cultural de todo aquele que descende da Diáspora. Para tanto, procuro demonstrar e esclarecer como os primeiros poemas se articulam e se desdobram em narrativas, averiguando o processo de transição, o rearranjamento da sintaxe e a confluência entre as vozes negras que, pelos textos, se tornam audíveis. À vista do corpus trabalhado, fez-se necessário refletir sobre a sua estética womanista, apreciando-a como um processo de gradações entre negritude, memória, sulismo, classe e gênero, cujo propósito final seria a cura e a sobrevivência daquele que experiência os efeitos da partida do solo africano. Sob um escopo indutivo, entre os campos da Poética, Hermenêutica e História, além de uma nova mirada à poesia de Alice Walker, esse trabalho busca destacar a continuidade e a historicidade presente na escrita de Walker, contemplando-a como meio de resistência, contestação e intervenção frente à opressão e discursos que subalternizaram não apenas a mulher negra, mas, principalmente, a memória cultural e ancestral do negro americano.

Palavras-chave: Alice Walker, Diáspora, Memória, História, Identidade Cultural.

FORMAÇÃO DO ROMANTISMO E DA CRÍTICA LITERÁRIA NO BRASIL: LEITURAS, CRÍTICAS E TEORIAS DE ANTONIO CANDIDO.

Natalia Fernanda da Silva Trigo (UNESP)

Resumo: O trabalho visa analisar a maneira como Antonio Candido constrói sua crítica sobre o romantismo, mais especificamente sobre como a crítica de arte desenvolda pelo Frühromantik irá influenciar e ser fundamental para o surgimento da crítica literária

65 brasileira no período romântico. Para isso, analisaremos, principalmente, o capítulo “Raízes da crítica romântica” que está na Formação da Literatura Brasileira (2000) de Antonio Candido. Procuramos discutir, ainda, as semelhanças e as diferenças entre a leitura de Candido sobre o período romântico e as de Octavio Paz em Os filhos do barro (2013) e Márcio Seligmann-Silva em Ler o livro do mundo (1999). Além da influência do Frühromantik sobre a crítica romântica brasileira, procuramos analisar como as reflexões presentes na crítica de Candido sobre o romantismo aparecem em sua análise do poema Meu sonho, que está no capítulo “Cavalgada Ambígua” do livro Na sala de Aula(1993). Procuramos verificar até que ponto Candido cria uma teoria sobre o romantismo brasileiro em sua crítica, apontando suas particularidades em relação ao modelo europeu, e como o romantismo brasileiro contribuiu para a formação da literatura brasileira, em especial da crítica literária.

Palavras-chave: Antonio Candido, Frühromantik, crítica literária

ENTRE O CONTO E O CANTO: OS DIÁLOGOS ENTRE TEMA E MEMÓRIA EM NARRATIVAS ORAIS E NARRATIVAS CANTADAS DOS MESTRES URBANOS DE CARIMBÓ DA AMAZÔNIA

Natasha de Queiroz Almeida (UFPA)

Resumo: O presente artigo analisa as inter-relações entre o tema e as memórias que tecem as narrativas orais cantadas pelos mestres urbanos de Carimbó e narrativas contadas repercutidas no município de Belém do Pará e catalogadas no acervo IFNOPAP- O imaginário das formas narrativas orais populares da Amazônia paraense. Compreendendo-se o tema da narrativa como o conjunto de motivos que se relacionam na teia narrativa para a construção e transmissão de um conteúdo, a memória permeia e alinhava a tessitura da narrativa, ressignificando valores, fortalecendo ideologias e transmitindo conhecimentos plurais. Afinal, quais memórias ainda persistem no imaginário do caboclo amazônico urbano em sua relação com os contos que referem a Belém urbana e ao seu cotidiano? Quais os olhares lançados hoje sobre sua própria experiência, compartilhada tanto nas narrativas orais, quanto nas letras de Carimbó? Quais memórias subjazem às narrativas contadas hoje pelo indivíduo urbano e/ou em ambiente urbano? Como as memórias social e individual se manifestam nas narrativas cantadas e contadas? As narrativas orais contadas selecionadas para o presente artigo foram pré-selecionadas do banco de dados do acervo IFNOPAP e as narrativas cantadas foram catalogadas em pesquisa de campo no município de Belém do Pará, a partir de entrevistas realizadas com três (3) mestres urbanos de Carimbó, a fim de perceber o tanto quanto possível da intensa relação de suas experiências com o ritmo do Carimbó. A partir desta investigação parcial, que reflete as discussões de Robert Scholes & Robert Kellogg (1977) e Paul Ricouer (2007), foram estabelecidos diálogos com as narrativas contadas, cujos temas e memórias ora persistem, ora se interseccionam pelas recriações nas narrativas.

Palavras-chave: Tema, Memória, narrativas orais, narrativas cantadas.

66 CONSTELAÇÕES POÉTICAS: NOTAS SOBRE O “REAMANHECER”, DE STELLA LEONARDOS.

Nathaly Felipe Ferreira Alves (UNICAMP)

Resumo: O objetivo desta comunicação é apresentar os resultados finais, referentes a nossa pesquisa, que privilegiou a análise de poemas que compõem “Reamanhecer”, segunda parte do livro Amanhecência (1974), de Stella Leonardos. Para tanto, observamos as relações de leitura/escritura empreendidas pela escritora, por meio do exercício metapoético de apropriação de poemas de expressão modernista da literatura brasileira. Tal reescritura metapoética opera por meio do pensamento analógico, em que se esboça a figura do “poeta crítico” em sua relação com a tradição. Neste movimento duplo, fundamentado no deslocamento do sujeito lírico para “fora de si”, advém a nossa hipótese de pesquisa: a de um singular “livro-antologia” no qual a poeta se apropria dos poemas com os quais dialoga por meio de dois procedimentos: o de “expansão”, gerador do “canto paralelo”, e o de “redução”, em que a glosa das epígrafes é recurso chave, ambos alicerçados na perspectiva metapoética. Como fundamentos teóricos para a análise, destacamos os estudos de Eliot (1989) e Maciel (1999) sobre a “poesia crítica”; Valéry (2007), Blanchot (1987; 2013) e Badiou (2002) no que se refere ao estatuto do pensamento poético; além de Collot (2004) sobre o “sujeito lírico fora de si”. A conclusão é a de que Stella Leonardos cria uma singular “história da literatura escrita em verso”, que determina não apenas um novo conceito de antologia poético-crítica, revitalizadora de uma história sincrônica da literatura brasileira, conforme indica (1969), mas também projeta um instigante exercício metapoético de formação do leitor literário.

Palavras-chave: Stella Leonardos; “Reamanhecer”; metapoesia; antologia poético- crítica.

A FORMA DO CONTO EM A BELA E A FERA OU A FERIDA GRANDE DEMAIS

Nilson Fernandes dos Santos (SEMEC-SEDUC)

Resumo: Como parte da Dissertação intitulada “Leitura de contos: uma experiência literária no Ensino Fundamental, produzida no âmbito do Mestrado Profissional em Letras em Rede Nacional, fez-se sobre o conto A Bela e a Fera ou a ferida grande demais, de Clarice Lispector, um estudo que se baseou também nos escritos de Benedito Nunes, sobretudo em A forma do conto – capítulo do livro O Drama da Linguagem: uma leitura de Clarice Lispector (1989) - sobre as obras daquela autora. Tal estudo partiu da necessidade de se ter uma leitura própria sobre aquele conto, uma vez que, compreende-se, é imprescindível que alguém que propõe e media uma leitura literária em sala de aula, antes precisa ter sua própria visão sobre ela. O projeto de leitura literária com contos foi desenvolvido em uma escola pública estadual, em uma turma de sétimo ano do Ensino Fundamental. Pretendemos nesta comunicação demonstrar, entre outros tópicos, como se desenvolve neste conto a tensão conflitiva (terminologia proposta por aquele autor) e como esta contribui para o estado de epifania experienciado pela personagem principal que, no ocasional contato com um mendicante, faz sobre sua vida profundas reflexões e descobertas. Apontaremos que, embora não seja citado por

67 Benedito Nunes em seu estudo, neste conto encontramos as mesmas características pelo autor apresentadas e inerentes a outros contos de Clarice.

Palavras-chave: Palavras-chave: Benedito Nunes; A forma do conto; A Bela e Fera ou a ferida grande demais.

ANTONIO CANDIDO, LEITOR DE CRÍTICA

Osvaldo Copertino Duarte (UNIR)

Resumo: Esta comunicação faz referências a estudados realizados no contexto da pesquisa O projeto crítico de Antonio Candido: tensões de um método fronteiriço. A pesquisa parte do pressuposto de que a obra de Antonio Candido (1918-2017) deva ser tratada na sua integralidade a fim de que dela se possa extrair os traços definidores. Tendo isso em causa, investiga-se a obra do crítico a partir de quatro prismas ou tensões internas ? Tensão Histórica, Tensão Funcional, Tensão Dialética e Tensão Estético- integradora ?, analisando, de um lado, a caracterização dos referidos prismas e, de outro, o seu funcionamento como sistema crítico-analítico. Em suma, propõe-se a decomposição da obra nos seus elementos nucleares, com vistas à compreensão dos seus postulados e também da sua estruturação argumentativa. O objetivo é produzir reflexão e teorização como forma de explicar o método crítico do autor. A comunicação ora apresentada, volta-se para a metacrítica como uma das vertentes constituidoras da obra de Candido, que desde o início da carreira procurou abordar os problemas que envolvem a metodologia crítica, haja vista o seu primeiro estudo de fôlego, O método crítico de Sílvio Romero, de 1945. Além desse estudo, a comunicação trata das análises sobre outros dois críticos: Álvaro Lins (Um crítico, de 1947) e Sérgio Milliet (Sérgio Milliet e o ato crítico, de 1978), procurando mostrar os aspectos destacados por Candido e de que maneira sua própria concepção de crítica e de literatura se evidenciam nessas leituras. Quanto à metodologia, optamos pelo estudo comparado, a fim de identificar pontos de convergência e de divergência entre o método crítico de Candido e o método dos autores por ele estudados. Esses trabalhos de metacrítica são fundamentais para se compreender o pensamento de Antonio Candido, pois é neles, sobretudo, que o autor traça suas diretrizes e define o próprio método.

Palavras-chave: Antonio Candido. Metacrítica. Análise.

USOS E DESUSOS DO CONCEITO DE ESTÉTICA NOS ESTUDOS LITERÁRIOS

Otávio Guimarães Tavares (UFPA)

Resumo: A ideia da arte literária como não-estética, nos estudos literários, tende a evocar os estudos culturais britânicos e uma noção de literatura como influxo socioeconômico ou, em casos mais extremos, a apropriação deste por parte dos estudos culturais norte-americanos e um excesso de "teoria" que deixa de lado o objeto literário em prol de um discurso lateral daquilo que o cerca representativo nos vários "studies". A ideia de uma visada "estética" tende a ser associada a correntes como o New Criticism e Formalismo Russo e seus interesse pela obra isolada, até certo grau, do

68 contexto. Entretanto, se observarmos atentamente a tradição estética, veremos que estas partem de um equívoco produzido pela própria concepção estética da arte, o de igualar "estético" com "artístico". Pretendo evidenciar aqui que a filosofia de Ingarden, interpretada a partir da atual filosofia da arte anglófona – em Arthur Danto, Noël Carroll e Graham McFee – , possibilita pensar uma outra via que não recai nem em um conservadorismo que isole o texto literário (como autossuficiente), nem um estudo que coloque a obra como um pré-texto. A recusa da estética seria, diversamente, uma mudança de uma epistemologia para uma ontologia fundamentada no princípio de ação, necessitando uma reorientação da compreensão do ser-arte já, em parte, indicado nos trabalhos de Ingarden. Portanto, não se trata de uma questão de qual objeto focar - obra ou seu entorno - mas de uma mudança com relação ao que significa ser-arte, uma pergunta por uma base ontológica que precede as propostas supracitadas e que, consequentemente, acarreta mudanças a ambas.

Palavras-chave: Filosofia da arte, Estética, Roman Ingarden, Teoria Literária

O OUTRO LADO DA BELLE-EPOQUE NO ROMANCE BELÉM DO GRÃO- PARÁ, DE DALCÍDIO JURANDIR

Paulo Robledo Neves de Lima (UFPA)

Resumo: O objetivo deste trabalho é apresentar a verbalização de uma intenção de pesquisa que revele o lado oposto da "Belle-Epoque", a partir da leitura do romance Belém do Grão-Pará, do escritor marajoara Dalcídio Jurandir. O referencial teórico- metodológico para a análise teórica tem por base Rocque (1987), a revista Asas da palavra, 04, além da própria obra em questão. Os resultados esperados dizem respeito a evidenciar o lado miserável de uma época considerada rica, ou seja, a do auge da borracha, representada na família Alcântara e nos criados Libânia, Antônio e Alfredo. Este que veio da ilha do Marajó a fim de estudar na cidade belenense e acaba por presenciar inúmeros contrastes, o que não era normal para um menino de 11 anos. O escritor, de maneira escancarada e, às vezes, sutil, mostra-nos o antagonismo da convivência do menino com a família Alcântara em meio ao declínio da época da borracha.

Palavras-chave: Belle-Epoque, Belém, Borracha, Miséria, Dalcídio Jurandir

PELA ESCRITA DE DALCÍDIO, O FASCÍNIO DE ALFREDO: A ARQUITETURA DA BELLE ÉPOQUE NO ROMANCE BELÉM DO GRÃO- PARÁ

Priscila Ferreira Bentes (UFPA)

Resumo: Na virada do século XIX para o século XX, cidades da América Latina foram contempladas com uma expansão econômica e social denominada belle époque. Nesse período, a capital paraense era um dos pontos mais importantes do Brasil com grande circulação de pessoas e intenso fluxo de mercadorias nacionais e internacionais. Com o boom da era da borracha, Belém sofreu transformações na sua estrutura arquitetônica pautada nas reformas das grandes capitais europeias, mudanças que promoveram um

69 deslumbramento em muitos que nela circularam dentre eles habitantes, viajantes e até mesmo personagens da ficção como menino Alfredo, do romance Belém do Grão-Pará do escritor paraense Dalcídio Jurandir. A partir disso, esta pesquisa tem como objetivos investigar como o romance Belém do Grão-Pará, de Dalcídio Jurandir, apresenta a arquitetura vigente da belle époque, e analisar a reprodução do espaço urbano na literatura como evidência de uma construção histórico-social. Tomamos como fundamentação teórica as reflexões a respeito da literatura como expressão e representação do espaço urbano, da construção do cidade como expressão material e social e da produção literária como evidência histórica. Como metodologia de pesquisa, além das discussões teóricas, estabelecemos uma comparação entre o romance e jornais e diários de viajantes que datam do período de 1877 a 1906, o qual corresponde ao apogeu da economia gomífera em Belém. Como resultado parcial da análise, verificamos que o escritor realiza no romance um resgate memorialístico da paisagem da capital paraense de fins do ciclo econômico como testemunho das evidências da estrutura urbana da cidade. Utilizamos como referências bibliográficas autores como Barbara Freitag (2012), Giulio Argan (2005), Marisa Carpintéro e Josianne Cesaroli (2009), Nicolau Sevcenko (1998), Sandra Pesavento (2007), Renato Cordeiro Gomes (2008) e Richard Morse (1995).

Palavras-chave: Belém do Grão-Pará, Dalcídio Jurandir, Literatura amazônica.

MUDANÇA E PERMANÊNCIA: OS CRONÓTOPOS IDÍLICOS DE OBLÓMOV

Rafael Bonavina Ribeiro (USP)

Resumo: O trabalho é a apresentação dos resultados parciais de uma pesquisa desenvolvida junto ao DLO / FFLCH / USP sobre a transformação dos cronótopos idílicos do protagonista do romance Oblómov (2015), de Ivan Aleksándrovitch Gontcharóv. Começamos o estudo pelas definições de cronótopo, expostas por Bakhtin (1998), buscamos compreender a transformação do idílio do protagonista ao longo da história. Utilizando as reflexões sobre tempo e mito de Frye (2014), Hammarberg (1991), Klapuri (2013) constatamos uma oposição entre duas percepções temporais: a mitológica e a histórica, que também podem ser consideradas a essência dos principais personagens do romance, como Iliá Ilitch Oblómov e Andrei Chtolts. Explorando o conceito bakhtiniano, verificamos haver, também, uma tensão entre dois tipos de cronótopos idílicos diferentes idealizados por Oblómov, o familiar e o amoroso. O movimento pendular entre esses elementos é pautado por diversos fatores por nós levantados, como a idade do personagem que faz os motivos femininos não terem carga sexual antes da maturidade do idealizador do cronótopo. Concluimos que a terminologia de Bakhtin (1998) precisava ser modificada para dar conta da especificidade de Oblómov, pois esses dois cronótopos precisariam ser subdivididos para melhor demonstrarmos as sutilezas nas transformações dos idílios. Propusemos, então, os termos “cronótopo idílico do amor bucólico” e “cronótopo idílico do amor natural”, que permite o crítico apontar para os matizes que não são contemplados pelos termos bakhtinianos e evita o excesso de adjetivos.

70 Palavras-chave: Literatura russa, Ivan Aleksándrovitch Gontcharóv, Oblómov, cronótopo idílico, mito

O TÓPOS EM ANNA KARIÊNINA: ENTRE O CAMPO E A CIDADE

Raquel Abuin Siphone (USP)

Resumo: A partir de um estudo topoanálitico das duas primeiras partes do romance Anna Kariênina (1877) de Lev Tolstói - que tem como aparato teórico a teoría bakhtiniana do cronótopo (BAKHTIN, 1998) -, tornou-se evidente o aspecto da dicotomia campo versus cidade. Nossa proposta é apontar alguns traços dessa ambientação e como ela trabalha em favor da reafirmação de uma das temáticas proposta no livro: a moralidade. Para tanto, observamos a relação travada entre as duas cidades (Moscou e São Petersburgo) e Pokróvskoie, a propriedade rural que se faz metonímia do campo. Fez-se relevante também a análise de algumas características das personagens no contexto de dois espaços diferentes. A base de nossa discussão está centrada em ocorrências por nós destacadas do próprio romance; todavia, recorremos a pesquisadores que se debruçaram sobre o assunto no contexto da obra, como Baak (2009) e McLean (1998). Outros escritos do autor (TOLSTÓI, 1982 / 2008), também foram observados a fim de complementarmos nosso estudo. Em suma, propomo-nos analisar brevemente as posições presentes no romance de Tolstói acerca da oposição anteriormente apontada, tangenciando alguns elementos composicionais que trabalham em favor de sua elucidação.

Palavras-chave: Anna Kariênina; Lev Tolstói; Campo; Cidade

ANTONIO CANDIDO LEITOR DE GENTE

Rodrigo Soares de Cerqueira (UNIFESP)

Resumo: Que Antonio Candido, a despeito — ou por causa, aí vai depender do intérprete — de sua formação sociológica, tenha se tornado um dos maiores críticos literários brasileiros, ninguém ignora. Muito menos conhecido é um viés de sua prática que começa a ganhar força a partir das décadas de 1970 e 1980 e se consolida a partir de Teresina etc. Aqui, o crítico literário cede espaço a um misto de memorialista e narrador, que busca reconstruir a vida de pessoas com quem conviveu e que admira. É o caso da própria Teresa Carini Ricchi, a Teresina do livro mencionado. Do mesmo modo, ele se voltará à vida de figuras literárias de peso, como Oswald e Mário de Andrade, de seus professores franceses, como Roger Bastide, ou ainda de outros intelectuais, como é o caso de Sérgio Buarque de Holanda e Florestan Fernandes. Nessa comunicação, que é um desenvolvimento de uma pesquisa já concluída, vou me concentrar numa breve entrevista dada ao jornal O Estado de S. Paulo, em 1 de janeiro de 2003, quando da posse Lula. Me interessa retirar dessa entrevista duas imagens — a do mergulho pelo corpo físico do país e a da elaboração pessoal de uma tradição que lhe é estranha —, de modo a situar Lula como o ponto de chegada de um processo que deita raízes no modernismo brasileiro, de que Candido foi um leitor privilegiado, e atravessa uma tradição inconclusa, que diz respeito ao radicalismo de classe média. Em 2003, Lula, tal

71 como lido por Antonio Candido, parecia condensar um conjunto de aspirações de um país em vias de dar um salto formativo real.

Palavras-chave: Antonio Candido; pensamento social brasileiro; memória.

A CONSTITUIÇÃO DO “OUTRO” NAS HISTÓRIAS DE CRIANÇAS RIBEIRINHAS E DA CIDADE

Rosália Aparecida da Silva (UNIR)

Resumo: A empatia ante a alteridade, o olhar para o “Outro” com respeito às diferenças e a procura por entender o que causa a desigualdade social têm sido o legado deixado pela escritora Nair Ferreira Gurgel do Amaral à criação regional. Seu trabalho criativo explora textos orais e escritos, a partir de histórias coletadas em área urbana e ribeirinha em Rondônia, estado que faz parte da Amazônia brasileira. A proposta aqui apresentada é resultado parcial do projeto “Processos de criação na Amazônia: escritores contam suas experiências literárias”, desenvolvido por pesquisadores do Núcleo de Estudo: Linguagens, Literaturas e Processos de Criação da Linha de Pesquisa: Educação, Cultura e Comunicação do Grupo de Pesquisa em Educação, Filosofia e Tecnologias do Instituto Federal de Rondônia (GET/IFRO ), no qual está em investigação o processo de construção artístico de escritores amazônidas. No trabalho em tela, o objetivo é a compreensão do processo de criação literária de Nair Ferreira Gurgel do Amaral por meio da Crítica Genética, tendo condução metodológicas as teorias encontradas em Pino (2007), Salles (1991) e Zular (2002). Como resultados, são apontados indícios do processo de criação da professora universitária radicada em Porto Velho, Rondônia, com características advindas da teoria pós-colonialista. Assim, são encontradas bases no hibridismo e no multiculturalismo, conforme aporte teórico em Machado (2002), Hall (2011), Canclini (2008), Bhabha (2013), Fanon (2008), Said (2007) e Bagno (2013). Foram analisadas neste estudo as obras literárias e as escolhas de criação de seus livros. Verificamos, a partir deste estudo, que a hibridização cultural, o multiculturalismo, a valorização do ribeirinho e do porto-velhense são pontos fortes do conjunto do discurso literário adotado pela autora. Enquanto escritora, Nair é uma autora que se utiliza muito do universo amazônico e da “popularização” das pesquisas científicas.

Palavras-chave: Processo Criativo, Literatura Amazônica, Multiculturalismo.

O HOMEM DIANTE DA VELHICE EM CORPO DE BAILE E GRANDE SERTÃO: VEREDAS

Rosalina Albuquerque Henrique (UFPA)

Resumo: Este trabalho faz parte da pesquisa de doutorado, pertencente ao Programa de Pós-Graduação em Letras, da Universidade Federal do Pará, cuja proposta consiste em uma discussão em torno das figurações da velhice nas vozes de alguns personagens da literatura brasileira, criados pelo escritor brasileiro João Guimarães Rosa (1908-1967), como: Manuelzão (Corpo de baile) e Riobaldo (Grande sertão: veredas), balizado em

72 escritas ligadas à velhice e à morte e suas representações na modernidade, de Ecléa Bosi (2009) e Simone de Beauvoir (1990), bem como, às produções críticas de Antonio Candido (2012) e Benedito Nunes (2009) à luz de ideias da Estética da Recepção (JAUSS, 1994; ISER, 2002). O desenvolvimento da pesquisa resultou em quatro trabalhos acadêmicos: VIII Seminário Rosiano (UFPA, 2017), XIV Seminário de Pesquisas em Andamento (UFPA, 2017), 10ª Jornada de Pós-Graduação (FIBRA, 2017), 21º Congresso de Leitura (UNICAMP, 2018) e na publicação do artigo “Sob a égide do tempo: a velhice em Corpo de baile e grande sertão: veredas” na Zunái: Revista de Poesia & Debates (2017).

Palavras-chave: Corpo de baile. Grande sertão: veredas. Velhice.

CONSTRUINDO DISCURSOS E IDENTIDADE: UMA ANÁLISE DE MÚSICAS INDÍGENAS CONTEMPORÂNEAS DE DJUENA TIKUNA

Rossine de Souza Rodrigues (UFAM)

Resumo: A música como linguagem é, sem dúvidas, segundo Snyeders, mais diretamente comovente do que a linguagem propriamente dita. Por isso, este estudo visa unir reflexões sobre identidade e discurso através de músicas indígenas contemporâneas da artista indígena Tikuna, Djuena Tikuna. Para nossa análise, elencamos três músicas: Nós somos floresta, Não vamos desaparecer e Todos os povos se unirão. São músicas que fazem parte do CD Tchhautchiüãne de Djuena Tikuna, a partir delas construiremos reflexões sobre língua como recurso cultural e performance, como postura reflexiva, envolvendo habilidade e competência, baseada em Bauman. Bakhtin comporá nossa reflexão sobre a língua como ferramenta de conformação identitária; além de Duranti, a partir de suas abordagens sobre a língua como recurso cultural entrelaçado a uma prática social. Como recurso semiótico para Antropologia e para a linguagem, a língua será a responsável por, a partir da fala, construir uma cultura e a interação de variedades identitárias.

Palavras-chave: Música indígena, discurso, identidade.

VOZES GAYS NAS NARRATIVAS AMAZÔNICAS: APONTAMENTOS DE PODER, IDENTIDADE E MEMÓRIA

Rubenil da Silva Oliveira (SEDUC-MA/UFPA) Maria do Perpétuo Socorro Galvão Simões (UFPA)

Resumo: Este artigo pretendeu discutir as categorias conceituais de poder, identidade e memória dos gays nas narrativas amazônicas. Para esta construção foi necessário o diálogo com as teorias acerca do poder em Foucault (2016) e Agamben (2013); da identidade em Hall (2014) e Silva (2013) e; da memória em Halbwachs (2013), Ricouer (2016) e Yates (2017). Além de uma revisitação aos conceitos fundamentais da Literatura Oral e da crítica literária presentes em Simões (2006), Paes Loureiro (2015), Bonnici (2011), Bosi (2013) e Câmara Cascudo (2007) e da literatura homoafetiva como Lopes (2002), Trevisan (2002), Mott (2003) e Okita (2016). Como corpus literário há narrativas presentes no livro Santarém Conta... (1995), coordenado pelos

73 professores Maria do Perpétuo Socorro Galvão Simões e Christophe Golder e o romance Olho de Boto (2015), de Salomão Larêdo. As narrativas coletadas dão conta de que as vozes gays são, por vezes, silenciadas pelas vozes heterossexuais, o que parece reproduzir o olhar dos homens e mulheres das comunidades tradicionais amazônicas acerca das identidades sexuais tidas por desviantes. Inclusive, quando em algumas delas se deixa perceber que há certa cautela em admitir que essas identidades existam e que as personagens do imaginário como o boto e cobras podem ser representadas com a identidade homoafetiva. Assim, essas vozes não deturpam ou desconstroem a literatura amazônica já sistematizada, pelo contrário, contribuem para que os diversos povos os quais habitem este espaço vejam-se representados.

Palavras-chave: Homoafetividades, Imaginário, Literatura oral.

