LITERATURA GOESA EM PORTUGUÊS NOS SÉCULOS XIX E XX Perspetivas Pós -Coloniais E Revisão Crítica
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COLEÇÃO HESPÉRIDES LITERATURA LITERATURA GOESA 31 EM PORTUGUÊS NOS SÉCULOS XIX E XX Perspetivas pós-coloniais e revisão crítica Joana Passos K_hesperides31_v1.indd 1 13/02/28 18:21 Mário de Miranda LLiteraturaiteratura GGoesaoesa eemm PPortuguês.inddortuguês.indd 3 001-06-20131-06-2013 007:48:377:48:37 LLiteraturaiteratura GGoesaoesa eemm PPortuguês.inddortuguês.indd 4 001-06-20131-06-2013 007:48:397:48:39 LITERATURA GOESA EM PORTUGUÊS NOS SÉCULOS XIX E XX Perspetivas pós -coloniais e revisão crítica Joana Passos LLiteraturaiteratura GGoesaoesa eemm PPortuguês.inddortuguês.indd 5 001-06-20131-06-2013 007:48:397:48:39 LLiteraturaiteratura GGoesaoesa eemm PPortuguês.inddortuguês.indd 6 001-06-20131-06-2013 007:48:397:48:39 AGRADECIMENTOS À FUNDAÇÃO PARA A CIÊNCIA E TECNOLOGIA, que apoiou esta investigação com a bolsa de pós -doutoramento SFRH / BDP/ 11596/ 2002 e com o subsídio do programa FACC. Ao Centro de Estudos Humanísticos da Universidade do Minho e à professora Ana Gabriela Macedo pela confiança e empenho com que apoiou esta investigação. Ao professor Paulo de Medeiros, da Universidade de Utrecht, pelo seus encorajamento para que encetasse este projeto. Ao grupo de especialistas que gentilmente ofereceu os seus comen- tários, críticas e sugestões. Entre outros, gostaria de destacar Rosa Perez e Margarida Pereira pela leitura de partes deste manuscrito, e ainda Hélder Garmes, Susana Sardo, Cristiana Bastos e Everton Machado. À Fundação Oriente, em Pangim, ao Dr. Paulo Varela Gomes e a Sidh Mendiratta, pela forma como me acolheram durante a visita de estudo em junho de 2008. A Jason Keith Fernandes pela disponibilidade para ser um verda- deiro anfitrião durante a visita a Goa em 2011. A Gerard da Cunha e à Architecture Autonomous, Bardez, Goa, pelos autorização para usar imagens do trabalho de Mário de Miranda em diferentes artigos académicos, e por me permitirem usar Diu, the Balcony no frontespício deste livro. É igualmente devida uma palavra de agradecimento à Casa de Goa, em Lisboa, pela disponibilização de bibliografia e respetiva sala de leitura, improvisado gabinete de trabalho em repetidas visitas. LLiteraturaiteratura GGoesaoesa eemm PPortuguês.inddortuguês.indd 7 001-06-20131-06-2013 007:48:397:48:39 LLiteraturaiteratura GGoesaoesa eemm PPortuguês.inddortuguês.indd 8 001-06-20131-06-2013 007:48:397:48:39 ÍNDICE 11 Mapa para um leitor cúmplice 23 I A literatura goesa em português 39 II A imprensa periódica e os jornais literários de Goa 63 III A poesia dos jornais literários 89 IV As Vozes Dissonantes – Arqueologia de um Discurso de Resistência 107 V O século XX em Goa: desafios históricos e respostas literárias 135 VI O Indianismo do princípio do século XX 193 VII A prosa goesa no século XX 211 VIII As múltiplas identidades de Vimala Devi 229 IX Orlando da Costa: roteiro do final de uma época 245 A literatura goesa no presente 249 Bibliografia LLiteraturaiteratura GGoesaoesa eemm PPortuguês.inddortuguês.indd 9 001-06-20131-06-2013 007:48:397:48:39 LLiteraturaiteratura GGoesaoesa eemm PPortuguês.inddortuguês.indd 1100 001-06-20131-06-2013 007:48:397:48:39 MAPA PARA UM LEITOR CÚMPLICE 11 ESTAS PÁGINAS PROPÕEM UMA REAVALIAÇÃO DO SEGMENTO DA LITERATURA DE LITERATURA GOESA EM PORTUGUÊS NOS SÉCULOS GOA QUE FOI ESCRITO EM PORTUGUÊS, enquadrando este universo como XIX E XX uma das várias heranças históricas dessa sociedade multicultural e Perspectivas pós-coloniais poliglota. É certo que a língua portuguesa, em Goa, é aquela que está e revisão crítica marcada pelo projeto de expansão colonial europeia, por perseguições religiosas em nome da Inquisição e por um série de tensões sociais, de raiz racista, que se refletiram nas escritas por punho goês. Neste contexto, os autores goeses escreveram como estratégia de resistên- cia a esses regimes de opressão, como forma de pressão pública na negociação da margem de poder disponível dentro dessa sociedade colonial, ou como intervenção pedagógica e amena, cultivando certos valores e comportamentos sociais. Consequentemente, e apesar de estar marcada por uma “herança negativa” [1] visto ter nascido sob 1 Esta expressão crítica relativa ao peso da herança colonial foi cunhada por Paulo de Medeiros. Ver o ensaio “Negative Inheritances: Articulating Postcolonial Critique and Cultural Memory” in Itinerâncias Percursos e Representações da Pós -colonialidade (2012), Brugioni, Elena; Passos, Joana; Sarabando, Andreia; Silva, Marie -Manuelle (coord.), V.N. Famalicão: Edições Húmus, pp: 49 -62. LLiteraturaiteratura GGoesaoesa eemm PPortuguês.inddortuguês.indd 1111 001-06-20131-06-2013 007:48:397:48:39 a égide da história colonial de Goa, a literatura goesa em português não tem necessariamente de estar