UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU

RENAN LÜTKE GEHRKE

PERCEPÇÃO DAS COMPETÊNCIAS NECESSÁRIAS PARA ATUAÇÃO PROFISSIONAL EM TREINADORES DE BASQUETE

SÃO PAULO - SP

2019 UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU

PERCEPÇÃO DAS COMPETÊNCIAS NECESSÁRIAS PARA ATUAÇÃO PROFISSIONAL EM TREINADORES DE BASQUETE

Renan Lütke Gehrke

Dissertação de Mestrado apresentada à Universidade São Judas Tadeu, como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Educação Física. Linha de pesquisa: Fenômeno Esportivo. Orientador: Prof. Dr. Marcelo Callegari Zanetti

SÃO PAULO - SP

2019

Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca da Universidade São Judas Tadeu Bibliotecária: Cláudia Silva Salviano Moreira - CRB 8/9237

Gehrke, Renan Lutke. G311p Percepção das competências necessárias para atuação profissional em treinadores de basquete / Renan Lutke Gehrke. - São Paulo, 2019. f.: il.; 30 cm.

Orientador: Marcelo Callegari Zanetti. Dissertação (mestrado) – Universidade São Judas Tadeu, São Paulo, 2019. 1. Percepção. 2. Treinadores. 3. Basquetebol. I. Zanetti, Marcelo Callegari. II. Universidade São Judas Tadeu, Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Educação Física. III. Título

CDD 22 – 796

AGRADECIMENTOS

Aos meus pais, que sempre apoiaram minhas decisões.

À minha esposa pela paciência, compreensão e grande ajuda nesta jornada.

Ao meu irmão, fonte de inspiração e referência.

Ao Professor Dr. Marcelo Callegari Zanetti por orientar-me com imensa sabedoria e dedicação.

Aos treinadores que se disponibilizaram em participar desta pesquisa.

RESUMO

No contexto das competições esportivas, o treinador é uma figura de suma importância, que pode influenciar o desempenho individual e coletivo. Cabe à ele dominar um conjunto de competências para resolver desafios diversos no processo de treinamento. Este estudo teve como objetivo identificar as competências necessárias para atuação profissional em treinadores de equipes masculinas de basquete. A pesquisa ocorreu com 12 indivíduos do sexo masculino de clubes participantes do campeonato da Federação Paulista de (FPB). Os dados foram recolhidos por meio de respostas aos seguintes instrumentos: avaliação demográfica e entrevista semiestruturada, a partir de um roteiro de entrevistas cujas respostas foram analisadas individualmente, e posteriormente, no conjunto dos entrevistados. O tratamento dos dados deu-se por meio da técnica do Discurso do Sujeito Coletivo. Os resultados do estudo permitiram chegar a posicionamentos que descrevem as opiniões e percepções dos participantes, colaborando assim, com mais treinadores da modalidade no sentido de entender melhor as competências desses profissionais que atuam em um cenário de referência no contexto brasileiro, possibilitando extrair informações relevantes e aplicá-las em suas práticas. Conclui-se que os discursos dos treinadores estabelecem relação – na maior parte das vezes - com o que a literatura aponta sobre as competências necessárias ao treinador para a atuação profissional. Tais discursos permitem ainda um aprofundamento sobre o contexto do basquete, pois os treinadores relatam situações específicas de seus cotidianos.

Palavras-chave: Percepção; Treinadores; Competências; Basquete.

ABSTRACT

In the context of sports competitions, the coach is a figure of paramount importance, which can influence individual and collective performance. It is up to him to master a set of competencies to solve various challenges in the training process. This study aimed to identify the competencies required for professional performance in basketball coaches. The research was carried out with 12 males from clubs participating in the Federação Paulista de Basketball (FPB). Data were collected by means of answers to the following instruments: demographic evaluation and semi-structured interview, based on a script of interviews whose responses were analyzed individually, and subsequently, among the interviewees as a whole. The treatment of the data was done through the technique of the Discourse of the Collective Subject. The results of the study allowed us to reach positions that describe the opinions and perceptions of the participants, thus collaborating with more basketball coaches in order to better understand the competencies of these professionals who work in a reference scenario in the Brazilian context, making it possible to extract relevant information and apply them in their practices. It is concluded that the coaches' discourses are related - in most cases - with what the literature points out about the competencies needed by the coach for professional performance. These discourses also allow a deepening of the context of basketball, since the coaches report specific situations of their daily lives.

Keywords: Perception; Coaches; Competencies; Basketball.

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Conceito de competência ...... 18

Figura 2 - Competências profissionais ...... 20

Figura 3 - Modelo holístico de Competências Profissionais de Cheetham e Chivers ...... 23

Figura 4 - Representação do entendimento de competência dos treinadores ...... 27

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Competências a serem trabalhadas na formação de treinadores ...... 25

Quadro 2 - Elementos constituintes das competências chave e seus fatores relacionados para o cargo de treinador esportivo ...... 28

Quadro 3 - Idades associadas aos estágios da carreira atlética de acordo com algumas modalidades esportivas ...... 35

Quadro 4 - Caracterização da amostra...... 43

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SUMÁRIO 1. UM POUCO SOBRE MEU CAMINHO ...... 8

1.1. Justificativa ...... 10

1.2. Problema de pesquisa ...... 10

1.3. Objetivo Geral ...... 11

1.4. Objetivos Específicos ...... 11

2. REVISÃO DE LITERATURA ...... 12

2.1 - Panorama geral do basquete ...... 12

2.1.1. Contexto histórico ...... 12

2.1.2. Modificações / evoluções do jogo ao longo das épocas ...... 13

2.1.3. Cenário atual do basquete nacional e internacional ...... 15

2.1.4. As ligas, LNB, NBB, LDB e FPB ...... 16

2.2. Competências profissionais do treinador esportivo ...... 17

2.2.1. Definição de competências ...... 17

2.2.2. Competência profissional ...... 19

2.2.3. O que caracteriza um treinador competente ...... 24

2.2.4. Perfil do treinador de basquete ...... 29

2.3. Aspectos psicopedagógicos do esporte - Basquete além das quatro linhas ...... 31

2.4. Sistematização dos estágios de formação atlética ...... 33

3. MÉTODO DA PESQUISA ...... 37

3.1. Caracterização do estudo ...... 37

3.1.1. Sujeitos da pesquisa ...... 38

3.1.1.1. Critérios de Inclusão ...... 38

3.1.2. Amostra ...... 38

3.1.3. Local da pesquisa ...... 39

3.1.4. Orçamento da pesquisa ...... 39

3.1.5. Benefícios ao grupo pesquisado ...... 39 7

3.2. Instrumentos de coleta de dados ...... 39

3.3. Método de análise de dados ...... 41

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO ...... 42

4.1. Caracterização da amostra ...... 42

4.2. Identificação das competências cognitivas necessárias para atuação profissional em treinadores ...... 44

4.3. Identificação das competências pessoais e sociais necessárias para atuação profissional em treinadores ...... 53

4.4. Identificação das competências éticas necessárias para atuação profissional em treinadores ...... 71

4.5. Identificação das competências funcionais necessárias para atuação profissional em treinadores ...... 82

4.6. Identificação das metacompetências necessárias para atuação profissional em treinadores ...... 90

4.7. Comentários adicionais dos treinadores para atuação profissional ...... 102

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ...... 105

REFERÊNCIAS ...... 108

Anexo - Entrevistas ...... 122

Apêndice A - Avaliação Demográfica ...... 238

Apêndice B - Roteiro de Entrevista ...... 239

Apêndice C - Aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa ...... 241

Apêndice D - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) ...... 244

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1. UM POUCO SOBRE MEU CAMINHO

Desde cedo, os esportes e situações de movimentação corporal já se faziam bastante presentes no meu cotidiano. Por gostar de praticar esportes e também por estímulos familiares, experimentei diversas modalidades durante a fase escolar e aos 8 anos comecei a praticar basquete no clube de uma pequena cidade na Argentina, local que morava na época com minha família.

Ao retornar ao Brasil, com aproximadamente 10 anos, foi possível continuar com a prática do basquete, inclusive de forma mais orientada ao ingressar em um clube em São Paulo. A partir deste momento, participei dos campeonatos de categorias de base organizados pela Federação Paulista de Basquete. Os treinos e jogos eram constantes e hoje percebo aspectos positivos e negativos desta experiência.

Neste intervalo de tempo, com 16 anos, tive a oportunidade de realizar um intercâmbio aos Estados Unidos e além de estudar durante o ano letivo, fiz parte da equipe da escola. Uma cultura e uma forma de encarar o fenômeno esportivo um tanto quanto diferente ao que havia vivenciado até então. Não apenas por aspectos estruturais e materiais, mas principalmente pela organização, planejamento, seriedade e a forma como trabalhavam todos os envolvidos e acontecia o esporte. Com aquela idade e já tendo passado por alguns treinadores, eu começava a perceber e me atentar aos seus estilos, suas similaridades, suas diferenças, pontos fortes e fracos.

Retornando ao Brasil novamente, disputei o último ano considerado categoria de base, com 18 anos de idade. Apesar de fazer um bom campeonato, não consegui ingressar em nenhuma equipe da categoria seguinte, que seria o profissional. Atualmente, existe a Liga de Desenvolvimento de Basquete (LDB), e a vejo como algo muito positivo pois acredito que aumenta as chances dos atletas continuarem suas carreiras esportivas.

Com 19 anos e praticamente há 6 meses sem disputar campeonatos expressivos, participei dos Jogos Regionais e acabei sendo visto e convidado a participar de uma outra equipe, em que permaneci por duas temporadas até 9 completar 21 anos de idade e encerrar minha atuação como atleta da modalidade.

Cursei Educação Física, fiz pós graduação em Pedagogia do Esporte e continuava sempre muito próximo do basquete, acompanhando resultados de jogos e envolvido em treinamentos e competições, porém não mais como atleta e sim como treinador. Nesse período como treinador, tenho ainda muito presente na memória e tento aplicar os comportamentos e atitudes positivos que tive dos treinadores que passei, bem como refletir sobre a qualidade do trabalho aplicado e se estou exercendo algum comportamento que não considerava adequado quando era atleta.

Em 2016, cursando disciplinas como aluno especial na Universidade São Judas Tadeu, conheci pessoas e professores que foram ao encontro desta minha linha de pensamento, ingressei no grupo de estudos pedagógicos da EF e do Esporte, o que me possibilitou entender melhor uma educação em valores relacionada à pedagogia e à psicologia do esporte. Comecei a compreender a noção de competências como capacidade de mobilizar conhecimentos, habilidades e atitudes para agir na solução de situações-problema e sua importância nos esportes.

Assim, ao analisar minhas percepções de quando era atleta e também do momento atual, percebo a importância de um profissional competente à frente de equipes esportivas, que consiga extrair o máximo do potencial individual e coletivo, colaborando para o desenvolvimento e sucesso do grupo.

Mas afinal, como fazer isso? Quais as características de um treinador de basquete competente? O que este profissional precisa conhecer e saber fazer? Como devem ser seus comportamentos e valores? Este trabalho abordará estas questões ao identificar e analisar a percepção de treinadores de basquete sobre as competências profissionais necessárias ao cargo.

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1.1. Justificativa

Este trabalho poderá colaborar para o desenvolvimento de profissionais que atuam com o basquetebol ou modalidades similares, ao coletarem informações pertinentes aos temas "percepção de treinadores" e "competências de treinadores", podendo colaborar com reflexões destes profissionais acerca de sua prática em diferentes categorias competitivas. Entende-se por esporte competitivo aquele que, tende a ser praticado por atletas, visando obter resultados, vitórias e recordes, respeitando as regras de confederações internacionais de cada modalidade (TUBINO, 2004). Além disso, este trabalho pode contribuir com o rendimento positivo de equipes, decorrente de um melhor entendimento das competências dos treinadores. Tudo isso, por meio de uma visão real e abrangente, já que é uma pesquisa realizada a partir do próprio depoimento dos treinadores.

Esta pesquisa traz uma abordagem qualitativa sobre a percepção de treinadores a respeito das competências necessárias para a atuação profissional, indo ao encontro das obras de Egerland (2009) e Iaochite e Vieira (2013), que sugerem a necessidade de investigações com treinadores de diferentes regiões e estados brasileiros, empregando procedimentos que possibilitem realizar análises qualitativas das competências profissionais.

A área da psicologia esportiva apresenta uma carência de pesquisas sobre a percepção de treinadores a respeito das competências necessárias ao treinador, bem como sua relação com a modalidade basquetebol no Brasil (ALBA; TOIGO; BARCELLOS, 2010; MANFROI et al., 2013). Dessa forma, faz- se necessária a realização de pesquisas acerca desta temática, a fim de ampliar os conhecimentos científicos e o entendimento das percepções das competências necessárias aos treinadores de basquetebol.

1.2. Problema de pesquisa

O sucesso em qualquer área profissional está ligado à dedicação, ao trabalho com afinco, ao planejamento e à constantes atualizações. No caso do treinador esportivo a busca da excelência no desempenho faz com que o 11 profissional reflita sobre os seus conhecimentos adquiridos para que possam ser adaptados ou substituídos pelas novas informações geradas pelas pesquisas. Neste processo, modificam-se os métodos de trabalho e são adquiridas novas habilidades proporcionando segurança para o desempenho profissional (EGERLAND, 2009).

Dessa forma, o presente estudo responderá ao seguinte problema: Qual a percepção de treinadores de basquete do Estado de São Paulo sobre as competências necessárias para atuação profissional?

1.3. Objetivo Geral

Identificar as competências necessárias para atuação profissional em treinadores de basquete.

1.4. Objetivos Específicos

Identificar as competências cognitivas necessárias para atuação profissional em treinadores de basquete.

Identificar as competências pessoais e sociais necessárias para atuação profissional em treinadores de basquete.

Identificar as competências éticas necessárias para atuação profissional em treinadores de basquete.

Identificar as competências funcionais necessárias para atuação profissional em treinadores de basquete.

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2. REVISÃO DE LITERATURA

Esta revisão de literatura é do tipo narrativa e tem como propósito estabelecer as bases de sustentação desta investigação, posicionando o leitor acerca dos conceitos principais utilizados neste estudo. Rother (2007) menciona que esse tipo de revisão são estudos amplos, apropriados para descrever e discutir o desenvolvimento de um determinado assunto, sob ponto de vista teórico ou contextual. As revisões narrativas não informam a metodologia para busca das referências, nem os critérios utilizados na avaliação e seleção dos trabalhos mas tem um papel fundamental para a educação continuada pois, permitem ao leitor adquirir e atualizar o conhecimento sobre uma temática específica em curto espaço de tempo. Neste sentido, buscou-se em periódicos científicos, livros e endereços eletrônicos para compreender as questões referentes as competências necessárias ao treinador de basquete.

2.1 - Panorama geral do basquete

2.1.1. Contexto histórico

Não é difícil encontrar na literatura, obras que abordem o histórico e surgimento do basquetebol, citando o criador da modalidade, o canadense James Naismith, que em 1891 recebeu a incumbência de criar um esporte que pudesse ser jogado em ambiente interno no rigoroso inverno de Massachusetts, nos Estados unidos. Baseado em princípios de não violência e em brincadeiras de sua infância - como a "Duck on a Rock" em que crianças empilhavam algumas pedras sobre um rochedo e de uma certa distância o objetivo era derrubar o monte da outra -, em poucos dias, Naismith conseguiu desenvolver um guia com 13 regras oficiais da modalidade (NAISMITH BASKETBALL FOUNDATION, 2018).

No entanto, encontra-se com menor frequência registros dos primeiros treinadores envolvidos na prática do basquetebol. Logo no início da criação da 13 modalidade, os times não tinham treinadores e havia pouca ou quase nenhuma estratégia envolvida no jogo. Para marcar pontos, os jogadores direcionavam seus esforços apenas para aspectos físicos. O próprio Naismith não acreditava que era necessário um treinador nas equipes e dizia que não era possível treinar basquete, apenas jogar, pois considerava a atividade como uma modalidade de lazer e não imaginava o alcance que o esporte atingiria com o passar do tempo (RAINS, 2011).

Mesmo assim, o criador do basquete aventurou-se como treinador universitário na renomada Kansas University - não conseguindo resultados expressivos e sendo o único treinador da história da universidade a obter um aproveitamento abaixo de 50% em vitórias (KANSAS UNIVERSITY SPORTS, 2007).

Com o passar do tempo, surgiram outros treinadores de basquete e o que mais se destacou neste período inicial de criação da modalidade (entre o final do século XIX e início do século XX) foi Forrest "Phog" Allen, considerado inclusive, o "pai do treinamento em basquetebol". As contribuições de Allen para o basquete estenderam-se além das linhas das quadras, evoluindo o jogo em aspectos técnicos e táticos (HOOP HALL, 2007).

A modernização na forma de praticar o jogo e as evoluções do esporte ao longo dos anos, trouxe modificações significativas, na qual o treinador passava a ter uma grande responsabilidade e participação no desempenho e sucesso das equipes (NAISMITH; BAKER, 1996).

2.1.2. Modificações / evoluções do jogo ao longo das épocas

Praticado inicialmente com nove jogadores em cada equipe, o jogo tinha como objetivo marcar pontos arremessando uma câmara de bola de futebol em cestos de colher pêssegos, colocadas em lados opostos a uma altura de 10 pés (3,05 metros - curiosamente a altura do aro atualmente mantém-se igual desde a sua criação). De tão simples que parecia ser, resultou em um esporte técnico, imprevisível e emocionante. À medida que o basquetebol foi evoluindo, tornou-se inevitável basear seu desenvolvimento em ações planejadas, treinamentos e diferentes estratégias (GRASSO, 2011). 14

Em decorrência do aprimoramento tático, técnico e físico das equipes e de situações recorrentes que o jogo apresentava, regras e dimensões da quadra tiveram de ser alteradas ou adaptadas a fim de manter o jogo dinâmico e equilibrado. Algumas delas são: o relógio regressivo de tempo de ataque; a inserção da linha de 3 pontos; a proibição do defensor interromper um arremesso na trajetória descendente; a alteração do formato do garrafão; a inclusão do semicírculo próximo às tabelas, entre outras (NAISMITH; BAKER, 1996).

O esporte tornou-se um meio de atrair não apenas praticantes e torcedores, mas também investidores e patrocinadores, que ao perceber oportunidades de negócios fazem grandes investimentos financeiros, alterando em parte a essência da prática esportiva. Isso foi acompanhado da evolução tecnológica de equipamentos e materiais esportivos, bem como aumento da mídia, das transmissões, dos salários de atletas e treinadores, da alteração no estilo dos atletas (NAISMITH; BAKER, 1996).

Outra alteração significativa é a característica de jogo das equipes, que difere muito, de anos atrás. Em termos ofensivos, as equipes atualmente apresentam alto índice de arremessos de 3 pontos tentados, é possível perceber uma prevalência de bloqueios diretos na bola e transições ofensivas com intensidade e organização. Na defesa observa-se uma pressão constante sobre o atleta que detém a posse de bola, utiliza-se trocas defensivas e contato físico com os atacantes sem bola a fim de direcioná-los para um local menos conveniente na quadra. A intensidade física do jogo exige que os atletas estejam preparados e apresentem diversas qualidades antropométricas (altura, envergadura e peso) e condicionais (velocidade e força), sendo capazes de exercer multifunções, em posições variadas (FERREIRA; GASPAR; ROSE JUNIOR, 2017).

As modificações e evoluções no esporte não se limitam apenas à equipamentos, regras, dimensões físicas da quadra ou porte físico dos atletas. Outro ponto que chama atenção é a quantidade de membros em uma equipe de rendimento, além do treinador e dos atletas. São as equipes multidisciplinares formada por profissionais de diferentes áreas que compõe as equipes esportivas. Assistente técnico, preparador físico, psicólogo, 15 nutricionista, fisioterapeuta, estatístico, editor de vídeos são algumas das funções que auxiliam em melhores resultados e colaboram na evolução em diversos aspectos do jogo (ANTONELLI et al., 2016).

2.1.3. Cenário atual do basquete nacional e internacional

O basquete no Brasil sempre foi uma modalidade que atraiu muitos praticantes e conseguiu alguns resultados expressivos no cenário internacional (MENESES; GOIS JUNIOR; ALMEIDA, 2016). Mesmo com uma série de intercorrências político-administrativas nos últimos anos e com muita coisa a evoluir, o basquete e a seleção brasileira continuam entre os melhores do mundo, ocupando atualmente a nona colocação no ranking masculino e também no feminino da categoria adulto da International Basketball Federation (FIBA), (FIBA, 2018).

Os Estados Unidos é o país referencia na modalidade, tanto em termos de títulos, como de atletas. Além disso possui a principal liga do mundo, a NBA. As ligas europeias também ostentam muita tradição e peso, sendo a Euroleague a principal deste continente (MENESES; GOIS JUNIOR; ALMEIDA, 2016).

A nível nacional, o atual campeonato adulto masculino de basquete é o (NBB). Para ter-se uma ideia do nível que o campeonato apresenta, nas últimas competições disputadas pelo Brasil (Copa do Mundo em 2014, Jogos Panamericanos em 2015 e Jogos Olímpicos em 2016), aproximadamente metade do elenco da seleção brasileira era composto por atletas que jogavam na liga nacional. Além disso, muitos atletas estrangeiros são atraídos para disputar o NBB, principalmente os norte americanos (CUNHA et al., 2017). Desde que a Copa Intercontinental - também conhecida por campeonato mundial interclubes - retornou ao cenário de competições em 2013, após um longo período sem edições, houve cinco finais disputadas com equipes de clubes do mundo inteiro. Em três destas cinco oportunidades, havia uma equipe do NBB (FIBA, 2015). 16

2.1.4. As ligas, LNB, NBB, LDB e FPB

A Liga Nacional de basquete (LNB) surgiu em 2003, reunindo as principais lideranças e os clubes mais expressivos do basquete brasileiro, com o objetivo de recuperar a popularidade do esporte. Conta com diversos clubes associados, de diferentes estados brasileiros, sendo que 15 participaram da última edição do NBB, que é o principal campeonato brasileiro masculino adulto de basquete, organizado pelos próprios times, e com a chancela da Confederação Brasileira de Basketball (CBB). Nos últimos anos, o basquete brasileiro tem tentado levantar sua imagem, através de parcerias, bons níveis técnicos de jogos, considerável número de torcedores assistindo os jogos, transmissões em canais abertos e via web e conseguindo resultados relevantes em competições de clubes realizadas na América Latina (LIGA NACIONAL DE BASQUETE, 2018).

Além do NBB, a LNB também organiza mais duas competições: a Liga Ouro, criada em 2013 como uma divisão de acesso ao NBB; e a LDB (Liga de Desenvolvimento de Basquete), competição nacional de clubes sub-20, criada com objetivo de auxiliar na formação de atletas, sendo a grande fonte da nova geração do basquete brasileiro. Desde 2011, conseguiu importantes conquistas, revelando mais de 100 atletas para equipes adultas que disputam o NBB. Além disso, alguns atletas que participaram da LDB em edições anteriores, disputam atualmente campeonatos em ligas europeias (Ricardo Fischer), americanas (, Cristiano Felício, ) e até mesmo representando a seleção brasileira (Davi Rosseto, George de Paula, Danilo Siqueira, Leonardo Meindl, Lucas Dias, Jimmy e Lucas Mariano) em algumas competições (LIGA NACIONAL DE BASQUETE, 2017).

Neste trabalho, os treinadores entrevistados participam do campeonato organizado pela Federação Paulista de Basketball (FPB). A FPB foi fundada em 1924 e é a entidade regulamentadora da prática esportiva do basquete no estado de São Paulo. Além disso, é responsável pelo principal torneio estadual de clubes do Brasil, sendo disputado nas categorias de base desde o sub-12 até sub-22 e na categoria adulto (FEDERAÇÃO PAULISTA DE BASKETBALL, 2018). 17

Na categoria adulto, o campeonato da FPB conta com equipes tradicionais do basquete como , , Pinheiros, , e Paulistano. Tais equipes participam também do campeonato nacional (NBB), representando 40% (6 em 15) de todas as equipes que disputaram a última edição do NBB. Outro fator que mostra a força das equipes da FPB, são os resultados conquistados e a participação em competições nacionais e internacionais. Três das quatro melhores equipes colocadas no último campeonato nacional, participam também do campeonato da FPB, sendo que a equipe do Paulistano é a atual campeã do NBB e equipes como Pinheiros, Mogi das Cruzes e Bauru disputaram finais de competições como a Liga Sulamericana e Liga das Américas nos últimos 3 anos (FEDERAÇÃO PAULISTA DE BASKETBALL, 2018).

2.2. Competências profissionais do treinador esportivo

2.2.1. Definição de competências

Para Perrenoud (2000), competência é a capacidade de mobilizar um conjunto de recursos cognitivos (saberes e informações) para solucionar com pertinência e eficácia uma série de situações, ou seja, é a capacidade de mobilizar conhecimentos a fim de enfrentar uma determinada situação. Segundo Zabala e Arnau (2007) é o conjunto de conhecimentos (saber), habilidades (saber fazer) e atitudes (querer fazer) que permite dar respostas a problemas novos e situações distintas em qualquer âmbito da vida (educacional, profissional, entre amigos). Em outras palavras, é a capacidade de realizar tarefas ou enfrentar situações diversas de forma eficaz mobilizando conhecimentos de forma integrada em um contexto determinado.

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Figura 1 - Conceito de competência

Conceito de competência

Ter conhecimento sobre A atitude é o que leva o Ter habilidade para determinado assunto. É o indivíduo a decidir se transformar algo em resultado do que se exercitará ou não sua alguma coisa ou em um aprende na escola, habilidade em função de resultado utilizando os universidade, no trabalho. um determinado conhecimentos absorvidos. É o saber, conhecer, conhecimento. Atitude é o Habilidade é o saber fazer. dominar determinados querer fazer. assuntos.

Fonte: elaborado a partir de RABAGLIO, 2014; ZABALA; ARNAU, 2007

Pode ser considerada também como a capacidade de usar conhecimentos e habilidades, de forma transversal e interativa, em contextos e situações que requerem a intervenção de conhecimentos relacionados à diferentes saberes, envolvendo compreensão, reflexão e discernimento do indivíduo (BLÁZQUEZ; SEBASTIANI, 2010).

Monereo (2005), explica o conceito de competência trazendo também a definição de estratégia. O autor destaca que enquanto a estratégia é uma ação específica para resolver um determinado tipo de problema, a competência seria o domínio de um amplo repertório de estratégias em algum contexto da atividade humana. Logo, uma pessoa competente é aquela que consegue perceber com exatidão o tipo de problema que está enfrentando e quais são as estratégias que deve acionar para resolver o mesmo.

Percebe-se, que as definições deste conceito pelos autores citados (BLÁZQUEZ; SEBASTIANI, 2010; MONEREO, 2005; PERRENOUD, 2000, ZABALA; ARNAU, 2007) podem ser diferentes em alguns aspectos, mas em linhas gerais assemelham-se e mantém um mesmo princípio de que ser competente significa agir de forma eficiente em um determinado contexto ou situação, utilizando conhecimentos, habilidades e atitudes. E esta é a definição que o presente estudo fará referência quando abordar o conceito de competências.

Deixando de lado as definições sobre competências e partindo para a forma como ela pode ocorrer e ser desenvolvida no ser humano, Kautz et al. 19

(2014) explica que o ritmo de desenvolvimento de competências depende da idade e do nível de competências prévias da pessoa. Os primeiros anos de vida são os mais sensíveis para ocorrer o desenvolvimento de competências, pois são neles que se estabelecem as bases de diversas competências para o futuro. No entanto, as competências continuam se desenvolvendo ao longo da vida.

As competências são capacidades do indivíduo manifestadas através de pensamentos, sentimentos e comportamentos, que podem ser desenvolvidas mediante experiências de aprendizagem formal e informal, influenciando em diversos resultados ao longo da vida da pessoa. Elas vão somando-se e agregando-se de forma que as competências prévias são determinantes na aquisição de novas competências. O desenvolvimento de competências pode ocorrer em diferentes contextos (família, sociedade, escola, trabalho). Um indivíduo competente tem maior chance de escolher ferramentas corretas para avançar em seu conhecimento ou buscar maiores oportunidades de crescimento (OCDE, 2015).

2.2.2. Competência profissional

A competência profissional nada mais é do que o conceito de competência, abordado no subcapítulo anterior, aplicada ao contexto profissional, isto é, o indivíduo saber agir de forma eficiente utilizando conhecimentos, habilidades e atitudes em seu ambiente de trabalho (BALBINO, 2005). No caso deste estudo, é o conceito de competência aplicado ao contexto esportivo.

Batista, Graça e Matos (2008) apontam que os conhecimentos adquiridos e as experiências acumuladas em uma área específica de atuação podem influenciar as capacidades e habilidades para se desempenhar uma função laboral, ou seja, podem influenciar na competência profissional do individuo. No âmbito esportivo, o treinador é a principal figura encarregada em resolver desafios diversos no processo de treinamento e desenvolvimento dos atletas. Assim, as competências deste profissional referem-se ao domínio de 20 conceitos e procedimentos que contemplem aspectos de aptidão física, fundamentos técnicos, princípios táticos e, também habilidades e atitudes para auxiliar na formação humana de seus atletas (BALBINO, 2005; EGERLAND; NASCIMENTO; BOTH, 2009). Rosado (2000) aponta que dominar as competências profissionais significa saber como, por que e quando aplicá-las.

Dessa forma, fica evidente, que para o cargo de treinador esportivo, faz- se necessário um profissional específico que seja responsável pelo planejamento e organização dos treinamentos, que prepare a equipe para as competições, ensine da melhor forma seus atletas considerando suas características pessoais, materiais e espaços disponíveis, de modo a proporcionar as melhores oportunidades para que seus atletas se desenvolvam e melhorem seu rendimento (OBRADOR; NEBOT, 2012).

Para Rosado (2000), no entanto, a competência profissional não pode ser interpretada como um dom ou um conjunto de comportamentos particulares e consolidados que os treinadores devem dominar, entendendo por competência um círculo de saberes em torno de funções profissionais ao redor das quais se agrupam ações profissionais concretas.

Figura 2 - Competências profissionais Saberes e conhecimentos Científico- pedagógicas Pessoais

Funções Profissionais Gestão e Desenvolvimento do processo de Administração Gestão, administração e treino esportivo motivação da equipe Ações profissionais Funções de investigação e Produção e criatividade divulgação de Tomar Treinar e Cuidar da Gestão de saberes decisões e preparar a saúde e Participação na conflitos e gerar soluções equipe para integridade do formação de confrontações treinadores apropriadas; competições atleta

Fonte: elaborado a partir de ROSADO, 2000. 21

Segundo Costa (2005) e Rosado (2000), as competências não são estáticas, podendo ser modificadas, adaptadas à circunstâncias variadas e ajustadas às realidade das organizações (clubes, ONGs, escolas, Federações) e dos tempos. As competências que hoje são adequadas podem não ser no futuro, pois, o constante progresso na área da investigação possibilita o acesso a informação atualizada e um conhecimento atual.

No âmbito profissional, algumas competências são essenciais e recebem o nome de competências chave pois são importantes para qualquer indivíduo, independente de sua área de atuação (RYCHEN; SALGANIK, 2003). Neste sentido, o estudo de Batista et al. (2011), toma como base o modelo holístico de competência profissional de Cheetham e Chivers (1996, 1998), adaptando-o para os profissionais do esporte e estabelecendo uma divisão em 4 grupos de competências chave que se inter-relacionam. São elas: competência cognitiva, competência funcional, competência pessoal e social e competência ética.

A competência cognitiva, diz respeito ao conhecimento técnico e teórico especializado (os fundamentais da profissão), ao conhecimento tácito (adquirido ao longo da vida, pela experiência), ao conhecimento procedimental (o que, quando, como e onde), ao conhecimento contextual (conhecimento da organização, do setor de atuação) e à aplicação do conhecimento (CHEETHAM; CHIVERS, 1998, 2005).

A competência funcional refere-se à tudo aquilo que o profissional de uma determinada área deve ser capaz de fazer, tanto a execução de tarefas relacionadas a uma profissão particular (competência específica do ofício), como as de natureza genérica, como planejamento, organização e gestão; ou mentais básicas, como escrita, leitura e aritmética ou ainda de natureza física e motora, para alcançar resultados específicos (CHEETHAM; CHIVERS, 1998, 2005).

A competência pessoal e social abrange o domínio de aspectos comportamentais e está sistematizada na dimensão intraprofissional (habilidade para adotar comportamento apropriado no ambiente de trabalho) e na dimensão social e vocacional (interações do profissional com outros e seu posicionamento diante das atividades) (CHEETHAM; CHIVERS, 1998, 2005). 22

A competência ética, é definida como a posse de valores pessoais e profissionais apropriados e a capacidade de fazer julgamentos sólidos com base nesses valores em situações relacionadas ao trabalho contemplando a dimensão da ética profissional e a ética pessoal (CHEETHAM; CHIVERS, 1998, 2005).

O modelo também engloba alguns fatores relacionados às competências chave como: metacompetências e transcompetências; contexto de trabalho e ambiente de trabalho; personalidade, motivação, hetero e autopercepção de competência e reflexão; (D'AMELIO; GODOY, 2009; VAZ et al., 2017).

As metacompetências permitem aos profissionais analisar e desenvolver competências que já possuem. São exemplos: capacidade analítica, criatividade e habilidade de aprendizagem equilibrada (aprender a aprender ou autodesenvolvimento). As transcompetências perpassam outras competências (possibilitam sua expressão) por serem genéricas e comuns a todas as ocupações, tais como a comunicação, agilidade mental, resolução de problemas e versatilidade (D'AMELIO; GODOY, 2009).

O modelo aborda as influências que o contexto e o ambiente de trabalho podem exercer sobre a competência profissional. Contexto é definido como a situação de trabalho específica em que o profissional deve atuar (tamanho da empresa, tomada de decisão com maior ou menor agilidade). O ambiente refere-se às condições físicas, culturais e sociais que rodeiam o profissional no trabalho - estilos de liderança e gerenciais valorizados, atuação em grandes ou pequenas empresas (CHEETHAM; CHIVERS, 2005).

De maneira semelhante, o modelo reconhece que a personalidade e a motivação do profissional podem exercer impacto na expressão da competência profissional, já que ambas influenciam decisões pessoais acerca das necessidades e das possibilidades reais e potenciais de se fazer coisas (PAIVA, 2012).

A autopercepção (percepção de si mesmo ou feedback pessoal) e a heteropercepção (percepção dos outros ou feedback dos outros) também são fatores que Cheetham e Chivers (2005) consideram associados ao exercício profissional competente. 23

A reflexão foi definida como “supermetacompetência”, pois permite aos profissionais analisarem, modificarem e desenvolverem competências que já possuem ou gerar novas competências (D'AMELIO; GODOY, 2009).

Figura 3 - Modelo holístico de Competências Profissionais de Cheetham e Chivers.

Fonte: D'AMELIO; GODOY, 2009. Adaptado de CHEETHAM; CHIVERS, 2005.

Estas quatro competências chave e seus fatores relacionados do modelo de competência profissional proposto por Cheetham e Chivers (1998, 2005) e elucidados na Figura 3, são um conceito importante para o desenvolvimento desta pesquisa e será considerado ao longo do trabalho, inclusive nas etapas de coleta e análise de dados.

Por fim, Spencer e Spencer (1993) trazem uma observação interessante quando comparam o conceito de competência profissional, à imagem de um iceberg, em que alguns pontos são visíveis e outros estão submersos. Deste modo, a parte visível seriam as competências profissionais, ou seja, aquelas que podem ser trabalhadas e desenvolvidas como os conhecimentos e habilidades, ao passo que a parte submersa trata de competências que estão 24 no campo pessoal, ou seja referem-se às competências vinculadas às características individuais como personalidade, valores e emoções.

2.2.3. O que caracteriza um treinador competente

Considerando a variedade de papéis e tarefas exigidas e esperadas dos treinadores esportivos, está bem reportado na literatura (LYLE, 2002; MEINBERG, 2002; OBRADOR; NEBOT, 2012; SERPA, 2003; SOUZA et al., 2009) que estes profissionais precisam dominar uma ampla gama de competências para desempenhar eficientemente sua atividade profissional. Tais conhecimentos, habilidades e atitudes, devem ser diferenciados e adequados ao atleta praticante levando em conta os seus anseios, expectativas e faixa etária (RESENDE, 2011).

Côté (2009) estabelece que o conhecimento do treinador ocorre sob três domínios: i) o conhecimento profissional, composto por temas da atividade específica (conhecimento específico de uma determinada modalidade), pela formação curricular e pelo conhecimento pedagógico; ii) o conhecimento inter- pessoal, engloba as relações treinador-atletas e; iii) o conhecimento intra- pessoal que condiz com a esfera pessoal do treinador, sua auto reflexão perante seus comportamentos e também pela sua disposição perante a vida. Neste contexto, Resende (2011), constata que o conhecimento necessário para o exercício da profissão de treinador esportivo vai muito além do simples fato de ter sido atleta ou ter conhecimento sobre treinos e uma determinada modalidade.

Ao abordar as características de um treinador competente, está sendo tratada da capacidade que este indivíduo deve possuir para exercer com eficácia a sua função. Dessa forma, Meinberg (2002) menciona que o treinador necessita possuir competências abrangentes que o permita realizar diversas tarefas, como planejar, executar e analisar treinamentos, preparar-se para competições e analisá-las posteriormente, cuidar de seus atletas no sentido de desenvolvimento individual e coletivo, procurar formação adicional, possuir conhecimentos nas áreas da psicologia e da pedagogia para saber lidar com os atletas, estabelecer boas relações com os dirigentes e mídias, entre outras. 25

A Coaching Association of Canada (CAC) tem como objetivo efetivar um processo de formação de treinadores mais eficaz no âmbito das competências e define a competência do treinador como a capacidade deste avaliar as necessidades de um contexto específico e intervir efetivamente dentro de uma estrutura ética. Neste sentido, um treinador competente é aquele que tem o conhecimento, as habilidades e a atitude apropriados para realizar o trabalho de forma eficaz (LEBLANC; DICKSON, 1996). Dentre os programas elaborados pela CAC, um deles sugere cinco competências principais a serem trabalhadas na formação de treinadores e pode ser observada a seguir:

Quadro 1 - Competências a serem trabalhadas na formação de treinadores Capacidade de obter resultado positivo em um contexto específico. É um processo de quatro etapas em que o treinador deve (1) analisar as condições que existem em Resolução de Problemas uma dada situação; (2) identificar caminhos ou respostas apropriadas; (3) escolha uma resposta efetiva; e (4) transformar decisões em ações. O treinador estabelece relações interpessoais com outros Interação Social de forma mútua e recíproca, a fim de facilitar a obtenção de um resultado específico. Capacidade de refletir e monitorar os resultados de Pensamento Crítico situações, decisões e ações avaliando sua relevância e importância como base para ação futura. Aborda a capacidade do treinador em colocar em prática Princípios e Valores a ética e os princípios de Fair Play que o esporte oferece. Capacidade de influenciar a mudança de maneira Liderança positiva nos indivíduos e na equipe, usando uma estrutura ética baseada em valores.

Fonte: CAC, 2016.

Com um olhar voltado para a formação de atletas, Obrador e Nebot (2012), estabelecem seis competências que caracterizam um treinador competente. São elas: compreender e dominar a modalidade esportiva; ensinar e treinar os atletas as estratégias e a lógica do jogo; proporcionar uma experiência motivante e segura; orientar os atletas em função de seu rendimento, objetivos e necessidades; cuidar da saúde e integridade do atleta; transmitir um modelo ético e de valores. 26

Por outro lado, numa ótica de alto rendimento, a pesquisa de Riewald (2014) traz, entre outros resultados, as respostas de atletas olímpicos norte- americanos sobre a qualidade e habilidades que consideram fundamentais em seus treinadores, atribuindo a seguinte sequência de importância:

- conhecimentos em treinamento esportivo;

- habilidade em ensinar;

- conhecimento estratégico da modalidade esportiva;

- capacidade de motivar ou incentivar;

- personalidade;

- habilidades de gestão e organização;

- auxílio na definição de metas pessoais;

- capacidade de ajudar o atleta a alcançar uma vida equilibrada.

Ainda nesta ótica de alto rendimento, só que desta vez, considerando as respostas de treinadores portugueses e as competências chave estabelecidas por Cheetham e Chivers (1998), o estudo de Batista et al. (2011), relata que 45% dos treinadores entrevistados priorizam a competência cognitiva, 31% a competência ética, 15% a competência pessoal e social e 9% a competência funcional. Vale ressaltar que em muitos momentos os relatos dos treinadores apontam que as competências estão associadas umas com as outras. Quanto aos fatores relacionados às competências chave, os mais relevantes são a auto e heteropercepção das competências (46%), as metacompetências (18%), a motivação (17%) e a reflexão (17%). Fatores contextuais foram pouco mencionados. A Figura 4 apresenta os resultados do estudo.

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Figura 4 - Representação do entendimento de competência dos treinadores.

Fonte: adaptado de BATISTA, 2011.

Um treinador competente, tem ainda a responsabilidade de preparar o atleta para a sua vida social fora do esporte, uma vez que sua carreira termine, pensando em constituir uma família, manter relacionamentos saudáveis e integrar-se na sociedade (OBRADOR; NEBOT, 2012). Dessa forma, os treinadores, principalmente os de atletas em formação, isto é, de categorias de base, devem atentar-se para a importância do desenvolvimento de competências de vida. As competências de vida, segundo Gould e Carson (2008), são os atributos sociais e emocionais que os jovens podem aprender através da participação desportiva. Isso vai depender em grande parte da forma como o treinador consegue criar um ambiente que promova esse progresso e fica evidente para os atletas por meio das atitudes e valores que o treinador demonstra. 28

O Quadro 2 a seguir, resume as principais colocações dos autores mencionados nos parágrafos acima ao apresentar os elementos constituintes de cada competência chave, bem como os fatores relacionados para a execução do cargo de treinador esportivo.

Quadro 2 - Elementos constituintes das competências chave e seus fatores relacionados para o cargo de treinador esportivo Competência Cognitiva

Conhecimento técnico e teórico especializado: Entendimento técnico e teórico da modalidade esportiva.

Conhecimento tácito/prático: Conhecimento adquirido por meio de experiências acumuladas.

Conhecimento procedimental: Saber como proceder. Domínio das etapas de ensino, (o que, como, quando, onde) facilitando o desenvolvimento do atleta.

Conhecimento contextual: conhecimento da sua instituição (agremiação esportiva) e do seu setor de atuação.

Aplicação de conhecimento: Saber preparar a equipe para as competições

(considerando aspectos físicos, técnicos, táticos, psicológicos, cognitivos e sociais dos atletas). Atentar ao desenvolvimento individual e coletivo.

Competência pessoal e social

Dimensão intraprofissional: Relações interpessoais de forma mútua e recíproca com atletas, dirigentes e mídia.

Competências chave Competências Dimensão social e vocacional: persistência, liderança, autoconfiança, saber ouvir, controle de emoções e estresse, habilidades interpessoais (empatia).

Competência ética

Ética profissional: Cumprir horários, respeitar normas, valores profissionais e códigos profissionais de conduta. Adoção de atitudes apropriadas. Manter-se atualizado e procurar formação adicional. Ajudar colegas novos. Capacidade do treinador em colocar em prática a ética e os princípios de Fair Play que o esporte oferece.

Ética pessoal: Aderência às leis e códigos morais. Respeitar individualidades. Transmitir conhecimento e valores. Desenvolver competências de vida e ajudar o atleta a alcançar uma vida equilibrada. 29

Competência funcional

Competência específica do ofício: Executar treinamentos e dirigir a equipe em competições. Tomar decisões e gerar soluções apropriadas.

Organização e gestão: Planejar, organizar e gerir ações (treinamentos e situações de jogo).

Competência motora: Demonstrar/executar um movimento ou gesto técnico.

Competências básicas (mental): Escrita, leitura, cálculos matemáticos e uso de tecnologias.

- Metacompetências e transcompetências (comunicação, criatividade, resolução de problemas, autodesenvolvimento, agilidade mental, versatilidade).

- Contexto de trabalho.

- Ambiente de trabalho.

- Motivação pessoal e capacidade de motivar a equipe.

- Personalidade.

- Autopercepção da competência profissional e performance. Reflexão sobre sua atuação. Pensamento crítico ao refletir e analisar resultados.

Fatores relacionados Fatores - Heteropercepção da competência profissional e performance.

- Dar feedback aos membros da equipe

- Reflexão e análise dos resultados, do desempenho e desenvolvimento da equipe como um todo.

Fonte: elaborado e adaptado para o esporte a partir de BATISTA et al., 2011; CAC, 2016; CHEETHAM; CHIVERS, 1998; CRUZ; GOMES, 1996; D'AMELIO; GODOY, 2009; GOULD; CARSON, 2008; MEINBERG, 2002; OBRADOR; NEBOT, 2012.

2.2.4. Perfil do treinador de basquete

Não foi possível encontrar na literatura um estudo específico acerca do perfil do treinador de basquete e conforme relata Rodrigues (2014), no âmbito da pesquisa científica são poucas as investigações sobre os treinadores de basquete. No entanto, trabalhos como os de Canciglieri et al. (2008), Cunha (2017) e Ramos et al. (2011), revelam que em linhas gerais, os treinadores de basquete no Brasil são ex-atletas, formados em Educação Física, 30 aproximadamente metade destes com especialização, porém nenhum com mestrado ou doutorado na área esportiva ou mesmo técnica de basquetebol ou outra área qualquer e média de 20 anos de experiência como treinadores de basquete.

Vale ressaltar que diversos estudos como Cunha (2017), Milistetd et al. (2016), Rodrigues, Paes e Souza Neto (2015) e Ramos et al. (2011), buscam entender a forma como os treinadores de basquete aprendem, se desenvolvem e constroem seu conhecimento. Cunha (2017), estabelece 4 formas de isso acontecer. São elas:

- por meio da prática esportiva, ou seja, sua vivência como atleta;

- pelo contexto formal, isto é, portar o diploma de Bacharel em Educação Física;

- pelo contexto não formal que seriam os cursos de aperfeiçoamento, clínicas, palestras, leituras de livros da área;

- pelas próprias situações que o ambiente de trabalho e a socialização com colegas de profissão oferecem.

Quanto à importância da psicologia aplicada ao esporte no ponto de vista de treinadores de diversas modalidades, o estudo de Lopes, Zanetti e Machado (2013), mostra que os treinadores reconhecem aspectos psicológicos, como algo muito importante a ser trabalhado em seus planejamentos e treinamentos, porém, são poucos os que possuem conhecimento nesta área. No contexto específico do basquetebol, Silva, Romcy e Gonzalez (2012) corroboram com o estudo anterior ao relatar que embora tenham muito tempo de experiência como atleta e treinador, possuem conhecimento superficial sobre a preparação psicológica, sendo que tal conhecimento provém basicamente de opiniões formadas durante a fase de atleta ou adquiridas ao longo da carreira.

Sapata (2013) explica que é difícil descrever um treinador ideal ou um perfil definido de treinador, pois normalmente para esta função, não existe um perfil único, mas uma infinidade de perfis. Existe um consenso entre os pesquisadores (BRANDÃO; VALDÉS, 2005; LOPES; SAMULSKI; NOCE, 2004; DAMÁSIO; SERPA, 2000; WEINBERG; GOULD, 2001), de que as 31 características dos atletas, como sexo, idade, maturidade, tempo de experiência no esporte, nível de capacidade e o tipo de temperamento e personalidade, são fundamentais para determinar o comportamento e a eficiência de um treinador. Além disso, é importante que o treinador tenha a sensibilidade para perceber a influência de fatores ambientais e situacionais. Dessa forma Costa (2005), acrescenta que podem ser muitas as percepções do que é ser treinador e quais deverão ser as suas competências.

2.3. Aspectos psicopedagógicos do esporte - Basquete além das quatro linhas

O dinamismo do jogo de basquete, com suas inúmeras possibilidades de ações (ofensivas ou defensivas), leva os atletas a enfrentar situações nas quais a atenção, a concentração e a tomada rápida de decisões tornam-se capacidades fundamentais para o sucesso dos mesmos. A instabilidade ambiental no qual o jogo é realizado também contribui para esse dinamismo e para as incertezas provenientes das ações individuais e coletivas, ou seja, a movimentação dos jogadores, a presença do adversário, as regras e a atuação da arbitragem demandam focos alternados de atenção aos atletas, exigindo uma leitura rápida da situação e uma antecipação das ações. Percebe-se o basquete como uma modalidade com uma variada gama de aspectos psicológicos como a ansiedade, motivação, estresse, raiva, alegria, prazer, coragem, medo e capacidade de lidar com frustração (ROSE JUNIOR, 2010).

Todos esses ingredientes rogam ao treinador uma posição fundamental tanto na preparação, quanto no comando das equipes em situações competitivas. Ele é o principal organizador das ações responsáveis pelo sucesso individual e coletivo, auxiliando também no controle emocional de seus atletas para um bom desempenho. Dessa forma, o treinador acaba exercendo também a função de psicólogo, aumentando sua carga de responsabilidade sobre as ações de seus atletas e do grupo (ROSE JUNIOR, 2010).

Embora tenha ocorrido um aumento no reconhecimento da importância da preparação psicológica no âmbito esportivo e uma evolução no campo das investigações na psicologia esportiva, a área ainda carece de maior 32 envolvimento por parte dos psicólogos e treinadores esportivos em investigações científicas voltadas aos benefícios da aplicação do treino mental (COSTA; NOCE; SAMULSKI, 2016). Rose Junior (2010) complementa ao relatar que ainda existe falta de sistematização do trabalho e falta de conhecimento do impacto que aspectos psicológicos podem causar sobre o comportamento dos atletas, sobre o desempenho de equipes e das atividades esportivas competitivas em geral.

Assim, da mesma forma que o treinador pode levar a equipe ao sucesso e a boas condições psicológicas de seus atletas, ele também pode correr o risco de ser o agente desestabilizador de todo o processo. Isto acontece quando o próprio treinador é o agente causador de estresse. Em equipes competitivas o estresse pode ser gerado a partir das pressões exercidas pelas pessoas envolvidas no processo, da definição irreal dos objetivos, do comportamento dos envolvidos, do nível de expectativa criado, do excesso de treinamento e das cobranças exageradas. Em todas as situações citadas, é possível perceber que o treinador tem uma parcela de participação (ROSE JUNIOR, 2010).

Do ponto de vista pedagógico, Scaglia (2004) ressalta que o treinador, antes de tudo é um pedagogo e que o processo de ensino-treino, principalmente nas categorias de base, é fundamental. Considerando a pedagogia como a reunião de saberes para educar, entende-se portanto, que por mais que o treinador saiba o que fazer, este profissional terá também que dominar os caminhos de como ensinar, o que ensinar, para quem ensinar e por que ensinar.

Treinadores que desejam executar ações pedagógicas que vão além de simplesmente ensinar gestos e movimentações específicas, precisam conhecer aspectos físicos, intelectuais, a personalidade e a inserção social de seus atletas além de compreender suas demandas energéticas, psicológicas, técnicas e táticas. O conhecimento destas características e estados psicológicos dos atletas facilita a criação de laços afetivos com o treinador. Este clima favorece um relacionamento emocional positivo e tende a aumentar o grau de poder do treinador perante o grupo, além de fazer com que o exercício da função ocorra com maior facilidade (DIGNANI, 2007). 33

2.4. Sistematização dos estágios de formação atlética

Com o intuito de oferecer um melhor embasamento quanto aos resultados das percepções dos participantes desta pesquisa, faz-se necessário compreender as fases de desenvolvimento da carreira atlética. Bompa (2002a) explica que ao longo dos diversos momentos que o indivíduo vivencia como atleta, desde o contato inicial com a modalidade até tornar-se um profissional, suas características e necessidades físicas, técnicas, táticas e psicológicas são diferentes e podem modificar-se de acordo com cada etapa. Desta forma, visando o desenvolvimento integral do atleta e auxiliar o treinador no planejamento e gestão do processo de treinamento, faz-se necessário uma organização do treinamento esportivo.

Neste sentido, Bompa (2002a, 2002b) sistematiza os estágios da carreira atlética em Período de treinamento Geral e Especial. No Período Geral, o atleta deve ser introduzido de maneira gradual ao esporte por meio da etapa de Iniciação e progressivamente conduzido à etapa denominada Formação Atlética. Já o Período Especial, compreende as etapas de Especialização e o Alto Desempenho.

A etapa de Iniciação abrange crianças entre 6 e 10 anos. Nesta fase, os indivíduos ainda não estão preparados a receber as demandas físicas e psicológicas de um treinamento com alta intensidade organizado para competições. No entanto, os treinamento demandam uma variedade de experiências motoras e cognitivas. Cabe aos treinadores nesta etapa conduzir programas de treinamento de baixa intensidade, com diversidades de estímulos, enfatizando desenvolvimento atlético geral, por meio de jogos e atividades lúdicas, adaptando espaços, materiais, dimensões e regras do jogo. O esporte é ainda uma brincadeira para as crianças e com ele aprendem a importância da ética e do jogo honesto. No ponto de vista psicológico, é esperado que as atividades esportivas gerem prazer, diversão, concentração e promovam a cooperação, a coesão social, a criatividade e a imaginação.

A Formação Atlética é a etapa seguinte compreendendo jovens na fase de puberdade entre 11 e 14 anos. Nesta fase deve ocorrer um aumento moderado na intensidade e volume do treino e um enriquecimento da base 34 multilateral. Pode também ocorrer a preparação de forma mais especializada para um determinado esporte e começam a ser desenvolvidos alguns atributos psicológicos como a autoconfiança, motivação, concentração, controle da ansiedade e estratégias de auto-regulação e visualização (a partir da introdução do treinamento mental). Nos treinamentos podem ser inseridos exercícios específicos com elementos táticos simples associados à habilidades técnicas e treinadores devem estar atentos para que as competições não sejam fatores geradores de muito estresse no atletas. A ênfase ainda deve estar no desenvolvimento das habilidades e capacidades motoras e não no desempenho ou na vitória.

Na adolescência, entre 15 e 18 anos, os atletas passam pela etapa de Especialização. Neste momento de suas carreiras são capazes de desenvolver estratégias para suportar a elevação das demandas físicas e psicológicas dos treinamentos e competições. O foco está no desenvolvimento de habilidades e incremento das capacidades motoras específicas da modalidade esportiva. Treinadores deslocam-se do papel de professor para o de técnico e devem constituir os momentos de prática com situações competitivas, que estimulem a tomada de decisão e o aperfeiçoamento técnico e tático. Na perspectiva psicológica a expectativa é que os atletas consigam manter a concentração por mais tempo, tenham mais controle sobre si mesmo, com pensamentos positivos e alto nível de motivação.

Por fim, a etapa de Alto Desempenho inicia-se próximo aos 19 anos e é possível notar aumento progressivo na intensidade e no volume de treinamentos, com objetivo de aproximar da perfeição os gestos e movimentos a serem executados. Faz-se importante nesta fase também, um aperfeiçoamento nas habilidades técnicas e táticas específicas, além de estratégias de treinamento mental.

Embora esta sistematização da carreira atlética demonstre as idades associadas a cada estágio, é importante entender que este modelo pode mudar muito dependendo da modalidade esportiva e das características individuais do atleta (BOMPA, 2002b).

Quadro 3 - Idades associadas aos estágios da carreira atlética de acordo com algumas modalidades esportivas. 35

Idade (anos) 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 Modalidade Basquete In. F.A. Esp. A.D. Ginástica fem. In. F.A. Esp. A.D. Voleibol In. F.A. Esp. A.D. Legenda: In = Iniciação F.A. = Formação Atlética Esp. = Especialização A.D. = Alto Desempenho

Fonte: elaborado a partir de BOMPA, 2002b.

No caso específico da modalidade basquete, a fase de iniciação é dos 6 aos 11 anos. A Formação Atlética ocorre entre 12 e 15 anos. A Especialização dos 16 aos 19 anos. E o Alto Desempenho a partir dos 20 anos. No entanto, os treinadores devem sempre lembrar que seus atletas se desenvolvem em velocidades diferentes e considerar sua maturação ajustando o treinamento e os programas competitivos adequadamente (BOMPA, 2002b).

Para as categorias de base, que englobam as etapas de Iniciação, Formação Atlética e Especialização, os profissionais que atuam com basquete devem pensar seus treinamentos numa lógica de médio e longo prazo com a consciência de que o trabalho que se realiza num determinado momento terá implicações no desenvolvimento futuro do praticante (DAMÁSIO; SERPA, 2000).

Na perspectiva profissional do treinador esportivo, o trabalho nestas idades não pode ser entendido como a primeira etapa de uma carreira de treinador. Esta perspectiva conduziria à ideia, de que a intervenção junto de jovens estaria destinada aos treinadores menos experientes e competentes. No entanto, o trabalho com jovens atletas exige competências específicas que devem ser adquiridas no período de formação dos treinadores e aprofundadas por meio de reflexões sobre as experiências e apoiadas num processo de formação contínua (SERPA, 2003).

O trabalho nas categorias de base é um processo constituído de várias etapas que deve ser composto também por treinadores mais experientes inclusive nos anos iniciais, atuando como tutores dos profissionais que se 36 iniciam na atividade. Como consequência, isso traz uma melhoria na qualidade dos atletas e equipes praticantes (SERPA, 2003).

Diversos autores (DUDA et al., 2018; KIPP, 2018; SERPA, 2003) apontam que os treinadores de basquete devem possuir, portanto, além das competências gerais observadas no Quadro 2, algumas competências específicas para trabalhar em cada etapa da carreira atlética.

Estudos (GALATTI et al., 2015; SANTOS; CASTELO; SILVA, 2011) mostram a importância da sistematização e da organização do treinamento para a aquisição de bons resultados no esporte. Além disso, é fundamental considerar a sistematização e as etapas de desenvolvimento da carreira atlética neste estudo pois os grupos de entrevistados serão pertencentes a cada uma destas fases.

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3. MÉTODO DA PESQUISA

3.1. Caracterização do estudo

A natureza da pesquisa é qualitativa. De acordo com Bogdan e Biklen (2003), o conceito de pesquisa qualitativa envolve cinco características básicas que configuram este tipo de estudo: ambiente natural, dados descritivos, preocupação com o processo, preocupação com o significado e processo de análise indutivo.

Utiliza-se técnicas qualitativas quando se quer conhecer o pensamento de uma comunidade sobre um dado tema, já que, para que os pensamentos sejam acessados, na qualidade de expressão da subjetividade humana, precisam passar previamente pela consciência humana e se manifestarem no discurso (LEFÈVRE, 2017).

Segundo Creswell e Clark (2013), as técnicas qualitativas, como entrevistas abertas, fornecem informações sobre a própria fala dos entrevistados, oferecendo diferentes perspectivas sobre o tema e delineando os aspectos subjetivos do fenômeno.

Quanto aos objetivos da pesquisa, classifica-se como descritiva. Para Gil (2008), as pesquisas descritivas têm como finalidade principal a descrição das características de determinada população ou fenômeno, proporcionando novas visões sobre uma realidade já conhecida. Como é o caso desta pesquisa, em que já foram feitos alguns estudos com as percepções de treinadores em outro países (KOSTOPOULOS, 2011; RODRIGUES et al., 2009) e também se conhecem as competências necessárias aos treinadores em outras modalidades (GOMES; CRUZ, 2006; MOEN; FEDERICI, 2013; PONCE et al., 2017; SAPATA, 2013) no entanto, nunca foi feito isso com a modalidade basquete e considerando diferentes categorias - inclusive o adulto.

Thomas e Nelson (2002) explicam que a pesquisa descritiva preocupa- se com o estado da pessoa ou do grupo e que neste tipo de pesquisa, obter declarações é uma técnica essencial. As pesquisas de opinião são exemplos de pesquisa descritiva. Visam a identificação, o registro, a análise das 38 características e a interpretação dos fatos do mundo físico sem a interferência do pesquisador.

Quanto ao tipo, define-se como levantamento. As pesquisas deste tipo caracterizam-se pela interrogação direta das pessoas cujo comportamento se deseja conhecer. São muito úteis para o estudo de opiniões e atitudes, uma vez que recolhem dados referentes à percepção que as pessoas têm (GIL, 2010).

3.1.1. Sujeitos da pesquisa

Treinadores de basquetebol de diferentes categorias e equipes masculinas que participam do campeonato organizado pela Federação Paulista de Basketball (FPB). Os treinadores de base são das categorias sub-11, sub- 14 e sub-17, isto é, seus atletas possuem no máximo 11, 14 e 17 anos, respectivamente. Enquanto os treinadores da categoria Adulto atuam com atletas sem restrição de idade. A escolha destas quatro categorias foi feita com base na sistematização dos estágios da carreira atlética estabelecidos por Bompa (2002a, 2002b).

3.1.1.1. Critérios de Inclusão

Treinadores de basquetebol em atividade de equipes do Estado de São Paulo das categorias sub-11, sub-14, sub-17 e Adulto participantes do campeonato da Federação Paulista de Basketball com pelo menos um ano de experiência no cargo.

3.1.2. Amostra

Foram entrevistados 12 treinadores (3 de cada categoria). A amostra é do tipo não probabilística selecionada por conveniência. De acordo com Marconi e Lakatos (2008), neste tipo de amostragem, não se faz uso de formas aleatórias de seleção e nem aplicação de fórmulas estatísticas. Na seleção por 39 conveniência, o pesquisador seleciona membros da população mais acessíveis.

3.1.3. Local da pesquisa

As entrevistas foram realizadas no ambiente natural dos entrevistados, ou seja, nos clubes, em locais tranquilos e reservados, de forma que podiam se manifestar livremente, de maneira natural e segura. Os depoimentos foram coletados individualmente em local e data pré-agendados (não coincidentes com o horário de treinamento de suas equipes).

As entrevistas ocorreram em dias de treinamentos da equipe e não em dias de jogo, de modo que os participantes pudessem expressar suas percepções de maneira genuína, evitando distrações ou perda de foco no dia da partida.

3.1.4. Orçamento da pesquisa

Todas as despesas deram-se por conta do pesquisador mestrando. Consideram-se despesas os deslocamentos, materiais para entrevista e o software para análise de dados.

3.1.5. Benefícios ao grupo pesquisado

Os treinadores terão a oportunidade de refletir sobre sua prática de trabalho e considerar em sua forma de trabalho, É possível ocorrer uma melhora nos resultados.

3.2. Instrumentos de coleta de dados

No momento da fase de coleta de dados, identificou-se as equipes com maior disponibilidade de participação e foram contatados seus responsáveis e treinadores de modo a explicar-lhes a intenção e os procedimentos da 40 pesquisa, solicitando-lhes autorização para a realização da mesma. Em cada categoria, foi entrevistado o treinador principal das equipes sorteadas.

A fim de conhecer melhor o perfil da amostra, foi realizada uma Avaliação Demográfica com os treinadores entrevistados, por meio de um questionário geral, similar ao aplicado nos trabalhos de Egerland (2009) e Gomes et al. (2012), com questões sobre idade, tempo de prática/experiência do basquete, nível das competições que participou anteriormente, títulos e prêmios conquistados. Esta avaliação é apenas para caracterização da amostra, não sendo utilizada para outros fins.

As perguntas do Roteiro de Entrevistas visam compreender as percepções dos treinadores sobre as competências profissionais necessárias ao cargo e foram elaboradas com base no modelo holístico de competência profissional de Cheetham e Chivers (1998, 2005). Por isso, foram realizadas perguntas baseadas nas competências chave e nos fatores relacionados do modelo holístico de competência profissional de Cheetham e Chivers (1998, 2005), que podem ser observadas no Roteiro de Entrevista, disponível no Apêndice B.

Considerando que possivelmente os treinadores não tenham o mesmo conceito formado de competências profissionais ao que foi exposto aqui no trabalho, as perguntas possuíam uma linguagem mais informal, visando entender de fato, suas percepções sobre as competências necessárias ao treinador, que é o objetivo deste trabalho. Para isso coube ao entrevistador explicar de maneira clara o que efetivamente estava sendo perguntado.

Ao final da entrevista havia uma última pergunta: "existe mais alguma competência que você considera importante, ou algo que você gostaria de comentar quanto às competências necessárias aos treinadores de basquete? Esta pergunta permitirá ao entrevistado se expressar caso tenha recordado de algo que não mencionou, bem como comentar algo pertinente ao tema que possa colaborar com a pesquisa.

Entrevistas desta natureza permitem tanto ao investigado fornecer uma resposta tão longa quanto desejar, quanto ao pesquisador intervir para 41 estimular respostas mais completas e profundas sobre a temática (MARCONI e LAKATOS, 2008).

As entrevistas foram gravadas em arquivo de voz digital e posteriormente transcritas, possibilitando a análise do pesquisador.

3.3. Método de análise de dados

Para análise de dados, utilizou-se o método do Discurso do Sujeito Coletivo (DSC), que conforme Lefèvre e Lefèvre (2003), baseia-se em perguntas abertas de caráter discursivo para coletar informações que representem a opinião e o pensamento de um grupo social sobre determinado assunto.

Para isso, três figuras metodológicas são importantes no método do DSC: a) as ideias centrais (IC), que são a descrição sucinta e fidedigna do sentido de um determinado discurso sobre uma temática; b) as expressões- chave (ECH): transcrições literais de trechos do discurso, revelando a essência do depoimento; o próprio Discurso do Sujeito Coletivo (DSC), que consiste na elaboração de um discurso, em primeira pessoa, a partir do conjunto de ECH que possuam a mesma IC (LEFÈVRE; LEFÈVRE, 2003).

Assim, a partir de seus possíveis agrupamentos e reconstruções é possível expressar o discurso coletivo e não reduzir todos os discursos a uma única categoria, o que remeteria à quantificação simplista dos discursos (LEFÈVRE; LEFÈVRE, 2003). Autores como Brandão e Carchan (2010), Menezes, (2011), Marques et al. (2014) também utilizaram o método do DSC para análise dos discursos de seus entrevistados que constituíam-se de treinadores e atletas de equipes brasileiras de alto rendimento de diversas modalidades. 42

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram realizadas 12 entrevistas com treinadores de quatro categorias diferentes, compreendendo um tempo total de 10,42 horas e um tempo médio por entrevista de 53 minutos. A análise dos resultados foi iniciada por meio da leitura das 12 entrevistas transcritas pelo pesquisador. Ao longo dessas leituras foi realizado um processo de categorização das respostas baseado em Cheetham e Chivers (1998, 2005) para facilitar a análise, organizadas pelas seguintes categorias: caracterização da amostra, competências cognitivas, competências pessoais e sociais, competências éticas, competências funcionais, metacompetências e comentários adicionais . A partir disso, a análise foi organizada e discutida em subcapítulos para melhor compreensão dos resultados.

4.1. Caracterização da amostra

Os treinadores entrevistados tinham em média 42 anos de idade, com média de 19 anos de experiência como treinadores de basquete. Todos são ex- atletas tendo praticado a modalidade por 8 anos em média. Todos possuem o Ensino Superior Completo, sendo que 33% concluíram curso de especialização (pós-graduação lato sensu) e um deles (8%) possui mestrado (pós-graduação stricto sensu).

As principais competições disputadas dos treinadores de categorias de base são Campeonato Paulista de Basquete (fases metropolitana e estadual) organizado pela FPB (100% dos entrevistados), Campeonato Brasileiro de Seleções Estaduais (55% dos entrevistados), Campeonato Brasileiro de Clubes (44% dos entrevistados), Campeonato Sul-americano de Novo Hamburgo (44% dos entrevistados), Seleção Nacional de categorias de base (33% dos entrevistados), Jogos Abertos (22% dos entrevistados), Jogos Regionais (22% dos entrevistados), Campeonatos Universitários (22% dos entrevistados), Torneio Internacional Alberto Rossello (22% dos entrevistados), Liga de Desenvolvimento de Basquete (LDB) (22% dos entrevistados). As principais competições disputadas dos treinadores da categoria Adulto são Campeonato 43

Paulista de Basquete organizado pela FPB (100% dos entrevistados), Campeonato Brasileiro de Clubes - NBB - (100% dos entrevistados), Liga das Américas (100% dos entrevistados), Liga Sulamericana (67% dos entrevistados).

Dentre os principais títulos conquistados, 67% dos treinadores entrevistados já foram campeões paulistas (campeonato organizado pela FPB) pelo menos uma vez e 58% já receberam pelo menos uma vez o prêmio de melhor treinador do ano na categoria.

O Quadro 4 a seguir traz a caracterização de cada indivíduo da amostra.

Quadro 4 - Caracterização da amostra Anos de Ex-atleta? Jogou Treinador Idade Grau instrução experiência quanto tempo? Superior completo.

T1 35 15 anos Sim. 6 anos. Especialização em Treinamento

13 - Esportivo.

sub T2 40 17 anos Sim. 10 anos. Superior completo.

Iniciação T3 28 8 anos Sim. 8 anos. Superior completo. T4 28 4 anos Sim. 8 anos. Superior completo. T5 57 36 anos Sim. 16 anos. Superior completo.

14 - Superior completo.

Sub F. Atlét. T6 50 30 anos Sim. 3 anos. Especialização em Ciências do Esporte. Sim. Pelo T7 51 34 anos Pós Graduado. menos 6 anos. Superior com MBA em Gestão

17

- T8 45 12 anos Sim. 7 anos. Empresarial.

sub Mestrado em Psicologia da T9 38 20 anos Sim. 8 anos. saúde. Pós em treinamento

Especialização personalizado.

Superior em Educação Física e

p. T10 49 20 anos Sim. 10 anos.

m Pedagogia. Sim. Pelo Graduação em Educação T11 48 26 anos menos 5 anos. Física.

Adulto

Alto Dese T12 36 6 anos Sim. 20 anos. Superior Completo.

Fonte: elaborado pelo autor.

Conforme a sistematização dos estágios da carreira atlética estabelecidos por Bompa (2002a, 2002b), três entrevistados atuavam no sub- 11 (Fase de Iniciação), outros três entrevistados no sub-14 (Fase de Formação Atlética), três entrevistados com o sub-17 (Fase de Especialização) e mais três 44 entrevistados com equipes profissionais, compostas por atletas com mais de mais de 20 anos de idade (Alto Desempenho).

A seguir serão identificadas as percepções de treinadores sobre as competências necessárias para atuação profissional e discutidos aspectos congruentes e divergentes entre os entrevistados, isto é, pontos em comum e diferenças nas percepções de treinadores.

4.2. Identificação das competências cognitivas necessárias para atuação profissional em treinadores

A partir deste momento serão descritos os discursos-síntese, provenientes da análise dos discursos dos entrevistados, expressos pela descrição das IC e DSC. A procedência das falas está representada de forma sobrescrita. Após este processo, os dados são analisados e discutidos. As IC obedecem a sequencia de perguntas estabelecida no Roteiro de Entrevistas e os DSC estão divididos por categorias (sub-11, sub-14, sub-17 e Adulto).

IC1.1 - Conhecimentos técnicos e táticos.

DSC1 (sub-11): Precisa conhecer todos os fundamentos técnicosT1. É a fase que você precisa fazer os atletas viverem todas as possibilidades técnicas possíveisT1,T2. Precisa se aprofundar principalmente nos fundamentos, mão direita, mão esquerda, posicionamento das pernasT3,como é a técnica de um passe correto, de um drible, onde que eu coloco o pé, a mecânica de arremesso, tudoT1. Questão técnica eu acho muito mais profunda nessa categoria né. Porque eu não vejo a tática tão importante. Não que não seja importante, claro que também é importante mas a questão técnica é um momento muito mais favorável pra ser trabalhadoT2. Na parte tática, a gente não envolve muita coisa no sub-11T1.O tático seria, o menino saber jogar sem a bola, se desmarcarT1, um espaçamento simplesT2 e saber fazer um dá e segueT1eT2.

DSC2 (sub-14): Conhecimentos técnicos um cara de Sub-14 tem que saber primordialmente fundamentosT5. Precisa ter domínio dos fundamentos técnicos em geral já com algumas variações de finalização, variações de passes, passes com uma mão, passe sem parar o dribleT4. Ensinar a arremessar, marcar, bandeja, ajuda, tudo. Isso é a base do jogoT5. Até o Sub-14, eu acredito que o conhecimento é muito mais técnico, tem que focar muito mais no técnico do que o tático. Óbvio que o tático é importante mas nessa faixa etária é aquele negócio de você formar o jogador. O tático é uma coisa... é mais básico, vai vir na sequênciaT6. Da parte tática hoje eu uso, praticamente todos os tipos de variação de defesa (mista, individual, combinada, por zona, pressão)T4. No ataque, jogo livre que eu acreditoT4,T5, movimentações abertas, a gente coloca corta-luz na 45

bola, corta-luz sem bola. Nessa idade você tem que desenvolver o um contra um do atletaT5.

DSC3 (sub-17): Na categoria sub-17 acho que tem que ser completoT8. Tem que ter a percepção do jogo de AdultoT7,T8. Tem que ter um domínio dos fundamentos básicosT8,T9, da variedade de recursos técnicos que ele pode fazer com que os jogadores se desenvolvam e melhoremT9. Já em relação à tática as dinâmicas tanto ofensivas como defensivas, as dinâmicas e as concatenações entre as ações que causam desequilíbrio, que geram algum tipo de vantagem ou de desvantagensT7. Você precisa trabalhar com uma gama de conteúdos táticos mais focados pra criatividade e pra leitura pra que o atleta possa colocar o tipo de jogo dele em prática do que propriamente as ideias do treinadorT9.

DSC4 (Adulto): O máximo possível de conhecimentos técnicos e táticos. Difícil a gente determinar qual é o conhecimento porque hoje o basquete existe uma gama muito grande de coisas que você pode saber mas o máximo possívelT10. Acho que ele precisa ter conhecimento de todos os fundamentos técnicos principalmente pra orientar os jogadores e também em cima disso tendo esse conhecimento, saber como que ele vai organizar sua equipe e como a sua equipe vai jogarT12. O treinador precisa ter um conhecimento bem amplo porque o jogo vem mudando muito rápidoT10,T11,T12 e quanto mais conhecimento tático você tiver, quanto mais bagagem tática você tiver, mais fácil vai ser solucionar os problemas que vão aparecer pra sua equipeT12. É um constante aperfeiçoamento do técnico na parte táticaT11, você sempre tem que estar estudandoT10.

Nos anos iniciais das categorias de base (sub-11 e sub-14) percebe-se que os entrevistados priorizam aspectos técnicos do que táticos. Na categoria sub-11 o técnico, segundo T1 precisa ser detalhista, saber corrigir os fundamentos técnicos dos atletas e proporcionar diversas experiências técnicas, assim como Bompa (2002a) estabelece ao expressar que os treinamentos demandam uma variedade de experiências motoras e cognitivas. No sub-14 os atletas já tem um domínio maior das habilidades e cabe ao treinador conhecer as variações dos fundamentos técnicos. Bompa (2002a) explica que devem ser trabalhados exercícios específicos com elementos táticos simples associados à habilidades técnicas.

No entanto, autores como Silva e Rose Junior (2005) e Lovatto e Galatti (2007), constataram que a dimensão tática deve ser abordada no processo de iniciação em modalidades esportivas coletivas. O treino não deve ser orientado em função apenas da técnica, mas em função de situações próprias do jogo, fazendo o atleta compreender a lógica do jogo. A técnica também deve ser trabalhada, pois auxilia o atleta a resolver os problemas em quadra. Assim como saber executar a técnica, mas não saber o momento certo de utilizá-la 46 não é suficiente, também não adianta somente saber o que fazer, sem saber executar a técnica.