A DELAÇÃO ENQUANTO DISPOSITIVO DE CONTROLE NO ROMANCE SOLEDAD NO RECIFE

Samantha Carolina Vieira de Oliveira (UFPA)

Resumo: No cerne desta produção a relevância teórica é discutir a respeito do dispositivo da delação, elemento presente no romance Soledad no Recife do autor Urariano Mota, texto cujo recorte histórico é do período ditatorial brasileiro. O romance Soledad no Recife, narra a história da militante paraguaia Soledad Barret Viedma, atuante da Vanguarda Popular Revolucionária – VPR – na cidade do Recife. Ao narrar a história de Soledad, Urariano denuncia a barbárie sofrida pela militante e a sua morte brutal, culminada pela traição de seu cônjuge. Delatada pelo próprio companheiro - um ex militante que, após ser pego pela repressão, passa a trabalhar como agente duplo para polícia - Soledad foi vítima fatal de uma emboscada, arquitetada pela equipe do delegado Sérgio Paranhos Fleury. No momento de sua morte Soledad estava grávida de seu delator – Cabo Anselmo, mas que na condição de infiltrado atendia pelo nome Daniel. Na produção literária descrita, a delação é elemento motivador do colapso de vida da militante, nessa perspectiva, este trabalho apresenta como objetivo principal a análise da obra citada, usando como ferramenta a metodologia arqueológica – ensinada por Michael Foucault – para de identificar as facetas daquilo que nomeio como dispositivo da delação. Compreendo que a delação se tornou, no recorte histórico ditatorial, uma máquina de poder, uma economia a ser administrada pelo Estado para capturar corpos militantes. Este dispositivo apresenta capilaridades importantes para entende-lo como um todo: a figura do delator; a soberania; a legitimidade estatal na prática da delação. Diante disso, o trabalho busca movimentar inquietações como: o que é dispositivo de poder? Como o Estado se apropriou do ato da delação? Como a delação, enquanto dispositivo, possibilitou a manutenção do poder Estatal no período ditatorial brasileiro? Para isso, as conjecturas de Michael Foucault e Giorgio Agamben serão utilizadas como basilares na construção teórica desta produção.

Palavras-chave: Delação, Dispositivo, Soledad no Recife

74 DEMANDAS LITERÁRIAS NA IMPRENSA PARAENSE

Sara Vasconcelos Ferreira (UFPA)

Resumo: Ao examinar as páginas da imprensa oitocentista paraense é possível encontrar dezenas de artigos, ensaios e cartas debatendo o fazer literário, as produções locais e nacionais e a ausência de interesse tanto da população quanto da crítica especializada da região a respeito da literatura que estava circulando na imprensa. É partindo dessas constatações que nos voltamos para a análise dos artigos de colaboradores locais do jornal A Província do Pará, que usavam os espaços da folha para expor diversas demandas de caráter literário e questionar a ausência de continuidade nos trabalhos de produção e crítica no Pará. Entre a postura da ausência de crítica resultado da ausência de literatura na região, defendida pelo colaborador Plan, há ainda os pontos suscitados por Juvenal Tavares e Guilherme de Miranda a respeito da falta de interesse dos críticos locais pela produção paraense. O objetivo desta comunicação, portanto, é apresentar as demandas, a respeito da produção local, debatidas nos artigos de crítica, escritos pelos colaborados da Província do Pará nos anos finais do século XIX. A partir das leituras de SOUZA (1999) e JOBIM (2012) acerca da consolidação dos estudos literários, de ZILBERMAN et al (2004), que trata da importância das pesquisas em fontes primárias, e BARBOSA (2007) sobre a relação entre jornal e literatura, compreendemos o jornal como espaço privilegiado para a publicação de crítica literária e um documento histórico que mostra o percurso da literatura local e sua relação com a produção nacional. Este trabalho é parte da pesquisa de Doutorado em curso, que visa recuperar a crítica literária veiculada no jornal A Província do Pará entre 1876 e 1900.

Palavras-chave: Crítica literária, imprensa, A Província do Pará

DIREITO ANIMAL, LITERATURA INFANTOJUVENIL E MITO: UMA LEITURA DE SANDMAN, DE NEIL GAIMAN.

Sarah Maria Borges Carneiro (UFC)

Resumo: O objetivo do presente trabalho, parte da pesquisa de doutorado em desenvolvimento no Programa de Pós-Graduação em Letras da UFC, é analisar de que maneira as representações dos personagens não-humanos na obra de Neil Gaiman questionam o direito animal, não apenas no que concerne às leis, mas também no que diz respeito às justificativas formuladas pelo homem ao longo da história para garantir a si mesmo um lugar privilegiado no mundo, acima dos animais e da própria natureza. Nesse contexto, Gaiman ocupa um papel de grande importância, uma vez que sua obra é permeada por narrativas míticas que valorizam o animal. Desde o sucesso inaugural da série de HQs Sandman, publicada a partir do final dos anos 80, Gaiman tem conquistado maior prestígio e popularidade, o que o ajudou a chamar atenção para mídias consideradas menos rebuscadas pelo cânone até então, como os quadrinhos. Fazer um apanhado das narrativas da série Sandman revela-se pertinente para que possamos compreender as tentativas de sondagem da outridade animal. Além disso, a obra em questão contribui para desestabilizar as fronteiras do próprio conceito de literatura, pois rendeu ao autor, em 1991, o prêmio literário World Fantasy Award, nunca antes concedido a uma HQ. Partimos da hipótese de que o contato do jovem leitor com os

75 animais de Gaiman contribuiria para uma tomada de consciência dos direitos dos não- humanos, possibilitando que o respeito e a valorização da natureza não sejam motivados apenas em termos de sua utilidade para nós, mas pelos valores e saberes intrínsecos a própria natureza. Para tanto, nos fundamentaremos nas obras de Montaigne (1987), Eisner (1989) Berger (1980) e Derridas (1997), Garrard (2006), Jung (2008), Hunt (2010), Groensteen (2015), assim como nas obras de Maria Esther Maciel sobre Literatura e animalidade (2011; 2016) e no estudo de Rossi sobre Direitos dos Animais (2016).

Palavras-chave: Literatura infantojuvenil, mito, direito animal, Neil Gaiman, Sandman

VENTO BATEU E A MANGUEIRA BALANÇOU: A CULTURA AMAZÔNICA CANTADA EM VERSO E PROSA

Sérgio Renato Lima Pinto (SEMEC) Walter da Silva Braga (SEMEC) Nilma do Socorro Nogueira Machado (SEMEC)

Resumo: Este trabalho buscou desenvolver atividades de leitura e escrita no contexto da alfabetização; para isso foi tomado por base a letra do Samba Enredo “A Dança das Folhas na cidade das Mangueiras”, da escola de samba Paraense “Rancho não posso me Amofiná”, desenvolvido em turmas do Ensino Fundamental do Ciclo de Alfabetização da Secretaria Municipal de Educação de Belém (SEMEC), a escolha da letra da música proporcionou o envolvimento com diversas expressões artísticas, bem como estudos da literatura, da arte e da cultura Belenense, além da elaboração de uma sequência didática com diversas atividades voltadas para o contexto da cidade das Mangueiras, envolvendo diversos aspectos culturais tais como: festejos religiosos, hábitos e costumes alimentares. No processo alfabético, torna- se necessário aproveitar as oportunidades dos períodos vividos pela escola ou cidade, nesse contexto foi utilizado a respectiva temática para o período do carnaval, o qual nos permitiu compreender os aspetos histórico-culturais correlacionados ao ambiente que vivemos. Como referencial básico na utilização da letra da música foi possível estudar as palavras chaves: Belém, Castanha do Pará, Cheiro do Pará, Mangueira, Morena. Neste contexto foi possível envolver os alunos no processo de leitura e escrita, permitindo a aprendizagem do Sistema de Escrita Alfabética, com atividades de escrita e reescrita de texto, o que gerou diversas estratégias metodológicas tais como, glossário, texto lacunado, alfabeto móvel com produção coletiva e individual. Buscamos fundamentar nosso estudo no aspecto de que a palavra cultura foi adquirindo novos significados, incluindo em sua definição aspectos espirituais, da língua, da arte, das letras e das ciências (CHAUI, 1986). A temática valorizou a cultura amazônica potencializando a ação pedagógica na escola, proporcionando um desdobrar no avanço da produção textual e da leitura. A sequência didática também permitiu a interação de diálogos acerca de vários aspectos da temática na cidade de Belém.

Palavras-chave: Aprendizagem, Arte, Cultura, Linguagem.

OS CHAMADOS DO TIGRE: A POESIA COMO ÊXTASE XAMÂNICO EM MAX MARTINS

76 Sheila Lopes Maués Autiello (UFPA)

Resumo: A presente pesquisa traz reflexões sobre as afinidades entre a poética de Max Martins e o xamanismo. A criação poética como ato de liberdade espiritual (o estar fora de si), a experiência poética como chamado místico, a língua em sua fisionomia enigmática, a abertura erótica, a escritura como êxtase e a presença dos animais de poder, recorrentes na poética do autor poderiam levar à concepção de poesia como êxtase xamânico? Com o apoio dos estudos de Mircea Eliade, Claudio Willer, Eduardo Viveiros de Castro e Jerome Rothenberg, será discutido de que modo traços e temas do xamanismo podem ser percebidos nos poemas de Max Martins. O objetivo desta pesquisa é ponderar sobre a poética de Max Martins, concebendo-a também como experiência extática de linguagem, situando assim, o poeta, em uma “linhagem” de poetas-xamãs que remontaria desde os poemas órficos, passando por Dante Alighieri, William Blake, Gérard de Nerval, Rimbaud, até a mais recente "Beat Generation”, o contemporâneo Roberto Piva, dentre outros.

Palavras-chave: Xamanismo e literatura; Max Martins; poesia.

REPRESENTAÇÕES DA AMAZÔNIA NAS ARTES VISUAIS EM CINZAS DO NORTE

Tatiana Cavalcante Fabem (IFPA) Josiclei de Souza Santos (UFPA)

Resumo: O presente trabalho faz uma aproximação entre as linguagens da Literatura e das Artes Visuais e busca comparar, a partir dos estudos de Homi Bhabha, os discursos sobre a Amazônia presentes no fazer artístico de dois personagens do romance Cinzas do Norte, Arana e Mundo, do escritor amazonense Milton Hatoum, comparando o discurso pedagógico hegemônico, que transforma a Amazônia numa comunidade imaginada uniforme e com um passado contínuo, linear e progressivo, disserminador do exotismo, com o discurso performativo, que percebe a Amazônia com híbrida, conflituosa e multitemporal, com diferentes sujeitos que se inserem de forma suplementar na sua narrativa. O romance está contextualizado no período da ditadura militar, tendo como cenários, Manaus, Europa e Rio de Janeiro. Os dois discursos presentes no referido romance sobre o fazer artístico contemporâneo na Amazônia envolvem reflexões também sobre mercado, a questão da criação, da ruptura e recriação da linguagem ante o público e as instituições que fomentam e sustentam a arte.

Palavras-chave: Arte contemporânea, Amazônia, narrativa.

ESTRATÉGIAS DE TRADUÇÃO: A TRADUÇÃO DE TERMOS ESPECÍFICOS DA REGIÃO AMAZÔNICA NO LIVRO CINZAS DO NORTE, DE MILTON HATOUM

Thayná Míriam Pereira Passos (UNIFESSPA)

Resumo: Este trabalho teve como tema as estratégias utilizadas pelo tradutor para traduzir os itens culturalmente específicos da região amazônica para o inglês no livro Cinzas do Norte, de Milton Hatoum e sua tradução, Ashes of the Amazon, por John Gledson. Para isso, utilizamos

77 textos de Bassnett (2002) e Munday (2001) para apontar as transformações sofridas nos estudos de Tradução; Schleiermacher (2001), Catford (1980), Venuti (1995 e 2002) e Aixelá (1996), para tratar do papel do tradudor e suas escolhas ao realizar uma tradução, dando enfoque ao conceito de estrangeirização e domesticação, descritos po Venutti e às estratégias de tradução de Aixelá. Os objetivos deste trabalho foram localizar as estratégias de tradução descritas por Aixelá (1996) em Ashes of the Amazon, quais e o impacto destas no resultado final da tradução. Em seguida, fizemos uma comparação entre as duas obras e os dados coletados foram divididos em nove categorias, sendo elas “Expressões”, “Formas de tratamento”, “Fauna e Flora”, “Pratos”, “Personagens”, “Países e cidades”, “Lugares e Instituições”, “Geografia, ruas e vizinhança” e “Celebrações e referências religiosas”. Como resultado, percebemos que a estratégia mais utilizada foi a de Repetição, mantendo grande parte dos nomes próprios existentes na obra original, e que as maiores mudanças ocorreram na categoria “Expressões”, por conterem a maior carga de elementos culturais e onde o tradutor teve que utilizar de sinônimos e reescrita ao traduzir o texto. Concluímos que, embora o tradutor tenha feito muitas mudanças nas expressões locais devido à sua característica de ter termos mais carregados culturalmente, ele manteve muitos dos termos originais do livro Ashes of the Amazon, especialmente em relação aos nomes, tornando o livro estrangeirizante.

Palavras-chave: Estratégias de Tradução, Itens Culturalmente Específicos, Estrangeirização.

DE ALENCAR A MACHADO: PROCESSO DE CONSAGRAÇÃO POR MEIO DA ANÁLISE DE CONTRATOS

Valdiney Valente Lobato de Castro (UFPA)

Resumo: O século XIX foi considerando por Bourdieu (1992) o momento em que o campo literário se solidificou e a figura do escritor passou a ser a de um sujeito imerso em uma teia muito bem urdida de elementos interligados do meio de produção cultural, construindo, assim, uma estrutura formada por editores, escritores e leitores, responsáveis pela produção, circulação e recepção da obra literária. Desse modo, o papel do editor passa a ser compreendido para além de um mero mercador de obras, mas sim como um elemento singular para a consolidação de nosso cânone literário, na medida em que sua relação com os escritores permite o esquecimento ou a perpetuação de uma obra na memória cultural. Com base nessa concepção, configura-se o objetivo principal deste estudo: analisar os contratos estabelecidos entre os editores e dois dos principais escritores oitocentistas, José de Alencar e Machado de Assis, a fim de compreender como as cláusulas contratuais, bem como o valor pago aos escritores vão sendo modificados, na mesma proporção em que o gênero, a obra ou o nome do escritor se consagra no meio beletrista oitocentista.

Palavras-chave: José de Alencar, Machado de Assis, contratos, editores,

MACHADO DE ASSIS E A FILOSOFIA: UMA INTERPRETAÇÃO DIVERGENTE

Vitor Cei Santos (UNIR)

78 Resumo: Esta comunicação enfoca a recepção crítica do pensamento ficcional de Machado de Assis, a partir de Sílvio Romero (1897) até o início do século XXI, e analisa os argumentos empregados para lidar com a presença do niilismo e do pessimismo na literatura do autor. O discurso crítico, desde o lançamento de "Memórias póstumas de Brás Cubas" (1881), manifesta uma relação conturbada com as características comumente associadas ao pessimismo e ao niilismo, ora reconhecendo, ora negando sua presença na ficção machadiana. Oferecendo uma “interpretação divergente” – “Dissenting Interpretation”, para usar a expressão de John Gledson em “The deceptive realism of Machado de Assis” (1984) – contrario aquilo que Benedito Nunes, em “Machado de Assis e a filosofia” (1989), denominou “os traços fisionômico- doutrinários, carregados nas tintas do negativismo, com as quais a tradição crítica revestiu o perfil filosófico de Machado de Assis”. Segundo a fortuna crítica, a ficção machadiana assume uma postura desencantada da vida, da sociedade e do homem. Essa interpretação aparece na bibliografia especializada, em manuais didáticos e até mesmo na Wikipédia. Em contrapartida, argumento que o pensamento ficcional machadiano assume uma postura afirmativa diante da vida, bem como uma perspectiva crítica (galhofeira) da sociedade e do homem. Defendo que o niilismo e o pessimismo são sim dois motivos condutores de todos os romances machadianos, desde “Ressurreição” (1872) até “Memorial de Aires” (1908) – no entanto, o niilismo e o pessimismo aparecem faturados sob a pena da galhofa. Os personagens de Machado, ao tornarem o pessimismo e o niilismo risíveis, levantam a possibilidade de não aceitá-los sem resistência.

Palavras-chave: Machado de Assis, filosofia, pessimismo, niilismo, galhofa

MATINTA PERERA - UMA HISTÓRIA MARAVILHOSA

Wellingson Valente dos Reis (IFPA/UNAMA)

Resumo: Este trabalho tem por objetivo verificar os elementos do maravilhoso na narrativa oral “Matinta Perera” recolhida pelo IFNOPAP, para isso iniciamos com os conceitos de maravilhoso, recorrente em nossa sociedade desde a época medieval, além de observar esse conceito junto com o de mito que está muito presente na sociedade amazônica, além de observar esses conceitos na literatura de maneira geral. Em seguida, partimos para a análise do maravilhoso e do mito na Amazônia, percebendo como esse maravilhoso é construído, aceito e crescente nesta sociedade repleta de mitopoética. Para que ao final, possamos perceber essa construção do maravilhoso na narrativa oral. Para embasar teoricamente nossa pesquisa, trabalhamos com Le Goff (2017) e Marinho (2006) sobre o Maravilhoso na Idade Média; com Chiampi (2015), Roas (2001), Gama- Khalil (2012) e Todorov (2014) sobre o fantástico e o maravilhoso; Mielietinski (1987) e Levi-Strauss (2013) sobre mito; para falarmos de Amazônia usaremos Paes Loureiro (2015/2016) e Gondim (2007).

Palavras-chave: Literatura Fantástica, Maravilhoso, Amazônia, Mitopoética, Matinta

BANZEIRO, BANZERIOU: LINGUAGEM, MÚSICA E APRENDIZAGEM NO CONTEXTO AMAZÔNICO

79 Walter da Silva Braga (SEMEC) Sérgio Renato Lima Pinto (SEMEC) Lúcia Cristina Azevedo Quaresma (SEMEC)

Resumo: O presente trabalho foi resultado de atividades realizadas em turmas do Ciclo de Alfabetização da Secretaria Municipal de Educação de Belém (SEMEC). Cujo objetivo era trabalhar a temática lítero-musical no contexto da Amazônia; tendo em vista a necessidade que as Escolas apresentam com relação ao trabalho de Educação Ambiental. A temática partiu da letra da música Banzeiro da cantora Paraense , visto que a mesma retrata um contexto Amazônida, bem como vários elementos e hábitos tipicamente paraenses tais como tomar banho de chuva, banho de plantas cheirosas o que permitiu um grande envolvimento dos alunos para fomentar a discussão em sala. Desta forma, baseado no contexto da temática e na letra da música desenvolvemos atividades, pesquisas, estudos, bem como reescrita da letra musical, permitindo um grande processo de aprendizagem. Assim sendo, Banzeiro, Banho, Cheiro do Pará, Pororoca e Priprioca, dentre outras, foram palavras que nortearam o trabalho pedagógico desenvolvido em turmas de alfabetização, permitindo uma boa articulação entre aluno, professor e comunidade escolar. Permitindo assim maior envolvimento dos alunos na aprendizagem, o que gerou avanço na leitura e escrita. Nesse contexto buscamos apoiar nosso trabalho no aspecto Ambiental em Leff que apresenta o saber ambiental na perspectiva dos valores éticos, dos conhecimentos práticos e dos saberes tradicionais (2001). O enredo da música permitiu estratégias metodológicas com atividades diversificadas e envolvimento dos alunos no processo ensino aprendizagem, bem como uma reflexão acerca do meio ambiente amazônico. A letra da música foi a base para o estudo do texto, proporcionando atividades educativas, glossário, alfabeto móvel, bingo de palavras, texto coletivo, leitura e releitura textual, textos lacunado e fatiado, que serviram de apoio no contexto da aprendizagem. Obtivemos uma notável aprendizagem dos alunos, tanto no que se refere ao processo de escrita alfabética, leitura e oralidade no contexto literário da música.

Palavras-chave: Alfabetização, Amazônia, Linguagem, Música.

O ESTILO DO GÊNERO CIENTÍFICO TESE EM "A CRISE DO PENSAMENTO MESSIÂNICO", DE OSWALD DE ANDRADE

Wenceslau Otero Alonso Júnior (USP/UEPA)

Resumo: Oswald de Andrade escreveu duas dissertações para concursos acadêmicos que considera teses: uma para o concurso da Cadeira de Literatura Brasileira da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, denominada A Arcádia e a Inconfidência, em 1945, e outra, intitulada A Crise da Filosofia Messiânica, para o concurso da cadeira de Filosofia da Faculdade de Filosofia, em 1950, ambas escritas com o intuito de ingressar na carreira docente da Universidade de São Paulo. Nada obteve com elas, entre outras possíveis razões, por não serem teses no rigor do termo, ou, dito de outro modo, no rigor do gênero discursivo Tese, como se depreende, por exemplo, do comentário de NUNES (1972), que vê nelas não a abordagem crítico-reflexiva própria das teses, mas sim aquela feita por associação de imagens, típica do discurso poético. Nossa exposição, que

80 é um desdobramento de nossas investigações no doutorado do programa do Departamento de Filologia e Língua Portuguesa da USP, ainda em curso, se ocupará da segunda tese, a de 1950, e à luz do que seja a configuração estilística do gênero discursivo tese, de vez que o estilo é, segundo BAKHTIN (2015), um dos seus componentes, tentará demonstrar em que o texto produzido por Oswald de Andrade estilisticamente se afasta do que, a rigor, deve ser o estilo próprio desse tipo específico de gênero. Para efeito de comparação, nossa tentativa estará fundamentada nos parâmetros definidos em obras que sugerem e definem os passos a dar na execução de uma Tese, como a de ECO (2016), ou descrevem a estrutura acadêmica do referido gênero, como a de SEVERINO (2016).

Palavras-chave: Palavras – chave: Gêneros Científicos. Estilística. Oswald de Andrade.

ASAS E “O FORNO” - APROXIMAÇÕES ENTRE A PROSA DE MIKHAIL KUZMIN E EVGUÉNI KHARITÓNOV

Yuri Martins de Oliveira (USP)

Resumo: A presente comunicação pretende abordar pontos em comum e diferenças entre a novela Asas (1906), de M. Kuzmin, e o conto “Forno” (1969), de E. Kharitónov. Ambos os textos trazem como tema central as relações homossexuais masculinas, em contextos histórico-culturais distintos, porém mesmo assim com referências semelhantes, como a tradição greco-latina clássica. Através desse breve estudo comparativo, pretende-se indicar possíveis influências de Kuzmin no texto de Kharitónov, e notar modificações no modo de tratar o tema da homossexualidade masculina em literatura. Serão feitos comentários e observações a respeito da história e da cultura russa e soviética para melhor situar os textos no tempo-espaço e compreender melhor o olhar que cada escritor lança sobre o tema. A comparação entre os textos é uma das partes que compõe a análise do conto “Forno”, tema da minha dissertação. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS KHARITÓNOV, Evguéni. Pod domachnim arestom [Em prisão domiciliar]. 2º edição. Moscou: Glagol, 2005. BELYNTSEVA, Olga. Gomosseksual'naia tiéma v russkoi literature XX viéke (Mikhail Kuzmin i Evguéni Kharitónov) [ O tema da homossexualidade na literatura russa do século XX (Mikhail Kuzmin e Evguêni Kharitónov)]. Trabalho de Conclusão de Curso – Faculdade de Filologia, Universidade Masaryk. Brno, 2007. KUZMIN, M. Krýl'ia [Asas]. Moskva: Kvir, 2008. KUZMIN, Mikhail. Asas. Tradução e posfácio de Elias Ribeiro de Castro. São Paulo: Editora Z, 2003.

Palavras-chave: Kharitónov; Kuzmin; Prosa russo-soviética.

OS RELATOS DE UMA BUSCA DE BERNARDO KUCINSKI

Zuzana Burianová (Universidade Palacky)

Resumo: O objetivo da comunicação é refletir sobre o modo como o real histórico, a memória e a imaginação se articulam nos romances "K. – Relato de uma Busca" (2011) e "Os Visitantes" (2016), do jornalista, escritor e cientista político brasileiro Bernardo Kucinski (1937). A primeira obra analisada, que representa o romance de estréia do

81 autor, pode ser considerada um “documento fictício” no qual, como o próprio narrador diz, “tudo é invenção, mas quase tudo aconteceu”. A sua história, que descreve a trajetória de um pai em busca da sua filha, desaparecida durante a ditadura militar, inspirou-se em fatos reais ocorridos na família do escritor. Narra o caso da sua irmã, professora Ana Rosa Kucinski, que foi junto com o marido (ambos eram militantes de uma organização de luta armada) sequestrada e assassinada pelo regime em 1974. A análise deste romance vai partir da sua inserção na literatura de testemunho, concentrando-se no seu destaque da estreita relação entre os acontecimentos históricos e o presente, concretamente da interligação entre o Holocausto, o regime militar brasileiro e a sociedade brasileira contemporânea. Na segunda obra analisada o autor retoma, de uma maneira crítica, o tema do primeiro romance: apresenta os leitores deste livro que visitam o escritor para conversarem sobre a obra e questionarem uma série de informações nela contidas. Com este procedimento narrativo incomum o autor aprofunda a complexa relação entre a história, a memória e a ficção e abre novas perspectivas sobre a abordagem dos acontecimentos traumáticos.

Palavras-chave: Brasil, ditadura militar, Holocausto, Testemunho, Romance.

82 ESTUDOS LITERÁRIOS

COMUNICAÇÕES INDIVIDUAIS

A DESUMANIZAÇÃO COMO DESCONSTRUÇÃO E CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE DE G.H., EM A PAIXÃO SEGUNDO GH DE CLARICE LISPECTOR Alany Ferreira (UFRA) Resumo: Este trabalho analisa a obra de Clarice Lispector, A paixão segundo G.H. publicado em 1964 com a perspectiva de contribuir para o entendimento do conceito de humanização no romance, a fim de investigar como ocorre o processo de desumanização na personagem G.H., tendo em vista que Clarice Lispector desconstrói a ideia de moralidade ao mostrar a grande contradição existente na concepção de humanização em seu sentido literal. São trabalhados os conceitos de desumanização, desconstrução, moralidade, civilização e identidade, a partir da protagonista do livro. Esse trabalho tem como objetivo investigar de que forma a desumanização de G.H., desenvolve seu autoconhecimento e a ruptura de seu invólucro de humanidade, essencialmente capaz de revelar sua real identidade, evidenciando as transformações percorridas pela protagonista ao longo da narrativa. Tendo a desumanização como ponto chave, tentarei expor a relação entre ela e as demais noções aqui apontadas, recorrendo para tanto a própria obra e os elementos que a mesma fornece. Palavras-chave: Identidade, Desumanização, Civilização, GH, Clarice Lispector.

AS PRESAS POLÍTICAS COMUNISTAS NO REGIME DO ESTADO NOVO NA VISÃO (MEMORIALISTA) DE ENEIDA DE MORAES NA CRÔNICA: AS COMPANHEIRAS. Alice Corrêa Garcia (UFRA) Resumo: O presente trabalho tem por objeto de análise a crônica “As Companheiras” escrita por Eneida de Moraes e volta-se aos estudos do posicionamento da mulher/política comunista em relação ao fascismo, por meio dos traços de cunho memorialistas presentes na escrita da referida autora. Para tanto, tomou-se por base os estudos de Maurice Halbwachs (1990), que aborda a memória coletiva e individual e Michael Pollak (1989), que aborda os estudos de memória, esquecimento e silêncio. Objetiva-se, ainda, com essa pesquisa refletir as relações de amizade e companheirismo entre mulheres no contexto político-histórico brasileiro do Estado Novo e propor um estudo voltado ao engajamento de mulheres no regime ditatorial. Dessa maneira, essa pesquisa adota uma metodologia de base bibliográfica, na qual coloca-se em pauta estudos memorialistas e uma breve reflexão voltada à militância de mulheres em regime ditatorial no contexto brasileiro e, principalmente, a militância feminista em que Eneida de Moraes esteve engajada. Palavras-chave: Memória; mulheres; Eneida de Moraes

O EROTISMO SONSO DE MURILO MENDES Aline Novais de Almeida (USP) Resumo: Em A idade do serrote, obra publicada durante o autoexílio italiano em 1968, Murilo Mendes (1901-1975) sugere que apreendia o espírito de Eros de maneira

84 inocente: “Captava no ar mais sonso do mundo notícias de Eros”. Embora esse reconhecimento do autor esteja atrelado à proposta do livro –, cuja perspectiva memorialística demarca um conjunto de narrativas que recontam as suas experiências vividas, durante a infância e adolescência, em sua cidade natal, a mineira Juiz de Fora –, torna-se producente, em termos analíticos e interpretativos, aproximar tal enunciado à própria poética muriliana. O autor possui em sua extensa produção literária textos que demarcam a temática erótica, como é o caso dos poemas “Romance da penitência do Rei Rodrigo”(Tempo espanhol, 1959), “Jandira”, “A noiva” (ambos de O visionário, de 1941) e “Grafito para Ipolita” (Convergência, de 1970), sendo que os dois últimos integram a Antologia da poesia erótica brasileira, volume que saiu em 2015, organizado por Eliane Robert Moraes. De todo modo, mesmo os mais experientes exegetas da obra de Murilo Mendes, não negam a presença de Eros entre os títulos, mas, por outro lado, reforçam que o poeta juiz-forano explora um grau mínimo de obscenidade em seus poemas. Ou seja, a experiência erótica da poesia muriliana valoriza o registro mais sublime do corpo e da sexualidade. Tal característica não pretende atestar qualquer valoração à obra, ao contrário, intenta-se compreender as especificidades desses textos que parecem tangenciar a questão erótica. Assim, a presente comunicação objetiva: 1) investigar de que maneira se articula na coletânea As metamorfoses, de 1944, a categoria do erotismo sonso; 2) delinear quais as estratégias poéticas adotadas pelo autor para o efeito dessa dissimulação erótica. Para isso, examinará os poemas mais exemplares desse fenômeno, evocando textos críticos e teóricos que possam dialogar com a ideia de erotismo sonso. Palavras-chave: Murilo Mendes, erotismo sonso, As metamorfoses.

