UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA CLEANO LIMA ALVES

O PAPEL DA SEGURANÇA PRIVADA NOS JOGOS DE FUTEBOL EM : CONTRIBUIÇÕES PARA PARCERIAS ENTRE A SEGURANÇAPÚBLICA E PRIVADA.

RECIFE 2017

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CLEANO LIMA ALVES

O PAPEL DA SEGURANÇA PRIVADA NOS JOGOS DE FUTEBOL EM PERNAMBUCO: CONTRIBUIÇÕES PARA PARCERIAS ENTRE A SEGURANÇAPÚBLICA E PRIVADA

Monografia apresentada ao Curso de Pós-Graduação Lato Sensu em Segurança Privada,da Universidade do Sul de Santa Catarina, como requisito à obtenção do título de Especialista em Segurança Privada, sob a orientação do prof. MSc. Giovani de Paula.

RECIFE 2017 3

CLEANO LIMA ALVES

O PAPEL DA SEGURANÇA PRIVADA NOS JOGOS DE FUTEBOL EM PERNAMBUCO: CONTRIBUIÇÕES PARA PARCERIAS ENTRE A SEGURANÇAPÚBLICA E PRIVADA

Esta Monografia foi julgada adequada à obtenção do título de Especialista em Segurança Privada e aprovada em sua forma final pelo Curso de Pós-Graduação Lato Sensu em Segurança Privada, da Universidade do Sul de Santa Catarina.

Palhoça, 6 de junho de 2017.

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Professor orientador: Giovani de Paula, MSc. Universidade do Sul de Santa Catarina

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Prof. Aloísio José Rodrigues, MSc. Universidade do Sul de Santa Catarina 4

Dedico este trabalho a minha esposa Lays, a minha filha Talita, a minha neta Ester e a minha mãe(in memoriam), que, de muitas formas, incentivaram-me e ajudaram para que fosse possível a concretização deste projeto. Acima de tudo, dedico-o a meu Deus, maior pilar na construção de meu caráter – a Ele rendo todas as homenagens.

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AGRADECIMENTOS

A meu orientador, Prof. Dr. Giovani de Paula, pelo empenho, paciência e credibilidade. Obrigado por tudo.

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RESUMO

O presente trabalho aborda a questão da utilização da segurança privada de maneira complementar à segurança pública em estádios de futebol em Pernambuco.Diante da redefinição atual do conceito e da prestação dos serviços públicos, e ainda em face das exigências cada vez mais significativas da sociedade sobre a boa prestação desses serviços, é fundamental que se busquem alternativas em parceria com a iniciativa privada, mormente quando os eventos de grande porte interessam sobremaneira a entidades e/ou setores privados. Sob essa perspectiva, inicialmente apresenta-se um pequeno histórico sobre o surgimento dos normativos no setor da segurança privada, conectando a abordagem com espaços semipúblicos, principalmente em eventos de massa, tais como jogos de futebol em grandes estádios. Nesse contexto, abordam-se as interfaces entre a segurança pública e privada, enfatizando a necessidade de planejamento às ações operacionais nos eventos de grande porte. A fim de ratificar essa necessidade, elaborou-se diagnóstico de violências nos estádios de futebol em Pernambuco, bem como em seus entornos. A partir de um estudo sobre os pontos vulneráveis nos estádios Arruda e Ilha do Retiro, bem como apresentação de uma esquematização de segurança na Arena de Pernambuco e a necessidade de comunicação envolvendo os órgãos de segurança pública, segurança privada e a coordenação de segurança dos estádios, apresentam-se sugestões e recomendações que visem aprimorar a segurança nesses ambientes. Os serviços públicos essenciais, dentre eles a segurança pública, não podem prescindir dos órgãos repressivos para prevenção de violência. Certo é que, em eventos de grande porte, cujos interesses econômicos atingem diretamente a iniciativa privada, esta necessariamente precisa ofertar a contrapartida, para, atuando em parceria com o estado, oferecer aos participantes dos eventos um ambiente seguro. Nessa lógica, os órgãos repressivos estatais não se sobrecarregam em seus serviços e, assim, a sociedade, por consequência, não fica desprotegida. A abordagem do presente trabalho é sob essa perspectiva.

Palavras-chave: segurança privada; violência no futebol.

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ABSTRACT

The present work addresses the issue of private security in a way complementary to public safety in football stadiums in Pernambuco. In view of the current redefinition of the concept and the provision of public services, and in the face of society's increasingly significant demands for good services, it is essential that alternatives be sought in partnership with a private initiative, Important to private entities and / or sectors. From this perspective, we first present a brief history of the emergence of standards in the private security sector, connecting an approach with semi-public spaces, especially in mass events such as football matches in large stadiums. In this context, they are approached as interfaces between a public and private security, emphasizing the need of planning in the operational actions in the large events. In order to confirm this need, a diagnosis of violence was made at the football stadiums in Pernambuco, as well as in their environments. Based on a study on the vulnerabilities in the Arruda and Ilha do Retiro stadiums, as well as the presentation of a security scheme in the Arena of Pernambuco and the need for communication involving public security, private security and stadium security coordination, - suggestions and recommendations to improve safety in these environments. The essential public services, among them and a public security, can not dispense with the repressive organs for the prevention of violence. It is true that, in large events, whose economic interests directly attend the private initiative, this necessarily needs to offer the counterpart, to, acting in partnership with the state, to offer event participants a safe environment. In this logic, the state repressive organs do not overburden themselves in their services and, therefore, a society, therefore, is not unprotected. The approach of the present work is from this perspective.

Keywords: private security; Soccer Violence. 8

LISTA DE IMAGENS

Imagem 1 – Registro do assassinato do torcedor Paulo Ricardo Gomes da Silva, durante jogo entre Santa Cruz e Paraná, no estádio do Arruda, em 2014. ______28

Imagem 2 – Registro de violência entre as torcidas após jogo em Recife. 2013. ______28

Imagem 3 – Registro de torcedores do Santa Cruz em confronto com a Polícia Militar na Ilha do Retiro. 2014. ______29

Imagem 4 – Registro de confronto entre Polícia Militar de Pernambuco e torcida do Náutico. 2015. ______30

Imagem 5 – Registro de torcedora sendo atendida pelo serviço médico no estádio, vítima de conflitos entre as torcidas. 2017. ______31

Imagem 6 – Registro da escolta da Polícia Militar de Pernambuco à do Sport Clube do Recife. 2015 ______32

Imagem 7 – Registro da escolta da Polícia Militar de Pernambuco à Torcida Organizada do Sport Clube do Recife. 2013. ______32

Imagem 8 – Registro do entorno do estádio José do Rego Maciel (Arruda) momentos antes do jogo. Pouca iluminação e ausência de segurança pública ou privada. Recife, 2017. ______38

Imagem 9 – Registro do entorno do estádio José do Rego Maciel (Arruda) momentos antes do jogo. Refletores acesos apenas minutos antes do início do jogo. Presença da Polícia Militar. Recife, 2017. ______38

Imagem 10 – Registro do entorno do estádio José do Rego Maciel (Arruda) momentos antes do jogo. Presença do grupamento a cavalo da Polícia Militar. Recife, 2017. ______38

Imagem 11 – Registro do entorno do estádio José do Rego Maciel (Arruda) momentos antes do jogo. Presença de “flanelinhas” guardando veículos. Recife, 2017. ______39

Imagem 12 – Registro do entorno do estádio José do Rego Maciel (Arruda) momentos antes do jogo. Presença de segurança privada sem uso de equipamentos adequados. Recife, 2017. 39

Imagem 13 – Registro da parte interna do estádio José do Rego Maciel (Arruda) momentos antes do jogo. Presença de segurança privada sem uso de equipamentos adequados. Recife, 2017. ______40

Imagem 14 – Registro da parte interna do estádio José do Rego Maciel (Arruda) momentos antes do jogo. Presença de segurança privada em posicionamento não estratégico diante da amplidão do espaço. Recife, 2017. ______40

Imagem 15 – Registro da parte interna do estádio José do Rego Maciel (Arruda) momentos antes do jogo. Presença de segurança privada desatenta em função complementar. Recife, 2017. ______41 9

Imagem 16 – Registro da parte interna do estádio José do Rego Maciel (Arruda) momentos antes do jogo. Presença de ferros, grades e tablados apresentando risco potencial em situações de conflito. Recife, 2017. ______41

Imagem 17 – Registro da parte interna do estádio José do Rego Maciel (Arruda) momentos antes do jogo. Presença de ferros, grades e tablados apresentando risco potencial em situações de conflito. Recife, 2017. ______42

Imagem 18 – Registro da parte interna do estádio José do Rego Maciel (Arruda) momentos antes do jogo. Presença de número reduzido de agentes públicos ou privados. Recife, 2017. 42

Imagem 19 – Registro da parte interna do estádio Adelmar da Costa Carvalho (Ilha do Retiro) durante o jogo. Segmentação das torcidas rivais por setores com presença de barreiras físicas e atuação da Polícia Militar. Recife, 2017. ______45

Imagem 20 – Registro da parte interna do estádio Adelmar da Costa Carvalho (Ilha do Retiro) durante o jogo. Momento de revolta da torcida visitante, com contenção da Polícia Militar. Recife, 2017. ______45

Imagem 21 – Registro do entorno do estádio Adelmar da Costa Carvalho (Ilha do Retiro) momento antes do jogo. Presença da Polícia Militar antes do jogo. Recife, 2017. ______46

Imagem 22 – Registro do entorno do estádio Adelmar da Costa Carvalho (Ilha do Retiro) momento antes do jogo. Presença da Polícia Militar antes do jogo. Recife, 2017. ______46

Imagem 23 – Registro da parte interna do estádio Adelmar da Costa Carvalho (Ilha do Retiro) momento antes do jogo. Primeira barreira de acesso ao estádio, na estrada social, com revista de torcedores realizada pela Polícia Militar. Recife, 2017. ______47

Imagem 24 – Registro da parte interna do estádio Adelmar da Costa Carvalho (Ilha do Retiro) momento antes do jogo. Segunda barreira de acesso ao estádio, com utilização de catracas e segurança realizada pela Polícia Militar. Recife, 2017. ______47

Imagem 25 – Registro da parte interna do estádio Adelmar da Costa Carvalho (Ilha do Retiro) momento antes do jogo. Presença de policiais do batalhão de Choque posicionados nas gerais e sociais onde ficarão, respectivamente, as torcidas do Náutico e do Sport. Recife, 2017. __ 48

Imagem 26 – Registro da parte interna do estádio Adelmar da Costa Carvalho (Ilha do Retiro) durante o jogo. Setor da torcida anfitrião sem presença da Polícia Militar ou de segurança privada. Recife, 2017. ______48

Imagem 27 – Registro da parte interna do estádio Adelmar da Costa Carvalho (Ilha do Retiro) durante o jogo. Setor da torcida anfitrião sem presença da Polícia Militar ou de segurança privada. Recife, 2017. ______49

Imagem 28 – Registro da parte interna do estádio Adelmar da Costa Carvalho (Ilha do Retiro) durante o jogo. Setor da torcida anfitrião sem presença da Polícia Militar ou de segurança privada. Recife, 2017. ______49

Imagem 29 – Registro da parte interna do estádio Adelmar da Costa Carvalho (Ilha do Retiro) durante o jogo. Momento em que a torcida visitante tenta avançar para o interior do estádio e laterais com intuito de se confrontar com a torcida anfitriã. Recife, 2017. ______50 10

Imagem 30 – Registro da parte interna do estádio Adelmar da Costa Carvalho (Ilha do Retiro) durante o jogo. Geral frontal à social e cadeiras do Sport literalmente cheias, sem registro da presença de policiais e segurança privada. Recife, 2017. ______50

Imagem 31 – Registro da parte interna do estádio Adelmar da Costa Carvalho (Ilha do Retiro) durante o jogo. Presença de reforço policial nas arquibancadas pelo Batalhão de Choque. Recife, 2017. ______51

Imagem 32 – Registro da parte interna do estádio Adelmar da Costa Carvalho (Ilha do Retiro) durante o jogo. A presença de segurança privada coadjuvando o Batalhão de Choque numa tentativa da torcida do Sport romper a grande de proteção que separava as duas torcidas. Recife, 2017. ______51

Imagem 33–Exemplo de espaço de dispersão de torcedores no lado externo ao estádio Arena Pernambuco. ______55

Imagem 34 – Exemplo de disposição de torcedores em fila com auxílio de barreiras físicas para organização de bilheteria, na Arena Pernambuco. ______56

Imagem 35 – Projeção da utilização de Segurança Privada ativa em atividade preventiva, procedendo à revista de torcedores durante o acesso ao estádio. ______57

Imagem 36 – Projeção da utilização de Segurança Privada ativa em atividade preventiva, distribuída de maneira estratégica nos setores do estádio. ______57

Imagem 37 – Projeção da utilização de Segurança Privada ativa em atividade preventiva, distribuída de maneira estratégica nos setores do estádio. ______58

Imagem 38 – Projeção da utilização de Segurança Privada ativa em atividade preventiva, distribuída de maneira estratégica nos setores do estádio. ______58

Imagem 39 – Projeção da utilização de Segurança Privada ativa em atividade preventiva, controle de acesso ao estádio. ______59

Imagem 40 – Projeção da utilização de Segurança Privada ativa em atividade preventiva, realizando rondas no interior do estádio. ______60

Imagem 41 – Proposta de equipamento de comunicação a ser utilizado pela segurança privada com seus componentes e a Polícia Militar.______61

Imagem 42 – Proposta de Colete a ser utilizado pelos seguranças no interior do estádio. ___61

Imagem 43 – Proposta de fluxo de interação entre segurança privada e pública. ______62

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ______12 1. SEGURANÇA EM ESTÁDIOS DE FUTEBOL DO ESTADO DE PERNAMBUCO. ______18

