SÉRGIO APARECIDO NABARRO

O BANCO DA TERRA EM TAMARANA - PR: O CASO DOS GRUPOS RENASCER II E III

Londrina 2007 II

SÉRGIO APARECIDO NABARRO

O BANCO DA TERRA EM TAMARANA - PR: O CASO DOS GRUPOS RENASCER II E III

Monografia apresentada ao Curso de Geografia da Universidade Estadual de – UEL, como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Geografia.

Orientador: Profª. Drª Ruth Youko Tsukamoto

Londrina 2007 III

Nabarro, Sérgio Aparecido O Banco da Terra em Tamarana – Pr: O Caso dos Grupos Renascer II e III / Sérgio Aparecido Nabarro. – Londrina: UEL / Departamento de Geociências, 2007. xiii, 77 p. : il. ; 31 cm. Orientador: Ruth Youko Tsukamoto Monografia (Bacharelado) – Universidade Estadual de Londrina, Departamento de Geociências, Graduação em Geografia, 2007. Referências bibliográficas: f. 49-56 1. Geografia Agrária. 2. Questão Agrária. 3. Concentração Fundiária - Monografia. I. Tsukamoto, Ruth Youko. II. Universidade Estadual de Londrina, Departamento de Geociências, Graduação em Geografia. III.Título.

IV

SÉRGIO APARECIDO NABARRO

O BANCO DA TERRA EM TAMARANA – PR: O CASO DOS GRUPOS RENASCER II E III

Monografia apresentada ao Curso de Geografia da Universidade Estadual de Londrina – UEL, como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Geografia.

COMISSÃO EXAMINADORA

______Profª Drª Ruth Youko Tsukamoto Universidade Estadual de Londrina

______Profª Drª Alice Yatiyo Asari Universidade Estadual de Londrina

______Profª Drª Ideni Terezinha Antonello Universidade Estadual de Londrina

Londrina, 12 de dezembro de 2007. V

Dedico este trabalho a meus familiares e amigos... companheiros de todas as horas...

VI

AGRADECIMENTOS

À Profª Drª Ruth Youko Tsukamoto, minha orientadora e amiga de todas as horas, que me apresentou a Geografia Agrária e que me acompanhou em mais esta jornada.

A minha família, pela confiança e motivação.

Aos amigos, pela força e pela vibração em relação a esta jornada.

A todos os professores e colegas do Departamento de Geociências da Universidade Estadual de Londrina, pois juntos trilhamos uma etapa importante da minha vida.

A todos os entrevistados, pela concessão de informações valiosas para a realização deste estudo.

A todos que, com boa intenção, colaboraram para a realização e finalização deste trabalho.

VII

“A terra não é apenas um lugar de produção. É um espaço de vida que inspira o sonho e a luta por uma sociedade nova”.

Mensagem dos romeiros e romeiras ao final da 20ª Romaria da Terra e da Água de Santa Catarina, 2007.

VIII

NABARRO, Sérgio Aparecido. O Banco da Terra em Tamarana – Pr: O caso dos Grupos Renascer II e III. 77 fls. Monografia (Bacharelado em Geografia) – Centro de Ciências Exatas, Departamento de Geociências, Universidade Estadual de Londrina, Londrina, 2007.

RESUMO

O Fundo de Terras e da Reforma Agrária – Banco da Terra, criado pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso (F.H.C.), através da lei complementar nº 93 de 04/02/1998 e regulamentado pelo Decreto nº 3.027/99, que no governo Lula foi transformado em Programa Nacional de Crédito Fundiário, tem como finalidade financiar programas de reordenação fundiária e de assentamento rural. Além da compra da terra, o programa financia obras de infra-estrutura básica na propriedade, e os custos cartorários para o registro dos lotes formados a partir da aquisição da terra. Com o presente, pretendemos analisar o processo de formação e de consolidação de grupos de produtores formados por meio do Banco da Terra, mostrando os resultados da pesquisa realizada nos Grupos Renascer II e III, localizados em Tamarana, região norte do estado do Paraná. Foi escolhido este município em virtude da expressiva quantidade de grupos formados a partir deste programa, também por possuir oito assentamentos rurais, resultado da luta do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), efetivados pelo INCRA.

Palavras-chave: Banco da Terra. Tamarana. F.H.C. Formação. Consolidação.

IX

NABARRO, Sérgio Aparecido. El Banco de la Tierra en el Municipio de Tamarana–Pr: El caso de los Grupos Renascer II e III. 77 páginas. Monografia (Geografia) – Centro de Ciências Exatas, Departamento de Geociências, Universidade Estadual de Londrina, Londrina, Brasil, 2007.

RESUMEN

El Fondo de Tierras y la Reforma Agrária – Banco de la Tierra, que fue creado por el entonces presidente Fernando Henrique Cardoso (F.H.C), a través de la ley 93 de 04/02/98 y reglamentado por el decreto 3.027/99, que en el gobierno del actual presidente Luiz Inácio Lula da Silva fue transformado en Programa Nacional de Crédito Agrário, tiene por finalidad financiar programas de reorganización agrária y de assentamiento rural. Además de la tierra, el programa financia las obras básicas en la propriedad y los costos notoriales para el registro de los lotes creados con la aquisición de la tierra. Con este trabajo, intentamos analizar los procesos de formación y consolidación de los grupos campesinos formados por medio del Banco de la Tierra, exponiendo los resultados de la investigación realizada en los Grupos Renascer II y III, ubicados en el municipio de Tamarana, región norte de la provincia Paraná (Brasil). Fue seleccionado este municipio por su expresiva quantidad de grupos creados a través del Banco de la Tierra y por presentar ocho assentamientos rurales, resultado de la lucha del Movimiento de los Trabajadores Rurales Sin Tierra (MST), creados por el Instituto de Colonización y Reforma Agrária (INCRA).

Palavras-clave: Banco de la Tierra. Tamarana. F.H.C. Formación. Consolidación.

X

SUMÁRIO

LISTA DE FIGURAS...... XII LISTA DE FOTOS...... Xll LISTA DE GRÁFICOS...... Xlll LISTA DE TABELAS...... Xlll

INTRODUÇÃO...... 1

1 CONTEXTUALIZANDO A CRIAÇÃO E OS OBJETIVOS DO PROGRAMA BANCO DA TERRA...... 3 1.1 O MST e a luta pela reforma agrária...... 5 1.2 A criação do Banco da Terra e seus objetivos...... 7 1.3 Espacialização do Banco da Terra e a Atuação no Sul do Brasil...... 13

2 OCUPAÇÃO DO NORTE DO PARANÁ E O ESPAÇO AGRÁRIO DE TAMARANA...... 18 2.1 Ocupação do Norte do Paraná...... 18 2.2 O município de Tamarana e seu espaço agrário...... 21

3 O BANCO DA TERRA EM TAMARANA: O CASO RENASCER II E III...... 26 3.1 Perfil dos produtores...... 26 3.2 A criação dos grupos e o financiamento da terra...... 28 3.3 Uso da terra, produção e comercialização...... 35 3.4 Dificuldades enfrentadas e perspectivas para o futuro...... 39

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS...... 47

5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...... 49

6 BIBLIOGRAFIA CONSULTADA...... 53

APÊNDICE...... 57 XI

Apêndice A – Questionário Aplicado...... 58

ANEXOS...... 67 Anexo A – Lei de Criação do Programa Banco da Terra...... 68 Anexo B – Contratos com o Banco da Terra no Estado do Paraná...... 72 Anexo C – Plano de Recuperação e Regularização dos Projetos Financiados pelo Fundo de Terras (Programas Banco da Terra e Cédula da Terra)...... 75

XII

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Tramitação do Programa Banco da Terra...... 9 Figura 2 – Espacialização do Programa Cédula da Terra...... 14 Figura 3 – Espacialização do Programa Banco da Terra...... 14 Figura 4 – Número de Contratos com o Banco da Terra...... 14 Figura 5 – Número de Famílias Beneficiadas...... 14 Figura 6 – Contratos com o Banco da Terra no Estado do Paraná...... 16 Figura 7 – Mapa de Solos, Distribuição dos Assentamentos, Grupo s do Banco da Terra e Vilas Rurais...... 22 Figura 8 – Planta dos Grupos Renascer II e III...... 29 Figura 9 – Tramitação do Programa Banco da Terra em Tamarana...... 32 Figura 10 – Uso da Terra...... 36 Figura 11 – Situação Atual dos Lotes...... 45

LISTA DE FOTOS

Foto 1 – Lote do Grupo Renascer II...... 28 Foto 2 – Antiga Sede da Estância Quadra...... 30 Foto 3 – Lavoura de Acelga e Repolho...... 37 Foto 4 – Sede da APRONOR...... 39 Foto 5 – Moradia de um lote do Grupo Renascer III...... 40 Foto 6 – Obras na Estrada...... 42 Foto 7 – Estrada de Acesso aos Grupos Renascer II e III...... 43 Foto 8 – Veículo para o Transporte da Produção...... 43

XIII

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 – Famílias Envolvidas em Ocupações de Terras...... 8 Gráfico 2 – Área Média por Família...... 17 Gráfico 3 – Faixa Etária...... 27 Gráfico 4 – Local de Nascimento...... 27 Gráfico 5 – Nível de Escolaridade...... 27 Gráfico 6 – Moradia Antes do Grupo Renascer...... 27 Gráfico 7 – Última Residência...... 27 Gráfico 8 – Ultima Atividade Exercida...... 27

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Conflitos de Terras no Brasil...... 6 Tabela 2 – Balanço das Operações do Banco da Terra entre 1999 e 2004...... 15 Tabela 3 – Assentamentos Rurais e Grupos do Banco da Terra do Município de Tamarana...... 23 Tabela 4 – Principais Culturas / 2005...... 24 Tabela 5 – Valores Financiados no Contrato do Grupo Renascer II...... 33 Tabela 6 – Valores Financiados no Contrato do Grupo Renascer III...... 33 Tabela 7 – Parcelas do Financiamento...... 34 Tabela 8 – Uso Atual da Terra, Produção e Comercialização...... 35 Tabela 9 – Nível de Tecnológico...... 37

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INTRODUÇÃO

Mais de oito anos após a formação do primeiro grupo de famílias, os programas de reforma agrária financiados pelo Banco Mundial ainda causam polêmica. De um lado pesquisadores e os movimentos sociais alegando estar havendo uma reforma agrária de mercado, também chamada por alguns de Contra- Reforma Agrária, de outro, o governo, via Ministério do Desenvolvimento Agrário, diz estar tomando medidas que atendam as necessidades do campo. Vale a pena salientar que a partir da década de 1990, principalmente no governo de Fernando Henrique Cardoso novas políticas foram adotadas para o desenvolvimento do campo, bem como para tentar amenizar os conflitos por terras, com destaque aos provenientes de ocupações protagonizadas por militantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST). É preciso destacar que mesmo após oito anos de governo FHC, e início do governo Lula, os programas pautados na ótica neoliberal do Banco Mundial ainda existem, porém com outros nomes e com pequenas modificações. Neste sentido, a luta dos movimentos sociais rurais, sobretudo a do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), ainda continua, mesmo após episódios como o Massacre de Corumbiara, em Rondônia, e de Eldorado de Carajás, no estado do Pará. Com este trabalho, não pretendemos esgotar o assunto, mas analisar o processo de criação, implantação e a consolidação dos grupos formados a partir do Programa Banco da Terra, estudando o caso da Associação dos Produtores Rurais do Grupo Renascer II e a Associação dos Produtores Rurais do Grupo Renascer III, no município de Tamarana, região Norte do estado do Paraná. Além de verificar a viabilidade desse tipo de “reforma agrária”, através de análises, mapeamentos e dados divulgados por órgãos como Ministério do Desenvolvimento Agrário, Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária, e Comissão Pastoral da Terra, complementados por pesquisa bibliográfica a respeito do tema. Foram entrevistadas 20 das 35 famílias dos Grupos Renascer II e III, além de entrevistas e levantamento de dados em órgãos como: Secretaria Municipal de Agricultura, Prefeitura, EMATER, Cartório de Imóveis e Sindicato dos Trabalhadores Rurais, todos do município de Tamarana. 2

No capítulo 1, “Contextualizando a criação e os objetivos do Programa Banco da Terra” contém um breve histórico da questão agrária no Brasil, a luta pela terra e crescimento dos conflitos no campo nos anos que antecederam a criação do Programa. Também, analisamos as regras dos programa e sua espacialização no Brasil, enfatizando sua atuação nos estados da região Sul. “Ocupação do Norte do Paraná e o espaço agrário de Tamarana”, segundo capítulo, realizamos uma breve discussão sobre a ocupação da região Norte do Paraná, visando diferenciar o processo de ocupação pela Companhia de Terras Norte do Paraná, no início da década de 1930, com a dos chamados safristas. Nesse contexto, abordamos sobre os assentamentos rurais, destacando sua importância, e dos grupos de agricultores no desenvolvimento municipal. O terceiro capítulo, “O Banco da Terra em Tamarana: o caso Renascer II e III” caracterizamos os componentes dos grupos, o processo de formação dos mesmos (a compra da área e detalhes dos contratos), a dinâmica da produção, do transporte e da comercialização, bem como as dificuldades enfrentadas e as perspectivas para o futuro. Cumpre esclarecer que não logramos êxito em alguns levantamentos e entrevistas, tais como: Banco do Brasil, INCRA e Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento. Tais dificuldades foram em virtude da confidencialidade dos documentos relacionados ao Programa Banco da Terra. Uma outra dificuldade enfrentada no desenvolvimento deste trabalho foi o levantamento contábil das famílias entrevistadas que tentamos realizar, mas de 10 cadernetas de anotações de receitas e despesas, retornou apenas uma e preenchida com apenas um mês.

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1 CONTEXTUALIZANDO A CRIAÇÃO E OS OBJETIVOS DO PROGRAMA BANCO DA TERRA

O problema da concentração fundiária no Brasil não é recente, pois teve início no processo de colonização do território, durante o século XVI, com capitanias hereditárias. Criadas em 1534, as capitanias eram “extensos trechos, de 30 a 150 léguas (de 125 a 625 km), entregues ao seu donatário, com amplas concessões, grandes favores para eles e seus companheiros”. (THOMAS, 1964 p.43) Após o declínio do sistema de capitanias hereditárias os processos de ocupação e exploração da porção de terra recém descoberta se intensificaram. A exploração, em primeiro lugar da madeira (pau-brasil) e, posteriormente da cana-de- açúcar criaram a necessidade de mão-de-obra, que no início era a indígena, e posteriormente negra, utilizada até o ano de 1888, com a promulgação da Lei Áurea que aboliu a escravidão no Brasil. Segundo Stédile (2005):

Com a invasão dos europeus, a organização da produção e a apropriação dos bens da natureza aqui existentes estiveram sob a égide das leis do capitalismo mercantil que caracteriza o período histórico já dominante na Europa. Tudo era transformado em mercadoria. Todas as atividades produtivas e extrativas visavam lucro. E tudo era enviado à metrópole européia, como forma de realização e de acumulação capital.