NEGRITUDE E FIGURAÇÃO DA MULHER EM DALCÍDIO JURANDIR Alinnie Oliveira Andrade Santos (UFPA) Resumo: Dalcídio Jurandir (1909-1979) foi um escritor brasileiro consciente do papel de seu projeto literário para a literatura brasileira. Em dez dos seus onze romances – Chove nos Campos de Cachoeira (1941), Marajó (1947), Três Casas e um Rio (1958), Belém do Grão Pará (1960), Passagem dos Inocentes (1963), Primeira Manhã (1967), Ponte do Galo (1971), Os Habitantes (1976), Chão dos Lobos (1976) e Ribanceira (1978) – ficcionalizou os sujeitos e os costumes da Amazônia paraense, região esquecida e desconhecida do resto do país. A história central do Ciclo é a do personagem Alfredo, desde a sua infância na ilha do Marajó, até o início da sua fase adulta na capital Belém. Filho de uma negra, D. Amélia, e de um branco, o Major Alberto, o menino vive em constante conflito na busca de sua própria identidade, ora entristecendo-se pela cor da mãe, ora aceitando-a e sentindo orgulho dela. A convivência, em Belém, com a família materna, principalmente com as mulheres Mãe Ciana, Magá e Isaura, contribui para que Alfredo possa aceitar melhor sua mãe. Essas personagens, negras, vivem na capital com o esforço do seu próprio trabalho – diferente da maioria das personagens femininas do Ciclo, que se dedicam exclusivamente a tarefas domésticas – como também ajudam na fuga de um dos líderes dos bandoleiros que planejavam uma revolta no interior. O presente trabalho, portanto, objetiva observar como as mulheres negras são representadas nos romances de Dalcídio Jurandir, analisando a trajetória das personagens femininas da família negra do protagonista, principalmente no que se refere à postura transgressora delas diante do sistema social em que estavam inseridas.

85 Palavras-chave: mulher, negritude, Amazônia, Dalcídio Jurandir

A MORTA, DE GUY DE MAUPASSANT, NA PROVÍNCIA DO PARÁ E NO GRÊMIO LITERÁRIO PORTUGUÊS. Amanda Gabriela de Castro Resque (UFPA) Resumo: O presente trabalho tem como objetivo apresentar o conto “A Morta”, de Guy de Maupassant (1850-1893), publicado no periódico A Província do Pará, em 09 de junho de 1889, na seção “Folhetim” e disponível na Biblioteca do Grêmio Literário e Recreativo Português. Sendo um dos jornais noticiosos de grande importância em Belém não apenas no Oitocentos, A Província foi, além de sua enorme força política, por autodenominar-se órgão oficial do Partido Liberal, uma expressão cultural, por dedicar diversos espaços voltados à publicação de escritos para o entretenimento do público leitor. A mesma narrativa, “A Morta” também pode ser localizada na Biblioteca Fran Pacheco, do Grêmio Literário e Português. A pesquisa se dividiu em três etapas: (1) Averiguação do conto supracitado nos rolos de microfilmes do periódico A Província do Pará, disponíveis no Centro Cultural do Estado do Pará, e na edição em livro, disponível na Biblioteca do Grêmio Literário e Recreativo Português; (2) Digitalização da versão em português disponível no jornal A Província (3) Leitura e fichamento de referências selecionadas pertinentes para o desenvolvimento da pesquisa, como História de A Província do Pará, de Carlos Rocque, e Folhetim: uma história, de Marlyse Meyer. Este trabalho é fruto do plano de pesquisa do Programa de Educação Tutoreada – LETRAS/UFPA intitulado “A diversidade literária com os contos de Guy de Maupassant n’A Província do Pará entre 1880 e 1890”, vinculado ao projeto do grupo PET “Diversidade linguística e ensino de línguas na Amazônia” e, também, ao projeto de pesquisa intitulado “Boa noite senhor! Boa noite senhora: histórias contadas e recontadas em impressos no século XIX”, coordenado pela Profa. Dra. Germana Sales. Palavras-chave: Guy de Maupassant, A Província do Pará, Fontes Primárias.

AS RELAÇÕES DE GÊNERO NO ROMANCE ÚRSULA, DE MARIA FIRMINA DOS REIS Amanda Karoline do Rosário Feio (UNIFAP) Elis Flávia Fernandes Moura (UNIFAP)

Resumo: Este trabalho visa discutir as relações de gênero presentes no romance Úrsula (1859), de Maria Firmina dos Reis, considerado o primeiro romance abolicionista do Brasil. No que diz respeito as relações de gênero, concordamos com a ideia de Alves e Pitanguy (1990), quando discutem que o movimento feminista teve por objetivo desconstruir formas de organizações sociais preestabelecidas, nas quais eram constituídas por meio da subordinação e da tirania. Dessa forma, acreditamos que Reis elabora, por meio da obra Úrsula, uma denúncia contra o sistema patriarcal ao qual as mulheres eram submetidas no Brasil do século XIX. Sendo assim, a partir do estudo de teóricas do feminismo tanto do século XIX – como Nísia Floresta (1989) –, quanto do XX – como Beauvoir (2004), Alves e Pitanguy (1985) e Duarte (2003) –, este trabalho tem por finalidade analisar as ideias de Reis a respeito da condição de subordinação da mulher na sociedade do século XIX, em especifico a mãe de Tancredo, herói da história, cujo nome não é revelado. O fato de a personagem não possuir um nome já diz muito

86 sobre sua história, pois nos permite inferir que ela se resume aos papeis de mãe e esposa, sendo entendida como uma mulher despersonalizada e sem identidade. Palavras-chave: Literatura brasileira, Úrsula, Relações de gênero, Teorias feministas.

A PAISAGEM-LIMITE: O EROTISMO TRÁGICO NA PROSA DE HILDA HILST Andréa Jamilly Rodrigues Leitão (USP) Resumo: O presente trabalho pretende interpretar as figurações do erotismo trágico na prosa de ficção de Hilda Hilst (1930-2004), especificamente no diálogo com Tu não te moves de ti (1980), A obscena senhora D (1982) e Com os meus olhos de cão (1986). Estas três obras estão reunidas em um volume intitulado Com os meus olhos de cão e outras novelas. Parte-se das formulações de Georges Bataille (2016, 2017) para compreender, sobretudo, a forte ligação existente entre o ímpeto erótico e a consciência da morte. A experiência vivida pelas personagens hilstianas as conduzem, no limiar do desconhecido, ao extremo do possível. A vastidão vertiginosa do não saber opera o desnudar-se de si e, ao mesmo tempo, traz voluptuosamente a angústia do não sentido. Entre o êxtase de uma revelação e o horror diante da envergadura abissal do ser, há um movimento de desnudamento em direção ao cerne da condição humana – ou melhor, à “espessa funda ferida da vida” – e do seu quinhão de animalidade. No confronto com os limites, a sua prosa é capaz de colocar em tensão e, por vezes, de reconciliar o sagrado e o profano, o divino e o carnal, o sublime e o grotesco, o apolíneo e o dionisíaco, o humano e o animal, a vida e a morte. Palavras-chave: Erotismo trágico, morte, Hilda Hilst.

OS DISPOSITIVOS DE CONTROLE NO CONTO MOCINHA DE LUTO DE DALTON TREVISAN Ana Júlia Chaves de Lacerda (UFPA) Resumo: Este trabalho é fruto da disciplina Biopolitica nos estudos literários: Foucault, Agamben, Sposito no Programa de Pós Graduação em Letras (PPGL) na Universidade Federal do Pará (UFPA). Baseando-nos principalmente nos trabalhos de Foucault (1972, 1975-1976, 1988) Agamben (2002) Georges Bataille (1987) Sigmund Freud (1987) que são voltados para a reflexão sobre, entre outras questões, as Relações de Poder, Dispositivos e Sexualidade. Pretendemos analisar o conto Mocinha de Luto de Dalton Trevisan, presente no livro Desastres do amor. A proposta deste trabalho é evidenciar e analisar como os dispositivos de controle agem sobre os corpos. Percebemos que, dentro do conto analisado Mariazinha, a personagem central, passa por diversas situações de violência, principalmente de ordem sexual ao deparar-se com seus algozes (o Padre, o Doutor e João) todas figuras masculinas, que exercem sobre ela poder, podendo castigá- la por seus comportamentos. Acreditamos que os personagens masculinos do conto podem ser associados a dispositivos de domesticação sexual, sendo esses a Igreja, representada pelo Padre, a família e/ou marido, representado por João e a medicina/ciência representada pelo Doutor. Pretendemos explanar como a resistência se apresenta nas relações, como a regulação e dominação das condutas são construidas, visto que a sociedade patriarcal reduz e castra os comportamentos que divergem das

87 condutas doutrinadoras em vigor, principalmente ao que diz respeito ao corpo feminino. As práticas disciplinadoras visam gerir os comportamentos, as existências, os trabalhos e os afetos do indivíduo. Ao que toca a questão de gênero entendemos que os corpos femininos se tornam objetos sexuais na trama de Trevisan, sendo Mariazinha julgada e subjugada pelo patriarcalismo e por dispositivos de repressão (sócio)sexual. Palavras-chave: Sexualidade, Corpo Feminino, Dispositivos, Relação de Poder

HISTÓRIA E POLÍTICA NA FICÇÃO DE INGLÊS DE SOUSA Benjamin Rodrigues Ferreira Filho (UFMT) Resumo: Resultado parcial de pesquisa de pós-doutorado desenvolvida na Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT), o trabalho propõe uma leitura da ficção de Inglês de Sousa a partir do entendimento de que o autor considera a história e a política para desenvolver sua visão da Amazônia. Nos cinco livros que compõem a obra literária de Inglês de Sousa – O cacaulista (1876), História de um pescador (1876), O coronel Sangrado (1877) O missionário (1891), Contos amazônicos (1892) – há indícios de que os problemas sociais decorrem da ganância econômica e de ações políticas nefastas, que a história registra. Os objetivos da comunicação são: demonstrar que a história da Amazônia aponta para os males que uma economia mercantil, baseada na exploração e na dominação, gerou em lugares cujas populações indígenas foram atacadas e sofreram massacres (Márcio Souza, Breve história da Amazônia); observar que uma atividade econômica agressiva, interessada em lucros imediatos, não hesita em armar-se e destruir para alcançar as suas metas (Fernand Braudel, Gramática das civilizações); verificar como pequenos elementos cotidianos também são importantes para a história (Peter Burke, A escrita da história). A leitura das narrativas de Inglês de Sousa permite afirmar que o olhar crítico do autor percebe as causas da degradação social, pois ele expõe em sua estética uma política rasteira e oportunista, cujos malefícios são imediatos e duradouros. Neste trabalho, a pesquisa bibliográfica é a base metodológica de uma proposta que planeja estudar sistematicamente a Amazônia do século XIX, descrita por Inglês de Sousa, para compreendê-la, com sua beleza e sua degradação. Os resultados esperados são reflexões críticas sobre a história e sobre os desgastes sociais e ambientais que a Amazônica sofre, ao longo do tempo e ainda no presente. Palavras-chave: História, Política, Amazônia.

DUPLA PERFORMATIVIDADE EM THE ROOM DE HAROLD PINTER Bianca Caroline Rodrigues da Silva (UFPA) Resumo: A peça The Room de Harold Pinter (1990) pode ser vista como um insólito drama da vida de uma mulher incapaz de deixar seu quarto diante da ameaçadora escuridão que se encontra no lado exterior. O caráter insólito pode ser localizado em uma ambiguidade ou uma tensão entre o que nos parece cotidiano e o que se apresenta como anormal ou estranho. Este trabalho é o resultado final do projeto de pesquisa de iniciação científica que tem como interesse analisar como os elementos da peça são performados ou podem ser vistos como uma construção performática de identidade. A metodologia da pesquisa buscou examinar um lugar ambíguo no teatro entre uma 1) perfomatividade geral como modo ontológico de ser da peça teatral e 2) a performance

88 como modo de construir uma personalidade/subjetividade específica. Este trabalho objetiva mapear a dupla articulação performática entre uma ontologia da performance no teatro e uma ontologia performática de construção da subjetividade. Para tal, recorre- se ao The Cambridge Companion to Harold Pinter (2009), dentre outros artigos focados na produção inicial de Harold Pinter, perpassando por um estudo da teoria do teatro em Uma anatomia do drama de Martin Esslin (1978), Introdução a analise do teatro de Jean-Pierre Ryngaert (1993). Como resultado, apresenta-se a dupla performatividade da peça ao entender o cárcere cúbico do quarto como um cárcere social, em que a prisão de Rose, ou ausência de vontade de sair, pode ser compreendida dentre de uma recusa à liberdade perante a iminência punitiva de Bert que rápida e violentamente reprime Rose e Riley, de forma a inibir qualquer possibilidade de interferência e liberdade externa. Pinter instiga o leitor a questionar seus hábitos por meio do reflexo das performances teatrais, traçando uma relação entre a performance do teatro e a performatividade de identidade dos personagens espelhadas no público. Palavras-chave: Performatividade; Harold Pinter; The room

DO MISTÉRIO À FORMA MACHADIANA: UMA ANÁLISE ESTILÍSTICA DO CONTO “MISSA DO GALO” Bianca Martins Viegas Pinheiro (UFPA) Rahyane Moraes Teixeira (UFPA) Resumo: O presente trabalho tem como proposta analisar pelo viés da crítica estilística do conto “Missa do Galo”, do escritor, jornalista, contista, cronista, romancista, poeta e teatrólogo brasileiro Joaquim Maria Machado de Assis, publicado na edição do livro Páginas Recolhidas em 1899. Deste modo, utilizando de linguagem analítica, percebe-se que as leituras machadianas exigem do leitor um olhar mais apurado devido às cargas expressivas imbuídas no estilo do autor, que apresentam elipses, eufemismos e outras figuras retóricas no texto. Assim, será analisada a expressividade de recursos da língua presentes na citada narrativa de modo a se verificar e discutir o que constitui o chamado estilo machadiano. Ao longo da pesquisa serão elencadas as diversas figuras de linguagem exploradas pelo autor, tais como a ironia, o humor, o eufemismo, a personificação e entre outros constitutivos do plano da expressão. Além disso, serão observadas, já no plano do conteúdo, temas recorrentes às obras machadianas, como o ceticismo, o pessimismo e algumas descrições de cenas da trama da narrativa. Logo, para fundamentar este trabalho, serão de grande importância alguns autores que discutem sobre o estilo e a corrente de crítica Estilística, tais como José Lemos Monteiro (2005), Manuel Rodrigues Lapa (1984) e Nilce Sant’Anna Martins (1989). Palavras-chave: Machado de Assis, “Missa do Galo”, Estilística, Expressividade.

89 AS MARCAS DA ESCRITA FEMININA NA POÉTICA DE DULCINÉIA PARAENSE. Camila Martins de Sousa (UFRA) Samira Mendonça de Oliveira (UFRA) Flavyanne Santos Serrão Almada (UFRA) Resumo: Este texto analisa as marcas da escrita feminina presentes na poética da escritora Dulcinéia Paraense. Esta análise relaciona a escrita de Dulcinéia Paraense ao seu tempo, a forma como ela, sendo mulher, se expressava através dos seus textos nas décadas de 1930 e 1940, quando ficou conhecida como poeta. A base teórico- metodológica utilizada para a realização da análise pautou-se nos conceitos de Escrita Feminina e a sua relação com o erotismo segundo Santos e Amaral, e de melancolia e subjetividade, segundo Magnabosco. O corpus para análise foi composto por 2 (dois) poemas de Dulcinéia Paraense, que são: Versos íntimos (1936) e Inquietude (1941). O objetivo deste trabalho é identificar as marcas da escrita feminina nos poemas de Dulcinéia, a partir dos conceitos de subjetividade, erotismo e melancolia presentes nessa escrita, tendo como referência as décadas em que são registrados os poemas que compõem o corpus desta pesquisa. As questões da pesquisa são: 1. Quais as marcas da escrita feminina presentes nos poemas de Dulcinéia Paraense? 2. De que forma essas marcas revelam quão à frente do seu tempo pode estar essa escritora? Os resultados demonstram que a escritora Dulcinéia revela traços de uma escrita feminina com marcas, mesmo que subjetivas, de erotismo e uma certa melancolia. Tendo em vista o período da sua escrita, podemos concluir que Dulcinéia, como mulher, jornalista e poeta, não se deixou filtrar pelos padrões que, possivelmente, lhes eram impostos. Escritora paraense que não transparecia marcas regionais em seus poemas, mas apresentava uma escrita com temáticas universais e, não se privou de escrever poesias com marcas eróticas mesmo estando em um lugar de fala de mulher e escritora da amazônia, em que muitos poderiam julgar como um lugar onde existem regras para a escrita. Palavras-chave: Dulcinéia Paraense, Escrita Feminina, Erotismo, Subjetividade.

O SUJEITO FEMININO E O PODE DO ESTADO E DA IGREJA EM DESMUNDO E BOCA DO INFERNO, DE ANA MIRANDA Carla Patrícia da Silva Guedes (UFPA) Resumo: Este artigo tem com escopo o estudo do sujeito feminino nos romances, Boca do Inferno e Desmundo, da autora Ana Miranda. O contexto histórico das obras é o Brasil colonial. O artigo tem como objetivos específicos: analisar a condição feminina no período colonial no Brasil no século XVI; a submissão do sujeito feminino a Igreja e ao Estado; examinar os lugares que a mulher ocupou na colonização e “civilização” do novo mundo; No contexto das relações sociais, políticas, religiosas do período colonial. Nesses romances a condição feminina é mais do que simples fonte temática: é o elemento que estrutura e organiza as narrativas A contribuição parte de uma maior reflexão do romance Desmundo sob a luz das teorias de gênero e estudos pós-coloniais. Oribela é a figura ex-cêntrica dentro do romance Desmundo, órfã vinda de Portugal a mando da corte portuguesa para casar com os colonos da colônia brasileira. Em Boca do Inferno será vista em várias nuances. Consequentemente, eles permitem olhar, de forma aparentemente descompromissada, para a história das mulheres, extraindo da

90 desmemória da história oficial (para introduzir no interior do universo ficcional) temáticas que ficaram à margem das versões históricas escritas pelo patriarcado, como a sexualidade feminina. Ao longo da história, a Igreja e o Estado representaram conjuntamente as instituições que, de modo significativo, estabeleciam o sentido e o lugar da mulher. Na Colônia, a mulher é tutelada a partir da ideologia católica. Palavras-chave: Sujeito feminino. Desmundo. Estado

ÊXTASE POÉTICO: O DIONISÍACO NO POEMA “ENTUSIASMO” DE ALEXEI BUENO Cláudia Oliveira Silva Rocha (UFMA) Resumo: Esta comunicação é resultado parcial da pesquisa sobre o tema do êxtase poético no diálogo da lírica contemporânea com o passado, objetivando analisar representações de temas relacionados à tradição dionisíaca e estabelecer cotejos entre poemas da tradição clássica e de autores contemporâneos brasileiros a partir da investigação tópica. Ernst Curtius, referência no método de investigação dos topoi – ou lugares-comuns – na Literatura, cita a loucura divina dos poetas, em que o poeta “fora de si”, arrebatado pela divindade, recebe uma inspiração poética, associando o tema da inspiração divina a entusiasmo. Em Fedro, Platão menciona essa loucura proveniente da inspiração divina, sendo Dioniso, deus do vinho e do êxtase, uma dessas divindades. Nesse sentido, esta comunicação coteja alguns poemas da Antiguidade greco-latina dedicados a Dioniso com o poema de Alexei Bueno Entusiasmo (2003) apresentando características das narrativas míticas com base em Marcel Detienne e Junito Brandão, e uma abordagem mais contemporânea desse tema. Como fundamentação teórica, utilizou-se Literatura Européia e Idade Média Latina (1979) de Ernst Curtius e Fedro (2000) de Platão. Propõe-se, à luz desses autores, analisar esse poema a fim de identificar traços da tradição dionisíaca e pensar como o topos é apropriado por esse autor contemporâneo. Referências bibliográficas: BRANDÃO, Junito de S. Mitologia grega. Volume II. Petrópoles: Editora Vozes, 1987. BUENO, Alexei. Poesia reunida. – Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2003. COUSIN. Almeida. Odes de Anacreonte e suas traduções. Rio de Janeiro, Achiamé, 1983. CURTIUS, Ernst Robert. Literatura europeia e Idade Média latina. Tradução de Teodoro Cabral. Brasília: Instituto Nacional do Livro, 1979. DETIENNE, Marcel. Dioniso a céu aberto. Tradução de Carmem Cavalcanti. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1988. PLATÃO. Fedro ou da beleza. Tradução de Pinharanda Gomes. Lisboa: Guimarães Editores, 2000. RAGUSA, Giuliana. Lira grega. Antologia de poesia arcaica. Trad. de Giuliana Ragusa. São Paulo: Hedra, 2013. Palavras-chave: Entusiasmo Dionisíaco, Poesia Contemporânea, Alexei Bueno.

A “RUÍNA” COMO ELEMENTO ORGANIZADOR NA OBRA DE LUIZ SÉRGIO METZ Diego Codinhoto (UNESP) Resumo: O trabalho a ser apresentado nesta comunicação faz parte da pesquisa em nível de doutorado “A poética das ruínas de gêneros literários na obra de Luiz Sérgio Metz”, que tem como objetivo principal investigar, à luz do conceito de ruínas de

91 gênero – Corrêa, 2006 –, de que modo(s) gêneros discursivos originam, se articulam e se interpenetram em gêneros formais presentes na obra de Metz, como o ensaio filosófico/crítico, fragmentos e lírica, como procedimento de construção da literatura do escritor gaúcho. Integram o corpus de análise da pesquisa o livro de contos O primeiro e o segundo homem (1980/2001), a biografia Aureliano de Figueiredo Pinto (1986) e a obra de ficção Assim na terra (1995/2013). Nesta comunicação, procuraremos analisar o livro de contos O primeiro e o segundo homem (1980/2001), a fim de estabelecer conexões intertextuais com artistas como Guimarães Rosa, por exemplo, a fim de criar possíveis caminhos de interpretação da obra de Metz a partir do conceito de “ruína”, uma vez que esta é compreendida neste trabalho em dois níveis: no nível temático, de caráter simbólico, a ruína representa a devastação, já que são descritos situações, personagens e paisagens ou costumes que passaram ou estão passando por um processo de transformação que aparenta desembocar na degradação. Em seu outro nível, pela perspectiva formal, compreende-se a ruína como um fragmento material inserida pelo autor em seu texto, ora como citação direta ou indireta, ora como referência a uma imagem ou cena de outra obra, podendo-se interpretar tal ruína textual como um artefato potencialmente criador e carregado de sentido que é recuperado do passado e que adquire um duplo movimento: a obra citada passa por um processo de ressignificação e acúmulo de sentidos, assim como a obra citada também ressignifica e ilumina a obra que ampara tal ruína. Palavras-chave: Metz, Ruína, Intertextualidade

TRAÇOS DE HORROR NO CONTO DE INGLÊS DE SOUSA "ACAUÃ" Diemerson da Silva Ribeiro (UFRA) Resumo: O presente trabalho tem como desígnio produzir uma análise do conto “Acauã”, do obidense e naturalista Herculano Marcos Inglês de Sousa, publicado no livro “Contos Amazônicos” 1893. Em sua obra, as personagens são submetidas ao plano e ao desejo de forças superiores. Diante deste fenômeno, acontecimentos extraordinários suscitam uma atmosfera assustadora, na qual vêm à tona os modos de vida do povo ribeirinho, atravessados por elementos “encantados” constituintes do imaginário amazônida e das suas narratividades. A atmosfera mítico-lendária presente no conto carrega também aspectos de textos categorizados como Literatura do medo ou Literatura de horror, que evocam o sentimento de medo físico ou psicológico. A morte, a solidão, o silêncio, a insônia e o cansaço são alguns sinais da natureza horrenda deste “conto amazônico”. Assim, o estudo propõe uma análise que identifique estes traços de mistérios e suspenses, também existentes nas narrativas orais populares e míticas dos povos amazônicos. Com Isso, fundamentado em autores do campo da ficção científica e da psicanálise, dentre outros que dialogam com a cultura amazônica, serão analisadas estas representações do horror no conto Acauã, de Inglês de Sousa. Palavras-chave: literatura de horror, Inglês de Sousa, literatura da Amazônia. Palavras-chave: Literatura de horror, Inglês de Sousa, Literatura da Amazônia.

