Fundação e Emancipação de Pires do Rio (1922 - 1930)

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JOÃO ALBANO NETO

CAPA: João Batista de Souza Planeta Arte Comunicação Visual

DIGITAÇÕES: Agenor de Castro Moreira dos Santos. José Lourenço Lemes. Glênio José Martins.

REVISÃO: Sandra Rosa (Goiânia)

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Pires do Rio cidade planejada.

Fundada em 09 de Novembro de 1922

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Neste livro o autor mostra para você o esquecimento de pessoas, o nome de tantos que lutaram pela vida desta cidade e hoje eles não existem mais entre nós.

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AGRADECIMENTO

Agradeço a todos os amigos que empenharam seus esforços, colaborando com este trabalho da história de Pires do Rio, deixando suas marcas gravadas no crescimento da cultura de nossa cidade. Contribuindo, portanto, para a restauração e a preservação de valores históricos, que ficarão para sempre o conhecimento das futuras gerações, que terão o privilégio de conhecer e se deliciar com a realidade, ou seja, a consolidação de um desejo, que culminou na fundação da nossa tão querida Pires do Rio. ______/ / ______

A Estrada de Ferro é um respeito para o povo de Goiás, a capacidade realizadora do povo goiano que sabe agradecer as dificuldades que a natureza colocou no seu caminho, mas dia 09 de Novembro de 1922 o trem chegou e nasceu a nossa querida Pires do Rio, a Terra dos Beija-Flores.

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O autor.

HOMENAGEM PÓSTUMA

Esta obra é, também, uma homenagem aos que se empenharam na fundação de Pires do Rio: os Senhores Manoel Nogueira, Luciano Félix de Souza, Lino Teixeira Sampaio, Cosme José Nascimento e Dr. Balduíno Ernesto de Almeida. Seus nomes serão sempre lembrados por nós e aqueles que deles tomarem conhecimento da história.

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PREFÁCIO

Já que foi concedida a este modesto escriba a honra e, sobretudo, a agradável tarefa de prefaciar este minucioso trabalho histórico, todo ele dedicado à nossa querida PIRES DO RIO, é forçoso deixar claro que o seu autor é um autêntico e brilhante autodidata, isto é, não possui formação escolar completa, fato este que é fartamente compensado pela sua brilhante memória. Este detalhe, no entanto, aparecerá em toda extensão desta primorosa obra, em momento diversos com o efeito singular de abrilhantá-la ainda mais. Vejamos, por exemplo, o nome escolhido para a nossa cidade, o qual por falta de informação, ainda hoje inúmeros piresinos, jovens e adultos, ignoram o seu real e histórico sentido, levando-os a acreditar que estivesse relacionado ao rio que banha parte do nosso município, mas ver- se-á naquele estudo, que a feliz escolha obedeceu a princípios bem mais nobres. Vale ressaltar que todo o conteúdo daquele trabalho foi obtido graças a um intenso e laborioso estudo junto às fontes confiáveis de literatura então existentes – escassas diga-se de passagem – e também, na sua grande maioria através de pessoas de renome,

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bem informadas, as quais participaram direta ou indiretamente em prol da edificação desta pujante cidade de Pires do Rio!!! Ressalte-se ainda, ao final deste modesto (e prolixo) trabalho, que todas aquelas pessoas acima mencionadas, já não pertencem mais à classe dos seres viventes. Deram, cada uma a sua cota de participação e, simplesmente... PARTIRAM!

Pires do Rio, 12 de Março de 2014.

Carlos José.

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Ponte “Presidente Epitácio Pessoa” Sobre o Rio Corumbá – Inaugurada em 13.07.1922 Pires do Rio (GO)

Ponte do Rio Corumbá entregue ao trânsito ferroviário

em 13 de julho de 1922, posteriormente, colocada à disposição

no trânsito rodoviário e dos tropeiros e carreiros.

A ponte Presidente Dr. Epitácio Pessoa hoje vive no esquecimento total.

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6º BC – setembro de 1.922- Porto “Roncador”. Por ocasião da transferência do quartel de Goiás para .

De pé, da esquerda para direita: 2º Jose Antônio Pereira 4º João Batista da Costa 7º Major Urandy Pirami (Comandante do Batalhão).

Em junho de 1.922, o Governador de Goiás Dr. Eugênio Jardim embarcou em Porto do Roncador para o Rio de Janeiro. Em rápidas palavras anunciou que em breve o 6º Batalhão de Caçadores seria transferido da cidade de Goiás para Ipameri. No início de setembro do mesmo ano, o Major Urandy Pirami, Comandante do 1º grupamento do referido Batalhão, após realizar uma caminhada de 60 léguas, pernoita no Porto do Roncador. No dia seguinte o grupo embarcou no trem com destino a Ipameri, instalando-se nesse município no dia 07 de setembro de 1.922.

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Pires do Rio “10 Anos de História. “Fundação e Emancipação”

João Albano Neto

O rápido avanço da Estrada de Ferro Goyaz, através do território goiano, trazia consigo o desenvolvimento e o progresso em sua região sudeste, fazendo surgirem, ao longo de seu trajeto, vilas e povoados que logo se transformariam em cidades. Assim, também, nasceu Pires do Rio, com a chegada da Ferrovia. Como outras tantas que surgiram com a chegada dos trilhos, era um sonho realizado pelo Diretor da Estrada de Ferro Goyaz, Dr. Balduíno Ernesto de Almeida. Quando por ocasião da visita do Ministro da Viação e Obras Públicas, Dr. José Pires do Rio, ao Porto do Roncador, Dr. Balduíno anunciou em seu discurso de agradecimento, que a primeira estação após a ponte do rio Corumbá teria o nome de “Pires do Rio” em homenagem ao ministro ali presente e disse ter certeza de que um dia iria surgir ali uma cidade. Dr. José Pires do Rio, que se encontrava presente, sensibilizado, retribuiu com palavras de

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agradecimento. Estava feliz em saber que o seu nome iria constar na plataforma de uma Estação da Estrada de Ferro Goyaz e pediu que agilizassem com urgência a montagem da Ponte. No dia 13 de julho de 1922, com menos de um ano do reinício das obras da ponte metálica que recebeu o nome de presidente Dr. Epitácio Pessoa, em homenagem ao então presidente da República, foi liberado o tráfego das locomotivas pertencentes à Estrada de Ferro, assegurando o livre trânsito das locomotivas. Em breve, a Estação Pires do Rio seria inaugurada. No início de outubro de 1922, Dr. Balduíno anunciou que a inauguração da estação e do Obelisco seria no dia 9 de novembro próximo, e essa data já estava marcada. Com essa notícia, os moradores do Roncador começaram a mudar para a Estação Pires do Rio, as primeiras mudanças se deram com as casas noturnas ao lado direito da estação, transformando em uma vila de barracos que era conhecida como “Rua do Fogo”. Na Praça da Estação já residia Manoel Coletor e Olinto Coletor, ambos eram carreiros. Manoel Cavalcanti Nogueira (Maneco) tinha uma boa casa de comércio ao

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lado da estação, era dono de uma frota de carros de boi, transportava mercadoria do Porto do Roncador para Santa Cruz e até Pouso Alto, hoje . Luciano Félix de Souza era gerente de um posto do Banco Hipotecário e Agrícola de Minas Gerais, no Porto do Roncador, em seguida, deixa o banco e monta um comércio de secos e molhados no arraial. Lino Teixeira Sampaio e Cosme José do Nascimento eram fazendeiros. Dr. Balduíno mandou os pedreiros da Ferrovia construírem o Obelisco, o marco comemorativo de fundação de Pires do Rio, na frente da casa do Sr. Maneco. O amanhecer de 9 de novembro de 1922 anunciava um belo dia, como de verão, com céu limpo, um grande movimento de gente em frente à estação, cavaleiros de todos os lados, Santa Cruz, Campo , Pouso Alto, Bonfim (Silvânia) e fazendeiros da região. Às 15 horas só se via cavalo amarrado no cerrado, o tempo estava muito nublado, escurecendo antes da hora e começou a chover, quando se ouviu o barulho da máquina, muito distante. Um apito, de repente, deixou o povo admirado, e o trem continuou apitando enquanto se aproximava. O povo, em coro, gritava: - Obrigado, Dr. Balduíno!

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Os cavalos que estavam amarrados por todos os lados, ficaram assombrados com o barulho e o apito do trem e arrebentaram os freios correndo pelo cerrado afora, fazendo seus donos correrem atrás, foi outra festa. À noite muitas pessoas foram procurar abrigo na estação, porque chovia e não conseguiram alcançar seus animais de montaria que haviam fugido. Eram exatamente 16h30 quando o trem chegou à estação de Pires do Rio. Dentro dele, destacavam-se os senadores Ramos Caiado e Adolfo Teixeira, o Dr. Balduíno de Almeida, o Dr. Eugênio Guimarães, o Dr. Álvaro Paca, Manoel Cavalcanti Nogueira, Luciano Félix de Souza, Cosme José do Nascimento, Lino Teixeira Sampaio e Saulo Palmerston Guimarães, além de grande número de pessoas que foram até o Roncador para voltarem no trem. Como chovia muito naquela tarde, não houve nenhum tipo de comemoração, apenas o Dr. Balduíno gritou: “Pires do Rio nasceu!”, e o povo aplaudiu. Junto ao Obelisco, falou o farmacêutico Saulo Palmerston Guimarães, saudando o Dr. Balduíno de Almeida, a comitiva e os demais presentes à solenidade.

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N.A: registre-se que em 1965 pessoa não identificada, na calada da noite, tentou destruir à marteladas parte daqueles registros históricos da mais alta relevância. O Sr. Tobias Diogo, comerciante respeitável, radicado naquela região, teve seu sono interrompido pelo ruído de marteladas e assomou à janela ao tempo de aos brados impedir a consumação daquele ato de vandalismo, afugentando o individuo que evadiu-se do local.

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09 de novembro de 1922 Permitido o livre trânsito de locomotivas na Ponte Presidente Epitácio Pessoa, no Rio Corumbá, para a Estação de Pires do Rio.

A inauguração da Estação e do marco de fundação de Pires do Rio não teve a presença do

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governador de Goiás. Em 1922, foi ano de mudança do chefe do Executivo goiano. Eugênio Rodrigues Jardim passou o comando para Miguel da Rocha Lima. Isso pode ter impedido a presença do governador. Contudo, acreditamos mais nas dificuldades do meio de transporte entre Goiás e o Porto do Roncador. O dia 10 de novembro de 1922 amanheceu chovendo, mas o tráfego da Estrada de Ferro funcionava normalmente, com os trens chegando e saindo para Araguari (MG). Os dois trens que trafegavam da Estação Roncador para Araguari, um de passageiros com primeira e segunda classes, e outro misto, passageiros e cargas, saíram a partir desse dia, da Estação de Pires do Rio. Dr. Balduíno chegou cedo à Estação, trazendo uma notícia muito boa para o povo: aqueles que quisessem se mudar da estação do Roncador para a nova estação, as pranchas da Estrada de Ferro Goyaz estariam à disposição, a partir dessa data, sem nenhuma despesa de transporte. Aí começou a demolição total do povoado de Roncador.

