boletim paranaense de geociências VolumeVolume 77 75 (2020) (2019) 7: 1: 46-52 1-13

EstadoMapeamento da arte da do suscetibilidade conhecimento dosdas fósseisvertentes e icnofósseis naturais ante adescritos ocorrência na regiãode escorregamentos sudeste do Grupo translacionais Itararé, em um trecho daBacia BR-376, do Paraná através da análise do fator de segurança, PR DHIEGO CUNHA DA SILVA1; CRISTINA SILVEIRA VEGA1; MappingFERNANDO of susceptibility FARIAS of naturalVESELY slopes1 & JENNYFER before the PONTES occurrence CARVALHO of translational PIETSCH landslides1 in a stretch of the BR-376/PR, through the safety factor analysis. 1Departamento de Geologia, Setor de Ciências da Terra, Universidade Federal do Paraná, Curitiba, Brasil [email protected], [email protected], [email protected], [email protected] YULIMAR SUGEY MILLÁN COY1, ANDRÉS MIGUEL GONZALEZ ACEVEDO1, ALBERTO PIO FIORI1

1Universidade Federal do Paraná – UFPR, Paraná – [email protected], [email protected], [email protected]

Resumo O reconhecimento do conteúdo fossilífero de uma unidade geológica é um passo fundamental para compreensão de seus processos. Este trabalho buscou elencar todos os macrofósseis e icnofósseis publicados em periódicos e anais de eventos, queResumo relataram ou descreveram materiais encontrados na porção sudeste do Grupo Itararé. As informações foram obtidas através de pesquisas em bases de dados e consulta a acervos pessoais e de instituições de pesquisa e ensino. Os resultados estãoUma grandeapresentados variedade de acordo de métodos com o vem empilhamento sendo propostos estratigráfico para compreender onde na base e avaliar do Grupo a suscetibilidade Itararé, na Formação das vertentes Campo ante do Tenente,a ocorrência foram de identificadasescorregamentos poucas translacionais, pesquisas, apenasentre eles, discretas os métodos assinaturas determinísticos icnológicas baseadosque necessitam em modelos de pesquisas matemá de- maiorticos são detalhe. muito Para utilizados. Formação O modeloMafra foram matemático registradas empregado assembleias nesta icnológicas pesquisa teve representadas seu foco na principalmente aplicação dos por métodos traços dedeterminísticos artrópodes e comorganismos base na vermiformes.teoria do equilíbrio Além limitede invertebrado para o cálculo como do moluscos Fator de Segurançae escolecodontes. (FS) e espacializaçãoO topo do Grupo dos Itararé,resultados a Formação empregando Rio técnicas do Sul, derepresenta geoprocessamento. a maior diversidade O uso destas fossilífera técnicas do é conjunto,de grande nesta importância Formação na identificaçãoforam relatadas de pesquisasáreas suscetíveis com assembleias a escorregamentos, icnofosilíferas, já que permitemfósseis de a escolecodontes, integração de uma baratas, grande moluscos, variadade plantas, de informações peixes e daesponjas. paissagem, Por fim,tais como este trabalho a topografia, identificou declividade, que a porção parâmetros sudeste físicos do Grupo e mecânicos Itararé apresenta dos solos, uma entre variedade outros, de auxiliando dados fossilíferos na elaboração signifi- cativas,de mapas mas de carecesuscetibilidade de uma sistematização áreas de interesse. dos mesmos, A área de podendo pesquisa ser está melhor localizada explorada em umaem futuros porção trabalhos. do Primeiro Planalto Paranaense, ao longo da rodovia federal BR-376 entre o quilômetro 658+820 m e o quilômetro 660+690 m, onde são ob- Palavras-chave:servadas uma grande Itararé-fauna, quantidade paleozoico, de movimentações glacial e cicatrizes de escorregamentos nas vertentes naturais. Várias dessas movimentações ocorreram após eventos pluviométricos muito fortes que atingiram a região no mês de março do 2011, Abstractcom precipitações acumuladas mensal maior a 700 mm, os quais ocasionaram perjuizos e a interrupção do trafego no Thetrecho recognition da BR-376. of Athe validação fossiliferous do modelo content empregado of a geological foi feita unit através is a fundamental do cruzamento knowledge do inventário towards de understanding escorregamentos its processesrealizado comand products.os mapas deThis Fator paper de aimsSegurança to demonstrate (FS), obtendo-se all the traceuma boafossil correspondencia and macro fossil, na localizaçãopublished in das journals áreas comand periodicals,maior suscetibilidade that reported ante aor ocorrência described de materials escorregamentos found in translacionais.the southeast portion of the Itararé Group. The data were obtained consulting academic data bases and personal and public libraries. The results are organized according to the stratigraphicPalavras-chave: succession, Teoria de inequilibrio the Campo límite, do Tenentemodelos Formation matemáticos, few geoprocessamento.researches have been identified, only discrete ichno- logical signatures that require more detailed research. For Mafra Formation, ichnological assemblies were registered, representedAbstract mainly by traces of arthropods and vermiform organisms. Besides, scolecodonts and mollusk have been re- ported. The top of the Itararé Group, the Formation, represents the greatest fossiliferous diversity of the group, inA widethis Formation variety of researchmethods hashave been been reported proposed with to traceunderstand fossil assemblies,and evaluate fossils the susceptibility of scolecodonts, of the cockroaches, slopes at the mollusks, occur- plants,rence of fish translational and sponges. landslides, Finally, includingthis work theidentified deterministic that the methods southeastern based onportion mathematical of the Itararé models Group are widely presents used. a variety The ofmathematical significant modelfossiliferous used in data, this studybut lacks was systematizationits focus on the applicationof them, and of can deterministic be better explored methods in based future on works. the equilibrium limit theory to calculate the Factor of Safety (FS)and spatial distribution of results using geoprocessing techniques. The use of these techniques is of great importance in identifying areas susceptible to slip, since were allow the integration of a large variety information of landscape, such as topography, slope , physical and mechanical parameters of the soil, among others, aiding in the drafting of susceptibility maps in places of interest. The research area is located in a portion of the First Plateau Paranaense, along the federal highway BR-376 between kilometer 658 + 820 m and kilometer 660 + 690 m, where they observed a lot of drives and scars of landslides on the slopes natural. Several of these movements occurred after strong rainfall events that hit the region in March of 2011, accumulated monthly rainfall greater than 700 mm, which caused damages and stopping traffic on the stretch of the BR-376. The validation of the model used was made by crossing inventory slip performed with Factor of Safety maps (FS), yielding a good match the location of areas with increased susceptibility against the occurrence of slip translational.