1.1. SEGURANÇA PRIVADA: SURGIMENTO E REGULAÇÃO NO BRASIL ______18 1.2. SEGURANÇA PRIVADA E PÚBLICA EM ESPAÇOS SEMIPUBLICOS ______21 1.2.1 Interface(s) entre Segurança Pública e Privada: do planejamento às ações operacionais _____ 23 1.3. A QUESTÃO A VIOLÊNCIA NOS ESTÁDIOS DE FUTEBOL DE PERNAMBUCO ______26 2. SEGURANÇA EM ESTÁDIOS DE FUTEBOL DO ESTADO DE PERNAMBUCO: UM DIAGNÓSTICO. ______35

2.1. ELEMENTOS VULNERÁVEIS OBSERVADOS DIRETAMENTE ______35 2.1.1. Estádio José do Rego Maciel (Arruda) ______35 2.1.1.1. Problemas de estrutura física ______36 2.1.1.2. Problemas organizacionais ______36 2.1.1.3. Registros de imagem ______38 2.1.2. Estádio Adelmar da Costa Carvalho (Ilha Do Retiro) ______43 2.1.2.1. Problemas de estrutura física ______43 2.1.2.2. Problemas organizacionais ______43 2.1.2.3. Registros de imagem ______45 2.2. QUESTÕES GERAIS APONTADAS PELOS ENTREVISTADOS ______52 2.3. RECOMENDAÇÕES GERAIS SOBRE OS ESTÁDIOS DE PERNAMBUCO ______54 2.3.1. Sugestões de uma esquematização da segurança privada em diversas áreas da Arena Pernambuco ______55 2.3.2. Sugestões de Operacionalidade (sistema de comunicação via imagem e rádio, vídeo monitoramento – Aplicação das TICS ______60 3. CONSIDERAÇÕES FINAIS ______65

4. REFERÊNCIAS ______67

APÊNDICE ______69

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INTRODUÇÃO

A segurança é apresentada, no preâmbulo da Constituição Federal de 1988, como um dos valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista, sem preconceitos, harmônica socialmente e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica dos conflitos. Apesar de não serem normas em sentido estrito, tais valores norteiam a interpretação constitucional. O Texto Constitucional aponta a segurança como dever do Estado e responsabilidade de todos, pois não podemos ver aqui a segurança apenas como responsabilidade estatal. Desde a abertura democrática, consolidada com a Carta Magna de 1988, a segurança pública se rivaliza em dois conceitos: um está centrado na ideia de combate, e outro, na ideia de prestação de serviço público. Segundo o jurista NETO (2013), in verbis:

A primeira concebe a missão institucional das polícias em termos bélicos: seu papel é “combater” os criminosos, que são convertidos em “inimigos internos”. As favelas são “territórios hostis”, que precisam ser “ocupados” através da utilização do “poder militar”. A política de segurança é formulada como “estratégia de guerra”. E, na “guerra”, medidas excepcionais se justificam. A segunda concepção está centrada na ideia de que a segurança é um “serviço público” a ser prestado pelo Estado. O cidadão é o destinatário desse serviço. Não há mais “inimigo” a combater, mas cidadão para servir. Para ela, a função da atividade policial é gerar “coesão social”, não pronunciar antagonismos; é propiciar um contexto adequado à cooperação entre cidadãos livres e iguais. O combate militar é substituído pela prevenção, pela integração com políticas sociais, por medidas administrativas de redução dos riscos e pela ênfase na investigação criminal.

No Brasil, a segurança pública é dever do Estado, ao qual compete exercer e administrar suas atividades, nos termos do artigo 144 da Carta Magna, além de ser indelegável e intransferível. Mas como a segurança é responsabilidade de todos, as atividades de segurança privada devem ser compreendidas como complementares à segurança pública, sendo reguladas, autorizadas e fiscalizadas pelo Departamento de Polícia Federal, conforme Lei Federal n° 7.102, de 20 de junho de 1983. A necessidade das instituições financeiras em recorrer à segurança privada devido ao aumento da incidência de assaltos fez surgir, em 1969, a primeira legislação autorizando o serviço privado: o Decreto-Lei n° 1.034, de 21 de outubro de 1969. Ao longo das décadas, a segurança privada tem exercido função importante em diversos espaços. Um dos espaços que tem requerido o exercício da segurança privada no Brasil são os chamados espaço semipúblicos. Trata-se de espaços intermediários entre o público e o 13

privado, que reúne características de ambos. Os estádios de futebol são exemplos de espaços privados com forte utilização do grande público em períodos sazonais. O futebol é considerado o esporte mais popular do mundo, envolvendo direta ou indiretamente bilhões de pessoas, entre praticantes amadores, atletas profissionais, torcedores e recursos financeiros incalculáveis (MURAD, 2013). O Estado de Pernambuco conta com 38 estádios, sendo os principais localizados na capital1, e estão relacionados aos seus respectivos times2, e a Arena Pernambuco, construída para o mundial de futebol de 2014. Juntos, os estádios têm capacidade para receber cerca de 154 mil torcedores. A problemática da violência nos estádios é uma questão nacional. Entre 1999 e 2008,42 torcedores morreram em conflitos dentro, no entorno ou nos acessos aos estádios de futebol, (MURAD, 2013). Contudo, essa violência encontra também forte expressão no cenário local. Notícias sobre violência nos estádios de futebol são frequentes no Estado de Pernambuco. A violência afeta tanto aqueles que frequentam os locais dos jogos como as pessoas que convivem indiretamente com esses grandes eventos. A violência nos estádios de Pernambuco não é diferente dos outros locais do Brasil. Exemplos não faltam para retratar a falta de segurança vivenciada nesses eventos. Talvez um dos casos mais emblemáticos, de repercussão nacional, tenha sido o assassinato do torcedor do Sport Paulo Ricardo Gomes da Silva, 26 anos, atingido por um vaso sanitário atirado do anel superior do estádio do Arruda, em Recife, em 2014 (ZIRPOLI, 2014). Como apontou a impressa, à época, a presença do aparato policial já não é mais garantia de segurança para o cidadão em eventos esportivos. O comportamento imprevisível dos grandes aglomerados de pessoas já causou tragédias em eventos esportivos, culturais e até em encontros religiosos. Há anos os cientistas tentam explicar que um indivíduo sozinho, em geral, toma decisões mais sóbrias, mas, na multidão, passa a fazer parte de uma massa com vontade própria e, às vezes, desordenada. Um bom profissional de segurança pública jamais poderá olvidar disso (VALLA, 2013). Com a previsão de realização dos megaeventos no Brasil (Jornada Mundial da Juventude, de 2013, a Copa das Confederações, em2013, a Copa do Mundo FIFA 2014 e os Jogos Olímpicos e Paraolímpicos Rio 2016), foram necessárias diversas ações conjuntas entre segurança pública e privada para proporcionar uma segurança condizente com a grandeza desses eventos. Nesse sentido, a Polícia Federal,por meio da Portaria nº 3.233/2012 – DG/DPF, que dispõe sobre as novas regras de segurança privada, visando atender aos novos

1 Arruda , Ilha do Retiro e Aflitos. 2 Santa Cruz, Sport e Náutico, respectivamente. 14

desafios dos grandes eventos. Nesse novo instrumento, foi criado o Curso de Extensão em Segurança para Grandes Eventos, como forma de qualificar e especializar os vigilantes para atuação nos locais onde haja grande concentração de pessoas, principalmente nos estádios de futebol, a exemplo dos megaeventos, além de prever a utilização de segurança privada nos eventos esportivos de forma integrada aos órgãos de segurança pública (POLÍCIA FEDERAL, 2012). O objetivo dessa iniciativa foi que a segurança privada utilizada em grandes eventos seja oriunda de mão de obra especializada, sob pena de multa e de outras penalidades pela Polícia Federal, que é a responsável pelo controle da segurança privada no Brasil. É indiscutível que toda a atenção precisa ser dada aos grandes eventos, isso porque um indivíduo pode agir de forma totalmente atípica quando faz parte de uma aglomeração. Urge que a sociedade, como um todo, atente para a segurança pública, pois é dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, devendo ser exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio. Tal pensamento precisa ser estendido na organização e realização das partidas de futebol em Pernambuco, pois, se houver uma maior participação de vigilantes de segurança privada nos estádios de futebol, talvez seja possível o Estado direcionar seu aparato militar para atuar nos arredores dos estádios de futebol e, com isso, gerar uma maior segurança para todos os que estão direta e indiretamente envolvidos nesses eventos. Nesse sentido, é preciso avaliar o papel da segurança privada nos jogos de futebol em Pernambuco, com a perspectiva de contribuir para uma possível parceria entre as seguranças pública e privada, visto, ao se identificarem as vulnerabilidades da segurança nos estádios durante uma partida de futebol, ao avaliar o papel da segurança privada na realização dos jogos de futebol, ao apresentar a exequibilidade da parceria entre segurança privada e pública nos jogos de futebol no Estado de Pernambuco, ao apontar as formas possíveis de atuação da segurança privada em contribuição à segurança pública, com destaque para jogos de futebol em Pernambuco, busca-se não fazer uma ilação desmedida, mas uma construção que viabilize um ambiente que seja uma demonstração do bem-estar social, que é um direito do cidadão torcedor. No intuito de atender a tais objetivos, a pesquisa foi desenvolvida como um estudo de caso. O estudo de caso consiste na observação detalhada de um contexto, ou indivíduo, de uma única fonte de documentos, ou de um acontecimento específico, tendo como foco o esclarecimento de uma decisão ou de um conjunto de decisões, o motivo pelo qual foram tomadas, como foram implementadas e com quais resultados (SCHRAMM, 1971 apudYIN, 15

2004). Ele possibilita a utilização de um conjunto variado de técnicas de coleta de dados, e é indicado para casos em que há impossibilidade de realização de experimentos, pouco ou nenhum controle sobre os eventos analisados, foco em acontecimentos contemporâneos e questionamentos sobre como e porque determinados fenômenos sociais acontecem (YIN, 2004; CAMPOMAR, 1991; MEIRINHOS e OSÓRIO, 2010). Considera-se aqui, também, a adequação do estudo de caso devido à proposta de investigação estar focada em um fenômeno contemporâneo, no qual as relações entre ele e o seu contexto não estão claramente definidos, conforme argumenta Yin (2004). A pesquisa foi de cunho exploratório, na qual se buscaram informações sobre assuntos com pouco tratamento. Gil (1995) argumenta que a pesquisa é de caráter exploratório quando visa oferecer uma versão preliminar, em andamento, sobre o problema abordado, buscando desvendar aspectos ainda não enfatizados, ampliando, assim, o escopo a ser estudado em outras ocasiões. Destarte, essa pesquisa foi interpretativa, com caráter exploratório, e eminentemente qualitativa. A utilização da pesquisa qualitativa, aqui, relaciona-se a sua característica central de buscar compreender processos dinâmicos vividos por grupos sociais, descrevendo a complexidade de determinado problema e analisando a interação de certas variáveis (RICHARDSON, 2009). Em geral, ela possibilita maior nível de profundidade no entendimento das particularidades do comportamento dos indivíduos (RICHARDSON, 2009) e compreende um conjunto de diferentes técnicas interpretativas, que visam descrever e decodificar os componentes de um sistema complexo de significados. Tem por objetivo, nesse sentido, traduzir e expressar os sentidos do mundo social (NEVES, 1996). Inicialmente, foi realizada a revisão bibliográfica, que resultou no referencial teórico delineado no primeiro capítulo. Em seguida, foi realizada a coleta de dados, na qual foram realizadas entrevistas e observação direta, como exposto adiante. Os dados coletados foram analisados à luz do referencial teórico selecionado, gerando o relatório final de pesquisa. A coleta de dados contou com um instrumento qualitativo3 para a coleta de questões relevantes. Foi utilizado um questionário com questões abertas, respondido autonomamente pelos informantes. A seleção dos informantes focou em profissionais da área de segurança e em frequentadores assíduos dos jogos de futebol em Pernambuco. Buscamos conceber informações que possam nortear quais contribuições podem existir na parceria entre a

3 Disponível no apêndice. 16

segurança pública e privada nos jogos de futebol. Ao todo, foram coletadas informações de 10 informantes:

1 JOSÉ MANOEL NASCIMENTO POLICIAL FEDERAL, ADVOGADO

2 CELSO SIMONETTI TRENCH JÚNIOR GERENTE DE SEGURANÇA PORTUÁRIA SÓCIO DO ESPORTE CLUBE DO RECIFE E FREQUENTADOR ASSÍDUO DOS JOGOS DO SPORT EM PERNAMBUCO. 3 EVANDRO MESQUITA AUDITOR FISCAL, FORMADO EM CIÊNCIAS CONTÁBEIS, PROFESSOR DE INGLÊS 4 JAILSON DA SILVA NUNES SUPERVISOR DE SEGURANÇA / INSPETOR EXECUTIVO BACHAREL EM DIREITO. TERCEIRO-SARGENTO DO 5 IGOR JOSÉ DE FRANÇA LEITE EXÉRCITO BRASILEIRO NA RESERVA, BOMBEIRO CIVIL E SOCORRISTA TÁTICO PROCURADOR FEDERAL E COORDENADOR GERAL DA PGR 6 ALCIDES GAMA EM RECIFE/PE EMPRESÁRIO, BACHAREL EM CIÊNCIAS CONTÁBEIS, PAULO JOSÉ BANDEIRA DE 7 DIRETOR ADMINISTRATIVO/FINANCEIRO DA NE VASCONCELOS SEGURANÇA PRIVADA 8 JEFFERSON W. SANTOS ADMINISTRADOR CEL PMPE. COMANDANTE DO BATALHÃO DE RÁDIO 9 VALTER BENJAMIN PATRULHA DE RECIFE/PE SUBTENTE DA PMPE. INTEGRANTE DA FORÇA NACIONAL. 10 ISAQUE SOUZA ATUOU NOS JOGOS DA COPA DO MUNDO COMO INTEGRANTE DA FORÇA NACIONAL

Para complementar a necessidade de informações, foi realizada observação direta de eventos esportivos reais em dois estádios de futebol de Pernambuco. A observação consistiu na realização de visitas técnicas durante a realização de jogos nos estádios da Região Metropolitana do Recife, nas quais o trabalho em campo foi registrado por meio de anotações de campo e captação de imagens, quando possível. A seguir, são apresentados os espaços acompanhados:

ESTÁDIO JOGO DATA DA PÚBLICO OBSERVAÇÃO PRESENTE Estádio José do Rego Maciel Náutico vs Santa Cruz 10/04/2017 5.055 (Arruda) torcedores Estádio Adelmar da Costa Carvalho Náutico vs Sport 16/04/2017 15.082 (Ilha do Retiro) torcedores

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O trabalho está estruturado da seguinte maneira: o primeiro capítulo apresenta os contornos teóricos e metodológicos relacionados à problemática apresentada. Em seguida, o segundo capítulo apresenta os resultados e a discussão dos dados coletados, apresentando um conjunto de vulnerabilidades físicas e organizacionais encontradas nos estádios por meio de observação direta, corroboradas pelas entrevistas. Ao final do capítulo, são feitas recomendações e propostas de modernização nos estádios de Pernambuco, com projeções reais da utilização da segurança privada e outras ferramentas. O capítulo final, por sua vez, arremata as considerações feitas nos capítulos anteriores.

