Universidade Federal de Viçosa Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de MZUFV

O Museu de Zoologia João Moojen (MZUFV), da Serpentes Universidade Federal de Viçosa é um centro de referência em estudos com a fauna de vertebrados da de Viçosa e região região Sudeste. (Minas Gerais) As coleções do MZUFV constituem um dos mais significativos acervos zoológicos do estado de Henrique Caldeira Costa Mário Ribeiro de Moura Minas Gerais e o mais Renato Neves Feio representativo da Zona da Mata Mineira, tornando-se uma referência obrigatória para estudos de fauna no sudeste do Brasil.

EQUIPE DO MZUFV Ictiologia - Estudo de Peixes Jorge Dergam Abdala dos Santos Herpetologia - Estudo de Anfíbios e Répteis Renato Neves Feio Mastozoologia - Estudo de Mamíferos Gisele Mendes Lessa del Giúdice Ornitologia - Estudo de Aves Conhecer para Romulo Ribon Técnico assistente: José Lelis Pontes preservar Auxiliar: José Brás dos Santos Filho Universidade Federal de Viçosa Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais Serpentes de Viçosa e região (Minas Gerais)

Henrique Caldeira Costa Mário Ribeiro de Moura Renato Neves Feio

MZUFV Fundação de Amparo Museu de Zoologia Universidade Federal à Pesquisa do Estado João Moojen de Viçosa de Minas Gerais

2008 FOTOS: Davi Pantoja: 16 (inferior) Henrique Caldeira Costa: 1 (direita superior, esquerda inferior), 2, 3 (superior), 6, 7, 10, 13, 14, SUMÁRIO 15, 16 (superior), 17, 18, 19 (superior), 24 Ricardo Ribeiro de Castro Solar: 1 (esquerda Apresentação...... 01 superior) Roberto Murta: 1 (direita inferior), 3 (inferior), 19 O que é uma serpente?...... 03 (inferior) Serpentes ou cobras?...... 04 SERPENTE DA CAPA Quantas espécies existem?...... 05 Corallus hortulanus (Suaçubóia) Foto: Diego J. Santana Onde as serpentes vivem?...... 05 ARTE GRÁFICA Quais os alimentos de uma serpente?...... 07 Mário Ribeiro de Moura Toda serpente tem veneno?...... 07 ENDEREÇO Tipos de dentição...... 08 Museu de Zoologia João Moojen Av. Peter Henry Rolfs, s/n. - Campus UFV Como identificar uma serpente peçonhenta?...... 10 Vila Gianetti, casa 32. Cuidados ao manusear uma serpente...... 12 36571-000 - Viçosa - Minas Gerais - Brasil Tels. (31) 3899-2530, (31) 3899 2586 Serpentes da região de Viçosa...... 13 Website: www.museudezoologia.ufv.br Como prevenir acidentes ofídicos?...... 20 Email: [email protected] Como proceder em caso de acidente ofídico?...... 22 Ficha catalográfica preparada pela Seção de Catalogação Por que devemos proteger as serpentes?...... 24 e Classificação da Biblioteca Central da UFV Principais ameaças às serpentes...... 25 Costa, Henrique Caldeira, 1984- C837s Serpentes de Viçosa e região (Minas Gerais)/Henrique Referências Bibliográficas...... 27 2008 Caldeira Costa, Mário Ribeiro de Moura e Renato Neves Feio - : FAPEMIG, Viçosa: UFV, 2008. 28p. : il. (coloridas) ; 21cm.

Referências bibliográficas: f.27-28.

1. Cobra - Viçosa (MG) - Identificação. 2. Cobra - Minas Gerais - Identificação. I. Moura, Mário Ribeiro de, 1984-. II. Feio, Renato Neves, 1960-. III. Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais. IV. Universidade Federal de Viçosa. V. Título.