Keywords: equilibrium limit theory, mathematical models, geoprocessing.

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Introdução matriz arenosa. Em determinadas localidades são reco- O levantamento bibliográfico sobre os achados fós- nhecidos arenitos amarelados, finos e médios, mal sele- seis de determinadas áreas deve ser periodicamente re- cionados e com estratificação planoparalela à cruzada a visado e atualizado, o que pode colaborar com um me- acanalada. Junto a isso, estrias glaciais também são des- lhor direcionamento de futuras pesquisas. O estudo de critas nessa formação (Schneider et al. 1974). macrofósseis e icnofósseis descritos para o Grupo Itararé A Formação Mafra é constituída principalmente auxiliam na compreensão dos paleoambientes, aspectos por arenitos esbranquiçados, amarelados e vermelhos tafonômicos, distribuição paleogeográfica entre outras de granulação variada, podendo ocorrer arenitos finos, características interpretadas através do estudo de fósseis. bem selecionados com ripples e estratificação plano-pa- Este trabalho apresenta um levantamento bibliográfico ralela. Há também arenitos médios e grossos com estra- dos macrofósseis e icnofósseis descritos até o momento tificação cruzada acanalada, seccionadas com feições de para os estratos das formações Campo do Tenente, Mafra corte e preenchimento. Foram identificados diamictitos, e Rio do Sul, do Grupo Itararé, Bacia do Paraná. conglomerados, ritmitos e argilitos. Sua seção tipo en- contra-se no município de Presidente Prudente (SC), e Contexto geológico possui aproximadamente 350 m de espessura. Estima- Este trabalho apresenta os fósseis descritos para o -se que o contato com a Formação Campo do Tenente Grupo Itararé (Figura 1), esta seção foi estudada por Sch- seja discordante, também há localidades onde o contato neider et al. (1974), que a separou em 4 formações, da é encontrado sob as formações Furnas e Ponta Grossa base para o topo, denominadas Formação Campo do Te- (Schneider et al. 1974).

