Ex­guitarrista do Genesis lança novo álbum e recebe este blog claudio_tognolli yahoo­news­br­claudio­tognolli 12 de março de 2015

No começo dos anos 70 um pré­adolescente holandês, radicado na Califórnia, perdeu o sono. Acabara de ver num show do Genesis, com Peter Gabriel nos vocais, algo inédito: o guitarrista tocava com as duas mãos percutindo notas no braço da guitarra –o que conferia ao instrumento uma politonia só encontrável no piano.

Alguns anos mais tarde o rapaz californiano se tornaria muito famoso copiando Hackett: e seu nome era Eddie Van Halen…

Essa é uma das tantas passagens insólitas a pontuar a vida de Steve Hackett, pioneiro da guitarra que, pelo estilo elegantemente contido, muitas vezes é esquecido do panteão dos deuses do instrumento.

Steve Hackett deixou o Genesis em 1977. Partiu para uma carreira solo em que se sentia mais livre para continuar inovando. E assim se fez. O estilo que ele impôs ao Genesis ainda adota: acordes docemente esparsos de repente atocaiados por guitarras delirantes…

Hackett sempre teve um pé no Brasil. Foi casado por anos a fio com a artista carioca Kim Poor –a quem Salvador Dali atribuia a criação do estilo chamado como “diafanismo”. E o melhor amigo de Hackett é o cantor Ritchie, em cujo álbum de estreia aparece a guitarra de Steve, na faixa “Vôo do Coração”.

Aliás foi pelas mãos de Ritchie que este blog pode ser recebido por Steve Hackett em seu camarim, na sua passagem por São Paulo, esta semana.

Hackett lança no próximo dia 28 aquele que considera o seu álbum mais ousado: Wolflight. O título evoca uma luz sublunar sob a qual, Hackett descobriu, os romanos acordavam para irem atrás dos lobos.

Enquanto o álbum era terminado, ano passado, a rede BBC fazia um mega­documentário sobre a banda Genesis (geradora de cantores solo hoje estrelas de primeira grandeza, como Phil Collins e Peter Gabriel). E o Genesis só não voltou a se reunir, segundo Hackett, porque a BBC cortou na edição a parcela mais expressiva da carreira solo do guitarrista. Irado, irresignado, Hackett é o único dos 5 Genesis que não vende em seu site o filme da BBC. E assim foi sepultado o retorno da mais famosa banda de rock progressivo do planeta…

Steve Hackett tem um jeito único de tocar. Na mão esquerda, não emprega o dedo mindinho. Na direita o emprega, o que contraria todas as escolas de violão clássico. Nada disso importa: Van Halen o copiou e o maestro e violinista Yehudi Menuhin via em Hackett o maior violonista clássico do mundo.

Hackett recebeu este blog por meia hora em seu camarim, em São Paulo, com exclusividade. Confira trechos:

Fale do disco Wolflight…

É meu trabalho mais ousado, porque é basicamente um álbum de rock mas traz muitos elementos de world music, blues, música da Europa oriental. Tenho vários times no disco, isto é: guitarra, orquestras, há o Malik Mansurov tocando o Tar, instrument do Azerbaijão que é mistura de violão e cítara. Malik é mestre no estilo Mougham, típico das estepes, Sibéria e Mongólia. Temos Sara Kovacs tocando a sua flauta aborígene, o Digeridoo. Eu toco o Oud, um instrumento árabe que é uma espécie de Alaúde sem marcações em sua escala, fretless. Além da minha banda, toco com minha mulher, a guitarrista e cantora Amanda Lehmann. O , baixista do Yes, também toca. Tudo junto soa como uma orquestra.

Qual a filosofia do disco?

Muitas das faixas tentam honrar a ideia dos ancestrais do povo europeu. Há pitadas de romanos, chineses, etc, uma viagem nos estilos que nso antecederam, uma máquina do tempo, é o meu álbum mais ambicioso. Minha mulher Amanda escreveu muitas faixas comigo. O Chris Squire do Yes toca a faixa “Canção de amor para um vampiro”.

O termo Wolflight vem de Roma, da caça aos lobos, do horário em que acordo para compor, muito cedo sempre…

De onde veio a ideia da pegada?

Viajamos o mundo todo nos últimos anos, vendo aves raras, golfinhos, lobos, cenas lindas. Isso ajudou a fazer novas músicas tocarem na nossa cabeça. Isso gerou até novas pegadas, como blues sem ser tocado em 12 compassos. Fomos muito a Grécia visitar os templos divinatórios, o que também gerou inspirações ao disco. Isso inclui visita até a tumba de Dioniso, onde se acreditava houvesse uma passagem ao centro da terra.

Os que ouviram dizem do disco o quê?

As pessoas dizem que Wolflight é algo como “cinemático”, cheio de imagens, mas eu não vejo assim: sempre gostei de músicas que contam histórias. Temos que respeitar mais o coração do que os ouvidos, eu. Tento compor nessa pegada. Também digo que você interromper uma balada ou música country com uma orquestra soa como uma tocaia: algo que você não espetava que chegasse. Algo como se você estivesse ouvindo world music ao lado de uma lareira e de repente chega uma orquestra, junto com instrumentos arábicos, orientais, da Europa Oriental. O às vezes é oco, esparso, de repente vem uma guitarra de rock…foi meu maior desafio até hoje.

Steve Hackett em video: https://www.youtube.com/watch?v=kJf_o8_cwQo

https://www.youtube.com/watch?v=—qOWUq­pWs