As Plantas Tóxicas Das Escolas, Jardins E Parques De Coimbra*
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Bol. R. Soc. Esp. Hist. Nat., 112, 2018: 35-45 As plantas tóxicas das escolas, jardins e parques de Coimbra* Las plantas tóxicas de las escuelas, jardines y parques de Coimbra Poisonous plants in schools, gardens and parks at Coimbra Natacha Catarina Perpétuo1, Maria da Graça Campos2, Paulo Renato Trincão1,3 & António Pereira Coutinho1 1. Centro de Ecologia Funcional, Departamento de Ciências da Vida da Universidade de Coimbra, Calçada Martim de Freitas, 3000-456 Coimbra, Portugal. [email protected]. 2. Centro de Química de Coimbra, Departamento de Química da Universidade de Coimbra, Rua Larga, 3004-535 Coimbra, Portugal. 3. Exploratório – Centro Ciência Viva Coimbra, Rotunda das Lages, Parque Verde do Mondego, 3040- 255 Coimbra, Portugal. Recibido: 5 de octubre de 2017, Aceptado: 2 de abril de 2018. Publicado electronicamente: 20 de diciembre de 2018. PALAVRAS-CHAVE: Crianças, Coimbra, Escolas, Jardins e Parques, Plantas Tóxicas. PALABRAS CLAVE: Coímbra, Escuelas, Jardines y Parques, Niños, Plantas Tóxicas. KEY WORDS: Children, Coimbra, Gardens and Parks, Schools, Poisonous Plants. RESUMO Vivemos num meio repleto de plantas perigosas, encontrando-se frequentemente espé- cies tóxicas em escolas, jardins, parques, assim como nas habitações e locais de trabalho e/ou lazer. Apesar desta exposição diária, existe uma grande lacuna de conhecimento acerca delas e dos riscos que representam para a saúde, nomeadamente das crianças. Uma planta tóxica define-se como aquela que pode provocar lesões internas ou externas, a seres humanos ou animais, em caso de ingestão, contacto ou inalação de uma quantidade re- lativamente baixa de alguma(s) das suas partes. Este trabalho pretende promover a literacia científica e a compreensão pública da temáti- ca das plantas tóxicas, sobretudo em contextos urbanos, onde o conhecimento empírico destas plantas é mais limitado. O projecto dividiu-se em duas fases: Parte I) identificação das plantas perigosas presentes em escolas e espaços verdes de Coimbra – através de visitas aos locais para observação, registo fotográfico e identificação das espécies de plantas venenosas encontradas, comparando também com a análise de literatura específica; Parte II) desenvolvimento de material de educação e di- vulgação científica e implementação de iniciativas de promoção da literacia científica e compre- ensão pública das plantas tóxicas. Pretende-se, assim, contribuir para diminuir os acidentes causados pela exposição indevida a estas plantas, especialmente ao nível pediátrico. RESUMEN Vivimos en un ambiente repleto de plantas peligrosas, encontrándose especies tóxicas en escuelas, jardines, parques, así como en el hogar, lugares de trabajo y/o ocio. A pesar de esta exposición diaria, existe una gran laguna de conocimiento acerca de ellas y de los riesgos que representan para la salud, especialmente de los niños. Una planta tóxica es aquella que puede provocar lesiones internas o externas, a humanos o animales, en caso de ingestión, contacto o inhalación de una cantidad relativamente baja de alguna(s) de sus partes. Este trabajo pretende promover la alfabetización científica y la comprensión pública de las plantas tóxicas, sobre todo en contextos urbanos, donde el conocimiento de estas es más limitado. * Presentado en la XXII Bienal de la RSEHN, Coímbra, 2017 doi: 10.29077/bol/112/ce04_perpetuo ISSN: 2659-2703 -35- PERPÉTUO, N.C., CAMPOS, M.G., TRINCÃO, P.R. & COUTINHO, A.P. El proyecto se divide en dos fases: Parte I) inventario de las plantas peligrosas presentes en escuelas y espacios verdes de Coimbra – a través de visitas a los locales para observación, registro fotográfico e identificación de las especies venenosas y análisis de literatura; Parte II) desarrollo de material educativo e implementación de iniciativas de promoción de la alfabetiza- ción científica y comprensión pública de las plantas tóxicas. Se pretende contribuir así a disminuir los accidentes causados por la exposición indebida a estas plantas, especialmente a nivel pediátrico. ABSTRACT We live in an environment full of dangerous plants, often with poisonous species in schools, gardens and parks, as well as in homes and places of work and/or recreation. Despite this daily exposure, there is a large gap in knowledge about them and the risks they pose to health, par- ticularly for children. A poisonous plant is defined as one that can cause internal or external injury, to humans or animals, in case of ingestion, contact or inhalation a relatively low amount of some of its parts. This work intends to promote scientific literacy and public understanding of poisonous plants, especially in urban contexts, where the empirical knowledge of these plants is more limited. The project is divided in two phases: Part I) survey of dangerous species of plants present in schools and green spaces of Coimbra – through visits to sites for observation, photographic registration and identification of poisonous species found and analysis of specific literature; Part II) development of educational material and implementation of initiatives to promote scientific literacy and public understanding of poisonous plants. The aim is to help reduce the accidents caused by the imprudent exposure to these plants, especially at the pediatric level. 