Figura 1 – Região aflorante (esquerda) e coluna estratigráfica (direita) do Grupo Itararé. Coluna adaptada de Schneider et al. (1974).

nente, Formação Mafra, Formação Rio do Sul e Forma- As rochas da Formação Rio do Sul são caracterizadas ção Aquidauana, sendo que esta última ocorre apenas nos por uma porção basal de folhelhos e argilitos cinza escu- estados de Mato Grosso, Goiás e nordeste de São Paulo. ros, de aspecto rítmico denominados de Folhelho Lon- A Formação Campo do Tenente possui uma espessura tras em e Folhelho Guaraúna no Paraná. de aproximadamente 200 m em sua área tipo, estenden- A parte superior da Formação Rio do Sul é constituída do-se da cidade de São Bento do Sul (SC) até o arco de de arenitos finos e diamictitos, folhelhos, ritmitos e ar- Ponta Grossa (PR). Seus litotipos são caracterizados por gilitos. Em sua área tipo, a Formação Rio do Sul atinge argilitos castanho-avermelhados, com laminação plano- até 350 m de espessura, diminuindo gradativamente em -paralela. Também são descritos ritmitos e diamictitos de direção ao norte. O contato inferior com a Formação Ma-

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fra é concordante, sendo que na porção sudeste de Santa presentes nesta formação são: Cruziana problematica, Catarina o estrato ocorre sobre o embasamento. O con- Diplichnites gouldi, Diplopodichnus biformis, Pro- tato superior com a Formação Rio Bonito é concordante, tichnites isp., Cochlichnus anguineus, Gordia arcuata, exceto à nordeste do Paraná e São Paulo. Gordia marina, Hormosiroidea meandrica, Rusophycus Outro trabalho de grande importância para compre- carbonarius, Undichnia consulca, Helminthoidichnites ensão dos processos deposicionais do Grupo Itararé foi tenuis, Treptichnus pollardi. a pesquisa de França & Potter (1988). Os autores se Ricetti & Weinschutz (2011) relataram a ocorrência utilizaram de correlações de perfis de poços profundos, de fósseis de escolecodontes para o intervalo médio da para sugerir que o Grupo Itararé fosse subdividido em Formação Mafra. De acordo com os autores, os fósseis 3 diferentes formações: Formação Lagoa Azul, Forma- encontrados podem pertencer ao gênero Paulinites, e ção Campo Mourão e Formação Taciba, da base para possivelmente a Paulinites paranaensis e Paulinites po- o topo. É relevante citar as descrições realizadas por lonensis. Porém, o baixo nível de preservação das amos- França & Potter (1988), pois alguns autores utilizam de tras dificulta inferências mais acuradas. suas nomenclaturas quando referidos às formações do Trabalhos preliminares como de Neves et al. (2017), Grupo Itararé. relataram a ocorrência dos táxons Biconvexiella roxoi, Quinquenella rionegrensis?, Lingula imbituvensis, e Or- Materiais e métodos biculoidea guaraunensis. Outro trabalho em fase inicial Esta pesquisa foi realizada mediante levantamento bi- elencou a presença de gastrópodes para a Formação Ma- bliográfico e análise documental em bancos de dados on- fra, Torcate et al. (2013), demonstraram a ocorrência des- line do GeoScienceWorld e ScienceDirect, buscando to- ses invertebrados e os classificaram como pertencentes a dos os trabalhos que abordavam o tema “Grupo Itararé”, Família Bucanellidae. “Formação Rio do Sul”, “Formação Mafra”, “Formação A Formação Rio do Sul é a mais rica em conteúdo Campo do Tenente”, “Formação Taciba”, “Formação paleontológico dos estratos do Grupo Itararé. Entre os Campo Mourão” e “Formação Lagoa Azul”, também fo- icnofósseis relatados, diversos trabalhos já descreveram ram procuradas as mesmas terminologias em inglês. traços fósseis encontrados em seus estratos (Dias-Fabrí- Além