A Segurança Energética: o caso de São Tomé e Príncipe.

Forças, fraquezas, oportunidades e ameaças da exploração dos recursos energéticos não renováveis

Jaylson Quaresma Dias da Graça

Orientador: Professor Auxiliar Doutor Pedro Miguel Moreira da Fonseca

Dissertação de Mestrado em Estratégia

LISBOA, 2016

Nota: Esta Dissertação não foi redigida segundo as normas vigentes no Acordo Ortográfico de 1990.

II

Índice

ÍNDICE DE FIGURAS ………….……………………………………………………………..….V

AGRADECIMENTOS……………………………………………………………………….…….VI

GLOSSÁRIO…………………………………………………………………………………….....VII

RESUMO…………………………………………………………………………………..……....X

ABSTRACT…………………………………………………………………………………..……XI

INTRODUÇÃO…………………………………………………………………………………….13

Nota Metodológica………………………………………………………………………..17

Operacionalização de conceitos…………………………………………………………..18

CAPÍTULO I- A SEGURANÇA ENERGÉTICA E O GOLFO DA GUINÉ:

1- O que é a Segurança Energética?...... 23

2–A temática a nível mundial…………………………………………………………….26

3- O continente africano…………………………………………………………………..41

3.1- O Golfo da Guiné e as suas potencialidades……………………………….46

CAPÍTULO II- SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE, RECURSOS E SEGURANÇA ENERGÉTICA:

1-Quadro Geofísico……………………………………………………………………….53

2-Síntese Histórica

2.1-Período Colonial………………………………………………………...…..54

2.2-Período Pós-Colonial………………………………………………………..59

3-STP no mercado energético mundial

3.1- A ANP-STP………………………………………………………………...66

3.2- A operações Onshore………………………………………………………68

3.3- A Convenção de Abuja e as Zonas de Exploração Conjunta ……………..70

3.4- As Concessões Offshore…………………………………………………...73

3.5- A AOSIS e a CPLP……………………………………….………………..77

CAPÍTULO III- FORÇAS, FRAQUEZAS, OPORTUNIDADES E AMEÇAS DA EXPLORAÇÃO DOS RECURSOS ENERGÉTICOS NÃO RENOVÁVEIS.

1- Oportunidades (Opportunities)………..……………………………….………………82

2- Forças (Strengths)..……………………………………………………...... 83

3- Fraquezas (Weaknesses)………………………………….……………..…………….84

III

4- Ameaças (Threats)……………………………………………………………………85

5- Análise SWOT: Oportunidades, forças, fraquezas e ameaças ……………………….86

CONCLUSÃO…………………………………………………………………………….………88

BIBLIOGRAFIA………………………………………………………………………………….97

IV

ÍNDICE DE FIGURAS E TABELAS

Fig.1- Preço do petróleo entre 1861-2015……………………………………...35.

Fig.2- Produção de petróleo por região (barris diários)………………………..39.

Fig.3- Produção petrolífera na África subsaariana……………………………...45.

Fig.4- Estados pertencentes a CGG, delimitados a amarelo…………………….50.

Fig.5- Mapa de STP……………………………………………………………..52.

Fig.6- Divida pública STP 2009-2013, percentagem PIB ……………………...63.

Fig.7- Produção de electricidade na CPLP……………………………………...65.

Fig.8- Orçamento da ADC………………………………………………………72.

Fig.9- ZEE de STP……………………………………………………………...74.

Fig.10- Conta corrente petróleo STP…………………………………………...76.

Fig.11- Ciclo Análise SWOT…………………………………………………...81.

Fig.12- IDE, Inward e Outward STP (2008-2012)………...... 82.

Fig.13- e os camaradas de luta………………………...96.

Tabela 1- Análise SWOT de São Tomé e Príncipe……………………………..87.

V

AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar, gostaria de agradecer à minha família, não só pela força transmitida durante este longo processo, mas essencialmente por acreditar nas minhas potencialidades, incitando o melhor de mim desde novo.

Uma palavra de apreço aos meus amigos, que despoletaram ao longo dos anos a curiosidade, a alegria, a fantasia e o sorriso.

Como também ao Professor Pedro Fonseca, o meu orientador, por todas as correcções e sugestões, que ajudaram-me a compreender de melhor forma esta complexa temática.

Ao ISCSP, organização que acolheu-me durante 5 anos.

E por STP, país maravilhoso que viu-me nascer!

VI

GLOSSÁRIO

ADC- Autoridade de Desenvolvimento Conjunto.

AMI- Assistência Médica Internacional.

ANP-STP- Agência Nacional de Petróleos de São Tomé e Príncipe

AOSIS- Alliance of Small Islands States.

BM- Banco Mundial.

CECA- Comunidade Europeia do Carvão e do Aço.

CEE- Comunidade Económica Europeia.

CEDEAO- Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental

CEEAC- Comunidade Económica dos Estados da África Central.

CGG- Comissão do Golfo da Guiné.

CMC- Conselho Ministerial Conjunto.

CPLP- Comunidade dos Países de Língua Portuguesa.

CPP- Contrato de Partilha de Produção.

CSNU- Conselho de Segurança das Nações Unidas.

EM- Estados Membros.

EMAE- Empresa de Água e Electricidade.

ENAPORT- Empresa Nacional dos Portos.

EUA- Estados Unidos da América

EURATOM-European Atomic Energy Community.

EUR- Euro.

FMI- Fundo Monetário Internacional.

FRELIMO- Frente de Libertação de Moçambique.

VII

FNLA- Frente Nacional de Libertação de Angola.

GM- Guerra Mundial.

GRDSTP- Governo da República Democrática de São Tomé e Príncipe.

IAEA-International Atomic Energy Agency.

IDH- Índice de Desenvolvimento Humano.

ITIE- Iniciativa para Transparência das Indústrias Extrativas.

IEA- International Energy Agency.

MNA- Movimento dos Não-Alinhados.

Mb/d- Milhões de barris por dia.

MPLA- Movimento Popular de Libertação de Angola.

MLSTP- Movimento de Libertação de São Tomé e Príncipe.

NATO- North Atlantic Treaty Organization.

OCDE- Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico.

OHI- Organização Hidrográfica Internacional.

ONG’s- Organizações Não-Governamentais.

ONU- Organização das Nações Unidas.

OPEP- Organização dos Países Exportadores de Petróleo.

PAIGC- Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde.

PALOP- Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa.

PGS- Petroleum Geo-Services.

PIB- Produto Interno Bruto.

PIEVD- Pequenas Ilhas-Estado em Vias de Desenvolvimento.

PNUD- Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento.

VIII

RDC- República Democrática do Congo.

RDSTP- República Democrática de São Tomé e Príncipe.

RFA- República Federal da Alemanha.

RNB- Rendimento Nacional Bruto.

SADC- Southern African Development Community.

STP- São Tomé e Príncipe.

UA – União Africana.

UNITA- União Nacional para a Independência Total de Angola.

UE- União Europeia.

URSS- União das Repúblicas Socialistas Soviéticas.

USA-United States of America.

USD- United States dollar.

ZDC- Zona de Desenvolvimento Conjunto.

ZEE- Zona Económica Exclusiva.

ZOPACAS- Zona de Paz e Cooperação do Atlântico Sul.

IX

RESUMO

Estudamos a Segurança Energética nesta análise, uma das mais importantes temáticas do nosso tempo. Onde um mercado energético anárquico, neste momento marcado pelo baixo preço do petróleo, beneficia os consumidores. A IEA vem realizando um ‘hard-balancing’ versus a OPEP, organização de produtores que conseguiu efectuar dois choques petrolíferos na década de 1970. Estes choques alteraram o status quo do mercado energético levando a diversificação da produção mundial e a estabilização de reservas estratégicas por parte dos consumidores.

Uma das regiões que beneficiou desta deslocalização foi o Golfo da Guiné, onde a produção offshore vai pondo-o no Golden Triangle, países como a Nigéria, Angola, Gabão, Guiné Equatorial e outros, vão aproveitando este destaque. Neste grupo tenta incluir-se STP, que sendo detentor de uma posição privilegiada neste hotspot mundial, é levado para esse jogo na formação da CGG.

O arquipélago foi uma colónia portuguesa por mais de 500 anos, mas após a descolonização tem atravessado uma instabilidade política que não tem permitido um melhor aproveitamento das suas potencialidades. Até então nenhum governo conseguiu terminar um mandato. O sector petrolífero esteve parado no país até à assinatura de um tratado com a Nigéria em 2001, que firmaria uma ZDC e consequente Autoridade Conjunta. Ao delimitar as suas fronteiras marítimas, e a ANP-STP, o país consegue assinar 6 Contratos de Partilha de Produção na sua ZEE, ficando com 10-15 % da produção.

O país quer assim realizar uma transição energética, alterando também a base da sua economia. Porém, os bónus de assinatura realizaram poucas alterações políticas, económicas, sociais e tecnológicas no arquipélago, continuando o mesmo com uma balança comercial negativa. Garantindo a sua Segurança Energética este Estado fragilizado terá maior facilidade de desenvolver-se.

Palavras-Chave: Segurança Energética; Poder; Recursos fósseis; Royalty

X

ABSTRACT

We studied the Energy Security in this analysis, one of the most important themes of our time. Where an anarchic energy market, marked by the low oil prices, benefits the consumers. The IEA have been performing a ‘hard-balancing' versus OPEC, the producer organization which make two oil shocks in the 1970s.

Those shocks have changed the status quo of the energy market, leading to the diversification of world production and stabilization of strategic reserves by the consumers.

One of the regions that benefited from this relocation was the Gulf of Guinea, where offshore production puts it on the Golden Triangle, where countries such as Nigeria, Angola, , Equatorial Guinea and others are highlighting with this advantage. This group tries to include STP, which has a privileged position in this hotspot, being taken for this game in the formation of GGC.

The archipelago was a Portuguese colony for over 500 years, but after decolonization has crossed a political instability that hasn’t allowed a better use of its potential. Until now no government managed to finish one term. The oil sector was stopped in the country until the treaty with Nigeria in 2001 creating one JDZ and consequent Joint Authority. But the signing bonus made few political, economic, social and technological changes in the archipelago, continuing the same with a negative trade balance. By ensuring its energy security this weakened State will develop easier.

Keywords: Energy Security; Power; Fossil resources; Royalty

XI

XII

INTRODUÇÃO

Desde a descoberta do fogo que a Humanidade tem procurado, através da natureza, constituir um desenvolvimento civilizacional. Tivemos diversas Eras, onde estes mesmos recursos naturais foram fundamentais para a sobrevivência humana, “culminado”, nos últimos dois séculos, com a elevada importância dada aos recursos não renováveis, aqueles cuja “regeneração leva milhões de anos” (Citado por Fonseca, 2015, p.22). Esta importância, desencadeada pela Revolução Industrial, com a extensa produção e utilização do carvão, permitiu uma transição energética, hoje assumida pelos papéis preponderantes do petróleo e do gás natural.

Assim, verificamos no chamado “século tecnológico” a constante exploração, produção, refinação, transporte e comercialização destes recursos não renováveis, num sistema energético internacional multipolar e complexo. Falamos num sistema energético multipolar pois os recursos e os consumidores encontram-se em diversas zonas do globo e de forma distinta. A geografia possibilita a existência de diversos actores, que de forma anárquica e competitiva, estabelecem uma relação estratégica e recíproca (Ribeiro, 2010, p.22). Principalmente entre produtores e consumidores, num período onde o preço do petróleo sofre uma queda histórica, criando dificuldades aos Estados onde o rendimento provindo da exportação desta commodity representa a maior parte dos seus orçamentos nacionais. Estes pontos são a base desta complexidade. Porém, outras condicionantes como a tecnologia, os regimes políticos que controlam estes recursos e a luta pelo seu controlo, por exemplo, codificados na reconhecida lei da complexidade crescente, apresentada pelo professor Adriano Moreira, influenciam directamente os diversos desígnios desta matéria.

Com isto a geoestratégia, “the strategic management of interests” (Brzezinski, 1997, p.1), tem expressado modalidades de acção para a concretização dos objectivos fixados pela política, para a obtenção de recursos naturais e ao contínuo “processo social derivado dissociativo” (Lara, 2011, p.300), conhecido por conflito. A descolonização deixa diversas ex-colónias com um vácuo de poder, o que suscitou rapidamente a disputa pelo mesmo, como nos mostrou o caso de Angola, onde num ambiente de Guerra Fria, o instrumento violento da Política Internacional foi durante muito tempo utilizado. Lembremo-nos que a guerra, segundo António Marques Bessa, “ tem sido um instrumento por excelência dos ajustamentos territoriais no mundo a nível geral e a nível regional e há Estados que nos últimos anos se têm destacado no uso desta violência suprema com as habituais coberturas ideológicas da

conjuntura” (2012, p.139).Conjuntura que mantém-se anárquica, no que concerne aos desígnios internacionais, onde os mais fortes são estabelecidos pela conjugação de potencialidades físicas e imateriais e através das mesmas, da materialização dos seus interesses.

A globalização, “o processo ou conjunto de processos que corporizam a transformação na organização espacial das transacções e relações sociais, expressas através de fluxos inter- regionais e transcontinentais estruturadas em rede, inter-acção e poder” (Held et al, 1999, p.1), tinha no American Global System o seu modelo até à crise mundial de 2008. Hoje assistimos a polarização do poder internacional, onde a ascensão da China e a robustez da Rússia, entoam um aumento da competição pelo controlo do sistema internacional e pelos seus recursos, face ao Hegemon, EUA (Estados Unidos da América). A interdependência entre produtores e consumidores; os transit states; a investigação; a exploração; a refinação; o transporte; a segurança da oferta (desejada pelos consumidores); a segurança da procura (desejada pelos produtores); as organizações internacionais como a IEA (International Energy Agency), a IAEA (International Atomic Energy Agency) ou a OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo); e outros assuntos actualmente com pouca expressão na temática mas que não deixam de ser preocupantes, como o terrorismo, continuam a criar divergências entre os diversos actores desta temática. Existe hoje uma necessidade latente por um equilíbrio energético à escala mundial (Yergin, 2011, p.30)!

Ora, sabendo que os interesses nacionais e privados servem como mote para a movimentação dos diversos players internacionais, denotando também que do confronto dos mesmos os vencedores serão os mais fortes, e atendendo as características geográficas e da existência de recursos tangíveis no Golfo da Guiné, abertamente podemos equacionar a existência de perturbações que podem transformar-se em conflito, afectando directamente STP (São Tomé e Príncipe). Um Estado insular com pouco mais de 197 mil habitantes, que por mais de 500 anos esteve sobre o domínio português, tendo sofrido durante esse mesmo período diversas transformações na sua sociedade, economia e cultura. A 12 de Julho de 1975 consegue por fim a independência, mas até então tem tido diversas dificuldades em garantir a segurança dos seus cidadãos, detendo um IDH (Índice de Desenvolvimento Hunamo) médio (0,555) por exemplo (PNUD,2015). Com uma “dependência” pelo cacau, que nos anos 80 representava 90 % das exportações do país (Romana,1997,p.106), as melhorias tecnológicas verificadas na indústria energética, logo suscitaram um novo prenúncio para a economia santomense. - 14 -

O mesmo país esta inserido no chamado “Golden Triangle” (Golfo da Guiné, Golfo do México, e Brasil), zonas onde o sucesso do uso de meios tecnológicos avançados na indústria petrolífera permitiu a descoberta de consideráveis reservas de petróleo e gás (em águas profundas) e,” consequente aumento extraordinário da produção e oferta de hidrocarbonetos” (Clarke, 2010, p.77).

Pela existência desses mesmos recursos em abundância, longe das convulsões políticas, militares e sociais vividas no continente africano, esta zona como diz-nos Saul B. Cohen,“internally fragmented and also caught up in Great Power struggles”, pode tornar-se num “Shatterbelt and surrogates for conflicts, which involved the Great Powers indirectly” (2012, p.1). A não formulação dessa hipótese, num contexto estratégico, bem preparado e analisado, poderá tornar-se fatal para STP, onde o “petróleo descoberto na zona marítima comum partilhada pela Nigéria” “ainda não começou a jorrar e já transformou o arquipélago num apetecível peão da política internacional” (Camacho, 2003, p.3), tendo o dossier do petróleo e gás estado na origem das contínuas crises governamentais dos últimos anos, por exemplo. Estas crises são muito propiciadas por factores externos, por exemplo, pela nova “potência regional em emergência” (Almeida, 2011, p.3) Angola, onde os recursos naturais foram a principal causa do seu sucesso, tentando condicionar, gerir e resolver, diversos desígnios regionais e com isso provar o “seu estatuto de força” (Almeida, 2012, p.200) podendo explorar estas mesmas potencialidades do arquipélago santomense, de forma mais efectiva em parceria com a China, na Joint venture China Sonagol International.

Assim, proponho-me, nesta dissertação do Mestrado em Estratégia, em estudar esta complexa temática, tendo como caso de estudo, São Tomé e Príncipe, que após a descoberta das chamadas manadas de “elefantes”- “como os geólogos chamam às grandes jazidas com reservas que podem atingir os mil milhões de barris” de petróleo (Camacho, 2003, p.1) e de consideráveis reservas de gás natural, tornou-se rapidamente num hotspot a nível mundial. Esta apreciação das potencialidades do país decorre principalmente da sua posição geográfica, pois sendo composto por duas ilhas e por vários ilhéus, encontra-se numa posição historicamente disputada que é o Golfo da Guiné. Lembremo-nos que os recursos encontram- se no mar, com isto longe das contínuas convulsões do continente africano, o que por sua vez insere o arquipélago no “grupo das Pequenas Ilhas-Estado em Vias de Desenvolvimento- PIEVD” (Romana, 1997, p.15).

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Logo, numa análise SWOT (Strengths; Weaknesses; Opportunities; Threats), teremos como ponto fulcral, a caracterização da Segurança Energética no arquipélago nas suas diversas vertentes, muito devido à natureza dos próprios recursos energéticos. Como tal, as alterações Políticas (P), Económicas (E), Sociais (S) e Tecnológicas (T), (caracterizadas na análise PEST) que têm surgido no país, ajudar-nos-ão nesta síntese sobre uma matéria de vital importância. Por tal, este mesmo estudo está dividido em 3 Capítulos (Ver Índice).

No primeiro capítulo (“A Segurança Energética e o Golfo da Guiné”) estudaremos as bases teóricas desta temática, compreendendo quais são as suas nuances a nível mundial e particularizando por último o continente africano e o Golfo da Guiné, pois representam o ambiente externo onde se insere o nosso caso de estudo. No segundo capítulo (“São Tomé e Príncipe, recursos e Segurança Energética”) conheceremos melhor STP. Este é o momento mais importante da Dissertação, pois abordaremos directamente todas as potencialidades do arquipélago, mas também, as questões críticas que retardam o seu desenvolvimento e que suscitam maior urgência em explorar estes recursos, comprovando a sua inserção nas PIEVD. Veremos o que o país tem feito para defender os seus interesses atendendo a sua débil estrutura, a competitividade e anarquia deste mercado internacional. Conheceremos assim as instituições criadas pelo país afectas à temática; os diversos Acordos Internacionais preconizados pelo mesmo para proteger uma posição benéfica; a acção das ETN’s e de que forma influenciam a exploração e por vezes os desígnios do arquipélago; e todos os outros apontamentos plausíveis a serem tomados desta complexa temática. No terceiro e último capítulo (“Forças, fraquezas, oportunidades e ameaças, da exploração dos seus recursos energéticos não renováveis”) faremos uma análise SWOT atendendo a informação recolhida no I e II Capítulos, respectivamente.

O pequeno Estado terá que perceber a sua posição no mundo e de que forma tirará proveito dessa estratificação anárquica de poderes. Identificaremos assim os diversos desafios que impossibilitam a edificação, a disposição e o emprego de meios de coacção neste mesmo meio e tempo, que tornam o país incapaz de materializar objectivos fixados pela política, não superando problemas e desaproveitando as eventualidades deste ambiente de desacordo (Ribeiro, 2010, p.22).

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Nota Metodológica

Como referimos na Introdução realizaremos uma análise SWOT no final desta obra. Aliaremos todas as vantagens desta análise na identificação das forças do país, acautelando as suas fraquezas no intuito de mitigar diversos riscos da conjuntura, apontando assim oportunidades e garantindo um maior conhecimento geral do arquipélago (Humphrey, 2005, p.7). Porém, como nos alerta Hill e Westbrook, devemos ter em atenção à quantidade de dados utilizados na análise, pois, isso dificulta a priorização de informação, criando obstáculos na identificação dos objectivos gerais estabelecidos, facilitando o aparecimento de “pitfalls” para a grande falácia, “because analysis encompasses synthesis, strategic planning is strategy making” (Mintzberg, 1994, p.4). Ou seja, uma percepção cuidada do autor na utilização deste modelo, pois foi criado como forma de auxílio a Gestão Empresarial e será por nós aplicado nas Ciências Sociais e Políticas. Por tal, este modelo será auxiliado por uma análise PEST, alargando o nosso “conhecimento científico dos fenómenos sociais”, dando-nos “capacidade de definir intervenções que atinjam as causas dos fenómenos e não as suas manifestações aparentes”(Ribeiro, 2014, p.16).

Assim utilizaremos uma metodologia essencialmente na base do método qualitativo recorrendo a fontes abertas. Atendendo que o ambiente natural é uma fonte directa de dados empíricos e que nós, como investigadores seremos os instrumentos vitais para esta simbiose descritiva e interpretativa, valorizando e estudando o pensamento estratégico, geopolítico e internacionalista, através de livros como: “São Tomé e Príncipe- Elementos para uma Análise Antropológica das suas Vulnerabilidades e Potencialidades” de Heitor Romana; “A nova geopolítica do petróleo: do Golfo Pérsico ao Golfo da Guiné” de Eduardo Beny; “Segurança Energética e Segurança Climática: Dois Mundos em Colisão” de Pedro Fonseca; “Teoria Geral da Estratégia” de António Silva Ribeiro; “Do Poder do Pequeno Estado” de Políbio Valente de Almeida; “O Olhar de Leviathan” de António Marques Bessa; “Apontamentos das Lições da disciplina de Teoria das Relações Internacionais” de Victor Marques dos Santos (e entre outros na bibliografia); da leitura de teses de mestrado; documentos oficiais (“ESTRATÉGIA DO SECTOR PETRÓLIFERO DA RDSTP”; DECLARAÇÃO CONJUNTA DE ABUJA SOBRE TRANSPARÊNCIA E BOA GOVERNAÇÃO NA ZONA DE DESENVOLVIMENTO CONJUNTO Entre a República Federativa da Nigéria e a República Democrática de São Tomé e Príncipe); visionando documentários; da leitura de jornais; de artigos científicos e de possíveis documentos encontrados na internet, faremos uma análise das matérias em estudo no intuito de perceber de que forma estes recursos vão afectar - 17 -

São Tomé e Príncipe, numa região e num mercado competitivos. Os factos históricos serão a base deste trabalho, porém tentaremos introduzir todos os dados quantitativos que forem pertinentes a uma melhor compreensão da matéria tratada.

Empregaremos o sistema de referenciação APA nesta obra.

Operacionalização de conceitos

O século XXI tem pautado a importância dos elementos económicos para a consecução dos objectivos políticos, onde o princípio da economia de esforço mantém-se fulcral para a materialização dos mesmos. Mas os jogos de guerra, “na história da estratégia e das tácticas militares, tendo como objectivo, a previsão do raciocínio do adversário e dos seus movimentos e acções decorrentes” (Santos, 2007, p.64), são os que continuam a moldar o Mundo. A Sociedade Internacional actual, “uma realidade no âmbito da qual se desenvolvem as relações entre grupos humanos diferenciados, territorialmente organizados e com poder de decisão” (Sousa, 2008, p.150), vive os efeitos da globalização onde a lei da complexidade crescente, perpetua uma interacção jamais conhecida pela humanidade. Hoje o poder distribui-se pelo mundo “num padrão que se assemelha a um complexo jogo de xadrez tridimensional” (Nye, 2012, p.15), onde no tabuleiro superior temos o poder militar, no central o importantíssimo poder económico e num tabuleiro inferior “o reino das relações transnacionais que se encontram fora do controlo governamental” (Ibidem, p.16). Principalmente no que respeita a Energia, ponto basilar da Sociedade Internacional actual. Pois, assistimos à mais profunda transição energética na História da Humanidade desencadeada pela Revolução Industrial. Naquele tempo, o carvão dominava o mercado mundial, onde os primeiros motores de combustão tornar-se-iam regulares nas grandes cidades europeias e norte-americanas, com especial foque para Londres. Com o final da I GM assistimos ao surgimento em maior escala do Petróleo, que viria a ser fundamental na vitória dos Aliados em 1945 o que representa o início da sua preponderância no mercado energético mundial, nomeadamente no sector dos transportes. A existência desse recurso, e da sua necessidade explícita pelos grandes consumidores ocidentais, faz com que a rede petrolífera seja hoje mundial. Um pequeno problema num local da rede afectará directamente a mesma no seu todo. Esta interdependência capacita a cooperação entre Estados na Política Energética, como são os casos dos membros OPEP e da IEA, que são aliás blocos antagónicos dentro do sistema energético mundial. Como o eram a União Soviética e os EUA, que com

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mais afinco definiram a energia nuclear como essencial para o cabaz energético mundial, apesar dos seus riscos, o que viria a ser demostrado nos diversos acidentes como em Chernobyl ou então, após uma vicissitude da natureza com Fukushima mais recentemente. De igual importância temos o gás natural, que pela sua diversidade, custos de operação e transporte, tem sido a aposta de diversos actores mundias, tornando-se a terceira commodity mais importante do mundo, apenas ultrapassada pelo petróleo e nos anos recentes pelo carvão. Apesar de todos os riscos, a renda obtida na comercialização destes recursos impulsiona a acção dos diversos actores que tudo farão em defesa dos seus interesses. Estes recursos podem ser a salvação de alguns países, ou sê-lo apenas para uma minoria da sua população. Isto guia- nos a uma compreensão diversificada da temática da Segurança Energética, tornando-se a mesma prioritária face a outras matérias, influenciando a tomada de decisão dos diversos mecanismos estatais.

