Relatório de Estágio profissionalizante realizado no escalão sénior de futebol do Clube

de Albergaria

Miguel Sequeira Fernandes

Porto, 2019

Relatório de Estágio profissionalizante realizado no escalão sénior de futebol do Clube de Albergaria

Relatório de Estágio apresentado com vista à obtenção do 2º ciclo em Treino Desportivo, especialização em Treino de Alto Rendimento, da Faculdade de Desporto da Universidade do , ao abrigo do Decreto-Lei nº 74/2006, de 24 de março, na redação dada pelo Decreto-Lei nº 65/2018 de 16 de agosto.

Orientador: Professor Doutor António Natal Campos Rebelo

Miguel Sequeira Fernandes

Porto, 2019

FICHA DE CATALOGAÇÃO

Fernandes, M. S. (2019). Relatório de Estágio profissionalizante realizado no escalão sénior do Clube de Albergaria. Porto: M. Fernandes. Relatório de estágio profissionalizante para a obtenção do grau de Mestre em Treino de Alto Rendimento, apresentado à Faculdade de Desporto da Universidade do Porto.

Palavras-chave: RENDIMENTO, TREINO, PERIODIZAÇÃO, PLANEAMENTO, FEMININO AGRADECIMENTOS

A elaboração deste relatório de estágio apenas foi possível graças ao apoio de diversas pessoas e instituições, às quais tenho de exprimir os meus agradecimentos.

À Faculdade de Motricidade Humana e à Faculdade de Desporto da Universidade do Porto.

Ao meu orientador de estágio Professor Doutor António Natal Campos Rebelo pelo seu apoio, disponibilidade e profissionalismo.

Às pessoas do Clube de Albergaria por receber de braços abertos alguém que não conheciam.

Aos meus colegas de equipa técnica pela partilha de conhecimentos, com um agradecimento especial à Paula.

Aos jogadores com quem tive a oportunidade de aprender e partilhar todos os momentos desta e de outras épocas.

Ao Carlos Fernandes, fundamental para o meu começo desportivo como treinador e sempre presente desde aí. O meu ídolo. Não tenho palavras para te agradecer.

Aos meus colegas de equipas técnicas anteriores, que me proporcionaram diariamente momentos de aprendizagem tão diferentes e imprescindíveis. A vocês, Luís Ramalho, Marco Sousa, Stefano Sousa, João Pinto, Vítor Martins, Bruno Rodrigues, João Oliveira, Nuno Amieiro, Gonçalo Santos, Renato Vieira e Nuno Silva fica o meu sincero agradecimento e o desejo de amizade eterna.

Ao Eduardo Coelho, pela partilha de saberes e conhecimento numa procura de certezas que muitas vezes não encontramos. Continuará assim!

Ao Eduardo Silva, ao Jorge Canuto, à Marta Sampaio, ao Higino Caldeira, ao David Móia, ao António Pedroso e ao João Gonçalves, amigos que fiz durante o meu percurso académico e me ajudaram a concluir várias das suas etapas. Ao Francisco Martins, o meu amigo de sempre, pela amizade que conseguimos preservar. Que nunca acabe.

Ao José Silva, ao Gonçalo Vergueiro, ao Rui Miranda, ao Tiago Filipe, à Oleksandra Zabolotnya, à Mariana Santos, à Ana Cunha, à Cátia Nascimento, à Ana Batista, ao Daniel Costa, ao Diogo Almeida, à Mafalda Dourado, ao Lucas Silva e ao Daniel Pereira porque me ajudaram a ser melhor pessoa e me apoiaram em diferentes momentos da minha vida. Sei que estarão sempre a torcer por mim.

À Daniela, pessoa que tem sido o meu suporte em todos os momentos e por sempre me fazer sentir que tudo irá correr e acabar bem.

Aos meus pais, irmão e todos os meus familiares que sempre me motivaram e possibilitaram chegar ao fim desta importante etapa da minha vida.

ÍNDICE GERAL

ÍNDICE DE FIGURAS ...... 5

ÍNDICE DE TABELAS ...... 7

RESUMO...... 9

ABSTRACT ...... 11

LISTA DE ABREVIATURAS E SÍMBOLOS ...... 13

Capítulo I – Introdução ...... 15

1.1. O treinador de Alto Rendimento ...... 16

1.2. Finalidade do Relatório de Estágio ...... 17

1.3. Estrutura do Relatório de Estágio ...... 17

Capítulo II – Contextualização da Prática ...... 19

2.1. Enquadramento Histórico ...... 20

2.2. Caracterização da Instituição ...... 22

2.3. Caracterização da Equipa Técnica ...... 23

2.4. Recursos físicos e materiais ...... 26

Capítulo III – Desenvolvimento da Prática ...... 27

3.1. Objetivos e expetativas individuais ...... 28

3.2. Caracterização do Plantel ...... 29

3.2.1. Caracterização geral do Plantel ...... 31

3.2.2. Caracterização Guarda-Redes ...... 31

3.2.3. Caracterização do Setor Defensivo ...... 31

3.2.4. Caracterização do Setor Médio...... 32

3.2.5. Caracterização do Setor Atacante ...... 32

3.2.6. Alterações ao plantel durante a época ...... 33

3.3. Objetivos de performance e parcelares do treino...... 33

3.3.1 Revisão da Literatura ...... 33

1

3.3.2. Objetivos de performance e de preparação para o escalão sénior do CA ...... 35

3.4. Modelo de Jogo ...... 37

3.4.1. Revisão da Literatura ...... 37

3.4.2. Modelo de Jogo do escalão sénior do CA ...... 39

3.4.2.1. Terreno de Jogo ...... 39

3.4.2.2. Estrutura Tática ...... 40

3.4.2.3. Princípios do Modelo de Jogo Adotado ...... 42

3.4.2.3.1. Processo Ofensivo ...... 42

3.4.2.3.1.1. Organização Ofensiva ...... 42

3.4.2.3.1.2. Transição Ofensiva ...... 51

3.4.2.3.2. Processo Defensivo ...... 52

3.4.2.3.2.1. Organização Defensiva ...... 52

3.4.2.3.2.2. Transição Defensiva ...... 54

3.4.2.3.3. Esquemas Táticos ...... 55

3.4.2.3.3.1. Lançamento de linha lateral ofensivo ...... 55

3.4.2.3.3.2. Cantos ofensivos ...... 56

3.4.2.3.3.3. Cantos defensivos ...... 57

3.5. Modelo de Treino ...... 57

3.5.1. Revisão da Literatura ...... 57

3.5.1.1. A Periodização ...... 58

3.5.1.1.1. Período Preparatório ...... 59

3.5.1.1.2 Período Competitivo ...... 61

3.5.1.2. O exercício ...... 66

3.5.2. Modelo de treino do escalão sénior do CA ...... 67

3.5.2.1. Período Preparatório do escalão sénior do CA ...... 67

2

3.5.2.2. Período Competitivo do escalão sénior do CA ...... 75

3.6. Reflexões ...... 83

3.6.1. Agosto ...... 83

3.6.2. Setembro ...... 85

3.6.3. Outubro ...... 89

3.6.4. Novembro ...... 92

3.6.5. Dezembro ...... 93

3.6.6. Janeiro ...... 97

3.6.7. Fevereiro ...... 99

3.6.8. Março ...... 101

3.6.9. Abril ...... 103

3.6.10. Maio ...... 104

3.7. Balanço final da época ...... 105

Capítulo IV - Desenvolvimento Profissional ...... 107

4.1. A Periodização ...... 108

4.2. O Processo de treino ...... 112

4.3. A Intervenção do treinador no treino ...... 113

4.4. A Liderança ...... 115

4.5. As decisões técnico-táticas na otimização do rendimento coletivo ... 119

Capítulo V - Conclusão ...... 121

Referências Bibliográficas ...... 125

3

4

ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1 - Divisão do Terreno de Jogo em corredores ...... 39 Figura 2 - Divisão do Terreno de Jogo em setores ...... 39 Figura 3 - Estrutura Tática ...... 41 Figura 4 - MJA - Fase Construção - Bola na GR ...... 44 Figura 6 - MJA - Fase Construção - Bola na DC ...... 45 Figura 5 - MJA - Fase Construção - Bola na DC ...... 45 Figura 8 - Fase Criação ...... 47 Figura 7 - Fase Criação ...... 47 Figura 9 - Início Fase Criação – Bola na AC ...... 48 Figura 10 - Início Fase Criação - Bola na Ext ...... 49 Figura 11 - Fase Finalização - Posicionamento ideal para cruzamento ...... 51 Figura 12 - Organização Defensiva - Bola no corredor lateral ...... 53 Figura 13 - Organização Defensiva - Bola fora do bloco defensivo ...... 53 Figura 14 - Organização Defensiva - Bola na GR adversária ...... 54 Figura 15 - Esquemas Táticos - Lançamento de Linha Lateral Ofensivo ...... 55 Figura 16 - Esquemas Táticos - Cantos Ofensivos ...... 56 Figura 17 - Unidade Treino 1 - Microciclo 1 – Período Preparatório ...... 70 Figura 18 - Unidade Treino 2 - Microciclo 1 – Período Preparatório ...... 71 Figura 19 - Unidade Treino 3 - Microciclo 1 – Período Preparatório ...... 72 Figura 20 - Unidade Treino 4 - Microciclo 1 – Período Preparatório ...... 73 Figura 21 - Unidade Treino 5 - Microciclo 1 – Período Preparatório ...... 74 Figura 22 - Clube de Albergaria - Relatório de Jogo - Parte I...... 76 Figura 23 - Clube de Albergaria – Relatório de Jogo – Parte II ...... 77 Figura 24 - Clube de Albergaria - Análise ao Adversário ...... 78 Figura 25 - Unidade Treino 39 - Microciclo 10 - Período Competitivo ...... 79 Figura 26 - Unidade Treino 40 - Microciclo 10 - Período Competitivo ...... 80 Figura 27 - Unidade Treino 41 - Microciclo 10 - Período Competitivo ...... 81 Figura 28 - Unidade Treino 42 - Microciclo 10 - Período Competitivo ...... 82

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ÍNDICE DE TABELAS

Tabela 1 - Funções da Equipa Técnica ...... 25 Tabela 2 - Caracterização do Plantel ...... 29 Tabela 3 - Distribuição de minutos por dimensão de treino durante o Período Preparatório ...... 69

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RESUMO

O presente Relatório de Estágio surge integrado na unidade curricular de Estágio/Dissertação pertencente ao plano curricular do 2º ano de Mestrado em Treino Desportivo – Treino de Alto Rendimento da Faculdade de Desporto da Universidade do Porto (FADEUP).

Este Relatório de Estágio tem o propósito de documentar as experiências vivenciadas como treinador adjunto de uma equipa de futebol num patamar de Alto Rendimento. Dessa forma, durante a época 2018-2019 estive inserido na equipa técnica do escalão sénior feminino do Clube de Albergaria, a disputar a Liga BPI, isto é, a principal divisão do futebol feminino em .

O Relatório de Estágio inicia-se com uma caracterização do contexto no qual a atividade de estágio se desenvolveu, de forma a contextualizar a informação posterior. Assim, depois de realizada essa contextualização, o documento procura descrever com a devida justificação as opções tomadas durante a época desportiva, bem como apresentar reflexões importantes sobre vários temas relacionados com a atividade de treinador de futebol de Alto Rendimento. Com objetivo de alertar para a importância de alguns temas, potenciar a reflexão e justificar algumas opções, ao longo do relatório, é citada a imprescindível bibliografia de referência.

O Relatório Estágio permitiu-nos tomar consciência de que as áreas de intervenção de um treinador de futebol são bastante abrangentes, sendo bastante importante procurar a justificação para cada uma das opções tomadas. Dessa forma, o treinador estará mais perto de guiar a equipa técnica e os seus jogadores ao alcance dos objetivos a que se propuseram.

Em suma, este relatório procura enfatizar a importante necessidade do treinador de futebol de Alto Rendimento possuir um amplo e diversificado conjunto de competências.

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ABSTRACT

This Internship Report concerns the curricular unit of Internship / Dissertation included in the curriculum plan of the 2nd year of Master in Sports Training - High Performance Training of the Faculty of Sport of the University of Porto (FADEUP).

This Internship Report aims to document the experiences acquired as an assistant coach of a football team in a high-performance level. Thus, during the 2018-2019 season, I was part of the senior female technical team “Clube de Albergaria” playing in the BPI League, which is the main division of women's football in Portugal.

The Internship Report begins with a reference to the context in which the internship activity was developed, in order to contextualize the subsequent information. Thus, after this contextualization, the document seeks to describe with due justification the options taken during the sports season, as well as to present important reflections on various topics related to the activity as a coach of high-performance football. In order to highlight the importance of some topics, to enhance reflection and justify some options, the essential bibliography of reference is cited throughout the report.

This Internship Report allowed us to become aware that the areas of intervention of a football coach are quite comprehensive and seeking justification for each of the options taken is of paramount importance. In this way, the coach will be closer to guiding the coaching staff and their players, enabling them to achieve the objectives they have set for themselves.

In short, this report seeks to emphasize the important need for the high- performance football coach to have a broad and diverse set of skills.

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LISTA DE ABREVIATURAS E SÍMBOLOS

AC – Avançado Centro

CA – Clube de Albergaria

DC – Defesa Centro

DD – Defesa Direito

DE – Defesa Esquerdo

DL – Defesa Lateral

FIFA – Federation International Football Association

FPF – Federação Portuguesa de Futebol

GR – Guarda-Redes

MC – Médio Centro

MD – Médio Defensivo

ED – Extremo Esquerdo

EE – Extremo Direito

Ext – Extremo

- Deslocamento com bola

- Deslocamento sem bola

- Passe

- Remate

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Capítulo I – Introdução

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1.1. O treinador de Alto Rendimento

Ao treinador compete gerar e gerir todo o processo de preparação competitiva e, por isso, assume-se como figura nuclear (Garganta, 2004).

Para Araújo (2010) quem lidera uma equipa de alto rendimento está, constantemente, perante um desafio enorme de complexidade e exigência. Como “a qualidade da prática do treino, que pode levar à excelência, está diretamente dependente da qualidade da ação do treinador” (Esteves, 2009), torna-se importante para este “perceber com alguma profundidade tudo aquilo que influencia decisivamente a possibilidade de uma equipa de alto rendimento alcançar o sucesso que persegue” (Araújo, 2010).

O Alto Rendimento requer dos treinadores um conjunto variado de competências e saberes para a preparação dos seus atletas (Gomes, 2015). Segundo o mesmo autor, o treinador necessita de possuir um conhecimento geral e específico do desporto em causa, particularmente dominar a metodologia do treino, os seus aspetos técnicos e táticos, questões fisiológicas e psicológicas dos jogadores, conhecer o funcionamento da organização e a sua envolvência, bem como aspetos educacionais e sociológicos do desporto. A atividade profissional do treinador, como caracterizam Resende et al. (2007), é multifacetada e efetivada em contextos diversificados de prática, exigindo, por isso, um aporte de amplos conhecimentos e competências ajustados a cada contexto. Araújo (2010) reforça esta ideia ao afirmar a necessidade que o próprio teve em adquirir um vasto conhecimento multidisciplinar. Algumas dessas áreas de conhecimento importantes para o treinador são a conceção e implementação da planificação, definição de objetivos, liderança, comunicação com jogadores, dirigentes, árbitros e os demais intervenientes e observação e análise do jogo, entre outros (Araújo, 2010; Gomes, 2015).

Mendes (2014) caracteriza um treinador de sucesso como alguém que procure colocar em prática o que a ciência aponta como competências e habilidades.

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1.2. Finalidade do Relatório de Estágio

Mais do que realizar o estágio para terminar o mestrado em Treino Desportivo – Treno de Alto Rendimento e cumprir com os mínimos para obtenção do Nível UEFA B/Grau II de Treinador de Futebol, o estágio deve ser o início ou o acentuar da experimentação e da reflexão intensa sobre várias temáticas a estar sempre presentes no quotidiano do treinador de futebol de excelência. Para a aprendizagem oriunda do estágio ser potenciada da melhor forma é essencial estruturar e construir um relatório de estágio que o promova. Rosado (2005) cita Lima (2000) para defender a necessidade de uma formação do treinador concreta, inicial e contínua e, por isso, considera crucial o contacto efetivo do treinador junto de uma equipa, pois só assim lhe será possível construir e aplicar conhecimentos ajustados a cada realidade, procurando a evolução qualitativa da sua atividade. O mesmo autor realça a necessidade da imprescindível vivência prática ser suportada por conhecimento científico e de um apoio das entidades competentes que investigam e estudam o desporto. Segundo Garganta (2004), “o treino será sempre, por definição, a recusa do destino, da sorte e do azar, não podendo, nunca, ser neutral”, e assumindo o treinador tamanha importância tornou-se necessário procurar providenciar uma sistematização de conhecimentos e competências do treinador (Resende et al., 2007). Rosado e Mesquita (2007) alertam para a impossibilidade de uma real apropriação dos conhecimentos do treinador caso a sua formação tenha assentado em bases pouco científicas, quer nos momentos de formação inicial quer de formação contínua. “O treinador não nasce treinador. As competências alcançadas são fruto de vários fatores.” (Mendes, 2014).

1.3. Estrutura do Relatório de Estágio

O relatório cumpre com todas as normas de redação da FADEUP (tipo e tamanho de letra, espaçamento, etc.), procurando manter o anonimato das jogadoras do clube. Dessa forma a identificação de cada uma das jogadoras é feita através de uma sigla.

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O Relatório está dividido segundo a seguinte estrutura capitular: I – Introdução; II – Contextualização da Prática; III – Desenvolvimento da Prática; IV – Desenvolvimento Profissional; V – Conclusão.

O Capítulo I – Introdução – serve de contextualização a todo o relatório.

No Capítulo II procura-se um enquadramento da realidade que vivenciei no clube onde estagiei. Assim divide-se em 4 tópicos, pela seguinte ordem: Enquadramento Histórico; Caracterização da Instituição; Caracterização da Equipa Técnica; Recursos físicos e materiais.

O Capítulo III denomina-se Desenvolvimento da Prática e descreve, sustenta e justifica todas as opções assumidas pela equipa técnica. É um capítulo cujos tópicos assumem uma ordem coerente, de modo a informações anteriores poderem sustentar e esclarecer opções seguintes. Assim é subdividido nos seguintes tópicos: Objetivos e expetativas individuais; Caracterização do Plantel; Objetivos de performance e parcelares do treino; Modelo de Jogo; Modelo de Treino; Reflexões; Balanço final da época.

O capítulo IV – Desenvolvimento Profissional – tem como objetivo explicar de que forma o ano de estágio contribuiu para a minha evolução enquanto treinador de futebol de Alto Rendimento. Para isso, é composto por 5 tópicos, cada um correspondente a um tema diferente. No desenvolvimento de cada um destes temas, a experiência vivenciada é confrontada com bibliografia de referência.

No Capítulo V, denominado Conclusão, são referidas as ideias principais da época desportiva referente ao estágio e uma breve análise às mais-valias pessoais do ano de estágio.

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Capítulo II – Contextualização da Prática

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2.1. Enquadramento Histórico

“O Futebol Feminino surgiu em Portugal no início da década de 70, com a criação desta secção no Boavista FC e no CF União de . Durante esta década o futebol feminino em Portugal desenvolveu-se lentamente, ao contrário da expansão significativa verificada no estrangeiro. Contudo, surgiram algumas equipas e o Boavista FC assumiu-se como o grande promotor da modalidade. Em 1981, quando ainda o número de praticantes não chegava às 400, a FPF criou a Seleção Nacional A de futebol feminino. A 24 de Outubro de 1981 a seleção nacional disputou o seu primeiro jogo, um particular contra a França que terminou com um empate sem golos. Até 1983 disputou mais 6 jogos, todos eles respetivos à fase de qualificação para o Campeonato da Europa de 1984. A disputa destes 6 jogos traduziu-se em 2 empates e 4 derrotas (1 golo marcado, 10 sofridos), contribuindo para a inativação da seleção feminina até 1993. Na época 1985/1986 foi criada a primeira competição oficial de equipas em Portugal e na temporada 2005/2006 foi criada a II Divisão. (Serrado e Serra, 2010)

O quadro competitivo em Portugal tem sofrido constantes alterações na procura da melhor promoção da modalidade. Em 2016/2017, as equipas do Sporting CP, SC , CF “Os Belenenses” e CD Estoril-Praia foram inseridas diretamente na primeira divisão após a aceitação de um convite da FPF e o formato do campeonato foi alterado para uma única fase a duas voltas, onde se apura o campeão e as equipas despromovidas1. Na época 2018/2019, o Sport Lisboa e Benfica, um clube de referência em Portugal e no mundo, formou uma equipa de futebol feminino, e iniciou a sua participação nas competições nacionais na II Divisão2.

Segundo dados disponibilizados pela FPF na época 2000/2001 existiam em Portugal 1037 jogadoras federadas de futebol, das quais 762 no escalão sénior

1 Cf. FPF., 8 de setembro 2016, https://www.fpf.pt/News/Todas-as- not%C3%ADcias/Not%C3%ADcia/news/8437 2 Cf. Record, 16 de setembro de 2018, https://www.record.pt/futebol/futebol-feminino/detalhe/benfica- regressa-ao-futebol-feminino-com-vitoria-por-numeros-inacreditaveis

20 e 275 em escalões jovens. Decorridos 10 anos (época 2010/2011) verificava-se um número semelhante de jogadoras no escalão sénior (797), mas um aumento em 330% do número nos escalões mais jovens (910). Na época 2017/2018 contabilizaram-se na FPF a inscrição de 4774 jogadoras de futebol, sendo 1073 jogadoras do escalão sénior e 3701 nos escalões etários anteriores a este (um aumento em cerca de 470% em relação à época 2010/2011)3. Na época 2018/2019 a FPF dispunha de seleção nacional nos escalões de sub-15, sub- 16, sub-17 e sub-19, além da seleção A. Em 2012, a seleção sub-19 atingiu as meias-finais do Campeonato da Europa da categoria e em 2013 a sub-17 foi à fase final do Campeonato da Europa (Cova, 2018).

A Seleção Nacional A de futebol feminino, até ao ano de 2019, nunca alcançara a fase final de um Campeonato do Mundo4, contudo conseguiu em 2017 participar pela primeira vez na fase final do Campeonato Europeu de Futebol Feminino5, no qual não conseguiu a passagem aos quartos de final por apenas 1 golo, depois de na fase de grupos ter terminado em igualdade pontual com Escócia e Espanha6. No dia 29 de Março de 2019 a seleção portuguesa atingiu o seu melhor lugar no ranking mundial das seleções femininas, posicionando-se na 30ª posição, melhorando 8 posições desde Dezembro de 20177.

Susana Cova, treinadora das seleções nacionais de formação femininas entre 2007 e 2017, admitiu no ano de 2018 que apesar de Portugal ainda estivesse longe dos melhores países a nível mundial, como EUA, Alemanha, Suécia, França ou Inglaterra, a estratégia da FPF estava a ser eficaz no sentido de conferir notoriedade ao futebol feminino português (Cova, 2018). A autora enalteceu, também, a importância do crescer da profissionalização numa altura onde dentro do mesmo nível competitivo existem jogadoras profissionais e

3 Cf. FPF, 12 de dezembro de 2018, http://indicadores.fpf.pt/ 4 Cf. Record, 4 de setembro 2018, https://www.record.pt/futebol/selecao-feminina/detalhe/portugal- termina-apuramento-com-goleada-a-romenia 5 Cf. Record, 25 de outubro de 2016, https://www.record.pt/futebol/selecao-feminina/detalhe/romenia- portugal-em-direto 6 Cf. RTP Notícias, 27 de julho de 2017, https://www.rtp.pt/noticias/desporto/portugal-inglaterra-europeu- feminino_e1017496 7 Cf. A Bola, 29 de março de 2019, https://www.abola.pt/Clubes/Noticias/Ver/780694/227

21 remuneradas e outras amadoras que procuram apenas um hobby. Tal como afirma Gomes (2015), a alta competição está muito dependente dos resultados, mas não se restringe a esta vertente pois é necessário existir complementaridade entre resultados e o progresso constante.

Cova (2018) foca vários fatores cruciais para o alto rendimento poder ser potenciado e difundido dentro da modalidade, sendo um deles a indispensável qualidade dos treinadores para um contexto dessa dimensão, apenas alcançável com a devida formação.

2.2. Caracterização da Instituição

Segundo Garganta (2004) os métodos de treino no futebol caracterizam-se como sendo mais ou menos pertinentes não apenas pela adaptação ao treinador e aos jogadores, mas também à cultura específica onde se desenrola o trabalho.

O meu estágio foi realizado na equipa Sénior Feminina do Clube de Albergaria (CA). O CA é uma das referências futebolísticas a nível nacional em futebol feminino, constituindo-se como fator integrante da evolução do futebol feminino em Portugal. Trata-se de um clube dominador no distrito, e capaz de oferecer projeção das jogadoras para as seleções nacionais. A liderar todo o trabalho desenvolvido pelo clube está o presidente do clube.