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1. SEGURANÇA EM ESTÁDIOS DE FUTEBOL DO ESTADO DE PERNAMBUCO

Este capítulo apresenta os contornos teóricos e metodológicos que serviram de lastro à pesquisa realizada. Inicialmente, é apresentada a discussão sobre o surgimento da segurança privada no Brasil e os instrumentos legais de regulação do setor. Em seguida, é introduzido o debate sobre a atuação da segurança privada em espaços semipúblicos, buscando caracterizar o locus no qual está a análise subsequente: os estádios de futebol. Por último, é apresentado o cenário da violência em estádios de futebol em Pernambuco.

1.1. SEGURANÇA PRIVADA: SURGIMENTO E REGULAÇÃO NO BRASIL

Os serviços de segurança privada expandem-se no mundo de forma mais significativa a partir dos anos 1960, atendendo a mudanças importantes nas dinâmicas urbanas das cidades. No Brasil, a segurança privada surge oficialmente com o Decreto-Lei n° 1.034, de 21 de outubro de 1969, crescendo vertiginosamente depois disso, tendo seu maior crescimento a partir dos anos 1990. Juntamente com as atividades de segurança privada formal no país cresceram, também, de forma semelhante, o número de vigias de rua e demais categorias de agentes de segurança privada que exercem o serviço em caráter informal, bem como o número de policiais que exercem funções de segurança perante o mercado de segurança privada em seus horários de folga (ZANETIC, 2005, 2010a, 2010b, 2012). Segundo Zanetic(2005, 2010a, 2010b, 2012), três fatores foram fundamentais para a expansão do setor privado no campo da segurança no Brasil: (1) o crescimento da violência e da criminalidade (sobretudo a especialização do crime); (2) a percepção da violência e o aumento da insegurança; e (3) as mudanças na utilização do espaço urbano e circulação da população nas grandes cidades. A atuação desse setor no Brasil envolve diversas áreas: segurança eletrônica, segurança patrimonial (bancária, comercial, industrial, residencial, de condomínios e de “espaços semipúblicos”, como shopping centers, estádios de futebol, centros de exposições, casas de eventos e espetáculos diversos), escolta e monitoramento no transporte de valores e de cargas, treinamento dos profissionais que atuam na área da segurança, blindagem de veículos e gestão de presídios (ZANETIC, 2005, 2010a, 2010b, 2012). Todas essas atividades exercidas pelo setor privado são reguladas pelo Ministério da Justiça, por meio do Departamento da Polícia Federal. 19

O modelo regulatório existente no Brasil encontra respaldo nos modelos de normas e padrões no cenário internacional. O perfil da regulação da segurança no Brasil permite enquadrar o modelo do país como abrangente, porém com baixa capacidade regulatória (ZANETIC, 2005, 2010a, 2010b, 2012). O surgimento oficial dos serviços de segurança privada ocorreu sob determinação legal para a atuação das empresas de segurança nas instituições financeiras, nos anos 1950. O aumento no número de assaltos nas décadas seguintes consolidou a necessidade do serviço, tendo se tornado obrigatório nos bancos em 1969, com o Decreto-Lei n° 1.034, de 21 de outubro de 1969. Com a expansão do setor, a legislação existente logo se torna insuficiente, levando à nova regulamentação em 1983. O quadro abaixo apresenta a legislação acerca da segurança privada no Brasil: LEGISLAÇÃO ANO CAPUT LEI FEDERAL Nº 7.102, DE 1983 Dispõe sobre segurança para estabelecimentos financeiros, 20 DE JUNHO DE 1983. estabelece normas para constituição e funcionamento das empresas particulares que exploram serviços de vigilância e de transporte de valores, e dá outras providências. DECRETO FEDERAL 1983 Regulamenta a Lei Federal nº 7.102, de 20 de junho de 1983, Nº 89.056, DE 24 DE que "dispõe sobre segurança para estabelecimentos NOVEMBRO 1983. financeiros, estabelece normas para constituição e funcionamento das empresas particulares que exploram serviços de vigilância e de transporte de valores e dá outras providências”. Portaria 346/06 – DG/DPF 2006 Institui o Sistema de Gestão Eletrônica de Segurança Privada – GESP e dá outras providências. Atualizado em 25/08/2010 PORTARIA 2012 A presente portaria disciplina, em todo o território nacional, as Nº 3.233/2012-DG/DPF, atividades de segurança privada, armada ou desarmada, DE 10 DE DEZEMBRO DE desenvolvidas pelas empresas especializadas, pelas que 2012. possuem serviço orgânico de segurança e pelos profissionais que nelas atuam, bem como regula a fiscalização dos planos de segurança dos estabelecimentos financeiros. PORTARIA 2012 Dispõe sobre as normas relacionadas ao credenciamento de N° 12.620/2012 instrutores dos cursos voltados à formação, reciclagem e CGCSP/DIREX, alterada especialização dos profissionais de segurança privada (alterada pela Portaria nº pela Portaria nº 30.536 – CGCSP, de 07 de fevereiro de 2013, 30.536/2013 e pela publicada no DOU em 08/02/2013 e pela Portaria 32.981/2014, Portaria 32.981/2014 – publicada no DOU de 25/03/2014). CGCSP Portaria nº 30.633-2013 – 2013 Homologação do Curso de Instrutor em Segurança para CGCSP Grandes Eventos. Portaria nº 30.569/2013 – 2013 Dispõe sobre os novos modelos e a forma de confecção, CGCSP/DIREX controle e emissão de Certificado de Segurança, Portaria de Aprovação de Plano de Segurança, Certificado de Vistoria e de Guia de Autorização de Transporte de Armas, Munições e Apetrechos de Recarga. 20

PORTARIA Nº 2013 Dispõe sobre a forma e prazo de prorrogação da validade do 30.544/2013 – protocolo de requerimento de expedição da Carteira Nacional GAB/CGCSP de Vigilante. PORTARIA Nº 2013 Dispõe sobre as normas relacionadas à forma de emprego dos 30.491/2013 – meios de comunicação entre as empresas de segurança privada GAB/CGCSP e seus veículos, e entre os vigilantes que atuam na atividade de transporte de valores. Alterada pela Portaria 32.541/13 – CGSCP. PORTARIA Nº 32.451/13 – 2013 Altera a Portaria n° 30.491/2013. CGCSP PORTARIA Nº 3948-2013 – 2013 Altera, excepcionalmente para o ano de 2013, o prazo final de DG-DPF apresentação de renovação do plano de segurança tratado no art. 103, caput, da Portaria nº 3.233/2012-DG/DPF. PORTARIA Nº 2013 Dispõe sobre as normas relacionadas à forma de emprego dos 30.491/2013 – meios de comunicação entre as empresas de segurança privada GAB/CGCSP e seus veículos, e entre os vigilantes que atuam na atividade de transporte de valores. Alterada pela Portaria 32.451/2013. PORTARIA Nº 3.559- 2013 Altera a Portaria nº 3.233/12-DG/DPF.Altera o prazo de DG/DPF exigência da qualificação do vigilante no curso de extensão em grandes eventos. PORTARIA Nº 2014 Publicação da Portaria nº. 32.943 (DOU Seção 1, 21/3/2014), 32.943/2014 – que alterou o art. 7º da Portaria nº. 30.491-2013-CGCSP. GAB/CGCSP PORTARIA Nº 2014 Dispõe sobre as normas relacionadas ao credenciamento de 32.981/2014 – CGCSP – instrutores dos cursos voltados à formação, reciclagem e altera o texto da Portaria especialização dos profissionais de segurança privada (Portaria n° 12.620/2012 publicada no DOU em 25/03/2014). PORTARIA Nº 08/2015 – 2015 Delega a atribuição de julgar em primeiro grau os processos DIREX/DPF, DE 26 DE administrativos punitivos em matéria de segurança privada ao MAIO DE 2015 Coordenador-Geral de Controle de Segurança Privada. PORTARIA Nº 485 – MJ, 2015 Altera a Portaria nº 2.494, de 3 de setembro de 2004, do DE 25 DE MAIO DE 2015 Ministério da Justiça, que trata da Comissão Consultiva para Assuntos de Segurança Privada, e o anexo da Portaria nº 1.546- MJ, do Ministério da Justiça, que trata do regimento interno da Comissão Consultiva para Assuntos de Segurança Privada. PORTARIA Nº 33.731 – 2016 Autoriza a utilização de elemento adicional de segurança CGCSP/DIREX classificado como injetor de poliuretano em cofres de veículos especiais de transporte de valores. Publicada no DOU em 30 de agosto de 2016, seção 1, página 31. Fonte: Do Autor.

As diretrizes do Decreto-Lei n° 1.034, de 21 de outubro de 1969,definiam as Secretarias de Segurança Pública dos Estados como responsáveis pelo controle das atividades de segurança privada, ficando o treinamento a cargo das polícias civis. A falta de instrumentos eficientes de normatização e fiscalização dos governos estaduais e dos órgãos responsáveis (as Secretarias Estaduais de segurança e o Banco Central) ajudou a impulsionar a passagem 21

de responsabilização dos Estados para o governo federal. De acordo com esse primeiro decreto, os vigilantes possuíam status de policiais, situação que mudou em 1983, com a passagem do treinamento para o setor privado e do controle das atividades para o Ministério da Justiça e o Departamento da Polícia Federal. A partir daí, os vigilantes não têm mais status de policiais, no entanto, são autorizados a poder usar armas de fogo em serviço.O marco regulatório atual da segurança privada é legislado pela Lei Federal nº 7.102, de 20 de junho de 1983, e pelos DecretoFederal nº 89.056, de 24 de novembro de 1983,e Decreto Federal nº 1.592, de 10 de agosto de 1995, complementados por decretos e portarias específicas, que atribuíram novos requerimentos à regulação(ZANETIC, 2005, 2010a, 2010b, 2012). Passemos agora à discussão específica sobre a segurança privada e pública em espaços semipúblicos.

1.2. SEGURANÇAPRIVADA E PÚBLICA EM ESPAÇOS SEMIPÚBLICOS

Um dos espaços que têm requerido o exercício da segurança privada no Brasil são os chamados espaço semipúblicos. Trata-se de espaços intermediários entre o público e o privado. O espaço privado é caracterizado pelo alto grau de controle do seu ocupante, o qual permanece nele por longos períodos. O exemplo mais evidente desse tipo de espaço é a habitação. O espaço público, por sua vez, ao menos em teoria, pertence a todos. É ocupado sazonalmente por uma pessoa ou um grupo, que se comportam ali conforme normas sociais e costumes locais(EPPINGHAUS, 2004). O espaço semipúblico, porém, reúne características de ambos os espaços. Sua ocupação por grupos ocorre segundo regras relativamente formais, que identificam o direito de acesso e uso do território. Ele não é nem completamente privado, nem totalmente público.E corresponde a ambientes onde ocorrem reuniões de grupos que tenham identidades em comum(EPPINGHAUS, 2004). Alguns exemplos disso são os shoppings centers, centros de exposições, casas de eventos e espetáculos diversos, além dos estádios de futebol(ZANETIC, 2005, 2010a, 2010b, 2012). É a esse último que se refere o presente trabalho. Os estádios de futebol são exemplos de espaços privados com forte utilização do grande público em períodos sazonais. Eles são o palco do futebol espetáculo, de alto rendimento, movimentando centenas de milhares de torcedores todos os anos, em torno de diversos eventos. Trata-se de um cenário de forte apego emocional, em torno de disputas quase sempre acirradas, com frequentes casos de violência e enfrentamentos entre torcidas. Estudo realizado 22

por Reis (2005) aponta questões culturais e estruturais entre as principais causas da violência em estádios no Brasil. Nesse contexto, é indiscutível a atenção necessária aos grandes eventos esportivos, tendo em vista que o comportamento esperado dos indivíduos em grandes aglomerações de pessoas tende a ser totalmente imprevisível. Como argumenta VALLA (2013),

O comportamento imprevisível dos grandes aglomerados de pessoas já causou tragédias em eventos esportivos, culturais e até em encontros religiosos. Há anos os cientistas tentam explicar que um indivíduo sozinho, em geral, toma decisões mais sóbrias, mas, na multidão, passa a fazer parte de uma massa com vontade própria e às vezes desordenada. Um bom profissional de segurança pública jamais poderá olvidar disso.

Os esportes são, por natureza, competitivos e podem, desse modo, induzir ao comportamento agressivo. Todavia, tal comportamento, dentro do campo desportivo, é tolerável, pois existem esportes nos quais o contato físico competitivo faz parte de sua essência. Para além dessa tolerância, outros fatores influenciam o comportamento da multidão. Para ELIAS e DUNNING (1992), in verbis:

Isto pode acontecer quando se participa demasiado a sério num desporto, talvez na sequência de pressões sociais ou de recompensas financeiras e do prestígio envolvido. Em resultado disso, o nível de tensão pode elevar-se até um ponto em que o equilíbrio entre a rivalidade amigável e hostil se inclina a favor da última. Nestas circunstâncias, as regras e as convenções destinadas a limitar a violência e a orientá-la para caminhos socialmente aceitáveis são suspensas e, então, pode surgir a luta a sério. Desse modo, no futebol e no râguebi pode jogar-se com o objetivo de impor danos físicos e dor. Ou no boxe, onde o infligir de ferimentos constitui uma parte legítima da prova, torna-se possível a luta depois de ter terminado o assalto ou após o final da prova. Contudo, os padrões que governam a expressão e o controlo da violência não são os mesmos em todas as sociedades. E, na nossa própria sociedade, diferem entre grupos ou desportos diferentes, e não foram sempre os mesmos em todos os períodos históricos (p. 331).

