Escolas De Samba: Sujeitos Celebrantes E Objetos Celebrados PREFEITURA DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO Cesar Maia
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Escolas de samba: sujeitos celebrantes e objetos celebrados PREFEITURA DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO Cesar Maia SECRETARIA DAS CULTURAS Ricardo Macieira DEPARTAMENTO GERAL DE DOCUMENTAÇÃO E INFORMAÇÃO CULTURAL Antonio Olinto ARQUIVO GERAL DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO Antonio Carlos Austregésilo de Athayde DIVISÃO DE PESQUISA Sandra Horta CONSELHO EDITORIAL Antonio Carlos Austregésilo de Athayde (presidente), Afonso Carlos Marques dos Santos, André Luiz Vieira de Campos, Antonio Torres, Carlos Lessa, Eliana Rezende Furtado de Mendonça, Franco Paulino, Jaime Larry Benchimol, Lana Lage da Gama Lima, Luciano Raposo de Almeida Figueiredo, Mauricio de Almeida Abreu, Pedro Lessa, Sandra Horta, Vera Lins Escolas de samba: sujeitos celebrantes e objetos celebrados Rio de Janeiro, 1928-1949 Nelson da Nobrega Fernandes 2001 Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro Secretaria das Culturas Departamento Geral de Documentação e Informação Cultural Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro Divisão de Pesquisa Coleção Memória Carioca Volume 3 © 2001 by Nelson da Nobrega Fernandes Direitos desta edição reservados ao Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro (C/DGDI/ARQ). Proibida a reprodução sem autorização expressa. Printed in Brazil/Impresso no Brasil ISBN 85-88530-03-1 Edição de texto Diva Maria Dias Graciosa Projeto gráfico Inah de Paula Comunicações Editoração eletrônica Inah de Paula Comunicações Imagem da capa Marcelino José Claudino, Mestre Maçu (1898-1973), um dos fundadores da Mangueira, foi mestre-sala e presidente da escola de samba. Arquivo Perci Pires. Catalogação: Serviço de Biblioteca/Arquivo Geral da Cidade F363 Fernandes, Nelson da Nobrega. Escolas de samba: sujeitos celebrantes e objetos celebrados. Rio de Janeiro, 1928-1949 / Nelson da Nobrega Fernandes. – Rio de Janeiro: Secretaria das Culturas, Departamento Geral de Documentação e Informação Cultural, Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro, 2001. 172 p.:il. – (Memória carioca; v. 3). Bibliografia: p. 148-153 1. Escolas de samba – Rio de Janeiro (RJ) – 1928-1949. 2. Escolas de samba – História. 3.Festas populares – Rio de Janeiro(RJ) – 1928-1949. I. Título. II. Título: Rio de Janeiro, 1928-1949. III. Série. CDD: 394.25098153 CDU: 394.25 (815.41) "1928/1949" Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro Rua Amoroso Lima, 15 – Cidade Nova 20211-120 – Rio de Janeiro – RJ Telefax: (0XX21) 2273- 4582 e-mail: [email protected] http://www.rio.rj.gov.br/arquivo sumário Prefácio ...................................................................................................................................... IX Introdução .............................................................................................................................. XVII I. Quadro teórico-conceitual ......................................................................................... 1 1.1 Sobre a cidade e a festa ........................................................................................... 2 1.2 Sobre geografia e cultura popular .......................................................................... 7 II. O Carnaval e a modernização do Rio de Janeiro ................................................ 13 2.1 Observações preliminares....................................................................................... 14 2.2 Principais manifestações carnavalescas na segunda metade do século XIX: entrudo, grandes sociedades e zé-pereira ....................................... 16 2.3 Principais manifestações carnavalescas na República Velha: cordões, ranchos, corsos e blocos ........................................................................... 23 2.4 A Festa da Penha: um lugar incontornável para a cultura popular no Rio de Janeiro da República Velha .................................................................. 36 III. Escolas de samba: das origens à oficialização (1928-1935) ............................. 41 3.1 As origens do samba ................................................................................................ 42 3.2 Deixa Falar: a primeira escola de samba .............................................................. 47 3.3 “Mangueira não fica na África”: inovação e invenção da tradição nas origens das escolas de samba........................................................................... 53 3.4 Serrinha, Osvaldo Cruz e Mangueira: três referências para as origens, lugares e processos sociais na formação das escolas de samba .......................... 58 3.5 Os primeiros concursos entre escolas de samba e o samba como objeto celebrado (1932-1934) ................................................................................ 