Especificamente para a secção de futebol, é imprescindível que todos os colaboradores do clube alicercem diariamente o seu trabalho no rigor e na disciplina, de modo a dar seguimento à evolução do clube, contribuindo para a visibilidade que o clube já detém e para aquela poderá atingir. Almeida (2011) citas as palavras de Oliveira (2007) para enaltecer a necessidade de o treinador compreender que cada clube onde trabalha tem a sua própria história, a sua própria cultura e o seu próprio historial num país com determinadas características e que tudo isso influencia as decisões a tomar.

A secção de futebol do clube é constituída apenas por equipas femininas, possuindo uma equipa de sub-13, inscrita no campeonato distrital de infantis B (futebol 7) da Associação Futebol de Aveiro (AFA), uma equipa sub-15, a competir no campeonato S15 (futebol 7) da AFA, que pode integrar em cada jogo

22

3 jogadoras sub-16, uma equipa de sub-19 no campeonato S19 (futebol 9) da AFA e uma equipa de Seniores a participar na Liga BPI. As jogadoras sub-15 e de sub-19 treinavam em conjunto e algumas jogadoras participam simultaneamente nos campeonatos de S15 e de S19. Estas equipas treinavam no Estádio Municipal António Augusto Martins Pereira, em Albergaria-a-Velha, espaço onde existia um campo de futebol de 11 de relva sintética (sem marcações de futebol de 9 ou de 7) e um campo de relva sintética de futebol de 7. Importa salientar, também a partilha deste espaço com o Sport Clube de Alba e a utilização do campo de relva sintética do Estádio Municipal da Branca para a realização de jogos oficiais da equipa de sub-19 (futebol 9).

Especificamente na secção de futebol trabalhavam 8 pessoas. O trabalho de maior proximidade com todos os escalões e de contacto com as várias entidades, desde jogadoras aos pais, era feito por uma coordenadora, que acumulava esta missão com as funções de treinadora das equipas de sub-13, de sub-15 e sénior. A equipa de sub-13 dispunha ainda de um treinador adjunto. As jogadoras sub-15 treinavam em conjunto com a equipa de sub-19, treinadas por apenas um treinador. Na constituição da equipa técnica para a equipa sénior estavam dois treinadores adjuntos. Completando o quadro de funcionários da secção de futebol identificavam-se 3 pessoas a assumir funções específicas nos quatro escalões do clube. Eram elas o treinador de GR, a delegada ao jogo e uma fisioterapeuta.

Durante a época desportiva referente ao estágio (2018/2019) a equipa sénior feminina do CA competiu na máxima divisão nacional (na presente época denominada Liga BPI), a qual já disputava há 10 épocas desportivas consecutivas. Participou também na Taça de Portugal e na Taça Distrital. Apesar deste muito bom posicionamento do clube no panorama nacional nenhuma das jogadoras do clube era remunerada.

2.3. Caracterização da Equipa Técnica

A coordenadora era responsável pela organização de toda a época desportiva da equipa sénior. Esta organização implicava a formação do plantel e o planeamento anual, desde horários, locais de treino e gestão de transportes de

23 jogadoras, bem como a marcação de possíveis amigáveis e outras questões administrativas junto da Federação Portuguesa de Futebol e de outros clubes. A delegada ao jogo e a fisioterapeuta assumiam-se como intervenientes igualmente importantes no trabalho junto da equipa sénior.

A equipa técnica propriamente dita do escalão de Seniores era composta por uma treinadora principal, dois treinadores adjuntos e um treinador de GR, cada um com funções específicas (Tabela 1). As funções de cada treinador são a expressão prática das suas competências adquiridas a partir de vários saberes, como o científico ou o pedagógico, entre outros, que se interligam e assumem em cada situação uma importância e uma relação diferente, dotando cada momento de uma complexidade distinta (Rosado & Mesquita, 2007).

A treinadora principal assumia-se como a líder da equipa técnica. Liderava, também, todo o processo de treino. A preparação de mesociclos, microciclos e unidades de treino eram da sua responsabilidade. Era a responsável pela convocatória (embora pudesse pedir opinião aos outros elementos), preparava a abordagem ao jogo e era a principal interveniente na comunicação com as jogadoras antes, durante, no intervalo e no final de cada jogo.

A treinadora adjunta tinha como funções o controlo e intervenção em exercícios durante o treino, a análise de possíveis contratações para o clube e a condução do aquecimento para o jogo.

Quanto às minhas funções, na qualidade de treinador adjunto, era responsável pela elaboração dos documentos “Relatório de Jogo” e “Análise à Equipa Adversária”. O primeiro consistia numa análise à própria equipa tendo em conta o último jogo disputado e tinha de estar concluído até ao findar do dia seguinte ao respetivo jogo. O segundo consistia numa análise ao próximo adversário a defrontar, a realizar até às 13h do dia do segundo treino semanal. Quando a treinadora considerava pertinente apresentar a “Análise à Equipa Adversária” ao plantel era eu o responsável por esse momento. Tinha também como funções a

24 condução do aquecimento para o jogo, a condução de exercícios durante o treino e o planeamento pontual de treinos ou exercícios para a equipa ou um conjunto específico de jogadoras.

O treinador de GR era responsável pelo treino específico dessa posição, mas estabelecendo um permanente contacto com a treinadora principal sobre todo o processo competitivo da equipa. O planeamento e condução dos exercícios específicos para as GR eram da sua responsabilidade, assim como o aquecimento destas no dia de jogo. Tinha ainda como funções analisar a prestação das GR em jogo, bem como participar no scouting de GR e no processo de contratação.

Tabela 1 - Funções da Equipa Técnica

Treinadora Treinadora Treinador Miguel Principal Adjunta Guarda-Redes Análise Equipa Adversária X

Planeamento X X (Pontual) X (GR)

Liderança do processo de X treino Palestra inicial e final do X treino Feedback e condução de X X X X (GR) exercícios Registo de presenças X

Convocatória X

Aquecimento para o jogo X X X (GR)

Palestra inicial, no intervalo X e final do jogo Feedback durante o jogo X

Relatório de jogo X X (GR)

Avaliação de possíveis X X X (GR) contratações

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2.4. Recursos físicos e materiais

A equipa dispunha de um campo sintético de futebol de 11 e de um campo sintético de futebol 7, os quais partilhava com a equipa de Juniores do clube à Terça-Feira, Quarta-Feira e Sexta-Feira. Contudo, a equipa Sénior tinha o direito de preferência quanto aos espaços a utilizar. O plantel dispunha ainda de um balneário usado exclusivamente pelas suas jogadoras.

A equipa técnica tinha à disposição 30 bolas, um conjunto de 50 sinalizadores de várias cores, 12 cones (8 listados a vermelho e branco e 4 azuis), 8 varolas, 3 conjuntos de coletes (12 Brancos, 12 Laranjas e 12 Verdes), 5 mini-balizas, 2 balizas de futebol 11 removíveis, 4 balizas de futebol 7 removíveis e 3 manequins de futebol insufláveis, além das balizas fixas em cada campo disponível.

Este espaço e material era considerado pela equipa técnica todo o necessário para a atividade.

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Capítulo III – Desenvolvimento da Prática

27

3.1. Objetivos e expetativas individuais

Nas primeiras semanas do estágio defini alguns objetivos pessoais a alcançar no seu decorrer. Objetivos esses que me permitissem não apenas demonstrar competência no clube a estagiar, mas também contribuir para a minha evolução enquanto treinador de futebol. “As experiências acumuladas devem preparar o indivíduo para experiências seguintes, de qualidade mais profunda e mais ampla do que a anterior, configurando-se num processo contínuo de crescimento e aprendizagem a partir da reconstrução da própria intervenção” (Zeilmann Brasil et al., 2015).

Tendo em conta uma autoanálise, as competências exigidas a um treinador e as minhas funções no clube defini os seguintes objetivos e expetativas iniciais para o estágio:

 Melhorar na condução dos exercícios  Melhorar nas tarefas de planeamento  Melhorar na análise da prestação da equipa e das jogadoras individualmente  Contribuir para análise do jogo durante o seu decorrer  Melhorar a comunicação  Melhorar capacidades de liderança  Conquistar a confiança da treinadora principal para conduzir uma unidade de treino completa

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3.2. Caracterização do Plantel

O plantel iniciou a época constituído por 24 jogadoras (Tabela 2). Pontualmente, jogadoras da equipa de Juniores do clube participavam em treinos e jogos pela equipa Sénior.

Tabela 2 - Caracterização do Plantel

Anos Internacio- Nome* Idade Posição** Pé Dominante Prática nalizações Federada RVR 23 GR Direito Não 12

TED 19 GR Direito Não 3

RLO 27 DD / DE Direito Sim 16

IRT 25 DD Direito Não 5

IER 21 DC / MC / DD Direito Sim 13

IMS 26 DC / DD Direito Não 13 + 1 Futsal

NHV 19 DC / DD Direito Sim 11

NIV 23 DC Direito Sim 9

NVI 24 DC Direito Não 8

NEA 19 DD / DE Direito Não 6

NRO 20 DE Esquerdo Não 6

NRV 29 MD Direito Não 11

CHO 22 MD / MC Direito Sim 8 + 4 Futsal

IRE 26 MC / MD Direito Não 13

NTH 19 MC Direito Sim 11

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NRT 21 MC Direito Não 6 + 1 Futsal

NTR 17 MO / MC / ED / EE Direito Não 6 + 1 Futsal

NEH 19 ED / EE Direito Não 7

LRV 19 EE / ED Esquerdo Sim 3

ENO 21 ED / AC / MC Direito Não 6 + 7 Futsal

IRS 24 EE / ED / AC Direito Não 8

IST 21 AC Direito Não 6

NSR 18 AC Direito Não 2

RRN 22 AC Direito Não 13

*O nome de cada jogadora foi substituído por uma sigla e não foi apresentado o número de internacionalizações das internacionais por motivos de confidencialidade. ** A(s) posição(ões) indicada(s) para cada jogadora afigurava(m)-se como aquela(s) na(s) qual(ais) apresentava mais rendimento, segundo a opinião da equipa técnica no início de época. Nos casos em que é indicada mais que uma posição, estas estão ordenadas da com maior para menor rendimento.

O plantel era considerado pela equipa técnica bastante equilibrado e completo tendo em conta as opções tidas para cada posição. A média de idades era de 21,8 anos e existiam duas jogadoras com membro inferior esquerdo como dominante.

Todas as jogadoras eram portuguesas e no início da época 7 já tinham representado a seleção nacional em pelo menos um jogo oficial. Contudo, nenhuma das internacionalizações tinha sido pela Seleção A Feminina.

No início da época, cada jogadora do plantel praticava futebol de forma federada, em média, há 8,4 épocas desportivas. Adicionando as épocas que algumas passaram no futsal esse valor subia para 9,0. É possível agrupar as jogadoras em função do tempo de prática de futebol federado e verificar o seguinte: 4 jogadoras faziam-no entre 0 e 5 épocas, 11 jogadoras entre 6 e 10 épocas, 8 jogadoras entre 10 e 15 épocas e 1 jogadora há 16 épocas ou mais.

30

3.2.1. Caracterização geral do Plantel

É para o treinador muito importante saber o nível de entendimento e conhecimento que os seus jogadores têm do jogo, bem como das capacidades e características específicas de cada um, pois os jogadores são um aspeto relevante na construção da forma de jogar da equipa. (Oliveira, 2003; cit in Magalhães & Nascimento, 2010).

Realizando uma análise ao plantel no início da época, era possível constatar a existência de pelo menos 2 opções para cada posição, sejam os sistemas utilizados o 1x4x3x3, o 1x4x4x2, o 1x4x2x3x1, o 1x3x5x2, o 1x5x3x2 ou o 1x5x4x1.

No global, a equipa apresentava qualidade técnica e física suficiente para a divisão. Contudo, importa referir que no geral, embora a estatura das jogadoras estivesse na média para a divisão, a equipa sentia dificuldades no jogo aéreo, pela má apreciação de trajetórias e técnica de cabeceamento fraca. A tomada de decisão e apreciação da envolvência era o aspeto mais crítico a assinalar na equipa.

3.2.2. Caracterização Guarda-Redes

A equipa apresentava para a posição de GR duas opções bastante válidas. A RVR assumia-se no início de época como a melhor opção da equipa, revelando um bom rendimento, e perspetivava-se uma evolução significativa da TED no decorrer da época.

3.2.3. Caracterização do Setor Defensivo

A maioria das jogadoras do setor defensivo apresentavam um bom rendimento em mais do que uma posição do setor, especialmente as Defesas Laterais. Todas as Defesas Laterais caracterizavam-se por serem melhores no processo defensivo que no ofensivo, participando muito pouco no segundo momento citado. Assim, apesar de apresentarem uma lateralidade má quando com bola, conseguiam jogar com um rendimento semelhante de ambos os lados, visto contribuírem pouco para o momento ofensivo no meio campo adversário onde a utilização do pé não dominante poderia assumir-se como característica

31 diferenciadora. Todas as jogadoras do setor defensivo apresentavam bom domínio das ações técnicas individuais defensivas (desarme, interceção, tackle, carga, antecipação), boa lateralidade em ações defensivas bem como bons níveis de agressividade. Com bola, à exceção da NIV, apresentavam algumas debilidades técnicas, nas ações mais básicas de condução, passe, receção e drible. A NIV era identificada, no início da época, como a melhor jogadora do setor.

3.2.4. Caracterização do Setor Médio

O setor médio caracterizava-se por ter jogadoras muito boas tecnicamente, com boa capacidade de associar a receção ao passe curto com pouco espaço e tempo, sendo no geral fortes nos passes em rotura de curta e média distância. Contudo, nenhuma das jogadoras do setor se caracterizava pela capacidade de oferecer linhas de passe de forma muito rápida e intensa, nem pela procura constante de combinações diretas ou indiretas. A tomada de decisão era, em todas elas, má e revelavam, no geral, dificuldades no passe longo. À exceção da CHO, as jogadoras deste setor caracterizam-se por ser pouco agressivas e melhores ofensiva que defensivamente. A CHO destacava-se por ser bastante equilibrada entre as ações técnicas defensivas e ofensivas e apresentar uma boa agressividade. A NTH e a CHO, ambas médias, eram as únicas duas jogadoras da equipa, que no início da época, se assumiam como capazes de percecionar a envolvência com alguma qualidade e receber em função do adversário. A NTH também se destacava pela boa lateralidade, isto é, capacidade em usar o pé não dominante.

3.2.5. Caracterização do Setor Atacante

O setor atacante era constituído por jogadoras com boa velocidade de deslocamento e rápida progressão vertical, na procura da baliza adversária. Embora muito pouco virtuosas, isto é, com recursos de fintas bastante reduzidos, assumiam-se como sendo capazes conduzir a bola com qualidade a uma boa velocidade. Todas as Extremos apresentavam bastantes debilidades para jogar em espaços curtos, principalmente na receção de bola aérea como por exemplo vinda de um lançamento lateral, e associavam mal a receção ao passe.

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Nenhuma delas tinhas boas características técnicas individuais defensivas, mas procuravam ser intensas a pressionar, embora a compreensão do jogo fosse baixa. Neste setor destacava-se a IST por apresentar uma capacidade diferente das restantes opções para segurar a bola de costas para a baliza e a LRV. Esta última, embora não apresentasse todas as características de uma “finalizadora nata”, tinha sido na temporada anterior (2017-2018), ainda com idade de Sub- 19, a melhor marcadora da equipa sénior no campeonato (15 golos) e uma das 10 nomeadas para a votação de melhor jogadora da Liga. Era bastante rápida e muito boa na condução com o pé dominante, bem como a associar o remate à condução com o pé dominante, o esquerdo.

3.2.6. Alterações ao plantel durante a época

Ao longo da época verificaram-se 7 saídas de jogadoras, não existindo nenhuma entrada a registar-se. As jogadoras que saíram foram as seguintes:

 IRT – Saída consumada no dia 1 de outubro  NTR – Saída consumada no dia 29 de outubro  NRV – Saída consumada no dia 4 de novembro  NRO – Saída consumada no dia 3 de dezembro  RRN – Saída consumada no dia 22 de dezembro  NEA – Saída consumada no dia 2 de janeiro  NEH – Saída consumada no dia 28 de janeiro

3.3. Objetivos de performance e parcelares do treino

3.3.1 Revisão da Literatura

“O planeamento é o conjunto de medidas indicativas para a elaboração do plano, coloca as pessoas na presença de todas as condições e elementos necessários à sua construção” Cunha (2016).

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Segundo Cunha (2016) ao planear procura-se prever o futuro, procurando que os acontecimentos oriundos de uma atividade organizada segundo uma intenção se sobreponham àqueles acidentais, reduzindo ou até mesmo eliminando estes últimos. Para estes autores o planeamento assume 5 tarefas pela seguinte ordem:

1) Analisar a situação – É necessária uma caracterização de atletas e feito e conhecer os condicionalismos materiais, humanos, financeiros, organizativos e desportivos. 2) Definir os objetivos – Podem estabelecer-se objetivos de prestação, individuais, estruturais/organizativos ou competitivos. 3) Operacionalizar o plano – Datar o plano é o primeiro aspeto para que se possa operacionalizar (data das competições, início, fim de época, e outras consideradas necessárias). Após a datação é aconselhável dividir em época em períodos da forma considerada mais pertinente e adequada pelo treinador 4) Executar 5) Avaliar

Segundo Ilharco (2012) qualquer ser vivo é dotado de teleonomia, isto é, tem uma finalidade na sua ação, seja ela hibernar no inverno ou ganhar a Liga dos Campeões. Admite, então, ser essa finalidade a razão pela qual uma pessoa ou um grupo existe de determinada forma e segue determinada direção.

Araújo (2010) afirma que para formar e preparar equipas de alto rendimento vencedoras é necessário saber para onde ir e quais os objetivos a atingir. Por um lado, o facto de as pessoas saberem o que têm de fazer e porquê representa um poderoso fator motivacional, por outro, na ausência de um destino certo, o mais provável é não se chegar a lado nenhum (Cunha, et al., 2007). Para Ilharco (2012) qualquer ação profissional tem de ser enquadrada, balizada ou guiada por valores, comportamentos e ambições.

Numa equipa, é função do seu gestor garantir que os requisitos do desempenho expressos como objetivos são definidos e acordados (Armstrong, 2005). Segundo Cunha et al. (2007) uma das obrigações dos líderes consiste em definir

34 metas em vez de deixar que a discussão sobre as metas gere confusão na equipa.

O objetivo descreve algo que deve ser cumprido, isto é, um alvo a visar (Armstrong, 2005). Para Araújo (2010) os objetivos têm de ser específicos, mensuráveis, alcançáveis, orientados para o resultado e datados. Específicos para permitir concentração de atenções e fornecer orientação; mensuráveis para se poder medir; alcançáveis para não promover a desmotivação por se constituírem impossíveis, mas suficientemente difíceis para serem desafiantes; orientados para o resultado para se constituírem como relevantes para a equipa prevendo sempre um plano de ação para permitir alcançar o objetivo; datado para demarcar prazos vistos as pessoas serem motivadas por datas. (Araújo, 2010; Bjerke & Renger, 2016; Cunha et al., 2007)

Por fim, Armstrong (2005) enaltece a importância da definição de objetivos pelo facto do líder da equipa só assim estar preparado para uma posterior avaliação, comparando os êxitos alcançados com os objetivos fixados.

3.3.2. Objetivos de performance e de preparação para o escalão sénior do CA

O principal objetivo de performance era a manutenção no primeiro escalão principal, a liga BPI, o que equivalia a uma classificação acima do 10º lugar, inclusive. O objetivo na Taça de Portugal era vencer todas as eliminatórias jogadas contra qualquer equipa à exceção de Sport Lisboa e Benfica, Sporting Clube de Braga e Sporting Clube de Portugal. Era, também, objetivo conquistar a Taça Distrital.

A equipa técnica pretendia, também, criar uma forte articulação entre a equipa de Juniores e a equipa Sénior de modo a assegurar a formação de equipas seniores competitivas para os anos seguintes. Era pretendido que algumas das melhores jogadoras do escalão de juniores treinassem regularmente com a equipa sénior durante todo o ano e disputassem alguns jogos nos últimos dois meses da época. Para a consecução deste objetivo era importante alcançar a

35 manutenção com a maior brevidade possível, para facilitar a promoção das jogadoras Juniores à equipa principal num contexto competitivo.

Para os objetivos mencionados anteriormente serem alcançados, a equipa técnica considerou necessário assumir como principal objetivo parcelar do processo de treino, a máxima preparação para cada momento competitivo – o jogo. Um objetivo que se assumia como permanente, e centrava as atenções no processo a realizar tendo em vista o jogo seguinte, permitindo um foco grande em cada um desses momentos. Além disso, como objetivo secundário do treino pretendia-se a evolução individual de cada jogadora. A importância deste último objetivo justificava-se pela demonstração geral de debilidades técnicas e decisionais para uma jogadora sénior, sendo a melhoria da tomada de decisão o principal foco nessa evolução.

A época desportiva iniciava-se no dia 13 de agosto de 2018. Para que a máxima preparação para o jogo fosse possível, pretendia-se nas primeiras 3 semanas, correspondente aos primeiros 3 microciclos (período de 13 de agosto a 2 de setembro) restabelecer índices físicos perdidos durante as 9 semanas decorridas após o término da época anterior. A equipa técnica pretendia, também, no final desse período, ter completamente definido tudo o que pretendia para o modelo de jogo da equipa.

Nas duas semanas seguintes, até ao primeiro jogo oficial (15 de setembro de 2018) pretendia-se que a equipa compreendesse e tivesse intenção de executar os princípios gerais dos momentos ofensivo e defensivo, bem como os posicionamentos nos lances de bola parada.

Após este período e até final de dezembro, a equipa deveria ser capaz de executar todas as situações expostas no modelo de jogo posteriormente apresentado, para potenciá-lo até findar da época.

36

3.4. Modelo de Jogo

3.4.1. Revisão da Literatura

“O mais importante numa equipa é ter um modelo de jogo, um conjunto de princípios que deem organização à equipa” (Mourinho in Oliveira, et al., 2006).

Garganta (2004) caracteriza as equipas de alto rendimento como “grupos de elevado potencial que procuram afirmar uma identidade e preservar a sua integridade”. Cabe ao treinador eleger a forma de jogar que permitirá alcançar os objetivos delineados, estabelecendo os comportamentos que deseja dos seus jogadores nos vários planos de jogo (Magalhães & Nascimento (2010); Pinheiro et al., 2018). Para Garganta (2004) durante o processo de construção da melhor forma de jogar é procurada a máxima eficácia, sustentada nas inteligências individuais que devem servir uma inteligência coletiva, traduzindo-se num conjunto de regras de ação e de princípios de gestão do jogo.

Segundo Pinheiro et al. (2018) a elaboração de um Modelo de Jogo deverá ter em conta os jogadores disponíveis, as ideias do treinador, a cultura do clube e a competição onde vai participar. Os mesmos autores admitem que o Modelo de Jogo resulta das ideias do treinador, mas que deve ser o Modelo de Jogo a subordinar-se aos jogadores disponíveis e não o contrário, sendo importante o treinador nunca esquecer que o modelo de jogo vai ser operacionalizado pelos jogadores e não por si. Quanto a este ponto, Oliveira (2003) citado por Magalhães e Nascimento (2010) assume ser importante o treinador ter em conta as características dos seus jogadores, não para alterar as suas próprias ideias de jogo e de equipa, mas sim para proceder a algumas adaptações, bastante importantes para tirar o máximo rendimento dos jogadores e da equipa, até porque o Modelo de Jogo está dependente da capacidade de cada jogador para executar o pretendido. Também refere que o Modelo de Jogo está relacionado com a cultura do clube, enaltecendo a existência de diferenças culturais significativas entre clubes. “Eu, ao construir uma equipa, tenho de tentar esconder as más qualidades dessa equipa e (..) dos jogadores. No que toca aos jogadores tenho de tentar aproveitar as qualidades de uns para esconder as deficiências de outros.” (Mourinho in Lourenço, 2010)

37

Segundo Pinheiro, et al. (2018) o treinador terá de definir os comportamentos a adotar quando perde e quando ganha a posse de bola. Carvalhal et al. (2014) referem a existência de 4 momentos: 1) Organização ofensiva – momento em que a equipa tem posse de bola e assume comportamentos na procura de construir e criar situações de finalização; 2) Transição ataque-defesa – momento imediatamente seguinte à perda de bola, onde a equipa apresenta uma desorganização defensiva momentânea e procura assumir comportamentos para a contrariar ou até mesmo aproveitar uma possível desorganização adversária após a respetiva recuperação. 3) Organização defensiva - momento em que a equipa não tem posse de bola e assume comportamentos na procura de impedir o adversário de construir e criar situações de finalização. 4) Transição defesa-ataque - momento imediatamente seguinte ao ganho de bola, onde a equipa e procura assumir comportamentos para aproveitar uma possível desorganização defensiva adversária. Magalhães e Nascimento (2018) acrescentam a estes momentos a forma de atuar nos esquemas táticos defensivos e ofensivos (bolas paradas), referindo também a estrutura tática escolhida (1x4x3x3, 1x4x4x2, etc.) como elemento constituinte do modelo de jogo. Para Carvalhal et al. (2014) são os princípios de jogo adotados em cada um dos momentos supracitados que conferem identidade à ideia de jogo de cada equipa. Estes princípios de jogo, referidos na frase anterior, são relacionados com o Modelo de Jogo Adotado por cada equipa e não devem ser confundidos com os princípios gerais do jogo. Os princípios gerais do jogo, comuns a qualquer tipo de forma de jogar, englobam os princípios fundamentais (1- recusar inferioridade numérica, 2- evitar igualdade numérica, 3 – criar superioridade numérica) e os princípios específicos do ataque (penetração, cobertura ofensiva, mobilidade e espaço) e da defesa (contenção, cobertura defensiva, equilíbrio e concentração) (Azevedo, 2009).