Quando as pessoas se encontram em grandes aglomerados, individualmente elas passam a não ser mais elas mesmas – passam a ser apenas mais uma na multidão. E o estádio de futebol é um dos exemplos mais clássicos desse fenômeno. Da mesma maneira, aflora o sentimento de anonimato, favorecendo a diluição de suas ações na coletividade. Nesse contexto, a composição do grupo influenciará diretamente o comportamento agressivo da multidão. Um grupo formado em sua maioria por homens e por jovens certamente demonstrará mais agressividade. Também é importante a atitude da polícia em relação à multidão: se esta sentir que a polícia está agindo de forma ilegítima e indiscriminada, é possível que a massa se torne mais unida, não distinguindo os pacíficos dos arruaceiros, e atue contra a força policial (AGUIAR & MOTA, 2008). 23

Não obstante a determinação legal (Lei Federal n° 10.671, de 15 de maio de 2003 – Estatuto do Torcedor –, incisos I a X) de que o torcedor tenha um comportamento condizente com a paz pública e a capacidade que os jogos têm de “promover e dinamizar a interação entre público de todas as idades” (ALMEIDA, 2013), as pessoas, quando estão em aglomeração, acabam por demonstrar um comportamento totalmente diferente do seu habitual. A violência ligada aos estádios não tem classe social, é generalizada, atinge os limites internos do campo e alcança toda a sociedade. A análise de DAMATTA (2006) explicita um pouco esse cenário:

As arenas esportivas são também palcos onde os uniformes e os equipamentos especiais, próprios de cada competição, transformam pessoas comuns, submetidas às leis que regem a cidadania e a posição econômica em geral, em pessoas especiais. Em aliados e heróis ou adversários e vilões potenciais, quando, como torcedores e disputantes de torneios esportivos investidos nos papéis de atletas e jogadores, obtêm o privilégio de realizar ações sociais marginais, exóticas ou até mesmo impróprias e, no limite do senso comum, criminosas, fora das arenas, ringues, quadras e estádios onde eles se confrontam. Com isso, os espetáculos esportivos promovem o abandono temporário das regras utilitárias que conformam a ideologia burguesa, propondo a separação entre meios e fins, essa norma de ouro da racionalidade moderna. Se, nas salas de aula e nos tratados científicos, o discurso racional nos diz uma coisa de cada vez, partindo — como ensina Louis Dumont — da decomposição do mundo em esferas distintas demarcadas empiricamente, o esporte cria as condições para novas mitologias, propondo dizer, como fazem a arte e a poesia, todas as coisas de uma só vez(p.147).

Esse contexto diverso impõe uma oposição necessariamente compartilhada sobre a segurança nos estádios. As diretorias dos times de futebol precisam oferecer um ambiente propício, no qual a segurança seja uma garantia de que os limites serão respeitados, e os excessos, contidos.

1.2.1 Interface(s) entre segurança pública e privada: do planejamento às ações operacionais

A Constituição da República, em seu artigo 144, assegura que a segurança pública é um dever do Estado, é um direito do cidadão, cuja responsabilidade é dirigida a todos. Por outro lado, a Lei Federal nº 10.671, de 2003 (Estatuto do Torcedor), diploma legal que estabelece normas de proteção e defesa do torcedor, afirma, no artigo 1º-A, que a

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prevenção da violência nos esportes é de responsabilidade do poder público, das confederações, federações, ligas, clubes, associações ou entidades esportivas, entidades recreativas e associações de torcedores, inclusive de seus respectivos dirigentes, bem como daqueles que, de qualquer forma, promovem, organizam, coordenam ou participam dos eventos esportivos.

Contudo, ao mesmo tempo em que o Estatuto garante ao torcedor o direito a segurança nos locais onde são realizados os eventos esportivos antes, durante e após a realização das partidas (artigo 13), ele também define que a responsabilidade pela segurança do torcedor em evento esportivo é da entidade de prática desportiva detentora do mando de jogo e de seus dirigentes (artigo 14), que deverão solicitar ao Poder Público competente a presença de agentes públicos de segurança, devidamente identificados, responsáveis pela segurança dos torcedores dentro e fora dos estádios e demais locais de realização de eventos esportivos (artigo 14, alínea I). Clóvis Lopes Colpani (2015) destaca a importância da segurança privada, desde que integrada à segurança pública, como elemento essencial no âmbito do Sistema Nacional de Segurança. Para o autor, a partir da Constituição Federal de 1988, a segurança é direito fundamental, devendo ser tratada com tal importância – e, na efetivação desse direito, a segurança privada ocupa um espaço de grande relevância, sendo exercida com altos padrões de qualidade na prestação de seus serviços, na contínua formação e reciclagem de seus profissionais, e sendo fiscalizada de forma eficiente pelo Estado. Para que a segurança seja exercida na qualidade de direito fundamental, é preciso sistematizar as ações de segurança pública e privada, que cada instituição conheça os limites de suas atribuições e as exerça de forma efetiva, pois só haverá integralização de ações se houver o objetivo claro, por parte das instituições responsáveis pelo futebol pernambucano, em prestar um serviço de qualidade, no qual a segurança seja vista como um bem de todos. Durante a realização dos megaeventos esportivos no Brasil (Copa das Confederações, Copa do Mundo 2014, Jogos Olímpicos e Paraolímpicos de 2016), observou-se o uso das Forças Armadas na função de segurança pública, visando complementar as forças estaduais temporariamente. Contudo, a segurança pública é um serviço prestado pelo Estado, cujo destinatário é o cidadão, e não o inimigo externo. Dessa forma, a Lei Complementar Federal n° 97, de 9 de junho de 1999, em seu artigo 15, §2º, estabelece que a atuação das Forças Armadas, na garantia da lei e da ordem, ocorrerá após esgotados os instrumentos destinados à preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, demonstrando seu caráter subsidiário. Todo o aparato militar das Forças Armadas, quando em seu uso 25

subsidiário, não deve ser visto como um chamamento à guerra, mas como a ultimaratio do Estado para garantir a exequibilidade das políticas sociais, da prevenção e da redução dos riscos, das medidas administrativas que visem à garantia da dignidade humana. Nesse sentido, a complementaridade da segurança pública em espaços semipúblicos deve ser realizada com a segurança privada. Durante a realização da Jornada Mundial da Juventude de 2013, a Copa das Confederações 2013, a Copa do Mundo FIFA 2014 e os Jogos Olímpicos e Paraolímpicos Rio 2016, foram necessárias diversas ações conjuntas entre segurança pública e privada para proporcionar uma segurança condizente com a grandeza desses eventos. Nesse sentido, a Polícia Federal publicou, no dia 13 de dezembro de 2012, a Portaria nº 3.233/2012 – DG/DPF, que dispõe sobre as novas regras de segurança privada, visando atender aos novos desafios dos grandes eventos:

Neste novo instrumento, foi criado o Curso de Extensão em Segurança para Grandes Eventos, como forma de qualificar e especializar os vigilantes para atuação nos locais onde haja grande concentração de pessoas, principalmente nos estádios de futebol, a exemplo da Copa das Confederações de 2013 e Copa do Mundo de 2014, conforme modelo padrão da FIFA, que prevê a utilização de segurança privada nos eventos esportivos de forma integrada aos órgãos de segurança pública (ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS DELEGADOS DE POLÍCIA FEDERAL, 2012).

A segurança privada mostra-se, portanto, como uma aliada da sociedade para conter os avanços da criminalidade em espaços semipúblicos, como os estádios de futebol. Nos megaeventos esportivos sediados no Brasil, a segurança privada teve um papel significativo para a prevenção da violência nos ambientes internos desses eventos e agiu de forma preventiva para a segurança de todos os que participaram desses grandes acontecimentos do esporte mundial. Dessa forma, os responsáveis pela organização e execução dos eventos de futebol precisam enxergar na segurança privada, especializada em grandes eventos, uma aliada para garantir a segurança. Deve-se, assim, afastar a dicotomia entre segurança pública e privada e, em contínuo, desenvolver a compreensão de que ambas são parte de um conjunto de ações que podem prevenir e garantir a segurança nos estádios de futebol.

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1.3. A QUESTÃO A VIOLÊNCIA NOS ESTÁDIOS DE FUTEBOL DE PERNAMBUCO

A violência nos estádios de Pernambuco não é diferente dos outros locais do Brasil. Embora os dados sobre esses eventos violentos sejam escassos, exemplos não faltam para retratar a falta de segurança vivenciada nesses eventos.Em 2012, o Brasil foi o recordista mundial de mortes de torcedores em consequência de conflitos entre torcidas organizadas. Ao todo, foram 23 óbitos, ultrapassando e a Itália, das quais, há uma década, estávamos atrás (MURAD, 2013). Entre 2010 e 2016, foram registradas, no Brasil,113 mortes relacionadas a futebol. O ano de 2013 foi o mais violento, com 30 mortes. Já em 2015, a cifra caiu pela metade, com 15 mortes comprovadamente ligadas a torcidas organizadas (PORTINARI, 2016). VIEIRA & DE SIQUEIRA(2008) obtiveram dados exclusivos sobre a violência nos estádios em Pernambuco, uma vez que não existe uma quantificação específica para esses eventos. Segundo os autores, o Batalhão de Choque da Polícia Militar de Pernambuco, por meio do Capitão Ronaldo, responsável por essas operações da corporação em estádios de futebol, informou que, em 2003, o efetivo deteve 828 pessoas, sendo 178 encaminhadas às delegacias, tanto as dos estádios de futebol, chamadas de Delegacias Itinerantes, quanto às de plantão (localizadas nos bairros). Em 2004, foram informadas 750 detenções e 113 prisões, em face da gravidade das ocorrências. Todas essas prisões foram ocorridas por ocasião das partidas de futebol, válidas pelo de Futebol e Brasileiro da Série “B”, nos quais os três grandes times de futebol de Pernambuco participaram(VIEIRA & DE SIQUEIRA, 2008, p. 59). De acordo com dados fornecidos pelo Batalhão de Choque do Estado de Pernambuco, as ocorrências mais comuns nos estádios de futebol de Pernambuco são as “Condutas inconvenientes/Provocação de tumulto”, seguidas da posse de drogas. Contudo, uma diversidade grande de atitudes desviantes tem sido registradas sob a categoria outros.4

4 No item “outros” estão reunidas as seguintes categorias: atitude suspeita; cambismo/circ. de moeda falsa; tráfico de drogas; falsidade ideológica; comércio de bebida alcoólica; consumo de bebida alcoólica; desacato/resistência; lesão corporal; desobediência; furto (cvp); apologia à violência; arremesso de objeto no campo; atentado violento ao pudor; dano ao patrimônio; invasão de campo; porte de arma branca. 27

Figura 1– Número de encaminhamentos à delegacia por tipo de evento. Ilha do Retiro, Arruda e Arena Pernambuco, 2016.

OUTROS

AGRESSÃO / VIAS DE FATO

POSSE DE DROGAS

CONDUTA INCOVENIENTE / PROVOCAÇÃO DE TUMULTO

0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 CONDUTA INCOVENIENTE / POSSE DE DROGAS AGRESSÃO / VIAS DE FATO OUTROS PROVOCAÇÃO DE TUMULTO ILHA DO RETIRO 37 18 0 7 ARRUDA 14 2 0 6 ARENA PERNAMBUCO 41 4 0 12 Fonte: Do Autor, a partir de dados fornecidos pelo Batalhão de Choque de Pernambuco.

Em Pernambuco, talvez um dos casos mais emblemáticos, de repercussão nacional, tenha sido o assassinato do torcedor do Sport Paulo Ricardo Gomes da Silva, de 26 anos, atingido por um vaso sanitário atirado do anel superior do estádio do Arruda, em Recife, em 2014 (ZIRPOLI, 2014). Ele passava próximo ao portão 6 do Arruda, destinado à torcida adversária, quando foi atingido por um vaso sanitário arremessado da arquibancada. Ao fim da partida, a torcida do Santa Cruz foi orientada pela Polícia Militar a sair do estádio antes da torcida visitante. No entanto, uma uniformizada coral armou a emboscada para os rivais. Ao deixarem o estádio, 15 minutos depois, os torcedores do Paraná foram "recepcionados" por três bombas e recuaram. Neste momento, dois vasos sanitários arrancados dos banheiros do anel superior do estádio foram atirados. Além da vítima fatal, outras três ficaram feridas (PORTAL GLOBO ESPORTE, 2014). 28

Imagem 1– Registro do assassinato do torcedor Paulo Ricardo Gomes da Silva, durante jogo entre Santa Cruz e Paraná, no estádio do Arruda, em 2014.

Fonte: ZIRPOLI, 2014.

Inúmeros casos podem ilustrar esse cenário pernambucano. Em 2016, em jogo entre Santa Cruz e Sport, um torcedor do Santa Cruz ficou gravemente ferido após ser espancado durante uma briga de torcida no bairro do Cordeiro, Zona Oeste do Recife.

Imagem 2– Registro de violência entre as torcidas após jogo em Recife. 2013.

Fonte: Superesportes, 2013.

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Ainda em 2016, um torcedor foi alvejado com tiros na cabeça em um confronto entre membros de torcidas organizadas do Sport (Torcida Jovem) e do Náutico (Fanáutico). Durante esse episódio, um ônibus levando torcedores da uniformizada rubro-negra, após o jogo Sport vs Campinense, realizado em outro horário, encontrou com torcedores do Náutico. Depois de provocações e brigas, um tiro foi disparado, atingindo, assim, o torcedor alvirrubro. No mesmo ano, 2016, a torcida tricolor entrou em confronto com a Polícia Militar no “Clássico das Multidões” (Sport vs Santa Cruz), na Ilha do Retiro. Cenas de violência foram protagonizadas envolvendo a torcida do Santa Cruz, do Sport e a Polícia Militar.