Esta complexificação das Relações Internacionais e com isto da Balance of Power Politics (Bessa, 2012, p.60) obrigam-nos como observadores, a uma cautelosa recolha de informação e a uma contínua operacionalização conceptual, onde as Ciências Sociais e Políticas serão as matrizes desta obra. O Interpretativismo será o paradigma clássico da mesma, que com a sua combinação de realidades subjectivas, ajudarão na evolução do projecto em causa, cujas técnicas qualitativas serão imperativas na extrapolação teórica num nível micro de descrição. Será dada extrema importância as teorias, aos princípios e as regras da Estratégia, “ciência e arte de edificar, dispor e empregar meios de coacção num dado meio e tempo, para se materializarem objectivos fixados pela política, superando problemas e explorando eventualidades em ambiente de desacordo” (Ribeiro, 2010, p.22). Da Geopolítica, “o estudo da política nos espaços” (Almeida, 2012, p.27) e das suas ricas e diversas considerações e análises teóricas. As teorias das Relações Internacionais, onde um estudo das “entidades básicas” guiar-nos-á para o estudo das “conexões exteriores” (Moreira, 1996, p.19). E com certeza da Segurança Energética, “em que os países têm perspectivas distintas daquilo que consideram a sua própria segurança energética” (Fonseca, 2015, p.83), sendo uma disciplina que combina claramente estas três áreas acima expostas.

Posto isto, passemos aos conceitos operacionais mais importantes da interdisciplinaridade em estudo. Ou seja, o conceito de Segurança Energética, que segundo Yergin é “to assure adequate, reliable, supplies of energy at reasonable prices and in ways that do not jeopardize major national values and objectives” (2006, p.10). Com isto o conceito de Poder, que segundo Adriano Moreira, é “o produto de recursos materiais - 19 -

(tangible) e imateriais (intangible), que se integram à disposição da vontade política do agente, e que este usa para influenciar, condicionar, congregar, vencer, o poder de outros agentes que lutam por resultados favoráveis aos seus próprios interesses” (Citado por Santos, 2007, p.68).O de Recursos fósseis, que pela base apresentada por Sørensen (Citado por Fonseca, 2015, p.22), designaremos como fontes de energia (petróleo, gás e carvão) que não regeneram ao mesmo ritmo da sua utilização, ou seja, podem também ser compreendidos como recursos energéticos não renováveis. E o conceito de Royalty que segundo o Artigo 38 do 9º Complemento da Assembleia da República de STP “significa a quota-parte do Petróleo produzido e guardado numa Área de Contrato a que o Estado tem direito e que não é utilizada nas Operações Petrolíferas, com base nas percentagens calculadas em função da taxa de produção diária como determinado no Contrato Petrolífero aplicável”. Estes serão os conceitos mais importantes desta obra, porém todos os termos, que se pautarem essenciais, serão operacionalizados para a construção de um quadro taxonómico da realidade estudada.

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CAPÍTULO I- A SEGURANÇA ENERGÉTICA E O GOLFO DA GUINÉ.

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Neste primeiro capítulo, estudaremos a temática basilar desta obra, a Segurança Energética. A mesma, como evidenciado no prelúdio deste trabalho, tem-se afirmado como essencial para a sobrevivência humana, principalmente com a utilização em grande escala dos recursos energéticos não renováveis no século XXI.

Este paradigma, que sustenta a Sociedade Internacional, principalmente após a vitória dos Aliados na II GM, criou uma dependência, tanto na obtenção destes recursos para o esforço industrial, mas como também, no balanço/desequilíbrio económico criado pela comercialização desta matéria-prima para diversos países no nosso Planeta.

Ora, esta realidade dispõe-nos imediatamente duas visões, interdependentes, nesta temática. Por um lado, a existência de consumidores, que procurarão um baixo preço no acto da compra e comodidade no abastecimento (security of supply), e outros que tentarão rentabilizar cada barril ao máximo de valor possível, mantendo a procura, auferindo lucro e boa produção (security of demand). Cada actor estará preocupado com a sua actividade no extenso mercado energético mundial, compartilhando e disputando espaço, atendendo aos seus interesses.

Torna-se assim necessário estabelecer um quadro teórico desta temática, não procurando um definição conceptual estrita, mas sim, um grupo de diversas considerações desta realidade num primeiro momento. Após isso, analisaremos a evolução desta temática ao longo dos anos, caracterizando os principais assuntos, acções e actores do mercado energético mundial; por fim analisaremos o continente africano e o Golfo da Guiné, pertencente ao Golden Triangle, que tem sido fundamental para a produção petrolífera de diversas ETN’s ocidentais, que entre si e contra outros, disputam estes recursos desacautelando países fragilizados como o nosso caso de estudo, São Tomé e Príncipe.

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1- O que é a Segurança Energética?

Como já referido, os recursos energéticos não renováveis ganharam preponderância com a vitória Aliada na II Guerra Mundial (1939-1945), porém, é necessário recordar que estes primeiros avanços foram dados no I grande conflito mundial (1914-1919). Naquele tempo, as sociedades humanas conheciam os primeiros passos da electricidade e existiam recursos energéticos por descobrir à escala mundial. Hoje não haveria tanta mobilidade ou a Era da Internet caso não existissem recursos capazes de gerar esta electricidade, tornando-a acessível a maioria da humanidade no século tecnológico, principalmente nos países industrializados. Esta acessibilidade física e económica diminui ou propicia a compreensão dos diversos riscos associados à temática junto das sociedades do nosso planeta, e da própria sustentabilidade do mesmo (Yergin, 2011, p.507; Chevalier, 2006, pp.2-3). Cada sociedade tipifica os seus riscos atendendo as suas considerações culturais, económicas, geográficas e outras.

No que respeita a Sociedade Internacional, constituída essencialmente por Estados, mas como também “admitidas por aqueles ao seu convívio”, por “outras entidades colectivas, como a Igreja Católica, certas organizações internacionais e associações de Estados e os próprios indivíduos” (Sousa, 2008, p.13), o papel da energia diverge, mas a sua importância é imperativa e unânime. Esta complexificação que apresentamos afecta directamente o cidadão. E se assim o é, perturba o grupo que se insere, diminuindo a Segurança, “situação ideal” de característica psicológica (Ribeiro, 2010, pp.49-54). Nas sociedades modernas, esta situação deve ser garantida pelos Estados, que de forma soberana, não reconhecem nenhum Poder igual ao seu dentro das suas fronteiras ou superior fora das mesmas, tendo o “soberano Direito de reclamação internacional” (Lara, 2011, p.282). Os mesmos procuram a segurança nacional desejável, porém, num século marcado pela lei da complexidade crescente, é a segurança internacional que impera. Analisemos assim de que forma se relacionam estas entidades e que papel é dado ao seu actor primordial, o Estado, em busca dessa segurança.

Com a inevitabilidade da política externa (Bessa, 2012, p.71) e com a necessidade de garantir a segurança, como já salientamos o Estado é o actor principal dessa relação recíproca. Essa importância é defendida pelos neo-realistas, que de forma estrutural, concebem uma valorização acrescida ao papel desempenhado por este “ser orgânico” e “racional”, pelos seus meios e analisando por fim as suas “atitudes e comportamentos” (Santos, 2007, p.276). A segurança é vital para a sobrevivência do Estado. Para garanti-la, os mesmos agem consoante

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os seus interesses, baseando-se numa “auto-ajuda (‘self- help’)” com o principal objectivo de atingir um “bem geral ou público“ (Ibidem, p.276). Este mutualismo anárquico, das odes de Proudhon, é considerado um princípio de acção numa ordem anárquica. Porém, é o individualismo de Godwin (Oiticica, 1976, p.10), onde a força é o primor relacional entre os Estados e os outros actores na arena internacional (‘take care of yourself’) que vem marcando as Relações Internacionais. Este sistema, segundo Barry Buzan, “therefore, can be described in terms of a continuous system that has never undergone transformation” (1998,p.49), evoluindo a par da história mundial e adicionando contínuas modificações funcionais à estrutura anárquica, aprofundando-a num Estado de Natureza, como nos exemplifica as diversas teorias clássicas e contemporâneas do realismo.

Esta visão da segurança é contraposta pelo neo-liberalismo. Os defensores deste paradigma, acreditam que a estrutura anárquica não inviabiliza a cooperação nas relações internacionais, aliás a mesma o propícia. Os mesmos consideram que o Estado continua a ser “o representante legítimo da sociedade” e “os actores não estatais estão-lhe subordinados” (Santos, 2007, p.294). Esta cooperação pode ser conseguida através da criação de regimes internacionais e instituições que regulem, reduzam ou limitem a estrutura anárquica internacional (Krasner, 2012, p.91). Ora, estas organizações são consideradas livres e reciprocas, onde os Estados delegam áreas de Poder para um “bem geral ou público“, principalmente na economia, desejando aumentar a dependência e a interdependência entre actores. Os resultados da cooperação serão sempre superiores aos resultados de uma acção individualista (o mutualismo de Proudhon). Porém, é preciso que os actores identifiquem interesses em comum e de que maneira o agente irá relacionar-se com a estrutura institucionalizada, para que a cooperação seja positiva e não conflituosa.

Nas Relações Internacionais detemos ainda uma terceira visão sobre o papel do Estado estruturada no paradigma da dependência, mas também conhecido como neo-marxista. A mesma baseia-se na “concepção transnacional dos relacionamentos em termos de potencialidades desiguais, designadamente, no plano económico” (Santos, 2007, p.206) entre os países mais ricos do mundo, capitalistas, e os mais pobres, pertencentes à periferia. Estes países periféricos estão dependentes do centro rico e imperialista, que propositadamente mantém-nos subdesenvolvidos em prol da acumulação das suas riquezas e do seu desenvolvimento civilizacional, num longo ciclo. Para estes teóricos, a “situação ideal” é garantida no centro em desfavorecimento da periferia, não sendo a mesma constituída por Estados soberanos. - 24 -

Uns adoptam uma atitude realista, disputando directamente todos os recursos possíveis, muitas vezes balançando-se pelo terror com um ou mais adversários do sistema, procurando de imediato a hegemonia e não hesitando na utilização da força (‘hard- balancing’). A guerra-fria, preconizada pelos EUA e a URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas) é um bom exemplo do mesmo. Outros preferem apenas seguir as políticas delimitadas pelos mais fortes do sistema, no chamado efeito-carruagem (‘bandwagoning’) como era o caso da maioria dos países pertencentes tanto ao bloco norte- americano ou ao bloco soviético, do exemplo acima citado. Por último, outros preferem cooperar, em grupos, normalmente constituídos pelos Estados mais frágeis do sistema, procurando benefícios junto dos mais fortes (‘soft balancing’), como foi o MNA (Movimento dos Não-Alinhados) ou a OPEP, organização que viria a originar dois importantes choques petrolíferos (1973 e 1979) que mudariam para sempre a importância da temática na agenda internacional no século do “povo” e no presente. Abordaremos com maior detalhe a acção da OPEP no ponto seguinte.

A falta de consenso numa área vital como a Energia polariza o Poder a nível mundial, marcando o sistema de conflitualidade e “num padrão que se assemelha a um complexo jogo de xadrez tridimensional” (Nye, 2012, p.15). Ou seja, no tabuleiro superior temos o Poder militar onde os EUA têm uma superioridade notória face aos outros players mundiais. No tabuleiro central, o poder económico é multipolar, sendo os EUA, a União Europeia, a China e o Japão os principais players, mas outros inseridos no G-20 (Rússia; Brasil; Índia e outros) também estão presentes neste domínio. Por último temos o tabuleiro inferior, como diz-nos Nye, o mesmo é “ o reino das relações transnacionais que se encontram fora do controlo governamental” sendo os seus intervenientes legítimos como a ONU (Organização das Nações Unidas), ou então um grupo terrorista ou de piratas informáticos (Ibidem, p.16). É de salientar que esta disputa é principalmente entre produtores e consumidores, no que respeita ao mercado energético mundial. Porém, todos têm o seu papel neste extenso jogo internacional. Ao Hegemon, como nos disse Gilpin, “caberá assegurar o aprovisionamento de bens públicos à escala internacional” (Citado por Nunes, 2013, p.7), “acrescentando R. Keohane, que esta liderança deverá assentar no controlo dos meios financeiros, das tecnologias relevantes e dos recursos naturais” (Ibidem, p.8). Estes recursos são assim essenciais para a manutenção de diversos países no tabuleiro central, ou mesmo, a uma possível ascensão ao tabuleiro principal, como nos demostra o caso chinês e a robustez russa, por exemplo.

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É assim difícil caracterizar, de uma forma restrita e estática, um conceito de Segurança Energética (Birol, 2015; IEA, 2016; Fonseca, 2015; Yergin, 1992, 2006a; 2011b; Ciuta, 2010; Chevalier, 2006; Luft e Korin, 2009; Pascual e Elkind, 2010; Moran, 2009) apesar do “reconhecimento da existência de um conjunto de elementos comuns, designadamente, os actores, ou unidades de acção, os factores condicionantes dos relacionamentos e os princípios de ordenamento organizativo, determinantes de padrões de interacção complexa e de dinâmicas processuais, ou sejam a estrutura e o ambiente” (Santos, 2007, p.113). Pois, cada Estado terá a sua visão sobre o Mundo e escolherá atendendo as suas características e interesses, a sua forma de acção na procura da Balance of Power Politics e dela, a Segurança Energética. A temática é assim pluridisciplinar, pelo facto de agrupar diversas disciplinas como a Economia, a Segurança, a Geopolítica e a Política Internacional, por exemplo. Mas também interdisciplinar, surgindo do cruzamento destas disciplinas científicas, tendo essencialmente como base, o conceito de Poder, estando presente nas high politis e nas low politics, principalmente após a década de 1970. Sendo assim essencial tanto na segurança internacional, das infraestruturas energéticas, nos seus fluxos, e nas próprias políticas ambientais, por exemplo. É em suma, uma relação estratégica interdependente entre produtores e consumidores, nos domínios da exploração, produção, transporte, preço, viabilidade, sustentabilidade e razoabilidade na utilização de recursos energéticos, num complexo sistema de forças que propicia ou dificulta o desenvolvimento dos actores intervenientes. A temática é assim abordada por “cada um conforme as suas forças, e a cada um conforme as suas necessidades” (Oiticica, 1976, p.3)!

2- A temática a nível mundial

“Blood may be thicker than water, but oil is thicker than both”.

Perry Anderson (2001)

Longos foram os tempos em que o Homem utilizava apenas a energia animal, a energia do fogo ou da água. O Homem descobriu através da combustão, uma ferramenta que iria revolucionar toda a sua evolução através da energia mecânica, com meios que o iriam proteger, aquecer, iluminar e ainda construir e descobrir novas ferramentas. Estas bases

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catalisariam a exploração e desenvolvimento de novas formas energéticas. Falamos directamente dos recursos energéticos não renováveis. Estes recursos naturais, quando utilizados, não podem ser repostos pela acção humana. E quando nos referimos a estas fontes de energias, dirigimo-nos aos combustíveis fósseis. Estes combustíveis subdividem-se em três formas fundamentais: Carvão Mineral; Petróleo e Gás Natural. Podemos ainda adicionar a este leque de energias, a Energia Nuclear, que em toda a sua essência, prova todo o desenvolvimento técnico destes recursos energéticos que são vitais para todas as actividades preconizadas no nosso Planeta, actualmente.

O desenvolvimento destes recursos começa sem dúvidas com a Revolução Industrial na Grã-Bretanha, já no séc. XVIII. Naquele tempo, o Carvão Mineral era pioneiro e também a fonte de energia mais utilizada no mundo. O mesmo preconizou um grande desenvolvimento civilizacional, tanto a nível industrial (sobretudo o sector têxtil) mas principalmente nos transportes (o aparecimento das linhas ferroviárias; barcos a vapor e entre outros), firmando- se como a mais importante fonte de energia daquele tempo. Edificou-se assim um mercado internacional sobre os produtos carboníferos, que impulsionariam diversos países como a Alemanha e os EUA, para posições importantes no panorama internacional no início do século XX.

Apesar desta afirmação do carvão, a humanidade continua a procura de formas mais baratas e eficientes de produzir energia, o que iria culminar com a primeira produção com fins comerciais de petróleo em 1859, na Pensilvânia (Yergin, 1992, p.19-34). O chamado “ouro negro”, é mais fácil de transportar e moldar, potencializando ainda mais energia do que outros combustíveis fósseis como o carvão. Este recurso, que teve a sua origem há milhões de anos atrás, através da composição de depósitos fosseis no subsolo terrestre, traz consigo muitas vezes uma outra forma de energia, o gás natural. O gás natural vinha sendo desaproveitado até a invenção do queimador de Bunsen, em 1890. O mesmo era extraído das jazidas de Petróleo (gás associado) e mais tarde convertido em fonte de energia, mas apesar das suas diversas formas de utilização e vantagens, como baixas emissões de CO2, continua a crescer apenas até onde o carvão e o petróleo não chegam. Embora exista um aumento significativo da sua importância, que se prevê capaz de subverter o mercado energético mundial. Porém, quando analisamos a Política Mundial, principalmente a preconizada no “século do povo”, a Segurança Energética é confundida com a Segurança Petrolífera, nomeadamente pelos EUA, pioneiros na exploração deste recurso energético (Chevalier, 2006, p.24).

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É fácil confundir esta realidade, na verificação de exemplos que marcaram e marcam a agenda internacional, o petróleo detém um papel preponderante na temática. Foram os primeiros tanques, navios e camiões britânicos e norte-americanos movidos a petróleo que venceriam a Tríplice Aliança na I Guerra Mundial, por exemplo. Com a vitória Entente, assistiríamos à mudança do quadro político, económico, geopolítico e social do mundo, principalmente com o desmantelamento do Império Otomano em 1922. Assim, novos Estados foram formados na Europa e no Médio-Oriente, principalmente. O Império Otomano detinha uma área extensa, presente em três continentes e rica em recursos energéticos não renováveis, particularmente por campos de petróleo. Os mesmos viriam a ser controlados pelas “sete irmãs” (Exxon; BP; Shell; Gulf; Socal; Texaco; Móbil), empresas com capitais norte- americanos, britânicos, franceses e holandeses, que com a ajuda de Calouste Gulbenkian, produziam já no início da II GM neles (essencialmente no Golfo Pérsico) e em outras partes do mundo como no México, na Venezuela e no Cáucaso (Fonseca, 2015, p.47- 53). Efectivamente, estas empresas controlavam o mercado energético mundial, o que teve grande impacto no conflito bélico preconizado entre 1939 e 1945. É devido ao petróleo que Hitler demanda Rommel pela conquista do norte de África e essencialmente do Canal do Suez. De igual maneira, o exército nipónico tenta conquistar o máximo de ilhas no Pacífico, com destaque para as Filipinas, numa procura constante pelo petróleo, visto deterem um território pobre em recursos energéticos e já estando debilitados pelo embargo preconizado pelos EUA com o escalar do conflito. Aliás, foi a superioridade energética dos Aliados, principalmente com as duas explosões nucleares no território nipónico, autorizadas por Harry Truman (Hiroshima e Nagasaki), que redefiniriam o status quo a nível internacional. A formação da ONU (1945); a divisão da Alemanha (1945); o aumento da influência norte-americana no mundo e o alargamento das fronteiras da URSS; os Acordos de Bretton Woods (1944); os Acordos de Segurança Colectiva como a NATO (North Atlantic Treaty Organization) (1949) e o “Pacto de Varsóvia” (1955) são exemplos de um novo panorama nas Relações Internacionais até ao final do século XX e que continuam a moldar o século presente, principalmente na temática que abordamos (Bessa, 2012; Moreira, 1999; Almeida, 2012; Nye, 2012; Kissinger, 1996; Maltez, 2002; Cravinho, 2002; Brzezinski, 1997; Huntington, 1999).

Com o erguer de uma “cortina de ferro”, “From Stettin in the Baltic to Trieste in the Adriatic”, assistimos ao hard-balancing directo entre os EUA e a URSS, representantes de blocos antagónicos que manteriam uma linha de conflito até 1991. As capacidades nucleares

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reunidas por estes opositores e dos restantes países pertencentes a pentarquia1,cunhada pelo CSNU, criaria o “equilíbrio do terror”. A Segurança Energética é assim vista, principalmente por estas duas superpotências, como a Segurança Nuclear, o que culminaria na aprovação pela Assembleia Geral das Nações Unidas, em 1954 da IAEA, organização internacional que controlaria a utilização da energia atómica. Não obstante a essa realidade, as necessidades tecnológicas para a produção nuclear e da mesma para a produção bélica, não estão ao alcance de todos os Estados do Planeta, dai, outros recursos naturais, como o petróleo, o carvão e o gás natural, manterem a sua importância na agenda internacional, principalmente no pós- guerra. Neste ponto, as “sete irmãs” detinham o monopólio do mercado energético mundial, onde as quatro maiores empresas (Exxon, BP, Shell e Gulf) representavam cerca de 82,6 % da produção total de petróleo após o conflito (Citado por Fonseca,2015,p.55).

O sistema internacional evoluiria com a constituição da CECA (Comunidade Europeia do Carvão e do Aço) em 1952, que reunia os países do Benelux, a RFA (República Federal da Alemanha), a França e a Itália. Uma organização que permitia a livre circulação de ferro, aço e carvão entre os EM da mesma, dificultando assim a acumulação de potencialidades bélicas e com isso, um novo conflito no “velho continente”. Dava-se o primeiro passo da integração europeia, baseada na Segurança Energética, principalmente com a EURATOM que a par da CEE vinham a ser constituídas em 1957 pelo Tratado de Roma.

Enquanto os recursos energéticos constituíam a base do projecto europeu, em outras partes do mundo criavam conflitos, sobretudo no Médio-Oriente. Naquele tempo, os maiores consumidores controlavam a produção e com isto o preço, que sendo baixo, aumenta por sua vez o consumo total da commodity (Costa, 2011, pp.201-226). Esta produção deslocada e assente no pagamento de Royalties era dependente da exportação provinda do mais importante Shatterbelt do nosso planeta, o Médio-Oriente. Para controlar a região, e com isto manter o fluxo de importação a preços baixos, as potências ocidentais, principalmente os EUA, auxiliavam “ económica e militarmente, qualquer Estado do Médio Oriente que sinta a sua independência ameaçada ou que peça ajuda no caso de ser objecto de agressão armada por parte de um país controlado pelo comunismo internacional” (Citado por Fonseca, 2015, p.57). Isto justificaria as intervenções diplomáticas e militares preconizadas no decorrer da década de 1950 (Irão em 1952; Guerra do Suez em 1956; Líbano em 1958, por exemplo). Este sistema de Royalties, que beneficiava em grande parte as empresas ocidentais, começa a ser

1 Falamos dos membros permanentes do Conselho de Segurança das Nações Unidas: EUA; URSS (actualmente Rússia); Reino Unido; França e China. - 29 -

contestado já antes da II GM, num processo demoroso mas que levou a nacionalização da indústria petrolífera do México em 1938. Outros países como a Venezuela conseguiam também melhorar a sua posição, com a renovação dos contractos com as empresas presentes no seu território, auferindo já em 1947 a 50 % dos lucros (Ibidem, p.59). Estes primeiros passos serviriam de modelo para as futuras reivindicações dos restantes produtores nacionais que auferiam à uma Royalty historicamente baixa e desadequada com as necessidades energéticas da conjuntura. Principalmente os países do Médio-Oriente, que contestavam o domínio das “sete-irmãs” no mercado energético mundial, o que inspirou a criação da OPEP em Bagdade, no dia 10 de Setembro de 1960. Entretanto a Arábia Saudita e o Kuwait melhoravam os seus contratos, já o Irão assistia à uma mudança governativa forçada pelos norte-americanos e britânicos em prol dos seus interesses energéticos.