CDD 22.ed. 597.96098151 Serpentes da Zona de Viçosa e região (Minas Gerais) MZUFV Conhecer para preservar

APRESENTAÇÃO

s serpentes estão entre os animais mais intrigantes e A espetaculares da vida animal, despertando o medo e curiosidade das pessoas, seja de que idade for. Talvez por conseguir se movimentar com agilidade, mesmo sem patas, e estarem envolvidas em acidentes mortais, são admiradas e consideradas animais sagrados e glorificados em algumas partes do mundo.

O Brasil está muito bem representado neste grupo, apresentando magnífica diversidade de espécies, onde são encontradas espécies com as mais diferentes cores, hábitos e hábitats. Atualmente, pesquisadores tem realizado descobertas importantes com o veneno das serpentes, que tem sido utilizado para a confecção de novos remédios para a humanidade.

Na intenção de reforçar sua missão de popularizar o conhecimento sobre a fauna e a proteção dos recursos naturais, o Museu de Zoologia “João Moojen” da UFV oferece a comunidade esta cartilha sobre as serpentes, com linguagem simples e voltada para o meio rural, com belas e esclarecedoras fotos e ilustrações. Certamente, uma aprazível leitura com novas informações esperam por vocês nestas páginas.

Renato Neves Feio Departamento de Biologia Animal Universidade Federal de Viçosa

01 Serpentes da Zona de Viçosa e região (Minas Gerais) MZUFV Conhecer para preservar

O QUE É UMA SERPENTE?

erpentes são vertebrados pertencentes ao grupo dos S “Répteis”. Lagartos e Anfisbenídeos são os “parentes” mais próximos das serpentes, e juntos formam um grupo cientificamente chamado Squamata. Todas as serpentes atuais possuem algumas características básicas que permitem sua identificação:

Corpo alongado, sem membros

Corpo coberto por escamas

Uma língua bífida (bifurcada)

Ausência de pálpebras móveis

03 Museu de Zoologia João Moojen Serpentes da Zona de Viçosa e região (Minas Gerais) MZUFV Universidade Federal de Viçosa MZUFV Conhecer para preservar

SERPENTES OU COBRAS? QUANTAS ESPÉCIES EXISTEM?

o Brasil é comum o mundo todo, mais de 3.100 espécies de serpentes N chamarmos as serpen- N já foram descritas pela ciência. No Brasil são tes de “cobras”, um termo trazido registradas pouco mais de 350 espécies, e estima-se que 30% pelos portugueses na época da da nossa fauna de serpentes ainda permaneça desconhecida. colonização. Os estrangeiros denominam como cobras apenas ONDE AS SERPENTES VIVEM? as serpentes “najas” da África e Ásia. s serpentes ocorrem em Em nosso país a palavra Cobra-cega ou cecília A quase todo o globo “cobra” é utilizada para denominar terrestre, exceto nas regiões muito diversos animais de corpo frias, como os pólos e lugares de alongado, sejam eles serpentes altitude muito elevada. verdadeiras ou não. Por exemplo: No local onde vivem, as “cobra-cega” ou “cecília” (um serpentes podem utilizar diversos anfíbio, parente dos sapos, rãs e ambientes (habitats). Há espécies Serpente terrícola pererecas), “cobra-de-duas- terrícolas (vivem no solo), cabeças” (um anfisbenídeo, arborícolas (vivem sobre árvores e arbutos), aquáticas parente de lagartos e serpentes) e Cobra-de-duas-cabeças (vivem na água), fossoriais (vivem em galerias subterrâneas) “cobra-de-vidro” (um lagarto). ou criptozóicas (vivem sob a Todos esse animais, embora serrapilheira que cobre o chão). Há tenham um formato semelhante ainda espécies que apresentam não são considerados serpentes. mais de uma dessas características, sendo, por exemplo, semi-arborícolas A cobra-de-vidro (Ophiodes sp.) na verdade é um lagarto, pode-se (vivem tanto no chão quanto em observar patas e pálpebras no árvores), ou semi-aquáticas animal. Cobra-de-vidro Serpente arborícola (vivem no chão e na água).