No século XIX a colônia exportava cerca de 80% do que produzia. Para tal, o modelo de produção adotado era o plantation, definido por Stédile (2005 p. 21) como: a forma de organizar a produção agrícola em grandes fazendas de área contínua, praticando a monocultura, ou seja, especializando-se num único produto, destinando-o à exportação, seja ele a cana-de-açúcar, o cacau, o algodão, gado etc., e utilizando mão-de-obra escrava.

Até a primeira metade do século XIX a concessão de uso da terra era hereditária, mas essa concessão não dava o direito a venda das terras, ou mesmo a compra de terras vizinhas. Até esse período não havia a propriedade privada da terra, ou seja, a terra ainda não havia se tornado uma mercadoria. Ainda de acordo com Stédile (2005 p. 22), apenas em 1850 foi publicada a Lei nº 601 chamada até hoje de Lei de Terras, que veio legitimar a concentração fundiária no Brasil, e caracterizar a estrutura fundiária da época, com presença 4

maciça de latifúndios. De acordo com a lei ficam proibidas as aquisições de terras devolutas por outro título que não seja a compra. Desta forma, a Lei de Terras de 1850 “fechou” todas as portas para a aquisição de terras por parte de pessoas que não possuíam grande poder aquisitivo na época, e acabou com a possibilidade de realização de uma reforma agrária. Com a abolição da escravatura, já esperada, principalmente por pressões externas, sobretudo da Inglaterra, haja vista que a Lei de Terras de três décadas antes já acabara com a possibilidade de um ex-escravo ser dono de sua própria terra. Os negros libertos foram impedidos de se tornarem produtores rurais, mesmo pequenos produtores, tiveram também cerceado o seu direito de lutar pela conquista da terra, não tendo outra opção senão trabalhar para os latifundiários. Na década de 1930 a questão agrária brasileira merece destaque, sobretudo pela crise da economia cafeeira, um dos pilares do desenvolvimento econômico brasileiro, ocasionada pela quebra da Bolsa de Nova Iorque, em 1929. Após essa crise, a questão agrária ganha importância até o final da década de 1950 com as definições e debates sobre os rumos da industrialização brasileira. Na época acreditava-se que a agricultura seria um complicador para o processo de industrialização, pois nesta fase o campo era encarado como um setor atrasado, pois apenas as atividades ligadas há áreas urbanas eram vistas como modernas. Em março de 1964, após anunciar a realização de uma reforma agrária, João Goulart foi deposto e assim teve início o Regime Militar, que iria até os primeiros anos da década de 1980. Nesta fase houve severa repressão a todo e qualquer tipo de manifestação popular. A falta de políticas voltadas para o pequeno produtor, somada à crescente concentração fundiária, fez com que os produtores migrassem para a cidade, em virtude das dificuldades da vida no campo. Foi nesse contexto que, no início da década de 1980, o Regime Militar entra em crise, entre outros motivos pela crescente pressão popular em instaurar um governo democrático, até ser extinto em meados de 1984. Com isso as pressões populares, em busca de melhores condições de trabalho, moradia e justiça social, se intensificam, e com elas a questão da terra ressurge.

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1.1 O MST e a luta pela reforma agrária

Em virtude da má vontade política no tocante a realização de uma ampla reforma agrária, surgem as lutas dos trabalhadores rurais para a realização de mudanças no campo. Os trabalhadores rurais sem terra, se organizaram para exigir políticas publicas para a realização de uma ampla reforma agrária no Brasil.

A história agrária brasileira apresenta um dinamismo originário da pressão daqueles que lutam e morrem pela terra. Em certas conjunturas, o conflito pela posse da terra torna-se tão agudo que o Estado é forçado a sair do marasmo agrário. (BERGAMASCO e NORDER, 1999, p. 35).

Atualmente no Brasil existem inúmeros movimentos sociais de luta pela terra. Destacamos o maior e mais atuante deles, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) que segundo OLIVEIRA,

[...] é o principal movimento que representa a luta do campesinato brasileiro, por ser uma organização sólida e de caráter nacional; é um movimento jovem, datando seu início na década de 1980 baseado na ação de ocupação – acampamento – assentamento; possui uma organização democrática, de massa e respeita as decisões tomadas coletivamente e, essas, praticadas por todos. (2001, p. 196).

O MST inicia a luta pela terra no final da década de 1970, porém é no ano de 1984, em Cascavel, durante o Encontro Nacional dos Sem Terra, que o movimento se consolida e passa a representar um avanço da mobilização e organização da luta pela terra no Brasil. Realiza seu primeiro congresso em 1985, com o lema “sem reforma agrária não há democracia”, referindo-se ao final da ditadura militar no Brasil após 20 anos de repressão (1964 – 1984) e a necessidade do retorno à democracia. Desde o início das suas atividades o MST defende a luta em nome de todos os trabalhadores rurais em favor da criação de assentamentos. Esses que representam uma alternativa para o retorno, ou acesso, dos trabalhadores rurais a terra. No Brasil assentamentos rurais foram implantados, na maioria das vezes, mediante pressões populares, às vezes com ocorrência de conflitos e violência. Segundo Bergamasco e Norder (1996, p. 7 e 8), os assentamentos rurais:

6

[...] podem ser definidos como a criação de novas unidades de produção agrícola, Por meio de políticas governamentais visando o reordenamento do uso da terra, em benefício de trabalhadores rurais sem terra ou com pouca terra (...) envolve também a disponibilidade e o incentivo à vida comunitária. (...) os assentamentos rurais representam uma importante iniciativa no sentido de gerar emprego diretos e indiretos a baixo custo e para estabelecer um modelo de desenvolvimento agrícola em bases sociais mais eqüitativas.

Mas, o que se percebe é a falta de vontade política para a implantação de assentamentos rurais, ou ainda, os cria mas não fornece condições mínimas para a consolidação e desenvolvimento das famílias, tais como: saúde e educação.

Ao criar um assentamento, o Estado assume a responsabilidade de viabilizá- lo. Queira o Estado (na pessoa daqueles que o fazem existir) ou não, o desempenho de um assentamento é o desempenho do Estado, do mesmo tipo que se coloca para outras partes desse Estado, para definir normas de funcionamento. (LEITE; HEREDIA; MEDEIROS, 2004, p. 65).

Com a consolidação do MST é intensificada a luta pela terra e com isso, o número de conflitos no campo aumenta, sobretudo durante o primeiro mandato do presidente Fernando Henrique Cardoso, entre os anos de 1995 e 1998 (tabela 1), pois os militantes alegavam que o então presidente governava de acordo com os interesses das classes dominantes, em detrimento das menos favorecidas.

Tabela 1 - Conflitos de Terra no Brasil Ano 1995 1996 1997 1998 Nº de Conflitos 440 653 658 751 Assassinatos 39 46 29 38 Pessoas Envolvidas 318.458 481.490 477.105 662.590 Hectares Conflitivos 3.250.731 3.395.657 3.034.706 4.060.181 Fonte: Comissão Pastoral da Terra, 2003.

É importante destacar o número de assassinatos nos anos de 1995 e 1996. O Massacre de Corumbiara, em 1995 no estado de Rondônia que, segundo a Comissão Pastoral da Terra (2003), 9 trabalhadores sem-terra foram sumariamente mortos e 55 torturados por mais de 24 horas, e em Eldorado de Carajás, no Pará, em 1996, foram 19 mortos numa ação desastrosa de 155 policiais influenciados, sobretudo pelas oligarquias locais.

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1.2 A criação do Banco da Terra e seus objetivos

Com o aumento significativo do número de conflitos por terras no país, em 1998, foi instituído, através da Lei Complementar nº 93 de 04 de fevereiro de 1998, o Fundo de Terras e da Reforma Agrária – Banco da Terra, regulamentado em 1999, início do segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso (1999 a 2002), pelo decreto nº 3.027/99. Dois anos antes,

os estados do Ceará, Maranhão, Pernambuco, Bahia e a região Norte de Minas Gerais foram escolhidos para abrigar o programa Cédula da Terra – projeto piloto de combate à pobreza no meio rural que deu origem ao Banco da Terra. O Banco da Terra foi a expansão para todo o país, dessa experiência pioneira e bem sucedida de “ reforma agrária” , desenvolvida pelo governo brasileiro em parceria com o Banco Mundial. (BRASIL apud PEREIRA e SAUER, 2006, p.178. grifo nosso).

Percebe-se que o Fundo de Terras e da Reforma Agrária – Banco da Terra, traz uma visão equivocada do que realmente significa uma reforma agrária. Para o Banco Mundial 1, órgão forneceu o respaldo financeiro ao programa do governo brasileiro, ela ocorre através de programas de desenvolvimento rural, como o Banco da Terra, que pregam a distribuição de terras sem desapropriação e com pagamento à vista para o proprietário, que na maioria das vezes oferece suas terras de baixa qualidade ou desgastadas, quando na realidade:

A reforma agrária deve garantir terra de qualidade aos agricultores. Constitui a forma mais viável e democrática de assegurar trabalho e alimentos aos brasileiros. A um só tempo, a reforma agrária é o caminho para redistribuir a renda, eliminar a pobreza de grandes contingentes populacionais e democratizar as relações políticas no meio rural. A reforma agrária contribuirá para o acesso aos direitos de cidadão. (DOMINGOS NETO, 2004 p. 37).

Em resposta à regulamentação do programa, que implementa e consolida a reforma agrária de mercado no Brasil, também chamada por Oliveira, 2001 de “Contra Reforma Agrária”, o MST intensifica ainda mais suas ações em todo o território nacional, chegando a um número de famílias envolvidas em ocupações de

1 Órgão Internacional que concede empréstimos e doações para financiamento de programas “inovadores” que promovam o desenvolvimento sócio-econômico em vários países. (PEREIRA; SAUER, 2006, p.7). 8

terras jamais presenciado na história da luta pela reforma agrária no Brasil. O ápice foi em 1999, ano em que o Banco da Terra foi regulamentado, quando 79.065 famílias estiveram envolvidas em ocupações (gráfico 1).

Gráfico 1 Famílias Envolvidas em Ocupações de Terras 80.000

70.000

60.000

50.000

40.000

30.000

20.000

10.000

0 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000

Fonte: Comissão Pastoral da Terra, 2003. Org. NABARRO, S. A.

Em 2000 cai o número de ocupações em virtude da Medida Provisória nº 2.109 que proibia por dois anos a vistoria em imóveis ocupados. Essa medida ratifica a real intenção do governo ao criar o Banco da Terra, ou seja, desmobilizar e criminalizar as ações dos movimentos sociais de luta pela terra, sobretudo o MST.

No Grito da Terra de 1999, promovido pela Confederação dos Trabalhadores na Agricultura (CONTAG), o lema central foi: Contra a Privatização da Reforma Agrária. Na ocasião, foi reiterada a demanda de extinção do Programa Cédula da Terra e do Banco da Terra, ao mesmo tempo em que foram feitas severas críticas ao Programa Novo Mundo Rural. (MEDEIROS, 2003, p.63).

A retórica do Ministério do Desenvolvimento Agrário, na divulgação do Programa Banco da Terra é que ele visava respaldar financeiramente programas de assentamento rural e de reordenação fundiária, que além da terra, financiava as obras de infra-estrutura básica no lote e os custos cartorários para o registro das propriedades formadas pelo programa. O financiamento para as obras de infra-estrutura e início da produção é obtido através do PRONAF (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar) grupo A, gerido pelo Banco do Brasil. 9

Segundo as normas, para o financiamento da compra da propriedade, na forma do financiamento coletivo, seria necessária a criação de um grupo entre os interessados em participar do programa e adquirir a terra por meio de compra. Após a formação, o próximo passo é eleger um representante que terá a função de fazer a inscrição dos interessados e também de verificar o preço da propriedade escolhida para a instalação do grupo (figura 1).

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De acordo com as normas do programa, o prazo para pagamento da terra é de 20 anos, com juros de 8% ao ano, com carência de 36 meses, ou seja, as famílias têm apenas três anos para se consolidar e iniciar o pagamento da terra. Segundo MEDEIROS (2003, p. 59), o grupo formado pelos interessados em obter as terras através do programa deveria atender simultaneamente a oito requisitos básicos: 1. Todos devem ser produtores rurais sem-terra ou com pouca terra (caracterizada como minifúndio); 2. Ser chefe de família; 3. Maior de idade ou emancipado; 4. Ter experiência de no mínimo cinco anos na atividade agropecuária; 5. Ter interesse em adquirir terra por meio de compra e desenvolver atividades produtivas sustentáveis; 6. Encontrar um proprietário disposto a negociar sua terra; 7. Assumir o compromisso de reembolsar as quantias financiadas; 8. As terras almejadas para a compra não poderiam estar ou ser ocupadas;

As regras do Banco da Terra, mais uma vez comprovam as verdadeiras intenções do governo com a sua criação. Além de desmobilizar os movimentos sociais, também objetiva privatizar a reforma agrária no Brasil, tendo o respaldo financeiro do Banco Mundial, como argumenta Alentejano:

Diante da incapacidade de derrotar politicamente o MST durante o primeiro mandato, o governo FHC decidiu mudar suas táticas. Se antes as armas eram a propaganda do INCRA e a condenação dos métodos do MST – visando convencer de que o governo estava fazendo a sua parte, e o MST atua orientado por uma radicalidade descabida – a partir deste momento, o governo muda suas armas, passando a centrar suas ações em duas frentes: (1) intensificação da repressão, através da criminalização das ações do movimento e da perseguição de suas lideranças; (2) alteração das regras da política de obtenção de terras e de financiamento da produção, de modo a minar as duas fontes básicas de oxigenação do movimento, quais sejam a concretização da desapropriação das terras ocupadas e o bom desempenho de alguns assentamentos vinculados ao MST, diante da situação de penúria generalizada da agricultura familiar. (2000 p. 96-97).

Um grave problema identificado está expresso no artigo 4º da lei de criação do programa (Anexo A). Trata-se da responsabilidade operacional e administrativa 11

dos estados e municípios, dando assim maior margem para fraudes e aumento dos índices de irregularidades nas operações, pois,

Ao eleger o Banco da Terra como instrumento fundamental de obtenção de terras e propor a descentralização das ações fundiárias, transferindo a maior parte da responsabilidade para o âmbito municipal – num país tradicionalmente dominado pelas oligarquias locais – o governo não só busca desarticular o movimento, apostando na incapacidade deste de se contrapor ao poder local, como aposta na desmobilização dos sem terra, pois oferece, teoricamente, a possibilidade de obtenção de terra sem necessidade de mobilização, pressão política e tampouco sacrifícios. (ALENTEJANO, 2000, p. 97).

Outro problema da nova política de obtenção de terra foi a extinção do Programa de Crédito Especial para a Reforma Agrária – PROCERA, mais abrangente que o seu substituto, o PRONAF em 1995, como explica GOMES:

As políticas públicas de desenvolvimento rural que serão implantadas ao longo de oito anos de governo F.H.C. reforçarão a todo o momento a orientação mercantil. Até conquistas políticas alcançadas pelos movimentos sociais rurais organizados, como o PROCERA, serão substituídas por programas de ajuda à agricultura familiar como um todo (sem diferenciar o segmento dos assentamentos via reforma agrária), nos quais o produtor se integra mais profundamente na lógica do mercado, com o PRONAF (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar). (2004, p. 44).