Nas categorias sub-17 e Adulto, esta percepção é um pouco diferente. No sub-17 também se faz necessário um domínio dos fundamentos técnicos pois embora os atletas tenham uma certa experiência, ainda estão em desenvolvimento e podem possuir carências técnicas, mas a parte tática está fortemente presente. O treinador precisa conhecer as diversas possibilidades táticas que melhor se adéquam à sua equipe. Os discursos dos treinadores do sub-17 vão ao encontro de Bompa (2002a) ao relatar que os treinadores devem constituir momentos de prática que estimulem a tomada de decisão e o aperfeiçoamento técnico e tático. O entrevistado T9, assim como Obrador e Nebot (2012), acreditam na importância de promover situações e exercícios que auxiliem os atletas na criação de estratégias e na compreensão da lógica do jogo. O treinador que atua nesta fase está muito próximo do Alto Desempenho e precisa ter seu pensamento voltado à categoria Adulto. Todos os entrevistados da categoria Adulto enfatizaram a necessidade de um conhecimento amplo sobre o jogo e a importância de estar em constante atualização sob o ponto de vista técnico e tático devido às constantes mudanças que o jogo sofre. Este é o estágio da carreira atlética em que aspectos táticos foram mais valorizados dentre todos os treinadores.

Em todas as categorias, foi possível perceber que os discursos dos treinadores se aproximam ao que Obrador e Nebot (2012) e Riewald (2014) estabelecem ao relatarem que treinadores competentes devem compreender e dominar a modalidade esportiva.

IC1.2 - Conhecimentos necessários para ensinar os atletas.

DSC5 (sub-11): Eu acho que o treinador precisa saber essa parte do social. Saber incentivar. Saber motivar o atleta. Ter a noção que são criançasT3. Precisa saber o que ele está fazendo e o que ele quer com a categoria. Você não pode achar que você está ali pra ser campeão das coisas e o menino ficar em segundo plano. Você precisa desenvolver o atletaT2. Tem que saber o processo de desenvolvimento da idade, como que a idade responde, como que é a paciência que se precisa ter em relação a alguns erros, qual que vai ser a insegurança que o atleta vai ter em relação a algum exercício, se o olhar pra baixo pra bater uma bola é algo da categoria, se não é, por que que é, se o olhar pra cesta já tem que ser imposto ou não, então tem que ter esse discernimento de saber qual é a evolução 47

dentro da categoria. E vai muito também do tempo de aprendizagem, se o atleta já chegou no Sub-11 com bagagem ou sem bagagemT1.

DSC6 (sub-14): Ele tem que saber processos pedagógicosT5. Precisa saber o nível de desenvolvimento que eles se encontram né, tanto motor quanto cognitivoT4. Saber falar a linguagem delesT4,T6, para conseguir passar a informação que eles precisam assimilarT4, pra atingir o jogadorT6. Acho que cada idade tem uma linguagem. E isso muda também com o tempo. A gente vive num mundo que é digital, então você vai ter que se adaptar a trabalhar com isso e usar a linguagem deles. A maneira como você vai lidar, você não pode ter uma cobrança exacerbadaT6. As vezes o fato de você ter jogado ajuda, não quer dizer que seja primordialT5,T6. Mas ajuda, porque o profissional sai mais preparado da faculdade pra ensinar basquetebolT5 e porque o esporte tem uma linguagem própriaT6.

DSC7 (sub-17): Ter uma boa leitura do que ele tem na mão pra depois partir das ideias dele pra ver o que ele vai conseguir fazer. E também respeitar o limite do grupo dele. Não adianta ele vir com algo muito mirabolante que os atletas não estão conseguindo fazerT9. Ele precisa ter um conhecimento da sequência pedagógicaT8,T9. Ter um bom planejamento longitudinal que você vá cumprindo etapas de acordo com o desenvolvimento do seu grupoT9. Ter uma percepção de coaching, de administração da sua equipe, das questões emocionais envolvidas, das questões físicas, técnicas, estratégicasT7, de métodos de feedbackT8.

DSC8 (Adulto): Isso é uma coisa difícil de falar exatamente o que você ... você precisa ter empatia, você precisa fazer com que o cara (atleta) acredite nas suas palavras. Se os caras (atletas) acreditarem em você, você vai ter sucesso. Se os caras duvidarem de você muito difícil você ter sucessoT10. Na minha opinião, o maior desafio de um técnico do adulto é ter a simplicidade pra trabalhar, porque a gente tem hoje acesso a muitas informações táticas né, então você dentro da sua equipe saber as características e as principais bolas de cada jogador, montar esse sistema ofensivo de forma simplesT11. Você seguir uma sequência pedagógica partindo do mais simples para o mais complexoT11,T12. Ter um bom comando de vozT12, saber administrar muito bem e levar os carasT10.

No discurso dos entrevistados da categoria sub-11 fica nítido que eles preconizam a formação integral e o desenvolvimento dos atletas, sendo necessário compreender questões específicas da faixa etária. Conforme Scaglia (2004), por mais que o treinador saiba o que fazer, tem que dominar também os caminhos de como ensinar, o que ensinar, para quem ensinar e por que ensinar. Os entrevistados desta categoria remetem suas percepções ao pensamento de Obrador e Nebot (2012) sobre proporcionar uma experiência motivante e segura.

No sub-14, o T5 deu importância ao conhecimento de processos pedagógicos. Os outros dois entrevistados valorizaram o fato de utilizar uma linguagem adequada com atletas desta fase. Além disso é importante conhecer 48 o nível que está o grupo e o contexto atual dos adolescentes, ou seja, o mundo que eles vivem, seus interesses, suas práticas e características.

É possível identificar que as percepções dos entrevistados das categorias iniciais (sub-11 e sub-14) sobre a IC1.2 assemelham-se ao pensamento de Scaglia (2004), que considera fundamental o processo ensino- aprendizagem e Dignani (2007), sobre conhecer aspectos físicos, intelectuais, a personalidade e a inserção social de seus atletas.

A categoria seguinte (sub-17) apresenta similaridades e diferenças quanto às anteriores. O T8 e T9 enfatizam o conhecimento de uma sequência pedagógica adequada. Faz-se necessário um domínio mais abrangente sobre conhecimento do grupo, planejamento, administração da equipe, questões emocionais, métodos de feedback. O T9 corrobora com Zanetti et al. (no prelo), ao evidenciar que o estabelecimento de metas de trabalho para os treinamentos e competições, a curto, médio e longo prazo podem ser um importante recurso no suprimento de necessidades psicológicas básicas.

No Adulto os entrevistados contribuíram com percepções diferentes, mas que devem ser consideradas no conjunto total. O T10 entende que a forma de relacionar-se e comunicar-se com os atletas é determinante para o sucesso. O T11 considera as características de seu grupo e em cima disso busca uma forma simples e eficiente de trabalhar. O T12 dá valor a um bom comando de voz. Assim, como em todas as categorias anteriores, foi mencionado também (T11 e T12) a importância de seguir uma sequência pedagógica adequada.

IC1.3 - Sobre a instituição e o setor em que trabalha.

DSC9 (sub-11): Qual que é o caráter, qual é o objetivo mesmo da instituição. Tem instituições que procuram totalmente o social e tem instituições que são competitivas desde a categoria de baseT1. Cada clube tem uma expectativa. Mas eu sinto pelos lugares que eu trabalhei, que as instituições em geral elas procuram que você consiga desenvolver e que tenha adesãoT2. Aqui foi um clube que teve uma era muito vitoriosa, nos meus primeiros anos aqui eu não tinha noção desse impacto e com o tempo fui percebendo e me adaptandoT3. E com relação ao cargo, acho que vai muito de acordo com o que instituição pedeT1. A nossa preocupação aqui no clube é que eles pratiquemT3.

DSC10 (sub-14): Do trabalho e do lugar que ele trabalha ele tem que saber tudo. Tem que saber história, tem que saber como pensa o 49

presidente, como é o público que ele trabalha, qual a situação atual do clube. As coisas são cíclicas. Um dia é o clube X que tá em cima, outro dia é o clube YT5. Eu preciso conhecer o objetivo deles, qual é a abordagem que eles usam tanto com os atletas quanto com os paisT4. Tem que conhecer o máximo possível, cada clube é diferente, então cada um tem a sua característica e você tem que entender isso daí. Eu tive que aprender um pouco da cultura de cada lugar que eu passei. Então tem coisas que você tem que ir adaptando até pra você conseguir desenvolver seu trabalho. Tem que saber onde você está e onde você está pisando, senão pode ficar complicadoT6.

DSC11 (sub-17): Saber os valores que a instituição preza, a filosofia de trabalho, se é voltado pra resultados ou se é voltado pra desenvolvimentoT8,T9. Precisa conhecer a hierarquia e o funcionamento localT8,T9, quem está dentro da sua equipe de organização ou staffT7. Entender e respeitar muito bem os setores e o organogramaT9. Tem que saber o histórico que ela tem, tem que considerar o que a instituição tem já realizado ou não, o que representa o basquete pra ela, qual o significadoT7. Eu sou um técnico de basquete e eu sei que sou público, como público sou avaliado por todo mundo, eu estou aqui pra ser criticado e não posso lidar mal com issoT9.

DSC12 (Adulto): Cada lugar é diferenteT10. É importantíssimo você ter o conhecimento da instituiçãoT11,T12, da filosofia dela, quais os objetivos dela, o ambienteT12 pra você adequar o seu trabalho à instituiçãoT11. Logicamente você vai colocar sua filosofia, é trabalhar no que você acredita, mas sempre de acordo com que o clube e a instituição espera de vocêT11. Então você tem que saber onde o time pode chegar e você também tem que vender uma coisa que é realidade, não dá pra você vender sonhosT10. Se o clube tem categorias de base, você tem que de alguma forma no Adulto oportunizar que esses garotos tenham uma vivência pelo menos nos treinamentosT11. Você tem que saber fazer a política mas não pode a política ser mais importante que o basqueteT10.

Em termos de conhecimento sobre a instituição e o setor em que atuam, T1 e T2 apontam que cada clube tem uma expectativa, alguns poucos já visam desenvolver jogadores e possuem um pensamento mais competitivo, enquanto a maior parte dos outros são totalmente pelo social e trabalham com qualquer menino que tenha intenção de praticar a modalidade. Na visão de T2, nesta categoria para o bom andamento do projeto na instituição é interessante que o treinador consiga ter uma boa adesão na quantidade de praticantes e poucas desistências. O entrevistado T3 faz referências ao conhecimento do histórico da instituição.

Sobre os conhecimentos da instituição que o treinador precisa saber, T4 e T6 afirmam que faz-se necessário conhecer os objetivos da instituição. T6 explica que as instituições são diferentes e possuem aspectos históricos e culturais que devem ser levados em conta. De acordo com T5, o treinador 50 precisa saber como é o público que ele trabalha, qual a situação atual do clube, sua história, como pensam seus dirigentes e que os fatos são cíclicos, pois uma instituição dificilmente se mantém no topo por muito tempo.

Quanto aos conhecimentos sobre sua instituição e o setor em que atua, T8 e T9 percebem que treinador do sub-17 precisa ter claro quais são os objetivos, os valores e a filosofia do clube, se está voltado para o desenvolvimento de atletas ou para resultados. Conhecer as pessoas envolvidas, a hierarquia e a burocracia são aspectos apontados por todos os treinadores desta categoria. Conforme T7 cabe também considerar o histórico da instituição, isto é, se a equipe possui tradição em participar com categorias de base ou se é um projeto novo. Qual é o significado do basquete e de uma determinada categoria para o clube. T9 ressalta que o treinador precisa ter consciência que está em um cargo com bastante exposição, sendo constantemente avaliado e sujeito a receber diversas críticas.

O treinador da categoria Adulto na visão de T12 deve ser um membro bem atuante em sua instituição, que não se limita aos trabalhos apenas dentro de quadra, cabendo a ele conhecer o clube, a filosofia (T11), os objetivos (T11) e o que a instituição espera do treinador (T11), permitindo assim entender alguns problemas que podem surgir e contornar da melhor maneira possível (T12). No início de temporada o treinador precisa ter consciência de onde o time pode chegar e ser verdadeiro ao traçar metas para a equipe junto à diretoria (T10). Fazer política foi um comentário relatado por T10, no sentido de manter um relacionamento bom com as partes envolvidas da equipe, mas que isso não pode ser mais importante que o basquete. T11 complementa que se o clube tem categorias de base é interessante oportunizar que alguns atletas tenham vivências nos treinamentos e jogos da categoria Adulto.

É possível perceber pelo menos um treinador de cada categoria falar sobre conhecer os objetivos da instituição. Esse pensamento relaciona-se com Brandão e Carchan (2010) que apontam sobre o profissional conhecer a estrutura organizacional, as normas e os valores do clube ou do grupo afim de orientar seu comportamento. O conhecimento contextual da instituição é mencionado por T2, T5, T6, T7, T10, e também sustentado por Batista et al. 51

(2011) e Cheetham e Chivers (2005) que apontam a necessidade de se conhecer a infraestrutura e o contexto social da instituição e da população.

IC1.4 - Para preparar os atletas, tanto individualmente como coletivamente.

DSC13 (sub-11): Individualmente o treinador tem que ter uma sensibilidade de perceber onde que a criança tem a maior fragilidade e procurar saber o por que ele sente essa dificuldadeT3. Acho que tem que conhecer muito de controle de corpo, coordenação e desenvolvimento humano, porque se você não desenvolver essas capacidades gerais num menino novo, nessa idade, não adianta nada você ensinar o que é mais complexo, que já é o gesto do jogoT2. Coletivamente a gente procura identificar as lideranças, e a partir dessas lideranças fazer com que o atletas saibam que ele depende de todos pra um mesmo objetivo, saber que precisa trabalhar em grupoT3. Então é muito analisar o nível do grupo que você pegou, o que você pode oferecer pro grupoT1 e que tipo de resposta você pode ter delesT1,T2.

DSC14 (sub-14): Ele precisa saber parte técnicaT5,T6, precisa saber a parte táticaT6. A parte psicológica é importanteT5,T6. Precisa saber como montar uma equipe e não um catado de jogadores. Ensinar que é um time e não um só jogadorT5. Você tem que ter a paciência. Tem que entender que o traço psicológico dele é diferente do outro. Então alguns você vai dar uma bronca e ele vai reagir bem. Outros não vai reagir. Tem que ter esse feelingT6. Eu tento trazer o máximo o ambiente do jogo pro treino, isso seja com o tempo, a pressão do tempo, a pressão do jogo em siT4.

DSC15 (sub17): Você tem que ter claro em que nível você precisa desenvolver o teu atletaT7,T8, preparar ele para a próxima faseT8. É claro que a gente não espera que ele esteja pronto com 17 anos, mas a gente visualiza pra onde ele tem que chegarT7,T8,T9 e cobra pra que se aproxime o mais rápido possível à issoT8. Individualmente a gente faz trabalho específico, é importante ele ficar muito bom nas coisas simples que ele precisa fazerT9. Ter um diálogo aberto, "não estão gostando? Ok, vamos mudar. Essa flexibilidade e o quanto você flexiona que eu acho que é o segredo pra essa mulecada de 17 a 19 anos O importante é o técnico ser o melhor para aquele timeT9. Tem que ter domínio de como desenvolver determinados aspectos técnicos individuais pra você conseguir concatenar isso dentro do coletivo, porque as ações individuais elas continuam sendo muito importantes mas elas vão se tornando menos significativasT7.

DSC16 (Adulto): Tem que ser capacitado, tem que ter passado por outras etapas da formação e níveis de jogo. Essa capacitação vem com a carreiraT11. Se organizar, ter uma planilha de macrociclo, do microciclo, com tudo aquilo que você acredita que o atleta precisa principalmente pra ele desempenhar o que você vai querer que a equipe jogue taticamenteT12. Saber montar vídeos com aspectos individuais e coletivosT10,T11,T12. Eu acho que a psicologia é muito importante, eu tive já psicólogos trabalhando comigo e foi muito legal, eu acredito muito nesse trabalho principalmente individualmente, eu não gosto tanto coletivamenteT10. Coletivamente, pra mim uma equipe tem que ser montada entre o diretor e o técnico, acho que a equipe não pode ser montada só pelo técnico e a equipe não pode ser montada só pela diretoria. Porque a partir da hora que a diretoria 52

monta o time já não é seu time e você já não tem a confiança necessária. A partir da hora que só você monta o time, é muito complicado porque daqui a pouco eu vou embora ou sou dispensado e fica tudo láT10.

O entrevistado T1 considera necessária uma análise sobre o nível que a equipe se encontra e o que o treinador pode oferecer para o grupo, de acordo com as respostas que os atletas apresentam (T1 e T2). Assim como ressaltado por Issurin (2017) sobre a necessidade de desenvolvimento da coordenação geral e específica do esporte, T2 também valoriza a coordenação e desenvolvimento humano como uma etapa prévia e essencial para a inserção de habilidades mais específicas do jogo. Individualmente T3 tenta identificar os motivos que causam dificuldades aos atletas e coletivamente usa a estratégia de identificar lideranças positivas que possam colaborar com o desenvolvimento do grupo.

No sub-14, para preparar os atletas individualmente, T5 e T6 novamente relataram a importância de ensinar a técnica dos fundamentos básicos. Coletivamente, T6 aponta que precisa saber montar uma equipe e não um apanhado de jogadores e ensinar que a equipe é mais importante que qualquer jogador. Também, segundo T4, é interessante aproximar momentos de treino ao máximo à situações de jogo, simulando situações que causem pressão e tempo limitado para tomada de decisões. Os entrevistados T5 e T6 ressaltaram a importância de trabalhar e desenvolver aspectos psicológicos e motivacionais com os atletas, uma vez que nesta idade os jovens passam por grandes transformações físicas e emocionais e em quadra pode haver grande diferença no tempo de jogo de um atleta para outro. Percebe-se que a partir desta categoria os entrevistados mencionam mais sobre aspectos psicológicos. T6 ainda aponta que o treinador precisa conhecer seus atletas a ponto de saber a melhor forma que o mesmo responde à suas cobranças, corroborando com Resende (2011) que as competências do treinador devem ser diferenciadas e adequadas ao praticante levando em conta os seus anseios e expectativas.

Com o intuito de preparar o atleta individualmente, T7 e T8 entendem que o treinador tem que ter visão de onde o atleta pode chegar. Na visão de T8 o atleta ainda não está pronto para a categoria Adulto, mas muito perto disso e faz cobranças para que eles estejam preparados para esta próxima fase. 53

Todos os treinadores manifestaram que os atletas estão muito próximos à categoria Adulto. T9 lembra que deve-se sempre considerar o atleta como um indivíduo único e para isso precisa saber que se o atleta teve um treino mais intenso na musculação, o treinador tem de dosar bem a intensidade do treino em quadra, por exemplo. Nesta idade os atletas já estão com posições de jogo definidas e T9 relatou que faz trabalhos individuais específicos por posição e tenta explorar as "bolas fortes" de cada atleta. Coletivamente, T7 e T9 alegam que o treinador pode tentar um modelo de jogo que acredite funcionar para sua equipe mas se isso não acontecer, deve ou mudar sua estratégia ou desenvolver os atletas para que cheguem neste nível desejado. Os discursos dos treinadores desta faixa etária relacionam-se com Meinberg (2002) que menciona que o treinador necessita possuir competências abrangentes que o permita realizar diversas tarefas, como cuidar de seus atletas no sentido de desenvolvimento individual e coletivo.

Conforme T10, a preparação coletiva da equipe Adulta inicia-se antes mesmo da temporada começar quando ao montar o elenco, treinador e diretores devem estar juntos alinhando seus pensamentos e tomando decisões coletivamente. Ao decorrer da temporada além dos treinamentos, os três entrevistados se preparam e estudam seus adversários através de vídeos com características e jogadas de equipes adversárias. A experiência (tempo de atuação profissional) do treinador (T11) e a organização (T12) - planilha de macrociclo, microciclo e tudo aquilo que o treinador acredita ser necessário à equipe - são fatores que também ajudam na preparação coletiva e individual. A resposta de T11 à esta questão mostra o que Batista, Graça e Matos (2008) e OCDE (2015) apontam ao mencionar que os conhecimentos adquiridos e as experiências acumuladas podem influenciar na competência profissional do individuo.

4.3. Identificação das competências pessoais e sociais necessárias para atuação profissional em treinadores

IC2.1 - Relacionamento e comunicação com os atletas. 54

DSC17 (sub-11): Nessa idade, a linguagem informal é o ponto chave pra falar a linguagem deles mesmoT3. Se o treinador entender que ele está ali pra ensinar uma criança a se desenvolver, eu acho que ele se relaciona com o atleta com uma expectativa mais verdadeiraT2. Tem que instruir, tem que ser receptivoT2, afetivoT1. É uma idade muito propícia pra que você coloque o seu comando de uma forma muito mais de respeito, do atleta se sentir respeitado e por isso te respeitar, do que por medo. Você tem que colocar ele pra frente, estimular ele a ter confiança de tomar decisão. Ele não tem que fazer o que eu mando, tem que descobrir o que eu tô sugerindo pra ele. Eu escolho as práticas melhores e ele vai descobrir de uma forma guiada, mas sozinhoT2. Tirar eles da zona de conforto, mas no conforto, com prazerT1.

DSC18 (sub-14): A juventude de hoje é bem diferente de 15 anos atrás. Mas uma coisa não mudou. O limite é essencial. E quem manda aqui sou eu! Hoje o jovem não tem limite em casa, no colégio. Até você disciplinar o jogador, leva meio ano. E quanto mais novo pior. Então desde cedo é bom já estar em cimaT5. Tem que elogiar na hora certa e tem que dar uma bronca na hora certaT6. Cada um é um indivíduo, todo mundo é diferente, mas eu tento ser o mais igual possível com meus atletas. Eu tento gerir a maior paz possível no meu time, tento manter o grupo em harmonia. Quando acontece alguma discussão entre atletas eu tento resolver na conversa com ambosT4. Você acaba passando uma grande parcela de tempo com eles. Treinam 3 ou 4 vezes por semana e tem vezes que você se torna meio pai. Ainda mais hoje que tem muitos (atletas) que tem pais separadosT6.

DSC19 (sub-17): Além de conhecer o jogo ele precisa ter a noção sobre as pessoasT7. Entender um pouco do mundo e da fase que eles estão vivendo na atualidadeT9. Você ter a empatia e ao mesmo tempo você saber que as vezes você vai ter que ir um pouquinho além. Nesse nível você tem que levar o cara num outro estágio. Infelizmente é assim, o ser humano tende a se acomodar e você tem que exigir ele num nível maiorT7. Acho que ele tem que procurar saber exatamente como alcançar cada um dos seus atletasT7,T8. Pra isso, é preciso compreender cada atleta, a personalidade de cada um e tentar tratar eles daquele jeito. Um pode reagir melhor a uma bronca, outro pode reagir melhor a um feedback positivo, o outro não gosta de ser exposto. Tentar personalizar o máximo a comunicação não ultrapassando os limites que possam prejudicar o grupoT8. Estar antenado com o que acontece na mídia social é importante, porque encher a bola do atleta na rede social quando ele vai bem às vezes surge mais efeito do que você elogiar na quadra. Ser sensível à essas novas coisas que é o que eles estão afimT9.

DSC20 (Adulto): Conhecer o máximo possível seus jogadoresT10,T11, como eles se comportam, características, como eles reagem às informações, às cobrançasT11. Você tem que saber a parte tática e técnica mas saber lidar com jogador é fundamentalT10. Procurar ter o maior senso de justiça possível, eles tem que se sentir o máximo possível no mesmo nível de tratamentoT11. Eu acredito numa cooperação entre atleta e técnico. Antigamente tinha uma barreira grande entre o técnico aqui e o jogador aqui. Tem uma hierarquia que precisa ser respeitada, eu estou aqui pra tomar as decisões melhores pra equipe mas de uma maneira geral todo mundo precisa participar, então eu tenho uma relação muito aberta com elesT12. É importante manter um clima positivo, vai haver cobrança, vamos apontar os 55

erros, mas sempre jogando pro lado positivo pra eles terem confiança e acreditarem no que você está querendo colocar em práticaT11.

A proximidade e o relacionamento entre treinador e atletas do sub-11 deve ser muito forte. A linguagem e a forma de falar com os atletas é um ponto importante na comunicação treinador-atleta, observado pelos três entrevistados desta categoria. T1 destaca a importância da afetividade do treinador com os atletas. Já T2 explica que o treinador deve sempre lembrar que o mais importante é o desenvolvimento da criança, pois isso lhe auxiliará nos relacionamentos com os atletas.

No sub-14, T5 expõe que o relacionamento treinador-atleta deve ser verdadeiro e o atleta precisa entender que nos momentos de quadra ele será cobrado ao máximo, mas que o treinador sempre estará ao seu lado para o que ele precisar. T4 e T6 sugerem que situações de conflitos e discussões ocorrerão, cabendo ao treinador uma boa comunicação e gestão de conflitos. Por vezes momentos antes ou após o treino podem ser convenientes para conversas individuais sobre uma determinada situação que não esteja de acordo com o que o treinador acredita. T5 apresenta um discurso diferente dos outros dois entrevistados desta categoria ao trazer uma abordagem mais autoritária, ressaltando a necessidade de disciplinar e impor limites aos atletas.

Fica nítido nos discursos de T1, T2, T4 e T6, a proximidade com Dignani (2007) ao relatar a criação de laços afetivos entre treinador e atletas, favorecendo assim um relacionamento emocional positivo além de fazer com que o exercício da função ocorra com maior facilidade.

Para se relacionar e se comunicar com atletas do sub-17, T9 e T5, que mesmo sendo de outra categoria acreditam que o treinador precisa entender um pouco do mundo e da fase que os atletas estão vivendo na atualidade. Entender que um comentário positivo na rede social do atleta pode ser mais significativo do que um comentário positivo no treino. Também, de acordo com T7 e T8, a forma de comunicação com cada atleta é diferente, pois são indivíduos diferentes e, portanto, as respostas deles às cobranças do treinador serão diferentes, neste sentido é interessante que o treinador se adapte aos atletas e saiba exatamente como extrair o melhor de cada um deles. 56

Na categoria Adulto, para relacionar-se e comunicar-se de maneira adequada, T10 e T11 compartilham que é necessário conhecer ao máximo os atletas, saber que as cobranças devem ser iguais com todos do grupo mas que a forma de lidar com cada indivíduo é diferente. Neste sentido, T10 aponta que o psicólogo pode auxiliar o treinador a entender melhor como o atleta está em cada momento, de acordo com o que está passando e vivendo fora da quadra, norteando assim o treinador para uma melhor comunicação com o atleta. Para T11, o treinador deve cobrar e apontar os erros, mas sempre trazendo uma perspectiva positiva para que os atletas adquiram confiança e acreditem no que o treinador quer colocar em prática. Segundo T12, existe uma hierarquia mas o grupo (comissão e atletas) deve trabalhar de forma cooperativa. Dependendo das circunstâncias que ocorrem ao longo da temporada o treinador vai agir de forma mais rígida ou mais branda.

Percebe-se que nas categorias sub-17 e Adulto a ênfase que os treinadores (T7, T8, T9, T10 e T11) dão em conhecer seus atletas e saber relacionar-se com os mesmos a fim de conseguir melhores resultados em quadra. Esta percepção alinha-se com Dignani (2007) que aborda sobre conhecer a personalidade e a inserção social de seus atletas. O discurso de T12 demonstra ainda que atualmente existe uma proximidade maior entre treinadores e atletas e que um relacionamento equilibrado pode aumentar o grau de poder do treinador perante o grupo.

IC 2.1.1 - Relacionamento e comunicação com familiares dos atletas.

DSC21 (sub-11): Proximidade. Se a gente tem os pais na mão, a gente tem o time inteiro. O meu diálogo com os pais é direto, não tem intervenção. Os pais me ligam, dou a liberdade pra me ligar a hora que querT3. Eles fazem parte. Eles vão acompanhar, eles vão levar, eles vão ter que liberarT1,T3. A gente tem que conquistar eles. Eles são a chave de tudoT3. Tem que ser muito aberto, muito sinceroT2. Estamos lidando, muitas vezes, com um pai de um atleta que nunca foi atleta, ele é um iniciante. O pai é um iniciante em ser pai de atletaT1,T2. A proximidade com os pais ela é mais que obrigatória nessa categoriaT1,T3.

DSC22 (sub-14): Aqui eu tenho alguns desconfortos, nunca dá para você agradar todo mundoT4. Os pais reclamam que o filho não joga. Eu digo, "senhora, é assim". Os caras não tem limite. Você precisa por limiteT5. Aqui no clube a gente é aconselhado a não ter esse contato direto com os pais para discutir coisas de jogo e de treino e então dificilmente chega para mim críticas ou elogios, sempre passa por algum diretor e eles que acabam resolvendoT4. Tem que ter noção qual o público que você tem e como você vai trabalhar, como você vai 57

se comunicar não só na linguagem mas os exemplos que você vai dar, parte cultural, saber o meio que estão os garotos pra que você consiga se comunicar bemT6.

DSC23 (sub-17): No sub-17 ela é importante, mas ela é menos importante. Porque o pai já interage menos, já participa menos da vida dele. A grande maioria dos atletas já vai por si só, eles já tem uma percepção concreta do que eles estão realizando, onde eles querem chegar, então, a participação dos pais nessa idade é menorT7. Eu converso com os pais no início da temporada e eu aviso desde cedo, "olha, daqui pra frente a minha comunicação é com o seu filho e com você eu só falo se tiver alguma necessidade”T8. O pai costuma ter um olhar de um time individual, interessado apenas pelo futuro apenas do filho dele. Normalmente quando um pai me procura e critica eu dou razão, independente do que ele fale. Porque acaba a conversa. Eu falo que eu vou ver, pode deixar. Não costumo discutir com alguém que não é da minha áreaT9. Em alguns casos o agente do jogador interage mais com você do que o próprio paiT7,T8. A gente procura trabalhar com o máximo de respeito mas também não deixando o agente interferir no trabalho nem nas decisõesT8,T9. Eu acho até bom o atleta ter um agente quando completa 19 anosT9. O trabalho do agente não é um trabalho concorrente desde que ele não fale muito de basqueteT9 e a gente procura manter um relacionamento profissionalT8.

DSC24 (Adulto): Normalmente não existe uma proximidade da famíliaT11. Quando vem a gente conversa, fala um "oi" mas não tento aprofundar esse relacionamento. A minha linha de trabalho tem que ser bem profissional, se não mistura as coisasT10. A gente tem que tomar cuidado da proximidade não ser muito grande e também não deixar ter um distanciamentoT11. É importante a gente entender e tratar sempre o atleta como um ser humano completoT12. E os agentes é uma realidade do esporte, então a gente tem que conviver com eles. Lógico, tem que saber colocar limite tanto para os jogadores quanto para os agentesT10,T11.

A comunicação e relacionamento do treinador com o grupo social que rodeia os atletas do sub-11 se resume basicamente aos seus familiares, portanto, os entrevistados desta categoria concordam que é extremamente importante nesta categoria manter um relacionamento próximo, aberto e verdadeiro com os pais. Segundo T1, T2 e T3, eles fazem parte deste processo, são eles que autorizam a participação do atleta, levam os atletas aos treinos e jogos e dão suporte em circunstâncias extra quadra. Além disso, T1 e T2 relatam que muitos pais não conhecem detalhes do basquete e por isso o treinador precisa estar próximo também dos pais para explicar regras e o funcionamento da modalidade.

Quanto aos relacionamentos com os familiares dos atletas os entrevistados do sub-14 apresentaram respostas diferentes entre si. T4 afirmou que evita conversar situações de jogo com os pais e que a instituição se 58 responsabiliza por esta comunicação. T5 comentou que funciona parecido com os atletas, sendo necessário por vezes disciplinar também os pais. T6 alegou a importância do treinador entender o público que está trabalhando para definir sua abordagem e forma de comunicar-se. Observa-se no discurso dos entrevistados desta categoria, relatos bem diferentes se comparado à categoria anterior. Embora os pais ainda estejam bem presentes, os treinadores já não estabelecem tantos vínculos com os familiares.

O relacionamento com o grupo social que rodeia os atletas do sub-17 se restringe basicamente à familiares e agentes (representantes). Os três entrevistados desta categoria concordam que com os familiares o relacionamento é bastante superficial e se comunicam muito pouco, mas T9 incentiva um relacionamento sadio dos atletas com os familiares e procura entender o ponto de vista dos pais. Já com os agentes ocorre uma interação maior, são personagens que podem facilitar o relacionamento do atleta com o clube, desde que não interfiram no trabalho e nas decisões do treinador (T7 e T8).

O círculo social dos atletas na categoria Adulto também são familiares e agentes. Com os familiares praticamente não há relacionamentos, mas T12 considera importante conhecer aspectos da vida pessoal dos atletas (como situação familiar) para criar relacionamentos verdadeiros e laços de confiança. Com os agentes, T10 e T11 afirmam que são conversas profissionais, sem muita abertura para que não interfiram no trabalho do treinador.

É possível notar que conforme os atletas tornam-se mais velhos, o envolvimento dos pais diminui. No entanto, em todas as categorias pelo menos um treinador valorizou o envolvimento familiar dos atletas com seus familiares e entendem sua importância para o desenvolvimento do atleta. Nas categorias iniciais, principalmente no sub-11, o discurso dos entrevistados corrobora com Vilani e Samulski (2002) no sentido de que a participação dos pais otimiza a comunicação e a relação entre os agentes do triângulo esportivo (treinadores, crianças e pais).

IC 2.1.2 - Relacionamento e comunicação com os dirigentes.

DSC25 (sub-11): Eu sinto que dependendo de cada clube eles podem ser mais ou menos presentes. Eu acho que todos tem que entender o 59

que se espera. Deveria ser o canal de comunicação entre o que o clube espera e o que o técnico precisa desempenhar, se não fica aquele negócio de eu tô fazendo o que eu penso mas o clube quer outra coisa. Os dois andam juntos. Pode ser algo super simples de resolver, mas que às vezes uma falta de comunicação atrapalhaT2. Eu procuro sempre dialogar e não esconder nada. Já errei algumas vezes de querer fazer as coisas sem avisar. Eu acho que sinceridade é a palavra chave, eles saberem que você é claro e essa clareza tem que ser sempre passada pra elesT3. Conversar com seu dirigente sobre o porque de escolher uma competição ou outra, de saber dar o feedback de qual o perfil da equipeT1.

DSC26 (sub-14): É uma parte difícilT5,T6. Principalmente quando o dirigente não é da áreaT5 ou é pai de algum atletaT6. Isso é complicado, porque o dirigente às vezes tem objetivos diferentes do que você tem. Por isso eu preciso conhecer o objetivo delesT4. Então o diretor do Sub-14 é o pai do Zezinho, aí o Zezinho às vezes é o melhor jogador ou às vezes o Zezinho é o sócio que é o pior jogador que você vai ter que colocar (no jogo) porque ele é seu dirigente. O dirigente muitas vezes age como pai. Ele vai ver o caso do filhoT6. Ou o dirigente fala que sócio tem que jogar, quando quase não vem no treino e outros atletas que não são sócios merecem muito mais tempo de quadraT5.

DSC27 (sub-17): No meu ponto de vista ela tem que acontecer, é importante você ter um relacionamento com a direção, o diretor estar sabendo o que está acontecendoT7. É um relacionamento constante. Eu preciso entender a filosofia, pra onde eles querem levar o programa e tentar adequar o trabalho de acordo com issoT8. Você tem que dar todas as informações que os caras (dirigentes) te pedem e quando eu tenho dúvidas, tenho que ir lá e perguntar pra eles. Ter sempre transparência. Ter sempre eles com você. Mas acho que uma relação muito estreita entre técnico e diretoria atrapalha um pouco o profissionalismo de ambos. Não acho muito saudável amizades profundas com diretores, o profissionalismo exige um certo distanciamentoT9.

DSC28 (Adulto): Cada lugar o seu diretor quer uma coisa, então você tem que ter a leitura do local, o que eles queremT10,T11,T12. Em alguns casos o dirigente não é um profissional, ele é um sócio do clube escolhido para ser o diretor e tenta colaborar, às vezes tem-se um profissional contratado pra fazer isso, onde é um outro tipo de relacionamento que o treinador precisa terT11. Eu faço questão de compartilhar tudo pra que eles (dirigentes) realmente entendam o que acontece, o que se passa, pra depois de repente quando surgir alguma outra situação não ser "pô, mas..."T12. Eu acredito muito nessa composição junto, parte técnica e diretiva juntas, sentar numa mesa e tomar decisões coletivamenteT10.

Para T2, o relacionamento treinador-dirigentes, pode variar de acordo com cada instituição, algumas delas o próprio pai de um atleta é o diretor. T1 e T2 comentam que treinador tem que saber o que a diretoria espera para que as partes andem alinhadas e consigam estabelecer diálogos claros e diretos. Além disso, ser sincero ao passar informações para os membros da diretoria é algo relevante para T3. 60

O sub-14 foi a fase em que os entrevistados apresentaram maior incidência de relatos alegando dificuldade de relacionamento com os dirigentes. Os relacionamentos ocorrem de forma similar à fase anterior, mas T5 e T6 em alguns momentos se encontram em situações difíceis ao ter que dar tempo de quadra à atletas que em suas concepções não mereceriam, mas que por vezes é uma exigência dos diretores.

O relacionamento com a diretoria é percebido pelos treinadores do sub- 17 como algo necessário de se acontecer. É importante uma comunicação transparente (T9) e constante no sentido de entender a filosofia e o foco dos diretores, para alinhar os pensamentos e atuações do treinador (T8), no entanto, este relacionamento deve ser extremamente profissional (T9). Segundo T7 "fazer política" é necessário mas T9 adverte para não tornar esta relação estreita demais a ponto de atrapalhar no profissionalismo.

Para comunicar-se com os dirigentes, todos os treinadores do Adulto entendem que é preciso ser flexível e entender a realidade da instituição. T11 explica que em alguns casos o dirigente é uma pessoa contratada para estar naquela posição, em outros casos é um associado da instituição que foi escolhido para estar lá. T10 e T12 acreditam que é importante ter um bom relacionamento e compartilhar os fatos que acontecem em quadra com os dirigentes.

Nas categorias sub-11 e sub-14, percebe-se que a participação dos dirigentes ocorre de maneira mais amadora e consequentemente os relacionamentos dos treinadores com os diretores nem sempre flui com facilidade, em alguns casos inclusive os treinadores têm pouco contato com os diretores. Nas categorias sub-17 e Adulto, observa-se uma atuação mais presente e profissional dos dirigentes, estabelecendo dessa forma, relacionamentos também mais profissionais e mais frequentes. Meinberg (2002) descreve a importância de estabelecer boas relações com os dirigentes para o sucesso da equipe e isso pode ser percebido em todas as categorias, principalmente nas categorias mais velhas da base (sub-17) e na categoria Adulto.

IC2.1.3 - Relacionamento e comunicação com a mídia. 61

DSC29 (sub-11): No Sub-11 é muito difícilT1, é pouca a exposição que tem. Mas pensando assim, não é bem mídia, mas as redes sociaisT2. A gente divulga o trabalho nas redes sociais, postagens, fotosT1,T3. Nada de apontar um atleta que está se sobressaindo, nem evidenciar ninguém, mas sim o trabalho em si, a coletividade dos meninosT1. Muitas vezes eu vejo que eles podem se expressar de uma forma que mostra um sentimento do momento e que pode atrapalhar um trabalho com o timeT2. Mas por outro lado pode ser super positivo também, eles as vezes vem mostrando um vídeo que viram, postam jogo, colocam treino, fazem videozinhoT2. Se a gente tem, tem que aproveitarT3

DSC30 (sub-14): Mídia antes era TV, rádio e você ia dar uma entrevista se ia jogar no interior, hoje não, eles fotografamT6 e põe no Instagram de qualquer coisaT4,T6, no FacebbokT4. Então até nisso você tem que saber o que falar, como falar, eu estou me adaptandoT6. Tudo aparece, os pais filmam, tiram fotosT5, tem que orientar o que os garotos e pais postamT5,T6, como postam, tem muito aquele negócio, porque eles se relacionam nas redes e vai jogar contra o outro clube e fala que o clube é ruim, que os pais são isso, então até nisso você tem que acabar atuandoT6. Recentemente um dos meninos do nosso time um cara quis fazer uma matéria só com ele e aí saiu o vídeo, tudo mais, mas eu nem comentei nada. Eu acho que acaba um, sentindo um pouquinho de inveja e então para evitar qualquer coisa, eu não falo nadaT4.

DSC31 (sub-17): No sub-17 ainda é muito pequenaT7,T8, mas já tem algumas coberturas de jogos e resultados, então tentamos tratar isso de maneira naturalT8. Se a gente é solicitado, procuramos ajudarT8. São intervenções mais pontuais em Facebook, YoutubeT7, e redes sociaisT8. Acho que numa entrevista não deve falar mal do próprio time, por mais que eu esteja indignado mas eu sempre vou dar uma entrevista olhando as perspectivas positivas e vou vender o meu clube positivamente. Se eu não tenho nada de positivo pra falar eu não dou entrevista. Eu tenho essa opção também, eu não sou obrigado a dar entrevista. Então saber correr de um repórter as vezes se está com cabeça quente é uma boaT9.

DSC32 (Adulto): Acho que pro cara se tornar um bom treinador é importante a comunicaçãoT12. Saber que as vezes você vai receber uma crítica mas tem formas de responder, de se colocarT11,T12. Eu tento ter um bom relacionamento. Já trabalhei com ótimos treinadores mas que não sabiam ter esse relacionamento e isso pesava muito. Eu não vou parar treino pra cara gravar no meio do treino. Mas sempre que possível eu atendo. Hoje a gente precisa da imprensa, da mídia. Não atrapalhando o time, não atrapalhando os treinamentos eu sempre vou atender da melhor forma possívelT10. E a mídia vem mudando muito, acho que é um desafio saber usar essas ferramentas. Alguns usam demasiadamente, acabam errando, outros usam pouco por não gostar ou por não saber, então é outra situação que a gente vem aprendendo a trabalhar e lidar, ou com a grande exposição ou com pouca exposição ou com comentários sobre o seu trabalhoT11. O relacionamento treinador-mídia, na categoria sub-11 resume-se à postagens e divulgações em redes sociais e T1 procura evidenciar mais o trabalho do grupo, do que um jogador em específico. T2 alerta para cuidados com postagens dos atletas que podem ser ofensivas ou causar situações 62 desconfortáveis. Da mesma forma que pode ser algo ruim, se mal utilizada, os entrevistados responderam de maneira unânime que as redes sociais, quando bem utilizadas são uma ótima maneira de divulgar o trabalho que a equipe desenvolve.

No sub-14 a mídia é muito em função de redes sociais. Atletas, pais e os próprios treinadores postam suas atuações, sempre levando em conta que sejam postagens conscientes que não agridam a imagem da sua própria instituição ou de outras instituições ou atletas. T4 acredita que devem ser valorizadas as postagens em prol do grupo como um todo e não apenas de um único jogador.

A comunicação do treinador com a mídia de TV no sub-17 ainda ocorre com baixa frequência segundo T7 e T8, porém quando acontece, T8 tenta tratar de maneira natural e T9 exalta aspectos positivos da equipe. Já nas redes sociais, T8 alega que os treinadores precisam estar conscientes ao postarem algo e orientar seus atletas sobre esta questão e suas responsabilidades, pois carregam a imagem de sua instituição.

No Adulto, T11 e T12 ressaltam a importância de saber se comunicar quando estão lidando com membros da mídia pois o treinador está sujeito a receber críticas e precisa estar preparado pra se defender e justificar seus argumentos. T10 preza por um bom relacionamento com os membros da imprensa, pois um depende do outro. Com relação às mídias sociais, T11 explica que é um fator relativamente recente e que os treinadores estão aprendendo a lidar, para usar na medida certa e de maneira apropriada.

Ao analisar os discursos dos treinadores de base e dos treinadores do Adulto, percebe-se que o fator mídia para os treinadores de base diz respeito basicamente à postagens em redes sociais. Os treinadores do Adulto também estão neste contexto de redes sociais, no entanto, devem estar preparados para enfrentar entrevistas, filmagens e uma maior exposição. O discurso de todos os treinadores traz elementos que se alinham com o que Meinberg (2002) aborda sobre a importância de estabelecer boas relações com a mídia.

Ao analisar os discursos de todos os entrevistados sobre os diversos relacionamentos que são necessários na profissão do treinador, nota-se que 63 seus discursos vão ao encontro de CAC (2016) ao abordar que o treinador deve estabelecer relações interpessoais com outros de forma mútua e recíproca, a fim de facilitar a obtenção de um resultado específico.

IC2.2 - Perfil do treinador.

DSC33 (sub-11): Acho que ele tem que ter esse perfil de professor. De entender que a parte social nesse momento é muito importante, tem que ser prazeroso. Entender o que o menino quer pra vida dele, o momento do moleque. Tem que ter o entendimento humanoT2. Ser super paciente, super detalhistaT1. Um perfil tipo um paizão. Não posso ser tão durão. Precisa estar próximo. Tem que ter um pouco de compaixãoT3.

DSC34 (sub-14): O treinador tem que ser um educadorT4,T6. Os meninos vão ser seres humanos, não vão ser atletas para sempreT4, é preciso desenvolver outras coisas que não seja só o basqueteT4,T6. Você tem que conhecer o grupo. Conhecer os jogadores, né. As vezes você vai ter grupo que você vai tirar mais coisas sendo um paizão. Vai ter grupo que você vai tirar mais coisas sendo mais duro mesmo, cobrando mais. Vai depender muito do grupoT6. Ele tem que ser paizão, tem que ser agregador, mas tem que ter mão firme, tem que fazer os atletas respeitarem ele, tem que fazer o time jogar por ele e ele tem que ser verdadeiro! Tem que equilibrar um tipo de perfil dentro da quadra e um fora da quadra. Eu no treino sou uma coisa, fora de quadra sou eu mesmoT5.

DSC35 (sub-17): Eu acho que não tem um perfil único. Precisa ter consciência do seu papel, você na sua função ali, saber quando você tem que colaborarT7. E isso varia muito de grupo pra grupo, mas algumas coisas são constantes. Tem que dar esse suporte ao atleta pois alguns vem de outras cidadesT8, tem que ser um cara firmeT8,T9, que orienteT9, dando o máximo de informação possível pro atletaT7, tem que ser competente, estudado, saber o que está fazendo, antenado com a tendência atual do ramo dele T9. Acho fundamental o técnico ter um bom relacionamento com os atletas dele. Acho que treinador carrasco para os brasileiros não funciona. Ele não vai ter respeito gritando nem sendo legal pra caramba com todo mundoT9.

DSC36 (Adulto): Não dá pra falar que tem uma regraT10. Depende do grupoT10,T12. Alguns atletas estão acostumados com técnicos que são mais rígidos, então tem que estar se adaptandoT12. Eu acredito que tem vários perfis e não existe um perfil que pode ser melhor ou pior. Acho que cada um tem que seguir o que é, e criar o seu perfilT11. Tem que saber lidar com ser humanoT10,T11,T12. Ter um bom relacionamento, técnico autoritário já não dá maisT12. Tem que ser estudiosoT12, ter uma postura correta e ser diferenciado porque se não você não vai ganhar o respeito do grupo T10.

As percepções dos treinadores da categoria sub-11 relacionam-se com o pensamento de Scaglia (2004) referindo-se que o treinador antes de tudo é um pedagogo, um educador. Assim, faz-se necessário considerar o ser humano como um todo a fim de formá-lo e desenvolvê-lo para a vida. Nessa categoria percebe-se uma proximidade muito grande do treinador com os atletas. 64

Na categoria seguinte, T4 e T6 também se aproximam à Scaglia (2004) ao apresentarem uma abordagem mais voltada ao desenvolvimento pessoal do que só o desenvolvimento atlético. O comentário de T6 sobre conhecer os jogadores relaciona-se com outros autores (BRANDÃO; VALDÉS, 2005; LOPES; SAMULSKI; NOCE, 2004; DAMÁSIO; SERPA, 2000; WEINBERG; GOULD, 2001), de que as características dos atletas, como sexo, idade, maturidade, tempo de experiência no esporte, nível de capacidade e o tipo de temperamento e personalidade, são fundamentais para determinar o perfil de um treinador.

No sub-17, o entrevistado T7 alinha seu pensamento com Sapata (2013), pois ambos entendem que não exista um perfil único e definitivo de treinador. Assim como estabelecido por Costa (2005), todos entrevistados também percebem diversos tipos de perfil de treinador. Para T8 e T9 o treinador precisa ser firme. Além disso, T9 entende que o perfil deve ser de um profissional competente, estudado, consciente do que faz, e que saiba relacionar-se. Ao preocupar-se em dar apoio e suporte fora de quadra, T8 aproxima-se de Obrador e Nebot (2012), sobre cuidar da saúde e integridade do atleta. Percebe-se pelas declarações dos entrevistados que há consonância com o que estabelece Bompa (2002a) ao citar que os treinadores deslocam-se do papel de professor para o de técnico.

Assim como treinadores de outras categorias (T6 e T8), na categoria Adulto os entrevistados T10 e T12 entendem que o perfil do treinador vai depender do grupo que se está trabalhando. Já T11 aproxima sua percepção à T7 ao relatar que existem diversos tipos de perfil. Todos os treinadores do Adulto - assim como T9 - reconhecem a importância do treinador saber lidar com pessoas. T12, assim como T9 enaltecem que os treinadores devem ser estudiosos do esporte.

IC2.2.1 - Tipo de liderança.

DSC37 (sub-11): Tem que ser um motivadorT2,T3. Tem que ser aquela coisa bem pelo exemplo. Tem que instruir e mostrar que tem que se esforçarT2. Independente do jogo a vontade tem que ser mesma, mostrar que a gente não vai se entregarT3. Se eu acho que não é legal um menino se impor de uma forma ruim, que não faz parte do jogo, como comemorar na cara do outro, o meu comportamento não pode ser diferente dissoT2. Uma liderança afetiva, você saber trazer o 65

grupo pra você. Tem que estar muito próximo deles, eles precisam se sentir abraçados, se sentir apoiados. Um estilo paizãoT1.

DSC38 (sub-14): Você tem que ser um exemploT4,T5. Você não pode fazer besteira. Você não pode postar em mídias sociais você enchendo a caraT5. Se eu quero que eles estejam com o astral bom durante o jogo, eu também preciso estar assimT4. É muito em função do grupo que você tem. Você tem que ser firme mas sem perder a doçura. Tem que ser duro e da mesma maneira tem que ser um pouco mais próximo. Porque eles precisam disso, não adianta você ser só firme ou você ser só doce, paizão, você tem que ter a medida. Uma hora você vai dar dura, mas uma hora você vai dar um abraçoT6.

DSC39 (sub-17): Precisa liderar, mas ao mesmo tempo quando você lidera demais acaba tirando responsabilidade deles e o envolvimento no processo, então eu procuro primeiro educar alguns líderes dentro do grupo pra eles puxarem o grupo. Tem que mostrar o caminho, mas tem que deixar eles ficarem envolvidos pra não ficar tudo pra mim, como técnicoT8. Precisa liderar pelo exemploT9. E também é muito relativo. Tem grupos que com uma liderança mais autoritária vai bem e outros grupos isso já não funciona, um líder mais democrático pode funcionar. O líder tem que entender como que ele vai servir a equipe. Você pode ser duro, pode ser ríspido mas você tem que ser justoT7.

DSC40 (Adulto): Eu acho que depende do seu perfil. Não adianta você querer ser igual a alguém que você viu. Acho que você tem que ser você. Conquistar o grupo, fazer com que eles façam o que você quer, seja no esporro ou na conversa. Então eu acho que você tem que ter a leitura do grupo e você escolher os jogadores que vão encaixar no seu perfilT10. A gente tem que buscar esse constante crescimento pra liderar equipes, pra administrar grupos, então, hoje eu vejo essa flexibilidade ser importante e eles se sentirem importantes no processo, não só obedecer e sim opinar e participar da transformação do trabalhoT11. Momentos eu sou um pouco mais autoritário, momentos menos, mas de uma maneira geral eu não acredito mais na liderança apenas autoritária. Eu creio na liderança do exemplo, na liderança de convencimento, na liderança na base da confiança, na base do conhecimento. Mas isso aí também é perfil de grupo que você tem na mão, tem o histórico dos atletas que as vezes estão acostumados com técnicos que são mais rígidos, então tem que estar se adaptandoT12.

Quanto à liderança no sub-11, T2 e T3 percebem a necessidade de saber motivar os atletas. De acordo com T2, cabe ao treinador instruir constantemente aspectos de quadra e valores pra vida e ter hábitos e atitudes positivas, uma vez que os treinadores são uma grande referência para os atletas, que acabam copiando muitos dos seus exemplos. Para T1, é preciso afetividade e estar muito próximo dos atletas para auxiliá-los em suas inseguranças e descobertas. T3 passa aos seus atletas princípios de não desistir e esforçar-se sempre. Percebe-se nos discursos dos treinadores desta categoria semelhança com CAC (2016) ao relatar sobre a capacidade do 66 treinador em influenciar de maneira positiva os atletas, usando uma estrutura ética baseada em valores.

O tipo de liderança utilizado por T4 e T5 no sub-14 é através de exemplos. O treinador nesta fase exerce uma influência muito grande nos atletas sendo um espelho para os mesmos. T6 complementa o discurso alegando que a liderança do treinador vai depender das características do grupo e que o treinador precisa equilibrar momentos de liderança que exigem pulso firme e momentos de liderança que permitem ser mais afetivo.

No sub-17 cada treinador abordou uma percepção distinta. Para T7 a liderança é relativa pois vai depender do grupo que se tem para trabalhar, cabendo à ele entender como pode ajudar a equipe da melhor forma. Muitas vezes o treinador pode ser rígido e autoritário com os atletas, mas tem que sempre ser justo. T8 acredita em inserir os atletas no processo de liderança e tomadas de decisão, envolvendo os atletas neste processo, principalmente aqueles que apresentam características naturais de liderança. T9 acredita em liderança compartilhada com os atletas, e que seus exemplos e atitudes também são formas de liderar a equipe.

Para T11 e T12, a liderança do treinador de Adulto não deve ser mais considerada como em anos anteriores, quando havia uma barreira entre treinador e atletas, com treinadores extremamente autoritários. T11 comenta que é importante o treinador ser flexível e compartilhar essa liderança para que os atletas participem do processo com opiniões. Segundo T11, muitas situações e jogadas acabam sendo sugestões de atletas. No pensamento de T12, é uma liderança através do exemplo, na base do convencimento, confiança e conhecimento

Diversos entrevistados (T6, T7, T12) relataram que o tipo de liderança é relativo e depende do grupo de atletas que se tem para trabalhar, corroborando com Brandão (2003), sobre o fato de que treinadores eficazes são capazes de variar seu estilo, adaptando-o às necessidades particulares de cada atleta. É crucial descobrir a chave para cada atleta, seus motivos, ambições e personalidade. T10 acrescenta que além de ter a leitura do grupo, se possível, é interessante escolher os jogadores que vão encaixar no perfil do treinador. 67

Outro ponto bastante enfatizado por diversos treinadores (T2, T4, T5, T9, T12) foi a liderança pelo exemplo.

IC2.2.2 - Saber ouvir os atletas.

DSC41 (sub-11): Nessa categoria a gente mais fala do que a gente escuta. O escutar em relação à essa categoria é você saber o que eles pensamT1. É importante porque se você não escuta, como que você vai saber o que ele está passandoT2? E outra, o cara (atleta) que está dentro da quadra, está vendo um jogo e o técnico está vendo outro. Eu gosto de ouvir. Mesmo no Sub-11 eu gosto de ouvir as questões de jogo mesmo que eles tem a falar. Eu quero propor um diálogo. O que eles estão sentindo? Só que você sabe que você é o comandante, então a palavra final vai ser sua. Mas por que não deixar eles falarem? É uma forma de confiar, se você não confia no seu time não tem como você jogarT3.

DSC42 (sub-14): Eu acho que a gente tem que ser bem aberto para ouvir qualquer coisa. Às vezes, acaba que você toma uma decisão mais assertiva ou acaba sendo mais assertivo pois é o líderT4. É importante saber ouvir, até porque quem joga é o garoto. Acho que o correto é tentar ter esse canal e você tem que ir preparando o atleta e como isso vai chegar. A decisão final sempre é suaT6. Sub-12 e Sub- 13 você cala a boca e faz o que eu mando. Sub-14 eu finjo que te escuto. Sub-15 eu posso tentar te escutar. Apesar que eles falam algumas coisas e você até escuta. Agora, é muito difícil ter um jogador nessa faixa etária que chegue pra você e fale assim: "olha, professor não tá dando certo" e já justificar o porque. Diferente do Sub-16 e Sub-17 que você escutaT5.

DSC43 (sub-17): Tem que ouvir tanto coisa de quadra como coisas de fora da quadra. As dificuldades que eles tem com 17 anos, a gente sabe que passa por muita coisa, a cabeça fica aprendendo as coisas novas da vida e nem sempre sabe lidar com isso e muitas vezes não tem orientação ou alguém pra ouvir, então a gente acaba fazendo issoT8. E durante os treinos e jogos eu recebo questionamentos ou uma sugestão, eu analiso e se eu acho que é pertinente eu posso implementar as vezes a sugestão não é correta taticamente mas o fato de vir deles, eu acho que se vem deles eles vão executar com mais convicção. E aí vai funcionar melhor do que uma coisa taticamente correta mas que os caras não fazem com convicção. Eu quero estimular isso, envolvimento no processoT8. Então saber ouvir sem perder a autoridade. muitas vezes a gente acaba não ouvindo por receio, por não saber flexibilizar e não ter a segurançaT7. Tem momentos que eu simplesmente determino como vai ser, mas tem momentos que se você não tem certeza e tem outras cabeças ali que entendem do assunto, por que não o jogador dar uma ideia mirabolante? Eles sabem o que está acontecendoT9.

DSC44 (Adulto): Acho fundamental saber ouvir não só os atletas, mas todo mundo. Acho muito legal o feedback, sou aberto a escutar sempre. Por mais que eu tenha uma visão de fora eu não jogo, não entro em quadraT10, então eu sempre tô aberto a escutarT10,T11,T12, falando com respeito, sendo uma coisa pro time, não tem problemaT10,T12. Tem caras que precisam falar pra se sentir importante, se sentir participativoT10. Eu tenho hoje um elenco bastante experiente, passou por muitas coisas na vida, então eles tem muito a contribuir aqui, muita coisa que a gente faz partiu delesT11. 68

Na percepção de T1, os treinadores no sub-11 falam mais do que escutam, pois os jovens estão adquirindo conhecimento com o treinador em relação ao jogo. Para T2 e T3, é fundamental o treinador ouvir o que os atletas estão sentindo, suas dúvidas e seus pensamentos, alinhando seu discurso com Gomes (2011) sobre saber ouvir e demonstrar que “está com o outro”.

No sub-14 os treinadores T4 e T6 entendem que mesmo os atletas não tendo um conceito bem formado do jogo e ainda com percepções equivocadas sobre alguns aspectos táticos, é importante ouvir o que eles tem a dizer, como forma de incentivar o pensamento e até mesmo auxiliar nas tomadas de decisão do treinador. Por outro lado, o discurso de T5 mostra mais resistência em ouvir o que os atletas têm a falar sobre aspectos táticos, alegando que os atletas nesta idade até conseguem perceber que algo não está funcionando corretamente, mas não conseguem justificar o motivo.

No sub-17 os entrevistados concordam que os atletas já têm uma leitura do jogo mais aguçada e podem colaborar com suas percepções de situações que acontecem dentro de quadra. Para T7, saber ouvir os atletas sem perder a autoridade é um ponto importante, pois a vaidade do treinador às vezes pode falar mais alto. T8 costuma incentivar questionamentos e sugestões de seus atletas como forma de estimular o envolvimento do atleta no processo e quando questionado, analisa a situação e se o comentário do atleta é pertinente a ponto de ser colocado em prática. Existe ainda uma preocupação por de T8 em ouvir os pensamentos dos atletas sobre assuntos que não se tratem apenas de basquete. Isso mostra uma preocupação com o indivíduo como um todo, relacionando-se com Gomes (2011) no sentido de que os treinadores não podem interagir com os atletas sem procurarem perceber a forma como as suas ideias foram recebidas devendo, para tal, estar disponíveis para ouvir e compreender as outras opiniões e pontos de vista.

T11 comenta que os atletas da categoria Adulto já passaram por diversas situações e possuem conhecimento e experiência na modalidade. Sendo assim, todos os treinadores da categoria Adulto afirmam que escutam seus atletas e aceitam ouvir sugestões para o bem do time. Os entrevistados tem consciência que a decisão final é do treinador, mas que os atletas podem contribuir muito com suas percepções. Esta atitude dos treinadores se 69 relaciona com Gomes (2005) ao abordar uma liderança democrática que auxilia as tomadas de decisão do treinador e que treinadores no nível de alto rendimento se importam em ouvir o que seus atletas tem a dizer.

IC2.2.3 - Como controlar as emoções.

DSC45 (sub-11): É uma parte super difícilT2,T3. Tem dias que você está sensível e a falta de experiência também te ajuda com isso. Num pedido de tempo se você vê que o time está calmo demais, é a do fake, fazer um teatro, eu acho que tem muito isso daí. Tacar a prancheta, dar um berrão, soltar um palavrão mais cabeludo, mesmo não sendo do seu perfil. E as vezes uma situação que o clima está tenso, você abaixa o tom de voz, olha no olho. Então você tem que controlar isso e saber que o jogo é um xadrez e um teatro, você tem que saber controlar, tem que ter amigos e auxiliares ali que possam te ajudarT3. Ela precisa ser levada mais ainda a sério nessa categoria. Porque quem tá lá na quadra nessa categoria tá começando a experimentar o negócio. Não é experiente. Obviamente vai estar mais nervoso. Se eu estiver nervoso, quem tá na quadra vai ficar mais nervoso. E se eu não tiver clareza ou se eu estiver exaltado demais ao passar uma informação, será que ela vai ser passada mesmo?T2. Você as vezes pede calma e você não está calmo. Você pede um pouco mais de garra e as vezes você está muito tranquilo perto deles. Então você tem que saber mesmo como controlar suas emoções, porque você está trabalhando com um público que é totalmente dependente de você, é a categoria mais dependente neste sentidoT1.

DSC46 (sub-14): Talvez uma das coisas mais difíceisT4,T6. Porque ser técnico você tem que ser muito intenso. Em treino, em jogo. Mesmo que você seja um cara tranquiloT6. Por mais que você esteja perdendo o controle, que esteja desacreditando, você não pode passar isso pro time. E acho que a parte positiva, né, o lance de elogiar, o lance de comemorar que eu acho que é legal - não demais - e até o lance de você se emocionar e chorar. Antes eu achava que não poderia aparecer chorando pro jogador e hoje eu acho que pô, apesar de você liderar você tem emoções como ele tem. Porque é muito intenso, o jogo é muito intensoT6. Eu aprendi muito viu! Eu era um louco. A gente evolui, mas às vezes ainda saio um pouco da linha, solto palavrão. Falo de um jeito pra mexer mesmo com eles e até pros pais ouvirem. Precisa às vezes de uma chacoalhada. Daí vem uma reação de dentro pra foraT5.

DSC47 (sub-17): Enquanto você não se conhece, não percebe a rotação que você está trabalhando, aquilo ali é falência, é caosT7. É um trabalho constante de aprendizagem e acho que da personalidade de cada um. Eu acredito que durante o jogo é um pouco mais acentuado né. Mas eu acho que em qualquer profissão você tem necessidade de controlar as suas emoções. Saber equilibrar, saber não trazer coisas da vida pessoal pra quadra, tentar isolar essas coisasT8. Eu costumo meditar, trabalho muito a minha respiração e é muito difícil alguma coisa no meu dia a dia me tirar da boa, porque eu busco muito meu desenvolvimento espiritual. Não que eu não sinta, mas eu acho que eu estou muito bem preparado pra conseguir recomeçar porque eu faço um trabalho psicológico antes das coisas aconteceremT9. Tem que ter um preparoT8.

DSC48 (Adulto): Acho que aí entra o perfil do técnico, depende muito da característica da pessoa, do jeito da pessoa ser. Acho que é 70

importante o seu assistente encaixar com você, então por exemplo, eu sou mais tranquilo, o meu assistente é mais explosivo, então isso é legal. Ou as vezes você ser um cara mais um cara de saber se relacionar e o seu assistente ser um cara mais técnicoT10. Nesse quesito eu sou um cara que lido muito bem com as emoções, sem falta modéstia, eu consigo ter um autocontrole a maior parte das vezes e na maior parte das situaçõesT11. Com o passar do tempo você vai aprendendo e vai entendendo. Eu procuro sempre fazer um trabalho anterior ao jogo em relação à isso. Então algumas técnicas com a ajuda de profissionais, por exemplo, eu trabalho com coaching, eu trabalho com psicólogo, eu acho que é muito importante e eu venho aprendendo a manter a calma manter a tranquilidade porque isso faz diferença, tanto no que você passa pros seus atletas como também nas tomadas de decisõesT12.

Os entrevistados do sub-11 percebem que o treinador precisa conseguir controlar suas emoções, para passar com clareza suas instruções e transmitir segurança e calma aos atletas em momentos difíceis. Em situações assim, T2 acredita que caibam instruções bem técnicas e objetivas. T1 e T2 relatam que os atletas absorvem o comportamento que o treinador está no momento, portanto se o treinador se mostra muito motivado, eles tendem a motivar-se, se o treinador se mostra impaciente, os atletas dificilmente estarão calmos. T3 ainda menciona que em alguns casos, dependendo do contexto do jogo, o treinador precisa simular temperamentos, como forma de mexer com os brios dos atletas e ajustar as emoções dos atletas de acordo com o que o momento da partida pede.

No sub-14, T4 e T6 (assim como T2 e T3) entendem que controlar as emoções é uma das tarefas mais difíceis no cargo de treinador. Ao longo da carreira do treinador os sentimentos e emoções mudam, T5 relatou que consegue controlar melhor suas emoções, mas que as vezes (assim como T3) faz-se necessário uma advertência mais ríspida com os atletas com o intuito de mudar de atitude e reagir na partida. Já T6 explica que é um exercício constante consigo mesmo de perceber como estão suas emoções, uma vez que as atividades que o treinador exerce são muito intensas. T6 percebe que com o passar do tempo, está mais sensível e emotivo.

Para controlar as emoções, todos os entrevistados da categoria sub-17 concordam que é necessário conhecer-se e preparar-se para os momentos que a atuação profissional demanda. Em situações mais difíceis - geralmente momentos de jogo – T7 explica que é importante ter um assistente técnico que possa auxiliar o treinador no controle emocional. Para T8 o controle emocional 71

é um fator importante em qualquer profissão, que pode ter relação com a personalidade do indivíduo, mas que também pode ser trabalhada pelo indivíduo. T9 se vê preparado para situações difíceis que possam acontecer, pois tem o costume de realizar trabalhos psicológicos.

Para controlar as emoções, T10 entende que parte disso dependa do perfil temperamental do treinador, isto é, do jeito de ser. T11 e T12 reconhecem que conseguir manter a tranquilidade em momentos difíceis é fundamental para o controle emocional do grupo todo e para a tomada de decisões, corroborando com Brandão, Agresta e Rebustini (2002) que apontam que o estado emocional dos treinadores é um fator crítico para a performance esportiva. T10 afirma que o assistente técnico tem um papel primordial ao auxiliar o treinador em situações que exigem controle emocional. Nem sempre é possível escolher o assistente, mas quando possível é interessante montar uma comissão técnica que se encaixe com treinador e ao mesmo tempo tenha visões diferentes, isso facilita a superar dificuldades nas mais diversas situações que possam aparecer ao treinador.

Todos os treinadores valorizam a capacidade de controle emocional, assim como ocorrido no estudo de Vieira et al. (2014) com 24 treinadores da Superliga Brasileira de Voleibol em que foi possível evidenciar uma constante preocupação por parte dos treinadores com seus estados emocionais e motivacionais em diferentes momentos da temporada.

4.4. Identificação das competências éticas necessárias para atuação profissional em treinadores

IC3.1. Normas e códigos profissionais a serem considerados.

DSC49 (sub-11): Eu acredito muito no trabalho como se fosse uma escola. Na escola eles não podem chegar atrasados, tem que ter uma frequência, tem que escutar o professor, tem todo um processo. Então a gente consegue trabalhar tanto na parte técnica, na parte tática mas principalmente na parte educativa, na parte da postura, do respeito, de recolher e jogar o lixo, de estar bem asseadoT1, de estar todos bem uniformizadosT1,T3, com tênis bem amarrado, todo mundo chegando no horárioT1,T3, educar a ser competitivo, a ser coletivoT1. Tanto os atletas quanto os treinadores tem que considerar organização e disciplina. Se os atletas não souberem se organizar na escola, o treino fica vazio. As obrigações deles são basquete, escola e família. Se o cara se organizar com as coisas de escola e fizer o 72

que precisa fazer em casa, ele vai estar aqui sempreT2,T3. AssiduidadeT3. E eu também tenho que dar esse exemplo, sendo pontual, organizadoT2.

DSC50 (sub-14): É importante eles saberem que tem direitos e deveresT6, que tem horários, tem a posturaT4,T6, tem que defender o clube, não ficar falando mal do clube por mais que as vezes ocorram algumas coisas que lhe desagradam, ele é um funcionário do clube, ele é o clube. Ele vai abrir mão de algumas coisas e tem que ser comprometido. Vai ter que ir nos treinos, o treino não é uma coisa que "ah, estou cansado e não vou". Se tem treino nesses dias e horários, nesses dias e horários o cara não pode faltar. Vai criando essa noção de profissionalismoT6. O treinador precisa ter ética profissional e ser verdadeiro o tempo inteiro com os atletas. Quando possível dar chance pra todo mundo jogarT5. Além disso, cuidados com o linguajar, com a abordagem com os meninos, entregar a quadra no horário certo ao final do treino.

DSC51 (sub-17): Entre os treinadores eu acho que é a ética, ética no jogoT7. Eu tenho uma forma de trabalhar bem simples, eu gosto das coisas simples muito bem feitas e tento todo dia demonstrar pra eles e ter alguns hábitos que trazem a importância da disciplina na vida e no esporte. A disciplina ela não é chata, ela é necessária. É uma aliada necessária de pessoas de sucessoT9. E com os atletas é o tratamento profissional, a disciplina necessária desde os cuidados consigo mesmo de fisioterapia, de preparação, cuidados alimentaresT7,T8,T9 até a conduta durante os treinamentosT7 e nas redes sociaisT8. Então, trazer para os profissionais que estão trabalhando com isso que tem hora da seriedade e tem hora da descontração e que a vida tem seriedade e tem descontração, o jogo tem momentos de descontraçãoT9.

DSC52 (Adulto): Tem que ter muito respeitoT10,T11, hierarquiaT10, disciplinaT10,T11. No clube que estou atualmente e eles já tem uma linha de trabalho e foi só seguir. Tem que entender que nada é maior que a instituiçãoT10. Tem que seguir as normas do clubeT11, cumprir horáriosT10,T11,T12, tratar bem os demais, comprometimento com o timeT12 e nas sessões de fisioterapia, de nutricionista, psicólogaT11. Fazer que eles entendam o investimento do clube na modalidade, da importância do basquete pro clube. Saber que a gente tem um compromisso com os resultados, então o dia a dia de trabalho sério que vai nos levar aos resultados que a gente tem como objetivo. Eles terem a consciência da responsabilidade deles, como profissionais aqui dentroT11,T12.

A prática esportiva no sub-11 para T1 é educativa e o espaço de treino é visto como uma extensão à escola. De acordo com os entrevistados, o treinador necessita levar em conta alguns códigos profissionais como respeitar as diferenças, estar comprometido, ser organizado, ter disciplina, respeitar horários, dar importância ao desempenho do aluno na escola, estar com roupa apropriada e ensinar todos esses valores aos seus atletas, pois como já foi comentado, atletas desta idade se baseiam muito nas atitudes de seu treinador e as tomam como referência. 73

Os entrevistados T4 e T6 da categoria sub-14 percebem que normas e códigos profissionais como respeitar horários de treino (horário de início e de término), postura do treinador (linguajar e abordagem com atletas), são aspectos relevantes para um treinador. T5 complementa que o treinador deve ser justo com os atletas com relação à tempo de quadra.

Disciplina foi unanimidade nos discursos dos entrevistados do sub-17 sobre normas e códigos profissionais. Outros comentários dizem respeito à conduta do treinador (T7), tratamento adequado com todos os membros da instituição (T9), saber que existe rivalidade entre instituições mas que deve acontecer dentro da ética do esporte (T7), que existem momentos de seriedade e momentos de descontração (T9). Além disso, os entrevistados corroboram quanto à importância de disciplinar os atletas para os cuidados consigo mesmo (alimentação, descanso, fisioterapia).

Na categoria Adulto em termos de normas profissionais, T10 explica que alguns clubes possuem as suas bem estabelecidas e cabe ao treinador seguir o modelo existente. Quanto à códigos profissionais, estão hierarquia (T10), cumprir horários (T10, T11 e T12), respeito (T10 e T11), apresentar-se em locais públicos devidamente uniformizado (T10) e entender que nada é maior que a instituição, isto é, a instituição está acima de qualquer jogador, treinador ou dirigente (T10). Fazer com que os atletas tenham consciência de suas responsabilidades (T11 e T12), da importância da modalidade para o clube (T11), do compromisso com a diretoria e colegas de equipe (T12) e da disciplina necessária em treinos de quadra (T12), sessões de fisioterapia, academia, com nutricionistas e psicólogos (T11). O interesse e cuidado dos treinadores com seus atletas sobre determinadas normas profissionais relaciona-se ao estudo de Anderson e Maivorsdotter (2017), ao apontar como as normas e valores podem moldar o profissionalismo de atletas de rendimento.

IC3.1.1. Atualização profissional e formação adicional

DSC53 (sub-11): A gente tem que estudarT3. O que melhorou muito nos últimos tempos é a facilidade de você achar informação de qualidadeT2,T3. Aqui no Brasil a gente tem pouco, nossa escola de basquete é praticamente nula. A gente começa, daí logo paraT1. O que dá pra fazer é montar um grupo que você vai conversando com outros técnicos e vai instigando um ao outro, ou um conhecimento lá 74

foraT1, tem Google, tem bibliotecas abertas, livros baratosT3, congresso, clínicaT2. Difícil achar tempo, mas eu procuro sempre conhecimentoT2,T3. Tem que estar atualizado, se não passa o ano e você percebe que estão vindo com coisa nova e que está atrasadoT3.

DSC54 (sub-14): Minhas atualizações são assistindo jogo tanto das categorias de base como dos profissionais, vendo vídeosT4, tem muita coisa que você busca na internetT5, você consegue desenvolver conhecimento de outras formas além das tradicionaisT4,T5. Pra ser técnico você tem que estar se atualizando, seja através de clínica, curso. Por mais que as vezes nesses encontros você não veja nada de novo, alguma coisa você vai pegarT6.

DSC55 (sub17): É fundamentalT9 e com o advento da informação on- line, você tem que estar constantemente estudando, aprendendoT7,T8,T9. Tem que se manter atualizado, estudando ou buscar cursos, estudar idiomasT7. Eu faço menos do que eu gostaria. Sinto falta. Não consigo parar, pra sair pra fazer um cursoT8. Eu tive a oportunidade de passar em todas aquelas coisas ruins que ninguém quer fazer (eu já limpei quadra, já enchi bola). Daí quando você vira o cara que manda nos outros você sabe até aquele cara o que ele está fazendo ali, o que ele está passando e como ele tem que ser tratado. Essa vivência faz você aprender muito. Eu acho que tem que buscar o conhecimento no sentido de que quantas coisas estão em volta de um técnico de basquete. Será que ele domina todas? Escolhe uma e começa a estudar. A gente vai mudando, mas tem que estar aberto a aprender sempreT9.