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xistem serpentes que QUAIS OS ALIMENTOS DE UMA SERPENTE? E permanecem ativas durante o dia (diurnas), e outras odas as serpentes são carnívoras e se alimentam cujo período de atividade é após o T de outros animais desde o nascimento. A maioria pôr-do-sol ( noturnas ). A alimenta-se de anfíbios anuros (sapos, rãs e pererecas), observação do olho da serpente lagartos ou mamíferos, mas há algumas que preferem aves, permite inferir o seu possível peixes, e até outras serpentes. Poucas espécies comem padrão de atividade. Aquelas que invertebrados, como lesmas, caracóis, minhocas e artrópodes possuem a pupila vertical Ambiente de mata fechada (insetos, aranhas, centopéias etc.). Há espécies especialistas, (semelhante à pupila de felinos) que se alimentam de um único tipo de presa, e espécies estão mais associadas a hábitos generalistas, que consumem presas variadas. noturnos, enquanto aquelas que possuem a pupila circular ou redonda, estão mais relacionadas à atividade diurna. Além disso, existem espécies que podem estar ativas em ambos os períodos, sendo Ambiente aberto (campo) diurnas e noturnas. Dormideira comendo lesma Salamanta comendo um rato

TODA SERPENTE TEM VENENO? maioria das serpentes não é peçonhenta, ou A seja, não tem veneno. O veneno das serpentes peçonhentas é produzido em uma glândula na cabeça, semelhante a uma bolsa. O veneno tem uma constituição complexa, sendo formado por várias proteínas.

Cobra-cipó Suaçubóia O tipo de dentição de uma serpente está relacionado ao Serpente diurna Serpente noturna fato de ser ou não peçonhenta, como veremos a seguir.

06 07 Museu de Zoologia João Moojen Serpentes da Zona de Viçosa e região (Minas Gerais) MZUFV Universidade Federal de Viçosa MZUFV Conhecer para preservar

TIPOS DE DENTIÇÃO

s serpentes podem ser classificadas de quatro Proteróglifas A formas, com relação à sua dentição: Estas serpentes possuem dentes inoculadores de veneno fixos localizados ©FUNED Áglifas na região anterior da São serpentes que NÃO maxila superior. Assim sendo, são consideradas possuem os dentes PEÇONHENTAS e de interesse médico. inoculadores de veneno, Exemplos: no Brasil, apenas as corais-verdadeiras ©FUNED por isso são ditas áglifas, possuem a dentição do tipo proteróglifa. sem os glifos (presas de veneno). Dessa forma, esses animais são considerados NÃO peçonhentos. Exemplos: boipeva, caninana, dormideira, jibóia, suaçubóia e sucuri. Solenóglifas As espécies de dentição solenóglifa possuem grandes dentes Opistóglifas ©FUNED inoculadores de veneno As serpentes com essa localizados na região anterior da maxila superior. As dentição possuem dentes presas são móveis e possuem um canal semelhante a inoculadores de veneno ©FUNED uma agulha de seringa, por onde passa o veneno. Estas fixos, na região posterior serpentes, também são chamadas de víboras, ou até da maxila superior. Pouco se conhece sobre o veneno mesmo de cobra-de-4-ventas, em virtude do par de destas serpentes, e a maioria das espécies brasileiras não fossetas loreais entre as narinas e os olhos. São é considerada “de interesse médico”, ou seja, seu PEÇONHENTAS e responsáveis pela maioria dos veneno não oferece riscos à saúde. acidentes ofídicos. Exemplos: cobras-cipó (algumas espécies), falsas- Exemplos: cascavel, jararaca, jararacussu, urutu e corais (algumas espécies) e muçurana. surucucu.