Com o fim do segundo mandato de F.H.C. e início do primeiro mandato do governo Lula, em novembro de 2003, o Banco da Terra foi substituído pelo Programa Nacional de Crédito Fundiário – PNCF. Programa que segue a mesma linha neoliberal, vinculado ao Banco Mundial e com características muito semelhantes aos do governo anterior. As poucas diferenças estão relacionadas à taxa de juros, que no Banco da Terra eram 8% ao ano, e no PNCF é de 6,5%, e nos prazos de carência e pagamento. No Banco da Terra eram 3 anos de carência e 17 para pagamento, já no PNCF os prazos são 2 e 15 anos respectivamente. As linhas de crédito criadas são: Combate à Pobreza Rural, Nossa Primeira Terra e Consolidação da Agricultura Familiar. Para Rezende e Mendonça (2004 p. 77):

Os programas Combate à Pobreza Rural e Nossa Primeira Terra são idênticos aos programas Cédula da Terra e Crédito Fundiário de Combate à Pobreza do governo F.H.C. Da mesma forma, o Banco da Terra tem as mesmas características do Consolidação da Agricultura Familiar. Ou seja, são os mesmos programas apenas com pequenas modificações, mas a concepção central da mercantilização da reforma agrária permanece igual. 12

Ainda segundo Rezende e Mendonça (2004), em pesquisas realizadas com os programas de desenvolvimento rural, como o Banco da Terra e Cédula da Terra, foram identificados importantes problemas para o meio rural, tais como: • Aumento do valor da terra (o Fundo de Terra acabou inflacionando o mercado); • Inviabilidade econômica, impossibilidade do pagamento dos financiamentos e empréstimos e endividamento dos trabalhadores rurais; • Aquisição de terras de má qualidade; • Compra de terra feita por associações de trabalhadores, sem autonomia na escolha das áreas. Essas associações, muitas vezes, são organizadas pelos próprios latifundiários e políticos locais; • Condições precárias de sobrevivência e abandono das áreas. Ao invés de aliviar a pobreza, o programa agravou a situação financeira dos participantes; • Denúncias de corrupção envolvendo administrações municipais, políticos e sindicatos, que teriam sido favorecidos em compra e venda de terras.

Segundo o Ministério do Desenvolvimento Agrário, no Plano de Regularização, constam informações sobre aberturas de várias sindicâncias, inquéritos, entre outros instrumentos administrativos para apurar as irregularidades durante os anos em que o Banco da Terra atuou. Constam ainda denúncias de agricultores que não conseguiram acesso ao PRONAF. Além de visar a diminuição do índice de inadimplência e tornar os assentamentos criados auto-suficientes, como já exposto anteriormente, o Plano de Regularização objetiva ainda coordenar os projetos de assentamento rural, em conjunto com os estados, municípios e até juntamente com os movimentos sociais rurais, para retomar o controle das ações desse tipo de programa. Segundo divulgação do MDA, o Programa Nacional de Crédito Fundiário já está funcionando nessa linha, porém, de acordo com nossa pesquisa, a participação dos movimentos sociais rurais não está ocorrendo. Essa medida tem por objetivo diminuir as irregularidades, que ocorriam em sua maioria no âmbito municipal. Para tanto, serão executadas as seguintes ações: 13

• Disponibilizar aos estados, municípios de demais parceiros o conjunto de normas e procedimentos já definidos para a regularização e recuperação dos assentamentos do Banco da Terra; • Construção e implementação de Sistema de Informações Gerenciais do Banco da Terra; • Implementação e monitoramento de atos administrativos visando à apuração de denúncias; • Realização de Oficinas Estaduais para a elaboração de Planos Estaduais; • Celebração e/ou ajuste de Termos de Cooperação Técnica e Convênios para a constituição das equipes de coordenação e gestão dos Planos Estaduais; • Identificação e capacitação dos prestadores de serviço; • Realização de projetos-piloto para ajuste da metodologia e capacitação das equipes; • Desenvolvimento das Ações em Campo.

A questão agora é: essas ações vão realmente se efetivar? Segundo informações obtidas, no município de Tamarana, por exemplo, essas medidas sequer foram repassadas ao Sindicato dos Trabalhadores Rurais, que atua diretamente na criação dos grupos. Se foram colocadas em prática, quais foram os resultados encontrados? Quem fiscalizou? Entre outras perguntas que o Ministério do Desenvolvimento Agrário, até o momento, não divulgou dados a respeito.

1.3 Espacialização do Banco da Terra e a Atuação no Sul do Brasil

Segundo dados divulgados pelo M.D.A., dos três programas criados por F.H.C., baseados no modelo do Novo Mundo Rural, seguindo a linha da reforma agrária de mercado, o Banco da Terra merece uma análise mais aprofundada, pois enquanto o Cédula da Terra foi direcionado aos estados em que a pobreza no campo estava mais acentuada, contemplando 200 municípios com 8.190 famílias, numa área de 247.104 hectares, com um custo total de R$ 42.779.777,00, o 14

Programa Banco da Terra teve uma atuação muito mais abrangente (figuras 2 e 3), tendo contratos em 18 estados, onde atendeu, entre 1999 e 2004, 1.160 municípios numa área de 1.218.035 hectares com um custo de R$ 757.219.302,00 (tabela 2).

Nos estados da região Sul, onde o Banco da Terra atuou de forma mais intensa (figuras 4 e 5), foram atendidas, entre os anos de 1999 a 2004, 17.084 famílias numa área de 218.937 hectares, a um custo total de R$ 417.339.452,00. O número de famílias atendidas pelo Programa é expressivo, porém muito menor que o necessário para a realização da reforma agrária no Brasil. De acordo com a Comissão Pastoral da Terra, só no ano de 2002 havia 10.750 famílias em 64 acampamentos distribuídos por 17 estados.

Há que se destacar a influência de fatores como a qualidade do solo e infra- estrutura, no valor do hectare adquirido nos estados em que o Programa atuou (tabela 3). Assim é observado no estado de São Paulo que o valor do hectare é 50 vezes maior que no Mato Grosso. A área média por família que, enquanto na maioria 15

dos estados foi entre 10 a 20 hectares, no Mato Grosso foi de 200 hectares em média (gráfico 2).

Tabela 2 - Balanço das Operações do Banco da Terra entre 1999 e 2004 Famílias Valor Médio Estado Contratos Municípios Área (ha) Valor (R$) Beneficiadas por Hectare Alagoas 24 21 656 10.476 13.118.448,00 1.252,23 Espírito Santo 21 16 586 5.760 12.416.380,00 2.155,62 Goiás 27 21 2.259 33.744 45.397.198,00 1.345,34 Maranhão 1 1 33 827 120.296,00 145,46 Minas Gerais 94 76 2.534 167.400 54.385.844,00 324,88 Mato Grosso do Sul 17 13 1.212 14.869 22.847.834,00 1.536,60 Mato Grosso 41 30 3.214 645.766 57.115.718,00 88,44 Paraíba 68 50 452 25.010 13.866.413,00 554,43 Pernambuco 4 3 121 4.112 2.196.675,00 534,21 Piauí 34 30 1.436 41.458 16.454.551,00 396,89 Paraná 123 88 2.160 24.210 64.524.797,00 2.665,21 Rio de Janeiro 11 9 349 4.371 8.349.162,00 1.910,12 Rio Grande do Norte 19 16 496 10.224 7.701.461,00 753,27 Rio Grande do Sul 1.251 437 10.239 119.301 212.520.538,00 1.781,38 Santa Catarina 843 264 4.685 75.426 140.294.114,00 1.860,02 Sergipe 24 17 1.024 11.325 17.151.402,00 1.514,47 São Paulo 71 58 2.093 14.189 63.910.812,00 4.504,25 Tocantins 11 9 382 9.567 4.847.658,00 506,70 TOTAL 2.684 1.160 34.478 1.218.035 757.219.302,00 1.323,86 Fonte: Ministério do Desenvolvimento Agrário, 2007.

Os dados expressos na tabela demonstram o predomínio dos contratos nos estados da região Sul. Apenas essa região foi responsável por 70% dos contratos assinados e 48% das famílias beneficiadas. Esse fato se deve a participação de sindicatos e prefeituras, pois o sucesso do Programa Banco da Terra significaria o enfraquecimento do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra. Em relação à diferença entre o número de contratos e de famílias beneficiadas ocorre que, sobretudo nos estado de Rio Grande do Sul e Santa Catarina houve uma quantidade expressiva de contratos individuais, 19% e 14% respectivamente, além de contratos coletivos, mas com números de famílias inferiores a cinco. A maior adesão ao programa, como o caso dos municípios de Tamarana, Jundiaí do Sul e Jacarezinho na região Norte do Paraná, e Francisco Beltrão na região Sudoeste (figura 6), está intimamente ligada à representatividade e atuação dos sindicatos rurais e secretarias municipais de agricultura dos referidos municípios. 16

As propriedades adquiridas com recursos do Banco da Terra estão localizadas em áreas onde o solo tem menor índice de fertilidade e declividade acentuada. Segundo a Secretaria de Agricultura do município, os grupos criados pelo Banco da Terra estão “inviáveis”, pois “os solos são fracos e a infra-estrutura dos lotes precária”.

Sobre as áreas adquiridas é importante salientar o caso de estados como o de Paraíba, Pernambuco e Piauí, pois enquanto a média dos demais está entre 15 e 20 hectares, esses apresentam médias entre 35 e 45 hectares por família. 17

(ha) Gráfico 2 - Área Média por Família 200

180

160

140

120

100

80

60

40

20

0 AL ES GO MA MG MS MT PB PE PI PR RJ RN RS SC SE SP TO

Fonte: Ministério do Desenvolvimento Agrário, 2007.

Na região Sul foram criados os principais movimentos sociais de luta pela terra e também tem sido palco de muitos conflitos no campo. Então, o que explica a territorialização do programa justamente na região onde foi formado o MST, conforme identifica as figuras 4 e 5. Segundo Ros (2006), o que ocorreu nesta região foi um direcionamento político por parte das oligarquias locais, ligadas ao meio rural, para adesão no programa, pois o sucesso do programa significaria a derrota do MST. No Rio Grande do Sul, estado em que o Banco da Terra teve uma maior atuação, foram criados mecanismos e políticas direcionadas para o enfraquecimento do MST e sucesso do programa, como explica Ros:

Cinco razões principais explicam a abrangência assumida pelo Banco da Terra no Rio Grande do Sul: a) a demanda por terra; b) a montagem de uma estrutura descentralizada de gestão do programa; c) a existência de uma conjuntura de baixa nos preços das terras; d) a predominância de contratos de financiamentos individuais; e) e, sobretudo, o uso do programa como um instrumento de combate político ao MST. (2006, p. 265).

Isso evidencia que os grupos participantes do Programa, em sua maioria, não estavam ligados a movimentos sociais. Por conseguinte, a intenção de acabar com a militância na luta pela terra não logrou êxito. Pelo contrário, serviu para que os movimentos sociais se organizassem ainda mais, contra o novo modelo de “reforma agrária”. 18

2 OCUPAÇÃO DO NORTE DO PARANÁ E O ESPAÇO AGRÁRIO DE TAMARANA

2.1 – Ocupação do Norte do Paraná

O processo de colonização e ocupação do estado do Paraná, mais especificamente da porção Norte, foi marcado, entre outros fatores, pela disputa de terras. Uma contextualização da questão agrária no estado do Paraná, especificamente de Tamarana, nos leva à compreensão da atual luta pela terra, a função dos movimentos sociais e dos assentamentos rurais na transformação do espaço agrário, bem como sobre a adesão considerável ao programa Banco da Terra no município em estudo. A colonização do estado do Paraná teve início na segunda metade do século XVI, do litoral em direção ao interior, por jesuítas e colonizadores espanhóis. No início do século XVII os bandeirantes portugueses destruíram os núcleos formados pelos espanhóis expulsando-os do território paranaense. Nos séculos XVIII e XIX os tropeiros indo do estado de São Paulo para o Rio Grande do Sul fundam no Paraná, estado que era caminho, os primeiros núcleos urbanos. (PADIS, 1981). O Norte do Paraná teve um processo de colonização e ocupação diferente das demais áreas do estado, com os primeiros núcleos urbanos formados na segunda metade do século XIX. Para Wachowicz:

A sociedade que surgiu Norte Pioneiro a partir do século XIX apresentava de modo geral, as mesmas características da paulista e mineira dos tempos coloniais, ou seja, patriarcal, escravocrata e latifundiária. Embora a instituição da escravatura não se apresentava dominante, dava fortes sinais de desagregação, tanto na região como em todo o país. Com estes sintomas, a sociedade do Norte Pioneiro nasceu com características patriarcais e principalmente latifundiárias. (1987 p. 95).

Uma das responsáveis pela ocupação do Norte do Paraná foi a cultura cafeeira, tendo em vista que produtores paulistas e mineiros adquiriram vastas porções de terras visando implantar grandes cafezais. De acordo com Müller:

A segunda metade do século XIX abriu nova fase de povoamento para o Norte do Paraná, desdobrando-se pela região, numa avalanche, o manto verde dos cafezais. Essa ocupação foi feita a partir de 1862, efetuando-se as primeiras penetrações através dos cursos superior e médio do rio Itararé. 19

Eram fazendeiros paulistas que, seguindo a marcha para Oeste do café, foram atraídos pelas manchas de terra-roxa da região sedimentar permo- carbonífera. (1956, p.98).

No início do século XX, com a expansão da cultura cafeeira na região, a estrada de ferro que ligava o sul do estado de São Paulo ao porto de Santos foi estendida até o interior do Paraná para escoar a produção do estado, que em sua maior parte, era destinada à exportação. A prosperidade do café atraiu grande quantidade de migrantes vindos de vários estados do Brasil, e até de outros países. Segundo Wachowicz:

A grande maioria da população do Norte do Paraná provém de outros Estados, tornando a região um grande centro de atração das migrações internas no Brasil. Sua população, de maneira geral, estava assim constituída: 45% de paulistas; 20% de mineiros; 10% de nordestinos; 10% de catarinenses; 10% de paranaenses; 5% de estrangeiros e outros. (1987 p.165).

O aumento populacional ocorrido foi expressivo e, Dean (1996) destaca que enquanto a população do Brasil triplicou entre 1900 e 1950, a de São Paulo quadruplicou e a do Paraná cresceu quase seis vezes e meia. Já Padis (1981) relata que entre 1930 e 1970, urbanizou-se áreas absolutamente despovoadas. A cultura cafeeira trouxe o progresso à região da terra roxa, mas também, com ele vieram a grilagem de terras, os conflitos no campo, e as expropriações de colonos e populações indígenas que habitavam a grande área de terra, adquirida por ingleses através da Companhia de Terras Norte do Paraná (CTNP).