DSC56 (Adulto): Você tem que estar constantemente se atualizando, as coisas mudam muito rápido, as dinâmicas vão mudandoT10,T11,T12. Sempre que puder assistir jogosT10,T12, analisar os jogos, parar, voltar, repetir, ver o lance de novo "pô, o que está acontecendo aqui?", "de onde está vindo a ajuda?". Isso é uma forma de estudo muito interessanteT12. Se capacitar, estar sempre procurandoT10,T11,T12, hoje em dia tem bastante acesso à cursos on-lineT12, clínicas, viajar pra outro país, tenta fazer contatos e acompanhar os treinos de uma equipeT10.

Os discursos dos três entrevistados dos sub11 mostra a necessidade de estar em constante atualização e buscando formação adicional. T2 e T3 comentam que atualmente existem muitos meios (como a Internet) possíveis para aquisição de conhecimento, mas T1 não se mostra satisfeito com as opções de formação adicional que existem no Brasil e T2 sente falta de uma Pós Graduação em basquetebol. T1 não mencionou diretamente, mas seu discurso remete à necessidade de retorno da Escola Nacional de Treinadores de Basquete (ENTB). Nos eventos presenciais são momentos de ricas trocas, mas T2 e T3 explicam que nem sempre conseguem conciliar com suas rotinas de trabalho. O discurso dos treinadores desta categoria relaciona-se com duas das quatro formas estabelecidas por Cunha (2017) sobre como os treinadores buscam seus conhecimentos, que seriam pelo contexto não formal (cursos de 75 aperfeiçoamento, clínicas, palestras, leituras de livros da área) e pelas próprias situações que o ambiente de trabalho e a socialização com colegas de profissão oferecem.

Na categoria sub-14, T4 e T5 mostraram-se mais adeptos à aquisição de conhecimento por meios não tradicionais, como pesquisas on-line e análises de vídeos e jogos. T5 comenta que atualmente os meios disponíveis de adquirir informação estão muito acessíveis. De acordo com T6, os encontros presenciais, no entanto, são momentos que podem proporcionar relacionamentos com outros treinadores - network. Ao manifestar a importância de constante atualização, T6 foi o treinador desta categoria que mais se relaciona com Meinberg (2002) quanto à preocupação em procurar formação adicional.

As respostas dos três treinadores do sub-17 coincidem sobre a importância de estar em constante atualização. T8 nem sempre consegue estar in loco nos cursos, palestras, congressos e camps presenciais de basquete e uma alternativa para aquisição de conhecimento relatada por todos os entrevistados ocorre através de ferramentas on-line. T7 ressalta ainda aspectos não apenas relacionados ao conhecimento técnico e tático do basquete, mas também estudar línguas estrangeiras. T9 valoriza conhecimento sobre treinamento, psicologia, relacionamentos, fisiologia, família e todos os campos que fazem parte da rotina de trabalho do treinador e podem causar influência.

Todos os entrevistados do Adulto entendem que a atualização profissional e a busca por formação adicional é uma competência ética fundamental para a atuação profissional devendo ser constantemente realizada pelos treinadores. Os três treinadores desta categoria relatam que embora tenham muito tempo de prática, procuram formação adicional sempre, pois a modalidade é muito dinâmica e está em constante mudança, relacionando seus discursos com Costa (2005) e Rosado (2000) sobre o constante progresso e as variações da área que exigem um conhecimento atual do treinador. Uma forma para isso é assistir e analisar jogos (T10 e T12) ou através de cursos bem conceituados na Internet (T12).

IC3.1.2. Aspectos éticos e Fair Play. 76

DSC57 (sub-11): Eu tenho que passar pros moleques que a gente vai entrar junto e vai sair junto, independente de vitória ou de derrota a gente tem que ter a consciência de que a gente está limpoT3. Nós cobramos que nossos atletas sejam competidores limposT1. Por que o gosto não é o mesmo se você não agiu certoT3. Então precisa obedecer o ano de nascimento de cada atleta e colocá-los na idade corretaT3, ensinar que pra comemorar uma cesta não precisa vibrar na cara do adversárioT1,T2, até porque o adversário não é um inimigoT2, cumprimentar todos os atletas ao final do jogo, seja na vitória ou na derrotaT1. Ser competitivo, ser forte, ser duro mas ser lealT1,T2. Tem que ser justo com o outro como você gostaria que fossem com vocêT2.

DSC58 (sub-14): Eu nunca ensinei ou valorizei o jogo sujo, o saber bater. Eu acredito que isso pode até ajudar você a ganhar um jogo, mas eu não acho que é uma coisa que tem que ser trabalhada. Tem que ganhar o jogo jogando. Tem técnicos que valorizam, eu não. Não é por aí. Como eu falei, esporte é educaçãoT6. Se eu quero ser um educador, se eu quero educar os meninos e dar o exemplo, então tem que começar pelo jogo. Eu sou totalmente a favor de qualquer tipo de fair playT4. Por mais que você transmita, os outros treinadores não tem. É tudo competitivo, é porrada. A nossa categoria dos treinadores não tem, a nossa categoria não é uma categoria unida. Pode ser que tenham caras que tenham um conceito diferente de mim. Você até conhece e conversa com outros treinadores, mas chegou na quadra acabouT5.

DSC59 (sub-17): Aí tem muitas questões. Começa pela parte de ética no recrutamento, não contatando o jogador direto, indo ou por agente, clube, técnico. Ética do trabalho, em dar tempo de jogo e oportunidade a todos jogadores. Ética com o clube, pra esses jogadores que o clube faz um investimento neleT8. Acho que o importante é assim, é entender que o cara é o teu adversário, você vai fazer de tudo pra ganhar dele e ele vai fazer de tudo pra ganhar de você mas dentro do limite ético. Do outro lado também está um companheiro de trabalho, então tenho que respeitá-lo como talT7. Eu acho que se você tem uma conduta e deixa bem claro pro seu time a importância do outro na sua vida, não tem como não ter fair play ou não ser ético ou fazer sacanagemT9.

DSC60 (Adulto): Eu acho que é algo importantíssimo no esporte, na verdade esporte em sua raiz ele é praticado para as pessoas terem uma boa convivência e nós como professores, somos responsáveis por isso, então a gente tem que passar todos os princípios positivos de boa convivência, de bom relacionamento e ser uma boa pessoa através do esporte né, e quando isso chega no alto nível se torna um pouco mais difícil em alguns momentos, porque se visa muito resultadoT11. Eu sempre falo vamos jogar duro, vamos jogar pesado mas não vamos ser desleal. Então a gente procura jogar dentro da lealdade, dentro das regras do jogoT10. Mas eu não posso deixar a busca do resultado ultrapassar a ética de convivência entre atletas e treinadoresT11. O técnico, se ele quiser ter uma carreira longa, eu acho que aquele técnico que manda bater, aquele técnico que faz deslealdade, a carreira dele vai ser curta porque uma hora acaba não dando certoT10. Está melhorandoT12, antigamente era mais assim, essa malandragemT10,T12, mas ainda vejo muita falta de éticaT12. O técnico na base tem uma responsabilidade maior ainda nessa questão de ética e Fair PlayT11,T12. 77

Considerando aspectos éticos e Fair Play no sub-11, o treinador precisa saber e transmitir aos atletas que o adversário não é um inimigo, que precisa estar sempre dentro das regras do jogo - com atletas da idade correta, que estejam inscritos corretamente e regulamentados -, é preciso ser justo com o outro da mesma forma que gostaria que fosse com você. Os treinadores devem proporcionar uma competição limpa e saudável e os atletas entenderem que precisam jogar firme mas sempre com lealdade. T1 e T3, assim como Issurin (2017), exaltam uma prática baseada em princípios morais básicos e o "jogo limpo".

Os relatos de T4 e T6 sobre aspectos éticos e Fair Play no sub-14 indicam que os treinadores reconhecem a importância deste assunto e tentam praticar em suas equipes, corroborando com Obrador e Nebot (2012) sobre a importância do treinador transmitir um modelo ético e de valores. Porém, T5 observa que nem sempre é possível perceber isso quando disputam partidas contra outras equipes, como por exemplo, em situações que uma equipe está ganhando o jogo por uma larga vantagem e poderia recuar sua defesa mas o treinador insiste em marcar pressão quadra inteira. Para T6, tanto o treinador e o atleta devem falar o mínimo com a arbitragem e se falarem, sempre de forma educada. T6 (assim como T1) comenta que as atitudes e o comportamento ético adequado do treinador reflete nos atletas, pois como eles mesmos relatam, "o treinador é um espelho dos atletas" e, portanto, se ele tiver uma atitude inadequada (xingar ou gritar com arbitragem e colegas), os atletas se sentirão no direito de fazer o mesmo.

Quando perguntados sobre aspectos éticos, os entrevistados do sub-17 abordaram diversas situações. T8 alega que isso deve ser considerado já no recrutamento do atleta, obedecendo regras éticas de contratação de jogadores, isto é, comunicar o clube ou o agente do jogador e não "roubar" o jogador do outro clube. Ser ético com o próprio clube em dar mais oportunidades para aqueles jogadores que o clube tem expectativas maiores e faz um investimento maior sobre. Ser ético com os atletas que se esforçam e se dedicam mas que não conseguem seguir na categoria seguinte ou não tem potencial para permanecer no clube. Este foi um ponto interessante mencionado por T8, pois vai ao encontro de CAC (2016) no que diz respeito à capacidade do treinador 78 em conseguir colocar em prática e equilibrar a ética necessária com o clube e com os atletas. Quanto ao Fair Play, T7 entende que deve-se fazer de tudo para ganhar da equipe adversária mas sempre dentro do limite ético, afinal o adversário é um companheiro de trabalho, merece respeito e sem ele não haveria o jogo. T9 enfatizou em seu discurso a importância de considerar o outro nas atividades do dia a dia.

A percepção de T10 e T12 para aspectos éticos e de Fair Play na categoria Adulto é que de maneira geral houve uma evolução se comparado a anos atrás, mas que ainda pode-se evoluir muito. O ganhar a qualquer custo ainda está presente. A orientação de T10 à seus atletas é de jogarem duro, mas sempre dentro da lealdade, dentro das regras do jogo, isso inclusive faz com que o treinador consiga ter reconhecimento e longevidade em sua carreira. Para T11, o treinador, sendo um professor precisa passar os princípios de boa convivência, de ser uma pessoa boa através do esporte. Isso no Adulto é um pouco mais difícil em alguns casos mas mesmo neste nível de profissionalismo o treinador não pode permitir que sua gana por vitórias deixe-o cometer falhas de comportamento só em função do resultado. Os entrevistados T10 e T12 enaltecem a importância que o treinador de base tem, pois neste aspecto sua responsabilidade é maior, o atleta precisa chegar na categoria Adulto com este caráter formado e princípios bem estabelecidos.

IC3.2. Valores pessoais que acreditam importantes para atuação profissional.

DSC61 (sub-11): Ter aquela paixão pela modalidade, tudo que for fazer, fazer com amor, a coletividade, reciprocidade, companheirismo, afetividade, respeitar o jogoT1, lealdadeT1,T3. Estar comprometido com o desenvolvimento global do indivíduo, reconhecer a importância do grupoT2. Família e trabalho duroT3.

DSC62 (sub-14): Tem que amar fazer isso aqui, esse é o maior valorT5. Além disso ter o conhecimentoT5, você ser ético, você ser comprometido nas suas atividades, ser intenso, procurar fazer sempre o melhor, ser justoT6, saber gerir pessoas, estar comprometido com o a formação atlética e pessoal dos atletasT4

DSC63 (sub-17): Ser honesto com todo o teu entorno, teus atletas, teu preparador físico, teus diretores, teus colaboradores, roupeiro. As pessoas não terem dúvidas a respeito da tua conduta. Ter paixão por aquilo que você fazT7. Liderança, ética, atualização, disciplinaT8, respeitar as religiões, fraternidade, afetividade, fazer as coisas da forma certaT9, dedicaçãoT8,T9. 79

DSC64 (Adulto): Primeiro respeito, tudo parte do respeito, a hora que perde o respeito se quebra muita coisa de confiança, de relacionamento, de comprometimentoT11. Acredito também em dedicação, gratidão, felicidade, lealdadeT12, esforço, saber relacionar- se, atualização profissional10, boa convivência e companheirismoT11. Aí a gente vai criando laços, correntes de amizade, de união, que vão tornando a equipe forteT11.

Valores pessoais que os entrevistados do sub-11 consideram para o desempenho de suas atividades profissionais são: trabalhar duro, coletividade, companheirismo, comprometimento com o desenvolvimento global dos atletas, lealdade, apoio da família e amar o que faz.

Valores pessoais como comprometimento, dedicação, saber relacionar- se e ser um apaixonado por basquete também são considerados pelos treinadores do sub-14 para o exercício de suas atividades profissionais.

Os valores pessoais que os entrevistados do sub-17 acreditam ser importantes para a atuação profissional nesta categoria são honestidade, liderança, ética, dedicação, disciplina, afetividade, ser exemplo, respeitar as religiões e atualização profissional.

De acordo com os entrevistados do Adulto, valores pessoais como respeito, dedicação, companheirismo, união, saber relacionar-se, ser verdadeiro, ser grato, ter paixão pelo esporte, são importantes para a atuação profissional na categoria Adulto.

Chama a atenção nesta IC a alta incidência de respostas de diversos treinadores (T1, T5, T7 e T12) sobre amar a modalidade basquetebol, relacionando-se com os estudos de Cunha (2017) e Brandão e Valdés (2005), em que também foi possível observar tal fenômeno.

IC3.2.1. Desenvolvimento de competências para a vida do atleta.

DSC65 (sub-11): Eu acho que esse entendimento do que é o adversárioT2, de fazer as coisas com vontade, fazer querendo, por amorT1. Saber trabalhar em grupo, coletividadeT1, passar pro atleta que ele não vai conseguir sozinho, que se ele não se importar com o bem estar do colega de equipe, com o cara que está do lado dele, ele vai prejudicar o seu resultado finalT2. O atleta aprende muitos valores que são naturais, que o esporte dá, no convívio com um grupo de pessoas de diferentes educações. No futuro, se o cara foi atleta ele vai ser diferenciadoT3. Eles desenvolvem respeitoT2, reciprocidadeT1, percepção de diferentes realidadesT3.

DSC66 (sub-14): Eu quero ver a dedicação, o esforço deles, pra quando eles lutarem por um emprego, por outras situações 80

semelhantes, o fato de ter jogado basquete, ajudar eles nessas situações. O resultado é o que menos importa. O que importa é o caminhoT4. Humildade, trabalho em equipe, fazer as coisas com amor, aprender que dentro de uma equipe cada um tem que exercer o seu papel T6. Disciplina, coisas simples do dia-a-dia, horário, nunca desistir não interessa o placar, se a coisa tá difícil, vamos lutarT5. Comprometimento, respeitoT5,T6, esforçar-se ao máximoT4,T6. Sempre com um objetivo das coisas. Porque assim que você faz virar genteT5.

DSC67 (sub-17): Uma coisa que eu procuro passar pra eles é sobre o processo né, a importância de você dar valor aos pequenos passos do processo e não dar valor só ao resultado final, cada etapa é importanteT8. A resiliência necessária para alcançar bons resultados e a noção da dificuldade que é manter-se entre os melhoresT7. Procuro fazer com que as pessoas consigam estabelecer laços profundos de afetividade, que as pessoas se gostem, gostem de si, gostem dos outros pra todo mundo fazer coisas boas, fazer a coisa certa e acabouT9.

DSC68 (Adulto): Acho que é obrigação nossa como formadores. Eu por exemplo, trouxe um cara que é de uma empresa de assessoria financeira que ele passa sobre o quanto você pode guardar e quanto você vai ter daqui a tantos anos. A gente tem que incentivar que eles estudem, tenham uma formação porque a carreira uma hora se vai e se ele não souber poupar, aí acabouT10. Não é porque o cara é adulto que eu não vou passar princípios pra ele, não é porque ele já está no fim da carreira que eu não vou cobrar disciplina, dedicação, convívio em grupo, ética, fair playT12. E eu acho que isso aí depois ele leva pro resto da vidaT11,T12. Esses valores que ele adquiriu praticando a modalidade, com certeza, vão ajudá-los pra, no futuro, quando ele for para as outras áreas de atuação, profissionalmente falando né, na educação dos filhos, formação de famíliaT11.

A ideia de trabalho em equipe é mencionada por todos os entrevistados do sub-11. Em seu discurso, T3 enfatiza a importância de dar valor às coisas simples, de ser grato por poder praticar uma modalidade, por fazer parte de uma equipe e de participar de momentos agradáveis que o esporte proporciona, como uma viagem, por exemplo. As competências de vida, segundo Gould e Carson (2008), são os atributos sociais e emocionais que os jovens podem aprender através da participação desportiva.

Os entrevistados do sub-14 citaram diversas competências que acreditam poder auxiliar seus atletas a desenvolver. Entre elas, esforço e respeito foram as mais mencionadas. No discurso de T5, percebe-se que embora seja um treinador rigoroso com os atletas em algumas situações, neste momento da entrevista ele transpareceu ser muito verdadeiro ao mencionar que o principal motivo do seu esforço e dedicação em sua profissão é desenvolver seres humanos e que ver seus ex-atletas bem sucedidos atualmente, é significativo e deixa-o orgulhoso. Este pensamento relaciona-se 81 com outros autores (BALBINO, 2005; EGERLAND; NASCIMENTO; BOTH, 2009) quanto à necessidade do treinador em possuir habilidades e atitudes que auxiliem na formação humana dos atletas.

Diferentes pontos de vista foram mencionados pelos entrevistados da categoria sub17 quanto ao desenvolvimento de competências para a vida dos atletas. T7 aborda a resiliência necessária do atleta para suportar lesões, derrotas, cobranças e desafios e que esta resiliência aprendida no esporte é um valor que o indivíduo carregará consigo. T8, assim como um treinador de outra categoria (T4) menciona que cada etapa é importante e tenta passar aos atletas a ideia de valorizar o processo como um todo e não apenas o resultado final. Além disso, T9 explica que é louvável o treinador mostrar que a melhor alternativa é sempre fazer aquilo que é correto e não se trata apenas de basquete, precisa também dar valor à família e outras atividades sociais que são importantes para o convívio e bom relacionamento humano, compartilhando o pensamento de Riewald (2014) ao salientar sobre a capacidade de ajudar o atleta a alcançar uma vida equilibrada.

Foi interessante ouvir as respostas dos treinadores do Adulto, pois como o próprio T10 mencionou nesta fase da carreira atlética a obrigação do treinador é muito mais com jogo, mas existe também uma obrigação em colaborar na formação do indivíduo. O fato de preocupar-se em trazer um assessor financeiro para orientar o atleta sobre a gestão do seu patrimônio financeiro é um ato louvável. T11 e T12 (assim como T3) relatam que além do treinador ser um personagem atuante neste processo de competências para a vida dos atletas, o próprio esporte acaba sendo responsável por disciplinar e criar valores no praticante.

Percebe-se no discurso de todos os treinadores uma preocupação com o futuro dos seus atletas. Em cada categoria os treinadores relataram aspectos diferentes. Nas categorias de base (sub-11, sub-14 e sub-17) observar-se um cuidado com a formação de valores no indivíduo. Na categoria Adulto, os treinadores se mostram responsáveis em preparar o atleta para a sua vida social e profissional fora do esporte, uma vez que sua carreira termine, pensando em constituir uma família, manter relacionamentos saudáveis, 82 integrar-se na sociedade, corroborando desta forma com o pensamento de Obrador e Nebot (2012).

4.5. Identificação das competências funcionais necessárias para atuação profissional em treinadores

IC4. Planejamento e gestão ao longo de uma temporada.

DSC69 (sub-11): O primeiro planejamento é o que a gente vai quererT1,T2. Qual é o perfil da instituição? Se é um caráter mais social ou um caráter mais competitivo? O treinador tem que ter uma gestão de que quanto mais pessoas você agregar, independente do seu objetivo, melhorT1. Tem que saber o que vai ter disponível de material e espaço. Quantas sessões de treinamento vão ser, material humano (atletas). Tem que saber como são as regras dos campeonatos que vai disputar e as demandas dessa comunidade que está na sua mão. Alguns clubes são comunidades que tem suas particularidades, então vai ter momentos que você não vai poder contar com alguns atletasT2. O treinador precisa saber de macrociclo, sentar com o preparador físico pra ver quando que pode puxar mais, quando é a fase de amistosos, período de competição. A gente tem que saber o momento certo de crescer na competição. Também tem que entender que você precisa plantar agora pra colher lá na frente. As vezes você joga com Sub-11 no Sub-13 e só toma cacete, mas a gente sabe que vai chegar uma hora que a gente vai colherT3. Você precisa conhecer a respeito de desenvolvimento, porque as vezes você olha pra um menino que talvez não renda ali, ou tenha dificuldade de aprendizado mas é porque tá totalmente imaturo aindaT1.

DSC70 (sub-14): É importante você ter um bom planejamento, saber os ciclos que você estáT6, com relação às cargasT4,T5, intensidade, como é o campeonato, como são os times, quando vai ser a folgaT5, como que você quer que o time chegue em tal faseT4,T6. E saber que ele não pode ser fixo, ele é móvel, você tem que estar reavaliandoT4,T6. Também você se organizar com relação ao jogador, pegar o jogador num estágio e como você projeta chegar com ele na final do campeonatoT6.

DSC71 (sub-17): Ter uma noção da instituição que você está, quais são as ambições dela pro ano e o que você conseguiu montarT9. Eu considero importante o planejamento da evolução, ou seja do crescimento técnico e táticoT8. Se você não está atingindo metas, volta pra trás, faz diferente. Todo planejamento tem que ter uma linha e uma boa flexibilidade no sentido de toda hora ter uma auto avaliaçãoT9. Não são todas as equipes que tem as mesmas condições e dentro dessas condições você tem que gerir tempo, recursos, lesões e ir dosandoT7. E outra coisa, o técnico precisa fazer a gestão dos jogadores mas principalmente a comissão técnica. Comissão técnica grande sem papéis muito bem definidos e um só comando, o seu, não funcionaT9.

DSC72 (Adulto): Na minha opinião a primeira coisa é a montagem da equipe, se você acerta na montagem da equipe, você tem meio caminho andado pro sucessoT11. Saber as características dos jogadores que você contratou e definir o que você pretende com a 83

sua equipeT10. O planejamento tem que ser feito junto com a comissão técnicaT10,T11,T12. Você estudar, colocar o que você quer, procurar jogadas que você acha que vai encaixar no melhor jogador ou nos seus jogadores e também ter humildade de replanejarT10. Porque as vezes você imagina uma coisa e isso não é realidade do seu grupo ou acontecem mudanças e você tem que replanejarT10,T11,T12. A gente faz uma reunião semanal pra fazer uma avaliação de como foi a semana, o que a gente pode fazer de melhor, o que a gente pode mudar T10, T12.

Os discursos dos treinadores do sub-11 abordou um leque diversificado de percepções relativas à planejamento e gestão. T1 e T2 concordam que é preciso ter claro qual o cunho e os objetivos da instituição que está trabalhando. A partir disso, T2 afirma que é necessário saber os espaços e materiais disponíveis para poder definir dias e horários de treinos, considerando os compromisso escolares dos jovens e as particularidades da comunidade que representa a instituição. Vale considerar também, segundo T3 o calendário ao longo do ano, verificando a fase de amistosos, a fase de competições, as fases com menos jogos e definir suas atividades com base neste calendário. Ele chama isso de macrociclo, relacionando seu raciocínio ao de Bompa (2002a), sobre periodização do treinamento.

Ainda no sub-11, T1 e T3 alegam que é relevante conhecer os processos maturacionais do atleta e planejar-se para os anos seguintes considerando esse desenvolvimento maturacional, já que nesta categoria é muito comum ter atletas que se destacam pois são muito mais altos ou mais fortes, devido à sua maturação corporal precoce, mas que quando alcançam próximo aos 15 anos, não tem toda essa vantagem pois os outros atletas embora tenham levado mais tempo, também se desenvolveram biologicamente. Este discurso alinha-se com o pensamento de Bompa (2002b) sobre os treinadores terem claro que seus atletas se desenvolvem em velocidades diferentes e considerar sua maturação ajustando o treinamento e os programas competitivos adequadamente Além disso, T1 destaca que os treinadores precisam conseguir gerir a grande quantidade de atletas que treinam, tendo em mente que nesta fase é importante massificar a prática esportiva e neste sentido, quanto mais praticantes, melhor para a modalidade.

Na categoria sub-14 a percepção de todos os entrevistados - assim como Bompa (2002a) - fazem referências à conhecimentos sobre periodização do treinamento. O discurso de T5 considera conhecer as características dos 84 times adversários, do campeonato e o calendário da competição. T4 e T6 complementam sobre gerir a equipe para que chegue preparada corretamente para determinadas fases do campeonato. Além de estar ciente que o planejamento inicial pode sofrer mudanças de acordo com as análises que o treinador percebe e as circunstâncias que podem acontecer ao longo da temporada. Percebe-se que os discursos dos treinadores desta categoria alinham-se com Meinberg (2002) ao mencionar que o treinador necessita possuir competências abrangentes que o permita realizar diversas tarefas, como planejar, executar e analisar treinamentos e situações ao longo da temporada.

Nas equipes sub-17, o entrevistado T7 realiza um planejamento em conjunto com o preparador físico a fim de - assim como Bompa (2002a) - definir aspectos sobre periodização física, técnica e tática. Visando o desenvolvimento da equipe, T8 chama de planejamento da evolução o que seria o crescimento técnico e tático dos atletas. T9 recomenda estabelecer metas de curto, médio e longo prazo e ser flexível para mudar o planejamento caso perceba que é necessário (assim como T4 e T6). T7 explica que é importante a gestão do tempo quando tem-se atletas lesionados e também a gestão do tempo de quadra para atletas que são peças chave na equipe, principalmente nas fases que há maior frequência de jogos. Uma estratégia utilizada para isso é realizar a PSE (Percepção Subjetiva de Esforço) de Borg (2000) com os atletas após treinos e jogos. Para T9, além de gerir os jogadores, vale também uma gestão da comissão técnica definindo claramente o papel e o setor de atuação de cada profissional. Segundo T7, tudo isso sempre tentando otimizar as atividades da melhor forma dentro das condições (tempo, recursos, estrutura, equipe de trabalho) de trabalho que a instituição oferece. As percepções dos treinadores do sub-17 assemelham-se à Galatti et al. (2015) e Santos, Castelo e Silva (2011) ao mostrarem a importância da sistematização e da organização do treinamento para a aquisição de bons resultados no esporte.

Já no Alto Desempenho T10 e T11 ressaltam que na categoria Adulto um planejamento inicia-se com a contratação de membros para a montagem de uma equipe, considerando características técnicas, físicas e de personalidade dos atletas e membros da comissão técnica competentes e da 85 confiança do treinador. A partir disso, definir os objetivos para a temporada (T10), analisar o calendário de jogos (T10, T11 e T12) a fim de preparar a frequência, intensidade e controle de carga dos treinamentos (T10 e T12), planejar as jogadas e situações que melhor se encaixam às características dos jogadores (T10). Todos os entrevistados da categoria Adulto comentaram que o planejamento deve ser realizado junto à toda a comissão técnica e que tentam seguir o planejamento inicial mas sabem que pode ser modificado devido a intercorrências passíveis de acontecer ao longo da temporada como lesões, mudança de calendário, inviabilidade de usar o ginásio, entre outras. É interessante ainda, de acordo com T10 e T12, que a comissão técnica consiga reunir-se toda semana para analisar os prós e contras da equipe e fazer os ajustes necessários. Percebe-se a necessidade de habilidades de gestão e organização ao treinador, assim como comentado por Riewald (2014).

IC4.1. Saber demonstrar algum tipo de gesto técnico.

DSC73 (sub-11): Eu acho que facilita. Não acho que é fundamental porque você pode ter um técnico cadeirante e ele não vai conseguir fazer uma bandeja. O treinador dentro da sua capacidade tem que achar o máximo de maneiras de explicar as coisas pros atletasT2. Precisa ensinar movimentações para ocupar o espaço vazio no ataqueT3. Tem que saber no mínimo demonstrar porque eles são muito visuais. ou você ter algo que consiga demonstrar, um celular, um projetor, pros atletas saberem qual é o ideal. Eles precisam ver pra saber como que éT1.

DSC74 (sub-14): Eu acho que não é decisivo isso, não é o mais importante, mas acho que é bom até para você passar um pouco de credibilidade, se eu mostrar, eles acabam que aceitando melhor o que eu estou passando pra elesT4. Ele precisa conhecer. Demonstrar não. Porque eles (atletas) acabam chegando já sabendo a maioria das coisas e precisam melhorarT5. Eu acredito que quanto mais você souber demonstrar, ajuda. Se você não sabe, não foi jogador ou não tem a prática de fazer o gesto da maneira correta, você vai pegar algum jogador do grupo que tenha uma facilidade e vai trabalhar isso com ele demonstrandoT6.

DSC75 (sub-17): Sim, acho que precisa demonstrarT8,T9 porque hoje os meninos são muito visuais, eles tem essa facilidade de captação visual, às vezes você mostra um vídeo e o cara vai e consegue executar na hora sem ter treinado e praticado o gesto antesT8. E se ele não tiver domínio pôr um (atleta) pra fazerT9. Gesto técnico eu raramente demonstro. É muito mais uma correção, um posicionamento, do que demonstrar o gesto técnico Não entendo que há necessidade disso nãoT7.

DSC76 (Adulto): Eu sou da teoria que não. Claro que se você mostrar alguns gestos, talvez facilite o aprendizado. Mas eu trabalhei com um técnico que não praticou a modalidade e não sabia os gestos, ele é um estudioso e era um grande técnicoT11. Eu acho que você sempre 86

tem que mostrar o que você quer mas você não precisa saber jogar bem. Você não precisa dar um arremesso com perfeição mas tem que saber corrigirT10. Precisa, sem dúvida alguma. Porque muitas vezes o atleta chega aqui com algum vício ou alguma falta de ter trabalhado determinado gesto que na minha concepção eu não posso olhar e falar que está tudo bem. Eu tenho que falar, o atleta tem que querer e eu tenho que tentar corrigir issoT12.

O entrevistado T1 que atua com a primeira fase de desenvolvimento da carreira atlética percebe que é importante o treinador saber executar o gesto técnico para atletas desta faixa etária. T2 entende que não é algo determinante para a atuação profissional, mas facilita na dinâmica de treinos e no processo de aprendizagem. T1 aconselha aos treinadores que não tenham este domínio, para que se utilizem de vídeos que auxiliem a demonstração do gesto técnico para os atletas.

Opiniões divergentes foram apresentadas ao serem questionados se o treinador deve saber demonstrar um gesto técnico. O entrevistado T4 alegou que não é primordial, mas que ajuda o treinador a passar credibilidade para o grupo, pois mostra que tem conhecimento do que está falando. Por outro lado, T5 relatou que não é necessário demonstrar, apenas conhecer e saber corrigir, uma vez que atletas nesta idade já possuem uma experiência prévia. A opinião de T6 corrobora com T2 e destaca que saber demonstrar um gesto técnico não é algo determinante para a atuação profissional, mas que pode colaborar com o aprendizado do atleta.

Opiniões divergentes também foram relatadas pelos treinadores do sub- 17 quando questionados sobre a necessidade de saber demonstrar um gesto técnico. Dois treinadores (T8 e T9) entendem que é importante demonstrar - executando o gesto, mostrando um vídeo ou solicitando à um atleta mais habilidoso - pois os atletas são muito visuais e aprendem observando. Outro treinador (T7) percebe uma necessidade maior em saber corrigir e explicou que raramente demonstra.

Novamente os entrevistados apresentaram percepções divergentes sobre saber demonstrar um gesto técnico para o atleta do Adulto. Para um deles (T11), não há necessidade de ter sido jogador e, portanto, não é necessário saber demonstrar o gesto técnico. Outro treinador (T10) entende que pode ser um facilitador, mas não é necessário executar com perfeição, o 87 mais importante mesmo é saber identificar e corrigir. Para T12, é sim importante a demonstração do gesto técnico.

As divergentes opiniões dos treinadores relacionam-se com o que Lazarim (2003) comenta em sua obra sobre a necessidade de outros estudos que investiguem a efetividade dos procedimentos (demonstração e instrução verbal) na aprendizagem da habilidade motora em situações e populações diferenciadas tais como: diferentes faixas etárias e diferentes estágios de aprendizagem.

Os treinadores (T1, T4, T8, T9 e T12) que acreditam na demonstração do gesto técnico – principalmente nas categorias de base – relacionam-se com Tani et al. (2011) ao acreditarem que a demonstração do gesto técnico é importante na aprendizagem motora. Tani et al. (2011) acrescentam que esta discussão se constitui um tema de pesquisa promissor quando se considera recentes avanços teóricos e metodológicos com a utilização de novas tecnologias que permitem analisar com mais detalhe os processos envolvidos na observação do modelo e a sua utilização para a aquisição de habilidades motoras.

Os entrevistados (T1, T8 e T9) ao mencionarem a demonstração do gesto técnico através do recurso de vídeo alinham suas percepções com Lhuisseta e Margnes (2015) que colocam que a demonstração através de vídeo pode ser mais efetiva para o aprendizado de uma habilidade motora inicial do que a demonstração ao vivo.

IC4.2. Uso de tecnologias.

DSC77 (sub-11): É mais uma ferramenta pra você ensinar, de repente o menino não está entendendo qual é o erro técnico dele e você vai, filma e mostra pra ele. Talvez isso faz com que ele consiga processar a informaçãoT2. Tem que saber que mundo os atletas vivem, o que eles estão curtindo hoje, o que é fácil acesso pra eles e o que a gente consegue agregar e associar nesse fácil acesso que eles tem, em relação à modalidadeT1. O treinador se tiver a possibilidade de filmar todos os treinos e todos os jogos, ele vai enriquecer, vai melhorar a postura, errar menosT3.

DSC78 (sub-14): O treinador precisa saber de tecnologia pra poder facilitar a vida deleT5. Eu tenho dificuldadeT5,T6, mas precisa conseguir editar um vídeo e jogar no WhatsApp o que você quer. É isso que os caras (outros treinadores) fazem hojeT5. Todos os jogos o nosso preparador físico faz um scout por aplicativo de Tablet e manda pro grupo dos atletas, depois do jogo. A gente tem esse feedback logo 88

após o jogo. E também o Whatsapp para se comunicarT4. Eu acho importante esses aplicativos de basquete, de repente o garoto tem alguma dificuldade que você pode melhorar, você filma e mostra, com o celular mesmo. Ou passar pra eles no Youtube alguns exercíciosT6.

DSC79 (sub-17): É importante. Se você tiver alguns mecanismos onde você faça a edição dos teus jogos, ou dos teus treinos porque a mulecada hoje com celular, você manda vídeo de 2 ou 3 minutos e previamente já antecipa olha, em treino nós vamos tentar isso, observem esse determinado conceitoT7. Aplicativos de scoutT8, edição de vídeoT8,T9, estudar com essa ferramenta chamada Internet que é espetacularT9.

DSC80 (Adulto): Eu acho fundamental e de extrema importância principalmente pra auxiliar, pra trazer mais informações, mais números, mais vídeos, mais estudo pra você ter muito mais base pra tomar suas decisõesT12. A gente tem acesso a muita informação, mas tem que ver o que realmente é relevante. Saber como usar a tecnologiaT11. Então hoje, você tem que separar, o que é importante, coisas curtas, pequenas e pontuaisT10,T11. Tem o Synergy que é um programa que já edita e oferece várias opções, mas acho que indiferente de qual categoria é importante você saber filmar, você assistir o jogo, você editar, você saber usar esse vídeoT10. Hoje a gente faz muita edição de imagem de vídeo. A gente precisa estar ligado até nas redes sociais pra saber o que está acontecendo com os outros timesT11.

O uso de tecnologias pode colaborar com o desenvolvimento do treinador e dos atletas do sub-11. De acordo com T3, ao assistir vídeos dos seus próprios jogos, o treinador consegue analisar sua postura e suas decisões tomadas. E também mostrar alguma situação de jogo para os atletas. Segundo T2, a ferramenta de vídeo permite ao treinador filmar um gesto técnico do atleta e mostrar a ele no mesmo instante detalhes que podem ser corrigidos, corroborando com Lhuisseta e Margnes (2015) no que diz respeito a efetividade do recurso de filmagem em vídeo. E ainda, para T1 entender do "mundo virtual e de games" que os atletas participam e associar algo disso ao basquete, alguma estratégia utilizada no jogo virtual, ou mesmo um jogo virtual de basquete que traga algum histórico da modalidade ou de equipes e jogadores.

Os treinadores do sub-14 dão importância para tecnologias como passar vídeos do Youtube com exercícios para atletas realizarem extra treino (T6) ou mesmo editar vídeos e estatísticas de jogo e enviar para o grupo de WhatsApp do time (T4 e T5). Os entrevistados T5 e T6 relataram que sentem dificuldades nesse processo de adaptação com a tecnologia, porém, ter o domínio disso pode ser um facilitador no trabalho dos treinadores e aproximá-los de seus 89 atletas, visto que essa geração tem costume de usar essas tecnologias regularmente, conforme observado no trabalho de ASCA (2018), que recomenda aos treinadores utilizarem-se da tecnologia em suas atividades a fim de envolver atletas e pais. De acordo com T6, uma simples filmagem com o celular do treinador ou do próprio atleta, pode auxiliar na correção de um gesto técnico e pode ser muito mais fácil o atleta entender dessa maneira do que fazê-lo entender de uma outra maneira. Esta percepção de T6, vai ao encontro de Lhuisseta e Margnes (2015) sobre a vantagem de utilização do recurso de vídeo no processo de ensino-aprendizagem de uma nova habilidade motora.

Quanto ao conhecimento e uso de tecnologias todos os treinadores que atuam com atletas do sub-17, percebem que é importante saber editar vídeos de treinos e jogos para que junto aos atletas seja possível identificar e corrigir erros. O T7 sugere que o envio de vídeo por grupo de WhatsApp pode também ser realizado antes de um treino, para antecipar um determinado conceito que o treinador pretende abordar. Para T9 a Internet também deve ser uma aliada do treinador para adquirir conhecimento.

Os treinadores da categoria Adulto reconhecem que atualmente existem muitas alternativas e recursos tecnológicos e que é importante o treinador saber usar aquelas que possam trazer benefício à equipe. T10 e T11 apontam que as edições de vídeo são fundamentais para analisar formas de jogo de equipes adversárias e corrigir erros da própria equipe, devendo ser pontuais, curtas e objetivas para não acarretar um excesso de informação aos atletas. Além de saber utilizar recursos de vídeo, uma outra ferramenta mencionada por T10 que auxilia os treinadores do Adulto é o software Synergy (especializado em análises táticas e para auxiliar equipes esportivas) e segundo ele deve ser explorado e compreendido.

Foi possível observar que todos os treinadores entrevistados reconhecem o valor da tecnologia nos esportes e em suas práticas profissionais, no entanto, treinadores mais jovens tendem a aceitar e utilizar com maior regularidade os recursos tecnológicos do que treinadores mais experientes. Observa-se ainda relação com Katz (2002), pois os recursos tecnológicos se utilizados de forma apropriada podem simplificar o trabalho daqueles que atuam com o esporte e elevar os limites do esporte. 90

4.6. Identificação das metacompetências necessárias para atuação profissional em treinadores

IC5.1. Criar e manter um ambiente adequado.

DSC81 (sub-11): Eu penso que tem que ser muito claro e agradávelT2, o menino tem que saber o que ele está fazendo aquiT2,T3 ele precisa se sentir evoluindo, cada um tem que sentir a sua devida importância e assim se sente valorizado e o grupo fica melhorT2. Precisa ser um ambiente muito organizado. A organização pra essa categoria traz muita calma. E essa organização tem que ser desde a hora que eles chegam pra treinar, observando então um ambiente que tem algumas regras. Em que eles vão poder brincar, ser felizes, participar, ter alegria mas contando com algumas regras. Então assim, você consegue educar, consegue organizar e tornar um ambiente mais família, porque dentro de uma família cada um faz uma partezinha e assim vai, em prol do basqueteT1. Não pode deixar passar nenhuma atitude de indisciplina e principalmente de um em relação ao outro no treino. Tem que ser verdadeiro, tem que achar uma maneira verdadeira de valorizar todosT2. Eu procuro fazer um questionário em relação ao seu eu e o seu eu equipe. E é engraçado as respostas, vem algumas coisas sincerasT3.

DSC82 (sub-14): Acho legal uma conversa inicial para você passar a postura dos atletas que você espera durante o ano e ser sincero em relação aos valores que você acredita e o que você espera que eles tenham tambémT4. Eu acho que é você respeitar o jogador e se fazer respeitado, respeitar a instituição, respeitar o grupo, no trato com as pessoas. Saber que cada um vai render de determinada maneira. Os atletas tem que entender que tem uma hierarquiaT6. Você tem que ser o exemplo. Você não falta, você não atrasa, você sempre está vestido adequadamente, você sempre é o primeiro a chegar, você sempre é o último a sair. Com esse tipo de demonstração o atleta começa a criar responsabilidade! E saber como funcionaT5.

DSC83 (sub-17): Precisa ser um ambiente ao mesmo tempo profissional que não fica um negócio muito solto mas ao mesmo tempo prazeroso, tentar equilibrar essas duas que é uma arte e não tem um molde pra isso, depende muito do grupo, depende muito dos resultados que você teve nas semanas anteriores e o que vem pela frenteT8. O atleta tem que saber o que passa na sua cabeça, quanto mais transparente você for mais simples fica a sua relação com ele, nem todos os jogadores vão conseguir ser transparentes com você, agora você deve ser transparente com todosT9. Aqui no clube a gente tem tido essa facilidade de vamos almoçar e vamos sair pra um jogo, vamos viajar. Então, de estar mais junto. Mas assim, eu não gosto de estar muito com eles assim. Mistura, eles acabam confundindo e você acaba tolindo um pouco a liberdade deles estarem entre elesT7.

DSC84 (Adulto): Eu acho que precisa saber bater e assoprarT10. Tem que saber individualmente qual é a característica de cada jogadorT10,T12. É tratar os iguais de forma diferente. Então é todo mundo igual mas tem particularidades, tem diferençasT12 e você precisa tentar de uma maneira geral fazer com que esses iguais se sintam iguaisT11,T12 mas o tratamento obviamente vai ser diferenteT12. Mas eu acho que o grande lance é você saber dosar essa situação, tem que bater e tem que assoprar, não dá pra fazer uma coisa só. Sempre valorizar quando tem que ser valorizadoT10,T11, 91

individualmente e coletivamente e cobrar quando tem que ser cobrado. E todos da mesma forma. Todos tem que sentir que "pô, ele briga comigo mas ele briga com o cara que é o melhor também, ele briga de forma igual e pelo que ele acredita"T10. Esse ambiente a gente cria com conversa, com reunião, com bate papo informal, e com reuniões de comissão técnica, reuniões com os jogadores, reuniões com diretoria, feedback dos jogadores e aí você vai ajustando e sempre, sempre eu trabalho com a liderança positiva. Eu nunca vou ficar cutucando o ponto fraco do jogador, o erro deleT11. O grande time é aquele que o importante é o nome do time. Quem são os titulares do time? Quem for melhor para aquele jogoT10.

Para criar e manter um ambiente adequado de trabalho, os entrevistado T1 percebe que na categoria sub-11 o treinador deve agir visando criar um ambiente que se aproxime ao de uma família, em que todos colaborem com a organização do espaço, tenham cuidado com materiais, sintam-se participativos na montagem e execução do exercício bem como do recolhimento dos materiais ao término das atividades. De acordo com T2, T3 e Potrac e Cassidy (2006), deve ser um espaço agradável em que o jovem atleta tenha consciência do que está fazendo e perceba sua evolução e importância dentro do grupo. O T3 expõe que podem ser aplicados questionários simples ou mesmo perguntas em folhas de papel sobre como o atleta se percebe na equipe e como ele acredita que pode ajudar a equipe. A fim de manter o ambiente em harmonia, T2 recomenda que o treinador esteja atento à atitudes de indisciplina entre os atletas e interfira logo que as perceba.

Na categoria sub-14, para criar e manter um ambiente adequado de trabalho T4 acredita ser importante uma conversa no início da temporada explicando aos atletas seus valores e a conduta que ele espera de seus jogadores. T5 demonstra a importância de ter atitudes que sirvam de exemplo para os atletas como tratar todas as pessoas com respeito, não faltar, não atrasar, vestir-se adequadamente, zelar pelos materiais. Já T6 preza pelo respeito com todos os envolvidos, fazer com que os atletas entendam a hierarquia existente e que o treinador precisa saber qual a melhor forma de lidar com o atleta.

Para criar e manter um ambiente adequado no sub-17, T8 aponta que procura equilibrar momentos prazerosos e momentos de seriedade e concentração total, dialogando com Oliveira e Paes (200?) sobre criar um ambiente motivador em que os jovens aprendam, gostem e continuem a 92 praticá-lo frequentemente, independentemente de tornarem-se um atleta profissional. T8 ainda complementa que ao decorrer de uma temporada, os influenciadores de um ambiente adequado podem ser os resultados prévios e também os jogos que ainda estão por acontecer Para T9, o treinador deve agir sempre com transparência e que seus atletas devem saber muito bem o que o treinador pensa e suas ideias. Por outro lado, T7 preocupa-se em não misturar momentos profissionais com momentos de descontração e considera importante momentos em que os atletas estejam entre si, sem a presença do treinador.

Na categoria Adulto alguns comentários dos treinadores definem bem as suas percepções sobre como agir para criar e manter um ambiente adequado de trabalho. Segundo T10, precisa "saber bater e assoprar", ou seja saber equilibrar quando deve ser mais rígido com o grupo e quando pode ser mais brando, deixando claro aos atletas que as decisões e ações do treinador visam sempre o bem da equipe. O T12 aponta "tratar os iguais de forma diferente", pois todos têm os mesmos direitos e deveres, no entanto suas particularidades são diferentes e o treinador precisar fazer com que esses iguais se sintam iguais, mas a abordagem com cada um deve ser diferente. Para T11, é importante fazer com que os atletas sintam-se valorizados, com feedbacks positivos, reuniões e conversas informais.

IC5.2. Manter-se motivado em seu trabalho.

DSC85 (sub-11): A minha motivação nessas categorias sempre foi em relação à evoluçãoT1,T2. A minha meta é ser a equipe que mais evoluiu no campeonatoT1. A gente consegue perceber muito a evolução deles nessa categoria, eu gosto de trabalhar com essa faixa etária. Eles são muito motivados a aprenderT2. O que nos motiva é que a gente ama fazer isso. Além da nossa família, saber que o que você sonhou está acontecendo. Você está sustentando sua casa com o basquete, tenho meu carro, pago a escola dos meus filhos com o basqueteT3.

DSC86 (sub-14): Eu gosto muito de dar treino, gosto muito de estar em jogoT4. Eu amo isso, me sinto bem fazendo issoT4,T5,T6. Ver os meninos crescendo como atletas, como pessoas então isso também é uma coisa que pra mim é muito gratificanteT4. As vitórias ajudam bastante nesse processo de motivação. E as derrotas as vezes te ajudam até mais. Uma vez eu comecei a trabalhar com um time que eu tinha combinado que ficaria até terminar uma competição. Daí a gente perdeu na semifinal, aquilo ali já me deu motivação pra continuar. O que me motivou foram as derrotas. Eu estava focado em ser campeão do negócio. Eu coloquei na minha cabeça que eu seria campeão daquele torneioT6. 93

DSC87 (sub-17): Gostar do trabalhoT8,T9, ver que as coisas estão funcionando. O fato de você ver jogadores seus chegando, se profissionalizando, isso é muito motivante. O apoio e o feedback do clube valorizando o trabalhoT8. Pra me motivar, quanto mais competitivo melhor. É o meu combustível, se tem jogo que eu sei que a gente vai meter 40 pontos, o treino já não sai tão bom. Agora, eu sei que vamos pegar um time que é jogo pesado, duro, aí a semana já é diferente, ou se é quadrangular final, quanto mais competitivo, mais gostosoT7. Eu gosto e sei que vou me desenvolver com grandes desafios. Se eu tiver pequenos desafios pra transpor eu vou estar menos motivado do que grandes desafios pra transpor. Quanto mais tiver leões nessa selva, mais me motiva,porque vão me mostrar que eu não sou tão bom assim em alguns momentos e isso vai fazer com que eu fique num estágio de "eu quero mais"T9.

DSC88 (Adulto): É uma briga que você tem que ter com você mesmo. Eu aprendi algumas táticas, que me motivam. Eu quando perco o jogo eu não vejo nada de redes sociais, Instagram, WhatsApp. E quando eu ganho eu vejo. Quando perdia eu via cara colocar cada coisa que as vezes é muito pra baixoT10. Isso tá no sangue, tá dentro de mim. O basquete faz parte da minha vida desde sempreT12. Tem que ter amor pelo que faz. Eu acho que a hora que você perder o amor pelo que você faz, você cansou daquilo lá, é bom mudar porque não vai dar certo, não vai ter sucessoT10. A própria competição é um fator motivadorT11. O fato de perceber que você está alcançando metas de curto, médio e longo prazo que foram traçadas e perceber que a sua carreira está indo bemT11. Me motiva ver eles melhorando, ver eles felizes, o time bem e aí depois ganhar ou perder vai ser consequência. Mas a minha motivação é vir aqui, ter um bom ambiente de trabalho, saber que eu vou chegar aqui e falar "puts, o ambiente é gostoso". Isso pra mim é motivadorT12.

O ritmo de trabalho de um treinador é intenso e manter-se motivado nem sempre é algo simples, no entanto, T3 afirma que ama o que faz e isso lhe traz muita motivação para seguir em frente com suas tarefas profissionais mesmo passando por momentos difíceis. Outro aspecto comentado por T1 e T2 é que a evolução dos atletas nessa fase acontece de forma muito rápida, e isso é um dos fatores que motiva os treinadores em seus trabalhos, proporcionar situações que permitam a evolução de seus atletas.

Houve unanimidade quando questionados sobre como manter-se motivados. Respostas como "eu gosto muito de estar em quadra", ou "eu amo o basquete" apareceram em todos os casos do sub-14. Além disso, os treinadores tem prazer em disputar partidas e são ambiciosos para ganhar jogos e alcançar objetivos pré-determinados e isso os motiva. O T4 ainda comenta que perceber a evolução dos atletas é outro fator que lhe motiva.

Para manter-se motivado os entrevistados T8 e T9 do sub-17 alegam que gostam muito dos seus trabalhos. T7 e T9 demonstram um sentimento 94 interno de querer superar desafios, querer enfrentar equipes de alto nível e quanto mais competitivo, melhor. Além disso, para T8, perceber que seus atletas conseguem chegar no próximo nível, isto é, a categoria Adulto é muito gratificante. Receber feedback positivo e a valorização do trabalho pelos dirigentes também são aspectos que motivam T8.

Para sentir-se motivado na categoria Adulto, T10 e T12 apontam que o treinador acima de qualquer coisa precisa gostar muito do que faz. O fato de alcançar metas de curto, médio e longo prazo e a evolução do treinador ao longo de sua carreira é um fator motivante para T11 e sentir que a equipe está em processo de evolução e alcançando bons resultados, segundo T12. Uma estratégia comentada por T10 diz respeito à observação de redes sociais, é importante usar com ponderação, pois da mesma forma que pode motivar o treinador, pode também desmotivá-lo.

Em todas as categorias foi possível perceber nos discursos dos entrevistados afirmações sobre amar o basquetebol e que estar em quadra todos os dias atuando com a modalidade lhes dá um sentimento de realização, felicidade e prazer. Isso pode ser justificado através do posicionamento de Cotê e Fraser-Thomas (2007) que apontam que a atmosfera positiva do meio social promove o desenvolvimento da motivação intrínseca e da condição do prazer e do amor ao compromisso de entregar-se ao esporte, permitindo ao treinador tolerar as exigências vorazes da profissão.

O estudo de Dias, Cruz e Fonseca (2010) realizado com treinadores de nível internacional, fortalece a importância da manutenção de níveis elevados de motivação ao longo da carreira dos treinadores uma vez que foi o atributo psicológico mais mencionado entre os entrevistados.

IC5.2.1 Motivar os atletas.

DSC89 (sub-11): Ele tem que se sentir importante. Tem que se sentir valorizadoT2. Precisa se sentir evoluindoT1,T2. De uma forma que não seja mentirosa. De uma forma que ele realmente consiga sentir. Tem moleque que o caminho dele pra ficar feliz é ganhar, é se destacar. Tem menino que vai vir aqui que o negócio dele é participar do grupo, outros querem aprender, outro porque quer perder peso. Você tem que buscar o que faz esse moleque se sentir assimT2. As vezes não é o melhor resultado dentro da competição, mas um resultado pessoalT1. E confiança, eu tento incentivar com que eles tentem bastante, sem ficar botando muitas rédeasT2. Tentando quebrar essa barreira total de competição. Fazer com que os treinos e algumas 95 coisas se tornem mais agradáveis. Fazer pequenas excursões, fazer clínica, conhecer e conviver um pouco com jogadores e técnicos do AdultoT3. E eu faço também com o tablet uma chamada, que a gente já faz uma avaliação de cada atleta, é um fator motivacional também e passa pra eles, com cores, se o treino foi bom, ruim ou ótimo. Aí eu vou lançando numa tabela todos os dias e vejo. Ah, o Alex foi bom. O Fulano de tal foi ótimo. Mas essa avaliação em cima do nível de esforço que ele teve pra treinar. Então se ele se esforçou o treino todo, é ótimo o tempo todo, mesmo que ele tenha errado tudo, mas se ele tá concentrado, ele tá intenso, ele tá se ajustando o tempo inteiro é um treino ótimoT1. A gente tinha um scout (folha de estatística) e a gente mexia nos valores do scout de acordo com o que a gente achava que era interessante pra cada categoriaT2.

DSC90 (sub-14): Vai um pouco mais pro lado do resultado. O resultado é uma coisa que a gente valoriza muito, mas é a partir da derrota, que a gente tira boas lições tambémT4. Você tem que ter uma cobrança e ela não pode ser exacerbada. Acho que cada atleta ou grupo de atleta vai reagir melhor com uma postura ou outra e você tem que ter essa leitura, nem todo mundo é igual e você tem que saber vender o seu peixe pro atletaT6. O treinador tem que demonstrar ao atleta que quer. Você tem que insuflar o seu atletaT5.

DSC91 (sub-17): Eu acho que a energia com que você se coloca num treino ou se coloca numa preleção, você transpassa, você mostra pros caras o quanto você está afimT7. No treino é mais difícil que no jogo. No jogo eles se auto motivam. A maior dificuldade é uma semana ou duas semanas sem jogo, onde você só treina. Ali a gente procura falar sobre essa questão do processo, mostrar que é importante, mostrar que o treino não vai dar resultado agora mas faz parte de um processo. Algumas atividades mais prazerosas, alguns momentos fora da quadra também que fecham um grupo, algumas viagens, viagens sempre fazem bem pro grupo, pra torneiosT8. Eu utilizo algumas estratégias, uma delas é o desconforto. É uma motivação assim de sobrevivência, de levar ao extremo do limite e a competição interna, saudável. Competição interna. Outra coisa é você passar pro seu time que existem coisas que são certas e coisas que são justas. Nem todas as coisas são certas e justas. Tem coisas que são injustas e incertas. Então eu tento o máximo ser correto e justo com o grupo. Nem todas as situações dão a possibilidade do ser humano ser certo e justo e é importante os atletas entenderem issoT9.

DSC92 (Adulto): Eu aprendi, que as gerações são cada vez mais competitivas. Então qualquer atividade tem competição, isso aí motiva eles todo o dia. Mas você também não pode deixar que os caras fiquem só na motivação e percam o objetivo, você conseguindo os dois eu acho que é a melhor forma que você pode fazerT10. A própria competição, o campeonato em si, ele motiva. Eles vem treinar porque sabem que daqui dois dias ele tem um jogo contra o time X, e se gente vencer esse jogo, a gente se mantém entre os primeiros, com o mando de jogo na nossa casa. Isso por si próprio já motivaT11. Eu procuro estar sempre conversando e compartilhando muito das minhas sensações com eles. E procuro sempre ser grato, entender onde eu estou, agradecer as coisas que acontecem na minha vida e procuro compartilhar isso um pouco com eles, que eu sei que as vezes, por motivo A ou B eles possam não ter essa mesma percepção. E eu preciso que eles estejam sempre 100%, motivados e aí eu tento ir mostrando coisas positivas que aconteceram no jogo passado, no treino anterior, qualquer coisa pra motivá-losT12. 96

Para T1 e T2 é importante o atleta sentir que está aprendendo e evoluindo. O treinador, segundo T2, deve passar confiança e ter consciência das intenções individuais de cada atleta com a prática da modalidade e estabelecer um canal de comunicação que os motive de verdade. Proporcionar viagens, encontros com atletas da categoria Adulto e treinos agradáveis com o mínimo de direcionamentos para resultados são estratégias interessantes para motivar os atletas, de acordo com T3. Os entrevistados T1 e T2 fazem uso de recursos escritos (anotações) como forma de avaliar e tentar motivar os atletas sobre seus desempenhos.

No sub-14, T4 percebe que os resultados positivos ajudam a manter os atletas motivados, mas é importante o treinador do sub-14 tentar enxergar aspectos positivos e comentar com seus atletas mesmo nas derrotas. A fim de motivá-los, T5 assinala que o treinador tem que demonstrar disposição e transferir à eles toda sua gana de alcançar bons resultados. Já T6, corrobora com Brandão (2003) no sentido de que o treinador deve impedir a apatia e o desinteresse e, ao mesmo tempo, reconhecer que cada atleta tem diferentes motivações, interesses e atitudes.

Períodos longos sem jogos podem ser desmotivantes, por isso, T8 entende que é interessante promover jogos amistosos ou viagens para torneios curtos em momentos como este. Além disso, T7 acredita em um comando de voz que consiga motivar e atingir os atletas para desempenharem seu melhor, passar a energia e a vontade que o treinador tem pelo jogo aos atletas. Nos treinamentos, T9 utiliza-se de estratégias competitivas de motivação, como o desconforto por meio de uma competição interna entre os jogadores de uma mesma posição para assumirem um papel de titularidade ou mais tempo de quadra. E completa seu raciocínio apontando que tenta sempre que possível ser correto e justo com o grupo, equilibrando tempo de quadra a todos e ao mesmo tempo o que é melhor para a equipe, compartilhando seu pensamento com o de Brandão, Agresta e Rebustini (2002), que relata que o treinador deve dar oportunidades iguais para que cada um possa mostrar suas capacidades.

Na categoria Adulto, T11 entende que o próprio campeonato e os desafios que os atletas enfrentam ao disputar partidas contra outras equipes já é naturalmente um fator que motiva os atletas. Em treinos, T10 destaca que o 97 treinador pode utilizar-se de exercícios em que os atletas compitam entre si e tentem superar o colega de equipe, usar placar e marcar os pontos no momento de 5x5 pode ser uma estratégia interessante. O T12 acredita que conversas com o grupo que abordem o sentimento de gratidão pelo que fazem e que mostrem aos atletas aspectos positivos de seus avanços para o alcance das metas traçadas, colabora com a motivação intrínseca. Tal argumento compara-se a Zanetti et al. (no prelo), no que diz respeito ao estabelecimento de metas de trabalho para os treinamentos e competições, a curto, médio e longo prazo podendo ser um importante recurso no suprimento das necessidades psicológicas básicas.

É possível perceber nos discursos dos entrevistados, elementos que se associam à Teoria da Autodeterminação (TAD) (DECI; RYAN, 1985). Esta teoria aponta que para que um atleta (seja ele iniciação ou alto rendimento), apresente altos níveis de motivação - tanto em quantidade como qualidade - deve ter suprido suas Necessidades Psicológicas Básicas (NPB), sendo elas: autonomia, competência (conseguir realizar as atividades e alcançar objetivos) e relacionamento social (BALAGUER et al., 2008).

IC5.3. Reflexões e análises sobre o desempenho.

DSC93 (sub-11): As reflexões são o tempo inteiroT1,T3. Eu sempre faço uma reflexão após o treino, eu analiso o que passei do conteúdo programado e dou uma avaliação se foi ruim, bom ou ótimo do exercício e a minha participação dentro do exercícioT1. A gente tem uma expectativa pelo que a gente vem treinando e se o resultado na quadra não foi esse, por que não foi esse? Vou no meu planejamento, vejo, pô, quanto disso eu tô fazendoT2. O que está dando erradoT2,T3? O que está dando certoT3? Planejamento, análise e replanejamento. Tanto em relação à minha parte acadêmicaT2 quanto em relação à atuação em quadraT2,T3.

DSC94 (sub-14): É bem forte issoT4. Após o jogo eu sempre avalio o que fiz certo, errado, as trocas, ou se as decisões táticas foram as melhores, o que eu poderia ter feito melhorT6 ou diferenteT4, meu tratamento com os jogadoresT6. O jogo fica na cabeça. Eu faço isso pra tentar melhorar e não pra ficar se martirizandoT6. Eu analiso como foi o ano, os resultados alcançados, a evolução dos atletas, se a equipe se empenhou ao máximo, se eu me doei ao máximo, se meus atletas fizeram o que pediT5.

DSC95 (sub-17): Muitas vezes é bem subjetivo mas quando eu vejo o vídeo eu vejo que realmente cometo errosT7. Assistir os jogos é importanteT7,T8. E tem sido a ferramenta que eu mais tenho utilizadoT7. Análise de estatística. Falar com outros profissionais que estavam assistindo os jogos, falar com os próprios jogadores pra entender aonde eles estão sentindo dificuldadeT8. As vezes sai de um jogo e eu 98

acho que eu não fui bem e normalmente eu falo pros atletas. Não fui bem por causa disso, acho que eu deveria ter colocado tal fulano mais, esqueci você no banco, falo todos os erros que eu acho que eu cometi pra eles e eles também falamT9.

DSC96 (Adulto): Reflexões o tempo todoT10,T11,T12. A gente se cobra muito e isso faz a gente crescerT11. Converso bastante com meu assistente sobre minha conduta, o que erramos e o que poderíamos fazer diferenteT10,T11,T12. Comissão técnica, diretoria, esses caras, são quem eu mais acredito. Se vocês perceberem algo errado, por favor me falem, tem que falar o tempo todo, e eu posso concordar ou nãoT11. Assisto também muito os vídeos dos jogos T10,T11,T12.

De acordo com os entrevistados do sub-11, realizar análises individuais de desempenho é um hábito constante. Aspectos que causam reflexões nos treinadores são: postura do treinador (T3), entender os motivos de situações mal sucedidas (T2 e T3) ou de atletas que estão desmotivados (T2), análise dos treinos (T1), empenho (T1) e pontos a melhorar (T2 e T3).

Treinadores do sub-14 costumam fazer análises sobre seus próprios desempenhos, principalmente após disputarem partidas (T4 e T6) em que refletem se agiram corretamente em substituições, decisões táticas, variação de defesas, e sua comunicação e comando de voz. Numa escala mais abrangente, T5 analisa se ao final da temporada conseguiu alcançar os resultados, se o time evoluiu, se conseguiu ser o melhor que poderia ser dentro de suas limitações.

Todos os entrevistados do sub-17 têm o hábito de fazer análises e reflexões sobre seus desempenhos profissionais. T9 relatou que em algumas ocasiões após partidas, realiza reflexões com o grupo, justificando as decisões tomadas e aberto a ouvir o que os atletas tem a dizer sobre sua atuação. Já T7 e T8 compreendem que o recurso de assistir ao vídeo após as partidas lhes auxilia muito em analisar seus desempenhos e observar situações que não foram percebidas no momento do jogo.

Reflexões individuais sobre o desempenho e conduta são hábitos recorrentes dos treinadores da categoria Adulto. Os membros da comissão técnica são pessoas em que os três entrevistados mostraram total confiança e geralmente lhes auxilia neste processo de reflexão e análise do desempenho do treinador. As reflexões giram em torno de aspectos como: se substituições foram realizadas corretamente (T11, T12), se o treinador conseguiu manter o controle emocional (T10, T12), se conseguiu passar a instrução de maneira 99 correta (T12), se as estratégias traçadas foram adequadas (T11), se o pedido de tempo técnico foi na hora certa (T11) e o que poderia ter feito de diferente (T10). O recurso do vídeo das partidas foi mencionado pelos três treinadores e ao assistir os vídeos, mesmo nas vitórias é possível observar diversos erros e pontos que poderiam ser melhorados. Opiniões divergentes foram citadas por T11 que não costuma ouvir sugestões de pessoas que não sejam membros da equipe, ao passo que T10 comentou que gosta de ouvir comentários de qualquer pessoa e em cima disto analisar se deve seguir ou não.

Os discursos relatados pelos 12 treinadores entrevistados vão ao encontro de CAC (2016), Meinberg (2002) e Penney (2006) sobre a importância dos treinadores pensarem de forma crítica, refletindo sobre sua atuação, analisando seus resultados, decisões e ações.

IC5.3.1. Feedback aos atletas.

DSC97 (sub-11): Eu faço uma avaliação de cada atleta sobre o nível de esforço no treino e passo pra eles. Então se ele se esforçou o treino todo, é ótimo o tempo todo, mesmo que ele tenha errado tudo, mas se ele tá concentrado, ele tá intenso, ele tá se ajustando o tempo inteiro é um treino ótimo. Se chegou atrasado, se está disperso, você vai anotando e isso te dá dados e você consegue dar feedback no final do ano ou no meio do ano para os pais, ou para outro técnico que você vai ter que passar o atletaT1. Eu me preocupo muito em ajustar a frequência verbal de feedback. Nesta idade eles erram muito, tem que ser uma frequência baixa, não pode falar alguma coisa toda vez que eles erram. Tentar a frequência de 1 pra 5, 20% das tentativas em questão de quantidade. Se não eu percebo que atrapalha. A gente tem que esperar o aluno errar e ter o tempo dele. Mas é importante passar a informação no momento certo, se você deixa ela passar, todo o processo de aprendizagem está comprometido. Então eu tento fazer dessa forma, uma quantidade não excessiva e pontual. Questão de qualidade eu tento ser o mais objetivo e instrutivo possívelT2. Eu sinto, tem dias que é uma conversa rápida com todos no meio da quadra, tem dias que a gente vai pro vestiário e conversa por mais tempo, não tem um padrão. E individualmente eu dou feedback pra cada um.

DSC98 (sub-14): Eu gosto de elogiar quando o time ou o atleta faz alguma coisa que eu julgo ser boa. No jogo eu elogio mais do que no treino. Eu costumo dar feedback individual e em grupoT4. Sem ser na quadra, eu não grito, é de forma bem tranquila. A não ser que você perca um jogo, que você vai dar um esporro no vestiário. No vestiário simT5. Pra mim, todos os feedbacks positivos e se eu puder fazê-los, eu vou fazer no grupo. Todos os feedbacks que forem negativos eu vou fazer no individual. Só quando é alguma coisa que diz respeito ao grupo todo. Se não acho que não deve expor o garoto. E acho que o feedback positivo vai dar mais confiança pra ele, principalmente se ele está malT6. 100

DSC99 (sub-17): Depende muito da fase e o momento que estamos na temporada. No começo da temporada é um olhar e um feedback mais geral, depois você vai apurando até chegar e falar um detalhe de posicionamento do pé, muito mais preciso, específico. Se você quer fazer alguma parte de correção, acho que é muito melhor você ir pelo lado do reforço positivo. Então você criar alguns mecanismos de mostrar o desenvolvimento, o avançoT7. Existem dois jeitos. Um durante a prática na frente de todo mundo, quando o erro que ele cometeu pode ser um erro coletivo e eu não quero que um outro jogador cometa o mesmo erro. E o outro, só eu e ele na orelha dele que eu acho um pouco mais significativo, quando é algo que só diz respeito à ele, sobre o jogo dele, sobre a conduta que ele teveT9. Um pode reagir melhor a uma bronca, outro pode reagir melhor a um feedback positivo, o outro não gosta de ser exposto na frente de todo mundo, então uma conversa individual com ele funciona melhorT8.

DSC100 (Adulto): Acho que conversa é o maior feedback que a gente tem sempre. Mas tem vários mecanismos, as vezes você simplesmente dá sua opinião, as vezes mostrar um número (estatística) pro cara, as vezes mostrar vídeos pro cara, depende muito de cada um que você tem na mão. Mas tem que cobrar todo mundo na frente de todo mundo. O bom e o ruim tem que ser na frente de todo mundo porque todo mundo tem que entender que quando errar vai ser cobrado e que quando acertar vai ser valorizadoT10. Eu costumo bastante nos treinos, no momento que acontece a ação, dar o feedback. Assim como eu cobro bastante eu gosto de dar o feedback positivo também já no momento. A maioria das vezes individualmente, mas costuma acontecer também coletivamente, principalmente aos finais dos treinos, eu dou bastante feedback tanto positivo quanto negativo mas eu prefiro sempre terminar com feedbacks positivos pra manter esse clima e a motivação deles mais elevadaT12. A comissão técnica me ajuda muito nisso, porque normalmente os jogadores se aproximam mais dos auxiliares, preparador físico, do fisioterapeuta. Então eles me falam quem está desmotivado, quem está com problema e aí eu vou no cara, eu crio estratégias no treino ou fora do treino, pra minimizar isso ou pra acabar com qualquer problema que apareça. Sempre pensando em melhorar. Tem essa linha diretaT11.

Os entrevistados citaram diversos meios de dar feedback aos atletas. Para T1, uma alternativa é mostrar anotações que avaliem individualmente cada atleta no treino em termos de esforço, concentração, disciplina. Para T2, é importante considerar uma frequência adequada de feedback verbal, isto é, não mencionar todos os erros que o atleta faz, para que não fique com a impressão que está errando muito, que seja pontual mas não em excesso. Este discurso de T2, associa-se a Horn (1992) sobre o tipo e a frequência com que o treinador deve fornecer feedback aos seus atletas. Já T3 entende que possa ser individual ou coletivo e que o treinador deve ter a sensibilidade em perceber se o momento é adequado ou não para o feedback.

Para dar feedback aos atletas, os entrevistados T5 e T6 tentam falar de forma calma. T4 e T6 priorizam o reforço positivo, tentando valorizar o esforço 101 e a intenção do atleta mesmo que a tentativa não tenha sido bem sucedida. O T6 acredita que feedbacks positivos podem ser comentados para que todo o grupo ouça, já os feedbacks negativos que sejam transmitidos de maneira individual, sem expor o atleta.

Na percepção de T7, o tipo de feedback que o treinador dá aos atletas pode variar de acordo com a fase e o momento que a equipe está na temporada. Se está no inicio da temporada, são orientações mais abrangentes, se está no final da temporada são feedbacks mais específicos, se está num momento em que a equipe vem de algumas derrotas, são feedbacks que abordam os erros mas que trazem um reforço positivo, enfatizando também as coisas boas que os atletas estão realizando. De acordo com T9, pode ser individual, quando quer tratar de algum aspecto exclusivo de um determinado atleta ou para o grupo todo, como numa correção de movimento ou atitude que mais de um atleta está executando. Analisar vídeos com os atletas também é uma forma utilizada por T7 para dar feedback. O entrevistado T8 acredita que é importante conhecer o atleta e saber qual a melhor forma de dar feedback à cada um deles. Segundo Potrac e Cassidy (2006), dentro de uma mesma equipe pode haver diferença no tipo de feedback que o treinador deve fornecer a cada um de seus atletas.

Para dar feedback aos atletas adultos, T12 assim como Wikeley e Bullock (2006), entendem que o treino é um momento em que ocorrem diversas orientações pontuais, logo no momento que o atleta executa determinada ação, sendo feedback positivo ou negativo. De acordo com T10, é importante que algumas cobranças sejam feitas de forma coletiva e abertas para que todos do grupo ouçam e não fiquem pensando que um ou outro atleta não são cobrados pelo treinador. Existe o costume também, por todos os entrevistados, de conversar individualmente com os atletas para mostrar estatísticas, vídeos de seus desempenhos e tentar entender o momento que cada atleta está vivendo.

Em todas as categorias percebe-se que treinadores dão feedback aos atletas tanto de forma coletiva quanto individual. Neste sentido, relacionam-se com Obrador e Nebot (2012) em que uma das atribuições de um treinador competente é orientar os atletas em função de seu rendimento, objetivos e 102 necessidades. Os entrevistados associam-se também com Gershgoren et al. (2011) ao apontarem que, de forma positiva, o feedback transmite expectativas positivas sobre o potencial e capacidade do indivíduo, estimula‐o a fazer a ligação entre esforço e sucesso e o faz notar o seu progresso.

4.7. Comentários adicionais dos treinadores para atuação profissional

IC6. Comentário adicional sobre competência necessária ao treinador.

DSC101 (sub-11): Acho que as características principais do técnico pra essa categoria é o detalhe de tudo, a paciência, a afetividadeT1. Acho que a gente tem que tentar informar eles o máximo possível. O treinador precisa conhecer e ter clareza sobre o processo, o que é importante em cada fase de desenvolvimento do atleta, do início ao fimT2. Eu acho que no Brasil falta mais união na nossa classe de técnicos. Acho que podia ser assim, eu chego pra você e falo, pô queria ver um treino seu, tudo bem? Essa troca. Pra nossa evolução. Acho que é algo sério que a gente precisa melhorar. Não precisa ser forçado, um alisando o outro, mas tem que ter mais reuniões, encontrosT3.

DSC102 (sub-14): A gente (treinadores) precisava ser uma classe mais unida. Mais coesa. Não adianta cornetar o técnico da seleção brasileira. Não adianta os caras de Adulto cornetar a base e os caras da base cornetar os do Adulto. A nossa estrutura tá errada. A gente precisava colocar os colégios mais participantes. Mas isso é utopia tá. Esquece. E a classe é muito dividida pra começar a exigir algumas mudanças nesse sentidoT5. Tem que ter paciência no trato com os garotos, saber que as coisas não ocorrem às vezes da maneira que você espera ou elas não ocorrem rápido. E você tem que entender que o cargo de técnico é um cargo político. É uma escolha política porque ser técnico é uma cargo de confiança. Alguém te colocou ali por confiançaT6. Eu só queria dar ênfase nessa parte de gestão de pessoas. Na importância do técnico querer fazer a pessoa que ele tá lidando querer se desenvolver como pessoa. É muito mais do que um jogo, né? Porque eles sendo o melhor que eles podem ser como pessoa, eles vão acabar sendo no basquete e em qualquer outra fase da vida deles, isso é o mais importanteT4.

