Introdução à história da sociedade patriarcal no Brasil - 1

Casa-grande & senzala Formação da família brasileira sob o regime da economia patriarcal

Gilberto Freyre

48a edição

Apresentação de FERNANDO HENRIQUE CARDOSO

Biobibliografia de EDSON NERY DA FONSECA

Notas bibliográficas revistas e índices atualizados por GUSTAVO HENRIQUE TUNA © Fundação Gilberto Freyre, 2003 --Brasil 48a edição, 2003, Global Editora

Diretor Editorial Iconografia Jefferson L. Alves Fundação Gilberto Freyre Global Editora Editor Adjunto Francisco M. P. Teixeira Projeto Gráfico À memória dos meus avós Lúcia Helena S. Lima Atualização de notas e índices Gustavo Henrique Tuna Capa Victor Burton Gerente de Produção Flávio Samuel Editoração Eletrônica Alfredo Alves da Silva Freire Lúcia Helena S. Lima Coordenação de Revisão Antônio Silvio Lopes Maria Raymunda da Rocha Wanderley Ana Cristina Teixeira Ulysses Pernambucano de Mello Revisão A Global Editora agradece a gentil cessão do Ana Cristina Teixeira material iconográfico pela Fundação Gilberto Francisca da Cunha Teixeira de Mello Rinaldo Milesi Freyre e Instituto de Estudos Brasileiros da USR

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Freyre, Gilberto, 1900-1987. Casa-grande & senzala: formação da família brasileira sob o regime da economia patriarcal / Gilberto Freyre; apresentação de Fernando Henrique Cardoso. — 481 ed. rev. — São Paulo : Global, 2003. — (Introdução à história da sociedade patriarcal no Brasil ; 1).

"Notas bibliográficas revistas e índices atualizados por Gustavo Henrique Tuna" "Bibliografia de Edson Nery da Fonseca." ISBN 85-260-0869-2

1. Brasil — Usos e costumes 2. Escravidão — Brasil 3. Família — Brasil 4. índios da América do Sul — Brasil I. Cardoso, Fernando Henrique. II. Título. III. Série.

03-4544 CDD-981 índices para catálogo sistemático: 1. Brasil: Formação do povo : Aspectos sociais : História 981

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s"g£&- Colabore com a produção científica e cultural. i MÊgÊy Proibida a reprodução total ou parcial desta obra y sem a autorização do editor.

~" "*"* NQ DE CATÁLOGO: 2389 Gilberto Freyre fotografado por Pierre Verger, 1945. Acervo da Fundação Gilberto Freyre. O outro Brasil que vem aí*

GILBERTO FREYRE

Eu ouço as vozes eu vejo as cores eu sinto os passos de outro Brasil que vem aí mais tropical mais fraternal mais brasileiro.

O mapa desse Brasil em vez das cores dos Estados terá as cores das produções e dos trabalhos.

Os homens desse Brasil em vez das cores das três raças terão as cores das profissões e das regiões.

As mulheres do Brasil em vez de cores boreais terão as cores variamente tropicais.

Todo brasileiro poderá dizer: é assim que eu quero o Brasil, todo brasileiro e não apenas o bacharel ou o doutor o preto, o pardo, o roxo e não apenas o branco e o semibranco.

* O outro Brasil que vem aí, Gilberto Freyre, 1926. Talvez Poesia, Rio de Janeiro, José Olympio, 1962. Qualquer brasileiro poderá governar esse Brasil Mãos todas de trabalhadores, lenhador pretas, brancas, pardas, roxas, morenas, lavrador de artistas pescador de escritores vaqueiro de operários marinheiro de lavradores funileiro de pastores carpinteiro de mães criando filhos contanto que seja digno do governo do Brasil de pais ensinando meninos que tenha olhos para ver pelo Brasil, de padres benzendo afilhados ouvidos para ouvir pelo Brasil de mestres guiando aprendizes

coragem de morrer pelo Brasil de irmãos ajudando irmãos mais moços

ânimo de viver pelo Brasil de lavadeiras lavando

mãos para agir pelo Brasil de pedreiros edificando

mãos de escultor que saibam lidar com o barro forte e novo dos Brasis de doutores curando

mãos de engenheiro que lidem com ingresias e tratores de cozinheiras cozinhando

[europeus e norte-americanos a serviço do Brasil de vaqueiros tirando leite de vacas chamadas comadres dos homens.

mãos sem anéis (que os anéis não deixam o homem criar nem trabalhar) Mãos brasileiras

mãos livres brancas, morenas, pretas, pardas, roxas

mãos criadoras tropicais

mãos fraternais de todas as cores sindicais

mãos desiguais que trabalhem por um Brasil sem Azeredos, fraternais.

sem Irineus Eu ouço as vozes

sem Maurícios de Lacerda. eu vejo as cores

Sem mãos de jogadores eu sinto os passos

nem de especuladores nem de mistificadores. desse Brasil que vem aí. Casa-grande ôc senzala* Que importa? É lá desgraça? Essa história de raça, Raças más, raças boas - Diz o Boas -

É coisa que passou Com o franciú Gobineau. Casa-grande & senzala, Pois o mal do mestiço Grande livro que fala Desta nossa leseira Não está nisso. Brasileira. Está em causas sociais. Mas com aquele forte De higiene e outras que tais: Cheiro e sabor do Norte Assim pensa, assim fala - Dos engenhos de cana Casa-grande & senzala. (Massangana!)

Livro que à ciência alia Com fuxicos danados A profunda poesia E chamegos safados Que o passado revoca De mulecas fulôs E nos toca Com sinhôs.

A alma de brasileiro, A mania ariana Do Oliveira Viana Que o portuga femeeiro Leva aqui a sua lambada Fez e o mau fado quis Bem puxada. Infeliz!

Se nos brasis abunda Jenipapo na bunda, Se somos todos uns Octoruns,

'Estrela da vida inteira, ll1 e<±, Rio de Janeiro, José Olympio, 1986. A Gilberto Freyre Casa-grande 8c senzala*

CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE JOÃO CABRAL DE MELO NETO

Velhos retratos; receitas Ninguém escreveu em português de carurus e guisados; no brasileiro de sua língua: as tortas Ruas Direitas; esse à vontade que é o da rede, os esplendores passados; dos alpendres, da alma mestiça, medindo sua prosa de sesta,

a linha negra do leite ou prosa de quem se espreguiça. coagulando-se em doçura; as rezas à luz do azeite; o sexo na cama escura;

'Viola de bolso novamente encordoada, Rio de Janeiro, José Olympio, 1955. 'Museu de tudo, Rio de Janeiro, José Olympio, 1975. Sumário

Um livro perene (Fernando Henrique Cardoso) 19

Prefácio à Ia edição (Gilberto Freyre) 29

I Características gerais da colonização portuguesa do Brasil: formação de uma sociedade agrária, escravocrata e híbrida 64

II O indígena na formação da família brasileira 156

III O colonizador português: antecedentes e predisposições 264

IV O escravo negro na vida sexual e de família do brasileiro 366

V O escravo negro na vida sexual e de família do brasileiro (continuação) 498

Bibliografia 575

Apêndice 1 - Biobibliografia de Gilberto Freyre

(Edson Nery da Fonseca) 643

Apêndice 2 - Edições de Casa-grande & senzala 671

índice remissivo 677

índice onomástico 703 Um livro perene

Nova edição de Casa-grande & sen­ zala. Quantos clássicos terão tido a ventura de serem reeditados tan­ tas vezes? Mais ainda: Gilberto Freyre sabia-se "clássico". Logo ele, tão à vontade no escrever, tão pouco afeito às normas. E todos que vêm lendo Casa-grande & senzala, há setenta anos, mal iniciada a leitura, sentem que estão diante de obra marcante. Darcy Ribeiro, outro renascentista caboclo, desrespeitador de re­ gras, abusado mesmo e com laivos de gênio, escreveu no prólogo que preparou para ser publicado na edição de Casa-grande & senza­ la pela biblioteca Ayacucho de Caracas, que este livro seria lido no próximo milênio. Como escreveu no século passado, quer dizer nos anos 1900, no século vinte, seu vaticínio começa a cumprir-se neste início de século vinte e um. Mas por quê? Os críticos nem sempre foram generosos com Gilberto Freyre. Mesmo os que o foram, como o próprio Darcy, raramente deixaram de mostrar suas contradições, seu conservadorismo, o gosto pela pa­ lavra sufocando o rigor científico, suas idealizações e tudo o que, contrariando seus argumentos, era simplesmente esquecido. É inútil rebater as críticas. Elas procedem. Pode-se fazê-las com mordacidade, impiedosamente ou com ternura, com compreensão, como seja. O fato é que até já perdeu a graça repeti-las ou contestá- ilustrar o que depreendia esteticamente da leitura de Casa-grande & las. Vieram para ficar, assim como o livro. senzala. O grande revolucionário dizia: "todo verdadeiro criador É isso que admira: Casa-grande & senzala foi, é e será referência sabe que nos momentos da criação alguma coisa de mais forte do para a compreensão do Brasil. que ele próprio lhe guia a mão. Todo verdadeiro orador conhece os Por quê? Insisto. minutos em que exprime pela boca algo que tem mais força que ele A etnografia do livro é, no dizer de Darcy Ribeiro, de boa quali­ próprio". dade. Não se trata de obra de algum preguiçoso genial. O livro se Assim ocorreu com Gilberto Freyre. Sendo correta ou não a minúcia deixa ler preguiçosa, languidamente. Mas isso é outra coisa. É tão descritiva e mesmo quando a junção dos personagens faz-se em uma bem escrito, tão embalado na atmosfera oleosa, morna, da descrição estrutura imaginária e idealizada, brota algo que, independentemente freqüentemente idílica que o autor faz para caracterizar o Brasil pa­ do método de análise, e às vezes mesmo das conclusões parciais do triarcal, que leva o leitor no embalo. autor, produz o encantamento, a iluminação que explica sem que se Mas que ninguém se engane: por trás das descrições, às vezes saiba a razão. romanceadas e mesmo distorcidas, há muita pesquisa. Como entretanto não se trata de pura ilusão há de reconhecer-se Gilberto Freyre tinha a pachorra e a paixão pelo detalhe, pela que Casa-grande & senzala eleva à condição de mito um paradigma minúcia, pelo concreto. A tessitura assim formada, entretanto, levava- que mostra o movimento da sociedade escravocrata e ilumina o o freqüentemente à simplificação habitual dos grandes muralistas. Na patriarcalismo vigente no Brasil pré-urbano-industrial. projeção de cada minúcia para compor o painel surgem construções Latifúndio e escravidão, casa-grande e senzala eram, de fato, pila­ hiper-realistas mescladas com perspectivas surrealistas que tornam o res da ordem escravocrata. Se nosso autor tivesse ficado só nisso seria real fugidio. possível dizer que outros já o haviam feito e com mais precisão. É no Ocorreu dessa forma na descrição das raças formadoras da socie­ ir além que está a força de Gilberto Freyre. Ele vai mostrando como, dade brasileira. O português descrito por Gilberto não é tão mourisco no dia-a-dia, essa estrutura social, que é fruto do sistema de produção, quanto o espanhol. Tem pitadas de sangue celta, mas desembarca no se recria. É assim que a análise do nosso antropólogo-sociólogo-his- Brasil como um tipo histórico tisnado com as cores quentes da África. toriador ganha relevo. As estruturas sociais e econômicas são apre­ O indígena é demasiado tosco para quem conhece a etnografia das sentadas como processos vivenciados. Apresentam-se não só situa­ Américas. Nosso autor considera os indígenas meros coletores, quan­ ções de fato, mas pessoas e emoções que não se compreendem fora do, segundo Darcy Ribeiro, sua contribuição para a domesticação e o de contextos. A explicação de comportamentos requer mais do que a cultivo das plantas foi maior que a dos africanos. simples descrição dos condicionantes estruturais da ação. Essa apare­ O negro, e neste ponto o anti-racismo de Gilberto Freyre ajuda, ce no livro como comportamento efetivo e não apenas como padrão faz-se orgiástico por sua situação social de escravo e não como conse­ cultural. qüência da raça ou de fatores intrinsecamente culturais. Mesmo as­ Assim fazendo, Gilberto Freyre inova nas análises sociais da épo­ sim, para quem tinha o domínio etnográfico de Gilberto Freyre, o ca: sua sociologia incorpora a vida cotidiana. Não apenas a vida pú­ negro que aparece no painel é idealizado em demasia. blica ou o exercício de funções sociais definidas (do senhor de enge­ Todas essas caracterizações, embora expressivas, simplificam e nho, do latifundiário, do escravo, do bacharel), mas a vida privada. podem iludir o leitor. Mas com elas, o livro não apenas ganha força descritiva como se torna quase uma novela, e das melhores já escritas Hoje ninguém mais se espanta com a sociologia da vida privada. e, ao mesmo tempo, ganha força explicativa. Há até histórias famosas sobre a vida cotidiana. Mas nos anos 30, Nisto reside o mistério da criação. Em outra oportunidade, ten­ descrever a cozinha, os gostos alimentares, mesmo a arquitetura e, tando expressar meu encantamento de leitor, apelei a Trotsky para sobretudo, a vida sexual, era inusitado. Mais ainda, ao descrever os hábitos do senhor, do patriarca e de que se não foi exatamente como aparece no livro, poderia ter sido a sua família, por mais que a análise seja edulcorada, ela revela não só história de personagens ambíguos que, se abominavam certas práti­ a condição social do patriarca, da sinhá e dos ioiôs e iaiás, mas das cas da sociedade escravocrata, se embeveciam com outras, com as mucamas, dos moleques de brinquedo, das mulatas apetitosas, enfim, mais doces, as mais sensuais. desvenda a trama social existente. E nesse desvendar, aparecem forte­ Trata-se, reitero, de dupla simplificação, a que está na obra e a mente o sadismo e a crueldade dos senhores, ainda que Gilberto que estou fazendo. Mas que capta, penso eu, algo que se repete na Freyre tenha deixado de dar importância aos escravos do eito, à mas­ experiência e na análise de muitos. É algo essencial para entender o sa dos negros que mais penava nos campos. Brasil. Trata-se de uma simplificação formal que caracteriza por inter­ É indiscutível, contudo, que a visão do mundo patriarcal de nos­ médio de oposições simples, quase sempre binárias, um processo so autor assume a perspectiva do branco e do senhor. Por mais que complexo. ele valorize a cultura negra e mesmo o comportamento do negro Não será próprio da estrutura do mito, como diria Lévi-Strauss, como uma das bases da "brasilidade" e que proclame a mestiçagem esse tipo de oposição binaria? E não é da natureza dos mitos como algo positivo, no conjunto fica a sensação de uma certa nostal­ perenizarem-se? E eles, por mais simplificadores que sejam, não aju­ gia do "tempo dos nossos avôs e bisavós". Maus tempos, sem dúvida, dam o olhar do antropólogo a desvendar as estruturas do real? para a maioria dos brasileiros. Basta isso para demonstrar a importância de uma obra que for­ De novo, então, por que a obra é perene? mula um mito nacional e ao mesmo tempo o desvenda e assim expli­ Talvez porque ao enunciar tão abertamente como valiosa uma situa­ ca, interpreta, mais que a nossa história, a formação de um esdrúxulo ção cheia de aspectos horrorosos, Gilberto Freyre desvende uma di­ "ser nacional". mensão que, gostemos ou não, conviveu com quase todos os brasilei­ Mas, cuidado! Essa "explicação" é toda própria. Nesse ponto, a ros até o advento da sociedade urbanizada, competitiva e industrializada. exegese de Ricardo Benzaquen de Araújo em Guerra epaz é preciosa. No fundo, a história que ele conta era a história que os brasileiros, ou Gilberto Freyre seria o mestre do equilíbrio dos contrários. Sua obra pelos menos a elite que lia e escrevia sobre o Brasil, queriam ouvir. está perpassada por antagonismos. Mas dessas contradições não nasce Digo isso não para "desmistificar". Convém recordar que outro uma dialética, não há a superação dos contrários, nem por conseqüên­ grande invento-realidade, o de Mário de Andrade, Macunaíma, expres­ cia se vislumbra qualquer sentido da História. Os contrários se justa­ sou também (e não expressará ainda?) uma característica nacional põem, freqüentemente de forma ambígua, e convivem em harmonia. que, embora criticável, nos é querida. O personagem principal é des­ O exemplo mor que Ricardo Benzaquen de Araújo extrai de Casa- crito como herói sem nenhum caráter. Ou melhor, com caráter variá­ grande & senzala para explicar o equilíbrio de contrários é a análise de vel, acomodatício, oportunista. Esta, por certo, não é toda a verdade como a língua portuguesa no Brasil nem se entregou completamente à da nossa alma. Mas como negar que exprime algo dela? Assim tam­ forma corrupta como era falada nas senzalas, com muita espontaneidade, bém Gilberto Freyre descreveu um Brasil que, se era imaginário em nem se enrijeceu como almejariam os jesuítas professores de gramática. certo nível, em outro, era real. Mas, como seria gostoso se fosse ver­ "A nossa língua nacional resulta da interpenetração das duas ten­ dade por inteiro, à condição de todos terem sido senhores... dências." Enriqueceu-se graças à variedade de antagonismos, o que É essa característica de quase mito que dá à Casa-grande & sen­ não ocorreu com o português da Europa. Depois de mostrar a diver­ zala a força e a perenidade. A história que está sendo contada é a sidade das formas pronominais que nós usamos, Gilberto Freyre diz.- história de muitos de nós, de quase todos nós, senhores e escravos. "A força, ou antes, a potencialidade da cultura brasileira parece- Não é por certo a dos imigrantes. Nem a das populações autóctones. nos residir toda na riqueza de antagonismos equilibrados (...) Não que Mas a história dos portugueses, de seus descendentes e dos negros, no brasileiro subsistam, como no anglo-americano, duas metades ini- migas: a branca e a preta; o ex-senhor e o ex-escravo. De modo nenhum. vidade. É a captação de um momento divinatório que nos convence, Somos duas metades confraternizantes que se vêem mutuamente enri­ ou não, da autenticidade da interpretação proposta. A obra não se quecendo de valores e experiências diversas; quando nos completar­ separa do autor, seu êxito é a confirmação do que se poderia chamar mos num todo, não será com o sacrifício de um elemento ao outro" de criatividade em estado puro. Quando bem sucedida, essa técnica {Casa-grande & senzala, Rio de Janeiro, Maia e Schmidt Ltda., 1933, p. beira a genialidade. 376-377). Não digo isso para negar valor às interpretações, ou melhor, aos A noção de equilíbrio dos contrários é extremamente rica para insights de Gilberto Freyre, até porque a esta altura, seria negar a evi­ entender o modo de apreensão do real utilizado por.Gilberto Freyre. dência. Digo apenas para, ao subscrever as análises já referidas sobre Até porque também ela é "plástica". E tem tudo a ver com a maneira os equilíbrios entre contrários, mostrar as suas limitações e, quem sabe, pela qual Gilberto Freyre interpreta seus objetos de análise. explicar, por suas características metodológicas, o mal-estar que a obra Primeiro porque transforma seus "objetos" em processos contínuos de Gilberto Freyre causou, e quem sabe ainda cause, na Academia. nos quais o próprio autor se insere. É a convivialidade com a análise, As oposições simplificadoras, os contrários em equilíbrio, se não o estar à vontade na maneira, de escrever, o tom moderno de sua explicam logicamente o movimento da sociedade, servem para sa­ prosa, que envolvem não só o autor, como o leitor, o que distingue o lientar características fundamentais. São, nesse aspecto, instrumentos estilo de Casa-grande & senzala. heurísticos, construções do espírito cuja fundamentação na realidade Depois, porque Gilberto Freyre, explicitamente, ao buscar a au­ conta menos do que a inspiração derivada delas, que permite captar tenticidade, tanto dos depoimentos e dos documentos usados quanto o que é essencial para a interpretação proposta. dos seus próprios sentimentos, e ao ser tão anti-retórico que às vezes Não preciso referir-me aos aspectos vulneráveis já salientados por perde o que os pretensiosos chamam de "compostura acadêmica", muitos comentadores de Gilberto Freyre: suas confusões entre raça e não visava propriamente demonstrar, mas convencer. E convencer cultura, seu ecletismo metodológico, o quase embuste do mito da significa vencer junto, autor e leitor. Este procedimento supõe uma democracia racial, a ausência de conflitos entre as classes, ou mesmo certa "revelação", quase uma epifania, e não apenas um processo a "ideologia da cultura brasileira" baseada na plasticidade e no hibri­ lógico ou dialético. dismo inato que teríamos herdado dos ibéricos. Todos esses aspectos Por isso mesmo, e essa característica vem sendo notada desde as foram justamente apontados por muitos críticos, entre os quais Carlos primeiras edições de Casa-grande & senzala, Gilberto Freyre não con­ Guilherme Mota. clui. Sugere, é incompleto, é introspectivo, mostra o percurso, talvez E como, apesar disso, a obra de Freyre sobrevive, e suas interpreta­ mostre o arcabouço de uma sociedade. Mas não "totaliza". Não oferece, ções não só são repetidas (o que mostra a perspicácia das interpre­ nem pretende, uma explicação global. Analisa fragmentos e com eles tações), como continuam a incomodar a muitos, é preciso indagar faz-nos construir pistas para entender partes da sociedade e da história. mais o porquê de tanta resistência para aceitar e louvar o que de Ao afastar-se da visão metódica e exaustiva, abre-se, naturalmen­ positivo existe nela. te, à crítica fácil. Equivocam-se porém os que pensarem que por isso Neste passo, devo a Tarcísio Costa, em apresentação no Instituto Gilberto não retrate o que ao seu ver realmente importa para a inter­ de Estudos Avançados da USP, a deixa para compreender razões adi­ pretação que está propondo. cionais à pinimba que muitos de nós, acadêmicos, temos com Gilber­ Por certo, obra assim concebida é necessariamente única. Não é to Freyre. Salvo poucas exceções, diz Tarcísio Costa, as interpretações pesquisa que, repetida nos mesmos moldes por outrem, produza os do Brasil posteriores a Casa-grande & senzala partiram de premissas mesmos resultados, como prescrevem os manuais na versão pobre do opostas às de Gilberto Freyre, em uma rejeição velada de suas idéias. cientificismo corrente. Não há intersubjetividade que garanta a objeti­ Em que sentido? Na visão da evolução política do país e, portanto, na valorização Não que Rui fosse da preferência das novas gerações. Mas Gilber­ de aspectos que negam o que Gilberto Freyre analisou e em que to Freyre contrapunha a tradição patriarcal a todos os elementos que acreditou. pudessem ser constitutivos do capitalismo e da democracia: o purita- Ricardo Benzaquen de Araújo ressalta um ponto pouco percebi­ nismo calvinista, a moral vitoriana, a modernização política do Estado do da obra gilbertiana, seu lado "político". Um politicismo, como tudo a partir de um projeto liberal e tudo o que fundamentara o estado de nela, original. Referindo-se ao NewDeal de Roosevelt, Gilberto Freyre direito (o individualismo, o contrato, a regra geral), numa palavra, a valoriza as "idéias", não os ideais. A grande eloqüência, o tom modernidade. exclamatório dos "grandes ideais", messiânicos, tudo isso é posto à Claro está que o pensamento crítico de inspiração marxista ou margem e substituído pela valorização de práticas econômicas e hu­ apenas esquerdista tampouco assumiu como valor o calvinismo, a manas que, de alguma maneira, refletem a experiência comprovada ética puritana da acumulação, e, nem mesmo, o mecanismo das regras de muitas pessoas. Mais a rotina do que o grande gesto. universalizadoras. Mas foi sempre mais tolerante com esta "etapa" da Quando se contrasta as interpretações valorativas de Gilberto Freyre marcha para outra moral - democrática e, talvez, socialista - do que com as opções posteriores, vê-se que sua visão do Brasil patriarcal, da com a regressão patriarcal patrimonialista. casa-grande, da plasticidade cultural portuguesa, do sincretismo está Os pensadores mais democráticos do passado, como o já referido baseada na valorização de uma ética dionisíaca. As paixões, seus ex­ Sérgio Buarque ou Florestan Fernandes e também os mais recentes, cessos, são sempre gabados, e esse "clima cultural" não favorece a como Simon Schwattzman ou José Murilo de Carvalho (este olhando vida pública e menos ainda a democracia. mais para a sociedade do que para o Estado), farão críticas implícitas Gilberto Freyre opta por valorizar um ethos que, se garante a quando não explícitas ao iberismo e à visão de uma "cultura nacio­ identidade cultural dos senhores (é ele próprio quem compara o nal", mais próxima da emoção do que da razão. E outra não foi a patriarcalismo nordestino com o dos americanos do Sul e os vê próxi­ atitude crítica de Sérgio Buarque diante do "homem cordial". O patriarca mos), isola os valores da casa grande e da senzala em seus muros. Da de Gilberto Freyre poderia ter sido um déspota doméstico. Mas seria, moral permissiva, dos excessos sexuais ou do arbítrio selvagem dos ao mesmo tempo, lúdico, sensual, apaixonado. De novo, no equilí­ senhores, não há passagem para uma sociabilidade mais ampla, nacio­ brio entre contrários, aparece uma espécie de racionalização que, em nal. Fica-se atolado no patrimonialismo familístico, que Freyre con­ nome das características "plásticas", tolera o intolerável, o aspecto funde freqüentemente com o feudalismo. Não se entrevê o Estado, arbitrário do comportamento senhorial se esfuma no clima geral da nem mesmo o estado patrimonialista dos estamentos de Raymundo cultura patriarcal, vista com simpatia pelo autor. Faoro e, muito menos, o ethos democrático buscado por Sérgio Buarque Terá sido mais fácil assimilar o Weber da Ética protestante e da de Holanda e tantos outros. A "política" de Gilberto Freyre estiola fora crítica ao patrimonialismo do que ver no tradicionalismo um caminho da casa grande. Com esta, ou melhor, com as características culturais fiel às identidades nacionais para uma construção do Brasil moderno. e com a situação social dos habitantes do latifúndio, não se constrói Dito em outras palavras e a modo de conclusão: o Brasil urbano, uma nação, não se desenvolve capitalisticamente um país e, menos industrializado, vivendo uma situação social na qual as massas estão ainda, poder-se-ia construir uma sociedade democrática. presentes e são reivindicantes de cidadania e ansiosas por melhores É por aí que Tarcísio Costa procura explicar o afastamento de condições de vida, vai continuar lendo Gilberto Freyre. Aprenderá Gilberto Freyre da intelectualidade universitária e dos autores, pes­ com ele algo do que fomos ou do que ainda somos em parte. Mas não quisadores e ensaístas pós-Estado Novo. Estes queriam construir a o que queremos ser no futuro. democracia e Gilberto foi, repetindo José Guilherme Merquior, "nos­ Isso não quer dizer que as novas gerações deixarão de ler Casa- so mais completo anti-Rui Barbosa". grande & senzala. Nem que ao lê-lo deixarão de enriquecer seu conhecimento do Brasil. É difícil prever como serão reapreciados no futuro os aspectos da obra de Gilberto Freyre a que me referi Prefácio à 1- Edição criticamente. Mas não é difícil insistir no que de realmente novo - além do painel inspirador de Casa-grande & senzala como um todo - veio para ficar. De alguma forma Gilberto Freyre nos faz fazer as pazes com o que somos. Valorizou o negro. Chamou atenção para a região. Reinterpretou a raça pela cultura e até pelo meio físico. Mostrou, com mais força de que todos, que a mestiçagem, o hibridismo, e mesmo (mistificação à parte) a plasticidade cultural da convivência entre con­ trários, não são apenas uma característica, mas uma vantagem do Brasil. E, acaso não é esta a carta de entrada do Brasil em um mundo globalizado no qual, em vez da homogeneidade, do tudo igual, o que mais conta é a diferença, que não impede a integração nem se dissol­ ve nela? J—/m outubro de 1930 ocorreu-me a FERNANDO HENRIQUE CARDOSO aventura do exílio. Levou-me primeiro à ; depois a Portugal, São Paulo, julho de 2003 com escala pela África. O tipo de viagem ideal para os estudos e as preocupações que este ensaio reflete. Em Portugal foi surpreender-me em fevereiro de 1931 o convite da Universidade de Stanford para ser um dos seus visiting professors na primavera do mesmo ano. Deixei com saudade Lisboa, onde desta vez pudera familiarizar-me, em alguns meses de lazer, com a Bibliote­ ca Nacional, com as coleções do Museu Etnológico, com sabores no­ vos de vinho-do-porto, de bacalhau, de doces de freiras. Juntando-se a isto o gosto de rever Sintra e os Estoris e o de abraçar amigos ilustres. Um deles, João Lúcio de Azevedo, mestre admirável. Igual oportunidade tivera na Bahia - minha velha conhecida, mas só de visitas rápidas. Demorando-me em Salvador pude conhecer com todo o vagar não só as coleções do Museu Afro-baiano Nina Rodrigues e a arte do trajo das negras quituteiras e a decoração dos seus bolos e tabuleiros como certos encantos mais íntimos da cozinha e da doçaria baiana que escapam aos simples turistas. Certos gostos mais finos da velha cozinha das casas-grandes que fez dos fornos, dos fogões e dos tabuleiros de bolo da Bahia seu último e Deus queira que invencível reduto.' Deixo aqui meus agradecimentos às famílias Calmon, Freire de Carvalho, Costa Pinto; também ao professor Bernardino de Sousa, do mado "deep South". As mesmas influências de técnica de produção e Instituto Histórico, a frei Filoteu, superior do convento dos Franciscanos, de trabalho - a monocultura e a escravidão - uniram-se naquela parte e à preta Maria Inácia, que me prestou interessantes esclarecimentos inglesa da América como nas Antilhas e na Jamaica, para produzir sobre o trajo das baianas e a decoração dos tabuleiros. "Une cuisine et resultados sociais semelhantes aos que se verificam entre nós. Às ve­ unepolitesse! Oui, les deuxsignes de vieille civilisation...", lembro-me zes tão semelhantes que só varia o acessório: as diferenças de língua, de ter aprendido em um livro francês. É justamente a melhor lembrança de raça e de forma de religião. que conservo da Bahia: a da sua polidez e a da sua cozinha. Duas Tive a fortuna de realizar parte da minha excursão pelo sul dos expressões de civilização patriarcal que lá se sentem hoje como em Estados Unidos na companhia de dois antigos colegas da Universidade nenhuma outra parte do Brasil. Foi a Bahia que nos deu alguns dos de Colúmbia - Ruediger Bilden e Francis Butler Simkins. O primeiro maiores estadistas e diplomatas do Império; e os pratos mais saborosos vem se especializando com o rigor e a fleuma de sua cultura germânica da cozinha brasileira em lugar nenhum se preparam tão bem como nas no estudo da escravidão na América, em geral, e no Brasil, em particu­ velhas casas de Salvador e do Recôncavo. lar; o segundo, no estudo dos efeitos da abolição nas Carolinas, assunto Realizados os cursos que por iniciativa do professor Percy Alvin que acaba de fixar em livro interessantíssimo, escrito em colaboração Martin me foram confiados na Universidade de Stanford - um de com Robert Hilliard Woody: South Carolina during reconstruction, conferências, outro de seminário, cursos que me puseram em contato Chapei Hill, 1932. Devo aos meus dois amigos, principalmente a Ruediger com um grupo de estudantes, moças e rapazes, animados da mais Bilden, sugestões valiosas para este trabalho; e ao seu nome devo asso­ viva curiosidade intelectual - regressei da Califórnia a Nova Iorque ciar o de outro colega, Ernest Weaver, meu companheiro de estudos de por um caminho novo para mim: através do Novo México, do Arizona, antropologia no curso do professor . do Texas; de toda uma região que ao brasileiro do Norte recorda, nos O professor Franz Boas é a figura de mestre de que me ficou até seus trechos mais acres, os nossos sertões ouriçados de mandacarus e hoje maior impressão. Conheci-o nos meus primeiros dias em Co­ de xiquexiques. Descampados em que a vegetação parece uns enor­ lúmbia. Creio que nenhum estudante russo, dos românticos, do sé­ mes cacos de garrafa, de um verde duro, às vezes sinistro, espetados culo XIX, preocupou-se mais intensamente pelos destinos da Rússia na areia seca. do que eu pelos do Brasil na fase em que conheci Boas. Era como se Mas regressando pela fronteira mexicana, visava menos a esta tudo dependesse de mim e dos de minha geração; da nossa maneira sensação de paisagem sertaneja que a do velho Sul escravocrata. Este de resolver questões seculares. E dos problemas brasileiros, nenhum se alcança ao chegar o transcontinental aos canaviais e alagadiços da que me inquietasse tanto como o da miscigenação. Vi uma vez, de­ Luisiana, Alabama, Mississipi, as Carolinas, Virgínia - o chamado "deep pois de mais de três anos maciços de ausência do Brasil, um bando South". Região onde o regime patriarcal de economia criou quase o de marinheiros nacionais - mulatos e cafuzos - descendo não me mesmo tipo de aristocrata e de casa-grande, quase o mesmo tipo de lembro se do São Paulo ou do Minas pela neve mole de Brooklyn. escravo e de senzala que no Norte do Brasil e em certos trechos do Deram-me a impressão de caricaturas de homens. E veio-me à lem­ Sul; o mesmo gosto pelo sofá, pela cadeira de balanço, pela boa brança a frase de um livro de viajante americano que acabara de ler cozinha, pela mulher, pelo cavalo, pelo jogo; que sofreu, e guarda as sobre o Brasil: "thefearfully mongrel aspect of most of thepopulation". cicatrizes, quando não as feridas abertas, ainda sangrando, do mesmo A miscigenação resultava naquilo. Faltou-me quem me dissesse en­ regime devastador de exploração agrária - o fogo, a derrubada, a tão, como em 1929 Roquette-Pinto aos arianistas do Congresso Brasi­ coivara, a "lavoura parasita da natureza"2, no dizer de Monteiro Baena leiro de Eugenia, que não eram simplesmente mulatos ou cafuzos os referindo-se ao Brasil. A todo estudioso da formação patriarcal e da indivíduos que eu julgava representarem o Brasil, mas cafuzos e economia escravocrata do Brasil impõe-se o conhecimento do cha­ mulatos doentes. Foi o estudo de antropologia sob a orientação do professor Boas zona agrária desenvolveu-se, com a monocultura absorvente, uma que primeiro me revelou o negro e o mulato no seu justo valor - sociedade semifeudal - uma minoria de brancos e brancarões domi­ separados dos traços de raça os efeitos do ambiente ou da experiên­ nando patriarcais, polígamos, do alto das casas-grandes de pedra e cia cultural. Aprendi a considerar fundamental a diferença entre raça cal, não só os escravos criados aos magotes nas senzalas como os e cultura; a discriminar entre os efeitos de relações puramente gené­ lavradores de partido, os agregados, moradores de casas de taipa e de ticas e os de influências sociais, de herança cultural e de meio. Neste palhas4 vassalos das casas-grandes em todo o rigor da expressão.5 critério de diferenciação fundamental entre raça e cultura assenta todo Vencedores no sentido militar e técnico sobre as populações indí­ o plano deste ensaio. Também no da diferenciação entre hereditarie- genas; dominadores absolutos dos negros importados da África para dade de raça e hereditariedade de família. o duro trabalho da bagaceira, os europeus e seus descendentes tive­ Por menos inclinados que sejamos ao materialismo histórico, ram entretanto de transigir com índios e africanos quanto às relações tantas vezes exagerado nas suas generalizações - principalmente em genéticas e sociais. A escassez de mulheres brancas criou zonas de trabalhos de sectários e fanáticos - temos que admitir influência con­ confraternização entre vencedores e vencidos, entre senhores e es­ siderável, embora nem sempre preponderante, da técnica da produ­ cravos. Sem deixarem de ser relações - as dos brancos com as mulhe­ ção econômica sobre a estrutura das sociedades; na caracterização da res de cor - de "superiores" com "inferiores" e, no maior número de sua fisionomia moral. É uma influência sujeita a reação de outras; casos, de senhores desabusados e sádicos com escravas passivas, ado- porém poderosa como nenhuma na capacidade de aristocratizar ou çaram-se, entretanto, com a necessidade experimentada por muitos de democratizar as sociedades; de desenvolver tendências para a po­ colonos de constituírem família dentro dessas circunstâncias e sobre ligamia ou a monogamia; para a estratificação ou a mobilidade. Muito essa base. A miscigenação que largamente se praticou aqui corrigiu a do que se supõe, nos estudos ainda tão flutuantes de eugenia e de distância social que de outro modo se teria conservado enorme entre cacogenia, resultado de traços ou taras hereditárias preponderando a casa-grande e a mata tropical; entre a casa-grande e a senzala. O sobre outras influências, deve-se antes associar à persistência, através que a monocultura latifundiária e escravocrata realizou no sentido de de gerações, de condições econômicas e sociais, favoráveis ou desfa­ aristocratização, extremando a sociedade brasileira em senhores e voráveis ao desenvolvimento humano. Lembra Franz Boas que, admi­ escravos, com uma rala e insignificante lambujem de gente livre tida a possibilidade da eugenia eliminar os elementos indesejáveis de sanduichada entre os extremos antagônicos, foi em grande parte con­ uma sociedade, a seleção eugênica deixaria de suprimir as condições trariado pelos efeitos sociais da miscigenação. A índia e a negra-mina sociais responsáveis pelos proletariados miseráveis - gente doente e a princípio, depois a mulata, a cabrocha, a quadrarona, a oitavona, mal nutrida; e persistindo tais condições sociais, de novo se formariam tornando-se caseiras, concubinas e até esposas legítimas dos senho­ os mesmos proletariados.3 res brancos, agiram poderosamente no sentido de democratização No Brasil, as relações entre os brancos e as raças de cor foram social no Brasil. Entre os filhos mestiços, legítimos e mesmo ilegíti­ desde a primeira metade do século XVI condicionadas, de um lado mos, havidos delas pelos senhores brancos, subdividiu-se parte con­ pelo sistema de produção econômica - a monocultura latifundiária; siderável das grandes propriedades, quebrando-se assim a força das do outro, pela escassez de mulheres brancas, entre os conquistado­ sesmarias feudais e dos latifúndios do tamanho de reinos. res. O açúcar não só abafou as indústrias democráticas de pau-brasil e Ligam-se à monocultura latifundiária males profundos que têm de peles, como esterilizou a terra, em uma grande extensão em volta comprometido, através de gerações, a robustez e a eficiência da po­ aos engenhos de cana, para os esforços de policultura e de pecuária. pulação brasileira, cuja saúde instável, incerta capacidade de traba­ E exigiu uma enorme massa de escravos. A criação de gado, com lho, apatia, perturbações de crescimento, tantas vezes são atribuídas à possibilidade de vida democrática, deslocou-se para os sertões. Na miscigenação. Entre outros males, o mau suprimento de víveres fres- co".9 De condições bioquímicas talvez mais do que físicas; as modifi­ cos, obrigando grande parte da população ao regime de deficiência cações por efeito possivelmente de meio, verificadas em descenden­ alimentar caracterizado pelo abuso do peixe seco e de farinha de tes de imigrantes - como nos judeus sicilianos e alemães estudados mandioca (a que depois se juntou a carne de charque); ou então ao por Boas nos Estados Unidos10 - parecem resultar principalmente do incompleto e perigoso, de gêneros importados em condições péssi­ que Wissler chama de influência do biochemical contentu. Na verda­ mas de transporte, tais como as que precederam a navegação a vapor de, vai adquirindo cada vez maior importância o estudo, sob o critério e o uso, recentíssimo, de câmaras frigoríficas nos vapores. A importância da bioquímica, das modificações apresentadas pelos descendentes de 0 7 da hiponutrição, destacada por Armitage, McCollurn e Simmonds e imigrantes em clima ou meio novo, rápidas alterações parecendo re­ 8 recentemente por Escudero; da fome crônica, originada não tanto da sultar do iodo que contenha o ambiente. O iodo agiria sobre as secre- redução em quantidade como dos defeitos da qualidade dos alimen­ ções da glândula tiróide. E o sistema de alimentação teria uma impor­ tos, traz a problemas indistintamente chamados "decadência" ou "in­ tância considerável na diferenciação dos traços físicos e mentais dos ferioridade" de raças, novos aspectos e, graças a Deus, maiores possi­ descendentes de imigrantes. bilidades de solução. Salientam-se entre as conseqüências da Admitida a tendência do meio físico e principalmente do bioquí­ hiponutrição a diminuição da estatura, do peso e do perímetro torácico; mico (biochemical content) no sentido de recriar à sua imagem os deformações esqueléticas; descalcificação dos dentes; insuficiências indivíduos que lhe cheguem de várias procedências, não se deve tiróidea, hipofisária e gonadial provocadoras da velhice prematura, esquecer a ação dos recursos técnicos dos colonizadores em sentido fertilidade em geral pobre, apatia, não raro infecundidade. Exatamen­ contrário: no de impor ao meio formas e acessórios estranhos de te os traços de vida estéril e de físico inferior que geralmente se asso­ cultura, que lhes permitem conservar-se o mais possível como raça ciam às sub-raças: ao sangue maldito das chamadas "raças inferiores". ou cultura exótica. Não se devem esquecer outras influências sociais que aqui se desen­ O sistema patriarcal de colonização portuguesa do Brasil, repre­ volveram com o sistema patriarcal e escravocrata de colonização: a sentado pela casa-grande, foi um sistema de plástica contemporização sífilis, por exemplo, responsável por tantos dos "mulatos doentes" de entre as duas tendências. Ao mesmo tempo que exprimiu uma impo­ que fala Roquette-Pinto e a que Ruediger Bilden atribui grande im­ sição imperialista da raça adiantada à atrasada, uma imposição de for­ portância no estudo da formação brasileira. mas européias (já modificadas pela experiência asiática e africana do A formação patriarcal do Brasil explica-se, tanto nas suas virtudes colonizador) ao meio tropical, representou uma contemporização com como nos seus defeitos, menos em termos de "raça" e de "religião" do as novas condições de vida e de ambiente. A casa-grande de engenho que em termos econômicos, de experiência de cultura e de organiza­ que o colonizador começou, ainda no século XVI, a levantar no Brasil ção da família, que foi aqui a unidade colonizadora. Economia e orga­ grossas paredes de taipa ou de pedra e cal, coberta de palha ou de nização social que às vezes contrariaram não só a moral sexual cató­ telha-vã, alpendre na frente e dos lados, telhados caídos em um máxi­ lica como as tendências semitas do português aventureiro para a mo de proteção contra o sol forte e as chuvas tropicais - não foi mercancia e o tráfico. nenhuma reprodução das casas portuguesas, mas uma expressão nova, Spengler salienta que uma raça não se transporta de um conti­ correspondendo ao nosso ambiente físico e a uma fase surpreendente, nente a outro; seria preciso que se transportasse com ela o meio inesperada, do imperialismo português: sua atividade agrária e seden­ físico. E recorda a propósito os resultados dos estudos de Gould e de tária nos trópicos; seu patriarcalismo rural e escravocrata. Desde esse Baxter, e os de Boas, no sentido da uniformização da média de esta­ momento que o português, guardando embora aquela saudade do tura, do tempo médio de desenvolvimento e até, possivelmente, a reino que Capistrano de Abreu chamou "transoceanismo", tornou-se estrutura de corpo e da forma de cabeça a que tendem indivíduos de luso-brasileiro; o fundador de uma nova ordem econômica e social; o várias procedências reunidos sob as mesmas condições de "meio físi­ criador de um novo tipo de habitação. Basta comparar-se a planta de funções de hospedaria e de santa casa. Nem mesmo o não sei quê de uma casa-grande brasileira do século XVI com a de um solar lusitano retraído das casas dos princípios do século XVII, com alpendres como do século XV para sentir-se a diferença enorme entre o português do que trepados em pernas de pau, verifica-se nas habitações dos fins reino e o português do Brasil. Distanciado o brasileiro do reinol por desse século, do XVIII e da primeira metade do XIX casas quase de um século apenas de vida patriarcal e de atividade agrária nos trópicos todo desmilitarizadas, acentuadamente paisanas, oferecendo-se aos já é quase outra raça, exprimindo-se em outro tipo de casa. Como diz estranhos em uma hospitalidade fácil, derramada. Até mesmo nas es­ Spengler - para quem o tipo de habitação apresenta valor histórico- tâncias do Rio Grande, Nicolau Dreys foi encontrar, em princípios do social superior ao da raça - à energia do sangue que imprime traços século XIX, o costume dos conventos medievais de tocar-se um sino idênticos através da sucessão dos séculos deve-se acrescentar a força à hora da comida: "serve elle para avisar o viajante vagando pelo "cósmica, misteriosa, que enlaça num mesmo ritmo os que convivem campo, ou o desvalido da visinhança, que pode chegar à mesa do estreitamente unidos."12 Esta força, na formação brasileira, agiu do alto dono que está se apromptando; e, com effeito, assenta-se quem quer das casas-grandes, que foram centros de coesão patriarcal e religiosa: a essa mesa de hospitalidade. Nunca o dono repelle a ninguém, nem os pontos de apoio para a organização nacional. sequer pergunta-se-lhe quem he [...]".14 A casa-grande, completada pela senzala, representa todo um sis­ Não me parece inteiramente com a razão José Mariano Filho ao tema econômico, social, político: de produção (a monocultura latifun­ afirmar que a nossa arquitetura patriarcal não fez senão seguir o mo­ diária); de trabalho (a escravidão); de transporte (o carro de boi, o delo da religiosa, aqui desenvolvida pelos jesuítas15 - os inimigos bangüê, a rede, o cavalo); de religião (o catolicismo de família, com terríveis dos senhores de engenho. O que a arquitetura das casas- capelão subordinado aopaterfamílias, culto dos mortos etc); de vida grandes adquiriu dos conventos foi antes certa doçura e simplicidade sexual e de família (o patriarcalismo polígamo); de higiene do corpo franciscana. Fato que se explica pela identidade de funções entre uma e da casa (o "tigre", a touceira de bananeira, o banho de rio, o banho casa de senhor de engenho e um convento típico de frades de São de gamela, o banho de assento, o lava-pés); de política (o compa- Francisco. A arquitetura jesuítica e de igreja foi, não há dúvida, e nisto drismo). Foi ainda fortaleza, banco, cemitério, hospedaria, escola, santa me encontro de inteiro acordo com José Mariano Filho, a expressão casa de misericórdia amparando os velhos e as viúvas, recolhendo mais alta e erudita de arquitetura no Brasil colonial. Influenciou certa­ órfãos. Desse patriarcalismo, absorvente dos tempos coloniais a casa- mente a da casa-grande. Esta, porém, seguindo seu próprio ritmo, seu grande do engenho Noruega, em Pernambuco, cheia de salas, quar­ sentido patriarcal, e experimentando maior necessidade que a pura­ tos, corredores, duas cozinhas de convento, despensa, capela, puxadas, mente eclesiástica de adaptar-se ao meio, individualizou-se e criou parece-me expressão sincera e completa. Expressão do patriarcalismo tamanha importância que acabou dominando a arquitetura de con­ já repousado e pacato do século XVIII; sem o ar de fortaleza que vento e de igreja. Quebrando-lhe o roço jesuítico, a verticalidade es­ tiveram as primeiras casas-grandes do século XVI. "Nas fazendas esta­ panhola para achatá-la doce, humilde, subserviente em capela de va-se como num campo de guerra", escreve Teodoro Sampaio refe­ engenho. Dependência da habitação doméstica. Se a casa-grande ab­ rindo-se ao primeiro século de colonização. "Os ricos-homens usa­ sorveu das igrejas e conventos valores e recursos de técnica, também vam proteger as suas vivendas e solares por meio de duplas e poderosas as igrejas assimilaram caracteres da casa-grande: o copiar, por exem­ estacas à moda do gentio, guarnecidas pelos fâmulos, os apaniguados plo. Nada mais interessante que certas igrejas do interior do Brasil e índios escravos, e servindo até para os vizinhos quando de súbito com alpendre na frente ou dos lados como qualquer casa de residên­ acossados pelos bárbaros."13 cia. Conheço várias - em Pernambuco, na Paraíba, em São Paulo. Nos engenhos dos fins do século XVII e do século XVIII estava-se Bem característica é a de São Roque de Serinhaém. Ainda mais: a porém como em um convento português - uma grande fazenda com capela do engenho Caieiras, em Sergipe, cuja fisionomia é inteira- mente doméstica. E em São Paulo, a igrejinha de São Miguel, ainda dos tempos coloniais. Embala, José, embala, A casa-grande venceu no Brasil a Igreja, nos impulsos que esta a que a Senhora logo vem: princípio manifestou para ser a dona da terra. Vencido o jesuíta, o foi lavar seu cueirinho senhor de engenho ficou dominando a colônia quase sozinho. O ver­ no riacho de Belém. dadeiro dono do Brasil. Mais do que os vice-reis e os bispos. A força concentrou-se nas mãos dos senhores rurais. Donos das E a SanfAna de ninar os meninozinhos no colo: terras. Donos dos homens. Donos das mulheres. Suas casas represen­ tam esse imenso poderio feudal. "Feias e fortes". Paredes grossas. Senhora SanfAna, Alicerces profundos. Óleo de baleia. Refere uma tradição nortista que ninai minha filha; um senhor de engenho mais ansioso de perpetuidade não se conteve: vede que lindeza mandou matar dois escravos e enterrá-los nos alicerces da casa. O e que maravilha. suor e às vezes o sangue dos negros foi o óleo que mais do que o de baleia ajudou a dar aos alicerces das casas-grandes sua consistência Esta menina quase de fortaleza. não dorme na cama, O irônico, porém, é que, por falta de potencial humano, toda dorme no regaço essa solidez arrogante de forma e de material foi muitas vezes inútil: da Senhora SantAna. na terceira ou quarta geração, casas enormes edificadas para atraves­ sar séculos começaram a esfarelar-se de podres por abandono e falta E tinha-se tanta liberdade com os santos que era a eles que se de conservação. Incapacidade dos bisnetos ou mesmo netos para confiava a guarda das terrinas de doce e de melado contra as formigas: conservarem a herança ancestral. Vêem-se ainda em Pernambuco as ruínas do grande solar dos barões de Mercês; neste até as cavalariças Em louvor de São Bento tiveram alicerces de fortaleza. Mas toda essa glória virou monturo. No que não venham as formigas fim de contas as igrejas é que têm sobrevivido às casas-grandes. Em cã dentro. Massangana, o engenho da meninice de Nabuco, a antiga casa-gran­ de desapareceu; esfarelou-se a senzala; só a capelinha antiga de São Mateus continua de pé com os seus santos e as suas catacumbas. escrevia-se em um papel que se deixava à porta do guarda-comida. E em papéis que se grudavam às janelas e às portas: O costume de se enterrarem os mortos dentro de casa - na cape­ la, que era uma puxada da casa - é bem característico do espírito patriarcal de coesão de família. Os mortos continuavam sob o mesmo Jesus, Maria, José, teto que os vivos. Entre os santos e as flores devotas. Santos e mortos rogai por nós que recorremos a vós. eram afinal parte da família. Nas cantigas de acalanto portuguesas e brasileiras as mães não hesitaram nunca em fazer dos seus filhinhos Quando se perdia um dedal, uma tesoura, uma moedinha, Santo uns irmãos mais moços de Jesus, com os mesmos direitos aos cuida­ Antônio que desse conta do objeto perdido. Nunca deixou de haver dos de Maria, às vigílias de José, às patetices de vovó de SanfAna. A no patriarcalismo brasileiro, ainda mais que no português, perfeita São José encarrega-se com a maior sem-cerimônia de embalar o berço intimidade com os santos. O Menino Jesus só faltava engatinhar com ou a rede da criança: os meninos da casa; lambuzar-se na geléia de araçá ou goiaba; brin­ car com os moleques. As freiras portuguesas, nos seus êxtases, sentiam- valores e acabar na miséria devido à esperteza ou à morte súbita do no muitas vezes no colo brincando com as costuras ou provando dos depositário. Houve senhores sem escrúpulos que, aceitando valores doces.16 para guardar, fingiram-se depois de estranhos e desentendidos: "Você Abaixo dos santos e acima dos vivos ficavam, na hierarquia patriar­ está maluco? Deu-me lá alguma cousa para guardar?"18 Muito dinheiro cal, os mortos, governando e vigiando o mais possível a vida dos enterrado sumiu misteriosamente. Joaquim Nabuco, criado por sua filhos, netos, bisnetos. Em muita casa-grande conservavam-se seus madrinha na casa-grande de Massangana, morreu sem saber que des­ retratos no santuário, entre as imagens dois santos, com direito à tino tomara a ourama para ele reunida pela boa senhora; e provavel­ mesma luz votiva de lamparina de azeite e às mesmas flores devotas. mente enterrada em algum desvão de parede. Já ministro em Londres, Também se conservavam às vezes as trancas das senhoras, os cachos um padre velho falou-lhe do tesouro que Da. Ana Rosa juntara para o dos meninos que morriam anjos. Um culto doméstico dos mortos que afilhado querido. Mas nunca se encontrou uma libra sequer. Em várias lembra o dos antigos gregos e romanos. casas-grandes da Bahia, de Olinda, de Pernambuco se têm encontra­ Mas a casa-grande patriarcal não foi apenas fortaleza, capela, es­ do, em demolições ou escavações, botijas de dinheiro. Na que foi dos cola, oficina, santa casa, harém, convento de moças, hospedaria. De­ Pires d'Ávila ou Pires de Carvalho, na Bahia, achou-se, em um recanto sempenhou outra função importante na economia brasileira: foi tam­ de parede, "verdadeira fortuna em moedas de ouro". Em outras casas- bém banco. Dentro das suas grossas paredes, debaixo dos tijolos ou grandes só se têm desencavado do chão ossos de escravos, justiçados mosaicos, no chão, enterrava-se dinheiro, guardavam-se jóias, ouro, pelos senhores e mandados enterrar no quintal, ou dentro de casa, à valores. Às vezes guardavam-se jóias nas capelas, enfeitando os santos. revelia das autoridades. Conta-se que o visconde de Suaçuna, na sua Daí Nossas Senhoras sobrecarregadas à baiana de tetéias, balangandãs, casa-grande de Pombal, mandou enterrar no jardim mais de um negro corações, cavalinhos, cachorrinhos e correntes de ouro. Os ladrões, supliciado por ordem de sua justiça patriarcal. Não é de admirar. Eram naqueles tempos piedosos, raramente ousavam entrar nas capelas e senhores, os das casas-grandes, que mandavam matar os próprios roubar os santos. É verdade que um roubou o esplendor e outras jóias filhos. Um desses patriarcas, Pedro Vieira, já avô, por descobrir que o de São Benedito; mas sob o pretexto, ponderável para a época, de filho mantinha relações com a mucama de sua predileção, mandou que "negro não devia ter luxo". Com efeito, chegou a proibir-se, nos matá-lo pelo irmão mais velho. "Como Deus foi servido que eu man­ tempos coloniais, o uso de "ornatos de algum luxo" pelos negros.17 dasse matar meu filho", escreveu ao padre coadjutor de Canavieira

Por segurança e precaução contra os corsários, contra os exces­ 19 depois de cumprida a ordem terrível. sos demagógicos, contra as tendências comunistas dos indígenas e dos africanos, os grandes proprietários, nos seus zelos exagerados de Também os frades desempenharam funções de banqueiros nos privativismo, enterraram dentro de casa as jóias e o ouro do mesmo tempos coloniais. Muito dinheiro se deu para guardar aos frades nos 20 modo que os mortos queridos. Os dois fortes motivos das casas-gran­ seus conventos duros e inacessíveis como fortalezas. Daí as lendas, des acabarem sempre mal-assombradas com cadeiras de balanço se tão comuns no Brasil, de subterrâneos de convento com dinheiro balançando sozinhas sobre tijolos soltos que de manhã ninguém en­ ainda por desenterrar. Mas foram principalmente as casas-grandes que contra; com barulho de pratos e copos batendo de noite nos aparado- se fizeram de bancos na economia colonial; e são quase sempre al­ res; com almas de senhores de engenho aparecendo aos parentes ou mas penadas de senhores de engenho que aparecem pedindo pa­ mesmo estranhos pedindo padres-nossos, ave-marias, gemendo dres-nossos e ave-marias. lamentações, indicando lugares com botijas de dinheiro. Às vezes Os mal-assombrados das casas-grandes se manifestam por visagens dinheiro dos outros de que os senhores ilicitamente se haviam apode­ e ruídos que são quase os mesmos por todo o Brasil. Pouco antes de rado. Dinheiro que compadres, viúvas e até escravos lhes tinham desaparecer, estupidamente dinamitada, a casa-grande de Megaípe, entregue para guardar. Sucedeu muita dessa gente ficar sem os seus tive ocasião de recolher, entre os moradores dos arredores, histórias de assombrações ligadas ao velho solar do século XVII. Eram baru­ antes no negro do que no índio, representa talvez, na sua tendência lhos de louça que se ouviam na sala de jantar; risos alegres de dança para a estabilidade, uma especialização psicológica em contraste com na sala de visita; tilintar de espadas; ruge-ruge de sedas de mulher; a do índio e a do mestiço de índio com português para a mobilidade. luzes que se acendiam e se apagavam de repente por toda a casa; Isto sem deixarmos de reconhecer o fato de que em Pernambuco e gemidos; rumor de correntes se arrastando; choro de menino; fantas­ no Recôncavo a terra se apresentou excepcionalmente favorável para mas do tipo cresce-míngua. Assombrações semelhantes me informaram a cultura intensa do açúcar e para a estabilidade agrária e patriarcal. no Rio de Janeiro e em São Paulo povoar os restos de casas-grandes A verdade é que em torno dos senhores de engenho criou-se o do vale do Paraíba.21 E no Recife, da capela da casa-grande que foi de tipo de civilização mais estável na América hispânica; e esse tipo de Bento José da Costa, assegura-me um antigo morador do sítio que civilização, ilustra-o a arquitetura gorda, horizontal, das casas-gran­ toda noite, à meia-noite, costuma sair montada em um burro, como des. Cozinhas enormes; vastas salas de jantar; numerosos quartos para Nossa Senhora, uma moça muito bonita, vestida de branco. Talvez a filhos e hóspedes; capela; puxadas para acomodação dos filhos casa­ filha do velho Bento, que ele por muito tempo não quis que casasse dos; camarinhas no centro para a reclusão quase monástica das mo­ com Domingos José Martins, fugindo à tirania patriarcal. Porque os ças solteiras; gineceu; copiar; senzala. O estilo das casas-grandes - mal-assombrados costumam reproduzir as alegrias, os sofrimentos, os estilo no sentido spengleriano - pode ter sido de empréstimo; sua gestos mais característicos da vida nas casas-grandes. arquitetura, porém, foi honesta e autêntica. Brasileirinha da Silva. Teve Em contraste com o nomadismo aventureiro dos bandeirantes - alma. Foi expressão sincera das necessidades, dos interesses, do largo em sua maioria mestiços de brancos com índios - os senhores das ritmo de vida patriarcal que os proventos do açúcar e o trabalho casas-grandes representaram na formação brasileira a tendência mais eficiente dos negros tornaram possível. caracteristicamente portuguesa, isto é, pé-de-boi, no sentido de esta­ Essa honestidade, essa largueza sem luxo das casas-grandes, sen­ bilidade patriarcal. Estabilidade apoiada no açúcar (engenho) e no tiram-na vários dos viajantes estrangeiros que visitaram o Brasil colo­ negro (senzala). Não que estejamos a sugerir uma interpretação étni­ nial. Desde Dampier a Maria Graham. Maria Graham ficou encantada ca da formação brasileira ao lado da econômica. Apenas acrescentan­ com as casas de residência dos arredores do Recife e com as de enge­ do a um sentido puramente material, marxista, dos fatos, ou antes, nho, do Rio de Janeiro; só a impressionou mal o número excessivo de das tendências, um sentido psicológico. Ou psicofisiológico. Os estu­

22 23 gaiolas de papagaio e de passarinho penduradas por toda parte. Mas dos de Cannon, por um lado, e, por outro, os de Keith parecem estes exageros de gaiolas de papagaio animando a vida de família do indicar que atuam sobre as sociedades, como sobre os indivíduos, que hoje se chamaria cor local; e os papagaios tão bem-educados, independente de pressão econômica, forças psicofisiológicas, suscetí­ acrescenta Mrs. Graham, que raramente gritavam ao mesmo tempo.24 veis, ao que se supõe, de controle pelas futuras elites científicas - dor, Aliás, em matéria de domesticação patriarcal de animais, d Assier ob­ medo, raiva - ao lado das emoções de fome, sede, sexo. Forças de servou exemplo ainda mais expressivo: macacos tomando a bênção uma grande intensidade de repercussão. Assim, o islamismo, no seu aos moleques do mesmo modo que estes aos negros velhos e os furor imperialista, nas formidáveis realizações, na sua exaltação místi­ negros velhos aos senhores brancos.25 A hierarquia das casas-grandes ca dos prazeres sensuais, terá sido não só a expressão de motivos estendendo-se aos papagaios e aos macacos. econômicos, como de forças psicológicas que se desenvolveram de modo especial entre populações do norte da África. Do mesmo modo, A casa-grande, embora associada particularmente ao engenho de o movimento das bandeiras - em que emoções generalizadas de medo cana, ao patriarcalismo nortista, não se deve considerar expressão e raiva se teriam afirmado em reações de superior combatividade. O exclusiva do açúcar, mas da monocultura escravocrata e latifundiária português mais puro, que se fixou em senhor de engenho, apoiado em geral: criou-a no Sul o café tão brasileiro como no Norte o açúcar. Percorrendo-se a antiga zona fluminense e paulista dos cafezais, sen- te-se, nos casarões em ruínas, nas terras ainda sangrando das derru­ Nas casas-grandes foi até hoje onde melhor se exprimiu o caráter badas e dos processos de lavoura latifundiária, a expressão do mes­ brasileiro; a nossa continuidade social. No estudo da sua história ínti­ mo impulso econômico que em Pernambuco criou as casas-grandes ma despreza-se tudo o que a história política e militar nos oferece de de Megaípe, de Anjos, de Noruega, de Monjope, de Gaipió, de More­ empolgante por uma quase rotina de vida: mas dentro dessa rotina é nos; e devastou parte considerável da região chamada "da mata". que melhor se sente o caráter de um povo. Estudando a vida domés­ Notam-se, é certo, variações devidas umas a diferenças e clima, outras tica dos antepassados sentimo-nos aos poucos nos completar: é outro a contrastes psicológicos e ao fato da monocultura latifundiária ter meio de procurar-se o "tempo perdido". Outro meio de nos sentirmos sido, em São Paulo, pelo menos, um regime sobreposto, no fim do nos outros - nos que viveram antes de nós; e em cuja vida se anteci­ século XVIII, ao da pequena propriedade.26 Não nos deve passar des­ pou a nossa. É um passado que se estuda tocando em nervos; um percebido o fato de que "enquanto os habitantes do Norte procura­ passado que emenda com a vida de cada um; uma aventura de sensi­ vam para habitações os lugares altos, os pendores das serras, os bilidade, não apenas um esforço de pesquisa pelos arquivos. paulistas, pelo comum, preferiam as baixadas, as depressões do solo Isto, é claro, quando se consegue penetrar na intimidade mesma para a edificação de suas vivendas [...]."27 Eram casas, as paulistas, do passado; surpreendê-lo nas suas verdadeiras tendências, no seu à- "sempre construídas em terreno íngreme, de forte plano inclinado, vontade caseiro, nas suas expressões mais sinceras. O que não é fácil protegidas do vento sul, de modo que do lado de baixo o prédio em países como o Brasil; aqui o confessionário absorveu os segredos tinha um andar térreo, o que lhe dava desse lado aparência de sobra­ pessoais e de família, estancando nos homens, e principalmente nas do." Surpreende-se nos casarões do Sul um ar mais fechado e mais mulheres, essa vontade de se revelarem aos outros que nos países retraído do que nas casas nortistas; mas o "terraço, de onde com a protestantes prove o estudioso de história íntima de tantos diários, vista o fazendeiro abarcava todo o organismo da vida rural", é o mes­ confidencias, cartas, memórias, autobiografias, romances autobiográ­ mo do Norte; o mesmo terraço hospitaleiro, patriarcal e bom. A sala ficos. Creio que não há no Brasil um só diário escrito por mulher. de jantar e a cozinha, as mesmas salas e cozinhas de convento. Os Nossas avós, tantas delas analfabetas, mesmo quando baronesas e sobrados que, viajando-se de Santos ao Rio em vapor pequeno que viscondessas, satisfaziam-se em contar os segredos ao padre confes- venha parando em todos os portos, avistam-se à beira da água - em sor e à mucama de estimação; e a sua tagarelice dissolveu-se quase Ubatuba, São Sebastião, Angra dos Reis - recordam os patriarcais, de toda nas conversas com as pretas boceteiras, nas tardes de chuva ou rio Formoso. E às vezes, como no Norte, encontram-se igrejas com nos meios-dias quentes, morosos. Debalde se procuraria entre nós alpendre na frente - convidativas, doces, brasileiras. um diário de dona de casa cheio de gossip no gênero dos ingleses e A história social da casa-grande é a história íntima de quase todo dos norte-americanos dos tempos coloniais.29 brasileiro: da sua vida doméstica, conjugai, sob o patriarcalismo escravo­ Em compensação, a Inquisição escancarou sobre nossa vida ínti­ crata e polígamo; da sua vida de menino; do seu cristianismo reduzi­ ma da era colonial, sobre as alcovas com camas que em geral parecem do à religião de família e influenciado pelas crendices da senzala. O ter sido de couro, rangendo às pressões dos adultérios e dos coitos estudo da história íntima de um povo tem alguma coisa de introspecção danados; sobre as camarinhas e os quartos de santos; sobre as relações proustiana; os Goncourt já o chamavam "ce roman vraf. O arquiteto de brancos com escravos - seu olho enorme, indagador. As confissões Lúcio Costa diante das casas velhas de Sabará, São João del-Rei, Ouro e denúncias reunidas pela visitação do Santo Ofício às partes do Bra­ Preto, Mariana, das velhas casas-grandes de Minas, foi a impressão sil30 constituem material precioso para o estudo da vida sexual e de que teve: "A gente como que se encontra... E se lembra de coisas que família no Brasil dos séculos XVI e XVII. Indicam-nos a idade das a gente nunca soube, mas que estavam lá dentro de nós; não sei - moças casarem - doze, quatorze anos; o principal regalo e passatem­ Proust devia explicar isso direito".28 po dos colonos - o jogo de gamão; a pompa dramática das procissões confrarias, santas casas como as conservadas, inacessíveis e inúteis, no - homens vestidos de Cristo e de figuras da Paixão e devotos com arquivo da Ordem Terceira de São Francisco, no Recife, e referentes ao caixas de doce dando de comer aos penitentes. Deixam-nos surpreen­ século XVII; os Documentos interessantes para a história e costumes de der, entre as heresias dos cristãos-novos e das santidades, entre os São Paulo, de que tanto se tem servido Afonso de E. Taunay para os bruxedos e as festas gaiatas dentro das igrejas, com gente alegre senta­ seus notáveis estudos sobre a vida colonial em São Paulo; as atas e o da pelos altares, entoando trovas e tocando viola, irregularidades na registro-geral da Câmara de São Paulo; os livros de assentos de batis­ vida doméstica e moral cristã da família - homens casados casando-se mo, óbitos e casamentos de livres e escravos e os de rol de famílias e outra vez com mulatas, outros pecando contra a natureza com efebos autos de processos matrimoniais que se conservam em arquivos ecle­ da terra ou da Guiné, ainda outros cometendo com mulheres a torpeza siásticos; os estudos de genealogia de Pedro Taques, em São Paulo, e que em moderna linguagem científica se chama, como nos livros clás­ de Borges da Fonseca, em Pernambuco; relatórios de juntas de higie­ sicos, felação, e que nas denúncias vem descrita com todos osffe rr; ne, documentos parlamentares, estudos e teses médicas, inclusive as desbocados jurando pelo "pentelho da Virgem"; sogras planejando de doutoramento nas faculdades do Rio de Janeiro e da Bahia; docu­ envenenar os genros; cristãos-novos metendo crucifixos por baixo do mentos publicados pelo Arquivo Nacional,32 pela Biblioteca Nacional, corpo das mulheres no momento da cópula ou deitando-os nos uri- pelo Instituto Histórico Brasileiro, na sua Revista, e pelos Institutos de nóis; senhores mandando queimar vivas, em fornalhas de engenho, São Paulo, Pernambuco e da Bahia. Tive a fortuna de conseguir não só escravas prenhes, as crianças estourando ao calor das chamas. várias cartas do arquivo da família Paranhos, que me foram gentilmen­ Também houve - isto no século XVIII e no XIX - esquisitões Pepys te oferecidas pelo meu amigo Pedro Paranhos, como o acesso a im­ de meia-tigela, que tiveram a pachorra de colecionar, em cadernos, gossip portante arquivo de família, infelizmente já muito danificado pela traça e mexericos: chamavam-se "recolhedores de fatos". Manuel Querino e pela umidade, mas com documentos ainda dos tempos coloniais - o fala-nos deles com relação à Bahia; Arrojado Lisboa, em conversa, deu- do engenho Noruega, que pertenceu por longos anos ao capitão-mor me notícia de uns cadernos desses, relativos a Minas,31 e em Pernambuco, Manuel Tome de Jesus, e, depois, aos seus descendentes. Seria para na antiga zona rural, tenho encontrado traços de "recolhedores de fa­ desejar que esses restos de velhos arquivos particulares fossem reco­ tos". Alguns "recolhedores de fatos", antecipando-se aos pasquins, cole­ lhidos às bibliotecas ou aos museus, e que os eclesiásticos e das Or­ cionavam casos vergonhosos, que, em momento oportuno, serviam para dens Terceiras fossem convenientemente catalogados. Vários docu­ emporcalhar brasões ou nomes respeitáveis. Em geral, exploravam-se mentos que permanecem em manuscritos nesses arquivos e bibliotecas os preconceitos de branquidade e de sangue nobre; desencavava-se devem quanto antes ser publicados. É pena - seja-me lícito observar alguma remota avó escrava ou mina; ou tio que cumpria sentença; avô de passagem - que algumas revistas de história dediquem páginas e que aqui chegara de sambenito. Registravam-se irregularidades sexuais páginas à publicação de discursos patrióticos e de crônicas literárias, e morais de antepassados. Até mesmo de senhoras. quando tanta matéria de interesse rigorosamente histórico permanece Outros documentos auxiliam o estudioso da história íntima da desconhecida ou de acesso difícil para os estudiosos. família brasileira: inventários, tais como os mandados publicar em São Para o conhecimento da história social do Brasil não há talvez Paulo pelo antigo presidente Washington Luís; cartas de sesmaria, tes­ fonte de informação mais segura que os livros de viagem de estrangei­ tamentos, correspondências da Corte e ordens reais - como as que ros - impondo-se, entretanto, muita discriminação entre os autores su­ existem em manuscritos na Biblioteca do Estado de Pernambuco ou perficiais ou viciados por preconceitos - os Thévet, os Expilly, os Debadie dispersas por velhos cartórios e arquivos de família; pastorais e relató­ - e os bons e honestos da marca de Léry, Hans Staden, Koster, Saint- rios de bispos, como o interessantíssimo, de frei Luís de Santa Teresa, Hilaire, Rendu, Spix, Martius, Burton, Tollenare, Gardner, Mawe, Maria que amarelece, em latim, copiado em bonita letra eclesiástica, no ar­ Graham, Kidder, Fletcher. Destes me servi largamente,33 valendo-me de quivo da catedral de Olinda; atas de sessões de Ordens Terceiras, uma familiaridade com esse gênero não sei se diga de literatura - mui­ do se vão a calçar pela manhã as acham nas botas"; e tanto Anchieta tos são livros mal-escritos, porém deliciosos na sua candura quase in­ como Nóbrega destacam irregularidades sexuais na vida dos colonos, fantil - que data dos meus dias de estudante; das pesquisas para a nas relações destes com os indígenas e os negros, e mencionam o fato minha tese Social li/e in in the midle of the 19tb century, apresen­ de serem medíocres os mantimentos da terra, custando tudo "o tresdobro tada em 1923 à Faculdade de Ciências Políticas e Sociais da Universida­ do que em Portugal." Anchieta lamenta nos nativos, o que Camões já de de Colúmbia. Trabalho que Henry L. Mencken fez-me a honra de lamentara nos portugueses - "a falta de engenhos", isto é, de inteligên­ ler, aconselhando-me que o expandisse em livro. O livro, que é este, cia, acrescida do fato de não estudarem com cuidado e de tudo se levar deve esta palavra de estímulo ao mais antiacadêmico dos críticos. em festas, cantar e folgar; salientando ainda a abundância dos doces e Volto à questão das fontes para recordar os valiosos dados que se regalos, laranjada, aboborada, marmelada etc, feitos de açúcar.35 Deta­ encontram nas cartas dos jesuítas. O material publicado já é grande; lhes de um realismo honesto, esses, que se colhem em grande número, mas deve haver ainda - lembra-me em carta João Lúcio de Azevedo, nas cartas dos padres, por entre as informações de interesse puramente autoridade no assunto - deve haver ainda na sede da Companhia muita religioso ou devoto. Detalhes que nos esclarecem sobre aspectos da coisa inédita. Os jesuítas não só foram grandes escritores de cartas - vida colonial, em geral desprezados pelos outros cronistas. Não nos muitas delas tocando em detalhes íntimos da vida social dos colonos - devemos, entretanto, queixar dos leigos que em crônicas como a de como procuraram desenvolver nos caboclos e mamelucos, seus alunos, Pero de Magalhães Gandavo e a de Gabriel Soares de Sousa também o gosto epistolar. Escrevendo da Bahia em 1552 dizia o jesuíta Francis­ nos deixam entrever flagrantes expressivos da vida íntima nos primei­ co Pires sobre as peregrinações dos meninos da terra ao sertão: "[...] o ros tempos de colonização. Gabriel Soares chega a ser pormenorizado que eu não escreverei porque o padre lhes mandou que escrevessem sobre as rendas dos senhores de engenho; sobre7 o material de suas aos meninos de Lisboa; e porque poderá ser que suas cartas as vejais o casas e capelas; sobre a alimentação, a confeitaria e doçaria das casas- não escreverei [...]". Seria interessante descobrir essas cartas e ver o grandes; sobre os vestidos das senhoras. Um pouco mais, e teria dado que diziam para Lisboa os caboclos do Brasil do século XVI. um bisbilhoteiro quase da marca de Pepys. Freqüentemente depara-se nas cartas dos jesuítas com uma informação De outras fontes de informações ou simplesmente de sugestões, valiosa sobre a vida social no primeiro século de colonização; sobre o pode servir-se o estudioso da vida íntima e da moral sexual no Brasil contato da cultura européia com a indígena e a africana. O padre Antô­ dos tempos de escravidão: do folclore rural nas zonas mais coloridas nio Pires, em carta de 1552, fala-nos de uma procissão de negros de pelo trabalho escravo; dos livros e cadernos manuscritos de modinhas Guiné em Pernambuco, já organizados em confraria do Rosário, todos e receitas de bolo,36 das coleções de jornais; dos livros de etiqueta; e muito em ordem "uns traz outros com as mãos sempre alevantadas, finalmente do romance brasileiro que nas páginas de alguns dos seus dizendo todos: Orapro nobis." O mesmo padre Antônio Pires, em carta maiores mestres recolheu muito detalhe interessante da vida e dos de Pernambuco, datada de 2 de agosto de 1551, refere-se aos colonos costumes da antiga família patriarcal. em Helena, da terra de Duarte Coelho como "melhor gente que de todas as outras Memórias póstumas de Brás Cubas, Iaiá Garcia, Dom Casmurro e em capitanias"; outra carta informa que os índios a princípio "tinham outros de seus romances e dos seus livros de contos, principalmente empacho de dizer Santa Jooçaba, que em nossa língua quer dizer - em Casa Velha, publicado recentemente com introdução escrita pela pelo Signal da Cruz, por lhes parecer aquilo gatimonhas."34 Anchieta Sra. Lúcia Miguel Pereira; Joaquim Manuel de Macedo n'As vítimas menciona os muitos bichos peçonhentos que atormentavam a vida algozes, A moreninha, O moço louro, As mulheres de mantilha, ro­ doméstica dos primeiros colonos - cobras jararacas andando pelas ca­ mances cheios de sinhazinhas, de iaiás, de mucamas; José de Alencar sas e caindo dos telhados sobre as camas; "e quando os homens des­ em Mãe, Lucíola, Senhora, Demônio familiar, Tronco do ipê, Sonhos pertam se acham com elas enroladas no pescoço e nas pernas e quan­ de ouro, Pata da gazela; Francisco Pinheiro Guimarães na História de uma moça rica e Punição-, Manuel Antônio de Almeida nas Memórias de um sargento de milícias; Raul Pompéia n'0 ateneu; Júlio Ribeiro limites razoáveis de um livro. Fica para um segundo o estudo de outros r\A carne; Franklin Távora, Agrário de Meneses, Martins Pena, Américo aspectos do assunto - que aliás admite desenvolvimento ainda maior. Werneck, França Júnior são romancistas, folhetinistas ou escritores de A interpretação, por exemplo, do 1900 brasileiro - das atitudes, teatro que fixaram com maior ou menor realismo aspectos caracterís­ das tendências, dos preconceitos da primeira geração brasileira de­ ticos da vida doméstica e sexual do brasileiro; das relações entre se­ pois da Lei do Ventre Livre e da debâcle de 88 - deve ser feita, relacio- nhores e escravos; do trabalho nos engenhos; das festas e procissões. nando-se as reações antimonárquicas, da classe proprietária, seus Também os fixou a seu jeito, isto é, caricaturando-os, o poeta satírico pendores burocráticos, a tendência do grande número para as carrei­ do século XVIII, Gregório de Matos. E em memórias e reminiscências, ras liberais, para o funcionalismo público, para as sinecuras republica­ o visconde de Taunay, José de Alencar, Vieira Fazenda, os dois Melo nas - sinecuras em que se perpetuasse a vida de ócio dos filhos de Morais, deixaram-nos dados valiosos. Romances de estrangeiros pro­ senhores arruinados e desaparecessem as obrigações aviltantes de curando retratar a vida brasileira do tempo da escravidão existem trabalho manual para os filhos de escravos, ansiosos de se distancia­ alguns,37 mas nenhum que valha grande coisa, do ponto de vista da rem da senzala - relacionando-se todo esse regime de burocracia e história social. Quanto à iconografia da escravidão e da vida patriarcal de improdutividade que no antigo Brasil agrário, com exceção das está magistralmente feita por artistas da ordem de Franz Post, Zacarias zonas mais intensamente beneficiadas pela imigração européia, se Wagener, Debret, Rugendas; sem falarmos de artistas menores e mes­ seguiu à abolição do trabalho escravo - à escravidão e à monocultura. mo toscos - desenhadores, litógrafos, gravadores, aquarelistas, pinto­ Estas continuaram a influenciar a conduta, os ideais, as atitudes, a res de ex-votos - que desde o século XVI - muitos deles ilustrando moral sexual dos brasileiros. Aliás a monocultura latifundiária, mes­ livros de viagem - reproduziram e fixaram, com emoção ou realismo, mo depois de abolida a escravidão, achou jeito de subsistir em alguns cenas de intimidade doméstica, flagrantes de rua e de trabalho rural, pontos do país, ainda mais absorvente e esterilizante do que no anti­ casas-grandes de engenhos e de sítios, tipos de senhoras, de escra­ go regime; e ainda mais feudal nos abusos. Criando um proletariado vos, de mestiços.38 Dos últimos cinqüenta anos da escravidão, restam- de condições menos favoráveis de vida do que a massa escrava. Roy nos além de retratos a óleo, daguerreótipos e fotografias fixando per­ Nash ficou surpreendido com o fato de haver terras no Brasil, nas fis aristocráticos de senhores, nas suas gravatas de volta, de sinhá-donas mãos de um só homem, maiores que Portugal inteiro: informaram- e sinhá-moças de penteados altos, tapa-missa no cabelo; meninas no lhe que no Amazonas os Costa Ferreira eram donos de uma proprie­ dia da primeira comunhão - todas de branco, luvas, grinalda, véu, dade de área mais extensa que a Inglaterra, a Escócia e a Irlanda 39 livrinho de missa, rosário; grupos de família - as grandes famílias reunidas. Em Pernambuco e Alagoas, com o desenvolvimento das patriarcais, com avós, netos, adolescentes de batina de seminarista, usinas de açúcar, o latifúndio só tem feito progredir nos últimos anos, meninotas abafadas em sedas de senhoras de idade. subsistindo à sua sombra e por efeito da monocultura a irregularida­ de e a deficiência no suprimento de víveres: carnes, leite, ovos, legu­ Não devo estender este prefácio, que tanto se vai afastando do mes. Em Pernambuco, em Alagoas, na Bahia continua a consumir-se seu propósito de simplesmente dar uma idéia geral do plano e do a mesma carne ruim que nos tempos coloniais. Ruim e cara.40 De método do ensaio que se segue, das condições em que foi escrito. modo que da antiga ordem econômica persiste a parte pior do ponto Ensaio de sociologia genética e de história social, pretendendo fixar e de vista do bem-estar geral e das classes trabalhadoras - desfeito em às vezes interpretar alguns dos aspectos mais significativos da forma­ 88 o patriarcalismo que até então amparou os escravos, alimentou-os ção da família brasileira. com certa largueza, socorreu-os na velhice e na doença, proporcio­ O propósito de condensar em um só volume todo o trabalho, não nou-lhes aos filhos oportunidades de acesso social. O escravo foi o consegui infelizmente realizar. O material esborrou, excedendo os substituído pelo pária de usina; a senzala pelo mucambo; o senhor de engenho pelo usineiro ou pelo capitalista ausente. Muitas casas- lia Pessoa de Melo, no norte de Pernambuco; dos parentes do meu grandes ficaram vazias, os capitalistas latifundiários rodando de auto­ amigo José Lins do Rego, no sul da Paraíba; dos meus parentes Sousa móvel pelas cidades, morando em chalés suíços e palacetes e Melo, no engenho de São Severino dos Ramos, em Pau-d'Alho - o normandos, indo a Paris se divertir com as francesas de aluguel. primeiro engenho que conheci e que sempre hei de rever com emo­ Devo exprimir meus agradecimentos a todos aqueles que me ção particular. Meus agradecimentos a Paulo Prado, que me proporcio­ auxiliaram, quer no decorrer das pesquisas, quer no preparo do ma­ nou tão interessante excursão pela antiga zona escravocrata que se nuscrito e na revisão das provas deste ensaio. Na revisão do manus­ estende do Estado do Rio a São Paulo, hospedando-me depois, ele e crito e das provas ajudou-me principalmente Manuel Bandeira. Outro Luís Prado, na fazenda de café de São Martinho. Agradeço-lhe tam­ amigo, Luís Jardim, auxiliou-me a passar a limpo o manuscrito que bém o conselho de regressar de São Paulo ao Rio por mar, em vapor entretanto acabou seguindo para o Rio todo riscado e emendado. pequeno, parando nos velhos portos coloniais; conselho que lhe cos­ Agradeço-lhes o concurso inteligente como também o daqueles que tumava dar Capistrano de Abreu. O autor do Retrato do Brasil, des­ gentilmente me auxiliaram na tradução de trechos antigos de latim, confiado e comodista, nunca pôs em prática, é verdade, o conse­ de alemão e de holandês e em pesquisas de biblioteca e folclóricas: lho do velho caboclo - talvez antevendo os horrores a que se sujeitam, meu pai - o Dr. Alfredo Freyre; meu primo José Antônio Gonsalves no afã de conhecer trecho tão expressivo da fisionomia brasileira, os de Melo, neto; meus amigos Júlio de Albuquerque Belo e Sérgio ingênuos que se entregam a vapores da marca do Irati. Buarque de Holanda; Maria Bernarda, que bastante me instruiu em Devo ainda agradecer gentilezas recebidas nas bibliotecas, arqui­ tradições culinárias; os ex-escravos e pretos velhos criados em enge­ vos e museus por onde andei vasculhando matéria: na Biblioteca Na­ nho - Luís Mulatinho, Maria Curinga, Jovina, Bernarda. Sérgio Buarque cional de Lisboa, no Museu Etnológico Português, organizado e dirigi­ traduziu-me do alemão quase o trabalho inteiro de Wãtjen. Júlio Belo, do por um sábio - Leite de Vasconcelos; na Biblioteca do Congresso, no seu engenho de Queimadas, reuniu-me interessantes dados folcló­ em Washington, especialmente na seção de documentos; na coleção ricos sobre relações de senhores com escravos. Sozinho ou na com­ Oliveira Lima, da Universidade Católica dos Estados Unidos - tão rica panhia de Pedro Paranhos e Cícero Dias, realizei excursões para pes­ em livros raros, de viagem, sobre a América portuguesa; na coleção quisas folclóricas ou conhecimento de casas-grandes características John Casper Branner, da Universidade de Stanford, igualmente especia­ por vários trechos da antiga zona aristocrática de Pernambuco. Devo lizada em livros de cientistas estrangeiros sobre o Brasil - cientistas deixar aqui meus agradecimentos a quantos me dispensaram sua hos­ que foram, muitas vezes, como Saint-Hilaire, Koster, Maria Graham, pitalidade durante essas excursões: Alfredo Machado, no engenho Spix, Martius, Gardner, Mawe e Príncipe Maximiliano excelentes ob­ Noruega, André Dias de Arruda Falcão, no engenho Mupã, Gerôncio servadores da vida social e de família dos brasileiros na seção de docu­ Dias de Arruda Falcão, em Dois Leões, Júlio Belo, em Queimadas, a mentos da Biblioteca de Stanford, onde me servi da valiosa coleção de baronesa de Contendas, em Contendas, Domingos de Albuquerque, relatórios diplomáticos e de documentos parlamentares ingleses41 so­ em Ipojuca, Edgar Domingues, em Raiz - verdadeiro asilo da velhice bre a vida do escravo nas plantações brasileiras; na Biblioteca Nacio­ desamparada, onde fui encontrar centenário um, e octogenários os nal do Rio de Janeiro, hoje dirigida pelo meu amigo e mestre Rodolfo outros, quatro remanescentes das velhas senzalas de engenho. O mais Garcia; na biblioteca do Instituto Histórico Brasileiro, onde fui sempre velho, Luís Mulatinho, com uma memória de anjo. De outras zonas, já tão gentilmente recebido por Max Fleiuss; na do Instituto Arqueológi­ minhas conhecidas velhas, recordarei gentilezas recebidas de Joaquim co Pernambucano, no Museu Nina Rodrigues da Bahia; na seção de Cavalcanti, Júlio Maranhão, Pedro Paranhos Ferreira, senhor de Juparan- documentos da Biblioteca do Estado de Pernambuco; no arquivo do duba, neto do visconde e sobrinho do barão do Rio Branco, Estácio cartório de Ipojuca, cujos inventários do século XLX constituem inte­ Coimbra, José Nunes da Cunha; da família Lira, em Alagoas; da famí­ ressantes documentações para o estudo da economia escravocrata e da vida de família patriarcal; na parte do arquivo da catedral de Olinda - manuscritos de pastorais e relatórios de bispos sobre modas, moral sexual, relações de senhores com escravos etc. - que o cônego Carmo Barata gentilmente facultou ao meu estudo. Agradeço aos meus bons amigos André e Gerôncio Dias de Arruda Falcão e Alfredo Machado Notas ao prefácio terem-me franqueado seu arquivo de família, no engenho Noruega, com documentos virgens, do tempo do capitão-mor Manuel Tome de 1. Merecem um estudo à parte os motivos decorativos e porventura místicos que orientam as pretas Jesus; outros da época do barão de Jundiá; alguns de vivo interesse quituteiras na Bahia, em Pernambuco e no Rio de Janeiro no recorte dos papéis azuis, encarna­ para o estudo da vida social dos senhores de engenho; das suas rela­ dos, amarelos etc. Para enfeite dos tabuleiros e acondicionamento de doces, as formas que dão aos ções com os escravos. A José Maria Carneiro de Albuquerque e Melo, bolos, alfenins, rebuçados etc. A decoração dos tabuleiros é uma verdadeira arte de renda em diretor da Biblioteca do Estado de Pernambuco, agradeço as excelen­ papel, feita quase sem molde. tes reproduções de Piso, Barléus e Henderson, que, a meu pedido, preparou para ilustração deste livro; a Cícero Dias e ao arquiteto Carlos 2. Antônio Ladislau Monteiro Baena, Ensaio corogrãfico sobre a província do Pará, Pará, 1839. Pacheco Leão as plantas da casa-grande de Noruega. Um nome me 3. Boas salienta o fato de que nas classes de condições econômicas desfavoráveis de vida os indiví­ falta associar a este ensaio: o do meu amigo Rodrigo M. F. de Andrade. duos desenvolvem-se lentamente, apresentando estatura baixa, em comparação com a das classes Foi quem me animou a escrevê-lo e a publicá-lo. ricas. Entre as classes pobres encontra-se uma estatura baixa aparentemente hereditária, que, entretanto, parece suscetível de modificar-se, uma vez modificadas as condições de vida econômi­ Lisboa, 1931 ca. Encontram-se - diz Boas - proporções do corpo determinadas por ocupações, e aparentemen­ Pernambuco, 1933 te transmitidas de pai a filho, no caso do filho seguir a mesma ocupação que o pai (Franz Boas, Anthropology and modem life, Londres, 1929). Veja-se também a pesquisa de H. P. Bouditch, "The growth of children", 8h AnnualReportoftheStateBureau ofHealth ofMassachusetts. Na Rússia, devido à fome de 1921-1922 - resultado não só da má organização das primeiras admi­ nistrações soviéticas como do bloqueio da Nova República pelos governos capitalistas - verificou- se considerável diminuição na estatura da população (A. Ivanovsky, "Physical modifications of the population of Rússia under famine", American Journal of Physical Anthropology, ns 4,1923). Por outro lado, os estudos de Hrdlicka na população norte-americana acusam o aumento de estatura (Ales Hrdlicka, The oldamericans, Baltimore, 1925). Sobre as diferenças de estatura e de outros característicos físicos e mentais de uma classe social para outra veja-se o trabalho clássico de A. Niceforo, Les classes pauvres, Paris, 1905; entre os recentes o de Pitirim Sorokin, Social mobility, Nova Iorque, 1927. Quanto à correlação entre a inteligência e a classe social da criança, vej a-se o notável trabalho do professor L. M. Terman, da Universidade de Stanford, Genetic studies of genius, Stanford University, 1925-1930.0 interessante nessas diferenças - excetuados, é claro, casos extraordinários - é determinar até que ponto são hereditárias ou genéticas ou deixam de sê- lo para refletir o favor ou o desfavor sucessivo das condições econômicas, do ambiente social e do regime alimentar de ricos e pobres. Ou - vendo-se o problema de outro ponto de vista - quais as possibilidades de tomarem-se hereditariamente transmissíveis qualidades adquiridas e cultivadas através de gerações. Dendy salienta que Oliver Wendel Holmes observou ter-se formado uma aris- tocracia intelectual e social na Nova Inglaterra pela repetição das mesmas influências, geração 10. Franz Boas, "Changes in bodily forms of descendants of immigrants", Senate Documents, após geração (Arthur Dendy, The biological foundation of society, Londres, 1924). Sobre este Washington, 1910-1911. ponto vejam-se também J. A. Detlefsen, Ourpresent knowkdge of heredity, Filadélfia, 1925; H. S. Jennings, Prometheus, Nova Iorque, 1925; C. M. Child, Physiologicalfoundations of behavior, 11. Clark Wissler, Man and culture, Nova Iorque, 1923. Nova Iorque, 1924; A. J. Herrick, Neurological foundations of animal behavior, Nova Iorque, 12. Oswald Spengler, op. cit. O valor dicasa já fora destacado por G. Schmoller, em páginas clássicas. 1924; F. B. Davenport, Heredity in relation to eugenies, Nova Iorque, 1911; A. Myerson, The 13. Teodoro Sampaio, "São Paulo de Piratininga no fim do século XVI", Rev. Inst. Hist. de São inheritance of mental disorders, Baltimore, 1925. Paulo, vol. II. 4. Sobre a correlação do material de construção com a aristocratização das sociedades vej a-se George 14. Nicolau Dreys, Notícia descriptiva da província do Rio Grande de São Pedro do Sul, Rio de Plekhanov,Introduction à 1'histoiresocialede la Russie (trad.), Paris, 1926. Janeiro, 1839, p. 174. 5. Refutando a teoria de Oliveira Viana - a inexistência da luta de classes na formação social do 15. José Mariano Filho, Conferência na Escola de Belas-Artes do Recife, abril de 1923. A sugestão de Brasil - lembra Astrojildo Pereira as guerras, os conflitos dos "senhores" com os indígenas e com que o copiar que se observa em numerosas capelas brasileiras de áreas rurais represente influên­ os negros fugidos (quilombolas) e da própria burguesia nascente com a aristocracia rural já cia da arquitetura da casa-grande sobre aquele tipo de arquitetura religiosa é impugnada pelo Sr. estratificada. Também os conflitos dos representantes da Coroa, quando fortalecidos pela desco­ Luís Saia em artigo intitulado "O alpendre nas capelas brasileiras" {Revista do Serviço do berta das minas, com os caudilhos rurais. Estes, embora atravessando crises e sofrendo depressões Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Rio de Janeiro, na 3, 1939, P- 235). Seu principal de poderio, foram a força preponderante (Astrojildo Pereira, "Sociologia ou apologética?", A Classe argumento é o de que o edifício religioso alpendrado data dos primeiros tempos do cristianismo. Operária, Rio de Janeiro, l2 de maio de 1929). Mas ao meu ver, não do modo por que se manifesta o alpendre em capelas do Brasil, onde chega Já depois de escrito este ensaio, apareceu o trabalho de Caio Prado Júnior, Evolução política do a cercar completamente o edifício religioso, como no caso da capela do engenho Caieiras (Sergipe). Brasil (ensaio de interpretação materialista da história brasileira), São Paulo, 1933, com o Quem comparar o alpendre da basílica de São Lourenço (Roma), que o Sr. Saia apresenta como qual me encontro de acordo em vários pontos. Veja-se do mesmo autor Formação do Brasil ilustração do fato de ter havido "edifícios religiosos alpendrados nos primeiros tempos do cristia­ contemporâneo — Colônia, São Paulo, 1942. Sobre o assunto vejam-se também os ensaios de nismo", com o copiar da capela do engenho Caieiras (Sergipe) ou mesmo com o da de Socorro Nelson Werneck Sodré, Formação da sociedade brasileira. Rio de Janeiro, 1944 e o de Alfredo (Paraíba) ou São Roque de Serinhaém (Pernambuco), verá que aquele não altera o caráter reli­ Ellis Júnior, "Amador Bueno e a evolução da psicologia planaltina", História da civilização gioso do edifício, enquanto os brasileiros são inconfundivelmente domésticos ou patriarcais: au­ brasileira, rfA,Boletim IMdaFaculdadedeFilosofia, Ciências e Letras da Universidade de tênticos copiares de casas-grandes transferidos para edifícios religiosos, assimilados, por este meio, São Paulo. 0 critério de ter sido a economia agrária patriarcal, modificada por diferenças de ao sistema patriarcal ou feudal-tropical brasileiro de edificação. Deve-se notar que o Sr. Luís Saia condições regionais, a força dominante na formação brasileira — critério esboçado no presente admite a assimilação de "detalhes da arquitetura religiosa" no Brasil pela residencial, e vice- ensaio—foi estendido ao estudo da história da literatura brasileira por José Osório de Oliveira em versa, referindo "um caso curiosíssimo de solução evidentemente de edifício religioso incorporada História breve da literatura brasileira, Lisboa, 1939 à construção residencial: fazenda Acaunã, Estado da Paraíba, Mun. de Sousa" (p. 237).

6. F. P. Armitage, Diet and roce, Londres, 1922. Sem tomar conhecimento da sugestão que aqui se faz desde 1933 sobre a influência da arqui­ tetura doméstica sobre a de igreja, no Brasil, o Sr. Philip L. Goodwin, em seu trabalho Brazil 7. E. V. McCollum e Nina Simmonds, The newer knowledge of nutrition — The use of foodsfor the builds - Architecture new andold,\6S2-l942, ilustrado pelo Sr. G. E. Kidder Smith e publicado preservation ofvitality and health, Nova Iorque, 1929- em Nova Iorque, em 1943, com o texto inglês acompanhado de tradução portuguesa, afirma que 8. Pedro Escudero, "Influencia de la alimentación sobre la raza", La Prensa, 27 de março de 1933- "a vida e a arquitetura do período colonial" sofreram entre outras influências consideráveis, "a da Interessantes os artigos do professor argentino, embora pouco acrescentem de original aos estudos igreja, quase tão poderosa no Brasil como o próprio rei" (p. 18). Essa influência - da arquitetura dos fisiologistas norte-americanos e europeus: Armitage, McCollum, Simmonds, Lusk, Benedict, de igrej a sobre a doméstica - não pode ser negada; mas a recíproca parece ser também verdadeira, McCay, Nitti. como indicam capelas do tipo da de Conceição do engenho Caieiras (Sergipe). Recentemente, em interessante relatório sobre a excursão realizada a Monlevade, São Domin­ 9. Oswald Spengler,La decadência dei Ocidente (trad), Madri, 1927. gos do Prata e fazenda São Julião por um grupo de estudiosos de geografia física e cultural, a Sobre o retardamento com que apareceu a casa-grande construída de material nobre e dura­ professora Mariam Tiomno referindo-se ao aspecto da paisagem cultural além da vila Papini douro, na subárea campista (Rio de Janeiro), veja-se o recente e bem documentado trabalho do destaca que predominam aí "habitações de tipo colonial" e que as casas de residência, isto é, engenheiro Alberto Ribeiro Lamego, O homem e o brejo (publicação n81 da Série A, "Livros", sobrevivências de casas-grandes, "são construídas sobre estacas formando um porão alto e cober­ Biblioteca Geográfica Brasileira, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, Rio de Janeiro, to onde se abrigam os animais. Dominando a frente dos aposentos há uma grande varanda. Até a 1945). Informa o mesmo pesquisador - talvez o que melhor conhece o solo, a paisagem e o venda e a capela são desse tipo" {Boletim Geográfico, Rio de Janeiro, ne 17, agosto de 1944, p. passado da área fluminense, em geral, e da subárea campista, em particular - que "de todo o 703). Outro caso de assimilação de edifícios não-residenciais pelo residencial, dos vários que se correr dos fins de Setecentos até a ascensão de Pedro II ao trono, só temos notícia de uma casa de encontram no Brasil nas áreas de antigo domínio ou de sobrevivência da casa-grande de engenho senhor de engenho ainda existente hoje na antiga região dos goitacás: é a residência de Mato de ou fazenda, ou do sistema feudal-tropical brasileiro. Pipa no morgadio de Quissamã, levantada em 1786 por Manuel Carneiro da Silva, pai do Ia Com seu olhar de arquiteto, o francês Louis Léger Vauthier escreveu da casa-grande de visconde de Araruama. De um só piso e avarandada. Com suas velhas portas arqueadas, seu oratório Camaragibe (Pernambuco) que ele conheceu em 1840 que era "grande e comprido edifício, ten­ interno de imagens antiqüíssimas, sua vetusta cama de cabiúna com embutidos de pequiá-mar- do três faces que dão para um pátio e a quarta para uma espécie de jardim maltratado. Sobre a fim, a casa de Mato de Pipa, precioso testemunho arquitetônico dessa época e residência de uma mais longa das três faces correspondentes ao pátio, no rés-do-chão, espécie de claustro cujo acesso das grandes famílias da planície, nada tem que denote luxo e fausto" (p. 129-130). Sobre o assun­ se faz por alguns degraus em ruína. Essa fachada dá para leste. Sobre a face sul, fica a escada to veja-se também o recente estudo de José Wasth Rodrigues, Documentário arquitetônico rela• principal, coberta por uma parte do teto que se projeta além das paredes da fachada e é sustentada tivo à antiga construção civil no Brasil, São Paulo, 1944. por 3 colunas" {Diário íntimo do engenheiro Vauthier (tradução portuguesa do manuscrito em Acerca da excelência técnica da construção portuguesa, veja-se ?2ti\-k\\a\nzW\n,L'Architecture francês oferecido a Gilberto Freyre por Paulo Prado que o adquiriu de alfarrabista parisiense), portugaise au Maroc etlestyle manuelin, Lisboa, 1942. Escreve o Sr. Paul-Antoine Evin que "les prefácio e notas de Gilberto Freyre, publicação n-° 4 do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Ministério da Educação e Saúde, Rio de Janeiro, 1940, p. 91). Portugais ont vivement frappé iimagination des indigènes par leurs magnifiques qualités de tailleurs de pierres, de stéréotomistes. De nos jours, la voixpopulaire it encore au Maroc Continuando a tradição do seu compatriota Jean-Baptiste Debret {Voyage pittoresque et historique au Brésil ou séjour d'un artiste français au Brésil depuis 1816jusq'en 1831, de tout monument ancien bien appareilléqu 'ti est l oeuvre des Portugais" (p. 10). Paris, 1834-1839), a quem se devem as primeiras observações de interesse a um tempo artístico e 16. À soror Mariana de Beja o Menino Jesus vinha ajudar "a dobar as meadas e o novelo" de sua sociológico sobre a arquitetura doméstica do Brasil, Vauthier deixou-nos no diário referido e em costura; à venerável madre Rosa Maria de Santo Antônio aparecia para brincar com a roda do tear cartas publicadas na Revue Générale de 1'Architecture et des Travaux Publiques (Paris, XI, etc. (Gustavo de Matos Sequeira, Relação de vários casos notáveis e curiosos sucedidos em 1853), sob o título "Des maisons d'habitation au Brésil", e traduzidas ao português por Vera Melo tempo na cidade de Lisboa etc, Coimbra, 1925). Franco de Andrade e publicadas pelo mesmo Serviço em sua Revista, VII, Rio de Janeiro, 1943, 17. Carta regia de 3 de setembro de 1709 e bando de 1740 no Maranhão, cit. por Agostinho Marques com introdução e notas de Gilberto Freyre, informações e reparos valiosos sobre a arquitetura Perdigão Malheiro, A escravidão no Brasil, ensaio jurídico-histórico-social, Rio de Janeiro, doméstica considerada em suas relações com a vida patriarcal em nosso país, em plena época de 1866. escravidão. Sobre o assunto veja-se também no mesmo número VII da referida Revista do Serviço do 18. J. da Silva Campos, "Tradições baianas", Rev. Inst. Geog. Hist. da Bahia, na 56. Patrimônio Histórico e Artístico Nacional o excelente estudo do engenheiro Joaquim Cardozo, 19. Tristão de Alencar Araripe, "Pater-familiasnoürasü dos tempos coloniais", Rev. Inst. Hist. Geog. "Um tipo de casa rural do Distrito Federal e Estado do Rio", enriquecido com fotografias de casas- Br., vol. 55. grandes da subárea estudada e nas quais, como nas do norte do Brasil, quase sempre se encontra o alpendre ou copiar. 20. José Vieira Fazenda, "Antigualhas e memórias do Rio de Janeiro", Rev. Inst. Hist. Geog. Br., vol. Aliás, neste estudo, o Sr. Joaquim Cardozo concorda com sugestões feitas neste ensaio desde 149, tomo 95.

1933, de que as casas-grandes brasileiras receberam "influência franciscana": "não há a menor 21. Também em Minas. Na tapera de Samangolê, município de Paracatu, havia até há pouco um dúvida", escreve ele, "de que esses alpendres receberam influência dos claustros franciscanos" (p. baile de noite de São João concorrido por gente de toda parte, que vinha em seges e cadeirinhas, 236). Escreve também:"[...] pode-se muito bem aceitar, em alguns casos, bem se vê, a sugestão escoltadas de pajens etc. As orquestras tocavam a noite inteira. Mas, ao amanhecer, tudo tinha [... ] de que as capelas tenham herdado o seu alpendre das casas-grandes" (p. 251). desaparecido. Ultimamente este mal-assombrado se desencantou. Entre as mais famosas casas No exemplar do Manual que possuo há, com relação à expressão "menos sol e melhor vira­ velhas mal-assombradas do Brasil está a do padre Correia (Petrópolis) onde "conta-se que a alma ção", este comentário do antigo dono do livro, fazendeiro contemporâneo de C. A. Taunay: "e dos veneráveis Correias por ali erravam à noite protestando contra o abandono da propriedade" mais chuva e mais humidade, não é? Ora va rezar -". (Lourenço L. Lacombe, "A mais velha casa de Correias", Revista do Serviço do Patrimônio His• Sobre o assunto vejam-se também: Cartas econômico-políiicassobre o comércio ea agricul­ tórico e Artístico Nacional, Rio de Janeiro, n-° 2,1928, p. 96). tura da Batia, Lisboa, 1821; F. P. L. Wernecke, Memória sobre a fundação de uma fazenda, Rio de Janeiro, 1860; F. L. C. Burlamaqui, Monografia da cana do açúcar, Rio de Janeiro, 1862; 22. Walter B. Cannon, Bodily changes inpain, hungerjear and reage, Nova Iorque, Londres, 1929- Alberto Lamego Filho, A planície do solar e da senzala, Rio de Janeiro, 1934; Afonso Várzea, 23. Arthur Keith, "On certain factors concerned in the evolution of human races" Journal ofthe Geografia do açúcar no leste do Brasil, Rio de Janeiro, 1943; "Geografia dos engenhos cario­ RoyalAntbropological Institute, Londres, vol. XLVI. cas", BrasilAçucareiro, n-° 1, vol. XXII, janeiro de 1944; "Engenhos dentre Guanabara- Sepetiba", Brasil Açucareiro, n2 2, vol. XXV, fevereiro de 1945; Miguel Calmon du Pin e Almeida, Ensaio 24. Maria Graham, Journal of a voyage to Brazil and residence there during theyears 1821, sobre o fabrico do açúcar, Bahia, 1834. 1822,1823, Londres, 1824, p. 127. 25. Adolphe d'Assier, Le Brésil contemporain - Races - Moeurs - Instituttons - Paysages, Paris, 28. Lúcio Costa, "O Aleijadinho e a arquitetura tradicional", O fomal, edição especial de Minas Ge­ rais, Rio de Janeiro. 1867, p. 89. 29. "Livros de assentos" de senhores de engenho, existem alguns. Graças à gentileza de uma velha 26. Alfredo Ellis Júnior, em Raça de gigantes, demonstra, baseado nos Inventários e nas sesmarias, parenta, Da. Maria (Iaiá) Cavalcanti de Albuquerque Melo, foi-me dado para consulta o "livro de que ate' o fim do se'culo XVIII dominou em São Paulo o regime da pequena propriedade, as casas assentos particulares" iniciado em Olinda em l2 de março de 1843 por seu pai Félix Cavalcanti de de morada não passando de edifícios de taipas e pilão, a princípio cobertas de sapé: "Tinham em Albuquerque Melo (1821-1901), registrando fatos não só de interesse para a família de Francisco ordinário três lanços, com o seu quintal, e eram pessimamente mobiliadas [...]". Porém gran­ Casado de Holanda Cavalcanti de Albuquerque (1776-1832), antigo senhor do engenho Jundiá, des, com imensas salas de jantar, e já com "casa dos negros", ou senzala. Na casa setecentista de que vendeu em 1832, e para as famílias de seus filhos e genros, como de interesse geral - epidemia Francisco Mariano da Cunha achou Ellis Júnior dezesseis quartos de grandes dimensões e sala de de cólera, mata-mata marinheiro, hecatombe de Vitória etc. jantar de 13 x 5,40. Oliveira Viana, no seu Populações meridionais do Brasil, salienta o contras­ te entre as fazendas paulistas anteriores ao século do café - o XIX - fazendolas "que se mediam às 30. Primeira visitação do Santo Ofício às partes do Brasil pelo licenciado Heitor Furtado de braças, sendo as maiores de uma légua em quadra, com as fazendas mineiras e fluminenses que Mendonça - Confissões da Bahia-1591-1592, São Paulo, 1922; Primeira visitação do Santo são latifúndios de dez mil alqueires ou mais." Os verdadeiros latifúndios foram porém os de Oficio às partes do Brasil etc. - Denunciações da Bahia - 1591-1593, São Paulo, 1925; Pernambuco e da Bahia, do tipo do de Garcia d'Ávila. Primeira visitação do Santo Ofício às partes do Brasil etc. - Denunciações de Pernambuco, São Paulo, 1929. Esses documentos fazem parte da série Eduardo Prado, editada por Paulo Prado; 27. João Vampré, "Fatos e festas na tradição", Rev. Inst. Hist. de São Paulo, vol. XIII. Deve-se salientar que C. A. Taunay, em seuManual do agricultor brasileiro, publicado no Rio os dois primeiros volumes trazem introduções de Capistrano de Abreu; o terceiro de Rodolfo Garcia. de Janeiro em 1839, aconselhava os senhores de engenho e fazendeiros do Brasil a levantarem 31. Estes cadernos, tive a fortuna de encontrá-los em recente viagem a Minas. Acham-se alguns em suas casas em "elevação medíocre" e dando a frente para "o oriente e sul". Nas suas palavras (p. Caeté, outros em Belo Horizonte, em mãos de um particular, que gentilmente nos franqueou à 20-21): "O oriente e sul são as duas exposições mais favoráveis para a frente das casas, por haver leitura. menos sol e melhor viração. O local preferível he huma elevação medíocre, no centro da planície Representam o esforço pachorrento, e tudo indica que escrupuloso, não de um simples bisbi­ com hum declive suave da parte da frente e quasi insensível da banda dos fundos para collocação lhoteiro, mas de velho pesquisador municipal, falecido há anos: Luís Pinto. Pinto passou a vida das dependências. Bem entendido que deve haver agua próxima, e, se possível, dentro de casa; vasculhando arquivos, atas, livros de registro de casamento e batismo, testamentos, na colheita de mas as localidades e circunstancias peculiares de cada fazenda modificão estas regras". dados genealógicos de algumas das mais importantes famílias mineiras. Tive o gosto de ver "O chão de todas as habitações e officinas deve ser levantado acima do nivel do terreno visinho: confirmadas por esses dados generalizações a que me arriscara, na primeira edição deste traba­ huma mistura de barro, tubatinga, arêa e bosta de boi applicada e soccada torna-se quasi tão dura lho, sobre a formação da família naquelas zonas do Brasil onde foi maior a escassez de mulher como ladrilho e serve bem para argamassar tanto os terreiros como os pavimentes." branca. É assim que Jacintha de Siqueira, "a celebre mulher africana que em fins do século XVII ou princípios do XVIII veio com diversos bandeirantes da Bahia" e a quem "se deve o descobri­ sentam interesse histórico, quadros de ex-votos dispersos pelas sacristias de velhas igrejas, capelinhas mento de ouro no córrego Quatro Vinténs e ereção do Arraial à Villa Nova do Príncipe em 1714", de engenho etc. Na igrejinha do Sítio da Capela, perto do Recife, apodreceram uns, bem aparece identificada como o tronco, por assim dizer matriarcal, de todo um grupo de ilustres interessantes. famílias do nosso país. "Os pais de todos os filhos de Jacintha Siqueira - acrescenta o genealogista - foram homens importantes e ricos e muitos figurão entre os homens da governança [...]." 39- Roy Nash, The conquest of Brazil, Nova Iorque, 1926. Entre outros, um sargento-mor. 40. Segundo estatísticas oficiais {Anuário Estatístico de Pernambuco, Recife, 1929-1930) a zona 32. Entre outros, documentos de terras. Prefaciando a "Synopsis das sismarias registradas nos livros sacrificada em Pernambuco à monocultura abrange uma área de 1.200.000 hectares com apenas existentes no Archivo da Thesouraria da Fazenda da Bahia" {Publicações do Arquivo Nacional, 138.000 cobertos com lavoura. Em palestra realizada no Rotary Clube do Recife o Sr. André Bezer­ XXVII), Alcides Bezerra salienta o interesse desses documentos para o sociólogo, o antropossociólogo ra, da empresa arrendatária do matadouro da capital pernambucana, salientou o fato de que ou o mero genealogista. Constituem, com efeito, "pedra fundamental para a história territorial bra­ 88,5% da referida zona se acham completamente incultos, enquanto 20% do total da zona, ou sileira", e no conhecimento desta deve basear-se a interpretação do nosso desenvolvimento social. 240.000 hectares, "transformados em campos de pastagem com gramíneas selecionadas, conve­ nientemente divididos em cercados, com bebedouros adequados, banheiros carrapatícidas etc, 33. Servi-me, algumas vezes, na transcrição de trechos dos livros de viagem mais conhecidos, de dão para manter um rebanho de 240.000 reses, que na base de 10% utilizável para o corte, forne­ traduções já existentes em português. Mas cotejando-as sempre com os originais, e em certos ceria 24.000 reses para o açougue [...]" {Diário de Pernambuco, 2 de abril de 1933). Do assun­ pontos discordando dos tradutores e retificando-os. Os textos dos livros de viajantes mais antigos - to pretendo me ocupar com mais detalhes, em trabalho próximo. De passagem direi que não se séculos XV, XVI, XVII, XVIII e princípios do XIX - são transcritos, quando conservados no original, compreendem os obstáculos criados, em Pernambuco, à importação de carnes congeladas do Rio com todos os seus arcaísmos. Também os textos das crônicas, tratados e documentos antigos por­ Grande do Sul e de São Paulo que viriam melhorar a qualidade da alimentação e baratear-lhe o tugueses e brasileiros. Dos livros considerados fontes principais, vão indicadas as páginas de que preço, enquanto não se dá melhor destino, do ponto de vista do bem-estar geral, as terras sacrificadas aparecem citações. à monocultura latifundiária. A não ser que os governos assim procedam sob a influência dos 34. Cartas jesuüicas (1550-1568), Rio de Janeiro, 1887, p. 41. chamados "interesses inconfessáveis".

35. Joseph de Anchieta, informações e fragmentos históricos, Rio de Janeiro, 1886, p. 37. 41. British andforeign statepapers (Londres), 1825-1841, e Parliamentary papers; (Londres), 36. Possuo um que foi de Gerôncio Dias de Arruda Falcão, por algum tempo senhor do engenho especialmente Reports from committees sugar and coffee, planting, house of commons, Session Noruega, e grande gourmet. Sentado em uma cadeira de balanço, o velho Gerôncio seguia às 1847-1848. vezes o preparo dos guisados ou das sobremesas mais finas. Livro de modinhas, possuo também um: foi do meu tio-avô Cícero Brasileiro de Melo.

37. Entre outros, o de Adrien Delpech, Roman brésilien, e o de Saint-Martial, Au Brésil; também o de Mme. Julie Delafage-Breffier, LesPortugaisdAmérique (souvenirs historiques de la guerre du Brésil en 1635), Paris, 1847.0 Sr. Agrippino Grieco, em artigo de crítica a este ensaio, lembrou o romance do espanhol Juan Valera, Gênio y figura, "onde há cenas das mais sugestivas sobre o Rio dos meados do Segundo Império."

38. Entre os álbuns destacam-se o Álbum brésilien (águas-tintas) de Ludwig & Briggs sobre o Rio de Janeiro t Memória de Pernambuco (lit. de F. H. Carls e desenhos de L. Schlappriz). Aquarelas e gravuras soltas existem várias, salientando-se as da Brasiliana Oliveira Lima, hoje na Universida­ de Católica, em Washington; as do antigo Museu Baltar, por iniciativa feliz do ex-governador Estácio Coimbra adquiridas para o Museu do Estado de Pernambuco, organizado por Aníbal Fernandes; as do Museu Histórico e as da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. Também apre­ I I Características gerais da colonização portuguesa do Brasil: formação de uma sociedade agrária, escravocrata e híbrida

C^uando em 1532 se organizou eco­ nômica e civilmente a sociedade brasileira, já foi depois de um século inteiro de contato dos portugueses com os trópicos; de demonstrada na índia e na África sua aptidão para a vida tropical. Mudado em São Vicente e em Pernambuco o rumo da colonização portuguesa do fá­ cil, mercantil, para o agrícola; organizada a sociedade colonial sobre base mais sólida e em condições mais estáveis que na índia ou nas feitorias africanas, no Brasil é que se realizaria a prova definitiva da­ Visita a uma fazenda, J.-B. Debret, Voyage Pittoresque et Historique au Brésil, 1834, v. 2. quela aptidão. A base, a agricultura; as condições, a estabilidade pa­ pr. 10. Acervo do Instituto de Estudos Brasileiros da USP triarcal da família, a regularidade do trabalho por meio da escravidão, a união do português com a mulher índia, incorporada assim à cultura econômica e social do invasor. Formou-se na América tropical uma sociedade agrária na estrutu­ ra, escravocrata na técnica de exploração econômica, híbrida de índio - e mais tarde de negro - na composição. Sociedade que se desenvol­ veria defendida menos pela consciência de raça. quase nenhuma no português cosmopolita e plástico, do que pelo exclusivismo religioso desdobrado em sistema de profilaxia social e política. Menos pela ação oficial do que pelo braço e pela espada do particular. Mas tudo isso subordinado ao espírito político e de realismo econômico e jurí­ dico que aqui. como em Portugal.1 foi desde o primeiro século ele- mento decisivo de formação nacional; sendo que entre nós através cristãos e por estes, séculos mais tarde, mandados reconduzir à Galiza das grandes famílias proprietárias e autônomas: senhores de engenho às costas dos mouros. com altar e capelão dentro de casa e índios de arco e flecha ou negros Quanto ao fundo considerado autóctone de população tão move­ armados de arcabuzes às suas ordens; donos de terras e de escravos diça, uma persistente massa de dólicos morenos,5 cuja cor a África que dos senados de Câmara falaram sempre grosso aos representan­ árabe e mesmo negra, alagando de gente sua largos trechos da Penín­ tes del-Rei e pela voz liberal dos filhos padres ou doutores clamaram sula, mais de uma vez veio avivar de pardo ou de preto. Era como se contra toda espécie de abusos da metrópole e da própria Madre Igre­ os sentisse intimamente seus por afinidades remotas apenas empa- ja. Bem diversos dos criollos ricos e dos bacharéis letrados da América lidecidas; e não os quisesse desvanecidos sob as camadas sobrepos­ espanhola - por longo tempo inermes à sombra dominadora das ca­ tas de nórdicos nem transmudados pela sucessão de culturas euro- tedrais e dos palácios dos vice-reis, ou constituídos em cabildos que peizantes. Toda a invasão de celtas, germanos, romanos, normandos em geral só faziam servir de mangação aos reinóis todo-poderosos. - o anglo-escandinavo, o H. Europaeus L., o feudalismo, o cristianis­ A singular predisposição do português para a colonização híbrida mo, o direito romano, a monogamia. Que tudo isso sofreu restrição e escravocrata dos trópicos, explica-a em grande parte o seu passado ou refração em um Portugal influenciado pela África, condicionado étnico, ou antes, cultural, de povo indefinido entre a Europa e a Áfri­ pelo clima africano, solapado pela mística sensual do islamismo. ca. Nem intransigentemente de uma nem de outra, mas das duas. A "Em vão se procuraria um tipo físico unificado", notava há anos influência africana fervendo sob a européia e dando um acre requei- em Portugal o conde Hermann de Keyserling. O que ele observou me à vida sexual, à alimentação, à religião; o sangue mouro ou negro foram elementos os mais diversos e mais opostos, "figuras com ar correndo por uma grande população brancarana quando não predo­ escandinavo e negróides", vivendo no que lhe pareceu "união pro­ minando em regiões ainda hoje de gente escura;2 o ar da África, um ar funda". "A raça não tem aqui papel decisivo", concluiu o arguto ob­ quente, oleoso, amolecendo nas instituições e nas formas de cultura servador.6 E já da sociedade moçárabe escrevera Alexandre Hercula- as durezas germânicas; corrompendo a rigidez moral e doutrinária da no: "População indecisa no meio dos dois bandos contendores Igreja medieval; tirando os ossos ao cristianismo, ao feudalismo, à [nazarenos e maometanos], meia cristã, meia sarracena, e que em arquitetura gótica, à disciplina canônica, ao direito visigótico, ao la­ ambos contava parentes, amigos, simpatias de crenças ou de costu­ tim, ao próprio caráter do povo. A Europa reinando mas sem gover­ mes".7 nar; governando antes a África. Esse retrato do Portugal histórico, traçado por Herculano, talvez Corrigindo até certo ponto tão grande influência do clima amo- possa estender-se ao pré e pró-histórico; o qual nos vai sendo revela­ lecedor, atuaram sobre o caráter português, entesando-o, as condi­ do pela arqueologia e pela antropologia tão dúbio e indeciso quanto ções sempre tensas e vibráteis de contato humano entre a Europa e a o histórico. Antes dos árabes e berberes: capsienses, libifenícios, ele­ 8 África; o constante estado de guerra (que entretanto não excluiu nun­ mentos africanos mais remotos. O H. Taganus. Ondas semitas e ne­ ca a miscigenação nem a atração sexual entre as duas raças, muito gras, ou negróides, batendo-se com as do Norte. menos o intercurso entre as duas culturas);3 a atividade guerreira, que A indecisão étnica e cultural entre a Europa e a África parece ter se compensava do intenso esforço militar relaxando-se, após a vitória, sido sempre a mesma em Portugal como em outros trechos da Penín­ sobre o trabalho agrícola e industrial dos cativos de guerra, sobre a sula. Espécie de bicontinentalidade que correspondesse em popula­ escravidão ou a semi-escravidão dos vencidos. Hegemonias e subser- ção assim vaga e incerta à bissexualidade no indivíduo. E gente mais viências essas que não se perpetuavam; revezavam-se4 tal como no flutuante que a portuguesa, dificilmente se imagina; o bambo equilí­ brio de antagonismos reflete-se em tudo o que é seu, dando-lhe ao incidente dos sinos de Santiago de Compostela. Os quais teriam sido comportamento uma fácil e frouxa flexibilidade, às vezes perturbada mandados levar pelos mouros à mesquita de Córdoba às costas dos por dolorosas hesitações,9 e ao caráter uma especial riqueza de apti- does, ainda que não raro incoerentes e difíceis de se conciliarem para anguloso castelhano, de um perfil mais definidamente gótico e euro­ a expressão útil ou para a iniciativa prática. peu.13 O caráter português - comparação do mesmo Bell - é como um Ferraz de Macedo, a quem a sensibilidade patriótica de seus rio que vai correndo muito calmo e de repente se precipita em quedas conterrâneos não perdoa o amargo de algumas conclusões justas, entre de água: daí passar do "fatalismo" a "rompantes de esforço heróico"; muitas de um grosso exagero, procurando definir o tipo normal portu­ da "apatia" a "explosões de energia na vida particular e a revoluções guês, deu logo com a dificuldade fundamental: a falta de um tipo dinâ­ na vida pública"; da "docilidade" a "ímpetos de arrogância e cruelda­ mico determinado. O que encontrou foram hábitos, aspirações, interes­ de"; da "indiferença" a "fugitivos entusiasmos", "amor ao progresso", ses, índoles, vícios, virtudes variadíssimas e com origens diversas - "dinamismo"... É um caráter todo de arrojos súbitos que entre um étnicas, dizia ele; culturais, talvez dissesse mais cientificamente. ímpeto e outro se compraz em certa indolência voluptuosa muito ori­ Entre outros, verificou Ferraz de Macedo no português os seguin­ ental, na saudade, no fado, no lausperene. "Místicos e poéticos" - são tes característicos desencontrados: a "genesia violenta" e o "gosto pelas ainda os portugueses segundo Bell (o inglês que depois de Beckford anedotas de fundo erótico", "o brio, a franqueza, a lealdade"; "a pou­ melhor tem sentido e compreendido a gente e a vida de Portugal), ca iniciativa individual", "o patriotismo vibrante"; "a imprevidência", "com intervalos de intenso utilitarismo [...] caindo dos sonhos vãos "a inteligência"; "o fatalismo", "a primorosa aptidão para imitar".10 numa verdadeira volúpia de proveito imediato; das alturas da alegria Mas o luxo de antagonismos no caráter português, surpreendeu- na tristeza, no desespero, no suicídio; da vaidade no pessimismo [...] o magnificamente Eça de Queirós. O seu Gonçalo, d'A ilustre casa de alternando a indolência com o amor da aventura e do esporte."14 Ramires, é mais que a síntese do fidalgo11 - é a síntese do português O que se sente em todo esse desadoro de antagonismos são as de não importa que classe ou condição. Que todo ele é e tem sido duas culturas, a européia e a africana, a católica e a maometana, a desde Ceuta, da índia, da descoberta e da colonização do Brasil como dinâmica e a fatalista encontrando-se no português, fazendo dele, de o Gonçalo Ramires: "cheio de fogachos e entusiasmos que acabam sua vida, de sua moral, de sua economia, de sua arte um regime de logo em fumo" mas persistente e duro "quando se fila à sua idéia"; de influências que se alternam, se equilibram ou se hostilizam. Tomando "uma imaginação que o leva [...] a exagerar até a mentira" e ao mes­ em conta tais antagonismos de cultura, a flexibilidade, a indecisão, o mo tempo de um "espírito prático sempre atento à realidade útil"; de equilíbrio ou a desarmonia deles resultantes, é que bem se compre­ uma "vaidade", de "uns escrúpulos de honra", de "um gosto de se ende o especialíssimo caráter que tomou a colonização do Brasil, a arrebicar, de luzir" que vão quase ao ridículo, mas também de uma formação sui generis da sociedade brasileira, igualmente equilibrada grande "simplicidade"; melancólico ao mesmo tempo que "palrador, nos seus começos e ainda hoje sobre antagonismos. sociável"; generoso, desleixado, trapalhão nos negócios; vivo e fácil Vários antecedentes dentro desse de ordem geral - biconti- em "compreender as coisas": sempre à espera de "algum milagre, do nentalidade, ou antes, dualismo de cultura e de raça - impõem-se à velho Ourique que sanará todas as dificuldades"; "desconfiado de si nossa atenção em particular: um dos quais a presença, entre os ele­ mesmo, acovardado, encolhido até que um dia se decide e aparece mentos que se juntaram para formar a nação portuguesa, dos de ori­ 12 um herói". Extremos desencontrados de introversão e extroversão gem ou estoque semita,15 gente de uma mobilidade, de uma ou alternativas de sintonia e esquizoidia, como se diria em moderna plasticidade, de uma adaptabilidade tanto social como física que facil­ linguagem científica. mente se surpreendem no português navegador e cosmopolita do Considerando no seu todo, o caráter português dá-nos principal­ século XV.16 Hereditariamente predisposto à vida nos trópicos por um mente a idéia de "vago impreciso", pensa o crítico e historiador inglês longo habitai tropical, o elemento semita, móvel e adaptável como Aubrey Bell; e essa imprecisão é que permite ao português reunir nenhum outro, terá dado ao colonizador português do Brasil algumas dentro de si tantos contrastes impossíveis de se ajustarem no duro e das suas principais condições físicas e psíquicas de êxito e de resis- tência. Entre outras, o realismo econômico que desde cedo corrigiu ram-se da deficiência em massa ou volume humano para a colonização os excessos de espírito militar e religioso na formação brasileira. em larga escala e sobre áreas extensíssimas. Para tal processo prepara­ A mobilidade foi um dos segredos da vitória portuguesa; sem ela ra-os a íntima convivência, o intercurso social e sexual com raças de não se explicaria ter um Portugal quase sem gente,17 um pessoalzinho cor, invasora ou vizinhas da Península, uma delas, a de fé maometana, ralo, insignificante em número - sobejo de quanta epidemia, fome e em condições superiores, técnicas e de cultura intelectual e artística, à sobretudo guerra afligiu a Península na Idade Média - conseguido sal­ dos cristãos louros.19 picar virilmente do seu resto de sangue e de cultura populações tão O longo contato com os sarracenos deixara idealizada entre os diversas e a tão grandes distâncias umas das outras: na Ásia, na África, portugueses a figura da moura-encantada, tipo delicioso de mulher na América, em numerosas ilhas e arquipélagos. A escassez de capital- morena e de olhos pretos,20 envolta em misticismo sexual - sempre homem, supriram-na os portugueses com extremos de mobilidade e de encarnado,21 sempre penteando os cabelos ou banhando-se nos miscibilidade: dominando espaços enormes e onde quer que pousas­ rios ou nas águas das fontes mal-assombradas22 - que os colonizado­ sem, na África ou na América, emprenhando mulheres e fazendo filhos, res vieram encontrar parecido, quase igual, entre as índias nuas e de em uma atividade genésica que tanto tinha de violentamente instintiva cabelos soltos do Brasil. Que estas tinham também os olhos e os da parte do indivíduo quanto de política, de calculada, de estimulada cabelos pretos, o corpo pardo pintado de vermelho,23 e, tanto quanto por evidentes razões econômicas e políticas da parte do Estado. as nereidas mouriscas, eram doidas por um banho de rio onde se Os indivíduos de valor, guerreiros, administradores, técnicos, eram refrescasse sua ardente nudez e por um pente para pentear o cabe­ por sua vez deslocados pela política colonial de Lisboa como peças lo.24 Além do que, eram gordas como as mouras. Apenas menos ariscas: em um tabuleiro de gamão: da Ásia para a América ou daí para a por qualquer bugiganga ou caco de espelho estavam se entregando, África, conforme conveniências de momento ou de religião. A Duarte de pernas abertas, aos "caraíbas" gulosos de mulher. Coelho, enriquecido pela experiência da índia, entrega D. João III a Em oposição à lenda da moura-encantada, mas sem alcançar nunca nova capitania de Pernambuco; seus filhos, Jorge e Duarte de o mesmo prestígio, desenvolveu-se a da moura-torta. Nesta vazou-se Albuquerque, adestrados nos combates contra os índios americanos, porventura o ciúme ou a inveja sexual da mulher loura contra a de são chamados às guerras mais ásperas na África; da Madeira vêm para cor. Ou repercutiu, talvez, o ódio religioso: o dos cristãos louros des­ os engenhos do norte do Brasil técnicos no fabrico do açúcar. Apro­ cidos do Norte contra os infiéis de pele escura. Ódio que resultaria veitam-se os navios da carreira das índias para o comércio com a mais tarde em toda a Europa na idealização do tipo louro, identifica­ colônia americana. Transportam-se da África para o trabalho agrícola do com personagens angélicas e divinas em detrimento do moreno, no Brasil nações quase inteiras de negros. Uma mobilidade espanto­ identificado com os anjos maus, com os decaídos, os malvados, os sa. O domínio imperial realizado por um número quase ridículo de traidores.25 O certo é que, no século XVI, os embaixadores mandados europeus correndo de uma para outra das quatro partes do mundo pela República de Veneza às Espanhas a fim de cumprimentarem o rei então conhecido como em um formidável jogo de quatro cantos.18 Felipe II, notaram que em Portugal algumas mulheres das classes altas Quanto à miscibilidade, nenhum povo colonizador, dos modernos, tingiam os cabelos de "cor loura" e lá na Espanha várias "arrebicavam excedeu ou sequer igualou nesse ponto aos portugueses. Foi misturan- o rosto de branco e encarnado" para "tornarem a pele, que é algum do-se gostosamente com mulheres de cor logo ao primeiro contato e tanto ou antes muito trigueira, mais alva e rosada, persuadidas de que multiplicando-se em filhos mestiços que uns milhares apenas de ma­ todas as trigueiras são feias."26 chos atrevidos conseguiram firmar-se na posse de terras vastíssimas e Pode-se, entretanto, afirmar que a mulher morena tem sido a pre­ competir com povos grandes e numerosos na extensão de domínio ferida dos portugueses para o amor, pelo menos para o amor físico. A colonial e na eficácia de ação colonizadora. A miscibilidade, mais do moda de mulher loura, limitada aliás às classes altas, terá sido antes a que a mobilidade, foi o processo pelo qual os portugueses compensa­ repercussão de influências exteriores do que a expressão de genuíno gosto nacional. Com relação ao Brasil, que o diga o ditado: "Branca belecimentos temporários. Eles têm tentado organizar, nestas regiões, 27 para casar, mulata para f..., negra para trabalhar"; ditado em que se uma sociedade permanente, de base agrícola, em que o colono viva sente, ao lado do convencialismo social da superioridade da mulher do seu próprio trabalho manual; mas em todas essas tentativas têm branca e da inferioridade da preta, a preferência sexual pela mulata. fracassado".30 Mas é Taylor,31 talvez, aquele dentre os antropólogos Aliás o nosso lirismo amoroso não revela outra tendência senão a glo- cujas conclusões se contrapõem com mais força e atualidade às de rificação da mulata, da cabocla, da morena celebrada pela beleza dos Gregory. Antes dos estudos de Taylor e de Huntington, de antro- seus olhos, pela alvura dos seus dentes, pelos seus dengues, quindins e pogeografia e antropologia cultural e dos de Dexter, de climatologia, embelegos muito mais do que as "virgens pálidas" e as "louras donzelas". já Benjamin Kidd observara quanto à aclimatação dos europeus do Estas surgem em um ou em outro soneto, em uma ou em outra modinha Norte nos trópicos: "todas as experiências nesse sentido têm sido vãs do século XVI ou XIX. Mas sem o relevo das outras. e inúteis esforços desde logo destinados a fracasso" (foredoomed to Outra circunstância ou condição favoreceu o português, tanto failuré)?2 E Mayo Smith concluíra do ponto de vista da estatística quanto a miscibilidade e a mobilidade, na conquista de terras e no aplicada à sociologia: "As nossas estatísticas não são suficientemente domínio de povos tropicais: a aclimatabilidade. exatas para indicarem ser impossível aclimatar-se permanentemente Nas condições físicas de solo e de temperatura, Portugal é antes o europeu nos trópicos, mas mostram ser isto extremamente difícil".33 África do que Europa. O chamado "clima português" de Martone, Ao contrário da aparente incapacidade dos nórdicos, é que os único na Europa, é um clima aproximado do africano. Estava assim o português predisposto pela sua mesma mesologia ao contato vitorio­ portugueses têm revelado tão notável aptidão para se aclimatarem em so com os trópicos: seu deslocamento para as regiões quentes da regiões tropicais. É certo que através de muito maior miscibilidade América não traria as graves perturbações da adaptação nem as pro­ que os outros europeus: as sociedades coloniais de formação portu­ fundas dificuldades de aclimatação experimentadas pelos coloniza­ guesa têm sido todas híbridas, umas mais, outras menos. No Brasil, dores vindos de países de clima frio. Por mais que Gregory insista28 tanto em São Paulo como em Pernambuco - os dois grandes focos de em negar ao clima tropical a tendência para produzir per se sobre o energia criadora nos primeiros séculos da colonização, os paulistas 34 europeu do Norte efeitos de degeneração, recordando ter Elkington no sentido horizontal, os pernambucanos no vertical - a sociedade verificado em 1922 na colônia holandesa de Kissav, fundada em 1783, capaz de tão notáveis iniciativas como as bandeiras, a catequese, a condições satisfatórias de salubridade e prosperidade, sem nenhuma fundação e consolidação da agricultura tropical, as guerras contra os evidência de degeneração física ("obvious evidence ofphysical degene- franceses no Maranhão e contra os holandeses em Pernambuco, foi ration") entre os colonos louros,29 grande é a massa de evidências uma sociedade constituída com pequeno número de mulheres bran­ que parecem favorecer o ponto de vista contrário: o daqueles que cas e larga e profundamente mesclada de sangue indígena. Diante do pensam revelar o nórdico fraca ou nenhuma aclimatabilidade nos que torna-se difícil, no caso do português, distinguir o que seria trópicos. O professor Oliveira Viana, desprezando com extrema par­ aclimatabilidade de colonizador branco - já de si duvidoso na sua cialidade depoimentos como os de Elkington e Gregory, aos quais pureza étnica e na sua qualidade, antes convencional que genuína de nem sequer alude, reuniu contra a pretendida capacidade de adapta­ europeu - da capacidade de mestiço, formado desde o primeiro mo­ ção dos nórdicos aos climas tropicais o testemunho de alguns dos mento pela união do adventício sem escrúpulos nem consciência de melhores especialistas modernos em assunto de climatologia e antropo- raça com mulheres da vigorosa gente da terra. geografia: Taylor, Glenn Trewarka, Huntington, Karl Sapper. Deste De qualquer modo o certo é que os portugueses triunfaram onde cita o sociólogo brasileiro expressivo juízo sobre os esforços coloni­ outros europeus falharam: de formação portuguesa é a primeira socie­ zadores dos europeus do Norte nos trópicos: "Os europeus do Norte dade moderna constituída nos trópicos com característicos nacionais não têm conseguido constituir, nos planaltos tropicais, senão esta­ e qualidades de permanência. Qualidades que no Brasil madrugaram, em vez de se retardarem como nas possessões tropicais de ingleses, o que não o indispunham, aliás, escrúpulos de raça, apenas preconcei­ franceses e holandeses. tos religiosos - foi para o português vantagem na sua obra de conquis­ Outros europeus, estes brancos, puros, dólico-louros habitantes ta e colonização dos trópicos. Vantagem para a sua melhor adaptação, de clima frio, ao primeiro contato com a América equatorial sucumbi­ senão biológica, social. riam ou perderiam a energia colonizadora, a tensão moral, a própria Semple nega aos movimentos de população européia nas regiões saúde física, mesmo a mais rija, como os puritanos colonizadores de tropicais da Ásia, Austrália, África e América, e de americana nas Fili­ Old Providence; os quais, da mesma fibra que os pioneiros da Nova pinas, o caráter de genuína expansão étnica: parece-lhe que até hoje Inglaterra, na ilha tropical se deixaram espapaçar em uns dissolutos e a colonização européia e anglo-americana dos trópicos têm sido an­ moleirões.35 tes exploração econômica ou domínio político.-41 a colonização do Não foi outro o resultado da emigração de loyalists ingleses da tipo que representam os 76 mil ingleses que dirigem por assim dizer Geórgia e de outros dos novos estados da União Americana para as de luvas e preservados de mais íntimo contato com os nativos por ilhas Bahamas - duros ingleses que o meio tropical em menos de cem profiláticos de borracha os negócios comerciais e políticos da índia. anos amolengou em "poor white trash";06 o mesmo teria provavelmen­ Abre Semple exceção para os portugueses que pela hibridização*12 te sucedido aos calvinistas franceses que no século XVI tentaram muito realizariam no Brasil obra verdadeira de colonização, vencendo a anchos e triunfantes estabelecer no Brasil uma colônia exclusivamen­ adversidade do clima. te branca e daqui se retiraram quase sem deixar traços de sua ação Embora o clima já ninguém o considere o senhor-deus-todo-po- colonizadora. Os que deixaram foi em areia de praia; ou então em deroso de antigamente, é impossível negar-se a influência que exerce recifes por onde andaram se agarrando os mais persistentes dos com­ na formação e no desenvolvimento das sociedades, senão direta, pe­ panheiros de Villegaignon antes de abandonarem definitivamente as los efeitos imediatos sobre o homem, indireta pela sua relação com a costas brasileiras.37 A estes, sim, poderia frei Vicente do Salvador ter produtividade da terra, com as fontes de nutrição, e com os recursos chamado caranguejos: limitaram-se com efeito a arranhar o litoral. de exploração econômica acessíveis ao povoador. Nem convém esquecer que os franceses, desde 1715 estabeleci­ Estão meio desacreditadas as doenças tropicais. Não se nega, dos nas ilhas Reunião e Maurício, mostram-se hoje inferiores em ener­ porém, que o clima, per se ou através de fatos sociais ou econômicos gia e eficiência aos das primeiras gerações.38 por ele condicionados, predisponha os habitantes dos países quentes Não três nem quatro, mas duas gerações apenas bastaram para a doenças raras ou desconhecidas nos países de clima frio.43 Que 44 enlanguescer os anglo-americanos que foram estabelecer-se no Havaí.39 diminua-lhes a capacidade de trabalho. Que os excite aos crimes E Semple recorda que a pesquisa realizada em 1900 pela International contra a pessoa.45 Do mesmo modo que parece demonstrado resisti­ Harvester Company of America revela o enlanguescimento da energia rem umas raças melhor do que outras a certas influências patogênicas 46 alemã no sul do Brasil, região, aliás, subtropical.40 peculiares, caráter ou intensidade, ao clima tropical. O português não: por todas aquelas felizes predisposições de raça, A importância do clima vai sendo reduzida à proporção que dele de mesologia e de cultura a que nos referimos, não só conseguiu ven­ se desassociam elementos de algum modo sensíveis ao domínio ou à cer as condições de clima e de solo desfavoráveis ao estabelecimento influência modificadora do homem. Parece demonstrado, por experiên­ de europeus nos trópicos, como suprir a extrema penúria de gente cias recentes, que nos é possível modificar pela drenagem a natureza branca para a tarefa colonizadora unindo-se com mulher de cor. Pelo de certos solos, influenciando assim as fontes de umidade para a intercurso com mulher índia ou negra multiplicou-se o colonizador em atmosfera; alterar a temperatura pela irrigação de terras secas; que­ vigorosa e dúctil população mestiça, ainda mais adaptável do que ele brar a força dos ventos ou mudar-lhes a direção por meio de grandes puro ao clima tropical. A falta de gente, que o afligia, mais do que a massas de arvoredos convenientemente plantadas. Isso sem falar nas qualquer outro colonizador, forçando-o à imediata miscigenação - contra sucessivas vitórias que vêm sendo obtidas sobre as doenças tropicais, amansadas e quando não subjugadas pela higiene ou pela engenharia alimentação do seu país de origem. A falta desses recursos como a sanitária. diferença nas condições meteorológicas e geológicas em que teve de De modo que o homem já não é o antigo mané-gostoso de carne processar-se o trabalho agrícola realizado pelo negro mas dirigido abrindo os braços ou deixando-os cair, ao aperto do calor ou do frio. pelo europeu dá à obra de colonização dos portugueses um caráter Sua capacidade de trabalho, sua eficiência econômica, seu metabolis­ de obra criadora, original, a que não pode aspirar nem a dos ingleses 49 mo alteram-se menos onde a higiene e a engenharia sanitária, a dieta, na América do Norte nem a dos espanhóis na Argentina. a adaptação do vestuário e da habitação às novas circunstâncias criam- Embora mais aproximado o português que qualquer colonizador lhe condições de vida de acordo com o físico e a temperatura da europeu da América do clima e das condições tropicais, foi, ainda região. Os próprios sistemas de comunicação moderna - fáceis, rápi­ assim, uma rude mudança a que ele sofreu transportando-se ao Bra­ dos e higiênicos - fazem mudar de figura um problema outrora im­ sil. Dentro das novas circunstâncias de vida física, comprometeu-se a portantíssimo ligado às condições físicas de solo e de clima: o da sua vida econômica e social. qualidade e até certo ponto o da quantidade de recursos de alimenta­ Tudo era aqui desequilíbrio. Grandes excessos e grandes defi­ ção ao dispor de cada povo. Ward salienta a importância do desen­ ciências, as da nova terra. O solo, excetuadas as manchas de terra volvimento da navegação a vapor, mais rápida e regular que a nave­ preta ou roxa, de excepcional fertilidade, estava longe de ser o bom gação à vela: veio beneficiar grandemente as populações tropicais.47 de se plantar nele tudo o que se quisesse, do entusiasmo do primeiro O mesmo pode dizer-se com relação aos processos de preservação e cronista. Em grande parte rebelde à disciplina agrícola. Áspero, refrigeração dos alimentos. Por meio desses processos e da moderna intratável, impermeável. Os rios, outros inimigos da regularidade do técnica de transporte, o homem vem triunfando sobre a dependência esforço agrícola e da estabilidade da vida de família. Enchentes mor­ absoluta das fontes de nutrição regionais a que estavam outrora sujei­ tíferas e secas esterilizantes - tal o regime de suas águas. E pelas terras tas as populações coloniais dos trópicos. e matagais de tão difícil cultura como pelos rios quase impossíveis de Neste ensaio, entretanto, o clima a considerar é o cru e quase todo- ser aproveitados economicamente na lavoura, na indústria ou no trans­ poderoso aqui encontrado pelo português em 1500: clima irregular, porte regular de produtos agrícolas - viveiros de larvas, multidões de palustre, perturbador do sistema digestivo; clima na sua relação com o insetos e de vermes nocivos ao homem. solo desfavorável ao homem agrícola e particularmente ao europeu, Particularmente ao homem agrícola, a quem por toda parte afli­ por não permitir nem a prática de sua lavoura tradicional regulada gem mal ele inicia as plantações, as "formigas que fazem muito dano" pelas quatro estações do ano nem a cultura vantajosa daquelas plantas à lavoura; a "lagarta das roças"; as pragas que os feiticeiros índios 50 alimentares a que ele estava desde há muitos séculos habituado.48 desafiam os padres que destruam com os seus sinais e as suas rezas. O português no Brasil teve de mudar quase radicalmente o seu Contrastem-se essas condições com as encontradas pelos ingleses sistema de alimentação, cuja base se deslocou, com sensível déficit, na América do Norte, a começar pela temperatura: substancialmente a do trigo para a mandioca; e o seu sistema de lavoura, que as condi­ mesma que a da Europa Ocidental (média anual 56° F), considerada a ções físicas e químicas de solo, tanto quanto as de temperatura ou de mais favorável ao progresso econômico e à civilização à européia. De clima, não permitiram fosse o mesmo doce trabalho das terras portu­ modo que não parece tocar ao caso brasileiro a generalização do guesas. A esse respeito o colonizador inglês dos Estados Unidos le­ professor Bogart sobre o povo por ele vagamente chamado "raça vou sobre o português do Brasil decidida vantagem, ali encontrando latino-americana". O qual nem por se achar rodeado de grandes "ri­ condições de vida física e fontes de nutrição semelhantes às da mãe- quezas naturais" se teria elevado às mesmas condições de progresso pátria. No Brasil verificaram-se necessariamente no povoador euro­ agrícola e industrial que os anglo-americanos. Essa incapacidade atri­ peu desequilíbrios de morfologia tanto quanto de eficiência pela falta bui o economista a ser a tal "raça latino-americana" "a weak ease em que se encontrou de súbito dos mesmos recursos químicos de loving race" e não "« virile, energeticpeople" como os anglo-america- nos. Estes, sim, souberam desenvolver os recursos naturais à sua dis­ O colonizador português do Brasil foi o primeiro entre os coloni­ posição: "devoted themselves to the exploitation of the natural resources zadores modernos a deslocar a base da colonização tropical da pura 51 writh wonderful sucess" . Mas foi esse mesmo povo tão viril e enérgi­ extração de riqueza mineral, vegetal ou animal - o ouro, a prata, a co que fracassou em Old Providence e nas Bahamas. madeira, o âmbar, o marfim - para a de criação local de riqueza. O português vinha encontrar na América tropical uma terra de Ainda que riqueza - a criada por eles sob a pressão das circunstâncias vida aparentemente fácil; na verdade dificílima para quem quisesse americanas - à custa do trabalho escravo: tocada, portanto, daquela aqui organizar qualquer forma permanente ou adiantada de econo­ perversão de instinto econômico que cedo desviou o português da mia e de sociedade. Se é certo que nos países de clima quente o atividade de produzir valores para a de explorá-los, transportá-los ou homem pode viver sem esforço da abundância de produtos espontâ­ adquiri-los. neos, convém, por outro lado, não esquecer que igualmente exube­ Semelhante deslocamento, embora imperfeitamente realizado, rantes são, nesses países, as formas perniciosas de vida vegetal e importou em uma nova fase e em um novo tipo de colonização: a animal, inimigas de toda cultura agrícola organizada e de todo traba­ "colônia de plantação", caraterizada pela base agrícola e pela perma­ lho regular e sistemático. nência do colono na terra, em vez do seu fortuito contato com o meio No homem e nas sementes que ele planta, nas casas que edifica, e com a gente nativa. No Brasil iniciaram os portugueses a coloniza­ nos animais que cria para seu uso ou sua subsistência, nos arquivos e ção em larga escala dos trópicos por uma técnica econômica e por bibliotecas que organiza para sua cultura intelectual, nos produtos uma política social inteiramente novas: apenas esboçadas nas ilhas úteis ou de beleza que saem de suas mãos - em tudo se metem larvas, subtropicais do Atlântico. A primeira: a utilização e o desenvolvimen­ vermes^ insetos, roendo, esfuracando, corrompendo. Semente, fruta, to de riqueza vegetal pelo capital e pelo esforço do particular; a agri­ madeira, papel, carne, músculos, vasos linfáticos, intestinos, o branco cultura; a sesmaria; a grande lavoura escravocrata. A segunda: o apro­ do olho, os dedos dos pés, tudo fica à mercê de inimigos terríveis. veitamento da gente nativa, principalmente da mulher, não só como Foi dentro de condições físicas assim adversas que se exerceu o instrumento de trabalho mas como elemento de formação da família. esforço civilizador dos portugueses nos trópicos. Tivessem sido aque­ Semelhante política foi bem diversa da de extermínio ou segregação las condições as fáceis e doces de que falam os panegiristas da nossa seguida por largo tempo no México e no Peru pelos espanhóis, ex­ natureza e teriam razão os sociólogos e economistas que, contrastan­ ploradores de minas, e sempre e desbragadamente na América do do o difícil triunfo lusitano no Brasil com o rápido e sensacional dos Norte pelos ingleses. ingleses naquela parte da América de clima estimulante, flora equili­ A sociedade colonial no Brasil, principalmente em Pernambuco e brada, fauna antes auxiliar que inimiga do homem, condições agroló- no Recôncavo da Bahia, desenvolveu-se patriarcal e aristocraticamen­ gicas e geológicas favoráveis, onde hoje esplende a formidável civili­ te à sombra das grandes plantações de açúcar, não em grupos a esmo zação dos Estados Unidos, concluem pela superioridade do colonizador e instáveis; em casas-grandes de taipa ou de pedra e cal, não em louro sobre o moreno. palhoças de aventureiros. Observa Oliveira Martins que a população colonial no Brasil, "especialmente ao norte, constituiu-se aristocrati­ Antes de vitoriosa a colonização portuguesa do Brasil, não se camente, isto é, as casas de Portugal enviaram ramos para o ultramar; compreendia outro tipo de domínio europeu nas regiões tropicais desde todo o princípio a colônia apresentou um aspecto diverso das que não fosse o da exploração comercial através de feitorias ou da turbulentas imigrações dos castelhanos na América Central e Ociden­ pura extração de riqueza mineral. Em nenhum dos casos se conside­ tal".52 E antes dele já escrevera Southey que nas casas de engenho de rara a sério o prolongamento da vida européia ou a adaptação dos Pernambuco encontravam-se, nos primeiros séculos de colonização, seus valores morais e materiais a meios e climas tão diversos; tão as decências e o conforto que debalde se procurariam entre as popu­ mórbidos e dissolventes. lações do Paraguai e do Prata.53 No Brasil, como nas colônias inglesas de tabaco, de algodão e de faz sombra, através da atividade, às vezes hostil ao familismo, dos arroz da América do Norte, as grandes plantações foram obra não do padres da Companhia de Jesus. Estado colonizador, sempre somítico em Portugal, mas de corajosa A família, não o indivíduo, nem tampouco o Estado nem nenhu­ iniciativa particular. Esta é que nos trouxe pela mão de um Martim ma companhia de comércio, é desde o século XVI o grande fator Afonso, ao Sul, e principalmente de um Duarte Coelho, ao Norte,M os colonizador no Brasil, a unidade produtiva, o capital que desbrava o primeiros colonos sólidos, as primeiras mães de família, as primeiras solo, instala as fazendas, compra escravos, bois, ferramentas, a força sementes, o primeiro gado, os primeiros animais de transporte, plan­ social que se desdobra em política, constituindo-se na aristocracia tas alimentares, instrumentos agrícolas, mecânicos judeus para as fá­ colonial mais poderosa da América. Sobre ela o rei de Portugal quase bricas de açúcar, escravos africanos para o trabalho de eito e de reina sem governar. Os senados de Câmara, expressões desse familismo bagaceira (de que logo se mostrariam incapazes os indígenas molengos político, cedo limitam o poder dos reis e mais tarde o próprio imperia­ e inconstantes). Foi a iniciativa particular que, concorrendo às sesmarias, lismo ou, antes, parasitismo econômico, que procura estender do reino dispôs-se a vir povoar e defender militarmente, como era exigência às colônias os seus tentáculos absorventes. real, as muitas léguas de terra em bruto que o trabalho negro fecun­ A colonização por indivíduos - soldados de fortuna, aventurei­ daria. Como Payne salienta, na sua History of european colonies, os ros, degredados, cristãos-novos fugidos à perseguição religiosa, náu­ portugueses colonizadores do Brasil foram os primeiros europeus a fragos, traficantes de escravos, de papagaios e de madeira - quase verdadeiramente se estabelecerem em colônias, vendendo para esse não deixou traço na plástica econômica do Brasil. Ficou tão no raso, fim quanto possuíam em seu país de origem e transportando-se com tão à superfície e durou tão pouco que política e economicamente a família e cabedais para os trópicos."" esse povoamento irregular e à-toa não chegou a definir-se em sistema Leroy-Beaulieu% assinala como uma das vantagens da coloniza­ colonizador. ção portuguesa da América tropical, pelo menos, diz ele, nos dois O seu aspecto puramente genético não deve entretanto ser perdi­ primeiros séculos, "a ausência completa de um sistema regular e com­ do de vista pelo historiador da sociedade brasileira. Sob esse critério plicado de administração", a "liberdade de ação" ("la liberte d'action há mesmo quem o considere "tara étnica inicial" e surpreenda "entre que Von trouvait dam cepays peu gouverné") característica do come­ traços da fisionomia coletiva do povo brasileiro, inequívocos vestígios ço da vida brasileira. "L'organisation coloniale ne precede pas, elle dos estigmas hereditários, impressos por aqueles patriarcas pouco suivitle développement de la colonisation", observa o economista fran­ recomendáveis da nacionalidade." De Azevedo Amaral (de quem é cês no seu estudo sobre a colonização moderna. essa observação) aceitamos, sobre o período em apreço, duas genera­ E Ruediger Bilden escreve, com admirável senso crítico, que no lizações que nos parecem caracterizá-lo com toda a exatidão: uma, Brasil a colonização particular, muito mais que a ação oficial, promoveu que foi pela sua "heterogeneidade racial" um período, não português, a mistura de raças, a agricultura latifundiária e a escravidão, tornando mas promíscuo, o cunho português só se imprimindo sobre a confu­ possível, sobre tais alicerces, a fundação e o desenvolvimento de gran­ são de etnias pelo predomínio do idioma; outra, que constitui uma de e estável colônia agrícola nos trópicos. Isto além de nos ter alargado espécie de "pré-história nacional". "Eliminar os primeiros cinqüenta grandemente para o oeste o território, o que teria sido impossível à anos", escreve Azevedo Amaral, "durante os quais à revelia de qual­ ação oficial cerceada por compromissos políticos internacionais."'7 quer supervisão política e fora mesmo da civilização, o Brasil recebeu A partir de 1532, a colonização portuguesa do Brasil, do mesmo os primeiros aluviões complexos de povoadores, eqüivale a suprimir modo que a inglesa da América do Norte e ao contrário da espanhola um elemento básico da formação nacional, cuja influência, projetada e da francesa nas duas Américas, caracteriza-se pelo domínio quase pelos séculos seguintes, podemos induzir seguramente de fatos posi­ exclusivo da família rural ou semi-rural. Domínio a que só o da Igreja tivos, que a moderna pesquisa biológica demonstra suficientemente. Se quisermos, qualifiquemos esse período, em uma categoria à parte, que fossem dadas "mais garantias aos refugiados nesse coito"; que no

58 foral de Azurara a "imunidade chegava ao ponto de se punir grave­ de pré-história nacional." mente quem perseguisse até dentro da vila o criminoso fugitivo."65 Onde Azevedo Amaral nos parece lamentavelmente exagerado é Tem-se a impressão de que os lugares mal povoados do reino dispu­ em considerar todos aqueles povoadores (sobre os quais reconhece tavam a concessão do privilégio do coito; e a gente que açoitavam ser "tão escassa e precária [...] a informação acessível") uns "tarados, eram, com o grande número de servos fugidos, os celerados de crime criminosos e semiloucos."59 Refere-se principalmente aos degredados; de morte e de estupro; vindo para o Brasil antes os autores de delitos não há, entretanto, fundamentos nem motivos para duvidar de que leves ou de crimes imaginários que a perspectiva criminal portuguesa alguns fossem gente sã, degredada pelas ridicularias por que então se da época deformava em atentados horríveis, do que mesmo os crimi­ exilavam súditos, dos melhores, do reino para os ermos. nosos de fato. Estes, entretanto, devem ter vindo em número não de Era estreitíssimo o critério que ainda nos séculos XV e XVI orien­ todo insignificante para a colônia americana: de outro modo, deles tava entre os portugueses a jurisprudência criminal. No seu direito não se teria ocupado tão veementemente o donatário Duarte Coelho penal o misticismo, ainda quente dos ódios de guerra contra os mouros, em uma de suas muitas cartas de administrador severo e escrupuloso, dava uma estranha proporção aos delitos. Carlos Malheiros Dias afir­ rogando a el-Rei que lhe não mandasse mais dos tais degredados: ma que "não existia na legislação coeva código de severidade compa­ pois eram piores que peçonha.66 rável ao Livro V das Ordenações Manuelinas." E acrescenta: "cerca de duzentos delitos eram nele punidos com degredo".60 É possível que se degredassem de propósito para o Brasil, visan­ do ao interesse genético ou de povoamento, indivíduos que sabemos A lei de 7 de janeiro de 1453, de D. Dinis, diz-nos o general terem sido para cá expatriados por irregularidades ou excessos na sua Morais Sarmento, que "mandava tirar a língua pelo pescoço e quei­ vida sexual: por abraçar e beijar, por usar de feitiçaria para querer mar vivos os que descriam de Deus ou dirigiam doestos a Deus ou bem ou mal, por bestialidade, molície, alcovitice.67 A ermos tão mal aos Santos"; e por usar de feitiçarias "per que uma pessoa queira bem povoados, salpicados, apenas, de gente branca, convinham superexci- ou mal a outra...",61 como por outros crimes místicos ou imaginários, tados sexuais que aqui exercessem uma atividade genésica acima da era o português nos séculos XVI e XVII "degredado para sempre para comum, proveitosa talvez, nos seus resultados, aos interesses políti­ o Brasil".62 Em um país de formação antes religiosa do que etnocêntrica, cos e econômicos de Portugal no Brasil. eram esses os grandes crimes e bem diversa da moderna, ou da dos países de formação menos religiosa, a perspectiva criminal. Atraídos pelas possibilidades de uma vida livre, inteiramente sol­ Enquanto quem dirigisse doestos aos santos tinha a língua tirada ta, no meio de muita mulher nua, aqui se estabeleceram por gosto ou pelo pescoço e quem fizesse feitiçaria amorosa era degredado para os vontade própria muitos europeus do tipo que Paulo Prado retrata em 68 ermos da África ou da América; pelo crime de matar o próximo, de traços de forte realismo. Garanhões desbragados. desonrar-lhe a mulher, de estuprar-lhe a filha, o delinqüente não ficava, Outros, como os grumetes que fugiram da armada de Cabral su- muitas vezes, sujeito a penas mais severas que a de "pagar de multa mindo-se pelos matos, aqui se teriam deixado ficar por puro gosto de 69 uma galinha" ou a de "pagar mil e quinhentos módios".63 Contanto que aventura ou "afoiteza de adolescência": e as ligações destes, de muitos fosse acoitar-se a um dos numerosos "coitos de homiziados". dos degredados, de "intérpretes" normandos, de náufragos, de cristãos- Não faziam esses coitos mistério de sua função protetora de ho­ novos; as ligações de todos esses europeus, tantos deles na flor da idade e no viço da melhor saúde, gente nova, machos sãos e vigorosos, micidas, adúlteros e servos fugidos, antes proclamavam-na aberta­ "aventureiros moços e ardentes, em plena força","0 com mulheres gen- mente pela voz dos forais. "Não se julgue", diz Gama Barros, "que as tias, também limpas e sãs, nem sempre terão sido dos tais "conúbios terras onde o soberano decretava que os criminosos ficassem imunes,