No norte do Paraná ocorreram graves questões de terras, com movimentos armados de importância e repercussão nacional, as mais importantes questões de terra ocorreram em Jaguapitã e Porecatu. (WESTPHALEN 1968 p. 27).

A CTNP se encarregou de lotear a área adquirida, e criou 110 núcleos urbanos entre as décadas de 1930 e 1940, entre os principais, o núcleo de Londrina em 1934. O loteamento começou em 1933, seguindo planos pré-determinados. Os lotes, traçados em longas fitas, iam dos espigões aos vales, tendo, ao mesmo tempo, frente para a aguada e para a estrada. Em média, a extensão é de 16 alqueires paulistas (39 hectares), embora o tamanho, na realidade, varie conforme a localização: vão de 1 a 5 alqueires ao redor dos núcleos urbanos, passando depois 20

para a classe de 5 a 10 alqueires, para, nas áreas mais afastadas, atingirem superfícies que vão acima de 10 alqueires. (MÜLLER, 1956, p.102). De acordo com Wachowicz (1987, p. 104), a região onde está localizado o município de Tamarana, mesmo muito próxima a Londrina, não foi alvo das ações da Companhia de Terras Norte do Paraná. Sua localização na porção Sul fez com que estivesse em uma área de transição entre o Terceiro e Segundo Planaltos geológicos do Paraná, possuindo assim solos ácidos, conseqüentemente menos férteis, e com topografia bastante acidentada. Ainda segundo Wachowicz, essa região, foi ocupada pelos chamados safristas. A princípio era plantado, algodão, fumo e milho. Naquele momento, o toicinho de porco estava sendo muito consumido, assim, em virtude dos bons preços, os safristas mudaram seu principal produto, mas não abandonaram totalmente o cultivo do milho. Os porcos e os milharais eram a fonte econômica da área, e o sistema usado para a criação de porcos era o da safra.

Basicamente a safra consiste no seguinte: derrubada de 20, 30 ou 50 alqueires de mato. Após a queimada, plantava-se milho, abóbora, bata-doce. Quando o milho já estava crescido, o safrista percorria a região comprando porcos dos sitiantes. Oito, dez, quinze de cada um. Eram todos colocados em mangueirões. Quando o milho começava a amadurecer, a amarelar, esses animais eram soltos no milharal. Quando havia vizinhos na redondeza, o porco era marcado. (WACHOWICZ 1988 p. 96).

A ausência da atuação da Companhia de Terras Norte do Paraná em Tamarana, e o desenvolvimento dos municípios da região, tais como: Londrina, , Rolândia e Apucarana, fez com que a concentração fundiária nesta área continuasse forte e fossem mantidas as principais características da sua formação. Foram adquiridas, sobretudo nas décadas de 1930 e 1940, grandes porções de terras, que, ao contrário das demais áreas próximas a Londrina, não foram loteadas, se tornaram grandes fazendas, com destaque para o cultivo de arroz, café e as de atividade pecuária.

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2.2 – O município de Tamarana e o seu espaço agrário

O município de Tamarana está localizado na região Norte do estado do Paraná, a extremo sul de Londrina. Até o final do século XIX, a área onde está localizado o município era um espaço praticamente vazio, exceto pela presença de comunidades indígenas do Grupo Kaingangs. (PROSCENCIO, 1999, p. 90) De acordo com Moura:

Os primeiros registros de ocupação datam de 1920, quando uma pequena população migrou, vinda do município de (PR), e, logo em seguida, outras famílias chegaram, agora provenientes do município de São Jerônimo da Serra. (1999, p. 191-192).

Tamarana foi um distrito do município de Londrina e apenas na década de 1990 é que se iniciou a discussão sobre a emancipação do mesmo.

A população ficou dividida porque muitos achavam que a dependência a Londrina “intimidava” o desenvolvimento de Tamarana, então, era preciso “libertar-se” para “desenvolver-se”. (MOURA, 1999, p. 193)

Vale salientar que nem todos foram a favor da emancipação. Os contrários alegavam que elevar o distrito de Tamarana a município seria condená-lo a estagnação econômica. Em 1985, durante o Governo Sarney, o então distrito de Londrina foi alvo do 1º PNRA (Plano Nacional de Reforma Agrária) que posteriormente criou o primeiro assentamento, chamado de Água da Prata, com 93 famílias. Na realidade um reassentamento. Eram posseiros que viviam numa área indígena, município de São Jerônimo da Serra. Após a área ser demarcada oficialmente, as famílias foram assentadas em Tamarana, no ano de 1986. Deste ano até 1997, grandes fazendas da região, foram negociadas com o INCRA para a criação de outros assentamentos rurais. Assim, entre os anos de 1985 e 1997, foram implantados oito assentamentos, totalizando de 247 famílias, revelando assim atuação dos movimentos sociais rurais na luta pela reforma agrária, e também a importância dos assentamentos para os municípios nos quais estão inseridos, sobretudo nos pequenos como Tamarana. O município possui atualmente 8 assentamentos rurais, 6 grupos do Banco da Terra, 2 Vilas Rurais e uma área não regularizada (figura 7), chamada de Colônia Penal, onde seria construído, no início da década de 1980, um centro de 22

detenção, mas por pressões populares na época, o centro não foi construído (tabela 3). Atualmente nesta área vivem 11 famílias. É necessário ressaltar que o assentamento Pari-Paró tem sua sede localizada no município de Londrina, porém três de seus lotes estão localizados dentro do limite municipal de Tamarana, pois o assentamento foi criado antes da emancipação política do município.

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Tabela 3 – Assentamentos Rurais e Grupos Banco da Terra do Município de Tamarana - Pr Nº Nome Área (ha) Nº de Famílias Implantação Origem 01 Colônia Penal 109 11 1984 Área Estadual 02 Água da Prata 1.651 93 1986 INCRA 03 Serraria 381 20 1991 Ocupação 04 Mandassaia 485 29 1996 Ocupação 05 União Camponesa 546 26 1997 Ocupação 06 Mundo Novo 810 27 1997 Ocupação 07 Tesouro 581 26 1997 Ocupação 08 Cruz de Malta 407 14 1998 - 09 Cacique 162 12 1999 - 10 Grupo Brasil 560 50 2001 Banco da Terra 11 Esperança 82 8 2001 Banco da Terra 12 Água Branca 209 22 2002 Banco da Terra 13 Renascer I 127 24 2003 Banco da Terra 14 Renascer II 105 18 2003 Banco da Terra 15 Renascer III 105 17 2003 Banco da Terra - Total 6.320 397 - - Fonte: TSUKAMOTO, R. Y. e ASARI, A. Y., 2005 – Atualizado pelo autor.

Nota-se pelos dados apresentados na tabela acima que é significativa a população residente nos assentamentos e nos grupos do Banco da Terra do município de Tamarana. Segundo a EMATER, são cerca de 1.900 habitantes residentes nestas áreas. Isso significa 20% da população do município e 43% da população residente na área rural.

O fluxo demográfico, de que muitas vezes demanda o assentamento, contribui sensivelmente para a revisão das políticas publicas locais e para a dinamização do comercio da cidade, bem como contribui também para o desenvolvimento da região onde estão inseridos, dependendo do envolvimento e direcionamento político que emana dessas relações. (SILVA, 2007 p. 136)

Em 1999, em virtude da atuação do Banco da Terra, a implantação de assentamentos rurais provenientes de negociações com o INCRA foi cessada, mesmo com a existência de um acampamento no município. A partir daí foram criados apenas grupos de produtores rurais interessados na obtenção de terras via financiamento, através de programas como o Banco da Terra, entre 2001 e 2003. Nos últimos vinte anos Tamarana passou por profundas alterações. Não apenas por sua emancipação política, mas, sobretudo pela transformação ocorrida em seu espaço agrário. Se antes havia a predominância de grandes propriedades, atualmente há o predomínio da pequena, em média de 10 hectares, sobretudo aquelas oriundas de projetos de assentamento. O aumento da população também é 24

um fator importante. Tamarana possui, segundo dados do IBGE, 10.879 habitantes, que residem predominantemente na área rural (55%) e a taxa de alfabetização no município é de 80%. A população assentada é uma das maiores responsáveis pelo crescimento econômico do município. A implantação de um assentamento rural movimenta os depósitos de materiais de construção, tendo em vista a implantação de infra-estrutura básica para cada lote. Além disso, tem aumentado o número de lojas de insumos agrícolas necessários para a lavoura. Assim são vendidas grandes quantidades de sementes e insumos agrícolas. Com a nova configuração fundiária de Tamarana, baseada na pequena propriedade, diversificou-se os produtos e a área plantada. (tabela 4).

Tabela 4 - Principais Culturas / 2005 Rendimento Médio Lavouras Produtores Área (ha) Kg / ha Amoreira 18 48 153 Arroz Irrigado 1 25 5000 Arroz Sequeiro 225 180 1000 Café 41 125 1430 Feijão das Águas 320 1500 1240 Feijão das Secas 188 1100 1000 Milho 520 4800 6000 Milho Safrinha 20 500 2900 Soja 290 13000 2600 Soja Safrinha 2 100 1480 Trigo 80 2500 2100 Aveia 300 2000 1000 Triticale 30 800 1480 Fonte: Perfil Agrícola de Tamarana – PR / EMATER, 2006

A comercialização é um ponto importante, pois movimenta a economia de forma direta. Mesmo vendendo os produtos para a CEASA de Londrina todo o dinheiro ganho com a venda da produção é gasto no município de Tamarana, em mercados, açougues, depósitos, entre outros. Ainda relacionado à comercialização, as dificuldades enfrentadas são várias, tais como: as condições das estradas rurais, que através de recursos do INCRA e do Estado do Paraná foram melhoradas, mas em época de chuvas é um complicador para o transporte da produção; a falta de transporte próprio para a produção, fazendo com que os produtores estejam subordinado a um fretista, além dos especuladores. Cientes das dificuldades enfrentadas pelos produtores na comercialização pagam preços cada vez mais baixos. 25

Mas, mesmo enfrentando dificuldades, os pequenos produtores, contribuem de forma significativa para o desenvolvimento municipal. Com a implantação dos assentamentos rurais configura-se uma nova estrutura fundiária e a nova etapa no desenvolvimento de Tamarana. A transformação de grandes propriedades em assentamentos representa um avanço na luta pela reforma agrária.

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3 O BANCO DA TERRA EM TAMARANA: O CASO RENASCER II E III

Os Grupos Renascer II e III, que juntos abrigam 35 famílias, foram criados no final do ano de 2002 com os nomes Associação dos Produtores Rurais do Grupo Renascer II e Associação dos Produtores Rurais do Grupo Renascer III. Mas as primeiras famílias instalaram-se na área adquirida somente no mês de agosto de 2003, tendo em vista que após a assinatura do contrato de financiamento com o Programa Banco da Terra, que ocorreu em fevereiro de 2003, foi necessário aguardar o tramite legal para a liberação do dinheiro, ocorrida no início do mês de março, para a compra da propriedade e loteamento da mesma. Estão localizados no município de Tamarana, cerca de 12 km da sede, em uma área de declividade acentuada com solo do tipo Litólico Eutrófico A, que tem como característica principal o baixo teor de fertilidade em virtude de sua ocorrência em áreas de relevo acidentado, onde os solos são mais rasos e rochosos.

3.1 Perfil dos produtores

Os produtores entrevistados apresentam idade que variam entre 21 a 66 anos, com predomínio de agricultores da faixa etária entre 31 e 40 anos (gráfico 3). Assim como a idade, o local de nascimento dos mesmos também é heterogêneo, pois, mesmo a grande maioria sendo paranaense (73%), nascido na região Norte do estado, em municípios como Londrina, Ortigueira, Apucarana e Tamarana, encontramos produtores nascidos em Minas Gerais, Pernambuco e Bahia que vieram com seus pais trabalhar em grandes propriedades do Norte do Paraná e se estabeleceram na região (gráfico 4). Já os 37% nascidos em Tamarana, em sua maioria eram meeiros. Também há que se destacar o nível de escolaridade dos produtores entrevistados (gráfico 5) no qual predomina o Ciclo Básico de Alfabetização Completo (antiga 1ª a 4ª série do Ensino Fundamental) fato que revela a carência de escolas que ofertam as séries finais do Ensino Fundamental na área rural e também a necessidade de mão-de-obra familiar exigida nas atividades rurais. 27

Outro ponto importante é onde residiam antes (gráfico 6), cujos dados revelam que a totalidade dos entrevistados residia nos municípios de Londrina e Tamarana. Isto quer dizer que os beneficiários do Programa Banco da Terra não estavam acampados ou mesmo filiados à movimentos sociais de luta pela terra, conforme o gráfico 7, tendo em vista que mesmo a maioria estava residindo na área rural (66%), não possuíam terra. Quanto aos que “tentaram a vida na cidade” (34%), segundo seus próprios relatos, não se adaptaram, tendo em vista que até então só haviam residido no campo e tinham apenas a agricultura como experiência profissional. Desta forma os produtores rurais não qualificados para postos de trabalhos urbanos foram forçados a voltar a sua origem. A atividade de trabalho exercida antes de irem para os grupos Renascer II e III (gráfico 8) explicita a falta de qualificação profissional exigida pelo mercado de trabalho nas cidades, e o conseqüente desemprego do trabalhadores rurais que abandonam o campo e partem para a cidade em busca de melhoria de vida.

Gráfico 3 - Faixa Etária Gráfico 4 - Local de Nascimento

21 a 30 anos 11% Apucarana (PR) Londrina (PR) 28% 17% 31 a 40 anos 11% 5% 26% Ortigueira (PR) 5% Tamarana (PR) 41 a 50 anos 17% 38% 5% Bahia 37% Minas Gerais Acima de 51 Pernambuco anos

Gráfico 5 - Nível de Escolaridade Gráfico 6 - Moradia antes do Grupo Renascer Sem Instrução 11% 11% CBA Imcompleto 11% 34% CBA Completo Londrina 28% Tamarana 39% Ens. Fundamental 66% Ensino Médio

Gráfico 7 - Última Residência Gráfico 8 - Última Atividade Exercida Desempregado

Empregado Rural Área Urbana 24% 34% 36% Área Rural Empregado 12% 28% Urbano 66% Meeiro

Fonte: Pesquisa in loco. Julho/2007. 28

Através do perfil apresentado podemos verificar que a grande maioria dos produtores residia e trabalhava na área rural. É necessário destacar a quantidade expressiva de produtores (34%) que estavam residindo na área urbana, mesmo tendo experiência na agricultura e na pecuária e, com a aquisição da propriedade voltaram à área rural. Vale ressaltar ainda aqueles que estavam residindo em áreas urbanas e que estavam desempregados (24%), ou vivendo de “bicos”, como pedreiro, ou realizando capinas em casas da cidade.