Por fim, importa enfatizar “que os comportamentos dos jogadores e da equipa são consequência de uma ordem e de uma organização da própria equipa, não devendo limitar a criatividade individual e coletiva, mas sim incentivar comportamentos criativos que se enquadrem nos comportamentos desejados” (Oliveira, 2003; cit in Nascimento & Magalhães, 2010).

38

3.4.2. Modelo de Jogo do escalão sénior do CA

3.4.2.1. Terreno de Jogo

Para enquadrar da melhor forma os Princípios do Modelo de Jogo Adotado e facilitar a sua explicação e interpretação é útil a divisão do campo em corredores e setores (fig.1 e 2). Consideram-se três corredores, corredor lateral esquerdo, corredor central e corredor lateral direito, e três setores, setor defensivo, setor médio (subdividido em setor médio ofensivo e em setor médio defensivo) e setor ofensivo.

Sentido de ataque: Figura 1 - Divisão do Terreno de Jogo em corredores

Sentido de ataque: Figura 2 - Divisão do Terreno de Jogo em setores 39

3.4.2.2. Estrutura Tática

Tendo por base a informação já anteriormente apresentada no tópico “caracterização do plantel”, a equipa técnica optou pelo 1x4x3x3 como estrutura tática preferencial durante a época (fig.3). Tudo o que caracteriza o modelo de jogo da equipa do escalão sénior feminino do CA tem em conta as características gerais do plantel bem como as particularidades de cada uma das jogadoras.

Com as características que as laterais da equipa possuíam, muito melhor defensiva que ofensivamente, qualquer estrutura tática com 3 DC e maiores obrigações ofensivas para as DL não seria benéfico. Assim, fazendo uso das mais valias defensivas das DL, a equipa técnica optou por uma linha defensiva constituída por 4 jogadoras. Pelo facto de o setor defensivo apresentar, no geral, uma boa qualidade técnica defensiva, mas com pouco pendor ofensivo e dificuldades na fase de construção, além de existir opções de boa qualidade para as posições do setor médio e as Ext apresentarem uma compreensão do jogo baixa e pouca qualidade defensiva, a equipa técnica escolheu jogar com 3 médias. Procurava-se que assumissem um papel de maior responsabilidade nas fases de construção e criação. No seguimento do raciocínio apresentado, a opção por 3 jogadoras no setor ofensivo surgiu com naturalidade. Importa, reforçar que as características das Ext eram, para a equipa técnica, bastante melhor aproveitadas individual e coletivamente com a equipa a jogar com apenas 1 AC. Consideramos que dessa forma surgiam mais espaços para estas aproveitarem usando a boa velocidade. Além disso, as dificuldades das Ext em jogar em espaços curtos e pouco dotadas para participarem na fase de construção, impossibilitava a equipa de jogar em 4x4x2, pois as estas posicionar- se-iam um pouco mais recuadas e teriam mais responsabilidades na fase de construção e no processo defensivo.

40

EE DE

DC MC

GR MD AC

DC MC

DD ED

Figura 3 - Estrutura Tática

O posicionamento das jogadoras do setor médio é o que está representado na fig.3 (uma MD mais recuada e duas MC lado-a-lado) por duas razões, embora a primeira com mais “peso” que a segunda: 1) Existência de jogadora (CHO) muito equilibrada defensiva e ofensivamente, apresentando alto rendimento a jogar sozinha numa posição central. Como MD conseguia ler o jogo muito bem defensivamente e ocupava muito bem o espaço, chegando rápido para assumir uma contenção, uma cobertura ou para equilibrar, revelando um raio de ação grande, aliando características ofensivas boas para a fase de construção. 2) Definição clara da jogadora a procurar assumir a construção de jogo e ligar o jogo entre setores, neste caso a MD.

A equipa técnica assumiu o 1x4x2x3x1 como estrutura tática secundária. Na base da decisão estão todas as características individuais apresentadas, sendo a grande diferença entre a estrutura tática principal e esta o posicionamento das médias, com duas mais recuadas (duas MC lado-a-lado), jogando uma em função da outra tanto ofensiva como defensivamente e presença de uma MO

41 com grandes responsabilidades ofensivas, assumindo-se como a jogadora com mais importância na fase de criação. A equipa técnica, considerava esta opção possivelmente importante em situações de indisponibilidade da jogadora CHO e outras situações específicas do jogo.

3.4.2.3. Princípios do Modelo de Jogo Adotado

3.4.2.3.1. Processo Ofensivo

3.4.2.3.1.1. Organização Ofensiva

A equipa quando tem a posse da bola deve oferecer a maior largura e profundidade possível, potenciando o aparecimento de espaços para o setor médio conseguir oferecer linhas de passe e o ofensivo receber passes em profundidade, potenciando as maiores qualidades de cada jogadora. A equipa deve procurar constantemente criar situações para que a entrada em rotura das jogadoras mais avançadas aconteça. Após a receção, a jogadora, qualquer que seja, deve, em primeiro lugar, olhar na direção da baliza, avistando alguma colega mais perto da baliza em condições de receber um passe. Caso não exista deve perceber se tem espaço para progredir ou se terá de jogar com uma linha de passe mais recuada. A jogadora com a bola deve percecionar qual o corredor onde a progressão oferece melhores condições de êxito, tendo em conta não só a relação numérica entre colegas de equipa e adversárias, mas também as suas próprias capacidades e as características das colegas.

Fase de Construção

O principal objetivo da fase de construção é criar as condições necessárias para que a equipa consiga entrar no corredor central. A equipa deve procurar uma gestão racional e dinâmica do espaço de forma a criar espaço para que as médias consigam receber a bola da forma mais rápida possível (seja entre as linhas defensiva e ofensiva adversária ou com o recuo da MD para fora do bloco adversário), ou como segunda opção, criar condições para o jogo direto no apoio

42 frontal de uma jogadora do setor ofensivo (preferencialmente da AC). A equipa deve procurar a variação do centro de jogo em profundidade

Pretende-se que a ligação entre o setor defensivo e o setor médio seja feito preferencialmente das DC para a MD. As DL não são a opção preferencial para participarem na fase de construção com bola, devendo em primeiro lugar oferecer largura máxima, maximizando a área a ser defendida pelo adversário e dessa forma potenciar o surgimento de espaço para as médias receberem. Contudo, as DL e em particular a do lado oposto devem estar preparadas para fechar o espaço interior quando percecionam situações de possível perda de bola por parte da DC ou da MD. Quando têm bola devem procurar jogar com uma média ou uma DC o mais rapidamente possível.

As médias, e em particular a MD, assumem uma preponderância maior neste momento, com as suas movimentações para conseguirem assumir-se como linhas de passe.

Situação específica - Bola na GR

Quando, em organização ofensiva, a bola se encontra na posse da GR, todas as jogadoras adotam um posicionamento específico (fig.4). As DC posicionam-se nos cantos mais avançados da grande área com os apoios prontos para receber a bola orientada para a frente e as DL posicionam-se junto à linha lateral numa posição média entre o limite da grande área e a linha de meio campo. A MD está no centro em linha com as DL, pronta para oferecer uma linha de passe caso a GR jogue com uma DC. As MC estão ligeiramente abaixo do meio campo para se movimentarem uma em função da outra e do lado da bola. As Ext no meio campo ofensivo numa linha tangente ao grande círculo e paralela à linha final e Av entre eles, ligeiramente mais avançado. Tendo em conta a relação precisão-velocidade do passe da GR e da capacidade de receção de bola aéreas das DL, a GR deve procurar jogar com uma DC (preferencialmente com a NIV). Apenas joga com as DL se estas tiverem com o adversário mais próximo a uma distância de cerca de 12m. Caso a GR não tenha linha de passe para poder jogar deve mandar a equipa fechar e colocar a bola

43 no corredor central para disputar. Nesse momento as Ext e a AC descem até próximo da linha de meio campo.

DE

DC EE

MC

GR MD AC

MC

ED DC

DD

Figura 4 - MJA - Fase Construção - Bola na GR

Situação Específica - Bola na Defesa Central

Quando, em organização ofensiva, a bola se encontra na posse de uma DC, todas as jogadoras procuram adotar um posicionamento específico (fig.5). As DL oferecem máxima largura, a não ser que percecionem uma possível perda e nesse caso a DC e DL do lado oposto à bola aproximam-se da portadora de bola, protegendo o corredor central (fig.6).

A MD recua continuando no centro (mas nunca para entre as DC), não se deslocando em largura e procura desde logo ser ela a assumir a construção do jogo. A MD pode receber fora ou dentro do bloco defensivo adversário, em função da forma como a equipa adversária defenda. A DL do lado do DC com bola permanece junto da linha. A MC do lado oposto da bola mantem sempre a sua posição, não aproximando do lado com bola para não “cortar” linhas de

44 passe. Desta forma dificulta a ação defensiva adversária pois com essa distância, a equipa adversária terá de defender numa maior área, e mais espaço terá a MD para receber (fig.5 e fig. 6).

DE

11 DC EE

MC 10 5

GR MD 9 6 4 8 MC

DC AC 3 7 DD ED 2

Figura 6 - MJA - Fase Construção - Bola na DC

DE EE 11 MC DC 5 10 GR MD 8 6 AC 4 MC 9 3 DC ED 7 2 DD

Figura 5 - MJA - Fase Construção - Bola na DC

45

Tendo em conta as características da equipa, espera-se a movimentação da Ext e da AC de uma de duas formas, a decidir em função do jogo. A primeira opção (fig. 5) assume a oferta do apoio frontal pela AC, e a Ext do lado da bola oferece largura máxima à equipa, para instigar a uma maior distância entre as defesas adversárias. A segunda opção (fig.6) passa pela oferta do apoio frontal pela Ext do lado da DC com bola e a AC permanece na mesma profundidade e ligeiramente deslocada para o lado da bola. Importa notar que algumas das decisões das jogadoras sem bola, nem sempre são para recebê-la, mas para permitir a criação de espaço para uma colega conseguir fazê-lo.

Fase de Criação

Na fase de criação a equipa procura uma circulação de bola muito rápida, dentro do bloco adversário, assumindo as médias um papel bastante importante. As MC devem criar superioridades no corredor central (fig. 7), mas, também, no corredor lateral (fig. 8). A movimentação das médias tem o objetivo de criar situações favoráveis para um passe em rotura para uma jogadora, preferencialmente uma Ext, receber nas “costas” da linha defensiva adversária. As principais funções da AC são oferecer um apoio frontal para combinações com as médias e criar espaço, através da sua movimentação, para as Ext entrarem em rotura nas costas da defesa adversária, que procuram constantemente a melhor oportunidade para atacar esse espaço. Todas as jogadoras da linha defensiva estão posicionadas atrás da bola, oferecendo coberturas ofensivas (fig. 7).

Quando a equipa tem bola num corredor lateral, a DL do lado da bola oferece uma cobertura ofensiva nesse corredor e a do corredor oposto está em linha com as DC (fig. 8). As DL não se projetam para o último terço ofensivo. A equipa procura criar as condições necessárias para surgirem situações de 1xGR, de passe atrasado dentro de área ou de cruzamento, por esta ordem de preferência.

46

DE 11 EE 5

DC MC 9 GR 10 4 MD

6 AC DC 8 MC 3

ED DD 7 2

Figura 8 - Fase Criação

11 EE

DE 5 10 GR 9 DC 8 MC 4 AC 6 MD 3 DC 7 ED MC 2 DD

Figura 7 - Fase Criação

47

Situação específica - Início da Fase de Criação com bola na AC

Na situação apresentada na fig.9, a Ext do corredor lateral mais próximo da bola oferece largura máxima, para instigar a uma maior distância entre as defesas adversárias. Além disso, lê a possibilidade de receber um passe em rotura da AC, preparando-se para esse momento. A MC do lado no qual a AC recebe oferece uma cobertura ofensiva, imediatamente após a receção da AC. Esta cobertura ofensiva é feita o mais próximo possível do corredor central, para que em caso de receção a MC consiga jogar da melhor forma que conseguir para os 3 corredores, procurando aproveitar possíveis entradas em rotura em todos os corredores. A MC do lado oposto à bola oferece linha de passe no corredor central, e nas costas das médias adversárias, enquanto a MD perceciona rapidamente a envolvência de modo a decidir entre dar uma cobertura ofensiva à MC do lado da bola ou progredir sem bola para um espaço no setor médio ofensivo do corredor central, podendo até assumir uma posição mais avançada do que a MC do lado da bola. Esta decisão depende da leitura de jogo da MD tendo em conta o espaço existente e as relações numérias entre jogadoras da equipa e adversárias naquele espaço, sendo que deve oferecer uma cobertura ofensiva sempre que a probabilidade de perda de bola pela MC seja significativa.

11 DE EE

10 5 DC GR 9 MC MD 6 4 8 DC MC AC 3 7 2 DD ED

Figura 9 - Início Fase Criação – Bola na AC

48

Início da Fase de Criação com bola na Ext

Quando a fase de criação se inicia com a receção de bola por uma Ext (fig. 10), devido às dificuldades destas em proteger e segurar a bola de costas para a baliza, a equipa terá de lhe oferecer rapidamente várias linhas de passe. A MC do mesmo lado deve oferecer uma linha de passe frontal mais recuada, a DL desse lado deve oferecer uma linha de passe junto à linha no setor médio defensivo e a AC uma do outro ligeiramente recuado em relação à portadora. A MD deve procurar uma linha passe mais longe das supracitadas. Deve surgir entre a MC do lado da bola e a AC numa posição mais recuada e equidistante em relação a elas. A Ext posiciona-se no corredor lateral oposto, procurando potenciar ao máximo o espaço no corredor central para as médias atuarem.

EE 11 DE MC 5 10 GR MD DC 6 8 AC 4 9 MC 3 DC ED 7 2 DD

Figura 10 - Início Fase Criação - Bola na Ext

49

Fase de Finalização

A equipa procura que a finalização aconteça, preferencialmente, dentro da área adversária em situações de 1xGR.

Em situação de remate de longa distância, tendo em conta as características das jogadoras, deve acontecer no corredor central, fora de área, mas sempre dentro do setor ofensivo, através de um remate executado por uma das médias.

Em situação de cruzamento, deve surgir uma jogadora a atacar o primeiro poste, uma na zona central em relação à baliza entre a marca de penalty e a pequena área e outra ao 2º poste, aguardando a 2 metros da pequena área. Em cima da linha da grande área na direção da linha lateral da pequena área do lado do cruzamento deve surgir, também uma jogadora preparada para um passe atrasado ou uma 2ª bola. Numa situação frontal à baliza, fora de área e a cerca de 5 metros da meia lua deve posicionar-se uma jogadora, sempre disponível para a possibilidade de surgir numa zona mais próxima da área para um remate de longa distância. Os cruzamentos devem ser executados sempre tensos, procurando desde logo o desvio da jogadora que surge ao primeiro poste. Numa situação ideal (fig.11), a equipa pretende que o cruzamento seja executado pela Ext no corredor lateral e no setor ofensivo, sendo a AC a atacar a zona do primeiro poste, a MC do lado oposto a zona central entre o penalty e a pequena área e a Ext do lado oposto o 2º poste, aguardando a 2 metros da pequena área.

Em cima da linha da grande área deve surgir a MC do lado da bola e posicionada fora da área, a 5 metros da meia lua centrada com a baliza deve estar a MD.

50

DE EE

GR MC DC MD AC MC

DC

DD ED

Figura 11 - Fase Finalização - Posicionamento ideal para cruzamento

3.4.2.3.1.2. Transição Ofensiva

O objetivo primordial na transição ofensiva é aproveitar a desorganização adversária no espaço, criando assim da forma mais rápida possível situações para finalizar. Imediatamente após conquista da posse da bola a equipa deverá oferecer máxima profundidade ao ataque, procurando sempre que possível jogar diretamente com o setor ofensivo, explorando a velocidade das Ext que procuram iniciar imediatamente movimento de entrada em rotura nas “costas” da defesa adversária. As MC procuram imediatamente espaços no corredor central e lateral para a equipa se libertar da pressão e puderem após receção de bola procurar o jogo rápido com as Ext. A linha defensiva mantém a maior organização possível e as DL mantém posição, não se projetando.

51

3.4.2.3.2. Processo Defensivo

3.4.2.3.2.1. Organização Defensiva

A equipa opta por uma atitude defensiva mais expectante do que pressionante, articulando a marcação à zona com a marcação individual (método misto). Procura-se assim aproveitar as capacidades técnicas individuais das defesas, compensar alguma falta de compreensão do jogo da maioria das jogadoras e explorando a compreensão tática defensiva bastante boa da MD.

A equipa assume um bloco defensivo médio-baixo, procurando concentrar a maioria das suas jogadoras no corredor em que está a bola, com as linhas defensiva e média bastante juntas. Pretende-se, em primeiro lugar, a ocupação racional do corredor central, “empurrando” o adversário para os corredores laterais. A equipa não condiciona nem pressiona quando o adversário circula a bola fora do bloco defensivo da equipa (fig. 12), mas fá-lo nos corredores laterais após passada linha mais avançada da equipa. A equipa deve bascular de forma rápida e coletiva e optar por marcação individual no lado da bola, por parte das MC, DL e DC. A MD deve assumir-se como uma cobertura defensiva constante às MC e percecionar quando o tem de fazer a uma DL. A Ext do lado da bola deve marcar individualmente a DL adversária, mas apenas até à entrada do setor defensivo, enquanto a Ext oposto deve posicionar-se na mesma linha que a AC. A AC deve ajudar a evitar a variação do centro de jogo do adversário dentro do bloco defensivo da equipa e, tal como a Ext do lado oposto à bola, preparada para aproveitar um eventual erro adversário (fig.13).

52

5

11 EE DE 4 10 MC 1 GR DC 9 AC 6 MD 8 DC MC 3 ED 7 DD 2

Figura 13 - Organização Defensiva - Bola fora do bloco defensivo

5 DE11 EE

MC DC 9 6 MD 4 10 AC DC MC 1 GR 8 3 DD ED

7 2

Figura 12 - Organização Defensiva - Bola no corredor lateral

53

Situação Específica - Bola na GR

Quando a bola está na posse da GR adversária (fig.14),a equipa procura obrigar a GR adversária a bater longo. Para isso, as 3 jogadoras do setor ofensivo, num primeiro momento aproximam rápido do setor defensivo adversário. A equipa pretende que a GR adversária jogue longo para local onde estão todas as jogadoras concentradas para que exista uma disputa pela posse de bola. Assim todas as jogadoras posicionam-se no corredor central, com uma das DC a dar uma cobertura a todas para uma possível bola que as possa ultrapassar. O posicionamento, em relação à profundidade depende do alcance do pontapé da GR da equipa adversária.

DE 11 10 MC EE 5

DC 4 1 GR 9MD AC DC 6 MC 8 ED 3 DD 7 2

Figura 14 - Organização Defensiva - Bola na GR adversária

3.4.2.3.2.2. Transição Defensiva

A equipa deve reagir de forma muito rápida à perda, em busca da rápida organização defensiva, evitando a criação de situações de finalização. Para o alcançar é preciso por parte das jogadoras mais próximas uma pressão forte sobre a portadora da bola, e uma intenção coletiva de colocar o máximo número e jogadoras atrás da linha da bola, sendo a principal preocupação fechar linhas de passe em profundidade e no corredor central.

54

As jogadoras da linha avançada (Ext e AC) devem estar sempre preparadas para após perda da bola exercer uma pressão forte e imediata com o objetivo de conquistar a posse de bola o mais perto da baliza adversária possível, aproveitando alguma desorganização do adversário na mudança do processo defensivo para ofensivo.

3.4.2.3.3. Esquemas Táticos

3.4.2.3.3.1. Lançamento de linha lateral ofensivo

No lançamento lateral existem sempre quatro linhas de passe e quem marca é sempre a defesa lateral (fig.15), salvo exceções de possíveis contra-ataques ou ataques rápidos. Assim, deve existir uma linha de passe à frente pela Ext do respetivo lado, uma ao meio dada pela MC do respetivo lado, uma também ao centro mais recuada e uma atrás dada pela DC do respetivo lado. Importa realçar que estas posições são iniciais, sendo que as jogadoras devem com movimentos de travagem e mudança de direção enganar as adversárias para conseguirem receber, podendo a MC e a Ext trocarem entre elas. A lançadora apenas em último caso joga com a Ext, pois todas elas têm dificuldade em receber a bola em trajetória aérea. A DC e a DL do lado oposto fecham para preparar uma

EE DC GR 1 AC DC MC

MD DC MC

ED DD Figura 15 - Esquemas Táticos - Lançamento de Linha Lateral Ofensivo

55 eventual perda de bola e a outra MC está numa posição central do terreno quanto à largura, ajustando a profundidade em função do local do lançamento.

3.4.2.3.3.2. Cantos ofensivos

Nos cantos ofensivos a equipa opta, preferencialmente por cruzar para a área, sendo a decisão de para o primeiro ou o segundo poste em função do adversário e das características das jogadoras em campo. Surgem dentro da área, num movimento iniciado já dentro da grande área, mas próximo da linha e que se pretende que acabe com o contacto na bola entre a zona de penalti e a pequena área, 5 jogadoras (fig.16). Uma destas surge entre o segundo poste e uma linha imaginaria de prolongamento da linha lateral da pequena área mais afastada do lado do canto, outra entre o primeiro poste e uma linha imaginaria de prolongamento da linha lateral da pequena área mais próxima do lado do canto, e as restantes 3 distribuídas entre os postes das balizas. Fora da área fica uma jogadora (fig.16). A função de cada uma das jogadoras é decidida em função daquelas que estiverem em campo em cada momento.

11

5

8 1 10 2 6 9 1 3 4 7

Figura 16 - Esquemas Táticos - Cantos Ofensivos

56

3.4.2.3.3.3. Cantos defensivos

Nos cantos a equipa opta pela marcação individual e ficam duas jogadoras posicionadas nos postes da baliza, uma em cada um. Uma das Ext fica sempre dentro do grande círculo no seu meio campo preparada para uma saída em contra-ataque. Caso o adversário opte pelo canto curto, a jogadora em marcação individual acompanha a adversária que procura ir receber, saindo, também, num momento de aproximação à marcadora do canto a jogadora que está ao primeiro poste. Esta opção pela marcação individual é justificada pelas dificuldades na apreciação de trajetórias aéreas e na técnica do cabeceamento defensivo, tentando-se, assim, que cada jogadora condicione imediatamente cada adversária.

3.5. Modelo de Treino

3.5.1. Revisão da Literatura

“O treino constitui a forma mais importante e influente na preparação dos atletas para a competição.” (Garganta, 2004)

Segundo Castelo et al. (1996) “o treino é um processo pedagógico que visa desenvolver as capacidades técnicas, táticas, físicas e psicológicas do(s) praticante(s) e das equipas no quadro específico das situações competitivas, através da prática sistemática e planificada do exercício, orientada por princípios e regras devidamente fundamentadas no conhecimento científico”.

Para Quina e Graça (2011) a preparação das unidades de treino deverá ser feita microciclo a microciclo, necessitando de identificar problemas da equipa e dos jogadores em cada jogo, mas também durante os treinos, hierarquizar os problemas, definir objetivos para o microciclo seguinte e distribuí-los pelas unidades de treino para em coerência com os objetivos traçados, contruir os exercícios de treino.

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3.5.1.1. A Periodização

Na opinião de Fonte Santa (2004), o treinador “necessita de constantemente antecipar o futuro, através da preparação prévia e exaustiva das diferentes soluções exigidas por uma realidade exterior em constante mutação”. Este futuro pode constituir-se como um futuro mais próximo, como o jogo dentro de 5 dias, ou num mais alargado como o início do campeonato dentro de um mês, após o Período Competitivo. No alto rendimento, este marco, a competição, é o ponto de partida e o ponto de chegada para todo o planeamento na sua vertente mais macro. Ideia corroborada por Cunha (2016) ao admitir que a competição é o objetivo final do processo de treino. Segundo Pinheiro et al. (2018) o treinador é obrigado a preparar e planear o processo de treino o mais meticulosamente possível para equipa e jogadores chegarem a cada momento competitivo no máximo do rendimento. Nesse sentido, a periodização, isto é, a divisão da época desportiva em períodos, deve ser bastante bem ponderada.