92 O PERPETRADOR NOS ROMANCES LA VIRGEN DE LOS SICÁRIOS E EM DESPROPOSITO (MIXÓRDIA) Dimitria Jastes Fernandes (UFPA) Resumo: Esta comunicação propõe uma análise dos romances “La virgen de los sicários”, do colombiano Fernando Vallejo, e Em desproposito(Mixórdia) do brasileiro Abílio Pacheco, a fim de verificar como a figura do perpetrador está presente no tecido textual da narrativa. De acordo com o estudo de Tânia Sarmento-Pantoja (2018) “a narrativa do perpetrador pode ser categorizada como aquela em que um agente – seja um personagem ou outras formas de agenciamento – em proveito próprio ou daquilo que representa decide pela exclusão física ou simbólica da alteridade e/ou executa essa decisão valendo-se de diversos instrumentos e estratégias. Nesse sentido, o perpetrador pode ser tanto aquele que abstrai e planeja a exclusão, resguardado por alguma autoridade, quanto aquele que pode desenvolver várias funções – profissionais, sociais, institucionais – a fim de concretizar a exclusão". Consideraremos também a posição de Lilia Rocha (2018), que avalia ser o perpetrador um dos elementos envolvidos em um conjunto de atos sistêmicos próprios da exceção. E consideramos ainda a ideia de dessemelhança em uma relação de poder, em que o perpetrador se identifica numa posição de superior em relação à vítima, como indica Frei Betto (2018). Palavras-chave: Perpetrador, Narrativa, Resistência, Fernando Vallejo, Abílio Pacheco

“O LIMBO FELIZ DE UMA NÃO-IDENTIDADE”: O CORPO HERMAFRODITA NO DIÁRIO DE HERCULINE BARBIN E A OBSCENIDADE DA EXISTÊNCIA NO SÉCULO XIX Eder Ahmad Charaf Eddine (USP) Resumo: Herculine Barbin (1838-1868) é um sujeito intersexo, criado como pertencente ao universo feminino até a juventude e obrigado a trocar de sexo após processo judicial amparado por laudos médicos. Essa decisão lhe impôs uma nova identidade, pois Barbin não se encaixava no próprio corpo. O presente trabalho parte da análise foucaultina da sexualidade para percorrer os caminhos de Barbin, descrevendo suas experiências sexuais e a sua constituição como sujeito que não pertencia a nenhum dos sexos socialmente descritos. A partir das memórias do diário de Barbin, é possível afirmar que o binômio masculino/feminino não foi capaz de definir uma identidade, pois, mesmo sendo criado como menina, aquele sentia atração física e sexual por outras meninas e, quando na posse de um registro que lhe atestava a constituição como menino, não conseguiu se adaptar ao que chamou de sexo forte. Esse conjunto de escritos foi organizado e publicado na França, por Foucault, cem anos após a morte Barbin, em 1978, sob o título Herculine Barbin dite Alexina B. Como conclusão aponta- se que a sexualidade e as definições de Herculine/Alexine não se enquadravam em nenhum padrão estabelecido pela sociedade. As passagens eróticas do seu diário constroem uma obscenidade eivada pelo amor lésbico e pela sexualidade da jovem mulher que descobriu um pênis interno em seu corpo e que, por conta disso, teve que assumir uma identidade masculina. Palavras-chave: Alexine Barbin, Abel Barbin, identidade sexual, erotismo na literatura, Michel Foucault

93 "LUGAR DE MULHER É....": A LITERATURA E A REPRESENTAÇÃO DO ESPAÇO SOCIAL DA MULHER Elem Dayane de Freitas Oliveira (IFPA) Resumo: A crônica “Companheiras” é uma recordação de Eneida, de quando esteve presa no Pavilhão dos Primários, onde apresenta devotadamente a luta de vinte cinco mulheres por sobrevivência e sobretudo por participação social e política. O presente trabalho tem o objetivo de analisar a representação do espaço social da mulher a través da obra literária de Eneida de Moraes, apresentando aspectos relevantes da relação entre mulher, literatura e sociedade. Para isso o método de investigação utilizado foi a pesquisa bibliográfica que tem como base teórica SANTOS (1997) que apresenta estudos sobre a obra de Eneida; ENEIDA (1989), produção literária analisada neste artigo, e MAFFESOLI (2001) que fundamenta os argumentos sobre o imaginário. O recorte temporal dado a este trabalho é o contexto da ditadura militar, posto que a crônica analisada se passa nesse contexto. “Companheiras” dá visibilidade à mulher em um espaço novo, embora mostre que estar no espaço político que é majoritariamente masculino tem consequências. A crônica corrobora socialmente no sentindo de abrir uma “fresta” na sociedade brasileira e mostrar, à luz da literatura que as mulheres estavam presentes na luta pela cidadania no Brasil, mostrando que deve-se romper o espaço demarcado e ir além. A literatura, nesse sentido cumpre um papel conscientizador de que a participação das mulheres como hoje vemos é fruto de uma luta incessante que a literatura em tom “poético” permite mostrar. Atualmente, vê-se a luta de mulheres por reconhecimento, direitos e participação igualitária, é necessário olhar para esses movimentos sociais e para a luta dessas mulheres com mesmo olhar destemido de Eneida, para que assim a sociedade crie imagens de mulheres livres e participativas. A literatura sem dúvidas, carrega grande responsabilidade de registrar e apresentar para a sociedade essa nova imagem da mulher. Palavras-chave: Mulher, Literatura, Representação Social.

A FIGURA MATERNA DE DORA E WENDY: UMA LEITURA COMPARATIVA DE CAPITÃES DA AREIA, DE E PETER PAN, DE JAMES BARRIE Ellen Aline da Silva de Sousa (UFPA) Resumo: Esta pesquisa consiste em um estudo literário com base comparatista entre os livros Capitães da Areia (1937), de Jorge Amado, e Peter Pan (1911), de James Barrie. A análise incide sobre as personagens femininas presentes nas duas obras, respectivamente, Dora e Wendy, para compreender a figura materna construída nas personagens e identificar como as mesmas se portam e o que as levam a serem percebidas desse modo em seus grupos. Como base para o trabalho, dentre outros teóricos, são utilizados os textos da Literatura Comparada, tais como Machado e Pageaux (2001), Carvalhal (2006), os textos da filósofa francesa Badinter (1985), Schwantes (2006) e Candido (1981). Portanto, tem-se como objetivo que a partir das relações feitas, utilizando o método comparado, seja possível descrever as características acerca desses papeis femininos, e ao aproximar as personagens se evidencie as suas semelhanças e diferenças, para assim analisar o comportamento materno de Dora e Wendy, e perceber que as mesmas são conduzidas para o destino em

94 que a mulher é submetida às tarefas domésticas, e ser mãe é o elemento que faz com que tenha algum reconhecimento nas narrativas. Palavras-chave: Personagens, Feminino, Literatura Comparada, Figura Materna

AMOR E VIOLÊNCIA NAS REPRESENTAÇÕES POÉTICAS PEDERÁSTICAS E NA PRIAPEIA DA ROMA ANTIGA Elivelton Souza da Silva (UFPA) Resumo: Este trabalho visa a analisar as representações do amor e da violência nas produções poéticas pederásticas e na chamada priapéia da Roma Antiga, tendo como objeto de estudo os carmina de Caio Valério Catulo (87 ou 84 a.C. - 57 ou 54 a.C.) e as obras dedicadas ao deus Priapo, particularmente as que fazem referência ao objeto proposto. Consiste, ainda, em descrever o reflexo dos costumes da sociedade romana diante dessas produções, visto tratarem-se de dois modelos poéticos distintos: o primeiro, trazido por Catulo, é voltado a composições “pederásticas”, pois faz menção ao amor do eu-lírico por um adolescente – em grego páis, paidós – chamado Juvêncio; o segundo modelo são textos, poemas e epigramas, voltados ao deus Priapo, que apresentam descrições de sexo oral, felação e cunilíngua, masturbação, bestialidade, posições sexuais, prostituição religiosa, pornografia e terminologias sexuais. No recorte terminológico, há o teor de ameaça, no qual o deus usaria de seu falo para castigar os ladrões que invadissem seu jardim, por exemplo. Ao todo foram selecionados 15 poemas, sendo 8 dos Carmina Catulli e 7 da Priapeia latina. Numa prévia análise desse corpus, pôde-se perceber certa formulação de uma persona poetica em Catulo, que se coaduna a uma visão do amor galanteador mais puro e elegíaco, por assim dizer, em oposição ao amor homoerótico, na Priapeia, como castigo e flagelação. Esse contraste nos faz elaborar a hipótese de uma representação específica do pensamento antigo sobre o significado da homoafetividade, em termos literários e culturais, conforme postula nosso escopo teórico, a partir do qual seguimos os conceitos desenvolvidos na pesquisa (MORA, 2014; FUNARI, 2003). Com esse trabalho, espera-se justamente compreender o retrato sócio-cultural que emferge a partir dessas representações, procurando, ainda, associá-las à forma com que as relações sexuais homoafetivas e pederásticas alinham-se a questões mais gerais, como poder, prazer e estratificação social. Palavras-chave: Pederastia, Catulli Carmina, Priapeia latina

ELEMENTOS TRÁGICOS EM EÇA DE QUEIROZ: RELAÇÃO MIDIÁTICA ENTRE A ADAPTAÇÃO TELEVISIVA E A OBRA “A TRAGÉDIA DA RUA DAS FLORES”. Emanuelle Antunes Valente (UEAM) Caroline Corrêa da Silva (UEAM) Resumo: No século XIX, Eça de Queiroz (1845 – 1900) escreve o livro “A Tragédia da Rua das Flores”, uma obra inacabada que, por muitos anos ficou guardada com a família do autor até ser publicada em 1980, obra esta que aborda uma temática tida como tabu não só para a época, mas também ainda atualmente. O presente trabalho é de cunho bibliográfico, visto que tem por objetivo identificar os elementos trágicos existentes desde a era clássica grega, tanto na obra “A Tragédia da Rua das Flores”, de Eça de

95 Queiroz, quanto na adaptação televisiva de mesmo nome produzida pela emissora Rede Record, contudo se utiliza somente quatro dos diversos elementos – Anankê, Peripécia, Anagnórise e Catástrofe –, pois torna a análise mais concreta, compacta e eficaz. A partir disso também foi possível entender muito mais sobre a temática abordada, ou seja, o incesto, que após pesquisa aprofundada é mostrado em diversas perspectivas – social, religiosa, jurídica –. Para mais é pretendido estabelecer uma relação midiática, tendo como base as teorias dos estudos interarte usadas para equiparar o texto da clássica obra portuguesa que possui uma leitura solidamente contemporânea apesar da época em que está situada a narrativa, com a adaptação que é uma releitura moderna e “abrasileirada” do texto de Eça, tudo isto na tentativa de materializar como os elementos trágicos estão presentes nas duas obras supracitadas e que são categoricamente trágicas, pois independentemente da diferença e distância de criação de cada uma, são os elementos trágicos que as tornam tão similares a ponto de serem comparadas em análise. Palavras-chave: Eça de Queiroz, A Tragédia da Rua das Flores, Trágico, Incesto, Interarte.

JANE EYRE E ANTOINETTE: UMA ANÁLISE DO DESFECHO DAS PROTAGONISTAS Fabíola Cavalcante Vilhena (UFAP) Resumo: Este trabalho tem como objetivo fazer uma comparação entre o desfecho das protagonistas dos livros: Jane Eyre e Vasto mar de Sargaços, respectivamente escritos por Charlotte Brontë e Jean Rhys. Brontë foi uma escritora inglesa da Era Vitoriana; enquanto Jean Rhys, escritora do século XX, nasceu na ilha caribenha Dominica, ex- colônia inglesa, e viveu sua vida adulta na Europa. Posto isto, essa análise pretende demonstrar como o desfecho das personagens dos referidos romances se relaciona com suas respectivas origens. Jane Eyre vive a Inglaterra vitoriana, contudo, era órfã e de classe social baixa. Em virtude disso, ela possui uma trajetória bastante turbulenta, na qual teve que superar diversos obstáculos relacionados a gênero e classe para, no final da obra, sentir-se realizada. Bem diferente é o desfecho de Antoinette, protagonista do romance de Rhys, inspirada em Bertha, personagem de Jane Eyre, conhecida como “a louca do sótão”. Antoinette é uma mulher jamaicana e, por se tratar de uma mulher colonizada, traz à tona, além da questão de gênero e classe apresentada no romance de Brontë, a relação de poder imperialista. Os obstáculos por que passa, sua não adaptação, entre outros elementos a levam a ter um final trágico na obra. Assim, como suporte teórico desta análise, destacam-se Pinto (1990), que aborda o processo de transformação da mulher na sociedade, Wollstonecraft (2010), considerada uma das primeiras teóricas do feminismo inglês e cujo pensamento é de grande valia para compreender a condição da mulher na sociedade inglesa e Spivak (2010) como aporte para a compreensão da questão pós-colonial. Palavras-chave: Jane Eyre, Antoinette, Trajetória, Pós-colonialismo, Subalternização.

96 LITERATURA AMAPAENSE NO OIAPOQUE – QUESTÕES DE LITERATURA DE FRONTEIRA Fabíola do Socorro Figueiredo dos Reis (UNIFAP) Resumo: A fronteira Brasil-Guiana Francesa permaneceu durante um longo tempo isolada e envolvida com as histórias dos garimpos ilegais, da prostituição e do ouro da região. A disciplina Literatura Amapaense, ofertada pela primeira vez em 2018 no Campus Binacional do Oiapoque (Universidade Federal do Amapá), lida com um contexto de Literatura Amapaense como literatura de fronteira/literatura menor (termo advindo da obra de Derrida/Guattari Kafka – por uma literatura menor) de uma maneira diferente da capital Macapá (Campus Marco Zero), distante 600 quilômetros de Oiapoque. Na disciplina há o estudo das origens do termo “literatura de fronteira” e “literatura menor”, o trabalho da crítica literária para entender como as obras que circulam na fronteira não estão no cânone literário, a comparação com outras literaturas de fronteiras e literaturas de povos minoritários no Brasil e no mundo. Esta comunicação tem como objetivo apresentar um panorama dos trabalhos dos discentes de Literatura Amapaense no Oiapoque, centrando no contexto amazônico e a produção literária contemporânea do município, apresentando também autores e obras e a visão histórica e cultural predominantes nos últimos anos. Palavras-chave: Literatura de fronteira, Literatura Menor, Literatura Amapaense, Oiapoque

O GABINETE LITERÁRIO CAMETAENSE NAS PÁGINAS DOS JORNAIS CAMETAENSES. Fernanda Batista Wanzeler (UFPA) Luiz Fernando Siqueira Muniz (UFPA) Resumo: Os Portugueses que passaram a emigrar para o Brasil após a Independência deste país tinham pela frente um vasto campo de atividades a explorar, vindos para cá sem familiares ou amigos, sentiram a necessidade de ter um “cantinho” o qual fizesse lembrar da sua amada pátria. Foi com essa necessidade de familiarização, que ao longo do tempo, foram criando sociedades e clubes, que refletissem um pouco a sua terra natal, e assim, estas foram idealizadas e inauguradas pelos próprios portugueses, tais como: Sociedade Beneficente Portuguesa e O Grêmio Literário Português, ambos em Belém, capital da província do Pará. Cametá, por sua vez, contou com uma das sedes mais importante e ricas desse nobre clube de leitura do estado do Pará, seus rastros foram deixados ao longo dos anos nas páginas dos periódicos que aqui se encontravam. Nesse sentido, nosso objetivo é mostrar como esse clube refletia sobre a sociedade cametaense da época, haja vista que o Gabinete de Leitura de Cametá foi um dos mais importantes da província e contou com inúmeros sócios e fundadores, dentre eles portugueses. Palavras-chave: Século XIX, Jornais Cametaenses, Gabinete Literário.

97 A FISSURA NA SOCIEDADE PORTUGUESA: UMA LEITURA DE AMA E BRÍSIDA VAZ DOS AUTOS DE GIL VICENTE Fernanda de Souza Andrade (UFAM) Resumo: Gil Vicente consagrou-se como um grande nome do teatro português apresentando diversas obras. As obras do teatro vicentino carregam a sátira e por inúmeras vezes, críticas ao clero e a sociedade portuguesa. O objetivo do trabalho é realizar uma leitura de duas personagens de Gil Vicente, sendo a primeira, Ama do Auto da Índia (1509?); e a segunda, Brísida Vaz do Auto da Barca do Inferno (1516). A análise é feita a partir do cenário matrimonial sendo uma adúltera e outra alcoviteira respectivamente, culminando então na fissura da utópica e conservadora imagem de Portugal. Este trabalho é fundamentado por meio da teorização de Laurence Keates acerca de Gil Vicente no livro O Teatro de Gil Vicente na Corte, de Beth Brait e Antônio Candido quanto a construção de personagens e Élisabeth Ravoux Rallo e Aubrey F.G Bell quanto a crítica literária e literatura portuguesa. Esta comunicação é resultado parcial dos estudos do programa de Monitoria em Literatura Portuguesa 2018, da Universidade Federal do Amazonas. Palavras-chave: Gil Vicente, sátira, teatro vicentino. Palavras-chave: Palavras-chave: Gil Vicente, sátira, teatro vicentino.

UM CORPO HUMANO PODE ESCONDER UMA AFECÇÃO- Fernando Alves da Silva Júnior (UFPA) Resumo: O título deste trabalho é uma alusão ao texto de Viveiros de Castro, “Uma figura de humano pode estar ocultando uma afecção-jaguar”, publicado em 2006 na revista Multitudes. Nossa proposta, desse modo, é abordar os limites que a noção de corpo assume no pensamento ameríndio ao pensar o gesto xamânico de vestir a roupa animal para virar outro e agir tal qual o animal. Vale acrescentar que este trabalho está inserido em uma análise maior que envolve o xamanismo e a tradução no âmbito das poéticas ameríndias. De todo modo, nosso objetivo é discutir o conceito de corpo para as ontologias não ocidentais, especialmente aquelas inquiridas pelo perspectivismo ameríndio. Por isso, a fundamentação teórica está pautada no edifício conceitual do perspectivismo com o ensaio clássico de Eduardo Viveiros de Castro, “Os pronomes cosmológicos” (1996), e o de Tânia Stolze Lima, “O dois e seu múltiplo” (1996). Falamos dos não ocidentais pensando nos vários povos que habitam as terras baixa amazônicas e que elaboram para si uma concepção de corpo totalmente oposta à ocidental, ou seja, um corpo que é menos fisiológico, substância física, que um conjunto de afetos e afecções, corpo que é um modo de ser. Tomamos como objeto dessa abordagem a obra Couro dos Espíritos (2001), organizado por Betty Mindlin e narradores indígenas Ikolen (povo de língua da família Tupi-Mondé que habita a região leste do estado de Rondônia). Quais são as fronteiras que a concepção de corpo impõe aos humanos que os tornam distintos dos não humanos na Amazônia indígena? É a pergunta que motivará nossa discussão. Palavras-chave: Corpo; Ikolen; Afecção-Jaguar.

98 HAROLDO MARANHÃO: UM ESCRITOR ALÉM DAS FRONTEIRAS Flávio Jorge de Sousa Leal (UFPA) Resumo: Este trabalho objetiva discorrer acerca da importância da obra de Haroldo Maranhão para a literatura de expressão amazônica e sua inserção no sistema literário nacional por meio da análise de fontes primárias, mais especificamente a partir da sua recepção crítica em periódicos brasileiros, bem como pela análise da correspondência pessoal do autor com editoras, escritores consagrados da nossa literatura e universidades brasileiras e estrangeiras acerca dos seus livros. Para tanto, realizou-se uma pesquisa na Sala Haroldo Maranhão, pertencente à Biblioteca Pública Estadual Arthur Viana, em Belém-PA, bem como em periódicos paraenses, dentre os quais a revista Asas da palavra e também na hemeroteca da biblioteca nacional a fim de analisar a recepção crítica da obra do referido escritor. Nesse sentido, a análise dos documentos permitiu a constatação de que Maranhão conseguiu transcender as fronteiras regionais, pois além da sua obra ter manifestada recepção crítica em importantes jornais do país, entre os quais o Jornal do Brasil e O Globo, e também sua obra ter sido objeto de interesse de universidades e editoras estrangeiras, fato constatado por meio da leitura de sua correspondência pessoal, as temáticas de suas obras e a linguagem por ele utilizada o faz alçar do universo regional para o universal, uma vez que vai além de um retrato da Amazônia enquanto um mero quadro da natureza, de forma que é um tanto quanto lamentável as suas obras não mais serem editadas, de modo a ser um desafio para os pesquisadores da região, como também para as escolas fomentarem a formação de novos leitores por meio da leitura e discussão de seus livros, enquanto prosa ficcional de reconhecida qualidade literária. O arcabouço teórico dessa pesquisa constitui-se de Nunes (2002), Linhares (1987), Araújo (2013), Chaves (2013) e Abreu (2014). Palavras-chave: Haroldo Maranhão, Fontes primárias, Importância.

A REPRESENTAÇÃO DO PASSADO EM EL PAÍS DE LA CANELA (2008): UMA RELAÇÃO ENTRE MEMÓRIA E HISTÓRIA. Francelina Barreto de Abreu (UFPA) Resumo: Este trabalho é o resultado da pesquisa de mestrado pós-qualificação e tem como objetivo analisar a representação do passado destacando como se constitui o elemento memória na matéria histórica representada pelo romance El país de la canela (2008) do escritor colombiano William Ospina. A obra faz parte de uma trilogia que conta ainda com Ursúa (2005), o primeiro livro publicado, e La serpiente sin ojos (2012), o último. A partir da análise do referido romance, partimos do pressuposto de que a persistência das memórias de dominação, imposição de cultura e exercício do poder estabelecidos no contato entre colonizador e colonizado possibilitam que aproximemos a narrativa do Novo Romance Histórico Latino-americano, gênero que se apropria da matéria histórica viabilizando sua representação. Nesse sentido, o empreendimento analítico perpassa pelos pressupostos teórico-metodológicos da Nova Narrativa Latino-americana (AÍNSA, 1991; FLECK, 2017; MENTON, 1993), da relação Memória/História (BENJAMIN, 1987; GAGNEBIN 2006; HALBWACHS, 2004; LE GOFF, 2011; ROSSI, 2010), e da Decolonialidade (QUIJANO, 2005; MALDONADO-TORRES, 2007). Portanto, a análise realizada favoreceu a compreensão de como as memórias coletivas, individuais e históricas guardaram os

99 rastros dos grupos vencidos no período da colonização, que por meio da obra receberam sua representatividade diante de um narrador mestiço. Palavras-chave: Memória, História, Novo Romance Histórico Latino-americano, Representação

A POÉTICA METAFÓRICA QUE PERMEIA LITERATURA E RELIGIÃO NO CONTO “O ALEPH”, DE LUIS BORGES Haroldo Gomes da Silva (UFPA) Resumo: Este artigo é um ensaio do que pretendemos dissertar em nossa monografia, referente à conclu-são de curso. Assim como qualquer pesquisa, ela nasceu das nossas inquietações ao longo do curso de Letras Espanhol. E nesse sentido, o conto “O Aleph” (1949), de Jorge Luis Borges, nos brinda como leitor com as possibilidades da relação poética que mistura literatura e religião, des-locando ou subentendendo essas possibilidades por meio da metáfora. A narrativa retrata a luta de valores por vezes antagônicos, como o infinito, a luta contra a morte, o rito da comunhão com o semelhante, se utilizando de uma linguagem refinada. Essa compreensão é proporcionada pela colocação perfeita das palavras no conto, o que nos leva da condição de leitores à imersão na narrativa, por vezes nos dá a sensação de sermos o próprio protagonista. A eloquência de um bom texto, segundo Ricoeur (1975) ocorre quando metaforizamos bem, dessa forma percebe-mos o semelhante com extrema facilidade. Quanto à abordagem, está pesquisa se apropria das teorias de Todorov (1980) que define o gênero fantástico como sendo um tempo de incertezas, e em um breve conceito nos diz que ele é fruto da relação do real com o imaginário. Palavras-chave: Palavras-chave: Literatura; Metáfora; Realismo Fantástico.

DISCURSO, CULTURA E IDENTIDADE EM SIMÁ: ROMANCE HISTÓRICO DO ALTO AMAZONAS, DE LOURENÇO ARAÚJO AMAZONAS Heloane Baia Nogueira (UFAP) Resumo: O presente trabalho, baseado em nossa pesquisa de mestrado, busca discutir de que maneira as identidades culturais na Amazônia brasileira estão presentes no romance Simá (1857), de Lourenço da Silva Araújo Amazonas. O romance amazônico tem despertado o interesse de vários estudos no campo da literatura comparada e da própria literatura brasileira. Todavia, ainda são poucos os trabalhos que buscam um olhar diferenciado desse romance aos estudos pós-coloniais, tratando não exatamente de aspectos comparativos entre as obras que marcam esse tipo de literatura, mas da constituição identitária e do hibridismo cultural presentes em algumas obras. Assim, as discussões propostas neste trabalho baseiam-se nos estudos culturais e pós-coloniais que discutem a identidade, tais como Bhabha (1998), Hall (2001), Said (1978 e 1993) e Canclini (1998). Para a reflexão sobre literatura amazônica, tomamos por base Telles (2012), Fares (2011) e Furtado (2015 e 2010). Metodologicamente, situamos o trabalho em uma perspectiva qualitativa interpretativista (CHIZZOTTI, 1991), de caráter documental, a partir da análise do discurso de base francesa. Esperamos apresentar apontamentos para discussões sobre a constituição da representatividade identitária e do

100 hibridismo cultural no romance de Araújo Amazonas e uma reflexão sobre as contribuições de perspectivas pós-coloniais. Palavras-chave: Romance. Hibridismo cultural. Amazônia.

FIGURAÇÕES LITERÁRIAS DA MULHER NA AMAZÔNIA: DALCÍDIO JURANDIR E MILTON HATOUM Henrique Ruy Silva dos Santos (UFPA) Resumo: Dentre a leva de autores que retrataram a Amazônia em narrativas ficcionais no século XX, chama a atenção, no início da década de 1940, o paraense Dalcídio Jurandir, com os dez romances do Ciclo do Extremo Norte, assim como o amazonense Milton Hatoum, com as suas obras ambientadas na região. No romance Passagem dos Inocentes (1963), de Dalcídio Jurandir, o personagem central do Ciclo, Alfredo, divide o protagonismo da narrativa com D. Celeste, com quem ele mora em Belém. Por meio dessa obra, visualizamos o contexto histórico da derrocada da economia da borracha. Em Relato de um Certo Oriente (1989), de Milton Hatoum, temos a história de uma mulher que volta a Manaus, cidade de sua infância, após vinte anos ausente. Com o desenrolar dos acontecimentos, após sua chegada, ela recupera histórias do seu passado e da família que a criou, sendo que se projeta de maneira forte não só a figura da própria narradora, mas também a de Emilie, a matriarca da família. Diante disso, este trabalho compreende os resultados parciais de uma pesquisa que se desenvolve com o objetivo de analisar as personagens femininas de ambas as obras, considerando as implicações estéticas e sociais que a representação da mulher amazônica em dois romances reconhecidos pela crítica enseja para a segunda metade do século XX. Palavras-chave: Dalcídio Jurandir, Milton Hatoum, Representação feminina.

BIOPOLÍTICA E LITERATURA: CORPOS INDÍGENAS MESTIÇOS (IN)DÓCEIS EM ROMANCES DE NENÊ MACAGGI Huarley M. Ateus do Vale (UFPA) Tânia Sarmento-Pantoja (UFPA) Resumo: Este texto resulta da construção do projeto de tese de doutorado em fase de exame de qualificação PPGL/UFPA-Estudos Literários. O objetivo formata-se em contribuir com a fortuna crítica sobre o corpo indígena mestiço enquanto categoria (In)dócil, partindo do referencial de resistência. O corpus, nominados de Romances do Circum Roraima, a ser analisado é da autora roraimense Nenê Macaggi: A mulher do Garimpo: o romance no extremo sertão norte do amazonas (1976), Dadá Gemada, Doçura e Amargura: romance do fazendeiro de Roraima (1980), Exaltação ao Verde (1984), Nará-Sue Uarená – o romance dos Xamatautheres do Parima (2012). A análise do discurso e os delineamentos interdisciplinares aliam-se à teoria literária e aos estudos de base antropológica. Partimos do princípio da genealogia enquanto constituintes metodológico. As chaves interpretativas corpo e resistência ganham força nas abordagens teóricas de M. Foucault (1977), G. Agamben (2002, 2017), R. Esposito (2011), A. Mbembe (2006); bem como Munanga (2008), Bosi (2002), Sarmento- Pantoja (2014), entre outros e outras. Os resultados iniciais constroem-se na perspectiva

101 do corpo indígena mestiço enquanto (In)Dócil, sendo uma das formas de narrar as tensas relações contemporâneas. Palavras-chave: Biopolítica, Literatura, Corpo (In)Dócil. Indígena. Nenê Macaggi

A EXPERIÊNCIA DO APRENDER COM A DOR E O SOFRIMENTO: APROXIMAÇÕES ENTRE DALCÍDIO, SCHOPENHAUER E NIETZSCHE Idalina Ferreira Caldas (UFPA) José Valdinei Albuquerque Miranda (UFPA) Resumo: A pesquisa visa problematizar questões relacionadas à possibilidade do aprender por meio da dor e do sofrimento, uma questão levantada no primeiro romance de Dalcídio Jurandir Chove nos Campos de Cachoeira. Esse assunto é questionado por meio do personagem Eutanázio que em sua trajetória de vida, vive atravessado pela dor física, proveniente de sua doença e, psicológica, resultado de uma vida de muitas privações. Em suas análises a pesquisa dialoga com a obra Dores do mundo de Schopenhauer (1970), que igualmente ressalta a possibilidade de um aprendizado por meio dos momentos mais dolorosos da vida. Diante do exposto, o presente artigo pretende vislumbrar na obra fragmentos que demonstrem a tristeza e a dor pela qual o personagem transita sua existência, e as aprendizagens adquiridas nesse percurso. Além disso, buscaremos estabelecer um dialogo com o filósofo Nietzsche (1999) que ressalta que a experiência da dor envolve a compreensão da própria existência e de uma afirmação de vida. Como abordagem metodológica, a pesquisa se caracteriza como estudo fenomenológico hermenêutico, utilizando o exercício descritivo e interpretativo da obra, com ênfase na experiência de aprender com a dor e o sofrimento. Palavras-chave: DOR, APRENDIZAGEM, DALCÍDIO JURANDIR

FACES DA HIPOCRISIA: UMA LEITURA DO CONTO BOLA DE SEBO DE GUY DE MAUPASSANT Inara de Araujo Carvalho (UNAMA) Gleice do Socorro Bittencourt dos Reis (UFPA)

Resumo: Este estudo baseou-se nos escritos de Antônio Cândido (2006) no livro intitulado Literatura e Sociedade, no qual propõe uma nova análise crítica de obras literárias que aliam os aspectos estéticos e sociológicos num todo: “A análise crítica (...) pretende ir mais fundo, sendo basicamente a procura dos elementos responsáveis pelo aspecto e significado da obra, unificados para formar um todo indissolúvel” (...). Assim, observa-se, em Bola de Sebo, a ironia realista como demarcação da crítica social. A personagem principal que dá nome à obra, era vista como a mais indigna das mulheres, porém era, na verdade, do ponto de vista humanístico, a mais honrada e admirável, e no sentido material, a mais solicitada. Entretanto, por sua condição social, era reduzida ao consumo e a descartabilidade, situação antecipada pela descrição de seu perfil, bem destacada em expressões como “dedos semelhantes a salsichas curtas”, “recheada com dentinhos brilhantes”, “apetitosa”, “frescor”, “seu rosto era uma maçã vermelha”. Nesse contexto, nota-se o traço naturalista na narrativa, Bola de sebo é determinada a uma função utilitária, ela serve, distrai e sacia aquela sociedade. Nota-se, ainda, a enfática oposição ao idealismo romântico. Ainda que o leitor espere que a protagonista seja

102 reconhecida por sua boa ação ou sacrifício, isso não se cumpre; não há espaço para sentimentalismo ou final feliz. Na verdade, o enredo nos surpreende por seu viés contemporâneo, apresentando uma sociedade movida por interesses e conveniências, sustentada em relações superficiais e transitórias, tal como a dinâmica de consumo na modernidade. Palavras-chave: Conto, Análise, Hipocrisia, Bola de Sebo.