3.2 A criação dos grupos e o financiamento da terra

A propriedade adquirida possui uma área total de 210 hectares e pertencia a um empresário, do ramo da construção civil, que residia no município de Londrina. Cada família ficou com uma área de 6 hectares, ou seja, receberam um lote de 5 hectares (foto 1), destinados para o plantio e moradia e, 1 hectare para a mata de reserva florestal, que é coletiva. Assim, os 210 hectares da propriedade adquirida, conta com 35 lotes, mais 35 hectares de reserva legal, separado dos lotes (figura 8).

Foto 1 – Lote do Grupo Renascer II. A declividade e a má qualidade do solo dificultam a produção. Observe no primeiro plano o cultivo de repolho. No segundo plano, a presença de encostas cobertas de vegetação, localizadas a 950m de altitude Foto: Sérgio Aparecido Nabarro. Julho/2007. 29

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Os dois Grupos estão localizados em uma mesma área com uma única sede (foto 2). A razão pela qual as famílias foram divididas em duas associações (Associação dos Produtores Rurais do Grupo Renascer II e Associação dos Produtores Rurais do Grupo Renascer III) deve-se à questões puramente burocráticas, pois uma das normas do Programa Banco da Terra é o número limite de 30 famílias por grupo. Como haviam 35 inscritas no programa, foram divididas em dois grupos, um com 18 famílias, que formou o Grupo Renascer II, e outro com as 17 famílias restantes, que deu origem ao Renascer III. Cada associação tem seu presidente, vice-presidente, tesoureiro e secretário, mas constatamos que todos os procedimentos referentes às duas associações são efetuados pela presidente do Grupo Renascer II, que trabalha no Sindicato dos Trabalhadores Rurais do Município de Tamarana e foi quem fez a inscrição e providenciou todos os documentos das associações.

Foto 2 – Antiga sede da Fazenda Estância Quadra, onde atualmente funciona a sede dos Grupos Renascer II e III, local de realização das reuniões e assembléias. Foto: Sérgio Aparecido Nabarro. Julho/2007.

O tramite do Banco da Terra no município de Tamarana (figura 9), foi diferente do estipulado pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário (figura 1, página 9). Primeiramente porque os interessados na aquisição de terras teriam que se filiar 31

ao Sindicato dos Trabalhadores Rurais do Município de Tamarana. O sindicato, após a filiação do interessado, verificava se o mesmo se enquadrava nas regras do programa (nos últimos 15 anos ter sido trabalhador rural por pelo menos 5, não ter patrimônio pessoal acima de R$ 30.000,00, não ser proprietário de terras, ou ser proprietário de terra, mas essa caracterizada como minifúndio), caso cumprisse as exigências, era emitida uma Declaração de Enquadramento. Outro ponto a ser destacado é o fato de que não eram os interessados na obtenção de terras que procuravam a área para ser adquirida, mas o proprietário de terras é quem oferecia a terra ao sindicato. Assim, foram adquiridas áreas com solos já esgotados, e, os beneficiados, muitas vezes, só conheciam a área após a assinatura do contrato de financiamento. Também, o levantamento topográfico para divisão dos lotes era feito antes da proposta ir para o Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural Sustentável (CMDRS). Após a aprovação da proposta de financiamento pelo CMDRS, a mesma era enviada para a Unidade Técnica Regional, localizada na sede da Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento, em Londrina. A UTR era responsável por ir até a área fazer verificações como: se havia água em todos os lotes, se o tipo de solo e o tamanho de cada lote iria propiciar o desenvolvimento da atividade a ser desenvolvida pelos beneficiários. Depois da aprovação pela UTR a proposta seguia para a Câmara Estadual do Banco da Terra (CEBT), localizada em Curitiba, que avaliava os pareceres do CMDRS e da UTR. Aprovada pela CEBT, a proposta seguia para o Banco do Brasil, que verificava pendências do imóvel rural e também dos futuros beneficiados. Caso não fosse constatada nenhuma pendência, liberava o dinheiro para o dono da propriedade vendida. Segundo o Sindicato dos Trabalhadores Rurais do Município de Tamarana, o maior problema era quando a proposta chega ao Banco do Brasil, onde era verificado junto a órgãos como Receita Federal, Centralização dos Serviços dos Bancos S/A (SERASA), Serviço de Proteção ao Crédito (SPC), entre outros, se havia alguma pendência em nome dos proprietários da área ou dos beneficiários. Na maioria das vezes o problema era com algum beneficiário. Assim, quando o contrato era individual eram concedidos 30 dias para o beneficiário regularizar sua situação, caso esse prazo exceda, ele é substituído por outro. Porem, no caso do financiamento coletivo, a proposta volta para o sindicato, pois não pode haver substituições, e, enquanto a situação do beneficiário não for resolvida o processo 32

fica pendente. Desta forma, enquanto os contratos individuais passavam por todo o tramite em aproximadamente 90 dias, os coletivos demoram em média um ano.

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Os contratos com o Banco da Terra, realizados pelo do Banco do Brasil, apresentam o valor para o custo total da implantação dos dois Grupos (tabelas 5 e 6), tais como: aquisição da propriedade, construção das residências, rede de abastecimento de água e de energia elétrica, abertura de estradas, trabalho de topografia de divisão dos lotes, além dos custos cartorários. Por decisão do Sindicato dos Trabalhadores Rurais do Município de Tamarana quando formaram os grupos o financiamento para a compra da terra foi na forma coletiva. Em virtude dos custos topográficos e cartorários. Para se ter uma idéia os custos topográficos ficam 40% mais baratos, pois em um único levantamento topográfico todos os lotes são demarcados.

Tabela 5 – Valores Financiados no Contrato do Grupo Renascer II Objeto Valor (R$) Aquisição da Propriedade 459.999,99 Construção de 18 Residências de 48 m 2 81.000,00 Rede de Abastecimento de Água 5.500,00 Rede de Energia Elétrica 5.400,00 Construção de 2 Estradas 3.630,00 Trabalho Topográfico de Divisão dos Lotes 2.700,00 Custos Cartorários 10.500,00 Total 568.729,99 Fonte: EMATER – Tamarana, 2003.

Tabela 6 – Valores Financiados no Contrato do Grupo Renascer III Objeto Valor (R$) Aquisição da Propriedade 439.999,59 Construção de 17 Residências de 48 m 2 76.500,00 Rede de Abastecimento de Água 4.200,00 Rede de Energia Elétrica 4.080,00 Trabalho Topográfico de Divisão dos Lotes 2.550,00 Custos Cartorários 9.860,00 Total 537.189,59 Fonte: EMATER – Tamarana, 2003.

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É necessário esclarecer que os custos para abertura de duas estradas foram inseridos apenas no contrato de financiamento do Grupo Renascer II, pois, segundo entrevistas realizadas na EMATER de Tamarana, se o valor fosse dividido entre os dois Grupos, a dívida final do Grupo Renascer III, que já seria maior, ficaria ainda mais alta, pois haviam estabelecido anteriormente que o valor da dívida dos grupos deveria ser igual. Assim, vale ressaltar que o contrato do Grupo Renascer III teve um valor total inferior, porém o valor final do contrato para cada família foi maior (tabela 7) em virtude do menor número de famílias do grupo, uma a menos que o Renascer II. O pagamento do financiamento deve ser iniciado após três anos completos da assinatura do contrato (dia 15 de fevereiro de 2007 para o Grupo Renascer II e 19 de Fevereiro 2007 para o Renascer III) dividido em 17 parcelas anuais, com desconto de 40% na taxa de juros para aqueles que efetuarem o pagamento das parcelas em dia. A responsabilidade em arrecadar o dinheiro de cada família é do presidente da associação de cada grupo, que repassa para o Sindicato, o qual efetua o pagamento junto a agência central do Banco do Brasil, no município de Londrina.

Tabela 7 – Parcelas do Financiamento Grupo Número de 16 Parcelas 17ª Parcela Valor por Famílias (2007 a 2022) (2023) Família / Ano Renascer II 18 R$ 33.457,62 R$ 33.458,07 R$ 1.858,78 Renascer III 17 R$ 31.559.39 R$ 31.599,32 R$ 1.858,78 Fonte: EMATER – Tamarana, 2003.

No caso de atraso superior a cinco meses, segundo as condições contratuais, na próxima, serão cobradas todas as parcelas do contrato. Este representa uma grave falha no programa, pois na área rural, três anos para se consolidar na terra e iniciar o pagamento da mesma não são suficientes. Há ainda problemas com quebra da safra em virtude das condições climáticas. Assim, fica inviável um contrato onde uma das condições é de que o atraso superior a cinco meses acarreta a cobrança de todas as parcelas da dívida no próximo ano.

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3.3 Uso da terra, produção e comercialização

Os produtos cultivados nos lotes dos Grupos Renascer II e III são diversificados (tabela 8), assim como o uso da terra (figura 10). A área plantada é expressiva mesmo com apenas 4 anos de implantação.

Tabela 8 – Uso Atual da Terra, Produção e Comercialização

Cultura Área (ha) Preço R$ Produção Comercialização Batata-doce 18,6 12,00 4.460 caixas CEASA Eucalipto 15,6 - Não cortou - Milho Verde 15,3 7,10 640 sacas CEASA Café 15,3 - Não colheu - Acelga 10,3 13,20 600 dúzias CEASA Repolho 10,1 12,60 585 dúzias CEASA Feijão 3,8 73,00 12 sacas CEASA e Autoconsumo Horta Caseira 3,4 - - Autoconsumo Pepino 2,6 10,20 40 caixas CEASA Vagem 2,4 13,70 370 caixas CEASA Pomar 1,9 - - Autoconsumo Abobrinha 1,8 8,90 30 caixas CEASA Mandioca 1,8 5,60 150 caixas CEASA e Autoconsumo Arroz 1,2 45,00 13 sacas CEASA e Autoconsumo Pasto (ha) 38,7 - - - Mata (ha) 23,0 - - - Fonte: Pesquisa in loco – Agosto/2007

A expressiva área de eucalipto, segundo os produtores entrevistados, foi por iniciativa própria para a venda da madeira na região de Tamarana. Não havendo contrato com nenhuma madeireira, ou até mesmo com grandes fabricantes de papel. É necessário destacar também as áreas de mata e de pasto. A mata, que não faz parte da reserva coletiva, representa áreas de declividade acentuada, impróprias para o cultivo dos gêneros desenvolvidos atualmente pelos produtores. No tocante às áreas de pasto, além da declividade acentuada apresentam solos com expressiva quantidade de afloramentos rochosos que inviabilizam qualquer tipo de produção, sendo assim, a única alternativa encontrada foi de transformá-las em áreas de pasto. 36

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Quanto ao nível de tecnificação (tabela 9), o mesmo não é considerado baixo. Apenas o trator, utilizado no preparo da terra para o plantio, é alugado por R$ 60,00 a hora, de um produtor residente próximo aos Grupos Renascer II e III.

Tabela 9 – Nível de Tecnológico Implemento Entrevistados que fazem o uso Adubo 90% Inseticida 90% Calcário 90% Herbicida 90% Trator 40% Plantadeira 40% Roçadeira 60% Pulverizador Costal 20% Arado 20% Grade 40% Irrigação 70% Fonte: Pesquisa de Campo – Agosto/2007

A irrigação é um ponto positivo (foto 3). Os lotes dos Grupos possuem generosa rede de drenagem, assim os locais de captação de água não distantes das áreas de cultivo.

Foto 3 – Plantação de Acelga e ao fundo repolho roxo. Estes produtos são muito cultivados, pois dão retorno mais rápido. Do plantio à colheita são apenas 37 dias, também são produtos mais resistentes à geada. Foto: Sérgio Aparecido Nabarro. Agosto/2007. 38

No tocante à comercialização, foi observado que o produto estando com o preço elevado, em falta no mercado, a maioria dos produtores passa a cultivá-lo, o que leva à queda nos preços no momento da comercialização. O caso mais claro relatado foi o da batata-doce, que no ano de 2004 foi pouco ofertada, e por conseqüência os produtores venderam a caixa a R$ 7,00. Desta forma, a maioria dos produtores plantou esse produto, que no ano de 2005, devido a grande oferta, o preço máximo alcançado foi de R$ 3,80. Essa queda do preço faz com que o pequeno produtor esteja ainda mais vulnerável tornando-se difícil prever o preço que será pago por determinado produto. Dois pontos muito importantes na comercialização e que estão interligados são: a concorrência com os produtores já consolidados, o preconceito sofrido pelos pequenos produtores do município de Tamarana. No primeiro ponto, os produtores mais antigos já possuem os seus compradores, donos de boxes na própria CEASA que, em alguns casos, até sugerem o tipo de produto a ser cultivado. Isso é uma garantia de venda, mesmo que o preço não seja o esperado. Os pequenos produtores vendem na APRONOR (Associação Norte Paranaense de Horticultores), chamada pelos produtores de “pedra”. Neste local, dentro da CEASA de Londrina, em uma área separada dos boxes, os produtores negociam diretamente com os compradores, que em sua maioria são donos de sacolões e quitandas da região de Londrina. Segundo a administração da APRONOR cadastrados são 1.214 produtores, de 67 municípios do Norte do Paraná e que deveriam pagar uma mensalidade de R$ 15,00, mas apenas 10% dos produtores cadastrados pagam. Em decorrência do alto índice de inadimplência, até o final de 2007 a APRONOR irá recadastrar todos os produtores e atualizar sua lista de associados. Segundo os produtores, eles não são associados porque mesmo sem pagar a taxa mensal conseguem acesso na área de venda e comercializam sua produção juntamente com aqueles que pagam. Assim, o controle de entrada e saída da CEASA não seria eficaz, já que o cadastramento está voltado para o pagamento da mensalidade. Além da inadimplência, com o recadastramento, a APRONOR quer acabar com os chamados “picaretas”, que são produtores que aproveitam os preços de 10 a 20% maior nos boxes que além de entregar sua produção compram produtos na “pedra” e revendem para os boxes ganhando essa diferença no preço. 39

Foto 4 – Sede da Associação Norte Paranaense de Horticultores – APRONOR. Foto: Sérgio Aparecido Nabarro. Agosto/2007.

A associação reconhece a existência de muitos produtores que não são associados, mas que comercializam sua produção na chamada “pedra”. Esses produtores não poderão exigir, junto à associação, algum tipo de direito caso tenham problemas com pagamentos. No segundo ponto, está a questão das distorções apresentadas sobre os movimentos sociais rurais, sobretudo pelo MST, pela mídia, onde a imagem passada da luta pela terra é a de baderna e violência. Esse fato faz com que os produtores dos Grupos Renascer II e III, vistos como assentados, tenham dificuldades de conseguir vender seus produtos. Porém, os agricultores pesquisados não se consideram assentados e até se ofendem quando assim são chamados.

3.4 Dificuldades enfrentadas e perspectivas para o futuro

As principais dificuldades enfrentadas no início foram as referentes à infra- estrutura básica, como: a falta d’água, de luz e as condições precárias das estradas que davam acesso aos lotes dos grupos. Nos lotes visitados, as casas eram de alvenaria, com aproximadamente 30m 2, com dois quartos, sala, cozinha e banheiro. 40

O contrato previa a liberação de R$ 4.500,00 destinados para a construção da uma casa com 48m 2. No entanto, não foi o suficiente. Além do tamanho inferior ao previsto, a maioria das residências foi construída pelos próprios beneficiários e, apenas rebocada (foto 5). Atualmente, todos os lotes contam com luz elétrica e água.

