A rede urbana no Amazonas, Brasil: O abastecimento das cidades ao longo das calhas dos rios Solimões e Amazonas.

Tony Everton Alves de Sena Universidade Federal do Amazonas – UFAM [email protected] Pesquisa finalizada em 2013 financiada pelo CNPq.

INTRODUÇÃO

Este trabalho buscou apresentar a compreensão e análise feita da rede urbana na Amazônia através da observação dos meios de transporte. O intuito foi compreender sua importância na região, o funcionamento e a dinâmica dos portos de acordo com a sazonalidade dos rios Solimões e Amazonas. Procurou-se entender este processo não somente em ou Belém, cidades que possuem uma estrutura melhor e mais “organizada”, mas também nas regiões mais “isoladas”, tais como entorno de , de Tefé e de no Estado do Amazonas. Esses municípios são representativos, dada a importância nessas regiões. O transporte de contêineres por balsas vindas para abastecer toda a região a partir das metrópoles de Manaus e Belém, mesmo precário em relação à logística, é mais eficiente principalmente no interior do estado do Amazonas. A circulação interna ao Estado apresenta falhas e gargalos derivados da falta de planejamento e de uma demanda cada vez maior tanto de produtos quanto de passageiros. Essas falhas, que são a falta de portos ou adequação deles a realidade amazônica aliado ao baixo investimento em mão-de-obra adequada e de fiscalização, por exemplo, implica em um sistema precário tanto em termos de transporte de cargas quanto de passageiros. Entretanto, é ao mesmo tempo eficiente se comparada às limitações e custos do transporte aeroviário no estado do Amazonas. O Núcleo de Estudos e Pesquisas das Cidades da Amazônia Brasileira – NEPECAB, no Departamento de Geografia, vem realizando desde 2006 estudos sobre a

rede urbana na Amazônia com alguns projetos tais como o “Calha” dentre outros 1 que estuda e caracteriza a rede urbana ao longo da calha dos rios Solimões-Amazonas. Estes estudos partiram de variáveis como: as mudanças de hábitos alimentares da população, o transporte intra-urbano, em especial, a motocicleta, dando ênfase ao moto-táxi - importante meio de transporte nas cidades do interior do estado - e também sobre mercados e feiras e o custo de vida nessas cidades. Este trabalho originário de pesquisa de Iniciação Científica insere-se neste contexto explorando a variável “abastecimento das cidades”. Com base nessas pesquisas, viu-se a importância de estudar o transporte interurbano no intuito de verificar a abrangência na dinâmica interurbana de Tabatinga, Tefé e Parintins, visto que, na época da vazante o acesso de barcos e balsas fica mais restrito, o que tende a tornar mais caro os diversos produtos dos quais as cidades e seus consumidores dependem.

JUSTIFICATIVA

A relação dos rios e a cidade podem ser explicadas, o início na pesquisa da variável de estudo transporte interurbano, partindo do transporte de carga, que segundo (OLIVEIRA; SCHOR, 2010:148) os “dados do IBGE apontam uma rápida concentração populacional, principalmente ao longo dos rios” e isso implica em uma maior demanda por produtos. De acordo com o programa Calha do NEPECAB foi elaborada uma classificação de cidades ao longo curso da calha dos rios Solimões e Amazonas (SCHOR; COSTA, 2011). Dividindo as cidades pelas suas características, nesse sentido foram escolhidas três cidades estratégicas que podem mostrar o comportamento dessa rede urbana. As cidades de Tabatinga, Tefé e Parintins no alto e médio Solimões e médio Amazonas respectivamente, foram classificadas segundo a proposta do NEPECAB como cidades

1As cidades e os rios: tipificação da rede urbana na calha Solimões-Amazonas financiada pela FAPEAM (PGCT/2006)) e que foram financiados, pelo Programa de Apoio a Núcleos de Excelência - FAPEAM/PRONEX/CNPq “ Cidades amazônicas: dinâmicas espaciais, rede urbana local e regional ” e pelo Projeto Universal “ Do peixe com farinha à macarronada com frango: uma análise das transformações na rede urbana no Médio e Alto Solimões pela perspectiva dos padrões alimentares ” (Processo nº 475311/2010-8)