75 3.6 A vitória do samba, a oficialização e a questão dos temas nacionais ................ 84 IV. Da oficialização à conquista da representação nacional (1935-1949) ........ 93 4.1 Entre a oficialização e o Estado Novo.................................................................. 94 4.2 As escolas de samba frente ao Estado Novo e à Segunda Guerra; as relações entre Paulo da Portela e Zé Carioca ................................................. 105 4.3 “União Geral das Escolas Soviéticas”: politização e crise nas escolas de samba no início da Guerra Fria ......................................................................... 127 4.4 Paulo da Portela, o samba-enredo e o Brasil como objeto celebrado .............. 137 Conclusões ............................................................................................................................................... 145 Referências bibliográficas ................................................................................................... 148 prefácio Nelson da Nóbrega Fernandes, nesta obra, como geógrafo, explorou a construção do território do Rio pelo gênio popular, enquanto criador cultural. Cumpriu sua proposta de forma sustentada e incitante. Prefaciar uma obra é um privilégio e uma distinção. Há um ritual bem comportado para estruturar o prefácio. A obra de Nelson Fernandes estimulou- me a transgredir este rito e aproveitar o privilégio para alinhar algumas reflexões suscitadas pelas idéias do autor. No Rio de Janeiro do século XX cresceu e cresce, sem parar, a população automobilística. No passado, em algum momento, as dificuldades de encontrar vaga e estacionar deram origem ao flanelinha. No início alguém que amavelmente ajudava o motorista a entrar e sair da vaga difícil e, com a flanela na mão, afirmava que protegeria o auto e, ao mesmo tempo, “sinalizava” sua necessidade de receber um auxílio monetário, pouco a pouco o flanelinha se converteu em dono do ponto. Construiu uma “titulação”, reconhecida por seus pares, de privilégio “locativo” de determinada área pública para o motorista em busca de vaga. Em conluio com a autoridade – provavelmente algum policial – consolidou sua “titularidade” sobre o ponto e “profissionalizou-se”. Surgiu um “mercado” de compra e venda, e operações de “arrendamento” e “subcontratação” prosperaram. Posteriormente, a PMRJ reapropriou- se dos pontos, concedendo-os em bloco a concessionários legalizados, dando origem a uma empresa formal. As estratégias de subsistência populares acompanham, tempestiva e criativamente, as transformações do espaço e da operação urbanos. Respondem aos impactos do motor a explosão e às tensões geradas pelo temor de deixar abandonado na rua veículo valioso. O flanelinha pode ser conceituado como o criador de um peculiar esquema de guarda e proteção patrimonial em uma “garagem a céu aberto”. Ao mesmo tempo, foi o fundador de um novo tipo de ativo patrimonial: a concessão do espaço público para a prestação deste serviço. O Brasil não industrializado importou carros das mais variadas procedências e marcas. A escassez cambial fez do veículo um bem patrimonial de grande valor. A mesma escassez cambial dificultava encontrar as peças de reposição, até mesmo porque a “geriatria” brasileira dos autos fazia com que necessitassem de autopeças retiradas de linha de produção. Neste cenário, prosperou a criatividade popular do “aprender fazendo”. Na ausência de qualquer estrutura formal de ensino, o popular desenvolveu versátil talento “clínico”, aplicável à ultravariada frota de veículos. Deu início, em pequenas oficinas, ao fabrico de peças de reposição. Talentos vocacionados para a escultura tornaram-se cirurgiões plásticos das latarias avariadas. Aplicando “engenharia reversa”, improvisaram técnicas e substituíram materiais, dominaram a recomposição plástica e a intimidade das cirurgias mecânicas dos veículos automotores. Tiveram influência positiva sobre a produção: caminhões, máquinas agrícolas e de terraplanagem, ônibus e utilitários ganharam sobrevida com a atividade desses especialistas, formados na escola da vida. Todos estes artesãos, convertidos em mestres medievais “formaram” e multiplicaram aprendizes. Foi fácil para o Brasil, na década de 1950, instalar a indústria automobilística e o complexo metal-mecânico, pois preexistia uma mão de obra hiperqualificada. IX Dos mistérios mecânicos e estéticos, o gênio popular, ao desvelá-los, desenvolveu e continua desenvolvendo estratégias de subsistência. Hoje, em qualquer sinal de trânsito, aparecem menores que, em equipe, oferecem um mini-espetáculo circense, lançando bolas ao ar, enquanto seus parceiros vendem alguma coisa ou solicitam “cooperação” aos motoristas. Nos grandes e tradicionais congestionamentos formaram-se numerosas equipes de adultos que, orquestradamente, fornecem refrigerantes e cerveja mantidos gelados em caixas de isopor, biscoitos