Segundo Bompa e Haff (2009) nos desportos em que o seu formato organizativo requer um período competitivo muito longo o objetivo da periodização é prolongar o estado de forma desportiva do atleta durante todo esse momento, isto é, manter o atleta no máximo das suas capacidades durante todo o período competitivo. Gamble (2006) sugere uma divisão da época em 3 momentos diferentes 1) Off-Season – um período antecedente ao treino coletivo, caracterizado pelo treino da vertente física de forma exclusiva, mas que considera ser muitas vezes impossível no futebol de alto rendimento devido ao calendário competitivo muito longo, admitindo, porém, a possibilidade de permitir os jogadores durante o período de férias entre temporadas (que não contabiliza para a sua divisão da época desportiva) de realizarem algum treino sem supervisão; 2) Pre-season 3) In-Season. Pinheiro et al. (2018) também dividem a época desportiva em 3 momentos: 1) Período Preparatório 2) Período Competitivo; 3) Período Transitório – período de férias concedido aos jogadores entre épocas desportivas.

58

3.5.1.1.1. Período Preparatório

Segundo Pinheiro et al. (2018) “o período preparatório sendo particularmente curto, sobretudo em equipas profissionais, reclamará a adoção de uma forma de jogar e treinar altamente específica, não havendo lugar para o desenvolvimento de um trabalho apurado de natureza geral, pese embora este não seja de menosprezar”. Estes autores consideram que o Período Preparatório deverá atender ao desenvolvimento de 3 eixos diferenciados, o eixo fisiológico, o eixo tático e eixo de coesão grupal. Quanto à interligação entre estes eixos, afirmam que no início das épocas o objetivo passa por encontrar um modelo de jogo, o que implica ser-se possuidor de uma condição física que legitime essa forma de jogar.

No que diz respeito ao eixo fisiológico, Castelo (2002) afirma que “após um período de inatividade existe uma reversibilidade das capacidades físicas dos jogadores”. Dessa forma, independentemente de ser feito de uma forma mais integrada ou menos, tendo como base exercícios do modelo de jogo ou não, é crucial efetivar um programa de readaptação ao esforço. Para Eliakim et al. (2018) o período preparatório assume-se como um momento muito importante na preparação do jogador para a restante época, no sentido da evolução física e da prevenção de lesões. Segundo Pinheiro et al. (2018) a primeira semana de treinos, é para muitos treinadores, dedicada essencialmente à readaptação dos atletas ao esforço, evitando cargas muito intensas que poderão, em última análise, provocar lesões, utilizando um microciclo designado por estes autores como Microciclo de Readaptação ao Esforço.

Os jogadores necessitam de um alto nível de condição física para poder lidar com as exigências físicas do futebol, permitindo que as suas habilidades técnicas sejam melhor utilizadas durante todo o jogo (Bangsbo & Hellsten, 2007). Casanova et al. (2013) caracterizam o futebol como tendo um ambiente complexo com intensidades de esforço muito variáveis. Reilly et al. (2000) comprovam a participação significativa tanto da via metabólica aeróbia como da anaeróbia durante uma partida de futebol. Acrescentam que “os jogadores devem ter uma potência aeróbia e anaeróbia moderada a alta, boa agilidade e

59 flexibilidade articular, bons níveis de força e ser capazes de mudanças de direção em movimentos rápidos”, admitindo “não ser possível, devido á heterogeneidade das características antropométricas e fisiológicas entre as equipas de alto rendimento, isolar pré-requisitos físicos individuais para o sucesso com um alto nível de confiança”. Hoff e Helgerud (2004), asseguram que a recuperação após os períodos de alta intensidade realizados durante um jogo de futebol e que dependem da via metabólica anaeróbia é feita através da energia derivada da via aeróbia.

Para Bangsbo e Hellsten (2007), importa nas primeiras duas semanas do período preparatório dar prioridade ao treino aeróbio de alta intensidade, passando depois a prioridade para um treino de velocidade e caso se tratem de jogadores de elite de velocidade-resistência. Estes autores mostram que os jogadores podem atingir uma elevada capacidade de performance logo no inicio da época mesmo com um período preparatório de 5 a 8 semanas, contudo importa que durante o período entre épocas desportivas, não exista um decréscimo nítido da capacidade física, conseguido através de, por exemplo dois momentos semanais de treino aeróbio de média intensidade. Davies (2005) considera o período preparatório importante para levar os jogadores à forma desportiva, sendo ela obtida através de uma grande estimulação do sistema aeróbio em primeiro lugar, importante para um mecanismo de recuperação melhor e constituindo-se a base para a as outras capacidades. O mesmo autor assume que é um período importante para a melhoria da resistência anaeróbia, da força, da velocidade, da flexibilidade e da coordenação.

Apesar de Araújo et al. (2018) admitirem a existência de diferenças fisiológicas entre os sexos - por exemplo, as jogadoras poderão beneficiar de um maior melhoramento da capacidade aeróbica porque nelas parece ser esse o metabolismo em evidência, enquanto nos jogadores parece ser o anaeróbio - afirmam tendo como referência os estudos de Datson et al. (2017), de Di Mascio e Bradley (2013); de Faude et al. (2012) e de Mohr et al. (2008) que para o jogo de futebol, seja ele jogado por homens ou por mulheres, as capacidades físicas já referidas são cruciais para a boa performance.

60

3.5.1.1.2 Período Competitivo

Segundo Bompa e Haff (2009) o procedimento básico para operacionalização do prolongamento de forma desportiva consiste na estabilização semanal dos níveis de carga durante o período competitivo construindo um microciclo competitivo “estruturado”, que será aplicado uniformemente durante todo este período. Cunha (2016) define microciclo como um “conjunto de algumas unidades de treino que, em sintonia com os períodos de recuperação, formam um fragmento relativamente unido, com caráter de repetitividade, do processo de treino, durando normalmente uma semana”. Ainda para este autor o objetivo é cada atleta adquirir dentro de cada ciclo de treino o seu estado de preparação otimal para exprimir o máximo rendimento possível em competição, o jogo no caso do futebol. Dessa forma, o jogo assume um papel determinante na configuração do Morfociclo (denominação usada para definir o espaço temporal entre 2 jogos à luz da Periodização Tática), pois é através dele que o treinador perspetiva o último e é sobre ele, em consonância com a dimensão estratégica e tendo sempre como pano de fundo o respeito pela matriz conceptual, que constrói e projeta o próximo (Carvalhal et al., 2014).

Silva (2007) afirma que qualquer exercício, treino ou jogo é seguido por um período de tempo de repouso compensatório de extrema importância para o futebolista. Rainer (2002) alerta que uma frequência elevada de jogos aliada a uma inadequada recuperação faz os jogadores iniciar um jogo sem terem recuperado do anterior.

As capacidades força, velocidade e resistência e o modo como se relacionam são cruciais para o rendimento físico (Bompa, 2001; cit in Silva, 2007), sendo que durante um jogo de futebol os sistemas energéticos (glicogénio hepático e muscular, triglicerídeos musculares), os sistemas músculo-esqueléticos, endócrinos e nervoso são sujeitos a um elevado stress (Reilly & Ribgy, 2002). Silva (2007) acrescenta que o jogo é indutor de agressão/lesão músculo- esquelética.

Reilly e Ekblom (2005) sugerem que a principal preocupação no planeamento é a correta articulação entre os períodos de recuperação e o estimulo de treino

61 entre jogos. Os mesmos autores consideram a regeneração das reservas metabólicas uma prioridade, admitindo a promoção de práticas que ajudem nesse processo.

Segundo Bezerra (2014) os métodos mais utilizados na recuperação do futebolista são a recuperação ativa, crioterapia e recuperação passiva. O primeiro método consiste na realização de treino em baixa intensidade (Suzuki, et al., 2004). A crioterapia consiste na imersão em água a temperaturas entre os 5º e os 15º C procurando a redução da temperatura tecidual por condução (Nedelec et al., 2013).

Um estudo de Silva (2007) sugere que “o jogo de futebol origina alterações nos parâmetros funcionais no período de recuperação até às 72 horas após o jogo”. Contudo, o mesmo autor, tendo por base a sua investigação, admite que as alterações funcionais detetadas na sua amostra (16 estudantes masculinos universitários, onde se incluem alguns jogadores amadores) poderão ser de inferior magnitude em futebolistas de alto nível, além de não ter inserido nenhum processo de recuperação ativa.

Bezerra (2014) na tentativa de perceber a efetividade de cada um dos métodos supracitados realizou dois estudos que apresentou na sua tese de doutoramento. Para a sua execução, constituiu 3 grupos de jogadores com diferenças não significativas nos parâmetros de idade, peso, percentagem de gordura e VO2 máximo, sujeitando cada um deles a um dos métodos. Os jogadores do grupo que realizou recuperação passiva não realizaram nenhum tipo de treino nem outra estratégia de recuperação durante os 3 dias após o jogo. Os jogadores do grupo sujeitado a uma recuperação ativa realizaram sessões de 30 minutos de corrida contínua, a uma intensidade de 50% de VO2 máximo, durante os 3 dias após o jogo. Os jogadores que realizaram crioterapia, foram sujeitos a uma sessão por dia durante os 3 após o jogo, que consistia na imersão em água até à linha da cintura a uma temperatura de 10º C durante 10 min. O autor concluiu que as reações inflamatórias e danos musculares instigados pelo desempenho num jogo de futebol são elevados, contudo, num regime de recuperação passiva, os valores da atividade sérica das enzimas creatina

62 quinase total, lactato desidrogenase e aspartato aminotrasferase, indicadoras de dano muscular, retomaram os níveis basais após 48h, enquanto os valores de proteína C-reativa, indicador de inflamação, retomou os valores basais em 48h. A alteração dos valores do cortisol e da testosterona também aferem o estado catabólico que o jogo de futebol provoca, retomando valores basais em 24h. Os seus estudos revelaram que a função imunitária é significativamente alterada após o jogo, mas não os parâmetros hematológicos (eritrócitos, hemoglobina, hematócrito, volume globar médio, hemoglobina globular média, concentração de hemoglobina globular média e índice de anisocitose eritocitária). Apesar de admitir que os indicadores imunitários e hematológicos escolhidos possam não ser os mais eficazes, indica que, quanto aos primeiros, os níveis de leucócitos, neutrófilos e monócitos retornam os seus valores basais em 24h, enquanto os eosinófilos e linfócitos o fazem em 48h, independentemente do método de recuperação utilizado. Verificou, também, que a recuperação ativa não agravou os danos musculares, admitindo, então, que este pode ser um indicativo que o treino de baixa intensidade não interfere na recuperação. Quanto à crioterapia, o autor admite que os seus resultados são muito contraditórios. Ideia esta corroborada por Reilly & Ekblom (2005) ao afirmar que a massagem, crioterapia e terapias alternativas não se têm mostrado consistentemente eficazes. Bezerra (2014) afirma que os diferentes métodos utilizados não apresentam resultados significativamente diferentes entre eles e demonstra um retorno à condição basal de todos os marcadores estudados e já supracitados no período de 72h.

Bompa e Haff (2009) admitem que nos desportos coletivos, como o caso do futebol, onde existe uma competição ou mais em cada semana, a recuperação tem de ser obrigatoriamente tida em conta, após e antes de cada competição, e a maior carga de treino surgir a meio da semana. Para estes autores, o esquema geral do microciclo será: Jogo – Recuperação ativa – Carga de intensidade elevada especial e específica – Recuperação ativa – Jogo.

Pinheiro et al. (2018) apresentam para o um microciclo com uma competição semanal de Domingo a Domingo, a seguinte proposta:

 Domingo – Jogo

63

 Segunda-Feira – Dia de folga, com objetivo de recuperação mental e física  Terça-Feira – Dia dedicado à recuperação física daqueles jogadores que participaram no jogo anterior através de exercícios de baixa intensidade, enquanto os que não foram utilizados são sujeitos a um treino com alguma intensidade, tendo por base a utilização de jogos reduzidos e condicionados  Quarta-Feira – Dia em que se recomenda a utilização de jogos com relações numéricas (2x2, 3x3, 4x4) reduzidas em espaços igualmente reduzidos, procurando uma elevada velocidade de contração, de curta duração e elevada tensão  Quinta-Feira – Dia em que se recomenda a realização de exercícios com elevado número de atletas (7x7, 8x8) em espaços mais próximos do espeço real de jogo. Pinheiro et al. (2018) citam Clemente e Mendes (2015) para justificar a realização deste tipo de treino neste dia da semana pois estes afirmam ser um treino que acarreta um aumento da concentração de lactato sanguíneo bem como da fadiga acumulada, daí ter de ser feito no dia mais distante do jogo anterior e do seguinte  Sexta-Feira – Dia em que se usam espaços intermédios procurando uma elevada velocidade de contração, de curta duração e tensão não máxima, optando por poucas repetições.  Sábado – Dia que pode ser utilizado para afinar o plano estratégico para o jogo (como esquemas táticos ou alguma zona de pressão, por exemplo) ou para qualquer tipo de recuperação física ou mental através de atividades lúdicas.  Domingo – Jogo

Carvalhal et al. (2014) à luz da periodização tática defendem a operacionalização de um morfociclo que gira a relação esforço/desempenho sem hipotecar e evolução da forma de jogar da equipa e siga um padrão semanal. Dessa forma é importante estabelecer uma matriz de desempenho para cada dia da semana, sendo essencial compreender a dinâmica das contrações musculares. Assim, no

64 seguimento da mesma visão, Reis (2017) sugere a seguinte organização para um morfociclo com o jogo seguinte e anterior a um Domingo:

 Domingo – Jogo  Segunda-Feira – Folga  Terça-Feira – Assume-se como um dia de recuperação ativa. A recuperação é feita intervindo sobre o que está cansado, mas com um doseamento diferente. Dessa forma é estimulado o padrão bioenergético que levou à fadiga, mas em períodos curtos (1’ a 1’30’’) e com intervalos alargado para proporcionar a ação da via oxidativa na remoção de substância prejudiciais como o ácido lático.  Quarta-Feira – Procura-se promover a extensibilidade máxima na contração muscular. Pretende-se exercícios cujos constrangimentos promovam mudanças de direção e travagens, para existir estimulação das fibras rápidas e da via anaeróbia.  Quinta-Feira – Dia em que existe uma sobrecompensação coletiva em relação ao jogo de domingo e se garante a recuperação coletiva após o jogo de Domingo. É o dia em que as condições de treino mais se aproximam às de jogo, sendo o dia mais desgastante, onde a exercitação ocorre durante períodos mais alargados. Contudo deve-se procurar manter o padrão da contração muscular / padrão bioenergético desejado durante todo o exercício, sendo preferível, por exemplo, dividir um exercício de 30 min em 4 de 8 min. Constitui-se num dia em que seria mais conveniente dividir a sessão em duas a acontecerem ao longo dia, garantindo maior tempo de recuperação entre sessões de exercitação.  Sexta-Feira – Procura-se a maximização da velocidade de deslocamento (recomendando-se distâncias de aproximadamente 20m). Devem-se construir exercícios específicos com ou sem bola em que o foco é o alcance da velocidade máxima e não a ação técnica caso o exercício seja realizado utilizando bola, como em situações de condução para finalizar com perseguição de defesa. Entre estes exercícios, devem existir outros em forma jogada a servir essencialmente como forma de recuperação,

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não devendo ser alargados em tempo nem em espaço. Importa, também, evitar a tensão máxima, não potenciando movimentos de travagem.  Sábado – Este dia assume-se como bastante importante como forma de recuperação para o jogo de Domingo, pois o esforço só é máximo quando se está fresco. Pode constituir-se um dia importante para expor os jogadores a atividades que preparem o seu estado de alerta, essencial para o jogo, mas sem gerar fadiga.  Domingo – Jogo

Contudo, cada contexto pode obrigar a adaptações diferentes, tal como foca Maçãs in Oliveira (2007): “existem uma série de fatores que influem na planificação de um microciclo e muitas vezes nem estão relacionados com as condicionantes da recuperação ou dinâmicas das cargas. Por exemplo, no Chaves a nossa ideia era sempre que tivéssemos jogo em casa treinar na segunda de manhã, folgar na terça e depois treinar na quarta de manhã e durante os restantes dias da semana, quando tivéssemos jogo fora jogaríamos ao domingo e só treinaríamos na terça de tarde, e isto tem a ver com o facto de não fazer sentido para os jogadores, que na sua maioria não são residentes em Chaves, estarem a regressar a chaves para na segunda a seguir ao almoço estarem a regressar ao Porto ou a Lisboa, por exemplo, temos que ser sensíveis relativamente a estes aspetos".

Pinheiro et al. (2018) defendem que a definição dos conteúdos táticos e técnicos para cada microciclo deve ser feita em função da análise da própria equipa e do adversário, e por isso podem existir diferenças significativas entre microciclos quanto a este aspeto.

3.5.1.2. O exercício

Para Castelo et al. (1996) o sucesso em treino e em competição depende da eficácia do próprio exercício e citam as palavras de Ozolin (1981) que assume a seleção dos exercícios como o aspeto mais importante no treino. Azevedo (2009) afirma que o processo de treino desportivo se concretiza na organização do

66 exercício sendo na opinião de Castelo (2002) a estrutura base do processo que determina a melhoria do rendimento coletivo e individual.

Segundo Carvalhal et al. (2014), todos os exercícios deverão ter um carácter específico muito elevado, definidos a partir do modelo de jogo. Para Pereira (2006), o exercício assume-se como o instrumento fundamental no processo de treino em futebol, pois é a partir dele que jogadores e a equipa incutem a forma de jogar na vertente tática técnica, física e psico-cognitiva. O mesmo autor exprime a extrema importância do exercício para a operacionalização do modelo de jogo da equipa, admitindo ser a construção ou seleção do exercício resultado de uma forma de jogar e ao mesmo tempo o meio primordial do processo de treino para determinada forma de jogar, na busca do rendimento máximo da equipa. Para Oliveira (2004) o modelo de jogo da equipa é fundamental para oferecer orientação ao processo de treino, constituindo-se o fim ao qual o treinador pretende chegar.

3.5.2. Modelo de treino do escalão sénior do CA

Importa, em primeiro lugar, referir que o planeamento está diretamente pendente dos recursos práticos e materiais existentes, por isso convém reforçar que a equipa técnica considera ter todas as condições necessária para a execução do seu trabalho.

A equipa técnica dividiu o planeamento em dois grandes momentos, o Período Preparatório, onde se pretendeu essencialmente a criação da melhor forma física para cada jogadora e o Período Competitivo, onde se pretende a chegada da jogadora no máximo das suas capacidades a cada momento competitivo existentes neste período.

3.5.2.1. Período Preparatório do escalão sénior do CA

A equipa técnica estabeleceu a duração do período preparatório em 3 semanas, correspondendo cada uma a um microciclo, com 5 treinos semanais (1 treino por dia de Segunda-Feira a Sexta-Feira) e um jogo particular ao fim-de-semana. Importa, previamente referir, que o planeamento foi feito para um número médio de jogadoras previstas para cada treino, beneficiando de uma forte articulação

67 com a equipa sub-19 do clube, sendo frequente a participação das jogadoras desse escalão no treino das Seniores. Durante estas semanas, o foco foi a melhoria dos aspetos físicos das jogadoras. Nesse sentido, procurou-se construir unidades de treino e exercícios em que a vertente física do treino fosse extremamente potenciada, procurando a construção de um estado de forma para toda a época desportiva. Para tal, a equipa técnica optou por exercícios com intensidades variáveis com e sem bola, procurando uma aproximação às exigências da modalidade. Neste período foi, também, intenção da equipa técnica construir exercícios que permitissem aferir o mais detalhadamente possível as valências e características de cada jogadora para, posteriormente, definir e construir o melhor modelo de jogo para a equipa.

Embora não seja intenção e objetivo da equipa técnica isolar as diferentes dimensões física, tática, técnica e psicológica em cada treino, é oportuno neste momento procurar fazer uma divisão das dimensões para efeitos demonstrativos e justificativos, quanto ao foco na preparação física durante o período preparatório (Tabela 3). Admitindo as dimensões Treino Físico (TF), Treino Tático (TTa), Treino Técnico (TTe), Treino Psicológico (TP), segue-se uma caracterização dos 15 treinos deste período em relação à incidência em cada uma (tabela 3). Para melhor compreensão dos dados importa ter em conta o seguinte: 1) Com objetivo de simplificar esta análise, e admitindo a separação destas dimensões complexa e para alguns impossível, descarta-se a dimensão do Treino Psicológico; 2) A associação de cada exercício às dimensões é feita segundo os objetivos definidos para cada um, daí um poder ser associado a duas dimensões (por exemplo: TF/TTe).

68

Tabela 3 - Distribuição de minutos por dimensão de treino durante o Período Preparatório

Treino Minutos de incidência em cada dimensão Percentagem (min dimensão / min total treino) 1 6 Aq + 50 TF + 20 TTa 8% Aq + 66% TF + 26% TTa 2 6 Aq + 60 TF + 20 TTa 7% Aq + 70% TF + 23% TTa 3 5 Aq + 66 TF 7% Aq + 93% TF 4 5 Aq + 40 TF/TTe + 43 TTa 6% Aq + 45% TF/TTe + 49%3 TTa

Microciclo1 5 6 Aq + 35 TF + 45 TTa 7% Aq + 41% TF + 52% Tta 6 6 Aq + 35 TF + 40 Tta 7% Aq + 43% TF + 50% TTa 7 5 Aq + 25 TF + 45 TTa 7% Aq + 33% TF + 60% TTa 8 5 Aq + 24 TF/TTe + 50 TTa 6% Aq + 31% TF/TTe + 67% TTa 9 6 Aq + 30 TF + 40 TTa 8% Aq + 40% TF + 52% Tta

Microciclo2 10 5 Aq + 20 TTe/TTa + 20 TTe/TF + 40 TTa 6% Aq + 23,5% TTe/TTa + 23,5% TTe/TF + 47% TTa 11 5 Aq + 20 TTe/TF + 40 TTa 8% Aq + 31% TTe/TF + 61% TTa 12 5 Aq + 25 TF + 45 TTa 7% Aq + 33% TF + 60% TTa 13 7 Aq + 35 TF + 50 TTe 8% Aq + 38% TF + 54% TTe 14 5 Aq + 30 TF/TTe + 50 TTa 6% Aq + 35% TF/TTe + 59% TTa

Microciclo3 15 5 Aq + 20 TTe/TTa + 20 TTe/TF + 40 TTa 6% Aq + 23,5% TTe/TTa + 23,5% TTe/TF + 47% TTa

Os exercícios direcionados para a dimensão física foram diversificados, constituindo-se como exercícios de exigência aeróbia ou de exigência mista aeróbia/anaeróbia, usando bola ou não, incluindo exercícios de velocidade máxima, força e coordenação, sendo o foco dos primeiros treinos a resistência aeróbia (fig. 17 a 21).

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Clube de Albergaria Seniores - Feminino 2018/2019 Local: Estádio Treino 1 Data: 13/08/2018 (segunda- Feira) Hora: 20:15 Duração: 90' Municipal Instrução Inicial - Objectivos: Objetivos Trenio; Regras; Relação dos atletas com estrutura (coordenador, 1 treinadores, colegas, e staff envolvente); Rotinas (balneário, campo, infraestruturas, convocatórias, etc.)

2 Objetivos: Potência Anaeróbia Lática

Espaço: 60x30m Duração: 6'AQ + 25' Nº 22+4 Antes de ex. realizam 7 min de aquecimento correndo à sua vontade no circuito da imagem . 2 grupos de atletas, correndo no circuito, sendo que ao apito da Treinadora têm de acelerar, e ao segundo abrandar. 40'' Intensidade baixa a moderada 20'' esforço máximo (10 min correndo numa direção, 10 min na oposta - Recuperação ativa de 5 caminhando e hidratação - 5 min em apenas uma direção) Alongamentos dinâmicos Hidratação 5' 3 Objetivos: Resistência Aeróbia específica

Espaço: 50x25m Duração: 25' Nº 22+4 B A Exercício de 25 min, com alternâncias de velocidades. Percursos A e B com igual distância (30 m), sendo que percurso A deve ser percorrido entre 5 e 7 seg e B entre 25 seg e 30 seg (10 min correndo numa direção, 10 min na oposta - Recuperação ativa de 5 caminhando e hidratação - 5 min em apenas uma direção) Alongamentos dinâmicos no A B final

Hidratação 5'

4 Objetivos : Inteligência tática e Ocupação de espaços em fadiga

Espaço: 50x70m Duração: 20' Nº 22

jogo 11x11 em dimensões de 50x70m para 5 mini-balizas. Gurda-Redes em trabalho específico com Treinador de GR. Conta com participação de jogadoras Juniores

5 Alonamentos Estáticos Duração: 7 min

Material Bolas, Varas, sinalizadores, 4 mini-balizas.

Figura 17 - Unidade Treino 1 - Microciclo 1 – Período Preparatório

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Clube de Albergaria Seniores - Feminino 2018/2019 Local: Estádio Treino 2 Data: 14/08/2018 (Terça-Feira) Hora: 20:15 Duração: 90' Municipal Instrução Inicial - Objectivos: Objetivos Trenio; Regras; Relação dos atletas com estrutura (coordenador, 1 treinadores, colegas, e staff envolvente); Rotinas (balneário, campo, infraestruturas, convocatórias, etc.)