REPRESENTAÇÕES DO HOMOEROTISMO NA OBRA A LENDA DE FAUSTO, DE SAMILA LAGES Ingrid Lara de Araujo Utzig (IFAP) Resumo: O presente artigo buscou apresentar o resultado parcial de nossa pesquisa de doutorado (em andamento) e é parte integrante de nossa tese, que objetiva discutir as representações do homoerotismo na obra A Lenda de Fausto, da autora amapaense Samila Lages. Originalmente, A Lenda de Fausto era uma fanfiction yaoi, que depois foi transformada em livro de estreia lançado em 2011 pela editora Multifoco, garantindo à referida escritora um lugar de destaque no cenário nacional entre os autores que trabalham o fantástico, o queer e o horror no Brasil. Através de leitura e interpretação, foi possível perceber a homoerotização na transposição do mito fáustico, oriundo do folclore alemão, cuja história já possui inúmeras releituras para a literatura, o cinema e os quadrinhos. Para essa análise, usamos as concepções de Genette (2010) e os dez sentidos apontados por Jenkins (2009) - recontextualização, expansão da linha do tempo, refocalização, realinhamento moral, troca de gêneros, cross over, deslocamento de personagem, personalização, intensificação emocional e erotização - para analisar as características específicas da fanfic em questão. O resultado parcial mostrou que em contra/justaposição às demais abordagens do mito fáustico, a narrativa de Samila introduz Belial como figura mefistofélica, pois sendo o mais belo entre todos os demônios, é enviado por Lúcifer para cumprir a missão de corromper o humano. Entretanto, nesse caso, o corruptor é corrompido. Além da figura de Belial, Samila também introduz outras personagens da crença cristã, como anjos e arcanjos. Questões como o pecado perpassam toda a narrativa, que se desvela em uma ação de um Deus misericordioso, que concebe o amor como manifestação pura, independentemente de gênero. Palavras-chave: A Lenda de Fausto, Queer, Homoerotismo

ASPECTOS DA VIOLÊNCIA NA CONTÍSTICA DE JOÃO GILBERTO NOLL E Isabela de Almeida N. Ribeiro (UFPA) Resumo: O presente estudo objetiva compreender e analisar as produções literárias redigidas no período pós-ditatorial brasileiro, especificamente na contística de Lygia Fagundes Telles em "Seminário dos ratos" (1977) e de João Gilberto Noll em “O cego e a dançarina”(1980), a partir de uma perspectiva que compreende esses autores como não incluídos declaradamente no ativismo político, mas que, de alguma forma, deixam ecoar o contexto histórico vigente em suas produções. A partir desse contexto, a

103 pesquisa pretende mapear a manifestação do trauma, da resistência e da espetacularização da violência nas obras. Partilha os pressupostos teóricos sobre A sociedade do espetáculo estabelecidos por Guy Debord (1997), que determinam a base de estudos sobre a espetacularização, e a reformulação da definição inicial de tal conceito estabelecida por Augusto Sarmento-Pantoja (2013), que direciona um viés positivo desse fenômeno, no que tange ao trauma e à necessidade de trazer à tona episódios catastróficos. Pretende-se apresentar esse estudo como resultado parcial da pesquisa, pensando em uma outra compreensão da categoria, de cunho positivo, possibilitando a literalização desses acontecimentos, mesmo diante do trauma e da violência, muitas vezes formulados espetacularmente na contística de Lygia Fagundes Telles e João Gilberto Noll. Palavras-chave: Trauma, Espetacularização da violência, Regime ditatorial.

ANÁLISE TIPOLÓGICA DA ESTRUTURA DE NARRATIVAS TRADICIONAIS IKPENG Isadora Cecília Ribeiro de Lima (UFPA) Angela Fabiola Alves Chagas (UFPA) Resumo: O pensamento mítico é algo que atrai olhares das mais variadas áreas do conhecimento humano, como a Literatura, a Psicologia, a Antropologia, a Teologia, a Etnologia, a Psicanálise, entre outras. Esse interesse demonstra a grande importância que esse tipo de pensamento possui, não apenas nas sociedades que o produzem, como também nas sociedades modernas, produtoras de um pensamento dito científico. As narrativas orais Ikpeng foram coletadas por nós durante a vigência do projeto de documentação da língua Ikpeng (2009-2012). O objetivo deste trabalho é apresentar uma análise tipológica da estrutura de algumas narrativas míticas do povo Ikpeng, de acordo com a proposta de Propp ([1928] 1984), afim de demostrar que elas se encaixam no que o autor propôs como um modelo universal de narrativas – chamado por ele de “milagre incognoscível” – não se distanciando, por exemplo, das narrativas orais europeias analisadas pelo autor. Segundo Propp (op. Cit.), as narrativas tradicionais dividem-se claramente em três sequências: (i) Preparatória ou Inicial; (ii) Ação; e (iii) Final, e estão subdivididas em trinta e uma funções. Para Hanke (2003), enquanto produção tradicional da cultura humana, as narrativas servem para acumulação, armazenamento e transmissão de conhecimentos, dentre outras funções básicas. Ao final, mostraremos que o principal resultado da compilação das narrativas Ikpeng foi a publicação do livro de narrativas orais Wonkinong Mïrang, em versão monolíngue, que vem sendo amplamente utilizado nas escolas da comunidade e tem auxiliado os professores no processo de alfabetização dos alunos em sua língua materna; além de resgatar e compartilhar com os mais jovens um pouco do conhecimento ancestral Ikpeng. Palavras-chave: Narrativas Tradicionais; Educação Escolar Indígena; Povo Ikpeng.

104 CECILIA MEIRELES EM OURO PRETO: ANÁLISE COMPARATIVA Jessica Braz da Silva (UNIFESSPA) Resumo: Este artigo tem por objetivo apresentar uma comparação entre textos literários da mesma autora, Cecilia Meireles, em que os textos apresentam temas semelhantes: A Semana Santa e as linguagens abordadas em ambos se dão distintamente. Os textos retratam uma tradição religiosa que é a Semana Santa, ocorrida em Ouro Preto. A justificativa para a escolha do tema é relatar como temas semelhantes são trabalhados de forma distinta de acordo com o público alvo. O texto intitulado “A Semana Santa em Ouro Preto”, publicado na revista Travel in Brazil, em 1942, tem o intuito de atrair turistas estrangeiros. De modo geral, é construído por uma escrita multimodal, de forma a privilegiar figuras, cores e expressões linguísticas. Iniciado com relatos da referida cidade, mencionando seus esplendores da mineração, sua beleza arquitetônica preservada, assim como opções de estadia e de rotas a seguir. Já o texto intitulado “A Semana Santa”, publicado originariamente no jornal Folha de São Paulo, em 1964, e, posteriormente, na coletânea de Cecília Meireles (1999): Crônicas de Viagem, foi destinado a um leitor brasileiro, sem as intenções de divulgação turística da revista Travel in Brazil. Esse texto revela uma tradição religiosa vivida pelos cristãos de forma intensa e comovente. A metodologia aplicada neste trabalho é de estudo bibliográfico e comparativo, tendo sido selecionados alguns livros como: Crônicas de viagem 2 e 3, de Cecília Meireles (1999), A Poeta-Viajante: Uma Teoria Poética da Viagem Contemporânea nas Crônicas de Cecilia Meireles , de Luís Romano (2014), O texto de Fernando Cristóvão (2002): “Para uma teoria da Literatura de viagens”, a revista Travel in Brazil (1942), e artigos que tratam sobre o gênero da propaganda turística e as regras que controlam o funcionamento e a circulação dos discursos sociais. Palavras-chave: Cecília Meireles, Ouro Preto, Travel in Brazil, Turista.

CAMINHOS DA (IN)VISIBILIDADE: A REALIDADE ESCRITA DE UMA MULHER NEGRA CHAMADA DE CAROLINA MARIA DE JESUS Jessica Caroline Da Silva Dias (UFRA) Regilene De Almeida Ferreira (UFRA) Resumo: A exclusão social ainda é um assunto pouco discutido na sociedade brasileira, por outro lado cada vez mais movimentos sociais e grupos de estudos acadêmicos apresentam essa situação como uma realidade “(in)visibilizada” tal como é. Tal questão se torna presente em algumas obras de Carolina Maria de Jesus, autora que transmitiu a verossimilhança em sua escrita pelos pequenos papeis que catava em seu dia a dia de trabalho. Essa pesquisa se debruça sobre as obras de Carolina Maria de Jesus, tais como: Antologia pessoal (1996) e Quarto de Despejo (1960). Tem como base os estudos teóricos de Constância (2003;1990) em sua crítica literária feminista, e em Michel Foucault (1996) na análise do discurso identificado na vida da escritora e sua perspectiva escrita envolvendo sua identidade (Stuart Hall, 2006) de mulher negra (Frantz Fanon, 2008) e escritora, como intuito desenvolver um estudo analítico e crítico. Tem por objetivos de identificar e apontar a realidade (in)visibilizada na Literatura Brasileira nas obras de Carolina Maria de Jesus e de analisar a identidade construída na autora como uma personagem que foi divulgada em sua época e evidenciar o seu papel de mulher escritora de forma reflexiva.

105 Palavras-chave: Carolina Maria de Jesus, Crítica literária feminista, Exclusão social, Negritude.

O CAUCHEIRO: NARRATIVAS NO LIMIAR ENTE O FATO E A FICÇÃO José Francisco da Silva Queiroz (UFPA) Resumo: Das narrativas que partilham do esforço de representar o espaço amazônico a obra de Euclides da Cunha possui lugar de destaque assegurado pelo caráter artístico de sua linguagem que consegue unificar ao discurso científico-referencial recursos retóricos próprios dos gêneros ficcionais. Dos ensaios compilados no livro Um Paraíso Perdido (2000), destacamos “Contra os Caucheiros” publicado em 1904, e, “Caucheiros”, estudo que integrou a primeira edição d’À Margem da História (1909). Esses textos apresentaram a figura do “caucheiro” como uma ameaça à soberania do território brasileiro por ele ter descoberto outra árvore gomífera, o caucho (Castilloa ulei), concorrente do látex extraído da seringueira (Hevea brasiliensis), e assim estar invadindo o território nacional. Alberto Rangel em seu livro mais conhecido, Inferno Verde (1908), utiliza a figura do “caucheiro selvagem” em oposição à presença do “nordestino retirante” trabalhador do seringal. Sandoval Lage com a narrativa “O Caucheiro” (1944), nos oferece uma representação ficcional que destitui o caráter étnico do explorador de caucho, conferindo-lhe uma identidade oposta a origem indígena dos caucheiros que integram as obras de Cunha e de Rangel. A partir dessas narrativas cujo protagonista é “o caucheiro” discutiremos o estatuto da ficcionalidade ou da factualidade (SCHAEFFER, 2009; SCHMID, 2010) no processo de representação de uma atividade exploratória da floresta amazônica. Palavras-chave: Amazônia, Narratologia, Ficcionalidade & Factualidade.

UM PUNHADO DE VIDAS NOS SERINGAIS AMAZÔNICOS: UM ESTUDO SOBRE A OBRA DE ARISTÓFANES CASTRO Jozilena Farias dos Santos (UFAM) Resumo: Nesta comunicação pretendo expor o estudo feito acerca de como Aristófanes Castro, no romance Um punhado de vidas (1949), recria o ciclo da borracha na Amazônia e, principalmente, a vida dos soldados da borracha nos seringais. Para tanto, fez-se um levantamento histórico da economia gomífera, levando-se em conta seus marcos mais significativos e as consequências derivadas desse momento histórico- social, e, a partir da observação dessa realidade, explorou-se os recursos estéticos que o autor utilizou para ficcionalizá-la. Com isso percebeu-se a importância do romance para a construção da imagem amazônica no universo literário, sem exageros ou representações estranhas ao ambiente retratado, sendo assim, um produto enriquecedor para aqueles que desejam investigar a literatura produzida no Amazonas . Quanto ao suporte teórico, a pesquisa baseou-se em dois eixos temáticos básicos. O primeiro, que diz respeito à economia gomífera, à batalha da borracha e sua representação literária, toma por base as reflexões de Souza (2010; 2009), Lima (2009), Cunha (2003), Tocantins (1982) e Guedelha (2013); o segundo, relacionado à teoria literária e à arte da ficção, apoia-se em Moisés (2002), Eco (2001), Candido (2010) e Walty (2009). Esta comunicação é resultado da Pesquisa de Iniciação Científica (PIBIC) intitulada Um punhado de vidas nos seringais amazônicos: um estudo sobre a obra de Aristófanes

106 Castro, aprovado pela Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação – PROPESP da Universidade Federal do Amazonas – UFAM, no período de agosto de 2017 até julho de 2018. Além disso, a pesquisa é vinculada ao Grupo de Estudos da Metáfora e Pesquisas sobre Língua e Literatura de Expressão Amazônica — GREMPLEXA. Palavras-chave: Amazônia, Ciclo da Borracha, Ficção, Um Punhado de vidas

APONTAMENTO SOBRE O RELATO DE UM CERTO ORIENTE, DE MILTON HATOUM, LIDO A PARTIR DO CRONOTOPO DE MIKHAIL BAKHTIN Juciane Cavalheiro (UEAM) Resumo: A presente comunicação origina-se dos resultados obtidos no curso das etapas até agora concluídas de pesquisa mais ampla sobre a presença do conceito de cronotopo em obras de autores latino-americanos dos séculos XX e XXI. Em Estética da criação verbal, Mikhail Bakhtin toma por objeto o livro Viagem à Itália, de J. W. Goethe, para desenvolver minúcias de seu conceito de cronotopo. Ao utilizar um livro de viagem – embora não somente – para empreender suas intervenções teóricas, Bakhtin considera que estariam presentes neste gênero literário as melhores condições para efeito deste tipo de análise, dir-se-ia, cronotópica. Desta forma, o livro de memórias com deslocamento espacial, de alguma forma, pode representar terreno ainda mais fértil para aplicação do cronotopo como suporte analítico-interpretativo. Neste momento, pretende-se inverter o processo de Bakhtin e reformular suas conclusões a partir da aplicação do conceito de cronotopo à obra Relato de um certo Oriente, de Milton Hatoum. Palavras-chave: Milton Hatoum; teoria da literatura; cronotopo.

O EROTISMO NA POÉTICA DE COLMANDO A LACUNA, DE MAX MARTINS Juliana de Fátima Reis Vieira (UFPA) Resumo: Este trabalho tem por objetivo analisar sob o prisma do erotismo a obra Colmando a lacuna (2001), de Max Martins, de modo que se possa mostrar como o desejo erótico atravessa a poesia do autor paraense. Para isso busca-se investigar a obra e assim compreender as escolhas do vocabulário poético, as figuras e as imagens dispostas nos poemas e como tudo isso constroem neles um ambiente erótico. Parte-se do pressuposto de que o poeta paraense concebe a linguagem como um jogo do erotismo em que as palavras se transfiguram em corpos para o rito erótico. Considera-se importante levantar essa questão do erotismo nesse que é o último livro de poemas inéditos publicado em vida pelo autor e por compreender-se que a temática erótica o acompanha desde o seu primeiro livro em 1952. Convém, nesta pesquisa, procurar responder algumas perguntas como: O envelhecimento do poeta interferiu de que maneira no trato da experiência erótica nos poemas de Colmando a lacuna? Para onde Max Martins encaminhou o erotismo na obra em questão? Como forma de auxílio para este trabalho de caráter bibliográfico, o aporte teórico utilizado fundamentou-se, principalmente, nos conceitos estabelecidos por Georges Bataille, que em sua obra O erotismo aborda o erótico sob diversas perspectivas e domínios, e Octavio Paz, que em

107 A dupla chama: Amor e erotismo retrata o fenômeno erótico, além de estabelecer relações entre a poesia e o erotismo. Há também o estudo de outros autores, pesquisadores do autor paraense, críticos literários como Benedito Nunes que embasaram esta pesquisa. Pretende-se com isso, sugerir um primeiro caminho interpretativo da obra Colmando a lacuna contribuindo, assim, para o enriquecimento dos estudos científicos e difusão da poética martiniana. Palavras-chave: Erotismo, Colmando a lacuna, Max Martins.

MORALIDADE E RELIGIÃO: NARRATIVAS FICIONAIS NO PERIÓDICO A ESTRELLA DO NORTE

Juliana Yeska Torres Mendes (UFPA/PPGL)

Resumo: A moralidade do romance, em seu surgimento no século XVIII, foi elemento imprescindível para sua aceitação. Os conservadores alegavam que o romance viria a propor novas concepções de virtude e de verdade, o que recairia no questionamento dos valores aristocráticos. Na outra margem, as narrativas religiosas pautavam-se apenas em exemplos de boa postura, e comumente apresentavam como protagonistas personagens bíblicos ou santos. Caso apresentassem um protagonista comum, este estava sujeito ao conhecimento da virtude e moralização no decorrer da narrativa, pois longe dessa imagem só restava castigo e punição. Assim, a religiosidade foi temática quase sempre presente, atrelada à moralização. A Estrella do Norte, periódico paraense que circulou em Belém no período de 1863 a 1869, carregava alto teor religioso e era exemplo de virtude. O jornal publicava textos direcionados para a fé cristã, sempre regidos por normas de bom comportamento. Dentre essas narrativas, destacamos para essa comunicação um recorte da pesquisa que está ainda em fase inicial: os romances A Lâmpada do Santuário, de autoria do Cardeal Wiseman e Um Ex-voto, narrativa sem autoria, com o objetivo de evidenciar as estratégias moralizantes utilizadas pelo impresso religioso. Para tanto, tomamos como base teórica os estudos de NEVES (2015) e AUGUSTI (1998) sobre a moralização de romances e o papel da igreja como instituição de poder no século XIX, em Belém. Os resultados parciais indicam que a disseminação da virtude e da religiosidade nessas narrativas apoiavam-se na própria popularidade do gênero no momento e nos castigos aplicados ou na redenção dos personagens, que ocorriam durante a prosa de ficção. Diante do exposto, vemos como os grupos sociais que gozavam do poder nos Oitocentos propagavam como benéficas posturas de teor moralista, e o romance em periódicos era a ferramenta perfeita para a difusão desses valores.

Palavras-Chave: Romance; moralização; Estrella do Norte.

108 RECUERDOS DE MIGUEL DE SANTANA EM ANDAR, ANDAR: MEMÓRIAS DO NUNCA MAIS Karla da Conceição Ferreira (UFPA) Resumo: O objeto de estudo desta pesquisa é a obra Andar, Andar: Memórias do Nunca Mais (2018) de Joaquim Alfredo Guimarães Garcia¹. Trata-se de uma narrativa memorialística onde o protagonista Miguel de Santana, idoso de sessenta e dois anos, após um longo período de afastamento, retorna á cidade de sua infância por motivo do falecimento de Agileu – um de seus melhores amigos do tempo de meninice. Como se dá o processo de desconstrução da imagem da cidade por intermédio das lembranças da personagem Miguel de Santana? A justificativa para este trabalho é estudar a memória enquanto fenômeno social e individual como forma de resistência ao presente mediante as lembranças da personagem. Partindo dos conceitos de memória em Halbwachs (1990), Le Goff (2003) e Bosi (1994) que transversalizam toda e obra, será realizada uma análise da narrativa em três categorias: Personagem – Brait (1985); Tempo e Espaço – Bachelard (2008). Esta pesquisa ainda está em andamento, porém já é possível observar alguns resultados. ¹ Escritor nascido em Bragança –Pa. Palavras-chave: Narrativa, Memória, Espaço, Personagem.

MULHERIO DA OUSADIA: A RESSIGNIFICAÇÃO DE CAPITU A PARTIR DAS ESTRATÉGIAS METAFICCIONAIS DE ANA MARIA MACHADO EM A AUDÁCIA DESSA MULHER Karla Vivianne Oliveira Santos (UFPI) Resumo: Ela tinha olhos de cigana, oblíqua e dissimulada. Assim era Capitu, descrita por Machado de Assis sob o olhar do menino Bentinho, em Dom Casmurro. É esta mesma personagem que renasce nas linhas de Ana Maria Machado, em A audácia dessa mulher (2011), obra publicada em homenagem ao centenário do clássico machadiano. A autora nos apresenta, dentre as várias personagens femininas, mulheres audaciosas, descontentes com o papel de subserviência que a tradição patriarcal insiste em lhes reservar. Além disso, traz a versão de Capitu sobre sua história vivida com Bentinho, mostrando que um outro ponto de vista também é possível. Sob o viés da crítica literária, as estratégias narrativas utilizadas pela autora para a tessitura de seu romance podem ser consideradas metaficcionais, uma vez que promovem uma autorreflexividade do texto, em que este se volta sobre si mesmo, contendo, em seu bojo, questionamentos ou comentários sobre o seu estatuto ficcional, narrativo, linguístico e também sobre o seu processo de produção. Tendo isso em vista, este trabalho busca averiguar de que maneira essas estratégias promovem a ressignificação da personagem Capitu na obra de Ana Maria Machado. Para tanto, nosso objetivo de pesquisa tem como ingredientes fundamentais as contribuições teóricas de Linda Hutcheon (1991), Patrícia Waugh (1985), Zênia de Faria (2012), Gabriela Patrocinio (2014), dentre outros. Como resultados parciais, pudemos compreender melhor o papel que a personagem machadiana desempenhava no contexto do século XIX e de que maneira a autora do século XX resgata e ressignifica sua trajetória. Essa pesquisa encontra-se em construção e nos é de suma importância, uma vez que contribui para as investigações da dissertação de mestrado da discente, tendo em vista que possui como objeto uma obra da autora na qual a mestranda estuda. Palavras-chave: Personagem feminina. Ousadia. Metaficção.

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O CASAMENTO COMO OBJETO DE VALOR NO CONTO “MARIANA”, DE MACHADO DE ASSIS: UMA ANÁLISE PELO VIÉS DA SEMIÓTICA TENSIVA Kátia Lorena Silva de Freitas (UEPA) Ana Carolina Moura Santos (UEPA) Resumo: O presente trabalho objetiva fazer uma análise do conto “Mariana”, de Machado Assis, pelo viés da Semiótica Tensiva, considerando o casamento como objeto de valor. A pesquisa está dividida em cinco seções: a “Introdução”, que inclui uma visão geral da pesquisa e da análise; “Sobre o autor” e descrição do conto ‘Mariana’”, em que são apresentadas a biografia de Machado de Assis, algumas opiniões sobre sua obra e um resumo do conto analisado; “Aporte teórico”, em que são explanadas as teorias mais relevantes da Semiótica Tensiva, cuja construção do sentido se dá em três níveis, o das estruturas fundamentais, o das estruturas narrativas e o das estruturas discursivas segundo o percurso gerativo; “Análise do conto”, na qual “Mariana” é analisado seguindo os princípios da perspectiva de análise escolhida pelas autoras, considerando o casamento como objeto de valor; e, por fim, as “Considerações finais”. A partir de pesquisa bibliográfica – que consiste em buscar fontes teóricas em livros, artigos e outros – fundamentamos este trabalho nos seguintes autores: Coutinho (1999) e Nejar (2007), nos quais baseamos a biografia de Machado de Assis, além das críticas à sua obra e estilo; Lopes e Almeida (2011), Barros (2007), Nöth (2003) e Pietroforte (2008), que norteiam as teorias sobre a Semiótica Tensiva, pois desenvolveram métodos de análise que permitem traçar o sentido e alcançar os objetivos de forma sistemática e organizada; e Ravoux-Rallo (2005) e Zilberberg (2011), os quais fazem análises e considerações acerca das críticas literárias, incluindo Semiótica Tensiva. Esperamos, com este trabalho, fomentar outras análises pelo viés da Semiótica Tensiva, bem como aumentar a fortuna crítica dos textos literários machadianos, saindo das análises impressionistas e clichês, pois acreditamos que essa perspectiva de estudo permite ver o valor do conto por ele mesmo. Palavras-chave: Machado de Assis, “Mariana”, Semiótica Tensiva, Casamento, Objeto de Valor.

LEITOR, EU NÃO ME CASEI COM ELA: UMA ANÁLISE TENSIVA DO CONTO "A CARTOMANTE" Lara Faria Jansen França (UEPA) Milena da Cruz Ferreira (UEPA) Thays Pereira Santos de Souza (UEPA) Resumo: O presente trabalho constitui resultado parcial de pesquisa bibliográfica sobre a compreensão do sentido literário por meio do método de análise da semiótica tensiva no conto “A cartomante”, de Machado de Assis. Este estudo tem como principal objetivo expressar a preocupação por um ensino do texto literário de forma a não reduzi-lo a apenas análises e reflexões conteudistas e históricas de sua produção. A obra literária é uma criação de significados e ressignificações a partir de uma dada realidade, e sua significação só é plena em consonância com a sua forma. Por isso, o intérprete deve sempre levar em consideração conhecimentos linguísticos e extralinguísticos na

110 análise do texto ficcional. Assim, de modo a trazer outro olhar para a leitura crítica de textos literários, será realizada a análise do conto machadiano “A cartomante” a partir da perspectiva da semiótica tensiva francesa, que têm como preocupação a compreensão do aspecto sensível da significação do texto a partir do universo afetivo que nele se encontra. Como fundamentação teórica e metodológica serão utilizados autores como Zilberberg (2011), Zilberberg e Fontanille (2001), Pietroforte (2008) e Bertrand (2003). Para isso, pretende-se exemplificar os conceitos de actantes, tensividade, e afetividade na obra literária com o objetivo de atingir a compreensão de que essas dimensões constituem um processo para a experiência do sensível no tecido textual. Palavras-chave: “A cartomante”. Semiótica tensiva. Tensão. Machado de Assis.