DSC103 (sub-17): Acho que não seria uma competência, mas você ter paixão por aquilo que você faz, aquilo parte de você, você precisa daquilo. E você desenvolver uma metodologia, né. Você tem que ir desenvolvendo uma metodologia ao longo do tempo, "como vai funcionar a minha defesa? Eu gosto de time que corre ou eu gosto de time mais pausado". E aí você vai desenvolvendo essa metodologia através de coisas que você já passou, que você acredita, que você entende que funciona pra aquela equipe. Tem coisas que você fala assim, "pô, isso eu não vou mudar!" E outras que você vai. É relativo. Mas você tem que ter um pensamento metódico. Eu comparo com o trabalho de um chefe de cozinha. Tem um pouco da parte teórica, mas também da arte. Não é estritamente racional, metódico, tem um pouco da sua percepção na hora do jogo e isso é um pouco de arteT7. 103

Eu gostaria de falar que as nossas ações, os nossos resultados são fruto de trabalho duro. Então ter isso bem claro, que quanto mais ele trabalhar duro, pro seu aperfeiçoamento e pro bom entendimento de quem ele tem na mão e o time dele, melhor ele vai viver, melhor ele vai ser porque o técnico de basquete ele é uma pessoa muito intensa com a prática profissional dele. Então se ele consegue ser um cara de trabalho duro todos os dias, ele com certeza vai subir na carreira, ele vai chegar onde querT9.

DSC104 (Adulto): O técnico de basquete tem que gostar muito do que fazT10,T11, porque muitas vezes a gente é uma pessoa isoladaT11. A gente tem que abrir mão de muita coisa, da vida pessoal, família, amigos, a gente vê pouco, sempre tá longe, e a gente só é visto quando vence, quando perde a gente fica muito solitário. Então, a gente tem que gostar muito pra nesses momentos ter força pra continuar, porque quem não amar o que faz, no caso do basquete, normalmente ele vai ter vontade de parar, de desistir no meio do caminho. Se você não tiver um suporte do seu lado ou de uma esposa ou da família, ou de amigos, você vai ter dificuldades. A nossa vida é uma roda gigante, tem momentos bons e momentos ruins. Pra mim, o grande técnico é aquele que gosta de desafio e na hora que parece tudo perdido, o cara vai lá e se supera. Essa capacidade de superação, eu diria, é talvez uma das competências mais importantes. Até hoje, eu busco e estudo pra melhorar minha postura, meu comportamento dentro de quadra e chega num ponto da carreira que você vê que mais importante do que o conhecimento técnico é o relacionamento, a gestão de pessoasT11. Eu vejo cada vez mais como é importante a gente se preparar mentalmente, entendendo mais a importância do auto conhecimento, você se desenvolver pessoalmente pra poder desenvolver os demais. Uma outra percepção também é que os técnicos deveriam ser muito mais unidos, deveriam ter muito mais momentos como esse assim de troca de idéia. Então aprendi isso com os argentinos. Na Argentina alguns treinadores fazem isso já lá. "Pô, vem aqui pra você ver o que que eu faço". Qual o problema disso? Hoje está tudo explícito, se ele não me falar eu vou assistir o jogo e vou verT12. Hoje o grande lance da parte tática chama-se leitura de jogo. Isso é uma coisa que os técnicos precisam dominar e pra isso a gente precisa voltar a Escola Nacional de Treinadores (ENTB), um ponto fundamentalT10.

Ao final da entrevista, quando questionado se gostaria de comentar algo mais com relação às competências necessárias aos treinadores de basquete, T1 ressaltou a importância do treinador em ter paciência com os atletas, ser afetivo e detalhista. O T2 Enfatizou a importância de entender as fases e o processo de desenvolvimento da carreira atlética, tendo clareza dos detalhes de cada etapa. Por outro lado, T3 percebe que a classe de treinadores poderia ser mais unida, sente uma carência de promoção de encontros e dificuldade em trocar informações e experiências que possam colaborar com o desenvolvimento e evolução da modalidade no país.

Nesta mesma lógica, o entrevistado T4, da categoria sub-14, deu ênfase à importância do treinador conseguir desenvolver os atletas além de aspectos 104 táticos e técnicos. Na percepção de T6, é necessário ser flexível às mudanças, saber fazer a política e equilibrar momentos de cobrança e de descontração sempre mantendo o profissionalismo. Uma alternativa para conseguir mudanças positivas e elevar o nível do basquete, no ponto de vista de T5, seriam os treinadores serem mais coesos e unidos.

Já os entrevistados T7 e T9 da categoria sub-17 percebem que para conseguir estar neste cargo tão intenso é preciso amar o que faz. De acordo com T9, quanto mais bem preparado e mais duro ele trabalhar, melhores serão seus resultados, corroborando com Egerland (2009) quanto ao sucesso de qualquer profissional estar ligado à dedicação, ao trabalho com afinco, ao planejamento e à constantes atualizações. O entrevistado mais experiente (T7), relata que ao longo dos anos o treinador consegue desenvolver uma metodologia de trabalho e um modelo de jogo com princípios que acredita funcionarem bem para suas equipes. Isso é fruto da experiência no campo de atuação que o permitirá também ter leituras aguçadas e tomar decisões rápidas e precisas em momentos cruciais das partidas.

Por fim, os entrevistados da categoria Adulto trouxeram diversas contribuições. O entrevistado T10 reforçou a importância de ter amor pelo que faz, da necessidade em estar constantemente em busca de conhecimento, que a leitura do jogo é um ponto fundamental para treinadores e um fator que poderia colaborar com uma melhor leitura de jogo entre os treinadores em geral do Brasil seria a volta da Escola Nacional de Treinadores (ENTB). O entrevistado T11 também relatou a importância de gostar muito do que faz pois precisa abrir mão de muitas coisas da vida pessoal. É importante ter um conhecimento sobre gestão de pessoas, além de um apoio familiar e um controle emocional forte para superar momentos difíceis na carreira, pois como também mencionado por Brandão, Agresta e Rebustini (2002), a profissão de treinador é altamente estressante o que implica ter, dentre outras coisas, uma força de vontade elevada. O entrevistado T12 enfatizou a questão de estar preparado mentalmente e a importância do auto conhecimento para auxiliar outras pessoas a se desenvolverem. Este entrevistado acredita que para o bem do basquete como um todo, os treinadores deveriam ser mais unidos compartilhando suas informações e metodologias de trabalho. 105

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A diversidade de atribuições e atividades exercidas por um treinador de basquete requer um conjunto de competências necessárias à atuação deste profissional. O interesse em entender com mais profundidade sobre estas competências, levou à realização deste estudo que teve como objetivo identificar as competências necessárias para atuação profissional sob o ponto de vista dos próprios treinadores.

Dentre as principais competências cognitivas identificadas nas entrevistas com treinadores, destacam-se conhecimento amplo sobre o jogo, domínio de fundamentos técnicos, percepção e aplicação de formações táticas que melhor se adéquem à equipe, compreensão das características individuais (aspectos físicos, intelectuais, personalidade e inserção social) dos atletas, das fases de desenvolvimento da carreira atlética, conhecimento de processos pedagógicos, ter clareza dos objetivos da instituição, ter consciência do potencial da equipe e traçar metas verdadeiras.

No âmbito das competências pessoais e sociais - que abrangem o domínio de aspectos comportamentais e está sistematizada na dimensão intraprofissional e na dimensão social e vocacional – o treinador deve ser um educador, capaz de adaptar seu perfil às características do grupo de trabalho, que seja um motivador, que através de sua atitude demonstre exemplos positivos aos seus liderados, que transmita confiança, que permita a outros membros da equipe expressar opiniões e discerni-las e que em momentos difíceis (principalmente situações de jogo) consiga ter controle emocional.

Seus relacionamentos com atletas de categorias de base iniciais demonstram grande proximidade e com atletas próximos à categoria Adulto tendem a ser de forma mais profissional, sempre tentando ser justo, com uma linguagem adequada à faixa etária e levando em conta a personalidade de cada indivíduo. Nas categorias iniciais, o contato com os pais dos atletas é maior ao passo que nas categorias sub-17 e Adulto entra a figura do agente. Dirigentes e mídia também são figuras que fazem parte do cotidiano do treinador, sendo importante manter bons relacionamentos com todos estes 106 personagens pois são influenciadores diretos para o sucesso do time. Uma questão que chama atenção no discurso de quase todos os treinadores é a influência e grande participação em mídias sociais e digitais pelos atletas e treinadores, devendo ser usadas com cautela e de maneira adequada.

Quanto às competências éticas os entrevistados valorizam respeito, pontualidade, comprometimento, organização, disciplina, conduta adequada, atualização profissional regularmente, transmitir valores, princípios de boa convivência, de ser uma pessoa boa através do esporte, praticar o Fair Play (mas alegam que não são todos que praticam), ser honesto, ter paixão pela modalidade, companheirismo, união, gratidão e desenvolver o atleta de forma integral, capacitando-o não apenas para atuar na quadra de basquete como também para enfrentar desafios ao longo de sua vida.

Já as competências funcionais foram representadas por executar um planejamento compatível à realidade da instituição e ser flexível à possíveis mudanças, envolver os membros da equipe nos processos e decisões, gerir o grupo em treinamentos e jogos, bem como em termos de lesões, conflitos, adequar a carga de treinamentos de acordo com o calendário da temporada, tomar decisões, gerar soluções apropriadas e ser capaz de fazer uso de recursos tecnológicos facilitadores à atuação do treinador.

Um quesito que gerou diversos discursos interessantes e enriquecedores foram as metacompetências. Para criar um ambiente adequado é necessário respeito entre os indivíduos, e tentar equilibrar momentos prazerosos e momentos de seriedade, fazendo os atletas entenderem e não misturarem amizade e profissionalismo. Além disso, saber cobrar quando devem ser cobrados e saber a hora certa de fazer um elogio. Um fator que motiva tanto os treinadores quanto os atletas é perceber a evolução individual e coletiva dos membros da equipe e o alcance de metas. Reflexões sobre o desempenho da equipe e sobre decisões e ações individuais são recorrentes entre os treinadores de todas as categorias. Os entrevistados demonstraram preocupação em como dar feedback aos atletas da melhor maneira possível, sendo diversas formas possíveis para isso.

Quando questionados se gostariam de realizar um último comentário que ainda não tivesse sido abordado ao longo da entrevista muitos 107 responderam que a classe de treinadores não é unida e faltam mais oportunidades de encontros e momentos para troca de informações entre os próprios treinadores. Uma alternativa para isso seria o retorno da Escola Nacional de Treinadores de Basquete (ENTB). Outro comentário relevante diz respeito a gostar muito da profissão.

Percebe-se que os discursos dos treinadores estabelecem relação – na maior parte das vezes - com o que a literatura aponta sobre as competências necessárias ao treinador para a atuação profissional. Tais discursos permitem ainda um aprofundamento sobre o contexto do basquete, pois os treinadores relatam situações específicas de seus cotidianos. No entanto, um fator limitador deste estudo é que não foi possível verificar se o discurso dos entrevistados corresponde à realidade, ou seja, se os relatos dos treinadores, de fato são empregados no contexto prático.

Recomenda-se que pesquisas desta natureza sejam realizadas em outras regiões do Brasil e com outras modalidades esportivas. Pesquisas futuras poderiam também ser realizas com atletas a fim de comparar as percepções de treinadores e atletas e assim, entender melhor este fenômeno. As considerações deste estudo não tiveram a finalidade de criar generalizações, mas integrar tentativas de compreender o fenômeno abordado mediante à conjuntura em que se deu a pesquisa.

As entrevistas na íntegra, bem como as Ideias Centrais (IC) e os vários Discursos do Sujeito Coletivo (DSC) construídos neste trabalho têm também o objetivo de contribuir à comunidade de treinadores de basquete, pois deixam explícito o que treinadores acreditam sobre diversos aspectos determinantes ao jogo e trazem suas percepções a respeito das competências profissionais baseadas no Modelo holístico de Cheetham e Chivers (1996, 1998). Espera-se que este trabalho motive outros treinadores de basquete em compartilhar seus pensamentos e formas de realizar suas atividades, uma vez que todavia são poucos os profissionais que atuam diretamente com a modalidade e conseguem colaborar com o fornecimento de informações ao meio acadêmico.

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121

ANEXO 122

Anexo - Entrevistas

T1

- Boa tarde T1, como foi possível observar no TCLE, esta pesquisa tem aproximadamente 25 perguntas e leva em torno de 30 a 40 minutos e visa identificar a percepção de treinadores sobre as competências necessárias aos treinadores. Vou começar com algumas perguntas sobre você e o seu perfil como forma de caracterização dos treinadores que farão parte deste estudo. - Tudo bem. - Quantos anos você tem? - 35. - Quanto tempo de experiência como treinador de basquete? - 15 anos. - Foi atleta de basquete? - Fui até o Sub-14. Comecei com 8 e fui até o sub-14. - Quais foram as principais competições e campeonatos disputados como treinador? - Pela FPB, fazem 8 anos que estou disputando. Daí tem Jogos Abertos, Jogos Regionais, Campeonato Brasileiro de categorias de base. - E com relação aos títulos conquistados como treinador desde o início da sua carreira? - A gente teve, se for pegar um pouco mais atrás, campeão algumas vezes de Jogos Abertos e Jogos Regionais com a categoria sub-21 ou categoria Adulta. Pela FPB a gente foi campeão em categoria sub-13, sub-14, sub-15. Teve mais algumas, deixa eu ver.. no Brasileiro ficamos em segundo com o sub-15. No sub-11 ainda não tem nesse formato, é sempre Festival, é entregue medalha pra todo mundo, sem placar, sem nada, mais pros meninos pegarem uma bagagem. - Grau de instrução? - Superior completo, fiz uma pós em Treinamento Esportivo e alguns cursos fora do país mas nada muito certificado. Passei uns 2 meses fora do país, estudo, analisa basquete e depois volta. Fiz umas visitas na China, Indonésia e fiz umas pontes em Hong Kong pra ver como o pessoal joga basquete, mas nada muito específico. O que foi mais estruturado foi uma viagem pra Espanha, que a gente foi lá pro Estudiantes, passou no Barcelona, passou no Torrelodones e passou no Unicaja, a gente analisa como que funcionavam as categorias de base deles desde o sub-6 até o Adulto. Foi um grande aprendizado. Conseguimos trazer um material deles pra cá e a gente se baseia muito nesse material também. Fui pro Uruguai também uma vez, mas não conseguimos tanta coisa. No Torrelodones, que é um clube na Espanha eles seguiam uma filosofia de escola da Sérvia e é legal porque eles tem uma sequencia, é um treinamento tático-técnico nas categorias de base, o tático entra um pouco acima do técnico e no Estudiantes é totalmente ao contrário, 75% técnico e 25% de tático e eles levam isso até praticamente o Adulto, é 123 muita técnica, muita técnica, muita técnica e o conteúdo tático é mais simples porque eles jogam muito no passar e seguir, na ocupação de espaços e tem esse trabalho de ter uma qualidade individual muito grande, então todo mundo sabe arremessar, todo mundo sabe se posicionar, todo mundo sabe jogar em poste, todo mundo sabe jogar aberto, todo mundo sabe levar a bola e no Adulto se perde um pouco, mas até os 21 é tudo muito planejado e todo mundo segue à linha. Então eles sabem, por exemplo, os atletas de 8 anos, sabem o que eles terão quando estiverem no sub-16. É mais ou menos o que a gente está tentando implantar aqui. A gente tem essa filosofia, então os meninos sabem que eles vão ter um corta luz direto por exemplo, só quando eles tiverem no final do sub-15, ou que o corta luz indireto entra no começo do sub-14. Aí você consegue montar uma filosofia e ajuda a organizar o projeto e apresentar ele quando se faz necessário, olha o projeto é assim, assim, assado e tem uma sequência. - Muito bom! Vou começar agora algumas perguntas sobre a sua percepção e gostaria que considerasse sempre a categoria que trabalha atualmente, no caso o sub-11. Quais conhecimentos técnicos você considera que um treinador de basquete nessa categoria deva possuir? - Técnicos, todos. Que é a fase que você precisa fazer eles (atletas) viverem todas as possibilidades técnicas possíveis. Mas lógico que é um processo um pouco mais rudimentar, então a gente não consegue passar variações muito grande de exercícios mas o entendimento de todos os exercícios básicos e todos os fundamentos básicos ele (treinador) tem que ter, de como é a técnica de um passe correto, a técnica de um drible, onde que eu coloco o pé, a mecânica de arremesso, tudo, ele tem que ter tudo isso muito claro, caso contrário é um desperdício nessa categoria. Se você não tiver a paciência, os requisitos, todos os detalhes técnicos pra poder passar para o atleta, ele (atleta) se perde na lá na frente e é a hora que a gente não consegue corrigir. Daí quando chega lá em cima (categorias mais velhas), o cara fala assim: "ó nunca aprendi desse jeito, nunca me falaram que tinha que fazer esse movimento". As vezes ele não consegue se auto corrigir. Então tudo que você conseguir passar pra eles e detalhes, o máximo de detalhes técnicos, desde uma ponta de um dedo, desde um pé apontado, desde um quadril encaixado ou um quadril baixo, tem que ser passado, se você não conseguir passar isso pra uma categoria sub-11, você mata uma categoria aonde que eles estão aprendendo muito e é uma categoria pré competitiva, então quanto mais eles tiverem autonomia pra treinarem sozinhos, então ele vai pra casa dele, ele saber corrigir o movimento, ele saber que ele tem que treinar uma habilidade com quadril baixo, a empunhadura certa e os dedos da mão abertos, vai ser melhor. Então essa parte tem que ser.. a gente fala que aqui quem trabalha com a pré competição tem que gostar muito e tem que ser o cara mais técnico possível. A gente geralmente pensa no Adulto, no sub-19, mas ali já parte mais pra tática, aqui tem que ser um cara o mais detalhista possível. E na parte tática, parte tática a gente não envolve muita coisa no sub-11. O tático seria, o menino saber jogar sem a bola, se desmarcar e saber fazer um dá e segue, talvez no sub-11, vai depender muito do nível que você pega a categoria. Se são meninos que já vem com uma base desde os 8, 9 ou 10 anos, por exemplo, ou se são meninos que apareceram agora pra você e você tem que ensinar. Então a tática é muito relativa no sub-11. 124

- O que um treinador deve saber para conseguir ensinar atletas dessa categoria? - Tem que saber primeiro o processo de desenvolvimento da idade, como que a idade responde, como que é a paciência que se precisa ter em relação a alguns erros, qual que vai ser a insegurança que o atleta vai ter em relação a algum exercício, se o olhar pra baixo pra bater uma bola é algo da categoria, se não é, por que que é, se o olhar pra cesta (pra frente) já tem que ser imposto ou não, então ele (treinador) tem que ter esse discernimento de saber qual é a evolução dentro da categoria. E vai muito também do tempo de aprendizagem, se o ele (atleta) já chegou no sub-11 com bagagem ou sem bagagem. Se ele chegou do zero, tem que ter um pensamento de vou ter que ensinar tudo, tem que ter paciência com o que ele está fazendo. Se é uma equipe que chega no Sub-11 com uma sequência de 2 ou 3 anos de treino a variação é um pouco maior. - Vai do treinador dosar e ter o bom senso.. - É de saber e ter a percepção de quem você está pegando. - E o que o treinador tem que saber então sobre a sua instituição e sobre o cargo que ocupa? - Qual que é o caráter, qual é o objetivo mesmo da instituição. Assim, tem instituições que procuram totalmente o social, então você vai trabalhar com qualquer pessoa que aparecer, tem instituições que são competitivas desde a categoria de base, desde o princípio, então tem que tá pegando menino com biotipo, já tem que estar acelerando os meninos em relação à alguma parte e tem instituições que são totalmente formativas, então forma pra poder colher um pouco mais na frente. Então é saber onde que você tá pisando, que clube você está trabalhando, qual instituição você tá trabalhando. E com relação ao cargo, acho que vai muito de acordo com o que instituição pede, né. Então tem gente (treinadores) que consegue se afirmar e trabalhar daquele jeito em qualquer tipo de instituição. Mesmo fazendo o social ele (treinador) consegue ser formador e mesmo sendo competitivo ele consegue trabalhar o social dentro da competição. - O que o treinador desta categoria precisa saber para preparar seus atletas tanto individualmente como coletivamente pensando em competições? - Tem que saber em que nível você pegou o grupo, o tanto que eles podem evoluir, a carga de treino que eles podem ter e qual a meta que você pode chegar né. Então é muito analisar mesmo o grupo que você pegou, o que você pode oferecer pro grupo e que tipo de resposta você pode ter deles. - Entendi. E o que um treinador de basquete desta categoria deve saber para se relacionar e se comunicar com seus atletas? - Com os atletas? Tem que ter... primeiro, tem que ser muito afetivo. Você precisa agregar muito, precisa trazer eles pra você, tem que ensinar eles a amar a modalidade, aí eles entenderem como que funciona uma vitória, uma derrota, um erro, um acerto, tira eles da zona de conforto, que eles querem arremessar de qualquer jeito, querem fazer bandeja de qualquer jeito, querem driblar de cabeça baixa, então é tirar eles da zona de conforto, mas no conforto, com prazer. Tirar eles da zona de conforto mas com prazer. Então isso a gente consegue trazer pra eles, desafiando e sendo um desafio que eles 125 possam alcançar, não sendo muito fácil, não sendo muito difícil, tem que saber tocar direitinho onde que vai fazer e ensinar a competir que é o principal, porque nessa idade eles podem.. tem uns que não sabem competir, que querem ganhar de qualquer jeito e tem uns que não gostam de competir e a gente tem que ensinar a despertar isso neles. Então acho que entender essa parte psicológica e essa parte afetiva de coletividade pra eles é muito importante. Nessa categorias eles começam já a ter um pouquinho de egoísmo, em não querer passar a bola, de querer fazer, de querer ir pra cesta e é a parte mais sensível e é onde você vai aproveitar deles o máximo que você pode. Deles se tornarem uma equipe, de saber torcer pro outro, de pegar água pra um, de saber não atrasar, de saber que ele atrasando, traz um prejuízo pra equipe no geral. E nessa idade é aonde que você consegue formar uma equipe aonde que tem os maiores resultados em termos coletivos, de grupo, então eles se unem muito fácil, eles se apaixonam muito fácil, eles choram muito fácil, então eles conseguem trazer resultado naquilo que você pede. Se você souber conduzir, vai ser muito efetivo. Se eles tiverem que sofrer, eles vão sofrer, se eles tiverem que ser muito felizes, eles vão ser muito felizes. - E a maioria deles está vivendo isso pela primeira vez.. - É, o turbilhão de emoções é muito maior nessa fase. É tudo novo né. - E com relação ainda na ideia de relacionamento e comunicação com os familiares dos atletas? - Ah, proximidade total. Até porque a gente vive numa realidade que 99% dos pais não conhece a modalidade (em termos de regras e detalhes). Então a proximidade do pai pra explicar como que funciona a modalidade. É importante o treinador saber que o pai tem que estar presente nos treinos pra poder estar trazendo, já que nessa idade eles dependem muito de condução, do pai estar presente e ao mesmo tempo eles estarem ausentes pra deixarem os filhos errarem, estar cobrando, estar apoiando o tempo inteiro, então essa proximidade com os pais ela é mais que obrigatória nessa categoria, porque eles ajudam a trazer, as vezes um (pai) traz uma criança, ou duas, três, quatro crianças pro treino. E eles (atletas) são muito dependentes, então se não perceberem que os pais estão contando com isso não vai adiantar, então se o atleta precisar estar as 7h00 ele sabe que o pai tem que estar presente, tem que trazer ele às 7h00. Pra isso tem que estar os dois muito alinhados, tanto o atleta como também os pais. - E com relação aos dirigentes? - É.. no Sub-11 não tem... os maiores dirigentes do Sub-11 são pais. É ali que você tem que controlar. Em termos da instituição é você ter tudo muito bem controlado com a equipe, tudo muito bem alinhado, saber participar das competições, saber escolher as competições certas, saber o momento certo de conversar com seu dirigente sobre o porque de escolher uma competição ou outra, de saber dar o feedback de qual o perfil da equipe. Eu acho que é muito em relação à isso. De ter todo um respaldo. Principalmente no Sub-11, que é uma pré competição, de como você vai preparar a equipe para o ano que vem. No Sub-11 ainda é Festival, em que você compete e não fica sabendo qual é o resultado, que dá pra competir em nível e ao mesmo tempo não é tão estressante pra eles (atletas). Esse tipo de acerto pra essa categoria, de saber escolher a competição passa desde o envolvimento com seu dirigente, que as 126 vezes ele pode apontar alguma coisa que ele quer e você tem que entender qual que é o correto pra faixa etária. - E com relação à mídia? - No Sub-11 é muito difícil. O máximo que a gente faz em mídia é muita divulgação do trabalho em si, então postagem, fotos.. Nada muito específico de apontar um atleta que está se sobressaindo, então a gente procura não evidenciar ninguém, evidenciar o trabalho em si, a coletividade dos meninos, acho que é isso. Não tem nada muito de externo pra interno. - Que perfil de treinador você acredita que esta categoria deve ter? - Super paciente, super detalhista e... é acho que é mais ou menos isso, paciência com os meninos é o principal. - E sobre o tipo de liderança? - Ah, liderança no Sub-11 é tipo assim, uma liderança afetiva, então você tem que saber trazer o grupo pra você. Você conseguindo agregar essa parte de afetividade com eles, diferente das categorias maiores que a gente tem um pouco mais de distancia, no Sub-11 já é mais o contrário, tem que estar muito próximo deles, eles vão estar totalmente inseguros em alguns momentos, eles precisam se sentir abraçados, se sentir apoiados, entender a hora que está fazendo uma birra, uma manha porque não quer, porque tá com medo, você precisa tá apoiando eles. Então é mais um estilo paizão assim mesmo que você traz pra essa categoria. - E sobre saber ouvir os atletas? - É nessa categoria a gente mais fala do que a gente escuta. O escutar em relação à essa categoria é você saber o que eles pensam, então, você deixar eles (atletas) tentarem buscarem a resposta. Não é você dar uma pergunta que eles já saibam a resposta, mas você tentar fazer eles pensarem o máximo possível pra buscar uma resposta. Então, vou dar o exemplo de um exercício em que você passa pra eles uma situação de jogo, você fala o tipo de movimento e você pergunta o por que deste tipo de movimento. Em categorias maiores a gente só explica mais ou menos e vai falando, com os menores tem que ser aquela explicação e depois uma explicadinha de um por que, pra eles viajarem mesmo, buscarem alguma coisa, tirarem algumas dúvidas e trazerem algumas coisas que eles pensam ou pesquisaram, porque essa geração é uma geração que gosta mesmo de pesquisar, mas tem que instigar essa parte assim, não pode dar tudo na mão deles, tá tudo muito próximo deles, tem que fazer eles trazerem algum tipo de material. E eles vão querer perguntar, estão numa fase mais de perguntas do que de falar. Então você praticamente coloca algumas perguntas-chave pra eles estarem falando com o grupo. Porque na verdade num Adulto, num Sub-17 eles vão querer falar naturalmente e eles vão querer argumentar em cima do que você falou. Num sub-11 eles só perguntam os porquês. Só porque, não tem muito argumento, eles não conhecem, você faz eles procurarem os porquês. - E sobre controlar as emoções? Você como treinador controlar as suas emoções? - Aí é a parte mais difícil. Eu sou muito emotivo. Então, na categoria de base é essencial. Você as vezes pede calma e você não está calmo. Você pede um pouco mais de garra e as vezes você está muito tranquilo perto deles. Então 127 você tem que saber mesmo como controlar suas emoções, porque você está trabalhando com um público que é totalmente dependente de você, então não dá pra você estar muito estressado e vir dar um treino pra eles, não tem como. Você tem que largar tudo de mão, controlar suas emoções, controlar seus estresses e focar porque são totalmente dependentes. Não é que nem um grupo um pouco mais velho, que se você falar "olha, hoje eu tô sem paciência", eles vão entender e vão ficar quietos. Aqui não tem essa, eles vão aprontar, eles vão errar, são totalmente instáveis né, passam por todo tipo de variações, tanto técnica quanto psicológica, as vezes estão muito felizes, as vezes estão muito tristes. Ao mesmo tempo no jogo em um ataque ele está super confiante e vai pro outro ataque já tá praticamente chorando já. Então você como treinador tem que saber controlar as suas emoções pra ajudar essa categoria que é a categoria mais dependente disso. - Quais normas e códigos profissionais um treinador deve levar em conta nesta categoria? - O que seriam exatamente isso? - Pensando agora mais como uma instituição, como regras e condutas de trabalho. Claro que os meninos ainda não são funcionários ou trabalhadores de uma empresa, mas como que você acredita que tanto os seus atletas como você como treinador precisam ter essa conduta profissional? - Ah, sim.. Bom, eu acredito muito no trabalho como se fosse uma escola. Na verdade nessa categorias quando você pega os atletas, eles saem da escola e vem pra cá e vem treinar com você. Isso é um complemento. Na escola eles não podem chegar atrasados, na escola eles tem que ter uma frequência pra estar participando, na escola eles tem que escutar o professor pra estar fazendo as atividades, na escola tem os que se destacam, tem os caras que tem as dificuldades e que não podem ser penalizados pelas dificuldades que eles tem, tem todo um processo. Então eu levo muito.. a instituição tem que ser praticamente como se fosse uma escola, tá certo que o nosso modelo de escola está hoje meio defasado mas a gente aqui é uma extensão. Então a gente consegue trabalhar tanto na parte técnica, na parte tática mas principalmente na parte educativa, na parte da postura, do respeito, de recolher e jogar o lixo, de estar bem asseado, de estar todos bem uniformizados, com tênis bem amarrado, todo mundo chegando no horário, todo mundo vem junto, tem que saber respeitar. Isso pra você formar um atleta as vezes você forma pra você mas a maioria das vezes a gente forma para os outros (treinadores de categorias mais velhas) que vão dar continuidade no trabalho. Isso é essencial, quando você tiver que passar o menino pra frente, o menino já vai com uma cabeça. A gente precisa educar esportivamente o atleta também. Que nem, a gente fala "ah, não vou educar você não, educação vem de casa". Educação esportiva é muito diferente da educação que se tem em casa. Muito diferente. Então aqui eles tem uma competitividade que eles mesmo já se colocam dentro da cabeça deles que eles tem que ser melhor que os outros, tem alguns que não gostam de competir, então a gente tem que educar a ser competitivo, como ser competitivo, como você ser coletivo, pois é uma modalidade coletiva, você não pode ser muito individualista, então esse processo com a instituição a ser trabalhado envolve até temas transversais, pra você trabalhar um dia do professor, um dia dos pais muito bem valorizado, uma campanha sobre o câncer de mama, um novembro azul, um dia do... de tudo! Tudo que você 128 conseguir trazer, dia da consciência negra, dia do basquete. Tudo que você conseguir englobar, vai envolvendo eles e eles percebem que não é simplesmente um negócio jogado, só o esporte, mas é uma educação em conjunto que você consegue abranger em tudo. - E sobre aspectos éticos e Fair Play nesta categoria? O que você considera importante saber e transmitir aos atletas - Ah, essencial. Não pode ser uma competição extrema, porque eles estão aprendendo e nessa idade se você não cobra a competitividade mais limpa possível, eles se perdem lá na frente, né. Então a gente pode criar tanto os melhores competidores do mundo quanto os piores competidores do mundo. Pode criar um competidor muito sujo, que é aquele que quando faz uma cesta vibra na cara da pessoa, aquele que quando perde um jogo não cumprimenta a outra criança, é quando você só estimula um jogador e ele se acha auto suficiente e não consegue se colocar no grupo, então como é uma fase que é o início de tudo, você tem que estar muito preocupado com essa parte. Você conseguindo educar esportivamente, saber fazer ele jogar o jogo limpo, com todos os elementos e a atmosfera que faz eles saírem de uma zona de conforto, colocando eles numa situação de pressão, situação de cobrança e eles mesmo assim saberem ganhar, saber perder, saber levantar o próximo, saber competir de forma muito leal, saber que as vezes vai sobrar um cotovelo, vai machucar o rosto, saber que não foi de propósito e se foi de propósito você tem que estar passando por cima de tudo isso e segue o jogo! Saber não revidar, saber revidar com estilo, enfim fazer o jogo do jeito que é pra ser feito. Ser competitivo, ser forte, ser duro mas ser leal e nessa categoria é a mais sensível. Tem muita gente que se perde. Os pais se perdem porque os pais querem ganhar, o técnico se perde porque o técnico as vezes quer ganhar nessa categoria, então cobra demais, pede pro menino fazer coisas que as vezes o menino não quer, mas ele vai olhar muito o seu espelho. Então as vezes ele vai fazer aquilo lá porque ele está vendo que você está fazendo. Então se você soltar um palavrão no treino, esse menino vai soltar um palavrão no jogo. Se você gritar com o menino do lado, ele (atleta) vai se sentir no direito também de gritar com o colega que está do lado. Se você estiver muito feliz, se você estiver querendo demais, eles vão querer demais, eles são espelho. Então a gente tem o dever de saber trabalhar e ter claro que você é o espelho deles. - Quais valores pessoais você acredita que sejam importantes para atuação profissional nesta categoria? - Coletividade. Reciprocidade. Companheirismo. O amor acima de tudo, porque se você não tiver a paixão e o amor pra vir treinar, você não vai ter amor pra poder estar jogando, então a gente consegue trabalhar muito essa parte de fazer com amor, com muita afetividade. Que é o principal pra categoria mas também o principal pra tudo que a gente faz, né. Ter aquela paixão, ter aquele fogo que vai fazer a gente sair até quando a gente está triste, vai querer estar realizando a modalidade, a competição em si. E ser leal com a competição também, né. Respeitar o jogo, que é o principal. - Quais competências para a vida você acredita que os treinadores desta categoria poderiam auxiliar os atletas a desenvolver? 129

- Mais ou menos como eu falei na outra. Coletividade, saber trabalhar em grupo, saber fazer tudo por amor, então fazer querendo, fazer com vontade e reciprocidade. - Tem algo a dizer sobre atualização profissional e formação adicional? - Aqui a gente tem pouco né. Nossa escola de basquete é praticamente nula. A gente começa.. daí logo pára.. não tem um pé e não tem uma cabeça né. Meio que separado. Tem uma capacitação no começo do ano, mas também não é tão atualizado, meio que jogado assim, meio que imposta. - Essa capacitação que você diz é a instituição esportiva que promove isso? - Não, é a entidade máxima, que é a FPB que oferece essa capacitação no começo do ano, mas também não é nada muito produtivo assim. Você consegue tirar algumas coisas mas também não é nada que você fale "Nossa! Nunca tinha feito isso". São coisas mais simples. Se conversa muito no geral e pouco específico do que a gente vai trabalhar. Então por exemplo, você pega lá técnicos de Sub-11 a Sub-19, então são assuntos que as vezes não compete com um e não compete com o outro, que são jogados assim. O que a gente tem pra buscar mesmo ou é um estudo de trabalho individual ou montar um grupo que você vai conversando com outros técnicos e vai instigando um ao outro, ou um conhecimento lá fora. - Pensando agora em termos de planejamento e gestão, o que um treinador do Sub-11 precisa saber considerando uma temporada inteira? - Tá, o primeiro planejamento é o que a gente vai querer. Qual é o perfil da instituição? Se é um caráter mais social ou um caráter mais competitivo? Se for um caráter mais competitivo, por exemplo, tem que saber que você vai formar, pois é uma categoria pré competitiva, então tem que estar buscando atletas, fazer uma seletiva, uma seleção a respeito de biotipo, a respeito da logística do horário do treino. De ter uma boa alimentação, pois tem muita criança que tem essa defasagem de alimentação, de saúde, então você tem uma equipe de trabalho um pouco mais ampla, que envolve essa parte nutricional, na parte fisiológica, na parte médica.. - E isso você diz que cabe ao treinador também ou... ? - Tem que ter um aparato por trás. Se você tiver um caráter competitivo, não dá pra se brincar e simplesmente só passar o tempo. Você precisa conhecer a respeito de desenvolvimento, porque as vezes você olha pro menino grande e ele já está totalmente maturado, você olha pra um menino que talvez não renda ali, ou tenha dificuldade de aprendizado mas é porque tá totalmente imaturo ainda, então tem que entender desse tipo de gestão. Ao mesmo tempo que é uma categoria que é muito massificada, é uma categoria que você consegue já lapidar muita gente pra competição. E mesmo que você não consiga lapidar pra competição, é uma categoria que você forma pra serem os amantes do basquete. Então se você percebe que um jogador não tem uma intimidade tão grande pra competir, ele pode ser um ótimo jogador de parque, ou ele vai ser aquele cara que vai comprar um pacote de NBA, um cara que vai estar assistindo, divulgando a modalidade, participando de jogos escolares. Então o treinador nesse sentido tem que ter uma gestão de que quanto mais pessoas você agregar, independente do seu objetivo, melhor. 130

- Você acredita que nesta categoria o treinador deva saber demonstrar algum tipo de gesto técnico para seus atletas? Se sim, quais? - Demonstração do gesto técnico, sim. É importante porque eles são muito visuais. Uma criança nessa faixa etária quando você pega, eles são totalmente crus ou praticamente do zero, se você não souber demonstrar o exercício .. tem que saber no mínimo saber demonstrar. Então saber demonstrar os movimento básicos ou você ter um aparato que você consiga demonstrar, então ter um celular, um projetor, pros atletas saberem qual é o ideal. Mas saber o gesto técnico e saber demonstrar o gesto técnico é muito importante. Porque eles confiam muito no que você passa e você sabendo fazer esse gesto técnico nessa categorias é muito importante porque eles olham muito o que você faz e vão tentar repetir do jeito que você faz. Eles precisam ver pra saber como que é. - O que os treinadores do Sub-11 devem saber sobre o uso de tecnologias? - Tecnologias? Bom, tem que saber que mundo os atletas vivem, o que eles estão curtindo hoje, o que é fácil acesso pra eles e o que a gente consegue agregar nesse fácil acesso que eles tem, onde que eles curtem mais e o que a gente consegue associar em relação à modalidade. Então por exemplo, eles estão na fase de jogos de RPG, muito tablet, se você consegue associar isso à algo da modalidade ou uma pesquisa com um celular ou um tablet na mão, observando vídeos. Ou mesmo à associação de jogos. Qual a estratégia que ele (atleta) usa no jogo (video game) que ele pode usar no basquete, por exemplo? Não simplesmente afastar eles do mundo deles, mas sim saber complementar o que eles podem associar. Quando se trabalha com crianças de baixa renda, eles não tem tanto acesso à tecnologia. Mas mesmo assim é importante tentar aproximar a tecnologia à modalidade. - Como o treinador deve agir para criar e manter um ambiente adequado de trabalho nesta categoria? - Primeiro um ambiente muito organizado. A organização pra essa categoria traz muita calma. E essa organização tem que ser desde a hora que eles chegam pra treinar, observando então um ambiente que tem algumas regras. Em que eles vão poder brincar, ser felizes, participar, ter uma alegria mas contando com algumas regras. E também eles conseguirem organizar o ambiente quando ele não está do jeito que a gente quer. Por exemplo, a gente coloca uma série de materiais pra fazer um exercício e quando eles acabam o exercício eles tem que guardar os materiais no lugar que você pede. Isso traz companheirismo, um senso de organização, de responsabilidade porque eles se sentem responsáveis pela montagem e desmontagem de todo o exercício e dos treinos, eles se sentem participando do treinamento. Se você coloca um ou dois pra montar, eles vão olhar e pensar que você precisa só de dois, se você coloca todo mundo em conjunto, eles conseguem perceber quando está bagunçado e eles conseguem organizar. Pra começar um exercício, a bola tem que estar no lugar certo, o cone tem que estar aqui e a coluna tem que estar aqui. Então assim, você consegue educar, você consegue organizar e tornar um ambiente mais família, porque dentro de uma família todo mundo tem que lavar, todo mundo tem que organizar, cada um faz uma partezinha e assim vai, em prol do basquete. - Como manter-se motivado em seu trabalho junto a esta categoria? 131

- A minha motivação nessas categorias sempre foi em relação à evolução. Como eu trabalho muito com categoria de base, então a minha meta é ser a equipe que mais evoluiu no campeonato. Então se um gestor vem me perguntar "a gente tem capacidade de chegar numa chave ouro?", a primeira resposta que eu dou é sempre "eu tenho a capacidade de ser a equipe que mais evolui ao longo do campeonato, independente das dificuldades que eu possa ter. Isso me motiva. Eu nunca gosto de olhar pro lado e saber que alguém fez um trabalho melhor que o meu. Fazer um trabalho melhor que o meu, não é tipo ficou na minha frente na classificação, mas é saber que o moleque dele aprendeu mais que o meu. Isso me motiva a estar sempre trabalhando - E como manter seus atletas motivados? - É você trazer isso pra eles. A motivação vai da evolução. Técnico em si, tem várias personalidades. Tem aquele que é muito competitivo, que quer resultados. Tem aquele que é muito competitivo no sentido de você começou assim e terminou dessa outra forma. É saber instigar o atleta pra ele fazer o melhor dele, buscar o melhor dele. E as vezes não é o melhor resultado dentro da competição, mas um resultado pessoal. Então se o atleta no início do ano não sabia fazer uma bandeja, tinha o arremesso todo torto, não conseguia dar um passe com uma mão, como que ele saiu ao final do ano? Isso traz muito atleta pra sua mão. Faz muita gente te procurar, faz aquele atleta que tem muita dificuldade de competir a não desistir do treinamento. E aquele que gosta de competir pensar que no início do ano ele estava a 30 metros de distância do outro e hoje ele está a apenas 2 metros. Foi um método que esse ano por exemplo, eu tive que fazer muito, porque minha equipe começou do zero praticamente. Então se eu pensasse em competição eu não teria equipe nenhuma. Se eu pensasse em evolução, eu tive todos os meus atletas evoluindo demais, contentes com o que eles estavam fazendo. A gente começou como uma das piores equipes na classificação e acabou o ano como uma equipe bem competitiva. Traz uma satisfação pessoal pro atleta de tipo, "poxa, eu tô trabalhando e tô fazendo algumas coisas certas". - Você costuma fazer reflexões e análises sobre seu desempenho como treinador nesta categoria? Se sim, quais? - O tempo inteiro. Tem uma reflexão que eu sempre faço após treino. Então quando eu chego em casa eu analiso o que passei do conteúdo programado e dou uma avaliação se foi ruim, bom ou ótimo do exercício e a minha participação dentro do exercício. Isso requer trabalho, dedicação, organização, as vezes você se perde ou esquece. Mas essa avaliação tem que ser o tempo inteiro. Mas vou falar, é difícil. Eu comecei fazer essa reflexão, fazem 3 anos. Eu não tinha isso. Meu feedback era sempre..eu só achava se estava bom ou se estava ruim. Aí você entendendo e sendo franco com você mesmo se você fez o seu máximo ou não fez é o principal. E essa avaliação tem que ser pelo menos uma meia hora depois pra regular melhor as emoções, as vezes acaba e você ainda tá muito feliz e acha que está tudo ótimo ou muito estressado e acha que foi tudo ruim. É tipo uma PSE do seu treino. Eu comecei como treino, depois eu comecei a fazer uma avaliação de exercício por exercício. E eu faço também com o tablet uma chamada, que a gente já faz uma avaliação de cada atleta, é um fator motivacional também né e passa pra eles, com cores, se o treino dele foi bom, ruim ou ótimo. Aí eu vou lançando numa tabela todos os 132 dias e vejo. Ah, o Alex, o Alex foi bom. O Fulano de tal foi ótimo. Mas essa avaliação em cima do nível de esforço que ele teve pra treinar. Então se ele se esforçou o treino todo, é ótimo o tempo todo, mesmo que ele tenha errado tudo, mas se ele tá concentrado, ele tá intenso, ele tá se ajustando o tempo inteiro é um treino ótimo. Se chegou atrasado, se está disperso, você vai anotando e isso te dá uma leitura, te dá dados e você consegue ter uma leitura pra dar feedback no final do ano ou no meio do ano para os pais, ou para outro técnico que você vai ter que passar o atleta. - E já nessa linha que você está comentando eu pergunto se você mostra essas suas anotações aos atletas, pois já entra na nossa próxima pergunta que é como que você dá feedback aos atletas? - A gente mostra isso pra eles sim. Eu mostro a cada mês. Faço a planilha e mostro. Treinou muito bem é verde, treinou mais ou menos é vermelho, treinou bem, amarelo, treinou ruim, preto. Aí tem umas variações, tipo, o marrom é treinou bem mas com atrasos.. E no final do ano sempre tem uma avaliação teórica mesmo, de tática, técnica e relações pessoais. Acabei de fazer, foi na segunda-feira agora. - Que legal! E você sente que funciona bem, ajuda na reflexão dos atletas? - Sim, sim. As vezes escrevendo eles vão percebendo que tudo que a gente fala e que eles fazem é importante. Porque se a gente está cobrando isso numa teoria, eles vão perceber que isso é importante de estar fazendo. E isso traz uma competição sadia entre eles pra ver quem vai tirar a melhor nota, eles ficam preocupados pra tirar uma boa nota, fazem direitinho e tem uma reflexão bacana. As vezes a gente faz umas perguntas abertas e consegue colher algumas informações que ele não vai te falar pessoalmente, mas no papel ele escreve. Situações pessoais, você consegue perceber na escrita que eles estão ansiosos, ou conseguem organizar suas ideias. - Existe mais alguma competência que você considera importante, ou algo que você gostaria de comentar quanto às competências necessárias aos treinadores de basquete? - Acho que já foi relatado praticamente tudo.. que é o detalhe assim de tudo, a paciência, a afetividade. Acho que essas são as características principais do técnico pra essa categoria. - Muito bom! Muito obrigado pela disponibilidade e pela colaboração.

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- Quantos anos você tem? - Tenho 40. - Quanto tempo de experiência como treinador de basquete? - Estou desde 2001. Então 17 anos. - Foi atleta de basquete? - Fui atleta em categorias de base no basquete do Sub-14 até o Sub-17. Joguei na faculdade e Jogos Abertos e Regionais. No total uns 10 anos. - Quais foram as principais competições e campeonatos disputados como treinador? - Pela FPB, fui técnico do Sub-12, Sub-14, Sub-15 e Sub-19. Disputei a FUPE com o universitário. E outros campeonatos universitários. Regionais e Abertos como técnico também. - E com relação aos títulos conquistados como treinador desde o início da sua carreira? - Vice campeão da FUPE. - Grau de instrução? - Superior completo. - Vou iniciar agora algumas perguntas e gostaria que você considerasse suas respostas de acordo com a categoria que está no comando neste momento. - Ok. - Quais conhecimentos técnicos e táticos você acredita que um treinador de basquete nessa categoria deva possuir? - Questão técnica eu acho muito mais profunda nessa categoria né. Porque eu não vejo a tática tão importante. Não que não seja importante. Claro que também é importante. Não dá pra amontoar todo mundo na quadra, jogar a bola e os caras (atletas) se virarem para se organizar, mas a questão técnica é um momento muito mais favorável pra ser trabalhado. Tanto que a questão tática que eu uso e acredito que seja a ideal para a categoria, é só um espaçamento simples, 5 abertos, passa e segue e criar situações pros atletas jogarem um contra um. Esse desenvolvimento e a experimentação com a parte técnica desenvolvida. Tanto o jogo de frente como o jogo de costas. Mas zero especialização. Especialização que eu digo de posições. Eu não vejo muito um limite do que pode ser colocado pra um garoto de 11 anos. Existem garotos mais avançados que vão conseguir fazer coisas mais complexas, mas o básico todos precisam fazer. - O que um treinador do Sub-11 deve saber para conseguir ensinar os atletas? - Precisa saber o que ele está fazendo e o que ele quer com a categoria. Porque se o cara está pensando em só ganhar, ele vai utilizar de estratégias que não necessariamente vão ser boas para o desenvolvimento do atleta. Eu acho que isso é fundamental. O cara saber o que ele está fazendo ali. Porque é a inserção do moleque ou da menina num âmbito de competição ainda muito mais em festivais né. Alguns dos garotos que estão mais preparados, 134 participando de categorias Sub-12 ou Sub-13. Mas acho que o cara tem que ter essa clareza. Você não pode achar que você está ali pra ser campeão das coisas e o menino ficar em segundo plano. Você precisa saber que precisa desenvolver o atleta. - O que um treinador desta categoria deve saber sobre a instituição e o setor em que trabalha para desempenhar suas funções? - Certo. É, cada clube tem uma expectativa. mas eu sinto pelos lugares que eu trabalhei, que as instituições em geral elas procuram que você consiga desenvolver e que tenha adesão. Sem desistências. Com respeito à criança, entender que é uma criança. E mantendo essa adesão, costuma funcionar bem. No caso aqui desta instituição, é um clube social. Existe um interesse que os sócios participem. Pra que faça sentido que exista o basquete sendo desenvolvido dentro desse clube. Então, não adianta a gente pensar em tentar formar uma equipe competitiva. Não. Se a gente tiver a oportunidade de formar uma equipe competitiva com os garotos que tem aqui, ótimo, mas eu não vejo o clube com uma necessidade que a gente seja campeão nessa categoria. É muito mais do técnico, da vaidade do técnico de querer ganhar do que necessariamente uma coisa do clube querer isso. - O que um treinador de basquete desta categoria deve saber para preparar os atletas, tanto individualmente como coletivamente para as competições? - Acho que ele tem que conhecer muito de controle de corpo, né. E coordenação, porque se você não desenvolver essas capacidades gerais num menino novo, nessa idade, não adianta nada você ensinar o que é mais complexo, que já é o gesto do jogo. Então eu acho que tem que saber muito sobre controle de corpo e sobre desenvolvimento humano e o que o corpo de uma criança dessa idade responde e ao que não responde. Por lugares que eu passei eu vi gente querendo colocar peso, querendo treinar força e potência, mas não é o ideal para a idade, perdendo tempo com isso. Se tivessem gastado esse mesmo tempo com um trabalho forte com coordenativos, teriam tido menos lesão, mais desenvolvimento e o gesto final técnico do jogo mesmo teria sido melhor. Se os caras conseguem fazer uma marcha boa, eles vão correr melhor, se ele conseguir coordenar uma passada de bandeja, que é um movimento super complexo pra formar na cabeça do atleta, depois fica natural, né, mas no início da formação, se não tiver esse tipo de trabalho coordenativo, a bandeja não vai sair boa. Então esse tipo de coisa é a transferência dessas capacidades para o gesto técnico, pra conseguir entrar no jogo. Então, escolher bem as estratégias que vai usar de ensino na parte coordenativa e como que você vai transferir isso para o gesto técnico do jogo. Se não amarrar uma coisa na outra, você perde algumas coisas e aí é perda de tempo. - O que um treinador de basquete desta categoria deve saber para se relacionar e se comunicar com seus atletas? - Se o cara (treinador) entende que ele está ali pra ensinar uma criança que está iniciando num esporte que ela gosta e que óbvio ela tem uma vontade de vencer mas se o cara souber que o mais importante não é isso e sim o desenvolvimento, que essa criança chegue de um jeito e saia de outro, melhor, desenvolvido, se entender isso eu acho que você se relaciona com o atleta com uma expectativa mais verdadeira. Então você consegue incentivar, instruir, tem que lembrar que pode ser uma criança excelente mas que pode ter 135 pouquíssima instrução no basquete. Então você as vezes tem um menino muito bom e você pensa, "pô, nem preciso falar tal coisa pra ele", não, na verdade você precisa sim. Você tem que instruir. Então acho que o técnico tem que ter essa postura, tem que ser receptivo, muitas vezes eles não tem a facilidade de comunicação que os mais velhos tem e mesmo de habilidades sociais, eles estão desenvolvendo. Se não for receptivo, você perde, tudo que você quer passar não vai chegar da mesma forma. Eu vejo que é uma idade muito propícia pra que você coloque o seu comando de uma forma muito mais de respeito, do atleta se sentir respeitado e por isso te respeitar, do que por medo, do que você mandar no menino ou na menina e ele vai responder ao que você está mandando. Não, ele está entrando numa fase de desenvolvimento humano em que o pensamento formal está sendo mais desenvolvido, ele tá entrando nesse tipo de raciocínio. Então se ele está entrando nisso, ele não pode ficar agindo por instinto. Se eu fizer isso, eu tô estimulando algo que já ficou pra trás. Você tem que colocar ele pra frente. Se ele está aprendendo a formular coisas e aprender causa e consequência de verdade, tá aprendendo passos a frente, tem que estimular ele a ter confiança de tomar decisão, a confiança de o que dá certo e o que dá errado. Ele não tem que fazer o que eu mando, tem que descobrir o que eu tô sugerindo pra ele. Eu escolho as práticas melhores e ele vai descobrir de uma forma guiada, mas sozinho. Ele vai entender. - E com os familiares dos atletas? - Acho que tem que ser muito aberto, muito sincero. Você está lidando, muitas vezes, com um pai de um atleta que nunca foi atleta, ele é um iniciante. O pai é um iniciante em ser pai de atleta. Ele pode até ter sido atleta antes, ele tem expectativa do que ele já foi. Eu sinto que a receptividade dos pais é maior e o entendimento do que está acontecendo e o apoio que eles dão é maior quando eles de verdade sentem que eu estou falando a verdade pra eles, quando eu estou sendo aberto pra eles, eu não tô escondendo nada, eu não tô querendo que eles simplesmente acreditem em mim no vazio. Tipo, eu sou técnico e vocês tem que só ficar batendo palma. Não, eles tem que participar do processo. E pra isso ele tem que ter informações mais palpáveis. Se o cara (pai) tem alguma dificuldade, eu não posso simplesmente virar as costas e sair andando. E falar, "meu, não posso te dar atenção", ou "nisso você tem que se virar sozinho" ou "quem manda aqui sou eu". Não. O pai vai entender que quem manda é você, você está comandando, mas o cara (pais) faz parte, ele precisa fazer parte, esse apoio do pai e da mãe ou de quem esteja cuidando dessa criança faz o menino vir tranquilo. Eu tive uns anos atrás um menino fantástico. Que no Sub-12 era espetacular, no Sub-13 também espetacular, o moleque chegou no Sub-14 ainda muito bom tecnicamente só que a mãe já estava querendo que ele ficasse em casa pra ajudar a cuidar do irmão, já parou de apoiar o moleque, o pai estava trabalhando demais e não conseguia acompanhar os jogos. Esse menino que era espetacular fez assim ó (gesto com a mão indo para baixo) e desapareceu do basquete. E era um menino que levava o time nas costas. Uma questão totalmente de família. E aí acabou. - E com os dirigentes? - Os dirigentes. Eu sinto que dependendo de cada clube eles podem ser mais ou menos presentes. As vezes você um diretor de esportes passando. Ou o diretor de basquete que é pai de um dos atletas e nem sempre ele consegue 136 estar presente. Eu acho que todos tem que entender o que se espera. Deveria ser o canal de comunicação entre o que o clube espera e o que o técnico precisa desempenhar. E essa conversa acontece através desse diretor. Tem que estar bem alinhado. Os jogadores, ninguém sabe que é o dirigente. Eu não sei o quanto isso é importante pra isso pra eles nessa categoria. Acho que eles estão pensando em 500 outras coisas. Mas no caso do técnico acho que é muito importante. Num clube que tenha um foco extremamente competitivo, que tem essa coisa de ter que ganhar sempre, de repente um diretor vai ter uma atuação ruim nesse sentido, pra essa categoria. E vai exigir resultados e uma postura diferente do técnico, numa categoria que... eu não sei se eu conseguiria trabalhar dessa forma, porque eu acho que é agressivo com a criança. Mas, enfim, tem que procurar os atletas que tenham esse perfil e botar num programa desses, atletas que tenham um perfil extremamente competitivos e já adiantados, né. Mas esse canal é importante, você tem que saber o que eles querem, se não fica aquele negócio de eu tô fazendo o que eu penso mas o clube quer outra coisa. O que eu penso é bom, mas o que o clube quer não é isso. Pra quem eu tô atendendo. Eu sou funcionário do clube. Se eu achar que não está legal, eu tenho que sair, se o clube achar que não está legal, o clube tem que me tirar. Mas é algo que pode ser conversado e os dois (treinador e dirigentes) andam juntos. Pode ser algo super simples de resolver, mas que as vezes uma falta de comunicação atrapalha. - E quanto à mídia? Relacionamento e comunicação do treinador com a mídia? - Eu acho que nessa categoria é pouca a exposição que tem né. Mas pensando assim, não é bem mídia, mas as redes sociais. A criança nessa idade é muito ativa na rede social. Todo mundo com seu celularzinho, sua continha no Instagram, está todo mundo bem antenado. E assim, muitas vezes eu vejo que eles podem se expressar de uma forma que mostra um sentimento do momento e que pode atrapalhar um trabalho com o time. Lembro de uma situação em uma outra equipe, que o atleta não vinha rendendo tanto quanto poderia render e eu estava mais no pé dele, e ele publicou no Facebook, falando mal de mim. Isso foi a público, todo mundo viu, todo mundo achou que ele não me respeitava. Tive um conversa com ele, perguntei se era algo que ele estava sentindo no momento e fez aquilo sem pensar ou se de fato pensava aquilo sempre. Ele respondeu que não, que pelo amor de Deus, fez sem querer. Enfim, mas por outro lado pode ser super positivo também, eles as vezes vem mostrando um vídeo que viram, colocam (postam) jogo, colocam treino, fazem videozinho. - Que perfil um treinador desta categoria deve ter? Acho que ele tem que ter esse perfil de professor. De entender que a parte social nesse momento é muito importante, entender que o menino está entrando num processo de competição. Tá largando simplesmente a brincadeira pra passar por um processo de treinamento. Você não pode colocar já a sua expectativa que eles corram e deem o seu máximo, se antes eles só brincavam. Está mudando o significado da brincadeira deles. Então tem que ter esse tipo de perfil, de entender o que o menino está passando. É uma troca de significados e de esforço físico. Tem que ter o perfil de entender que nesse processo você está facilitando essa mudança, e tem que ser de uma forma com entendimento. Porque nem todo mundo tem o perfil (aqui no caso perfil pra tornar-se jogador profissional). No sub-11 você tem menino que um dia 137 pode virar atleta, menino que vai ficar o resto da vida batendo uma bola e se divertindo com isso, tem o cara que vai largar categoria de base e depois jogar universitário, tem o cara que nunca mais vai jogar, então são muitos caminhos. Então o professor nesse momento tem que entender que tem que ser prazeroso e com entendimento. Entender o que o menino quer pra vida dele, tem que estar muito atento a esse tipo de momento do moleque. Entender o que ele está fazendo ali e ajudar ele a entender o que ele está fazendo. Além da parte tática, da parte técnica, tem que ter o entendimento humano. Eu acho fundamental pra essa idade. Acho que se não tiver isso, sai fora. - Poderia nos dizer algo sobre o tipo de liderança? - Eu acho que tem que ser aquela coisa bem por exemplo né. Tem que ser um motivador, porque se a criança tiver medo de tentar ela não vai aprender. Se tiver medo de errar uma bandeja porque vai tomar um grito. Não que você não deva cobrar, eu cobro da mesma maneira, eu só não mostro pra criança que se ela errou, ela está muito errada. Tem que mostrar que tem que se esforçar. Eles se comparam, então eu não preciso... se tem um menino que está se destacando, está fazendo as coisas direitinho, ele já está mostrando pra todo mundo como é que é. Eu tô instruindo e ele tá fazendo melhor, o outro vai perceber, eles se comparam. Se um menino está tentando fazer a coisa certa, não adianta eu gritar com ele porque ele errou um passe e expor ele pra todo mundo quando ele já entendeu que ele errou. Então a gente tem que ser muito mais, instruir e motivar. E exemplos, se eu acho que não é legal um menino se impor de uma forma ruim, que não faz parte do jogo, da competição, por exemplo um menino grande vai e dá um toco, bota a bola fora da quadra, faz uma baita jogada de defesa e grita na casa do cara do outro time. Então eu não acho correto nessa idade. Acho que se são dois adultos, é outra coisa, eles se viram ali e beleza. Agora nessa idade é totalmente instintivo, de repente quem tomou o toco vai ter uma reação agressiva e já virou agressão e deixou de ser formação, já não faz mais parte. Então, se eu sinto isso, o meu comportamento não pode ser diferente disso. Se eu comemoro na cara do outro, eu tô mostrando pros meus atletas que é isso que eles tem que fazer também. - E sobre saber ouvir os atletas? - Ah, também acho muito importante. Se você não escuta, como que você vai saber o que ele está passando? Normalmente nessas categorias são grupos grandes. Teve lugar que já peguei Sub-11 que tinha 30, 35 atletas. No momento estou com uns 14 meninos. E realidades bem heterogêneas muitas vezes. - E sobre como controlar as emoções? Você como treinador? - Essa é uma parte que acho que pra todo técnico é super difícil. Ela precisa ser levada mais ainda a sério nessa categoria. Porque quem tá lá na quadra nessa categoria (atletas), tá começando a experimentar o negócio. Não é experiente. Obviamente vai estar mais nervoso. Se eu estiver nervoso, se eu passar nervosismo, quem tá na quadra não vai ficar mais calmo, vai ficar mais nervoso. E poxa, se eu acredito que é um momento de instrução, se eu não tiver clareza ou se eu estiver exaltado demais ao passar uma informação, será que ela vai ser passada mesmo? Eu tento nessa hora passar uma instrução bem técnica, bem objetiva, pra se ele estiver num lance livre, por exemplo, não ficar pensando se vai acertar o errar, pra tirar o nervosismo da história. 138

- Quais normas e códigos profissionais um treinador deve levar em conta nesta categoria? - Eu acho que organização e disciplina são as coisas que todos eles vão se beneficiar se a gente cobrar. E da nossa parte também. Nós somos professores de Educação Física, não é a profissão mais formal do mundo, normalmente tem um ambiente mais informal, a sociedade não nos vê como tão sérios assim, apesar de toda a seriedade, você está fazendo um mestrado, tem muita ciência envolvida. Eu vejo que eles (atletas) vão precisar de disciplina pra qualquer coisa que eles forem fazer. Eles vão precisar organização também. Alguns alunos aqui estudam em escolas muito puxadas, se ele vacilar ao longo do ano, agora no final de ano vai ficar apertado. Então chega no final de ano, se o atleta não soube se organizar, treino fica vazio. Então pensando em códigos profissionais para um Sub-11 é estar presente e fazer o que precisa pra conseguir estar presente. Tem que dar a importância às sessões de treinamento. Só que se não se organizar na escola, pô as obrigações deles são basquete, escola e família. Se alguém colocar uma namorada aí, já está se atrapalhando. Fica coisa demais. Existe, mas é a hora que se atrapalha também. Mas se o cara se organizar com as coisas de escola e fizer o que precisa fazer em casa, ele vai estar aqui (no clube) sempre. Ele precisa entender isso, que se falhar em um desses atrapalha o outro. E eu também tenho que dar esse exemplo, sendo pontual, organizado, no início de ano que tem a papelada de inscrição dos atletas, se eu como técnico não me organizar, eles vão perceber, pô o professor é bagunçado, por que eu tenho que ser organizado? Volta aquela ideia do exemplo que a gente tem que dar. - Tem algo a dizer sobre atualização profissional e formação adicional? - Sim. O que melhorou muito nos últimos tempos é a facilidade de você achar informação de qualidade. Antes a gente não tinha as mídias sociais. Você não conseguia ter acesso à clínica que o Igor Kokoškov deu na Sérvia e você nunca ia ver. Eu tenho acesso hoje a esse tipo de informação, então nisso melhorou. Fica mais fácil, de repente de você quando for fazer um evento desse aqui no Brasil, você trazer os caras certos. Uma coisa que eu tenho sentido falta, tem poucas opções ou de difícil acesso pra fazer uma coisa mais acadêmica mesmo, por exemplo, um mestrado em basquete. Como já existiu. Na verdade era uma pós graduação que o Dante (de Rose) dava aqui na USP. Era uma coisa totalmente focada nisso, num nível acadêmico. Coisa que a gente não tem mais. Hoje, se você quiser fazer alguma coisa, tem que ir com suas próprias pernas, com o orientador e chegar no conteúdo. Que é isso que você está fazendo. Uma coisa que está acontecendo nesta semana em Santa Catarina, que é bem bacana é o Congresso (Congresso Ibérico de Basquete). Gostaria de ter ido mas nesse momento é impossível. Eu fui no de Madrid. É bem diferente o jeito de abranger a coisa. A gente está acostumado a participar de uma clínica, por exemplo, vem pra cá o Larry Brown, como já veio. Pô, ele passa a parte técnica, ele passa a parte da quadra, ele passa o discurso dele em relação às experiências dele mas cadê a ciência? A gente precisa de algo mais, não pode ser só na experiência, não pode ser algo só empírico. Obviamente, toda a experiência de todos esses caras que se colocam na frente da gente pra falar são válidas e a gente tem que ouvir. Mas eu acho que não faz mal nenhum misturar a ciência nessa história. Pelo contrário, acho que só ajuda. Por exemplo, uma coisa muito básica que eu sinto, que é onde eu tentei 139 procurar de alguma forma saber mais, tem uma EAD aqui na USP que é sobre aprendizagem motora. É uma especialização. Mas... e poxa um erro que você já deve ter visto acontecer milhões de vezes e eu me preocupo muito em não cometer, muitas vezes ainda sim eu cometo, quando você vai dar feedback pra um atleta que está aprendendo qual é a frequência de feedback que você tem que dar? Se você dá uma frequência de feedback alta, como é que fica o feedback intrínsico do cara? Como é que ele vai conseguir aprender. E a gente erra pra caramba. Cada vez que o cara faz um movimento e a gente dá um feedback, e aí? Que que ele está desenvolvendo ali dentro (aponta pra cabeça)? A frequência tem que ser baixa. - Interessante! Me fala um pouquinho mais sobre isso. Como você dá feedback aos seus atletas? - Então eu tento dar essa modulada, tentar a frequência de 1 pra 5 né, 20% das tentativas em questão de quantidade. Por exemplo, se e o menino está fazendo bandeja, eu dou um feedback, daí deixo ele fazendo, ele vai fazer mais uma, mais outra, mais outra, se eu tiver algo a dizer, a correção, algo, eu vou esperar algumas vezes acontecer pra eu voltar a falar com ele de novo. Quando está bem no início, pegando o movimento básica, até que sai um pouco mais, mas você percebe que atrapalha. Então a gente ter que esperar o aluno errar e ter o tempo dele, enfim, tem que esperar, daí você volta e fala de novo. Mas é importante passar a informação no momento certo, se você deixa ela passar, todo o processo de aprendizagem está comprometido. Não adianta você saber muito e na hora você ensina do jeito errado. Então eu tento fazer dessa forma, uma quantidade não excessiva e pontual. Questão de qualidade eu tento ser o mais objetivo e instrutivo possível. Tentar da melhor maneira possível passar as informações sem atropelar uma em cima da outra. - E sobre aspectos éticos e Fair Play nesta categoria? O que você acredita que é importante saber e transmitir aos atletas? - Eu acho que é importante ensinar pro menino que o adversário dele não é um inimigo dele. Então ele não tem que maltratar o cara, ele tem que ser tão justo quanto ele gostaria que fossem com ele. Então, se você vai fazer uma defesa dura, você vai fazer uma defesa dura que esteja dentro das regras e não exponha o cara que está jogando contra você. Se você vai vibrar num sucesso teu, você não tem que diminuir quem você acabou de ganhar. Você tem que ser justo como você gostaria que fossem com você. Até porque não é o seu inimigo, é simplesmente o seu adversário. Aliás, se ele não existisse não teria o jogo e você não estaria fazendo o que você gosta. - Quais competências para a vida você acredita que os treinadores desta categoria poderiam auxiliar os atletas a desenvolver? - Eu acho que essa de entendimento do que é o adversário, né. Trabalho em equipe, você saber que você não vai conseguir sozinho. Que se você não se importar com o bem estar com seu colega de equipe, com o cara que está do seu lado, você vai prejudicar o seu resultado final. Trabalho em grupo e o respeito. - Pensando agora em planejamento e gestão, o que um treinador do Sub-11 precisa saber pra planejar e gerir os treinamentos, competições, enfim a temporada? 140

- Bom, primeiro saber o que você vai ter disponível de material né. E espaço. Então sessões de treinamento, quantas vão ser, qual vai ser o espaço utilizado, material disponível, obviamente atletas - material humano - saber qual é o objetivo que você pode ter com essa equipe. Então por exemplo aqui, a gente tem uma equipe Sub-13 que ela é super forte para o campeonato que a gente joga. Se a gente fosse seguir as regras de um outro campeonato que precisa de mais gente, pois não pode repetir os atletas no quarto, enfim, a gente não teria uma equipe. Não teria, porque apesar de termos uns 16 meninos treinando nessa categoria, eles tem os compromissos e quando você vai ver, você tem 9 caras (atletas) só. Então além de ver essa questão de material humano, tem que saber quais as demandas dessa comunidade que está na sua mão. Alguns clubes são comunidades que tem suas particularidades, então vai ter momentos que você não vai poder contar com alguns deles. E isso tem que ser respeitado. - Você acredita que nesta categoria o treinador deva saber demonstrar algum tipo de gesto técnico para seus atletas? Se sim, quais? - Ah, eu acho que facilita. Assim, em momento nenhum eu acho que é fundamental porque você pode ter um técnico cadeirante e ele não vai conseguir fazer uma bandeja. Ele pode conseguir demonstrar o gesto do arremesso. Ele não vai conseguir fazer o movimento perfeito, ele vai precisar usar de outros artifícios. Eu acho que facilita. Facilita. Nessas categorias iniciais existem muitos jeitos de aprender, né. Então alguns (atletas) vão ter facilidade só com a sua explicação, só com a parte auditiva, vai ter o que vai aprender no visual, no tato... então assim, faz falta. Não acho que é fundamental mas acho que já que a gente tem que achar, dentro da nossa capacidade, o máximo de maneiras de explicar o negócio pra eles (atletas) aprenderem, pode fazer falta. - O que os treinadores do Sub-11 devem saber sobre o uso de tecnologias? - É mais uma ferramenta pra você ensinar. Então, de repente o menino não está entendendo qual é o erro técnico dele. Ele tá fazendo o arremesso e não está conseguindo acertar qual a linha do cotovelo. Eu tento explicar isso sem mostrar, muitas vezes o menino não entende. Ele fala "mas eu tô fazendo isso". Tipo, normal. As vezes ainda não tem consciência corporal, principalmente nessa categoria. De repente você vai e filma e mostra pra ele, talvez seja o que você vai fazer consiga que ele processe a informação. Então essa é uma das coisas né, filmar e mostrar. Análise de jogo eu acho que já dá pra começar alguma coisa. Em termos de estatística e de espaçamentos. Eu já fiz num outro clube um negócio que era bem legal. A gente tinha um scout (uma folha de estatística) e a gente mexia nos valores do scout de acordo com o que a gente achava que era interessante pra cada categoria. Então a gente não contava como ponto negativo o menino errar um arremesso. Mas um arremesso forçado a gente tirava. Considerava também alguns aspectos éticos, então se o menino tinha uma atitude bacana, por exemplo, ele teve um lance forte de trombada com o moleque do outro time e o outro caiu e ele foi lá e deu a mão pra ajudar o outro a se levantar, atitude positiva, mais tantos pontos. Então chegava no scout final e a gente tentava fazer uma análise disso. Então tinha turnover, por exemplo, andada era um problema técnico durante os treinos, que a gente cobra, cobra, cobra mas o menino deixa passar, a gente cobra e ele não tá vendo importância nisso. Legal. Chega na análise do jogo, 141 você bota lá, turnover ou andada, menos três pontos! Pro cara perceber e falar " caramba meu, tô perdendo ponto aqui no meu scout por causa disso". E eles levavam super a sério. No final acaba comparando com o outro. É uma competição interna ali. Se está vacilando no rebote, o rebote que antes era um ponto, passa a valer dois ou três pontos. Então, é uma linguagem que de repente ele vai entender, é uma maneira diferente de explicar. - Muito bacana, nunca tinha pensado nisso. E pensando no ambiente. Como o treinador deve agir para criar e manter um ambiente adequado de trabalho nesta categoria? - Eu penso que tem que ser muito claro e agradável, o menino tem que saber o que ele está fazendo aqui, ele precisa se sentir evoluindo, cada um tem que sentir a sua devida importância e assim se sente valorizado e o grupo fica melhor. Se todos se sentem valorizados, isso acontece. Ninguém precisa ser o melhor, todo mundo precisa entender o seu papel. O segundo ponto é, não deixar passar nenhuma atitude de indisciplina e principalmente de um em relação ao outro dentro do treino. Se um menino tiver alguma atitude ruim com o outro a gente vai tratar disso na hora e não deixar crescer. A gente não quer também - e nem é bom pro esporte - se a gente tiver doze cordeirinhos ali né. A gente não quer isso, isso não faz parte do esporte, o esporte tem agressividade envolvida e ela é importante, mesmo nessa idade. Então tem que aprender a lidar com isso. Legal. Só que o cara entender também que ele faz parte de um grupo em que todo mundo ali é importante. Se tiver esse ambiente de todo mundo se sentir valorizado, eu sinto que funciona. Do menino menos habilidoso até o menino mais habilidoso. Do que joga 2 minutos aos que joga os 40. E tem que ser verdadeiro porque se você falar besteira ou se você fala alguma coisa que é vazia o moleque não é trouxa. Ele entende, em algum momento ele vai perceber. Então, você tem que achar uma maneira verdadeira de valorizar TODOS. É difícil? Eu acho pra caramba. Mas ser técnico de Sub-11 pra mim não é pra qualquer um. Tem que ser um cara preocupado. Porque é muito sensível, é um momento muito sensível. Se você levar a coisa como levavam quando a gente começou a jogar, não é à toa que o basquete deu aquela afundada que deu, que ninguém mais queria saber de basquete. Por que que isso aconteceu? Ta aí também. - Como manter-se motivado em seu trabalho junto a esta categoria? - Acho que as mídias sociais ajudaram no seguinte sentido: quando eu aprendi a jogar, a minha única fonte de jogadas, de técnicas diferentes, de alguma coisa assim era o NBA Action (programa de TV). Tinha que assistir um jogo da NBA ou tinha que pegar o NBA Action e ficar simulando ou tentar fazer o que os caras faziam, do nosso jeito, com a nossa capacidade, tentava fazer o movimento que o Michael Jordan fazia, com a minha capacidade, a gente queria fazer igual, a gente tentava. E assim pela insistência, pela tentativa ali a gente conseguia fazer um desenvolvimento. Hoje, pô, você consegue pegar técnicas de desenvolvimento individual de americanos muito avançados, com coisas muito a frente, mas muito a frente. E se você pega e coloca nessa idade, os caras (atletas) aprendem. Então eu sinto que o que tem me motivado, por ser essa categoria, eu achava que eu queria ser técnico de Sub-19, Adulto mais pra frente. Não. A melhor coisa que aconteceu comigo foi ter vindo pros anos iniciais. Eu curti pra caramba. Porque eles são muito motivados a aprender. Então se você ensina e ele se sente melhorando, putz, ele vem feliz 142 toda vez. E eles são uma esponjinha, não tem nada ali, puxa tudo, a gente consegue perceber muito a evolução deles nessa categoria. Então a minha motivação vai pela faixa etária, o que ela me pede, que tem muito mais a ver com o jeito que eu gosto de trabalhar e por essa parte do desenvolvimento individual técnico, que é muito mais sensível nessa hora. - E ainda na questão da motivação, como o treinador consegue manter seus atletas motivados? - Eu penso por esse lado. Ele tem que se sentir importante. Tem que se sentir valorizado. Precisa se sentir evoluindo. De uma forma que não seja mentirosa. De uma forma que ele realmente consiga sentir. Você tem que buscar o que faz esse moleque se sentir assim. Tem moleque que o caminho dele pra ficar feliz é ganhar, é se destacar. Tem menino que vai vir aqui que o negócio dele é participar do grupo. Tem o menino que vai vir aqui porque quer aprender. Tem o menino que vem aqui porque ele quer perder peso. Tem todos. E todos eles tem direito de participar do negócio. Então, eu penso que a gente tem que se preocupar em achar qual é o canal que motiva de verdade esse menino e ser fiel à isso, dar importância à isso. E confiança, porque acho que todos tem que experimentar e descobrir o que eles querem aí com o negócio (com a prática de basquete). Então, eu tento incentivar com que eles tentem bastante. Tudo, sem ficar botando muitas rédeas. Depois, lá pra frente quando ele descobrir o que ele quer com basquete a gente põe rédea ou não. Se esse cara só quer aprender pra brincar no parque, vou botar rédeas pra que? - Você costuma fazer reflexões e análises sobre seu desempenho como treinador nesta categoria? Se sim, quais? - Pra caramba! Sempre que eu percebo que algum menino ou menina está com dificuldade de evoluir ou tá com aquela vontade de desistir, você percebe que está desinteressando, eu sempre procuro saber até que ponto aquilo faz parte do que eu poderia estar atuando ou se é algo que não é da minha parte. As vezes eu posso tentar fazer qualquer coisa, mas é alguma questão de família, é algo além de mim. Eu não tive a oportunidade durante a minha formação acadêmica de experimentar outras coisas, porque eu tive que trabalhar, porque minha família não tinha estrutura suficiente pra que eu simplesmente estudasse ou não trabalhasse a noite e fosse assistir jogo, ou fosse assistir treinos de bons técnicos. Mas eu não tinha tempo, porque tinha que trabalhar. Então, eu sei que na hora que eu tive as primeiras oportunidades (como treinador de basquete) eu não estava tão pronto. E isso me matou naquele momento. Eu tive oportunidades bacanas que eu poderia ter aproveitado de forma melhor, se eu tivesse melhor preparado. Então, hoje toda a oportunidade que eu tenho de estudar mais, de me informar mais... Se o jogo não foi da maneira como deveria ter sido, pô eu tinha uma expectativa pelo que a gente vem treinando e o resultado na quadra não foi esse, por que não foi esse? Vou no meu planejamento, vejo, pô, quanto disso eu tô fazendo? Por que isso está saindo tão ruim? Será que eu tenho que aumentar a porcentagem do que faço disso dentro dos treinos? Então, o tempo inteiro tem que fazer uma análise. Planejamento, análise e replanejamento. Tanto em relação à minha parte acadêmica quanto em relação à atuação em quadra né. 143

- Muito bom! Finalizando... Existe mais alguma competência que você considera importante, ou algo que você gostaria de comentar quanto às competências necessárias aos treinadores de basquete? - Acho que a gente tem que tentar informar eles o máximo possível. Acho que quanto mais clareza você tiver sobre o processo inteiro, por exemplo, eu tive em parte sorte, de ter conseguido acompanhar tanto do Sub-11 até Sub-19 e Adulto também, quando fui técnico de Regionais. E as oportunidades que tive de conversar com técnicos também de Adulto que foram em alguns momentos mais próximos e tal. Então, conhecer o processo, o que é importante conhecer lá pra cima (categorias mais velhas) até aqui em baixo (categorias iniciais) e entender o que que em cada momento é importante. Não deixar esse cara (atleta) vacilar aqui e fechar uma porta aqui, quando ele quer chegar aqui. O menino chega pra mim e fala assim, com 11 anos: "eu quero ser jogador da NBA". Legal. A gente sabe que é difícil. A gente sabe que é bem improvável. Mas será que a gente não tem como ajudar ele a não fechar portas? Né? Eu acho que é muito importante que o cara se preocupe em entender o processo inteiro. Entender que esse cara pode perder tudo aqui (apontando para a quadra). Que que eu posso fazer aqui pra ele não perder tudo. Então, precisa estar antenado. Você precisa juntar as informações. Poxa, basquete é uma modalidade, tem gente que encara só como uma brincadeira. Mas, cara, pode promover tanta coisa importante. Então, a gente não pode tratar como brincadeira, a gente que é profissional disso. Eu sinto que a gente tem que ter uma clareza cada vez maior do que é importante para o desenvolvimento do atleta do início ao fim, aonde ele pode chegar. Talvez ele nunca chegue, beleza. Mas por que que eu vou ser parte do que vai interromper ele? É isso. - Muito bom. Poxa, valeu! Só tenho a te agradecer. Valeu mesmo. - Pra mim foi legal pra caramba cara.