Numa altura em que o MNA vinha ganhando força após a Conferência de Bandung (1955), cunhando a definição de “Terceiro Mundo”, desprovido e oprimido pelo Imperialismo, principalmente no que respeita a utilização dos seus recursos naturais ao longo dos séculos (Lara, 2000, p.10), com a Carta de São Francisco (26 de Junho de 1945) e o direito a auto-determinação dos povos, desejam a descolonização a nível mundial. Ou seja, desejam “um conjunto de medidas tendentes a terminar com o controlo político formal sobre os territórios coloniais e sua substituição por um novo relacionamento” (Ibidem, p.22). É nesta conjuntura que a Arábia Saudita, o Kuwait, o Iraque, o Irão e a Venezuela, que já vinham contestando o sistema de Royalties, e no espectro geral o domínio das “sete-irmãs”, fundam a OPEP tendo como objectivo final unificar as “políticas petrolíferas dos Estados Membros e a determinação dos melhores meios para salvaguardar os seus interesses” (Citado por Fonseca, 2015, p.60). Este ‘soft-balancing’ é a primeira resposta conjunta dos países produtores face aos consumidores, desejando regular a produção entre os EM, estabelecendo o preço do barril num valor favorável e uma posição considerável na hierarquia do mercado energético mundial, podendo a organização tornar-se numa arma política junto dos mais fortes do sistema. Nomeadamente na realização de embargos, visto que o Médio-Oriente representava perto de 80 % do valor global da produção, essenciais para os importadores, com foque para os EUA (Fonseca, 2015, p.61; Yergin, 2011, p.545). Porém, as primeiras2 acções concertadas da organização de produtores tiveram pouco impacto junto dos grandes consumidores mundiais, que souberam contornar a situação, aproveitando discordâncias

2 Os primeiros embargos preconizados, foram tanto o bloqueio do Canal do Suez pelas forças egípcias (1956) e o realizado pelos exportadores árabes junto dos maiores importadores ocidentais após a vitória israelita na Guerra dos Seis Dias em 1967. - 30 -

existentes entre os EM da mesma e o facto das suas empresas controlarem as fases mais críticas do ciclo energético, como a exploração, o transporte, a refinação e a comercialização (Yergin, 2011; Fonseca, 2015; Giraud e Boy de la Tour, 1987). Apesar das “sete irmãs” e os seus Estados não darem protagonismo a organização, a mesma já detinha no início da década de 1970, 11 Estados Membros3 presentes em 4 continentes.

Mas a organização ganharia este protagonismo internacional aquando do ataque coordenado dos países árabes (Egipto, Síria e Iraque) à Israel no feriado judaico Yom Kippur, no dia 6 Outubro de 1973. A coligação árabe era liderada pelo presidente egípcio Anwar Sadat, que queria reconquistar zonas perdidas durante a Guerra dos Seis Dias, essencialmente na península do Sinai, já os sírios avançavam na reconquista dos Montes Golã. Nos primeiros momentos do conflito a coligação árabe teve sucesso na sua acção, que só viria a ser travada pelo grande apoio dado pelos EUA e restantes países do bloco ocidental aos israelitas, que com uma superioridade bélica e táctica, apesar de deter menos efetivos em comparação à coligação árabe, força o cessar-fogo. Esta nova derrota árabe veio a ser fundamental para a acção política protagonizada pela OPEP, que viria a alterar por completo o status quo do mercado energético internacional. O petróleo foi assim utilizado como arma política (oil weapon) logo no início do conflito ao terem sido anunciados aumentos de 70 % no preço do crude e uma redução de 5 % da produção já a 17 de Outubro daquele ano. O impacto destas medidas, de um grupo de países que representavam a maior fatia do cabaz energético mundial, paulatinamente foi paralisando as economias dos maiores consumidores do Mundo, que não conseguiam fazer frente a esta situação abrupta. A mesma, não foi possível ser atenuada, porque a produção dos EUA já não era suficiente para “controlar os preços do petróleo” (Fonseca, 2015, p.65) e principalmente num período onde o embargo criou uma procura excessiva da commodity. Ora uma baixa da produção, um quadruplo aumento de preços e uma grande procura, fazem desta acção um sucesso para os países da OPEP economicamente. Já os países importadores, que detinham poucas reservas e grande dependência da produção do Médio-Oriente, era um rombo elevado nas balanças comerciais de países como o Japão, que pela primeira vez após a II GM, enfrentava uma recessão económica. A nível internacional verificamos um aumento da inflação e do desemprego. Ou como disse-nos Maugeri, interrompeu-se “o mais extraordinário período de desenvolvimento alguma vez registado pelas economias avançadas, abrindo as portas para uma severa

3 Qatar (1961); Indonésia (1962) mas sairia em 2009; Líbia (1962); Abu Dhabi (1967) posteriormente Emiratos Árabes Unidos (1974); Argélia (1969); Nigéria (1971); Equador (1973) mas sairia em 1992, voltando a regressar em 2007; Gabão (1975) mas sairia em 1994; Angola (2007). - 31 -

estagflação que atingiu também os países em desenvolvimento que não tinham petróleo” (Ibidem, p.66).

Este embargo levou a uma resposta concertada dos países consumidores logo no ano de 1974, ao instituírem a IEA no seio da OCDE, sendo uma organização autónoma que examina o espectro total das questões do mercado internacional, advogando “policies that will enhance the reliability, affordability and sustainability of energy in its 29 members countries and beyond” (IEA, 2016, p.1). A organização tem como principal objectivo realizar um ‘hard-balancing’ directo versus a OPEP. Munidos do American Global System, pois o modelo da organização foi devidamente desenhado por Kissinger, desejam implementar o máximo de mercados livres possíveis no sistema energético mundial, propiciando crescimento económico e eliminando a pobreza energética (Ibidem, p.2). A organização não esquece as questões ambientais, analisando por fim que impactos advertirão da produção energética para o Planeta, num momento em que a temática da Segurança Climática apresentou-se na agenda internacional. No fundo, estes países não desejam uma interrupção dos fluxos petrolíferos a nível mundial, como a ocorrida após Yom Kippur, com vista a manutenção do estilo de vida ocidental (Fonseca, 2015, p.68). Para tal, estabelecem grandes reservas estratégicas (90 dias) e impulsionam a descoberta de novos campos petrolíferos em diversas zonas do globo, como forma de diversificar as fontes primárias do produto. Principalmente as empresas norte- americanas, que viam o petróleo como recurso estratégico, devido a sua importância na economia, na existência de riscos que podem parar ou diminuir os seus fluxos e na dificuldade de ser substituído no cabaz energético mundial.

Assim, consumidores como os EUA debatem a independência energética, o que levou a delimitação de diversos planos com esse objectivo por parte das administrações norte- americanas (Nixon; Ford, mais recentemente Obama). A independência energética era compreendida como o fim das importações petrolíferas dos países ocidentais (Deutch et al, 2007, p.20). Com a independência os riscos de uma interrupção eram diminuídos, mas sendo uma situação desejável e projectada para o futuro, assistimos ainda a uma nova situação preocupante no mercado, quando em 1979 a Revolução Islâmica ocorre no Irão, num movimento religioso com grande apoio popular liderado pelo Ayatollah Khomeini.

Após mais de 40 anos apoiado pelo Ocidente, apesar de conduzir o país de forma autocrática, o poder do Xá Reza Pahlevi termina e com isso, também a manutenção das diversas companhias ocidentais no território persa. Naquele tempo, o Irão era um grande

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aliado dos EUA, recebendo da superpotência ajuda financeira e também militar, sendo o 4º maior produtor e o 2º maior exportador de petróleo do mundo, totalizando uma média diária de 5,5 md/b. A redução dos fluxos provenientes do Irão, que passou a produzir apenas 400 mil barris diários, é aproveitado por diversos outros produtores como a Arábia Saudita. Apesar da redução de apenas 5% do valor total do mercado internacional, o medo de uma grande interrupção proveniente do Médio-Oriente aumentou a procura, provocando “o segundo choque petrolífero na mesma década” onde o preço do barril passou de “13 dólares para aproximadamente 34 dólares, o que representou um aumento superior a 150 %” (Fonseca, 2015, p.75). Khomeini seria o líder absoluto deste novo Estado, que prontamente seria afrontado por diversos vizinhos, de maioria sunita e também grandes produtores de petróleo. Falamos principalmente do Iraque, que ao revogar a delimitação fronteiriça estabelecida em 1971, invade o território iraniano em 1980, dando início a um conflito que contabilizou uma pesada perda humana para ambos os países e que prolongou-se até 1988. Novamente o Shatterbelt mais dramático a nível mundial suscitava preocupações, principalmente após o abrandamento dos fluxos petrolíferos na zona, possibilitado por uma “guerra dentro do Islão” (Silva, 2011, p.20).

Apesar da redução significativa existente com o conflito, este segundo choque não teve o mesmo impacto no mercado internacional que o preconizado em 1973. Esta mesma situação veio testar as capacidades da IEA, que numa “coordenação entre os membros” em relação aos stocks de petróleo foi fundamental “para enfrentar mais este período conturbado” (Citado por Fonseca, 2015, p.76). Diversos outros produtores mundiais reforçaram a sua produção (Egipto, Arábia Saudita, URSS, EUA, México e Noruega) e houve um aumento das reservas estratégicas dos países pertencentes a IEA, “uma frente dos consumidores que substituiria as empresas [Sete Irmãs] como líder dos países industrializados” (Ibidem, p.74). Esta frente vinha diminuindo a importância do Médio-Oriente, também os EUA, que nos inícios da década de 1980 já detinham as suas companhias a explorar em novas regiões do globo através da tecnologia offshore como no Golfo do México.

Os choques petrolíferos de 1973 e 1979 marcaram o mundo e a temática, levando com que a década de 1980 fosse marcada pela oscilação constante do preço do petróleo, apesar de em valores baixos, muito devido a diminuição produtiva da OPEP (p.e a Arábia Saudita que passou a produzir em 1985 apenas 2 milhões de barris diários, enquanto anteriormente produzia 10 milhões), tentando diminuir a oferta e com isto aumentar o preço (Costa, 2011, p.215). Ou por parte dos países pertencentes a IEA, que vinham assegurando o normal - 33 -

funcionamento das economias dos seus EM ao utilizarem as suas reservas estratégicas, ou da “existência de recursos disponíveis no mercado em quantidade suficiente e a preços competitivos, assim como de um sistema global que garanta a segurança dos fluxos energéticos” (Citado por Fonseca, 2015, p.80) não permitindo os produtores da OPEP utilizarem novamente a commodity como uma arma política (oil weapon). Esta década terminaria com a queda do Muro de Berlim (1989) que representaria o fim do apogeu soviético no mundo.

Nem mesmo quando o Kuwait é invadido pelo Iraque em 1990, com o total objectivo de capturar os seus grandes campos petrolíferos, mantendo-se no território kuwaitiano apesar das “pressões diplomáticas, as sanções económicas e o bloqueio comercial” (Fonseca, 2015, p.81), teve os mesmos efeitos que os choques petrolíferos preconizados na década de 1970. Os EUA, aliados do Kuwait e preocupados com os fluxos energéticos mundiais e aproveitando-se da sua posição como membro permanente do CSNU, formam uma coligação internacional que facilmente obrigaria o Iraque a retirar-se dos territórios conquistados. Estas acções militares, reconhecidas pela literatura da temática como a “primeira guerra do petróleo” (Citado por Fonseca, 2015, p.81; Billon e Cervantes, 2009, p.51), terminariam em 1991, marcando também a ascensão dos EUA como o Hegemon do sistema internacional, com a dissolução total da URSS a 31 de Dezembro desse ano.

Findava uma “longa competição de mais de meio século pela hegemonia no mundo entre duas superpotências, que só acabou no último decénio do segundo milénio pela desistência e implosão do protagonista soviético” (Bessa, 2012, p. 51). Podemos afirmar, que os EUA dispõem “de suficiente poder militar e económico que lhe permite ter uma influência global ou mundial, pelo que pode pressionar um qualquer outro Estado durante um longo período de tempo e sendo capaz de ter acções efectivas em zonas dependentes de outro Estado sem necessitar que o mesmo lhe dê de consentimento” (Maltez, 2009, p.2). Com esta geopolítica afastada, os novos e únicos “polícias do mundo”, impulsionariam a reunificação alemã e interviriam mais de 32 vezes numa só década, por todo o globo (Bessa, 2012; Almeida, 2011; Kissinger, 1996; Brzezinski, 1997; Maltez, 2009; Moreira, 1996; Nye, 2012). Será importante salientar que até ao final do século XX o preço do petróleo manteve-se numa descida contínua a nível mundial4, enquanto a importância do gás natural também já se tornava considerável junto do cabaz energético mundial representando perto de 20 % do

4 Com excepção após a crise asiática de 1997 e a acção concertada da OPEP, com a colaboração de outros produtores fora da organização houve um aumento do preço. - 34 -

mesma. (Veja-se a evolução do preço do petróleo entre 1861-2015 na figura 1). Assinava-se também o primeiro tratado internacional que visava a redução de emissões de gases provindos essencialmente da utilização de recursos energéticos não renováveis, no Japão (Quioto) em 1997. O primeiro grande passo da Segurança Climática após as conferências de Toronto, Sundsvall e Rio de Janeiro (Fonseca, 2015).

Fig.1 – Preço do petróleo entre 1861-2015.

Fonte: BP, 2015. Data Workbook Statistical Review 2015 [online].

Disponível em: http://www.bp.com/en/global/corporate/energy-economics/statistical-review-of-world- energy/oil/oil-prices.html

O conhecido ‘século do povo’ deixara imensas marcas na história mundial e ao mesmo tempo, imensos desafios para o novo século. A falta de consenso em áreas como o ambiente; a segurança energética; a regulação dos mercados financeiros; os direitos humanos e a incapacidade da ordem internacional de travar conflitos ou guerras no nosso planeta no século XX estão na base dos problemas deste novo milénio. Quando no dia 11 de Setembro de 2001 a principal potência do nosso mundo é atacada, com os seus próprios meios pela Al-Qaeda, prontamente percebemos a sua incapacidade de controlar todo o sistema internacional. Pois, um grupo terrorista conseguiu ter um impacto emocional mais forte que o ataque japonês a Pearl Harbor (7 de Dezembro de 1941), num ataque que levou os EUA a invadirem o Afeganistão (2001) e o Iraque (2003) sem justificações conclusivas e a esquecerem outros pontos importantíssimos do sistema. Esta despreocupação norte-americana provinha muito da sua política económica interna, pois, as acções de Alan Greenspan (ex-presidente da Reserva

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Federal dos EUA) levariam à grande recessão mundial de 2008. Estas acções fizeram com que o preço do barril atingisse em 2008 um valor de 150 dólares por barril, urgindo a IEA na “formation of a new energy paradigm, one that not only focuses on traditional solutions like diversity of geographical sources and energy efficiency but also, taking into consideration the rapid growth of the developing world and the growing tension between oil producers and consumers” (Luft e Korin, 2008, XVI). Esta mesma recessão potenciou a criação de um novo directório económico a nível mundial, com a afirmação do G-20 (as 195 maiores economias mundiais+ União Europeia), principalmente com a afirmação da China, que prontamente tornar-se-ia num dos maiores consumidores a nível mundial, “alone is expected to reach 14 quadrillion Btu, which is 11 percent higher than that of the United States, by 2030” (Ibidem, p.18).

Com a associação vincada do terrorismo junto da temática6 e com o aparente controlo do Médio-Oriente, após as acções militares dos EUA, que novamente encabeçariam uma coligação internacional (Líbia em 2011, iniciando o chamado “Safari democrático” de Kissinger), verificamos o controlo dos preços, inclusive a sua baixa constante até aos dias presentes. Esta situação é muito devida ao aumento produtivo dos EUA, tanto no aumento da exploração offshore, mas essencialmente no petróleo de xisto betuminoso, potenciado pela fracturação hidráulica – conhecida como "fracking", aumentando a produção de petróleo em 56 % e aumentando a importância do gás para 44 % do total da produção (Yergin, 2013, p.1). Dá-se também elevada importância a eficiência energética7, como forma de conjugar a segurança, o ambiente e a competitividade. O objectivo final da administração Obama era retomar o debate da independência energética norte-americana, reduzindo uma factura avultada na compra de commodities energéticas e essencialmente futuras interrupções dos seus fluxos. Neste século, o Médio-Oriente representa apenas 10 % das importações energéticas norte-americanas, o que levou países como a China e a Rússia, a aumentarem gradualmente a sua influência na região e no mundo.

A China e os seus 1,36 mil milhões de habitantes, tem vindo a ganhar uma posição relevante na hierarquia do sistema internacional após a Guerra Fria com os efeitos do “one contry, two systems”. A “ascensão do Dragão” (Moreira, 1999) que rapidamente tentou

5 Pertencem ao G-20: África do Sul, Argentina, Brasil, Canada, EUA, México, China, Japão, Coreia do Sul, Índia, Indonésia, Arábia Saudita, Turquia, Alemanha, França, Rússia, Reino Unido e Austrália. 6 A conhecida “War on terror” de George W. Bush anunciada após os ataques de 11 de Setembro, 2001. 7 “A eficiência energética é a otimização que realizamos no consumo de energia” (ADENE,2016,p.1) - 36 -

captar em diversas partes do mundo uma parcela do mercado energético internacional, investindo em países fragilizados ricos em recursos energéticos, ou apetrechando laços com grandes produtores mundiais, como a Rússia ou o Irão (Morello, 2015;Branigin e Deane, 2015) que após um longo período de ausência regressa paulatinamente a Sociedade Internacional, pautam a “crescente instabilidade do ambiente estratégico que se desenvolveu depois do fim da guerra fria” (Moreira, 1999, p.418). A China, segundo o “World Energy Outlook 2015”, é o maior investidor e produtor de energias renováveis do mundo (Birol, 2015). Apesar disso, continua a ser o maior consumidor de carvão e o único país no planeta que detém 24 reatores nucleares em construção, onde “o país quer exportar as suas infraestruturas para nações do centro e sul da Ásia, Médio Oriente e até Europa” (Lusa, 2016, p.1). Ou seja, pensa em passar de grande consumidor energético para um exportador, essencialmente no Sudeste Asiático, onde as necessidades energéticas actuais e projectadas da Índia, já vão entoando um novo período no mercado.

É verdade que a União Soviética capitulara, onde o fim do “world’s territorially largest state created a” “black hole” (Brzezinski, 1997, p.87) no centro da Eurásia, culminando na formação de 15 novos Estados independentes. Emergia a Federação Russa, totalmente destruturada económica, política e socialmente. Apesar de tudo, mantém uns respeitados 17 milhões de km² (“Heartland”8) ricos em recursos não renováveis, não esquecendo a sua capacidade militar, atendendo ao seu vasto armamento nuclear. Rapidamente os russos adoptam uma postura geostratégica no seu “near abroad”, criando uma “vaguer entity- called the Commonwealth of Independet States (Ibidem, p.88). A robustez russa, que ao manter uma das maiores infraestruturas de pipelines e gasodutos à nível mundial após a desintegração da URSS, permite ao país continuar a exercer pressão e supremacia, principalmente no seu “inner abroad”, perpetuando também a União Europeia, em maior parte a Alemanha, numa dependência latente pelo gás natural russo. Isto faz com que qualquer situação num transit state, como a Ucrânia, afecte o fluxo de abastecimento europeu, onde “without Ukraine, Russian ceases to be a Eurasian empire” (Ibidem, p.46), tornando o país permissível à uma possível perca de independência, onde a anexação da Crimeia, veio a firmar-se como um ponto de mudança nas relações com a Rússia, de Putin. Não foi o “Fim da História” (Fukuyama, 1992, p.3) e não há apenas um Homem. Pois, os separatistas do Leste e os dirigentes de Kiev, têm despoletado um conflito com raízes remotas à Guerra Fria, onde um cálculo mal medido das acções ocidentais, pode modificar toda a

8 Veja-se “The Geographical Pivot of History”de Halford John Mackinder. - 37 -

conjuntura da Europa central, “transforming Poland into the geopolitical pivot on the eastern frontier of a United Europe” (Brzezinski, 1997, p.46). A Rússia é uma potência energética com capacidades visíveis para condicionar os países da União Europeia no que respeita a esse domínio, onde o seu gás pode facilmente tornar-se numa political weapon (Morales, 2008). Alias, o continente europeu importa 85 % dos recursos fósseis por si consumidos, produzindo apenas 15 % do seu cabaz energético. O projecto europeu deve apostar na “diversificação das fontes de abastecimento”, onde “a consecução de medidas tendentes à mitigação desta vulnerabilidade estratégica europeia passará, em larga medida, pelo desenvolvimento de uma política energética comum” (IDN, 2014, p.4) em prol da Segurança Energética.

Podemos verificar que no século XXI a exploração petrolífera é verdadeiramente mundial, pois existem grandes produtores e consumidores por todo o globo. Os EUA são novamente os maiores produtores a nível mundial, algo que não acontecia desde 1975, estabelecendo um recorde de 12,7 mb/d em 2015 (Brito, 2015, p.1). São seguidos pela Arábia Saudita; Rússia; China; Canadá; Iraque; Irão; Kuwait; Emirados Árabes Unidos; México; Venezuela (mantém a maior reserva de petróleo do mundo); Brasil; Noruega; Angola e Nigéria. A China ultrapassa também os EUA como maior consumidor de energia a nível mundial, sendo seguidos por países como o Japão; Índia; Coreia do Sul; Alemanha; França; Singapura; Espanha; Itália; Taiwan; Holanda; Turquia e Bélgica (BP, 2015; IEA, 2016; Fonseca, 2015; Yergin, 2011; Birol, 2015). Ora, a IEA destaca-se por deter diversos EM no grupo dos maiores consumidores. Enquanto a OPEP destaca-se por deter diversos EM no leque de grandes produtores, que tiveram um período áureo financeiramente com a escalada dos preços até 2011. Isto levou a um foco exclusivo na exploração petrolífera não diversificando com isto as suas economias, que abruptamente viriam a mostrar as suas debilidades com a contínua baixa de preços até 2015. Servem de exemplos a economia venezuelana, a brasileira, a russa e a angolana. Como diz-nos a Statistical Review of World Energy de 2015 da BP, a baixa de preço levou a um aumento do consumo global de petróleo em “1.9 million barrels per day (b/d), or 1.9% - nearly double the recent historical average (+1%) and significantly stronger than the increase of 1.1 million b/d seen in 2014” (p.1).

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Fig.2 – Produção de petróleo por região (barris diários).

Fonte: BP, 2015. Data Workbook Statistical Review 2015 [online].

Disponível em: http://www.bp.com/en/global/corporate/energy-economics/statistical-review-of-world- energy/oil/oil-production.html

A IEA é que beneficia deste novo panorama no mercado internacional depois de longos anos num hard-balancing com a OPEP. Ou seja, o aumento das reservas estratégicas; a baixa do preço; a diversificação das fontes energéticas; a redução da importância da produção da OPEP para os principais EM da organização e a manutenção dos fluxos energéticos mundiais, são provas desse sucesso. Num século já marcado pela preocupação com as alterações climatéricas provocadas pela utilização destes recursos não renováveis, a organização mantém o alerta junto dos seus membros e da Sociedade Internacional (Birol, 2015; Billon & Cervantes, 2009). A assinatura do Acordo de Paris em 2015, um novo tratado ambiental com vista a redução de emissões de gases de efeito de estufa por parte da maioria dos países do nosso planeta, afirma o compromisso dos mesmos na COP219 (Phillips, 2015, p.1). A Segurança Energética é uma questão sine qua non da Segurança Climática, e vice- versa. Os resultados deste acordo só poderão ser analisados num considerável período de tempo, mas no que respeita aos sucessos do Protocolo de Quioto, verificamos que a aposta nas energias renováveis continua a ser baixa, apesar do aumento do investimento, sendo as mesmas “accounted for 6.7% of global power generation” (BP, 2015, p.2). Ou seja,

9 The 2015 United Nations Climate Change Conference. - 39 -

continuam a ser os recursos energéticos não renováveis, especialmente o petróleo, o gás natural e o carvão que compõem o cabaz energético da maioria dos países industrializados do mundo, enquanto outros, “mostly in Sub-Saharan Africa and South Asia, suffers from acute energy poverty with no access to electricity. In India alone, 600 million people—roughly half the population roughly 40 percent of the world population still relies on traditional wood, crop residues and animal waste as their main cooking and heating fuels” (Luft e Korin, 2009, p.12).