Imagem 3– Registro de torcedores do Santa Cruz em confronto com a Polícia Militar na Ilha do Retiro. 2014.

Fonte: Blog do Torcedor, 2014.

Em outubro de 2015, a Polícia Militar e a torcida do Náutico se envolvem em briga nas arquibancadas do Arruda. Durante a partida entre Náutico e Santa Cruz, no estádio do Arruda, a torcida do Náutico e a Polícia Militar entraram em confronto. Torcedores se envolveram em confronto com a PM, e torcedores próximos acabaram sendo atingidos.

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Imagem 4– Registro de confronto entre Polícia Militar de Pernambuco e torcida do Náutico. 2015.

Fonte: Superesportes, 2014.

Recentemente, abril de 2017, no jogo entre Náutico e Santa Cruz, no estádio do Arruda, torcedores da organizada do Náutico entraram em confronto com a Polícia Militar – mais uma vez, torcedores que não têm nada a ver com a violência foram vítimas desse quadro, que não para em Pernambuco. As imagens registraram o momento em que os policiais, em busca de um integrante da torcida organizada, desferem golpes de cassetetes, sem que ele tenha esboçado nenhum tipo de reação, provocando tumulto e correria entre os demais torcedores a sua volta (PORTAL CLUBE NÁUTICO CAPIBARIBE, 2017).

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Imagem 5– Registro de torcedora sendo atendida pelo serviço médico no estádio, vítima de conflitos entre as torcidas. 2017.

Fonte: Portal Clube Náutico Capibaribe, 2017.

É evidente que Pernambuco vive um ciclo ininterrupto de arruaças, confusões e vários tipos de violência antes, durante e depois dos jogos. Muitos cidadãos, que não estão envolvidos com o futebol, mudam suas rotinas com o único intuito de fugir da violência que cerca os eventos dessa natureza. A cena de torcedores organizados escoltados pela Polícia Militar, enfileirados, andando pelas ruas do Recife, mais parecendo cenário de guerra, já se tornou uma visão comum.

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Imagem 6– Registro da escolta da Polícia Militar de Pernambuco à Torcida Organizada do Sport Clube do Recife. 2015

Fonte: PortalJC, 2015.

Imagem 7– Registro da escolta da Polícia Militar de Pernambuco à Torcida Organizada do Sport Clube do Recife. 2013.

Fonte: Portal Superesportes, 2014.

Segundo Daolio (1998), as manifestações no estádio de futebol, sejam as da torcida, sejam as dos jogadores, ou as dos dirigentes e jornalistas, não podem ser analisadas de forma desvinculada de todas as outras questões nacionais. Nesse sentido, a violência dos torcedores, por vezes exacerbada, não pode ser explicada de forma simplista como manifestação de alguns marginais, como querem alguns jornalistas esportivos. Ela constitui‐se em expressão da violência da sociedade brasileira, por vezes reprimida em outras ocasiões (DAOLIO, 1998). 33

Em 2013, após uma série de atos violentos entre as torcidas, a Secretaria de Defesa Social de Pernambuco anunciou um conjunto de medidas para conter episódios futuros. Segundo Alessandro Carvalho, Secretário Executivo de Defesa Social de Pernambuco à época, em entrevista concedida à Rede Globo, no dia 5 de março 2013:

O batalhão de choque passará a atuar não só no interior do estádio, mas fora. Teremos uma atenção maior no deslocamento dos torcedores, porque a gente vê que dentro do estádio nós não temos problema. Isso é no entorno e no caminho dos locais de residência para o estádio. Então, isso vai ser feito com o emprego muito maciço das câmeras de segurança, operadas pela SDS, e uma ação firme do policiamento em campo.

De acordo com o sociólogo Gilberto da Motta, especialista no tema, o Estado não tem trabalhado de forma contínua para coibir a violência dos torcedores. Segundo ele, os torcedores “sabem que serão repreendidos apenas nos dias dos jogos e depois ficarão impunes por seus delitos. Historicamente, não há registro de punições de verdade. Então se sentem mais à vontade para infringir a lei”(MOTTA, 2013). As torcidas organizadas podem ser um espaço de sociabilidade, expressão de identidade e sentimento de pertença de indivíduos de vários grupos e classes sociais, que se identificam e se reconhecem como integrantes de um mesmo grupo, por meio de seus símbolos e valores. Elas já são um fenômeno característico das grandes metrópoles e fazem parte da realidade das diversas classes sociais.

Nesse contexto, a identidade social dos jovens passa a ser firmada na necessidade de “ser diferente”, uma tentativa diária de provar que é capaz, seja através de práticas construtivas para a vida social (estudo, mercado de trabalho, atividade artística, esportes, etc.), seja através de atos ilícitos (consumo e venda de entorpecentes, violência, crimes, etc.), contudo, que os tornem visíveis por algum intervalo de tempo (SOUZA, 2010).

Igor de Mesquita Pípolo (2010) adverte que é um mito pensar que eventos que se repetem podem ter sempre o mesmo plano de segurança. Cada evento de grande porte é único, pois as aglomerações são formadas por indivíduos, tais sujeitos mudam de um evento para o outro, principalmente nos jogos de futebol. A quantidade de torcedores varia de um jogo para o outro; o contexto dos jogos muda de um evento para o outro; a própria situação do time durante o campeonato afeta o comportamento da torcida. Além disso, a situação pessoal do torcedor interfere e varia de um evento para o outro.

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As explicações para tais eventos violentos são diversas, tanto por parte dos torcedores, dos dirigentes esportivos e do Estado. Carlos Pimenta (2000) fez uma observação dos discursos das “autoridades esportivas” e dos “torcedores”, e reuniu um conjunto das justificativas mais correntes. Segundo ele, são as seguintes: a) má distribuição de renda; b) exploração dos dirigentes esportivos e dos líderes das “torcidas”; c) efeitos da criminalidade; d) ausência de expectativa de futuro aos jovens; e) ausência do Estado, enquanto mentor de políticas públicas de formação social; f) efeitos da pobreza; g) afrouxamento da ordem legal e das posturas repressivas das instituições de segurança e justiça; h) falta de emprego; i) miséria generalizada; j) familiarização com a violência; k) falta de infraestrutura nos estádios de futebol; l) má arbitragem; m) gozações de adversários; n) derrota de uma partida de futebol (PIMENTA, 2000). A insegurança que atinge as pessoas envolvidas diretamente e indiretamente em grandes eventos, e em especial nos jogos de futebol, não é exclusividade do Estado de Pernambuco. Tal fenômeno, promove, também, uma reflexão sobre o papel da segurança privada e suas contribuições para a segurança nos estádios. Com exceção do conjunto de variáveis intangíveis apontadas pelos dirigentes e torcedores, quase sempre se eximindo da responsabilidade, como argumenta Motta (2013), os itens em destaque nos dão pistas sobre a atuação do setor privado na minimização dos conflitos. Não se trata, contudo, de propor um processo obtuso de endurecimento das penas e do processo repressivo, mas de garantir elementos preventivos à violência, complementares à atuação do Estado e que garantam a segurança dos torcedores, conforme propomos no Capítulo2.

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2. SEGURANÇA EM ESTÁDIOS DE FUTEBOL DO ESTADO DE PERNAMBUCO: UM DIAGNÓSTICO

Este capítulo apresenta a análise dos dados coletados em confronto com o marco teórico delineado anteriormente. Conforme argumentado, o problema da violência nos estádios é brasileiro, sendo Pernambuco também alvo da questão. Embora essa violência seja reflexo de aspectos culturais da disputa, do modelo de interação no esporte e entre as torcidas, ela também acompanha o nível de civilidade da sociedade, acompanhando também a violência presente na própria coletividade. Contudo, uma série de elementos preventivos, de naturezas diversas, pode ajudar a minimizar a quantidade de eventos violentos no contexto dos estádios de futebol. Para além disso, os estádios se constituem em um tipo específico de espaço social, considerado semipúblico, reunindo, ao mesmo tempo, características de espaços privados e de espaços públicos, sem serem completamente um ou outro. Os estádios de futebol são, portanto, exemplos de espaços privados com forte utilização do grande público em períodos sazonais, em um cenário de forte apego emocional, em torno de disputas quase sempre acirradas, com frequentes casos de violência e enfrentamentos entre torcidas. Ademais, os estádios de futebol brasileiros são instalações esportivas, cujas estruturas físicas foram dimensionadas para um contexto diferente e menos complexo, em termos de necessidade de segurança daquele encontrado atualmente nos eventos esportivos que sediam jogos importantes (ENSSLIN, L.; ENSSLIN, S. R.; PACHECO, G. C., 2012). Ensslinet al (2012) realizaram uma análise sobre o período de construção dos estádios brasileiros e identificam que 87% deles foram construídos há mais de 20 anos. Especificamente em Pernambuco, com exceção do Estádio Governador Carlos Wilson Campos (Arena Pernambuco), construído para a Copa do Mundo de 2014, dois5 são da década de 1930 e um6 dos anos 1970.

2.1. ELEMENTOS VULNERÁVEIS OBSERVADOS DIRETAMENTE

2.1.1. Estádio José do Rego Maciel (Arruda)

5 Estádio Adelmar da Costa Carvalho (Ilha do Retiro) – 1937. Estádio Eládio de Barros Carvalho (Aflitos) – 1939. 6Estádio José do Rego Maciel (Arruda) – 1972. 36

O Estádio José do Rego Maciel, popularmente conhecido como Estádio do Arruda, é a sede do Santa Cruz Futebol Clube. Localizado no bairro do Arruda, em Recife, foi inaugurado em 1972, mas teve sua construção iniciada em 1965, com massivo apoio da torcida. Na década de 1970, a Campanha do Tijolo mobilizou várias doações de sua torcida, que trazia todo tipo de material de construção, além de ajudarem a construir o estádio com as próprias mãos, realizando serviços de construção civil. Com capacidade para 69 mil torcedores, já chegou a receber mais de 96 mil em 1993, durante partida entre Brasil e Bolívia, pelas Eliminatórias da Copa do Mundo.

2.1.1.1. Problemas de estrutura física

Durante a visita realizada no Estádio José do Rego Maciel (Arruda), observou-se a presença de considerável número de policiais no entorno do local, executando o policiamento interno e externo ao estádio, conforme esquema de segurança previamente elaborado pela Polícia Militar de Pernambuco. Porém, o estádio permaneceu com os refletores apagados momentos antes ao início da partida – somente foram acesos a partir das 19 horas e 30 minutos. No interior do estádio também foi detectada uma porção de grades, ferros e tablados, que, em uma situação de crise e tumulto, poderiam, prontamente, ser utilizados como armas, algo que se faz presente e patente nas atividades esportivas dos clubes de Pernambuco. Tal negligência aponta uma falta de ação preventiva por parte dos responsáveis pela segurança interna do estádio. Situações de vulnerabilidade que não foram detectadas e mitigadas são prenúncios de tragédias.

2.1.1.2. Problemas organizacionais

Foram constatadas várias frações de policiais, entre esses, a presença da Cavalaria devidamente postada e pronta para atender quaisquer eventualidades. Ao longo da parte externa do estádio, notadamente nas laterais e frente, foi visto um aglomerado de flanelinhas que "cuidavam" de uma boa parte de veículos já estacionados e com perspectiva de recepcionarem outros veículos à medida que se aproximava o início do jogo. Vale acrescentar que não foi percebida a presença de policiais próximos daquele grupo. 37

Foi verificado também que aqueles que faziam o papel de vigilantes estavam sem os equipamentos adequados e necessários para o exercício da função. Na entrada superior das Arquibancadas havia alguns policiais cuidando da abordagem dos torcedores que chegavam. Todavia, havia seguranças orgânicos demonstrando postura inadequada às normas de segurança e despreparo para aquele tipo de missão, pois se colocaram de costas para a entrada principal. Na entrada Superior Geral houve abordagem por policiais que faziam a revista e, logo na retaguarda, visualizei outro grupo de segurança orgânica, junto, demonstrando desatenção aos cuidados exigidos pelas normas de segurança. Tais profissionais, se fossem oriundos da segurança privada, treinados como exige a legislação da PF, sem sombra de dúvidas desempenhariam um trabalho efetivo, com profissionalismo e com proficiência no cumprimento dessas diversas atribuições inerentes à segurança privada, e que iria contribuir de maneira satisfatória e com brilhantismo diante desses virtuais desafios. Mesmo considerando os dois clubes já classificados, foi observado um número razoável de torcedores das torcidas do Santa Cruz e do Náutico – com isso, o número de policiais plotados no posto está muito aquém de mitigar os riscos ou mesmo neutralizar um conflito no interior do estádio. No segundo tempo do jogo, houve um conflito entre a torcida do Náutico e a Polícia Militar. E o quantitativo de segurança, aquém do necessário, foi mais uma vez evidenciado.

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2.1.1.3. Registros de imagem

Imagem 8– Registro do entorno do estádio José do Rego Maciel (Arruda) momentos antes de jogo. Pouca iluminação e ausência de segurança pública ou privada. Recife, 2017.

Fonte: Do Autor.

Imagem 9– Registro do entorno do estádio José do Rego Maciel (Arruda) momentos antes de jogo. Refletores acessos apenas minutos antes do início do jogo. Presença da Polícia Militar. Recife, 2017.

Fonte: Do Autor.

Imagem 10– Registro do entorno do estádio José do Rego Maciel (Arruda) momentos antes de jogo. 39

Presença do grupamento a cavalo da Polícia Militar. Recife, 2017.

Fonte: Do Autor.

Imagem 11– Registro do entorno do estádio José do Rego Maciel (Arruda) momentos antes de jogo. Presença de “flanelinhas” guardando veículos. Recife, 2017.

Fonte: Do Autor.

Imagem 12– Registro do entorno do estádio José do Rego Maciel (Arruda) momentos antes de jogo. 40

Presença de segurança privada sem uso de equipamentos adequados. Recife, 2017.

Fonte: Do Autor.

Imagem 13– Registro da parte interna do estádio José do Rego Maciel (Arruda) momentos antes de jogo. Presença de segurança privada sem uso de equipamentos adequados. Recife, 2017.