2 Objetivos: Potência Anaeróbia Lática

Espaço: 60x30m Duração: 6'AQ + 25' Nº 22+4 Antes de ex. realizam 7 min de aquecimento correndo à sua vontade no circuito da imagem . 2 grupos de atletas, correndo no circuito, sendo que ao apito da Treinadora têm de acelerar, e ao segundo abrandar. 40'' Intensidade baixa a moderada 20'' esforço máximo (10 min correndo numa direção, 10 min na oposta - Recuperação ativa de 5 caminhando e hidratação - 5 min em apenas uma direção) Alongamentos dinâmicos Hidratação 5' 3 Objetivos: Resistência Aeróbia específica

Espaço: 50x25m Duração: 25' Nº 22+4 B A Exercício de 25 min, com alternâncias de velocidades. Percursos A e B com igual distância (30 m), sendo que percurso A deve ser percorrido entre 5 e 7 seg e B entre 25 seg e 30 seg (10 min correndo numa direção, 10 min na oposta - Recuperação ativa de 5 caminhando e hidratação - 5 min em apenas uma direção) Alongamentos dinâmicos no A B final Hidratação 5' Objetivos : Pricipios especificos ofensivosdo jogo, foco na mobilidade e cobertura ofensiva; oferta de linhas de 4a passe; mobilidade Espaço: 30x40m Duração: 30' Nº 8+2

Jogo de GR+4x4+GR . 3 equipas, jogos de 5 min (AxB;AxC;BxC;AxB;AxC;BxC). Cada jogadora passa aqui 20'

4b Objetivos : Coordenação, Pliometria e capacidade de aceleração / Reforço muscular

Espaço: 50x70m Duração: 30' Nº 4

1ª repetição 2 min coordenação c/aceleração + 1 min pausa + 2 min pliometria c/ aceleração 2ª repetição Pranchas 45'' + 30'' pausa Cada jogadora passa aqui 10'

Hidratação 5'

5 Alonamentos Estáticos Duração: 7 min

Material Bolas, varas, sinalizadores, escadas de coordenação, 5 mini barreiras

Figura 18 - Unidade Treino 2 - Microciclo 1 – Período Preparatório

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BDI Seniores - Feminino 2018/2019

Treino 3 Data: 15/08/2018 (Quarta-Feira) Hora: 16:00 Local: Pinhal Duração: 90' Instrução Inicial - Objectivos: Objetivos Trenio; Regras; Relação dos atletas com estrutura (coordenador, 1 treinadores, colegas, e staff envolvente); Rotinas (balneário, campo, infraestruturas, convocatórias, etc.)

2 Objetivos: Resistência Aeróbia Espaço: 60x30m Duração: 5'AQ + 16' Nº 25

Antes deste ex. correm 6 min pelo percurso indicado em ritmo baixo, em forma de aquecimento . Corrida no maximo das suas capacidades em percurso com diferentes inclinações de baixo declive, contemplando subidas e descidas (8 min numa direção, 8 noutra). Alongamentos dinâmicos

Hidratação 5' 3 Objetivos: Resistência Aeróbia Espaço: 50x25m Duração: 20' Nº 25

Corrida no maximo das suas capacidades em percurso com diferentes inclinações de bastante e extensas, contemplando subidas e descidas. Alongamentos dinâmicos

Hidratação 5' 4 Objetivos: Resistência Aeróbia

Espaço: 30x40m Duração: 30' Nº 25

Corrida no máximo das suas capacidades em percurso plano A com pequenas inclinações e apenas descendente, mas com presença de escadas para subir (um apoio em cada degrau 113 degraus com altura de 25 cm e comprimento de 30 cm)

Hidratação 5'

5 Alonamentos Estáticos Duração: 10 min

Material

Figura 19 - Unidade Treino 3 - Microciclo 1 – Período Preparatório

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BDI Seniores - Feminino 2018/2019 Local: Estádio Treino 4 Data: 16/08/2018 (Quinta-Feira) Hora: 20:15 Duração: 90' Municipal Instrução Inicial - Objectivos: Objetivos Trenio; Regras; Relação dos atletas com estrutura (coordenador, 1 treinadores, colegas, e staff envolvente); Rotinas (balneário, campo, infraestruturas, convocatórias, etc.)

2 Objetivos: Coordenação específica, pliometria, agilidade e capacidade de aceleração

A Espaço: 40x5m Duração: 5'AQ + 24' Nº 18 5' de mobilização geral em forma de aquecimento, aproveitando circuito, mas não usando obstáculos 2 Percursos: A - 1) coordenação específica com condução entre sinalizadores, 2 pés; 2) dif. mov. nas escadas; 3)=1A outro B lado; 4) contornar varolas sem bola, vel. máx 5) saltos a pés juntos entre barreiras. B - 1)condução com mudança de direção; 2) saltos a um pé nos arcos; 3)=1B outro lado; 4)=5A; 5) velocidade máxima 5 metros. Alongamentos dinâmicos Hidratação 5' 4a Objetivos: Principios específicos do jogo, oferta de linhas de passe; movimentações defensivas dos Extremos

Espaço: 40x55m Duração: 50' Nº 12+2

GR+6x6+GR. Equipas em 2-1-3, com bastante pouco feedback e apenas para manter um ritmo de jogo positivo. Cada jogadora passa neste exercicio 43 min

Objetivos : mobilidade, timming de passe, melhoria tecnica em espaços curtos; cobertura defensiva; potência 4b aeróbia, resistência aneróbia; espírito competitivo Espaço: 10x10m Duração: 16' Nº 6

Meinho, sem limite de toques, em 4x2, sendo que a equipa em inferioridade conta as recuperações que faz. Cada dupla está no meio 2', com pausa entre repetições de 30''. 2 voltas. Cada jogadora passa neste exercício 16 min

Hidratação 5' 5 Alonamentos Estáticos Duração: 10 min

Material Bolas, varas, sinalizadores, escadas de coordenação, 5 mini barreiras

Figura 20 - Unidade Treino 4 - Microciclo 1 – Período Preparatório

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BDI Seniores - Feminino 2018/2019 Local: Estádio Treino 5 Data: 17/08/2018 (Sexta-Feira) Hora: 20:15 Duração: 90' Municipal Instrução Inicial - Objectivos: Objetivos Trenio; Regras; Relação dos atletas com estrutura (coordenador, 1 treinadores, colegas, e staff envolvente); Rotinas (balneário, campo, infraestruturas, convocatórias, etc.)

2 Objetivos: Resistência Específica

Espaço: 60x40m Duração: 6' + 35' Nº 18 Antes deste ex. correm 6 min pelo percurso indicado em ritmo baixo, em forma de aquecimento . Corrida em circulo com jogadoras a realizar diferentes corridas à indicação da treinadora, alternando entre. Momentos velocidade lenta, moderada e sprint, salto ao eixo, corrida entre as colegas em fila indiana enquanto correm e salto ao eixo seguido de deslocamento rasteiro por baixo de pernas da colega Alongamentos dinâmicos Hidratação 5'

3 Objetivos: Inteligência tática em diferentes sistemas táticos Espaço: 40x55m Duração: 45' Nº 16+2

GR+8x8+GR. Jogo formal com uma equipa em 3-3-2 e outra em 3-2-3. Jogo sem feedback

Hidratação 5' 5 Alonamentos Estáticos Duração: 10 min

Material Bolas, varas, sinalizadores, escadas de coordenação, 5 mini barreiras

Figura 21 - Unidade Treino 5 - Microciclo 1 – Período Preparatório

74

3.5.2.2. Período Competitivo do escalão sénior do CA

O microciclo-tipo da equipa durante o período competitivo coincidia com uma semana completa e era constituído por 4 treinos (Terça-Feira, Quarta-Feira, Quinta-Feira e Sexta-Feira), 1 momento competitivo, o jogo (Domingo) e 2 dias de descanso, um antes e outro depois do jogo, Sábado e Segunda-Feira, respetivamente. O jogo norteava todo trabalho desenvolvido, sendo o objetivo em cada um dos microciclos preparar a equipa para chegar no máximo das suas capacidades a esse momento. A equipa técnica preparava a semana de treinos à segunda-feira, permitindo, assim, planear sobre uma análise mais detalhada ao jogo anterior e em função do adversário seguinte. A equipa técnica privilegiava o treino do modelo de jogo adotado e, em particular, os aspetos específicos nos quais a equipa tinha mais dificuldades em cada momento, contudo, tinha em conta algumas adaptações a ter em função do adversário. Ao mesmo tempo, esteve sempre presente a preocupação com o desenvolvimento individual da jogadora nos aspetos mais elementares do jogo (passe, receção, condução, cabeceamento, remate e desarme) e na tomada de decisão, procurando especificar sempre que possível o treino para cada jogadora em determinada ocasião.

Quanto à carga de treino, não foi feita nenhuma distinção entre os treinos de Terça, Quarta e Quinta, salvo em específicas exceções. O último dia de treino do microciclo (dia antecedente à folga antes do jogo), independentemente dos conteúdos táticos ou técnicos, caracterizava-se por um tempo de treino curto, cerca de 80’ e procurando estimular a velocidade máxima da jogadora. Os restantes treinos tinham a duração de 100’. Um dos 3 treinos restantes era composto por uma parte inicial com uma componente predominantemente analítica e sem tomada de decisão onde se objetivava a correção técnica das ações técnicas de passe, receção e condução e a sua articulação. Na parte fundamental optava-se por uma situação de jogo, na forma de GR+5x5+GR ou GR+6x6+GR no campo de futebol 7, com inexistência de feedback, onde se pretendia um grande foco na compreensão dos princípios específicos e gerais da modalidade, obrigando a uma estimulação cognitiva forte. Nos restantes treinos, o treino do modelo de jogo, naturalmente adaptado às necessidades

75 detetadas pela equipa técnica em cada momento, tinha uma incidência bastante elevada, preenchendo na maioria das vezes toda a parte fundamental do treino.

O planeamento de cada microciclo iniciava-se com a análise do jogo anterior (fig. 22 e fig. 23) e a análise do adversário seguinte (fig.24). Após esta análise a equipa técnica procurava, também, avaliar a efetividade do treino realizado até esse momento. Todo este processo de análise e avaliação, culminava com a definição dos objetivos para cada unidade treino, e consequente, construção de cada um dos exercícios. (fig. 25 a fig. 28),

BDI - Relatório de Jogo Jogo: BDI x Competição: Campeonato BPI- Jornada 3 Data: Resultado: Local: Estádio Municipal Escalão: Seniores Feminino

Convocados Equipa Titular Substituições 1 - Min Entra Sai Alterações Táticas 2 NTR RRN 57 NEH (AvC) RRN 3 - 4 NIV ENO LRV 10 71 NRT (MCE) NTH 5 NTH 19 6 IRE 9 7 NRO IER 8 NRT NTH 9 LRV 11 10 RRN 5 11 IER CHO 12 TED 13 CHO 13 14 NHV NRO RLO 15 IRS NIV IMS Golos 16 - 7 Min Marcador Assistência Adversário 17 18 17 IMS 4 18 RLO 19 ENO RVR 20 NEH 21 RVR 21 22 - Análise Coletiva Sistemas táticos utilizados: 4-3-3 Organização Ofensiva Coletiva/Sectorial e Intersectorial Organização Defensiva Coletiva/Sectorial e Intersectorial A equipa após perda procurou em primeiro lugar assumir a proteção da baliza, em A equipa saiu, em construção a partir das suas centrais, quando o adversário o detrimento de roubar imediatamente a bola, e fê-lo bem e rapidamente. A equipa permitiu. Quando o adversário não permitiu, jogadoras assumiram uma possição mais posicionou-se coletivamente bem pois ocupou os espaços corretos em função da bola fechada e procuraram disputar a bola aérea, para jogo direto da GR. Nos momentos em quando esta se encontrava na linha defensiva adversária. A AvC e Ext, por vezes, que a equipa saiu a jogar pelas DC procurou e conseguiu sempre ligar com uma média, procuraram pressionar de forma mais intensa, mas não obtiveram sucesso, pelo mau mas, por vezes, foi uma má decisão, já que faziam-no mesmo quando nenhuma delas timming de pressão e pouca compreensão de quais as situações vantajosas para o se constituia como uma boa opção para fazer o jogo progredir. Notar que as 3 médias fazer, ficando fácil para o adversária que tinha sempre superioridade e espaço nestes muitas vezes, assumiam um posicionamentod emasiado próximo entre si e do mesmo momentos. A linha defensiva esteve bem posicionada defendendo-se das bolas longas lado. A equipa circulou pouco a bola, sendo que sempre que a bola estava de um lado do adversário e conseguindo ganhar a posse de bola nestas situações. As DC jogaram (fosse qual fosse) a equipa procurava progredir por aí, mesmo não sendo a melhor bem uma em função da outra, mantendo uma distancia muito boa entre si e definindo opção, o que fez com que muitas das vezes (pela falta de linhas de passe e inexistência bem momentos de acompanhamento à adversária e quando deixar de o fazer. As DC e a de espaço para jogar) a solução fosse o jogo através de passe longo para as costas dos MDef estiveram muito articuladas de modo a definirem quem ofercer uma cobertura à defesas adversárias procurando uma Ext, sem provocar, em primeiro, o aparecimento DL. Contudo, a marcação individual assumida pelas DL criou algum espaço entre estas de espaços para isso ser possível. Esta circunstância fez existirem perdas de bola e as DC, especilalmente com a bola no corredor central, surgindo algumas situações de frequentes. A dinâmica entre as MC foi má por não jogarem umas em função das entrada em rotura das Ext adversárias. A inteligencia tática da MDef permitiu-lhe outras, estando frequentemente todas muito próximas, atraídas ao local da bola. Nunca intercetar alguns passes em rotura neste sespaços, As MC não jogaram uma em função foram capazes de virar o centro de jogo. A equipa não foi capaz de perceber os espaços da outra. A MC do lado da bola aproximava bem à portadora adversária mas a MC do mais favoráveis para atacar e não utilizou a linha defensiva (que estava alta) e podia lado oposto não preenchia o espaço no meio. As Ext e a Av nunca fecharam os espaços ser uma boa solução para virarem o centro de jogo rápido e aproveitar desiquilibrios interiores corretamente. A marcação individual nos cantos e livres prejudicou a equipa, provocados na equipa adversária. As Ext ofereceram pouca largura e não conseguiram pois o adversário optou por juntar as jogadoras no canto oposto ao lado do canto, criar espaços para atacar e entrar em rotura na direção da baliza adversária. provocando o aparecimento de muito espaço no centro da área para atacar.

Figura 22 - Clube de Albergaria - Relatório de Jogo - Parte I

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Figura 23 - Clube de Albergaria – Relatório de Jogo – Parte II

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Figura 24 - Clube de Albergaria - Análise ao Adversário

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BDI Seniores - Feminino 2018/2019 Local: Estádio Treino 39 Data: 16/10/2018 (Terça-Feira) Hora: 20:15 Duração: 100' Municipal Instrução Inicial - Objectivos: Objetivos Trenio; Regras; Relação dos atletas com estrutura (coordenador, 1 treinadores, colegas, e staff envolvente); Rotinas (balneário, campo, infraestruturas, convocatórias, etc.)

2 Objetivos: Técnica individual de passe, receção, condução e cruzamento rasteiro

Espaço: 50x40m Duração: 20' Nº 19

A A - cruzamento rasteiro. Exercício realizado para ambos os lados e procurando a utilização de ambos os pés. 10' para cada lado

Hidratação 3' Objetivos: Equipa em inferioridade: Organização defensiva - Posicionamento de DL e suas coberturas; 1ª fase 3 construção / Equipa em superioridade: variação do centro do jogo rápida e entrada em rotura das Ext Espaço: 55x60m Duração: 40' Nº 17+2

Jogo de GR+8x9+GR, com fora de jogo na área. Equipa vermelha em 4-3-1 e Branca em 4-2-3. Bola sai sempre das GR. A NRL das Juniores participa neste jogo.

Objetivos: Técnica individual específica - cabeceamento ofensivo e defensivo, passe longo, remate em arco e 3A 1x1 ofensivo e defensivo Espaço: 40x20m Duração: 40' Nº 3 Exercicio de técnica individual com jogadoras de fora. 1º grupo - ex A e B - IRS, NTR e NEH 2º grupo - ex C - NTR, ENO e T NEA. A- Cabecemanto ofensivo para branca e defensivo para vermelha, T cruza (mãos). B - vermelho passe por cima de grade para 9 e 9 decide se vai no 1x1 ou remata em arco por cima da barreira C-1x1 com vermelho a ter de marcar fazendo passar bola por cima de grade e bola cair no triangulo.

Hidratação 3'

3 Objetivos: Princípios Específicos e Gerais do Modelo de Jogo Espaço: 65x80m Duração: 25' Nº 20+2

GR+10x10+GR. A NRL das Juniores participa neste exercício

4 Alonamentos Estáticos Duração: 5 min

Material 25 Bolas, Conjunto de Sinalizadores, 2 Varolas, 1 Barreira, 2 Balizas de Fut11

Figura 25 - Unidade Treino 39 - Microciclo 10 - Período Competitivo

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BDI Seniores - Feminino 2018/2019 Local: Estádio Treino 40 Data: 17/10/2018 (Quarta-Feira) Hora: 20:15 Duração: 100' Municipal Instrução Inicial - Objectivos: Objetivos Trenio; Regras; Relação dos atletas com estrutura (coordenador, 1 treinadores, colegas, e staff envolvente); Rotinas (balneário, campo, infraestruturas, convocatórias, etc.) 2 Objetivos: Principios Gerais e Específicos do modelo de jogo - Foco na 1ª Fase de Construção

Espaço: 65x105m Duração: 95' Nº 10+1

Jogo formal de 11x11 contra equipa de Iniciados A do RBB

2A Objetivos: Técnica de Passe e Receção e Tomada de decisão

Espaço: 22x22m Duração: 20' Nº 6

Jogo 3x3 em que para marcar golo a equipa tem de fazer um passe passando a bola pelo meio de uma das balizas.

Hidratação 3' 2B Objetivos: Mobilidade, Espaço entre linhas e Passe em rotura com finalização Espaço: 30x20m Duração: 20' Nº 5+2

2GR+3x2. As vermelhas para marcar golo têm de conseguir fazer entrar uma jogadora no quadrado interior, para que ela receba e devolva uma passe para uma colega fora finalizar. As brancas marcam logo após recuoerar. Ambas as equipas podem marcar nas duas balizas.

Hidratação 3' 2C Objetivos: Mobilidade, técnica de remate e espírito comeptitivo

Espaço: 25x35m Duração: 20' Nº 6+2

GR+3x3+GR. GR não podem marcar. Bola sai sempre dos GR. Jogos de 1'30'' com pausa de 45'' - 3 voltas

Hidratação 3' 2D Objetivos: Passe longo, receção trajetória aérea, associação drible ao remate, lateralidade Espaço: 40x60m Duração: 20' Nº 6+GR

7 faz passe longo por cima de barreira (baliza de 7), 9 recebe sem bola tocar no chão e remate fora de área após condução curta e rápida.

4 Alonamentos Estáticos Duração: 5 min

Material 25 Bolas, Conjunto de Sinalizadores, 2 Balizas de fut7, 2 Balizas de fut11

Figura 26 - Unidade Treino 40 - Microciclo 10 - Período Competitivo

80

BDI Seniores - Feminino 2018/2019 Local: Estádio Treino 41 Data: 18/10/2018 (Quinta-Feira) Hora: 20:15 Duração: 100' Municipal Instrução Inicial - Objectivos: Objetivos Trenio; Regras; Relação dos atletas com estrutura (coordenador, 1 treinadores, colegas, e staff envolvente); Rotinas (balneário, campo, infraestruturas, convocatórias, etc.)

2 Objetivos: Técnica de passe, receção, condução, cabeceamento ofensivo e defensivo, Desarme e Finta/Drible

Espaço: 40x40m Duração: 25 Nº 10

A pares, frontalemente a executar várias ações técnicas a mando do T, passando por situações de passe e receção, de condução, de cabeceamento ofensivo e defensivo e de 1x1. A Jogadora das Juniores RLB participa neste exercício.

Hidratação 5' Objetivos: Modelo de Jogo: Princípios específicos e gerais do jogo. Tomada de decisão e compreensão tática do 4 jogo Espaço: 40x60m Duração: 55' Nº 10+2

GR+5x5+GR, em campo de futebol 7. Ausência de Feedback e de paragens. A Jogadora das Juniores NRL participa neste exercício.

4 Alonamentos Estáticos Duração: 10 min Hidratação 5'

Material 25 Bolas, Conjunto de Sinalizadores, 2 Balizas de fut7

Figura 27 - Unidade Treino 41 - Microciclo 10 - Período Competitivo

81

BDI

Seniores - Feminino 2018/2019 Local: Estádio Treino 42 Data: 19/10/2018 (Sexta-Feira) Hora: 20:15 Duração: 80' Municipal Instrução Inicial - Objectivos: Objetivos Trenio; Regras; Relação dos atletas com estrutura (coordenador, 1 treinadores, colegas, e staff envolvente); Rotinas (balneário, campo, infraestruturas, convocatórias, etc.)

2 Objetivos: Técnica de passe, receção e condução Espaço: 60x40m Duração: 12' Nº 18

Na estrutura apresentada, treino de passe receção e condução, com 6 min em cada sentido. A Jogadora NRL das Juniores participa neste exercício.

Hidratação 3'

3 Objetivos: Velocidade de Reação, Velocidade de deslocamento, situações de 1 x GR, Condução de bola

Espaço: 40x60m Duração: 20' Nº 18+2 40 m 20 m 8 conduz com objetivo de marcar golo, enquanto 9 persegue para roubar. Cada par faz 6 vezes em cada lado . A relação Exercício/Pausa em 1:9. A Jogadora NRL das Juniores participa neste exercício.

Hidratação 3' Objetivos: Finalização após receção contextual de costas para adversário. Velocidade de execução (associação 4 receção ao remate) Espaço: 40x60m Duração: 15' Nº 18+2 17,5 m T passa para 9 que recebe, à frente de porta. 9 recebe em T função de 8 (lado oposto). 9 finaliza imediatamente após receção, ou seja, tem dois toques (um para receber outro para rematar). 2 grupos a executar o mesmo exercício.A Jogadora NRL das Juniores participa neste exercício.

Hidratação 3' Objetivo: Organização dfensiva: Posicionamento de DL e suas coberturas; Organização ofensiva: varaição do 5 centro do jogo rápida e entrada em rotura das Ext Espaço: 40x60m Duração: 20' Nº 18+2

GR+9x9+GR. Em estrutura de 4-3-2, com Av a apresentarem muita mobilidade, procurando aproveitar constantemente o espaço nas costas. A Jogadora NRL das Juniores participa neste exercício.

4 Alonamentos Estáticos Duração: 5 min

Material 25 Bolas, Conjunto de Sinalizadores, 2 Balizas de fut11, 4 cones

Figura 28 - Unidade Treino 42 - Microciclo 10 - Período Competitivo

82

3.6. Reflexões

3.6.1. Agosto

O primeiro mês foi importante para me começar a inteirar da realidade do futebol feminino e do CA em concreto. A adaptação inicial ao contexto foi fácil bem como a inserção na equipa técnica. A treinadora principal comunicou à equipa a minha entrada na equipa técnica com bastante naturalidade, constituindo-se como a única diferença na sua constituição em relação ao ano anterior. A mesma procurou desde início inteirar-se das minhas valências e de que formas as podia usar para forma a otimizar o processo de treino. Dessa forma, comecei desde a primeira semana a ter momentos em que ficava responsável por um grupo ou por um exercício, momentos esses muito importantes para a minha evolução na gestão de exercícios e do grupo. A gestão dos recursos humanos deve, quanto a mim, ser uma das funções de treinador enquanto líder. Este aspeto ganha maior importância no contexto deste clube, visto a equipa técnica ser bastante reduzida, especialmente quando a articulação com a equipa júnior é grande.

A época iniciou já com o plantel definido, sendo que das 24 jogadoras do plantel 11 são contratações. Considero esta prática uma vantagem para a equipa técnica pois pode desde logo ter todas as jogadoras dentro do processo no qual se procura implementar.

A equipa técnica dividiu a época em dois momentos com objetivos distintos: período preparatório e período competitivo. Durante o período preparatório, correspondente às três semanas de treinos durante o mês de agosto, objetivou- se a criação de um estado de forma físico necessário para o futebol e também, a análise qualitativa do plantel para a definição da melhor forma de jogar.

A meu ver, para o primeiro objetivo supracitado os exercícios realizados serviram eficazmente para o propósito, visto treinarem cada uma das exigências físicas do futebol, procurando a estimulação da via aeróbia e da via anaeróbia, com uma predominância da resistência aeróbia na primeira semana. Embora, se pudesse verificar que as jogadoras não estavam motivadas para um tipo de treino com pouco contacto com bola e muito desgastante, era na opinião de algumas um

83 treino importante a longo prazo, isto é, para a manutenção de índices físicos a meio da época. Não foi realizado qualquer tipo de teste para avaliar a condição física de cada uma das jogadoras, mas foi possível para a treinadora constatar uma redução do nível da condição física das jogadoras, explicado pelas 9 semanas de férias entre épocas desportivas. Contudo, nenhuma jogadora se apresentou com uma quebra física alarmante. Foi possível observar uma grande fadiga durante e no final do 3º microciclo de período preparatório. Na minha opinião e tendo em conta as dificuldades que observei na tomada de decisão e algumas debilidades na relação com bola que algumas jogadoras apresentam quando chegam à idade sénior, penso que seria mais proveitoso, contruir com mais frequência exercícios que aliassem essa preocupação física com o treino destas debilidades, de forma a otimizar o tempo de prática essencial à evolução. Esta opinião ganha também especial importância após uma análise às presenças em treino por parte das jogadoras. Mesmo numa das melhores equipas do país no mês de agosto verificou-se uma assiduidade média de 72%, em que apenas 3 jogadoras realizaram os 15 treinos do mês e em nenhum dos treinos a equipa técnica contou com todas as jogadoras. As razões mais frequentes pelas faltas ao treino foram as seguintes: horário laboral impeditivo de presença em treino, ida de férias para local longe de campo de treinos aproveitando pausa laboral e falha no transporte para treino. Após conversa com a treinadora sobre esta situação percebi ser um problema existente na maioria das equipas da primeira divisão do futebol feminino em Portugal, até pelo facto de os incentivos monetários para as jogadoras serem escassos ou inexistentes.