É este o espectro da complexa temática que estudamos e que tentamos mostrar neste ponto, que como vimos pode ser confundido como Segurança Petrolífera, atendendo a importância do petróleo no mercado energético internacional. Principalmente no sector dos transportes, não tendo a sua posição contestada nesse aspecto. É muito devido ao sector que mais utiliza petróleo que os estreitos “of Malacca, the Turkish Straits, Bab-el Mandab, the Suez Canal, the Panama Canal and of course the Strait of Hormuz” (Ibidem, p.11) continuam a ser vitais para o comércio mundial e o controlo dos mesmos limita “threats that impede energy security: the threat of access to oil and natural gas supplies, and the threat to energy infrastructure, particularly energy transportation infrastructure” (Nincic, 2009, p.31). Com o degelo, assistimos também a competição entre diversos países como a Rússia, o Canada, a Noruega e os EUA pelo Ártico. Ou ainda a contínuas tensões no Mar do Sul da China, onde o apetite energético do “Dragão”, leva-o por territórios que poderão pertencer aos seus vizinhos. Esta procura no seio marítimo é impulsionada pela exaustão dos grandes campos petrolíferos mundiais, o que levou a uma produção adicional em 4 md/b (Birol, 2015) e pela aplicação de tecnologia de ponta na exploração em águas profundas. A exploração fica assim longe de conflitos, num século onde os verificamos (na Síria; no Yémen; na Nigéria; nos Sudões e no Afeganistão, por exemplo) em grandes produtores no Médio-Oriente, como o Iraque, ou a diminuição das produções líbias e outras. Isto acontece devido a guerras civis que irromperam após a “Primavera Árabe” e por ataques realizados por grupos paramilitares como o DAESH, que controla uma extensa parte da Síria e do Iraque. Isto reduz cada vez mais a produção no Shatterbelt mais importante do mundo. Pois, o grupo vende o petróleo dos 20 poços que controla nestas zonas, o que “representa cerca de 10% da produção iraquiana e 60% da produção síria”, potenciando “um valor entre 500 mil e 1 milhão de euros por dia” (Kabouche, 2016, p.1). Os grupos terroristas10, são alias, a principal ameaça às infraestruturas

10 Zonas onde têm ocorrido ataques terroristas na temática, nomeadamente infraestruturas ou operadores: Iraque; Colômbia; Nigéria; Argélia; Arabia Saudita; Rússia e Eurásia; Yémen e Etiópia; Paquistão. - 40 -

energéticas, principalmente pipelines e gasodutos que são de difícil protecção devido as suas extensões e disposições geográficas (Nincic, 2009, pp.35-37). Riscos que podem ser minimizados com a exploração offshore mas que suscitam maiores preocupações com a segurança marítima, pois poderão existir grupos que desejam limitar o “access to maritime energy resources while the conflicts are being resolved, and if they turn violent, to threaten the transport of energy when they lie on or near important sea lanes of communication” (Ibidem, p.41).

Edificado assim por diversos grupos e intervenientes, cujos últimos efeitos/consequências fazem-se sentir nos indivíduos, o mercado energético mundial apresenta-se como uma estrutura diversificada nas suas fontes, mas extremamente interdependente e competitiva, principalmente num momento em que o preço do barril contínua a sua descida abrupta. Esta descida tem vindo a reduzir também o investimento no sector em diversas partes do mundo, porém a existência destes recursos levam diversos países a sua exploração como forma de potenciar o crescimento económico que tende “to increase corruption, authoritarianism, uneven distribution of wealth, economic stagnation and social discontent” (Citado por Luft e Korin, 2009, p.3), principalmente no continente africano que abordaremos de seguida na nossa análise.

3- O continente africano.

O continente africano com cerca de 30 milhões km² sempre foi reconhecido por ser extremamente rico em recursos naturais. Na realidade, o continente sempre suscitou o interesse dos europeus e asiáticos, mas seriam os primeiros, que desempenhariam um papel fundamental no mesmo. O norte do continente é a parte há mais tempo conhecida do mesmo, onde se destacam os egípcios, sendo o povo mais reconhecido pela história pelos seus costumes, a sua tecnologia e importância política. De facto, somente a conquista de Ceuta pelos portugueses em 1415 culminaria no conhecimento do litoral do continente africano. Portugal, com uma Estratégia assente na diplomacia, mecanizada pelo comércio, pôde instalar as primeiras feitorias europeias no continente, continuando as descobertas para sul. Na verdade, o esforço português de perpetuar uma rota marítima para com os grandes mercados asiáticos, estabeleceria uma competição entre as demais potências europeias, onde a

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hierarquia internacional consumaria a partilha do continente na efémera Conferência de Berlim de 1884-1885 presidida por Bismarck (Mendes, 2008, p.40). Portugal apesar de pioneiro nos descobrimentos mantinha após a Conferência Angola; Moçambique; Guiné e as ilhas de Cabo Verde e São Tomé e Príncipe. A maioria do continente seria partilhado entre a França e o Reino Unido, mas outros países como a Espanha, a Alemanha, a Itália e a Bélgica também tiveram as suas partes. Com o prenúncio da ocupação efectiva foram estabelecidas as colónias europeias no continente africano, que segundo António de Sousa Lara, podem ser entendidas como “uma dominação imposta por um poder político exterior, exercida exclusivamente por um grupo étnico ou cultural sob o signo da superioridade, tendente à transferência das pessoas, instituições, capitais, tecnologia, valores culturais e civilizacionais metropolitanos e à subordinação dos recursos e das instituições da região dependente aos interesses do poder político e do grupo étnico ou cultural dominante” (2000, p.14).

Este sistema manter-se-ia na maioria dos países africanos até a década de 1960, mesmo após a conservação do direito a auto-determinação dos povos na Carta das Nações Unidas. Lembremo-nos que a mudança do status quo do sistema internacional no pós-II GM, com as afirmações anti-imperialistas da URSS e as de livre mercado, da liberdade e democracia dos EUA, verifica-se uma competição entre blocos pela influência e recursos no mundo, principalmente no continente africano. Outra parte essencial para este processo seria o MNA, constituído por diversas ex-colónias, defendia a descolonização total, exercendo pressão na nova Assembleia Geral. Estes novos países, aumentariam exponencialmente o número de EM na ONU (Cassese, 1999; Held et al, 1999; O’Loughlin & Wusten, 1990). A descolonização portuguesa só aconteceria na década de 1970, após ter enfrentado uma longa guerra desde 1961 em três frentes do continente africano (Guiné; Angola e Moçambique) e de exercer um forte esforço diplomático pelas suas “províncias ultramarinas”, que perpetuaria apesar de tudo o seu isolamento junto da nova arena internacional.

Rapidamente os antigos colonizadores tentaram estabelecer laços económicos (Costa,2010), alegando os laços culturais comuns, tentando manter com isto o controlo dos recursos naturais, principalmente os energéticos, onde países como a Inglaterra e a França “procuraram, na hora da partida, assegurar que os Estados africanos emergentes adoptassem um modelo democrático de governação” (Nóbrega, 2010, p.130). A Commonwealth of Nations e a Francofonia continuam a ser exemplos desse esforço neocolonialista. Apesar de serem culturalmente distintos, os diversos países concordam em criar a Organização da

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Unidade Africana a 25 de Maio de 1963. Sediada em Addis Abeba, a organização simboliza com isto o papel do Imperador Hailé Selassié I na luta contra o colonialismo e no seu desejo de paz para todo o continente. Particularmente num continente sem ordem, onde a “imagem do poder é indissociável da riqueza e da sua ostentação, num contexto em que os privilégios económicos constituem não só a principal recompensa do poder político, como também a forma de o manter” (Ibidem, p.131) sendo os Golpes de Estado e as guerras civis constantes, muito devido ao grande jogo internacional disputado pelas grandes potências pelo controlo do mesmo. Bom exemplo disso foi a guerra civil angolana iniciada logo após a descolonização do território (1975), onde três grupos armados (MPLA, FNLA e UNITA) e uma pluralidade de Estados perpetuaram um jogo de forças (URSS; EUA; Cuba; África do Sul; China; Zaire e entre outros), com uma finalidade política na sua acção e desejando afectar directamente o universo político angolano, que não conseguia estabelecer um Estado Soberano. Ora, o revolver de baixo para cima, num conflito armado clássico, no “seio de um Estado”, “envolvendo a generalidade dos cidadãos” (Lara, 2011, p.319) e tendo repercussões internacionais, foi a realidade angolana até 2002, onde regionalmente viu-se também pressionada pela África do Sul, que em protecção do apartheid, chega a estar perto de capturar Luanda “aquando da Dipanda tendo, inclusive abortado, por indicações do departamento de Estado norte-americano” (Almeida, 2011, p.62).

Os recursos naturais são a principal causa destes acontecimentos, sobretudo os energéticos não renováveis. Falamos especialmente do petróleo e do gás natural, detendo o continente 17 produtores e “8 % das reservas mundiais de petróleo bruto” (Servant, 2003, p.1). O continente africano poderá não deter as mesmas potencialidades dos grandes campos petrolíferos do Médio-Oriente e apesar de ser multicultural, é um Shatterbelt mais fácil de controlar, sendo o Balance of Power Politics mais plausível de garantir, visto que os países detêm praticamente as mesmas fragilidades internas, não existindo um grande fosso de desenvolvimento entre os demais (Ibidem, p.2). Isto fez com que o continente tenha recebido IDE na ordem dos 56,6 mil milhões de dólares em 2013 (OECD, 2013, p.48), sendo mais de 70 % canalizado para a extracção de recursos naturais, principalmente os energéticos. Assim, verificamos que diversos países já iniciaram a exploração petrolífera ou atribuíram conceções com esse efeito (Ver figura 3). Países como a Argélia, a Nigéria, a Líbia e o Egipto detinham uma posição de liderança como os maiores produtores e exportadores de commodities energéticas até ao final do século XX. Estes países viriam a deter um papel fundamental nas

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crises petrolíferas mundiais (1973 e 1979), pois lembremo-nos que a Líbia e a Nigéria são EM da OPEP.

No século XXI, muito marcado pelo 11 de Setembro de 2001 e com a ofensiva norte- americana contra o terrorismo, verificamos alterações profundas no panorama mundial que afectariam também o continente africano. A administração Bush vê o continente como a primeira grande fronteira para combater o terrorismo islamita, mas também como essencial para o mercado mundial de hidrocarbonetos “especially along the Atlantic litoral” (Watts, 2006, p.1). O petróleo e gás africano são vistos como prioritários para a segurança norte- americana, onde com visitas de altas figuras do seu aparelho de Estado a diversos países africanos como o Gabão (Colin Powell) e do general Carlton Fulford a STP em 2002, culminariam na formação de um Comando Militar para África em 2007. Assistiríamos também em 2002 a fundação da UA, com um modelo mais supranacional sucedendo a Organização da Unidade Africana. As contínuas convulsões no Sahel, na região dos Grandes Lagos Africanos (Reyntjens, 2005) e outras como na Nigéria e no Sudão, onde grupos fundamentalistas islâmicos como o Boko Haram e milícias janjauidis dificultam a manutenção da paz, solicitam da nova organização esforços e acções jamais verificadas no continente. O Boko Haram, por exemplo, controla 12 estados e os seus recursos no norte nigeriano. Os norte-americanos compreendem a vitalidade do continente, principalmente num momento em que a China11 já detém uma grande influência no mesmo, visto já ter investido até 2013 “um total de US$ 75 bilhões” (BBC, 2013, p.1) principalmente na África subsaariana, onde mais de 300 milhões de pessoas vivem com menos de 2 dólares por dia. O continente experienciou também a “primavera árabe”, que alteraria o espectro do norte africano, com a queda de 3 regimes ditatoriais em países produtores de petróleo (Ben Ali, Hosni Mubarak e Muammar al- Khadafi) tornando-os menos permeável aos investimentos chineses.

Esta conjuntura vivida no norte do continente iria causar mudanças no mercado energético africano, no que respeita aos maiores produtores, onde inclui-se agora Angola. Findada a guerra civil em 2002, o país aumenta exponencialmente a sua produção em poucos anos, atingindo o seu pico em 2010 ao produzir uma média de 2 m/bd. Só o enclave de

11 Inclusive a Rússia detém no continente 30 empresas envolvidas na extracção de manganês, crómio e outros minerais, sendo o primeiro fornecedor de urânio enriquecido para a única central do continente na África do Sul (Citado por Veríssimo, 2014, p.144). Mas a sua posição já não se assemelha a detida pela URSS tanto na política e na economia.

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Cabinda produz cerca de 700 mil barris de petróleo por dia (Raposo,2010,p.1). A antiga pérola do império português é a segunda nação com o maior número de concessões de exploração no Golfo da Guiné, só ultrapassada pela Guiné Equatorial, que poderá vir a tornar- se num dos maiores produtores do continente detendo já uma reserva estimada em 2 mil milhões de barris (Beny, 2007; Watts, 2009; Servant, 2003; Barros, 2013; Clarke, 2010). Ou seja, verificamos que a área terrestre de um país não inviabiliza o investimento nos recursos energéticos não renováveis, principalmente quando os mesmos detêm uma ZEE com potencialidades energéticas, mesmo que em águas profundas.

Foram diversos os aspectos acima referidos que potencializam a tecnologia no sector e que transformam o Golfo da Guiné num hotspot neste anárquico mercado energético. Vejamos em detalhe esta região percebendo assim o que a distingue do restante continente africano.

Fig.3 – Produção petrolífera na África subsaariana.

Fonte: Monthly Review, 2006. Empire of Oil: Capitalist Dispossesion and the Scramble for Africa [online].Disponível em: http://monthlyreview.org/2006/09/01/empire-of-oil-capitalist-dispossession-and-the- scramble-for-africa/

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3.1- O Golfo da Guiné e as suas potencialidades.

Como verificamos nos pontos anteriores, a temática tem vindo a ser marcada por uma constante competição entre os seus diversos intervenientes. Esta competição não inviabiliza a contínua procura destas commodities, principalmente pelas grandes potências mundiais, que deslocam a produção para novas zonas geográficas garantindo a sua segurança energética e a estabilidade do mercado. É neste contexto que surge o Golfo da Guiné, uma região geográfica e geopolítica, historicamente importante no continente e no Mundo. Pois, para a Geografia um golfo é caracterizado por ser uma grande e acentuada “reentrância marinha na costa com uma abertura (ou boca) bastante grande”, sendo este localizado entre “o Cabo das Palmas, na Libéria, e o Cabo Lopez, na República Gabonesa”, segundo a OHI (Citado por Veríssimo, 2014, p.151).Contudo, é também uma região geopolítica, ligada a existência de recursos energéticos não renováveis. E por tal é delimitada, segundo Machado “a Norte pelo rio Senegal, na fronteira entre o Senegal e a Mauritânia, e a Sul pelo rio Zaire (Congo), na província de Cabinda” (Ibidem, p.152).

Para a temática que analisamos, facilmente compreendemos que é a segunda teoria, que caracteriza o golfo como sendo uma região geopolítica, que é mais usual entre os diversos autores que analisam o mesmo (Beny, 2007; Veríssimo, 2014; Dieterich, 2003). Este Shatterbelt é delimitado a oeste pelo Rimland africano, a norte pelas regiões geopolíticas do Midland Ocean, a leste pelo Heartland africano e a sul pelo Cone Austral. Em termos geográficos é composto pela Costa do Marfim; o Gana; o Togo; o Benim; a Nigéria; pelos Camarões; a Guiné Equatorial; a parte norte do Gabão; as ilhas de Bioko e Ano Bom e STP.

Esta região geográfica ganharia importância, numa altura em que a aquisição do petróleo torna-se cada vez mais difícil, principalmente pela correlação entre a exploração de recursos energéticos e as consequências ambientais, económicas, sociais e políticas. O gradual aumento da procura, combinada com um baixo preço da commodity, mantém os investimentos no sector, principalmente com a exploração em offshore. Uma forma de exploração que contribui significativamente para o cabaz energético mundial, que procura extensos campos a grandes profundidades, normalmente entre “1,000 feet of water and ultra-deepwater wells as being over 5,000 feet below the surfasse. The current record is 10,194 feet, set off India’s east coast in 2011” (Tulloch, 2012, p.18). Esta complexa exploração enfrenta por vezes fortes ventos, ondas e correntes, sendo hoje auxiliada por mapas sísmicos mais abrangentes que outrora (2D;3D;4D).

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Em termos geopolíticos (petrolíferos) actualmente detém uma reserva estimada de 59,5 mil milhões de barris, onde países da zona como a Nigéria produziam diariamente cerca de 2,4 mb\d; Angola perto de 1,7 mb\d; o Congo Brazzaville 295 mil barris por dia; a Guiné Equatorial 252 mil barris por dia; o Gabão 245 mil barris diários; o Chade 114 mil barris diários; os Camarões 60 mil barris dia; e a Costa do Marfim 40 mil barris diários de petróleo (BP, 2013; IEA, 2013). Em 2003 o Golfo produzia, em offshore cerca de 14,495 mil milhões de barris, representando perto de 35 % da produção global da Chevron; 30 % da Total; 25 % da ExxonMobil, 15 % da Shell e da British Petroleum - BP (Pulido e Fonseca, 2004, p.158; Clarke, 2010, pp.416-423). Forma assim com o Golfo do México e o Brasil o “Golden Triangle”, áreas geopolíticas com elevada importância pela proximidade para com os maiores consumidores ocidentais e por serem ricas em recursos energéticos não renováveis.

Os Estados desta região geopolítica e geográfica são membros da UA e encontram-se vinculados “a Comunidades Económicas Regionais distintas, designadamente a CEDEAO, a CEEAC e a SADC” (Veríssimo, 2014, p.159), mas como também nos PALOP e num nível macro, na CPLP, como são os casos de Angola, STP e Guiné Equatorial. Em conjunto estes países controlam 6300 km de área marítima. Por ser uma área política e economicamente fragmentada, inclusive rica em recursos naturais, existe uma competição entre diversos países da zona, que tentam controlar/condicionar os desígnios regionais. Este jogo tem sido feito, essencialmente, entre a Nigéria, o Gabão e Angola.

A Nigéria é o maior produtor de petróleo do continente e também o país com maior demografia, aproximadamente 170 milhões habitantes. Detém todas as possibilidades para ser a potência regional. Porém, tem dificuldade em exercer esse papel muito devido “ao carácter deplorável da sua imagem de marca: sucessão de golpes de Estado, expansão do islamismo, corrupção endémica, percepção de que é um país de grandes mafias e lavagem de dinheiro, tráfico de estupefacientes e regionalismo” (Citado por Veríssimo, 2014, p.161). Não podemos esquecer que o Boko Haram (grupo paramilitar) controla 12 dos 30 estados do país. Com 70 % da população a viver abaixo do limiar da pobreza, que recorrem à criatividade com refinarias ilegais que vão destruindo o ecossistema do Delta do Níger, onde a média de vida é de apenas 41 anos (Gänsler, 2012, p.2). A sua produção tem vindo a descer vertiginosamente.

Outro país que detinha possibilidades de ser uma potência regional é o Gabão. Sendo o país com o maior IDH da África subsaariana (0,684) segundo o PNUD (2015), e um território extenso, para a sua baixa demografia (aproximadamente 1 500 000 habitantes), é rico em - 47 -

recursos naturais como o petróleo, o gás natural, urânio e manganês. Durante o longo mandato do presidente Omar Bongo, o país exerceu uma influência política e diplomática na região, porém viu-se “desqualificado por não aderir ao projecto de integração regional da África Central” (Citado por Veríssimo, 2016, p.160). O Gabão prefere uma cooperação bilateral na região. Isto cria uma desconfiança junto dos restantes vizinhos.

De igual importância é o papel de Angola na região, como a “nova potência regional em emergência” (Almeida, 2011, p.20). Com uma área aproximadamente de 1 246 700 km², o país é o segundo maior produtor de petróleo do continente, sendo também o 7º maior exportador de diamantes do mundo, recebendo em 2011 cerca de “7.36 bilhões de dólares” de IDE (Graça, 2013, p.7), tendo sido a maioria para a extracção de recursos naturais. Com taxas de crescimento em média de 7 % anuais, verificou-se uma melhoria de vida no país, mas de uma restrita percentagem da sociedade. Pois o IDH angolano é baixo, não auferindo a mais de 0,532 % (PNUD,2015),com uma esperança média de vida de aproximadamente 43 anos e uma taxa de mortalidade infantil de 131,9 crianças a cada 1000 nascimentos, a pior do mundo. Apesar da experiência militar angolana e do aparente poder económico, visto deter a cidade mais cara do mundo, Luanda, verificamos a desaceleração da sua economia aquando da baixa do preço do petróleo o que originou uma profunda crise de divisas. Estas situações vão minando o desenvolvimento angolano. Torna-se mais difícil provar o seu “estatuto de força” na região e no mundo.

Com a indefinição regional e com o desenvolvimento tecnológico, novos Estados propiciaram a sua posição geográfica numa posição geopolítica, sendo desconhecidos no mercado mas detentores de elevadas potencialidades para a exploração de recursos energéticos não renováveis como: Marrocos, Sara Ocidental, Chade, Senegal, Costa do Marfim, Guiné Equatorial, STP e Namíbia (Camacho, 2003, p.1). Com o aumento do número de competidores no Golfo, praticamente qualquer país pode assumir uma posição de destaque nos desígnios regionais. Assim, com o objectivo de defenderem os seus “interesses comuns e a promoção da paz e do desenvolvimento sócio-económico assente no diálogo e concertação, baseados nos laços de amizade, solidariedade e fraternidade que os unem” (CGG, 2001, Art.º5), Angola, Congo, Gabão, Nigéria e São Tomé e Príncipe assinam um tratado que fundaria a Comissão do Golfo da Guiné, a 3 de Julho de 2001. Posteriormente a Guiné Equatorial, a RDC e os Camarões adeririam a organização. A mesma criou alguma instabilidade regional, visto que só agora outros países como a Libéria, o Gana e a Costa do

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Marfim porventura integrarão este fórum de cooperação. Apesar do tratado ter sido assinado em 2001, a CGG só entraria em acção no ano de 2006, muito devido a persecução dos diversos interesses nacionais dos seus EM e a ineficiência do seu Secretariado Executivo (Beny, 2007; Veríssimo, 2014). Com a estabilização da sua sede em Luanda, nesse mesmo ano, verificamos uma maior cooperação entre os EM culminando na realização da “Conferencia de Luanda sobre a Paz e Segurança no Golfo da Guiné, de 27 a 29 de Novembro de 2012” (Veríssimo, 2014, p.163). A CGG e os seus membros detêm uma forte influência no Atlântico Sul, dado provado pela Conferência da ZOPACAS em Montevideo (Penha,2011). Os desafios da CGG serão desafios também regionais e a posição adoptada por alguns dos seus EM, poderá ser determinante para o continente e numa maior escala, para o sistema internacional, principalmente no que respeita a Energia.

Mas temos algo como certo. É que STP ainda não produz petróleo ou gás natural mas deu um dos mais notáveis passos no desejo de reunir numa só organização os maiores produtores africanos no momento, os seus futuros adversários. Esta abertura santomense, preconizada na década de 1990, mostra o desejo das autoridades do arquipélago em realizarem uma modificação à estrutura económica, baseando-a na exportação de commodities energéticas, em detrimento de outras como o turismo. Analisemos melhor o nosso caso de estudo, compreendendo as suas possibilidades num Shatterbelt e mundo cada vez mais competitivos, numa reconhecida lei da complexidade crescente, onde vigora a alta velocidade dos fenómenos e a tardia resposta aos mesmos!

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Fig.4 – Estados pertencentes a CGG, delimitados a amarelo.

Fonte: CGG, 2016. A Comissão do Golfo da Guiné[online].Disponível em: http://cggrps.org/a-comissao-do- golfo-da-guine/.

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CAPÍTULO II- SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE, RECURSOS E SEGURANÇA ENERGÉTICA.

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Após verificarmos o ambiente externo e o ambiente tarefa no I capítulo, onde analisamos os principais assuntos e actores da temática, daremos maior ênfase ao nosso caso de estudo, São Tomé e Príncipe.

Arquipélago pertencente ao Golfo da Guiné que põe as suas esperanças na exploração de petróleo e gás natural, com vista a atingir a Segurança Energética e em maior escala o desenvolvimento social.

No fundo, conheceremos a história deste arquipélago descoberto pelos portugueses há mais de 540 anos, “o arquétipo do microestado insular resultante da redução de um império europeu” (Citado por Sanguin, 2014, p.1), verificando aspectos gerais da sua estrutura, cultura e recursos, numa síntese histórica. Só dessa forma, ser-nos-á possível identificar os diversos factores que incluem o país no grupo das PIEVD. Estudemos como esta estruturado o sector energético no arquipélago; onde encontram-se as potencialidades e quem as tem explorado; de que forma STP tem mantido as relações estratégicas com os diversos actores; compreendendo a transição de um grande consumidor de recursos energéticos não renováveis para um produtor

Fig.5 – Mapa de STP.

Fonte: África-Turismo, 2016. Guia Geográfico- África Turismo, ilhas do Oceano Atlântico[online].Disponível em: http://www.africa-turismo.com/mapas/tome-principe.htm.