médias de responsabilidade territorial e exercem funções na rede que vão “além de suas características de cidade, pois detém uma responsabilidade territorial que a torna importante na rede urbana” (OLIVEIRA; SCHOR, 2010:154). A pesquisa considerou ainda que “no que tange ao abastecimento das cidades do Amazonas, Manaus representa a centralidade na distribuição dos bens industrializados e beneficiados em ambos os períodos, cheia ou vazante” (MORAES e SCHOR, 2007). A escolha do tema em questão implica não só em refletir sobre a importância da mudança de hábito de consumo da população dessas cidades, no que concerne ao acesso a alimentos abundantes na região, tais como, grande variedade de peixes e frutas em contrapartida a entrada dos produtos industrializados (mediante transporte fluvial) como o frango, a salsicha e a calabresa, mas, também, pelo fluxo de transporte de uma cidade a outra, principalmente, por balsa onde os insumos para a construção civil, de bens industrializados, por exemplo, também se caracterizam como motivo primordial para valorização desse meio de transporte.

OBJETIVOS

Conforme o objetivo geral, a pesquisa possibilitou a compreensão da importância da balsa como meio de transporte de carga entre os municípios citados, bem como, sua funcionalidade e praticidade no abastecimento. Os Objetivos específicos foram: Compreender a relação do fluxo de transporte interurbano entre uma cidade e outra para melhor definição da realidade da região e identificar a rede de transporte interurbano através da balsa e dos barcos de linha como meio de acesso e abastecimento entre as cidades.

PROCEDIMENTOS METODOLOGICOS

Para o desenvolvimento do projeto foram utilizados procedimentos metodológicos da pesquisa documental e de pesquisa de campo. A pesquisa em questão

teve por base a aplicação de formulários para coleta de dados nas cidades, os quais forneceram dados necessários para compreender a dinâmica urbana dessas cidades a partir da balsa como meio viabilizador do fluxo de transporte interurbano. Tais formulários contêm questões concernentes a relação de propriedade do meio de transporte pesquisado bem como o percurso e os principais entraves que caracterizam o seu fluxo com quantidade de viagens por semana, quantidade de funcionários, quantidade de balsas por dono, número de ramos que trabalha, tipos e volumes de carga e outros, porém percebeu-se com o decorrer da pesquisa que a aplicação de formulários não era viável pois houve certa reação das pessoas contra esse método de coleta, e o próprio funcionamento do sistema mostra a complexidade no pólo naval isso resolvemos utilizar das conversas abertas para coletar os dados necessários. Para o desenvolvimento deste, fez-se uso dos seguintes procedimentos metodológicos: Levantamento bibliográfico e documental daquilo que aborde a temática de forma adequada à realidade atual; Pesquisa de campo nas cidades de Tabatinga, Tefé e Parintins (financiadas pelos projetos CNPq/Universal (Processo nº 475311/2010-8) coordenado pela Profa. Dra. Tatiana Schor e pelo FAPEAM/PRONEX/CNPq coordenado pelo Prof. Dr. José Aldemir de Oliveira) os quais são : • Espacialização dos locais de destinação inicial e final através da balsa; • Aplicação de formulários base com os envolvidos no processo de transporte de balsa; • Identificação, caracterização e localização do fluxo de transporte interurbano através da balsa; • Identificação dos principais produtos transportados pelas balsas e a caracterização das micro-redes urbanas; • Utilização de SIG para a elaboração dos mapas temáticos, edição e plotagem dos dados.

No primeiro semestre de 2011 foram realizados dois campos: um em julho para Parintins com permanência de 10 dias, com uma equipe de 6 estudantes de graduação, 1 pesquisador, 1 mestrando e 1 professor orientador e outro em setembro para a cidade de Tefé com permanência de 10 dias, composto por 2 estudantes de graduação, 3 pesquisadores e 1 professora orientadora, no qual incluímos na pesquisa as cidades de Alvarães e , enquanto que no segundo semestre (2012/01) houve campo em Tabatinga no mês de fevereiro ali permanecendo por 25 dias e um retorno em Tefé no mês de maio para tentar comparar a cidade em dois períodos, em setembro onde a cidade estava no período de seca e em maio período de cheia, inclusive a maior cheia já registrada, para fazer essa comparação, para poder compreender a dinâmica da micro- rede urbana do médio Solimões. No Nepecab, sistematizamos e organizamos o banco de dados com os resultados parciais, iniciamos a revisão bibliográfica, participei das discussões no NTC e preparei o relatório. Com estas atividades realizadas consideramos que conforme o cronograma apresentado no projeto original esta parte está finalizada, cabendo agora uma outra pesquisa a ser realizada nos portos dessas cidades, onde viu-se uma grande falha de logística.