FORMAS E PERSPECTIVAS DA LITERATURA INDÍGENA DE AUTORIA FEMININA NO BRASIL Larissa Fontinele de Alencar (UFPA) Resumo: Este trabalho tem por objetivo apresentar algumas reflexões acerca da literatura indígena de autoria feminina contemporânea no Brasil. Ressalta-se que, de modo geral, as produções literárias indígenas, são escrituras que rememoram, denunciam e resistem diante de um panorama ainda silenciador e canônico dentro do universo artístico, político e social. É importante esclarecer que, ao se tratar de literatura indígena, as definições e os conceitos esbarram no “preconceito literário estampado no mascaramento de polêmicas doutrinais. No cânone, essa literatura não aparece mencionada; seu lugar tem sido, até agora a margem. Poucos se dão conta de sua pulsação.” (GRAÚNA, 2013, p. 55). Diante do exposto, um dos objetivos deste trabalho é trazer à tona um questionamento latente em debates que giram em torno da escritura literária de autoria indígena, mas, sobretudo reivindicar um espaço de visibilidade para a autoria dos que estão às margens do cânone literário. Assim, lança-se um olhar para a concepção de uma cartografia concisa das autoras brasileiras e suas obras que compõem a literatura de autoria indígena. Portanto, constata-se que as escritoras indígenas subvertem a visão do colonizador, demarcador de estereótipos que se cristalizaram nas sociedades, afinal, rompem com as formas de silenciamento impostas pelos processos de colonialismo através de seus textos literários, difusores da resistência. Palavras-chave: Literatura, Indígena, Autoria feminina.

‘O AMOR ME MOVE: SÓ POR ELE EU FALO’: DO AMOR CORTÊS À LUXÚRIA EM DANTE Laura Danielly de Souza Couto (UEPA) Resumo: O presente trabalho tem como objetivo analisar as oscilações do ideário medieval entre as temáticas do amor cortês e do amor luxuriante na obra de Dante Alighieri, Divina Comédia. Para isto, a pesquisa está ancorada na fortuna de crítica de Auerbach (2015), Carpeaux (2008), Huizinga (1999) e Lewis (2012) e nos preceitos de São Tomás de Aquino de modo a observar como este ideário medieval se denota na Divina Comédia, obra grandiosa do poeta florentino, valendo-se, para tanto, da leitura do “Canto V” do Inferno, no qual encontramos o destino resultante do amor luxuriante na história de Paolo e Francesca, em contraposição com o amor cortês e idealizado que

111 Dante nutriu por sua musa Beatrice. Sendo assim, quando o poeta afirma que o Amor o move, e que só por ele fala, Dante define o Amor como pano de fundo principal de sua poesia. Palavras-chave: Dante, Amor cortês, Luxúria, “Divina Comédia”

O FANTÁSTICO NAS NARRATIVAS AUDIOVISUAIS: UM ESTUDO SOBRE A SÉRIE ‘GLITCH’ Lídia Carla Holanda Alcantara (UFPA) Resumo: O presente trabalho busca estudar a série televisiva australiana ‘Glitch’, a qual tem como tema a ressureição de pessoas que estavam mortas, não havendo motivo aparente ou racional que explique este evento. Dado seu teor sobrenatural, misterioso e de constante hesitação, levantamos a hipótese de este programa televisivo poder ser classificada como pertencente ao fantástico, sabendo não bastar que um filme, livro ou série tenha mistério, que termine sem explicações, ou que tenha um teor sobrenatural para ser enquadrado em tal gênero. Isso porque os conceitos que definem uma narrativa - seja textual, audiovisual ou visual - como fantástica mudaram conforme os séculos, e hoje, pode-se definir este gênero como característico por explorar o ser humano e sua natureza, suas dúvidas, anseios, como já disse Sartre (1997). Acreditamos que ‘Glitch’ consiga também explorar esses últimos aspectos apontados pelo filósofo francês, além de tantas outras características que circundam a definição deste gênero. Sendo assim, para a realização deste trabalho, utilizaremos, por meio de pesquisa bibliográfica, escritores que teorizaram sobre o fantástico, como Jean-Paul Sartre (1997), Tzvetan Todorov (1975), Sigmund Freud (1980), para que possamos, dessa forma, justificar nossa escolha de enquadrar a série australiana como pertencente a este gênero. Palavras-chave: Fantástico, narrativas audiovisuais, Glitch

CINEMA, LITERATURA E EDUCAÇÃO: A NARRATIVA AUDIOVISUAL NO ENSINO DE LITERATURA Lília Batista da Conceição (UFPA) Resumo: Este artigo tem como objetivo abordar uma análise sobre produções literárias no contexto da sala de aula, por meio da linguagem audiovisual. O processo metodológico aplicado foi de caráter bibliográfico, com ênfase no Estudo de Caso. Sendo que os discentes das turmas de 2ª e 3ª séries da Escola Estadual de Ensino Médio “Irmã Carla Giussani” do município de São Miguel do Guamá-PA foram o público alvo desta pesquisa de cunho científico. As ações pedagógicas desta pesquisa foram desenvolvidas no decorrer das aulas de Literatura, as quais tinham como norteador o projeto pedagógico Cinema na escola. Esta contribuição justifica-se pela importância das práticas de multiletramento e uso de textos multimodais no âmbito escolar, pois o sujeito aprendente desenvolve habilidades de leitura, mais especificamente do texto literário, por meio de narrativas audiovisuais, que servem também de estímulo para refletir sobre fatos que ocorriam e ainda persistem na sociedade. As discussões teóricas se fundamentam em Coutinho (1975), Diniz (1996), Lajolo (1991), Zilberman (2001), Rojo (2012), Ribeiro (2016) e outros. Os resultados obtidos ao final deste trabalho foram satisfatórios, visto que o ensino de literatura apresentou narrativas audiovisuais

112 como estimulante para possíveis reflexões sobre os fatos que ocorrem no meio social. Outrossim, os educandos participaram com mais empenho das aulas. Nesta perspectiva, constata-se que o livro didático e as obras literárias não devem ser considerados recursos exclusivos na sala de aula. Portanto, o docente precisa utilizar outras ferramentas pedagógicas eficazes que auxiliem no processo ensino-aprendizagem e, principalmente, estimule uma aprendizagem significativa. Isto porque é necessário quebrar antigos paradigmas do ensino tradicional de Literatura que prioriza a historiografia e os estilos literários, nos quais valorizam os recortes das obras literárias sem fomentar reflexões sobre a realidade concreta. Palavras-chave: Literatura, Cinema, Estratégia, Aprendizagem Significativa

TRAMAS DE SABERES & TRADIÇÃO: LITERATURA INDÍGENA, MEMÓRIA, IDENTIDADE ÉTNICA E RESISTÊNCIA Lilian Castelo Branco de Lima (UEMASIL) Resumo: De acordo com Lima (2012, p. 42): “Pensar literatura indígena é indiscutivelmente perceber que se está diante de um caleidoscópio que incita visões diversas e por muitos ângulos”, pois ela se apresenta “[...] como uma importante marca identitária da nação brasileira, que desenha, em um cenário metafórico, os valores tradicionais de um povo”. É exatamente no campo das diferenças culturais entre as comunidades indígenas e as não-indígenas, que centraremos a discussão sobre literatura indígena, partindo da premissa de que as narrativas dessas comunidades não seguem o modelo ocidental do fazer literário, contudo não deixam de carregar consigo o poder do saber de um povo que se expressa com a criatividade das artes de fazer (CERTEAU, 1995). Sendo que este trabalho se estrutura com vistas a responder a seguinte problemática: Que marcas identitárias dos saberes tradicionais indígenas são percebidas em contos de três etnias? E para responder esse questionamento se desenvolveu uma pesquisa bibliográfica, colocando em diálogo a literatura e os estudos antropológicos. Sendo que no desenvolvimento desse estudos pudemos constatar que as narrativas indígenas com características de contos literários, e que denominamos como contos indígenas, com base nos estudos de Daniel Munduruku (2005), apresentam elementos importantes para se refletir e discutir sobre a memória, identidade, resistência, considerando a rica herança étnico cultural dos saberes dos povos originários para a nação brasileira. Palavras-chave: LITERATURA INDÍGENA, IDENTIDADE ÉTNICA, MEMÓRIA, RESISTÊNCIA.

POÉTIQUE ET NÉGRITUDE DANS L'OEUVRE BLACK-LABEL DE LÉON- GONTRAN DAMAS Lizandra Barbosa Tavares (UFAP) Resumo: Cet article, il s’agit de proposer une analyse de la première partie de l’oeuvre Black-Label (1956) de l’auteur guyanais Léon-Gontran Damas, en prennant, d’abord la relation de l’auteur avec le mouvement littéraire connu comme Négritude. Ce mouvement selon l’auteur János Riesz, qui traite de Léopold Sédar Senghor dans son article Négritude, Francofonia e Cultura Africana (2001), il définit le terme Négritude,

113 comme l’ensemble de valeurs culturelles dans le continent noire, tel qu’ils se manifestent dans la vie, dans les institutions et les oeuvres des nègres, ou d’une forme encore discrète: la personnalité collective des peuples nègres (RIESZ, 2001, p. 153). Le mouvement a réuni des écrivains, qui ont produit de la littérature pour composer le scénario qu’on connaît, de la francophonie littéraire ailleurs. Pour cette analyse, on a choisi la production poétique de Léon-Gontran Damas qui appartient à la littérature de la Guyane Française, communauté territoriale de la France. L’extrait du poème analysé porte les thèmes suivants: la résistance des peuples colonisés et l’indignation quant à suppression de l’identité nationale. Ailleurs, on fera une brève présentation à propos de l’auteur et son oeuvre, le contexte de l’époque de production et encore une réflexion sur le concept de francophonie. L’article présente une approche qualitative et descriptive- analytique qui favorise la lecture des thèmes de la Négritude présentée à partir de János Riesz, dans son article Négritude, Francofonia e Cultura Africana (2001) et Magali Renouf en Surréalisme africain et surréalisme français : influences, similitudes et différences (2013). La recherche bibliographique sera la base pour l’élaboration de cette étude, puisqu’on a utilisé les conceptions des auteurs importants de la théorie de la littérature sur la francophone. Palavras-chave: Littérature francophone, Négritude, Black-Label

SAMUEL RAWET E O PALAVRÃO SABOROSO DA RALÉ ESFARRAPADA Luciano de Jesus Gonçalves (USP) Resumo: Para o escritor Samuel Rawet, não existe sexualidade sem excitação sexual. Em seus ensaios, denominados “exercícios de ficção”, a excitação do corpo se confunde com a excitação da/na linguagem. Ainda que tenha tentado resistir à pornografia, o intelectual não encontrou motivos para evitá-la. Em seus cinco volumes ensaísticos, publicados entre 1969 e 1978, a linguagem desejosa por uma palavra exata, mágica, não é composta pelo vocábulo polido. Da sua vinculação com as ruas, com os humildes e com os degenerados de toda sorte, sua escrita descamba, quase sempre, no registro do pornográfico como materialidade daquilo que é simples, verdadeiro, poético. O palavrão saboroso da ralé esfarrapada resume a gênese do lugar-comum. Em vista do que já se afirmou, essa comunicação investiga a escrita da pornografia e a pornografia escrita no ensaio rawetiano, tendo como pontos de partida as suas cinco coletâneas publicadas em livro. O recorte desse trabalho compõe um universo mais amplo, de uma pesquisa em andamento, sobre as relações intelectuais do escritor que, no próximo 2019, completaria noventa anos de nascimento. De maneira preliminar, é possível localizar nesses ensaios as formulações de parte significativa das propostas estéticas de Rawet e, de maneira paralela, defender que tais investidas se misturam de modo licencioso com o que poderia ser classificado com a prosa literária, seus contos e novelas, propriamente. Palavras-chave: Samuel Rawet, Ensaio brasileiro, Erotismo, Pornografia, Gênero literários.

114 O ROMANCE DE FORMAÇÃO NA ESCRITA DE MILTON HATOUM Lucilia Lúbia De Sousa Pinheiro (UFPA) Resumo: O Bildungsroman (romance de formação) nasce no contexto alemão com a obra que se tornou paradigma desse gênero Os anos de aprendizado de Wilhelm Meister (1795-1796), de Johann Wolfgang von Goethe (1749-1832). No romance de formação é descrito a trajetória de desenvolvimento da personagem principal. Os elementos dessa ação seriam, segundo Jacobs e Krause (1989, p. 37): conflito com a casa dos pais; influência de mentores e instituição de ensino; encontro com a esfera artística; aventureiro espírito erótico; contato com uma profissão e com a vida política. Neste sentido, trataremos as obras Dois Irmãos (2000), Cinzas do Norte (2005) e A noite da espera (2017) do escritor Milton Hatoum (1952,) sob a perspectiva desse gênero. Respectivamente nas obras temos as personagens Nael, que busca por sua identidade no âmbito da família em que foi criado. Mundo, artista rebelde que desde a adolescência tem um lema “ou a obediência estúpida, ou a revolta”. Martin, jovem recém-chegado em Brasília, após a separação dos pais, entra em contato com a esfera artística e o momento histórico pelo qual o Brasil passa a Ditadura Militar, Martin narra a sua história estando no exílio. A obra de Milton Hatoum tem como características o intimismo, a memória, os aspectos sociais e históricos, características que se mesclam nas obras que aqui serão abordadas a partir do conceito do romance de formação. Palavras-chave: Romance de formação, Cinzas do Norte, Dois irmãos, A noite da espera, Milton Hatoum.

YARA OU MÃE D'ÁGUA: UMA ANÁLISE SEMIÓTICA DO SIMBOLISMO DA SEDUÇÃO MORTAL NA HISTÓRIA DA CULTURA AMAZÔNICA Madchen Marques Corrêa (UEAM) Resumo: O presente trabalho insere-se na área temática da semiótica de Charles Sanders Peirce (1972;1998) e ocupa-se de um estudo sobre o simbolismo da sedução mortal da Yara ou Mãe D´água na história da cultura amazônica. Os objetivos consistem em: 1.Estudar os conflitos de imagens e signos presentes na cultura amazônica; 2.Compreender a forte presença da mitologia grega na lenda da Yara ou Mãe d’Água; 3.Identificar no texto as imagens através das relações entre os signos verbais e os signos extraverbais ou culturais; 4.Descrever os símbolos presentes na superfície linguística do texto e no seu espaço simbólico ou representativo; 5.Analisar o simbolismo manifesto: no rio, na água, nas ondas, no canto, no corpo, na cauda de peixe, no rosto, na cabeleira e na beleza da Iara na cultura amazônica. O enfoque da pesquisa é o fenomenológico e a metodologia empregada é de natureza exploratória com pesquisa bibliográfica qualitativa. Entende-se a cultura amazônica com Loureiro (2015), pensando a simbolização semiótica na concepção de símbolo de Peirce (1972;1998) aliado à mitologia grega (BRANDÃO, 1991; VERNANT,1977), imprescindíveis para a compreensão do texto. A análise será feita com base no referencial teórico adotado (PEIRCE 1972, 1998; SANTAELLA, 2008; LOUREIRO, 2015; BRANDÃO, 1991; CASCUDO, 1983;1984; ECO, 1971: CHEVALIER e GHEERBRANT,2005; JOLY, 1996). Os resultados parciais deste projeto apontam que há ricas nuances simbólicas na lenda da Iara: o rio, a água, as ondas, seu canto, seu corpo, a cauda de peixe, seu rosto, sua cabeleira e sua beleza. A cultura amazônica constitui-se num amplo vitral mítico. Nele, as lendas de amor – líricas ou eróticas, felizes ou trágicas - brilham de modo

115 especial. Dentre essas numerosas narrativas simbólicas do amor, a lenda da Iara tem rica significação (LOUREIRO, 2015, p. 271). Palavras-chave: Lenda da Yara, semiótica, simbolismo.

O ESBARRAR DO MUNDO E FINITUDE EM GRANDE SERTÃO: VEREDAS Marcos Roberto Pinho Palheta (UFPA) Resumo: O barranqueiro é aquele que domina o esbarrar no mundo. Conhece as fronteiras e os limites do tudo. Então, para ele manifesta-se, como um raio, o todo – a totalidade. É preciso a ladinagem do barranqueiro para que se descortine o mundo sem limiares, o mundo pra aquém e além de todas as fronteiras. Contudo, tal qual Sólon teria afirmado ao rei Creso, não se pode dizer que um homem é feliz antes da morte, assim também o barranqueiro afirma-se na morte. Será a existência humana em sua finitude que pretendemos explorar na interpretação da imagem-questão do barranqueiro e do esbarrar no mundo tal qual apresenta João Guimarães Rosa em sua obra máxima Grande Sertão: veredas. De fato, o tema do esbarro do mundo manifesta-se como uma experiência de pré-meditação da morte na narrativa memorial de Riobaldo, que apresenta as vicissitudes do viver, a guisa de toque – do sentido do toque. Experiência humana que assume proporções ontológicas, pois nela a finitude humana encontra-se no vortex originário do ser – ser-tão. Essa exploração interpretativa será lastreada na ideia de finitude e ser-para-a-morte desenvolvidas por Martin Heidegger em sua obra fundamental Ser e Tempo, além de apresentar a cosmogonia roseana em Grande Sertão: veredas como ação poética da linguagem, ou seja, questionar a mímesis artística da prosa-poética de Rosa como um jogo randômico da geração poética do mundo – uma ação originária da linguagem. Palavras-chave: Finitude, Morte, Existência, Ontologia.

FACES DO ADULTÉRIO AO SUCÍDIO: UMA ANÁLISE COMPARATISTA ENTRE ESTELA DE ANDRADINA DE OLIVEIRA E EMMA DE GUSTAVE FLAUBERT Maria Genailze de Oliveira Ribeiro (UFPA) Resumo: O presente trabalho propõe uma análise comparatista entre as semelhanças e divergências encontradas em Estela e Emma, personagens principais das obras O Perdão de Andradina de Oliveira e Madame Bovary de Gustave Flaubert. Ambas com o cenário do século XIX, em que busca-se a partir do método comparativista perceber as semelhanças e divergências entre as personagens. A base teórica utilizada como pressuposto para esse trabalho está fundamentado nas teorias de Tânia Carvalhal (2006), Machado (2001), Rita Schmidt (2004), Guy de Maupassant (1990), Alfredo Bosi (2015), Antonio Candido (1972), Stuart Hall (2003), Blanchot (2011), dentre outros. Portanto, a manifestação literária representada pelas personagens, no contexto realista da literatura francesa e brasileira, permite perceber a dissimulação feminina diante de uma sociedade moralista e patriarcal. Através do discurso literário do adultério e do suicídio buscavam uma forma de escape a uma sociedade injusta e preconceituosa, apresentando um cenário diferente com um ideal libertário diante das lutas e vitórias a

116 serem conquistadas ao longo do tempo pelo sexo feminino, mostrando-se mulheres com pensamentos e atitudes que estavam além do seu tempo. Palavras-chave: Adultério, Suicídio, Liberdade, Semelhança, Emma, Estela.

A ANGÚSTIA NO CONTO "CASAMENTO E ANALISTAS", DO LIVRO MIL OLHOS DE UMA ROSA, DE SÔNIA COUTINHO Maria Jose Ferreira Lopes (UFAM) Resumo: Nesta comunicação livre proponho-me a discutir sobre o drama da personagem Laura, no conto “Casamento e Analistas”, do livro Mil Olhos de uma Rosa, de Sônia Coutinho, cujo conjunto da obra tem revelado o modo de ser e de pensar da mulher brasileira, uma parte significativa do universo feminino do ponto de vista da própria mulher. A contista ganhou duas vezes o prêmio Jabuti de Literatura com os livros Os venenos de Lucrécia (1979) e Os seios de Pandora (1999). Na discussão empregarei o pensamento de Kierkegaard sobre a angústia, constante no livro O conceito de angústia, bem como o debate sobre a personagem feita por Antonio Candido no livro A personagem de ficção. Esclareço que esta comunicação constitui-se de parte da investigação executada no projeto intitulado “A angústia em Mil Olhos de uma Rosa, de Sônia Coutinho” junto ao Programa Institucional de Iniciação Científica – PIBIC, aprovado pela Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação – PROPESP da Universidade Federal do Amazonas – UFAM, para o período de agosto de 2018 a julho de 2019, e que o projeto está cadastrado no Grupo de Estudos e Pesquisa em Literaturas de Língua Portuguesa – GEPELIP, na Linha de Pesquisa “Prosa de Ficção em Língua Portuguesa”. Palavras-chave: Mil olhos de uma rosa; Sônia Coutinho; angústia.

AS VOZES FEMININAS E SUAS REPRESENTATIVIDADES, O PAPEL DO MÍSTICO E DA RELIGIOSIDADE COMO PERPETUAÇÃO DA TRADIÇÃO E SILENCIAMENTO DAS VOZES FEMININAS NO ROMANCE A CONFISSÃO DA LEOA, DE Maria Miquele Silva Ferreira (UFRA) Resumo: O presente trabalho intitulado As vozes femininas e suas representatividades, o papel do místico e da religiosidade como perpetuação da tradição e silenciamento das vozes femininas no romance A Confissão da Leoa, de Mia Couto, tem por objetivo fazer um estudo sobre as vozes femininas, analisar o místico e o religioso como justificativa para colocar a mulher na condição de subalternidade e traçar estudos sobre como os discursos são construídos através dos contextos de produção, influenciados pelos aspectos socioculturais e ideológicos. O objeto de pesquisa é o romance A Confissão da Leoa, do autor moçambicano Mia Couto, no qual se fez um recorte nas vozes das personagens Naftalinda, Mariamar e Hanifa Assulua, pretendendo assim fazer um traçado de como essas vozes são construídas, como permeiam o ambiente em que estão inseridas, como elas influenciam e são influenciadas pelos indivíduos a sua volta. A metodologia deste estudo consiste em pesquisas bibliográficas acerca do contexto de produção do romance, tomando por base a Crítica Feminista, os Estudos Culturais e Pós-coloniais, além de estudos sobre o místico e a tradição dentro do contexto da África. Os autores que embasam esta pesquisa são Orlandi (1999), Zilberman (1999),

117 Said (1995), Stuart Hall (1999), entre outros. Vale ressaltar que a pesquisa pretende estudar as vozes femininas e como o caráter místico e religioso contribui para se firmar uma tradição e como esta tradição se incide sobre os indivíduos subalternizados (as mulheres), a fim de demonstrar que, apesar de se buscarem “motivações” para o silenciamento, as vozes femininas não estão dispostas a sussurrar no anonimato. Palavras-chave: Silenciamento; misticismo e religiosidade; vozes femininas.

O BILDUNGSROMAN FEMININO NEGRO: DOIS EXEMPLOS CONTEMPORÂNEOS. Maria Tereza Costa de Azevedo (UFPA) Resumo: A presente pesquisa em andamento tem como objetivo analisar duas obras da literatura feminina: Hibisco Roxo de Chimamanda Ngozi Adichie e Ponciá Vicêncio de Conceição Evaristo. Dois romances que narram experiências de personagens em formação, em diferentes cenários e com semelhantes impedimentos por se tratar de leituras que trazem o protagonismo feminino e negro. A fim de analisar as obras, faremos a comparação dos dois romances com intuito de constatar as interseções e divergências para levantar a hipótese de as duas narrativas serem consideradas Bildungsroman (Romance de formação) feminino e negro, buscando entender o percurso da apropriação do termo alemão do século XVIII em que concerne o gênero literário e a possibilidade de acomodar o conceito como classificação destes romances contemporâneos. No intuito de aproximar a discussão sobre o gênero literário para os dias atuais, nos guiaremos pelas propostas de Cristina Ferreira Pinto em sua obra O Bildungsroman Feminino: Quatro Exemplos Brasileiros e também pelas considerações de Wilma Maas em O Cânone Mínimo: o Bildungsroman na História da Literatura. Palavras-chave: Bildungsroman, Literatura Comparada, Protagonismo Feminino Negro.

MOVIMENTO CAPOEIRA MULHER: SABERES ANCESTRAIS E A PRÁXIS FEMINISTA NO SÉCULO XXI EM BELÉM DO PARÁ Maria Zeneide Gomes da Silva (SEDUC) Resumo: Esta comunicação visa apresentar o estudo para dissertação, realizado no Programa de Mestrado em Educação e Cultura - PPGEDUC da Universidade Federal do Pará, campus do Tocantins – Cametá na Linha de Pesquisa Educação Cultura e Linguagem. Com a finalidade de discutir a identidade de gênero nas rodas de capoeira em Belém/Pa, tratada em nível do Movimento Capoeira Mulher, coletivo social de mulheres capoeiristas procedentes de vários grupos/associações de capoeira, em atuação na cidade Belém do Pará, meu lócus de pesquisa. É neste cenário, que enquanto intelectual negra, com engajamento político e acadêmico, na luta antirracista e antimachista, articulo minhas vivências empíricas e científicas, em parceria com esse coletivo social para dar visibilidade as subjetividades, desigualdades, silenciamentos e omissões vivenciadas pelas mulheres capoeiristas, para entender – Quais são as experiências de resistências sociais, políticas e pedagógicas, que as mulheres utilizam para construção de suas identidades, em movimentos, nas periferias urbanas da grande

118 Belém, ao partilharem uma prática cultural comum, a capoeira, e como, seus saberes e experiências podem contribuir para repensar outras epistemologias para a educação na Amazônia Paraense. Quanto aos procedimentos metodológicos da pesquisa participante e a observação etnográfica tradicional e digital. Ressaltando meu engajamento e interação com o coletivo social, visando descrever e interpretar os dados coletados em campo. Considerando o ethos da capoeira no processo de análise, pois fazem parte do universo cultural e simbólico, do cotidiano dos sujeitos investigados, enquanto elementos para repensar valores culturais e educacionais hegemônicos, que sedimentam o sexismo e o machismo na sociedade brasileira. Os resultados percebidos, apontam para uma tomada de consciência política das mulheres capoeiristas, para o papel dinamizador das rodas de capoeira, bem como, para o fomento da capoeira como expressão cultural afro-brasileira, que acolhe e promove identidades sociais, crenças e valores, na perspectiva de repensar outras epistemologias para a educação na Amazônia Paraense. Palavras-chave: Capoeira. Gênero. Mulher. Resistencia. Educação contra-hegemônica.

O INTERNATO SALEM HOUSE: OS EFEITOS DAS INSTITUIÇÕES TOTAIS NA PRODUÇÃO DA SUBJETIVIDADE EM DAVID COPPERFIELD, DE CHARLES DICKENS Mario Douglas Teixeira Bentes (UFAM) Resumo: Este trabalho tem como objetivo analisar as representações das instituições totais propostas por Erving Goffman na obra David Copperfield, de Charles Dickens. O internato Salem House é um ambiente que pode ser caracterizado como “instituição total”. Com base nas palavras de Goffman (2010), as instituições que abrigam um número considerável de indivíduos, num regime de estudo ou trabalho, isolado da sociedade, de forma reclusa e controlada podem ser consideradas totais. O internato onde os meninos experimentam determinadas situações é regido pelo diretor que representa a voz de autoridade que perpetua uma cadeia de valores morais, com vistas a formar as identidades dos internos dentro de moldes pré-estabelecidos. Sendo assim, podemos colocar a voz regente das instituições como propagadora dos dispositivos sociais externos ao ambiente de reclusão social. Pensamos então que o internato acaba por corroborar a formação de sujeitos, uma vez que o observamos como uma instituição total, que despoja seus membros das concepções advindas da sociedade externa. Como observamos no pensamento de Philippe Ariès (2017), a criança, ao ingressar na escola, torna-se adulto. Dessa maneira, percebemos que o internato corrobora uma serie de desprendimentos da vida exterior. David, ao chegar ao colégio, se vê despido de sua idade pueril, de sua condição social, da diferença de idade entre ele e seus colegas, colocando-se como parte do corpo disciplinado e unificado do internato. Desencadeia-se dessa maneira a “carreira moral” vivida pelos internos (GOFFMAN, 2010, p. 111). Percebemos assim que a formação dos sujeitos nesses ambientes, muitas das vezes, hostis, tem como consequência uma série de marcas que se perpetuam para além do ambiente institucional. Palavras-chave: Instituições Totais, Internato, Subjetividade, David Copperfield.