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O Porto paralisou, os canoeiros encostaram suas canoas, e o Porto e o povoado entraram em crise até o desaparecimento total. No início do mês de dezembro do ano de 1922, o novo arraial, Pires do Rio, crescia rapidamente e, em pouco prazo, cercou a Estação da Estrada de Ferro, as pranchas da Estrada de Ferro, os carreiros e as tropas transportavam as mudanças do Porto do Roncador, dia e noite. Dr. Balduíno de Almeida sentia-se feliz com o crescimento do povoado. Havia sido determinado que Dr. Álvaro Paca desenhasse a planta da nova cidade, mas o povo não esperou, invadiu toda a área da Estação. Dr. Balduíno pediu com todo empenho que se reservasse a Praça da Estação para ser construída uma escola, mas chegou a certo ponto que não podia obedecer à planta do engenheiro. A primeira rua instalada no arraial Pires do Rio foi a Rua do Fogo, pelas casas noturnas ao lado direito dos trilhos, onde havia grande movimento, sendo comandada por uma senhora que era conhecida por Maria Rosa, uma

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pessoa muito honesta, que tinha muita amizade no bairro, esposa de Salvador Machado, mãe do Divino Machado. A segunda rua fundada foi a Rua da Estação, hoje conhecida por Francisco Rodrigues Naves. Lá se instalaram Luciano Félix de Sousa, Antônio Jorge, João Rassi, Amim Rassi, José Cury, Michel Taham e Saba Taham. A terceira foi a Rua do Comércio, hoje Avenida Castelo Branco, sendo os primeiros comerciantes: Elias Ignácio Bufaiçal, David Abdala, Aristóteles Lacerda, Antônio Abraão e Helias Helou. Outros comerciantes foram para a Rua do Fogo, atraídos pelo movimento: Elias Daguer, Cecílio Abrão, Abrão Cecílio, José Skaf, Abdala David e Miguel Abraão, que era carroceiro, pai do saudoso Issa Miguel. Foi uma correria à procura de local para se instalar no arraial. De certa forma, porém, a situação foi se agravando, não ficando como Dr. Balduíno desejava. O povo não esperou a hora certa, invadiu a área reservada para construir uma escola, de acordo com a planta feita pelo engenheiro Dr. Álvaro Paca. A verba para a construção da escola ficou apenas no papel, e o Sr. Lino

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Sampaio entendeu que a Estrada de Ferro Goyaz deveria pagar para ele os quatro alqueires de terra que tinha doado e escriturado, no Cartório de Santa Cruz de Goyaz, em 05 de julho de 1922. Lino dizia que tinha sido convencido a doar o terreno na esperança de um dia receber por ele. Dr. Balduíno não sabia das intenções do Cel. Lino Sampaio, o certo é que alguém foi enganado. Luciano Félix de Souza estudou uma maneira de conquistar o Dr. Balduíno, aguardando sua chegada de Araguari. Preparou, então, um almoço em sua residência, para o qual convidou o senador Adolfo Teixeira, Manoel Cavalcanti Nogueira, Cosmo José do Nascimento, Felesmino Viana, Levy Fróis e, também, Lino Teixeira Sampaio, pois sua presença era importante para ouvir a decisão do engenheiro diretor da Estrada de Ferro Goyaz. No dia, Luciano abordou o assunto, dizendo que estavam em festa, mas que, naquela oportunidade queriam levar ao conhecimento do Sr. Dr. Balduíno, que o Cel. Lino Sampaio desejava receber da Estrada de Ferro Goyaz os quatro alqueires de terra. O Dr. Balduíno recusou a proposta, dizendo que os quatro alqueires haviam sido

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doados e escriturados e que a Estrada de Ferro não tinha verba disponível para comprar terreno e construir a cidade. Lino Sampaio, já insatisfeito, começou a alterar o tom da voz, expressando-se agressivamente. Levy Fróis tentou acalmar Lino Sampaio que estava inconformado com a resposta do diretor Dr. Balduíno. Outras pessoas também tentaram acalmá-lo, mas ele não concordou, levantando-se e deixando a reunião. Dr. Balduíno Ernesto de Almeida explicou que os quatro alqueires iriam ser devolvidos ao doador1, não existindo, assim, mais nenhum donatário. O almoço que era, simbolicamente, uma confraternização, finalizou em um ambiente desagradável. Dr. Balduíno, com aquele gesto muito sério, falou: – Vamos em frente, não houve estímulo à altura da parte do proprietário da fazenda. Aqui o assunto está encerrado! Ao invés de Pires do Rio, continuaremos as obras da ferrovia em Tapiocanga e Ubatã.

1 O que aconteceu conforme escritura de distrato da primitiva doação de 23.08.1929. NOGUEIRA, Wilson Cavalcanti, in Pires do Rio – Marco da História de Goiás, pp. 64-65.

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As pranchas da Estrada de Ferro Goyaz continuaram prestando serviços nos transportes do Porto do Roncador para a estação de Pires do Rio. Muitos fatos podem comprovar a realidade dessa polêmica que vem rolando sobre a fundação de Pires do Rio, e a doação dos quatros alqueires de Terra para construção da cidade. Podemos observar no livro de Wilson Cavalcanti Nogueira, Pires do Rio – Marco da História de Goiás, na página 64, que Lino Teixeira Sampaio, fazendeiro do município de Santa Cruz, foi convencido a doar uma área maior do que a da Estação. Doou, assim, quatro alqueires de cerrado, conforme escritura lavrada em 5 de julho de 1922. No mesmo livro, pág. 65, pode-se observar que a dicotomização da cidade permanecida longamente, mais precisamente até 1929, quando chegou ao efetivo fim o processo instaurado junto ao Ministério de Viação. Em decisão desse processo se determinou a devolução das áreas de Terras a seus doadores. O instrumento jurídico que efetivou a doação da área maior de Lino Sampaio foi uma escritura do distrato da doação lavrado pelo escrivão Severino Batista de Oliveira, em 23 de agosto de 1929 e dada a registro sob o

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número 74, Livro 3, Folhas 137/138 do cartório competente de Santa Cruz (Sede da Comarca).

A Estrada de Ferro não tinha autorização legislativa para participar como donatário, e menos para transferir, como havia projetado que destacassem da área recebida (para loteamento ao domínio particular). A área de doação entrou numa condição de impasse jurídico (In: Wilson Cavalcanti Nogueira, Pires do Rio – Marco da História de Goiás, p. 65).

(Os dados biográficos acima foram repassados pela Professora Senhora Graziela Félix de Souza Nei, pessoa de alto conhecimento sobre a história de Pires do Rio. No texto se destacam outras informações de pessoas de indiscutíveis conhecimentos).

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Em setembro de 1923, Dr. Balduíno de Almeida visitou Pires do Rio, encontrou os amigos na residência do Sr. Manoel Cavalcanti Nogueira, falou que o Arraial estava crescendo exageradamente, já necessitando de um administrador municipal, pedindo que o Sr. Maneco falasse com o senador Adolfo Teixeira, interferindo junto aos políticos de Santa Cruz. Falou que estava residindo em Araguari (MG), até que se normalizasse a situação do reinício das obras da Estrada de Ferro Goyaz junto ao Governo Federal, pois quase todas as obras estavam paralisadas no Governo Artur Bernardes. Na próxima vinda iria trazer uma outra planta de acordo com o traçado da cidade. Visitou a farmácia do Sr. Manoel Galdino na Rua da Estação e foi até a Rua do Fogo, ficando admirado com o movimento do Bairro onde havia muitos botequins, o sapateiro Enéias Porto, o fotógrafo Nestor Martins, barbearias e salão de dança. Maneco relatou que no Bairro havia muitos forasteiros e que estava acontecendo muitos crimes no arraial. Em 1922, antecipando-se aos acontecimentos, Manoel Cavalcanti Nogueira decidiu comprar outra área ao

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lado direito dos trilhos onde construiu sua residência em caráter definitivo em 1923. Ele acreditava no futuro de Pires do Rio. Maneco, como era conhecido, chamou a atenção de muitos com a casa que construiu, toda de assoalho de madeira, quatro janelas, todas com vidraças, a frente cercada por grades de ferro, permanecendo como a única deste porte na cidade por muito tempo. Em 9 de novembro de 1923, Dr. Balduíno Ernesto de Almeida fez uma surpresa, chegou a Pires do Rio. Em sua companhia se encontrava Dr. Álvaro Paca e Dr. Eugênio Guimarães. Vieram passar o 1º aniversário de fundação com os amigos, passaram telegrama para o patrono Dr. José Pires do Rio, em São Paulo. Falou que dia 01 de novembro os trilhos tinham chegado a Ubatã, com um número muito reduzido de operários. À tarde, retornaram para Araguari. Em dezembro de 1923, chegou no arraial Pires do Rio, o primeiro dentista, Dr. Manoel Rabelo, que instalou seu consultório na Rua do Fogo. Durante o ano de 1923, o arraial expandiu-se, crescendo de maneira nunca vista em lugar nenhum deste Estado. Comerciantes, donos de oficinas, trabalhadores

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braçais, pedreiros, carpinteiros, aqui chegavam diariamente, dentre os quais merecem destaque especial os seguintes: João Batista Soares, Tomas Pereira, Marçal Galdino, Francisco Cavalcanti Nogueira, Wenefredo Macedo, Augustinho Rodrigues, Antônio Francisco de Lisboa, e outros muitos que tomaram conta do arraial, trazendo muito futuro para a cidade e região. Finaliza o ano de 1923 com muita esperança para o ano vindouro. Toda cidade tem sua história, que em derradeira análise é a história de seus fundadores. Augustinho Rodrigues (fazendeiro) era pessoa muito amiga de Manoel Cavalcante Nogueira (Maneco), que cedeu um terreno ao lado de sua nova casa para Augustinho construir uma casa residencial que existe até hoje.

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Residência de Augustinho Rodrigues, construída no final do ano de 1923 Rua Piauy, Bairro do Fogo

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Residência do Cel. Manoel Cavalcante Nogueira, construída em 1923 - Pires do Rio Rua Piauy, Bairro do Fogo

Em janeiro de 1924, chega ao arraial Pires do Rio, Dr. Bezerra Cavalcanti e o Dr. Barros Pimentel Filho, que instalam seus consultórios na Rua do Cruzeiro, hoje Rua Maria Rosa, Bairro do fogo.

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Era um ano de muita chuva. As construções do arraial foram todas paralisadas, e as águas do rio Corumbá atingiram as vigas principais da ponte metálica, Presidente Epitácio Pessoa. Há quem diga que foi o maior inverno já visto na região Centro-Oeste. Manoel Cavalcanti Nogueira sonhava com o futuro de Pires do Rio, acreditava que o arraial um dia seria uma cidade de futuro, falava que para isso acontecer tinham que lutar pelo que era de melhor, para o povoado crescer como vinha crescendo. Maneco, como era conhecido, já estava instalado em sua nova residência ao lado direito da Estação da Ferrovia Goyaz. Certo dia, recebeu a visita do senador Adolfo Teixeira que era primo de sua esposa, Sra. Alzira Amélia Ferreira. Naquela ocasião surgiu a ideia para Maneco comemorar o seu aniversário, que seria no mês seguinte, sendo aceita a proposta do senador. Manoel Cavalcanti fez convite para vários amigos, inclusive para Dr. Balduíno e Dr. Álvaro Paca em Araguari (MG). Na data festiva, quase todos os convidados compareceram à residência de Manoel Cavalcanti. Foi um dia de muita alegria, cantaram parabéns para o

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aniversariante e foi uma grande festa. Ao final, Dr. Balduíno falou, trazendo muita esperança para o povo do arraial. Falou que o serviço da ferrovia de Ubatã para Tavares (hoje, Vianópolis) teria início ainda naquele mês. Dentro de poucos dias, o fichamento seria feito na Estação da Goyaz, em Pires do Rio, e teria uma composição para transportar os trabalhadores segunda-feira cedo, retornando sábado à tarde. Dr. Balduíno fez um pedido ao senador Adolfo Teixeira, para que interferisse junto ao intendente de Santa Cruz em prol da criação do Distrito de Pires do Rio, tendo em vista ser uma necessidade e o desejo do povo; falou que, na semana seguinte, estaria de volta a Pires do Rio e concluiu dizendo: – Maneco, hoje é 04 de fevereiro de 1924, foram 41 anos de luta com sucesso. Parabéns. – Obrigado, Dr. Balduíno! – respondeu Maneco. Depois de ter sido muito aplaudido, Dr. Balduíno retornou para Araguari. O arraial Pires do Rio chamava a atenção e preocupava a população das cidades vizinhas. O núcleo

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expandia, era motivo para que os santa-cruzanos não vissem o caso com bons olhos. Em junho do ano de 1924, o empresário Antonio Dante Galassi e Fernando Blumenschein, italianos, iniciaram a construção de uma charqueada na beira do córrego do Laranjal, hoje ao lado do serviço de bombeamento de água. No ano seguinte, a indústria começou a funcionar, era conhecida como Charqueada Santo Antônio. Em 1924, Gabriel Gerbrin monta a primeira padaria no arraial de Pires do Rio, na Praça da Estação. Na época, o pão vinha de Araguari para Pires do Rio, pelo trem, chegava com 10 a 12 horas de atraso. Em junho de 1924, o farmacêutico, Dr. Francisco Accioli instalava uma farmácia na Rua da Estação, que foi muito bem-sucedida. Sendo um homem culto e inteligente, fez um trabalho muito valoroso. O trânsito de pessoas pelas ruas era grande. Viajantes que chegavam de outras cidades geravam necessidade de locais para hospedagem. A primeira pensão do Sr. João Espanhol se instalou ao lado da travessia dos trilhos, na sequência da Rua do Fogo.