BALSA, O TRANSPORTE DE CARGA E A LOGÍSTICA.

Para Nogueira (1999) um dos principais benefícios do modal hidroviário é que ele já está feito, diferentemente da modalidade rodoviária ou aérea em que sofre ação humana, esse modelo não tende às mudanças físicas bruscas. É cultural e, mesmo que a sociedade busque outros meios de transporte, ainda assim haverá espaço o bastante para o transporte de carga fluvial, “o desperdício de tempo gerado pela baixa acessibilidade no transporte de cargas proporciona significativos aumentos nos custos das organizações que possuem a necessidade de movimentar produtos e insumos na região, pois são forçadas a armazenar mais e mais estoques, elevando assim seus custos, diminuindo a competitividade frente ao mercado” (SIMÕES et al , 2011:121)

e mesmo que sendo considerado lento frente aos outros modais o transporte de carga fluvial compensa sua lentidão com a possibilidade de agregar uma capacidade de carga extremamente volumosa comparando-a, por exemplo, com aviões de pequeno porte, que atendem aos aeroportos dessas regiões. Um problema perceptível ao longo da pesquisa é no trecho de Manaus a Tabatinga (no rio Solimões) onde não se encontram tantas empresas atuando como se vê no trecho Manaus-Parintins (no rio Amazonas), ou seja, o transporte naquela região é mais precário à medida que se distância dos centros urbanos, isso demonstra uma considerável falta de investimento no setor, segundo Simões et al , (2011 p. 290) os investimentos em transporte no Brasil baseiam-se no modal rodoviário, a bacia Amazônica possui cerca de 23km de rios navegáveis e um dos fatores limitantes desta falha é a baixa densidade populacional e de falta de estudos da área.

RESULTADOS

Como resultado da pesquisa se investiu em revisão metodológica e bibliográfica, com a ideia de que a base conceitual da pesquisa influência nos resultados da pesquisa, vale ressaltar que a literatura sobre o transporte na Amazônia é vasto, porém, muitos estudos têm como base e tão somente a economia e, no desenvolvimento regional, sem mencionar o homem que depende diretamente do rio, e como ele, tem essa visão do rio a partir da cidade.

AS CIDADES DE ITACOATIARA E PARINTINS

Localizadas Na margem esquerda do rio Amazonas, as cidades de Itacoatiara e Parintins detêm maior acesso às embarcações, pois além de possuírem um maior fluxo de cargas também detém as maiores populações no estado do Amazonas, depois da capital Manaus, segundo o censo 2010 do IBGE. No que diz respeito ao abastecimento da cidade de Itacoatiara, ligada pela AM-010 a cidade de Manaus, o que influencia no abastecimento da cidade não só por esta razão, mas porque a mesma está situada na

confluência dos rios Madeira e Amazonas, é relevante a necessidade de possuir um terminal de cargas na cidade. Entretanto, o que se percebe na cidade é que mesmo esta importância geográfica não trás a ela a devida atenção. A reclamação de muitas pessoas é que a cidade poderia ser um centro de distribuição para Manaus. Uma vez aportando na cidade, as empresas poderiam levar seus produtos através da rodovia. Do ponto de vista do tempo gasto para realizar o transporte, seria mais vantajoso para o abastecimento da cidade, pois pela estrada a viagem tem duração de apenas 4 horas e pelo rio até Manaus levaria 12 horas. A cidade apresenta característica bem diferente de outras cidades, mesmo tendo um porto em funcionamento, os barcos de passageiros e mercadorias não atracam neste, ficando seu uso apenas para a utilização local de embarcações que abastecem os municípios vizinhos de , Silves, Itapiranga e outros, com produtos como tijolos, onde sua importância é grande não só no sentido de saída de produtos para estas cidades, mas também no consumo dos produtos das mesmas como é o caso de frutas e verduras. Os pequenos agricultores utilizam as feiras e a orla da cidade para vender seus produtos. O abastecimento dos supermercados e lojas é feito por empresas sediadas em Manaus, e estas por causa da rodovia não têm escritórios na cidade, porém o que se percebe é que essas empresas têm grande relevância no comércio local, uma vez que a cidade não é o único destino final dos produtos, afinal eles não são apenas distribuídos para a cidade de Itacoatiara como para o interior no município, comunidades rurais, e para as cidades vizinhas. No caso das feiras, os produtos são trazidos de pequenos produtores das comunidades rurais de Itacoatiara e de Manaus para abastecer o comércio local. O que se percebe é que Itacoatiara está tendo uma maior relevância, diferentemente de outras cidades próximas a Manaus, em que os consumidores vão até aquela cidade para fazer suas compras. Neste caso, Itacoatiara exerce uma importância como cidade pólo para as outras da região. Sua ligação por estrada com Manaus a diferencia das outras cidades, uma vez que o tempo de viagem é menor e os produtos partem diretamente de Manaus, tendo a cidade de Itacoatiara um vínculo maior do que outras pesquisadas. Itacoatiara é atendida por empresas de transporte rodoviário e a