6 disgênicos" de que fala Azevedo Amaral. Ao contrário. Tais uniões de­ consideravam desonra para elas a concessão de tal privilégio." ' E o vem ter agido como "verdadeiro processo de seleção sexual",71 dada a professor Mendes Correia informa-nos que Sabugal em 1369 pedia liberdade que tinha o europeu de escolher mulher entre dezenas de bastardos e dependentes em torno dos patriarcas, mais femeeiros que índias. De semelhante intercurso sexual só podem ter resultado bons os de lá e um pouco mais soltos, talvez, na sua moral sexual. animais, ainda que maus cristãos ou mesmo más pessoas. A nossa verdadeira formação social se processa de 1532 em dian­ Junte-se às vantagens, já apontadas, do português do século XV te, tendo a família rural ou semi-rural por unidade, quer através de sobre os povos colonizadores seus contemporâneos, a da sua moral gente casada vinda do reino, quer das famílias aqui constituídas pela sexual, a moçárabe, a católica amaciada pelo contato com a maometana, união de colonos com mulheres caboclas ou com moças órfãs ou e mais frouxa, mais relassa que a dos homens do Norte. Nem era mesmo à-toa, mandadas vir de Portugal pelos padres casamenteiros. entre eles a religião o mesmo duro e rígido sistema que entre os Vivo e absorvente órgão da formação social brasileira, a família povos do Norte reformado e da própria Castela dramaticamente cató­ colonial reuniu, sobre a base econômica da riqueza agrícola e do lica, mas uma liturgia antes social que religiosa, um doce cristianismo trabalho escravo, uma variedade de funções sociais e econômicas. lírico, com muitas reminiscências fálicas e animistas das religiões pa­ Inclusive, como já insinuamos, a do mando político: o oligarquismo gas: os santos e os anjos só faltando tornar-se carne e descer dos ou nepotismo, que aqui madrugou, chocando-se ainda em meados altares nos dias de festa para se divertirem com o povo; os bois en­ do século XVI com o clericalismo dos padres da Companhia.72 Em trando pelas igrejas para ser benzidos pelos padres; as mães ninando oposição aos interesses da sociedade colonial, queriam os padres fundar os filhinhos com as mesmas cantigas de louvar o Menino-Deus; as no Brasil uma santa república de "índios domesticados para Jesus" mulheres estéreis indo esfregar-se, de saia levantada, nas pernas de como os do Paraguai; seráficos caboclos que só obedecessem aos São Gonçalo do Amarante; os maridos cismados de infidelidade con­ ministros do Senhor e só trabalhassem nas suas hortas e roçados. jugai indo interrogar os "rochedos dos cornudos" e as moças casadouras Nenhuma individualidade nem autonomia pessoal ou de família. Fora os "rochedos do casamento"; Nossa Senhora do Ó adorada na ima­ o cacique, todos vestidos de camisola de menino dormir como em gem de uma mulher prenhe. um orfanato ou em um internato. O trajo dos homens igualzinho ao No caso do Brasil, que foi um fenômeno do século XVII, o portu­ das mulheres e das crianças. guês trazia mais a seu favor, e a favor da nova colônia, toda a riqueza Pela presença de um tão forte elemento ponderador como a fa­ e extraordinária variedade de experiências acumuladas durante o sé­ mília rural ou, antes, latifundiária, é que a colonização portuguesa do culo XV, na Ásia e na África, na Madeira e em Cabo Verde. Entre tais Brasil tomou desde cedo rumo e aspectos sociais tão diversos da experiências, o conhecimento de plantas úteis, alimentares e de gozo teocrática, idealizada pelos jesuítas - e mais tarde por eles realizada que para aqui seriam transplantadas com êxito, o de certas vantagens no Paraguai - da espanhola e da francesa. Claro que esse domínio de do sistema de construção asiático, adaptáveis ao trópico americano, o família não se teria feito sentir sem a base agrícola, em que repousou da capacidade do negro para o trabalho agrícola. entre nós, como entre os ingleses colonizadores da Virgínia e das Todos esses elementos, a começar pelo cristianismo liricamente Carolinas, a colonização. "Estabelecido nas ilhas do Atlântico", diz social, religião ou culto de família mais do que de catedral ou de Manuel Bonfim do colono português, "e não encontrando aí outra igreja - que nunca as tiveram os portugueses grandes e dominadoras forma de atividade, nem possibilidade de fortuna senão a exploração do tipo das de Toledo ou das de Burgos, como nunca as teria o Brasil estável, agrícola, o povoamento regular, assim procedeu e mostrou, da mesma importância e prestígio que as da América Espanhola; to­ antes de qualquer outro povo da Europa medieval, ser excelente dos esses elementos e vantagens viriam favorecer entre nós a coloni­ povoador, porque juntava as qualidades de pioneiro às de formador zação, que na América Portuguesa, como nas "colônias de proprietá­ de vida agrícola e regular em terras novas."73 rios" dos ingleses na América do Norte, repousaria sobre a instituição É verdade que muitos dos colonos que aqui se tornaram grandes da família escravocrata; da casa-grande; da família patriarcal; sendo proprietários rurais não tinham pela terra nenhum amor nem gosto que nestas bandas acrescida a família de muito maior número de pela sua cultura. Há séculos que em Portugal o mercantilismo bur- guês e semita, por um lado, e, por outro lado, a escravidão moura fruto. Oliveira Viana tem razão quando escreve que entre as índias sucedida pela negra, haviam transformado o antigo povo de reis la­ "com uma maravilhosa riqueza acumulada e uma longa tradição co­ vradores no mais comercializado e menos rural da Europa. No século mercial com os povos do Oriente e Ocidente" e o Brasil "com uma XVI é o próprio rei que dá despacho não em nenhum castelo gótico população de aborígines ainda na idade da pedra polida" havia dife­ cercado de pinheiros mas por cima de uns armazéns à beira do rio; e rença essencial. "Essa ausência de riqueza organizada, essa falta de ele e tudo que é grande fidalgo enriquecem no tráfico de especiarias base para organização puramente comercial", acrescenta o autor da asiáticas. O que restava aos portugueses do século XVI de vida rural Evolução do povo brasileiro, "é que leva os peninsulares para aqui trans­ era uma fácil horticultura e um doce pastoreio: e, como outrora entre plantados a se dedicarem à exploração agrícola."74 os israelitas, quase que só florescia entre eles a cultura da oliveira e da Cravo, pimenta, âmbar, sândalo, canela, gengibre, marfim, ne­ vinha. Curioso, portanto, que o sucesso da colonização portuguesa nhuma substância vegetal ou animal de valor consagrado pelas neces­ do Brasil se firmasse precisamente em base rural. sidades e gostos da Europa aristocrática ou burguesa os portugueses Considerando o elemento colonizador português em massa, não encontraram nos trópicos americanos. Isto sem falar no ouro e na em exceções como Duarte Coelho - tipo perfeito de grande agricultor prata, mais farejados do que tudo e de que logo se desiludiram os - pode dizer-se que seu ruralismo no Brasil não foi espontâneo, mas exploradores da nova terra. A conclusão melancólica de Vespúcio de adoção, imposto pelas circunstâncias. Para os portugueses o ideal resume o amargo desapontamento de todos eles: "infinitas arvores de teria sido não uma colônia de plantação, mas outra índia com que pau brasil e canna fistula..."7'' "Arvoredos de ponta a ponta" e "agoas israelitamente comerciassem em especiarias e pedras preciosas; ou muytas", notara o arguto cronista do descobrimento, Pero Vaz de Ca­ um México ou Peru de onde pudessem extrair ouro e prata. Ideal minha.76 semita. As circunstâncias americanas é que fizeram do povo coloniza­ Enormes massas de água, é certo, davam grandeza à terra coberta dor de tendências menos rurais ou, pelo menos, com o sentido agrá­ de grosso matagal. Dramatizavam-na. Mas grandeza sem possibilida­ rio mais pervertido pelo mercantilismo, o mais rural de todos: do des econômicas para a técnica e conhecimentos da época. Ao contrá­ povo que a índia transformara no mais parasitário, o mais criador. rio: às necessidades dos homens que criaram o Brasil aquelas formi­ Entre aquelas circunstâncias avultam imperiosas: as qualidades e dáveis massas, rios e cachoeiras, só em parte, e nunca completamente, as condições físicas da terra; as condições morais e materiais da vida se prestaram às funções civilizadoras de comunicação regular e de e cultura de seus habitantes. dinamização útil. Terra e homem estavam em estado bruto. Suas condições de cultu­ Um rio grande daqueles quando transbordava em tempo de chu­ ra não permitiam aos portugueses vantajoso intercurso comercial que va era para inundar tudo, cobrindo canaviais e matando gado e até reforçasse ou prolongasse o mantido por eles com o Oriente. Nem reis gente. Destruindo. Devastando. Lavoura e pecuária eram quase im­ de Cananor nem sobas de Sofala encontraram os descobridores do possíveis às suas margens, porque tanto tinha de fácil o estabeleci­ Brasil com que tratar ou negociar. Apenas morubixabas. Bugres. Gente mento quanto de fatal a destruição pelas enchentes, pelas cheias que quase nua e à-toa, dormindo em rede ou no chão, alimentando-se de ou dizimavam as manadas ou corrompiam-lhes o pasto; e em vez de farinha de mandioca, de fruta do mato, de caça ou peixe comido cru ou beneficiarem as plantações, destruíam-nas completamente ou em gran­ depois de assado em borralho. Nas suas mãos não cintilavam pérolas de parte. de Cipango nem rubis de Pegu; nem ouro de Sumatra nem sedas de Sem equilíbrio no volume nem regularidade no curso, variando Catar lhes abrilhantavam os corpos cor de cobre, quando muito enfei­ extremamente em condições de navegabilidade e de utilidade, os rios tados de penas; os pés em vez de tapetes da Pérsia pisavam a areia grandes foram colaboradores incertos - se é que os possamos consi­ pura. Animal doméstico ao seu serviço não possuíam nenhum. Agricul­ derar colaboradores - do homem agrícola na formação econômica e tura, umas ralas plantações de mandioca ou mindubi, de um ou outro social do nosso país. Muito deve o Brasil agrário aos rios menores porém mais regulares: onde eles docemente se prestaram a moer as autocoloniza-se. Já Pedro Dantas fixou essa possível constante da nossa canas, a alagar as várzeas, a enverdecer os canaviais, a transportar o história: derramamo-nos em superfície antes de nos desenvolvermos 7 açúcar, a madeira e mais tarde o café, a servir aos interesses e às "em densidade e profundidade." " A mesma tendência dispersiva da necessidades de populações fixas, humanas e animais, instaladas às expansão colonial portuguesa. No Brasil, prolongou-se a tendência - 79 suas margens; aí a grande lavoura floresceu, a agricultura latifundiária talvez vinda de longe, do semita - no que pareceu a Alberto Torres prosperou, a pecuária alastrou-se. Rios do tipo do Mamanguape, do o nosso "afã de ir estendendo populações aventureiras e empresas Una, do Pitanga, do Paranamirim, do Serinhaém, do Iguaçu, do capitalistas [...] por todo o território". Afã que ao seu ver devíamos Cotindiba, do Pirapama, do Ipojuca, do Mundaú, do Paraíba, foram contrariar por uma "política de conservação da natureza, de repara­ colaboradores valiosos, regulares, sem as intermitências nem os trans- ção das regiões estragadas, de concentração das populações nas zo­ bordamentos dos grandes na organização da nossa economia agrária nas já abertas à cultura, sendo educado o homem para aproveitá-las e s0 e da sociedade escravocrata que à sua sombra se desenvolveu. Do para fazer frutificar, valorizando-as." Outra coisa não desejaria Pedro Paraíba escreveu Alberto Rangel que pelo tempo do braço escravo foi Dantas para o Brasil de hoje que essa concentração das populações "o rio paradisíaco, Eufrates das senzalas com Taubaté por metrópo­ dinâmicas nas zonas já abertas à cultura: "que o nosso desenvolvi­ le."77 Tanto mais rica em qualidade e condições de permanência foi a mento se processasse em densidade e profundidade". Esta foi aliás a nossa vida rural do século XVI ao XIX onde mais regular foi o supri­ tendência esboçada no Brasil agrário, de senhores de engenho e fa­ mento de água; onde mais equilibrados foram os rios ou mananciais. zendeiros, de que Azevedo Amaral se mostra tão severo crítico nas 1 Se os grandes rios brasileiros já foram glorificados em monumen­ páginas dos Ensaios brasileiros.* to e cantada em poema célebre a cachoeira de Paulo Afonso (por Se é certo que o furor expansionista dos bandeirantes conquistou- tanto tempo de um interesse puramente estético para não dizer nos verdadeiros luxos de terras, é também exato que nesse desadoro de cenográfico em nossa vida), aos rios menores, tão mais prestadios, expansão comprometeu-se a nossa saúde econômica e quase que se falta o estudo que lhes fixe o importante papel civilizador em nossa comprometia a nossa unidade política. Felizmente aos impulsos de dis­ formação; ligados às nossas tradições de estabilidade tanto quanto os persão e aos perigos, deles decorrentes, de diferenciação e separatismo, outros - os mais românticos talvez, porém não mais brasileiros - às de opuseram-se desde o início da nossa vida colonial forças quase da mes­ mobilidade, de dinamismo, de expansão pelos sertões adentro de ma agressividade, neutralizando-os ou pelo menos amolecendo-os. A bandeirantes e padres, à procura de ouro, de escravos e de almas começar pelo físico da região formando aquele "ensemble naturel" que para Nosso Senhor Jesus Cristo. Os grandes foram por excelência os Horace Say há quase um século contrastava com o da América espanho­ rios do bandeirante e do missionário, que os subiam vencendo difi­ la: "Aucune limite ne s'élèvepour séparer les diversesprovinces les unes culdades de quedas de água e de curso irregular; os outros, os do des autres et c 'est lá un avantage de plus que les possessions portugaises senhor de engenho, do fazendeiro, do escravo, do comércio de pro­ ont eu sur les possessions espagnoles en Amérique"F- dutos da terra. Aqueles dispersaram o colonizador; os rios menores A mesma mobilidade que nos dispersa desde o século XVI em fixaram-no tornando possível a sedentariedade rural. paulistas e pernambucanos, ou paulistas e baianos, e daí ao século Tendo por base física as águas, ainda que encachoeiradas, dos XIX em vários subgrupos, mantém-nos em contato, em comunhão grandes rios, prolongou-se no brasileiro a tendência colonial do por­ mesmo, através de difícil mas nem por isso infreqüente intercomu- tuguês de derramar-se em vez de condensar-se. O bandeirante, parti­ nicação colonial. "Fluminenses e paulistas estiveram a combater na cularmente, torna-se desde os fins do século XVI um fundador de Bahia e em Pernambuco, que se defendiam do holandês", lembra subcolônias. Ainda nào é dono da terra em que nasceu mas simples Manuel Bonfim a propósito da afirmativa de Euclides da Cunha de colonial e já se faz de senhor das alheias em um imperialismo que que essa luta do Norte contra o estrangeiro se realizara "com divórcio tanto tem de ousado quanto de precoce. Com o bandeirante o Brasil completo das gentes meridionais." São também paulistas que "aco- dem aos repetidos chamados da Bahia na defesa contra o gentio perturbadora da unidade nacional. Ao contrário: a muitos respeitos, Aimoré, como na defesa contra o holandês, como a Pernambuco para nenhuma minoria mais acomodatícia e suave. resolver o caso dos Palmares. "8i Mais tarde - é ainda Bonfim quem o O Brasil formou-se, despreocupados os seus colonizadores da destaca - "espontaneamente correm os cearenses a socorrer o Piauí unidade ou pureza de raça. Durante quase todo o século XVI a colô­ ainda dominado pelas tropas portuguesas, e juntos, piauienses e nia esteve escancarada a estrangeiros, só importando às autoridades cearenses vão em prol do Maranhão";84 pela mesma época correm os coloniais que fossem de fé ou religião católica. Handelmann notou pernambucanos em auxílio da Bahia, alcançando com os baianos a que para ser admitido como colono do Brasil no século XVI a princi­ vitória de 2 de julho. pal exigência era professar a religião cristã: "somente cristãos" - e em Os jesuítas foram outros que pela influência do seu sistema uni­ Portugal isso queria dizer católicos - "podiam adquirir sesmarias". forme de educação e de moral sobre um organismo ainda tão mole, "Ainda não se opunha todavia", continua o historiador alemão, "res­ plástico, quase sem ossos, como o da nossa sociedade colonial nos trição alguma no que diz respeito à nacionalidade: assim é que cató­ séculos XVI e XVII, contribuíram para articular como educadores o licos estrangeiros podiam emigrar para o Brasil e aí estabelecer-se f...]."88 Oliveira Lima salienta que no século XVI Portugal tolerava em que eles próprios dispersavam como catequistas e missionários. Esta­ suas possessões muitos estrangeiros, não sendo a política portuguesa vam os padres da S. J. em toda parte; moviam-se de um extremo ao de colonização e povoamento a de "rigoroso exclusivismo posterior­ outro do vasto território colonial; estabeleciam permanente contato mente adotado pela Espanha."89 entre os focos esporádicos de colonização, através da "língua-geral",

8,s Através de certas épocas coloniais observou-se a prática de ir um entre os vários grupos de aborígines. Sua mobilidade, como a dos frade a bordo de todo navio que chegasse a porto brasileiro, a fim de paulistas, se por um lado chegou a ser perigosamente dispersiva, por examinar a consciência, a fé, a religião do adventício.90 O que barrava outro lado foi salutar e construtora, tendendo para aquele "unionismo" então o imigrante era a heterodoxia; a mancha de herege na alma e em que o professor João Ribeiro surpreendeu uma das grandes forças não a mongólica no corpo. Do que se fazia questão era da saúde sociais da nossa história.86 religiosa: a sífilis, a bouba, a bexiga, a lepra entraram livremente trazidas Para o "unionismo" prepara-nos aliás a singular e especialíssima por europeus e negros de várias procedências. situação do povo colonizador; o qual chega às praias americanas uni­ O perigo não estava no estrangeiro nem no indivíduo disgênico do política e juridicamente; e por maior que fosse a sua variedade ou cacogênico, mas no herege. Soubesse rezar o padre-nosso e a ave­ íntima ou aparente de etnias e de crenças, todas elas acomodadas à ntaria, dizer creio-em-Deus-Padre, fazer o pelo-sinal-da-Santa-Cruz - organização política e jurídica do Estado unido à Igreja Católica. Como e o estranho era bem-vindo no Brasil colonial. O frade ia a bordo observa M. Bonfim, "a formação de Portugal se caracteriza por uma indagar da ortodoxia do indivíduo como hoje se indaga da sua saúde precocidade política tal, que o pequeno reino nos aparece como a e da sua raça. "Ao passo que o anglo-saxão", nota Pedro de Azevedo, primeira nação completa na Europa do século XVI." Observação que "só considera de sua raça o indivíduo que tem o mesmo tipo físico, o já fizera Stephens na sua The story ofPortugal.87 português esquece raça e considera seu igual aquele que tem religião Os portugueses não trazem para o Brasil nem separatismos polí­ igual à que professa."91 ticos, como os espanhóis para o seu domínio americano, nem diver­ Temia-se no adventício acatólico o inimigo político capaz de que­ gências religiosas, como os ingleses e franceses para as suas colônias. brar ou de enfraquecer aquela solidariedade que em Portugal se de­ Os marranos em Portugal não constituíam o mesmo elemento intran­ senvolvera junto com a religião católica. Essa solidariedade manteve- sigente de diferenciação que os huguenotes na França ou os purita­ se entre nós esplendidamente através de toda a nossa formação nos na Inglaterra; eram uma minoria imperecível em alguns dos seus colonial, reunindo-nos contra os calvinistas franceses, contra os refor­ característicos, economicamente odiosa, porém não agressiva nem mados holandeses, contra os protestantes ingleses. Daí ser tão difícil, na verdade, separar o brasileiro do católico: o catolicismo foi real­ forma de cultura agrícola. Pode-se antes afirmar que tais condições mente o cimento da nossa unidade.92 concorreram no Brasil para que as colônias se conservassem unidas e Nos começos da nossa sociedade colonial encontramos em união dentro do parentesco, da solidariedade assegurada pelas tendências e com as famílias de origem portuguesa estrangeiros de procedências pelos processos da colonização portuguesa: regionalista mas não se­ diversas, sendo que alguns, filhos de países reformados ou tocados paratista; unionista no melhor sentido, no que justamente coincidia de heresia: Arzam, Bandemborg, Bentinck, Lins, Cavalcanti, Doria, com o interesse da catequese católica. Hollanda, Accioly, Furquim, Novilher, Barewel, Lems; mais tarde, no O clima não variando de norte a sul, nem da altitude máxima à século XVII, Van der Lei.93 Ainda outros cujos nomes se dissolveram mínima, o bastante para criar diferenças profundas no gênero de vida nos portugueses. Os originários de terras protestantes ou já eram ca­ colonial, nem variando a qualidade física e química do solo ao ponto tólicos ou aqui se converteram: o bastante para que fossem recebidos de estimular o desenvolvimento de duas sociedades radicalmente na intimidade da nossa vida social e até política, aqui constituíssem antagônicas nos interesses econômicos e sociais, venceu a tendência família casando com a melhor gente da terra e adquirissem proprieda­ no sentido da uniformização. Por mais que a comprometesse a espan­ de agrícola, influência e prestígio. tosa mobilidade dos bandeirantes e missionários, sua influência se fez Sílvio Romero observa que no Brasil foram o catecismo dos jesuí­ sentir desde o primeiro século de povoamento e de expansão territorial. tas e as Ordenações do Reino que "garantiram desde os primórdios a A cana-de-açúcar começou a ser cultivada igualmente em São unidade religiosa e a do direito."94 Vicente e em Pernambuco, estendendo-se depois à Bahia e ao Por sua vez o mecanismo da administração colonial, a princípio Maranhão a sua cultura, que onde logrou êxito - medíocre como em com tendências feudais, sem aquela adstringência do espanhol, antes São Vicente ou máximo como em Pernambuco, no Recôncavo e no frouxo, bambo, deixando à vontade as colônias e em muitos respeitos Maranhão - trouxe em conseqüência uma sociedade e um gênero de os donatários, quando o endureceu a criação do governo-geral foi vida de tendências mais ou menos aristocráticas e escravocratas. Por para assegurar a união de umas capitanias com as outras, conservan- conseguinte de interesses econômicos semelhantes. O antagonismo do-as sob os mesmos provedores-mores, o mesmo governador-geral, econômico se esboçaria mais tarde entre os homens de maior capital, o mesmo Conselho Ultramarino, a mesma Mesa de Consciência, em­ que podiam suportar os custos da agricultura da cana e da indústria bora separando-as no que fosse possível sujeitar cada uma de per si a do açúcar, e os menos favorecidos de recursos, obrigados a se espa­ tratamento especial da metrópole. Visava-se assim impedir que a cons­ lharem pelos sertões em busca de escravos - espécie de capital vivo - ciência nacional (que fatalmente nasceria de uma absoluta igualdade ou a ficarem por lá, como criadores de gado. Antagonismo que a terra de tratamento e de regime administrativo) sobrepujasse à regional; vasta pôde tolerar sem quebra do equilíbrio econômico. Dele resulta­ mas não ao ponto de sacrificar-se a semelhante medida de profilaxia ria entretanto o Brasil antiescravocrata ou indiferente aos interesses contra o perigo do nacionalismo na colônia a sua unidade essencial, da escravidão representado pelo Ceará em particular, e de modo geral assegurada pelo catecismo e pelas Ordenações, pela liturgia católica e pelo sertanejo ou vaqueiro. pela língua portuguesa auxiliada pela "geral" de criação jesuítica. A igualdade de interesses agrários e escravocratas que através As condições físicas no Brasil, que poderiam ter concorrido para dos séculos XVI e XVII predominou na colônia, toda ela dedicada aprofundar a extremos perigosos as divergências regionais, não só com maior ou menor intensidade à cultura do açúcar, não a perturbou toleradas como até estimuladas ao ponto de assegurarem a colônia tão profundamente, como à primeira vista parece, a descoberta das tão extensa a relativa saúde política de que sempre gozou; as condi­ minas ou a introdução do cafeeiro. Se o ponto de apoio econômico ções físicas não agiram senão fracamente no sentido separatista, atra­ da aristocracia colonial deslocou-se da cana-de-açúcar para o ouro e vés de diferenças, consideráveis porém não dominadoras, de clima e mais tarde para o café, manteve-se o instrumento de exploração: o de qualidade física e química de solo; de sistema de alimentação e de braço escravo. Mesmo porque a divergência de interesses que se de- parte onde vingou a agricultura, dominou no Brasil escravocrata o finiu, a diferença de técnica de exploração econômica entre o Nor­ latifúndio, sistema que viria privar a população colonial do suprimen­ deste persistentemente açucareiro e a capitania de Minas Gerais, e to equilibrado e constante de alimentação sadia e fresca. Muito da entre estes e São Paulo cafeeiro, de algum modo compensou-se nos inferioridade física do brasileiro, em geral atribuída toda à raça, ou seus efeitos separatistas pela migração humana que o próprio fenô­ vaga e muçulmanamente ao clima, deriva-se do mau aproveitamento meno econômico provocou, dividindo entre a zona açucareira do dos nossos recursos naturais de nutrição. Os quais sem serem dos Nordeste e a mineira e a cafeeira ao Sul um elemento étnico - o mais ricos, teriam dado para um regime alimentar mais variado e escravo de origem africana - que conservado em bloco pelo Nordeste sadio que o seguido pelos primeiros colonos e por seus descenden­ - até então a região mais escravocrata das três por ser a terra por tes, dentro da organização latifundiária e escravocrata. excelência da cana-de-açúcar - teria resultado em profunda diferença É ilusão supor-se a sociedade colonial, na sua maioria, uma socie­ regional de cultura humana. dade de gente bem-alimentada. Quanto à quantidade, eram-no em Para as necessidades de alimentação foram-se cultivando de nor­ geral os extremos: os brancos das casas-grandes e os negros das sen­ te a sul, através dos primeiros séculos coloniais, quase que as mesmas zalas. Os grandes proprietários de terras e os pretos seus escravos. plantas indígenas ou importadas. Na farinha de mandioca fixou-se a Estes porque precisavam de comida que desse para os fazer suportar base do nosso sistema de alimentação. Além da farinha cultivou-se o o duro trabalho da bagaceira. milho; e por toda parte tornou-se quase a mesma a mesa colonial, com especializações regionais apenas de frutas e verduras: dando-lhe Sucedia, porém, que os plantadores de cana, "como o de que vi­ mais cor ou sabor local em certos pontos a maior influência indígena; vem é somente do que granjeiam com tais escravos" (os de Guiné), não em outros, um vivo colorido exótico a maior proximidade da África; e ocupavam quase os seus negros - "a nenhum deles" - em coisa que 96 em Pernambuco, por ser o ponto mais perto da Europa, conservando- não fosse tocante "à lavoura que professam." Daí, conclui o autor dos se como um equilíbrio entre as três influências: a indígena, a africana Diálogos das grandezas do Brasil, que escreveu suas notas nos princí­ 97 e a portuguesa. pios do século XVII, "resulta a carestia e falta destas coisas." No planalto paulista - onde o sucesso apenas compensador da Adversas ao trigo as condições de clima e de solo quase que só cultura da cana, fez que se desviasse para outras culturas o esforço insistiram em cultivá-lo os padres da S. J. para o preparo de hóstias. agrícola dos povoadores, esboçando-se assim como uma tendência E a farinha de mandioca usada em lugar do trigo, abandonam os salutar para a policultura - tentou-se no primeiro século de coloniza­ plantadores de cana a sua cultura aos caboclos instáveis. Daí: pela ção e logrou relativo êxito o plantio regular do trigo. Tivesse sido o ausência quase completa do trigo entre os nossos recursos ou possi­ êxito completo e maior a policultura, apenas esboçada, e teriam re­ bilidades naturais de nutrição, o rebaixamento do padrão alimentar sultado esses dois fatos em profunda diferenciação de vida e de tipo do colonizador português; pela instabilidade na cultura da mandio­ regional. Mesmo dentro de sua relatividade, tais fatos se fizeram sentir ca abandonada aos índios - agricultores irregulares - a conseqüente poderosamente na maior eficiência e na mais alta eugenia do paulista, instabilidade do nosso regime de alimentação. Ao que deve acres­ comparado com os brasileiros de outras zonas, de formação escravo­ centar-se a falta de carne fresca, de leite e de ovos, e até de legu­ crata, agrária e híbrida tanto quanto a deles, porém menos beneficia­ mes, em várias das zonas de colonização agrária e escravocrata; dos pelo equilíbrio de nutrição resultante em grande parte das condi­ talvez em todas elas com a só exceção, e essa mesma relativa, do ções referidas. "O regime nutritivo dos paulistas não teria sido, pois, planalto paulista. dos fatores que menos concorreram para a prosperidade da gente do De modo que, admitida a influência da dieta - influência talvez 98 planalto",95 conclui Alfredo Ellis Júnior no sugestivo capítulo que em exagerada por certos autores modernos - sobre o desenvolvimento Raça de gigantes dedica à influência do clima e da nutrição sobre o físico e econômico das populações, temos que reconhecer ter sido o desenvolvimento eugênico dos paulistas. De modo geral, em toda regime alimentar do brasileiro, dentro da organização agrária e escravocrata que em grande parte presidiu a nossa formação, dos sobre eles principalmente é que têm agido, aproveitando-se da sua mais deficientes e instáveis. Por ele possivelmente se explicarão im­ fraqueza de gente mal-alimentada, a anemia palúdica, o beribéri, as portantes diferenças somáticas e psíquicas entre o europeu e o brasi­ verminoses, a sífilis, a bouba. E quando toda essa quase inútil popu­ leiro, atribuídas exclusivamente à miscigenação e ao clima. lação de caboclos e brancarões, mais valiosa como material clínico do É certo que, deslocando-se a responsabilidade do clima ou da que como força econômica, se apresenta no estado de miséria física e miscigenação para a dieta na acentuação de tais diferenças, não se de inércia improdutiva em que a surpreenderam Miguel Pereira e tem inocentado de todo o primeiro: afinal dele, e das qualidades Belisário Pena, os que lamentam não sermos puros de raça nem o químicas do solo, é que depende em grande parte o regime alimentar Brasil região de clima temperado o que logo descobrem naquela mi­ seguido pela população. Que condições, senão as físicas e químicas, séria e naquela inércia é o resultado dos coitos para sempre danados, de solo e de clima, determinam o caráter da vegetação espontânea e de brancos com pretas, de portugas com índias. É da raça a inércia ou as possibilidades da agrícola, e através desse caráter e dessas possibi­ a indolência. Ou então é do clima, que só serve para o negro. E lidades, o caráter e as possibilidades do homem? sentencia-se de morte o brasileiro porque é mestiço e o Brasil porque No caso da sociedade brasileira o que se deu foi acentuar-se, pela está em grande parte em zona de clima quente. pressão de uma influência econômico-social - a monocultura - a de­ Do que pouco ou nenhum caso tem feito essa sociologia, mais ficiência das fontes naturais de nutrição que a policultura teria talvez alarmada com as manchas da mestiçagem do que com as da sífilis, atenuado ou mesmo corrigido e suprido, através do esforço agrícola mais preocupada com os efeitos do clima do que com os de causas regular e sistemático. Muitas daquelas fontes foram por assim dizer sociais suscetíveis de controle ou retificação, e da influência que so­ pervertidas, outras estancadas pela monocultura, pelo regime bre as populações mestiças, principalmente as livres, terão exercido escravocrata e latifundiário, que em vez de desenvolvê-las, abafou-as, não só a escassez de alimentação, devida à monocultura e ao regime secando-lhes a espontaneidade e a frescura. Nada perturba mais o do trabalho escravo, como a pobreza química dos alimentos tradicio­ equilíbrio da natureza que a monocultura, principalmente quando é nais que elas, ou antes, que todos os brasileiros, com uma ou outra de fora a planta que vem dominar a região - nota o professor Konrad exceção regional, há mais de três séculos consomem, é da irregulari­ Guenther." Exatamente o caso brasileiro. dade no suprimento e da má higiene na conservação e na distribuição Na formação da nossa sociedade, o mau regime alimentar decor­ de grande parte desses gêneros alimentícios. São populações ainda rente da monocultura, por um lado, e por outro da inadaptação ao hoje, ou melhor, hoje mais do que nos tempos coloniais, pessima­ 100 clima, agiu sobre o desenvolvimento físico e sobre a eficiência eco­ mente nutridas. Entre caboclos do Norte as pesquisas de Araújo Lima nômica do brasileiro no mesmo mau sentido do clima deprimente e fizeram-no concluir que a maior parte desse elemento - liricamente do solo quimicamente pobre. A mesma economia latifundiária e considerado pelos ingênuos a grande reserva de vitalidade brasileira escravocrata que tornou possível o desenvolvimento econômico do - vive reduzida a um "estado de inferioridade orgânica [...] às vezes Brasil, sua relativa estabilidade em contraste com as turbulências nos de falência declarada." O caboclo, escreve esse higienista, "anula o países vizinhos, envenenou-o e perverteu-o nas suas fontes de nutri­ seu valor econômico e social numa insuficiência nutritiva que, secun­ ção e de vida. dada pelo alcoolismo e pela dupla ação distrófica do impaludismo e Melhor alimentados, repetimos, eram na sociedade escravocrata das verminoses, tem de ser reconhecida como um dos fatores de sua os extremos: os brancos das casas-grandes e os negros das senzalas. inferioridade física e intelectual."101 Natural que dos escravos descendam elementos dos mais fortes e E não só terá sido afetada pela má ou insuficiente alimentação a sadios da nossa população. Os atletas, os capoeiras, os cabras, os grande massa de gente livre, mas miserável, como também aqueles marujos. E que da população média, livre mas miserável, provenham extremos da nossa população - as grandes famílias proprietárias e os muitos dos piores elementos; dos mais débeis e incapazes. É que escravos das senzalas - em que Couty foi encontrar, na falta de "povo", as únicas realidades sociais no Brasil.102 Senhores e escravos que se senhora de léguas de terra, privada do suprimento regular e constante consideramos bem-alimentados - em certo sentido estes melhor que de alimentos frescos. Cowan tem razão quando apresenta o desenvol­ aqueles103 - é apenas em relação aos matutos, caipiras, caboclos, agre­ vimento histórico da maior parte dos povos condicionado pelo anta­ gados e sertanejos pobres - os seis milhões de inúteis do cálculo de gonismo entre a atividade nômade e a agrícola.107 No Brasil esse antago­ Couty para uma população de doze, o vácuo enorme que lhe pareceu nismo atuou, desde os primeiros tempos, sobre a formação social do haver no Brasil entre os senhores das casas-grandes e os negros das brasileiro: em uns pontos favoravelmente; nesse da alimentação, des- senzalas. "La situationfonctionnalle de cettepopulationpeutse résumer favoravelmente. 104 d'un mot: leBrésiln'apas depeuple", escreveu Couty. Palavras que Da Bahia, tão típica da agricultura latifundiária por um lado, e da Joaquim Nabuco repetiria dois anos depois do cientista francês: "São pecuária absorvente por outro, que uma imensa parte de suas terras milhões", escrevia Nabuco em 1883, "que se acham nessa condição chegou a pertencer quase toda a duas únicas famílias, a do Senhor da intermédia, que não é o escravo, mas também não é o cidadão..." Torre e a do mestre-de-campo Antônio Guedes de Brito, a primeira Párias inúteis vivendo em choças de palha, dormindo em rede ou com "260 léguas de terra pelo rio de São Francisco acima à mão estrado, a vasilha de água e a panela seus únicos utensílios, sua ali­ direita indo para o sul" e "indo do dito rio para o norte [...] 80 léguas"; mentação a farinha com bacalhau ou charque; e "a viola suspensa ao a segunda com "160 léguas [...] desde o morro dos Chapéus até à 105 lado da imagem." nascente do rio das Velhas";108 da Bahia latifundiária sabe-se que os Os próprios senhores de engenho dos tempos coloniais que, atra­ grandes proprietários de terra, a fim de não padecerem danos nas vés das crônicas de Cardim e de Soares, nos habituamos a imaginar duas lavouras - a de açúcar ou a de tabaco - evitavam nos vastos uns regalões no meio de rica variedade de frutas maduras, verduras domínios agrícolas os animais domésticos, sendo "as ovelhas e as frescas e lombos de excelente carne de boi, gente de mesa farta co­ cabras consideradas como criaturas inúteis",109 os porcos difíceis por mendo como uns desadorados - eles, suas famílias, seus aderentes, se tornarem monteses com o abandono, o gado vacum insuficiente seus amigos, seus hóspedes; os próprios senhores de engenho de para o "serviço dos engenhos, gastos dos açougues e fornecimento Pernambuco e da Bahia nutriam-se deficientemente: carne de boi má dos navios."110 e só uma vez ou outra, os frutos poucos e bichados, os legumes raros. Na zona agrícola tamanho foi sempre o descuido por outra lavou­ A abundância ou excelência de víveres que se surpreendesse seria ra exceto a da cana-de-açúcar ou a do tabaco, que a Bahia, com todo por exceção e não geral entre aqueles grandes proprietários. o seu fasto, chegou no século XVIII a sofrer de "extraordinária falta de Grande parte de sua alimentação davam-se eles ao luxo tolo de farinhas", pelo que de 1788 em diante mandaram os governadores da mandar vir de Portugal e das ilhas; do que resultava consumirem víve­ capitania incluir nas datas de terra a cláusula de que ficava o proprie­ res nem sempre bem conservados: carne, cereais e até frutos secos, tário obrigado a plantar "mil covas de mandioca por cada escravo que depreciados nos seus princípios nutritivos, quando não deteriorados possuísse empregado na cultura da terra."111 Uma espécie de provi­ pelo mau acondicionamento ou pelas circunstâncias do transporte irre­ dência tomada pelo conde de Nassau com relação aos senhores de gular e moroso. Por mais esquisito que pareça, faltavam à mesa da engenho e aos lavradores de Pernambuco no século XVII.112 nossa aristocracia colonial legumes frescos, carne verde e leite. Daí, É certo que o padre Fernão Cardim, nos seus Tratados, está sem­ 1 certamente, muitas das doenças do aparelho digestivo, * comuns na pre a falar da fartura de carne, de aves e até verduras e de frutas com época e por muito doutor caturra atribuídas aos "maus ares". que foi recebido por toda parte no Brasil do século XVI, entre os Pelo antagonismo que cedo se definiu no Brasil entre a grande homens ricos e os colégios de padres.113 lavoura, ou melhor, a monocultura absorvente do litoral, e a pecuária, Mas de Cardim deve-se tomar em consideração o seu caráter de por sua vez exclusivista, dos sertões, uma se afastando da outra quan­ padre visitador, recebido nos engenhos e colégios com festas e janta- to possível, viu-se a população agrícola, mesmo a rica, a opulenta, res excepcionais. Era um personagem a quem todo agrado que fizes- sem os colonos era pouco: a boa impressão que lhe causassem a endividados. As saúvas, as enchentes, as secas dificultando ao grosso mesa farta e os leitos macios dos grandes senhores de escravos talvez da população o suprimento de víveres. atenuasse a péssima, da vida dissoluta que todos eles levavam nos O luxo asiático, que muitos imaginam generalizado ao norte açu- engenhos de açúcar: "os peccados que se cometem nelles [nos enge­ careiro, circunscreveu-se a famílias privilegiadas de Pernambuco e da nhos] não tem conta: quasi todos andam amancebados por causa das Bahia. E este mesmo um luxo mórbido, doentio, incompleto. Excesso 119 muitas occasiões; bem cheio de peccados vai esse doce por que tanto em umas coisas, e esse excesso à custa de dívidas; deficiências em fazem; grande é a paciência de Deus que tanto sofre".114 outras. Palanquins forrados de seda, mas telha-vã nas casas-grandes e Pelos grandes jantares e banquetes, por essa ostentação de hospi­ bichos caindo na cama dos moradores. talidade e de fartura não se há de fazer idéia exata da alimentação No Pará no século XVII "as famílias de alguns homens nobres" entre os grandes proprietários; muito menos da comum, entre o gros­ não podem vir à cidade pelas festas de Natal (1661) "por causa de so dos moradores. Comentando a descrição de um jantar colonial em suas filhas donzelas não terem que vestir para irem ouvir missa."120 Boston no século XVIII - um jantar de dia de festa com pudim de Recorda João Lúcio de Azevedo que exprobrando Antônio Vieira à ameixa, carne de porco, galinha, toucinho, bife, carne de carneiro, Câmara do Pará não haver na cidade açougue, nem ribeira, ouvira em peru assado, molho grosso, bolos, pastéis, queijos etc. (todo um ex­ resposta ser impossível o remédio "como impossível era haver paga­ cesso de proteína de origem animal) - o professor Percy Goldthwait mento pelo sustento ordinário." E acrescenta: "A alimentação trivial, Stiles, de Harvard, observa muito sensatamente que semelhante fartu­ de caça e pescado, abundante nos primeiros tempos rarefez-se à pro­ ra talvez não fosse típica do regime alimentar entre os colonos da porção que o número de habitantes aumentava [...]. As terras, sem Nova Inglaterra; do ordinário, do comum, do de todo dia. Que as amanho nem inteligente cultura, perdiam a primitiva fertilidade e os festas gastronômicas entre eles talvez se compensassem com os je­ moradores retiravam-se, passando para outras estâncias suas casas e juns.115 O que parece poder aplicar-se, com literal exatidão, aos ban­ lavouras".121 Do Maranhão é o padre Vieira quem salienta não haver, quetes coloniais no Brasil intermeados decerto por muita parcimônia no seu tempo, em todo o Estado, "açougue, nem ribeira, nem horta, alimentar, quando não pelos jejuns e pelas abstinências mandadas nem tendas onde se vendessem as cousas usuais para o comer ordi­ observar pela Santa Igreja. Desta a sombra matriarcal se projetava nário."122 De todo o Brasil é o padre Anchieta quem informa andarem então muito mais dominadora e poderosa sobre a vida íntima e do­ os colonos do século XVI, mesmo "os mais ricos e honrosos" e os méstica dos fiéis do que hoje. missionários, de pé descalço, à maneira dos índios;123 costume que Impossível concluir dos banquetes que o padre Cardim descreve, parece ter-se prolongado ao século XVII e aos próprios fidalgos e a que alude Soares, que fosse sempre de fartura o passadio dos olindenses - os tais dos leitos de seda para a hospedagem dos padres- colonos; forte e variada sua alimentação; que o Brasil dos primeiros visitadores e dos talheres de prata para os banquetes de dia de festa. séculos coloniais fosse o tal "país de Cocagne" da insinuação um Seus tecidos finos seriam talvez para as grandes ocasiões. Por uma tanto literária de Capistrano de Abreu.116 É ainda no próprio Cardim cena que Maria Graham presenciou em Pernambuco dos princípios que vamos recolher este depoimento de um flagrante realismo: no do século XIX121 parece igualmente ter prevalecido entre nossos fidal­ Colégio da Bahia "nunca falta um copinho de vinho de Portugal, sem gos de garfo de prata... para inglês ver (mas inglês raramente se o qual não se sustenta bem a natureza por a terra ser desleixada e os deixa iludir por aparências douradas ou prateadas) o gosto de comer mantimentos fracos."117 Note-se de passagem que nesse mesmo vinho regaladamente com a mão. Nem esqueçamos este formidável contras­ de Portugal os puritanos da Nova Inglaterra afogavam a sua tristeza.118 te nos senhores de engenho: a cavalo grandes fidalgos de estribo de País de Cocagne coisa nenhuma: terra de alimentação incerta e prata, mas em casa uns franciscanos, descalços, de chambre de chita vida difícil é que foi o Brasil dos três séculos coloniais. A sombra da e às vezes só de ceroulas. Quanto às grandes damas coloniais, ricas monocultura esterilizando tudo. Os grandes senhores rurais sempre sedas e um luxo de tetéias e jóias na igreja, mas na intimidade, de cabeção, saia de baixo, chinelo sem meias.125 Efeito em parte do cli­ Reynal.132 Nem carne de vaca nem de carneiro nem mesmo de gali­ ma, esse vestuário tão à fresca; mas também expressão do francis- nha. Nem frutas nem legumes; que legumes eram raros na terra e canismo colonial, no trajar como no comer de muito fidalgo, dos dias frutos quase que só chegavam à mesa já bichados ou então tirados comuns. verdes para escaparem à gana dos passarinhos, dos tapurus e dos A própria Salvador da Bahia, quando cidade dos vice-reis, habita­ insetos. A carne que se encontrava era magra, de gado vindo de lon­ da por muito ricaço português e da terra, cheia de fidalgos e de fra­ ge, dos sertões, sem pastos que o refizessem da penosa viagem. Por­ des, notabilizou-se pela péssima e deficiente alimentação. Tudo falta­ que as grandes lavouras de açúcar ou de tabaco não se deixavam va: carne fresca de boi, aves, leite, legumes, frutas; e o que aparecia manchar de pastos para os bois descidos dos sertões e destinados ao era da pior qualidade ou quase em estado de putrefação. Fartura só a corte. Bois e vacas que não fossem os de serviço eram como se fos­ de doce, geléias e pastéis fabricados pelas freiras nos conventos: era sem animais danados para os latifundiários. com que se arredondava a gordura dos frades e das sinhá-donas. Vacas leiteiras sabe-se que havia poucas nos engenhos coloniais, Má nos engenhos e péssima nas cidades: tal a alimentação da quase não se fabricando neles nem queijos nem manteiga, nem se sociedade brasileira nos séculos XVI, XVII e XVIII. Nas cidades, pés­ comendo, senão uma vez por outra, carne de boi. Isto, explica sima e escassa. O bispo de Tucumã, tendo visitado o Brasil no século Capistrano de Abreu, "pela dificuldade de criar reses em lugares im­ XVII, observou que nas cidades "mandava comprar um frangão, qua­ próprios à sua propagação." Dificuldade que reduziu este gado ao tro ovos e um peixe e nada lhe traziam, porque nada se achava na estritamente necessário ao serviço agrícola.133 Era a sombra da praça nem no açougue"; tinha que recorrer às casas particulares dos monocultura projetando-se por léguas e léguas em volta das fábricas ricos.126 As cartas do padre Nóbrega falam-nos da "falta de mantimen- de açúcar e a tudo esterilizando ou sufocando, menos os canaviais e tos"127 e Anchieta refere nas suas que em Pernambuco não havia ma­ os homens e bois a seu serviço. tadouro na vila, precisando os padres do colégio de criar algumas Não só na Bahia, em Pernambuco e no Maranhão como em Sergipe cabeças de bois e vacas para sustento seu e dos meninos: "se assim del-Rei e no Rio de Janeiro verificou-se com maior ou menor intensida­ não o fizessem, não teria o que comer". E acrescenta: "Todos susten­ de, através do período colonial, o fenômeno, tão perturbador da eugenia tam-se mediocremente ainda que com trabalho por as cousas valerem brasileira, da escassez de víveres frescos, quer animais quer vegetais. mui caras, e tresdobro do que em Portugal".128 Da carne de vaca infor­ Mas talvez em nenhum ponto tão agudamente como em Pernambuco.134 ma não ser gorda: "não muito gorda por não ser a terra fértil de Nessa capitania por excelência açucareira e latifundiária, onde ao fin­ pastos."129 E quanto a legumes: "da terra ha muito poucos". É ainda do dar o século XVIII e principiar o XIX, calculava-se a melhor terra agrí­ padre Anchieta a informação: "Alguns ricos comem pão de farinha de cola, vizinha do mar, no domínio de oito ou dez senhores de engenho trigo de Portugal, maxime em Pernambuco e Bahia, e de Portugal para duzentos vizinhos - "entre duzentos vizinhos, oito ou dez proprie­ também lhes vem vinho, azeite, vinagre, azeitona, queijo, conserva e tários" que de ordinário só permitiam aos rendeiros "plantar canna para outras cousas de comer". 130 ficarem com a meação"135 - a carestia de mantimentos de primeira Era uma dieta, a da Bahia dos vice-reis, com os seus fidalgos e necessidade se faz sentir às vezes angustiosamente entre os habitantes. burgueses ricos vestidos sempre de seda de Gênova, de linhos e algo­ Debalde tentara o conde de Nassau no século XVII dar jeito a seme­ dão da Holanda e da Inglaterra e até de tecidos de ouro importados lhante desequilíbrio na vida econômica da grande capitania açucareira. de Paris e de Lião; era uma dieta, a deles, em que na falta de carne E como na Bahia e em Pernambuco, também no Rio de Janeiro o gado verde se abusava de peixe, variando-se apenas o regime ictiófago não chegou nunca para "o consumo dos açougues e serviço dos enge­ com carnes salgadas e queijos-do-reino, importados da Europa junta­ nhos",136 evitando-se a sua presença nas plantações de cana e mesmo a mente com outros artigos de alimentação.131 "Não se vê carneiro e sua proximidade; e tanto quanto naquelas capitanias do Norte estive­ raro é o gado bovino que preste", informava sobre a Bahia o abade ram sempre as terras no Rio de Janeiro concentradas nas mãos de poucos: grandes latifundiários plantadores de cana - inclusive os frades Pode-se generalizar sobre as fontes e o regime de nutrição do do mosteiro de São Bento. Sob semelhante regime de monocultura, de brasileiro: as fontes - vegetação e águas - ressentem-se da pobreza latifúndio e de trabalho escravo não desfrutou nunca a população da química do solo, exíguo, em larga extensão, de cálcio;139 o regime, abundância de cereais e legumes verdes. quando não peca pela deficiência em qualidade tanto quanto em De modo que a nutrição da família colonial brasileira, a dos enge­ quantidade, ressente-se sempre da falta de equilíbrio.140 Esta última nhos e notadamente a das cidades, surpreende-nos pela sua má qua­ situação, geral: inclui as classes abastadas. A deficiência pela qualida­ 137 lidade: pela pobreza evidente de proteínas de origem animal e pos­ de e pela quantidade é e tem sido desde o primeiro século o estado sível de albuminóides em geral; pela falta de vitaminas; pela de cálcio de parcimônia alimentar de grande parte da população. Parcimônia e de outros sais minerais; e, por outro lado, pela riqueza certa de às vezes disfarçada pela ilusão da fartura que dá a farinha de man­ toxinas. O brasileiro de boa estirpe rural dificilmente poderá, como o dioca141 intumescida pela água. inglês, voltar-se para o longo passado de família na certeza de dez ou A pobreza de cálcio do solo brasileiro escapa quase de todo ao doze gerações de avós bem-alimentados de bifesteque e legumes, de controle social ou à retificação pelo homem; as outras duas causas, leite e ovos, de aveia e frutas a lhe assegurarem de longe o desenvol­ porém, encontram explicação na história social e econômica do brasi­ vimento eugênico, a saúde sólida, a robustez física, tão difíceis de ser leiro - na monocultura, no regime de trabalho escravo, no latifúndio, perturbadas ou afetadas por outras influências sociais quando predo­ responsáveis pelo reduzido consumo de leite, ovos e vegetais entre mina a da higiene de nutrição. grande parte da população brasileira.142 São suscetíveis de correção Se a quantidade e a composição dos alimentos não determinam ou de controle. sozinhas como querem os extremistas - os que tudo crêem poder Se excetuamos da nossa generalização sobre a deficiência ali­ 138 explicar pela dieta - as diferenças de morfologia e de psicologia, o mentar na formação brasileira as populações paulistas, é por terem grau de capacidade econômica e de resistência às doenças entre as atuado sobre elas condições um tanto diversas das predominantes no sociedades humanas, sua importância é entretanto considerável, como Rio de Janeiro e ao Norte: geológicas e meteorológicas, favorecendo o vão revelando pesquisas e inquéritos nesse sentido. Já se tenta hoje o esforço agrícola generalizado e até a cultura, embora medíocre, do retificar a antropogeografia dos que, esquecendo os regimes alimen- trigo; de provável superioridade de composição química do solo, dando tares, tudo atribuem aos fatores raça e clima; nesse movimento de em resultado maior riqueza dos produtos destinados à alimentação; retificação deve ser incluída a sociedade brasileira, exemplo de que sociais e econômicas, da parte dos primeiros povoadores, que não tanto se servem os alarmistas da mistura de raças ou da malignidade sendo gente das mesmas tradições e tendências rurais nem dos mes­ dos trópicos a favor da sua tese de degeneração do homem por efeito mos recursos pecuniários dos colonizadores de Pernambuco, mas na do clima ou da miscigenação. É uma sociedade, a brasileira, que a maior parte ferreiros, carpinteiros, alfaiates, pedreiros, tecelões, entre­ indagação histórica revela ter sido em larga fase do seu desenvolvi­ garam-se antes à vida semi-rural e gregária que à latifundiária e de mento, mesmo entre as classes abastadas, um dos povos modernos monocultura; e ainda econômicas, por ter prevalecido no planalto mais desprestigiados na sua eugenia e mais comprometidos na sua paulista a concentração das duas atividades, a agrícola e a pastoril,143 capacidade econômica pela deficiência de alimento. Aliás, a indaga­ em vez da divisão quase balcânica em esforços separados e por assim ção levada mais longe, aos antecedentes do colonizador europeu do dizer inimigos, que condicionou o desenvolvimento da Bahia, do Brasil, mesmo dos colonos de prol, revela-nos no peninsular dos sé­ Maranhão, de Pernambuco, do Rio de Janeiro. culos XV e XVI, como adiante veremos, um povo profundamente As generalizações do professor Oliveira Vianna, que nos pintou perturbado no seu vigor físico e na sua higiene por um pernicioso com tão bonitas cores uma população paulista de grandes proprietá­ conjunto de influências econômicas e sociais. Uma delas, de natureza rios e opulentos fidalgos rústicos, têm sido retificadas naqueles seus religiosa: o abuso dos jejuns. falsos dourados e azuis, por investigadores mais realistas e melhor documentados que o ilustre sociólogo das Populações meridionais do tem sido a do africano: quer através dos valiosos alimentos, principal­ Brasil: Afonso de E. Taunay,144 Alfredo Ellis Júnior,145 Paulo Prado,'4" e mente vegetais, que por seu intermédio vieram-nos da África, quer Alcântara Machado.147 Baseados nesses autores e na documentação através do seu regime alimentar, melhor equilibrado do que o do riquíssima mandada publicar por Washington Luís,148 é que divergi­ branco - pelo menos aqui, durante a escravidão. Dizemos aqui, como mos do conceito de ter sido a formação paulista latifundiária e aristo­ escravo, porque bem ou mal os senhores de engenho tiveram no crática tanto quanto a das capitanias açucareiras do Norte. Ao contrá­ Brasil o seu arremedo de taylorismo, procurando obter do escravo rio: não obstante as profundas perturbações do bandeirismo, foi talvez negro, comprado caro, o máximo de esforço útil e não simplesmente a que se processou com mais equilíbrio. Principalmente no tocante ao o máximo de rendimento. sistema de alimentação. Da energia africana ao seu serviço cedo aprenderam muitos dos "Muito equilibrada, além de farta, teria sido a nutrição nos primei­ grandes proprietários que, abusada ou esticada, rendia menos que bem ros séculos, quanto aos seus elementos químicos", escreve da alimen­ conservada: daí passarem a explorar o escravo no objetivo do maior tação dos povoadores paulistas Alfredo Ellis Júnior, que, para afirmá- rendimento mas sem prejuízo da sua normalidade de eficiência. A efi­ lo, baseia-se em informações dos Inventários e testamentos; "pois", ciência estava no interesse do senhor conservar no negro - seu capital, acrescenta, "não só tinham eles em abundância a proteína da carne sua máquina de trabalho, alguma coisa de si mesmo: de onde a alimen­ de seus rebanhos de bovinos como também lhes sobrava a carne de tação farta e reparadora que Peckolt observou dispensarem os senho­ porco, que é rica em matérias gordurosas de grande valor, o que os res aos escravos no Brasil.151 A alimentação do negro nos engenhos fazia carnívoros, além de copiosa variedade na alimentação cerealífera, brasileiros podia não ser nenhum primor de culinária; mas faltar nunca como o trigo, a mandioca, o milho, o feijão etc, cujas plantações faltava. E sua abundância de milho, toucinho e feijão recomenda-a semeavam às redondezas paulistanas e que contêm elevada percenta- como regime apropriado ao duro esforço exigido do escravo agrícola. gem de hidrocarbonatos, muito ricos em calorias." É ainda Alfredo O escravo negro no Brasil parece-nos ter sido, com todas as defi­ Ellis Júnior que lembra esta observação de Martius sobre as popula­ ciências do seu regime alimentar, o elemento melhor nutrido em nos­ ções paulistas: que o caráter das doenças em São Paulo diferia consi­ sa sociedade patriarcal, e dele parece que numerosos descendentes deravelmente das condições patológicas observadas no Rio de Janei­ conservaram bons hábitos alimentares, explicando-se em grande par­ ro.149 Martius atribui o fato à diferença de clima - fator que estava te pelo fator dieta - repetimos - serem em geral de ascendência afri­ então em moda exaltar-se - e, vagamente, a diferenças de constitui­ cana muitas das melhores expressões de vigor ou de beleza física em ção dos habitantes. Fosse mais longe no diagnóstico e chegaria sem nosso país: as mulatas, as baianas, as crioulas, as quadraronas, as dúvida a importante causa ou fato social determinante daquela dife­ oitavanas,152 os cabras de engenho,153 os fuzileiros navais,154 os capo­ rença de condições patológicas entre populações tão próximas. Essa eiras, os capangas, os atletas, os estivadores no Recife e em Salvador, causa, a diferença nos dois sistemas de nutrição. Um, o deficiente, de muitos dos jagunços dos sertões baianos e dos cangaceiros do Nor­ populações sufocadas no seu desenvolvimento eugênico e econômi­ deste. A exaltação lírica que se faz entre nós do caboclo, isto é, do co pela monocultura; o outro, equilibrado, em virtude da maior divi­ indígena tanto quanto do índio civilizado ou do mestiço de índio com são de terras e melhor coordenação de atividades - a agrícola e a branco, no qual alguns querem enxergar o expoente mais puro da pastoril - entre os paulistas.150 Destes a saúde econômica se transmi­ capacidade física, da beleza e até da resistência moral da sub-raça tiria mais tarde aos mineiros; os quais, passada a fase turbulenta do brasileira,155 não conesponde senão superficialmente à realidade. Nesse ouro e dos diamantes, se aquietariam na gente mais estável, mais ponto já o mestre ilustre que é o professor Roquette-Pinto insinuou a equilibrada e, talvez, melhor nutrida do Brasil. necessidade de retificar-se Euclides da Cunha, nem sempre justo nas Cremos poder-se afirmar que na formação do brasileiro - consi­ suas generalizações. Muito do que Euclides exaltou como valor da derada sob o ponto de vista da nutrição - a influência mais salutar raça indígena, ou da sub-raça formada pela união do branco com o índio, são virtudes provindas antes da mistura das três raças que da negróides no seio de populações afastadas dos centros de escravaria. do índio com o branco; ou tanto do negro quanto do índio ou do Escasseavam entre os escravos fugidos as mulheres de sua cor, recor­ português. "A mestiçagem", diz Roquette-Pinto, "deu o jagunço: o rendo eles, para suprir a falta, "ao rapto das índias" ou caboclas de jagunço não é mameluco, filho de índio e branco. Euclides estudou-o povoados e aldeamentos próximos: teriam assim espalhado o seu na Bahia; Bahia e Minas são os dois estados da União em que mais se sangue por muita zona considerada depois virgem de influência ne­ espalhou o africano".156 gra. Aliás os movimentos, sertões adentro ou rio Amazonas acima, de Salienta mais o antropólogo brasileiro que "é grave erro acreditar negros fugidos, representam quase arrojo igual ao dos bandeirantes que no grande sertão central e na baixada amazônica o sertanejo seja paulistas ou dos povoadores cearenses. só caboclo". "Tanto nas chapadas do Nordeste como nos seringais", Brancarana, ou então mestiça de branco com índio, e, em menor acrescenta, "há cafuzos ou caborés, representantes de uma parte de proporção, mistura de três raças, a maior parte da população livre sangue africano." E sublinha o fato de muito negro ter deixado o que correspondeu, em nossa organização escravocrata, ao "poorwhite litoral ou a zona açucareira para ir se aquilombar no sertão: "Muitos trash" nas colônias inglesas da América, sobre esse elemento relativa­ escravos fugiam para se aquilombar nas matas, nas vizinhanças de mente pouco carregado de influência ou colorido africano, é que a tribos índias. A fuga das mulheres era mais difícil; de sorte que o rapto anemia palúdica, o beribéri,161 as verminoses exerceram a sua maior das índias foi largamente praticado pelos pretos quilombolas".157 ação devastadora, só depois do descalabro da abolição estendida com Já no seu estudo Rondônia™ Roquette-Pinto publicara interes­ igual intensidade aos negros e pardos já agora desamparados da as­ sante documentação por ele desencantada do arquivo do Instituto sistência patriarcal das casas-grandes e privados do regime alimentar Histórico Brasileiro sobre os caborés da serra do Norte, em pleno das senzalas. Os escravos negros gozaram sobre os caboclos e Brasil central: híbridos de negros fugidos das minas com mulheres brancarões livres da vantagem de condições de vida antes conserva­ índias por eles raptadas. Os raptos a que se entregaram por toda parte doras que desprestigiadoras da sua eugenia: puderam resistir melhor os negros aquilombados não foram apenas de "sabinas pretas [...] às influências patogênicas, sociais e do meio físico e perpetuar-se pelos engenhos", como diz Ulisses Brandão,159 mas também, e princi­ assim em descendências, mais sadias e vigorosas. palmente, de caboclas. Gastão Cruls, viajando há anos pelo baixo Da ação da sífilis já não se poderá dizer o mesmo; que esta foi a Cuminá, deu com vários remanescentes de antigos mucambos ou doença por excelência das casas-grandes e das senzalas. A que o filho quilombos, isto é, de negros fugidos de engenhos e de fazendas. do senhor de engenho contraía quase brincando entre negras e mula­ "Aliás", escreve ele, "quase todos os rios da Amazônia tiveram desses tas ao desvirginar-se precocemente aos doze ou aos treze anos. Pou­ refúgios de escravos e até no alto Içá, Crevaux foi surpresar a choça co depois dessa idade já o menino era donzelão. Ridicularizado por de uma preta velha."160 Por onde se vê que até mesmo onde se supõe não conhecer mulher e levado na troça por não ter marca de sífilis no conservar-se mais puro o sangue ameríndio ou o híbrido de portu­ corpo. A marca da sífilis, notou Martius que o brasileiro a ostentava guês com índio chegou o africano: ao coração mesmo da Amazônia, como quem ostentasse uma ferida de guerra;162 e cinqüenta anos de­ à serra do Norte e aos sertões. pois de Martius um observador francês, Emile Béringer, negando ao A suposta imunidade absoluta do sertanejo do sangue ou da in­ clima do norte do Brasil influência preponderante na morbilidade da fluência africana não resiste a exame demorado. Se são numerosos os região, salientava a importância verdadeiramente trágica da sífilis: "A brancos puros em certas zonas sertanejas, em outras se fazem notar sífilis produz grandes estragos. A maior parte dos habitantes não a resíduos africanos. Um estudo interessantíssimo a fazer seria a locali­ consideram como uma moléstia vergonhosa e não têm grande cuida­ zação de redutos de antigos escravos que teriam borrado de preto, do. Independentemente de sua influência sobre o desenvolvimento hoje empalidecido, muita região central do Brasil. Essas concentra­ de numerosas afecções especiais, fornece um contingente de dez fale­ ções de negros puros correspondem necessariamente a manchas cimentos sobre mil".163 À vantagem da miscigenação correspondeu no Brasil a desvanta­ da segunda leva de gente européia. Quando os povoadores regulares gem tremenda da sifilização. Começaram juntas, uma a formar o bra­ aqui chegaram, já foram encontrando sobre o pardo avermelhado da sileiro - talvez o tipo ideal do homem moderno para os trópicos, massa indígena aquelas manchas de gente mais clara. Ainda que sem europeu com sangue negro ou índio a avivar-lhe a energia; outra, a definida caracterização européia, esses mestiços, quase pelo puro fato deformá-lo. Daí certa confusão de responsabilidades; atribuindo mui­ da cor mais próxima da dos brancos e por um ou outro traço de tos à miscigenação o que tem sido obra principalmente da sifilização; cultura moral ou material já adquirido dos pais europeus, devem ter responsabilizando-se a raça negra ou a ameríndia ou mesmo a portu­ sido um como calço ou forro de carne amortecendo para colonos guesa, cada uma das quais, pura ou sem cruzamento, está cansada de portugueses ainda virgens de experiências exóticas - e os havia de­ produzir exemplares admiráveis de beleza e de robustez física, pelo certo numerosos, vindos do Norte - o choque violento de contato "feio" e pelo "bisonho"164 das nossas populações mestiças mais afeta­ com criaturas inteiramente diversas do tipo europeu. das de sífilis ou mais roídas de verminose. Muitos dos primeiros povoadores não fizeram senão dissolver-se De todas as influências sociais talvez a sífilis tenha sido, depois no meio da população nativa. Raros os "verdadeiros régulos"166 de da má nutrição, a mais deformadora da plástica e a mais depauperadora que fala Paulo Prado: os grandes patriarcas brancos que, sozinhos no da energia econômica do mestiço brasileiro. Sua ação começou ao meio dos índios, conseguiram em parte sujeitar à sua vontade de mesmo tempo que a da miscigenação; vem, segundo parece, das pri­ europeus bandos consideráveis de gente nativa. meiras uniões de europeus, desgarrados à-toa pelas nossas praias, Mesmo aqueles, porém, que desaparecem no escuro da vida indí­ com as índias que iam elas próprias oferecer-se ao amplexo sexual gena sem deixar nome, impõem-se, pelas evidentes conseqüências dos brancos. "A tara étnica inicial" de que fala Azevedo Amaral foi de sua ação procriadora e sifilizadora, à atenção de quem se ocupe da antes tara sifilítica inicial. história genética da sociedade brasileira. Bem ou mal, neles é que Costuma dizer-se que a civilização e a sifilização andam juntas: o madrugou essa sociedade. Deles se contaminou a formação brasileira Brasil, entretanto, parece ter-se sifilizado antes de se haver civilizado. de alguns dos seus vícios mais persistentes e característicos: taras étni­ Os primeiros europeus aqui chegados desapareceram na massa indí­ cas, diria Azevedo Amaral; sociais, preferimos dizer. gena quase sem deixar sobre ela outro traço europeizante além das A sifilização do Brasil resultou, ao que parece, dos primeiros en­ manchas de mestiçagem e de sífilis. Não civilizaram: há, entretanto, contros, alguns fortuitos, de praia, de europeus com índias. Não só de indícios de terem sifilizado a população aborígine que os absorveu. portugueses como de franceses e espanhóis. Mas principalmente de Precisamente sob o duplo ponto de vista da miscigenação e da portugueses e franceses. Degredados, cristãos-novos, traficantes sifilização é que nos parece ter sido importantíssima a primeira fase normandos de madeira de tinta que aqui ficavam, deixados pelos de povoamento. Sob o ponto de vista da miscigenação foram aqueles seus para irem se acamaradando com os indígenas; e que acabavam povoadores à-toa que prepararam o campo para o único processo de muitas vezes tomando gosto pela vida desregrada no meio de mulher colonização que teria sido possível no Brasil: o da formação, pela fácil e à sombra de cajueiros e araçazeiros. poligamia - já que era escasso o número de europeus - de uma Oscar da Silva Araújo, a quem se devem indagações valiosas so­ sociedade híbrida. Dos Diogos Álvares, dos Joões Ramalhos, um tanto bre o aparecimento da sífilis no Brasil, liga-o principalmente ao con­ impropriamente de Jerônimo de Albuquerque (que já pertence a ou­ tato dos indígenas com os franceses. "No século XVI", recorda o cien­ tra fase de povoamento) escreveu Paulo Prado que "proliferam larga­ tista brasileiro, "surgiu na França a grande epidemia de sífilis; nas mente, como que indicando a solução para o problema da coloniza­ crônicas dos contrabandistas dessa época vêem-se referências à exis­ 165 ção e formação da raça no nosso país." Do seu contato com a tência de doenças venéreas entre eles, dizimando, muitas vezes, as população ameríndia resultaram, na verdade, as primeiras camadas populações. E de presumir que os aventureiros franceses que comer­ de mestiçagem formando porventura pontos mais fáceis à penetração ciavam com os nossos indígenas estivessem também infectados e que tenham sido os introdutores e primeiros propagadores dessa doença O intercurso sexual entre o conquistador europeu e a mulher entre eles."167 índia não foi apenas perturbado pela sífilis e por doenças européias Menos infectados não deviam estar os portugueses, gente ainda de fácil contágio venéreo: verificou-se - o que depois se tornaria mais móvel e sensual que os franceses. "O mal que assolou o Velho extensivo às relações dos senhores com as escravas negras - em cir­ Mundo em fins do século XV", observa em outro dos seus trabalhos cunstâncias desfavoráveis à mulher. Uma espécie de sadismo do branco Oscar da Silva Araújo, "propagou-se no Oriente, tendo sido para aí e de masoquismo da índia ou da negra terá predominado nas rela­ levado pelos portugueses. As investigações de Okamura, Dohi e Susuky ções sexuais como nas sociais do europeu com as mulheres das raças no Japão e na China, e as de Jolly e outros na índia, demonstram que submetidas ao seu domínio. O furor femeeiro do português se terá a sífilis apareceu nesses países somente depois que eles se puseram exercido sobre vítimas nem sempre confraternizantes no gozo; ainda em relações com os europeus. Na índia apareceu depois da chegada que se saiba de casos de pura confraternização do sadismo do con­ de Vasco da Gama em 1498, tendo ele saído de Portugal em 1497. quistador branco com o masoquismo da mulher indígena ou da ne­ Gaspar Correia, nas Lendas da índia, refere que "em Cacotorá, no gra. Isso quanto ao sadismo de homem para mulher - não raro prece­ ano de 1507, a gente começou a adoecer de maus ares e de mau dido pelo de senhor para moleque. Através da submissão do moleque, comer e principalmente com a conversação com as mulheres, de que seu companheiro de brinquedos e expressivamente chamado leva- morriam."168 Recorda ainda Oscar da Silva Araújo que "Engelbert pancadas, iniciou-se muitas vezes o menino branco no amor físico. Koempfer, citado por Astruc, assegura que o termo japonês manba- Quase que do moleque leva-pancadas se pode dizer que desem­ kassam, com a sua significação literal doença dos portugueses, é aque­ penhou entre as grandes famílias escravocratas do Brasil as mesmas le com que no Japão se designa a sífilis. E ainda nos nossos dias - funções de paciente do senhor moço que na organização patrícia do Império Romano o escravo púbere escolhido para companheiro do acrescenta - em muitos países do Oriente mal português é sinônimo menino aristocrata: espécie de vítima, ao mesmo tempo que camara­ de lues. Nos idiomas indiano, japonês e chinês não há nomes indíge­

169 da de brinquedos, em que se exerciam os "premiers élansgénésiques" nas para a doença." do filho-família.173 Ainda que vários tropicalistas, alguns deles com estudos especia­ Moll salienta que a primeira direção tomada pelo impulso sexual lizados sobre o Brasil, como Sigaud, dêem a sífilis como autóctone,170 na criança - sadismo, masoquismo, bestialidade ou fetichismo - depen­ as evidências reunidas por Oscar da Silva Araújo fazem-nos chegar a de em grande parte de oportunidade ou chance, isto é, de influências conclusão diversa. "Os viajantes médicos", lembra ainda o autor bra­ externas sociais.174 Mais do que de predisposição ou de perversão inata. sileiro, "que nos últimos tempos estudaram as doenças dos nossos Refere-se o autor de The sexual life of the child ao período de índios ainda não mesclados com civilizados e entre eles os Drs. "indiferenciação sexual" - que segundo Penta e Max Dessoir175 todo Roquette-Pinto, Murilo de Campos e Olímpio da Fonseca Filho, nun­ indivíduo atravessa - como particularmente sensível àquelas influên­ ca observaram a sífilis entre esses indígenas, não obstante terem as­ cias. Nesse período é que sobre o filho de família escravocrata no sinalado a existência de várias dermatoses." Acresce que: "os primeiros Brasil agiam influências sociais - a sua condição de senhor cercado viajantes e escritores que se referem ao clima e às doenças do Brasil de escravos e animais dóceis - induzindo-o à bestialidade e ao sadis­ nunca assinalaram a existência desse mal entre os silvícolas que até mo. Este, mesmo dessexualizado depois, não raro guardava em várias então viviam isolados e não tinham tido contato com os europeus manifestações da vida ou da atividade social do indivíduo, aquele [.. .]".171 De igual parecer é outro investigador ilustre, o professor Pirajá "sexual undertone", que segundo Pfister, "is neverlacking to wellmarked da Silva, que julga a lepra e a sífilis "introduzidas no Brasil pelos sadisticpleasure" }lb Transforma-se o sadismo do menino e do adoles­ ri colonos europeus e africanos." O que parece é ter havido muita cente no gosto de mandar dar surra, de mandar arrancar dente de confusão de pian ou mal boubático com a sífilis. negro ladrão de cana, de mandar brigar na sua presença capoeiras, gaios e canários - tantas vezes manifestado pelo senhor de engenho dem e a da Liberdade, a da Autoridade e a da Democracia - é que se quando homem feito; no gosto de mando violento ou perverso que vem equilibrando entre nós a vida política, precocemente saída do explodia nele ou no filho bacharel quando no exercício de posição regime de senhores e escravos. Na verdade, o equilíbrio continua a elevada, política ou de administração pública; ou no simples e puro ser entre as realidades tradicionais e profundas: sadistas e masoquis­ gosto de mando, característico de todo brasileiro nascido ou criado tas, senhores e escravos, doutores e analfabetos, indivíduos de cultu­ em casa-grande de engenho. Gosto que tanto se encontra, refinado ra predominantemente européia e outros de cultura principalmente em um senso grave de autoridade e de dever, em um D. Vital, como africana e ameríndia. E não sem certas vantagens, as de uma dualidade abrutalhado em rude autoritarismo em um Floriano Peixoto. não de todo prejudicial à nossa cultura em formação, enriquecida de Resultado da ação persistente desse sadismo, de conquistador um lado pela espontaneidade, pelo frescor de imaginação e emoção sobre conquistado, de senhor sobre escravo, parece-nos o fato, liga­ do grande número e, de outro lado, pelo contato, através das elites, do naturalmente à circunstância econômica da nossa formação patriar­ com a ciência, com a técnica e com o pensamento adiantado da Euro­ cal, da mulher ser tantas vezes no Brasil vítima inerme do domínio ou pa. Talvez em parte alguma se esteja verificando com igual liberalida- do abuso do homem;177 criatura reprimida sexual e socialmente den­ de o encontro, a intercomunicação e até a fusão harmoniosa de tradi­ tro da sombra do pai ou do marido. Não convém, entretanto, esque­ ções diversas, ou antes, antagônicas, de cultura, como no Brasil. É cer-se o sadismo da mulher, quando grande senhora, sobre os escra­ verdade que o vácuo entre os dois extremos ainda é enorme; e defi­ vos, principalmente sobre as mulatas; com relação a estas, por ciúme ciente a muitos respeitos a intercomunicação entre duas tradições de ou inveja sexual. cultura. Mas não se pode acusar de rígido, nem de falta de mobilidade Mas esse sadismo de senhor e o correspondente masoquismo de vertical - como diria Sorokin - o regime brasileiro, em vários sentidos escravo, excedendo a esfera da vida sexual e doméstica, têm-se feito sociais um dos mais democráticos, flexíveis e plásticos. sentir através da nossa formação, em campo mais largo: social e polí­ Uma circunstância significativa resta-nos destacar na formação tico. Cremos surpreendê-los em nossa vida política, onde o mando- brasileira: a de não se ter processado no puro sentido da europeização. nismo tem sempre encontrado vítimas em quem exercer-se com re­ Em vez de dura e seca, rangendo do esforço de adaptar-se a condi­ quintes às vezes sádicos; certas vezes deixando até nostalgias logo ções inteiramente estranhas, a cultura européia se pôs em contato transformadas em cultos cívicos, como o do chamado marechal-de- com a indígena, amaciada pelo óleo da mediação africana. O próprio ferro. A nossa tradição revolucionária, liberal, demagógica, é antes sistema jesuítico - talvez a mais eficiente força de europeização técni­ aparente e limitada a focos de fácil profilaxia política: no íntimo, o ca e de cultura moral e intelectual, a agir sobre as populações indíge­ que o grosso do que se pode chamar "povo brasileiro" ainda goza é a nas; o próprio sistema jesuítico, no que logrou maior êxito no Brasil pressão sobre ele de um governo másculo e corajosamente autocráti- dos primeiros séculos foi na parte mística, devocional e festiva do co. Mesmo em sinceras expressões individuais - não de todo invulgares culto católico. Na cristianização dos caboclos pela música, pelo canto, nesta espécie de Rússia americana que é o Brasil17" - de mística revo­ pela liturgia, pelas profissões, festas, danças religiosas, mistérios, co­ lucionária, de messianismo, de identificação do redentor com a massa médias; pela distribuição de verônicas com agnus-dei, que os cabo­ a redimir pelo sacrifício de vida ou de liberdade pessoal, sente-se o clos penduravam no pescoço, de cordões, de fitas e rosários; pela laivo ou o resíduo masoquista: menos a vontade de reformar ou cor­ adoração de relíquias do Santo Lenho e de cabeças das Onze Mil rigir determinados vícios de organização política ou econômica que o Virgens. Elementos, muitos desses, embora a serviço da obra de puro gosto de sofrer, de ser vítima, ou de sacrificar-se. europeização e de cristianização, impregnados de influência animística Por outro lado, a tradição conservadora no Brasil sempre se tem ou fetichista vinda talvez da África. sustentado do sadismo do mando, disfarçado em "princípio de Auto­ Porque os próprios Exercícios espirituais parece que assimilara- ridade" ou "defesa da Ordem". Entre essas duas místicas - a da Or­ os Loyola de originais africanos; são, pelo menos, produtos do mes- mo clima místico ou religioso que as manifestações do voluptuoso E verdade que agindo sempre, entre tantos antagonismos contun­ misticismo dos árabes. O céu jesuítico, como o purgatório ou o infer­ dentes, amortecendo-lhes o choque ou harmonizando-os, condições no, cujas delícias ou horrores o devoto que pratique os Exercícios de confraternização e de mobilidade social peculiares ao Brasil: a acabará vendo, sentindo-lhes o cheiro e o gosto, ouvindo-lhes os miscigenação, a dispersão da herança, a fácil e freqüente mudança de cantos de gozo ou os ai-jesus de desespero - esse céu, esse purgató­ profissão e de residência, o fácil e freqüente acesso a cargos e a rio e esse inferno ao alcance dos sentidos por meio daquela técnica elevadas posições políticas e sociais de mestiços e de filhos naturais, admirável, aproxima-os o estudo comparado das religiões de antigos o cristianismo lírico à portuguesa, a tolerância moral, a hospitalidade sistemas de mística muçulmana. Um livro sobre as origens da Compa­ a estrangeiros, a intercomunicação entre as diferentes zonas do país. nhia de Jesus, o de Hermann Müller, conclui, talvez precipitadamente, Esta, menos por facilidades técnicas do que pelas físicas: a ausência pela imitação da técnica muçulmana por Santo Inácio de Loyola. E de um sistema de montanhas ou de rios verdadeiramente perturbador Chamberlain, na sua interpretação, toda em termos de raça - e esta a da unidade brasileira ou da reciprocidade cultural e econômica entre nórdica - da cultura religiosa da Europa moderna, repudia em absolu­ os extremos geográficos. to Santo Inácio de Loyola por enxergar no seu sistema qualidades antieuropéias de imaginação, de sentimento e de técnica de misticis­ mo. Ou, no seu entender, de antimisticismo. Chamberlain não sente no sistema de Loyola nenhum perfume místico: para ele os Exercícios resumem-se num "método grosseiramente mecânico, arranjado com suprema arte para excitar o indivíduo [...]."179 A possível origem africana - Chamberlain considera-a definitiva­ mente provada - do sistema jesuítico nos parece importantíssima na explicação da formação cultural da sociedade brasileira: mesmo onde essa formação dá a idéia de ter sido mais rigidamente européia - a catequese jesuítica - teria recebido a influência amolecedora da Áfri­ ca. A mediação africana no Brasil aproximou os extremos, que sem ela dificilmente se teriam entendido tão bem, da cultura européia e da cultura ameríndia, estranhas e antagônicas em muitas das suas ten­ dências. Considerada de modo geral, a formação brasileira tem sido, na verdade, como já salientamos às primeiras páginas deste ensaio, um processo de equilíbrio de antagonismos. Antagonismos de economia e de cultura. A cultura européia e a indígena. A européia e a africana. A africana e a indígena. A economia agrária e a pastoril. A agrária e a mineira. O católico e o herege. O jesuíta e o fazendeiro. O bandeiran­ te e o senhor de engenho. O paulista e o emboaba. O pernambucano e o mascate. O grande proprietário e o pária. O bacharel e o analfabe­ to. Mas predominando sobre todos os antagonismos, o mais geral e o mais profundo: o senhor e o escravo. et Mémoires de la Société dAnthropologie de Paris, série V, vol. IV, e Ferraz de Macedo, Bosquejos de antropologia criminal, Lisboa, 1900.

6. Conde Hermann de Keyserling, "Portugal" (trad. do alemão por Herta Oppenheimer e Osório de Oliveira), em Descobrimento, vt2 2, Lisboa, 1931. Notas ao Capítulo I 7. Alexandre Herculano, História de Portugal, Lisboa, 1853.

8. Mendes Correia, Os povos primitivos da Lusitânia, cit. 1. Em Portugal, como adiante veremos, mais através da burguesia marítima, que ali cedo se ar­ redondou em força dominadora, do que pela vontade ou ação da nobreza rural. Esta, após a 9. A incapacidade de tomar resoluções prontas, que Teófilo Braga responsabiliza pela "falta de inicia­ morte de D. Fernando em 1383, chegou a inclinar-se à reunião de Portugal com Castela, contra o tiva" no português (Opovo português, Lisboa, 1885). que levantou-se a burguesia, escolhendo para ocupar o trono o mestre de Avis. Os partidários do 10. Ferraz de Macedo, op. cit. mestre de Avis, diz-nos Antônio Sérgio (A sketch of the history of Portugal, Lisboa, 1928) que eram "a minoria mas tinham a seu favor [... ] o dinheiro da classe média." 11. Opinião de Antônio Arroio, "O povo português", em Notas sobre Portugal, Lisboa, 1908. Entre­ tanto lê-se no próprio Eça, após a descrição de Gonçalo: 2. Na Beira Baixa abundam "as localizações da raça pequena, dolicocéfala, do tipo de Mugem", "Assim todo completo, com o bem, com o mal, sabem vocês quem ele me lembra?... como no Alentejo predominam "altas estaturas talvez pela influência de uma raça árabe, - Quem? mesaticéfala", e no Algarve como em outros pontos do litoral português se encontram represen­ - Portugal!" tantes numerosos de um "tipo semito-fenício de estatura mediana" (A. A. Mendes Correia, Os criminosos portugueses, Lisboa, 1914). Veja-se também Fonseca Cardoso, "Antropologia portu­ 12. Eça de Queirós,yl ilustre casa de Ramires, Porto, 1904.0 autor menciona outros característicos. guesa", em Notas sobre Portugal, Lisboa, 1908. No Concelho de Alcácer do Sal são numerosas as Em relação com a nossa idéia (vejam-se O mundo que o português criou, Rio de Janeiro, famílias mulatas, segundo informa Leite de Vasconcelos (cit. por Mendes Correia, Os povos pri­ 1940 e Uma cultura ameaçada: a luso-brasileira, Recife, 1940) de que o português sempre mitivos da Lusitânia, Porto, 1924). uniu ao espírito de aventura o de precaução, rotina, segurança, utilidade, não nos devemos esque­ cer de que modernos historiadores do direito e do comércio marítimos atribuem aos portugueses 3. Rafael Altamira na suaFibsofia de la historiay teoria de la civilización (Madri, 1915) observa a invenção dos seguros marítimos, criados - destaca o Sr. Jaime Cortesão - "na longa prática do que as influências recíprocas se operam "entre pueblos enemigos a quienes separan ódios" e tráfego por mar a distância, durante os séculos XIII e XIV e consagrados pela legislação de Dom cita precisamente o exemplo dos muslins e dos cristãos; "los cuales no obstante sus guerras Fernando [...]" ("Tradição", em Cartas à mocidade, Lisboa, 1940, p. 71). Jaime Cortesão, a continuas se influyeron mutuamente en alto grado." propósito dessa e de outras antecipações dos portugueses na solução dos problemas técnicos e de 4. Freeman salienta "the general law by which, in almost aliperiods, either the masters ofSpain organização social, insurge-se contra "uma falsa história em que [os portugueses] entramos ape­ have borne rule in África or the masters of África have bome rule in Spain" (E. A. Freeman, nas com o nosso valor, definindo-se por.ela o português dos descobrimentos como um tipo aven­ Historical geography of Europe, Londres, 1882). Mas é principalmente em Portugal que se tem tureiro e de impulsivo, tutelado na sua ignorância pela ciência estrangeira" (p. 73). Palavras hoje verificado essa alternativa de domínio continental, de constante ajustamento e reajustamento de inglesas, mas derivadas da língua portuguesa, como curral, cuspidor, molasses, cruzado, valores de cultura e preponderâncias de raça. albatroz (veja-se nossoBrazil: an interpretation, Nova Iorque, 1945) indicam que a influência

5. Segundo a pesquisa craniométrica e osteométrica de Paula e Oliveira. Dois outros antropólogos portuguesa sobre a cultura ocidental se faz sentir na zona da técnica (inclusive a rural-pastoril). portugueses, Silva Bastos e Fonseca Cardoso, encontraram nas regiões montanhosas de Beira Alta, 13- Desconhecemos em que elementos se apoia Waldo Frank para escrever: "Elportuguês es mas Trás-os-Montes, Beira Baixa "em estado de relativa pureza os representantes da raça dolicocéfala europeo que el espanol:posee un linajesemitico más débil, un linajegótico másfuerte" ("La

de Mugem (tipo Beaumes-Chaudes) que constitui," diz Mendes Correia, "o fundo antropológico a selva", emSur, Buenos Aires, n 1,1931). do povo português". (Vejam-se Mendes Correia, Os criminosos portugueses, e Fonseca Cardoso, Pensamos exatamente o contrário: que o português sendo mais cosmopolita que o espanhol, é loc. cit.; também os trabalhos de Costa Ferreira, "La capacite du crâne chez les ?oú\xgús",Bulletins entretanto dos dois talvez o menos gótico e o mais semita, o menos europeu e o mais africano: em todo o caso o menos definidamente uma coisa ou outra. O mais vago e impreciso, como expressão como cera mole ao calor de uma temperatura média anual de 28°, o português campeia impondo de caráter continental europeu. O mais extra-europeu. 0 mais atlântico. e implanta duradoura prole". ("0 século XX sob o ponto de vista brasileiro", O Estado de S. Paulo, 23 de abril de 1901). Páginas de igual fervor apologético, embora escritas de ponto de vista dife­ 14. Aubrey F. G. Bell, Portugal of the portuguese, Londres, 1915.0 autor, cujas observações sobre o rente do de Pereira Barreto, sobre "o elemento português na demografia do Brasil" são as da lirismo no caráter português coincidem com as de Miguel de Unamuno {Por tierras de Portugal memória apresentada com esse título ao Congresso Luso-Brasileiro de História em Lisboa, 1940, V Espana, Madri, 1911) e as de ensaístas mais novos, salienta outros contrastes. por outro homem de ciência, este português, o professor A. A. Mendes Correia, cujos pendores 15. Fonseca Cardoso verificou antropologicamente a presença do elemento semito-fenício em popu­ etnocêntricos no sentido da exaltação do "português branco" coincidem com os do sociólogo lações atuais de Portugal (Fonseca Cardoso, loc. cit.) e o professor Mendes Correia, destacando o brasileiro Oliveira Viana e com os do romancista Afrânio Peixoto. Uma apresentação mais sobria- papel etnogênico dos judeus na formação portuguesa, diz que sua importância já seria grande na mente científica de aspectos interessantes do mesmo assunto é oferecida pelo professor tenente- época visigótica {Raça e nacionalidade, Porto, 1919)-Sob o ponto de vista da história social, o coronel-médico Alberto C. Germano da Silva Correia em seus trabalhos "Les lusos descendants de estudo definitivo sobre a infiltração israelita em Portugal é o de João Lúcio de Azevedo: História 1'inde portugaise", Goa, 1928, e "Os lusos descendentes de Angola - Contribuição para o seu dos cristãos-novosportugueses (Lisboa, 1915). estudo antropológico", Memória, 3S Congresso Colonial Nacional, 1930.

16. D. G. Dalgado no seu estudo The climate of Portugal (Lisboa, 1914) destaca o fato de os portugueses 0 fato da área amazônica no Brasil permanecer ainda quase sem colonização parece indicar se aclimarem em várias partes do mundo melhor que quase todos os outros europeus {"acclimatize que o português, ao contrário da afirmativa enfática de Pereira Barreto, não tem o dom de, por themselves in various paris of the world better than almost ali the other european races"). disposições puramente étnicas, "anular a seu favor as mais inclementes influências climatéricas." Talvez - é opinião de muitos recolhida por Dalgado - por serem um povo em cuja formação a raça Essa área provavelmente só será colonizada plenamente com o desenvolvimento e barateamento semita entrou com forte contingente {"the great admixture ofthepeople ofthe country with the da técnica de ar condicionado e de outras formas de domínio do clima pelo homem civilizado, semitic race"). Emile Béringer nos seus Estudos sobre o clima e a mortalidade da capital de ainda que não deva ser esquecida nunca a importância, na valorização de áreas do tipo da ama­ Pernambuco (trad. de Manuel Duarte Pereira - Pernambuco, 1891) escreve sobre o assunto: "a zônica, dos motivos e valores espirituais que animem os colonizadores. Importância destacada raça portuguesa parece dotada de um temperamento que lhe permite adaptar-se mais facilmente que pelos mais modernos estudiosos do assunto como S. E Markham em Climate and the energy of outras raças a climas diferentes do da mãe-pátria. Atribui-se esta qualidade não só ao cruzamento nations. Londres, 1944. dos portugueses com os israelitas que se domiciliaram em Portugal depois de sua expulsão, e que 17. Impossível precisar qual fosse a reduzida população portuguesa nos séculos XV e XVI. Computam- possuem uma notável aptidão para aclimação, como também à influência persistente de sangue na de modo diverso os historiadores. Talvez no século XV não passasse de 1.010.000 do cálculo de negro, que foi largamente propagado em Portugal na época em que, no próprio país, se fazia um Rebelo Silva {Memória sobre a população e agricultura de Portugal desde a fundação da importante tráfico de escravos". E Hermann Wátjen em Das Judentum und die Anfànge der monarquia até 1865, Lisboa, 1868). Dos escritores mais aproximados da época consultem-se modemen Kolonisation {tyuàDasHoMndiscbeKolonialreichinBrasilien, Gota, 1921) salienta sobre o assunto Manuel de Severim de Faria, Notícias de Portugal, Lisboa, 1655, e Duarte Nunes que a raiva dos holandeses contra os judeus em Pernambuco (raiva que quase se aguçou em anti- de Leão, Descrição geral do reino de Portugal, 1610. Entre os modernos, vejam-se os cálculos de semitismo) era em parte devida ao fato dos israelitas se aclimarem com espantosa facilidade en­ Adrien Balbi, Essai statistíque sur le Portugal, Paris, 1822; Gama Barras, História da adminis­ quanto os flamengos custavam a adaptar-se à vida nos trópicos. tração pública em Portugal nos séculos XV e XVI, Lisboa, 1896; Costa Lobo, A história da Já em 1901 escrevia com exagero apologético um homem de ciência paulista, Luís Pereira sociedade em Portugal, no século XV, Lisboa, 1904; Oliveira Martins, A história de Portugal, Barreto: "0 que a observação científica dos nossos dias nos ensina é que nenhuma raça no mundo Porto, 1882;J. Lúcio de Azevedo, "Organização econômica", em História de Portugal, 27, II; J. J. iguala a portuguesa como aptidão para se adaptar a todas as condições imagináveis da existência Soares de Barros, "Memórias sobre as causas da diferente população de Portugal em diferentes terrestre. É a raça privilegiada, é a única que teve o dom de anular a seu favor as mais inclementes tempos da monarquia portuguesa", em Memórias econômicas da Academia Real das Ciên­

influências climatéricas: o aclimamento universal é o seu apanágio. 0 português, é o preferido, 4 cias, 2 ed, Lisboa, 1885. no serviço das baleeiras norte-americanas e, nesse posto, o vemos impertérrito arrostar os frios Faz algum tempo, escreveu o professor Everett V. Stonequist a propósito das relações dos portu­ glaciais das costas da Islândia. Na zona tórrida, a mais mortífera da África, o encontramos sempre gueses e espanhóis com as gentes de cor na América que "it is to be noted that the Spanish and a prumo, robusto, inabalável, jovial e altaneiro. Lá onde nenhuma raça medra, o português pros­ Portuguese had already experienced prolonged contact with African Peoples and were pera. Lá onde os soberbos colossos louros, os belos Apoios do Norte, ruem por terra, derretendo-se themselvesofthe brunette Caucasian fype" ("Race, mixture and the mulatto", em Race relations no documentos do século XVII com relação às "naus da índia", alguns dos quais incluídos nas and the raceproblem, organizado por Edgar T. Thompson, Durham, 1939, P- 248), pontos acen­ coleções de portarias, cartas, leis, provisões, alvarás etc, publicadas pela Biblioteca Nacional do tuados no presente ensaio desde 1933- 0 professor Stonequist admite a possibilidade do português Rio de Janeiro. Portaria datada da Bahia, em 9 de julho de 1672, nos dá notícia não só de socorro ter se revelado no Brasil portador ainda menos vigoroso que o espanhol de "consciência de raça" a soldados vindos no galeão São Pedro de Rates "que indo para índia arribou nesta Bahia", (trabalho cit., p. 249, nota). Essa possibilidade não é admitida por todos os estudiosos do assunto. como do "donativo do dote de paz consignado por Sua Alteza às despesas das naus da índia que O professor Sílvio Zavala, por exemplo, em seus ensaios sobre a colonização espanhola do México, indo, ou vindo tomarem este porto" (Biblioteca Nacional, documentos históricos, portarias e mostra-se inclinado a considerar os espanhóis tão liberais quanto os portugueses em suas ativida­ cartas dos governadores-gerais e governo interno, vol. VIII da série VI dos Documentos da des para com as gentes de cor, tendo mesmo impugnado as afirmativas ou sugestões que se fazem Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro, 1929, p. 95). A existência de tal donativo parece indicar que a respeito no presente ensaio. "Permita se nos sugerir" - escreveu o ilustre historiador mexicano não era raro o contato de naus da índia com o Brasil. Pela portaria de Pde julho de 1674, relativa a propósito do presente ensaio - "incidentalmente que es necesario hacer una revisión de los ao galeão Nossa Senhora do Rosário, São Caetano e São Francisco Xavier "arribado a este conceptos que emite elA.en vários lugares sobre la colonización espanola, de la qual parece porto" [Bahia], tendo partido de Portugal para a Bahia, vê-se que se exigia do capitão de nau tener una idea tan somera como discutible" ("Casa-grande & senzala" etc, Revista de Histó• assim arribada dar conta "das causas que teve para não seguir viagem" (Documentos, cit., p. ria de América, n" 15, dezembro, 1942, p. 1942). Igual objeção às generalizações feitas no pre­ 193). Também que os representantes do governo metropolitano no Brasil se serviam de tais naus sente ensaio sobre o colonizador português em confronto com o espanhol, em suas relações com no interesse geral do Império (p. 201). São esses contatos, que parecem ter sido freqüentes, que os indígenas da América, é levantada pelo professor Lewis Hanke que, entretanto, reconhece: "Sea explicam o fato de terem a vida, os costumes e a arquitetura no Brasil colonial recebido constante loquefuere, parece cierto que el colonizador português poseta mayor espirito cosmopolita y influência direta do Oriente, acusada pelo uso, generalizado entre a gente de prol, de palanquins, mayorplasticidad social que ningún otro europeo en América" (Gilberto Freyre - Vida y bangüês, chapéus-de-sol, leques da China com figuras de seda estofada e caras de marfim, sedas, colchas da índia, porcelana, chá etc, e ainda hoje atestada pelos antigos leões de louça de feitio obra - Bibliografia, antologia, Nova Iorque, 1939)- oriental - ou, especificamente, chinês - que guardam, com expressão ameaçadora e zangada, os Sobre esse aspecto da ação do colonizador espanhol na América - suas relações com os indíge­ portões de velhas casas e o frontão da igreja do convento de São Francisco do Recife. Atestada nas - vejam-se os trabalhos do mesmo professor Hanke, The first social experiments in America também pelas sobrevivências de porcelanas e caixas de sândalo, artigos que, segundo tradições - A study in the development of spanish indian policy in the sixteenth century, Cambridge, brasileiras de família, foram comuns no nosso país durante o período colonial. Um cronista nos 1935, e Cuerpo de documentos dei siglo XVI, México, 1943; Rómulo D. Carbia, História de la fala dos últimos anos desse período como tempos em que, no Recife, as famílias burguesas, estira- leyenda negra hispano-americana, Buenos Aires, s.d.; Arthur Helps, The spanish conquest in das em compridas esteiras de pipiri, ceavam à calçada ou à porta da rua, em "pratos de verdadeira America and its relations to the history ofslavery and the government ofcolonies, Londres, louça da China, sarapintados de várias cores", que "produziam um magnífico efeito à luz da lua" 1900-1905; Robert Ricard, Études et documents pour Vhistoire missionaire de VEspagne et (F. P. do Amaral, Escavações - Fatos da história de Pernambuco, Recife, 1889, P- 279) • Portugal, Paris, 1931; Sílvio Zavala e Maria Castelo, Fuentes para la historia dei trabajo en Note-se, ainda, que segundo documentos do século XVII, há indícios de capitães das naus vindas Nueva Espana, México, 1939-1941, e Sílvio Zavala, Ato viewpointson the spanish colonization da índia para Lisboa (naus que arribavam em portos do Brasil mas logo conseguiam, ao que parece, of America, Filadélfia, 1943. regularizar sua situação comercial no interesse não só do Império, como de particulares) daqui 18. Permitia aos portugueses tão grande mobilidade a quase perfeição que, para a época, atingira em terem partido com artigos produzidos no Brasil em troca dos quais é possível que, irregularmente, Portugal a técnica de transporte marítimo. Perfeição e abundância de veículos. "Em compensa­ deixassem objetos do Oriente. Por portaria de 12 de março de 1673 se vê que "porquanto veiu arriba­ ção do exíguo material humano", nota Carlos Malheiros Dias, "Portugal possuía como nenhum da a este porto a nau caravella vindo da índia para Lisboa, e me representar o capitão Simão de Souza outro país nos primeiros decênios do século XVI, abundantes veículos de transporte marítimo" de Tavora que era conveniente levasse alguma carga de assucares de particulares para poder ir com (História da colonização portuguesa do Brasil, Introdução, Lisboa, 1934, vol. I). mais segurança. O provedor-mor da Fazenda Real deste Estado mande lançar pelos mercadores cento Se é certo que, oficialmente, as embarcações vindas da índia para Lisboa ou idas de Lisboa para e vinte caixas de assúcar [...]" (Documentos, cit., p. 151). Ainda na citada coleção de documentos a índia, durante os séculos XVI e XVII, não tocavam - ou não deviam tocar - no Brasil, parece que se lê a transcrição de uma carta do Príncipe, datada de Lisboa de 8 de março de 1672, a Afonso Furtado de fato, e sob pretextos vários, foi constante esse contato. Aliás, foi o mesmo regularizado em 1672, de Mendonça, referente às naus da índia, da qual transcrevemos este trecho: "Eu o Príncipe vos envio quando afinal o governo metropolitano reconheceu sua conveniência ou necessidade. Indicam- muito saudar. Por ter resoluto (como tereis entendido da provisão que com esta se vos remete) que as embarcações da índia que partirem da índia para este reino venham tomar a Bahia para melhor 20. Luís Chaves, Lendas de Portugal, Porto, 1924. segurança de sua viagem [...]" (Documentos, cit., p. 93) • Por aí se vê que houve em 1672, da parte 21. "É o vermelho [... ] que o povo português vê em tudo que é maravilhoso: desde os trajos român­ do governo metropolitano, medida no sentido de regularizar o contato das naus da índia com o ticos das mouras-encantadas [...]" (LuísChaves,Páginasfolclóricas, Lisboa, 1920). Brasil no interesse geral do Império Português. Por outro lado, não é preciso dispor alguém de exces­ siva imaginação histórica para entrever irregularidades, ligadas ao contato das naus da índia e da 22. Às mouras-encantadas se atribui em Portugal como salienta Leite de Vasconcelos {Tradiçõespo• Angola com o Brasil, semelhantes - embora em escala muito menor - às que se verificaram na pulares de Portugal, Porto, 1882) "o papel de divindade das águas". É vulgar a crença, segundo própria índia, durante a época de domínio português no Oriente, e em ligação com o comércio de se lê nesse e em outros trabalhos do eminente investigador e nos de Consiglieri Pedroso {Contos especiarias. Dessas próprias irregularidades, porém, parece ter resultado considerável riqueza de populares portugueses) e Luís Chaves {Lendas de Portugal), de que as mouras-encantadas apa­ intercurso de valores culturais entre as várias partes do Império lusitano, particularmente favorável recem quase sempre junto às fontes e a pentear-se: às vezes com "pentes de ouro". Comum é ao Brasil. Semelhante vantagem talvez não tivesse se verificado se as leis portuguesas de regulamen­ também a crença de que as mouras não só andam vestidas de encarnado como aproximam-se de tação do mesmo intercurso - leis que visavam o interesse exclusivo dos reis mercadores - tivessem quem lhes mostre um "lenço vermelho" ou "cousas vermelhas" (Leite de Vasconcelos, op. cit.). sido rigidamente executadas com prejuízo da intercomunicação entre várias colônias portuguesas e Circunstâncias todas essas que parecem confirmar ser a crença nas mouras-encantadas uma ex­ do enriquecimento recíproco de sua cultura comum. Sobre aspectos gerais do assunto leiam-se: pressão de misticismo sexual ou erótico, espécie de culto da mulher de cor ou da Vênus fosca entre Girolarno Priuli, / Diarii, Città di Castello, 1911; Bolonha, 1933; J- Lúcio de Azevedo, Épocas de os portugueses. Portugal econômico, Lisboa, 1929; Charles de LamoyHistoirederexpansion depeupleseuropéens, Bruxelas, 1907; Francisco Antônio Correia, História econômica de Portugal, Lisboa, 1929, e Docu­ 23. Talvez entre os indígenas do Brasil, a cor erótica por excelência, além de mística e profilática. mentos históricos do arquivo municipal, Atas da Câmara, 1625-1641, vol. I, Prefeitura Munici­ Sobre o assunto, de que adiante trataremos com mais detalhes, veja-se o estudo do professor Rafael Karsten, The civilization ofthe South American Indians, with special reference to magic and pal do Salvador, Bahia, s. d. religion, Nova Iorque, 1926. Veja-se mais sobre o assunto Alexander Marchant, "Colonial Brasil as a way station for the portuguese índia Fleets", The Geographical Revieiv, Nova Iorque, n2 3, vol. 31 julho de 1941.0 , 24. "Penteiam-se as mulheres muitas vezes", notou Ives D'Evreux entre as índias do Brasil {Voyage autor desse interessante artigo sustenta que entre 1500 e 1730 somente "cerca de vinte naus da au norddu Brésit). Quanto à freqüência dos banhos entre as índias, salientaram-na quase todos índia tocaram no Brasil", desgarradas das respectivas esquadras, sob circunstâncias extraordiná­ os observadores dos costumes indígenas nos séculos XVI e XVII. Entre outros, Pero Vaz de Cami­ rias. O que parece é que só "sob circunstâncias extraordinárias", nunca oficial ou regularmente, nha, companheiro de Pedralves, na sua carta escrita em l2 de maio de 1500, em Manuel Aires de deviam as mesmas naus tocar no Brasil; mas que entre a lei - visando assegurar privilégios de Casal, Corografia brasílica, 2a edição, tomo I, Rio de Janeiro, 1833, P-10. grupo metropolitano - ou a normalidade oficial e a prática, a distância foi lusitanamente grande. 25. Madison Grant, Thepassing of thegreat race, Nova Iorque, 1916. Assim o número de naus da índia, aparentemente "desgarradas", a se refugiarem em portos bra­ sileiros teria sido considerável; e, segundo indícios ou sugestões dos próprios documentos oficiais, 26. "Viagem a Portugal dos cavaleiros Trom e Lippomani" (1580), trad. de Alexandre Herculano, em vez de simplesmente arribadas, aqui teriam tocado por interesse no comércio de açúcar. Açú­ Opúsculos, Lisboa, 1897. car possivelmente trocado por objetos orientais. De onde a abundância dos mesmos na região 27. Este adágio vem registrado por H. Handelmann na smHistória do Brasil (trad.), Rio de Janeiro, brasileira do açúcar durante o período colonial. 1931. 19. Roy Nash em The conquest ofBrazil (Nova Iorque, 1926) salienta o fato do colonizador do Brasil 28. J. W. Gregory, The menace of color, Filadélfia, 1925. ter, antes do seu domínio imperial sobre as raças de cor, experimentado, por sua vez, o domínio de um povo de pele escura, superior aos hispano-godos em organização e em técnica. "Under such 29. Já Quatrefaces mencionara alguns casos notáveis de aclimatabilidade: dos franceses na Córsega, amditions" escreve Nash, "it would be deemedan honor for the white to marry or mate with dos fugitivos do Edito de Nantes na Colônia do Cabo. E Hintze, em estudo feito entre descendentes governing class, the brown man, instead of the reverse." Ruediger Bilden ("Brasil, laboratory dos povoadores brancos da ilha de Sabá, colonizada em 1640, não encontrou nessa população °f civilfzation", em Nation, Nova Iorque, 16, CXXVIII, janeiro, 1929) põe igualmente em desta­ pura, sem mestiços, efeitos de degeneração (A. Balfour, "Sejourners in the tropics", The lancet, que o fato das relações dos portugueses com povos de cor se terem iniciado em circunstâncias vol. 1,1923, p. 1.329). Mas nenhum caso tão impressionante como o dos holandeses em Kissav, desfavoráveis aos brancos. Refere-se, é claro, à fase histórica. citado por Gregory. 30. Karl Sapper, apud Oliveira Viana, Raça e assimilação, São Paulo, 1932. transmissão parcelada das heranças e domínios" a que se referiu Sílvio Romero em carta a Ed. Demmolins (Provocações e debates, Porto, 1916). As exceções, como a do morgadio dos Pais 31. Griffith Taylor, Environment and race, Oxford, 1926. Barreto, no Cabo, em Pernambuco, foram raras. 32. Benjamin Kidd, The control of the tropics, Londres, 1898. Sobre o assunto vejam-se também John 35. Acerca da atividade colonizadora dos puritanos ingleses nos trópicos, veja-se A. P. Newton, Tf)e W. Gregory, "Inter-racial problems and white colonization in the tropics", Report of the British colonizingactknties of the englishpuritans, New Haven, 1914. Vejam-se também Albert Galloway Association for the Advancement of Science, Toronto, 1924; Edgar Sydenstricker, Health and Keller, Colonization: a study of the founding of new societies, Boston, Nova Iorque, 1908 e environment, Nova Iorque, 1933; A. Grenfell Price, White settlers in the tropics, Nova Iorque, Herbert I. Priestley, The coming of the white man, Nova Iorque, 1929- 1939; S. E. Markham, Climate and the energy of nations, Londres, Nova Iorque, Toronto, 1944. 36. E. Huntington, Civilizatkm and climate, NewHaven, 1915. "Poor white trash" quer dizer "brancos 33. Mayo Smith, Statistics andsociology, Nova Iorque, 1907. Um amigo nos chama a atenção para as degenerados". Sobre "poor white" em relação com a colonização e o desenvolvimento social do pesquisas de A. Osório de Almeida sobre "o metabolismo basal do homem tropical de raça bran­ sul dos Estados Unidos veja-se Culture in the south (organizado por W. T. Couch), Chapei Hill, ca", cujos primeiros resultados foram publicados em 1919, no Journal de Physiologie et de 1935, especialmente Capítulo XX. Veja-se também a obra em cinco volumes que reúne o resultado Pathologie Générale. Osório verificou em dez indivíduos brancos residentes no Rio de Janeiro que das pesquisas da Comissão Carnegie sobre o mesmo problema na África do Sul: The poor white o seu metabolismo basal era inferior aos padrões europeus e americanos. O mesmo verificou, problem in South África, Stellenbosch, 1935. posteriormente, em negros, também residentes no Rio de Janeiro. Baseado nessas pesquisas o notável cientista brasileiro considera "essa redução como um fator fundamental da aclimação 37. Em um desses recifes, perto de Olinda, é que um francês escreveu a frase amarga recolhida por nos países quentes", acreditando que "a aclimação consiste essencialmente na modificação lenta Sebastião da Rocha Pita: "Le monde va de pi ampis" (sic). Veja-se Rocha Pita, História da e progressiva do metabolismo basal, até a sua fixação em um valor compatível com as novas América portuguesa, Lisboa, 1730. Sobre a atividade dos franceses no Brasil no século XVI, leia- condições de clima em que se acha o indivíduo". "A teoria de aclimatação de A. Osório de Almeida", se o livro de Paul Gaffarel, Histoire du Brésil Français ou seizième siècle, Paris, 1878. escreve 0. B. de Couto e Silva, "vem esclarecer muitos pontos até agora completamente obscuros. 38. C. Keller, Madagascar, Mauritius and other eastafrican islands, Londres, 1901. Assim se explica a inferioridade em que se encontra o europeu para lutar contra o clima tropical" 39. Ellen Churchill Semple, Influences ofgeographic environment, Nova Iorque, 1911. (0. B. de Couto e Silva, "Sobre a lei de Rubner-Richet", tese para livre-docência, Rio de Janeiro, 1926). O assunto é daqueles que têm sido notavelmente enriquecidos nos últimos anos, com tra­ 40. Semple, op. cit. Gregory, entretanto, dá os colonos alemães, desde 1847 estabelecidos no sul do balhos e pesquisas científicas. Brasil, como provando a aclimatabilidade dos europeus nos trópicos 0. W. Gregory, op. ál). Sobre a aclimatabilidade dos europeus nos trópicos, veja-se o notável livro de A. G. Price, White settlers 34. As palavras horizontal e vertical não vêm aqui empregadas no puro e restrito sentido sociológico in the tropics, cit.; F. V. Adams, The conquest of the tropics, Nova Iorque, 1914; Alleyne Ireland, que lhes atribui o professor Pitirim Sorokin (Social mobility, Nova Iorque, 1927). Quanto à ativi­ Tropical colonization, an introduction to the study of the subject, Nova Iorque, Londres, 1899; dade vertical dos pernambucanos, referimo-nos menos à mudança de atividade econômica, se­ Aldo Castellani, Climate and acclimatization, Londres, s.d. guida de social e política, do conceito de Sorokin, do que à concentração regional de esforço no estabelecimento da agricultura da cana e da indústria do açúcar, na consolidação da sociedade 41. Semple, op. cit. escravocrata e agrária, na expulsão dos holandeses perturbadores desse esforço e desse processo de 42. Semple, op. cit. aristocratização. Isto em contraste com a atividade paulista, ou antes, com a mobilidade horizon­ tal, como diria Sorokin, dos caçadores de escravos e de ouro, dos fundadores de fazenda de criar 43. Os antigos acreditavam que as doenças viessem todas de "miasmas" e de "ventos" -crença que se nos sertões e dos missionários. Note-se, porém, que no sentido particular da terminologia de Sorokin, prolongou na das doenças tropicais atribuídas ao clima, sem mais discriminação. Não há dúvida a sociedade colonial brasileira foi móbil tanto no sentido horizontal como no vertical. Neste, pelas que, indiretamente, várias doenças se associam às condições de clima - a malária, entre outras. mudanças, às vezes bruscas, que aqui se operaram, principalmente no sul, na posição ou escala Como generaliza o professor Carl Kelsey em The physical basis ofsociety (Nova Iorque, Londres, econômica e social do indivíduo. O velho ditado parece indicar o fenômeno: "Pai taverneiro, filho 1928), "bacterial diseases are likely to be more numerous in the warner and moister regions cavalheiro, neto indigente." É que no Brasil, mesmo onde a colonização foi mais aristocrática of the earth and to be least in evidence in high mountain countries and polar regions". como em Pernambuco, o patriarcalismo nunca foi absoluto, nem o podia ser com "a quase geral Dalgado (op. ál) nas suas pesquisas sobre os efeitos do clima na população portuguesa verificou que na região quente (Sul) preponderavam a diarréia, a enterite etc, correspondendo a maior havia, de maneira que secavam os mantimentos", Cartas do Brasil (1549-1560), Rio de Janei­ morbidade nessa zona que na do Norte aos resultados gerais de investigações de Adolphe Quetelet ro, 1931, p. 182. (Physique sociale, Bruxelas, 1869), relativas ao norte e ao sul da Europa. Reconhecida a influên­ 49. "Já observara Alberto Torres em O problema nacional brasileiro (Rio de Janeiro, 1914): "Os cia patológica do clima quente acusada pelas estatísticas de doenças, crimes e suicídios, e pelas de Estados Unidos e, em grande parte, a Argentina são países de terras semelhantes, senão iguais, às eficiência econômica e capacidade de trabalho (vej am-se E. Huntington, CiviUzation and climate; terras que habitavam os colonizadores europeus. O clima e a natureza do solo não diferem do Huntington e Williams, Business geography; Robert de Courcy Ward, Climate considered especially clima e do solo da mãe-pátria [...]. A colonização é uma mudança ordinária de casa velha para in relation to man, Nova Iorque, 1908; Edwin Grant Dexter, Weather influences, Nova Iorque, casa nova". O professor Konrad Guenther, em DasAntliz Brasiliens (Leipzig, 1927), salienta o 1904), é preciso não exagerar tal influência, como é tendência dos que confundem a ação do fato da semelhança de vegetação entre a América do Norte e a Europa. climaper se com a de causas sociais e econômicas - pobreza, miséria, ignorância, sífilis, inefici­ ência de defesa sanitária. Defesa sanitária não só do homem (contra os germes que o ataquem 50. Veja-se a correspondência do padre Nóbrega, Cartas do Brasil (1549-1560), cit.

diretamente) como de suas fontes, animais e vegetais, de nutrição e de água potável. Semple 51. Ernest Ludlow Bogart, We economic history of the United States, Nova Iorque, 1913. insiste (op. cit.) em que se discriminem com rigor os efeitos diretos do clima dos indiretos, os transitórios dos permanentes, os fisiológicos dos psicológicos. Ao seu ver vários dos efeitos diretos 52. Oliveira Martins, op. cit. ainda se acham imperfeitamente demonstrados. Reconhece entretanto que o clima modifica nos 53. Robert Southey, History ofBrazil, cit. indivíduos muitos processos fisiológicos e afeta neles a imunidade a certas doenças e a 54. No sul, onde aliás já se encontravam, prosperando, à custa do próprio esforço, povoadores; do tipo suscetibilidade a outras, a energia, a capacidade de esforço, continuado ou apenas intermitente, de Ramalho e do bacharel de Cananéia, com grande progênie mestiça e centenas de escravos ao determinando-lhes, portanto, a eficiência como agentes econômicos e políticos. De modo geral, as seu serviço, a colônia de São Vicente foi oficialmente fundada em 1532, como mais tarde a da conclusões de Julius Hann, Handbuch der Klimatologie, Stuttgart, 1897; de E. Huntington, Bahia, a expensas da Coroa, "que correra com todas as despesas da armada e da instalação ao Civilization and climate, de Griffith Taylor, Environment and race; de Robert de Courcy Ward, contrário do que sucederia nas restantes capitanias, cuja colonização se processou exclusivamen­ Climate considered especially in relation to man; de M. R. Thorpe e colaboradores, Organic te a expensas dos donatários" (Carlos Malheiros Dias, "O regime feudal dos donatários anterior­ adaptation to environment, Nova Iorque, 1918; de Jean Brunhes, la géographie humaine, mente à instituição do governo-geral", História da colonização portuguesa do Brasil, III). Foi Paris, 1912; de Robert Russel, Atmosphere in relation to human life and health, Smithsonian em Pernambuco que o primeiro século de colonização mais vivo esplendeu o espírito de iniciativa Institution, misc. colleciion, vol. 39- Com relação ao clima nas suas influências sobre a vida particular, de esforço individual dos moradores. O que faz crer que estes foram, entre os portugue­ brasileira, veja-se ^Bibliografia do clima brasüico, Rio de Janeiro, 1929, de Tancredo de Barros ses vindos para o Brasil no século XVI, os mais capazes economicamente. A gente de melhores Paiva, onde vêm indicados os principais trabalhos nacionais e estrangeiros. recursos e aptidões para a colonização agrária. 44. Huntington e Williams, op. cit. 55. Edward J. Payne, History of european colonies, Londres, 1878. Veja-se também de Edward J. 45. Dexter, op. cit. Payne, History ofthe new world called America, Oxford, 1892-1899. A influência, em geral aceita, do clima quente ou da temperatura alta sobre os crimes contra as Parece-nos inegável a importância da f amíli a patriarcal ou parapatriarcal como unidade colo- pessoas foi posta em dúvida pelo professor Todd, que os atribui ao maior contato do indivíduo com nizadora no Brasil. É certo que o fato dessa importância, antes qualitativa que quantitativa, não indivíduo, permitido por aquele clima ou por aquela temperatura. A causa direta, diz ele, é social. exclui o fato, igualmente importante, de entre grande parte da população do Brasil patriarcal "a escravidão, a instabilidade e segurança econômicas" terem dificultado a "constituição da famí­ 46. "[...] diseases attack some races more tban others. Wixther this is due to some original lia, na sua expressão integral, em bases sólidas e estáveis", como salientam os Srs. Caio Prado quality of the body or to some ímmunity acquired by long contact with the disease involved Júnior (Formação do Brasil contemporâneo - Colônia, São Paulo, 1942) e Nelson Werneck is disputed." (Kelsey, op. cit.j Sodré (Formação da sociedade brasileira, Rio de Janeiro, 1944). Mas o elemento decisivo na 47. Ward, op. cit. formação e na caracterização da sociedade que aqui começou a formar-se desde o século XVI foi,

48. "As primeiras cartas dos jesuítas falam em procissões motivadas pelas secas ou enchentes. O padre decerto, o da minoria portuguesa e, depois, de origem portuguesa, em particular ou européia, em Manuel da Nóbrega refere-se a uma na qual saiu o povo "pedindo chuva pela grande seca que geral, que as circunstâncias tornaram aristocrática e até feudal em suas relações com os demais elementos da população. Estes, sempre que lhe foi possível a ascensão, os estilos de vida que pro­ "neste lugar demorei-me pela primeira vez vinte dias, pregando, confessando, baptizando e curaram imitar foram os daquela minoria influente: inclusive sua constituição de família ou seu cresmando hum crescido numero de meninos; casei a infinitos que vivião na mais escandalosa familismo. Dos próprios padres, vigários e frades sabe-se que muitos, quando prósperos, em vez de mancebia; mediante o Divino auxílio consegui extirpar os muitos abusos que entre aquelles povos apenas simbolicamente paternais, tornaram-se desde cedo, no Brasil, fundadores e pais de famí­ havião sendo hum dos mais repugnantes a troca mutua que os casados fazião de suas mulheres lias reais, cuidando delas - embora não fossem, para os moralistas, famílias em sua "expressão em prova do mais subido grau de honra a que denominavão 'despique', fazendo que cada hum integral" - com o maior zelo e tomando-se rivais dos senhores das casas-grandes como povoadores, delles restituisse a que conservava em seu poder ao seu legitimo marido e finalmente obrigando- colonizadores e dominadores da América portuguesa através da família ou do familismo. Expres­ se a seguir huma vida verdadeiramente christã e observar as máximas saudáveis que ligão os são nítida desse familismo nos parece a generalização, no Brasil patriarcal - hoje a desintegrar-se homens em sociedade e que os tomão obedientes ás leis, ao imperador, aos seus delegados e a - tanto entre gente moradora de casas de pedra e cal como entre moradores de casas de taipa, de todas as authoridades legalmente constituídas" (Officio de frei Plácido de Messina ao presidente barro e de palha, isto é, entre todas, ou quase todas, as camadas da população, do sentimento de de Pernambuco barão da Boa Vista, datado de 26 de novembro de 1842, dando conta da missão de honra do homem com relação à mulher (esposa ou companheira) e às filhas moças. Sentimento que fora encarregado no interior da província, manuscrito no arquivo do Instituto Arqueológico, a que se devem numerosos crimes. "Não mui raro é um drama passional", escreve Alfredo Brandão Histórico e Geográfico Pernambucano). No "despique" parece que se refletia influência, deforma­ referindo-se à significação das muitas cruzes pretas que "de quando em quando" se encontram da, de costume ou instituição indígena ligada a deveres de hospitalidade. Ao nosso ver seria erro "numadobrado caminho, no meio da mata ou num vale engargantado entre montanhas alpestres" considerá-lo "promiscuidade" ou "prostituição", como tendem a fazê-lo os estudiosos da forma­ de qualquer região brasileira de formação agrário-patriarcal ("A vida no engenho", Viçosa de ção social do Brasil inclinados a considerar mínima, na mesma formação, a influência do Alagoas, Recife, 1914, p. 226). familismo quer patriarcal, quer extra ou antipatriarcal. Em ligação com o assunto devemo-nos recordar de que o familismo no Brasil compreendeu não só o patriarcado dominante - e formalmente ortodoxo do ponto de vista católico-romano - 56. Paul Leroy-Beaulieu, De la colonization chez lespeuples modemes, Paris, 1891. Sobre o assunto, como outras formas de família: parapatriarcais, semipatriarcais e mesmo antipatriarcais. É claro destacaremos aqui, como fundamental, a obra que nos foi recomendada pelo nosso colega do curso que o observador que se colocar do ponto de vista de moral estritamente católico-romana terá de de verão de 1939 na Universidade de Michigan, o professor Leo WaiMDieEuropaeische Eroberung desprezar as formas antipatriarcais que floresceram então no Brasil como organizações de famí­ naáMonisationAmerikas, Stuttgart, vol. 1,1930; vols. II e III, 1937, Stuttgart, deGeorge Friederici. lia. Mas o mesmo não poderá ser feito pelo estudioso de assunto cujo ponto de vista for antes o Vejam-se também A. Zimmermann, Die Europaeischen Kolonien, Berlim, 1896-1903; Charles de sociológico que o ético ou jurídico condicionado por esta ou aquela filosofia moral ou do direito. lannoy,Histoirede 1'expansion despeupleseuropéens, Bruxelas, 1907; Francisco Antônio Correia, E do ponto de vista sociológico, temos que reconhecer o fato de que desde os dias coloniais vêm se História econômica de Portugal, Lisboa, 1929; Jaime Cortesão, "A cartografia do açúcar e o seu mantendo no Brasil, e condicionando sua formação, formas de organizações de famílias significado histórico", Brasil Açucareiro, tf I, vol. XXV, jan. 1945; Imre Ferenzi, International extrapatriarcais, extracatólicas que o sociólogo não tem, entretanto, o direito de confundir com migrations, Nova Iorque, 1929-1931; A. P. Newton, Thegreatageofdiscovery, Londres, 1932; Edgar prostituição ou promiscuidade. Várias delas parecem ter aqui se desenvolvido como resultado de Prestage, lhe portuguese pioneers, Londres, 1934; Carl Conrad Eckardt, The papacy and world influência africana, isto é, como reflexos, em nossa sociedade compósita, de sistemas morais e affairs as reflected in the secularization ofpolitics, Chicago, 1937. religiosos diversos do lusitano-católico mas de modo nenhum imorais para grande número de 57. Em livro sobre o desenvolvimento econômico e social do Brasil, cujo primeiro manuscrito nos foi seus praticantes. É possibilidade admitida pelos estudiosos mais sérios do assunto como o profes­ franqueado à leitura. Acerca do processo sociológico da expansão brasileira para o oeste, o Sr. sor René Ribeiro em seu "On meamaziado relationship, and other aspects of the family in Recife Sérgio Buarque de Holanda já publicou interessante trabalho: Monções, Rio de Janeiro, 1945. (Vrazú)", American Sociological Rmew, tf I, vol. X, fevereiro, 1945. Sobre o assunto vejam-se Sobre o assunto, veja-se também Marcha para oeste, de Cassiano Ricardo, Rio de Janeiro, 1939. também E. F. Frazier, "The negro in Bahia, Brazil: aproblem in method", American Sociohgical Review, VIII, ago., 1943, e Donald Pierson, Negrões in Brazil, Chicago, 1942. 58. Azevedo Amaral, Ensaios brasileiros, Rio de Janeiro, 1930.

Idêntica fora a nossa conclusão diante de formas de união de sexos e organização de família 59- Azevedo Amaral, op. cit. por nós encontradas em nossos estudos da sociedade patriarcal do Brasil em zonas social e geogra­ 60. História da colonização portuguesa do Brasil, Introdução, III, p. 315. ficamente marginais da mesma sociedade. Uma dessas formas, a descrita pelo missionário capuchinho frei Plácido de Messina e por ele observada em 1842 em Riacho de Navio (Pernambuco) : 61. Morais Sarmento, Dom Pedro Iesua época. Porto, 1924. 62. Ordenações Filipinas, L. V, tit. III. tando, no presente ensaio - que data de 1933 - o português como o primeiro, entre os colonizado­ res modernos, a deslocar a base da colonização tropical da pura "extração de riqueza mineral, 63. Mendes Correia,^ nova antropologia criminal, Porto, 1931. vegetal ou animal: para a de 'criação local de riqueza' sempre tivemos o cuidado de acentuar que 64. Gama Barros, op. cit., II. Trecho citado por Mendes Correia, op. cit. riqueza, a criada por eles no Brasil, à custa de trabalho escravo: tocada, portanto, daquela perver­ são de instinto econômico que cedo desviou o português da atividade de produzir valores para a de 65. Mendes Correia, op. cit. No estudo do ilustre antropólogo vêm citados outros coitos privilegiados. explorá-los, transportá-los ou adquiri-los" (p. 104-105). E mais: "muitos dos colonos que aqui se Monforte de Rio Livre, Segura, Nondal, Marvão, Miranda, Penha, Garcia e Caminha, que foi "couto tornaram grandes proprietários rurais não tinham pela terra nenhum amor nem gosto pela sua de marítimos fugidos". cultura" (p. 116). 66. Carta de Duarte Coelho a el-Rei em História da colonização portuguesa do Brasil, cit. A relação do desamor do português (ainda em Portugal e principalmente no Brasil) pela terra, 67. Jornal de Timon. Obras de João Francisco Lisboa, ed. de Luís Carlos Pereira de Castro e Dr. A. pela lavoura e pelo trabalho agrícola (tal como esse trabalho tem sido estimado em outros países) Henriques Leal, São Luís do Maranhão, 1864. com o sistema econômico e industrial da escravidão, parece-nos evidente. Dessa relação aperce­ beu-se, embora vagamente, C. A. Taunay ao observar, no começo do século XIX, que devido ao 68. Paulo Prado, Retrato do Brasil, São Paulo, 1928. pequeno número de colonos portugueses dispostos, no Brasil, aos "officios manuaes, não só da 69. Paulo Prado, op. cit. mineração e agricultura, mas quasi de todas as profissões, bem como do serviço urbano" estes ofícios e serviços passaram a ser desempenhados e prestados por escravos "resultando dalli hum 70. Paulo Prado, op. cit. inveterado costume, huma opinião quasi invencível, de o desdouro do trabalho manual particu­ 71. Roy Nash, The conquest ofBrazil, cit. larmente do campo [...]", Manual do agricultor brasileiro, Rio de Janeiro, 1839, P-125-126).

72. O clericalismo dos padres da Companhia foi logo colidindo com a oligarquia que se formara em Quase o mesmo vinha sucedendo, segundo o mesmo observador, com emigrantes de outros países, Pernambuco em torno da figura de Duarte Coelho e da do seu cunhado, o patriarca Jerônimo de admitidos no Brasil desde 1808: "Vem negociantes, artistas, feitores, officiaes de officio, chefes de Albuquerque. Colidindo também com o patriarcalismo de Ramalho. estabelecimentos; mas nenhuns ou bem poucos jornaleiros para agricultura, a mineração e ou­ tros rudes serviços manuaes" (p. 127). Não tinha assim a presença desses outros europeus produ­ 73. Manuel Bonfim, O Brasil na América, Rio de Janeiro, 1929- zido, até mil oitocentos e trinta e tantos, "resultados extensivos para modificar o systema de pro­ 74. Oliveira Viana, Evolução do povo brasileiro, São Paulo, 1933. Em um dos estudos críticos publi­ dução. "CA. Taunay, entretanto, admitia o relativo sucesso na lavoura de alguns grupos de colonos cados em seu livro Cobra de vidro (São Paulo, 1944), o Sr. Sérgio Buarque de Holanda diz a europeus introduzidos no Brasil pelo governo português e depois pelo brasileiro e aqui localizados respeito do autor do presente ensaio, isto é, dos seus pontos de vista com relação à colonização - destaquemos o fato, desprezado por aquele observador - em áreas menos oprimidas ou menos agrária do Brasil pelos portugueses: "Quando o autor [de Casa-grande & senzala] critica, por influenciadas diretamente pelo sistema de produção e de trabalho dominante, que era o exemplo o Sr. Sérgio Milliet, pela afirmação de que o português colonizador não se afeiçoa muito escravocrata. Deixa C. A. Taunay de salientar outro fato significativo: o de que os açorianos - ao trabalho da terra, penso que a razão está com o Sr. Sérgio Milliet, não com o Sr. Gilberto Freyre" tanto em sua terra de origem como nas suas áreas principais de colonização no Brasil, homens ("Panlusismo", Cobra de vidro, p. 74). mais livres que outros portugueses da influência do trabalho escravo - foram na América bons Cremos que a "afirmação" a que se refere o Sr. Sérgio Buarque de Holandaé a sugestão feita em colonos de tipo agrário e pastoril, em cujos descendentes se desenvolveria maior amor à terra e ao nota ao trabalho Uma cultura ameaçada: a luso-brasileira, Recife, 1940, p. 82: "Ao autor não trabalho e à vida de campo que na maioria dos descendentes de grandes senhores de escravos por parece que o desapego ao 'trabalho duro e lento da terra, da parte do colonizador português, um lado, e de escravos, por outro. tenha sido completo no Brasil nem que, estabelecido (como fato) esse desapego absoluto, esteja Ainda a respeito do critério sob o qual temos procurado desde 1933, neste ensaio e em outros provado o nenhum gosto do colonizador português do Brasil pelo trabalho lento, rotineiro, cons­ trabalhos, estudar o processo e as condições da colonização portuguesa do Brasil, por tanto tempo trutor. Esse gosto existiu ao lado do espírito de aventura. E a explicação 'racial' - no sentido e ainda hoje objeto de generalizações que coincidiam em apresentar o colonizador lusitano como biológico de 'racial' - não parece ao autor explicação adequada, nem a esse, nem a nenhum fato incapaz de iniciativa ou esforço agrícola - vejam-se os estudos de Péricles Madureira de Pinho, de natureza principalmente social e cultural". Sobre o assunto veja-se também nosso Continente Fundamentos da organização corporativa das profissões rurais, Rio de Janeiro, 1941; Vítor e ilha (conferência lida em Porto Alegre em 1940), Rio de Janeiro, 1943. A verdade é que apresen­ Viana, Formação econômica do Brasil, Rio de Janeiro, 1922; Almir de Andrade, Formação da sociologia brasileira, Rio de Janeiro, 1941; Luís Sousa Gomes,/! evolução econômica do Brasil zação agrário-patriarcal com os rios grandes e com os pequenos. Ao nosso ver, nessas relações e seus principais fatores, Rio de Janeiro, 1941; Afonso Arinos de Melo Franco, Síntese da história avultam como valores os rios pequenos ou médios, em contraste com os grandes ou enormes. Esse econômica do Brasil, Rio de Janeiro, 1938. Referindo-se à divergência entre nosso critério e o de contraste pode ser bem observado na Bahia entre o rio São Francisco - rio grande e quase hostil à outros autores que se têm ocupado do assunto, inclusive o Sr. Sérgio Buarque de Holanda, escreve organização agrária e patriarcal - e os rios médios e pequenos, junto aos quais melhor se desen­ o Sr. P. Madureira de Pinho: "Quer nos parecer aliás que a divergência nada tem de essencial e volveu ali, como em outras partes do Brasil, a mesma organização. Uma viva impressão desse apenas o que pretende Gilberto Freyre é ressalvar que não foi absoluto o desapego do português às contraste nos é transmitida, sem preocupações de generalização científica mas com grande co­ lavouras" (Fundamentos da organização corporativa das profissões rurais, cit., p. 9). Tanto nhecimento direto das subáreas baianas, por Durval Vieira de Aguiar em suas Descrições práticas não foi "absoluto" que os portugueses fundaram no Brasil, sobre base principalmente agrária, a da província da Bahia, Bahia, 1888; e com critério a um tempo científico e prático é a mesma maior civilização moderna nos trópicos, tornando-se também lavradores notáveis em outras par­ situação descrita e analisada por Teodoro Sampaio em trabalho baseado em notas de 1879 e tes da América. publicado pela primeira vez em livro sob o título O rio São Francisco e a chapada Diamantina, Quanto ao Sr. Luís Sousa Gomes, concorda com Vítor Viana em que os portugueses e seus na Bahia, em 1938. Reconhece aí o engenheiro Sampaio no rio São Francisco "um oásis no descendentes no Brasil "desanimados da riqueza fácil" tiveram de "tratar da exploração da cultu­ deserto" pelo refúgio oferecido às populações assoladas pelas secas dos sertões da Bahia ao Ceará, ra da terra e da extração de madeiras. Lentamente evoluiu a colonização nos primeiros tempos, de Pernambuco ao Piauí. Mas assim resume suas observações sobre o estilo de vida da maior parte mas já nos meados do século XVIII Adam Smith podia dizer que o Brasil, com os seus 600.000 da população que conheceu em 1879, instalada precariamente às margens do grande rio: "Não se habitantes, era a colônia mais populosa da América. É que os aventureiros, os que aqui vinham vê agricultura alguma nem trabalho permanente [...]. As habitações constroem-se aqui peque­ tentar fortuna nas pedras preciosas e no ouro, penetravam no sertão profundamente e iam, sem o nas e baixas, à falta de madeira, empregando-se por essa razão, até o mandacaru, cujo tronco querer, colonizando." Baseado principalmente em Vítor Viana, pensa o Sr. Luís Sousa Gomes mais grosso fornece um tabuado branco aproveitado para portas e para o pobre mobiliamento que o português no Brasil "venceu pelo trabalho e pela tenacidade" Cl evolução econômica do que se usa. As casas voltam-se todas para as estradas onde o comércio é freqüente e não raro Brasil e seus principais fatores, cit., p. 8-9). Pode-se admitir que o português no Brasil fez agri­ deixam o rio distante por causa das enchentes" (p. 68). A mesma precariedade observa-se no cultura como Mr. Jourdain fazia prosa; mas a verdade é que desenvolveu-se aqui com ele e com o gênero de economia e no tipo de habitação que até hoje aparece às margens do Amazonas e dos negro e a mulher índia como elementos auxiliares, uma organização agrária considerável. seus afluentes. Essa precariedade ninguém a retratou melhor que Euclides da Cunha ao fixar os

75. Carta de Américo Vespúcio, cit. por Capistrano de Abreu, O descobrimento do Brasil, Rio de característicos do caucheiro: "Neste viver oscilante ele dá a tudo quanto pratica, na terra que Janeiro, 1922. devasta e desama, um caráter provisório - desde a casa que constrói em dez dias para durar cinco anos, às mais afetuosas ligações que às vezes duram anos e ele destrói num dia" ("Amazônia", J 76. "[...] terra [... ] muyto chea de grandes arvoredos de ponta a ponta [... ] agoas [... ] muytas margem da história, Porto, 1909, p. 95). À agricultura instalada às margens dos rios pequenos - infindas" (Carta de Pero ou Pedro Vaz de Caminha, publicada por Manuel Aires de Casal, Corografia que foi principalmente a das casas-grandes - foi possível no Brasil desenvolver condições de rela­ brasílica, 2a ed., Rio de Janeiro, 1845, tomo I, p. 10. tiva permanência.

77. Alberto Rangel, Rumos eperspectivas, Rio de Janeiro, 1914. Antepondo a generalização científica a essas considerações de ordem prática, é que Alberto Em seu O homem e o brejo (Rio de Janeiro, 1945), o Sr. Alberto Ribeiro Lamego escreve, em Rangel escreve nas vigorosas páginas do seu ensaio "Aspectos gerais do Brasil" (Rumos epers­ interessantes páginas de caracterização da paisagem e da formação social da subárea campista. pectivas, São Paulo, 1934) que "a vastíssima região do nordeste brasileiro não oferece de valor, "Nadade pequenos rios [.. .j.OquetemosemCamposéumavasfaplaníciedealuviõesalagadiços'' sob o ponto de vista hidrográfico, senão as lagoas e as lagunas de Pochi a Maceió, estas os depósi­ (p. l6l). Tenho escrito em página anterior, a propósito da importância que reconhece terem sido tos inesgotáveis e gordos do marisco sururu, o São Francisco, que é o vice-rei da potamografia os rios pequenos na formação social do norte (área do açúcar), de acordo com sugestão aparecida brasileira, e o fronteiro e raso Parnaíba" (p. 170). Alberto Rangel apenas refere-se de raspão aos neste ensaio (1933) e em nosso Nordeste (Rio de Janeiro, 1937, p. 45) e que mereceu a atenção e "bravos riachos" do Brasil oriental (p. 171), sem se fixar na importância dos rios pequenos ou a aprovação do geógrafo Pierre Monbeig: "Nisto sobretudo é que a civilização açucareira do Norte médios, junto aos quais desenvolveram-se canaviais, engenhos de açúcar e casas-grandes que, difere da campista [...]. Toda a formação deste grande núcleo meridional se deu exatamente com todos os seus defeitos de organização econômica ou social, foram a base menos precária da sobre a planície baixa e marginal a um grande rio" (p. 160). Foi assim Campos uma das man­ economia da sociedade e da cultura brasileiras do século XVI ao XIX; a principal condição para o chas de exceção no mapa que talvez se possa traçar, do Brasil, para indicar as relações da organi­ desenvolvimento de característicos nacionais ou gerais no Brasil. Este foi durante o mesmo perío- do expandido ou alargado pelos bandeirantes através dos rios grandes do centro, assim como por 81. Azevedo Amaral, Ensaios brasileiros, cit. vaqueiros e aventureiros, através dos rios grandes do Nordeste e dos igarapés amazônicos. Esforço 82. Horace Say, Histoire des relations commerciales entre la France et le Brésil, Paris, 1839. admirável, o desses expansionistas, que criou, entretanto, para o brasileiro, os problemas de desajustamento, entre a área econômica e a área política, assinalados por J. F. Normano (Brazil, 83. M. Bonfim, O Brasil na história, Rio de Janeiro, 1931.

a study of economic types, Chapei Hill, 1935) e posteriormente pelo então coronel Inácio José 84. Bonfim baseia-se para contradizer a afirmativa de Euclides da Cunha em documentos paulistas

Q Veríssimo ("Problemas do reagrupamento das nossas populações", Política, São Paulo, n 2,1945). (testamentos, inventários, sesmarias etc.) da grande e valiosa massa mandada publicar pelo anti­ São problemas que só hoje vamos procurando estudar e cuja solução parece exigir, entre várias go presidente do Estado de São Paulo, Sr. Washington Luís, e que serviu ao professor Alcântara outras providências, a substituição, no tempo e no espaço, não só da antiga casa-grande, civilizadora Machado para organizar um tão interessante livro, o seu Vida e morte do bandeirante (São mas hoje arcaica, como da palhoça, do mucambo ou do barracão do seringueiro, por um tipo de Paulo, 1930), como a Afonso Taunay para o estudo definitivo das bandeiras. Documentos casa pequena ou média que adotando característicos desenvolvidos por essas habitações pioneiras pernambucanos por nós minuciosamente examinados na seção de manuscritos da Biblioteca em séculos de adaptação de residência de homem agrário ou apenas aventureiro, ao meio tropical Pública do Estado e na Coleção do Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano, e subtropical, contribua com outros elementos de cultura já brasileira para a extensão da área confirmam a contradita de Manuel Bonfim. Referimo-nos aos livros de Sesmarias, onde vêm econômica do Brasil, até corresponder à sua área política. registradas concessões de terras pernambucanas a paulistas por haverem colaborado com os nos­

78. Pedro Dantas, "Perspectivas", Revista Nova, São Paulo, tf 4,1931. Sobre o assunto vejam-se sos nas "campanhas contra os negros levantados dos Palmares." O caso de João Pais de Mendonça também J. F. Normano, Brazil, a study of economic types, Chapei Hill, 1935 e Isaiah Bowman, Arraide e do seu pai Cristóvão de Mendonça Arraide ("Registro de sesmarias e datas de terras", Thepioneer fringe, Nova Iorque, 1931. A respeito de paisagens pioneiras do Brasil que represen­ 1689-1730, manuscrito na Biblioteca Pública do Estado de Pernambuco) e o de Pascoal Leite de tam um como ajustamento da fronteira econômica à fronteira geográfica vejam-se "A paisagem Mendonça, "Capitão de Infanteria dos Paulistas", a quem o capitão-general de Pernambuco con­ do núcleo colonial Barão de Antonina" e outros estudos incluídos na obra do professor Pierre cede em 1702 "tres léguas de terra em quadra das conquistadas a Palmares" onde foi "o Engenho Monbeig, Ensaios de geografia humana brasileira, São Paulo, 1940. de Cristóvão Dias na ribeira de Setuba" (coleção de manuscritos do Instituto Arqueológico Histó­ rico e Geográfico Pernambucano) 79. São Paulo foi provavelmente o núcleo brasileiro de população mais colorida pelo sangue semita. Não tendo chegado até lá os tentáculos do Santo Ofício, que entretanto se fixaram ameaçadora- 85. O padre Simão de Vasconcelos na sua Crônica da Companhia deJesus do Estado do Brasil, e do mente sobre a Bahia e Pernambuco, só faltando mesmo armar as fogueiras, a essa circunstância que obraram seus filhos nesta parte do novo mundo, 1- ed., Rio de Janeiro, 1864, p. 41, diz do costumava em conversa atribuir Capistrano de Abreu (segundo nos informa Paulo Prado, seu padre Leonardo Nunes que era tal a pressa com que corria os lugares "que vieram a pôr-lhe por íntimo e constante antigo) o fato de se ter tornado São Paulo o ponto preferido dos cristãos-novos. nome na língua do Brasil, Abaré bebê", isto é, "padre que voa". E na introdução à mesma crônica "De fato nenhum outro sítio povoado do território colonial oferecia melhor acolhida para a imi­ escreve o cônego Fernandes Pinheiro dos primeiros missionários que dar-se-ia terem "resolvido o

gração judia", escreve Paulo Prado em Paulística (2A ed., Rio de Janeiro, 1934). E acrescenta: problema da ubiqüidade". Vamhagen observa que viajando continuamente os missionários fo­ "Em São Paulo não os perseguia esse formidável instrumento da Inquisição, que nunca chegou à ram "estabelecendo mais freqüências de notícias e relações de umas vilas para outras." capitania do Sul". Sobre a infiltração israelita no Brasil, leia-se o ensaio de Solidônio Leite Filho, Pode-se generalizar de todos os missionários no Brasil que eram padres que voavam. Alguns Os judeus no Brasil, Rio de Janeiro, 1923. Sobre o assunto veja-se também o quase desconhecido deles é certo que viajando de rede, às costas dos índios: estes é que voavam. EssaihistoriquesurlaColoniedeSurinan [...]letoutredige'surdespiècesauthentiquesy 86. Para João Ribeiro, que vê sempre tão claro os fatos e tendências do nosso desenvolvimento histó­ joustes êmisen Ordrepar les Regem & Representam de la dite Nation Juive Portugaise, à rico, no Brasil o "particularismo local distingue-se [... ] pelo espírito superior de unionismo [...]" Paramaribo, 1788, onde se diz que "ces Juifs donc rencontrant au Brésil leurs frères [...] (História do Brasil, curso superior, Rio de Janeiro, 1900). Aliás, como mostra Manuel Bonfim, o ceia du Brésil étoient la plupart dei gens de condition & três verses dans le commerce & próprio Euclides da Cunha se contradiz na idéia de ser o Brasil "agrupamentos desquitados entre 1'agriculture [...]." si" quando salienta em Os sertões a importância do sertanejo - o mesmo das raias setentrionais 80. Alberto Torres, O problema nacional brasileiro, cit. Veja-se também do mesmo autora organi­ de Minas a Goiás, ao Piauí, aos extremos do Maranhão, e Ceará, pelo Ocidente e Norte, e às zação nacional, Rio de Janeiro, 1914. serranias das lavras baianas a leste. 87. H. M. Stephens, The story of Portugal, Nova Iorque, 1891. Para conhecimento mais profundo do Aliás, foi a atitude de Oliveira Lima, que na falta de um ideal religioso mais ardente, declarou-se assunto, veja-se o trabalho de H. Schaffer, Geschichte von Portugal, Hamburgo, 1836-1854, do uma vez "católico histórico". qual existe tradução portuguesa. 93- Isto sem contarmos os numerosos colonos de outras partes da península Ibérica aqui logo con­ 88. H. Handelmann, História do Brasil (trai), Rio de Janeiro, 1931- fundidos com os de origem portuguesa. Entre outros, os Buenos, Camargo, Aguirre, Lara y Ordones,

89. Oliveira Lima, "A nova Lusitânia", em História da colonização portuguesa do Brasil, cit., II, p. 297. Freyre, Bonilha. Nem os colonos de origem hebréia, incorporados à comunhão católica. Não nos parece que a gente de origem anglo-saxônica, dominante na formação dos Estados 94. Sílvio Romero, op. cit. Unidos, tenha revelado, ou revele hoje, as mesmas disposições confraternizantes que o português, 95- Alfredo Ellis Júnior, Raça de gigantes, São Paulo, 1926. no Brasil, em relação com emigrantes de outras origens e com suas respectivas culturas. Pelo menos com relação aos negros e aos judeus - e suas respectivas culturas, excetuado o aspecto 96. Diálogos das grandezas do Brasil, Rio de Janeiro, 1930, p. 33. Em sugestivo trabalho (Novos ostensivamente religioso - a atitude portuguesa no Brasil parece-nos ter sido, desde o início da ensaios, 2A série, Recife, 1945), João Peretti salienta que Brandônio, nos Diálogos das grandezas colonização, mais largamente confraternizante que a dos anglo-americanos. Entre estes só recen­ do Brasil, já sugeria, no século XVI, o desenvolvimento da riqueza açucareira do Brasil "ao modo temente o pluralismo de cultura vem sendo admitido, pelos indivíduos e grupos de visão mais dos mercadores de Holanda, que se constituíam à sua própria custa e despesa, em sociedade, larga e idéias mais avançadas, ao lado do verdadeiro americanismo, por muito tempo rigidamen­ metendo uns mais, outros menos, segundo o muito ou pouco dinheiro com que se acham", isto é, te unionista. Um dos mais autorizados estudiosos do assunto pergunta em ensaio sociológico: acentuajoão Peretti, por meio de "uma organização econômica mesmo independente do Estado" "May it not be that in our zeal to make the many one', we have given undue emphasis to the (p. 86). Essa organização de algum modo parece ter existido no Brasil, formada por negociantes oneness of American life and culture and have failed to recognize or appreciate adequately judeus, explicando-se talvez pelas vantagens que ela trazia aos plantadores de cana o fato de ter the contributions of the 'many'?" (Francis J. Brown, "The contribution of the immigrant", em havido em Pernambuco, no século XVI, a "abundância de judeus" constatada por Rodolfo Garcia Our racial and national minorities, org. por Francis J. Brown e Joseph Slabey Roucek, Nova ("Introdução", Primeira visitação do Santo Ofício em Pernambuco), João Peretti e outros Iorque, 1937, p. 758). 0 que entre os anglo-americanos é teoria recente ("« new theory", como estudiosos da economia brasileira durante aquele século e "uma maior tolerância por parte dos salienta o professor E. George Payne na mesma obra, em estudo sob o título "Education and zeladores das crenças católicas do que em outras partes do Brasil" (João Peretti, op. cit., p. 29). cultural pluralism") na América portuguesa é velha prática na qual se revela há séculos que a Deve-se notar que para João Peretti, o Bento Teixeira, autor da Prosopopéia - o primeiro poe­ xenofobia nunca foi traço saliente do caráter português. Sobre o assunto veja-se nosso 0 mundo ma composto no Brasil e que teria sido uma expressão da vida de lazer e de refinamento cedo que o português criou, Rio de Janeiro, 1940. criada no país pela economia açucareira - "não é o mesmo Bento Teixeira envolvido nas Denunciações" (Barléu e outros ensaios, Recife, Novos ensaios, 2- série, Recife, 1945). 90. Vej a-se Ritter von Schaffer, Brasilien ais Unabhaengiges Reich, Altona, 1824. Essa como quaren­ tena de hereges é referida e comentada por Tristão de Ataíde: "Em 1813 indagava-se das crenças 97. Refere-se o cronista (op. cit.) a frutas, legumes e carne de boi. religiosas e do passaporte. Hoje indaga-se do passaporte, das bagagens, das crenças políticas, dos 98. F. P. Armitage, Diet and race, Londres, 1922; E. V. McCollum e Nina Simmonds, The newer costumes privados, do estado de saúde" (Estudos, Ia série, Rio de Janeiro, 1927). Sobre os frades e knowledge ofnutrition - The use offoods for the preservation of vitality and health, Nova padres que velavam nos portos pela ortodoxia católica da colônia, às vezes com uma suavidade Iorque, 1929. que falta aos modernos inspetores de saúde e funcionários de polícia de imigração, ver ainda 99- Guenther, Das Antlitz Brasiliens, cit. "Certain notes of the voyage to Brazil with the Minion of London [... ] in the year 1580 written by Thomas Grigs Purser of the same ship", em The principal navigations voyages trafiques & 100. Em interessante artigo, "Fundamentos científicos da alimentação racional nos climas quentes", discoveries of the english nation [... ] by Richard Hakluyt, Londres, 1927, vol. VIII, p. 13-44. Brasil Médico, Rio de Janeiro, ano XLV, na 40, ocupou-se completamente do assunto o médico Sinval Lins. Segundo ele, o brasileiro permanece no seu regime de alimentação um inadaptado 91. Pedro de Azevedo, "Os primeiros donatários", História da colonização portuguesa do Brasil, ao clima. "Abusa de doces [... ] em pleno verão, quando tudo o convida a defender-se do calor, cit., III, p. 194. abusa de pratos gordurosos e por vezes também de bebidas alcoólicas [... ] abusa de líquidos às 92. No Brasil o incrédulo Fustel de Coulanges, ainda mais do que na França - desde a Revolução refeições sem reparar que quanto mais bebe mais sua [...] gosta de comidas adubadas [...] dividida em duas, a negra e a vermelha - se sentiria no dever de ser católico por nacionalismo. quase não usa legumes." "As conseqüências de tantos erros", acrescenta o higienista, "já se vêm fazendo sentir há muito tempo. Nossos dentes são fracos e vivem cariados; por falta de cálcio, isto Eduardo Magalhães, Higiene alimentar. Rio de Janeiro, 1908; Alfredo Antônio de Andrade, "Ali­ é, de vegetais [...]." Sofrem ainda "a pele, os rins, o estômago." Sinval Lins destaca a "preguiça mentos brasileiros", Anais da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, vol. VI, 1922; Alberto pós-prandial" do brasileiro, atribuindo-lhe, tanto quanto à "auto-intoxicação resultante do abu­ da Cunha, "Higiene alimentar", Arquivos de Higiene, Rio de Janeiro, n211; Manuel Querino,^ so de azotados o da prisão de ventre tão banal entre nós por falta de vegetais e de frutas na alimen­ arte culinária na Bahia, 1928; Theodoro Peckolt, História das plantas alimentam e de gozo tação [...]", "a fadiga de que tanta gente se queixa no nosso meio." Fadiga pela qual, ao seu ver, do Brasil, Rio de Janeiro, 1871; e as seguintes teses de concursos ou doutoramento: Antônio José se tem injustamente responsabilizado o clima. Também o Dr. Araújo Lima, estudando o regime de Sousa, Do regímen das classes pobres e dos escravos na cidade do Rio de Janeiro em seus alimentar das populações do extremo-norte do Brasil, insiste na importância do fator alimenta­ alimentos e bebidas, Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, 1851; José Maria Regadas, Do ção na interpretação da "indolência lendária e desabonadora dos homens destas paragens" 0. F. regímen das classes abastadas no Rio de Janeiro, 1852; José Rodrigues de Lima Duarte, Ensaio de Araújo Lima, "Ligeira contribuição do estudo do problema alimentar das populações rurais do sobre a higiene da escravatura no Brasil, Rio de Janeiro, 1849; Antônio Correia de Sousa Costa, Amazonas", Boletim Sanitário, ano 2, ns 4, Rio de Janeiro, 1923). Qual a alimentação de que vive a classe pobre do Rio de Janeiro e sua influencia sobre a mesma classe? Rio de Janeiro, 1865; Francisco Fernandes Padilha,0««/ o regímen das classes 101. J. F. de Araújo Lima, "Ligeira contribuição ao estudo do problema alimentar das populações rurais pobres do Rio deJaneiro!' Rio de Janeiro, 1842; Francisco Antônio dos Santos Sousa, Alimenta­ do Amazonas", Boletim Sanitário, ano 2, na 4, Rio de Janeiro, 1923. Essa observação, relativa ao ção na Bahia, Faculdade de Medicina da Bahia, 1909; Renato Sousa Lopes, Regime alimentar caboclo do extremo-norte, pode-se generalizar, com uma ou outra restrição regional, ao brasilei­ nos climas tropicais, Rio de Janeiro, 1909. ro pobre das demais zonas rurais. Em certas regiões do baixo Amazonas, Araújo Lima foi encon­ São cada dia mais numerosos os trabalhos brasileiros sobre o problema da alimentação entre trar os trabalhadores de grandes plantações de algodão alimentando-se exclusivamente de um nós, destacando-se os dos médicos Silva Melo, Sinval Lins, Josué de Castro, Rui Coutinho, Paula e singelo mingau de arroz comido de manhã. "Um xibé, cuja base é a farinha-d'água, tão pobre Sousa, Couto e Silva, Peregrino Júnior, Dante Costa. A bibliografia acima, apresentada na primeira em vitaminas, constitui muitas vezes o alimento exclusivo dum homem nas 24 horas." edição deste ensaio, tem sido largamente transcrita e citada por alguns desses autores. Já Azevedo Pimentel surpreendera quase que as mesmas condições entre os habitantes do Brasil central: maior que a ação devastadora das moléstias sifilíticas e venéreas, só a dos "desequilíbrios 102. Louis Couty, Uesclavage au Brésil, Paris, 1881, p. 87. Opinião também do mais claro dos nossos ou perversões de nutrição orgânica" devida a "impróprias e pouco nutrientes substâncias alimen- pensadores políticos, o professor Gilberto Amado, no estudo que, do ponto de vista político, faz da tares." Quem deu relevo à situação das nossas populações rurais. Mal-alimentadas e ainda por nossa sociedade escravocrata: "As instituições políticas e o meio social do Brasil", em Grão de cima vítimas fáceis de uma série macabra de doenças - impaludismo, beribéri, ancilostomíase, areia, Rio de Janeiro, 1919- Aliás, já no século XVIII escrevia Morgado de Mateus: "Nesta terra não disenteria, lepra, sífilis - foi Miguel Pereira, logo ratificado por Belisário Pena. Com relação às ha povo, e por isso não ha quem sirva ao estado; excepto muito poucos mulatos que uzão seos populações rurais e sertanejas da Paraíba depõe o Sr. José Américo de Almeida: "A miséria orgâni­ officios, todos os mais são senhores ou escravos que servem aquelles senhores" (Paulo Prado,

a ca determinada pela carestia da vida e insuficiência da alimentação é o campo preparado que vai Paulistica, 2 ed., Rio de Janeiro, 1934). sendo invadido pelos meios ordinários de infecção" (A Paraíba e seus problemas, Paraíba, 1924). 103. Thedoro Peckolt, na sanHistória das plantas alimentam e de gozo do Brasil, I, Rio de Janeiro, Sobre o assunto vejam-se ainda: as respostas ao inquérito realizado em 1778 pelo Senado do Rio 1871, chega a considerar o trabalhador europeu da época "menos bem alimentado" que o escravo de Janeiro sobre o clima e a salubridade da mesma cidade (Anais Brasilienses de Medicina, ano brasileiro. "Assim o escravo no Brasil e o trabalhador da roça em geral", escreve ele, "recebe uma II, n2 5, vol. 2); Discurso na sessão solene aniversária da Academia Imperial de Medicina de 30 de alimentação bôa e nutritiva introduzida desde tempos antigos pela experiência e não por calculo julho de 1847 por Roberto Jorge Haddock Lobo, Rio de Janeiro, 1848; J. F. X. Sigaud, Du climatet scientifico [...]." Refere-se ao trabalhador sob o regime patriarcal: operário que estava no inte­ des maladies du Brésil, Paris, 1844; Alp. Rendu, Études topographiques, médicales et resse do proprietário suprir de boa alimentação. agronomiques sur le Brésil, Paris, 1848; J. B. A. Imbert, Ensaio higiênico e médico sobre o clima do Rio deJaneiro e o regime alimentar de seus habitantes, Rio de Janeiro, 1837; Discur­ 104. Louis Couty, op. cit., p. 87. so sobre as moléstias que mais afligem a classe pobre do Rio de Janeiro [...] por José Martins 105. Joaquim Nabuco, O abolicionismo, Londres, 1883. Herbert S. Smith fala-nos também dessa clas­ da Cruzjobim, Rio de Janeiro, 1837; Azevedo Pimentel, Subsídios para o estudo da Irígiene do se intermédia de párias inúteis que encontrou em suas viagens pelo interior do Brasil nos fins do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1890; Azevedo Pimentel, O Brasil Central, Rio de Janeiro, 1907; século XIX (Do Rio de Janeiro a Cuiabá, São Paulo-Caieiras-Rio de Janeiro, 1922). Atribui a Louis Couty, "Ualimentation au Brésil et dans les pays voisins", Revue d'Hygiène de Paris, 1881; miséria e a incapacidade econômica desses matutos ao fato de serem mestiços de índios e de negros, esquecido de que se viajasse, no seu próprio país, pelo velho sul escravocrata e pelas mon­ diz, referindo-se ao afastamento do gado, que era porque "cumpria defender os canaviais e outras tanhas de Kentuckly e das Carolinas, haveria de encontrar o mesmo detrito humano. Porém gente plantações de seus ataques" (Diálogos das grandezas do Brasil, p. 13, Introdução de Capistrano branca: os "poor white". de Abreu e Notas de Rodolfo Garcia, edição da Academia Brasileira de Letras, Rio de Janeiro, 1930). 106. Alguém nos escreve de São Paulo considerando "asneira" o emprego da expressão "sistema" (ver edições anteriores), em vez de "aparelho" digestivo e citando-nos como autoridade máxima no 111. "Fragmentos de uma memória sobre as sesmarias da Bahia" (cópia de um manuscrito que pare­ assunto o autor de conhecida Zoologia elementar. De fato é convencional dizer-se em português ce ter sido da biblioteca do falecido marquês de Aguiar e talvez de sua pena) ... em Livro das "aparelho digestivo"; e em face dessa convenção não hesitamos em substituir "sistema" - expres­ terras ou collecção da lei, regulamentos e ordens expedidas a respeito desta matéria até ao são empregada nas edições anteriores - por "aparelho". Entretanto, cremos que o mais que se presente [...], 2a ed., Rio de Janeiro, 1860, p. 24. pode dizer contra a expressão "sistema digestivo" é que seja um anglicismo: em inglês diz-se 112. Hermann Wâtjen, op. cit. Entre os documentos existentes no Arquivo Real de Haia e relativos ao "digestivesystem", e não "apparel" - incluindo-se em sistema digestivo "every organjunction Brasil, publicados na Revista do Instituto Arqueológico e Geográfico Pernambucano, n- 33, andprocess concemed with the utilization offood-stuffs etc." (The Encyclopaedia Britannica, Recife, 1887, acham-se vários editais nesse sentido. Aliás já no século XVI encontramos evidências 1 Ia ed., Cambridge, 1910, vol. 8, p. 263) • De modo que a idéia de "sistema" não implica "conjun­ de intervenção do governo no sentido de regularizar a lavoura de mantimentos sacrificada pela do to de órgãos de estrutura homogênea", senão pelo uso convencional que se vem fazendo da pala­ açúcar. Nas Atas da Câmara de São Paulo (1562-1601) encontrou Taunay uma requisição do vra entre nós para distingui-la de "aparelho". De acordo com suas raízes gregas "sistema" signi­ govemador-geral do Brasil de oitocentos alqueires de farinha destinados a Pernambuco; capitania s fica todo conjunto de órgãos ou partes essenciais ao desempenho de alguma função ou funções que, por ser a mais açucareira, seria também a mais exposta à carestia ou escassez de mantimen- ^ particulares (Webster) ou toda "reunião das partes de um todo" (Quicherat). Do francês é que tos locais. A requisição era, porém, superior à capacidade dos paulistas: fornecida toda aquela | parece ter passado ao português a convenção de chamar-se "aparelho" ao sistema digestivo, exato farinha a Pernambuco, eles é que ficariam em penúria. "Decidiu a Câmara", escreve Taunay, como é que o francês designa por "appareil" [..] "assemblagedórganesquiconcourentà une "apregoar para o conhecimento de todos os moradores da vila e termo, uma postura em que —- mêmefonction." Daí nos parecer haver no mínimo lastimável exagero na qualificação da ex­ ficavam intimados a fazer farinha, em obediência a uma provisão do capitão-mor e do ouvidor da < pressão "sistemadigestivo" como "asneira". z capitania de São Vicente. Tudo sob a ameaça de cinqüenta cruzados de multa e dois anos de s 107. Andrew Reid Cowan, Master clues in world history, Londres, 1914. degredo para as paragens inóspitas do Estreito de Magalhães. Tal solicitude pelo aprovisionamen- g 108. André João Antonil, Cultura e opulência do Brasil por suas drogas e minas, p. 264, com um to de farinha bem mostra quanto era irregular a produção da lavoura" (Afonso de E. Taunay, São § estudo biobibliográfico por Afonso de E. Taunay, São Paulo-Rio de Janeiro, 1923- Paulo nos Primeiros Tempos, 1554-1601, Tours, 1920). %

109. "Afim de que os agricultores não padeçam damno nas suas lavouras por toda a parte são poucos os o 113. Fernão Cardim, Tratados da terra e gente do Brasil, Introdução e Notas de Batista Caetano, animais domésticos", informa Manuel Aires de Casal na sua j á citada Corografia brasílica, II, p. 89. Em extracto sobre os engenhos de assucar e sobre o methodo já então praticado dafartura Capistrano de Abreu e Rodolfo Garcia, Rio de Janeiro, 1925. deste sal essencial, tirado da obra riqueza e opulência do Brasil para se combinar com os haSimaúvaáoSik.Mdichanl(Doescamboàescraiidão (trad.), São Paulo, 1943, p. 183),com novos methodos que agora se propõem debaixo dos auspícios de S. Alteza Real o Príncipe referência à capital da Bahia em 1580, de que "os citadinos eram bem aprovisionados por esses produtos locais", isto é, frutas e verduras, baseia-se principalmente em informação de Cardim que se Regente Nosso Senhor porfr. JoséMariano Velloso (Lisboa, 1800), as cabras são destacadas entre refere à presença de "legumes da terra e de Portugal: berinjelas, alfaces, abóboras, rabãos e outros os inimigos da cana: "as cabras, tanto que a canna começa a apparecer fora da terra, a vão legumes e hortaliças'' (Tratados da terra e gente do Brasil, cit., p. 289) • Se houve então abundân­ envestir". Pelo que os proprietários de canaviais se viam às vezes obrigados a matar "porcos, cia desses e de outros produtos destinados à alimentação, parece que foi por um curto período duran­ cabras e bois, que outros não trarão de advertir e guardar nos pastos cercados ou em parte remota te o qual os primeiros colonos da Bahia puderam combinar com a grande lavoura tropical, inimiga [...]>. 47). da policultura, seu velho gosto pela horticultura. No princípio do século XVII, Salvador padeceria - é 110. Manuel Aires de Casal, op. cit., II, p. 119- Casal atribui o fato à circunstância dos pastos não serem verdade que concorrendo então para a escassez de alimentos a situação de guerra no Norte - de falta geralmente bons e haver "na maior parte [...] falta d'água". Mas sem deixar de atinar com a até de farinha de mandioca, como o indicam documentos recentemente publicados (Documentos causa social: "afim de que os agricultores não padeçam damno nas suas lavouras". Capistrano históricos do Arquivo Municipal - Atas da Câmara -1625-1641, Salvador, 1944, páginas 399, 401 e outras). Desde então o testemunho dos cronistas e viajantes é no sentido de que a alimentação em Salvador foi difícil e com os preços dos alimentos geralmente altos. Do próprio Cardim, aliás, confirmam o que neste ensaio se diz desde 1933 sobre as relações entre o sistema feudal-capitalis- deve-se ter em conta - insistamos neste ponto - seu caráter de "padre-visitador", excepcionalmente ta de plantação e a paisagem. Segundo o professor Josué de Castro, no Nordeste, "a monocultura bem recebido nas cidades e engenhos, do mesmo modo que com relação aos tratados de Pero de intempestiva de cana, destruindo quase que inteiramente o revestimento florestal da região, sub­ Magalhães Gandavo devemos nos recordar, com o arguto Capistrano de Abreu, que eram de certo vertendo por completo o equilíbrio ecológico da paisagem e entravando todas as tentativas de modo propaganda para induzir europeus a virem para o Brasil como colonos. Lendo-se o mais obje­ cultivo de outras plantas alimentares no lugar, constituiu-se degradante da alimentação regional tivo Gabriel Soares de Sousa vê-se que na fase anterior à monocultura absorvente, fase ainda de [...]." "No Nordeste do Brasil os hábitos alimentares prejudiciais à saúde foram conseqüência conciliação da grande lavoura- o açúcar - com o gosto tradicional dos portugueses pela horticultura quase que exclusiva da monocultura e do latifundismo" ("Áreas alimentares do Brasil", Resenha e a que já nos referimos, parecem ter sido excepcionais as plantações como a de João Nogueira Clínico-Cienttfica, São Paulo, ano XIV, n-° 4, abril de 1945, p. 155). Sobre o assunto veja-se tam­ francamente policultoras, com roças de mantimentos, porcos e rebanhos de gado. É que a terra de bém nosso Nordeste, Rio de Janeiro, 1937. Aí, e em outros dos nossos trabalhos, já se encontra esse sua propriedade era pobre demais para a cultura da cana e nela os rios eram pequenos demais para critério de interpretação da situação alimentar do Brasil não só no Nordeste agrário como em tocar engenhos. (Vejam-se Gabriel Soares de Sousa, Tratado descritivo do Brasil em 1587, p. 148 e o outras subáreas de monocultura. resumo das suas informações sobre este ponto e interessantes comentários a esse respeito e a res­ Não nos esqueçamos, a propósito de áreas e subáreas, ou regiões e sub-regiões, de que a influên­ peito das relações das plantações monocultoras e imperialistas ou expansionistas - dados os altos cia do patriarcado monocultor e escravocrata que teve seus centros mais intensos e de vida mais preços do açúcar - com plantações ou roças de mantimentos - na maioria nas mãos de índios - constante e longa em Pernambuco, na Bahia e no Rio de Janeiro foi, no Norte, até a subárea apresentados por Alexandre Marchant no seu citado Do escambo à escravidão, p. 140-142.) (Do amazônica, no Sul, até o Rio Grande do Sul e, no Centro, até Mato Grosso. Constituiu assim aquele mesmo autor, leia-se "Feudal and capitalistic elements in the portuguese settlement of Brazil", 7k sistema - talvez o de maior influência na fixação de característicos nacionais e gerais no Brasil - Hispanic American Historical 1942, p. 493-512.) Sobre o processo de sucessão ecoló­ Review,m], um sistema ou complexo transregional e não apenas regional, como supõem alguns pesquisadores gica da policultura e da pequena lavoura pela monocultura e pela grande propriedade, quando de história ou de sociologia da gente brasileira. Formou uma constelação de áreas ou subáreas ou favoráveis a estas as condições de comércio, veja-se o excelente estudo do professor Andrew W. Lind, uma espécie de supra-área de cultura, original em sua configuração e em sua extensão, e não An islandcommunity, ecobgical succession in Hawaii, Chicago, 1938, especialmente o Capítulo apenas correspondente à área ou região geográfica a que é geralmente associada: o Nordeste ou o VII - "The plantation and capital investment", em que repele a sugestão de ser sempre a grande Norte agrário do Brasil. Sobre a presença de característicos sociais e de cultura - inclusive a própria plantação, pelo seu caráter paternalista, pré-capitalista, para acentuar "its equally important arquitetura domética - senão idênticos, semelhantes aos que se encontram no Nordeste agrário, functtons as a schemefor the organization and investiment of capital' (p. 157), em áreas como monocultor e por muito tempo escravocrata, em áreas geograficamente afastadas e diferentes do o Havaí. Aliás acentua o mesmo autor não ter correspondido a grande plantação no Havaí à genera­ mesmo Nordeste, vejam-se os estudos de caráter sociológico ou parassociológico de José Veríssimo e lização de Keller sobre as grandes plantações como sistema: tenderem à devastação do solo e dos do professor Artur Reis sobre a Amazônia; de Dante de Laytano, Atos Damasceno Ferreira, Ernani homens (Albert G. Keller, Cobnization, Boston-Nova Iorque, 1908, p. 10). O que o professor Lind Correia, Tales de Azevedo sobre o Rio Grande do Sul, Augusto de Lima Júnior e M. de Barros Latif atribui a vários fatos, inclusive o de alguns engenhos do Havaí terem sido fundados e desenvolvidos sobre Minas, José de Mesquita sobre Mato Grosso. Sobre a área rio-grandense-do-sul, veja-se, do por missionários protestantes, cujo interesse na terra não era só econômico e cuja ação antes criado­ ponto de vista mais sociologicamente objetivo sob que pode ser constatada a presença daquela ra que devastadora da terra e dos homens pode ser comparada - acrescentemos - com a de alguns influência, ou daquela coincidência de expressões sociais e de traços de cultura, em meios diferen­ dos frades ou religiosos senhores de engenho no Brasil (beneditinos, jesuítas etc.), dados a expe­ tes em várias de suas condições físicas e em vários dos elementos de sua composição étnica, nosso riências de interesse agronômico e social, às quais se entregaram também senhores patriarcais do pequeno trabalho acerca do sobrado no Rio Grande do Sul {problemas brasileiros de antropolo­ tipo de Manuel (Mino) Cavalcanti de Albuquerque. Nas mãos de tais senhores de engenho, o sistema gia, Rio de Janeiro, 1943). Também Tales de Azevedo, Gaúchos - Notas de antropologia social, de grande plantação desenvolveu alguns dos característicos do paternalismo mais favoráveis à co­ Bahia, 1943; Dante de Laytano, "O português dos Açores na consolidação moral do domínio lusita­ munidade. No Brasil pode-se, porém, afirmar que nas áreas mais características o sistema da grande no no extremo sul do Brasil", Revista do Ensino, Porto Alegre, n215-18, nov. 1940-fev. 1941; Atos plantação foi, desde os primeiros anos de colonização, misto: pré-capitalista e capitalista, feudal e Damasceno, Imagens sentimentais da cidade, Porto Alegre, 1940; Ernani Correia, "A arquitetura comercial. E também: criador de valores ao mesmo tempo que devastador do solo e dos homens. do Rio Grande do Sul", Lanterna Verde, Rio de Janeiro, julho, 1944. Do ponto de vista da alimentação, estudiosos modernos do assunto, interessados em preparar, baseados em inquéritos regionais, um mapa da alimentação no Brasil, e também Josué de Castro, 114. Cardim, op. cit, p. 321. 115. Percy Goldthwait Stiles, Nutrionalphysiology, Filadélfia e Boston, 1931. 128. "Informações e fragmentos históricos do padre Joseph de Anchieta, S.J. (1584-1586)", ^Mate­ Em interessante artigo ("Folclore do açúcar", XVII, Brasil Açucareiro, vol. XXV, nu 3, março, riais e Achegas para a História e Geografia por Ordem do Ministério da Fazenda, Rio de 1945) Joaquim Ribeiro escreve: "aqui convém denunciar um erro de apreciação de Gilberto Freyre. Janeiro, ng 1,1886, p. 34. Ele pinta a cozinha dos senhores de engenho como regalada e opulenta. A verdade porém é que é 129. Anchieta, Informações, cit., p. 50. uma cozinha relativamente pobre. A alimentação popular nos engenhos ainda é pior. O lavrador de cana passa vida miserável de subnutrido". 130. hnchieta, Informações, cit., p. 41. Evidentemente o distinto crítico não leu o que sobre o assunto e sobre as relações da alimentação 131. "II y a quantité de Boeufs, de Cochons, deMountons, de Volailles & de Gibier; maistoutyest com a monocultura se diz neste ensaio desde 1933. Tampouco nega o autor do presente ensaio aqui extrémement cher. La Flote quiy vient tous les ans de Portugal apporte des vins, des farines, ou em qualquer outro trabalho que tenha havido influência holandesa sobre a cozinha brasileira. de 1'huile, du fromage [...]", informa aRelation du voyageautour du monde deMr. de Apenas tem salientado que dessa influência resta ou sobrevive muito pouco. De positivo parece que só Gennes au Détroit de Magellan par le Sr. Froger, Amsterdã, 1699, p. 81. Veja-se também de o brote. Quanto à interpretação do requeijão nordestino como possível "adaptação sertaneja da in­ Gentil de La Barbinais, Nouveau voyage autour du Monde, Paris, 1728-1729. dústria pecuária holandesa", sugerida por Joaquim Ribeiro e José Honório Rodrigues no seu Civili­ Ainda sobre a falta de carne e mantimentos na Bahia do século XVII, vejam-se os documentos zação holandesa no Brasil, São Paulo, 1940, é realmente "hipótese a estudar". Sobre o assunto às páginas 250, 315, 401, 447 em Documentos Históricos do Arquivo Municipal - Atas da vejam-se também: F. C. Hoehne, Botânica e agricultura no Brasil no séculoXVI, São Paulo, 1937; Câmara, 1625-1641, vol. I, Prefeitura Municipal do Salvador, Bahia, s.d. Por um desses docu­ Josué de Castro,^ alimentação brasileira à luz da geografia humana, São Paulo, 1937; A. J. de mentos - "Sobre os obrigados do assougue da cidade para darem carne" - se vê que em I636 os Sampaio.il alimentação sertaneja e do interior da Amazônia, São Paulo, 1944. oficiais da Câmara da cidade de Salvador "mandaram vir perante sy a Simam Alvares, e Domin­ 116. Capistrano de Abreu, Tratados da terra e gente do Brasil, apenso, p. 433- gos da Costa a quem estam a cargo os Curais do Conselho para os obrigarem a dar carne ao assougue da Cidade por haverem muitos mezes que nam havia carne nelle [...]" (p. 315). 117. Cardim, op. cit., pág. 290.