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COMO IDENTIFICAR UMA SERPENTE As corais-verdadeiras constituem também 27 espécies PEÇONHENTA? conhecidas, pertencentes aos gêneros Leptomicrurus (3 espécies) e Micrurus (24 espécies). Todas possuem dentição uita gente aprendeu na escola que uma serpente proteróglifa. O nome Micrurus M peçonhenta possui as seguintes características: significa “cauda pequena”, em cabeça com formato triangular, pupila com formato vertical e referência à cauda bastante curta “cauda que afina bruscamente”. Isso não funciona! que estas serpentes possuem, Mas então, de onde tiraram esta idéia? É provável que adaptada à vida subterrânea. estas informações tenham sido trazidas pelos portugueses na Além disso, elas também época da colonização. Em Portugal existem apenas duas apresentam olhos ©Campbell & Lamar, 2004 espécies de serpentes peçonhentas (Vipera latastei) e proporcionalmente pequenos em Vista dorsal da cabeça de (Vipera seoanei), que são justamente as únicas serpentes de lá relação à cabeça. uma coral verdadeira com tais características de formato da cabeça, da pupila e da cauda. Com exceção de algumas espécies da Amazônia, as corais- verdadeiras apresentam um padrão de colorido formado por No Brasil, as serpentes peçonhentas enquadram-se primordialmente em duas “famílias”: Viperidae (víboras) e anéis negros, vermelhos e brancos (ou amarelados) em volta do Elapidae (corais-verdadeiras). corpo. Há espécies não-peçonhentas, conhecidas como “falsas- corais”, cujo colorido “imita” o das corais-verdadeiras. A As víboras brasileiras constituem 27 espécies: cascavel distinção entre uma falsa-coral e uma coral-verdadeira é difícil, (Crotalus durissus), surucucu (Lachesis muta), jararaca, principalmente se o animal jararacuçu, urutu e outras (gêneros Bothrops, Bothriopsis e estiver em movimento. Portanto, Bothrocophias ). Todas se se encontrar uma serpente com caracterizam pela dentição “coloração coral”, tome cuidado e solenóglifa e pela presença da nunca tente pegá-la com as fosseta loreal, um órgão termo- mãos. sensitivo, localizado em ambos os lados da cabeça, entre o olho e a ©Campbell & Lamar, 2004 Vista dorsal da cabeça narina. Fosseta loreal de cascavel de uma víbora

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CUIDADOS AO MANUSEAR SERPENTES DA REGIÃO DE VIÇOSA UMA SERPENTE região de Viçosa está inserida no bioma Mata presença de uma serpente num local freqüentado A Atlântica, um dos ecossistemas mais ameaçados do A por pessoas pode ser um fator de risco que necessite mundo, cuja cobertura nativa encontra-se reduzida a remoção do animal. atualmente a cerca de 7%. A região de Viçosa vem sendo Para capturar uma serpente, pode-se utilizar um gancho explorada desde o século XIX e sua área encontra-se ocupada ou laço, e uma caixa para acondicionamento e transporte do predominantemente por pastagens. animal, feita de madeira (com pontos de entrada de ar). O Em um estudo realizado com base no acervo da Coleção gancho pode ser feito de Herpetológica do Museu de Zoologia “João Moojen” da madeira, metal ou PVC, Universidade Federal de Viçosa, da Coleção Herpetológica prendendo-se numa “Alphonse Richard Hoge” do Instituto Butantan (São Paulo) e da extremidade uma barra Coleção Herpetológica da Fundação Ezequiel Dias, foi de metal dobrada em L. confirmada a presença de aproximadamente 40 espécies de Para captura, a ponta serpentes para a região de Viçosa. Dessas, apenas 6 espécies em L é passada por são potencialmente peçonhentas: as corais-verdadeiras baixo da serpente, que (Micrurus corallinus, Micrurus frontalis e Micrurus lemniscatus), ©FUNED então poderá ser a jararaca (Bothrops jararaca), a jararacussu (Bothrops erguida do solo. O laço é Material para coleta: gancho (A), jararacussu) e cascavel (Crotalus durissus). caixa de madeira (B) e laço (C) composto por um cabo Confira a seguir mais informações sobre algumas das de madeira em cuja extremidade é presa uma tira de couro. serpentes de Viçosa! Basta passar o laço pela cabeça da serpente para capturá-la, e em seguida apertar, tomando cuidado para não machucá-la. Liophis miliaris Cobra d’água Em ambos os casos, a serpente é em seguida colocada dentro da caixa de contenção, para acondicionamento e transporte. Caso não se sinta seguro para fazer a captura, prefira deixar a serpente em liberdade.