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Em 07 de junho de 1924, conforme consta no livro de Wilson Cavalcanti, Pires do Rio – Marco da História de Goiás, página 68, uma correspondência do senador Adolfo Teixeira para o compadre Maneco comunicava o pedido ao Conselho Municipal para decretar o Distrito de Pires do Rio antes do tempo que foi combinado, mas isso iria depender de outros companheiros. Breve o arraial seria Distrito. Em agosto de 1924, com menos de dois anos de fundação, o arraial de Pires do Rio foi elevado à categoria de Distrito, pela Lei nº 66, de abril de 1924, do Conselho Municipal de Santa Cruz. As autoridades encarregadas da direção do Distrito foram as seguintes: Sub-Intendente Distrital – o Sr. Manoel Cavalcanti Nogueira; Juiz Distrital – o Sr. João Batista Soares; Escrivão – Severino Batista de Oliveira; Agente da Procuradoria Distrital – João Lima.

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Traços biográficos e de personalidade

Nasceu em Santa Cruz (GO), aos 4 de fevereiro de 1883. Seu pai, João Nepomuceno Nunes Nogueira, comerciante abastado, era sul-rio- grandense, de Pelotas, A mãe, Emília Amália Cavalcanti de Albuquerque era pernambucana, de Olinda. Recebeu o nome que seu pai lhe escolhera: Manoel. E o pai também lhe escolheu o apelido, bem gaúcho: Maneco. Melhor se haveria de conhecer pela vida inteira: Maneco. Com menos de oito anos, tornou-se órfão, de pai e mãe. Os bens que lhe deveriam caber por herança, com a morte dos pais, desapareceram quase todos, misteriosamente. Recebeu, então, os favores de um padrinho de batismo, Francisco Vaz da Costa, homem de bem e de influência que residia em Vai-Vem (Ipameri). Na casa desse, residiu por algum tempo de sua infância, recebendo as primeiras letras.

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Terminando o primário, único curso que fez, deixou a casa do padrinho. Abandonou, também, os altos padrões de educação que nela recebera. Maneco volta para Santa Cruz, enfrenta a vida de carreiro. Manoel Cavalcanti toma posse como Intendente Distrital de Pires do Rio, em 24 de agosto de 1924. Manoel Cavalcanti Nogueira sentia o peso da responsabilidade como intendente distrital do Arraial Pires do Rio. Havia, na localidade, grande tiroteio de armas de fogo, o movimento nas casas noturnas da Rua do Fogo era grande, tinham até campeões de tiro, os três mais famosos eram Alfredo, o Alfredão, Elizeu Mariano e Francisco Rincon. Maneco conseguiu com o senador Adolfo Teixeira, dois policiais: o Cabo Rogério e o Soldado Chico, o Paraíba. De início, eles entraram em conflito com o irmão de Francisco Rincon, um garoto de 14 anos que só andava armado (Gaudêncio), mas não conseguiram pegar o 4º campeão de tiro. Ele correu e deixou o cavalo amarrado dois dias debaixo de um pé de baru, na Rua do Fogo, e foi para a fazenda de seu pai. Maneco, contrariando os policiais, mandou um portador entregar o animal ao

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proprietário da fazenda, Cel. João Rincon, pai de Gaudêncio Rincon segóvia. Em 1924, foi fundada a Igreja Adventista por Eudóxio Mamede, na praça da estação. O terceiro médico a se instalar no povoado de Pires do Rio foi o Dr. Manoel Afonso Cavalcanti em 1924/1927, quando foi assassinado, a 24 de abril desse último ano. Em fevereiro de 1925, Manoel Cavalcanti Nogueira instalou uma máquina de beneficiamento de arroz (cuka), movida a locomove. Ergueu-se com o trabalho de Antonio Lisboa, homem de muita confiança e trabalhador. Certo dia, Antonio foi pego pela fatalidade: a correia, com a polia, pegou a manga da camisa e triturou- lhe o braço, deixando Maneco desorientado. Pegou o trem e levou Antonio para Araguari, mas não teve jeito, Antonio Lisboa acabou ficando sem o braço, porém, continuou trabalhando com Manoel Cavalcanti Nogueira. Cada indústria instalada criava, evidentemente, novos empregos, muitas pessoas procuravam a Estrada de Ferro e se deslocavam para Ubatã no serviço de

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avançamento dos trilhos para Tavares, outros preferiam ficar em Pires do Rio. David José Skaf instalou um laticínio e passou a operar, também, uma serraria na Rua do Fogo. No mesmo ano de 1925, o arraial se expandia, montaram mais duas fábricas de manteiga, uma de Aristóteles Lacerda e outra de David Abdala. Já não era mais surpresa o número de pessoas à procura de lugar para se estabelecer: Luiz Lefon, padeiro; Apolinário Henrique, sapateiro; e Joaquim Osmundo de Miranda, que pleiteava grande comércio de secos e molhados. Em 1925, chegou a Pires do Rio o farmacêutico Domingo Sávio (como ele gostava de ser chamado), trazendo em sua bagagem um diploma universitário de Farmacêutico. Domingo Sávio não encontrou um lugar na cidade para se instalar. Suas pretensões eram trabalhar e morar em Pires do Rio. Construiu uma casa com um ponto comercial (instalando ali uma farmácia) na Praça Dr. Cavalcanti, hoje Praça Gaudêncio Rincon Segóvia. O farmacêutico Domingo Sávio gostava de política e conquistou muita amizade na cidade pelo seu conceito

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profissional. Foi presidente do Conselho Municipal de Pires do Rio, posteriormente assumiu a Intendência do Município por 60 dias, ocasião em que o titular Dr. Câmara Filho se afastou do Cargo por motivo de saúde. Nesse período, Domingo Sávio assinou 60 decretos, e o primeiro foi a obrigatoriedade do fechamento do comércio aos domingos e feriados prevalecendo até hoje. Domingos Sávio veio do sul de Minas Gerais e aqui viveu toda a sua vida. Foi um dos fundadores da Loja Maçônica Amor e Luz IV, em 1927. O farmacêutico Domingos Sávio casou-se com Analita Cavalcanti, filha de Manoel Cavalcanti Nogueira. Domingos Sávio faleceu em Anápolis (GO), onde se encontrava em tratamento de saúde. As pessoas que chegavam ao arraial, todos tinham que construir, não havia local disponível, Dr. Hermenegildo Dau e Miguel Simoni, dentistas, instalaram o consultório juntos, na Rua da Estação. Dr. Hermenegildo teve uma passagem rápida, mas Miguel Simoni residiu na cidade até sua morte. Em 1926, o Sr. João Rincon, proprietário de grande fazenda na região do Laranjal (Fazenda Taubi), foi a Uberaba e comprou um caminhão Chevrolet Tigre, o

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primeiro do arraial, trouxe de trem. Ao chegar à Estação Ferroviária não havia motorista para descer o carro da prancha. Esse caminhão chamou muita atenção do povo da cidade. O Sr. João Rincon era senhor de engenho, fabricava açúcar, cachaça, criava gado e era político. Chegou nessa terra, em 1913, vindo de Uberaba (MG), com a família. O movimento de carga e descarga dos trens fez nascer na cidade nova fonte de economia, por exemplo, os carroceiros que operavam diariamente na frente da Estação da Ferrovia Goyaz, transportando mercadorias que chegavam nos trens e faziam entregas aos proprietários no comércio. As carroças com rodas de pau, os raios de madeira, puxadas por um só animal. Esses veículos se incorporaram à imagem da cidade em constante vai e vem. Com elas se atendiam diariamente carga e descarga dos vagões, bem como ao transporte de bagagens de passageiros entre a Estação e a cidade. Vários dos carroceiros daquele tempo ficaram muito conhecidos na cidade, embora já falecidos, mas sempre lembrados pelas suas características pessoais: o Sr. Miguel Abrão, Sr. Antônio Ferreira Gomes (Batiché), Sr.

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Antônio Costa (Toninho), Sr. José Antonelli (Bepe) como era conhecido, Dimas, irmão do Sr. Antônio Lisboa, o Sr. Gumercino Monteiro, o Sr. Pedro da Valenta que trabalhou até a morte surpreendê-lo, e muitos outros, de quem lembramos com saudade. No final do ano de 1926, correu uma notícia pela região de que no norte do Estado estava entrando um grupo de bandidos, vindos do Estado do Piauí. Nesse grupo, todos eram revoltosos, que roubavam, matavam e estupravam. A notícia se espalhou por toda parte do Estado. Outras notícias que acabavam de chegar davam conta de que esses bandidos já tinham passado em Pedro Afonso, cidade do norte goiano. Passados dias, outra informação chegava pelo jornal, dizendo que os bandidos tinham invadido Porto Nacional, eram mais de 100 homens e que já estavam em Natividade, todos a cavalo e armados, podendo surgir a qualquer instante. Ninguém sabia onde eles estavam exatamente, todos temiam o seu aparecimento. Em janeiro do ano de 1927, Maneco, o Intendente Distrital, estava muito preocupado com a falta de segurança no arraial que já era uma cidade. Havia um

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número muito grande de forasteiros, e a criminalidade estava fora do que se pensava. O cemitério era no meio do cerrado, onde hoje funciona a garagem da Prefeitura. Maneco conseguiu a doação do terreno com o coronel Cosmo José do Nascimento e 4:000$000 (quatro contos de réis) com o senador Adolfo Teixeira para a construção de outro cemitério, onde existe até hoje o velho necrópole ao lado do estádio de futebol, “O Monteirão”. Ali, no meio do cerrado, era o cemitério onde sepultavam os trabalhadores da construção da Ferrovia Goyaz. A primeira escola de Pires do Rio era particular e funcionou no local onde está instalado o Banco Bradesco, era de dona Antonia Balem, nos anos de 1923 a 1926. No ano seguinte, transferiu-se para Santa Cruz. Em 21 de janeiro de 1927, foi fundada a Loja Maçônica Amor e Luz IV, na rua da estação, hoje Rua Francisco Rodrigues Naves. Foram os fundadores: Sebastião Dias Aranha, Zeferino Batista, João Rassi, Antonio Jorge, David José Skaf, Jamil Weby, Ignácio Elias Bufaiçal e Domingos Sávio. Tempos depois, foi instalado

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na Rua Alagoas, atual Rua Rui Barbosa, onde funciona até hoje. O terreno foi adquirido de João Gonçalves de Araújo. No início do mês de fevereiro de 1927, um viajante vindo de Gameleira, hoje Cristianópolis, informou que os revoltosos já estavam em Pouso Alto, hoje Piracanjuba, a caminho de Santa Cruz. Nessa altura, o povo já não sabia o que fazer, a qualquer momento eles chegariam a Pires do Rio, o Intendente Municipal de Santa Cruz, Sr. Francisco Leopoldo dos Reis, já havia fugido. Dia 9 de fevereiro de 1927, por volta das 23h30, Maneco já dormia. Acordou com uma pessoa chamando- o e levantou-se sem saber o que estava acontecendo. Era um senhor por nome Aureliano, trazendo um bilhete do Intendente Municipal de Santa Cruz. A correspondência comunicava: Prezado Maneco, hoje vivemos um dia de tormento. Os bandidos do coronel Siqueira Campos invadiram a cidade, já cometeram um crime logo de início, e tomaram conta de Santa Cruz, não pudemos fazer nada, apenas pagar a quantidade exigida por eles. Avise ao povo do Arraial para se esconder nas fazendas. (Segundo relatos do Sr. Francisco Rodrigues de Araújo, nascido em Santa Cruz de Goiás, no ano de 1907).