Foto 5 – Moradia localizada em um lote do Grupo Renascer III, já com energia elétrica, água encanada, captada diretamente de um curso d’água localizado no interior do lote. Foto: Sérgio Aparecido Nabarro. Agosto/2007.

Após enfrentar os problemas relacionados à infra-estrutura básica dos lotes, tem início os maiores e mais complexos relacionados à produção e comercialização, tendo em vista que é nesse momento que se iniciam as atividades que vão gerar a renda das famílias e assim, abrindo perspectivas para a auto-sustentação e para o pagamento da terra. Vários fatores influem para dificuldade na comercialização, entre os principais estão: a falta de veículo próprio para o transporte da produção; as condições das estradas rurais do município; a oferta do produto no mercado; a concorrência com os produtores já consolidados; o preconceito sofrido por alguns produtores recém instalados nos lotes, que buscavam sua inserção no mercado, mesmo não pertencendo a nenhum movimento social; a distância entre o lote e a CEASA; e a negociação dos preços com o comprador. 41

Uma das maiores dificuldades para a comercialização é a questão do transporte. Ele tem influência direta no preço final do produto. A dificuldade dos pequenos agricultores é a falta de veículos para transportar a produção. Enquanto alguns produtores do município que possuem meios de transporte próprio, os do Renascer II e III concorriam com o mesmo preço de mercado com o ônus do frete. No transporte estão envolvidos dois problemas: a) as condições das estradas rurais; b) a distância entre a área cultivada e o destino do produto. Até o início de 2007 os produtores transportavam a produção, por intermédio de um “fretista”, ou seja, um produtor do Renascer III levava sua produção e a de alguns vizinhos, mas com um custo. Assim, para transportar os produtos, o frete variava de R$ 1,20 a R$ 2,50 por caixa ou dúzia. A variação no valor do frete está vinculada ao tipo de produto (produtos que são vendidos por dúzia são mais caros que os vendidos por caixa, tendo em vista que uma dúzia de repolhos ocupa mais espaço no caminhão que uma caixa de vagem, por exemplo), às condições das estradas e o preço do combustível. Segundo depoimentos colhidos em abril de 2006:

“as estradas aqui são muito ruins, fica difícil levar os produtos para o CEASA.”

“a prefeitura fala que faz obras nas estradas, mas aqui só vi fazer uma vez, e depois da primeira chuva as estradas voltaram tudo como era antes”

“com a estrada ruim o vizinho que transporta os produtos aumenta o preço do frete, daí fica difícil mandar as coisas para o CEASA, que ainda por cima fica lá em Londrina”

Desde o início de 2007, as estradas para o escoamento da produção do município de Tamarana tiveram, e estão tendo, uma melhora significativa (fotos 6 e 7), em virtude de recursos, angariados pela Secretaria Municipal de Obras junto aos governos federal e estadual, para a recuperação das estradas já existentes. Apenas a estrada interna de cada lote ainda apresenta alguma precariedade, mas representam pequenos trechos. Nos meses de julho e agosto de 2007 colhemos depoimentos como:

”a prefeitura fez umas obras que melhorou bem as estradas, só quando chove muito, e durante vários dias seguidos, é que a estrada fica só para trator.”

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“as estradas dos lotes propriedades só ficam ruins na época de chuva forte, mas a estrada que vai para a cidade melhorou bem. Antes nem o ônibus dos estudantes entravam aqui no Renascer, eles tinham que pegar o ônibus antes da entrada do Renascer”

Foto 6 – Por intermédio da EMATER, a Prefeitura Municipal de Tamarana, através da Secretaria de Obras, conseguiu recursos dos governos estadual e federal para a recuperação das principais estradas do município. Foto: Sérgio Aparecido Nabarro. Agosto/2007.

Vale salientar que os preços das mercadorias eram negociados pelo fretista no local de venda, já que os produtores não iam até a CEASA. O responsável pelo frete negociava o melhor preço e ao retornar para Tamarana entregava o dinheiro das vendas aos produtores, denotando confiança entre o comprador e vendedor. Percebe-se que, sabendo das dificuldades no transporte e comercialização, os compradores, muita vezes, oferecem valores muito abaixo do justo, conscientes de que o fretista não pode voltar com a mercadoria. Dessa forma ocorre uma subordinação do produtor ao fretista, e do fretista ao comprador. Essa estratégia tipicamente capitalista e mercadológica dificultava ainda mais a luta pela consolidação dos pequenos produtores. Desde março de 2007 os produtores mudaram sua forma de transportar a produção. Agora não há mais o fretista. Um produtor vizinho transporta a produção sem custo de frete, cobrando apenas o combustível. Alem disso, os produtores vão 43

pessoalmente a CEASA negociar sua produção (foto 8). Essa alternativa melhorou a renda, além de acabar com a subordinação ao fretista.

Foto 7 – Recuperadas, as estradas de acesso aos Grupos Renascer II e III amenizaram, um dos principais problemas da comercialização que é a dificuldade em transportar a produção em virtude das estradas precárias. Foto: Sérgio Aparecido Nabarro. Julho/2007.

Foto 8 – Caminhão que transporta a produção para a CEASA. Observe que o produtor está negociando preço com um comprador. Foto: Sérgio Aparecido Nabarro. Setembro/2007. 44

São muitas as dificuldades enfrentadas pelos produtores dos Grupos Renascer II e III, algumas amenizadas, mas não resolvidas como o caso do transporte, outras longe de uma real alternativa, como a comercialização na venda na APRONOR. Um dos graves problemas enfrentados pelos beneficiários é o pagamento da terra, a qual deveria ter sido paga a primeira parcela em março de 2007. O sindicato está tentando, junto ao Banco do Brasil, uma forma de renegociação, mas uma alternativa que beneficie todos os produtores, não só do Renascer II e III, e sim, todos os grupos formados a partir do Banco da Terra, pois estão longe de serem alcançadas. Os beneficiários do Banco da Terra estão em uma difícil situação. Por um lado o programa não prevê renegociação de dívida, de outro, os produtores, em virtude do não pagamento da primeira parcela do financiamento da terra, estão com o nome na SERASA, não conseguindo financiamentos, sobretudo o PRONAF, não tendo como investir no aumento da produção. Não conseguindo obter renda a dívida se torna impagável. Essa realidade fez com que alguns produtores abandonassem seus lotes ou “vendessem os direitos”; neste caso o beneficiário faz um acordo com o interessado em produzir no seu lote para que ele assuma a dívida, mas essa continuará em nome do beneficiário, pois de acordo com o contrato, enquanto não terminar de pagar a terra o produtor não poderá vender nem arrendar seu lote (figura 11). Desta forma, confirmamos alguns problemas trazidos pelo Programa Banco da Terra, apontados por Rezende e Mendonça, 2004, (ver p.12, capítulo 1), como: inviabilidade econômica dos lotes; impossibilidade de pagamento de financiamentos e empréstimos, gerando o endividamento dos produtores rurais; aquisição de terras de má qualidade; compra de terra feita por associações, sem autonomia na escolha das áreas; condições precárias de sobrevivência; e abandono de áreas.

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Uma solução, em médio prazo, é o governo federal, através do Ministério do Desenvolvimento Agrário e do Banco do Brasil, renegociar a dívida dos produtores e retirar seus nomes do SERASA, pois isso está inviabilizando o financiamento para continuar a produção (PRONAF), e lançar novas linhas de créditos para o financiamento da produção com juros mais baixos e condições de pagamento diferenciadas. Acreditamos que somente após os três anos de carência é que o produtor deveria fazer o financiamento, via PRONAF, pois, antes disso, ou seja, na fase de estruturação do lote e da produção, a verba deveria ser estendida das primeiras produções até a consolidação. Segundo um beneficiário entrevistado:

“gente precisando e o governo só ajuda quem é grande, que só sabe planta soja mesmo. O governo tem que ajudar quem planta comida. Não adianta ter o PRONAFinho que nós não agüenta pagar, ou até agüenta, mas se não acontecer nada nas hortas, porque se ela quebra não tem mais como pagar isso, daí fica devendo”.

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4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com o fim do governo F.H.C. as expectativas dos movimentos sociais de luta pela terra se renovaram. Mas, o atual deu continuidade à política anterior, mantendo os programas de desenvolvimento rural, com respaldo do Banco Mundial. O grande problema do Banco da Terra é o fato de estar contribuindo ainda mais para a concentração de terras no país, porque o grande proprietário vende sua terra, que na maioria das vezes apresenta solos esgotados ou com baixa produtividade, recebe o pagamento à vista, e passa a concentrar terras em outra área. Enquanto isso, as famílias “beneficiadas” pelo programa não recebem o devido respaldo para a sua consolidação na terra, o que acaba tornando-a inviável para a auto-sustentação. Na atual condição dos grupos estudados, um conjunto de fatores impede a consolidação dos produtores, tais como: solo com declividade acentuada e de má qualidade; falta de assistência técnica para a produção; a impossibilidade de investir na melhora da infra-estrutura do lote e no aumento da produção, tendo em vista que com o não pagamento da primeira parcela do financiamento da terra todos os produtores estão na lista do SERASA, impossibilitando conseguir algum tipo de financiamento, sobretudo o PRONAF. Mesmo 70% dos entrevistados estando satisfeitos com seu lote, porque segundo eles, agora residem no seu pedaço de terra, enfrentam problemas como falta de apoio financeiro e técnico, e, de infra-estrutura. O órgão responsável, e que recebeu para dar apoio técnico aos produtores, não fez a sua parte. Desde a formação dos Grupos Renascer II e III, os produtores receberam apenas uma visita do técnico que foi apenas para fiscalizar os lotes e levantar as culturas. Neste sentido, o Banco da Terra dá margem a vários questionamentos, e até o momento não foram divulgadas informações que permitam responder a essas perguntas, tais como: Quantos grupos estão conseguindo pagar o financiamento de suas terras? As atividades implantadas nos lotes têm obtido sucesso para pagar a terra e para os investimentos na produção? Todo o contexto explicitado neste trabalho revela a falta de planejamento em relação às políticas para o campo no Brasil e a difícil condição de vida do pequeno agricultor. 48

Um programa de reforma agrária não é constituído pela compra de um pedaço de terra, que posteriormente será dividido para determinado número de famílias, sem nenhum tipo de planejamento, e pagando bem, e a vista, ao grande latifundiário. Uma verdadeira e séria reforma agrária consiste em fazer redistribuição das terras com planejamento, investimento e principalmente em apoio técnico e de infra-estrutura para que as famílias assentadas possam se desenvolver naquela área. A reforma agrária deve seguir as especificidades de cada país, e não ser delegada aos moldes de uma política guiada por um órgão financeiro internacional. Ela não pode ser encarada com programas que promovam o endividamento do já sofrido pequeno produtor, nem mesmo com uma simples distribuição de terras. Deve, antes de tudo, ser social, política e econômica antes de ser reforma agrária.

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57

APÊNDICE

58

APÊNDICE A – QUESTIONÁRIO APLICADO 2

Assentamento Renascer ( ) II ( ) III Data ___/___/_____

Nome do Entrevistado: ______

Observar e anotar: localização da casa no assentamento, descrever a topografia da propriedade, existência de matas naturais, como é o abastecimento de água (poço, rio, etc.), as condições de moradia, equipamentos domésticos, benfeitorias. ______

História de Vida

Nome Sexo Parentesco Idade Religião Escolaridade Local de Nascim. Local de Trabalho e (Cidade/Estado) Função

Onde viviam seus pais? ______( ) ZU ou ( ) ZR

Onde viviam seus avós?______( ) ZU ou ( ) ZR

2 Este questionário foi adaptado do questionário original utilizado no projeto de pesquisa Assentamentos Rurais e Agricultura Familiar no Norte do Paraná: processo de territorialização e perspectivas de auto-sustentação, do Laboratório de Estudos Agrários do Departamento de Geociências da Universidade Estadual de Londrina. 59

Locais de deslocamento Tempo de ZU ZR Atividade exercida Motivos da mudança (Cidade / Estado) Permanência

História do Assentamento

1 – Esta no Assentamento desde o início? ( ) Sim ( ) Não. Desde de _____/______

2 – Qual era a área da propriedade? ______

3 – A quem pertencia essa área? ______

3.1 – Quanto foi pago pela propriedade toda? ______

3.2 – Quanto ficou para cada assentado (custo de cada lote)? ______

3.3 – O valor dos lotes é o mesmo para todos? ( ) Sim ( ) Não. Caso negativo, porque? ______

4- Qual era o uso da terra? ( ) Lavoura ( ) Pasto ( ) Mata ( ) Terras não utilizadas. ( ) Outros ______

5 - O que era plantado antes? ______

6 – Como ficou sabendo da área? ______

7 – Como ficou sabendo do Programa Banco da Terra?______

60

8 - Como entrou no Programa Banco da Terra? ______

9 – Quanto tempo demorou a negociação? ______

10 – Quais foram os critérios usados para a distribuição dos lotes? ______

11 – Quando vieram para o Renascer houve algum tipo de auxilio para o inicio da produção ou para fazer alguma obra de infra-estrutura na propriedade? ( ) Sim ( ) Não. Quais? ______

12 – Quais foram às dificuldades enfrentadas no inicio? ______

13 – O financiamento do Banco da Terra é por quanto tempo? ______

14 – Qual é a forma de pagamento? ______

14.1 – A dívida é individual ou coletiva? ______

14.1.1 – Quanto é pago por mês, ou por ano? ______

14.1.2 – Quando um dos assentados está inadimplente com o pagamento do lote todos ficam inadimplentes também? ( ) Sim ( ) Não. Explicar ______

14.2 – Como é cobrado? (carnê, depósito, outro tipo) ______

14.3 – Consegue-se pagar o financiamento da terra? ( ) Sim ( ) Não Por que? ______

14.4 – Já recebeu alguma notificação pela inadimplência? Caso positivo, o que acontece? ______61

14.5 – O Sr.(a) se arrepende de ter entrado no Banco da Terra? ( ) Sim ( ) Não Porque? ______

Quanto ao estabelecimento agrícola

1 – Qual é a área do seu lote? ______

2 – Está satisfeito com o tamanho do lote? ( ) Sim ( ) Não. Por que? ______

3 – O que o senhor cultiva atualmente? Tipo de cultura Área da cultura (hectare) Quantidade produzida

Tipo de criação Área de pasto Produção de leite (L/dia)

Área de mata

Horta

Pomar

4 – Criação ( ) Bovino de corte. Nº de cabeças _____ ( ) Bovino de leite. Nº de cabeças _____ ( ) Suíno. Nº de cabeças ____ ( ) Eqüino. Nº de cabeças _____ ( ) Aves. Nº de cabeças ____ ( ) Piscicultura. Quantidade ______