1. INTRODUÇÃO Uma planta tóxica é, geralmente, definida como aquela que pode provocar lesões internas ou externas, a seres humanos ou animais, em caso de ingestão, contacto ou inalação de uma quantidade relativamente baixa de alguma(s) das suas partes (ex.: raí- zes, caules, folhas, flores, frutos, sementes, etc.). Estas plantas encontram-se represen- tadas mundialmente, destacando-se, entre milhares de espécies, de maior ou menor toxicidade, cerca de 1400 muito perigosas para humanos e/ou animais domésticos, de cativeiro ou selvagens (CROSBY, 2004; WINK & VAN WYK, 2008). O perigo destas plantas para os seres humanos, tanto por ingestão como através do contacto, não pode ser subestimado (CROSBY, 2004; FROHNE & PFÄNDER, 2005; WINK & VAN WYK, 2008). Com efeito, em muitos países, uma significativa percentagem das intoxicações é provocada por plantas, sendo anualmente notificados inúmeros casos de envenenamentos vegetais aos diversos Centros Antiveneno mundiais. A título de exemplo, no período compreendido entre 2005 e 2010, foram reportados à American Association of Poison Control Centers aproximadamente 60 mil casos/ano de intoxicações vegetais, sendo que 68-77% corresponderam a intoxicações pediátricas (BRONSTEIN et al., 2011; GORDON & EDDLESTON, 2013; LAI et al., 2006). Os envenenamentos por plantas podem ocorrer intencional ou acidentalmente, sendo que a principal causa de fitoenvenenamento fortuito se deve ao desconheci- mento do efeito real dos seus compostos tóxicos e, consequentemente, da sua peri- gosidade. Apesar da maioria das situações resultar da ingestão involuntária de plantas tóxicas por crianças, as intoxicações vegetais em adultos são também significativas (CAMPOS & CUNHA, 2001). Adicionalmente, existem diversas famílias vegetais com ele- vado número de espécies alergénicas (Anacardiaceae, Apiaceae, Araliaceae, Asteraceae, Cupressaceae) ou irritantes (Alliaceae, Araceae, Brassicaceae, Euphorbiaceae) que po- dem provocar dermatites de contacto ou outras complicações (CROSBY, 2004). O uso alimentar e a automedicação com plantas medicinais costumam ser as causas mais frequentes de envenenamento acidental em adultos – nomeadamente as confusões entre plantas, as sobredosagens ou as interacções medicamentosas – assim como a sua utilização voluntária com objectivos suicidas ou homicidas (CAMPOS & CUN- HA, 2001). Por sua vez, no que concerne aos envenenamentos pediátricos, verificou-se que essas situações ocorrem, maioritariamente, em casa, jardins e escolas, o que sugere que resultam de uma exposição acidental decorrente da grande disponibilidade de plantas – incluindo espécies tóxicas – nesses locais (FROHNE & PFÄNDER, 2005; NELSON et al., 2007). O conhecimento científico na área da Botânica, nomeadamente das plantas ve- nenosas, necessita de maior divulgação junto da sociedade. Assim, o reconhecimento -36- Comunicaciones especializadas AS PLANTAS TÓXICAS DAS ESCOLAS, JARDINS E PARQUES DE COIMBRA dos riscos sociais e a identificação das espécies tóxicas do nosso quotidiano é urgente, permitindo um adequado e célere atendimento hospitalar. Ao contrário de países como o Brasil (BOCHNER et al., 2013), a Bélgica (JARDIN BOTANIQUE NATIONAL DE BELGIQUE & CENTRE ANTIPOISONS, 2002), a Itália (BULGARELLI & FLA- MIGNI, 2010) ou o Reino Unido (DAUNCEY, 2010), que privilegiam os estudos e a literacia científica nesta área, em Portugal foram publicados poucos trabalhos sobre este tema, quer ao nível da identificação das espécies mais frequentes (CAMPOS & CUNHA, 2001), quer promovendo a compreensão pública dos seus riscos sociais. Esta situação reforça a importância da promoção da cultura científica da sociedade, através do desenvolvi- mento de iniciativas de comunicação de ciência em museus, centros de ciência, jardins botânicos e públicos, espaços privilegiados para estas actividades (REIS et al., 2014). Embora a definição de literacia científica não seja consensual internacionalmente e tenha evoluído ao longo dos anos, GRANADO & MALHEIROS (2015) explicam-na como a capacidade que cada um de nós deve ter para ler a ciência que se encontra à nossa volta, seja nas notícias dos jornais, nas bulas dos medicamentos, nas informações trans- mitidas pelos médicos ou nos conselhos de consumo. Ou seja, é a capacidade que todos os cidadãos