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Na mesma noite, Maneco saiu nas casas dos comerciantes avisando a todos. Muitos foram se esconder no mato, outros esconderam o dinheiro, o que nada valeu. O Aureliano cumpriu o seu dever e voltou para Santa Cruz com obrigação cumprida. Ao amanhecer do dia, Aureliano já estava bem perto de casa, quando avistou à frente o batalhão de revoltosos. Tentou se esconder no mato, mas não teve tempo. Um deles com fuzil armado e apontado no peito do Aureliano, perguntou com um tom de voz bem forte: – Você está vindo de onde? Fale a verdade! Senão vai morrer agora! Aureliano respondeu: – De Pires do Rio. – Então, fale o que estava fazendo lá. – Eu fui levar um aviso para o Sr. Maneco que os revoltosos tinham chegado a Santa Cruz. – Nós já estamos sabendo. Desce do cavalo, tira o arreio, monta em pelo, e vamos voltar para Pires do Rio... Segue na frente. Aureliano já estava cansado e o cavalo muito mais. Por volta das 7h, já chegando ao arraial de Pires do Rio, o

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coronel Siqueira Campos parou, deu-lhe um bom conselho e falou: – Você está liberado Aureliano. O Coronel Siqueira dividiu o grupo em três turmas, uma na saída dos trilhos para Roncador, outra na parte comercial do centro e a outra na estação ferroviária. Eram aproximadamente 7h30 da manhã de 10 de fevereiro de 1927 quando um grupo de 150 homens tomou conta da cidade de Pires do Rio, todos montados a cavalo e a galope pelas calçadas, fazendo um ruído apavorante, gritos e disparos frequentes de arma de fogo. A cidade tremia. Um grupo procurou os trilhos na saída do Roncador e, chegando lá, já foi arrancada parte dos trilhos, impedindo saída ou entrada de máquinas da ferrovia. Outro grupo seguiu para a estação, que foi ocupada pelo coronel Siqueira Campos e seu imediato capitão Alberto Costa. Os irmãos tenente Juarez Távora e capitão Joaquim Távara tomaram conta da parte central. Siqueira Campos, quando chegou à estação, mandou cortar os fios da linha telegráfica e deu ordem de prisão ao chefe, que era Cyrilo Reis, perguntando: – Você fez comunicação de nossa chegada?

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Cyrilo respondeu: – Não, senhor! O ponto inicial de partida do P-2 era Tavares (hoje Vianópolis). – Qual o horário de chegada aqui? Cyrilo Reis respondeu: – Às oito e quarenta. Às vezes se atrasa, mas é muito raro. – Onde fica o cofre da estação? Cyrilo mostrou-lhe. – Então abra o segredo – ordenou. Saqueou todo dinheiro do cofre. Mandou Cyrilo Reis sentar-se em uma cadeira e não se levantar. A estação estava cercada de jagunços, o trem de passageiros já estava atrasado. Os minutos passavam, e o P-2 continuava atrasado, havia suspeita de aviso na estação de Tapiocanga retendo o trem. Os minutos continuaram passando e, de repente, escutou-se o apito do P-2 ainda longe. O trem chegou à estação e foi uma alegria para o povo, pois não havia mais esperança. Cyrilo Reis até aquele momento não tinha mais esperança, foi um alívio quando o P-2 chegou.

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A estação estava lotada de amigos do Cyrilo Reis, mas ninguém podia falar nada, nem chegar perto dele. O trem na plataforma, todas as saídas dos carros foram bloqueados pelos revoltosos. Os passageiros receberam ordem para saírem, um a um. De cada pessoa se exigia um documento. A locomotiva da composição era a 301, o maquinista era o português Manoel Parada, o chefe de trem era Joaquim Mesquita, um dos chefes de trem mais estimado da estrada. Siqueira Campos perguntou Mesquita pelo cofre do trem. Mesquita respondeu: – Está no carro breque. – Então, vamos lá... Mandou Mesquita abrir o segredo e pegou todo o dinheiro que nele existia. Deixando a estação, o capitão Alberto Costa, com um grupo de revoltosos, dirigiu para a residência de Maneco que no momento não se encontrava. Lá invadiram a casa, fizeram abrir o cofre e levaram a importância de cinco contos de réis. Lançou uma comissão de pessoas locais e ordenou, incisivo:

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– Os senhores têm uma hora apenas para transmitir aos comerciantes locais uma ordem de Siqueira Campos: este comando requisita deles a importância de cinquenta contos de réis, em dinheiro. Escolham, paguem ou sofrerão no sangue. Vamos... Sem demora! A ordem foi executada. A coleta rendeu apenas a importância de dois contos e quatrocentos mil réis que foi entregue a Siqueira. O chefe revolucionário teve uma explosão de raiva e atirou para o ar, chamou alguns comandados encheu o peito de ar e ordenou forte e seco: – Ao saque! Tão definido e enérgico quanto a ordem, o saque se cumpriu. Os pobres da periferia da cidade foram buscados por grupos de revoltosos e obrigados a participarem. Um furacão varreu todas as “vendas” da cidade, as mercadorias foram retiradas das prateleiras, para serem atiradas na rua ou colocadas sobre os ombros da pobreza. As ruas ficaram, assim, cheias de coisas abandonadas. Um fato interessante: o coronel Siqueira Campos não permitiu que seus comandados violassem o

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recinto da Loja Maçônica Amor e Luz IV. Muitas pessoas foram procurar abrigo no interior da Loja, tendo causado grande repercussão, inclusive entre o clero, pelo fato de o coronel Siqueira Campos ter tomado aquela decisão (arquivo da Loja Maçônica, relatado por João Issa Skaf). Outro fato interessante na história dos revoltosos foi que grande quantidade de famílias da cidade se escondeu no meio da mata em um desbarrancado na fazenda Maratá (hoje bairro Jardim Maratá). Lá passaram o dia e a noite. Era muito comentado que parecia uma romaria. Quando chegou a notícia de que os bandidos já tinham ido embora, alguém do grupo falou: – É bom ficarmos mais um pouco, pode ser que eles voltem! Fomos informados pela senhora Graziela Félix de Sousa Ney, que participou do fato com seus familiares: seu pai Luciano Félix de Sousa, sua mãe dona Santinha e seis irmãos.

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Este grupo de revoltosos foi dividido em dois, por ocasião da chegada em Carolina/MA”. O grupo do Luiz Carlos Prestes e Miguel Costa foram rumo a Bahia, e o grupo do Coronel Siqueira Campos comandado por Capitão Alberto Costa, Tenente Juarez Távora e Djalma Dutra seguiram para o sul de Goiás.

Foto do Grupo de Revoltosos liderado por Siqueira Campos, por ocasião da chegada em Carolina/MA, de onde seguiram para Goiás percorrendo todo o Estado, de norte a sul, com rota à direita do rio Tocantins. No dia 10 de fevereiro de 1927, o grupo de 150 homens chegou a Pires do Rio, fazendo o maior dos absurdos na cidade: saquearam a estação da estrada de ferro, casas e comércio; humilharam muitas famílias; praticaram vandalismo. A cidade foi sacudida como nunca foi visto.

Podemos observar os chefes sentados, sendo, da esquerda para a direita: 1º - Djalma Dutra, 2º - Coronel Siqueira Campos, 3º - Luiz Carlos Prestes, 4º - Miguel Costa, 5º - Ten. Juarez Távora, 6º - João Alfredo, 7º - Cordeiro de Faria; por trás do 4º, em pé, pode-se ver o capitão Alberto Costa e Joaquim Távora. Um dos bandidos do grupo de Siqueira Campos com uma metralhadora, perfurou totalmente a caixa d’água que abastecia as locomotivas inutilizando-a totalmente, deixando a estação e as máquinas sem água por vários dias.

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No armazém e na plataforma da estação, havia mercadorias que estavam despachadas, uma grande quantidade de manteiga Rainha de Goiaz de fabricação de Aristóteles Lacerda, (o despacho era para São Paulo). A linha ferroviária ao Sul estava interrompida. Os revoltosos, à custa de armas, obrigaram os populares a empurrarem uma gaiola carregada de mercadorias em direção ao local em que os trilhos estavam arrancados. A 301 também não escapou, foi lançada na mesma direção, e o impacto foi como uma bomba. Com tamanha velocidade atingiu vinte metros fora dos trilhos. Um fato que se conta é que Sebastião Aranha, dono de um circo local, escapou do saque, embora possuísse bom dinheiro em casa. Para saqueá-lo, teria sido destacado o imediato de Siqueira Campos, capitão Alberto Costa, que era maçom, e Aranha era também maçom (do livro de Wilson Cavalcanti Nogueira, Pires do Rio – Marco da História de Goiás). O coronel Siqueira Campos, mudou o nome da estação Pires do Rio, onde escreveu “Prestes”. Como sua ultima decisão, falou para o capitão Alberto Costa:

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– Agora já podemos ir embora! No alto da Rua do Fogo, um dos revoltosos pregou uma placa em um pé de baru com os dizeres: “Pires do Rio, terra de mulher bonita, cavalo bom, e homem frouxo”. Seguiram para o Baú, onde pernoitaram. Pouco tempo depois, a força policial chegou, atirando para todos os lados, não respeitando nada, a casa do Maneco foi toda perfurada de bala de metralhadora (é sempre assim)! Os revoltosos já tinham ido embora. Acamparam na fazenda do Senhor Augustinho Rodrigues e Benedito Rodrigues do Nascimento, no Baú. Ficaram até o dia seguinte, só foram embora à tarde para o Porto do Cavalheiro, no rio Corumbá, levando o Sr. Benedito Rodrigues onde foi libertado. Em 24 de abril de 1927, foi assassinado o Dr. Manoel Afonso Cavalcante, médico exemplar, notável e amigo, profundamente humano, atendia incansavelmente a todos que o procuravam: pobres e ricos sem distinção. Tinha um verdadeiro carinho pelos menos favorecidos. A gratidão popular fez dele um homem adorado. Chegou a Pires do Rio, solteiro, com menos de 30 anos, veio para esta terra não sabendo que sua