5 – Recebe orientação técnica? ( ) Sim ( ) Não. Caso afirmativo. De quem? ______

6 - Está satisfeito com a orientação recebida? ( ) Sim ( ) Não. Por que? ______62

7 – Por que escolheu cultivar estes produtos? ______

8 – O senhor utiliza: Adubos ( ) Sim ( ) Não Inseticida ( ) Sim ( ) Não Calcário ( ) Sim ( ) Não Herbicida ( ) Sim ( ) Não Trator ( ) Sim ( ) Não. Caso afirmativo. ( ) Próprio ( ) Alugado. De quem? ______. Valor ______Plantadeira ( ) Sim ( ) Não Roçadeira ( ) Sim ( ) Não Pulverizador ( ) Sim ( ) Não Arado ( ) Sim ( ) Não Grade ( ) Sim ( ) Não Irrigação ( ) Sim ( ) Não. Que tipo: ( ) aspersão ( ) gotejamento ( ) outro. Qual?______

9 – Como é feita a colheita? ( ) Manual ( ) Mecanizada. ( ) Outra forma ______

10 – Está enfrentando alguma dificuldade para desenvolver a lavoura? ( ) Sim ( ) Não. Por que? ______

11 – Conhece a agricultura orgânica? ( ) Sim ( ) Não. Caso afirmativo. O que acha? ______

12 – Onde comercializa a produção? _____ Para quem? ______Quem transporta o produto? ( ) Comprador ( ) Produtor. Outra forma ______Quanto paga pelo frete?______

13 – Os preços são satisfatórios ( ) Sim ( ) Não. Por que? ______

14 – O senhor faz financiamentos? ( ) Sim ( ) Não. Caso afirmativo. Qual? Para que? ______

15 – Tem conseguido pagar o financiamento? ( ) Sim ( ) Não. Caso negativo. Por que? ______16 – Qual a renda familiar? ______

63

17 – Tem algum aposentado na família? ( ) Sim ( ) Não. Caso afirmativo. Quantos? ______

Relações de trabalho

1 – Quantas pessoas da família trabalham na propriedade? ______

2 – Alguma pessoa da família trabalha fora da propriedade? ( ) Sim ( ) Não. Caso positivo. Quantas? ______. Onde? ______Para que?______

3 – Contrata mão-de-obra temporária? ( ) Sim ( ) Não. Caso afirmativo. Para que? ______

4 – Utilizam troca de dias de serviços? ( ) Sim ( ) Não. Caso afirmativo. Para que? ______

Infra-estrutura da propriedade

1 – Água ( ) encanada ( ) local de captação ______Energia elétrica ( ) Sim ( ) Não Destino do lixo: ______

2 – Quais os bens que o senhor possui? ( ) TV ( ) Geladeira ( ) Fogão ( ) Aparelho de som ( ) Bicicleta ( ) Máquina de lavar roupa Veículo ( ) Passeio ( ) Caminhão ( ) Moto ( ) Carroça ( ) Trator

Infra-estrutura do Assentamento

1 – Tem posto de saúde próximo ao assentamento? ( ) Sim ( ) Não. Onde ______

2 – Conta diariamente com funcionários da saúde? ( ) Sim ( ) Não. Caso negativo, quantas vezes por semana? ______

3 – Em caso de emergência, onde o doente é socorrido? ______

64

4 – Há escola no assentamento? ( ) Sim ( ) Não. Onde? ______

5 – Há transporte para levar os estudantes para a escola? ( ) Sim ( ) Não. Quem? ______

6 – Contam com telefone próximo ao assentamento? ( ) Sim ( ) Não

7 – Há quantos horários de ônibus para o município mais próximo? ______

8 – Onde fazem as compras? ______

9 – Alguma entidade ajuda vocês com alimentação, medicamentos, etc? ( ) Sim ( ) Não. Quem? ______

10 – O que vocês fazem nos finais de semana? ( ) Futebol ( ) TV ( ) Igreja ( ) Festas ( ) Outros ______

Opiniões - Quanto ao MST

1 – Porque escolheu o Banco da Terra e não entrou para a luta do MST? ______

2 – O senhor já participou de alguma passeata ou movimento ligado ao MST? ( ) Sim ( ) Não. Por que? ______

3 – O senhor conversa com seus filhos sobre a falta de terras para as pessoas que precisam plantar e não tem terra? ( ) Sim ( ) Não. Por que? ______

4 – O senhor acha que está havendo reforma agrária no Brasil? ( ) Sim ( ) Não. Por que? ______

5 – Há algum político que tem contato com vocês? ( ) Sim ( ) Não. Quem? ______

6 – Tem contato com a comunidade? ( ) Sim ( ) Não. Onde? ______( ) assentamentos mais próximos.

65

7 – Pelo fato de ser do Banco da Terra e a maioria dos assentamentos de Tamarana ser do MST, vocês do Banco da Terra já sofreram algum tipo de discriminação, ou de violência? ( ) Sim ( ) Não. Caso positivo, que tipo? ______

Quanto ao futuro do Assentamento

1 – O que o senhor planeja para o futuro dos seus filho? ______

2 – O que precisa melhorar no assentamento? ______

3 – O que o senhor planeja desenvolver no seu lote? ______

4 – Como foi formada a associação? ______

5 – Estão satisfeitos com a associação? ( ) Sim ( ) Não. Atividades? ______

6 – Existe alguma influência da associação na comercialização dos produtos? ( ) Sim ( ) Não. Caso positivo. Como? ______

7 - O senhor está satisfeito nesse assentamento? ( ) Sim ( ) Não. Por que? ______

8 – Há alguma preocupação com a natureza? ( ) Sim ( ) Não. Caso positivo, como? ______

Quanto ao meio ambiente 1) Você faz a tríplice lavagem? ( ) sim ( ) não

2) Onde e como são armazenadas as embalagens? Por quanto tempo? ______3) O que faz com as embalagens? ______

4) Na sua opinião, qual é a importância da mata ciliar? ______66

5) Existia mata de reserva quando chegaram na propriedade? ( ) sim ( ) não A área continua a mesma? ______

6) Há alguma preocupação em preservar a natureza? ( ) sim ( ) não Como? ______

7) Há alguma preocupação em preservar a água? Por que? ______

8) Há alguma economia (uso racional) da água? ( ) sim ( ) não Por que? ______

9) Há um reaproveitamento da água utilizado na irrigação? ( ) sim ( ) não Como? ______

10) Onde e como é escoada a água? ______

11) Qual é o consumo por minuto de água? ______

12) qual foi o critério para escolha da irrigação adotada? ( ) financeiro ( ) falta de orientação ( ) outro ______

Observar a localização de chiqueiro, curral em relação ao local de captação de água ou dos recursos hídricos. ______

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ANEXOS

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ANEXO A – Lei de Criação do Programa Banco da Terra

Lei Complementar nº 93, de 4 de fevereiro de 1998

Institui o Fundo de Terras e da Reforma Agrária - Banco da Terra - e dá outras providências. ______Nota: Regulamentada pelo Decreto nº 3.027/99 ______

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei Complementar:

Art. 1° É criado o Fundo de Terras e da Reforma Agrária - Banco da Terra - com a finalidade de financiar programas de reordenação fundiária e de assentamento rural. Parágrafo único. São beneficiários do Fundo:

I - trabalhadores rurais não-proprietários, preferencialmente os assalariados, parceiros, posseiros e arrendatários, que comprovem, no mínimo, cinco anos de experiência na atividade agropecuária;

II - agricultores proprietários de imóveis cuja área não alcance a dimensão da propriedade familiar, assim definida no inciso II do art. 4° da Lei n° 4.504, de 30 de novembro de 1964, e seja, comprovadamente, insuficiente para gerar renda capaz de lhe propiciar o próprio sustento e o de sua família.

Art. 2° O Fundo de Terras e da Reforma Agrária - Banco da Terra - será constituído de:

I - parcela dos valores originários de contas de depósito, sob qualquer título, cujos cadastros não foram objeto de atualização, na forma das Resoluções do Conselho Monetário Nacional n°s. 2.025, de 24 de novembro de 1993, e 2.078, de 15 de junho de 1994;

II - parcela dos recursos destinados a financiar programas de desenvolvimento econômico, através do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social - BNDES - conforme dispõe o art. 239, § 1°, da Constituição Federal, nas condições fixadas pelo Poder Executivo;

III - Título da Dívida Agrária - TDA;

IV - dotações consignadas no Orçamento Geral da União e em créditos adicionais;

V - dotações consignadas nos Orçamentos Gerais dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios;

69

VI - recursos oriundos da amortização de financiamentos;

VII - doações realizadas por entidades nacionais e internacionais, públicas ou privadas;

VIII - recursos decorrentes de acordos, ajustes, contratos e convênios, celebrados com órgãos e entidades da Administração Pública Federal, Estadual ou Municipal;

IX - empréstimos de instituições financeiras nacionais e internacionais;

X - recursos diversos.

Art. 3° A receita que vier a constituir o Fundo de Terras e da Reforma Agrária será usada na compra de terras e na implantação de infra-estrutura em assentamento rural promovido pelo Governo Federal na forma desta Lei Complementar, por entidades públicas estaduais e municipais e por cooperativas e associações de assentados. Parágrafo único. As terras doadas ou adquiridas em favor do Fundo de Terras e da Reforma Agrária serão incorporadas ao patrimônio da União e administradas pelo órgão gestor desse Fundo.

Art. 4° O Fundo de Terras e da Reforma Agrária - Banco da Terra - será administrado de forma a permitir a participação descentralizada de Estados e Municípios, na elaboração e execução de projetos, garantida a participação da comunidade no processo de distribuição de terra e implantação de projetos.

§ 1° A gestão financeira do Fundo caberá aos bancos oficiais, de acordo com as normas elaboradas pelo órgão competente.

§ 2° É vedada a utilização dos recursos financeiros do fundo para pagamento de despesas com pessoal e encargos sociais, a qualquer título, sendo aquelas de responsabilidade do órgão a que pertencer o empregado, servidor ou representante.

Art. 5° Compete ao órgão gestor do Fundo de Terras e da Reforma Agrária - Banco da Terra:

I - promover e coordenar as atividades financiadas pelo Fundo, de forma a garantir a efetiva participação descentralizada dos Estados e Municípios;

II - estabelecer normas gerais para a concessão de financiamento, apuração e fiscalização dos projetos;

III - aprovar o plano de aplicação anual e das metas a serem atingidas no exercício seguinte;

IV - fiscalizar e controlar internamente o correto desenvolvimento financeiro e contábil do Fundo;

V - deliberar sobre o montante de recursos destinados à aquisição de telras e sobre o montante destinado à infra-estrutura; 70

VI - deliberar sobre medidas a adotar, nos casos de comprovada frustração de safras, e sobre a obrigatoriedade do seguro agrícola;

VII - fiscalizar e controlar as atividades técnicas delegadas aos Estados e aos Municípios; VIII - adotar medidas complementares e eventualmente necessárias para atingir os objetivos do Fundo.

Art. 6° Os recursos serão aplicados por meio de financiamentos individuais ou coletivos, para os beneficiários definidos no art. 1° ou suas cooperativas e associações, conforme o plano de aplicação anual das receitas do Fundo de Terras e da Reforma Agrária - Banco da Terra.

§ 1° O Plano de que trata este artigo poderá prever o financiamento de investimentos básicos, sem prejuízo do disposto no art. 1°.

§ 2° (VETADO)

Art. 7° O Fundo de Terras e da Reforma Agrária - Banco da Terra - financiará a compra de imóveis rurais com o prazo de amortização de até vinte anos, incluída a carência de até trinta e seis meses.

Parágrafo único. Os financiamentos concedidos pelo Fundo terão juros limitados a até doze por cento ao ano, podendo ter redutores percentuais de até cinqüenta por cento sobre as parcelas da amortização do principal e sobre os encargos financeiros durante todo o prazo de vigência da operação, observado teto anual de rebate por beneficiário, a ser fixado pelo Poder Executivo.

Art. 8° É vedado o financiamento com recursos do Fundo:

I - (VETADO)

II - para mutuário já beneficiado com esses recursos, mesmo que liquidado o seu débito;

III - àquele que tiver sido contemplado por qualquer projeto de assentamento rural, bem como o respectivo cônjuge;

IV - exercer função pública, autárquica ou em órgão paraestatal, ou ainda, se achar investido de atribuições parafiscais;

V - dispuser de renda anual bruta familiar, originária de qualquer meio ou atividade, superior a quinze mil reais;

VI - tiver sido, nos últimos três anos, contados a partir da data de apresentação de pedido ao amparo do Programa, proprietário de imóvel rural com área superior à de uma propriedade familiar;

VII - for promitente comprador ou possuidor de direito de ação e herança em imóvel rural; 71

VIII - dispuser de patrimônio, composto de bens de qualquer natureza, de valor superior a trinta mil reais;

IX - (VETADO)

Art. 9° O Poder Executivo é autorizado a firmar convênios ou acordos com os Estados e Municípios visando a desobrigar de impostos as operações de transferência de imóveis, quando adquiridos com recursos do Fundo.

Art. 10. As entidades representativas dos produtores e dos trabalhadores rurais, sob a forma de associações ou cooperativas, com personalidade jurídica, poderão pleitear financiamento do Fundo - Banco da Terra - para implantar projetos destinados aos beneficiários previstos no parágrafo único do art. 1°.

§ 1° Os financiamentos concedidos às cooperativas ou associações de produtores rurais, vinculados aos projetos de assentamento, devem guardar compatibilidade com a natureza e o porte do empreendimento.

§ 2° A cooperativa ou associação de produtores rurais poderá adquirir a totalidade do imóvel rural para posterior repasse das cotas-partes da propriedade da terra nua, bem como dos custos da terra e dos investimentos em infra-estrutura aos seus cooperados ou associados beneficiários desse Fundo.

Art. 11. Os beneficiários do Fundo não poderão alienar as suas terras e as respectivas benfeitorias no prazo do financiamento, salvo para outro beneficiário enumerado no parágrafo único do art. 1° e com a anuência do credor.

Art. 12. O Poder Executivo regulamentará esta Lei Complementar no prazo de noventa dias, contado de sua publicação.

Art. 13. Esta Lei Complementar entra em vigor na data de sua publicação.

Art. 14. Revogam-se as disposições em contrário.

Brasília, 4 de fevereiro de 1998; 177° da Independência e 110° da República.