118. Stiles, op. cit. 132. "Onn'y voitpontde moutons; la volailley est rare & le boeuf mauvais. Lesformisy désolent, comme dans le reste de la colonie, le fruit et les legumes. D 'un autre cote les vins, les farines, 119. Cardim, op. cit., pág. 334. tous les vivres qu 'on apporte d'Europe, n 'arrivent pas toujours bien conserva. Ce qui a 120. Bernardo Pereira Berredo, apudj. Lúcio de Azevedo, Os jesuítas no Grão-Pará, 2a ed., Coimbra, échappéà la corruption est d'une chertéprodigieuse" {Histoirephilosophique etpolitique des 1930. etablissements & du commerce des européens dans les deux indes, III, à Genève, 1775, p. 91) •

121. J. Lúcio de Azevedo, op. cit. 133. Capistrano de Abreu, Introdução aos Diálogos das grandezas do Brasil, cit.

122. Padre Antônio Vieira, apudj. Lúcio de Azevedo, op. cit 134. Um documento do século XVI, quase desconhecido no Brasil - "A discourse of the west Indies and south sea written by Lopes Vaz a Portugal borne in the citie of Elvas continued unto the yere 1587, 123. Informações efragmentos históricos do padreJoseph deAnchieta, S.J., 1584-1586, Rio de Janei­ etc." - incluído em The principal navigations voyages trajfiques & Discoveries ofthe english ro, 1886, p. 47. nation [... ] by RichardHakluyt, Londres, 1927, VIII, p. 172, informa sobre o Pernambuco do 124. Maria Graham, Journal, cit., p. 119- século XVI, opulento de engenhos de açúcar: "[...]yetare they in great want of victuals that 125. Sobre o desmazelo no trajo doméstico da nossa gente colonial, mesmo a ilustre, leiam-se James come either from Portugal or from someplaces upon the coast of Brazil". A carestia era até de Henderson, A history ofthe Brazil, Londres, 1821; John Luccock, Notes on Rio de Janeiro and farinha: "da qual ordinariamente há carestia", diz-nos Manuel Aires de Casal, op. cit. Sobre a the southern parts of Brazil, Londres, 1820.0 último já foi publicado no Brasil. formação social do Rio de Janeiro, vejam-se Alberto Lamego, A terra goitacá, Rio de Janeiro, 1913-1925 e Alberto Lamego Y\\r\o, A planície do solar e da senzala, Rio de Janeiro, 1934. 126. História do Brasil, por frei Vicente do Salvador, ed. revista por Capistrano de Abreu, São Paulo e Rio de Janeiro, 1918, p. 16-17. 135. Manuel Aires de Casal, op. cit., II, p. 146.

127. Nóbrega, Cartas, cit., p. 162. 136. Manuel Aires de Casal, op. cit., II, p. 45. 137. Proteína de origem animal, de alto valor biológico, ou "proteína de primeira classe", para distin­ farinha de mandioca, em parte baseada em conclusões parece que precipitadas de pesquisadores guir da de origem vegetal, que é de "segunda classe". Sobre o critério mais moderno na classifica­ paulistas. Pesquisas realizadas posteriormente pelo Dr. Antenor Machado no Instituto de Química ção de proteínas veja-se o Report of Committee on Nutrition, de E. K. Le Fleming e outros, Supp. Agrícola do Ministério da Agricultura indicam que a farinha de mandioca comum não contém to The British Medicai Journal, 1933, vol. II. vitamina B e a farinha de raspa possui apenas vestígios da mesma vitamina.

138. E. V. McCollum e Nina Simmonds no seu trabalho The newer knowledge of nutrition (Nova Iorque, 142. Inteiramente errado, ao nosso ver, o Sr. Josué de Castro no seu trabalho O problema fisiológico da 1929) opõem ao critério de Huntington o da dieta: por ele explicam, entre outros fatos atribuídos à alimentação brasileira, Recife, 1933 - no qual chega, aliás, do ponto de vista fisiológico e atra­ influência do clima ou da raça, a diferença que em poucas gerações operou-se entre ingleses do vés da técnica mais recente na sua especialidade, às mesmas conclusões gerais que o Autor deste mesmo plantei: os que emigraram da Geórgia nos fins do século XVIII, uns para o Canadá, outros ensaio, pelo critério sociológico e pela sondagem dos antecedentes sociais do brasileiro, isto é, "muitas das conseqüências mórbidas incriminadas aos efeitos desfavoráveis do nosso clima são o para as ilhas Bahamas. Estes degeneraram; aqueles conservaram-se vigorosos. A dieta dos primeiros: resultado do pouco caso dado aos problemas básicos do regime alimentar" - quando considera os leite, vegetais, carne, trigo em abundância. A dos outros uma espécie de dieta brasileira. alimentos ricos de hidrates de carbono os "de aquisição mais barata pela sua abundância natu­ 139. Em estudo sobre o valor nutritivo dos alimentos brasileiros, Alfredo Antônio de Andrade salienta ral, num país agrícola como o nosso." "A alimentação intuitiva, habitual, das classes pobres, que o cálcio "difunde-se exíguo no solo brasileiro, para concentrar-se em depósitos riquíssimos trabalhadoras", acrescenta, "está sob este ponto, de acordo com os fundamentos fisiológicos." por determinados pontos do território." As plantas "não o encerram comumente em teor muito Procuramos indicar neste ensaio justamente o contrário: que a monocultura sempre dificultou

alto." Quase uma sentença de morte em face do apurado pelas pesquisas modernas: que "em entre nós a cultura de vegetais destinados à alimentação. Do que ainda hoje se sente o efeito na |' torno do cálcio gira a defesa orgânica, máxime a resistência às causas infectuosas e às doenças dieta do brasileiro - na do rico e especialmente na do pobre. Nesta o legume entra raramente; § discrásicas e dele dependem todos os fenômenos subordinados à atividade dos músculos, nervos e uma fruta ou outra, a rapadura ou o mel de furo, um peixinho fresco ou a carne de caça, quebra, § glândulas, presa a suas proporções com os iônios, sódio, potássio e magnésio. Infelizmente essa quando Deus é servido, a rigidez do regime alimentar do brasileiro pobre: farinha, charque e 149 escassez se dá, por igual, em nossas águas [...]" (Alfredo Antônio de Andrade, Alimentos brasi­ bacalhau. O próprio feijão já é luxo. E a farinha tem faltado várias vezes. Nos tempos coloniais < leiros, cit.). É duvidoso que o cálcio na água tem a importância que lhe atribui Andrade. Pelo sucederam-se crises de farinha que também têm se verificado no período da independência. | menos, os resultados de pesquisas realizadas entre os habitantes dos Alpes, em uma região em que 143. Diz Anchieta na sua "Informação da província do Brasil para nosso padre" (1585, p. 45), que em g a água de beber é particularmente rica em cálcio, são em sentido contrário ao de sua opinião. 0 Piratininga a terra era "de grandes campos, fertilissima de muitos pastos e gados", "abastada de I raquitismo foi aí encontrado do mesmo modo que em regiões relativamente pobres em cálcio. E o muitos mantimentos", informação que coincide com outro depoimento, quinhentista como o de S que nos indica A. F. Hesse, Rickets, inclunding osteomalacia and tetany, Henry Kimpton, Lon­ Anchieta, transcrito pelo professor Taunay em Non ducor, duco (São Paulo, 1924): o do padre 0 dres, 1930, p. 51, apud Rui Coutinho, Valor social da alimentação, São Paulo, 1935. Baltasar Fernandes, que escrevera de Piratininga em 1569 "haver muito pasto dos camposj...]

140. Antônio Martins de Azevedo Pimentel, Subsídios para o estudo da higiene do Rio de Janeiro, Rio que são de quem os quer", além de "bom mantimento" e "muito gado vaccum". de Janeiro, 1890. 144. É j á das mais vastas a obra, que se poderia classificar de profundo realismo histórico, do professor Afonso de E. Taunay. A ele somos todos devedores de importantes revisões e retificações na história 141. A farinha - alimento hidrocarbonado, com proteína de segunda classe e pobre de vitaminas e de social e econômica do nosso país. Na sua obra avulta o estudo definitivo das bandeiras paulistas - sais minerais - é considerada por vários especialistas em assuntos de nutrição alimento de fraco História geral das bandeiras paulistas, São Paulo, 1924-1929 - que é talvez a investigação valor. Mesmo quando ingerida seca - observava pitorescamente em 1909 um estudioso do regime histórica especializada mais séria que já se empreendeu no Brasil. de alimentação na Bahia - "duplicando de volume, distende fortemente as paredes do estômago [...]" podendo dar lugar a "fermentações anormais". Além do que, pela "existência de fibras 145. Alfredo Ellis Júnior, Raça de gigantes, cit. lenhosas da raiz de mandioca", contribui para "a formação de bolos fecais endurecidos, constitu­ 146. Paulo Prado, Paulística, 24 ed., Rio de Janeiro, 1934. indo verdadeiros fecalomas, capazes de resistirem às mais fortes lavagens e aos mais enérgicos purgativos...", Francisco Antônio dos Santos Sousa, Alimentação na Bahia, tese apresentada à 147. Antônio Alcântara Machado, Vida e morte do bandeirante, cit.

Faculdade de Medicina da Bahia, 1909. Já houve no Brasil uma espécie de exaltação mística da 148. Principalmente os Inventários e testamentos, Arquivo do Estado de São Paulo, 1920-1921. "Verificam-se aqui com mais freqüência", escrevia Martius de São Paulo (Alfredo Ellis Júnior, op. 154. Já em princípios do século XIX, o inglês Henry Koster contrastava em Pernambuco os regimentos cit.), "doenças reumáticas e estados inflamatórios, principalmente dos olhos, do peito, do pescoço e de milícia formados exclusivamente por pretos e mulatos com os regimentos de linha, formados subseqüente tísica pulmonar e traqueal etc. Ao contrário, as doenças gástricas são mais raras, faltan­ por portugueses, concluindo pela melhor aparência física dos homens de cor (Traveis in Brazil, Londres, 1816). do aquela fraqueza geral do sistema digestivo, assim como as cardialgias que são freqüentes nos

habitantes das regiões mais próximas do Equador, parecendo aumentar na mesma proporção do 155. Chamar-se alguém de "caboclo" no Brasil quase é sempre elogio do seu caráter ou da sua capaci­ calor." Ruediger Bilden desvia do clima e da miscigenação para a escravidão a responsabilidade dade de resistência moral e física. Em contraste com "mulato", "negro", "moleque", "crioulo", pelos nossos principais vícios de formação social, moral e econômica: nós nos inclinamos a desviá-la "pardo", "pardavasco", "sarará", que em geral envolvem intenção depreciativa da moral, da antes para a monocultura e para o latifúndio, sem desconhecermos por um momento, nem preten­ cultura ou da situação social do indivíduo. Muito mulato brasileiro de elevada posição social ou dermos diminuir a importância tremenda da escravidão. Apenas se tivéssemos de condicionar ou política faz questão de dizer-se caboclo: "nós caboclos", "não fosse eu caboclo" etc. E Júlio Belo subordinar uma à outra, subordinaríamos a escravidão à monocultura latifundiária. refere que o velho Sebastião do Rosário, conhecido senhor de engenho pernambucano do século XIX, Wanderley puro, dos bons, dos de Serinhaém - gente quase toda com a pele avermelhada de Nos fins da época colonial o médico sueco Gustavo Beyer, tanto quanto os cronistas jesuítas do europeu, os olhos azuis, o cabelo ruivo - quando exaltava-se, contente, nos seus grandes jantares, século XVI, salientava "a enorme abundância de víveres dos mercados" em São Paulo: frutas e era para gabar-se, falsamente, de ser "caboclo". Mulato ou tocado de sangue negro é que nin­ legumes, cereais e tubérculos, aves e animais de corte. E acrescentava que nunca como em São guém quer ser quando nas alturas. Raríssimas as exceções. Paulo vira população de tão belo aspecto, jamais encontrara tão poucos aleijados... (veja-se Afonso de E. Taunay, Non Ducor, Duco, cit.). 156. Roquette-Pinto, Seixos rolados, Rio de Janeiro, 1927. "Todavia elementos não faltam no livro Os sertões", acrescenta Roquette-Pinto para provar que aqueles homens que "antes de tudo Peckolt, op. cit. Peckolt acrescenta quanto ao regime alimentar dos escravos: "o fazendeiro acer­ eram fortes" tinham farta gota de sangue negro. É só reler a descrição do poviléu de Canudos: tou com os meios próprios para a substituição do material gasto". "Todas as idades, todos os tipos, todas as cores [... ] grenhas maltratadas de crioulas retintas; . Sílvio Romero, História da literatura brasileira, Rio de Janeiro, 1888. cabelos corredios de caboclas, trunfas escandalosas de africana; madeixas castanhas e louras de brancas legítimas embaralhavam-se sem uma fita, sem um grampo, sem uma flor, toucado José Américo de Almeida no seu estudo sobre as populações paraibanas diz, referindo-se à negróide ou coifa por mais pobre". dos "antigos centros da escravaria" nos brejos: "esse homem [o brejeiro], malcomido e malvestido, lida no eito, curvado sobre a enxada, de sol a sol ou ao rigor das inverneiras, com uma 157. Roquette-Pinto, op. cit

infatigabilidade de que nenhum outro seria capaz... Apesar desse regime de privações e esgota­ 158. Roquette-Pinto, Rondônia, Rio de Janeiro, 1917. mento, o tipo não é dos mais apoucados: apresenta, ao contrário, exemplos de robusta compleição 159- Ulisses Brandão,v4 Confederação do Equador, Pernambuco, 1924. - cabras hercúleos que resistem às mais penosas labutas, como a da bagaceira" (op. cit.). Igual observação fizera Lafcadio Hearn entre as populações mestiças (mulatos, quadrarões, oitavões 160. GastãoCm\s,AAmazôniaqueeu vi, Rio de Janeiro, 1930. etc.) das índias Ocidentais Francesas. "Withoutfear of exaggeratingfacts, Ican venture to say 161. Notadamente o beribéri, avitaminose resultante da falta de vitamina B, e não uma infecção. Pelo that the muscular development of the workingmen here is something which must be seen in menos é a conclusão de estudiosos profundos do assunto: Sherman, Mendel, Aykroyd, Cowgill, order to be believed- to study fine displays of it, one should watch the blacks and halfbreeds Sure. Sobre o beribéri no Brasil, veja-se o estudo de V. Batista, Vitaminas e avitaminoses, São working naked to the waist - on the landings, in the gas-houses and slaughter-houses or in Paulo, 1934. Também o trabalho de Rui Coutinho, já citado. the nearestplantations" {Tu>o years in the French West Indies, Nova Iorque e Londres, 1923) • 162. Johann Baptist von Spix e C. F. P. von Martius, Traveis in Brazil, (trad.), Londres, 1824. De Lafcadio pode-se dizer, em resposta à alegação de que seria simples escritor e não cientista, que enxergava mais, como simples escritor, do que muito sociólogo. Aliás ele cita a seu favor o depoi­ 163. Emile Béringer, op. cit. Tão sensível pareceu a Béringer a morbilidade do norte do Brasil aos mento de J. J. J. Cornilli, que no seu estudo médico Recherches chronologiques et historiques sur aperfeiçoamentos da técnica sanitária e do conforto geral de vida, que concluiu dos seus estudos Vorigine et lapropagation de la Fièvre Jaune auxAntilles salienta a robustez e o vigor físico do de climatologia em Pernambuco: "com os progressos da higiene e da civilização muitas causas mestiço da Martinica. desaparecerão. Já hoje os habitantes brancos mais abastados, mais prudentes, mais apreciadores do seu bem-estar que os pardos ou os pretos, estão sujeitos a uma mortalidade menor". Béringer o encaramos do ponto de vista da história ou antropologia social; do ponto de vista da sociologia respondia assim à interrogação que, pela mesma e'poca, saía da pena de Capistrano de Abreu: genética. Não seria justo que nem a engenharia nem a medicina - técnicas ou artes que têm ainda "[...] o clima ardente a que tantas responsabilidades se atribuem em todos os nossos defeitos, seus problemas sem solução ou de solução difícil - anexassem imperialmente ao seu domínio exclu­ que sabemos de sua ação?" (Prefácio à Geografia geral do Brasil de A. W. Sellin, traduzida do sivo ou absoluto largos trechos da antropologia ou história social como a história da habitação alemão, Rio de Janeiro, 1889) • Era como se atinasse o perspicaz historiador com a moderna atitu­ humana e a história da sífilis, enxotando desses trechos, como a uns intrusos, os pobres dos antropó­ de de antropogeografia em relação ao fator clima: a tendência no sentido de reduzir-lhe as res­ logos, dos sociólogos e dos historiadores. ponsabilidades. Quanto à origem da sífilis, é do professor Milton J. Rosenau a informação de que antes de 1493 ou 1494 - quando o mal rebentou com violência na Europa - nada consta sobre a sífilis como 164. A. Carneiro Leão, Oliveira Lima, Recife, 1913; Paulo de Morais Barros, Impressões do nordeste, "entidade clínica". Historicamente, porém, ela se deixa entrever ou pelo menos suspeitar em crô­ São Paulo, 1923- nicas antigas, embora seja sempre difícil distinguir nessas fontes a sífilis de outras doenças vené- 165. Paulo Prado, op. cit. reas ou da pele. Supõe-se - adverte Rosenau - que os chineses, dois mil anos antes de Cristo, já conhecessem a doença. Mas a história da sífilis anterior a 1493 ou 1494 se acha envolta em difi­ 166. Paulo Prado, op. cit. culdades: "shroudedin difficulties" (Milton J. Rosenau, Preventive medicine and hygiene, 5A 167. Oscar da Silva Araújo, AlgummmmtdriossobreasifilisnoRwdeJatieiro,Rioàe]meiro, 1928. ed., Nova Iorque-Londres, 1927). 168. Oscar da Silva Araújo, Subsídios ao estudo da framboesia trópica, Rio de Janeiro, 1928. Ainda mais enérgica em sentido contrário ao das afirmativas enfáticas quanto à origem de doenças sociais é a advertência do professor L. W. Lyde. A propósito de doenças que teriam sido 169. Oscar da Silva Araújo, Subsídios, cit. propagadas pelo negro ("Skin colour", The Spectator, Londres, 16 de maio de 1931) ele escreve: 170. "La syphilis", escreve Sigaud, "fait beaucoup de ravages dans les populations nômades, et "Ninguém pode afirmar quando nem onde se originou qualquer doença" ("The colour bar", The bien que certains observateurs pesent qu elle se soit propagée davantage après la conquête Spectator, Londres, junho, 1931, p. 892). Ao professor Lyde parece ter sido da América que os des portugais, a été constate que la maladie existait déjà chez les indigènes qui n 'avaient eu espanhóis levaram a sífilis para a Europa: o escravo negro é que teria introduzido a doença na aucun rapport avec des européens. Le voyageur Ribeiro de Sampaio, danssa relationpubliée América de onde ela teria se comunicado à Europa. 1775, págs. 9, 24, dit avoir recontré des tribus avec des symptomes évidents de maladie A favor da origem americana da sífilis deve ser destacado, entre as evidências mais recentes, o vénérienne" 0. F. X. Sigaud, Du climat et les maladies du Brésil, Paris, 1844). O professor fato, verificado em Guatemala pela expedição médica dirigida pelo Dr. George C. Shattuck (Insti­ Milton J. Rosenau, da Universidade de Harvard, diz que o estudo de ossos encontrados em sepultu­ tuição Carnegie de Washington) e que consta do relatório publicado em 1932 pela mesma organi­ ras pré-colombianas parece indicar a origem americana da sífilis (Milton J. Rosenau, Preventire zação, dos maias apresentarem "una resistência extraordinária contra el malyquizás también medicine and hygiene, 5A ed., Nova Iorque-Londres, 1927). 0 assunto, porém, continua ponto de contra la infección devido al virus de sífilis. Esto infiere que la sífilis es una enfermedad controvérsia. antigua entre los mayas, y que por lo tanto, ellos han adquirido un grado mayor de Alguém que se esconde sob as iniciais A. S., enviou-nos um recorte já velho de jornal do Rio de inmunidad contra la enfermedad de lo que se ha demonstrado en cualquier otra raza. Esta Janeiro, sem designação de nome nem data, onde o Dr. Nicolau Ciancio afirma que a origem da sífilis hipótesis tiene una importante relación con la historia de la sífilis, pués significa que la é fora de toda dúvida americana, atribuindo nossas dúvidas a respeito ao fato de não sermos médico: enfermedad existia en la América Central mucho antes de la Conquista, que tuvo alli su "O autor não sendo médico" etc. Esqueceu-se o bom Dr. Nicolau que o problema da origem da sífilis origen, y que los marineros de Colón originalmente la llevaron a Europa dei Nuevo Mun• é também um problema de história social; e sob esse aspecto - e não o médico - é que nos animamos do" (Sección de Investigaciones Históricas, Institución Camegie, Informe Anual de la Subsecciái a feri-lo, aliás de passagem. É oportuno salientar que a mesma atitude assumiram com relação ao de História Antigua de América, Washington, 1932, p. 24). A "resistência extraordinária" dos nosso trabalho alguns engenheiros e arquitetos, como que ofendidos em seus melindres de exclusiva maias à sífilis é que é um fato; a origem americana da doença, como inferência desse fato é, propriedade profissional do assunto "casa" por nos termos aventurado a tratar de arquitetura civil ou porém, uma hipótese. domestica no Brasil, sem sermos engenheiro ou arquiteto. Esquecem-se médicos e engenheiros as­ Na matéria a autoridade máxima, do ponto de vista da Antropologia física é, entretanto, o sim melindrados de que se procuramos arranhar tais assuntos, sempre o fazemos do ponto de vista professor Ales Hrdlicka. Em artigo sobre "Disease, medicine and surgery among the american ou sob aspectos que pouco têm que ver com a técnica da medicina ou da engenharia, isto é, sempre aborígenes" (TheJournal ofthe American Medicai Association, vol. 99, nu 20, nov. 1932) Hrdlicka resume a situação patológica do americano pré-colombiano, através do que se conhece a respeito ascendências a su misticismo [como faz Chamberlain] es necesario no estar familiarizado pelo estudo de restos de esqueletos; e depois de salientar a ausência de raquitismo, tuberculose, con Iasfuentes cristianas dei cristianismo". E cita sua autoridade: El islam cristianizado de microcefilia ou hidrocefalia patológica, cólera, peste, tifo, varíola, sarampo, lepra, e a raridade do A. Palácios, Madri, 1931 (Introdução à Casa-grande & senzala, ed. espanhola, Buenos Aires, câncer, observa "A despeito do que se pretende em contrário, não há até hoje um só exemplo de 1942). Mas autoridade igualmente considerável é o padre Asin Palácios que escreveu La sífilis pré-colombiana completamente autenticado" (p. 1.662). E considera a origem da sífilis escatologia musulmana en la Divina Comedia, Madri, 1919. Se não é desonra para a poesia questão aberta diante da base precária das conclusões a favor da origem americana da doença: cristã de Dante ter ascendências islâmicas e africanas, por que o seria para Loyola e para seus "[...] the matter is still a problem on which ali further light is higher desirable". exercícios'' Com todo o seu ocidentalismo, o escritor católico francês M. Legendre reconhece que Sobre o assunto veja-se também o que dizem Durval Rosa Borges, Estudos sobre a sífilis etc, "lésemitisme árabe a mis dans le temperament spirituel de 1'Espagne une forte note Rio de Janeiro, 1941; Danilo Perestrelo, Sífilis, Rio de Janeiro, 1943; Henrique de Moura Costa, dóriginalité [...]." Não só o árabe: o africano da África Menor. E acrescenta considerar "un "Aspectos e particularidades da sífilis no Brasil", Brasil Médico, Rio de Janeiro, nfi 11,16 de março signedepusillanimitéchezcertainsEspagnols [...] repudiercetafricanisme" (Portraitde de 1935, p. 245); Oscar da Silva Araújo, Lórganisation de la lutte antivénenenne au Brésil, rEspagne, Paris, 1923, p. 51). Paris, 1928.

171. Oscar da Silva Araújo, Comentários, cit.

172. Diálogos das grandezas do Brasil, cit., nota 12 ao "Diálogo segundo".

173- F. Buret, La syphilis aujourd'hui et chez les anciens, Paris, 1890.

174. Albert Moll, The sexual life of the child (trad.), Nova Iorque, 1924.

175. Pascale Penta, I pervertimenti sessuali, Nápoles, 1893; Max Dessoir, "Zur psychologie der vita sexualis" emAllegemeine Zeitschrift für Psychischgerichtliche Medicin, apud Westermarck The origin and development of moral ideas, Londres, 1926.

176. Oscar Pfister,Love in children andits aberrations, (trad.), Londres, 1924.

177. Não deve ficar sem reparo o fato de, em um país por longos séculos de escravos e de mulheres recalcadas pela extrema pressão masculina, o culto dominante entre a maioria católica ser o masoquista, sentimental, do Coração de Jesus. É comum entre os poetas um como exibicionismo do coração sofredor. A nossa literatura amorosa, tanto quanto a devocional e mística, está cheia de corações a sangrarem voluptuosamente: ou então magoados, doloridos, feridos, amargurados, dilacerados, em chamas etc. etc.

178. A expressão "Rússia americana" pareceu a um crítico que gentilmente se ocupou deste ensaio, "fórmula antiquada, depois de Vicente Licínio Cardoso e do Sr. Otávio de Faria." Talvez tenha se enganado o crítico. Pelo menos, em parte. A referida expressão usamo-la pela primeira vez há mais de dez anos no trabalho "Vida social no nordeste", Diário de Pernambuco, \- centenário,

1925.

179. Houston Stewart Chamberlain, The foundations of the nineteenth century, Londres, 1911. Ilustre crítico literário argentino, o Sr. Ricardo Sáenz Hayes escreveu sobre a citação de que aqui se faz de H. S. Chamberlain, a propósito de Loyola e dos Exercícios que "para buscarle II O indígena na formação da família brasileira

V_>om a intrusão européia desorga­ niza-se entre os indígenas da América a vida social e econômica; desfaz-se o equilíbrio nas relações do homem com o meio físico. Principia a degradação da raça atrasada ao contato da adiantada; mas essa degradação segue ritmos diversos, por um lado conforme a diferença regional de cultura humana ou de riqueza do solo entre os nativos - máxima entre os incas e astecas e mínima nos extremos do índios botocudos na Corte do Rio dejaneiro. J.-B. Debret, Voyage Pittoresque et Historiam1 continente; por outro lado, conforme as disposições e recursos colo­ au Brésil, 1834, v. 1, pr. 9. Acervo do Iastituto de Estudos Brasileiros da USR nizadores do povo intruso ou invasor. Os espanhóis apressam entre os incas, astecas e maias a dissolu­ ção dos valores nativos na fúria de destruírem uma cultura já na fase de semicivilização; já na segunda muda; e que por isso mesmo lhes pareceu perigosa ao cristianismo e desfavorável à fácil exploração das grandes riquezas minerais. Apressam-na entre gentes mais atrasadas, os puritanos ingleses querendo conservar-se imaculados do contato sexual e social de povos que lhes repugnavam pela diferença de cor e de costumes e que evocavam à sua consciência de raça e de cristãos o espantalho da miscigenação e do paganismo dissoluto. Os portugueses, além de menos ardentes na ortodoxia que os es­ panhóis e menos estritos que os ingleses nos preconceitos de cor e de moral cristã, vieram defrontar-se na América, não com nenhum povo articulado em império ou em sistema já vigoroso de cultura moral e mentos, reunidos, irem de novo formando um todo não-europeu e material - com palácios, sacrifícios humanos aos deuses, monumentos, original. pontes, obras de irrigação e de exploração de minas - mas, ao contrá­ Ruediger Bilden traça de modo sugestivo as diferentes condições rio, com uma das populações mais rasteiras do continente. de amalgamento de raça e de cultura que, ao seu ver, dividiram em De modo que não é o encontro de uma cultura exuberante de quatro grandes grupos ("afourfold division")1 a massa étnica e cultu­ maturidade com outra já adolescente, que aqui se verifica; a coloniza­ ral indistintamente englobada por muitos na fácil mas vaga expressão ção européia vem surpreender nesta parte da América quase que "América Latina". bandos de crianças grandes; uma cultura verde e incipiente; ainda na O primeiro grupo seria o formado pelas repúblicas brancas ou primeira dentição; sem os ossos nem o desenvolvimento nem a resis­ brancaranas do Prata e pelo Chile. Nestas regiões, observa Ruediger tência das grandes semicivilizações americanas. Bilden, "o clima e as condições físicas em geral encorajaram o tipo de Dos valores morais e materiais acumulados pelos incas ou pelos colonização mais favorável ao desenvolvimento de uma sociedade astecas e maias resultaria uma indepressâo de bronze ao contato eu­ predominantemente européia." Excetuados os araucanos no Chile, ropeu; o que levou os espanhóis a despedaçarem esse bronze nativo "as raças indígenas eram demasiado insignificantes em número e pri­ que tão duramente lhes resistiu ao domínio para entre os estilhaços mitivas em cultura para obstruírem seriamente o rumo [europeu] da estabelecerem mais a cômodo o seu sistema colonial de exploração e colonização."2 de cristianização. O segundo grupo seria "o que o Brasil tipifica quase sozinho Mas entre os indígenas das terras de pau-de-tinta outras foram as Üalmost exclusively); região onde o elemento europeu nunca se en­ condições de resistência ao europeu: resistência não mineral mas ve­ controu em "situação de absoluto e indisputado domínio". "Por mais getal. Por sua vez o invasor pouco numeroso foi desde logo contem­ rígido", acrescenta, "que fosse o seu domínio econômico e político porizando com o elemento nativo; servindo-se do homem para as sobre os outros elementos étnicos, social e culturalmente os portu­ necessidades de trabalho e principalmente de guerra, de conquista gueses foram forçados pelo meio geográfico e pelas exigências da dos sertões e desbravamento do mato virgem; e da mulher para as de política colonizadora a competirem com aqueles numa base aproxi­ geração e de formação de família. madamente igual." A reação do domínio europeu, na área de cultura ameríndia inva­ O terceiro grupo seria o representado pelo México ou pelo Peru, dida pelos portugueses, foi quase a de pura sensibilidade ou contra- onde o conflito do europeu com as civilizações indígenas já desenvol­ tilidade vegetal, o índio retraindo-se ou amarfanhando-se ao contato vidas, a presença de riquezas minerais, o sistema colonial de explora­ civilizador do europeu por incapacidade de acomodar-se à nova téc­ ção resultaram antes em "justaposição e antagonismo de raças" do nica econômica e ao novo regime moral e social. Mesmo quando que em "harmonioso amalgamento"; na "criação de uma superestru- acirrou-se em inimigo, o indígena ainda foi vegetal na agressão: qua­ tura européia sob a qual se agitam correntes estranhamente remotas." se mero auxiliar da floresta. Não houve da parte dele capacidade Mais cedo ou mais tarde - acrescenta - essas correntes acabarão ab­ técnica ou política de reação que excitasse no branco a política do sorvendo a "delgada e anêmica superestrutura e transmutando os va­ extermínio seguida pelos espanhóis no México e no Peru. Explica-se lores de origem européia." assim - sem esquecermos outros fatores - que mais se tivesse apro­ O quarto grupo seria o constituído pelo Paraguai, pelo Haiti e veitado, a princípio, da cultura americana pobre, que era a da floresta "possivelmente pela República Dominicana". Neste "o elemento euro­ tropical, do que da rica, dos metais: a das duas semicivilizações duras, peu é quando muito um verniz". Representa uma "incongruente mis­ compactas, hieráticas, que se despedaçaram sob a invasão espanhola tura cultural de substância francamente índia ou negróide com frag­ e sob o domínio católico, para só quatro séculos depois seus frag­ mentos ou elementos mal-assimilados de origem européia."3 Híbrida desde o início, a sociedade brasileira é de todas da Amé­ ou política." O que mais tarde seria repetido pelo arguto observador rica a que se constituiu mais harmoniosamente quanto às relações de Koster em palavras que a indiofilia de Manuel Bonfim se apressou em raça: dentro de um ambiente de quase reciprocidade cultural que recolher, abaixo das de Southey, nas páginas de O Brasil na América. resultou no máximo de aproveitamento dos valores e experiências "Esta vantagem", escreveu Koster, referindo-se à ausência de discrimi­ dos povos atrasados pelo adiantado; no máximo de contemporização nações aviltantes da parte dos portugueses contra os indígenas, "pro­ da cultura adventícia com a nativa, da do conquistador com a do vém mais da necessidade que de um sentimento de justiça". conquistado. Organizou-se uma sociedade cristã na superestrutura, Para a formidável tarefa de colonizar uma extensão como o Bra­ com a mulher indígena, recém-batizada, por esposa e mãe de família; sil, teve Portugal de valer-se no século XVI do resto de homens que e servindo-se em sua economia e vida doméstica de muitas das tradi­ lhe deixara a aventura da índia. E não seria com esse sobejo de gente, ções, experiências e utensílios da gente autóctone. quase toda miúda9, em grande parte plebéia e, além do mais, moçárabe, Zacarias Wagener observaria no século XVII que entre as filhas das isto é, com a consciência de raça ainda mais fraca que nos portugue­ caboclas iam buscar esposas legítimas muitos portugueses, mesmo dos ses fidalgos ou nos do Norte, que se estabeleceria na América um mais ricos, e até "alguns neerlandeses abrasados de paixões".1 Já não domínio português exclusivamente branco ou rigorosamente euro­ seria então, como no primeiro século, essa união de europeus com peu. A transigência com o elemento nativo se impunha à política I índias, ou filhas de índias, por escassez de mulher branca ou brancarana, colonial portuguesa: as circunstâncias facilitaram-na. A luxúria dos ê mas por decidida preferência sexual. Paulo Prado foi surpreender "o indivíduos, soltos sem família, no meio da indiada nua, vinha servir a 0 severo Varnhagen" insinuando que, por sua vez, a mulher indígena, poderosas razões de Estado no sentido de rápido povoamento mesti­ 160 "mais sensual que o homem como em todos os povos primitivos [...] ço da nova terra. E o certo é que sobre a mulher gentia fundou-se e < em seus amores dava preferência ao europeu, talvez por considerações desenvolveu-se através dos séculos XVI e XVII o grosso da sociedade | priápicas."5 Capistrano de Abreu sugere, porém, que a preferência da colonial, em um largo e profundo mestiçamento, que a interferência * mulher gentia pelo europeu teria sido por motivo mais social que se- dos padres da Companhia salvou de resolver-se todo em libertinagem | xual: "da parte das índias a mestiçagem se explica pela ambição de para em grande parte regularizar-se em casamento cristão. 1 terem filhos pertencentes à raça superior, pois segundo as idéias entre O ambiente em que começou a vida brasileira foi de quase into­ u 6 eles correntes só valia o parentesco pelo lado paterno". xicação sexual. No primeiro século às "considerações priápicas" há que sobrepor O europeu saltava em terra escorregando em índia nua; os pró­ a circunstância da escassez, quando não da falta absoluta, de mulher prios padres da Companhia precisavam descer com cuidado, senão branca. Mesmo que não existisse entre a maior parte dos portugueses atolavam o pé em carne. Muitos clérigos, dos outros, deixaram-se evidente pendor para a ligação, livre ou sob a bênção da Igreja, com contaminar pela devassidão. As mulheres eram as primeiras a se en­ as caboclas, a ela teriam sido levados pela força das circunstâncias, tregarem aos brancos, as mais ardentes indo esfregar-se nas pernas gostassem ou não de mulher exótica. Simplesmente porque não havia desses que supunham deuses. Davam-se ao europeu por um pente na terra quase nenhuma branca; e sem a gentia "mal se pudera reme­ ou um caco de espelho. diar nem povoar tão larga costa...", como em carta de 1612 mandava "Las mujeres andan desnudas y no saben negar a ninguno mas dizer a el-Rei Diogo de Vasconcelos.7 aun ellas mismas acometeny importunan los hombres hallandose con Observou Southey que o sistema colonial português se revelara ellos en las redes; porque tienen por honra dormir com los Xianos", mais feliz do que nenhum outro no tocante às relações do europeu escrevia o padre Anchieta;10 e isto de um Brasil já um tanto policiado; com as raças de cor; mas salientando que semelhante sistema fora e não o dos primeiros tempos, de solta libertinagem, sem batinas de antes "filho da necessidade" do que de deliberada orientação social jesuítas para abafarem-lhe a espontaneidade. Neste o amor foi só o físico; com gosto só de carne, dele resultan­ drogas e remédios caseiros, de tradições ligadas ao desenvolvimento do filhos que os pais cristãos pouco se importaram de educar ou de da criança, de um conjunto de utensílios de cozinha, de processos de criar à moda européia ou à sombra da Igreja. Meninos que cresceram higiene tropical - inclusive o banho freqüente ou pelo menos diário, à toa, pelo mato; alguns tão ruivos e de pele tão clara, que, descobrin- que tanto deve ter escandalizado o europeu porcalhão do século XVI. do-os mais tarde a eles e a seus filhos entre o gentio, os colonos dos Ela nos deu ainda a rede em que se embalaria o sono ou a volúpia fins do século XVI facilmente os identificaram como descendentes de do brasileiro; o óleo de coco para o cabelo das mulheres; um grupo normandos e bretões. Desses franceses escreveria em 1587 Gabriel de animais domésticos amansados pelas suas mãos. Soares, no seu Roteiro geral que muitos "se amancebaram na terra, Da cunha é que nos veio o melhor da cultura indígena. O asseio onde morreram, sem se quererem tornar para França, e viveram como pessoal. A higiene do corpo. O milho. O caju. O mingau. O brasileiro gentios com muitas mulheres, dos quaes, e dos que vinham todos de hoje, amante do banho e sempre de pente e espelhinho no bolso, annos à Bahia e ao rio de Segerípe em náos da França, se inçou a o cabelo brilhante de loção ou de óleo de coco, reflete a influência de terra de mamelucos, que nasceram, viveram, e morreram como gen­ tão remotas avós. tios; dos quaes ha hoje muitos seus descendentes, que são louros, Antes, porém, de salientarmos a contribuição da cunha ao desen­ alvos e sardos, e havidos por Índios Tupinambás, e são mais bárbaros volvimento social do Brasil, procuremos fixar a do homem. Foi formi­ que elles."11 dável: mas só na obra de devastamento e de conquista dos sertões, de Esse contingente francês no primeiro povoamento do Brasil não que ele foi o guia, o canoeiro, o guerreiro, o caçador e pescador.12 deve ser esquecido. Suas principais localizações foram na Bahia e por Muito auxiliou o índio ao bandeirante mameluco, os dois excedendo todos aqueles pontos do litoral mais ricos de pau-de-tinta. Como os ao português em mobilidade, atrevimento e ardor guerreiro; sua ca­ primeiros portugueses, deram-se os franceses ao único luxo possível pacidade de ação e de trabalho falhou, porém, no rame-rame tristonho nas rudes circunstâncias de desbravamento, da nova terra: o de cerca­ da lavoura de cana, que só as reservas extraordinárias de alegria e de rem-se de muitas mulheres. Se da numerosa progênie mestiça, deles e robustez animal do africano tolerariam tão bem. Compensou-se o ín­ dos portugueses, muitos foram de todo absorvidos pelas populações dio, amigo ou escravo dos portugueses, da inutilidade no esforço indígenas, outros conservaram-se em uma espécie de meio-termo entre estável e contínuo pela extrema bravura no heróico e militar. Na obra a vida selvagem e a dos traficantes e flibusteiros, um pouco sob a de sertanismo e de defesa da colônia contra espanhóis, contra tribos influência européia das naus francesas ou das feitorias portuguesas. inimigas dos portugueses, contra corsários. Mas é só a partir do meado do século XVI que pode considerar-se índios e mamelucos formaram a muralha movediça, viva, que foi formada, diz Basílio de Magalhães, "a primeira geração de mamelucos"; alargando em sentido ocidental as fronteiras coloniais do Brasil ao os mestiços de portugueses com índios, com definido valor demogênico mesmo tempo que defenderam, na região açucareira, os estabeleci­ e social. Os formados pelos primeiros coitos não oferecem senão o mentos agrários dos ataques de piratas estrangeiros. Cada engenho interesse, que já destacamos, de terem servido de calço ou de forro de açúcar nos séculos XVI e XVII precisava de manter em pé de para a grande sociedade híbrida que ia constituir-se. guerra suas centenas ou pelo menos dezenas de homens prontos a À mulher gentia temos que considerá-la não só a base física da defender contra selvagens ou corsários a casa de vivenda e a riqueza família brasileira, aquela em que se apoiou, robustecendo-se e multi- acumulada nos armazéns: esses homens foram na sua quase totalida­ plicando-se, a energia de reduzido número de povoadores europeus, de índios ou caboclos de arco e flecha. mas valioso elemento de cultura, pelo menos material, na formação A enxada é que não se firmou nunca na mão do índio nem na do brasileira. Por seu intermédio enriqueceu-se a vida no Brasil, como mameluco; nem o seu pé de nômade se fixou nunca em pé-de-boi adiante veremos, de uma série de alimentos ainda hoje em uso, de paciente e sólido. Do indígena quase que só aproveitou a coloniza- ção agrária no Brasil o processo da coivara, que infelizmente viria a Brasil:24 caça, pesca, cultura de mandioca, tabaco e coca, e em menor empolgar por completo a agricultura colonial. O conhecimento de extensão de milho, inhame ou cará, jerimum, pimenta; os campos sementes e raízes, outras rudimentares experiências agrícolas, trans­ clareados a fogo (coivara) e cavados a pau e não à enxada; nenhum mitiu-as ao português menos o homem guerreiro que a mulher traba­ animal doméstico; toda vida animal aproveitada como alimento; uso lhadora do campo ao mesmo tempo que doméstica. do mel, havendo certa domesticação de abelhas; a farinha ou o bolo Se formos apurar a colaboração do índio no trabalho propria­ de mandioca e a caça pequena conservada em caldo grosso, apimen­ mente agrário, temos que concluir, contra Manuel Bonfim - indianófilo tado - os dois alimentos de resistência; a raiz de mandioca espremida até a raiz dos cabelos13 - pela quase insignificância desse esforço. O depois de embrulhada em palha ou esteira; a coca mascada e as se­ que não é de estranhar, se considerarmos que a cultura americana ao mentes de mimosa usadas como rapé; o tabaco usado apenas como tempo da descoberta era a nômade, a da floresta, e não ainda a agrí­ bebida e só em certas cerimônias; o conhecimento e uso do curare e cola; que o pouco da lavoura - mandioca, cará, milho, jerimum, amen­ outros venenos; uso da flecha, lança, arco e remo; captura de peixe doim, mamão - praticado por algumas tribos menos atrasadas, era pelo processo de lançar veneno na água, mas também por anzol, trabalho desdenhado pelos homens - caçadores, pescadores e guer­ armadilha, rede e fisga denteada; hábito de comer barro; canibalismo; reiros - e entregue às mulheres, diminuídas assim na sua domesticidade sinais por meio de tambores; decorações fálicas; redes de fibra de pelo serviço de campo tanto quanto os homens nos hábitos de traba­ palmeira; cerâmica; cestos; nenhum metal; pouco uso da pedra; ins­ lho regular e contínuo pelo de vida nômade. Daí não terem as mulhe­ trumentos de madeira; canoas cavadas na madeira; árvores derruba­ res índias dado tão boas escravas domésticas quanto as africanas, que das por meio de cunhas; grandes pilões de pau para pisar coca, taba­ mais tarde as substituíram vantajosamente como cozinheiras e amas co e milho; freqüente deslocamento de habitações e de lavouras; de menino do mesmo modo que os negros aos índios como trabalha­ comunidades inteiras em uma casa só, grande e quadrangular, cober­ dores de campo. ta de palha, quatro caibros sustentando-a no interior, sem chaminé; o Os estudos de Martius,14 de Karl von den Steinen15 sobre as tribos terreno em redor da casa limpo, mas esta escondida no meio do mato do Brasil central; de Paul Ehrenreich16 acerca das de Mato Grosso, e só acessível por caminhos e veredas confusas; nenhuma indumentária, Goiás e Amazonas; as pesquisas de Whiffen,17 Roquette-Pinto,18 Koch- a não ser de casca de árvore para os homens; pentes para as mulheres Grünberg,19 Schmidt,20 Krause,21 E. Nordenskiõld,22 as observações feitos de pedaços de palmeira; colares de dentes humanos; ligaduras deixadas por visitantes e missionários que surpreenderam a vida dos decorativas para o corpo, fusos atravessados no nariz, chocalho atado caboclos ainda virgem do contato europeu, autorizam-nos a generali­ às pernas, pintura elaborada do corpo; espécie de conferência ou zação de ter sido a cultura indígena, mesmo a menos rasteira, encon­ conclave em torno de uma bebida negra, de tabaco, antes de iniciar- trada na América pelos portugueses - e da qual restam ainda pedaços se qualquer empresa importante, de guerra ou de paz; couvade; proi­ em estado bruto - inferior à da maior parte das áreas de cultura afri­ bição às mulheres de se associarem às cerimônias mais sérias e de cana de onde mais tarde se importariam negros puros ou já mestiços estarem presentes às de iniciação dos meninos na puberdade; os no­ para as plantações coloniais de açúcar. Várias dessas áreas de cultura mes de pessoa não pronunciados alto e os dos caracteres míticos africana se acham caracterizadas, segundo a técnica antropológica apenas sussurrados; importância da feitiçaria; fraudes grosseiras de mais recente, por Leo Frobemus;23 as da América, magistralmente, por feitiçaria; as doenças sugadas pelo feiticeiro, cuja principal função Wissler e Kroeber; o que nos permite o confronto entre os valores seria, entretanto, tirar espíritos maus; duas grandes cerimônias para morais e materiais acumulados nos dois continentes. celebrar épocas de colheita .ou de amadurecimento de frutas, a da Whiffen resume os principais traços da cultura das tribos do Nor­ mandioca e a do abacaxi; os meninos cruelmente espancados nas deste do Brasil nos seguintes, muitos deles extensivos a quase todo o cerimônias da puberdade; prova das formigas mordedeiras; os res- sentimentos ou mágoas do indivíduo por ele formalmente apresenta­ familiaridade, desenvolvia-se todo um mundo de animais domestica­ dos ao grupo; uma espécie de dança de ciranda; gaita, flauta, castanhola dos, a que chamavam mimbaba". Mas eram todos animais antes de e maracá; cada um dos grupos acomodados em uma só habitação, convívio e de estimação do que de uso ou serviço: "Aves de formosa exógamo; descendência por via paterna; monogamia; cada habitação plumagem, como o guará, a arara, o canindé, o tucano, grande núme­ com um chefe, sendo o conselho formado por todos os adultos do ro de perdizes (ianhambi ou iambu), urus e patos (ipeca), animais sexo masculino; contos com semelhança aos do folclore europeu; como o macaco, o quati, a irará, o veado, o gato (pichana) e até contos de animais fazendo lembrar os do lore africano; o Sol e a Lua, cobras mansas se encontravam no mais íntimo convívio".29 venerados; os mortos, sepultados. Havia entre os ameríndios desta parte do continente, como entre São traços extensivos à cultura que Wissler classifica de "cultura os povos primitivos em geral, certa fraternidade entre o homem e o de floresta tropical" e que inclui quase o Brasil inteiro. animal, certo lirismo mesmo nas relações entre os dois. Karsten en­ À cultura do litoral atlântico - aquela com que primeiro se puse­ controu entre os Jibaro o mito de ter havido época em que os animais ram em contato os europeus no Brasil - devem-se acrescentar os falaram e agiram do mesmo modo que os homens. E ainda hoje - seguintes traços: o hábito de fumar tabaco em cachimbo; as aldeias acrescenta - "o índio não faz distinção definida entre o homem e o cercadas de pau-a-pique; bons instrumentos de pedra; em vez do animal. Acredita que todos os animais possuam alma, em essência da simples enterramento, os mortos colocados em urnas. Ao mesmo tempo mesma qualidade que a do ser humano; que intelectual e moralmente que a cultura dos Jê-Botocudo ou Tapuia do centro há que subtrair seu nível seja o mesmo que o do homem." Daí, e independentemente vários dos traços mencionados: o pouco de lavoura e tecelagem, o mesmo do totemismo de que adiante nos ocuparemos, a intimidade começo de astrologia encontrados entre tribos do Norte e da costa, o por assim dizer lírica do primitivo habitante do Brasil com numeroso fabrico e uso de instrumentos de pedra, o uso de rede para dormir. grupo de animais, principalmente pássaros, por ele amansados ou Acentua-se na cultura dos Jê-Botocudo traços que, segundo Wissler, criados em casa, sem nenhum propósito de servir-se de sua carne ou os aproximam dos Patagônios, colocando-os em estádio inferior ao dos seus ovos para alimento, nem de sua energia para o trabalho dos Tupi. Entre outros, o canibalismo.25 doméstico ou agrícola ou para a tração, nem do seu sangue para Quanto a animais domesticados, entre quaisquer dos dois grupos sacrifício religioso. principais — os Tupi e os Jê-Botocudo26 - deve-se notar, contra a Quanto à monogamia, nunca foi geral nas áreas de cultura ameri­ generalização de Wissler, a presença de "algumas aves domesticadas cana invadidas pelos portugueses, a poligamia tendo existido e exis­ como os jacamins; de roedores, tais como a cutia e a paca; e de alguns tindo ainda entre tribos que se conservam intactas da influência moral macacos."27 É verdade que nenhum desses animais a serviço domésti­ européia. E "não só os chefes, como todos os fortes - os que podem co nem empregado no transporte de fardos, todo ele feito penosa­ manter família grande - casam-se com muitas mulheres."30 mente ao dorso do homem e principalmente da mulher. Os animais Nem deve ser desprezado, entre os traços de cultura mais carac­ domesticados entre os indígenas quase eram simplesmente para fazer terísticos dos indígenas encontrados no Brasil, um que Wissler parece companhia à pessoa e não para servi-la nem fornecer-lhe alimento. A ter esquecido: o uso das máscaras demoníacas ou máscaras-animais, não ser que se considerem ao serviço do homem as abelhas fabrican­ de importante significação mística e cultural, salientada por Koch- tes de mel e as aves amansadas que Roquette-Pinto foi encontrar Grünberg31 e última e notadamente por Karsten.32 28 servindo de bonecos às crianças, entre os Nhambiquara. Da cultura moral dos primitivos habitantes do Brasil, interessa- Teodoro Sampaio, que pelo estudo da língua tupi tanto chegou a nos principalmente, dentro dos limites que nos impusemos neste en­ desvendar da vida íntima dos indígenas do Brasil, afirma que em saio: as relações sexuais e de família; a magia e a mítica. São traços torno à habitação selvagem e "invadindo-a mesmo com a máxima que se comunicaram à cultura e à vida do colonizador português - a princípio com grande vivacidade de cor, e que embora empalidecidos Desempenhando funções de afrodisíaco, de excitante ou de estí­ depois pela maior influência africana, subsistem no fundo primitivo mulo à atividade sexual, tais danças correspondem à carência e não da nossa organização social, moral e religiosa, quebrando-lhe ou pelo ao excesso, como a princípio pareceu a muitos e ainda parece a al­ menos comprometendo-lhe seriamente a suposta uniformidade do guns, de lubricidade ou de libido. Danças eróticas como a presencia­ padrão católico ou europeu. da por Koch-Grümberg entre tribos do noroeste do Brasil - os ho­ Entre os indígenas do Brasil, notou nos meados do século XVI o mens mascarados, cada um armado com formidável membrum virile, padre Anchieta que a mulher não se agastava com o fato de o ho­ fingindo praticar o ato sexual e espalhar esperma - parecem ter sido mem, seu companheiro, tomar outra ou outras mulheres: "ainda que menos freqüentes entre os ameríndios do que entre os africanos. O a deixe de todo, não faz caso disso, porque se ainda é moça, ela toma que nos leva à conclusão de que naqueles a sexualidade precisasse outro". E "se a mulher acerta ser varonil e virago, também ela deixa o menos de estímulo. Convém, entretanto, atentarmos no fato de que marido e toma outro."33 muito do ardor animal no índio nômade e guerreiro da América ab­ Era ponto, naturalmente, esse de variar marido de mulher e mu­ sorviam-no, impedindo-o de sexualizar-se, necessidades de competi­ lher de marido, com o qual não podia transigir, nem transigia no ção: as guerras entre as tribos, as migrações, a caça, a pesca, a defesa Brasil, a moral católica: isto é, a dura, ortodoxa, representada pelos contra animais bravios. Nem havia entre eles o surplus de lazer e de padres da Companhia. Destes o esforço no sentido de fazer praticar alimento que Adlez, do ponto de vista biológico, e Thomas, do socio­ na colônia estrita monogamia teve que ser tremendo. E não só entre lógico, ligam ao desenvolvimento do sistema sexual do homem.36 os índios batizados como entre os colonos portugueses, a quem os próprios clérigos, em conflito com os jesuítas, facilitavam a livre união Paulo Prado salienta que o "desregramento do conquistador eu­ "com as negras". Já afeiçoados à poligamia pelo contato com os mouros, ropeu" veio encontrar-se em nossas praias com a "sensualidade do os portugueses encontraram na moral sexual dos ameríndios o campo índio". Da índia, diria mais precisamente. Das tais "caboclas priápicas", fácil onde expandir-se aquela sua tendência, de moçárabes (nos últi­ doidas por homem branco. mos dois séculos um tanto recalcada e agora de repente solta), para O ensaísta do Retrato do Brasil recorda dos primeiros cronistas as viverem com muitas mulheres. impressões que nos deixaram da moral sexual entre o gentio. Impres­ Foram sexualidades exaltadas as dos dois povos que primeiro se sões de pasmo ou de horror. É Gabriel Soares de Sousa dizendo dos encontraram nesta parte da América; o português e a mulher indíge­ Tupinambá que são "tão luxuriosos que não há peccado de luxúria na. Contra a idéia geral de que a lubricidade maior comunicou-a ao que não cometam"; é o padre Nóbrega alarmado com o número de brasileiro o africano, parece-nos que foi precisamente este, dos três mulheres que cada um tem e com a facilidade com que as abando­ elementos que se juntaram para formar o Brasil, o mais fracamente nam; é Vespúcio escrevendo a Lorenzo dei Mediei que os indígenas sexual; e o mais libidinoso, o português. "tomam tantas mulheres quantas querem e o filho se junta com a mãe, Pelo menos entre os negros - os puros, imunes de influência e o irmão com a irmã, e o primo com a prima, e o caminhante com a muçulmana eram mais freqüentes e ardorosas as danças eróticas que que encontra."37 entre os ameríndios e. os portugueses; e as danças eróticas parece que Era natural a europeus surpreendidos por uma moral sexual tão quanto mais freqüentes e ardorosas, mais fraca sexualidade indicam. diversa da sua concluírem pela extrema luxúria dos indígenas; entre­ Assim o consideram vários etnólogos e antropólogos modernos, di­ tanto, dos dois povos, o conquistador talvez fosse o mais luxurioso. vergindo dos antigos: entre outros Crawley, que consagra ao assunto Da predominância de relações incestuosas de que fala a carta de uma de suas melhores páginas,34 e Westermarck. E do ponto de vista Vespúcio, algumas dezenas de anos depois do italiano um observador da psicologia sexual e da sociologia genética, Havelock Ellis, mestre mais exato, o padre Anchieta, daria informações detalhadas. Notou o 35 de todos na matéria. missionário que os indígenas tinham para si como "parentesco verda- deiro" o que vinha "pela parte dos pais que são os agentes"; e que as do que, como já ficou dito, os selvagens sentem necessidade de prá­ "mães não são mais que uns sacos [...] em que se criam as crianças"; ticas saturnais ou orgiásticas para compensarem-se, pelo erotismo in­ por isso usavam "das filhas das irmãs sem nenhum pejo ad copu- direto, da dificuldade de atingirem a seco, sem o óleo afrodisíaco que lam.")8 Acrescentando que a estas os padres casavam "agora [meados é o suor das danças lascivas, ao estado de excitação e intumescência do século XVI] com seus tios, irmãos das mães, se as partes são con­ tão facilmente conseguido pelos civilizados. Estes estão sempre pron­ tentes, pelo poder que teem de dispensar com eles..." O que mostra tos para o coito; os selvagens, em geral, só o praticam picados pela ter a moral sexual dos índios afetado logo aos princípios da coloniza­ fome sexual. Parece que os mais primitivos tinham até época para a ção à moral católica e às próprias leis da Igreja relativas a impedimen­ união de machos com fêmeas.41 tos de sangue para o matrimônio. Aos indígenas do Brasil não faltavam restrições ao intercurso se­ Aliás o intercurso sexual entre os indígenas desta parte da Améri­ xual; só por ignorância, ou tendência para a fantasia, supuseram cro­ ca não se processava tão à solta e sem restrições como Vespúcio dá a nistas do século XVI que o amor entre os caboclos fosse simples entender; nem era a vida entre eles a orgia sem fim entrevista pelos descarga dos sentidos, o macho agarrando e submetendo ao amplexo primeiros viajantes e missionários. A laxidão, a licença sexual, a liber­ viril a primeira fêmea ao alcance dos seus braços. tinagem, observa Fehlinger que não se encontra entre nenhum povo A exogamia era restrição seguida por quase todos: cada grupo primitivo; e Baker salienta a inocência de certos costumes - como o por assim dizer dividindo-se em metades exógamas, que por sua vez de oferta de mulheres ao hóspede - praticados sem outro intuito se subdividiam ainda em menores grupos ou clãs. senão o de hospitalidade. O que desfigura esses costumes é a má Já nos explicou a palavra do padre Anchieta por que entre os interpretação dos observadores superficiais. Tupi não existia repugnância em unir-se sobrinha com o tio materno: Ao contrário: o que hoje se pode afirmar é a relativa fraqueza de o parentesco importante e que restringia o intercurso entre os sexos, expressões do impulso sexual no selvagem americano. Pelo menos regulando por conseguinte a vida de família, era o traçado pelo lado no homem - a vida mais sedentária e regular da mulher dotando-a de do pai. Não é que faltasse ao ameríndio, a noção do incesto e mesmo uma sexualidade superior à do macho, em uma desproporção que a da consangüinidade: esta era, entretanto, unilateral; e ambas vagas talvez explique o priapismo de muitas em face dos brancos. e imprecisas. Notou Gabriel Soares entre os Tupinambá que "a moça Gabriel Soares refere o rude processo dos Tupinambá fazerem [...] a todos os parentes da parte do pai chamava pai, e elles a ella aumentar de volume o membrum virile, concluindo daí que eles fos­ filha [...]." "O tio, irmão do pai da moça", é ainda informação do autor sem uns grandes libidinosos. Insatisfeitos "com o membro genital como do Roteiro, "não casa com a sobrinha, nem lhe toca quando fazem o a natureza o formou", conta o cronista do século XVI que os Tupinambá que devem, mas tem-na em lugar de filha, e ella como a pai lhe punham-lhe "o pello de um bicho tão peçonhento, que lh'o faz logo obedece, depois da morte do pai [...]."42 É verdade que o mesmo inchar, com o que se tem grandes dores, mais de seis mezes, que se cronista acrescenta não ser raro entre os Tupinambá dormir irmão lhe vão gastando por espaço de tempo; com o que se lhe faz o seu com irmã; mas às escondidas pelo mato. cano tão disforme de grosso que os não podem as mulheres esperar, Fora da noção, embora vaga, do incesto, e da unilateral, da 39 nem sofrer L..]." Pois mesmo essa prática, aparentemente de puro consangüinidade, havia mais entre os indígenas do Brasil, como res­ deboche, indica naqueles indígenas antes a necessidade de se com­ trição ao intercurso sexual, o totemismo segundo o qual o indivíduo pensarem de deficiência física ou psíquica para a função genésica do grupo que se supusesse descendente ou protegido de determina­ que desbragamento ou sadismo-masoquismo. Segundo alguns obser­ do animal ou planta não se podia unir a mulher de grupo da mesma vadores, entre certos grupos de gente de cor os órgãos genitais apre­ descendência ou sob idêntica proteção. Sabe-se que a exogamia por 40 sentam-se em geral menos desenvolvidos que entre os brancos; além efeito do totemismo estende-se a grupos os mais distantes uns dos outros em relações de sangue. Esses grupos formam, entretanto, alianças tava-nos uma vez a que atribuir a freqüência da cor vermelha no trajo místicas correspondentes às do parentesco, os supostos descendentes das mulheres do interior. O fato observa-se tanto no nordeste quanto do javali ou da onça ou do jacaré evitando-se tanto quanto irmão e no extremo-norte e na Bahia; observamo-lo também no interior dos irmã ou tio e sobrinha para o casamento ou a união sexual. estados de São Paulo e do Rio de Janeiro, embora nessas regiões Com tantas restrições, vê-se que não era de desbragamento a menos freqüentemente do que naquelas. Na Amazônia, entre cabo­ vida sexual entre os indígenas desta parte da América, mas ouriçada clos puros, e híbridos de caboclo com negro, Gastão Cruls surpreen­ de tabus e impedimentos. Não seriam tantos nem tão agudos esses deu o fato, registrando-o no seu A Amazônia que eu vi: "Noto, nestas impedimentos como os que dificultam entre os europeus as relações paragens, como já observara no interior do Nordeste, a decidida pre­ amorosas do homem com a mulher. Davam, entretanto, para criar um dileção das mulheres pelo encarnado. Não sei se vai nisso apenas estado social bem diverso do de promiscuidade ou de deboche. uma questão de gosto ou, como me explicaram por lá, a procura de É aliás erro, e dos maiores, supor-se a vida selvagem não só nes­ um mimetismo que as há de poupar de possíveis vexames em certos te, mas em vários outros dos seus aspectos, uma vida de inteira liber­ dias do mês".44 Igual observação o médico Samuel Uchoa fizera nes­ dade. Longe de ser o livre animal imaginado pelos românticos, o sas mesmas paragens.45 selvagem da América, aqui surpreendido em plena nudez e nomadismo, É um caso, o da freqüência do encarnado no trajo popular da vivia no meio de sombras de preconceito e de medo; muitos dos mulher brasileira, principalmente no Nordeste e na Amazônia, típico quais nossa cultura mestiça absorveu, depurando-os de sua parte mais daqueles em que as três influências - a ameríndia, a africana e a grosseira ou indigesta. É assim que a noção de caiporismo, tão ligado portuguesa - aparecem reunidas em uma só, sem antagonismo nem à vida psíquica do brasileiro de hoje, deriva-se da crença ameríndia atrito. Em sua origem, e por qualquer das três vias, trata-se de um no gênio agourento do caipora; este era um caboclinho nu, andando costume místico, de proteção ou de profilaxia do indivíduo contra de uma banda só, e que quando aparecia aos grandes era sinal certo espíritos ou influências más. Mas a influência maior parece ter sido a de desgraça. Sumiu-se o caipora, deixando em seu lugar o caiporismo, do índio, para quem a pintura do corpo de encarnado (urucu) nunca do mesmo modo que desapareceram os pajés, deixando atrás de si foi a expressão de simples gosto de bizarria que pareceu aos primei­ primeiro as "santidades" do século XVI,43 depois várias formas de ros cronistas. Sem desprezarmos o fato de que pintando-se, ou antes, terapêutica e de animismo, muitas delas hoje incorporadas, junto com untando-se do oleoso urucu, parece que se protegiam os selvagens sobrevivências de magia ou de religião africana, ao baixo espiritismo, durante a caça ou a pesca, da ação do sol sobre a pele, das picadas de que tanta concorrência faz à medicina à européia e ao exorcismo dos mosquitos e de outros insetos e das oscilações de temperatura - cos­ padres, nas principais cidades e por todo o interior do Brasil. tume, observado pelo professor von den Steinen entre as tribos do No trajo popular do brasileiro rural e suburbano - a gente pobre Xingu, por Krause entre os Caiará e por Crevaux entre os Japurá4" - moradora de mucambo ou de tejupar - como na sua dieta, na vida encontramos a pintura do corpo desempenhando entre os indígenas íntima, na arte doméstica, na atitude para com as doenças, os mortos, do Brasil função puramente mística, de profilaxia contra os espíritos as crianças recém-nascidas, as plantas, os animais, os minerais, os maus, e, em número menor de casos, erótica, de atração ou exibição astros etc, subsiste muita influência do fetichismo, do totemismo, da sexual. E como profilaxia contra os espíritos maus era o encarnado astrologia em começo e dos tabus ameríndios. Às vezes influência cor poderosíssima, como demonstra o estudo de Karsten. quase pura; em muitos casos reforçada e em outros contrariada pela Aos portugueses parece que a mística do vermelho se teria comu­ africana; quase sempre empalidecida pela sutil influência católica. nicado através dos mouros e dos negros africanos; e tão intensamente Um nosso amigo e conterrâneo, viajadíssimo pelos sertões do que em Portugal: o vermelho domina como em nenhum país da Euro­ Brasil, o médico pernambucano Samuel Hardman Cavalcanti, pergun­ pa, não só o trajo das mulheres do povo - as varinas de Lisboa, as tricanas de Coimbra, Aveiro e Ilhavo, as vianesas, as minhotas, as - de totemismo ou de animismo africano (assunto já meio desfolhado "ribeiras", de Leiria - como por profilaxia contra malícias espirituais, por Nina Rodrigues), quer como formas degeneradas, ou pervertidas várias outras expressões da vida popular e da arte doméstica. Verme­ pelo sistema de trabalho escravo aqui dominante, das corporações de lho deve ser o telhado das casas para proteger quem mora debaixo ofício medievais. Essas corporações, na Espanha pelo menos, haviam deles: sido impostas ou permitidas aos mouros e negros nos séculos ante­ riores à colonização da América. As telhas do teu telhado No Brasil a tendência para o vermelho, já salientada no trajo da São vermelhas, têm virtude. mulher do povo, nos estandartes dos clubes de carnaval, nos mantos Passei por elas doente, de rainha de maracatu etc, observa-se ainda em outros aspectos da Logo me deram saúde.47 vida popular ou da arte doméstica; na pintura externa das casas e na decoração do interior; na pintura dos baús de folha-de-flandres; na É a cor de que se pintam os barcos de pesca, os quadros popula­ pintura de vários utensílios domésticos, de lata ou de madeira, como res dos milagres e das alminhas, os arreios dos muares, as esteiras; regadores, gaiolas de papagaio e de passarinho; na pintura de ex- de que se debruam vários produtos da indústria portuguesa;48 a que votos; na decoração dos tabuleiros de bolo e de doce - cujo interesse se usa, por suas virtudes miríficas, nas fitas em torno do pescoço dos erótico adiante destacaremos ao recordar-lhes a nomenclatura impreg­ animais - jumentos, vacas, bois, cabras.49 Embora já um tanto perdida nada de erotismo e ao salientar certas associações, freqüentes entre entre o povo a noção profilática do vermelho, é evidente que a ori­ os brasileiros, do gozo do paladar com o gozo sexual. gem dessa predileção prende-se a motivos místicos. E é ainda o en­ Mas o que se pode concluir é ser a preferência pelo encarnado carnado entre os portugueses a cor do amor, do desejo de casamento.'0 no brasileiro um traço de origem principalmente ameríndia. Como Nos africanos, encontra-se a mística do vermelho associada às salienta Karsten, o selvagem considera os grandes inimigos do corpo 52 principais cerimônias da vida, ao que parece com o mesmo caráter não os insetos e bichos, mas os espíritos maus. Estes o homem profilático que entre os ameríndios. primitivo imagina sempre à espreita de oportunidade para lhe pene­ Nos vários Xangós e seitas africanas que temos visitado no Recife, trarem no corpo: pela boca, pelas ventas, pelos olhos, pelos ouvidos, e nos seus arredores é o vermelho a cor que prevalece, notando-se pelo cabelo. Importa, pois, que todas essas partes, consideradas as entre os devotos homens de camisa encarnada. Nos turbantes, saias e mais críticas e vulneráveis do corpo, sejam particularmente resguar­ xales das mulheres de Xangô domina o vermelho vivo. Ortiz nos seus dadas das influências malignas. Daí o uso de batoques, penas e fusos estudos sobre a mítica afro-cubana diz que ao culto de Xangô atravessados no nariz ou nos lábios; de pedras, ossos e dentes de corresponde entre os negros de Cuba a cor encarnada. As mulheres, animais; a raspagem de cabelo, que no Brasil Pero Vaz de Caminha como promessa por um favor solicitado e recebido de Xangô, vestem- foi o primeiro a notar nos índios e nas índias nuas; os dentes às vezes se de vermelho; de branco por uma graça alcançada de Obatalá (Vir­ pintados de preto. Tudo para esconjurar espíritos maus, afastá-los das gem das Mercês) etc.51 partes vulneráveis do homem. Daí ainda o uso de uma espécie de Nos nossos maracatus e reisados, o rei do Congo ou a rainha cosmético de que se servem várias tribos sul-americanas - desde a aparece sempre de manto vermelho; e encarnados são sempre os Terra do Fogo à Guiana - para besuntar o cabelo: em geral ocre estandartes, com cabeças de animais ou emblemas de ofícios pinta­ encarnado; às vezes um suco vegetal, também cor de sangue. dos ou bordados a ouro, dos clubes populares de carnaval; clubes de Von den Steinen surpreendeu os Bororó besuntando o cabelo de que de passagem salientaremos o interesse, quer como formas dissi­ encarnado para poderem tomar parte em danças e cerimônias fúne­ muladas - dentro do ambiente oficialmente católico da vida brasileira bres - ocasiões em que o índio se sente particularmente exposto à ação maléfica do espírito morto e à de outros espíritos, todos maus, Mas para os selvagens da América do Sul o vermelho não era só, que os selvagens julgam soltar-se ou assanhar-se nesses momentos.53 ao lado do preto, cor profilática, capaz de resguardar o corpo huma­ Koch-Grünberg encontrou o mesmo costume nas tribos do rio Negro.- no de influências maléficas; nem cor tonificante, com a faculdade de viu uma tribo inteira pintada de vermelho depois de um funeral; só se dar vigor às mulheres paridas e aos convalescentes e resistência aos excetuava da pintura o pajé. Em danças de esconjuro com maracás indivíduos empenhados em trabalho duro ou exaustivo; nem a cor da notou, entretanto, o etnólogo alemão que os feiticeiros traziam os felicidade, com o poder mágico de atrair a caça ao caçador (visando o rostos horrivelmente pintados de encarnado.54 que, os Canelo pintavam até os cachorros). Era ainda a cor erótica, de Von den Steinen teve ocasião de presenciar a cerimônia com que sedução ou atração, menos por beleza ou qualidade estética do que índios do rio Xingu esconjuraram um meteoro: os baris, ou curandei- por magia: a cor de que se pintavam os mesmos Canelo para seduzir ros, gesticulando com veemência e cuspindo para o ar. E a fim de mulher; de que se serviam os Cainguá do alto Paraná para atrair ao enfrentarem o inimigo, haviam-se cautelosamente pintado de verme­ mato a fêmea do seu desejo ou da sua fome sexual, às vezes intimi- lho vivo de urucu. dando-a mais do que cortejando-a. De vermelho de caraiuru pintam-se os indígenas do rio Negro Qual fosse o motivo fundamental da preferência do selvagem da quando algum deles cai doente de catarro ou de ronco do peito: a América pelo vermelho não é fácil de precisar: talvez o fato de ser a idéia é a de se resguardarem em tempo do mal por meio de pintura cor do sangue e, por isso mesmo, misticamente prestigiosa entre po­ profilática. E entre os Kobeua encontrou Koch-Grünberg o costume vos entregues ainda à caça e à guerra permanente. Alguns antropólo­ das mulheres pintarem de encarnado os meninos recém-nascidos com gos, com efeito, sugerem que para os povos primitivos da América o o mesmo fim profilático. Costume que já Léry observava entre os Tupi vermelho do urucu e de outras tinturas talvez fosse empregado como do litoral ao tempo da descoberta e von Spix e von Martius entre os substituto do vermelho do sangue. Coroado nos princípios do século XIX. Entre os Toba encontra-se o costume, diz Karsten, das mulheres se pintarem de vermelho (urucu) quando menstruadas; o que ele Considerando neste ensaio o choque das duas culturas, a euro­ atribui à profilaxia ou à desinfecçào de espíritos maus que se supõe péia e a ameríndia, do ponto de vista da formação social da família agirem com especial furor sobre a menstruada. Del Campana obser­ brasileira - em que predominaria a moral européia e católica - não vou entre as mulheres dos Chiriguano que, para prepararem a chicha, nos esqueçamos, entretanto, de atentar no que foi para o indígena, e ou bebida sagrada, pintavam-se de encarnado; que de encarnado pin­ do ponto de vista de sua cultura, o contato com o europeu. Contato tavam-se também depois de paridas. Homens e mulheres pintavam-se dissolvente. Entre as populações nativas da América, dominadas pelo de encarnado na convalescença para criarem forças. Entre os Caraiá, colono ou pelo missionário, a degradação moral foi completa, como os Jibaro e várias outras tribos do Orinoco, quando um membro da sempre acontece ao juntar-se uma cultura, já adiantada, com outra tribo sai em visita a outra, deve apresentar-se pintado de vermelho - atrasada.56 pintura que é renovada depois de chegar o hóspede ao seu destino. Sob a pressão moral e técnica da cultura adiantada, esparrama-se 5 Karsten julga que também nesse caso trata-se de medida profilática. ^ a do povo atrasado. Perde o indígena a capacidade de desenvolver-se Aliás ao sábio professor de Helsingfors pode-se atribuir verdadeira autonomamente tanto quanto a de elevar-se de repente, por imitação teoria de interpretação da pintura do corpo entre os ameríndios como natural ou forçada, aos padrões que lhe propõe o imperialismo colo­ medida profilática ou mágica em vez de simples decoração para exer­ nizador. Mesmo que se salvem formas ou acessórios de cultura, per­ cer sobre o sexo oposto encanto puramente estético ou apelo aos de-se o que Pitt-Rivers considera o potencial, isto é, a capacidade sentidos. construtora da cultura, o seu elã, o seu ritmo. A história do contato das raças chamadas superiores com as con­ grandes missionários católicos dos séculos XVI e XVII,57 depois subs­ sideradas inferiores é sempre a mesma. Extermínio ou degradação. tituídos pelos presbiterianos e metodistas - estes mais duros e mais Principalmente porque o vencedor entende de impor ao povo sub­ intransigentes do que os jesuítas. metido a sua cultura moral inteira, maciça, sem transigência que sua­ Com a segregação dos indígenas em grandes aldeias parece-nos vize a imposição. O missionário tem sido o grande destruidor de cul­ terem os jesuítas desenvolvido no seio das populações aborígines turas não européias, do século XVI ao atual; sua ação mais dissolvente uma das influências letais mais profundas. Era todo o ritmo de vida que a do leigo. social que se alterava nos índios. Os povos acostumados à vida dis­ No caso do Brasil verificou-se primeiro o colapso da moral cató­ persa e nômade sempre se degradam quando forçados à grande con­ lica; a da reduzida minoria colonizadora, intoxicada a princípio pelo centração e à sedentariedade absoluta. ambiente amoral de contato com a raça indígena. Mas sob a influên­ Debaixo do ponto de vista da Igreja repetimos que é forçoso cia dos padres da S. J. a colonização tomou rumo puritano - ainda reconhecer terem os padres agido com heroísmo, com admirável fir­ que menos rigidamente seguido nesta parte da América pelos cristãos meza na sua ortodoxia; com lealdade aos seus ideais; toda crítica que portugueses que na outra, na do Norte, pelos verdadeiros puritanos: se faça à interferência deles na vida e na cultura indígena da América os ingleses. Deu, entretanto, para sufocar muito da espontaneidade - que foram os primeiros a degradarem sutil e sistematicamente - nativa-, os cantos indígenas, de um tão agreste sabor, substituíram-nos precisa de tomar em consideração aquele seu superior motivo de os jesuítas por outros, compostos por eles, secos e mecânicos; cantos atividade moral e religiosa. Considerando-os, porém, sob outro crité­ devotos, sem falar em amor, apenas em Nossa Senhora e nos santos. rio - puros agentes europeus de desintegração de valores nativos - À naturalidade das diferentes línguas regionais superimpuseram uma temos que concluir pela sua influência deletéria.58 Tão deletéria quan­ só, a "geral". Entre os caboclos ao alcance da sua catequese acabaram to a dos colonos, seus antagonistas, que, por interesse econômico ou com as danças e os festivais mais impregnados dos instintos, dos sensualidade pura, só enxergavam no índio a fêmea voluptuosa a interesses e da energia animal da raça conquistada, só conservando emprenhar ou o escravo indócil a subjugar e a explorar na lavoura. uma ou outra dança, apenas graciosa, de culumins. Se atentarmos no quadro organizado por Pitt-Rivers, das influên­ Ainda mais: procuraram destruir, ou pelo menos castrar, tudo o cias deletérias - despovoamento, degeneração, degradação - que o que fosse expressão viril de cultura artística ou religiosa em desacor­ antropólogo inglês atribui ao contato das raças atrasadas com as adian­ do com a moral católica e com as convenções européias. Separaram a tadas,59 verificamos que grande, senão o maior número, são influên­ arte da vida. Lançaram os fundamentos no Brasil para uma arte, não cias que no Brasil operaram sobre o índio através da catequese ou do de expressão, de alongamento da vida e da experiência física e psí­ sistema moral, pedagógico e de organização e divisão sexual do quica do indivíduo e do grupo social; mas de composição, de exercí­ trabalho imposto pelos jesuítas. Das quinze ali classificadas parece- cio, de caligrafia. nos que nove, pelo menos, caberiam, em um ajuste das responsabili­ O que se salvou dos indígenas no Brasil foi a despeito da influên­ dades européias na degradação da raça e da cultura indígena no Bra­ cia jesuítica; pelo gosto dos padres não teria subsistido à conquista sil, ao sistema civilizador dos jesuítas: 1) a concentração dos aborígines portuguesa senão aquela parte mole e vaga de cultura ameríndia por em grandes aldeias (medida por que muito se esforçaram os missio­ eles inteligentemente adaptada à teologia de Roma e à moral euro­ nários no Brasil);60 2) vestuário à européia (outra imposição jesuítica péia. Nem podia ser outra a sua orientação de bons e severos solda­ aos catecúmenos);61 3) segregação nas plantações;"2 4) obstáculo ao dos da Igreja; tocados mais que quaisquer outros na vocação catequista casamento à moda indígena; 5) aplicação de legislação penal euro­ e imperialista. O imperialismo econômico da Europa burguesa anteci­ péia a supostos crimes de fornicação; 6) abolição de guerras entre as pou-se no religioso dos padres da S. J.; no ardor europeizante dos tribos; 7) abolição da poligamia; 8) aumento da mortalidade infantil devido a novas condições de vida; 9) abolição do sistema comunal e moral sexual às vezes superior à daqueles que o pudor cristão faz da autoridade dos chefes (acrescentemos: da autoridade dos pajés, cobrirem-se de pesadas vestes. mais visados que aqueles pela rivalidade religiosa dos padres e mais Quanto ao asseio do corpo, os indígenas do Brasil eram decerto importantes que os morubixabas).63 superiores aos cristãos europeus aqui chegados em 1500. Não nos Algumas dessas responsabilidades deveriam talvez ser repartidas esqueçamos de que entre estes exaltavam-se por essa época santos com os colonos: entre outras, a segregação dos selvagens nas planta­ como Santo Antão, o fundador no monaquismo, por nem os pés dar- ções e a divisão sexual do trabalho à européia. E os colonos, e não os se à vaidade de lavar; ou como São Simeão, o Estilita, de quem de jesuítas, terão sido, em grande número de casos, os principais agentes longe se sentia a inhaca do sujo.67 E não seriam os portugueses os disgênicos entre os indígenas: os que lhes alteraram o sistema de menos limpos entre os europeus do século XVI, como a malícia alimentação e de trabalho, perturbando-lhes o metabolismo; os que antilusitana talvez esteja a imaginar; mas, ao contrário, dos mais as- introduziram entre eles doenças endêmicas e epidêmicas; os que lhes seados, devido à influência dos mouros. comunicaram o uso da aguardente de cana. Dos primeiros cronistas são os franceses os que mais se espantam Vê-se, entretanto, que maior, por mais sistematizada, foi a in­ da freqüência do banho entre os caboclos: Ives d'Evreux68 e Jean de fluência letal ou deletéria da moralização, do ensino e da técnica de Léry.69 E um higienista francês, Sigaud, atribuiria aos banhos frios o exploração econômica empregada pelos padres. Aos colonos, por fato de sofrerem os indígenas do Brasil - os já influenciados pela exemplo, pouco incomodava a nudez dos escravos ou "administra­ civilização européia - de desordens do aparelho respiratório, desde o dos" nas plantações. Nudez que até lhes convinha sob o ponto de simples catarro à pleurisia aguda e à bronquite.70 Aos banhos frios e vista do interesse econômico. De um colono rico dos primeiros tem­ ao hábito de andarem quase nus. Quando pelos estudos modernos pos sabe-se que ia ao extremo de fazer-se servir à mesa por índias de higiene o que se apura é exatamente o contrário: que essas molés­ nuas;64 e não parece que fosse caso isolado o seu. Enquanto os pa­ tias do sistema respiratório desenvolvem-se entre populações selva­ dres desde o princípio insistiram cristã e pudicamente em vestir os gens pela imposição de vestuário e de resguardos europeus a gente índios, apenas tolerando a nudez dos meninos; ou em meninos e habituada a andar inteiramente nua.

65 gente grande quando absoluta a falta de pano para roupa. O século da descoberta da América - o XV - e os dois imediatos, Da imposição de vestuário europeu a populações habituadas à de colonização intensa, foram por toda a Europa época de grande pura nudez ou a cobrirem-se apenas do bastante para lhes decorar o rebaixamento nos padrões de higiene. Em princípios do século XIX - corpo ou protegê-lo do sol, do frio ou dos insetos conhecem-se hoje informa um cronista alemão citado por Lowie - ainda se encontravam os imediatos e profundos efeitos disgênicos. Atribui-se ao seu uso pessoas na Alemanha que em toda a sua vida não se lembravam de forçado influência não pequena no desenvolvimento das doenças da ter tomado banho uma única vez.71 Os franceses não se achavam, a pele e dos pulmões que tanto concorrem para dizimar populações esse respeito, em condições superiores às dos seus vizinhos. Ao con­ selvagens logo depois de submetidas ao domínio dos civilizados; trário. O autor de Primitive society recorda que a elegante rainha doenças que no Brasil dos séculos XVI e XVII foram terríveis.66 Margarida de Navarra passava uma semana inteira sem lavar as mãos; O vestuário imposto aos indígenas pelos missionários europeus que o rei Luís XIV quando lavava as suas era com um pouco de álcool vem afetar neles noções tradicionais de moral e de higiene, difíceis de perfumado, uns borrifos apenas; que um manual francês de etiqueta se substituírem por novas. É assim que se observa a tendência, em do século XVII aconselhava o leitor a lavar as mãos uma vez por dia muitos dos indivíduos de tribos acostumadas à nudez, para só se e o rosto quase com a mesma freqüência; que outro manual, do sécu­ desfazerem da roupa européia quando esta só falta largar de podre lo anterior, advertia os jovens da nobreza a não assoarem o nariz à ou de suja. Entretanto são povos de um asseio corporal e até de uma mesa com a mão que estivesse segurando o pedaço de carne; que em 1530 Erasmo considerava decente assoar-se a pessoa a dedo, uma vez livro de frei André Thévet sobre o Brasil), na verdade foi nas mulhe­ que esfregasse imediatamente com a sola do sapato o catarro que res que os europeus encontraram maior resistência à imposição do caísse no chão; que um tratado de 1539 trazia receitas contra os pio­ vestuário moralizador mas para elas anti-higiênico: "des robbes de fri­ lhos, provavelmente comuns em grande parte da Europa.72 se & des chemises". O que alegavam é que tanto pano por cima do Pela Europa os banhos à romana, ou de rio, às vezes promíscuos, corpo dificultava-lhes o costume de se lavarem livre e freqüentemente contra os quais por muito tempo a voz da Igreja clamara em vão, no rio; às vezes quase de hora em hora. Dez, doze banhos por dia. haviam cessado quase de todo, depois das Cruzadas e dos contatos Diz Léry que "il n'a jamais este en nostre puissance de les faire vestir comerciais mais íntimos com o Oriente. O europeu se contagiara de [...]." "Elles disoyente que ce leur seroit trop depeine de se despouiller 7 sífilis e de outras doenças, transmissíveis e repugnantes. Daí resultará si souvent. Ne voilapas une belle & bienpertinente raison?" ^ As tenta­ o medo ao banho e o horror à nudez.73 tivas de conservar as cunhas vestidas à européia foram por elas frus­ Em contraste com tudo isso é que surpreendeu aos primeiros tradas sistematicamente nos primeiros tempos; quando obrigadas pe­ los calvinistas franceses a andarem vestidas durante o dia claro, às portugueses e franceses chegados nesta parte da América um povo ao primeiras sombras da noite despiam saias e camisas e largavam-se que parece sem mancha de sífilis na pele; e cuja maior delícia era o nuas pelas praias em delicioso à-vontade. O pastor protestante diz banho de rio. Que se lavava constantemente da cabeça aos pés; que que viu-as repetidas vezes nesse estado, concluindo que as índias se conservava em asseada nudez; que fazia uso de folhas de árvores, "quant au naturel, ne doivent rien aux autres en beauté". E é obser­ como os europeus mais limpos de toalhas de enxugar as mãos e de vação sua que "les attiffets, fards, faussesperruques, cheveux tortillez, panos de limpar menino novo; que ia lavar no rio a sua roupa suja, grands collets fraisez vertugales, robbes sur robbes, & autres infinies isto é, as redes de algodão - trabalho esse, a cargo dos homens. bagatelles dont les femmes & filies de par deçà se contrefont & n'ont Ainda que urinando de ordinário dentro das ocas, os Tupi - ob­ jamais assez, sont sans comparaison cause deplus de maux que n 'est 1 servou Léry - "[...] vont néantmoinsfort loin faire leurs excremens." ' la nudité ordinaire des femmes sauvages [.. .]."76 Havia qualquer coisa Dos indígenas parece ter ficado no brasileiro rural ou semi-rural o de um Havelock Ellis em Jean de Léry. hábito de defecar longe de casa; em geral no meio de touça de bana­ Por alguns cronistas antigos sabemos de muita intimidade da ro­ neiras perto do rio. E de manhã, antes do banho. Um gole de cachaça tina econômica entre os indígenas; da sua divisão sexual de trabalho com caju e às vezes um pelo-sinal para guardar o corpo precedem - tanto o trabalho de campo, quase todo entregue às mulheres, como ordinariamente esse banho higiênico. O caju, para limpar o sangue. o de dentro de casa, também principalmente feminino; fatos observa­ Toda uma liturgia ou ritual sanitário e profilático. dos às vezes com uma exatidão que as pesquisas recentes dos etnólogos Nas mulheres a cargo de quem se achava toda a série de cuida­ só têm feito confirmar. dos de higiene doméstica entre os indígenas, com exceção da lava­ Escrevendo dos Tupinambá, informa Gabriel Soares que os ma­ gem das redes sujas, era ainda maior que nos homens o gosto pelo chos é que "costumam a roçar os mattos, e os queimam e limpam a banho e pelo asseio do corpo. São asseadíssimas, nota Gabriel Soa­ terra delles"; que "vão buscar lenha com que se aquentam e se ser­ res. E Léry atribui a esse maior amor da cunha à água e à higiene do vem porque não dormem sem fogo ao longo das redes, que é a sua corpo enfeitarem-se elas menos que os homens; fato que o cronista cama"; que "costumam ir lavar as redes aos rios quando estão sujas". anota "entre les choses doublement estranges & vraiment esmerveillables, Isto sem inisistirmos nas responsabilidades principais do homem de que Vay observées en cesfemmes brésiliennes." Na verdade, segundo o abastecer a taba de carne e de peixe e de defendê-la de inimigos e de depoimento do escrupuloso protestante (que revela invulgar senso animais bravios. crítico através de toda sua relação de viagem e, logo às primeiras As mulheres, porém, diz-nos Léry, trabalhavam, sem compara­ páginas, nas retificações que opõe, não sem certo ódio teológico, ao ção, mais do que os homens; "car excepté quelques matinês (& non au chaut du jour) qu'ils coupent & effertend du bois pour faire ler o seu discípulo Herbert S. Smith.79 Confirmam-na, com relação à cerâ­ jardins, ils nefontgueres autre chose qu'aller à laguerre, à la chasse, mica de Marajó, pesquisas recentes de Heloísa Alberto Torres.8" É à lapescheriefabriquer leurs espées de bois, ares, fleches, habillements certo que discriminam esses estudos ter sido a fabricação de louça deplume [,..]."77 entre os indígenas do Brasil arte tardia e precedida pela dos trança­ Gabriel Soares não precisa de que sexo ou idade fosse cada uma dos; pela utilização durante muito tempo de trançados impermeabili­ das atividades de caráter industrial ou artístico que encontrou entre os zados como vasilhame para condicionar líquidos; e esses trançados, Tupinambá. Os "balaios de folhas de palma, e outras vasilhas da mes­ arte dos homens mais do que das mulheres. ma folha a seu modo, e do seu uso", os "cestos de vara, a que cha­ A produção artística, exclusiva ou principalmente dos homens, re­ mam samburá, e outras vasilhas em lavores, como as de rota da ín­ sumia-se no fabrico de arcos e flechas, de instrumentos de música e de dia", teriam sido arte de iniciativa masculina. Seriam atividade de ambos certos adornos para o corpo. Na construção da oca era seu trabalho os sexos e não de um só: atividade também dos meninos, e não mais duro; seu esforço de levantar em volta da aldeia a cerca de pau-a- apenas de gente grande. pique, que os portugueses adotariam mais tarde como meio de defen­ O cronista salienta como trabalho exclusivo das mulheres as re­ der as casas-grandes de engenho dos ataques de inimigos. E obra dos des de fio de algodão e as "fitas como passamanes, e algumas mais homens eram ainda as canoas feitas de um só pau, igualmente adotadas largas, com que ennastram os cabellos." E pormenoriza: "As mulheres pelos primeiros colonos nos seus raids sertões adentro. já de idade teem cuidado de fazerem a farinha de que se mantém, e Já dissemos, às primeiras páginas deste capítulo, que sob o ponto de trazerem a mandioca ás costas para casa; e as que são muito velhas de vista da organização agrária em que se estabilizou a colonização teem cuidado de fazerem vasilhas de barro a mão como são os potes portuguesa do Brasil, maior foi a utilidade social e econômica da em que fazem os vinhos, e fazem alguns tamanhos que levam tanto mulher que a do homem indígena. Este se retraiu quase por completo como uma pipa, em os quaes e em outros menores fervem os vinhos aos esforços dos colonos e mesmo aos agrados dos padres para o que bebem: fazem mais estas velhas panellas, pucaros e alguidares a incorporarem à nova técnica de exploração econômica e ao novo seu uso, em que cozem a farinha, e outros em que a deitam e em que regime de vida social. Melhor ajustamento se verificou da parte da comem, lavrados de tintas de cores; a qual louça cozem em uma cova mulher; o que se compreende, dada a sua superioridade técnica entre que fazem no chão, e põem a lenha por cima; e teem e crêem estas os povos primitivos; e dada a sua tendência maior para a estabilidade indias que se cozer esta louça outra pessoa que não seja a que a faz, entre os povos nômades. que ha de arrebentar no fogo; as quaes velhas ajudam também a fazer A toda contribuição que se exigiu dela na formação social do farinha que se faz no seu lanço".78 Brasil - a do corpo que foi a primeira a oferecer ao branco, a do Eram ainda as mulheres que plantavam o mantimento e que iam trabalho doméstico e mesmo agrícola, a da estabilidade (estado por buscar a água à fonte; que preparavam a comida; que cuidavam dos que ansiava, estando seus homens ainda em guerra com os invasores meninos. Vê-se que não era pequena a importância da mulher velha e ela aos emboléus, de trouxa à cabeça e filho pequeno ao peito ou entre os indígenas; enorme a da mulher, em geral; e nessa categoria o escarranchado às costas) - a cunha correspondeu vantajosamente. estudo comparado da arte e da indústria entre os primitivos autoriza- Entre os seus era a mulher índia o principal valor econômico e nos a colocar o homem efeminado ou mesmo o invertido sexual, técnico. Um pouco besta de carga e um pouco escrava do homem. comum entre várias tribos brasílicas. Mas superior a ele na capacidade de utilizar as coisas e de produzir o Hartt salienta o fato da arte da cerâmica entre os indígenas do necessário à vida e ao conforto comuns. Brasil ter-se desenvolvido pelas mãos da mulher; e essa generalização A poligamia não corresponde entre os selvagens que a praticam - do sábio norte-americano confirmou-a, depois de observar os Cadiueu, incluídos neste número os que povoavam o Brasil - apenas ao desejo sexual, tão difícil de satisfazer no homem com a posse de uma só indivíduos excepcionais que os iniciem.83 O homem invertido, sabe- mulher; corresponde também ao interesse econômico de cercar-se o se que é às vezes um indivíduo à procura de sensações e atividades caçador, o pescador ou o guerreiro dos valores econômicos vivos, criadoras e dolorosas que lhe substituam as impossíveis de feminili­ criadores, que as mulheres representam. dade e maternidade: o masoquismo, a flagelação, a arte da escultura, Diz-nos Thomas que entre os primitivos o homem é a atividade da pintura, da caligrafia e da música entre os monges da Idade Média; violenta e esporádica; a mulher, a estável, sólida, contínua.81 Funda-se o mesmo masoquismo entre os faquires da índia; e segundo Silberer, esse antagonismo na organização física da mulher, que a habilita an­ no seu trabalho Theproblems of mysticism and symbolism, a própria tes à resistência que ao movimento. Antes à agricultura e à indústria alquimia teria representado o desejo de se compensarem alguns indi­ que à caça e à guerra. Daí a atividade agrícola e industrial desenvol­ víduos da introversão.84 Sabe-se também que em certas doenças, como ver-se quase sempre pela mulher; pela mulher desenvolver-se a pró­ a tuberculose e a prisão de ventre, alguns introvertidos parecem en­ pria técnica da habitação, a casa; e em grande parte a domesticação contrar prazer ou compensação.85 de animais. Mesmo a magia e a arte, se não se desenvolvem principal­ São sugestões, todas essas, que embora insuficientes como ele­ mente pela mulher, desenvolvem-se pelo homem efeminado ou mentos de convicção, constituem talvez a base para uma possível bissexual, que à vida de movimento e de guerra de homem puro interpretação sexual da couvade pelo critério da bissexualidade. Pare­ prefere à doméstica e regular da mulher. Os indígenas do Brasil esta­ ce, com efeito, haver na couvade muito daquele desejo que Faithful vam, pela época da descoberta, ainda na situação de relativo parasitismo salienta no homem introvertido de obter pela identificação com a do homem e sobrecarga da mulher. Eram as mãos criadoras da cunha mulher a alegria da maternidade ("to obtain by identification with que reuniam os principais trabalhos regulares de arte, de indústria, de their mates hejoy ofmotherhood,').eb Os efeminados, pelo seu prestí­ agricultura. gio através das práticas de magia sexual - atividade dominada por Quanto aos pajés, é provável que fossem daquele tipo de ho­ eles entre várias tribos - teriam sido os iniciadores da couvade- com­ mens efeminados ou invertidos que a maior parte dos indígenas da plexo de cultura em que são tantas as evidências do mecanismo de América antes respeitavam e temiam do que desprezavam ou abomi­ compensação de que se serve o invertido: o repouso, o resguardo, a navam.82 Uns, efeminados pela idade avançada, que tende a mascu- dieta, a identificação do homem com a mulher. Porque em geral eram linizar certas mulheres e a efeminar certos homens; outros, talvez, por os dois que ficavam de resguardo e de dieta, e não o homem só, perversão congênita ou adquirida. A verdade é que para as mãos de como de ordinário se pensa. indivíduos bissexuais ou bissexualizados pela idade resvalaram em Goldenweiser,87 do ponto de vista da antropologia, Westermarck, geral os poderes e funções de místicos, de curandeiros, pajés, conse­ do da sociologia,88 e Faithful,89 do da sexologia, destacam o fato de lheiros, entre várias tribos americanas. não raro assumirem os homo ou bissexuais posição de mando ou A própria couvade, complexo de cultura tão característico das influência nas sociedades primitivas; fato que R. Lowe Thompson dá- tribos brasílicas, talvez possa alguém arriscar-se a interpretá-la pelo se ao luxo de interpretar, em um dos seus estudos, com um critério da bissexualidade. Notada entre povos que em geral respei­ desassombro a que talvez não o autorize a pura ciência.90 tam, em vez de desprezar ou ridicularizar, os efeminados, e enxergam No seu Intermediate types amongprimitive men, Carpenter vai igual­ neles poderes ou virtudes extraordinárias, é possível que o costume mente ao extremo de sugerir que muitas das mais importantes diferen­ da couvade se tenha originado desses diferenciados sexuais: indiví­ ciações de vida social teriam decorrido de variações de natureza se­ duos de forte influência e sugestão mística sobre a maioria. Wissler xual; que a cultura se teria enriquecido e a atividade diferenciado entre observa que certos traços de cultura incorporam-se, ainda que rara­ . os primitivos por efeito da homo ou da bissexualidade. Teriam os homo mente, à prática geral de uma tribo ou de um grupo, por influência de e os bissexuais desempenhado valiosa função criadora, lançando as ba- ses de ciências, artes e religiões. Teriam sido os profetas, os videntes, os Por crime de sodomia aparecem, no fim do século XVI, perante o curandeiros, os médicos, os sacerdotes, os artistas plásticos.91 visitador do Santo Ofício,93 vários indígenas e mamelucos: homens É uma teoria que talvez atribua demasiada importância no desen­ ainda mal cristianizados, católicos ainda meio crus. A Igreja fulminou volvimento da ciência, da religião e da arte, ao errático, ao estrambólico, neles como pecado dos mais profundos - um dos quatro clamantia ao romântico, desprezando um elemento que nem por dar pouco na peccata da teologia da Idade Média94 - o que para a moral sexual vista é menos ativo e criador: o bom senso dos extrovertidos. Não o desses primitivos - dos selvagens que o padre Cardim ouvindo em bom senso rotineiro, mas o que não é senão equilíbrio e saúde inte­ confissão achara tão cândidos - seria quando muito um pecadilho. lectual e física; o rabelaisiano, o johnsoniano, o cervantino; aquele de Parece, entretanto, que a mentalidade portuguesa cedo identificou os que fala Marett, identificando-o com a experiência e a tradição do indígenas com a prática da pederastia; prática para os cristãos tão grande número; o folclórico, o do povo; o das nações maduras como abominável. a França; o das igrejas grandes e antigas como a de Roma (que entre­ A denominação de bugres dada pelos portugueses aos indígenas tanto não tem deixado de se enriquecer espiritualmente à custa de do Brasil em geral e a uma tribo de São Paulo em particular talvez introvertidos quase delirantes, como Santa Teresa de Jesus). exprimisse o horror teológico de cristãos mal saídos da Idade Média Da freqüência da homomixia entre várias das sociedades primiti­ ao pecado nefando, por eles associado sempre ao grande, ao máxi­ vas da América são numerosas - já o dissemos - as evidências; mo, de incredulidade ou heresia. Já para os hebreus o termo gentio Westermarck sugere que o ritmo guerreiro da vida dessas sociedades implicava idéia de sodomita; para o cristão medieval foi o termo bugre talvez favorecesse o intercurso sexual de homem com homem e mes­ que ficou impregnado da mesma idéia pegajosa de pecado imundo. mo de mulher com mulher. As sociedades secretas de homens, pos­ Quem fosse herege era logo havido por sodomita; como se uma da- sível expressão, ou antes, afirmação - na fase sexual e social de cultura nação arrastasse inevitavelmente à outra. "Indeedso closely wassodomy atravessada por muitas das tribos ameríndias ao verificar-se a desco­ assoaciated with heresy that the same name was applied to bouth", berta do continente - do prestígio do macho contra o da fêmea, do escreve Westermarck. E acrescenta: "the French bougre (from theLatin regime patronímico ao matronímico, talvez fossem melhor estímulo Bulgarus, Bulgarian), as also its English synonim, was originally a que a vida de guerra à prática da pederastia. O certo é que nos baito, namegiven to a sectofheretics who carnefrom Bulgária in the eleventh espécie de lojas de maçonaria indígena só franqueadas aos homens century, and was afterwards applied to other heretics, but at the same depois de severas provas de iniciação, pôde surpreender von den time it becam e the regular expressionfor aperson guilty of unnatural Steinen, entre os Bororó, os mancebos em livre intercurso sexual uns in tercourse".9"' Em ligação com o assunto, encontra-se em Léry uma com os outros; isto sem ar de pecado, mas naturalmente. passagem digna de nota. Referindo-se aos Tupi, diz o cronista: Já no século XVI Gabriel Soares se horrorizara de ver os Tupinambá "toutefois, à fin de ne lesfairepas assiplusgens de bien qu 'ils ne sont, "mui affeiçoados ao peccado nefando, entre os quaes se não tem por parce que quelquefois en se despitans l'un contre Vautre, ilss'appellent affronta; e o que serve de macho, se tem por valente, e contam esta Tyvire, onpeut de lã coniecturer (carje n'en afferme rien) que cest % bestialidade por proeza; e nas suas aldeias pelo certo há alguns que abominable pesché se commet entr'eux". teem tenda publica a quantos os querem como mulheres publicas".92 * É impossível apurar até que ponto a homomixia ocorresse na América primitiva por perversão congênita; a verdade é que entre os Através das informações de Léry, de Gabriel Soares, de Hans ameríndios se praticava a pederastia sem ser por escassez ou privação Staden; das crônicas dos jesuítas do século XVI; dos livros de Ives de mulher. Quando muito pela influência social da segregação ou do d'Evreux e de Claude d'Abbeville, vê-se que para a mulher tupi a vida internato dos mancebos nas casas secretas dos homens. de casada era de contínuo trabalho: com os filhos, com o marido, com a cozinha, com os roçados. Isto sem esquecermos as indústrias todos os dias; acerca do que diz Gabriel Soares: "e ainda digo que a domésticas a seu cargo, o suprimento de água e o transporte de far­ mandioca é mais sadia e proveitosa que o bom trigo, por ser de dos. Mesmo grávida a mulher índia mantinha-se ativa dentro e fora de melhor digestão. E por se averiguar por tal, os governadores Thomé casa, apenas deixando de carregar às costas os volumes extremamen­ de Sousa, D. Duarte e Mem de Sã não comiam no Brasil pão de trigo te pesados.97 Mãe, acrescentava às suas muitas funções a de tornar-se por se não acharem bem com elle, e assim o fazem outras muitas uma espécie de berço ambulante da criança;98 de amamentá-la, às pessoas".102 vezes até aos sete anos; de lavá-la; de ensinar as meninas a fiar algo­ Foi completa a vitória do complexo indígena da mandioca sobre dão e a preparar a comida. o trigo: tornou-se a base do regime alimentar do colonizador (é pena A seu cargo, diz-nos Léry, estava toda a organização doméstica; que sem se avantajar ao trigo em valor nutritivo e em digestibilidade, "toute la charge dá mesnage.E eram trabalho de suas próprias mãos como supôs a ingenuidade de Gabriel Soares). Ainda hoje a mandio­ os utensílios de que se servia para fazer a comida, para guardá-la, ca é o alimento fundamental do brasileiro e a técnica do seu fabrico para pisar o milho ou o peixe, moquear a carne, espremer as raízes, permanece, entre grande parte da população, quase que a mesma peneirar as farinhas; os alguidares, as urupemas, as cuias, as cabaças dos indígenas. No extremo-norte a farinha preferida é a de água; e a de beber água, os balaios. Utensílios muitos desses que se incorpora­ maneira de prepararem-na os caboclos é assim descrita por H. C. de ram ao trem de cozinha colonial. Ainda hoje o vasilhame de qualquer Sousa Araújo: "A maceraçào termina quando a mandioca larga a cas­ casa brasileira do norte ou do centro do Brasil contém numerosas ca, sendo então transportada para cochos com água, onde permanece peças de origem ou feitio puramente indígena. A nenhuma cozinha mais alguns dias. Depois de bem mole, é esmagada ou ralada e a que se preze de verdadeiramente brasileira, falta a urupema ou o massa colocada em longos tipitis cônicos, feitos de embira ou de pilão, o alguidar ou o pote de água. A algumas dessas vasilhas do­ taquara trançada. Esses tipitis têm um e meio a dois metros e outro mésticas, feitas de barro, de madeira, de casco de animal ou de casca tanto de comprido e são pendurados na cumeeira da casa depois de de fruta o ralo, de cascas de ostras - não só davam as cunhas recorte bem cheios, amarrando-se na sua extremidade inferior uma grande ou formas graciosas, como animavam-nas de desenhos pintados a pedra. Quando a água da mandioca, chamada tucupi, cessa de escor­ cor: "millepetitesgentülesses", diz Léry.100 rer, tiram a massa amilácea, e levam-na ao sol para secar, operação Das comidas preparadas pela mulher as principais eram as que se esta que termina ao forno. Resulta sempre uma farinha grossa, cons­ faziam com a massa ou a farinha de mandioca. As raízes de mandioca tituída de bolinhas duras, de difícil trituração na boca".103 No Nordeste viu-as Gabriel Soares raspadas pelos índios de 1500 até ficarem a farinha geralmente fabricada é a seca, outrora chamada guerra; nes­ alvíssimas; "depois de lavadas, ralam-nas em uma pedra ou ralo que ta região tanto quanto no extremo-norte, o tipiti - "cesto tubular elás­ para isso tem, e depois de bem raladas, espremem essa maça em um tico, feito de folhas de palmeira", da definição de Teodoro Sampaio104 engenho de palma a que chamam tipiti que lhe faz lançar a agua que - continua a caracterizar, nas zonas mais rústicas na sua economia ou tem toda fora, e fica essa maça enxuta, da qual se faz a farinha que se na sua cultura, a técnica do preparo da farinha. come, que cozem em um alguidar para isso feito, em o qual deitam Variado era o uso da mandioca na culinária indígena; e muitos esta maça e a enxugam sobre o fogo onde uma índia a meche com dos produtos preparados outrora pelas mãos avermelhadas da cunha, um meio cabaço, como quem faz confeitos, até que fica enxuta, e sem preparam-nos hoje as mãos brancas, pardas, pretas e morenas da nenhuma humidade, e fica como cuscuz; mas mais branca, e desta brasileira de todas as origens e de todos os sangues. Da índia a brasi­ maneira se come, é muito doce e saborosa."101 leira aprendeu a fazer de mandioca uma série de delicados quitutes: a A farinha de mandioca adotaram-na os colonos em lugar do pão farinha fina, de curimã, para o filho pequeno; o mingau; o mbeiu ou de trigo; preferindo a princípio os proprietários rurais a fresca, feita beiju. "Conheciam", escreve Couto de Magalhães dos indígenas do Brasil, "processos de fermentação pelos quais preparavam excelentes quitutes de origem indígena: eles dão um gosto à alimentação brasi­ conservas alimentares e próprias para estômagos enfraquecidos; en­ leira que nem os pratos de origem lusitana nem os manjares africanos tre outros, citarei os bolos de carimâ, com os quais quase todos nós jamais substituiriam. Mas deve-se salientar que foi nas cozinhas das 105 fomos alimentados durante o período da nossa infância." casas-grandes que muitos desses quitutes perderam o ranço regional, Do beiju cita Araújo Lima uma variedade de modernas especiali­ o exclusivismo caboclo, para se abrasileirarem. zações amazonenses. Além do beiju simples, conhecido de todo bra­ No extremo-norte faz-se ainda de mandioca uma comida indíge­ sileiro por esse nome ou pelo de tapioca - "bolo de massa fresca, na chamada macapatá: um bolo feito de massa de mandioca mole ainda úmida, ou de polvilho (tapioca), passada pela urupema, de que "depois de espremida no tipiti", diz Araújo Lima, "amassada com modo a formar grumos, que pela ação do calor ficam ligados pelo banha de tartaruga e com pedaços de castanha crua é espalmada em glúten próprio da massa" - o beijuaçu, "redondo, feito da mesma pequenas porções oblongas, envolvidas em folhas de bananeira, para massa que o beiju-ticanga, e cozido no forno"; o beijucica, "feito de serem assadas em rescaldo." Faz-se mais uma bebida, o tarubá, de massa de macaxeira, em grumos bem finos"; o de tapioca, "feito de beijus que depois de ligeiramente mergulhados dentro de água, de tapioca umedecida, de maneira a cair da urupema em grumos modo a ficarem apenas umedecidos, são postos um a um sobre folhas pequeninos e, quando pronto, enrolado sobre si mesmo depois de se de curumi (kurumikáa) em "uma cama de folha de bananeira esten­ lhe pôr manteiga na face exterior"; o beiju-ticanga, "feito da massa da dida num jirau especial feito na casca da farinha ou na cozinha", mandioca mole e seca (ticanga) ao sol"; o caribé - "o beijuaçu posto sendo então polvilhado com puçanga e coberto com folha de curumi. de molho e reduzido a uma massa, a que se acrescenta mais água, Cobrem-se então todos os beijus de folha de curumi e de banana; e morna ou fria, formando uma espécie de mingau, mais ou menos assim se deixa ficar por três dias - quando deles começa a escorrer ralo, conforme o gosto" - mingau que se toma de manhã com água uma espécie de melaço. Desfaz-se então toda a massa em água, pas­ morna, e no andar do dia, com água fria; o curada, "beiju grande e sa-se pela urupema e deixa-se descansar. Está pronta uma deliciosa bastante espesso, feito de tapioca umedecida, de grumos maiores que bebida que tomada em excesso embriaga. Tem um doce perfume, 106 o enrolado, e levando castanha crua em pequenos fragmentos." esse tarubá. Tudo comida de índio adotada pelo brasileiro do extremo-norte. A folha de bananeira-de-São-Tomé, de uso freqüente no Nordes­ Não só em relação ao beiju, mas a tudo quanto é comida indíge­ te para envolver produtos de coco, de mandioca, de arroz e de milho, na, a Amazônia é a área de cultura brasileira mais impregnada de será talvez efeito de intrusão africana; contágio do complexo negro influência cabocla: o que aí se come tem ainda gosto de mato; é da bananeira. É certo que não faltava aos indígenas a bananeira caauaçu enrolado em folha de palmeira ou de bananeira; leva castanha de ou pacova-sororoca; mas duvidoso que entre eles o complexo da caju; prepara-se em cuia; é polvilhado de puçanga feita de folhas de bananeira tivesse atingido o mesmo desenvolvimento que entre os kurumikáa torrada; e os nomes são ainda os dos índios; com um quer africanos. Estes davam à banana e à folha de bananeira larga aplicação. que seja de estrangeiro à primeira vista. Mas só à primeira vista. Quitutes Na tapioca de coco, chamada molhada, estendida em folha de e nomes de quitutes indígenas desmancham-se familiarmente na boca bananeira africana, polvilhada de canela, temperada com sal, sente-se do brasileiro: um gosto de conhecidos velhos desfaz a primeira im­ o amálgama verdadeiramente brasileiro de tradições culinárias: a man­ pressão de exóticos. É quando sentimos o muito que nos ficou de dioca indígena, o coco asiático, o sal europeu, confraternizando-se fundamentalmente agreste no paladar e no ritmo do idioma; o muito em um só e delicioso quitute sobre a mesma cama africana de folha que nos ficou dos nossos antepassados tupis e tapuias. de bananeira. Cremos, aliás, ser o Nordeste, isto é, a zona de influên­ A culinária nacional - seja dito de passagem - ficaria empobrecida, cia pernambucana, e mais para o norte o Maranhão, os dois pontos e sua individualidade profundamente afetada, se se acabasse com os mais intensos dessa confraternização de cultura; confraternização pode haver mixiria de carne. Peixe ou carne assada na própria banha materializada na culinária e sutilizada em outras esferas onde mais a fogo brando, depois de feita em pedaços. Assim preparada é a difícil se torna o discernimento ou a diferenciação pelos estudos de carne, de caça ou de peixe, conservada na própria banha e fechada psicologia social, de etnografia, de folclore e de sociologia. em vasilhas próprias; antigamente, pelos indígenas, em potes de bar­ A maçoca, de que se fazem vários bolos, além do caribé, não se ro; hoje, diz-nos Araújo Lima, em latas cilíndricas de folha-de-flandres. restringe ao Amazonas: pode ser considerada de uso generalizado ao Faz-se mixiria de peixe-boi, de tartaruga, de tambaqui, de anta etc.109 norte e ao centro do Brasil, embora menos que o mingau, a canjica de Há entretanto um processo indígena de preparar peixe que se milho e a muqueca: estes se incorporaram ao sistema nacional da ali­ generalizou no Brasil: o da pokeka, "de que se fez por corruptela, mentação brasileira logo depois dos produtos por assim dizer originais moqueca", informa Teodoro Sampaio no seu vocabulário geográfico ou brutos - o cará, o milho, a batata, o cacau, o mindubi, a mandioca. brasílico, "e significa embrulho". Embrulho de peixe em folhas. A maçoca é a massa da mandioca passada pelo tipiti e, depois de bem Moqueca é o peixe assado no rescaldo, que vem todo embrulhado socada ao pilão e seca ao sol, posta em paneiro; e este pendurado a em folha de bananeira - espécie de bebezinho envolto no seu cueiro. certa altura do fogo usual para manter-se a massa sempre enxuta. A moqueca mais apreciada é mesmo a que se faz de peixinho novo, Do milho preparavam as cunhas, além da farinha (abatiuí), hoje ainda transparente, pequenininho: bebê de peixe. Na Bahia e em usada no preparo de vários bolos, a acanijic, que sob o nome de Pernambuco, a pokeka se africanizou, ou antes, se abrasileirou, deli­ canjica tornou-se um dos grandes pratos nacionais do Brasil, apamuna ciosamente, em moqueca, nas cozinhas das casas-grandes. - hoje pamonha - envolvida, depois de pronta, na própria palha do A tartaruga, como já foi dito, constitui sozinha um complexo, dos milho, a pipoca, que, segundo Teodoro Sampaio, quer dizer "epiderme vários que o indígena transmitiu ao sistema alimentar brasileiro; dela estalada"; e ainda uma bebida fermentada, o abatí-iP1 se faz no extremo-norte uma variedade de quitutes, cada qual mais Do peixe ou da carne pilada e misturada com farinha faziam a louvado pelos gourmets; cada qual mais gostoso. Um deles é o arabu, paçoka ou paçoca, ainda tão usada no Norte; faziam opiracuí, "areia feito com a gema dos ovos de tartaruga ou tracajá e farinha - sem do peixe", feita do peixe desfeito a mão, depois de tiradas as espi­ mais nada; outro, este mais fino e delicado, é a abunã - os ovos de nhas, torrado no forno, pilado e empaneirado; mas o processo mais tartaruga ou tracajá "moqueados antes de completa gestação", diz característico de prepararem as cunhas peixe ou a carne de caça era o Araújo Lima, "tendo a tartaruguinha ou tracajá certa porção de gema de mokaen, que nos ficou sob o nome de moquém - isto é, o peixe segura ao peito"; come-se a abunã com sal e farinha. E há ainda o ou a carne assada sobre brasas; "ou então sobre um gradeado de mujanguê: um mingau que se faz com as gemas dos ovos de tartaruga madeira", esclarece Teodoro Sampaio.108 ou tracajá e farinha de mandioca mole, intumescida de água; alguns Como no caso da mandioca, no do peixe é a Amazônia a região europeizam esse pirão, acrescentando-lhe sal ou açúcar. Há mais a de cultura brasileira que se conserva mais próxima das tradições indí­ paxicá, picado feito de fígado de tartaruga, temperado com sal, limão genas; na culinária amazônica o pirarucu ocupa lugar importantís­ e pimenta-malagueta. simo: logo após a tartaruga, que é sozinha um complexo. Para as po­ Sabe-se o abuso que faziam os indígenas da pimenta: abuso que pulações rurais do extremo-norte o pirarucu faz as vezes do bacalhau se prolonga na culinária brasileira de hoje.110 No extremo-norte existe ou do charque: "é aproveitado em conserva, salgado apenas (salmoura) o juquitaia - condimento híbrido, feito de malagueta e sal: depois de para o consumo de dias mais próximos, ou salgado e dessecado ao seca a malagueta, nos próprios ramos quebrados da pimenteira e sol (seco), em mantas, para resistir muito mais tempo e ser exporta­ pendurados na cozinha, é passada no forno e levada ao pilão para ser do". Outros peixes muito em uso na Amazônia são o tucunaré e o socada com sal. O complexo da pimenta aguçou-se no Brasil pela tambaqui: este aproveitado pelo processo tão caracteristicamente in­ influência da culinária africana, ainda mais amiga que a indígena dos dígena da mixiria. O processo da mixiria não se restringe ao peixe: requeimes e excitantes do paladar: é a cozinha afro-baiana que mais ce mélangeprimitif altérépar les arcanes des nègres venus de Guinée se salienta pelo abuso da pimenta. Mas o indígena não a desprezava, et d'Angola, fut dès lors lepartage exclusifdes bommes qui s'intitulèrent como não desprezava o pijericu, o pixurim, o limão, e, para fazer as médecins du peuple ou guérisseurs". vezes do sal, a cinza. Sigaud dá como causa dos freqüentes ataques Senhor de engenho da espécie mencionada por Sigaud, dado a de disenteria entre os índios brasílicos - ataques de que nos falam as curar doentes por essa terapêutica híbrida, grosseira, mas às vezes de relações dos jesuítas - o uso imoderado de gengibre, pimenta e li­ melhores resultados que a européia e acadêmica, era Gabriel Soares. mão: "Leslndiensdoiventà Vusage immodéré dugingembre, dupiment O seu Roteiro vem cheio de receitas aprendidas com os índios: carimã el du limon, de fréquents attaques de dysentérie". desfeita na água para meninos que têm lombriga ou para indivíduo Peckolt salienta ter sido o milho o único cereal encontrado pelos tocado de peçonha ("uma cousa e outra está muito experimentada, europeus no Brasil; e menciona os outros alimentos vegetais dos assim pelos índios como pelos portugueses", acrescenta); milho co­ aborígines de que logo se utilizaram os adventícios: a mandioca, a zido para doentes de boubas; sumo do caju pela manhã, em jejum, batata-doce, o cará, os pinhões, o cacau, o mindubi. De legumes para "conservação do estômago", higiene da boca ("e fazem bom verdes a terra era escassa; e aos poucos que havia os indígenas não bafo a quem os come pela manhã", diz ainda Gabriel Soares dos ligavam importância. "Os legumes verdes eram pouco procurados pelos cajus); olho de embaíba para curar feridas e chagas velhas; emplas- índios; porém as mulheres colhiam para fins alimentícios certas plan­ tros de almécega para "soldar carne quebrada"; petume para mal do tas silvestres, como os carurus de várias qualidades, a serralha, mas sesso e, sorvido o seu fumo por um canudo de palha, aceso na ponta principalmente o palmito que, tanto cru como cozido, era alimento - o avô indígena do cachimbo - excelente para "todo homem que se predileto".111 toma de vinho." De posse, com os demais colonos senhores de enge­ De frutos era mais farta a terra descoberta por Pedr'Álvares; mas nho, de tão preciosos conhecimentos, Gabriel Soares não via neces­ que tivesse sido transmitida pelos indígenas aos europeus pode-se sidade de cirurgiões na Bahia; "porque cada um o é em sua casa". mencionar apenas a cultura do mamoeiro e do araçazeiro. Dos índios Uma página inteira do seu Roteiro ele a consagra ao amendoí, ou transmitiu-se igualmente ao europeu o complexo do caju112 - com mindubi, produto que os indígenas não colhiam à toa pelo mato: era uma série de aplicações medicinais e culinárias; destacando-se, po­ dos raros que faziam parte do seu rudimentar sistema de agricultura: rém, o seu uso no fabrico de um vinho muito bom, hoje caracteristica- "em a qual planta e beneficio delia não entra homem macho; só as mente brasileiro. indias os costumam plantar [...]."113 Seria longa a lista de plantas e ervas medicinais de conhecimento Outros conhecimentos úteis à atividade ou à economia doméstica e uso dos índios: delas mais teria aproveitado a cultura brasileira, se transmitiram-se da cultura vegetal do indígena à civilização do coloni­ melhores tivessem sido as relações entre os primeiros missionários e zador europeu, que os conservou ou desenvolveu, adaptando-os às os pajés e curandeiros indígenas. Ainda assim os jesuítas "dès le príncipe suas necessidades: o conhecimento de várias fibras para tecelagem de leur établissement s'appliquèrent à recueillir, à étudier lés ou entrançado - o algodão, o tucum, o caraguatá-bravo; o de peipeçaba productions locales et à faire leur profit des connaissances et des para fazer vassouras; o de abóboras semeadas pelo gentio especial­ observations indigènes", escreve Sigaud. Mas, acrescenta o cientista mente para servirem-se dos cabaços como vasilhas de carregar água e francês a quem tanto deve a medicina brasileira: "Du mélange des de guardar farinha, como gamelas e parece que como urinóis; o mé­ pratiques indigènes et des formules copiées des livres de médecine todo de curar jerimum no fumo para durar o ano inteiro; o conheci­ européens, naquit une thérapeutique informe, grossière, extravagante mento de várias madeiras e outros elementos vegetais de construção, qui se transmit par tradition dans les classes des cultivateurs de sucre como o cipó, o timbó e o sapé ou a palha de pindoba, empregada por et de coton etgardiens de troupeaux dans les montagnes ou sertões; et muito tempo na cobertura das casas: o de animais, pássaros, peixes, mariscos etc, valiosos para a alimentação, prestando-se ao mesmo tempo os seus cascos, penas, peles, lanugem ou couro a vários fins Frank Clarence Spencer, a quem se deve um dos estudos mais úteis na vida íntima e diária da família colonial; para cuias, agasalho, interessantes sobre a pedagogia ameríndia, Education of the pueblo enchimento de travesseiros, almofadas, colchões, redes; o de junco child, salienta que a vida primitiva, não só na América como em geral, de tabuá, material excelente para esteiras; o de tintas de várias cores, nem é a doce e idílica que supuseram os europeus do século XVIII, logo empregadas na caiação das casas, na tintura de panos, na pintu­ nem "the dogged, sullen subjection described by some late writers." E ra do rosto das mulheres, no fabrico de tintas de escrever - o branco sim um meio-termo: "They are in constant subjection to their de tabatinga, o encarnado de araribá, de pau-brasil e de urucu; o superstitiousfears, andyet they are generally joy fui and happy".114 preto de jenipapo, o amarelo de tatajuba; o conhecimento de gomas O mesmo pesquisador foi encontrar entre os Pueblo uma dança e resinas diversas - prestando-se para grudar papéis, cerrar cartas à destinada especialmente a fazer medo aos meninos e incutir-lhes sen­ maneira de lacre etc. Se na utilização, aproveitamento ou adaptação timentos de obediência e respeito aos mais velhos. Os personagens de todo esse material de cultura indígena entrou, na maior parte das da dança eram uns como papões ou terríveis figuras de outro mundo, vezes, a inteligência ou a técnica do europeu com função quase cria­ descidos a este para devorar ou arrebatar meninos maus. Stevenson dora, ou pelo menos transmutadora, em outros casos o que se deu foi informa-nos de dança semelhante entre os Zuni, esta macabra, termi­ a pura transmissão dos valores ou conhecimentos de uma cultura à nando na morte de uma criança, escolhida entre as de pior comporta­ outra - da nativa à adventícia. mento da tribo: mas realizando-se com intervalos de longos anos.115 O Vários desses processos e conhecimentos, ainda uma vez vale a fim, o moral, o pedagógico, de influir pelo medo ou pelo exemplo do pena acentuar que recebeu-os o colonizador europeu das mãos da castigo tremendo sobre a conduta do menino. mulher - elemento mais produtor que o homem nas culturas primiti­ O trabalho, hoje clássico, de Alexander Francis Chamberlain acer­ vas. Dela também se transmitiram à organização da família brasileira ca da criança na cultura primitiva e no folclore, das culturas históri­ valiosos métodos de higiene infantil e doméstica que merecem ser cas,116 indica ser o papão, complexo generalizado entre todas elas; e destacados; para fazê-lo torna-se necessário esboçar em traços gerais quase sempre, ao que parece, com fim moralizador ou pedagógico. não só a pedagogia como a vida de menino entre os indígenas. Do Entre antigos hebreus era o Libith, monstro cabeludo e horrendo que menino, aliás, salientaremos mais adiante o papel que representou voava de noite em busca de crianças; entre os gregos roubavam me­ em momento, se não dramático, decisivo, de contato entre as duas nino umas velhas feiíssimas, as Strigalai; entre os romanos a culturas, a européia e a indígena; quer como veículo civilizador do Caprimulgus saía de noite para tirar leite de cabra e comer menino - missionário católico junto ao gentio, quer como o conduto por onde talvez avó remota da cabra-cabriola - enquanto de dia dominava nos preciosa parte de cultura aborígine escorreu das tabas para as "mis­ matos o espírito mau da floresta, Silvanus. Entre os russos é um hor­ sões" e daí para a vida, em geral, da gente colonizadora. Para as roroso papão, terrível como tudo o que é russo, que à meia-noite vem próprias casas-grandes patriarcais. roubar as crianças em pleno sono; entre os alemães, é o Papenz; Estava longe o culumim de ser o menino livre imaginado por J.-J. entre os escoceses e os ingleses, o BooMan, o BogleMan. Champlain Rousseau: criado sem medo nem superstições. Tanto quanto entre os e os primeiros cronistas do Canadá falam em um horrível monstro, civilizados, vamos encontrar entre os selvagens numerosas abusões terror das crianças entre os aborígenes; entre os maia havia a crença em volta à criança: umas profiláticas, correspondendo a receios da em gigantes que de noite vinham roubar menino - os balams, o parte dos pais de espíritos ou influências malignas; outras pedagógi­ culcalkin. E entre os índios Gaulala, da Califórnia, Powers foi encon­ cas, visando orientar o menino no sentido do comportamento tradicio­ trar danças do diabo, que comparou às haberfeld treiber da Bavária - nal da tribo ou sujeitá-lo indiretamente à autoridade dos grandes. instituição para amedrontar as mulheres e as crianças e conservá-las em ordem. Eram danças em que aparecia uma figura horrenda: "an temíveis. Semelhante ao que ainda experimenta a criança européia ugly apparition". Na cabeça uma pele de urso, nas costas um manto pelas histórias de lobo e de urso; porém muito mais vivo e forte; 117 de penas, o peito listrado como uma zebra. muito mais poderoso e avassalador na sua mistura de medo e fascina­ Danças semelhantes de "diabo" - ou Jurupari - havia entre os ção; embora na essência mais vago. O menino brasileiro do que tem indígenas do Brasil; e com o mesmo fim de amedrontar as mulheres e medo não é tanto de nenhum bicho em particular, como do bicho em as crianças e conservá-las em boa ordem. Sendo que entre os geral, um bicho que não se sabe bem qual seja, espécie de síntese da ameríndios desta parte da América as máscaras de dança desempe­ ignorância do brasileiro tanto da fauna como da flora do seu país. Um nhavam função importante; Koch-Grünberg salienta que eram guar­ bicho místico, horroroso, indefinível; talvez o carrapatu. Ainda hoje dadas como coisa sagrada e que o seu misterioso poder se transmitia se ninam os meninozinhos do Norte: ao dançarino. Eram máscaras imitando animais demoníacos nos quais supunha o selvagem transformarem-se os mortos, e sua eficácia mági­ Durma, durma, meufilhinho, ca era aumentada pelo fato de serem humanos ou de origem animal Lá no mato tem um bicho muitos dos materiais de sua composição: cabelo de gente, pêlo de Chamado carrapatu. bichos, penas etc. Por sua vez o dançarino devia imitar os movimen­ tos e as vozes do animal demoníaco tal como nas danças descritas Talvez o hupupiara; ou o macobeba, nome e concepção que um jr pelos primeiros cronistas. E como as máscaras, os instrumentos sagra- amigo nosso recolheu há alguns anos de uma criança de seis anos de § dos eram igualmente considerados cheios de misterioso poder. Barreiros, no Estado de Pernambuco. Quase toda criança brasileira, 3 Os jesuítas conservaram danças indígenas de meninos, fazendo mais inventiva ou imaginosa, cria o seu macobeba, baseado nesse 200 entrar nelas uma figura cômica de diabo, evidentemente com o fim de pavor vago, mas enorme, não de nenhum bicho em particular - nem < desprestigiar pelo ridículo o complexo Jurupari. Cardim refere-se a da cobra, nem da onça, nem da capivara - mas do bicho - do bicho | uma dessas danças. Desprestigiados o Jurupari, as máscaras e os tutu, do bicho carrapatu, do zumbi: em última análise, do Jurupari. * maracás sagrados, estava destruído entre os índios um dos seus meios Medo que nos comunica o fato de estarmos ainda tão próximos da | mais fortes de controle social: e vitorioso, até certo ponto, o cristianis- mata viva e virgem e de sobreviver em nós, diminuído mas não | mo. Permanecera, entretanto, nos descendentes dos indígenas o resí- destruído, o animismo indígena. ° duo de todo aquele seu animismo e totemismo. Sob formas católicas, O complexo brasileiro do bicho merece estudo à parte; é dos superficialmente adotadas, prolongaram-se até hoje essas tendências mais significativos para quem se interesse pelos problemas de rela­ totêmicas na cultura brasileira. São sobrevivências fáceis de identifi­ ções e contato entre culturas desiguais. No que há de vago no medo car, uma vez raspado o verniz de dissimulação ou simulação euro­ do bicho se manifesta o fato de sermos ainda, em grande parte, um péia: e onde muito se acusam é em jogos e brinquedos de crianças povo de integração incompleta no habitat tropical ou americano: mas com imitação de animais - animais verdadeiros ou vagos, imaginá­ já a fascinação por tudo o que é história de animais, mesmo assim rios, demoníacos. Também nas histórias e contos de bichos - de uma vagamente conhecidos, o grande número de superstições ligadas a fascinação especial para a criança brasileira. Por uma espécie de me­ eles,119 indicam um processo, embora lento, de integração completa mória social, como que herdada, o brasileiro, sobretudo na infância, no meio; ao mesmo tempo que a sobrevivência de tendências totêmicas quando mais instintivo e menos intelectualizado pela educação euro­ e animistas. Da nossa ignorância dos nomes precisos, exatos para péia, se sente estranhamente próximo da floresta viva, cheia de ani­ designar os animais e plantas que nos rodeiam pasmou-se o alemão mais e monstros, que conhece pelos nomes indígenas e, em grande Ruediger Bilden na sua visita ao Brasil. Já outro viajante, citado pelo 118 parte, através das experiências e superstições dos índios. É um inte­ professor Roquette-Pinto, notara que no Brasil todo animal é apenas resse quase instintivo, o do menino brasileiro de hoje pelos bichos um bicho.120 E Roquette-Pinto comenta: "Mesmo na roça todo besou- ro é um cascudo e nada mais... Com as plantas é um pouco melhor, Algumas dessas preocupações profiláticas, disfarçadas às vezes, o povo consegue formar e batizar grupos naturais: é um gravata, é um ou confundidas com motivos decorativos e devotos, permanecem em angico, é um coqueiro". Resultado de antagonismos de cultura-, os torno à criança brasileira. No Norte ainda é comum ver meninos nomes de animais e plantas conservaram-se na língua indígena, de cheios de tetéias penduradas ao pescoço - dentes de animais, figas onde se comunicaram mais aos descendentes, em grande parte anal­ de madeira ou de ouro, bentos e medalhas católicas, mechas de cabelo. fabetos, dos índios nos sertões que à cultura mais acentuadamente Aliás no costume, entre as famílias mais devotamente católicas do européia ou africana do litoral e da zona agrícola. Quanto mais abun­ norte e do centro do Brasil, de ofertar os cachos ou a cabeleira do dante for a comunicação entre as duas subculturas, do elemento que, menino, quando atingida a idade de cortar-lhe o cabelo rente, à ima­ por mais instintivo e menos intelectualizado, guarda no seu analfabe­ gem do Senhor dos Passos ou do Senhor Morto, talvez sobreviva tismo maior número de conhecimentos indígenas da flora e da fauna, aquele receio ameríndio do cabelo, dos dentes ou das unhas do indi­ receberá o outro, mais europeu em cultura, um contingente ou cama­ víduo, principalmente da criança, servirem de objeto a práticas de da riquíssima de valores nativos ainda sem função viva e criadora no feitiçaria ou de magia. Que melhor meio de evitar semelhante risco sistema social do Brasil. que o de oferecer ao próprio Jesus o cabelo da criança? | Voltemos à infância do selvagem, que acentuamos ser rodeada A idealização de que foram objeto os meninos filhos dos índios ê desde o berço, isto é, da rede ou da tipóia, de superstições e medos nos primeiros tempos da catequese e da colonização - época, preci­ o de animais monstruosos. A tipóia - o menino carregado às costas da samente, de elevada mortalidade infantil, como se depreende das 202 mãe, preso por uma tira de pano - é traço que se perdeu nos costu- próprias crônicas jesuíticas123 - tomou muitas vezes caráter meio mór­ 5 mes brasileiros; só se explicava, aliás, pela atividade extradoméstica bido; resultado, talvez, da identificação da criança com o anjo católi­ | da mãe índia. Vingou, com o complexo da rede, o costume de rede- co. A morte da criança passou a ser recebida quase com alegria; pelo % berço, que só agora vai desaparecendo das tradições do Norte: muito menos sem horror. De semelhante atitude subsiste a influência em \ nortista ilustre, hoje homem feito, terá sido criado ainda em rede, nossos costumes: ainda hoje entre matutos e sertanejos, e mesmo t embalada pela mãe ou pela ama negra;121 terá muitas vezes adormeci- entre a gente pobre das cidades do Norte, o enterro de criancinha, ou ° do, em pequeno, ouvindo o ranger tristonho do punho da rede. Cardim de anjo, como geralmente se diz, contrasta com a sombria tristeza dos observou que ao punho da rede associavam os índios as primeiras enterros de gente grande. Nos tempos da catequese, os jesuítas, tal­ cerimônias em torno do nascimento do filho: aí penduravam, no caso vez para atenuar entre os índios o mau efeito do aumento da morta­ de ser macho o recém-nascido, um arco com flechas e "molhos d'ervas". lidade infantil que se seguiu ao contato ou intercurso em condições Tudo simbólico ou talvez profilático. Através da infância continuavam disgênicas, entre as duas raças, tudo fizeram para enfeitar ou embelezar as medidas de profilaxia da criança contra as influências malignas: a morte da criança. Não era nenhum pecador que morria, mas um "têm muitos agouros, porque lhe põem algodão sobre a cabeça, penna anjo inocente que Nosso Senhor chamava para junto de si. A história de pássaros e paus, deitão-nos sobre as palmas das mãos, e roção-nos que refere Montoya é típica desse ambiente mórbido que se criou por ellas para que cresção".122 pela excessiva idealização da criança: um menino, filho de um irmão Era também o corpo pintado de urucu ou jenipapo: os beiços, o do Rosário, teve inveja quando viu o enterro de um seu companheiro; septo, as orelhas perfuradas; batoques, fusos, penas enfiadas nesses "o corpo dele conforme o costume estava todo enfeitado de flores, e orifícios; dentes de animais pendurados ao pescoço. Tudo para desfi­ na cabeça tinha-se-lhe posto uma coroa de flores as mais bonitas. Por gurar, mutilar a criança, com o fim de torná-la repulsiva aos espíritos isso então ele às vezes pedia a seu pai para morrer, dizendo-lhe: maus; guardá-la do mau-olhado e das más influências. 'Deixa-me morrer, ó meu pai' - e se punha como o corpo do seu companheiro falecido, que ele tinha visto, e ficava todo estendido no chão. O pai, tendo ouvido muitas vezes as falas de seu filho, assim lhe à cultura brasileira; a boneca dominante tornou-se a de pano, de disse um dia: Meu filho, se Deus quiser que tu morras, seja feita a sua origem talvez africana. Mas o gosto da criança pelos brinquedos de vontade'. Em ouvindo as palavras de seu pai assim disse-lhe a crian­ figuras de animais é ainda traço característico da cultura brasileira, ça: 'Está bom, meu pai, vou morrer agora". Foi deitar-se na cama e embora vá desaparecendo com a estandardização dessa indústria pe­ sem doença alguma morreu.'"12't los padrões americano e alemão: brinquedos mecânicos. Entretanto A mãe selvagem ninava o filho pequeno, deitado na rede, com nas nossas feiras do interior ainda se encontram interessantes brin­ palavras cheias de ternura pelo meninozinho que, sob a influência do quedos de figuras de animais: notadamente de macacos, besouros, catolicismo, ia ser idealizado em anjo. Roquette-Pinto conseguiu re­ tartarugas, lagartixas, sapos. E convém não esquecermos o costume colher dos Pareci esta cantiga: indígena de aves domésticas servirem de bonecas às crianças:129 ainda hoje pegar passarinhos pelo sistema indígena do bodoque ou pelo Essá-mokocê cê-maká alçapão com rodela de banana, e criá-los depois, mansos, de não (Menino dorme na rede.. J12^ fugirem da mão, é muito do menino brasileiro. Na sua "Informação da missão do P. Christovão de Gouvêa às partes do Brasil, anno de 83", diz o padre Cardim que os meninos E nas ocas, ou habitações coletivas dos índios, casas-grandes mas entre os índios tinham "muitos jogos a seu modo". Mas com precisão bem diversas, pelo seu caráter comunista e pela sua composição vege­ não descreve nenhum. Nota que os caboclinhos brincavam "com muito tal, das fortes, sólidas, de taipa ou de pedra e cal, que o imperialismo mais festa e alegria que os meninos portugueses". E dá essa idéia colonizador dos europeus instalaria ao lado dos engenhos de açúcar, geral dos tais brinquedos: "Nestes jogos arremedam vários pássaros, deviam muitas vezes misturar-se essas cantigas de mães ninando os cobras, e outros animais, etc, os jogos são mui graciosos, e desenfa- meninos. Eram oitenta, cem pessoas que habitavam as ocas imensas 126 dasíssimos, nem ha entre elles desavenças, nem queixumes, pelejas, (feitas de caibros e cobertas de pindoba) e muitas as crianças. nem se ouvem pulhas, ou nomes ruins, e deshonestos". Não nos fala Entre algumas tribos as mães faziam para os filhos brinquedos de - quem sabe se por pudor de missionário? - em jogos eróticos que barro não cozido representando figuras de animais e de gente, estas talvez houvesse entre os meninos e adolescentes do Brasil, como os "predominantemente do sexo feminino", notaria o etnólogo Erland observados na Melanésia pelo professor Malinowsky.130 A julgar pelas Nordenskiõld em pesquisas realizadas entre tribos do norte do Brasil.127 "cantigas lascivas" a que aludem vários dos primeiros missionários, Figuras "em forma muitíssimo simplificada", "desprovidas geral­ cantigas que o padre Anchieta deu-se ao trabalho de substituir por mente de extremidades e até de cabeça, mas com a indicação das hinos à Virgem e cantos devotos, é de presumir que existissem da­ tatuagens em sua parte superior." Nordenskiõld atribui a extrema sim­ queles jogos eróticos entre os indígenas do Brasil. Encontra-se ainda plificação das bonecas de barro dos indígenas do Pilcomaio "à preo­ em Cardim referência a jogos brincados pelos meninos índios dentro cupação de torná-las menos quebradiças nas mãos das crianças." O da água, nos rios: "os meninos da aldeia tinham feito algumas ciladas que parece, entretanto, é que teriam essas figuras de gente e de ani­ no rio, as quais faziam a nado, arrebentando de certos passos com mais o seu sentido oculto; que não seriam simples brinquedos. Ou grande grita e urros, e faziam outros jogos e festas ríágua a seu modo antes: que aos brinquedos das crianças estendiam-se untuosamente o mui graciosos, umas vezes tendo a canoa, outras mergulhando por animismo, o totemismo, a magia sexual. Nas bonecas de barro dos baixo, e saindo em terra todos com as mãos levantadas diziam: Lou­ índios Carajá, no rio Araguaia, Emílio Goeldi foi encontrar reminis- vado seja Jesus Christo! - e vinham tomar a benção do padre [...]". cência dos "ídolos falomorfos de barro cozido, como eles se encon­ tram nas necrópoles dos índios que outrora habitavam a foz do Ama­ Nota-se nos folguedos de menino referidos pelo padre Cardim, zonas."128 A tradição indígena das bonecas de barro não se comunicou como nas danças de magia, de guerra e de amor da gente grande, a desconcertam, nem desavenhem por cousa alguma, e raramente dão tendência dos selvagens americanos de misturarem à sua vida a dos uns nos outros, nem pelejam".133 animais. Seus diabos têm cabeças de bichos e são assim representa­ Bem cedo os culumins aprendiam a dançar e a cantar. O referido dos nas máscaras de dança. Suas cantorias fingem vozes de animais; padre Cardim descreve várias danças só de meninos. Algumas os mis­ suas danças imitam-lhes os movimentos; suas cuias e potes repetem- sionários da Companhia adotaram no seu sistema de educação e lhes as formas. catequese. A mais comum talvez fosse a Sairé descrita pelo padre 134 Da tradição indígena ficou no brasileiro o gosto pelos jogos e João Daniel. brinquedos infantis de arremedo de animais.- o próprio jogo de azar, Pode-se generalizar do menino indígena que crescia livre de cas­ chamado do bicho, tão popular no Brasil, encontra base para tama­ tigos corporais e de disciplina paterna ou materna. Entretanto a meni­ nha popularidade no resíduo animista e totêmico de cultura ameríndia nice não deixava de seguir uma espécie de liturgia ou ritual, como reforçada depois pela africana.131 Há, entretanto, uma contribuição aliás toda a vida do primitivo. ainda mais positiva do menino ameríndio aos jogos infantis e esportes Ao atingir a puberdade cortavam-lhe o cabelo no estilo que frei europeus-, a da bola de borracha por ele usada em um jogo de cabe­ Vicente do Salvador descreve como de cabelo de frade; também à çada. Este jogo brincavam-no os índios com uma bola provavelmente menina cortava-se o cabelo à homem. A segregação do menino, uma revestida de caucho, que aos primeiros europeus pareceu de um pau vez atingida a puberdade, nos clubes ou casas secretas dos homens, muito leve; rebatiam-na com as costas, às vezes deitando-se de borco chamadas baito entre as tribos do Brasil Central, parece que visava para fazê-lo. Jogo evidentemente do mesmo estilo do matanaaríti, assegurar ao sexo masculino o domínio sobre o feminino: educar o que o ínsigne Cândido Rondon achou entre os Pareci; sendo que adolescente para exercer esse domínio. Eram casas vedadas às mu­ neste a bola - informa Roquette-Pinto em Rondônia - é feita da bor­ lheres (a não ser as velhas, masculinizadas ou dessexualizadas pela racha da mangabeira; e a maneira de jogar, às cabeçadas. Logo após a idade) e aos meninos, antes de iniciados. Nelas se guardavam as gai­ descoberta da América viu-o jogado por meninos selvagens, em Sevi- tas e os maracás que mulher nenhuma se lembrasse de querer avistar lha - ponto de confluência das novidades americanas nos séculos XVI mesmo de longe: significava a morte certa. Durante a segregação o e XVII em virtude de sua Casa de Contratación - o embaixador de menino aprendia a tratar a mulher de resto; a sentir-se sempre supe­ Veneza junto a Carlos V de Espanha. O qual nos diz que a tal bola era rior a ela; a abrir-se em intimidades não com a mãe nem com mulher nenhuma, mas com o pai e com os amigos. As afinidades que se do tamanho de um maracotão: "tamano como un melocotón ó mayor, exaltavam eram as fraternas, de homem para homem; as de afeto viril. y no lo rebatian con las manos ni con los pies, sino con los costados, lo Do que resultava ambiente propício à homossexualidade. que hacian con tal destreza que causaba maravilla verlo-, a veces se tendian casi en tierra para rebater la pelota y todo lo hacian con gran As provas de iniciação eram as mais rudes. Algumas tão brutas que presteza". Os jogadores que o embaixador viu em Sevilha eram um o iniciando não as suportava e morria em conseqüência do excessivo bando de rapazinhos selvagens levados das índias à Espanha por um rigor. Já nos referimos à flagelação, à tatuagem, à perfuração do septo, frade.132 dos lábios e das orelhas-, outras provas em uso eram a de arrancar Dos jogos e das danças dos selvagens do Brasil vários tinham dentes e a de limá-los; da última e da tatuagem africana ainda havendo evidente intuito pedagógico; sendo de notar a "quietação e amizade" reminiscências entre sertanejos do Nordeste e pescadores. - em outras palavras o "fairplay" - que o padre Cardim tanto admi­ Segundo Webster, no seu trabalho, hoje clássico, Primitive secret rou nos caboclos brasílicos de 1500. Nada de "nome ruim ou pulha" societies, nessas organizações secretas dos primitivos processava-se de um jogador a outro. Nada de "chamarem nomes aos pais e mães". uma verdadeira educação moral e técnica do menino; o seu preparo E é possível que para fixar bem o contraste desse proceder com o dos para as responsabilidades e privilégios de homem. Aí se iniciava ele meninos europeus exagere o padre: "raramente quando jogam se nos mistérios mais sutis da técnica de construção, da caça, da pesca, o místico que se procura nessas danças, durante as quais é comum os da guerra, do canto, da música; em tudo que de magia e de religião indivíduos se espancarem uns aos outros. Vários jogos brasileiros de tocasse ao leigo aprender. Aí, ao contato dos mais velhos, ele se im­ meninos - entre os quais o da peia queimada e o da manja - refletem pregnava das tradições da tribo. Era um processo rápido mas intenso o complexo da flagelação. de educação, a doutrinação e o ensino agindo sobre verdes noviços Não faltavam à criança indígena cuidados da mãe pela sua saúde: em estado de extrema sensitividade, conseguida a poder de jejuns, indicam-no as muitas medidas profiláticas; mostra-o o asseio em que era vigílias e privações. De modo que não havendo castigo corporal nem conservado o culumim. E acima de tudo a sua alegria e o seu bem-estar. disciplina de pai e mãe entre os indígenas do Brasil - de que tanto se Léry levou para a Europa entre as suas melhores lembranças de espantaram os primeiros cronistas - havia, entretanto, essa severa contato com os índios do Brasil, a dos conomis-miri - brincando ou disciplina, a cargo principalmente dos velhos. Conta o padre João dançando no terreiro das tabas. Maior que o seu encanto só o do Daniel de outro missionário, seu conhecido, que mandando um dia, padre Cardim. Os culuminzinhos descritos pelo padre já eram meni­ logo ao amanhecer, indagar de uns gritos de menino que tinha ouvi­ nos ensinados pelos missionários: mas evidentemente não haviam do de noite, soube que era "F, que toda a noite esteve dando panca­ perdido, à sombra das roupetas jesuíticas, toda a sua alegria de selva­ das e tratos a seu sobrinho para o fazer valente, animoso e reforça­ gens. Léry pôde surpreendê-los ainda em plena liberdade: "fessus, do."13'' De que estava livre a criança selvagem era do puxavante de grasseis & refais qu 'ils sont, beaucoup plus que ceux de par deçà, avec orelha ou do muxicão disciplinados até "erros e crimes" observou frei leurspoinçons d'os blancs dans leurs lèvresfendues, les cheveux tondus Vicente ficarem sem castigo entre os indígenas do Brasil.136 E Gabriel à leur mode & quelquefois le corps peinturé, ne failloyent jamais de Soares escreve dos Tupinambá no seu Roteiro: "não dão os tupinambás veniren troupe dansans au devant de nous quand ils nous croyoyent aos seus filhos nenhum castigo nem os doutrinam, nem os reprehendem arriver en leurs villages". Na sua fala errada pediam os caboclinhos por cousa que façam". Eram, entretanto, espancados e até flagelados que lhes sacudissem anzóis: "Coutoaffat, amabé,pinda". Quando Léry os meninos - e às vezes os grandes se flagelavam uns aos outros - os atendia, era uma festa: "[...] c'estoit un passe temps de voir ceste com os fins pedagógicos e de profilaxia de espíritos maus que já petite marmaille toute nue laquelle pour trouver & masser ces hameçons notamos. Porque já possuíssem o complexo da flagelação, fácil lhes trepilloit &gargoit la terre comme conn ils degarenne"}in foi adaptarem-se ao da penitência, introduzido pelos missionários, e Esses meninos que o francês achou tão fortes, vinham ao mundo no qual desde os primeiros tempos se notabilizaram: Cardim registra como animais. Léry ouviu uma vez uns gritos de mulher; alarmista, o gosto com que os nativos cumpriam as penitências católicas. como todo bom francês, botou logo para o ian-ouare, bicho que uma Espancar a pessoa até tirar-lhe sangue, ou sarjá-la com dente agu­ vez por outra comia selvagens. Mas foi ver o que se passava, acompa­ do de animal, era para o primitivo um processo de purificação e de nhado de outro francês, e descobriram os dois que os gritos eram de esconjuração, aplicado com particular rigor ao menino ou à menina uma mulher parindo. O marido servia de parteira: foi ele quem Léry ao iniciar-se na puberdade. O mesmo pode dizer-se, segundo Rafael viu cortar a dente o umbigo do menino; ele quem o francês surpreen­ Karsten, de violentos exercícios físicos - danças, lutas de corpo, cor­ deu achatando o nariz do bebê em vez de afiná-lo, segundo o costu­ rida, queda de braço - capazes de provocar abundante transpiração. me europeu; lavando e pintando de encarnado e preto o recém-nas­ Pelo suor, como pelo sangue, supunha o primitivo eliminar-se o de­ cido.138 Este era depois colocado em uma pequena rede de algodão mônio do corpo do indivíduo. Daí certos selvagens sujeitarem seus ou metido em uns "pedaços de redes que chamam tipóia"13" e amar­ doentes, considerados sempre endemoniados ou encafifados - a for­ rado às costas ou aos quadris da mãe. tes exercícios coreográficos de um caráter todo cerimonial e mágico e Léry ficou encantado com a higiene infantil e doméstica dos indí­ não de divertimento nem de sociabilidade. Não é o suor lúbrico mas genas. Contrasta-a com a dos europeus. E conclui pela superioridade do processo americano. O menino crescia livre de fraldas, cueiros e panos que lhe dificultassem os movimentos. Mas não implicava essa tas, é verdade que já nos tempos da catequese, tinha "os pés como de liberdade em descuido das mães. Por faltar cueiros e fraldas de pano animaes, as unhas compridas, as pernas finas, os olhos afogueados".146 aos bebês dos Tupi nem por isso cresciam eles sujos ou nojentos. Ao Talvez influência do diabo cristão. O diabo do sistema católico veio contrário: sua limpeza e asseio impressionaram o observador francês. juntar-se ao complexo Jurupari ou mesmo absorvê-lo. Nas palavras francas de Léry "qu 'encores que les femmes de ce pays là Mas não era só mal-assombrado. Nem era apenas o diabo na n 'ayent aucuns lingespour toucher le derrière des leurs enfans, mesmes figura de bichos que vivia a aperrear a vida do selvagem. Eram mons­ qu'elles ne se servent nonplus à cela desfeuilles d'arbres & d'herbes, tros que hoje não se sabe bem o que seriam: os quaiazts, os dont toutesfois elles ont grande abondance: neantmoins elles en sont coruqueamas, os maiturus (homens de pé para trás), as iiboiucus, a 147 si soigneuses, que seulement avec depetits bois que elles rompem, comme horrível simiavulpina e, mais danados que todos, os hipupiaras ou petites chevilles, elles les nettoyent si bien que vous ne les verriezjamais hupupiaras-, estes uns homens marinhos, que espalhavam o terror 148 breneux. "14° Folhas e lascas de madeira serviam para os indígenas do pelas praias. Gourmets ao seu jeito, os hipupiaras não comiam da Brasil não só de prato, de toalha e de guardanapo, como de papel pessoa que pegavam a carne toda, mas uma felpa ou outra. O bastan­ higiênico e cueiro de menino. te, entretanto, para deixar a vítima um mulambo. Comiam-lhe os "olhos, narizes, e pontas dos dedos dos pés e mãos, e as genitálias." O resto Gabriel Soares fixa o costume entre os índios de porem nos filhos

141 deixavam que apodrecesse pelas praias. nomes de animais, peixes, árvores etc., nomes que Karsten verifi­ cou serem em geral os dos mesmos animais representados nas másca­ Aliás a vida selvagem toda, através de suas diversas fases, se achava ras de danças sagradas.142 Expressão, portanto, do animismo e da impregnada de um animismo, de um totemismo, de uma magia se­ xual que forçosamente se comunicariam à cultura do invasor: esta só magia de que se achava impregnada a vida toda do primitivo. Whiffen os fez deformar. Não os destruiu.149 salienta o fato dos nomes de pessoa entre as tribos brasílicas do No­ 143 Do indígena de cultura totêmica e animista, ficaria no brasileiro, roeste não se pronunciarem senão em voz baixa, religiosamente.