Nunca tente pegar a serpente com as mãos!

12 13 Museu de Zoologia João Moojen Serpentes da Zona de Viçosa e região (Minas Gerais) MZUFV Universidade Federal de Viçosa MZUFV Conhecer para preservar SERPENTES DE VIÇOSA E REGIÃO SERPENTES DE VIÇOSA E REGIÃO

Família: Boidae Família: Colubridae Corallus hortulanus Liophis miliaris (Suaçubóia) (Cobra-d’água)

NÃO PEÇONHENTA NÃO PEÇONHENTA Há poucos registros da Serpente comum na região, suaçubóia na região, o que esta espécie tem hábitos pode ser o indício de que seja aquáticos, sendo encontrada uma espécie rara, em cursos d'água, brejos e até provavelmente restrita ao interior de fragmentos florestais em represas artificiais. Tem atividade diurna e se alimenta bem preservados. De hábito arborícola e atividade noturna, principalmente de anfíbios e peixes. Bastante ágil, quando possui corpo esguio e atinge cerca de 1,5 m de comprimento. ameaçada procura fugir rapidamente. Se manuseada, não Alimenta-se de anfíbios, lagartos, aves e pequenos costuma morder, mas libera fezes e outras substâncias de mamíferos. odor ruim como forma de defesa. Quando ameaçada, pode desferir botes e morder.

Família: Colubridae Família: Colubridae Oxyrhopus guibei Erythrolamprus aesculapii (Falsa-coral) (Falsa-coral) NÃO PEÇONHENTA NÃO PEÇONHENTA Espécie com poucos registros Uma das 10 espécies da na região, que habita região que podem apresentar principalmente áreas abertas, “padrão de colorido coral”. se adaptando bem em locais Espécie comum, que habita antropizados (alterados pela ação do homem). Possui hábito áreas abertas e matas, tem hábito terrícola e atividade terrícola e atividade noturna. Alimenta-se de lagartos e diurna. Alimenta-se principalmente de outras serpentes. roedores. Trata-se de uma espécie bastante dócil. Se Quando ameaçada pode desferir botes e morder. Embora manuseada pode liberar fezes e outras substâncias de odor tenha dentição opistóglifa, seu veneno não traz riscos ao ser ruim como forma de defesa. humano.

14 15 Museu de Zoologia João Moojen Serpentes da Zona de Viçosa e região (Minas Gerais) MZUFV Universidade Federal de Viçosa MZUFV Conhecer para preservar SERPENTES DE VIÇOSA E REGIÃO SERPENTES DE VIÇOSA E REGIÃO

Família: Colubridae Família: Colubridae Philodryas olfersii Sibynomorphus mikanii (Cobra-cipó verde) (Dormideira)