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permanência seria eterna. Nasceu a 20 de junho de 1894, em Canudos, estado da Bahia, filho de um casal do grupo de Antônio Conselheiro. No final da batalha em Canudos, ele foi encontrado nos escombros da igreja Católica do Arraial. Um oficial das forças legais, Clementino Fraga, levou a criança para o Rio de Janeiro, adotou-o e o educou. Deu-lhe o curso de médico, formado na Faculdade da Praia Vermelha. Dr. Manoel Afonso Cavalcante, escolheu a cidade de Pires do Rio, onde prestou relevantes serviços e fez muitas amizades. Figurava entre os mais ilustres fundadores da cidade. Dr. Cavalcante foi executado a tiros com premeditação, por Otaviano Gomes de Sá, um conhecido assassino, o crime foi encomendado. O povo, inconformado, levou o corpo para o Cine Royal, onde foi velado durante toda a noite. O corpo do médico foi sepultado no dia seguinte no cemitério local. A cidade inteira compareceu. O cortejo de gente a pé foi o maior já visto por muito tempo, muita gente chorava a morte de Dr. Manoel Afonso Cavalcante. No final do ano de 1927, foi fundado o primeiro jornal em Pires do Rio, pelo farmacêutico José Alves. Os

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exemplares traziam o nome da cidade “Pires do Rio”. Seu fundador, lamentavelmente, teve um final infeliz, suicidou- se na cidade de Urutaí, onde prestava serviço. O primeiro automóvel chegou a Pires do Rio em 1928. O proprietário era o senhor Geminiano Carneiro de Mendonça. Era um carro Lincoln presidencial conversível de 8 cilindros. O veículo causou grande admiração no povo da cidade. Quando correu a notícia de que tinha chegado à estação um automóvel, todo mundo queria ver de perto o carro que ainda estava em cima da prancha da estrada de ferro. Quando Geminiano saía à rua, a meninada corria atrás para vê-lo de perto. Pires do Rio ainda não tinha campo de futebol. Em 1928, Francisco Cavalcanti Nogueira, filho do intendente distrital, Manoel Cavalcanti Nogueira, fez um campo de pelada em um terreno de seu pai, local onde está construído o Mercado Municipal. Todos os dias à tarde, tinham treinos, o que levava muito gente para ver a turma brincar com a bola que tinha uma câmara de ar e era cheia com uma bomba. Quando a câmara de ar furava, a turma ficava sem treinar. A garotada fazia bola de meia, de pano, para jogar. O chefe

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do time dos garotos era o Mario Lacerda, e aproveitavam o campo para treinar o dia inteiro. Os jogadores do time dos adultos eram: Francisco Cavalcante, Tomé, Pedro Perigo, João Cândido, João de Paulo, Aquilino Edreira, Senhozinho Porto, Aristóteles Lacerda, Marcio Tatu, Alberto de Paula, Artur Batista, Godofredo Batista, Clovis Nascimento, David Troncoso, Armando Miranda Storni, Nadra Bufaiçal e Benevides. Posteriormente, foram aparecendo outros bons jogadores, até que um dia foi fundado o Pires do Rio Futebol Clube e, depois, outros times, (dados biográficos Artur Batista). Dia 9 de maio de 1929, chegaram a Pires do Rio os senhores João Dutra, João Guiotti e Virgílio Lopes (Caetano). João Dutra chegou de Sacramento, era natural de Araxá (MG); João Guiotti era natural de Conquista (MG); O Virgílio Lopes veio de Conquista, mas era natural de Batatais (SP). Nesse dia era o aniversário da jovem Maria Damasceno, filha do Sr. Francisco Damasceno, fundador da banda de música da cidade, pessoa que trazia muita alegria para o povo. Maria Damasceno era noiva e não sabia o que o destino lhe tinha reservado.

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Os recém-chegados a Pires do Rio foram convidados para o baile e marcaram presença! João Dutra tocava violão, e Francisco Damasceno o convidou para tomar parte ao lado dos músicos. Logo se percebeu que João e Maria trocavam silenciosos olhares de amor. Na verdade, foi um final feliz. João e Maria se uniram na vida conjugal, instalaram-se em Pires do Rio e montaram uma grande Indústria de Ferragens e Madeiras, onde fabricavam-se portão, carroças, carro de boi e carrocerias, João Dutra construiu muitas casas na cidade. Deixou uma numerosa família. Foi um dos fundadores da Loja Maçônica Gênesis nº 10, em 1948. Era político atuante sendo, inclusive, conhecido em suas campanhas como o “Homem da Bigorna”. Adorava Pires do Rio, onde viveu aqui até sua morte, João e Maria descansam na eternidade. No ano de 1929, chegou a Pires do Rio, Dr. Josino da Gama Filgueiras Lima, recém-formado na Faculdade de Medicina, na Praia Vermelha, no Rio de Janeiro. Em Seguida, chegou Dr. Taciano Gomes de Melo. Foram dois médicos que marcaram seus nomes na História de Pires do Rio.

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Em janeiro de 1930, o senador federal, Dr. Antônio de Ramos Caiado, na sua passagem para o Senado no Rio de Janeiro, desceu em Pires do Rio e foi muito bem- recebido pela população na residência do Sr. Manoel Cavalcanti Nogueira. Houve rápida solenidade, almoço e discursos. Chefe do “Partido Democrata”, falou da necessidade imperiosa de o Distrito de Pires do Rio ser elevado à categoria de Município. Disse, entre outras palavras, o seguinte: – Há muito tempo, nas minhas passagens para Senado Federal, no Rio de Janeiro, venho observando que Pires do Rio tem progredido sensivelmente, mas nada poderia fazer em seu benefício sem ouvir as palavras de meu grande amigo senador Adolfo Teixeira, aqui presente. Mas, agora que ele quer e precisa, Pires do Rio, senhores, não mais será vila, mas cidade. Muitos aplausos foram ouvidos com vivas ao eminente homem público. Com isso, Pires do Rio lucrou. A independência do então distrito já estava assegurada. O senador Dr. Antônio de Ramos Caiado regressou para o Rio de janeiro, deixando muita esperança, (F. Acciolli).

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Em 4 de julho de 1930, a Lei Estadual nº 903 cria o Município de Pires do Rio. Em 20 de Agosto de 1930, o Decreto Estadual nº 10.895, nomeia Dr. Josino da Gama Filgueiras Lima, para Intendente Municipal, e os Conselheiros: Francisco Accioli Martins Soares, Domingos Sávio, Cel. João Rincon, Elias Helou, Antônio Nicolau de Paiva, Armando Miranda Storni e Armindo Teixeira França. Em 7 de setembro de 1930, na Praça da Bandeira, com a presença do Dr. Humberto Martins Ribeiro, presidente do Estado de Goiás em exercício, tomam posse Dr. Josino da Gama Filgueiras Lima, Intendente Municipal e os Conselheiros nomeados. Os piresinos comemoram essa data com grande festa. Dr. Balduíno Ernesto de Almeida não conteve as lágrimas ao receber a notícia em São Paulo. Dia 8 de setembro de 1930, foi instalado o termo judiciário pelo Juiz de Direito da Comarca de Santa Cruz Dr. Cylleneu de Araújo, nomeando os seguintes cargos para o judiciário: Tabelião 1o Ofício: Isaac Martins; Escrivão de Órfãos: Ciriaco Geminiano Cabral. Dr. Josino da Gama Filgueiras Lima, por motivo de saúde, afasta-se do cargo de Intendente Municipal e vai

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para o Rio de Janeiro à procura de tratamento, sua enfermidade era grave. Não teve recurso, vindo a falecer em 14 de novembro de 1930, junto a seus familiares, em sua terra natal. Dia 14 de novembro de 1930, o Conselho Municipal recebeu a comunicação do falecimento de Dr. Josino da Gama Filgueiras Lima. A cidade ficou de luto, considerando que Dr. Josino era o prefeito e sempre foi uma pessoa humana, de bom relacionamento e prestígio, pela sua personalidade. Bom médico e bom amigo.

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Fazenda Vargem – Baú, 1930. Propriedade do senhor Benedito Rodrigues

Reunião Política na residência do Sr. Benedito Rodrigues do Nascimento, na Fazenda Vargem – Baú, 1930. Propriedade do senhor Benedito Rodrigues. Personalidades da fotografia: da esquerda para direita: 01- João Rincon Segóvia 09- Aquilino Edreira 02- Guilherme Rodrigues 10- Amin Rassi 03- Geminiano Carneiro 11- Cecílio Abrão 04- Taciano Gomes Melo 12- Latif Rassi 05- Cosme José do Nascimento 13- Magid Helou 06- Benedito Rodrigues do Nascimento 14- Negi Abdala Rassi 07- Augustinho Rodrigues 15- Felício Nassar 08- David Abdala 16- José Mariano

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Eduardo U. Silva nasceu em 13 de outubro de 1895, em Estrela do Sul (MG) e faleceu em 20 de janeiro de 1971, em Pires do Rio. No dia 15 de novembro de 1930, o Sr. Eduardo U. Silva tomou posse no cargo de Intendente Provisório de Pires do Rio, para o qual foi designado pelo decreto nº 16, do Governo Provisório do Estado de Goiás, permanecendo neste cargo até da data 09/02/1931. Com as presenças do Exmo. Sr. Dr. Cylleneu de Araújo, digníssimo juiz de Direito da comarca de Santa Cruz; do Sr. Delegado de Polícia da cidade; Agente do Correio Postal; Agente da Estação da Estrada de Ferro Goyaz; Coletor Estadual; Tabelião do 1º e 2º Ofício; Escrivão do Registro Civil; respectivamente todos da cidade de Pires do Rio. O novo intendente municipal Eduardo U. Silva apresentou os nomes de sua equipe para a nova administração: Secretário da Administração: Sebastião Silva; Tesoureiro: Rodrigo Sandoval, acumulando o cargo de chefe do patrimônio público municipal;

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Fiscal: Lindolfo da Silva Rios; Inspetor de Veículos: Tenente João Francisco Póvoa.

Ata enviada ao Interventor Estadual, Dr. Carlos Pinheiro Chaga, Intendente Municipal de Pires do Rio, 15 de novembro de 1930. José Dotas, Secretário Provisório.

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Ofício de posse do Intendente Eduardo U. Silva

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Conselho Municipal :Armando de Miranda Storni para presidente do Conselho, Acary de Moraes, Manoel Cavalcanti Nogueira, Luiz Pitaluga, Manoel Getúlio Lobo, Luciano Félix de Souza, João Evangelista Ferreira e João Batista Soares. De início, gerou certo desentendimento no meio político em Pires do Rio, não sendo aceitos para o cargo do Conselho: Manoel Getúlio Lobo, João Batista Soares e João Evangelista Ferreira. Foram designados para substituí-los: Zeferino Batista, Otacílio França e Francisco Rodrigues Naves. Em 1930, Cosme José do Nascimento foi a Araguari (MG) e comprou uma camioneta Ford (Fordinha - 1929) e a trouxe de trem. Guardou-a na garagem e nunca aprendeu a dirigir o veículo, dois anos depois, vendeu-a para o Sr. João Dutra. Dr. Cylleneu de Araújo veio de Santa Cruz e de início enfrentou sérios problemas políticos na Comarca de Pires do Rio. A situação política em Pires do Rio, entre o Intendente Municipal e os conselheiros não era boa, não se entendiam, havia uma formação de culpa. Dois

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cidadãos de projeção local, pertencentes ao Conselho Municipal: Acary de Moraes e Luciano Félix de Souza, acabaram sendo levados à prisão.

O Intendente no dia 19 do corrente ordenou medidas ilegais e violentas contra a liberdade, quando estes procuravam exercer um direito garantido pelas Leis da República. Considerando ainda que muitas tenham sido as reclamações dirigidas ao governo, (conforme mostra ofício nº 30 da página 52 – Marco da História de Goiás, de Wilson Cavalcanti).