144 especialmente quando menino, uma atitude insensivelmente totêmica Eram os nomes em certas tribos substituídos por uns como apelidos, e animista em face das plantas e dos animais (ainda tão numerosos parecendo pertencer a essa categoria os nomes "nada poéticos" reco­ nesta parte do mundo); tantos deles investidos pela imaginação da lhidos por Teodoro Sampaio: Guiraguinguira (o traseiro do pássaro), gente do povo, tanto quanto pela infantil, de uma malícia verdadeira­ Miguiguaçu (as nádegas grandes), Cururupeba (o sapo miúdo), mente humana, de qualidades quase humanas e às vezes de inteligên­ Mandiopuba (a mandioca podre) etc. Parece que o fim desses nomes cia ou poder superior ao do homem. É o folclore, são os contos era tornar a pessoa repugnante aos demônios. populares, as superstições, as tradições que o indicam. São as muitas Do que não estava livre entre os selvagens a vida de menino nem histórias, de sabor tão brasileiro, de casamento de gente com animais, de gente grande era de horrorosos medos. Medo de que o céu caísse de compadrismo ou amor entre homens e bichos, no gosto das que H5 por cima deles. Medo de que a terra lhes fosse embora dos pés. Hartland filia às culturas totêmicas.150 Histórias que correspondem, na Além do grande medo do Jurupari. vida real, a uma atitude de tolerância, quando não de nenhuma re­ Até de dia, estando tudo claro pelos terreiros, os meninos anda­ pugnância, pela união sexual do homem com besta; atitude vam vendo mal-assombrado, inclusive o próprio diabo, bem no meio generalizadíssima entre os meninos brasileiros do interior.151 No serta­ dos seus brinquedos: corriam então para casa assustados ou aos gri­ nejo mais do que no de engenho; neste, porém, bastante comum para tos. Os demônios apareciam em geral com cabeças horríveis de bi­ poder ser destacada como complexo - nesse caso tanto sociológico cho. Uns que o padre Antônio Ruiz Montoya descreve com certo luxo como freudiano - da cultura brasileira. de pormenor por terem aparecido justamente a um caseiro de jesuí­ Em ambos - no menino de engenho, como no sertanejo - a expe­ riência física do amor se antecipa no abuso de animais e até de plan- tas; procuram satisfazer o furor com que o instinto sexual madruga ao arguto observador: "os elementos selvagens ou bárbaros que re­ neles servindo-se de vacas, de cabras, de ovelhas, de galinhas, de pousam no fundo étnico de nossa nacionalidade, vieram livremente à outros bichos caseiros; ou de plantas e frutas - da bananeira, da me­ tona, alçaram o colo e prolongaram a anarquia, a desordem espontâ­ lancia, da fruta do mandacaru. São práticas que para o sertanejo su­ nea", escreve ele154, referindo-se às balaiadas, sabinadas, cabanadas, prem até a adolescência, às vezes até mesmo ao casamento, a falta ou que têm agitado o Brasil. Poderia talvez estender-se a caracterização escassez de prostituição doméstica ou pública - as amas, as mulatas, aos mata-matamarinheiro, quebra-quilos, farrapos; quem sabe mes­ os moleques de casa, as mulheres públicas - de que tão cedo se mo se atualizá-la, aplicando-a a movimentos mais recentes, embora contaminam os meninos nos engenhos e nas cidades do litoral. animados de um fervor ideológico mais intenso do que aqueles? A Outros traços de vida elementar, primitiva, subsistem na cultura revolução pernambucana de 1817 parece-nos permanecer em nossa brasileira. Além do medo, que já mencionamos, de bicho e de mons­ história política "a única digna desse nome", da frase de Oliveira Lima; tro, outros pavores, igualmente elementares, comuns ao brasileiro, é sem dúvida aquela que se revestiu menos do caráter de pura desor­ principalmente à criança, indicam estarmos próximos da floresta tro­ dem propícia ao saque, ou menos sofreu da deformação de fins polí­ pical como, talvez, nenhum povo moderno civilizado. Aliás o mais ticos ou ideológicos. Não que a consideremos exclusivamente políti­ civilizado dos homens guarda dentro de si a predisposição a muitos ca, sem raízes econômicas; o que desejamos acentuar é que se desses grandes medos primitivos; em nós brasileiros, eles apenas processou de modo diverso das abriladas, com um programa e um atuam com mais força por ainda nos acharmos à sombra do mato vir­ estilo político definidos. Da vinagrada de 1836, no Pará, escreveu gem. À sombra também da cultura da floresta tropical -da América e Sílvio Romero: "o elemento tapuio alçou o colo, tripudiando sobre a da África - que o português incorporou e assimilou à sua como ne­ vida e a propriedade alheia". nhum colonizador moderno, sujeitando-nos, por isso, a freqüentes Isto sem falarmos em movimentos francamente de revolta de es­ relapsos na mentalidade e nos pavores e instintos primitivos. Hall cravos, explosões ou de ódio de raça ou de classe social e economi­ escreveu que todo civilizado guarda em si, da ancestralidade selva­ camente oprimida - a insurreição de negros em Minas, por exemplo. gem, a tendência para acreditar em fantasmas, almas do outro mun­ Ou como nos terremotos de cultura: culturas oprimidas explodindo do, duendes: "a prepotent bias, which haunsts the very nerves and para não morrer sufocadas, rompendo a crosta da dominante para pulses of the most cultured to helieve in ghosts".152 O brasileiro é por respirar, como parece ter sido o movimento de negros na Bahia em excelência o povo da crença no sobrenatural: em tudo o que nos 1835. A cultura negra maometana contra a portuguesa católica.155 Es­ rodeia sentimos o toque de influências estranhas; de vez em quando tes são movimentos à parte, de um profundo sentido social, como à os jornais revelam casos de aparições, mal-assombrados, encantamen­ parte é o de Canudos - resultado da diferenciação da cultura que se tos. Daí o sucesso em nosso meio do alto e do baixo espiritismo."1 operou entre o litoral e o sertão. Os relapsos em furor selvagem Também são freqüentes, entre nós, os relapsos no furor selva­ observamo-los em movimentos de fins aparentemente políticos ou gem, ou primitivo, de destruição, manifestando-se em assassinatos, cívicos, mas na verdade pretexto de regressão à cultura primitiva, saques, invasões de fazendas por cangaceiros: raro aquele dos nossos recalcada porém não destruída. movimentos políticos ou cívicos em que não tenham ocorrido explo­ É natural que na noção de propriedade como na de outros valo­ sões desse furor recalcado ou comprimido em tempos normais. Sílvio res, morais e materiais, inclusive o da vida humana, seja ainda o Brasil Romero chegou a criticar-nos pela ingenuidade com que "damos o um campo de conflito entre antagonismos os mais violentos. No to­ pomposo nome de revoluções liberais" a "assanhamentos desordeiros". cante à propriedade para nos fixarmos nesse ponto, entre o comunismo O caráter, antes de choque de culturas desiguais, ou antagônicas, do do ameríndio e a noção de propriedade privada do europeu. Entre o que cívico ou político, desses movimentos, parece não ter escapado descendente do índio comunista, quase sem noção de posse indivi- ideal para um povo comunista nas tendências e rebelde ao ensino dual, e o descendente do português particularista que até princípios intelectual como o indígena da América teria sido o franciscano. Pelo do século XIX viveu, entre alarmes de corsários e ladrões, a enterrar menos o franciscano em teoria; inimigo do intelectualismo; inimigo dinheiro em botija, a esconder bens e valores em subterrâneos, a do mercantilismo; lírico na sua simplicidade; amigo das artes manuais cercar-se de muros de pedra e estes, ainda por cima, ouriçados de e das pequenas indústrias; e quase animista e totemista na sua relação cacos de vidro contra os gatunos. Saint-Hilaire, em viagem pelo interior com a Natureza, com a vida animal e vegetal. de São Paulo nos princípios do século XIX, identificaria como reminis- Para São Francisco dois grandes males afligiam o mundo cristão cência dos tempos da descoberta - na verdade, expressão do conflito do seu tempo: a arrogância dos ricos e a arrogância dos eruditos. Diz- que salientamos, entre as duas noções de propriedade - o fato da se que informado de haver certo doutor parisiense, dos finos, dos mercadoria, nas vendas, em vez de estar exposta ao público, ser guarda­ sutis, entrado como frade em um convento franciscano, teria dito: da no interior das casas vindo ter às mãos do vendeiro por um postigo. "Estes doutores, meus filhos, serão a destruição da minha vinha". Os Interpreta o cientista francês: "Precisavam os taverneiros, naturalmen­ jesuítas tornaram-se precisamente os doutores da Igreja; os seus mais te, tomar precauções contra a gulodice dos índios e a rapacidade dos agudos intelectuais. Os seus grandes homens de ciência. Tornaram-se mamelucos, que em matéria de discriminação do teu e do meu não notáveis pelas suas gramáticas, pelos seus compêndios de retórica, deviam ter idéias muito mais exatas do que os próprios índios".1S6 pelos seus relógios, mapas e globos geográficos. E entretanto, como observa Freer, "with ali their self confidence they failed,for, unlike the Franciscans, their spirit was not the spirit of the coming ages. "1SK Gabriel Soares, com a sua sagacidade de homem prático, apre­ O seu grande fracasso pode-se afirmar ter sido na América. No senta os caboclos aqui encontrados em 1500 como "engenhosos para Paraguai. No Brasil. Aos índios do Brasil parece que teria beneficiado tomarem quanto lhes ensinam os brancos"; excetuando precisamente mais a orientação do ensino missionário dos franciscanos. Estes - aqueles exercícios mnemônicos e de raciocínio e abstração, que os salienta em sugestivo livro frei Zephyrin Engelhardt - onde tiveram o padres da S. J. insistiram, a princípio, em ensinar aos índios em seus encargo de missões junto a ameríndios, orientaram-nas em sentido colégios; "coisa de conta" ou de "sentido", nas palavras do cronista.1^ técnico ou prático. Sentido que faltou ao esforço jesuítico no Brasil. Ler, contar, escrever, soletrar, rezar em latim. Em tais exercícios se Os franciscanos preocuparam-se acima de tudo em fazer dos ín­ revelariam os indígenas sem gosto nenhum de aprender; sendo fácil dios artífices e técnicos, evitando sobrecarregá-los da "mental exertion de imaginar a tristeza que deve ter sido para eles o estudo nos colé­ which the Indians hated more than manual labor. "1W Acrescenta frei gios dos padres. Tristeza apenas suavizada pelas lições de canto e Engelhardt sobre o método franciscano de cristianizar os índios: "we música; pela representação de milagres e de autos religiosos; pela do notfind that Chtist directed His Apostles to teach reading, writing aprendizagem de um ou outro ofício manual. Daí concluir Anchieta and arithmetic". Ironia que vai, evidentemente, cravar-se nas iniciais pela "falta de engenho" dos indígenas; o próprio Gabriel Soares des­ S. J. E rebatendo a acusação de que os franciscanos só se teriam creve os Tupinambá como "muitos bárbaros" de entendimento. preocupado nas suas missões em formar aprendizes ou técnicos: "they Gabriel Soares encontrou nos mesmos Tupinambá "uma condi­ gave the Indians the education wich was adapted to theirpresent needs ção muito boa para frades franciscanos": possuírem tudo em comum. andprobable future condition in society". Enquanto os primeiros je­ Poderia mencionar outra: a sua queda ou pendor para os ofícios ma­ suítas no Brasil quase que se envergonham, através das suas crônicas, nuais; a sua repugnância pelas muitas letras. O indígena do Brasil era do fato de lhes ter sido necessário exercer ofícios mecânicos. Seu precisamente o tipo de neófito ou catecúmeno que uma vez fisgado gosto teria sido se dedicarem por completo a formar letrados e bacha- pelos brilhos da catequese não correspondia à ideologia jesuítica. Um reizinhos dos índios. Pelo que escreve o padre Simão de Vasconcelos entusiasta da Ordem Seráfica poderia sustentar a tese: o missionário na sua Chronica da Companhia de Jesus do Estado do Brasil e do que obraram seus filhos nesta parte do Brasil vê-se que os padres da Com­ contar, a ler e a escrever; mais tarde a mourejar nas plantações de mate panhia aqui chegaram sem nenhum propósito de desenvolver entre e de cacau. Qualquer dessas atividades impostas ao índio cativo ou ao os caboclos atividades técnicas ou artísticas; e sim as literárias e aca­ catecúmeno vinha torcer-lhes ou desviar-lhes a energia em direções as 162 dêmicas. Tiveram de improvisar-se em artífices; de franciscanizar-se. mais repugnantes à sua mentalidade de primitivos; a imposta pelos Do que os justifica o padre Simão como de uma fraqueza: "e deste padres afastando-os do contato, que tanto os atraía aos adventícios, das tempo ficou introduzido trabalharem os irmãos em alguns officios ferramentas européias, para fixá-los na tristeza dos cadernos e dos exer­ 163 mechanicos, e proveitosos a communidade, por razão da grande po­ cícios de gramática; as outras afetando-os no que é tão profundo nos breza, em que então viviam. Nem deve parecer cousa nova, e muito selvagens quanto nos civilizados - a divisão sexual do trabalho; obri- menos indecente, que religiosos se occupem em officios semelhan­ gando-os a uma sedentariedade letal para homens tão andejos; se- 164 tes; pois nem São José achou que era cousa indigna de um pae de gregando-os; concentrando-os nas plantações ou nas aldeias em gran­ Christo (qual elle era na commum estimação dos homens); nem São des massas de gente, por um critério inteiramente estranho a tribos Paulo de um apóstolo do Collegio de Jesus, ganhar o que haviam de acostumadas à vida comunária mas em pequenos grupos, e estes comer, pelo trabalho de suas mãos, e suor de seu corpo: antes foi exógamos e totêmicos. Quando o que mais con vinha a selvagens ar­ exemplo, que imitaram os mais perfeitos religiosos da antigüidade, rancados ainda tão crus da floresta e sujeitos a condições deletérias de acostumando, com esta traça, o corpo ao trabalho, e a alma a humil­ sedentariedade era a lide com as ferramentas européias; um doce tra­ dade; chegou a ser regra vinda do céo, que os anjos dictaram a Pacomio balho manual que não os extenuasse como o outro, o da enxada, mas abbade santo".160 Entre os primeiros jesuítas do Brasil parece que só o preparasse neles a transição da vida selvagem para a civilizada. padre Leonardo trouxera do século o ofício de ferreiro; quase todos Realizar essa transição deveria ter sido a grande, a principal mis­ os outros, puros acadêmicos ou doutores da espécie que São Francis­ são dos catequistas. Por semelhante processo muito da habilidade co de Assis tanto temia, precisaram de improvisar-se em carpinteiros manual, da aptidão artística, do talento decorativo, que quase se per­ ou sangradores. Mas sem gosto nem entusiasmo pelo trabalho ma­ deu de todo nos indígenas do Brasil, se teria recolhido e prolongado nual ou artístico, antes desculpando-se dele pela alegação de impres­ em novas formas e através de amplos e plásticos recursos de técnica cindível nas rudes circunstâncias da catequese. européia. A verdade, porém, é que dominou as missões jesuíticas um Que para os indígenas teria sido melhor o sistema franciscano critério, ora exclusivamente religioso, os padres querendo fazer dos que o dos jesuítas parece-nos evidente. Gabriel Soares descreve os caboclos uns dóceis e melífluos seminaristas; ora principalmente eco­ Tupinambá como tendo "grande destino para saberem logo estes nômico de se servirem os missionários dos índios, seus aldeados, officios", isto é, os de "carpinteiros de machado, serradores, oleiros"; para fins mercantis; para enriquecerem, tanto quanto os colonos, na e "para todos os officios de engenhos de assucar"; e, ainda para "cria­ indústria e no comércio de mate, de cacau, de açúcar e de drogas. rem vaccas". As mulheres para "criar gallinhas", "coser e lavar", fazer Campeões da causa dos índios, deve-se em grande parte aos jesuí­ "obras de agulha" etc.161 tas não ter sido nunca o tratamento dos nativos da América pelos Inserindo-se na vida dos colonizadores como esposas legítimas, portugueses tão duro nem tão pernicioso como pelos protestantes concubinas, mães de família, amas-de-leite, cozinheiras, puderam as ingleses. Ainda assim os indígenas nesta parte do continente não fo­ mulheres exprimir-se em atividades agradáveis ao seu sexo e à sua ram tratados fraternal ou idilicamente pelos invasores, os mesmos tendência para a estabilidade. O homem indígena, porém, quase que jesuítas extremando-se às vezes em métodos de catequese os mais só encontrou, nos adventícios, senhores de engenho para os fazerem cruéis. Da boca de um deles, e logo do qual, do mais piedoso e santo trabalhar na lavoura da cana e padres para os obrigarem a aprender a de todos, José de Anchieta, é que vamos recolher estas duras pala­ vras: "espada e vara de ferro, que é a melhor pregação"."" entretanto, os jesuítas ir além e em um ambiente de estufa - o dos A melhor atenção do jesuíta no Brasil fixou-se vantajosamente no colégios do século XVI ou das missões guaranis - fazer dos indígenas menino indígena. Vantajosamente sob o ponto de vista, que domina­ figuras postiças, desligadas não já das tradições morais da cultura va o padre da S. J., de dissolver no selvagem, o mais breve possível, nativa mas do próprio meio colonial e das realidades e possibilidades tudo o que fosse valor nativo em conflito sério com a teologia e com sociais e econômicas desse meio. Foi onde o esforço educativo e a moral da Igreja. O eterno critério simplista do missionário que não civilizador dos jesuítas artificializou-se, não resistindo mais tarde seu se apercebe nunca do risco enorme de ser incapaz de reparar ou sistema de organização dos índios em "aldeia" ou "missões" aos gol­ substituir tudo quanto destrói. Ainda hoje se observa o mesmo pes da violenta política antijesuítica do marquês de Pombal. simplismo nos missionários ingleses na África e em Fiji.166 Mesmo realizada artificialmente, a civilização dos indígenas do O culumim, o padre ia arrancá-lo verde à vida selvagem: com Brasil foi obra quase exclusiva dos padres da Companhia; resultado dentes apenas de leite para morder a mão intrusa do civilizador; de esforço seu a cristianização, embora superficial e pela crosta, de ainda indefinido na moral e vago nas tendências. Foi, pode-se dizer, grande número de caboclos. o eixo da atividade missionária: dele o jesuíta fez o homem artificial Essa cristianização, repetimos, processou-se através do menino que quis. índio, do culumim, de quem foi grande o valor na formação social de O processo civilizador dos jesuítas consistiu principalmente nesta um Brasil diverso das colônias portuguesas na África; orientado em inversão: no filho educar o pai; no menino servir de exemplo ao sentido oposto ao das feitorias africanas. Joaquim Nabuco, apologeta, homem; na criança trazer ao caminho do Senhor e dos europeus a como Eduardo Prado, do esforço jesuítico, ou antes, católico, no Bra­ gente grande.167 sil, pouco exagera quando afirma: "Sem os jesuítas a nossa história O culumim tornou-se o cúmplice do invasor na obra de tirar à colonial não seria outra coisa senão uma cadeia de atrocidades sem cultura nativa osso por osso, para melhor assimilação da parte mole nome, de massacres como os das Reduções; o país seria cortado de aos padrões de moral católica e de vida européia; tornou-se o inimigo estradas, como as que iam do coração da África aos mercados das 169 dos pais, dos pajés, dos maracás sagrados, das sociedades secretas. costas, por onde só passavam as longas filas de escravos". Do pouco que havia de duro e de viril naquela cultura e capaz de No Brasil o padre serviu-se principalmente do culumim, para re­ resistir, ainda que fracamente, à compreensão européia. Longe dos colher de sua boca o material com que formou a língua tupi-guarani padres quererem a destruição da raça indígena: queriam era vê-la aos - o instrumento mais poderoso de intercomunicação entre as duas pés do Senhor, domesticada para Jesus. O que não era possível sem culturas: a do invasor e a da raça conquistada. Não somente de inter­ antes quebrar-se na cultura moral dos selvagens a sua vértebra e na comunicação moral como comercial e material. Língua que seria, com material tudo o que estivesse impregnado de crenças e tabus difíceis toda a sua artificialidade, uma das bases mais sólidas da unidade do de assimilar ao sistema católico. Às vezes os padres procuraram, ou Brasil. Desde logo, e pela pressão do formidável imperialismo reli­ conseguiram, afastar os meninos da cultura nativa, tornando-a ridícu­ gioso do missionário jesuíta, pela sua tendência para uniformizar e la aos seus olhos de catecúmenos: como no caso do feiticeiro referido estandardizar valores morais e materiais,170 o tupi-guarani aproximou por Montoya. Conseguiram os missionários que um velho feiticeiro, entre si tribos e povos indígenas, diversos e distantes em cultura, e até figura grotesca e troncha, dançasse na presença da meninada: foi um inimigos de guerra, para, em seguida, aproximá-los todos do coloni­ sucesso. Os meninos acharam-no ridículo e perderam o antigo respei­ zador europeu. Foi a língua, essa que se formou do colonizador do to ao bruxo, que daí em diante teve de contentar-se em servir de culumim com o padre, das primeiras relações sociais e de comércio cozinheiro dos padres.16K entre as duas raças, podendo-se afirmar do povo invasor que adotou A posse do culumim significava a conservação, tanto quanto pos­ para o gasto ou o uso corrente a fala do povo conquistado, reservan- sível, da raça indígena sem a preservação de sua cultura. Quiseram, do a sua para uso restrito e oficial. Quando mais tarde o idioma por­ que assim se crião, e ha muitos annos vivem. Digo, pois, que todos os tuguês - sempre o oficial - predominou sobre o tupi, tornando-se, ao indios, e Índias, que tiverem tal amor a seus chamados senhores, que lado deste, língua popular, já o colonizador estava impregnado de queirâo ficar com elles por sua vontade, o possão fazer sem outra agreste influência indígena; já o seu português perdera o ranço ou a alguma obrigação mais que a do dito amor, que he o mais doce capti- 172 dureza do reinol; amolecera-se em um português sem rr nem ss; veiro, e a liberdade mais livre". infantilizara-se quase, em fala de menino, sob a influência do ensino Enquanto nas casas de família criavam-se "mistiçamente" portugue­ jesuítico de colaboração com os culumins. ses e índios, predominando nessas relações domésticas a língua dos es­ Ficou-nos, entretanto, dessa primeira dualidade de línguas, a dos cravos ou semi-escravos, nas escolas missionárias a língua dos indígenas senhores e a dos nativos, uma de luxo, oficial, outra popular, para o era ensinada e cultivada ao lado da dos brancos e da latina, da Igreja; e gasto - dualidade que durou seguramente século e meio e que pro­ nos púlpitos os pregadores e evangelistas serviam-se do tupi. "Falavam longou-se depois, com outro caráter, no antagonismo entre a fala dos os padres a língua dos aborígines", informa Teodoro Sampaio, "escre­ brancos das casas-grandes e a dos negros das senzalas - um vício, em viam-lhe a gramática e o vocabulário, e ensinavam e pregavam nesse nosso idioma, que só hoje, e através dos romancistas e poetas mais idioma. Nos seminários para meninos e meninas, curumins e cunhatains, novos, vai sendo corrigido ou atenuado: o vácuo enorme entre a filhos dos índios, mestiços, ou brancos, ensinavam, de ordinário, o portu­ língua escrita e a língua falada. Entre o português dos bacharéis, dos guês e o tupi, preparando deste modo os primeiros catecúmenos, os 171 padres e dos doutores, quase sempre propensos ao purismo, ao pre- mais idôneos, para levar a conversão ao lar paterno". ciosismo e ao classicismo, e o português do povo, do ex-escravo, do Do menino indígena, já o dissemos, os padres recolheram o material menino, do analfabeto, do matuto, do sertanejo. O deste ainda muito para a organização da "língua tupi": esta resultou do intercurso intelec­ cheio de expressões indígenas, como o do ex-escravo ainda quente tual entre catequista e catecúmeno. Pela mulher transmitiu-se da cultu­ da influência africana. ra indígena à brasileira o melhor que hoje nos resta dos valores mate­ É que a conquista dos sertões realizou-se no período de influên­ riais dos ameríndios; pelo menino veio-nos a maior parte de elementos cia ou predominância do tupi como língua popular. "As levas, que morais incorporados à nossa cultura: o conhecimento da língua, o de partiam do litoral, a fazerem descobrimentos", escreve Teodoro vários medos e abusões, o de diversos jogos e danças recreativas. Sampaio, "falavam, no geral, o tupi; pelo tupi designavam as novas O padre Simão de Vasconcelos esclarece-nos sobre o sistema de descobertas, os rios, as montanhas, os próprios povoados que funda­ intercurso intelectual adotado pelos jesuítas com relação ao culumim. vam e que eram outras tantas colônias, espalhadas nos sertões, falan­ É assim que de Anchieta nos informa: "no mesmo tempo era mestre & do também o tupi e encarregando-se naturalmente de difundi-lo."1 ' era discípulo"; e dos culumins: "lhe serviam de discípulos & mestres"; Tupis ficaram no Brasil os nomes de quase todos os animais e sucedendo que o padre "na mesma classe falando latim alcançou da pássaros; de quase todos os rios; de muitas das montanhas; de vários fala dos que o ouviam a mor parte da lingua do Brasil."r4 dos utensílios domésticos. Escrevia no século XVII o padre Antônio Em outra esfera foram os culumins mestres: mestres dos próprios Vieira (que tanto se preocupou com os problemas das relações entre pais, dos seus maiores, da sua gente. Aliados dos missionários contra colonos e indígenas): "Primeiramente he certo que as famílias dos os pajés na obra de cristianização do gentio. Dos primeiros culumins portugueses e indios em São Paulo, estão tão ligadas hoje umas com internados pelos jesuítas nos seus colégios diz o referido padre Si­ as outras, que as mulheres, e os filhos, se crião mistiça e domestica­ mão: "Espalhavam-se a noite pellas cazas de seus parentes a cantar as mente, e a lingua, que nas ditas famílias se fala, he a dos indios, e a cantigas pias de Ioseph em sua própria lingua contrapostas ás que portuguesa a vão os meninos aprender á escola; e deshunir esta tão elles costumavão cantar vãas & gentilicas; & vinham a ser mestres os natural, ou tão naturalizada união seria gênero de crueldade entre os que ainda eram discípulos [...]".175 E Varnhagen comenta a emulação provocada entre o gentio pelos jesuítas com as suas procissões de culumins cristianizados: "Feitos ríndia. Verificara-se, porém, desde o primeiro século a contemporização acólitos os primeiros piás mansos, todos os mais caboclinhos lhes hábil do estilo religioso ou católico de ladainha com as formas de tinham inveja, do que aproveitaram os jesuítas, entrando com eles canto indígena. "Na poesia lírica brasileira do tempo da colonização", pelas aldeias em procissões de cruz alçada, entoando a ladainha, can­ nota José Antônio de Freitas, "os jesuítas [...] ensaiavam as formas que tando rezas e arrebanhando muitos; com o que se honravam às vezes mais se assemelhavam aos cantos dos Tupinambás, com voltas e refréns, os pais".176 Procissão que o padre Américo Novais, baseado em Southey, para assim atraírem e converterem os indígenas à fé católica." E acres­ evoca em cores ainda mais vivas: meninos e adolescentes vestidos de centa: "Numa época em que os cantos populares eram proibidos pela branco, uns com açafates de flores, outros com vasos de perfume, Igreja, numa época em que o sentimento poético das multidões esta­ outros com turíbulos de incenso, todos louvando Jesus triunfante en­ va completamente sufocado e atrofiado, o colono, para dar expansão tre repiques de sino e roncos de artilharia.177 Eram as futuras festas de à saudade que lhe ia na alma, não deixava de repetir aqueles canta- igreja, tão brasileiras, com incenso, folha de canela, flores, cantos res, que os jesuítas autorizavam".181 Graças ao imperador D. Pedro II, sacros, banda de música, foguete, repique de sino, vivas a Jesus Cris­ que obteve, em Roma, cópia das quadras escritas pelos jesuítas para to, esboçando-se nessas procissões de culumins. Era o cristianismo, os meninos dos seus colégios e missões no Brasil, conhece-se hoje a que já nos vinha de Portugal cheio de sobrevivências pagas, aqui se seguinte, publicada por Taunay: enriquecendo de notas berrantes e sensuais para seduzir o índio. Nóbrega chegava a ser de opinião que pela música conseguiria trazer O Virgem Maria ao grêmio católico tudo quanto fosse índio nu das florestas da Améri­ Tupan ey êté ca; e pelo impulso que deu à música tornou-se - diz Varnhagen - Aba pe ara pora "quase um segundo Orfeu."178 Oicó endêyabê. De música inundou-se a vida dos catecúmenos. Os culumins acor­ davam de manhã cedo cantando. Bendizendo os nomes de Jesus e da Que traduzida quer dizer o seguinte, diz Taunay: "Ó Virgem Ma­ Virgem Maria: "dizendo os de hu coro: Bendito & louvado seja o ria, mãe de Deus verdadeira, os homens deste mundo estão bem santíssimo nome de Iesu & respondendo os do outro, & o da bem convosco".182 aventurada Virgem Maria para sempre, Amen". E todos juntos em "Os jesuítas", escreve Couto de Magalhães, "não coligiram litera­ 179 grave latim de igreja: "Gloria Patri & Filio & Spiritui Sancto, Amen". tura dos aborígines, mas serviram-se de sua música e de suas danças Mas esses louvores a Jesus e à Virgem não se limitavam à expres­ religiosas para atraí-los ao cristianismo [...]. As toadas profundamente são portuguesa ou latina: transbordavam no tupi. Ao toque da ave- melancólicas dessas músicas e a dança foram adaptadas pelos jesuí­ maria quase toda a gente dizia em voz alta, fazendo o pelo-sinal: tas, com profundo conhecimento que tinham do coração humano, Santa Caruçá rangana recê; para então repetir cada um na sua língua para as festas do divino Espírito Santo, São Gonçalo, Santa Cruz, São a oração da tarde. E era em tupi que as pessoas se saudavam: Enecoê- João e Senhora da Conceição."183

180 ma-, que quer dizer bom-dia. Um outro traço simpático, nas primeiras relações dos jesuítas com A poesia e a música brasileiras surgiram desse conluio de culumins os culumins, para quem aprecie a obra missionária, não com olhos e padres. Quando mais tarde apareceu a modinha, foi guardando devotos de apologeta ou sectário da Companhia mas sob o ponto de ainda certa gravidade de latim de igreja, uma doçura piedosa e senti­ vista brasileiro da confraternização das raças: a igualdade em que pa­ mental de sacristia a açucarar-lhe o erotismo, um misticismo de colé­ rece terem eles educado, nos seus colégios dos séculos XVI e XVII, gio de padre a dissimular-lhe a lascívia já mais africana do que ame­ índios e filhos de portugueses, europeus e mestiços, caboclos arranca­ dos às tabas e meninos órfãos vindos de Lisboa. As crônicas não indi- cam nenhuma discriminação ou segregação inspirada por preconceito de cor ou de raça contra os índios; o regime que os padres adotaram parece ter sido o de fraternal mistura dos alunos. O colégio estabeleci­ do por Nóbrega na Bahia dá Varnhagen como freqüentado por filhos de colonos, meninos órfãos vindos de Lisboa e piás da terra.1"' Terá sido assim a vida nos colégios dos padres um processo de co-educação das duas raças - a conquistadora e a conquistada: um processo de reciprocidade cultural entre os filhos da terra e meninos do reino. Terão sido os pátios de tais colégios um ponto de encontro e de amalgamento de tradições indígenas com as européias; de inter­ câmbio de brinquedos; de formação de palavras, jogos e superstições mestiças. O bodoque de caçar passarinho, dos meninos índios, o pa­ pagaio de papel, dos portugueses, a bola de borracha, as danças etc, terão aí se encontrado, misturando-se. A carrapeta - forma brasileira de pião - deve ter resultado desse intercâmbio infantil. Também a gaita de canudo de mamão e talvez, certos brinquedos com quenga de coco e castanha de caju. F. pena que posteriormente, ou por deliberada orientação missio­ nária, ou sob a pressão irresistível das circunstâncias, os padres tives­ sem adotado o processo de rigorosa segregação dos indígenas em aldeias ou missões. Justificam-no os apologetas: a segregação teria visado unicamente subtrair os indígenas "à ação desmoralizadora dos relaxados cristãos."185 Mas a verdade é que, segregando os missio­ nários aos catecúmenos da vida social, o que sucedeu foi se artificia- lizarem estes em uma população à parte da colonial; estranha às suas necessidades, aos seus interesses e aspirações; paralisada em crianças grandes; homens e mulheres incapazes de vida autônoma e de desen­ volvimento normal, F. nem sempre conservaram-se os padres da S. J.. transformados em donos de homens, fiéis aos ideais dos primeiros missionários; muitos resvalaram para o mercantilismo em que os viria surpreender a violência do marquês de Pombal. Decorrido o período que Pires de Almeida considera heróico da atividade jesuítica no Brasil, várias missões só faltaram tornar-se ar­ mazéns de exportação, negociando com açúcar e com drogas, mas principalmente com mate, no Sul, e com cacau, no Norte. Isso em prejuízo da cultura moral e mesmo religiosa dos indígenas, reduzidos agora a puro instrumento do mercantilismo dos padres. O general O triângulo rural do nordeste: casa, engenho e capela. Desenho de M. Bandeira, 1937.

Arouche, nomeado em 1798 Diretor-Geral das Aldeias dos índios, no Brasil, acusaria os missionários — tanto os jesuítas como os franciscanos - "de promover o casamento de índios com pretas e pretos, batizando os filhos como servos".'~ Os padres teriam se deixado escorregar para as delícias do escravagismo ao mesmo tempo que para os praze­ res do comércio. Não fossem eles bons portugueses e talvez até bons semitas. cuja tradicional tendência para a mercancia não se modifica­ ra sob a roupeta de jesuíta nem com os votos de pobreza seráfica. Acresce que. fugindo não só à sedentariedade da segregação como às violências civilizadoras. praticadas nas próprias aldeias de missio­ nários.'*7 muitos dos indígenas cristianizados deram para ganhar o mato. "sem se lembrarem", diz Arouche, "das mulheres e filhos que deixaram l...].""* Situação que mais se aguçou quando, desmontada a possante máquina de civilização dos jesuítas, os índios se encontra­ ram, por um lado presos, pela moral que lhes fora imposta, à obriga­ ção de sustentar mulher e filhos, por outro lado em condições econô­ micas de não se poderem manter nem a si próprios. Ao contrário: pretendeu-se sistematizar de tal modo a exploração do trabalhador indígena em benefício dos brancos e da Igreja, que de um salário de 100 réis por dia apenas recebia o índio aldeado para se sustentar a si, mulher e filhos a miserável quantia de 33 réis.1"1' Ocorreu então a dissolução de muita família cristã de caboclo pela falta de base ou apoio econômico: aumentando dentro de tais circunstâncias a morta­ lidade infantil (dada a miséria a que ficaram reduzidos numerosos lares cristãos, artificialmente organizados) e diminuindo a natalidade, não só pela "falta de propagação", como pelos abortos praticados, na ausência de maridos e pais. por mulheres já eivadas de escrúpulos cristãos de adultério e de virgindade.1"' Por onde se vê que o sistema jesuítico de catequese e civilização impondo uma nova moral de fa­ mília aos indígenas sem antes lançar uma permanente base econômica, fez trabalho artificial, incapaz de sobreviver ao ambiente de estufa das missões; e concorreu poderosamente para a degradação da raça que pretendeu salvar. Para o despovoamento do Brasil de sua gente autóctone.

Esse despovoamento. os processos de simples captura dos indíge­ nas, e não já de segregação e de trabalho, forçado ou excessivo, nas fazendas e nas missões, precipitaram de maneira infernal. Eram proces- sos que se faziam acompanhar de grande desperdício de gente: talvez ção do índio, nada sabiam nem podiam fazer, senão por ele e com maior que na captura e transporte de africanos. Quando as expedições ele".199 Isto no segundo século de colonização. Fora a mesma coisa no de captura eram bem-sucedidas, informa João Lúcio de Azevedo, refe­ primeiro. O senhor de engenho, parasita do índio. O funcionário reinol, rindo-se às realizadas no Amazonas para suprir de escravos, ou "admi­ parasita do senhor de engenho. Os dois desadorados na "conjugação nistrados", as fazendas do Maranhão e do Pará, que "chegava somente do verbo mpio", de que falaria o pregador no seu célebre sermão na a metade: imagine-se o que seria nas outras."191 E recorda o historiador Misericórdia. estas palavras de Vieira: "Por mais que sejam os escravos que se fazem, Tudo se processou através do escravo ou do "administrado" cujo mais são sempre os que morrem". "Para isso concorria", explica João braço possante era "a só riqueza, o único objeto a que tendiam as Lúcio, "o trabalho das fazendas, sobretudo a cultura de cana-de-açúcar ambições dos colonizadores."200 Até que essa riqueza se foi corrom­ e de tabaco, tarefa em demasia pesada aos índios mal habituados à pendo sob os efeitos disgênicos do novo regime de vida. O trabalho continuidade dos serviços penosos. Além das doenças que estas raças sedentário e contínuo, as doenças adquiridas ao contato dos brancos, inferiores sempre adquirem ao contato dos brancos, os maus-tratos que ou pela adoção, forçada ou espontânea, dos seus costumes a sífilis, a recebiam eram outras tantas causas de moléstia e morte, não obstando bexiga, a disenteria, os catarros foram dando cabo dos índios: do seu a isso as leis repressivas repetidamente promulgadas. Dos tormentos a sangue, da sua vitalidade, da sua energia. que os sujeitavam basta lembrar que era corrente marcarem-se os cati­ De São Paulo refere um documento de 1585: "Vay esta terra em vos com ferro em brasa, para os distinguir dos forros, e também para tanta diminuição, que já não se acha mantimento a comprar, cousa serem reconhecidos pelos donos."192 que nunca ouve até agora, e isto tudo por causa se os moradores não Causa de muito despovoamento193 foram ainda as guerras de re­ terem escraveria com que plantar e beneficiar suas fazendas". É que pressão ou de castigo levadas a efeito pelos portugueses contra os "pelos anos de 1580, terrível epidemia disentérica matara milhares de índios, com evidente superioridade técnica. Superioridade que os triun- índios cativos [...] mais de duas mil peças de escravos [...]."2M fadores não raras vezes ostentaram contra os vencidos, mandando As doenças novas, foram-nas os índios atribuindo, e não sem amarrá-los à boca de peças de artilharia que, disparando, "semeavam a certa razão, aos jesuítas. Em certos lugares, à aproximação dos pa­ grandes distâncias os membros dilacerados";194 ou infligindo-lhes su­ dres, queimavam pimenta e sal para esconjurá-los.202 Tudo inútil, po­ plícios adaptados dos clássicos às condições agrestes da América. Um rém. O sistema escravocrata por um lado, e o missionário por outro, desses o de Tulo Hostüio, de prender-se o paciente a dois fogosos continuariam a sua obra de devastação da raça nativa, embora mais cavalos, logo soltos em rumos opostos. Esse horrível suplício foi subs­ lenta e menos cruel do que na América espanhola ou na inglesa. E tituído no extremo-norte do Brasil pelo de amarrar-se o índio a duas com aspectos criadores que se opõem aos destruidores. canoas, correndo estas, à força de remos, em direções contrárias até A tendência, a quase diferenciação biológica do português em partir-se em dois o corpo do supliciado.195 No Maranhão e no Pará196 as escravocrata - diferenciação que Keller comparou à de certas formigas crueldades contra os indígenas não foram menores do que as exercidas estudadas por Darwin203 - achou no índio da América presa facílima. O no Sul pelos paulistas: estes chegavam a incumbir-se de "guerras con­ número de índios possuídos pelo colono, quer sob o nome de "peças", tra os índios" como de uma especialização macabra.197 O resgate, ou quer sob a dissimulação de "administrados", tornou-se o índice do po­ fosse a venda de índios, capturados e trazidos dos sertões às fazendas der ou da importância social de cada um; tornou-se o capital de insta­ em condições tais que só chegava a metade ou a terça parte, praticava-o lação do colono na terra (sendo o valor desta secundário). Ao mesmo o próprio governo em beneficio da construção de igrejas.198 tempo cada "peça" em si era como se fosse gênero ou moeda; pagan- Dos efeitos da escravidão do índio no Maranhão informa João do-se dívidas e adquirindo-se mantimentos com escravos ou "resga­ Lúcio de Azevedo: "Absolutamente entregues [os colonos] à explora­ te".204 Moedas cor de cobre depois substituídas pelas "peças de Guiné"; na realidade moedas de carne, todas elas, que por facilmente se cor­ selvagem livre de antes da colonização portuguesa; mas esta ainda romperem ou puírem no gasto constituíam um capital incerto e instá­ não o arrancara pela raiz do seu meio físico e do seu ambiente moral; vel. De modo que a política econômica era natural que fosse a de dos seus interesses primários, elementares, hedônicos; aqueles sem sofreguidão por escravos, por índios, por homens que se pudessem os quais a vida se esvaziaria para eles de todos os gostos estimulantes trocar como moedas; que se renovassem à proporção que a velhice, a e bons: a caça, a pesca, a guerra, o contato místico e como que espor­ doença e a invalidez exercessem sua ação devastadora sobre carne tão tivo com as águas, a mata, os animais. Esse desenraizamento viria fraca, fazendo as vezes dos mais fortes metais. "A gente que de vinte com a colonização agrária, isto é, a latifundiária: com a monocultura, annos a esta parte [15831 é gastada nesta Bahia", informa um jesuíta representada principalmente pelo açúcar. O açúcar matou o índio. citado por Taunay,205 "parece cousa que se não pode crer, porque nun­ Para livrar o indígena da tirania do engenho é que o missionário o ca ninguém cuidou que tanta gente se gastasse nunca, quanto mais em segregou em aldeias. Outro processo, embora menos violento e mais tão pouco tempo." Gasta em trabalho; em abusos; em serviço de trans­ sutil, de extermínio da raça indígena no Brasil: a sua preservação em porte; gasta em passar como coisa ou besta das mãos de um a outro salmoura, mas não já a sua vida própria e autônoma. senhor. Referindo-se já à fase de transição do escravo da terra para o da Às exigências do novo regime de trabalho, o agrário, o índio não Guiné (que, veremos mais adiante, foi quem acabou suportando quase correspondeu, envolvendo-se em uma tristeza de introvertido. Foi sozinho, sem ajuda do índio, à dureza do trabalho agrícola e das minas) preciso substituí-lo pela energia moça, tesa, vigorosa do negro, este escreveu o padre Cardim que os senhores de engenho viviam um verdadeiro contraste com o selvagem americano pela sua 206 endividados pelo fato de lhes morrerem "muitos escravos". O traba­ extroversão e vivacidade. Não que o português aqui tivesse deparado lho agrícola mais devastador era, talvez, o da lavoura da cana. em 1500 com uma raça de gente fraca e mole, incapaz de maior Que os escravos índios, como depois os africanos, foram, no Bra­ esforço que o de caçar passarinho com arco e flecha e atravessar a sil dos primeiros tempos, o capital de instalação dos brancos, muitas nado lagoas e rios fundos: os depoimentos dos primeiros cronistas vezes chegados aqui sem recurso nenhum, mesmo modesto, indicam- são todos em sentido contrário. Léry salienta nos indígenas seu gran­ no as palavras de Gandavo: "si uma pessoa chega na terra e alcança de vigor físico abatendo a machado árvores enormes e transportando-as dois delles (ainda que outra cousa não tenha de seu) logo tem remédio, aos navios franceses sobre o dorso nu.209 Gabriel Soares descreve-os para poder honradamente sustentar sua família: porque um lhe pesca, como indivíduos "bem feitos e bem dispostos";210 Cardim destaca-lhes outro lhe .caça, os outros lhe cultivam e granjeiam suas roças, e desta a ligeireza e a resistência nas longas caminhadas a pé;211 e o portu­ maneira não fazem os homens despesa em mantimentos, nem com guês que primeiro os surpreendeu, ingênuos e nus, nas praias desco­ elles, nem com suas pessoas".207 E o padre Nóbrega informa ainda bertas por Pedrálvares, fala com entusiasmo da robustez, da saúde e da mais claro: "Os homens que aqui vem, não acham outro modo de beleza desses "como aves ou alimareas montezes": "por que hos cor­ viver sinão do trabalho dos escravos que pescão e vão buscar-lhes os pos seus sam tam limpos, e tam gordos, e tam fremosos, que nem alimentos, e tanto os domina a preguiça e são dados ás cousas sensuaes pode mais ser [...]". Robustez e saúde que não esquece de associar ao e vicios diversos que nem curão de estar excommungados possuindo sistema de vida e de alimentação seguido pelos selvagens: ao "ar" - os ditos escravos".208 isto é, ao ar livre - "a que se criam"; e ao "inhame, que aquy haa Enquanto o esforço exigido pelo colono do escravo índio foi o de muyto [...]. Elles nom lauram, nem criam, nem haa aquy boy, nem abater árvores, transportar os toros aos navios, granjear mantimentos, vaca, nem cabra, nem ovelha, nem galinha, nem outra nenhuma caçar, pescar, defender os senhores contra os selvagens inimigos e alimarea, que costumada seja aho viver dos homeens; nem comem corsários estrangeiros, guiar os exploradores através do mato virgem senom dese inhame, que aquy haa muyto, e desa semente, e fruitos - o indígena foi dando conta do trabalho servil. Já não era o mesmo que ha terra, e has arvores de sy lançam: e com isto andam taaes, e tam rijos, e tam nedeos, que ho nom somonós tanto com quanto desintegrando-se sob o jugo ou à pressão das adiantadas. E o que mata trigo, e legumes comemos."212 esses povos primitivos é perderem quase a vontade de viver, "o inte­ Se índios de tão boa aparência de saúde fracassaram, uma vez resse pelos seus próprios valores",213 diz Goldenweiser, uma vez altera­ incorporados ao sistema econômico do colonizador é que foi para do o seu ambiente; quebrado o equilíbrio de sua vida pelo civilizado. eles demasiado brusca a passagem do nomadismo à sedentariedade-, Dos primitivos da Melanésia já escrevera W. H. R. Rivers que estavam da atividade esporádica à contínua; é que neles se alterou desastrosa­ "dying from lack of interest".214 Morrendo de desinteresse pela vida. mente o metabolismo ao novo ritmo de vida econômica e de esforço Morrendo de banzo. Ou chegando mesmo a se matar, como aqueles físico. Nem o tal inhame nem os tais frutos da terra bastariam agora à índios que Gabriel Soares observou irem definhando e inchando: o alimentação do selvagem submetido ao trabalho escravo nas planta­ diabo lhes aparecia e mandava que comessem terra até morrerem. ções de cana. O resultado foi evidenciar-se o índio no labor agrícola Ainda assim o Brasil é dos países americanos onde mais se tem o trabalhador banzeiro e moleirão que teve de ser substituído pelo salvo da cultura e dos valores nativos. O imperialismo português - o negro. Este, vindo de um estádio de cultura superior ao do america­ religioso dos padres, o econômico dos colonos - se desde o primeiro no, corresponderia melhor às necessidades brasileiras de intenso e contato com a cultura indígena feriu-a de morte, não foi para abatê-la contínuo esforço físico. Esforço agrícola, sedentário. Mas era outro de repente, com a mesma fúria dos ingleses na América do Norte. homem. Homem agrícola. Outro, seu regime de alimentação, que, Deu-lhe tempo de perpetuar-se em várias sobrevivências úteis. aliás, pouca alteração sofreria no Brasil, transplantadas para cá muitas Sem que no Brasil se verifique perfeita intercomunicação entre das plantas alimentares da África: o feijão, a banana, o quiabo; e seus extremos de cultura - ainda antagônicos e por vezes até explosi­ transportados das ilhas portuguesas do Atlântico para a colônia ame­ vos, chocando-se em conflitos intensamente dramáticos como o de ricana o boi, o carneiro, a cabra, a cana-de-açúcar. Canudos - ainda assim podemos nos felicitar de um ajustamento de Do indígena se salvaria a parte por assim dizer feminina de sua tradições e de tendências raro entre povos formados nas mesmas cultura. Esta, aliás, quase que era só feminina na sua organização circunstâncias imperialistas de colonização moderna dos trópicos. técnica, mais complexa, o homem limitando-se a caçar, a pescar, a A verdade é que no Brasil, ao contrário do que se observa em remar e a fazer a guerra. Atividades de valor, mas de valor secundário outros países da América e da África de recente colonização européia, para a nova organização econômica - a agrária estabelecida pelos a cultura primitiva - tanto a ameríndia como a africana - não se vem portugueses em terras da América. O sistema português do que preci­ isolando em bolões duros, secos, indigestos, inassimiláveis; ao siste­ sava, fundamentalmente, era do trabalhador de enxada para as plan­ ma social do europeu. Muito menos estratificando-se em arcaísmos e tações de cana. Trabalhador fixo, sólido, pé-de-boi. curiosidades etnográficas. Faz-se sentir na presença viva, útil, ativa, e Entre culturas de interesses e tendências tão antagônicos era na­ não apenas pitoresca, de elementos com atuação criadora no desen­ tural que o contato se verificasse com desvantagem para ambas. Ape­ volvimento nacional. Nem as relações sociais entre as duas raças, a nas um conjunto especialíssimo de circunstâncias impediu, no caso conquistadora e a indígena, aguçaram-se nunca na antipatia ou no do Brasil, que europeus e indígenas se extremassem em inimigos de ódio cujo ranger, de tão adstringente, chega-nos aos ouvidos de todos morte, antes se aproximassem como marido e mulher, como mestre e os países de colonização anglo-saxônica e protestante. Suavizou-as discípulo, daí resultando uma degradação de cultura por processos aqui o óleo lúbrico da profunda miscigenação, quer a livre e danada, mais sutis e em ritmo mais lento do que em outras partes do continente. quer a regular e cristã sob a bênção dos padres e pelo incitamento da Goldenweiser aponta para o destino dos mongóis submetidos pe­ Igreja e do Estado. los russos; dos ameríndios, dos nativos da Austrália, da Melanésia, da Nossas instituições sociais tanto quanto nossa cultura material Polinésia e da África, sempre o mesmo drama: as culturas atrasadas deixaram-se alagar de influência ameríndia, como mais tarde da afri- cana, da qual se contaminaria o próprio direito: não diretamente, é certo, mas sutil e indiretamente. Nossa "benignidade jurídica" já a interpretou Clóvis Beviláqua como reflexo da influência africana.215 Certa suavidade brasileira na punição do crime de furto talvez reflita particular contemporizaçâo do europeu com o ameríndio, quase in­ Notas ao Capítulo II sensível à noção desse crime em virtude do regime comunista ou meio comunista de sua vida e economia.216 Vários são os complexos característicos da moderna cultura brasi­ 1. Ruediger Bilden, "Race relations in Latin America with special reference to the development of leira, de origem pura ou nitidamente ameríndia: o da rede, o da man­ indigenous culture", ínstüute of Public Affairs, University of Virgínia, 1931. Sobre o assunto - dioca, o do banho de rio, o do caju, o do "bicho", o da "coivara", o da condições de contato entre raças e culturas diferentes em geral ou na América em particular - "igara", o do "moquém", o da tartaruga, o do bodoque, o do óleo de vejam-se também: Francisco Maldonado Guevara, Elprimer contado de blancosy gentes de coco-bravo, o da "casa do caboclo", o do milho, o de descansar ou color en América, Valladolid, 1924; William C. Mac Lead, The american Indian frontier, Nova defecar de cócoras, o do cabaço para cuia de farinha, gamela, coco de Iorque-Londres, 1928; Earl Edward Muntz.tee contact, Nova Iorque-Londres, 1928; Earl Edward beber água etc. Outros, de origem principalmente indígena: o do pé Muntz, Race contact, Nova Iorque, 1927; Nathanael S. Shaler, The neighbor: the natural history

217 ofhuman contacts, Boston, 1904; MelvilleJ. tizrskovi\s,Acculturation, Nova Iorque, 1938; Artur descalço, o da "muqueca", o da cor encarnada, o da pimenta etc. Ramos, Introdução à antropologia brasileira, Rio de Janeiro, 1943, especialmente o capítulo Isto sem falarmos no tabaco e na bola de borracha, de uso universal, dedicado ao indígena. e de origem ameríndia, provavelmente brasílica. No costume, ainda muito brasileiro, muito do interior e dos ser­ 2. Ruediger Bilden, loc. cit. tões, de não aparecerem as mulheres e os meninos aos estranhos, 3. Ruediger Bilden, loc. cit. nota-se também influência da cultura ameríndia; da crença, salientada por Karsten,218 de serem as mulheres e os meninos mais expostos que 4. Alfredo de Carvalho, "0 zoobiblion de Zacharias Wagener", Revista do Inst. Arq. Hist. Geog. de os homens aos espíritos malignos. Entre caboclos do Amazonas, Gastão Pernambuco, tomo XI, 1904.

Cruls observou o fato de as mulheres e crianças serem sempre postas 5. Paulo Prado, op. cit. "ao abrigo do olhar estrangeiro".219 6. Capistrano de Abreu, Capítulos de história colonial, Rio de Janeiro, 1928.

7. Manuel Bonfim, 0 Brasil na América, cit.

8. Robert Southey, History of Brazil, Londres, 1810-1819.

9- Miúda, considerada nos seus recursos econômicos; foi o elemento que deu a São Paulo, como verificou Alfredo Ellis Júnior, as grandes figuras do bandeirismo (Ellis, op. cit.).

10. Carta a Laynes, apud Paulo Prado, Retrato do Brasil, cit.

11. Gabriel Soares de Sousa, Tratado descritivo do Brasil em 1587, ed. de E. A. Varnhagen, Revista do Inst. Hist. Geog. Bros., tomo XIV, p. 342. 12. "Les Indiens, qui excellent dans la navigation des fleuves, redoutent lapleine mer et la vie des champs leur estfatalepar le contraste de la discipline avec la vie nômade des forêts" (Sigaud, op. cit.). Em prefácio à edição brasileira do trabalho do professor Alexandre Marchant, publicado entre of American Indian Ethnology, Washington, 1911; The American Indian, por Clark Wissler, nós com o título Do escambo à escravidão (São Paulo), diz o tradutor dessa valiosa obra, o Sr. Nova Iorque, 1922; The civilísatíon of the South American Indian, with special reference to Carlos Lacerda, que "nenhum dos nossos historiadores tivera até agora oportunidade de estudar, magic and religion, por R. Karsten, Nova Iorque, 1926; La civilisation matérielle des tribus destacando-o do conjunto dos problemas da história colonial, o caso específico das relações entre tupi-guarani, Gotemburgo, 1928 e La religion des tupinambá, por A. Métraux, Leroux, 1928; os índios e os colonos portugueses, vale dizer, o papel do índio na formação econômica do Brasil Indianerleben: el gran chaco, por E. Nordenskiôld, Leipzig, 1912; "Kulturkreise und Kultur- colonial." Entretanto, o presente capítulo de um estudo, ou tentativa de estudo, da formação chichten in Sudamerika", por W. Schmidt (Zeitschriftfur Ethnobgie), Berlim, 1913; In den social do Brasil - que considerada sob o mais amplo critério de formação social, inclui a econô­ Wildnissen Brasiliens, por F. Krause, Leipzig, 1911; Unter den Naturvólkem Zentral-Brasiliens, mica, não se limitando porém a esse aspecto o desenvolvimento da sociedade que aqui se formou, por Karl von den Steinen, Berlim, 1894; Zweijahre unter den Indianem Nordwest Brasiliens, biologicamente pela miscigenação, economicamente pela técnica escravocrata de produção e so­ por T. Koch-Grünberg, Stuttgart, 1921; Rondônia, por E. Roquette-Pinto, Rio de Janeiro, 1917; ciologicamente pela interpenetração de culturas - talvez possa ser considerado um pequeno esfor­ Indians of South America, por Paul Radin, Nova Iorque, 1942; "The dual organization of the ço no sentido da caracterização do papel do índio no desenvolvimento brasileiro. Críticos menos Canella of Northern Brazil", por Curt Nimuendajú e Robert H. Lowie, American Anthropologist, vol. rigorosos que o Sr. Carlos Lacerda assim o consideraram, entre outros mestres especializados no 39; El nuevo indio, por J. Uriel Garcia, Cuzco, 1937; Hiléia amazônica, por Gastão Cruls, Rio de assunto como os Srs. A. Métraux, Roquette-Pinto, Carlos Estêvão (por algum tempo diretor do Janeiro, 1944.

Museu Goeldi) e Gastão Cruls e a Sra. Heloísa Alberto Torres. Jorge R. Zamudio Silva, "Para una caracterización de la sociedad dei rio de la Plata (siglos XVI Entre os adultos sobre as relações de portugueses e outros europeus com populações e culturas a XVIII) - La contribución indígena", Revista de la Universidad de Buenos Aires, ano II, na 4, ameríndias, particularmente com as da área ou áreas hoje ocupadas pelo Brasil, e sobre a situa­ outubro-dezembro 1944, p. 259-298, sugestivo estudo seguido por dois outros; sobre "La ção do ameríndio nas novas combinações de sociedade e de cultura, inclusive de organização contribución europea" (ano III, na 1, janeiro-março de 1945, p. 63-102) e sobre "La contribución econômica, formadas no continente americano, destacam-se pelo seu interesse sociológico histó­ africana" (ano III, n2 2, abril-junho de 1945, p. 293-314) da mesma revista. No primeiro desses rico social, os seguintes: Francisco Maldonado Guevara, Elprimer contado de blancosy gentes estudos chega o pesquisador argentino à conclusão de que "ni la historia social argentina, ni la de color en América, Valladolid, 1924; W. C. Mac Lead, The American índian Fontier, Nova de sus ideas, pueden prescindir dei aborigem considerado como integrante de nuestra Iorque-Londres, 1928; Herbert I. Priestley, The coming of the white man, 1492-1848, Nova evolución" (p. 298), citando a esse respeito, entre outros, Ricardo Levene, Introducción a la Iorque, 1929;Jerônimo Becker, La política espanola en Ias índias, Madri, 1920; Paul S. Taylor, historia dei derecho indiano, Buenos Aires, 1924; Emílio Ravignani, El verreynato dei plata An american-mexican frontier, Chapei Hill, 1934; Robert Redfield, Topoltzlan, Chicago, 1930; (1776-1810), em Historia de la nación argentina, Buenos Aires, 1940, vol. IV; Sílvio Zavala, E. Nováeí\$\áò\á,Modifícationsin Indian culture through inventions andloans, Gotemburgo, Las instituciones jurídicas en la conquista de América, Madri, 1935. Em seus estudos sobre a 1930; P. A. Means, Democracyand civilization, Boston, 1918; Paulo Hernandez, Organización formação da sociedade argentina - nos quais tantas vezes se refere a este trabalho brasileiro - social de Ias doctrinas guaranies de la Compania de Jesus, Barcelona, 1913; Guillermo Nuflez chega o professor Zamudio Silva à mesma conclusão que nós, no presente ensaio, isto é, admite Vásquez, "La conquista de los indios americanos por los primeros misioneros",BzMoto Hispana que no caso do africano "las condiciones de asimilación fueron más positivas que las dei Missionum, Barcelona, 1930. indio" ("La contribución africana", p. 314). A respeito cita, entre outros, os seguintes trabalhos Sobre o assunto, não devem ser esquecidas pelo estudioso brasileiro as obras clássicas: Gonzalo referentes ao negro africano e à escravidão no rio da Prata: Diego Luís Molinari, Introducción, Fernández de Oviedo y Valdés, Lar hystoria general de Ias índias, Madri, 1851-1855; Bartolomé tomo VII, Documentos para la historia argentina, comercio de índias, consulado, comercio de Las Casas, Apologética historia de Ias índias, Madri, edição de 1909; Juan Solorzano Pereira, de negrosy de extranjeros (1791-1809), Buenos Aires, 1916; José Torre Revello, "sociedad colo­ Política indiana, Madri, 1647; Gabriel Soares de Sousa, "Tratado descritivo do Brasil", Rev. Inst. nial, las clases sociales: la ciudad y la campana", em Historia de la nación argentina, Buenos Hist. Geogr. Br, Rio de Janeiro, XIV. Aires, 1939, vol. VI; Ildefonso Pereda Valdés, Negros esclavosy negros libres, Montevidéu, 1941; Sobre os indígenas do Brasil e da América, em geral, considerados sob critério etnológico e ao Bernardo Kordon, Candombe, contribución al estúdio de la raza negra enel rio dela Plata, mesmo tempo sociológico, vejam-se as notas bibliográficas em America indígena, por Louis Buenos Aires, 1938. São estudos que podem ser lidos ou consultados com proveito pelo estudioso Pericoty Garcia, ("El hombre americano - Los pueblos de América" Barcelona, 1936) tomo I, da história da sociedade patriarcal, no Brasil, interessado em compará-la com a de outras socie­ p. 692-727 e emfíandbook oflatin american studies, Cambridge, Estados Unidos, 1936; e dades americanas que foram também patriarcais ou semipatriarcais em sua estrutura e, como a as seguintes obras básicas: Handbook of american indian language, por F. Boas, 40th Bulletin nossa, basearam-se no maior ou menor contato do europeu com o índio e o africano. 13- ]jeia-$e o seu O Brasil m América, át como autoridade máxima no assunto, o trabalho do professor M. J. Herskovits: "The significance of West África for negro reseat", The Journal of Negro History, vol. XXI, 1936, p. 15esegs. 14. C. F. Phil von Martius, Beitràge zur Ethnographie undSprachenkunde Amerika's zumal Esquece o professor Artur Ramos que seguimos naquela primeira edição deste ensaio, publicada Brasiliens, Leipzig, 1867. em 1933 - bem como na 2a e na 3A, publicadas à nossa revelia - o esboço de áreas de cultura que 15. Karl von den Steinen, Unter den Naturvõlkem Zentral-Brasiliens, Berlim, 1894. Este livro já se aquele mestre norte-americano em assuntos de africanologia - meu e talvez também do professor encontra em tradução portuguesa, mas é tido como obra rara nessa língua. Ramos que é, entretanto, ele próprio, já mestre reconhecido e laureado na matéria - publicara

s 16. Paul Ehrenreich, Beitràge zur Vòlkerkunde Brasiliens, Berlim, 1891. como "consideração preliminar" em 1924 (American Anthropologist, n 1, vol. XXVI, janeiro- março, de 1924) e ao qual acrescentou depois subáreas: as que vêm marcadas III-A e IV-A no seu 17. Thomas Whiffen, The north-westamazon, Londres, 1951. mapa de áreas de cultura, tanto quanto possível definitivo - há também do professor Herskovits 18. E. Roquette-Pinto, Rondônia, 1917. um estudo, "The culture áreas of África", aparecido em 1930 em África, 3, p. 59-77 - publicado no ensaio "The social history of the negro", capítulo 7, p. 207-267, de A handbook of social 19. Teodor Koch-Grunberg, Tjjoeijahre unter den Indianem, Stuttgart, 1908-1910. psychology, organizado por Carl Murchison, Worcester, Massachusetts, 1935. 20. Max Schmidt, Indianerstudien in Zentralbrasilien, Berlim, 1905. Deste livro há igualmente A caracterização da área do Sudão Ocidental como "região de grandes monarquias ou reinos - tradução portuguesa, também rara. Daomé, Benim, Ashanti, Haúça, Bomu, loruba" - que o professor Ramos critica como "inexata" 21. Fritz Krause, ln den Wildnissen Brasiliens, Leipzig, 1911- não é nossa, mas do professor Herskovits. Divergência entre mestres. A caracterização do professor Herskovits criticada pelo professor Ramos e por ele considerada "inexata" é, porém, de 1924. Como se 22. Erland Nordenskiõld, Indianerleben: elgran chaco, Leipzig, 1912. sabe, não nos foi possível fazer a revisão da primeira edição de Casa-grande & senzala; e a segunda 23. LeoFrobenius, UrsprungderAfrikanischenKulturen, apudMelvilleJ. Herskovits, "Apreliminary e terceira foram edições feitas à nossa revelia. Daí termos continuado na 2a edição a citar do professor consideration of the culture áreas of África", American Anthropologist, vol. XXVI, 1924. Sobre a Herskovits seu trabalho de 1924 em vez do de 1935, que o superou, ou mesmo o de 1930. correlação de traços de cultura entre várias culturas primitivas veja-se o trabalho de L. T. Hobhouse, Nossos agradecimentos, de qualquer maneira, ao professor Artur Ramos por ter chamado nossa G.C. Wheeler e M. Ginsberg, The material culture and social institucions ofthe simplerpeoples, atenção para o fato de vir citado em trabalho nosso um estudo do professor Herskovits publicado Londres, 1915. em 1924 quando há trabalho definitivo do mesmo autor aparecido em 1935. Este, porém - insis­ No mapa organizado por Herskovits a África vem dividida em áreas de cultura, segundo o con­ tamos neste esclarecimento - não poderia ter sido por nós citado em 1933; nem em 1936 e 1938, ceito americano de "área de cultura" definido por Alexander A. Goldenweiser em "Diífusionism em edições publicadas à revelia do Autor, embora para a de 1936 tivéssemos escrito algumas and the american school of historical ethnology", American Journal ofSociology, vol. XXXI, notas, confiando em um editor que não merecia nossa confiança. 1925, e por Clark Wissler em Man and culture, e, de acordo com a respectiva técnica, aplicada Seja dito de passagem que fomos nós que tivemos a honra de iniciar, cremos que em 1935, o por Wissler ao estudo das duas Américas. professor Ramos nos trabalhos do professor Herskovits, mestre na especialidade do professor Ra­ Em nota - nota 64, p. 70 - com que enriquece o texto do seu estudo AÍ culturas negras do mos mais do que na nossa. Cremos ter tido, igualmente, a honra de revelar ao público do Brasil novo mundo (Rio de Janeiro, 1937), o professor Artur Ramos, com a elegância de sempre nos dá interessado em assuntos de sociologia e antropologia o professor Herskovits através do seu mapa preciosa lição sobre questões de caracterização de áreas africanas, estranhando que em Casa- de áreas de cultura africana (esboçado em 1924 e dado como definitivo - tanto quanto possível - grande & senzala - tanto na 1» edição (Rio de Janeiro, 1933) como na 2A (Rio de Janeiro, 1936) em 1935) e por nós adaptado em 1933 aos propósitos do nosso primeiro estudo sistemático, ou - tenhamos deixado de mencionar "a subárea do Golfo da Guiné". Ensina-nos o douto antropó­ quase sistemático, da sociedade patriarcal brasileira. Um dos propósitos do nosso estudo era desta­ logo brasileiro que foi "a subárea ocidental do Golfo da Guiné que forneceu as culturas mais car a diversidade de graus e estilos de cultura nos elementos africanos importados para as senzalas características [o grifo é do professor Ramos] ao Novo Mundo, com o tráfico de escravos, como brasileiras, reforçando com informações colhidas em estudos recentes como o do professor Herskovits demonstraremos neste trabalho." Salienta ainda o fato de termos "inadvertidamente" incluído observações já feitas por Nina Rodrigues. "os reinos ou monarquias do Daomé, Ashanti, loruba" [...] "na área do Sudão ocidental, em O mapa do professor Herskovits sobre áreas de cultura africana que deve ser consultado pelos lugar de fazê-lo na subárea ocidental do Golfo da Guiné, seu habitai exato." E invoca a seu favor, leitores do nosso ensaio particularmente interessados em se aprofundarem no estudo do problema é, repitamos, o que vem no seu referido estudo The social history of the negro. Não sendo assunto apreciação lingüística isolada, mas pela força do critério sociológico" (Seixos rolados, Rio de da nossa especialidade, não nos julgamos no dever de desenvolvê-lo aos últimos e mais exatos Janeiro, 1926). pormenores em um ensaio que não é, de modo nenhum, de africanologia, mas o primeiro de 27. Roquette-Pinto, Seixos Rolados, cit. uma série, toda ela simples tentativa de introdução ao estudo sociológico da história da sociedade 28. Roquette-Pinto, Rondônia, cit. patriarcal no Brasil. Sociedade que teve no negro, importado de várias áreas africanas, um dos seus elementos sociologicamente mais importantes. Importante, do nosso ponto de vista, mais 29. Teodoro Sampaio, O tupi na geografia nacional, 3A ed., Bahia, 1928. como escravo do que como negro ou africano, embora sua importância como negro ou africano 30. Rafael Karsten, The civilization ofthe south american indians, Nova Iorque, 1926. Vej a-se tam­ seja enorme e suas áreas de origem mereçam a atenção e os estudos dos especialistas. bém Roquette-Pinto, Seixos rolados, cit. Entretanto, já que estamos à beira do assunto - "áreas de cultura africanas" - não nos furta­ remos à tentação de referir que as próprias classificações consideradas ou oferecidas como defini­ 31. Theodor Koch-Grünberg, Zweijahre unter den Indianern, cit.

tivas pelo professor Artur Ramos - em quem temos o prazer de mais uma vez reconhecer nossa 32. Karsten, op. cit. maior autoridade em assuntos de africanologia - parecem vir sendo superadas por estudos recen­ 33- "Informação dos casamentos dos índios do Brasil pelo padre José d'Anchieta", Revista do Inst. tes como o de Wilfrid D. Hambly, que no seu Source-book for african anthropohgy (publicado Hist. Geog. Bros., ml VIII, p. 105. em Chicago em 1937 mas, ao que parece, ainda desconhecido ou pouco conhecido entre nós) ocupa-se magistralmente do assunto na parte I, seção II, sob o título "The culture area concept". 34. "The notíon that the negro race ispeculiarly prone to sexual indulgence seems to be due jr Recordando que foi A. de Préville (1894) o primeiro antropólogo cultural a se ocupar do assunto, partly to the expansive temperament of the race, and the sexual character of many of their § destaca dos trabalhos posteriores os de Dowd (1907), R. Thurnwold (1929) e M. J. Herskovits festivais - a fact which indicates rather the contrary and demonstrates the need of artificial 5 (1929, 1930). E adverte-nos contra a tendência para o considerar-se o estudo de áreas de cultura excitement" (Emest Crawley, Studies of savages and sex, edited by Theodore Besterman, Lon- 239

principalmente enumeração de traços característicos: "mainly of enumerating the characteristic dres, 1929). Veja-se também sobre o assunto The mystic rose, ed. by Besterman, Nova Iorque, 5 traits" (p. 328). Para Hambly, o assunto deve ser considerado principalmente do ponto de vista 1927, pelo mesmo autor; E. A. Westermarck, The history ofhuman marriage, Londres, 1921; The | social e psicológico, como fazem Benedict em Pattems of culture e Mead em Sex and temperament origin and development of moral ideas, Londres, 1926. A idéia, entretanto, da fraca sexualidade * Q in threeprimitive societies. O que se deve procurar no estudo de uma área é fixar seu ethos, isto é, dos primitivos não é universal entre os antropólogos modernos: entre outros pensam diferente de | "the dynamic or drivingforce; the character, sentiment, and disposition ofa community, the Crawley, de Havelock Ellis e Westermarck, pelo menos com relação aos africanos, Leo Frobenius, t spiritwhichactuates moral codes, ideais, attitudes, magicandreligion. "Daí a necessidade de Und África Sprach, "Unter den Unstrâflichen Aethiopen", Charlottenburg, 1913, e Georg à novos estudos - compreensivos e não simplesmente descritivos - do assunto. Schweinfurth, Im Herzen von África, 3A ed., Leipzig, 1908. Veja-se H. Fehlinger, Sexual life of É claro que ao lado do estudo de A. de ?tévi\\e,Lessociétéafricaines, Paris, 1894, que Hambly, primitive people, Londres, 1921. considera obra de pioneiro, não devem ser esquecidos os trabalhos, já clássicos, sobre áreas de A esse respeito, é interessante salientar a deformação que vêm sofrendo no Brasil não só danças de cultura africanas, de L. Frobenius; Der UdrsprungderAfrikanischen Kulturen, Leipzig, 1844, e xangós africanos como o próprio samba. Deformação no sentido de maior licenciosidade. Sobre o Atlas africanus, Munique, 1922. Sobre as áreas de procedência dos escravos africanos das senza­ samba escreve em sua Descrição da festa de Bom Jesus de Pirapora (São Paulo. 1937, p. 33) o Sr. las brasileiras, deve ser consultado "On the proveniente of new world negrões", de M. J. Herskovits Mário Wagner Vieira da Cunha: "O samba dos negros foi visto pelos brancos como coisa altamente (Soe. Forces, 1933, P- 247-262). imoral: reboleio de quadris, esfregar de corpos, seios balanceantes, gestos desenvoltos... Os brancos compreenderam, então, a festa como uma oportunidade de praticar gestos livres. Daí, ao introduzi­ 24. Whiffen, op. cit. O autor menciona outros traços além dos que aqui destacamos como mais carac­ rem novos aspectos à festa, é a licenciosidade que tende a ressaltar deles. Por seu rumo os pretos, e terísticos e importantes. melhor, as pretas, passam a exagerar, no samba e em toda parte, as atitudes que foram mais notadas" 25. Wissler, The American Indian, Nova Iorque, 1922. [pelos brancos]. Sobre o assunto veja-se também o estudo de Mário de Andrade, "O samba rural

26. Como diz Roquette-Pinto, "podemos, de modo geral, separar todas as nossas tribos em dois gru­ paulista" (Reiista do Arquivo Municipal de São Paulo, 1937, vol. 41, p. 37-116), que se segue ao pos, quanto ao seu estado de cultura [...]. É a primitiva divisão que ressurge, não mais pela trabalho citado. Salienta aí o ilustre mestre de pesquisa folclórica no Brasil, a propósito de dança afro-brasileira que viu dançar em 1931: "Nuncasenti maior sensação artística de sexualidade... Era [2 de agosto de 1591], "confesando dise que auerá seis annos pouco mais ou menos que se leuantou sensualidade? Deve ser isso que fez tantos viajantes e cronistas chamarem de 'indecentes' os sambas hu gentio no sertão cõ hua noua seita que chamauâo Santidade auendo hum que se chamaua dos negros... Mas se não tenho a menor intenção de negar haja danças sexuais e que muitas danças papa e hua gentia que se chamaua may de Deos e o sacristão, e tinha hu jdolo a que chamauão primitivas guardam um forte e visível contingente de sexualidade, não consigo ver neste samba rural Maria que era hua figura de pedra que ne demonstraua ser figura de home ne de molher ne de coisa que o caracterize mais como sexual" (p. 43). outro animal, ao qual jdolo adorauão e rezauão certas cousas per contas e pendurauão na casa que chamauão igreja huas tauoas com hus riscos que dizião que erão contas bentas e assim ao 35. Havelock Ellis, Studies in thepsychology ofsex, Filadélfia, 1908. seu modo contrafazião o culto deuino dos christãos"; "Gonçallo Fernandes christão velho 36. Adlez, citado por Crawley, Studies, cit.; W. I. Thomas, Sex andsociety, Chicago, 1907. mamaluco" [13 de janeiro de 1592], "confesando dixe que avera seis annos pouco mais ou me­ nos que no sertão desta capitania pera a banda de Jaguaripe se alevantou hua erronia e jdolatria 37. Paulo Prado, Retrato do Brasil, cit. gentilica á qual sustentavão e fazião os brasis delles pagãos e delles christãos e delles foros e delles 38. "Informação dos casamentos dos índios do Brasil pelo padre José d'Anchieta", Rev. Inst. Hist. escravos, que fugião a seus senhores pera a dita jdolatria e na companhia da dita abusão e jdolatria Geog. Bros., vol. VIII. Sobre a distinção que faz Anchieta entre as sobrinhas filhas de irmãos e as usávão de contrafazer as cerimonias da ygreja e fingiam trazer contas de rezar como que rezavão sobrinhas filhas de irmãs, escreve Rodolfo Garcia: "Àquelas respeitavam os índios, tratavam-nas e falavão certa lingoagem por elles inventada e defumavão se com fumos de erva que chamão de filhas, nessa conta as tinham e, assim, neque fomicari as conheciam, porque consideravam erva Sancta e bebiam o dito fumo até que cayam bêbados com elle dizendo que com aquelle fumo que o parentesco verdadeiro vinha pela parte dos pais, que eram os agentes, enquanto as mães não lhes entrava o espirito da sanctidade e tinhão hum jdolo de pedra a que faziam suas cerimonias e eram mais do que sacos em que se criavam as crianças; por isso das filhas das irmãs usavam sem adoravão dizendo que vinha já o seu Deus a livrallos do cautiveiro em que estavão e fazellos nenhum pejo ad copulam e faziam delas suas mulheres" {Diálogos das grandezas do Brasil, senhores da gente branca e que os brancos aviam de ficar seus captivos e que quem não creesse [...] com introdução de Capistrano de Abreu e notas de Rodolfo Garcia, nota 7, "Diálogo sexto", naquella sua abusão e jdolatria a que elles chamavão Santidade se avia de converter em pássaro e

p. 316). em bichos do matto e assim diziam e faziam na dita jdolatria outros muitos despropósitos" (Pri­ meira visitação do Santo Oficio às partes do Brasil pelo licenciado Heitor Furtado de Men• 39- Gabriel Soares, op. cit., p. 316. donça - Confissões da Bahia, São Paulo, 1925, p. 28 e 87). 40. Ploss-Bartels, Das Weib, Berlim, 1927. 44. Gastão Cruls,^ amazônia que eu vi, Rio de Janeiro, 1930. Veja-se do mesmo autor Hiléia Ama­ 41. E. A. Westermarck, The history ofhuman marriage, Londres, 1921. zônica, Rio de Janeiro, 1944, obra verdadeiramente notável. 42. Gabriel Soares, op. cit. John Baker, do Museu da Universidade de Oxford, salienta no seu trabalho 45. Samuel Uchoa, "Costumes amazônicos" Boletim Sanitário (Departamento Nacional de Saúde Sex in man and animais (Londres, 1926) que entre muitas sociedades primitivas não há pala­ Pública, Rio de Janeiro, ano 2, n« 4,1923). vra especial para pai ou mãe. Sob as palavras pai e mãe classificam-se, indistintamente, grande número de parentes. Para alguns etnólogos o fato indica ter havido fase na vida sexual das socie­ 46. Jules Crévaux, Voyages dans lAmérique du Sud, Paris, 1883. Para A. Osório de Almeida deve-se dades primitivas em que às mulheres de um grupo permitia-se livre intercurso com qualquer considerar o emprego do urucu entre os índios tropicais da América "não como simples adorno, homem do grupo oposto - dos dois grupos em que se divide cada sociedade. Semelhante processo mas como meio eficaz de proteção contra a luz e o calor tropicais" ("A ação protetora do urucu", de relações entre os sexos, com as crianças criadas comunariamente, teria constituído o casa­ separata do Boletim do Museu Nacional, Rio de Janeiro, vol. VII, ns 1,1931). Sinval Lins (citado mento entre grupos (group marriage). por Gastão Cruls, A Amazônia que eu vi, cit.) diz que ainda é costume no interior de Minas pintar de urucu a pele dos variolosos. 43. Nas denunciações ao Santo Ofício referentes ao Brasil, encontram-se numerosas referências às "santidades". Entre elas as seguintes que indicam ter tido essas manifestações, híbridas de reli­ 47. Pedro Fernandes Tomás, Canções populares da Beira, Lisboa, 1896. gião e magia, certo caráter (fálico). Domingos de Oliveira viu Fernão Pira "tirar de huma das 48. Luís Chaves, Páginas folclóricas, Lisboa, 1929. figuras de Nossa Senhora ou Christo, hum pedaço de barro, do qual fez uma figura de natureza de homem" (Primeira visitação do Santo Ofício às partes do Brasil - Denunciações da Bahia - 49. Leite de Vasconcelos, Ensaios etnográficos, cit.

1591-1593, São Paulo, 1925, p. 264; "Fernão Cabral de Taydechristão velho no tempo da graça" 50. Uma quadra popular citada por Leite de Vasconcelos (Ensaios, cit.) diz: Trazes vermelho no peito, tabas um só aldeamento, regido por uma espécie de meirinho nomeado pelo governador, com a Sinal de casamento. vara de ofício, que o enfunava de vaidade, com meios de se fazer obedecer, podendo pôr gente no Deita o vermelho fora. tronco; em extinguir a antropofagia, a poligamia e a bebedice de vinhos de frutas em que os Qu 'o casar inda tem tempo. índios eram insignes" (Apenso aos Tratados da terra e gente do Brasil, cit.) e Manuel Aires de Casal (op. cit., I, p. 129) resume o sistema civilizador dos jesuítas: "Em poucos lustros reduzirão 51. Fernando Ortiz, Hampa afrocubana - Los negros brujos, Madri, 1917. os jesuítas as varias hordas da nação a uma vida sedentária em grandes aldeias denominadas 52. Karsten, op. cit. Reduções, cujo numero pelos annos de 1630 subia a 20 com 70.000 habitantes [...]". Refere-se às célebres, dos Guarani, no Sul, cuja rotina pormenoriza: "Cada huma das Reduções, por outro 53. Von den Steinen, op. cit. nome Missões, era huma considerável, ou grande villa; e todas por hum mesmo risco com ruas 54. Koch-Grünberg, op. cit. . direitas e encruzadas em ângulos rectos; as cazas geralmente térreas, cubertas de telha, branque-

55. Karsten, op. cit. adas, e com varandas pelos lados para preservarem do calor e da chuva; de sorte que vendo-se huma, se forma idea verdadeira das outras... Hum vigário, e hum cura, ambos Jesuítas, erão os 56. "Degenerationprobably operates even moreactively in the lower than in thehigher culture", únicos ecclesiasticos, e suficientes para exercer todas as funções parochiaes; sendo ainda os inspe­ diz Edward B. Tylor, Primitive culture, 5A ed., Londres, 1929- Veja-se também sobre o assunto o tores em toda a economia civil, debaixo de cuj a direcção havia corregedores eleitos annualmente, trabalho de James Bryce, The relations of the advanced and backward races ofmankind, hum cacique vitalício, e outros officiaes, cada hum com sua inspecção e alçada. Áexcepção des­ Oxford, 1902. tes, todos os indivíduos d'hum e outro sexo uzavão d'huma camizola talar, ou quasi de algodão 57. Divergindo de Max Weber, que no seu estudo GesammelteAufsatzezur Religionsoziobgie, Berlim, branco... Tudo passava á vista dos corregedores, ou d'outros subalternos". Puro regime de inter- 1922, identifica o capitalismo moderno e, conseqüentemente, o imperialismo colonizador, com o nato de colégio de padre. Ou de orfanato. Tudo aparado por igual. Sedentariedade absoluta. Gran­ calvinismo e o puritanismo, R. H. Tawney salienta o fato de terem sido católicos, e não protestan­ de concentração de gente. Severa vigilância e fiscalização. A nudez dos caboclos tapada, em todos tes, os centros de finança e de espírito capitalista no século XV; Florença, Veneza, o sul da Alema­ os homens e mulheres, com feias camisolas de menino dormir. Uniformidade. As raparigas à nha, Flandres (Religion and the rise of capitalism, Londres, 1926). Aqui, entretanto, referimo- parte, segregadas dos homens. Enfim, o regime jesuítico que se apurou no Paraguai, e que em nos ao imperalismo religioso, predecessor do econômico: desse imperalismo os jesuítas foram os forma mais branda dominou no Brasil, por isso mesmo que admiravelmente eficiente, foi um campeões nos séculos XVI e XVII. Sobre a tese de Weber, vejam-se: W. R. Robertson, Aspects ofthe regime destruidor de quanto nos indígenas era alegria animal, frescura, espontaneidade, ânimo rise of capitalism, Cambridge, 1929 e Amintore Fanfani, Cattolicismo e protestantismo nella combativo, potencial de cultura; qualidades e potencial que não poderiam subsistir à total des­ formazione storica dei capitalismo, Milão, 1934. truição de hábitos de vida sexual, nômade e guerreira, arrancados de repente dos índios reunidos em grandes aldeias. 58. Gonçalves Dias no seu O Brasil e a Oceania (São Luís, 1869) salienta a ação dissolvente do sistema jesuítico: "Relaxavam", diz ele dos padres, "os laços de família, tomando os filhos e 61. Capistrano de Abreu, loc. cit.; Manuel Aires de Casal, op. cit.

mulheres denunciantes dos pais e maridos, tiravam-lhes a vontade e o amor à independência, e à 62. Manuel Aires de Casal, op. cit., I, p. 129. força de humilhações, de disciplinas, de castigos inf amantes impostos em praça pública, impostos 63. "As léguas", diz Afonso de E. Taunay, "fugiam os pajés dos detestados inacianos, que a seu turno até nos maiorais e por estes recebidos como atos meritórios, apagaram e consumiram um tal qual os abominavam, infelizmente, pois das informações dos pajés muito se poderia ter aproveitado" sentimento de dignidade própria, sem a qual nenhum esforço louvável se pode conseguir da nossa ("A fundação de São Paulo", vol. 3, tomo especial do P Congresso Internacional de História da espécie." América, .to. Inst. Hist. Geog. Bros., Rio de Janeiro, 1927). 59. George Henry Lane-Fox Pitt-Rivers, The clash of cultures and the contact of races, Londres, 64. Trata-se de Pascoal Barrufo da Bertioga. O caso é referido pelo padre Simão de Vasconcelos: "A 1927. tempo do jantar traçaram que servissem à mesa algumas índias moças, descompostas e nuas..." 60. Quem o destaca é um historiador extremamente simpático aos jesuítas, Capistrano de Abreu: "Os Era um jantar a que se achavam presentes jesuítas, que se escandalizaram. (Vida do veneravel jesuítas, observadores, inteligentes e práticos, tinham concentrado seus esforços em fazer de várias padre foseph de Anchieta da Companhia de lesu [...] Composto pello padre Simão de Vasconcellos [...], Lisboa, 1672, p. 92). Teodoro Sampaio registra o fato, acrescentando que "as 74. Léry, op. cit, II, p. 9- escravas índias, formosas na sua tez morena, davam lugar a amiudadas tempestades domésticas" 75. Léry, op. cit., p. 136. Parece-nos Jean de Léry um dos dois mais seguros cronistas que escreveram ("São Paulo no tempo de Anchieta", /// Centenário do Venerável Joseph de Anchieta, São Paulo, sobre o Brasil do século XVI. O outro é Gabriel Soares de Sousa, de quem diz com toda a razão 1900). Oliveira Lima: "O senhor de engenho baiano, tão minucioso nas suas descrições topográficas, 65. Diz Capistrano de Abreu (loc. cit.), referindo-se aos primeiros índios cristianizados, que "como os quão meticuloso nas etnográficas, pode considerar-se um dos guias mais seguros para o estudo da vestuários não chegavam para todos, andavam mulheres nuas." Baseia-se no padre Cardim. O rudimentar psicologia tupi. Não lhe toldavam o espírito exclusivas tendências de proselitismo, padre visitador do século XVI nos dá este flagrante das primeiras índias vestidas: "vão tão modes­ como aos padres da Companhia, Simão de Vasconcelos, por exemplo; nem ilusões de uma teolo­ tas, serenas, direitas e pasmadas, que parecem estátuas encostadas a seus pagens, e a cada passo gia romântica, como aos capuchinhos franceses do Maranhão, Claude D'Abbeville e Ives D'Evreux" lhes caem os pantufos, porque não têm de costume" (Tratados da terra egente do Brasil, cit.). (Aspectos da literatura colonial brasileira, Leipzig, 1895). De frei André Thévet nem é bom Por onde se sente o ridículo, com sua ponta de tristeza, que deve ser acompanhado a imposição de falar. Convém ler o seu livro - cheio de reparos interessantes - mas como se lê um romance ou vestuários aos indígenas de 1500. Anchieta informa dos índios sob a influência cristã dos primei­ novela. É o primeiro em francês sobre o Brasil: Les singularitez de la Prance antarctique, ros missionários: "Quando casam vão ás bodas vestidos e á tarde se vão passear somente com o autrement nommée Amérique [...] par F. André Thévet. E é Thévet, dos primeiros cronistas, gorro na cabeça sem outra roupa e lhes parece que vão assim mui galantes" (Informações e quem se ocupa com mais exatidão do caju: o livro traz uma gravura de índio trepado a um fragmentos históricos do padre Joseph de Anchieta, cit. p. 47). cajueiro tirando caju. Faz o elogio da castanha assada: "Quãt ou noyau qui est dedos, il est três bonà manger, pourueu qu 'il ait passe legerement par lefeu".0 professor A. Métraux serviu- 66. Entre outros cronistas registra essas doenças Simão de Vasconcelos:" Accendeu-se quasi de repente se largamente de Thévet para seu notável estudo sobre a religião dos Tupinambá, iniciando assim uma como peste terrível de tosse e catarro mortal sobre certas casas de indios baptisados [...]" a reabilitação do ingênuo e às vezes fantástico capuchinho francês, do qual há na verdade pági­ l (Crônica da Companhia de Jesus dos Estados do Brasil, 2 ed., Rio de Janeiro, 1864, p. 65). W. nas insubstituíveis no meio das novelescas, pelas informações e sugestões que oferecem. Essa D. Hambly atribui à intermitência no uso do vestuário pelo selvagem - que freqüentemente se reabilitação está sendo continuada pelo tradutor de Thévet ao português, Prof. Estevão Pinto. verificou no Brasil - a responsabilidade de muitas doenças dizimadoras dos primitivos quando O professor Manuel Soares Cardoso, da Universidade Católica de Washington, que estudou postos em contato com os civilizados (Origins ofeducation amongprimitivepeoples, Londres, demoradamente o caso Thévet, chegou sobre o assunto a conclusões que se caracterizam pelo 1926). Teodoro Sampaio generaliza sobre a higiene e saúde dos primeiros índios escravizados equilíbrio e objetividade. Escreve o professor Cardoso: "What may one say in conclusion? It is pelos colonos no Brasil: "Não eram sadios os escravos. A vida sedentária nas lavouras fazia-lhes plain, certainly, that Thévet is not a great figure in the historiography of , mal, morrendo grande número de pleurises, câmaras de sangue, afecções catarrais e do cobrelo, although he ranks high for the quality of his information on the aborigines and on natural que se tornara terrível e mui freqüente entre eles" ("São Paulo no fim do século XVI", Rev. Inst. history [...}it unll not do to exaggerate his importance, for it is true that if we place him in Hist. de São Paulo). the company of distinguishedforeigners who wrote on Brazil during colonial times, in whose 67. Westermack, The origin and development of moral ideas, cit. company he ofcourse belongs, he cannot measure up either as a chronicler oras a historian, to menlike Vespucci, Barlaeusand, later,Southey" ("Some remarksconcerning André Thévet", 68. Ives D'Evreux, cit. The Américas, na 1, vol. 1, julho, 1944). Colocando-se contra os que ultimamente vêm exageran­ 69. Jean de Léry, Histoire dun voyage raict en la ferre du Brésil (Nouvelle édition avec une do a importância de Thévet mas, ao mesmo tempo, reconhecendo valor na obra do franciscano, o introduction et des notes par Paul Gaffarel), Paris, 1880. professor Cardoso apresenta a questão nos seus justos termos.

70. Sigaud, op. cit. 76. Léry, op. cit, I, p. 139.

71. Robert H. Lowie,i4re we civilized?, Londres, s.d. 77. Léry, op. cit, I, p. 125.

72. Robert H. Lowie, op. cit. 78. Gabriel Soares, op. cit., p. 320.

73. William Graham Summer, Polkways, Boston, 1906. 79. Herbert S. Smith, op. cit. 80. Heloísa Alberto Torres, "Cerâmica de marajó" (conferência), Rio de Janeiro, 1929. Rio de Janeiro, 1876). Parece, entretanto, que a noção mais geral, ao tempo da descoberta, era a referida por Anchieta de ser o ventre da mulher um saco no qual o homem depositasse o embrião. 81. Thomas, op. cit. Noção mais adiantada que aquela. Von den Steinen (op. cit.), aprofundando-se no estudo da 82. Westermarck, The origin and development of moral ideas, cit. couvade, foi dar com a noção, entre os indígenas do Brasil Central, de ser o homem quem deita o 83. Wissler, Man and culture, cit. ovo ou os ovos no ventre da mulher, chocando-os durante o período da gravidez. 0 ovo é identifi­ cado com o pai; de tal modo, que a palavra ovo e a palavra^/ em Bakairi têm igual derivação. O 84. Theodore Faithful, Bisexuality, Londres, 1927. filho não e' considerado senão a miniatura. No ventre da mãe só faz desenvolver-se como a semen­ 85. Pensam cientistas modernos que certas formas de tuberculose e prisão de ventre, de tratamento te na terra. Daí supor o selvagem que os males que afetam o pai possam afetar, por efeito de magia psíquico, são meios de compensação, no homem introvertido, da impossibilidade de satisfazer-se simpática, ao filho recém-nascido. Daí resguardarem-se em geral os dois: pai e mãe; ou exclusi­ femininamente nos seus desejos sexuais. Theodore Faithful escreve a esse respeito no seu ensaio j á vamente o pai. Veja-se sobre o assunto, além dos trabalhos mencionados por Schuller no seu referido: "Consumption is a ready means of satisfaction to an introvert who cannot use the estudo já referido, "A couvade", e dos acima citados - especialmente o de Von den Steinen - os libido in artistic or mental creative work, and who either has not a womb to use, or if estudos recentes de Rafael Karsten, que dedica à couvade um dos melhores capítulos do seu The possessed of one does not wish to use it, or whose desires in that direction are inhibited by civilization ofthe South American Indians; de Walter E. Roth, "An inquiry into the animism attachments to relatives or economic necessity". E ainda sobre os meios de compensar-se o and the folklore of the Guiana Indians", lithAnnual Report, Bureau of American Ethnology, homem introvertido da impossibilidade de expressão sexual feminina: "Chronic constipation is Washington, 1915- Também o de H. Ling Roth, "On the significance of the couvaáe" Journal of

one ofthese ways, and it is used to satisfy introverted or female desires [...]In introverted the Anthropological Institute of Great Britam andIreland, vol. 22,1893- - "The sociological men also it gives a satisfaction to the psyche unobtainable by the use of their reproductive problem it involves can hardly be saidto have been completely solved'', diz Karsten da couvade. apparatus. [...]The abnormal laying on of abdominal fat is another means ofpsychical satisfaction to introverted men who are unable to use up the libido in creative work; and in 87. "Numerous reports attest thepresence in various tribes of effeminate men who avoid male unmarried extraverted women". occupations anddisregard masculine astir; they dress as women andparticipate in feminine activities. Not infrequenüy such menfunction as magicians and seers'' (Alexander Goldenweiser, 86. O choco ou couvade colocava o homem em situação de receber, por "doente", atenções que de "Sex and primitive society", emSexandcivilization, ed. by Calverton e Schmalhausen, Londres, outra maneira caberiam só à mulher, com a qual ele se identificava pelos resguardos e cuidados 1929). especiais que se impunha: "o marido se deita logo na rede, onde está muito coberto [... ] em o qual lugar o visitam seus parentes e amigos, e lhe trazem presentes de comer e beber, e a mulher 88. Westermarck, The origin and development ofthe moral ideas, cit. lhe faz muitos mimos [...]" (Gabriel Soares de Sousa, Roteiro geral, cit.). R. R. Schuller explica 89. "The female or introverted men became the priests, the medicine men, the inventors, the a couvade pelo "egoísmo paterno, acompanhado duma boa dose de rivalidade com a parida" magicians and the extraverted thefighters" (Theodore J. Faithful, Bisexuality, cit). ("kcomaâe", Boletim do Museu Goeldi, vol. VI, 1910); explicação que se aproxima, mas vaga­ 90. Para Thompson os homens efeminados "though they may have apoorpbysique, a less stable mente e de longe, da sugestão aqui esboçada. Sociologicamente talvez represente a couvade o mentality and no great love for mainly sports or warlike exercises, often have, by reason of primeiro passo no sentido de reconhecer-se a importância biológica do pai na geração. É preciso their bisexual outlook, a stereoscopic view of life, a quick intellígence, cunning, tenacity, considerar o fato de raramente haver conexão essencial para o selvagem entre o intercurso sexual patience, and a power ofopportune adaptation, together with a strong desirefor self-expression. e a concepção. A noção de paternidade ou maternidade, noção antes sociológica, pela qual se In fact, they often have an unusually large amount of emulation and emotional energy, estabelecem a descendência e a família entre os primitivos, corresponde em geral ao conhecimen­ to apenas aproximado, vago da interferência de um ou outro sexo no processo de geração. Entre which cannot, of course, be expressed in motherhood and may not find an adequate outlet várias tribos do Brasil dominava a crença de nascer o primeiro filho da interferência de um demô­ in paternity, since theirproper sexual impulses are apt to be weak or confused or restrained nio chamado uauiara - muito significativamente para um freudiano - com a forma de um by various conventions. Theyare, indeed, lustful rather than lusfyfellows" (R.Lowe Thompson, peixe, o boto, considerado o espírito tutelar dos demais peixes (Couto de Magalhães, O selvagem, The history ofthe devil, Londres, 1929). 91. Carpenter, apud Coldenweiser, op. cit. expressões mais características não só do gosto de repouso, temperado por fácil recurso à sensação de movimento, do senhor patriarcal de casa-grande, como da própria arte brasileira de tecido e de 92. Soares de Sousa, op. cit., p. 313- decoração. É assunto - a rede no Brasil - que pede estudo especializado, no qual se analise sua 93. Entre outros casos o do índio Luís, "somitigo que usa do peccado nefando, sendo paciente em importância sob critério psicossociológico, considerando-se, ao mesmo tempo, sua importância lugar de fêmea, o qual he moço de idade de arredor de dezoito annos" (Primeira visitação do artística. santo ofício às partes do Brasil, peb licenciado Heitor Furtado de Mendonça - Denunciações Euclides da Cunha, em Os sertões, refere-se, mais uma vez, à rede no Brasil sertanejo ou pasto­ da Bahia -1591-1593, São Paulo, 1925, p. 458); do índio Acauí, contra o qual depõe Francisco ril, acentuando, em uma dessas referências, o contraste, na vida do vaqueiro, da "máxima quietu- Barbosa por o ter visto praticar o "pecado nefando" com Baltasar de Lomba, "ambos em hua rede de" com a "máxima agitação":"[...] passando [...] da rede preguiçosa e cômoda para o lombilho e sentio a rede rugir e a elles ofegarem como que estavão no trabalho nefando e assim entendeo duro, que o arrebata, como um raio, pelos arrastadores estreitos, em busca das malhadas" (Os

A estarem elles fazendo o ditto peccado e ouvio ao ditto negro huas palavras na língua que querião sertões, 20 ed., Rio de Janeiro, 1946, p. 120).

dizer queres mais" (Primeira visitação do santo ofícw às partes do Brasil - Denunciações de 99- Léry, op. cit., II, p. 98. Pernambuco -1593-1595, São Paulo, 1929, p. 399). 100. Léry, op. cit, II, p. 99- 94. Tomás de Aquino, Summa theobgica; e já o apóstolo Paulo na Epístola aos Coríntios: "Nem os 101. Soares, op. cit, p. 164. efeminados, nem os sodomitas [... ] hão de possuir o reino de Deus". 102. Soares, op. cit, p. 170. 95. Westermarck, The origin and development of the moral ideas, cit. 103. H. C. de Sousa Araújo, "Costumes paraenses", Boletim Sanitário, ano 2, na 5, Rio de Janeiro, 96. Léry, op. cit., II, p. 87. 1924.

97. Léry, op. cit, II, p. 87. 104. Teodoro Sampaio, op. cit.

98. 0 berço dos indígenas desta parte da América parece ter sido a tipóia ou faixa de pano prendendo 105. Couto de Magalhães, op. cit. a criança às costas da mãe, e a rede pequena. Sobre o berço entre os ameríndios em geral, veja-se 106. J. F. de Araújo Lima, op. cit. 0. T. Mason, "Cradles ofthe american aborígines", Report ofthe States NatmnalMuseum, 1886- 1887. É interessante para os brasileiros o fato de que a rede ameríndia para adultos - cama 107. Teodoro Sampaio, op. cit. ambulante e móvel - tomou-se conhecida na Europa ou, pelo menos, na Inglaterra, sob o nome 108. Teodoro Sampaio, op. cit. "cama brasileira" ("Brazil bed"). No meado do século XVI, SirWalterRaleigh dizia das redes em 109. Araújo Lima, loc. cit. O autor menciona outro processo indígena de preparar o peixe entre as que se deitavam os indígenas da América:"[...] hammocte,whichmecall5razz7è&&" (Oxford English Dicttonary, citado por Siegfried Giedion, Mechanizatwn takes comand: a contribution populações rurais da Amazônia: a mujica. Trata-se de "qualquer qualidade de peixe, cozido ou moqueado, desfeito em pequenos fragmentos, depois de retiradas as espinhas, e engrossado no to anonymous history, Nova Iorque, 1948, p. 473) - caldo próprio com farinha-d'água ou com polvilho (tapioca)". Leia-se também o que Giedion escreve sobre o processo de mecanização da rede, mecanização baseada em mobilidade. Desse processo se aproxima, segundo o mesmo autor, a arte do escultor 110. "EemploidupimentpourreleverlHnsipiditédesaliments", diz Sigaud (op. cit.), "s'estintroduit norte-americano Alexander Calder, na qual "a obsessão" do norte-americano pela solução dos depuis lors dans les habitudes au point de constituer aujourd'hui 1'indipsensable problemas de movimento teria encontrado sua primeira expressão nitidamente artística. A rede, assaisonnementdetous les banqueis [...]". Em Pernambuco diz-se que o barão de Nazaré não ia a banquete sem levar pimentas no bolso da casaca, com receio de que o anfitrião, por elegância entretanto, pode ser considerada manifestação já artística do gosto de repouso combinado com o européia, não as oferecesse à mesa. prazer do movimento, que se comunicou dos indígenas da América aos primeiros conquistadores europeus do continente, entre os quais o próprio Cristóvão Colombo em 1492. Colombo foi um dos 111. Peckolt, op. cit. primeiros europeus a fazerem a apologia da rede (Samuel Eliot Morison, Admirai ofthe south 112. A palavra "complexo" é empregada através deste ensaio no seu sentido antropológico ou socioló­ sea, Boston, 1942, cit. por Giedion, op. cit.). No Brasil, a "Brazil bed" desenvolveu-se em uma das gico, significando aquela série de traços ou processos que constituem uma espécie de constelação 2 cultural. É assim que existem o complexo da mandioca, o da couvade, o do leite, o da exogamia, do Inst. Hist. Geog. Bros., n 7, vol. II, Rio de Janeiro, 1858). Informa Montoya ("Manuscrito o do tabaco etc. É preciso, diz Wissler em Man and culture, não confundir esse uso antropológico Guarani da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro sobre a primitiva catechese dos indios das mis­ com o psicopatológico. sões", Anais da Biblioteca Nacional, vol. VI) que entre indígenas por ele observados, entrando no meio de gente um veado ou um sapo, era sinal de morte próxima de um dos presentes. Pela 113. Soares, op. cit, p. 151. lista de superstições regionais que preparou, com seus colaboradores do Recife, o professor Ulisses 114. Frank Clarence Spencer, "Education of the pueblo child", Contributions Pernambuco de Melo, vê-se que grande número das crendices populares no Norte relacionam-se, to Philosophy, Psychology and Education, n2 I, vol. 7, Nova Iorque, 1899- como as dos índios, a animais e vegetais agourentos ou que dão felicidade; o besouro mangangá entrando dentro de casa é péssimo sinal, como é qualquer borboleta preta ou sapo, mas já a 115. T. E. Stevenson, "The religious life of the zuni child", Bureau ofEthnology Report, Washington, aranha e a "esperança" vêm trazer ou anunciar felicidade. Sobre o assunto vejam-se os interes­ vol.V. santes ensaios de João Alfredo de Freitas, "Algumas palavras sobre o fetichismo religioso e político 116. Alexander Francis Chamberlain, The child and childhood in folk-thought, Nova Iorque, I896. entre nós", Pernambuco, 1883, e "Lendas e superstições do norte do Brasil", Recife, 1884. Tam­ bém oFolk-lore brésilien, do barão de SanfAnna Nery, Paris, 1889.0 estudo de Basílio de Maga­ 117. Powers apud Chamberlain, op. cit. lhães, O folclore no Brasil (Rio de Janeiro, 1928), traz excelente bibliografia, registrando os 118. No Brasil dos primeiros tempos, tanto quanto entre os selvagens, estava-se exposto a picadas e trabalhos mais importantes que têm aparecido sobre as superstições e crendices do brasileiro. mordidelas de mil e um bichos venenosos ou daninhos: de cobra, de aranha caranguejeira, de lacrau, de piolho-de-cobra, de muriçoca, de mutuca, de nenê-de-galinha, de marimbondo, de 120. Já Mansfield observara em 1852: "1find thepeople here (at least the Englishpeople to whom I havespoken) knowverylittleabout the naturalproductions" (Charles B. Mansfield, Paraguay, bicho-de-pe', de onça, de piranha, de besouro. Mato, areia, a água dos rios - tudo povoado de Brazil and the Plate, Cambridge, 1856). vermes e insetos, de répteis e peixes sôfregos de sangue humano. Sigaud (op. cit.) escreve a esse respeito, referindo-se particularmente aos indígenas: "Lespiqüres, les morsures des animaux 121. A rede figura na história social do Brasil como leito, meio de condução ou viagem e de transporte ou insectesvenimeuxlesexposentau tétanos [...]". de doentes e cadáveres. Existe a convenção da rede branca conduzir cadáveres e a vermelha feri­ dos. "O transporte dos cadáveres, nas zonas rurais, em toda a extensão do Brasil, efetuava-se e 119. Muitas delas herdadas dos indígenas. Refere o autor dos Diálogos das grandezas do Brasil, cit, ainda se efetua em redes. São essas redes, que colocadas aos ombros robustos de sertanejos e p. 275, que os índios, por mais animosos, se a caminho de alguma empresa "ouvirem cantar um matutos, devoram léguas, até depor o cadáver na igreja ou cemitério da freguesia" (Francisco pássaro [a peitica] do qual já fiz menção, agourento para elles, desamparam a jornada, e se Luís da Gama Rosa, "Costumes do povo nos nascimentos, batizados, casamentos e enterros", Rev. tornam a recolher [...]". É superstição que permanece no brasileiro do Norte, a da peitica: "Nos do Inst. Hist. Geog. Bras., tomo especial, Primeiro Congresso de História Nacional, parte V, Rio de Estados do Norte ainda a têm por agourenta e não suportam sua presença na vizinhança das Janeiro, 1917). habitações", escreve Rodolfo Garcia em comentário ao diálogo sexto daquela crônica seiscentista. E em algumas das superstições e crenças nitidamente totêmicas dos indígenas, mencionadas pelo 122. Cardim, op. cit, p. 170. padre João Daniel, é fácil de reconhecer a origem de muitas das abusões hoje correntes no Norte, 123. Montoya (op. cit, p. 296) fala de povoações como Itapuã onde "a vida das crianças não era quando não em todo o Brasil, entre a gente do povo: "Também desde pequenos se crião", escreve duradoura, morriam muito facilmente; algumas morrem até no ventre de suas mães, outras ape­ o missionário, "com vários agouros em pássaros, em feras do mato, e muitos contingentes; e por nas em nascidas, sem serem batizadas." Sobre o assunto, leia-se também Afonso de E. Taunay, isso há pássaros a quem não matão, nem fazem mal. E quando se avistam com algumas feras em São Paulo nos primeiros anos, 1920. O Sr. Sérgio Milliet sugere, em página inteligente, que a taes tempos e occasiões, apprehendem que lhes há de succeder esta ou aquella desgraça, ou que importância dada aos anjos e crianças em nossa sociedade colonial (conforme evidências apre­ hão de morrer, e são tão aferrados a estes dogmas, em que os criam os pais, que ainda que vejam sentadas neste ensaio) talvez se relacione com o "desenvolvimento do barroco" no Brasil, salien­ o contrario não ha de tirar-lhes da cabeça. Um destes seus agouros é com a anta, de que falíamos tado pelo professor Roger Bastide ("Psicologia do cafuné",Planalto, l-XI-1941, São Paulo). acima: similhante tem com o ouriço cacheiro, a que chamam gandú-açu, que lhes annuncia a 124. Montoya, op. cit, p. 308. morte, porque o viram deste ou daquelle modo; e com muitos outros animais ("Thesouro desco­ berto no máximo rio Amazonas", Principio da 2a Parte, que trata dos Índios do Amazonas, da sua 125. Roquette-Pinto, Rondônia, cit. fé, vida, costumes etc. - copiada de um manuscrito da Biblioteca Pública do Rio de Janeiro, Rev. 126. Léry, op. cit, II, p. 95. 127. Erland Nordenskiõld, cit. em análise bibliográfica do Boletim do Museu Goeldi (Museu Paraense) 145. "[...] alguns delles pela manhã, em despertando, se levantam e fazem fincapé no chão, com as de História Natural e Etnografia, vol. VII, Pará, 1913. mãos para o céo, para terem mão nelle que não caia e assim lhes parece que fica direito por todo aquelle dia" (padre Luís Figueira, Relação do Maranhão, documentos para a história do Bra­ 128. Boletim do Museu Goeldi, cit. Aliás já J. W. Fewkes chegara à conclusão de serem as bonecas dos sil e especialmente do Ceará, 1608-1625, Fortaleza, 1904). civilizados sobrevivências de ídolos dos primitivos (apud A. F. Chamberlain, The child, 3a ed., Londres). 146. Montoya, op. cit, p. 164-165.

129. Roquette-Pinto, Rondônia, cit. 147. Simão de Vasconcelos, Vida do veneravel padre foseph de Anchieta da Companhia de lesu, taumaturgo do novo mundo na província do Brasil [...], Lisboa, 1672, p. 102. 130. Bronislaw Malinowsky, The sexual life of savages in north westem Melanesia, Londres, 1929- 148. Cardim, Gabriel Soares, Gandavo, todos se referem horrorizados, ao monstro marinho. Na sua His­ 131. A. F. Chamberlain salienta um fato que nos parece lícito associar ao complexo brasileiro do jogo- tória da província de Santa Cruz [...] (ed. de 1858) Gandavo traz a figura do hipupiara: é de do-bicho: o de noviços e neófitos, entre várias sociedades primitivas, serem postos em reclusão ou aterrar. Desse monstro diz ainda o padre Cardim (op. cit.) que os naturais lhe tinham tão grande jejum até verem em sonho ou alucinação o animal destinado a ser o seu gênio tutelar e cuja medo que "só de cuidarem nelle morrem muitos e nenhum que o vê escapa". E pormenoriza: "pare­ forma lhes é muitas vezes tatuada no corpo (The child and childhood in folk-thought, cit.). ce-se com homens propriamente de bôa estatura mas tem os olhos muito encovados". Havia fêmeas: Muito jogador de bicho tem o seu animal predileto que lhe aparece em sonho para "trazer-lhe a "as fêmeas parecem mulheres, tem cabellos compridos e são formosas; acham-se esses monstros nas sorte". barras dos rios doces. Emjagoaripe sete ou oito léguas da Bahia se tem achado muitos [...]". Artur 132. J. Garcia Mercadal, Espana vista por los extranjeros; relaciones de viajoresy embajadores Neiva acredita que o hipupiara fosse algum "exemplar desgarrado da Otária fubata Forster, 1755" (%/oIW), Madri, s.d. {Esboço histórico sobre a botânica e zoologia no Brasil, São Paulo, 1929) •

133. Cardim, op. cit., p. 175 e 310. Em artigo no jornaU Manhã, de 12 de abril de 1942, sob o título 149. Da magia sexual no Brasil pretendia ocupar-se, de modo geral, em trabalho de que só deixou as "Mundo imaginário", o Sr. Afonso Arinos de Melo Franco lamenta não se lembrar de nenhum primeiras páginas, publicadas nato. do inst. Hist. Geog. de Pernambuco, ti1102, Recife, 1910, trabalho brasileiro sobre jogos e brinquedos tradicionais. As páginas dedicadas ao assunto, neste o historiador e crítico brasileiro Alfredo de Carvalho. ensaio, são de 1933- 150. "Itfollows", diz Hartland, "thatpeoples in that stage of thought cannot have, in theory at ali 134. João Daniel, op. cit., p. 112. events, the repugnance to a sexual union between man and the lower animais with which 135. João Daniel, op. cit., p. 291. religious training and the growth of civilization have impressed ali the higher races. Such peoples admit the possibility ofa marriage where in one pari may be human and the other 136. Frei Vicente do Salvador, op. cit., p. 59- an animal of a different species, or even a tree or a plant" (Edwin Sidney Hartland, The 137. Léry, op. cit., p. 137-138. science offairy tales, 2- ed., Londres, 1925).

138. Léry, op. cit., p. 88. 151. Gilberto Freyre, "Vidasocial no nordeste", emíá-rodo Nordeste (comemorativo do centenário do

139. Cardim, op. cit., p. 170. Diário de Pernambuco), Recife, 1925; e posteriormente José Lins do Rego, Menino de engenho (novela), Rio de Janeiro, 1932. Do assunto também se ocupa Cícero Dias, no seu romance auto­ 140. Léry, op. cit., p. 91. biográfico, em vrepaxojundiá. 141. Soares, op. cit, p. 314. 152. G. S. Hall, "Study of fears", apud Alexander Francis Chamberlain, The child, a study in the 142. Karsten, op. cit. evolution of man, 3a ed., Londres.

143. Whiffen, op. cit. 153- Os medos que Hall chama de "gravidade", isto é, medo de cair, de perder a direção, o tino, e da terra fugir dos pés etc., comuns entre os primitivos, exprimiram-se em várias abusões e lendas 144. Isto é, os verdadeiros nomes, recebidos na infância: estes se supõem ligados magicamente à alma correntes no Brasil dos primeiros tempos e ainda encontradas no interior e nos sertões. "Das águas do indivíduo (Karsten, op. cit.). do Grão-Paraguai", escreve Teodoro Sampaio referindo-se ao século XVI, "lá no íntimo dos ser­ de 1523-24a 1572, Paris, 1933;Juan Suárezde ?e:a\ta, Noticias históricas de laNuevaEspana tões, corria a fama de que, precipitando-se em formidanda catadupa, com espantoso estrondo, (edição de Justo Zaragoza), Madri, 1878 (que procura explicar por que os indígenas da área por faziam tremer a terra e perder o tino ao vivente que do espaço o ouvia" (cit. por Taunay, São ele estudada preferiam os franciscanos aos outros missionários): J. Alves Correia, A dilatação da Paulo nos primeiros tempos, cit.). Sobre outras lendas e superstições ligadas aos grandes rios e à fé no império português, Lisboa, 1936; Lewis Hanke, The first social experiments in America, floresta, e de origem ameríndia, veja-se o livro póstumo de Afonso Arinos, Lendas e tradições Cambridge, 1935. O professor Hanke mostra que a atitude do governo e das ordens religiosas brasileiras, São Paulo, 1917. espanholas em relação aos ameríndios foi quase sociologicamente experimental e que nos in­ quéritos que se realizaram sob esse critério colheram-se opiniões contraditórias, uns julgando os 154. Sílvio Romero, Provocações e debates, cit. indígenas "abiles, demuy buenos juyzios e entendiementos" e outros, "gente que quiere ser 155. Abbé Étienne, "La secte musulmane des males du Brésil et leur revolte en 1835" ,Anthropos, Vie­ mandaday no dexallo a su querer" ("Appendix B"). A última parece ter sido a idéia predomi­ na, jan.-mar, 1909- nante entre os missionários jesuítas, derivando-se provavelmente daí seu método considerado por alguns excessivamente paternalista, de lidar com os indígenas do Brasil e de outras partes da 156. Auguste de Saint-Hilaire, Voyages dans 1'intérieur du Brésil, Paris, 1852. América. Outros críticos, como os antropólogos William Cecil Dampier e Catherine Durning 157. Soares, op. cit, p. 321. Whethan, no seu The family and the nation - A study in natural inheritance and social

158. Arthur S. B. Freer, The earlyfranciscan andjesuits, Londres, 1922. responsability, Londres, 1909, p. 160, louvam os jesuítas precisamente pela política, por eles se­ guida nas Américas, de segregação dos indígenas em reduções (evitando-se assim a miscigena­ 159- Pr. Zephyrin Engelhardt, The missions and missionaries of Califórnia, 1929. Veja-se também o ção) e pelo seu sistema de "perpetuaiparental tutelage" desde que, para os mesmos jesuítas, livro de frei Basílio HCówer, Páginas da históriafranciscana no Brasil, Rio de Janeiro, 1941, com segundo os referidos antropólogos, "the Indian wind was incapable of a high development" abundante bibliografia, inclusive de manuscritos, e várias notas interessantes sobre conflitos da ("a inteligência do índio era incapaz de alto desenvolvimento"). É certo que no Brasil os jesuítas, atividade dos franciscanos com a dos jesuítas, no Brasil. A atividade dos jesuítas se acha opulenta­ na sua primeira fase de ação missionária, deram à educação dos meninos indígenas rumo mente descrita pelo padre Serafim Leite na sua História da Companhia de Jesus no Brasil, intelectualista. Na sua segunda fase é que seguiram o sistema das reduções caracterizado pela Lisboa, 1938, obra notável pela seleção, ordem, método e documentação. A seleção, é claro, do segregação de grandes grupos ameríndios sob um regime de absoluto paternalismo. Este regime ponto de vista jesuítico. culminou no "Estado" paraguaio (1601-1767) caracterizado pelo professor Walter Goetz como Em um dos seus eruditos estudos sobre a formação do Brasil diz o Sr. Sérgio Buarque de Holanda "a virtual autocracy controlling the native population by communistic economic and social não acreditar que a ação dos jesuítas sobre a cultura dos indígenas tenha sido desintegradora regulation" (Encyclopaedia of the Social Sciences, Nova Iorque, 1935, p. 388). "senão na medida em que ela é inerente a toda atividade civilizadora, a toda transição violenta de Sobre o assunto vejam-se mais: A. H. Snow, The question of aborígines, Nova Iorque, 1921; W. cultura, provocada pela influência dos agentes externos. Onde os inacianos se distinguiram dos C. Mac Lead, American Indian Frontier, Nova Iorque, Londres, 1928; Carmelo Vinas Mey, El outros - religiosos e leigos - foi, isso sim, na maior obstinação e na eficácia maior do trabalho estatuto dei obrero indígena en la colonización espanola, Madri, 1929; George W. Hinman, que desenvolveram. E sobretudo no zelo todo particular com que se dedicaram, de corpo e alma, The american indian andchristian missions, Nova Iorque, 1933; Jules Harmand, Domination ao mister de adaptar o índio à vida civil, segundo concepções cristãs" ("S. J.", Cobra de vidro, et colonisation, Paris, 1910; G. H. L-F. Pitt-Rivers, The clash of cultures and the contact ofraces, São Paulo, 1944, p. 97). Londres, 1927; frei Basílio Rõwer, Páginas da história franciscana no Brasil, Rio de Janeiro, Talvez haja nessas palavras excesso de generalização. Pois ao contrário do que parece sugerir o 1941. Este destaca (p. 51-52) que os franciscanos fundaram aldeias no norte do Brasil mas "no ilustre ensaísta, pode-se admitir diferença de grau na ação desintegradora de culturas indígenas sul seguiam sempre o sistema das missões volantes, quer dizer, doutrinaram o gentio no seu pró­ exercida pelos diversos grupos missionários cristãos que se têm posto em contato com as popula­ prio habitat [...]". "E se no fim do século XVII se encarregaram da administração espiritual e ções indígenas da América, da África, da Ásia, da Austrália e de várias ilhas. É que seus métodos de temporal de diversas aldeias já existentes foi a instâncias da autoridade civil. Com isto, porém, "adaptar o índio à vida civil" e suas "concepções cristãs" têm variado consideravelmente. Sobre não deixaram o sistema a que davam preferência e que parece mais consentâneo à regra e índole essa diversidade de critério e de método vejam-se: Robert Ricard, Études et documentspour da Ordem", isto é, o de liberdade dos índios. Diante do que torna-se evidente ter sido maior a 1'histoiremissionaire de 1'Espagne et Portugal, Paris, \%\ea.''Conquêtespirituelle"duMexique intensidade e extensão da inevitável ação desintegradora exercida pelas reduções jesuíticas que a - Essai sur l 'apostolat et lês méthodes missionaires des ordres mendiants en Nouvelle-Espagne exercida pelos franciscanos. Os jesuítas das reduções não só afastavam os indígenas do seu habitat para conservá-los em meios artificiais como os privaram de liberdade de expressão e de ambiente 167. "A primeira traça com que sahiram", escreve dos jesuítas o padre Simão, "foi fazer familiares de favorável ao desenvolvimento de suas aptidões e capacidades, fazendo-os, ao contrário, seguir casa (ainda à custa de dádivas e mimos) os meninos filhos dos indios; porque estes, por menos vida puramente mecânica e duramente regulada de eternas crianças, eternos aprendizes e eternos divertidos e por mais hábeis que os grandes, em todas as nações do Brasil, são mais fáceis de robôs, cujo trabalho era aproveitado por seus tutores. doutrinar; e doutrinados os filhos, por elles se começariam a doutrinar os paes: traça que a ex­ Ao mesmo tempo, nenhum estudioso honesto do assunto pode negar que no Brasil os missio­ periência mostrou ser vinda do céo [... ]." Granjeados os meninos filhos de índios, foram pelos nários jesuítas destacaram-se dos demais pela "maior obstinação" e "eficácia maior do trabalho jesuítas postos a aprender a "ler, escrever, contar, ajudar a missa e doutrina christã: e os que que desenvolveram". Os do primeiro século de colonização chegaram a ser heróicos, tal a intensi­ estavam mais provectos sahiam em procissões pelas ruas entoando canto de solfa, as orações, e os dade do seu esforço no meio de tremendas dificuldades. mysterios da fé, compostos em estylo. Com o que se alegravam immensamente os paes." "Chega­

160. Vasconcelos, Chronka, cit., p. 43. va a ser demasiada a opinião que se tinha destes meninos entre os indios; porque os respeitavam como cousa sagrada; nenhum ousava obrar cousa alguma contra sua vontade, criam no que 161. Soares de Sousa, op. cit, p. 321. diziam e cuidavam que nelles estava posta alguma divindade: até os caminhos enramavam por

162. Sobre os característicos e tendências da chamada "mentalidade primitiva" leia-se o trabalho de onde haviam de passar": (Vasconcelos, Chronica, cit., p. 125). Sobre o assunto escreve Couto de Lévy $rüh\,Mentalitéprimitive, Paris, 1922. Magalhães: "estes meninos, quando chegavam a ser homens, eram escolas vivas, porque possuin­ do igualmente bem as duas línguas, eram o cio indispensável para aproximar as duas raças" (O 163. Cadernos escritos à mão por Anchieta: "ainda naquelle tempo não havia nestas partes copia de selvagem, cit.). Leia-se também sobre o sistema de catequese e pedagógico dos primeiros jesuítas, livros, por onde pudessem os discípulos aprender os preceitos da grammatica. Esta grande falta, Pires de Almeida, Linstruction publique au Brésil, Rio de Janeiro, 1889. remediava-a a caridade de José à custa do seu suor, e trabalho, escrevendo por própria mão tantos quadernos dos ditos preceitos quantos eram os discípulos que ensinava [...]" (Vasconcelos, 168. Era um velho feiticeiro chamado Teguacari. Os padres soltaram-no no meio da meninada, que a 256 Chronica, cit., p. 118). princípio teve medo; mas "pouco a pouco foi passando o medo, e por fim de contas todos juntos atiravam-se para a banda delle, accometeram-no, deram com elle no chão e o maltrataram de 164. Os estudos sobre a chamada "mentalidade primitiva" mostram como é doloroso para eles separa­ todos os modos" (Montoya, op. cit., p. 250). rem-se de vez do seu meio físico regional, a que estão ligados por um sistema de relações místicas: totêmicas e animistas. Este equilíbrio de relações místicas rompia-se com a segregação jesuítica. 169. III Centenário do venerável, padre Joseph de Anchieta, Paris-Lisboa, 1900.

165. Cit. por João Lúcio de Azevedo, Os jesuítas no Grão-Pará, cit. 170. É verdade que os etnólogos lamentam o fato de que no Brasil a "Igreja nivelou mais, apagou os característicos traços étnicos e peculiares de tantas tribos indígenas, extintas j á ou prestes a extinguir- 166. Simplismo considerado por Sir J. G. Frazer "always dangerous and not seldom disastrous", se. Uma correnteza poderosa abraçou todos os elementos que encontrou no seu percurso e uniformi­ esse de se abolirem velhos sistemas morais sem lhes assegurar a substituição real, e não artificial zou todos e em toda parte" (Emílio Goeldi, "O estado atual dos conhecimentos sobre os índios do (Introdução ao livro de C. W. Hobey, Bantu beliefs and magic, Londres, 1922). Também Wissler Brasil", em Boletim do Museu Paraense de História Natural e Etnografia, n2 4, vol. II). (Man and culture, cit.) indica as desvantagens que decorrem para as populações selvagens das boas intenções moralizadoras e civilizadoras dos missionários, mesmo quando neles não se ante­ 171. Teodoro Sampaio, O tupi, cit. cipa o imperalismo econômico dos grandes países capitalistas. E Pittrivers (op. cit.) escreve: "the 172. Cit. por Taunay, História geral das bandeiras, cit. inevítable result of destroying ali the old cultureforms andenvironmental conditions in the endeavour to impose too dissimilar a culture upon apeople specialized by a longprocess of 173- Teodoro Sampaio, O tupi, cit. adaptation to particular conditions isactually to exterminate them". Acrescentando: "Itfollows 174. Vida do venerável padre Joseph de Anchieta, da Companhia de Iesu [...] composta pello P. fromthis that ali Missionary endeavour amongheathen andsavagepeoples [...] isincapable SimandeVasconcellos [...], Lisboa, 1622,p. 126. ofachieving any result in the end except to assist in the extermination of thepeople it professes to assist". 175. Vasconcelos, Vida do Venerável padre Joseph de Anchieta, cit., p. 130. 176. F. A. Varnhagen, História geral do Brasil, cit. 177. /// Centenário do venerável padre Joseph de Anchieta, cit. reconhecer a dificuldade de "refletir criticamente" sobre a história dos jesuítas, de que "eles são os próprios escritores e, por conseqüência, não isenta de grande soma de parcialidade e inverossimi- 178. Varnhagen, op. cit. lhança." Sobre a organização do trabalho nas missões jesuíticas no Brasil, veja-se Livro IV, Cap. I 179. Vasconcelos, Vida do venerável padre Joseph de Anchieta, cit., p. 130. de Le travail en Amérique avant et apres Colomb, de L. Capitain e Henri Lorin, Paris, 1930. Os recentes trabalhos do padre Serafim Leite, sobre a história da Companhia de Jesus no Brasil são 180. Teodoro Sampaio, O tupi, cit. ricos de informações valiosas notando-se, entretanto, que o material é apresentado apologe-

181. José Antônio de Freitas, O lirismo brasileiro, Lisboa, 1873- ticamente, dentro do ponto de vista jesuítico.

182. Afonso de Escragnolle Taunay, São Paulo no século XVI, Tours, 1921. 186. José Arouche Toledo Rendon, "Memória sobre as aldeias de índios da província de São Paulo", Rev. do Inst. Hist. Geog. Bros., VI; João Mendes Júnior, Os indígenas no Brasil - seus direitos 183. III Centenário do venerável padre Joseph de Anchieta, cit. individuais epolíticos, São Paulo, 1912. 184. Varnhagen, op. cit. 187. "Não era talvez menor a tirania do religioso, na missão, que a do lavrador, na fazenda", escreve 185. J. M. de Madureira, S. }.,A liberdade dos indios e a companhia de Jesus, sua pedagogia e seus João Lúcio de Azevedo. E ainda: "não resta dúvida que certos padres não tinham com os neófitos resultados, Rio de Janeiro, 1927 (tomo especial do Congresso Internacional de História da Amé­ a caridade devida; por leves culpas os mandavam açoutar e meter em troncos; e nem sequer os rica, vol. IV). principais, que o prestígio de sua autoridade devera resguardar, escapavam aos humilhantes cas­

a "Quanto a nós", escreve sobre o sistema dos jesuítas o cônego Fernandes Pinheiro, "grande tigos" (Os jesuítas no Grão-Pará, suas missões e a colonização, 2 ed., Coimbra, 1930). erro era o d'aniquilar inteiramente a vontade dos catechumenos e neophytos, reduzindo-os ao 188. Arouche, "Memória", cit. mesquinho papel de machinas ambulantes. Considerando os indios como meninos que neces­ 189. Arouche, "Memória", cit. sitam de guias para se não despenharem nos abysmos do vicio, de tutores para não dissiparem a própria fazenda, entenderam os varões apostólicos que primeiro os chamaram ao grêmio da Igre- 190. João Lúcio de Azevedo, Os jesuítas no Grão-Pará, cit. ja e da civilização, que deveram ser elles esses guias; no que não se enganaram. Levando, porém, 191. João Lúcio de Azevedo, op. cit. mais longe o zelo que pela família espiritual tinham, transmitiram intacto tão grande poder aos seus successores, esquecendo que era elle por sua natureza precário, e apenas próprio para a pri­ 192. João Lúcio de Azevedo, Os jesuítas no Grão-Pará, cit. meira phase de transição da vida selvagem para a civilizada. Daqui nasceu o abuso que 193. O despovoamento parece ter sido enorme. Difícil de precisar qual fosse a população aborígine ao assignalamos, daqui proveio que jamais teve o indio autonomia, jamais pensou em dirigir-se por verificar-se a descoberta do Brasil, há evidências de sua relativa densidade "pelos menos", diz suas inspirações, em assumir a responsabilidade de seus atos: daqui originou-se finalmente a Azevedo, "no litoral do oceano e às margens dos rios". O mesmo fato é salientado por M. Bonfim, destruição total da obra da catechese, que tão prospera e vivaz parecia, logo que faltou-lhe o braço O Brasil na América, cit. jesuítico que de pé a sustinha" (Introdução à Chronica da Companhia de Jesus do Estado do

a 194. Azevedo, op. cit. Brasil etc, pelo padre Simão de Vasconcelos, 2 ed., Rio de Janeiro, 1864). Do mesmo cônego Fernandes Pinheiro leia-se sobre o assunto "Ensaio sobre os jesuítas", Rev. Inst. Hist. Geog. Bros., 195. Crônica da Companhia de Jesus pelo Padre Jacinto de Carvalho, manuscrito da Biblioteca de tomo XVIII. Convém ler, ao lado de ensaios sobre os jesuítas mais ou menos impregnados de fervor Évora, apud Azevedo, op. cit. apologético - os de Joaquim Nabuco, Eduardo Prado, Teodoro Sampaio, Brasílio Machado (/// 196. Memórias sobre o Maranhão, do padre José de Morais, apud A. J. de Melo Morais, Corografia, Centenário do venerável padreJoseph de Anchieta, Paris-Lisboa, 1900); J. P. Calógeras, Os jesuítas Rio de Janeiro, 1858; João Francisco Lisboa, Timon, cit.; Arouche, "Memória", cit.; padre Antônio e o ensino, Rio de Janeiro, 1911; Eugênio Vilhena de Morais, "Qual a influência dos jesuítas em Vieira, Obras várias, Lisboa, 1856 e 1857; Agostinho Marques Perdigão MalheiM escravidão nossas letras?" Rev. Inst. Hist. Geog. Bros., (tomo especial, Congresso de História Nacional, Parte no Brasil, Rio de Janeiro, 1866; J. J. Machado de Oliveira, "Notícia raciocinada sobre as aldeias de V, Rio de Janeiro, 1917), as poucas tentativas de crítica histórica, como os "Apontamentos para a índios da província de São Paulo" Rev. do Inst. Hist. Geog. Bros., VIII. história dos jesuítas, extrahidos dos chronistas da Companhia de Jesus" (Rev. Inst. Hist. Geog. Bros., tomo XXXIV, Rio de Janeiro, 1871) de Antônio Henrique Leal. Este, aliás, é o primeiro a 197. Perdigão Malheiro, op. cit. 198. J. F. Lisboa, Timon, cit. si fora na Europa e desta maneira fazem os mui ricos e honrados da terra" {Informações e frag• mentos do padre Joseph de Anchieta, S. J, 1584-1586, cit). 199. João Lúcio de Azevedo, Os jesuítas no Grão-Pará, cit. Quanto à coivara, não se deve entender por sua influência sobre a técnica da lavoura no Brasil 200. Antônio Vieira, citado por Azevedo, op. cit. patriarcal o puro fato de se devastarem matas - prática muito do Portugal antigo e da Europa mediterrânea de antes da colonização lusitana do Brasil - mas a sistematização de tais devasta­ 201. Taunay, São Paulo no século XW, cit. ções pelo fogo segundo processos ameríndios adotados pelos portugueses. Tudo indica que estes, 202. Vasconcelos, Chronica, cit, p. 65. em seu maior número, agiram na América do Sul de modo idêntico a muitos colonos ingleses na 203. Escreve Keller dos portugueses: "They were so given to the slave-system that they could no América do Norte, isto é, praticavam a chamada "lavoura de pioneiros" valendo-se de métodos ou longer provide for themselves. A biological dijferentiatkm offunctions, as it were, had left sugestões ameríndias. Métodos simplistas e às vezes brutais. them, like Darwin 'sslave-making ants, in a sort ofparasitic relation to a subject race" (A. G. Em 1849 o professor J. F. Johnston já notava terem os agricultores brancos da Nova Inglaterra Keller, Colonization, etc, cit, Boston, Nova Iorque, 1908). seguido os métodos pouco econômicos de lavoura encontrados entre os ameríndios. O assunto foi posteriormente estudado pelo professor Alfred Holt Stone no seu trabalho "Some problems of 204. Vejam-se as Atas da Câmara de São Paulo, cit. southern economic history" em Readings in the economic history of American Agriculture 205. Taunay, História geral das bandeiras paulistas, cit. (organizado por Schmidt e Ross, Nova Iorque, 1925, p. 274-292) onde chegou à conclusão de tenderem os pioneiros em terras vastas e baratas à exploração do solo por métodos menos econô­ 206. Cardim, op. cit, p. 320. micos que os empregados no seu país de origem. Também F. J. Turner (The frontier in american 207. Gandavo, op. cit, p. 119- history, Nova Iorque, 1921) estudou o assunto destacando a tendência dos pioneiros europeus na América para seguirem técnicas ameríndias; e o professor Rupert B. Vance em Human geography 208. Nóbrega, Cartas, cit, p. 110. ofthe south -A study in regional resources and human adequacy (Chapei Hill, 1932) analisa 209. Léry, op. cit, I, p. 122-123. o conflito entre processos de pioneiros e processos de colonização patriarcal-escravocrata

210. Soares, op. cit, p. 306. Acrescenta Soares:"[...] bons dentes, alvos, miúdos, sem nunca lhes apodre­ ("plantation"). Esse conflito, porém, não excluiu a preservação de técnicas adquiridas dos cerem [... ] pernas bem feitas, pés pequenos [...] homens [... ] de grandes forças" (p. 306). ameríndios pelos pioneiros em suas primeiras expansões de fronteira econômica européia sobre terras americanas. 211. Cardim, op. cit. Entre nós, Peckolt estudou esse aspecto da colonização européia para concluir atribuindo ao 212. Pero Vaz de Caminha, Carta, cit. sistema de trabalho escravo o que aqui se denomina a sistematização da coivara como método de exploração da terra (Theodoro Peckolt, História das plantas alimentam e de gozo do Brasil, 213. Alexander Goldenweiser, "The significance of the study of culture for sociology",/o«rw«/ of So­ Rio de Janeiro, 1871). Peckolt destaca que o fato de, no Brasil, o cultivador procurar "esgotar as cial Forces, vol. III, 1924. terras o mais depressa possível" foi estimulado pela escravidão, devido a faltarem braços (escra­ 214. Rivers, apud Goldenweiser, loc. cit. vos) "para a laboriosa estrumação de terras" como a praticada na Europa (p. 62). A "estrumação

215. Citado por J. Isidoro Martins Júnior, História do direito nacional, Rio de Janeiro, 1895. unicamente pelas cinzas" característica do processo indígena, pois este não se limitava à queima de mata para limpeza sumária, rápida e brutal de terreno a ser utilizado com fins agrícolas - 216. No que chama "direito público interno" dos indígenas encontra Beviláqua "quase nula repressão dispensava os cuidados e conhecimentos de estrumação menos simplista conhecidos e praticados do furto", "o comunismo tribal com ausência absoluta do domínio territorial", penas às mulhe­ pelos lavradores europeus. res adúlteras, do talião, vindita de família etc. ("Instituições e costumes jurídicos dos indígenas Diante disso não parece ter razão o Sr. Afonso Arinos de Melo Franco ao procurar negar, em brasileiros no tempo da conquista", apud Martins Júnior, op. cit.). notável trabalho (Desenvolvimento da civilização material no Brasil, Rio de Janeiro, 1944, p. 217. Este costume indígena foi adotado pelos primeiros colonos. Anchieta escreve, referindo-se aos 18), a influência direta da coivara, como traço de cultura indígena, sobre a lavoura do Brasil colonos e aos padres: "andarem descalços é uso da terra e não lhes dá tanta pena o trabalho como português. Embora ninguém ignore que em Portugal e na Europa mediterrânea praticou-se a devastação de matas, antes de descoberto e colonizado o Brasil, verificou-se aqui a revivescência culto e de uso doméstico" (p. 19). Ficariam no olvido contribuições à agricultura como as des­ do processo como "processo pioneiro" de lavoura com desprezo por técnicas mais adiantadas e tacadas pelo Sr. Dornas Filho - que certamente usa a palavra "milho" em sentido lato - à econômicas de estrumação praticadas na Europa. culinária, à arquitetura, à escultura, à pintura e ao trajo popular (o trajo da baiana, o turbante No mesmo trabalho o autor parece esquecer, entre os elementos de civilização material a ado­ etc.) e à ourivesaria semipopular baiana. ção, por um país, de plantas utilizadas por outro: adoções com que quase sempre se enriquece uma economia ou uma cultura quando em contato com outra. No Brasil foi considerável a ado­ 218. Karsten, op. cit.

ção pelos portugueses, de plantas alimentares, medicinais e de gozo cultivadas ou utilizadas pelos 219. Gastão Cruls, op. cit., Sílvio Romero e João Ribeiro assim resumem a contribuição ameríndia à ameríndios e pelos africanos. É pena que o autor de Desenvolvimento da civilização material cultura brasileira: "Aos índios deve a nossa gente atual, especialmente nas paragens em que mais no Brasil tenha desprezado esse aspecto das relações da cultura européia com as extra-européias cruzaram, como é o caso no centro, norte, oeste, leste, e mesmo sul do país, muitos dos conheci­ no Brasil. Tal omissão é tanto mais para ser notada quanto o referido historiador parece ser dos mentos e instrumentos da caça e da pesca, várias plantas alimentares e medicinais, muitas pala­ que tendem a defender a tese de que a civilização brasileira pouco tem de extra-européia. Esta tese vras da linguagem corrente, muitos costumes locais, alguns fenômenos da mítica popular, várias seria igualmente defendida com especial vigor pelo escritor Afrânio Peixoto que, em brilhante danças plebéias e certo influxo na poesia anônima, especialmente no ciclo de romances de va­

A ensaio sobre "O homem cósmico da América", apresentado ao 3 Congresso Internacional de queiros, muito corrente na região sertanej a do Norte, na famosa zona das secas, entre o Paraguaçu Catedráticos de Literatura Ibero-americana reunido em 1942 em Nova Orleans e publicado na e o Parnaíba, a velha pátria dos Cariris" (Compêndio de história da literatura, 2-A edição refun- Memória do mesmo Congresso (Nova Orleans, 1944), sustenta: "Chega-se a falar, para ofender a dida, Rio de Janeiro, 1909). E Afonso Cláudio no seu estudo sobre "As três raças na sociedade Europa, em civilizações 'ameríndias' e 'afro-índias', que são apenas desabafos políticos ou ten­ colonial - Contribuição social de cada uma" salienta que para a formação brasileira o indígena dências eleitorais efêmeras, por não consistentes. Na realidade, só há uma civilização na América: concorreu: "a) com o seu braço que foi um dos instrumentos de trabalho colonial; b) com o é a civilização branca importada, apenas americanizada" (p. 116-117). As conclusões de Afrânio conhecimento dos cursos de água interiores do país, em que navegava e das florestas que varava e Peixoto foram impugnadas, no mesmo Congresso, pelos professores W. Rex Crawford, Vásquez das quais foi sempre o guia nas explorações industriais e científicas e nas missões religiosas; c) Amaral, Alberto Rembao e outros, tendo o professor Crawford lembrado a influência africana no com a divulgação de vegetais convinháveis à alimentação, como a farinha de mandioca, o cauim desenvolvimento de várias culturas americanas. Veja-se também sobre o assunto Gilberto Freyre, ou cauaba, nozes e castanhas silvestres; d) com a prática de extração de raízes, frutas, óleos e Problemas brasileiros de antropologia, Rio de Janeiro, 1943- folhas, cipós e flores de propriedades terapêuticas, desconhecidas dos europeus; e) com o ensino Em comentário ao estudo do Sr. João Dornas Filho, Influência social do negro brasileiro do manejo do arco e flecha, dos laços e armadilhas para a captura do peixe e da caça, como o (Curitiba, 1943), o Sr. Aires da Mata Machado Filho transcreve do mesmo estudo o seguinte mundéu, o fojo, o jequiá e o tingui; f) com os empréstimos de seu vocabulário dialetal, para trecho: "Quanto ao seu valor específico, ao 'tonus' do seu estádio intelectual em relação ao designar fatos de linguagem sem expressões correspondentes nas línguas portuguesa e africana; aborígine do Brasil, Max Schmidt destaca dois aspectos essenciais que lhe dão superioridade g) com o ensino e preparo da coivara, o governo das igaras nos rios e lagoas e o transporte nos sobre este e que são o trabalho dos metais e a criação de gado. Gilberto Freyre acrescenta a arte rápidos e cachoeiras; h) com a aplicação ao uso doméstico e ao vestuário, das fibras têxteis, cipós culinária e ambos se esquecem da agricultura que o negro já praticava racionalmente, como se e taquaras; i) com a tecelagem da rede de dormir e da de apreender o peixe, da tarraf a de tucum e sabe, com a cana-de-açúcar e o milho, sendo que este último o índio só utilizava cozido ou da fisga; j) com o conhecimento e preparo do ticuna ou curare" Rev. do Inst. Hist. Geog. Bros., assado, desconhecendo o processo de moagem para o fubá e outros mingaus, que o negro intro­ 1927, (tomo especial, vol. III). Entre outras muitas palavras que nos ficaram do tupi Teodoro duziu na nossa dieta" ("índios e negros", Planalto, São Paulo, janeiro, 1945, p. 26-27). A obser­ Sampaio menciona as seguintes: arapuca, pereba, sapeca, embatucar, tabaréu, pipoca, tetéia, vação é interessante no que se relaciona à contribuição do negro para o desenvolvimento da caipira, todas de uso corrente no Brasil ("São Paulo de Piratininga no fim do século XVI", Rev. civilização material, no Brasil, com valores e técnicas um tanto desprezadas pelo Sr. Afonso do Inst. Hist. Geog. de São Paulo, tomo LV). Arinos de Melo Franco em seu referido Desenvolvimento da civilização material no Brasil. Aí escreve o Sr. A. A. de Melo Franco que Nina Rodrigues e o professor Artur Ramos reconhecem "a pequenez da contribuição especificamente negra para a nossa civilização material", acrescen­ tando que Artur Ramos, tratando da civilização material dos negros, apenas se refere à importa­ ção de pequenos objetos de bronze e outros metais e à fabricação de instrumentos de música de IIII O colonizador português: antecedentes e predisposições

j^Lríos pontos em que tocamos de leve no primeiro capítulo vamos neste ferir com mais força na tentati­ va de caracterizar a figura do colonizador português do Brasil. Figura vaga, falta-lhe o contorno ou a cor que a individualize entre os impe- rialistas modernos. Assemelha-se em uns pontos à do inglês-, em ou­ tros à do espanhol. Um espanhol sem a tlama guerreira nem a ortodo­ xia dramática do conquistador do México e do Peru; um inglês sem as bivadeiras à beira do rio. J.-B. Debret. Voyage Pittoresque et Hislorique au Brésil, 1834. duras linhas puritanas. O tipo do contemporizados Nem ideais abso­ v. 2, pr. 48. Acervo do Instituto de Estudos Brasileiros da USP. lutos, nem preconceitos inflexíveis. O escravocrata terrível que só faltou transportar da África para a América, em navios imundos, que de longe se adivinhavam pela inhaca, a população inteira de negros, foi por outro lado o colonizador euro­ peu que melhor confraternizou com as raças chamadas inferiores. O menos cruel nas relações com os escravos. É verdade que, em grande parte, pela impossibilidade de constituir-se em aristocracia européia nos trópicos: escasseava-lhe para tanto o capital, senão em homens, em mulheres brancas. Mas independente da falta ou escassez de mu­ lher branca o português sempre pendeu para o contato voluptuoso com mulher exótica. Para o cruzamento e miscigenação. Tendência que parece resultar da plasticidade social, maior no português que em qualquer outro colonizador europeu. Nenhum menos rígido no contorno. Menos duro nas linhas do pelas ruas e, dentro delas, magníficos e inúteis, centenas de grandes da caráter. Daí prestar-se a tantas e tão profundas deformações. Não é Espanha. Quarenta e cinco famílias só de marqueses e condes. Mas uma "lenda negra", como a grande, sinistra, que prestigia, mesmo onde o processo de colonização européia afirmou-se essencialmente denegrindo, a figura do conquistador espanhol, a que envolve o colo­ aristocrático foi no norte do Brasil. Aristocrático, patriarcal, escravocrata. nizador português, mas uma tradição pegajenta de inépcia, de estupi­ O português fez-se aqui senhor de terras mais vastas, dono de homens dez e de salacidade. mais numerosos que qualquer outro colonizador da América. Essencial­ A deformação do vulto, por natureza gótico, vertical, do castelhano, mente plebeu, ele teria falhado na esfera aristocrática em que teve de tem sido a grecóide. O alongamento mórbido. A "férrea austeridad" desenvolver-se seu domínio colonial no Brasil. Não falhou, antes fun­ exagerada em crueldade. O orgulho em fanfarronice quixotesca. A dou a maior civilização moderna nos trópicos. valentia em bravado. Mas conservada a nobreza angulosa do todo. A Há muito que descontar nas pretensões de grandeza do portu­ deformação do português tem sido sempre em sentido horizontal. O guês. Desde fins do século XVI ele vive parasitariamente de um achatamento. O arredondamento. O exagero da carne em enxúndia. passado cujo esplendor exagera. Supondo-se diminuído ou negado Seu realismo econômico arredondado em mercantilismo, somiticaria, pela crítica estrangeira, artificializou-se em um português-para-in- materialização bruta de todos os valores da vida. Seu culto da Vênus glês-ver, que os ingleses têm sido, entretanto, os mais perspicazes fosca, de formação tão romântica como o das virgens louras, desfigu­ em retratar ao natural, restituindo-lhe os contornos e as cores exa­ tas. Uns em livros admiráveis como o de Beckford e o de Bell, ou­ rado em erotismo rasteiro: furor de don-juan das senzalas desadorado tros em desenhos ou aquarelas estupendas de realismo como as de atrás de negras e molecas. Kinsey, de Bradford, de Murphy. Já no século XVI Buchanan troçava Não é pelo estudo do português moderno, já tão manchado de em versos latinos dos portugueses. Da grandeza antes mercantil do podre, que se consegue uma idéia equilibrada e exata do colonizador que imperial do seu rei: do Brasil - o português de Quinhentos e de Seiscentos, ainda verde de energia, o caráter amolegado por um século, apenas, de corrupção e decadência. Foi o que tentou Keyserling para concluir pelo seu Tu és o incomparável Lusitano, O Algarvio d'aquém e d'além-mar, plebeísmo e quase negar-lhe a qualidade de povo imperial. Mesmo O Árabe, o Índico, o Persa e o da Guiné; que esse plebeísmo fosse característico do português de hoje não Grande senhor de terras africanas seria do português dos séculos XV e XVI. Sem aguçar-se nunca no Do Congo e Manicongo e de Zalofo. aristocratismo do castelhano, no que o português se antecipou aos europeus foi no burguesismo. Mas esse burguesismo precoce sofreria no Brasil refração séria em face das condições físicas da terra e das de E logo, profético, antevendo os desastrosos efeitos do mercan­ tilismo oficial, acrescentava o letrado: cultura dos nativos; e o povo que, segundo Herculano, mal conhece­ ra o feudalismo,1 retrocedeu no século XVI à era feudal, revivendo- lhe os métodos aristocráticos na colonização da América. Uma como Se porém algum dia, ao rei dos nomes compensação ou retificação de sua própria história. A guerra ou o mar em fúria s 'inflamando Lhe fecharem a tenda da pimenta, A colonização do Brasil se processou aristocraticamente - mais do Bem pode alimentar-se dessa fama que a de qualquer outra parte da América. No Peru terá havido maior Mercadejada em terras d'além-mar... brilho cenográfico; maior ostentação das formas e dos acessórios da Fará pesadas dívidas aristocracia européia. Lima chegou a ter quatro mil carruagens rodando Ou morrerá de fome.2 Foi o que sucedeu, estancadas as fontes asiáticas de opulência. pondo-o ao nacionalismo e até ao imperialismo: o ódio ao mouro. Longe de conformar-se com uma viuvez honesta, de nação decaída - Quase o mesmo ódio que se manifestou mais tarde no Brasil nas guer­ como mais tarde a Holanda, que depois de senhora de vasto império ras aos bugres e aos hereges. Principalmente aos hereges - o inimigo entregou-se ao fabrico do queijo e da manteiga - continuou Portugal, contra quem se uniram energias dispersas e até antagônicas. Jesuítas e após Alcácer-Quebir, a supor-se o Portugal opulento de D. Sebastião senhores de engenho. Paulistas e baianos. Sem esse grande espantalho vivo. A alimentar-se da fama adquirida nas conquistas de ultramar. A comum talvez nunca se tivesse desenvolvido "consciência de espécie"5 iludir-se de uma mística imperialista já sem base. A envenenar-se da entre grupos tão distantes uns dos outros, tão sem nexo político entre mania de grandeza. "Celebram Lisboa com tal cópia de palavras, que si, como os primeiros focos de colonização lusitana no Brasil. A unifica­ a fazem igual às principais cidades do mundo, e por isso costumam ção moral e política realizou-se em grande parte pela solidariedade dos dizer: - Quem não vê Lisboa, não vê cousa boa", escreviam dos por­ diferentes grupos contra a heresia, ora encarnada pelo francês, ora pelo tugueses em fins do século XVI os embaixadores venezianos Trom e Lippomani. E acrescentavam: "A gente miúda gosta que lhe dêem o inglês ou holandês; às vezes, simplesmente pelo bugre. tratamento de Senhor, manha esta comum a toda a Espanha".3 Repetiu-se na América, entre portugueses disseminados por um Do século XVI até hoje só tem feito aguçar-se no português a território vasto, o mesmo processo de unificação que na Península: simulação de qualidades européias e imperiais, que possuiu ou cristãos contra infiéis. Nossas guerras contra os índios nunca foram encarnou por tão curto período. É um povo que vive a fazer de conta guerras de branco contra peles-vermelhas, mas de cristãos contra que é poderoso e importante. Que é supercivilizado à européia. Que bugres. Nossa hostilidade aos ingleses, franceses, holandeses teve é grande potência colonial. Bell observou entre os portugueses dos sempre o mesmo caráter de profilaxia religiosa: católicos contra here­ princípios do século XX que seus ideais de engrandecimento nacional ges. Os padres de Santos que em 1580 tratam com os ingleses da continuavam a variar entre "a conquista da Espanha e a construção de Minion, não manifestam contra eles nenhum duro rancor: tratam-nos uma marinha de guerra."4 A Suíça que condense o seu leite e a Holanda até com alguma doçura. Seu ódio é profilático. Contra o pecado e não que fabrique seus queijos. Portugal continua de ponta de pé, no es­ contra o pecador, diria um teólogo. É o pecado, a heresia, a infideli- forço de aparecer entre as grandes potências européias. dade que não se deixa entrar na colônia, e não o estrangeiro. É o Foram esses exageros que o impressionismo de Keyserling não infiel que se trata como inimigo no indígena, e não o indivíduo de soube descontar ou descontou mal, reduzindo os portugueses a um raça diversa ou de cor diferente. povo sem grandeza nenhuma: quase uma Andorra ou uma São Mari­ Bryce atinou com o sentido religioso da formação hispânica da nho. República de opereta onde todos os homens fossem doutores e América. "Religion has been in thepast almost aspowerful a dissevering se tratassem por Vossa Excelência. Diminuiu-lhes a importância da force as has racial antagonism", escreve ele. E acrescenta: "In the função criadora que nos séculos XV e XVI afirmou-se não só na técni­ case ofthe Spaniard and the Portuguese, religion, as soon as the Indians ca da navegação e da construção naval como no arrojo dos descobri­ 6 mentos e das conquistas, nas guerras da África e da índia, na opulenta had been baptized, made race differences seem insignificant''. Princi­ literatura de viagens, no eficiente imperialismo colonizador. Só lhes palmente - poderia ter adiantado - no caso dos portugueses, ainda deixou de original a música popular ou plebéia; e de grande o ódio mais sem consciência de raça do que os espanhóis. Estes teriam maior ao espanhol. Ódio igualmente plebeu. que os portugueses o senso da ortodoxia católica; mais grave o senti­ Pelo ódio ou antagonismo ao espanhol é que o português se teria mento do castigo; mas em ambos ficara da luta contra os mouros o tornado e conservado autônomo. Independente. ódio profilático ao herege. Mas antes do ódio ao espanhol, salientado por Keyserling, outro, No fundo, esse purismo de religião, como o mais moderno e talvez mais profundo e criador, atuou sobre o caráter português, predis- caracteristicamente anglo-saxônico, ou teutônico, de raça, do que se mantidas pelo econômico, das sesmarias e da grande lavoura - condi­ origina ou se alimenta é quase sempre de antagonismos econômicos. ções francamente feudais - o que acentuaram de superior aos gover­ Nem outra coisa foram em essência as guerras entre cristãos e mouros nos e à justiça del-Rei foi o abuso do coito ou homizio pelos grandes de que resultaria o ardoroso nacionalismo português. Se as considerar­ proprietários de engenhos; e não pelas catedrais e pelos mosteiros. mos de feição religiosa, é menos pelos seus motivos essenciais que Criminoso ou escravo fugido que se apadrinhasse com senhor de pela sua forma e pela sua mística. Já observou João Lúcio de Azevedo: engenho livrava-se na certa das iras da justiça ou da polícia. Mesmo "na reconquista não estava o principal fundamento na religião nem na

7 que passasse preso diante da casa-grande bastava gritar: - "Valha-me, raça". E no seu estudo Organização econômica, Azevedo fere a mes­ seu Coronel Fulano". E agarrar-se à porteira ou a um dos moirões da ma nota: nas guerras da reconquista foram escravizados e esbulhados cerca. Da mesma maneira que outrora, em Portugal, refugiando-se o mouros e cristãos indistintamente. Do que resultou "pelejarem às vezes criminoso à sombra das igrejas, escapava ao rigor da justiça del-Rei. os cristãos contra os da sua fé ao lado dos sarracenos, defendendo As igrejas portuguesas tornaram-se até escandalosas na proteção assim a posse de seus bens e a liberdade". Pode-se afirmar que nesses a criminosos. Anteciparam-se nesses abusos aos engenhos patriarcais casos os esbulhos e a escravidão se fizeram em proveito, menos dos do Brasil. Ao de Da. Francisca do Rio Formoso, em Pernambuco. Ao antigos hispano-romanos, do que de elementos "na procedência alheios 10 8 de Machado da Boa Vista, na Bahia. ao solo, quase tanto quanto podiam ser os sarracenos." No século XVII a disciplina canônica juntou-se à autoridade del-Rei Elementos em grande maioria novos na Península; adventícios. (Afonso V) no sentido de restringir as condições de asilo nas igrejas Aventureiros louros vindos do Norte a quem as guerras ou cruzadas portuguesas como mais tarde, no Brasil, o imperador D. Pedro II tenta­ aos infiéis facilitavam constituírem-se em classe proprietária, à custa ria restringir a onipotência dos proprietários de engenho, muitas vezes da lenda suave de reconquista cristã. Mas a verdade é que o capital de couteiros de assassinos. Pelos limites impostos no século XVII aos abu­ instalação desse elemento aventureiro foi muitas vezes o cativo de sos de asilo nas igrejas, em Portugal,11 verificam-se os desmandos em guerra moçárabe e portanto cristão; o gado, a terra e os bens desses que se extremavam, dentro delas, os acoutados. Banqueteavam-se. seus correligionários, e não apenas dos infiéis. Punham-se à porta ou no adro a tanger viola. Jogavam. Conversavam Mas foi pela mística religiosa que o movimento da reconquista se safadeza. Punham-se em contato com mulheres suspeitas. Os mais afoitos definiu. Cristãos contra infiéis. "Quando cumpria aplicar uma desig­ comiam, bebiam e dormiam na própria capela-mor. nação que representasse o habitante da parte da Península livre do No Brasil, a catedral ou a igreja mais poderosa que o próprio rei jugo do Islão, só uma palavra havia: Cristianos", diz-nos Alexandre