PEÇONHENTA NÃO PEÇONHENTA Comum na região, esta Muito comum, encontrada em espécie vive em matas e áreas abertas e locais áreas abertas, tem atividade alterados pela ação do diurna e hábito semi- homem. Tem hábito semi- arborícola. Alimenta-se de anfíbios, lagartos, aves e arborícola, atividade noturna e pequenos mamíferos. É uma das poucas espécies com alimenta-se de lesmas. Seu padrão de coloração geralmente dentição opistóglifa considerada de importância médica. confunde as pessoas, que crêem se tratar de uma jararaca ou Quando ameaçada costuma desferir botes, podendo morder jararacussu. Contudo, a dormideira é uma serpente e inocular veneno. extremamente dócil. Se manuseada pode liberar fezes e outras substâncias de odor ruim como forma de defesa. Família: Colubridae Spilotes pullatus Família: Colubridae (Caninana) Waglerophis merremii (Boipeva) NÃO PEÇONHENTA Serpente com poucos NÃO PEÇONHENTA registros na região, habita Encontrada principalmente tanto áreas abertas quanto o em áreas abertas, incluindo interior de matas. De atividade locais antropizados, trata-se diurna, é semi-arborícola e tem dieta generalista, se de uma espécie comum. Tem alimentando de anfíbios, lagartos, aves (incluindo ovos) e hábito terrícola, atividade diurna, e se alimenta de sapos. pequenos mamíferos. Muitas pessoas pensam que a Quando ameaçada, costuma achatar o corpo contra o chão, caninana é perigosa, por ser uma serpente agressiva. mostrar a boca aberta e desferir botes, podendo morder. Seu Contudo, não é peçonhenta, mas pode dar botes e morder comportamento agressivo e seu padrão de colorido fazem quando ameaçada, além de inflar a região do “pescoço”, com que muitas pessoas a confundam com serpentes dando a impressão de ser maior do que é realmente. peçonhentas, como a jararaca, a jararacussu e a cascavel.

16 17 Museu de Zoologia João Moojen Serpentes da Zona de Viçosa e região (Minas Gerais) MZUFV Universidade Federal de Viçosa MZUFV Conhecer para preservar SERPENTES DE VIÇOSA E REGIÃO SERPENTES DE VIÇOSA E REGIÃO

Família: Elapidae Família: Viperidae Micrurus frontalis Bothrops jararacussu (Coral-verdadeira) (Jararacussu)

PEÇONHENTA PEÇONHENTA Pode ser encontrada no Espécie comum na região, interior de matas e áreas que pode ser encontrada no antropizadas. Possui atividade interior de matas e em áreas diurna e noturna, e, devido aos antropizadas. É a maior das hábitos fossoriais, geralmente é encontrada na superfície “jararacas” do Brasil, chegando a mais de 1,8 m de após fortes chuvas, quando as galerias subterrâneas ficam comprimento. Tem hábito terrícola e atividade diurna e cheias de água. Alimenta-se de animais de corpo alongado noturna. Os filhotes se alimentam principalmente de anfíbios (cecílias, cobras-de-duas-cabeças, serpentes e alguns e lagartos, e os adultos comem ratos. Quando ameaçada lagartos). Quando ameaçada realiza movimentos rápidos e pode desferir botes e inocular veneno. tenta fugir, pode morder (e inocular veneno) se for manuseada ou pisada. Família: Viperidae

Família: Viperidae Crotalus durissus Bothrops jararaca (Cascavel) (Jararaca) PEÇONHENTA Nativa de áreas abertas da PEÇONHENTA Caatinga, Cerrado e savanas Espécie muito comum na da Amazônia. Devido à região de Viçosa. Pode ser devastação da Mata Atlântica, encontrada no interior de vem ocupando áreas antes cobertas por florestas. Há matas e em áreas registros de sua presença em Guaraciaba, , Porto antropizadas. Tem atividade noturna, e vive principalmente Firme e . É provável que dentro de alguns anos no chão, mas pode subir em arbustos. Atinge cerca de 1,4 m ocupe áreas desmatadas de toda a região. Tem hábito de comprimento. Os filhotes se alimentam de anfíbios e terrícola, atividade noturna e se alimenta principalmente de lagartos, enquanto os adultos comem ratos. Quando roedores. Quando ameaçada, vibra o chocalho que possui ameaçada pode desferir botes e inocular veneno. na cauda, pode desferir botes e inocular veneno. 18 19 Museu de Zoologia João Moojen Serpentes da Zona de Viçosa e região (Minas Gerais) MZUFV Universidade Federal de Viçosa MZUFV Conhecer para preservar

COMO PREVENIR ACIDENTES OFÍDICOS? Evite colocar mãos em buracos, ocos de árvores etc. s acidentes ofídicos podem ser evitados. Para que O você não corra o risco de ser picado por uma O uso de um graveto ou um pedaço de pau para remexer serpentes, ou mesmo outros animais peçonhentos procure em buracos, ocos de árvores e vãos de pedra ajuda a tomar alguns cuidados: evitar acidentes.