função do rio só aparece quando as outras comunidades vizinhas situadas dentro dos limites de atuação deste município buscam nesta os produtos para abastecer suas comunidades. Mesmo tendo essa ligação rodoviária com Manaus, isso não significa que a cidade esteja de costas para o rio. Possuindo um porto com ligação hidroviária às margens do rio Amazonas e com uma orla extensa, é perceptível o uso dessas margens por pequenas embarcações com o fim de abastecer a cidade de produtos locais e de peixes, deixando assim o porto oficial utilizável apenas para embarcações maiores se abastecerem e levarem diversos produtos a municípios vizinhos. Com isso, observou-se que a utilização de balsas nessa cidade é pouca e talvez por causa da ligação rodoviária ela não tenha função. A cidade de Parintins possui a 2ª maior concentração populacional do Estado do Amazonas (Censo 2010, IBGE) e por isso há significativa concentração de vendas de produtos, estando numa localização centralizada entre Manaus e a cidade de Santarém- PA. Parintins não é somente abastecida por Manaus, mas por Santarém. De acordo com a Secretária Municipal de Produção Rural de Parintins, a cidade é abastecida por comunidades do entorno e passando por Santarém vem produtos do Sudeste e do Centro-oeste. Os produtos que normalmente iriam por Manaus chegam a Parintins diretamente de Santarém, o que torna os produtos, em tese, mais baratos. Parintins tem outra característica que se assemelha a outras cidades: assim como em Itacoatiara, sua orla é utilizada para o atracamento de barcos pesqueiros de pequeno porte, utilizando toda a extensão da orla da cidade para a venda e distribuição de produtos. Por outro lado, diferentemente de Itacoatiara, as feiras têm menos impacto na cidade, um exemplo claro do que acontece em Parintins é a feira do produtor local, onde os feirantes vendem seus produtos do lado de fora do estabelecimento onde funciona a feira, ou no Porto da Francesa, que é um bairro na região do centro da cidade. Isso acontece pelo costume dos consumidores de comprarem diretamente na rua ou na orla da cidade.

O EIXO TEFÉ/ALVARÃES/UARINI

A cidade de Tefé, situada no médio Solimões, está incluída na classificação sugerida pelo NEPECAB como cidade média de responsabilidade territorial, pois agrega funções que extrapolam os limites do município de Tefé. As funções territoriais de Tefé são percebidas em cidades vizinhas como Alvarães e Uarini, motivo pelo qual foram incluídas no trabalho de campo realizado. O funcionamento destas cidades está baseado em duas épocas: a cheia dos rios, quando se aproveita ao máximo o comércio com Manaus, e a seca que transforma a localidade, bloqueando ou dificultando todo o comércio e tornando as cidades ilhas. O comércio é baseado geralmente nas condições de Tefé pois a partir de desta localidade os produtos circulam pela região. Muitos destes produtos chegam à cidade através dos barcos de linhas que realizam fretes. Para muitos comerciantes e feirantes o beneficio do barco de linha é que, além de sair mais barato, também possui dias fixos, diferentemente das balsas que atraem apenas grandes lojas e supermercados, ainda que muitos destes utilizem os barcos para se abastecerem, visto que o maior entrave para muitos dos comerciantes locais, principalmente para os supermercados a estocagem dos produtos é falha. O maior entrave no abastecimento destas cidades e no transporte de passageiros é a falta de porto adequado. Isso faz com que a cidade perca com a falta deste porto e por causa disto o seu comércio tende a continuar dependente dos barcos de linha, aqui chamados também de transporte misto. O caso se agrava no município de Alvarães e, principalmente do Uarini, onde na vazante a cidade costuma ficar ilhada e dependente ainda mais de Tefé. O abastecimento das cidades corresponde, na maioria das vezes, pelo transporte misto, interligando pequenos centros. Porém, percebe-se que este problema está principalmente relacionado a falta de investimentos em portos adequados e na demanda local.