9 seria substituída pela casa-grande de engenho. Nossa formação so­ Herculano da época belicosa que antecedeu a organização dos por­ cial, tanto quanto a portuguesa, fez-se pela solidariedade de ideal ou tugueses e espanhóis em nações. "O epíteto que indicava a crença de fé religiosa, que nos supriu a lassidão de nexo político ou de mística representava a nacionalidade." Esta só depois se definiu politicamen­ ou consciência de raça. Mas a igreja que age na formação brasileira, te sem entretanto perder de todo, a não ser largos séculos depois da articulando-a, não é a catedral com o seu bispo a que se vão queixar reconquista, o nexo ou o cunho religioso. os desenganados da justiça secular; nem a igreja isolada e só, ou de Na expressão popular, hoje irônica - "Vá queixar-se ao bispo" - mosteiro ou abadia, onde se vão açoitar criminosos e prover-se de esgotados os apelos à polícia, ao governo, à justiça, sobrevive a anti­ pão e restos de comidas mendigos e desamparados. É a capela de ga idéia do prestígio eclesiástico maior que o civil dentro da qual engenho. Não chega a haver clericalismo no Brasil. Esboçou-se o dos formou-se o espírito da gente peninsular. Principalmente na Espanha. padres da Companhia para esvair-se logo, vencido pelo oligarquismo No Brasil já esse prestígio não seria tão grande. As condições de e pelo nepotismo dos grandes senhores de terras e escravos. colonização criadas pelo sistema político das capitanias hereditárias e Os jesuítas sentiram, desde o início, nos senhores de engenho, nesse ponto dos mais liberais da Europa. Tão liberal que nele não seus grandes e terríveis rivais. Os outros clérigos e até mesmo frades figuram nunca o direito de albinágio, o de detração e o de naufrágio. acomodaram-se, gordos e moles, às funções de capelães, de padres- Em outras palavras: o de apropriar-se o Estado da sucessão dos es­ mestres, de tios-padres, de padrinhos de meninos; à confortável situa­ trangeiros mortos em seu território com exclusão de herdeiros e lega- ção de pessoas da família, de gente de casa, de aliados e aderentes do tários (albinágio); o de deduzir-se o imposto na quarta parte dos bens sistema patriarcal, no século XVIII muitos deles morando nas próprias exportados dos estrangeiros falecidos no país (detração); o de se apo­ casas-grandes. Contra os conselhos, aliás, do jesuíta Andreoni que derarem reis e senhores das pessoas e cousas naufragadas no mar e enxergava nessa intimidade o perigo da subserviência dos padres aos nos rios (naufrágio).14 O Direito português iniciou-se, não sufocando senhores de engenho e do demasiado contato - não diz claramente, e abafando as minorias étnicas dentro do reino - os mouros e os mas o insinua em meias palavras com negras e mulatas moças. Ao seu judeus - suas tradições e costumes, mas, reconhecendo-lhes a facul­ ver devia o capelão manter-se "familiar de Deus, e não de outro ho­ dade de se regerem por seu direito próprio e até permitindo-lhes mem"; morar sozinho, fora da casa-grande; e ter por criada escrava magistrados à parte, como mais tarde no Brasil colonial, com relação velha.12 Norma que parece ter sido seguida raramente pelos vigários e aos ingleses protestantes. capelães dos tempos coloniais. Nas Ordenações Afonsinas, que Coelho da Rocha no seu Ensaio Em certas zonas do interior de Pernambuco, tradições maliciosas sobre a história da legislação de Portugale Cândido Mendes em Intro­ atribuem aos antigos capelães de engenho a função útil, embora nada dução ao Código Filipino salientam ter sido o primeiro código com­ seráfica, de procriadores. Neste ponto havemos de nos deter com pleto de toda a Europa depois da Idade Média, recolheu-se do direito mais vagar; e esperamos que sem malícia nem injustiça para com o foraleiro e costumeiro a tendência para conceder privilégios a mouros clero brasileiro dos tempos da escravidão. O qual se não primou nun­ e judeus. Tendência que cedeu, nas Ordenações Manuelinas, à pressão ca, a não ser sob a roupeta de jesuíta, pelo ascetismo ou pela ortodo­ de preconceitos religiosos, então inflamados; mas nunca à da pura xia, sempre se distinguiu pelo brasileirismo. Durante certa época o xenofobia. Tanto que as vantagens aí concedidas a estrangeiros cató­ facho da cultura e até do civismo esteve nas suas mãos: antes dos licos seriam depois pleiteadas pelos próprios nacionais. É que a luta bacharéis e doutores tomarem a dianteira sob a proteção do impera­ contra os mouros, como mais tarde o movimento separatista de que dor D. Pedro II. Este tudo indica que teria preferido o título de doutor resulta a Independência, são eles mesmos favoráveis ao cosmopolitismo ao de imperador; a toga ao manto com papo de tucano. que se desenvolve no português ao lado, e em harmonia, com seu Na falta de sentimento ou da consciência da superioridade da precoce nacionalismo. De modo que a nenhum desses dois ódios ou raça, tão salientes nos colonizadores ingleses, o colonizador do Brasil antagonismos - o ódio ao mouro e o ódio ao espanhol - pode-se apoiou-se no critério da pureza da fé. Em vez de ser o sangue foi a fé atribuir ter atuado no português em um só sentido e este inferior: o de que se defendeu a todo transe da infecção ou contaminação com os crispá-lo. O de estreitar-lhe o espírito nacional. O de ouriçar-lhe o hereges. Fez-se da ortodoxia uma condição de unidade política. Mas caráter de cacos de vidro contra tudo e contra todos. não se deve confundir esse critério de profilaxia e de seleção, tão Na falta de grandes fronteiras naturais ou físicas, defendendo-se legítimo à luz das idéias do tempo como o eugênico dos povos mo­ de agressões e absorções, tiveram os portugueses de entesar-se em dernos, com a pura xenofobia. muralhas vivas, de carne, contra o imperialismo muçulmano e mais Handelmann faz do colonizador português do Brasil quase um tarde contra o de Castela; mas nesse próprio esforço de suprir com xenófobo por natureza.13 Mas os antecedentes portugueses contradi­ pura resistência ou tensão humana a quase nenhuma defesa geográfi­ zem essa suposta xenofobia; nega-a a história do direito lusitano - ca - a falta de grande rio ou montanha - valeram-se do concurso de estrangeiros. Tanto nas Cruzadas como nas guerras de independência se constituíram em aristocracia militar e territorial. Um deles em funda­ esse concurso se fez sentir de maneira notável. É o que explica no dor mesmo da monarquia. Mas esse elemento se estratificou depois português não só seu nacionalismo quase sem base geográfica como em camada conservadora, inclinando-se por vantagem econômica de o cosmopolitismo. Cosmopolitismo favorecido, este sim, em grande classe à própria reunião com Castela. Foi quando a atividade diferen- parte, pela situação geográfica do reino: a de país largamente maríti­ ciadora e autonomista, e bem assim o sentimento nativista ou de pá­ mo, desde remotos tempos variando de contatos humanos. Por um tria, concentrou-se nas cidades marítimas e mercantis. Em Lisboa. No lado, recebendo em suas praias sucessivas camadas ou simples, mas Porto. Entre burgueses e nas classes populares. Segundo Alberto freqüentes, salpicos de povos marítimos. Por outro lado, indo seus Sampaio e Antônio Sérgio, desde os começos da vida portuguesa que navegantes, pescadores e comerciantes às praias e águas alheias co­ se esboçou o antagonismo entre a classe comercial das cidades maríti­

merciar, pescar e farejar novos mercados. 18 mas e a aristocracia territorial do centro. Aguçado esse antagonismo Não muito depois de 1184 pensa João Lúcio de Azevedo que se econômico e de classe, acentuada a divergência entre os interesses teriam iniciado as relações comerciais dos portugueses com Flandres: rurais e os marítimos, a política dos reis, no desejo de libertar-se de e com a Inglaterra desde os primeiros anos do século XIII. E havia tudo o que fosse pressão aristocrática sobre o poder real, inclinou-se também "mercadores que iam aos portos do levante designados na para a burguesia mercantil e para o povo das cidades. As leis promul­ linguagem da época por portos de além-mar."15 No tempo de D. Dinis gadas por D. Fernando no sentido de proteger o comércio marítimo e barcos portugueses, alguns enormes para a época, de mais de cem animar a construção naval, o apoio ao mestre de Avis contra a aristo­ toneladas, freqüentaram portos do Norte e do Mediterrâneo. O Porto cracia territorial, a conquista de Ceuta - são iniciativas e movimentos intensificou-se na atividade marítima e mercantil. Em 1239 seus bur­ que refletem a precoce ascendência da burguesia em Portugal. gueses conseguiram eximir-se do serviço militar na conquista de Algarve A descoberta do Brasil enquadra-se no grande programa maríti­ "contribuindo para ela com dinheiro."16 Por onde se vê quão precoce- mo e comercial inaugurado pela viagem de Vasco da Gama; a coloni­ mente agiu sobre a formação portuguesa o cosmopolitismo comercial. zação da vasta terra americana afastou-se, porém, das normas comer­ A finança. O mercantilismo burguês. ciais e burguesas do primeiro século do imperialismo português para É, assim, aos elementos "não hispânicos", como escreve Antônio reviver os métodos de como que autocolonização aristocrática e agrá­ Sérgio, ou sejam os elementos estrangeiros, de origens diversas, que ria, aplicados no próprio Portugal ao território reconquistado aos se deve atribuir o fato de não se ter incorporado a Castela o trecho mouros. ocidental da Península "onde o comércio do norte da Europa encon­ O Brasil foi como uma carta de paus puxada em um jogo de trou-se com o do Mediterrâneo."17 Despertaram os estrangeiros na trunfo em ouros. Um desapontamento para o imperialismo que se população desse ponto dúbio, impressionável, de confluência do norte iniciara com a viagem à índia de Vasco da Gama. Daí o gesto mole, com o sul da Europa e com o Levante, tendências cosmopolitas e desinteressado, sem vontade, com que a Coroa recolheu ao seu domí­ separatistas, marítimas e comerciais; e essas tendências cedo se de­ nio as terras de pau-de-tinta descobertas por Pedrálvares Cabral. Só senvolveram em forças impetuosas de diferenciação e autonomia. em nova fase de atividade portuguesa - a propriamente colonizadora, A precoce ascendência das classes marítimas e comerciais na eco­ a do fim do século XVI e parte do século XVII - o Brasil teria força de nomia e na política portuguesa resultou igualmente da extraordinária trunfo no jogo das competições imperialistas das nações européias. variedade de contatos marítimos e de estímulos comerciais. A princí­ Essa transformação, em virtude da repentina valorização do açúcar pio os grandes agentes de diferenciação e autonomia foram os cruza­ nos mercados aristocráticos e burgueses da Europa. O açúcar tornou- dos. Os aventureiros vindos do Norte e que no condado portucalense se artigo de luxo, vendido a preços elevadíssimos e dando lucros enormes a produtores e intermediários. Até o mascavo, notou Dampier, acrescenta contente de haver-se tornado súdito de Portugal no Brasil: quando esteve na Bahia nos fins do século XVII, que se exportava "nowlam afree denizen ofthis countrey". Ele se casara com a filha do para a Europa valendo cerca de vinte xelins por cem libras.19 "signorloffo Dore", natural da cidade de Gênova e por sua vez instala­ Não nos interessa, porém, senão indiretamente, neste ensaio, o do principescamente no Brasil; tanto que deu ao genro um engenho aspecto econômico ou político da colonização portuguesa do Brasil. com sessenta ou setenta escravos. E como mais tarde Henry Koster, Diretamente, só nos interessa o social, no sentido particular de social cujo nome se aportuguesou no de Henrique da Costa, John Whitall que coincide com o sociológico. E nenhum antecedente social mais teve o seu aportuguesado em Leitão: "Here in this countrey they called importante a considerar no colonizador português que a sua extraor­ me John Leitoan: so that they have used this name so long time that at dinária riqueza e variedade de antagonismos étnicos e de cultura; que bispresent there is no remedie but it must remaine so".2[ o seu cosmopolitismo. Já antes de Whitall outros ingleses haviam estado no Brasil co­ O Brasil não recolheu de Portugal a suposta falta de liberalidade merciando ou farejando novidades: Robert Renigar e Thomas Borey para com o estrangeiro que alguns têm enxergado na colonização em 1540; certo Pudsey em 1542; Martin Cockeran e William Hankins lusitana da América. A política de segregação no Brasil só a inspirou, em 1530 e 1532. Hankins, segundo referem crônicas da época, teria no século XVII, e principalmente no XVIII, o ciúme do ouro; o que levado à Inglaterra um cacique brasileiro, apresentando-o no meio de houve antes, com aparência de xenofobia obedeceu à polícia de de­ grande sensação ao rei e à Corte.22 O pobre do morubixaba porém fesa, como que sanitária, da colônia contra infecções heréticas. não resistiu - ignora-se se ao frio, se ao horrível da culinária inglesa. Iniciada a colonização do Brasil pelo esforço de portugueses, ao A nenhum inglês nem flamengo o fato, em si, da nacionalidade sangue do colonizador oficial logo se misturou livremente o de euro­ ou da raça, impediu que fosse admitido na sociedade colonial portu­ peus das mais variadas procedências: ingleses, franceses, florentinos, guesa da América no século XVI. O que era preciso é que fosse cató- genoveses, alemães, flamengos, espanhóis. Citamos os ingleses em pri­ lico-romano ou aqui se desinfetasse com água benta da heresia pestí- meiro lugar porque neles é que se encarnou com mais relevo a heresia fera. Que se batizasse. Que professasse a fé católica, apostólica, romana. protestante, tão odiosa, aos olhos dos portugueses e espanhóis, do É o que encontramos praticando Thomas Avilkinson, de idade de 26 século XVI, como hoje o tracoma, o sangue negro e o bolchevismo aos anos, Thomas Pratt, de idade de 32 anos, Patrício Guatusmus, de da burguesia norte-americana. A presença de ingleses entre os primei­ idade de 27 anos, e Thomas Perking, de idade de 48 anos, todos ros colonos de São Vicente mostra que, livres da suspeita de hereges, "ingleses de Nação", perante o padre da Companhia de Jesus encar­ eram recebidos fraternalmente. Narra Coreal que dizendo um dia a um regado pelo bispo de Pernambuco, frei Luís de Santa Teresa, de rece­ santista já ter servido entre ingleses flibusteiros o homem imediatamen­ ber a absolvição de heresia dos excomungados.23 A Igreja era uma te se arrepiou. Perguntou-lhe mais de trinta vezes se Coreal não seria espécie de desinfetório ao serviço da saúde moral da colônia; um herege. E apesar de todas as suas afirmativas em contrário não resistiu lazareto onde as almas ficavam em quarentena. ao desejo de espargir com água benta o aposento em que estavam.20 Handelmann salienta que a principal exigência para adquirir Entretanto, vamos encontrar o inglês John Whitall perfeitamente aco­ sesmaria no Brasil era professar o colono a religião católica.24 Seria modado entre os primeiros colonos do Brasil: escrevendo em Santos católico Whitall ou aqui se teria ligado à Igreja antes de casar-se com uma carta ao seu conterrâneo Richard Stapes, na Inglaterra, que deixa a filha de Adorno; do mesmo modo que Gaspar van der Lei, para ver claramente a liberalidade para com os estrangeiros na colônia por­ unir-se pelo casamento à família Melo, em Pernambuco, teve de abra­ tuguesa da América. "Dou graças a Deus", diz Whitall, "por me haver çar a religião da noiva, filha de rico senhor de engenho. Do fidalgo proporcionado tamanha honra e abundância de todas as coisas." E holandês, porém, ficaram murmurando os seus compatriotas que era homem dúbio e incerto. Não perdoaram nunca ao ilustre fundador da sideráveis infiltrações étnicas e culturais de origem africana (capsienses) deixando traços mais fundos, localizações mais espessas nas zonas família Wanderley no Brasil haver se bandeado para os portugueses e meridionais extremas. Entre outras indicações da penetração africana para o papismo. nesse período destacam-se representações de escultura na arte Parece-nos evidente a liberalidade para com o estrangeiro na capsiense peninsular de mulheres com nádegas salientes que recor­ América portuguesa do século XVI. Liberalidade vinda de longe: das dam a esteatopigia das boximanas e hotentotes.26 Quase o mesmo raízes mesmas da nação portuguesa. Não se trata de nenhuma virtude pode dizer-se da etnologia pós-paleolítica do território português em descida do céu sobre os portugueses mas do resultado quase químico que a capsienses H. Taganus e braquicéfalos (mugem), e a novos da formação cosmopolita e heterogênea desse povo marítimo. capsienses de Leste, se teriam reunido dolicocéfalos "talvez descen­ Os que dividem Portugal em dois, um louro, que seria o aristocrá­ dentes dos dolicocéfalos de feição européia" e possíveis portadores tico, outro moreno ou negróide, que seria o plebeu, ignoram o verda­ dos "elementos essenciais da cultura neolítica", além de novas pene­ deiro sentido da formação portuguesa. Nesta andaram sempre reve­ trações - aliás duvidosas - de origem africana.27 zando-se as hegemonias e os predomínios não só de raça como de No período neoneolítico e neolítico continua na Península o ínti­ cultura e de classe. O quase permanente estado de guerra em que mo contato entre a Europa e a África. Segue-se um período - o da viveu, por largos anos, Portugal, situado entre a África e a Europa, Idade de Bronze - que alguns consideram de estabilização. O homem deu-lhe uma constituição social vulcânica que se reflete no quente e da Península, passado pela primeira fervura de miscigenação, teria plástico do seu caráter nacional, das suas classes e instituições, nunca sido deixado a esfriar por alguns séculos, sem invasões africanas ou endurecidas nem definitivamente estratifiçadas. O estado de conquis­ do Norte que lhe perturbassem o processo como que de endureci­ ta e reconquista, de fluxo e refluxo, não deixou que se estabelecesse mento de cultura e de definição do tipo físico. Mas a última invasão em Portugal nenhuma hegemonia, a não ser de momento. Nenhum africana da Península - a de Almeria - deixara muito que digerir à exclusivismo - a não ser oficial ou superficial - de raça ou de cultura. Europa nesse largo período de assimilação. Vêm mais tarde os conta­ Predisposto pela sua situação geográfica a ponto de contato, de tos com os gregos e cartagineses dar novas cores à cultura peninsular trânsito, de intercomunicação e de conflito entre elementos diversos, no Sul e a Leste; ao mesmo tempo que no Centro e no Oeste surgem quer étnicos, quer sociais, Portugal acusa em sua antropologia, tanto as formas da cultura pós-hallstatiana, obra talvez dos celtas,28 invaso­ quanto em sua cultura, uma grande variedade de antagonismos, uns res da Península, primeiro pelo nordeste e depois pelo ocidente dos em equilíbrio, outros em conflito. Esses antagonismos em conflito são Pireneus. Esboçam-se duas áreas de cultura: uma de influência do apenas a parte indigesta da formação portuguesa: a parte maior se Norte ou céltica; outra de influência mediterrânea. Mas sem perderem mostra harmoniosa nos seus contrastes, formando um todo social plás­ de comum entre si traços indígenas que mesmo na zona por alguns tico, que é o caracteristicamente português. considerada de influência predominantemente céltica sobreviveram A heterogeneidade étnica e de cultura vamos surpreendê-la nas na cerâmica malcozida. origens remotas do português. Do homem paleolítico em Portugal não se sabe o bastante para precisar-lhe a origem: européia para uns, africa­ Essa dualidade de formas de cultura caracterizaria a situação da na para outros. Mendes Correia admite a primeira hipótese para o chéleo- Península, em geral, e do território hoje português, em particular, ao acheulense mas considera-a duvidosa para o mustierense.25 No que se verificar-se a invasão romana, sendo entretanto provável que o tipo entrevê remota indecisão do peninsular entre a Europa e a África. moreno e de cabelo crespo fosse o mais característico, encarnando Essa indecisão se acentua com relação à época do paleolítico formas de cultura porventura mais mediterrâneas do que nórdicas; superior, período em que, provavelmente, terá havido na Europa con­ mais africanas do que européias. Bem expressivo é o célebre auto- retrato de Marcial: hispanis ego contumax capillts. Esse tipo moreno e xeram para a antropologia portuguesa elementos novos e até antagô­ talvez negróide seria mais próximo do indígena e o mais freqüente. nicos. Estes elementos se emprenharam em um como conflito com os Nunca porém o exclusivo. O ponto a fixar é exatamente o nenhum indígenas, parecendo às vezes ir vencê-los, mas acabando sempre exclusivismo de tipo no passado étnico do povo português; a sua por fazer as pazes com eles. Contemporizando em dualidades bizar­ antropologia mista desde remotos tempos pré e proto-históricos; a ras de mestiçagem tão características da população propriamente por­ extrema mobilidade que lhe tem caracterizado a formação social. tuguesa. Os dados fornecidos a Ripley por Ferraz de Macedo permitiram Portugal é por excelência o país europeu do louro transitório ou àquele antropólogo concluir pela persistência da dolicocefalia e da es­ do meio-louro. Nas regiões mais penetradas de sangue nórdico, muita tatura baixa em Portugal;29 mas sem predomínio nem pureza de ne­ criança nasce loura e cor-de-rosa como um Menino Jesus flamengo nhum estoque. Conclusão, também, de Fonseca Cardoso.30 Este dá como para tornar-se, depois de grande, morena e de cabelo escuro. Ou característicos fundamentais da população portuguesa no meio de toda então - o que é mais característico - revela-se a dualidade, o equilíbrio a extraordinária variedade de tipos, a estatura abaixo da média, a de antagonismos, naqueles minhotos de que nos fala Alberto Sampaio: dolicocefalia, os olhos e cabelos escuros, o nariz longo, leptorrínico, de homens de barba loura e cabelo escuro.32 Homens morenos de cabe­ base um tanto longa. Característicos que acusam a persistência de raça lo louro. Esses mestiços com duas cores de pêlo é que formaram, ao pequena, dolicocéfala, morena, que se supõe ter formado o fundo au­ nosso ver, a maioria dos portugueses colonizadores do Brasil, nos tóctone da população. Os descendentes da Beaumes-Chaudes-Mugem. séculos XVI e XVII; e não nenhuma elite loura ou nórdica, branca Seus representantes mais puros se encontram hoje nas regiões monta­ pura: nem gente toda morena e de cabelo preto. Nem os dólico- nhosas do alto Minho (Castro Laboreiro), Trás-os-Montes e Beira. Já na louros de Oliveira Viana, nem os judeus de Sombart, nem os moçárabes região cantábrica de Oviedo, na margem direita do baixo Guadalquivir de Debbané, mas portugueses típicos. Gente mista na sua antropolo­ e em outros pontos do Norte o antropólogo português foi encontrar gia e na sua cultura. Mendes Correia fixa a freqüência da transitória mais puramente representada a raça braquicéfala, de estatura também pigmentação loura que apresentam crianças não só portuguesas, como abaixo da média, mesorrínica, cabeça globulosa e o< occiput vertical; do tipo mediterrâneo em geral, para sugerir um possível "vestígio da raça que teria sido a primeira entre as imigrantes. Enquanto em vários filiação do tipo mediterrâneo num velho cruzamento em que teriam pontos do Minho, em Gaia, Póvoa de Varzim surpreendem-se localiza­ entrado a raça nórdica e um tipo proto-etiópico."33 Suposição, tam­ ções de nórdicos de alta estatura, dolicocéfalos, ou mesato-dolicóides, bém, de antropólogos italianos. nariz longo e fino, leptorrínico, pele cor-de-rosa, cabelo louro, ou rui- No Brasil, o louro transitório, o meio-louro e o falso-louro são vo, olhos claros. Representantes mais puros da raça loura do Norte que ainda mais freqüentes do que em Portugal. Mas antes de ser o Brasil várias vezes invadiu o território hoje português. À sua influência sobre o país do índio, sarará, descrito por Gabriel Soares em crônica do a população portuguesa, Fonseca Cardoso atribui a facies mestiça que século XVI34 - e mais caracteristicamente do "mulato cor-de-rosa", a cada passo se nota entre os portugueses. como o eminente diplomata brasileiro chamava, na intimidade, o Eça A esses elementos juntem-se os semito-fenícios, de que o antro­ de Queirós - já Portugal se antecipara na produção de curiosos tipos pólogo português foi achar representantes mais puros na população de homem de pigmentação clara ou de cabelo ruivo, mas de lábios piscatória do litoral interamnense; e entre invasores mais recentes, os ou ventas de negro ou judeu. Não nos esqueçamos, porém, a propó­ judeus, berberes, mouros, alemães, negros, flamengos, ingleses. sito de louros, em Portugal, que no norte da África têm se identificado Se as invasões do Sul só fizeram acentuar, como pretende Haddon,31 localizações antigas de louros;33 que na massa morena de muçulma­ os caracteres fundamentais da população indígena, as do Norte trou­ nos que invadiu Portugal vieram também indivíduos de cabelo claro. cias e amaciando-lhes os antagonismos que uma terceira sutilmente Que muita moura-encantada foi vista de noite penteando cabelos interveio, dando às instituições peninsulares novo sabor jurídico: o dourados como o sol. Recebeu assim Portugal louros também dos direito canônico. Estabeleceu-se uma nobreza episcopal com gestos lados do Sul. Da África - sanduichados entre grossas camadas de de quem abençoa ou pacifica mas na verdade de quem manda e homens pardos, muitos deles negróides. domina. Domínio efetivo, através da autoridade conferida aos bispos Durante a época histórica, os contatos de raça e de cultura, apenas de decidirem em causas civis. dificultados, nunca porém impedidos pelos antagonismos de religião, Com a conversão dos godos arianos à ortodoxia católica, a Igreja, foram em Portugal os mais livres e entre elementos os mais diversos. pela mão dos seus bispos, ganhou nas Espanhas prestígio superior ao Invadida a Península pelos romanos, a resistência indígena, a princípio dos reis, juizes e barões: em Toledo, no concilio celebrado em 633, os heróica e tremenda, acabou cedendo à pressão imperial. Inaugurou-se bispos tiveram o gosto de ver o rei prostrado aos seus pés.37 No novo então o período de romanização ou latinização da Ibéria. Foi um domí­ direito peninsular, ou antes, no código que a fusão do direito romano nio, o exercido sobre a Península pelos romanos, de caráter principal­ com o bárbaro produziu - o chamado Fuero Juego - de tal modo mente econômico e político. Trouxe às populações submetidas, mas insinuou-se o prestígio canônico que nas suas leis ficou autorizada a não esmagadas, vantagens da técnica imperial: estradas, termas, aque- jurisdição dos bispos em causas civis desde que o autor ou réu optasse dutos, arcos, fábricas de louça. Desceu ao fundo da terra para explorar pelo julgamento episcopal. Desde que o autor ou réu preferisse quei­ as minas. E fez-se acompanhar de influências sensíveis sobre a cultura xar-se ao bispo. Porque nas palavras do jurisconsulto espanhol Sempere moral, e, em menor escala, sobre a antropologia ibérica. À sombra y Guarinos que vêm no livro de Buckle: "los querellantes lesionados imperial ergueram-se no território hoje português templos a deuses poria sentencia de un juez, podiam quejarse a los bispos, y estos avocar latinos. Deuses que tal devoção conquistaram no sentimento popular a si las pendências, reformarlasy castigara los magistrados".^ A inter­ que os santos católicos teriam mais tarde de tomar-lhes a semelhança e venção episcopal podia fazer-se sentir em causas iniciadas em tribunal muitos dos atributos para se popularizarem. A fala peninsular latinizou- civil, pela reforma de sentenças. Durham salienta a vigilância contínua se. Romanizou-se o tipo antigo de habitação. Romanizaram-se várias que exerciam os bispos sobre a administração da justiça e sobre os instituições. Anato Lusitano notaria mesmo semelhanças fisionômicas 39 36 juizes. Sobre os próprios reis, pode acrescentar-se. Um que, em Por­ entre os lisboetas e os habitantes de Roma. tugal, tentou governar à revelia dos bispos - Sancho II - teve o reinado À conquista pelos romanos sucederam-se as invasões de alanos, cortado ao meio; e salva a cabeça por muito favor. Triunfaram os de vândalos, de suevos. Quebradas por essa primeira onda de bárba­ padres sobre a rebeldia tão ousada com o auxílio do próprio irmão de ros de cabelo ruivo as represas romanas, largo trecho da Península Sancho, depois sagrado rei sob o nome de Afonso III. inundou-se de gente vinda do Norte, estabelecendo-se depois sem Na Espanha e em Portugal, o alto clero não só tornou-se detentor duro esforço, o domínio visigótico. Domínio de três séculos que en­ de extraordinário prestígio místico, moral e até jurídico sobre popula­ tretanto não destruiu a influência da colonização romana, antes aco­ ções dotadas pelas circunstâncias físicas e sociais de vida - os ter­ modou-se às linhas gerais de sua estrutura latina e imperial. Em reli­ remotos, as secas, as fomes, as pestes, as guerras, toda a trepidação gião foram os invasores que abandonaram as doutrinas arianas para peculiar às regiões de trânsito ou de conflito - da extrema sensitividade adotar o credo católico dos hispano-romanos; em direito deixaram-se religiosa que Buckle salientou nos espanhóis e portugueses, como de os adventícios influir pelo de Roma, embora mantendo costumes que grande poder intelectual e político. Reflexo do irradiado da Roma criariam definitivas raízes na antiga província romana. papal sobre a nova Europa convertida ao cristianismo. Em Portugal Foi entre essas duas influências - o direito escrito dos romanos e houve ordens religiosas que foram também militares, reunindo esse o de costumes, dos invasores do Norte - foi entre essas duas influên­ outro prestígio - o guerreiro - ao eclesiástico. Das guerras de recon­ tratando-se de questões de dinheiro com os cristãos. Suas fortunas quista se aproveitou largamente a Igreja na Península, através de suas acumularam-se principalmente pela usura, proibida pela Igreja aos ordens militares, para tornar-se proprietária de latifúndios enormes, cristãos, ou pelo exercício, na administração pública, nas grandes ca­ não deixando exclusivamente aos cruzados a partilha das terras reavidas sas fidalgas e mesmo nas corporações católicas, de cargos que convi- dos infiéis. Gordo quinhão coube aos Templários, desde o tempo de nham aos interesses dos cristãos latifundiários fossem exercidos por Da. Teresa senhores de Soure e de toda a doce região entre Coimbra indivíduos desembaraçados de escrúpulos católico-romanos e das leis e Leiria; depois de Tomar, de Almoral, de Pombal. Outras ordens da Igreja. fizeram-se grandes proprietárias de terras: a de Avis e a de Santiago. A dualidade na cultura e no caráter dos portugueses acentuara- Ainda outras, de terras menos ricas.40 A colonização latifundiária e se sob o domínio mouro; e uma vez vencido o povo africano persis­ semifeudal mais tarde aplicada ao Brasil teve seu começo em Portu­ tiu sua influência através de uma série de efeitos da ação e do traba­ gal, nessa colonização semi-eclesiástica. Apenas o predomínio ecle­ lho dos escravos sobre os senhores. A escravidão a que foram siástico foi entre nós eclipsado pela iniciativa particular dos Duarte submetidos os mouros e até moçárabes, após a vitória cristã, foi o Coelho, dos Garcia d'Ávila, dos Pais Barreto. Dos sertanistas da marca meio pelo qual se exerceu sobre o português decisiva influência não de Domingos Afonso Mafrense, por alcunha o Sertão, que quando só particular do mouro, do maometano, do africano, mas geral, do morreu deixou trinta fazendas de gado no Piauí. Dos grandes latifun- escravo. Influência que o predispõe como nenhuma outra para a distas, colonizadores à sua própria custa. colonização agrária, escravocrata e polígama - patriarcal, enfim - da Em Portugal, as ordens religiosas desempenharam importante América tropical. As condições físicas da parte da América que tocou função criadora não só na reorganização econômica do território re­ aos portugueses exigiram dele um tipo de colonização agrária e conquistado aos mouros como na organização política das popula­ escravocrata. Sem a experiência moura, o colonizador teria provavel­ ções heterogêneas. Deram-lhes nexo político através da disciplina mente fracassado nessa tarefa formidável. Teria fracassado, impoten­ canônica. A nação constitui-se religiosamente, sem prejuízo das duas te para corresponder a condições tão fora da sua experiência propria­ grandes dissidências que, por tolerância política da maioria, conser­ mente européia. varam-se à sombra dos guerreiros mata-mouros: os judeus e os Não é aqui o lugar de se pormenorizar as relações de raça e de mouriscos. Essas relações de tolerância política permaneceram até cultura entre muçulmanos e cristãos na Península Ibérica, particular­ que os segregados, ou pela superioridade do seu gênio mercantil e mente entre mouros e portugueses. Apenas procuraremos salientar industrial, ou pela circunstância de serem um tanto estranhos ao meio aqueles traços de influência moura que nos parecem ter aberto pre­ e por conseguinte mais sem escrúpulos do que os outros, tornaram-se disposições mais fundas no caráter e na cultura do povo português detentores das grandes fortunas peninsulares. Foi quando a maioria para a colonização vitoriosa dos trópicos. se apercebeu de que sua tolerância estava sendo abusada. Pelo me­ Que a invasão moura e berbere não foi a primeira a alagar de nos pelos judeus. pardo ou de preto os extremos meridionais da Europa, particularmen­ Para conter os ódios que se levantaram quentes, fervendo, contra te Portugal - fácil região de trânsito para onde primeiro e com mais a minoria israelita, é que se organizou o Tribunal do Santo Ofício, vigor transbordaram as ondas de exuberância africana - já ficou indi­ reunindo à função de examinar as consciências o poder de examinar cado. Indicada a possibilidade de ter sido de origem africana o fundo a frio e metodicamente os bens acumulados por mãos de herege. Os considerado indígena da população peninsular. De modo que ao in­ judeus haviam se tornado antipáticos menos pela sua abominação vadirem a Península, árabes, mouros, berberes, muçulmanos foram- religiosa do que pela falta completa de delicadeza de sentimentos, se assenhoreando de região já amaciada pelo sangue e pela sua cultu- ra; e talvez mais sua do que da Europa. Sua por esse passado huma­ aliados os reis contra os nobres. Destes, o prestígio logo empalideceu no; e, em largos trechos, pelo clima, pela vegetação. sob o dos burgueses. E quase toda a seiva da aristocracia territorial, Na invasão da Península, os maometanos vindos da África teriam absorveu-a a onipotência das ordens religiosas latifundiárias ou a as- tido o concurso de hispanos contrários aos visigodos - circunstância túcia dos capitalistas judeus. Este fato explica não ter a aristocracia que assinalamos para destacar o fato de que desde o princípio con­ territorial em Portugal se ouriçado dos mesmos duros preconceitos fundiram-se ali interesses europeus e africanos. Com a exceção do que nos países de formação feudal, nem contra os burgueses em pequeno número de intransigentes que se concentraram em Astúrias, geral, nem contra os judeus e mouros em particular. Debilitados sob a centro da independência cristã, grande parte das populações cristãs pressão dos latifúndios eclesiásticos, não poucos aristocratas, dos de submeteu-se ao domínio político dos mouros. E com eles desenvol­ origem nórdica, foram buscar na classe média, impregnada de sangue veu relações íntimas, conservando porém relativa pureza de fé. mouro e hebreu, moça rica com quem casar. Daí resultou em Portugal Foram essas populações - os moçárabes - gente impregnada da uma nobreza quase tão mesclada de raça quanto a burguesia ou a cultura e mesclada do sangue do invasor, que se constituíram no plebe. Porque a mobilidade de famílias e indivíduos de uma classe fundo e no nervo da nacionalidade portuguesa. Nacionalidade que, a para outra foi constante. Impossível concluir por estratificações étnico- princípio diferenciada de Castela pelo interesse separatista dos aven­ sociais em um povo que se conservou sempre tão plástico e inquieto. tureiros ruivos, descidos do Norte para a luta contra os mouros, de­ Durante o domínio mouro, a cultura indígena absorveu da inva­ pois se afirmou, menos pelo ardor de tais nobres, prontos a confrater­ sora larga série de valores; e os dois sangues se mesclaram intensa­ nizarem com os vizinhos por interesse econômico de classe, do que mente. Escrever como já o fez Pontes de Miranda, em erudito traba­ pela intransigência da plebe moçárabe. João Lúcio de Azevedo chega lho, que "os árabes nos povos que invadiam, ou dominavam, como a salientar como psicologia de raça em Portugal a intransigência de que boiavam como azeite e não tinham com eles suficiente miscibi­ sentimento nacional do povo e a fraqueza desse mesmo sentimento lidade",42 é exigir da palavra miscibilidade não sabemos que extraor­ nos nobres. Tendências verificadas nas grandes crises de 1383, 1580 e dinário sentido. Porque se os árabes - mouros, diria mais precisamen­ 1808. "Quando a idéia de pátria", escreve João Lúcio, "perdida na te o douto mestre de direito, tão rigorista em questões de terminologia unidade romana, acordou novamente na Península, o povo foi entre - não se misturaram com as populações lusitanas, ignoramos o que nós o depositário do sentimento nacional que faltou na classe seja miscigenação. Aliás o próprio Pontes de Miranda, trinta páginas Ml dominadora.' Àquele atribui o historiador português, além do ardor adiante daquela em que faz tão esquisita afirmativa, corrige-a, escre­ patriótico, índole pacífica, incúria, toques de fanatismo semita; a esta, vendo: "só a religião, mais estabilizada e estabilizadora, evitaria a o pendor guerreiro e hábitos predatórios. fusão completa das raças". E cita a propósito o trecho de Alexandre Não nos parece aceitável, senão em parte, a interpretação etnocên- Herculano em que o processo de fusão social dos cristãos vencidos trica sugerida por João Lúcio de Azevedo do papel representado, no com os mouros vitoriosos está magistralmente fixado. desenvolvimento português, pela aristocracia de fundo nórdico e pela O que a cultura peninsular, no largo trecho em que se exerceu o plebe indígena, penetrada fortemente de sangue mouro e berbere. domínio árabe ou mouro - ou onde se verificou a escravidão de cati­ Porque em país nenhum, dos modernos, tem sido maior a mobilidade vos africanos, uma vez revezados os papéis de senhor e de escravo - de uma classe para outra e, digamos assim, de uma raça para outra, guardou da cultura dos invasores é o que hoje mais diferencia e indi­ do que em Portugal. Na história do povo português o fato que, ao vidualiza esta parte da Europa. Conservados em grande parte pelos nosso ver, se deve tomar na maior consideração é o social e econômi­ vencidos a religião e o direito civil, nas demais esferas da vida econô­ co da precoce ascendência da burguesia, da qual cedo se fizeram mica e social a influência, árabe em certos trechos, em outros moura, foi profunda a intensa. O grosso da população hispano-romano-goda, alcatruzes um invento dos árabes; ou pelo menos uma das máquinas excluída somente irredutível minoria refugiada em Astúrias, deixou-se trazidas por eles à Península."44 Se foram os cruzados que trouxeram às impregnar nos seus gostos mais íntimos da influência árabe ou moura. Espanhas o moinho de vento, aplicado em certas partes da América - Quando essa maioria acomodativa refluiu à Europa cristã, sob a forma nas índias Ocidentais, por exemplo - à indústria do açúcar, foram os de moçárabe, foi para constituir em Portugal o substrato mesmo da mouros que introduziram em Portugal o moinho de água, ou azenha, nacionalidade. Nacionalidade militar e politicamente fundada por ou­ avô do engenho colonial brasileiro de moer cana pelo impulso da tros, mas por eles constituída econômica e socialmente. E fecundada queda de água sobre uma grande roda de madeira. João Lúcio de pelo seu sangue e pelo seu suor até os dias gloriosos das navegações Azevedo salienta que a própria oliveira parece se ter tornado melhor e conquistas. Quando aquela população socialmente móvel, mobilíssima utilizada em Portugal depois da vinda dos mouros. Explica João Lúcio: mesmo, voltou à Europa cristã, foi trazendo consigo uma espessa ca­ "a nomenclatura, proveniente do latim para as árvores - oliveira, olival, mada de cultura e uma enérgica infusão de sangue mouro e negro que olivedo - de origem árabe no produto - azeitona, azeite - leva a pensar persistiriam até hoje no povo português e no seu caráter. Sangue e em um maior aproveitamento dessa espécie vegetal no período muçul­ cultura que viriam ao Brasil; que explicam muito do que no brasileiro mano".45 O fato é significativo; como significativo é o verbo mourejar não é europeu, nem indígena, nem resultado do contato direto com a ter-se tornado sinônimo de trabalhar em língua portuguesa; significati­ África negra através dos escravos. Que explicam o muito de mouro va a frase, tão comum em Portugal e no Brasil, "trabalhar como mouro". que persistiu na vida íntima do brasileiro através dos tempos coloniais. É que foi o mouro a grande força operária em Portugal. O técnico. O Que ainda hoje persiste até mesmo no tipo físico. lavrador. Ele quem deu às cousas sua maior e melhor utilização econô­ Na viagem que em princípios do século XIX realizou pelo interior mica. Quem valorizou a terra. Quem a salvou das secas por meio de da capitania de São Paulo, como diretor-geral das minas e matas, inteligente irrigação. Não só a oliveira foi aumentada de valor e utilida­ Martim Francisco de Andrada observou, em grande extensão, homens de pela ciência dos mouros; também as vinhas. Além do que foram de fisionomia acentuadamente mourisca. Se os portugueses dessa ori­ eles que trouxeram à Península a laranjeira, o algodão e o bicho-da- gem se extinguissem na metrópole, acreditava Martim Francisco que seda. Desempenharam função de técnicos e não apenas de energia haveriam de persistir no Brasil muitos exemplares conservando a mag­ principalmente animal (como mais tarde os escravos da Guiné) ou de nífica pureza da raça primitiva, tão numerosos lhe pareceram os simples mercantilismo como os judeus. paulistas de origem e característicos de raça mourisca.43 E não só o algodão, o bicho-da-seda e a laranjeira introduziram Grande como foi a influência do mouro dominador, não foi menor os árabes e mouros na Península: desenvolveram a cultura da cana- a do mouro cativo de guerra. Foi o vigor do seu braço que tornou de-açúcar que, transportada depois da ilha da Madeira para o Brasil, possível em Portugal o regime de autocolonização agrária pela grande condicionaria o desenvolvimento econômico e social da colônia por­ propriedade e pelo trabalho escravo. Regime depois empregado tão tuguesa na América, dando-lhe organização agrária e possibilidades vantajosamente no Brasil. Mercê dos mouros e dos religiosos, diz-nos J. de permanência e fixidez. O mouro forneceu ao colonizador do Bra­ M. Esteves Pereira que o Portugal dos primeiros tempos teve "a agricul­ sil os elementos técnicos de produção e utilização econômica da cana. tura, sua principal indústria, melhor desenvolvida do que os outros Os portugueses que aqui, um tanto à maneira dos Templários em países mais ao norte." Mercê principalmente dos mouros. "Apicata ou Portugal, tornaram-se grandes latifundistas, por um lado seguiram o cegonha, essa máquina simples e primitiva de tirar água dos fundos exemplo dos cruzados, principalmente o dos freires - capitalistas e dos poços, é obra sua. A nora, esse engenho de elevar a água que a proprietários de latifúndios, não raras vezes os bens, os gados e ho­ suave poesia dos campos torna agradável, é com o calabre e com os mens das terras reavidas aos infiéis ou tomadas aos moçárabes consti- tuindo seu único capital de instalação -; por outro lado, repetiram a A lei de sesmarias de D. Fernando, promulgada em 1375, tentou técnica dos invasores africanos, senão nos processos de devastação da enfrentar os dois problemas. O do latifúndio e o do êxodo de traba­ terra - no que preferimos seguir sugestões indígenas - no tocante à lhadores do campo para as cidades. Contra o latifúndio, pelo esbulho utilização industrial dos produtos. De modo que a sombra do mouro, do proprietário que por incúria ou falta de meios deixasse inapro- sua grande figura de criador e não apenas explorador de valores, pro­ veitadas as terras aráveis. Mas mesmo em tais leis deixou-se a porta, jetou-se beneficamente, sobre os começos da economia agrária brasi­ senão escancarada, entreaberta, para o êxodo dos mouros e moçárabes leira. O sistema econômico adotado no Brasil foi o mesmo inaugurado dos campos para as cidades. Para os portos movimentados cujo pro­ pelos aventureiros nórdicos em Portugal após a reconquista cristã, com gresso era o rei o primeiro a animar. Das obrigações de permanência a diferença do prestígio eclesiástico não ter aqui absorvido o do parti­ no campo, impostas aos filhos e netos de cultivadores, e aos trabalha­ cular, o da família, o do senhor feudal. Mas a técnica industrial foi a dos dores rurais, deve ter sido relativamente fácil aos mouros e moçárabes, mouros. O engenho de roda de água, principalmente. valiosos como eram, pela sua superior aptidão técnica, evadirem-se, Até que ponto o sangue português, já muito semita, por infiltra­ deslocando-se para as cidades marítimas e comerciais. Convém salien­ ções remotas de fenícios e judeus, infiltrou-se também do mouro, tar, a esta altura, que as cidades medievais precisavam de incluir em durante os fluxos e refluxos da invasão maometana, é quase impos­ sua população agricultores para cultivarem as hortas e as chamadas sível determinar. Deve ter sido profunda essa infiltração de sangue in­ "terras de pão" destinadas à sua subsistência:47 de modo que na pró­ fiel, considerando-se não só as íntimas relações entre conquistadores pria indústria rural tiveram onde se empregar com vantagem os bra­ e conquistados, durante a invasão africana, como as que se seguiram, ços peritos dos mouros e moçárabes ao fugirem do humilhante esta­ entre cristãos e cativos mouros; e entre hispano-romanos e moçárabes. do de servidão rural para a sombra protetora dos forais burgueses. Estes pela sua superioridade técnica impuseram-se à ascendência na Tudo indica ter sido enorme a circulação, não só horizontal como escala social e econômica. Ascendência favorecida pelo precoce desen­ vertical, que se operou então na sociedade portuguesa - de uma para volvimento da burguesia em Portugal e conseqüente êxodo dos tra­ outra esfera, de uma para outra zona econômica - do elemento mouro balhadores do campo para as cidades. Dentro desse desenvolvimento e moçárabe que a reconquista deixara adstrito à gleba. Foi certamente valorizam-se extraordinariamente as artes industriais e os ofícios de este o elemento que, pela sua maior riqueza de aptidões industriais, utilidade antes urbana do que rural. Artes e ofícios dominados pela mais se aproveitou das oportunidades dos coitos para deslocar-se inteligência dos mouros. daquelas terras a que o prendiam obrigações de cativeiro ou de servi­ Outra circunstância foi-lhes favorável à ascendência; o estado de dão para outras, igualmente agrícolas ou semi-urbanas, onde sua situa­ guerras, de secas, de pestes e fomes que por muito tempo afligiu a ção já seria diversa. Cultivadores livres, fácil lhes foi, nas novas cir­ população portuguesa, sujeita pela situação de seus portos - ponto cunstâncias, o triunfo econômico. Fácil sua ascensão na escala social. de encontro entre o Norte e o Mediterrâneo - a toda espécie de con­ Assim se explica que o elemento hispânico, indígena, de sangue tatos disgênicos. Duas grandes pestes enegreceram o reinado de Sancho recentemente avivado na cor pelo do mouro e do berbere, tenha I; uma, esta pandemia, de origem oriental, em 1348. Em 1356 refere deixado de circular só por baixo da vitoriosa camada hispano-goda, uma crônica monástica citada por João Lúcio de Azevedo terem ou de localizar-se em uma só região, para espalhar-se vantajosamente morrido, por efeito da fome, dois terços da população do reino.46 Às por todo o país, subindo por vezes às esferas mais elevadas da socie­ perturbações de clima e do meio físico juntaram-se em Portugal os dade portuguesa. Convém, aliás, não esquecer o elemento hispano, males do regime latifundiário - inclusive a devastação das matas - chamado, depois do contato com os mouros, de moçárabe, que du­ produzindo freqüentes crises sociais por escassez de víveres. rante o domínio muçulmano sofrerá diminuição econômica e social; que essa diminuição, para grande número, se acentuara durante a De outro mestiço, D. Files Serrassim, sabe-se que incorporou-se à no­ reconquista, dirigida quase toda por adventícios descidos do Norte - breza cristã pelo seu casamento com uma Mendes de Bragança. espécie de novos-ricos e novos-poderosos. O que depois se verificou Nenhum elemento de identificação mais inseguro de hispanos e foi, assim, menos ascensão do que reajustamento de posição, conse­ de mouros, de cristãos e infiéis, de vencidos e vencedores, de nobres guido em parte pelo fato de durante o domínio maometano a capaci­ e plebeus na sociedade portuguesa que os nomes de pessoa e de dade técnica e industrial do elemento hispano, que contemporiza com família - tão baralhadas andaram sempre na Península as etnias, as o invasor, haver-se enriquecido e apurado ao contato da superior culturas e as classes sociais, sem que o peso atado aos pés de uns cultura norte-africana. pela escravidão ou pelo espólio de guerra os impedisse nunca de Mas antes de verificar-se esse processo de reajustamento social, flutuar de novo. logo ao primeiro contato dos invasores maometanos com as popula­ Refere Alexandre Herculano que, após a invasão acompanhada ções cristãs, estas sofreram, não só nas classes populares como nas de intensa miscibilidade, tornaram-se comuns os nomes mistos: Pelágio elevadas, a penetração do elemento vitorioso. Penetração facilitada Iban Alafe, Egas Abdallah Argeriquiz etc.48 O que dá bem a idéia da não só pela situação de domínio do povo africano como pela sua contemporização social entre vencidos e vencedores. Idéia exata de tendência para a poligamia. Abdul-Aziz-Ibn-Muza não só tomou por quanto foi plástica, movediça e flutuante a sociedade moçárabe em esposa a viúva de Roderico como por concubinas muitas virgens cris­ Portugal. tãs. Por outro lado, Ramiro II, de Leão, fascinado pela beleza de uma O que sucedeu com os mouros, verificou-se também, até certo sarracena de estirpe nobre - sem dúvida das que depois se tornaram ponto, com os judeus. De uns e de outros deixou-se penetrar, em mouras-encantadas - matou a mulher legítima, casando-se em segui­ suas várias camadas, a sociedade portuguesa. E nunca - mais uma vez da com a exótica, de quem teve numerosa prole. Os dois casos são acentue-se - as classes estratificaram-se em Portugal a ponto de sim­ típicos: um, da penetração pela violência exercida pelo invasor plesmente pelo nome de pessoa ou família poder identificar-se o no­ polígamo sobre as mulheres do povo vencido; outro, da atração da bre ou o plebeu, o judeu ou o cristão, o hispano ou o mouro. mulher sarracena, especialmente quando nobre, sobre os homens da Nas guerras contra os mouros e os castelhanos, muitos foram os população desbaratada. portugueses que se enobreceram, ganhando direito a terras e a títu­ Inúmeras as famílias nobres que em Portugal, como na Espanha, los. Poucos, porém, conservaram-se na posse de propriedades difí­ absorveram sangue de árabe ou mouro. Alguns dos cavaleiros que ceis de desenvolver, em competição com as grandes empresas capita­ mais se salientaram nas guerras de reconquista pelo ardor mata-mouros listas representadas pelas ordens religiosas e militares. Quando as do seu cristianismo conservaram nas veias sangue infiel. Muito terá melhores atenções começaram a voltar-se para o mar, verificou-se a sido, por outro lado, o sangue espanhol ou português, ortodoxamente promoção social de muitos indivíduos nascidos na servidão do campo cristão, que, dissolvido no de maometanos, emigrou para a África Me­ para o trabalho livre nas cidades. E deu-se ao mesmo tempo a dimi­ nor. Sabe-se que até frades franciscanos o reflexo maometano arrebanhou nuição de outros, entre os quais pequenos proprietários rurais. Se­ à África. Frades polígamos e femeeiros. Muito Mem ou Mendo; muito nhores de terras ganhas por serviços guerreiros. Homens incapazes Pelágio; muito Soeiro; muito Egas; muito Gonçalo; muitos que pelo de competir com as empresas latifundiárias, e por elas absorvidos. As nome e pelo fervor cristão se diriam hispano-godos sem mancha ne­ próprias leis de D. Fernando contra o latifúndio quase não tiveram nhuma de islamismo na ascendência foram portugueses de avô ou avó outro efeito senão subtrair as terras dos proprietários menores, inca­ moura ou árabe. Do conde de Coimbra D. Sesnando afirmam as crôni­ pazes de desenvolvê-las devido à penúria de capital e falta de traba­ cas que, mestiço de cristão com mouro, até vizir fora entre os sarracenos. lhadores, para incorporá-las ao domínio dos todo-poderosos. De onde uma numerosa nobreza de Joões-sem-terra em Portugal. Nobreza que alguma das poderosas ordens militares. É a filhos d'algo que responde começou a afluir para as cidades, para a Corte principalmente, fare­ D. Dinis nos fins da Idade Média negando-lhes as honras de nobres jando empregos públicos em torno do rei e mais tarde nas possessões enquanto vivessem de ofícios industriais ou de arrendamento de lavou­ ultramarinas. ras: "filhando mester de ferreiro ou de sapateiro ou d'alfaiate ou de Alberto Sampaio dá-nos a respeito da noção nada rígida de linha­ cerieiro ou d'outro mester semelhavel a este porque careça, ou lavran­ gem ou exclusivismo aristocrático entre os primeiros portugueses in­ do por seu preço em outro herdamento alheo".51 Aliás, esse estado de formações valiosas. Os nomes de pessoas foram então, como até cer­ coisas prolongou-se no Brasil. Colonos de origem elevada aqui se to ponto ainda hoje, em Portugal e no Brasil, os mesmos entre grandes desprestigiaram, vencidos na competição em torno das melhores terras e humildes. Nomes em geral germânicos, "porque depois do advento e do maior número de escravos agrários. Nos princípios do século XIX dos suevos e visigodos, os hispanos denominaram-se com os nomes Martim Francisco conheceu no interior da capitania de São Paulo ho­ deles, como dantes com os dos romanos". E acrescenta: "nos docu­ mens de procedência nobre exercendo ofícios mecânicos como se fos­ 52 mentos da alta Idade Média a nomenclatura pessoal é comum para sem plebeus. Prejudicados, portanto, em sua qualidade de nobres, pois as leis do reino derrogavam em tais casos os foros de nobreza. todos e em regra tão uniforme que nos diplomas pelas assinaturas não se diferenciam os cavaleiros dos herdadores; este fato repete-se Depois de cinco séculos não se haviam estratificado as classes mais notavelmente nas inquirições, onde por entre os patronímicos sociais em Portugal em exclusivismos intransponíveis. "Qualquer que d'uso geral começam a despontar os apelidos atuais, designando ora fosse a sua preponderância em certo tempo", escreve Alberto Sampaio, nobres ora populares".49 "Uma raça dominante, de sangue diverso dos "a nobreza nunca conseguiu formar uma aristocracia fechada; a gene­ habitantes", é ainda Sampaio quem escreve, "é inadmissível sem de­ ralização dos mesmos nomes a pessoas das mais diversas condições, como acontece com apelidos atuais, não é um fato novo da nossa nominação pessoal privativa. E a contraprova é ainda patente nos sociedade; explica-o assaz a troca constante de indivíduos, duns que nomes e no tipo físico, confundidos e misturados em toda a popula­ se ilustram, doutros que voltam à massa popular donde haviam saído; ção." Cita o historiador português a esse respeito um depoimento do e a lei de D. Dinis aí está como miliário entre duas épocas, a dar-nos maior interesse: o do próprio Livro velho. Livro antigo de linhagens a confirmação histórica."53 em que já se dizia: "ca muitos vem de bom linhagem e nom o sabem elles [...] e muitos som naturaes e padroeiros de muitos mosteiros, e O que vem reforçar a nossa convicção de ter sido a sociedade portuguesa móvel e flutuante como nenhuma outra, constituindo-se e de muitas egrejas, e de muitos coutos, e de muitas honras, que o

50 desenvolvendo-se por uma intensa circulação tanto vertical como perdem à mingua de saber de que linhagem vem". horizontal de elementos os mais diversos na procedência. Sorokin Estava aliás no interesse dos reis, que tão cedo se afirmaram em não acharia melhor laboratório para verificação e estudo de sua teoria Portugal contra os vagos esboços de feudalismo, nivelar o mais possível de mobilidade do que entre esse povo cujo passado étnico e social as classes sociais, sem permitir o predomínio de nenhuma. O que em não acusa predomínio exclusivo ou absoluto de nenhum elemento, parte conseguiram fazendo mais vontades à burguesia que à aristo­ mas contemporizações e interpenetrações sucessivas. cracia; concedendo privilégios às classes mecânicas; desprestigiando Ainda uma observação sobre os mouros e os moçárabes; sobre o o mais possível os senhores territoriais. Menos a nobreza eclesiástica. processo de valorização desses dois elementos. A era comercial por­ Que esta soube em tempo, e com a proteção do Papa, conter os tuguesa, a princípio de comércio limitado à Europa, quando muito ímpetos dos dois Sanchos e conservar imensos privilégios econômicos. estendendo-se ao Levante, mas, a partir do século XV, de empresas Ser simplesmente filho d'algo em Portugal não valeu tanto como ousadamente ultramarinas, foi particularmente favorável, como já dis­ ser freire, isto é, reunir à espada de cavaleiro o hábito religioso de semos, aos antigos servos. Permitiu-lhes empenharem-se, já homens livres, em aventuras cheias de possibilidades de engrandecimento so­ Suas aptidões técnicas tornavam-nos decerto elementos de gran­ cial e econômico. Para o Brasil é provável que tenham vindo, entre os de valor nas expedições colonizadoras de fidalgos arruinados e solda­ primeiros povoadores, numerosos indivíduos de origem moura e dos aventureiros que outra cousa não sabiam senão manejar a espa­ moçárabes, junto com cristãos-novos e portugueses velhos. Debbané da, agora quase inútil. "Desta escassez de perita mão-de-obra", escreve supõe que fossem eles os principais colonizadores do nosso país: "de João Lúcio de Azevedo referindo-se a Portugal, "derivou a importân­ l'an 1550 à l'an 1600, les premiers colons de VAmerique du Sud cia que os mestres ou homens de ofícios, vieram a ter nos povoados, appartiennent à VEspagne et au Portugal meridional, c'est à dire à la e seu influxo nas deliberações conselhiais."56 Ferreiros, sapateiros, partie fortement orientalisée et arabisée de VEspagne et du Portugal", peleteiros, pedreiros, ourives, moedeiros, tanoeiros, tornaram-se uma E ainda: "Ce n'étaientpas en effet les Espagnols ni les Portugais du verdadeira aristocracia técnica impondo-se ao respeito de uma socie­ Nord descendants des visigothes qui émigraient en Amérique; ceux-ci dade saída quase de repente da monotonia agrícola e da simplicidade étaient les triomphateurs, les vainqueurs des guerres livrées contre des rural; saída quase de repente de um regime em que as reduzidas populations arabisées du Sud de la Péninsule Ibérique".^ A suposição necessidades industriais supriam-nas os próprios servos domésticos e de Debbané pode tachar-se de extremada, pecando em sentido opos­ a arte caseira das mulheres. E tendo, agora, de atender a diversifica­ to à de Oliveira Viana. Este ideou um Brasil colonizado em grande ções e requintes de atividade industrial, e esta livre, nos novos cen­ parte e organizado principalmente por dólico-louros.55 Pesquisas mais tros urbanos. Daí a força em que se transformaram, ao lado dos co­ minuciosas sobre o assunto, como em São Paulo o estudo dos inven­ merciantes das cidades marítimas, os técnicos, os obreiros, os artistas. tários e testamentos do século XVI, tendem a revelar que a coloniza­ Os nomes das ruas de Lisboa ainda hoje recordam o predomínio que ção do Brasil se fez muito à portuguesa. Isto é: heterogeneamente sob doce forma religiosa exerceram sobre a vida da cidade esses quanto a procedências étnicas e sociais. Nela não terão predominado técnicos e artistas. Concentrando-se em bairros ou arruamentos como nem morenos nem louros. Nem moçárabes como pretende Debbané que estratégicos, formavam quase uns feudos. Sapateiros, fanqueiros, nem aristocratas como imaginou o arianismo quase místico de Olivei­ ferreiros, pescadores, douradores. Todos os ofícios. Todas as ativida­ ra Viana. Nem os dourados fidalgos de frei Gaspar nem a escória do des - cada uma com o seu santo, sua bandeira, seus privilégios. Atra­ reino - criminosos e mulheres perdidas - de que tanto se acusa Por­ vés das casas-dos-vinte-e-quatro, exerceram esses técnicos e artistas tugal de ter enchido o Brasil nos primeiros séculos de colonização. influência sensível sobre a administração das cidades. Vários privilé­ Vindos para o Brasil, os descendentes de moçárabes e de mouros gios foram-lhes concedidos pelos reis.57 Privilégios importando em cristianizados, Debbané acha que até prisioneiros de guerra nas cam­ sua elevação na escala social e política. Dos mestres sindicalizados é panhas de Marrocos e mouriscos expulsos em 1610, já não viriam que se derivaram as irmandades e confrarias de caráter religioso que diretos da servidão da gleba, mas do serviço de poderosos e das mais tarde floresceram também no Brasil, abrangendo até escravos ocupações urbanas a que muitos se acolheram para escapar às leis de mas sem traço, sequer, do prestígio que gozavam, em Portugal, como D. Fernando. Outros, do trabalho livre de lavoura em terra de coito. expressão dos direitos de classe. Ainda outros, dos ofícios úteis de sapateiro e alfaiate. Nas cidades e Analisando as primeiras camadas de povoadores de São Vicente, nos povoados, muitos teriam chegado ao século XVI já engrandeci­ através dos inventários e testamentos dos séculos XVI e XVII, Alfredo dos, econômica e socialmente, pelo comércio de peles de coelho e Ellis Júnior verificou que a "região sulina de Portugal, compreenden­ pelo exercício da arte não só de sapateiro ou de alfaiate como de do o Alentejo, a Estremadura Portuguesa e os Algarves" - a zona, ferreiro e peleteiro. Mas alguns estariam ainda lutando com dificulda­ deve-se observar, mais penetrada de sangue mouro nos mandou cer­ des; ansiosos por uma oportunidade de melhorarem de vida. ca de vinte e oito por cento dos povoadores de origem conhecida, porcentagem igual à que a região do Norte luso nos enviou."58 E na verdade, foram entre os brasileiros, tanto quanto entre os mouros, contra a teoria lapougiana, representada entre nós por Oliveira Viana,59 mais gente de casa do que besta de trabalho. Outro traço de influên­ de serem, os nórdicos a raça mais dotada de qualidades de iniciativa cia moura que se pode identificar no Brasil: o ideal de mulher gorda e de arrojo, o que as pesquisas de Ellis Júnior revelam é que a eugenia e bonita de que tanto se impregnaram as gerações coloniais e do dos vinte e oito por cento que o Sul enviou ao Brasil e de seus des­ Império.61 Ainda outro: o gosto dos voluptuosos banhos de gamela cendentes, de muito excedeu a demonstrada pelos vinte e oito por ou de "canoa"; o gosto da água corrente cantando nos jardins das cento do Norte e dos seus descendentes. Quer tenhamos em vista os casas-grandes. Burton surpreendeu no Brasil no século XIX várias feitos praticados pelos sertanistas, quer se considerem sua fecundidade, reminiscências de costumes mouros. O sistema das crianças cantarem longevidade e varonilidade. todas ao mesmo tempo suas lições de tabuada e de soletração recor­ 62 Seriam originários da plebe moçárabe, já valorizada por dois sé­ dou-lhe as escolas maometanas. E tendo viajado no interior de Mi­ nas e de São Paulo, ainda encontrou o hábito das mulheres irem à culos de promoção social, muito dos carpinteiros, dos ferreiros, dos missa de mantilha, o rosto quase tapado, como o das mulheres ára­ alfaiates, dos sapateiros, dos açougueiros de que se formou, em gran­ bes. Nos séculos XVI, XVII e XVIII os rebuços e mantilhas predomi­ de parte, a sociedade paulista. Já vimos, porém, que através dos pri­ nam por todo o Brasil, dando às modas femininas um ar mais oriental meiros séculos de vida nacional portuguesa as classes não se estra- que europeu. Os rebuços eram uma espécie de "dominós pretos", tificaram nem se isolaram nunca dentro de fronteiras intransponíveis. "mantilhas fúnebres em que se andam amortalhadas muitas das bel­ Que o rei D. Dinis reconhecia em sapateiros e alfaiates fidalgos a dades portuguesas", como os descreveu Sebastião José Pedroso no

quem só faltavam recursos para lhes serem concedidas regalias de 63 seu Itinerário, referindo-se às mulheres do reino. nobreza. Para estes a emigração, a colonização de terras virgens na E não esqueçamos de que nossas avós coloniais preferiram sem­ América, deve ter aberto oportunidades magníficas de promoção ou pre ao requinte europeu das poltronas e dos sofás estofados, o orien­ de reajustamento social. Ao mestre-construtor que acompanhou Tome tal, dos tapetes e das esteiras. Em casa e até nas igrejas era sobre os de Sousa ao Brasil el-Rei recompensou largamente pelos seus servi­ tapetes de seda ou as frescas esteiras de pipiri que se sentavam, de ços técnicos. Iguais recompensas devem ter tido os fabricantes de cal, pernas cruzada à mourisca, os pezinhos tapados pela saia. "Quando os carpinteiros, os pedreiros. vão visitar", informa um relatório holandês do século XVII, referindo- Aos representantes da plebe moçárabe, entre os primeiros colo­ se às mulheres luso-brasileiras, "primeiramente mandam participar; a nos do Brasil, devem-se, entretanto, juntar representantes da pequena dona da casa senta-se sobre um belo tapete turco de seda estendido e sólida nobreza agrária. Tais os reunidos em Pernambuco, em torno sobre o soalho e espera suas amigas que também se sentam a seu à figura patriarcal de Duarte Coelho. Representantes também, embora lado sobre o tapete, à guisa dos alfaiates, tendo os pés cobertos, pois em pequeno número, da aristocracia militar e errática, trazidos ao seria grande vergonha deixar alguém ver os pés."64 Brasil pelo espírito de aventura ou para cumprirem pena de degredo Diversos outros valores materiais, absorvidos da cultura moura nos ermos tropicais. ou árabe pelos portugueses, transmitiram-se ao Brasil: a arte do azu­ Mas o ponto a destacar é a presença, não esporádica porém farta, lejo que tanto relevo tomou em nossas igrejas, conventos, residências, de descendentes de moçárabes, de representantes da plebe enérgica banheiros, bicas e chafarizes; a telha mourisca; a janela quadriculada e criadora, entre os povoadores e primeiros colonizadores do Brasil. ou em xadrez; a gelosia; o abalcoado; as paredes grossas.65 Também o Através desse elemento moçárabe é que tantos traços de cultura moura conhecimento de vários quitutes e processos culinários; certo gosto e mourisca se transmitiram ao Brasil. Traços de cultura moral e mate­ pelas comidas oleosas, gordas, ricas em açúcar. O cuscuz, hoje tão rial. Debbané destaca um: a doçura no tratamento dos escravos60 que, brasileiro, é de origem norte-africana. O cronista que acompanhou a Lisboa o cardeal Alexandrino em O contraste da higiene verdadeiramente felina dos maometanos 1571 notou o abuso de açúcar, canela, especiarias e gemas de ovos com a imundície dos cristãos, seus vencedores, é traço que aqui se cozidos na comida portuguesa. Informaram-lhe que a maior parte dos impõe destacar. Conde, em sua história do domínio árabe na Espanha, quitutes eram mouros. Observou também o fato de a meio do jantar tantas vezes citada por Buckle, retrata os cristãos peninsulares, isto é, mudarem-se os guardanapos - requinte de limpeza talvez desconhe­ os intransigentes, dos séculos VIII e IX, como indivíduos que nunca cido entre os italianos. Os velhos livros de cozinha portuguesa como tomavam banho, nem lavavam a roupa, nem a tiravam do corpo a Arte de cozinha de Domingos Rodrigues, mestre-de-cozinha de Sua senão podre, largando os pedaços. O horror à água, o desleixo pela Majestade (Lisboa, 1692), vêm cheios de receitas mouras e mouriscas: higiene do corpo e do vestuário permanecem entre os portugueses. "Carneyro Mourisco", "Chouriço Mourisco", "Gallinha Mourisca", "Peyxe Cremos poder afirmar que mais intenso nas zonas menos beneficia­ Mourisco", "Olha Moura". das pela influência moura. Alberto Sampaio destaca o desasseio do Da influência dos maometanos, em geral, sobre a Península Hispâ­ minhoto, típico da gente mais européia, mais loura e mais cristã de nica - sobre a medicina, a higiene, as matemáticas, a arquitetura, as Portugal.66 É verdade que Estanco Louro, em uma bem documentada artes decorativas - limitamo-nos a observar que, abafada por severas monografia sobre o Alportel, freguesia rural do Sul, registra "flagran­ medidas de repressão ou reação católica, ainda assim sobreviveu à re­ te desleixo pelo asseio" da parte do alportelense: "falta de higiene conquista cristã. A arte de decoração mourisca dos palácios e das casas corpórea que na maior parte dos casos se limita a lavagem da cara atravessou incólume os séculos de maior esplendor cristão para vir, no aos domingos, de modo muito sumário"; "falta na vila de retretes XVIII, enfrentar vantajosamente o rococó. Dominou em Portugal, vindo públicas e de urinóis; no campo de retretes, junto dos montes"; "a florescer na decoração de casas-grandes do Brasil do século XLX. permanência de pocilgas e de estrumeiras mesmo junto das casas de Os artífices coloniais, a quem deve o Brasil o traçado de suas habitação e das cavalariças em comunicação com estas."67 Mas salienta primeiras habitações, igrejas, fontes e portões de interesse artístico, por outro lado certas noções de asseio entre os habitantes que vão foram homens criados dentro da tradição mourisca. De suas mãos até à obsessão. Noções porventura conservadas do mouro. "E o que recolhemos a herança preciosa do azulejo, traço de cultura em que se pode ver na lavagem freqüente do solo da casa, na caiação cons­ insistimos devido a sua íntima ligação com a higiene e a vida de tante de casas e muros; na infalível mudança da roupa da semana família em Portugal e no Brasil. Mais que simples decoração mural em por outra muito limpa [...]."68 Aliás com relação ao sul de Portugal rivalidade com o pano-de-rás, o azulejo mourisco representou na vida deve-se tomar na devida conta a escassez de água que coloca o doméstica do português e na do seu descendente brasileiro dos tem­ morador de seus povoados e campos em condições idênticas à do pos coloniais a sobrevivência daquele gosto pelo asseio, pela limpe­ sertanejo do Brasil - outro que raramente toma banho, embora za, pela claridade, pela água, daquele quase instinto ou senso de capriche na roupa escrupulosamente limpa e em outros hábitos de higiene tropical, tão vivo no mouro. Senso ou instinto de que Portu­ asseio pessoal e doméstico. gal, reeuropeizando-se sob as sombras da reconquista cristã, infeliz­ A casa portuguesa do sul, sempre calada de fresco, contrasta pela mente perdeu grande parte. O azulejo quase se transformou, para os sua alvura franciscana com a dos portugueses do norte e do centro - cristãos, em tapete decorativo de que o hagiológio tirou o melhor suja, feia, emporcalhada. Influência evidente do mouro no sentido da partido na decoração piedosa das capelas, dos claustros e das resi­ claridade e da alegre frescura da higiene doméstica. Por dentro, o dências. Guardou, porém, pela própria natureza do seu material, as mesmo contraste. Faz gosto entrar em uma casa do sul, onde o trem qualidades higiênicas, caracteristicamente árabes e mouriscas, de fres­ de cozinha espelha nas paredes; onde se tem uma impressão delicio­ cura, lustro fácil e limpeza. sa de louça limpa e de toalhas lavadas. Devemos fixar outra influência moura sobre a vida e o caráter Donde vindes, São João, português: a da moral maometana sobre a moral cristã. Nenhum cris­ que vindes tão molhadinho? tianismo mais humano e mais lírico do que o português. Das religiões pagas, mas também da de Maomé, conservou como nenhum outro Ou cristianismo na Europa o gosto de carne. Cristianismo em que o Meni- no-Deus se identificou com o próprio Cupido e a Virgem Maria e os Donde vindes, ó Batista, Santos com os interesses de procriação, de geração e de amor mais do que cheirais a alecrim? que com os de castidade e de ascetismo. Neste ponto o cristianismo português pode-se dizer que excedeu ao próprio maometanismo. Os E os rapazes ameaçam de pancadas o santo protetor de namoros azulejos, de desenhos assexuais entre os maometanos, animaram-se de e idílios: formas quase afrodisíacas nos claustros dos conventos e nos rodapés das sacristias. De figuras nuas. De meninozinhos-Deus em que as frei­ As moças não me querendo ras adoraram muitas vezes o deus pagão do amor de preferência ao Dou pancadas no santinho?'3 Nazareno triste e cheio de feridas que morreu na cruz. Uma delas, sóror Violante do Céu, foi quem comparou o Menino Jesus a Cupido: Impossível conceber-se um cristianismo português ou luso-brasi- leiro sem essa intimidade entre o devoto e o santo. Com Santo Antô­ Pastorzillo divino nio chega a haver sem-cerimônias obscenas. E com a imagem de São que matas de amor Ay, tened no flecheis, Gonçalo jogava-se peteca em festas de igreja dos tempos coloniais. No tereis, nó, Em Portugal, como no Brasil, enfeitam-se de tetéias, de jóias, de Que no caben más flechas braceletes, de brincos, de coroas de ouro e diamante as imagens das En mi coraçon! virgens queridas ou dos Meninos-Deus como se fossem pessoas da Mas tirad, y flechadme família. Dão-se-lhes atributos humanos de rei, de rainha, de pai, de Matadme d'amor, mãe, de filho, de namorado. Liga-se cada um deles a uma fase da vida que nó quiro más vida doméstica e íntima. Que morirpor vós!69 Nenhum resultado mais interessante dos muitos séculos do con­ tato do cristianismo com a religião do profeta - contato que tantas No culto ao Menino Jesus, à Virgem, aos Santos, reponta sempre vezes se aguçou ,em asperezas de rivalidade - que o caráter militar no cristianismo português a nota idílica e até sensual. O amor ou o tomado por alguns santos no cristianismo português e mais tarde no desejo humano. Influência do maometanismo parece que favorecida Brasil. Santos milagrosos como Santo Antônio, São Jorge e São Sebas­ pelo clima doce e como que afrodisíaco de Portugal. É Nossa Senhora tião foram entre nós sagrados capitães ou chefes militares como qual­ do Ó adorada na imagem de uma mulher prenhe. É São Gonçalo do quer poderoso senhor de engenho. Nas procissões carregavam-se Amarante só faltando tornar-se gente para emprenhar as mulheres outrora os andores dos santos como a grandes chefes que tivessem estéreis que o aperreiam com promessas e fricções. E São João Batista triunfado em lutas ou guerras. Alguns eram mesmo postos a cavalo e festejado no seu dia como se fosse um rapaz bonito e namorador, vestidos de generais. E acompanhando essas procissões, uma multi­ solto entre moças casadouras, que até lhe dirigem pilhérias: dão em dia de festa. Gente fraternal e democraticamente baralhada. Grandes senhoras com tapa-missa no cabelo e prostitutas de pereba do judeu em Portugal foi sempre um problema econômico criado pela nas pernas. Fidalgos e moleques. presença irritante de uma poderosa máquina de sucção operando so­ A festa de igreja no Brasil, como em Portugal, é o que pode haver bre a maioria do povo, em proveito não só da minoria israelita como de menos nazareno no sentido detestado por Nietzsche. No sentido dos grandes interesses plutocráticos. Interesses de reis, de grandes sorumbático e triste. Pode-se generalizar do cristianismo hispânico senhores e de ordens religiosas. Técnicos da usura, tais se tornaram os que todo ele se dramatizou nesse culto festivo de santos com trajos e judeus em quase toda parte por um processo de especialização quase armas de generais: São Tiago, Santo Isidoro, São Jorge, Santo Emiliano, biológica que lhes parece ter aguçado o perfil no de ave de rapina, a São Sebastião. Nesse culto de santos que foram também patriotas, mímica em constantes gestos de aquisição e de posse, as mãos em mata-mouros, campeões da causa da independência. No Brasil o cul­ garras incapazes de semear e de criar. Capazes só de amealhar. to de São Jorge, a cavalo e de espada na mão, armado para combater Circunstâncias históricas assim conformaram os judeus. Max Weber hereges; o de Santo Antônio, não sabemos exatamente por que, atribui o desenvolvimento dos judeus em povo comercial a determina­ militarizado em tenente-coronel, prolongaram através da época colo­ ções ritualistas proibindo-lhes, depois do exílio, de se fixarem em qual­ nial e do Império esse aspecto nacionalista e militarista, cívico e patrió­ quer terra e, portanto, na agricultura. E salienta-lhes o dualismo de ética tico, do cristianismo peninsular, obrigado pelos embates religiosos comercial permitindo-lhes duas atitudes: uma para com os correligio­ com os mouros ou judeus a revestir-se de armadura e penacho guer­ nários; outra para com os estranhos.72 Contra semelhante exclusivismo reiro. Certos louvado-seja-o-santíssimo-sacramento como um que, até era natural que se levantassem ódios econômicos. Em virtude daquela os nossos dias, se conservou à entrada de velha rua em Salvador da ética ou moralidade dupla, prestaram-se os judeus em Portugal aos Bahia, são restos dos gritos de guerra do tempo em que os cristãos mais antipáticos papéis na exploração dos pequenos pelos grandes. portugueses sentiam-se rodeados de inimigos de sua fé. Por aí se explica que tivessem gozado da proteção dos reis e dos gran­ Tanto quanto do contato com os mouros, resultaram da convivên­ des proprietários e, à sombra dessa proteção, prosperado em grandes cia com os judeus traços inconfundíveis sobre os portugueses coloni­ plutocratas e capitalistas. Concentrando-se nas cidades e nos portos zadores do Brasil. Sobre sua vida econômica, social e política. Sobre marítimos, concorreram para a vitória da burguesia sobre a grande pro­ seu caráter. Influência que agiu no mesmo sentido deseuropeizante priedade territorial, aliada mais à Igreja do que aos reis. Mas é interes­ que a moura. As relações dos portugueses com os judeus, exatamente sante observar que mesmo a grande propriedade agrícola, quando como as relações com os mouros, quando se avermelharam em confli­ enfraquecida pela política marítima e antifeudal dos reis, não hesitou to, a mística de que se revestiram não foi, como em grande parte da em buscar forças que a reanimassem na plutocracia israelita. Nos dotes Europa, a de pureza de raça, mas a de pureza de fé. Publicistas que das judias ricas. O sangue da melhor nobreza em Portugal mesclou-se hoje pretendem interpretar a história étnica e política de Portugal à com a plutocracia hebréia pelo casamento de fidalgos ameaçados de européia e filiar os conflitos com os judeus a ódios de raça acabam ruína com filhas de agiotas ricos. É o que explica terem judeus ilustres, contradizendo-se. É assim que Mário Sáa, depois de agitar essa tese e já aristocratizados por ligações com a nobreza, tomado o partido, es­ defendê-la com ardor e até brilho de panfletário, termina confessando: sencialmente aristocrático da rainha Da. Leonor, contra o da plebe e da "por toda parte têm os judeus o conhecimento de serem judeus-, em burguesia, na sucessão del-Rei D. Fernando. Portugal não o têm. Atravessaram as idades sob a designação de cris- Varnhagen escreve que a agiotagem conseguira monopolizar na tãos-novos, e, há pouco mais de cem anos, com o decreto pombalino Espanha e em Portugal os "suores e os trabalhos de toda a indústria que abolia a designação infamada, e com a perda da unidade religiosa, do lavrador, do armador e até a renda do Estado." E acrescenta: "o se foram de si próprios desmemoriando".71 Em essência o problema rápido giro de fundos dado pelas letras de câmbio, a prontidão com que se passavam grandes créditos de Lisboa para Sevilha, para a feira Chamberlain salienta que os judeus desde o começo do período de Medina, para Gênova, para Flandres, deu aos desta classe, ajudados visigótico souberam impor-se entre os povos peninsulares como ne­ pelos estabelecimentos dos correios, de que souberam tirar partido, gociantes de escravos e credores de dinheiro. De modo que para o tal superioridade nos negócios que ninguém podia com eles compe­ pendor português para viver de escravos parece ter concorrido o tir. Às vezes acudiam nas urgências do Estado e o socorro era reputa­ sefardim. Inimigo do trabalho manual, o judeu desde remotos tempos do um grande serviço e recompensado como tal. Outras vezes era o inclinou-se à escravidão. Diz Chamberlain que Isaías insinua a idéia herdeiro de um grande nome e representante de muitos heróis, que de que os estrangeiros deveriam ser os lavradores e os vinhateiros para acomodar-se ao luxo da época, não desdenhava aliar-se com a dos hebreus.74 E o certo é que na Península muitos dos judeus mais neta do saião convertido, cujo descendente se fizera rico tratante, longínquos de que se tem notícia foram donos de escravos cristãos e 75 como então se dizia, sem que o vocábulo se tomasse em mau sentido, possuíram concubinas cristãs. como as obras deles tratantes ou tratadores vieram a fazer que se Parece terem mais tarde estendido sua especialização econômica tomasse".73 Vê-se que, com relação aos judeus, como com relação aos ao comércio de gêneros alimentícios: "peixe seco e as mais coisas", mouros, foi grande a mobilidade em sentido vertical, confundindo-se dirá um memorial de 1602 acusando-os de exploradores "do povo 76 no casamento origens étnicas diversas. miúdo que se sustenta de peixe seco." Constituíram-se os judeus em Portugal em grande força e sutil Em 1589 fora à Mesa de Consciência e Ordem, por consulta del- influência pelo comércio, pela agiotagem, pelo exercício de altos Rei, o problema dos cristãos-novos estarem fazendo também mono­ cargos técnicos na administração, pelas ligações de sangue com a pólio dos ofícios de médico e boticário; bem assim do reino estar se 77 velha nobreza guerreira e territorial, pela superioridade de sua cultu­ enchendo de bacharéis. Um e outro excesso resultado, ao que nos parece, do fato dos cristãos-novos virem procurando ascender na es­ ra intelectual e científica. Especialmente a dos médicos - rivais pode­ cala social servindo-se de suas tradições sefardínicas de intelectualismo. rosos dos padres na influência sobre as famílias e sobre os reis. O De sua superioridade, em traquejo intelectual, sobre os rudes filhos rumo burguês e cosmopolita tão precocemente tomado pela monar­ da terra. Pode-se atribuir à influência israelita muito do mercantilismo quia portuguesa, contra as primeiras tendências agrárias e guerreiras, no caráter e nas tendências do português: mas também é justo que cavou-o mais fundo que qualquer outra influência a dos interesses lhe atribuamos o excesso oposto: o bacharelismo. O legalismo. O econômicos dos judeus, concentrados estrategicamente, e por ances­ misticismo jurídico. O próprio anel no dedo, com rubi ou esmeralda, tral horror dos "homens de nação" à agricultura, nas cidades maríti­ do bacharel ou do doutor brasileiro, parece-nos reminiscência orien­ mas; e daí, em fácil e permanente contato com centros internacionais tal, de sabor israelita. Outra reminiscência sefardínica: a mania dos de finança judia. óculos e do pincenê - usados também como sinal de sabedoria ou de Os reis de Portugal é evidente que não protegeram aos judeus requinte intelectual e científico. O abade de la Caille, que esteve no pelos seus belos olhos orientais mas interesseiramente, fazendo-os Rio de Janeiro em 1751, diz ter visto tudo o que era doutor ou bacha­ concorrer com largas taxas e impostos para a opulência real e do rel em teologia, direito ou medicina de óculos no nariz "poursefaire Estado. É digno de nota o seguinte: que a marinha mercante portu­ respecter des passam" ,78 E a mania de sermos todos doutores em Por­ guesa desenvolveu-se em grande parte graças a impostos especiais tugal e sobretudo no Brasil - até os guarda-livros bacharéis em co­ pagos pelos judeus por todo navio construído e lançado no mar. De mércio, os agrônomos, os engenheiros, os veterinários - não será modo que da prosperidade israelita aproveitaram-se os reis e o Esta­ outra reminiscência sefardínica? do para enriquecerem. Na prosperidade dos judeus baseou-se o im­ Lembra Varnhagen que valendo-se da classe média e dos leigos perialismo português para expandir-se. letrados, pôde a monarquia libertar-se, em Portugal, da pressão do clero e dos antigos senhores territoriais. E escreve: "Essa magistratura tãos-novos : "porém os que novamente se tornarem à nossa santa fé letrada, por seu saber, por seus enredos, sua atividade, sua loqüela e poderão tomar, e ter em suas vidas, e trespassar a seus filhos somente, a proteção que lhe davam as ordenações, redigidas por indivíduos de os apelidos de quaisquer linhagens que quiserem, sem pena alguma". sua classe, vem, pelo tempo adiante, a predominar no país, e até Tudo isto nos mostra como, mesmo no caso do judeu, foi intensa a alistar-se no número de seus primeiros aristocratas, depois de haver mobilidade e livre a circulação por assim dizer de uma raça a outra; e, em geral hostilizado a classe, antes de chegar a ela".79 Um caso rápido literalmente, de uma classe a outra. De uma a outra esfera social. de promoção social. Pois dessa burguesia letrada que se aristocratizou Concorreram os judeus em Portugal, e em partes da Espanha, rapidamente pela cultura universitária e por serviços intelectuais e para o horror à atividade manual e para o regime do trabalho escravo jurídicos à monarquia, grande parte seria de cristãos-novos ou "ho­ - tão característico da Espanha e de Portugal. Concorreram para a mens de nação". Rebentos de outra burguesia: a de comerciantes, de situação de riqueza artificial observada por Francisco Guicciardini, traficantes, de agiotas, de intermediários. De tal modo se empenha­ historiador italiano que no princípio do século XVI esteve nas Espanhas, ram os cristãos-novos em alastrar de seus filhos doutores e bacharéis como embaixador de Florença junto ao rei de Aragão: "A pobreza é as cátedras e a magistratura que a Mesa de Consciência e Ordem, em grande e ao meu ver não provém tanto da natureza do país quanto da fins dos século XVII, decidiu limitar o bacharelismo em Portugal, su­ índole de seus habitantes, oposta ao trabalho; preferem enviar a ou­ gerindo ao rei restringir para dois o número de filhos que pudesse tras nações as matérias-primas que seu reino produz para comprá-las enviar para a Universidade de Coimbra uma pessoa nobre, a um, o depois sob outra forma, como se verifica com a lã e a seda que ven­ pai mecânico, e fazendo depender de licença de Sua Majestade a dem a estranhos para comprar-lhes depois panos e tecidos".81 Excetua­ inscrição de cristãos-novos. Porque "ainda desta maneira sobrepuja­ vam-se da generalização de Guicciardini as zonas agrícolas em que rão letrados neste reino." Formavam os cristãos-novos a maioria dos por muito tempo se projetaram os benefícios da ciência ou da técnica lentes das escolas superiores - um deles o famoso doutor Antônio mourisca. Entre outras, as regiões próximas de Granada. Zonas privi­ Homem; salientavam-se entre os advogados, magistrados e médicos. legiadas. Outro viajante, Navajero, descreve-as com verdadeiro liris­ Coimbra chegou a tornar-se "covil d'heréticos", na frase de João Lúcio mo: farto arvoredo, muita fruta madura pendendo das árvores, grande de Azevedo, tal o número de judeus dentro das batinas de estudantes variedade de uvas, espessas matas de oliveiras. E no meio desse luxo ou das becas de professores.80 de verdura, as casas dos descendentes de mouros: pequenas, é certo, Compreende-se que os cristãos-novos, vindos da usura, do co­ mas todas com água e roseiras, "mostrando que a terra fora mais bela mércio de escravos e da agiotagem, encontrassem nos títulos univer­ ainda quando em poder dos mouros."82 E Navajero contrasta com a sitários de bacharel, de mestre e de doutor a nota de prestígio social atividade dos mouriscos os desmazelos e o ócio dos hispanos, nada que correspondesse às suas tendências e ideais sefardínicos. Que en­ industriosos, sem amor nenhum pela terra, guardando seu melhor contrassem na advocacia, na medicina e no ensino superior a maneira entusiasmo para as empresas de guerra e as aventuras comerciais nas ideal de se aristocratizarem. Seus apelidos é interessante observar que índias. O mesmo que na região andaluza se observava no Sul de se dissolveram nos germânicos e latinos dos cristãos-velhos. Facilitou Portugal e no Algarve: terras igualmente beneficiadas pelos mouriscos aliás D. Manuel I aos cristãos-novos a naturalização, e, ao mesmo e nas quais o polaco Nicolas de Popielovo, ao percorrê-las em fins do tempo, a aristocratização de seus nomes de família, permitindo-lhes século XV, quase não encontrou diferença das de Andaluzia: "em usar os mais nobres apelidos de Portugal. O que se proibia aos outros todas as terras de Andaluzia, Portugal e Algarvia [...] os edifícios e os - tomar "apelido de fidalgos de solar conhecido, que tenham terras homens se assemelham e a diferença na educação e costumes entre com jurisdição em nossos reinos" - concedeu-se amplamente aos cris­ sarracenos e cristãos unicamente se pode perceber na religião [.. .]".83 Devendo-se observar, de passagem, que os cristãos não eram grandes vantagem da grande propriedade nunca ter representado em Portugal devotos, só se confessando na hora da morte; e não jejuavam senão desbragado privativismo. Contra os interesses particulares se fez sen­ raramente. Nem era fácil praticar o jejum em terras que, em vez de tir muitas vezes não só o poder da Coroa como o das grandes pobres de mantimento como a maior parte das Espanhas, conserva­ corporações religiosas, donas de algumas das melhores terras agríco­ ram-se por largo tempo, devido ao reflexo da atividade moura e las. Terras a que fizera jus o esforço guerreiro dos freires nas guerras mourisca, fartas de cereais, de carnes e de vinho. da reconquista; e acrescidas, depois, de doações e legados dos mo­ Com relação a Portugal, deve-se salientar que seus começos fo­ narcas e dos particulares, indivíduos devotos ou incapazes de vida ram todos agrários; agrária a sua formação nacional depois pervertida agrícola. "No povoamento e redução à cultura de um país devastado pela atividade comercial dos judeus e pela política imperialista dos pelas guerras cabe parte notável à Igreja", escreve João Lúcio de Aze­ reis. Agrário também o seu primeiro comércio de exportação de pro­ vedo. "À roda dos mosteiros", acrescenta, "desenvolvia-se o labor dutos da terra: azeite, mel, vinho, trigo. Dos mouros, como já vimos, agrícola. Parte considerável da Estremadura foi arroteada e povoada, muito aproveitara a terra portuguesa. Sobretudo o Sul, necessitado de à iniciativa dos monges de Alcobaça. Outro tanto se pode dizer de irrigação e tornado zona produtiva pela ciência dos invasores. lugares e de regiões diferentes. Também bispos, monges e simples A reconquista, embora seguida da concessão de largos trechos de párocos foram grandes edificadores e reparadores de pontes, obras terra aos grandes guerreiros, não acentuou em Portugal traços e ca­ das mais meritórias naquele tempo rude."85 racterísticos feudais. Entre as concessões de terra a particulares Durante os tempos indecisos de luta com os mouros foi principal­ encravaram-se sempre terras da Coroa ou do rei, cultivando-as foreiros mente à sombra das abadias e dos grandes mosteiros que se refugiou e rendeiros. Destes é que recebia o monarca, através de mordomos, a agricultura, sob o cuidado dos monges. No interior dos claustros rendas e foros às vezes exagerados. Metade da colheita do vinho. A refugiaram-se indústrias e artes. Esteves Pereira escreve que os mos­ terça parte da de trigo. Nas terras dos grandes senhores incumbia aos teiros em Portugal "a par de mansões de oração e de estudos se foreiros e rendeiros levantar e reparar os castelos e os moinhos, os tornaram em focos e escolas de atividade industrial, em laboriosas fornos e os celeiros. A unidade econômica formava-a o solar - a colônias agrícolas, que arrotearam sertões, desdobraram campinas in­ mansão senhorial de taipa ou de barro amassado, avó da casa-grande cultas, que fecundaram vários territórios, até então desertos e de engenho brasileiro. O regime econômico não se pode dizer que maninhos."86 Aos grandes mosteiros e corporações monásticas e reli­ tenha sido a princípio o da grande propriedade - considerando-se giosas, informa ainda Esteves Pereira que os particulares doaram várias grandes proprietários o rei, as fundações eclesiásticas e todos aqueles terras "por lhes faltarem elementos para os seus exercícios". Reconhe­ por quem a conquista foi dividida - mas uma combinação desse regi­ cia-se assim no latifúndio, isto é, na grande propriedade ativa, a capa­ me com o da cultura parcelada, "achando-se repartido o solo de cada cidade de ação colonizadora e civilizadora que faltava aos proprietá­ grande acervo senhorial pelas subunidades a cargo dos adstritos, no rios pequenos ou ausentes. Estes foram absorvidos nas grandes primeiro período, entregue mais tarde aos rendeiros e foreiros."84 propriedades por outro meio, além do das doações por incapacidade: Teve assim a formação agrária de Portugal, na sua primeira fase, pelas obrigações criadas por empréstimos que lhes facilitavam as ri­ um equilíbrio e uma solidez que nenhum dos dois regimes, sozinho, cas corporações religiosas, no desempenho de funções como de ban­ teria conseguido manter. Nem a pequena propriedade teria sido ca­ cos agrícolas que por largo tempo exerceram na economia portugue­ paz da tensão militar, necessária em terras agrícolas rodeadas de ini­ sa. Mecanismo vantajoso para os interesses agrários por não desviar migos fortes, nem o latifúndio, sem a cultura parcelada, teria dado aos as terras e os bens para a posse de capitalistas judeus ou burgueses começos da economia portuguesa cores tão boas de saúde. Acresce a ricos das cidades. Um ponto nos surge claro e evidente: a ação criadora, e de modo de fidalgos arruinados - ainda pôde recolher nos mosteiros por onde nenhum parasitária, das grandes corporações religiosas - freires, andou impressões de grande fartura. A cozinha de Alcobaça, por exem­ cartuxos, alcobacenses, cistercienses de São Bernardo - na formação plo, maravilhou-o. Seus olhos, ele próprio o confessa que nunca vi­ econômica de Portugal. Eles foram como que os verdadeiros ram em convento nenhum da Itália, da França ou da Alemanha tão antecessores dos grandes proprietários brasileiros. Daqueles cujas casas- largo espaço consagrado aos ritos das cousas culinárias. Muito peixe grandes de engenho foram também focos de atividade industrial e de fresco das águas do próprio convento. Uma fartura de caça das matas beneficência. Oficinas, asilos de órfãos, hospitais, hospedadas. Os próximas. Hortaliças e frutas maduras de toda espécie das próprias frades não foram em Portugal as simples montanhas de carne, asfixian- hortas dos frades. Montes de farinha e de açúcar. Gordas jarras de tes e estéreis, em que alguns se deliciam em caricaturá-los. Na forma­ azeite. Trabalhando nesta abundância enorme de massas, de frutas, ção agrária do tempo dos afonsinos foram eles o elemento mais cria­ de hortaliças, numerosa tribo de serventes e leigos. Gente toda feliz, dor e mais ativo. Eles e os reis. Ao lado da tradição moura, foi a cantando enquanto preparava os pastéis e bolos para a mesa hospita­ influência dos frades, grandes agricultores, a força que em Portugal leira de Alcobaça. E o D. Abade a dizer ao estrangeiro, maravilhado mais contrariou a dos judeus. Se mais tarde o parasitismo invadiu até de tanta fartura, que "em Alcobaça não haveria de morrer de fome".89 os conventos é que nem a formidável energia dos monges pôde re­ Nada indica que nos solares de Portugal - a não ser no de Marialva mar contra a maré. Contra o Oceano Atlântico - diga-se literalmente. - acolhesse ao viajante inglês metade sequer daquela abundância e Tanto mais que no sentido do grande oceano, e das aventuras ultra­ variedade de víveres, todos frescos e da melhor qualidade. Víveres marinas de imperialismo e de comércio, remavam os fortes interesses que, alimentando centenas de eclesiásticos, ainda chegavam para dar israelitas, tradicionalmente marítimos e antiagrários. de comer a numerosos viajantes e indigentes. O Portugal que chegara Até trigo exportara Portugal na sua fase agrária, de saúde econô­ a exportar trigo para a Inglaterra tornou-se, na sua fase de mercan­ mica; aquela em que maior foi a ação dos mosteiros. "Demos pão aos tilismo, o importador de tudo para a sua mesa - menos sal, vinho e ingleses desde o reinado do Senhor D. Diniz até o do Senhor D. azeite. Do estrangeiro vinham trigo, centeio, queijo, manteiga, ovos, Fernando", lembra-nos o esclarecido autor de certo opúsculo escrito galinha. A não ser para os últimos redutos de produção agrícola e nos fins do século XVIII, em defesa dos frades portugueses.87 Para portanto de alimentação fresca e sadia. Esses redutos foram os esse publicista, a decadência da agricultura devia atribuir-se aos se­ conventos. nhores inertes, ausentes de suas terras, entregues ao luxo das capitais. Por onde se vê que não deixou de ter motivos Ramalho Ortigão para Enquanto nas propriedades eclesiásticas era mais difícil de verificar-se desenvolver curiosa teoria sobre os frades em Portugal e a profunda o absenteísmo do mesmo modo que o desmazelo: as fazendas nas influência dos conventos no progresso do país. Os frades, argumentava mãos dos frades "são de ordinário mais bem cultivadas; porque se Ramalho Ortigão, tendo constituído por vários séculos a classe pensante hum prelado ou presidente se descuida, o prelado-maior em suas da nação, uma vez extintas as ordens religiosas, a civilização portuguesa visitações os adverte, e os companheiros os accusam da sua ignorân­ ficou acéfala. Nenhuma outra classe herdou-lhes a preponderância inte­ cia ou negligencia: assim estas propriedades sempre têm olhos, e lectual. Resultado, concluía Ortigão, da alimentação regular e perfeita braços que as auxiliam, e por isso sempre rendem e se melhoram."88 dos frades; da irregular e imperfeita das outras classes, prejudicadas na Daí ter-se conservado melhor nos conventos do que nas mãos dos sua capacidade de trabalho e estudo pela insuficiência alimentar. particulares a riqueza agrícola em Portugal - bem administrada pelos Colonizou o Brasil uma nação de homens mal-nutridos. É falsa a frades e pessimamente pelos particulares, senhores de latifúndios es­ idéia que geralmente se faz do português: um superalimentado. téreis. Beckford, visitando Portugal no século XVIII - um Portugal já Ramalho atinou com o engano, embora por um caminho incerto: atra- vés do reduzido consumo de carne em Portugal. Seria anti-higiênico ser a mistura de centeio e milho alvo." Das leguminosas, o historiador que esse consumo fosse, em terra de clima africano, proporcional­ nos dá a certeza das seguintes: fava, ervilha, lentilhas e chícharo. mente o mesmo que nos países do Norte. O grande publicista ideali­ Frutas, os romanos introduziram várias nas províncias e desenvolve­ zou um português alimentando-se da mesma fartura de bife que o ram a cultura de outras, indígenas. Mas foram os árabes que introdu­ inglês. Ora, esse português idealizado por Ortigão teria sido um ab­ ziram as laranjas, os limões e as tangerinas e os processos adiantados surdo. Mas o consumo de carne que suas pesquisas surpreenderam de conservação e aproveitamento dos frutos em "frutos secos". Pro­ em Lisboa espanta pela miséria: quilo e meio por mês para cada cesso que se comunicaria vantajosamente ao Brasil, através das habitante.90 matronas portuguesas do século XVI que tão cedo se tornaram peritas A deficiência não foi, porém, só de carne de vaca: também de leite confeiteiras de frutas tropicais. e de vegetais. Desde cedo parece ter atuado desfavoravelmente sobre a Como circunstância particularmente desfavorável à agricultura e, saúde e a eficiência do português a preponderância de peixe seco e da por conseguinte, ao suprimento de víveres frescos em Portugal, mes­ comida em conserva no seu regime de alimentação. "O povo miúdo mo nos seus tempos de melhor saúde econômica, devem ser lembra­ vive pobremente, sendo a sua comida diária sardinhas cozidas", infor­ das: as crises de clima, por um lado; por outro, as crises ou perturba­ mam Trom e Lippomani que estiveram em Portugal em 1520. "Raras ções sociais - guerras, epidemias, invasões etc. Ainda assim pode-se vezes compram carnes, porque o alimento mais barato é esta casta de concluir que a gente portuguesa atravessou nos seus começos, antes peixe [...]." E o pão "nada bom [...] todo cheio de terra." Vitela, rara. de transformar-se em potência marítima, um período de alimentação Trigo vindo de fora: da França, de Flandres, da Alemanha.91 equilibrada que talvez explique muito da sua eficiência e das suas Estrabão informa que "na Península, antes da ocupação romana, superiores qualidades de arrojo e de iniciativa até o século XVI. Indi­ durante os três quartos do ano, os habitantes viviam de pão de glandes", cam-no documentos antigos decifrados por Alberto Sampaio. Por exem­ isto é, de uma massa de glandes esmagadas e trituradas depois de plo: as obrigações da comida fornecida aos mordomos reais por oca­ secas. Vinhos só em dia de festa, nos banquetes ou comezainas, quando sião de receberem as rendas. Dessas obrigações constam ora pão, era evidentemente mais farta e variada a alimentação.92 carne, vinho, ora pão, vinho, leite fervido, frangos, filhos, carne de Desde esses remotos tempos que se deve distinguir entre porco, queijo, manteiga, ovos etc. Sampaio é o primeiro a comentar comezainas e banquetes e a alimentação dos dias comuns. Entre o que muito maior era então a freqüência dos laticínios na alimentação regime de reduzido número de ricos e o da grande maioria - o da portuguesa que depois tanto se empobreceu deles e de carne verme­ plebe rural e das cidades. As generalizações sobre o assunto baseiam- lha. O que o ilustre historiador atribui, com evidente parcialidade, à 93 se em fatos excepcionais - quase os únicos registrados pelas crônicas "revolução cultural apurada pela introdução do milho mais." históricas. Daí a crença em um português tradicionalmente regalão, As causas desse empobrecimento parecem-nos mais profundas e sempre rodeado de gordos pitéus. De bois inteiros assados em espe­ complexas. Ele reflete a situação de miséria geral que criou para as to. De galinhas, porcos, carneiros. Resultado de não se saber descon­ Espanhas o abandono da agricultura, sacrificada pelas aventuras maríti­ tar nas crônicas o fato de elas só registrarem o extraordinário ou mas e comerciais; depois, a monocultura, estimulada em Portugal pela excepcional. Inglaterra através do Tratado de Methuen. As crônicas de banquetes, as Alberto Sampaio dá-nos como cultivados na Península, nos tem­ tradições de comezainas, as leis contra a gula não nos devem deixar a pos da dominação romana e nos imediatos, o centeio, a cevada, a ilusão de um povo de superalimentados. Sampaio mesmo deixa-nos aveia, o farelo, o trigo - reservado o trigo, devido a sua produção perceber nas populações do Minho o contraste entre a alimentação pouco abundante, para a gente rica, "enquanto o mais comum devia fraca e insuficiente dos dias comuns e a desbragada dos jantares de festa. "Nos jantares de festa", escreve ele, "as vitualhas acumulam-se em Pompeyo Gener pretende que "con los ayunos predicados por el massas enormes: as grandes terrinas e escudelas de víveres, os largos clero"lenha degenerado "en costumbre el comer malypoco." Refere-se pratos com peças desmedidas, seguem-se numa sucessão interminável, à Espanha mas pode estender-se a Portugal sua curiosa maneira de intermeados com as infusas e canecões de vinho verde, que quanto explicar por que "las razas antes inteligentes y fuertes quepoblavan la mais rascante, mais estimula o apetite, aliás sempre complacente."9"4 península enflaqueceran, se encanijaron, debilitándosefísica e moral­ Desbragamento que indica alimentação normalmente pobre. Não nos mente; volviéranse improductivas y visionárias."96 O crítico espanhol, esqueçamos nunca do caráter excepcional dessas comezainas: sua pró­ através das palavras transcritas, parece-nos inclinado a sobrecarregar pria intemperança faz pensar em estômagos mal-alimentados que umas de responsabilidades a Igreja pela deficiência da alimentação espa­ quantas vezes por ano se expandissem em excessos como que nhola. Exagero com que de modo nenhum concordamos. Parece-nos, compensadores do regime de parcimônia alimentar dos dias comuns. porém, fora de dúvida que o apelo religioso às virtudes de temperan­ Os jejuns devem ser tomados na devida conta por quem estude o ça, frugalidade e abstinência; a disciplina eclesiástica contendo no povo regime de alimentação do povo português, sobretudo durante os sé­ o apetite de mesa farta, reduzindo-o ao mínimo, soltando-o apenas culos em que sua vida doméstica andou mais duramente fiscalizada nos dias de festas e sufocando-o nos de preceito - consciente ou pelo olhar severo da Inquisição. Da Inquisição e do jesuíta. Dois olhos inconscientemente agiram no interesse de equilíbrio entre os limitados tirânicos, fazendo as vezes dos de Deus. Fiscalizando tudo. meios de subsistência e os apetites e necessidades da população. De É possível que correspondessem aos jejuns e aos freqüentes dias maneira que a crítica, não é o clero ou a Igreja que a merece. O mal de comida de peixe, fortes razões de Estado. Os jejuns terão contribuído vinha de raízes mais fundas. Do declínio da agricultura causado pelo para o equilíbrio entre os limitados víveres frescos e as necessidades desenvolvimento anormalíssimo do comércio marítimo. Do empobre­ da população. Estimulava-se o povo ao regime de peixe seco e de cimento da terra depois de abandonada pelos mouros. Do parasitismo artigos de conserva, em grande número importados do estrangeiro. O judeu. O fato é que os observadores da vida peninsular nos tempos foral de Gaia, conferido por Afonso III em 1255, deixa entrever que já modernos, depois das conquistas, dos descobrimentos, da expulsão nos tempos afonsinos, de relativa saúde econômica, o peixe seco ou dos mouros e dos mouriscos, é que são os mais insistentes em salien­ salgado avultava no regime da alimentação portuguesa. Os pescado­ tar a extrema parcimônia da alimentação portuguesa ou espanhola. "A res, além da costa portuguesa, exploravam a galega, colhendo peixe, temperança, ou melhor, abstinência, chega a limites inverossímeis", salgando-o e remetendo-o para o consumo do povo. Já no século escreve um. Outro salienta a extrema simplicidade da comida da gente XIII, a carne vermelha começava a ser luxo ou pecado para imperar, pobre: um taco de pão com uma cebola. No século XVII a fome che­ triunfante e virtuoso, o peixe salgado. León Poinsard, no seu estudo garia até aos palácios: a embaixatriz de França em Madri nessa época Le Portugal inconnu, lembra que os portugueses chegaram a expor­ diz ter estado com oito ou dez camaristas que há tempo não sabiam o tar, na Idade Média, peixe salgado para Riga e que em 1353 Eduardo que era comer carne. Morria-se de fome pelas ruas.97 III da Inglaterra concedia-lhes o direito de pescarem nas costas ingle­ Já no século anterior - o da descoberta do Brasil - Clenardo sas.95 Mas esse exagerado consumo de peixe seco, com deficiência do notara nos lusitanos, mesmo fidalgos, que eram uns comedores de de carne fresca e de leite, acentuou-se com o declínio da agricultura rábano, alimentando-se pouco e mal. Admiráveis de realismo e exati­ em Portugal. E deve ter contribuído de maneira considerável para a dão - observemos de passagem - as cartas desse Clenardo. Excedem redução da capacidade econômica do português, depois do século as de Sasseti. Neste, a tendência para a caricatura está sempre a defor­ XV. Fato por alguns vagamente atribuído à decadência de raça; por mar-lhe o traço; o abuso da nota pitoresca a prejudicar-lhe a limpidez outros à Inquisição. das informações. Clenardo, ao contrário, contém-se nas gaiatices, ofe- recendo-nos um retrato honesto e fiel da vida lusitana de seu tempo. casa. Esse brilho de vestuário à custa de verdadeira indigência na Antes de Alexandre de Gusmão dar seu grito de alarme contra o alimentação. Da falta absoluta de conforto doméstico. Ou então à regime de trabalho escravo em Portugal, atribuindo a essa instituição custa de dívidas. Situação esta comum às Espanhas como mais tarde à a indolência do português, sua lentidão e esterilidade, já Clenardo América hispânica. Aos senhores de engenho do Brasil, por exemplo. salientara a extensão dos efeitos perniciosos do cativeiro sobre o ca­ Dos hispanos já generalizara em princípios do século XVI o historia­ ráter e a economia lusitana. Com a diferença de Alexandre de Gusmão dor Guicciardini: "se têm o que gastar, levam-no sobre o corpo ou diagnosticar um império já começando a desfazer-se de podre; Clenardo sobre a cavalgadura, ostentando mais do que possuem em casa onde receitou-o pelos primeiros escarros de sangue. "Se há povo algum subsistem com extrema mesquinharia e tão economicamente que causa dado à preguiça, sem ser o português, então não sei eu onde ele maravilha".99 De outro humorista italiano, Lúcio Marineo, resta-nos exista... Esta gente tudo prefere suportar a aprender uma profissão idêntica observação: "Uma coisa não quero deixar de dizer: que a qualquer." Tão grande indolência, à custa da escravidão: "Todo o maioria dos espanhóis tem grande cuidado em vestir-se e em ataviar- serviço é feito por negros e mouros cativos. Portugal está a abarrotar se muito bem como gente de gastar mais no trajo e nos atavios do com essa raça de gente. Estou quase a crer, que só em Lisboa, há mais corpo do que na alimentação e em outras cousas por muito neces­ escravos e escravas que portugueses livres de condição... Os mais sárias que sejam".100 O mesmo observariam viajantes ingleses e france­ ricos têm escravos de ambos os sexos e há indivíduos que fazem bons ses no Brasil dos séculos XVII e XVIII, onde ao esplendor das sedas e lucros com a venda de escravos novos, nascidos em casa. Chega-me a ao número excessivo de escravos raramente correspondia o conforto parecer qüe os criam como quem cria pombas, para vender, sem que doméstico das nações do Norte da Europa. Dampier surpreendeu na se ofendam com as ribaldias das escravas".98 Ao excesso de escravos Bahia, em fins do século XVII, casarões enormes, mas mal mobilia- Clenardo filiou a horrível carestia da vida em Portugal. Só a barba dos. Coisa de que os portugueses e espanhóis não fazem caso - anota levava-lhe uma fortuna toda a semana. Assim mesmo o barbeiro fa­ ele. Daí as casas-grandes de senhores de engenho que viu no Brasil - zendo-se esperar como um lorde. Serviços e gêneros - tudo tinha de todas de escasso mobiliário. E quadros na parede, raros - só em uma ser arrancado às mãos dos vendedores e dos artífices; a carne das ou em outra, mais requintada.101 mãos do carniceiro depois de se ter esperado a pé firme no talho Engana-se, ao nosso ver, quem supõe ter o português se corrompi­ duas ou três horas. do na colonização da África, da índia e do Brasil. Quando ele projetou A carestia da vida sofriam-na, entretanto, os portugueses de pre­ por dois terços do mundo sua grande sombra de escravocrata, já suas ferência na sua vida íntima, simulando fora de casa ar e fausto de fontes de vida e de saúde econômica se achavam comprometidas. Seria fidalgos. Em casa, jejuando e passando necessidades; na rua, osten­ ele o corruptor, e não a vítima. Comprometeu-o menos o esforço, de tando grandeza. O caso do ditado: "Por fora muita farofa, por dentro fato extenuante para povo tão reduzido, da colonização dos trópicos, mulambo só". que a vitória, no próprio reino, dos interesses comerciais sobre os agrí­ Clenardo retrata nas suas cartas os "faustosos comedores de rabane­ colas. O comércio marítimo precedeu ao imperialismo colonizador e é tes que trazem todavia pelas ruas atrás de si maior número de criados provável que, independente deste, só pelos desmandos daquele, Por­ do que de reais gastam em casa." Tamanho era o luxo de escravos tugal se tivesse arruinado como país agrícola e economicamente autô­ que alguns senhores se acompanhavam de um para levar-lhes o cha­ nomo. A escravidão que o corrompeu não foi a colonial mas a domés­ péu, outro o capote, um terceiro a escova para limpar o fato, um tica. A de negros de Guiné que emendou com a de cativos mouros. quarto o pente para pentear o cabelo. Mas toda essa opulência de Compreende-se que os fundadores da lavoura de cana no trópico roupa e criadagem na rua à custa de verdadeiro ascetismo dentro de americano se tivessem impregnado, em condições de meio físico tão adversas ao seu esforço, do preconceito de que "trabalho é só pra Muito se tem falado do caráter oceânico do território português negro". Mas já seus avós, vivendo em clima suave, haviam transfor­ como o irresistível motivo de ter o povo lusitano abandonado a vida mado o verbo trabalhar em mourejar. agrícola pela de comércio e conquistas ultramarinas. O mercantilismo Desde quando a economia portuguesa deixou-se empolgar pela português, como a própria independência do reino, teria sido inevitá­ fúria parasitária de explorar e transportar riqueza, em vez de produzi- vel conseqüência de condições geográficas. Tudo muçulmanamente la, não é fácil de dizer-se com precisão. Dois Portugais antagônicos determinado, e o velho de Restelo, em cuja boca Camões dramatizou o coexistiram por algum tempo, baralhando-se e confundindo-se, na conflito entre os interesses da agricultura e os do oceano, teria apenas fervura das guerras e revoluções, antes de vencer o Portugal burguês repetido o gesto ingênuo do rei Canuto querendo parar as ondas. e comercial. Poinsard assinalou a coexistência de dois tipos de família Mas as condições geográficas não determinam de modo absoluto o ou de formação social, entre os portugueses. A família feudal e a desenvolvimento de um povo; nem hoje se acredita na peculiaridade 102 família comunitária. Mas os grandes antagonismos que se defronta­ geográfica ou étnica de Portugal em relação ao conjunto peninsular. A ram foram os econômicos. O interesse agrário e o comercial. própria oceanidade do território português em oposição à continen- A decadência da economia agrária em Portugal, o modo por que talidade da Espanha não constitui senão fator insignificante de diferen­ a nação se mercantilizou a ponto de tornar-se grande casa de negócios ciação: "porque também há oceanidade no território espanhol como há com o próprio rei e os maiores fidalgos transformados em negocian­ continentalidade no território português", observa o professor Fidelino tes - está magnificamente traçado por Costa Lobo, Alberto Sampaio, de Figueiredo. E o erudito historiador lembra que "há povos marítimos 103 Oliveira Martins, João Lúcio de Azevedo. Antes deles já economis­ durante séculos desinteressados do mar como a Inglaterra e a Fran­ tas antigos, de Quinhentos e de Seiscentos, haviam atinado com os ça. "1

7. João Lúcio de Azevedo, "Algumas notas relativas a pontos de história social" em Miscelânea de estudos em homenagem de dona Carolina Michaêlis de Vasconcelos, Coimbra, 1930.

8. João Lúcio de Azevedo, "Organização econômica", em História de Portugal, ed. Monumental, Barcelos, 1931, vol. III. 9. Alexandre Herculano, Introdução a O bobo (Época de dona Teresa, 1128), Lisboa, 1897. 14. Escreve Rodrigo Otávio que "cumpre registrar, em honra ao espírito liberal da legislação do pe­ queno reino, que ali nunca existiram os 'direitos de albinágio e de detração' (Rodrigo Otávio, 10. Parece ter sido do mesmo feitio, por assim dizer, matriarcal, de Da. Francisca do Rio Formoso - Direito do estrangeiro no Brasil, Rio de Janeiro, 1909). E Pontes de Miranda: "No direito por­ que era uma Wanderley - Da. Joaquina do Pompeu, de Pitangui e Paracatu (Minas Gerais), onde tuguês não se encontra o direito de albinágio [...] nem o de naufrágio, que autorizava reis e foi dona de grandes fazendas e, com a doença do marido, o "homem da casa". Em livro aparecido senhores a se apoderarem das pessoas e cousas naufragadas no mar e nos rios, nem o de represá­ em Belo Horizonte em 1948, sob o título Serra da saudade, o Sr. C. Cunha Correia opõe-se a que lias" (Pontes de Miranda, Fontes e evolução do direito civil brasileiro, Rio de Janeiro, 1928). Da. Joaquina do Pompeu seja considerada de Paracatu (p. 85). Segundo notas que nos forneceu 15. João Lúcio de Azevedo "Organização econômica", cit. um dos ilustres descendentes da matriarca, o professor Alberto Álvares, já falecido, era Da. Joaquina

"filha do Dr. Jorge de Castelo Branco, Juiz de Direito de Mariana [... ] que depois de viúvo orde­ 16. João Lúcio de Azevedo, loc. cit. nou-se e foi vigário de Pitangui." Pitangui teria sido o centro do sistema matriarcal encarnado 17. Antônio Sérgio, A sketch ofthe history of Portugal, trad. de Constantino José dos Santos, Lisboa, pela notável mineira. Entretanto, das suas fazendas - segundo as mesmas notas, baseadas em 1928. dados extraídos de cartórios - as denominadas Gado Bravo, Novilha Brava, Tapera e Cotovelo

estavam "situadas no município de Paracatu, antiga vila de Paracatu do Príncipe." 18. Alberto Sampaio, Estudos históricos e econômicos, Lisboa, 1923; Antônio Sérgio, op. cit. De Antô­ De Da. Francisca do Rio Formoso (Francisca da Rocha Lins Wanderley) conta o desembargador nio Sérgio veja-se também sua inovadora e sugestiva História de Portugal, tomo I (Introdução Pais Barreto que foi ela a "última senhora do engenho Rio Formoso". Foi seu neto o visconde do geográfica), Lisboa, 1941. Rio Formoso. 19- William Dampier, Voyages [...]aux terresaustrales, à la nouvelleHollande, & C, faiten Da mesma matriarca, informa o desembargador Pais Barreto, confirmando o que se diz neste 1699, (trad.), Amsterdã, 1705, p. 93. ensaio: "Ficou tradicional um dos seus atos de prepotência. Pelo engenho passava grande car­ regamento de açúcar conduzido em carros de bois. Trazia a marca J.M.W., iniciais de um preto 20. Coreal, cit. por Afonso de E. Taunay, Non ducor duco, cit. abastado que adotara o nome de João Maurício Wanderley. Da. Francisca mandara parar os carros 21. The principal navigations voyages traffiques and discoveries of the english nation [...}by e colocar no chão todas as caixas, nas quais um carpinteiro, com forte enxó, ia inutilizando o W, RichardHakluyt, VIII, p. 16. Sobre a influência no Brasil desde a época colonial, veja-se Gilberto riscando-o da madeira. Concluído o serviço e recolocadas as caixas no carro, determinou que Freyre, Ingleses no Brasil - Aspectos da influência britânica sobre a vida, a paisagem e a seguisse o comboio e que ao seu dono fosse dito que Wanderley era nome de branco e que pessoa cultura do Brasil, Rio de Janeiro, 1948. ou coisa pertencente a negro não tinha o direito de passar pelo seu engenho com tal denomina­ ção. Vingou-se o preto argentário, comprando o trapiche Rio Formoso e expedindo ordens para 22. The principal navigations, etc, cit., VIII, p. 19.

que fosse retirada a mercadoria de Da. Francisca, porquanto daquela data em diante não se rece­ 23. Manuscrito no Arquivo do Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano. beria ali açúcar de Wanderley branco" ("Fatos reais ou lendários atribuídos à família Barreto", Revista das Academias de Letras, Rio de Janeiro, ano VII, ns 45, maio-junho de 1943, p 11). 24. Handelmann, op. cit. 25. Mendes Correia, Os povos primitivos da Lusitânia, Porto, 1924; Raça e nacionalidade, cit. 11. Esses limites foram impostos por Afonso V de acordo com o direito canônico. Pelas Constituições do Bispado do Porto estabelecendo condições menos suaves de asilo nas igrejas pode-se fazer 26. Boule, Les hommens fossiles, apud Mendes Correia, Os povos primitivos da Lusitânia, cit. idéia dos abusos. Veja-se o trecho das Constituições citado Por A. A. Mendes Correia, A nova 27. Mendes Correia, Os povos primitivos da Lusitânia, cit. antropologia criminal, Porto, 1931. 28. Opinião de Bosh, cit. por Mendes Correia, Os povos primitivos da Lusitânia, cit. 12. André João Antonil (João Antônio Andreoni, S. J.), Cultura e opulência do Brasil por suas dro­ gas e minas, p. 80, ed. de Afonso de E. Taumay, cit. 29. W. Z. Ripley, The races of Europe, Londres, s.d.

13- Handelmann, História do Brasil, cit. 30. Fonseca Cardoso, "Antropologia portuguesa", em Notas sobre Portugal, Lisboa, 1908. 31. A. C. Haddon, The roces of man and their distribution, Cambridge, 1929. olivedo pertencem à primeira - azeite, azeitona, à segunda [...]" (Estudos históricos e econô• micos, cit.) 32. Alberto Sampaio, Estudos históricos e econômicos, cit. 46. João Lúcio de Azevedo, "Organização Econômica", cit. 33. Mendes Correia, Os povos primitivos da Lusitânia, cit. 47. João Lúcio de Azevedo, loc. cit. 34. Referindo-se aos descendentes dos franceses que nos princípios do século XVI se amancebaram com mulheres tupinambás, em doce poligamia, "sem se quererem tomar para a França", diz 48. Alexandre Herculano, História de Portugal, cit. Gabriel Soares: "não é de espantar serem estes descendentes dos franceses alvos e louros pois que 49. Alberto Sampaio, Estudos, cit. saem a seus avôs". "Louros, alvos e sardos", dissera antes. A observação do cronista leva-nos a acreditar que não eram comuns os louros puros entre os colonizadores portugueses do século XVI, 50. Alberto Sampaio, Estudos, cit. que estes identificavam o louro ardente com os franceses. A propósito convém lembrar também 51. Alberto Sampaio, Estudos, cit. palavras de Hans Staden, cronista do século XVI, que aliás vêm citadas por Pedro Calmon na sua

também inovadora História da civilização brasileira (Rio de Janeiro, 1933): "Disseram-me que 52. Martim Francisco, "Jornal de viagens", cit. se tinha barba vermelha como os franceses, também tinham visto portugueses com igual barba, 53. Alberto Sampaio, Estudos, cit. mas eles tinham geralmente barbas pretas". Os índios - recorda ainda Calmon, baseado na rela­ ção de Gonçalo Coelho - distinguiam os franceses dos portugueses pela cor da barba. 54. Nicolas J. Debbané,v4« Brésil: Vinfluence árabe dans la formation historique, la littérature et la civilisation du peuple brésilien, Le Caire, 1911. É oportuno recordar aqui as localizações de 35. Haddon, op. cit. indivíduos de origem mourisca observadas em São Paulo por Martim Francisco. 36. Alberto Sampaio, Estudos, cit.; Mendes Correia, Os povos primitivos da Lusitânia, cit. 55. Na segunda edição àaEvolução do povo brasileiro salienta o ilustre sociólogo que esta tese apresen­ 37. Fleury, Hist. Eccles., apud Buckle, Bosquejo de una historia dei intelecto espanol (trad.), Madri, tara-a "como uma pura hipótese, uma suposição meramente conjetural." Nunca como "afirmação s.d. definitiva". Acrescenta: "Devo confessar entretanto que um estudo mais profundo dos problemas de raça e o crescente contato, em que entrei, com as grandes fontes de elaboração científica, neste domí­ 38. Buckle, op. cit. nio, renovaram profundamente minhas idéias sobre este e outros problemas da etnologia e da

39. Durham, cit.; Buckle, op. cit. antropossociologia" (Evolução do povo brasileiro, Prefácio, 2a ed, São Paulo, 1933).

40. Antônio Sérgio,i4 sketch of the history of Portugal, cit. 56. João Lúcio de Azevedo, "Organização econômica", cit.

41. João Lúcio de Azevedo, "Algumas notas relativas a pontos de história social", cit. 57. "A casa dos 24", diz J. de Oliveira Simões em estudo sobre "A evolução da indústria portuguesa", "com o seu juiz do povo, escrivão e almotacé, junta formada por delegados dos ofícios mecânicos, 42. Pontes de Miranda, Fontes e evolução do direito civil brasileiro, cit. que funcionava nas principais cidades, mostra a importância social que conquistava na vida da 43. Martim Francisco, "Jornal de viagens por diferentes vilas da capitania de São Paulo", Rev. Inst. nação o trabalho do povo" (Notas sobre Portugal, cit.). Vejam-se também sobre o assunto os Hist. Geog. firas., ns 45. trabalhos de João Lúcio de Azevedo, "Organização econômica", cit; J. M. Esteves Pereira, A in­ dústria portuguesa, cit.; Paulo Merea, "Organização social e administração pública", em Histó• 44. J. M. Esteves Pereira,;! indústria portuguesa (século XII a XLX), com uma introdução sobre as ria de Portugal. corporações operárias em Portugal, Lisboa, 1900. 58. Alfredo Ellis Júnior, Raça de gigantes (A civilização no planalto paulista), cit. 45. João Lúcio de Azevedo, "Organização econômica", cit. Escrevera Alberto Sampaio em seu estudo sobre as vilas do norte de Portugal: "Mais interessante é a terminologia agrícola-industrial da 59. Veja-se o seu Populações meridionais do Brasil, São Paulo, 1933. Também Evolução do povo oliveira, que apresenta a singularidade de ser em parte latina e em parte árabe: - oliveira, olival, brasileiro, São Paulo, 1933. 60. Debbané, loc. cit. 72. Max Weber, General economic history (trad.), Nova Iorque, 1927.

61. "One of the greatest compliments that can be paid a lady is to tell her that she is becoming 73- Varnhagen, História geral do Brasil, cit. adüy fatter and more beautiful" notou Gardner (George Gardner, Traveis in the interior of 74. Chamberlain, The foundations of the nineteenth century, cit. Brazil, principally through the northem provinces, Londres, 1846).

62. Richard F. Burton, Explorations of the higlands ofthe Brazil, Londres, 1869- 75. João Lúcio de Azevedo, História dos cristãos-novos portugueses, Lisboa, 1922.

63. Itinerário de Lisboa e Viana do Minho, etc., apud Leite de Vasconcelos, Ensaios etnográficos, 76. João Lúcio de Azevedo, História dos cristãos-novos, cit. Lisboa, 1910. 77. João Lúcio de Azevedo, História dos cristãos-novos, cit. Mário Sáa, op. cit. 64. Informa ainda o relatório que as senhoras do século XVII quando saíam, era dentro de redes sobre 78. fo?Àtàe\AGai[\%Joumalhistoriquedu voyagefaüaucap de B 1763, as quais se lançava um tapete ou enclausuradas em palanquins. Vestidos custosos e muitas jóias, p. 211. Sobre a mania dos óculos ou quevedos em Portugal, nos séculos XVI, XVII, XVIII, leia-se ainda que algumas falsas. "Breve discurso sobre o estado das quatro capitanias conquistadas, de Júlio Dantas, Figuras de ontem e de hoje, Lisboa, 1914. Recorda o escritor terem sido os dois Pernambuco, Itamaracá, Páráhybá e Rio Grande, situadas na parte septentrional do Brasil", trad. traços que Montesquieu salientou nos portugueses: os óculos e bigodes (les lunettes et[...]la do holandês, de manuscrito existente no Arquivo de Haia e publicado mRev. do Inst. Arq. Hist. moustache). Montesquieu deu ao abuso dos óculos em Portugal a mesma interpretação que La Geog. Pernambucano, n2 34. Caille no Brasil. Não nos esqueçamos do fato de que, lá como aqui, quase todos os doutores, em 65. Araújo Viana, no seu estudo "Das artes plásticas no Brasil em geral e na cidade do Rio de Janeiro medicina pelo menos, parece que eram judeus. O autor da Voyage de Marseille à Lima et dans em particular" (Rev. Inst. Hist. Geog. Bros.) destaca entre reminiscências mouriscas nas nossas les Autres Indes Occidentales (Paris, 1720), diz, à página 132, que a cidade de Salvador estava casas-grandes as "rótulas" e as "barras de azulejo nos saguões e nas casas de jantar." José Mariano cheia de judeus. Igual observação faz Frézier. Esse conta que um vigário fugira da Bahia para a ("As razões da arquitetura brasileira", O Jornal, Rio de Janeiro) escreve da arquitetura doméstica Holanda, depois de largos anos de falsa devoção católica, apurando-se que era muito bom judeu. brasileira: "O excesso de luminosidade ambiente foi inteligentemente corrigido pelos grandes Relation du voyage de lamerdu Sudaux cotes du Chily et du Perou, (A Paris, 1716), p. 276. lençóis de paredes, os alpendres amplos (copiares de Pernambuco), especialmente destinados a proteger as peças de habitação contra os rigores da insolação direta; as venezianas em adufa 79- Seriam também, em grande número, judeus disfarçados, ou homens de origem hebréia os advo­ (rótulas), os balcões e moucharabiehs muriscos". Deve-se salientar outro traço de cultura moura gados que, desde o século XVI, começaram a emigrar do reino para as colônias com os seus ócu­ aproveitado pelo bom senso português na colonização do Brasil tropical: as ruas estreitas que, los, as suas chicanas e o seu parasitismo. Da cidade de Goa, invadida por agiotas e chicanistas no infelizmente, vão sendo todas substituídas por avenidas e ruas largas. século XVI, escreveu um contemporâneo: "E parece a cidade de Goa mais acadêmica de litigantes que escola de armas" (FerdinandDénis, LePortugal, Paris, 1746). De reino escrevia um observa­ 66. Alberto Sampaio, Estudos, cit. dor do século XVIII: "A multidão dos advogados é notória e a sua utilidade muito equivoca" (Os 67. Estanco Louro, O livro deAlportel - Monografia de uma freguesia rural, Lisboa, 1929- frades julgados no tribunal da razão, Lisboa, 1814).

68. Estanco Louro, O livro deAlportel, cit. 80. João Lúcio de Azevedo, História dos cristãos-novos, cit.

69. Soror Violante do Céu, Parnaso de divinos e humanos versos, Lisboa, 1733, apud Leite de Vas­ 81. J. Garcia Mercadal, Espana vista por los estranjeros, cit concelos, Ensaios etnográficos, cit. 82. Mercadal, Espana vista por los estranjeros, cit. 70. Do folclore português. No Brasil, quando chove na noite de São João, diz-se sem o menor respeito 83. Mercadal, Espana vista por los estranjeros, cit. pelo Santo Menino que é mijão. Até do venerando São Pedro diz-se quando chove na sua noite,

que é mijão. 84. João Lúcio de Azevedo, "Organização econômica", cit. Veja-se também Épocas de Portugal eco­

71. Mário Sáa, A invasão dos judeus, Lisboa, 1924. nômico, Lisboa, 1929, pelo mesmo autor. 85. João Lúcio de Azevedo, Épocas de Portugal econômico, cit. matas, ele aqui encontrou a devastação a fogo de florestas tropicais praticadas sistematicamente Impugnando a idéia, exposta no presente estudo e em escritos posteriores do Autor, de ter sido o pelos indígenas. Método que adotou. Sobre este aspecto do assunto, veja-se o estudo especializado português no Brasil, apesar de seu desapego à terra, um dos fundadores da agricultura moderna de 0. F. Cook, Milpa agriculture, a primitive tropical system (Smithsonian Reportfor 1919), nos trópicos, o Sr. Sérgio Buarque de Holanda escreve: "Não faltam indícios de que a atividade dos Washington, 1921. Leia-se também H. Martin Leake, Land tenure andagriculturalproduction portugueses em quase todas as épocas, e já antes da colonização do Brasil, se associou antes à in the tropics, Cambridge, 1927. mercancia e à milícia do que à agricultura e às artes mecânicas" ("Panlusismo", Cobra de Aliás o assunto - aptidão do português para a colonização agrícola - foi em 1916 objeto de um vidro, São Paulo, 1944, p. 74-75). inquérito promovido no Rio de Janeiro por Carlos Malheiros Dias, entre brasileiros e portugueses A generalização é aceitável e, no presente ensaio, desde 1933 se apresentam aspectos do desen­ autorizados. Tratava-se principalmente de apurar se o colonizador português se tem apresentado volvimento português que parecem favorecê-la. Mas restrições sérias devem ser opostas ao excesso com "as qualidades de atividade, de resistência física e de proliferidade essenciais a uma missão - de que não pode, aliás, ser acusado o Sr. Sérgio Buarque de Holanda - de considerar-se o portu­ de colonização agrícola e de povoamento". Responderam que sim, entre outros, o conselheiro guês povo sem passado agrário ou "raça" como que biologicamente incapaz de esforço agrícola Rodrigues Alves, Pandiá Calógeras, Miguel Calmon, Eduardo Cotrim e Oliveira Lima, tendo este ou inimiga da lavoura. Os próprios estudiosos da formação portuguesa que acentuam nela a acentuado, com sua autoridade de historiador-sociólogo, que a demonstração daquelas qualida­ predominância da mercancia e da milícia sobre a agricultura e as artes mecânicas, como Alberto des do colonizador português "está pois feita, quando fosse precisa, à luz de toda a nossa história Sampaio e Léon Poinsard, não negam ter havido em Portugal uma "raça eminentemente de penetração territorial e de conquista pacífica empreendida pelo povo português [...]." O ponto agricultora" {Estudos Históricos e Econômicos, Lisboa, 1923,1, p. 535) e centros de "une vaste de vista hoje defendido pelo Sr. Sérgio Buarque de Holanda - o da pouca ou nenhuma aptidão do exploitation agricole" (Poinsard, Le Portugal inconnu, Paris, 1910,1,p. 25). Esses outros foram português para a colonização agrícola - teve então quem o manifestasse com nitidez e até ênfase: principalmente os mosteiros, como mostram Poinsard e o anônimo que escreveu Osfrades julga­ Alexandre de Albuquerque, português. Disse ele: "Nem Portugal é um país agrícola, nem nós, dos no tribunal da razão (Lisboa, 1814). portugueses, somos um povo de agricultores [...]." "Não amamos a terra, amamos a aventura, como se Portugal fosse apenas um ponto de passagem, simples descanso para a raça. O nosso É certo que o Brasil foi colonizado por um povo português já afastado da agricultura e empol­ patriotismo manifesta-se mais no amor às nossas glórias do que às nossas paisagens." E esboçan­ gado por outros interesses; mas nem por isso destituído de aptidões para a agricultura. Daí ter esse do a interpretação etnocêntrica do assunto há tempo desenvolvida entre nós pelo Sr. Sérgio Milliet: povo concorrido, é verdade que através de escravos, para fundar a agricultura moderna nos trópi­ "A missão histórica da nossa raça não foi uma missão agrícola, uma missão sedentária, foi a cos, antecipando-se nisto a outros europeus. Que eles, valendo-se do trabalho escravo, desenvolve­ missão nômade de um povo, fusão e resumo de povos nômades". A atividade agrícola dos portu­ ram notável esforço na organização de uma economia agrária no Brasil, é inegável. Devido ao gueses no Brasil é assim explicada: "Os portugueses, quando proprietários agrícolas, ficam senho­ sucesso da agricultura de cana e do fabrico de açúcar pelos portugueses no Brasil é que Egerton res de engenhos e de escravos, exploram conjuntamente a terra, os escravos e os engenhos, mas considera o Brasil "example of genuine colonization" (cit. por Ellen Deborah Ellis, An introduction to the history of sugar as commodity, Filadélfia, 1905, p. 6l). sem amor e sem carinho" (Joaquim da Silva Rocha, "A imigração portuguesa e o seu rumo à terra ou ao comércio", História da Colonização do Brasil, Rio de Janeiro, 1918, II, p. 297-305). Sobre o assunto vejam-se também: L. Capitan e Henri Lorin, Le travail en Amérique avant aprés Colomb, Paris, 1930; P Leroy-Beaulieu, De la colonisation chez lespeuples modernes, Para fins comparativos, leiam-se acerca das atividades de colonos portugueses em outras partes Paris, 1891; Luís Amaral, História geral da agricultura brasileira, São Paulo, 1939; Lemos da América - onde se têm salientado como bons e até ótimos lavradores e horticultores - Donald Brito, Pontos de partida para a história econômica do Brasil, São Paulo, 1939; J- F. Normano, R. Taft, Twoportuguese communities, Nova Iorque, 1923 e E. A. Ross, The old world in the new, Brazil, a study of economic types, Chapei Hill, 1935; J. F. de Almeida Prado, Primeirospovoadores Nova Iorque, 1914, William Carlson Smith, Americans in the making, Nova Iorque-Londres, do Brasil, São Paulo, 1939- 1934. E. A. Ross destaca valiosas contribuições portuguesas para o aperfeiçoamento da técnica Não deve ser esquecido o fato de que o português tornou-se um dos fundadores da moderna agrícola nos Estados Unidos: "The Portuguese raise vegetables in their walnut groves, grow agricultura nos trópicos por meio de combinações de métodos e valores trazidos da Europa com currants between the rows oftrees in the orchard, and beans between the currant row. They métodos e valores indígenas. A adoção da coivara pelo agricultor português no Brasil ilustra até know how to preveni the splitting of their laden fruittrees by inducing a living brace to grow que ponto foi essa combinação nem sempre feliz de métodos. Devemo-nos mais uma vez recordar between opposite branches. The black-beetle problem they solve by planting tomato slips de que, embora o português, antes do seu contato com a América, j á se entregasse à devastação de inclosed in paper" (The old world in the new, p. 202-203). Sabe-se também que foram agricul- tores portugueses que introduziram a cultura do tabaco no norte dos Estados Unidos mostrando seus muros ou cercas, pomares, talhões de cereais e forragens e j ardim em redor da habitação. Jardim que essa cultura era possível em condições de solo e de clima que se acreditavam inteiramente que, além de decorativo, serve de abrigo às culturas úteis, fazendo que a velha instituição lusitana adversas ao tabaco (Urban Tigner Holmes Jr, "Portuguese americans", em Our racial and seja, como nenhuma outra do mesmo gênero, encontrada em outros países, "simultaneamente de national minorities, organizado por FrancisJ. Brown e Joseph Slabey Roucek, Nova Iorque, 1937, recreio e de exploração" ou obra, ao mesmo tempo, de "arte e de técnica agrícola", como sugere p. 401). Sobre o assunto vejam-se também Hiram Bingham, "The contribution of Portugal", Sertório do Monte Pereira em sua excelente página sobre aquinta no estudo "A produção agrícola" Annual Report of the American Historical Association {1909), Washington, 1911, e E. P. Peck, [portuguesa], em Notas sobre Portugal, Lisboa, 1908, vol. I, p. 133. "An immigrant parming country",New EnglandMagazine, vol. XXI, outubro, 1904. Pelas evi­ No Brasil, a quinta manifestou desde o início da colonização portuguesa do país seu poder dências e fatos apresentados nesses e em outros trabalhos por estudiosos objetivos do assunto se vê muito lusitano de adaptação conservando seus característicos essenciais nos sítios, nas chácaras, que sob condições sociais favoráveis os portugueses se têm salientado como bons colonos agríco­ em alguns casos, nas próprias lavouras, junto às casas-grandes de engenho ou ancilares desse las, especialmente como horticultores. tipo feudal-tropical de exploração agrícola. Octávio Tarqüínio de Souza e Sérgio Buarque de Holanda, em sua História do Brasil (Rio de 86. J. M. Esteves Pereira,^ indústria portuguesa, cit. Janeiro, 1945), parecem concordar plenamente com a interpretação dos fatos da colonização 87. Os frades julgados no tribunal da razão, obra póstuma anônima, doutor Conimbrense, Lisboa, agrícola do Brasil oferecida neste ensaio desde 1933- (Veja-se na mesma História o capítulo "De­ 1814. senvolvimento econômico", seção 1 ("A vida rural: desenvolvimento da agricultura") especial­ mente p. 139-143). E em um trabalho extraordinário, também se mostra de acordo com nossa 88. Os frades julgados, etc, cit. interpretação e caracterização dos fatos de formação agrária da América Portuguesa o Sr. Caio Note-se ainda, em relação com a vocação do português, ou de certo tipo de português, para Prado Júnior, ao destacar que na colonização portuguesa do Brasil o elemento fundamental foi "a agricultor, principalmente para horticultor, que Lisboa chegou a ser no século XW o que Ramalho grande propriedade monocultural trabalhada por escravos" e que "dando à organização econô­ Ortigão chama "o primeiro jardim de aclimatação, o primeiro jardim zoológico [...] da Europa, mica da colônia esta solução a colonização portuguesa foi estritamente levada pelas circunstân­ pela introdução do chá, do café, do açúcar, do algodão, da pimenta, do gengibre, da canela do cias em que se processou, e sofreu as contingências fatais criadas pelo conjunto das condições Ceilão, do cravo das Molucas, do sândalo de Timor, das tecas de Cochim, do benjoim de Achem, do internas e externas que acompanham a obra aqui realizada por ela [...]." Pois "a grande proprie­ pau de Solor, do anil de Cambaia [...]" (O culto da arte em Portugal, Lisboa, 1896, p. 98-99) • dade, monocultura, trabalho escravo são formas que se combinam e se completam e derivam Veja-se também sobre o assunto nosso O mundo que o português criou (Rio de Janeiro, 1940), diretamente daqueles fatores" (Formação do Brasil contemporâneo - Colônia, São Paulo, principalmente a excelente introdução que escreveu para o mesmo o pensador e economista Antô­ 1942). E ainda, em uma confirmação, para nós honrosa, da idéia esboçada por nós neste ensaio, nio Sérgio, que discute o problema das deficiências de produção agrícola em Portugal em relação desde 1933, sob a forma do complexo casa-grande e senzala: ou do sistema patriarcal agrário, isto com "a secura excessiva do nosso estio" (p. 23) e "as condições de pobreza constitucional" que, é, latifúndio, monocultura e trabalho escravo: "estes três elementos se conjugam num sistema segundo Azevedo Gomes e seus colaboradores no estudo "A situação econômica da agricultura típico, a grande exploração rural, isto é, a reunião, numa mesma unidade produtora, de gran­ portuguesa" (Revista do Centro de Estudos Econômicos do Instituto Nacional de Estatística, de número de indivíduos. É isto que constitui a célula fundamental da economia agrária brasilei­ ti11, Lisboa), "caracterizam em larga zona o solo agrícola português." J. M. Esteves Pereira chega ra". Esse "sistema típico" é que nos parece desde 1933 ter sido o centro da organização social do a escrever do Portugal da primeira fase que "mercê dos mouros e dos religiosos", isto é, de obras de Brasil agrário e, até certo ponto - por transbordamento de influência - do pastoril e do urbano, irrigação e outros cuidados técnicos que corrigiam até certo ponto aquelas deficiências, "tinha a em uma afirmação, ao nosso ver irrecusável, do fato de que o português revelou aqui, sob a pres­ agricultura, sua principal indústria, melhor desenvolvida do que os outros países mais ao norte" são das circunstâncias, capacidade para o trabalho-rotina ao lado do pendor para a aventura, (A indústria portuguesa - séculos M a XK, Lisboa, 1900). característico principal de sua atividade expansionista e imperialista. Não deve ser esquecida, como afirmação de capacidade do português, ou de certo tipo de portu­ Em erudita publicação da Câmara de Reajustamento Econômico do Ministério da Fazenda, guês, para a agricultura, especialmente para a horticultura, a chamada "fórmula natural e clássica" intitulada Reajustamento econômico dos agricultores (Rio de Janeiro, 1945) e, como as anterio­ da exploração agrícola portuguesa, que é aquinta, situada entre o casal ou horta (pequena cultura) res, mais que simples relatório burocrático, pois adquire nas suas melhores páginas qualidades de e a lavoura (grande cultura) e especialmente adaptada, segundo os técnicos, às condições de um síntese sociológica da nossa história ou situação econômica ou social, lê-se o seguinte: "Se os clima irregular e seco. Caracteristicamente uma criação portuguesa quase sempre une, dentro dos elementos constitutivos da organização agrária do Brasil colonial são - como conclui Caio Prado 101. Dampier, Voyages, cit. Júnior - a grande propriedade, a monocultura e o trabalho escravo, as dívidas foram resultantes 102. Léon Poinsard, Le Portugal inconnu, cit. desses três elementos" (p. 3). Sem deixarmos de reconhecer por um instante a importância dos estudos do Sr. Caio Prado Júnior sobre nossa formação econômica, não podemos, por outro lado, 103. A. Costa Lobo, A história da sociedade em Portugal no século XV, cit.; Alberto Sampaio, Estudos, deixar sem reparo a afirmativa oficial, pois a sugestão de que a organização agrária do Brasil • cit.; Oliveira Martins, História de Portugal, cit.; João Lúcio de Azevedo, Épocas de Portugal eco­ colonial se apoiou sobre a grande propriedade ou o latifúndio, a monocultura e o trabalho escra­ nômico, cit.

vo encontra-se no presente trabalho, e foi nele desenvolvida sistematicamente sob critério socioló­ 104. Veja-se Antônio Sérgio, Antologia dos economistas portugueses, Lisboa, 1924. gico - talvez pela primeira vez entre nós - desde 1933- 105. Fidelino de Figueiredo, Crítica do exílio, cit. 89. William Beckford, Excursion to the monasteries of Batalha andAlcobaça, Londres, 1835. Veja- 106. Aliás, os negros, no Brasil, não foram assim tão passivos. Ao contrário: mais eficientes - por mais se também o seu Italy ivith sketches from Spain and Portugal Londres, 1834. adiantados em cultura - na sua resistência à exploração dos senhores brancos que os índios. "Os 90. Ramalho Ortigão,Asfarpas, Lisboa. Vários os fisiologistas modernos que ligam, como McCollum, negros lutaram", escreve Astrojildo Pereira a propósito da tese de Oliveira Viana de não ter havido Simmonds, Benedict, McCarrison, McCay, Nitti, Chricton-Browne, à prosperidade dos povos e à luta de classes no Brasil. Para A. Pereira houve entre nós "autêntica luta de classes que encheu sua eficiência, o consumo de alimento protéico. Principalmente de carne e leite. As estatísticas de séculos de nossa história e teve o seu episódio culminante de heroísmo e grandeza na organização Roberts, para o Ministério da Agricultura dos Estados Unidos, parecem indicar essa relação. O da República dos Palmares, tendo à sua frente a figura épica de Zumbi, o nosso Spartacus consumo de carne seria maior nos países de gente mais eficiente e próspera: na data em que foram negro" (Astrojildo Pereira, "Sociologia ou apologética?", cit.) levantadas aquelas estatísticas. Austrália (262 lb.), Estados Unidos (150), Inglaterra e Irlanda (122), Alemanha (99), França (80), Suécia e Noruega (62) ("Annual production of animais for 107. Varnhagen, História Geral do Brasil, cit. Varnhagen é sempre de um simplismo infantil quando food and per capita consumption of meat in the United States", U. S. Department of Agriculture deixa a pura pesquisa histórica pela filosofia da história. (1905), apud Rui Coutinho, Valor social da alimentação, São Paulo, 1935). 108. João Lúcio de Azevedo, Épocas de Portugal econômico, cit.

91. Alexandre Herculano, Opúsculos, cit. 109. Política que também se revelou na jurisprudência de se impedir a execução de senhores de enge­ nho - que adquiriam assim uma situação excepcional como devedores (Gilberto Freyre, "A agri­ 92. Estrabão, apud Alberto Sampaio, Estudos, cit. cultura da cana e a indústria do açúcar", Livro do nordeste, cit.). Entre outros documentos, 93. Alberto Sampaio, Estudos, cit. alguns já divulgados, marcam a situação privilegiada do senhor de engenho a "provisão do Exmo. Sr. Marquez de Ang.a V. Rey e capitão general de mar e terra deste Estado do Brasil, paçada a favor 94. Alberto Sampaio, Estudos, cit. dos moradores desta capitania de Pernambuco par não serem executados nas suas fabricas como 95. Léon Poinsard, i£ Portugal inconnu, Paris, 1910. delia largamente consta" e a "provisão de S. Magde. que Deos ge. a favor dos senhores de engenho elavradores" {Cartas regias, decretos eprovisões, 1711-1824,mznaxúXo, Biblioteca do Estado 96. Pompeyo Gener, Herejtas, Barcelona, 1888, apud Fidelino de Figueiredo, Crítica do exílio, Lisboa, de Pernambuco). 1930. 110. João Lúcio de Azevedo, Épocas de Portugal econômico, cit. 97. Bucke, op. cit.; Mercadal, Espana vista por los estranjeros, cit. 111. Mercadal, Espana vista por los estranjeros, cit. 98. As cartas de Clenardo foram admiravelmente traduzidas pelo cardeal Gonçalves Cerejeira e publicadas no seu livro O humanismo em Portugal - Clenardo, cit. 112. Fernão Cardim, Tratados da terra e gente do Brasil, cit, p. 316.

99- Mercadal, Espana vista por los estranjeros, cit. 113- Pastoral de D. frei José Fialho, "dada em Olinda sob nosso selo, e sinal aos dezenove dias do mes de fevereiro de mil setecentos e vinte e seis annos." Manuscrito do Arquivo da Catedral de Olinda 100. Mercadal, Espana vista por los estranjeros, cit. gentilmente posto à nossa disposição pelo Rev. José do Carmo Barata. 114. Le Gentil de La Barbinais, Nouveau voyage autour du monde, cit., p. 112. Deus. São Jorge. São Sebastião nu cercado de homens malvados fingindo que vão atirar nele. Frades. Freiras. Cruzes alçadas. Hinos sacros. O rei. Fidalgos. Toda a vida portuguesa, enfim. 115. Tollenare, Notas dominicais tomadas durante uma viagem em Portugal e no Brasil em 1816, 1817 e 1818 (parte relativa a Pernambuco traduzida do manuscrito francês inédito por Depois das conquistas, acrescentaram-se danças de índios e negros às figuras das procissões do Alfredo de Carvalho), Rev. Inst. Arq. Hist. Geog. de Pernambuco, XI, n-° 6l, p. 448. reino.

116. J. da Silva Campos, "Tradições baianas", Rev. Inst. Geog. Hist. da Bahia, ne 56. 122. Sabe-se a grande importância de certos Orixás entre os loruba como deuses da fecundidade agrí­ cola. (Veja-se sobre o assunto Wilson D. Wallis,/1« introduction to anthropology, Londres, s.d.) 117. Max Radiguet, Souvenirsde lAmérique Espagnole, Paris, 1848, p. 265. Ainda hoje, em festas de seitas africanas no Brasil, sentem-se reminiscências do culto da terra, o regozijo pelas colheitas fartas associado ao sentimento de amor e de fecundidade humana. Tam­ Outro aspecto das igrejas do Brasil patriarcal como centros de convivência profana é o destacado bém reminiscências do culto fálico (Elegba dos loruba) dos africanos. pelo Sr. Sérgio D. T. de Macedo em seu interessante No tempo das sinhazinhas (Rio de Janeiro, 1944): "Nesses templos se reunia o carioca" [refere-se às igrejas de São Sebastião, no morro do 123. Afonso de E. Taunay, Sob el-Rei nosso senhor -Aspecto da vida setecentista brasileira, sobretu­ Castelo, São Francisco Xavier, São Bento, Carmo e ermida de Nossa Senhora do Ó] "para rezar, ver do em São Paulo, São Paulo, 1923. as modas, olhar as damas. Não havia cadeiras ou bancos no interior das igrejas. Certo é, como Já no segundo reinado, o francês Lavollée assistiu a uma quarta-feira de cinzas no Rio de mostram as gravuras antigas, que as senhoras se acocoravam ou sentavam-se sobre pequenos Janeiro. Segundo esse observador europeu, cujas impressões vêm resumidas pelo Sr. Sérgio D. T. de tapetes, pernas cruzadas à moda oriental. Naquele tempo em que não havia imprensa, as beatas Macedo no seu No tempo das sinhazinhas, cit., "grande procissão" desfilava à noite pelas ruas faziam nas igrejas o jornal falado, veiculando as notícias do dia". Recorda o mesmo autor a da cidade, com "todas as confrarias de negociantes" carregando círios acesos, imagens de santos, informação do historiador Afonso de E. Taunay de que as beatas contavam "as novidades de casa­ um santo preto, crianças vestidas de anjo, um regimento de linha. As senhoras, às janelas das ruas mentos, de recentes partos destas ou daquelas, ou conjeturas de mortes para estes ou aqueles, a por onde passava a procissão, apresentavam-se "com os seus melhores vestidos", transformando descrição das moléstias, as mil coisas triviais da vida" (p. 110). "a religião em espetáculo" (p. 112).

118. Luís Chaves, "O namoro, o casamento, a família", O amor português, Lisboa, 1922. 124. Afrânio Peixoto, Uma mulher como as outras, Rio de Janeiro, 1927. Já salientara Sousa Viterbo tm Artes e artistas em Portugal {contribuição para a história das artes e indústrias portu• 119. Alberto Deodato, Senzalas, Rio de Janeiro, 1919- guesas) , Lisboa, 1892, o fato de que as freiras portuguesas - nem todas amantes de reis, fidalgos 120. La Barbinais, Nouveau voyage autour du monde, cit., p. 114. ou eclesiásticos, algumas simples namoradas de freiráticos e muitas verdadeiras noivas de Nosso Senhor - "satisfaziam a sua índole caseira, entregando-se aos misteres da culinária, consagran­ 121. Não se faz idéia do que foram as procissões de Corpus-Christiem Portugal nos séculos XVI e XVII. do o seu melhor afeto aos 'peitos de Vênus' e aos 'papos d'anjo."' Uma do século XV que vem descrita em O Panorama (Lisboa), vol. 2,1838, pode servir de exem­ plo. Primeiro a procissão organizando-se ainda dentro da igreja: pendões, bandeiras, dançarinos, 125. Inevitável, aqui, a citação de Freud, que já estava tardando. Pensa ele ter-se derivado da primitiva apóstolos, imperadores, diabos, santos, rabis comprimindo-se, pondo-se em ordem. Pranchadas expressão da libido - a transmissão de sêmen pela boca, como no caso doparamoecium e de de soldados para dar modos aos salientes. À frente, um grupo dançando a" judinga", dança judia. outras formas atrasadas de vida - o fato de, ainda hoje, observar-se no amor humano reminiscên- O rabi levando a Toura. Depois dessa seriedade toda, um palhaço, fazendo mungangas. Uma cia do antigo processo como que de assimilação (S. Freud, Psychologie collective et analyse du serpente enorme, de pano pintado, sobre uma armação de pau, e vários homens por baixo. Fer­ moi (trad.), Paris, 1924). No Brasil, o uso do verbo "comer" é bem característico, sob esse ponto reiros. Carpinteiros. Uma dança de ciganos. Outra de mouros. São Pedro. Pedreiros trazendo nas de vista. Também o uso das expressões "comida", "pitéu", "suco", "pirão", "uva" etc. Pelo mes­ mo critério cremos poder explicar-se o simbolismo sexual dos nomes de bolos e dos doces portu­ mãos castelos pequenos, como de brinquedo. Regateiras e peixeiras dançando e cantando. Bar- gueses e brasileiros e as formas fálicas de alguns. queiros com a imagem de São Cristóvão. Pastores. Macacos. São João rodeado de sapateiros. A Tentação representada por mulher dançando, aos requebros. São Jorge, protetor do exército, a 126. D. G. Dalgado, LordByron s Childe Harolds Pilgrimage to Portugal, Lisboa, 1919. cavalo e aclamado em oposição a Santo lago, protetor dos espanhóis. Abraão. Judite. Davi. Baco 127. R. Creary, "Brazilunderthemonarchy-Arecordoffacts andobservations" e "Chronicaslageanas", sentado sobre uma pipa. Uma Vênus seminua. Nossa Senhora em um jumentinho. O Menino- manuscrito na Biblioteca do Congresso de Washington. 128. A. D. de Pascual, Ensaio crítico sobre a viagem ao Brasil em 1852 de Carlos B. Mansfield, Rio 136. Antônio Joaquim de Melo, Biografias (mandadas publicar pelo Governador Barbosa Lima), Reci­ de Janeiro, 1861. As observações de Charles B. Mansfield vêm no livro Paragmy, Brazil and the fe, 1895. No seu livro Alimentação, instinto, cultura (Rio de Janeiro, 1943), o professor Silva Plate, Cambridge, 1856. Melo salienta a opinião de que o clínico não deve desprezar de modo absoluto as sugestões da chamada "sabedoria popular" com relação a alimentos, doenças etc. 129. Alexandre Herculano, História da origem e estabelecimento da inquisição em Portugal, Lis­ boa, 1879. 137. Os casamentos consangüíneos foram comuns no Brasil não só por motivos econômicos, fáceis de compreender no regime de economia particular, como sociais, de exclusivismo aristocrático. So­ 130. Alexandre Herculano, op. cit. bre os aristocratas rurais da Bahia escreveu Sá Oliveira que, conservando-se indivíduos altos, reve­

131. "Viagem do cardeal Alexandrino", em Alexandre Herculano, Opúsculos, cit. lavam entretanto no todo "qualquer coisa de degenerescência física". O que atribuiu às "uniões conjugais dentro de esfera mui limitada, a fim de não introduzirem na família sangue que revele 132. Mercadal, Espana vista por los extranjeros, cit. a condição de ex-escravo" Q. B. de Sá Oliveira, Evolução psíquica dos baianos, Bahia, 1894). 133. A. Jousset, apud William Z. Ripley, The races of Europe, a sociological study, cit. Mas não indica quais fossem os traços de degenerescência. Os modernos estudos de genética, em vez de confirmarem de modo absoluto a idéia de Darwin - "Nature abhorres perpetuai self- 134. 0 assunto foi estudado por Ribbing (Ehygiène sexuelle etses conséquences morales) que reuniu fertilization" - indicam que os resultados do inbreeding, quando maus, dependem mais da os seguintes dados estatísticos sobre a idade do início da menstruação: Lapônia, Suécia, 18 anos; composição genética dos indivíduos que de influência perniciosa inerente ao processo (East e ^ Cristiânia, 16 anos, 9 meses e 25 dias; Berlim, 15 anos, 7 meses e 6 dias; Paris, 15 anos, 7 meses, 18 Jones, Inbreeding and outbreeding apud Pitt-Rivers, op. cit.) ^ dias; Madeira, 14 anos e 3 meses; Serra Leoa e Egito, 10 anos. Nas mulheres esquimós a mens­ Confirmando com exemplos concretos o que a respeito do assunto se diz neste ensaio, escreve o I truação começa aos 12 ou 13 anos. Moll registra a informação (de Jacobus X - Lois genitales, ü Paris, 1906) de entre as mulheres francesas das Antilhas a menstruação raramente verificar-se desembargador Carlos Xavier Pais Barreto: "Certo número de famílias intercruzavam-se constan- ^ antes dos 14 anos; enquanto nas mulheres africanas, nas mesmas ilhas, a menstruação começa, temente. Isso sucedia" [em Pernambuco] "a Pais Barreto, Rego Barros, Holanda, Cavalcanti — como na África, aos 10 ou 11 anos. Salienta Moll a possibilidade da influência do clima exercer-se Albuquerque, Lins, Wanderley, Pimentel e várias outras. Damos aqui, por exemplo, o parentesco < cumulativamente em sucessivas gerações, não produzindo efeito completo depois de várias gera­ entre Pais Barreto e Amorim Salgado. Ligaram-se várias vezes através de Barros, Rego, Pimentel, ^ ções (Albert Moll, The sexual life of the child (trad.), Nova Iorque, 1924). No Brasil, não são as Lins Accioli e Wanderley. Rosa Mauricea Wanderley e Francisca de Melo, filhas de Maria Melo, g mesmas as idades em que se inicia o aparecimento da puberdade, variando do Amazonas ao Rio casaram-se, respectivamente, com Cristóvão Pais Barreto e Paulo de Amorim Salgado. Vários des- o Grande (Joaquim Moreira da Fonseca, "Casamento e eugenia", Atas, 1* Congresso Brasileiro de cendentes do velho Paulo de Amorim Salgado cruzaram-se com os Pais Barreto. Queremos aqui <

Eugenia, Rio de Janeiro, 1929). Em Portugal, a idade em que as meninas atingem a puberdade é especializar apenas a ligação da família do coronel Paulo de Amorim Salgado com a do coronel

e fixada por Dalgado em 14 anos (D. G. Dalgado, The climate of Portugal, cit.). De acordo com os Manoel Xavier, avô do autor. Descendia Paulo de Amorim Salgado 3 , como Estêvão Pais Barreto, estudos, mais recentes que os de Ribbing, de G. J. Engelman ("First age of menstruation in the de Miguel Fernandes Távora e era casado com Francisca de Melo, cunhada de Cristóvão Pais

North American Continent", Transaction of the American Gynecobgical Society, 1901), a idade Barreto. Seu neto, José Barros Pimentel, descendente, como Manoel Xavier, de Antônio de Barros da menstruação varia com o clima de 12,9 anos nos países quentes para 16,5 nos frios. Deve-se Pimentel, Arnau de Holanda, Cristóvão Luís, Baltazar de Almeida Botelho e João Batista Accioli,

a notar que, em geral, as meninas das classes baixas atingem mais cedo a puberdade que as das casou-se com Margarida Francisca, filha de José Luís Pais de Melo. Paulo Salgado 5 era primo de classes altas (Pitirim Sorokin, Contemporary social theories, Nova Iorque, Londres, 1928). Sobre Manoel Xavier, ambos do mestre-de-campo José Luís. O sangue ficou mais solidificado com o

S o assunto continua realizando pesquisas em profundidade o médico brasileiro Nelson Chaves. consórcio de Paulo Salgado 5 e do seu irmão José Luís Salgado com Francisca Wanderley e Maria

A Veja-se, dele, o estudo pioneiro "Aspecto da fisiologia hipotálamo-hipofisária - Interpretação da Florência, irmãs de Manoel Xavier e o de Paulo Salgado 6 com Maria Antônia, sobrinha de Manoel precocidade sexual no nordeste", Neurobiologia, tomo III, tf 4, Recife, 1940, ao qual se vêm Xavier. Estreitou-se ainda mais a união. O coronel Manoel Xavier matrimoniou-se, em segundas seguindo vários outros, hoje de renome internacional. núpcias e terceiras núpcias, com suas sobrinhas Margarida e Francisca Salgado, filhas de Paulo de Amorim Salgado 52 O parentesco ainda foi renovado com o casamento de Maria Rita Wanderley, 135. Frei Caetano Brandão, apud Luís Edmundo, O Rio de Janeiro no tempo dos vice-reis, Rio de filha do coronel Manoel Xavier, com Manoel de Amorim Salgado, seu cunhado e filho de Paulo de Janeiro, 1932. Amorim. Assim, pois, Manoel Xavier, compadre várias vezes de Paulo de Amorim, era dele primo, cunhado, genro duas vezes e ainda sogro de Manoel Salgado, filho de Paulo de Amorim Salgado 138. A este propósito escreveu Júlio Belo interessante comédia em que um representante de cada uma 5a" ("Fatos reais ou lendários atribuídos à família Barreto", Revista das Academias de Letras, das três velhas famílias aparece no esplendor do vício que a tradição lhe atribui. É trabalho de que Rio de Janeiro, ano VII, tf 45, maio-julho de 1943, p. 13-14). existe apenas uma edição particular, da Revista do Norte, de José Maria Carneiro de Albuquerque Do mesmo trabalho são as informações, em páginas anteriores: "Freqüentíssimas eram as uni­ e Melo, Recife. Veja-se também de Júlio Belo, Memórias de um senhor de engenho, Rio de ões com parentes em quarto grau civil, mesmo quando a linha duplicada no parentesco [...]". Janeiro, 1939- "Primos eram João Pais Barreto, 5a Morgado, e Maria Maia de Albuquerque; João Pais Barreto, 6a 139- Tem havido também muito Wanderley doido por negra. De um senhor de engenho em Serinhaém, Morgado, e Manuela Luzia de Melo; Estêvão José Pais Barreto, T Morgado, e Maria Isabel Pais a tradição conserva o dito: "que botina e mulher só pretas". Barreto; João Francisco Pais Barreto e Cândida Rosa Sá Barreto; Antônio Januário e Ana Delfina Outras famílias tradicionais têm suas caracterizações populares ou folclóricas. Caracterizações Pais Barreto; Paulo de Amorim Salgado 5a e Francisca Wanderley; Paulo de Amorim Salgado 6A e nem sempre justas. Dos Mendonça Furtado se diz no Norte: "não há Mendonça que não tenha Maria Antônia; Francisco Xavier e Maria Rita Wanderley [...]." "Laços ainda mais fortes se de­ Furtado". Na ilha de Itamaracá (Pernambuco), diziam outrora os maliciosos: ram, não poucas vezes, nos enlaces de tio e sobrinha. Entre muitos outros, citaremos Catarina de Albuquerque, filha de Filipe Pais Barreto, com seu tio José de Sá Albuquerque. José Luís Pais de Ilha, quem te persegue? Melo 3A casou quase todas as filhas com seus irmãos [...]." "Aliás o Brasil, antes do Código Civil, Formigas, paisagem e os Guedes! quando em vigor a Lei 181, não via inconveniente nos casamentos entre tio e sobrinha, hoje permitidos pela Lei 3-200, de 19 de abril de 1941. Critério contrário era o do papa Gregório que E Ambrósio Leitão da Cunha ficou assim caricaturado no folclore do Norte: estabelecera o impedimento até o T grau [...]." "O coronel Manoel Xavier Pais Barreto, avô do Ambrósio, nome de negro, autor, casou-se sucessivamente com três sobrinhas. Foi além de todos os outros Francisco de Paula Leitão, filho de porca, Pais Barreto, marido de Catarina de Mendonça Pais Barreto, bisneta de seu irmão Francisco Pais Cunha, pau de patibulo Barreto." Desses casamentos o desembargador Pais Barreto salienta o inconveniente da grande Onde a liberdade se enforca. diferença de idade: "enquanto um dos nubentes estava na fase do crescimento, o outro se encon­ trava na do declínio" (Carlos Xavier Pais Barreto, loc. cit., p. 12-13). Algumas famílias, no Norte e em Minas, principalmente, são conhecidas pelo acentuado gosto de luta por elas conservado como uma espécie de fogo sagrado, através de gerações. Famílias de Em nossas pesquisas em arquivos de família temos encontrado numerosos documentos relati­ valentões. A outras se atribui - nem sempre com justiça, é claro - inteligência fraca: aos Macha­ vos à dispensa de impedimentos estabelecidos pela Igreja. Nem sempre, porém, eram essas dispen­ dos, em Alagoas, aos Lins, em Pernambuco. Ainda a outros, sovinice tradicional; ou esperteza em sas obtidas pelas famílias importantes das casas-grandes. negócios; ou glutoneria. Aos Siqueiras se atribui no Norte fraqueza de vontade: "Siqueira, para Das freqüentes dispensas é típico o despacho do Bispo de Pernambuco, de 22 de outubro de onde se queira", diz a voz do povo. A mesma fraqueza é atribuída aos Albuquerques, isto é, aos 1847, à petição, também típica, de André Dias de Araújo e Francisca Joaquina de Jesus, ligados "no homens da família, em contraste com as mulheres, consideradas de vontade excessivamente forte. 2a e 3A graus de consangüinidade" e na qual são alegados motivos econômicos para o matrimô­ Principalmente quando esposas. nio: o do "or.°r" possuir de "legitima materna" apenas a quantia de 6:678$6l6 e de, "por seu pai Não raras famílias ilustres da Bahia, de Pernambuco, do Maranhão, do Pará, de Minas, do Rio pouco ou nada vir a possuir [... ] porque possuindo este algumas propriedades de Eng.'* se acha Grande do Sul, do Rio de Janeiro e mesmo de São Paulo - onde nem todo plutocrata menos puro devendo maior quantia do que o valor das mesmas tendo com o or."r 9 filhos" e o da "or." si por si ao seu arianismo é descendente só de caboclo - conservam traços negróides, consagrados tam­ nada possue, seus paes possuem o valor de 80:000$000 em propriedades e outros bens [...]." Pelo bém pela malícia popular. Ventas chatas, beiços grossos. A certo membro de uma dessas famílias, que "PP a V. Exa. Rma. pelas chagas de Jesus Cristo, amor de Maria Santíssima, para dispensar agraciado por Pedro II com um título de nobreza, o povo ficou chamando "Barão de Chocolate". com elles no referido parentesco, impondo-lhes saudáveis penitencias." O despacho do bispo: "Pelo A respeito de alcunhas dadas a senhores de casas-grandes, informa o desembargador Pais Barreto: Breve de 25 anos dispensamos (conforme o deduzido) nos grãos eguaes de consangüinidade 2a "Francisco de Souza, sogro de Catarina Barreto, filha de João Pais, era conhecido por Francisco simples e 3a triplicando em q. se achavão ligados para poderem contrahir Matrimônio. O Revdo. das Manhas pela diplomacia com que tratava as partes. Maria Soares Maia chamou-se a tainha. Parodio lhes imporá saudáveis penitencias. Palácio da Soledade. O Rvdo. Parocho não execute Ao nosso 8a avô, cavaleiro Clemente da Rocha Barbosa, chamavam pé-de-pato. Já brasileiros esta Dispensa sem q. seja antes pago o Sello Nacional de dez mil reis." eram Jerônimo de Albuquerque, cognominado o torto, pelo seu defeito na vista, e também por Adão Pernambucano em razão de seus 26 filhos legítimos, legitimados e ilegítimos. Antônio Olinda "com folhas arrancadas e outras substituídas." Ao mesmo redator não satisfaziam as evi­ José de Sá e Albuquerque, genro de Filipe Pais Barreto e sogro de João Pais Barreto, era alcunhado dências até então apresentadas, de origem nobre dos Cavalcantis de Pernambuco; e a propósito de por olho de vidro e Cristóvão Barreto por façanhudo, em virtude de seus feitos na guerra dos alegações, nesse sentido, de João Maurício Cavalcanti da Rocha Wanderley, escrevia: "Até hoje Mascates. Francisco de Paula Pais Barreto tinha o nome que depois se constituiu em apelido de_ ninguém viu documento algum, desenterrado dos archivos italianos, que isto prove de uma ma­ alguns filhos, de Patriota, derivado da atuação de seu pai na célebre Academia do Paraíso. Antô­ neira que faça fé." Também aos Wanderleys pedia que provassem pertencer à família fidalga da nio Francisco Xavier Pais Barreto era denominado Mariúna, e o seu irmão Dr. João Francisco Holanda. Veja-se, a esse respeito, Gilberto Freyre, "Introdução", Memórias de um Cavalcanti, Pais Barreto, Ioiô do Barracão, pelo costume de preparar barracões com abundantes iguarias e São Paulo, 1940. bebidas em tempo de eleições, sobretudo durante a vida de seu irmão, conselheiro Pais Barreto. 141. Já o padre Lopes Gama, escrevendo em 1846, dizia: "A quantos almocreves não tenho comprado José Luís Pais de Melo, 2° avô do autor, era cognominado cel. Caju." Cita ainda o desembargador farinha, arroz, feijão, milho, e sabidas as contas são uns fidalgos de primeira ordem! Veujo-os Pais Barreto alcunhas de famílias, como a do padre Goiabeira (Cristóvão do Rego Barras) - ("Fa­ descalços, de camiza, e celouras, cabellos desgrenhados, pelle rugosa e cor de viola velha, tracto- tos reais ou lendários atribuídos à família Barreto", Revista das Academias de Letras, Rio de

2 os com pouca cerimonia; e eis que me dizem que são fidalgos; porque são Cavalcantis, e não dos Janeiro, ano VII, n 45, p. 16-17). Em antigas áreas patriarcais do Brasil, nós próprios ainda conhecemos um Cavalcanti de Albuquerque, senhor de engenho na Paraíba, com a alcunha de tes, cuja nobreza é de enxertio; mas dos tis, que são limpos e claros como um distei!" (O sete de 2 Trombone, um Lima Gordo, um Cristóvão Fumaça. E são dos nossos dias João Beleza e Brito setembro, n 34, vol. 1,1845.)

Peixe (fabricante de doce de goiaba). Algumas alcunhas foram uma espécie de vingança do povo 142. Joaquim Nabuco, O abolicionismo, cit. miúdo contra senhores de casas-grandes ou sobrados - inclusive palácios de governo, cuja base mais ou menos sórdida de riqueza ou de importância social ou cuja etnia ou fidalguia mais ou 143. Fatores gerais, de degradação e renovação, que se têm feito sentir também em países europeus, no menos suspeita ou cujos característicos físicos ou pessoais mais pitorescos eram atingidos crua ou decorrer do século XIX e princípios do XX, com a ascensão social das massas proletárias. Com ironicamente. Lembraremos alguns de épocas diversas:Xumbergas (Mendonça Furtado), Onça relação aos Estados Unidos escreve o professor Pitirim Sorokin: "many families of the old (Luís Vaia), Seixas Bacalhau, Bode Cheiroso (A. P. Maciel Monteiro), Tio Pita (Epitácio Pessoa), Americans are already extinct; part sunk; part are surrounded by the newcomers in the João Pobre 0osé Tomás Nabuco de Araújo contra quem chegaram os adversários políticos a pu­ highest social strata. The rapidity of the burning out of the best material has been grasped blicar um jornaleco (Recife, 1844-1845) intitulado O João Pobre: José Tomás Nabuco era acusa­ already in a popular statement that prominent American families rise and sink back within do de ter enriquecido em Pernambuco, casando-se com moça rica), Maria Patranha Qosé Maria threegenerations" (Pitirim Sorokin,Social mobility, cit.). da Silva Paranhos), Pedro Banana (D. Pedro II), Ribeiro Camarim, Mota Cabeção, Bezerra 144. Esse traço de arquitetura asiática, recolhido pelos portugueses na China e no Japão e adaptado ao Barriga, Bico de Lacre (Júlio Prestes), Chico Macho (Francisco do Rego Barras, parente do seu Brasil, é dos que melhor demonstram seu gênio plástico de colonizadores e seu talento de adapta­ homônimo barão da Boa Vista e acusado pelos adversários políticos do mesmo barão de constituir ção aos trópicos. Morales de Los Rios pretende que a telha sino-japonesa recurvada em asa de com José do Rego Barras e José Maria Pais Barreto, perigoso grupo de valentões, senhores de pombo e outros valores de arquitetura oriental tenham sido introduzidos entre nós "pelos mestres engenho violentos, a serviço do mesmo barão, considerado homem fraco), dragão Bengala lusitanos que praticaram nas colônias asiáticas do reino" (A. Morales de Los Rios, "Resumo (Baltasar de Aragão, assim chamado pela "multidão negra" - sugere João da Silva Campos em monográfico da evolução da arquitetura do Brasil", Litro de ouro comemorativo do centenário Tempo antigo, Bahia, 1942, p. 33 - pelo "uso excessivo que faria da bengala para castigar os da independência e da exposição internacional do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1934). negros" e que segundo o mesmo Silva Campos será o mesmo senhor de casa-grande alcunhado Faltam-nos infelizmente pormenores sobre os mestres portugueses que edificaram as primeiras Mangue la Bote, a que se refere Pyrard de Lavai), Pedro Bode (Paranhos Ferreira), Goela de Prata (J. de Aquino Fonseca), Sereia Barbada (Rodolfo Araújo), Cu de Veludo (B. de Melo), casas, fortalezas e igreja no Brasil. Sabe-se apenas que um deles - o que acompanhou Tome de Sousa ao Brasil - ganhou uma fortuna. Antônio Bigodão (A. Souto Maior), Barbosa Fera, Sales Pavão, Câmara Cabrinha, Celso Papa

Ovo, Santos Maricás, Amorim Repolho, Pereira Casca Grossa, Braço Forte (Washington Luís). 145. O cuscuz é um prato que em geral se supõe muito nosso. Trata-se de um velho prato patriarcal do norte da África. Nas palavras de Edmond Richardin, "platprimitif et lointain, platpatriarcal 140. Do manuscrito da "Nobiliarchia pernambucana", de Borges da Fonseca, dizia um redator d'0 dont la saveur nômade réjouit lafantaisie du voyageur quise souvient!'' (Edmond Richardin, 2 Sete de Setembro, do Recife (n 34, vol. 1,1846), que se encontrava na Biblioteca de São Bento de a La cuisinefrançaise du XTV" au XV siècle, Paris, 1913). No Brasil foi o antigo processo norte- africano aplicado a produtos indígenas. Outra ilusão a desfazer: sobre a cabidela. Não é prato 151. Fernão Cardim, Tratados da terra e gente do Brasil, cit, p. 329 e 334-335. Em interessante português, muito menos brasileiro. Muito bom do quitute francês. Origem: Châteauroux. estudo - "The rise of the brazilian aristocracy" (The Hispanic American Historical Review, vol. XI, n2 2) - lembra Alan P. Manchester que enquanto o pernambucano dormia em leito de damas­ 146. Em Culto da arte em Portugal, Lisboa, 1896, afirma Ramalho Ortigão que foram os portugueses co carmesim, o paulista dormia em rede, seus bens raramente excedendo de oito mil cruzados. O os primeiros que fabricaram e introduziram o chapéu-de-sol na Europa. 0 que talvez não seja' que depois se inverteu com a vitória do café sobre o açúcar. exato com relação à Itália. Quanto aos primeiros aparelhos de chá, vasos de porcelana e cristais, caixas de pastilhas e sinais, lembra que foram trazidos com os primeiros leques, pelos companheiros 152. Pero de Magalhães Garnímo, Historia da Província de Santa Cruz a que vulgarmente chama­ de Fernão Mendes Pinto doando os portugueses - nas palavras de Ortigão - "a Roma e a Floren- mos Brasil, Rio dejaneiro, 1924. Diálogos das grandezas do Brasil, cit. Veja-se também Pereira ça, a Paris e a Londres todos os principais atributos e os temas fundamentais de toda a arte da casa da Costa, Origens históricas da industria açucareira de Pernambuco, Recife, 1905. Lembra e a de toda elegância feminina da civilização moderna." Sobre o leque, a porcelana e o aparelho este autor que desde 1559 houve ordem regia permitindo a cada senhor de engenho do Brasil de chá parece não haver dúvida. Salienta ainda Ortigão o fato de se ter tornado Lisboa no século mandar vir até 120 escravos do Congo; que em 1584 havia já uns dez mil escravos africanos em XVI "o primeiro jardim de aclimatação, o primeiro jardim zoológico e o primeiro mercado da Pernambuco, segundo informação do padre Anchieta. Europa, pela introdução do chá, do açúcar, do algodão, da pimenta, do gengibre do Malabar, do sândalo de Timor, das tecas de Cochim, do benjoim do Achem, do pau de Solor, do anil de Cam­ baia, da onça, do elefante, do rinoceronte, do cavalo árabe." Sobre a influência geral das conquis­ tas ultramarinas sobre a vida européia, particularmente a inglesa, vejam-se os trabalhos de James E. Gillespie, The influence of oversea expansion on England to 1700, Nova Iorque, 1920, e Jay Barrett Bedsford, English society in the eighteenth century as influence from oversea, Nova Iorque, 1924. Veja-se também sobre o assunto Sousa Viterbo, Arte e artistas em Portugal, cit.

147. Por intermédio ou não dos portugueses, a moda inglesa do banho frio diário veio do Oriente. E não se generalizou na Inglaterra antes do século XVIII. Também o uso do chapéu-de-sol ou de chuva não se generalizou na Inglaterra antes do fim do século XVII (Bedsford, English society in the eighteenth century, cit.)

148. Em artigo sobre este ensaio lembrou o Sr. Afonso Arinos de Melo Franco que "Rodolfo Garcia já identificou claramente nas suas notas ^História do Brasil, de frei Vicente do Salvador, este Mangue la Bote, como sendo o célebre capitão-mor Baltasar de Aragão, que morreu bravamente no mar."

149. Acrescenta Pyrard sobre a organização feudal aristocrática dos senhores de engenho da colônia portuguesa da América:"Ily a des Seigneursquiy ont un granddomaine, entr'autresforce engins à sucre, que le Roy d'Espagne leur a donnéen recompense de quelque service, etcela est erige en titre de quelque dignité, comme Baraonie, Comté, etc. Et ces Seigneurs làdonnent des terres à ceux qui y veulent aller demeurer etpkinter des cannes de sucre à la charge de lesporter aux moulins aux engins de ces Seigneurs en leurpayant leprix" (Voyage de Prançois Pyrard de Lavai contenant as navigation aux Indes Orientales, Maldives, Molugues etau Brésil, etc., Paris, 1679, P- 203.)