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1-Quadro Geofísico

São Tomé e Príncipe é um Estado insular, composto por duas ilhas principais (São Tomé e Príncipe) e pelos “ilhéus das Rolas, das Cabras, Bombom, Boné Jockey, Pedras Tinhosas e demais ilhéus adjacentes, pelo mar territorial compreendido num círculo de doze milhas a partir da linha de base determinada pela lei, pelas águas arquipelágicas situadas no interior da linha de base e o espaço aéreo que se estende sobre o conjunto territorial atrás definido” (Constituição da República Democrática de São Tomé e Príncipe, art. 4.º n.º 1). Administrativamente esta dividido em sete distritos: Água Grande – onde situa-se a capital São Tomé –, “Mé-Zochi – a segunda cidade do país, Trindade –, Cantagalo – cidade de Santana –, Lembá – cidade das Neves –, Lobata – cidade de Guadalupe –, Caué – cidade de Angolares – e Pagué – na região autónoma do Príncipe, que tem como capital a cidade de Santo António” (Género, 2012, p.245). Situado na zona equatorial do Oceano Atlântico, ao largo do Golfo da Guiné, o país compreende uma superfície total de 1001 km². As suas coordenadas são as seguintes: esta entre 1º44´de latitude Norte e 0º1´de latitude Sul; e entre 7º28´e 6º28´de longitude Este. Não tendo fronteiras com nenhum país, encontra-se próximo do Gabão (300 km), da Guiné Equatorial, dos Camarões, da Nigéria e de Angola. Na realidade a posição privilegiada de São Tomé e Príncipe, no centro do Oceano Atlântico, facilita a navegação tanto para o sul do continente africano e para o sul do continente americano, mas também para o norte, o que fazem destas ilhas, verdadeiras “pérolas” do Equador.

O arquipélago pertence “a um alinhamento vulcânico que, partindo, do Sul do Lago Chade, se prolonga seguindo a bissectriz do Golfo da Guiné, por mais de 2000 km” (Citado por Romana, 1997, p.91). A ilha de São Tomé detém diversas formas de relevo, como as Serranias, onde detemos o ponto mais alto do arquipélago, o Pico Cão Grande, a 2024 m de altitude; Morros de “Pães-de-açucar” e Torres-de-Penedo” e de praias levantadas e terraços. Enquanto a ilha do Príncipe pode ser dividida em duas zonas diferentes: uma a norte composta por uma plataforma soldada e com poucos relevos e outra a sul com um relevo vigoroso, inacessível ou quase (Ibidem, p.92). Em relação ao clima verificamos que a ilha de São Tomé detém uma época de chuvas fortes entre Outubro e Maio e o período da gravana, de Junho a Setembro, caracterizado por massas de ar e forte humidade, dando origens a chuvas miúdas (Ibidem, p.93). Já a ilha do Príncipe detém um clima mais estável, sendo o mesmo

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tipicamente equatorial, com uma temperatura e precipitação muito elevada e devidamente distribuída ao longo do ano e do território.

Estas diferenças climáticas levam com que o solo seja ele também diverso, onde a acção do Homem moldou diversas zonas das ilhas, através de uma desarborização intensa, para a plantação de cana sacarina e outras culturas. Algumas áreas viriam a ser recuperadas com o plantio de coqueiros ou andim, ou variadas frutas alimentares como a jaca, a manga, cajamanga, bananas, fruta-pão, papaia e outras. Nas áreas mais altas, principalmente em São Tomé, as culturas dominantes são as do cacaueiro e do cafezeiro, pelo menos até os 1000m. Porém ambas as ilhas detêm extensas zonas de “óbos”, “isto é, formações primárias, neste caso de grande altitude, com florestas de montanha e de transição” (Romana, 1997, p.94). Muitas zonas do arquipélago são de difícil acesso muito moldadas pela natureza, que também foi preenchendo as áreas circundantes abandonadas pelo Homem. Note-se também a riqueza hídrica das ilhas12 na existência de diversos rios e ribeiras, com grande destaque para São Tomé.

2- Síntese Histórica

2.1- Período Colonial

Estima-se que a ilha de São Tomé foi avistada no dia 21 de Dezembro de 1470 ou 1471, no dia do Apóstolo São Tomé, por João de Santarém e Pedro Escobar a serviço de Fernão Gomes. A data não é consensual entre os diversos autores (Romana, 1997; CGD,

12 São Tomé: Rio Água Casi; Rio Abade; Rio Água Caselo; Rio Água Coimbra; Rio Água do Gudalupe; Ribeira Funda;Ribeira Palma (ilha de São Tomé);Rio Água Gato; Rio Provaz; Rio de Água Pequena; Rio Contador; Rio Água Monte Forte; Rio Marim; Rio Anambo; Rio das Galinhas; Ribeira Moça; Rio Água da Ilha; Rio Água Domingos ;Rio Água Matoso; Rio da Água Còracòra; Rio Água Cascata; Rio da Água Clara; Rio Água Cola; Rio Água Carmo; Rio Cantador; Rio Cabumbé; Rio Caué; Rio Capitango; Rio Água Diogo Pena; Rio da Água Gelada; Rio da Água Grande; Rio Grande; Rio Água Guegue; Rio Água Gasosa;Rio Manuel George; Rio Gogo; Rio Gumbela; Rio Água Mussunga; Rio Água Morrão; Rio Água Nova Olinda; Rio da Água da Ponta Furada; Rio da Pedra Furada; Rio Água Santa Isabel; Rio Água de São Miguel; Rio Água João;Rio Água Lete; Rio Água Lemos; Rio Água Funda; Rio Água João Lats; Rio da Água Pieão ;Rio da Água Péte Péte; Rio da Água Bòbò; Rio de Água Sèlá;Rio da Água Porca; Rio da Água Simão; Rio Água Seixas; Rio Água Machado; Rio da Água Marçal ;Rio Malanza; Rio Mussacavu; Rio Mendez; Rio Miranda Guegue; Rio Miconão; Rio Maria Luísa; Rio Morango (é afluente do Rio Xufexufe); Rio Mina (é afluente do Rio Mata);Rio Mata (recebe as águas do Rio Mina);Rio Água Palito; Rio Água Telho; Rio Água Sebastião; Rio Água Tanque; Rio Água Pedrona; Rio Água Tomé (Afluente do Rio Abade);Rio do Ouro;Rio das Pedras;Rio Edgard; Rio Angobó; Rio Angra Toldo; Rio Juliana de Sousa; Rio Bina; Rio O Apaga Fogo; Rio Lembá; Rio Bindá; Rio Xufexufe; Rio Quija; Rio Portinho; Rio Água Bombaim; Ribeira Afonso; Rio O Apaga Fogo; Rio Bindá; Rio São João; Rio Toldo; Rio João Nunes; Rio Umbugo; Rio Ana Chaves; Rio Campos; Rio Ió Grande; Rio Água Coco; Rio Água Guadalupe. Príncipe: Rio Porco; Rio Bibi; Rio Papagaio; Rio Peixoto; Rio Voltas; Rio Chabatá; Ribeira Izé; Rio de São Tomé; Rio Água Cascata. - 54 -

2006; Género, 2012; Neves & Ceita, 2004; Fraga, 2006). Já a 17 de Janeiro tinham avistado a Ilha de Santo Antão, hoje denominada Príncipe, após ser propriedade de D. João II. Não foram encontrados vestígios anteriores a ocupação portuguesa e o povoamento começa oficialmente em 1485, onde D. João II concede a liberdade de comércio aos habitantes das ilhas. O regime de capitania, que já era utilizado em outros domínios ultramarinos, é também o utilizado nas ilhas recém descobertas. Assim, temos o fidalgo João Pereira como o primeiro capitão donatário de São Tomé (3/02/1490), mas é sem dúvidas com Álvaro de Caminha (até 1499) que a manutenção portuguesa na ilha ganha novo fôlego. O mesmo foi o primeiro a residir em São Tomé na companhia de fidalgos, criados, artífices, degradados, jovens filhos de judeus, colonos portugueses da Madeira e do Algarve, genoveses, franceses e escravos da Mina, do Benim, do Gabão, do Congo, Angola e Moçambique que seriam a maioria de mão- de-obra do arquipélago, dá-se a verdadeira exploração das ilhas. O primeiro governador de São Tomé seria D. Francisco Figueiredo, em 1586. Porém, durante décadas a situação social na ilha era instável, onde governadores e bispos disputavam entre si o poder, situação que chegou a provocar assassínios e excomungações. Esta situação nunca viria a ser resolvida, apesar da acalmia verificada no período pombalino, a tensão entre as diversas camadas da elite e da própria população continuou.

A ilha do Principe pertencia a António Carneiro, após a mesma ter-lhe sido doada em 18/03/1500, igualmente povoada por escravos, apostou desde cedo no cultivo de cana sacarina proveniente da ilha da Madeira com o objectivo final de produzir açúcar. Em São Tomé a prática do cultivo da cana sacarina era também importante, o arquipélago chega a deter perto de 200 engenhos de açúcar, produzindo perto de 4500 toneladas no final do século XVI. Desde cedo, outras culturas europeias foram introduzidas no arquipélago, mas prontamente o trigo, a cevada, a videira ou a amendoeira não se adaptam as condições do terreno e do clima. Da mesma forma a pecuária foi introduzida no arquipélago com a existência de animais como a vaca, o porco, a cabra, o burro e a galinha.

A situação económica do arquipélago viria a mudar. Com a exploração efectiva do território brasileiro, que apresentava melhores condições e dimensões para a exploração agrícola, num clima menos húmido que o arquipélago, por ordem régia é proibida a produção de açúcar nas ilhas, com o principal objectivo de não ser uma ameaça para com a produção brasileira. Uma produção anual de 900 toneladas passou a menos de 1 tonelada em 1610. Este clima húmido, propício a doenças como o paludismo e a malária, era mortal para os colonos

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europeus que rapidamente mudaram-se para o Brasil onde “esperavam encontrar novas possibilidades de fazer fortuna” (CGD, 2006, p.15). Ora, as ilhas transformavam-se assim num posto de abastecimento internacional por alvará de D. João V (18/10/1721) onde diversas potências europeias (navios ingleses, franceses, holandeses e dinamarqueses) dirigiam-se para a costa africana, ou que de la voltavam, com objectivo de vender ou comprar mercadorias e escravos. Assim as ilhas transformam-se entre o século XVII e o século XVIII, num entreposto de escravos, principalmente para o Brasil, detendo assim uma economia de subsistência, produzindo agora mandioca, inhame, legumes e frutas.

Esta ligação com o Brasil levaria a ocupação holandesa entre 1641-1644, após a perca da soberania portuguesa em 1580. Esta mesma ocupação vem no seguimento de contínuos ataques e saques preconizados por corsários franceses e holandeses as ilhas, que com a perca da Fortaleza da Mina, vê-se sem o seu apoio militar na região. Somente em 1648 São Tomé e Luanda voltam a ser recuperadas, graças aos comerciantes brasileiros, afectados pela interrupção do comércio de escravos, financiam armadas para o restabelecimento português no arquipélago.

Com a introdução de novas culturas no Brasil, nomeadamente o café (1787) e o cacau (1820), da sua independência de Portugal (1822) e do fim do tráfico de escravos (1836), houve uma re-colonização portuguesa em STP. Logo em 1822 temos a introdução do cultivo de cacau por José Ferreira Gomes na ilha do Príncipe. Em São Tomé o 1º Barão de Água-Izé, João Maria de Sousa e Almeida, introduz a cultura do algodão em 1860, a da fruta-pão em 1862, introduzindo também na ilha em 1885, o cultivo de cacau. A partir de 1890, a cultura de cacau superou a do café, muito devido aos grandes chocolateiros ingleses, atingindo em 1913, 36500 toneladas de produção. Em 1920, STP era o primeiro exportador mundial de cacau (CGD, 2006, p.26).

Com a abolição da escravatura no arquipélago, em 1875, o território tem carência de mão-de-obra, onde grupos locais como os míticos angolares ou os foros, refutavam o trabalho nas roças, considerando o mesmo abaixo da sua condição social. A solução viria de outras colónias portuguesas, principalmente de trabalhadores oriundos de Angola, Cabo-Verde (1903) e Moçambique (1908), os tongas (Sousa, 2004, p.32). As condições de vida destes trabalhadores eram difíceis, muitas vezes piores ou iguais a escravatura. “Em 1909, acusações da continuação de escravatura em São Tomé e Príncipe por filantropos ingleses culminaram em um boicote do chamado ‘cacau escravo’ por chocolateiros britânicos” (Seibert, 2009, p.1). - 56 -

Isto viria a quebrar a produção de cacau no país, onde os trabalhadores africanos não podiam regressar livremente aos países de origem após terminarem o contracto. Outro grande golpe para a produção de cacau nas ilhas foi a concorrência de pequenos produtores africanos, que com climas parecidos, apostaram em grande escala nesta cultura. O cacau é até hoje a principal cultura do arquipélago (Romana, 1997; Género, 2012; CGD, 2006; Fraga, 2006). É solicitada a prospecção de petróleo na ilha de São Tomé em 1876 por Francisco de Oliveira Chamiço, 1º Governador do Banco Nacional Ultramarino, pedido que viria a ser-lhe negado (ANP-STP, 2016, p.1).

O arquipélago sempre foi marcado por uma instabilidade política e administrativa, tanto entre os colonizadores, minoria branca, como também escravos, negros livres e mestiços, que “tiveram o direito de ocupar cargos na administração colonial, na câmara municipal, na milícia e na Igreja Católica que chegou logo com os primeiros colonos. A diocese de São Tomé, a segunda de África, foi criada em 1534” (CGD, 2006, p.29). As revoltas são uma constante nas ilhas, essencialmente dos colonizados, como ficou mítica a mobilização de 5.000 escravos comandados por Amador, o auto denominado “Rei dos Angolares” (1595), conduzindo uma revolta de 3 semanas na ilha de São Tomé, ou então as contínuas disputas entre os colonizadores, tanto no que respeita a elite política e religiosa do arquipélago. A 1ª República foi incapaz de resolver as tensões vívidas nas ilhas e o Estado Novo, com o Professor Oliveira Salazar (1928-1968), também mostrou-se incapaz de estabelecer um ambiente pacífico, vivendo a população num clima de desconfiança mútua.

Após a II Guerra Mundial a governação de Carlos Gorgulho (1945-1953) foi inicialmente bem aceite pela população, o mesmo, apostava numa política de modernização e atracção de colonos brancos. Mas rondava um boato que o governador tinha a intenção de obrigar os foros a trabalhar nas roças. Os boatos concretizavam-se e muitos nativos negaram- se a trabalhar nas roças. A polícia mata um nativo e a revolta popular alastra-se. Gorgulho, temendo a elite nativa, com grandes conhecimentos e influência em Lisboa, ergue o campo de concentração de Fernão Dias (1953). Proprietários de roças; Funcionários do Estado de entre outros, foram encaminhados para Fernão Dias, onde acorrentados trabalhavam forçosamente, enquanto muitos eram chacinados, afogados, ou então “atirados ao mar com blocos de cimento atados aos pés” (Cardoso, 2011, p.1). O número de mortos nunca chegou a ser confirmado, muitas famílias choram até hoje o “regresso dos que nunca foram”. Se a tensão

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entre os diversos estratos sociais no arquipélago era latente, após o “Massacre de Batepá” torna-se explosiva. Batepá fundamenta a luta pela descolonização e com ela, a independência!

Ora, a Conferência de Bandung em 1955,a criação do MNA e com o início da descolonização africana, a elite nativa das ilhas funda em 1960 o Comitê pela Libertação de STP que comandados pelo Doutor Manuel Pinto da Costa e , ambicionam a independência total. Este mesmo movimento, sediado em Libreville (Gabão), desde cedo juntou-se (1961) a Conferência das Organizações Nacionalistas das Colónias Portuguesas em conjunto com outros grupos como o PAIGC, a FRELIMO ou o MPLA. Nas ilhas, o CLSTP tinha uma acção contínua contra o domínio português, incutindo nos mais jovens os ideais nacionalistas santomenses e as directrizes marxistas-leninistas. Da mesma forma, o movimento operava em Lisboa, principalmente na coragem de Alda Espírito Santo e da sua família, onde de forma informal e livre, diversas personalidades de renome como Amílcar Cabral, Agostinho Neto e outros, discutiam e formulavam resoluções para a colonização portuguesa.

Colonização cada vez menos aceite internacionalmente e com o início da guerra colonial (1961) Portugal defende-se em 3 frentes. Enfraquecida a metrópole e com a morte do “decano dos ditadores”(1968), Pinto da Costa vê a oportunidade de reforçar a posição nacionalista do arquipélago, através de mais acções e principalmente na modificação da nomenclatura do Comitê, passando a ser Movimento de Libertação de São Tomé e Príncipe (1972). Não esqueçamos que unilateralmente, a Guiné-Bissau já era independente (1973), independência rapidamente aceite pela Sociedade Internacional.

Com a queda do Estado Novo a 25 de Abril de 1974, rapidamente percebeu-se que a situação colonial seria um dos pontos mais difíceis a serem resolvidos. Do mesmo modo, com o golpe militar, rapidamente o MLSTP lança uma mobilização popular em grande escala, onde jovens inspirados pela emancipação dos negros dos EUA, reclamavam o direito a auto- determinação e com isso a descolonização.

Entre 23 e 26 de Novembro, delegações de Portugal e do MLSTP encontram-se em Argel com vista a fixação de um plano concreto para a descolonização. “As conversações decorreram em ambiente de franca cordialidade, sob os bons auspícios do Governo Argelino, tendo as referidas delegações chegado aos seguintes pontos de acordo: 1.° O Governo Português reafirma o direito do povo de S. Tomé e Príncipe à autodeterminação e

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independência, de acordo com a Lei Constitucional Portuguesa n° 7/74, de 26 de Julho, e com as resoluções pertinentes da Organização das Nações Unidas. 2.° O Governo Português reconhece o Movimento de Libertação de S. Tomé e Príncipe como interlocutor e único e legítimo representante do povo de S. Tomé e Príncipe. 3.° O Movimento de Libertação de S. Tomé e Príncipe e o Governo Português, conscientes da necessidade de assegurarem nas melhores condições possíveis a transferência de poderes para o futuro Estado independente de S. Tomé e Príncipe, acordam em estabelecer o esquema e o calendário do respectivo processo de descolonização, criando para o efeito os seguintes órgãos: a) Um Alto-Comissário; b) Um Governo de Transição” (Acordo Portugal-MLSTP, 1974, p.1).

O desejo de Amador concretizou-se, da mesma forma que a descolonização marcara o triunfo das contínuas rebeliões no arquipélago, mostrando que o “Massacre de Batepá” não demoveu a elite negra, aliás, o país conseguiu a sua soberania sem entrar em combate com as forças portuguesas ao contrário do que aconteceu em Angola, Moçambique ou na Guiné- Bissau. O nascimento do país dar-se-ia no dia 12 de Julho de 1975 e no que respeita aos “laços históricos e socioculturais existentes entre o povo português e o povo de S. Tomé e Príncipe, o Governo Português e o Movimento de Libertação de S. Tomé e Príncipe proclamam solenemente a sua intenção de estimular e desenvolver a compreensão e amizade entre os dois povos, através de uma cooperação sincera e eficaz, e numa base de independência, igualdade e respeito mútuo da soberania e dos interesses dos respectivos países e povos” (Ibidem, p.2).

2.2- Período Pós-Colonial

Com a descolonização e a fundação do país a 12 de Julho de 1975, o Doutor Manuel Pinto da Costa torna-se o Presidente do arquipélago enquanto o seu amigo e antigo colega de curso, Miguel Trovoada, torna-se o Primeiro-Ministro. Esta República terminaria 15 anos depois, como nos disse Fernandes (Citado por Género, 2012, p.246). A Constituição é promulgada a 12 de Dezembro do mesmo ano, e emerge um sistema unipartidário que atribui todo o poder a Manuel Pinto da Costa e ao seu partido, tendo como princípio que a “unidade nacional deve corresponder à unidade política e vice-versa” (Espírito Santo, 2008, p.21). De orientação marxista-leninista, rapidamente nacionalizou todos os sectores da economia, tentando estabelecer uma entidade nacional, guiando-se pelo património deixado por Portugal. Pois o português firmar-se-ia como a língua oficial, sendo falada por cerca de 98 % da - 59 -

população do arquipélago, onde os diversos crioulos como o forro (36 %), o angolar (7%), o cabo-verdiano (8%), detêm um peso na sociedade muito superior ao francês (6%) e ao inglês (4%). Da mesma forma, o país criou laços com os países socialistas, onde a República Democrática Alemã, Cuba, a República Popular da China e a União Soviética, formavam quadros para o mesmo (num período que a taxa de analfabetismo rondava os 85 %), forneciam armamento e todo e qualquer material necessário para a condução do modelo socialista. Todos os bens alimentares eram racionalizados; a economia e o comércio encontravam-se fechados aos países do bloco ocidental, mas o país não consegue livrar-se dos primeiros Programas de Ajustamento Estrutural em 1987 e 1988 junto do FMI. Em favorecimento do MPLA, as ligações entre São Tomé e Luanda eram frequentes, principalmente na dura guerra civil angolana, onde a posição estratégica de STP, possibilitou um fácil abastecimento das forças comunistas. Mas também quando o presidente santomense precisava de protecção aquando das primeiras grandes tensões políticas no período pós- colonial, os aliados socialistas prontamente acudiam-no no envio de contingentes militares.

Este mesmo sistema, que seria transitório, era contestado por uma facção do MLSTP, principalmente Miguel Trovoada (exilado na década de 1980), que só viria a ver o seu desejo concretizar-se com a promulgação da Constituição Democrática de 1990, num momento em que verificávamos o desmantelamento da URSS e o consequente fim da Guerra Fria. Com o mesmo, termina também o ciclo de Manuel Pinto da Costa no MLSTP (posição que só voltaria em 1998) e da Presidência (voltaria em 2011). Findaria assim um longo período onde Pinto da Costa centralizou todo o poder para si, não existindo praticamente divisão de poderes, chegando mesmo a tutelar diversas pastas ao mesmo tempo (Romana, 1997, p.172). Nasce o multipartidarismo no arquipélago e iniciamos uma Segunda República no período pós-colonial.

Com a implementação do multipartidarismo em 1991, novos partidos surgiram como a Acção Democrática Independente (ADI); o Movimento Democrático Força de Mudança (MDFM); o Partido de Convergência Democrática – Grupo de Reflexão (PCD-GR); inclusive um renascimento do MLSTP, que com a ligação ao Partido Social Democrata, também passa a ser denominado do mesmo (MLSTP-PSD); e outros partidos sem representação parlamentar, mas que participaram nas eleições legislativas e autárquicas de 1992 como o CODO (Coligação Democrática da Oposição). Apesar disso, o sistema mantém-se muito

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presidencialista embora exista uma divisão mais clara do Poder no país (Assembleia Nacional; Governo; Tribunais).

Nesta república verificamos um aumento radical da corrupção, onde a compra de votos (“Fenómeno banho”); a existência de jogos partidários e a contínua luta de interesses levam a duas crises institucionais com as quedas dos governos de Daniel Daio (Abril de 1992) e Norberto da Costa Alegre (Julho de 1994). Miguel Trovoada não deu estabilidade à política, preferindo iniciar a abertura económica e o restabelecimento das relações com o ocidente. Essa mesma abertura económica vem mostrar o atraso do país face ao restante mundo, tanto em infra-estruturas, mas também com uma moeda extremamente fraca. Exemplo disso foi o aumento do preço dos combustíveis em 300 % (Romana, 1997, p.150). A não formulação de objectivos fixados pela política, ou a exclusão de diversos grupos na sua edificação, agravam a crise económica e social do arquipélago, desencadeando a primeira tentativa de Golpe de Estado preconizada por um “pequeno grupo de oficiais das forças armadas de S. Tomé e Príncipe, em 15 de Agosto de 1995” (Ibidem, p.193). O golpe que visava directamente o presidente foi travado muito devido à acção do Parlamento, pois a política santomense é “inevitavelmente muito personalizada. Dentro da elite local, a maioria das pessoas conhecem- se mutuamente e mantêm relações directas. Muitos políticos estão ligados por laços de parentesco ou foram antigos colegas na escola” (Ibidem, p.196). Visto não ser “admitida a reeleição para um terceiro mandato consecutivo, nem durante o quinquénio imediatamente subsequente ao termo do segundo mandato consecutivo” (Constituição da República, art. n.º 79), o ciclo de Miguel Trovoada termina com a eleição de a 29 de Agosto de 2001.