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- Quantos anos você tem? - 28. - Quanto tempo de experiência como treinador de basquete? - 8. - Foi atleta de basquete? Se sim, por quanto tempo? - Fui. Dos 11 aos 19. Do Pré-mini ao segundo ano de Juvenil. - Quais foram as principais competições e campeonatos disputados como treinador? - Sulamericano de Novo Hamburgo, Liga Pró Basquete e FPB. - Grau de instrução? - Superior completo. - Vou iniciar agora algumas perguntas sobre sua percepção como treinador e gostaria que você considerasse suas respostas de acordo com a categoria que está no comando neste momento. No caso o Sub-11. - Tá bom. - Que conhecimentos técnicos e táticos você considera que um treinador de basquete nessa categoria deva possuir? - Bom, eu acho que pra categoria Sub-11, precisa se aprofundar principalmente nos fundamentos e muito mais que isso eu acho que a importância da, como eu posso dizer? Da humanologia, né? O cara ter essa consciência que são crianças. Eu não concordo com a especialização nessa idade, por mais que haja talentos, é preciso que tenha essa preocupação séria com o bem estar da criança. Então eu acho que tem que ter o conhecimento, mas o bem estar é o principal. Porque você está formando mais caráter do que jogador nesse momento. É o passo inicial pra ele... ou vai ou racha. Na minha percepção. - O que um treinador deve saber para ensinar atletas dessa categoria? - Descarta o tático. Eu acho que 80% fundamento, a parte técnica né, e o físico entra nesses 20% pra dar a base. Mas principalmente o cara se aprofundar nos fundamentos, fundamentos iniciais, mão direita, mão esquerda, posicionamento das pernas, trabalho de pernas. Eu acho que essa é a parte primordial. E também eu acho que o treinador precisa saber essa parte do social. Saber incentivar. Saber motivar o atleta. Ter a noção que são crianças. Isso acho que é primordial pras primeiras fases. Cara, eu fui jogar num outro clube e quando estava saindo tava rolando um jogo de futebol Sub-9. Meu, que que era aquilo? Fervendo cara. Eu achei aquilo... ao mesmo tempo, uma parte eu achei legal pela atitude dos meninos, só que da outra meio triste de ver as cobranças né. Pai, a forma que xinga o árbitro, o próprio filho pedindo pro pai ter calma. E no basquete acontece também e é aí que a gente entra. Claro, que se você conseguir juntar o útil com o agradável, o social com a parte física, de coordenação bem fundamentada pros meninos, pô aí é tudo de bom. - O que um treinador desta categoria deve saber sobre a instituição e o setor em que trabalha para desempenhar suas funções? 145

- Tá. Ter uma consciência social. Na minha instituição atual essa consciência é primordial aqui. Não ter aquela exclusão. Não existe. Não existe atleta ruim, atleta bom. Aqui a nossa principal preocupação é integrá-los. Colocar eles no meio esportivo. Porque muitas vezes o moleque não quer participar, porque "ah, eu não sei arremessar do jeito certo". Não, esquece isso. Só entra (na quadra), só vai. Então a nossa preocupação aqui no clube é que eles pratiquem. Que eles conheçam o novo. Aqui foi um clube que teve uma era muito vitoriosa, se tratando do Adulto na década de 80 e 90. E depois disso parou. Então essa geração mais nova não sabia o que é basquete. Nos meus primeiros anos aqui, eu também tava começando (na carreira de treinador) e cara, a gente ia jogar nos clubes e era uma rivalidade como se estivesse jogando Fla-Flu. E eu não tinha noção desse impacto. E com o tempo fui percebendo e me adaptando. - O que um treinador de basquete desta categoria deve saber para preparar os atletas, tanto individualmente como coletivamente para as competições? - Tá, individual, percepção das fragilidades, saber onde a criança tem a maior fragilidade e procurar saber o por que ele sente essa dificuldade, pra daí poder dar passos maiores. Muitas vezes a criança chega e nós professores, você sabe, tem uma percepção, a gente não consegue diagnosticar o atleta de cara mas a gente tem uma percepção se a criança sofre de alguma situação ou uma deficiência ou de uma simples falta de atenção ou é alguma coisa física só que ele tem dificuldade. E as vezes tem aquele menino que é indisciplinado, você esquece daquele lado que também tem que a gente volta pra parte social. Não é porque o moleque tem muita grana, que ele não tem problema social, ele tem essa dificuldade e isso reflete na quadra. E muitas vezes os treinadores, cada vez está ficando mais competitivo, o nível tá elevando demais, então as vezes a gente esquece esse lado e cobra o moleque, cobra, cobra, mas espera aí, pára, alguma coisa não está dando certo, o moleque está desmotivado. Ele está querendo sair (parar de jogar basquete). Então esse aspecto individual, a gente tem que ter uma sensibilidade um pouco maior. E coletivamente também. A gente procura identificar as lideranças, que é natural de um grupo, e a partir dessas lideranças fazer com que o atletas saibam que ele depende de todos pra um mesmo objetivo, saber que precisa trabalhar em grupo. Não precisa ser amores fora da quadra mas dentro da quadra tem que ser carne e unha. - O que um treinador de basquete desta categoria deve saber para se relacionar e se comunicar com seus atletas? - Tá. Diálogo informal. Diálogo informal! Isso ficou mais claro quando eu estava dando treino pra atletas da faculdade de medicina, que pô, são alunos extremamente estudiosos e as vezes você fala com uma linguagem técnica na quadra. E você acha que eles não estão te ouvindo mas na verdade eles não estão te entendendo. Então principalmente nessa idade, a linguagem informal é o ponto chave pra falar a linguagem deles mesmo. - E com os familiares dos atletas?As pessoas que fazem parte do contexto do atleta? - Proximidade. Eu costumo ter uma ideia assim, se a gente tem os pais na mão, a gente tem o time inteiro. Então, o meu diálogo com os pais é direto, não tem intervenção. Os pais me ligam, dou a liberdade pra me ligar a hora que quer. Não sei outros lugares seja diferente mas aqui a gente pensa assim. Tem 146 muito esse conceito família aqui. Então, teve um problema, é o pai que a gente comunica, nosso relacionamento e nossa comunicação com os pais é direta. Nossa conversa com eles, a preocupação com eles. Procuro também motivá- los, porque a partir deles que vai ... porque é aquilo né, tem jogo em tal lugar, então o pai muitas vezes deixa de viajar ou fazer algo que precisava fazer no final de semana, pra estar com o filho. Eles fazem parte. Eles vão acompanhar, eles vão levar, eles vão ter que liberar, vão ter que abrir mão de uma cervejinha pra ir pro jogo. Eu tento promover, por exemplo, dia das mães. Eu fiz uma camiseta pras mães com o nome do atleta e o número do filho. Então, promover ações assim que possa trazer também o pai. Eu já vi pai aqui que fala que odeia esporte. E aí, que que a gente faz? E o moleque é um talento. A gente tem que conquistar ele. Ele é a chave de tudo. E eu acho que até no Adulto tem que tentar ser assim também, esse lado humanitário. Phil Jackson já falava e tinha isso. Ele sempre se preocupou com isso, com os caras (atletas), com o bem estar. Ele queria saber como estava o jogador. Eu levo bastante isso comigo. E com os pais também, incentivar, coversar bastante, os pais me ligam, minha esposa as vezes fica até mais... as vezes eu tô no domingo em casa tomando café e ligam, mas não pra falar coisas "ah, você errou", "por que você tirou meu filho?". Não, as vezes o filho não está respeitando o pai e eles me pedem, "será que você pode conversar com ele?". Aí você percebe a sua importância no espaço. É muito legal essa parte. Então essa parte dos pais a gente trata com bastante prioridade. - E com os dirigentes? - Bom, vou falar com base daqui, minha carreira se baseia nesse clube e dentro das faculdades que eu também sou técnico. Mas eu procuro ser também direto. Não tem intervenção. Eu procuro sempre dialogar, até porque a gente tem esse privilégio de estar próximo deles e eles vem dialogar, ou as vezes vem só querer desabafar aqui. E é a hora que eles relaxam. A gente é próximo. Acho que não tem que ter curva, não esconder nada. Já errei aqui algumas vezes de querer dar um passo e sabe? Querer fazer as coisas sem avisar. Eu acho que sinceridade é a palavra chave, eles saberem que você é claro e essa clareza tem que ser sempre passada pra eles. Nas atléticas que eu trabalho, procuro sempre conversar com meu diretor de esportes, com presidente da atlética, eu tento sempre ter esse diálogo e transparecer tudo que eu penso, sem esconder, sem ficar desabafando com atleta, acho que isso (problemas internos) não cabe a eles e sinceridade, olhar no olho. Diálogo e sinceridade é a palavra chave pra você se dar bem em todo lugar. - Com a mídia? - Cara, eu gosto disso. Eu gosto. Se a gente tem, tem que aproveitar. As vezes fazem umas puta fotos, eu gosto de divulgar os moleques. Eu gosto de mostrar o nosso trabalho. Perdendo ou ganhando, sabe. Ah, teve um click legal, eu gosto de divulgar. Tem uma página no Instagram dos meninos do basquete. Então, a gente tenta da nossa forma divulgar alguma coisa, postar bastante fotos. Se está aí esse acesso, por que não? - Que perfil um treinador desta categoria deve ter? - Posso dizer que tipo um paizão. Não posso ser tão durão. Precisa estar próximo. Com os mais velhos, tento levar para um lado mais técnico, mas as vezes não consigo perceber uma fraqueza do moleque e não tentar corrigir de 147 uma forma mais branda. Acabou o treino, vamos conversar um pouquinho. Que que está acontecendo? Eu acho que as vezes, todo o técnico tem que ter um pouco disso. Tem que ter um pouco de compaixão. A gente ouve de uns técnicos do passado, que naquela época funcionava. O pau comia no vestiário, os caras (treinadores antigos) não davam água pros jogadores. É, a história era outra. Só que antigamente essa coisa funcionava, hoje surgiu bullying e n coisas que antigamente não existia, né. - E sobre o tipo de liderança? Poderia nos dizer algo? - O técnico tem que ser o cara mais motivado que existe. Eu falo com os meninos que agente tem que trabalhar um padrão. Estamos ganhando de 30 (pontos) é um padrão. Estamos perdendo de 30, é o mesmo padrão. Por que mudar? Se está ganhando, não ganhou desse jeito? Se está perdendo por que você tem que mudar? Quando se está perdendo a história muda, o sorriso não aparece mais. E precisa ter uma sensibilidade também, porque quando você perde, você que procurar todos os defeitos do mundo do que você errou. E quando você ganha, as vezes você erra muito mais ganhando, só que você não quer saber dos erros, porque você ganhou. A vitória é perigosa. Então, acho que principal do técnico, ele tem que ser um motivador, ele tem que se auto-motivar o tempo todo. Saber que perder e tomar cesta faz parte. Não tem tempo de lamentar. Então acho que um grande líder, principalmente no basquete é o cara que vai reger, não vai se entregar. Se está perdendo de 50, joga. Tem que fazer os moleques entender que independente do jogo o padrão tem que ser o mesmo. Isso tem que ser mantido. E a vontade de entrega tem que ser a mesma. Se eu perdi esgotado é uma coisa, agora se eu perdi e fico com aquele sentimento que não fiz meu trabalho, aí dói. - E sobre saber ouvir os atletas? - A parte de ouvir é uma questão de humildade né. Muitas vezes a gente acha que só ensina, mas não meu, a gente aprende o tempo todo. E a gente tem que ouvir. A gente tem que saber controlar essa... Por que não, por exemplo, numa situação do jogo você entregar a prancheta pro moleque? Eu já vi o Popovich (treinador da NBA) pegar, chamar o Tony Parker, tó senta lá e fala com os caras. Clássica essa. Isso é sensacional. Já vi técnico também, que o moleque vai colocar o dedo pra sugerir alguma coisa e já toma um tapão e "tira a mão da minha prancheta". Então é assim, é o perfil do cara, não estou julgando, só que eu acho que o cara sábio ele tem que entender que ele está aprendendo. E outra, o cara que está dentro da quadra (atleta), está vendo um jogo e o técnico está vendo outro. Eu gosto de ouvir. Mesmo no Sub-11 eu gosto de ouvir as questões de jogo mesmo que eles tem a falar. Eu quero propor um diálogo. O que que eles estão sentindo? Se um está reclamando do outro. Eu quero ouvir eles entendeu. Claro, você pode deixar eles falarem o que querem só que você sabe que você é o comandante, então a palavra final vai ser sua. Mas por que não deixar? É uma forma de confiar, se você não confia no seu time não tem como você jogar. - Sobre como controlar as emoções? - Como controlar as emoções? Um copo de água, um remedinho pra dar uma acalmada - risos. Hoje em dia meus assistentes me ajudam muito. Eu confesso que já dei uma baixada de nível por questões de jogos, pai que vem falar groselha pra você e você se rebaixa. Você é um cara mais sereno, mas você 148 sabe que competição é terrível. Tem dias que você está sensível e a falta de experiência também te ajuda com isso. Mas você controlar isso, por exemplo, um time fez besteira, a gente no basquete tem esse privilégio de pedir tempo. E com esse privilégio do pedido de tempo, assim você não vai mudar o mundo, mas você consegue trabalhar isso, se você vê que o time está calmo demais, é a hora dos ápices, né, do fake, fazer um teatro, eu acho que tem muito isso daí. Tacar a prancheta, dar um berrão, soltar um palavrão mais cabeludo assim, mesmo não sendo do seu perfil. E as vezes uma situação que o clima está tenso, você abaixa o tom de voz, olha no olho. Então você tem que controlar isso e saber que o jogo é um xadrez e um teatro, você tem que saber controlar, tem que ter amigos e auxiliares ali que possam te ajudar. Ou se você está no papel de auxiliar, que eu acho importantíssimo, o cara te controlar, chamar no canto, falar que ele não está bem, segura. Com o tempo, o basquete acho que é que nem vinho né, meu professor que já falava, quanto mais tempo mais refinado você vai ficando, alguns defeitos você vai melhorando e você vai pegando de pouco em pouco essas atuações. E uma outra coisa é aquilo, tem o treinador com o filho e o sem filho, né. Eu acho que o cara sem filho ele quebra um pouco esse sentimento, eu falo por mim, quando eu não tinha filho eu tinha um sentimento. Quando eu virei pai eu dei uma quebrada nisso. - Quais normas e códigos profissionais um treinador deve levar em conta nesta categoria? - Esse ano, foi o primeiro ano que a gente implementou uma vestimenta, colocamos uniformes pra todos, uniformes de treino pra todos. Então eles tem que vir com a meia e bermuda adequada pra prática, a camiseta do clube. Horários também. Assiduidade também. Claro que no papel é fácil falar, mas aí tem aquilo né, recuperação, é gripe, é castigo. Um dos meus melhores atletas fica pelo menos um mês do ano de castigo, se juntar tudo. E aí volta aquela pergunta que você fez sobre os pais. Se está de castigo, eu ligo. Eu ligo pra saber que que está acontecendo. Entendo o que está acontecendo e junto todos, não foco em um, foco em todos, mas cobro em cima do que os pais tem me falado. Pô, eu falo pra eles, cara recuperação, vocês não fazem nada. Vocês só estudam e treinam. Por que ficar de recuperação? Se organiza. Eu preciso melhorar essa questão de notas, ter mais essa coisa de escola com treino e exigir mais nessa parte. Eu acho legal isso mas ainda não consigo ter esse trabalho aqui. De vincular mais a importância da escola com o basquete. "Ó, sua nota foi vermelha, você não joga". Ainda não consigo mas eu quero implementar. Cobrar mais, ter que trazer o boletim. E falando ainda sobre as condutas, respeito. Que as vezes eles quebram essa barreira de respeito. Coisa bem de criança, né. Xingar, não respeitar as diferenças, falar besteira pro outro. No próprio time a gente tem moleques de diferentes realidades. A gente tem um baiano aqui e que está sendo fantástico pra ele, pros moleques, uma troca. Ao mesmo tempo que uns tem um mundo fácil o outro está contando o dinheiro da passagem. Uma vez um moleque tava indo embora, contando o dinheiro da passagem e eu dei meu Bilhete Único pro moleque e um outro atleta, sócio do clube viu e me ligou depois já tarde da noite. "Cara, preciso falar com você, meu eu vi uma coisa que me deixou transtornado. Eu tô transtornado". E eu falei "que foi?" "Meu, o moleque tá contando o dinheiro pra pegar ônibus, como isso? Ele joga comigo, a gente fica junto, pô eu viajo, eu faço isso, faço aquilo e meu amigo tá pedindo R$5 pra voltar do treino!" Eu falei "essa é a realidade cara! Você tem que entender e tem que se respeitar" E eles 149 se respeitam. Daí queria saber como podia ajudar, como poderia fazer... Aí eu falei "calma, calma. Não adianta falar que você vai dar dinheiro, porque ele também não é um coitado". Então assim, os dois lados tem que aprender. Pro outro eu falei também, eu falei "olha eles estão te dando tênis, calção mas você não pode se acostumar a só o que te dão, você não pode se contentar só com isso". Claro que é legal e gratificante, você vê o carinho, só que o menino também tem que pensar em conquistar, tem que procurar prosperar, querer, correr atrás. Não pode se acostumar, "ah, estão me dando, está bom". Não, não é assim. Eu instigo eles. - Tem algo a dizer sobre atualização profissional e formação adicional? - Putz cara. A gente tem que estudar né meu!? Como a gente estuda hein! Minha esposa fala que eu sou louco. E passa o ano e você percebe que estão vindo com coisa nova e percebe que está atrasado. Percebe que precisa assistir jogos de diversos times. E hoje em dia se você não quiser estudar é porque você realmente não nasceu pra isso porque tem Youtube, tem Google, tem bibliotecas abertas, livros baratos. Você vai na USP a biblioteca está aberta todos os dias. É só você ir atrás. Eu acho que na profissão de professor, do treinador, tem que estudar. Tem que estar atual. Não tem como a gente parar porque as coisas andam muito rápido. Eu procuro clínica, difícil achar tempo mas eu tento fazer pelo menos uma no ano. Assisto muito jogo, leio muito livro de treinadores americanos. Procuro ler alguns livros brasileiros. Ouço bastante professores. Tento me atualizar dessa forma. - E sobre aspectos éticos e Fair Play nesta categoria? O que você considera importante saber e transmitir aos atletas? - Puts, primordial. Primordial! Também falo "errei". Já errei, aprendi com meus erros. Hoje em dia tento ao máximo sempre fazer com que as coisas sejam pingos nos is. Mas você vê cada falha. Quando você começa a fazer as coisas muito bonitinho, você vê cada coisa por fora. Sabe, ah, colocar atleta que não está inscrito, mais velho, o menino não jogou o campeonato inteiro, chega nas finais e joga... Então assim, eu tenho que passar pros moleques que a gente vai entrar junto e vai sair junto, independente de vitória ou de derrota a gente tem que ter a consciência de que a gente está limpo. Por que o gosto não é o mesmo se você não agiu certo. E aqui não é que você faz as coisas pensando em ganhar. É porque tem muitas vezes, por exemplo, o campeonato é pra nascidos em 2003 e tem uns festivais que você vai e coloca um moleque 2002 - mais velho. Sempre teve essa abertura, só que é uma coisa errada. É errado! E aí você tem que ensiná-los a cada vez esquecer mais essa prática. Não pode existir. Porque é aquilo, é aquele jeitinho brasileiro que contamina né. E uma coisa pequena vai se tornando uma coisa grande. Eu mesmo já fiz isso, hoje percebo que errei. Hoje vejo que o tempo todo tenho que estar atento a isso. Se não você pode dar uns deslizes assim mesmo em festivalzinho. Mesmo sendo festivalzinho, tem que seguir à risca. - Que valores pessoais você acredita que sejam importantes para atuação profissional nesta categoria? - Família. Trabalho duro. E lealdade. Peças chaves. Peças chaves pra você seguir no seu trabalho. - Quais competências para a vida você acredita que os treinadores desta categoria poderiam auxiliar os atletas a desenvolver? 150

- O esporte, seja ele de alto rendimento ou não, você está convivendo com pessoas, um grupo de pessoas, de diferentes educações. Não é a educação A que é a certa ou a B ou a C. É igual quando a gente casa.Eu acho que é um choque. Quando você casa, entra os dois na mesma casa, você teve uma vida, sua esposa teve outra, são dois mundos. E dentro de um grupo de basquete, num grupo de uns 15, 20, são 20 vidas, 20 educações diferentes. Você aprende. Eu acho que nas empresas, se o funcionário está fazendo uma entrevista, pode colocar que foi atleta, se o cara foi atleta ele vai ser diferenciado. Vai ser. O cara pode ter a grana que for, mas vai pros Regionais dorme no chãozão da escola, merenda de escola pública, que é bem feitinha e aí você (atleta) aprende muitos valores que são naturais, não é um cara (treinador, neste caso) que precisa ficar te falando. Se tem um treinador que trabalha isso, fala isso, é melhor ainda, mas esses valores que o esporte te dá, isso aí já pagou o basquete. Eu fiz até o juvenil, ganhei uma bolsa de 70% na faculdade com o basquete, me formei, o basquete já me pagou. E isso é pra tudo, se eu for trabalhar em um lugar difícil de convivência, pô dividi alojamento que era um negrão dali, um gaúcho que não gostava de tomar banho, o outro boca suja, o outro que o pai é prisioneiro e a gente convivia. Então ajuda muito o esporte cara. Acho que toda criança tem que fazer. Acha um que ele se encaixa, deixa ele viver isso. Deixa ele fazer uma viagem esportiva. Uma vez fui pra Novo Hamburgo com um grupo que nunca tinha viajado e com boas condições. Chegamos lá, num hotelzinho bom, com tudo que precisa, 3 estrelas, chuveiro a gás, cama boa, cafézinho da manhã e o bandejão no clube que acontece as competições e todos atletas almoçam lá e é animal, nada de luxo, tudo necessário. No primeiro dia os moleques já reclamando que o hotel era empoeirado, que isso ,que aquilo. Aí no café da manhã, presunto, queijo, requeijão, pô perfeito, bolo, suco. E os meninos reclamando, "pô, mas que café é esse!" Que isso, que não tem aquilo. Eu me segurei, puto com essa situação, só que também não tem como você não pensar que os moleques são culpados, eles nasceram numa sociedade em que eles são a minoria. E aí estamos passando no corredor da escola e um puta cheiro de chulé numa sala de uma outra equipe que também estava participando. Os caras deitadão, ouvindo um pancadão, as camisetas penduradas, sabe que você mesmo lava, os caras se virando. Passei, vi aquilo e pensei "é agora". "Olha aqui, galera, vocês estão vendo algum moleque reclamar? Algum moleque triste?" Os moleques tavam curtindo, estavam agradecidos pelo momento, pegaram avião, pra aquele grupo, era o máximo isso. Cara, passou esse dia e tudo fluiu, pô os meninos começaram a curtir, agradeceram demais a viagem, sabe, se divertiram. Isso foi uma coisa que marcou muito. Então, o esporte paga. - Legal! Pensando agora em planejamento e gestão ao longo de uma temporada, o que um treinador do Sub-11 precisa saber? - Macrociclo. Você monta o seu, senta com o preparador físico. Sempre procuro voltar uns 10 dias antes da temporada começar, pra saber quando que a gente tem que puxar no preparo físico, quando é a fase dos amistosos, período de competição. E a gente vai aprendendo ao longo do tempo. Nossas equipes, se tratando de um gráfico, a gente está fazendo uma excelente pré- temporada, mas está caindo na fase dos playoffs. Isso tratando de rendimento e vitórias. Isso é um geral, mas o Sub-11 entra nisso também. Eu acho que porque pra eles, e pra gente também, o primeiro semestre é mais fácil. Então a gente aqui no clube vai ter que começar a se planejar um melhor o segundo 151 semestre. Será que vale a pena a equipe subir tanto no primeiro semestre? Talvez é melhor segurar essa crescente no primeiro semestre e dar o estirão no segundo semestre. A gente tem que saber controlar essa crescente pro momento certo. Esse planejamento é primordial, seja Sub-11, Sub-13, Adulto. E cada ano que passa a gente aprende e discute cada vez mais. Alguns meninos de Sub-11 jogam no Sub-13. Também tem que entender que você precisa plantar agora pra colher lá na frente. As vezes você joga com Sub-11 no Sub-13 e só toma cacete, e aí entra um trabalho pra motivar os moleques, porque a gente sabe que vai chegar uma hora que a gente vai colher. - Você acredita que nesta categoria o treinador deva saber demonstrar algum tipo de gesto técnico para seus atletas? Se sim, quais? - Cara, sim. Sim e não. Eu estava vendo um estudo sobre especialização precoce e eu fiquei encantado com o jogo do Flávio Davis. Eu vi o time dele jogar e fiquei encantado com a forma que os atletas dele jogam, a forma que eles se movimentam na quadra. E o segredo que ele falou é não ensinar jogadas, não ensina corta-luz na bola, o que ensina é procurar o espaço vago. No tempo certo, pediu a bola, não recebeu sai. E essa organização pra moleque de Sub-12 é absurdo, cara. Não dá pra colocar jogada se alguns moleques ainda estão aprendendo a bater bola. Então, nessa idade a tática coletiva não tanto. Na parte técnica, aí sim, fundamento é importantíssimo, o olhar, mão esquerda, mão direita, o molde de arremesso, trabalho de perna. - O que os treinadores do Sub-11 devem saber sobre o uso de tecnologias? - O treinador se tiver a possibilidade de filmar todos os treinos e todos os jogos, ele vai enriquecer. Enriquece na sua postura, porque você se olha, se você está calmo demais, vê o que errou. Se está a nosso favor, não tem porque não utilizar. Já usei GoPro, câmera, filmei jogadas que deram certo. - Como o treinador deve agir para criar e manter um ambiente adequado de trabalho nesta categoria? - Harmonia né. Fazer com que todos estejam cientes do que estão fazendo. Eu procuro fazer um questionário em relação ao seu eu e o seu eu equipe. Com algumas perguntas, por exemplo, o que a equipe pode esperar de você este ano? Isso eu faço todo ano, desde o Sub-10. Eu ponho assim, "e que forma eu posso contribuir com a equipe?" Ou, "se você fosse o técnico, qual posição você se daria no jogo? Titular? 6º a 8º homem? 9º a 12º?" E é engraçado as respostas, vem algumas coisas sinceras. Por que 9º a 12º? Ah, porque eu sei que tem caras melhores na minha posição. Ou, "ah, eu saio melhor do banco". Isso é bem legal, peguei do livro do John Wooden. E eu falo pra ele que não vou mostrar pra ninguém, nem pro amigo do lado, nem pros pais, é entre a gente, eu não vou julgar. Só que eu vou pegar esse mesmo questionário que vocês fizeram no início do ano e no final do ano vamos sentar juntos pra fazer um balanço. Eu pergunto: "Qual vai ser o seu nível de entrega". Alguns colocam "ah, 5 porque eu também jogo futebol." Bom o moleque foi sincero. Ou as vezes o moleque coloca que é 10 porque quer se entregar muito pro time. Eles costumam ser o mais sincero possível, não tem como eles mentirem pra eles mesmos. É uma coisa que fica pra eles. E eu não fico ali, eu dou o questionário, vai pro seu canto e responde. É bem interessante! - Como manter-se motivado em seu trabalho junto a esta categoria? 152

- Pô, tem vezes que é difícil hein meu! Não sei se você já teve essa sensação, mas chega as vezes no meio da temporada, aquele excesso de treino, você para e pensa assim, "pô, por que esses moleques estão correndo tanto assim, meu?" "Será que vai ser tudo em vão, meu?". Parece uma coisa tão banal, não sei se você já pensou nisso, mas eu já entrei numas paranoias assim. Aí eu falo, "não, peraí, preciso tomar uma água". Então, o que nos motiva é que a gente... é o que a gente ama fazer, né. Eu acho que essa é nossa maior motivação. Além da nossa família, saber que você está com o ... o que você sonhou está acontecendo. Você está sustentando sua casa com o basquete, tenho meu carro, pago a escola dos meus filhos com o basquete. Então mesmo que as vezes umas derrotadas duras fazem a gente... no Sub-11 não, no Sub- 11 é uma coisa mais lúdico, mais gostoso, mas você também se põe à prova. Você se põe à prova de umas certas derrotas que você fala assim: "meu, eu não tô no lugar certo, eu não tô fazendo as coisas certas". Então você tem que colocar a cabeça no travesseiro e saber que cada dia é um novo dia e se levantar. Mas eu acho que o treinador tem essa parte que é uma parte difícil e olha que a gente joga competições que nem envolvem grana financeira, eu tenho praticamente zero cobrança de dirigentes vindo cobrar vitórias mas eu fico pensando os caras do alto rendimento, você perder uma final de um NBB, da NBA ou um mundial de clubes. - E como manter seus atletas motivados? - Tentando quebrar essa barreira total de competição. Fazer com que os treinos, algumas coisas se tornem mais agradáveis. Tem uma malandragemzinha, por exemplo, principalmente pro Sub-11, quando os moleques estão lá em embaixo (desmotivados), eu marco um amistosinho com um time que eu sei que a gente vai ganhar de lavada pra dar essa levantada. Eu tinha um diretor que falava isso muito pra mim. Pra coisa acontecer, marca três amistosinhos que você vai ganhar de 20, vai ganhar bem, vai rodar o time todo. Porque as vezes você toma porrada, porrada, porrada que a gente fica desanimado. E aqui uma coisa que é bem legal é que a gente faz pequenas excursões. A gente tem esse privilégio de ter vários caras do NBB, que tiveram uma ligação com o clube. Então a gente já foi pra algumas cidades do interior de São Paulo, faz clínica, fica em hotel, conhece alguns jogadores e técnicos do Adulto, convive um pouco com eles, almoça com eles, assiste treino do Adulto e isso pros moleques é demais! Ficamos no camarote assistindo o jogo. Aproveitamos fazemos uns amistosos com equipes locais, saímos de lá almoçamos numa churrascaria. Isso com a galerinha nova (Sub-11) até os mais velhos (Sub-15). Pô, os moleques curtiram demais, foi divertido, foi bem prazeroso mesmo, sensacional pra eles. - Você costuma fazer reflexões e análises sobre seu desempenho como treinador nesta categoria? Se sim, quais? - Sim. Sim. Eu escrevo num treino que me incomodou, confesso que não escrevo todo treino, mas se me incomodou e eu vejo que alguma coisa não está certa, pego minha agenda, gosto muito de escrever, caneta e papel, escrevo, vou pensando o que que está certo, o que está errado, minha postura, as vezes se eu exagerei com algum moleque no jogo, eu paro e repenso. Eu me cobro bastante, acho que o nosso problema é a gente mesmo, né. A gente é nosso maior amigo e maior inimigo, porque a gente se cobra demais, demais, além da conta. Uma vez eu saí puto de um jogo, que a gente precisava ganhar 153 e perdeu de 1 ponto. Aí meu capitão de 13 anos chegou em mim e falou "coach, isso é só um jogo, a gente vai melhorar". Eles fazem eu pensar bastante. Mas eu reflito, eu tenho uma autocrítica muito grande comigo. Eu me incomodo em andar em linha reta, acho que tem que sair sempre da zona de conforto. A gente tem que querer sempre um algo mais, né, buscar, estudar, evoluir. Então eu acho que essa autocrítica e essa autoanálise é essencial. - Como você dá feedback aos seus atletas? - Eu sinto. Tem dia que a gente perde ou ganha o jogo e eu reúno eles no meio da quadra, conversa rápida, quase tudo que precisa ser falado foi falado ao longo do jogo. Agora, tem dias que eu sento no vestiário e a gente conversa e conversa. Tem dias que a gente se cumprimenta, vai embora e eu vou falar com eles só num outro dia. Eu não consigo ter, um padrão, eu tento dançar conforme a música e tentar perceber o sentimento de acordo com o jogo. Não me iludir com vitórias bobas, né. Ah, ganhamos de 30 pontos, os pais ficam loucos, né. Vem te abraçar, falam que você é o melhor. No começo da carreira você se ilude um pouco. Mas aí você vai percebendo que não é assim. E aí eu costumo colocar vídeos dos jogos, mando, a gente faz as estatísticas e passa pra eles. Eu tento fazer de todas as formas pra poder ajudar. Pra tentar melhorar algo que não foi certo. O que foi certo a gente mantém e o que não foi a gente vai tentar descartar. Eu tento dar feedback individual pra cada jogador, mesmo o menino que não teve tanto tempo de quadra, explicar o por que, tento instigar eles a não se acostumar a querer ficar só 5 minutos na quadra. A querer mais. E pra querer mais tem que buscar no treino. Eu dou esse feedback o tempo todo. Vejo que o moleque não está bem, paro, converso. - Existe mais alguma competência que você considera importante, ou algo que você gostaria de comentar quanto às competências necessárias aos treinadores de basquete? - Na minha forma de pensar, eu acho que os técnicos brasileiros tem que ter mais isso que estamos fazendo agora (conversar e trocar experiências). A gente não pode ter esse egoísmo de achar que se o meu jeito está dando certo, espero que os outros não dê. Eu acho que não é assim. Eu costumo fazer a boa praça pra equipe que vem jogar aqui, deixamos o vestiário em ordem, com água, toalha, cedemos bola pro aquecimento. As vezes você vai em lugar que o cara te dá bola murcha, te trata mal, aí você fica pensando... Esses dias fui jogar com a faculdade, nunca vi isso, playoffs, nosso time 4º colocado pegou o 1º e nosso jogo encaixou, mas no final perdemos de 3 pontos. O cara (treinador do outro time), tava puto, fui pra cumprimentar ele ao final e o cara virou as costas e foi embora e não me cumprimentou. Não cumprimentou ninguém. Eu achei tão baixo. Tratando mal os próprios atletas. Eu acho que no Brasil falta mais união na nossa classe de técnicos. Acho que podia ser assim né. Eu chego pra você e falo, pô queria ver um treino seu, tudo bem? Essa troca. Pra nossa evolução. Acho que é algo sério que a gente precisa melhorar. Não precisa ser forçado, um alisando o outro, mas tem que ter mais reuniões, encontros. Juntar os grupos e trazer um cara diferenciado, um técnico com uma coisa inovadora, que todo mundo admira. Mais vezes isso, mais vezes, coisas mais acessíveis pra gente. Mais materiais de estudo.

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- Quantos anos você tem? - 28 anos. - Quanto tempo você atua como treinador de basquete? - Como treinador formado eu atuo há 4 anos, mas eu tive uma experiência antes de me formar, também em atlética de uma universidade e já também não exercendo como técnico em jogo mas, já envolvido né, sempre envolvido. A experiência foi de 3 anos enquanto estava cursando. - Legal! Você jogou também? Foi atleta? Por quanto tempo? - Eu joguei por... contando começo e universitário, joguei por 8 anos. - Como treinador, quais as principais competições que você participou? - Campeonato Paulista, Campeonato Paranaense Estadual, o Sul-americano de Novo Hamburgo, também participei de um Sul-brasileiro quando era assistente da seleção paranaense em 2013 e basicamente isso. - Em relação, aos títulos e prêmios conquistados como treinador? . - Como treinador eu ganhei Campeonato Estadual Paranaense. Isso foi com a categoria Sub-13, ganhei também a Taça Paraná, com sub-13 e sub-14. Fui vice do Sul-americano com essa mesma equipe sub-13 do Paraná. Vice do Campeonato Paulista, campeão Sul-americano com o sub-12. Eu ganhei também o prêmio de melhor técnico, em 2015 lá no Paraná. - Grau de instrução? - Superior Completo. - Bom, agora eu vou começar com relação à sua percepção. O que você acredita com relação às competências necessárias ao treinador. Se repetir alguma, pode ficar à vontade, não tem problema. Quais conhecimentos técnicos e táticos você considera que um treinador de basquete do sub-14 deve possuir? - Domínio de fundamentos técnicos em geral já com algumas variações de finalização, variações de passes, passes com uma mão, passe sem parar o drible, fundamentos técnicos defensivos também, noção de defesa, velocidade de ação. Da parte tática acredito já, hoje eu uso com o Sub-14, praticamente todos os tipos de variação de defesa, mista, individual, combinada, por zona, pressão, no sub- 14. E no ataque também. Eu gosto de jogar em jogo livre, sem jogadas, mas eu já também dentro meu time de sub-14 eu já coloquei algumas variações, alguns conceitos, tanto de sistema, quanto de jogada. - Legal,legal. E o que o treinador deve saber para conseguir ensinar atletas dessa categoria? Às vezes a gente até tem o domínio do conhecimento mas na parte de ensinar... 155

- Precisa saber o nível de desenvolvimento que eles se encontram né, tanto motor quanto cognitivo e eu acredito muito, hoje eu vejo muito mais importante às vezes até do que conhecimento técnico e tático, a parte de gestão de pessoas então, saber falar a linguagem deles, para conseguir passar a informação que eles precisam assimilar. - Sim,sem dúvida. E sobre a instituição, sobre clube, e o setor em que você trabalha? O que você precisa conhecer como treinador sobre a sua instituição? - Eu preciso conhecer o objetivo deles, qual é a abordagem que eles usam tanto com os atletas quanto com os pais, todos os envolvidos e é isso o objetivo da instituição que eu estou trabalhando. - O que um treinador do sub-14, precisa saber para preparar os atletas tanto individualmente quanto coletivamente, pensando em competições? - Eu tento trazer o máximo o ambiente do jogo pro treino, isso seja com o tempo, a pressão do tempo, a pressão do jogo em si, por exemplo: eu acho que é muito válido o menino chutar lance livre durante o coletivo quando ganha uma falta, porque eu acho que só de ter 5 caras no rebote ali, ele não tá sozinho ali, já causa um, traz um ambiente que vai aproximar do que vai encontrar no jogo e é isso. - Na questão de comunicação com seus atletas. O que um treinador de basquete do sub-14 deve saber para se relacionar e se comunicar com seus atletas? - Eu acredito, eu tento ser o mais igual possível com meus atletas. Cada um é um indivíduo, todo mundo é diferente, mas eu tento tratar todo mundo um da mesma forma pra não causar nenhum tipo de desconforto no grupo. Então, eu tento gerir a maior paz possível no meu time, então dificilmente eu exalto ou critíco na frente de todo mundo né, principalmente quando se diz respeito à postura, tudo mais e eu tento manter o grupo em harmonia e se acontece alguma discussão , alguma coisa, na verdade eu tento até evitar algum tipo de discussão entre eles. Eu falo que isso não ajuda a gente, e quando acontece eu tento resolver na conversa com ambos. Já fiz muito diferente, mas ultimamente minha abordagem é essa. - E esse relacionamento com os pais dos atletas? Como que você acredita que funcione bem? - Então cara, tenho, aqui eu tenho alguns desconfortos. Tem um pessoal aí, sempre tem, nunca dá para você agradar todo mundo. Mas, aqui no clube, a gente, é até uma ordem, não é uma ordem, mas é um aconselhamento, é a gente não ter esse contato direto com os pais para discutir coisas de jogo e de treino e então dificilmente chega para mim essas críticas ou esses elogios, sempre passa por algum diretor e eles que acabam resolvendo isso. Mas, eu acabo sabendo. - E o relacionamento com a mídia? Não sei se isso se aplica no sub- 14, mas caso sim, como você lida com essa questão? - É, a gente ultimamente, é como os resultados foram bons, estão sendo bons a gente tá em evidência, tem alguns meios de comunicação, mídias, 156 principalmente Instagram né, no Facebook, o BBall, Rodrigo Garcia, que acaba falando da gente. E no sul-americano teve uma entrevista, mas é na verdade, nem sei lidar com isso, tento, eu não gosto muito da exposição. Eu como pessoa não sou muito. Com os meninos cara, por exemplo: tive agora, foi ontem acho ou anteontem, um dos meninos do nosso time saiu no BBall, que o cara quis fazer uma matéria com ele só, fulano, e aí saiu o vídeo, tudo mais, mas eu nem comentei nada sabe, acabei esquecendo postaram no grupo do Whatsapp e os pais falaram, ah que legal e eu não me manifestei porque sei lá. Às vezes... é porque.. também por mais que os meninos gostem muito desse menino que saiu na matéria, eu acho que acaba um, sentindo um pouquinho de inveja, um, podia ser eu e então para evitar qualquer coisa, eu não falo nada. - E que perfil um treinador dessa categoria deve ter? Na sua concepção, no seu ponto de vista? Um perfil de um treinador do sub-14. - Eu acredito que até os 14, 15 eu, o treinador tem que ser um educador. Eu acho que todos não são assim, talvez até esteja longe disso. Mas, eu acredito que tenha que ser, porque antes de qualquer coisa, os moleques vão ser, os meninos vão ser seres humanos, não é só, não vão ser atletas para sempre. Então, eu acredito que tenha que ser uma abordagem mais voltada ao desenvolvimento pessoal do que só o desenvolvimento atlético, mas acho que é uma opinião bem talvez, que só eu tenho, ou que poucos tenham. - Em, com relação ao tipo de liderança, um treinador do sub-14? - Tipo de liderança. Eu acho que eu tento ser, além de tudo um exemplo, então isso eu não quero que os moleques falem do outro ou discutam com o outro, e eu não vou fazer também. Vou dar um exemplo bem pequeno, mas se eu tiver que no final do jogo, o banco esteja limpo, lá tiver copinhos no chão, eu pego as minhas coisas, jogo ali, e só acho no meu caso é o que eu tento ser, dar esse exemplo primeiro. Se eu quero que eles estejam com o astral bom durante o jogo, eu também preciso estar assim. - E com relação a saber ouvir os atletas, qual a sua percepção? - Bom, no sub-14 é uma coisa que eu tenho até assim, esteja aprendendo ainda a ouvir mais. E eu, sou muito aberto a qualquer coisa que eles queiram falar. Gosto dessa liberdade, dessa autonomia, porque eu treino o sub-12 também, e é totalmente diferente tanto como eles recebem quanto como eles vão lidar com o que você fala e o que tá passando. Então, eu acho que a gente tem que ser bem aberto para ouvir qualquer coisa. Às vezes, acaba que você toma uma decisão mais assertiva ou acaba sendo mais assertivo do que a sua decisão de líder, mas, acho que fora isso sou bem aberto pra ouvir os meninos. - E sobre, como controlar as emoções, um treinador? - Isso é uma coisa, talvez uma das coisas mais difíceis de fazer não só como treinador, como pessoa. Mas, eu acho que a gente tem que controlar sim. - De que formas assim, você consegue fazer ou você acredita que seja interessante um treinador conseguir controlar as emoções? - Cara, eu vou falar para você que eu, pra mim é, nesse ponto da minha vida seja uma das coisas que eu mais me policio, tento fazer, né, eu saber como eu 157 tô, né, eu medito, tudo mais e aí então eu acho pra gente controlar tudo isso, a gente tem que olhar pra dentro, a gente precisa pô, como é que estou me sentindo agora? Se eu estou estressado, se eu tô bem, se eu não tô , se eu tô chateado com alguma coisa, então tenho sempre, dou uma respirada e perceber como eu estou me sentindo, pra não deixar isso atrapalhar. - Com relação ao clube, a instituição, pensando como empresa. Quais normas e códigos profissionais um treinador deve levar em conta nesta categoria? - A pontualidade, que a gente ainda bate ponto, tudo mais. Tem outras categorias, tem outras modalidades e a gente tem que entregar a quadra no horário certo, cuidados com o linguajar, com a abordagem com os meninos. Enfim, postura, acho que para instituição é o mais importante. - Tem algo a dizer sobre atualização profissional e formação adicional? - No começo da minha formação eu fiz alguns cursos, palestras e tudo mais. Mas, vou ser bem sincero, que hoje não tô buscando. Minhas atualizações são vendo jogo, assistindo jogo tanto das categorias de base como dos profissionais, é mais por esse lado, vendo vídeos, mas nada muito formal. - E sobre aspectos éticos e fair play nessa categoria. O que você considera importante conhecer e transmitir aos seus atletas? - Cara, eu sou totalmente a favor de qualquer tipo de fair play e também da ética porque se eu falei que eu quero ser um educador, né, se eu quero educar os meninos e dar o exemplo, então tem que começar pelo jogo, então eu acho que é importantíssimo isso, tanto pro basquete, pro esporte como também pra nossa sociedade em si. - Pensando nos valores pessoais que você acredita. Quais valores que você acha que são importantes para a sua atuação? - Então como eu falei, eu acho que a gestão de pessoas é o que eu acho que é mais importante. Eu acho que mais importante para um técnico e também fazer com que os meninos queiram se desenvolver tanto como atletas como pessoas, né, isso que eu busco. Eu quero ganhar, eu quero ser campeão, mas eu sempre falo para eles que o que menos importa é o resultado, principalmente para eles. - Justamente a pergunta na sequência é um pouco do que você abordou agora. Quais competências para a vida você acredita que os treinadores nessa categoria poderiam auxiliar os atletas a desenvolver? - Esforçar-se ao máximo. O resultado é o que menos importa. O que importa é o caminho. Eu quero ver a dedicação, o esforço deles, pra quando eles lutarem por um emprego, por outras situações semelhantes, o fato de ter jogado basquete, ajudar eles nessas situações. - E em termos de planejamento e gestão.O que um treinador de sub-14 precisa saber e considerar para o longo da temporada? - Então cara, vou ser bem sincero com você, planejamento, eu não sou um cara que planeja muito as coisas, então o planejamento dessa temporada foi feito pelo preparador físico, com relação a cargas e enfim com a parte física 158 dos atletas e aí eu segui o planejamento dele, colocando daí o que eu queria passar em cada momento da competição. E, também muita coisa foi mudada, muita coisa fui sentindo e fui adaptando. Às vezes, você faz um jogo num 1º turno com um time que você percebe uma coisa e aí você já está esperto pro 2º turno. Você sabe, que aquele cara daquele time joga de tal jeito, encaixa uma defesa melhor, vai ao longo do caminho vai se ajeitando mesmo. - E você acredita que nessa categoria o treinador deve saber demonstrar algum tipo de gesto técnico para os seus atletas? Se sim, quais? - Eu acho que não é decisivo isso, não é o mais importante, mas acho que é bom até para você passar um pouco de credibilidade, porque pro menino que não sabe eu que jogava, eu acreditava nisso, hoje em dia não acredito mais, pela aparência né, mas pô, o que esse moleque sabe de basquete, aí se eu mostrar, eles acabam que aceitando melhor o que eu estou passando pra eles. - E sobre o uso de tecnologias? O que você considera importante saber? - É a gente tem, todos os jogos o nosso preparador físico faz um scout pelo aplicativo de Tablet, faz um scout do jogo, e manda pro grupo dos atletas, depois do jogo, a gente tem esse feedback logo em seguida, quando acaba o jogo depois e também o Whatsapp para se comunicar. - No seu ponto de vista, como que o treinador do sub-14 deve agir para criar e manter um ambiente adequado de trabalho? - Não que eu tenha feito isso, na verdade nem me recordo, mas acho legal uma conversa inicial para você passar mais ou menos a postura dos atletas que você espera durante o ano pra criar esse ambiente e ser sincero em relação aos valores que você acredita e o que você espera que eles tenham também para continuar seguindo com esse ambiente. - Como você consegue se manter motivado ao longo da temporada, ou para o seu trabalho, aqui? Que estratégias você usa ou que formas você acredita que os treinadores conseguiriam se manter motivados? - Ah.. eu gosto muito de dar treino, gosto muito de tá em jogo. Eu me sinto bem fazendo isso, então eu acho que essa é a minha maior motivação né, e também como eu falei a motivação de ver os meninos crescendo como atletas, como pessoas então isso também é uma coisa que pra mim é muito gratificante de ver a evolução dos meninos, ver que eles já não tão mais se lamentando porque é uma coisa que eu tenho que passar para eles é que já estão absorvendo as coisas que você passa. - E com como manter os seus atletas motivados? - É aí , vai um pouco mais pro lado do resultado né, mas eu também sigo essa linha de que eu falo pra eles depois de uma derrota por exemplo, do campeonato estadual eu tentei motivar eles porque a gente fez um jogo muito bom, a gente teve momento do jogo que foi pra mim foi fantástico o jeito que eles estavam jogando, que eles estavam se portando em quadra e aí acabou que a gente perdeu o jogo mas eu acabei falando que, pô a gente perdeu uma final e não era o que a gente queria, a gente queria ganhar, mas é só um detalhe, o resultado é uma coisa que a gente valoriza muito, mas que é só um 159 detalhe, só ganha um, é um funil gigante, né cara. E não é na derrota que põe tudo a perder. É a partir da derrota, que a gente tira boas lições também! - Acho que você até já comentou um pouco, mas gostaria de saber se você costuma fazer reflexões e análises sobre seu desempenho, como treinador? - Bastante. - Que tipo de reflexões e análises? - Ah.. geralmente, me vem na cabeça alguns momentos de jogo, por exemplo, principalmente de jogo, né? Fica mais, marca mais, e aí eu acabo pensando o que, que eu poderia fazer de diferente, como poderia agir de uma forma diferente então, pra mim a reflexão é feita desse jeito, assim mentalmente só, eu não escrevo nada, mas é bem forte isso. - Legal! E para finalizar como que você dá feedback aos seus atletas, do sub- 14? - Isso eu acho que é uma coisa que eu preciso melhorar, porque é dificilmente eu, eu gosto às vezes de elogiar quando por exemplo, o time ou o atleta faz alguma coisa que eu julgo ser boa, um movimento bom ou errando uma finalização que poderia ter acertado e aí a hora que eles se lamentam, eu valorizo mesmo assim, pra ele perceber que o resultado não foi como eu esperava mas que tá no processo, o caminho foi bem feito, mas assim no jogo eu elogio mais do que no treino e esses feedbacks eu ... eu costumo dar algum feedback ou outro individual, ás vezes em grupo também mas eu acho que é importante, mas ás vezes eu acho que falta, talvez um pouco mais de feedback do que eu esteja dando. - Muito bom! Existe mais alguma competência que você considera importante ou algo que você gostaria de comentar quantas competências necessárias aos treinadores de basquete, considerando o 14. - Não cara, eu só queria dar ênfase nessa parte de gestão de pessoas. Na importância do técnico querer fazer a pessoa que ele tá lidando querer se desenvolver como pessoa, como pessoa. É muito mais do que um jogo, né? É eu acho que isso é o mais importante. Porque eles sendo o melhor que eles podem ser como pessoa, eles vão acabar sendo no basquete e em qualquer outra fase da vida deles, isso é o mais importante! Valeu cara, show de bola, era isso aí. Muito obrigado pela participação.

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- Quantos anos você tem? - 57 anos. - Quanto tempo de experiência como treinador de basquete? - Desde 1982, no primeiro ano de faculdade. - Foi atleta de basquete? - Eu fui jogador de 1968 à 1979. Parei, entrei na faculdade em 1982. Voltei a jogar de 1985 a 1989, Adulto, categoria A-2 e A-1. Sempre pela FPB. - Quais foram as principais competições e campeonatos disputados como treinador? - Disputei Torneio Início, Metropolitano, Estadual, Rossello (Torneio Internacional Alberto Rossello). - E com relação aos títulos conquistados como treinador desde o início da sua carreira? - Em dois anos melhor do ano (1998 e 2004), ganhei uns 5 ou 6 Estaduais como técnico, uns 5 ou 6 metropolitanos e uns 4 Torneios Início. - Grau de instrução? - Superior. - Vou iniciar agora algumas perguntas e gostaria que você considerasse suas respostas de acordo com a categoria que está no comando neste momento. - OK. - Quais conhecimentos técnicos e táticos você considera que um treinador de basquete no Sub-14 deva possuir? - Olha, conhecimentos técnicos, um cara de Sub-14 tem que saber primordialmente fundamentos. Como ensinar, processo pedagógico, ensinar a passar, a arremessar, marcar, bandeja, ajuda, tudo. Isso é a base do jogo. No Sub-12, 13, 14 o jogador tem que saber jogar um contra um. Se ele não tem isso, pode até ter situações de cesta boa, mas ele não faz cesta. Táticos.. jogo livre que eu acredito, movimentações abertas, no Sub-14 a gente coloca corta- luz na bola, corta-luz sem bola. Só que aqui no Brasil a gente (treinadores) não adota muito a linha argentina ou espanhola que é individual, individual! Então os caras falam, "não, tem que ser campeão então pode marcar zona, pode fazer isso, ou fazer aquilo". Então, por exemplo, eu dirijo o Sub-14, eu ensino a jogar contra zona, a sair de pressão de pressão zona, mas eu não uso nem pressão zona e nem marcar zona. Eu ensino eles pra treinar, mas eu só marco individual. Nessa idade você tem que desenvolver o um contra um do atleta. Depois, lá pra cima é outra situação. Mas no Sub-15, como a seleção já joga contra zona, eu estou mudando um pouco a minha ideia pra fazer isso. Porque se eu tenho um atleta de seleção no Sub-15, ele chega despreparado. - O que um treinador do Sub-14 deve saber para conseguir ensinar seus atletas? - Olha, hoje eu tenho muitas críticas à Faculdade. Ele tem que saber processos pedagógicos. O curso de faculdade hoje não ensina processo pedagógicos. 161

Então o cara chega aqui, gosta de basquete, mas o cara não sabe fazer um fundamento. Ele não precisa ter sido atleta, mas ele precisa saber fazer uma bandeja, saber que o punho, tem que quebrar o punho. Ele só vai aprender isso na hora que faz um estágio. A faculdade não ensina mais. Não tem mais aquela aula na faculdade que você faz direita, esquerda, não existe mais isso. É um semestre, pronto e acabou. Então assim, o que acontece é que o ex- atleta leva uma vantagem quando ele faz Educação Física, leva uma vantagem sobre o cara que nunca jogou. Porque ele sai totalmente despreparado da faculdade pra ensinar basquetebol. - O que um treinador desta categoria deve saber sobre a instituição e o setor em que trabalha para desempenhar suas funções? - Tudo! Do trabalho e do lugar que ele trabalha ele tem que saber tudo. Ele tem que saber história, tem que saber como pensa o presidente ou o gerente, como é o público que ele trabalha, qual a situação atual do clube. Porque se não ele está fora do contexto. Há um tempo atrás os clubes em geral davam muito mais apoio, então podia ter investimento, podia ter times fortes. Hoje eu já não posso fazer isso. E eu não posso bater na ponta da faca. As coisas são cíclicas. Um dia é o clube X que tá em cima, outro dia é o clube Y. Eu já vi o clube Z ser muito ruim e hoje ele é top. Então são coisas cíclicas. As coisas mudam! - O que um treinador de basquete desta categoria deve saber para preparar os atletas, tanto individualmente como coletivamente para as competições? - Ele precisa saber parte técnica, precisa saber a parte tática, precisa saber a parte psicológica de como fazer isso, precisa saber como montar uma equipe e não um catado de jogadores, precisa ensinar principalmente hoje que é um time e não um jogador, porque a NBA traz um outro conceito, eles só olham o bambambam e não olham o obreiro que está em baixo catando rebote. Então falar "não amigo, você não vai chutar (arremessar) tudo". Então, a NBB de uma certa forma tá copiando muito a NBA, o que não é o nosso jogo. O nosso jogo sempre foi mais o estilo europeu. E aí quebra um pouco a nossa perna, porque parece que eu tô ensinando um basquete que não existe. O menino tem parâmetros totalmente diferentes, então parece que eu tô ensinando um outro tipo de basquetebol. - O que um treinador de basquete desta categoria deve saber para se relacionar e se comunicar com seus atletas? - Vamos lá. Primeiro, a juventude de hoje é uma juventude diferente de 15 anos atrás. Mas uma coisa não mudou. O limite é essencial. E quem manda aqui sou eu! Se você não aceita isso, a porta da rua é serventia da casa, você pode ir embora. Porque isso aqui é um esporte e ele é disciplinador, ele ensina muita coisa pra vida. Porque quando sair daqui, você vai bater lá no chefe e quando você não fizer as coisas ele vai te mandar embora. E aí assim, quem manda sou eu, você vai fazer o que eu quero. Se você não faz, senta (no banco de reservas). Ah, mas eu... O que? Você quer falar? Senta! E hoje o jovem não tem limite em casa, no colégio. Então, aqui você vai bater em muitas coisas que até você disciplinar o jogador, até você ... leva meio ano. E quanto mais novo pior. Então desde cedo é bom já estar em cima. E aí você tem um problema. Os pais que não aceitam. E aí você tem que disciplinar aqui (apontando para a quadra). 162

- E aí eu já aproveito e entro na próxima pergunta, como é essa relação do treinador com os familiares dos atletas no Sub-14? - Senhora, a senhora não está satisfeita? (e aponta para a porta de saída do ginásio). Pelo menos é a minha. Funciona da mesma forma. Hoje veio uma mãe falando, "ah, meu filho vai para o time X". Eu disse "Ok, o time X nos paga os R$2000 (que é uma valor instituído pela FPB recentemente na tentativa de minimizar que um time tire jogadores de outro time). Ela pergunta: "você não vai dar carta de liberação?" Não. Eu investi no seu filho no Sub-11, Sub-12, Sub-13 e Sub-14 e agora ele sai simplesmente assim. R$2000 que o time que quer ele vai ter que pagar. Se essa é a sua decisão, agora isso é um problema da senhora. Não é mais meu. Fiz tudo que eu podia. Aí as pessoas se sentem ofendidas. Então os pais ficam.. reclamam que o filho não joga. Eu digo, "senhora, é assim", porque hoje por exemplo, a gente fez teste aqui (seletiva ou peneira) e o pai torceu no teste. Eu falei assim: "senhor, sem torcida por favor. teste não tem torcida, só jogo tem". Os caras não tem limite. Você precisa por limite. E era um pai que deveria ter noção, que o filho não entrou agora no basquete. Aí depois disso eles (gesto com a mão de acalmar, de sentar). - E com os dirigentes? - Então, hoje já há 4 anos eu tenho um dirigente que foi técnico do Clube X e professor da escola Y, que joguei contra ele muitas vezes, um professor de Educação Física. Pô, show de bola. Não tenho problemas. Mas eu tive um outro dirigente que não era da área e falava "os sócios do clube tem que jogar." Eu respondia "mas ele não treina!" E o diretor, "mas sócio tem que jogar". Eu perguntava "e a meritocracia?". E ele "quem manda aqui sou eu". Daí você quebra, porque os outros jogadores percebem que o sócio não vem treinar ou treina meia boca e vai pro jogo. E aí você começa a engolir o sapo pela perna. Você vai perder o emprego? Melhor não né? E aí você deixa o sócio jogar uns 5 minutos, as vezes você não põe e toma uma bronca. E o cara (dirigente) queria resultado ainda. É difícil. - Com a mídia? - Tudo aparece! Os pais filmam. Os pais tiram fotos. Os moleques postam. Eu tive um pai, por exemplo, o menino joga bem, veio de outro Estado, era o bambambam lá do Estado dele. Aqui também foi bem, foi o quarto cestinha do campeonato. Só que o pai postava tudo e enchia a bola dele e cestinha e não sei mais o que. E o time começou a ficar com aquilo (mão no pescoço, tipo sufocando). Eu cheguei pro pai e falei assim "lembra que aqui não é outro Estado, tem jogador tão bom quanto ele. Menos, menos". Porque você gera um problema. Tanto que na parte do início do ano o time gelou o moleque. O moleque não passava a bola pra ninguém. Lá ele não precisava passar, aqui é diferente. Chegou no final do ano, o cara já tinha aprendido um outro tipo de jogo, uma outra coisa. - Que perfil um treinador desta categoria deve ter? - Ele tem que ser paizão, ele tem que ser agregador, mas ele tem que ter mão firme, ele tem que fazer os atletas respeitarem ele, ele tem que fazer o time jogar por ele e ele tem que ser VERDADEIRO! Então assim, eu meto dedo na 163 cara do meu jogador e falo um monte. Mas eu digo pra eles que eu não falo mentira. Se eu tiver que falar, eu vou falar na sua cara. Você está jogando horrível! Você não pegou um rebote. Eu mandei fazer isso, você não fez, então vai pro banco! Na lata. Daí ele senta no banco. Daí acaba o jogo tá tudo beleza. E outra coisa, os meus meninos eu arregaço eles no treino. Acaba o treino eu pergunto "e aí, beleza? como tão as coisas". Eles entendem que lá (apontando pra quadra) é uma coisa e aqui (fora da quadra) é outra coisa. Então não tem mimimi. Treino a porrada come. Fora do treino, tá tudo certo. Tem um equilíbrio. Eu no treino sou uma coisa, fora de quadra sou eu mesmo. - Poderia nos dizer algo sobre o tipo de liderança? - Você tem que ser um exemplo. Você não pode fazer besteira. Você não pode postar em mídias sociais você enchendo a cara. Você não pode por você em balada em mídia social. É muito complicado. Tem que andar na linha. Ou se você não anda na linha, você não filma nada. Porque os caras mexem nas suas mídias, os caras olham. Por exemplo, você entra em alguma mídia minha, tem uma piada, um comentário sobre educação, muitas fotos de times. Zoeira, não tem. Tem que ter uma postura. - E sobre saber ouvir os atletas do Sub-14? - Então vamos lá! Sub-12 e Sub-13 você cala a boca e faz o que eu mando. Sub-14 eu finjo que te escuto. Sub-15 eu posso tentar te escutar. Apesar que eles falam algumas coisas e você até escuta. Agora, é muito difícil ter um jogador nessa faixa etária que chegue pra você e fale assim: "olha, professor não tá dando certo" e já justificar o porque. Não, eles chegam pra você e "não tô conseguindo". Então o treinador tem que dizer "você faz isso, isso e isso". É diferente do Sub-16 e Sub-17 que você escuta. No Sub-14 eles falam que não estão conseguindo e não está dando certo, mas não sabem por que. Eles ainda não tem essa visão total. - E sobre como controlar as emoções? As suas emoções como treinador? Eu aprendi muito viu! Eu era um louco. Agora eu estou um cara mais tranquilo, mas as vezes ainda saio um pouco da linha, solto palavrão. Falo de um jeito pra mexer mesmo com eles e até pros pais ouvirem. Precisa as vezes de uma chacoalhada. Daí vem uma reação de dentro pra fora. Mas hoje eu sou.. dificilmente eu tomo técnica (falta técnica). Sou um cara tranquilo no banco, incentivo muito, falo muita coisa. Mas perto de 20 anos atrás, meu Deus do céu. É uma outra pessoa. Evolui! A gente evolui. - Quais normas e códigos profissionais um treinador deve levar em conta nesta categoria? - Ética profissional, o que eu já falei sobre ser verdadeiro o tempo inteiro. Você não vai jogar por causa disso, disso e disso. Você tá fazendo errado, isso, isso e isso. Não passar do limite, não extrapolar né? Sempre mostrar pra eles, por exemplo, as vezes a gente xinga e fala palavrão mas eu nunca falei um palavrão pra um atleta fora das quatro linhas. Então, quando você conversa com o atleta no fervor do jogo que se exalta e tudo mais. Mas no final do jogo, você chama ele e fala "vem cá, ó esquece, quadra é quadra". Nunca encostei a mão. Tem uns limites que você precisa.. ética profissional. Todo mundo é igual, quando você puder dar uma chance pra todo mundo jogar. Tem jogo que você não consegue. Aí é outra situação. No Sub-14 você começa a tirar o 164 protecionismo. No Sub-13 ainda joga só 2 quartos. No Sub-14 já pode jogar 30 (minutos). - Tem algo a dizer sobre atualização profissional e formação adicional? - Então, acho que hoje a atualização profissional, além de cursos e tal, hoje tem muita mídia, tem muita coisa que você busca na internet, que você vê, então você consegue se atualizar se você quiser estudar sem ser um curso, sem ser uma faculdade ou um curso de pós. Você coloca lá (no buscador da internet) "jogadas Flex", pô, vai aparecer uma porrada de coisa da Espanha, da Argentina.. "método de treinamento da Sérvia", pô vai aparecer um monte de coisa. Então você pode desenvolver conhecimento sem ter muitas coisas assim catedráticas né. - E sobre aspectos éticos e Fair Play nesta categoria? O que você considera importante saber e transmitir aos atletas? - Olha já vou te falar que não tem nenhum. Não tem nenhum. É tudo competitivo. É porrada. Por mais que você transmita, os outros não tem. A nossa categoria (categoria dos treinadores neste caso) não tem, a nossa categoria não é uma categoria unida. Pode ser que tenham caras que tenham um conceito diferente de mim. Você até conhece e conversa com outros treinadores, mas chegou na quadra acabou. É competição. E assim, eu aprendi com o tempo, se você está ganhando de 30 pontos, recua a pressão, deixa os caras passarem o meio da quadra. Eu entendo que é assim, que não precisa aumentar pra 50 (pontos de diferença), pra 70. Eu na minha experiência, abriu 20 pontos, 30 pontos, pô marca individual. Putz, caiu pra 15, vamos lá (e gesto com a mão de subir a pressão). Eu não preciso mais disso. Mas a gente vê. - Mas você acha que se de repente, se começássemos a ter algo mais assim de treinadores pensarem em aspectos éticos e Fair Play.. - No Brasil? - É. - Não. Não vai rolar. Não vai rolar. A gente num ano conseguiu tirar o campeonato do Sub-12 e dois anos depois puseram de novo porque falaram que iam perdem o emprego. A gente fazia só festival, era lindo, jogava só individual. Mas os caras marcavam zona! Em festival velho! Que medalhava todo mundo. Bem light. - Quais valores pessoais você acredita que sejam importantes para atuação profissional nesta categoria? - Ah cara, tem que adorar fazer isso aqui. Tem que amar fazer isso aqui. Se não, não tem saco que aguente. Tem que ser apaixonado pra fazer isso aqui. Esse é o maior valor. Conhecimento tudo bem, é importante, mas se você não amar vir pra quadra e dar treino... de repente você está de saco cheio e você fala, pô tô de saco cheio, mas vamos trabalhar, aí você põe o pé na quadra e você olha pros moleques e fala, opa, não, vamos trabalhar, precisa trabalhar! Então você entra no clima. Tem que amar aquilo que você faz. - Quais competências para a vida você acredita que os treinadores desta categoria poderiam auxiliar os atletas a desenvolver? - Tudo. Disciplina, comprometimento, coisas simples do dia-a-dia, horário, respeito, respeito ao companheiro, respeito ao técnico, nunca desistir não 165 interessa o placar, então a coisa tá difícil, vamos lutar. Estamos perdendo de 20 (pontos), vamos lutar pra perder 10. Sempre com um objetivo das coisas. Isso é o mais importante, porque assim que você faz virar gente. Eu tive uma conversa, uma reunião com um time meu de uns 20 anos atrás, fomos numa pizzaria, estavam vários ex-atletas. E aí um deles virou pra mim e perguntou assim: "treinador, o que você sente quando vê todo mundo assim, depois de tantos anos?" Eu respondo, "poxa, sério que você está perguntando isso pra mim?". E ele "é porque só um de nós virou jogador". Eu falei, "cara, eu sinto ORGULHO, eu sinto ORGULHO. Eu fiz vocês virarem homens". Esse é o grande objetivo disso. Constituir família, você não virar bandido, você não virar drogado, o objetivo é esse. Um é CEO da empresa tal, o outro é engenheiro não sei o que, outro mora nos Estados Unidos porque trabalha na empresa tal. O outro tem uma loja do ramo de alimentação. E eles me falaram: "poxa treinador, eu nunca pensei nisso. Achei que você era frustrado porque só um tinha virado jogador". O objetivo é esse! Sempre foi esse! Eles tomaram um susto na hora que eu falei isso. Mas o objetivo é esse! - Que bacana! Pensando agora em termos de planejamento e gestão pro sub Sub-14 ao longo da temporada, o que um treinador precisa saber? - Ele tem que conhecer muito de como são os times, como é o campeonato, como vai ser a carga de treinamento, quando vai ter folga, qual vai ser a intensidade... Se ele não tiver uma boa bagagem disso, ele vai penar. Ele pode arrebentar o time antes, pode causar lesões. Ele pode achar que o pico (de intensidade e volume de treinamentos) pode estar no lugar bom, mas de repente o pico está muito baixo pra uma fase do campeonato, ou de repente tá alto demais. É isso que ele tem que pensar. - Você acredita que nesta categoria o treinador deva saber demonstrar algum tipo de gesto técnico para seus atletas? Se sim, quais? - Ele precisa conhecer. Demonstrar não. Porque eles (atletas) acabam chegando já sabendo a maioria das coisas e precisam melhorar. Tá errado o pé, tá a mão, o pé é assim, a mão é desse jeito. - O que os treinadores do Sub-14 devem saber sobre o uso de tecnologias? - Tudo. - Em que sentido assim? - Pô, assim... Eu tenho dificuldade tá! Não vou mentir. Mas você precisa conseguir editar um vídeo e jogar no WhatsApp o que você quer. É isso que os caras (treinadores em geral) fazer hoje. Mas dependendo da equipe, você não tem uma pessoa na comissão técnica e acaba que você que tem que fazer. Então você precisa saber pra poder facilitar sua vida. - Como o treinador deve agir para criar e manter um ambiente adequado de trabalho nesta categoria? - Cara, assim... você tem que ser o exemplo. Você não falta, você não atrasa, você sempre está vestido adequadamente, você sempre é o primeiro a chegar, você sempre é o último a sair. Quando o time chega, você está lá, com o material pronto, vestido corretamente. Então, se o menino faltou, eu pergunto, "faltou por que?", "está atrasado por que?". "Eu (treinador) não tô atrasado". Então, você vai dando esse tipo de demonstração o moleque começa a ficar 166

(faz uma cara de atento). No início intimidado. Depois ele começa a criar responsabilidade! E saber como funciona. - Como manter-se motivado em seu trabalho junto a esta categoria? - Ah, mas nem só como treinador. Se eu não estiver motivado, não me interessando pelo jogo, cara, desiste. Ontem fui disputar sétimo e oitavo. Cara, gritei que nem um louco. Eu queria medalha! - E como fazer pra estar nessa pegada? - AMAR velho!! Tem que amar isso! Querer ganhar o jogo! É um jogo! Eu tô aqui por que é um jogo! - E como manter seus atletas motivados? - Você não vai correr? (como se o treinador estivesse perguntando ao atleta). Sai!. Demonstrar que você quer! Você tem que insuflar o seu atleta. Se não, não adianta nada. - Você costuma fazer reflexões e análises sobre seu desempenho como treinador nesta categoria? Se sim, quais? - Obviamente! Isso em qualquer categoria! - Que tipo de reflexões? - Como foi o ano? Eu consegui o resultado que eu queria? Os meus atletas evoluíram? O meu time chegou no máximo? Eu dei tudo que eu podia? Meus atletas fizeram tudo que pedi? Por exemplo, teve um ano que eu fiquei em sétimo, eu ganhei do sexto, eu não ganhei do quinto, ganhei do quarto, eu ganhei do terceiro, não ganhei do segundo e ganhei do primeiro colocado. E eu fui o sétimo. Time chato pra caramba o nosso. No início do ano a gente não tinha jogador praticamente. Como que eu vou falar que a gente não fez um baita ano? Que foi um time ruim? Time de anão, que ninguém esperava nada. E ganhamos de times que custavam 4 paus por ano (R$4000). O meu custava zero. Então, meu ano foi bom. Foi ótimo. E ainda teve dois jogadores que machucaram. - Como que você dá feedback aos seus atletas? - Do mesmo jeito que eu falei isso pra você. - Assim? Que nem a gente está conversando agora? - Isso! Numa boa. Sem ser na quadra, eu não grito. No vestiário sim, num intervalo. A não ser que você perca um jogo, que você vai dar um esporro no vestiário. Mas no geral é faltou isso, faltou aquilo, eu não grito. Bem tranquilo. - Existe mais alguma competência que você considera importante, ou algo que você gostaria de comentar quanto às competências necessárias aos treinadores de basquete? - Cara, a gente (treinadores) precisava ser uma classe um pouco mais unida. Mais coesa. Não adianta cornetar o técnico da seleção brasileira. Não adianta os caras de Adulto cornetar a base e os caras da base cornetar os de Adulto. A nossa estrutura tá errada. A gente precisava colocar os colégios mais participantes. Mas isso é utopia tá. Esquece. E a classe é muito dividida pra começar a exigir algumas mudanças nesse sentido.