150. Gabriel Soares de Souza, Tratado descritivo do Brasil em 1587, ed. de F. A. Varnhagen, Rev. Inst. Hist. Geog. Bras., vol. XTV, Rio de Janeiro, 1851, p. 133- IV O escravo negro na vida sexual e de família do brasileiro

T JLodo brasileiro, mesmo o alvo. de cabelo louro, traz na alma, quando não na alma e no corpo - há muita gente de jenipapo ou mancha mongólica pelo Brasil - a sombra, ou pelo menos a pinta, do indígena ou do negro. No litoral, do Maranhão ao Rio Grande do Sul. e em Minas Gerais, principalmente do negro. A influência direta, ou vaga e remota, do africano. Vendedor de flores no domingo, à poria de uma igreja. J.-B. Itebret, Voyage mores/ue el Na ternura, na mímica excessiva, no catolicismo em que se deliciam Historique au Brésil, 1834, v. 3, pr. 6. Acervo do Instituto de Estudos Brasileiros da USP. nossos sentidos, na música, no andar, na fala. no canto de ninar me­ nino pequeno, em tudo que é expressão sincera de vida. trazemos quase todos a marca da influência negra. Da escrava ou sinhama que nos embalou. Que nos deu de mamar. Que nos deu de comer, ela própria amolengando na mão o bolào de comida. Da negra velha que nos contou as primeiras histórias de bicho e de mal-assombrado. Da mulata que nos tirou o primeiro bicho-de-pé de uma coceira tão boa. Da que nos iniciou no amor físico e nos transmitiu, ao ranger da cama-de-vento, a primeira sensação completa de homem. Do moleque que foi o nosso primeiro companheiro de brinquedo. Já houve quem insinuasse a possibilidade de se desenvolver das relações íntimas da criança branca com a ama-de-leite negra muito do pendor sexual que se nota pelas mulheres de cor no filho-família dos países escravocratas. A importância psíquica do ato de mamar, dos douta Revista em comentário ao livro do professor Peixoto, "eram já seus efeitos sobre a criança, é na verdade considerada enorme pelos astrólatras. enquanto os filhos do continente negro aqui introduzidos psicólogos modernos; e talvez tenha alguma razão Calhoun para su­ não haviam ainda transcendido o fetichismo puro. sendo alguns fran­ por esses efeitos de grande significação no caso de brancos criados • camente dendrólatras." Acrescentando com soberano desdém pela por amas negras.1 realidade: "nem pelo-- artefatos, nem pela cultura dos vegetais, nem É verdade que as condições sociais do desenvolvimento do meni­ pela domeslicaçào das espécies zoológicas, nem pela constituição da no nos antigos engenhos de açúcar do Brasil, como nas plantações família ou das tribos, nem pelos conhecimentos astronômicos, nem ante-bellum da Virgínia e das Carolinas - do menino sempre rodeadi > pela criação da linguagem e das lendas, eram os pretos superiores aos de negra ou mulata fácil - talvez expliquem por si sós, aquela predi­ nossos silvícolas". para concluir com ar de triunfo: "e até quanto à leção. Conhecem-se casos no Brasil não só de predileção mas de separação dos poderes temporal e espiritual, da sua rudimentar orga­ exclusivismo: homens brancos que só gozam com negra. De rapaz de nização política, ainda não podem os autóctones do Brasil ser postos importante família rural de Pernambuco conta a tradição que foi im­ em degrau inferior aos filhos da terra adusla de Ciam". possível aos pais promoverem-lhe o casamento com primas ou outras O estudo realizado entre as sociedades primitivas da América, em moças brancas de famílias igualmente ilustres. Só queria saber de torno dos valores de cultura desigualmente acumulados nas várias molecas. Outro caso, referiu-nos Raoul Dunlop de um jovem de co­ panes do continente - acumulação que. elevando-se em semicivili­ nhecida família escravocrata do Sul: este para excitar-se diante da zações no centro, achata-se. em grande pobreza de relevo, na região noiva branca precisou, nas primeiras noites de casado, de levar para a da floresta tropical para estender-se ainda mais rente com o solo na alcova a camisa úmida de suor. impregnada de budum. da escrava da Patagônia - deixa grande parte da população indígena do Brasil 369 negra sua amante. Casos de exclusivismo ou fixação. Mórbidos, por­ nessa-, duas áreas menos favorecidas. Apenas as margens. OOtDO em tanto; mas através dos quais se sente a sombra do escravo negro Marajó, verificam-se expressões mais salientes de cultura. Resultado, sobre a vida sexual e de família do brasileiro. naturalmente, do contágio com o centro da América. t Não nos interessa, senão indiretamente, nesse ensaio, a impor­ O mapa de áreas de cultura da América, organizado por Kroeber, tância do negro na vida estética, muito menos no puro progresso dá-nos idéia exata da maior ou menor quantidade ou elaboração de econômico, do Brasil. Devemos, entretanto, recordar que foi imensa. valores. Dos altos e baixos característicos da formação cultural do Nc> liti uai agrário, muito maior, ao nosso ver. que a do indígena. Maior, continente. Vê-se que a área da Patagônia, mais rasteira que a da em certo sentido, que a do português. floresta tropical, contrasta notavelmente com as duas ou três áreas Idéia extravagante para os meios ortodoxos e oficiais do Brasil, que dão relevo cultural à América. essa do negro superior ao indígena e até ao português, em vários Nem da cultura nativa da América pode-se falar sem muita e rigo­ aspectos de cultura material e moral. Superior em capacidade técnica rosa discriminação - tal a desigualdade de relevo cultural - nem da e artística. Mas já um livro de acadêmico acolheu, cm páginas didáti­ África basta excluir o Egito, com a sua opulência inconfundível de cas, a primeira tese - a superioridade do negro sobre o indígena. E civilização, para falar-se então à vontade da cultura africana, chata e deu o seu a seu dono, reconhecendo no africano, aqui introduzido uma só. Esta se apresenta com notáveis diferenças de relevo, variando pelo colonizador português, cultura superior ao indígena: "estavam seus valores na quantidade e na elaboração. Um mapa das diferentes [os africanos) numa evolução social mais adiantada que a dos nossos áreas já identificadas, umas por Leo Frobenius. diversas, de modo geral, índios".- E certo que semelhante ousadia do professor Afrânio Peixo­ por Melville |. I lerskovits.' nos permitiria apreciar mais a cômodo que to custou-lhe severas restrições da Revista do Instituto Histórico e através de secas palavras de antropólogos ou de etnólogos. essas varia­ Geográfico Brasileiro. "Com efeito, os nossos aborígines". escreveu a ções, às vezes profundas, da cultura continental africana. Semelhante mapa nos alertaria, pelo puro alarme dos altos e baixos, contra o perigo transpirar como se de todo ele manasse um óleo, e não apenas escorres­ das generalizações sobre os colonizadores africanos do Brasil. sem pingos isolados de suor, como do branco. O que se explica por Porque nada mais anticientífico que falar-se da inferioridade do uma superfície máxima de evaporação no negro, mínima no branco.7 negro africano em relação ao ameríndio sem discriminar-se antes que, Um tanto à maneira de Bates, Wállace contrastou o indígena do ameríndio; sem distinguir-se que negro. Se o tapuio; se o banto; se o Brasil, taciturno e moroso, com o negro, alegre, vivo e loquaz.8 Em hotentote. Nada mais absurdo do que negar-se ao negro sudanês, por termos modernos de psicologia, essa diferença seria expressa atribu­ exemplo, importado em número considerável para o Brasil, cultura indo-se ao ameríndio a qualidade de introvertido e ao negro a de superior à do indígena mais adiantado. Escrever que "nem pelos arte­ extrovertido. E a teoria que McDougall esboça nos seus trabalhos fatos, nem pela cultura dos vegetais, nem pela domesticação das es­ National welfare and national group e Group mind. Teoria ousada pécies zoológicas, nem pela constituição da família ou das tribos, porque importa na aplicação de um critério até hoje empregado em nem pelos conhecimentos astronômicos, nem pela criação da lingua­ casos individuais, critério quase circunscrito às clínicas psiquiátricas - gem e das lendas, eram os pretos superiores aos nossos silvícolas", é ao difícil problema de discriminação e caracterização de traços étni­ produzir uma afirmativa que virada pelo avesso é que dá certo. Por cos ou "instintivos" em contraste com os evidentemente culturais ou todos esses traços de cultura material e moral revelaram-se os escra­ adquiridos.9 McDougall atribui o fato de contrair-se o índio mais do vos negros, dos estoques mais adiantados, em condições de concor­ que o negro ao contato civilizador do europeu, opor-lhe maior resis­ rer melhor que os índios à formação econômica e social do Brasil. Às tência ao domínio para afinal perecer em luta desigual - a essa dife­ vezes melhor que os portugueses. rença de constituição psicológica. O indígena na América, caracteristi- Pode-se juntar, a essa superioridade técnica e de cultura dos ne­ camente introvertido, e, portanto, de difícil adaptação. O negro, o gros, sua predisposição como que biológica e psíquica para a vida tipo do extrovertido. O tipo do homem fácil, plástico, adaptável. Ab­ nos trópicos. Sua maior fertilidade nas regiões quentes. Seu gosto de soluto esse critério, não deixariam de ter motivos, embora indiretos, sol. Sua energia sempre fresca e nova quando em contato com a os indianófilos, para acreditarem na superioridade moral dos indíge­ floresta tropical. Gosto e energia que Bates foi o primeiro a contrastar nas do Brasil. Estes se teriam recusado a trabalhar de enxada nos com o fácil desalento do índio e do caboclo sob o sol forte do norte canaviais portugueses, em um gesto superior de grandes de Espanha. do Brasil. Bates notou nos índios - que conheceu, não superficial­ Grandes de Espanha por temperamento. Duros, hirtos, inadaptáveis. mente, mas na intimidade, tendo vivido entre eles de 1848 a 1859 - O critério histórico-cultural, porém, que tantas vezes tem retifica­ "constitutional dislike to the heaf. Acrescentando que sempre os viu do o fisiológico e o psíquico na discriminação de característicos étni­ mais alegres, mais bem dispostos, mais vivos nos dias de chuva, o cos, mostra-nos ter havido da parte dos ameríndios incapacidade an­ corpo nu escorrendo água. Nostalgia, talvez, dos gelos ancestrais. tes social e técnica que psíquica e biológica. Embora não se devam "How different ali this is with the negro, the true child of tropical climesH desprezar as indisposições psíquicas, o fato que avulta é o do O escritor Waldo Frank, em admirável ensaio sobre o Brasil, quase nomadismo, de vida econômica atuando poderosamente sobre os repete Bates nessa exaltação do negro como o verdadeiro filho dos ameríndios; incapacitando-os para o trabalho agrícola regular. Ora, a trópicos;6 como o ungido do Senhor para as regiões de sol forte; esse trabalho e ao da criação de gado e utilização de sua carne e leite, como o homem melhor integrado no clima e nas condições de vida já se tinham afeito várias sociedades africanas de onde nos vieram brasileira. Adaptação que talvez se realize por motivos principalmente escravos em grandes massas. psíquicos e fisiológicos. Questão de constituição psicológica, como Fique bem claro: não pretendemos negar ao critério de tipos psi­ pretende McDougall. E fisiológica também, através da capacidade do cológicos a possibilidade de vantajosa aplicação à discriminação de negro de transpirar por todo o corpo e não apenas pelos sovacos. De traços étnicos. A introversào do índio, em contraste com a extroversão do negro da África, pode-se verificar a qualquer momento no fácil ram os bandeirantes que "sabiam alguma doutrina cristã que aprende­ laboratório que, para experiências desse gênero, é o Brasil. Contras- ram com os negros [...] todos falavam português com a mesma inteli­ tando-se o comportamento de populações negróides como a baiana - gência dos pretos, de quem aprenderam."11 alegre, expansiva, sociável, loquaz - com outras menos influenciadas . Mas admitido que predomine a extroversão entre os negros, não pelo sangue negro e mais pelo indígena - a piauiense, a paraibana ou lhes atribuamos influência absoluta. Os antecedentes e as predisposi­ mesmo a pernambucana - tem-se a impressão de povos diversos. ções de cultura do africano é que devem ser tomados em maior conta. Populações tristonhas, caladas, sonsas e até sorumbáticas, as do ex­ E dentro desses antecedentes e predisposições de cultura, a dieta ou tremo Nordeste, principalmente nos sertões; sem a alegria comunica- o regime alimentar. tiva dos baianos; sem aquela sua petulância às vezes irritante. Mas A cultura e o peso do homem variam consideravelmente sob a também sem a sua graça, a sua espontaneidade, a sua cortesia, o seu ação da dieta tanto de região para região como de classe para classe. riso bom e contagioso. Na Bahia tem-se a impressão de que todo dia Os indivíduos de classe elevada são quase sempre mais altos e corpu­ é dia de festa. Festa de igreja brasileira com folha de canela, bolo, lentos que os de classe inferior. Superioridade atribuída pelos pesqui­ foguete, namoro. sadores modernos ao fato de consumirem aqueles indivíduos maior Pitt-Rivers confronta as danças dos negros com as dos índios, quantidade de produtos ricos em "vitamina de crescimento".12 F. P. salientando naquelas a espontaneidade de emoção exprimida em gran­ Armitage procura mostrar, em livro bem documentado, que até a cor des efeitos de massa mas sem rigidez nenhuma de ritual com o com­ e a forma de crânio dependem da qualidade de alimento.13 Na Rússia passado e o medido das danças ameríndias.10 Danças quase puramente verificou-se, diz-nos Sorokin, que em conseqüência da fome de 1921- dramáticas. Apolíneos, diria Ruth Benedict, a quem devemos estudos 1922 houve diminuição de estatura,14 enquanto na Holanda, segundo tão interessantes sobre os povos que denomina apolíneos, em oposição Otto Ammon, e na América, segundo Ales Hrdlicka, tem-se observa­ aos dionisíacos. Esse contraste pode-se observar nos xangós afro-bra- do a elevação da estatura, devida, provavelmente, a modificações de sileiros - ruidosos, exuberantes, quase sem nenhuma repressão de condições sociais e de alimentação.15 impulsos individuais; sem a impassibilidade das cerimônias indígenas. No caso dos negros, comparados com os indígenas do Brasil, Tais contrastes de disposição psíquica e de adaptação talvez bio­ pode-se talvez atribuir parte de sua superioridade de eficiência eco­ lógica ao clima quente explicam em parte ter sido o negro na América nômica e eugênica ao regime alimentar mais equilibrado e rico que o portuguesa o maior e mais plástico colaborador do branco na obra de dos outros, povos ainda nômades, sem agricultura regular nem cria­ colonização agrária; o fato de haver até desempenhado entre os indí­ ção de gado. Devendo-se acrescentar que vários dos mais caracterís­ genas uma missão civilizadora no sentido europeizante. Missão que ticos valores nutritivos dos negros - pelo menos os vegetais - acom­ quiséramos fosse melhor conhecida pelos nossos indianófilos. Roquette- panharam-nos à América, concorrendo para o processo como que de Pinto foi encontrar evidências, entre populações do Brasil Central, da africanização aqui sofrido por brancos e indígenas; e amaciando para ação europeizante de negros quilombos. Escravos fugidos que propa­ os africanos os efeitos perturbadores da transplantação. Uma vez no gariam entre os indígenas, antes de qualquer missionário branco, a Brasil, os negros tornaram-se, em certo sentido, verdadeiros donos da língua portuguesa e a religião católica. Aquilombados na serra dos terra: dominaram a cozinha. Conservaram em grande parte sua dieta. Pareci, os negros fugidos cruzaram com mulheres roubadas aos indí­ É verdade que não deixou de verificar-se neles certa tendência genas. Uma bandeira que os foi dispersar no século XVIII encontrou para se conformarem aos usos do homem nativo; menos, porém, que ex-escravos dirigindo populações aquilombadas de cafuzos. Encon­ nos adventícios de origem européia, para os quais a transplantação trou grandes plantações. Criação de galinhas. Cultura de algodão. Fa­ foi experiência mais radical; maior a novidade do clima e do meio brico de panos grossos. E todos os caborés de maior idade verifica­ físico e bioquímico. Em 1909 Leonard Williams, em trabalho que ficou então abafado descendants of its widely dissemblant annual European recruits into sob as idéias ortodoxas da biologia weismanniana, sugeriu as possibili­ the hatchet-shaped face and wiry frame ofthe red Indian oborigins".m dades da influência do clima fazer-se sentir sobre o caráter racial atra­ O assunto se acha ainda cheio de sombras. Dele o que se sabe de vés das glândulas endócrinas. Essa influência pareceu-lhe explicar dife-. certo é quase nada.- apenas o bastante para nos advertir contra os renças entre asiáticos e europeus, latinos e anglo-saxões. Se em um dos preconceitos de sistema e os exageros de teoria. A verdadeira relação seus exemplos - acolhido aliás por W. Langdon Brown sem retificação do pigmento com o meio físico permanece um dos problemas mais nenhuma - Williams foi de todo infeliz - o dos judeus terem adquirido obscuros em antropologia. À generalização de que o homem é escuro em climas frios da Europa cabelo arruivado e pele fina - em outros ou preto nas regiões quentes, róseo ou alvo no hemisfério Norte, pontos, sua argumentação impõe-se ao interesse dos antropólogos opõem-se restrições sérias. Haddon salienta que se encontram povos modernos. A base endocrinológica da teoria de Leonard Williams é que de cor e de caracteres físicos diferentes cujas condições de ambiente a pele pode se comparar a uma placa sensível: estimulada, produz e de clima são entretanto análogas. Cita o exemplo do negro retinto atividades reflexas em órgãos distantes.16 A formação do pigmento do Congo, cujo meio físico pouco difere das condições do interior de cutâneo se teria desenvolvido como proteção a excessos de tais estímu­ Bornéu ou da Amazônia. Entretanto, os nativos dessas regiões são de los: e os órgãos distantes nos quais se produziriam as mais importantes um amarelo-pálido ou cor de canela. Tampouco lhe parece haver atividades reflexas seriam as glândulas endócrinas. Esta teoria, a que motivo de clima para os australianos serem tão escuros na cor da em 1909 quase não se prestou atenção nenhuma, vai sendo hoje estu­ pele. Os australianos e os tasmanianos. Pode-se concluir, segundo dada com interesse. Em uma das mais sugestivas monografias médicas esse antropólogo: a) que a pigmentação surgiu espontaneamente, in­ editadas pelo professor Maclean, da Universidade de Londres, W. dependente da ação do meio em período de variabilidade, e que os Langdon Brown versa o assunto a propósito das relações das glândulas indivíduos de pigmento escuro, mais aptos para resistir às condições endócrinas com o metabolismo geral. Parece-lhe fora de dúvida que na tropicais, sobreviveram aos outros; b) ou, por outro lado, que a pig­ produção do pigmento intervenham as glândulas supra-renais e pituitária. mentação represente adaptação ao meio, tendo resultado de longa "Que a pituitária tanto quanto as supra-renais intervenham de modo influência deste sobre o homem em época em que os tecidos seriam importante no processo de pigmentação, demonstra-o a maneira por mais plásticos e suscetíveis do que hoje; a variação assim adquirida que os girinos, após a extração dessa glândula, tornam-se albinos." ter-se-ia tornado transmissível, embora se desconheça o mecanismo Parece-lhe também estabelecida a íntima relação entre as glândulas pelo qual as células do germe possam receber influência exterior.19 produtoras de calor e a pigmentação; de onde se concluiria a melhor E onde o problema se entronca em outro - talvez o mais impor­ adaptabilidade dos morenos que dos louros e albinos aos climas quen­ tante que agite a biologia moderna: o da transmissão de caracteres tes. Brown cita a propósito que o governo da França vem recusando adquiridos. Ninguém hoje se abandona com a mesma facilidade de empregar gente alva e loura no serviço colonial nos trópicos, preferin­ há vinte ou trinta anos ao rígido critério weismanniano da não trans­ do os franceses do Sul, "capazes de desenvolver pigmento protetor".17 missão de caracteres adquiridos. Ao contrário: um neolamarckismo se Para Leonard Williams outras alterações ocorreriam em adventícios levanta nos próprios laboratórios onde se sorriu de Lamarck. Labora­ por efeito do clima e através do processo químico cuja importância tórios onde o ambiente vai se assemelhando um pouco ao das cate­ destacou; e veremos mais adiante que as possibilidades dessas altera­ drais católicas no século XVII. Para Bertrand Russell o ceticismo cien­ ções constituem um dos problemas por assim dizer dramáticos na an­ tífico de que Eddington é talvez o representante mais ilustre pode tropologia e na sociologia moderna. Assim os descendentes de euro­ resultar no fim da era científica; precisamente como do ceticismo teo­ peus na América do Norte estariam se conformando aos traços aborígines: lógico da Renascença resultou o fim da era católica. O homem de "the stereotyping by the climate ofthe North American continent ofthe cultura científica de hoje já não sorri apenas do darwinismo ortodoxo de seus avós. Começa a sorrir também do entusiasmo weismanniano O professor Arthur Dendy, que salienta a importância social das da geração de seus pais. Mas esse profundo ceticismo talvez não experiências do mestre russo, lembra uma das mais sugestivas evi­ signifique o fim da era científica. Dele é possível que se aproveite a dências indiretas a favor da possível transmissão dos caracteres ad­ ciência para avigorar-se em vez de enfraquecer-se. Nunca porém para. quiridos: o endurecimento da pele ou a calosidade do calcanhar hu­ encher-se das pretensões à onipotência que a caracterizaram durante mano. Sabe-se, diz ele, que calosidades dessa natureza podem-se obter a segunda metade do século XIX e nos princípios do XX. por fricção ou pressão. O fato, por conseguinte, da criança nascer Sob o novo ceticismo científico o problema dos caracteres adqui­ com a pele da sola do pé já endurecida, e desse característico endure­ ridos é dos que se recolocam entre as questões flutuantes e suscetí­ cimento verificar-se antes mesmo da criança nascer, longo tempo an­ veis de debate. Já não soa tão persuasiva a palavra de Weismann: os tes - de modo a não poder atribuir-se à fricção ou à pressão - leva- caracteres adquiridos não se transmitem. Os caracteres somatogênicos nos a concluir por uma modificação causada originalmente pelo uso não se convertem em blastogênicos. São as experiências práticas de do pé, e tornada fixa, por assim dizer, por hereditariedade.21 Em ou­ Pavlov, na Rússia, e de McDougall, nos Estados Unidos, que vêm tras palavras: seria este um caso de caráter somatogênico que através enriquecer o neolamarckismo ou, pelo menos, afetar o weismannismo. de muitas gerações se teria tornado blastogênico. Em comunicação ao Congresso de Fisiologia reunido em Edimburgo Impressionantes são também as experiências de Kammerer; expe­ o professor russo versou o problema dos reflexos, isto é, das "respos­ riências sobre mudanças de cor e de hábitos de reprodução de anfíbios tas automáticas aos estímulos de várias espécies por meio do sistema e répteis ao estímulo de meios ou ambientes novos.22 E, dentre as mais nervoso." Distinguiu o professor Pavlov os reflexos condicionados, recentes, as de Guyer e Smith sobre defeitos adquiridos de visão, trans­ isto é, adquiridos individualmente, dos não-condicionados. E apre­ mitidos, ao que parece, hereditariamente, e comportando-se como sentou o resultado de suas pesquisas sobre os estímulos de vista e recessivos mendelianos.23 Também as de Little, Bagg, Harrison, Muller. cheiro de alimento. Estímulos naturais. Certos movimentos caracterís­ São experiências, sem dúvida, necessitando de confirmação; mas que ticos se verificam; vem a saliva; a água na boca. Toda uma série de indicam o muito de flutuante que encerra o assunto. De flutuante e reflexos não-condicionados. Mas se toda vez que se der alimento ao duvidoso. Weismannianos e neolamarckianos são hoje em fisiologia e animal se estabelecer gradualmente uma ligação entre o som de uma biologia uns como teólogos da predestinação e do livre-arbítrio. campainha e o reflexo alimentar, depois da coincidência repetir-se Diante da possibilidade da transmissão de caracteres adquiridos, durante suficiente número de vezes, a reação alimentar se verificará o meio, pelo seu físico e pela bioquímica, surge-nos com intensa em respostas ao som puro e simples. Nas exatas palavras do professor capacidade de afetar a raça, modificando-lhe caracteres mentais que Pavlov: "Conseguimos obter o reflexo condicionado de alimentação se tem pretendido ligar a somáticos. Já as experiências de Franz Boas2H em ratos brancos, por meio do som de uma campainha elétrica. Com parecem indicar que o biochemical content - como o chama Wissler o primeiro grupo de ratos foi necessário repetir a coincidência do - é capaz de alterar o tipo físico do imigrante. Admitida essa altera­ toque da campainha com a alimentação trezentas vezes para conse­ ção, e a possibilidade de gradualmente, através de gerações, confor­ guir-se um reflexo satisfatório ("well-establisbed reflex"). A segunda mar-se o adventício a novo tipo físico, diminui, consideravelmente, a geração formou o mesmo reflexo após cem repetições. A terceira importância atribuída a diferenças hereditárias de caráter mental, en­ adquiriu o reflexo depois de trinta repetições. A quarta, depois de tre as várias raças. Diferenças interpretadas como de superioridade e dez. A quinta depois de cinco, somente... Tendo por base esses resul­ inferioridade e ligadas a traços ou caracteres físicos. tados, antecipo o fato de que uma das próximas gerações dos ratos Aliás, na inferioridade ou superioridade de raças pelo critério da mostrará a reação alimentar ao ouvir o primeiro toque da campainha forma do crânio já não se acredita; e esse descrédito leva atrás de si elétrica".20 muito do que pareceu ser científico nas pretensões de superioridade mental, inata e hereditária, dos brancos sobre os negros. A teoria da São esses característicos físicos - principalmente a forma do crâ­ superioridade dos dólico-louros tem recebido golpes profundos nos nio - que se tem pretendido ligar à inferioridade do negro em realiza­ seus próprios redutos. Hertz mostrou recentemente, baseado em pes­ ções e iniciativas de ordem intelectual e técnica-, inferioridade essa quisas de Nystrom entre quinhentos suecos, que naquele viveiro de que seria congênita. Outra tem sido a conclusão dos que mais dólico-louros os indivíduos das classes mais altas eram em grande demoradamente têm procurado confrontar a inteligência do negro maioria braquicéfalos. E não só eles; também os homens eminentes, com a do branco. Bryant e Seligman, por exemplo, de estudos com­ vindos das classes baixas. E é Hertz quem salienta não terem sido nórdi- parativos entre escolares bantos e europeus na África do Sul concluí­ cos puros nem Kant nem Goethe nem Beethoven nem Ibsen nem Lutero ram pela maior precocidade e mais rápido desenvolvimento mental nem Schopenhauer nem Schubert nem Schumann nem Rembrandt. dos bantos até a idade de doze anos, em contraste com o desenvolvi­ Quase nenhum dos homens mais gloriosos dos países nórdicos.25 mento mais demorado e tardonho do europeu até a puberdade, po­ Quanto ao peso do cérebro, à capacidade do crânio e à sua signifi­ rém maior que o dos negros daí em diante; concluíram ainda que o cação, são pontos indecisos. Se as pesquisas antropométricas realizadas africano, excedido pelo europeu no confronto de qualidades de refle­ por Hunt no exército americano durante a Guerra Civil e continuadas xão, julgamento, compreensão, excede o branco em memória, intui­ por Bean indicam que o cérebro do negro é mais leve e menor do ção ou percepção imediata das coisas, e capacidade de assimilação.28 que o do branco e as de Pearson parecem indicar no negro menor Diferenças difíceis de reduzir, como nota Pitt-Rivers, a um fator de capacidade de crânio do que no branco europeu, contra as conclusões inteligência geral29 que sirva de base a conclusões de inferioridade ou de inferioridade da raça preta, baseadas em tais resultados, opõem-se superioridade de uma raça sobre a outra. fatos consideráveis. Aceitas as médias do peso do cérebro do negro - O depoimento dos antropólogos revela-nos no negro traços de 1.292 - e do branco - 1.341 - há entretanto que considerar o fato da capacidade mental em nada inferior à das outras raças: "considerável média do peso do cérebro da mulher branca ser de 1.250 g; e a média iniciativa pessoal, talento de organização, poder de imaginação, apti­ 26 do cérebro do chinês, 1.428 g. Por conseguinte - notavelmente infe­ dão técnica e econômica", diz-nos o professor Boas.30 E outros traços rior a média da mulher branca à do homem negro; e a do amarelo superiores. O difícil é comparar-se o europeu com o negro, em ter­ (chinês) superior à do branco. mos ou sob condições iguais. Acima das convenções: em uma esfera O que se sabe das diferenças da estrutura entre os crânios de mais pura, onde realmente se confrontassem valores e qualidades. brancos e negros não permite generalizações. Já houve quem obser­ Por longo tempo, a grande e forte beleza da arte de escultura, por vasse o fato de que alguns homens notáveis têm sido indivíduos de exemplo, foi considerada pelos europeus simples grotesquerie. E sim­ crânio pequeno, e autênticos idiotas, donos de crânios enormes. plesmente por chocarem-se suas linhas, sua expressão, seu exagero Nem merece contradita séria a superstição de ser o negro, pelos artístico de proporções e de relações, com a escultura convencional seus característicos somáticos, o tipo de raça mais próximo da incerta da Europa greco-romana. Esse estreito critério ameaçou de sufocar, forma ancestral do homem cuja anatomia se supõe semelhante à do no Brasil, as primeiras expressões artísticas de espontaneidade e de chimpanzé. Superstição em que se baseia muito do julgamento desfa­ força criadora que, revelando-se principalmente nos mestiços, de mãe vorável que se faz da capacidade mental do negro. Mas os lábios dos ou avó escrava, trouxeram à tona valores e cânones antieuropeus. macacos são finos como na raça branca e não como na preta - lembra Quase por milagre restam-nos hoje certas obras do Aleijadinho. Re­ a propósito o professor Boas.27 Entre as raças humanas são os euro­ quintados no gosto europeu de arte ou na ortodoxia católica, várias peus e os australianos os mais peludos de corpo e não os negros. De vezes pediram a destruição de "figuras que mais pareciam fetiches".31 modo que a aproximação quase se reduziria às ventas mais chatas e Quanto aos testes chamados de inteligência, muitos deles de re­ escancaradas no negro do que no branco. sultados tão desfavoráveis ao negro,32 sua técnica tem sofrido restri- ções sérias. Goldenweiser ridiculariza-os como método de medir qua­ tirmos a possibilidade de se transmitirem influências adquiridas em lidades de raça; deixam o negro pouco acima do macaco, escreve ele. novo meio físico ou sob ação bioquímica. "O ponto de vista estatístico", acrescenta, "o desejo de exprimir os Lowie parece-nos colocar a questão em seus verdadeiros termos. fatos em números e curvas é uma louvável atitude, resultado do mé­ Como Franz Boas, ele considera o fenômeno das diferenças mentais todo crítico e objetivo: mas tem seus perigos. Quando alguém expri­ entre grupos humanos mais do ponto de vista da história cultural e do me qualquer bobagem em palavras não há dano nenhum; mas se a ambiente de cada um do que da hereditariedade ou do meio geográfico exprime em fórmulas matemáticas surge o perigo da roupagem mate­ puro. "Como explicar, senão pela história, as grandes oscilações na cul­ mática dissimular a bobagem."33 Também Kelsey critica os testes na tura britânica?", pergunta Lowie. "Ou admite-se que os patriarcas sua pretensão de medirem qualidades de raça; e aponta neles grossos elisabetanos eram portadores em suas células sexuais de fatores que defeitos e irregularidades de técnica desfavoráveis ao negro.34 desapareceram sob o puritanismo e reapareceram sob a restauração? O Aliás os resultados desses testes têm sido contraditórios; e não mesmo pode perguntar-se do povo japonês e do seu sensacional desen­ unânimes em fixarem a "inferioridade mental" do negro, como pre­ volvimento desde 1876. De Atenas e da sua rápida floração de gênios de tende Sorokin. As pesquisas realizadas entre 408 escolares de Missouri 530 a 430 a.C. E, ainda, da Alemanha e da sua brilhante superioridade chegaram à conclusão de que as diferenças de capacidade mental musical. Superioridade de raça? Mas fundamentalmente a raça é a mes­ entre eles e os brancos diminuíam com a idade; as realizadas em ma que a inglesa - gente que mal sabe assobiar no banho e cantar hinos Atlanta que as diferenças aumentavam. A pesquisa de Freeman con­ de igreja. A diferença étnica que há, deveria ser a favor dos ingleses, cluiu pela superioridade dos americanos sobre os negros em todas pois ela os aproxima dos gregos [...]. Devemos ter a franqueza de admi­ as idades menos no grupo de 10 anos," mas concluiu também pela tir que a aptidão musical é inata na raça [...]. A sociedade alemã vem superioridade dos negros americanos sobre os italianos brancos, com desde algum tempo estimulando sistematicamente a cultura musical, ao exceção de dois grupos. Pintner e Keller encontraram entre os ne­ contrário da sociedade inglesa que a tem negligenciado. Naquela, a gros o mesmo Q. I. que entre os escoceses; e superior ao dos gre­ natural habilidade para a música encontrou campo livre para desenvol­ gos, italianos, polacos. E Hirsh encontrou nos negros Q. I. superior ver-se; nesta, escassa simpatia [...]. A proeminência alemã [na música] é ao dos portugueses. Nos próprios testes do exército americano, tão recentíssima. Até poucos séculos atrás a Alemanha se achava em situa­ citados contra o negro, os resultados acusaram maiores diferenças ção inferior à Holanda, à Itália e à própria Inglaterra. Mozart, no século entre os negros do norte e do sul dos Estados Unidos que entre XVIII, ainda desenvolveu-se sob a influência de tradições italianas."37 negros e brancos; e colocaram os negros do Estado de Ohio em No caso dos africanos vindos para o Brasil, dos princípios do plano superior aos brancos de todos os Estados do Sul, com exce­ século XVI aos meados do XIX, devemos procurar surpreender nos ção da Flórida.35 principais estoques de imigrantes não só o grau como o momento de Não se negam diferenças mentais entre brancos e negros. Mas até cultura que nos comunicaram. que ponto essas diferenças representam aptidões inatas ou especiali­ Momento que entre as tribos variou consideravelmente nesses zações devidas ao ambiente ou às circunstâncias econômicas de cul­ trezentos e tantos anos de profundas infiltrações maometanas na Áfri­ tura é problema dificílimo de apurar. Sorokin inclina-se a admitir a ca negra. Grau que variou de maneira notável de sudaneses para superioridade do fator hereditariedade sobre o fator ambiente, apro­ bantos. Importa determinarmos a área de cultura de procedência dos ximando-se assim do biologismo. Ninguém investe com maior vigor escravos, evitando-se o erro de vermos no africano uma só e indistin­ contra Huntington e o determinismo geográfico.36 Esquece, porém, ta figura de "peça da Guiné" ou de "preto da Costa". ao nosso ver, que os dois fatores em muitos pontos se cruzam, sendo A verdade é que importaram-se para o Brasil, da área mais pene­ difícil de separar a hereditariedade, do meio. Principalmente se admi­ trada pelo islamismo, negros maometanos de cultura superior não só à dos indígenas como à da grande maioria dos colonos brancos - often thought that slaves of the United States are descended not from portugueses e filhos de portugueses quase sem instrução nenhuma, the noblest African stock", observou Fletcher confrontando os escra­ analfabetos uns, semi-analfabetos na maior parte. Gente que quando vos das senzalas brasileiras com os dos Estados Unidos.40 tinha de escrever uma carta ou de fazer uma conta era pela mão do Sá Oliveira errou ao escrever que na estratificação social da Bahia padre-mestre ou pela cabeça do caixeiro. Quase só sabiam lançar no "veio colocar-se nas ínfimas camadas uma onda volumosa de africa­ papel o jamegão; e este mesmo em letra troncha. Letra de menino nos quase todos colhidos nas tribos mais selvagens dos cafres e atira­ aprendendo a escrever. dos aos traficantes de escravos do litoral da África."41 Exagero. Porque O abade Étienne revela-nos sobre o movimento malê da Bahia em não foi menor o número de sudaneses; estes, segundo as pesquisas 1835 aspectos que quase identificam essa suposta revolta de escravos de Nina Rodrigues, é que predominaram na formação baiana: pelo com um desabafo ou erupção de cultura adiantada, oprimida por ou­ menos a certa altura. tra, menos nobre. Não romantizemos. Fosse esse movimento pura­ Foram Spix e Martius - pensa Nina Rodrigues - que criaram o erro mente malê ou maometano, ou combinação de vários grupos sob líde­ de supor-se exclusivamente banto a colonização africana do Brasil. E res muçulmanos, o certo é que se destaca das simples revoltas de ao ilustre professor, então catedrático da Faculdade de Medicina da escravos dos tempos coloniais. Merece lugar entre as revoluções Bahia, deve-se o primeiro esforço crítico no sentido da discriminação libertárias, de sentido religioso, social ou cultural. O relatório do chefe dos estoques africanos de colonização do Brasil. "Nos seus prestimosos de polícia da província da Bahia, por ocasião da revolta, o Dr. Francis­ estudos sobre o nosso país", diz Nina Rodrigues nas páginas do seu co Gonçalvez Martins, salienta o fato de quase todos os revoltosos trabalho O problema da raça negra na América portuguesa?2 "redu­ saberem ler e escrever em caracteres desconhecidos. Caracteres que zem estes autores [Spix e Martius] as procedências do tráfico para o "se assemelham ao árabe", acrescenta o bacharel, pasmado, natural­ Brasil às colônias portuguesas da África Meridional e às ilhas do golfo mente, de tanto manuscrito redigido por escravo. "Não se pode negar de Guiné. Para eles, dos Congos, Cabindas e Angolas na costa ociden­ que havia um fim político nesses levantes; pois não cometiam roubos tal da África, dos Macuas e Angicos, na oriental, provieram todos os nem matavam seus senhores ocultamente."38 É que nas senzalas da africanos brasileiros. Também se referem às procedências de Cacheo e Bahia de 1835 havia talvez maior número de gente sabendo ler e Bissau para os negros de Pernambuco, Maranhão e Pará, naturalmente escrever do que no alto das casas-grandes. Mal saíra a nação, vencidos mais conhecidos pela história da Companhia de Comércio do Grão- apenas dez anos de vida independente, do estado de ignorância pro­ Pará e Maranhão, com que foi feito o contrato da introdução desses funda em que a conservara a Coroa no século XVIII e princípios do negros. Mas nem destes, nem dos procedentes das ilhas de Fernando XIX, quando "os mais simples conhecimentos elementares eram tão Pó, Príncipe, São Tome e Ano Bom, a que também aludem, convenien­ pouco espalhados que, não raro, ricos fazendeiros do interior encar­ temente se ocuparam. Mal se concebe como os negros sudaneses tives­ regavam seus amigos do litoral de lhes arranjar um genro que em vez sem escapado à sagaz observação de Spix e Martius que a propósito da de quaisquer outros dotes apenas soubesse ler e escrever".39 Bahia se ocuparam do tráfico africano e estiveram nesta província pre­ Os historiadores do século XIX limitaram a procedência dos es­ cisamente ao tempo em que dominavam aqui os sudaneses." cravos importados para o Brasil ao estoque banto. É ponto que se Infelizmente as pesquisas em torno da imigração de escravos ne­ deve retificar. De outras áreas de cultura africana transportaram-se gros para o Brasil tornaram-se extremamente difíceis, em torno de para o Brasil escravos em grosso número. Muitos de áreas superiores certos pontos de interesse histórico e antropológico, depois que o à banto. A formação brasileira foi beneficiada pelo melhor da cultura eminente baiano, conselheiro Rui Barbosa, ministro do Governo Pro­ negra da África, absorvendo elementos por assim dizer de elite que visório após a proclamaçâo da República de 1889, por motivos osten­ faltaram na mesma proporção ao sul dos Estados Unidos. "I have sivamente de ordem econômica - a circular emanou do Ministro da Fazenda sob o tf 29 e com data de 13 de maio de 1891 - mandou Annaes dos feitos da companhia privilegiada das índias Occidentaes queimar os arquivos da escravidão. Talvez esclarecimentos genealó- desde o seu começo até o fim de 1636, publicada originalmente em gicos preciosos se tenham perdido nesses autos-de-fé republicanos. Leide em 1644. Dos negros de Angola, diz Laet, resumindo informa­ Mesmo sem o valioso recurso das estatísticas aduaneiras de entra­ ções do conselheiro político Servacios Carpentier sobre a capitania da da de escravos pôde Nina Rodrigues destruir o mito do exclusivismo Paraíba, que eram os empregados em maior número no serviço da banto na colonização africana no Brasil. Basta, na verdade, atentar-se lavoura. Mas "sempre mantidos com muitos açoites". Acrescentando: na política portuguesa de distribuição de negros nas colônias para "os negros de Guiné são excelentes, de sorte que a maior parte são duvidar-se de semelhante exclusivismo. Ora, essa política foi não per­ utilizados nos serviços domésticos, para copeiros etc.; os do Cabo mitir que se juntasse em uma capitania número preponderante da Verde são os melhores e os mais robustos de todos e são os que mesma nação ou estoque. "Do que facilmente podem resultar perni­ custam mais caro aqui". Quanto à capitania de Pernambuco trazem os ciosas conseqüências" como em carta a Luís Pinto de Sousa dizia em Annaes a informação de grande tráfico anual entre o porto do Recife fins do século XVIII D. Fernando José de Portugal.43 Se na Bahia e não somente Angola mas "outras regiões da África". É verdade que predominaram sudaneses e no Rio de Janeiro e em Pernambuco ne­ maiores seriam as facilidades de comunicação com Angola. O conde gros austrais do grupo banto, não significa que outros estoques não de Nassau quis fazer do Recife o principal centro distribuidor de es­ fornecessem seu contingente aos três grandes centros de imigração e cravos para as plantações americanas e para as minas do Peru, fican­ distribuição de escravos. do Angola sob a imediata dependência do governo de Pernambuco. A carta escrita por Henrique Dias aos holandeses em 1647 traz a Ao seu ver Pernambuco tinha direitos adquiridos sobre Angola, São respeito preciosos dados: "De quatro nações se compõe esse regi­ Tome e Ano Bom: as forças holando-brasilianas é que haviam tomado mento: Minas, Ardas, Angolas e Creoulos: estes são tão malévolos que dos espanhóis essas colônias africanas. E do Recife e não de Amster­ 46 não temem nem devem; os Minas tão bravos que aonde não podem dã pensava ele que devia ser dirigido o comércio de escravos. chegar com o braço, chegam com o nome; os Ardas tão fogosos que Embora o plano do conde não tivesse vingado - temendo-se tudo querem cortar de um só golpe; e os Angolas tão robustos que porventura em Amsterdã que Nassau preparasse o terreno para a fun­ nenhum trabalho os cança".44 dação de um principado tropical, unidas aquelas colônias africanas Ora, os "Ardas" ou "Ardras" eram gege ou daomeanos do antigo ao norte do Brasil - o certo é que a importação de negros se fez à reino da Ardia; os Minas, nagô; os Angola, apenas, banto. grande sob o domínio holandês. Mas as informações de Laet indicam Já Barléus, lembra Nina Rodrigues que se referia aos ardenses. E que mesmo sob o domínio holandês os escravos importados não pro­ refere-se. Mas para considerá-los péssimos escravos agrários. Eles, os cederam exclusivamente de Angola. calabrenses, os de Guiné, Cabo, Serra Leoa. Bons para o trabalho no As evidências históricas mostram assim, ao lado das pesquisas an­ campo eram os Congos, os sombrenses e os Angola. Os da Guiné, tropológicas e de lingüística realizadas por Nina Rodrigues entre os Cabo, Serra Leoa, maus escravos, porém, bonitos de corpo. Principal­ negros da Bahia, a frouxa base em que se firma a idéia da colonização mente as mulheres. Daí serem as preferidas para os serviços domésti­ exclusivamente banto do Brasil.47 Ao lado da língua banto, da quimbunda cos; para o trabalho das casas-grandes." Fácil é de imaginar, comple­ ou congoense falaram-se entre os nossos negros outras línguas-gerais: tando a insinuação do cronista, que também para os doces concubinatos a gege, a haúça, a nagô ou ioruba - que Varnhagen dá como mais ou simples amores de senhor com escrava em que se regalou o falada do que o português entre os antigos negros da Bahia.48 Língua patriarcalismo colonial. ainda hoje prestigiada pelo fato de ser o latim do culto gege-iorubano. Um depoimento valioso a favor da tese de Nina Rodrigues, e que Nina Rodrigues identificou entre os negros do Brasil que ele co­ este parece ter desconhecido, é o de João de Laet na sua História ou nheceu ainda no tempo da escravidão os chamados pretos de raça branca ou Fulas. Não só fula-fulos ou Fulas puros, mas mestiços prove­ para o Brasil - na sua antropologia e na sua cultura: uma delas a dos nientes da Senegâmbia, Guiné Portuguesa e costas adjacentes. Gente Jaga em 1490. Mas sem nenhuma alteração profunda de raça, dada a de cor cóbrea avermelhada e cabelos ondeados quase lisos. Os negros semelhança entre os estoques invasores e nativos: todos já heterogê­ desse estoque, considerados, por alguns, superiores aos demais do ponto neos desde época remota. de vista antropológico, devido à mistura de sangue hamítico e árabe, Dos negros importados para o Brasil podem-se incluir os Banto - vieram principalmente para as capitanias, e mais tarde províncias, do sem contar exceções, consideradas apenas as grandes massas étnicas Norte. Daqui, devem alguns ter emigrado para Minas e São Paulo. Os - entre os mais caracteristicamente negros; pelo que não significamos místicos da superioridade de raça talvez enxerguem no fato explicação a cor - convenção quase sem importância - e sim traços de caracteri­ das famílias mestiças do Norte e de certas regiões de Minas e São Paulo zação étnica mais profunda: o cabelo em primeiro lugar. Este, como virem contribuindo para o progresso brasileiro com maior número de se sabe, mostra-se encarapinhadíssimo nos ulotrichi africani. Esse homens de talento - estadistas do Império, escritores, bispos, artistas, característico não se encontra tão carregado nos indivíduos dos vários presidentes e vice-presidentes da República - do que as do Sul - Rio de estoques mestiços de hamitas e até de berberes de que nos vieram Janeiro, parte de Minas e São Paulo, o Rio Grande do Sul. Poderão numerosos escravos: enquanto os fulos e outros povos da África oriental alegar tratar-se de um elemento com larga dose de sangue berbere, e que contribuíram também para a formação da família brasileira se talvez até de origem berbere. Predominantemente não-negróide, consi­ filiam pelo cabelo aos cynotrichi. Cabelo mais suave. Nariz mais afilado. dera Haddon a esse povo africano de que dá como verdadeiro nome, Traços mais próximos dos europeus. Mais doces ou "domesticados", Pulbe. O mais (Fula, Fulani, Felava, Filani, Fube) seriam corruptelas. como se diria em linguagem antropológica. Descreve-os Haddon como gente alta, a pele amarela ou avermelhada, Mas dentro da orientação e dos propósitos deste ensaio, interes­ o cabelo ondeado, o rosto oval, o nariz proeminente. sam-nos menos as diferenças de antropologia física (que ao nosso ver Os Haúça, estoque de que também houve larga importação para não explicam inferioridades ou superioridades humanas, quando trans­ o Brasil, notadamente para a Bahia, são igualmente mestiços de hamitas postas dos termos de hereditariedade de família para os de raça) que e talvez de berberes, embora neles os traços negros predominem. as de antropologia cultural e de história social africana. Estas é que Também os Niam Niam, os Mangbatu, os Kanembu, os Bagirmi, os nos parecem indicar ter sido o Brasil beneficiado com um elemento Bornu, os Kanuri.49 melhor de colonização africana que outros países da América. Que os Os Mandingo, de que o Brasil recebeu várias levas, acusam por Estados Unidos, por exemplo. sua vez sangue árabe e tuaregue; os Ioruba acusam sangue não Nina Rodrigues percebeu as diferenças nos estoques africanos de negro, ainda por identificar, e os próprios Banto se nos apresentam, colonização das duas Américas; mas fixou-as do ponto de vista, por na sua grande variedade de tipos, tocados de vários sangues: de ele rigidamente adotado, da inferioridade da raça negra. "Não eram hamita e negrilo, principalmente. Nos demais característicos físicos negros boçais os Haúça que o tráfico lançava no Brasil", escreveu o são: na cor, de um pardo-escuro, chocolate, diferente do amarelo então professor da Faculdade de Medicina da Bahia.51 E ao lado dos sujo ou do pardo-claro, avermelhado, dos fulos, tanto quanto da cor Haúça mesclados de sangue hamita, cita triunfante, dominado pelo de couro dos hotentotes e dos boximanes ou do preto retinto dos critério de raça, os fula-fulos. Os "negros de raça branca", dos quais naturais da Guiné; dolicocéfalos (havendo entretanto grupos de não se teria feito nenhuma grande corrente imigratória da África para mesocéfilos): menor prognatismo que o dos negros considerados os Estados Unidos. "puros", o nariz mais proeminente e estreito.59 De passagem observamos que o professor Oliveira Viana, o maior Várias invasões e migrações têm alterado, em tempos históricos, místico do arianismo que ainda surgiu entre nós, menos coerente que a população da Angola — origem de numerosos escravos importados o cientista maranhense, escreveu em um dos seus brilhantes traba- lhos: "Os próprios negros americanos, muito superiores, aliás, aos to. Para o Brasil a importação de africanos fez-se atendendo-se a ou­ nossos, em virtude da seleção imposta pelas contingências da luta tras necessidades e interesses. À falta de mulheres brancas; às neces­ com um adversário temível, como é o anglo-saxão, ficou muito abaixo sidades de técnicos em trabalhos de metal, ao surgirem as minas. do teor médio da civilização norte-americana, etc." Tendo antes escri­ Duas poderosas forças de seleção. to que "a potencialidade eugenística do H. Afer" não só "é reduzida Oliveira Viana salienta que em Minas Gerais observam-se hoje nos em si mesma, como posta em função de civilização organizada pelo negros "delicadeza de traços? e relativa beleza", ao contrário das "cataduras homem da raça branca, ainda mais reduzida se torna."52 As duas afirma­ simiescas [...] abundantíssimas na região ocidental da baixada fluminense tivas do ilustre publicista brasileiro se repelem: em uma, a fraca civiliza- - o que indica que ali se concentrou e fixou alguma tribo de negros bilidade do negro se reduziria em contato com a organização social caracterizados pela sua fealdade: talvez os "Bisago" ou "Iebu" ou da raça superior; em outra, ao contrário, se desenvolveria nesse contato. "Mandingo".55 Deve-se notar que a primeira das regiões atraiu negros Fique bem claro, para regalo dos arianistas, o fato de ter sido o afeitos ao trabalho de metais, por conseguinte de cultura mais elevada, Brasil menos atingido que os Estados Unidos pelo suposto mal da enquanto na segunda bastavam aos plantadores de cana-de-açúcar ou "raça inferior". Isto devido ao maior número de fula-fulos e semi- de café simples pretalhões vigorosos, capazes de dar conta do amanho hamitas - falsos negros e, portanto, para todo bom arianista, de esto­ da terra. Até hotentotes boximanes com suas ventas esparramadas e que superior ao dos pretos autênticos - entre os emigrantes da África suas nádegas enormes. Ao nosso ver essas circunstâncias explicam o para as plantações e minas do Brasil. melhor estoque negro importado para a região mineira. Por outro lado, Em trabalho, já hoje clássico,53 sobre a escravidão africana nos a superioridade de recursos econômicos talvez explique o fato de Estados Unidos, situa Phillips as principais fontes de escravos para as Pernambuco e da Bahia terem sido beneficiados com melhor gente plantações do seu país em Serra Leoa, Costa do Grão, Costas do Mar­ africana do que o Rio de Janeiro. Puderam os senhores de engenho do fim, do Ouro, do Escravo, Rio do Eleo, Camarão, Gabão e Loango. Na Norte dar-se ao luxo de importar escravos mais caros. Carolina do Sul os negros da Gâmbia, principalmente os Mandingo, Oliveira Viana cita de Luís Vaia Monteiro, governador do Rio de teriam sido os preferidos; boa aceitação tiveram também os da Ango­ Janeiro em 1730, palavras que vêm favorecer nossa interpretação quanto la. Os Carromantes (da Costa do Ouro), a julgar pelas palavras que a Minas Gerais: "e pela mesma razão não há mineiro que possa viver Phillips transcreve de Christopher Codrington, governador das ilhas sem nenhuma negra Mina, dizendo que só com elas têm fortuna".56 Lesward, teriam sido apreciadíssimos pelos ingleses na América colo­ Foram essas Minas e as Fulas - africanas não só de pele mais clara, nial; e encontram-se referências a negros do Senegal, com o seu salpi­ como mais próximas, em cultura e "domesticação" dos brancos - as co de sangue árabe, preferidos pela sua "maior inteligência" para o mulheres preferidas, em zonas como Minas Gerais, de colonização serviço doméstico.54 Não há, porém, evidência nenhuma de emigra­ escoteira, para "amigas", "mancebas" e "caseiras" dos brancos. Ilustres ção africana para a América inglesa levando consigo fula-fulos - pelo famílias daquele Estado, que ainda hoje guardam traços negróides, menos na mesma proporção que para a América portuguesa; nem terão tido o seu começo nessa união de brancos com negras Minas, representantes tão numerosos da cultura maometana. Esta só no Bra­ vindas da África como escravas, mas aqui elevadas à condição, segun­ sil desabrochou em escolas e casas de oração; em movimentos e orga­ do o testemunho de Vaia Monteiro, "de donas de casa". Outras terão nizações que acusam a presença de uma verdadeira elite malê entre permanecido escravas, ao mesmo tempo que amantes dos senhores os colonos africanos do nosso país. brancos: "preferidas como mucamas e cozinheiras". Araripe Júnior Parece que para as colônias inglesas o critério de importação de escreveu que a negra mina apresentou-se sempre no Brasil com todas escravos da África foi quase exclusivamente o agrícola. O de energia as qualidades para ser "uma excelente companheira". Sadia, enge­ bruta, animal, preferindo-se, portanto, o negro resistente, forte e bara­ nhosa, sagaz, afetiva. "Com semelhantes predicados", acrescenta Ara- ripe, e "nas condições precárias em que no primeiro e segundo sécu­ com brancos pelos escravos negros. E Roquette-Pinto fixou interes­ lo se achava o Brasil em matéria de belo sexo era impossível que a sante caso, que já referimos, da ação civilizadora dos escravos fugidos mina não dominasse a situação."57 Dominou-a em várias regiões. Par­ entre os índios da serra dos Pareci. Pode-se aliás generalizar dos ne­ ticularmente em Minas no século XVIII. gros fugidos, internados nas matas e nos sertões, que desempenha­ Em meados do século XIX, Burton encontrou em Minas Gerais ram todos uma útil função civilizadora: quase sempre elevando a cul­ uma cidade de cinco mil habitantes com duas famílias apenas de puro tura das populações indígenas, raramente deixando-se achatar ou sangue europeu. No litoral observou o inglês que fora possível aos degradar por elas. Diante dos caboclos os negros foram elemento colonos casar suas filhas com europeus. Mas nas capitanias do interior europeizante. Agentes de ligação com os portugueses. Com a Igreja. o mulatismo tornara-se um "mal necessário" ("mulatism became a Exerceram não só aquele papel de mediadores plásticos entre os eu­ necessary evil"). A princípio - é de supor - menos por casamento do ropeus e indígenas a que se refere José Maria dos Santos,61 mas, em que por uniões irregulares de brancos com negras, muitas vezes suas alguns casos, função original e criadora, transmitindo à sociedade em escravas. Daí a "estranha aversão ao casamento" que Burton ainda formação elementos valiosos de cultura ou técnica africana. surpreendeu nas populações mineiras. O contato mais íntimo entre algumas das áreas mais elevadas de Os homens "não gostavam de casar para toda a vida", mas de cultura negra e o Brasil explica, ao nosso ver, o fato observado pelo unir-se ou de amasiar-se; as leis portuguesas e brasileiras, facilitando professor Nina Rodrigues e por ele atribuído ao fator raça - isto é, o perfilhamento dos filhos ilegítimos, só faziam favorecer essa ten­ infusão de sangue hamita - da superioridade da colonização negra do dência para o concubinato e para as ligações efêmeras. É verdade que Brasil sobre a dos Estados Unidos. Fato que já fora salientado por um já os moralistas brasileiros vinham dando combate a tamanha irregu­ americano: Fletcher. E antes de Fletcher, pelo naturalista inglês George laridade, alguns tendo mesmo lembrado que se não admitissem aos Gardner.62 cargos públicos indivíduos que vivessem em franco concubinato.58 O Brasil não se limitou a recolher da África a lama de gente preta Os escravos vindos das áreas de cultura negra mais adiantada que lhe fecundou os canaviais e os cafezais; que lhe amaciou a terra foram um elemento ativo, criador, e quase que se pode acrescentar seca; que lhe completou a riqueza das manchas de massapê. Vieram- nobre na colonização do Brasil; degradados apenas pela sua condi­ lhe da África "donas de casa" para seus colonos sem mulher branca; ção de escravos. Longe de terem sido apenas animais de tração e técnicos para as minas; artífices em ferro; negros entendidos na cria­ operários de enxada, a serviço da agricultura, desempenharam uma ção de gado e na indústria pastoril; comerciantes de panos e sabão; função civilizadora. Foram a mão direita da formação agrária brasileira, mestres, sacerdotes e tiradores de reza maometanos. Por outro lado a os índios, e sob certo ponto de vista, os portugueses, a mão esquerda. proximidade da Bahia e de Pernambuco da costa da África atuou no E não só da formação agrária. Eschwege salienta que a mineração sentido de dar às relações entre o Brasil e o continente negro um do ferro no Brasil foi aprendida dos africanos.59 E Max Schmidt desta­ caráter todo especial de intimidade. Uma intimidade mais fraternal ca dois aspectos da colonização africana que deixam entrever superio­ que com as colônias inglesas. O cônsul 0'Sullivan Beare, que junta­ ridade técnica do negro sobre o indígena e até sobre o branco: o mente com Sir Roger Casement foi um dos melhores informantes de trabalho de metais e a criação de gado.60 Poderia acrescentar-se um Sir Harry Johnston no Brasil, recolheu estes dados interessantíssimos terceiro: a culinária, que no Brasil enriqueceu-se e refinou-se com a sobre o comércio entre a Bahia e as cidades africanas de Lagos e contribuição africana. Daomé nos princípios do século XIX. Comércio muito ativo e condu­ Schmidt observou em Mato Grosso que muitas das práticas liga­ zido por Fulos e Mandingos: em geral escravos.63 das à criação de gado eram de origem africana. Também os instru­ O estudo de Melville J. Herskovits sobre a África, baseado na mentos de ferreiro. Teriam sido transmitidas aos mestiços de índios idéia de áreas de cultura,64 permite-nos surpreender, nos seus altos e baixos, a cultura africana de que se contagiou e enriqueceu a brasilei­ eficiente domínio sobre a vida política; agricultura, criação de gado e ra, através de larga e variada importação de escravos e de freqüente comércio; notáveis trabalhos artísticos de pedra, ferro, terracota e te­ comunicação comercial com portos africanos. Por esse critério, celagem-, fetichismo e maometismo; h) área do deserto (berbere); t) deparamo-nos com as seguintes áreas principais: d) hotentote, carac­ área egípcia, cujas características dispensamo-nos de fixar por não terizada pela criação de gado, pelo uso de bois no transporte de interessarem diretamente à colonização do Brasil. Notaremos apenas fardos, pela utilização de suas peles no vestuário, pelo largo consumo o fato de terem uma e outra projetado larga influência sobre o conti­ de sua carne etc.; b) boximane - cultura inferior à primeira, pobre, nente africano.65 nômade, sem animal nenhum a serviço do homem a não ser o cachorro, Através dessa caracterização, vê-se que nenhuma área de cultura sem organização agrária ou pastoril, semelhante nesses traços à cultu­ negra, nem mesmo a boximane, se some ou achata em confronto ra indígena do Brasil, mas superior a esta em expressão artística, em com a dos povos indígenas do Brasil. Deve-se, porém, salientar que a pintura pelo menos, como o demonstram os exemplos destacados colonização africana do Brasil realizou-se principalmente com ele­ por Frobenius; c) a área de gado da África oriental (Banto), caracteri­ mentos bantos e sudaneses. Gente de áreas agrícolas e pastoris. Bem zada pela agricultura, com a indústria pastoril superimposta; tanto alimentada a leite, carne e vegetais.66 Os sudaneses da área ocidental, que a posse do gado numeroso e não de terras extensas é que dá ao senhores de valiosos elementos de cultura material e moral próprios, indivíduo prestígio social; trabalhos em ferro e madeira; poligamia; uns e outros adquiridos e assimilados dos maometanos. fetichismo; d) área do Congo (também de língua banto, ainda que na Aos sudaneses Nina Rodrigues dá a "proeminência intelectual e fronteira ocidental se falem ibo, fanti etc), estudada por Leo Frobenius social" entre os negros importados para o Brasil, parecendo-lhe filiarem- no seu trabalho Ursprung der Afrikanischen Kulturen, em que salien­ se à organização religiosa dos sudaneses maometanos, não só o mo­ ta as diferenças, entre o Congo e as áreas circunvizinhas, de vestuário, vimento de 1835 da Bahia mas outras revoltas de senzala. Atribui Nina tipo de habitação, tatuagem, instrumentos de música, uso da banana grande importância à influência exercida sobre os Iorubanos ou Nagô etc, traços a que Herskovits acrescenta outros: a economia agrícola, e sobre os Ewes ou Gege pelos Fulas e Haúça maometanos. Estes além da caça e da pesca; a domesticação da cabra, do porco, da parecem ter dirigido várias revoltas de escravos. Teriam sido uns como galinha e do cachorro; mercados em que se reúnem para a venda aristocratas das senzalas. Vinham eles dos reinos de Wurno, Sokotô, produtos agrícolas e de ferro, balaios etc; a posse da terra em co­ Gandê, de organização política já adiantada; de literatura religiosa já mum; fetichismo, de que é interessante expressão artística e escultura definida - havendo obras indígenas escritas em caracteres arábicos; em madeira, os artistas ocupando lugar de honra na comunidade; e) de arte forte, original, superior às anêmicas imitações portuguesas Horn Oriental - região difícil de caracterizar, representando já o con­ dos modelos mouriscos. Semelhantes escravos não podiam confor­ tato da cultura negra do Sul com a maometana do Norte; atividade mar-se ao papel de manés-gostosos dos portugueses; nem seria a pastoril; utilização de numerosos animais - vaca, cabra, carneiro, ca­ água benta do batismo cristão que, de repente, neles apagaria o fogo melo; organização social influenciada pelo islamismo;/) Sudão Orien­ maometano. tal - área ainda mais influenciada que a anterior pela religião maome­ Notou o abade Étienne que o islamismo ramificou-se no Brasil tana; língua árabe; abundância de animais a serviço do homem; em seita poderosa, florescendo no escuro das senzalas. Que da África atividade pastoril; grande uso do leite de camela; nomadismo; tendas; vieram mestres e pregadores a fim de ensinarem a ler no árabe os vestuário de panos semelhantes aos dos berberes; g) Sudão Ocidental livros do Alcorão. Que aqui funcionaram escolas e casas de oração - outra área de interpenetração de culturas, a negra propriamente dita 67 maometanas. e a maometana; região de grandes monarquias ou reinos - Daomei, O ambiente que precedeu o movimento de 1835 na Bahia foi de Benim, Axanti, Haúça, Bornu, loruba; sociedades secretas de largo e intenso ardor religioso entre os escravos. No beco de Mata-Porcos, na ladeira da Praça, no cruzeiro de São Francisco, à sombra das igrejas e maometanos da Bahia, que Manuel Querino descreve,71 celebrados na mosteiros católicos, dos nichos da Virgem Maria e de Santo Antônio mesma semana das festas que a Igreja dedica ao Espírito Santo. Nas de Lisboa, escravos lidos no Alcorão pregavam a religião do Profeta, festas de Anselmo, quando uma mulher termina a dança, passa o pano opondo-se à de Cristo, seguida pelos senhores brancos, no alto das amarelo a outra, que, de pescoço envolvido, continua a dançar. Em casas-grandes. Faziam propaganda contra a missa católica dizendo outras seitas africanas, temos visto panos vermelhos, com funções evi­ que era o mesmo que adorar pau; e aos rosários cristãos, com a cruz dentemente místicas. E entre seus adeptos como entre os devotos da de Nosso Senhor, opunham os seus, de cinqüenta centímetros de Igreja, é comum à mística das cores se associarem promessas a santos. comprimento, noventa e nove contas de madeira, terminando com Manuel Querino fala também de uma "tinta azul", importada da África, uma bola em vez da cruz.68 de que se serviam os males para seus feitiços ou mandingas: escreviam Forçosamente o catolicismo no Brasil haveria de impregnar-se des­ com essa tinta sinais cabalísticos sobre uma tábua preta. Depois lava­ sa influência maometana como se impregnou da animista e fetichista, vam a tábua, e davam a beber a água a quem quisesse fechar o corpo; dos indígenas e dos negros menos cultos. Encontramos traços de influên­ ou atiravam-na no caminho da pessoa que se pretendia enfeitiçar.72 cia maometana nos papéis com oração para livrar o corpo da morte e a Importaram-se até pouco tempo da África para o Brasil tecebas casa dos ladrões e dos malfeitores; papéis que ainda se costumam atar ou rosários; instrumentos sagrados como o heré ou chéchéré - choca­ ao pescoço das pessoas ou grudar às portas e janelas das casas, no lho de cobre que nos xangós ou toques alvoroça as filhas-de-santo; interior do Brasil. E é possível que certa predisposição de negros e ervas sagradas e para fins afrodisíacos ou de puro prazer.73 mestiços para o protestantismo, inimigo da missa, dos santos, dos rosá­ O catolicismo das casas-grandes aqui se enriqueceu de influências rios com a cruz, se explique pela persistência de remotos preconceitos muçulmanas contra as quais tão impotente foi o padre-capelão quan­ anticatólicos, de origem maometana. Melo Morais Filho descreve uma to o padre-mestre contra as corrupções do português pelos dialetos Festa dos Mortos, em Penedo (Alagoas),69 que para Nina Rodrigues é, indígenas e africanos. É ponto a que nos havemos de referir com mais sem dúvida nenhuma, muçulmana. Longas rezas e jejuns. Abstinência vagar, esse da interpenetração de influências de cultura no desenvol­ de bebidas alcoólicas. Relação da festa com as fases da Lua. Sacrifício vimento do catolicismo brasileiro e da língua nacional. A esta altura de carneiro. A vestimenta, umas longas túnicas alvas.70 apenas queremos salientar a atuação cultural desenvolvida na forma­ Em nossas observações de práticas e ritos de seitas africanas em ção brasileira pelo islamismo, trazido ao Brasil pelos escravos males. Pernambuco temos várias vezes notado o fato dos devotos tirarem as Os negros maometanos no Brasil não perderam, uma vez distri­ botinas ou os chinelos antes de participarem das cerimônias; e em um buídos pelas senzalas das casas-grandes coloniais, o contato com a terreiro que visitamos no Rio de Janeiro notamos a importância atribuí­ África. Não perderam-no aliás os negros fetichistas das áreas de cultu­ da ao fato do indivíduo estar ou não pisando sobre velha esteira esten­ ras africana mais adiantada. Os Nagô, por exemplo, do reino de Ioruba, dida no meio da sala. No centro da esteira, de pernas muçulmanamente deram-se ao luxo de importar, tanto quanto os maometanos, objetos cruzadas, o negro velho, pai-de-terreiro. Junto dele um alguidar com a de culto religioso e de uso pessoal. Noz-de-cola, cauris, pano e sa- comida sagrada - toda picada dentro de sangue de galinha preta. Nas bão-da-costa, azeite-de-dendê. festas das seitas africanas que conhecemos no Recife - na dirigida por Aliás é curioso notar que até fins do século XIX deu-se o repatria- Elói, rapaz quase branco, de seus dezessete anos, criado por negras mento de haúças e nagôs libertos da Bahia para a África; que geges velhas, e na de Anselmo, negro de seus cinqüenta anos, filho de africa­ libertos repatriados fundaram em Ardra uma cidade com o nome de nos, que vai, freqüentemente, à Bahia "no interesse da religião" - te­ Porto Seguro.74 Tão íntimas chegaram a ser as relações da Bahia com mos observado o fato de dançarem as mulheres com uma faixa de cidades africanas que chefes de casas comerciais de Salvador recebe­ pano amarelo em volta do pescoço. Exatamente como nos jejuns ram distinções honoríficas do governo de Daomé.75 Na Bahia, no Rio de Janeiro, no Recife, em Minas, o trajo africano, molecas para o serviço doméstico - as negras mais em contato com de influência maometana, permaneceu longo tempo entre os pretos. os brancos das casas-grandes; as mães dos mulatinhos criados em Principalmente entre as pretas doceiras; e entre as vendedeiras de casa - muitos deles futuros doutores, bacharéis e até padres. aluá. Algumas delas amantes de ricos negociantes portugueses e por Considerados esses pontos, que nos parecem de importância fun­ eles vestidas de seda e cetim. Cobertas de quimbembeques. De jóias damental para o estudo da influência africana sobre a cultura, o cará­ e cordões de ouro. Figas da Guiné contra o mau-olhado. Objetos de ter e a eugenia do brasileiro, sentimo-nos agora mais à vontade para culto fálico. Fieiras de miçangas. Colares de búzios. Argolões de ouro o esforço de procurar surpreender aspectos mais íntimos dessa influên­ atravessados nas orelhas. Ainda hoje se encontram pelas ruas da Bahia cia e desse contágio. negras de doce com os seus compridos xales de pano-da-costa. Por Mas logo de início uma discriminação se impõe: entre a influên­ cima das muitas saias de baixo, de linho alvo, a saia nobre, adamasca- cia pura do negro (que nos é quase impossível isolar) e a do negro na da, de cores vivas. Os peitos gordos, em pé, parecendo querer pular condição de escravo. "Em primeiro lugar o mau elemento da popula­ das rendas do cabeção. Tetéias. Figas. Pulseiras. Rodilha ou turbante ção não foi a raça negra, mas essa raça reduzida ao cativeiro", escre­ muçulmano. Chinelinha na ponta do pé. Estrelas marinhas de prata. veu Joaquim Nabuco em 1881.77 Admiráveis palavras para terem sido Braceletes de ouro. Nos princípios do século XIX Tollenare, em escritas na mesma época em que Oliveira Martins sentenciava em Pernambuco, admirou a beleza dessas negras quase rainhas. E Mrs. páginas gravíssimas: "Há decerto, e abundam os documentos que nos Graham surpreendeu-lhes a graça do talhe e o ritmo do andar. mostram no negro um tipo antropologicamente inferior, não raro pró­ São em geral pretalhonas de elevada estatura - essas negras que ximo do antropóide, e bem pouco digno do nome de homem".78 é costume chamar de baianas. Heráldicas. Aristocráticas. A estatura Sempre que consideramos a influência do negro sobre a vida elevada é aliás um característico sudanês, que convém salientar. íntima do brasileiro, é a ação do escravo, e não a do negro por si, que O sudanês é um dos povos mais altos do mundo. No Senegal apreciamos. Ruediger Bilden pretende explicar pela influência da es­ vêem-se negros tão altos que parecem estar andando de pernas de cravidão todos os traços de formação econômica e social do Brasil.79 pau; tão compridos dentro de seus camisões de menino dormir que Ao lado da monocultura, foi a força que mais afetou a nossa plástica de longe parecem almas do outro mundo. Magricelas, dentuços, an- social. Parece às vezes influência de raça o que é influência pura e gulosos, hieráticos. Mais para o sul da África, é que se encontra gente simples do escravo: do sistema social da escravidão. Da capacidade baixa e redonda. Mulheres culatronas. Redondezas afrodisíacas de imensa desse sistema para rebaixar moralmente senhores e escravos. corpo. Hotentotes e boximanes verdadeiramente grotescos com as O negro nos aparece no Brasil, através de toda nossa vida colonial e suas nádegas salientes (esteatopigia). da nossa primeira fase da vida independente, deformado pela escra­ Os característicos físicos dos negros importados para o Brasil, é vidão. Pela escravidão e pela monocultura de que foi o instrumento, interessante segui-los através da linguagem pitoresca do povo, nos o ponto de apoio firme, ao contrário do índio, sempre movediço. anúncios de compra e venda de escravos para o serviço doméstico ou Goldenweiser salienta quanto é absurdo julgar-se o negro, sua agrícola. Nesse sentido a coleção do Diário de Pernambuco - o diário capacidade de trabalho e sua inteligência, através do esforço por ele mais antigo da América chamada Latina, fundado em 1825 - apresen­ desenvolvido nas plantações da América sob o regime da escravidão. ta-se com particular interesse para o estudante de antropologia.76 Vê- O negro deve ser julgado pela atividade industrial por ele desenvolvi­ se através dos velhos anúncios de 1825, 1830, 35, 40, 50, a definida da no ambiente de sua própria cultura, com interesse e entusiasmo preferência pelos negros e negras altas e de formas atraentes - "boni­ pelo trabalho.80 tas de cara e de corpo" e "com todos os dentes da frente". O que Do mesmo modo, parece-nos absurdo julgar a moral do negro no mostra ter havido seleção eugênica e estética de pagens, mucamas e Brasil pela sua influência deletéria como escravo. Foi o erro grave que cometeu Nina Rodrigues ao estudar a influência do africano no através da escrava índia. O padre Manuel Fonseca, na sua Vida do Brasil: o de não ter reconhecido no negro a condição absorvente de padre Belchior de Pontes, é quem responsabiliza pela fácil deprava­ escravo. "Abstraindo pois", escreve ele às primeiras páginas do se.u ção dos meninos coloniais a mulher índia. E de uma zona quase sem trabalho sobre a raça negra na América portuguesa, "da condição de salpico nenhum de sangue negro é que escreveu no século XVIII o escravos em que os negros foram introduzidos no Brasil e apreciando bispo do Pará: "a miséria dos costumes neste paiz me faz lembrar o as suas qualidades de colonos como faríamos com os que de qual­ fim das cinco cidades por me parecer que moro nos subúrbios de quer outra procedência etc." Mas isto é impossível. Impossível a sepa­ Gomorra, mui próximo, e na visinhança de Sodoma".82 ração do negro, introduzido no Brasil, de sua condição de escravo. É absurdo responsabilizar-se o negro pelo que não foi obra sua Se há hábito que faça o monge é o do escravo; e o africano foi nem do índio mas do sistema social e econômico em que funciona­ muitas vezes obrigado a despir sua camisola de malê para vir de ram passiva e mecanicamente. Não há escravidão sem depravação tanga, nos negreiros imundos, da África para o Brasil. Para de tanga sexual. É da essência mesma do regime. Em primeiro lugar, o próprio ou calça de estopa tornar-se carregador de tigre. A escravidão interesse econômico favorece a depravação criando nos proprietários desenraizou o negro do seu meio social e de família, soltando-o entre de homens imoderado desejo de possuir o maior número possível de gente estranha e muitas vezes hostil. Dentro de tal ambiente, no con­ crias. Joaquim Nabuco colheu em um manifesto escravocrata de fa­ tato de forças tão dissolventes, seria absurdo esperar do escravo outro zendeiros as seguintes palavras, tão ricas de significação: "a parte comportamento senão o imoral, de que tanto o acusam. mais produtiva da propriedade escrava é o ventre gerador".83 Passa por ser defeito da raça africana, comunicado ao brasileiro, Fora assim em Portugal, de onde a instituição se comunicou ao o erotismo, a luxúria, a depravação sexual. Mas o que se tem apurado Brasil, já opulenta de vícios. "Os escravos mouros, e negros, além de entre os povos negros da África, como entre os primitivos em geral - outros trazidos de diversas regiões, aos quais se ministrava o batismo, já o salientamos em capítulo anterior - é maior moderação do apetite não recebiam depois a mínima educação religiosa", informa Alexan­ sexual que entre os europeus. É uma sexualidade, a dos negros afri­ dre Herculano. Entre esses escravos os senhores favoreciam a dis­ canos, que para excitar-se necessita de estímulos picantes. Danças solução para "aumentarem o número de crias como quem promove o afrodisíacas. Culto fálico. Orgias. Enquanto no civilizado o apetite acréscimo de um rebanho."84 Dentro de semelhante atmosfera moral, sexual de ordinário se excita sem grandes provocações. Sem esforço. criada pelo interesse econômico dos senhores, como esperar que a A idéia vulgar de que a raça negra é chegada, mais do que as outras, escravidão - fosse o escravo mouro, negro, índio ou malaio - atuasse a excessos sexuais, atribui-a Ernest Crawley ao fato do temperamento senão no sentido da dissolução, da libidinagem, da luxúria? O que se expansivo dos negros e do caráter orgiástico de suas festas criarem a queria era que os ventres das mulheres gerassem. Que as negras pro­ ilusão de desbragado erotismo. Fato que "indica justamente o contrá­ duzissem moleques. rio", demonstrando a necessidade, entre eles, de "excitação artificial". Joaquim Nabuco salientou "a ação de doenças africanas sobre a Havelock Ellis coloca a negra entre as mulheres antes frias do que constituição física do nosso povo."8S Teria sido esta uma das terríveis fogosas: "indiferentes aos refinamentos do amor". E, como Ploss, salien­ influências do contágio do Brasil com a África. Mas é preciso notar ta o fato dos órgãos sexuais entre os povos primitivos serem, muitas que o negro se sifilizou no Brasil. Um ou outro viria já contaminado. vezes, pouco desenvolvidos ("comparatively undeveloped").*1 A contaminação em massa verificou-se nas senzalas coloniais. A "raça Diz-se geralmente que a negra corrompeu a vida sexual da socie­ inferior", a que se atribui tudo que é handicap no brasileiro, adquiriu dade brasileira, iniciando precocemente no amor físico os filhos- da "superior" o grande mal venéreo que desde os primeiros tempos família. Mas essa corrupção não foi pela negra que se realizou, mas . de colonização nos degrada e diminui. Foram os senhores das casas- pela escrava. Onde não se realizou através da africana, realizou-se grandes que contaminaram de lues as negras das senzalas. Negras tantas vezes entregues virgens, ainda molecas de doze e treze anos, a para tratamento de males venéreos faz-se ainda hoje com uma insis­ rapazes brancos já podres da sífilis das cidades. Porque por muito tência escandalosa. Até em estampas devotas, com imagens do Meni- tempo dominou no Brasil a crença de que para o sifilítico não, há no-Deus cercado de anjinhos, anuncia-se que o elixir tal "cura sífilis"; melhor depurativo que uma negrinha virgem. O Dr. João Álvares de que se "o próprio Cristo viesse hoje ao mundo seria Ele que ergueria Azevedo Macedo Júnior registrou, em 1869, o estranho costume, vin­ a sua santa palavra para aconselhar o uso do Elixir [...] aos sofredores do, ao que parece, dos tempos coloniais: e de que ainda se encon­ de todas as moléstias que teem como origem a impureza do sangue". tram traços nas áreas pernambucana e fluminense dos velhos enge­ E os mestres da medicina brasileira recomendam aos discípulos que, nhos de açúcar. Segundo o Dr. Macedo seriam os blenorrágicos que o em clínica, pensem sempre sifiliticamente, isto é, considerando antes "bárbaro prejuízo" considerava curados se conseguissem intercurso de tudo a possível origem sifilítica do mal ou da doença.90 com mulher púbere: "a inoculaçâo deste vírus em uma mulher púbere A sífilis fez sempre o que quis no Brasil patriarcal. Matou, cegou, é o meio seguro de o extinguir em si".86 deformou à vontade. Fez abortar mulheres. Levou anjinhos para o céu. É igualmente de supor que muita mãe negra, ama-de-leite, tenha Uma serpente criada dentro de casa sem ninguém fazer caso de seu sido contaminada pelo menino de peito, alastrando-se também por veneno. O sangue envenenado rebentava em feridas. Coçavam-se en­ esse meio, da casa-grande à senzala, a mancha da sífilis. Já o Dr. José tão as perebas ou "cabidelas", tomavam-se garrafadas, chupava-se caju. de Góis e Siqueira, em estudo publicado em 1877, julgava que se A sifilização do Brasil - admitida sua origem extra-americana - vimos, deviam sujeitar a multas e indenizações aqueles que, sem escrúpulo, às primeiras páginas deste trabalho, que data dos princípios do século entregavam os filhos sifilíticos aos cuidados de amas em perfeita saú­ XVI. Mas no ambiente voluptuoso das casas-grandes, cheias de crias, de. "Sendo o aleitamento um dos meios comuns de transmissão, com­ negrinhas, molecas, mucamas, é que as doenças venéreas se propaga­ preende-se quantos resultados favoráveis à população produzirá uma ram mais à vontade, através da prostituição doméstica - sempre menos medida de natureza tão simples e de fácil exeqüibilidade." As negras higiênica que a dos bordéis. Em 1845 Lassance Cunha escrevia que o amas-de-leite "não poderiam se entregar ao aleitamento mercenário brasileiro não ligava importância à sífilis, doença "como que hereditá­ sem atestações ou exames de sanidade pelo médico competente": ria e tão comum, que o povo a não reputa um flagelo, nem tampouco mas também "teriam o direito de reclamação sobre os pais ou tutores a receia". Doença como que doméstica, de família, como o sarampo e dos meninos que lhes houvessem comunicado a moléstia sifilítica".87 os vermes. E insurgia-se contra a freqüência dos casamentos de sifilíti­ É claro que, sifilizadas - muitas vezes ainda impúberes - pelos cos. Casamentos sabidos por "nós outros médicos, que penetramos os brancos seus senhores, as escravas tornaram-se, por sua vez, depois segredos patológicos das famílias."91 Já Manuel Vieira da Silva, depois de mulheres feitas, grandes transmissoras de doenças venéreas entre barão de Alvaesar, nas suas Reflexões sobre algum dos meios propostos brancos e pretos. O que explica ter se alagado de gonorréia e de sífilis por mais conducentes para melhorar o clima da cidade do Rio de Ja­ a nossa sociedade do tempo da escravidão. neiro, observara, nos princípios do século XLX, o fato de as "moléstias O mesmo se verificou no sul dos Estados Unidos. Janson, no seu cutâneas" serem "reputadas de muito pouca monta nesta cidade, che­ livro The stranger in America,88 refere-se à verdadeira epidemia de gando o prejuízo público a afirmar que elas não devem curar-se, quan­ curandeiros de doenças venéreas nos Estados Unidos durante a pri­ do talvez que a disposição morbosa, em que aparecem os naturais meira metade do século XIX. Sinal de muita gente doente de gonorréia desta cidade, desde a sua infância, seja devida a semelhante despre­ 92 e de sífilis. E Odum atribui proporções alarmantes à sífilis nos Estados zo." Mas não foi Vieira da Silva o primeiro que teve o bom senso de escravocratas do sul.89 Entre nós, no litoral, isto é, na zona mais colo­ insinuar fosse efeito da sífilis e do desprezo pelo seu tratamento o que rida pela escravidão, sempre foi larga a extensão da sífilis. Continua a para muitos era efeito do clima ou do "calor". Antes dele, vamos en­ ser impressionante. A publicidade de remédios, elixires e garrafadas contrar Vilhena, professor régio de língua grega na Bahia nos fins do século XVIII, rebatendo a idéia de ser "o calor" a causa principal dos ócio - pela "riqueza adquirida sem trabalho", diz o referido Dr. Ber­ vícios e das doenças de sensualidade na colônia. "Meros subterfúgios", nardino; pela "ociosidade" ou pela "preguiça", diria Vilhena; por con­ escreveu Vilhena. A verdadeira causa lhe pareceu sempre "a desordenada seguinte, pela própria estrutura econômica do regime escravocrata. paixão sexual". E não só a das ruas, como a das casas-grandes, conta­ Se é certo, como querem antropólogos modernos, que "a irregu­ minadas pelas senzalas. Contaminadas pelos escravos. Estes é que, laridade de relações sexuais tem em geral manifestado a tendência para Vilhena, teriam transformado o clima saudável do Brasil em um para crescer com a civilização";96 que nos animais domesticados en­ clima mortífero: em um clima que "tendo sido admirável, por sadio, contra-se o sistema sexual mais desenvolvido que nos selvagens;97 pouco ou nada difere hoje do da Angola [...]."9J que entre os animais domésticos, amolecidos pela relativa falta de Em princípios do século XVIII já o Brasil é assinalado em livros luta e de competição, as glândulas reprodutoras absorvem maior quan­ estrangeiros como terra da sífilis por excelência. O autor da Histoire tidade de alimento;98 e, ainda, que o poder reprodutor no homem tem générale despirates escreve que "presque tous les brésiliens sont atteints aumentado com a civilização da mesma maneira que, nos animais, d'affections vénériennes.'m E Oscar da Silva Araújo traduz de John com a domesticação,99 - podemos nos arriscar a concluir que dentro Barrow, viajante inglês que no século XVIII andou pelo Brasil, pela de um regime como o da monocultura escravocrata, com uma maio­ ilha de Java e pela Cochinchina, curioso trecho sobre a sífilis no Rio ria que trabalha e uma minoria que só faz mandar, nesta, pelo relativo de Janeiro. Segundo esse viajante até nos mosteiros o mal-gálico cau­ ócio, se desenvolverá, necessariamente, mais do que naquela, a preo­ sava devastações. E a propósito de certa caixa com medicamento cupação, a mania, ou o refinamento erótico. É o exemplo da índia, mercurial, receitado à abadessa de um convento por um médico conhe­ onde o amor é tanto mais fina, artística e até perversamente cultivado cido de Barrow e aberta, indiscretamente, pelo portador - "galhofeiro quanto mais elevada é a casta e maior o seu lazer. frade de São Bento" - conta o viajante que o tal eclesiástico levando a Nada nos autoriza a concluir ter sido o negro quem trouxe para o caixa ao nariz teria dito com expressivo piscar de olhos: "Ah! Domine! Brasil a pegajenta luxúria em que nos sentimos todos prender, mal Mercurialia! Ista sunt mercurialia!" Acrescentando que a abadessa e atingida a adolescência. A precoce voluptuosidade, a fome de mulher 9 1 todas as damas do Rio "pronae sunt omnes at deditae veneri." ' que aos treze ou quatorze anos faz de todo brasileiro um don-juan Transcrevemos ainda de Silva Araújo estas palavras do Dr. Bernar- não vem do contágio ou do sangue da "raça inferior" mas do sistema dino Antônio Gomes, velho médico colonial, em resposta ao inquéri­ econômico e social da nossa formação; e um pouco, talvez, do clima; to do Senado da Câmara do Rio de Janeiro em 1789 para apurar quais do ar mole, grosso, morno, que cedo nos parece predispor aos cha­ as doenças endêmicas na cidade dos vice-reis: que para a prostituição megos do amor e ao mesmo tempo nos afastar de todo esforço persis­ e para o mal venéreo no Brasil concorria poderosamente "o exemplo tente. Impossível negar-se a ação do clima sobre a moral sexual das familiar de escravos, que quase não conhecem outra lei que os estí­ sociedades. Sem ser preponderante, dá entretanto para acentuar ou mulos da natureza." Devia o Dr. Bernardino ter salientado que essa enfraquecer tendências; endurecer ou amolecer traços sociais. A voz animalidade nos negros, essa falta de freio aos instintos, essa desbragada sabemos que se torna estridente e áspera nos climas quentes; en­ prostituição dentro de casa, animavam-na os senhores brancos. No quanto sob a influência da maior ou menor pressão atmosférica, do ar interesse da procriação à grande, uns; para satisfazerem caprichos menos ou mais seco, altera-se no homem a temperatura, a circulação, sensuais, outros. Não era o negro, portanto, o libertino: mas o escravo a eliminação de gás carbônico. Tudo isso com repercussão sobre o a serviço do interesse econômico e da ociosidade voluptuosa dos seu comportamento social; sobre sua eficiência econômica; sobre sua senhores. Não era a "raça inferior" a fonte de corrupção, mas o abuso moral sexual. Pode-se concluir, com Kelsey,100 que certos climas esti­ de uma raça por outra. Abuso que implicava conformar-se a servil mulam o homem a maiores esforços e conseqüentemente a maior com os apetites da todo-poderosa. E esses apetites estimulados pelo produtividade; outros, o enlanguescem. Para admiti-lo não necessita- mos de ir aos exageros de Huntington e dos outros fanáticos da "in­ florentino Felipe Cavalcanti, fundador de família que lhe conserva o fluência do clima". nome. O que não é de estranhar, dado o desenvolvimento da sodomia Nada, entretanto, de desviar-se para o fator clima a massa enorme na Itália da Renascença. Da Itália da Renascença é que se internacio­ de responsabilidades que, bem apuradas, tocam a forças sociais e nalizaram os principais termos para designar particularidades do pe­ econômicas dentro das quais se têm articulado culturas, organizações, cado nefando; e em processos e condenações espanholas dos séculos tipos de sociedade. É certo que, muitas vezes, em uma como aliança XVI e XVII Arlindo Camilo Monteiro encontrou numerosos casos de 102 secreta com as forças naturais. Outras vezes, porém, quase indepen­ sodomitas italianos. João Lúcio de Azevedo particulariza os caorsinos, dentes delas. dos quais chegou a haver numerosa colônia em Lisboa, e que teriam 103 O negro no Brasil, nas suas relações com a cultura e com o tipo sido propagadores do amor socrático entre os portugueses. de sociedade que aqui se vem desenvolvendo, deve ser considerado Mas entre os próprios portugueses e espanhóis, e entre os judeus principalmente sob o critério da história social e econômica. Da an­ e mouriscos da Península, lavrava intensamente essa forma de luxúria tropologia cultural. Daí ser impossível - insistamos neste ponto - separá- ao descobrir-se e colonizar-se o Brasil, figurando nos processos fra­ lo da condição degradante de escravos, dentro da qual abafaram-se des, clérigos, fidalgos, desembargadores, professores, escravos. Vá­ nele muitas das suas melhores tendências criadoras e normais para rios vieram degredados para o Brasil, entre outros certo Fruitoso acentuarem-se outras, artificiais e até mórbidas. Tornou-se, assim, o Alvarez, vigário de Matoim, que na Bahia confessou ao visitador do africano um decidido agente patogênico no seio da sociedade brasi­ Santo Ofício em 29 de julho de 1591: "de quinze annos a esta parte leira. Por "inferioridade de raça", gritam então os sociólogos arianistas. que ha que esta nesta capitanya da Baya de Todos os Sanctos, cometeo Mas contra seus gritos se levantam as evidências históricas - as cir­ a torpeza dos tocamentos desonestos com algumas quarenta pessoas 104 cunstâncias de cultura e principalmente econômicas - dentro das quais pouco mais ou menos, abraçando, beyjando L.]." se deu o contato do negro com o branco no Brasil. O negro foi Por "abraçar e beijar" - eufemismo que indica várias formas de patogênico, mas a serviço do branco; como parte irresponsável de priapismo - foram degredados de Portugal para o Brasil numerosos um sistema articulado por outros. indivíduos; e a esse elemento branco e não à colonização negra deve- Nas condições econômicas e sociais favoráveis ao masoquismo e se atribuir muito da lubricidade brasileira. Um elemento de coloniza­ ao sadismo criadas pela colonização portuguesa - colonização, a prin­ ção portuguesa do Brasil, aparentemente puro, mas na verdade corrup­ cípio, de homens quase sem mulher - e no sistema escravocrata de tor, foram os meninos órfãos trazidos pelos jesuítas para seus colégios. organização agrária do Brasil; na divisão da sociedade em senhores Informa Monteiro que nos "livros de nefando são citados com relativa todo-poderosos e em escravos passivos é que se devem procurar as freqüência."103 causas principais do abuso de negros por brancos, através de formas Entre os próprios homens de armas portugueses sabe-se que nos sadistas de amor que tanto se acentuaram entre nós; e em geral atri­ séculos XV e XVI, talvez pelo fato das longas travessias marítimas e buídas à luxúria africana. dos contatos com os países de vida voluptuosa do Oriente, desenvol­ Acresce que o culto de Vênus Urânia, trouxeram-no para o Brasil veram-se todas as formas de luxúria. Heróis por todos admirados, os primeiros colonos vindos da Europa - portugueses, espanhóis, deles facilmente se comunicaram às outras classes sociais os vícios e italianos, judeus. Aqui encontraram na moral sexual dos indígenas e os requintes eróticos. Lopo Vaz de Sampaio faz crer que o próprio nas condições, a princípio desvairadas, de colonização, o meio de Afonso de Albuquerque - o "Albuquerque terrível" - teria tido seus cultura favorável à expansão daquela forma de luxúria e de amor. requintes libidinosos.106 Europeus de nome ilustre figuram como sodomitas em processos da A freqüência da feitiçaria e da magia sexual entre nós é outro Visitação do Santo Ofício às partes do Brasil.101 Um deles, o fidalgo traço que passa por ser de origem exclusivamente africana. Entretanto, o primeiro volume de documentos relativos às atividades do Santo colonos portugueses. A feitiçaria de direta origem africana aqui de­ Ofício no Brasil registra vários casos de bruxas portuguesas. Suas senvolveu-se em lastro europeu. Sobre abusões e crenças medievais. práticas podem ter recebido influência africana: em essência, porém, Como em Portugal a bruxaria, a feitiçaria no Brasil, depois de foram expressões do satanismo europeu que ainda hoje se encontra dominada pelo negro, continuou a girar em torno do motivo amoro­ entre nós, misturado à feitiçaria africana ou indígena. Antônia Fernan­ so, de interesse de geração e de fecundidade; a proteger a vida da des, de alcunha Nóbrega, dizia-se aliada do Diabo: as consultas, quem mulher grávida e da criança ameaçada por tantos males - febres, respondia por ela era "certa cousa que falava, guardada num vidro." câimbra de sangue, mordedura de cobra, espinhela caída, mau-olha- Magia medieval do mais puro sabor europeu. Outra portuguesa, Isa­ do. A mulher grávida passou a ser profilaticamente resguardada des­ bel Rodrigues, ou Boca-Torta, fornecia pós miríficos e ensinava ora­ ses e de outros males por uma série de práticas em que às influências ções fortes. A mais célebre de todas, Maria Gonçalvez, de alcunha africanas misturaram-se, muitas vezes descaracterizados, traços de litur­ Arde-lhe-o-Rabo, ostentava as maiores intimidades com o Diabo. En­ gia católica e sobrevivências de rituais indígenas. terrando e desenterrando botijas, os bruxedos de Arde-lhe-o-Rabo Vindas de Portugal, desabrocharam aqui várias crenças e magias ligavam-se quase todos a problemas de impotência e esterilidade. A sexuais: a de que a raiz de mandrágora atrai a fecundidade e desfaz clientela dessas feiticeiras coloniais parece que era quase exclusiva­ malefícios contra os lares e a propagação das famílias; o hábito das mente de amorosos, infelizes ou insaciáveis. mulheres trazerem ao pescoço durante a gravidez "pedras de ara" Sabe-se aliás que em Portugal a bruxaria chegou a envolver a dentro de um saquinho; o cuidado de não passarem, quando pre- vida de pessoas as mais cultas e ilustres. Júlio Dantas retrata o próprio nhes, debaixo de escadas, sob o risco do filho não crescer; o hábito D. Nuno da Cunha, inquisidor-mor do reino no tempo de D. João V, de cingirem-se, quando aperreadas pelas dores do parto, com o cor­ todo embrulhado na púrpura de cardeal - "espécie de bicho-da-seda", dão de São Francisco; o de fazerem promessas à Nossa Senhora do diz o cronista - a tremer com medo de bruxas e feitiços. E graves Parto, do Bom Sucesso, do Ó, da Conceição, das Dores, no sentido de doutores, espíritos adiantados da época como Curvo Semedo, reco­ um parto menos doloroso ou de um filho são ou bonito. Atendido o mendavam aos seus doentes, contra a infidelidade conjugai, "certa pedido por Nossa Senhora, pagava-se a promessa, consistindo muitas bruxaria feita às palmilhas do sapato da mulher e do marido." "Boticá­ vezes em tomar a criança o nome de Maria; de onde as muitas Marias rios astutos, de capas negras pingadas e grandes fivelas de prata nos no Brasil: Maria das Dores, dos Anjos, da Conceição, de Lurdes, das sapatos, faziam fortuna vendendo a erva 'pombinha' defumada com Graças.108 Outras vezes, em sair a criança vestida de anjo ou de santo dentes de defunto lançados sobre tijolos em brasa - estranho feitiço em alguma procissão; em estudar para padre; em tornar-se freira; em que despertava para o amor o organismo decrépito dos velhos e a deixar crescer o cabelo até criar longos cachos que servissem para frigidez desdenhosa dos moços."107 ofertar à imagem do Senhor Bom Jesus dos Passos; em vestir-se até a O amor foi grande motivo em torno do qual girou a bruxaria em idade de doze ou treze anos de branco e azul, ou só de branco, em Portugal. Compreende-se aliás a voga dos feiticeiros, das bruxas, das homenagem à Virgem Maria.109 benzedeiras, dos especialistas em sortilégios afrodisíacos, no Portugal Deve-se ainda registrar o costume dos ex-votos de mulheres grá­ desfalcado de gente que, em um extraordinário esforço de virilidade, vidas: ofertas de meninos de cera ou madeira às santas e Nossas Se­ pôde ainda colonizar o Brasil. A bruxaria foi um dos estímulos que nhoras conhecidas como protetoras da maternidade. Algumas capelas concorreram, a seu modo, para a superexcitação sexual de que resul­ de engenho guardam numerosas coleções de ex-votos de mulheres. tou preencherem-se legítima ou ilegitimamente, na escassa popula­ Mas o grosso das crenças e práticas da magia sexual que se de­ ção portuguesa, os claros enormes abertos pelas guerras e pelas pes­ senvolveram no Brasil foram coloridas pelo intenso misticismo do tes. Da crença nos sortilégios já chegavam impregnados ao Brasil os negro; algumas trazidas por ele da África, outras africanas apenas na técnica, servindo-se de bichos e ervas indígenas. Nenhuma mais ca­ filtro amoroso como não se pode imaginar outro mais brasileiro: café racterística que a feitiçaria do sapo para apressar a realização de casa­ bem forte, muito açúcar, sangue de mulata. Há outra técnica: a de mentos demorados. O sapo tornou-se também, na magia sexual afro- coar-se o café na fralda de uma camisa com que tenha dormido a brasileira, o protetor da mulher infiel que, para enganar o marido, mulher pelo menos duas noites consecutivas. Este café deve ser bebi­ basta tomar uma agulha enfiada em retrós verde, fazer com ela uma do pelo homem duas vezes, uma no almoço, outra no jantar.113 Aliás a cruz no rosto do indivíduo adormecido e coser depois os olhos do fralda suja de camisa de mulher entra na composição de muita man­ sapo. Por outro lado, para conservar o amante sob seu jugo precisa dinga de amor, como entram outras coisas nojentas. Pêlos de sovaco apenas a mulher de viver com um sapo debaixo da cama, dentro de ou das partes genitais. Suor. Lágrimas. Saliva. Sangue. Aparas das unhas. uma panela. Neste caso, um sapo vivo e alimentado a leite de vaca. Esperma. Alfredo de Carvalho menciona ainda.- "o muco catamenial, Ainda se emprega no Brasil o sapo na magia sexual ou no feitiço, excreto das glândulas de Bortholin e até mesmo dejeções". De posse cosendo-se-lhe a boca depois de cheia de restos de comida deixada de qualquer destas substâncias, o catimbozeiro, mandingueiro ou ma- pela vítima. Outros animais ligados à magia sexual afro-brasileira são cumbeiro diz que "abranda o coração" das pessoas mais esquivas.114 o morcego, a cobra, a coruja, a galinha, o pombo, o coelho, o cagado. Há catimbozeiros que confeccionam bonecos de cera ou de pano. Ervas, várias - umas indígenas, outras trazidas da África pelos negros. São os feitiços mais higiênicos do ponto de vista do enfeitiçado. Sobre Algumas tão violentas, diz Manuel Querino, que produzem tonturas, esses calungas operam os mestres-carlos tudo quanto desejam que se apenas trituradas com as mãos. Outras que se bebem, se mascam, ou reflita sobre o indivíduo a enfeitiçar; questão de rezarem forte. O mais se fumam, tragando, como a maconha. Até o caranguejo é instrumen­ é só brincar com o boneco: apertá-lo, machucá-lo, estender-lhe os to de magia sexual: preparado com três ou sete pimentas-da-costa e braços, escancarar-lhe as pernas. Que tudo se reflete na pessoa distante. atirado ao solo produz desarranjos no lar doméstico.110 Há outro feitiço que consiste em cortar à tesoura cruzes na cami­ Foi a perícia no preparo de feitiços sexuais e afrodisíacos que sa do homem, bem no meio do peito. Para isso roubam-se peças da deu tanto prestígio a escravos macumbeiros junto a senhores brancos trouxa de roupa lavada. já velhos e gastos. Agrippino Grieco recolheu no Rio de Janeiro, na Não só para fins amorosos, como em torno ao recém-nascido, região das velhas fazendas de café, a tradição de senhores de 70, 80 reuniram-se, no Brasil, as duas correntes místicas: a portuguesa, de anos, que estimulados pelos afrodisíacos dos negros macumbeiros, uma lado; a africana ou a ameríndia do outro. Aquela representada vivam rodeados de negrinhas ainda impúberes; e estas a lhes propor­ pelo pai ou pelo pai e mãe brancos; esta, pela mãe índia ou negra, cionarem as últimas sensações de homem. De um barão do império pela ama-de-leite, pela mãe de criação, pela mãe-preta, pela escrava conta Grieco que morreu já octogenário, a acariciar mucamas púberes africana. Os cuidados profiláticos de mãe e ama confundiram-se sob a e impúberes. Era "muito camarada das bruxas e dos curandeiros que mesma onda de ternura maternal. Quer os cuidados de higiene do o aprovisionavam de afrodisíacos."111 Não teve outra velhice, em Portu­ corpo, quer os espirituais contra os quebrantos e o mau-olhado. gal, o marquês de Marialva: Beckford diz que ele se fazia rodear de Na proteção mística do recém-nascido salientou-se porém a ação anjinhos, isto é, de crianças vestidas de anjos; e que essas crianças da ama africana. Tradições portuguesas trazidas pelos colonos brancos prodigalizavam-lhe toda espécie de carícias. - a do cordão umbilical ser atirado ao fogo ou ao rio, sob pena de o Não devemos esquecer o papel importante que chegou a repre­ comerem os ratos, dando a criança para ladra; a da criança trazer ao sentar o café na magia sexual afro-brasileira. Há mesmo no Brasil a pescoço o vintém ou a chave que cura os sapinhos do leite; a de não expressão "café mandingueiro". Trata-se de um café com mandinga se apagar luz enquanto o menino não for batizado para não vir a dentro: muito açúcar e "alguns coágulos de fluxo catamenial da pró­ feiticeira, a bruxa ou o lobisomem chupar-lhe o sangue no escuro; a pria enfeitiçante."112 Antes filtro amoroso do que mandinga. Mas um de se darem nomes de santos às crianças pois, do contrário, se arriscam a virar lobisomens - foram aqui modificadas ou enriquecidas pela Mas seu prestígio empalideceu diante de fantasmas mais terríveis. influência da escrava africana. Da ama do menino. Da negra velha. De novos medos e mal-assombrados. Também as canções de berço portuguesas, modificou-as a boca Novos medos trazidos da África, ou assimilados dos índios pelos da ama negra, alterando nelas palavras; adaptando-as às condições colonos brancos e pelos negros, juntaram-se aos portugueses, da coca, regionais; ligando-as às crenças dos índios e às suas. Assim a velha do papão, do lobisomem; ao dos olharapos, da cocaloba, da farranca, canção "escuta, escuta, menino" aqui amoleceu-se em "durma, dur­ da Maria-da-Manta, do trangomango, do homem-das-sete-dentaduras, ma, meufilhinho", passando Belém de "fonte" portuguesa, a "riacho" das almas penadas. E o menino brasileiro dos tempos coloniais viu-se brasileiro. Riacho de engenho. Riacho com mãe-d'água dentro, em rodeado de maiores e mais terríveis mal-assombrados que todos os vez de moura-encantada. O riacho onde se lava o timãozinho de outros meninos do mundo. Nas praias o homem-marinho - terrível nenê. E o mato ficou povoado por "um bicho chamado carrapatu". E devorador de dedos, nariz e piroca de gente.118 No mato, o saci-pererê, em vez do papão ou da coca, começaram a rondar o telhado ou o o caipora, o homem de pés às avessas, o boitatá. Por toda parte, a copiar das casas-grandes, atrás dos meninos malcriados que gritavam cabra-cabriola, a mula-sem-cabeça, o tutu-marambá, o negro do surrão, de noite nas redes ou dos trelosos que iam se lambuzar da geléia de o tatu-gambeta, o xibamba, o mão-de-cabelo. Nos riachos e lagoas, a araçá guardada na despensa - cabras-cabriolas, o boitatá, negros de mãe-d'água. À beira dos rios, o sapo-cururu. De noite, as almas pena­ surrão, negros velhos, papa-figos. das. Nunca faltavam: vinham lambuzar de "mingau das almas" o rosto Deixou-se de ninar o menino cantando como em Portugal: dos meninos. Por isso menino nenhum devia deixar de lavar o rosto ou de tomar banho logo de manhã cedo. Um outro grande perigo: Vai-te, Coca, vai-te, Coca, andar o menino na rua fora de horas. Fantasmas vestidos de branco, Para cima do telhado: que aumentavam de tamanho - os "cresce-e-míngua" - eram muito Deixa dormir o menino capazes de aparecer ao atrevido. Ou então redes mal-assombradas de Um soninho descansado}1'' bexiguentos. E havia ainda o papa-figo - homem que comia fígado de menino. Ainda hoje se afirma em Pernambuco que certo ricaço do para se cantar de preferência: Recife, não podendo se alimentar senão de fígado de criança, tinha seus negros por toda parte pegando menino em um saco de estopa. E Olha o negro velho o Quibungo? Este, então, veio inteiro da África para o Brasil. Um Em cima do telhado. bicho horrível. Metade gente, metade animal. Uma cabeça enorme. E Ele está dizendo Quero menino assado.116 no meio das costas um buraco que se abre quando ele abaixa a cabe­ ça. Come os meninos abaixando a cabeça: o buraco do meio das costas se abre e a criança escorrega por ele. E adeus! está no papo do Não que a coca ou cuca tenha desaparecido de todo das canções Quibungo. O Quibungo se aproximava das casas onde havia menino de acalanto do Brasil. Amadeu Amaral (pai) ainda recolheu esta malcriado, dizendo: quadrinha - evidentemente no Sul:

Durma, meu benzinho, De quem é esta casa, Que a cuca j'ei vem; Anê, Papai foi na roça, Como gérê, comogérê, Mamãe logo vem?1' Como erá?119 O Cabeleira, o bandido dos canaviais de Pernambuco, que foi Canta, canta, meu surrão, afinal enforcado, é outro que tornou-se quase um fantasma. Quase Senão te meto este bordão. um Quibungo. Não houve menino pernambucano que do fim da era colonial até os princípios do século XX - o século da luz elétrica, que E o surrão cantava em uma vozinha doce: acabou com tanto mal-assombrado bom, para só deixar os banais, das sessões de espiritismo - não tremesse de horror ao ouvir o nome de Neste surrão me meteram, Cabeleira. A negra velha só tinha de gritar para o menino chorão: Neste surrão hei de morrer, "Cabeleira vem aí!" E o menino se calava logo, engolindo o choro, Por causa de uns brincos de ouro entre soluços: Que no riacho eu deixei.

Fecha porta, Rosa, Todo o mundo gostava da voz do surrão; e dava dinheiro ao Cabeleira eh-vem negro velho. Um dia chegou o negro à casa da madrasta. Convida­ Pegando mulheres, ram o velho para descansar. Para comer e beber; e como já era Meninos também! tarde, para dormir. Parece que as irmãs da menina tinham desconfiado da voz bonita do surrão. De noite, quando o negro pegou no sono, Em zonas rurais do Sul perdura a superstição do turco comer as moças foram, abriram o surrão, tiraram a menina. Estava se aca­ menino,120 superstição que não se encontra no Norte. A do negro do bando de fraca. Coitadinha, o negro só lhe tinha dado de comer sola surrão é que não perdeu de todo o seu antigo prestígio. Ainda há de sapato velho. Em lugar da menina, as moças encheram o surrão meninos que se arrepiam ouvindo cantar a história: de cocô. No dia seguinte o negro levantou-se, tomou café e partiu - sem dar pela coisa. Quando na casa próxima o negro mandou o surrão cantar - o surrão calado. O negro pensou que era a menina Canta, canta, meu surrão, dormindo. Meteu o pau no surrão. Mas este se arrebentou todo, Senão te meto este bordão. emporcalhando o velho. As histórias portuguesas sofreram no Brasil consideráveis modifi­ E não querem saber de encontrar negro velho de surrão. Lem­ cações na boca das negras velhas ou amas-de-leite. Foram as negras bram-se logo da menina que tinha uns brincos de ouro. Era uma que se tornaram entre nós as grandes contadoras de histórias. Os menina que tinha uma madrasta muito malvada (as madrastas são africanos, lembra A. B. Ellis, possuem os seus contistas. "Alguns indi­ sempre muito malvadas nas histórias brasileiras e portuguesas: haja víduos fazem profissão de contar histórias e andam de lugar em lugar vista a do figo da figueira). Um dia a menina foi tomar banho no rio; recitando contos."121 Há o akpalô fazedor de alô ou conto; e há o e como de costume tirou os brincos de ouro e botou em cima de uma arokin, que é o narrador das crônicas do passado. O akpalô é uma pedra. Chegando em casa deu por falta dos brincos: "- Valha-me instituição africana que floresceu no Brasil na pessoa de negras velhas Nossa Senhora, onde estão meus brinquinhos! Meus brinquinhos do que só faziam contar histórias. Negras que andavam de engenho em coração!... E minha madrasta! Minha madrasta me mata por causa engenho contando histórias às outras pretas, amas dos meninos bran­ desses brincos". E voltou ao rio para procurar os brincos. Quando cos. José Lins do Rego, no seu Menino de engenho,122 fala das velhas chegou ao rio - quem havia de encontrar? Um negro velho e feio que estranhas que apareciam pelos bangüês da Paraíba: contavam histórias agarrou a menina e botou dentro do seu surrão. Saiu o velho com a e iam-se embora. Viviam disso. Exatamente a função e o gênero de menina e onde chegava botava o surrão no chão e dizia: vida do akpalô. Por intermédio dessas negras velhas e das amas de menino, histó­ Brasil, ao contato do senhor com o escravo, um amolecimento de rias africanas, principalmente de bichos - bichos confraternizando resultados às vezes delicioso para o ouvido. Efeitos semelhantes aos com as pessoas, falando como gente, casando-se, banqueteando-se - que sofreram o inglês e o francês em outras partes da América, sob a acrescentaram-se às portuguesas, de Trancoso, contadas aos netinhos mesma influência do africano e do clima quente. Mas principalmente pelos avós coloniais - quase todas histórias de madrastas, de prínci­ do africano. Nas Antilhas e na Louisiana "bonnes vieilles négresses" pes, gigantes, princesas, pequenos-polegares, mouras-encantadas, adocicaram o francês, tirando-lhe o fanhoso antipático, os rr zanga­ mouras-tortas. dos; no sul dos Estados Unidos as "old mammies" deram ao ranger A linguagem infantil também aqui se amoleceu ao contato da das sílabas ásperas do inglês uma brandura oleosa. Nas ruas de Nova criança com a ama negra. Algumas palavras, ainda hoje duras ou Orléans, nos seus velhos restaurantes, ainda se ouvem anunciar no­ acres quando pronunciadas pelos portugueses, se amaciaram no Bra­ mes de bolos, de doces, de comidas em um francês mais lírico que o sil por influência da boca africana. Da boca africana aliada ao clima - da França: "pralines de pacanes", "bon café tout chaud", "Manches outro corruptor das línguas européias, na fervura por que passaram tablettes à lafleurd'orangef. Influência das "bonnes vieilles négresses". na América tropical e subtropical. Caldcleugh, que esteve no Brasil em princípios do século XIX, O processo de reduplicação da sílaba tônica, tão das línguas sel­ deliciou-se com o português colonial. Um português gordo, descan­ vagens e da linguagem das crianças, atuou sobre várias palavras dan­ sado. Distinguiu-o logo do da metrópole. A pronúncia dos brasileiros do ao nosso vocabulário infantil um especial encanto. O "dói" dos pareceu-lhe menos nasal do que a dos portugueses; e menos judia grandes tornou-se o "dodói" dos meninos. Palavra muito mais dengosa. ("notso Jewish") na maneira de pronunciar o 5; "and on the whole is a A ama negra fez muitas vezes com as palavras o mesmo que com more agreeable language than in the mouth of a native."110 Fato que a comida: machucou-as, tirou-lhes as espinhas, os ossos, as durezas, Caldcleugh atribuiu exclusivamente ao clima. Ao calor dos trópicos. só deixando para a boca do menino branco as sílabas moles. Daí esse O clima lhe pareceu agir sobre a fala, como sobre a atividade mental português de menino que no norte do Brasil, principalmente, é uma dos brasileiros, no sentido de uma grande lassidão. Curioso, porém, das falas mais doces deste mundo. Sem rr nem 55; as sílabas finais que, tão atento à influência dos judeus sobre a pronúncia reinol do s, moles; palavras que só faltam desmanchar-se na boca da gente. A Caldcleugh não tivesse reparado na influência dos negros sobre o linguagem infantil brasileira, e mesmo a portuguesa, tem um sabor português no Brasil. Quando os negros foram maiores inimigos que o quase africano: cacá,pipi, bumbum, tentem, neném, tatá, papá, papato, clima dos 55 e dos rr, maiores corruptos da língua no sentido da lili, mimi, au-au, bambanho, cocô, dindinho, bimbinha. Amolecimento lassidão e do langor. Mães negras e mucamas, aliadas aos meninos, às que se deu em grande parte pela ação da ama negra junto à criança; meninas, às moças brancas das casas-grandes, criaram um português do escravo preto junto ao filho do senhor branco. Os nomes próprios diverso do hirto e gramatical que os jesuítas tentaram ensinar aos foram dos que mais se amaciaram, perdendo a solenidade, dissolven- meninos índios e semibrancos, alunos de seus colégios; do português do-se deliciosamente na boca dos escravos. As Antônias ficaram reinol que os padres tiveram o sonho vão de conservar no Brasil. Dondons, Toninhas, Totonhas; as Teresas, Tetés; os Manuéis, Nezinhos, Depois deles, mas sem a mesma rigidez, padres-mestres e capelães de Mandus, Manes; os Franciscos, Chico, Chiquinho, Chico; os Pedros, engenho procuraram contrariar a influência dos escravos, opondo-lhe Pepés; os Albertos, Bebetos, Betinhos. Isto sem falarmos das laias, um português quase de estufa. Mas quase em vão. dos Ioiôs, das Sinhás, dos Manus, Calus, Bembens, Dedés, Marocas, Embora tenha fracassado o esforço dos jesuítas, contribuiu entre­ Nocas, Nonocas, Gegês. tanto para a disparidade, a que já aludimos, entre a língua escrita e a E não só a língua infantil se abrandou desse jeito mas a lingua­ falada do Brasil: a escrita recusando-se, com escrúpulos de donzelona, gem em geral, a fala séria, solene, da gente grande, toda ela sofreu no ao mais leve contato com a falada; com a do povo; com a de uso corrente. Mesmo a língua falada conservou-se por algum tempo dividida ze, jiló, mucama, quindim, catinga, mugunzá, malungo, birimbau, em duas: uma, das casas-grandes; outra, das senzalas. Mas a aliança da tanga, cachimbo, candomblé? Ou acha mais jeito em dizer "mau chei­ ama negra com o menino branco, da mucama com a sinhá-moça, do ro" do que "catinga"? Ou "garoto" de preferência a "moleque"? Ou sinhozinho com o moleque acabou com essa dualidade. Não foi pos­ "trapo" em vez de "molambo"? São palavras que correspondem me­ sível separar a cacos de vidro de preconceitos puristas forças que tão lhor que as portuguesas à nossa experiência, ao nosso paladar, aos freqüente e intimamente confraternizavam. No ambiente relasso da nossos sentidos, às nossas emoções. escravidão brasileira, as línguas africanas, sem motivos para subsisti­ Os padres-mestres e os capelães de engenho, que, depois da rem à parte, em oposição à dos brancos, dissolveram-se nela, enrique- saída dos jesuítas, tornaram-se os principais responsáveis pela educa­ cendo-a de expressivos modos de dizer; de toda uma série de palavras ção dos meninos brasileiros, tentaram reagir contra a onda absorvente deliciosas de pitoresco; agrestes e novas no seu sabor; muitas vezes, da influência negra, subindo das senzalas às casas-grandes; e agindo substituindo com vantagem vocábulos portugueses, como que gastos mais poderosamente sobre a língua dos sinhô-moços e das sinhazinhas e puídos pelo uso. João Ribeiro, mestre em assuntos de português e de do que eles, padres-mestres, com todo o seu latim e com toda a sua história da língua nacional, que o diga com voz autorizada: "Número gramática; com todo o prestígio das suas varas de marmelo e das suas copioso de vocábulos africanos penetraram na língua portuguesa, es­ palmatórias de sicupira. Frei Miguel do Sacramento Lopes Gama era pecialmente no domínio do Brasil, por efeito das relações estabelecidas um dos que se indignavam quando ouvia "meninas galantes" dizerem com as raças negras". E não apenas vocábulos soltos, desconjuntados, "manda", "busca", "come" "mi espere", "ti faço", "mi deixe", "muler", se acrescentaram à língua do colonizador europeu: verificaram-se alte­ "coler", "le pediu", "cadê ele", "vigie", "espie".125 E dissesse algum rações "bastante profundas não só no que diz respeito ao vocabulário, menino em sua presença um "pru mode" ou um "oxente"; veria o que mas até ao sistema gramatical do idioma".124 É certo que as diferenças era beliscão de frade zangado. a separarem cada vez mais o português do Brasil do de Portugal não Para frei Miguel - padre-mestre às direitas - era com os portugue­ resultaram todas da influência africana; também da indígena; "dos ci­ ses ilustres e polidos que devíamos aprender a falar, e não "com tia ganos"; "dos espanhóis"; e João Ribeiro acrescenta: "do clima, de no­ Rosa" nem "mãe Benta", nem com nenhuma preta da cozinha ou da vas necessidades, novas perspectivas, novas cousas e novas indústrias". senzala. Meninos e moças deviam fechar os ouvidos aos "oxentes" e Mas nenhuma influência foi maior que a do negro. As palavras africa­ aos "mi deixe" e aprender o português correto, do reino. Nada de nas hoje do nosso uso diário, palavras em que não sentimos o menor expressões bundas nem caçanjes. sabor arrevesado do exótico, são inúmeras. Os menos puristas, escre­ Sucedeu, porém, que a língua portuguesa nem se entregou de vendo ou falando em público, já não têm, como outrora, vergonha de todo à corrupção das senzalas, no sentido de maior espontaneidade empregá-las. É como se nos tivessem vindo de Portugal, dentro dos de expressão, nem se conservou acalafetada nas salas de aula das dicionários e dos clássicos; com genealogia latina, árabe ou grega; casas-grandes sob o olhar duro dos padres-mestres. A nossa língua com pai ou mãe ilustre. São entretanto vocábulos órfãos, sem pai nem nacional resulta da interpenetração das duas tendências. Devemo-la mãe definida, que adotamos de dialetos negros sem história nem lite­ tanto às mães Bentas e às tias Rosas como aos padres Gamas e aos ratura; que deixamos que subissem, com os moleques e as negras, das padres Pereiras. O português do Brasil, ligando as casas-grandes às senzalas às casas-grandes. Que brasileiro - pelo menos do Norte - senzalas, os escravos aos senhores, as mucamas aos sinhô-moços, en­ sente exotismo nenhum em palavras como caçamba, canga, dengo, riqueceu-se de uma variedade de antagonismos que falta ao português cafuné, lubambo, mulambo, caçula, quitute, mandinga, moleque, ca- da Europa. Um exemplo, e dos mais expressivos, que nos ocorre, é o mundongo, munganga, cafajeste, quibebe, quengo, batuque, banzo, caso dos pronomes. Temos no Brasil dois modos de colocar prono­ mucambo, bangüê, bozô, mocotó, bunda, zumbi, vatapá, caruru, ban­ mes, enquanto o português só admite um - o "modo duro e imperati- vo":126 diga-me, faça-me, espere-me. Sem desprezarmos o modo portu­ dizermos "me diga", e não apenas "diga-me", é dos mais significativos. guês, criamos um novo, inteiramente nosso, caracteristicamente brasi­ Como é o de empregarmos palavras africanas com a naturalidade com leiro: me diga, me faça, me espere. Modo bom, doce, de pedido. E que empregamos as portuguesas. Sem aspas nem grifo. servimo-nos dos dois. Ora, esses dois modos antagônicos de expres­ À figura boa da ama negra que, nos tempos patriarcais, criava o são, conforme necessidade de mando ou cerimônia, por um lado, e de menino lhe dando de mamar, que lhe embalava a rede ou o berço, que intimidade ou de súplica, por outro, parecem-nos bem típicos das lhe ensinava as primeiras palavras de português errado, o primeiro relações psicológicas que se desenvolveram através da nossa forma­ "padre-nosso", a primeira "ave-maria" a", o primeiro "vote!" ou "oxente", ção patriarcal entre os senhores e os escravos: entre as sinhá-moças e que lhe dava na boca o primeiro pirão com carne e molho de fer­ as mucamas; entre os brancos e os pretos. "Faça-me", é o senhor falan­ rugem", ela própria amolegando a comida - outros vultos de negros se do; o pai; o patriarca; "me dê", é o escravo, a mulher, o filho, a mucama. sucediam na vida do brasileiro de outrora. O vulto do moleque compa­ Parece-nos justo atribuir em grande parte aos escravos, aliados aos nheiro de brinquedo. O do negro velho, contador de histórias. O da meninos das casas-grandes, o modo brasileiro de colocar pronomes. mucama. O da cozinheira. Toda uma série de contatos diversos impor­ Foi a maneira filial, e meio dengosa, que eles acharam de se dirigir ao tando em novas relações com o meio, com a vida, com o mundo. paterfamílias. Por outro lado o modo português adquiriu na boca dos Importando em experiências que se realizavam através do escravo ou à senhores certo ranço de ênfase hoje antipático: "faça-me isso"; "dê-me sua sombra de guia, de cúmplice, de curandeiro ou de corruptor. aquilo". O mestre ilustre que é João Ribeiro permita-nos acrescentar Ao moleque companheiro de brinquedo do menino branco e seu esta tentativa de interpretação histórico-cultural ao seu exame psicoló­ leva-pancadas, já nos referimos em capítulo anterior. Suas funções fo­ gico da questão dos pronomes; e ao mesmo tempo fazermos nossas ram as de prestadio mané-gostoso, manejado à vontade por nhonhô; estas suas palavras: "Que interesse temos, pois, em reduzir duas fór­ apertado, maltratado e judiado como se fosse todo de pó de serra por mulas a uma única e em comprimir dois sentimentos diversos numa só dentro; de pó de serra e de pano como os judas de sábado de aleluia, 127 expressão?" Interesse nenhum. A força, ou antes, a potencialidade e não de carne como os meninos brancos. "Logo que a criança deixa o da cultura brasileira parece-nos residir toda na riqueza dos antagonis­ berço", escreve Koster, que soube observar com tanta argúcia a vida de mos equilibrados; o caso dos pronomes que sirva de exemplo. Seguir­ família nas casas-grandes coloniais, "dão-lhe um escravo do seu sexo e mos só o chamado "uso português", considerando ilegítimo o "uso de sua idade, pouco mais ou menos, por camarada, ou antes, para seus brasileiro", seria absurdo. Seria sufocarmos, ou pelo menos abafarmos brinquedos. Crescem juntos e o escravo torna-se um objeto sobre o metade de nossa vida emotiva e das nossas necessidades sentimentais, qual o menino exerce os seus caprichos; empregam-no em tudo e além e até de inteligência, que só encontram expressão justa no "me dê" e disso incorre sempre em censura e em punição [...]. Enfim, a ridícula no "me diga". Seria ficarmos com um lado morto; exprimindo só meta­ ternura dos pais anima o insuportável despotismo dos filhos.129 "Não de de nós mesmos. Não que no brasileiro subsistam, como no anglo- havia casa onde não existisse um ou mais moleques, um ou mais americano, duas metades inimigas: a branca e a preta; o ex-senhor e o curumins, vítimas consagradas aos caprichos de nhonhô", escreve José ex-escravo. De modo nenhum. Somos duas metades confraternizantes Veríssimo, recordando os tempos da escravidão. "Eram-lhe o cavalo, o que se vêm mutuamente enriquecendo de valores e experiências di­ leva-pancadas, os amigos, os companheiros, os criados."130 Lembra-nos versas; quando nos completarmos em um todo, não será com o sacri­ Júlio Belo o melhor brinquedo dos meninos de engenho de outrora: fício de um elemento ao outro. Lars Ringbom vê grandes possibilida­ montar a cavalo em carneiros; mas na falta de carneiros, moleques. Nas des de desenvolvimento de cultura no mestiço: mas atingido o ponto brincadeiras, muitas vezes brutas, dos filhos dos senhores de engenho, em que uma metade de sua personalidade não procure suprimir a ps moleques serviam para tudo: eram bois de carro, eram cavalos de 128 outra. O Brasil pode-se dizer que já atingiu esse ponto: o fato de já montaria, eram bestas de almanjarras, eram burros de liteiras e de car- gas as mais pesadas. Mas principalmente cavalos de carro. Ainda hoje, clore, a tradição oral. Não são dois nem três, porém muitos os casos nas zonas rurais menos invadidas pelo automóvel, onde velhos cabriolés de crueldade de senhoras de engenho contra escravos inermes. Sinhá- de engenho rodam pelo massapê mole, entre os canaviais, os meninos moças que mandavam arrancar os olhos de mucamas bonitas e trazê- brancos brincam de carro de cavalo "com moleques e até molequinhas los à presença do marido, à hora da sobremesa, dentro da compoteira filhas das amas", servindo de parelhas.131 Um barbante serve de rédea; de doce e boiando em sangue ainda fresco. Baronesas já de idade um galho de goiabeira, de chicote. que por ciúme ou despeito mandavam vender mulatinhas de quinze É de supor a repercussão psíquica sobre os adultos de semelhan­ anos a velhos libertinos. Outras que espatifavam a salto de botina te tipo de relações infantis - favorável ao desenvolvimento de tendên­ dentaduras de escravas; ou mandavam-lhes cortar os peitos, arrancar cias sadistas e masoquistas. Sobre a criança do sexo feminino, princi­ as unhas, queimar a cara ou as orelhas. Toda uma série de judiadas. palmente, se aguçava o sadismo, pela maior fixidez e monotonia nas O motivo, quase sempre, o ciúme do marido. O rancor sexual. A relações da senhora com a escrava, sendo até para admirar, escrevia- rivalidade de mulher com mulher. o mesmo Koster em princípios do século XIX, "encontrarem-se tantas "Entre nós", escreveu Burlamaqui nos começos do século XIX, senhoras excelentes, quando tão pouco seria de surpreender que o "as phrases mais communs quando huma mulher desconfia que seu caráter de muitas se ressentisse da desgraçada direção que lhes dão marido, ou seu amante, tem contactos illicitos com alguma escrava na infância."132 Sem contatos com o mundo que modificassem nelas, são: eu a frigirei, eu a assarei, lhe queimarei ou cortarei tal ou tal parte como nos rapazes, o senso pervertido de relações humanas; sem ou­ & C. E quantas vezes estas ameaças não vão a effeito mesmo por tra perspectiva que a da senzala vista da varanda da casa-grande, simples desconfianças."135 Anselmo da Fonseca, escrevendo cinqüen­ conservavam muitas vezes as senhoras o mesmo domínio malvado ta anos depois de Burlamaqui, salienta a crueldade das "brasileiras sobre as mucamas que na infância sobre as negrinhas suas compa­ escravocratas" que "se regosijão em sobre ellas [as escravas] exercer nheiras de brinquedo. "Nascem, criam-se e continuam a viver rodeadas na estreiteza do lar, férrea tyrannia, nestas condições affligentissimas: de escravos, sem experimentarem a mais ligeira contrariedade, con­ porque as victimas são obrigadas a estar constantemente ao lado, e a cebendo exaltada opinião de sua superioridade sobre as outras criatu­ viver ao pé do algoz." Como exemplo, cita Fonseca o caso de Da. F. ras humanas, e nunca imaginando que possam estar em erro", escre­ de C. - tão exagerada na sua crueldade para com as escravas, que veu Koster das senhoras brasileiras.133 Além disso, aborrecendo-se chegou a ser processada pela morte de uma delas, Joana.136 facilmente. Falando alto. Gritando de vez em quando. Fletcher e Kidder, O isolamento árabe em que viviam as antigas sinhá-donas, princi­ que estiveram no Brasil no meado do século XIX, atribuem a fala palmente nas casas-grandes de engenho, tendo por companhia quase estridente e desagradável das brasileiras ao hábito de falarem sempre exclusivamente escravas passivas; sua submissão muçulmana diante 134 aos gritos, dando ordens às escravas. O mesmo teriam observado dos maridos, a quem se dirigiam sempre com medo, tratando-os de no sul dos Estados Unidos, que sofreu influências sociais e econômi­ "Senhor", talvez constituíssem estímulos poderosos ao sadismo das cas tão semelhantes às que atuaram sobre o Brasil durante o regime sinhás, descarregado sobre as mucamas e as molecas em rompantes de trabalho escravo. Ainda hoje, por contágio das gerações escravo­ histéricos; "passado adiante", como em certos jogos ou brinquedos cratas, as moças das Carolinas, do Mississipi, de Alabama falam gritan­ brutos. Sadistas eram, em primeiro lugar, os senhores com relação às do do mesmo modo que no Brasil as nortistas, filhas e netas de se­ esposas. nhor de engenho. Tanto quanto o inglês Koster, admirou-se o padre-mestre Lopes Quanto à maior crueldade das senhoras que dos senhores no Gama que crescendo as brasileiras entre o "desprimor, a sem vergo­ tratamento dos escravos é fato geralmente observado nas sociedades nha, a frasearia, os desregramentos dos escravos [...], as surras, as escravocratas. Confirmam-no os nossos cronistas. Os viajantes, o fol­ bofetadas, que estes infelizes recebem quasi todos os dias de nossos paes", ainda assim dessem para virtuosas e até para delicadas. "Pude­ vento em que, nas casas-grandes, se guardavam as sinhá-moças. Aí ra além disso sustentar que as brasileiras são de todas as mulheres as vinha colhê-las verdes o casamento: aos treze e aos quinze anos. Não mais propensas ás virtudes; pois vendo desd'a infância tantos exem­ havia tempo para explodirem em tão franzinos corpos de menina plos de lublicidade, ha entre ellas tão crescido numero de senhoras grandes paixões lúbricas, cedo saciadas ou simplesmente abafadas no honestas, e verdadeiramente honradas. Que fariam, se tivessem huma tálamo patriarcal. Abafadas sob as carícias de maridos dez, quinze, educação delicada e cuidadosa?"137 vinte anos mais velhos; e muitas vezes inteiramente desconhecidos Verificaram-se, é certo, casos de irregularidades sexuais entre sinhá- das noivas. Maridos da escolha ou da conveniência exclusiva dos donas e escravos. Um que teria ocorrido em Pernambuco nos meados pais. Bacharéis de bigodes lustrosos de brilhantina, rubi no dedo, do século passado e no seio de importante família, assegura-nos velho possibilidades políticas. Negociantes portugueses redondos e gros­ senhor de engenho ter visto registrado, em documento íntimo, com sos; suíças enormes; grandes brilhantes no peitilho da camisa, nos detalhes persuasivos. Mas nem as tradições rurais nem os relatos dos punhos e nos dedos. Oficiais. Médicos. Senhores de engenho. Desses estrangeiros merecedores de fé, nem as críticas, muitas vezes verda­ casamentos feitos pelos pais nem sempre resultaram dramas ou infe- deiros libelos, dos más-línguas desabusados da marca do padre Lopes licidades. Talvez pelo fato dos velhos, pensando a frio, encararem o Gama, autorizam-nos a concluir com M. Bonfim, no seu América Lati­ problema com mais realismo e melhor senso prático que os jovens na: "não raro a sinhá-moça criada a roçar os molecotes, entrega-se a romanticamente apaixonados. eles, quando os nervos degenerados acordam em desejos irreprimíveis; É certo que nem sempre os pais foram obedecidos nas suas esco­ então intervém a moral paterna: castra-se com uma faca mal-afiada o lhas de noivos para as filhas. As tradições referem casos, raros, é negro ou mulato, salga-se a ferida, enterram-no vivo depois. A rapari­ verdade, de raptos e fugas românticas. Sellin afirma que do meado do ga, com um dote reforçado, casa com um primo pobre..."138 século XIX em diante esses raptos tornaram-se freqüentes.139 Neles Não que o despotismo paterno do tempo da escravidão nos pare­ figurava sempre um negro ou mucama - cúmplice do raptor ou da ça incapaz de malvadeza dessas, ou ainda piores; nem a sensibilidade raptada; negro ou mucama que era costume alforriar-se. Com a cum­ muitas vezes mórbida das iaiás, de desejos ainda mais lúbricos. Mas o plicidade de esperta mucama é que fugiu, em Pernambuco, por volta ambiente em que eram criadas nas casas-grandes dificilmente permi­ de 1860, bonita moça da família C... Ocorreu a fuga bem na véspera tia aventuras tão arriscadas. O "não raro" de M. Bonfim nos soa artifi­ do seu casamento com ilustre bacharel da escolha dos pais. Estes cial ou pelo menos exagerado. Basta recordarmos o fato de que, du­ ofereceram logo ao noivo ludibriado a mão de outra filha, que foi rante o dia, a moça ou menina branca estava sempre sob as vistas de imediatamente aceita. De modo que o casamento realizou-se tranqüi­ pessoa mais velha ou da mucama de confiança. Vigilância que se lamente, sem outro incidente que o perturbasse. aguçava durante a noite. À dormida das meninas e moças reservava- Sabe-se que enorme prestígio alcançaram as mucamas na vida se, nas casas-grandes, a alcova, ou camarinha, bem no centro da casa, sentimental das sinhazinhas. Pela negra ou mulata de estimação é que rodeada de quartos de pessoas mais velhas. Mais uma prisão que a menina se iniciava nos mistérios do amor. "A mucama escrava", aposento de gente livre. Espécie de quarto de doente grave que pre­ observou no meado do século XIX o romancista Joaquim Manuel de cisasse da vigília de todos. Não louvamos o sistema: apenas procura­ Macedo, o célebre, à'A moreninha, "embora escrava, é ainda mais mos lembrar sua quase incompatibilidade com aventuras da espécie que o padre-confessor e do que o médico da donzela: porque o pa- referida por M. Bonfim. Estas ocorreram, decerto; porém raramente. dre-confessor conhece-lhe apenas a alma, o médico, ainda nos casos Objetar-se-á que o sexo é todo-poderoso quando desembestado; mais graves de alteração da saúde, conhece-lhe imperfeitamente o e não o negamos de modo algum. A dificuldade que reconhecemos é corpo enfermo, e a mucama conhece-lhe a alma tanto quanto o padre mais a física: a das grossas paredes, a dos verdadeiros ralos de con­ e o corpo mais do que o médico." Histórias de casamento, de namoros, ou outras, menos românti­ tes no Brasil desde o primeiro século da colonização, de tio com cas, mas igualmente sedutoras, eram as mucamas que contavam às sobrinha; de primo com prima. Casamentos cujo fim era evidente­ sinhazinhas nos doces vagares dos dias de calor, a menina sentada, à mente impedir a dispersão dos bens e conservar a limpeza do sangue mourisca, na esteira de pipiri, cosendo ou fazendo rendas; ou então de origem nobre ou ilustre. Tudo indica ter sido este o intuito de deitada na rede, os cabelos soltos, a negra catando-lhe piolho, dando- Jerônimo de Albuquerque, o patriarca da família pernambucana, ao lhe cafuné; ou enxotando-lhe as moscas do rosto com um abano. casar seus dois primeiros filhos varões, havidos de Da. Maria do Espí­ Suprira-se assim para uma aristocracia quase analfabeta a falta de rito Santo Arcoverde - a princesinha índia - com duas irmãs de sua leitura. Modinhas e canções, era ainda com as mucamas que as meni­ mulher legítima, Da. Filipa de Melo, filha de D. Cristóvão de Melo.141 nas aprendiam a cantar - essas modinhas coloniais tão impregnadas A mulher que lhe recomendara para esposa a rainha Da. Catarina, do erotismo das casas-grandes e das senzalas; do erotismo dos ioiôs horrorizada com a vida muçulmana de polígamo do cunhado de Duarte nos seus derreios pelas mulatinhas de cangote cheiroso ou pelas Coelho. Não foram uniões consangüíneas: mas de indivíduos que, priminhas brancas; voluptuosas modinhas de que Elói Pontes reco­ casando-se, apertavam os laços de solidariedade de família em torno lheu uma tão expressiva do amor entre brancos e mulatas: do patriarca. Era esse o fim dos casamentos de tios com sobrinhas. Maria Graham ficou encantada com certos aspectos da vida de Meu branquinho feiticeiro, família no Brasil: um apego, uma intimidade, uma solidariedade entre Doce ioiô meu irmão, as pessoas do mesmo sangue que lhe recordaram o espírito de clã Adoro teu cativeiro, dos escoceses. Mas notou esta inconveniência: dos casamentos só se Branquinho do coração, realizarem entre parentes. Principalmente tios com sobrinhas. Casa­ mentos, escreve ela, que em vez de alargarem as relações da família e Pois tu chamas de irmãzinha de difundirem a propriedade, concentravam-nas, estreitando-as e li- A tua pobre negrinha mitando-as. Além de "prejudicarem a saúde".142 Que estremece de prazer, Mas quem ao referir-se à freqüência dos casamentos consangüí- E vais pescar à tardinha neos no Brasil levanta a voz, indignado, contra a Igreja e os padres, é Mandi, piau e corvina o capitão Richard Burton. "Licenças para cometer incesto", chama ele Para a negrinha comer. às dispensas da Igreja. Mas confessa não ter deparado casos em que se revelassem "os resultados terríveis" do horroroso pecado.143 Não Em nenhuma das modinhas antigas se sente melhor o visgo de que Burton - livre-pensador à inglesa, embora casado com uma mu­ promiscuidade nas relações de sinhô-moços das casas-grandes com lher ranzinza e de idéias estreitíssimas - acreditasse em pecado no mulatinhas das senzalas. Relações com alguma coisa de incestuoso no sentido teológico: se estava convencido do mal dos casamentos de tio erotismo às vezes doentio. É mesmo possível que, em alguns casos, se com sobrinha e de primo com prima era do ponto de vista da eugenia. amassem o filho branco e a filha mulata do mesmo pai. Walsh, nas suas O que os casamentos entre parentes, tão comuns no Brasil do tem­ viagens pelo Brasil, surpreendeu uma família brasileira francamente po da escravidão, nunca impediram, foi que lutas tremendas separas­ incestuosa: irmão amigado com irmã.140 E na Mantiqueira viu uma dan­ sem primos e até irmãos, genros e sogros, tios e sobrinhos, extremando- ça em que os membros de certa família mestiça revelavam hábitos os em inimigos de morte; que grandes famílias se empenhassem em lamentavelmente incestuosos, que escandalizaram o padre inglês. verdadeiras guerras por questões de heranças ou de terras, às vezes por É verdade que para escandalizar o padre inglês não eram preci­ motivos de honra ou de partidarismo político. Um trecho de canavial, sos casos extremos de incesto: bastavam os casamentos, tão freqüen­ uma mulher, um cravo, um boi, uma eleição de deputado. Escreveu Andreoni (Antonil) no século XVIII: "ha no Brasil muitas paragens em afoiteza de prender na rua de São Bento o 4" governador e capitão- que os senhores de engenho são entre si muito chegados por sangue, general de Pernambuco, Jerônimo de Mendonça Furtado, e de expulsá- e pouco unidos por caridade, sendo o interesse a causa de toda a lo da capitania para o reino. Da marca dos Antônio Cavalcanti, dos discórdia, e bastando talvez um páo que se tire ou um boi que entre em Vidal de Negreiros, dos Fernandes Vieira - que venceram a guerra um canavial por descuido para declarar o odio escondido, e para armar contra os holandeses, quase sozinhos e sem auxílio da metrópole. 147 demandas e pendências mortaes".144 Mal inseparável do privativismo: Apenas com seus negros e cabras de engenho. do exagerado sentimento de propriedade privada. O qual começa criando Voltando às modinhas de engenho do Brasil - resultado do erotis­ rivalidades sangrentas entre vizinhos - grandes senhores de terras - mo patriarcal: chamegos com negras, mulatas, primas - recordaremos para terminar balcanizando continentes. que elas fizeram furor nos salões portugueses do século XVIII alternan­ As crônicas coloniais guardam a memória das lutas em que se do com as novenas, os lausperenes e as festas de igreja. William Beckford, empenharam Pires e Camargos em São Paulo; no século XIX foi ter­ que teve ocasião de ouvi-las em casa fidalga, freqüentada também pelo rível o conflito entre os Montes e Feitosas no Nordeste. E os escravos arcebispo do Algarve, D. José Maria de Melo - grande apreciador de sempre fiéis e valentes ao lado dos senhores. Brigando. Morrendo por modinhas cantadas ao violão - procurou interpretar-lhes o encanto eles. No tempo do Império, com a rivalidade entre os partidos, os viscoso: "Penetram elas no coração como que insinuando-se infantil­ negros das senzalas, tanto quanto os brancos das casas-grandes, divi­ mente antes que ele tenha tempo para defender-se dessa influência diam-se em "liberais" e "conservadores" e participavam das rixas elei­ enervante; julgareis beber um doce leite e é o veneno da voluptuosidade 148 torais dos brancos, esfaqueando-se, navalhando-se e brigando a cacete. que penetra até aos mais íntimos recessos do vosso organismo". As lutas entre Pires e Camargos romperam em 1640; e prolonga­ Nem todas as modinhas celebravam o quindim das mulatas das ram-se por mais de um século. Arrastaram outras famílias: os Taques, senzalas; muitas exaltavam as iaiás das casas-grandes, filhas de se­ os Lemes, os Laras, do lado dos Pires; os Buenos e os Redons, do lado nhor de engenho. Meninas de doze, treze, quatorze anos. "Anjos dos Camargos.145 Combateram nessas lutas entre grandes famílias índios louros". "Santas imaculadas". "Pálidas madonas". "Marias do Céu". de arco e flecha; negros escravos; cabras. Foi nelas que se desenvolve­ "Marias da Graça". "Marias das Dores". "Marias da Glória". E eram de ram os nossos bravi de cor: os cabras, negros, caboclos que a princípio fato umas Nossas Senhoras: quando saíam de palanquim ou de liteira, defenderam as casas-grandes dos seus senhores dos ataques dos índios; nos ombros de negros de libre, era como se saíssem de andor. Brin­ que depois serviram nas guerras contra a Holanda; nas expedições cos de ouro. Tetéias. Figas. Às vezes iam mucamas, na frente, levan­ contra os quilombos; na Guerra do Paraguai. Que deram força ao do outros brincos e outras tetéias das sinhazinhas; e tanto era o ouro espírito de ordem representado pelos senhores de engenho do tipo do que levavam algumas negras ou mulatas em cordões, pulseiras, bra- Morgado do Cabo contra a demagogia das cidades; ao espírito de inde­ celetes e bentinhos que "sem hipérbole", diz Vilhena, "basta para pendência brasileira contra as pretensões dos portugueses de adminis­ comprar duas ou três negras ou mulatas como a que o leva."149 Des­ trarem o Brasil como simples colônia de plantação. Não só os bravi de de o dia da primeira comunhão que deixavam as meninas de ser cor desenvolveram-se nessas lutas em suíços da América - como aos crianças: tornavam-se sinhá-moças. Era um grande dia. Maior só o negros das charqueadas e estâncias do sul do Brasil chamou uma vez do casamento. Vestido comprido, todo de cassa, guarnecido de folhos um oficial argentino:146 também os brancos, seus senhores, em chefes e pregas. O corpete franzido. A faixa de fita azul caindo para trás, em desassombrados e temíveis. Condottieri. Chefes da marca de Pedro pontas largas, sobre o vestido branco. A bolsa esmoleira de tafetá. O Ortiz de Camargo - o que mandou dizer ao governador português do véu de filó. A capela de flor de laranja. Os sapatinhos de cetim. As Rio de Janeiro ser desnecessária sua presença em São Paulo. Da marca luvas de pelica. O livrinho de missa encadernado em madrepérola. dos senhores de engenho pernambucanos que em 1666 tiveram a O terço, de cordãozinho de ouro. Cruz também de ouro. O livrinho de missa nem sempre se sabia ler. Tollenare observou frei José contra os modos de as pernambucanas se vestirem, não em princípios do século XIX: "Há ainda muitos pais que não querem trajavam elas tão amacacadamente como as baianas de Mrs. Kindersley. que as filhas aprendam a ler e a escrever".150 Mas outros confiavam- Pelo menos o bispo viu nos seus trajos alguma coisa de diabólica: nas aos Recolhimentos: aí aprendiam a ler, a coser e a rezar. No Reco­ "Por vermos, não sem grande magoa do nosso coração, a profanidade lhimento que o grande bispo Azeredo Coutinho fundou em Pernam­ com que se vestem as mais das pessoas do sexo feminino usando de buco - o de Nossa Senhora da Glória - aprendiam também a tratar modas e inventos diabólicos, admoestamos a taes pessoas que, nelles cristãmente os escravos: "irmãos e filhos do mesmo Pai". A "necessi­ compreendidas, que se abstenham dos taes vestidos". Eram essas dade de uns e a escravidão de outros, imposta pelas leis humanas, ou pernambucanas descendentes das "grandes senhoras" que o padre em pena de seus delitos, ou para lhes acautelar um maior mal", é que Cardim conheceu no século XVI: mais "grandes senhoras" do que estabelecera a "acidental desigualdade".151 Muitas brasileiras, porém, devotas. Das senhoras de engenho que já no tempo do cronista dos tornaram-se baronesas e viscondessas do Império sem terem sido in­ Diálogos pintavam o rosto de vermelho. Descendentes das bonitas ternas dos Recolhimentos: analfabetas, algumas; outras fumando como iaiás por amor de quem hereges holandeses abjuraram no século XVII umas caiporas; cuspindo no chão; e ainda outras mandando arrancar da fé calvinista para abraçarem a católica. dentes de escravas por qualquer desconfiança de xumbergação do Foi geral, no Brasil, o costume de as mulheres casarem cedo. Aos marido com as negras. doze, treze, quatorze anos. Com filha solteira de quinze anos dentro Isto no século XIX. Imagine-se nos outros: no XVI, no XVII, no de casa já começavam os pais a se inquietar e a fazer promessa a XVIII. No XVIII esteve no Brasil uma inglesa que achou horrorosa a Santo Antônio ou São João. Antes dos vinte anos, estava a moça sol- situação das mulheres. Ignorantes. Beatas. Nem ao menos sabiam teirona. O que hoje é fruto verde, naqueles dias tinha-se medo que vestir-se. Porque a julgar por Mrs. Kindersley, que não era nenhuma apodrecesse de maduro, sem ninguém o colher a tempo. Em Salva­ parisiense, nossas avós do século XVIII trajavam-se que nem macacas: dor, conta-nos um viajante do século XVII ter encontrado o precon­ saia de chita, camisa de flores bordadas, corpete de veludo, faixa. Por ceito de que "la fleur de virginité doit se cueillir [...] dans les premières cima desse horror de indumentária, muito ouro, muitos colares, bra- années, afin qu'elle neseflétrissepas." Também dá como "fortordinaire celetes, pentes. As mocinhas ou meninotas não eram feias; notou, aux mères de questionner leurs filies sur ce qu'elles sont capables de porém, Mrs. Kindersley que as brasileiras envelheciam depressa; seu sentir à Vage de douze ou treize ans & de les inviter à faire ce quipeut rosto tornava-se logo de um amarelo doentio.152 émousser les aiguillons de la chair."Ki Resultado, decerto, dos muitos filhos que lhes davam os maridos; Com relação ao preconceito da virgindade perder logo o gosto, da vida morosa, banzeira, moleirona, dentro de casa; do fato de só as palavras de Coreal parecem exatas. Desde o século XVI dominou saírem de rede e debaixo de pesados tapetes de cor - modus gestandi no Brasil semelhante prejuízo. Quem tivesse sua filha, que a casasse lusitanas, escreveu Barléus no século XVII;153 ou então de bangüê ou meninota. Porque depois de certa idade as mulheres pareciam não liteira; e no século XIX de palanquim e carro de boi. Algumas senho­ oferecer o mesmo sabor de virgens ou donzelas que aos doze ou aos ras até nas igrejas entravam de rede, muito anchas e triunfantes, nos treze anos. Já não conservavam o provocante verdor de meninas- ombros dos escravos. Verdadeira afronta aos santos. Foi preciso que moças apreciado pelos maridos de trinta, quarenta anos. Às vezes de os bispos proibissem tamanha ostentação de indolência. "Por nos cinqüenta, sessenta, e até setenta. Burton escreve que no meado do parecer indecente entrarem algumas pessoas do sexo feminino em século XIX ainda eram comuns os casamentos de velhos de setenta serpentinas, ou redes, dentro da igreja, ou capellas, prohibimos o tal com mocinhas de quinze anos.156 ingresso", escreveu em pastoral de 19 de fevereiro de 1726 o bispo de Do padre Anchieta, que foi, como todo jesuíta no século XVI, um Pernambuco, D. frei José Fialho.154 Aliás, a julgar pelas palavras de D. grande casamenteiro, aproximou-se um dia certo Álvaro Neto com uma filha nesta tristíssima situação: quinze anos e ainda solteira. "Fa­ o retratro que nos traça de meninas de treze ou quatorze anos. Aos zia-lhe grandes queixas Álvaro Neto, morador da villa de São de Pau­ dezoito anos, já matronas, atingiam a completa maturidade. Depois lo", diz-nos o padre Simão de Vasconcelos na sua Vida do venerável dos vinte decadência.15*1 Ficavam gordas, moles. Criavam papada. Tor­ padre Ioseph de Anchieta da Companhia de lesu, "que tinha huma navam-se pálidas. Ou então murchavam. Algumas, é certo, tornavam- filha já de quinze anos & nam tinha remédio para casalla." Outra se fortes e corpulentas como o original de certo retrato antigo, que moça aparece na crônica jesuítica na mesma situação da filha de Álva­ hoje se vê na galeria do Instituto Histórico da Bahia: mas feias, de ro Neto: Filipa da Mata. Esta fora noiva de Joseph Adorno: mas des­ buço, um ar de homem ou virago. manchara-se o casamento, ficando a família inconsolável. Não teria No século XVII, notara em Pernambuco um observador holandês talvez quinze anos a desgraçada Filipa, já solteirona dolorosa: em um que as mulheres, ainda moças, perdiam os dentes; e pelo costume de instante consolou-a e aos seus pais o grande missionário. Não só estarem sempre sentadas, no meio das mucamas e negras que lhes profetizou-lhe casamento para muito breve com um rapaz de Lisboa faziam as menores coisas, andavam "como se tivessem cadeias nas como uma vida ideal depois de casada: "tantos filhos que nam saberá pernas".159 Sem a agilidade das holandesas. Mawe, nas suas viagens quaes sam as camisas de uns & outros".15- pelo interior do Brasil, surpreendeu nas mulheres a mesma tendência Ainda hoje, nas velhas zonas rurais, o folclore guarda a reminis- para, ainda novas, perderem a vivacidade.160 Mrs. Graham, na Bahia, cência dos casamentos precoces para a mulher; e a idéia de que a notou que elas se tornavam "almost indecently slovenly, after very virgindade só tem gosto quando colhida verde. Diz-se no interior de early youth."lbl Pernambuco: No meado do século XIX, Burton, no sul do Brasil, ficou encanta­ do com as mineiras de treze para dezesseis anos. Em Minas, escreve Meu São João, casai-me cedo, ele, não há "beauté du diable".lb2 As meninas adquiriam encantos de Enquanto sou rapariga, moça sem atravessarem a fase da puberdade, tão antipática na Europa. Que o milho rachado tarde Outro que se deixou seduzir pelas meninas-moças do Brasil foi Não dá palha nem espiga. von den Steinen que aqui esteve em 1885. "Um anjo de moça", cha­ mou a uma delas o cientista germânico. Expressão de bacharel de Em outros pontos do Brasil a quadra varia: Olinda em verso para ser recitado ao som da Dalila na casa da prima. "Estas brasileiras", são ainda palavras líricas de von den Steinen, "aos Minha mãe, nos casa logo doze e treze anos, quando já na puberdade, e a mãe começa a pensar Quando somos raparigas: seriamente em casamento, encantam e enleiam com sua beleza flo­ O milho plantado tarde, rescente." Para o cientista alemão evolava-se "destas criaturas tropi­ Nunca dá boas espigas. cais, antes da completa maturidade, tão delicado, tão delicioso perfu­ me de feminilidade, como não o possuem os nossos botões de rosa Quase todos os viajantes que nos visitaram durante o tempo da europeus."165 Pena que tão cedo se desfolhassem essas entrefechadas escravidão contrastam a frescura encantadora das meninotas com o rosas. Que tão cedo murchasse sua estranha beleza. Que seu encanto desmaiado do rosto e o desmazelo do corpo das matronas de mais de só durasse mesmo até os quinze anos. dezoito. De Mrs. Kindersley já vimos a opinião: as senhoras "ficavam Idade em que já eram sinhá-donas; senhoras casadas. Algumas com o ar de velhas muito depressa" ("they look old very early in life"). até mães. Na missa, vestidas de preto, cheias de saias de baixo e com Seus traços perdiam a delicadeza e o encanto. O mesmo notou Luccock um véu ou mantilha por cima do rosto; só deixando de fora os olhos no Rio de Janeiro. Olhos vivos, dentes bonitos, maneiras alegres — tal - os grandes olhos tristonhos. Dentro de casa, na intimidade do mari- do e das mucamas, mulheres relassas. Cabeção picado de renda. Chi­ do Bom Parto. Sem tempo de criarem nem o primeiro filho. Sem nelo sem meias. Os peitos às vezes de fora. Maria Graham quase não provarem o gosto de ninar uma criança de verdade em vez dos bebês conheceu no teatro as senhoras que vira na manhã dentro de casa - de pano, feitos pelas negras de restos de vestidos. Ficava então o tamanha a disparidade entre o trajo caseiro e o de cerimônia.164 menino para as mucamas criarem. Muito menino brasileiro do tempo Mulheres sem ter, às vezes, o que fazer. A não ser dar ordens da escravidão foi criado inteiramente pelas mucamas. Raro o que não estridentes aos escravos; ou brincar com papagaios, sagüis, mole- foi amamentado por negra. Que não aprendeu a falar mais com a quinhos. Outras, porém, preparavam doces finos para o marido; cui­ escrava do que com o pai e a mãe. Que não cresceu entre moleques. davam dos filhos. As devotas, cosiam camisinhas para o Menino Jesus Brincando com moleques. Aprendendo safadeza com eles e com as ou bordavam panos para o altar de Nossa Senhora. Em compensação, negras da copa. E cedo perdendo a virgindade. Virgindade do corpo. havia freiras que se encarregavam de coser enxovais de casamento e Virgindade de espírito. Os olhos, dois borrões de sem-vergonhice. A de batizado para as casas-grandes. boca como a das irmãs de Maria Borralheira: boca por onde só saía "Os casamentos se fazem aqui muito cedo", escreveu do Brasil o bosta. Meninos que só conversavam porcaria. Ou então conversas de inglês Alexander Caldcleugh: "não é raro encontrarem-se mães de cavalo, de galo de briga, de canário. treze anos". "O clima", acrescenta, "e hábitos retraídos das brasileiras Isto sucedeu a muito menino com a mãe ainda viva: vivinha da têm considerável efeito sobre seu físico. Quando novas, os belos olhos silva e enérgica, mandando castigar escravos safados ou negras sem- escuros e a figura bonita atraem a admiração de todos; mas dentro de vergonhas que ensinassem porcaria aos filhos. Imaginem-se os meni­ poucos anos, dá-se uma mudança na sua aparência, que longa e con­ nos sem mãe; sem madrinha; sem avó; entregues a mucamas nem tínua doença dificilmente causaria na Europa."165 Walter Colton, no sempre capazes de lhes substituir a mãe. seu diário de viagem, conta que no Rio de Janeiro lhe mostraram uma "Primeiramente eu estou persuadido", escrevia em 1837 no seu criança de doze anos - já senhora respeitável.166 Mãe! Na idade de jornal O Carapuceiro o padre-mestre Miguel do Sacramento Lopes brincar com boneca, já estava lidando com filho. Gama, "que a escravaria que desgraçadamente se introduziu entre O casamento era dos fatos mais espaventosos em nossa vida pa­ nós, he a causa primordial da nossa péssima educação e em verdade triarcal. Festa de durar seis, sete dias, simulando-se às vezes a captura quaes os nossos primeiros mestres? São sem duvida a africana, que da noiva pelo noivo. Preparava-se com esmero a "cama dos noivos" - nós amamentou, que nos pensou, e nos subministrou as primeiras fronhas, colchas, lençóis, tudo bordado a capricho, em geral, por noções, e quantos escravos existião na casa paterna em a quadra dos mãos de freiras; e exposto no dia do casamento aos olhos dos convi­ nossos primeiros annos. Maneiras, linguagem, vícios, tudo nos innocula dados.167 Matavam-se bois, porcos, perus. Faziam-se bolos, doces e essa gente safara, e brutal, que à rusticidade da selvageria une a pudins de todas as qualidades. Os convivas eram em tal número que indolência, o despejo, o servilismo próprio da escravidão. Com pre­ nos engenhos era preciso levantar barracões para acomodá-los. Dan­ tas e pretos boçaes, e com os filhinhos destes vivemos desde que ças européias na casa-grande. Samba africano no terreiro. Negros abrimos os olhos; e como poderá ser bôa nossa educação?" E ainda: alforriados em sinal de regozijo. Outros dados à noiva de presente ou "Molequinhos, que nascem na casa paterna, são os companheiros da de dote: "tantos pretos", "tantos moleques", uma "cabrinha". nossa infância, e as mães destes as nossas primeiras mestras; porque Um fato triste é que muitas noivas de quinze anos morriam logo muitas vezes ou nos mamentão ou nos servem de aias; e que semen­ depois de casadas. Meninas. Quase como no dia da primeira comu­ tes de moralidade, que virtudes poderão escravas plantar em nossos nhão. Sem se arredondarem em matronas obesas; sem criarem buço; tenrinhos corações?"168 Em 1823 já perguntara José Bonifácio, em sua sem murcharem em velhinhas de trinta ou quarenta anos. Morriam de Representação à Assembléia Geral Constituinte: "que educação po­ parto - vãs todas as promessas e rogos à Nossa Senhora da Graça ou dem ter as famílias que se servem com esses infelizes sem honra, sem religião? Que se servem com as escravas, que se prostituem ao drões. Arrumaram-se os soldados em grupos de cinco, conforme a primeiro que as procura? Tudo se compensa nesta vida. Nós estatura. Despiram-se-lhes as fardas e as camisas. Os homens ficaram tyrannizamos os escravos e os reduzimos a brutos animaes; elles nos então nus das espáduas às nádegas, curvadas para a frente. E começa­ innoculam toda a sua immoralidade e todos os seus vicios. E na ram os açoites. Alguns soldados terminaram deitados de bruços sobre verdade, senhores, se a moralidade e a justiça de qualquer povo se o chão, vencidos pela dor da chibata. José Bonifácio, que assistiu a fundam, parte nas suas instituições religiosas e políticas, e parte na tudo por gosto, conservou-se no campo até o final da flagelação.171 philosophia, por assim dizer domestica, de cada família, que quadro Até o cair da noite. Sinal de que a cena não lhe desagradara. Outras pode apresentar o Brasil, quando o consideramos de baixo desses evidências poderiam juntar-se de vários traços, no caráter de José dois pontos de vista?"169 Cinco anos depois o marquês de Santa Cruz, Bonifácio, que se podem atribuir à influência da escravidão. E se arcebispo da Bahia, feriu a mesma nota em discurso no Parlamento: destacamos José Bonifácio é para que se faça idéia da mesma influên­ "Sempre estive persuadido que a palavra escravidão desperta as idéas cia sobre homens de menor porte e personalidade menos viril. de todos os vicios e crimes; sempre lastimei, finalmente, a sorte dos Mas aceita, de modo geral, como deletéria a influência da escravi­ tenros meninos brasileiros que, nascendo e vivendo entre escravos, dão doméstica sobre a moral e o caráter do brasileiro da casa-grande, recebem desde os primeiros anos as funestas impressões dos conta­ devemos atender às circunstâncias especialíssimas que entre nós mo­ giosos exemplos desses seres degenerados; e oxalá que eu me enga­ dificaram ou atenuaram os males do sistema. Desde logo salientamos nasse! oxalá que fossem mais raros os triumphos da sedução e os a doçura nas relações de senhores com escravos domésticos, talvez naufrágios na innocencia! oxalá que tantas famílias não tivessem de maior no Brasil do que em qualquer outra parte da América. deplorar a infâmia e a vergonha em que as tem precipitado a A casa-grande fazia subir da senzala para o serviço mais íntimo e immoralidade dos escravos!"170 delicado dos senhores uma série de indivíduos - amas de criar, Descontem-se nas palavras do patriarca da Independência e prin­ mucamas, irmãos de criação dos meninos brancos. Indivíduos cujo cipalmente nas do marquês-arcebispo da Bahia os exageros da ênfase lugar na família ficava sendo não o de escravos mas o de pessoas de parlamentar; nas do padre Lopes Gama os excessos de moralista e casa. Espécie de parentes pobres nas famílias européias. À mesa patriar­ panfletário. Elas refletem, assim desbastadas, experiências por eles cal das casas-grandes sentavam-se como se fossem da família nume­ vividas. Fatos que observaram. Influências que sofreram. Deve-se notar rosos mulatinhos. Crias. Malungos. Moleques de estimação. Alguns que nenhum dos três atribui ao negro, ao africano, à "raça inferior", as saíam de carro com os senhores, acompanhando-os aos passeios como "funestas conseqüências" da senzala sobre a casa-grande. Atribuem- se fossem filhos. nas ao escravo. Ao fato social e não o étnico. Seus depoimentos cons­ Quanto às mães-pretas, referem as tradições o lugar verdadeira­ tituem material de primeira ordem a favor daqueles que, como R. mente de honra que ficavam ocupando no seio das famílias patriar­ Bilden, procuram interpretar os males e vícios da formação brasileira, cais. Alforriadas, arredondavam-se quase sempre em pretalhonas enor­ menos pelo negro ou pelo português, do que pelo escravo. mes. Negras a quem se faziam todas as vontades: os meninos José Bonifácio, ao escrever libelo tão forte contra a escravidão, tomavam-lhe a bênção; os escravos tratavam-nas de senhoras; os não sabemos se teria consciência dos vícios de caráter por ele próprio boleeiros andavam com elas de carro. E dia de festa, quem as visse adquiridos no contato dos escravos: seu estranho sadismo, por exem­ anchas e enganjentas entre os brancos de casa, havia de supô-las plo. Revelou-o bem ao assistir por puro prazer, sem nenhuma obriga­ senhoras bem-nascidas; nunca ex-escravas vindas da senzala. ção, ao castigo patriarcal que a soldados portugueses mandou infligir É natural que essa promoção de indivíduos da senzala à casa- de uma feita o Imperador D. Pedro I no Campo de Santana: cinqüenta grande, para o serviço doméstico mais fino, se fizesse atendendo a açoites em cada um. Castigo de senhor de engenho em negros la­ qualidades físicas e morais; e não à toa e desleixadamente. A negra ou mulata para dar de mamar a nhonhô, para niná-lo, preparar-lhe a Não pretendemos aqui considerar o grau de cristianização atingi­ comida e o banho morno, cuidar-lhe da roupa, contar-lhe histórias, do pela massa escrava - assunto de que nos ocuparemos em estudo às vezes para substituir-lhe a própria mãe - é natural que fosse próximo; mas o certo é que, por contágio e pressão social, rapida­ escolhida dentre as melhores escravas da senzala. Dentre as mais mente se impregnou o escravo negro, no Brasil, da religião dominan­ limpas, mais bonitas, mais fortes. Dentre as menos boçais e as mais te. Aproximou-se por intermédio dela da cultura do senhor; dos seus ladinas - como então se dizia para distinguir as negras já cristianizadas padrões de imoralidade. Alguns tornaram-se tão bons cristãos quanto e abrasileiradas, das vindas há pouco da África; ou mais renitentes os senhores; capazes de transmitir às crianças brancas um catolicismo no seu africanismo. tão puro quanto o que estas receberiam das próprias mães. No Brasil, país de formação social profundamente católica, sem­ Sílvio Romero, recordando o seu tempo de menino em um enge­ pre se fez mais questão do que nas Antilhas e no sul dos Estados nho do Norte, disse uma vez que nunca viu rezar tanto quanto a Unidos da condição religiosa do escravo: "Os africanos importados de escrava Antônia, sua mãe negra. Ela é que o fizera religioso. "Devo Angola", informa Koster, "são batizados em massa antes de saírem de isso [a religião] à mucama de estimação a que foram, em casa de sua terra, e chegando ao Brasil ensinam-lhes os dogmas religiosos e meus avós, encarregados os desvelos de minha meninice. Ainda hoje os deveres do culto que vão seguir. Trazem no peito o sinal da Coroa existe, nonagenária, no Lagarto, ao lado de minha mãe, essa adorada Real a fim de indicar que foram batizados e por eles pagos os direitos. Antônia, a quem me acostumei a chamar também de mãe... Nunca vi Os escravos que se importam das outras regiões da África chegam ao criatura tão meiga, e nunca vi rezar tanto. Dormia comigo no mesmo Brasil sem ter sido batizados e antes de proceder-se a cerimônia que quarto e, quando, por alta noite, eu acordava, lá estava ela de joelhos... os deve fazer cristãos é necessário ensinar-lhes certas orações, para o rezando... Bem cedo aprendi as orações e habituei-me tão intensa­ que concede-se aos mestres o prazo de um ano no fim do qual são mente a considerar a religião como coisa seria, que ainda agora a obrigados a apresentar os discípulos à igreja paroquial."172 Essa lei tenho na conta de uma criação fundamental e indestrutível da huma­ não acreditava Koster que fosse rigorosamente cumprida com relação nidade. Desgraçadamente, ai de mim! não rezo mais, mas sinto que a ao tempo: era-o porém em essência, não havendo senhor brasileiro 174 capaz de trair os preceitos da Igreja contra o paganismo. "Do seu lado religiosidade jaz dentro do meu sentir inteiriça e irredutível." Outros o escravo deseja a qualidade de cristão porque os camaradas tendo brasileiros, da geração de Sílvio, poderiam dizer o mesmo. O próprio com ele a menor questão terminam sempre o excesso dos injuriosos Joaquim Nabuco terá porventura aprendido com a sua velha ama epítetos que lhe dirigem, com o de pagão." Pagão ou mouro. Acres­ negra de Massangana o padre-nosso que, no fim da vida, voltou a centa Koster. "O negro sem batismo, vê-se com pesar considerado um rezar na igreja do Oratório em Londres. Quando morreu-lhe a madri­ ser inferior e embora ignorando o valor que os brancos ligam àquela nha - "cena de naufrágio" que evoca em uma das páginas mais como­ cerimônia, sabe que deve lavar a mancha que lhe exprobram e mos­ vidas de Minha formação - foi o seu grande consolo: a velha ama tra-se impaciente por tornar-se igual aos outros. Os africanos, chega­ negra continuar a servi-lo como dantes. "O menino está mais satisfei­ dos há muito tempo, estando já imbuídos de sentimentos católicos, to", escrevia a seu pai o amigo que o devia levar à Corte, "depois que parecem esquecer que outrora estiveram nas mesmas condições que eu lhe disse que a sua ama o acompanharia."173 os recém-chegados. Não se pergunta aos escravos se querem ou não Mas o ponto que pretendemos destacar não é o dessas fundas ser batizados; a entrada deles no grêmio da Igreja Católica é conside­ afeições, quase de mãe e filho, que no tempo da escravidão se forma­ rada como questão de direito. Realmente eles são tidos menos por ram entre escravas amas-de-leite e nhonhôs brancos; mas retificar a homens do que por animais ferozes até gozarem do privilégio de ir à idéia de que através da ama-de-leite o menino da casa-grande só 173 missa e receber os sacramentos." fizesse receber da senzala influências ruins; absorvendo com o pri- meiro alimento os germes de todas as doenças e superstições africa­ negros como São Benedito e Nossa Senhora do Rosário terem se torna­ nas. Os germes de doenças, recebeu-os muitas vezes; e outras os do patronos de irmandades de pretos; dos escravos terem se reunido transmitiu; mas recebeu também nos afagos da mucama a revelação em grupos que foram verdadeiras organizações de disciplina, com "reis de uma bondade porventura maior que a dos brancos; de uma ternu­ do Congo" exercendo autoridade sobre "vassalos".177 ra como não a conhecem igual os europeus; o contágio de um misti­ Já Koster notara que a instituição dos reis do Congo no Brasil, em cismo quente, voluptuoso, de que se tem enriquecido a sensibilidade, vez de tornar os negros refratários à civilização, facilitava esse proces­ a imaginação, a religiosidade dos brasileiros. so e o da disciplina dos escravos: "os reis do Congo eleitos no Brasil Verificou-se entre nós uma profunda confraternização de valores rezam a Nossa Senhora do Rosário e trajam a moda dos brancos; eles e de sentimentos. Predominantemente coletivistas, os vindos das sen­ e seus súditos conservam, é certo, as danças do seus país: mas nas zalas; puxando para o individualismo e para o privativismo, os das suas festas admitem-se escravos africanos de outras regiões, crioulos casas-grandes. Confraternização que dificilmente se teria realizado se e mulatos que dançam da mesma maneira; essas danças atualmente outro tipo de cristianismo tivesse dominado a formação social do são mais danças nacionais do Brasil do que da África".178 Vê-se quanto Brasil; um tipo mais clerical, mais ascético, mais ortodoxo; calvinista foi prudente e sensata a política social seguida no Brasil com relação ou rigidamente católico; diverso da religião doce, doméstica, de rela­ ao escravo. A religião tornou-se o ponto de encontro e de confrater­ ções quase de família entre os santos e os homens, que das capelas nização entre as duas culturas, a do senhor e a do negro; e nunca uma patriarcais das casas-grandes, das igrejas sempre em festas - batizados, intransponível ou dura barreira. Os próprios padres proclamavam a casamentos, "festas de bandeiras" de santos, crismas, novenas - presi­ vantagem de concederem-se aos negros seus folguedos africanos. Um diu o desenvolvimento social brasileiro. Foi este cristianismo domés­ deles, jesuíta, escrevendo no século XVIII, aconselha os senhores não tico, lírico e festivo, de santos compadres, de santas comadres dos só a permitirem, como a "acodirem com sua liberalidade" às festas homens, de Nossas Senhoras madrinhas dos meninos, que criou nos dos pretos. "Portanto não lhe estranhem o criarem seus reis, cantar e negros as primeiras ligações espirituais, morais e estéticas com a famí­ bailar por algumas horas honestamente em alguns dias do anno, e o lia e com a cultura brasileira. "Os escravos tornados cristãos fazem alegrarem-se honestamente à tarde depois de terem feito pela manhã mais progresso na civilização", observou Koster. "Não se tem lançado suas festas de Nossa Senhora do Rosário, de São Benedicto e do orago mão de constrangimento para os fazer adotar os costumes dos senho­ da capela do engenho t...]."179 res, mas insensivelmente lhes dirigem as idéias para este lado; os A liberdade do escravo de conservar e até de ostentar em festas senhores ao mesmo tempo contraem alguns hábitos dos seus escra­ públicas - a princípio na véspera de Reis, depois na noite de Natal, na vos e desta sorte o superior e o inferior se aproximam. Eu não duvido de Ano-Bom, nos três dias de carnaval - formas e acessórios de sua que o sistema de batizar negros importados tenha antes a sua origem mítica, de sua cultura fetichista e totêmica, dá bem a idéia do proces­ na devoção dos portugueses do que em vistas políticas, mas tem so de aproximação das duas culturas no Brasil. Liberdade a que não produzido os melhores resultados."176 deixou nunca de corresponder forte pressão moral e doutrinária da Não foi só "no sistema de batizar os negros" que se resumia a Igreja sobre os escravos. Koster observou em Pernambuco: "a religião política de assimilação, ao mesmo tempo que de contemporização se­ que ensinam [os senhores] aos escravos do Brasil tem operado neles guida no Brasil pelos senhores de escravos: consistiu principalmente salutar efeito porque conseguiu diminuir ou destruir a cega confiança, em dar aos negros a oportunidade de conservarem, à sombra dos cos­ que depositavam nos sortilégios de seus compatriotas. Exercem a sua tumes europeus e dos ritos e doutrinas católicas, formas e acessórios da credulidade do modo mais inocente. Os terríveis resultados da autori­ cultura e da mítica africana. Salienta João Ribeiro o fato de o cristianis­ dade dos Obeahs nas Antilhas não se verificam no Brasil entre os mo no Brasil ter concedido aos escravos uma parte no culto; de santos mandingueiros".180 Gente pronta a admitir a eficácia das mandingas, nunca deixou de haver entre nós; mas esse "prejuízo", não o conside­ A verdadeira iniciação do "negro novo" na língua, na religião, na rou o inglês nem "geral" nem de "perniciosas conseqüências". É ver­ moral, nos costumes dos brancos, ou antes, dos negros "ladinos", fez- dade que muito senhor de engenho, já sem forças para dar conta dos se na senzala e no eito, os "novos" imitando os veteranos. Foram haréns de negras e mulatas, teve os dias encurtados pelo uso de ainda os "ladinos", os que iniciaram os "boçais" na técnica ou na beberagens afrodisíacas preparadas por pretos mandingueiros. Tam­ rotina da plantação da cana e do fabrico do açúcar. Um cronista ho­ bém houve quem morresse de "coisas feitas" e de veneno africano. landês do século XVII gaba os negros "ladinos" de origem angola Casos raros, porém. Esporádicos. como mestres ou iniciadores dos negros "novos". Do mesmo modo 182 Ocupando-se da cristianização do negro, no Brasil, Nina Rodrigues que aconselha a só se importarem pretos da Angola. Que os de se extrema, ao nosso ver, em um erro: o de considerar a catequese Arda eram cabeçudos e tardos; difíceis de se habituarem à rotina dos dos africanos uma ilusão.181 Mesmo diante das evidências reunidas engenhos. Levantavam-se às vezes contra os feitores e moíam-nos de pelo cientista maranhense - maranhense de origem, embora o centro pancadas. de sua ação intelectual tenha sido a Bahia - a favor de sua tese, não Outras forças podem-se particularizar como tendo atuado sobre pode se negar a extensa ação educativa, abrasileirante, moralizadora os negros no sentido do seu abrasileiramento; modificando-lhes a no sentido europeu, da religião católica sobre a massa escrava. Aliás o plástica moral e é possível que também a física; conformando-as não ponto de partida da tese de Nina Rodrigues, consideramo-lo falso: o só ao tipo e às funções de escravo como ao tipo e aos característicos da incapacidade da raça negra de elevar-se às abstrações do cristianis­ de brasileiro. O meio físico. A qualidade e o regime da alimentação. A mo. Nina Rodrigues foi dos que acreditaram na lenda da inaptidão do natureza e o sistema de trabalho. negro para todo surto intelectual. E não admitia a possibilidade do A repercussão de todas as influências, naturais umas, outras arti­ negro elevar-se até o catolicismo. ficiais e até perversas, sobre o físico e a moral do negro no Brasil, é Foi, porém, ao calor da catequese católica - de um catolicismo, é assunto para ser estudado com minúcia. Falta-nos infelizmente mate­ certo, que para atrair os índios já se opulentara de novas cores e até rial de pesquisa antropológica que permita exato confronto do negro de imitações, pelos padres, das gatimonhas dos pajés - que se amole- brasileiro - estreme de cruzamento, rigorosamente puro - com o afri­ ceram nos africanos, vindos de áreas de fetichistas, os traços mais cano.183 Os estudos de Roquette-Pinto revelam-nos uma disparidade duros e grossos da cultura nativa. A catequese era a primeira fervura surpreendente, que talvez se possa atribuir à influência da perístase, que sofria a massa de negros, antes de integrar-se na civilização oficial­ entre os negros do Brasil e os da África: geral a braquicefalia entre os mente cristã aqui formada com elementos tão diversos. Esses elemen­ nossos, em contraste com a dolicocefalia dos africanos. Diferenças tos, a Igreja quebrou-lhes a força ou a dureza, sem destruir-lhes toda também de índice nasal: - os melanodermos brasileiros de nariz mais a potencialidade. achatado, aproximando-se dos bastardos do sul da África e dos filipinos. 184 Na ordem de sua influência, as forças que dentro do sistema O que os coloca fora do grande grupo negro. escravocrata atuaram no Brasil sobre o africano recém-chegado fo­ As diferenças de índice nasal, atribui-as Roquette-Pinto ao fato de ram: a igreja (menos a Igreja com I grande, que a outra, com i peque­ serem raros os negros realmente puros no Brasil; a própria braquicefalia no, dependência do engenho ou da fazenda patriarcal); a senzala; a acredita que deva correr por conta de "diferenciação local, muito casa-grande propriamente dita - isto é, considerada como parte, e possivelmente oriunda de velhos cruzamentos." Mas não deixa de não dominador do sistema de colonização e formação patriarcal do admitir a possibilidade de casos de imitação (Davenport) ou de influên­ Brasil. O método de desafricanização do negro "novo", aqui seguido, cia de perístase (Boas).185 foi o de misturá-lo com a massa de "ladinos", ou veteranos; de modo Interessante é ainda o fato, salientado pelo professor Roquette- que as senzalas foram uma escola prática de abrasileiramento. Pinto, dos mulatos brasileiros tenderem para estatura "nas proximida- des dos brancos mais baixos",186 quando nos Estados Unidos, para sos do regime de trabalho nas plantações brasileiras. Deve-se notar, onde parece ter sido menor a migração dos sudaneses altos, os mula­ por outro lado, que as negras conservaram no Brasil, sempre que lhes tos se apresentam com uma média elevada de estatura. Pode muito foi possível, certos costumes, para elas quase sagrados, de deforma­ bem tratar-se de diminuição de estatura por efeito da qualidade e do ção física das crianças - como o de "amassarem-lhes a cabeça". Cos­ regime de alimentação; resultado do modo por que variou do regime tumes que conservaram nas senzalas; mas que terão empregado às nativo a nutrição do negro no Brasil e nos Estados Unidos. Ou pode vezes nas casas-grandes, onde chegaram algumas a ser quase onipo­ ser simplesmente a influência do cruzamento com o branco mais alto tentes como mães de criação de meninos brancos. e melhor alimentado nos Estados Unidos. A escolha da escrava negra para ama de menino sugere-nos outro Sá Oliveira, em trabalho publicado em 1895, indicou vários efeitos aspecto interessantíssimo das relações entre senhores e escravos no sobre indivíduos da raça negra das novas circunstâncias, que podemos Brasil-, o aspecto higiênico. De Portugal transmitira-se ao Brasil o cos­ chamar econômicas, de sua vida doméstica e de trabalho no Brasil; tume das mães ricas não amamentarem os filhos, confiando-os ao primeiro como escravos, depois como párias. Por exemplo: obrigadas peito de saloias ou escravas. Júlio Dantas, nos seus estudos sobre o as negras, no trabalho agrícola de longas horas por dia, a trazerem os século XVIII em Portugal, registra o fato: "o precioso leite materno era filhos atados às costas - costume seguido na África, mas só durante quase sempre substituído pelo leite mercenário das amas".189 O que viagens ou pequena parte do dia - "vêem mais tarde os seus filhos atribui à moda. Com relação ao Brasil, seria absurdo atribuir-se à ficarem com as pernas defeituosas, arqueadas, de modo que, tocando- moda a aparente falta de ternura materna da parte das grandes senho­ se pelos pés formam uma elipse alongada."187 Por outro lado, quase ras. O que houve, entre nós, foi impossibilidade física das mães de todas, obrigadas a se entregarem a ocupações agrícolas ou domésticas, atenderem a esse primeiro dever de maternidade. Já vimos que se atiravam os filhos ao berço, à esteira ou à rede - aí permanecendo as casavam todas antes do tempo; algumas fisicamente incapazes de ser crianças dias inteiros. Daí, para Sá Oliveira, o fato de muitos negros e mães em toda a plenitude. Casadas, sucediam-se nelas os partos. Um mulatos que se encontram no Brasil com a "região occipital projetada filho atrás do outro. Um doloroso e contínuo esforço de multiplica­ para a parte posterior como os africanos e outros têm-na achatada, ção. Filhos muitas vezes nascidos mortos - anjos que iam logo se diminuindo de algum modo a projeção do crânio posterior." Efeito de enterrar em caixõezinhos azuis. Outros que se salvavam da morte por pressão invariável e constante no occiput, quase o dia inteiro. milagre. Mas todos deixando as mães uns mulambos de gente. Brandão Júnior refere o fato de um fazendeiro no Maranhão que Nossos avós e bisavós patriarcais, quase sempre grandes procria- obrigava as escravas negras a deixarem seus filhos, crianças ainda de dores, às vezes terríveis sátiros de patuá de Nossa Senhora sobre o mama, no tejupabo, metidos até o meio do corpo em buracos para peito cabeludo, machos insaciáveis colhendo do casamento com me­ esse fim cavados na terra.188 O fim era evidentemente assegurar-lhe a ninas todo um estranho sabor sensual, raramente tiveram a felicidade imobilidade, evitando-se o perigo de engatinharem para o mato; ou de se fazerem acompanhar da mesma esposa até a velhice. Eram elas para os pastos, chiqueiro, estrebaria etc. Acreditamos ter sido costu­ que, apesar de mais moças, iam morrendo; e eles casando com irmãs me seguido em uma ou em outra fazenda, ou engenho de cana, e não mais novas ou primas da primeira mulher. Quase uns barba-azuis. prática generalizada, mesmo no Maranhão, cujos fazendeiros e se­ São numerosos os casos de antigos senhores de engenho, capitães- nhores de engenho criaram fama de extremamente cruéis com os mores, fazendeiros, barões e viscondes do tempo do Império, casa­ escravos. Prática generalizada, teria sido outra causa de deformações dos três, quatro vezes; e pais de numerosa prole. Fatos que são indi­ patológicas dos escravos negros e seus descendentes, tantas vezes cados quase como glórias nos seus testamentos e os vários matrimônios, contrariados no seu desenvolvimento físico, moral e eugênico pelas nos túmulos e catacumbas dos velhos cemitérios e das capelas de circunstâncias de sua situação econômica; pelas necessidades ou abu­ engenho. Pois essa multiplicação de gente se fazia à custa do sacrifí- cio das mulheres, verdadeiras mártires em que o esforço de gerar, ou mulata. Peitos de mulheres sãs, rijas, cor das melhores terras agrí­ consumindo primeiro a mocidade, logo consumia a vida. colas da colônia. Mulheres cor de massapê e de terra roxa. Negras e A esse fato, e não a nenhuma imposição da moda, deve-se atri­ mulatas que além do leite mais farto apresentavam-se satisfazendo buir a importância, em nossa organização doméstica, da escrava ama- outras condições, das muitas exigidas pelos higienistas portugueses de-leite, chamada da senzala à casa-grande para ajudar franzinas mães do tempo de D. João V. Dentes alvos e inteiros (nas senhoras brancas de quinze anos a criarem os filhos. Imbert observou que no Brasil as era raro encontrar-se uma de dentes sãos, e pode-se afirmar, através senhoras brancas, além de mães prematuras, sofriam "a acção inces­ dos cronistas, das anedotas e das tradições coloniais, ter sido essa sante de um clima situado debaixo dos trópicos"; clima que lhes "exgota uma das causas principais de ciúme ou rivalidade sexual entre senho­ as forças vitaes" e "irrita o systema nervoso." Enquanto as amas ne­ ras e mucamas). Não serem primíparas. Não terem sardas. Serem mães gras "organisadas para viver nas regiões calidas em que sua saúde de filhos sadios e vivedouros. prospera mais que em qualquer outra parte, adquirem nesta condição J. B. A. Imbert, no seu Guia medica, ao abeirar-se do delicado climaterica um poder de amamentação que a mesma zona recusa problema das amas-de-leite, principia um tanto acacianamente: "os geralmente ás mulheres brancas por isso que a organisação physica peitos deverão ser convenientemente desenvolvidos, nem rijos nem destas não se allia com tanta harmonia á acção da temperatura extre­ molles, os bicos nem muito pontudos nem encolhidos, accommodados ma destas regiões equatoriaes."190 Observação que se concilia com a ao lábio do menino".193 Imbert reconhecia a conveniência das amas de Bates sobre a tristeza do índio e do branco nos trópicos em con­ de criar serem escravas, não admitindo "em regra geral, que as mães traste com a alegria exuberante, a vivacidade e a saúde esplêndida do ainda mui jovens possam no Brasil supportar as fadigas de uma ama­ negro. Talvez não seja ponto inteiramente desprezível o salientado mentação prolongada sem grave detrimento de sua saúde bem como por Imbert, do maior poder de amamentação da mulher preta de que dos filhos." Mas salientando sempre a necessidade de fiscalizarem as a branca nos países tropicais. A tradição brasileira não admite dúvida: senhoras as amas negras. para ama-de-leite não há como a negra. Os fazendeiros deviam preocupar-se com a higiene pré-natal e Mas a razão principal do maior vigor das negras que das brancas infantil, não só nas casas-grandes, como nas senzalas. Muito negrinho estaria porventura em suas melhores condições eugênicas. Em motivos morria anjo por ignorância das mães. "As negras de ordinário", infor­ principalmente sociais, e não de clima. Em Portugal divergiam, nos ma o Manual do fazendeiro ou Tratado doméstico sobre as enfermi­ séculos XVII e XVIII, os mestres na "arte de curar e crear meninos" dades dos negros, "cortão o cordão muito longe do embigo e estão de quanto à cor que se devia preferir nas amas-de-leite. O que mostra ter mais a mais no pernicioso costume de lhe porem em cima pimenta, e o problema de louras e morenas preocupado os médicos antes de fomental-o com oleo de ricino ou qualquer outro irritante. Feito isto inquietar os estetas encarregados de escolher coristas para os teatros de apertam essas malditas o ventre da creança a ponto quasi de suffocal- Paris e Nova Iorque. O Dr. Francisco da Fonseca Henriques - grande a. Este bárbaro costume corta o fio da vida a muitas e muitas creanças celebridade médica em Portugal no século XVIII - opunha-se às mu­ e contribue para desenvolver no embigo essa inflammação a que no lheres fuscas e morenas: aconselhava as louras;191 o autor da Polyanthea Brasil se dá o nome de mal de sete dias." Ainda as negras nas senzalas era grande partidário das morenas. Alegava que "alem de serem mais "mal nasce a creança, costumam [...] amassar-lhe a cabeça, afim de sanguinhas, convertem melhor o alimento em sangue e em leite, á dar à testa uma forma mais agradável; sem attenderem à fraqueza dos maneira da terra, que quanto é mais negra, tanto é mais fértil."192 órgãos digestivos dos recém-nascidos, dão-lhes algumas vezes, pou­ Os conselhos do autor da Polyanthea devem ter repercutido sim- cos dias depois delles nascerem, alimentos grosseiros, tirados de sua paticamente entre os portugueses da América, por várias circunstâncias própria comida." Contra práticas dessa natureza é que as senhoras predispostos a criar seus meninos em peito de escrava negra. Negra brancas deviam conservar-se atentas, não somente impedindo que as grosserias das negras subissem às casas-grandes, mas que continuas­ É ao patriarca da literatura médica no Brasil, o Dr. Joam Ferreyra sem a proliferar nas senzalas. Afinal "as negras que acabam de parir", da Rosa, físico do século XVII, que vamos encontrar receitando aos diz Imbert, "acabam de augmentar o capital de seu senhor [...]."m seus doentes: "pós de carangueijos queimados dados a beber em hum Importava a mortalidade nas senzalas em diminuição séria no capital copo de agua de herva cidreira"; trazerem "debaixo do braço no sova- dos senhores.195 co [...] pasta ouropimiente" como "goma arábica"; e para a "supre-são de ourina" untarem com óleo de copaúba "as verilhas, cano intersemine É curioso surpreender o mesmo Imbert (tão intolerante de tudo o e ventre." A peste que nos fins do século XVII devastou Pernambuco que cheirasse a científico em matéria de criar menino e curar doente: pareceu-lhe arte dos astros: "pode o ar receber [...] sordicie, ou qua­ de quanto remédio, elixir, ungüento ou pomada para boubas, úlceras, lidade contagiosas dos Astros". Ou então obra da Justiça Divina, "em impingens, icterícia, erisipela, escoriações na virilha, coxas e nádegas quanto não se reformarem nossos péssimos costumes." A população de meninos novos devido a não mudarem freqüentemente de cueiro, devia combatê-la com fogueiras. Queimando "cousas aromaticas". sapinhos na boca, tinha, bexiga doida, sarampo, lombriga, solitária Andando com "pomos aromaticos na mão".199 Isto escreveu Ferreyra etc, parecesse coisa de curandeiro africano)196 aconselhando contra o da Rosa, que não era nenhum doutor caturra, mas um dos mais adian­ mal das crianças mijarem na cama este infalível remédio: comerem tados de sua época; tirando seus remédios e suas doutrinas "não dos carne assada e beberem um pouco de bom vinho; ou então "o medo, Empíricos, mas dos Methodicos & Racionaes." a ameaça de castigo." "A ameaça de castigo e o medo, produzem Em Portugal, no século XVIII, Fonseca Henriques, pediatra ilustre, algumas vezes effeito salutar, sobre tudo quando a incontinência é o ainda se orientava pelos astros na sua clínica. Quem lhe abrir o célebre 197 resultado da preguiça, ou de um mal habito [.. .]." O que mostra que Soccorro delfico aos clamores da natureza humana depara com estas médicos e curandeiros nunca estiveram muito distanciados uns dos graves palavras sobre a Lua: "a sua luz é nociva aos meninos". Nem outros, antes da segunda metade do século XIX. mesmo as roupas e panos da criança deviam deixar-se à luz da Lua. A arte de sangrar, exerceram-na no Brasil colonial e do tempo do Seriam robustos, segundo ele, os meninos que nascessem chorando Império escravos africanos, que foram também barbeiros e dentistas; alto e "muyto mays os que nacem com o escroto corrugado."200 e o mister de parteiras, exerceram-no ao lado de brancas e caboclas Nas Observações doutrinárias, de Curvo Semedo, Luís Edmundo boçais, negras nas mesmas condições; todas apelidadas comadres. foi encontrar receitas que na verdade pouco se distanciam das dos Comadres que, além de partejarem, curavam doenças ginecológicas curandeiros africanos ou caboclos; e em certa Pharmacopéa Ulysipo- por meio de bruxedos, rezas, benzeduras. As casas que habitavam nense, de João Vigier, recolheu coisas ainda mais imundas. Remédios tinham à porta uma cruz branca. E elas quando saíam a serviço, era caseiros, comuns em Portugal e que de lá se transmitiram ao Brasil: debaixo de uns mantos ou xales compridos, como umas cocas; mui­ chás de percevejos e de excremento de rato para desarranjos intesti­ tas "levando debaixo das mantilhas cartas de alcoviteiras, feitiços e nais; moela de ema para dissolução de cálculos biliares; urina de puçangas"; algumas conduzindo também, "a abandonar nas ruas e homem ou de burro, cabelos queimados, pós de estéreo de cão, pele, recantos, os produtos das práticas ilícitas e criminosas a que essa ossos e carne de sapo, lagartixa, caranguejos etc.201 profissão se presta e a que sem escrúpulos se entregavam."198 Uma medicina que pela voz de seus doutores mais ortodoxos A ignorância das mães brasileiras de outrora - meninas inexpe­ receita aos doentes tamanhas imundícies dificilmente pode firmar pre­ rientes - não encontrava nas comadres o corretivo necessário. Nada tensões de superior à arte de curar dos africanos e ameríndios. Por­ porém nos autoriza a concluir que as comadres e os curandeiros afri­ que a verdade é que destes tão desdenhados curandeiros absorveu a canos dos tempos coloniais excedessem à medicina oficial, isto é, mal-agradecida uma série de conhecimentos e processos valiosíssimos: européia, dos séculos XVI, XVII e XVIII, em porcaria ou simulação. o quinino, a cocaína, a ipecacuanha. No Brasil colonial parece-nos justo concluir terem médicos, comadres, curandeiros e escravos san- gradores contribuído quase por igual para a grande mortalidade, prin­ cipalmente infantil e das mães, que por épocas sucessivas reduziu quase 50% a produção humana nas casas-grandes e nas senzalas. A mortalidade infantil vimos que foi enorme entre as populações indígenas desde o século XVI. Naturalmente devido ao contato perturbador e disgênico com a raça conquistadora. Considerável tor­ nou-se também a mortalidade de crianças entre as famílias das casas- grandes. Foi talvez a esfera em que mais dolorosa e dificilmente se processou a adaptação dos europeus ao meio tropical americano - a da higiene infantil. Traziam eles da Europa noções rígidas de resguar­ do e de agasalho. Supersticioso horror de banho e do ar. Noções que, nocivas à criança em clima temperado, em clima quente significaram muitas vezes a morte. Piso contrastou-as com a higiene infantil dos caboclos para concluir pela superioridade do método indígena: con­ clusão a que antes chegara, sem ser médico nem naturalista, mas simples homem de bom senso, o francês Jean de Léry. A higiene infantil indígena ou africana - à maior liberdade da criança dos panos grossos e dos agasalhos pesados - é que se foi acomodando a européia, através da mediação da escrava índia ou negra. Mas aos poucos. A custa de muito sacrifício de vida. Nieuhof salientou a grande mortalidade infantil nos primeiros sé­ culos de colonização: teve, porém, o bom senso de atribuí-la menos ao clima ou à escrava africana que à alimentação imprópria.""2 E Fernandes Gama quase repete ao escrever que "as mulheres portu­ guesas a principio crearam mui poucos filhos"; que "dois terços des­ tes morriam pouco depois de nascidos." Que já "as filhas destas mu­ lheres que chegaram a crear-se. e mesmo ellas. accommodando-se ao clima e regeitando o peso dos vestidos, e o uso de abafar a cabeça dos filhinhos. banhando-os em agua morna, não se queixaram mais de que o clima fosse destruidor das vidas dos recém-nascidos."2II< Abrandou, decerto, a mortalidade infantil no Brasil, da segunda metade do século XVI em diante; mas continuou impressionante. No século XVIII preocupa-se com ela o Dr. Bernardino Antônio Gomes; no século XIX é um dos problemas que mais inquietam os higienistas do Segundo Império - Sigaud, Paula Cândido. Imbert. o barão de Lavradio; até que em 1887 José Maria Teixeira consagra-lhe um estu-