O novo presidente procura manter a estabilidade política no país realizando a primeira revisão Constitucional a 29 de Janeiro de 2003, procedendo a uma transição do Regime Semi- Presidencial de pendor Presidencial, para um de pendor Parlamentar. Mas mesmo assim, sofreria também uma tentativa de Golpe de Estado a 16 de Julho de 2003, enquanto encontrava-se em visita oficial à Nigéria. Apesar disso, Fradique de Menezes restituiria o poder a 23 de Julho sendo capaz de terminar o seu mandato e reeleito em 2006. Durante o seu mandato nenhum Governo completou a legislatura, aprofundando a instabilidade política e a crise económica e social do país. Aliás, até então nenhum dos 19 governos desde 1991, conseguiu terminar um mandato no arquipélago. Esta indefinição política no arquipélago não foi atenuada com a eleição de Manuel Pinto da Costa na segunda volta das presidências de 2011 após 20 anos longe do aparelho governativo santomense. Teve um mandato marcado - 61 -

pelo antagonismo com o primeiro-ministro , que viria a ser substituído por em 2012 até vencer as novas eleições legislativas com maioria absoluta em 2014, mantendo-se no cargo até então. Em relação à Presidência da República, assistimos a não renovação do mandato de Manuel Pinto da Costa após a vitória de Evaristo De Carvalho, político experiente e reconhecido na sociedade santomense. O presidente demissionário não concorreu na segunda volta transformando “automaticamente em votos nulos os boletins de seus eventuais eleitores persistentes. Com isso, a acrescer a um possível aumento da abstenção, tentará enfraquecer a inevitável vitória democrática de : mas, de facto, só irá ampliá-la ainda mais”, “tudo indica que haverá estabilidade. É o tempo certo para relançar” (Castro, 2016, p.2).

Com a instabilidade política, a definição e a concretização de objectivos é extremamente difícil. Esta incapacidade vai aprofundando a crise económica e social, mantendo o país numa séria dependência de recursos provenientes do “Centro do Centro” e do “Centro da Periferia” (Santos, 2007, p.206). Com uma população de 197 900 habitantes e uma pirâmide etária muito jovem, dos quais 13,6 % dos habitantes estão no desempregado, o arquipélago detém um PIB de 337,4 milhões de dólares e um RNB per capita de 1670 dólares, sendo a “economia mais pequena dos países membros da UA” (Género, 2012, p.256). O orçamento estatal de apenas 154 milhões de USD em 2015, sendo o mesmo essencialmente financiado por “concessão de empréstimos e assistência financeira internacional (94 milhões de USD) e por receitas internas (60 milhões de USD)” (AICEP, 2015, p.11) salienta essa posição frágil no panorama africano e mundial. Pois, detém uma balança comercial negativa, exportando cacau em amêndoas (60,4%), vasos de sucata (12%), ácidos gordos industriais, óleos e álcoois (5,5%) e outros produtos que geraram uma receita de 18,3 milhões de USD em 2014 sendo os principais destinatários a Bélgica e o Luxemburgo (3,72 milhões); a Polónia (2,69 milhões); a Turquia (2,61 milhões); a França (2,52 milhões) e a Espanha (1,42 milhões) (OEC,2014,p.1). Por outro lado, importou em 2014 um valor total de 181 milhões de USD, onde os produtos petrolíferos refinados (20 %), carros (3,9 %) e arroz (3,4%) como diversos outros produtos alimentares e acessórios, provieram de países como Portugal (100 milhões), Angola (34,9 milhões), a China (6,91 milhões), os EUA (4,62 milhões) e da Bélgica- Luxemburgo (3,83 milhões). O país apresenta assim em 2014 um saldo negativo de 162,7 milhões de USD na sua balança comercial, -73,8 milhões de USD na sua balança corrente e uma dívida externa de 63,91 pontos percentuais em 2014. O que pode explicar o facto de 62 % da população viver na pobreza, detendo o país um IDH médio (0,555), superior a muitos

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países africanos, mas ainda muito baixo para os valores dos países mais desenvolvidos (World Bank,2016,p.1;Bonfim,2001,p.10-30;Espírito Santo,2009,p.16-80).

Fig.6 – Divida pública STP 2009-2013, percentagem PIB.

Fonte: AIP, 2014. São Tomé e Príncipe: Integração regional na CEEAC e relacionamento com os países da CPLP.[online].Disponível em: http://www.aip.pt/irj/go/km/docs/site- manager/www_aip_pt/documentos/internacionalizacao/internacionalizacao/informacao/Lusofonia%20Eco n%C3%B3mica/8%20-%20S%C3%83O%20TOM%C3%89,%20GAB%C3%83O,%20CEEAC%20- %20CPLP.pdf

Com uma taxa bruta de matrículas no ensino primário de 110 %, onde a taxa de alfabetização já ronda os 70 %, ainda urge ao país deter um maior número de alunos no ensino secundário (17 497 entre o 5ª-12ª classes) e infraestruturas educacionais principalmente universitárias e de cariz técnico, tentando diminuir o insucesso e o abandono escolar. A educação corresponde a 12,5 % do orçamento de 2015. O Instituto Universitário de Contabilidade, Administração e Informática (IUCAI) e o Instituto Superior Politécnico, ganham novas estruturas, e a par de outras escolas privadas (Instituto Diocesano de Formação João Paulo II; a Universidade Lusíada de STP;) representam as únicas estruturas de ensino pré-universitario e universitário do país. STP tem um aparelho educativo insuficiente também nos restantes níveis (40 Creches; 16 Jardins de Infância; 72 Escolas do Ensino Primário; 10 do Ensino Secundário;) onde aproximadamente 40 mil alunos do arquipélago são servidos por apenas 139 professores (CGD, 2006, p.63). Claramente diminuto para uma população extremamente jovem até aos 25 anos, que representa aproximadamente 61 % da mesma (Populationpyramid, 2016, p.1)

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O país detém uma esperança média de vida de 66 anos, onde a mortalidade materna situa-se entre “os 96/100,000 e infantil de 59/1,000 nascidos vivos, respectivamente. Em 2009, a taxa de mortalidade de crianças com menos 5 anos registava uma subida situando-se nas 63 mortes por mil crianças nascidas vivas” (Género, 2012, p.255). Pelo menos 35 mil habitantes estão infectados pelo vírus do VIH/SIDA, apesar do sucesso na eliminação gradual do Paludismo e da Tuberculose no país. O acesso à água potável e o saneamento público continuam sendo insuficientes, principalmente na lotada capital, onde a acumulação do lixo é uma situação recorrente. O país só detém um hospital central, na capital, que carece de imensos materiais e muitas vezes das condições básicas de funcionamento, como a electricidade e a água. E “unidades de internamento distritais em Caué (construída com o apoio da AMI), Lembá e na ilha do Príncipe e centros de saúde nos restantes distritos. Os recursos humanos e materiais são escassos, sendo parcialmente colmatados pelo trabalho de várias ONG’s” (Pinto, 2005, p.1). Apenas 10,6 % do orçamento é para a saúde.

O país reconhece também a falta de infraestruturas, tanto de transportes terrestes, marítimo e aéreo e de outros sistemas de comunicação, onde as ilhas são “ligadas” duas vezes por semana, por avião, “e uma vez, mensalmente, por via marítima”. Sendo o país servido 2 vezes por semana para Portugal, Angola, Cabo Verde, Guiné Equatorial, Gabão e Nigéria (Género, 2012, p.259). As infraestruturas são do período colonial que com a falta de manutenção vão degradando, ou já não são capazes de colmatar as necessidades de uma população em constante crescimento. De igual importância, o país tem a necessidade de um porto de águas profundas, já tendo sido aprovado desde 2007 (47 milhões de USD) o de Fernão Dias, de ampliar o aeroporto internacional da cidade de São Tomé, ou como o da ilha do Príncipe, que vai ganhando nova imagem após o elevado financiamento realizado por Mark Shuttleworth, empresário sul-africano. Isto aumentaria o peso do turismo para o PIB nacional, mas também o sector piscatório, podendo o país aumentar o número de licenças concedidas a navios estrangeiros (70 anualmente para navios da EU e Japão), aproveitando a possibilidade de estabelecer um dos HUB’s marítimos mais importantes da região após a assinatura do contrato com a Terminal Link. A ENAPORT é o consórcio santomense- angolano (Sonangol) que tem a gestão destas infraestruturas. Para a manutenção da rede rodoviária o orçamento destina 10 % do valor para esse efeito.

Mas num país onde 40 % da população não detém electricidade, não sendo a mesma constante, verificando-se constantes cortes do seu abastecimento, a maior percentagem do orçamento é destinada aos gastos com energia (13,1 %), sendo que 16 milhões de USD foram - 64 -

financiados pelo BM para projectos nessa área. Apesar de ser o país da CPLP que tem produzido mais electricidade nos últimos anos (Fig.7), o arquipélago detém um défice energético profundo. Estão em construção mini-centrais que aproveitarão as potencialidades hídricas do país, com vista ao aumento da produção eléctrica e a mitigação desse défice. De salientar também, a produção de gás com fins comerciais no país através da biomassa, que já tem abastecido a população. O país detém apenas uma empresa de electricidade, a EMAE (Empresa de Água e Eletricidade) que detém uma dívida de 40 milhões de USD junto da ENCO (Empresa Nacional de Combustíveis e Óleo), a única importadora e distribuidora de combustíveis no mercado em STP. A maioria do capital da ENCO pertence a Sonangol.

Fig.7 – Produção de electricidade na CPLP.

Fonte: AIP, 2014. São Tomé e Príncipe: Integração regional na CEEAC e relacionamento com os países da CPLP.[online].Disponível em: http://www.aip.pt/irj/go/km/docs/site- manager/www_aip_pt/documentos/internacionalizacao/internacionalizacao/informacao/Lusofonia%20Eco n%C3%B3mica/8%20-%20S%C3%83O%20TOM%C3%89,%20GAB%C3%83O,%20CEEAC%20- %20CPLP.pdf

Em termos diplomáticos o país vai tendo diversas acções multilaterais com diversas organizações como a ONU, o BM, o PNUD, a UE, a CPLP, a UA ou a AOSIS, porém tem preferido a via bilateral para a consecução da maioria dos seus objectivos. Por exemplo com

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Taiwan, que tem desempenhado um papel fundamental no arquipélago com a renovação do pacto detido entre ambos os actores, num “valor de 16,2 milhões de USD, sob a forma de apoio direto ao orçamento (representa mais de 10% do orçamento são-tomense para 2015)” (AICEP, 2015, p.11). Mas outros países como Portugal, Angola, Nigéria, Brasil, Marrocos, Japão e outros têm sido fulcrais para o jogo bilateral exercido pelo país na região e no mundo. Mas também na sua política interna, como acima verificamos e afirmamos, STP vive maioritariamente da ajuda externa provinda destes países e organizações. Apesar da agricultura e o crescimento do Turismo serem essenciais para a economia nacional, onde apuramos um aumento do PIB em 4 % em média nos últimos anos, foi o aumento do IDE que potencializou este crescimento na sua maioria. A estabilização da taxa de câmbio (24 500.0), uma inflação que tem vindo a descer (5%) e uma mais controlada política económica e financeira por parte do Estado santomense, ajudaram também o crescimento do PIB, principalmente com a ajuda do sector terciário.

Mas é uma ZEE com 125 891 km², onde em 16 752 km² já foi feita uma pesquisa sísmica que aponta para grandes potencialidades, que justificam este aumento de doações. Potencialidades que poderão reverter o “crescimento económico cerceado pelo limitado mercado doméstico, pela insuficiência de recursos humanos, e pela gestão incorrecta do sector público” (Romana, 1997, p.106). Estudemos o que tem feito o arquipélago para proteger os seus interesses e concretizar os seus objectivos, numa região e mercado extremamente competitivos!

3- STP no mercado energético mundial.

3.1- A ANP-STP.

De facto, sempre se soube da existência de petróleo na ilha de São Tomé, principalmente nas zonas de Uba Budo e Morro Peixe. Assim, como já referido, Francisco de Oliveira Chamiço não teve autorização da parte do governo central para proceder a prospecção já no final do séc. XIX, só sendo o processo retomado em 1969, quando é celebrado um contrato de concessão para "exploração petrolífera com a empresa Ball e Collins"(ANP-STP, 2016, p.1) com a duração de 25 anos. Cessava assim um longo período onde o sector esteve estagnado no arquipélago, mas a independência no dia 12 de Julho de

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1975 levaria a revogação deste acordo. Num período onde o unipartidarismo do MLSTP comandava os destinos do país, foi assinado junto da empresa Island Oil Corporation (1989) e o governo um acordo de concessão com vista a perfuração e futura exploração na zona da "Água Petróleo"(Uba-Budo 1 e Cecílio Gonçalves 1) que não detiveram resultados conclusivos. O acordo expirou em 1995.

O sector sofreria uma viragem profunda no país já na segunda república, quando Miguel Trovoada assina em 1997 um Memorando de Entendimento com a empresa Environmental Remediation Holding Corporation (ERHC) e a sul-africana Procura Financial Consultant (PFC), com o objectivo de realizar uma avaliação das potencialidades offshore do país, numa altura em que São Tomé começava a delimitar as suas fronteiras marítimas, com a revindicação da ZEE junto das Nações Unidas com base na Median Line Principle. Apesar da instabilidade política e da falta de estratégias pensadas e exequíveis, o arquipélago tenta estruturar e institucionalizar o sector com a implementação de estruturas ad-hocs, como é o caso da Sociedade Nacional de Petróleos de São Tomé e Príncipe, S.A (STPETRO) em 1998.Apartir deste acordo, outros nasceram com a Exxon Móbil (1998), Schlumberger (1999) e a PGS (2002). Mas as primeiras dificuldades surgem nesse mesmo ano, onde o governo de Guilherme Posser da Costa denuncia o contrato assinado com a ERHC, visto que a empresa iria gerir praticamente todos os recursos em "troco de alguns milhões de dólares" (Veiga, 2010, p.1) de Royalty para STP. A STPETRO é dissolvida, nascendo em substituição desta a Comissão Nacional do Petróleo, ficando sob tutela do Ministro das Infraestruturas, Recursos Naturais e Ambiente. A tensão entre o Estado Santomense e a ERHC tem diversos episódios até então.

O ano de 2001 marca o aprofundamento do sector energético na agenda de STP, ao assinar em Fevereiro com a República Federal da Nigéria, um “Tratado de Exploração Conjunta dos Recursos Petrolíferos e Outros Existentes na Zona Conjunta dos dois Estados” (ANP-STP, 2016, p.1). Só assim foi possível delimitar as suas fronteiras marítimas e a sua ZEE, num processo que criaria uma Autoridade de Desenvolvimento Conjunto (ADC) com uma partilha de receitas e despesas em 60 % para a Nigéria e 40 % para STP. O Governo do arquipélago criaria também a Empresa Nacional do Petróleo e Gás (Petrogás- STP). Estas acções ocorrem num ano de eleições presidenciais em Julho, situação que viria a criar diversas tensões entre os dois países nos primeiros momentos da governação de Fradique de Menezes. Abordaremos esse tratado e as suas consequências mais adiante.

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Mas a instabilidade política vivida no país entre 2001-2003,onde assistimos inclusive à uma tentativa de Golpe de Estado, só permitiu que em 2004 fosse possível construir um “quadro legal e institucional estável, previsível e credível para os investidores e a população em geral” (ANP-STP, 2016, p.1), visto que a Empresa Nacional do Petróleo e Gás nunca entrou em funções, é substituída pela Agência Nacional do Petróleo de São Tomé e Príncipe (Decreto-lei nº 5/2004 de 30 de Junho de 2004). A mesma é estruturada para regular13, fiscalizar, controlar e promover todas as actividades de pesquisa e exploração dos recursos em hidrocarbonetos (upstream). Assim em 2009 estabelece a ZEE dividindo-a em 19 blocos petrolíferos (Zonas A,B,C) e pela Zona de Exploração Conjunta com a Nigéria e ainda onshore como diz-nos a “ESTRATÉGIA DO SECTOR PETROLÍFERO NA RDSTP”(2008). Com isto nascem também o Gabinete de Registo e Informação Pública, a Comissão de Fiscalização do Petróleo e o Comité de Investimentos com vista a transparência das actividades. O país adere também a Iniciativa para Transparência das Indústrias Extrativas, apesar de não ser produtor.

A ANP-STP teria sucesso ao realizar o primeiro leilão de blocos da sua ZEE em 2010. Este sucesso aumentou as competências da organização em 2014 nos segmentos de distribuição e comercialização dos derivados de petróleo (downstream), onde até 2015 foram adjudicados um total de 7 blocos e assinados 6 Contratos de Partilha de Produção e da emissão de uma Autorização de Prospecção. A organização representa assim o primeiro grande esforço para a criação de um quadro institucional e a realização dos primeiros leilões internacionais inserem paulatinamente o país no sector energético mundial. Porém, este é um pequeno passo para uma longa caminhada em busca do desenvolvimento económico e assim do desenvolvimento social.

3.2- As operações Onshore.

Como vimos, a existência de petróleo na ilha de São Tomé é conhecida há muito pelos habitantes da mesma, porém a sua exploração nunca se concretizou, apesar das diversas tentativas ao longo dos tempos. Por ser a província petrolífera há mais tempo conhecida e perfurada, é a primeira abordada por nós, essencialmente Uba Dubo (40 km²) e Morro Peixe

13 Detém outros objectivos como: preservação do interesse nacional; contacto com a população; protecção do meio ambiente; reforço da transparência na indústria petrolífera; regulação que garanta a livre concorrência, transparência; coerência, e entre outros. - 68 -

(35 km²), mas como também Ribeira Izé Santa Rita (15 km²) e East (35 km²), na ilha do Príncipe.

Segundo os resultados sísmicos da PGS em 2003, o arquipélago faz parte da Cordilheira Vulcânica dos Camarões, onde as actividades vulcânicas trouxeram sedimentos do fundo do mar para a superfície, incluindo rochas arenosas. Estas mesmas rochas detêm amostras de hidrocarbonetos, podendo representar um reservatório considerável. Estes testes sísmicos mostram que estas rochas estão inclinadas para fora a partir da CVC no cume das ilhas indo em direcção as camadas mais profundas da ZEE santomense. Esta disposição da esperança para a existência de armadilhas petrolíferas estratigráficas, detentoras de hidrocarbonetos e água.

Apesar destes dados promissores, existe uma “certa relutância compreensível e natural” (GRDSTP, 2008, p.39) a perfuração intensa das ilhas visto que as actividades poderão pôr em risco o habitat natural das mesmas. Principalmente numa altura em que o preço da commodity esta baixo, as quantidades analisadas no interland santomense não são comercialmente viáveis. Assim, as perfurações onshore tornam-se úteis para promover actividades na ZEE, sendo realizadas num ritmo baixo, tendo em conta a segurança, controlo ambiental, bem como os aspectos sociais, visto que a dimensão do Estado e da exploração afectariam directamente a sociedade santomense. As empresas que realizam estas perfurações devem ser competentes e capazes na protecção do ambiente, não podendo as mesmas perfurar mais do um poço ao mesmo tempo, com vista a mitigar o fenómeno Klondike (Ibidem, p.40).

É devido a estas condicionantes que a São Tomé America Petroleum Corporation (STAPET) é a única empresa a deter uma Autorização de Prospeção sobre os 4 poços onshore do arquipélago desde 20/08/2014, mas que terminará em 20/08/2017. Para mitigar estas situações a Estratégia edificada em 2008, incita a ANP-STP a iniciar investigações geológicas das ilhas para um melhor conhecimento das mesmas. As autoridades devem estar disponíveis para propostas sérias de companhias de reputação mundial e competentes na perfuração em terra, mas é vital a realização de uma avaliação aos impactos ambientais e sociais. A exploração onshore serve para estimular as operações petrolíferas na ZEE santomense. Estudemos as particularidades das duas outras províncias petrolíferas do arquipélago, onde o mesmo aposta tudo para a sua transformação num petro-Estado.

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3.3- A Convenção de Abuja e as Zonas de Exploração Conjunta.

Num Shatterbelt cada vez mais competitivo, principalmente no que respeita aos recursos energéticos não renováveis, o pequeno arquipélago santomense rapidamente seria obrigado a entrar nesse jogo. Pois, a Nigéria, detentora da maior produção do Golfo da Guiné e do continente, exerce uma pressão junto dos seus vizinhos com vista a delimitação das suas fronteiras marítimas. Numa altura em que a produção mundial se transfigura num modelo offshore, os primeiros estudos sísmicos na zona culminam na descoberta do campo de Akpo “em profundidade de água que varia entre 1.200 e 1.400 metros” com reservas estimadas na “ordem de 620 milhões de barris” (TN Petróleo, 2012, p.1). Estando a 200 km da costa nigeriana, estima-se que o campo possa ser ainda mais extenso, inferindo nas fronteiras marítimas da Guiné Equatorial e de STP.

Para garantir a sua posição, como referimos, o país solicitou junto da ONU a delimitação de uma ZEE em 1998, mas iniciávamos o novo milénio e os desenvolvimentos eram tardios na sua conclusão. Assim, e apesar de ser um ano de eleições, Miguel Trovoada assinaria em conjunto com a Nigéria em Fevereiro de 2001 um acordo que criaria uma Zona de Desenvolvimento Conjunto, sobre a orientação de uma entidade legal autónoma (Autoridade de Desenvolvimento Conjunto), onde como já referimos, 60 % dos lucros e despesas eram da responsabilidade da Nigéria, enquanto a STP os restantes 40%, num período de 40 anos. É também institucionalizado um Conselho de Ministros, um órgão que em representação de ambas as partes tem a “responsabilidade geral sobre todas as questões relativas à pesquisa e exploração dos recursos” da ZDC (Tiny, 2004, p.3). Os acordos na ZDC edificam-se no modelo CPP (Contrato de Partilha e de Produção) e na Concessão de Licenças. Nasce assim a segunda província petrolífera do arquipélago. Porém, num Estado marcado pela instabilidade política, principalmente no que respeita a governos, o acordo prontamente dividiu diversos sectores da sociedade santomense, que não participaram na decisão de Miguel Trovoada. Principalmente Fradique de Menezes, que não considerou favorável o Tratado para o país, mas como também diversos outros contractos assinados com as diversas empresas internacionais.

Assim, o novo presidente da RDSTP, reconhecido homem de negócios, prontamente entra em contacto com diversos senadores e congressistas norte-americanos, estes achavam que os acordos assinados detinham “erros gravíssimos” que prejudicavam o país (Citado por Veiga, 2010, p.1). Liderando todo o dossiê e as negociações com a Nigéria, Fradique exige

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também uma revisão do Tratado que funda a ZDC, solicitando a alteração dos regimes fiscais e taxas aduaneiras, que não são compatíveis para a realidade de STP. O presidente chega ainda mais longe, ao afirmar que STP “é um país independente, soberano e adulto. Queremos uma conta bancária onde os nossos dinheiros devem ser depositados, e não queremos uma conta bancária em conjunto com a Nigéria” (Ibidem, p.2). Isto causou uma tensão entre os dois países, o que pôs em causa o processo de exploração na ZDC, só sendo atenuado com as viagens de Fradique de Menezes a Abuja e de Olusegun Obasanjo, seu homólogo, a São Tomé. Ainda mais após a tentativa de Golpe em 2003, enquanto visitava a Nigéria. O presidente nigeriano teve um papel fulcral na resolução da crise política em 2003, fazendo Fradique aterrar no aeroporto internacional da capital santomense com dois aviões de escolta, “alegadamente com militares para qualquer eventualidade” (Ibidem, p.3). A ajuda nigeriana facilitou o processo de exploração petrolífera conjunta, com a assinatura da “DECLARAÇÃO CONJUNTA DE ABUJA SOBRE TRANSPARÊNCIA E BOA GOVERNAÇÃO NA ZONA DE DESENVOLVIMENTO CONJUNTO” a 26 de Junho de 2004, as dissonâncias foram ultrapassadas.

Fradique consegue rever o Tratado favorecendo a posição santomense. Por exemplo, todas as receitas petrolíferas passam “pela Conta Nacional do Petróleo, obedecendo a regras específicas de movimentação conforme o estabelecido na Lei nº 8/2004- Lei- Quadro das Receitas Petrolíferas” (PwC, 2014, p.7). As reversões e adendas não ficam por aqui, pois o contrato com a EHRC, a PGS e a Exxon Mobil também sofreram alterações. Apesar de não favorecerem por completo os interesses nacionais, pois por exemplo, no primeiro leilão de petróleo da ZDC o país perdeu mais de “30 milhões de dólares em bónus de assinatura”, as acções de Fradique são tidas como positivas pela maioria da população que o reelege em 2006. Os pequenos sucessos da política petrolífera entre 2001-2003 aumentaram a influência do país na estrutura legal da ZDC de forma realmente consensual.

A ANP-STP seria a entidade petrolífera oficial santomense escolhida para monitorizar os avanços das operações na ZDC. Assim, toda a sua acção é em defesa do interesse nacional do arquipélago, para “acelerar o crescimento no Fundo das Receitas do Petróleo de modo a aumentar a verba anual destinada ao orçamento de STP” (GRDSTP, 2008, p.25). A receita seria boa, pois consolidaria o acordo com a Nigéria, mas uma prospecção com fraca rentabilidade comercial no Bloco 1 levariam a desistência da Chevron e da Total. Principalmente quando em 5 anos a Nigéria já tinha gasto cerca de 100 milhões de dólares no processo. Novamente levantaram-se dúvidas sobre a viabilidade do acordo. Porém, uma - 71 -

reunião do CMC realizada entre 11 e 21 de Março de 2014 viria a aprofundar novamente o processo, ao serem aprovadas novas tecnologias para a exploração na ZDC, onde a Equator Hydrocarbons Limited (PAPIS Energy Solutions 35 %; Dangote Energy Equity Resources 9 %) passa a deter 56 % dos direitos sobre o bloco, prometendo o início da produção “num período de 18 meses”. Para o orçamento da ADC até 2013, STP contribuiu com 36.985.719 milhões de USD (Fig.9), enquanto a Nigéria 55.478.578 milhões de USD (PwC, 2014, p.9).