Um fato muito comentado na época foi que a cadeia era particular e tinha sido construída pelo Cel. Cosme José do Nascimento, no local onde hoje está instalada a praça de esporte Angelino Oliveri. Por ocasião da prisão do Dr. Acary de Morais e Luciano Félix de Souza, Cosme José do Nascimento pegou duas juntas de bois de carro e levou até a cadeia. Chegando lá, havia muita gente na porta do presídio, Cosme falou:

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– Soltem esses homens ou eu derrubo o prédio! Pois fui eu que o construí, e os bois estão aqui para, se for necessário, pôr o prédio no chão. Dr. Acary e Luciano foram soltos imediatamente, o povo aplaudiu. ______“O Intendente Municipal decreta medidas violentas”

Offício nº. 30 Em 31 de dezembro de 1930. Ilmo Sr. Delegado de Polícia, Nesta Cidade. Cabendo-me, pelo disposto no artigo 11 do Decreto n°.267, de 24 de Novembro de 1930, do Interventor Federal neste Estado, manter a ordem e a segurança publica neste Município,venho solicitar de V. Exa expedição de editais e outras providência no sentido de serem proibidos alguns abusos, tais como: excesso de velocidade, contra mão, businar demasiadamente e aberturas de canos de escapamento no automóveis e caminhões desta praça os que por esta cidade transitarem, assim como a falta de apresentação de cartas por parte dos pespectivos choufferes. Tais medidas precisa também serem tomadas para repressão de vadiagem, jogo de azar, inclusive o denominado jogo de bicho e outros carteados, porte de armas, agrupamento em esquinas, ruas e praças, tiros e algazarras meretrício escandaloso e outros

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maus costumes contrários à moral pública. Saudações (a) Eduardo U. Silva. Prefeito Municipal. (Transcrito da pag. 73).

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Dr. Pedro Ludovico Teixeira, Interventor Federal em Goiás, em vista dos fatos ocorridos em Pires do Rio, exonera o Intendente Municipal Sr. Eduardo U. Silva do cargo e, para o mesmo, nomeia o Dr. José Marinho Magalhães, bacharel em Direito.

Palácio da Presidência do Estado de Goiás 24 de Janeiro de 1931. (a): Pedro Ludovico Teixeira, Interventor Federal de Goiás. Dr. José Marinho tomou posse no cargo de Intendente de Pires do Rio em 9 de fevereiro de 1931. De início, municipaliza a cadeia e o cimitério da cidade (patrimônio municípal). No dia 11 de julho de 1931, baixou o decreto nº 22, dando denominação às ruas, praças e travessas desta cidade.

...Em 14 de março de 1931, pagamento feito a Cyriaco Gemeniano Cabral, tabelião do 1º Oficio desta Comarca, correspondente a emolumentos e selos de registro de uma escritura de compra do prédio da cadeia desta cidade, feita a Cosme José do Nascimento e transferida, de logo, ao domínio deste estado...... compareceu também o Sr. Vasco Cavalcante Nogueira, como procurador de Manoel Cavalcante Nogueira, que apresentou requerimento escrito pedindo pagamento da importância de um conto, oitocentos e quarenta e três mil e quatrocentos réis (1:843$400), que o requerente se julga credor desta prefeitura pelo restante do que dispendeu com a construção do Cemitério Público desta cidade...

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DECRETO Nº 22, DE 11 DE JULHO DE 1931.

Dr. José Marinho de Magalhães, Intendente Municipal de Pires do Rio, usando das atribuições que lhe confere o Decreto nº 237, de 24 de novembro de 1930, do Interventor Federal do Estado de Goiás e considerando que as ruas, praças e travessas desta cidade ainda não têm denominação, decreta: Artg. 1º: Ficam denominadas as seguintes ruas: 1ª denomina-se Rua Minas Gerais. 2ª denomina-se Rua Sergipe 3ª denomina-se Rua Bahia 4ª denomina-se Rua do Comércio (hoje Av. Castelo Branco) 5ª denomina-se Rua Djalma Dutra (hoje Joaquim Antônio Teixeira) 6ª denomina-se Rua do Pará 7ª denomina-se Rua Alagoas 8ª denomina-se Rua Porto Alegre 9ª denomina-se Rua Rui Barbosa 10ª denomina-se Rua do Recife 11ª denomina-se Rua Amazonas 12ª denomina-se Rua Goiaz

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13ª Praça, o largo onde acha situada a Igreja desta cidade denomina-se Praça 24 de Outubro 14ª O largo central denomina-se Praça Dr. Cavalcanti 15ª denomina-se Travessa Ceará 16ª denomina-se Travessa Santa Catarina 17ª denomina-se Travessa Paraná, Bairro do Fogo 18ª denomina-se Av. João Pessoa, Bairro do Fogo 19ª denomina-se Rua Piauí 20ª denomina-se Rua Soledade, Bairro do Fogo Art. 2º Revogam-se as disposições em contrário

Pires do Rio, 11 de Julho de 1931 (a) José Marinho de Magalhães – Intendente Municipal.

No Decreto de 23 de Agosto de 1931, Artigo 1º, fica determinada a criação da Praça São Paulo, onde hoje se situa a Quadra de Esporte Angelino Oliveri e a Maternidade Carmelita Dutra desta cidade. Revoga-se as disposições em contrário. O secretário faço registrar e publicar. Pires do Rio, 03 de Agosto de 1931. José Marinho Magalhães Intendente Municipal.

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(As ruas, avenidas, travessas e praças às quais foi dada a denominação pelo decreto nº 22 de 11 de julho de 1931, todas serão sorteadas pelo conselho municipal de Pires do Rio. Intendente municipal Dr. José Marinho de Magalhães).

Em 1931, chega a Pires do Rio o primeiro sacerdote o padre José Trindade, para dirigir a capela recém- construída pelo Dr. Benedito Amorim e os católicos da cidade. Dois anos depois, o padre Trindade foi transferido para Anápolis e substituído pelo padre Ângelo Garcia. A capela ficava na praça pública da cidade, praça Dr. Cavalcanti, hoje atual Praça Gaudêncio Rincon Segóvia. Jacy Siqueira em sua declaração em seu livro: Um Contrato Singular, página 146, afirma: Os atuais historiadores não se preocupam com a história, os fatos, as personagens e o culto da verdade; desconhecem figuras ilustres, pessoas que contribuíram para o progresso de Pires do Rio e o levaram ao conhecimento da nação brasileira. Referimo-me ao médico Dr. Taciano Gomes de Melo, alagoano, vindo para Goiás nos primórdios do ano de 1930, casado na família Xavier de Almeida, em Goiás. ______

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Dr. Taciano Gomes de Melo nasceu em 12 de janeiro de 1904, na cidade de Capela, estado de Alagoas. Veio para Morrinhos Goiás, onde seu irmão Dr. Sílvio Gomes de Melo era chefe político. Taciano mudou para Pires do Rio, médico dedicado, foi intendente (prefeito), nomeado por Dr. Pedro Ludovico, por vários mandatos. Foi eleito pelo voto livre: em dois períodos, deputado estadual de 1947 a 1951, foi presidente da Assembleia Legislativa (neste período ocupou o Governo de Goiás por ocasião do afastamento de Dr. Pedro Ludovico Teixeira, para tratamento de saúde); deputado federal em 1955-1959; senador da República em 1959, renunciando à cadeira em 1961 para Juscelino Kubitschek se candidatar a senador por Goiás. Foi ministro do Tribunal de Contas do Distrito Federal, 1960-1969, aposentado em 30 de abril de 1969 pelo presidente da República com base no AI-5, suspensos e cassados seus direitos políticos por 10 anos. Faleceu em 4 de julho de 1986. Não existem registros comprovando a data de chegada do Dr. Taciano Gomes de Melo em Pires do Rio.

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Segundo consta no livro Contrato Singular, pág. 146, de Jacy Siqueira, sua vinda para Goiás se deu nos primórdios dos anos 30. Dr. Taciano não existe mais entre nós, a saudade ficou para sempre e seu trabalho como memória.

“Memória do saudoso Francisco Accioli” FUNDAÇÃO DA CIDADE DE PIRES DO RIO

Prof. Francisquinho Accioli, como era conhecido. Francisco de Assis Martins Soares *1913 +1999 Houve quem sustentasse que a fundação da cidade não foi o que se evidencia no Obelisco sito ao lado do Mercado Municipal – prédio iniciado e concluído na gestão do ex-prefeito, Sr. Gaudêncio Rincon Segóvia.

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Numa das faces do aludido Obelisco, há os dizeres que assinalam a versão que dá como fundação da cidade o dia 9 de novembro de 1922. Foi erigido o mencionado marco pelo engenheiro Balduíno Ernesto de Almeida, diretor da Estrada de Ferro de Goyaz, o qual deu nome à nossa estação em homenagem ao então ministro da Viação e Obras Públicas, Dr. José Pires do Rio. Comentou-se, à época, que naquele local, de vasta extensão, poderia ser construída uma escola, para levar o ensino às crianças das famílias dos trabalhadores da estrada de ferro e outros locais já numerosos. Outro não foi, portanto, senão o Dr. Balduíno o construtor do Obelisco. Assistimos a esse trabalho do ilustre diretor, orientando os pedreiros da estrada de ferro que, açodadamente, davam os últimos retoques e o respaldo, seguindo-se, então, a festiva inauguração oficial de nossa estação com discursos ao pé do Obelisco. Longos anos, permaneceu a Estrada de Ferro de Goyaz com sua ponta de trilhos na estação de Roncador, sem motivos justificáveis, com grandes prejuízos para uma vasta zona do Estado que outros meios

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de transportes não tinha a não ser carros de bois rechinando, tardos e monótonos, em estradas poeirentas no tempo da estiagem e ora cobertas de lama proveniente das enxurradas fluviais; tropas de burros enfileirados e obedientes, caminhando ofegantes em campos abertos, sob a escaldante soalheira do verão e, quando no rigor das chuvas, sobre terrenos alagadiços e com muitos atoleiros. Tudo isso com graves riscos das mercadorias para as cidades interioranas. “A visita providencial do Ministro da Viação – Dr. José Pires do Rio – até Roncador, em 25/08/1921, observando em todo o longo da Goiás” as prementes necessidades dela, deu lugar a que fosse intensificado o prosseguimento da importante linha férrea, ordenando o Ministro o lançamento mais breve possível da ponte metálica sobre o majestoso rio Corumbá, inaugurada simbolicamente pelo Dr. Balduíno e seus competentes engenheiros. Ele mesmo, Dr. Balduíno (segundo fomos informados), acionando a alavanca da locomotiva a vapor, seguro estava da sólida construção da referida ponte pelo notável engenheiro, Dr. Eugênio Guimarães. Foi um

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grande passo para o progresso desta vasta região. À referida e tão linda ponte, foi dado o nome de “Epitácio Pessoa”, em homenagem muito merecida ao ínclito e saudoso presidente da República que, naquela época difícil, fizera algo de bom para o nosso Estado, que, parecendo filho enjeitado da Nação, anos decorreram em triste abandono diante de todos os seus irmãos da Federação. Nenhum Presidente anterior à administração do culto e inolvidável paraibano olhara tanto esse Estado, sobretudo no terreno ferroviário. O lançamento da ponte metálica sobre o rio Corumbá deve-se àquele brasileiro e constituiu um traço de união entre o nosso Estado e o de Minas Gerais pela importante ponte, também metálica, sobre o rio Paranaíba, formando uma corrente de elos indestrutíveis, ligando o Centro-Oeste com o Sul do País, facilitando o comércio e as relações com o Sudeste do Brasil. Afinal, depois de alguns meses, a 9 novembro de 1922, teve lugar a inauguração de nossa estação férrea. Veio o “Trem de ferro” ligar essas paragens aos grandes centros consumidores e adiantados do País,