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- Quantos anos você tem? - 50. - Quanto tempo de experiência como treinador de basquete? - 30. - Foi atleta de basquete? - Fui. Por 3 anos. - Principais competições e campeonatos disputados como treinador? - Campeonato Paulista (FPB), Campeonato Brasileiro de Seleções, Brasileiro de Clubes, Universitários, Jogos Jurídicos e campeonatos escolares - Principais títulos e prêmios conquistados como treinador? - Já fui campeão pelo Sub-12, vice campeão no Sub-14 e Sub-15. Fui melhor do ano duas vezes. Campeão estadual duas vezes também. Vice do estadual umas três vezes. Terceiro com o Sub-17, terceiro no Sub-16. Isso de FPB. No universitário fui tetra campeão dos Jogos Jurídicos. Conseguimos alguns acessos pra subir de divisão. E escolar também tem várias copinhas e torneios. - Grau de instrução? - Formado em Educação Física e tenho Pós Graduação em Ciência do Esporte. - Quais conhecimentos técnicos você considera que um treinador de basquete nessa categoria deva possuir? - Até o Sub-14, eu acredito que o conhecimento é muito mais técnico, tem que focar muito mais no técnico do que o tático. Óbvio que o tático é importante mas nessa faixa etária é aquele negócio de você formar o jogador. Então você tem que colocá-lo em várias situações, até pra jogar em várias posições. Porque nessa faixa etária você não determina que o jogador vai ser um armador ou um pivô ou um lateral, porque está no início, né. E as vezes você limitá-lo a uma determinada função você acaba matando a carreira dele. Tem muito aquele caso do garoto que joga de pivô porque é grande no Sub-12, chega no Sub-16 e não sabe bater bola, não sabe passar a bola. Então eu acredito que tenha que ser muito mais técnico que tático. O tático é uma coisa... é mais básico. O tático vai vir na sequencia. O tático coletivo. Óbvio que o jogador vai ter o tático individual. - O que um treinador deve saber para ensinar atletas dessa categoria? Pra ele conseguir passar o seu conhecimento? - Acho que cada idade tem a linguagem. Então ele vai ter que entender a linguagem do garoto de 14 anos. E isso muda também com o tempo. A gente vive num mundo que é digital, então você vai ter que se adaptar a trabalhar com isso e usar a linguagem deles. A linguagem é importante, como você vai atingir o jogador. Que mais... A maneira como você vai lidar, você não pode ter uma cobrança exacerbada, até porque hoje a mulecada eles sentem muito quando você cobra. Uns 8 anos atrás era diferente. Hoje se você começa a pegar pesado com o menino nessa fase com cobrança ele vai sentir e vai querer parar. A pessoa não é tão persistente, né. As vezes o fato de você ter 168 jogado ajuda, não quer dizer que seja primordial. Mas ajuda, porque o esporte tem uma linguagem própria, né. Conheço técnicos que nunca jogaram que são bons. E o inverso também, cara que foi campeão em tudo quando jogava mas não consegue transmitir. - O que um treinador desta categoria deve saber sobre a instituição e o setor em que trabalha para desempenhar suas funções? - Da instituição ele tem que conhecer o máximo possível. Cada clube, cada escola é diferente, eu trabalhei em clube de colônia árabe, num clube judaico, trabalhei num Instituto que não é um clube, então cada um tem a sua característica e você tem que entender isso daí. Eu tive que aprender um pouco da cultura de cada lugar que eu passei até mesmo pra entender costumes, dias que não se treinava. Então tem coisas que você tem que ir adaptando até pra você conseguir desenvolver seu trabalho. Isso é primordial, saber aonde ele (treinador) está indo e qual a filosofia de trabalho do clube, o que é o clube. Já trabalhei em clube de futebol, que a paixão é outra, né. São coisas que você tem que estar por dentro, tem que saber onde você está e onde você está pisando, senão pode ficar complicado. - O que um treinador de basquete desta categoria deve saber para preparar os atletas, tanto individualmente como coletivamente para as competições? - Ah, como eu falei, da parte técnica os fundamentos básicos, drible, passe. E nessa faixa etária você já consegue trabalhar algo mais avançado nessa parte de fundamentos. A parte psicológica é importante, os campeonatos começam a ser, não vou dizer que são mais disputado mas as regras mudam. Por exemplo, no Sub-14 você não precisa jogar o mesmo time 20 minutos. Então, você tem que trabalhar isso na sua equipe, porque vai ter aquele jogador que vai jogar 10 minutos ou que não vai jogar e isso você tem que saber trabalhar com o grupo pra manter esse jogador motivado, aquele jogador que joga 30 minutos motivado, então essa parte psicológica. A arbitragem já trabalha de uma outra maneira. Eu tive caso de jogador que hoje joga Adulto e que quando estava no Sub-14 em jogo difícil que não conseguia segurar a bola. Então é um trabalho psicológico muito grande. Você tem que ter a paciência. Tem que entender que o traço psicológico dele é diferente do outro. Então alguns você vai dar uma bronca e ele vai reagir bem. Outros não vai reagir. Quanto mais você brigasse com ele, mais perdido ele ficava. Tem que ter esse feeling. - O que um treinador de basquete desta categoria deve saber para se relacionar e se comunicar com seus atletas? - Olha, por experiência, tem vezes que você se torna meio pai. Ainda mais hoje que tem muitos (atletas) que tem pais separados, daí tem aquele que o pai não vê, aquele que o pai e mãe brigam muito. E você acaba passando uma grande parcela de tempo com eles. Treinam 3 ou 4 vezes (por semana) com você, né. Então as vezes você acaba exercendo esse papel de pai. Tem o lance do amigo só que você não pode confundir. O amigo é o garoto da idade. Eu digo que faz esse papel de pai porque você vai ser aquele cara que vai dar os conselhos mais de cima, vai ter hora que vai ter que jogar mais pesado com ele, vai ter que tirá-lo, vai ter que dar uma suspensão se for o caso, já o amigo vai estar só apoiando. Não um pai babão, um pai que tem que elogiar na hora certa e tem que dar uma bronca na hora certa. Então nessa faixa etária eu acho que depende muito disso. As vezes quando você acaba encontrando 169 garotos que foram seus jogadores com 14, 15 anos e hoje aí já são pais de família, já teve vários assim que eu dei punições e eu falava "quando você for pai você vai entender" e agora quando eu encontro eles falam "agora eu entendo o que você fez comigo naquela época". E as vezes são coisas que você nem lembrava mais. Você não vai entrar na vida do atleta, mas a partir da hora que você percebe que alguma coisa de fora está atrapalhando, você tem que intervir. Porque no fundo a gente é educador, né. Você não vai ensinar só o basquete, o basquete é um meio que você vai ter que ensinar a viver pra ser um homem, uma mulher, o que seja, com valores enfim. Tem as coisas alegres como também você vai muitas vezes ter que dar uns puxões de orelha. - E com os familiares dos atletas? - O que ocorre as vezes, dependendo de onde você está, as vezes você trabalha num local em que a classe socioeconômica é média-alta, ou alta, então a abordagem, a comunicação até o vocabulário que você vai usar é um. E as vezes você vai trabalhar misto, você vai ter aquele garoto que vai passar férias em Miami e aquele garoto que não passa férias em lugar nenhum porque não tem dinheiro. E as vezes você vai trabalhar com um pessoal de classe mais baixa e não adianta você chegar lá com um vocabulário rebuscado que vão ficar olhando pra você e não vão entender nada do que você está falando. Mas tem que ter noção qual o público que você tem e como você vai trabalhar, como você vai se comunicar não só na linguagem mas em tudo, né. Exemplos que você vai dar, parte cultural, então você tem que saber o meio que estão os garotos pra que você consiga se comunicar bem não só na linguagem mas no geral, no gestual, na parte de cultura, enfim. - E com os dirigentes? - Acho que é a parte mais difícil pro técnico, porque normalmente o dirigente é um pai. Na maioria das vezes do clube. Então o diretor do Sub-14 é o pai do Zezinho, aí o Zezinho as vezes é o melhor jogador ou as vezes o Zezinho é o sócio que é o pior jogador que você vai ter que colocar (no jogo) porque ele é seu dirigente e você vai ter que achar, né, uma situação de fazer com que o Zezinho se torne importante no grupo. E que não é fácil. O dirigente muitas vezes age como pai, ele pensa que como o filho dele tem mais 11 meninos ali que vão ajudar o filho dele a jogar basquete. Então as vezes ele não entende que o filho dele está dentro de um grupo, ele tem um papel dentro de um grupo e que as vezes o papel dele no grupo não é de protagonista. Isso é complicado, porque o dirigente-pai as vezes tem objetivos diferentes do que você tem. Ele vai ver sempre o caso do filho. - Com a mídia? - Isso eu até estou me adaptando bem, né, porque mídia hoje social ela é mais atuante. Mídia antes era TV, rádio e você ia dar uma entrevista se ia jogar no interior, hoje não, eles fotografam e põe no Instagram de qualquer coisa. Então até nisso você tem que saber o que falar, como falar, porque as vezes você vai fazer um comentário e você não percebe que isso acaba afetando a sua instituição. As vezes você vai fazer um comentário sobre seu dirigente, quer dizer, você não quer mas é induzido a fazer e acaba se queimando. Então, o que os garotos postam, como postam, tem muito aquele negócio, porque eles se relacionam nas redes e vai jogar contra o outro clube e fala que o clube é ruim, que os pais são isso, então até nisso você tem que acabar atuando. E 170 também o fato de você ter os garotos na sua mídia e a maneira como você trata a sua mídia. Que hoje é importantíssimo. Eu demorei pra entender isso, então eu postava pouca coisa porque nunca fui de ... mas hoje, no meu caso é o mau necessário, então até o que você posta. Eu como alguém que vende saúde não posso colocar na minha mídia eu tomando uma cerveja, né, eu fazendo alguma coisa que não seja condizente com aquilo que eu, né... como é que eu vou cobrar do meu garoto de 14, 15 anos que ele não beba se eu posto que saí com a galera e fiquei bebendo a noite inteira. Então é complicado. - Que perfil um treinador desta categoria deve ter? - Eu acho assim, primeiro, tem aquele negócio de você conhecer o grupo. Conhecer os jogadores, né. As vezes você vai ter grupo que você vai tirar mais coisas sendo um paizão. Vai ter grupo que você vai tirar mais coisas sendo mais duro mesmo, cobrando mais. Vai depender muito do grupo. O que você não pode perder é que você é um educador. Mesmo aquele garoto que é um bom jogador mas ele não tem os valores legais, você não só usá-lo como bom jogador mas orientá-lo sobre "ó, sua postura não está legal", "você tem sido muito egoísta". Ir trabalhando isso nele pra que melhore como pessoa. Porque o basquete é passageiro, pouquíssimos vão virar jogador e mesmo quando virar, se o cara for um jogador que tenha valores é bem melhor do que ser aquele jogador que sacaneia todo mundo, que não tenha valor nenhum. E as vezes acontece, o cara chega no Adulto sendo um cara difícil de grupo, porque lá embaixo (nas categorias de base), ele não foi trabalhado ou as vezes ele foi até incentivado a ser dessa maneira. Porque ele era o cestinha do time então meu, não passa a bola pra ninguém. Você é o cara. Isso não foi trabalhado nele. É preciso desenvolver outras coisas que não seja só o basquete. - Poderia nos dizer algo sobre o tipo de liderança? - É muito em função do grupo que você tem. É uma idade complicada também, porque eles estão naquela fase de querer ser uma coisa que eles não são ainda, ou ainda numa fase infantil, então acho que você tem que ser firme mas sem perder a doçura vai. Tem que ser duro e da mesma maneira tem que ser um pouco mais próximo. Porque eles precisam muito disso, não adianta você ser só firme ou você ser só doce, paizão, você tem que ter a medida. Uma hora você vai dar dura, mas uma hora você vai dar um abraço. - Sobre saber ouvir os atletas? - O saber ouvir é importante. Acho fundamental, até porque quem joga é o garoto. Só que acho que você tem que saber trabalhar isso no garoto pra você ter um bom feedback. Porque as vezes da maneira com que ele for falar ou da maneira que você trabalhar esse retorno ele vai achar que ele pode, que ele pode tudo, o time vai achar que aquele garoto que tem uma certa liderança e já exerce isso - porque vai ter garoto que não vai falar nada, pelo traço de personalidade as vezes não fala nada - então o time pode começar a achar que o garoto está certo e você está errado. Então acho que o correto é tentar ter esse canal mas você tem que ir preparando o atleta e como isso vai chegar. A decisão final sempre é sua, algumas coisas é melhor que sejam passadas fora, não num treino, pois isso as vezes acaba gerando um mal estar desnecessário. Acaba o treino, senta, conversa. Você tem que trabalhar isso com o grupo, porque as vezes você pode perder a liderança do grupo, dependendo como você trabalhar isso daí. E também quando o time quer falar alguma coisa, quer 171 passar e o técnico nunca deixa, chega uma hora que o garoto... não tem aquele negócio de jogar pro técnico, ele vai pensar "beleza, vou jogar até acabar o ano e ano que vem se for ele de novo eu troco de clube, se não for eu fico". Tem técnico que é muito teimoso, né. As vezes acha que está certo, mas está dando errado. Você tem que ter um feedback de quem está dentro da quadra. Mas a decisão final é sua. - E como controlar as emoções? - Ah, é difícil, né. Porque ser técnico você tem que ser muito intenso, né. Em treino, em jogo. Por mais que você seja um cara tranquilo. Tem horas que você não pode, por mais que você esteja perdendo o controle, você não pode passar isso pro time. Ou aquela hora que você tomou uma parcial de 10 a 0 e você desacreditou, mas você não pode passar isso pro time. Você tem que vender bem o seu peixe. Já me aconteceu isso várias vezes. Como também de ficar nervoso com alguma situação que um jogador fez ou que o time fez, que você pediu pra não fazer, você vai ter que cobrar, só que de repente quando você chegar lá e dar aquela bronca, vai xingar todo mundo na frente de todo mundo, o retorno que você esperava ficando p da vida, você não vai ter porque pode não surtir efeito. Então você tem que se controlar. E acho que a parte positiva, né, o lance de elogiar, o lance de comemorar que eu acho que é legal - não demais - e até o lance de você se emocionar e chorar. Você ganhou um campeonato, ganhou... as vezes um tempo atrás eu achava, "pô, você não pode aparecer chorando pro seu jogador, não é legal". E hoje eu acho que pô, apesar de você liderar você tem emoções como ele tem. Porque é muito intenso, o jogo é muito intenso. Se você é aquele cara que é gelado demais, as vezes até a equipe você acaba perdendo. Porque nessa faixa etária os garotos são bem intensos. Tem que ter um equilíbrio. As vezes tem problema com pai na arquibancada e dali você já querer subir e bater no pai, as vezes é até uma coisa que você queria fazer mas tem que se controlar porque o time acaba se tornando o espelho muito do técnico. A gente exerce uma influência muito grande. E as vezes a gente não tem nem noção disso. Outro dia no Facebook um ex-atleta meu postou que usa um frase que eu costumava falar na vida profissional dele hoje em dia, que eu falava muito pra gente jogar com velocidade e não jogar com pressa. Como já ouvi de outros atletas também coisas que falava e que nem era algo, como que fala, planejada digamos assim. Eu não me programei antes pra falar, foi algo espontâneo. Você as vezes fala e nem percebe e como isso fica no garoto. - Quais normas e códigos profissionais um treinador deve levar em conta nesta categoria? - Alguns nessa faixa etária até já recebem pra jogar. Uma ajuda de custo. É importante eles saberem que tem direitos e deveres, que tem horários, tem a postura, tem que defender o clube, não ficar falando mal do clube, por mais que as vezes ocorram algumas coisas que lhe desagradam, ele é um funcionário do clube, ele é o clube. Quando ele veste a camisa do clube e sai pra jogar, qualquer ação que ele fizer não vai ser nele, não vai ser o Renan ou João ou o Gustavo, vai ser o Renan do clube tal. Você depende da instituição. Então você não pode chegar lá e denegrir a imagem. E já colocar isso pra eles, pra eles terem essa noção. Que eles fazem uma atividade, que essa atividade muitos queriam fazer e não conseguem, então eles são privilegiados de estar numa equipe, só que ser um privilegiado vai fazer com que muitas vezes ele 172 não possa ir numa festa, numa viagem, porque tem treino ou jogo no dia seguinte então tem que descansar. Ele vai abrir mão de algumas coisas e tem que ser comprometido. Vai ter que ir nos treinos, o treino não é uma coisa que "ah, estou cansado e não vou", "ah, hoje não estou a fim e não vou". Porque isso ele se comprometeu a fazer. E são valores que o esporte passa. Se tem treino nesses dias e horários, nesses dias e horários o cara não pode faltar. Tem que ir trabalhando essas coisas, até pra se ele virar profissional do basquete, médico ou alguma coisa, ele tenha essa noção de profissionalismo. Faz o seu melhor, você vai ser reconhecido. As vezes no ano seguinte não tem a categoria no clube então tem que fazer um bom campeonato. Se você não fizer o seu melhor, ano que vem você não consegue jogar. Se o clube está te usando mal, você tem que usar bem o clube. - Tem algo a dizer sobre atualização profissional e formação adicional? - O basquete, pra ser técnico você tem que estar se atualizando, seja através de clínica, quando houver. Por mais que as vezes eu escuto de colegas que a clínica não agregou ou as vezes você vai pra clínica e não vê nada de novo mas aí você teve aquela hora do cafézinho que você sentou com um cara e começa a conversar de basquete e alguma coisa você vai pegar. Por mais que no curso em si você não viu nada que o palestrante colocou, mas ali um contato que você fez, na hora do lanche, na hora de ir embora, você fala com alguém que não tem muito contato ou uma pessoa que você admira e as vezes não tem possibilidade de conversar. Eu gosto muito de psicologia e costumo ler sobre psicologia, não consegui fazer uma pós ou mestrado mas acho que a psicologia ajuda muito porque você como gestor você tem que saber entender as pessoas, né e o como técnico você vira um pai, um psicólogo, ocorrem muitas coisas, muitos problemas fora de quadra que você tem que saber administrar. Então acho que a psicologia ajuda bastante. - E sobre aspectos éticos e Fair Play nesta categoria? O que você considera importante saber e transmitir aos atletas? - Eu considero bem importante. Eu tenho... alguns falam que isso é um defeito mas eu considero uma virtude, eu nunca dirigi um time que tivesse a fama de ser aquele time que bate, que joga sujo, eu nunca ensinei ou valorizei isso. Os garotos saber fazer, eles sabem. Eu acredito que isso pode até ajudar você a ganhar um jogo, mas eu não acho que é uma coisa que tem que ser trabalhada. Não é por aí. Como eu falei, esporte é educação. Você vai ensinar o menino a ser assim e depois você fica cobrando, "ah, o cara rouba, o político é corrupto", ele rouba mas a gente faz igual aqui, quer levar vantagem na quadra. Já tive até uns casos assim com diretor um lance de uma bola que o árbitro marcou a nosso favor e eu vi que era do outro time e o árbitro ficou meio na dúvida e eu falei "não, está certo, é bola do outro time mesmo". E o diretor falou "se você perdesse esse jogo você estava na rua". Tem que ganhar o jogo jogando. Tem técnicos que valorizam, eu não. Eu acabei de vir de uma competição que a gente foi vice e diretores de outros times e federações vieram pra mim e falaram "ó, seus garotos são simpáticos, se integraram, não deram um trabalho disciplinar com a arbitragem. Eu também não costumo ficar falando com árbitro. E sempre quando eu vou e vou na boa, peço por favor veja isso, me policio pra não estar xingando. Eu começo minha frase com um "por favor" ou "por gentileza". Eu acho importante. O jogador ele observa, né. Você é meio um espelho. Se você chega xingando, jogador vai fazer igual. 173

- Quais valores pessoais você acredita que sejam importantes para atuação profissional nesta categoria? - Você ser ético, você ser comprometido. O garoto tem que entender que você está comprometido com aquilo que está fazendo. Você montou um treino, o garoto tem que entender que você pensa no melhor do grupo. Principalmente você ser comprometido com aquilo que você faz. Ser intenso. Procurar fazer sempre o melhor. Você não pode cobrar o jogador de uma coisa se você não consegue fazer. Se você falta no treino, chega atrasado. Já teve equipes que a gente colocava tipo um castigo, se o treino começava às 17h00 e você chegasse às 17h10, tinha que correr 10 minutos. E eu me recordo que uma vez eu cheguei atrasado porque estava numa clínica de basquete e eu peguei trânsito e tudo e eu cheguei uns 20 minutos atrasados, aí falei "se a regra é pra você, a regra é pra mim também", aí eu corri também. - Quais competências para a vida você acredita que os treinadores desta categoria poderiam auxiliar os atletas a desenvolver? - Ser um garoto comprometido, garoto que trabalha com respeito, humilde, trabalho de equipe, que hoje é uma coisa que eles tem dificuldade porque hoje tem muita atividade que eles fazem individual, né, videogame, por mais que alguns você jogue em rede, eles se relacionam pouco. Então, aprender a trabalhar em equipe, aprender que dentro de uma equipe cada um tem que exercer o seu papel. E assim, não tem aquele negócio de todo mundo ser igual, vai ter alguns que vão ter um destaque e que pra nós chegarmos de um ponto A até um ponto B todos são importantes, só que cada um vai ser importante fazendo alguma coisa, alguns vão ter um destaque maior, porque a função dele é estar fazendo mais ponto, e pra esse fazer mais ponto, o outro vai ter que se desdobrar na defesa, o outro é o cara que vai ter que pegar mais rebote, o outro vai ser o que vai dar os passes pra ele finalizar e vai ter aquele cara que vai ajudar a gritar no banco, que vai no treino, que vai levar água. É bom cada um saber o seu papel dentro da equipe e dar o seu melhor. Porque no fundo quem vai ser campeão é o grupo. Então, são essas coisas, trabalho de equipe, respeito, ser comprometido, fazer as coisas sempre com amor. O atleta não está ali porque o pai obrigou, raramente ocorre, mas se você está fazendo, faz o seu melhor. - Pensando agora em planejamento e gestão ao longo de uma temporada, o que você considera importante um treinador do Sub-14 saber? - Ah, é importante. É uma coisa até que no começo eu tinha bastante dificuldade. Mas é importante você fazer um bom planejamento, saber os ciclos que você está, como que você quer que o time chegue em tal fase. Porque as vezes você faz um primeiro turno muito bom e depois cai, ou vice versa. Você se organizar até com relação ao jogador, pegar o jogador num estágio e como você projeta chegar com ele na final do campeonato. Aquele jogador que as vezes é mais fraco e você tem que fazer ele evoluir, ou aquele jogador que é bom e você tem que lapidá-lo. É importante você ter um bom planejamento, sentar uma hora, pensar e saber que todo planejamento ele não pode ser fixo, ele é móvel, você tem que estar reavaliando. Conheço pessoas que são muito bem planejadas só que são engessadas. Tem que estar avaliando sempre, se algo não está dando certo, muda. As vezes você tem um time que você quer jogar num determinado sistema e que não encaixa, o time não tem peças pra 174 aquilo. Você pensa em trabalhar de uma maneira só que ao longo você vai vendo que tem que mudar. Tem que estar sempre avaliando o que você está fazendo. O problema as vezes não é planejar, é você ir avaliando se aquele planejamento ele está compatível com o time, porque as vezes você vai ter que mudar radicalmente. E não é nem só questão de resultado. As vezes você está ganhando mas está vendo que aquilo não está dando certo e na hora que faz uma final de campeonato você não preparou o time pra chegar naquele momento. Então você ficou se iludindo atrás de algo... como também as vezes você começa perdendo só que você sabe que isso aqui uma hora vai, estar no caminho certo, tem que ter paciência. Então tem que estar sempre se avaliando e avaliando o planejamento, porque não é uma coisa fixa. - Você acredita que nesta categoria o treinador deva saber demonstrar algum tipo de gesto técnico para seus atletas? Se sim, quais? - Eu acredito que quanto mais você souber demonstrar, ajuda, pra demonstrar um molde de arremesso ou algo assim. Mas também aquilo se você não sabe, não foi jogador ou não tem a prática de fazer aquilo que você está pedindo da maneira correta, você vai pegar algum jogador do grupo que tenha uma facilidade e vai trabalhar isso com ele demonstrando. As vezes você vai dar um exercício de passe e bandeja e você (treinador) fica sendo o passador mas no jogo você não vai passar, é o atleta. Eu acho que as ações sempre tem que ser feitas pelo jogador. Se você souber fazer alguma coisa ou demonstrar legal, mas quanto mais o jogador fizer eu acho melhor. - O que os treinadores do Sub-14 devem saber sobre o uso de tecnologias? - Ah, hoje eu acho importante... esses aplicativos, tem aplicativos de... não precisa ser nada muito complexo, as vezes até na linguagem com o jogador de repente o garoto tem alguma dificuldade que você pode melhorar, você filma e mostra, com o celular mesmo. Então as vezes alguns me pedem e querem saber o que podem melhorar, daí você passa pra eles no Youtube alguns exercícios, porque é a linguagem deles, pode ser muito mais fácil ele entender dessa maneira do que fazê-lo entender de uma outra maneira. Eu que já sou de uma outra geração, tenho que me reinventar, as vezes eu tenho dificuldades, tenho que aprender essa linguagem tecnológica e isso te agrega bastante no jogo. - Como o treinador deve agir para criar e manter um ambiente adequado de trabalho nesta categoria? - Principalmente com jogador acho que você tem que tratar com respeito, não pode faltar. Tem que respeitar o jogador e se fazer respeitado. O jogador tem que saber que a maneira a qual você vai tratá-lo não é de um amigo mas você é uma pessoa que tem uma hierarquia acima dele, isso é importante eles entenderem. Não pode chegar e te tratar com palavrão e acho que a mesma maneira você com ele. Tem que ter um respeito. Uma linha de respeito não só com ele mas com os funcionários que trabalham ali próximo, que se você é aquele cara que não trata o cara que limpa a quadra com respeito, alguma hora ele vai chegar e não vai fazer ou vai te deixar a desejar. Eu acho que é você respeitar, respeitar a instituição, respeitar o grupo, no trato com as pessoas. Saber que cada um vai render de determinada maneira, ou o grupo, as vezes tem grupo que você não pode chegar com os dois pés no peito. - Como manter-se motivado em seu trabalho junto a esta categoria? 175

- Eu amo o basquete. Então assim, eu já tenho uma motivação, mas não é fácil, as vezes tem situações que vão ocorrendo que vão te desmotivando. As vezes a própria equipe, quando você não tem uma química, não é nem com relação de resultados, já me aconteceu de ter equipes que a gente tinha bons resultados e não tinha uma química e ao mesmo tempo equipes que eu perdia muito mas eu tinha uma identificação com o grupo. As vezes isso desmotiva mas você tem que lembrar que você é profissional, tem que estar trabalhando dentro do seu melhor. E que aquilo é transitório, na vida nem sempre você vai estar pelo alto a vida inteira ou lá embaixo a vida toda, é que nem num jogo, vai estar bem e vai estar mal. Tem que capitalizar bem quando está bem e quando estiver mal tem que administrar pra que seja transitório, né. As vitórias ajudam bastante óbvio nesse processo de motivação, quando você está ganhando, só que ela pode ser perigosa também, porque ela pode mascarar algumas coisas. Então você não pode achar que quando está ganhando está tudo certo, porque as vezes não está. Eu vou te falar que as vezes até as derrotas te ajudam mais. Porque elas vão te mostrar que você está indo por um caminho, mas não é por aí, tem que ir pra cá. Uma vez eu comecei a trabalhar com um time que eu tinha combinado que ficaria até terminar uma competição, que era na páscoa, ficaria pouco tempo. Eu estava ajudando, iria ficar só até essa competição e depois já pedi pra verem outro técnico porque eu estaria fora. Daí a gente perdeu na semifinal, aquilo ali já me deu motivação pra continuar. Eu entrei no vestiário e já falei pras atletas, que no próximo treino já estaríamos juntos de novo, focados pra essa mesma competição do ano seguinte. O que me motivou foram as derrotas. Eu estava focado em ser campeão do negócio. Eu coloquei na minha cabeça que eu seria campeão daquele torneio. Foi uma coisa que me motivou. Tem gente que pode pensar "nossa, você se motiva com a derrota!?". As vezes o fato de você ter essa dificuldade, acaba te motivando. - E como manter seus atletas motivados? - Essa idade é uma idade difícil, viu! Porque você tem que ter uma cobrança e ela não pode ser exacerbada, hoje o perfil pessoal é meio, eles desistem muito fácil. Acho que cada atleta ou grupo de atleta vai reagir melhor com uma postura ou outra e você tem que ter essa leitura, nem todo mundo é igual e você tem que saber vender o seu peixe pro atleta. As vezes fazê-lo entender que ser o cestinha, não vai ser o perfil dele. As vezes ele não vai jogar os 40 minutos. Eu tive um caso que foi clássico, eu peguei um time Sub-15 que tinha sido campeão no Sub-13 e no Sub-14. E quando eu dirigi-los eles tinham perdido os melhores jogadores, perdemos 6 dos melhores jogadores. Eu fiquei com os outros e mais uns garotos que foram vindo. Aí eu não tinha pivô, era um time pequeno e eu tive que mudar a estratégia. Enfim, tinha um garoto que era um lateral e foi jogar de pivô. Esse menino nos dois anos anteriores era um cara que pontuava normal. Ele passou a ter em média 20 a 25 pontos por jogo. Terminou a categoria como cestinha no total de pontos. Agora teve um lance, né. Quando ele começou a se destacar eu tive que dar um (gesto com a mão segurando firme)... porque ele começou a achar que era, sabe o cara, já passou a não ficar tão comprometido assim. Então isso tem que ter o feeling do negócio, porque se não você cria um monstro e depois tem que domar. Hoje é um menino que é médico e uma coisa que me gratificou bastante, uma vez eu estava assistindo um jogo, deu o intervalo ele veio com a esposa e fez questão de me cumprimentar, me abraçar, e foi um menino que eu tive que ser firme, 176 tivemos uma relação meio conflituosa. E ele contando que isso foi muito importante. A esposa dele até comentou que ele fala direto de mim. "Sempre cita coisas de quadra. Ele te tem quase como um segundo pai". Nossa, eu quase chorei. E eu não sabia nem dessa importância toda . Hoje ele é professor na faculdade de medicina e ele cita isso pros alunos de se manter focado, que teve uma hora que ele se desfocou, ele achou que passou a ser o cara, depois eu fiz ele entender que não era bem assim. Foi uma coisa que me marcou bastante. - Você costuma fazer reflexões e análises sobre seu desempenho como treinador nesta categoria? Se sim, quais? - Eu, assim, pós jogo eu sempre procuro dar uma parada pra repassar o jogo, né. O que, na minha avaliação, eu fiz certo, errado, as trocas, ou se as decisões táticas foram as melhores, o que eu poderia ter feito pra estar melhorando, ou de repente eu usei tal defesa que não deu certo, qual defesa que eu poderia usar. A maneira de tratar com o jogador, pô peguei no pé do fulano ou poderia ter sido mais incisivo com ele, ao invés de ter tirado ele da quadra. Eu procuro fazer isso, as vezes é um exercício meio dolorido, né. O jogo fica remoendo na cabeça. Mas aí também, hoje com a experiência, eu consigo digerir melhor mas já perdi bons dias de sono. Eu faço isso pra tentar melhorar e não pra ficar se martirizando porque na hora foi a decisão que você tomou e basquete tem que ser ousado e as vezes ser ousado você vai fazer alguma coisa que vai dar certo ou que pode dar errado, não pode ficar se traumatizando porque você tomou uma decisão e não foi a melhor. Da próxima vez vou avaliar e vou usar isso. Não adianta pensar que não devia ter usado, você já fez. Não adianta ficar se remoendo. - E como você dá feedback aos atletas? - Uma coisa que eu aprendi e pra mim é uma verdade, todos os feedbacks positivos e se eu puder fazê-los, eu vou fazer no grupo. Todos os feedbacks que forem negativos eu vou fazer no individual. Isso no Sub-12 ou no Adulto. Só quando é alguma coisa que é de grupo, que o jogador tem alguma atitude ou alguma coisa que está ocorrendo. Mas eu acho que expor o jogador, até mesmo no jogador, você expor ou falar "pô, você está fazendo isso errado, você é burro", eu acho que expor o garoto, isso é muito ruim. Não ajuda, acho que nunca ajuda. Agora, de repente você tirar o garoto e colocar ele do seu lado, por mais puto que você esteja, tentar falar com calma o que ele está fazendo errado, procura fazer dessa forma. Ou se ele continua achando que está certo, você tem que falar "agora eu quero que você faça assim porque eu estou mandando, agora sou eu, tem que fazer isso, se quiser ficar na quadra é desse jeito". Agora, quando ganha ou quando o garoto fez bem, acontece essa situação em que você fala dessa maneira e ele volta pra quadra e acerta, aí você tem que chegar e na frente de todo mundo grita com o fulano "muito bom", "certinho". Acho que esse feedback positivo vai dar mais confiança pra ele, principalmente se ele está mal. - Existe mais alguma competência que você considera importante, ou algo que você gostaria de comentar quanto às competências necessárias aos treinadores de basquete? - Ah, eu acho que indiretamente eu falei mas tem duas coisinhas que você tem que ser muito paciente, né, saber que as coisas não ocorrem as vezes da 177 maneira que você espera ou elas não ocorrem rápido. Tem que ter paciência ali no trato com os garotos, nem sempre enfiando o pé na jaca você vai ter o melhor resultado, por mais que as vezes você está muito P da vida, mas você tem que ter uma paciência. E você tem que entender que o cargo de técnico é um cargo político. Desde a sua escolha. É uma escolha política porque ser técnico é uma cargo de confiança. Alguém te colocou ali por confiança, pode ter sido um diretor, pode ter sido alguns pais, é um cargo de confiança. A partir do momento que acharem que você não está rendendo, você vai sair. E que você tem aprender a ser político, no bom sentido da palavra. Você tem que aprender a se relacionar bem com a sua equipe, com seu clube, com as pessoas, com os pais, num nível mais elevado com a mídia, eu acho importante você saber se relacionar. Porque técnico você é um político, você é um político no sentido amplo da palavra. Não que você vai ficar fazendo aquela politiquinha de "ah, fulano me deu tal coisa", "eu tenho mais amizade com o pai, então o jogador tal vai jogar mais", mas você ser político. Porque você gerencia ali carreiras, né, você intermedia ali o seu grupo, a sua instituição, tem que se relacionar com os pais, tem que aprender a ouvir. Tem o lance de "ah, legal, ser super sincero e tudo" ou você ser mais linha dura e tudo mas você dificulta muito o seu progresso na profissão. Não que você tenha que ser falso, mas você tem que saber agir em determinadas situações que você vai dar um passo pra trás pra dar dois pra frente. Então você tem que usar mais a sabedoria, você não pode ser "ah, eu sou assim". Não. Acho que você tem que saber que você tem que mudar, tem que agir de determinada maneira, porque você é político, você está num cargo de confiança. As pessoas tem que ter confiança no seu trabalho e você saber se relacionar, acho que nem muito próximo e nem muito distante. Eu com pais, eu tive vários pais que se tornaram amigos e foram importantes pra mim, diretores que eram pais que tiveram grande influência na minha vida, me ensinaram muito, mas com os pais eu tenho um relacionamento, vamos dizer, ali profissional, converso, falo, quando o pai vem questionar alguma coisa em particular, a gente senta, conversa mas eu não acho que tem que ser muito amigo do pai, porque se não ele usa isso a favor do filho. Falo com todo mundo mas ali no limite, se não isso começa a te influenciar em quadra. E as vezes também, que nem, eu fui pra escola (âmbito escolar), você sai do clube que altamente competitivo e começa um novo processo. Eu tive que entender que ali eu trabalharia muito com garoto de inclusão, ou tinha poucos garotos, então ali meu principal objetivo não era ganhar os campeonatos e sim colocar os garotos pra jogar os campeonatos, pra ganhar um jogo ou outro, ou pra perder e continuar jogando, era fazer aquele garoto que tem uma dificuldade cognitiva e fazer com que ele jogasse, ou ele se relaciona pouco e fazer com que ele se relacionasse. Então você começa a entender e percebe que aqui (âmbito escolar) meu objetivo não é ganhar jogo, é melhorar aquele garoto aquele outro. Então você traçar um objetivo não só de ganhar, e sim saber a necessidade, as vezes a necessidade ali é você manter um grupo e os meninos querem isso, então você tem que se adequar dentro da realidade. - Bacana! Valeu! Obrigado. Só tenho a agradecer. - Não sei se eu te ajudei aí. É que eu falo bastante, né. - Vai ser uma super ajuda!

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T7

- Quantos anos você tem? - 51 anos. - Quanto tempo de experiência como treinador de basquete? - São 34 anos. - Foi atleta de basquete? - Fui, nível Federação dos 14 aos 19. Depois houveram outras participações mas de forma mais informal. - Quais foram as principais competições e campeonatos disputados como treinador? - Bom, em nível Estado todos. De sub-12 a sub-19 todos os níveis. Em nível nacional, seleções sub-17, sub-15. Sub-15 nível internacional no torneio Alberto Rossello, Macabíadas mundial, Panamericana e Sulamericana também. E uma participação em mundial Sub-19. E LDB também. - E com relação aos títulos conquistados como treinador desde o início da sua carreira? - Campeão acho que em todas as categorias. Fui campeão brasileiro da segunda divisão. Campeão brasileiro de seleções, verdade antigamente eram os Jogos Estudantis, né, com o sub-17. Estadual com sub-15, sub-16, sub-17. Dois vices estadual juvenil. Acho que basicamente é isso. Sulamericano sub- 15. Brasileiro sub-16 de clubes. - Grau de instrução? - Graduação em Educação Física e Pós Graduação também na área. - Quais conhecimentos técnicos e táticos você considera que um treinador de basquete nessa categoria deva possuir? - Bom, eu entendo que no sub-17 ele já tem que ter a percepção do jogo de Adulto. As dinâmicas tanto ofensivas como defensivas, as dinâmicas e as concatenações entre as ações que causam desequilíbrio, que geram algum tipo de vantagem ou de desvantagens. Ele tem que ter o conhecimento de como se joga o Adulto pra ele poder entender como é que ele vai entregar esse jogador daqui alguns anos. - O que um treinador precisa saber para conseguir ensinar atletas do sub-17? - Ele tem que ter uma percepção de coaching, de administração da sua equipe, das questões emocionais envolvidas, das questões físicas, técnicas e estratégicas. Acho que ele tem que ter domínio sobre todos esses conceitos. - O que um treinador desta categoria deve saber sobre a instituição e o setor em que trabalha para desempenhar suas funções? - Bom primeiro, assim, a instituição que você vai trabalhar você tem que saber o histórico que ela tem, né, tem que considerar o que a instituição tem já realizado ou não, né. Por exemplo, está montando uma equipe sub-17 e a tua instituição nunca teve, então você precisa entender o que que representa, como é que é o significado, que que é um campeonato, como que ele é disputado. Se você está dentro de um clube mais organizado, mais tradicional, 179 você tem que entender quem são as pessoas, como funciona a parte política e social, quem são as lideranças, como é que isso ocorre, quem está dentro da sua equipe de organização ou staff. Acho que em linhas gerais é isso. - O que um treinador de basquete desta categoria deve saber para preparar os atletas, tanto individualmente como coletivamente para as competições? - Bom, primeiro você tem que ter claro assim, em que nível você precisa desenvolver o teu atleta, que você precisa levar ele pra você jogar num nível necessário. Então se você tem um modelo de jogo onde você tenha determinadas ações técnicas e o teu atleta não as executa, então ou você limita as tuas estratégias ou você desenvolve o atleta pra que ele chegue nesse nível, né. Então ele (treinador) tem que ter domínio de como desenvolver determinados aspectos técnicos individuais pra você conseguir concatenar isso dentro do coletivo, porque as ações individuais elas continuam sendo muito importantes mas elas vão se tornando menos significativas vamos dizer assim. Um garoto que tenha numa fase menor ele tenha uma força física a mais ou uma qualidade técnica individual, uma altura a mais e aquilo sobrepõe qualquer estratégia ou qualquer situação. Porque se considerar a categoria sub-17 é a fase final de maturação, né, esse atleta já está praticamente com a altura que ele vai ter enquanto Adulto, vai começar a desenvolver um corpo pra próxima fase do seu desenvolvimento. Eu entendo que é muito importante ele (treinador) ter esses domínios também, ele conhecer, saber aonde que esse atleta pode chegar. Se você estiver sorte de estar num bom clube você vai ter um grupo bem homogêneo e com perfil prospecto, com prospecção futura. Se você estiver num clube inferior ou com menor poder de contratação ou de formação, você vai ter que se adaptar com aquilo que você tem. - O que um treinador de basquete desta categoria deve saber para se relacionar e se comunicar com seus atletas? - Bom, acho que além de conhecer o jogo ele precisa ter a noção sobre as pessoas, né. Você estar na pele do outro, você ter a empatia e ao mesmo tempo você saber que as vezes você vai ter que ir um pouquinho além, né. Você fala "puxa vida, ele não está tão bem hoje". Nesse nível você tem que levar o cara num outro estágio. Infelizmente é assim, o ser humano tende a se acomodar e você tem que exigir ele num nível maior. Então eu acho que dos aspectos volitivos, vamos dizer assim né, emocional, psicológico, motivacional, ele (treinador) tem que ter um conhecimento sobre isso e perceber nos seus atletas como cada um percebe a sua interação, as suas intervenções por voz, por gestos, por sinais ou por escrita. Acho que ele tem que procurar saber exatamente como alcançar cada um dos seus atletas. Obviamente que tem que ter algum conhecimento psicológico aí, algumas coisas que não são da nossa área especificamente mas você tem como entender. Tem atleta que você põe na lousa, desenha a jogada e o cara vai na quadra e executa, tem cara que ouve e entende exatamente o que você está querendo. Então pra isso é muito importante você estabelecer códigos, você codificar as coisas. Por exemplo, pressionar a bola, tem que ter claro o que é pressionar a bola, como é que ele entende isso. O que cada palavra significa pra cada um dos seus atletas. - E com os familiares dos atletas? - No sub-17 ela é importante, mas ela é menos importante. Porque o pai já interage menos, já participa menos da vida dele. Não que não tenha ainda 180 aqueles pais que acompanham treino, que acompanham os jogos e tal. Mas a grande maioria (dos atletas) já vão por si só, eles já tem uma percepção concreta do que eles estão realizando, onde eles querem chegar, então eu entendo assim, a participação dos pais nessa idade é menor, é mais o atleta mesmo. Agora tem um novo fenômeno aí. Por exemplo, algumas interações que passam a ocorrer agora que é o agente, que ele interage mais com você do que o pai. O cara (agente) te liga pra saber como é que está, tem bastante isso, hoje mesmo tive uma reunião com um agente de um dos nossos atletas. E é aquele negócio, o atleta as vezes se sinta um pouco constrangido de falar algumas coisas com você e acaba passando essa percepção pro seu agente ou representante ou o próprio pai e aí o representante vem falar contigo e tal e muitas vezes a visão não era bem essa. - Ainda na questão de comunicação e relacionamento com os dirigentes? - Ai ai... é assim, no meu ponto de vista ela tem que acontecer, obviamente a gente é um ser político, né, você faz política até pra mamar mas enfim, é importante você ter um relacionamento com a direção ou até mesmo quando se tem um gerente, um cara que cuida dessa parte que faz a interface entre a diretoria e a gente (comissão técnica). Esse relacionamento tem que... e o diretor também tem que estar sabendo o que está acontecendo. É aquilo que a gente já falou, você tem que conhecer a tua instituição, então se a parte política da tua instituição é importante, você tem que considerar isso e colocar dentro do teu rol de funções. Você pode ter um diretor mais participativo ou as vezes ele não tem conhecimento do jogo mas tem conhecimento da parte política e isso é importante pra você viabilizar algumas coisas dentro do clube, enfim. - Com a mídia? - No sub-17 ainda é muito pequena, né. São mais intervenções assim, mais pontuais dos blogs, não é nem mais blog, tem uns caras aí que agora estão fazendo pelo Facebook, pelo Youtube, o B-ball que também acompanha, então não tem nada muito formal, né. Então é mais quando você é perguntado, as vezes algum site te pergunta. Acabou agora o campeonato o pessoal te procura pra saber, pra falar, como foi, como deixou de ser e tal. Mas é um relacionamento também, mas é quase inexistente. - Que perfil um treinador desta categoria deve ter? - Cara, um perfil? Puxa vida, eu acho que não tem um perfil único. Porque é assim, hoje o papel que eu tenho feito que é de um técnico mais experiente, com uma vivência maior, acho que tem sido muito produtivo como vivência pra trazer pros caras (elenco como um todo). Talvez um técnico mais jovem, traga um pouco mais de dinamismo, um pouco mais de saúde vamos dizer assim, de suportar o treino, de ser pôr mais na intensidade de um treinamento, mas falta a questão da vivência mesmo e algumas situações de saber tirar o pé, saber pisar, saber dar um corretivo na equipe. Muitas vezes quando a gente é mais novo a gente tem algumas coisas muito idealizadas, que você olha e fala que quer fazer igual, mas depois você olha e vê que não era bem assim. Então, acho que baixa também um pouco a questão de vaidade. O técnico mais experiente tem um pouco menos de vaidade no sentido assim, de não preciso provar muito mais coisa. Mas o perfil acho que é importante dar o máximo de informação possível, pra esse garoto, porque ele talvez esteja no último ciclo pra chegar num Adulto, pra chegar numa seleção brasileira. Tem alguns atletas 181 que se encontram nessa fase e estão chegando, como é o caso do Yago, então esse cara não pode chegar sem informação, sem qualidade estratégica, técnica. Ele tem que chegar nesse nível já com bastante informação. Eu vejo alguns jovens técnicos trabalhando muito bem, fazendo coisas muito legais, trazendo vídeo, mostrando diagramas de jogadas, isso ajuda bastante cara. Acho que é o perfil é esse, você ter não o interesse, como que eu posso falar?... você na sua função ali, saber quando você tem que colaborar. - Poderia nos dizer algo sobre o tipo de liderança? - Ela também é muito relativa, né. Tem grupos que com uma liderança mais autoritária vai bem e pra outros grupos isso já não funciona, um líder mais democrático pode funcionar. Mas isso é muito relativo, depende muito do grupo. O líder tem que entender como que ele vai servir a equipe e aí entra a questão que eu já falei anteriormente da vaidade, talvez quando a gente é mais novo a gente tem mais a vaidade de querer mostrar e "o time é meu", "eu estou no poder". Depois não, você vê que é um negócio compartilhado, uma equipe. Muitas vezes você pode ter uma postura autoritária, você pode ser duro, pode ser ríspido mas você tem que ser justo com os teus atletas e os caras tem que perceber isso. - Sobre saber ouvir os atletas? - Isso entra de novo na questão da vaidade. Dependendo do nível de informação que você oferece pro teu atleta... eu estou tendo uma puta experiência no sub-19 agora, assim de trocar figurinha e como os atletas vieram de um técnico que despejava informação, eles tem tudo muito conceituadinho sabe? Tudo muito sistematizado. As vezes você tem que falar "não é porque está dando certo que eu não vou mexer", mas vou fazer assim porque tem um viés de informação. Então saber ouvir e saber ouvir sem perder a autoridade... muitas vezes a gente acaba enquanto treinadores não ouvindo por receio, por não saber flexibilizar e não ter a segurança de "poxa, o jogador está falando um negócio, será que eu...", não pô, ele está jogando caramba, se ele estiver certo eu tenho que me adequar e falar, "ele está certo, vamos fazer assim". E nós estamos passando por um processo com essa geração nova que tem muita informação. Os caras tem vídeo, vê o que está sendo feito na NBA, clínica não sei do que, questiona, quer saber, fala como tem que ser, aí você tem que chegar e mostrar o teu ponto de vista. Eu tive uma situação recente numa tomada de decisão minha que eu pedi pra deixar um jogador mais livre, só que por falta de comunicação e entendimento do grupo inteiro eles ficaram travados. "Pô, peraí o cara vai chutar livre?", e eles não entenderam na hora, porque fazia parte da estratégia, não do conceito, era algo pontual, eu queria dar volume pra um determinado jogador. Parecia algo meio contraditório com o que eles estavam acostumados mas pra aquele momento era o que cabia bem. E depois explicando, mostrando o vídeo eles entenderam o que eu queria dizer, mas no momento de jogo em que você não tem tempo de explicar tudo isso, tem que ser direto. É "faz assim" e ponto final. "Faz porque eu tô mandando". E aí entra a questão do altruísmo. De você falar que a culpa não foi do atleta. Porque tem técnico que fica buscando o bode expiatório e muitas vezes o bode expiatório não tem, é erro seu mesmo. Você errou e quer mostrar autoridade perante o grupo e aí só sai besteira, né. - Sobre como controlar as emoções? 182

- Putz, justo pra mim que você vai perguntar isso? Então, o controle emocional, a regulação emocional aí ela é complicadíssima. Enquanto você não se conhece, não percebe a rotação que você está trabalhando, aquilo ali é falência, é caos. E pra você não entrar nesses gaps, ou gatilhos emocionais, você tem que ter mecanismos e muitas vezes esse mecanismo é o teu auxiliar que vai chegar e falar "amigo, da uma segurada". E aí entra uma interação muito grande, o cara (auxiliar) já percebeu que você está exaltado demais, tá fora de ... ou muitas vezes assim, uma determinada situação frustrante tal e você fica meio pra baixo e se você desiste uns dois minutinhos do jogo, o jogo acabou. Ali você tem que estar sobre o controle de tudo, os 40 minutos. Outro dia vi um vídeo do Brad Stevens (treinador do Boston Celtics) e disse que ele é um dos caras com melhor aproveitamento after time out. A intervenção dele é pontual, precisa, cirúrgico. E numa tranquilidade. Tudo sob controle. Aí é demais também né - risos. Mas é difícil, porque tem horas no jogo que não da pra se alongar muito na explicação, é "vamos fazer isso e pronto, acabou". Agora, se você está num estágio que você está excessivamente nervoso, meu, bloqueia, fecha tudo, você não consegue fazer nada. - Quais normas e códigos profissionais um treinador deve levar em conta nesta categoria? - Eu falaria que o primeiro seria ética. Mas é até meio anti ético o que eu vou falar. Porque, cara, o que a gente está vivendo no Brasil é um negócio assim, é o ganhar por ganhar, sem propósito sabe? Então, ganhar a qualquer custo né, se precisar fazer alguma coisa anti ética o cara vai fazer pra ganhar. Eu acho que você ter rivalidade, ter um adversário que provoque algum tipo de... você querer ganhar desse cara, essa rivalidade, faz parte do jogo mas não vem sendo dessa forma. E com os atletas é o tratamento profissional, né. Disciplinar, a questão dos benefícios que eles tem por ali estar, a questão desde os cuidados consigo mesmo de fisioterapia, de preparação, cuidados alimentares. A gente tem uma conduta bem formalizada, está bem claro. Mas acho que disciplina mesmo, a tua conduta durante o treinamento. - Tem algo a dizer sobre atualização profissional e formação adicional? - Eu digo assim, é constante né. Se você ficar 2, 3 anos na mesma coisa, você já está ultrapassado. Agora com o advento da informação on-line, você tem que estar constantemente estudando, aprendendo. Eu esse ano desenvolvi uma rotina assim, acordar um pouco mais cedo pra estudar um modelo de jogo da categoria de cima pra eu poder aplicar os conceitos da forma correta, com a interpretação correta, não ser um repetidor de informação. Tenho que saber exatamente o que está sendo falado pra eu poder passar isso, né. Então não tem como não se manter atualizado, estudando ou buscar cursos, fora principalmente, estudar línguas, tem muita coisa em espanhol, mas não é todo mundo que interpreta o espanhol bem, inglês é ultra necessário, todas as informações vêm daí. - E sobre aspectos éticos e Fair Play nesta categoria? O que você considera importante saber e transmitir aos atletas? - Cara, acho que o importante é assim, é entender que o cara é o teu adversário, você vai fazer de tudo pra ganhar dele e ele vai fazer de tudo pra ganhar de você. Entender que você vai entrar numa bola um pouco mais duro, um pouco mais firme mas dentro do limite ético. Do outro lado também está um 183 companheiro de trabalho, então tenho que respeitá-lo como tal. Acho que é muito em virtude disso. Eu jamais vou admitir num atleta meu dar uma pancada, jogar sujo, se isso acontecer e for sob o consentimento do próprio técnico, que a gente sabe que isso as vezes acontece, daí meu amigo, tá liberado, a ética é olho por olho. - Quais valores pessoais você acredita que sejam importantes para atuação profissional nesta categoria? - Eu acho que o principal valor é você ser honesto com todo o teu entorno, teus atletas, teu preparador físico, teus diretores, teus colaboradores, roupeiro, ser honesto cara, ser claro. Acho que ter um grau de clareza, as pessoas não terem dúvidas a respeito da tua conduta, acho que é por aí. - Quais competências para a vida você acredita que os treinadores desta categoria poderiam auxiliar os atletas a desenvolver? - Eu acho que está por aí também. Você ter a certeza de que talvez não vai se transformar num jogador, né e saber que as lições aprendidas no esporte vão te servir o resto da tua vida. A resiliência de você acordar todo dia cansado, quebrado, sem dinheiro as vezes e ir lá treinar, voltar, comer menos. Até a questão de você ganhar num dia e saber que no outro dia você tem que ganhar de novo, que aquilo ali é um leão por dia. "Puts, ganhamos ontem do primeiro lugar", ótimo! Então agora vamos continuar. Então acho que esse valor de resiliência é o mais significativo nessa idade. - O que um treinador do sub-17 deve conhecer em termos de planejamento e gestão considerando o decorrer de uma temporada? - Da parte de logística assim, ele tem que ter um conhecimento. Obviamente que não são todas as equipes que tem as mesmas condições e dentro dessas condições você tem que otimizá-las. Se você tem um bom plano mas não tem as condições para isso, não adianta nada. Se você tem as condições pra isso, mas você não tem um bom plano pra executar, vai de qualquer jeito, também não adianta. Então é otimização de tempo, de recursos, você tem que gerir isso. Eu estou tendo que gerir, por exemplo, as lesões do meu time, muita gente quebrada, eu tenho que gerir tempo. Se eu vou participar de uma competição de 6 dias, eu tenho que saber se o fulano aqui consegue, ir dosando. Hoje a gente trabalha com um profissional que faz a Percepção Subjetiva de Esforço (PSE) e ele vai passando, "olha, os caras recuperaram" ou "os caras não estão recuperados". Isso me da um bom posicionamento. E obviamente que você também tem que saber periodizar. Se você só sabe periodizar fisicamente, faz fisicamente, gere seu time assim. Eu trabalho mais com a periodização tática, que é assim, você vai pelo modelo de jogo e você vai vendo na competição aqueles períodos que dá pra abrir mão de algumas coisas e forçar mais na parte física, na parte técnica, nesse período aqui não posso abrir mão, né, então você vai gerindo, e é um trabalho em conjunto com o preparador físico. - Você acredita que nesta categoria o treinador deva saber demonstrar algum tipo de gesto técnico para seus atletas? Se sim, quais? - Gesto técnico não. Movimentação sim. Gesto técnico eu raramente demonstro. É muito mais uma correção, um posicionamento, do que 184 demonstrar o gesto técnico ou coordenativo ou seja lá o que quer que seja. Não entendo que há necessidade disso não. - O que os treinadores do sub-17 devem saber sobre o uso de tecnologias? - Bastante. É importante. Se você tiver alguns mecanismos onde você faça a edição dos teus jogos, ou dos teus treinos ... porque a mulecada hoje com celular, você manda vídeo de 2 ou 3 minutos e previamente já antecipa "olha, em treino nós vamos tentar isso, observem esse determinado conceito no time do Boston Celtics, que eles estão usando na defesa", pronto, alguma coisa assim. Está aí, você introduziu. A parte de imagem é fantástico e fundamental. Os outros também, os próprios controles de treinamento acho que já pode trabalhar bastante com isso, planilhar todo o seu treinamento, distribuir a sua carga, projeta. Facilita pra caramba, do que fazer dia a dia. Você olha e já tem um norte ali. - Como o treinador deve agir para criar e manter um ambiente adequado de trabalho nesta categoria? - Eu particularmente não gosto de estar com eles em ambientes externos. Eventualmente assim, eu acho importante, não faz parte da nossa cultura mas aqui no clube a gente tem tido essa facilidade de vamos almoçar e vamos sair pra um jogo, vamos viajar. Então, de estar mais junto. Mas assim, eu não gosto de estar muito com eles assim. Mistura, eles acabam confundindo e você acaba tolindo um pouco a liberdade deles estarem, tem momentos que tem que deixar eles estarem entre eles. Eles curtirem, mesmo porque o cara acabou o treino e a primeira coisa que ele faz é ligar o celular, ou seja, não há interação. Então algumas estratégias, tirar o celular do cara, proibir, eles vão ficar insatisfeitos mas acho que o resultado é melhor pra que eles interajam. - Como manter-se motivado em seu trabalho junto a esta categoria? - No meu caso pra me motivar, quanto mais competitivo melhor. É o meu combustível, se tem jogo que eu sei que a gente vai meter 40 pontos, o treino já não sai tão bom. Agora, eu sei que vamos pegar um time que é jogo pesado, duro, aí a semana já é diferente, ou se é quadrangular final, quanto mais competitivo, mais gostoso. - E como manter seus atletas motivados? - Eu acho que é assim, a energia com que você se coloca num treino ou se coloca numa preleção, você transpassa, você mostra pros caras o quanto você está afim, então eu acredito muito nisso. Muitas vezes você pode dar uma preleção essencialmente tática e estratégica, técnica, formal, não falar uma palavra de "vamos aí galera e não sei o que", mas com a energia que você passa, a forma como você põe essas coisas acho que acaba sendo ... também depende de grupo. Tem grupo que a gente vê que o técnico não dá uma informação técnica, só "você é o melhor, você é o máximo" e o time vai. - Você costuma fazer reflexões e análises sobre seu desempenho como treinador nesta categoria? Se sim, quais? - Sim! Sim. Eles são muito subjetivos, né. Porque, por exemplo, as vezes você pensa que foi mal na correção ou demorou pra tomar determinada decisão. Agora com o advento do vídeo, eu não usava muito o vídeo, eu achava que conseguia ter uma visão 80, 70%, aí fui ler um artigo que falava que a gente é capaz de fixar 25% do que acontece no jogo. E quando eu vejo o vídeo eu vejo 185 que realmente cometo erros, errei aqui, errei a interpretação seja individual ou estratégica, poderia ter mudado tal coisa. Então assistir os jogos é importante. E tem sido a ferramenta que eu mais tenho utilizado. - Como que você dá feedback aos atletas do sub-17? - Então, depende muito da fase que estamos na temporada e também assim se a gente está numa fase de baixa, por exemplo, perdeu dois jogos seguidos e tal e você vem com mais informação, o cara acaba ficando mais ... como que eu posso dizer? ... mais fechado, o cara não quer. Você quer mostrar mais erros e não tem jeito. E aí se você quer fazer alguma parte de correção, acho que é muito melhor você fazer a parte de correção positiva, ir pelo lado do reforço positivo. Tipo "isso aqui não está tão bem, mas a gente apresentou um padrão de jogo muito bom". E assim, isso é importante, acho que ainda não tinha falado mas de você criar ao longo da tua temporada a tua avaliação, o que realmente é importante neste momento. Então, vamos lá, tenho dois meses de preparação e vamos pra um jogo. O que é importante? É entender que os meninos já entendem o modelo de jogo? Como se distribuem pela quadra? As dinâmicas de defesa? O que é importante? Fizemos as jogadas? É a técnica? Então você criar alguns mecanismos de mostrar o desenvolvimento, o avanço. Por exemplo, o vídeo que eu apresento hoje para os meus atletas não é a mesma ênfase que eu dava no começo do ano. No começo do ano eu enfatizo em "puxa, está muito desordenado, a quadra está desequilibrada, a gente não teria condição de virar uma bola aqui por causa desse posicionamento, a gente provocou um desequilíbrio aqui, mas essa situação está desconfigurada desta outra aqui", então é o geral, é mais geral. E depois você vai apurando, apurando até você chegar e falar um detalhe de posicionamento do pé, tem que sair com a perna direita e a mão direita nessa bola aqui, então é muito mais preciso, específico. - Existe mais alguma competência que você considera importante, ou algo que você gostaria de comentar quanto às competências necessárias aos treinadores de basquete? - Renan, acho que não seria uma competência isso, mas cara você ter paixão, você ter paixão por aquilo que você faz, você ter aquilo sabe... aquilo parte de você, você precisa daquilo. E você desenvolver uma metodologia, né. Então não é só ter a paixão, você ser essencialmente emocional ou ... Não! Você tem que ir desenvolvendo uma metodologia ao longo do tempo, "como vai funcionar a minha defesa? Vai funcionar assim, eu gosto de time que corre ou eu gosto de time mais pausado". E aí você vai desenvolvendo essa metodologia através de coisas que você já passou, que você acredita, que você entende que funciona pra aquela equipe. Tem coisas que você fala assim, "pô, isso eu não vou mudar!" E outras que você vai. Por exemplo, ataque, eu já cheguei assim, de uma temporada pra outra mudar todas as jogadas, com a mesma equipe. E outras que eu fui com as mesmas jogadas 2, 3 anos e foi funcionando. É relativo. Mas você tem que ter um pensamento metódico. Na sua forma de treinamento, por exemplo, você pode ter visto uma determinada maneira de treino, tem que ir estudando e ver quanto que aquilo procede ou impacta dentro do teu treinamento. Muitas vezes você vê um exercício e fala, "nossa, esse exercício é bacana, vou dar no treino", mas daí não tem nada a ver com o teu modelo de jogo. Então não serve. O que me mantém é isso, minha paixão pelo que eu faço. E assim, muitas vezes eu posso chegar na quadra e passei o dia 186 inteiro rodando de carro e não pensei nem no treino aqui. Mas você tem uma metodologia, você sabe que naquele dia, se eu tenho 4 treinos na semana, hoje é o treino de defesa individual, né. Então você tendo isso, você está preservado. Isso tem a ver com a experiência que a gente vai pegando. Meus treinos já foram extremamente planejados, cada minuto. E eu comecei a me sentir engessado. E muitas vezes você chega ali e fala "caramba, não..." eu comparo com o trabalho de um chefe de cozinha. Tem um pouco da parte teórica, mas também da arte. O arroz eu sei que cozinha em água, beleza, mas e se eu tentar cozinhar o arroz na água do camarão? Tem um pouco disso também, sabe? É um pouco arte também, não é estritamente racional, metódico, tem um pouco da sua percepção na hora do jogo. Tenho um colega que não faz nada que ele não tenha treinado, mesmo percebendo que precisaria mudar, ele não faz e eu já chegava no jogo e era contrário. Ele chegava e falava "puts, como você consegue, você mudou, foi pra lá, fez não sei o que, como é que você consegue?". Eu falava "pô, é o que o jogo está pedindo!". Então tem um pouco dessa ... isso é um pouco de arte. - Muito bacana! Obrigado pela colaboração. - De nada, que isso!

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- Quantos anos você tem? - 45. - Quanto tempo de experiência como treinador de basquete? - Tem que fazer a conta. 12 anos. - Foi atleta de basquete? - Fui. Até os 18 anos. Foram uns 7 anos. - Quais foram as principais competições e campeonatos disputados como treinador? - Paulista de base, paulista Adulto, NBB, Copa Brasil, Copa Norte Adulto, trabalhei num clube da região norte do Brasil, disputamos campeonatos estaduais de base e Adulto, campeonato brasileiro de base e participação em seleções brasileiras de base. - E com relação aos títulos conquistados como treinador desde o início da sua carreira? - Campeão paulista sub-17, campeão da Copa Norte, vice campeonatos de base em São Paulo diversos. - Grau de instrução? - Superior, com MBA em Gestão Empresarial. E algumas especializações na área também, com cursos de aperfeiçoamento. - Quais conhecimentos técnicos e táticos você considera que um treinador de basquete do sub-17 deva possuir? - Bem, na categoria sub-17 acho que tem que ser completo. Não sei se cabe listar aqui. Seriam os fundamentos individuais, fundamentos coletivos, questões táticas, estratégicas. No sub-17 a gente procura já pegar jogadores que já visualiza eles no Adulto. - O que um treinador deve saber para conseguir ensinar atletas do sub-17? - Bem, ele precisa saber o fundamento, né, a execução correta do fundamento. Ele precisa ter um conhecimento da sequencia pedagógica. Como o grau de dificuldade, métodos de feedback. - O que um treinador desta categoria deve saber sobre a instituição e o setor em que trabalha para desempenhar suas funções? - Ele precisa saber os valores que a instituição preza, a filosofia de trabalho, se é voltado pra resultados ou se é voltado pra desenvolvimento. Precisa conhecer a hierarquia e o funcionamento local, a burocracia. Acho que é isso. - O que um treinador de basquete desta categoria deve saber para preparar os atletas, tanto individualmente como coletivamente para as competições? - Pra mim, aqui no meu clube atual, começa pelo o que é exigido no adulto. Nessa categoria sub-17, todo o foco do nosso trabalho é sempre preparar o atleta pra chegar no sub-19 que seria a próxima fase e o Adulto. Então, como eu tenho uma certa participação no Adulto também eu consigo fazer essa transferência direta. Aí eu sei o que o clube precisa, eu sei o que um atleta 188 precisa e eu faço essa transferência do Adulto pra baixo, né. É claro que a gente não espera que ele esteja pronto com 17 anos, mas a gente visualiza pra onde ele tem que chegar e cobra pra que se aproxime o mais rápido possível à isso. A gente já tem jogadores do Sub-17 que já jogam no Adulto. - O que um treinador de basquete desta categoria deve saber para se relacionar e se comunicar com seus atletas? - Esse é um tema cada vez mais atuante, né. O que eu sinto que é mais importante nos dias de hoje é tentar não generalizar. Tentar compreender cada atleta, a personalidade de cada um e tentar tratar eles daquele jeito, então eu não acredito mais que pode ser ... nessa categoria e nas categorias de base a gente não pode exigir do atleta de se adaptar ao técnico porque cada um tem sua personalidade, seu histórico né, de onde ele vem, a casa e tudo e aí a gente precisa saber como tocar ele individualmente. Um pode reagir melhor a uma bronca, outro pode reagir melhor a um feedback positivo, o outro não gosta de ser exposto na frente de todo mundo, então uma conversa individual com ele funciona melhor. Então essa questão da comunicação é saber individualizar sem abrir mão da filosofia de trabalho, dos valores, não ultrapassando os limites que possam prejudicar o grupo e dentro desse limite tentar personalizar o máximo a comunicação. - E com os familiares dos atletas? Ou representantes dos atletas? - Com os agentes a gente tem uma relação mais próxima, hoje é inevitável. E aí a gente procura trabalhar com o máximo de respeito mas também não deixando eles interferir no trabalho nem nas decisões, nem em tempo de quadra. Mas a gente respeita também o trabalho deles. E a gente também depende deles pro recrutamento pros próximos anos, então a gente procura manter um relacionamento profissional. Com os pais aqui a gente tem uma restrição muito grande, não há nenhuma intervenção do pais. Eu particularmente converso com os pais mais no início da temporada e eu aviso desde cedo, quando a parte burocrática foi organizada, "olha, daqui pra frente a minha comunicação é com o seu filho e com você eu só falo se tiver alguma necessidade". Porque eu quero essa independência do atleta, eu não quero que ele fique se escondendo atrás dos pais pra avisar que não pode ir e tal. E eu acredito que essa independência ele (atleta) consegue transferir pra quadra, pro jogo dele. Tem pais que conseguem fazer isso com mais facilidade e tem outros que tem dificuldade com isso, mas o clube da esse apoio e a gente da um corte bem cedo nessa questão. E até conversando com os pais que tiveram experiência em outros clubes eles sentem isso até na arquibancada, entre eles, eles pegam isso bem rápido, eles entendem isso bem rápido. - E com os dirigentes? - Constante. O importante é entender a filosofia, né. Pra onde eles querem levar o programa. Tentar adequar o trabalho de acordo com isso, por exemplo, eu poderia muito bem querer ter o meu trabalho voltado para resultados mas não é o primeiro foco, então eu preciso me adequar à isso. Não tem problema nenhum, isso é hierarquicamente correto. Acho que é isso. - Com a mídia? - Eu vejo dois aspectos pra isso. Primeiro, no sub-17 já tem algumas coberturas de jogos, resultados, então tentamos tratar isso de maneira natural 189 quando tem a presença, se a gente é solicitado a gente procura ajudar. Mas isso é pouco, no sub-17 acontece mais em fases finais ou jogos decisivos, acontece pouco. O outro aspecto é a parte de redes sociais. Assim, eu não sou um cara que usa muito mas eu sei que é um negócio bem atuante na vida dos meninos nos dias de hoje e aí eu procuro educar eles, né, é uma conversa que a gente tem no início da temporada e depois algumas vezes durante a temporada principalmente se precisa corrigir alguma coisa. Lembrando eles que a partir do momento que eles vestem e fazer parte do nosso clube, eles tem uma responsabilidade nas mídias sociais. Então tudo que ele posta, ele carrega a imagem do clube com ele. Se o clube julgar que ele está prejudicando a imagem do clube, ele vai ser desligado. Então quando eles usam as redes sociais, tem que ser sempre bem consciente. Tem que lembrar disso. Então se limitar às coisas de família, de amigos, nada de provocações, isso acontece bastante e nada que não combina com a vida de um atleta. Bebidas, baladas, comentários políticos, essas coisas. Tem essas conversas, tem essa consciência e essa atuação nossa no dia a dia deles. - Que perfil um treinador desta categoria deve ter? - Assim, varia muito de grupo pra grupo, mas algumas coisas são constantes. Primeiro, muitos deles a gente recebe jogadores de fora da cidade, então a gente acaba virando um pouco da família, né, a responsabilidade tanto pra educação como de saúde, higiene, essas coisas, mas também de apoio emocional. Eles não tem a família aqui próximo pra ajudar, até meninos aqui da cidade, muitos deles vem de famílias quebradas, sem pai e tal e aí ao longo dos anos você acaba... se você treina um menino durante 3 anos, você cria um relacionamento que as vezes é mais forte do que ele tem com o pai que ele não conhece. Então você é uma referência, principalmente de uma figura masculina, você é uma referencia que ele não tinha na vida dele. Então acho que isso é muito importante. Eu presto atenção mais nesses meninos que não tem pais, eu já sei que eu vou ter que ter uma atuação um pouco mais próxima. Depois tem que ser muito firme, essa é uma idade muito complicada quando eles começam a descobrir a vida e aí muitos desses que vem de fora da cidade, vem do interior, ficam as vezes perdidos, deslumbrados com tudo que acontece aqui na cidade, então tem que ter esse acompanhamento, educação e firmeza. Porque é muito fácil eles se perderem nessa idade. O cara (atleta) chega aqui no clube e meio que sente que atingiu, que realizou um sonho e as vezes acha que chegou num ... deu o que tinha que dar e agora está todo feliz e se acomoda muito e a gente precisa mostrar que só está no início, né, categoria sub-17 ainda tem muito pela frente. - Poderia nos dizer algo sobre o tipo de liderança? - Precisa liderar mas ao mesmo tempo que eu venho percebendo nos últimos anos que quando você lidera demais você acaba tirando responsabilidade deles, e o envolvimento no processo, então eu procuro primeiro educar alguns líderes dentro do grupo em cada ano, pra eles puxarem o grupo. Tem que mostrar o caminho mas tem que deixar eles ficarem envolvidos pra não ficar tudo pra mim, como técnico. Eles tem que sentir que eles fazem parte do processo e a responsabilidade é deles tanto quanto minha. Eu tento chegar cinquenta cinquenta, confesso que ainda não consegui. Tem anos que você consegue mais, outros menos dependendo do perfil do grupo. Se tem algum cara que naturalmente é um líder, fica mais fácil, se não você tem que 190 incentivar isso e nem sempre é possível, se não vem natural deles, aí tem que ensinar. A gente busca ensinar eles, mostrar o caminho, né, recomendar algumas leituras, vídeos, mostrar jogadores que tem esse perfil que eles conhecem e tentar incentivar, né. É legal, essa é uma parte que quando você consegue estimular isso num atleta e era uma coisa que estava escondido, mas de repente você estimula e vê que ele toma gosto e faz com qualidade aí é muito gratificante. - Sobre saber ouvir os atletas? - Tem que ouvir, tem que ouvir tanto coisa da quadra, de basquete, durante os treinos, durante os jogos. Eu não tenho vergonha nisso, muitas vezes durante o jogo eu recebo um questionamento ou uma sugestão, eu analiso e se eu acho que é pertinente eu posso implementar, inclusive muitas vezes eu procuro ... as vezes a sugestão não é correta taticamente mas o fato de vir deles, eu acho que se vem deles eles vão executar com mais convicção. E aí vai funcionar melhor do que uma coisa taticamente correta mas que os caras não fazem com convicção. Então as vezes eu até aceito com mais facilidade quando vem deles, eu quero estimular isso, voltando para aquilo que eu falei, envolvimento no processo. E ouvir fora da quadra, né. As dificuldades que tem, com 17 anos a gente sabe que passa por muita coisa, a cabeça, fica aprendendo as coisas novas da vida e nem sempre sabe lidar com isso e muitas vezes não tem orientação ou alguém pra ouvir, então a gente acaba fazendo isso. Menos do que eu gostaria, eu não consigo fazer na medida que eu acho que eles merecem mas eu tô atento à isso. Até quando eu não consigo fazer eu sei que eu estou falhando mas eu sei que é um aspecto importante. - Sobre como controlar as emoções? - Ah, é um trabalho constante de aprendizagem e acho que da personalidade de cada um, né. Tem que ter um preparo. Eu acredito que durante o jogo é um pouco mais acentuado né. Mas eu acho que em qualquer profissão você tem necessidade de controlar as suas emoções. Saber equilibrar, saber não trazer coisas da vida pessoal pra quadra, tentar isolar essas coisas. Não vejo isso como muito diferente de qualquer outra profissão. A não ser na hora do jogo que aí as coisas normalmente estão mais aceleradas e você não tem muito tempo pra tomar decisão. Mas aí a gente procura trabalhar isso, né. Faz parte. Assim como você (treinador) estuda tática e metodologias de treinamento, você tem que também estudar controle emocional. - Que normas e códigos profissionais um treinador do sub-17 deve levar em conta? - Na categoria sub-17 eu procuro seguir normas que seriam de um atleta profissional. Voltando para aquela questão que o clube enxerga eles um futuro, então já estamos tentando inserir eles num processo aonde eles seguem essas normas que seriam de um atleta profissional. Disciplina, com horários, seguir uma vida de um atleta em termos de descanso, alimentação, higiene e voltando também pra questão das redes sociais, essas normas né, que o clube exige de um atleta profissional, se aplica no sub-17, como se fosse um funcionário mesmo. - Tem algo a dizer sobre atualização profissional e formação adicional? 191

- Faço menos do que eu gostaria. Sinto falta. Hoje infelizmente se limita a internet. Não consigo parar, pra sair pra fazer um curso. - E sobre aspectos éticos e Fair Play nesta categoria? O que você considera importante saber e transmitir aos atletas? - Aí tem muitas questões. Começa pela parte de recrutamento, ética no recrutamento, questão de trazer jogador de outro time, a gente procura fazer isso de maneira muito ética, não contatando o jogador direto, indo ou por agente, clube, técnico, né, nessa idade até os pais, então começando na ética do recrutamento. E a ética do trabalho, que tem a ver uma coisa de tempo de jogo e dar oportunidade de ser ético com todos eles mas ao mesmo tempo colocar a ética do clube em primeiro lugar, o que eu quero dizer é assim, em todo time tem um jogador que a gente sabe que tem potencial pra continuar pras categorias de cima e tem jogadores que não. Então eu preciso ser ético com o clube em dar mais oportunidades pra esses jogadores que o clube faz investimento nele, né. Então preciso equilibrar essa questão de ser ético com o clube, com o futuro do clube mas também ser ético com os meninos que a gente sabe que não vão chegar mas estão lá, estão se esforçando, estão seguindo todas as regras, são corretos. As vezes existe um conflito nesses dois momentos (aspectos) mas eu preciso sempre lembrar que a questão do clube está acima um pouco. - Quais valores pessoais você acredita que sejam importantes para atuação profissional nesta categoria? - Liderança, ética, atualização, dedicação, disciplina, exemplo ... deve ter mais mas não me vem na cabeça agora. - Quais competências para a vida você acredita que os treinadores desta categoria poderiam auxiliar os atletas a desenvolver? - Esse é um assunto interessante e a gente fala bastante nas conversas assim, que não são diretamente ligadas á tática, a gente fala muito sobre o que será depois, o que vai sobrar da temporada, do trabalho. Uma coisa que eu procuro passar pra eles é sobre o processo né, a importância de você dar valor aos pequenos passos do processo e não dar valor só ao resultado final, cada etapa é importante e na verdade isso que fica depois e isso é uma coisa que você não enxerga na hora mas com a minha experiência eu tento passar pra eles pra tentar ter essa visão que no final da temporada você sempre acaba olhando pra trás e valorizando o que você fez, indiferente do resultado. Aí levar isso pra vida, você está trilhando essa etapa nesse clube, que é um tijolo que você está colocando no seu processo e se foi bem ou não esse período, é o que foi e aí se você encarar isso de uma maneira mais global e não dar uma importância exagerada para aquele momento, mas pra enxergar isso como uma etapa da sua construção vai facilitar muita coisa e não vai dizer nada sobre o seu futuro, sua personalidade, mesmo se você continuou nesse clube, virou jogador profissional ou não, você construiu alguma coisa lá que vai te auxiliar em alguma coisa no futuro. - Pensando em termos de planejamento e gestão ao longo de uma temporada, o que um treinador precisa saber? - Óbvio que tem a parte burocrática, né, de planejamento de viagens e toda essa parte administrativa, né, isso é meio óbvio. Mas tem um planejamento que 192 eu considero importante que seria o planejamento da evolução. Até na categoria sub-17, e eu acredito que no sub-19 e no Adulto, tem que ter um planejamento de crescimento. No sub-17, no primeiro semestre, na primeira metade da temporada eu procuro trabalhar muito, dar novidades pra eles, principalmente na questão de posição, óbvio que a gente sabe quem vai ser pivô, quem vai ser armador, mas a gente procura colocar eles em situações diferentes pra estimular um pouco de crescimento, que eu sei que na segunda metade da temporada se o pivô aprendeu a driblar, melhorou um pouco o drible dele, depois ele vai poder usar isso, jogando como pivô e vai poder usar isso e vai me dar resultado e retorno na segunda metade. Então ter um planejamento em relação à isso, eu acho que isso é o mais importante. E planejamento de crescimento tático. Leitura de jogo, no início geralmente os atletas tem muita dificuldade e a gente vai trabalhando isso pra ter uma possibilidade de uma variação tática maior no final da temporada e que já se equivale até um pouquinho com o que está acontecendo no sub-19 e Adulto. - Você acredita que nesta categoria o treinador deva saber demonstrar algum tipo de gesto técnico para seus atletas? Se sim, quais? - Sim, sim. O gesto esportivo específico. É óbvio que assim, o fato de ter jogado ajuda um pouquinho, não é o mais importante. Acho que precisa demonstrar porque hoje os meninos são muito visuais, eles tem essa facilidade de captação visual, as vezes você mostra um vídeo e o cara vai e consegue executar na hora sem ter treinado e praticado o gesto antes. Então é importante as vezes mostrar. Eu sei que eu não vou conseguir mostrar com perfeição, porque eu não cheguei nesse nível de jogo mas ainda consigo acho que um pouco melhor que eles, em alguns momentos, então eles já tem uma referência. - O que os treinadores do sub-17 devem saber sobre o uso de tecnologias? - Edição de vídeo. Matemática, pra estatísticas, né, análise de estatísticas. Tem também aplicativos de scout que pode usar pra ajudar a gente nos jogos e durante a temporada. - Como o treinador deve agir para criar e manter um ambiente adequado de trabalho nesta categoria? - Boa pergunta. Difícil. É difícil. Porque a gente está nessa correria de atropelando muito as coisas e as vezes a gente não dá a devida atenção pra essa questão mas é importante a gente conduzir isso de criar um ambiente bom. Ambiente ao mesmo tempo profissional que não fica um negócio muito solto mas ao mesmo tempo prazeroso, né, tentar equilibrar essas duas que é uma arte, não é coisa fácil e não tem um molde pra isso, depende muito do grupo, depende muito dos resultados que você teve nas semanas anteriores e o que vem pela frente. É uma arte mesmo. - Como manter-se motivado em seu trabalho junto a esta categoria? - Gostar do trabalho, ver que as coisas estão funcionando. O fato de você ver jogadores seus chegando, né, se profissionalizando, isso é muito motivante. O apoio e o feedback do clube valorizando o trabalho. - E como manter seus atletas motivados? - É difícil fazer isso no treino, no jogo não tem muita dificuldade, no jogo eles se auto motivam por serem competitivos por natureza. Talvez tenha algum jogo ou 193 outro que a gente sabe que vão ser mais fáceis que a gente tem que dar um empurrão nesse sentido mas a maior dificuldade é uma semana ou duas semanas sem jogo, onde você só treina, ali que tem mais dificuldade e a gente procura falar sobre essa questão do processo, mostrar que é importante, mostrar que o treino não vai dar resultado agora mas faz parte de um processo. Algumas atividades mais prazerosas, alguns momentos fora da quadra também que fecham um grupo, algumas viagens, viagens sempre fazem bem pro grupo, pra torneios. É isso. - Você costuma fazer reflexões e análises sobre seu desempenho como treinador nesta categoria? Se sim, quais? - Claro. Análises de vídeo. Análise de estatística. Falar com outros profissionais que estavam assistindo os jogos, falar com os próprios jogadores pra entender aonde eles estão sentindo dificuldade e como pode facilitar as coisas pra eles. - Existe mais alguma competência que você considera importante, ou algo que você gostaria de comentar quanto às competências necessárias aos treinadores de basquete? - Não cara. Acho que as questões cobriram tudo. - Que bom. Muito obrigado! Só tenho a te agradecer!