Usar botas de cano alto ou perneiras de couro Não acumule entulho, folhagem seca, lixo ou deixe a grama alta próxima da residência O uso de botas ou perneiras pode evitar a maioria dos O acúmulo de lixo e outros materiais ao redor da casa, acidentes. Isso porque a maioria das serpentes paiol ou plantações pode atrair ratos, os quais também conseguem desferir botes de até 1/3 de seu podem atrair serpentes. comprimento, ou seja, uma cobra de 1 metro, dará um bote menor que 35 cm. Porém, outras características como tamanho, peso e força muscular da serpentes Jamais manuseie serpentes com as mãos podem influenciar na distância do bote. Nunca segurar serpentes com as mãos. Mesmo quando mortas elas ainda têm veneno em suas glândulas. Ao Verifique calçados, sapatos, cobertas, ferir-se nas presas de uma serpente a pessoa pode ser e roupas antes de utilizá-los envenenada, mesmo se a serpente estiver morta. Não somente serpentes, bem como outros animais peçonhentos podem utilizar calçados, sapatos e roupas Conserve o ambiente natural das serpentes como esconderijo, principalmente em ambientes rurais. e seus predadores naturais Emas, seriemas, gaviões e gambás são alguns Cuidado onde pisa, senta ou deita predadores naturais de serpentes. Proteger esses animais e o ambiente em que vivem evita que os Muitos animais podem estar camuflados ou escondidos, mesmos (inclusive as serpentes) procurem refúgio e desta forma passam despercebidos no ambiente. próximo a ambientes ocupados pelo homem.

20 21 Museu de Zoologia João Moojen Serpentes da Zona de Viçosa e região (Minas Gerais) MZUFV Universidade Federal de Viçosa MZUFV Conhecer para preservar COMO PROCEDER EM CASO DE

ACIDENTE OFÍDICO? Manter a calma e fazer pouco esforço

os registros de acidentes ofídicos realizados no país Manter o acidentado em repouso, evitando que ande ou D entre 1990 e 1993, apenas 0,4% dos casos corra. Caso a picada tenha ocorrido no pé ou na perna, resultaram na morte do paciente, ou seja, 1 a cada 250 casos. procurar manter a parte atingida em posição horizontal Além disso, a maioria dos óbitos (59,1%) ocorreu em pacientes (elevada). que haviam recebido tratamento médico 6 horas ou mais após a picada, indicando a importância de um atendimento rápido. Jamais faça cortes no local da picada O soro anti-ofídico é o único remédio comprovadamente eficiente contra acidentes ofídicos. Quando ministrado Realizar cortes próximo à picada não irá “retirar” o corretamente e no devido tempo, as chances de complicações veneno. Alguns venenos podem inclusive provocar hemorragias e o corte aumentará a perda de sangue. devido à picada de serpente são remotas. Em caso de acidente ofídico, deve-se:

Nunca tentar chupar o veneno Lavar o local da picada com água corrente Após a inoculação do veneno, não se consegue retirá-lo O local da picada deve ser mantido limpo. Não coloque do organismo. A sucção pode piorar as condições do nada no local da picada (pó de café, fumo, terra, fezes), local atingido. pois além de não funcionar, tais substâncias podem causar intoxicação. Beber apenas água

Beba apenas água. Beber álcool, cachaça ou querosene, além de não neutralizarem a ação do veneno, podem Não amarrar ou fazer torniquete (garrote) causar intoxicações. O sangue deve circular normalmente. Impedir a circulação do mesmo pode aumentar os efeitos locais do veneno, como necrose ou gangrena (morte do tecido). Procurar ajuda médica imediatamente