disso, foram consultados pesquisadores da cio & Guerra-Sommer 1989; Marques-Toigo et al. 1989; área buscando bibliografias que nem sempre se encon- Nogueira & Netto 2001a, b; Corrêa et al. 2014; Lima et tram em bancos de dados eletrônicos. Frente aos resul- al. 2015, 2017). tados foram analisados 23 trabalhos que abordam dis- De acordo com Nogueira & Netto (2001a, b), Lermen cussões referentes à paleontologia de macro/icnofósseis (2006) e Lima et al. (2015), na Formação Rio do Sul fo- do Grupo Itararé. ram descritos os seguintes icnofósseis: Cruziana prob- lematica, Diplichnites gouldi, Diplopodichnus biformis, Resultados Glaciichnium liebegastensis, Gluckstadtella elongata, Os fósseis e icnofósseis aqui demonstrados serão Helminthoidichnites tenuis, Mermia carickensis, Proto- apresentados de acordo com a formação em que foram virgularia dichotoma, Treptichnus pollardi, Umfolozia encontrados, da base para o topo. A Formação Campo sinuosa, Kouphichnium isp., Maculichna varia, Nereites do Tenente (base) apresenta uma baixa representativi- isp., Protichnites isp., Cruziana isp., Rusophycus isp. e dade fossilífera. Durante as etapas desta pesquisa, não Tonganoxichnus isp. foram encontrados trabalhos publicados em periódicos Assim como o entendimento do contexto icnológico relatando macrofósseis ou icnofósseis para esta seção. As da Formação Rio do Sul pode auxiliar nas interpretações únicas pesquisas apresentadas para a Formação Campo paleoambientais, estudar o conjunto de macrofósseis do Tenente foram as de Antunes & Vesely (2016, 2017) também contribui no esclarecimento dos ambientes pre- que sugerem a ocorrência de MISS (microbially induced téritos. A Formação Rio do Sul, contém o acervo fossilí- sedimentary structures) para as rochas destes estratos. De fero mais significativo do Grupo Itararé. Entre os fósseis, acordo com Noffke et al. (2001), essas estruturas são re- podem ser identificados fósseis vegetais, vertebrados e sultantes da interação de cianobactérias com o sedimento, invertebrados. onde esses organismos secretam um muco que interage Ricetti & Weinschutz (2011) relataram a presença de com os agentes físicos do meio, como erosão e transpor- elementos escolecodontes para a base da Formação Rio te, alterando assim as características de deposição. do Sul, mas da mesma forma que as amostras encontradas A carência de estudos paleontológicos para esta seção na Formação Mafra, o baixo nível de preservação impede dificulta a sugestão mais precisa de características paleo- inferências precisas. Mouro et al. (2014) demonstraram a ambientais. Neste caso, espera-se que futuros trabalhos ocorrência de esponjas Hexactinellida, com alto grau de possam ser realizados para contribuir com essa lacuna, e preservação e a partir de análises tafonômicas, Mouro et assim novas inferências possam ser feitas. al. (2017) sugeriram um ambiente de deposição marinho O conteúdo fossilífero da Formação Mafra é distri- distal para o Folhelho , local onde foram encon- buído entre uma baixa representatividade de fósseis, e tradas as estruturas. icnofósseis de relativa diversidade e alto nível preser- Outro fóssil de invertebrado foi elencado por Mouro vacional. O conteúdo icnofossilífero desta formação et al. (2016), os autores demonstraram evidências de ca- é constituído de trilhas de artrópodes e escavações de sulos de Trichoptera, preservados na mesma localidade organismos vermiformes, de acordo com Balistieri et onde foram descritos os fósseis de esponjas. A preser- al. (2002, 2003) e Netto et al. (2009), os icnotáxons vação destas estruturas possibilita interpretações de um