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- Quantos anos você tem? - Estou com 38 anos. - Quanto tempo de experiência como treinador de basquete? - 20. - Foi atleta de basquete? - Fui atleta de categoria de base. Por 8 anos. - Quais foram as principais competições e campeonatos disputados como treinador? - Sulamericano, Seleção Brasileira sub-17, Copa América sub-18, Campeonato Brasileiro sub-17, LDB e Campeonato Paulista (FPB). - E com relação aos títulos conquistados como treinador desde o início da sua carreira? - Campeão brasileiro com seleção paulista sub-17, campeão da Liga de Desenvolvimento (LDB), campeão sub-18 brasileiro, campeão sub-16 brasileiro e campeão estadual com o sub-16 e com o sub-17 duas vezes. - Grau de instrução? - Sou mestre em psicologia da saúde, pós graduado em treinamento personalizado e licenciatura plena em Educação Física. - Quais conhecimentos técnicos e táticos você considera que um treinador de basquete nessa categoria deva possuir? - Ele tem que ter um bom domínio dos fundamentos à princípio. Apesar de já estar numa idade próxima ao fim da linha da base, ainda estão em desenvolvimento, tem muito jogador que chega ou até os nossos que tem inúmeras carências técnicas que pra mim é o fundamento mais importante do jogo. Você tem uma tática maravilhosa, você deixa o cara livre e ele erra, não adianta de nada, então os fundamentos básicos precisam ser muito bem trabalhados, logo eu acho que o técnico tem que ter uma noção assim, tem que ter um domínio da variedade, da gama de recursos técnicos que ele pode fazer com que os jogadores se desenvolvam e melhorem. Já em relação à tática, eu acho que essa idade, esse final da base aí você precisa trabalhar com uma gama de conteúdos táticos mais focados pra criatividade e pra leitura pra que ele possa colocar o tipo de jogo dele em prática do que propriamente as ideias do treinador. Então eu gosto muito de sistemas de jogo aberto, que são sistemas de jogo que se auto alimentam, ele não é aquela jogada que tem um começo, meio e fim. Basquete moderno está assim, né, ele (atleta) chega jogando e tem liberdade pra parar um movimento porque ele caiu com um jogador menor, entendeu, e todo mundo saber jogar de acordo com as ações do jogador da bola e principalmente jogadores sem bola, que é a nossa briga pra tentar desenvolver o basquete nacional nesse sentido. A gente joga muito com a bola e pouco sem a bola. Eu dou muitos educativos de qual é a leitura e o que eles tem que fazer quando não estão com a bola. E isso é um pouco profundo para um menino mais novo, né, ele tem uma leitura um pouco mais simplificada. Um jogador de sub-17 tem que ter condição de enxergar pelo menos 4 dos jogadores da quadra, não só ele e o jogador que marca ele. Então 195 pra ele conseguir fazer isso ele precisa de um estímulo de educativos que corram atrás disso. Então é basicamente isso, muito fundamento, o respeito com a periodização do preparador físico. Eu tenho 7 tipos de treino em relação à preparação física, que eu posso dar. E a gente controla isso com uma planilha do Excel super simples. O preparador manda o que eu posso fazer na quadra. E tem esse respeito que é um indivíduo só. Aqui tem uma nutricionista, uma psicóloga, aqui no clube a gente tem uma gama de profissionais trabalhando com aquele indivíduo. Então a gente tem que entender que ele é um indivíduo só. Ele não é um indivíduo na musculação, um outro aqui na quadra, se foi puxado lá eu tenho que segurar aqui. - O que um treinador deve saber para ensinar atletas dessa categoria? - Sem dúvida alguma ter uma boa leitura do que ele tem na mão pra depois ele partir das ideias dele pra ver o que ele vai conseguir fazer, né. E também respeitar o limite do grupo dele. Não adianta ele vir com algo muito mirabolante que eles (atletas) não estão conseguindo fazer, tem que ir do simples pro complexo sempre e ter isso bem claro na mente dele, que você dá uma tarefa e a tarefa foi bem executada, incrementa a tarefa, porque essas duas coisas são problemas, se você dá uma tarefa muito superior ao que eles conseguem atingir isso além de desmotivar o coração da coisa, você não consegue treiná- lo bem e se você dá uma tarefa que ele domina todos os dias também vai desmotivar e não vai avançar porque o desequilíbrio é o que faz com que a gente equilibre novamente e desenvolva, vá pra frente. Então você ter um bom planejamento longitudinal acho que é fundamental. Você vá cumprindo etapas de acordo com o desenvolvimento do seu grupo, ter esse olhar é fundamental. - O que um treinador desta categoria deve saber sobre a instituição e o setor em que trabalha para desempenhar suas funções? - Primeiro acho que ele tem que entender qual é o cunho, qual é o objetivo, qual é a filosofia ou onde que ele está inserido. É um clube que quer ganhar ou é um clube que quer desenvolver, é um clube com paciência pro treinamento a longo prazo, é um clube que quer um resultado imediato. Eu acho que um bom profissional se enquadra bem dentro da instituição que ele estiver mas é importante que ele saiba primeiro qual é o objetivo pra ver se ele encara o desafio ou não. Encarou vai fazer. Então a primeira coisa é ter essa noção. Aqui no clube eles querem desenvolver jogador. A gente ganha campeonatos por consequência de um bom trabalho, de ter bons meninos, o país inteiro quer jogar aqui, ok, mas não é o principal, então você tem um tranquilidade pra trabalhar, pra fazer o que é melhor pro desenvolvimento deles, por isso acho que eu me enquadro aqui. Se fosse uma instituição que quisesse resultado a qualquer custo na base muito provavelmente eu nem assinaria, eu nem iria. Então acho fundamental saber isso. E entender e respeitar muito bem os setores e o organograma. Não é legal você ir lá e conversar com o presidente do clube, tem que conversar com seu diretor quando você tem um problema, pro seu diretor ver se ele leva pro presidente do clube ou não. E respeitar os que estão pra frente, os que estão pra trás, que estão pra cima, os que estão pra baixo, jogador. Acho que a gente é avaliado por todos, né, eu sou um técnico de basquete e eu sei que sou público, como público você é avaliado por todo mundo, algumas críticas são construtivas, algumas pessoas importam outras não. Mas que eu sei que eu estou aqui pra ser criticado não posso lidar mal com isso. É uma competência importante do técnico saber. 196

- O que um treinador de basquete desta categoria deve saber para preparar os atletas, tanto individualmente como coletivamente para as competições? - Individualmente a gente faz o que a gente chama de trabalho setorizado ou específico. Nessa idade já boa parte deles tem um caminho futuro de Adulto, o pivô está no pivô, armador está de armador, apesar do meu esquema de jogo em que meu 4 (pivô leve) e meu armador fazem as mesmas coisas, mas é importante essa definição e ele ficar muito bom nas coisas simples que ele precisa fazer. Então dificilmente eu dou um treino específico muito mirabolante tecnicamente, eu quero que ele faça muitas vezes algo simples muito bem feito, que é o que eu vou querer no jogo, né, e é a forma que eu vejo o basquete, movimentos com poucos dribles, muitos passes e arremessos de alta porcentagem. Então onde mais ou menos sobra pra você? Vamos treinar dali pra você ter uma bom desempenho. Individualmente é isso. Coletivamente acho que uma capacidade importante do técnico é entender que não vai funcionar se o time não abraçar. As vezes você tem uma ideia e aquele time, sei lá, não é tão inteligente para aquilo, ou então você tem uma ideia que está amarrando um pouco seus jogadores, eles estão sentindo isso. Então primeira coisa é você ter um diálogo aberto, "não estão gostando? Vamos mudar? Ok, vamos mudar". Traz uma outra proposta, então, não fechar, "ah, meu basquete é esse aqui e acabou". Porque o importante é o técnico ser o melhor para aquele time e não "ah, eu já tenho uma carreira assim, eu sei que funciona assim, eu vou fazer e acabou". E ao mesmo tempo ter algumas linhas que você não pode abrir mão. Então essa flexibilidade e o quanto você flexiona que eu acho que é o segredo pra essa mulecada de 17 a 19 anos, que boa parte deles já acham que são os caras. Então você abaixar a bola no dia a dia, falar "olha, como você precisa melhorar". No dia a dia, você não precisa humilhar e falar "você não é ninguém". Ele vindo aqui e sendo corrigido todo dia com respeito ele vai perceber que ele tem um lastro a melhorar e aí não tem como não ser humilde. - O que um treinador de basquete desta categoria deve saber para se relacionar e se comunicar com seus atletas? - A primeira coisa é entender um pouco do mundo e da fase que eles estão vivendo na atualidade. Eu fui um adolescente completamente diferente desses que estão aqui hoje, as coisas mudam, né. A gente está com uma geração, na minha opinião um pouco mais frágil emocionalmente do que na minha e a minha deve ser um pouco mais frágil que a dos meus pais, acredito eu. Isso tem coisas pró e contra, eles são muito articulados, você estar antenado com o que acontece na mídia social é importante, não ser invasivo, entende e tentar encher a bola dele na rede social quando ele vai bem as vezes surge mais efeito do que você elogiar na quadra aqui no dia a dia, ele se sente importante, pô o meu treinador comentou a minha foto do Instagram e falou que eu sou o cara. Que eu ajudei ele aquele dia. Ser sensível à essas novas coisas que é o que eles estão afim. E falar o menos possível que "ah, na minha época era ...", o que importa é a época atual, é o que está acontecendo agora. E se você não souber moldar o seu trabalho de uma forma que eles consigam aprimorar o jogo deles com você, você fica de fora. Então eu acho fundamental essa atualização constante que a gente tem que ter e não tem como não falar da mídia, do Instagram, tem muita gente que vem aqui no ginásio e bate foto, muitos jogadores dos outros times estão com foto aqui no clube, porque aqui 197 quase todo jogo tem 3 ou 4 fotógrafos batendo foto. Então hoje infelizmente ou felizmente se você faz algo e não coloca na mídia, no meio social, você não fez. E aí se tudo que faz coloca lá também é que a sua vida está meio vazia. Então você tem que ter esse equilíbrio também. Colocar toda vitória não dá, né. Põe se ganhou um título, fez alguma coisa legal. Mas se você não colocar a impressão que dá é que não aconteceu nada, porque ninguém vai saber. - E com o grupo social que rodeia os atletas? Familiares, agentes...? - São alguns aspectos aí. Primeiro a família do jogador, depois a namorada do jogador e o agente. São três relações bem diferentes. Eu não sou um técnico de me preocupar em cobrar nem me meter em nada que seja extra quadra. Agora se algo extra quadra modifica o jogador dentro da quadra aí é comigo, aí sou eu que tenho que investigar, a nossa psicóloga, enfim. Eles são seres humanos que vivem 24 horas e trabalham 4, as outras 20 acontecem um monte de coisa e nem sempre esses meninos tem a cabeça pra desligar o que acontece, vir aqui e fazer o melhor deles e ligar de novo quando ele sai. E são poucas pessoas talvez que consigam fazer isso bem, realmente, né. Então essa relação dele (atleta) com namorada eu só interfiro se o rendimento dele aqui caiu. Tá namorando e ele continua a mesma coisa aqui eu não tenho nada com isso, eu tô até feliz, prefiro namorando que vai menos pra balada. Relação do técnico com os pais é outra relação importante porque normalmente assim, o pai vem com um olhar de um time individual. A esmagadora maioria dos pais se interessa exclusivamente pelo futuro do filho dele, pelo presente do filho dele, pelo técnico e a relação com o filho dele. Eu entendo os pais, mas eles tem uma visão totalmente diferente da minha. Então tem pais que ok, tem pais que dá um certo problema. Normalmente quando um pai me procura e critica eu dou razão, independente do que ele fale. Porque acaba a conversa. Eu falo que eu vou ver, pode deixar. Não costumo discutir com alguém que não é da minha área. Eu não tenho problema nenhum com pais, graças a Deus. Tem um ou outro que não vai muito né, com a gente. Nem Jesus Cristo agradou todo mundo. Não estou aqui pra agradar nem os meus atletas, imagine os pais dos meus atletas. Mas sempre fortaleço muito a relação deles (atletas) com os pais deles. Nunca fico concorrendo e falo pra eles que o papel dos pais deles, na minha opinião, é chegar depois do jogo e falar "como você jogou bem! Você é o cara!", ou até se ele é um pai que jogou basquete um dia "pô, porque você não chutou aquela bola e não sei o que?", e eu acho que os atletas devem bater um papo com a família, eles devem fazer parte disso, afinal de contas eles vem assistir os jogos, se fosse uma bailarina ou qualquer tipo de atividade também, eu acho isso saudável. Mas os atletas tem que entender que tem um técnico aqui que quando eles fazem 8 coisas boas e 3 ruins, eu dou parabéns pelas boas mas eu falo das 3 ruins e vou corrigir, porque eu quero amanhã 11 boas, por ele, por mim, pelo time. Então eu estou num outro papel, meu papel é toda hora tirar ele do conforto e o da sua família, se for uma família bem estruturada é te dar conforto. Então os nossos trabalhos, psicologicamente falando são opostos, né. Mas eles não precisam ser contra um ao outro, eles só estão em paralelo digamos assim mas podem ser para o mesmo lado e é pro bem deles, pra que eles se desenvolvam. E os agentes cada dia mais eles estão assediando os meninos mais novos. Então o agente que tem jogadores, apesar do contrato ser com o pai e o menor de idade e são credenciados pela FIBA, eles estão fazendo uma coisa que no mundo inteiro não pode, eles estão pegando jogador que é sub-16 pra agenciar e pegar um dinheiro desse menino. 198

E não pode fazer isso. Tem alguns que fazem gratuitamente até o atleta virar Adulto e normalmente no meio do sub-19 ele vira maior de idade, aí é onde os caras (agentes) pegam mesmo. E eu acho bom o atleta no último ano de juvenil ter um agente. Ou pra conversar aqui no clube por ele ou até pra levá-lo para um outro clube caso o clube dele não o queira. Então o trabalho do agente não é um trabalho concorrente desde que ele não fale muito de basquete. O técnico quer que o atleta passe a bola e jogue coletivamente e o agente quer que ele faça números e fazer números não é dar um passe extra, ele tem que cortar e dar uma assistência, ele tem que fazer o ponto, isso trava muito. Quando o time está na sua mão não atrapalha em nada. Mas já tive times que não estavam tão assim na minha mão e muito nas mãos dos caras (agentes) e aí era uma bola pra cada um e eu não conseguia fazer nada. - E com os dirigentes? - Eu acho assim, que cada técnico tem a sua própria competência e linha de trabalhar. Eu sou um técnico que jogo tudo que eu tenho aqui na quadra. Acaba o meu treino eu vou lá, bato o cartão e vou curtir minha família. Eu não fico zanzando no clube, poucas vezes aceitei comer uma pizza com a diretoria porque eu prefiro ir pra casa e acho que essa relação muito estreita técnico e diretoria atrapalha um pouco o profissionalismo de ambos e eu quero uma diretoria muito profissional que olhe o meu lado profissional porque eu acho que o meu lado profissional é muito bom, né. Agora eu não acho muito saudável amizades profundas com diretores. É uma competência que eu acredito ser importante pro distanciamento que o profissionalismo exige. Agora, você tem que dar todas as informações que os caras (dirigentes) te pedem. Se me pedem hoje, hoje ou no máximo amanhã eu já entrego o que ele quer de estatística, o que for. Acho que quando você tem dúvida, não tem problema algum sentar com a diretoria e falar "olha, tô com dúvida se fico ou não fico com esse jogador, os riscos são esses, pode ser lesão, pode ser a cabeça dele que não está boa, pode ser que ele não evoluiu o que ele poderia evoluir", "Será que se a gente mandar embora ano que vem ele evolua em outro clube e a gente perde esse jogador?". Então quando você tem dúvida, só tem um lugar pra você ir, pra cima. "Olha, estou com essa dúvida, vocês arrumam mais uma vaga? Mais dinheiro pra poder arriscar?". E eles muitas vezes falam, "não, escolhe um ou outro", e as vezes falam "a gente vai arrumar mais dinheiro e vamos deixar ele também aí". Mas ter sempre eles (dirigentes) com você. E sempre que ganha, exaltar os caras, chamar pra foto, não é só porque você deu o treino e a mulecada que correu e eles estavam ali tomando uma cerveja e olhando que eles não fazem parte disso, porque eles que pagam tudo que está acontecendo aqui, né. Então sempre que eu tenho oportunidade de ter um diretor, tem que bater uma foto com os caras, eles que pagam. Eles querem que nós estejamos aqui, entendeu, eles que fazem as coisas acontecer então acho importante não ficar babando ovo mas é importante dar moral pro cara na hora que ganha, na hora que tem um lance legal. E ter sempre transparência, porque é um meio de muita fofoca. Eu deixo sempre tudo muito transparente, eles me conhecem muito bem, se chega alguma fofoca lá eles vem aqui me falar e me perguntar se é verdade. E várias nem me pergunta porque sabe que é fofoca. Então isso é uma competência importante, tem que estar muito ligado com fofoca, porque a gente é público e o pessoal sai falando. - Com a mídia? 199

- Uma coisa que eu acho muito feia é falar mal do próprio time ou do próprio clube. Começa por aí, eu posso achar e estar indignado mas eu sempre vou dar uma entrevista olhando as perspectivas positivas e vou vender o meu clube positivamente, não interessa, "ah, mas você é um falso", pode me chamar do que quiser, eu acho que eu estou sendo profissional, tô zelando o meu trabalho, o meu clube e os meus jogadores, é um time isso aqui, não é imparcial, é parcial, eu defendo o meu clube e acabou. Então a primeira coisa é olhar o que aconteceu de positivo, né e tentar exaltar isso. Se eu não tenho nada de positivo pra falar eu não dou entrevista. Eu tenho essa opção também, eu não sou obrigado a dar entrevista. Então saber correr de um repórter as vezes se está com cabeça quente é uma boa, é uma competência. Já fiz isso. E normalmente eles chegam no pior momento que é quando você perde ou perdeu, então tem que ter o sangue frio de achar alguma coisa boa naquilo ali e falar que o mundo não acabou, vamos recuperar na próxima, ser sempre positivo. Que aí você passa uma imagem pra sua diretoria, pros seus atletas, que você confia, que você acredita. Que não é só esse resultado que vai rotular o que nós somos, né. - Que perfil um treinador desta categoria deve ter? - Ponto um ele tem que ser muito estudado, na minha opinião. Muito antenado com a tendência atual do ramo dele. Como que estão jogando na Europa, nos EUA, como que o mundo está jogando, hoje em dia eu não acredito mais nessas coisas de escola de basquete, não existe mais, globalizou, o cara lá do Japão olha o Golden State jogando e põe lá, porque ele tem dois caras que arremessam bem e ele vai fazer isso. Então é importante estar por dentro das tendências, do que está acontecendo. Outra coisa, ele só vai ter respeito se ele tiver conhecimento, ele não vai ter respeito gritando nem sendo legal pra caramba com todo mundo, porque todo mundo quer ganhar e se você não for competente não vai ganhar. E ele (treinador) sabe o quanto o técnico pode fazer a diferença, o quanto o armador dele pode fazer a diferença, o quanto todo mundo tem que ir bem pra ele poder aparecer também. É um esporte coletivo. Então se você não for competente, não for estudado, não entender o que você está fazendo, você não vai ter o time na sua mão. Não vai ter respeito e respeito acho que é o ponto 1 dos relacionamentos principalmente com o embate entre os jogadores. Placar toda hora te pondo pressão, tempo que está acabando, enfim. Já tem bastante situação de stress no jogo pra ele (atleta) olhar pra um cara que ele não confie e falar "ih,esse aí vai me salvar?". Ele tem que olhar pra você e falar "esse é o cara que vai me salvar". E custa tempo, da muito trabalho conseguir esse tipo de relação com o jogador. Então por isso que eu fui estudar psicologia também que eu acho fundamental o cara (técnico) ter um bom relacionamento com os atletas dele. Acho que treinador carrasco para os brasileiros não funciona. Ele tem que ser um cara firme que oriente. Se você não for firme não serve e se você não tiver orientação você não vai ter respeito, logo as coisas não vão acontecer. - E sobre o tipo de liderança? Você já comentou algumas coisas, mas gostaria de complementar mais alguma coisa? - Eu acho que todos ele precisam liderar pelo exemplo. Se ele vai ser um cara mais pro diálogo, uma abordagem mais de "vamos construir juntos"... esse último jogo eu assisti junto com o meu time a edição do analista (de vídeo) e 200 nós determinamos como iria funcionar, eles olhando abraçaram e chegou lá e funcionou, as vezes não funciona. - Sobre saber ouvir os atletas? - Tem momentos que eu simplesmente determino, "nós vamos marcar assim, porque eles (outro time) tem essa característica", eu acho que você não tem que ter medo de falar a real, se você não tem certeza e tem outras cabeças ali que entendem do assunto, por que não o jogador dar uma ideia mirabolante? Eles sabem o que está acontecendo. - Sobre como controlar as emoções? - Eu sou um cara que não fico nervoso. Sou um cara bem tranquilo, eu costumo meditar, trabalho muito a minha respiração e é muito difícil alguma coisa no meu dia a dia me tirar da boa, minha esposa, minhas filhas, porque eu busco muito meu desenvolvimento espiritual, né, eu sou católico, gosto muito do ecumenismo e gosto de ler sobre as outras religiões, acredito em algo superior que nos ajuda que nos da força pra lidar com a vida porque tem algumas derrotas que são bem doídas na vida, né. Como um sobrinho que nasce com Síndrome de Down e como nós vamos conseguir ajudá-los, né, no sentido de vai ter que ter um cuidado especial, nós temos que olhar isso, de uma forma diferente, porque eles são diferentes, ou mesmo você planejar uma coisa e o seu time chega na metade do caminho, sabe, tem algumas derrotas que doem muito. Não que eu não sinta mas eu acho que eu estou muito bem preparado pra conseguir recomeçar porque eu faço um trabalho psicológico antes das coisas acontecerem. Porque comemorar, quando ganha aparece um monte de amigo, aparece um monte de gente mas quando você perde cara, quando você perde é mais difícil, né. Então você com você mesmo é a primeira coisa que precisa estar bem pra você poder se reequilibrar e seguir. Eu gosto muito de fazer alguns trabalhos de respiração e tento meditar pelo menos um pouquinho todos os dias. - Quais normas e códigos profissionais um treinador deve levar em conta nesta categoria? - Todos os funcionários do clube trabalhamos pra esta empresa. Eu estou no setor da empresa que termina a fabricação dos jogadores. Começa lá no sub- 12, chega pra mim e eu entrego pro Adulto. Então assim, eu tenho uma forma de trabalhar bem simples, eu gosto das coisas simples muito bem feitas e tento todo dia demonstrar pra eles e ter alguns hábitos que trazem a importância da disciplina na vida e no esporte. Então acho que a primeira palavra de regra, de conduta, chama disciplina, a disciplina ela não é chata, ela é necessária. Ela é chata pra quem combate a disciplina. Se você é um cara disciplinado e a disciplina está no seu dia a dia, está nas coisas que você faz, você tem esse costume de ser disciplinado, a disciplina é uma aliada necessária de pessoas de sucesso. A hora que eles entendem isso fica simples, então por exemplo, todos os dias a gente começa o treino do mesmo jeito, numa reunião circular em que eles devem estar sempre no mesmo lugar. Tem um lugar determinado. Toda vez que eu falar "reunião" e a gente pode estar no aeroporto, que uma coisa é a gente se encontrar e dar um recado, outra coisa é você fazer uma reunião, então se eu estiver no aeroporto e eu falar "reunião" eles vão prestar atenção porque aquilo é muito importante. Quando eu só vou lá e falo "galera, 10h em tal lugar", ok é só um recado, isso não é tão importante assim, 201 entende? Então, trazer pros profissionais que estão trabalhando com isso que tem hora da seriedade e tem hora da descontração e que a vida tem seriedade e tem descontração, o jogo tem momentos de descontração, se tem um lance engraçado e a bola sai e todo mundo ri, qual o problema? Só porque nós estamos jogando basquete e somos pagos pra isso? Um cara comemora uma buzzer (converter bola no último segundo) e faz uma dancinha, é o que o público veio ver, eu não vou ficar aqui limitando esse moleque de comemorar. Eu quero que ele volte pra defesa se o jogo estiver rolando, se o jogo parar e ele quiser dar um peixinho no meio da quadra eu não tenho nada a ver com isso, a comemoração é dele, entendeu, é o espaço dele, ele quis fazer aquilo, não ofendeu ninguém, está tudo certo, né. Então essas regras de Fair Play, de ter uma vida de atleta, que ele precisa descansar, precisa comer, porque o corpo dele é o material de trabalho dele, se ele não cuidar. - Tem algo a dizer sobre atualização profissional e formação adicional? - Ah cara, eu acho fundamental. A faculdade não me preparou para o que eu faço hoje. Ela me deu uma base boa, tem uns conteúdos ali... me ensinou a estudar principalmente a metodologia científica que depois que eu aprendi eu resolvi ficar mais dois anos como monitor que me ajuda hoje a produzir conhecimento, que eu acho que é uma competência fundamental para um técnico hoje é produzir movimentos, produzir tipos de defesas diferentes, criar coisas que funcionem, que deem certo. Então pra isso o experimento é fundamental porque se você tem um método, talvez se você chegar lá, um problema muito bom, porque também não adianta pesquisa que não chega a lugar nenhum não serve pra nada. Então ela me deu essa base assim. Já a pós graduação, hoje eu consigo avaliar o meu preparador físico porque eu fui lá e fiz a pós graduação em treinamento, se eu não entendesse de treinamento... já fui personal, já trabalhei em academia, já fui preparador físico, eu acho que você passar por todas as áreas, eu já limpei quadra, eu já enxi bola, se você quando estagiário tiver a oportunidade de passar em todas aquelas coisas ruins que ninguém quer fazer, quando você for o cara que manda nos outros você sabe até aquele cara o que ele está fazendo ali, o que ele está passando e como ele tem que ser tratado. Se você tiver essa vivência. Então um técnico se ele acha que só ele fazer um curso ou outro por ano e dar treinos e um vídeo ou outro de internet, eu acho que tem que buscar o conhecimento no sentido de que quantas coisas estão em volta de um técnico de basquete. Será que ele domina todas? Escolhe uma e começa a estudar. Eu comecei a ser treinador de basquete porque eu joguei e eu entendia um pouco da técnica e do tático, aí eu fui e colei em treinadores que eu achava muito bons tecnicamente e taticamente. A hora que eu vi que eu estava com uma basesinha legal, que eu percebi que estava entendendo, tinham outros dois aspectos que me intrigavam. Será que eu posso dar treino forte toda hora? Aí fui estudar o treinamento. E por fim fui estudar a psicologia pra fechar pelo menos esses 4 campos mais ricos de um técnico de basquete. Ele tem que entender como que faz, quando faz as coisas e onde, porque que faz aquelas coisas, quem são esses caras e quanto eles aguentam. Entendeu? Isso você tem que dominar, mas fora isso, tem a relação com os pais, com o seu controle emocional, sua linha de fazer tudo isso que eu estou falando, se você vai mandar nos caras, se você vai pedir, se você vai cada dia fazer de um jeito, como que você acha que tem que lidar, entender as diferenças, as pessoas são muito diferentes, ser sensível pra isso. Então tem inúmeros campos, 202 cursos EAD agora, que vai falar de alguma coisinha ali que é importante, se você souber de muitos detalhes você vai conseguir ser realmente um especialista. E as vezes o cara (treinador) é um tático muito bom e acha que é um técnico espetacular e não sabe porque que as coisas não estão acontecendo. Eu tinha um perfil, no começo da carreira, muito mais de riscar prancheta, de montar esquema e hoje praticamente eu não pego na minha prancheta, sou um outro treinador. A gente vai mudando né, de preferência pra melhor, né. Mas você vai mudando, mudando e aberto a aprender sempre, você vai cada vez mudar mais. - E sobre aspectos éticos e Fair Play nesta categoria? O que você considera importante saber e transmitir aos atletas? - Eu acho que se você tem uma conduta e deixa bem claro pro seu time a importância do outro na sua vida, não tem como não ter fair play ou não ser ético ou fazer sacanagem. É uma parte que eu chamo de educação desportiva, a gente está aqui educando esses atletas a serem atletas e principalmente boas pessoas. - Quais valores pessoais você acredita que sejam importantes para atuação profissional nesta categoria? - Eu acho que uma competência importante do técnico em relação à valores individuais (pessoais) é ele respeitar as religiões. Esse é um dos pretextos também que eu fui atrás do Ecumenismo. Certo dia cheguei no time e perguntei "quem é católico aqui? Quem é evangélico? Quem...", não pode desconsiderar uma coisa dessa, porque felizmente ou infelizmente independente da crença a religião é um moderador de conduta, né. Se eu acredito que algo superior vai me ajudar quando eu rezo, quando eu ajudo o próximo, quando eu faço coisas boas, coisas boas vão vir pra mim, quando eu faço coisas ruins energias ruins vão chegar em mim, muito dessas crenças norteiam as pessoas ou a conduta das pessoas e eu sou um técnico de conduta de pessoas, então eu acho que isso é importante. Eu deixo sempre muito claro qual é a minha religião, mas, por exemplo, eu sei que o meu time atual reza o Pai Nosso sempre antes de entrar na quadra e tem ateu ali tem enfim, mas eles querem todo mundo ter um momento de reflexão deles de parar e agradecer que está todo mundo bem, não sei, eles tem um momento. Eu faço a minha preleção e saio pra eles terem um momento deles e entram correndo na quadra todas as vezes. A gente tem um hábito, uma rotina, um jeito de entrar na quadra. A minha filosofia de vida e de trabalho ela é a mesma. JO 17,21, pra você procurar depois. Da bíblia. É como se fosse o testamento de Jesus Cristo. "Ó Pai ,que o todo seja um, como eu e o senhor uma coisa só, como as pessoas precisam se dar bem", ao ponto de ser uma coisa só, entendeu?. Eu vejo muito essa discussão de família, legal seria se fosse uma família o mundo inteiro, aí a gente ia perceber que a gente chegou no caminho não sei se de Deus, mas no caminho certo. A gente fica nessa de é branco, é negro, é menino que gosta de menino, menina que gosta de menina. Se entender que somos todos irmãos, acabou, não tem nem essa pergunta de "ah, regra, fair play", é fazer a coisa certa e acabou. Então eu passo isso pra eles. Eu não falo "um, dois, três" e grita o nome do time, eu falo "xxxxx". Porque eles estão lidando com um técnico que tem uma filosofia de vida e trabalho que eles serão submetidos, não é uma escolha. A escolha é falar "eu não quero vir mais". Mas no primeiro dia eu explico o que é, falo que minha 203 vida isso e quero que a gente faça tudo junto, vamos ganhar junto, vamos perder junto, se der um problema lá na sua família (família do atleta) e eu puder ajudar, você por favor me ligue que eu vou lá, conta comigo, porque eu tô contando com você e vou querer o seu melhor. Eu não vou te dar mais ou menos, eu não vou te dar um pouco de mim, eu vou dar tudo de mim e eu quero tudo de você (do atleta) e vamos aí. Se você se entregar e eu também vai dar certo. Então eu acho que é muito além de só o lance do testamento de Jesus Cristo, é realmente tentar criar essa fraternidade. Que as pessoas se sintam irmãs realmente uma das outras, com laços profundos de afetividade, que as pessoas se gostem, gostem de si, gostem dos outros pra todo mundo fazer coisas boas, entendeu? - Quais competências para a vida você acredita que os treinadores desta categoria poderiam auxiliar os atletas a desenvolver? - Eu abordei bastante disso na resposta anterior mas acho que tem uma coisa importante pra falar sobre técnico, sobre a vida do técnico. Eu conheço muitos técnicos que são separados das esposas. Porque o esporte é uma paixão e o basquete cara, se tem uma pessoa apaixonada por basquete é o técnico de basquete, ele vem dá treino de basquete, aí ele vai assistir um jogo num outro clube porque ele está afim, aí ele chega em casa e liga NBA e assiste até 3h da manhã, e dia seguinte dá treino de novo, ele é um cara vidrado. Então pra prestar muita atenção qual que é o papel da sua família, da sua célula familiar, sua esposa, seus filhos, qual o nível de atenção você está dando pra eles, porque eu acho que qualquer cara muito vidrado no que faz, aquele cientista que não sai do laboratório, e aí na hora que sai não consegue tomar uma cerveja, dar um abraço na esposa, tratar as pessoas bem. Isso é uma coisa que é um perfil de técnico que é preocupante assim. Quando eu entrei aqui no clube eu sabia que seria muito requisitado e a primeira coisa que eu falei foi: "eu tenho família e zelo por ela", quando eu não tiver que trabalhar eu estarei cuidando dos meus filhos e da minha esposa, curtindo na piscina, sem culpa "ah, porque que eu não estou analisando um vídeo?". Eu sou organizado, eu sou disciplinado, o meu time vai dar resultado, esses meninos vão virar jogador de Adulto e eu vou dar meu máximo enquanto eu estiver aqui dentro. A hora que eu estou lá fora eu sou a minha família. Vejo a importância dela na minha vida, estão comigo nos momentos bons, ruins, vem assistem jogos, gostam de acompanhar mas não é aquela loucura. Eu sei que eu já teria perdido a minha esposa se eu só falasse de basquete. Eu tenho que entender de outras coisas. - Pensando em termos de planejamento e gestão, o que um treinador dessa categoria precisa saber considerando uma temporada inteira? - São dois pontos fundamentais pras coisas darem certo. Sem essas duas acho que as coisas não funcionam, é sorte, não é trabalho. Em relação a planejamento é ter uma noção da instituição que você está, quais são as ambições dela pro ano e o que você conseguiu montar e o quanto antes falar "olha, acho que dá pra chegar na final com esse time" ou "acho que dá pra ficar entre os quatro". Nós vamos sempre trabalhar e tentar ser campeão mas, né, o dinheiro que eu tenho, como nós estamos hoje no campeonato, enfim. Esse planejamento de o que eu vou conseguir abordar com esse time a ponto de agente jogar daquele jeito é fundamental, se você começar errado e rapidamente não mudar pro caminho certo você vai sustentar uma coisa que lá na frente ... então por que o planejamento é importante? Se você não está 204 atingindo metas, volta pra trás, faz diferente. Você não vai continuar fazendo as mesmas coisas e ter resultados diferentes, todo mundo fala isso e é verdade. Então todo planejamento tem que ter uma linha e uma boa flexibilidade no sentido de toda hora ter uma auto avaliação, avalia se tá funcionando vamos embora. Avalia, pode ser uma avaliação empírica, pode ser uma avaliação que nem a gente faz na preparação física que a gente tem 4 momentos de testes físicos pra saber como esses caras estão fisicamente. Faço testes técnicos pra saber se eles estão melhorando tecnicamente. Taticamente e como eles jogam é empírico, aí eu ponho lá o nome dele e todo mês dou um A, ou B ou C pra ele e vou vendo se esse cara está saindo do C pro B e se não porque não. Porque se você não anota, se você não tem esse planejamento e não controla você não tem domínio do que está acontecendo e nos estamos no detalhe aqui, eu tô formando o fino da bola, pra ser campeão e tudo dar certo, além de sorte e Deus e o que você quiser mais coloca ali que vai precisar, né. E a outra coisa, a questão da gestão, o técnico precisa fazer a gestão dos jogadores mas principalmente a comissão técnica. Comissão técnica grande sem papéis muito bem definidos e um só comando, o seu, não funciona. As pessoas tendem a não fazer o que elas precisam fazer. Nem todo mundo está afim de pagar o preço que precisa pagar pra ser campeão, pra ser o melhor que você pode ser. Então se você também não tiver um comando você não consegue ... são dois erros, não ter o comando, ficar de dedo "ah, será que eu (treinador) posso falar com ele assim ou assado?" e tem que estar todo mundo muito bem sabendo que tem um cara que manda e que vai te avaliar e que vai te questionar se você fizer errado, não é a casa da mãe Joana. E a outra coisa é definir muito bem as funções, não tem porque o meu fisioterapeuta ficar falando se o meu lateral tinha que passar a bola ou não, ele não tem nada com isso. Não pode, não pode. Ele não tem nada com isso. Se o atleta está machucado, trata, "como foi a lesão, você viu? Ótimo você é pago pra ver lesão, ver como está, fazer um bom bate bola com o preparador físico, pra gente ter esses caras (atletas) o melhor que a gente pode ter na quadra. O técnico muitas vezes não ouve o assistente, porque não é o momento de mudar, ele (técnico) é o comando, as pessoas estão ali para suprir as necessidades que ele (técnico) tem, porque dez cabeças pensam melhor que uma mas cada um na sua função. Fazendo um pelo outro a sua função. Se não vira bagunça. O fisioterapeuta é mais psicólogo do time do que o psicólogo, é na fisioterapia que eles contam os problemas e o fisioterapeuta vem e me conta e eles (atletas) não sabem. E a gente faz isso mesmo. E eu indico isso pra todo mundo. Faz parte do trabalho cara. Se não só eles tem atalhos, né, você fica de fora. Eles não abrem tudo pro psicólogo mas pro fisio abrem. O psicólogo tem alguma questões éticas e diz que não pode passar algumas coisas, apesar de eu não achar que o psicólogo do esporte tenha que ser imparcial e neutro, que é uma questão bem delicada que eu estou tocando aqui. Os psicólogos acreditam que eles precisam ser neutros e imparciais, vai lá trata a pessoa e beleza, mas aí você (psicólogo) é pago pra fazer parte de uma comissão técnica. Tem a comissão técnica e tem os jogadores, comissão técnica não pega na bola, jogadores pegam, logo são diferentes, de que lado você (psicólogo) vai ficar malandro? Não dá pra você ser imparcial, você tem que trabalhar pra mim, fazer com que esses caras fiquem bem de cabeça e se você perceber que eu posso ser diferente de alguma forma você deve me falar pra que eu possa ser diferente e ajudar o time, tá todo mundo querendo... não 205 pode ser imparcial, tem que ajudar o time. Se o objetivo é resultado, é ajudar o time, é ser melhor possível pra isso você tem que passar pra mim as coisas, do seu jeito com toda a ética do mundo. Eu não acho que o psicólogo tem que ser anti ético mas o que eu não quero é que ela seja imparcial. Se for assim pra mim não serve. - Você acredita que nesta categoria o treinador deva saber demonstrar algum gesto técnico para seus atletas? Se sim, quais? - Deve. Todos que ele tiver domínio e se ele não tiver domínio pôr um (atleta) pra fazer. Tem várias formas de aprender, uma delas é ver como faz. Ouvir como faz. Sentir como faz. - O que os treinadores desta categoria devem saber sobre o uso de tecnologias? - Estudar com essa ferramenta chamada Internet que é espetacular. Editar vídeos de treinos, de jogos e o jogador depois assistir o que você cobrou na quadra na hora e perceber o que o técnico estava certo e que ele estava errado. Ele as vezes demora 10 dias pra perceber que estava errado, você mostra uma imagem pra ele na televisão e ele olha e fala "eu tava errado", "eu deveria ter cruzado e não cruzei". Você resolve o problema de 10 dias de cabeça ruim. Que ele discutiu na hora que ele não deveria ter discutido com você e você não tem tempo pra discutir no jogo. Eu não discuto com jogador no jogo, eu cobro, se ele bloqueia, não tem outra discussão, eu não falo mais nada. Eu cobro e alguns resolvem falar alguma coisa, a maioria não fala nada graças a Deus mas eu não discuto com jogador de jeito nenhum, não discuto. E se eu estava errado eu peço desculpa e assumo que estava errado. - Como o treinador deve agir para criar e manter um ambiente adequado de trabalho nesta categoria? - Como ele dever agir? Com transparência. O jogador não pode imaginar o que pode estar passando na sua cabeça (do treinador). Se você gosta dele, se você não gosta dele, se você gosta do tipo de jogo dele, se você acredita que ele vai ser um jogador de basquete ou não. Ele tem que saber o que passa na sua cabeça, quanto mais transparente você for eu acho que mais simples fica a sua relação com ele, nem todos os jogadores vão conseguir ser transparentes com você, agora você deve ser transparente com todos. - Como manter-se motivado em seu trabalho junto a esta categoria? - Primeira coisa eu gosto muito do que eu faço, eu saio de casa com tesão de vir aqui e dar treino, não saio de casa "puts, vou trabalhar". Nenhuma vez. Eu adoro o que eu faço. Então aí já a questão da motivação é algo interno, né, que faz com que tenha uma ação em relação ao mundo externo positiva. Então já venho aqui com sorrisão na cara, afim. As vezes até faço cara de bravo aí, faço um teatro, dependendo do treino, se é um treino de defesa já chego bravo mas eu não tô bravo. Isso é importante, você tem que ser artista, quando você está com esses caras você tem que ser um pouco artista. Mas essa questão da motivação uma é gostar muito, eu gosto muito do que eu faço então, ok. Uma outra coisa são os desafios, eu gosto e eu sei que vou me desenvolver com grandes desafios. Se eu tiver pequenos desafios pra transpor eu vou estar menos motivado do que grandes desafios pra transpor. Eu acredito sempre que o meu adversário não é o meu inimigo e totalmente o contrário, ele é o meu 206 melhor amigo, que é a pessoa que está te colocando em impedimento que vai fazer você crescer, ainda bem que tem esses caras. Quanto mais tiver leões nessa selva, mais me motiva, porque eu sei que são eles que vão me transformar em alguém melhor, que vão mostrar que eu não sou tão bom assim em alguns momentos e isso vai fazer com que eu fique num estágio de "eu quero mais", "esse cara não vai me por esse limite", e na outra eu vou ganhar desse cara e eu venho aqui e treinar. - E como manter seus atletas motivados? - Eu utilizo algumas estratégias, uma delas é o desconforto. Então se eu tenho dois armadores, um é muito bom e o outro é bom. Mas tem um dia que o muito bom não está no dia, aí o bom vira titular, eu troco na hora, falo "parou, parou, troca o colete aí, ele está jogando melhor que você". Na hora, virou titular, bum! Se o treino acabar o outro sai jogando, então é uma motivação assim de sobrevivência, de levar ao extremo do limite e a competição interna, saudável que eu explico pra eles no primeiro dia como vai funcionar e faço do primeiro ao último dia. Competição interna. Isso vai fazer com que a gente fique melhor. Regulação interna, auto comando, se o treinador não estiver lá, eles tem que ganhar o jogo mesmo assim, pra mim isso é ser treinador, eles não precisarem de mim. A hora que eles olharem lá (no placar), está no 4º quarto e o técnico está sentado, falando "vocês sabem o que fazer na quadra, não precisa de mim", quieto. Se me viu quieto é porque eu estou contente com meu time. Então eu tenho estratégias assim que eu acho né, bem prático. Outra coisa é você passar pro seu time que existem coisas que são certas e coisas que são justas. Nem todas as coisas são certas e justas. Tem coisas que são injustas e incertas. Então eu tento o máximo que é possível ser correto e justo com o grupo. Nem todas as situações dão a possibilidade do ser humano ser certo e justo. Por exemplo, o jogador me deu uma cotovelada na cara, eu fui lá e dei uma cotovelada na cara dele, está justo mas não está certo. Está 1 a 1 esta situação? Legal, mas não é certo dar cotovelada em alguém. Então você vai ter que fazer uma escolha, você vai ficar com o certo e injusto? Ou com o justo e incerto? Entendeu, fazer uma coisa que está errado? Você vai ter que escolher. Uma cotovelada na cara não dá pra você sair da situação certo e justo. Ou você vai perdoar e vai ser injusto, fica 1 a 0. Foi injusto. Então que eles entendam isso, que eu vou tentar ser o menos que eu conseguir injusto e incorreto, digamos assim. Eu vou tentar sempre acertar e ser justo o tempo inteiro só que existe algumas situações que pô, um (atleta) treinou muito mais que o outro, mas ele é pior, ele arremessa 10 e acerta 2. O que não treina acerta 8 em 10. Tá certo colocar o pior na quadra? Tá justo colocar o pior na quadra? É injusto o que mais treina jogar menos? E o que menos treina jogar mais? Isso talvez não seja justo mas o certo é eu por o melhor na quadra, o máximo que eu conseguir. Teve um ano que a temporada inteira eu rodei muito o time e vendi pros caras (atletas) que todo mundo ir bem a gente ia ser imbatível, então que eu ia dar quadra (tempo de quadra) pra todo mundo, pra ver como está todo mundo todos os dias. E na final do campeonato, o jogo me pediu que eu jogasse com 6 jogadores e eu joguei com 6 jogadores e ganhei o campeonato. Eu não fui muito justo, não fui muito justo. Mas eu fiz o certo, entende? E eu tive que tomar uma decisão. E por que que eu escolhi ser certo e não justo. Porque eu acho que tem uma coisa que chama jogo de basquete que está acima de mim, que está acima das pessoas, que fala comigo no sentido de "eles estão precisando mais disso, daquilo", é o feeling do jogo, eu 207 fui perceber que eu só joguei com 6 jogadores quando faltava 2 minutos e eu não tinha posto os caras. Nesse nível é isso. Mas é muito injusto, entende? Então eles entenderem que não vai dar pra ser sempre correto e justo é importante. - Você costuma fazer reflexões e análises sobre seu desempenho como treinador nesta categoria? Se sim, quais? - Costumo mas não sei se sou bom nisso. As vezes sai de um jogo e eu acho que eu não fui bem e normalmente eu falo pra eles (atletas), que eu acho que não fui bem. E outros jogos a gente até perde mas eu acho que eu fui bem pra caramba e normalmente eu falo pra eles. Eu não falo com eles sobre isso todos os jogos mas quando eu não vou bem eu costumo na primeira reunião do outro dia falar "eu não fui bem. Não fui bem por causa disso, acho que eu deveria ter colocado tal fulano mais, esqueci você no banco", falo todos os erros que eu acho que eu cometi pra eles e eles também falam, todo mundo fala. - Como você dá feedback aos seus atletas? - Existem dois. Um durante a prática na frente de todo mundo. E um outro só eu e ele na orelha dele que eu acho um pouco mais significativo. Quando o erro que ele cometeu pode ser um erro coletivo e eu não quero que um outro jogador cometa o mesmo erro, eu ensino o time com o erro dele e ele sabe disso está todo mundo afim de aprender, então não tem porque ter nenhum dedo nesse sentido. Quando é algo que só diz respeito à ele, sobre o jogo dele, sobre a conduta que ele teve no jogo e eu não achei legal e não falei nada porque ele estava nervoso, daí no dia seguinte antes de começar o treino eu chamo o cara de canto e dou um feedback, "olha, você não fez isso? Acho que não foi legal". Só tem esses dois jeitos. - Existe mais alguma competência que você considera importante, ou algo que você gostaria de comentar quanto às competências necessárias aos treinadores de basquete? - Eu gostaria de falar que as nossas ações, os nossos resultados são fruto de trabalho duro. Acho importante ter uma crença, pra sua vida e tudo mais mas os resultados ali na quadra, o outro (time) também reza. Então acho que é importante separar bem as coisas desse mundo profissional, que determina mais ou menos o que a gente é muitas vezes, né, o ser humano é ... eu sou pai dos meus filhos, técnico de basquete e marido da Fulana, não sou só o T9. Então ter isso bem claro, que quanto mais ele trabalhar duro, pro seu aperfeiçoamento e pro bom entendimento de quem ele tem na mão e o time dele, melhor ele vai viver, melhor ele vai ser porque o técnico de basquete ele é uma pessoa muito intensa com a prática profissional dele. Então se ele consegue ser um cara de trabalho duro todos os dias, ele com certeza vai subir na carreira ele vai chegar onde quer.

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T10

- Quantos anos você tem? - 49. - Quanto tempo de experiência como treinador de basquete? - Desde 98. Faz uns 20 anos. - Foi atleta de basquete? - Fui jogador de basquete. Muito bom novo, era muito bom moleque... joguei até juvenil segundo ano e depois alguns anos na segunda divisão do Adulto. - Quais foram as principais competições e campeonatos disputados como treinador? - Liga das Américas, Liga Sulamericana, isso com clubes, né, fora Brasileiro, Paulista essas coisas, normal. Fui assistente em competições com a Seleção Brasileira também. Acho que essas foram as principais. - E com relação aos títulos conquistados como treinador desde o início da sua carreira? - Dois campeonatos paulistas, dois vices, vice do NBB. - Grau de instrução? - Superior em Educação Física e Pedagogia. - Quais conhecimentos técnicos e táticos você considera que um treinador de basquete de Adulto deva possuir? - Cara, o máximo possível. Difícil a gente determinar qual é o conhecimento porque hoje o basquete existe uma gama muito grande de coisas que você pode saber mas o máximo possível. Sempre falo que pro técnico do Adulto o mais importante pra ele é saber levar os jogadores, eu acho que você ter essa parte ... o fator psicológico você consiga administrar mas o jogador sempre vai estar te testando. Então você tem que ter o conhecimento, porque se o jogador perceber que você não tem esse conhecimento você tá morto. Então eu acho que você sempre tem que estar estudando e se você não souber você tem que falar que não sabe e correr atrás. Porque eu acho que é a forma de você conquistar o cara, entendeu? E sempre estar acompanhando, sempre estar se modernizando e isso é muito importante. A gente percebe muito nitidamente, está sendo muito claro hoje que alguns técnicos não estão acompanhando tanto, dá essa percepção. Apesar de ter muita vivência de banco eles não tem as vezes algumas situações que é ... hoje é muito estudo, muita edição (de vídeo), muito essa parte de você preparar a equipe, você tem que passar as jogadas da equipe adversária pro seu time, você tem que passar as características individuais, tem que passar as vezes vídeos individuais, vídeos coletivos e jogadas. Então você tem que eu acho estar preparado da melhor forma possível, sempre atualizado. - O que um treinador deve saber para conseguir ensinar atletas dessa categoria? - Isso assim, eu acho que é muito mais um dom. Eu acho que é como você ser professor, como você ser ... isso é uma coisa muito difícil de falar exatamente o que você ... você precisa ter empatia, você precisa fazer com que o cara 209

(atleta) acredite nas suas palavras, você didaticamente seja correto, se não não adianta, né, você precisa ter o conhecimento pra transmitir e saber transmitir. Mas eu acho realmente, principalmente quando são mais novos você ter o dom de ensinar porque você tem que fazer com que a criança goste do esporte, que ela te escute, então é mais difícil. O Adulto, é um pouco diferente porque eles já são profissionais, né, mas mesmo assim eu acredito que você tem saber administrar muito bem e levar os caras porque nem sempre a gente consegue, já tive experiências de perder o time. Acho que isso todo técnico tem que passar e vai passar, faz parte, por mais que a gente não queira e não goste a gente perde o time. E teve algum erro no meio do caminho que você vai ter que analisar e ver aonde você errou pra ver porque está acontecendo isso. De o cara não acreditar mais em você. Eu brinco, que o técnico é como um pastor, um padre, seja lá qual religião ou qual nomenclatura você der. Se os caras (atletas) acreditarem em você, você vai ter sucesso. Se os caras duvidarem de você muito difícil você ter sucesso. - O que um treinador desta categoria deve saber sobre a instituição e o setor em que trabalha para desempenhar suas funções? - Eu acho assim, a gente precisa tomar cuidado pra não ... eu já tive experiência de trabalhar com alguns técnicos que achavam que resolviam qualquer problema e qualquer coisa mas você precisa estar ciente de tudo, você tem que participar, você tem que saber levar as pessoas que comandam o basquete dentro da sua instituição, do seu clube. Eu acho que isso é uma coisa muito importante e você demora um tempo, né, mas você tem que saber fazer a política, política é como, eu aprendi com um cara que eu trabalhei que é político e falou "T10, a política está na sua casa, com a sua esposa você faz política, com seu filho você faz política", então você tem que aprender a fazer política. Não pode a política ser mais importante que o basquete mas você tem que saber e eu passei por vários lugares e cada lugar é diferente, cada lugar o seu diretor ou chefe quer uma coisa, então você tem que ter a leitura do local que você está indo, o que eles querem, é lógico que todo mundo quer ganhar mas a gente sabe que só ganha um, campeão é um só, então você tem que saber onde o time pode chegar e você também tem que vender uma coisa que é realidade, não dá pra você vender sonhos. Pode até acontecer, a gente sabe que de vez em quando acontece uma coisa muito acima da média e do que era esperado mas a gente tem que ter os pés no chão e sempre estar conversando. E pra mim uma equipe tem que ser montada entre o diretor e o técnico, com os dois lados a sua parte, acho que a equipe não pode ser montada só pelo técnico e a equipe não pode ser montada só pela diretoria. Com objetivos bem alinhados, todos tem que fazer parte disso. É muito importante pra você ter sucesso. Porque a partir da hora que a diretoria monta o time já não é seu time e você já não tem, né, talvez a confiança necessária. A partir da hora que só você monta o time, é muito complicado porque daqui a pouco eu vou embora ou sou dispensado e fica tudo lá, então eu acredito muito nessa composição junto, parte técnica e diretiva juntos, sentar numa mesa e essa decisão ser bem coletiva. - O que um treinador de basquete do Adulto deve saber para se relacionar e se comunicar com seus atletas? - Primeiro conhecer o máximo possível seus jogadores. Isso aí é essencial, isso não é fácil, isso leva tempo e as vezes você não tem esse tempo, 210 principalmente quando a equipe é nova (recém montada). Por isso que é muito legal quando você consegue ficar duas, três temporadas com a mesma equipe, que você começa a conhecer bem o jogador. Eu tinha um jogador que eu dava esporro nele e ele não rendia, não funcionava e eu não sabia disso. Aí percebi como ele era, chamei ele, tivemos uma conversa, pedi desculpas falei que tinha percebido que ele era assim e que a partir daquele momento eu ia tratar ele de uma forma diferente porque eu sabia que pra ele era importante isso. Então por isso que eu acho que a psicologia é muito importante, eu tive já psicólogos trabalhando comigo e foi muito legal, eu acredito muito nesse trabalho principalmente individualmente, eu não gosto tanto coletivamente e a partir da hora que os jogadores acreditam naquela pessoa ... e é importante também ela só trazer o que é importante realmente pra mim como técnico e ajudar ele (atleta) o que possa fora da quadra porque a gente sabe que quando um jogador não está bem fora da quadra eles tem um débito dentro da quadra, eles não são máquinas, eles são seres humanos, né. Então eu acho que esse fator da psicologia é muito importante e até você ter esse profissional pra te dar um feedback melhor pra você poder se relacionar, isso é essencial para um técnico de Adulto, eu acho que é 80% do caminho, você tem que saber a parte tática e técnica porque como eu falei, pra ele (atleta) acreditar em você e você mostrar conhecimento mas você saber lidar com jogador é fundamental. Eu acredito que tudo que você venha a somar e não é só psicologia, nutricionista, a preparação física hoje é quase a mesma da técnica e tática, hoje é muito físico o esporte então você tem que ter um grande preparador físico, você tem que ter um grande trabalho não só da parte técnica e tática do técnico, você precisa ter uma equipe multi funcional, né, de muita competência. - E com os familiares dos atletas? Agentes? Enfim, esse grupo de pessoas que faz parte do círculo social do atleta - Eu sou muito assim ... primeiro, eu quero sucesso do jogador, eu sempre falo que se o jogador sair daqui pra ir ganhar mais no final da temporada eu não vou ficar puto, nada disso. Porque significa que ele teve sucesso, ele tendo sucesso, o time vai ter sucesso, eu vou ter sucesso, todo mundo vai ter sucesso. Então eu tento tratar da melhor forma possível e respeitar o cara mas principalmente dentro da quadra. Eu não tenho muito relacionamento extra quadra. É uma coisa que eu tenho. Trato bem, trato com respeito mas você nunca vai ver ex jogadores na minha casa e eu na casa deles mas tem o relacionamento com os agentes, converso, não dou muita abertura, mas tem um relacionamento, né, esposa, filho ... e quando vem a gente conversa, fala um "oi" mas não tento aprofundar esse relacionamento. A minha linha de trabalho eu acho que tem que ser bem profissional. Eu não acho legal ... eu já tive algumas experiências e também convivi com outros técnicos quando eu era assistente que tiveram algumas situações que acaba prejudicando o time, mistura, mistura. Então pra que eu possa cobrar e pra que eu possa fazer tudo tem que ter essa linha bem profissional mas com carinho, com respeito, trato todo mundo bem mas nada muito extra ... não gosto de ir em churrasco, não gosto muito dessas situações, não me agrada. Então bem profissional. - E com a mídia? - Eu acho que eu tenho um bom relacionamento, né. Eu tento... e eu acho assim, a gente está num país que a cultura do país a gente tem que levar em conta. Já trabalhei com ótimos treinadores de treino de mesmo, nem com 211 relação a técnico de quadra, mas que de treino eram fantásticos mas que não sabiam ter esse relacionamento e isso pesava muito. Então dentro do possível ter o melhor relacionamento possível. Mas não vou parar treino pra cara gravar no meio do treino, não vou. Mas sempre que possível a gente atende e tenta ter um bom relacionamento. E eu nunca tive grandes problemas, uma vez só que eu tive que eu dei uma entrevista e o cara mudou e pôs uma vírgula no lugar errado pra distorcer tudo que eu quis falar. Mas com imprensa nunca tive problema. Trato muito bem, trato com respeito e eu acho que é uma parte importante, hoje a gente precisa da imprensa, da mídia, então eu tento levar da melhor forma possível. Não atrapalhando o time, não atrapalhando os treinamentos eu sempre vou atender da melhor forma possível. - Que perfil um treinador desta categoria deve ter? - Não dá pra falar que tem uma regra. Depende do grupo. Tem grupo que você tem que tratar todo mundo igual porque se não você perde o grupo, tem grupo que você não precisa disso, que os caras se viram. E essa leitura você tem que ter pra você poder fazer o seu trabalho. Além disso ele tem que ter conhecimento, saber lidar com ser humano. Tem que ter uma postura, não pode ser qualquer um, tem que ter uma postura dentro e fora da quadra, geralmente ele tem que ser exemplo e cada vez isso está afunilando mais. Antes tinha técnico que tinha uma relação com jogador, desde beber com o jogador e acho que hoje isso não tem mais espaço. Então você tem que ter uma ética, uma postura correta, você tem que ser exemplo e tem que ser diferenciado porque se não você não vai ganhar o respeito do grupo. - Poderia nos dizer algo sobre o tipo de liderança? - Cara, tipo de liderança eu acho que é ... não dá pra ... eu já trabalhei com técnico que era dedo na cara de jogador, já trabalhei com técnico que era o paizão do jogador e era bom na conversa, eu acho que depende do seu perfil. Não adianta você querer ser igual a alguém que você viu. Acho que você tem que ser você. Porque se não os caras não vão acreditar em você porque você não está sendo sincero. Então você tem que ser você. Eu acho que não existe essa linha ... existe você conquistar, ser um cara de conquista, de conquistar o grupo, de fazer com que eles façam o que você quer, seja no esporro. Tem jogador que odeia um determinado técnico mas quando foi jogar com ele, fez o melhor campeonato dele, ou seja, o cara rende. Então o técnico nesse caso está certo. O atleta não está ali pra jogar basquete? O técnico não está ali pra ser seu amigo. É o seu trabalho. Já conheci jogadores que só rendem com cara que vai te dar um abraço, vão te dar força, te dá moral. Então eu acho que você tem que ter a leitura do grupo e você escolher os jogadores que vão encaixar no seu perfil. Eu acho que isso é muito importante porque se não você vai pegar caras que não tem o seu perfil e não vai conseguir mudar, você é de um jeito e não vai encaixar. Então isso é importante. E mesmo que está bem difícil no Brasil, até pela falta de times, quando você (treinador) vai pra um time e sabe que tem alguns jogadores e sabe que não vai encaixar as vezes é melhor você não ir. Porque você pode fazer uma temporada ruim e acabar com a sua carreira. Então tem que saber disso. - Sobre saber ouvir os atletas? - Fundamental! Fundamental. Não só os atletas mas acho que saber ouvir todo mundo. Já tive uma experiência de uma pessoa de estatística chegar pra mim 212 na hora do jogo do meu lado e falar "pô, adoro seu trabalho, sempre que você vem aqui você ganha marcando zona". Esse jogo eu não ia começar marcando zona. E eu comecei por causa do que ela falou pra mim e ganhei o jogo. Então eu acho que é uma percepção que você tem que ter, sempre estar ouvindo, a gente nunca é dono da verdade. Eu falo que é muito importante pra um técnico as vezes ele sair fora, eu falo que é olhar por cima, porque as vezes você está no meio do turbilhão ali e tem horas que você tem que sair fora pra você poder ter uma visão do que está acontecendo de uma forma diferente as vezes. Eu sempre brinco que tem dois lado a moeda, tem o lado que você vê e tem o lado as vezes do jogador, as vezes ... então você precisa tentar ter essa percepção. E eu acho muito legal, eu sempre tento escutar todo mundo, porque alguma coisa ou outra você pinça, você está aberto né. Eu sempre falo que não existe o certo ou o errado, existe o que vai encaixar com aquele grupo, aquele perfil. As vezes você está seguindo um caminho que você acha que está certo e não vai encaixar ... então sempre eu acho muito legal o feedback, sou aberto a escutar sempre e muito em treino. Porque eu acredito muito no treino, no jogo são pequenos detalhes, correções mas a grande maioria das coisas são resolvidas e preparadas pra mim no treino. E também eu não jogo, por mais que eu tenha uma visão de fora eu não jogo, então tem um sentimento que o jogador que joga vai ter, então eu sempre tô aberto a escutar. Eu tinha um armador que fazia muito bem isso comigo e cara, falando com respeito, conversando comigo antes não tem problema. Eu já tive problema de jogador mudar alguma coisa dentro da quadra sem ter falado comigo, aí é briga. Quando eu vejo eu não mudei nada e tão marcando uma zona, "mas quem mandou marcou zona?" Eu não tenho problema se chega e pergunta "vamos marcar zona?", acho que pode testar, vamos experimentar, afinal o cara está sentindo isso no jogo mas desde que seja conversado. Sendo uma coisa com respeito, uma coisa pro time eu tô sempre aberto. E as vzs até um garoto mais novo que pode não entender tanto do jogo mas ele tem sentimentos. Tem caras que tem que fazer isso pra se sentir importante. No ataque sempre vão ter os caras que vão decidir mais mas é importante a bola passar na mao de todo mundo pra todo mundo se sentir importante no jogo. O cara tem que se sentir participativo ou seja através de um comentário ou através de uma situação ou dar uma moral, é importante que todo mundo se sinta importante. - Sobre como controlar as emoções? - Acho que aí também entra no perfil do técnico. Eu sou um cara que eu tenho que participar do jogo. Em alguns momentos até pra eu participar mais do jogo as vezes talvez faltasse eu estar menos com adrenalina, vamos dizer assim. Mas eu acho que assim, o meu perfil é que eu seja participativo no jogo, eu não sento no jogo, eu fico andando pra um lado e pro outro, ligado e participando, é o meu jeito de ser. Depende da pessoa, tem cara que vai ficar 40 minutos sentado e vai conseguir participar tanto quanto eu andando pra um lado e pro outro. Então acho que isso daí depende muito da característica da pessoa, do jeito da pessoa ser. Acho que é importante o seu assistente encaixar com você, então por exemplo, eu sou mais tranquilo, o meu assistente é mais explosivo, então isso é legal. Ou as vezes você ser um cara mais um cara de saber se relacionar e o seu assistente ser um cara mais técnico. Talvez Mortari e César Guidetti. Pra mim o maior administrador de grupo que eu conheci é o Cláudio Mortari. Mas a parte técnica, sem dúvida, o César ali dava uma baita ajuda e a composição ficou muito legal e isso aí é importante, desde que possível, né. A 213 gente sabe que no Brasil nem sempre você pode escolher o seu assistente mas dentro do possível é o ideal para que a junção dos dois formem um grande técnico. É um trabalho em conjunto. A junção dos dois forma um grande técnico. Não existe isso da ... hoje o assistente é fundamental, eu tenho dois grandes assistentes, um é um cara mais malandro de quadra e o outro é um estudioso do jogo. Então cada um tem sua função e todos os dois são muito importantes e fazem um grande trabalho e isso é legal. - Quais normas e códigos profissionais um treinador deve levar em conta nesta categoria? - Cara, por exemplo, eu cheguei no clube que estou atualmente e eles já tem uma linha de trabalho e foi só seguir. Muito fácil. O técnico anterior fez um grande trabalho e conseguiu colocar uma grande situação, aí é muito legal. Eu acho que assim, nada é maior que a instituição, nada. Seja o técnico, seja o assistente, seja o melhor jogador do time, nada é maior que a instituição. Então a instituição tem que estar sempre predominando sobre todos os aspectos. E aí entra respeito, hierarquia, né, a gente sempre falou da hierarquia e acho que isso é fundamental, né então tem que ter essa hierarquia, tem que ter esse respeito e isso de cima pra baixo, diretor pro técnico pro assistente pro preparador físico pro capitão do time e até o garoto lá que tem que ter muito respeito com isso, então tem que ter uma hierarquia aí e disciplina cara. Eu acho que o esporte sem disciplina você não faz. Então horário, eu por exemplo, já trabalhei com multa, não é uma coisa que me agrada muito mas depende do grupo, depende do que você tem, é leitura e você saber o que você tem na mão. Aqui tem uma linha e todo mundo segue desde que eu estou aqui. Teve atraso uma vez em treino e uma vez em viagem, mas é praticamente mínimo. Mas depende muito do que você tem na mão, do grupo que você tem na mão, aí depende das características do lugar. E o clube me dá autonomia, falaram " T10, você faça o que você tiver que fazer". Se eu tiver que afastar o melhor jogador eu tenho total liberdade, então é uma linha bem legal mas é fundamental que você tenha normas bem estabelecidas, horário, uniforme, por exemplo, a saída nossa tem 5 minutos de tolerância, não chegou, vamos embora, se vira e depois nós vamos sentar pra conversar se vai ter multa ou o que seja. Teve uma vez essa situação que a partir dessa vez foi deixado muito claro e nunca mais tivemos esse problema. Então você tem que deixar tudo muito bem claro. Quanto mais disciplinado for a equipe eu acho que todo mundo sai ganhando porque aí você diminui as diferenças. No basquete você vai ter a diferença do melhor jogador, do salário, imprensa, a imprensa vai procurar o melhor jogador, ele vai ser mais bajulado, até as vezes pelas meninas, né, que também conta, então tem as diferenças. Então dentro da quadra tem que ser todo mundo igual e um grande técnico tem que aprender isso, a saber cobrar todos. Eu acredito muito nisso, você tem que cobrar o melhor e o pior igual, se não você perde o grupo, pode até existir alguma exceções mas não acredito muito nisso. Acho que esse é um dos primeiros passos pro grande técnico conquistar o grupo. - Tem algo a dizer sobre atualização profissional e formação adicional? - Você sempre tem que correr atrás. Se não está no cargo que você quer corre atrás, vai assistir jogos, clínicas, viaja pra outro país, tenta fazer contatos e acompanhar os treinos de uma equipe, tem que sempre estar correndo atrás e se atualizando, isso realmente é fundamental, porque se você ficar um ano fora 214 e parado você está desatualizado. Está o tempo todo mudando, o tempo todo as coisas estão evoluindo e você tem que estar junto, se você quiser mesmo não interessa idade se é novo, se é velho. É a mesma coisa que eu falo pra jogador, a partir do momento que jogador acha que não tem que aprender mais nada de basquete, para, aposenta. - E sobre aspectos éticos e Fair Play nesta categoria? O que você considera importante saber e transmitir aos atletas? - Acho que a sua própria linha de trabalho acho que isso aí acaba sendo... Eu sou um técnico que eu sempre falo vamos jogar duro, vamos jogar pesado mas não vamos ser desleal. Então a gente procura jogar dentro da lealdade, dentro das regras do jogo. Sempre né cara, porque eu acredito muito que o que você faz uma hora volta. Eu acredito que meus times sempre foram times dentro de um padrão normal do jogo. Tem que seguir as regras. Eu lembro de um caso que o aro retrátil tinha sido implantado a pouco tempo então a equipe podia usar o aro duro ou retrátil e o retrátil era bem mole naquela época então tinha técnico que quando o time visitante vinha jogar, ele treinava um dia antes com o aro retrátil e no dia do jogo mudava pro aro duro, a bola batia no aro e ia embora. Então quer dizer... é aquela coisa, mas eu não acredito muito nisso. Antigamente era mais assim, hoje é pouco. Hoje tem regra pra tudo é tudo muito padronizado. Mas eu acredito muito na parte disciplinar, principalmente pro técnico, se ele quiser ter uma carreira longa, eu acho que aquele técnico que manda bater, aquele técnico que faz deslealdade, a carreira dele vai ser curta porque uma hora acaba não dando certo. É lógico que tem uns caras que é um pouco mais, um pouco menos, mas dentro da regra, né, se o cara tiver essa capacidade de administrar dentro da regra não tem muito o que falar, né. - Quais competências para a vida você acredita que os treinadores desta categoria poderiam auxiliar os atletas a desenvolver? - Cara, acho que é obrigação nossa como formadores. Eu por exemplo, trouxe um cara que é de uma empresa de assessoria financeira e inclusive foi atleta, esqueci o nome dele agora, mas ele montou uma apresentação, uns 40 minutos de vídeo que ele passa sobre o quanto você pode guardar e quanto você vai ter daqui a tantos anos, a vida profissional quanto dura, então foram uns 45 minutos de explicação, eu fiz todos os jogadores participarem, entendeu, então eu acredito que essas coisas são muito importantes. A gente incentivar que eles estudem porque sabe que por mais que dure uma carreira, no máximo 37, 38 anos está acabando. Então precisa ter uma formação, então sempre estar estudando, é importante valorizar isso. Apesar de a gente ser profissional, aqui a nossa obrigação não é essa, é muito mais com o jogo, mas essa aí é uma obrigação eu acho que de formação como um professor, a gente tem que sempre estar ajudando e tentar que o cara desenvolva outras coisas, né e não fique naquela vida de dormir, treinar, se alimentar e namorar. E o cara as vezes entra nesse automático, entra nisso e fica. Então você precisa despertar o cara pra outras coisas porque a carreira uma hora se vai. Quantos caras a gente conhece aí que estão sem dinheiro, até porque o basquete não se ganha tanto assim. E isso é uma coisa muito perigosa porque o salário que o cara tem hoje ele pode ter um padrão de vida alto. Mas se ele não souber poupar, guardar aí acabou, vai durar quatro, cinco anos. Mas é isso, acho que é fundamental e importantíssimo a gente auxiliar da melhor maneira possível. 215