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POR QUE DEVEMOS PROTEGER Imagine agora quantas novas substâncias poderão ser AS SERPENTES? descobertas, e quantos medicamentos poderão ser criados se tivermos a oportunidade de estudar a fundo todas as nossas a natureza, as serpentes atuam como presas e serpentes! O Brasil possui uma das maiores diversidades de N predadores de diversos outros animais, contribuindo serpentes do mundo, o que significa um “tesouro biológico” de para o equilíbrio ecológico dos ecossistemas. valor inestimável. Proteger as serpentes e os ambientes onde vivem, além de contribuir com a natureza pode, no futuro, Além disso, o veneno das serpentes peçonhentas possui ajudar a salvar nossas vidas. diversas proteínas que podem ter utilidade direta para o ser humano, como na fabricação de novos fármacos. O medicamento mais consumido no mundo para combate à PRINCIPAIS AMEAÇAS ÀS SERPENTES hipertensão foi sintetizado após estudos com o veneno da jararaca-comum (Bothrops jararaca). Hoje este remédio destruição dos habitats naturais das serpentes proporciona uma melhor qualidade de vida a milhões de pessoas A brasileiras é a principal ameaça à qual estes animais que o utilizam, e rende bilhões de dólares ao laboratório que o estão sujeitos. Além disso, o comércio ilegal de animais produz. Estudos com o veneno da cascavel (Crotalus durissus) silvestres também é uma preocupação. levaram à criação de uma cola que substitui os pontos usados Cinco espécies de serpentes encontram-se ameaçadas de após uma cirurgia. Pesquisas com toxinas de outras serpentes extinção a nível nacional, todas endêmicas da Mata Atlântica, ou vêm obtendo ótimos resultados no combate ao câncer e na seja, só ocorrem neste bioma: Jibóia-de-Cropan (Corallus criação de novos anestésicos. cropanii), do sul de São Paulo; Jararaca-Ilhoa (Bothrops insularis) e Dormideira-da-Queimada-Grande (Dipsas Tropidodryas striaticeps Cobra-cipó albifrons cavalheiroi) da ilha de Queimada Grande (SP); Jararaca-de-Alcatrazes (Bothrops alcatraz), do arquipélago de Alcatrazes (SP); Jararacussu-Tapete (Bothrops pirajai), da Bahia, norte do Espírito Santo e nordeste de Minas Gerais.

Em Minas Gerais, duas espécies encontram-se ameaçadas de extinção: uma cobra-cipó (Philodryas oligolepis) e a jararaquinha (Bothrops itapetiningae).

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Contudo, ainda existe uma grande deficiência de dados REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS sobre o estado de conservação de muitas espécies, tanto em âmbito nacional quanto estadual. Abaixo você encontra informações sobre livros, cartilhas e websites que podem enriquecer mais o seu conhecimento A região de Viçosa, aqui identificada como os municípios de sobre estes fantásticos animais. Amparo da Serra, , , Canaã, Coimbra, Divinésia, Ervália, Guaraciaba, , , Paula Cândido, Pedra Campbell, J. A. e W. W. Lamar. 2004. The Venomous do Anta, Ponde Nova, , Presidente Bernardes, São Reptiles of the Western Hemisphere. Cornell Geraldo, São Miguel do Anta, Senador Firmino, Teixeiras, University Press, Ithaca. 1032 pp. Tocantins, Ubá, Viçosa e Visconde do Rio Branco, possui uma rica Cardoso, J. L. C., F. O. S. França, F. H. Wen, C. M. S. Málaque fauna de serpentes, com aproximadamente 40 espécies. Várias e V. Haddad Jr. 2003. Animais Peçonhentos no delas são comuns, porém algumas parecem ser mais raras. São Brasil. Biologia, Clínica e Terapêutica dos Acidentes. necessários ainda estudos mais detalhados que possam elucidar Sarvier, São Paulo. 468 pp. a abundância e o estado de conservação de cada espécie em Fundação Ezequiel Dias. 2005. Animais Peçonhentos. 1ª nossa região. ed. Belo Horizonte. 18 pp.

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