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máxime à antiga Metrópole deste Estado e desta cidade do interior que, por longos anos, viveram isoladas desse meio de comunicação rápido, tendo Araguari – ponto terminal da “Companhia Mogiana” – como seu entreposto comercial. Ao aproximar-se o Comboio Inaugural, silvos estridentes, ininterruptos, eram ouvidos das locomotivas a vapor, assinalando o despertar dessas paragens, então selvosas, na sua taciturnidade, ao mesmo tempo em que empolgando de entusiasmo a alma do povo aglomerado na “Garagem” da estação e adjacências. Entre três e quatro horas da tarde, mais ou menos, céu claro e esplendente de sol e depois a chuva, era enorme a assistência de pessoas de Roncador, de Santa Cruz e fazendeiros vizinhos (inclusive nós). Estava presente, também, o pioneiro número um de Pires do Rio – o saudoso Manoel Cavalcanti Nogueira (Maneco – assim mais conhecido do povo) que, então, aqui residia com sua família e mantinha uma casa comercial na antiga praça da estação. Estrepitosas palmas e vivas foram ouvidas. Há um fato importante na história de Pires do Rio: era intenção do engenheiro Balduíno ao ser inaugurada a nossa estação, deixá-la como ponta de linha,

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como fora Roncador. Isso para que Pires do Rio crescesse populacional e comercialmente em futuro próximo. Enquanto isso, ele, Dr. Balduíno, prosseguiria a construção da estrada de ferro e de outras estações para frente, o que levaria muitos meses, e os comerciantes e atacadistas da praça do Roncador, logo se transfeririam para Pires do Rio, trazendo o mesmo influxo de progresso que naquela estação implantaram. Era esse o plano concebido e delineado pelo Diretor de nossa Via-Férrea, plano, aliás, muito interessante. Pires do Rio seria, hoje, grande cidade, mas, por razões que não queremos comentar para não ferir suscetibilidades, nossa estação deixou de ser ponta de linha. E lá se foi o Dr. Balduíno, Diretor da estrada no limpa-trilhos do “Trem inaugural", rumo a Tapiocanga, primeira estação adiante de Pires do Rio, inaugurada com um simples vagão. Quando ali não havia construção de prédio algum. De caso premeditado, ou contrariado nos seus objetivos com relação a Pires do Rio, o Dr. Balduíno tomara aquela repentina resolução. Com aquele gesto impulsivo do Diretor da Estrada de Ferro, ao invés de Pires

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do Rio, fora Tapiocanga ponta de linha de relevo comercial por alguns anos, não se transformando numa cidade porque não houve estímulo à altura da parte do proprietário da fazenda Pavão. Preferiu o seu sossego a ter perto de si muito movimento. Assim, Tapiocanga acabou, não ficando no local nenhuma construção, desaparecendo inteiramente o antigo arraial bastante movimentado. Anteriormente à escolha do local onde se construiria a primeira estação à margem direita do rio Corumbá, nós e os coronéis João Rincon e Antônio Alves Teixeira propuséramos ao Dr. Balduíno, Diretor da Estrada de Ferro de Goyaz a localização da primeira estação aquém rio Corumbá, no lugar onde se construiu mais tarde o Posto de “Soldado Esteves” da referida ferrovia. Julgávamos que o local já mencionado atenderia plenamente às exigências topográficas para sediar uma estação. Dr. Balduíno achou muito interessante a nossa sugestão, que atendia à exigência de doação de uma área de quatro alqueires à Estrada de Ferro e ficou de deliberar sobre o assunto em ocasião mais oportuna. Enquanto isso, o Conselho Municipal de Santa Cruz trabalhava em prol da construção da primeira estação à margem direita do rio

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Corumbá, no local denominado Fazenda Brejo, de propriedade do Cel. Lino Teixeira de Sampaio. Para isso, solicitou o empenho do então presidente do estado de Goiás, Cel. Eugênio Jardim, para aquele lugar denominado Sampaio. De volta de uma viagem que fizemos a Sergipe, encontramos um ofício a nós dirigido pelo Dr. Balduíno Ernesto de Almeida, do teor seguinte:

Não foi possível colocar a estação para servir a cidade de Santa Cruz, no local que havíamos examinado, em virtude do Conselho Municipal daquela cidade empenhar-se junto ao Presidente do Estado para ser no lugar denominado Sampaio. Estava frustrada a nossa pretensão, ficando desprezada a nossa ideia, e a estação seria construída mesmo no local denominado Sampaio. Deixemos de lado essas querelas e passemos ao assunto que mais nos interessa e que nos propusemos tratar. “A história, disse o culto escritor Joaquim Ribeiro, filho do filósofo João Ribeiro, não dispensará

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documento”. Para o principal fim deste, na busca cansativa de documentos, não os pude encontrar com facilidade, faltando alguns, infelizmente. Nas proximidades do lugar onde estava sendo construída a Estação, começou a surgir um povoado que cresceu rapidamente, deixando para trás a velha Santa Cruz. Isso constituiu um dos motivos que geraram um ressentimento recíproco entre os habitantes de Pires do Rio e Santa Cruz. Enquanto isso, o núcleo populacional expandia, o que constituía motivo para que os santa- cruzanos não vissem o caso com bons olhos, talvez receando um futuro bem melhor para Pires do Rio. O novo arraial crescia rapidamente e, em menos de dois anos, foi elevado à categoria de Distrito pela Lei n° 66, de agosto de 1924, do Conselho Municipal de Santa Cruz. As autoridades para a direção do Distrito foram as seguintes: Juiz Distrital – João Batista Soares; Sub- Intendente Distrital – Manoel Cavalcanti Nogueira; Escrivão Distrital – Severiano Batista de Oliveira; e Agente da Procuradoria Distrital – João Lima. Essas autoridades prestaram, nos seus cargos, os mais relevantes serviços com o máximo critério e

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probidade em toda linha, honrando os notáveis pioneiros nos primórdios de Pires do Rio. Seus nomes serão sempre evocados por nós e pelos que com eles militaram na política em prol do progresso local. Saudosas reminiscências, temos, desse passado honrado. A morte que levou alguns deles para o túmulo não obscurecerá jamais seus nomes. E repetimos: serão por toda Pires do Rio recordados e sempre redivivos em todos os tempos na memória. Severiano Batista, que pensamos ainda sobrevive em Formosa, não levou de seus trabalhos a economia feita aqui, deixando construída uma boa residência, hoje pertencente à família do falecido Sr. Francisquinho de Paula Soares, que antes pertencera ao antigo chefe político, e já falecido também, Cel. Adolfo Teixeira, por oferecimento dos seus amigos políticos de Pires do Rio.

Pontos Históricos de Pires do Rio, pp. 19-21 Francisco Accioli. ------

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Saudade do professor Francisco de Assis Martins Soares (Francisquinho Accioli). Filho do farmacêutico Dr. Francisco Accioli e Maria Teófila Martins Soares. Nasceu em 4 de outubro de 1913, em , Goiás. De 1932 a 1934, foi professor da Escola Normal Joaquim Bonifácio, na cidade de Pires do Rio. Foi Coletor Federal e, posteriormente, exerceu o cargo de Secretário da Administração da Prefeitura de Pires do Rio, em 4 períodos, professor do Colégio Sagrado Coração de Jesus, dedicou sua vida à área da Educação exercendo o cargo de professor, como ele gostava de ser chamado. Lá no Céu, junto a Deus, em silêncio, sua alma descansa em paz.

O autor.

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DR. PEDRO FERREIRA DE AZEVEDO

Para todos nós, foi um grande exemplo de força, trabalho, dignidade e honestidade. Nasceu na cidade de Goiás em 16 de abril de 1913. Concluiu o curso de Direito em dezembro de 1936, na Faculdade de Direito de Goiás (cidade de Goiás). Em dezembro de 1937, chegou a Pires do Rio. Sua primeira atividade nessa cidade foi assumir a Secretaria da Administração da Prefeitura Municipal, convite feito pelo prefeito Dr. Taciano Gomes de Melo. Conheceu dona Maria Abadia Rincon com quem contraiu matrimônio em 15 de setembro de 1943, de cuja união nasceram seis filhos: Ferreira, Heloisa, José, Maria da Glória, Antônio Augusto e Eliane. Dr. Pedro foi um exemplo em sua vida. Lembramos que sempre foi uma pessoa querida, prestativa e amiga. Foi grande defensor dos direitos humanos, sempre pronto a ajudar os pobres, tinha uma conduta impressionante, defendia os princípios morais da família. Sentimos muito a falta do nosso Dr. Pedro Ferreira de Azevedo, que faleceu em 11.01.1982.

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Fontes e Origens das Pesquisas

Este trabalho só se tornou possível graças às pesquisas realizadas no interior do rico arquivo histórico pessoal da renomada e competente professora, dona Graziela Félix de Souza Ney (in memoriam). Maior brilho e fidelidade foram obtidos por meio de relatos de pessoas de indiscutíveis conhecimentos e fidelidade dos fatos, posto que vivenciaram muito do que aqui se acha relatado, foram elas, entre muitas outras, as seguintes pessoas: I. Francisco de Assis Martins Soares (in memoriam) II. Euclides Demóstenes Lobo (in memoriam) III. Gaudêncio Rincon Segóvia (in memoriam) IV. Manoel Rodrigues (in memoriam) V. Eugênio Escremin (in memoriam) VI. João Issa Skaf VII. Antônio Rodrigues (in memoriam) VIII. Wilson Cavalcanti Nogueira (in memoriam)

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Não é demais ressaltar que grande parte desses relatos históricos faz parte do rico acervo que pertence ao patrimônio histórico da Prefeitura Municipal de Pires do Rio e que, não obstante, está quase que relegado a um solene abandono, muito embora, ressalte-se, entregue aos cuidados da competente zelosa e atenciosa Paula Kenya Martins Gomes.

‘‘Bibliografia’’

Incidente em Pires do Rio. Marco da historia de Goiás. Wilson Cavalcante Nogueira ______/ / ______Ponto Histórico da Cidade de Pires do Rio. Profº. Francisco Accioli ______/ / ______Opus. Pires do Rio Um contrato singular Jacy Siqueira

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JOSÉ PIRES DO RIO

Nasceu em 26 de novembro de 1880, na cidade de Guaratinguetá, em São Paulo. Foram seus pais: Rodrigo Pires do Rio e dona Ana Rangel de Barros Pires do Rio. Iniciou os estudos secundários no Ginásio São Joaquim, em Lorena, e os terminou no curso anexo à Faculdade de Direito de São Paulo. Ainda muito moço, com 16 anos, matriculou-se na famosa Escola de Minas de Ouro Preto, onde, em 1903, recebeu o grau de engenheiro civil e de minas. Fizera esse curso com tão alto brilho que a Congregação lhe conferiu a recompensa máxima – o prêmio de viagem à Europa, que o laureado aproveitou em demorada excursão ao antigo continente para estudar, principalmente, os seus portos de mar. Do que vira de útil, deu conta à sua antiga Escola, em relatório publicado em seus Anais. Muito embora a pesada tarefa na Escola de Minas, ainda achou tempo para satisfazer a curiosidade científica, matriculando-se simultaneamente durante os

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últimos anos do seu curso de engenharia na Escola de Farmácia de Ouro Preto, por onde também se diplomou. Engenheiro, começou a trabalhar na antiga Comissão do Porto do Rio de Janeiro e, durante o lapso de 1906 a 1910, a sua competência foi realçada em importantes comissões de estudos na Argentina, na Europa e na América do Norte. Nesse ínterim, passou algum tempo no Panamá para examinar as obras do canal, que então se concluíam. Voltando ao Brasil, foi destacado para servir no porto e nas obras da barra do Rio Grande, no estado do Rio Grande do Sul, posto de onde saiu para dirigir, durante quatro anos (1911-1914), um dos distritos da Inspetoria de obras contra a seca. Regressando dessa comissão ao Rio de Janeiro em 1915, teve outra, na Estrada de Ferro Central do Brasil, indo, então, ao Estado do Rio Grande do Sul para estudar a questão do carvão nacional quando teve oportunidade de publicar O Combustível na Economia Universal, trabalho profundamente mediato, que o consagrou sociólogo e economista. A 1ª edição é de 1916 e, posteriormente, saíram duas outras, respectivamente, em 1942 e 1944.