- Pensando em planejamento e gestão ao longo de uma temporada, o que um treinador deve saber e levar em conta? - Primeiro você tem que planejar o que você pretende fazer com a sua equipe. Técnica, taticamente, saber as características dos jogadores que você contratou e montar esse planejamento. Essa é a primeira coisa, tem que ter bem claro o que você pretende. E também saber replanejar se necessário. Isso é uma coisa que agora está se fazendo muito mas poucos faziam antigamente, que era muito empírico, né, pelo conhecimento do técnico. Mas você tem que ter todo tipo de opções táticas, por exemplo, você tem que ter pressão quadra inteira, você tem que ter meia quadra, saída de pressão quadra inteira, você tem que ter jogada pra poste baixo, jogada pra chute de 3 pontos, jogada pra jogar no pick and roll, você tem que ter opções de rodar o pivô por baixo, opção do pivô subindo como se fosse high-low. E você isso estudar, colocar o que você quer, a partir daí procurar jogadas que você acha que vai encaixar no melhor jogador ou nos seus jogadores e também ter humildade de replanejar. Porque as vezes você imagina uma coisa e isso não é realidade do seu grupo e você poder replanejar. E eu acho que isso daí você pode discutir com o time. E não tem acho que problema nenhum você ter isso. Agora, eu acho que é fundamental esse planejamento, por exemplo, o início da temporada eu sento com meu preparador físico e pergunto o que ele quer, a prioridade da pré temporada é dele (preparador). E ele me passa a carga de treinamento, como ele quer, o que ele vai fazer e a partir daí eu monto o meu trabalho. Eu acho que principalmente essa primeira parte é fundamental a preparação física no trabalho e você tem que estar junto, porque se você não planejar junto com a equipe que você tem, o cara vai lá faz um trabalho de perna muito forte na academia e aí eles vem pra quadra e você arrebenta no trabalho de defesa. É pagar pra daqui 3, 4 dias o atleta estar estourado, ficar 20 dias fora e você perder esse trabalho. Então hoje esse trabalho multidisciplinar, todos falando a mesma língua, e as vezes fazendo reuniões, quanto mais você conseguir se reunir com a equipe, sentar, conversar, analisar os pontos positivos e negativos, o que a gente pode mudar, o ideal acho que é toda sexta feira se puder "como foi a semana? E pra próxima semana?". Pra você replanejar também, ver o que precisa. E as vezes taticamente você está pondo uma situação e as vezes você precisa corrigir outra antes de ir pra frente. Sempre falo que duas ou três cabeças pensam melhor que uma. - Você acredita que nesta categoria o treinador deva saber demonstrar algum tipo de gesto técnico para seus atletas? Se sim, quais? - Eu acho que você sempre tem que mostrar o que você quer mas você não precisa saber jogar bem. Você não precisa dar um arremesso com perfeição mas tem que "ah, eu vejo que seu arremesso está muito baixo, você vai ter subir o arremesso", "olha, a posição que eu quero é essa". Hoje mesmo eu fiz um trabalho, tem um moleque aí que é sub-16, que é um potencial e que quando ele vai passar a bola por baixo da perna, ele levanta a ponta do pé, então ele vai pra trás. Então é uma coisa que eu fui lá, mostrei, corrigi pra ele. É uma correção mínima mas eu gosto muito dessa parte, eu adoro ensinar fundamento. É lógico que eu vou lá e vou mostrar mais ou menos, eu não preciso ter um arremesso perfeito. Isso aí não vai te fazer ... mas é bom, acho que sempre é importante né, você demonstrar da melhor forma possível. Mas 216 não é por causa disso que você vai deixar de ser um grande técnico. Mas é bom. - O que os treinadores do Adulto devem saber sobre o uso de tecnologias? - Muito! Eu acho que hoje todo o técnico de qualquer categoria tem que dar um jeito de ter uma filmadora. Pra nós é fácil porque já tem quem filme e manda pra nuvem. Tem o Synergy que é um programa que já edita, na verdade tem que estudar o Synergy porque tem tanta opção no Synergy que é uma loucura mas acho que indiferente de qual categoria é importante você saber filmar, você assistir o jogo, você editar, você saber usar esse vídeo, porque eu já tive problema comigo mesmo de exagerar na demonstração do vídeo pra jogadores. Eu sou um cara que gosto de corrigir muito e aí você passa a ser meio negativo, porque começa a ter muito erro e aí o jogador "pô, mas ele só mostra o que eu errei. Então você saber montar esse vídeo, as vezes montar com alguns erros e na sequencia coisas positivas e terminar numa coisa bem pra cima, né. Saber o quanto passar, eu sempre falo que o vídeo não pode ter mais do que 8 minutos. Porque 8 minutos de vídeo vai dar 30 você falando, você vai falar, parar, voltar, mostrar. Com jogadores mais de meia hora você perde atenção, até porque jogadores normalmente não são caras que gostam de estar sentado muito numa mesa, estudando, a maioria não tem essa característica. Mas é fundamental hoje. E se você não for passar pra eles, que você estude e você veja o que está acontecendo e você possa corrigir seus erros, dos jogadores, coletivamente. Eu acho que hoje um bom técnico de basquete não tem como trabalhar sem a utilização de ferramentas aí que sejam desde estatísticas, de vídeos e eu acho que é fundamental todo técnico de qualquer categoria assistir o maior número de jogos possíveis também. - Como o treinador deve agir para criar e manter um ambiente adequado de trabalho nesta categoria? - Eu vou ser bem sucinto e é o que eu acho. Saber bater e assoprar. Eu acho que isso aí é fundamental em um técnico de Adulto, que se ele só bater, só bater, só bater é muito difícil e se ele só assoprar, só assoprar, só assoprar também. Então ele vai ter que bater e assoprar, bater e assoprar, saber quanto eu posso bater e quanto eu posso assoprar. E quanto, aquilo que nós já conversamos, cada jogador individualmente você pode bater ou mais assoprar. Qual é a característica dele? Mas eu acho que o grande lance é você saber dosar essa situação e tem que bater e tem que assoprar, não dá pra fazer uma coisa só. Eu pelo menos até hoje nunca trabalhei num grupo que desse pra fazer só uma coisa. Lógico que geralmente um grupo quando começa a crescer você vai bater muito mais palma do que outra coisa e também cobrar e na hora também demonstrar que o cara fez uma grande jogada, o time fez um coletivo muito ... eu não uso coletivo (geralmente no final do treino que se joga 5x5), eu uso 3 quadras, 4 quadras no máximo, sempre, eu paro pra poder corrigir e falar. Mas sempre valorizar quando tem que ser valorizado, individualmente e coletivamente e cobrar quando tem que ser cobrado. E todos da mesma forma, defesa, ataque. Todos tem que sentir que "pô, ele briga comigo mas ele briga com o cara que é o melhor também, ele briga de forma igual e pelo que ele acredita". Eles tem que acreditar isso, porque por mais que você seja chato nessa hora, ele (atleta) vai saber "cara, ele (treinador) está querendo o melhor pro time. Tem que tirar o nome da camisa sempre, seja jogador, seja técnico. O grande time é aquele que o importante é o nome do time. A partir da hora que o 217 meu nome que está em cima é mais importante que o nome do time, aí dá errado, não tem jeito. Então a gente precisa estar sempre preocupado em fazer o melhor para o time e isso aí desde o início do jogo. Quem são os titulares do time? Quem for melhor para aquele jogo. No Campeonato Paulista eu comecei praticamente todos os jogos com o jogador X no banco. Primeiro que a minha aposta com ele era defensiva, que ele precisava melhorar defensivamente e pela característica dele, eu sempre falo que no início do jogo é mais fácil, os técnicos punham o jogador que ele ia marcar numa situação de desvantagem. E aí poderia acarretar 2 faltas muito rápido. Eu acho que no meio do jogo isso aí é mais difícil de acontecer. Mas ele já melhorou defensivamente, está um pouco melhor, então tem começado alguns jogos como titular. Mas nada impede de eu mudar também. - Como manter-se motivado em seu trabalho junto a esta categoria? - Essa é uma das perguntas mais importantes! Porque essa briga é o tempo todo. E é uma briga que você tem que ter com você mesmo. Eu aprendi algumas táticas, que assim, me motivam. Eu quando perco o jogo eu não vejo nada, Instagram, WhatsApp, nada, nada, nada de redes sociais, não vejo nada. E quando eu ganho eu vejo. Porque é uma forma que ... isso é pra mim, entendeu? E eu me ... e também quando perdia eu via cara colocar cada coisa que as vezes é muito pra baixo. Tem muito cara que fala qualquer coisa. Eu tenho uma frase que segue comigo pra tudo: "falar até papagaio fala, eu quero ver fazer". Em todos os aspectos, desde a profissão de quadra, desde o cara que chega lá e escreve o que quer e não sabe o dia a dia que nós estamos vivendo. Esse é um exemplo de uma coisa que eu faço, né. E você tem que ter amor pelo que faz, cara. Eu acho que a hora que você perder o amor pelo que você faz, você cansou daquilo lá, é bom mudar porque não vai dar certo, não vai ter sucesso, entendeu?. Então eu acho que isso daí é fundamental, você sempre estar apaixonado, gostando, eu acho que é o principal. Você tem que se motivar sempre. Nosso trabalho não dá direito ... porque um temporada ruim pode significar o seu fim como técnico até pelo mercado que a gente tem que é muito restrito. E tem vindo uma geração jovem. Eu falo que eu tô no meio, né. Eu tenho que estar motivado como os caras novos. Não estou falando que os caras velhos não estejam mas a tendência é que quanto mais a gente passe, mais a gente se desgasta e então você tem que estar sempre atualizado pra brigar com quem está chegando aí. Então é uma briga muito pessoal. Eu achava que quanto mais velho eu ficasse, menos pesariam as derrotas mas está sendo ao contrário. Eu falo que cada vez que eu perco parece que nossa! ... E isso aí corrói demais, então você saber lidar com isso porque você não pode descontar as vezes num jogador, as vezes você tem que descontar e as vezes você não pode descontar então, tem que lidar com isso daí. - E como manter seus atletas motivados? - Eu por exemplo, eu nunca fui muito fã de você usar placar no treino e hoje eu uso totalmente placar no treino. Não sempre mas 50% dos meus treinos de contato. Uma coisa que eu aprendi, cada vez mais as gerações que vem são extremamente competitivas. Por que eu não usava muito placar? Porque eu achava que quando você usava placar, você perdia o foco dos objetivos daquele treino. Mas eu acho que hoje o placar pra essa geração nova, isso aí motiva eles todo o dia. E são cada vez mais competitivos e estou dando o exemplo de uma forma, podem existir muitas, mas essa é uma das formas de 218 você manter a competição desde o arremesso. Se eu vou fazer um trabalho de arremesso em movimento, quem fizer 8 bolas primeiro ganha e tem castigo pros outros. Qualquer atividade tem competição. Competição, competição e aí os caras um fica gozando do outro e fica ... então eu acho que é uma forma que eu consegui de motivar mas você também não pode perder que os caras fiquem só na motivação e percam o objetivo, você conseguindo os dois eu acho que é a melhor forma que você pode fazer. - Você costuma fazer reflexões e análises sobre seu desempenho como treinador nesta categoria? Se sim, quais? - Sempre! O tempo todo. Ouvindo os outros e perguntando. Eu costumo muito perguntar os assistentes, "o que vocês acham?", "vocês acham que erramos?", " vocês acham que eu poderia ter feito diferente? As vezes eu falo "eu acho que eu errei nisso, vocês acham também?". Compartilhando com o maior número possível de pessoas. Algumas vão te ajudar no conhecimento do ser humano, porque tem pessoas que tem vivências nesse aspecto, não precisa ser uma pessoa que entende do jogo em si. "Cara, eu tava olhando seu time está abatido, eu vejo o banco seu, ninguém vibra". Entendeu? Uma pessoa que pode até não entender do jogo mas conheça ser humano, né. E também avaliação, o tempo todo estar me avaliando não só pelo resultado e as vezes os próprios jogadores, a gente conversa e fala "e aí como está sentindo? Eu estou muito pesado?". Eu converso as vezes com os jogadores, eu gosto de ter esse feedback, eu acho que é importante. E também deles, eu falo "cara, tá na hora de vocês fecharem o vestiário e alguém tem que" ... se não sou eu o bandido só e vocês ... entendeu? Então a gente tá sempre dividindo, participando todo mundo, eu acho que é a melhor forma. - Como você dá feedback aos seus atletas? - Acho que conversa é o maior feedback que a gente tem sempre. Eu por exemplo, peguei o Synergy um tempo atrás e chamei um jogador e sentei com ele e falei "dá uma olhada nos seus números no Synergy", "o que você acha desse seu aproveitamento de arremesso de 2 pontos? De 3 pontos? Como é que você pensa?". Mas você tem vários mecanismos, essa é uma forma de você conversar. As vezes você simplesmente dá sua opinião, as vezes só sua opinião você vê que não está causando efeito, as vezes mostrar um número (estatística) pro cara, as vezes mostrar vídeos pro cara, falar "olha tem todas essas situações de pick and roll, o que você acha?", "como está sua atuação no pick and roll, sua saída de pick, tá legal? O que você está achando?". E hoje com o Synergy isso é muito fácil. Te dá essa ferramenta pra você poder usar. E aí como eu falei, depende muito de cada um que você tem na mão, tem cara que se você mandar vídeo não vai adiantar absolutamente nada e tem cara que você só mostrando vídeo... é muito individual, é muito relativo. Uma coisa que eu aprendi assim: cobre todo mundo na frente de todo mundo. Porque eu já passei por isso. Você escuta "ah, aquele jogador é melhor você cobrar mais reservado, ele não gosta muito e tal". Só que aí os outros não sabem que você cobrou e aí os outros pensam "pô, ele não cobra esse cara". Então é coletivo. O bom e o ruim tem que ser na frente de todo mundo porque todo mundo tem que entender que quando errar vai ser cobrado e todo mundo tem que entender que quando acertar vai ser valorizado. 219

- Existe mais alguma competência que você considera importante, ou algo que você gostaria de comentar quanto às competências necessárias aos treinadores de basquete? - Primeiro ter amor pelo que faz e segundo ensinar! Hoje o que se chega de jogadores que não sabem o potencial físico e atlético, eu tenho um garoto treinando comigo no Adulto, 2m08, braço longo, mas tecnicamente e taticamente bem cru ... então cara, precisa ter prazer em ensinar, correr atrás do conhecimento. Hoje o esporte e o basquete lógico, é mais físico, cada vez menos você tem menos espaço pra jogar, cada vez mais os jogadores são maiores, mais rápidos, mais atléticos, então o grande lance da parte tática chama-se leitura de jogo. Isso é uma coisa que os técnicos ... e pra isso a gente precisa voltar a Escola Nacional de Treinadores (ENTB), um ponto fundamental! Eu passei por alguns lugares do nosso país e é uma judiação você ver o potencial físico, atlético sendo jogado fora e não acontecendo nada.

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T11

- Sua idade? - 48. - Quanto tempo de experiência como técnico? - 26. - Principais campeonatos disputados como técnico? - Eu tive uma 1ª fase da minha carreira e eu trabalhava com categoria de base, e aí, agora uma 2ª metade trabalhando com adulto. Eu destaco nas categorias de base, Título Paulista com o sub-17, Seleção Paulista campeão sub-16 e auxiliar técnico de Seleção Brasileira campeão Sul Americano sub-16. Como técnico do adulto Campeonato Paulista Adulto – Auxiliar Técnico – Liga das Américas, sub-21 LDB , Campeão do LDB e é isso. - Grau de instrução? - Graduado em Educação Física. - Que conhecimentos técnicos e táticos você considera que um técnico do adulto precisa dominar? - Eu considero não só no adulto pra qualquer categoria, o técnico tem que sempre se atualizar, porque as dinâmicas vão mudando, ás vezes de maneira pequena, de forma pequena, mas as mudanças, elas acontecem, então a gente tem que ter um domínio na parte dos fundamentos como de ataque e defesa, de ensinar, de desenvolver, de aperfeiçoar e também um constante aperfeiçoamento do técnico na parte tática, ofensiva e defensiva, né, variações de defesa individual, defesa zona, pressões. E no ataque, sistema de jogo de contra-ataque, transição, jogo armado de 5 contra 5, e aí muitas variações de ataque armado, né, hoje está sendo muito usado o Pick and Roll, mas você também tem alternativas de jogar em poste baixo e bloqueios indiretos. - O que que um técnico do Adulto precisa saber, para conseguir ensinar esses caras? Conseguir passar o que você quer, pra eles? - O maior desafio, na minha opinião de um técnico do adulto é ter a simplicidade pra trabalhar, porque a gente tem hoje acesso a muitas informações táticas né, então você dentro da sua equipe saber as características e as principais bolas de cada jogador, montar esse sistema ofensivo de forma simples, pra poder passar pra eles através de educativos, a jogada fracionada por partes e depois ela com 5 jogadores, isso tanto no ataque quanto na defesa. Você ensinar desde da técnica individual de defesa né, defender 1 contra 1 e as técnicas de defesa de 2 contra 2 até chegar em 5 contra 5, bloqueios indiretos, bloqueios diretos, etc. - Pensando aí em todas as instituições que você passou, os clubes, o que que um técnico precisa saber sobre a sua instituição e sobre o setor que trabalha? - É importantíssimo você ter o conhecimento da instituição, da filosofia dela, quais os objetivos dela, pra você adequar o seu trabalho à instituição. Então seus objetivos tem que estar alinhados com o da instituição, então se um clube 221 tem categorias de base, você tem que de alguma forma no adulto oportunizar que esses garotos tenham uma vivência pelo menos nos treinamentos, e se você perceber que eles desenvolvem um bom nível às vezes, nos jogos né, e então você tem que tá sempre atento ao que o clube espera de você. Logicamente você vai colocar sua filosofia, é trabalhar no que você acredita, mas sempre de acordo com que o clube e a instituição espera de você. - E pra preparar seus atletas tanto individualmente quanto coletivamente, o que que um técnico precisa saber? - Bom, ele tem que tá capacitado né, ele tem que, na minha opinião um técnico de adulto ele tem que ter passado por outras etapas da formação por exemplo níveis de jogo, pra ele chegar no adulto e quando ele chega no adulto, ele tem que chegar pronto pra desenvolver todas as essas capacidades né, então ele já tem que chegar capacitado, dominando todos os trabalhos individuais e coletivos, os métodos a serem utilizados pra trabalhar no dia à dia. Então, acredito que a capacitação ela vem durante a carreira né. Por isso que eu acredito que o técnico eu entendo se construir numa carreira, passo a passo, passando por maior número de situações possíveis né, eu gosto de citar um pouco da minha experiência né, eu trabalhei em todas as categorias, masculino, feminino, no nível escolar, nível universitário. E eu passei por muitas, muitas situações diferentes de entendimento de jogo, equipes que por exemplo: universitárias que mal dominavam os fundamentos e eu tinha que ensinar só os fundamentos pra alunos de faculdade, pra disputar os campeonatos universitários, feminino, masculino, que são formas diferentes de lidar, e até o alto nível, então muito do que você aprende sempre você vai ter uma experiência anterior que vai te dar esse respaldo pra encarar, por exemplo hoje no adulto algumas situações dentro e fora da quadra. - Já aproveitando o gancho, como que você acredita que um, você comentou um pouquinho em relação ao relacionamento, esse relacionamento técnico – atleta, essa comunicação, como você acredita que funciona bem, o que você acha importante um técnico saber pra conseguir manter um bom relacionamento técnico – atleta? - É na verdade a gente tem que primeiro conhecer cada um deles né, como eles são, como eles se comportam, características, como eles reagem as informações, as cobranças, aos estímulos, cada um reage de um jeito, e conforme o tempo passa no trabalho com cada atleta, você vai conhecendo eles melhor, e aprendendo a lidar melhor com eles. Então não tem uma receita, é o dia à dia, e isso muda invariavelmente. Agora, tem o outro lado, que é o relacionamento com o grupo, é uma coisa o relacionamento com o jogador e outra com o grupo. O importante é você sempre, na minha opinião, manter um clima positivo no trabalho, vai haver cobrança, vamos apontar os erros, mas sempre jogando tudo pro lado positivo pra eles terem confiança e acreditarem no que você tá querendo colocar em prática. E, sempre ter, procurar ter o maior senso de justiça possível, eles tem que se sentir o máximo possível no mesmo nível de tratamento. Isso não é fácil, que tem um jogador que ele tem uma importância maior no grupo no jogo e o outro menor, mas esse que tem menor, também tem que ter o tratamento e as tomadas de decisão, os julgamentos que a gente faz não podem ser muitos desiguais, porque às vezes cria um 222 clima de insatisfação, de desmotivação, protecionismo e a gente tem que sempre tá se policiando pra não deixar isso acontecer. - É imagino que seja um tanto quanto difícil...Pensando ainda nessa questão de relacionamento, comunicação com quem está próximo ao atleta então família, agentes, como que você vê no Adulto a relação técnico com esse grupo de pessoas? - Então, no Adulto a gente não fica tão perto da família né, às vezes a gente conhece um jogador um pouco mais, de ter trabalhado mais tempo ou anteriormente, a gente conhece um pouco mais a vida dele, a família. Mas, normalmente não existe uma proximidade da família. Os agentes a gente tem que lidar, é uma realidade do esporte, não adianta a gente evitar, não gostar ou gostar, então a gente tem que conviver com eles. Lógico, tem que saber colocar limite tanto para os jogadores quanto para os agentes. O nível de liberdade a gente tem que saber dosar bem pra pessoas não confundirem as coisas né, acharem que por ser amiga pode interferir no trabalho, querer fazer algo que fuja da sua área de competência. E aí então também, é outro trabalho que a gente tem que tomar cuidado da proximidade não tão muito grande, e também não deixar ter um distanciamento. A gente tem que ter uma proximidade com todos né, pra conhecer bem como eu falei no início e sempre estar atento a isso né. Então, às vezes eu fico, todo dia eu procuro conversar com algum atleta individualmente, sempre rodando todos, pra todos saberem que são importantes e eu também ter o feedback deles, saber o momento que eles estão atravessando, se tem algum problema pessoal né? Às vezes o cara tá num momento ruim a gente não sabe o porquê, acaba interferindo em quadra. - Com relação a esse relacionamento com os dirigentes da instituição, técnicos e dirigentes? Também a gente tem que saber onde a gente tá pisando né, porque cada instituição vai ter um perfil de dirigentes, então aqui por exemplo né, dirigente ele não é um profissional, ele é um sócio do clube escolhido para ser o diretor... não remunerado, tem um outro cargo, ele tem o emprego dele fora do clube e aqui dentro ele é o diretor no caso do basquete, mas ele não é um profissional da área, ele é uma pessoa que gosta do clube e gosta da modalidade, tenta colaborar, ao passo que em outras instituições às vezes tem um profissional contratado pra fazer isso, onde é um outro tipo de relacionamento então, a gente também tem que ser muito flexível nesta questão. - E mídia, técnico e mídia? - Então, a mídia ela vem mudando muito né, nos últimos anos, cada vez mais tem as aparições nas mídias sociais, na TV, então é uma coisa nova, eu acredito que tá em grande crescimento no momento e eu acho que é um desafio pra todos né, de saber usar essas ferramentas. Cada ano, cada mês que passa as pessoas vão usando de maneira diferente. Alguns usam demasiadamente, acabam errando, outros usam pouco por não gostar ou por não saber, então é outra situação que a gente vem aprendendo a trabalhar e lidar, ou com a grande exposição ou com pouca exposição ou com comentários sobre o seu trabalho porque a gente não deixa de ser pessoa pública, então a gente tá exposto ao público, então a gente é criticado, a gente é elogiado, a 223 gente é julgado pelos dirigentes, pelos torcedores, pelos sócios, tá bem exposto, então a gente tem que da mesma maneira que eu venho falando desde o início, ficar muito atento ao que fala, às atitudes, ao que faz, porque pode repercutir tanto pra bom quanto pra ruim, é então... é por aí. - Que perfil um treinador desta categoria deve ter? - Não, não acredito que tenha. Eu acredito que tem vários perfis e não existe um perfil que pode ser melhor ou pior, eu costumo dizer, eu sou considerado um cara tranquilo, é difícil me ver sair do sério, dá bronca, brigar e tem outros técnicos que são mais explosivos, tem várias maneiras de lidar com o atleta, com o time, no jogo, no treino. Acho que cada um tem que seguir o que é, e criar o seu. - E com relação ao tipo de liderança? - Também eu acho que muda bastante né, com o tempo também foi mudando né, no meu tempo de atleta o técnico era mais ditatorial, vamos dizer, não dava abertura, era daquele jeito e acabou, as cobranças eram muito pesadas, haviam castigos né, punições, e hoje a coisa, vamos dizer que democratizou mais né, os jogadores hoje eles tem mais argumentos pra dar, eles tem mais informações e a maneira que essas gerações foram mudando, nós também temos que mudar né, o que se fazia há 20 anos atrás não funciona mais hoje. Então, a gente tem que buscar esse constante crescimento pra liderar equipes, pra administrar grupos, então, hoje eu vejo essa flexibilidade ser importante e eles se sentirem importantes no processo, não só obedecer e sim opinar e participar da transformação do trabalho. - E você permite essa abertura? - Permito, eu dou essa abertura, tem muita coisa que a gente faz aqui que foi sugestão deles, eu tenho hoje um elenco bastante experiente, passou por muitas coisas na vida, então eles tem muito a contribuir aqui, então, muita coisa que a gente faz partiu deles. - E como controlar as emoções você como técnico? - Como eu disse anteriormente, nesse quesito eu sou um dos caras mais tranquilos aí, eu sou um cara que lido muito bem com as emoções, principalmente nas partidas, nos jogos né, naqueles momentos difíceis das partidas eu sou um cara muito tranquilo, eu sem falta modéstia, eu consigo ter um autocontrole a maior parte das vezes e na maior parte das situações. É difícil eu sair do meu equilíbrio. - E estratégias pra isso? - Eu fui desenvolvendo durante a carreira, como eu te disse, por isso eu acho importante o profissional, ele ir galgando, degrau por degrau pra chegar num auto nível, porque você aprende muito errando, então assim, muita coisa quando eu errava né, tecnicamente, taticamente ou na numa tomada de decisão, eu errava num campeonato escolar que não tinha tanto peso, num campeonato universitário, e aí você vai aparando essas arestas e errando cada vez menos. Na minha opinião tanto jogador quanto técnico é isso, durante a carreira você vai se aperfeiçoando e errando menos. 224

- Quais normas e códigos profissionais um treinador deve levar em conta nesta categoria? - A gente costuma colocar regras né, a primeira é a regra de disciplina que começa pelo respeito aos horários no trabalho né, então a gente cobra muito deles a pontualidade né, segundo é eles seguirem as normas do clube, o nosso clube hoje, tem uma ramificação de profissionais muito grande né, então nós temos nutricionista, psicóloga, preparador físico, fisioterapeuta, assistente e todas essas áreas tem compromissos regulares né, então da mesma forma que eles tem que se apresentar pro treino, eles tem que se apresentar para as sessões de fisioterapia, de nutricionista e apresentar os resultados né, então são feitas avaliações físicas, nutricionais e eles vão sendo reavaliados, e eles tem objetivos pra alcançar nessas outras áreas, então a gente cria uma disciplina grande nisso aí. E um entendimento do investimento na modalidade do clube né. Hoje o basquetebol aqui é uma modalidade que tem uma importância muito grande dentro do clube, muito valorizada, eles saberem disso, saber que a gente tem um compromisso com os resultados, então o dia a dia de trabalho sério que vai nos levar aos resultados que a gente tem como objetivo, e no mais é essa parte mesmo, deles terem a consciência da responsabilidade deles, como profissionais aqui dentro. - No comecinho do nosso bate papo aqui, você já comentou um pouquinho mas tem algo mais a dizer sobre atualização profissional e formação adicional para um técnico? - Constante, não podemos parar, o basquete é uma modalidade muito dinâmica e todo ano desde o meu primeiro ano como técnico há 26 anos até hoje eu busco aperfeiçoamento e capacitação. Cursos, palestras ... - Pensando em aspectos éticos e fair play nessa categoria, o que você considera importante saber e transmitir aos atletas? - É eu acho que é algo importantíssimo no esporte, na verdade esporte em sua raiz ele é praticado para as pessoas terem uma boa convivência, eu acho que o esporte é um dos meios, uma das ferramentas mais importantes que a sociedade tem pra desenvolver caráter, personalidade e nós como professores, somos responsáveis por isso, então a gente tem que passar todos os princípios né, positivos de boa convivência, de bom relacionamento e ser uma boa pessoa através do esporte né, e quando isso chega no alto nível se torna um pouco mais difícil em alguns momentos, porque se visa muito resultado né, basicamente se visa o resultado, então a gente não pode deixar a busca do resultado ultrapassar a ética de convivência entre atletas e treinadores, então eu tenho que respeitar o treinador adversário, os jogadores, a arbitragem , os meus jogadores e não deixar com que a minha gana de vitória deixe eu cometer falhas de comportamento só em função do resultado. Então fair play ele tem que ser trabalhado todo dia e na formação do atleta desde a base, o técnico na minha opinião tem mais responsabilidade ainda, porque quando ele chega no adulto, ele já tem que chegar com isso concretizado dentro dele né, e então o técnico formador pra mim ele tem uma importância fundamental, uma responsabilidade maior nisso. - Valores pessoais que você acredita, coisas suas que você acredita que são importantes aqui na quadra também? 225

- Primeiro respeito, eu sempre falo pra eles, tudo a gente parte do respeito, a hora que perde o respeito se quebra muita coisa né, de confiança, de relacionamento, de comprometimento né, então a gente sempre, eu coloco muito o respeito como primeiro conceito pra gente trabalhar. Passar uma temporada com boa convivência né, e depois eu prezo muito o companheirismo, o respeito e o companheirismo estão ligados, você tratar qualquer um da mesma forma, então por ele ser melhor, pior, mais bonito, mais feio, então o respeito ele te leva a isso e ao companheirismo, você jogar pelo outro né, você não jogar pra você né, eu acho que a modalidade coletiva ela ensina isso. O dia que você começa a fazer coisas pelo outro, naturalmente ela acontece pra você né, então é esses valores que a gente vai tentando passar, aí a gente vai criando laços né, correntes de amizade, de união, que vão tornando a equipe forte. - É eu acho até que você até já abordou um pouquinho, mas existem mais algumas competências pra a vida, que você acredita que os técnicos do adulto podem auxiliar os atletas a se desenvolver? - O que você constrói no esporte, se leva pro resto da vida. No caso do jogador, a carreira é curta então esses valores que ele adquiriu praticando a modalidade, com certeza, vão ajudá-los pra, no futuro, quando ele for para as outras áreas de atuação, profissionalmente falando né, na educação dos filhos, formação de família, tudo que o esporte nos ensina, com certeza ajuda. E pro técnico, tem uma carreira um pouco mais longa, que é, não tem tanto o problema da idade né, enquanto a gente tiver saúde física e mental, a gente pode trabalhar, e a gente leva, a gente vai acumulando né, conhecimento, então é igual ao vinho, quanto mais velho, na minha opinião, vai ser ainda melhor, se você ainda está disposto, se tem o friozinho na barriga né, aquela arrepiada ... - Bacana, pensando agora em termos de planejamento e gestão, para o longo da temporada, o que que um técnico do adulto precisa saber? - Tá, primeira coisa na minha opinião é a montagem da equipe, se você acerta na montagem da equipe, você tem meio caminho andado pro sucesso né, então primeiro saber escolher muito bem os jogadores que você quer, as características físicas, técnicas e eu prezo muito as características de personalidade né, quando eu vou buscar um jogador, claro que eu vou ver se ele arremessa bem, marca bem, mas lá no final quando eu vou decidir por ele, eu quero conhecê-lo, quero buscar informações dele, saber como ele é, dentro e fora da quadra né, se ele é um cara do bem, se ele é um cara parceiro, se é um cara que agrega valores, é isso. Segundo passo, você ter uma comissão técnica boa, entendeu? Pessoas de sua total confiança e competentes né, é essa estrutura que vai te dar o alicerce pra sua temporada, uma boa montagem de equipe e comissão técnica né, e depois disso ou durante esse processo, o planejamento. O planejamento, que tem que ser feito junto com a comissão técnica e uma parte dela com diretoria, calendário, treinos, intensidade, controle de carga que hoje está sendo muito utilizado né, e aí você ter esse esqueleto pra você seguir na temporada. Lógico, que durante a temporada as coisas mudam e você tem que fazer ajustes, mas se você já tem esse planejamento macro né, fica facilitado o trabalho. 226

- No adulto, um técnico precisa saber demonstrar algum gesto técnico pro atleta? - Olha eu sou da teoria que não. Claro que se você mostrar alguns gestos, talvez facilite o aprendizado. Mas eu trabalhei com um técnico que não praticou a modalidade e não sabia os gestos, ele é um estudioso, e era um grande técnico, chegou a ser auxiliar técnico da seleção brasileira feminina. Então ele foi uma pessoa que mudou muito meus conceitos, de que tem que ter praticado, de que tem que... Não! Hoje o meu estatístico, o meu.analista de desempenho, jogava futsal, ele entrou no clube e veio pro basquete, a gente foi ensinando ele, hoje ele é um exímio analista, das outras equipes, da nossa, entende do jogo, técnica e taticamente e então eu não acredito que seja uma regra o cara ter praticado. - O que os treinadores do Adulto devem saber sobre o uso de tecnologias? - Os técnicos hoje, a gente tem acesso a muita informação né, então a gente alia a informação técnica né, do meu jogador e do jogador adversário, o que ele faz de melhor, o que ele não faz bem, a estatística dos jogos né, as preferências técnicas, análise tática, o que que o nosso time faz bem taticamente, faz mal, o adversário, é e até informações das mídias sociais né, então nós vamos jogar terça-feira contra a equipe X, parece que o jogador tal, vai estrear na terça-feira, então eu preciso ter essa atualização da informação, a gente precisa estar ligado nas redes sociais pra saber o que está acontecendo com os outros times, com o nosso e então a tecnologia, ela ajuda muito, ela auxilia demais, e é o que a gente fala, a tecnologia está disponível aí hoje, mas o mais importante é como usá-la né, então hoje a gente faz muita edição de imagem de vídeo, e a gente caminha muito mais para um lado simples né, é enxugar as informações, ver o que realmente que é relevante, porque se você, dá muita informação para o atleta, você acaba confundindo esse atleta. Então hoje, você tem que separar, o que é importante, coisas curtas, pequenas e pontuais. - Como o treinador deve agir para criar e manter um ambiente adequado de trabalho nesta categoria? - Algumas coisas eu já falei, você tentar criar um ambiente que eles se sintam valorizados, um ambiente que eles sintam que eles tem um tratamento igualitário, não é fácil e pra que você tire o máximo do atleta, ele tem que estar se sentindo bem né, ter prazer em representar a instituição né, deixar seu máximo dentro da quadra, então nós técnicos, somos os principais responsáveis pra criar esse ambiente né, esse ambiente a gente cria com conversa, com reunião, com bate papo informal, e com reuniões de comissão técnica, reuniões com os jogadores, reuniões com diretoria, o que precisa melhorar, o que tá faltando, feedback dos jogadores e aí você vai ajustando e sempre, sempre eu trabalho com a liderança positiva. Eu nunca vou, e vou ficar cutucando o ponto fraco do jogador, o erro dele, eu sempre valorizo o que ele faz de bom, e o que ele não faz de bom, eu vou dando sugestões pra ele desenvolver, ele tentar melhorar o que ele não faz de bom. Então sempre valorizando isso e tentando deixar eles no máximo da motivação né, vamos dizer assim nós vamos fazer uma viagem agora, nós vamos fazer dois jogos no Rio, nós vamos treinar, nós vamos estudar, nós vamos nos preparar, mas 227 basicamente vai ganhar quem quer mais, quem tiver mais garra, é isso que determina muito dos resultados. - Essa conversa você acredita que é importante para motivar, tem alguma outra estratégia, assim pra motivar eles, que você vê que funciona? - É, eu acho que a própria competição ela motiva, né, as vezes eu trabalhei em instituições, que tinha poucas competições, poucos jogos, ou jogos fáceis, isso aí desmotiva. É, ele vem treinar porque ele sabe que daqui dois dias ele tem um jogo contra o time X, e se gente vencer esse jogo, a gente se mantém numa colocação boa dentro do campeonato, e se a gente ficar entre os primeiros, a gente joga o Super 8, com o mando de jogo na nossa casa. Isso por si próprio já motiva. - Você acredita que a competição também é um fator motivador pro técnico? - Sem dúvida. - Tem mais outra questão que ajuda o técnico a se manter motivado? - Sim, a carreira, né. Quando a gente começa, a gente traça metas a curto, a médio e a longo prazo e aí você vai trabalhando pra alcançá-las. Eu calculo, eu julgo que seja mais difícil você motivar os atletas em níveis de competições menores né, eu passei muito por isso, às vezes eu era técnico de uma Faculdade e ia ter uma competição a cada 3 meses, aí eles não queriam muito treinar, porque a prioridade não era o treino, não era o basquete, era o estudo, então eles só iam treinar perto da competição, mas eu não podia deixar cair isso, então era muito difícil pra eu achar um argumento pra falar pra eles virem treinar, sem ter jogo, sem ter competição e eles tendo que provas dificílimas. Aqui é mais fácil. - Você costuma fazer análise, reflexões sobre o seu desempenho, como técnico, se sim, quais? - Muito! Eu acho que o técnico ele é muito crítico por natureza né, a gente é muito critico. Eu me critico muito né, eu me penalizo muito, eu quando você, então eu falo quando você ganha uma partida ou um campeonato, parece que tudo foi maravilhoso, mas não foi. Se você for assistir o jogo que você ganhou, teve muitos erros. Quando você perde, isso fica muito mais claro, porque você perdeu, então você vai buscar onde errou. E aí, a gente se cobra muito, agente, e é isso que na verdade faz a gente crescer né, você ver onde você erra, o que eu podia ter feito né, pra ter feito melhor. E quando eu falo da comissão técnica, diretoria, esses caras, é o que falo, os caras que eu mais acredito são vocês. Então, quando vocês perceberem algo errado, por favor me falem né, pedi um tempo na hora errada, substitui um jogador que não precisava, fez uma mudança de estratégia inadequada, eles falam pra mim, vocês tem que falar o tempo todo, e eu posso concordar ou não. Então, eu me fecho muito na minha comissão e nos meus jogadores, sinceramente eu vejo pouca coisa externa, de palpite, comentário e qualquer tipo de coisa em relação ao meu trabalho que vem de fora, eu praticamente não vejo. - A última pergunta, é como você dá feedback aos atletas, você comentou que é muito mais pelo reforço positivo do que alguma critica pra deixar ele mais pra baixo, mas tem alguma outra forma de feedback aos atletas? 228

- Então a comissão técnica me ajuda muito nisso aí né, porque normalmente os jogadores, eles se aproximam mais dos auxiliares, ele fica mais amigo do preparador físico, do fisioterapeuta. Então assim é... e com o técnico, às vezes tem uma barreira né, a gente tenta diminuir essa barreira mas existe, é normal que seja até natural e positiva, não vejo problema nenhum. Então a comissão técnica me dá muito esse feedback dos jogadores. Oh, fulano está desmotivado..., fulano tá achando isso...fulano tá com problema... e aí eu vou no cara, eu crio estratégias no treino ou fora do treino, pra minimizar isso aí ou pra acabar com qualquer problema que apareça, então tem o papo com eles, às vezes eles chegam diretamente pra mim, colocam algumas coisas que eles acham que pode melhorar no meu trabalho ou perguntam o que, que eu acho que pode melhorar no trabalho deles e tem essa linha direta, mas também tem essa linha da comissão técnica também que me dá um suporte muito bom. - Existe mais alguma competência que você julga importante ou algo que a gente não comentou, gostaria de comentar quanto às competências necessárias ao técnico de basquete do Adulto? - Ah, o técnico de basquete não só do adulto, acho que de basquete em geral, ele tem que gostar muito do que faz, porque muitas vezes a gente é uma pessoa isolada né, a modalidade em si, faz que isso aconteça com a gente. A gente é um ser um pouco solitário, vamos dizer, a gente tem que abrir mão de muita coisa, da vida pessoal né, família, amigos, a gente vê pouco, passa a ver pouco, não participa das comemorações, e em geral a gente sempre tá longe, e a gente só é visto quando vence, quando perde a gente fica muito solitário. Então, a gente tem que gostar muito pra nesses momentos ter força pra continuar, porque que quem não amar o que faz, no caso do basquete, normalmente ele vai ter vontade de parar, de desistir né, no meio do caminho. Eu já tive vários técnicos, que eu vi parando né, e ter no caso um suporte da esposa, da mulher, da parceira é fundamental, é fundamental você ter uma pessoa do seu lado que te ajude, porque a gente passa por situações bem complicadas e se você não tiver um suporte do seu lado ou de uma esposa ou da família, ou de amigos que seja, você vai ter dificuldades, vai ter dificuldades né, a gente fala que o técnico de basquete é uma roda gigante, nossa vida é uma roda gigante, ela vai virando, a gente luta pra manter lá em cima a maior parte do tempo possível, mas tenha certeza que tem momento que você vai tá lá embaixo. E, é nessa hora que é o difícil, que é o que você tem que ter força, equilíbrio pra continuar firme né, pra, pra... eu falo assim, os grandes jogadores pra mim, os grandes técnicos são aqueles que nos momentos de dificuldade, conseguem tirar um algo mais de dentro e superar né, então na minha carreira e os jogadores que eu acompanho eu vejo muito isso aí né, então falo assim, o técnico e o jogador bom, não é aquele que quando tá ganhando o jogo faz 30 pontos, é aquele que num jogo difícil joga bem né. É aquele que gosta de desafio, é a hora que tá perdido, o cara vai lá e se supera, esses pra mim são os grandes técnicos e jogadores. Eu acho que essa capacidade de superação, eu diria, é talvez uma das competências mais importantes. - Bacana, poxa, obrigado, encerro aqui. Muito agradecido mesmo, foi uma grande contribuição. - Fico feliz por ter colaborado, e sempre gosto de fazer isso quando sou solicitado, porque também já passei por essas fases da vida profissional e sei 229 da importância que tem e também me espelhei em muitos profissionais pra criar o meu perfil né, então assim eu tive o prazer e a oportunidade de ser assistente de muitos técnicos e procurar tirar um pouquinho de bom de cada um pra criar o meu perfil que ainda tá em construção, vamos dizer assim, que eu acho que é uma eterna construção o técnico de basquete, de uns anos pra cá, eu fui percebendo que eu precisava mudar algumas posturas minhas, dentro de quadra principalmente, que me mostraram que eu tinha mais sucesso. E até hoje, eu busco e estudo pra melhorar essas posturas, esses comportamentos né, dentro de quadra e chega num ponto da carreira que você vê que mais importante do que o conhecimento técnico é o relacionamento, a gestão de pessoas né? Então hoje a minha carreira né, nesses últimos 26 anos, eu sempre me dediquei muito a adquirir conhecimento técnico, não que eu cheguei no limite, continuo estudando e aprendendo, mas, mais focado em como gerir pessoas, que eu vi que era isso que chegou num patamar que o que ia fazer diferença era isso. Se eu melhorasse essas capacidades de relacionamento com as pessoas, jogadores, dirigentes, etc... comissão técnica, isso que ia me dar um upgrade na carreira, eu estou mais ou menos nesse momento, buscando esse tipo de conhecimento aí. - Muito legal.

230

T12

- Quantos anos você tem? - 36. - Quanto tempo de experiência como treinador de basquete? - 6 anos. - Foi atleta de basquete? - Comecei a jogar com 10 anos e parei de jogar com 30. Então 20 anos. - Quais foram as principais competições e campeonatos disputados como treinador? - NBB, Liga das Américas, Liga Sul Americana, - E com relação aos títulos conquistados como treinador desde o início da sua carreira? - Campeão da Liga Ouro. Campeão do NBB como assistente. - Grau de instrução? - - Quais conhecimentos técnicos e táticos você considera que um treinador de basquete nessa categoria deva possuir? - Bom, técnicos eu acho que todos, né. Acho que ele precisa ter conhecimento de todos os fundamentos técnicos aí principalmente pra orientar os jogadores e também em cima disso tendo esse conhecimento, saber como que ele vai organizar sua equipe e como a sua equipe vai jogar. E tático também, no frigir dos ovos acho que quando chega na categoria Adulto, o treinador precisa ter um conhecimento bem amplo porque o jogo vem mudando muito rápido e quanto mais conhecimento tático você tiver, quanto mais bagagem tática você tiver, mais fácil vai ser solucionar os problemas que vão aparecer pra sua equipe. - O que um treinador deve saber para conseguir ensinar atletas dessa categoria? - Acho que primeira coisa é você ter uma didática boa, né. O que eu considero como uma didática boa? O cara ter um bom comando de voz, o cara ter uma leitura partindo do mais simples pro mais complexo,né, de por exemplo, 1x0, 2x0, 3x0, 4x0, 5x0, até começar colocar com algum tipo de confronto. Então acho que é isso. - O que um treinador desta categoria deve saber sobre a instituição e o setor em que trabalha para desempenhar suas funções? - Acho que é muito importante porque não existe ainda aqui no Brasil isso de técnico só chegar e entrar na quadra e fazer o trabalho na quadra. Acho que está longe ainda, vem melhorando, vem cada vez com mais estrutura fora da quadra, mas é muito importante conhecer o clube, saber como é que funciona o clube, o ambiente onde você trabalha, pra você entender alguns problemas e situações que vão surgir pra você contornar da melhor maneira possível. - O que um treinador de basquete do Adulto deve saber para preparar os atletas, tanto individualmente como coletivamente? 231

- Cara, eu acho que primeira coisa é ser organizado, né. Se organizar, ter uma planilha de macrociclo, do microciclo, com tudo aquilo que você acredita que o atleta precisa principalmente pra ele desempenhar o que você vai querer que a equipe jogue taticamente. Então não adianta as vezes você querer que a equipe jogue de uma maneira mas você não preparar esse atleta pra que ele esteja pronto pra desempenhar esse papel. - O que um treinador de basquete desta categoria deve saber para se relacionar e se comunicar com seus atletas? - Acho que primeiro lugar, assim, eu sou um cara que, por exemplo, trabalho, eu acredito muito nisso, numa cooperação entre atleta e técnico. Acho que antigamente tinha muito isso, uma barreira muito grande entre o técnico aqui e o jogador aqui. Eu falo muito pra eles que sim, tem uma hierarquia, precisa ser respeitada essa hierarquia, eu estou aqui pra tomar as decisões melhores pra equipe mas de uma maneira geral todo mundo precisa participar, então eu tenho uma relação muito aberta com eles. Deixo eles falarem, falo sempre assim, todo mundo pode falar o que quiser desde que tenha hora, jeito e lugar pra falar. Então parto desse princípio. Mas é obvio que depois dentro de cada equipe que você tem, conforme o grupo vai se encaixando você precisa agir de uma maneira as vezes um pouco mais rígida e as vezes de uma maneira mais branda ou até mesmo eu acredito que durante uma temporada tem momentos que você tem que estar mais rígido e momentos que você tem que estar mais tranquilo, então é tentar equilibrar isso aí. É isso que eu acredito. - E com os familiares dos atletas?Agentes? Enfim, esse grupo social que rodeia o atleta? - No final das contas é importante, né, porque a gente tem que entender e tratar sempre o atleta como um ser humano completo. Então ele não é uma pessoa aqui dentro e outra pessoa lá fora. É uma pessoa que vive esse ambiente aqui dentro e que vive outros ambiente também. Então é importante a gente tentar entender o máximo possível. Eu gosto bastante de conversar com eles, então momentos que a gente está no ônibus viajando eu converso, sentando na mesa do restaurante pra jantar, brincar, eu acho que toda essa interação eu acho que é muito importante pra gente criar uma relação verdadeira e que eles possam confiar em mim e eu entender eles também em determinadas situações. - E com os dirigentes? - Acho depende também de clube pra clube e de indivíduo pra indivíduo. Eu mesmo aqui no clube não posso reclamar, pois meus dirigentes são pessoas com muito bom senso, com muita visão da coisa. Estão muito presentes, então facilita muito também porque acho que a partir do momento que eles estão presentes eles estão sabendo tudo que está acontecendo. Eu faço questão de compartilhar tudo com eles pra que eles realmente entendam o que acontece, o que se passa, pra depois de repente quando surgir alguma outra situação não ser "pô, mas...". Então eu vejo muito assim. - Com a mídia? - Acho que é importante saber se comunicar, né. Acho que pro cara se tornar um bom treinador é importante a comunicação. Que ela vem desde com o atleta, com os dirigentes, com o público e principalmente com a mídia, né. 232

Saber se expressar, saber se colocar, saber que as vezes você vai receber uma crítica mas tem formas de responder, de se colocar e eu acho isso importante. - Que perfil um treinador desta categoria deve ter? - Acho que primeiro lugar precisa ser hoje em dia muito estudioso. Acho que precisa ter um perfil onde, o que eu falei pra você, que tenha um bom relacionamento, acho que isso é fundamental, acho que mudou muito, né, o mundo vem mostrando isso pra gente. Autoritário já não dá mais, mas é engraçado porque eu por exemplo tenho alguns jogadores mais experientes no grupo e de vez quando eles me cobram que eu seja um pouco mais autoritário e aí ... então é um conflito mas é aquilo que eu te falei, então eu vou lidando como? Momentos eu sou um pouco mais autoritário, momentos menos, mas de uma maneira geral eu não acredito mais nesse tipo de liderança. Eu creio na liderança do exemplo, na liderança de convencimento, na liderança na base da confiança, na base do conhecimento. Mas isso aí também é perfil de grupo que você tem na mão, tem o histórico dos atletas que as vezes estão acostumados com técnicos que são mais rígidos, então tem que estar se adaptando. - Sobre como controlar as emoções? - Isso é uma pergunta bem interessante. Com o passar do tempo você vai aprendendo e vai entendendo. Eu já sei, por exemplo, os jogos a gente já vai sabendo mais ou menos como é que vai acontecer, o quão importante é o jogo, o quanto vale aquele jogo, o quanto emocionalmente pode valer e tal. E eu procuro sempre fazer um trabalho anterior ao jogo em relação à isso. Então algumas técnicas com a ajuda de profissionais, por exemplo, eu trabalho com coaching, eu trabalho com psicólogo, eu acho que é muito importante e eu venho aprendendo a manter a calma manter a tranquilidade porque isso faz diferença, tanto no que você passa pros seus atletas como também nas tomadas de decisões. Então eu percebo que quando eu estou um pouco mais alterado, mais nervoso, mais irritado, depois quando eu vou fazer uma análise do jogo e tal eu vejo que as vezes passou alguma coisa que eu não poderia ter deixado passar ou poderia ter tomado uma decisão diferente. Então eu tenho total consciência que esse é um ponto fundamental aí pro técnico. - Quais normas e códigos profissionais um treinador deve levar em conta nesta categoria? - Acho que primeiro lugar é responsabilidade, né e o compromisso que se é tomado a partir do momento que você firma um compromisso com a equipe e com o treinador, com o diretor e com seus companheiros. Então você não está firmando um compromisso só você com você mesmo. É um esporte coletivo onde o meu direito tem que terminar aonde está o direito do outro. Então tem que saber muito bem e é o que eu prezo muito é isso, é conduta profissional no sentido de vir aqui, cumprir os horários, fazer o que tem que ser feito, da maneira com que tem que ser feita e principalmente também o trato com os demais. Isso pra mim é muito importante, toda vez que eu vou contratar jogador, uma das primeiras coisas que eu quero saber como ele joga ou não joga, que isso aí você vê vídeo, vê um jogo, já conhece e tudo mais mas como é que esse cara é como pessoa? Como é que ele lida com os companheiros dele? Como é que ele lidou com os treinadores? Isso pra mim é o mais importante, o resto depois você vai trabalhar tecnicamente, fisicamente, 233 mentalmente e a gente vai tentar evoluir. Então pra mim isso é muito importante. Os estrangeiros então, pra mim isso é o ponto chave. - Tem algo a dizer sobre atualização profissional e formação adicional? - Eu acho que é fundamental. Eu acho que pra um treinador principalmente estar com a mente cada vez mais ativa no que diz respeito a basquete, digo basquete porque nós podemos ler, podemos ver filme, podemos falar sobre outros assuntos, mas eu falo no que diz respeito ao basquete é muito importante sempre que puder assistir jogos, analisar os jogos, né, porque as vezes assistir jogo todo mundo assiste um monte de jogo aí e tal, mas analisar mesmo, parar, voltar, repetir, ver o lance de novo "pô, o que está acontecendo aqui?", "de onde está vindo a ajuda?". Isso é uma forma de estudo muito interessante. E se capacitar, estar sempre procurando, hoje em dia tem bastante acesso à cursos on-line. Eu mesmo estou fazendo um curso da ACB - Liga Endesa - que é on-line. Fui lá me cadastrei, paguei e estou fazendo. E é bem enriquecedor, tem muita coisa que eu já vi, já conheço. Estive lá recentemente, tem muita coisa que eu vi mas ao mesmo tempo já depois de 7 meses já tem coisas diferentes. - E sobre aspectos éticos e Fair Play nesta categoria? O que você considera importante saber e transmitir aos atletas? - Cara, na verdade eu acho que deveria ter muito mais do que tem. Eu vejo muita falta de ética ainda. Eu vejo muito o querer ganhar a qualquer custo. Aquela malandragem de querer ... mas está melhorando, acho que com o passar do tempo aí vem evoluindo mas acho que é uma coisa um pouco cultural também. Mas acho que principalmente na base a gente tem que começar a instruir e preparar os nossos atletas e técnicos pra que sejam mais atentos à essa parte aí. - Quais valores pessoais você acredita que sejam importantes para atuação profissional nesta categoria? - Eu acho que primeiro lugar é me doar e me dedicar 100% a isso aqui. Acho que esse é o principal valor que tem que ter. é vir aqui todos os dias sendo grato e feliz do que eu estou fazendo porque é isso que eu acredito, que eu fiz a minha vida inteira. Comecei jogar basquete com 10 anos de idade, é tudo que eu um dia pensei e sonhei na minha vida. Viver de basquete. E hoje eu faço isso então tem que estar aqui ... tem dias que é mais difícil, que está mais cansado, tá mais indisposto, tem dia que está abatido emocionalmente mas ao mesmo tempo você está liderando um grupo, você está representando uma equipe, uma torcida, uma cidade. E acho que o valor principal é se doar o máximo e ser sempre verdadeiro e o mais ético possível com todo mundo. - Quais competências para a vida você acredita que os treinadores desta categoria poderiam auxiliar os atletas a desenvolver? - Sem dúvida alguma disciplina, ética, moral, acho que isso tudo então é o que te falei, se a gente tem a função de aos 12 anos de idade estar colocando isso na vida dos atletas a questão do fair play, da ética e tudo mais, não é porque o cara é adulto que a gente não vai passar esse princípio pra ele, não é porque ele já está no fim da carreira que a gente não vai cobrar disciplina, que a gente não vai cobrar dedicação e eu acho que isso aí depois ele leva pro resto da vida, qualquer coisa que o atleta vai fazer ele naturalmente vai ter mais 234 disciplina que os demais, naturalmente ele vai saber conviver em grupo, saber que precisa dos demais, saber que a sua ação vai interferir na vida do outro e isso acho que é fundamental. - Pensando em planejamento e gestão ao longo de uma temporada, o que um treinador deve saber e levar em conta? - Planejamento principalmente as competições, né. E também respeitar a carga de treinamento. Então além de saber o que a gente vai ter de competição, saber junto com a sua comissão o que que você vai poder trabalhar de carga, depois distribuir isso da melhor maneira possível e tentar ser o mais fiel possível a esse planejamento. A gente sabe que depois não é tão simples, porque as coisas vão acontecendo, vão aparecer lesões, aparecem jogos alternados, mudança de calendário e tudo mais mas agente tem que tentar acho que da melhor maneira possível fazer um planejamento macro. E outra coisa importante que a gente faz bastante aqui é uma reunião semanal pra fazer uma avaliação de como foi a semana, o que a gente pode fazer de melhor, o que a gente pode mudar, o que a gente pode trazer a mais, o que a gente pode tirar. É uma reunião só da comissão, gerente, fisioterapeuta, preparador físico e os assistentes. - Você acredita que nesta categoria o treinador deva saber demonstrar algum tipo gesto técnico para seus atletas? Se sim, quais? - Precisa, sem dúvida alguma. Porque muitas vezes o atleta chega aqui com algum vício ou alguma falta de ter trabalhado determinado gesto ou algum vício que na minha concepção eu não posso olhar e falar que está tudo bem. Eu tenho que falar, o atleta tem que querer e eu tenho que tentar corrigir isso. - O que os treinadores do Adulto devem saber sobre o uso de tecnologias? - Acho muito importante cara. Eu vejo muito técnico aí que fala "ah, eu não entendo nada, não faço, mas meu assistente tal". Eu já vejo diferente, tudo bem também que eu sou um cara jovem, eu fiquei muito tempo como assistente técnico então eu trabalhei bastante com isso mas eu acho fundamental e de extrema importância principalmente pra auxiliar, pra trazer mais informações, mais números, mais vídeos, mais estudo pra você ter muito mais base pra tomar suas decisões. - Como o treinador deve agir para criar e manter um ambiente adequado de trabalho nesta categoria? - Uma vez eu ouvi uma frase de um treinador bem experiente e ele tem muita razão nisso. Ele fala assim: "é tratar os iguais de forma diferente". Então é todo mundo igual mas tem particularidades, tem diferenças e você precisa tentar de uma maneira geral fazer com que esses iguais se sintam iguais mas o tratamento obviamente vai ser diferente. Vai ser diferente por vários motivos, pelo momento da carreira que um está vivendo, por uma situação pessoal que o outro está vivendo, por um momento particular da equipe, do clube, então eu tento de uma maneira geral estar bem atento à isso, levar tudo em consideração e não simplesmente "não, é assim e vamos, porque é assim que tem que ser", então um pouco daquilo que eu já falei da gestão que eu acredito. - Como manter-se motivado em seu trabalho junto a esta categoria? 235

- Ah cara, é aquilo que eu falei, isso tá no sangue, tá dentro de mim. O basquete faz parte da minha vida desde sempre né, porque com 10 anos de idade você ainda não tem aquela percepção toda de mundo. Então a partir do momento que eu tive qualquer tipo de percepção de vida, de mundo, o basquete já fazia parte do meu mundo e da minha vida. Acho que a maior motivação é essa e também eu falo muito pra eles que a minha maior motivação é ver eles melhorando, ver eles felizes, o time bem e aí depois ganhar ou perder vai ser consequência. Mas a minha motivação é vir aqui, ter um bom ambiente de trabalho, saber que eu vou chegar aqui e falar "puts, o ambiente é gostoso". Isso pra mim é motivador. - E como manter seus atletas motivados? - Eu procuro estar sempre conversando e compartilhando muito das minhas sensações com eles em cima disso. E como eu procuro sempre estar sendo grato, entender aonde eu estou, agradecer as coisas que acontecem na minha vida e tal, eu procuro compartilhar isso um pouco com eles que eu sei que as vezes, por motivo A ou B eles possam não ter essa mesma percepção e eu preciso que eles estejam sempre 100%, motivados e aí eu tento ir mostrando coisas positivas que aconteceram no jogo passado, no treino anterior, qualquer coisa pra realmente estar podendo fazer com que a motivação deles ... você tem aquela motivação intrínseca mas a gente sabe que a extrínseca também é muito importante. - Você costuma fazer reflexões e análises sobre seu desempenho como treinador nesta categoria? Se sim, quais? - Bastante. Assisto muito os vídeos dos jogos inteiros depois recortado, depois converso bastante com meu assistente também "pô, você não acha que aqui eu poderia ter feito assim, ou poderia ter feito assado". E também uma reflexão principalmente da minha conduta pessoal, como você mesmo já falou, se eu consegui manter a calma, se eu consegui passar a instrução da maneira correta, se eu consegui tirar um jogador num momento ruim mentalmente com alguma questão motivacional, então todas esses aspectos eu costumo analisar sim e refletir. - Como você dá feedback aos seus atletas? - Eu costumo bastante nos treinos, no momento que acontece a ação, dar o feedback. Assim como eu cobro bastante eu gosto de dar o feedback positivo também já no momento. A maioria das vezes individualmente mas costuma acontecer também coletivamente, principalmente aos finais dos treinos, eu dou bastante feedback tanto positivo quanto negativo mas eu prefiro sempre terminar com feedbacks positivos pra manter esse clima e a motivação deles mais elevada. - Existe mais alguma competência que você considera importante, ou algo que você gostaria de comentar quanto às competências necessárias aos treinadores de basquete? - Acho que eu já falei um pouco de tudo mas eu vejo cada vez mais como é importante a gente estar se preparando mentalmente, entendendo mais a importância do auto conhecimento. E o fator pessoal, você se desenvolver pessoalmente pra você poder desenvolver os demais. Se a minha função é fazer com que o time jogue melhor, que o jogador seja melhor, eu preciso estar 236 me fazendo o melhor pra poder passar isso pra eles. Uma outra percepção também é que os técnicos deveriam ser muito mais unidos, deveriam ter muito mais momentos como esse assim de troca de ideia mas na cabeça de muitos é uma competição, eu contra você, você contra mim, eu tenho que te derrubar se não você vai ganhar mais que eu e isso e aquilo. Eu não vejo por aí. Mais no individual do que pro bem do basquete como um todo. Quando eu tenho a oportunidade, eu gosto de discutir com outros técnicos diversas situações do jogo e das nossas equipes. "Ah, eu faço assim, eu faço assado". E eu convido meus colegas pra assistir meus treinos. Alguns desacreditam. Cara, quanto mais dificuldade eles trouxerem pra mim no jogo deles, mais eu vou ter que estudar e aprender e melhor eu vou ser. Do que eu só fazer uma coisa e "ah, ganhei, beleza", mas o cara não teve dificuldade mas e aí. Então aprendi isso com os argentinos. Na Argentina alguns treinadores fazem isso já lá. "Pô, vem aqui pra você ver o que que eu faço". Qual o problema disso? Hoje está tudo explícito, se ele não me falar eu vou assistir o jogo e vou ver, só vai entre aspas me dar mais trabalho, ou alguém vai colocar na rede e vai abrir pra todo mundo. Aqui é sempre aberto, todo mundo que me pede ou pergunta, as vezes até cara me manda uma mensagem "pô, eu sou técnico lá da cidade tal, estou essa semana aí próximo do clube, posso assistir?". Eu não conheço mas pode vir, me dá o nome aí, vem assistir. Porque isso é o que eu posso fazer pra ajudar e no fim das contas eu vou estar recebendo esse tipo de coisa de volta. Muito bom! Obrigado pela disponibilidade.

237

APÊNDICES 238

Apêndice A - Avaliação Demográfica

Instrumento de Pesquisa

Para ser respondido pelo treinador

1. Idade: _____ anos.

2. Tempo de experiência no basquete como treinador: ______.

3. Foi atleta de basquete? Se sim, por quantos anos?

4. Principais competições/campeonatos disputados como treinador:______.

5. Principais títulos e prêmios conquistados como treinador: ______.

6. Grau de instrução (em caso de nível superior, especificar curso): Ex: Graduação plena em Educação Física.

______.

239

Apêndice B - Roteiro de Entrevista

Vou iniciar agora algumas perguntas e gostaria que você considerasse suas respostas de acordo com a categoria que está no comando neste momento.

1.1. Quais conhecimentos técnicos e táticos você considera que um treinador de basquete nessa categoria deva possuir?

1.2. O que um treinador deve saber para ensinar atletas dessa categoria?

1.3. O que um treinador desta categoria deve saber sobre a instituição e o setor em que trabalha para desempenhar suas funções?

1.4. O que um treinador de basquete desta categoria deve saber para preparar os atletas, tanto individualmente como coletivamente para as competições?

2.1. O que um treinador de basquete desta categoria deve saber para se relacionar e se comunicar com seus atletas?

2.1.1. E com os familiares dos atletas?

2.1.2. E com os dirigentes?

2.1.3. Com a mídia?

2.2. Que perfil um treinador desta categoria deve ter?

2.2.1. Poderia nos dizer algo sobre o tipo de liderança?

2.2.2. Sobre saber ouvir os atletas?

2.2.3. Sobre como controlar as emoções?

3.1. Quais normas e códigos profissionais um treinador deve levar em conta nesta categoria?

3.1.1. Tem algo a dizer sobre atualização profissional e formação adicional?

3.1.2. E sobre aspectos éticos e Fair Play nesta categoria? O que você considera importante saber e transmitir aos atletas? 240

3.2. Quais valores pessoais você acredita que sejam importantes para atuação profissional nesta categoria?

3.2.1. Quais competências para a vida você acredita que os treinadores desta categoria poderiam auxiliar os atletas a desenvolver?

4. Pensando em planejamento e gestão ao longo de uma temporada, o que um treinador deve saber e levar em conta?

4.1. Você acredita que nesta categoria o treinador deva saber demonstrar algum tipo de gesto técnico para seus atletas? Se sim, quais?

4.2. O que os treinadores desta categoria devem saber sobre o uso de tecnologias?

5.1. Como o treinador deve agir para criar e manter um ambiente adequado de trabalho nesta categoria?

5.2. Como manter-se motivado em seu trabalho junto a esta categoria? E como manter seus atletas motivados?

5.3. Você costuma fazer reflexões e análises sobre seu desempenho como treinador nesta categoria? Se sim, quais?

5.3.1. Como você dá feedback aos atletas?

6. Existe mais alguma competência que você considera importante, ou algo que você gostaria de comentar quanto às competências necessárias aos treinadores de basquete?

241

Apêndice C - Aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa

UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU - AMC SERVIÇOS EDUCACIONAIS S/C LTDA

PARECER CONSUBSTANCIADO DO CEP

DADOS DO PROJETO DE PESQUISA

Título da Pesquisa: Percepção de treinadores de basquete sobre as competências necessárias ao treinador Pesquisador: Marcelo Callegari Zanetti Área Temática: Versão: 2 CAAE: 99094818.0.0000.0089 Instituição Proponente: Universidade São Judas Tadeu Patrocinador Principal: Financiamento Próprio

DADOS DO PARECER

Número do Parecer: 2.979.688

Apresentação do Projeto: O projeto esta adequadamente apresentado. Objetivo da Pesquisa: Objetivo Primario: Identificar as percepcoes de treinadores de basquetebol quanto as competencias necessarias ao treinador. Objetivo Secundario: Analisar as percepcoes de treinadores de basquetebol quanto as competencias necessarias ao treinador em diferentes categorias sub-11, sub-14, sub-17 e adulto. Avaliação dos Riscos e Benefícios: Os riscos e beneficios estao adequadamente descritos. Os riscos sao minimos, por se tratar de entrevista.

Comentários e Considerações sobre a Pesquisa: A pesquisa esta adequada do ponto de vista etico.

Considerações sobre os Termos de apresentação obrigatória: Os termos de apresentação obrigatória foram adequadamente apresentados. As alterações solicitadas no parecer anterior foram realizadas.

Endereço: Rua Taquari, 546 CEP: 03.166-000 Bairro: Mooca UF: SP Município: SAO PAULO Telefone: (11)2799-1950 Fax: (11)2694-2512 E-mail: [email protected] 242

UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU - AMC SERVIÇOS

EDUCACIONAIS S/C LTDA

Continuação do Parecer: 2.979.688

Conclusões ou Pendências e Lista de Inadequações: O projeto está aprovado. Considerações Finais a critério do CEP: PARECER APROVADO O CEP/USJT deve ser informado de todos os efeitos adversos ou fatos relevantes que alterem o curso normal do estudo. É papel do pesquisador assegurar medidas imediatas adequadas frente ao evento adverso grave ocorrido e enviar notificações ao CEP. Eventuais modificações ou emendas ao protocolo devem ser apresentadas ao CEP de forma clara e sucinta identificando a parte do protocolo a ser modificada e suas justificativas. O relatório parcial deve ser apresentado ao CEP, via Plataforma Brasil -opção Notificação, após a coleta de dados do estudo. O relatório final deve ser apresentado ao CEP, via Plataforma Brasil - opção Notificação, após 90 dias do término do estudo. Este parecer foi elaborado baseado nos documentos abaixo relacionados:

Tipo Documento Arquivo Postagem Autor Situação Informações Básicas PB_INFORMAÇÕES_BÁSICAS_ 11/10/2018 Aceito do Projeto DO_P 10:28:32 ROJETO_1153695.pdf TCLE / Termos de TCLE_treinador.docx 10/10/2018 Renan Lutke Aceito Assentimento / 19:21:27 Gehrke Justificativa de Ausência Projeto Detalhado / Projetodetalhado.docx 10/10/2018 Renan Lutke Aceito Brochura 19:16:31 Gehrke Investigador Declaração de AutorizacaoFPB.png 17/09/2018 Renan Lutke Aceito Instituição e 22:18:21 Gehrke Infraestrutura Folha de Rosto Folha_de_rosto_assinada.pdf 01/09/2018 Renan Lutke Aceito 12:13:34 Gehrke

Situação do Parecer:

Aprovado

Necessita Apreciação da CONEP: Não

Endereço: Rua Taquari, 546 CEP: Bairro: Mooca 03.166-000 UF: SP Município: SAO PAULO Telefone: (11)2799-1950 Fax: (11)2694-2512 E-mail: [email protected] 243

UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU - AMC SERVIÇOS EDUCACIONAIS S/C LTDA

Continuação do Parecer: 2.979.688

SAO PAULO, 24 de Outubro de 2018

Assinado por: JULIANA VALENTE FRANCICA (Coordenador(a))

244

Apêndice D - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE)

Título da Pesquisa: PERCEPÇÃO DAS COMPETÊNCIAS NECESSÁRIAS PARA ATUAÇÃO PROFISSIONAL EM TREINADORES DE BASQUETE

Eu, ______, portador(a) do RG nº ______, endereço ______, telefone ______, abaixo assinado, dou meu consentimento livre e esclarecido para participar como voluntário do projeto de pesquisa supracitado, sob responsabilidade do pesquisador Prof. Renan Lütke Gehrke, sob orientação do Prof. Dr. Marcelo Callegari Zanetti, membros do Programa de Mestrado em Educação Física da Universidade São Judas Tadeu.

Assinando este Termo de Autorização e Compromisso, estou ciente de que:

1) O objetivo da pesquisa é verificar minha percepção sobre as competências necessárias ao treinador de basquete;

2) Durante o estudo será feita uma entrevista, com duração estimada de 30 minutos que será gravada pelo pesquisador e posteriormente transcrita para os procedimentos de análise. As gravações ficarão sob a posse do pesquisador e o seu conteúdo será destinado a fins estritos de pesquisa científica, exposições do tema em palestras, cursos e oficinas acadêmicas. As informações obtidas serão guardadas por cinco anos e eliminadas passado esse período;

3) Todos os meus dados serão mantidos em sigilo. Terei acesso aos resultados desta pesquisa assim que estiverem disponíveis.

4) Por colaborar com esta pesquisa, não terei despesas pessoais em qualquer fase do estudo. Também não haverá compensação financeira relacionada à participação. Toda e qualquer despesa será de responsabilidade do pesquisador;

5) Sei que a pesquisa não trará risco à minha integridade física, porém poderei me sentir constrangido por não me recordar de algum aspecto importante em relação às perguntas que me serão feitas ou com a gravação de minha fala. 245

Caso haja necessidade, fica à disposição o Centro de Psicologia Aplicada da Universidade São Judas Tadeu (CENPA) para atendimento psicológico, sem qualquer ônus. Da mesma forma, compreendo que o resultado da pesquisa poderá contribuir com o aperfeiçoamento de minha prática profissional e da modalidade como um todo, através do conhecimento sobre a percepção que os demais treinadores apresentarão sobre o tema do estudo;

6) Os desconfortos que porventura surgirem, serão minimizados pelo esclarecimento prévio dos objetivos da pesquisa. Além disso, poderei a qualquer momento, negar-me a participar e/ou solicitar que minha imagem e fala não sejam gravadas e, ainda, mesmo após a realização da pesquisa sejam desconsideradas/apagadas.

7) Poderei entrar em contato com o responsável pelo estudo, Prof. Dr. Marcelo Callegari Zanetti, sempre que julgar necessário pelo telefone (19) 99267-0857.

8) Poderei contatar o Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da USJT para apresentar recursos ou reclamações em relação à pesquisa pelo telefone (11) 2799-1950 e 2799-1689.

Ficaram claros para mim quais são os propósitos do estudo, os procedimentos a serem realizados, seus desconfortos e riscos, as garantias de confidencialidade e de esclarecimentos permanentes.

Este Termo de Consentimento é feito em duas vias, sendo que uma permanecerá em meu poder e a outra com o pesquisador responsável.

______Data ____/____/______

Assinatura do treinador colaborador da pesquisa

______Data ____/____/______

Assinatura do pesquisador