119 IMAGENS DO SAGRADO EM A DURAÇÃO DO DIA, DE ADÉLIA PRADO, E EM O BÚZIO DE CÓS E OUTROS POEMAS, DE SOPHIA DE MELLO BRYNER ANDRESEN Marta Botelho Lira (UFAM) Resumo: Esta comunicação livre tem o propósito de comparar os elementos do sagrado nos poemas A postulante, de Adélia Prado, do livro A duração do dia, e Deus escreve direito, de Sophia de Mello Breyner Andresen, do livro O Búzio de Cós e outros poemas. Enquanto a poetisa portuguesa publicou sua obra a partir da década de quarenta do século XX, época marcada pela Guerra Fria, a poetisa brasileira publica sua obra a partir da década de setenta, época de manifestações por liberdades políticas e sociais. O suporte teórico consiste nas obras O Sagrado, de Rudolf Otto e O Homem e o sagrado, de Roger Caillois. Os dois poemas serão analisados sob o viés da crítica literária comparada, baseada nos textos de Pierre Brunel, “A literatura comparada’ e “O facto comparatista”. A presente comunicação corresponde a parte do resultado da investigação registrada no Projeto Institucional de Bolsas de Iniciação Cientifica - PIBIC, da Universidade Federal do Amazonas – UFAM, no qual sou bolsista do CNPq, e está cadastrado no Grupo de Estudos e Pesquisas em Literaturas de Língua Portuguesa – GEPELIP, na linha de pesquisa Poesia em Língua Portuguesa. Palavras-chave: sagrado; literatura comparada; poesia do século XX

NHÁ BENEDITA DE DALCÍDIO JURANDIR E HORTÊNCIA DE MARQUES DE CARVALHO: UMA COMPARAÇÃO DE MULHERES NEGRAS NA LITERATURA AMAZÔNICA Mayara Cristiny Souza Martins Rodrigues (UFPA) Resumo: Este presente artigo é fruto da disciplina Literatura Comparada, vinculado ao Programa de mestrado em Estudos literários, da Universidade Federal do Pará (UFPA). Essa pesquisa tem como objetivo interpretar as personagens Nhá Benedita do romance Marajó (1947) de Dalcídio Jurandir e Hortência do livro homônimo de Marques de Carvalho (1888). Para tanto, a metodologia utilizada será a teórico-interpretativa dos estudos de cultura e identidade, com os autores Bernd (2013), Carvalhal (2006) e Machado e Pageau (2001), para se compreender a abordagem utilizada na interpretação dos textos, enquanto Evaristo (2008) será necessária no que se refere a entender a perspectiva das imagens das mulheres negras na Literatura brasileira. Nos romances citados, irei considerar as duas personagens negras que marcam os enredos: Nhá Benedita, preta doceira, já senhora, conta histórias fictícias e da época de escravo, aparece como uma Mãe-Preta, isto é, paciente, carinhosa e sempre acolhedora; enquanto Hortência uma jovem mulher, aparece com uma bela encantadora, calma, sempre prestativa e afável. Em ambas, podem-se identificar a figura do orixá Iemanjá a qual será a metáfora usada para se costurar e dialogar essas figuras. Nesse sentido, Odayá ou Iemanjá é orixá reverenciado pela nação Iorubá, ela representa a força, a beleza, a maternidade e a vergonha, mora no fundo do mar. Ao final dessa leitura, possibilitará vermos as representações dos negros em dois momentos literários, em que esses diferentes olhares divulgam as diversas perspectivas na construção das identidades negras da Amazônia. Assim com essa analogia de Iemanjá, comparo Hortência e Nhá Benedita como herdeiras de Iemanjá, não faço referências a religiosidade de matriz

120 africana, o que interessará, na verdade, são traços e características que transitam e direcionam o leitor a associá-las a essa deusa das águas salgadas. Palavras-chave: Feminino, Nhá Benedita, Hortência, Negra, Identidade.

SOB A LUZ DA ESCURIDÃO: REPRESENTAÇÕES DE VIOLÊNCIA EM TRÊS CONTOS DE MIA COUTO

Milton Fagundes da Silva (UFF)

Resumo: O presente trabalho tem como objeto de estudo a coletânea Cada homem é uma raça: contos (2013), de Mia Couto, na qual o escritor tece os seus personagens sujeitos a práticas de violência que corroem as suas relações sociais e afetivas. Em congruência ao título que abraça as ficções, nota-se um desejo de compor narrativas que representam não uma unidade africana, ou seja, uma identidade capaz de circunscrever a totalidade; antes, tem-se uma inclinação ao desdobramento de múltiplas individualidades que, de algum modo, seja capaz de trazer à tona uma questão frequente nas comunidades africanas: a degradação do valor de muitas vidas. Intuitiva e inicialmente descarto a possibilidade de um conjunto de ficções que pretenda, em primeira instância, denunciar as covardias ou de vitimar os personagens, mas sim chamar atenção para os ciclos de violência que precisam ser rompidos por meio da sugestão artística. Ao invés de simplesmente evidenciar o problema, Mia Couto nos convida a pensar no que está por trás da violência e do discurso que alimenta essa prática. Para tanto pretendo trabalhar com três contos: “O pescador cego”, “Rosa Caramela” e “Rosalinda, a nenhuma”, atentando-me às representações de violência, duplamente como prática e discurso. Pretendo refletir sobre o que está por trás do abandono, da rejeição, do adultério, da conivência, da subalternidade, da vingança, da redenção, do arrependimento e, até mesmo, do perdão.

Palavras-chave: Mia Couto, Contos, Literaturas Africanas em Língua Portuguesa, Discurso, Violência.

VERSÕES: CONTAR E MOSTRAR: "A HISTÓRIA DO MONSTRO KHÁTPY"

Nathália da Costa Cruz (UFPA/IFPA)

Resumo: "A história do monstro Khátpy" é um dos títulos que compõem a Coleção Um Dia na Aldeia, livros-adaptações de seis curta-metragens filmados em diferentes comunidades indígenas brasileiras. Nesse volume, chama-nos a atenção por trazer processos variados de contação e mostragem de uma mesma narrativa tradicional do povo Kisêndjê. Desse modo, o objetivo desta comunicação livre é apresentar os achados parciais da tese que investiga os diferentes processos de criação das versões midiáticas - o filme (produzido por indígenas) e o livro ilustrado (produzido por não indígenas) - tomando como instrução basilar as teorias sobre adaptação.

Palavras-chave: Um Dia na Aldeia, "A história do monstro Khátpy", História Contada, História Mostrada, Adaptação para a Literatura.

121 A FORTUNA CRÍTICA DO ESCRITOR PARAENSE ILDEFONSO GUIMARÃES Nellihany Dos Santos Soares (UNIFESSPA) Resumo: Nosso objetivo é explicitar como a crítica recepcionou a obra do escritor paraense Ildefonso Guimarães, englobando artigos de jornais e obras que constituem a fortuna crítica do autor. Também é de nossa intenção apresentar o conto Linha do Horizonte (objeto de análise em estudo), em que será feita a exposição dos elementos da narrativa e também uma análise do elemento água. Para escrever sobre a recepção da obra, adotamos uma sistemática que se inicia pelo delineamento dos caminhos literários de Guimarães, apresentando alguns momentos de sua biografia, que estão relacionados com tudo aquilo que escreveu até sua morte. Por ordem cronológica, destacamos as obras do escritor e, paulatinamente à exposição da fortuna crítica, apresentaremos o conto Linha do Horizonte de maneira pormenorizada. Este trabalho é resultado parcial de pesquisa em andamento sobre a obra do referido escritor, e para tal foram consultados autores como José Arthur Bogéa, Paulo Nunes, Jean Chevalier e Alain Gheerbrant, Gilbert Durand, Afrânio Coutinho, entre outros. Os resultados até agora levantados pela pesquisa bibliográfica apontam para a qualidade da escrita e literária do autor, sobretudo quando se fala no gênero conto. Usa do vocábulo como um instrumento de criatividade imagético-processional com que subverte o ato institucional de descrever e de narrar. Sua crítica social se faz à intensa psicologia de tipos e de personagens. A simbologia da água permite uma pluralidade de interpretações. BOGÉA, J. A. ABC de Ildefonso Guimarães. Belém, EDTUFPA, 1989. CHEVALIER, Jean & GHEERBRANT, Alain. Dicionários de Símbolos. Rio de Janeiro: José Olympio, 2003. COUTINHO, A. A Literatura no Brasil. 3ª edição. José Olympio,1986. DURAND, Gilbert. As Estruturas Antropológicas do Imaginário. São Paulo: Martins Fontes, 1997. GUIMARÃES,I. Senda Bruta. Belém: Falangola,1965. ______Contos Recontados. Belém: CEJUP,1990. NUNES, Paulo. Contribuições para Conceituação e Caracterização da Literatura Amazônica. Belém: Editora Unama, 1998. Palavras-chave: FORTUNA CRÍTICA, ILDEFONSO GUIMARÃES, ÁGUA

O LUGAR DO MAL NOS MITOS INDÍGENAS Rafaella Dias Fernandez (UFPA) Resumo: As produções artísticas indígenas ganham cada vez mais espaço no campo literário, pois atualmente há diversas obras dentro da literatura que tratam da mitologia, dos costumes e do cotidiano indígena. O contato com as atividades criativas indígenas pode ser pensado como fonte de renovação estética literária, porém, para além desta premissa, é fundamental notar que tais produções, que antigamente eram de uso praticamente restrito a antropólogos, etnólogos e lingüistas, tem atraído a atenção de poetas e escritores. Este fato ratifica essas produções como manifestações literárias, não somente como dados etnográficos ou antropológicos. Dentre as diversas produções existentes, trabalharemos com duas obras: o livro da antropóloga Betty Mindlin, Moqueca de Maridos – mitos eróticos indígenas (2014) e Meu destino é ser onça (2009), do escritor Alberto Mussa. A proposta desta pesquisa é refletir sobre a aparição do mal em tais obras, pois nos mitos colhidos por Mindlin, há relatos de tortura, vingança, autofagia, antropofagia. No livro de Mussa, aparece também o mal como propósito norteador, pois a mitologia tupinambá propõe que a única forma de atingir a

122 Terra-sem-Mal – lugar almejado pela comunidade - é por meio da vingança e antropofagia. Assim, é possível pensar que essas imagens de violência exacerbada revelam que o mal norteia a vida na comunidade indígena. De acordo com os antropólogos Manuela Carneiro Leão e Eduardo Viveiros de Castro, no artigo Vingança e Temporalidade: Os Tupinambás (1985), a vingança é um tema constante para a comunidade indígena, não somente para os tupinambás, mas ela perpassa várias etnias. Desta forma, o objetivo principal deste trabalho é propor que a presença do mal ronda a vida nas comunidades, principalmente a antropofagia, visto que este ato geralmente completa o sentido da vingança e este sentimento ajuda a construir a sociedade indígena. Palavras-chave: Mal, Vingança, Antropofagia.

ELEMENTOS ÓRFICOS NA POESIA DE EMPÉDOCLES Rafael César Pitt (UNESP) Resumo: Esta comunicação contém os resultados parciais de pesquisa de doutoramento em Estudos Literários realizada através do Dinter Unesp-Araraquara/Unifap. Esta pesquisa tem o objetivo de reconhecer a influência da literatura órfica na concepção cosmológica do poeta Empédocles de Agrigento. Mais especificamente, busca delinear na relação Uno/Múltiplo da poesia empedocleana elementos teogônicos, filosóficos e literários oriundos do orfismo. A fundamentação teórica assumida é composta dos trabalhos filológicos disponíveis atualmente acerca dos papiros e artefatos arqueológicos, principalmente aqueles organizados por Alberto Bernabé. A reunião crítica mais importante dos poemas órficos está feita por M. L. West. E para o texto de Empédocles utilizaremos a versão estabelecida por Diels e Kranz. Nossa metodologia é a leitura e a análise do material selecionado, seguindo as pistas linguísticas, filológicas, filosóficas, literárias e míticas dos textos/autores envolvidos. Nossos resultados parciais são a identificação de caracteres épicos – de linhagem hesiódica - no texto empedocleano, apresentados pelo jogo/pugna de forças cósmicas na relação Uno/Múltiplo; o encontro com uma narrativa implícita no texto empedocleano que remete a uma teogonia órfica e que nutre, como solo mais profundo, suas raízes filosóficas e esotéricas. Nossas principais referências bibliográficas, além dos nomes já citados, são Heroic Poetry de C. M. Bowra, Mitologia Grega de J. de S. Brandão, Dicionário de Mitos Literários de P. Brunel, O Pitagorismo como Categoria Historiográfica de G. Cornelli, Teogonia de Hesíodo, La Teologia de los Primeros Filosofos Griegos de W. Jaeger, História das Crenças e das Ideias Religiosas de M. Eliade, De la Religion a la Filosofia de F. M. Cornford, Introduction à l’ancienne physique de J. Bollack dentre outros. Palavras-chave: Orfismo, Empédocles, Uno/Múltiplo.

AS PERSONAGENS FEMININAS NO ROMANCE EU RECEBERIA AS PIORES NOTÍCIAS DOS SEUS LINDOS LÁBIOS, DE MARÇAL AQUINO: ENTRE A VIOLÊNCIA E A RESISTÊNCIA Rebeca Freire Furtado (UFPA)

123 Resumo: Este trabalho tem por objetivo investigar de que forma as personagens femininas são apresentadas pelo narrador no romance contemporâneo Eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios (2005), do escritor paulistano Marçal Aquino (1958). A narrativa é ambientada em uma cidadezinha em pleno ciclo do ouro, no estado do Pará, marcada pela violência e desigualdade social entre homens e mulheres. Sob o olhar de um narrador em primeira pessoa, homem, que possui um grau de instrução elevado e que detém maior poder e relevância social, observaremos qual posição a figura feminina ocupa na narrativa: seja personagem secundária, tendo sua história revelada apenas pela metade e levando o leitor a preencher as suas lacunas; ou protagonista, mas sendo apresentada de forma sexual e objetificada. As personagens estudadas nos possibilitam enxergar o longo caminho que as mulheres trilham, embora com marcas físicas e psicológicas, para resistir e (sobre)viver. Com esse trabalho, pretendemos apresentar os resultados de uma pesquisa concluída na academia, que teve como alicerce um núcleo central de teóricos para que chegássemos às nossas conclusões, sendo eles Karl Erik Schøllhammer (2009), Beatriz Resende (2008), Theodor Adorno (2003), Regina Dalcastagnè (2001/2005), Antonio Candido (2011), Cíntia Schwantes (2006) e Simone de Beauvoir (2016). Palavras-chave: Personagens femininas, Narrador, Literatura brasileira contemporânea.

A FIGURA FEMININA NO SÉCULO XIX: UM ESTUDO COMPARATIVO ENTRE ELINOR E MARIANNE DASHWOOD EM RAZÃO E SENSIBILIDADE DE JANE AUSTEN Rebecca Falcão Serrão (UFPA) Resumo: Estudos importantes sobre literatura como os de Stheir (1986), Steinbach (2004) e Wollstonecraft (2014), mais relacionados aos padrões sociais vigentes no século XIX e à figura da mulher nesse período, se tornam relevantes para o desenvolvimento dessa pesquisa, que objetiva analisar o comportamento social das personagens centrais Elinor e Marianne Dashwood do livro Sense and Sensibility (1811), escrito por Jane Austen. Esta pesquisa busca contribuições relevantes para a compreensão do contexto social no período em questão, abordando a educação fornecida às mulheres no século XIX com a finalidade de mostrar como essa circunstância pode ter influenciado o papel da mulher na sociedade inglesa, analisando a figura feminina, bem como a tendência feminista da autora da obra, através de um estudo comparativo das personagens, o qual está fundamentado em uma pesquisa bibliográfica. Serão apresentados os elementos teóricos essenciais para a análise realizada nessa pesquisa. Em sequência, a análise das personagens através citações da obra literária. Os resultados parciais da análise permitem identificar as características das personagens, evidenciando assim o contraste entre elas e a sensível mudança de comportamento ocorrida durante a narrativa. Palavras-chave: Análise das personagens, sociedade inglesa do século XIX, comportamento feminino.

A LEITORA E O VIAJANTE

Rita de Cássia Almeida Silva (UEPA)

124 Resumo: Este trabalho apresenta insights de leituras de obras de natureza diversa. A primeira delas, o romance de Italo Calvino Se um viajante numa noite de inverno (1994), e a segunda o filme de Michel Deville, La Lectrice (1988). Ambos tratam do Leitor/Leitora e da recepção do texto efetuada em diversos níveis e formas. Serão ressaltados, no decorrer do artigo, os pontos mais relevantes para a análise comparativa entre o filme e o texto anteriormente citados, considerando o contexto em que foram criados. A análise tomou como base teórica os estudos de BAKHTIN/VOLOSHINOV (1990), BAKHTIN (1993), BENVENISTE (1989), BRAIT (2012 e 2015), ECO (1979), ISER (1995), PECHEAUX (1975) e TODOROV (2014). A conclusão irá verificar a importância de uma análise de textos diversos sob o prisma da análise comparativa e da estética da recepção.

Palavras-Chave: Leitor(a), Estética da recepção, análise comparativa.

DE COMO O MOSQUITO DA MALÁRIA SE TORNA O HERÓI DA ECOLOGIA NA AMAZÔNIA RORAIMENSE Roberto Mibielli (UFRR) Resumo: A Amazônia possui mistérios que o próprio discurso do exotismo desconhece. Dentre eles, em um rincão dos mais esquecidos e menos similares à ideia geral do que seja a Amazônia (no imaginário da maioria da população mundial), reside um discurso ímpar, que contribui para a falta de educação ecológica de nossa população amazônida: o discurso de/da fartura. É que a mata infinita, os recursos hídricos aparentemente intermináveis suscitam na população menos esclarecida, a partir de uma larga tradição de mitos e lendas (dentre eles o próprio mito da Wasaká, entre os Pemón da fronteira da Venezuela e do Brasil), a impressão de que mesmo que se polua, mesmo que se desmate, sempre haverá mata, sempre haverá fartura de caça e pesca, contrariando todo e qualquer discurso de defesa do meio ambiente. É pois, a partir do imaginário suscitado, tanto pelas tradições orais em suas narrativas míticas, quanto pela própria literatura livresca, assim como pela música e poesia, que, em Roraima, destacamos o exemplo de como essa imagem se constrói e de como é preciso, as vezes ironicamente, como o faz o poeta Eliakin Rufino em sua música Mosquito da Malária, rebater esse discurso de fartura, para que vigore o da preservação. No trabalho em tela analisamos, além da poesia que dá origem à música, trechos de lendas como o da Wasaká (árvore da vida) e de obras literárias como Inferno Verde e outras que descrevem a Amazônia e fomentam esta imagem de fartura. Palavras-chave: Literatura e ecologia na Amazônia, mitos e lendas, Mosquito da Malária

OS ASPECTOS DA VIOLÊNCIA E DA RESISTÊNCIA NA CONTÍSTICA SUL- AMERICANA. Rosalia Albuquerque (UFPA) Resumo: Este trabalho estudará a violência e a resistência, na contística sul-americana, na produção dos autores argentinos Julio Cortázar e Silvina Ocampo. Nessa perspectiva, por meio de um estudo comparado pretendemos debater os vínculos existentes entre as obras desses autores e efeitos das ditaduras que ocorreram na América do Sul,

125 considerando que há diversas maneiras de violações e varias formas de resistir a elas. Ressaltamos que as obras mesmo não estando ligadas diretamente às ditaduras, possuem aspectos ideológicos característicos desse período. Nesse sentido, nos empenharemos principalmente a pensar a espetacularização violência e resistência nos contos, presentes em Bestiário e Los Dias de la Noche. Para tanto, desenvolveremos estudos bibliográficos de teóricos como Walter Benjamin (1986) e Maurice Halbwachs (1968). Palavras-chave: Violência, Resistência, Espetacularização.

CONTOS AMAZÔNICOS, DE INGLÊS DE SOUSA: ALGUMAS CONSIDERAÇÕES Rossana Rossigali (Universidade do Contestado) Resumo: O objetivo precípuo do presente trabalho é deslindar a seguinte questão: a obra "Contos amazônicos", de Inglês de Sousa, é regional ou regionalista? A fim de atingir tal propósito, os estudos de Pedro Barcia (2004) constituem-se na linha condutora da investigação. Para tanto, mister se faz esboçar uma visão geral do livro, para que se tenha um rol de elementos que possibilitem proceder a essa classificação. Em alguns contos, como "Voluntário" e "O donativo do Capitão Silvestre", torna-se necessário complementar essa visão geral com informações históricas, recorrendo-se a autores como Boris Fausto (1995) e Arthur Cézar Ferreira Reis (1995). Procura-se trabalhar, assim, na perspectiva de Ria Lemaire e Edgar de Decca (2000), aliando a literatura à história. A análise das mencionadas referências permitiu a conclusão de que a obra é regional. Adite-se, ainda, que esta pesquisa foi realizada em 2016, como requisito parcial para aprovação na disciplina “Literatura e Regionalidade”, do Mestrado em Letras, Cultura e Regionalidade da Universidade de Caxias do Sul (UCS). Palavras-chave: Contos amazônicos, Inglês de Sousa, literatura regional/regionalista, região.

“O BAILE DO JUDEU”: O ASPECTO PUNITIVO DA MITOLOGIA AMAZÔNICA NO CONTO DE INGLÊS DE SOUSA Ruth de Jesus Ramos (UFRA) Mayrla Freitas da Silva (UFRA) Resumo: O trabalho tem como objetivo analisar o aspecto punitivo da mitologia amazônica presente no conto de Inglês de Sousa, “O baile do Judeu”, um dos mais importantes escritores da Literatura da Amazônia. Em suas obra “Contos Amazônicos”, publicado em 1893, Inglês de Sousa apresenta aspectos da mitologia amazônica, os quais muitas vezes surgem sob a estética do terror e do maravilhoso, convertidos em narrativas que trazem o castigo como traço do mítico. Mircea Eliade (1994) considera o mito como história sagrada atravessada pelo imaginário e pela realidade. Já Paes Loureiro (2015), afirma que uma das identidades da cultura amazônica é a convivência com o sobrenatural. A narrativa do boto reflete um amor encantado, pois não possui

126 antes nem depois, como um amor de perdição. Levantamos nesta pesquisa a principal questão: Como a ideia de punição da mitologia amazônica é representada no conto “O baile do Judeu”? O conto “O baile do Judeu” é versão da narrativa do boto, em que um homem encantado seduz uma mulher em uma festa à beira do rio. A reescrita deste mito na poética de Inglês de Sousa traz o espaço do “baile” para a casa de um judeu. Desse modo, a mitologia amazônica está representada e carregada de aspectos punitivos, através de atos seguidos de consequências, pois a morte surge como castigo às personagens que desafiam o sagrado. Os elementos míticos compõem este conto amazônico, permeando do sobrenatural a narrativa. Palavras-chave: Mitologia amazônica, O baile do judeu, Inglês de Sousa.

A PARANORMALIDADE COMO UM JOGO DE FICÇÃO E REALIDADE: ED E LORRAINE WARREN ENTRE AS ARTES Sandra dos Santos Vitoriano Barros (UnB) Resumo: Objetiva-se, com base nas teorias interartes, traçar alguns paralelos entre os estudos de paranormalidade, em sua perspectiva literária, com alguns aspectos de outras artes que reforçam e ampliam as possibilidades artísticas de tal discurso. A demonologia é uma abordagem que liga investigação religiosa e científica, com especial foco na visão de mundo do cristianismo. O lastro acadêmico desse campo parece ser pouco debatido fora dos muros do Vaticano. No fluxo inverso a esse natural hermetismo do campo demonológico, o casal Ed e Lorraine Warren, fundadores do New England Society for Psychic Research em 1952, conquistaram grande notoriedade midiática e também respeitabilidade entre os estudiosos acadêmicos da paranormalidade nos anos de 1970 em diante, chegando a atuar em grupo de pesquisas e realizando palestras em universidades de prestígio. Participaram de inúmeras e aludidas possessões demoníacas na Inglaterra e Estados Unidos. As investigações mais conhecidas dos Warren foram: Annabelle (1968), A família Perron (1971), Amityville (1976), Enfield Poltergeist (final dos anos de 1970), The Haunting in Connecticut (1986). Reflexo desses casos de pendor paranormal empreendidos pelo casal Warren, fora a expressiva e popular produção de filmes sobre estes eventos por eles acompanhados. Entre os vários filmes realizados, focaremos nossa atenção para The Conjuring I (2013) e II (2016), com vistas a examinar o duplo tratamento ficcional e documental presentes tanto nos filmes supramencionados, quanto no livro The Demonologist: The Extraordinary Career of Ed and Lorraine Warren de Gerald Brittle (1980/2002), buscando entender o caráter potencialmente híbrido desses discursos, que com tal proceder, parecem tentar obter adesão do maior número de espectadores e leitores, ávidos tanto de respostas “realistas” quanto de uma leitura ficcionalizada dessa “realidade” (em termos ontológicos), que vem a ser o sobrenatural no imaginário cristão. Palavras-chave: Paranormalidade, Ficção, Realidade.

LITERATURAS AFRICANAS EM LÍNGUA PORTUGUESA E A ESCRITA FEMININA: BREVES NOTAS Sandra Maria Job (UFPA)

127 Resumo: Para se chegar às ditas literaturas africanas em língua portuguesa de Angola, Guiné-Bissau, Moçambique, São Tomé e Príncipe e Cabo Verde elas passaram, cada uma com suas especificidades, por um caminho que, para alguns críticos como Manuel Ferreira e Patrick Chabal, por exemplo, são similares. Nesse sentido, para Chabal (1994), por exemplo, todas estas literaturas passaram pelas fases de assimilação, resistência, afirmação e consolidação. Neste contexto, o objetivo deste trabalho e discorrer sobre essa similaridades, trazendo, na medida do possível, exemplos de literatura que podem ser enquadradas nas fases citadas. Além disso, tem como proposta analisar e caracterizar a que fase se enquadra a escrita feminina, em específico de Ana Paula Tavares (Angola), Odete Semedo (Guiné-Bissau) e Paulina Chiziane (Moçambique). Parte, para isso, de uma pesquisa de cunho bibliográfico (CHABAL, 1994; CÉSAIRE e MOORE, 2010; FEIJÓ, 1998) que constatou, entre outros aspectos, um significativo rasgo de caráter feminino/feminista nas suas escritas, com abordagens linguísticas e de gênero muito particulares. Palavras-chave: Literaturas africanas em L.P.. Escrita feminina. Feminismo.