Fig.8 – Orçamento da ADC.

Fonte: PwC, 2014. São Tomé e Príncipe 1º Relatório ITIE 2003-2013.[online].Disponível em: http://www.min-financas.st/phocadownloadpap/ITIE/publicacao/1_Relatorio_2003_2013_ZEE.pdf

Ainda não verificamos produção na ZDC com a Nigéria, mas o seu projecto motivou a Guiné Equatorial a realizar uma aproximação ao arquipélago lusófono, no intuito de avançar em conjunto na prospecção e exploração de hidrocarbonetos na fronteira marítima entre os dois países. É por tal que STP apoiou à adesão da Guiné Equatorial junto da CPLP em 2013 e das visitas oficiais contínuas entre ambas as elites governativas. A última foi a de Patrice Trovoada em Fevereiro deste ano, com vista a delimitar os últimos pontos do acordo, que formará uma empresa conjunta para gerir os recursos. Porém, numa altura em que o preço do petróleo mantém-se em queda, vai aumentando a dificuldade dos países encontrarem investidores para avançar com o projecto. Pois, STP sobrevive na sua maioria da ajuda externa, enquanto a Guiné Equatorial teve que cortar na sua despesa pública e na produção

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diária de hidrocarbonetos. Estes factores limitam a formação de uma segunda ZDC no Golfo da Guiné tendo como protagonista STP.

STP realiza assim uma reaproximação aos seus vizinhos após a Guerra Fria, numa relação estratégica assente nos recursos energéticos não renováveis, apesar da assimetria do país face aos restantes intervenientes neste quadro geopolítico da região. Mas essa assimetria levanta diversas questões como a segurança marítima que tem estado a cargo da força nigeriana, o que de algum modo leva a importação “dos seus problemas, a saber, os decorrentes do crescendo do fundamentalismo islâmico, da conflituosidade política étnico- religiosa somada às tensões regionais e, ainda, das práticas de roubo de petróleo” num contínuo aumento da pirataria na região (Nascimento, 2011, p.103). O arquipélago deve privilegiar a via multilateral para prevenir conflitos e arranjar soluções partilhadas, podendo auferir um papel de destaque potenciado pela sua posição geográfica. Em relação as zonas de desenvolvimento conjunto, o país deve respeitar os acordos assinados de forma reciproca, servindo as mesmas para o país adquirir experiência na melhor gestão da ZEE e dos seus 19 blocos petrolíferos, que melhor conheceremos de seguida.

3.4- A exploração Offshore.

Como estudamos até então, STP só consegue estabelecer a sua ZEE em 2009 pelo Decreto- Lei nº57/2009, após resolver a tensa situação das suas fronteiras marítimas com os seus vizinhos. A ZEE do país detém uma área de 125 891 km², onde os 19 blocos petrolíferos foram dispostos em três zonas de exploração já referidas (A,B,C) mas que podem ser vistas na fig.4. Nomeadamente, a Zona A detém uma superfície de 26 165 km² e situa-se no Nordeste das ilhas de São Tomé e Príncipe, onde localizam-se 6 blocos identificados a amarelo e numerados de 1 a 6. Já a Zona B cobre uma área de 50 004 km² e detém 7 blocos identificados a verde e numerados de 7 a 13. Por último, a Zona C, detém mais blocos de fronteira com a ZDC, compreende uma área de 49 722 km², sendo composta por 6 blocos identificados a laranja e numerados de 14 a 19.

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Fig.9– ZEE de STP.

Fonte: ANP-STP, 2016. Apresentação da Zona Económica Exclusiva [online].

Disponível em: http://www.anp-stp.gov.st/index.php/pt/2016-01-27-02-03-36/zona-economica-exclusiva

O país aposta o seu futuro como um petro-Estado essencialmente na ZEE, dai ser a zona onde vários levantamentos sísmicos 2 D e 3 D têm sido realizados, mas ainda mantém-se como uma questão incerta. Os resultados são promissores, pois nas águas profundas, verifica- se a existência de armadilhas petrolíferas, porém a sua exactidão ou potencialidades reais carecem ainda de dados, o que retarda a evolução do processo. Para obter resultados o quanto antes, o enquadramento legal da área tenta assemelhar-se ao da ZDC, o que facilita a atracção de investidores, mas como também a monitorização por parte da ANP-STP. Assim, o GRSTP escolhe o modelo dos CPP ou Contratos de Serviço de Risco, com vista a captação de know- how, potenciando a recepção de uma percentagem fixa da produção (cost oil) que satisfaça as suas necessidades internas, o restante petróleo será comercializado em conjunto com uma companhia (profit oil).

Este contrato abrange todas as fases de prospeção, pesquisa, desenvolvimento (8 anos) e produção (20 anos) (ANP-STP, 2015, p.1). O país também concede autorizações de prospeção, como nos refere a Lei nº16 /2009 de 31 de Dezembro. Segundo o artigo 20º da lei referida, é obrigatória a realização de um concurso público no sector santomense, exepto em casos que não exista nenhum contrato por falta de propostas ou por as mesmas não satisfazerem os critérios de adjudicação, o país pode negociar directamente com algum - 74 -

interveniente. A ANP-STP estabelece que para a obtenção de um contrato petrolífero a proposta deve incluir:

 O programa mínimo de trabalho;

 Proteção da saúde, segurança, e bem-estar das pessoas envolvidas ou afetadas pelas operações petrolíferas;  A proteção do ambiente, prevenção, minimização e mitigação dos efeitos da poluição, bem como outros danos ambientais que possam resultar das operações petrolíferas;  A formação e contratação preferencial de nacionais de São Tomé e Príncipe para as operações petrolíferas;  A aquisição de bens e serviços a pessoas residentes no território de STP.

Em relação às autorizações de prospeção, elas conferem o direito de realizar estudos geológicos, geofísicos e geoquímicos; sendo concedida por uma duração inicial de 3 anos, podendo ser “sucessivamente renovada anualmente, sendo o prazo máximo de seis (6) anos” (ANP-STP, 2015, p.2).

Neste momento nas zonas A e B foram obtidos um total de 12,827 km² de dados sísmicos. Na zona A, todos os blocos já detêm CPP, exepto o 1. O Bloco 2 é um consórcio onde 90 % são da SINOANGOL e os restantes 10 % pertencem ao Estado santomense, bloco negociado directamente e onde se verificou o maior bónus de assinatura, 5 milhões de USD. Já no Bloco 3, a ORANTO Petroleum detém também 90 % e o Estado santomense os restantes 10 %, o arquipélago recebeu 2 milhões de USD de bónus. A ERHC detém os blocos 4 e 11, apenas no último é que o arquipélago detém 15 %. Entretanto a empresa passou os seus direitos a Kosmos. A Equator Explorations detém 85 % do bloco 5 e do bloco 12, os restantes 15 % de ambos os blocos pertencem ao país. Estes direitos pertenciam a PGS em 2001, STP recebeu novo bónus de 2 milhões de USD. Enquanto o bloco 6 tem como accionistas a GALP Energia com 45 %, a Kosmos Energy com 45 % e o Estado santomense os restantes 10 %. Todos os restantes blocos estão livres, podendo ser adquiridos nos próximos leilões ou negociações directas.

Verificamos que a Zona C é a que detém menos dados sísmicos e consequentemente nenhum acordo CPP. A ANP-STP deve promover o quanto possível esta zona, adquirindo novos dados sísmicos que podem potenciar a consecução de licenças ou a realização de um - 75 -

contrato CPP. Em relação as outras duas zonas vemos que o país tem ficado com uma margem entre os 10 -15 % do total, valores satisfatórios por agora, numa fase em que as empresas ainda estão em fase exploratória. Pois, desde 2005 como nos mostra a PwC (2014) no seu primeiro relatório ITIE, a ZEE corresponde apenas a 15 % das receitas da Conta Nacional do Petróleo, uns meros 9 milhões de dólares (p.7). Como comparação, o primeiro bónus provindo da ADC foi um valor de 37 764 997 milhões de USD (Fig.11). Somente com o início da exploração petrolífera e com isto da obtenção de dados mais conclusivos das potencialidades santomenses que poderemos afirmar se estes acordos foram ou não benéficos para o país em comparação com a ZDC.

Mas estudadas as três províncias petrolíferas do arquipélago podemos verificar que o mesmo já se encontra no mercado energético mundial, só estando em falta a venda do primeiro barril para oficializar esse facto. Algo directamente influenciado pela redução do IDE na região, onde o baixo preço das commodities energéticas a nível mundial, com foque no petróleo, vem desfavorecendo os produtores!

Fig.10 – Conta corrente petróleo STP.

Fonte: PwC, 2014. São Tomé e Príncipe 1º Relatório ITIE 2003-2013.[online].Disponível em: http://www.min-financas.st/phocadownloadpap/ITIE/publicacao/1_Relatorio_2003_2013_ZEE.pdf

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3.5- A AOSIS e a CPLP.

O arquipélago santomense tem-se inserido a um ritmo lento no mercado energético mundial, como verificamos até então neste capítulo. Essa inserção lenta é devido à uma política externa que viveu duas fases distintas após a descolonização. Claramente a segunda república marca uma viragem na política externa santomense, onde Miguel Trovoada tenta incluir o país num processo global no pós Guerra Fria. Assim, na sequência da cimeira do Rio de Janeiro em 1992, “ e em reconhecimento das características específicas e das vulnerabilidades das pequenas Ilhas-Estado, as Nações Unidas, através do PNUD” (Romana, 1997, p.45) reconhecem este soft-balancing que criaria um novo grupo de Estados e alguns territórios sobre a tutela da ONU, edificados na AOSIS. Como nos disse Tolentino, a Nissologia, a “ciência do mundo insular” ganha assim mais protagonismo, após a sua inserção no sistema das nações, culminando com a Convenção sobre os Direitos do Mar e a delimitação da ZEE (Citado por CEHA, 2011, p.II).

Composta por 4414 membros e observadores de todos os oceanos e regiões do mundo, a AOSIS “is a coalition of small Island and low-lying coastal countries that share similar development challenges and concerns about the environment, especially their vulnerability to the adverse effect of global climate change” (AOSIS, 2016, p.1). Destes, 39 membros pertencem também a ONU, representando 28 % dos países em desenvolvimento e correspondendo a 5 % da população mundial.

No fundo o grupo serve como um lobby ad hoc e uma voz em qualquer negociação junto do sistema das Nações Unidas em prol destas pequenas ilhas em desenvolvimento. O turismo é o sector mais importante para a organização, onde na “Conferência de Bridgetown” é elaborado um exaustivo plano de acção com o intuito de aumentar a receita para os seus membros. Em muitos casos, o Turismo é o único sector gerador de riqueza destes países. No caso de STP, o sector representou 5 % do PIB em 2015. O principal problema identificado pela organização é o aquecimento global, que pode provocar um aumento das águas em cerca de 65 cm, levando com isto, ao desaparecimento de alguns EM. Mas outros problemas como a gestão de desperdícios; a gestão dos recursos costeiros e marítimos; a água potável; as terras;

14 São membros da AOSIS: As Ilhas Cook; Antígua e Barbuda; Bahamas; Barbados; Belize; Cabo Verde; Cômoros; Cuba; Dominica; República Dominicana; As Ilhas Fiji; Federação dos Estados da Micronésia; Granada; Guiné-Bissau; Guiana; Haiti; Jamaica; Kiribati; Maldivas; Ilhas Marshall; Maurícia; Nauru; Niue; Palau; Papua Nova Guiné; Samoa; Singapura; Seychelles; São Tomé e Príncipe; Ilhas Salomão; Saint Kitts and Nevis; Saint Lucia; Saint Vincent and the Grenadines; Suriname; Timor-Leste; Tonga; Trinidad e Tobago; Tuvalu e Vanuatu. São observadores: Samoa Americana; Antilhas Holandesas; Estados Unidos das Ilhas Virgens - 77 -

a energia; a biodiversidade; as instituições políticas e administrativas; cooperação técnica e instituições regionais; os transportes e comunicações; a ciência e a tecnologia e o desenvolvimento dos recursos humanos são pontos essenciais da agenda da organização permanentemente.

Porém são os recursos naturais que suscitam grande interesse para muitos EM da organização, principalmente com o avanço da tecnologia offshore. STP está incluído num grupo com diversos actores conhecidos no mercado como o Haiti; Timor-Leste; Trinidad e Tobago; República Dominicana; Suriname; Cuba; Singapura e outros que esperam uma oportunidade como Cabo verde, as Ilhas Fiji, Tonga, ou a Guiné-Bissau e possivelmente os restantes membros visto as suas características geológicas e geográficas. Sendo ilhas com posições estratégicas e dispersas pelo globo, são fundamentais para o poder marítimo15 das grandes potências mundiais, o que aumenta a importância da organização na Sociedade Internacional, onde STP tem sido cautelosamente observado pelos seus pares, como um modelo evolutivo dentro deste grupo.

Mas a AOSIS não é o único mecanismo multipolar onde STP poderá desempenhar um papel fulcral com a transformação para um petro-Estado, de facto. Outra organização que beneficia com esta evolução do arquipélago e que pode obter bons resultados é a CPLP. Percorrendo um longo caminho desde 1983 com o discurso de Jaime Gama, na altura MNE de Portugal em Cabo Verde, edifica-se em 1997 um plano com o objectivo de “projectar e consolidar, no plano externo, os especiais laços de amizade entre os países de língua portuguesa, dando a essas nações maior capacidade para defender seus valores e interesses, calcados sobretudo na defesa da democracia, na promoção do desenvolvimento e na criação de um ambiente internacional mais equilibrado e pacífico” (CPLP, 2016, p.1). Neste momento engloba mais de 250 milhões de pessoas, dispersas em 4 continentes sendo composta por Portugal, a antiga metrópole, pelos antigos territórios ultramarinos Angola, Moçambique, Cabo- Verde, Guiné-Bissau, STP, Timor-Leste, Brasil e recentemente a Guiné Equatorial. A organização detém ainda diversos países como observadores associados como a República da Ilha Maurícia, o Senegal, a Geórgia, a República da Namíbia, a República da Turquia e o Japão.

Somente Timor-Leste e a Guiné Equatorial, não são membros fundadores, visto que o primeiro só tornou-se independente em 2002, enquanto o segundo país teve que passar por um

15 Veja-se “ The Influence of Sea Power Upon History” de Alfred Mahan. - 78 -

processo minucioso, que foge ao “vínculo histórico e património comum dos Nove”, a Língua Portuguesa (Ibidem, p.2). Com a sua inclusão na X Cimeira em Díli, o país liderado por Obiang indica que já aboliu a pena de morte e que o português vai sendo difundido, porém podemos equacionar que o facto do mesmo ser um grande produtor de petróleo da África subsariana, poderá ter facilitado esta adesão. Angola e STP apoiaram a adesão da antiga colónia espanhola, muito por razões geopolíticas do Golfo da Guiné, onde a Nigéria continuamente tenta demostrar o seu estatuto de força, essencialmente no que respeita aos recursos energéticos não renováveis.

A organização vai-se transformando num espaço geoeconómico, muito devido à existência de recursos energéticos não renováveis nos diversos EM. No continente africano, os casos de Angola e da Guiné Equatorial, segundo e quarto na produção de petróleo na África subsariana, o grande avanço de Moçambique no mercado e a inclusão de STP, podem potenciar Cabo Verde e a Guiné-Bissau a aprofundarem o sector nos seus países, criando oportunidades para diversas partes. Outro grande membro da organização é o Brasil (aproximadamente 2 500 000 md/b) que é o segundo maior produtor da América do Sul e o maior da CPLP. Já na Oceânia vemos que Timor-Leste (aproximadamente 150 mil barris diários) vai também ganhando uma posição no mercado energético mundial, podendo vir a abastecer o extenso mercado asiático, que como vimos será marcado pelas necessidades energéticas futuras da Índia. Enquanto Portugal, essencialmente através das internacionalizações da GALP, tem vindo a investir em diversos locais, principalmente nos EM da CPLP. Mas a empresa deseja retomar a exploração em águas lusas, principalmente numa ZEE também de consideráveis proporções e que possibilita a produção offshore.

Resumindo, contabilizando a produção dos seus membros, a CPLP é o 4º maior produtor de petróleo do mundo, só sendo ultrapassada pela Rússia, Arábia Saudita e EUA (LUSA, 2014, p.1). STP detém assim apoios que poderão ser vitais neste mercado anárquico. Porém, terá que salvaguardar sempre a sua posição com vista a defesa do seu interesse nacional.

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CAPÍTULO III- FORÇAS, FRAQUEZAS, OPORTUNIDADES E AMEÇAS DA EXPLORAÇÃO DOS RECURSOS ENERGÉTICOS NÃO

RENOVÁVEIS.

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Após uma análise geral à temática e ao nosso caso de estudo, no I e II capítulos respectivamente, verificaremos as diversas “Forças, fraquezas, oportunidades e ameaças da exploração dos recursos não renováveis”.

Faremos assim uma análise SWOT, principalmente a STP, compreendendo “as variáveis que proporcionam vantagens estratégicas (forças) e as tarefas que a organização desempenha de forma menos eficaz ou não desempenha de todo, relativamente aos seus contendores (fraquezas)” (Ribeiro, 2014, p.8).

Entenderemos assim o que poderá facilitar ou dificultar o país na consecução de objectivos fixados na política neste mercado extremamente competitivo. Confirmando se as oportunidades podem transformar-se em forças, as mesmas em fraquezas, surgindo ameaças da exploração de recursos energéticos não renováveis.

Fig.11 – Ciclo Análise SWOT.

Fonte: Duncan Haughey, 2016. SWOT ANALYSIS.[online].Disponível em: https://www.projectsmart.co.uk/swot-analysis.ph

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1- Oportunidades (Opportunities).

Neste trabalho verificamos que a exploração de recursos energéticos aufere diversas oportunidades para os intervenientes da temática, principalmente os produtores que desejam a segurança da procura. Com a deslocalização da produção e a sua internacionalização, os diversos países que apresentam potencialidades no sector vão captando IDE para a realização de diversos projectos, financiando os seus orçamentos Estatais dessa forma (Costa,2010). Como vimos, o continente africano recebeu 56,6 mil milhões de USD só em 2013, onde 70 % foi canalizado para a extracção de recursos naturais. Ou seja, mais de 39,62 mil milhões de USD foram para a indústria extractiva. Dividindo esse valor pelos 54 Estados independentes do continente, cada um recebia cerca 733 milhões de USD, uma valor muito superior ao orçamento do Estado santomense de 2015 (154 milhões de USD) por exemplo. É também canalizada a mais avançada tecnologia do sector com vista ao aproveitamento máximo destes recursos, o que suscita um desenvolvimento tecnológico geral dos Estados.

Fig.12 – IDE, Inward e Outward STP (2008-2012).

Fonte: AIP, 2014. São Tomé e Príncipe: Integração regional na CEEAC e relacionamento com os países da CPLP.[online].Disponível em: http://www.aip.pt/irj/go/km/docs/site- manager/www_aip_pt/documentos/internacionalizacao/internacionalizacao/informacao/Lusofonia%20Eco n%C3%B3mica/8%20-%20S%C3%83O%20TOM%C3%89,%20GAB%C3%83O,%20CEEAC%20- %20CPLP.pdf

Um país que detém e controla reservas de hidrocarbonetos aufere uma vantagem competitiva face a outros Estados na cena internacional. Por exemplo no sector dos transportes, na indústria petroquímica e na produção de electricidade. Com a redução dessas importações, o valor que era gasto nas mesmas pode ser canalizado para novos projectos no país em outros sectores como o turismo, a agricultura e pescas. - 82 -

Com a inevitabilidade da política externa, principalmente nos domínios da economia, hoje global e interdependente, leva a comercialização destes hidrocarbonetos, auferindo os seus intervenientes uma renda ou uma Royalty através dessa transacção económica. Com uma boa renda, os actores poderão auferir um considerável Poder Económico, melhorando assim as condições sociais da sua população, o que poderá ser verificado pelo valor do IDH dos mesmos. Os grandes Fundos Soberanos do nosso planeta exemplificam-nos esta oportunidade.

A OPEP mostrou-nos a importância estratégica destes recursos, onde diversos actores ganham destaque na hierarquia internacional e assim, força política. A existência destes recursos propicia a cooperação entre diversos actores, como é o caso de STP e a Nigéria com a formação da ZDC (ou organizações como a IEA e a OPEP) e nas diversas Joint Ventures existentes no sector. A anarquia do sistema internacional faz com que os detentores destas commodities tenham maior facilidade de condicionar, convergir e conquistar outros actores, principalmente no Golfo da Guiné, região que destacamos no I capítulo.

2- Forças (Strengths).

Estas oportunidades verificadas no ambiente externo, onde o Golfo da Guiné firma-se como um hotspot a nível mundial, inserindo-se no “Golden Triangle”, podem ser aproveitadas pelo nosso caso de estudo. A primeira grande força do arquipélago é a sua posição geográfica, onde a linha do Equador prova essa centralidade, sendo fácil navegar tanto para sul e para o norte dos hemisférios. O acordo assinado com a Terminal Link é também um atributo a favor do país, que já aprovou a construção de um porto de águas profundas em Fernão Dias (2007).

Sendo duas ilhas e um conjunto de ilhéus, um bom factor para o país, visto que a produção fica assim longe da instabilidade do continente africano, visto que o arquipélago detém uma considerável ZEE com 125 891 km² cujo vizinho mais perto esta a 300 km (Gabão). Com a realização de 16 752 km² de pesquisa sísmica (2D;3D e 4D), verifica-se a existência de armadilhas petrolíferas. O país já contempla um quadro legal para o sector, onde a ANP-STP é a empresa nacional que regula o mesmo, detendo todas as informações necessárias para os interessados num domínio online (http://www.anp- stp.gov.st/index.php/pt/). Com 19 blocos petrolíferos, espalhados em três zonas (A,B,C), a

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empresa já conseguiu realizar um primeiro leilão em Londres, o que introduziu o país no mercado energético conseguindo 6 contractos CPP. STP detém uma Conta Nacional de Petróleo própria e todas as situações do sector são escrutinadas e avaliadas pela ITIE. Esta em progresso a instituição de uma segunda ZDC na fronteira com a Guiné Equatorial.

Com um crescimento populacional contínuo, tendo o arquipélago 193 mil habitantes, dos quais pelo menos 61 % tem até 25, o país terá população necessária para o desenvolvimento de novas actividades económicas como a exploração de recursos energéticos. Temos que salientar que STP consegue exportar diversos produtos como o cacau em amêndoas, vasos de sucata, ácidos gordos industriais, óleos e álcoois, tendo assim uma economia diversificada. O país teve um perdão da sua dívida pública (2011), o que tem permitido a realização de diversos projectos, mantendo a dobra uma paridade cambial estável face ao EUR e o USD (24 500 = 1 € / 20 000 = 0,90).

O Primeiro-Ministro Patrice Trovoada, governa com maioria absoluta pertencendo a mesma força política (ADI) que o Presidente da República (Evaristo Carvalho).

3- Fraquezas (Weaknesses).

Temos vindo a analisar um país fragilizado, STP, que por mais de 500 anos foi uma colónia portuguesa. Por tal, verificou-se durante este período diversas alterações a sua base económica e social. É assim um arquipélago historicamente marcado por tensões e conflitos entre os seus cidadãos que vão mantendo uma relação tensa até os dias presentes.

Após a descolonização e a 1ª República liderada por Manuel Pinto da Costa, nenhum governo conseguiu terminar um mandato na actual 2ª República (democrática) iniciada em 1991. Na mesma, verificamos uma corrupção grave do aparelho institucional santomense, onde a própria população é aliciada na compra de votos (“Fenómeno banho”). Por duas vezes assistimos a tentativas de golpes de Estado no arquipélago nesta 2ª República. A política do país é muito personalizada, onde os diversos actores políticos partilham laços familiares ou foram colegas em alguma altura das suas vidas. A contínua alternância política não permite a edificação de objectivos políticos ou a sua consecução o que aumenta a instabilidade política, económica e social no arquipélago. O país detém uma balança comercial negativa, sobrevivendo maioritariamente das doacções internacionais. É por tal que 62 % da população vive na pobreza, apesar do RNB per capita ser de 1670 USD. Isto significa que grande parte - 84 -

da riqueza do país esta concentrada numa pequena percentagem da população, onde a disparidade social vai aumentando, algo que o IDH médio de 0,555 prova.