vinculada a este projeto colonial, existindo apenas como sua subsidiária. Isso seria o mesmo que dizer que os goeses nunca tomaram em suas mãos o poder de se representar e de comentar criticamente o regime sob o qual viviam. Também com ele se fundiram, e é verdade que assimilaram princípios da ideolo- gia colonial, estilos de vida ocidentalizados, e, obviamente, modas e referências estéticas importadas do ocidente, num cosmopolitismo de elite intelectual informada, curiosa, e até certo ponto complacente. Negar esta assimilação e complacência seria tão absurdo como negar a possibilidade de resistência e autorrepresentação goesas. A verdade é que o espólio literário encontrado nos arquivos e bibliotecas se revelou contraditório, interventivo, cheio de vitalidade, e por isso mesmo rico em informações e pistas de trabalho. Exprimir como ponto de partida a consciência das marcas his- tóricas associadas em Goa à língua portuguesa enquanto língua do 12 regime colonial significa que a visão com que lemos esta herança literária diverge de estudos anteriores por não silenciar nem este JOANA PASSOS contexto problemático, nem a resistência à assimilação de padrões culturais portugueses/ocidentais quando tal gesto é expresso por autores goeses. De facto, um dos objetivos desta investigação foi compreender, com todas as suas cicatrizes e contradições, o legado cultural de uma assimétrica relação colonial de mais de quatro sécu- los, que acabou por adquirir voz própria e única, constituindo -se, pela sua qualidade, como uma herança específica a reconhecer e preservar. Propõe -se ao leitor uma viagem estética e crítica por uma parte da vida literária de Goa, situando o nosso ponto de partida na instável encruzilhada entre influências indianas e ocidentais, sem se pretender legitimar fronteiras nem esconder tensões. Voltamos às fontes – aos textos e aos autores – para, a partir das linhas de estudo delineadas pela teoria pós -colonial, reconstituir um cânone de referência, acompanhado por um roteiro crítico que se oferece como possível história literária de Goa. Identificam -se portanto ten- dências dominantes na vida cultural da sociedade goesa ao longo de dois séculos vibrantes, os séculos XIX e XX, quando a proliferação da imprensa alargou os hábitos de leitura e de escrita a um muito maior número de intervenientes. LLiteraturaiteratura GGoesaoesa eemm PPortuguês.inddortuguês.indd 1122 001-06-20131-06-2013 007:48:397:48:39 No século XIX, a par da escrita em português circulavam em Goa textos em marathi, concani e inglês. Só no século XX, autores como Ravindra Kelekar, P. V. Pandit, ManoharRai SarDessai e Laxmanrao SarDessai teriam o mérito de conferir ao nativo concani o estatuto de língua literária ao ganharem, respetivamente nos anos de 1977, 1979, 1980 e 1982 o Sahitya Akademi Award, da Academia Nacional de Letras da União Indiana, o mais prestigiado prémio literário da Índia, atribu- ído à escrita em concani desde 1977. Esta referência às várias línguas correntes em Goa, sublinhando o recente reconhecimento literário do concani, estabelece o lugar parcial e relativo da língua portuguesa nesta sociedade, sendo hoje em dia o repositório de uma herança cultural que não deve permanecer isolada da Índia por desconhecimento da língua em que foi escrita. Daí a importância de projetos de tradução que serão a sequência lógica deste trabalho de seleção e reavaliação deste espólio. Assim, será possível reconhecer ramificações contemporâneas desta mesma herança cultural ao nível da escrita, seja em língua inglesa ou língua concani, as duas línguas literárias de Goa na atualidade. 13 O sistema literário abordado neste estudo é composto por prosa, ficção e ensaio [2], escritas de caráter laico [3] disseminadas junto do LITERATURA GOESA EM PORTUGUÊS NOS SÉCULOS público com o advento da imprensa periódica. Este objeto de estudo XIX E XX implica um público alfabetizado e com acesso a livros e jornais, fosse Perspectivas pós-coloniais católico, hindu, luso -descendente, reinol ou muçulmano, o que pressu- e revisão crítica põe, nesse tempo e em Goa, um certo estatuto de elite. Recorde -se que no caso de Goa qualquer fulgurante corte local teria sido marginalizada desde o início do século XVI com a chegada dos portugueses, e na ausência deste círculo de mecenato, teremos de esperar séculos pelo renascimento de uma atmosfera onde exista um público interessado e um modelo de circulação literária relativamente alargado pela via da imprensa. Estas condições surgiram no ponto de viragem marcante que foi o século XIX, quando o acesso ao conhecimento e à cultura se democratizaram gradualmente, numa proporção sem precedente. Em 2 Utilizo a categoria “ensaio” no sentido mais lato de termo, incluindo não só artigos de natureza etnográfica ou pedagógica mas também teses políticas ilustradas pelo comen- tário social crítico,