do verdadeiramente notável: Causas da mortalidade das crianças no Rio de Janeiro. Na sessão da Academia de Medicina de 18 de junho de 1846 o assunto é posto em discussão e debate, dentro dos seguintes itens: 1) a que causa se deve atribuir tão grande mortalidade nas crianças nos seus primeiros anos de vida: a prática de amamentação por escravas, com pouco escrúpulo escolhidas, poderá ser considerada como uma das principais? 2) quais as moléstias mais freqüentes nas crianças? Os registros da Academia talvez não guardem matéria mais cheia de inte­ resse social que a ata da memorável sessão. As opiniões são as mais desencontradas. Ergue-se o Dr. Reis para salientar como influência particularmente nociva sobre a saúde das crianças brasileiras o uso e abuso de comidas fortes, o vestuário im­ próprio, o aleitamento mercenário; as moléstias contagiosas das amas africanas, muitas delas portadoras de sífilis e principalmente de boubas e escrófulas. Mas fala depois o Dr. Rego para responsabilizar pela | mortalidade das crianças brasileiras menos as escravas e o vestuário que o hábito de se conservarem os meninos nus; salientando outro 449 fator importante: a falta de tratamento médico na invasão das molés­ tias. Levanta-se então Paula Cândido que insiste no perigo das amas- Ml de-leite escravas, escolhidas sem cuidadoso exame; que salienta os % males da dentiçào e dos vermes. Vários outros médicos e higienistas falam nessa reunião memorável. O Dr. De Simone que também se refere ao perigo das amas escravas e da alimentação imprópria. O Dr. u Jobim que lembra a influência perniciosa da "umidade das casas O Dr. Feital que salienta a alimentação imprópria. O Dr. Nunes Garcia que insiste no mesmo ponto e no da amamentação mercenária para ser contestado pelo Dr. Lallemant: este diz considerar a alimentação da criança no Brasil melhor que na Europa. Quem fala por último é o Dr. Marinho: salienta como causa da mortalidade infantil no Brasil a umidade, as fortes alternativas de temperatura, o vestuário, a alimen­ tação prematura, a amamentação mercenária. Em 1847. o barão de Lavradio, em série de artigos no jornal da Imperial Academia sob o título "Algumas considerações sobre as cau­ sas da mortalidade das creanças no Rio de Janeiro e moléstias mais freqüentes nos seis ou sete primeiros mezes de idade" faz do assunto larga sondagem, concluindo pela predominância das seguintes cau- sas: o mau tratamento do cordão umbilical; vestuário impróprio; pou­ preventivos se tenham antecipado às doenças, levando muito anjinho co cuidado no princípio das moléstias das escravas e das crianças de para o céu. mais idade; alimentação desproporcional, insuficiente ou imprópria; Alguns cronistas atribuem ao contato dos meninos brancos com os desprezo no princípio das moléstias da primeira infância, apresentan­ moleques o "vício", que muitos adquiriram, de comer terra. "Vício" que do-se ao médico crianças já moribundas de gastroenterites, hepatites foi a causa da morte de tanto escravo no Brasil colonial - desde o e tubérculos mesentéricos. tempo dos escravos índios. "Um dos meios que esses infelizes empre­ A verdade é que perder um filho pequeno nunca foi para a famí­ gam na própria destruição", escreve Koster, "é comer terra e cal. Tão lia patriarcal a mesma dor profunda que para uma família de hoje.205 estranho hábito, contraído às vezes pelos africanos, o é igualmente por Viria outro. O anjo ia para o céu. Para junto de Nosso Senhor, insaciá­ moleques crioulos e com freqüência também por meninos livres tanto vel em cercar-se de anjos. Ou então era mau-olhado. Coisa-feita. quanto pelos escravos. Tal disposição não é considerada doença, mas Bruxedo. Feitiço. Contra o que só as figas, os dentes de jacaré, as vício, que se pode vencer com a vigilância dos que cuidam das crian­ rezas, os tesconjuros. ças, sem recorrer à medicina. Em várias ocasiões, verifiquei que não O Dr. Teixeira registra, na sua memória, ter freqüentemente ouvi­ empregam como necessário nenhum tratamento medicinal e que os do dos pais estas palavras: "é uma felicidade a morte das crianças";206 meninos curam-se à força de castigo e de vigilância. Tive conversações e o fato é que se prolongaram pelo século XIX os enterros de anjos. a este respeito e notei que muitas pessoas livres que conhecem essa Uns em caixões azuis ou encarnados, os cadáveres pintados a carmim afecção através dos exemplos que observam nos filhos ou nos meninos como o do meninozinho que Ewbank viu morto no Rio de Janeiro; os do vizinho, a tinham por costume e não por doença. Nos adultos, é mais pobres, em tabuleiros cheios de flores; alguns até em caixas de mais comum nos escravos do que nos forros."209 papelão, das grandes, de camisas de homem. Parece que Koster não teve ocasião de observar o tratamento de As causas da mortalidade infantil no Brasil do tempo da escravi­ crias ou moleques viciados em comer terra, e até de meninos brancos, dão - causas principalmente sociais - fixa-as com admirável nitidez pelo sistema da máscara de flandres. Muito menos pelo do panacum de senso crítico José Maria Teixeira, atribuindo-as principalmente ao de cipó: enorme balaio dentro do qual o negro era guindado até o sistema econômico da escravidão, isto é, aos costumes sociais dele teto de improvisado lazareto com auxílio de cordas metidas por entre decorrentes: falta de educação física e moral e intelectual das mães; os caibros e presas em argolas nos portais. Esses lazaretos existiram desproporção na idade dos cônjuges; freqüência de nascimentos ilíci­ até meados do século XIX em engenhos do Norte; viu-os, ainda meni­ tos.207 Devendo acrescentar-se: o regime impróprio da alimentação; o no, Faelante da Câmara: "o paciente era isolado num lazareto ou aleitamento por escravas nem sempre em condições higiênicas de hospital suigeneris, onde lhe era de todo impossível manter o abomi­ criar; a sífilis dos pais ou das amas. Foi evidentemente a ação dessas nável vício da geofagia". Metido no tal panacum e suspenso do solo influências que muitos confundiram com a de clima. Luccock obser­ "impunha-se-lhe uma quarentena de muitos dias enquanto se lhe dava vou no Brasil dos princípios do século XIX "grande negligência" leite de jaracatiá a fim de corrigir-lhe a anemia e era submetido a um ("actual great neglect") com relação ao bem-estar das crianças ("with regime de alimentação substanciosa levada a horas certas na ponta de regará to the welfare of children, to their life ordeath").20* uma vara, quando não era possível descer o panacum à vista da pes­ Várias foram as doenças que afligiram a criança brasileira no tempo soa da maior confiança."210 da escravidão. Mal dos sete dias (inflamação do umbigo). Tinha. Sar- O menino do tempo da escravidão parece que descontava os na. Impingem. Crostas leitosas. Sarampo. Bexiga. Lombrigas. Doenças sofrimentos da primeira infância - doenças, castigos por mijar na cama, que se combateram a clisteres, purgantes, bichas, medicação evacuante, purgante uma vez por mês - tornando-se dos cinco aos dez anos sangrias, vomitórios, sinapismos. É provável que alguns remédios e verdadeiro menino-diabo. Seus jogos e brincadeiras acusam nele, como já observamos, tendências acremente sadistas. E não era só o menino E é de imaginar quanto se judiava então com os crias e com as de engenho, que em geral brincava de bolear carro, de matar passari­ meninas. Sobre este ponto, os depoimentos por nós recolhidos de nho e de judiar com moleque: também o das cidades. sobreviventes da ordem escravocrata - um deles Leopoldo Lins - são Mesmo no jogo de pião e no brinquedo de empinar papagaio muito expressivos. achou jeito de exprimir-se o sadismo do menino das casas-grandes e Em outro jogo, o de "belilisco de pintainho que anda pela barra dos sobrados do tempo da escravidão, através das práticas, de uma de vinte e cinco", manifestavam-se iguais tendências: começava com aguda crueldade infantil, e ainda hoje corrente no Norte, de "lascar-se o beliscões para terminar em bolos nas mãos da criança menos esperta, pião" ou de "comer-se o papagaio" do outro; papagaio alheio é destruído que nem o do feitor nas mãos do moleque safado. E no jogo de peia- por meio da lasca, isto é, lâmina de vidro ou caco de garrafa, oculto nas queimada é bem possível que muitas vezes a peia servisse de imita­ tiras de pano do rabo. Nos próprios jogos coloniais de sala surpreen­ ção do tira-mandinga-de-negro do feitor nas costas do escravo fugido; dem-se tendências sadistas: no "jogo do beliscão", tão querido das crian­ como o galho de goiabeira fez tantas vezes o papel de chicote no ças brasileiras nos séculos XVIII e XIX, por exemplo. Oferecendo aos brinquedo de carro de cavalo. meninos larga oportunidade de beliscarem de rijo as primas ou os crias "E que são pela maior parte os filhos destes madraços?" pergunta da casa, não é de admirar a popularidade de jogo tão besta: o padre Lopes Gama, referindo-se aos filhos do senhor de engenho. "Muitos nem aprendem a ler, e escrever [...]. As deshumanidades e Uma, duas, angolinhas cruezas, que desd'os tenros annos vêm praticar com os míseros escra­ Finca o pé na pampolinha vos os tornam quasi insensíveis aos padecimentos do seu próximo O rapaz que jogo faz? [...]." E "na verdade como se formarão para as virtudes sociaes os Faz o jogo do capão. nossos corações, se nós brasileiros, desde que abrimos os olhos, é Ó capão, semicapão, logo observando a cruel distinção entre senhor e escravo, e vendo pelo mais pequeno motivo e ás vezes por mero capricho rasgar desa- Veja bem que vinte são piedadamente em açoites as carnes dos nossos semelhantes? Como E recolha o seu pezinho apreciaremos o pudor, nós que vemos, ou mandamos levantar as Na conchinha de uma mão roupas de uma desgraçada escrava para ser surrada?"212 "Apenas nos Que lã vai um beliscão...211 assoma á intelligencia", são palavras do mesmo padre-mestre, em outro dos seus artigos de crítica aos costumes brasileiros dos princípios E ia mesmo o beliscão em quem fosse atingido na roda por "lá do século XIX, "vamos observando de uma parte o desprimor, a sem vai um beliscão." Beliscão medroso da parte dos crias; doloroso e vergonha, a frasearia, o desregramento dos escravos, e de outra os forte quando dado pelos meninos brancos. Mas o maior sofrimento duros tratamentos, as surras, as bofetadas, que estes infelizes recebem reservava-se ao último a ser atingido pela frase. Este era agarrado quasi todos os dias de nossos paes, sem que taes creaturas degrada­ por todas as crianças que batiam com ele no chão, cantando com das sintam mais do que sensação physica, e rarissima vez o sentimen­ toda força: to moral; e dahi o que deverá seguir-se? o tornarmo-nos grosseiros, voluntariosos, e cheios d'orgulho."213 Nas suas recordações de infân­ cia o visconde de Taunay, que foi um homem tão suave, quase uma É de rim-fon-fon, moça, confessa que gostava de fazer suas judiariazinhas com os mole­ É de rim-fon-fon, ques.214 E há um trecho do romance de Machado de Assis em que o Pé de pilão, fino observador da sociedade brasileira do tempo do Império retrata- Carne-seca com feijão. nos o tipo do menino sadista; da criança pervertida pelas condições tom armavam cavalleiros os seus filhos, apenas estes começavam a sociais de sua formação entre escravos inermes; entre criaturas dóceis ensaiar os passos, e os beatos vestiam de fradinhos os seus pequenos, aos seus caprichos. Não há brasileiro de classe mais elevada, mesmo assim muitos dos nossos matutos armam cavalleiros da faca aos seus nascido e criado depois de oficialmente abolida a escravidão, que filhinhos, logo que estes podem enfiar-se em uma ceroulinha." E acres­ não se sinta aparentado do menino Brás Cubas na malvadeza e no centava o padre-mestre sobre a educação do menino filho do senhor gosto de judiar com negro. Aquele mórbido deleite em ser mau com de engenho: "ali o menino é um perseguidor cruel das innocentes os inferiores e com os animais é bem nosso: é de todo menino brasi­ avesinhas, espiolhando-lhes os ninhos, e não podendo com a clavina, leiro atingido pela influência do sistema escravocrata. "Desde os cin­ já têm gabos de insigne escupeteiro. Desd'os tenros annos avesam-se co anos merecera eu a alcunha de 'menino-diabo [...]', confessa o as creanças ao sangue, à matança e à crueldade; porque tomar por herói das Memórias póstumas de Brás Cubas, "Por exemplo, um dia divertimento o tirar a vida a animaesinhos, que nos não offendem, quebrei a cabeça de uma escrava, porque me negara uma colher do antes nos regosijam, e concorrem para louvar as obras do Creador, é doce de coco que estava fazendo, e, não contente com o malefício, em meu humilde entender formar o coração para a barbaridade e a deitei um punhado de cinza ao tacho, e, não satisfeito da travessura, crueza. Lidando quasi só com escravos ali os meninos adquirem uma fui dizer à minha mãe que a escrava é que estragara o doce 'por linguagem viciosa, e montesinha, e os mais grosseiros modos, e não pirraça'; e eu tinha apenas seis anos. Prudêncio, um moleque de casa, poucos tomam a terrível manha de comer terra."215 era o meu cavalo de todos os dias; punha as mãos no chão, recebia Em outros vícios escorregava a meninice dos filhos do senhor de um cordel nos queixos, à guisa de freio, eu trepava-lhe ao dorso, com engenho; nos quais, um tanto por efeito do clima e muito em conse­ uma varinha na mão, fustigava-o, dava-lhe mil voltas a um e outro qüência das condições de vida criadas pelo sistema escravocrata, an­ lado, e ele obedecia - algumas vezes gemendo -, mas obedecia sem tecipou-se sempre a atividade sexual, através de práticas sadistas e dizer palavra, ou, quando muito, um - "ai, nhonhô!" - ao que eu bestiais. As primeiras vítimas eram os moleques e animais domésti­ retorquia: - "Cala a boca, besta!" - Esconder os chapéus das visitas, cos; mais tarde é que vinha o grande atoleiro de carne: a negra ou a deitar rabos de papel a pessoas graves, puxar pelo rabicho das mulata. Nele é que se perdeu, como em areia gulosa, muita adoles­ cabeleiras, dar beliscões nos braços das matronas, e outras muitas cência insaciável. façanhas deste jaez, eram mostras de um gênio indócil, mas devo crer Daí fazer-se da negra ou mulata a responsável pela antecipação de que eram também expressões de um espírito robusto, porque meu vida erótica e pelo desbragamento sexual do rapaz brasileiro. Com a pai tinha-me em grande admiração; e se às vezes me repreendia, à mesma lógica poderiam responsabilizar-se os animais domésticos; a vista de gente, fazia-o por simples formalidade: em particular dava- bananeira; a melancia; a fruta do mandacaru com o seu visgo e a sua me beijos." adstringência quase de carne. Que todos foram objetos em que se exer­ Era essa atitude dos pais, tolerando nos filhos a estupidez e a ceu - e ainda se exerce - a precocidade sexual do menino brasileiro. malvadeza e até estimulando-os a bravatas, que o padre Lopes Gama Na "Idéa Geral de Pernambuco em 1817" fala-nos um cronista não compreendia nem perdoava. Não compreendia que deixassem os anônimo de "grande lubricidade" dos negros de engenho; mas ad­ meninos de família viver pelos telhados como gatos e pelas ruas empi- verte-nos que estimulada "pelos senhores ávidos de augmentar seus nando papagaio; jogando a pedrada e o pião "com a rapaziada mais rebanhos".216 Não seria extravagância nenhuma concluir, deste e de porca e brejeirai". Isso nas cidades e subúrbios. "Pelos nossos mattos outros depoimentos, que os pais, dominados pelo interesse econô­ (com poucas, e honrosas excepções) é lastimosa a educação dos me­ mico de senhores de escravos, viram sempre com olhos indulgentes ninos. Ali o primeiro divertimento que se lhes dá é uma faquinha de e até simpáticos a antecipação dos filhos nas funções genésicas: ponta; e assim como no século da cavalleria andante os paes de bom facilitavam-lhes mesmo a precocidade de garanhões. Referem as tra- dições rurais que até mães mais desembaraçadas empurravam para em que de creanças se engolfão; princípios de onde para o futuro os braços dos filhos já querendo ficar rapazes e ainda donzelos, vem huma tropa de mulatinhos e crias que depois vem a ser pernicio­ negrinhas ou mulatinhas capazes de despertá-los da aparente frieza síssimos nas famílias." Mas salientando logo: "Succede muitas vezes ou indiferença sexual. que os mesmos senhores chamados velhos, para distincção dos fi­ Nenhuma casa-grande do tempo da escravidão quis para si a lhos, são os mesmos que com suas próprias escravas dão maior exem­ glória de conservar filhos maricás ou donzelões. O folclore da nossa plo às suas próprias famílias [.. .]"221 Superexcitados sexuais foram antes antiga zona de engenhos de cana e de fazendas de café quando se estes senhores que as suas negras ou mulatas passivas. Mas nem eles: refere a rapaz donzelo é sempre em tom de debique: para levar o o ambiente de intoxicação sexual criou-o para todos o sistema econô­ maricás ao ridículo. O que sempre se apreciou foi o menino que cedo mico da monocultura e do trabalho escravo, em aliança secreta com o estivesse metido com raparigas. Raparigueiro, como ainda hoje se diz. clima. O sistema econômico, porém, e seus efeitos sociais, em franca Femeeiro. Deflorador de mocinhas. E que não tardasse em emprenhar preponderância sobre a ação do clima. negras, aumentando o rebanho e o capital paternos. "Lesjeunes brésiliens"', escreveu Alp. Rendu, "sont souventpervertis Se este foi sempre o ponto de vista da casa-grande, como respon­ presque au sortir de l'enfance." O que lhe pareceu em grande parte sabilizar-se a negra da senzala pela depravação precoce do menino devido ao clima: "la chaleurdu climat hâte le moment de lapuberté"; nos tempos patriarcais? O que a negra da senzala fez foi facilitar a mas devido principalmente a causas sociais; e estas ligadas ao sistema depravação com a sua docilidade de escrava; abrindo as pernas ao de produção econômica: "les désirs excites par une éducation vicieuse primeiro desejo do sinhô-moço. Desejo, não: ordem. Os publicistas e et le mélange des sexes souvent provoques par les négresses"222 Nin­ até cientistas brasileiros que se têm ocupado da escravidão é um pon­ guém nega que a negra ou a mulata tenha contribuído para a precoce to em que sempre exageram a influência perniciosa da negra ou da depravação do menino branco da classe senhoril; mas não por si, mulata: esse de terem sido elas as corruptoras dos filhos-famílias. nem como expressão de sua raça ou do seu meio-sangue: como parte "Corruptoras da feminil e máscula filharada", chamou às negras F. P. de um sistema de economia e de família: o patriarcal brasileiro. do Amaral.217 E Burlamaqui: "corrompem os costumes dos filhos de O padre Lopes Gama escreveu dos meninos de engenho do seu seus senhores [...]".218 Antonil observou das mulatas de engenho que tempo: "apenas tocam os limiares da virilidade já se entregam conseguiam alforriar-se: o dinheiro com que se libertam "raras vezes desenfreiadamente aos mais porcos apptetites: são os garanhões sahe de outras minas que dos seus mesmos corpos, com repetidos 223 daquelles contornos [...]". Quando não estavam garanhando sua peccados: e depois de forras continuam a ser ruina de muitos."219 O ocupação era barganhar cavalos e bois e jogar o maior ponto e o professor Moniz de Aragão, em comunicação à Sociedade de Medici­ trunfo na casa de purgar. Mas isso - acentue-se ainda uma vez - na de Paris, chegou a considerar "o grande número" de contamina­ depois de uma primeira infância de constipações, de clisteres, de lom- ções insólitas de cancros extragenitais nos negros e mestiços do Brasil brigas, de convalescenças; de uma primeira infância cheia de dengos, resultado da "lubricidade simiesca sem limites", das pretas e mula­ de agrados, de agarrados com as mucamas e com a mãe; de banhos tas.220 Mas não é de estranhar: o próprio Nina Rodrigues acreditou ser mornos dados pelas negras; de mimos; de cavilação; de cafuné por a mulata um tipo anormal de superexcitada genésica. mão de mulata; de leite mamado em peito de negra às vezes até Melhor sentido de discriminação revelou Vilhena escrevendo no depois da idade da mama; da farofa ou pirão com carne comido na século XVIII: "As negras e ainda huma grande parte das mulatas, para mão gorda da mãe-preta; de pereba cocada por mulata; de bicho-de- quem a honra he hum nome chimerico e que nada significa, são pé tirado por negra; de sonos dormidos em colo da mucama. ordinariamente as primeiras que começão a corromper logo de meni­ Mimos que em certos casos prolongavam-se pela segunda infân­ nos os senhores moços, dando-lhes os primeiros ensaios da libidinagem cia. Houve mães e mucamas que criaram os meninos para serem quase uns maricás. Moles e bambos. Sem andar a cavalo nem virar para dentro tem 60, 70 e mais pessoas desnecessárias; fallo dentro da bunda-canastra com os moleques da bagaceira. Sem dormir sozinhos, cidade, porque no campo não admira".226 mas na cama-de-vento da mucama. Sempre dentro da casa brincando Os molequinhos criados nas casas-grandes chamaram também a de padre, de batizado e de pais das bonecas das irmãs. O padre Gama atenção de Maria Graham, nos engenhos de cana que visitou no sul nos fala de meninos que conheceu sempre "empapelados e envidra- do Brasil: um deles o engenho dos Afonsos, de propriedade da famí• çados"; e tratados com tantas "cautelas de sol, de chuva, de sereno, e lia Marcos Vieira - uma boa propriedade com 200 bois e 170 escravos de tudo, que os pobres adquirem uma constituição débil, e tão agrícolas e produzindo 3 mil arrobas de açúcar e setenta pipas de impressionável que qualquer ar os constipa, qualquer solzinho lhes aguardente. Aí viu Maria Graham crianças de todas as idades e de causa febre, qualquer comida lhes produz indigestão, qualquer pas­ todas as cores comendo e brincando dentro da casa-grande; e tão seio os fadiga, e molesta."224 Amolegado por tantos mimos e resguar- carinhosamente tratadas como se fossem da família.227 dos da mãe e das negras, era natural que muito menino crescesse Tanto o excesso de mimo de mulher na criação dos meninos e amarelo: a mesma palidez das irmãs e da mãe enclausuradas nas até dos mulatinhos, como o extremo oposto - a liberdade para os casas-grandes. Por outro lado, houve molequinhos da senzala criados meninos brancos cedo vadiarem com os moleques safados na baga­ nas casas-grandes com os mesmos afagos e resguardos de meninos ceira, deflorarem negrinhas, emprenharem escravas, abusarem de brancos. Coisa, já se vê, de iaiás solteironas, ou de senhoras maninhas, animais - constituíram vícios de educação, talvez inseparáveis do re­ que não tendo filho para criar deram para criar moleque ou mulatinho. gime de economia escravocrata, dentro do qual se formou o Brasil. E às vezes com um exagero ridículo de dengos. "O molequinho que­ Vícios de educação que explicam melhor do que o clima, e incompa­ bra quanto encontra", informa desse privilegiado o padre Gama, "e ravelmente melhor que os duvidosos efeitos da miscigenação sobre o tudo é gracinha; já tem 7, e 8 annos; mas não pode ir de noite para a sistema do mestiço, a precoce iniciação do menino brasileiro na vida cama, sem dormir o primeiro somno em o regaço da sua yayá que o erótica. Não negamos de todo a ação do clima: também na zona faz adormentar balanceando-o sobre a perna, e cantando-lhe uma sertaneja do Brasil - zona livre da influência direta da escravidão, da embirrante enfiada de chácaras, e cantilenas monótonas do tempo do negra, da mulata - o menino é um antecipado sexual. Cedo se entre­ capitão Frigideira." E mais: "eu conheço uma respeitável Sibila, que ga ao abuso de animais. A melancia e o mandacaru fazem parte da creando uma negrinha que hoje já terá os seus 14 annos, esta não vae etnografia do vício sexual sertanejo. A virgindade que ele conserva é de noite para a cama sem que primeiramente se deite no regaço de a de mulher. E nisto tem consistido sua superioridade tremenda sobre sua yayá gorda, que esta lhe vá dando trincos na carapinha (que é o menino de engenho. uma graxa de pomada) e fazendo mechas do vestido da pateta, e Certas tendências do caráter do sertanejo puxando para o ascetis- chupando-as até adormecer! aqui há porcaria, má creação e desafo­ mo; alguma coisa de desconfiado nos seus modos e atitude; o ar de 225 ro". Outro caso curioso refere entre sério e gaiato o padre-mestre: o seminarista que guarda a vida inteira; sua extraordinária resistência de meninos, estes brancos e de família, que se habituaram a ir para a física; seu corpo anguloso de Dom Quixote, em contraste com as cama, embriagando-se antes com cheiro de sovaco; vício talvez ad­ formas mais arredondadas e macias dos brejeiros e dos indivíduos do quirido quando crianças de peito, nos braços da mâe-preta. litoral; sua quase pureza de sangue, que só agora começa a contami­ Vilhena ficou admirado do número de molequinhos - negros e nar-se de sífilis e de doenças venéreas - são traços que se ligam da mulatos - criados dentro de casa "com mimo extremoso". Escreveu maneira mais íntima ao fato do sertanejo em geral, e particularmente numa de suas cartas da Bahia: "he aqui tão dominante a paixão de ter nas zonas mais isoladas das capitais e das feiras de gado, só conhecer mulatos e negros em casa que logo que seja cria que nasceo nella, só mulher tarde; e quase sempre pelo casamento. Gustavo Barroso, em por morte he que delia sahe; havendo muitas famílias que das portas estudo sobre as populações sertanejas no Nordeste, diz serem co- muns, no sertão, rapazes de mais de vinte anos ainda virgens.228 O cartas, divertindo-se em brigas de galo; casando-se com meninas de que, no brejo e no litoral, seria motivo para debiques e troças ferozes. quinze, dezesseis anos; empenhando-se em lutas por questões de Sente-se aí o resultado da influência direta da escravidão sobre estas terra; morrendo em duelos por causa de mulher; embriagando-se com duas zonas; e apenas indireta e remota sobre o sertão. Esse antagonis­ rum em grandes jantares de família - vastos perus com arroz assados mo de condutas sexuais - que seriam tão interessantes de contrastar- por "old mammies" peritas nas arte do forno, geléias, pudins, guisa­ se por meios estatísticos, procedendo-se a um inquérito entre estu­ dos, doce de pêra, quitutes de milho. dantes de escolas superiores vindos das duas regiões - só tem feito No sul dos Estados Unidos, como em Cuba, a criança e a mulher empalidecer nos últimos anos. Vão rareando nos sertões os donzelos sofreram passivamente, nas casas-grandes, as mesmas influências, não de mais de vinte anos. A sífilis vai se alastrando entre os sertanejos. tanto de "clima", nem da "simiesca lubricidade africana", como do Aos bordéis de Itabaiana e às célebres seiscentas meretrizes de Cam­ sistema de produção econômica e de organização patriarcal da famí­ pina Grande - "dois centros de contato de sertanejos com adventícios lia, sofridos pelo menino e pela sinhá-dona, nos engenhos e nas fa­ do Recife e da Paraíba" - atribui José Américo de Almeida a rápida zendas do Brasil. No Brasil, os meninos de engenho anteciparam-se sifilização, nos últimos anos, dos sertanejos paraibanos.229 aos do sertão em experiências de mulher, os do sul dos Estados Uni­ Fosse o clima a causa principal da sensualidade brasileira e teria dos anteciparam-se aos do norte. Refere Calhoun que um negociante agido sobre os sertanejos ao mesmo tempo que sobre os brejeiros e do sul em visita a amigos de Nova Iorque informou-os de que estivera J- as populações do litoral; e não três séculos depois. Não tenhamos há pouco na fazenda de um seu irmão; e que aí todos os escravos § hoje a ingenuidade que não teve Vilhena no século XVIII. Em uma de domésticos estavam sofrendo de doença venérea; e no meio deles, o suas cartas da Bahia, critica Vilhena os pais e mães que, concorrendo não tardando a se infeccionarem, os filhos do fazendeiro. Era o mes- 461 para "a destruição da innocencia dos seus filhos", atribuíam depois ao mo que crescessem e se educassem num bordel. ("I told him he might 3 calor "certos descuidos que só são producções de sua grosseiria e má- as well have them educated in a brothel at onde") Interessante é tam- g creação".230 bém este depoimento de velho escravocrata de Alabama recolhido t Q Além do que, confrontando-se os efeitos morais, ou antes, sociais, por Calhoun: que na sua fazenda, "every young man [...] hecame | da monocultura e do sistema de trabalho escravo sobre a população addicted to fornication at an early age."2il O mesmo que nos enge- l brasileira, com os efeitos produzidos pelo mesmo sistema sobre po­ nhos do Brasil. " pulações de raça diferente e em condições diversas de clima e de Não eram as negras que iam esfregar-se pelas pernas dos adoles­ meio físico - nas Antilhas e no sul dos Estados Unidos, por exemplo centes louros; estes é que, no sul dos Estados Unidos, como nos - verifica-se a preponderância das causas econômicas e sociais - a engenhos de cana do Brasil os filhos dos senhores, criavam-se desde técnica escravocrata de produção e o tipo patriarcal de família - sobre pequenos para garanhões. Ao mesmo tempo que as negras e mulatas as influências de raça ou de clima. para "ventres geradores". "Slave women were taught", escreveu No sul dos Estados Unidos criou-se e desenvolveu-se, do século Calhoun, "that it was their duty to have a child onceayear, and that it XVII ao XVIII, um tipo aristocrático de família rural muito mais pare­ mattered little who was the father."2>2 O mesmo interesse econômico cido ao do norte do Brasil de antes da Abolição que à burguesia dos senhores em aumentar o rebanho de escravos que corrompeu a puritana da outra metade da América, de origem também anglo-saxônia, família patriarcal no Brasil e em Portugal corrompeu-a no sul dos porém influenciada por um regime econômico diverso. Quase os Estados Unidos. Os viajantes que lá estiveram durante o tempo da mesmos fidalgos rústicos - cavalheiros a seu jeito; orgulhosos do nú­ escravidão referem fatos que parecem do Brasil.233 É verdade que lá mero de escravos e da extensão das terras; multiplicando-se em fi­ . como aqui não faltou quem, confundindo resultado e causa, respon­ lhos, crias e moleques; regalando-se com amores de mulatas; jogando sabilizasse a negra e seus "strong sex instincts" e principalmente a mulata - "the lascivious hybrid woman"254 - pela depravação dos ra­ pazes brancos. Entre nós, já vimos que Nina Rodrigues considerou a mulata um tipo anormal de superexcitada sexual; e até José Veríssimo, de ordinário tão sóbrio, escreveu da mestiça brasileira: "um dissolvente de nossa virilidade física e moral".235 Nós, uns inocentinhos: elas, uns Notas ao Capítulo IV diabos dissolvendo-nos a moral e corrompendo-nos o corpo. A verdade, porém, é que nós é que fomos os sadistas; o elemento ativo na corrupção da vida de família; e moleques e mulatas o ele­ 1. Arthur W. Calhoun,/! social history of the american familyfrom colonial times to the present, mento passivo. Na realidade, nem o branco nem o negro agiram por Cleveland, 1918. si, muito menos como raça, ou sob a ação preponderante do clima, 2. Afrânio Peixonto, Minha terra e minha gente, Rio de Janeiro, 1916. Opinião de dois outros nas relações do sexo e de classe que se desenvolveram entre senho­ pedagogos ilustres, em livro didático: mas estes, nada ortodoxos. Referimo-nos a Sílvio Romero e

res e escravos no Brasil. Exprimiu-se nessas relações o espírito do a João Ribeiro no seu Compêndio de história da literatura brasileira, 2 ed. Rio de Janeiro, sistema econômico que nos dividiu, como um deus poderoso, em 1909. senhores e escravos. Dele se deriva toda a exagerada tendência para o sadismo característica do brasileiro, nascido e criado em casa-gran­ 3. Rev. Inst. Hist. Geog. Bros., tomo LXXVIII, parte II. de, principalmente em engenho; e a que insistentemente temos aludi­ 4. Melville J. Herskovits, "A preliminary consideration of the culture áreas of África", American do neste ensaio. Anthropologist, vol. XXVI, na 1. Esse esboço de delimitação de áreas africanas de cultura o profes­ Imagine-se um país com os meninos armados de faca de ponta! sor Herskovits tem desenvolvido em trabalhos exaustivos, acrescentando-lhes novos traços. Pois foi assim o Brasil do tempo da escravidão. Na sua Histoire des Vejam-se deste autor "On the provenience of new world negrões", Social Forces, dez. 1933, XII; Indes Orientales diz Monsieur Souchu de Rennefort, que aqui esteve Dahomey: an ancient WestAfrican Kingdom (2 vols), Nova Iorque, 1938; "The negro in the no século XVII: "Tous les habitants de ce Paysjusques aux enfants, ne new world: the statement of a problem", American Anthropologist, janeiro-março, 1930, XXXII; marchentpoint en campagne, qu'ils neportent de grands couteaux "The social history of the negro", em A handbook of socialpsichobgy, organizado por C. Murchison, nuds, trenchans des deux côtez [...]". Souchu de Rennefort atribuiu à Worcester, 1935. necessidade de se defenderem, grandes e pequenos, das cobras-vea- Sobre as áreas de cultura africanas veja-se também Wilfrid Dyson Hambly, Source-book for dos, esse uso generalizado de faca de ponta: "pour couper ces serpens african anthropology, Chicago, 1937, obra que infelizmente não vem destacada pelo professor nommez cobre-veados [...]". Mas nem sempre matavam-se apenas ser­ Artur Ramos em sua bem orientada Introdução à antropologia brasileira (Rio de Janeiro, 1943). pentes; também homens e mulheres. Sobre a cultura trazida pelo negro para a América, de diferentes áreas africanas, vej a-se o trabalho A verdade, porém, é que o hábito da faca de ponta deve datar do professor M. J. Herskovits, The myth ofthe negro past, Nova Iorque e Londres, 1941. dos primeiros tempos da colonização, quando meninos e gente gran­ de deviam estar sempre prontos a enfrentar surpresas de índios e de 5. Henry Walter Bates, The naturalist in theAmazon river, Londres, I863.

animais selvagens. Daí, em grande parte, certa precocidade nas crian­ 6. Waldo Frank, loc. cit. ças coloniais, cedo chamadas a participar das angústias e preocupa­ ções dos adultos. E também dos prazeres ou gozos, que eram princi­ 7. Nas palavras do professor L. W. Lyde, "the black man is normally covered with a complet and palmente os do sexo. continuousfilm, and this means a maximum surface for evaporation - in which quantities ofheatare consumed-a maximum reflection of light, and maximum protection against nerveinjury" (L.W. Lyde, "Skin colour", The spectator, Londres, l6de maio de 1931). "De todas as raças humanas", escreve A. Osório de Almeida, "só os negros são perfeitamente adaptados à vida nos trópicos e só eles podem sem sofrimento suportar completamente nus o sol ardente dessas O professor Donald Pierson, por algum tempo da Escola Livre de Sociologia e Política de São regiões; essa resistência especial devem eles à sua pele negra que os protege contra os raios actínicos Paulo, em artigo que escreveu para zAmerican SociologicalReview (ns 4, vol. I, outubro, 1947), mas que apresentaria o grave inconveniente de se superaquecer ao sol se não fosse aquele meca­ sobre a edição em língua inglesa de Casa-grande & senzala, aparecida em 1946 com o título de nismo de defesa completado por um outro geral, seja a de possuírem uma grande capacidade de The masters andslaves, generosamente lembrou ao autor brasileiro, a propósito do emprego, sudação que corrige a tendência ao superaquecimento da superfície cutânea" ("A ação protetora neste ensaio, de expressões por ele consideradas suspeitas de heresia instintivista, o descrédito das do urucu", cit.). teorias de instintivismo entre os modernos estudiosos de sociologia. Talvez devesse dizer o crítico, mais modestamente, entre "os atuais estudiosos norte-americanos de sociologia", para cujos ou­ Alfred R. Wallace, A narrative of traveis on tbeAmazon and rio Negro, Londres, 1852. vidos a palavra "instinto" tomou-se, na verdade, de tal modo herética que o seu emprego, mesmo Tratando do modo por que varia, nos primitivos, a adaptabilidade a novas formas de cultura - o por um mestre da grandeza e da modernidade de T. Veblen, lhes soa hoje como sinal de ignorân­ melanésio em confronto com o polinésio, o ameríndio em contraste com o negro - Pitt-Rivers cia ou de arcaísmo. Quando a verdade é que o instintivismo não morreu de todo e sobrevive, sob as (op. cit.) salienta a opinião de McDougall, para quem essas variações resultariam de "diferenças novas formas assinaladas pelo professor James W. Woodward em trabalho recente ("Social de constituição fisiológica"; e lembra que já Wallace contrastara o aborígine da América com o psychology", 20h Century Sociology, Nova Iorque, 1945, p. 226): "reflexo prepotente" (Allport), negro alegre e palrador. "desejo" (Dunlap), "direção" (Holte Warden), "motivo" (Gurnee), "necessidade viscerogênica" No seu estudo Da esquizofrenia - Formas clínicas - Ensaio de revisão da casuística nacio• (Murray), "motivo de que se dependa" (Woodworth, Klineberg), "wishes" (Thomas), "hábito nal (Rio de Janeiro, 1931), Cunha Lopes e Heitor Peres discriminaram "a contribuição das prin­ dinâmico" (Dewey). Vitorioso de modo absoluto o antiinstintivismo radical de Bernard e Kuo, a cipais raças para cada forma clínica". Pela sua "tabela discriminativa dos tipos étnicos" vê-se que que se filia, segundo parece, o professor Donald Pierson, como a uma seita rígida, à mesma con­ a forma clínica mais freqüente para todos os tipos étnicos é a hebefrenia: entretanto, é o negro que denação que Veblen teriam que ser submetidos vários outros mestres modernos de sociologia, se revela "sobretudo hebefrênico" e "o mestiço, paranóide". Em comunicação feita anteriormen­ entre os quais Vilfredo Pareto, com quem em 1935 o mais notável dos instintivistas modernos, o te, em 1927, à Sociedade Brasileira de Psiquiatria, sobre "Psicoses nos selvagens", o professor professor W. McDougall, discutiu o emprego, em sociologia, de palavras como "instinto", "senti­ Cunha Lopes sustentara que "o selvagem autóctone, através da literatura e dos informes de nossos mento" e "interesse" ("The mind and society", Journal of Social Philosophy, vol. I, outubro, cronistas, é antes ciclotímico e só por exceção esquizotímico [...]". Em pesquisa realizada em 1935), Alfred Vierkandt (Handwôrterbuch der Soziologie, Stuttgait, 1931), R. S. Woodworth Pernambuco sobre "as doenças mentais entre os negros", o professor Ulisses Pernambucano en­ (Heredity and environment, Nova Iorque, 1941). E não apenas os psicólogos e sociólogos ape­ controu "freqüência menor da esquizofrenia e das chamadas nevroses entre os negros", percenta- gados ao "instintivismo" de Freud.

gens mais elevadas de negros "nas psicopatias com lesões anatômicas, exceto quanto à epilepsia e Como salienta o professor Woodward no seu já referido estudo, pesquisas recentes, entre as à paralisia geral", que as das outras raças reunidas; "maior freqüência do alcoolismo e dos delí­ quais as de Healey sobre o comportamento do feto e as de Buehler sobre o comportamento de rios infecciosos entre os negros" (Arquivos da Assistência a Pskopatas de Pernambuco, abril, crianças, vêm modificando "ourearlier radical environmentalism" (p. 227), ao qual o profes­

s n 1,1932). Faz algum tempo, em estudo estatístico especializado sobre a paralisia geral, o mes­ sor Donald Pierson se apega como a última e definitiva palavra da ciência, indiferente ao fato, mo pesquisador encontrou em cem paralíticos gerais "menor número de brancos" e "maior de salientado ainda pelo professor Woodward, de que "the generalproblem of occurrence and the negros". (Arquivos, cit., n2 2,1933). degre of specificity of innate traits at the human levei is notyet solved". Para um sociólogo Adauto Botelho, em estudo realizado no Rio de Janeiro em 1917, concluíra pela pouca fre­ moderníssimo como o professor Morris Ginsberg o problema de caracterização de tipos nacionais, qüência da demência precoce entre negros e pardos (cit. Boletim de Eugenia, Rio de Janeiro, tão ligado ao de instintos, ou "innate traits", é agravado pelo da ignorância, em que nos encon­ n2 38, abril-junho de 1932). Sobre o assunto vejam-se também os interessantes trabalhos de W. tramos ainda, a respeito da "importância relativa" a ser atribuída à "hereditariedade", por um Berardinelli, que admite não seja o índio exclusivamente esquizotímico nem o negro exclusi­ lado, e ao "ambiente" por outro, na formação do "caráter nacional" ("National character", Reason vamente ciclotímico, e Isaac Brown (O normotipo brasileiro, Rio de Janeiro, 1934) e o estudo and Unreason in Society, Londres, 1948, p. 135). de Álvaro Ferraz e Andrade Lima Júnior, A morfologia do homem do nordeste, Rio de Janeiro, Quanto ainda ao emprego da expressão "instinto econômico" que, encontrada neste trabalho 1939. Do ponto de vista sociológico, Oliveira Viana ocupa-se do problema em um dos seus pelo professor Pierson, fez que ele nos desse, na Americam Sociological Review, tão grave lição sugestivos ensaios. de "modernismo sociológico", esquecido de que o antiinstintivismo radical de Bernard e Kuo já se acha superado, deve-se salientar que expressões como a referida - "instinto econômico": equiva­ anglo-indianos tinham maior desenvolvimento físico que os Bengali. Os anglo-indianos recebiam lente a "propensão" ou a "hábito dinâmico" de criação ou acumulação de valores essenciais à 94,97 g de proteína, das quais 38,32 g eram de origem animal, enquanto os Bengali recebiam vida ou à alimentação humana pelo trabalho ou pela arte do homem - não se referem a instintos 64,11 g de proteína, sendo somente 9,3 g de origem animal. específicos, mas a "propensões", "tendências", "hábitos dinâmicos". Tais palavras são admitidas Por sua vez McCarrison, em pesquisa realizada em 1927, chegou a resultados idênticos aos de por sociólogos e psicólogos modernos para a definição daquelas expressões psicossociais no com­ McCay. Principalmente com relação a maior resistência e beleza física dos povos do norte da portamento de um grupo humano que se apresentem, ou parecem apresentar-se, independentes índia, em confronto com os do sul e leste (D. McCay, "The relation of food to physical development" das puras circunstâncias históricas ou geográficas. Na obra de Veblen - que é, talvez, a mais viva - Part II - Scient. Memor. by Ojficers ofthe Med. And Sanit. Dept. of the Govern. of índia - dentre as obras de sociólogos, psicólogos sociais ou economistas norte-americanos do nosso tem­ 1910 - N. S., na 37, "The relation of food to development", Philip, f. Sc. - 1910 - vol. 5, R. po - encontra-se a expressão "instinct of workmanship", isto é, instinto de trabalho criador, à McCarrison, "Relative value of the national diets of índia", Transac. of the 7* Cong. British qual o sociólogo espanhol Francisco Ayala, em obra notável (Tratado de sociologia: I - História índia, Tóquio, 1927, vol. III, apud Rui Coutinho, trabalho cit.). de la sociologia, Buenos Aires, 1947), refere-se, justificando o seu uso contra as críticas dos 16. Leonard Williams, apud W. Langdon Brown, The endocrines in general medicine, Londres, 1927. instintivistas radicais: "[...] instinto de laboriosidad (instinct of workmanship), discutido concepto, contra el que se objeta la no existência de semejante 'instinto' en la espécie huma­ 17. W. Langdon Brown, The endocrines in general medicine, cit. na, sin reparar en que la palabra está empleada por Veblen con el mismo caracter aproxi- mativo que la frase íucha por la existência', para senalar un hecho universal en la historia: 18. Leonard Williams, apud W. Langdon Brown, op. cit la aplicación dei hombre al trabajo y su complacência en la obra cumplidd)" (p. 146). 19. Haddon, Races of man, cit. Note-se que recentemente apareceram em Madri as obras completas desse mestre espanhol de r3 sociologia (Aguilar, 2 vols.). 20. BritishMedml]ourml,k\\g\\$\,ty2$,^ 46 10. Pitt-Rivers, The clash of cultures and the contact ofraces, cit. Londres, 1924. Segundo o professor G. V. Anrep "as conclusões positivas" das experiências de Pavlov, — Sobre o assunto vejam-se também Ruth Benedict, Pattems of culture, Boston, 1934; Franz que McDougall, professor da Universidade de Harvard, supusera desde o princípio prejudicadas 5 Boas, "Race", Encyclopaedia ofthe Social Sciences, Nova Iorque, 1935, XIII; R. E. Park, The z problem of cultural differences, Nova Iorque, 1931- por erro de técnica, foram "retiradas provisoriamente" pelo próprio investigador russo. Anrep, que ™ é professor da Universidade de Cambridge, publicou em inglês e sob o título Conditioned reflexes | 11. Documentos inéditos encontrados por Roquette-Pinto no arquivo do Instituto Histórico Brasileiro o trabalho de I. V. Pavlov sobre a atividade fisiológica do córtex cerebral. Neste trabalho, de 1927, o (arquivo do Conselho Ultramarino, correspondência do governador de Mato Grosso -1777-1805 posterior à comunicação de Pavlov ao Congresso de Edimburgo, o problema de transmissão here- < - códice 246), em Rondônia, cit. ditaria dos reflexos condicionados é considerado questão aberta. MacDougall vem desde 1920 realizando experiências com ratos brancos, de outro ponto de 12. Apert, La croissance, apud Sorokin, Social mobility, cit. vista, diverso do puramente objetivo, de Pavlov. Nessas experiências diz McDougall vir obtendo 13. F. P. Armitage, Diedand race, cit. resultados que parecem indicar a validade do princípio lamarckiano 0- T. Cunningham, Modem biology, a review ofthe principal phenomena of animal life in relation to modem concepts 14. Sorokin, Social mobility, cit. and theories, Londres, 1928). 15. Ales Hrdlicka, lhe old americans, cit. McCay, tendo estudado a alimentação dos diversos povos que 21. Dendy, op. cit. habitam a índia, para verificar a ação da dieta sobre o desenvolvimento físico e a capacidade dos mes­ 22. P. Kammerer, The inheritance ofacquired characteristics, Nova Iorque, 1924. mos, constatou que os Bengali mais baixos viviam com pequenas quantidades de proteína. Quantidades 23. M. F. Guyer e E. Smith, apud Ourpresentknowledge ofheredity (a series oflecturesgiven atthe mais baixas, mesmo, que as julgadas por Chittenden como compatíveis com o bem-estar físico. Mayo Foundation etc), Filadélfia e Londres, 1923-1924.0 neolamarckismo tem uma das suas As observações efetuadas por McCay, em estudantes de um mesmo colégio, sob as mesmas con­ expressões mais vigorosas em Oskar Hertwig, que sustenta a influência metabólica do ambiente dições de clima e fazendo idêntico trabalho, apenas recebendo dietas diferentes, mostraram que os sobre as disposições hereditárias, criticando ao mesmo tempo a teoria de seleção (Das Werden der Organismen, 1916, apud Erik Nordenskiõld, The history ofbiology, a survey (trad.), Lon­ pela "raça" ("raça" em oposição ao "meio social", de Vacher de Lapouge, a "antropossociologia" dres, 1929). Em tomo das experiências de Kammerer e Tower, citadas por Hertwig, vem se forman­ de Alfredo Otto Armon, para recordar duas expressões típicas dessa tendência), quer os classifica­ do um ambiente, de dúvida da parte de uns, de divergência na interpretação dos resultados, da dos por "classe". Da última tendência são característicos ensaios como os de Francis Galton parte de outros, chegando a haver quem ligue o suicídio do primeiro desses investigadores, ocor­ (Hereditary genius, 1871), Karl Pearson (The scope and importance to the state ofthe science rido em 1926, à falta de rigor ou escrúpulo que teria havido em suas pesquisas. Lentz, salientando ofeugenics, 1911), C. B. Davenport (Heredity in relation to eugenics, 1911), W. C. D. Whetham que Kammerer era judeu, diz que tem havido predileção dos judeus pelo lamarckismo, sendo (Heredity and society, 1912), L. M. Terman (The measurement of intelligence, 1916). Pelos judeus, segundo ele, muitos dos defensores da "herança de caracteres adquiridos", possivelmente estudos de Terman e de outros parece evidente a muitos que a estrutura de classe corresponde a pelo desejo, da parte dos israelitas - é ainda opinião de Lentz - de não haver "distinções condições naturais de hereditariedade, justificando-se, sob esse critério, o afã daqueles que fazem inextinguíveis de raça" (Erwin Baur, Eugen Fischer, Fritz Lentz, Human heredity (trad.), Lon­ da eugenia um meio de defesa da classe superior contra o que T. Lothrop Stoddard, autor de The dres, 1931). 0 sueco Nordenskiõld porém no trabalho citado salienta que a teoria da possibilidade rising tide of color (1920) e de The revolt of civilization (1922) denomina "deterioração pro­ da transmissão de caracteres adquiridos se tem enriquecido com as pesquisas posteriores à de gressiva" das populações. Kammerer, de Little, de Bagg e de Harrison (ingleses), as deste sobre o melanismo nas borboletas, Lamentável como parece ser a tendência, na Rússia de hoje (1949) e na Alemanha nazista, para "por meio da introdução de sais metálicos no alimento". Também com as de Muller, americano. pôr a biologia a serviço da política, ou de ideologia política do grupo dominante, deve-se reconhecer J. T. Cunningham, professor da Universidade de Londres, oferece-nos em seu trabalho Modem que igual tendência se encontra, é claro que desacompanhada de favor oficial ou de solidariedade biology (Londres, 1928) uma descrição imparcial, acompanhada de reparos críticos, não só das absoluta de Estado ou de Governo ao cientista-político, em trabalhos e atividades de biólogos, psicó­ experiências de Kammerer, como de todas as pesquisas mais recentes em torno do problema da logos e antropólogos do Ocidente voltados para o estudo de diferenças de capacidade, ou de demons­ possibilidade da transmissão de caracteres adquiridos. Problema de importância máxima para os trações de capacidade, entre "raças" ou entre "classes". Sobre as relações a entre algumas dessas estudos de antropologia social. 0 debate que ora se trava entre os ortodoxos do weismannismo, ou atividades e certas correntes de pensamento político autoritário ou conservador, vejam-se os estudos da "genética clássica", e os do mitchourinianismo, parece indicar que o problema da transmissão de G. Landtman, The origin ofthe inequality of the social classes (Londres, 1938), F. H. Hankis, de caracteres adquiridos continua aberto a discussões. Um dos aspectos mais curiosos do debate, "Race as a factor in political theory", na obra publicada por C. E. Merriam e H. E. Barnes, History of para quem dele se aproxima com critério de sociólogo atento às relações entre grupos étnicos, é o political theories (Nova Iorque, 1924), E. A. Hooton, Twüight of man (Nova Iorque, 1939), Ruth fato de vir sendo o weismannismo ou o mendelismo-morganista condenado pelos mitchourinianos Benedict, Race science: andpolMcs (Nova Iorque, 1940), J. S. Huxley e A. C. Haddon, We europeans devido aos "prolongamentos políticos, não biológicos, que parece ter no racismo [...]" (Aragon, (Nova Iorque, 1936) e A J. Toynbee.J study of history (Londres, 1934). "De la libre discussion des idées", Europe, Paris, outubro, 1948, p. 24). O mesmo crítico francês E nunca será demasia salientar-se a importância da obra científica de Franz Boas, desde seus salienta outro aspecto da revolta do professor T. D. Lyssenko contra a "genérica clássica": o de memoráveis estudos sobre alterações de forma de corpo de imigrantes (1911), no sentido de con­ "libertar" a biologia, de "metáforas sociológicas" (p. 25). Sobre o assunto vejam-se também, no ter os excessos na identificação de "raça" ou "classe" com os chamados "monopólios [...] de mesmo número At Europe, "État de la science biologique", relatório apresentado em 1948 por T. virtudes ou vícios humanos". Do que, entretanto, devemos nos guardar é do exagero de nos fe­ D. Lyssenko à Academia Lenine de Ciências Agrárias, onde Weismann, Mendel e Morgan são apre­ charmos de modo absoluto ao reconhecimento de diferenças hereditárias entre grupos humanos; sentados como "fundadores da genética reacionária contemporânea" (p. 34) e a doutrina de e também do de considerarmos certos grupos, como o israelita, sagrados, ou invariavelmente Mitchourine consagrada como "base da biologia científica" (p. 52), sustentando-se que "o orga­ caluniados, no que se refere ao seu .comportamento, como minoria étnica, ou antes, religiosa ou nismo e as condições de vida que lhe são necessárias são um todo indivisível" (p. 53), "Discussion cultural, entre outros grupos, só para não parecermos "anti-semitas" ou "racistas". du Rapport de T. D. Lyssenko", por S. Alikhanian e outros, "Interview de T. D. Lyssenko sur la 24. Franz Boas, Changes in bodily form of descendants of immigrants, Senate documents, Wa­ concurrence à 1'intérieur des espéces", "Cépanouissement de la science agrobiologique soviétique", shington, 1910-1911. por A. Mitine. Sobre o problema de "raça", tal como o situam autoridades modernas, veja-se também Rasse É evidente que os geneticistas soviéticos procuram colocar-se em posição de desafio àquela und Rassenentstehung bein Menschen de Eugen Fischer, Berlim, 1927. E em oposição à teoria sociologia biológica que, no Ocidente, através de estudos de eugenia, vem concluindo pela exis­ de Boas, em vários pontos essenciais, o trabalho de H. F. K. Günther, Rassenkunde des Deutschen tência de fortes ou decisivas diferenças hereditárias entre grupos humanos, quer os classificados Volkes (1 Iaed.), Munique, 1927, eodeG. Sergi, Europa, Torino, 1908. Em relação com o assunto devemos considerar ainda fundamentais: a obra de H. E. Ziegler, Die 29. George Henry Lane-Fox Pitt-Rivers, The clash of cultures and the contact of races, cit. Vererbungslehre in der Biologie und in der Soziobgie, Jena, 1918; a de E. Fischer e outros, 30. Franz Boas, The mind of primitive man, cit. Anthropobgie, Leipzig und Berlin, 1923; a de Baur, Fischer e Lentz, Human heredity (trad. com acréscimos pelos autores), Londres, 1931; a de W. Scheid, Allgemeine Rassenkunde, Berlim, 1926; 31. Padre Júlio Engrácia, Relação cronológica do santuário e irmandade do Senhor Bom Jesus de a de Théophile Simiar, Éude critique sur lafondalion de la doctrine des roces, Bruxelas, 1922; a de Congonhas no Estado de Minas Gerais, São Paulo, 1908. Erich Voegelin, Rasse undStaat, Tübingen, 1933; a de S.J. Holmes, The negro 's struggleforsurvival, Berkeley, 1937; a de Fischer, Die Rehobother Bastards und das Bastardierungsproblem bein 32. Principalmente os realizados nos Estados Unidos. Deles, entretanto, se prevalece Hankins para considerar de grande importância as diferenças hereditárias de caráter mental, entre as duas ra­ Menschen, Jena, 1913; a de S. J. Holmes, The trend of the race, Nova Iorque, 1923; a de M. Boldrini, Biometrica, problemi delia vita, delia specie e degli individui, Pádua, 1928; e a de W. Schmidt e ças. E ele nos adverte contra o perigo de substituirmos um misticismo, de raça, por outro, de cultura: o de Lapouge e de Gobineau - que criaram o mito da superioridade nórdica - pelo dos Koppers, Vólker undMturen, Regensburg, 1924; a de C. B. Davenport e Morris Steggerda, Race crossing in Jamaica, Washington, 1929; a de Henri Neuvüle, Uespèce, laraceetle méHssage en antropólogos e sociólogos que insistem em atribuir as diferenças entre as raças a puro fenômeno de difusão de cultura; a simples questão de maior ou menor oportunidade social (F. H. Hankins, anthropobgie, Paris, 1933; a de A. Keith, Ethnos, Londres, 1931; a de H. Muckermann, S. J, "Individual diferences and their significance for social theory", Publications ofthe American Rassenforschung und Volk der Zukunft, Berlim, 1932; a de M. Rossell I Vilar, La raça, Barcelona, Sociological Society, vol. XVII, 1922. 1930;adeElieFaure,7h)ísftwteíífe&?wg Paris, \^,aàeR.Maitm,Leb-bi^derAnlhropobgie,

Berlim, 1914; a de R. R. Bean, The roces of man, Nova Iorque, 1932; a de E. A. Hooton, Upfrom the 33. Alexander Goldenuceiser, "Race and culture in the modem world"Journal of Social Forces, vol. Ape, Nova Iorque, 1931. Também OfàÜi^rg, Race diferences, Novalorque, 1935;JulianHuxley III, 1924. e A. C. Haddon, We europeans, Nova Iorque, 1936; E. B. Reuter, Race and culture contacts, 1934; F. H. Hankins, 7feracial' basis ofávilization, Novalorque, \%\;tA.mrsàúdA,Racism (trad.)Lon­ 34. Kelsen, op. cit.

dres, 1938; Paul Radin, The racial myth, Nova Iorque, 1934. 35. Opportunity, 1927, apud Kelsey, op. cit. Veja-se também Sorokin, Contemporary social theories, Nova Iorque e Londres, 1928. A propósito destes testes, Lentz procura explicar os resultados favorá­ 25. F. Hertz, Rasse und Kultur, apud Kelsey, The physical basis of society, cit. veis aos negros do norte dos Estados Unidos em relação aos brancos de certas regiões do sul, Quanto aos trabalhos de Jean Rostand (Hérédité et racisme, Paris), Georges Lakhovsky {La observando ser grande, nos Estados do norte daquele país, a população mestiça indistintamente civilisation et la folie raciste, Paris, 1939), Hermann Warner Siemen {Théorie de Vhéréditê), chamada negra. Os negros puros seriam, na maior parte, os que se conservam nas zonas rurais do René Martial (Vie et constance des races, Paris, 1938), interessantes pela maneira, às vezes ousa­ sul (Erwin Bauer, Eugen Fischer, Fritz Lentz, Human heredity (trad.), Londres, 1931). da, de agitar o problema antropológico e sociológico das raças em relação com a cultura e da Sobre o negro na vida e na cultura dos Estados Unidos vejam-se M. J. Herskovits, The american hereditariedade em relação com o meio, pouco acrescentam de científica ou filosoficamente im­ negro: a study in racial crossing, Nova Iorque, 1928, e The myth of the negro past, Nova Iorque portante, aos estudos acima destacados. e Londres, 1941; Charles S. Johnson, The negro in american civilizatmn, Nova Iorque, 1930, e 26. R. R. Bean, "The negro brain", Century Magazine, 1906; Kelsey, op. cit.; Franz Boas, The mind Shadow oftheplantatíon, Chicago, 1934; William H. Thomas, The american negro, Nova Iorque, of primitive man, Nova Iorque, 1911; Alexander Goldenweiser, "Concerning racial differences", 1901; Ulrich B. Phillips, Life and labor in the oldsouth, Boston, 1929, e também W E. B. Dubois, Menorah Journal, vol. VIII, 1922. Para Pearson (cit. por Kelsey) a capacidade de crânio nos The negro, Nova Iorque, 1915; S. D. Spero e A. L. Harris, The black worker, Nova Iorque, 1931; E. negros é, nos homens, 140 cm3, e nas mulheres 100 cm3 menos do que nos europeus modernos. W. Lewis, The mobility ofthe negro, Nova Iorque, 1932; A. L. Harris, The negro as capitalist, Sobre o assunto veja-se também o livro do professor E. B. Reuter, The american raceproblem, Filadélfia, 1936; Willis Duke Weathford, The negro from África to America, Nova Iorque, 1924, e Nova Iorque, 1927. Race relations: adjustment of whites and negrões in the United States, Boston, 1934; Carter G. Woodson, The rural negro, Washington, 1930; The negroprofessional, man and the community, 27. Franz Boas, Anthropology and modem life, Londres, 1929- Washington, 1934, e The negro in our history, Washington, 1922; Ray Stannard Baker, Following 28. A.T.BryanteC.G.Seligman,"MentaldevelopmentoftheSoum MúcM\nttm",EugenicsReview, the color Une: an account of negro citizenship in the american democracy, Nova Iorque, 1908; vol. IX. Herman Feldman, Racial factors in american history, Nova Iorque, 1931; Ira de A. Reid, Valien Preston e Charles S. Johnson, The urban negro worker in the United States, 1925-1936, Wa­ Confirmando o que aqui se diz desde 1933, o professor Afonso de E. Taunay escreve na sua shington, 1938; PaulE. iúet,Negro-whiteadjustment, Nova Iorque, 1934; Paul Lewinson, Race, excelente História do café no Brasil - no Brasil Imperial, 1822-1872, Rio de Janeiro, 1939, class andparty, Nova Iorque, 1932; J. M. Mecklin, Democracy and race friction, Nova Iorque, vol. V, p. 166, que ao se verificar o deslocamento de escravos dos engenhos e fazendas de criação do 1924; Horace Mann Bond, Education of the negro in the american social order, Nova Iorque, norte para as grandes fazendas de café de São Paulo - fenômeno de 1860,70,80 - aos fazendeiros 1924; Bali Irving Wiley, Southern negrões, 1861-1865, New Haven, 1938; James W. Johnson, paulistas "causou verdadeiro pasmo verificarem entre as levas vindas do norte a existência de Autobiographyofanex-colorednwn,Nov2í\<òxayit, 1937; Donald R. Young, American minority numerosos escravos alfabetizados, alguns deles até mais letrados talvez que os seus novos senho­ peoples, Nova Iorque, 1932; Bertran W. Doyle, lhe etiquette of race relations in the south; a study res e outros, sobretudo os baianos, sabendo recitar trechos e trechos de Castro Alves, Junqueira in social control, Chicago, 1937; E. Franklin Frazier, Thefree negro family, Nashville, 1932; The Freire e Gonçalves Dias. Nas revoltas que se deram nas vésperas da Abolição seguidas de lincha­ new negro (organizado por Alain Locke), Nova Iorque, 1925; Gunnar Myrdal, An american mentos na praça pública por fazendeiros mascarados" (informação de Elói de Andrade), "os dilemma (com extensa bibliografia), Nova Iorque, Londres, 1944; Claude McKay, A long way autores, os cabeças como os chamavam, foram filhos de Pernambuco e Alagoas." Sobre o assun­ from home, Nova Iorque, 1937; Booker T. Washington, Up from slavery, Nova Iorque, 1901. to, veja-se também nosso prefácio para o estudo de Luís Viana Filho, Negros na Bahia, Rio de Todos esses estudos oferecem páginas de considerável interesse para efeitos de comparação com a Janeiro, 1945. influência do negro na vida e na cultura do Brasil, particularmente sob a influência do regime de 40. D. R Kidder ej. C. Fletcher, Brazil and the brazilians, Boston, 1879. trabalho escravo. Para um estudo do negro no Brasil escrito, em parte, do ponto de vista de um norte-americano e em comparação com a situação de descendente de africano na vida americana 41. J. B. de Sá Oliveira, Craniometria comparada das espécies humanas na Bahia sob o ponto de veja-se Donald Pierson, Negrões in Brazil, Chicago, 1942, há anos traduzido e publicado em vista emlucionista e médico-legal, Bahia, 1895. Veja-se também seu estudo Evolução psíquica português (e agora reeditado). A obra norte-americana The negro in the Américas (Washington, dos baianos, Bahia, 1898. 1940) dá uma visão de conjunto da situação do descendente de africano em diferentes áreas ame­ 42. Devemos a leitura dos originais à gentileza do Sr. Homero Pires, que nos franqueou sua excelente ricanas, estudadas também em conjunto pelo antropólogo e sociólogo brasileiro Artur Ramos em Brasiliana. Posteriormente o trabalho de Nina Rodrigues foi publicado sob o título Os africanos seu notável trabalho As culturas negras do novo mundo (Rio de Janeiro, 1937). Sobre o negro no Brasil, São Paulo, 1933, por iniciativa do mesmo Sr. Pires. nas Américas espanhola e francesa, além das obras, já clássicas, de Fernando Ortiz sobre Cuba, vejam-se Ildefonso Pereda Valdés, Negros esclavosy negros libres, Montevidéu, 1941, e Vicente O trabalho de Nina Rodrigues vem sendo continuado dentro e fora da Bahia por um grupo Rossi, Cosas de negros, Rio de la Plata, 1926. Vejam-se também, sobre o assunto, as indicações notável de estudiosos brasileiros das origens africanas da nossa população e da nossa cultura. dadas por Artur Ramos em sua Introdução à antropologia brasileira, Rio de Janeiro, 1943, na Entre esses estudiosos destacaram-se como antropólogos e historiadores sociais os professores Artur seção de sua vasta bibliografia dedicada ao Novo Mundo (exceto o Brasil). No México, segundo Ramos, autor de O folclore negro no Brasil, Rio de Janeiro, 1935, As culturas negras do novo informação do professor A Métraux, publicou-se interessante trabalho sobre a influência do ne­ mundo, Rio de Janeiro, 1937, e The negro in Brazil, Washington, 1939; Luís Viana Filho, autor gro na vida daquele país, trabalho em que, ainda conforme o professor Métraux, se segue a orien­ de O negro na Bahia, Rio de Janeiro, 1945; Aires da Mata Machado Filho, O negro e o garimpo tação do presente ensaio. em Minas Gerais, Rio de Janeiro, 1944; Gonçalves Fernandes, Xangós do nordeste, Rio de Janei­ ro, 1937; Édison Carneiro, Religiões negras, Rio de Janeiro, 1936. Veja-se a respeito a bibliografia 36. Sorokin, Contemporary social theories, cit. dada por Artur Ramos, Introdução à antropologia brasileira, Rio de Janeiro, 1943, p. 510-534.

37. Robert H. Lowie, Are we civüized?, Londres, s.d. 43. Citação de Nina Rodrigues, a favor da qual se encontram várias evidências em manuscritos do Arquivo Histórico Colonial de Lisboa. É assunto que merece estudo à parte. Antes de Nina Rodrigues, 38. Étienne, loc. cit.; Manuel Querino, "A raça africana e seus costumes na Bahia", Rev. da Acade­ um observador francês, Adolphe D'Assier, salientara a perspicácia da política portuguesa nos mia Brasileira de letras, n° 70. tempos coloniais, importando negros de "nações" diversas e até antagônicas He Brésil 39- Handelmann, História do Brasil, cit. Veja-se também Koster, Traveis, cit, em quem provavelmente contemporain, cit.). se inspirou Handelmann. No século XVI e primeira metade do século XVII a situação intelectual dos 44. Citada por Nina Rodrigues no referido trabalho. colonos foi menor que no XVIII devido aos educadores jesuítas: aos seus colégios e escolas. 45. Gaspar Barléus, Rerumper Octennium in Brasilien, Cléves, 1660, traduzido para o português e reduzido em confronto com os demais." Em seu estudo sobre os mercados de escravos no Brasil e as editado no Brasil, por iniciativa feliz do então Ministério da Educação e Saúde, Rio de Janeiro, em tribos importadas, apresentado ao Congresso de História Nacional (Rev. Inst. Hist. Geog. Bros., 1940. "Os Ardentes", escreve Barléus, "são muito preguiçosos, teimosos, estúpidos, têm horror ao tomo especial, parte II), identifica Brás do Amaral os seguintes estoques: Iorubas, Egbas, Geges, trabalho se excetuarmos pouquíssimos que, muito pacientes no trabalho, aumentam o seu preço Daomeanos, Ijejas, Angolas, Minas, Haúças, Krumanos, Filanio, Timinis, Bengos, Galinhas, Efans, [...]"; dos Calabrenses destaca "a frouxidão e preguiça"; dos negros de Guiné, Serra Leoa, Cabo, Axantes, Cabindas. As costas da Serra Leoa, Angola e os portos do golfo de Guiné teriam sido os a delicadeza ou suavidade, principalmente das mulheres; dos Congo e Sonhenses, a aptidão para principais mercados de escravos para o Brasil. Em pesquisa que realizamos, com o auxílio de José o trabalho: aptissími ad opera. Os mais laboriosos informa eram os Angolenses (laboriosíssimí Antônio Gonçalves de Melo, neto, na coleção Diário de Pernambuco, recolhemos dos anúncios de Angolenses). Antonil por sua vez escreveu no século XVIII: "E porque commumente [os escravos] Vende-se e de Escravos Fugidos as seguintes denominações de "nações" africanas: Camundongo ou são de nações diversas, e huns mais boçaes que outros, e de figuras muito diferentes, se ha de fazer Cambundongo, Angola, Moçambique, Caçanje, Congo, Rebolo, Benguela, Muxicongo, Mina, Cabinda, repartição com reparo e escolha, e não ás cegas. Os que vem para o Brasil são Ardas, Minas, Calabar, Angico, Cabundá, Costa, Gabão, Gegá, Quizamá, Beni ou Benim, Costa de Nagou, Luanda, Congos, de S. Thomé, d'Angola, de Cabo Verde, e alguns de Moçambique, que vem nas náos da Quelimano, Songa ou Songo, Mago, Baca, Mazango, Ubaca ou Embaça, Ganguela, Malembá, índia. Os Ardas e os Minas são robustos. Os de Cabo Verde e S. Thomé são mais fracos. Os d'Angola Macangana, Costa de Caxéu, Senze ou Senge, Ibanara, Bude ou Bufe. criados em Loanda são mais capazes de aprender officios mechanicos que os das outras partes já 48. Nina Rodrigues no seu trabalho já citado. Varnhagen, História geral do Brasil, cit. nomeados. Entre os Congos ha alguns bastantemente industriosos e bons não só por o serviço da canna, mas para os officios, e para o menos da casa" (Antonil, op. cit.). Com relação ao norte nos 49. Haddon, The races of man, cit. princípios do século XIX deixou-nos Koster as seguintes informações: os escravos importados em 50. Haddon, The races of man, cit. Sobre o assunto vejam-se também: Monroe N. Work, A bibliography maior número eram de Angola, Congo e os conhecidos por Moçambiques, Rebelos, Angico, Gabão. ofthe negro in África and América, Nova Iorque, 1928; Frank A. Ross e Louise Venable Kennedy, Os Moçambiques, só nos últimos tempos (Traveis, cit.). Maria Graham baseada em estatísticas A bibliography of negro migration, Nova Iorque, 1931; Wilfrid Dyson Hambly, Source book of aduaneiras obtidas no Rio de Janeiro dá como os negros mais geralmente importados nos princí­ african antropology, Chicago, 1937. Em português veja-se o trabalho de Artur Ramos, Introdu­ pios do século XIX: Moçambiques, Cabindos, Benguelas, Quilumanos, Angolas (Journal, cit.). ção à antropologia brasileira, Rio de Janeiro, 1943, com opulenta bibliografia. 46. Wâtjen, op. cit. Também Wâtjen foi traduzido para o português e publicado no Brasil (1938), na 51. Nina Rodrigues, trabalho referido. Sobre o tráfico de africanos para a América, incluindo o Brasil, Brasiliana, da Companhia Editora Nacional. vejam-se British and foreign state papers, especialmente volumes 24, 44, 57, 62, British Sobre o assunto - o contato do Brasil com os holandeses - vêm publicando ensaios em que são parliamentary papers, especialmente reports of the committees, select Committees on sugar estudados aspectos interessantes daquelas relações sociais e de cultura, os pesquisadores brasilei­ and coffee planting (1847-1848); Documents illustrative of the history of slave trade to ros especializados no conhecimento da língua holandesa, entre eles, José Antônio Gonsalves de America (organizado por Elizabeth Donnan), Washington, 1930-1935; Gaston-Martin, Nantes Melo, neto, e José Honório Rodrigues. O ensaio do primeiro, intitulado Tempo dos flamengos, e j á au XVIII siècle: Tère des négriers (1714-1744) dáprès des documents inédits, Paris, 1931; publicado (Rio de Janeiro, 1947), é decerto o estudo mais minucioso sobre o assunto; e mais padre Dieudonné Rinchon, La traite et 1'esclavage des congolaispar les européens, Wetteren, completo do ponto de vista brasileiro que o do próprio professor Wâtjen. 1929 e Le trafic négrier, dáprés les livres de commerce du capitaine Gantois, Pierre-Ignace- 47. Sílvio Romero, que parece se haver inclinado a princípio para a idéia do exclusivismo banto, na Liévin van Alstein, Bruxelas, 1938; W. D. Weatherford, The negro from África to America, Nova colonização brasileira, no seu Compêndio de história da literatura brasileira, escrito em colabo­ Iorque, 1924; José Antônio Saco, História de la esclavitud de la raza africana en el nuevo ração com João Ribeiro, faz inteligente discriminação dos estoques africanos. "Não foram, porém, só mundo y en especial en los países américo-hispanos (edição F. Ortiz), Havana, 1928; Charles de as numerosas tribos de Guiné, da Nigrícia ou África subtropical, e as do grupo Banto que serviram de La Roncière, Nègres et négriers, Paris, 1933; Tito Franco de Almeida, O Brasil e a Inglaterra ou viveiro à escravidão brasileira. Os vários ramos de Boximanes e Hotentotes entraram com seu contin­ o tráfico dos africanos, Rio de Janeiro, 1865; Afonso de E. Taunay, Subsídios para a história do gente. Deles nos provieram - alguns Ba-cancalas, Ba-cubais, Ba-corocas, Ba-cuandos, Ba-cassequeres, tráfico africano no Brasil, São Paulo, 1941; Roberto Simonsen, História econômica do Brasil, e, provavelmente, Ba-sutos e Be-xuanas. Revela não esquecer o contingente do grupo Núbio. Foram 1500-1820, São Paulo, 1937; J. M. de Camargo Júnior, "A Inglaterra e o tráfico", em Novos os saídos desta última fonte os mais inteligentes escravos brasileiros. Seu número, porém, foi muito Estudos Afro-Brasileiros, Rio de Janeiro, 1937- 52. F. J. Oliveira Viana, Evolução do povo brasileiro, São Paulo, 1933- 63. Sir Harry H. Johnston, The negro in the new world, cit Também Nina Rodrigues referiu-se a esse comércio, corno adiante veremos. O professor Lorenzo D. Turner vem recolhendo sobre o assunto 53. Ulrich Bonnell Phillips, American negro slavery, a survey ofthe supply, employment and interessante material. Veja-se seu "Somecontacts of brazilianex-slaveswith Nigéria, West África", control of negro labor as determined by the plantation regime, Nova Iorque, Londres, 1929. Journal of Negro History, XXVII, Washington, 1942. Sobre o assunto vejam-se também Ralph B. Flanders, Plantation slavery in Geórgia, Chapei Hill, 1933; Elizabeth Donnan, Documents illustrative of the history ofslave trade to America, 64. Melville J. Herskovits, "A preliminary consideration of the culture áreas of África", cit. Também Washington, 1930; Plantation and frontier, 1649-1863, Documentary History of America "The social history of the negro", cit. Industrial Society (documentos reunidos por ü. B. Phillips), Cleveland, 1909-1910; Culture in 65. Para Artur Ramos "embora essa divisão se apresente em algumas áreas arbitrária e sujeita a the South (organizado por Willian T. Couch), Chapei Hill, 1935; Rupert B. Vance, Human factors revisões ulteriores, ela é útil, pois nos proporciona uma visão de conjunto sobre a distribuição in cotton industry, Chapei Hill, 1929 e Human geography ofthe south, Chapei Hill, 1932. espacial dos principais povos e culturas da África" (Introdução à antropologia brasileira, Rio 54. Phillips, American negro slavery, cit. de Janeiro, 1943,1). Sobre o assunto vejam-se também de M. J. Herskovits, "The culture áreas of África", África, 55. Oliveira Viana, Evolução do povo brasileiro, cit. 1930,3, e de W. D. Hambly, Source-book for african anthropology, Chicago, 1937. 56. Luiz Vaia Monteiro, cit. Por Oliveira Viana, Evolução do povo brasileiro, cit. Sílvio Romero e João Ribeiro (Compêndio de história da literatura brasileira, cit.) não dei­ xaram de sugerir o estado de cultura das principais tribos ou "nações" africanas que concorreram 57. Araripe Júnior, Gregório de Matos, Rio de Janeiro, 1894. para a nossa civilização. "Não estavam todas, é certo, no mesmo grau de. cultura; mas do seu 58. Richard Burton, The highlands ofthe Brazil, cit contato com os árabes desde o VII século, com os egípcios e os berberes, desde épocas imemoriais tinham na mor parte de suas tribos chegado já a notável grau de adiantamento." E menciona­ 59. Eschwege, citado por J. Capistrano de Abreu, Capítulos de história colonial (1500-1800), Rio de ram: Jalofos, "aptos à vida do mar"; Mandingas, "convertidos em geral ao maometismo, inteli­ Janeiro, 1928. "Em um caso mesmo foram guias dos brasileiros", diz por sua vez João Pandiá gentes e empreendedores"; Jorubas ou Minas, "quase todos maometanos e tão hábeis quanto os Calógeras, "seu é o mérito da primeira indústria de preparo direto de ferro, nas forjas rudimenta­ Mandingas"; Haúças, "cuja língua é a mais espalhada no Soldão"; Felupos, "os mais selvagens res de Minas Gerais, fruto natural da ciência prática infusa nesses metalurgistas natos que são os da zona"; Fulas, "os sectários de Maomé, melhor organizados no país"; Balantos, "gentios demo­ africanos" (João Pandiá Calógeras, Formação histórica do Brasil, Rio de Janeiro, 1930). cratas"; Biafadas, "senhores de regular império destruído pelos Bijagozes"; Ba-Congos, cujo "vas­

60. Max Schmidt, artigo em Kbloniale Rundschau, abril, 1909, resumido por Sir Harry H. Johnston, to reino" era "um dos mais adiantados da África nos séculos XV e XVI"; Cabindas, "excelentes The negro in the new world, Londres, 1910. Vários trabalhos de Max Schmidt, de considerável trabalhadores"; Ambaquistas, "ladinos, hábeis sofistas, amigos da escrita"; Ma-quicos, "destros interesse para o Brasil, permaneceram em manuscritos que tivemos ocasião de consultar em As­ caçadores"; Guissamas, "bonsextraidoresdesal"; Libolos, agricultores; Bienos, artistas; Ba-gangelas sunção do Paraguai, no Museu Barbero. ou Ambuelas, mineradores de ferro; Guimbandes, artistas; Banharecas e Bancumbis, pastores e agricultores; Ajaus, "relacionados há séculos com os árabes"; Sengas mercadores de marfim; 61. José Maria dos Santos, Política geral do Brasil, Rio de Janeiro, 1930. Mazuzuros, criadores de gado e dados à mineração; Vatuas ou Zulus, guerreiros; Tongas ou Bitongos, "inferiores em cultura"; Mabingelas, Ma-changanas, Macuacuas, Ma-chopes, Mindongues, 62. Gardner esteve no Brasil em 1836, visitando a Bahia. Aí observou que os escravos eram mais Landins, pastores e agricultores; Núbios - fonte dos "mais inteligentes escravos brasileiros", im­ difíceis de dominar do que em qualquer outro ponto do Brasil. "A causa é óbvia", escreveu o portados "em número muito reduzido". Mencionam outras tribos que teriam concorrido para a cientista inglês. "Quase a população inteira [refere-se aos negros] daquela província é originá­ colonização do Brasil; mas sem destacar-lhes a significação cultural. Diogo de Vasconcelos desta­ ria da Costa do Ouro. Os homens e as mulheres não só são mais altos e de melhores formas que ca na sua excelente História Média de Minas Gerais (Belo Horizonte, 1918) e também na Anti­ os de Moçambique, Bengala e de outras partes da África como possuem maior ("a much greater ga, a presença, entre os colonos africanos do Brasil, de negros vindos de áreas de cultura adianta­ share") energia mental devido talvez às suas íntimas relações com os mouros e árabes. Entre da: "Limítrofes com países maometanos". Veja-se também o trabalho de Melville J. Herskovits, eles há muitos que lêem e escrevem o arábico" (George Gardner, Traveis in the interior of "On the provenience of new world negrões"Journal of Social Forces, vol. XII, n2 2,1933- Brazil, cit.). 66. Estudos de Orr e Gilks mostram que os Masai, por exemplo, são um povo superiormente alimenta­ 73- Entre outras, a erva conhecida no Rio de Janeiro - segundo Manuel Querino - por pungo e por do. Tal é a abundância de seus rebanhos de carneiros, cabras e bois que a cada indivíduo "caberia macumba na Bahia; e em Alagoas por maconha. Em Pernambuco é conhecida por maconha; e uma média de 25 cabeças de bovinos e duas vezes mais carneiros e cabras". Os elementos básicos também, segundo temos ouvido entre seus aficionados, por diamba ou liamba. Diz Querino que o de sua dieta são: leite, carne e sangue (este retirado do animal pela punção jugular). Diversas uso de macumba foi proibido pela Câmara do Rio de Janeiro em 1830, o vendedor pagaria 20$000 raízes e cascas são usadas para infusões que os homens tomam com carne cozida e leite. Segundo de multa; o escravo que usasse seria condenado a 3 dias de cadeia. Já fumamos a macumba ou aqueles investigadores a quantidade de proteína ingerida pelos Masai é: homens, 300 g; mulheres, diamba. Produz realmente visões e um como cansaço suave; a impressão de quem volta cansado 165 g 0- B. Orr e J. L. Gilks, "The physique and health of two africain tribes", Medicai Research de um baile, mas com a música ainda nos ouvidos. Parece, entretanto, que seus efeitos variam Council; Special ReportSeries, na 155,1932, apud Rui Coutinho, cit.). Sobre o regime alimentar consideravelmente de indivíduo para indivíduo. Como o seu uso se tem generalizado em de várias sociedades africanas veja-se também Wallis, An introduction to anthropology, cit. Pernambuco, a polícia vem perseguindo com rigor os seus vendedores e consumidores - os quais fumam-na em cigarros, cachimbos e alguns até a ingerem em chás. 67. Ignace Brazil Étienne, "La secte musulmane des Males du Brésil et leur révolt en 1835", Anthropos, Alguns consumidores da planta, hoje cultivada em várias partes do Brasil, atribuem-lhe virtu­ Viena, janeiro-março, 1909. des místicas; fuma-se ou "queima-se a planta" com certas intenções, boas ou más. Segundo

68. Nina Rodrigues, trabalho cit.; Manuel Querino, "A raça africana e seus costumes na Bahia", cit. Querino, o Dr. J. R. da Costa Dória atribui-lhe também qualidade afrodisíaca. Entre barcaceiros e pescadores de Alagoas e Pernambuco verificamos que é grande ainda o uso da maconha. 69. Melo Morais Filho, Festas e tradições, Rio de Janeiro. 74. Nina Rodrigues, trabalho cit. 70. O mesmo, quanto à relação de festas com as fases da Lua e o uso de túnicas alvas durante as cerimônias, observamos em Pernambuco, entre os adeptos da seita "Adoradores dos astros e das 75- Nina Rodrigues, trabalho cit. Quando chegou ao Rio de Janeiro em 1852 a delegação da Socieda­ águas", no Fundão (Recife), dissolvida pela polícia do Estado, que também fechou as casas de de dos Amigos (Quakers) foi recebida por uma comissão de Minas libertos. Sessenta tinham sido repatriados para Benim. Os ingleses receberam dos Minas papéis redigidos em arábico (veja-se Xangô de Anselmo e outras, referidas no texto. Os "adoradores" eram também estritos na absti­ John Candler e W. Burgess, Narrative of recent visit to Brazil, Londres, 1853)- nência de bebidas alcoólicas. Adoravam principalmente a Estrela-d'Alva, a Lua e a Água-Viva,

organizando peregrinações a cachoeiras, rios e quedas de água. O culto, na sede da seita, que era 76. Eis alguns anúncios, dos que nos parecem mais interessantes do ponto de vista da caracterização uma casinha toda branca, constava principalmente de danças, imitando os "movimentos dos antropológica: "escravo [...] alto, fullo, barbado, cabeça puxada para traz" {Diário de Pernam­ astros", executados por meninos que também cantavam, ora em português, ora em "línguas buco, 1 de março de 1828); "escravo [... ] fullo, Nação Massambique, com signaes na cara da estranhas", ao que parece inventadas. Uma "água sagrada", que recebia os "fluidos dos astros", mesma nação, pés apalhetados" (13 de março de 1828); "ladino de nação Angola e de nome João, era distribuída aos fiéis em garrafas ou copos. Mantinham escola, "aula de catecismo" e tinham bastante preto, bem parecido, pouca barba, alto, olhos grandes" (6 de agosto de 1828); "qualquer emissário no Pará. capitão de campo poderá pegar o preto chamado Benedicto, Nação Gabão [...] baixo e seco de Ninguém podia assistir às cerimônias que não estivesse vestido de branco. Os cânticos tinham corpo, barbado, e tem suíças, bonito de cara e de corpo" (25 de agosto de 1828); "Catarina do alguma coisa dos hinos das igrejas protestantes: gentio Benguella, alta, grossa de corpo, peitos em pé, cara larga, beiços grossos, dentes abertos, bem preta, de bonita figura" (9 de outubro de 1828); "Antônio, de Gentio da Costa, edade 25 A união das águas annos, tem 3 talhos na testa, signal de sua terra, tem o dedo grande do pé esquerdo sem unha, tem Com as estrelas eu via a falia fina, e a cor fulla" (3 de agosto de 1829); "escravo da Nação Benguella de nome Manoel O círculo e o meu reino [... ] delgado de corpo, pouca barba, nariz algum tanto afilado" (6 de setembro de 1828); "escra­ Que a Deus pertencia. va preta de Angola com bom leite e bastante" (7 de agosto de 1828); "Izabel, Nação Congo, 30 annos [...] alta e grossa [...] pouco cabelo na cabeça" (22 de janeiro de 1835); "Bento, de Sobre o assunto veja-se também João do Rio,A? religiões no Rio, Rio de Janeiro, 1904. nação Camundá, alto, cheio de corpo, sem barba, pés grandes, anda um tanto banzeiro" (9 de 71. Manuel Querino, "A raça africana e seus costumes na Bahia", cit. julho de 1850). Numerosos anúncios se referem a fulos; também a "negros altos [.. ] e com todos os dentes da frente"; alguns a pretas com nádegas grandes, de chamarem a atenção como 72. Manuel Querino, "A raça africana e seus costumes na Bahia", cit. traço identificador de negro fugido. O que revela a presença de hotentotes ou boximanes entre os vitalidade intelectual das quais o mundanismo, o francesismo e o anglo-americanismo às vezes o escravos de Pernambuco no século XIX. Que negro ou negra feia era artigo quase sem importân­ afastaram. cia no mercado de escravos vê-se através de vários anúncios. Deste, por exemplo (Diário de 78. J. P. de Oliveira Martins, O Brasil e as colônias portuguesas, Lisboa, 1887. Pernambuco, 23 de setembro de 1830): "Vende-se uma escrava por preço tão favorável que seria incrível no tempo presente por tal comprá-la; a mesma escrava não tem vício algum, e he 79. Ruediger Bilden, em trabalho que não chegou a publicar em livro. Para ele, o estudo do desenvol­ quitandeira, e só tem contra si huma figura desagradável e he o motivo porque, se vende; na vimento histórico do Brasil demonstra que males atribuídos por alguns críticos à composição cidade de Olinda na segunda casa sobre o aterro das vicas, ou no Recife na rua do Crespo D. 3". O racial do país derivam-se da escravidão. Burlamaqui, Abreu e Lima, Peckolt são alguns dos brasi­ leiros que se anteciparam nessa interpretação da nossa história, seguidos, entre autores dos nossos negro que se vendia bem ou que, quando fugia, se procurava como quem procura uma jóia de dias, pelo escritor Gilberto Amado. família, fazendo-se até promessas a Santo Antônio, era o negro forte e bonito de corpo. Ainda em

1882, o Diário de Notícias do Rio de Janeiro publicava um anúncio prometendo a gratificação de 80. Alexander Goldenweiser, "Race and culture in the modem mr\i",Journal of Social Forces, vol. 200$000 a quem apreendesse o escravo Sabino, "bons dentes [...] quando falia carrega muito III, 1924. nos rr [... ] um pouco gago [... ] intelligente e muito esperto" (10 de julho de 1882). O assunto foi por nós versado em conferência na Sociedade Felippe d'Oliveira, no Rio de Janeiro, em 1934, 81. Ernest Crawley, Studies ofsavages and sex, cit.; Havelock Ellis, Analysis of the sexual impulse,

Q cit. Veja-se também Pitt-Rivers, The clash of cultures and the contact of races, cit. sobre "O escravo nos anúncios de jornais do tempo do Império", em trabalho apresentado ao 1

Congresso Afro-Brasileiro, em 1935, "Deformações de corpo nos negros fugidos", em Sociologia, 82. Fr. João de S.José Queirós, Memórias, p. 22, Porto, 1868. Em estudo sobre "Gente e coisas d'antanho introdução ao estudo dos seus princípios, Rio de Janeiro, 1945, e em prefácio para o trabalho do - crimes célebres", referente à área de Mato Grosso, o historiador José de Mesquita chega à con­ Sr. Ademar Vidal, sobre os escravos negros na Paraíba, no qual sugerimos a predominância de clusão de que a subárea mato-grossense de monocultura, latifúndio e outrora de escravidão apre­ longilíneos talvez dolicocefálicos, entre os negros fugidos caracterizados pelos anúncios. senta fortes semelhanças com áreas mais antigas e caracteristicamente agrário-patriarcais do Em minucioso estudo antropológico, a Sra. Mariajúlia Pourchet chegou à conclusão de que os Brasil, que foram as do açúcar, do litoral. Com relação ao negro da mesma subárea escreve ele ter estudos do índice cefálico no Brasil nos permitem afirmar que "o negro brasileiro surpreende o encontrado "casos típicos que ilustram ao vivo" o asseverado no presente ensaio: "o negro foi pesquisador com seu alto valor de índice cefálico, numa tendência franca à braquicefalia"; tam­ patogênico mas a serviço do branco; como parte irresponsável de um sistema articulado por ou­ bém que "nos indivíduos brancos uma série de pesquisas têm revelado um índice alto, perto da tros" (Revista do Instituto Histórico de Mato Grosso, ano XVI, tomo XXXIII, p. 110). Acrescenta braquicefalia, parecendo estar a população branca do Brasil sujeita ao processo geral de o historiador mato-grossense: "nossa [mato-grossense] organização social se esteou, de começo, 'braquicefalização' já apontado por vários autores em outros continentes" (índice cefálico no nos engenhos de aguardente, como no Nordeste, e ainda hoje é essa a única indústria organizada Brasil, Rio de Janeiro, 1941, p. 45). Sobre o assunto vejam-se também Roquette-Pinto, "Nota que existe nos arredores da capital, sob feição mais moderna, que é a usineira, mas sempre giran­ sobre os tipos antropológicos do ümil",Arquivos do Museu Nacional, Rio de Janeiro, vol. XXX, do em torno dos produtos e subprodutos da cana-de-açúcar" (p. 140). Conclusões semelhantes Mariajúlia Pourchet, Contribuição ao estudo antropoflsico da criança de cor (Bahia, Brasil), têm sido alcançadas, ou nos tem sido comunicadas, por outros pesquisadores de história regional especializados no estudo de áreas, ou subáreas, hoje aparentemente diversas da antigas áreas Rio de Janeiro, 1939; Bastos de Ávila, "O negro em nosso meio escolar" Novos Estudos Afro- agrário-patriarcais ou feudal-tropicais do Brasil, isto é, as do açúcar, do litoral (Pernambuco, Brasileiros, Rio de Janeiro, 1936; Ulisses Pernambuco e outros, "Dados antropológicos sobre a Bahia, Maranhão), a ponto de serem apresentadas como contradições absolutas as mesmas áreas população do Recife", Estudos Afro-Brasileiros, Rio de Janeiro, 1935; Júlia Magalhães Viotti, por observadores menos prudentes em suas generalizações. Entre aqueles outros pesquisadores, "contribuição à antropologia da moça mineira", Boletim da Secretaria da Educação e Saúde, recordaremos os Srs. Artur Reis (Pará e Amazonas), Manuel da Silveira Soares Cardoso, Mirian de Belo Horizonte, na 13,1933; Lucas de Morais, Estudos de antropometria constitucional nos Barros Latif, João Camilo de Oliveira Torres e Augusto de Lima Júnior (Minas Gerais), Moisés brancos nativos do Estado de São Paulo, São Paulo, 1939; Sette Ramalho, Lições de biometria Marcondes (Paraná), Dante de Laytano e Atos Damasceno (Rio Grande do Sul), Roger Bastide, aplicada, Rio de Janeiro, 1940; Alfredo Ellis Júnior, Raça de gigantes, São Paulo, 1926. Pierre Monbeig, Luís Martins e Da. Amélia de Rezende Martins (São Paulo). E nós mesmos, em

77. Joaquim Nabuco, O abolicionismo, cit. Por esse e por outros pontos de vista de intensa atualida­ viagem pelo sul do Brasil (São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul) e por Minas de, Joaquim Nabuco está a pedir um estudo que o situe nas melhores tradições brasileiras de Gerais, temos verificado, através de sobrevivências merecedoras de estudos, a extensão por grande parte do Brasil da colonização anterior ao século XIX porém menos antiga que a de São Vicente, 90. Lembra Oscar da Silva Araújo, repetindo, aliás, o velho Silva Araújo, que o barão de Lavradio Pernambuco, Bahia, Maranhão e Rio de Janeiro, com seus elementos mais característicos calculava em 50% o número de crianças sifilíticas encontradas no seu serviço no Hospital da (monocultura do açúcar, casas-grandes e terras de senhores latifundiários de origem principal­ Misericórdia do Rio de Janeiro; que Moncorvo e Clemente Pereira verificaram apercentagem de mente hispânica, escravos africanos) ou os substitutos menos sociológicos que culturais deles 40% a 50% de infecções sifilíticas no Serviço de Pediatria e Policlínica; Moura Brasil a de 20% nos (café, gado, cacau, a própria borracha, indígenas ou caboclos, em estado de escravidão ou de doentes de olhos por ele tratados na Policlínica do Rio de Janeiro (Oscar da Silva Araújo, Alguns quase escravidão, senhores de origem não hispânicas). Quanto ao Rio de Janeiro, sua semelhança comentários sobre a sífilis no Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1928). com o norte açucareiro-patriarcal é tal que sociologicamente são inseparáveis embora as diferen­ 91. Herculano Augusto Lassance Cunha, Dissertação sobre a prostituição em particular na cidade ças de conteúdo histórico-político. do Rio de Janeiro, tese apresentada à Faculdade do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1845. 83. Joaquim Nabuco, O abolicionismo, cit. 92. Citado por Oscar da Silva Araújo, op. cit., que supõe estarem incluídas nas "moléstias cutâneas", 84. Alexandre Herculano, História da origem e estabelecimento da inquisição em Portugal, cit. tão toleradas pelos brasileiros, as sifilíticas. Lembra a propósito a abusão, então reinante, quanto ao perigo de poderem tais doenças "recolher, com grave dano para o enfermo". 85. Joaquim Nabuco, O abolicionismo, cit. 93- Luís dos Santos Vilhena, Recompilação de notícias soteropolitanas e brasílicas (ano de 1802), 86. João Álvares de Azevedo Macedo Júnior Da prostituição do Rio de Janeiro e da sua influência Bahia, 1921. sobre a saúde pública, tese apresentada à Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, I869. Veja- se também Evaristo de Morais, A escravidão africana no Brasil, São Paulo, 1933- 94. Citado por Oscar Clark, Sífilis no Brasil e suas manifestações viscerais, Rio de Janeiro, 1918. Ainda sobre sífilis no Brasil, vejam-se Antônio José das Neves, "Memória", Anais Brasilienses 95. Citado por Oscar da Silva Araújo, Alguns comentários sobre a sífilis no Rio de Janeiro, cit. Em de Medicina, Jornal da Academia Imperial de Medicinado Rio de Janeiro, n-1, março de 1856, e 1875 calcularia Góis e Siqueira (op. cit.) que se achando em 1872 infestada de sífilis a sexta parte do nos mesmos Annaes (na 4, tomo XXV, setembro de 1873), o "Discurso do Conselheiro Dr. José Exército, em seis anos estaria inteiro atacado pelo mal. Quanto à população civil, escrevia: "não se Pereira do Rego na Sessão Anniversaria do Corrente Anno". ignora que a sífilis invade todas as classes sociais". À sífilis atribui Ruediger Bilden nos seus estudos 0 Dr. Pereira das Neves, escrevendo no meado do século XIX, afirmava que era comum os sobre a formação brasileira grande importância como fator de depauperamento da população. doentes brasileiros de males venéreos "communicarem a moléstia a muitas outras pessoas Os estudos modernos sobre a sífilis e o êxito já alcançado pela luta contra sua ação em vários antes de se tratarem [...]". Acrescentava que "desgraçadamente alguns factos me teem feito países indicam a relativa facilidade que o Brasil terá em libertar-se dessa herança da escravidão. Com conhecer que existe no povo o funesto prejuiso de um homem afectado de blenorrhagia cura- relação à luta contra a sífilis escreve em livro hoje raro o médico Durval Rosa Borges que se trata de se delia communicando-a a uma menina impubere. Não me esquecerei de um corpo de delicto, uma campanha "remuneradora desde o início" pois "estamos com todas as armas nas mãos" (Estu­ que fiz com o meu collega o Sr. Dr. Paula Menezes, de uma menina francesa de cinco annos de dos sobre sífilis, com especial referência à classe média paulistana, Rio de Janeiro, 1941). edade, a quem um miserável sapateiro portuguez communicou a mais grave syphilis primitiva pela crença em que vivia daquelle prejuiso". "Memória", Anais Brasilienses de Medicina, ne 96. E. A. Westermarck, The history ofhuman marriage, cit.

1,1856, p. 15-16. 97. Havelock Ellis, Tiie analysis of the sexual impulse, cit. 87. José de Góis e Siqueira, Breve estudo sobre a prostituição e a sífilis no Brasil, Rio de Janeiro, 98. G. Adlez, cit. por Crawley, op. cit. 1877. 99- W. Heape, cit. por Crawley, op. cit. 88. Janson, cit. por Calhoun, A social history of the american family, etc, cit. 100. Kelsey, The physical basis of society, cit. 89. Odum, cit. por Calhoun, A social history ofthe american family etc, cit. Sobre o assunto vejam- se também Edgar Sydenstricker, Health and environment, Nova Iorque, 1933, e E. R. Stitt, "Our . 101. A denúncia de Filipe Cavalcanti como sodomita vem nas Denunciações da Bahia (1591-1593), disease in inheritance from slavery", U. S. Naval Medicai Bulletín, XXVI, outubro, 1928. p. 448. Denunciou-o Belchior Mendes D'Azevedo, morador em Pernambuco, na Vila de Olinda. 102. Adindo Camilo Monteiro, Amor sáfico e socrático - Estudo médieo-forense, Lisboa, 1922. escravos ou de negros de Mato Grosso (que muito figuram nas crônicas policiais por ele examina­ 103. João Lúcio de Azevedo, "Organização econômica", cit. das) como "excelente caldo de cultura" onde "germinava a fauna mórbida e sinistra do crime" (p. 113), tendo porém o cuidado de não atribuir à arte de feitiçaria ou aos ritos e danças religiosas 104. Primeira visitação do Santo Ofício às partes do Brasil, Confissões da Bahia, cit, p. 20. dos negros, ação de causa na proliferação dos crimes examinados. 0 cuidado, também, de não confundir inferioridade social com inferioridade étnica. 105. A. Camilo Monteiro, op. cit. De outro pesquisador brasileiro do assunto, o Sr. Luciano Pereira da Silva é a observação de que 106. A. Camilo Monteiro, op. cit. no Brasil e em outros países "tem-se visto criminosos dos mais perversos freqüentar assiduamente as igrejas e cumprir todas as cerimônias do ritual católico" (Estudos de sociologia criminal, 107. Júlio Dantas, Figuras de ontem e de hoje, cit. Pernambuco, 1906, p. 529). Observação a favor de quantos consideram injusto identificar-se o João da Silva Campos em Tempo antigo (Bahia, 1942) confirma o que desde 1933 se diz neste comportamento criminoso da plebe urbana ou rural em nosso meio com a práüca "da feitiçaria" ensaio sobre a origem das práticas de feitiçaria no Brasil patriarcal: nem sempre foi africana. e de ritos ou religiões africanas. "Atribuir-se a influência do feitiço no Brasil exclusivamente ao africano é torcer a verdade", escre­ ve o pesquisador baiano (p. 11), que por isso mesmo se insurge contra a generalização de Paulo 108. Um estudo a fazer-se no Brasil é o das promessas a santos como reflexo das tendências estéticas do Cursino de Moura (São Pauto de outrora, São Paulo, 1943) no sentido de terem sempre os nosso povo; das suas predileções de cor, de nome etc. Com relação ao "culto de Maria na lingua­ negros no Brasil primado "na arte da feitiçaria, de rezas, de quebrantos, de maus-olhados, de gem popular do Brasil" deixou-nos Afonso Arinos páginas interessantíssimas. "Cada família nos­ sa tem, com raras exceções, uma ou muitas Marias" (Afonso Arinos, Lendas e tradições brasilei• mistificações, de dengues, de benzimentos". Silva Campos salienta que "salvo erro mínimo, dos ras, São Paulo, 1917). Resultado, muitas dessas numerosas Marias, de promessas a Nossa Senhora. vinte e sete indivíduos denunciados nesta Bahia como sortílegos ao visitador Furtado de Mendon­ Resultados de promessas ou do culto de Maria são ainda os nomes de muitos lugares do Brasil - ça em 1591 eem 1593, conforme se vê no livro da Primeira visitação do Santo Ofício às partes Graças, Penha, Conceição, Montesserrate - que tomam a nomenclatura geográfica do nosso país do Brasil - Denunciações da Bahia, somente dois eram negros de Guiné e um mulato. Os vinte tão mais poética que a dos Estados Unidos com os seus Minneapolis, Indianápolis, e outros nomes e quatro restantes, dois homens e vinte e duas mulheres, eram portugueses. Um que outro, se não em "polis" que Mathew Arnold achou horrorosamente inexpressivos. o fosse, seria branco da terra" (Tempo antigo, cit., p. 11-12). Deve-se também separar a prática da chamada "arte de feitiçaria" e de danças ou ajuntamen­ 109. Aliás esta última forma de pagar promessa encontra-se também entre negros fetichistas com rela­ tos religiosos de africanos e descendentes de africanos, de prática de crimes. Tanto quanto Silva ção a seus orixás. Ortiz observou em Cuba, entre os negros, promessas de devotos de "santos" só se Campos, concorda conosco o Sr. José de Mesquita ao salientar, em excelente estudo sobre a antiga vestirem de branco. Nina Rodrigues e Manuel Querino surpreenderam semelhantes na Bahia: "filhas-de-santo" cujos trajes variam de cor conforme o orixá. área agrária e escravocrata de Mato Grosso, como causa principal dos "desvios da moralidade social" que ali devem ser observados - desvios entre os quais nem sempre incluídos os de ordem 110. Manuel Querino, "A raça africana e seus costumes na Bahia", cit. Veja-se também Pereira da religiosa como "patológicos" - "a criminosa apatia dos poderes públicos", a falta de "conforto, Costa, "Folclore pernambucano", Rev. Inst.Arq. Hist. Geog. de Pernambuco; Alfredo de Carva­ de instrução, até de recursos materiais, concorrendo todos esses fatos combinados para gerar os lho, "A magia sexual no Brasil" (fragmento), Rev. Inst. Arq. Hist. Geog. de Pernambuco, ns surtos de delinqüência que acabamos de apontar". ("Crimes célebres", Revista do Instituto His­ 106; Juüo Ribeiro,/! carne, São Paulo, 1888. tórico de Mato Grosso, ano XVII, tomos XXXIII e XXXTV, 1935, p. 143, Veja-se do mesmo autor e 111. Agrippino Grieco, "Paraíba do Sul", O Jornal, Rio de Janeiro, edição especial comemorativa do sobre a mesma área, "Grandeza e decadência de serra acima", na mesma Revista, nm XXI a bicentenário do café. XXVIII, 1931-1932, p. 31-56.) Honrando-nos com uma referência a este ensaio, o Sr. José de Mes­ quita escreve: "Ninguém ignora o papel decisivo que a presença do escravo - negro ou de qual­ 112. Basílio de Magalhães, "As lendas em torno da lavoura do café", O Jornal, Rio de Janeiro, ed. quer outra espécie - exerceu na gênese do crime, nos diversos países onde fermentou esse podrideiro especial comemorativa do bicentenário do café. Sobre o assunto veja-se do mesmo Basílio de social" ("Crimes célebres", p. 140). Mas o escravo, como procuramos mostrar desde 1933 neste Magalhães, O café na história, no foldore e nas belas-artes, Rio de Janeiro, 1937.

ensaio, "a serviço do branco". Apresentando em seu estudo "casos típicos que ilustram ao vivo" 113- Basílio de Magalhães, "As lendas em tomo da lavoura do café", loc. cit. (p. 110) a afirmativa encontrada neste ensaio, o Sr. José de Mesquita refere-se aos batuques de 114. Alfredo de Carvalho, "A magia sexual no Brasil", cit. 115. Leite de Vasconcelos, Tradições populares de Portugal, cit. 127. João Ribeiro, A língua nacional, cit. A primeira edição deste ensaio apareceu ainda em vida de João Ribeiro, que o acolheu com simpatia e generosidade na sua seção de crítica ou registro 116. Lindolfo Gomes, apud Amadeu Amaral Júnior "Superstições do povo paulista", Revista Nova, São literário no fomal do Brasil. Paulo, na 4. 128. Lars Ringbom, The renewal of culture (trad.), Londres, s.d. Sobre o assunto veja-se Gilberto 117. Citada por Amadeu Amaral Júnior "Superstições do povo paulista", loc. cit. Do professor Luís da Freyre, Sociologia, Rio de Janeiro, 1945, notas à seção dedicada à sociologia biológica, p. 381-403

Câmara Cascudo é o bem documentado Geografia dos mitos brasileiros (Rio de Janeiro, 1947). e notas à seção dedicada à sociologia da cultura, p. 624-632.

118. Vários são os mitos brasileiros que envolvem sugestão ou ameaça de castração. Entre outros, o 129. Koster, Traveis in Brazil, cit, p. 388-389. mão-de-cabelo, do qual se diz, em Minas, aos meninos que mijam na cama: "óia, si nenen mija 130. José Veríssimo,^ educação nacional, Rio de Janeiro, 1894. na cama, mão-de-cabelo vem te pega e corta minhoquinha de nenen!" Veja-se Basílio de Maga­ 131. Antíogenes Chaves, "Os esportes em Pernambuco", O fomal, Rio de Janeiro, edição especial de lhães, O folclore do Brasil, 1928. Pernambuco, 1928.

119. Nina Rodrigues, em trabalho cit. 132. Koster, Traveis, cit.

120. Amadeu Amaral Júnior, loc. cit. 133- Koster, Traveis, cit.

121. Sir A. B. Ellis, citado por Nina Rodrigues, trabalho citado sobre o assunto veja-se também Artur 134. J. C. Fletcher e D. P. Kidder, Brazil and the brazilians, Boston, 1879.0 mesmo reparo havia sido Ramos, O folclore negro no Brasil, Rio de Janeiro, 1935. feito por Saint-Hilaire, em zonas escravocratas do sul do Brasil, nos princípios do século XIX. 135. F. L C. B. Frederico Leopoldo César Burlamaqui, Memória analytica acerca do commercio 122. José Lins de Rego, Menino de engenho, cit. d'escravos e acerca da escravidão domestica, Rio de Janeiro, 1837. 123. Alexander Caldcleugh, Traveis in south America during theyears 1819-1820-21, containing 136. L. Anselmo da Fonseca.^ escravidão, o clero e o abolicionismo, Bahia, 1887. an account of the present state of Brazil, Buenos Ayres and Chili, Londres, 1825. 137. Padre Lopes Gama, O Carapuceiro, cit. 124. João Ribeiro, Dicionário gramatical contendo em resumo as matérias que se referem ao 138. M. Botúim,América Latina, Rio de Janeiro, 1903. Em Sabará, Minas Gerais, mostraram-nos no estudo histórico-comparativo, Rio de Janeiro, 1889. Veja-se também sobre a influência das lín­ fundo do quintal de uma velha casa-grande dos tempos coloniais o lugar em que teria sido guas sobre o Português do Brasil o estudo de A. J. Macedo Soares, "Estudos lexicográficos do diale­ supliciado um escravo por ter sido surpreendido em relações com uma moça branca da casa. to brasileiro", Revista Brasileira, Rio de Janeiro, 1880, tomo IV. Dos trabalhos mais recentes destacaremos: o de Jacques Raimundo, O elemento afro-negro na língua portuguesa, Rio de 139. A. W. Sellin, Geografia geral do Brasil (trad.), Rio de Janeiro, 1889. Confirma-o com relação a Janeiro, 1933, e o de Renato Mendonça./I influência africana no português do Brasil, Rio de Pernambuco Da. Flora Cavalcanti de Oliveira Lima, íntima conhecedora da história social da Janeiro, 1933. Notável contribuição para esses estudos é o que traz o professor Mário Marroquim: região, em informações pessoais ao Autor. A língua do nordeste {Alagoas e Pernambuco), São Paulo, 1934. Mário Marroquim se insurge 140. R. Walsh, Notices of Brazil, II, Londres, 1830, p. 164. contra o "bilingüismo dentro de um só idioma" e contra as regras de gramática "baseadas em 141. José Vitoriano Borges da Fonseca, Nobiliarquiapernambucana (1776-1777), Rio de Janeiro, fatos lingüísticos isolados do homem". 1935, p. 9-

125. Padre Miguel do Sacramento Lopes Gama, O Carapuceiro, Recife, 1832-34,37,43 e 47. Em vários dos 142. Maria Graham, fournal, cit, p. 226. seus artigos, de diferentes épocas, o padre Lopes Gama se ocupa de aspectos do problema da detur­ 143. Burton, The highlands ofthe Brazil, cit. pação da língua portuguesa no Brasil patriarcal sob a influência africana ou do escravo africano. 144. Antonil, Cultura e opulência do Brasil, cit, p. 75. 126. João Ribeiro,/) língua nacional, São Paulo, 1933. "É esse [o modo brasileiro] um modo de dizer de grande suavidade e doçura ao passo que o - 'diga-me' - e o - 'faça-me' - são duros e imperativos." 145. Afonso de E. Taunay, Sob El-ReiNosso Senhor, São Paulo, 1923. 146. Nicolau Dreys, Noticia descriptiva da província do Rio Grande do São Pedro do Sul, Rio de Também nos manuscritos (livros de assentos) de família, da coleção Luís Antônio Pinto, por Janeiro, 1839- nós examinados em Caeté (Minas Gerais), são numerosos os casos como os de: Maria Salomé Perpétua de Queiroga, casada em 1787 com o alferes Bernardino José de Queiroga, tendo ela 14 147. Um relatório holandês do século XVII destaca a resistência que foi oposta aos invasores pela gente da terra: "Moradores, Mulatten, Mamalucquen, Brazilianen, ais Negros" (Relatório de anos e ele 33; Cândida Joaquina Perpétua de Vasconcelos, casada em 1795 com Francisco José Sessa, tendo ela de idade 13 anos e o marido 31; Maria de Vasconcelos, casada em 1812 com Schonemburgh e Haecks, em Aitzema. "Saken van Staet en Oorlogh in ende Ontrent de Veroenidge Joaquim Manuel de Morais e Castro, tendo ela 15 anos. Nederlanden, Regions Beginnende met het Jaer 1645, ende enyndigend met hetjaer 1658", Graven- Haghe, 1669). 156. "Unions between December of seventy and May offifteen are common and the result is a wife coeval with her grandchildren by marriage", diz Burton (The highiands of the Brazil, 148. Beckford, op. cit. cit.). Verifica-se o mesmo através de velhos inventários e testamentos da primeira metade do sécu­ 149. Vilhena, Cartas, cit, I, p. 48. lo XIX existentes em arquivos de engenhos e nos cartórios antigos. São também interessantes as 150. Tollenare, Notas dominicais, cit., p. 437. diferenças de idade entre marido e mulher, em famílias pernambucanas, que se observam através de Uma estatística de João Francisco Pais Barreto, publicada em Pernambuco em 1857 e hoje 151. Estatutos do recolhimento de Nossa Senhora da Glória, cit., pelo cônego José do Carmo Barata, raríssima. As diferenças de 40 para 20,23 para 15,31 para 21,47 para 20, 57 para 22, ocorrem "Um grande sábio, um grande patriota, um grande bispo" (conferência), Pernambuco, 1921. freqüentemente. E. Walsh escreve (op. cit., II, p. 90), referindo-se ao Brasil de 1828-1829: "Men of 152. Mrs. màerúey,Lettersfrom thelslandsofTeneriff, Brazil, The Cape ofGoodHope and the East sixtyfrequentlymarrygirlsoftwelve, andhave a family aboutthem where the wife seems the Indies, Londres, 1777. daughter and the little ones the grandchildren".

153. Gaspar Barléus, Rerumper Octennium etc., cit. Dessa célebre crônica sobre o Brasil do século 157. Padre Simão de Vasconcelos, Vida do venerável padre Joseph de Anchieta da Companhia de XVII já existe excelente tradução portuguesa. Iesu, cit., p. 209.

154. Pastoral de D. frei José Fialho de 19 de fevereiro de 1726, inédita. Manuscrito no Arquivo da Cate­ 158. John Luccock, Notes, cit, p. 112. dral de Olinda. 159- "Breve discurso sobre o estado das quatro capitanias conquistadas etc", citado. 155. Voyages de François Coreal am Indes Occidentales [.. .]depuis 1666jusq'en 1697, Amster­ 160. John Mawe, Traveis in the interior of Brazil, Filadélfia, 1816, p. 208. dã, 1722, p. 153. Em seu interessante depoimento "Fatos reais ou lendários atribuídos à Família Barreto" (Re­ 161. Maria Graham, Journal, cit, p. 135. vista das Academias de Letras, Rio de Janeiro, maio-junho de 1943) o desembargador Carlos 162. Burton, The highiands of the Brazil, cit. Xavier Pais Barreto confirma com vários casos concretos o que a este respeito se diz neste ensaio: 163. Herbert S. Smith, Do Rio de Janeiro a Cuiabá (com um capítulo de Karl von den Steinen sobre a "Matrimoniavam-se crianças as filhas dos nobres [brasileiros] [...]". Era grande a precocidade capital de Mato Grosso), Rio de Janeiro, 1922. porquanto mesmo no direito romano e canônico anterior a Benedito XV, a idade mínima seria de 12 anos, que passou depois para as legislações da Inglaterra, da Espanha, da Bolívia, do Uruguai, 164. Mawe (op. cit.) notou igualmente essa disparidade entre o trajo da rua e o caseiro no Brasil. da Argentina e do Chile. Também a notou Henderson (op. cit.). No Brasil, entretanto, embora contra a lei, a nobreza quase que imitou o Código de Manu onde se 165. Alexander Caldcleugh, Traveis in South America, cit. permitia a mulher casar-se até com oito anos. Eram freqüentes os casamentos com crianças menores de 13 anos. Entre grande número de exemplos citaremos, mesmo no século XLX, "Margarida Francisca 166. Walter Colton, Deck andport, Nova Iorque, 1850. Pais de Melo, avó do Autor, casada aos 11 anos, idade com que também se matrimoniou, no engenho 167. Em contraste com certas franquezas e até exibicionismos que caracterizam a vida sexual do bra­ Saué, Francisca de Barros Wanderley com o senador alagoano Jacinto Pais de Mendonça. Margarida sileiro antigo, houve exageros verdadeiramente mórbidos de discrição ou pudor. Cônjuges, por Francisca era desenvolvida, o mesmo não acontecendo com Francisca de Barros" (p. 13). exemplo, que nunca se viram despidos na intimidade das alcovas, processando-se entre eles o ato sexual vedado por uma colcha com orifício no meio: evitava-se assim não só o contato direto do dos pelas raças que têm suas qualidades particulares e sua cotação no mercado. As nações Angola, Congo e Moçambique são as preferidas" (cit. por Sérgio D. T. de Macedo, No tempo dassinhazinhas, corpo com corpo como a revelação da nudez. Uma dessas colchas é conservada por pessoa nossa Rio de Janeiro, 1944, p. 78). amiga, entre outras relíquias da ordem patriarcal brasileira.

183. É curioso notar que em I869 o médico brasileiro Dr. Nicolau Joaquim Moreira, em estudo sobre o 168. Padre Lopes Gama, O Carapuceiro, cit. cruzamento de raças, salientava que na fazenda de Camorim (Rio de Janeiro), pertencente aos 169. A Representação se acha entre os documentos reunidos por Alberto de Sousa, OsAndradas, São religiosos beneditinos, por três séculos se vinha conservando sem mistura "uma população negra, Paulo, 1922. homogênea e vigorosa [... ] augmentando de intelligencia e modificando seu craneo que se apro­ 170. Anais do parlamento, Rio de Janeiro. xima hoje ao da raça caucasica [...]" ("Questão ethnico-anthropologica: o cruzamento das raças acarreta a degradação intellectual e moral do produto hybrido resultante?", Annaes 171. Tobias Monteiro, História do Império-A elaboração da independência, Rio de Janeiro, 1927. Brasilienses de Medicina, tomo XXI, n210). É pena que nos faltem pormenores sobre essa expe­

172. Koster, Traveis, cit, p. 409. riência de segregação de raça negra no Brasil feita pelos frades de São Bento - experiência de grande interesse para os estudos de antropologia em nosso meio. 173. Koster, Traveis, cit. p. 410. 184. E. Roquette-Pinto, "Notas sobre os tipos antropológicos do Brasil", Atas e Trabalhos, lü Congres­ 174. Sílvio Romero, na sua resposta ao inque'rito realizado por João do Rio entre intelectuais brasileiros so Brasileiro de Eugenia, Rio de Janeiro, 1929. e reunido em volume sob o título O momento literário, Rio de Janeiro, 1910. 185. Convém recordar que em 1914 Alberto Torres (Oproblema nacional brasileiro), já antiweis- 175. Carolina Nabuco,/! vida de Joaquim Nabuco, Rio de Janeiro, 1931. Sobre o assunto - relações manniano, considerava demonstrada por Boas "a alteração de caracteres somáticos de uma gera­ dos meninos brancos com suas "mães negras" - informações pessoais de ilustres sobreviventes da ção para outra". Mas falta a algumas de suas afirmações rigoroso espírito científico, prejudicado ordem social escravocrata que temos procurado entrevistar - Da. Flora Cavalcanti de Oliveira pela facilidade e ênfase nas convicções. Lima, baronesa de Bonfim, baronesa da Estrela, Sr. Raul Fernandes, baronesa de Contendas, Sr. 186. E. Roquette-Pinto, loc. cit. Leopoldo Lins - confirmam os depoimentos de Joaquim Nabuco e Sílvio Romero. 187. J. B. de Sá Oliveira, Craniometria comparada das espécies humanas na Bahia sob o ponto de 176. Koster, Traveis, cit, p. 411. vista evolucionista e médico-legal, Bahia, 1895. 177. João Ribeiro, História do Brasil, curso superior, Rio de Janeiro. Veja-se também Handelmann, 188. F. A. Brandão Júnior,^ escravatura no Brasil, precedida dum artigo sobre agricultura e colo­ História do Brasil (trad.), cit. nização no Maranhão, Bruxelas, 1865. 178. Koster, Traveis, cit, p. 411. 189. Júlio Dantas, Figuras de ontem e de hoje, cit. 179. André João Antonil 0oão Antônio Andreoni, S. J.), Cultura e opulência do Brasil por suas dro­ 190. J. B. A. Imbert, Guia medica das mães defamilia ou a infância considerada na sua hygiene, gas e minas, cit, p. 96. suas moléstias e tratamentos, Rio de Janeiro, 1843, p. 89. 180. Koster, Traveis, cit, p. 422. 191- Socorro delfico aos clamores da natureza humana [...], pelo Dr. Francisco de Fonseca 181. Nina Rodrigues, Eanimisme fétichiste des nègres de Bahia, Bahia, 1900. Veja-se também o seu Henriques, Amsterdã, 1731, p. 126. As raças humanas e a responsabilidade penal no Brasil, Bahia, 1894. Os estudos de Nina 192. Apud Júlio Dantas, op. cit. Rodrigues foram inteligentemente continuados, do ponto de vista da psicologia, por Artur Ramos, no Rio de Janeiro, e Ulisses Pernambuco de Melo e Gonçalvez Fernandes em Pernambuco. 193. J. B. A. Imbert, Guia medica das mães de família ou a infância considerada na sua hygiene, suas moléstias e tratamento, cit, p. 89. Vejam-se também Francisco de Melo Franco, Tratado da 182. "Breve discurso sobre o estado das quatro capitanias conquistadas", cit. Em 1850, C. Lavollée, educação physica dos meninos para uso da nação portuguesa, Lisboa, 1790; Pena Marinho, autor de Voyage en Chine (Paris, 1852), notou, de passagem pelo Rio, que os negros de Angola Contribuição para a imtóría da educação física no Brasil, Rio de Janeiro, 1943. continuavam os preferidos para escravos. Escreve ele: "Os negros, como os cavalos, são classifica­ 194. J. B. A. Imbert, Manual do fazendeiro ou tratado doméstico sobre as enfermidades dos ne­ 196. J. B. A. Imbert, Uma palavra sobre o charlatanismo e os charlatões, Rio de Janeiro, 1837. gros, Rio de Janeiro, 1839. Veja-se também C. A. Taunay, Manual do agricultor brasileiro, Rio 197. Imbert, Guia medica, cit. O medo consistia principalmente em dizer-se, em voz grossa, ao meni­ de Janeiro, 1839- no mijão que o Mão-de-pêlo, o Quibungo ou o Negro Velho havia de comer-lhe ou cortar-lhe a 195. A mortalidade infantil nas senzalas chegou a ser considerável. Em Mata-Paciência, no engenho piroca. Medo que se fazia também à criança masturbadora. de Da. Mariana, filha mais velha do barão e da baronesa de Campos - talvez o primeiro engenho 198. Alfredo Nascimento, O centenário da academia nacional de medicina do Rio de Janeiro - a vapor instalado no Brasil, dispondo de 200 escravos de trabalho e cerca de 200 bois - Maria Primórdios e evolução da medicina no Brasil, Rio de Janeiro, 1929. Graham foi informada pela própria senhora do engenho que menos da metade dos negros nasci­ dos na propriedade chegavam aos dez anos de idade ("not balfthe negrões bom on her estate 199- Joam Ferreyra da Rosa, Trattado único da constituiçam pestilencial de Pernambuco offerecido live to be tenyears old"), o que muito alarmou Mrs. Graham (Journal, cit.). Já Eschwege apu­ a ElreyN.S., Lisboa, 1694. rara em Minas Gerais que entre os mulatos escravos em 105 nasciam 4, em 100 morriam 6; e que 200. Fonseca Henriques, Socorro delfico, cit. entre os escravos negros, em 103 nasciam 3, em 102 morriam 7; enquanto os brancos livres, em 99 nasciam 4, em 106 morriam 3; entre índios livres, em 99 nasciam 4, em 108 morriam 4; entre 201. Luís Edmundo, O Rio de Janeiro no tempo dos vice-reis, Rio de Janeiro, 1932. Em meados do os mulatos livres, em 109 nasciam 4, em 109 morriam 3; entre os negros livres, em 84 nasciam 4, século XIX, acometida de cólera uma filha de Félix Cavalcanti de Albuquerque Melo e sobrevindo em 93 morriam 5. Estatística, esta de Eschwege, que fez Oliveira Viana concluir pela "formidável "suppressão de urina [... ] tudo quanto os dois systemas médicos aconselham applicou-se, mas ação destrutiva das seleções étnicas e patológicas no interior das senzalas", o negro e o mulato em vão. Cinco moscas torradas, dissolvidas numa colher d'agoa morna, fel-a urinar em 13 minu­ tendo "uma mortalidade inferior à sua natalidade". tos" (Livro de Assentos, manuscrito cit). Este manuscrito de Félix Cavalcanti, completado por Entretanto, os resultados da estatística que em 1827 se empreendeu em Pernambuco, referentes outras notas deixadas pelo velho pernambucano, foi em 1940 pela primeira vez publicado pelo à população de Santo Antônio, acusam diferença mínima na mortalidade de negros, pardos e bisneto Diogo de Melo Menezes em livro sob o título Memórias de um Cavalcanti, com introdu­ brancos. Por exemplo, com referência ao ano de 1826 temos: ção de Gilberto Freyre.

Nascidos Mortos 202. John Nieuhof, Voyages and traveis into Brazil and the East Indies (trad.), Londres, 1703. Da Brancos 192, pardos 178, Brancos 135, pardos 60, relação de viagem ao Brasil de Nieuhof já apareceu, em livro, tradução portuguesa. pretos 294 pretos 125 203. Fernandes Gama, Memórias históricas de Pernambuco, Recife, 1844. E com relação aos anos anteriores, a começar pelo da Independência: 204. Procuraremos mostrar, em ensaio próximo, que muitas habitações coloniais e do tempo do Impé­ Nascidos rio foram, com efeito, horríveis de umidade, menos pelo plano e pelas condições da arquitetura 1822 Brancos 279, pardos 197, pretos 239 das casas que pela falta de escrúpulo no material empregado. 1823 " 294, " 223, " 256 1824 " 281, " 209, " 276 205. Observou Burton em Minas Gerais: "an 'anjinho' or innocent', a very young childdies 1825 " 221, " 234, " 271 unregrettedbecause itsfuture happiness is certain" (The highiands of the Brazil cit.). A supers­ tição dos anjinhos é provável que se tenha derivado do seguinte: diante do número alarmante de Mortos crianças índias que a morte levou no século XVI, os jesuítas teriam espalhado, para o consolo das 1822 Brancos 103, pardos 6l, pretos 87 mães e no interesse da catequese, que era "uma felicidade": os pequeninos iam para o céu. 1823 " 108, " 49, " 95 A mortalidade infantil era compensada pelo fato de serem fecundas as mães brasileiras nas 1824 " 115, " 53, " 87 famílias patriarcais. De acordo com registros, genealogias, tradições de famílias, testamentos e 1825 " 124, " 70, " 119 livros de assentos como o de Félix Cavalcanti de Albuquerque Melo publicado e anotado por seu

(Esta estatística foi-nos gentilmente fornecida pelo cônego José do Carmo Barata, da Sé de bisneto Diogo de Melo Menezes sob o título Memórias de um Cavalcanti (São Paulo, 1940), Olinda, com numerosos outros manuscritos do arquivo da mesma Sé.) podemos avançar a generalização de que o número de filhos legítimos, em uma família patriar- cal típica do Brasil, que atingiam a adolescência ou a mocidade, regulava, nos séculos XVIII e 207. José Maria Teixeira, op. cit. Quanto à desproporção na idade dos cônjuges deve-se notar o seguin­ XIX, e provavelmente no XVII, entre 10 e 20. O desembargador Carlos Xavier dá-nos seu depoi­ te: Teixeira exagera o que possa haver de essencialmente pernicioso nos casamentos de homens já mento de profundo conhecedor da história íntima da sociedade patriarcal do sul de Pernambuco maduros com meninas de treze ou quatorze anos. Nesta idade as meninas, nos países tropicais, já durante os séculos XVIII e XIX - sub-região característica e época igualmente característica: "An­ podem se achar aptas à procriação. Não há evidências de dano físico causado às mães ou à sua tônio de Sá Maia foi genitor de alguns filhos de sua Ia mulher - Maria de Albuquerque - e de 23 descendência pela simples discrepância de idade entre os cônjuges. Entre várias sociedades primi­ da 2a, Catarina Albuquerque, 9a avó do Autor. João Maurício Wanderley, Sebastião Antônio de tivas, de gente forte e robusta, as moças geralmente se casam logo depois da puberdade, a idade Barros Melo, Francisco de Paula Pais Barreto, Camerino Francisco Pais Barreto, Luís Filipe de nupcial dos homens sendo o dobro e às vezes mais do dobro da idade das noivas. Dentro do nosso Sousa Leão, Antônio Nobre de Castro, Antônio Dinis de Mendonça e José Carneiro Pais Barreto sistema patriarcal de família é provável que em muitos casos as meninas não se achassem aptas foram chefes de numerosas proles" ("Fatos reais ou lendários atribuídos à família Barreto", Re­ ao casamento e à procriação, daí resultando males gravíssimos. As principais causas, porém, da vista das Academias de Letras, Rio de Janeiro, ano VII, tf 45, maio-junho de 1943, p. 15). morte de tantas mães franzinas e de tantas crianças em idade de mama foram sociais: a falta de A fecundidade entre os brasileiros de origem social alta, nas zonas do país onde se tem prolon­ educação física das meninas que atingiram à maternidade não só ignorantes de higiene sexual e gado de modo mais saudável a influência da organização patriarcal de família - como Minas maternal como prejudicadas no seu desenvolvimento e na sua saúde. "As moléstias do fígado, dos Gerais - já foi objeto de interessante estudo sociológico, infelizmente pouco conhecido no Brasil. órgãos de respiração e dos intestinos, a que em geral estão sujeitas desde a infância, as enerva", Referimo-nos ao trabalho em que o professor John B. Griffing compara "os efeitos de certos fatores escreveu nos meados do século XIX o médico Luís Correia de Azevedo referindo-se às mães brasi­ socioeconômicos sobre o tamanho de família" por ele estudado na China, na Califórnia do Sul e leiras {Annaes Brasilienses de Medicina, vol. 21). Acrescentando que as enervavam também no Brasil, chegando à conclusão de que "in both China and Brazil a trend in size offamüy wasfound that is exactly opposite the trend generally reported in the United States and Western "exagerados cuidados contra a influência do ar livre", os "vestuários comprimentes, prejudiciaes Europe. The families of the well-to-do and educated are substantially larger than those in ao desenvolvimento das vísceras, epor conseguinte actuando sobre o utero", "a leucorrhéa, moléstia lower leveis'' (A comparison ofthe effects ofcertain socioeconomicfactors; upon size offamüy muito mais generalizada do que se supõe nos collegios." Sobre o assunto veja-se também Nicolau in China, Southern Califórnia and Brazil (publicação particular). A área brasileira especial­ Moreira, "Discurso sobre a educação moral da mulher", Rio de Janeiro, 1868. mente estudada pelo professor John B. Griffing foi Minas Gerais. Veja-se também de Griffing, 208. John Luccock, Notes on Rio de Janeiro and the southem parts of Brazil; Taken during a "Natural eugenics in Brazil "Journal of Heredity (American Genetic Association), Washington, residence often years in that country from 1808 to 1818, cit, p. 117. D. C, vol. XXXI, tf 1, jan. 1940). Aí salienta o pesquisador norte-americano: "The number of living children oftheplanter in the State of Minas Gerais is nearly double that ofthe common 209. Koster, Traveis, cit, p. 420. laborer. The chief cause of this diference is the higher mortality rate of children in the poorer classe. A favorable differential in increase of superior over inferior classes exists in Brazil as 210. Faelante da Câmara, "Notas dominicais de Tollenare", Cultura Acadêmica, Recife, 1904. in China. The rate of fecundity of mothers in Brazil is higher than that in China" (p. 16). Vej a- 211. SüyioRomtm,Cantospopulares do Brasil, Rio de Janeiro, 1883. se do mesmo autor "The acceleration of biological deterioration", Sociology and Social Research, vol. 23, tf 3, p. 228. Sobre o assunto vejam-se as cartas e ofícios de Ricardo Gumbleton Daunt, 212. O Carapuceiro, cit. manuscritos conservados no arquivo do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, nos quais se 213. O Carapuceiro, cit. encontram informações de interesse sociológico sobre a história íntima da família patriarcal bra­ sileira na área paulista. Também os nossos Problemas brasileiros de antropologia (Rio de Ja­ 214. Visconde de Taunay, Trechos de minha vida, ed. póstuma, 1923. Em carta a um amigo do autor, neiro, 1943) e Brazil: an interpretation, Nova Iorque, 1945. o professor Afonso de E. Taunay considera sem fundamento a generalização de ter sido seu ilustre pai "homem suave, quase uma moça", recordando que teve através da vida pública atitudes enér­ 206. José Maria Teixeira, Causas da mortalidade das crianças no Rio de faneiro, 1887. Luccock gicas e fortes. (op. cit.) diz que no enterro de anjo no Rio de Janeiro, ouviu-se a mãe do meninozinho exclamar: "Oh, como sou feliz! Como sou feliz! Morreu-me o último filho! Como sou feliz! Agora quando eu 215. O Carapuceiro, cit. Ainda hoje, nas zonas rurais mais influenciadas pelas tradições do regime morrer e for para o Céu não deixarei de entrar: lá estarão meus cinco filhinhos para me arrasta­ escravocrata, o menino aproxima-se, pelas suas tendências sadistas, precoce iniciação no amor rem para dentro agarrados às minhas saias: Entra, mãe! Entra!" físico e vícios, do menino no tempo de Lopes Gama e de Machado de Assis. Vejam-se a este propósi- to os romances regionais. A bagaceira, de José Américo de Almeida eMenino de engenho, de José plantation, Nova Iorque, 1924; Saxon Lyle, OldLouisiana, Nova Iorque, 1929; Herman Whitaker, Lins do Rego. The planter, Nova Iorque, 1909; Edgar T. Thompson, "The plantation: the physical basis of traditional race relations", em Race Relations and the Race Problem, Durham, 1939; John 216. "Idéa geral de Pernambuco em 1817". Rev. Inst. Arq. Hist. Geog. de Pernambuco, 29. Veja-se Spencer Bassett, The Southem plantation overseer, Northampton, 1925; Ralph B. Flanders, também Vilhena, Cartas, 1, p. 138, sobre as relações de brancos de boas famílias com negros e Plantation slavery in Geórgia, Chapei Hill, 1933; D. R. Yíüx\A\q,Ante-Bellum North Carolina, mulatos na Bahia. Chapei Hill, 1937. 217. F. P. do Amaral, Escravações, Recife, 1884. 232. Calhoun, op. cit. 218. F. L. C. Burlemaqui, Memória Analytka, cit. Refere-se principalmente às regiões agrárias do sul 233. Entre outros viajantes William Faux, Memorable days in America, Londres, 1823; Harriet na primeira metade do século XIX. Martineau, Retrospect of westem travei, Londres, 1838; Sir Charles Lycel, Traveis in the United 219. Antonil, Cultura e opulência do Brasil, cit., p. 92-93- States, Londres, 1845; Francis Trollope, Domestic manners of the Americans, Londres, 1832. Para uma visão de conjunto, leiam-se os trechos referentes ao Sul de antes da Guerra Civil no 220. Egas Moniz de Aragão, "Contribution à 1'étude de la syphilis au Brésil", apud Oscar da Silva Araújo, Alguns comentários sobre a sífilis no Rio de Janeiro, cit. Aliás Oscar da Silva Araújo excelente trabalho de compilação de Allan Nevins, American social history as recorded by british chegou a conclusões inteiramente opostas às de Egas Moniz de Aragão: "0 número de cancros travellers, Londres. Com relação ávida de engenho em Jamaica veja-se o Journal ofa West índia sifilíticos" diz ele resumindo observações em hospitais e ambulatórios freqüentados por avultado Proprietor, Londres, 1929, escrito por M. S. Lewis de 1815 a 1873, e com relação a Cuba e ávida de número de pretos, pardos e mulatos, "não é relativamente elevado, não se verificando uma maior senhores e escravos nas suas plantações de açúcar e em Havana vej am-se os trabalhos de Fernando percentagem entre os negros ou mestiços; nota-se um número mais elevado entre os brancos e Ortiz: Los cabtlabs afrocubanos, Havana, 1921, Hampa afrocubana - los negros brujos, Ma­ principalmente entre os estrangeiros" (Alguns comentários, cit). dri, 1917, e especialmente Los negros esclavos, Havana, 1916. Também o estudo dej. A. Saco, Historia de la esclavitud de la raza africana en el nuevo mundo, Havana, 1938, e o de 221. Vilhena, Cartas, cit, I, p. 138. Ramiro Guerra, Azucar y población en lasAntillas, Havana, 1930. Vejam-se também Rajani 222. Alp. Rendu, Études sur le Brésil, Paris, 1848. KaniaDas,Plantationlabourin índia, Calcutá, \%\\LlúwNOúR,Theconfessions ofa planter in Malaya, Londres, 1933; Ladislao Szekely, Tropic Feverer, Nova Iorque, 1937; Lewis C. Gray, 223. Padre Lopes Gama, O Carapuceiro, cit. History of agriculture in the Southem United States, Washington, 1933; A. S. Salley, The

224. Padre Lopes Gama, O Carapuceiro, cit. introduction of rice culture in South Carolina, Columbia, S. C. 1919; Lowell J. Ragatz, Thefali of the planter class in the British Caribbean, Nova Iorque, 1928; John Johnson, OldMaryland 225. Padre Lopes Gama, 0 Carapuceiro, cit. manors, Baltimore, 1883; T. J. Wertenbacker, The oldSouth, Nova Iorque, 1942; Henry C. Forman, 226. Vilhena, Cartas, cit, I, p. 139- Early manor houses ofMaryland, Easton, Md, 1934; C. 0. Brannen, Relation ofland tenure to plantation organization, Fayetteville, Ark, 1928; P. T. Laborie, The coffeeplanter of Saint Do­ 227. Maria Grahamjournal, cit., p. 280. mingo, Londres, 1788; R. Maestri.í'/ latifundismo en la economia cubana, Havana, 1929; Gry 228. Gustavo Barroso, Terra de sol, Rio de Janeiro, 1913- Josa, Les industries du sucre et du rhumàla Martinique, Paris,1931;CH.G.J.Vander Mandere, De Javassuikerindustrie, Amsterdã, 1928; D. Garcia Vasquez, Los haciendados de la otra ban­ 229. José Américo de Almeida, A Paraíba e seus problemas, Paraíba, 1923- da y elcabildo de Cali, Cali, 1928; E. V. Wilcox, Tropical agriculture, Nova Iorque, 1916; Leland 230. Vilhena, Cartas, cit, 1, p. 166. Vê-se claramente que para Vilhena eram sociais as causas da ocio­ H. Jenks, Our cuban colony: a study in sugar, Nova Iorque, 1929- sidade e do desbragamento sexual dos brasileiros do século XVIII e não "os mantimentos, o clima e a natural inclinaçãoj...]". 234. Veja-se Calhoun, A social history ofthe american family, cit.