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Ainda em 1916, o engenheiro Dr. Abrão Reis,, que tivera o encargo de dirigir as obras de emergência que se executavam no Nordeste para atenuar os efeitos de devastadora seca de 1915, convidou-o para inspecioná- los. Aceita a incumbência e, com o brio que punha no desempenho da função pública, percorre no desconforto dos sertões calcinados, todos os serviços, por mais distantes e difíceis de acesso os locais de sua execução. E, sobre cada um dos trabalhos inspecionados, dá conta que vê em relatórios de extrema franqueza, modelos de probidade fiscalizadora. Vai, em seguida, ao extremo norte do País para visitar a Amazônia, excursão imposta pelo desejo de melhor conhecer o Brasil. E aproveita a viagem para ver com olhos de engenheiro as estradas de ferro Madeira- Mamoré, Alcobaça a Praia da Rainha, Belém a Bragança, São Luiz a Terezina, e Central do Rio Grande do Norte. Cada uma delas merece-lhes exaustivos estudos, todos publicados no Jornal do Comércio do Rio de Janeiro, de onde lhe veio autoridade para aceitar o cargo de Inspetor Federal de Estradas. Essa distinção lhe é dada pelo Governo de Delfim Moreira, vice-presidente da República,

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em Exercício da Presidência pelo impedimento, por doença, do Dr. Rodrigues Alves. No exercício dessa função, que se prolongou de 15 de novembro de 1918 a 28 de julho de 1919, relata no fim de 6 meses de administração, com extrema franqueza, as condições precárias de algumas de nossas ferrovias e aponta as medidas para resolver as dificuldades existentes, em documento que se tornou clássico na política ferroviária brasileira. Findo o governo Delfim Moreira, o seu sucessor, Dr. Epitácio Pessoa, fá-lo seu ministro da Viação, justificando a sua escolha com os seguintes conceitos consagradores do seu mérito:

O Ministro da Viação é um homem novo. Talvez ninguém esperasse ver nesta lista um nome como o dele. Escolhi-o para significar o alto apreço em que tenho a mocidade brasileira, que se distingue pelo talento, pelo estudo, pelo caráter, pelo trabalho. Quis mostrar que não é só a política o caminho para as mais altas posições e que no

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funcionalismo e nas letras se pode fazer um nome capaz de despertar a atenção do Chefe da Nação. Além disso, sendo paulista de nascimento, o Sr. Pires do Rio e um ministro do norte. Raríssimos homens daquelas regiões conhecê-lo-ão tão bem. Ele percorreu a cavalo os nossos sertões, da Baía ao Ceará, e dedicou a sua alta inteligência ao estudo dos problemas daquela zona. Como êsses problemas interessam particularmente ao país, julguei acertado chamar para eles cuidar um chefe de repartição com os dotes do novo ministro (Diário Oficial de 29. VII. 1919. pág. 10692).

No exercício desse novo posto, dá conta de como correspondeu à confiança do presidente da República em trabalho que se encontra publicado no relatório daquele departamento da administração pública, datado de 1921. Quase a findar o quadriênio do presidente Epitácio Pessoa, é nomeado para dirigir, cumulativamente

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com a pasta que já ocupa, a pasta da Agricultura, na vaga do ministro Simões Lopes, que se demitira. Encerrado em 15 de novembro de 1922, o governo do presidente Epitácio Pessoa, é eleito, em 1923 deputado federal pelo Estado de São Paulo. Em sua curta passagem pela Câmara, tem oportunidade de defender o contrato da Itabira Iron, contrato que levantara a imprensa ruidosos debates. Assume, sozinho, inteira responsabilidade desse ato e defende as suas vantagens em trabalho que corre impresso sob o título: O Nosso Problema Siderúrgico, monografia de 267 páginas, em que o assunto, no seu sentido mais amplo é, conscientemente, estudado, de vez tratar-se de matérias a que dedicara longos anos de estudos e meditação. Em 1923, renuncia ao mandato de deputado por ter sido eleito prefeito da cidade de São Paulo, atividade que se estende até 26 de outubro de 1930, data em que se encerra a sua vida de administrador público, para somente ser retomada em 1945, quando o presidente Linhares lhe confia, no seu governo, o cargo de ministro da Fazenda, cujo desempenho dura cerca de noventa dias, isto é, até o

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término do governo provisório, imposto pela revolução de 1945. Tendo ocupado a pasta da Fazenda, entendeu ser seu dever demonstrar ao país – numa alentada obra: A Moeda Brasileira –, que a realização de um bom governo está principalmente dependente da prática de uma sábia e honesta política monetária. Em fins de 1949, empreende uma longa viagem à Índia, com escalas por vários países da Europa, e pelo Egito. Viagem interrompida pela sua morte em Nova Delhi, em 23 de julho de 1950. Dessa viagem, resultou uma série de estudos publicados no Jornal do Brasil, do Rio de Janeiro, todos eles com o pensamento sempre voltado para as coisas do Brasil.

NOTA: Os traços biográficos foram escritos pelo Dr. Paulo Faria que serviu como Chefe de Gabinete do biografado no Ministério da Viação. Ao Dr. Paulo Faria, devo, igualmente, poder oferecer ao leitor a fotografia de José Pires do Rio. Encontrar o precioso colaborador foi mérito do Dr. Paulo Pires do Rio, exemplo do atendimento superior do Departamento Cultural do Ministério das Relações Exteriores do Brasil.

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No texto deste trabalho inclui outra informação: Pires do Rio, homem, foi a alma e o corpo da retomada da construção da Estrada de Ferro de Goiás. Seu empenho nisso foi tão decidido, que por três vezes se deslocou pessoalmente do Rio, para inspeção das obras em curso no distante e incômodo sertão. Do empreendimento, resultou, de imediato, o surgimento da cidade de Pires do Rio e, mais que isso, poderoso impulso ao progresso de Goiás. À obra do biografado acrescento outro livro, que citei atrás, publicado pela Editora José Olympio: Realidades Econômicas do Brasil. Muito antigo, mas muito atual. Essa obra é um hino de amor e respeito à capacidade realizadora da gente brasileira, que soube e sabe vencer as adversidades que a natureza colocou no seu caminho.

(Dados obtidos da Obra PIRES DO RIO – Marco Histórico de Goiás, de Wilson Cavalcanti Nogueira, p. 124-126, 1977).

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Poema do Rio Corumbá A manhã era toda de alegria João Albano As noites eram todas estreladas. O rio manso caudaloso 25 de Agosto de 1921 Os pássaros faziam alvorada. Raiava um novo dia. Ali nascia a beleza, O sol brilhou no horizonte Do verde da natureza, O povo não sabia. Os lobos uivavam festejando a madrugada. Estava chegando o progresso

Rumo ao Centro-Oeste. O rio com muitas curvas Era o Ministério que trazia. Caudaloso como sempre.

As andorinhas revoavam Foi ouvido um apito À procura de alimento. De uma máquina Mallé. O majestoso Corumbá, Era o Ministério que chegava Quem conhece pode falar, Trazendo esperança e muita fé. Porque não sai do pensamento. As juritis, em bando, cantavam

Oh, Deus! Muitos choravam, As águas pareciam Saudando o povo de pé. Estar muito lentas.

A relva orvalhada Os ipês ornamentavam As borboletas em movimento. As águas do Rio Corumbá. Na barra do Roncador, Os pássaros cantavam Um cerrado cheio de flor, Insistentemente sem parar. Uma história pra sempre. Nas galhadas das gameleiras

Onde pernoitavam os carreiros, Permita-me Senhor Preparando para viajar. Que eu volte para lá.

Para que eu conviva com a beleza As seriemas cantavam Que não existe por cá. Eram ouvidas pelos fazendeiros Para que aviste as pedreiras Matutos que ali habitavam À sombra das gameleiras, Também os tropeiros. Nas margens do Corumbá. Cedo, ao amanhecer, 99

Tarde, ao anoitecer, Garça – CE 09/11/2007 Transitavam os carreiros

João Albano Neto

Nasceu em 28 de maio de 1937, na fazenda Lagoa do Mucambo, no Distrito de São Bento (hoje Amontada), município de Itapipoca, estado do Ceará. É filho de Washington Teles Menezes e Maria do Carmo Albano Teles. Iniciou seus estudos primários em escolas particulares, posteriormente, ingressou na Escola Técnica Federal do Ceará, onde concluiu o Curso de Admissão e o Técnico de Mecânico Agrícola. Trabalhou na Construtora Alfa S/A e no Departamento Nacional de Obras contra a Seca (DENOCS). Em 23 de dezembro de 1957, aos vinte anos de idade, mudou-se para São Paulo à procura de trabalho e na esperança de dias melhores. Em São Paulo, trabalhou na Lion Importadora de Máquinas Caterpillar até julho de 1959, quando ingressou na Companhia Construtora Camargo Correia S/A. Seguiu para o Rio de Janeiro, onde permaneceu até abril de 1960, foi transferido para Brasília, onde trabalhou até o ano seguinte. João Albano viu o sol nascer e Juscelino Kubitschek chorar em Brasília no dia 21 de abril de 1960. Em janeiro de 1961, foi designado para prestar serviços em Vilhena, no então Território de Rondônia. A serviço da Companhia Camargo Correia S/A, residiu em Marco Rondon

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e Pimenta Bueno, além de prestar serviços em Guajará-Mirim, Porto Velho e Rio Branco, no Acre. Em novembro de 1962, ainda a serviço da Companhia, retorna ao Centro-Oeste, indo trabalhar em Diamantino, Cuiabá e Jaciara no estado de Mato Grosso. Em 26 de fevereiro de 1963, é transferido para Pires do Rio (GO), onde a Companhia executou obras na Estrada de Ferro, trecho Pires do Rio-Brasília. Casou-se em 21 de novembro de 1963 com Lucimar Rodrigues, de cuja união nasceram os filhos Washington (in memoriam) e Nelita. Em dezembro de 1963, terminadas as obras, a Companhia Camargo Correia S/A segue para o estado do Rio Grande do Sul, mas João já havia se casado e decidiu permanecer em Pires do Rio. Deixa a Companhia, ingressando- se na Prefeitura Municipal de Pires do Rio, onde trabalhou como Fiscal Arrecadador e de Obras até 1980, aposentou-se no cargo de Coletor Municipal. Sua vida maçônica teve início em 04 de abril de 1970, na Augusta e Respeitável Loja Maçônica Amor e Luz IV nº 1159, à qual dedica grande parte de seu tempo que é dividido entre a loja e a família.

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Matriz Sagrado Coração de Jesus Construída pelos padres Franciscanos de 1943 a 1945 Pires do Rio (GO).

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Pires do Rio A Terra dos Beija-Flores

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