Neste período, os exercícios em formas jogadas serviram essencialmente para observar as valências de cada jogadora e a forma como tendem a interagir taticamente. Os jogos durante o período preparatório tiveram o mesmo objetivo. Apesar de o tempo total despendido neste tipo de exercícios tenha sido menor em comparação com o despendido nos exercícios focados na melhoria física, foi o tempo suficiente para a equipa técnica conseguir definir o modelo de jogo a adotar.

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3.6.2. Setembro

A primeira semana do mês de setembro, correspondeu ao microciclo 4, o primeiro do período competitivo, apresentando já a estrutura a ser apresentada para cada microciclo durante o resto da época. Este microciclo foi o primeiro após os três do período preparatório e as jogadoras apresentaram-se com alguma fadiga. Este microciclo teve um nível de intensidade baixo, e foi muito focado nas preocupações gerais com o modelo de jogo. Os exercícios de treino foram bastante direcionados para princípios gerais do modelo de jogo, existindo algumas paragens durante cada um para refletir sobre situações de jogo que a equipa iria querer provocar de forma a potenciar as características das jogadoras do plantel. O momento competitivo do fim-de-sema foi um jogo amigável de baixo nível competitivo. Estas opções foram, a meu ver, eficazes pois as jogadoras chegaram ao final desse microciclo bem fisicamente e já a par das ideias gerais da forma de jogar.

A estrutura do microciclo 5 foi igual à do microciclo 4, embora com a carga de treino a aumentar para aquela que a equipa técnica desejava para todos os microciclos até ao findar da época desportiva. Durante todo o mês foi possível verificar que no dia do jogo as jogadoras se apresentavam totalmente recuperadas do esforço realizado durante o microciclo, podendo jogar no máximo do seu rendimento.

Pude constatar a prevalência dada pela treinadora à forma como a própria equipa joga sobre a forma como o adversário joga. A preocupação com o que o adversário faz apenas teve influência em pequenos pormenores nos esquemas táticos. Várias razões são apontadas para esta opção: 1) Pouca assiduidade das jogadoras – o contexto de alto rendimento um pouco diferente vivido no contexto do futebol feminino, dificulta e retarda a correta implementação das ideias coletivas para a equipa, em grande parte explicado pelo número de faltas em cada treino, o que se continuou a verificar durante este mês. Se a aquisição de conteúdos com o treino apenas existe se existir repetição e apenas 4 jogadoras estão presentes em todos os treinos do mês além de não existir nenhum treino com todas e só 10 das 24 comparecerem em mais de 85% dos treinos, são

85 necessários mais treinos e consequentemente mais tempo para treinar o mesmo, especialmente se isso significar uma dinâmica coletiva. Dessa forma, é na opinião da equipa técnica imprescindível aproveitar o máximo tempo possível para o treino da forma de jogar da equipa, para que tal chegue a todas, ou pelo menos, àquelas que se prevê terem mais tempo de jogo. Naturalmente, isto retira tempo de treino às situações específicas do adversário; 2) Momento da época – em agosto a amostra de jogos de cada equipa ainda era muito reduzida, sendo por isso difícil de realizar uma análise fidedigna das capacidades do adversário. Esta abordagem, foi para mim a mais correta, também, pelo número elevado de jogadoras novas no plantel. Além disso considero estra opção mais benéfica a médio-longo prazo que uma abordagem centrada no adversário, especialmente quando não se consegue ter todas as jogadoras presentes nos treinos, correndo o risco de numa abordagem muito estratégica de adaptação ao adversário essa informação não ser adquirida por todas.

A treinadora, procurou desde o primeiro momento inserir o contacto com a bola em todos os exercícios, sendo bastante raro, mesmo como exercício de aquecimento, isso não acontecer. A meu ver podia ser já feito de uma forma mais contextual. Por exemplo num um exercício de passe e receção analítico sem oposição, a meu ver, não existe o constrangimento temporal e espacial importante para o seu treino. Por outro lado, o número de repetições presente nos exercícios habitualmente realizado é muito elevado.

Durante este mês tive algumas dificuldades na comunicação com as jogadoras, seja para explicar alguma correção técnico-tática ou para manter a o empenho e comprometimento em toda a atividade durante todo o exercício. A meu ver a informação que transmito terá de ser mais curta e assertiva.

A treinadora promoveu em cada exercício uma intensidade alta. O feedback foi muito assertivo e curto. Fê-lo num sentido volitivo e direcionado para todas as jogadoras quando considerava que estavam a reduzir a intensidade pretendida, e num sentido técnico-tático, preferencialmente de forma individual, após ações repetidas de insucesso de determinada jogadora. Esta preferência pelo feedback individual, retirando, se necessário, a jogadora temporariamente do exercício

86 permitiu não só ajudar na aprendizagem dela, mas, também, não retirar tempo de prática às restantes jogadoras. A opção de parar o exercício para todas foi pouco frequente, sendo que na maioria dos treinos não existiu. Este tipo de opção surgiu sempre para percecionar situações coletivas do modelo de jogo e apenas na impossibilidade de fornecer a informação desejada sem parar o exercício. Vivenciar esta forma de gerir cada exercício foi um momento importante para mim, de modo a tirar ilações de como manter um exercício a cumprir com a dinâmica idealizada aquando a sua construção e ao mesmo tempo corrigir aspetos técnicos ou táticos importantes, otimizando da melhor forma o tempo de prática.

Durante este mês continuei a realização dos relatórios de jogo da equipa e do adversário. Estas análises serviam de base aos aspetos prioritários a treinar. Como forma de exemplo, a equipa tinha vindo a revelar dificuldades na 1ª fase de construção contra uma pressão alta. De forma a melhorar essa situação de jogo foram criadas em treino situações que o potenciassem, sendo que num dos treinos realizamos jogo formal contra os Iniciados do Sport Clube de Alba, visto esta equipa adotar uma pressão alta e constante.

Durante este mês, foi usual eu ficar responsável pela condução de exercícios nos momentos em que decorria mais que um em simultâneo. A treinadora no final de todos os treinos em que tal se sucedeu questionou-me sobre a eficácia do exercício e a prestação de cada uma das jogadoras participantes. Considero esta interação muito útil, não apenas para perceber a forma como cada jogadora treinou, mas também o vejo como uma boa atitude de liderança de equipa técnica, de forma a manter o trabalho coordenado e valorizar as opiniões e o trabalho dos seus elementos constituintes.

Numa das unidades de treino do mês de setembro realizamos jogo de treino contra os Iniciados do Sport Clube de Alba. Para esse treino, a equipa técnica definiu um conjunto de exercícios a realizar com as jogadoras que em cada momento não estariam a participar no jogo contra o Sport Clube de Alba, prevendo, inclusive, as trocas a realizar durante o seu decorrer. A treinadora ficaria responsável pelas 11 jogadoras a participar nesse jogo de treino e eu

87 conduziria os exercícios para as restantes 9 jogadoras (nº de jogadoras previstas para esse treino). Contudo, nesse dia a treinadora 3 horas antes do treino informou-me que o treinador do escalão júnior estava impossibilitado de comparecer ao treino e eu teria que readaptar o treino para integrar as Juniores, ficando com 30 jogadoras, num espaço restringido a meio campo de fut7 na primeira meia hora, e a campo completo de fut7 na restante hora do treino.

Realizando uma análise mais detalhada a este treino, procurei iniciá-lo com um exercício onde se treinasse passe, receção e oferta inteligente de linhas de passe, que a meu ver seria de baixa complexidade e fácil implementação num grupo tão volumoso. Consistia na definição de 3 quadrados com cerca de 12x12m, disposto em triângulo e separados por 5m. Em cada um deles procurava-se manter a posse de bola numa relação numéria de 7 atacantes contra 3 defesas, em que a atacante após passe teria de se deslocar rapidamente para outro quadrado segundo uma ordem pré-estabelecida e caso uma defesa recuperasse bola trocaria de funções com aquela que perdeu. A complexidade do exercício para o grupo de jogadoras referido não se revelou adequada, tendo eu a necessidade de direcionar o feedback exclusivamente para a componente organizativa. Acabei por retirar as trocas entre grupos e o exercício melhorou, mas não foi ao encontro dos objetivos desejados. O segundo exercício apenas durou 9 min pois, embora indo ao encontro dos objetivos pretendidos, as jogadoras não estavam a ter o número de repetições que eu pretendia. Dessa forma antecipei o terceiro, no qual dividi as jogadoras por 3 campos de diferentes dimensões, em diferentes relações numéricas e com diferentes tamanhos de balizas. Neste exercício tive o cuidado de dividir as jogadoras por níveis qualitativos e decorreu bastante bem, conseguindo alcançar os objetivos pretendidos. Em suma, o treino foi mal planeado, tendo em conta o número de jogadoras e a sua heterogeneidade, mas foi uma experiência bastante importante para o futuro.

O treino que tive de conduzir de forma completa foi importante para perceber como a postura do treinador influencia o seu desenrolar. No primeiro exercício não consegui manter as jogadoras empenhadas na tarefa e incutir-lhes a mais valia do exercício, surgindo momentos de brincadeira acentuada que

88 prejudicavam o seu funcionamento. Justifico-o com pouca assertividade na explicação e divisão de grupos, momento no qual senti que não deveria ter dada tanta liberdade. No desenrolar do treino ao assumir uma atitude mais diretiva e retirando “poder” de escolha às jogadoras consegui controlar o grupo de melhor forma. Isto leva-me a crer que nas primeiras vezes que um treinador se assume como responsável por um exercício ou um treino tem de assumir uma atitude de controlo maior para garantir o sucesso da sua intervenção, especialmente se ainda não conhecer detalhadamente as características das jogadoras a treinar.

3.6.3. Outubro

O mês de outubro iniciou-se com a saída da IRT do clube, logo no primeiro dia. A IRT pediu para sair pois considerou ser difícil jogar regularmente de forma titular e a distância a percorrer desde a sua habitação, no porto, até aos treinos não compensaria. Assim, o clube optou por permitir a saída sem qualquer contrapartida. Penso que este processo foi conduzido com a máxima correção. Por um lado, a jogadora ao não pretender continuar no clube informou-o de forma cuidada e correta, explicando convenientemente e sem, em algum momento, ter prejudicado ou influenciado as restantes jogadoras. Por outro, o clube e a equipa técnica ao permiti-lo de forma imediatamente não condicionou o futuro da jogadora e permitiu a prática da atividade num contexto possível e mais favorável à jogadora. É, a meu ver, o procedimento correto, de forma a criar uma relação positiva entre clube e jogadora, pois no futuro podem surgir as condições necessárias à vinda da jogadora para o clube e desta forma não se “fecha a porta” a um possível regresso.

No final do mês, a jogadora NTR informou a equipa técnica da sua intenção em sair devido à falta de tempo de jogo. A equipa técnica tentou fazê-la repensar a sua decisão, relembrando-lhe ser vista como uma jogadora de enorme potencial, sendo a única jogadora em idade permitida para o escalão Júnior a integrar de forma definitiva o escalão Sénior. Foi-lhe também dito que aquele momento não seria o ideal para ter mais minutos de jogo, mas que a partir do momento em que a manutenção tivesse assegurada teria bastantes oportunidades. A NTR informou não estar disponível para essa espera, adicionando à razão anterior, o

89 facto de ter de se deslocar de bastante longe para treinar, admitindo que caso vivesse perto aguardaria o tempo necessário pois considerava o contexto de treino do CA muito positivo para a sua evolução. Assim, a NTR ingressou numa equipa a disputar o Campeonato Nacional II Divisão Futebol Feminino.

Quanto à (in)disponibilidade frequente das jogadoras para treinos a problemática manteve-se. Apesar de, até ao final do mês de outubro, a equipa técnica não ter sido confrontada com qualquer tipo de condicionante (exceto, lesões, suspensões ou jogo por outro escalão) para a constituição da convocatória para um jogo oficial, no dia 6 de outubro (Sábado) tive que participar como GR num jogo particular. Para este dia, 10 jogadoras alegaram indisponibilidade por motivos profissionais/pessoais. Desse grupo faziam parte as 2 GR do plantel e estando a GR do escalão Júnior no jogo do seu escalão, a solução passou pela minha participação. Assim, a equipa técnica de uma equipa da primeira divisão nacional feminina, sem qualquer indisponível por lesão nesse momento, teve à disposição, para um jogo particular, 13 jogadoras de um plantel de 23. Esta é apenas mais uma situação a ilustrar o contexto vivido no futebol feminino em Portugal e que deve a meu ver merecer uma reflexão de clubes e da própria Federação Portuguesa de Futebol.

Quanto ao planeamento, e especificamente naquele respeitante ao modelo de jogo, tem sido bastante desafiante em conjunto com a treinadora principal, encontrar relações numérias e esquemas táticos em cada exercício que permitam atingir os objetivos pretendidos. Tal obriga-nos, não só, a um exercício reflexivo no momento do planeamento, mas, também, no momento da execução, de modo a percecionar se os objetivos estão a ser ou não potenciados. É esta experiência empírica que vai permitir, num futuro a curto, médio ou longo prazo, conseguir ser mais assertivo num planeamento pois tenho um conjunto de experiência passadas, que me diz, por exemplo o que mais provavelmente é potenciado numa forma jogada em 3-3-2 ou numa em 3-2-3.

O mês de outubro, constituía-se como sendo um período muito importante para os objetivos da equipa. Depois de 2 empates nas primeiras duas jornadas dispunha de quatro jogos antes dos confrontos consecutivos contra as equipas

90 mais fortes do campeonato. O confronto contra estas duas últimas equipas assume-se como um marco temporal importante, pois são jogos considerados de uma dificuldade muito elevada, onde a diferença qualitativa entre a nossa equipa e as referidas é enorme, com vantagem para elas. Estas equipas desde o seu aparecimento no futebol feminino sénior (época 2016/2017) e até o final do mês de outubro da presente época, nunca perderam qualquer jogo contra outra equipa portuguesa. Assim, a nossa equipa teria de conquistar o máximo número de pontos para quando defrontar as equipas referidas estivesse pontualmente distante dos lugares de despromoção, o que não conseguiu fazer na 3ª jornada.

O ambiente vivido no balneário após a derrota na 3ª jornada caracterizava-se com sendo de alguma tensão, com as jogadoras demasiado preocupadas em encontrar culpadas para os apenas 2 pontos conseguidos em 3 jornadas. A treinadora teve a necessidade de intervir numa pequena palestra no primeiro treino a seguir a este jogo. A abordagem da treinadora foi assente num diálogo calmo e reflexivo, com uma componente mais volitiva e de coesão de grupo do que técnica ou tática, e ao mesmo tempo fazendo compreender que o trabalho desenvolvido é de uma mais-valia acentuada a longo prazo, procurando analisar os pontos positivos presentes. Esta abordagem obteve resultado com o comprometimento e empenho nos treinos a aumentar e a interação entre jogadoras a deixar de ser agressiva. Esta foi uma situação de aprendizagem muito interessante, quanto às capacidades necessárias para a profissão de treinador, estando bem vincada a importância da capacidade de liderança e gestão de um grupo. De forma empírica pude perceber, que um líder, tem de imprescindivelmente conhecer profundamente o contexto e o grupo no qual está inserido para optar pela melhor estratégia interventiva. Nos restantes jogos do mês a equipa conseguiu duas vitórias. O clima motivacional melhorou, observando-se uma relação positiva muito evidente entre a vitória e a postura de cada jogadora.

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3.6.4. Novembro

No início deste mês a jogadora NRV comunicou a intenção de sair da equipa. Esta jogadora desde o início da época que apresentara uma disponibilidade bastante reduzida para treinar devido aos compromissos profissionais, sabendo- se, desde o primeiro dia, nunca ter disponibilidade ao sábado à tarde. A jogadora teve 60% presenças em agosto (média de equipa no mês respetivo: 72%), 53% em setembro (média de equipa no mês respetivo: 79%) e 28% em outubro (média de equipa no mês respetivo: 73%). Naturalmente, nunca se constituía uma opção válida para a equipa, tendo a jogadora optado por abandonar o futebol durante a presente época.

Durante este mês tive uma grande participação no planeamento e condução de exercícios focados na melhoria técnica individual. A treinadora principal responsabilizou-me com a função de planear este tipo de exercícios. Fui responsável frequentemente por grupos de uma, duas ou três jogadoras procurando melhorar em cada uma delas aspetos técnicos identificados pela equipa técnica como prioritários. Procurei construir situações simples e o mais contextuais possível, usando os constrangimentos de espaço, tempo e oposição para ir ao encontro dos objetivos. Por exemplo, para treinar passe curto e receção com duas jogadoras em vez de coloca-las frente-a-frente a realizar esses gestos técnicos, o que não considero ser uma forma eficaz de treinar passe e receção, procurava-o fazer de uma forma contextual. Dessa forma, em forma de exemplo, delimitava um espaço pequeno, onde eu procurava roubar a bola enquanto elas a tentavam manter, obrigando assim a constantes receções e passes contextuais em função da direção de uma pressão e do espaço delimitado, bem como delimitados em tempo devido à presença dessa mesma pressão. Constituiu-se um momento bastante bom de aprendizagem, pois obrigou-me a um pensamento constante de criação de um tipo específico de exercícios, ao mesmo tempo que poderia operacionaliza-lo e verificar se o objetivado se estava a cumprir.

A equipa perdeu os 3 jogos oficiais que disputou. A equipa técnica no início do mês previu que a probabilidade de acontecer o relatado fosse significativa devido

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à qualidade dos adversários. Os adversários foram o Sporting Clube de Portugal e o Sporting Clube de Braga (equipas que em Portugal nunca perderam um jogo exceto quando se confrontam entre elas) e o Valadares Gaia Futebol Clube. Este último ocupava, antes do jogo contra a equipa do CA, o 4º lugar com mais 2 pontos que esta (5º lugar), apresentando um registo de 20 golos marcados e 6 sofridos, contra o nosso de 7 marcados e 4 sofridos. Perante este contexto, a treinadora procurou, em todos os momentos, criar um ambiente bastante positivo e focar constantemente as coisas positivas que a equipa e cada jogadora fazia em treino e em jogo. Assim, conseguiu manter a motivação e a predisposição para o treino num nível bom e começar a preparar a equipa para encarar os jogos do mês seguinte já com uma sensação de sucesso apesar dos últimos resultados. Foi um mês bastante interessante para perceber como a treinadora preparava a equipa para reagir a uma possível derrota.

Quanto ao treino, a equipa técnica procurou concentrar-se no processo defensivo da equipa. Optou por nunca se desviar do modelo de jogo adotado, procurando construir situações de inferioridade, principalmente para as jogadoras que a equipa técnica idealizava como as titulares em cada um deles, de forma a simular o poderio e as dificuldades que a equipa iria encontrar. Esta opção nunca tinha sido imaginada por mim com este propósito, mas é na minha opinião muito interessante. Foi um mês bastante interessante para perceber como a treinadora preparou a equipa contra equipas mais fortes ou em melhor forma.

3.6.5. Dezembro

No mês de dezembro, a equipa sofreu mais uma saída de uma jogadora, a NRO. Esta jogadora começou a trabalhar no seu novo emprego na primeira semana de novembro e tentou conciliar a atividade desportiva e laboral, contudo tornou- se impossível devido à fadiga sentida já que acordava todos os dias às 05:00h, e em dias de treino nunca se deitava antes das 23:30h. Esta jogadora tinha até ao momento sido titular nas primeiras 6 jornadas, falhando apenas a 7ª por lesão (traumatismo) e a 8ª e 9ª por opção técnica visto apenas ter comparecido a um treino durante os dois microciclos respetivos.

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Próximo do final do mês a RRN manifestou a intenção de sair alegando a pouca utilização, ingressando numa equipa do Campeonato Nacional II Divisão Futebol Feminino, pedido que foi aceite pela equipa técnica. Esta jogadora foi utilizada durante as primeiras 4 jornadas do campeonato (mês de setembro e outubro), foi uma vez titular e nunca completou os 90 min de jogo (num dos jogos jogou apenas 1 min), contabilizando um total de 108 minutos de jogo. Esta jogadora teve uma percentagem de presenças em treinos de 67% no mês de agosto (média de equipa: 72%), 93% no mês de setembro (média de equipa: 79%), 67% em outubro (média de equipa: 73%), 31% em novembro (média de equipa: 70%) e 78% em dezembro até ao momento da sua saída (média de equipa: 73%). Esta jogadora teve uma forte concorrência da sua adversária direta por uma posição no 11 titular, contudo creio que esta jogadora poderia ter tido, à exceção do mês de novembro, mais minutos de jogo.

Neste mês jogámos a 3ª eliminatória da Taça de Portugal, jogo no qual a equipa técnica concedeu minutos a jogadoras menos utilizadas. Quatro dessas jogadoras iniciaram o jogo como titulares. Foram elas: a NHV, a IRS, a NEH e a TED (GR). Esta última, por ser GR, requer, por norma, uma gestão diferente pois irá, muito provavelmente ter escassos minutos de utilização. No caso da TED estes foram os seus primeiros minutos oficiais durante a época – jogou os 90 min. A TED, embora com muito pouco estímulo competitivo tem revelado uma evolução muito positiva e em nenhum momento criou instabilidade dentro da equipa por jogar pouco. Além destas, entraram no decorrer da 2ª parte, as jogadoras IRE, NSR e NVI, que fizeram, todas elas, os seus primeiros minutos oficiais. Embora se tratasse de um jogo de baixa dificuldade, a treinadora optou por manter 7 jogadoras do 11 mais utilizado, além de 2 das 4 restantes terem vindo a jogar frequentemente ora como titulares ora como suplentes utilizadas (IRS e NEH). Num contexto desta exigência, procura-se a vitória em todos os jogos como o grande objetivo, daí a treinadora tenha gerido a equipa para assegurar a vitória em primeiro lugar e depois permitir que outras jogadoras se estreassem oficialmente, fator importante para a gestão de grupo. Contudo, a meu ver, o tempo de jogo de cada uma das jogadoras menos utilizadas poderia ter sido maior.

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Um dos jogos do campeonato realizou-se num sábado, jogo para o qual a equipa técnica teve apenas disponíveis 15 das 20 jogadoras constituintes do plantel atual (até à data desse jogo dia 4 jogadoras já tinham saído da equipa). Todas as 5 jogadoras indisponíveis alegaram indisponibilidade por motivos profissionais.

O plano traçado pela equipa técnica para a forma de gerir emocionalmente as jogadoras durante um período difícil relatado no mês de novembro, além das preocupações técnico-táticas não apenas preocupadas com os jogos imediatos, mas também futuros, revelou-se eficaz para os jogos seguintes, já no mês de dezembro, onde a equipa conseguiu os resultados pretendidos (4 vitórias em 4 jogos, sendo 3 para a liga BPI e 1 para Taça de Portugal). Foi bastante interessante analisar a boa prestação da equipa no momento defensivo. Numa visão própria, penso refletir as principais preocupações tidas e o treino intenso realizado durante as semanas de novembro e continuadas, embora com menos frequência, neste mês. Isto ajuda-me a acreditar ser a melhor opção não modificar todo o treino e o modelo de jogo devido a um ou dois jogos com características diferentes das habituais, pois isso significa “perder” 8 treinos importantes para a evolução do modelo de jogo e potenciação das melhores características da equipa. Contudo, considerei bastante inteligente o foco no processo defensivo, com resultados imediatos no mês anterior onde devido à qualidade do adversário a nossa equipa iria passar bastante tempo a defender (ajudando a não sofrer muitos golos nem a conceder muitas oportunidades aos adversários), mas também no mês de dezembro que permitiu levar de vencidos todos os jogos. Resumindo, a equipa técnica adaptou o treino aos pontos fortes adversários sem alterar o seu modelo de jogo e em particular, o processo defensivo. Assim potenciou-o para o imediato -bastante necessário - e para os jogos seguintes como se verificou neste mês. É importante referir que no final deste mês equipa mostrava operacionalizar todas as situações descritas no modelo de jogo.