STP tem um défice energético muito profundo, visto que 40 % da sua população não tem acesso a electricidade, principalmente na ilha do Príncipe. A maioria do orçamento estatal é destinada a importação de energia (13,1 % em 2015).

O país necessita de infraestruturas educacionais, principalmente pré-universitárias, universitárias e com cariz técnico, aumentando o número de professores, atendendo a jovem população. Combatendo assim a actual falta de quadros no arquipélago. Mas também deve começar a construção do porto de águas profundas de Fernão Dias, aprovado desde 2007, melhorando também os aeroportos de São Tomé e Santo António. Aliás, é extremamente difícil a ligação marítima ou aérea para diversos pontos do arquipélago, onde ligações internacionais acontecem apenas duas vezes por semana para destinos como Portugal, Angola e o Gabão. A falta de infraestruturas de saneamento público cria também diversos problemas sociais e ambientais no país, principalmente na lotada capital.

É necessário referir que a não comercialização do primeiro barril na ZDC com a Nigéria, desde a sua criação, tem vindo a provocar divergências entre os dois países, sendo STP levado pelo ‘bandwagoning’ nigeriano.

4- Ameaças (Threats).

Sendo STP um Estado fragilizado não detém meios suficientes para mitigar diversos desafios da conjuntura, principalmente numa região e mercado extremamente competitivos. Esta competição pode guiar a conflitos originando instabilidade na região e a perca de territórios, numa escalada onde a guerra (instrumento violento da Politica Internacional) pode vir a ser empregada.

Com o aumento exponencial da produção norte-americana, através da tecnologia ‘fracking’, o que veio a impulsionar a baixa do preço do petróleo e do gás natural a nível mundial, leva a redução de investimentos para a exploração offshore, incapacitando a formação de uma segunda ZDC com a Guiné Equatorial no caso santomense. A volatilidade dos preços dos combustíveis fósseis é vital para STP e os restantes intervenientes do mercado.

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Numa região marcada pela pirataria, o narcotráfico e roubos à mão armada, a Nigéria vai assegurando a segurança marítima na fronteira dos dois países após a formação da ZDC em 2001. Esta insegurança marítima poderá afectar os fluxos energéticos ou as actividades do futuro HUB de Fernão Dias.

O roubo de petróleo e o seu tratamento em refinarias ilegais prejudica o ecossistema do Delta do Níger e toda a Cordilheira Vulcânica dos Camarões. Alias, a produção em alto mar acarreta diversos perigos para o ecossistema envolvente, onde a forte ondulação, ou outras vicissitudes, podem destruir plataformas. Mas também por acção humana, onde os diversos cargueiros podem encalhar em zonas do Golfo, gerando assim um grande derrame. Para um arquipélago como STP algum problema ambiental seria catastrófico, pois não só destruiria ecossistemas únicos, mas também diversos sectores da economia santomense, com especial foco para o turismo e a pesca.

5- Análise SWOT: Oportunidades, forças, fraquezas e ameaças

Após a recolha das diversas oportunidades, forças, fraquezas e ameaças, construi-se um quadro que sintetiza a informação (Veja-se Tabela 1). Assim, das oportunidades observadas queremos aproveitar o máximo de pontos fortes do actor (S). Só assim é possível minimizar os efeitos das ameaças detectadas (T). Reconhecemos as diversas fraquezas do actor, onde tentamos minorar efeitos negativos, podendo o mesmo aproveitar estas oportunidades (O). O verdadeiro ambiente de desacordo é quando conjugamos os pontos mais fracos do agente e as ameaças do ambiente externo, urgindo uma acção imediata do actor para mitigar essas fragilidades (W).

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Forças Fraquezas

-Posição geográfica; -Ex-Colónia; -O acordo com a Terminal -Instabilidade política; Link; -Corrupção; -Existência de armadilhas -Disparidade social; INTERNO petrolíferas; -Balança Comercial negativa; - Quadro legal do sector; -IDH médio de 0,555; -ZEE com 125 891 km²; -40 % da população não tem -19 Blocos petrolíferos; acesso à electricidade; -Iniciativa ITIE; -Falta de Infraestruturas; -Paridade Cambial estável -Instabilidade social; face ao EUR e USD; -Problemas ambientais; -O país já exporta diversos -Dependência externa em produtos (cacau e outros); matéria energética; -61 % da população deter até -Dependência externa em 25 anos. matéria económica; -Captação de IDE; -Regime Democrático;

Oportunidades Ameaças

EXTERNO - Captação de IDE; -ZDC; -Cooperação Internacional; -Volatilidade dos preços dos -Destaque Geopolítico; combustíveis fósseis; -Produção em alto mar; -Insegurança marítima; -Tecnologia. -Problemas ambientais; -Conflitos regionais;

Tabela 1- Análise SWOT de São Tomé e Príncipe.

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CONCLUSÃO

Neste trabalho estudamos a Segurança Energética, temática que tem marcado a agenda internacional após a Revolução Industrial. Vimos que é difícil estabelecer uma visão unânime sobre a matéria, sendo uma temática tipificada consoante as considerações culturais, económicas e geográficas dos seus diversos actores. Pois, a Segurança é uma característica psicológica, uma situação ideal procurada pelo Estado a nível interno e externo.

No século que vivemos, marcado pela lei da complexidade crescente entre os diversos actores da Sociedade Internacional, referimos que os neo-realistas definem o Estado como o principal actor desta Sociedade, que de forma racional, agirá consoante os seus interesses. A segurança é vital para a sua sobrevivência. Neste Estado de Natureza a força será o imperativo das relações estabelecidas numa hierarquia vertical e num sistema continuamente em evolução. Outros, como os neo-liberais, defensores do mercado livre, concebem um modelo interdependente entre os diversos actores assente na cooperação. É um sistema onde os Estados são essenciais para o seu funcionamento pois são os mesmos que devem identificar interesses em comum, relacionando-se de forma pacífica com a hierarquia horizontal estabelecida. Por outro lado, estudamos as relações centro-periferia, que vão mantendo diversos países subdesenvolvidos. Este paradigma marxista vê a segurança/insegurança como capricho dos países do centro rico que vão acumulando as riquezas dos mais pobres e fracos do sistema.

O complexo tabuleiro de xadrez a nível mundial, marcado pela anarquia e por um sistema de forças assimétrico, guia os actores de formas distintas na procura da Balance of Power Politics. Enquanto uns através da força, num ‘hard-balancing’ procuram este equilíbrio, outros são guiados pelos mais fortes, ‘bandwagoning’. Já outros Estados fracos do sistema cooperam em defesa de um interesse comum, demandando um ‘soft-balancing’ que procura benefícios junto dos mais fortes do sistema.

Como verificamos, estas foram as três formas de relacionamento entre os diversos actores logo após a Revolução Industrial, que culminou na edificação do primeiro grande mercado internacional de energia, onde o carvão foi pioneiro e a commodity mais utilizada até a afirmação do petróleo. Com a sua primeira comercialização em 1859 na Pensilvânia, o petróleo sendo mais fácil de transportar e moldar, foi essencial na I GM e decisivo na II GM. Com o aumento exponencial da produção e da procura, aproveitando a dissolução do Império Otomano, as empresas ocidentais, “sete irmãs”, vão globalizando a produção, estabelecendo- - 88 -

se no Médio-Oriente (Golfo Pérsico), no México, na Venezuela e no Cáucaso. Naquele tempo, no que respeita a Energia, a tecnologia nuclear foi a “high politic” do século XX, onde num ‘hard-balancing’ de terror, a URSS e os EUA despoletaram uma competição que só viria a terminar em 1991. Como vimos, a formação da ONU; os Acordos de segurança colectiva e os Acordos de Bretton Woods, por exemplo, marcam um novo status quo, que propiciaria a formação da CECA e a estabilização da paz na Europa.

Porém, noutras zonas do mundo, como no Médio-Oriente, as “high politics” são os recursos energéticos não renováveis. Sendo uma cintura fragmentada e rica em petróleo e gás natural, as grandes potências, principalmente os EUA, auxiliavam os seus diversos aliados na região em troca de um preço baixo das commodities e das royalties a serem pagas. Para manter este fluxo a superpotência intervém na região diversas vezes até ao presente. Porém, foram as suas acções na década de 1950 que levaram a criação da OPEP, organização que subverteu o mercado energético internacional. Este ‘soft- balancing’ criado em 1960, numa altura em que o MNA vinha ganhando impacto no sistema internacional, é a revogação dos países produtores ao sistema até então comandado pelas sete-irmãs, que pouca importância deram as primeiras acções do grupo porque controlavam as diversas fases do ciclo energético (exploração; transporte; refinação e comercialização). Aquando da sua formação era composto pela Arábia Saudita, o Kuwait, o Iraque, o Irão e a Venezuela, que representando perto de 80 % da produção mundial, conseguiriam o protagonismo internacional após a guerra de Yom Kippur através do primeiro choque petrolífero de 1973. Com um aumento de preço e uma redução da produção, a OPEP conseguiu utilizar o petróleo como uma arma política (oil weapon) e subverter por fim o mercado energético mundial a seu favor. O choque provou a interdependência do mercado, onde todos os países do mundo foram afectados por um efeito em rede.

Criou-se uma situação tensa no mercado energético mundial, que teria pronta resposta dos países consumidores, que formariam a IEA em 1974. Preocupada com o fluxo energético a nível mundial, a organização incita os seus membros a explorarem novas zonas no globo e a estabelecerem reservas estratégicas, obrigatoriamente. A organização realiza assim um ‘hard- balancing’ versus a OPEP. Apesar destas acções assistiríamos a um segundo choque petrolífero na mesma década, quando Khomeini toma o poder em 1979 num dos maiores produtores da altura, o Irão. A histeria aumentou a procura e atendendo a redução da produção, houve um aumento exponencial do preço.

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Porém, uma melhor coordenação entre os consumidores, liderados pela IEA, faz com que o preço nunca suba de uma forma abrupta até aos dias de hoje, mesmo quando o Kuwait e o Iraque, dois importantes produtores, diminuem a sua produção devido “a primeira guerra do petróleo” em 1990. Verificamos sim, que a produção mundial já não se restingue ao Médio- Oriente, onde países como a Rússia, a Noruega, os EUA, o Canadá, o Brasil, a Nigéria e a China e outros, vão tendo a sua quota do mercado, disputando a hierarquia do mesmo no pós Guerra Fria. Principalmente os EUA que voltaram a ser o maior produtor do mundo graças a tecnologia ‘fracking’ e a descoberta de novos e extensos campos offshore. Ora isto levou a queda do preço das commodities energéticas, o que por sua vez aumentou o seu consumo a nível mundial. Isto dificulta a consecução dos objectivos firmados nos diversos acordos ambientais, com foque para o Acordo de Paris, ratificado recentemente pela China e os EUA. Num momento em que a Índia vai-se tornando o maior consumidor de energia do planeta, voltamos a firmar, a Segurança Energética é uma questão sine qua non da Segurança Climática, e vice-versa!

Com a diversificação da produção iniciada pelas grandes companhias ocidentais, incitada pela IEA, um dos continentes que tem vindo a receber uma quantia elevada de IDE, 56,6 mil milhões de USD em 2013, para a extracção de recursos naturais, principalmente os energéticos, é o africano. Continente marcado por longos séculos de ocupação europeia que após a II GM assiste a formação de diversos Estados independentes que manteriam diversos laços com os anteriores colonizadores, principalmente económicos. O vácuo de poder, ou a incapacidade de estabelecer Estados soberanos, marcam a instabilidade política e social no continente, onde golpes-de-estado e guerras civis são constantes. A UA não consegue estabilizar a paz, num quadro geopolítico continuamente influenciado pelas grandes potências. Apesar disso, o continente detém 17 produtores de petróleo ou gás. Com o 11 de Setembro de 2001 e a “Doutrina Bush”, verificamos uma corrida aos recursos energéticos africanos, principalmente no seu litoral, banhado pelo Oceano Atlântico. Sobretudo no Golfo da Guiné, região geográfica e geopolítica que é palco de uma acérrima disputa entre países como os EUA ou a China. O Golfo pertence ao “Golden Triangle” (Brasil e Golfo do México) zonas onde a produção offshore tem sido fundamental para o mercado ocidental. Com isto, a Nigéria assume a liderança, prontamente seguida por Angola, do Congo Brazzaville, da Guiné Equatorial, do Gabão, do Chade e dos Camarões na região. Sendo uma cintura fragmentada, verificamos que diversos países tentam condicionar ou resolver os diversos desígnios regionais, mas nenhum consegue afirmar-se como uma potência regional

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capaz. Este jogo é disputado, essencialmente entre a Nigéria, o Gabão e Angola. Enquanto Angola saiu de uma longa guerra civil e agora encontra-se numa grave crise económica, a Nigéria enfrenta constantes roubos da sua produção, onde inclusive detém diversos estados sob o controlo do Boko Haram. Isto tem levado a quebra da produção nigeriana, que tem vindo a ser ultrapassada pela angolana mensalmente neste ano. Já o Gabão não consegue firmar acções multilaterais, preferindo acções bilaterais, o que cria desconfiança na região, tendo enfrentado uma pequena crise política interna recentemente. Para reduzir os conflitos estes diversos actores fundam a CGG em 2001, organização que até então tem um papel residual nas relações regionais.

É nesta região competitiva que o nosso caso de estudo, STP, tenta entrar no mercado energético mundial, realizando também uma transição política, económica, social e tecnológica. Estima-se que o arquipélago tenha sido avistado entre 1470 e 1471 por João de Santarém e Pedro Escobar, a serviço de Fernão Gomes. As ilhas estiveram no regime de capitania e foram povoadas por habitantes de diversos países europeus e de outras colónias portuguesas e do continente africano. As ilhas serviram durante um longo período de tempo para o cultivo agrícola, até tornarem-se num entreposto de escravos durante os séculos XVII e XVIII. Com a abolição da escravatura, o arquipélago torna a agricultura, onde o cacau e o café firmam-se como essenciais na economia do país até hoje. Sendo um claro exemplo da miscigenação portuguesa, existem diversos grupos étnicos nas ilhas como os angolares, os foros e os tongas. A existência de diversos grupos e com isto de diversas nações, fazem com que o país tenha sempre vivido uma instabilidade social, e assim, uma instabilidade política. A descolonização marca um longo processo que só foi concluído com a queda do Estado Novo em 1974, mas até então o país perpetua esta instabilidade endémica. Destarte, assistimos a um período onde Manuel Pinto da Costa e o MLSTP comandavam os desígnios nacionais de uma forma autoritária, numa autarcia que levou ao contínuo atraso da economia do arquipélago. A 1ª República só terminaria com a implementação do multipartidarismo em 1991, onde diversos partidos como Acção Democrática Independente; o Movimento Democrático Força de Mudança; o Partido de Convergência Democrática- Grupo de Reflexão; e o Movimento de Libertação de São Tomé e Príncipe- Partido Social Democrata, têm realizado uma alternância governativa ténue até ao presente. Pois, até então, nenhum governo em STP conseguiu terminar um mandato, o que incapacita a formulação e consecução de objectivos fixados pela política.

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A não inclusão de diversos grupos na tomada de decisão cria tensões na sociedade santomense. As duas tentativas de golpe de Estado encabeçadas pelas forças armadas, com Miguel Trovoada (1995) e Fradique de Menezes (2003) provam essa instabilidade política, o que fragiliza a liderança estabelecida democraticamente. Manuel Pinto da Costa regressa ao poder em 2011, após 20 anos, e pela primeira vez na democracia santomense o presidente não renova o seu mandato, tendo perdido por desistência a segunda volta das eleições presidenciais de 2016 para Evaristo Carvalho. O novo presidente e o primeiro-ministro do país pertencem ao mesmo partido político, o que poderá torná-lo mais estável, institucionalmente. Mas Patrice Trovoada detém uma árdua tarefa nos próximos anos. Pois, STP é um arquipélago com um crescimento populacional contínuo (197 900 habitantes), sendo que 61 % da população tem até 25 anos, onde não existem professores suficientes para o número de alunos, por exemplo. Com uma balança comercial negativa, 162,7 milhões de USD em 2014, superior ao próprio orçamento estatal de 154 milhões de USD de 2015, o país sobrevive das ajudas externas que recebe dos diversos doadores internacionais como Taiwan ou o BM. STP é um país que necessita de melhorar ou construir infraestruturas, como o porto de águas profundas de Fernão Dias que detém todas as potencialidades para ser um dos mais importantes HUB’s marítimos do continente africano. Mas também o aeroporto internacional de São Tomé, o que será fulcral para o Turismo, que representou apenas 5 % do PIB em 2015.

Gastando mais de 13,1 % do seu orçamento na importação de produtos energéticos, nomeadamente os petrolíferos, STP vive num défice energético grave. Pois, 40 % da população não detém electricidade, não sendo a mesma constante em todo o país, principalmente na ilha do Príncipe. Sempre sentiu-se o cheiro do petróleo no arquipélago, porém a exploração onshore só serve para um melhor conhecimento sísmico do país, atraindo financiamentos para a exploração no alto mar. É por tal que ainda na década de 1990 o país apressou-se na delimitação das suas fronteiras marítimas, circunscrevendo por fim a sua ZEE com 125 891 km². Para tal, teve que formalizar uma ZDC com a Nigéria, reconhecido produtor do Golfo, num processo que não era favorável para STP até as acções de Fradique de Menezes que guiariam a assinatura da Declaração Conjunta de Abuja em 2004. Os dois países firmam assim uma Autoridade de Desenvolvimento Conjunto, onde 60 % dos lucros e despesas são da responsabilidade da Nigéria e os restantes 40 % ao nosso caso de estudo. O sector petrolífero renasce assim em STP, após vários acordos terem falhado ao longo dos anos com empresas como a Ball e Collins e a Island Oil Corporation. O país assinou também um acordo para a exploração offshore com a ERHC que já fez o arquipélago perder diversos

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milhões de dólares. Para regular o sector é criada a ANP-STP e estabelecido um quadro legal, dividindo a ZEE em três zonas num total de 19 blocos petrolíferos. Isto permitiu o primeiro leilão e a assinatura de 6 Contratos de Partilha de Produção, que abrange todas as fases de prospeção, pesquisa, desenvolvimento (8 anos) e produção (20 anos), obtendo o país uma percentagem fixa do produto entre os 10-15 %, como Royalty. STP também negoceia directamente os seus blocos petrolíferos. Pelos contratos da ZEE o Estado santomense recebeu 9 milhões de USD, enquanto o bónus da ADC já auferem a mais de 50 milhões de USD na Conta Nacional do Petróleo santomense.

Estes aparentes sucessos vêm atraindo outros países da região como a Guiné Equatorial, que inicia junto das autoridades santomenses um processo com vista a delimitação de uma ZDC na fronteira marítima dos dois países. Na realidade, o arquipélago é observado por diversos vizinhos e pares das organizações que faz parte, como a AOSIS e a CPLP. Vejamos a AOSIS por exemplo, que sendo um lobby ad hoc em defesa destas Pequenas Ilhas- Estados em Vias de Desenvolvimento, principalmente devido às alterações climatéricas, onde a subida do nível do mar em 65 cm levará ao desaparecimento de diversos membros da organização. Porém, o desenvolvimento tecnológico da indústria petrolífera tem vindo a transformar diversos países membros em petro-Estados, como são os casos do Haiti, Trinidad e Tobago, Cuba e outros. Isto complexifica a acção da organização entrando a mesma num contra-senso, pois muitos dos seus EM contribuem para o efeito de estufa. Já a CPLP, vai-se tornando cada vez mais numa petro-organização, num espaço geoeconómico que engloba mais de 250 milhões de habitantes em 4 continentes. Foram os laços históricos, como a língua, que juntaram Angola, Brasil, Moçambique, Cabo-Verde, Guiné-Bissau, STP, Timor- Leste e Portugal. Foram os interesses geopolíticos/ geoeconómicos que uniram a Guiné- Equatorial aos restantes membros da organização. Englobando a produção petrolífera de todos os seus EM, a organização é a quarta maior produtora do mundo, sendo só ultrapassada pela Rússia, Arábia Saudita e EUA. E claro, pelo aglomerado da OPEP ou da IEA.

Em suma, não podemos estabelecer de forma estática e restrita um conceito de Segurança Energética. Podem existir elementos que coincidam entre actores, mas como nos mostra o caso de STP, cada um reúne as suas particularidades edificando assim a sua visão sobre a temática. Podemos afirmar que para STP atingir a Segurança Energética significaria deixar de importar produtos petrolíferos, como é a visão de um consumidor. Porém, para conseguir esta transição energética terá que transformar-se num produtor, o que complexifica a visão de Segurança Energética do arquipélago. O mesmo tem uma estrutura fragilizada, - 93 -

diversos recursos, mas uma cultura indefinida entre os aspectos africanos e europeus. Verificamos que as oportunidades podem transformar-se em forças, as mesmas em fraquezas, surgindo ameaças da exploração de recursos energéticos não renováveis. Ou seja, a exploração de recursos energéticos potencia a captação de IDE, ganhando o país destaque geopolítico, onde a tecnologia propícia a produção em alto mar. Estes recursos podem viabilizar a cooperação internacional algo comprovado pela ZDC criada por STP e a Nigéria ou por uma Joint Venture (Opportunities). Estas oportunidades podem ser aproveitadas por STP que detém uma posição geográfica favorável e uma ZEE com 125 891 km² com 19 blocos petrolíferos. Com a existência de armadilhas petrolíferas o país estabelece um quadro legal que regule o sector, algo provado pela adesão a iniciativa ITIE, desejando captar assim ainda mais IDE, ao manter a paridade cambial da dobra estável face ao EUR e ao USD (24 500 = 1 € / 20 000 = 0,90). Num arquipélago onde 61 % da população detém até 25 anos, as novas actividades económicas terão mão-de-obra jovem para a consecução dos objectivos estabelecidos (Strengths). Tendo sido uma colónia portuguesa por mais de 500 anos, o caminho tem sido longo para STP no que respeita a exploração das suas potencialidades. Existe uma instabilidade social endémica nas ilhas o que dificulta a estabilização de uma unidade nacional. O país tem atravessado uma instabilidade política desde a sua fundação em 1975. Algo que tem feito aumentar a corrupção e com ela a disparidade social num país com IDH médio (0,555). O arquipélago apresenta uma balança comercial negativa, muito devido à uma dependência externa em matéria energética, onde 40 % da população não tem acesso à electricidade. STP apresenta também uma dependência externa em matéria económica, visto que grande parte dos seus orçamentos estatais são financiados por parceiros internacionais, com foque para Taiwan. O país tem uma falta de diversas infraestruturas no seu território, o que tem causado problemas ambientais por falta de saneamento público, onde a acumulação de lixo é um fenómeno preocupante na lotada capital (Weaknesses). A volatilidade dos preços dos combustíveis fósseis vai reduzindo o investimento no sector, onde o país ainda não verifica produção na ZDC estabelecida em 2001 com a Nigéria, o que pode pôr em causa a renovação da Autoridade Conjunta por mais 40 anos. Principalmente numa zona extremamente competitiva e marcada por diversas tensões e conflitos regionais, onde a pirataria, o roubo de petróleo, o narcotráfico e roubos à mão armada vão aumentando a insegurança marítima. As vicissitudes do acaso ou a acção humana poderão causar problemas ambientais, como derrames. Isto destruiria diversos sectores da economia do país como o turismo e as pescas (Threats). Verificamos com esta análise que diversas oportunidades poderão tornar-se em ameaças, e vice-versa, em relação ao ambiente externo. Esse raciocínio - 94 -

também pode ser aplicado no ambiente interno, onde diversas forças também podem tornar-se em fraquezas, e vice-versa.

A má gestão do sector pode significar um novo período de alternância política, que são regulares no arquipélago (P). Ainda não verificamos nenhuma alteração significativa na base económica de STP apesar de já ter recebido diversos bónus de assinatura, mantendo-se o cacau como o produto mais importante a ser exportado pelo país (E). Em termos sociais não verificamos alterações significativas no arquipélago, mantendo-se a tensão endémica entre os diversos grupos do país e o crescimento populacional (S). Verificamos por fim, que as mais avançadas técnicas do sector estão a ser utilizadas em STP, com vista a rentabilização máxima do investimento preconizado. De salientar o cabo submarino que já chega ao país, já tendo o mesmo uma rede de multibanco internacional (T).

Devemos acompanhar o caso santomense minuciosamente, esperando que o país aproveite devidamente as potencialidades energéticas do seu território não repetindo os erros de diversos Estados a nível internacional, muitos seus vizinhos, potenciando por fim a sua posição, consumando a sua transformação num petro-Estado. Mas para isso terá que ter uma liderança estável e capaz de conciliar os diversos grupos internos, antes de enfrentar os externos!

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Fig.13 – Manuel Pinto da Costa e os camaradas de luta.

Fonte: Wordpress (n.d). História.[online].Disponível em: https://arleciosoares13.files.wordpress.com/2013/10/fotoindepende-stp.jpg.

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