DIREITO ANIMAL, LITERATURA INFANTOJUVENIL E MITO: UMA LEITURA DE SANDMAN, DE NEIL GAIMAN. Sarah Maria Borges Carneiro (UFC) Resumo: O objetivo do presente trabalho, parte da pesquisa de doutorado em desenvolvimento no Programa de Pós-Graduação em Letras da UFC, é analisar de que maneira as representações dos personagens não-humanos na obra de Neil Gaiman questionam o direito animal, não apenas no que concerne às leis, mas também no que diz respeito às justificativas formuladas pelo homem ao longo da história para garantir a si mesmo um lugar privilegiado no mundo, acima dos animais e da própria natureza. Nesse contexto, Gaiman ocupa um papel de grande importância, uma vez que sua obra é permeada por narrativas míticas que valorizam o animal. Desde o sucesso inaugural da série de HQs Sandman, publicada a partir do final dos anos 80, Gaiman tem conquistado maior prestígio e popularidade, o que o ajudou a chamar atenção para mídias consideradas menos rebuscadas pelo cânone até então, como os quadrinhos. Fazer um apanhado das narrativas da série Sandman revela-se pertinente para que possamos compreender as tentativas de sondagem da outridade animal. Além disso, a obra em questão contribui para desestabilizar as fronteiras do próprio conceito de literatura, pois rendeu ao autor, em 1991, o prêmio literário World Fantasy Award, nunca antes concedido a uma HQ. Partimos da hipótese de que o contato do jovem leitor com os animais de Gaiman contribuiria para uma tomada de consciência dos direitos dos não- humanos, possibilitando que o respeito e a valorização da natureza não sejam motivados apenas em termos de sua utilidade para nós, mas pelos valores e saberes intrínsecos a própria natureza. Para tanto, nos fundamentaremos nas obras de Montaigne (1987), Eisner (1989) Berger (1980) e Derridas (1997), Garrard (2006), Jung (2008), Hunt (2010), Groensteen (2015), assim como nas obras de Maria Esther Maciel sobre Literatura e animalidade (2011; 2016) e no estudo de Rossi sobre Direitos dos Animais (2016). Palavras-chave: Literatura infantojuvenil, mito, direito animal, Neil Gaiman, Sandman

128 MÁRIO, O TURISTA APRENDIZ (OU MACUNAÍMA E A UTOPIA AMAZÔNICA) Sheila Praxedes Pereira Campos (UFRR) Resumo: “Quanto a este mundo de águas é o que não se imagina. A gente pode ler toda a literatura provocada por ele e ver todas as fotografias que ele revelou, se não viu, não pode perceber o que é.” É com esta afirmação feita por Mário de Andrade ao amigo Manuel Bandeira (carta de junho/1927) que alguns pontos nos são revelados para entendermos como “A Amazônia, tesouro e mito de gabinete, passa a mito e utopia na obra”, conforme evidencia a professora Telê Ancona Lopez ao fazer referência à construção de Macunaíma a partir das anotações feitas por Mário em seus diários de Turista Aprendiz. Essa “utopia amazônica” que é capaz de seduzir o intelectual modernista nos serve de guia para perceber como a condição de estar lá (o “being there” de que fala criticamente Clifford Geertz) traz à tona uma Amazônia (real?) cuja contemplação repercute fortemente na criação do artista Mário. Nessa mesma carta, o desabafo ao amigo Bandeira: “Desta vez não percebo nada. O êxtase vai me abatendo cada vez mais. Me entreguei a uma volúpia que nunca possuí à contemplação destas coisas, e não tenho por isso o mínimo controle sobre mim mesmo.” Essa ausência de controle provocada pela contemplação, “sem pensamentear” (Turista Aprendiz, 31/05/1927), dessa Amazônia até então conhecida de “ouvir falar” é, de certa, maneira, a hipérbole encontrada para definir como as “águas do túrbido Amazonas, meu outro sinal” (“Meditação sobre o Tietê”) deságuam no Mário que, com a “função de colhedor de coisas da nossa gente” (Diário Nacional, 11/09/1932), passa a usufruir da “evidência do mundo que viajou” (DN, 05/12/1929). Recorte de uma discussão sobre Mário e o making off de Macunaíma, na tese em andamento com orientação do professor José Luís Jobim, essa comunicação propõe discutir como Mário foi sugestionado pela “utopia amazônica”. Palavras-chave: Mário de Andrade, Utopia Amazônica, Turista Aprendiz, Macunaíma.

O VERSO LIVRE DE CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE: UMA ANÁLISE À LUZ DA PROSA RÍTMICA CLÁSSICA Sindia Lena Rocha de Siqueira (UEAM) Resumo: Acreditamos que investigar mais profundamente o pensamento greco-romano clássico resulta, por vezes, em um encontro com ideias consideradas inovadoras, próprias da Modernidade. Tendo isso em mente, este trabalho, que é resultado parcial de nossa pesquisa, busca, através das proposições antigas acerca do ritmo na prosa, em especial da obra que apresenta as bases para a oratio numerosa (prosa rítmica), o Orator (46 a.C.), de Cícero (106-43 a. C.), compreender de que maneira os recursos rítmicos, da forma que são estabelecidos pelos autores gregos e romanos, no conjunto dos procedimentos metodológicos da retórica clássica, colaboram com o efeito estético dos versos livres de Drummond. Acontece que a prosa rítmica, no contexto clássico, refere- se à estilização do discurso oratório, e esse trabalho, em nosso entendimento, é muito semelhante ao reservado ao verso livre, uma vez que os elementos preconizados pelos antigos, como as figuras e os jogos de palavras, podem ser aplicados no verso livre. De viés estilístico, nossa preocupação, então, encontra-se centralizada na análise do ritmo da poesia drummondiana a partir de um específico vínculo com o que foi produzido

129 sobre a elaboração do discurso oratório no contexto da retórica greco-romana. Assim, realizaremos uma leitura de alguns versos livres de Drummond presentes nas obras As Impurezas do Branco (1973), Corpo (1984) e Discurso de Primavera e Algumas Sombras (1977), buscando analisar os efeitos estéticos dos elementos rítmicos recorrentes. Com base nas leituras já realizadas, concluímos que tais elementos são frequentes e remontam a certos preceitos dos antigos gregos e romanos acerca do ritmo em textos artísticos não metrificados. Palavras-chave: Prosa rítmica, retórica, verso livre

ANTONIO MARIA PEREIRA E A CONSTITUIÇÃO DO ACERVO PORTUGUÊS NA BIBLIOTECA FRAN PAXECO Stéfani Lobo Dutra (UFPA) Resumo: No período de forte influência da Belle Époque, Belém apresentava um cenário de reurbanização, transformação social, cultural e necessidade de ampliação dos conhecimentos populacionais, ou seja, um avanço intelectual. Surge, em 1867, O Grêmio Litterario e Commercial Portuguez, e, no mesmo ano a biblioteca Fran Paxeco, que segundo Eugenio Leitão de Brito, em História do Grêmio Literário e Recreativo Português (1994), estava sendo criada com o intuito de instruir a população e difundir a leitura. Para tanto, a constituição do acervo bibliotecário deu-se através da comercialização e/ou doações de obras para o espaço realizadas por livreiros e membros da diretoria, vale ressaltar, e este é o objeto deste trabalho, a figura do Sr. Antonio Maria Pereira, livreiro português, proprietário da A. M. Pereira Editora, e que foi designado para o encargo de remetente de livros de Portugal para Belém pelo próprio diretor da associação no século XIX, averiguando a sua importância e a dos livros remetidos por ele. A metodologia da pesquisa consiste na transcrição e leitura de registros fiscais contendo a correspondências e as faturas dos Senhores Diretores e do livreiro. Convém destacar a relevância deste trabalho, haja vista que explana sobre quais obras e como ocorreu a difusão da cultura letrada em Belém, além de evidenciar o interesse populacional nessas obras remetidas. Palavras-chave: Belém oitocentista, comércio livreiro, Antônio Maria Pereira

O EROTISMO EM A CIDADE ILHADA, DE MILTON HATOUM Suzanne Modesto Souza Bindá (UFAM) Resumo: Em 2009 Milton Assi Hatoum publicou o livro A Cidade Ilhada, consagrando-se oficialmente como contista. A obra reúne textos que mostram leveza e lirismo, diferenciando-se dos outros livros publicados do autor muito mais pelo formato de narrativa breve e pelo humor que pelos dois traços também presentes em suas narrativas de ficção. Esta comunicação livre possui o propósito de investigar o erotismo poético no conto “Encontros na Península” do citado livro, empregando por fundamento as discussões sobre a teoria do conto apresentadas por André Jolles, Massaud Moisés e

130 Ricardo Piglia, bem como as ideias sobre o erotismo constantes no livro O Erotismo, de Georges Bataille. O estudo que gerou esta comunicação é resultado parcial de pesquisa aprovada pelo Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica da Universidade Federal do Amazonas em 2018, e está vinculado ao Grupo de Estudos e Pesquisas em Literaturas de Língua Portuguesa – GEPELIP, na linha de pesquisa prosa de ficção. Palavras-chave: O erotismo, a cidade ilhada, Milton Hatoum

OURO PRETO: MODERNISMO, IDENTIDADE E PRESERVAÇÃO Tainara Dantas da Silva (UNIFESSPA) Resumo: O presente trabalho foi realizado por meio de uma pesquisa bibliográfica já finalizada e objetiva apresentar uma breve discussão acerca da relação existente entre literatura e sociedade na visão do historiador e crítico Antonio Candido. A partir disso, mostrar como o contexto social influenciou as produções literárias no período do Modernismo brasileiro, mais especificamente a representação da cidade de Ouro Preto como um símbolo da identidade genuinamente brasileira e a necessidade de preservação desta identidade. Como aporte teórico para o trabalho, foram escolhidos os trabalhos de Candido (2010), Hall (2015), Gouvêa (2008), para esta análise foram escolhidos o poema “Acalanto de Ouro Preto”, da obra Contemplação de Ouro Preto, de Murilo Mendes e a crônica “Por amor a Ouro Preto”, do livro Crônicas de Viagem, de Cecília Meireles. Palavras-chave: Modernismo, Identidade, Cecília Meireles, Murilo Mendes.

FICÇÃO INGLESA FEMININA NO ACERVO DO GRÊMIO LITERÁRIO PORTUGUÊS DO PARÁ Tassiane Andreza Damião dos Santos (UFPA) Resumo: A presente comunicação faz parte do projeto de pesquisa Prosa de ficção britânica no Grêmio Literário Português do Pará: autores, obras e agentes editoriais e tem como finalidade apresentar uma parte dos resultados obtidos em pesquisa exploratória de fontes primárias realizada no acervo da biblioteca Fran Paxeco do Grêmio Literário. Após o término da coleta de fontes no acervo do Grêmio Literário Português do Pará, pôde-se então reunir todas as informações acerca dos autores e dos agentes editoriais envolvidos na publicação de exemplares de língua inglesa no século XIX. Para essa comunicação teremos como foco as autoras de língua inglesa, tanto as de nacionalidade britânica e irlandesa como também as de nacionalidade americana. Apresentaremos em tabelas as informações editoriais sobre os romances encontrados no acervo da biblioteca que foram escritos por mulheres assim como breves biografias das carreiras literárias dessas autoras, pontuando aspectos comuns entre elas, como seus trabalhos em periódicos e editoras. Como apoio teórico utilizaremos textos de Márcia Abreu e Sandra Vasconcelos sobre a circulação e comércio de romances ingleses no Brasil. Palavras-chave: Grêmio literário Português do Pará; prosa de ficção inglesa; Século XIX, agentes editoriais

131 AS MULHERES DE CLARICE: UMA ANÁLISE FEMINISTA DOS CONTOS “A FUGA”, “AMOR” E “RUÍDO DE PASSOS” . Thainá Chemelo (UFPA) Carolina Menezes (UFPA) Resumo: Desde a sua criação, em 1970, com tese de doutorado de Kate Millet intitulada Sexual Politics, que traz a tona discussões acerca da posição secundária ocupada pelas heroínas nos romances de autoria masculina, a Crítica Feminista tem assumido o papel de questionadora da prática acadêmica patriarcal. No âmbito do ensino, há uma tendência de se manter no “topo da pirâmide” os discursos dos “mestres”, perpetuando o cânone literário altamente sexista, constituído pelo homem ocidental, heterossexual, branco e de classe média alta, nesse sentido, contribuindo com a exclusão ou o silenciamento das vozes Outras (ZOLIN, 2009). Nesse ponto, analisamos também como o próprio capitalismo e a divisão sexual do trabalho contribui com esse silenciamento. Quando as mulheres começaram a ler e a escrever romances, utilizando pseudônimos, houve a constatação de que a experiência da mulher como leitora e escritora é diferente da masculina e isso implicou em mudanças significativas no campo intelectual. Analisamos três contos de Clarice Lispector sob o olhar da Crítica Feminista, da questão de gênero e da performatividade de gênero (BUTLER, 1990), já que a análise parte de uma autora mulher, que fala de mulheres, para um público – na maioria – feminino. Clarice Lispector, ao nosso olhar, não era uma autora feminista. Ela, simplesmente, escrevia sobre a realidade que melhor conhecia. A análise de contos de uma escritora mulher tem como objetivo oferecer novas possibilidades de interpretação de obras literárias organizadas em torno do gênero e como o mesmo organiza o enredo e a construção dos personagens, seguida de uma problematização do cânone literário vigente, predominantemente masculino e heterossexual. O uso da categoria de gênero na análise de um texto ficcional tem um significado político, pois dentro de uma perspectiva feminista, estamos interpretando-o à luz de ações políticas, relacionadas à ideologia e as relações de poder na sociedade. Palavras-chave: Clarice Lispector, Crítica Literária Feminista, Gênero, Performatividade de Gênero.

A ESTRUTURA DE CONTOS INDÍGENAS ORGANIZADOS POR DANIEL MUNDURUKU Tatiana Santos Oliveira (UEMASUL) Resumo: Sobre o conceito de literatura gravitam muitos debates, entre eles a validação de narrativas que apresentam características literárias como literatura de fato. O que vem sendo contestado, em especial, por escritores indígenas, entre eles Daniel Munduruku. Sendo que ele coletou diversos mitos de diferentes etnias indígenas do Brasil e os denomina como contos indígenas. Nesse contexto de debate, este estudo apresenta como objetivo central analisar as características de textos que compõe a obra “Contos Indígenas Brasileiros”, com base nos estudos de Vladimir Propp (2003), assim como o trabalho de Alan Dundes (1996) sobre a morfologia e estrutura dos contos indígenas norte-americanos. Ressalta-se que este estudo é uma ação que busca ir ao encontro de uma formação acadêmica que privilegie a riqueza da cultura e história indígena, sendo que é resultado de um projeto de iniciação científica desenvolvido no curso de Letras, Língua Portuguesa e Literaturas de Língua Portuguesa da Universidade

132 Estadual da Região Tocantina do Maranhão. E para alcançar o objetivo proposto se desenvolveu uma pesquisa bibliográfica, descritiva e explicativa, que nos levou a considerar que os textos analisados de fato apresentam as características desse gênero literário apresentados pelos teóricos que norteiam as análises. Assim, validando-as como contos. Palavras-chave: saberes tradicionais, estrutura do conto, literatura indígena.

O FUTEBOL COMO ELE É: AS CRÔNICAS DE SOBRE AS COPAS DE 1958 E 1962 Tatiany Natividade dos Reis (UFPA) Resumo: Considerado uma paixão nacional, o futebol se faz presente na vida de muitos brasileiros. A difusão desta modalidade no país aconteceu após a criação dos primeiros clubes e de uma imprensa especializada para cobrir este tipo de evento, ao publicar reportagens e crônicas esportivas. O trabalho analisa as crônicas de Nelson Rodrigues sobre as Copas do Mundo de 1958 e 1962, extraídas de duas coletâneas: À Sombra das Chuteiras Imortais e A Pátria de Chuteiras, comparando-as com as notícias publicadas em jornais e revistas do mesmo período, sob enfoque no modo narrativo no qual o cronista busca usar ao produzir os seus textos, sendo este o principal objetivo da pesquisa. A escolha do tema justifica-se pelo desejo de compreender, através das crônicas, como se deu a construção do Brasil como o país do futebol e, por conseguinte, a configuração de uma identidade nacional. A metodologia utilizada foi análise textual sob perspectiva comparativista. Os referenciais teóricos foram: Souza (2008), Marques (2012), Rossum-Guyon (1976), Ricouer (2012), Jakobson (2010), Sá (2005), Genette (1995) e Moisés (1997). Nelson Rodrigues expressou em seus textos um patriotismo exacerbado e, através deles, procurava resgatar e estimular este sentimento para seus leitores, lançando sempre seu olhar às partidas de futebol além das quatro linhas, se diferenciando assim, dos demais jornalistas que escreviam sobre a temática. Nelson Rodrigues. Crônicas de futebol. Modo Narrativo. Palavras-chave: Nelson Rodrigues, crônicas de futebol, modo narrativo.

O ROMANTISMO BRASILEIRO E AS REFLEXÕES DE JOSÉ DE ALENCAR Vânia Glauciene Gurgel Pontes (UNIFESSPA) Resumo: O presente trabalho expõe o Romantismo como um período de efervescência sócio-política, cultural e artística, na busca da consolidação de uma língua nacional e criação de uma literatura brasileira, com enfoque em José de Alencar, grande representante do meio literário oitocentista. Nessa acepção, o objetivo do trabalho é analisar como o autor apresenta sua crítica à sociedade do século XIX e observar seu engajamento, incluindo suas ideias sobre o casamento, a política, o direito e a sua contribuição para a criação de uma língua nacional, que bem representasse a literatura brasileira daquele período. Para embasamento das ideias aqui expostas são utilizadas as obras Iracema, Bênção Paterna, prefácio do romance Sonhos d’Ouro e Senhora, como

133 objeto de pesquisa, além de textos do crítico e sociólogo Antonio Candido, do historiador literário Alfredo Bosi, do autor Benoît Denis que desenvolve textos com argumentos consistentes sobre a literatura engajada e do crítico literário Afrânio Coutinho, entre outros. Palavras-chave: Romantismo, língua nacional, sociedade, engajamento, José de Alencar.

LITERATURA PÓS-MODERNA: GRAU 26: A ORIGEM E A NARRATIVA TRANSMIDIÁTICA Vanessa de Carvalho Santos (UFPI) Resumo: No Alto Capitalismo, a arte tornou-se um valioso produto do mercado. Com a sua acessibilidade, por sua reprodutibilidade, os teóricos questionaram o que era boa arte ou arte de má qualidade. Por isso, dentro do ramo da literatura, os termos “alta” e “baixa” ou de “massa” foram muitas vezes utilizados. Com o aparecimento do Pós- Modernismo, observado em meados do século XX, abre-se caminho para novas possibilidades e a arte antes vista como inferior, torna-se igual, isto porque o novo período de que tomam-se consciência promove o fim do que separa a cultura de massa e a alta cultura (JAMESON, 1997). Um dos principais elementos observados nesse novo momento histórico é a presença da mídia digital e a sua aproximação com a literatura permitiu o surgimento, entre outras, de uma forma de narrativa nomeada de transmidiática. Dentre as várias interpretações do Pós-Moderno, nos deteremos nos estudos de Fredric Jameson. Justifica-se tal escolha por este trabalho se tratar da relação entre mercado, mídia digital e literatura através de uma obra Estadunidense, país que é parte do grupo de potências econômicas em que Jameson fixa seus estudos. Isto posto, à luz de estudiosos como Jenkins (2007), Hayles (2009) e Benjamin (2012), este trabalho propõe uma discussão das novas construções narrativas romanescas, no contexto do Pós-Moderno, através do romance transmidiático Grau 26: a origem. Observamos, desta forma, que o Pós-Moderno é um fenômeno complexo que combina diferentes tendências. A obra, por ser um romance transmidiático, nos permitiu compreender como o sistema capitalista influência a elaboração dessa nova geração de narrativas. Portanto, as mídias digitais somadas a literatura, trazem novas possibilidades de construções romanescas. Palavras-chave: Narrativa transmidiática, Grau 26: a origem, Pós-modernismo.

AS FACES DA SERPENTE: RESIDUALIDADE E COMPLEXIDADE EM “NO SONHO DO MEU AVÔ TEM UMA COBRA-GRANDE” DE JOSÉ POLARI Vinicius Milhomem Brasil (UNAMA) Resumo: Com o intuito de organizar uma análise mítico-residual a respeito da lenda da cobra grande/boiuna e compreender os aspectos que a cercam, recorremos ao conto “No sonho do meu avô tem uma cobra-grande”, de José Polari (2009). Temos por finalidade

134 a ressalva dos pontos comuns entre a figura da cobra entre meios e condições que a cercam. Em pesquisa bibliográfica, buscamos livros de contos amazônicos e livros de folclore ou mitologia de diversos países. No conto de Polari (2009), percebe-se somente a sua ligação com o caboclo navegante dos rios da Amazônia e sua importância no imaginário desses trabalhadores. Desse modo, o autor reforça o estereótipo de maldade das concepções do imaginário brasileiro em uma objetiva e com o uso de recursos geográficos locais. Visto isso, procuramos resíduos a partir da lenda amazônica em narrativas do folclore português, aborígene e indígena, reunida por Cascudo (2001, 2003), Bulfinch (2013), Krüger (2011), Lévi-Strauss (2007) e Santiago (1986). Relacionamos assim os estudos sobre o mito à residualidade literária e cultural para análise desse réptil que remete a narrativas pretéritas. Logo compreendemos o imaginário do homem amazônico por trás da figura da cobra enquanto resíduo do imaginário europeu. O resíduo é um corpus vivo, conceito que visa justamente verificar esses elementos de período passado e demonstrar que continuam presentes. Portanto, o imaginário da figura dos ofídios ainda é extremamente pejorativo, é vista como algo mal. Tudo isso devido à nossa cultura judaico-cristã graças à colonização portuguesa. Mas a figura de bondade ou de divindade ainda permanece cristalizada na crença popular ribeirinha amazônica. Palavras-chave: Residualidade, cobra-grande, amazônico

O [NÃO] LUGAR DA LITERATURA AMAZÔNICA NO ENSINO MÉDIO DE ESCOLAS PÚBLICAS DE BELÉM Wanessa de Oliveira Coelho (UFPA) Resumo: Esta pesquisa investigou os fatores que contribuem para a não sistematização do ensino da literatura amazônica, bem como suas consequências na formação dos alunos do ensino médio de escolas públicas de Belém. Para a construção e consolidação deste trabalho foi utilizada a abordagem qualitativa e os procedimentos técnicos utilizados foram a pesquisa bibliográfica, documental e a de campo (observação direta). Neste trabalho, discutem-se os problemas que o ensino da literatura nas salas de aula vem enfrentando, como a falta de autonomia como disciplina e as práticas de ensino que tem privilegiado o estudo da historiografia da literatura em detrimento da leitura dos textos; além disso, discorre-se sobre o [não] espaço da literatura amazônica em salas de aula do ensino médio em Belém. Há também a apresentação e o aprofundamento de três fatores que não contribuem para o reconhecimento e efetivação do ensino da literatura amazônica nas escolas de Belém: a formação do professor no curso de Letras; a matriz curricular do ensino médio das escolas públicas de Belém que se baseia na Lei nº 9.394/1996, Parâmetros Curriculares Nacionais (2000, 2002, 2006) e Base Nacional Comum Curricular (2016); e os livros didáticos distribuídos por todo país que não contemplam os saberes literários amazônicos de maneira significativa. O arcabouço teórico usado para a construção desta pesquisa foi baseado em Moreira e Tadeu (2011), Fares (2009 e 2013), Todorov (2009), Zilberman (1988 e 2016), Candido (2011 e 2012), Candau (2005 e 2008) e outros. Palavras-chave: Literatura Amazônica, Práticas de ensino, Ensino Médio

MARIA LÚCIA MEDEIROS, A MENINA EM BUSCA DE SI MESMO

135 Wilson Ferreira Barbosa (SEDUC) Resumo: Com base nos estudos de Thomas Bonnici, com a obra Teoria e crítica literária feminista: conceitos e tendências (2007), pretendemos neste artigo ampliar a propagação da Literatura Feminina Paraense. Analisaremos a história de uma menina que quer descobrir-se, que está na busca de “Si Mesmo”, ela é alguém que procura a autoafirmação em confronto com o “Outro”. Assim, utilizaremos as pesquisas de semiótica de Eric Landowski em, Presenças do outro: ensaios de sociossemiótica (2012), ressaltando a busca da identidade e da alteridade presente no conto “Espelho meu”, do livro Zeus: ou a menina e os óculos (1994), da contista paraense Maria Lúcia Medeiros (1942 – 2005). Uma menina identificada como o ser humano que procura a autorrealização, que está na construção do “Si”. O espaço é um elemento que vai marcar a identidade dessa personagem, visto que nesses espaços há lembranças que mantêm as características de um passado que reforçam sua unicidade no presente, e para isso nos basearemos em A poética do espaço (2008), de Gaston Bachelard. Palavras-chave: Literatura Feminina, Maria Lúcia Medeiros, Literatura Paraense.

MITO DESLOCADO: O ARQUÉTIPO DE SODOMA E GOMORRA NAS PÁGINAS DE O ATENEU Willian Sampaio Lima De Sousa (UEPB) Resumo: Nesta pesquisa, analisamos a obra O Ateneu, de Raul Pompéia, sob a ótica da teoria dos arquétipos, evidenciando a intrínseca relação arquetípica entre o enredo do romance de Pompéia e a narrativa bíblica que discorre sobre a destruição de Sodoma e Gomorra, duas cidades mitológicas do Velho Testamento. Ao ler os textos críticos sobre O Ateneu, percebemos uma lacuna analítica sobre as referências bíblicas contidas nessa obra. Mediante uma leitura de todas as menções bíblicas espalhadas no romance (selecionamos uma referência que sinalizava como exceção), percebemos uma relação arquetípica entre a obra de Pompéia e o mito bíblico referente à destruição de Sodoma e Gomorra. A partir de imagens e ações recorrentes na obra de Pompéia relativas à trajetória de Sérgio no internato, à promiscuidade, à imoralidade, ao homossexualismo, à falta de fraternidade presente entre os alunos da escola, o incêndio no final do romance, que consome toda a instituição, torna viável uma aproximação arquetípica referente ao enredo do mito bíblico sobre o aniquilamento de Sodoma e Gomorra (Genesis, capítulos 18 e 19); pois estas cidades tornaram-se símbolos de vício e iniquidade e sinônimos de ruína completa, assim como ocorre em O Ateneu, tendo por fim uma destruição total pelo fogo. Esta proposta analítica é possibilitada mediante os conceitos teóricos de Northrop Frye (1957; 2014), em Anatomia da Crítica e outras teorias auxiliares. Palavras-chave: O Ateneu, Mito, Arquétipo, Bíblia, Literatura.

O MENINO MARROM: DESMISTIFICANDO AS DIFERENÇAS Wkeila Samilla Matos dos Santos (UEMA) Resumo: Esse trabalho tem por objetivo analisar a obra O menino marrom (1986), de Ziraldo, visando retratar a desconstrução do estereótipo relacionado ao negro, através da literatura infanto-juvenil brasileira contemporânea, que tem tido um importante papel

136 em relação à igualdade racial. Segundo Coelho (2000) “a literatura infantil tem uma tarefa fundamental a cumprir nesta sociedade em formação: a de servir como agente de formação, seja no espontâneo convívio leitor, livro, seja no diálogo leitor”. A obra supracitada traz questões sociais sobre a gama de raças e etnias que compõem a nossa sociedade, dialogando com o teórico (1995), quando diz que “o Brasil é formado por uma sociedade multirracional e pluricultural”. Historicamente, os negros sempre foram vistos apenas como capital humano e sempre á margem da sociedade, mesmo após a abolição, o que não os livrou da discriminação como uma das consequências da escravatura. Desde então, os negros buscam por aceitação e inserção como seres participantes da sociedade, o que não é de hoje. Na obra, o narrador conta a história com uma dinamicidade infantil, a curiosidade, fazendo indagações para assim chamar a atenção do leitor, prendendo-o ao tema central que é a história do menino marrom e de seu amigo cor-de-rosa, que, juntos, viviam aventuras e grandes descobertas, revelando a igualdade entres eles e a curiosidade mútua, sem saber por que a simbologia das cores fariam deles diferentes um do outro. Através da análise do corpus, concluímos que o narrador trata o tema de forma a não dar margem interpretativa a nenhum tipo de preconceito em relação à cor do menino. Em sua descrição, ele faz analogia a coisas positivas como elementos da natureza, dizendo que nada é da cor preta definitiva; o mesmo acontece com o menino cor-de-rosa. Ao enaltecer as qualidades dos dois meninos, o narrador inibe qualquer tipo de preconceito pré-existente, afirmando que, de forma individual, todos possuem sua beleza. Palavras-chave: Igualdade. Diversidade. Literatura.

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