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meio de baixa energia, além de auxiliar no entendimento ção Rio do Sul (Grupo Itararé) e base do Grupo Guatá. do contexto evolutivo destes organismos. No mesmo estudo, os autores comentam a presença de Ainda sobre fósseis de estruturas frágeis, Ricetti et al. outros táxons presentes para a mesma seção supracitada, (2016), apresentaram um inseto descrito como Anthraco- como: folhas de Glossopteris communis, Gangamopteris blattina mendesi. Na mesma pesquisa os autores relatam sp. e Cordaites sp., pequenos caules de Paracalamites, a ocorrência de outros táxons (Anthracoblattina oliveirai, além de material foliar referente ao gênero Phyllotheca Phyloblatta roxoi, Phyloblatta pauloi, Phyloblatta som- e Stephanophyllites. Na mesma localidade onde são rela- meri, Anthracoblattina langei, Anthracoblatinna mende- tados estes espécimes, foram identificados, poucos centí- si, Irajanarkemina rodendorfi, Cacurgulopsis sanguinet- metros abaixo, amostras de Gangamopteris, Glossopteris tiae, Pintopinna martinsnetoi, Proedischia mezzalirai, e Cordaites, e estruturas foliares de Botrychiopsis. Carpenteroptera onzii, Carpenteroptera rochacamposi e Recentemente, Bernardes-de-Oliveira et al. (2016) Taiophlebia niloriclasodae) que foram descritos para a elencaram cinco sucessões ecológicas da macroflora do Formação Rio do Sul. Cisuraliano, do estado de São Paulo, esses conjuntos fo- Entre as estruturas de invertebrados, a ocorrência de ram elencados para a Formação Rio do Sul do estado de moluscos fósseis foi descrita por Simões et al. (2012), São Paulo. A primeira sucessão foi registrada no muni- Neves et al. (2014) e Taboada et al. (2016) para Forma- cípio de Campinas, onde foram reportadas associações ção Taciba, seção equivalente a Formação Rio do Sul de de Dwykea-Sublagenicula-Calamospora, compostos por Schneider et al. (1974). O estudo deste grupo de orga- megásporos de licófitas (Sublagenicula, Trileites e Cal- nismos pode auxiliar no entendimento do paleoambiente, amospora sp.) e algumas briófitas (Dwykea). Esse con- da bioestratigrafia e da paleoecologia. Neste contexto, junto florístico indica um ambiente glacial costeiro ou Simões et al. (2012) descreveram os táxons Myonia ar- interglacial costeiro. gentinensis e Aviculopecten multiscalptus e Neves et al. Na segunda sucessão descrita por Bernardes-de- (2014) descreveram e revisaram 19 espécies, entre elas -Oliveira et al. (2016), os fósseis foram coletados na Myonia argentinensis, Atomodesma (Aphanaia) orbiru- cidade de Itapeva e Buri, onde foram identificadas asso- gata e Heteropecten paranaensis. A descrição deste ma- ciações de Eusphenopteris-Nothorhacopteris-Botrychi- terial possibilitou inferência de diversos paleoambientes opsis, composta por Eusphenopteris, Nothorhacopteris, e analises bioestratigráficas sugeriram idade Asseliana Botrychiopsis, Paracalamites spp. em conjunto com para os depósitos onde foram coletados os fósseis. Sphenophyllum, Koretrophyllites, Noeggerathiopsis e Em um contexto similar ao citado acima, Taboada et raramente Cordaicarpus e Samaropsis. O registro dessa al. (2016) estudaram os braquiópodes presentes nos es- flora sugere ambiente de planície deltaica interglacial a tratos da Formação Taciba. Os autores descreveram Ly- terrenos pantanosos, de baixas temperaturas. onia rochacamposi, Langella imbituvensis, Streptorhyn- O terceiro conjunto, elencado pelos autores supracita- chus sp., Cyrtella sp., Tomiopsis sp. cf. T. harringtoni, dos, foi coletado na localidade de Monte Mor, registrando Quinquenella rionegrensis e Biconvexiella roxoi. O estu- a primeira aparição de coníferas para a Bacia do Paraná. do destes materiais possibilitou correlações bioestratigrá- Essa associação foi denominada Paranocladus-Ginkgo- ficas com a Bacia Sauce Grande-Colorado, na Argentina, phyllum-Brasilodendron. Composta por Paranocladus, sugerindo um intervalo bioestratigráfico do Asseliano Paranospermum e algumas Buriadia, além de licófitas inicial ao Sakmariano. E análises paleoambientais de- (Brasilodendron, Bumbudendron), Ginkgophyllum, No- monstraram um ambiente marinho. eggerathiopsis, Samaropsis e Cordaicarpus e raramen- Além disso, outros trabalhos com resultados preli- te Nothorhacopteris, Botrychiopsis, Koretrophyllites minares apresentaram braquiópodes e amonóides para a e Sphenophyllum. Essa sucessão foi interpretada como base da Formação Rio do Sul. Neves et al. (2017), rela- presente em planícies deltaicas interglaciais. taram a ocorrência dos táxons Biconvexiella roxoi, Quin- A quarta sucessão foi encontrada na cidade de quenella? sp., Beecheria? sp., Langella imbituvensis e Salto, e foi classificada como Dwykea-Sublagenicu- Orbiculoidea guaraunensis para o Folhelho Lontras e la-Calamospora, composta por briófitas (Dwykea), recentemente Weinschütz et al. (2018), relataram a pri- megásporos de licófitas, similares à primeira seção. O meira ocorrência de amonóides para o estratos glaciais ambiente de formação desta flora era majoritariamente da Formação Rio do Sul. formado por costas glaciais ou interglaciais com vege- O registro da flora em ambientes glaciais pode servir tações do tipo tundra. como uma ferramenta de alto potencial quando se trata A última sucessão foi coletada nos municípios de de análises de cunho paleoambiental. Embora os traba- Tietê e Cerquilho, onde foram encontradas folhas de lhos atuais auxiliem nessas observações, no Grupo Ita- Glossopteris e possivelmente as primeiras formas com raré pouco material macroflorístico é conhecido, grande estruturas reprodutivas da Bacia do Paraná. O conjun- parte destes espécimes foi reconhecida para os estratos to foi denominado associação Gangamopteris-Arbe- do estado de São Paulo, esses depósitos são admitidos ria-Stephanophyllites. Nesta seção foram descritos os como pertencentes ao grupo Itararé, mas ainda há diver- táxons Gangamopteris, Arberia, Arberiopsis e Hir- gências sob seu posicionamento estratigráfico, neste tra- sutum, além de esfenófitas como Stephanophyllites balho esses afloramentos foram admitidos como correla- e Phyllotheca. O paleoambiente dessa localidade foi tos a Formação Rio do Sul. descrito como uma costa progradacional ou aluvial em Souza & Iannuzzi (2016) descreveram a ocorrência um meio interglacial, registrando o final dos processos do gênero Ottokaria para os estratos do topo da Forma- sedimentares do Grupo Itararé.