Fonte: Do Autor.

Imagem 14– Registro da parte interna do estádio José do Rego Maciel (Arruda) momentos antes de jogo. 41

Presença de segurança privada em posicionamento não estratégico diante da amplidão do espaço. Recife, 2017.

Fonte: Do Autor.

Imagem 15– Registro da parte interna do estádio José do Rego Maciel (Arruda) momentos antes de jogo. Presença de segurança privada desatenta em função complementar. Recife, 2017.

Fonte: Do Autor.

Imagem 16– Registro da parte interna do estádio José do Rego Maciel (Arruda) momentos antes de jogo. 42

Presença de ferros, grades e tablados apresentando risco potencial em situações de conflito. Recife, 2017.

Fonte: Do Autor.

Imagem 17– Registro da parte interna do estádio José do Rego Maciel (Arruda) momentos antes de jogo. Presença de ferros, grades e tablados apresentando risco potencial em situações de conflito. Recife, 2017.

Fonte: Do Autor.

Imagem 18– Registro da parte interna do estádio José do Rego Maciel (Arruda) momentos antes de jogo. 43

Presença de número reduzido de agentes públicos ou privados. Recife, 2017.

Fonte: Do Autor.

2.1.2. Estádio Adelmar da Costa Carvalho (Ilha do Retiro)

O Estádio Adelmar da Costa Carvalho, popularmente conhecido como Ilha do Retiro, é a sede do Sport Clube do Recife. Localizado no bairro da Ilha do Retiro, em Recife, foi inaugurado em 1937, passando por reformas em 1950, 1953, 1984 e 1994. Em 2013, foi apresentando um projeto para a construção de uma Arena na Ilha do Retiro para 45 mil pessoas, projeto esse que nunca saiu do papel. Com capacidade para aproximadamente 33 mil torcedores, chegou a receber mais de 56 mil em 1998, durante partida entre Sport e Porto, pelo Campeonato Pernambucano.

2.1.2.1. Problemas de estrutura física

Durante a visita realizada no Estádio Adelmar da Costa Carvalho (Ilha do Retiro), foi identificada falha nas traves e telas que dividiam setores de torcidas rivais, amplificando os esforços necessários da segurança pública ou privada.

2.1.2.2. Problemas organizacionais 44

Durante a visita realizada no Estádio Adelmar da Costa Carvalho (Ilha do Retiro), foi registrada a presença de frações de tropa da Polícia Militar de Pernambuco fazendo ensaio da segurança para o referido evento. A primeira barreira foi identificada na estrada social do estádio, onde a Polícia Militar procedia à revista de torcedores. Em seguida, os torcedores passavam por uma catraca, com presença de segurança orgânica. Até este momento, não fora percebida a presença de segurança terceirizada privada. No lado externo do estádio, observou-se a presença de policiais do batalhão de Choque posicionados nas gerais e sociais onde ficaram, respectivamente, as torcidas do Náutico e do Sport, e cujas áreas estavam devidamente protegidas por barreiras laterais. Na área social, onde ficou localizada parte da torcida do Sport, não foi percebida presença de policiais da Polícia Militar, tampouco de segurança privada. Vê-se, assim, um vácuo dos dois tipos e presenças de profissionais de segurança na respectiva ala. Na área Social e das Cadeiras, onde estão localizadas também as emissoras de comunicações, também não foi percebida presença de policiais da PM nem, tampouco, de segurança privada. Geral do Sport literalmente preenchida e registro do campo:neste contingente de torcedores não foi percebido presença de policiais da PM nem, tampouco, de segurança privada. Na arquibancada Geral, onde permaneceu a torcida visitante (Náutico), foram presenciadas diversas tentativas de invadir outro setor do estádio para confrontarem a torcida anfitriã. Os PMS existentes naquela área coibiram e neutralizam de imediato a tentativa de invasão por parte daqueles torcedores. Tal área foi reforçada, de imediato, por dois soldados e coadjuvados por dois cães no local situado próximo à trave, onde apresentava vulnerabilidade e potencial de riscos por conta da fragilidade da abertura da tela. Pode-se notar que, na hipótese de os torcedores do Náutico concretizarem seus objetivos, a segurança estaria comprometida, mesmo com a intervenção de imediato. Momentos de acirramento dos ânimos ocorreram a cada novo gol. Durante o segundo gol, mais um momento de agitação na torcida visitante, que foi contido com um reforço policial nas arquibancadas pelo Batalhão de Choque. Novamente, o Batalhão conseguiu conter as ações dos manifestantes por meio do uso de armamento não letal. Da mesma maneira, no momento da virada do jogo, quando o time do Sport faz o terceiro gol, parte da torcida tenta ir ao confronto com a torcida do Náutico. Na parte superior da Geral do Náutico foi possível visualizar um reforço do Batalhão de Choque e a torcida do Sport tentando avançar e romper as grades de proteção. 45

Nesse primeiro momento, pôde-se visualizar a presença de profissionais da segurança privada contratada para o evento. Estavam dotados com armas não letais, capacete similar ao do Batalhão de Choque, colete e demais acessórios previstos em legislação da Polícia Federal. A chegada daqueles profissionais da segurança privada foi vital para reforçar o trabalho do Batalhão de Choque. Notadamente, em relação ao evento, por ser de grande monta, havia um número bastante reduzido de segurança privada.

2.1.2.3. Registros de imagem

Imagem 19– Registro da parte interna do estádio Adelmar da Costa Carvalho (Ilha do Retiro) durante o jogo. Segmentação das torcidas rivais por setores com presença de barreiras físicas e atuação da Polícia Militar. Recife, 2017.

Fonte: Do Autor.

Imagem 20 – Registro da parte interna do estádio Adelmar da Costa Carvalho (Ilha do Retiro) durante o 46

jogo. Momento de revolta da torcida visitante, com contenção da Polícia Militar. Recife, 2017.

Fonte: Do Autor.

Imagem 21 – Registro do entorno do estádio Adelmar da Costa Carvalho (Ilha do Retiro) momento antes do jogo. Presença da Polícia Militar antes do jogo. Recife, 2017.

Fonte: Do Autor.

Imagem 22 – Registro do entorno do estádio Adelmar da Costa Carvalho (Ilha do Retiro) momento antes do jogo. Presença da Polícia Militar antes do jogo. Recife, 2017. 47

Fonte: Do Autor.

Imagem 23 – Registro da parte interna do estádio Adelmar da Costa Carvalho (Ilha do Retiro) momento antes do jogo. Primeira barreira de acesso ao estádio, na estrada social, com revista de torcedores realizada pela Polícia Militar. Recife, 2017.

Fonte: Do Autor.

Imagem 24 – Registro da parte interna do estádio Adelmar da Costa Carvalho (Ilha do Retiro) momento antes do jogo. Segunda barreira de acesso ao estádio, com utilização de catracas e segurança realizada pela Polícia Militar. Recife, 2017. 48

Fonte: Do Autor.

Imagem 25 – Registro da parte interna do estádio Adelmar da Costa Carvalho (Ilha do Retiro) momento antes do jogo. Presença de policiais do Batalhão de Choque posicionados nas Gerais e Sociais, onde ficarão, respectivamente, as torcidas do Náutico e do Sport. Recife, 2017.

Fonte: Registros próprios.

Imagem 26 – Registro da parte interna do estádio Adelmar da Costa Carvalho (Ilha do Retiro) durante o jogo. Setor da torcida anfitrião sem presença da Polícia Militar ou de segurança privada. Recife, 2017. 49

Fonte: Do Autor.

Imagem 27 – Registro da parte interna do estádio Adelmar da Costa Carvalho (Ilha do Retiro) durante o jogo. Setor da torcida anfitrião sem presença da Polícia Militar ou de segurança privada. Recife, 2017.

Fonte: Do Autor.

Imagem 28 – Registro da parte interna do estádio Adelmar da Costa Carvalho (Ilha do Retiro) durante o jogo. Setor da torcida anfitrião sem presença da Polícia Militar ou de segurança privada. Recife, 2017. 50

Fonte: Do Autor.

Imagem 29 – Registro da parte interna do estádio Adelmar da Costa Carvalho (Ilha do Retiro) durante o jogo. Momento em que a torcida visitante tenta avançar para o interior do estádio e laterais com intuito de se confrontar com a torcida anfitriã. Recife, 2017.

Fonte: Do Autor.

Imagem 30 – Registro da parte interna do estádio Adelmar da Costa Carvalho (Ilha do Retiro) durante o jogo. Geral frontal à Social e Cadeiras do Sport literalmente cheias, sem registro da presença de policiais e segurança privada. Recife, 2017. 51

Fonte: Do Autor.

Imagem 31 – Registro da parte interna do estádio Adelmar da Costa Carvalho (Ilha do Retiro) durante o jogo. Presença de reforço policial nas Arquibancadas pelo Batalhão de Choque. Recife, 2017.

Fonte: Do Autor.

Imagem 32 – Registro da parte interna do estádio Adelmar da Costa Carvalho (Ilha do Retiro) durante o jogo. A presença de segurança privada coadjuvando o Batalhão de Choque em uma tentativa da torcida do Sport romper a grade de proteção que separava as duas torcidas. Recife, 2017. 52

Fonte: Do Autor.

2.2. QUESTÕES GERAIS APONTADAS PELOS ENTREVISTADOS

Os dados coletados apresentam alguns pontos convergentes, os quais procuraremos explicitar a seguir. Os dados apontam para a necessidade de uma parceria maior entre segurança pública e privada, com uma maior responsabilização do setor privado nesse contexto. Os entrevistados apontaram, com grande recorrência, a impressão de que a segurança nos estádios parece estar sendo de responsabilidade única das forças públicas, não havendo ou havendo insuficiente participação da segurança privada.

Percebe-se que a polícia militar é a única entidade de segurança presente nos estádios de futebol. Atualmente, desempenha suas atividades dentro e fora dos campos de futebol. Quando ocorrem os jogos de maior vulto (clássicos), amplia-se a atividade policial preventiva, inclusive acompanhando a mobilização dos torcedores nas vias de acesso ao estádio. A participação de agentes de segurança privada poderá, sim, coadjuvar muito bem neste processo, especialmente atuando dentro dos estádios e nos acessos e junto ao torcedor (José Manoel Nascimento, policial federal e advogado).

A necessidade de se ampliar a utilização de segurança privada foi recorrente nos discursos. Para diversos entrevistados, “os clubes de futebol poderiam intensificar sua margem de participação no contexto da segurança preventiva, disponibilizando melhor controle e ordenamentos dos seus estacionamentos e ampliando a contratação da segurança 53

privada” (José Manoel Nascimento, policial Federal e advogado). Corrobora esse argumento o depoimento do Sr. Celso Simonetti:

A meu ver a segurança interna dos campos de futebol deveria ser, em sua maior medida, de responsabilidade dos Clubes, que teriam de investir em material específico e na contratação de pessoal qualificado para exercer tal mister. A presença da segurança pública nesses locais deveria ser restrita ao mínimo necessário para atuar em situações extremas, em que a segurança privada não tivesse capacidade para intervir. Uma melhor e intensiva atuação preventiva, e, se necessário, repressiva, dos agentes de segurança pública no entorno, criaria as condições necessárias para reduzir a possibilidade de ações de grupos marginais no interior, que teriam a ampla possibilidade de serem barrados, ou mesmo dissuadidos em suas intenções, ainda no perímetro interno(Celso SimonettiTrench Júnior, Gerente de Segurança Portuária).

Contudo, foi recorrente a observação acerca da necessidade de uma articulação complementar entre a segurança privada e pública, tendo em vista que a primeira não possui mandato legítimo para exercer funções exclusivas do Estado.

Não há qualquer possibilidade legal de a segurança privada assumir as responsabilidades inerentes à segurança pública, que é a representante do poder coativo do Estado, mas lhe cabe um importante papel como auxiliar nas ações de cunho preventivo a serem desenvolvidas para a solução do problema. Ressalto, no entanto, que a cooperação entre a segurança pública e privada somente será eficiente e eficaz se houver coordenação e integração nas ações a serem desenvolvidas e investimento na capacitação do pessoal envolvido e no fornecimento do material adequado para as ações a serem realizadas. (Celso SimonettiTrench Júnior, Gerente de Segurança Portuária).

A segurança privada não tem poder de polícia. Seria muito importante, mas haveria um limite nas atribuições. Em tumultos generalizados, a segurança privada irá, sempre, precisar da segurança pública. Portanto, sou a favor do hibridismo das seguranças dentro dos estádios (Evandro Mesquita, sócio do Sport Clube do Recife e frequentador assíduo dos jogos do em Pernambuco. Auditor fiscal, formado em Ciências Contábeis.)

Tal argumento se justifica também por que

(...) a segurança privada, somente, não seria suficiente para conter grandes tumultos como, por exemplo, foi observado no jogo realizado entre Atlético/PR e Vasco/RJ no dia 8 de dezembro de 2013. Ali havia apenas segurança privada, que não conteve a fúria entre as duas torcidas, deixando vários torcedores hospitalizados. Defendo a ideia de que, em havendo segurança privada, a PM teria de estar na retaguarda para agir num momento como este (Evandro Mesquita, sócio do Sport Clube do Recife e frequentador assíduo 54

dos jogos do em Pernambuco. Auditor fiscal, formado em Ciências Contábeis.) Contudo, a necessidade de mais segurança privada nos estádios tem esbarrado em uma dificuldade operacional:

Jogo de futebol é um evento privado que gera renda. Portanto, é de responsabilidade dos organizadores do evento. Sou do parecer que deve haver um número reduzido de policiais dentro do estádio e um maior número fora, justamente pelo entendimento de que a polícia atua em benefício da sociedade como um todo. O maior exemplo foi a Copa das Confederações e, em seguida, a Copa do Mundo, nas quais havia policiamento para apoiar a segurança privada, que tinha como missão a primeira resposta, quando houvesse necessidade de intervenção. [...]A prevenção da violência nos esportes é de responsabilidade do poder público, das confederações, federações, ligas, clubes, associações ou entidades esportivas, entidades recreativas e associações de torcedores, inclusive de seus respectivos dirigentes, bem como daqueles que, de qualquer forma, promovem, organizam, coordenam ou participam dos eventos esportivos”. Como a responsabilidade pela segurança é dever de todos, o Estado de Pernambuco deveria exigir um maior investimento em segurança por parte dos clubes de futebol na realização dos jogos (ValterBenjamin, Cel. PMPE, Comandante do Batalhão de Rádio Patrulha de Recife/PE).