TABATINGA Localizada no alto Solimões, a cidade de Tabatinga é a sétima maior cidade do Estado (Censo IBGE, 2010) e também está inserida na tipologia elaborada pelo NEPECAB como cidade média de responsabilidade territorial, abrangendo cidades como Benjamin Constant e Letícia (Colômbia). Essas características fazem com que

Tabatinga possua importância com relação à demanda (comercialização e distribuição) de produtos. De fato, é certo que a cidade é abastecida pela comunidade local, mas existe um fluxo interurbano, principalmente com relação aos produtos industrializados, tais como gêneros alimentícios e materiais de construção, que correspondem, na maior quantidade, a materiais demandados a Manaus. Considerada pólo regional, autodenominada como capital do Alto Solimões por seus governantes, a cidade teria um porto com grande importância no abastecimento local e de importação de produtos, principalmente para o lado colombiano, o que não ocorre pelo fato de o porto não estar em funcionamento, por problemas estruturais e por haver pouca atuação de empresas logísticas, como foi percebido no trecho de Manaus - Itacoatiara - Parintins, onde há maior atuação das empresas de transportes, claro, por ter uma hidrovia de grande importância. No alto Solimões, principalmente em Tabatinga, a importância da balsa para o abastecimento das cidades revelou-se pequena, os barcos de linha (transporte misto) nos últimos anos, com o melhoramento da estrutura dos barcos e a disponibilização de novas tecnologias, tornou-se possível transportar mais cargas. Isso fez com que algumas cidades, como São Paulo de Olivença e Benjamin Constant, não dependam de Tabatinga exclusivamente, pelo menos na época da cheia dos rios. Por esses motivos é que o uso da balsa no abastecimento dessas localidades vem se tornando menos frequente, como foi verificado em campo. Ademais, os dados obtidos na SNPH/Tabatinga que em comparação entre o ano de 2006 até o primeiro semestre de 2011 mostram que a quantidade de balsas em operação era 14 balsas, em 2006, sendo reduzida ao longo dos anos e chegando a média de 2 balsas, em 2011.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As pesquisas de campo contribuem para o enriquecimento do trabalho, o que possibilita um maior entendimento do assunto e melhor abordagem dos conteúdos relacionados ao abastecimento das cidades no Amazonas e estas pesquisas ocasionam ainda a obtenção in loco dos dados oficiais das cidades.

O uso de balsas vem tornando-se menos frequente. Isso acontece devido a fatores tais como a falta de estrutura portuária adequada aos moldes amazônicos e as políticas públicas para a expansão do uso deste modal. Isso torna o uso da embarcação mista - barcos de linha – com dias e horários fixos, um fator determinante no abastecimento das cidades da calha principalmente no alto Solimões, além de ser o acesso às cidades mais precário em comparação com as cidades de Itacoatiara e Parintins que estão nas hidrovias Amazonas - Madeira. Percebeu-se em campo que, determinados órgãos governamentais não possuem dados completos a respeito do abastecimento das cidades. A problemática da entrada e saída das embarcações, do fluxo de materiais de construção e produtos alimentícios, bem como os dados relativos aos portos pareceram inexistentes ou pouco sistematizados. Dessa forma, além de ter sido verificado que dentre as cidades estudadas, somente Parintins possui porto em funcionamento, foi constatado que não existem dados suficientes, fator este atribuído – segundo informações obtidas em campo – à gestão antecedente. Na análise em questão, percebe-se que não há necessidade em aplicar novas formas de utilização do modal fluvial na calha do Amazonas, modelo este já consolidado. Entretanto, a circulação de determinados tipos de embarcações e consequente mercadorias que abastecem as cidades de Parintins, Tefé e Tabatinga apresenta falhas e gargalos advindos de problemas de planejamento, de falta de estrutura portuária, fiscalização, e até mesmo organização do setor frente a uma demanda cada vez maior, tanto de produtos quanto de passageiros. Tais falhas implicam em sistema precário tanto em termos de transporte de cargas quanto de passageiros.

REFERÊNCIAS

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