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A equipa técnica, tendo por base a prestação coletiva e individual da equipa, decidiu alterar, no primeiro jogo de dezembro, a posição da jogadora IER (titular em todos os jogos oficiais até ao mês de dezembro, inclusive) de MC para DC. A equipa técnica considerou que a dinâmica ofensiva da equipa era prejudicada pela presença desta jogadora no meio campo, devido à sua baixa velocidade de execução e fraca tomada de decisão, além de defensivamente se desposicionar bastante, apesar de ser sempre agressiva e intensa. Para a sua posição entrou a jogadora NRT, que embora não consiga manter o mesmo rendimento durante todos os 90 minutos e tenha um raio de ação menor, tecnicamente é melhor e conseguiu oferecer à equipa qualidade de passe, constituindo-se como uma jogadora melhor dotada para manter a posse e servir a velocidade das Ext com passes em rotura. Esta opção foi bastante acertada, ajudando bastante na dinâmica ofensiva da equipa. A IER acabou por manter a titularidade no 11 base como DC, beneficiando da saída da NRO (DE) do clube, posicionando-se a IMS como DD e a RLO como DE. A IER aumentou bastante o seu rendimento a DC. Isto demonstra a necessidade de um treinador perceber o que está a acontecer de menos bom na sua equipa e arranjar formas de o corrigir.

Durante este mês, duas jogadoras participaram num estágio da seleção nacional sénior, a LRV e a NIV. Perante tal, a treinadora não teve qualquer intervenção seja de forma individual ou em grupo motivada por esta convocatória. Questionei a treinadora de que forma a treinadora lidava com este tipo de situações, até porque, neste caso, nenhuma delas tinha alcançado este patamar no escalão de seniores. A treinadora disse-me que nunca teve uma intervenção junto da equipa pois foi algo que em nenhum momento trouxe uma consequência nefasta para a forma como as jogadoras se relacionam, funcionando sempre como uma motivação para as colegas. Contudo, diz já ter sentido em alguns casos existir a necessidade de uma abordagem individual sobre o assunto com determinadas jogadoras. Dessa forma, percebe-se a grande necessidade que é para o treinador conhecer da melhor forma possível cada jogador, mesmo na vertente psicológica. A forma com a treinadora consegue relacionar-se com as jogadoras, procurando-as conhecer de forma individual para depois adaptar o seu comportamento em função disso, tem sido um bom exemplo de como gerir um

96 grupo. No caso concreto destas duas jogadoras, a treinadora previu não ser necessário nenhuma conversa em especial, o que se revelou como correto pois as jogadoras mantiveram o alto rendimento em treino e jogo que permitiram a sua chamada à seleção, não apresentando qualquer tipo de deslumbramento.

3.6.6. Janeiro

Durante o mês de janeiro saíram mais 2 jogadoras da equipa. A NEA comunicou a sua saída logo no início do mês, não tendo apresentado qualquer justificação para a sua saída nem pedido carta de desvinculação pois não pretendia ingressar em qualquer equipa. Esta jogadora não foi utilizada em nenhum jogo oficial e a sua percentagem de presenças em treino foi descendo mês após mês. A NEH manifestou intenção de sair, perto do final do mês, para equipa do Campeonato Nacional II Divisão Futebol Feminino, mas com possibilidades de jogar na equipa A desse mesmo clube a disputar a liga BPI. Apesar de não ter jogado os 90 minutos em nenhum dos jogos para a liga BPI até dezembro (jogou 90 minutos completos em jogo da Taça de Portugal), esta jogadora jogou em todos os jogos da época até ao mês de dezembro, inclusive, contabilizando um total de 569 minutos em 1440 minutos possíveis. Era vista pela equipa técnica como uma jogadora potencialmente titular, contudo, ao longo do tempo foi-se verificando que o comprometimento com a equipa não era o pretendido. A equipa técnica permitiu a sua saída.

Desta forma, o plantel acabou o mês de janeiro sendo constituído por 17 jogadoras. Fazendo uma análise aos motivos das saídas é possível verificar que 3 das 7 jogadoras justificaram a sua saída com a falta de minutos de jogo. Além dessas, uma das 7 não apresentou qualquer justificação, mas a equipa técnica acredita que o fez por não ter qualquer minuto jogado após 4 meses de competição. As restantes 3 saíram devido a motivos diferentes ao supracitado. Esta problemática deve quanto a mim ser alvo de reflexão.

Das 17 jogadoras que constituíam o plantel no final de janeiro, 3 delas (TED, NSR e NVI) não tinham qualquer minuto jogado na liga BPI, quando já tinham sido disputadas 14 Jornadas. Estas 3 jogadoras jogaram para a Taça de Portugal, tendo a TED (GR), a NSR e a NVI jogado 90 min, 22 min e 11 min

97 respetivamente. Do mesmo grupo de 17, a IRE e a NHV apenas participaram em um jogo para a liga BPI, jogando 2 e 18 min, respetivamente. Ambas jogaram no jogo para a Taça de Portugal, tendo a IRE jogado 22 min e a NHV 90 min. As restantes 12 jogadoras têm jogado regularmente ao longo da época. Nos 15 jogos até ao momento disputados, a equipa apenas em 5 realizou as três substituições, sendo que num destes casos foi feita uma substituição aos 85 min e 2 aos 90 min. Em 5 jogos foram feitas duas substituições, em 2 jogos uma e em 3 nenhuma. Nestes casos também existiu com alguma frequência jogadoras a entrar para participarem em menos de 5 min de jogo.

Perante as desistências e os tempos de utilização de cada jogadora apresentados considero que a gestão poderia ser feita de forma um pouco diferente e procurei saber a opinião da treinadora principal. Compreendo que o rendimento da equipa com a troca de determinadas jogadoras possa baixar, contudo considero que seria possível manter, mesmo com duas ou três trocas, um onze de qualidade, visto o plantel apresentar no início da época várias soluções de qualidade para qualquer posição. Por um lado, considero que seria uma opção benéfica para as habituais titulares não darem como adquirido a titularidade e manterem índices de trabalho. Por outro, poderia servir para precaver possíveis saídas por falta de oportunidades. Em todos os meses se verifica a maior presença em treinos de algumas das jogadoras menos utilizadas quando comparadas com algumas que são titulares habituais. Usar esse dado como justificação para determinadas opções ajudaria a meu ver a transmitir uma mensagem de valorização do esforço e capacidade de trabalho, bem como de confiança em todo o grupo, obrigando as jogadoras mais dotadas a demonstrarem todas as suas capacidades devido a um aumento da competitividade dentro da equipa.

Posto isto e considerando a existência de jogos ou parte deles de menor dificuldade, penso ter existido a oportunidade e o momento certo para conceder oportunidades a jogadoras meritórias dessas mesmas. Importa notar que o planeamento de treinos não foi significativamente afetado pois a existência de Juniores com qualidade e disponíveis para treinar com as Seniores compensou a saída de jogadoras.

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Após análise do jogo apresentado pela equipa até dezembro, a equipa técnica definiu, no início do mês de janeiro, como prioritário o treino da variação do centro de jogo, principalmente em largura. Apesar de a equipa já dominar o modelo de jogo e de forma permanente procurar explorar os seus pontos mais fortes, nem sempre conseguia criar as ótimas condições para os aproveitar da melhor forma. A equipa técnica considerou prioritário treinar a velocidade com que a bola variava em largura, assumindo as médias e em particular a MD uma especial importância para possibilitar e criar o espaço necessário para as Ext entrarem em rotura.

A meu ver esta decisão de focar o treino de forma acentuada neste aspeto foi aquela que até este momento da época permitiu melhorar mais a forma de jogar da equipa, sendo bastante interessante perceber como evoluirá o jogo da equipa nos próximos meses.

3.6.7. Fevereiro

Ao longo do ano tem sido frequente ficar responsável por determinados exercícios em cada treino. Estas vivências têm sido bastante importantes para a minha formação enquanto treinador. No momento de planeamento sinto também que a minha forma de pensar o treino é valorizada, surgindo momentos de discussão muito positivos sobre o tema.

Num dos microciclos deste mês fiquei responsável por construir uma unidade de treino segundo os objetivos definidos pela a equipa técnica e de liderar todo esse treino. Este era um dos objetivos individuais definido por mim no início do ano. Este treino permitiu-me, também, fazer uma autoavaliação das minhas capacidades. Quanto à construção e funcionamento de cada um dos exercícios considero ter sido um momento bastante bom, contudo creio que me faltou alguma capacidade de liderança e de comunicação. As transições entre exercícios poderiam a meu ver ter sido mais rápidas. Penso não ter conseguido fazer com que as jogadoras se prontificassem de forma rápida para começar o novo exercício, o que me leva concluir que a postura assumida ao longo do ano, nem sempre fez com que as jogadoras me vissem como um líder, mesmo admitindo que um treinador adjunto nunca será visto como é a treinadora

99 principal. O feedback organizacional durante cada exercício foi bastante pouco o que significa ter explicado de forma clara o funcionamento de cada um, contudo senti que o feedback técnico-tático nem sempre teve o efeito desejado. A meu ver deveu-se a não conseguir sempre dar um feedback curto, preciso e claro apesar de considerar ter escolhido os melhores momentos para o fornecer.

A equipa técnica definiu no início da época uma marcação individual em cantos e livres defensivos. Esta foi uma opção que foi debatida pela equipa técnica durante este mês, visto terem-se verificado algumas dificuldades neste momento. Na minha opinião, esta forma de defender provoca um atraso permanente no ataque à bola por duas razões: 1) o movimento da defesa é de reação ao movimento da sua oponente direta e nunca de antecipação o que significa iniciar já com um atraso relativamente a ela 2) a primeira preocupação nunca é a bola, mas sim a defesa, o que significa que no momento em que a jogadora procura atacar a bola muitas das vezes é tarde demais para acertar o timing de salto e a apreciar da melhor forma a trajetória da bola. Outro problema é a forma como o adversário pode usá-lo para criar o espaço pretendido para um ataque à bola. Num dos jogos da época, o adversário nos seus cantos ofensivos posicionou as suas jogadoras em cima da linha da grande área e na direção do segundo poste, o que pela opção da nossa equipa em marcar de forma individual provocou um aparecimento de espaço enorme totalmente desocupado entre a baliza e linha mais avançada da grande área. Esse espaço foi depois aproveitado pelas jogadoras adversárias para atacar a bola, com vantagem visível pois ao contrario da nossa defesa movimentavam-se no mesmo sentido para onde pretendiam dirigir a bola. Estra estratégia do adversário teve o efeito desejado. Perceber o que teríamos a ganhar ou a perder com a nossa opção foi um momento importante de reflexão. Apesar das desvantagens supracitadas, continuar a tentar importunar as adversárias adversários através de uma marcação individual de forma a camuflar as dificuldades tidas no cabeceamento pela generalidade das jogadoras foi a opção tomada. Foi esta a decisão pois além de ter sido um momento que apenas em 1 jogo foi aproveitado logicamente pelo adversário, a equipa técnica considerou esta alteração neste momento da época poderia criar alguma confusão dentro

100 das jogadoras pois uma marcação à zona obrigava a uma concentração e organização maior em cada um dos momentos. A equipa técnica sentiu não ser o momento ideal para existir uma readaptação a um comportamento tido durante tantos meses da época, visto ser um momento que obrigaria a algum tempo de treino, o qual a equipa técnica considerou não existir pois retiraria tempo a outros aspetos considerados prioritários. Outra das razões a suportar esta decisão relacionou-se com o facto de por vezes as jogadoras apontarem culpadas de forma veemente entre elas para qualquer situação desfavorável à equipa. Por isso, a equipa técnica previu que ao primeiro momento de insucesso de uma nova opção este desaguisado aconteceria à mesma e possivelmente a uma escala maior pois esta opção não responsabilizaria diretamente uma jogadora e por isso uma possível discussão provavelmente prolongar-se-ia durante mais tempo na procura de uma responsável. Contudo, a equipa técnica considerou que uma reformulação nos esquemas táticos defensivos deverá ser equacionada na próxima época.

3.6.8. Março

A equipa técnica no jogo da taça distrital optou por iniciar sem 4 das suas habituais titulares. Dessa forma foi possível a GR menos utilizada jogar os 90 minutos e promover a titularidade de uma jogadora do escalão júnior, completando grande parte do jogo. A IRS, a 12ª jogadora mais utilizada da equipa jogou 45 minutos pois saiu ao intervalo. Foi substituída porque o seu rendimento não estava a ser o desejado, contudo considero que a sua saída possa não ter sido a melhor opção. Além de a equipa ao intervalo já estar em vantagem e o jogo estar a proporcionar um nível de dificuldade muito baixo, penso que a sua saída poderá ter afetado a sua motivação, visto ser bastante pouco usual sair uma jogadora ao intervalo (contabilizando esta foi apenas a segunda vez). Considero de uma especial importância manter esta jogadora motivada e preparada para dar o seu contributo pois é a jogadora que mais vezes entra no decorrer dos jogos e a solução mais competente fora do 11 titular habitual. A NHV jogou 90 minutos. Considerei essa opção importante pois é a alternativa mais válida de momento para qualquer uma das posições da defesa, precisando de tempo de jogo para estar o mais possível preparada para jogar

101 quando necessário. Considerei a gestão feita importante, contudo penso que a NSR deveria ter jogado este jogo. Esta jogadora jogou até ao mês de março (inclusive) apenas 42 minutos e assume-se como uma jogadora a cumprir o seu primeiro ano de sénior na qual a equipa técnica reconhece alguma qualidade e potencial para assumir um papel importante na equipa nas próximas épocas. Com as poucas opções que o plantel tem de momento a gestão do mesmo ganha uma especial importância, não só para manter o número mínimo de alternativas de qualidade ao onze habitual, mas também para existir um número de jogadoras regularmente para treinar favorável ao planeamento. Nesta questão tenho verificado que cada jogadora requer uma gestão personalizada em função das motivações e aspirações de cada uma bem como da avaliação de competências que cada uma faz de si e das colegas.

Esta época tem sido bastante benéfica para compreender a importância de uma interação positiva entre treinadora principal e jogadoras. Independentemente do grau de concordância por parte das jogadoras relativamente às decisões da equipa técnica existiu sempre uma importante clareza na sua transmissão. Qualquer assunto que poderia dar azo a um problema foi imediatamente esclarecido, assumindo a treinadora sempre uma postura de grande integridade. O discurso usado foi sempre bastante realista, evitando promessas individuais. Tenho percecionado que esta forma de estar é bastante valorizada pelas jogadoras. Em algumas situações foi notória em algumas jogadoras a discórdia com determinadas decisões tomadas pela equipa técnica (situação a meu ver natural), contudo, como a treinadora tem feito tudo de forma bastante explícita, as jogadoras têm acatado as decisões sem criar qualquer tipo de conflitos. Penso que este tipo de interação promoveu uma relação de grande confiança entre equipa técnica e jogadoras e muito contribuiu para a inexistência de casos de indisciplina (até ao findar do mês de março), bem como tem permitido ter as jogadoras focadas em todo o processo de treino e jogo.

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3.6.9. Abril

Apesar do objetivo para o campeonato já tivesse sido alcançado a equipa técnica sentiu necessidade de lançar o desafio à equipa de ficar classificada numa das 5 primeiras posições da tabela classificativa, isto é, melhorar o resultado classificativa da época anterior. Dessa forma, logo no primeiro microciclo do mês foi transmitido à equipa esse objetivo. Esta opção não tinha como intenção principal essa melhoria da classificação, mas sim não deixar a equipa entrar num ciclo de complacência e desleixo pois a equipa ainda estava presente na Taça de Portugal e na Taça Distrital.

No primeiro jogo oficial do mês, contra o Sporting Clube de Braga, a equipa sofreu uma derrota por uma diferença de golos bastante acentuada. Considerando que este resultado poderia afetar negativamente as prestações em jogos seguintes, a equipa técnica procurou muito rapidamente recuperar animicamente a equipa para os seguintes jogos. Fê-lo através de uma análise técnico-tática ao jogo junto das jogadoras, logo no primeiro dia do microciclo seguinte. Foi uma análise bastante breve – cerca de 5 min – onde foram detetados os bons momentos da equipa, os principais aspetos que falharam e sem nunca esquecer de referir a qualidade acentuada do adversário. Esta análise caracterizou-se como sendo fria e realista. Em nenhum momento foi referida como justificação para o mau resultado qualquer fator de ordem psicológica, como falta de comprometimento ou entreajuda durante o jogo nem foi individualizada qualquer jogadora. A meu ver foi uma abordagem da treinadora bastante inteligente. As suas palavras em nenhum momento permitiram uma interpretação de acusação individual ou que colocasse em causa o comprometimento de alguma. Ao focar a análise na competência técnica ou tática evitou qualquer sentimento de injustiça perante as suas palavras, visto essa vertente ser muito mais objetiva que a vertente psicológica, sendo por exemplo para o grupo mais fácil aceitar que as adversárias são melhores do que aceitar que as adversárias apresentam maior vontade em ganhar. Com esta abordagem conseguiu, também, retirar das jogadoras algum sentimento de responsabilidade, pois os aspetos técnico-táticos são bastante associados à função do treinador. Dessa forma, assumiu grande parte da responsabilidade. A

103 semana de treinos após este jogo foi bastante boa. Este foi um aspeto que me surpreendeu, mas prova o sucesso da estratégia utilizada pela treinadora para a recuperação emocional das jogadoras.

Apesar do microciclo antecedente ao do jogo decisivo para a Taça de Portugal conter um jogo para o campeonato de elevada dificuldade a equipa técnica decidiu aproveitar as unidades de treino que o constituía para preparar o jogo da Taça. Considerei a decisão bastante inteligente, visto o objetivo de performance referente ao campeonato já ter sido alcançado. Além disso, o jogo para o campeonato era contra o Sporting Clube Portugal, um jogo em que as probabilidades de vitórias eram baixas, devido à significativa diferença qualitativa das jogadoras de cada equipa. Esta equipa apenas perdeu uma vez para a principal divisão portuguesa nas últimas 3 épocas. Assim, apesar de a equipa técnica não ter dito às jogadoras que o realizado durante esse microciclo já estava direcionado para o jogo seguinte, o tempo disponível de treino para preparar o jogo para a taça foi otimizado. Não foi nada explicado às jogadoras por duas razões: 1) manter rotinas normais, visto este tipo de informação nunca ter sido fornecido por a equipa técnica considerar desnecessário 2) não fomentar qualquer tipo de desleixo durante o jogo para o campeonato. Apesar de os resultados para o campeonato e para a taça terem sido negativos creio que esta decisão foi a mais acertada. É uma decisão que reforça a importância de um pensamento constante no planeamento do treino, durante todo o desenrolar da época.

Além disso, importa referir as boas prestações coletivas durante este mês, em particular no jogo da 2ª mão das meias finais da Taça de Portugal contra o Valadares-Gaia. A equipa sente que a melhoria na variação do centro de jogo contribuiu muito para a otimização da forma de jogar.

3.6.10. Maio

Apesar deste ser o último mês da época não se verificou qualquer mudança na atitude e forma de encarar o treino por parte das jogadoras. Considero que a existência de jogo para as meias finais da taça distrital no fim de semana após o final do campeonato contribui positivamente para tal, além de o desafio colocado

104 ao plantel no mês passado. A meu ver, para este aspeto contribuiu também a postura da equipa técnica e em particular da treinadora principal durante todo o mês, mantendo os níveis de exigência e forma de trabalhar exatamente igual ao resto da época.

3.7. Balanço final da época

Segundo Slacker e Parent (2006) o sucesso mede-se pela comparação dos resultados obtidos com os resultados desejados, isto é, se os objetivos propostos foram alcançados ou não.

O objetivo para a Liga BPI (a manutenção) foi alcançado na 16ª Jornada. Como ainda faltavam 6 jornadas para o fim, a equipa técnica considerou alcançar-se o objetivo com bastante antecedência. Além disso, a equipa conseguiu terminar a época na 5ª posição, melhorando relativamente à época anterior (6ª posição). Por isso, a equipa técnica avalia a prestação no campeonato de forma bastante positiva.

O objetivo para a Taça de Portugal não foi alcançado pois a equipa foi eliminada pelo Valadares-Gaia e o objetivo nesta competição era vencer todas as eliminatórias jogadas contra qualquer equipa à exceção de Sport Lisboa e Benfica, Sporting Clube de Braga e Sporting Clube de Portugal. Contudo, a equipa alcançou as meias-finais da competição e apenas foi eliminada no desempate por grandes penalidades, conseguindo promover positivamente o nome do clube.

Na taça distrital a equipa não atingiu o objetivo traçado, acabando eliminada nas meias-finais contra a AD Ovarense. A prestação nesta competição foi avaliada negativamente, visto o objetivo definido ter sido a conquista da mesma.

Quanto ao objetivo de criar uma forte articulação entre a equipa de Juniores e a equipa Sénior de modo a assegurar a formação de equipas seniores competitivas para os anos seguintes, perante as condicionantes existentes foi positivo apesar de não ter acontecido tal como a equipa técnica tinha previsto no

105 inicio da época. Apesar de a equipa ter assegurado a manutenção a 6 jornadas do fim - condição considerada importante para facilitar a utilização de jogadoras do escalão júnior num contexto competitivo sénior - ao longo de toda a época foram utilizadas apenas 3 jogadoras do escalão Júnior. A LEN participou em 5 jogos contabilizando um total de 143’, a ETN e RIE participaram em 1 jogo, contabilizando 74’ e 12’ respetivamente. Contudo, é necessário ter em conta, como uma das justificações para estes tempos de jogo reduzidos que o campeonato nacional no qual as jogadoras do escalão sub-19 participaram promoveu os jogos mais competitivos no momento da época em que as probabilidades de essas jogadoras jogarem pela equipa sénior seriam maiores, obrigando naturalmente a uma gestão diferente do pretendido. Além disso, em todos os microciclos existiu a participação de pelo menos uma jogadora do escalão sub-19 nos treinos da equipa principal. Assim, apesar de a equipa técnica admitir que este objetivo tinha sido definido pretendendo tempos de utilização maiores, considera que a articulação entre os dois escalões foi positiva.

Os objetivos de preparação foram todos eles alcançados nas datas previstas, contribuindo para os resultados alcançados nas varias competições.

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Capítulo IV - Desenvolvimento Profissional

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Durante a época desportiva de estágio, senti que o desenvolvimento profissional do treinador de futebol acontece através de um estudo teórico e empírico sobre vários temas. Dessa forma, de seguida, abordo 5 diferentes temas que considero ter aprofundado durante este ano e considero essenciais para o meu desenvolvimento pessoal.

4.1. A Periodização

Conhecer as exigências do futebol revelou-se, durante este ano, imprescindível para uma implementação fundamentada de um processo de treino. Bangsbo e Hellsten (2007) admitem que os jogadores necessitam de um alto nível de condição física para poder lidar com as exigências físicas do futebol de modo a permitir que as suas habilidades técnicas sejam melhor utilizadas durante todo o jogo. Reilly, et al. (2000) comprovam a participação significativa tanto da via metabólica aeróbia como da anaeróbia durante uma partida de futebol. Acrescentam que “os jogadores devem ter uma potência aeróbia e anaeróbia moderada a alta, boa agilidade e flexibilidade articular, bons níveis de força e ser capazes de mudanças de direção em movimentos rápidos”, admitindo “não ser possível, devido á heterogeneidade das características antropométricas e fisiológicas entre as equipas de alto rendimento, isolar pré-requisitos físicos individuais para o sucesso com um alto nível de confiança”. Este conhecimento é essencial no futebol praticado por homens bem como no praticado por mulheres visto Araújo et al. (2018) afirmam que as capacidades físicas já referidas são essenciais cruciais para a boa performance em ambos os sexos.

Como “após um período de inatividade existe uma reversibilidade das capacidades físicas dos jogadores” (Castelo, 2002), quando os jogadores regressam à atividade desportiva numa nova época os conhecimentos supracitados devem ter sido em conta.

A opção da equipa técnica foi dividir a época em dois momentos com objetivos distintos: período preparatório e período competitivo. Durante o período preparatório, com a duração de 3 microciclos (3 semanas), objetivou-se a criação

108 de um estado de forma físico necessário ao futebol e também, a análise qualitativa do plantel para a definição da melhor forma de jogar.

Meckel et al. (2012) cita os estudos de Burgomaster et al. (2005), de Dawson et al. (1998), de MacDougall et al. (1997) e de Ortenblad et al. (2000) para revelar importantes adaptações do metabolismo anaeróbio, através do treino intervalado de alta intensidade, constituído por uma sequência de sprints com uma duração de 5 a 30 segundos (com tempos de pausa devidamente pré-definidos entre cada repetição). Além disso, o mesmo autor cita os estudos de Burgomaster et al. (2005), de Dawson et al. (1998), de MacDougall et al. (1997), de Rodas et al. (2000) e de Sperlich et al. (2011) para comprovar o aumento do VO2 máximo e da atividade enzimática relacionada com o metabolismo aeróbio como consequência deste tipo de treino.

Num estudo de Meckel et al. (2012) no qual se comparam a os resultados do treino intervalado com sprints longos (30-45 seg.) com os resultados do treino intervalado com sprints curtos (6-8 seg.), não se detetaram diferenças significativas entre ambos. Em ambos se detetaram melhorias significativas na potência aeróbia, na velocidade máxima, na agilidade e na resistência anaeróbia, bem como a inexistência de melhorias na capacidade de salto. Para os autores, a melhoria verificada na velocidade máxima e na agilidade com o método dos sprints longos foi inesperada. Como o estudo foi realizado durante o período preparatório, os autores admitiram a hipótese de os sprints realizados a cerca 85% da velocidade máxima poderem ser suficientes para provocar melhorias dos dois parâmetros referidos quando o nível físico ainda é baixo. Dessa forma os autores consideram que os mesmos testes feitos durante o período competitivo poderiam revelar resultados diferentes. Segundo os autores, os resultados revelados permitem ao treinador, no período preparatório, alternar entre os dois métodos, de forma a procurar manter a motivação dos jogadores, fugindo a uma possível monotonia nas suas atividades de treino.