Considerando que os jogos são atividades privadas, acredito que a segurança interna do local do evento deveria ser realizada por vigilantes armados com armas menos que letais e treinados para grandes eventos, porém, considero indispensável a permanência de uma equipe da Polícia Militar para dar uma resposta proporcional, dentro do princípio do uso progressivo da força (Isaque Souza, Subtenente da PMPE. Integrante da Força Nacional, atuou nos jogos da Copa do Mundo como integrante da Força Nacional).

Na minha concepção, em Pernambuco temos poucas empresas de segurança privada e o mínimo de efetivo, treinado, preparado e pronto para trabalhar em jogos de grandes públicos, conhecidos clássicos, como em quase todos os estádios do Brasil. Porém, a missão da Polícia Militar é dar proteção à sociedade nos perímetros urbanos, cabendo à iniciativa privada os eventos como jogos de futebol, grandes shows e etc.. Hoje, não consigo enxergar jogos em Pernambuco sem a proteção da competente tropa de Choque da Polícia Militar de Pernambuco, dentro e fora dos estádios (Paulo José Bandeira de Vasconcelos, empresário, bacharel em Ciências Contábeis, Diretor Administrativo/Financeiro da NE Segurança Privada).

2.3. RECOMENDAÇÕES GERAIS SOBRE OS ESTÁDIOS DE PERNAMBUCO

Conforme observado nas sessões anteriores, os estádios de Pernambuco contam com uma série de fragilidades do ponto de vista de sua estrutura, bem como um conjunto de vulnerabilidades referentes à organização geral do pessoal, e a insuficiência da segurança pública para atender eventos com grandes multidões. A segurança privada, nesse sentido, tem sido insuficiente e desqualificada, sendo necessário melhor uso dessa força. Segundo 55

Dickie(1995), quatro fatores principais levam a desastres em eventos com multidão e confinamento relativo, como é o caso dos estádios de futebol:

a) Planejamento inadequado; b) Multidão excitada; c) Ausência de gestão de multidão e controle; d) Falha ou risco no ambiente.

Apenas um desses itens é de difícil contorno no contexto brasileiro: a excitação da multidão. Considerando que os ânimos acirrados, a paixão exacerbada e o forte contexto competitivo são partes fundamentais do futebol-espetáculo, cabe aos gestores dos eventos, conforme argumentado anteriormente, prover os demais itens apontados. Assim, a segurança privada, em consonância com a segurança pública, deve ser um reflexo de um sistema misto de segurança, caracterizado pela utilização de pessoal treinado, equipamentos em pleno funcionamento, seguindo normas e procedimentos específicos. A seguir, expomos uma série de recomendações, nesse sentido, para os estádios de Pernambuco.

2.3.1. Sugestões de uma esquematização da segurança privada em diversas áreas da Arena Pernambuco

Imagem 33–Exemplo de espaço de dispersão de torcedores no lado externo ao estádio Arena Pernambuco.

Fonte: Portal Uol Notícias.

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Imagem 34 –Exemplo de disposição de torcedores em fila, com auxílio de barreiras físicas para organização de bilheteria, na Arena Pernambuco.

Fonte: Portal Uol Notícias.

Imagem 35 – Projeção da utilização de segurança privada ativa em atividade preventiva, procedendo à revista de torcedores durante o acesso ao estádio. Fonte: Do Autor.

57

Imagem 36 – Projeção da utilização de segurança privada ativa em atividadepreventiva, distribuída de maneira estratégica nos setores do estádio.

Fonte: Do Autor.

Imagem 37 – Projeção da utilização de segurança privada ativa em atividadepreventiva, distribuída de maneira estratégica nos setores do estádio. Fonte: Do Autor.

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Imagem 38 – Projeção da utilização de segurança privada ativa em atividadepreventiva, distribuída de maneira estratégica nos setores do estádio.

Fonte: Do Autor.

Imagem 39 – Projeção da utilização de Segurança Privada ativa em atividadepreventiva, controle de acesso ao estádio. 59

Fonte: Do Autor.

Imagem 40 – Projeção da utilização de segurança privada ativa em atividadepreventiva, realizando rondas no interior do estádio.

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Fonte: Do Autor.

Imagem 41 – Proposta de equipamento de comunicação a ser utilizado pela segurança privada, com seus componentes e a Polícia Militar.

Fonte: Portal Segurança Privada do Brasil.

Imagem 42 – Proposta de Colete a ser utilizado pelos seguranças no interior do estádio.

Fonte: Portal Segurança Privada do Brasil.

2.3.2. Sugestões de Operacionalidade (Sistema de comunicação via imagem e rádio Vídeo monitoramento – Aplicação das TICS

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Conforme argumentamos anteriormente, a segurança privada deve ser um reflexo de um sistema misto de segurança, caracterizado pela utilização de pessoal treinado, equipamentos em pleno funcionamento, seguindo normas e procedimentos específicos. Nesse contexto, é fundamental o planejamento adequado das ações conjuntas com a Segurança Pública, a perfeita gestão da multidão, e a minimização de fatores ambientais de risco. Para cada estádio,deve-se realizar procedimento-padrão e customizado, isto é, aplicado segundo a planta de cada campo dos respectivos clubes. Importante frisar também que, para cada evento de grande, médio e pequeno porte, haverá um número proporcional de coordenadores de segurança, que irão interagir com a PM e grupo de vigilantes escalados no evento e, ainda, supervisores de segurança para cada ala onde os vigilantes estarão plotados nos seus respectivos postos. É fundamental também constar uma equipe para dar o apoio logístico aos profissionais escalados nos seus postos de serviços, com a finalidade de suprirem os mínimos necessários e eventuais saídas, como suprimento de água, saída à toalete, etc. A segurança pública – diga-se o Estado – tem o dever legal de assegurar e criar condições para que os espaços públicos sejam um ambiente de bem-estar social. Sua força ostensiva encontra guarida na própria Constituição Federal, como meio de manter a ordem social.O dispositivo constitucional é claro, ao dizer que a segurança pública é dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, e é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, por meio dos seguintes órgãos: Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal, Polícia Ferroviária Federal, Polícias Civis, Polícias Militares e Corpos de Bombeiros Militares. Por seu turno, a Portaria n° 387/2006 – DG/DPF, com as alterações introduzidas pela Portaria nº 515/2007 – DG/DPF, estabelece, entre as atividades de segurança privada, o emprego em eventos sociais, bem como permite a escolta armada e a segurança de pessoas:

Art. 1º, § 3°. São consideradas atividades de segurança privada:

I - vigilância patrimonial – atividade exercida dentro dos limites dos estabelecimentos, urbanos ou rurais, públicos ou privados, com a finalidade de garantir a incolumidade física das pessoas e a integridade do patrimônio no local, ou nos eventos sociais; [...] III - escolta armada – atividade que visa garantir o transporte de qualquer tipo de carga ou de valores, incluindo o retorno da guarnição com o respectivo armamento e demais equipamentos, com os pernoites estritamente necessários; 62

IV - segurança pessoal – atividade de vigilância exercida com a finalidade de garantir a incolumidade física de pessoas, incluindo o retorno do vigilante com o respectivo armamento e demais equipamentos, com os pernoites estritamente necessários; [...]

Art. 13. A atividade de vigilância patrimonial somente poderá ser exercida dentro dos limites dos imóveis vigiados e, nos casos de atuação em eventos sociais, como show, carnaval, futebol, deve se ater ao espaço privado objeto do contrato.

Imagem 43– Proposta de fluxo de interação entre segurança privada e pública.

UNIDADE DE SEGURANÇA CCOS ESTÁDIO VIGILÂNCIA MÓVEL-ESTÁDIO

CCOS/CFTV EMPRESA

POLÍCIA MILITAR

Fonte: Do Autor.

Para que a segurança seja exercida na qualidade de direito fundamental, é preciso a sistematização das ações de segurança pública e privada, que cada instituição conheça os limites de suas atribuições e as exerça de forma efetiva, pois só haverá integralização de ações se houver o objetivo claro, das instituições responsáveis pelo futebol pernambucano, em prestar um serviço de qualidade, no qual a segurança seja vista como um bem de todos. Buscando essa integralização, as pesquisas de campo apresentaram os seguintes resultados: 63

a) É consenso entre os entrevistados que há necessidade de uma parceria maior entre segurança pública e privada e que isso só traria benefícios para os torcedores. A presença da segurança pública nesses locais deveria ser restrita ao mínimo necessário para atuar em situações extremas, em que a segurança privada não tivesse capacidade para intervir. A participação reduzida da Policia Militar, dentro dos estádios, viabilizaria uma intensiva atuação preventiva, e, se necessário, repressiva, dos agentes de segurança pública no entorno, criando as condições necessárias para reduzir a possibilidade de ações de grupos marginais, que teriam a ampla possibilidade de serem barrados, ou mesmo dissuadidos em suas intenções, ainda no perímetro externo. b) Necessidade de conscientizar o setor privado, idealizador de grandes eventos, da sua responsabilidade com a segurança daqueles que integram diretamente o evento. A segurança interna dos campos de futebol deveria ser, em sua maior medida, de responsabilidade dos Clubes, que deveriam investir em material específico e na contratação de pessoal qualificado para exercer tal mister; c) A falta de implementação de instrumento jurídico que viabilize a parceria público- privada em eventos de grande porte que vise a prestação de segurança. Há lacunas na legislação, falta efetivo suficiente na Polícia Federal para fiscalizar todas as empresas especializadas em segurança privada, tudo isso coopera para a miopia da Administração Pública que não enxerga a importância de uma parceria público e privada na segurança. d) Necessidade de apresentação de planejamento que identifique pontos vulneráveis e soluções para sanar essas falhas. Na Copa do Mundo 2014, os Jogos Olímpicos, esses grandes eventos, contaram com a imprescindível presenças das Forças Armadas –FFAA, foi incrementada a participação maior da segurança privada no interior dos estádios e dos agentes de segurança pública no entorno, tudo isso de forma coordenada e integrada, demonstrando ser essa boa prática internacionalmente utilizada a melhor solução para o problema. e) Necessidade de plano de comunicação (áudio e vídeo) ágil e inteligência entre todos os setores envolvidos. Investimentos em tecnologia possibilitam uma melhor prestação no serviço de segurança, seja ela pública ou privada. A segurança do torcedor, deve ser a principal preocupação, tanto dos responsáveis pelos estádios de futebol, quanto dos responsáveis pela segurança pública do evento, que devem agir de forma coordenada e integrada. Desta forma é indispensável que os responsáveis pela organização dos jogos de futebol invistam numa estrutura operacional que integre todos os setores responsáveis pela segurança. Um sistema de comunicação (áudio e vídeo) promove agilidade nas informações e contribui para uma tomada de decisão ágil e cuidadosa. Tal sistema ainda é ferramenta 64

indispensável na identificação de atos ilícitos e seus agentes. Vê - se, assim, que a prestação da segurança nos estádios pode ser feita com maior facilidade, rapidez e cuidado durante cada processo de intervenção, se necessário.

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3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

No Brasil, a segurança privada surge no final da década de 1960, inicialmente para atender a demanda por segurança nos bancos e, posteriormente, expandindo-se, pouco a pouco, a uma série de setores e uma infinidade de atividades. Reguladas pelo Ministério da Justiça, por meio do Departamento da Polícia Federal, tem exercido papel fundamental na complementação da segurança de diversos tipos de espaço, sobretudo nos espaços considerados semipúblicos (shoppings centers, centros de exposições, casas de eventos e espetáculos diversos, e os estádios de futebol). Nesse contexto, embora a função de segurança pública seja exclusiva do Estado, a segurança privada deve complementar e auxiliar as funções estatais de maneira integrada. No caso específico dos estádios de futebol, é ela ainda mais necessária, tendo em vista a regularidade dos eventos, o quantitativo de pessoas envolvidas, e os acentuados aspectos emocionais e culturais presentes nas torcidas e no esporte como um todo. A segurança privada, portanto, não é concorrente da segurança pública.Contudo, a atuação da segurança pública e privada requer um conjunto de ações integradas e complementares. A responsabilidade da segurança pública é indelegável, mas ela pode ser exercida de forma conjunta e planejada. Tal realidade é possível se todos os envolvidos na realização dos jogos em Pernambuco compreenderem que a segurança é de responsabilidade de todos. Conforme visto anteriormente, os estádios brasileiros e, especialmente os de Pernambuco, são estruturas antigas, construídos há mais de 20 anos, quase sempre apresentando um conjunto de vulnerabilidades. A observação direta identificou tais vulnerabilidades, sendo uma parte referente a aspectos físicos e estruturais dos estádios, enquanto outra parte se refere à má distribuição e uso das forças privadas em complementação à segurança pública. Também nas entrevistas ficou evidente a necessidade de se ampliar a utilização de segurança privada nos estádios. Para diversos entrevistados, os clubes de futebol poderiam intensificar sua margem de participação no contexto da segurança preventiva, disponibilizando melhor controle e ordenamentos de seus estacionamentos e ampliando a contratação da segurança privada.

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Por fim, foram feitas algumas recomendações para melhoria da segurança nos estádios, com projeções reais da utilização da segurança privada, de barreiras físicas para ordenamento da multidão, bem como de equipamentos e ferramenta de gestão integrada entre segurança privada e pública. Dessa maneira, a segurança privada não serve para substituir o dever do Estado de garantir segurança aos cidadãos, mas só quando o poder público reconhecer suas limitações e compreender que segurança privada pode ser uma ferramenta de grande valia nas execuções de políticas públicas é que poderemos encontrar saídas mais criativas e menos dispendiosas para a atender ao clamor social por segurança. Por outro lado, o resultado do presente trabalho apresenta-se como fonte de estudo para aprimoramento da questão em futuros trabalhos que porventura sejam realizados e um desafio para aqueles que realizam grandes eventos, pois tais acontecimentos precisam se aperfeiçoar através de uma logística que apresente a segurança privada como elemento complementar à segurança pública contribuindo para a dignidade daqueles que frequentam os estádios de futebol. Desta forma, especificamente sobre o assunto em debate, diminuirá a carência de fontes de pesquisa que abordem o tema. No tocante à segurança privada, as suas ações de expansão e sua importância para um sistema integrado de segurança parecem ser pontos incontroversos, é justo e premente que atue em conjunto com o estado para a prestação de segurança, retirando a sobrecarga dos órgãos estatais na prevenção de violência.