FERNANDO HENRIQUE CARDOSO

Raul Belens Jungmann Pinto

D.O.U., de 05/02/98

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ANEXO B – Contratos com o Banco da Terra no Estado do Paraná

Município Ano Nº de Famílias Área Valor dos contratos ABATIA 2002 56 448 R$ 1.676.976,00 ALTO PARANA 2002 21 142 R$ 524.999,00 ANGULO 2000 12 192 R$ 480.000,00 ANTONINA 2003 3 89 R$ 81.600,00 ANTONIO OLINTO 2003 3 36 R$ 61.200,00 APUCARANA 2001 7 22 R$ 203.994,00 APUCARANA 2002 27 168 R$ 648.888,00 ASTORGA 2001 5 25 R$ 130.000,00 ASTORGA 2002 29 87 R$ 850.605,00 BARRACAO 2003 19 196 R$ 385.966,00 BARRA DO JACARE 2000 48 576 R$ 1.887.552,00 2003 9 87 R$ 189.766,00 2001 11 143 R$ 439.723,00 CAMBARA 2001 24 171 R$ 720.000,00 CAMBE 2001 4 12 R$ 120.000,00 CAMPINA DO SIMAO 2001 6 126 R$ 169.500,00 CANDIDO DE ABREU 2003 2 24 R$ 50.000,00 CANDOI 2002 5 85 R$ 98.400,00 CANTAGALO 2001 8 160 R$ 230.000,00 CANTAGALO 2002 5 90 R$ 147.790,00 CARLOPOLIS 2001 21 210 R$ 626.010,00 CARLOPOLIS 2002 24 168 R$ 716.544,00 CASCAVEL 2002 3 24 R$ 90.000,00 CENTENARIO DO SUL 2000 28 149 R$ 1.108.912,00 CENTENARIO DO SUL 2001 49 455 R$ 1.470.000,00 2002 3 24 R$ 83.050,00 CHOPINZINHO 2003 3 32 R$ 67.100,00 2001 17 162 R$ 509.796,00 2000 20 357 R$ 1.579.640,00 CONSELHEIRO MAIRINCK 2001 36 324 R$ 1.080.000,00 CRUZEIRO DO SUL 2002 25 189 R$ 819.001,00 2002 4 268 R$ 99.996,00 FAROL 2002 8 64 R$ 240.000,00 2002 4 39 R$ 87.241,00 FERNANDES PINHEIRO 2003 2 12 R$ 41.627,00 FIGUEIRA 2001 21 252 R$ 630.000,00 FLORESTOPOLIS 2000 11 132 R$ 402.897,00 FRANCISCO BELTRAO 2001 12 185 R$ 405.747,00 FRANCISCO BELTRAO 2002 6 90 R$ 180.000,00 FRANCISCO BELTRAO 2003 38 456 R$ 1.140.000,00 2001 10 120 R$ 300.000,00 GRANDES RIOS 2003 2 12 R$ 55.000,00 2002 3 30 R$ 71.828,00 2001 22 176 R$ 660.000,00 GUARAPUAVA 2001 5 86 R$ 130.680,00 HONORIO SERPA 2003 3 18 R$ 75.000,00 2001 31 372 R$ 930.000,00 IBAITI 2002 5 45 R$ 153.000,00 73

IGUARACU 2001 37 190 R$ 1.110.000,00 2002 3 72 R$ 98.798,00 IMBITUVA 2003 2 19 R$ 46.880,00 INACIO MARTINS 2002 1 46 R$ 25.590,00 IPIRANGA 2002 5 59 R$ 112.355,00 IPIRANGA 2003 6 54 R$ 150.975,00 IRATI 2002 50 700 R$ 977.209,00 IRATI 2003 16 284 R$ 417.300,00 2001 62 855 R$ 1.860.000,00 IRETAMA 2002 109 3.170 R$ 2.774.400,00 IVAI 2002 4 52 R$ 118.853,00 IVAIPORA 2003 3 15 R$ 75.000,00 JACAREZINHO 2001 70 487 R$ 2.061.153,00 JACAREZINHO 2002 1 7 R$ 29.704,00 JACAREZINHO 2003 10 90 R$ 250.000,00 JANDAIA DO SUL 2002 8 48 R$ 240.000,00 2002 6 24 R$ 139.422 ,00 JOAQUIM TAVORA 2001 1 8 R$ 30.000,00 LARANJAL 2003 9 162 R$ 162.078,00 LONDRINA 2001 44 491 R$ 1.740.000,00 LUPIONOPOLIS 2001 52 476 R$ 1.560.000,00 MALLET 2002 3 44 R$ 67.502,00 MALLET 2003 5 74 R$ 122.566,00 2001 5 20 R$ 150.000,00 MANOEL RIBAS 2002 3 33 R$ 89.964,00 MANOEL RIBAS 2003 7 75 R$ 207.633,00 2003 20 40 R$ 740.000,00 MARILANDIA DO SUL 2001 24 158 R$ 720.000,00 MATELANDIA 2002 12 154 R$ 345.400,00 MATO RICO 2003 5 41 R$ 125.000,00 MEDIANEIRA 2000 3 45 R$ 110.001,00 MEDIANEIRA 2002 16 238 R$ 451.860,00 MISSAL 2002 78 747 R$ 2.108.340,00 MISSAL 2003 8 44 R$ 216.240,00 NOVA ESPERANCA 2001 13 97 R$ 342.000,00 NOVA PRATA DO IGUACU 2002 7 68 R$ 194.600,00 PALMAS 2003 4 24 R$ 100.000,00 PALMITAL 2003 1 18 R$ 18.462,00 2003 1 12 R$ 22.295,00 PINHALAO 2000 25 425 R$ 975.465,00 PINHALAO 2001 38 460 R$ 1.199.896,00 PONTA GROSSA 2002 4 32 R$ 59.980,00 PRES. CASTELO BRANCO 2000 13 95 R$ 468.337,00 PRES. CASTELO BRANCO 2001 7 42 R$ 186.445,00 PRUDENTOPOLIS 2002 5 82 R$ 129.081,00 PRUDENTOPOLIS 2003 12 190 R$ 313.296,00 REBOUCAS 2002 4 34 R$ 63.371,00 REBOUCAS 2003 2 16 R$ 62.190,00 RIBEIRAO CLARO 2001 25 150 R$ 741.775,00 RIBEIRAO CLARO 2002 20 420 R$ 499.976,00 RIBEIRAO CLARO 2003 25 225 R$ 625.000,00 RIBEIRAO DO PINHAL 2001 68 651 R$ 1.978.819,00 74

RIO AZUL 2002 3 32 R$ 56.779,00 RIO BONITO DO IGUACU 2001 8 56 R$ 199.784,00 2002 10 96 R$ 300.000,00 2001 24 452 R$ 720.000,00 SANTO ANT. DA PLATINA 2000 40 440 R$ 1.600.000,00 SANTO ANT. DA PLATINA 2001 76 624 R$ 2.463.499,00 SANTO ANT. DO SUDOESTE 2001 7 98 R$ 209.972,00 SAO JOSE DAS PALMEIRAS 2002 6 73 R$ 180.000,00 SAUDADE DO IGUACU 2002 15 210 R$ 450.000,00 SAUDADE DO IGUACU 2003 14 204 R$ 350.059,00 SIQUEIRA CAMPOS 2003 3 30 R$ 75.000,00 TAMARANA 2001 58 746 R$ 1.784.640,00 TAMARANA 2002 22 254 R$ 563.538,00 TAMARANA 2003 59 300 R$ 1.864.358,00 2002 15 90 R$ 450.000,00 TEIXEIRA SOARES 2002 1 8 R$ 17.284,00 TEIXEIRA SOARES 2003 1 10 R$ 26.449,00 2002 3 36 R$ 42.321,00 2003 87 522 R$ 2.221.806,00 UNIAO DA VITORIA 2002 15 362 R$ 383.652,00 UNIAO DA VITORIA 2003 3 42 R$ 70.890,00 URAI 2002 3 72 R$ 83.127,00 WENCESLAU BRAZ 2001 5 60 R$ 146.400,00 TOTAL 2.160 24.210 R$ 64.524.797,00 Fonte: Ministério do Desenvolvimento Agrário - 2006

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ANEXO C

Plano de Recuperação e Regularização dos Projetos financiados pelo Fundo de Terras (Programas Banco da Terra e Cédula da Terra)

Justificativa

O programa do Banco da Terra foi extinto no início do atual governo. Foram atendidas 34.759 famílias, em 18.294 operações, adquirindo-se áreas num total de 2.537.621 hectares em todo território nacional, ao valor total de R$ 744.216.746, financiados com recursos do Fundo de Terras. (Fonte:SISFIN 30/04/2005). Ao longo e após sua execução, proliferaram denúncias de desvios de recursos, superfaturamento do valor das áreas adquiridas, atendimento de pessoas sem o perfil determinado pelas normas do programa, que resultaram na abertura de processos administrativos, que por sua vez se desdobraram em inquéritos policiais, comissões de sindicância e outros instrumentos de apuração de responsabilidades administrativa, civil e criminal. Soma-se a esta realidade informações prestadas pelos Movimentos Sociais, Governos Estaduais, Parlamentares, Controladoria Geral da União e diretamente por cidadãos, que indicam a existência de um quadro de irregularidades e desestruturação de muitos projetos. Esses indícios são reforçados pela inadimplência no pagamento das parcelas do financiamento que começam a vencer e pela informação de diversos casos em que os beneficiários do programa não conseguiram e nem estão conseguindo acessar os créditos do PRONAF. Essa situação resulta das fragilidades dos programas de crédito fundiário anteriores, sejam no que se referem ao modelo de gestão (com pouca participação dos Movimentos Sociais) ou nas condições de financiamento e itens financiados (no caso o Banco da Terra não financiava investimentos produtivos e assistência técnica). Além disso, fatores que podem interferir no bom desempenho de qualquer outro empreendimento rural, como adversidades climáticas e/ou flutuações de mercado, colaboraram para o quadro que hoje se apresenta. Consciente da necessidade de implementar, em nível nacional, ações no sentido de retomar o desenvolvimento destes projetos, O Ministério do Desenvolvimento Agrário – MDA, através da Secretaria de Reordenamento Agrário – SRA e seu Departamento de Crédito Fundiário – DCF, coordenou a realização de projetos - pilotos em alguns assentamentos do Banco da Terra, escolhidos entre os mais problemáticos indicados pelos gestores estaduais. Desta ação, realizada em parceria com Governos Estaduais e Movimentos Sociais, resultaram indicativos importantes para a formulação de princípios e diretrizes que serão norteadores para o processo de regularizar e revitalizar os projetos financiados com recursos do Fundo de Terras (Programas Banco da Terra e Cédula da Terra) .

Objetivo Geral

Desenvolver uma ação, coordenada pelo MDA/SRA/DCF, em parceria com os gestores estaduais, os movimentos sociais e os grupos de beneficiários, junto aos projetos financiados com recursos do Fundo de Terras (Programas Banco da Terra e 76

Cédula da Terra), tirando-os da situação de passivo em que se encontram hoje e incluindo-os na nova concepção de gestão transparente e participativa utilizada na execução Programa Nacional de Crédito Fundiário – PNCF.

Objetivos Específicos Desenvolver a regularização, revitalização e/ou a consolidação considerando- as como etapas distintas que se relacionam, comunicam-se e são interdependentes.

 Regularização dos projetos considerando: a) Situação do quadro social; b) Situação dos contratos sociais; c) Situação dos contratos financeiros; d) Regularidade e/ou legalidade das ações desenvolvidas.

 Consolidação dos projetos considerando: a) Suporte físico da área; b) Suporte financeiro do projeto; c) Potencial produtivo; d) Aptidão natural do imóvel; e) Histórico cultural produtivo dos beneficiários; f) Disponibilização de serviços de ATER; g) Infra-estrutura social e produtiva disponível e a necessária; h) Estrutura e capacidade de gestão do empreendimento.

Metodologia e Estratégia de Execução

Tendo como fim o objetivo geral e meio os objetivos específicos definidos neste plano, a participação e o envolvimento da comunidade serão o foco principal na elaboração do diagnóstico, que deverá ter a participação de todos atores sociais envolvidos com a regularização, revitalização e/ou consolidação do projeto. A elaboração do diagnóstico, como já tratado anteriormente, deverá ir além da coleta de informações da situação, mesmo que de forma participativa e/ou construtivista, porque se objetiva, na verdade, a solução dos problemas, e, assim sendo, o diagnóstico cumpre apenas o papel de meio na busca do fim. Indo ainda um pouco mais além, podemos definir este diagnóstico como o instrumento político- pedagógico de um processo de mudança de uma situação com definição de meta a atingir. Essa seria então a estratégia da ação, elevar à condição de parte integrante do PNCF, num status qualificado, estes projetos hoje classificados como passivo. Isso com o envolvimento direto de todos os atores sociais no processo de mudança dessa situação. A metodologia definida a partir da compreensão clara do que é meio e do que é fim deverá servir também, e, principalmente, de instrumento político- pedagógico que permita o empoderamento do grupo na tomada de decisões necessárias ao processo de mudança, possibilitando o nivelamento destes empreendimentos à nova compreensão e modelo de execução dos programas que integram atualmente o PNCF. Ainda considerando o que é meio e o que é fim, definidos a partir dos objetivos gerais e específicos, foi que se propôs uma divisão entre regularização e 77

consolidação nos objetivos específicos, considerando estas etapas, que se relacionam e dialogam permanentemente, como etapas cujos elementos que a compõem têm particularidades que as distinguem, e, tendo estes elementos como instrumentos político-pedagógicos de apropriação da realidade que possibilitem a mudança necessária em ação direta do grupo. Assim, entendemos, que na construção do diagnóstico, como meio, a partir de elementos identificados como componentes de etapas da ação na execução, define-se a estratégia e consolida-se a concepção dos papéis e dos atores sociais envolvidos no processo. Isso nos permite a adequação da metodologia a cada realidade local, mas a partir da definição de uma meta fundamentada em princípios. Entendemos ainda que, na construção do diagnóstico com base nas etapas definidas nos objetivos específicos e no detalhamento e compreensão dos elementos que compõem estas etapas, se chegará necessariamente à compreensão das mudanças necessárias para se atingir a meta definida nos objetivos gerais. Nesse processo, inicialmente coordenado pelo MDA/SRA/DCF, em parceria com os gestores estaduais e os movimentos sociais, a partir da definição clara da meta, inserida nos objetivos gerais, acreditamos estar resgatando os contratos sociais que definem responsabilidades, direitos e deveres, não só por parte dos beneficiários, mas de todos os atores envolvidos no processo.

Ações

As ações de regularização e revitalização dos projetos a. Disponibilizar as UTEs e demais parceiros o conjunto de normas e procedimentos já definidos para a regularização e recuperação dos assentamentos do Banco da Terra; b. Construção e implementação de Sistema de Informações Gerenciais do Banco da Terra; c. Implementação e monitoramento de atos administrativos visando à apuração de denúncias; d. Realização de Oficinas Estaduais para elaboração dos Planos Estaduais; e. Celebração e/ou ajuste de Termos de Cooperação Técnica e Convênios para a constituição das equipes de coordenação e gestão dos Planos Estaduais; f. Identificação e capacitação dos prestadores de serviço; g. Realização de projetos-piloto para ajuste da metodologia e capacitação das equipes; h. Desenvolvimento das Ações em Campo.

Pelo exposto, estas ações estarão sendo aplicadas com a finalidade de recuperar e regularizar os projetos financiados pelo programa do Banco da Terra, proporcionando condições mínimas para as comunidades integrantes destes projetos busquem o seu desenvolvimento socioeconômico.

Departamento de Crédito Fundiário, 2004.