Mais do que as vantagens de um tipo de treino para o desenvolvimento físico este estudo deve servir como reflexão das diferenças entre o período competitivo e período preparatório, bem como para perceber como a operacionalização

109 destes conhecimentos nem sempre é fácil. Neste estudo participaram jogadores de futebol, durou 9 semanas e foi realizado seguindo um protocolo rigoroso (inexistência de jogos amigáveis, por exemplo). Repercutir estas condições na prática é difícil pois existem outros parâmetros a ter em conta como as dimensões técnica, tática, a gestão de um grupo e a calendarização das competições. Considero, então, ser necessária uma gestão bastante inteligente por parte do treinador, tal como aconteceu no CA com apenas 5 semanas disponíveis para treinar antes do primeiro jogo oficial.

Os exercícios utilizados pela equipa técnica direcionados para a dimensão física foram diversificados, constituindo-se como exercícios de exigência aeróbia ou de exigência mista aeróbia/anaeróbia, predominando a ausência de contacto com bola, incluindo exercícios de velocidade máxima, força e coordenação, sendo a resistência aeróbia o objetivo principal no primeiro microciclo. Um estudo de Eliakim et al. (2018) demonstrou que este tipo de abordagem permite uma melhoria significativa e substancial do VO2 máximo, mas parece provocar um decréscimo na capacidade de sprint e de manter essa capacidade após várias repetições, além de não se detetarem diferenças significativas no salto vertical ou na flexibilidade. Contudo, admitem que devido à forte componente aeróbia, com um volume de treino alto e combinado com treino intervalado de alta intensidade, os resultados não foram surpreendentes. Referem também, que a melhoria do VO2 máximo parece ser um dos fatores a contribuir positivamente para o menor risco de lesão.

Gerir as cargas durante o período competitivo foi, também, uma das preocupações. Bompa e Haff (2009) defendem a construção de um microciclo competitivo “estruturado” a ser aplicado durante o período competitivo, permitindo, assim o prolongamento de forma desportiva. Para Zurutuza et al. (2007) a gestão de cargas é essencial para permitir a manutenção ou até a melhoria da condição física do jogador ao longo da época, reduzindo probabilidades de lesão e maximização de desempenho em competição. Assim, na construção do microciclo esse parece ser um fator importante a ter em conta, contudo existem outros fatores que obrigam a diferentes adaptações. Importa, então, recordar as palavras Maçãs in Oliveira (2007), já referidas neste relatório,

110 quando afirma existir “uma série de fatores a influem na planificação, que muitas vezes nem estão relacionados a recuperação física”. Durante este ano no CA foi evidente a importância da gestão de vários fatores para a estruturação do microciclo padrão. A indisponibilidade das jogadoras para treinar devido a motivos profissionais e a grandes distâncias entre o local onde habitam ou estudam e o local dos treinos, teve de se considerar nesse momento. Esta sensibilidade do treinador para se adaptar a cada contexto sem se afastar dos pressupostos que considera essenciais revela-se uma capacidade imprescindível. Mesmo com jogadoras a treinarem apenas duas vezes por semana foi possível construir um microciclo que permitisse cada uma estar no máximo das suas capacidades físicas em cada momento competitivo e ao mesmo tempo por dentro do trabalho técnico-tático coletivo. Importa referir que em nenhum momento foi usado qualquer teste para essa avaliação física, contudo pela interação permanente entre equipa técnica e jogadoras em nenhum momento uma sensação de impreparação foi relatada pelas jogadoras. É de realçar que durante a época apenas ocorreram duas lesões e ambas por traumatismo, sendo o tempo de paragem de duas semanas por cada.

Quanto a esta temática, pude reforçar a ideia que independentemente de se optar por um treino com maior ou menor contacto com bola, a preocupação com a dimensão física revela-se crucial. Assim, estou ciente que no momento de periodizar o treinador tem de dominar o conhecimento teórico relativamente às exigências físicas do jogo de futebol e prognosticar os resultados mais expetáveis da gestão de cargas de cada microciclo e a sua repercussão futura. Além disso, no final do ano pude verificar estar mais atento a outros fatores, muitas vezes de cariz humano e próprios do contexto em concreto, que podem obrigar a uma periodização diferente daquela idealizada inicialmente, sob pena de a estratégia idealizada como a melhor não ser completamente cumprida, a desmotivação surgir e a gestão de grupo comprometer-se.

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4.2. O Processo de treino

Pereira (2006), considera o exercício o instrumento fundamental no processo de treino em futebol. O mesmo autor defende, ainda, a extrema ligação do exercício com aquilo que se faz em jogo e em especial com a forma de jogo idealizada para a equipa.

Essa operacionalização de forma de jogar da equipa pode ir ao encontro de características permanente de um modelo de jogo adotado ou procurar uma vertente estratégica de adaptação ao adversário. Contudo, articular estas duas formas é possível. Ao longo desta época desportiva essa articulação foi evidente. Apesar de a equipa técnica construir os exercícios tendo por base o modelo de jogo adotado, adaptações estratégicas foram tidas em conta. Com esta forma de treinar, verifiquei uma evolução gradual na forma de jogar da equipa, e, ao mesmo tempo, uma equipa capaz de em cada jogo, anular características diferenciadoras do adversário. Na prática, em cada microciclo construíram-se exercícios que simulassem o máximo possível características gerais do jogo adversário, ao mesmo tempo que obrigávamos as nossas jogadoras a encontrar soluções dentro daquilo que o modelo de jogo da equipa procura potenciar. Por exemplo, a equipa tinha como características do seu modelo de jogo, a participação constante da MD na fase de construção, a pouca participação das laterias no processo ofensivo e a procura de criação de situações que permitissem a entrada em rotura das Ext, após um passe feito preferencialmente por uma das médias. Contudo, fazê-lo contra uma equipa que adotava uma pressão alta ou uma pressão baixa constituía-se diferente. Esta forma de trabalhar enaltece a importância da análise de cada um dos jogos da própria equipa, para perceber quais aspetos prioritários para o treino bem como para avaliar o sucesso o processo de treino já realizado, mas também a importância da análise a cada um dos adversários. Assim, esta hierarquização de tarefas aproxima-se bastante daquilo que Quina e Graça (2011) defendem, quando afirmam que a preparação das unidades de treino deve ser feita microciclo a microciclo, em estrita ligação com o que se observa em jogo e em treino, existindo uma imprescindível definição e hierarquização de objetivos. Pessoalmente, esta forma de hierarquizar tarefas foi bastante importante no meu

112 desenvolvimento profissional visto as minhas funções análise e observação de jogo da equipa e do adversário tinham uma implicação direta nos conteúdos a treinar em cada unidade de treino. Além disso, permitiu-me vivenciar uma forma de trabalhar organizada e metódica, que servirá de exemplo para mim.

A meu ver, na construção de cada um dos exercícios o principal desafio foi articular os seus constrangimentos para alcançar os objetivos pretendidos, sem descontextualizar o jogo. São os constrangimentos do exercício como o espaço, o tempo, as relações numéricas ou as balizas que ao serem articulados e utilizados de várias maneiras permitem a execução de diferentes objetivos em cada exercício. Segundo o estudo de Cardoso (2014) estudo foi possível observar importantes diferenças técnicas e táticas entre três tipos de jogos onde apenas entre cada um deles se alteraram as balizas. Verificaram-se diferenças significativas na distribuição espacial dos jogadores e nos gestos técnicos de passe, remate, drible, desarme e interceção entre um jogo de 5x5 sem balizas, apenas com o objetivo de manutenção de posse de bola, um GR+5x5+GR e um de 5x5 com mini-balizas laterais e sem GR. Senti que a minha capacidade de análise do sucesso prático de cada exercício melhorou, estando, agora, mais apto avaliar a efetividade de cada um dos exercícios em função dos objetivos pretendidos e, já não tão focado apenas em questões organizativas.

4.3. A Intervenção do treinador no treino

Pacheco (2002) assume que o treino é o principal meio de preparação dos jogadores e que treinar bem implica uma comunicação eficiente entre treinador e jogadores. Durante esta época nos treinos do CA pude observar este aspeto. Perceber de que forma a treinadora principal promovia o alcance dos objetivos durante o tempo total dos exercícios, ao conseguir manter o comprometimento dos atletas bem como a execução das ações técnico-táticas desejadas foi bastante valorizador. Para esse sucesso, além da importante forma como o exercício tinha sido construído, contribuía, também, a forma como interagia com as jogadoras O seu feedback caracterizava-se como muito assertivo e curto. A capacidade de comunicar constitui um dos fatores determinantes da eficácia

113 pedagógica no contexto do ensino das atividades físicas e desportivas (Rosado & Mesquita, 2015). Os mesmos autores referem a necessidade de selecionar apenas a informação mais relevante, bem como, conhecer as condições (momento do feedback, tom de voz, etc.) que garantam a efetividade do feedback. A intervenção da treinadora foi frequentemente feita num sentido volitivo e direcionado para todas sempre que considerava que as jogadoras não estavam no máximo do seu empenho e num sentido técnico-tático, preferencialmente de forma individual, após ações repetidas de insucesso de determinada jogadora. No estudo de Smith e Cushion (2006) é possível verificar a repetição do seguinte ciclo no momento da intervenção dos treinadores: 1) observação dos desempenhos (silêncio); 2) feedback durante a prática 3) nova observação (silêncio). A preferência pelo feedback individual, retirando, se necessário, a jogadora temporariamente do exercício permitiu não só ajudar na aprendizagem dela, mas, também, não retirar tempo de prática às restantes jogadoras. A opção de parar o exercício para todas foi pouco frequente, sendo que na maioria dos treinos não existiu, o que permitiu otimizar o tempo de prática. Santos (2009), ajuda a perceber a importância de otimizar o tempo de prática em cada exercício ao afirmar ser o exercício uma das linguagens a ser utilizada pelo treinador, visto este ser o meio fundamental para a operacionalização do ensino/treino.

Num momento específico da minha intervenção, ao ficar responsável por um treino, senti que diferentes funções na equipa técnica e, principalmente, diferentes níveis de conhecimento entre treinador e jogadoras podem obrigar a formas de intervenção distintas. Por exemplo, Santos (2009) ao referir um estudo de Potrac et al. (2002) no qual se verificava uma atitude mais diretiva na instrução do treinador em detrimento da colocação de questões, admite que esta forma de intervir pode ser interpretada como uma tentativa de se afirmar perante os jogadores.

Senti que a minha capacidade de comunicação evoluiu significativamente em relação ao início da época desportiva. Além disso estou bastante mais alerta para a necessidade de adaptação da linguagem perante cada uma das jogadoras, visto alguns termos serem facilmente percebidos por umas, mas nem

114 sempre por todas. Uma boa prática que tenciono adotar nas próximas épocas enquanto treinador é a explicitação para todos os elementos da equipa de alguns termos que prevejo utilizar com alguma regularidade durante a época, para que erros de comunicação não aconteçam e otimize o tempo da instrução.

4.4. A Liderança

“As pessoas que compõe uma equipa de alto rendimento requerem ser lideradas” (Araújo, 2010).

Liderar uma equipa técnica é uma das funções de um treinador principal de futebol. Nos primeiros dias de trabalho no CA, a treinadora principal procurou inteirar-se das minhas valências e perceber de que forma as podia aproveitar para otimizar o processo de treino. Só dessa forma poderia organizar da melhor forma as tarefas de cada um dos elementos da sua equipa técnica. Esta forma de agir constituiu-se como um importante momento de aprendizagem. “Uma empresa eficaz assegura-se de que o esforço coletivo se organiza para atingir determinados fins” (Armstrong, 2005). Embora num ramo de atividade diferente, a afirmação anterior é importante para compreender a importância do comportamento da treinadora principal.

Senti que a treinadora transmitiu bastante confiança e exigência aos elementos da sua equipa técnica, ao longo de todo o ando, o que considerei bastante importante. A comunicação permanente entre elementos da equipa técnica de forma a manter o fio condutor do processo serviu manter todos os elementos da equipa técnica focados e motivados nas suas tarefas específicas. Segundo Armstrong (2005), “liderança” significa estabelecer objetivos, garantir a cooperação, promover o empenho e a autoconfiança, fortalecer competências, remover obstáculos externos e dar oportunidade aos membros da equipa para desenvolverem as suas capacidades e competências.

Durante a época desportiva pude compreender como a treinador principal geria os momentos positivos e os outros menos bons. Os segundos enfatizaram a competência necessária a um treinador para gerir emocionalmente grupo que

115 lidera. A interação entre equipa técnica e jogadoras revelou-se nestes momentos um aspeto crucial para a mudança de paradigma. Por um lado, conhecer o contexto integrado revelou ser uma competência essencial para a treinadora conseguir interagir eficientemente com as jogadoras nestes momentos. Segundo Araújo (2010) “valores, cultura, modelos, referências, etc., têm imensa influência no modo como comunicamos”. Por outro lado, a postura apresentada pela treinadora foi sempre pensada em função do que se pretendia transmitir. Para além do conteúdo, a expressão corporal e o tom de voz tem uma enorme importância na comunicação com os outros, e por isso, na comunicação importa perceber sempre qual foi o impacto comunicacional, o que não está dependente apenas do conteúdo (Araújo, 2010).

A interação entre equipa técnica e plantel foi feita sempre através de um discurso bastante realista e sem a presença de quaisquer promessas individuais. Caracterizou-se também por uma intervenção rápida e igualmente verdadeira sobre todos os assuntos que poderiam espoletar algum mal-estar dentro do grupo. Apesar de se ter verificado a discórdia de algumas jogadoras com certas decisões, a postura da treinadora foi sempre bastante valorizada pelas jogadoras, o que contribuiu para a inexistência de qualquer episódio de indisciplina entre jogadoras ou entre jogadoras e equipa técnica durante toda a época. Araújo (2010) sobre este tema admite que confronto e crise são manifestações sempre verificásseis no interior das equipas com maior sucesso, mas que não existe um trabalho em equipa sem comunicação, frontal, aberta, olhos nos olhos, alertando para a necessidade de no momento adequado, dizer- se o que tem de ser dito, ao serviço de uma cada vez maior eficiência e eficácia.

O plantel iniciou com 24 jogadoras, terminando com 17. Três das 7 jogadoras justificaram a sua saída com a falta de minutos de jogo. Além dessas, uma não apresentou qualquer justificação, mas a equipa técnica acredita que o fez por não ter qualquer minuto jogado após 4 meses de competição. Das restantes, duas saíram por incompatibilidade com horários de emprego (nenhuma das jogadoras tinha contrato com o clube) e outra que apesar de jogar com regularidade preferiu jogar numa divisão inferior, mas mais perto de casa. As 3 últimas saídas referidas servem essencialmente de exemplo demonstrativo do

116 contexto do futebol feminino em Portugal, enquanto as restantes 4 vincam a importância da gestão de um plantel. Estas quatro podem ser agrupadas segundo dois critérios diferentes que obrigam formas de gestão diferentes: 1) perceção de desvantagem competitiva significativa face a colegas na luta por minutos de jogo 2) sentimento de injustiça perante falta de minutos de jogo. A decisão posterior de aceitar a saída ou não depende em grande parte do contexto vivenciado.

Ao analisar os minutos de jogo verificamos que daquelas 4 jogadoras que saíram, uma não tinha qualquer tempo de jogo em 180 minutos possíveis, contudo esta pode ser integrada no primeiro grupo referido. Quanto às restantes, que poderiam perspetivar uma maior utilização em algum momento ao longo da época, o tempo total de jogo de cada até ao momento da saída respetiva era o seguinte: NTR – 1’ jogado em 450’ possíveis; RRN – 108’ jogados em 1080’ possíveis; NEA – 0’ jogados em 1080. Embora a baixa presença em treino pudesse ser uma justificação para a reduzida utilização, as percentagens de idas aos treinos posicionavam-se próximas da média da equipa: NTR - 76%, média da equipa aquando a sua saída – 75%; RRN - 66%, média da equipa aquando a sua saída – 73%; NEA – 50%, média da equipa aquando a sua saída – 73%. Quanto ao restante plantel, as 11 jogadoras mais utilizadas apresentaram todas elas valores acima dos 71%, sendo que duas dessas jogaram todos os minutos possíveis (2640’). A 12ª jogadora mais utilizada jogou em cerca de 37% do tempo de jogo. A TED (GR) e a NSR, jogadoras com um nível suficiente de rendimento e um potencial significativo na visão da equipa técnica jogaram apenas 200’ e 47’ respetivamente, sendo que a presença em treinos se expressou numa percentagem de 91% para a primeira e 80% para a segunda (média da equipa: 73%). A NHV que se assumiu após a saída da NRO como a alternativa mais válida as 4 defesas do 11 habitualmente titular jogou 354’ (13% do tempo possível). A NVI e a IRE jogaram 28 e 121’ respetivamente, contudo estas duas sempre assumiram como evidente e natural a desvantagem competitiva significativa face a colegas na luta por minutos de jogo.

Segundo Pinheiro et al. (2018) as diferenças no tempo de jogo são perfeitamente normais pois no Alto Rendimento o objetivo não é a participação de todos, mas,

117 sim, a obtenção do sucesso desejado, jogando mais aqueles que mais rendimento garantem ao treinador.

Por um lado, parece ser evidente que as próprias jogadoras realizavam uma avaliação das suas capacidades e uma comparação entre elas e isso ajudava aquelas que revelam menos rendimento a aceitar com mais naturalidade o facto de jogarem menos. Por outro, aquelas que se posicionam num grau de competência maior, mas que não estão a ter um tempo de jogo condizente, mostravam necessitar de uma mensagem mais forte por parte da equipa técnica que seria possível a conquista de mais tempo de jogo pois caso contrário, surgia a desmotivação e a redução da utilidade à equipa. Manuel Machado in Pinheiro et al. (2018) sobre esta temática afirma: “O jogador pode ser ambicioso, mas de uma maneira geral é inteligente também. E quando ele percebe que aqueles treze ou catorze jogadores estão a ter rendimento (…) sem o seu contributo normalmente consegue gerir o seu próprio ego e manter-se equilibrado” admitindo, porém que podem existir problemas quando se mantêm os mesmos e os resultados não aparecem, criando-se um sentimento de injustiça, admitindo, por isso, a necessidade de nesses momentos encontrar um equilíbrio e utilizar alguns que jogam menos.

Jorge Simão in Manuel Machado in Pinheiro et al. (2018) também revela a sua preocupação com os jogadores menos utilizados, referindo a necessidade de uma intervenção em treino e no seu discurso focada na procura da estimulação motivacional desses jogadores. Considero que esta preocupação foi tida em conta pela equipa técnica, principalmente pelo discurso realista adotado e a postura, a meu ver, exemplar assumida pela treinadora principal em todos os momentos em que uma jogadora manifestou intenção de sair. Apesar de considerar ter sido bastante boa esta postura e me recordarei dela como um bom exemplo, senti que a utilização das jogadoras poderia ter sido melhor gerida nas fases de insucesso coletivo, nos jogos de menor dificuldade e no tempo de jogo possibilitado às jogadoras que entram no seu decorrer.

Posto isto, concluo ser imprescindível para o treinador conhecer muito bem as características do contexto no qual ser treina. Em forma de exemplos: gerir

118 aspirações e motivações de um grupo de jogadores profissionais a habitar a 5 minutos do campo de treino e que se sustentam a partir da sua atividade de alto rendimento é diferente de treinar jogadoras amadoras que demoram 1h entre campo e habitação e às quais se exige a performance de alto rendimento ou gerir um grupo que fará 50 jogos é diferente de gerir um grupo que fará metade deles. Estou agora ciente da indispensável e muito difícil tarefa de gerir todos os jogadores de forma a mantê-los motivados e disponíveis para dar o máximo do seu contributo à equipa quando necessário. Além disso, sinto que depois desta temporada desportiva terei muito mais atenção à gestão emocional daqueles jogadores que habitualmente jogam menos.

4.5. As decisões técnico-táticas na otimização do rendimento coletivo

Para Guia (2009) o treinador tem de estabelecer inúmeras relações interpessoais, transmitir informação e tomar decisões. Segundo o mesmo autor, a tomada de decisão e simulação mental do treinador de futebol são importantes, em contextos pouco estruturados e não lineares, para identificar condições emergentes para a melhoria do desempenho.

Ao longo da época importantes decisões técnico-táticas foram tomadas pela equipa técnica na procura da otimização do rendimento coletivo. Perceber de que forma podia ser estruturada a forma de jogar que melhor potenciasse as características das jogadoras do plantel, qual o melhor 11 para cada jogo, e qual a melhor posição de cada uma das jogadoras foram de algumas decisões importantes feitas durante a época.

“Nos jogos desportivos coletivos as dimensões estratégica e tática assumem um papel determinante, na medida em que estas modalidades se caracterizam por um complexo por um complexo de relações de oposição e cooperação cujas configurações decorrem dos objetivos dos jogadores e das equipas em confronto e do conhecimento que estes possuem de si próprios e do adversário” (Tavares & Oliveira, 1996)

119

Procurar perceber as consequências futuras de cada uma das decisões foi sempre a preocupação, e foi esse prognóstico a justificativa para cada uma das decisões. Avaliar os prós e contras de cada decisão técnico-tática mostrou ser uma tarefa muito presente no quotidiano do treinador, obrigando à equipa técnica um conjunto importante de conhecimentos do jogo e do contexto vivido.

Dessa forma, segundo Garganta (2004) o treinador de Futebol deverá conhecer a profundamente a modalidade pois terá de com elevada frequência de decidir sobre questões técnicas, táticas, logísticas, etc. e a assumir as respetivas consequências, estando por isso obrigado a possuir sólidas competências técnica, de personalidade e de inteligência estratégica. Guia (2009) reforça esta ideia ao citar Abernethy, et al. (1998) para afirmar que “a qualidade da decisão é influenciada pela qualidade da informação percetiva recebida, pelo conhecimento do executante, do contexto e as expectativas baseadas em experiências passadas”.

Resumidamente, esta época permitiu-me ficar ciente que o treinador de futebol é um decisor permanente. Este deve refletir bastante bem sobre as consequências das suas decisões a curto e longo prazo e por isso deve reunir o máximo de informação possível. Além disso, refletir sobre experiências anteriores é um contributo importante para as decisões do presente.

120

Capítulo V - Conclusão

121

Tal como o jogador de futebol, o treinador de futebol tem de treinar. Para conseguir ter todas as competências necessárias para alcançar e permanecer num patamar de Alto Rendimento tem de sujeitar-se a um processo de aprendizagem nem sempre fácil. É imprescindível, então, para o treinador, procurar as melhores opções para evoluir da melhor forma e alcançar o nível de competência desejado. A execução deste relatório e os aspetos que tentei desenvolver ao longo da época desportiva, são o resultado de escolhas que considerei serem as mais adequadas para o meu desenvolvimento profissional.

O treinador de futebol está obrigado a dominar várias áreas para obter o sucesso desejado requerendo, portanto, um conhecimento multidisciplinar. Além disso, ao longo da sua carreira o treinador de futebol vivenciará contextos diferenciados, cada um deles com as suas especificidades. Estar preparado para demonstrar competência e interagir com diferentes jogadores e restantes intervenientes e em diferentes locais torna-se essencial.

Ser um treinador de Alto Rendimento de sucesso obriga um permanente estudo teórico em conjunto com uma experimentação empírica. A reflexão sobre cada uma das componentes de treino e gestão de um grupo é imprescindível para as melhores decisões estarem mais perto de ser tomadas.

No Alto Rendimento, o sucesso de um treinador e da sua equipa está dependente dos resultados de performance. Por isso, esses objetivos devem estar bem estabelecidos desde início. Contudo, o grande desafio do treinador e respetiva equipa técnica é perceber o que fazer em cada dia da época para no final se alcançarem esses objetivos. A pergunta “Porquê?” deve estar sempre presente, pois é a sua resposta que confere sentido a todo o processo de treino.

Definir objetivos individuais e avaliar a sua consecução é importante para o treinador. Contudo, os objetivos nem sempre são mensuráveis em números, dependendo, muitas vezes, da sensibilidade do próprio ou de quem o avalia. Posto isto, considero que este ano de estágio, permitiu-me uma significativa evolução nos seguintes parâmetros definidos no início da época desportiva: Condução dos exercícios; Planeamento; Análise da prestação da equipa e das jogadoras individualmente (própria equipa e adversário); Comunicação;

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Capacidades de Liderança. Além disso consegui conquistar a confiança da treinadora principal para conduzir uma unidade de treino completa. Contudo, considero não ter conseguido contribuir para a análise do jogo durante o seu decorrer por não ter tomado a iniciativa de interagir com a treinadora principal de forma regular no decorrer dos jogos.

Em suma, a época desportiva vivenciada no CA foi bastante importante para minha evolução académica e profissional.

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