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4. REFERÊNCIAS

ALMEIDA, João Luís Pereira de.Gestão de Eventos Desportivos: O Controlo de Multidões e os seus intervenientes na Segurança dos Estádios. 2013. 80 f. Dissertação (Mestrado em Gestão do Desporto) - Universidade Técnica de Lisboa, Lisboa. 2013. Disponível em: https:. Acesso em: 05 nov 2016.

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NETO, Cláudio Pereira de Souza. Comentário ao artigo 144º.In: CANOTILHO, J. J. Gomes; MENDES, Gilmar F.; SARLET, Ingo W.; STRECK, Lenio L. (Coords.). Comentários à Constituição do Brasil. São Paulo: Saraiva/Almedina, 2013. pp.624-625.

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ZANETIC, A. A questão da segurança privada: estudo do marco regulatório dos serviços particulares de segurança. 2005.

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ZIRPOLI, C. Vítima fatal na violência sem controle do futebol pernambucano. Portal Diario de Pernambuco, 3 maio 2014.

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APÊNDICE

A. Instrumento de Pesquisa

AVALIAÇÃO A DISTANCIA 2 – AD2

Nome do estudante: CLEANO LIMA ALVES

AD2 – PREPARAÇÃO DA COLETA DE DADOS

Após a conclusão do projeto de pesquisa, é o momento de pôr em prática o que foi planejado, a começar pela coleta de dados. Para isso, elabore o(s) instrumento(s) de coleta de dados: roteiro de entrevista, questionário, roteiro de observação, roteiro de análise de documentos e/ou de bibliografias etc., a partir do que foi definido no item “metodologia” de seu projeto de pesquisa. A fim de cumprir o previsto no projeto de pesquisa, este aluno inicialmente elaborou um roteiro de questionário. Após sua consolidação e respectiva aprovação pelo orientador, será ele aplicado junto aos profissionais da área de segurança privada e pública que atuam ou já atuaram nos jogos de futebol nos estádios em Pernambuco. Dessa forma, a proposta inicial para o questionário é a seguinte:

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UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA

PESQUISA DE CAMPO PARA TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

TEMA: O PAPEL DA SEGURANÇA PRIVADA E AS CONTRIBUIÇÕES DE UMA PARCERIA ENTRE AS SEGURANÇAS PÚBLICA E PRIVADA PARA A SEGURANÇA NOS JOGOS DE FUTEBOL EM PERNAMBUCO

1. REFERÊNCIA

Ilustríssimo amigo, oportunamente colaborador, diante do objetivo de subsidiar o Trabalho de Conclusão de Curso de CLEANO LIMA ALVES, aluno do Curso de Especialização do Curso de Pós-Graduação em Segurança Privada, da Universidade do Sul de Santa Catarina, convido o prezado a colaborar, com sua expertise, para a construção deste projeto de pesquisa.

2. INFORMAÇÕES

Prezado colaborador, com o intuito de facilitar o entendimento dos objetivos do presente trabalho de pesquisa, bem como de auxiliá-lo nas respostas dos itens, seguem algumas informações acerca do tema em questão. Estamos assistindo a uma crise no sistema de segurança brasileiro, retratada especialmente no Estado do Espírito Santo. Tal situação afeta a segurança em todos os níveis da sociedade e (não podia ser diferente) na segurança nos estádios de futebol. No dia 12 de janeiro de 2017, no clássico carioca Flamengo vs Botafogo, o time do Botafogo ameaçou não entrar em campo devido à insegurança na qual se encontrava, pois a Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro ameaçava uma paralisação.

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Tal insegurança atinge as pessoas envolvidas diretamente e indiretamente em grandes eventos, além de promover uma reflexão sobre o papel da segurança privada e as contribuições de uma parceria entre as seguranças pública e privada nos jogos de futebol, de forma específica, em Pernambuco. Uma ótica pragmática deve perceber que a segurança privada não é concorrente da segurança pública. Conquanto esteja presente no caput do art. 5º da Constituição Federal, não podemos interpretar o princípio do direito à segurança como sendo apenas segurança pública, isso devido a seu caráter multidimensional. De acordo com Cláudio Pereira de Souza Neto (2013),7in verbis:

A segurança, como vários outros princípios constitucionais, é multidimensional, exercendo diversas funções em diferentes contextos, e se especializando em múltiplos subprincípios, que vão da irretroatividade da norma tributária à anualidade das regras eleitorais. Tais subprincípios, contudo, subsumem-se a três categorias básicas: estabilidade, previsibilidade e ausência de perigos.

O princípio da segurança, quando se apresenta sob a forma de ausência de perigos, deve ser entendido como sendo, neste caso, segurança pública.E, como tal é dever do Estado e responsabilidade de todos, conforme se verifica na leitura do artigo 144 da Carta Constitucional. A atuação estatal por meio de políticas públicas tem o condão de garantir um ambiente de bem-estar,que só é possível se garantida a segurança prevista naquela Carta. Para isso, o Estado precisa voltar seus olhos para a segurança privada, enxergando-a não como uma concorrente, mas como uma parceira na consecução de sua missão constitucional. A segurança privada jamais poderá substituir o dever do Estado de garantir segurança aos cidadãos. Mas só quando o poder público reconhecer suas limitações e compreender que segurança privada pode ser uma ferramenta de grande valia nas execuções de políticas públicas é que poderemos encontrar saídas mais criativas e menos dispendiosas paraatender o clamor social por segurança. Mesmo sem um ambiente de instabilidade, a segurança pública, embora presente nos estádios, não tem sido suficiente para coibir os atos de bestialidades cometidos por aqueles que se dizem apaixonados pelo futebol.

7 NETO, Cláudio Pereira de Souza. Comentário ao artigo 144º.In: CANOTILHO, J. J. Gomes; MENDES, Gilmar F.; SARLET, Ingo W.; STRECK, Lenio L. (Coords.). Comentários à Constituição do Brasil. São Paulo: Saraiva/Almedina, 2013. p.624-625. 72

3. QUESTIONÁRIO

Prezado, ante o exposto, espero sua contribuição, que será de suma importância na formação deste projeto. Respondendo as questões abertas e fechadas, o senhor estará contribuindo para a formação do conhecimento e, quiçá, ajudando a contribuir para a melhoria da segurança que atua nos estádios de futebol em Pernambuco. Nas questões abertas, não se limite aos espaços indicados, pois é só uma sugestão. No final desta pesquisa, será disponibilizado ao(à) senhor(a) um espaço para informações adicionais sobre os questionamentos, a ser preenchido a critério do pesquisado. a) A segurança nos jogos de futebol em Pernambuco seria mais eficiente se todo o efetivo Militar, que fica dentro dos estádios, estivesse também presente nas ruas em torno dos estádios e dentro dos campos estivessem presentes agentes de segurança privada, capacitados para atuarem em grandes eventos.

() Concordo integralmente () Concordo parcialmente ()Discordo integralmente () Discordo parcialmente

Comentários cabíveis: ______

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b) A presença dos “Flanelinhas” em torno dos estádios de futebol, muitas vezes coagindo os torcedores ao pagamento adiantado de valores absurdos com a promessa de “guardarem” os carros, favorece a sensação de insegurança. Isso é um reflexo da falta de policiamento nas ruas durante os jogos.

() Concordo integralmente () Concordo parcialmente () Discordo integralmente () Discordo parcialmente

Comentários cabíveis: ______c) Recentemente, o Brasil foi palco de grandes eventos. Alguns foram esportivos, como os Jogos Mundiais Militares de 2011, a Copa das Confederações em 2013, a Copa do Mundo de Futebol FIFA 2014 e os Jogos Olímpicos e Paralímpicos de 2016. Especialmente na Copa do Mundo e nos Jogos Olímpicos, por meio das transmissões desses eventos, foi perceptível a presença dos agentes de segurança privada? E quanto às forças de segurança pública, elas eram perceptíveis dentro ou fora dos locais dos grandes eventos?

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Comentários cabíveis: ______d) Se o(a) senhor(a) foi ao estádio de futebol nos últimos dois anos, como avalia os seguintes temas?

Considere: 1 = péssimo 2 = ruim, 3 = regular, 4 = bom e 5 = ótimo

( ) Quantidade de policiais nas ruas em torno do () Mobilidade dentro dos estádios. jogo. ( ) Identificação dos agentes de segurança () Segurança privada nos locais de entrada. dentro dos estádios. () Quanto à segurança para estacionar. () Agentes de segurança privada nas () Sensação de segurança na ida e volta do jogo. arquibancadas. () Quanto à presença de torcidas organizadas. e) O artigo 1°-A do Estatuto do Torcedor diz:“A prevenção da violência nos esportes é de responsabilidade do poder público, das confederações, federações, ligas, clubes, associações ou entidades esportivas, entidades recreativas e associações de torcedores, inclusive de seus respectivos dirigentes, bem como daqueles que, de qualquer forma, promovem, organizam, coordenam ou participam dos eventos esportivos”. Como a responsabilidade pela segurança é dever de todos, o Estado de Pernambuco deveria exigir um maior investimento em segurança por parte dos clubes de futebol na realização dos jogos.

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() Concordo integralmente () Concordo parcialmente () Discordo integralmente () Discordo parcialmente

Comentários cabíveis: ______f) O artigo 2o do Estatuto do Torcedor define torcedor como toda pessoa que aprecie, apoie ou se associe a qualquer entidade de prática desportiva do país e acompanhe a prática de determinada modalidade esportiva. Em sua opinião, existe uma preocupação com a segurança do torcedor que frequenta os estádios de futebol?

Comentários cabíveis: ______

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g) A segurança privada jamais poderá substituir o dever do Estado de garantir segurança aos cidadãos, mas pode contribuir de forma significativa nas realizações dos jogos de futebol em Pernambuco, especialmente no que diz respeito à segurança interna dos estádios, abrindo espaço para uma maior participação da Polícia Militar nos arredores dos campos.

() Concordo integralmente () Concordo parcialmente () Discordo integralmente () Discordo parcialmente

Comentários cabíveis: ______

4. INFORMAÇÕES ADICIONAIS ______77

TÉRMINO – Muito obrigado.

O objetivo deste questionário é a obtenção de uma amostra do tipo não-probabilística, realizada com agentes da segurança pública e privada, para fomentar o conhecimento científico, na produção do projeto de pesquisa, que aponte o papel da segurança privada e as contribuições de uma parceria entre as seguranças pública e privada para a segurança nos jogos de futebol em Pernambuco.

ROTEIRO DE CONSULTA/ANÁLISE A DOCUMENTOS

Com o objetivo de aprofundar o conhecimento e contribuir para uma visão holística da segurança pública, debruçamo-nos sobre o tema do projeto, buscando contribuir para tornar claras a importância e as contribuições da segurança privada para os jogos de futebol em Pernambuco. Para isso, é mister estabelecer um diálogo com outros pensadores que já contribuíram direta e indiretamente com o tema em apreço. Seguindo nessa direção, consultar dissertações e outros trabalhos acadêmicos, particularmente lato sensu, que já abordaram a temática sob um ângulo pertinente ao presente trabalho, é tarefa primordial. As regras gerais da FIFA sobre segurança nos estádios de futebol trouxeram um novo modelo de expansão da segurança privada no Brasil, e buscar nessas fontes o arcabouço necessário ao desenvolvimento do tema proposto é outro dos desafios, seguido da pouca bibliografia direta sobre a pesquisa. No entanto, acreditamos que a pesquisa explicativa, somada àexpertise dos profissionais consultados e eventuais dados novos que também que serão buscados, considerando que o conhecimento tem-se desenvolvido e multiplicado em uma velocidade nunca vista antes, contribuíram para construir uma argumentação sólida e sustentável na defesa do tema proposto.

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B. Número de ocorrências policiais nos estádios de Pernambuco. 2015-2017 (até abril)

ARENA PERNAMBUCO ARRUDA ILHA DO RETIRO 2015 2016 2017 2015 2016 2017 2015 2016 2017 AGRESSÃO / VIAS DE FATO 4 0 0 0 0 0 3 0 2 APOLOGIA À VIOLÊNCIA 0 0 1 0 1 9 0 1 0 ARREMESSO DE OBJETO NO CAMPO 0 0 0 0 0 0 0 1 0 ATENTADO VIOLENTO AO PUDOR 0 0 0 0 0 0 0 0 1

ATITUDE SUSPEITA / CAMBISMO / CIRC. DE MOEDA FALSA / TRÁFICO 3 0 0 1 2 0 1 0 0 DE DROGAS / FALSIDADE IDEOLÓGICA

COMÉRCIO DE BEBIDA ALCÓOLICA 3 0 0 0 0 0 0 0 0

CONDUTA INCOVENIENTE / PROVOCAÇÃO DE TUMULTO 104 41 1 6 14 4 2 37 4

CONSUMO DE BEBIDA ALCÓOLICA 1 0 0 1 0 0 3 0 0 DANO AO PATRIMÔNIO 0 1 0 0 0 0 0 1 0

DESACATO / RESISTÊNCIA / LESÃO CORPORAL / DESOBEDIÊNCIA 1 3 0 5 3 0 3 4 1

FURTO (CVP) 1 0 0 0 0 0 0 0 0 INVASÃO DE CAMPO 0 8 0 2 0 0 0 0 0 PORTE DE ARMA BRANCA 0 0 0 1 0 0 0 0 0 POSSE DE DROGAS 26 4 5 10 2 2 3 18 3 total 143 57 7 26 22 15 15 62 11 Fonte: Batalhão de Choque Recife/PE.