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Figura 2 – Exemplo de diversidade e alto nível de preservação de fósseis do Grupo Itararé. Coluna estratigráfica adaptada de Schneider et al. (1974).

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O estudo de vertebrados fósseis também colabora Campo do Tenente apresenta um potencial preservacional para o entendimento do contexto paleoambiental, paleo- de grande importância, porém é notável que devido ao biogeográfico e bioestratigráfico dos depósitos -glacio baixo número de pesquisas realizadas para esta seção, as gênicos do Grupo Itararé. Os principais estudos focados publicações são baixas comparada a outras formações. neste contexto são os trabalhos de Malabarba (1988), Ha- Os estratos da Formação Mafra compartilham do mesmo mel (2005), Wilner (2014) e Wilner et al. (2016). sintoma, porém é visível que o número de trabalhos tem Um dos trabalhos pioneiros para descrição de orga- aumentado com o passar do tempo. Quanto à Formação nismos vertebrados foi o de Malabarba (1988) que apre- Rio do Sul, diversas pesquisas já realizadas e outras em sentou um novo gênero de Actinopterygii basal, denomi- desenvolvimento demonstram que o Grupo Itararé é uma nado Santosichthys mafrensis, proveniente do Folhelho das seções mais relevantes da Bacia do Paraná em relação Lontras, base da Formação Rio do Sul. Posteriormente a estudos paleontológicos, frente sua alta diversidade de Hamel (2005) descreveu um novo peixe Actinopterygii fósseis preservados e qualidade do mesmo. do mesmo afloramento e o denominou de Roslerich- Os trabalhos de cunho paleontológico sobre os fósseis thys riomafrensis. Infelizmente o local de origem destas do Grupo Itararé provem de longa data. Porém a siste- amostras não se encontra mais disponível, devido a pro- matização desses dados nunca ocorreu de forma clara, os cessos erosivos e de ocupação do afloramento. achados paleontológicos sempre são citados em pesquisas Wilner (2014) e Wilner et al. (2016) elaboraram tra- de cunho geológico ou fragmentados em trabalhos de es- balhos mais recentes sobre novos vertebrados fósseis pecíficos de determinados grupos fósseis. A diversidade de provenientes do Folhelho Lontras. Nessas pesquisas, os fósseis encontrada para área onde esta pesquisa foi aplica- autores descreveram elementos conodontes gondolelí- da é vasta e o nível de preservação de certos espécimes se deos pertencentes ao gênero Mesogondolella, táxons de destaca entre fosseis de idade similar (Figura 2). importância bioestratigráfica que posiciona o Folhelho A constante pesquisa nos afloramentos do Grupo Lontras dentro do Cisuraliano, além de colaborar com Itararé vem resolvendo problemas antigos quanto a in- interpretações paleoambientais, pois este gênero é en- tepretações divergentes sobre ambientes pretéritos e cor- contrado em rochas formadas em ambientes marinhos de relações bioestratigráficas. Sendo assim, é visível que no baixa temperatura. passar dos anos novos trabalhos possam contribuir para o esclarecimento de antigas problemáticas. Discussões e conclusões Por fim, elenca-se a necessidade de mais estudos A partir dos dados obtidos neste levantamento é possí- sistematização dos achados fósseis aplicados ao Grupo vel visualizar a carência de estudos paleontológicos aplica- Itararé, a fim de obter uma maior resolução acerca deste dos aos estratos mais basais da Grupo Itararé. A Formação intervalo de tempo.

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