231. Calhoun, A social history of the american family, cit. Sobre a vida patriarcal nas mansões do sul 235. José Veríssimo, A educação nacional, cit. dos Estados Unidos, antes da Guerra Civil, vejam-se também Francis P. Gaines, The southem V I O escravo negro na vida sexual e de família do brasileiro (continuação)

O s viajantes que aqui estiveram no século XIX são unânimes em destacar este ridículo da vida brasileira: os meninos, uns homenzinhos à força desde os nove ou dez anos. Obrigados a se comportarem como gente grande: o cabelo bem pen­ teado, às vezes frisado à Menino Jesus; o colarinho duro; calça com­ prida; roupa preta; botinas pretas; o andar grave; os gestos sisudos; um ar tristonho de quem acompanha enterro. Cena de carnaval. J.-B. Debret, Voyage Pittoresque el Hislorique au Brésil, 1834. v. 2, Meninos-diabos eles só eram até os dez anos. Daí era diante tor­ pr. 33. Acervo do Instituto de Estudos Brasileiros da USP. navam-se rapazes. Seu trajo, o de homens feitos. Seus vícios, os de homens. Sua preocupação, sifilizarem-se o mais breve possível, ad­ quirindo as cicatrizes gloriosas dos combates com Vênus que Spix e Martius viram com espanto ostentadas pelos brasileiros. Quando visitou o Brasil em princípios do século XIX surpreen­ deu-se o Dr. Rendu, médico francês, da precocidade dos meninos. A qual lhe pareceu sobretudo grotesca. E são dos seus Études topographiques, médicales et agronomiques sur le Brésil estes reparos: "A sept ans le jeune Brésilien a déjã la gravite d nu adulte. il sepromène tnajestueusemeni. une badine à la main. fierd'une toilette que le fait plutôt ressembler aux marionettes de nosfoires qu à un être httmain} Vinte e poucos anos depois anotaria Fletcher sobre o menino brasilei­ ro de meado do século XIX: "he is made a little old man before he is twelve years of age, having his stiffblack hat, standing collar and in tiveram quase sempre sala de aula, a muitas até cafua para o menino the city he walks as if everybody were looking at him and as ifhe were vadio que não soubesse a lição. Muitas vezes aos meninos se reuniam encased in corset. He does not run or jump or play roops or thorw crias e moleques, todos aprendendo juntos a ler e a escrever; a contar stones as boys in Europe and North America"} e a rezar. Em outros engenhos cresceram em igual ignorância meni­ Foi quase um Brasil sem meninos, o dos nossos avós e bisavós. nos e moleques. Aos sete anos já muito menino dizia de cor os nomes das capitais da Os colégios dos jesuítas nos primeiros dois séculos, depois os Europa; os dos "trez inimigos da alma"; somava, diminuía, multiplica­ seminários e colégios de padre, foram os grandes focos de irradiação va, dividia; declinava em latim; recitava em francês. Tirado o retrato de cultura no Brasil colonial. Aqueles estenderam tentáculos até os da primeira comunhão, de sobrecasaca preta e botinas pretas ou matos e sertões. Descobriram os primeiros missionários que andavam borzeguins - todo esse luto a contrastar com o amarelo desmaiado do nus e à toa pelos matos meninos quase brancos, descendentes de rosto anêmico - estava a criança rapaz normandos e portugueses. E procuraram recolher aos seus colégios Luccock, que esteve no Brasil em princípio do século XIX, obser­ esses joões-felpudos. Foi uma heterogênea população infantil a que vou a falta de alegria nos meninos e de vivacidade nos rapazes. A se reuniu nos colégios dos padres, nos séculos XVI e XVII: filhos de educação da criança pareceu-lhe reduzir-se a esta função melancóli­ caboclos arrancados aos pais; filhos de normandos encontrados nos ca: destruir nos pequenos toda a espontaneidade. Em casa, até os matos; filhos de portugueses; mamelucos; meninos órfãos vindos de cinco anos, notou que os meninos de família andavam nus do mesmo Lisboa. Meninos louros, sardentos, pardos, morenos, cor de canela. modo que os moleques; mais tarde é que vinham as roupas pesadas e Só negros e moleques parecem ter sido barrados das primeiras solenes distinguir os filhos-família dos molecotes da senzala. Roupas escolas jesuíticas. Negros e moleques retintos. Porque a favor dos de homem. pardos levantou-se no século XVII a voz del-Rei em um documento De uma escola de meninos que o observador inglês conheceu no que honra a cultura portuguesa e deslustra o cristianismo dos jesuítas; Rio ficou-lhe para sempre a impressão tristonha. Viu os pequenos é pena que todo este tempo tenha se conservado inédito papel de ciando lição em salas acanhadas e sem ar. Todos lendo alto ao mesmo tempo. Conheceu também Luccock um colégio de padres no Rio: o tamanha significação. "Honrado Marquez das Minas Amigo", escreveu Seminário de São José. Viu bandos de colegiais no recreio; todos de em 1686 o rei de Portugal ao seu representante no Brasil: "Honrado batina encarnada. Alguns tonsurados. A maior parte, umas crianças. Marquez das Minas Amigo. Eu Elrey vos envio muito saudar como Não surpreendeu neles nenhuma elasticidade de inteligência. Nenhu­ aquelle que prezo. Por parte dos mossos pardos dessa cidade, se me ma curiosidade de espírito. Nem mesmo boas maneiras. "Olharam- propoz aqui que estando de posse ha muitos annos de estudarem nas nos com olhar estúpido" ("they surveyed us with a stupid glare"), diz Escolas publicas do Collegio dos Religiozos da Companhia, nova­ Luccock, que os achou, ainda por cima, pouco asseados.3 Olhos re- mente os excluirão e não querião admittir, sendo que nas escolas de melentos e dentes sujos, talvez. Quanto ao ensino, parece que exclu­ Évora e Coimbra erão admittidos, sem que a cor de pardo lhes servis­ sivamente eclesiástico. Os professores pouco versados em ciência.4 se de impedimento. Pedindo-me mandasse que os taes religiozos os Entretanto, por essa mesma época, o ilustre bispo Azeredo Coutinho admittisem nas suas escolas desse Estado, como o são nas outras do imprimia ao Seminário de Olinda feição bem diversa da que Luccock Reyno. E pareceo-me ordenar-vos (como por esta o faço) que houvindo observava no Seminário de São José. aos padres da Companhia vos informeis se são obrigados a ensinar Até meados do século XIX, quando vieram as primeiras estradas nas escolas desse Estado e constando-vos que assim he os obrigareis de ferro, o costume nos engenhos foi fazerem os meninos os estudos a que não excluão a estes mossos geralmente só pela qualidade de em casa, com o capelão ou com mestre particular. As casas-grandes pardos, por que as escolas de sciencias devem ser igualmente co- muns a todo o gênero de pessoas sem excepção alguma. Escripta em paramentos eclesiásticos. Notou entretanto o inglês que seus gestos 5 Lisboa a 20 de Novembro de 1686. Rev". revelavam mais decoro que os dos sacerdotes brancos.8 "Por que as escolas de sciencias devem ser igualmente comuns a Lei por lei, contra a que declarou "infames os portugueses que se todo o gênero de pessoas sem excepção alguma" - são palavras que ligassem a caboclas" deve-se opor a do marquês de Pombal, em sen­ quase não se acredita virem até nós do remoto século XVII. Nelas tido justamente contrário: animando o casamento deles com as índias.9 devem atentar os que acusam os portugueses de terem sempre trata­ Há tanto que criticar na política dos colonizadores portugueses no do o Brasil de resto - terra de pés-de-cabra e de curibocas; negrada; Brasil que para acusá-los de erros tremendos não é necessário recor­ indiada. A atitude quase demagógica de Luís Edmundo, por exemplo, rer à imaginação; e fazer do tipo mais complacente e plástico do no seu O Rio de Janeiro no tempo dos vice-reis. Salienta aí o cintilante europeu um exclusivista feroz, cheio de preconceitos de raça que beletrista que contra a freqüência dos casamentos legítimos no Brasil nunca teve no mesmo grau elevado dos outros. Raros os governado­ colonial - instituição por muitas vezes substituída pelo concubinato e res portugueses no Brasil que tiveram, já não diremos contra os índios, pelas ligações efêmeras, como ainda em meados do século XIX notou mas contra os negros, a atitude áspera e intolerante do 8a vice-rei, Burton em Minas Gerais - teria atuado poderosamente "o preconceito marquês de Lavradio; o qual em portaria de 6 de agosto de 1771 de muitos portugueses contra os naturais do país, preconceito ensina­ rebaixou a um índio do posto de capitão-mor por ter casado com do pela lei portuguesa desse tempo, uma vez que infames eram por uma negra e assim "haver manchado o seu sangue e se mostrado 10 ela considerados os que se ligassem à chamada raça desprezível dos indigno do cargo". Aliás, já depois de independente o Brasil houve caboclos."6 Não nos parece que a preconceitos rigorosamente de por­ padres que se recusaram a casar branco com negra. Padres e juizes. tugueses contra brasileiros deva atribuir-se a freqüência do concubinato; Um dos juizes, o pernambucano Castelo Branco. Mas, atitudes, todas os mazombos que aqui se amasiaram com caboclas e pretas tiveram essas, esporádicas; fora da tendência genuinamente portuguesa e bra­ sileira, que foi sempre no sentido de favorecer o mais possível a decerto as mesmas razões para fugirem do casamento que mais tarde ascensão social do negro. Estamos, porém, a sair dos limites deste brasileiros brancos - tantos deles amigados com negras minas e mula­ ensaio; e a invadir os de trabalho próximo. tas, em vez de casados. Preconceitos não de reinóis contra coloniais; nem mesmo de brancos contra mulheres de cor. Mas de senhores Os pretos e pardos no Brasil não foram apenas companheiros contra escravas e filhas de escravas. Quanto à lei portuguesa ter con­ dos meninos brancos nas aulas das casas-grandes e até nos colégios; siderado infames os que se ligassem a caboclas e negras - quando é houve também meninos brancos que aprenderam a ler com professo­ que as leis de proibição portuguesas e brasileiras foram escritas para res negros. A ler e a escrever e também à contar pelo sistema de tabuada cantada. Artur Orlando refere que seu professor de primeiras ser cumpridas à risca? Também as leis portuguesas proibiam os indiví­ letras, em Pernambuco, foi um preto chamado Calisto. Calisto andava duos com sangue de mouro ou negro de ser admitidos ao sacerdócio; de cartola cinzenta, casaca preta e calças brancas." Trajo de gente e Pandiá Calógeras afirma que assim se praticou; que o sacerdócio foi lorde. De doutores e fidalgos coloniais com medo de hemorróidas ou no Brasil uma espécie de aristocracia branca, exclusivista e fechada. já sofrendo da maldita doença que desde o século XVI parece ter Talvez o tenha sido até o século XVIII. Observadores estrangeiros dos perseguido os portugueses ricos ou letrados e seus descendentes no mais merecedores de fé - Koster e Walsh, por exemplo - deixam bem Brasil. O que não é para admirar andando os colonos dos séculos clara a existência - no século XIX, pelo menos - de padres com XVI, XVII e XVIII de roupas tão impróprias para o clima; veludo, sangue negro; e alguns até, negros retintos. Um que Walsh viu cele­ seda, damasco; muitos deles só saindo em palanquins também de brando aparatosa missa era tão preto que a cor escura do rosto ("jet- seda, de veludo ou de damasco por dentro. Uns verdadeiros fornos black visage") contrastava fortemente com a alvura das rendas e dos ambulantes, os palanquins de luxo: cobertos de pesados tapetes azuis, verdes e encarnados ou de grossas cortinas. Nas redes e palanquins de cartola e sobrecasaca preta. Um ou outro chapéu-do-chile mais deixavam-se os senhores carregar pelos negros dias inteiros; uns via­ afoito branquejou no meio desse preto ortodoxo de cartolas. A transi­ jando de um engenho a outro; outros passeando pelas ruas das cida­ gência dos doutores e dos fidalgos com o clima tropical foi se fazendo des, onde ao se avistarem dois conhecidos, cada um na sua rede, era de baixo para cima: pelas calças brancas. Desde meados do século costume pararem para conversar, mas sempre deitados ou sentados XIX que começaram a usá-las na Bahia e no Recife os armazenados de nas almofadas pegando fogo. Em casa, também, sempre sentados; ou açúcar ou de café, os altos funcionários públicos, os médicos, advoga­ então deitados nas redes e almofadas quentes. As mulheres, de tanto dos, professores. De modo que o preto Calisto, apresentando-se aos viverem sentadas, diz um cronista holandês do século XVII que cam­ seus alunos de cartola, sobrecasaca preta e calças brancas, apresenta­ baleavam quando se punham de pé. Até nas igrejas esparramavam-se va-se ortodoxamente vestido: no trajo por assim dizer oficial da classe pelo chão - sentando-se de pernas cruzadas sobre as sepulturas, às alta e letrada do seu tempo. "Comprometeu-se com meu pai", escreveu vezes ainda frescas. Dentro de casa, nas horas de modorra, é que Artur Orlando do seu professor negro, "a ensinar-me as primeiras le­ homens, mulheres e meninos desforravam-se dos excessos europeus tras em troca de uma flauta de ébano com chaves de prata." Os pretos de vestuário. Os meninos andando nus ou de sunga-nenê. Os gran­ foram os músicos da época colonial e do tempo do Império. Os mole­ des, de chinelos sem meia; de pés descalços; os senhores de enge­ ques, meninos de coro nas igrejas. Várias capelas de engenho tiveram nho, de chambre de chita por cima das ceroulas; as mulheres, de coros de negros; várias casas-grandes, conservando a tradição de Man­ cabeção. "Quando sahem às suas visitas de cerimonia", escreveu gue la Bote, mantiveram, para deleite dos brancos, bandas de música Vilhena das senhoras baianas, "he em sumo grão aceadas, sem que de escravos africanos. No engenho Monjope, em Pernambuco - por duvidem gastar em hum vestido quatrocentos mil reis e mais, para muito tempo de uns Carneiro da Cunha que acabaram barões de Vera apparecer em huma só função [...]".12 Cetins. Sedas. Cambraias ou Cruz - houve não só banda de música de negros, mas circo de cavali­ cassa bordada. Suas mucamas também: "ricas sayas de setim, becas nhos em que os escravos faziam de palhaços e de acrobatas. Muitos de lemiste finissimo, e camizas de cambraya". Com o bom senso de acrobatas de circo, sangradores, dentistas, barbeiros e até mestre de sempre, defendeu Vilhena as senhoras brasileiras da crítica de "pouco meninos - tudo isto foram os escravos no Brasil; e não apenas negros honestas por andarem dentro em suas casas em mangas de camiza, de enxada ou de cozinha. Muito menino brasileiro deve ter tido por com as gollas tão largas que às vezes cahem e se lhes vêem os peitos seu primeiro herói, não nenhum médico, oficial de marinha ou bacha­ [...]". Os "maus críticos" parecem ao professor de grego esquecidos rel branco, mas um escravo acrobata que viu executando piruetas difí­ do fato de estar-se não na Europa, mas no Brasil "debaixo da zona ceis nos circos e bumbas-meu-boi de engenho; ou um negro tocador torrida, onde o grande frio corresponde ao que ahi [em Portugal] de pistom ou de flauta. sentimos em Mayo."13 E felizes dos meninos que aprenderam a ler e a escrever com A falta de adaptação do trajo brasileiro ao clima prolongou-se, professores negros, doces e bons. Devem ter sofrido menos que os porém, ao século XLX. Acentuou-se, mesmo.14 Homens, mulheres e até outros: os alunos de padres, frades, "professores pecuniários", mestres- meninos continuaram a vestir-se para a missa, para as visitas e para ir régios - estes uns ranzinzas terríveis, sempre fungando rapé; velhos ao colégio como se um eterno luto de mães os obrigasse ao preto caturras de sapato de fivela e vara de marmelo na mão. Vara ou palma­ felpudo, espinhento e solene. A rodar em vitórias e cabriolés de almo­ tória. Foi à força de vara e palmatória que "os antigos", nossos avós e fadas quentes como as dos palanquins. Os homens, de cartola desde bisavós, aprenderam latim e gramática; doutrina e história sagrada. sete horas da manhã. Até os princípios do século XX os estudantes de E verdade que depois da Independência começaram a aparecer direito em São Paulo e em Olinda, os de medicina no Rio e na Bahia, colégios particulares, alguns de estrangeiros - pedagogos ou charlatães; os médicos, os advogados, os professores, só achavam jeito de andar e a freqüentá-los, filhos de magistrados e altos funcionários públicos, de negociantes e até de senhores de engenho. Imagine-se a saudade escreveu em 1855 José Bonifácio Caldeira de Andrade Júnior: "Infeliz­ com que os meninos de engenho, acostumados a uma vida toda de mente contamos um grande número de colégios no coração mesmo vadiação - banho de rio, arapuca de apanhar passarinho, briga de da nossa cidade [Rio de Janeiro], em ruas acanhadas e tortuosas, pela galo, jogo de trunfo na casa de purgar com os negros e os moleques, maior parte pouco asseadas, o que à vista das nossas condições chamego com as primas e as negrinhas - deixavam essas delícias para higrométricas e de temperatura, e da pouca elevação do solo em que virem, de barcaça ou a cavalo, parando pelo caminho nos engenhos repousamos não pode deixar de exercer uma fatal influência sobre a dos parentes e conhecidos dos pais, estudar nos internatos; ou mes­ saúde dos educandos". E não era só isso: "as iluminações com o mo nos externatos - neste caso hospedando-se em casa dos comissá­ azeite e a gás são as mais usadas em nossos colégios, e são exage- rios de açúcar ou café. Os comissários foram muitas vezes uns segundos radamente as menos convenientes: a última sobretudo".17 Outro tra­ pais dos meninos de engenho; e nem sempre terríveis sanguessugas balho sobre os colégios, este de um doutorando da Faculdade de dos proprietários de terras. Às vezes amigos leais dos senhores de Medicina da Bahia, Frutuoso Pinto da Silva, versa de preferência o engenho e dos fazendeiros. problema da moralidade e da higiene sexual nos internatos. Chama- Dos colégios de estrangeiros escreveu em 1842 o padre-mestre se aí a atenção dos pais, dos mestres e dos censores para os perigos Lopes Gama: "qualquer francez, qualquer inglez, qualquer suisso etc, do onanismo; e isto em palavras alarmantes. Também para a pederastia. qualquer abelha mestra desses paizes aporta em Pernambuco, e não "A pederastia", escreveu Pinto da Silva nesse seu ensaio de 1864, tendo outro gênero de vida diz que vem repartir comnosco das suas "parece ir com passo sorrateiro fazendo suas perniciosas conquistas muitas luzes". E antecipava o sagaz do padre todo o mal do desenvol­ no meio da mocidade dos colégios [.. .]."18 Mais graves eram porém os vimento de semelhantes colégios: "em breve irão sahindo desses focos avanços da gonorréia e da sífilis - indício de grandes excessos sexuais de heterodoxia uns socianos, outros anabaptistas, outros presbiterianos, entre os meninos de colégio. Já no século XVIII, a acreditarmos no outros methodistas, etc. [...]".15 relatório do padre Cepeda, discretamente arquivado no Instituto His­ Vieram depois de 1850 as estradas de ferro facilitar o internato tórico do Rio de Janeiro, a quinta de São Cristóvão, onde então funcio­ dos meninos de engenho nos colégios das capitais. Dessa fase em naram aulas de filosofia, fora "uma Sodoma". Os discípulos dos pa­ que se ampliou a influência dos internatos pode ser considerado típi­ dres Cardim e Faria "sem temor de Deus nem vergonha dos homens" co o de Nossa Senhora do Bom Conselho, fundado em 1858 no Recife andavam o dia inteiro como uns bodes, pulando cercas e saltando pelo bacharel Joaquim Barbosa Lima. Ensinava-se aí aritmética, geo­ vaiados, atrás de escravas e de "outras mulheres que para esse fim grafia, latim, francês, caligrafia, música. Os alunos compareciam às mandam vir da cidade."19 aulas de paletó preto e calças pardas, sapatos de tapete ou couro e Nos antigos colégios, se houve por um lado, em alguns casos, gravata azul. Nos dias de festa e nos domingos deviam apresentar-se lassidão - fazendo-se vista grossa a excessos, turbulências e perversi- de sobrecasaca preta, calça preta, chapéu preto, colete branco, grava­ dades dos meninos - por outro lado abusou-se criminosamente da ta de seda preta, sapatos ou borzeguins pretos. Eram obrigados a fraqueza infantil. Houve verdadeira volúpia em humilhar a criança; banhar os pés nas quartas e sábados e a tomar banho geral uma vez em dar bolo em menino. Reflexo da tendência geral para o sadismo 16 por semana. criado no Brasil pela escravidão e pelo abuso do negro. O mestre era Com o aparecimento de maior número de colégios, um assunto um senhor todo-poderoso. Do alto de sua cadeira, que depois da que começou a preocupar os higienistas da época foi o da higiene Independência tornou-se uma cadeira quase de rei, com a coroa im­ escolar; particularmente a higiene dos internatos. Muito menino do perial esculpida em relevo no espaldar, distribuía castigos com o ar interior morreu de febre ou de infecção nos colégios das capitais. Em terrível de um senhor de engenho castigando negros fujões. Ao vadio seu trabalho Esboço de uma higiene dos colégios aplicável aos nossos, punha de braços abertos; ao que fosse surpreendido dando uma risa- da alta, humilhava com um chapéu de palhaço na cabeça para servir ra, em um dia de veneta, de passar a vista pelos compêndios, livros de mangação à escola inteira; a um terceiro, botava de joelhos sobre de leitura, aritméticas, por onde estudaram nossos avós coloniais e do grãos de milho. Isto sem falarmos da palmatória e da vara - esta, tempo do Império, ficará com uma idéia de coisa terrivelmente me­ muitas vezes com um espinho ou um alfinete na ponta, permitindo ao lancólica que foi outrora aprender a ler.22 Imaginem-se esses horroro­ professor furar de longe a barriga da perna do aluno. sos compêndios completados pelos mestres-régios, pelos professores O aluno que não soubesse a lição de português, que desse uma de colégio do tempo do Império - todos eles fedendo a rapé, assoan- silabada em latim, que borrasse uma página do caderno - quase um do-se de vez em quando em grandes lenços encarnados; todos de missal - de caligrafia, arriscava-se a castigo tremendo da parte do palmatória e de vara de marmelo na mão; no polegar ou no indicador padre-mestre, do mestre-régio, do diretor do colégio - de um desses da mão direita, uma unha enorme, de mandarim chinês. terríveis Quibungos de sobrecasaca ou de batina. Da letra bonita fez- A outros tormentos esteve obrigada a criança branca - e até a se sempre muita questão: o ensino da caligrafia teve alguma coisa de preta ou mulata, quando criada pelas iaiás das casas-grandes. "A socie­ litúrgico nos antigos colégios do Brasil. Escrevia-se com pena de gan­ dade tem também sua grammatica", escreveu em 1845 o autor de so. "O mestre gastava horas e horas em aperfeiçoar-lhes os bicos, certo Código do bom-tom que alcançou grande voga entre os barões e tendo antes talhado o aparão com um canivete de molas", diz-nos o viscondes do Império.23 Os quais, para tomarem ar de europeus, não padre Antunes de Sequeira.20 Preparados os bicos das penas de gan­ só deram para forrar os tetos das casas-grandes - até então de telha­ so, começava a tortura - o menino com a cabeça para o lado, a ponta va - como para adotar regras de bom-tom francesas e inglesas na da língua de fora, em uma atitude de quem se esforça para chegar à criação dos filhos. E adotá-las com exageros e excessos. perfeição; o mestre, de lado, atento à primeira letra gótica que saísse A vítima desse esnobismo dos barões foi o filho. Que judiasse troncha. Um errinho, qualquer - e eram bordoadas nos dedos, belis­ com os moleques e as negrinhas, estava direito; mas na sociedade dos cões pelo corpo, puxavante de orelha, um horror. Os rapazes de letra mais velhos o judiado era ele. Ele que nos dias de festa devia apresen­ bonita que o visconde de Cabo Frio sempre preferiu, para secretários tar-se de roupa de homem, e duro, correto, sem machucar o terno de legações, aos de letra de médico, foram educados por esses mes­ preto24 em brinquedo de criança. Ele que em presença dos mais ve­ tres terríveis que fizeram do ensino da caligrafia um rito; alguma coisa lhos devia conservar-se calado, um ar seráfico, tomando a bênção a de religioso e de sagrado. toda pessoa de idade que entrasse em casa e lhe apresentasse a mão Outro estudo sagrado foi o de latim. Quanto à soletração, apren­ suja de rapé. Ele que ao pai devia chamar "senhor pai" e à mãe "se­ dia-se "em uma balburdia enfadonha", diz-nos o padre Sequeira. So- nhora mãe": a liberdade de chamar "papai" e "mamãe" era só na letrando-se tudo alto. Cantando-se: primeira infância. Esse duro costume modificou-se, porém, no século XLX. Como modificou-se o das mulheres só chamarem o marido de B - a- bá "senhor"; as mais afoitas foram chamando-o de "tu", as outras de B - e - bé "você", acabando-se com o rígido tratamento colonial de "senhor" da Ba! bé! parte das esposas e dos filhos.25 Até então, esposas e filhos se acha­ vam quase no mesmo nível dos escravos. Com o Método Valdetaro, adotado já no meado do século XIX, a E verdade que desde esses tempos remotos o "senhor" se adoçou coisa melhorou um pouco. Vieram As cartas syllabicas com exercícios em "sinhô", em "nhonhô", em "ioiô"; do mesmo modo que "negro" parietaes, Simão de Mantua ou o Mercador de feiras, Poesias sacras, adquiriu na boca dos brancos um sentido de íntima e especial ternu­ de Lopes Gama, Synonimos de frei Lúis de Sousa.21 Gramática latina - ra: "meu nego", "minha nega"; e nas cartas coloniais: "Saudoso primo a do padre Pereira. Catecismo, o de Montpellier. Quem tiver a pachor­ e muito seu negro", "negrinha humilde" etc.26 Só depois de casado arrisca-se o filho a fumar na presença do pai; honra e não teve dúvida - sacou de uma faca de ponta e com ela 28 e fazer a primeira barba era cerimônia para que o rapaz necessitava atravessou o peito da moça. sempre de licença especial. Licença sempre difícil, e só obtida quan­ Mas em geral, nessas histórias de filhas ou esposas assassinadas do o buço e a penugem da barba não admitiam mais demora. pelos patriarcas, andou sempre enredo, ou de frade ou de escrava. À menina, a esta negou-se tudo que de leve parecesse independên­ Principalmente de escrava. No Brasil quem tivesse seu namoro ou seu cia. Até levantar a voz na presença dos mais velhos. Tinha-se horror e segredo, que desconfiasse não só dos tinteiros, por trás dos quais castigava-se a beliscão a menina respondona ou saliente; adoravam- podiam andar frades escondidos, mas, principalmente, dos tachos de se as acanhadas, de ar humilde. O ar humilde que as filhas de Maria doce. Por trás dos tachos de doce estavam às vezes olhos de negras ainda conservam nas procissões e nos exercícios devotos da Semana enredeiras. D. Domingos do Loreto Couto, o frade beneditino que em 29 Santa, as meninas de outrora conservavam o ano inteiro. É verdade Desagravos do Brasil e glórias de Pernambuco retratou tantos aspec­ que as atrevidas namoravam nas festas de São Gonçalo; outras nos tos interessantes da vida patriarcal no Brasil, refere casos impressio­ concertos de igreja. Mas isso nas cidades: no Rio, no Recife, na Bahia; nantes de assassinatos por suspeitas de infidelidade conjugai. Crimes e assim mesmo namoros a sinais de leque; quase sem conversa ou ocorridos por "falsos testemunhos", de indivíduos que "livres na sua agarrado de mão. vida, são escrupulosos na dos Senhores". Carapuça que D. Domingos As meninas criadas em ambiente rigorosamente patriarcal, estas talhou só para os escravos; mas que se ajustaria também à coroa de viveram sob a mais dura tirania dos pais - depois substituída pela eclesiásticos. tirania dos maridos.27 E se mucamas e moleques foram quase sempre O coronel Fernão Bezerra Barbalho, por exemplo, senhor de en­ aliados naturais dos filhos contra os "senhores pais", das mulheres de genho na Várzea, "no lugar que hoje chamam de matança". Homem quinze anos contra os "senhores maridos" de quarenta e cinqüenta, de maus bofes, deixando-se levar por enredos de um escravo que de sessenta e setenta, houve casos de escravas enredeiras e fuxiquentas, fugira para desviar o castigo que a senhora lhe mandara dar por cri­ umas delatoras, outras que por vingança inventavam histórias de na­ mes que havia cometido na ausência do senhor, não teve dúvidas em moro das sinhá-moças ou das sinhá-donas. De modo que estas deviam assassinar a mulher e as filhas. "Acompanhado de seu filho primogênito estar sempre prevenidas; e nunca se considerarem sozinhas, nem e de alguns escravos caminhou apreçado para a Várzea, chegou a sua mesmo para inocentes namoros de leque, de lenço ou de recados casa, e tomadas as portas da rua, subio cima." Foi uma matança hor­ trazidos pelas negras boceteiras. rível. Só escapou à morte uma filha - justamente a mais alvejada pelo Dizia-se outrora em Portugal, como advertência aos indiscretos escravo enredeiro. E quem a salvou da ira paterna foi outro escravo - no falar e no escrever, que detrás de cada tinteiro estava um frade. talvez sua mãe-preta. Fernão Bezerra "foi preso, e remetido para a Um olho ou um ouvido de frade do Santo Ofício vendo os atos e Relação da Bahia, onde em publico cadafalso pagou com a cabeça 30 ouvindo as palavras menos ortodoxas. No Brasil o olho de frade coberta de cãas as leviandades e os desatinos do seu errado juizo." enredeiro não desapareceu das casas: foi um eclesiástico que avisou a O mesmo destino de Antônio de Oliveira Leitão. Da. Verônica Dias Leite, matrona paulista do século XVII, que a filha Foi também uma escrava, aliada à terrível sogra, que causou em estivera por algum tempo à janela. Crime horrendo de que resultou - Pernambuco o assassinato de Da. Ana, moça de "rara fermosura", diz conta a tradição - a mãe ter mandado matar a filha. Antônio de Olivei­ o cronista, filha do sargento-mor Nicolau Coelho e mulher de André ra Leitão, patriarca às direitas, este não precisou do enredo de nin­ Vieira de Melo. A escrava contou à mãe de André Vieira de Melo que guém - nem de frade nem de escravo: tendo visto tremular no fundo Da. Ana "dava furtivas entradas a João Pães Barreto que com sacrilego do quintal da casa um lenço que a filha tinha levado para enxugar ao desprezo do sacramento e de tão authorisadas pessoas injuriava o sol, maldou logo que era senha de algum don-juan a lhe manchar a thalamo conjugai." André Vieira de Melo quis desprezar as notícias. Mas tal foi a insistência de sua mãe e de seu pai que acabou mandan­ Os viajantes franceses que nos séculos XVII e XVIII estiveram no do matar João Pais Barreto e envenenar a esposa. Da. Ana antes de Brasil não se mostram tão crentes como o beneditino D. Domingos na tomar o veneno pediu que lhe trouxessem um padre para se confes­ castidade e na fidelidade conjugai das senhoras brasileiras. Mas, em sar e um hábito de São Francisco para se amortalhar. Confessou-se e compensação, D. Domingos tem a seu favor depoimentos de viajan­ amortalhou-se. Deram-lhe então o veneno. Desconfiando da eficácia tes ingleses. É verdade que em assuntos de amor e de mulheres os da potagem, deram-lhe outra. O resultado foi o segundo veneno des­ franceses passam por mais entendidos que os ingleses; como viajan­ fazer os efeitos do primeiro. De modo que Da. Ana só veio a morrer tes, porém, os ingleses levam a palma aos franceses em lisura, exati­ depois, do "golpe de hum garrote que lhe deu a sogra" na garganta. dão e honestidade de narrativa. Raro um Rendu ou um Saint-Hilaire; "He fama constante que passados annos, abrindo-se a sua sepultura um Pyrard mesmo; numerosos os exagerados; e não de todo raro os se achara seo corpo fragrante, e incorrupto", diz-nos Loreto Couto. O pouco escrupulosos ou fantásticos nas suas informações. Gênero em qual sustenta que "castidade, vergonha, recolhimento, pejo, encolhi­ que se salientaram Thévet, Dabadie, Expilly. mento, sizudesa e modéstia" foram sempre "o insigne distinctivo das Pyrard diz que passeando um dia pelas ruas de Salvador, todo mulheres do Brasil [,..]." É verdade, acrescentou, que "em muitas gabola, vestido de seda, ar de fidalgo, aproximou-se dele uma negra. mulheres pretas, e pardas falta talvez a compostura, e sobeja a liber­ Pediu-lhe que a acompanhasse: havia um senhor muito desejoso de dade." E mais: "Não negamos que sirvão [as mulheres de cor] de lhe falar. Seguiu-a Pyrard, através de vielas e de ruas tronchas, feias, tentação, mas esta guerra permitte Deus no mundo para os vencedo­ até que se viu, como em um conto de mil e uma noites, em uma casa res merecerem a coroa da gloria." Palavras que encerram um grande muito bonita. Um verdadeiro palácio. E em vez de senhor, quem lhe ainda que indireto elogio à tentadora beleza das pretas e pardas; apareceu foi uma "jovem dama portuguesa". A "jovem dama portu­ tentadora beleza de que se serviria o Senhor para experimentar a guesa" não se limitou a dispensar ao viajante grandes carinhos; ainda firmeza dos homens brancos. deu-lhe de presente um chapéu de lã de Espanha novo. O que fez Mas o próprio D. Domingos refere casos de mulheres pardas Pyrard de Lavai generalizar que as mulheres do Brasil eram mais ami­ virtuosíssimas. O da linda Joana de Jesus, por exemplo. Floresceu "no gas dos estrangeiros do que os homens.32 novo convento da villa Iguarassu", onde se salientou como "cordia- Ninguém, porém, mais afoito em suas generalizações contra as lissima devota de Maria Santíssima Senhora Nossa". Principiou a vida senhoras coloniais do que Coreal - viajante ainda mal-identifiçado. grande pecadora; terminou-a quase uma santa. Quando morreu cau­ Achou-as mais enclausuradas que no México; mas nem por isso me­ sou surpresa seu "rosto tão corado, e com tanta formosura, que nella nos libertinas. Tamanho seu fogo sexual, que arriscavam honra e vida desapparecerão todos os signaes de morte e os estragos causados por uma aventura de amor. Daí resultava serem, umas apunhaladas pelos rigores da penitência." pelos maridos, outras, tornarem-se públicas cortesãs à disposição de Outro caso interessante foi o de Clara Henriques, mulher preta, brancos e negros.33 escrava de Maria Henriques, branca que não somente deixou de ins­ Frézier e Froger tiveram quase a mesma impressão que Coreal truir a escrava em doutrina cristã, "senão que a provocou com ruins das mulheres baianas: muito enclausuradas e só saindo de casa para exemplos". "Seguindo Clara Henriques os costumes de sua senhora na irem à igreja; mas "quase todas libertinas" e sempre engendrando idade de quatorze annos se entregou a huma vida torpe [...]". Desta meios ou achando jeito de iludir a vigilância dos maridos ou dos pais. vida libertou-se Clara por graça de Nossa Senhora do Rosário, padroei­ O que conseguiam, diz Frézier, auxiliadas pelas mães.34 Mas nas histó­ ra dos negros. Tornou-se então uma santa mulher. Aproveitando-lhe o rias galantes contadas por Pyrard e Coreal, quem aparece auxiliando Senhor suas predisposições africanas deu-lhe "o dom da prophecia, as senhoras brancas nas suas aventuras de amor são escravas negras. 31 porque disse muitas cousas, que ao depois se virão cumpridas." O mais provável é que fossem as negras as principais alcoviteiras. Tudo, porém, nos leva a crer na extrema dificuldade das aventuras de devoto e mais penitente será o mais casto." Não compreendia que se amor das mulheres coloniais, a toda hora cercadas de olhos indiscre­ chamasse o Brasil, como o autor de certa História, país de "clima tos. Olhos de frades. Olhos de negros. Olhos de sogras. Os olhos dos adusto, provocativo de sensuaes torpezas". Que exemplo citava o tal negros mais vigilantes, elas podiam mandar arrancar sob um pretexto historiador a favor de sua tese? O de certo "expulso de sua religião qualquer. Mas os dos frades e os das sogras eram de mais difícil pelas torpezas de seus appetites" que para cá viera degredado e que eliminação. no Brasil teria aumentado de "intemperança libidinosa". Como se o O certo é que John Mawe, tendo chegado ao Brasil na expectati­ clima - comenta o frade - pudesse ter aumentado na alma do depra­ va de uma terra de moral feminina muito lassa, onde os viajantes vado "o infernal incêndio". Já vimos, porém, que Loreto Couto enxer­ fossem abordados por escravas alcoviteiras com recadinhos e ofereci­ gou nas mulheres pretas e pardas do Brasil uma tentação a serviço do mentos das senhoras libidinosas, teve impressão inteiramente diversa. aperfeiçoamento das almas; por conseguinte, combustível do "infer­ "Devo observar", escreve ele, "que nem em São Paulo nem em parte nal incêndio". O clima, não, mas a presença de negras e mulatas alguma que tenho visitado, testemunhei um só exemplo de levianda­ pareceu-lhe uma excitação ao pecado, difícil de resistir-se no Brasil. de que alguns escritores dizem ser o traço mais saliente do caráter das Mas negras e mulatas degradadas pela escravidão; porque à raça ne­ 35 mulheres brasileiras." A mesma observação do médico inglês John gra faz o frade beneditino a devida justiça, destacando-lhe os serviços White que esteve no Brasil em fins do século XVIII: depois de um ao Brasil. Não só serviços prestados na execução de "dificultosas e mês de permanência no Rio de Janeiro concluiu que as mulheres mal- laboriosas empresas", como iniciativas de "valor e prudência". comportadas eram as de classe baixa.36 É verdade que alguns anos O que houve no Brasil - cumpre mais uma vez acentuar com depois, em uma festa em casa de Luís José de Carvalho e Melo, em relação às negras e mulatas, ainda com maior ênfase do que com Botafogo - festa requintada com baronesas, filhas de baronesas, relação às índias e mamelucas - foi a degradação das raças atrasadas viscondessas, moças falando francês, outras inglês, senhoras bem ves­ pelo domínio da adiantada. Esta desde o princípio reduziu os indíge­ tidas, negros servindo chá em bandejas de prata - um compatriota de nas ao cativeiro e à prostituição. Entre brancos e mulheres de cor Mrs. Graham contou-lhe entre goles de chá coisas escandalosas das estabeleceram-se relações de vencedores com vencidos - sempre senhoras da Corte: naquela reunião, pelo menos dez senhoras pre­ perigosas para moralidade sexual. sentes... Mas tendo olhado em redor, atalhou logo: "Não, aqui não. Os jesuítas conseguiram vencer nos primeiros colonos a repug­ Mas no Rio..." O que mostra que a generalização não era fácil de nância pelo casamento com índias. "Os mais aqui", escrevia de reforçar com exemplos concretos, pelo menos imediatamente. Esse Pernambuco, em 1551, o padre Nóbrega, "tinham índia de muito tem­ mesmo inglês observou a Mrs. Graham que a causa de toda a corrupção po de que tinham filhos e tinham por grande infâmia casarem com no Brasil eram os escravos.37 As escravas. As negras. As mucamas. ellas. Agora se vão casando, e tomando vida de bom estado." Haven­ Mas seria muito maior a corrupção das senhoras da Corte do Brasil do do também "muita somma de casados em Portugal, outros que vivem que as da Europa?38 cá em graves peccados; a uns fazemos ir, a outros mandar buscar suas Loreto Couto, que evidentemente exagerou no seu culto da mu­ mulheres". Das mestiças informa: "se não casavam dantes era porque lher brasileira do tempo da escravidão, escreveu do "fogo sexual" que continuavam a viver os homens em seus peccados livremente, e al­ era "mal hereditário" dos filhos de Adão - poderia ter acrescentado guns diziam que não peccavam porque o arcebispo do Funchal lhes das filhas de Eva - e não peculiar às terras ou climas quentes. "As dava licença". Da mesma suposta licença do arcebispo se prevalece­ influencias sensuaes" pareciam-lhe atuar "em toda a parte"; e "em ram, aliás, clérigos libidinosos para viverem regaladamente amance- qualquer lugar o seu fogo sempre está ardendo, se o não apagão com bados. Oito anos mais tarde escrevia de Salvador o grande missioná­ muita oração e com multa penitencia, e assim aquelle que for mais rio: "com os christãos desta terra se faz pouco, porque lhes temos cerrada a porta da confissão por causa dos escravos que não querem 1584 e 1590 e cento e vinte e um, ao findar o primeiro quartel do senão ter e resgatar mal e porque geralmente todos ou os mais estão século XVII,44 correspondeu o aumento do número de escravos afri­ amancebados das portas à dentro com suas negras, casados e soltei­ canos - tudo concorrendo para o maior ócio dos senhores; e para ros, e seus escravos todos amancebados, sem em um caso nem no sua maior libertinagem. Ócio que a tal ponto se desenvolveu, nas outro quererem fazer consciência e acham lá padres liberaes da ab­ zonas dominadas pelos engenhos de cana, que doutores moralistas solvição em que vivem da mesma maneira..." E da mesma Bahia no da época chegaram a associá-lo ao muito consumo do açúcar: "tal­ meado do século XVI: "a gente da terra vive em peccado mortal, e vez que da abundância deste humor" - o fleumático, causado pela não ha nenhum que deixe de ter muitas negras, das quaes estão cheios alimentação abundande em açúcar - "proceda aquela preguiça que de filhos, e é grande mal."39 a tantos reduz a hum mizeravel estado", escreveu um deles. Acres­ Introduzidas as mulheres africanas no Brasil dentro dessas condi­ centando: "Muito certamente predomina este humor em muitos ho­ ções irregulares de vida sexual, a seu favor não se levantou nunca, mens do Brasil. Passão muitos a vida, com huma mão sobre a outra, como a favor das mulheres índias, a voz poderosa dos padres da e nascendo o homem para o trabalho, elles só querem descanço. Ha Companhia. De modo que por muito tempo as relações entre colonos alguns que num dia inteiro não dão hum só passo." E terminando e mulheres africanas foram as de franca lubricidade animal. Pura des­ por aconselhar que se comesse pouco açúcar - além do mais, carga de sentidos. Mas não que fossem as negras que trouxessem da propagador de lombrigas. África nos instintos, no sangue, na carne, maior violência sensual que O açúcar não teve, por certo, responsabilidade tão direta pela as portuguesas ou as índias. moleza dos homens. Teve-a, porém, e grande, como causa indireta: Dampier, que esteve na Bahia, no século XVII, soube de vários exigindo escravos; repelindo a policultura. Exigindo escravos para colonos amasiados com negras: "Plusieurs des portugais, qui ne sont "mãos e pés do senhor de engenho", como disse Antonil. E não só de pas marrez, entretennent de cesfemmes noirespour leurs maitresses."40 senhor de engenho português, já viciado na escravidão: os holande­ Já não eram as relações dos portugueses com as pretas, as de pura ses, quando no século XVII se instalaram nas plantações de cana de animalidade dos primeiros tempos. Muita africana conseguira impor- Pernambuco,45 reconheceram a necessidade de se apoiarem no ne­ se ao respeito dos brancos; umas, pelo temor inspirado por suas man- gro; sem escravos não se produziria açúcar. E escravos em grande dingas; outras, como as Minas, pelos seus quindins e pela sua finura número; para plantarem a cana; para a cortarem; para colocarem a de mulher. Daí ter uma minoria delas conquistado para si uma situa­ recortada entre as moendas impelidas a roda de água - nos engenhos ção quase idêntica à que o moralismo parcial dos jesuítas só soubera chamados de água, e por giro de bestas ou de bois, nos chamados assegurar para as índias. Situação de "caseiras" e "concubinas" dos almanjarras ou trapiches; limparem depois o sumo das caldeiras de brancos; e não exclusivamente de animais engordados nas senzalas cocção; fazerem coalhar o caldo; purgarem e branquearem o açúcar para gozo físico dos senhores e aumento do seu capital-homem. nas fôrmas de barro; destilarem a aguardente. Escravos que se tor­ Com a vida mais descansada e mais fácil para os colonos; com o naram literalmente os pés dos senhores: andando por eles, carregan- açúcar vendido em quantidade maior e por melhores preços na Eu­ do-os de rede ou de palanquim. E as mãos - ou pelo menos as mãos ropa do que nos princípios do século XVI, desenvolveu-se dos fins direitas; as dos senhores se vestirem, se calçarem, se abotoarem, se desse século aos começos do XVII, não tanto o luxo como desbragada limparem, se catarem, se lavarem, tirarem os bichos dos pés. De um luxúria entre os senhores de engenho do Brasil. Em Pernambuco, senhor de engenho pernambucano conta a tradição que não dispen­ ao aumento de produção de açúcar de duzentas mil arrobas em sava a mão do negro nem para os detalhes mais íntimos da toalete; e 158441 para "passante de cento e vinte navios" por ano em 1618;42 e de ilustre titular do Império refere von den Steinen que uma escrava do número de engenhos de trinta em 157643 para sessenta e seis em é que lhe acendia os charutos passando-os já acesos à boca do velho. Cada branco de casa-grande ficou com duas mãos esquerdas, cada Majestade. Foram os senhores de engenho pernambucanos que colo­ negro com duas mãos direitas. As mãos do senhor só servindo para nizaram a Paraíba e o Rio Grande do Norte, tendo de enfrentar índios desfiar o rosário no terço da Virgem; para pegar as cartas de jogar; dos mais brabos, e valentes; que livraram o Maranhão dos franceses; para tirar rapé das bocetas ou dos corrimboques; para agradar, apal­ que expulsaram os holandeses do norte do Brasil. par amolegar os peitos das negrinhas, das mulatas, das escravas boni­ E não só os senhores: também as senhoras de engenho tiveram tas dos seus haréns. seus assomos de energia. Seus rompantes de estoicismo. "No mostraran No senhor branco o corpo quase se tornou exclusivamente o por cierto menos valor en esta acción que nuestros soldados", diz o membrum virile. Mãos de mulher, pés de menino;46 só o sexo arro­ marquês de Basto das senhoras pernambucanas que tomaram parte gantemente viril. Em contraste com os negros - tantos deles gigantes na retirada para Alagoas deixando os engenhos e as casas-grandes em enormes, mas pirocas de menino pequeno. Imbert, nos seus conse­ ruínas.49 lhos aos compradores de escravos, foi ponto que salientou: a necessi­ Mas excetuados esses rompantes guerreiros, a vida dos aristo­ dade de se atentarem nos órgãos sexuais dos negros, evitando-se cratas do açúcar foi lânguida, morosa. Uma vez ou outra, as "canas" adquirir os indivíduos que os tivessem pouco desenvolvidos ou mal- e as "argolinhas"; cavalhadas; danças. Mas raramente. Os dias se conformados.47 Receava-se que dessem maus procriadores. sucediam iguais; a mesma modorra; a mesma vida de rede, banzeira, Ociosa, mas alagada de preocupações sexuais, a vida do senhor sensual. E os homens e as mulheres, amarelos, de tanto viverem de engenho tornou-se uma vida de rede. Rede parada, com o se­ deitados dentro de casa e de tanto andarem de rede ou de palanquim. nhor descansando, dormindo, cochilando. Rede andando, com o Nos Estados Unidos, onde a rede não chegou a dominar como aqui; senhor em viagem ou a passeio debaixo de tapetes ou cortinas. onde a moleza dos senhores de escravos se contentou com o sofá e Rede rangendo, com o senhor copulando dentro dela. Da rede não a cadeira de balanço, mais tarde adotada pelo patriarcalismo brasileiro, precisava afastar-se o escravocrata para dar suas ordens aos negros; os homens criados sob a influência da escravidão africana impres­ mandar escrever suas cartas pelo caixeiro ou pelo capelão; jogar sionaram aos europeus pelas suas atitudes sempre comodistas; pelo gamão com algum parente ou compadre. De rede viajavam quase seu andar desengoçado; pela nenhuma esbelteza do seu porte; pelo todos - sem ânimo para montar a cavalo: deixando-se tirar de den­ seu ar de indivíduos fracos do peito, os ombros curvos, as espáduas tro de casa como geléia por uma colher. Depois do almoço, ou do estreitas. Só a voz, grande e imperiosa. Francis Trollope dá-nos um jantar, era na rede que eles faziam longamente o quilo - palitando retrato de americano dos tempos da escravidão que parece de brasi­ os dentes, fumando charuto, cuspindo no chão, arrotando alto, pei- leiro do Norte: "I never saw an American man walk or stand well dando, deixando-se abanar, agradar e catar piolho pelas molequinhas, [...]".50 E raros os europeus que não se deixaram impressionar pela cocando os pés ou a genitália; uns coçando-se por vícios; outros por palidez doentia dos homens e das senhoras americanas de antes da doença venérea ou da pele. Lindley diz que na Bahia viu pessoas de Guerra Civil. O regime econômico de produção - o da escravidão e ambos os sexos deixando-se catar piolhos; e os homens coçando-se da monocultura - dominando a diversidade de clima, de raça, de 48 sempre de "sarnas sifilíticas". moral religiosa, criou no sul dos Estados Unidos um tipo de aristo­ É verdade que esses homens moles, de mãos de mulher, amigos crata mórbido, franzino, quase igual ao do Brasil nas maneiras, nos exagerados da rede; voluptuosos do ócio; aristocratas com vergonha vícios, nos gostos e no próprio físico. Os ingredientes diversos; mas de ter pernas e pés para andar e pisar no chão como qualquer escra­ a mesma forma. O clima quente pode ter contribuído para a maior vo ou plebeu - souberam ser duros e valentes em momentos de lubricidade e a maior languidez do brasileiro; mas não as criou ou perigo. Souberam empunhar espadas e repelir estrangeiros afoitos; produziu.51 defender-se de bugres; expulsar da colônia capitães-generais de Sua Souchu de Rennefort escreveu dos colonos de Pernambuco: "ils te de todo o pessoal da fazenda - parentes, agregados e escravos - viventdans une grande licence [...]". Uma nonchalance levantina a dos para pedir a bênção de Deus e a proteção da Virgem Maria. E nada senhores de escravos pernambucanos: "ils dorment &fument & n'ont lhe pareceu mais digno no brasileiro colonial que o fato de ter sempre guères d'autres meubles que des brambes de cotton & des nattes; lesplus em sua casa lugar destinado ao culto divino. Sinal de "respeito pela somptueux ont une table & des chaises de cuirfaçonné; quelques-uns se religião", concluiu. E não esqueceu de salientar a observância, pelos servent de vaisselles dargentla plus grande partie de vaisselles de terre"?1 negros, dos ritos da igreja.33 Ao jantar, diz-nos um cronista que o Notaremos de passagem que nem Rennefort com relação a Pernambuco, patriarca benzia a mesa e cada qual deitava a farinha no prato em nem Pyrard, Dampier e Mrs. Kindersley com relação à Bahia, salientam forma de cruz.36 Outros benziam a água ou vinho fazendo antes, no nenhum grande luxo de móveis ou de pratas. Dampier e Pyrard, ape­ ar, uma cruz com o copo.57 No fim davam-se graças em latim: nas o tamanho das casas e o número de escravos; e todos, a vida mole dos senhores descansando o dia inteiro dentro de casa, ou atravessan­ Per haec dona et coetera data do as ruas nos ombros dos negros a caminho das igrejas. Dampier Sit Sancta Trinitas semper laudata.56 chegou a escrever que os colonos do Brasil, do mesmo modo que os espanhóis e os portugueses, pouca importância ligavam a mobiliário Ao deitar-se, rezavam os brancos da casa-grande e, na senzala, os ou a quadros; só faziam questão de grandes casas.53 De grandes casas e negros veteranos: de muitos escravos, festas de igreja, mulheres, molecas. Coreal impressionou-se na Bahia com a voluptuosidade dos colo­

34 Com Deus me deito, com Deus me levanto, nos. Uns grandes indolentes sempre nas suas redes. Voluptuosidade Com graça de Deus e do Espírito Santo, e indolência quebradas, porém, pelo espírito de devoção religiosa Se dormir muito, acordai-me, que só no século XIX diminuiu nos homens, para refugiar-se nas Se eu morrer, alumiai-me mulheres, nos meninos e nos escravos. No século XVII e mesmo no Com as tochas da vossa Trindade XVIII não houve senhor branco, por mais indolente, que se furtasse ao sagrado esforço de rezar ajoelhado diante dos nichos: às vezes Na mansão da Eternidade.^ rezas quase sem fim tiradas por negros e mulatos. O terço, a coroa de Cristo, as ladainhas. Saltava-se das redes para rezar nos oratórios: era E de manhã, ao levantarem-se, era também com o nome de Nos­ obrigação. Andava-se de rosário na mão, bentos, relicários, patuás, so Senhor na boca: "Meu Deus, é ainda por efeito de vossa bondade Santo Antônios pendurados ao pescoço; todo o material necessário às que eu vejo a luz do dia! Fazei que eu caminhe seguro, guiado por devoções e às rezas. Maria Graham ainda alcançou o tempo das ladai­ vossa providência infalível". Quando alguém espirrava dizia-se: "Deus nhas cantadas ao anoitecer, nas ruas do Recife; brancos, negros, mu­ vos salve". Os negros tomavam a bênção ao senhor dizendo: "Louva­ latos, todos rezando ao mesmo Deus e à mesma Nossa Senhora. Al­ do seja o nome de Nosso Senhor Jesus Cristo!" E o senhor respondia: guns senhores mais devotos acompanhavam o Santíssimo à casa dos "Para sempre!" ou "Louvado seja!" moribundos. Dentro de casa rezava-se de manhã, à hora das refei­ Quando trovejava forte, brancos e escravos reuniam-se na capela ções, ao meio-dia; e de noite, no quarto dos santos - os escravos ou no quarto do santuário para cantar o bendito, rezar o Magnificat, a acompanhavam os brancos no terço e na salve-rainha. Havendo ca­ oração de São Brás, de São Jerônimo, de Santa Bárbara. Acendiam-se pelão cantava-se Materpuríssima, ora pro nobis. Em Cantagalo, na velas; queimavam-se ramos bentos, recitava-se o credo-em-cruz. Cer­ casa-grande do fazendeiro Joaquim das Lavrinhas, Mathison ficou tas doenças, tratavam-se com orações e com óleo, como nos tempos encantado com o patriarcalismo do dono da casa, ajoelhando-se dian­ apostólicos: a erisipela, por exemplo: Hino que nos parece interessante, pelo destaque que dá às rela­ Pedro e Paulo foi a Roma ções de família entre SanfAnna, Nossa Senhora, Jesus Cristo. e Jesus Cristo encontrou Nos engenhos jejuava-se e observavam-se os preceitos da Igreja. Este lhe perguntou. E verdade que combinando-se a observância dos preceitos divinos - Então que há por lã? com as necessidades do trabalho agrícola e com o regime de alimen­ - Senhor, erisipela má. tação dos escravos: "pessoas de trabalho". O mesmo Manuel Tome de - Benze-a com azeite Jesus, homem muito devoto, que deu à sua casa grande um aspecto e logo te sarará. de convento, espécie de Escurial rústico, como observou Luís Cedro, com cruzeiro na frente e capela de lado,61 não hesitou em dirigir-se a Pelas janelas e portas da casa grudavam-se papéis com orações D. João, bispo de Pernambuco, pedindo a S. Exa. Revma. conceder- para proteger a família de ladrões, assassinos, raios, tempestades. lhe e aos seus negros o privilégio de comerem carne em dias de Orações a Jesus, Maria e José. E nos velhos engenhos patriarcais, abstinência: "Diz Manoel Thomé de Jesus, Snr. do Engenho da Norue­ cantavam-se hinos à Sagrada Família. Entre os papéis e manuscritos ga, que tendo no d.° Engenho hua numeroza famba de escravos e do capitão-mor Manuel Tome de Jesus - patriarca pernambucano que outras pessoas do seu serviço, e não sendo possível dar a todos o floresceu nos fins do século XVIII e na primeira metade do XIX - alimento próprio aos dias de abstinência, que é necessário para as fomos encontrar os seguintes versos devotos em louvor de SanfAna, pessoas de trabalho, e querendo elle em tudo conformar-se com os "mãe de Maria e avó de Jesus": Preceitos da S. M. Igreja, e com a obediência que lhe hé divida, por isso com o mais profundo respeito. Decantemos todos Pede a V Excia. Revma. que pelas faculdades que tem da Sta. Sé Em lirios divinos se digne dispensar com o supplicante e com toda a família do seu Os dons de Sta. Anna Eng2. e pessoas do seu serviço o preceito d'abstinencia de carne com excepção de alguns poucos dias, que V Excia. Notar." Na Santa família Ao que D. João atendeu, despachando: "Attentas as faculdades Sta. Anna nasceo que a Santa Sé nos tem comunicado concedemos que o supe. possa Para avó de Cristo usar de comida de carne em todos os dias em que a Santa Igreja tem Deus Padre escolheo prohibido o seu uso ainda mesmo na Quaresma, e nesta concessão é comprehendida toda a sua família e escravatura. Exceptuamos toda­ via a véspera de Natal, a quarta-feira de Cinzas, a Semana Santa, a Vigília de Ascensão da Jezus C, sobre todos os Ceos e os que se Sta. Anna bemdita celebrão no Sabbado junto ao Domingo do Espirito Santo e no dia 14 Rogai com affecto d'Agosto ou 13 qdo. a Vigília de N. S. dAssumpção for antecipada. O Por nós miseráveis supe. entregará na Caixa Pia cem mil rs. pa. serem divididos pelos A Deos vosso neto pobres por sua intenção, Pal.° da Soledade, 16 de Dezembro de 18 - João Bispo de Pernambuco."62 Louvores a Sta. Anna No dia da botada - primeiro dia de moagem das canas - nunca E ao Espozo também faltava o padre para benzer o engenho; o trabalho iniciava-se sob a E toda a Trindade bênção da Igreja. O sacerdote primeiro dizia missa; depois dirigiam- Para sempre Amen.H) se todos para o engenho, os brancos debaixo de chapéus de sol, do meu corpo sahir a queiram apresentar diante da Magestade Divi­ lentos, solenes, senhoras gordas, de mantilha. Os negros contentes, já na" e "ao Sr. Provedor e Irmãos da Santa Misericórdia" que acompa­ pensando em seus batuques à noite. Os moleques dando vivas e nhem seu corpo "á Egreja que tenho no meo Engenho de Nossa soltando foguetes. O padre traçava cruzes no ar com o hissope, asper- Senhora da Ajuda onde tenho minha sepultura"; e determina várias gia as moendas com água benta - muitos escravos fazendo questão maneiras de ser dividido seu dinheiro - esmolas de cinqüenta mil-réis de ser também salpicados pela água sagrada. Seguiam-se outros ges­ aos irmãos da Misericórdia, de vinte cruzados aos pobres; ofícios de tos lentos do padre. Frases em latim. Às vezes discurso.63 Depois de lições cantadas em intenção de sua alma; trinta mil-réis para um todo esse cerimonial, é que se colocavam entre as moendas as pri­ alampadário de prata destinado à capela do engenho; vinte cruzados meiras canas maduras, atadas com laços de fita verde, encarnada ou à Confraria do Santíssimo Sacramento; seis ou três mil-réis a outras azul. Só então o trabalho começava nos engenhos patriarcais. Foi confrarias. Uma grande dispersão de dinheiro, em prejuízo da perpe­ assim desde o século XVI. Já o padre Cardim observara dos senhores tuidade e coesão patriarcal dos bens n^s mãos dos filhos legítimos.66 de engenho pernambucanos: "Costumam elles a primeira vez que Raro o senhor de engenho que morreu sem deixar alforriados, no deitam a moer os engenhos benzel-os, e neste dia fazem grande festa, testamento, negros e mulatas de sua fábrica. É verdade que "o alforriado", convidando uns aos outros. O padre, à sua petição lhes benzeu al­ observa Alcântara Machado, referindo-se aos escravos das fazendas de guns, cousa que muito estimaram".64 Seguiam-se à bênção dos enge­ São Paulo, nos séculos XVI e XVII, "é muita vez um bastardo, fruto dos nhos, banquetes de senhores nas casas-grandes, comezaina e danças amores do testador ou de pessoa da família com uma negra da casa."67 dos escravos no terreiro. Festas até de madrugada. Banquetes de vite­ Bastardos e filhos naturais - que senhor de engenho não os deixou em las, porcos, galinhas, perus. Tudo sob a bênção da Igreja: não consa­ grande número? Raríssimo o patriarca do tempo da escravidão, que no grava esta "nos seus ritos uma cerimonia ecclesiastica chamada vul­ momento de "descarregar a consciência", pôde seraficamente escrever garmente Ladainhas de Maio, que não são mais de que preces a Deus como em Pernambuco Manuel Tome de Jesus: "Em nome de Deos, pela prosperidade das searas."65 Amen. Padre Filho Espirito Santo, Tres Pessoas Distinctas e hum só Ao sentirem aproximar-se a morte, pensavam os senhores nos Deos verdadeiro. Saibão quantos este testamento virem, que no anno seus bens e escravos em relação com os filhos legítimos seus descen­ do Nascimento de Nosso Senhor Jesus Christo de mil oitocentos cincoenta dentes; os testamentos acusam a preocupação econômica de perpe- e cinco, aos dois dias do mez de Outubro do dito anno, eu Manoel tuidade patriarcal através dos descendentes legítimos. Mas acusam - Thomé de Jezus, estando em meo perfeito juiso e em casa de minha às vezes em antagonismo com esse espírito de perpetuidade e de moradia no engenho novo da Noruega, freguezia de Nossa Senhora da legitimidade - um vivo sentimento cristão de ternura pelos bastardos Escada etc... faço o meo solemne testamento na forma, modo e manei­ e pelas negras. Jerônimo de Albuquerque determina no seu testamen­ ra seguinte - (segue-se a encomendação da alma do grande devoto e to, datado de Olinda, "aos treze dias do mez de Novembro do anno escrupuloso Católico a N. S. Jesus Cristo, 'meo Redemptor, Salvador e do nascimento do Nosso Senhor Jesus Christo de mil quinhentos e Glorificador', a Maria Santíssima Nossa Senhora, ao Arcanjo São Miguel, oitenta e quatro: Mando que se dê a todos os meus filhos naturaes 'Príncipe da Corte do Céo, e aos seus companheiros principaes que alli solteiros quinhentos mil réis para entre si repartirem irmãmente." E estão sempre na presença de Deus e a cumprirem as suas ordens, São dirigindo-se aos filhos legítimos: "No segundo lugar lhes encomendo Gabriel, São Rafael, São Uriel, São Theatriel e São Baraquiel' - para todos os seus irmãos e irmãs naturaes e para isso lhes baste entender, virem então as declarações impressionantes): 'declaro que tenho sido e saber, que são meus filhos [...]". Preocupado com a paz de sua alma cazado tres vezes sempre em face da Igreja [...]' e: 'por não ter filho de grande pecador pede Jerônimo à "Virgem Nossa Senhora, e a to­ nenhum natural ou bastardo [...]'. A última declaração, verdadeira­ dos os Santos, e Santas da Corte dos Céos, que quando a minha alma mente sensacional para a época. Determinou Manuel Tome que, por morte do seu neto André Os negros, é claro, não se enterravam envolvidos em sedas e ficassem forros vários escravos: um deles, Filipa, mulata, mulher de flores, nem dentro das igrejas. Enrolavam-se seus cadáveres em estei­ 68 Vicente, "por ter dado bastantes crias." A glorificação do "ventre ras; e perto da capela do engenho ficava o cemitério dos escravos, gerador". E seguem-se numerosas dotações a confrarias e igrejas. com cruzes de pau preto assinalando as sepulturas. Quando eram Em 1886 escreveu Perdigão Malheiro no seu "ensaio histórico- negros já antigos na casa morriam como qualquer pessoa branca: jurídico-social" A escravidão no Brasil: "Em testamentos e codicilos é confessando-se, comungando, entregando a alma a Jesus e a Maria; e comum a concessão de alforrias; posso mesmo atestar como Procura­ a São Miguel, São Gabriel, São Rafael, São Uriel, São Teatriel, São dor dos Feitos nesta Corte que raro é aquele de pessoa que possui Baraquiel. Arcanjos louros que devem ter acolhido os pretos velhos escravos, em que algum não seja libertado, e melhor o atesta o regis­ como São Pedro à negra Irene do poema de Manuel Bandeira: "Entra, tro da Provedoria". O mesmo podemos dizer dos testamentos do sé­ Irene! entra, Cosme! entra, Benedita! entra, Damião!" Alguns senhores culo XIX que nos foi possível examinar em Pernambuco não só em mandavam dizer missa por alma dos escravos de estimação;73 enfeita­ arquivos de engenhos, como em cartórios mais antigos, de regiões vam-lhes as sepulturas de flores; choravam com saudade deles como 69 escravocratas. se chora com saudade de um amigo ou de um parente querido. Mas Desde o tempo de Jerônimo de Albuquerque, cunhado do funda­ havia também muito senhor bruto. E na cidade, com a falta de cemi­ dor da capitania de Pernambuco, ao de Manuel Tome de Jesus, capi- térios durante os tempos coloniais, não era fácil aos senhores, mesmo tão-mor por graça de D. João VI, patriarca que veio a morrer de uma caridosos e cristãos, darem aos cadáveres dos negros o mesmo desti­ ferida na perna, as oitenta e um anos de idade, depois de uma vida que no piedoso que nos engenhos. Muitos negros foram enterrados na tanto teve de severa quanto a de Jerônimo de dissoluta e libertina - foi beira da praia: mas em sepulturas rasas, onde os cachorros quase sem costume sepultarem-se os senhores e pessoas da família quase dentro esforço achavam o que roer e os urubus o que pinicar. Maria Graham, de casa: em capelas que eram verdadeiras puxadas da habitação patriar­ na praia entre Olinda e Recife, viu horrorizada um cachorro desenter­ cal. Os mortos ficavam na companhia dos vivos: até que os higienistas, rar o braço de um negro. Segundo Mrs. Graham nem mesmo sepultu­ já no segundo Império, começaram perguntar: "até quando persistirá a ras rasas se davam aos "negros novos": estes, atados a pedaços de 70 triste prerrogativa dos mortos envenenarem a vida dos vivos?" pau, eram atirados à maré. É um ponto, esse, em que se pode acusar Os enterros faziam-se à noite, com grandes gastos de cera; com a Igreja, os padres e as Misericórdias no Brasil de não terem cumprido muita cantoria dos padres em latim; muito choro das senhoras e dos rigorosamente seu dever.74 negros. Que estes ficavam sem saber que novo senhor a sorte lhes Outro ponto houve em que a doutrina da Igreja e os interesses reservava; e choravam não só com saudades do senhor velho, como dos senhores de escravos por algum tempo andaram em conflitos: em pela incerteza do seu próprio destino. relação à guarda do domingo nos engenhos de cana. Loreto Couto Ewbank descreve-nos o luxo dos enterros de gente fidalga no dedica ao assunto um capítulo inteiro do seu livro, Desagravos do Rio de Janeiro; o vaidoso aparato da toalete dos defuntos - fardas, Brasil e glórias de Pernambuco, concluindo por não achar "culpa moral uniformes, sedas, hábitos de santos, condecorações, medalhas, jóias; trabalharem nos Domingos e dias santos os officiaes de assucar, e as criancinhas muito pintadas de ruge, cachos de cabelo louro, asas escravos dos senhores de engenho do Brasil." Isto devido ao fato, de anjinhos; as virgens, de branco, capela de flor de laranja, fitas alegado por todo plantador de cana e fabricante de açúcar, da moa- 71 azuis." Nesse luxo de dourados, ruge, sedas, eram os defuntos con­ gem depender do tempo de verão: "porque entrando o inverno com duzidos para as sepulturas nas igrejas; igrejas que nos dias úmidos as suas chuvas ou pejão os engenhos, e ficão as cannas no campo, ou ficavam fedendo horrivelmente a podre, os defuntos só faltando es­ essas cannas faltam com o rendimento por ficarem aguosas, e insulsas, 72 tourar das covas. porque de maduras as tornam verdes, rasão por onde se sente clara- mente a falta de rendimento". E "alem desta necessidade", acrescenta ornato que seja bastante para cobrir a provocação da sensualidade D. Domingos, na sua defesa dos senhores de engenho, "lha outras [...]." Isto em pastoral de 19 de fevereiro de 1726.77 Em 16 de agosto varias cousas pelas quaes se excusão de peccado mortal os que de 1738, em nova carta aos seus paroquianos, insistiu no assunto; trabalhão em taes dias, como são o costume, a utilidade, temor de desta vez não só reprovando nos senhores de escravos a desnudez de perder grande lucro, e outras semelhantes das que apontão os douto­ certas negras como o fato de outras "trazerem aberturas grandes nas res, as quaes todas, ou quasi todas se achão juntas e unidas no nosso saias, e que vulgarmente chamam maneiras [...]." Os enfeites ficaram caso."7, Deve-se observar, de passagem, que os frades da Ordem a proibidos "sob pena de excommunhão maior".78 que pertenceu D. Domingos - a de São Bento - e também do Carmo, Cem anos depois, os anúncios de escravos fugidos, do Jornal do foram no Brasil grandes proprietários de terras e de escravos. Frades Commércio, do Rio, e do Diário de Pernambuco, esclarecem-nos so­ senhores de engenho. Os de São Bento tratando muito bem os seus bre a indumentária dos domésticos das famílias pernambucanas: uns negros; deixando os molequinhos brincar a maior parte do dia, cui­ ainda seminus, isto é, "só de tanga"; a maioria, porém, de "camisa de dando dos negros velhos, arrumando os casamentos entre as rapari­ baeta encarnada e ceroula de algodão"; ou de "calça e camisa de gas de quatorze e quinze anos e os rapazes de dezessete ou dezoito; estopa"; ou de "camisa de algodão grosso e calça de ganga". Molecas facilitando a alforria aos diligentes.76 Os do Carmo parece que nem de vestidos de "panno da Costa com listras vermelhas"; pretas velhas sempre primaram pelo bom tratamento dispensado aos escravos; um de "vestidos de chita roxa, saia lila, preta por cima, panno da Costa deles, na Bahia, acabou assassinado de modo bárbaro: cortado em azul com matames brancos, e lenço azul amarrado na cabeça."79 Al­ pedacinhos pelos negros. guns negros de argola na orelha - ornamentação de sua terra que Nem todos os senhores de escravos seriam capazes de pedir aos aqui lhes foi permitido conservar. seus bispos - como o capitão-mor do Noruega a D. João da Purifica­ Le Gentil de la Barbinais escreveu que se não fossem os santos e ção Marques Perdigão - dispensa para si e para os negros dos dias de as amásias os colonos, no Brasil, seriam muito ricos.80 Mas todo di­ abstinência. Para alguns, os dias de jejum devem ter representado um nheiro era pouco para fazerem figura nas festas de igrejas, que se elemento de equilíbrio em sua vida precária; dias de economia não só realizavam com uma grande pompa - procissões, foguetes, cera, in­ das despesas de carne, mas de toda comida forte. Dias de peixe seco censo, comédias, sermões, danças - e no adorno das fêmeas; de ne­ e farinha. Presos à tradição peninsular - não fôssemos nós descen­ gras e mulatas cheias de balangandãs e tetéias de ouro. dentes dos comedores de rãbanos que Clenardo retratou de modo tão Grandes comezainas por ocasião das festas; mas nos dias co­ cruel - muitos dos nossos avós menos opulentos sacrificaram o con­ muns, alimentação deficiente, muito lorde falso passando até fome. forto doméstico e a alimentação da família e dos negros à vaidade de Tal a situação de grande parte da aristocracia e principalmente da simularem grandeza. Uns cobrindo de jóias os santos seus padroeiros burguesia colonial brasileira e que se prolongou pelo tempo do Im­ e as pretas suas amantes; outros ostentando sedas e veludos pelas pério e da República. O mesmo velho hábito dos avós portugueses, ruas e igrejas. E os negros da lavoura, e às vezes até domésticos, às vezes guenzos de fome, mas sempre de roupa de seda ou veludo, mulambentos ou quase nus - sobretudo depois que o Tratado de dois, três, oito escravos atrás, carregando-lhes escova, chapéu-de-sol Methuen tornou caríssimos os panos em Portugal e no Brasil. O bispo e pente. Na índia encontrou Pyrard fidalgos lusitanos que se reveza­ de Pernambuco D. Frei José Fialho chegou a recomendar aos reve­ vam no uso de um só trajo de seda - um fidalgo ostentando a seda rendos párocos que proibissem de entrar nas igrejas negras seminuas; nas ruas, dois permanecendo em casa em trajes menores. Ainda hoje considerou-as em estado de "deplorável indecência". "Também ad­ se encontra no brasileiro muita simulação de grandeza no vestuário e vertimos aos senhores de escravos não consintão que estas andem em outras exterioridades, com sacrifício do conforto doméstico e da despidas como vulgarmente costumão mas sim cobertas com aquelle alimentação diária. Os estudantes das escolas superiores foram até pouco tempo uma mocidade alimentada irregularmente, alguns pas­ demande d'oü procedait un gout si bizarre mais ils Vignorent eux- sando fome do dia 15 até o fim do mês, e quase todos morando em mêmes. Pour moije crois qu'élevez & nourrispar ces Esclaves, ils en repúblicas sem conforto nenhum - apenas redes penduradas das pa­ prennent 1'inclination avec le laif. Nada menos que a teoria da Calhoun redes, cabides para a roupa e caixões de querosene para os três ou aplicada aos anglo-americanos do sul dos Estados Unidos - louros quatro livros indispensáveis. Mas na rua, uns príncipes, de fraque e finos em quem se desenvolveu a mesma acentuada predileção por negra e mulata. Ficaram célebres os bailes de octorunas e mulatas de cartola; fumando charutos; ostentando amantes caras; andando de Nova Orleans em que os rapazes das melhores famílias brancas iam vitória. farejar amantes de cor. O que nem o português, nem o brasileiro, nunca sacrificaram a interesse nenhum, foi o culto faustoso de Vênus. E particularmente o Le Gentil de la Barbinais particulariza um caso curioso dentre os da Vênus fusca; "Estetiam fusco grata colore Venus". Frézier, exagera­ que observou no Brasil do século XVIII: o de uma encantadora mu­

m lher de Lisboa casada com um luso-brasileiro. Em pouco tempo sepa­ do, foi além: "Matres omnesfiliis inpeccato adjutrices, etc!' Exagero rou-os profunda discórdia, o brasileiro desprezando a lisboeta pelo só, não: talvez calúnia. amor de uma negra que não teria merecido "as atenções do mais feio E Froger reparou nos brasileiros: '7/s aiment le sexe à la folie preto de toda a Guiné". A opinião é do francês - nostálgico, talvez, [...]".82 das parisienses de cabelo louro e pele sardenta. E não apenas os simples cristãos: também frades e eclesiásticos. O intercurso sexual de brancos dos melhores estoques - inclusive Que muitos levaram a mesma vida turca e debochada dos senhores eclesiásticos, sem dúvida nenhuma, dos elementos mais seletos e de engenho, sob a provocação de mulatinhas e negras da casa se eugênicos na formação brasileira - com escravas negras e mulatas foi arredondando em moças; de molecas criando peitos de mulher; e formidável. Resultou daí grossa multidão de filhos ilegítimos - tudo fácil, ao alcance da mão mais indolente. Foi decerto um dos mulatinhos criados muitas vezes com a prole legítima, dentro do libe­ motivos de Antonil recomendar aos capelães que morassem "fora da ral patriarcalismo das casas-grandes; outros à sombra dos engenhos casa do senhor do engenho". Fora da casa-grande - antro de perdi­ de frades; ou então nas "rodas" e orfanatos. ção. E mesmo morando em casinha à parte, que não tivessem escrava O grande problema da colonização portuguesa do Brasil - o de para seu serviço senão velha ou adiantada em idade. A mesma reco­ gente - fez que entre nós se atenuassem escrúpulos contra irregulari­ mendação de D. frei José Fialho aos reverendos párocos de Pernam­ dades de moral ou conduta sexual. Talvez em nenhum país católico buco: que não tivessem escravas em casa de "menos de quarenta tenham até hoje os filhos ilegítimos, particularmente os de padre, anos". De quarenta anos para cima já não se consideravam as negras recebido tratamento tão doce; ou crescido, em circunstâncias tão fa­ perigosas.83 voráveis. Dos filhos ilegítimos, recolhidos nos numerosos orfanatos Na fixação da idade perigosa das escravas é que talvez tenha se coloniais, observou La Barbinais: "Ces sortes d'énfants sont fort enganado D. frei José. Parece que as negras não ficam velhas tão considerez dans ce Pais: le Roi les adopte, & les Dames les plus qualifiés depressa, nos trópicos, como as brancas; aos quarenta anos dão a se font un honneur de les retirer dans leurs maisons, & de les élever impressão de corresponder às famosas mulheres de trinta anos dos comme leurspropres enfans. Cette charité est bien louable mais elle est países frios e temperados. Uma preta quarentona é ainda uma mulher suyette à bien des inconvenens".m Mais dignos de admiração eram apenas querendo ficar madura; ainda capaz de tentações envolventes. porém os meninos nascidos nas senzalas e criados em casa, mistura­ Le Gentil de la Barbinais, que aqui esteve em princípios do sécu­ dos aos brancos e legítimos. lo XVIII, notou a preferência quase mórbida dos colonos pelas negras No século XVI, com exceção dos jesuítas - donzelões intransi­ e mulatas: "Lesportugais naturels du Brésilpréfèrent lapossession d 'une gentes - padres e frades de ordens mais relassas em grande número femme noir ou mulâtre à la plus belle femme. Je leur ai souvent se amancebaram com índias e negras; os clérigos de Pernambuco e Mas os eclesiásticos libertinos - padres e frades que andavam da Bahia escandalizando o padre Nóbrega. Através dos séculos XVII e escandalosamente com mulheres da vida, esquecidos de Deus e dos XVIII e grande parte do XIX continuou o livre arregaçar de batinas livros - não se pode afirmar que tenham sido o maior número; houve para o desempenho de funções quase patriarcais, quando não para sacerdotes que impressionaram protestantes ingleses como Mathison excessos de libertinagem com negras e mulatas. Muitas vezes por trás pela sua vida pura e santa; a Koster, pelo seu saber e por suas preo­ dos nomes mais seráficos deste mundo - Amor Divino, Assunção, cupações elevadas; a Burton, pela sua bondade e instrução.87 Outros Monte Carmelo, Imaculada Conceição, Rosário - dizem-nos certos tiveram comadres-, mas discretamente, quase sem pecado. Vivendo cronistas que, em vez de ascetas angustiados pelo voto de virgindade, vida como de casado; criando e educando com esmero os afilhados 88 floresceram garanhões formidáveis. O padre La Caille ficou horroriza­ ou sobrinhos. Sem perderem o respeito geral. do com a libertinagem dos frades no Rio de Janeiro.85 Dessas uniões, muitas foram mulheres de cor, escravas ou ex- Froger, que esteve no Rio de Janeiro antes de La Caille - no escravas; outras, porém, com moças brancas ou brancaranas, verda­ 89 século XVII - informa que não somente os burgueses, mas os religio­ deiros tipos de beleza, do ponto de vista ariano. Não insistimos sos, ostentavam amantes; Le Gentil de la Barbinais escreve que na neste ponto com o fim de acentuar a fraca vocação para o ascetismo Bahia religiosos e frades seculares mantinham comércio público com do clero colonial - deficiência que, no caso das ligações de párocos com comadres, foi largamente compensada pela virtudes patriarcais, mulheres, acrescentando: "on les cannoit plütot par le nom de leurs que souberam desenvolver e cultivar. Nossa insistência visa outro fim: Maitresses que par celui qu'ils ont". E mais: "lis courent pendant la acentuar que à formação brasileira não faltou o concurso genético de nuit travestis les uns en femmes en habits d'Esclaves, armez de um elemento superior, recrutado entre as melhores famílias e capaz poignards & d'armes encoreplus danzereuses. Les couvens mêmes [...] de transmitir à prole as maiores vantagens do ponto de vista eugênico servent de retrait aux femmes publiques". O autor das Revoluções do e de herança social. Daí o fato de tanta família ilustre no Brasil funda­ Brasil referindo-se ao século XVIII, conta horrores dos conventos: da por padre ou cruzada com sacerdote; o fato de tanto filho e neto "centros [...] de ignorância, atrevimento, e libertinagem de costumes". de padre, notável nas letras, na política, na jurisprudência, na admi­ Carmelitas, beneditinos, franciscanos, marianos, barbinos italianos, nistração. congregados do Oratório - a todos acusa de safadezas. Deve haver, Baseado em Lapouge, Alfredo Ellis Júnior inclui a "seleção reli­ porém, exagero tanto nesse panfleto como no relatório do padre Ben­ giosa" entre as forças ou influências que teriam feito diminuir "a

to José Cepeda sobre os jesuítas, documento que se conserva nos 90 potencialidade eugênica" do paulista. A Igreja teria subtraído à pro­ arquivos do Instituto Histórico Brasileiro; aí foi colher Luís Edmundo criação indivíduos dotados de altas qualidades de espiritualidade, a informação de que um jesuíta, em solenidade do Carmo, teria pedido concorrendo assim para sua própria decadência. Alfredo Ellis Júnior ao povo "uma Ave Maria para a mulher do bispo que está em trabalho imagina resultados ainda "mais funestos" da seleção religiosa exercida do parto"; que outro, certo Vítor Antônio, teria por costume tomar da pelo catolicismo sobre a família brasileira: "também afastou da repro­ cabeleira do Senhor dos Passos e ir com ela disfarçado para a pânde­ dução os elementos de maior valor cerebral, diminuindo assim a for­ ga. O padre Lopes Gama, no O Carapuceiro, não poupou fradinhos ça do intelecto da população, visto como era costume, entre as famí­ de mão furada: retratou-os, ou antes, caricaturou-os de maneira cruel. lias paulistas, dedicarem à carreira sacerdotal o filho que maiores Maria Graham teve má impressão do clero brasileiro nos princípios pendores manifestasse pelas coisas intelectuais. Seguindo esse desti­ do século XIX: mas fala do assunto quase de oitiva, pelo que ouviu no, os melhores elementos das famílias, sob esse ponto de vista, dei­ dizer, em Pernambuco. Não perdoou aos padres o estado de abando­ xavam de se reproduzir, só o fazendo os que não tinham mostrado no do colégio e da biblioteca de Olinda.86 tendência às coisas do intelecto". Discordamos neste ponto do soció- logo paulista. Se é certo que foi elevadíssimo o número de sacerdotes ticos e não poucos", informa Vilhena, "que por aquelle antigo e mao e frades saídos das melhores casas coloniais - em geral a flor, a ex­ habito, sem lembrarem-se do seu estado e caracter, vivem assim em pressão intelectual mais fina de cada família - não nos parece que dezordern com mulatas e negras de quem por morte deixam os filhos todo esse superior potencial eugênico tenha sido abafado e esteriliza­ por herdeiros de seus bens; e por estes e semelhantes modos vem a do pela "seleção religiosa". Lapouge refere-se à influência da Igreja parar nas mãos de mulatos presumpçosos, soberbos e vadios muitas naqueles meios em que o ascetismo ou o celibato é rigorosamente das mais preciosas propriedades do Brasil, como são aqui os enge­ observado pelo clero. Não foi de modo nenhum o caso brasileiro. nhos que em breve tempo se destroem com gravíssimo prejuiso do Raros, entre nós, os eclesiásticos que se conservaram estéreis; e gran­ Estado [...]." Tão grave parecia a Vilhena o inconveniente, e tão gene­ de número contribuiu liberalmente para o aumento da população, ralizados deviam ser os casos de padres de fortuna amigados com reproduzindo-se em filhos e netos de qualidades superiores. O fato negras e mulatas, que o professor de grego chamou para o fato a alegado por Alfredo Ellis Júnior dos paulistas se virem revelando "no atenção de D. João VI: "Sendo cousa bem digna da Real attenção de passado, muito medíocres no concernente às funções cerebrais" pare­ S. Magestade; porque, a não se obviar a virem os engenhos e fazen­ ce-nos derivar-se de outras causas, ainda indeterminadas. A verdade é das a cahir nas mãos desses pardos naturaes, homens commumente que a "seleção religiosa", de que fala Lapouge, mal se fez sentir no estragados, e que estimam aquellas incomparáveis propriedades em Brasil. São numerosos os casos de brasileiros notáveis, filhos ou netos tanto quanto lhes custam, a elles, pelo decurso dos tempos lhes hão de padre. de vir a cahir das mãos, e por conseqüência a perder-se, bem como E notáveis não só pelo talento ou a cultura, como pela excelente tem succedido á maior parte dos que por este modo tem vindo ao conduta moral. Ainda hoje filhos e netos de padres se salientam na poder de donos desta natureza".92 Talvez exagerasse mestre Vilhena: política, nas letras, na diplomacia. Poderíamos citar o nome do notá­ de qualquer modo, na freqüência das uniões irregulares de homens vel romancista do tempo do Império, o de sábio jurisconsulto, ainda abastados - negociantes, eclesiásticos, proprietários rurais - com ne­ vivo, o de ilustre higienista dos começos da República, o de eminente gras e mulatas, devemos enxergar um dos motivos da rápida e fácil diplomata colaborador de Rio Branco, o de um ministro de Estado do dispersão da riqueza nos tempos coloniais, com prejuízo, não há dú­ governo Vargas, os de vários médicos, advogados, professores de es­ vida, para a organização da economia patriarcal e para o Estado capi­ colas superiores. Não são duas, nem três, porém várias, as famílias talista, mas com decididas vantagens para o desenvolvimento da socie­ que no Brasil se entrocam em padre, ou se derivam de vigário ou dade brasileira em linhas democráticas. pároco. Na ascendência do ramo de uma das mais finas - a dos Acresce que a atividade patriarcal dos padres, embora exercida, Andradas - encontra-se, informa Alberto de Sousa, a figura respeitá­ muitas vezes, em condições morais desfavoráveis, trouxe à formação vel de velho sacerdote colonial: o Revmo. Padre patrício Manuel Bueno do Brasil a contribuição de um elemento social e eugenicamente su­ de Andrade, rico proprietário em Santos, cuja filha Da. Maria Sebinda perior. Homens das melhores famílias e da mais alta capacidade inte­ casou-se com um primo, Francisco Xavier da Costa Aguiar, recolhen­ lectual. Indivíduos educados e alimentados como nenhuma outra classe, do a família legítima a fortuna do velho ministro da Igreja.91 em geral transmitiram aos descendentes brancos, e mesmo mestiços, Luís dos Santos Vilhena, o erudito professor régio de língua grega essa sua superioridade ancestral e de vantagens sociais. Inclusive a da nos tempos coloniais, enxergava sério inconveniente no patriarcalismo cultura intelectual e a de riqueza. É o que explica tanto filho de padre, torto dos clérigos. Ligando-se muitos, não com moças brancas ou cuja ascensão social, quando branco ou mestiço claro, tem se feito brancaranas, cuja descendência pudesse ser reabsorvida facilmente sempre com grande facilidade, abrindo-se para eles as profissões e na família antiga e legítima, mas com negras ou mulatas chapadas, carreiras mais nobres, ao mesmo tempo que os casamentos no seio resultava daí a dispersão dos bens por mãos de mulatos. "Ha ecclesias- das famílias mais exclusivas. Não é sem razão que a imaginação po- pular costuma atribuir aos filhos de padre sorte excepcional na vida. rurais estão cheias de casos desses: de crias que subiram, social e Aos filhos de padre, em particular, e aos ilegítimos, em geral. "Feliz economicamente, pela instrução bem aproveitada, enquanto os meni­ que nem filho de padre", é comum ouvir-se no Brasil. "Não há ne­ nos brancos só deram, depois de grandes, para lidar com cavalos e nhum que não seja...", diz a gente do povo. Querendo dizer: "Não há gaios de briga. Nas mãos desses brancos legítimos e não nas dos nenhum filho ilegítimo, particularmente filho de padre, que não seja "pardos naturais", tão desdenhados por Vilhena, é que se dispersou feliz". muita propriedade; é que se malbarataram fortunas acumuladas pelo Aos bastardos, em geral, pode estender-se, é verdade que sem a esforço de duas, três, quatro gerações. mesma intensidade, o que ficou dito dos filhos de padre; quando Deve-se, entretanto, restringir nas afirmações de Charles Comte mestiços resultaram quase sempre da união do melhor elemento mas­ as vantagens que ele destaca nos filhos mestiços de senhores com culino - os brancos afidalgados das casas-grandes - com o melhor escravas. Porque não faltam desvantagens: os preconceitos inevitá­ elemento feminino das senzalas - as negras e mulatas mais bonitas, veis contra esses mestiços. Preconceitos contra a cor da parte de uns; mais sadias e mais frescas. contra a origem escrava, da parte de outros. Comte - não o filósofo da rue Monsieur le Prince, mas outro, Sob a pressão desses preconceitos desenvolvem-se em muito Charles, que infelizmente não alcançou entre nós a mesma voga que mestiço evidente complexo de inferioridade que mesmo no Brasil, Auguste - salientou este fato de grande significação para o estudo da país tão favorável ao mulato, se observa em manifestações diversas. formação brasileira: a ampla oportunidade de escolherem os senho­ Uma delas, o enfático arrivismo dos mulatos, quando em situação res, nas sociedades escravocratas, as escravas mais belas e mais sãs superior de cultura, de poder ou de riqueza. Desse inquieto arrivismo para suas amantes: "lesplus belles et les mieux constituées". Oportuni­ podem-se salientar duas expressões características: Tobias Barreto - o dade que no Brasil já tivera o colonizador português com relação às tipo do novo-culto, que recorda em tantos aspectos a curiosa figura índias. de Luciano estudada por Chamberlain; e na política, Nilo Peçanha. Dessas uniões pensa Charles Comte ter quase sempre resultado, Por outro lado, ninguém mais reticente que Machado de Assis; nem nos países de escravidão, o elemento melhor; cremos que diria "o mais sutil que o barão de Cotegipe. Deste e de outros aspectos da mais eugênico" se em vez de ter escrito em 1833, escrevesse hoje, miscigenação pretendemos nos ocupar em ensaio próximo. mais de cem anos depois. "Les enfans nés de ces alliances", são pala­ Atribuem alguns cronistas da escravidão grande importância à vras de Charles Comte, "n 'ontpas tous été affranchis; ce n 'ést cependant prostituição das negras; mas das negras e mulatas exploradas pelos que par mieux qu'il y a eu de nombreux affrancbissemens. Les brancos. La Barbinais afirma que até senhoras se aproveitavam de tão personnes de cette classe auxquelles la liberte n 'a pas été ravie, ayant nefando comércio. Enfeitavam as molecas de correntes de ouro, pul­ été soustraites aux fatigues et auxprivations des esclaves, et'n'ayant seiras, anéis e rendas finas, participando depois dos proventos do pu contracter les vices que donne a domination, ont forme la classe la dia.9' Os negros e as pretas chamados de ganho serviram para tudo mieux constituée et la plus énergique."93 Em vez de considerar os fi­ no Brasil: vender azeite-de-carrapato, bolo, cuscuz, manga, banana, lhos de senhores com escravas indivíduos socialmente perigosos, reu­ carregar fardos, transportar água do chafariz às casas dos pobres - nindo os vícios dos dois extremos,94 considera-os Charles Comte li­ trazendo de tarde os proventos para o senhor; e a acreditarmos em La vres dos inconvenientes, tanto de uma classe como de outra; e Barbinais serviram até para isso... Mas, admitida uma exceção ou constituindo um feliz meio-termo. outra, não foram senhoras de família, mas brancas desclassificadas, No Brasil, muita cria e mulatinho, filho ilegítimo do senhor, apren­ que assim exploraram as escravas. Às vezes negrinhas de dez, doze deu a ler e a escrever mais depressa que os meninos brancos, distan- . anos já estavam na rua se oferecendo a marinheiros enormes, grangazás ciando-se deles e habilitando-se aos estudos superiores. As tradições ruivos que desembarcavam dos veleiros ingleses e franceses, com uma fome doida de mulher. E toda essa superexcitação dos gigantes reclusão oriental, é certo; mas dentro desse sistema, eram mulheres louros, bestiais, descarregava-se sobre molequinhas; e além da super­ de uma pureza rara. Pureza que o viajante inglês não hesitou em excitação, a sífilis; as doenças do mundo - das quatro partes do mun­ contrastar com as "flirtations" das moças inglesas antes do casamen­ do; as podridões internacionais do sangue. to, com a relativa liberdade das canadenses e das norte-americanas Em meados do século XIX, reinando sobre o Brasil Sua majestade antes e depois de casadas.98 Mas somos forçados a concluir, antes de o imperador D. Pedro II, um homem tão casto e puro - tipo do mari­ nos regozijarmos com os elogios de Burton à pureza das senhoras do ideal para a rainha Vitória - em contraste com seu augusto pai brasileiras do tempo da escravidão, que muita dessa castidade e dessa que, muito brasileiramente, até negrinhas desvirginou e emprenhou - pureza manteve-se à custa da prostituição da escrava negra; à custa as ruas do Sabão - hoje, desaparecida, com a construção da avenida da tão caluniada mulata; à custa da promiscuidade e da lassidão esti­ Presidente Vargas - e da Alfândega eram ainda piores do que o Man­ mulada nas senzalas pelos próprios senhores brancos. gue carioca: escravas de dez, doze, quinze anos mostrando-se às ja­ "Oppoem-se alguns senhores aos casamentos dos escravos e escra­ nelas, seminuas; escravas a quem seus senhores e suas senhoras (ge­ vas" escreveu o jesuíta Andreoni, "e não somente não fazem caso dos ralmente maitresses de maison) obrigavam - diz-nos um escrito da seus amancebamentos, mas quasi claramente os concentem, e lhes dão época - "a vender seus favores, tirando desse cínico comércio os principio, dizendo: Tu Fulano a seu tempo casarás com Fulana: e dahi meios de subsistência".96 Nas ruas da Bahia, diz-nos Vilhena, referin­ por diante os deixão conversar entre como si já fossem recebidos por do-se aos últimos anos de vida colonial, que era um horror: "Libidi- marido, e mulher; e dizem que os não casão, porque temem que enfa- nozos, vadios e ociosos de hum e outro sexo que logo que anoitece dando-se do casamento se matem logo com peçanha, ou com feitiço; entulhão as ruas, e por ellas vagão, e sem pejo nem respeito a nin­ não faltando entre elles mestres insignes". "Outros", escreveu ainda o guém, fazem gala de sua torpeza..." Refere-se ainda o professor de padre, referindo-se a senhores dos fins do século XVII, "depois de esta­ grego a "paes de famílias pobres" - os nossos "brancos pobres" - que rem casados os escravos, os apartão de tal sorte por annos que ficão

não deixando às filhas outra herança senão a da ociosidade e a dos 99 como se fossem solteiros; o que não podem fazer em consciência". preconceitos contra o trabalho manual, "depois de adultas se valem Deve-se porém distinguir entre os escravos de trabalho agrícola e dellas para poderem subsistir.. ."97 Mas o grosso da prostituição, forma­ os do serviço doméstico - estes beneficiados por uma assistência moral ram-no as negras, exploradas pelos brancos. Foram os corpos das e religiosa que muitas vezes faltava aos do eito.100 Na maior parte das negras - às vezes meninas de dez anos - que constituíram, na arquite­ casas-grandes sempre se fez questão de negros batizados, tendo-se tura moral do patriarcalismo brasileiro, o bloco formidável que defen­ uma como repugnância supersticiosa a "pagãos" ou "mouros" dentro deu dos ataques e afoitezas dos don-juans a virtude das senhoras de casa, fossem embora simples escravos. E os testamentos e inventá­ brancas. rios do século XIX referem-se freqüentemente a negros casados: Fula­ Burton lembra a relação entre Agapemone e a pureza dos lares; no, mulher de Sicrano. Diz-nos Perdigão Malheiro que houve senho­ tanto mais opulento Agapemone, mais livres os lares do don-juanismo. ras de tal modo interessadas no bem-estar dos escravos que levavam A teoria de Bernard de Mandeville. Aplicada ao Brasil patriarcal, dá aos próprios seios molequinhos, filhos de negras falecidas em conse­ realmente nisto: a virtude da senhora branca apóia-se em grande par­ qüência de parto, alimentando-os do seu leite de brancas finas; que te na prostituição da escrava negra. A mãe de família, a moça solteira, nos engenhos e fazendas vários escravos chegaram a unir-se pelo a mulher, não só em Minas, como no Brasil em geral, pareceu a Burton casamento "vivendo assim em família, com certas regalias que os se­ "excepcionalmente pura" ("exceptionally pure"). Que não se julgasse nhores lhes conferem".1"1 a mulher brasileira pelos costumes da Corte e das cidades, e sim pelos Esses negros batizados e constituídos em família tomavam em ge­ do interior. Nas províncias viviam as senhoras em um sistema de semi- ral o nome de família dos senhores brancos: daí muitos Cavalcantis, Albuquerques, Meios, Mouras, Wanderleys, Lins, Carneiros Leões, vir­ supõem-se caboclos e não de origem predominantemente portugue­ gens do sangue ilustre que seus nomes acusam. No Brasil ainda mais sa ou africana. Nomes arrogantemente nativistas: Buritis, Muritis, do que em Portugal, não há meio mais incerto e precário de identifica­ Juremas, Jutaís, Araripes.103 O depois visconde de Jequitinhonha, trans­ ção de origem social do que o nome de família. Contou-nos senhora de formou em Francisco Jê Acaiaba Montezuma o nome portuguesíssimo distinta família pernambucana, viúva de um diplomata e historiador de Francisco Gomes Brandão. Brasileiros menos indianistas nas suas eminente, que uma vez, em Londres ou Washington, apareceu como tendências, porém não menos nativistas - alguns até bairristas - inter­ adido militar da legação brasileira um oficial do Exército com o mesmo calaram no nome um "Brasileiro", um "Pernambucano", um "Paraense", nome de família que o dela. Quis saber se seriam parentes. Indagou. um "Maranhão" enfático, anunciando-lhes a origem brasileira ou par- Tratava-se de um nome de família ilustre adotado por motivos de pura ticularizando-lhes a regional. Tal o caso do velho José Antônio estética - o oficial achara-o bonito e adotara-o. É o que têm feito tam­ Gonçalvez de Melo que pôs em um filho o nome de Cícero Brasileiro, bém alguns filhos de padre e vários filhos naturais. Muitos sem se con­ em outro o de Ulisses Pernambucano - nomes que se têm conservado tentarem com nomes bonitos ou fidalgos da terra têm ido buscar na na família, já estando na terceira ou quarta geração. Outro patriarca, história de Portugal e da Espanha nomes de ainda maior ressonância e da mesma família, do ramo ligado aos Fonseca Galvão, mudou o glória; os mais requintados não se esquecem de um "da" ou "de" que nome legitimamente português para Carapeba; e com esse nome hor­ surgira nobreza; Fulano deAlba, Sicrano de Cadaval, Beltrano da Gama. rível de Carapeba morreu-lhe heroicamente um filho na Guerra do Daí o que o escritor Antônio Torres chamou uma vez a nossa "nobreza Paraguai. Este, aliás, recebera do pai, talvez maçom dos ranzinzas, o de sobrecarta" ou de livro de registro de hotel.1"2 nome - pode-se dizer cristão? - de Voltaire. Voltaire Carapeba. No caso dos escravos constituídos cristãmente em família, à som­ Muitos foram os nomes de engenhos que se encostaram aos no­ bra das casas-grandes e dos velhos engenhos, terá havido, na adoção mes e às vezes aos apelidos dos donos. Daí os Joaquins de Lavrinha, os dos nomes fidalgos, menos vaidade tola que natural influência do Sinhôzinhos (Sousa Leão) de Almécega, os Orico do Vena (Eurico Cha­ patriarcalismo, fazendo os pretos e mulatos, em seu esforço de ascen­ ves, do Vênus), os Sebastiões (Wanderley) do Rosário, os Serafins (Pes­ são social, imitarem os senhores brancos e adotarem-lhe as formas soa de Melo) de Matari, os Pedrinhos (Paranhos Ferreira) de Japaranduba, exteriores de superioridade. É, aliás, digno de observar-se que muitas os Zezinhos (Pereira Lima) do Brejo, os Pinheiros de Itapeçoca, os vezes o nome ilustre ou fidalgo dos senhores brancos foi absorvido Coelhos Castanhos de Maçaranduva, os Vieiras de Calugi, os Pedros no indígena e até no africano103 das propriedades rurais - a terra (Wanderley) de Bom-Tom, os Lulus (Pessoa de Melo) de Maré. como que recriando os nomes dos proprietários à sua imagem e se­ Quanto aos nomes cristãos, parece que por muito tempo pouca melhança. Foi assim que, em Pernambuco, um ramo da antiga família diferença houve entre os dos brancos e os dos negros, tirados todos Cavalcanti de Albuquerque tornou-se Suaçuna; também houve um da folhinha.1*' Nomes de santos - predominando o de João - que ramo da família Carneiro Leão que transformou-se em Cedro. Suaçuna livrava a casa de menino com esse nome, do diabo vir dançar à porta: e Cedro - nomes de engenho em que se apagaram os europeus e e os de Antônio, Pedro, José, nomes de santos poderosos que impe­ ilustres das famílias proprietárias.104 diam o sétimo filho da família de virar lobisomem. Mesmo sem ter Logo depois da Independência correu por todo o Brasil grande havido diferenciação ostensiva, podem-se considerar certos nomes - furor nativista fazendo que muitos senhores mudassem os nomes de Benedito, Bento, Cosme, Damião, Româo, Esperança, Felicidade, Lu­ famílias portuguesas para os nomes indígenas das propriedades, às zia - como caracteristicamente de negros. vezes confirmados por títulos de nobreza concedidos pelo Império. Um traço importante de infiltração de cultura negra na economia Muitos indivíduos de origem européia, e outros de procedência afri­ e na vida doméstica do brasileiro resta-nos acentuar: a culinária. O cana, ficaram tendo nomes de famílias indígenas; pelo que alguns escravo africano dominou a cozinha colonial, enriquecendo-a de uma variedade de sabores novos. "Da áspera cozinha do caboclo", escreve Vários são os alimentos pura ou predominantemente africanos em Luís Edmundo, "ao passarmos à cozinha laudável do mazombo vere­ uso no Brasil. No norte especialmente: na Bahia, em Pernambuco, no 109 mos que ela nada mais era que uma assimilação da do reinol, sujeita Maranhão. Manuel Querino anotou os da Bahia; Nina Rodrigues os 110 111 apenas às contingências ambientes."107 Palavras injustas em que vem do Maranhão; tentamos o mesmo com relação aos de Pernambuco. esquecida, como sempre, a influência do negro sobre a vida e a cul­ Desses três centros de alimentação afro-brasileira é decerto a Bahia tura do brasileiro. o mais importante. A doçaria de rua aí desenvolveu-se como em ne­ No regime alimentar brasileiro, a contribuição africana afirmou-se nhuma cidade brasileira, estabelecendo-se verdadeira guerra civil en­ principalmente pela introdução do azeite-de-dendê e da pimenta- tre o bolo de tabuleiro e o doce feito em casa. Aquele, o das negras malagueta, tão característicos da cozinha baiana; pela introdução do forras, algumas tão boas doceiras que conseguiram juntar dinheiro quiabo; pelo maior uso da banana; pela grande variedade na maneira vendendo bolo. É verdade que senhoras de casas-grandes e abades- de preparar a galinha e o peixe. Várias comidas portuguesas ou indí­ sas de convento entregaram-se às vezes ao mesmo comércio de doces genas foram no Brasil modificadas pela condimentação ou pela técni­ e quitutes; as freiras aceitando encomendas, até para o estrangeiro, de ca culinária do negro, alguns dos pratos mais caracteristicamente bra­ doces secos, bolinhos de goma, sequilhos, confeitos e outras gulosei­ sileiros são de técnica africana: a farofa, o quibebe, o vatapá. mas. Mestre Vilhena fala desses doces e dessas iguarias - quitutes Dentro da extrema especialização de escravos no serviço domés­ feitos em casa e vendidos na rua em cabeça de negras mas em provei­ tico das casas-grandes, reservaram-se sempre dois, às vezes três indi­ to das senhoras - mocotós, vatapás, mingaus, pamonhas, canjicas, víduos, aos trabalhos de cozinha. De ordinário, grandes pretalhonas; acaçás, abarás, arroz-de-coco, feijão-de-coco, angus, pão-de-ló de ar­ às vezes negros incapazes de serviço bruto, mas sem rival no preparo roz, pâo-de-ló-de-milho, rolete de cana, queimados, isto é, rebuçados de quitutes e doces. Negros sempre amaricados; uns até usando por etc. "Viandas tediozas", chama-as Vilhena; "e o que mais escandaliza baixo da roupa de homem cabeção picado de renda, enfeitado de fita he huma agoa suja feita com mel e certas misturas a que chamão o 112 cor-de-rosa; e ao pescoço tetéias de mulher. Foram estes, os grandes aloá que faz vezes de limonada para os negros." Nostalgias de reinol. mestres da cozinha colonial; continuaram a ser os da moderna cozi­ Saudades do caldo verde. nha brasileira. Mas o legítimo doce ou quitute: de tabuleiro foi o das negras Se é certo que no Rio de Janeiro fidalgos reinóis mantiveram por forras. O das negras doceiras. Doce feito ou preparado por elas. Por muito tempo cozinheiros vindos de Lisboa, nas cozinhas tipicamente elas próprias enfeitado com flor de papel azul ou encarnado. E recor­ brasileiras - as dos engenhos e fazendas, as das grandes famílias pa­ tado em forma de corações, de cavalinhos, de passarinhos, de peixes, triarcais ligadas à terra - quem desde o século XVI preparou os guisa­ de galinhas - às vezes com reminiscências de velhos cultos fálicos ou 113 dos e os doces foi o escravo ou a escrava africana. "Os senhores de totêmicos. Arrumado por cima de folhinhas frescas de banana. E épocas afastadas" diz-nos Manuel Querino no seu estudo sobre A arte dentro de tabuleiros enormes, quase litúrgicos, forrados de toalhas culinária na Bahia, "muitas vezes, em momentos de regozijo, conce­ alvas como pano de missa. Ficaram célebres as mães-bentas; e ainda diam cartas de liberdade aos escravizados que lhes saciavam a hoje se vendem em Garanhuns, no interior de Pernambuco, as "broas intemperança da gula com a diversidade de iguarias, cada qual mais das negras do Castainho". Tudo doce de negra. seleta, quando não preferiam contemplá-la ou dar expansão aos sen­ Desses tabuleiros de pretas quituteiras, uns corriam as ruas, ou­ timentos de filantropia em algumas das verbas do testamento... Era tros tinham seu ponto fixo, à esquina de algum sobrado grande ou vulgar nos jantares da burguesia uma saudação, acompanhada de em um pátio de igreja, debaixo de velhas gameleiras. Aí os tabuleiros cânticos, em honra da cozinheira, que era convidada a comparecer à repousavam sobre armações de pau escancaradas em X. A negra ao sala do festim e assistir à homenagem dos convivas."10H lado, sentada em um banquinho. Por esses pátios ou esquinas, também pousaram outrora, gordas, O arroz-de-auçá é outro quitute afro-baiano que se prepara me­ místicas, as negras de fogareiro, preparando ali mesmo peixe frito, xendo com colher de pau o arroz cozido na água sem sal. Mistura-se mungunzá, milho assado, pipoca, grude, manuê; e em São Paulo, que depois com o molho em que entram pimenta-malagueta, cebola e nos fins do século XVIII tornou-se a grande terra do café, as pretas de camarão: tudo ralado na pedra. O molho vai ao fogo com azeite-de- fogareiro deram para vender a bebida de sua cor a "dez réis a xícara cheiro e um pouco de água. Bem africano é também o acarajé, prato acompanhada de fatias do infalível cuscuz de peixe, do pãozinho que é um dos regalos da cozinha baiana. Faz-se com feijão-fradinho cozido, do amendoim, das pipocas, dos bolos de milho sovado ou de ralado na pedra. Como tempero, leva cebola e sal. A massa é aquecida mandioca 'purva', das empadas de piquira ou lambari, do quitunga em frigideira de barro onde se derrama um bocado de azeite-de- (amendoim torrado e socado com pimenta-cumari), do pé-de-mole- cheiro. Com alguns quitutes baianos de origem africana, se come um que com farinha de mandioca e amendoim, do içá torrado, do quentão, molho preparado com pimenta-malagueta seca, cebola e camarão, do ponche e quejandas guloseimas vindas em linha reta das cozinhas tudo moído na pedra e frigido em azeite-de-dendé. africanas e da indígena".114 De noite os tabuleiros iluminavam-se como Mas os dois pratos de origem africana que maior triunfo obtive­ que liturgicamente de rolos de cera preta; ou então de candeeirinhos ram na mesa patriarcal brasileira foram o caruru e o vatapá, feitos de folha-de-flandres ou de lanternas de papel. com íntima e especial perícia na Bahia. Prepara-se o caruru com quia­ Dessas pretas de bolo e de fogareiro vê-se hoje uma ou outra na bo ou folha de capeba, taioba, oió, que se deita ao fogo com pouca Bahia, no Rio, ou no Recife. Vão rareando. Mas ainda sobrevivem água. Escoa-se depois a água, espreme-se a massa que novamente se traços da antiga rivalidade entre seus doces mais coloridamente afri­ deita na vasilha com cebola, sal, camarão, pimenta-malagueta seca, canos e os das casas de família. No preparo de vários quitutes elas tudo ralado na pedra de ralar e lambuzado de azeite-de-cheiro. Junta- ganham longe: acaçá, acarajé, manuê. É nossa opinião que no prepa­ se a isto a garoupa ou outro peixe assado. O mesmo processo do efô ro do próprio arroz-doce, tradicionalmente português, não há como o em que foi perita a grande preta Eva, descoberta na Bahia por Manuel de rua, ralo, vendido pelas negras em tijelas gordas de onde o guloso Bandeira, poeta. Morreu essa boa Eva no ano fatídico de 1930, em poder sorvê-lo sem precisar de colher. Como não há tapioca molhada que também morreu em Pernambuco o cozinheiro José Pedro, negro como a de tabuleiro, vendida à maneira africana, em folha de bana­ fulo, filho de mãe africana, sobrinho de macumbeiro e talvez o maior neira. Só conhecemos uma exceção; a preparada por ilustre senhora especialista do seu tempo em comidas de milho e de leite de coco: pernambucana da família Andrade Lima.115 mungunzá, cuscuz, pamonha, canjica, bolo de milho. Foi cozinheiro No preparo do acaçá e de outros quitutes africanos o ortodoxo é dos Baltar, no Poço da Panela; dos Santos Dias; dos Pessoa de Queirós; usar-se a pedra de ralar, também africana, que se incorporou vitoriosa­ dos Pessoa de Melo; e ultimamente da casa do Carrapicho, de uns mente à técnica da cozinha afro-brasileira; a colher-de-pau; e depois de solteiros, hoje dispersos. Mãe Eva dizem-nos que era também grande pronto, servir sobre macia cama de folha de bananeira o creme ou perita no preparo de xinxim - uma galinha feita com camarão seco, 117 bolo. A pedra de ralar mede cinqüenta centímetros de altura:116 tritura cebola, pevide de jerimum e azeite-de-dendê. facilmente o milho, o feijão, o arroz etc. Na pedra de ralar prepara-se o A galinha, aliás, figura em várias cerimônias religiosas e tisanas acaçá: depois de deitado o milho com água em vasilha limpa até amo- afrodisíacas dos africanos no Brasil. Já o notara Dampier no século lecer é ralado, passado em urupema, refinado. Quando já está aderindo XVII referindo-se particularmente a uma grelha chamada "Macker", ao fundo da vasilha escoa-se a água, põe-se a massa no fogo com outra cujo caldo servia para o fabrico de filtros amorosos.118 Alguns pratos água, até cozinhar em ponto grosso. Enquanto no fogo a massa, mexe- afro-brasileiros guardam alguma coisa de religioso ou litúrgico na sua se com colher de pau; com a mesma colher vão-se depois retirando preparação. E para o seu preparo com todos os ff e rr importaram-se pequenos bocados que se enrolam em folhas de bananeira. por muito tempo da África, além do azeite-de-cheiro ou de dendê, esquisitos condimentos: o bejerecum, o ierê, o uru, o ataré. Manuel Se tivessem provado os quitutes de uma boa cozinheira preta de famí­ Querino refere-se a umas bolas de arroz feitas no azeite-de-cheiro, ou lia patriarcal. Que dessem seu testemunho Mawe, Spix, Martius, St.- no mel de abelha, que os pretos muçulmanos na Bahia costumavam Hilaire, Koster. Ele, Sigaud, só sabia dizer bem da comida brasileira, comer em cerimônias religiosas.119 que aliás observava ir sendo sensivelmente modificada, desde os prin­ Da cozinha afro-brasileira muito se aproximam alguns dos pratos cípios do século XIX, pela influência inglesa, quanto ao maior uso do afro-carolinianos que conhecemos no sul dos Estados Unidos, na casa chá, do vinho e da cerveja. Modificada também pela introdução do do Dr. E. C. Adams, na Carolina do Sul, na da viúva Simkins, na de gelo em 1834, trazido pela primeira vez ao Brasil por um navio norte- Clint Graydon, e em Charleston. Verdadeira casa de engenho do norte americano, o Madagascar)21 Grandes bebedores de água - talvez do Brasil, cheia de molecas, moleques, negros velhos, a desse Dr. pela predominância do açúcar e da condimentação africana em sua Adams, médico e folclorista, autor de estudos bem interessantes sobre comida - os brasileiros regozijaram-se imensamente com a introdu­ os negros das Carolinas; e senhor da melhor cozinha dos arredores de ção do gelo no país. Datam daí os deliciosos sorvetes de frutas tropi­ Colúmbia. Também em Nova Orleans saboreamos doces e quitutes cais - deliciosos para o olfato e para o gosto - tão apreciados por Max 123 nos quais se sente o gosto bom da África e que lembram os da Bahia Radiguet, que deve ter sido um gourmet de primeira ordem. e de Pernambuco. Principalmente as comidas de galinha cozida com Outros críticos tem tido a cozinha afro-brasileira - bem menos arroz e quiabo. simpáticos do que o cientista francês. De Vilhena já vimos a impres­ A cozinha brasileira em que predomina a influência africana tem são de repugnância que lhe deixou a comida colonial. Repugnância tido ao lado de entusiastas e apologistas do valor de Pereira Barreto120 por assim dizer estética. Outros criticaram-na ferozmente do ponto de e de John Casper Branner,121 críticos severos e até detratores. Sigaud, vista higiênico. A Antônio José de Sousa, o uso imoderado de condi­ que foi talvez quem primeiro se ocupou com critério científico da mentos, "tais como o azeite-de-dendê, a pimenta e principalmente alimentação brasileira, considerou a cozinha baiana - por conseguin­ dos bredos (carurus, quibebes), pareceu a causa de várias enfermida­ te caracteristicamente afro-brasileira - "la veritable cuisine nationale", des generalizadas a senhores e escravos no Brasil; que todos abusa­ destacando o matapã (sic) que considerou uma espécie de Kari. O vam desses "afrodisíacos do paladar". "Um tal gênero de alimentos" luxo da mesa brasileira - da mesa das casas-grandes em dia de festa, forçosamente concorria para as "indigestões, diarréias, disenterias, pois Sigaud acentua que "celuxe [...]nesedéploiequ'à 1'occasion des hemorróidas e todas as moléstias das vias digestivas".124 Em 1850 José fêtes nationales ou defamille" - impressionou-o agradavelmente. Prin­ Luciano Pereira Júnior, ocupando-se do regime das classes abastadas, cipalmente o luxo da sobremesa, dos doces e das guloseimas de açú­ salientava com grande satisfação o fato da "cozinha brasileira, repre­ car- estas de criação mais pernambucana do que baiana. Berthelemot, sentada hoje pela Bahia e Pernambuco", vir sendo "pouco a pouco diz Sigaud, ficaria pasmo "de tout ce que le genie peut extraire du modificada". A alimentação "toda excitante de outro tempo tem sido coco, des amandes de menduby, de sapotille, et despalmiers..." E este mudada por uma outra mais simples sob a influência da cozinha es­ gênio foi mais da escrava africana do que da senhora branca. Refere- trangeira". Já não eram tão comuns as feijoadas; raros os guisados em se ainda Sigaud à fruta-pão cozida, a certos cactos, de gosto doce, que "apenas aparecem hoje", escreve radiante de tanto progresso também cozidos, como outras delícias da sobremesa brasileira. Se culinário no sentido da desafricanização da mesa brasileira, "a pimen­ esses pitéus todos escapavam à atenção dos viajantes estrangeiros, ta" e "outros condimentos excitantes". "O uso imoderado da gordura que saíam do Brasil falando mal da comida, é que, muitos deles só que fazia parte dos guisados de outro tempo tem sido refreado e em conheceram a alimentação das vendas e das péssimas estalagens. Te­ muitas casas substituído pela manteiga francesa". Em vez do alua, da riam deixado o país com outra idéia de sua arte culinária, se tivessem garapa de tamarindo, do caldo de cana - o chá à inglesa; e em vez da gozado da hospitalidade de uma casa-grande de engenho ou fazenda. farinha, do pirão ou do quibebe - a batata chamada inglesa. Juntan- do-se a tudo isso o requinte do gelo "que muito se compadece com o ria grande quantidade de alimentos para uma ração, trazendo como ardor do nosso clima".125 Manteiga francesa, batata-inglesa, chá tam­ resultado dilatação do estômago e suas conseqüências". Prejudicial, bém à inglesa, gelo - tudo isso agiu no sentido da desafricanização da ainda, pelo "abuso da pimenta, cuja causticidade é superior à mostar­ mesa brasileira, que até os primeiros anos da Independência estivera da, originando as gastrites e gastroenterites (infecções intestinais), tão sob maior influência da África e dos frutos indígenas. freqüentes entre nós"; pelo "abuso do azeite-de-palma e demais con­ O pão foi outra novidade do século XIX. O que se usou nos dimentos que trazem mais tarde perturbações para o fígado, devido à tempos coloniais, em vez de pão, foi beiju de tapioca ao almoço, e ao superexcitação da bílis e pela ação irritante de tais condimentos". E jantar a farofa, o pirão escaldado ou a massa da farinha de mandioca mais pelo uso, senão também abuso, das "comidas excessivamente feita no caldo do peixe ou da carne. O feijão era de uso cotidiano. cozidas que contendo grande quantidade de bases cretinícias e sânticas Comuns, como já dissemos, as feijoadas com carne salgada, cabeça (fontes de ácido úrico, segundo Fawel) são causas principais das de porco, lingüiça, muito tempero africano; e mais comuns do que manifestações artríticas tão freqüentes no nosso meio".127 durante o século XIX, as verduras e os vegetais, tão característicos da Restrições tão severas quanto as de Santos Sousa à cozinha afro- alimentação africana. Com a europeização da mesa é que o brasileiro baiana fez Eduardo de Magalhães no seu estudo Higiene de alimenta­ tornou-se um abstêmio de vegetais; e ficou tendo vergonha de suas ção: "a dispepsia, a úlcera no estômago, as moléstias do fígado, as de­ mais características sobremesas - o mel ou melado com farinha, a sordens intestinais, as enfermidades dos rins, a síncope cardíaca, o canjica temperada com açúcar e manteiga. Só se salvou o doce com aneurisma, a apoplexia e outros mais são o epílogo de tanto abuso e queijo. É que a partir da Independência os livros franceses de receita tanta sensualidade". Aplicou ao Brasil as palavras de Rasforil - a "indi- e de bom-tom começaram o seu trabalho de sapa da verdadeira cozi­ gestão dos ricos vinga a fome dos pobres". Poderia ter acrescentado que nha brasileira; começou o prestígio das negras africanas de forno e os escravos, preparando para a mesa dos senhores brancos carnes e fogão a sofrer consideravelmente da influência européia. peixes sobrecarregados de pimenta e de temperos alimentaram-se me­ Não negamos que a influência africana sobre a alimentação do lhor nas suas senzalas, conservando no Brasil a saudável predileção brasileiro necessitasse de restrições ou de corretivo no seu exagero africana pelos vegetais. Enquanto no regime dos brancos, vegetais e de adubos e de condimentos. Principalmente no caso das classes mais legumes verdes chegaram quase a desaparecer. "Há muita gente, entre nobres, que alimentando-se insuficientemente, nem por isso deixa­ nós, que na sua vida nunca se serviu de salada, de um prato de ervas vam de abusar dos adubos mais picantes e de servir-se de miseráveis ensopadas, restringindo-se à simples carne e ao pão ou à farinha",128 peixes salgados. "Sobremesas condimentadas com todas essas subs­ notaria Magalhães em 1908. Veremos em ensaio próximo que no regime tâncias excessivamente excitantes, e com esse pernicioso azeite da alimentar dos escravos negros129 os vegetais tiveram parte saliente, fo­ Costa d'África tão usado por nossa população pobre que de um lado ram de uso diário. E um dos característicos da cozinha ortodoxamente acha uma alimentação insuficiente por sua quantidade, e de outro por afro-brasileira é fazer acompanhar de verduras - de quiabo, couve, taioba, sua qualidade."126 Além de deficiente, a nossa alimentação - escreveu jerimum - os seus quitutes de peixe, de carne, de galinha. meio século depois de Sampaio Viana outro crítico da cozinha brasi­ Quanto à pimenta, tão característica dos vatapás e carurus afro- leira em geral, e da afro-baiana em particular - ainda se ressente do baianos, tem tido defensores mesmo entre estrangeiros. O príncipe "abuso da pimenta e das substâncias oleosas que entram especial­ Maximiliano considerou-a "excellente pour la digestion"; Burton "ex­ mente nas decantadas moquecas, carurus, vatapás, et reliqua, resquí­ celente stomachic". Burton, aliás, foi um voluptuoso da cozinha brasi­ cios da ação funesta dos africanos introduzidos no país pelos nossos leira: o tutu de feijão mineiro encantou-o; e proclama-o um prato colonizadores". A cozinha afro-baiana pareceu a Santos Sousa - não à higiênico, combinando carbono e nitrogênio; ainda que indigesto, insuficiente como prejudicial. Porque sendo "insuficiente é necessá­ quando comido diariamente.130 Não nos parece justo acusar a negra quituteira, cozinheira ou Foi ainda o negro quem animou a vida doméstica do brasileiro criada de copa, de suja ou descuidada, no preparo da comida ou na de sua maior alegria. O português, já de si melancólico, deu no higiene doméstica. Um tabuleiro de bolo de negra quituteira chega a Brasil para sorumbático, tristonho; e do caboclo nem se fala: calado, brilhar de limpeza e de alvura de toalhas. A cozinha da casa-grande desconfiado, quase um doente na sua tristeza. Seu contato só fez brasileira dos tempos coloniais não foi decerto nenhum modelo de acentuar a melancolia portuguesa. A risada do negro é que quebrou higiene. Mawe, Luccock, Mathison referem-se todos com repugnância toda essa "apagada e vil tristeza" em que se foi abafando a vida nas à sujeira das cozinhas que conheceram. Menos, porém, por culpa das casas-grandes. Ele que deu alegria aos são-joões de engenho; que escravas negras que dos senhores brancos, essa falta de limpeza nas animou os bumbas-meu-boi, os cavalos-marinhos, os carnavais, as cozinhas não só das casas pobres, como das casas-grandes. festas de Reis. Que à sombra da Igreja inundou das reminiscências Ao escravo negro se obrigou aos trabalhos mais imundos na hi­ alegres de seus cultos totêmicos e fálicos as festas populares do giene doméstica e pública dos tempos coloniais. Um deles, o de car­ Brasil; na véspera de Reis e depois, pelo carnaval, coroando os seus regar à cabeça, das casas para as praias, os barris de excremento reis e as suas rainhas; fazendo sair debaixo de umbelas e de estan­ vulgarmente conhecidos por tigres. Barris que nas casas-grandes das dartes místicos, entre luzes quase de procissão seus ranchos protegi­ cidades ficavam longos dias dentro de casa, debaixo da escada ou em dos por animais - águias, pavões, elefantes, peixes, cachorros, car­ um outro recanto acumulando matéria. Quando o negro os levava é neiros, avestruzes, canários - cada rancho com o seu bicho feito de que já não comportavam mais nada. Iam estourando de cheios. De folha-de-flandres conduzido à cabeça, triunfalmente; os negros can­ cheios e de podres. Às vezes largavam o fundo, emporcalhando-se tando e dançando, exuberantes, expansivos. Ainda no carnaval de então o carregador da cabeça aos pés. Foram funções, essas e várias 1933, na praça Onze, no Rio de Janeiro, tivemos ocasião de admirar outras, quase tão vis, desempenhadas pelo escravo africano com uma esses ranchos totêmicos de negros; e nos carnavais de Pernambuco passividade animal. Entretanto, não foi com o negro que se introdu­ estamos cansados de vê-los quando se exibem, felizes, contentes, ziu no Brasil o piolho; nem a "mão de cocar";131 nem o percevejo de dançando atrás dos seus estandartes, alguns riquíssimos, bordados a cama. E é de presumir que o escravo africano, principalmente o de ouro, com emblemas de vaga reminiscência sindicalista misturando- origem maometana, muitas vezes experimentasse verdadeira repug­ se aos totêmicos: a pá dourada do clube das Pás, a vassoura dos nância pelos hábitos menos asseados dos senhores brancos.132 Vassourinhas, o espanador dos Vasculhadores, o cachorro do Ca­ Não se pode acusar de sujos e propagadores de imundície os chorro do Homem do Miúdo etc. negros que, quando libertos, deram para barbeiros, dentistas, fabri­ cantes de vassouras de piaçava, importadores de sabão-da-costa; al­ Nos engenhos, tanto nas plantações como dentro de casa, nos guns para lavar chapéus-do-chile; as negras para doceiras caprichosas tanques de bater roupa, nas cozinhas, lavando roupa, enxugando prato, na limpeza dos seus tabuleiros; ou para lavadeiras igualmente assea- fazendo doce, pilando café; nas cidades, carregando sacos de açúcar, das. Profissões cujo exercício, com evidentes preocupações de higie­ pianos, sofás de jacarandá de ioiôs brancos - os negros trabalharam ne, em parte os redime da mancha infamante de carregadores de sempre cantando: seus cantos de trabalho, tanto quanto os de xangô, tigres. É verdade que alguns negros barbeiros tinham um caroço de os de festa, os de ninar menino pequeno, encheram de alegria africa­ macaíba comum, para os clientes brancos botarem dentro da boca e na a vida brasileira.134 Às vezes de um pouco de banzo: mas principal­ tomarem a face saliente e fácil de barbear. Mas botava o caroço de mente de alegria. Os pianos não se carregavam outrora sem que os macaíba dentro da boca quem fosse porco. O cliente asseado limita­ negros cantassem: va-se a encher a boca de ar no momento em que o africano lhe pedia: Ioiô,fazê huchichim.150 É o piano de ioiô, é o piano de iaiá... Os requintados é que foram achando feio esse costume, que aca­ forcando-se, envenenando-se com ervas e potagens dos mandingueiros. bou objeto de medidas de severa repressão da parte dos administra­ O banzo deu cabo de muitos. O banzo - a saudade da África. Houve dores e das câmaras municipais. os que de tão banzeiros ficaram lesos, idiotas. Não morreram: mas Maria Graham ainda alcançou o tempo dos senhores das casas- ficaram penando. E sem achar gosto na vida normal - entregando-se grandes mandarem os negros cantar suas cantorias africanas quando a excessos, abusando da aguardente, da maconha, masturbando-se. chegava ao engenho qualquer visita.135 Cantos de trabalho. Cantos Doenças africanas seguiram-nos até o Brasil, devastando-os nas sen­ religiosos. Talvez dos mesmos que em Pernambuco os negros da zalas.137 As boubas e talvez o pião, entre outras. E comunicando-se às seita africana de Anselmo ainda cantam nos seus dias de festa, meio vezes aos brancos das casas-grandes. A África também tomou vingan­ escondidos da polícia: ça dos maus-tratos recebidos da Europa. Mas não foram poucas as doenças de brancos que os negros domésticos adquiriram; e as que Xéco, xéco, xéco, Ô ni -ba- rá se apoderaram deles em conseqüências da má higiene no transporte Xéco, xéco, xéco, Ô ni - ba - rá da África para a América ou das novas condições de habitação e de Xéco, xéco, xéco, Ô ni - ba - rá trabalho forçado. Trabalho forçado que nas cidades foi quase sempre "em desproporção com a nutrição"; diz-nos Jobim que, em 1835, ano­ tou as seguintes moléstias, como predominando entre os operários e Anselmo sozinho: escravos domésticos do Rio de Janeiro: sífilis, hipertrofia do coração, reumatismo, bronquites, afecções das vias aéreas, pneumonias, Ogunmanjô, marnô. pleurises, pericardites, irritações e inflamações encefálicas, tétano, hepatites, erisipelas, ordinariamente nos membros inferiores e nos Todos: escrotos e aí determinando hipertrofia e degenerescência fibrolardácea do tecido celular subcutâneo, extravasões nas diversas cavidades so­ Colé marnô, ôcunmanjô marnô, ocólangé noras, raras vezes nas articulações e freqüentemente no abdômen, na Ogun hô!!?! pleura, no pericárdio, na serosa testicular, nos ventrículos cerebrais É cun dô dô. É cun gégé.liò determinando paralisia; e ainda tubérculos pulmonares, febres inter­ mitentes, opilação. "Os vermes e particularmente a toenia, e as ascarides lombricoides abundão muito", acrescenta Jobim.138 Anselmo sozinho, dirigindo-se a Orixá:

Ôgunni tôcôbá, oni, ômaroli rolé Ó dê, ó dê, panüé, ó dê, ó dê, panilé.

E todos:

Ôdixarobô, panilé, olé.

Mas não foi toda de alegria a vida dos negros, escravos dos ioiôs e das iaiás brancas. Houve os que se suicidaram comendo terra, en- 14. Em 1871 dizia na Academia Imperial de Medicina do Rio de Janeiro o seu membro titular Luís Correia de Azevedo que "a casaca de panno preto e o descomunal e incomprehensivel chapéo alto, das cortes da Europa, vierão a seu turno augmentar a temperatura desta zona, j á quasi torrida em si" (Anais Brasilienses de Medicina, n211, tomo XXI, I abril de 1872).

Notas ao Capítulo V 15. Padre Lopes Gama, O Carapuceiro, cit.

16. Colégio de Nossa Senhora do Bom Conselho, Estatutos, Recife, 1859 1. Alp. Rendu, Études topographiques, médicales etagronomiques sur le Brésil, cit. 17. Tese apresentada e sustentada no dia 12 de dezembro de 1855 perante a Faculdade de Medicina do 2. Fletcher e Kidder, Brazil and the brazilians, cit. Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1855.

3. Luccock,./Vote, cit, p. 71. 18. Tese apresentada para ser sustentada em novembro de 1869 perante a Faculdade de Medicina da 4. Luccock, Notes, cit., p. 71,"[...] no rayofscience haspenetratedhere", diz o observador inglês. Bahia, Bahia, I869.

5. Cartas regias, doe. 881 bis, seção de manuscritos da Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro. 19. Relatório do padre Cepeda, cit. por Luís Edmundo, O Rio de Janeiro no tempo dos vice-reis, cit.

6. Luís Edmundo, O Rio de Janeiro no tempo dos vice-reis, cit. 20. Padre Antunes de Sequeira, Esboço histórico dos costumes do povo espírito-santense desde os tempos coloniais até nossos dias, Rio de Janeiro, 1893- 7. "Entre os privilégios negados à gente de cor achava-se o sacerdócio; por esse motivo grande empe­ nho faziam as famílias de avoengos mais respeitáveis em ter entre seus membros padres ou religio­ 21. Padre Antunes de Sequeira, Esboço, cit. sos; era uma prova de pureza de sangue [...]" (Pandiá Calógeras, Formação histórica do Bra­ 22. Recomendamos alguns ao leitor mais pachorrento: Compêndio de aritmética, por Cândido Ba­ sil, cit.). Parece que o exclusivismo rompeu-se depois de fundada a diocese de Mariana sob D. João tista de Oliveira, Rio de Janeiro, 1832; Educador da mocidade, por Alexandre J. Melo Morais, V. Cita Capistrano de Abreu nos seus Capítulos de história colonial um documento em que vem Bahia, 1852; Guia de leitura e máximas gerais de conduta, por Antônio Alves Branco Moniz acusado o governador daquele bispado, Oliveira Gondim, de ter ordenado em menos de três anos Barreto, Rio de Janeiro, 1854; Lições elementares de aritmética, por "Hum brasileiro", Rio de cento e um pretendentes e os dispensado em mulatismos e ilegitimidades. É curioso observar que Janeiro, 1825. Quanto aos séculos XVI e XVII, Alcântara Machado encontrou em testamentos Minas Gerais parece ter sempre tomado a dianteira nos movimentos de democratização social do paulistas referências aos seguintes trabalhos didáticos: Epítome historiai, Floro histórico, Prosódia, Brasil, contra os preconceitos de branquidade e de legitimidade. Tratado prático de aritmética, Cartilha pastoral, Repertório, Segredos da natureza (Vida e 8. Walsh, Notices of Brazil, cit, II, p. 56. morte do bandeirante, São Paulo, 1930).

9. J. F. Lisboa transcreve o decreto pombalino no Jornal de Timon. Existe do mesmo decreto cópia 23. J. I. Roquette, Código do bom-tom, Paris, 1845. da época na seção de manuscritos do Instituto Arqueológico, Geográfico e Histórico Pernambucano onde primeiro o lemos. É pena que seja tão pouco conhecido. 24. É verdade que já em princípios do século XIX Joaquim Jerônimo Serpa, no seu Tratado de educa­ ção física-moral dos meninos, adaptação da pedagogia de um Mr. Gardien, e publicado em 10. Citado por Alfredo de Carvalho, Frases epalavras - Problemas históricos e etimológicos, Recife, Pernambuco em 1828, aconselha os pais a vestirem os filhos das "cores que mais se aproximam 1906. da branca", condenando ao mesmo tempo o uso entre certos pais medrosos de piolho, de "raspar

11. Artur Orlando em resposta ao inquérito de João do Rio para a Gazeta de Notícias, depois publicada à navalha as cabeças dos meninos". Uso que talvez não fosse de todo mau. Insurgindo-se contra o no livro O momento literário, cit. sadismo dos mestres-escolas e dos pais, Serpa condena severamente o uso de se açoitarem os meninos nas nádegas, "prática perniciosa", própria para "fomentar costumes funestos: a irritação 12. Vilhena, Cartas, cit, I, p. 47. que se ocasionar sobre esta parte, communicar-se-ha ás partes da geração, logo que a impressão 13- Vilhena, Cartas, cit, 1, p. 47. de dôr principiar a enfraquecer-se." De modo que talvez fossem melhores os suplícios de que nos fala o padre Sequeira: o menino ajoelhado em caroço de milho durante duas, três, quatro horas; 27. Tirania que chegava ao extremo de se internarem moças casadas nos conventos. O marido ficava os bolos das várias palmatórias pedagógicas e domésticas - a pele de cação, a de jacarandá e a então à vontade, passando a viver com a amante de sua predileção (Handelmann, História do maior, para os valentões, de gramari. Em Minas dizem que certo padre do Caraça, padre Antunes, Brasil, trad, cit.). Da Correspondência da Corte (manuscritos na Biblioteca do Estado de "amarrava o lenço no braço para ter mais força de puxar a palmatória" (Era Nigra, "Histórias da Pernambuco) constam alguns pedidos nesse sentido, despachados pelas autoridades do reino. idade média", Rev. Arq. Púb. Min., ano XII, 1907). A pedagogia como a disciplina patriarcal no 28. Afonso de E. Taunay, Sob el-Rei Nosso Senhor, cit. Brasil apoiou-se sobre base distintamente sadista. Resultado, em grande parte, das condições do seu início: uma pedagogia e uma disciplina de vencedores sobre vencidos, de conquistadores sobre 29. Domingos do Loreto Couto, Desagravos do Brasil eglórias de Pernambuco (Anais da Bibliote­ conquistados, de senhores sobre escravos. É um estudo a fazer-se, o das várias formas e instrumen­ ca Nacional do Rio de Janeiro, vol. XXTV). tos de suplícios a que esteve sujeito o menino no Brasil em casa e no colégio: as várias espécies de 30. Loreto Couto, Desagravos do Brasil, etc, cit, parte II, p. 123. palmatórias, a vara de marmelo, às vezes com alfinete na ponta, o cipó, o galho de goibeira, o muxicão, o cachação, o puxavante de orelha, o beliscão simples, o beliscão de frade, o cascudo, o 31. Loreto Couto, Desagravos do Brasil, cit, parte II, livro VI, capítulo 5e. cocorote, a palmada. O menino foi vítima quase tanto quanto o escravo do sadismo patriarcal. 32. Pyrard de Lavai, cit, p. 211-212. 25. O uso, ainda hoje, em português, de "o senhor", "a senhora" em casos que em outros idiomas 33. Coreal, cit, p. 192. seriam de segunda, e não de terceira pessoa do singular e também o de "vossa senhoria" e o abuso de "vossa excelência", talvez se possa atribuir à herança do regime patriarcal-escravocrata, que 34. Diz Frézier referindo-se às mulheres coloniais. "Les Portugais sont sijaloux qu 'a peine leur dominou a vida brasileira, depois de ter dominado a portuguesa. Miss Betham-Edwards observou permettent ils dáller à k Messe les jours de Fêtes & Dimanches; neanmois malgrès toutes em certas camadas da sociedade francesa, cuja vida íntima procurou estudar, a persistência do leurs precautions, elles sont presque toutes libertines & trouvent le moyen de (romper la uso da terceira pessoa do singular, da parte de criadas e subordinados com relação a patrões, vigilance des pères & des maris, s'exposant à la cruauté de ces derniers qui les tuent superiores etc. Tratamento em que surpreendeu "survival ofthe ancien regime and caste" impunement, des qu'ils découirent leurs intrigues. Ces exemples sont sifrequens, qu'on (Home life in France, Londres, 1913) comploit depuis un an, plus de trente femmes égorgéespar leurs maris [...]" (Relation du Entre nós as sobrevivências dessa natureza são numerosas e muito mais fortes. Contrastando Voyage de la mer du sud aux cotes du Chily et du Pérou faitpendant les années 1712,1713 com o tratamento arcaico de "o senhor", "a senhora", "o senhor doutor", "o coronel", observa-se et 1714, Paris, 1716, p. 275). hoje no Brasil grande relutância no uso de "por favor", "por obséquio" etc. Com muita razão 35. John Mawe, cit. notou Tobias Monteiro: "Vem dos males da escravidão a nossa falta de polidez quando falamos aos que nos servem, a quem nunca pedimos as coisas por favor e a quem nunca agradecemos 36. John White Journal of a voyage to New South Wales, p. 52-53, Londres, 1790. nada, como se faz entre os povos cultos" (Funcionários e doutores, Rio de Janeiro, 1917). 37. Maria Graham, Journal, cit, p. 225. O fato referido por Mrs. Graham de uma senhora da alta Sousa Bandeira recolheu da tradição o seguinte: que tendo os revolucionários de 1817 adotado sociedade do Rio de Janeiro, assassinada quando na companhia de duas filhinhas, parece ser o o tratamento de vós, um dos próceres foi assim interpelado por um correligionário negro. Ao que mesmo de que se ocupou o professor Assis Cintra em um dos capítulos do seu livro As amantes do o fidalgo pernambucano respondeu, indignado, que só admitia aquele tratamento, para os seus imperador, Rio de Janeiro, 1933. Mrs. Graham diz que se atribuiu o crime a ciúme de outra iguais. "Para ti serei sempre Senhor Coronel, vossa senhoria!" (J. C. Sousa Bandeira, Evocações e senhora, apaixonada pelo marido da vítima; ou ao fato de ela se achar no conhecimento de outros escritos, Rio de Janeiro, 1920). importantes segredos políticos. Segundo Assis Cintra o crime teria sido praticado por um mulato, 26. Afonso de E. Taunay no seu Sob el-Rei Nosso Senhor, cit, registra vários modos de tratamento a mandado da rainha Da. Carlota Joaquina, que foi na verdade uma garanhona capaz de todos os característicos das relações de marido com mulher, irmão com irmã etc, sob o regime patriarcal. excessos. Da. Carlota estaria apaixonada pelo marido da pobre senhora, certo Fernando Carneiro Uma irmã ao irmão, em carta: "Senhor capitão", e no fim: "De V.mce irmã no amor e serva". Do Leão, homem muito elegante; e a vítima teria se queixado ao próprio D. João VI. Não foram raros padre José de Almeida Lara ao seu primo-irmão Diogo de Toledo Lara: "Saudoso primo e muito os casos de assassinatos de senhores e senhoras brancas de qualidade, praticados por negros ou seu negro". mulatos a mandado de seus donos. 38. A Alexander Caldcleugh a imoralidade no Rio de Janeiro nos princípios do século XIX não pareceu 46. Burton (Thehighlands ofthe Brazil, cit.) notou no "anglo-americano" como no "ibero-brasilei- maior que em Paris, Londres ou Berlim: "Ishall conclude with observing and without wishing ro" a "beleza, pequenez e delicadeza dos pés e das mãos, delicadeza às vezes exagerada, degene­ to extenuate any thing, that taking into account the mixed nature of the inhabitants, the rando em efeminação" em contraste com as mãos e pés grandes dos ingleses e portugueses. O que number of foreigners, and the mulatto and black population, no greater quantity ofvice atribui, mas vagamente, a influências locais idênticas. Parece-nos que resultado, principalmente, exists here than in the europeen cities ofLondon, Paris or Berlin" (Traveis in South America, de causas sociais. cit.). 47. Imbert, Manual do fazendeiro, cit. A impressão de que os órgãos sexuais muito desenvolvidos 39. Padre Manuel da Nóbrega, Cartas, cit, p. 119-121. nos homens indicam superior capacidade procriadora regulou também casamentos aristocráti­ cos. Descendente de opulento senhor de engenho pernambucano do meado do século XIX nos 40. Dampier, cit. informa que seu bisavô quando algum rapaz se candidatava a esposo de alguma de suas filhas 41. Segundo o padre Cardim que escreveu:"[...] a fertilidade dos cannaviaes não se pode contar; tem mandava pessoa de sua confiança surpreendê-lo em banho de rio, a fim de verificar se tinha os sessenta e seis engenhos, que cada um é uma bôa povoação; lavram-se em alguns annos duzentas supostos sinais de bom procriador. O critério da avaliação sem ser científico era sociologicamente mil arrobas de assucar e os engenhos não podem esgottar as cannas, que em um anno se faz significativo, descer para moer, e por essa causa as não podem vencer, pelo que moem canna de tres a quatro annos; e com virem cada anno quarenta navios a Pernambuco, não podem levar todo o assucar 48. Thomas Lindley, Narrative of a voyage to Brasil (...) with general Sketches of the country, its [...]" (Tratado,cit,p.334). natural productions, colonial inhabitants and a description of the city andprovinces of St. Salvador and Porto Seguro, Londres, 1805, p. 35. Deve-se observar que o "catar piolho" era 42. Diálogos das grandezas do Brasil, cit, p. 52. muitas vezes simbólico, não havendo piolho a catar. Tratava-se de simples, ou antes, complexo 43. Cardim, Tratado, cit, p. 329. Veja-se também Pero de Magalhães Gandavo, Historia da provín• cafuné, cujo estudo psicológico está admiravelmente feito pelo professor Roger Bastide em seu cia de Santa Cruz etc, cit. ensaiou psicologia do cafuné, Curitiba-São Paulo e Rio de Janeiro, 1941. Resumindo suas impressões da vida em Pernambuco nos começos do século XIX, escreveu Luís 44. O Sr. Rodolfo Garcia em nota I ao "Diálogo terceiro" dos Diálogos, cit, diz que quando a esqua­ do Rego Barreto:"[...] os escravos fazem tudo. Quem possue dois ou trez destes entes desgraçados dra de Lonck apareceu diante do Recife, contavam-se nas capitanias de Pernambuco, Itamaracá, passa a vida lançado em huma - rede - entregue ao mais vergonhoso desleixo" (Memória justi­ Paraíba e Rio Grande 166 engenhos, dos quais 121 em Pernambuco. Frei Manuel Calado no seu O ficativa sobre a conducta do marechal de campo Luiz do Rego Barreto durante o tempo em valeroso lucideno (Lisboa, 1648) dá-nos interessantes informações sobre o estado econômico e a que foi governador de Pernambuco e presidente da Junta Constitucional do Governo da vida moral de Pernambuco antes da ocupação holandesa. O açúcar produzido pelos engenhos mesma província oferecida á nação portuguesa, Lisboa, 1822, p. 12). pernambucanos deve ter sido de qualidade superior para ser disputado pelos pilotos de navios que faziam muitos "mimos e regalos aos senhores de engenhos e lavradores para que lhes dessem suas 49. Duarte de Albuquerque Coelho, Memórias diárias de la Guerra dei Brasil, Madri, 1654. caixas de assucar [...]". Era o açúcar transportado em grandes caixas de madeira contendo vinte arrobas cada uma. Eram essas caixas que, segundo o frade, penduradas na ponta da vara dos 50. Francis Trollope, Domestic manners of the American, Londres, 1832. Vejam-se também John ministros da justiça, "logo dobravão" as varas. No meio de tamanha prosperidade "as usuras, Bernard, Retrospection of America (1797-1811), Nova Iorque, 1887; William Faux, Memorable onzenhos e ganhos illicitos era cousa commum", havendo na terra muitos cristãos-novos. Co­ days in America, Londres, 1823; Anthony Trollope, North America, Londres, 1862. muns os "amancebamentos públicos [...] ladroices, roubos [...] as brigas, ferimentos, mortes 51. Adolphe D'Assier salientando a soltura de costumes, no Brasil do tempo da escravidão, diz que os [...] os estupros e adultérios [...]". 0 "dinheiro fazia suspender os castigos..." brasileiros eram os primeiros a confessá-la, atribuindo-a à ação do clima. Também os viajantes,

45. "Sem taes escravos não é possível fazer alguma cousa no Brasil; sem elles os engenhos não podem notou D'Assier "repètent cette excuse". Ele, não:"11 serait peut-être, plus exact de chercher moer, nem as terras ser cultivadas, pelo que necessariamente devem de haver escravos no Brasil, e dans 1'esclavage laprincipale cause de la vie licencieuse de lAméricain" [refere-se principal­ por nenhum modo podem ser dispensados: se alguém sentir-se nisto aggravado será um escrúpulo mente ao brasileiro]. Leia-se desse excelente observador, que aqui esteve nos meados do século inútil" (Breve discurso sobre o estado das quatro capitanias conquistadas, cit.). XIX, o seu Le Brésil contemporain - Races - Moeurs - Institutions - Paysage, Paris, 1867. Para comparação da vida rural no Brasil patriarcal com a vida rural nos Estados Unidos durante Nacional, Rio de Janeiro, na 3, 1939, p. 150-151). Veja-se também Cláudio Ribeiro de Lessa, seus dias de patriarcalismo escravocrata de desbravamento de terras vejam-se Isaiah Bowman, "Mobiliário brasileiro dos tempos coloniais", na revista EstudosBrasileiros, Rio de Janeiro, ne 6, The pioneerfringe, Nova Iorque, 1931; J- F. Normano, Brazil: a study of economic types, Chapei 1939, P- 5. Hill, 1932, e Gilberto Freyre, Brazil: an interpretation, Nova Iorque, 1945, especialmente o capí­ 54. "La mollese des habitans de San Salvador & la pente de rues, que est fort roide; leur fait tulo "Frontier and plantation in Brazil". Sobre a escravidão considerada como sistema industrial regarder Vusage de marcher comme une chose indigene d'eux. Ils se fontporter dans une ou econômico veja-se a obra clássica de H. J. Nieboer, Slavery as an industrial system, The espece de lit de cotem à raiseau, suspendus àuneperche longue, & épaisse, que deux Nègres hague, 1910. Também L. C. Gray, History of agriculture in Southem United States to 1860, portent sur leurs épaules. Ce lit est couvert d'une imperiale dou pendent des rideaux verts, Washington, 1933; C. 0. Brannen, Relation ofland tenure to plantation organization with rouges ou bleus [...]." Palavras quase iguais às de Frézier: "Legens riches [...] auroient developments since 1920, Fayetteville, 1928; Gaetano Mosca, The ruling class (trad.), Nova honte de se servir desjambes [...]" (Relation du voyage de la mer du sud aux cotes du Chily Iorque, 1939- et du Pérou, etc, p. 272). 52. Urbain Souchu de Rennefort, Histoire des Indes Orientales, Paris, 1688. "Je n 'ai vü de lieu", acrescenta Coreal, "ou le Christianisme parut avec plus d'éclat qu 'en cette ville soitpar la richesse & la multitude des Eglises, de Couvens & des Gentishommes, des 53- É provável que se faça às vezes idéia exagerada do luxo nortista dos séculos XVI e XVII. Aquelas Dames & des courtisannes &généralement des tous les citoiens de la Baie. Onn'y marche casas com fechaduras de ouro de que fala frei Manuel devem ter sido raras; e só os mais ricos pointsans un Rosaireà la main, un chapeletau col & un saintAntoinesurVestomac. On est ostentariam leitos finos. Não se deve porém confundir a vida Pernambucana nos séculos XVI e exact à s 'agenouiller au son de l Angelus au milieu des rues: mais em même temps onala XVII com a de São Paulo - vida de uma simplicidade, de um ascetismo de móveis, e de uma precaution de nepoint sortir de chez soi sans unpoignard dans le sein, unpistollet dans la rudeza de utensílios quase franciscana. Muitos dos colonos de Pernambuco foram homens de poche & une épée des plus longues au cote gaúche [...]". 0 excessivo número de pessoas se origem européia mais elevada e de capitais de instalação mais fortes que os de São Vicente. E confessando pareceu a Coreal ter ligação com o excessivo número de pecados: "la confessiony est maiores aqui do que no sul, os proventos da agricultura da cana e do fabrico do açúcar. Cardim, fort commune, sans doute à cause de la multitude des péches [...]" (Voyage, de François que percorreu do norte ao sul o Brasil do século XVI, deixou-nos bem clara a distinção: muito Coreal, cit.). mais fausto em Pernambuco que no sul. Afonso de E. Taunay reconhece terem os "colossais proventos do açúcar" permitido "na Bahia e sobretudo em Pernambuco" grande importação e 55. Gilbert Farquhar Mathison, Narrative of a visit to Brazil, Chile, Peru and Sandwich Islands uso de objetos de luxo como sedas, veludos, vinhos finos (São Paulo nos primeiros anos, cit.). E during theyears 1821 and 1822, Londres, 1825. do século XVII restam-nos entre outros depoimentos os dos capuchinhos italianos frei Miguel 56. Padre Antunes de Sequeira, Esboço histórico, etc, cit. Ângelo de Gattina e frei Dionísio de Piaceza recolhidos pelo mesmo Taunay. Foram dois missioná­

rios que em 1667 estiveram no Brasil a caminho do Congo. Ao entrarem no porto de Recife obser­ 57. Costume ainda hoje observado em certos pontos do Brasil. 0 autor, quando menino, viu esse rito varam em carga e descarga oitenta navios. Saltaram e assistiram à festa do Corpus Christi. Muita praticado por pessoa idosa de sua família. gente. Excelente música de harpas, clarins e violinos. Das casas dizem: "ricamente adornadas"; de um engenho de açúcar que visitaram ficou-lhes impressão triste do doloroso trabalho dos 58. Padre Antunes de Sequeira, Esboço histórico, etc, cit. negros empurrando aos magotes a enorme roda motora e arriscando a cada passo ter as mãos e os 59- Padre Antunes de Sequeira, Esboço histórico, etc, cit. braços colhidos pela moenda; mas a impressão que os dominou foi a da riqueza dos pernam­ bucanos. Riqueza baseada no trabalho dos negros. Os altos preços pagos por uma missa e por um 60. Manuscrito no arquivo do capitão-mor Manuel Tome de Jesus, engenho Noruega (Pernambuco). sermão registram-nos, admirados, os capuchinhos (Afonso de E. Taunay,Non ducor, duco, cit.). Parte do manuscrito se acha ilegível, muito picado de traça.

O Sr. Lúcio Costa salienta a simplicidade do mobiliário de que se tem notícia ter adornado as 61. Nas palavras de Luís Cedro: "casa-grande [... ] enorme, conventual, solarenga, com reminiscên­ primeiras casas-grandes do Brasil: "além do pequeno oratório com o santo de confiança, camas, cias, na mole pesada da construção, de qualquer cousa do Escurial. Um cruzeiro imenso plantado cadeiras, tamboretes, mesas e ainda arcas. Arcas e baús para ter onde meter a tralha toda" ("Evo­ no pátio [...] sombreando a paisagem de um tom místico e taciturno" ("O Dr. Gerôncio de lução do mobiliário luso-brasileiro", Revista do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Noruega", Diário de Pernambuco, 26 de julho de 1925). 62. Manuscrito encontrado no arquivo do capitão-mor Manuel Tome de Jesus, no engenho Noruega Municipal do Rio de Janeiro consignou a proibição absoluta de enterramentos "dentro das igre­ (Pernambuco). jas, ou nas sacristias, claustros dos conventos" etc. (Antônio Martins de Azevedo Pimentel, Subsí• dios para o estudo da Ingiene do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1890). Em outros pontos do 63. O ilustre pregador sacro do século XIX, padre-mestre Lino do Monte Carmelo Luna, ao benzer o Brasil a prática anti-higiênica continuou ainda por longos anos. engenho Maçuaçu a 4 de novembro de 1868, pronunciou uma alocução que foi muito aplaudida e publicada depois em folheto, hoje raríssimo:i4 bênção do engenho Maçuaçu, Recife, I869. É o 71. Thomas Ewbank, Life in Brazil, ora Journal ofa visit to the landof Cocoa and the Palm, Nova elogio do senhor de engenho patriarcal. "É sempre bella e aprazível a reunião familiar composta Iorque, 1856. de pae, do esposo, de filhos, de irmãos", começou dizendo o padre-mestre Lino. Mas ao mesmo 72. "As catacumbas do Carmo, São Pedro, São Francisco de Paula empestão, assim como as outra tempo faz o elogio da máquina; do progresso industrial representado, no momento, por "um Egrejas, os lugares circumvisinhos pois as emanações se filtrão ao travez das paredes. As que sistema de serviço, adoptado na casa da moenda deste engenho, isto é, a facilidade com que um escapão das catacumbas do ultimo dos referidos templos são até sensíveis ao olfato de quem tran­ simples carro sobre trilhos de ferro recolhe todo o bagaço que sae da moenda, e com impulso de sita pela rua do Cano, próximo aos fundos da Egrej a" {Relatório da Commissão de Salubridade um frágil braço corre ao logar competente para o depositar." Significava o novo sistema grande Geral da Sociedade de Medicina do Rio de Janeiro sobre as causas de infecção da atmosphera economia de escravos. Regulava por essa época o número de escravos ao serviço de um bom da corte, Rio de Janeiro, 1832). A propósito veja-se também Walsh, Notices of Brazil, cit. engenho em cem ou duzentos. Já no século XVI, Cardim observara que nos engenhos da Bahia

precisava-se, no mínimo, de sessenta escravos: "mas os mais delles têm cento e duzentos escravos 73. "E costumavão [muitos senhores] fazer-lhes administrar os últimos sacramentos, encommendar de Guiné e da terra" (Tratado, cit.). O padre Luna fazia o elogio de duas coisas inconciliáveis: a antes de serem dados á terra e suffragar depois a sua alma" (Perdigão Malheiros, op. cit.). família patriarcal e a máquina. 74. Criados pela Misericórdia, os primeiros cemitérios para negros, indigentes e hereges, a situação 64. Cardim, Tratado, cit., p. 329- melhorou. Mas eram cemitérios imundos. Do Cemitério da Misericórdia da Corte informa um documento de 1832 que os cadáveres eram "atirados aos montes em hum grande vallado", sendo 65. Introdução íA bênção do engenho Maçuaçu, cit, arquivo da família. "mal cobertos de terra e ainda peor socadas; as camadas que delia lhes lanção". Faziam-se 66. Transcrito por Antônio José Vitoriano Borges da Fonseca, Nobüiarquia pernambucana (1777), cit. exumações antes do tempo: "os ossos sahem ainda pegados pelos ligamentos e cápsulas e a putrilagem dos outros tecidos brandos sahe como lama nas enxadas" (Relatório da Commissão 67. Alcântara Machado, Vida e morte do bandeirante, cit. O livro do professor Alcântara Machado é de Salubridade Geral, cit). um excelente estudo dos inventários processados em São Paulo de 1578 a 1700. 75. Loreto Couto, Desagravos do Brasil, etc, cit, p. 182 e 183. 68. Testamento do capitão-mor Manuel Tome de Jesus. Manuscrito no arquivo do Engenho Noruega. Interessados neste ponto, examinamos numerosos testamentos em cartórios do Recife e Ipojuca. 76. Koster, Traveis, cit, p. 425-426. Confirmam eles o que aqui se denomina a "glorificação do ventre gerador". 77. Manuscrito do arquivo da catedral de Olinda, cit. 69. Principalmente no cartório de Ipojuca, município onde se concentraram muitos Sousa Leão. 78. Pastoral de D. frei José Fialho "datada nesta villa de S. Antônio do Recife [... ] aos 16 dias do mez Também em Minas Gerais, nos inventários e testamentos dos tempos coloniais recolhidos ao Ar­ de agosto de 1738". Manuscritos no arquivo da catedral de Olinda. quivo Público, em Belo Horizonte, que tivemos o gosto de examinar com o auxílio de Luís Camilo de Oliveira, esclarecido pesquisador do passado mineiro. 79. Coleção do Diário de Pernambuco. A fase 1825-1880 é a mais interessante para o estudo dos anúncios de negros fugidos e de compra e venda de escravos. 70. "Discurso inaugural que na Sessão Pública da Instalação da Sociedade de Medicina do Rio de Janeiro recitou José Martins da Cruz Jobim", Rio de Janeiro, 1830. Já em 1808 Manuel Vieira da 80. Escreve La Barbinais dos luso-brasileiros: "tis dépensent le revenu d'une année en courses de Silva nas suas "Reflexões para melhorar o clima do Rio de Janeiro" salientara a necessidade de Taureaux, Comédies, en Sérmons, en ornemens d'Eglise & ils meurent de faim le reste de proibir-se o sepultamento dentro das igrejas. Também em 1812José Correia Picanço, na monografia: íannée. Si on ôtoit aux Portugais leurs Saints & leurs, maitresses, ils devientroient richs" (Le "Ensaio sobre os perigos das sepulturas dentro das cidades e seos contornos". Só em 1838 o Código Gentil de La Barbinais, AfcwfÊWM voyage au tourdu monde par M. Le Gentil Enrichi de Plusieurs Piais, vues & perspectives desprincipales villes & ports du Pérou, Chily, Brésil &dela Chine, abused by foreigners, especially by English catholics, who as a rule are Ultramontanes"). Amsterdam, 1728). Burton achou-os "sufficiently elevatedinpoint of education above their flocks". E além disto - liberais bondosos e hospitaleiros. Lembra que da mesma opinião fora Liais que escrevera do clero 81 Relation du voyages dela merdu sud aux cotes du Chily et du Pérou, faitpendant les années brasileiro: "fai eu occasion à Olinda, surtout, de voir souvent desprètres três recommendables 1712,1713 et 1714 [...]parM. Frézier, Ingenier ordinaire du Roy,?ans, 1715, p. 275. sous tous les rapports" (Richard Burton, The highiands of the Brazil, cit.). 82. Relation d'une voyage fait em 1695,1696 et 1697 au cotes d'Afrique, Détroit de Magellan, Brésil, Cayenne & les Isles Anules par une escadre des vaisseaux du roy commandée par 88. Richard Burton notou o fato de os paroquianos pouco caso fazerem da circunstância dos vigários Monsieur De Gennes, faitepar leSieur DeFroger [...] Paris, 1700, p. 142. Sobre o Recife terem mulher ou "caseira". "O clima", escreve ele, "não é favorável à castidade; a raça, especial­ mente quando cruzada, é material inflamável; e a influência, desde cedo, dos escravos, por pala­ escreve Pierre Moreau que no tempo de sua permanência nesta cidade tropical - meados do sécu­ vras e ações, não conduz ao decoro. Quase não preciso dizer que o celibato do clero é questão lo XVII - foi lugar onde "tous les vicesy estoint en vogue [...]". Durante o domínio holandês diz Moreau que cristãos e judeus "faisomt commerce non seulement des enfans esclaves qu 'ils puramente de disciplina [...]". "Por outro lado", acrescenta com preconceitos de liberal à ma­ permettoiant aux negres de venir abuser en leurs maisons mais encore de ceux que avoint neira do século XIX mas ao mesmo tempo com o sentido exato das necessidades brasileiras, "a estéengendrez de leurpropre sang avec les negrines lesquelles debauchoint & tenoient comme dignidade superior do ascetismo, da virgindade estéril, quer forçada, quer voluntária, é uma idéia concubines, vendoint & acheptoint, comme Von fait ici avec les veaux & les moutons." que repugna à razão e ao bom senso, especialmente num país novo, onde a poligamia se justifica moralmente, os males sendo mais do que compensados pelos benefícios" (Richard Burton, The Acrescentando que todos - e não somente os portugueses, reinóis ou crioulos - levavam aqui vida lasciva e escandalosa: "Juifs, Chrestiens, Portugois, Hollandois, Anglois, François, Allemands, highiands of the Brazil, cit.).

Nègres, Brésiliens, Tapoyos, Molates, Mammelus & Crioles habitointpesle-mesle sansparler 89. Alexander Caldcleugh conheceu em Minas um velho padre, Antônio Freitas, cuja caseira salien­ des incestes & pechez contre nature pour lesquels plusieurs Portugois coinvaincus furent tou ser uma bela mulher, de lindos olhos pretos (Caldcleugh, Traveis, cit.). Anos depois Burton executez à morf (Histoire des demiers troubles du Brésil entre les hollandois et les portugois, esteve na casa-grande que foi do padre Freitas: aí soube que a alma do padre costumava não só Paris, 1651, p. 211). aparecer, mas vir abastecer-se de iguarias no guarda-comida. Um antigo escravo do padre, Pedro,

83. D. frei José Fialho, manuscrito cit. com a cabecinha já toda branca, tinha o cuidado de deixar carne na mesa para o espírito do seu senhor, que dava mostras de não se ter saciado das delícias terrenas. Gardner encontrou no Ceará 84. La Barbinais, cit. Convém salientar que às vezes os meninos eram enjeitados à porta de pessoas, um vigário, homem de setenta para oitenta anos, que era um patriarca completo, com seis filhos. que se encarregavam de criá-los, mediante subvenções arbitradas pelas câmaras municipais. Tal Um destes, também padre, fora presidente de Província e era senador do Império. Amigado com o caso da menina enjeitada à porta do cirurgião-mor Manuel da Costa Bacelar, de Sabará, em uma prima, dela houvera dez filhos. E era pai de outros, avulsos (Gardner, Traveis, cit.). 1782 (manuscrito do Arquivo da Câmara Municipal de Sabará, 1782, na coleção de Manuscritos do Arquivo Público Mineiro). 90. Alfredo Ellis Júnior, Raça de gigantes, cit.

85. La Caille, cit. E. Froger, a propósito do Rio de Janeiro do século XVII, já falara "d'une autre 91. Alberto de Sousa, OsAndradas, cit. Pedro P. da Fonseca, em trabalho inédito, que nos foi franquea­ Sodome" (Relation du voyage, cit., p. 75). do à leitura - "Fundação de Alagoas - Apontamentos históricos, biográficos e genealógicos" (1886) - menciona alguns nomes ilustres de padres, entre os fundadores de famílias alagoanas. 86. Maria Graham,/o«m«/, cit, p. 111. Veja-se também o que diz no seu relatório a Sua Santidade o Segundo esse pesquisador, o vigário Manuel José Cabral (século XVIII) foi dos que tiveram nu­ bispo de Pernambuco D. frei Luís de Santa Teresa referindo-se ao estado do clero no século XVIII merosa descendência, notando-se entre seus filhos três que se ordenaram sacerdotes, um deles, (cônego José do Carmo Barata, História eclesiástica de Pernambuco, Recife, 1922). O relatório padre Joaquim, deixando também descendentes. Em interessante estudo, Ibiapina, um apósto• de D. frei Luís de Santa Teresa, de que se conserva cópia no arquivo da catedral de Olinda, é lo do Nordeste (Paraíba, 1942), o Sr. Celso Mariz chega a conclusões que confirmam o que documento interessantíssimo. desde 1933 sugerimos no presente ensaio, isto é, que "ter filhos foi dos fenômenos interessantes

87. Richard Burton, insuspeito de parcialidade a favor da Igreja, observou que em geral os estrangei­ da vida de padres e vigários do século passado", resultando dessa atividade parapatriarcal de ros exageravam nas suas críticas aos padres brasileiros ("Asa rule they aregrossly andunworthy sacerdotes brasileiros, homens notáveis pela "inteligência", "altos serviços" e "brilho das posi- ções". O Sr. Celso Mariz pormenoriza: "Vigários ativos e padres avulsos povoavam gordamente o características; e as mulheres são tão notáveis quanto os homens pela violência de suas paixões solo, sem qualquer embaraço ou cerimônia além do ralhar espaçado e longínquo dos bispos e da que nenhum princípio religioso ou de moralidade natural governa" (Gilbert Farquhar Mathison, crítica inútil dos maçons. Não era ter um filhinho perdido no anonimato dos bastardos. Era Narrative ofa visit to Brazil, etc, cit.). Sobre a miscigenação, propriamente dita, é o capítulo do constituir famílias enormes, criá-las dentro de casa, a mulher aparecendo na sala de visitas, os livro do autor Sobrados e mucambos, intitulado "Ascensão do bacharel e do mulato". meninos chamando-os padrinhos. Sabemos de vários que assim se comportavam, não se diria 95. Le Gentil de La Barbinais, Nouveau voyage autour du monde, cit. sem o reparo íntimo, mas sem a sublevação do escrúpulo católico nem dos preconceitos sociais, parados ambos diante de uma invencível força tradicional. Alguns subiram a culminâncias in­ 96. João Álvares de Azevedo Macedo Júnior, Da prostituição no Rio de Janeiro e da sua influência telectuais e públicas como os padres Martiniano de Alencar e Tomás Pompeu, senadores, Lindolfo sobre a saúde pública (tese sustentada no dia 6 de dezembro de 1868 na augusta presença de Correia, deputado federal e vários outros [...]". "Mas também humildes vigários do interior, Sua Majestade o Imperador), cit. capelães e pregadores modestos, padre Amorim, padre Firmino, padre Calisto Nóbrega, padre 97. Vilhena, Cartas, cit, I, p. 166. Torres, padre Bento, padre Pinto... 0 padre Magalhães em São João do Cariri, atingia a sem- cerimônia de ir para a igreja acompanhado dos filhos, os quais educava, desse modo, com per­ 98. Richard Burton, The highlands of the Brazil, cit. feita dignidade paterna sem perder a dignidade religiosa. O vigário Marques, em Sousa, criou e educou os filhos em uma paz consagrada, em igualdade de condições com as melhores famílias 99- Antonil, Cultura e opulência do Brasil, cit, p. 9. do lugar. Dois fizeram cursos científicos e alcançaram destacadas situações na clínica, no foro e 100. Cartas regias de 1663,1701,1704 e de 1719 indicam que muitos senhores não davam então aos na política. Um deles foi o bondoso e popular médico Dr. Silva Mariz, representante do Estado escravos o necessário descanso nem tempo de trabalharem para si; que alguns negligenciavam as em três legislaturas na Câmara da República (páginas VI-VII). Entre os descendentes de padres necessidades espirituais dos pretos, a ponto de não batizarem os pequenos nem mandarem adminis­ no Brasil nem todos têm tido prole ilegítima, destacando-se o caso do jesuíta de nome Pedro trar os últimos sacramentos aos moribundos. (Veja-se Perdigão Malheiro,/! escravidão no Brasil, Parente Dias Velho que tendo vindo ao Brasil em 1554 tornou-se fundador de família numerosa cit.). Mas é evidente que se referiam antes à escravatura grossa que aos escravos do serviço doméstico. "sem abjurar os votos monásticos e sem que fosse ele viúvo ou desquitado pois jamais se casara Em 1938, em uma das nossas conferências em seminário realizadas na Universidade de e, moço, ingressara para a Ordem, o que lhe não fora difícil, fidalgo que era, e de alta prosápia, Colúmbia, sobre a história e a sociologia da escravidão, salientamos que de cada fazenda ou na luso-pátria" 0- de Almeida Barros, "Os Garcias na Caiapônia", Revista do Instituto Históri• engenho grande do Brasil patriarcal se podia dizer, desculpado o sacrilégio: "Na casa de meu Pai co de Mato Grosso, ano XVII, tomo XXIV, 1935, p. 156). Segundo conclusão do Sr.J. de Almeida há muitas moradas". Referíamos-nos à hierarquia entre a escravatura, da qual a parte aristocrá­ Barros, paciente estudioso de história regional, possuía o cacique Tevereçá mais uma filha, além tica eram os escravos de serviço doméstico. Mesmo entre estes havia, porém, distinções marcadas da que se casara com João Ramalho, inimigo irredutível dos jesuítas. Pelo que teriam deliberado de status. O Sr. Sérgio D. T. de Macedo alude a essa hierarquia quando escreve que dentro da típica os padres da Companhia, no intuito de golpear o prestígio de Ramalho junto ao poderoso caci­ casa-grande brasileira, de engenho ou fazenda, "havia um mundo de escravos" que ia "desde as que, fazer aquela outra filha de Tevereçá "esposa de um dos irmãos de hábito" e "cunhada dos mucamas arrumadeiras, mulatas bonitas e dengosas, que levavam aos quartos as grandes bacias demais em conseqüência do que se tornava pessoa inteiramente familiar à Companhia" (p. de cobre e os largos jarros de água quente e fria para as abluções da manhã, até os copeiros que 158). Para conseguir tal objetivo, os padres teriam conseguido licença especial dos superiores de serviam a mesa e os molequinhos cuja missão era conservar brasas acesas para os cigarros e Pedro Parente Dias Velho para seu ingresso no sistema patriarcal luso-ameríndio por meio de charutos. Na vida de fazenda cada coisa tinha o seu lugar, cada um o seu serviço. Na cozinha, por casamento legítimo. exemplo, onde era enorme a aglomeração, cada mulher tinha a sua função bem definida, no

92. Vilhena, Cartas, cit, I, p. 139- preparo dos quitutes. A uma competia o preparo do peixe, a outra o da caça, àquela o das massas, àqueloutra, o dos pratinhos delicados. Refere Taunay que em muitas fazendas o preparo do arroz, 93. Charles Comte, Traité de législation ou exposition des his générales suivant lesquelles les indispensável nas mesas brasileiras, era delegado a um especialista. Às crioulinhas incumbia o peuplesprospèrent, dépérissent ou restent stationnaires, Paris, 1835. asseio do vasilhame. No serviço da fazenda havia funções de muita importância. Importante era o

94. A opinião mais generalizada. Recolheu-a no Brasil Mathison. "Parece [o mulato] unir aos vícios chaveiro a quem competia zelar pelas chaves das várias dependências. O chaveiro era também da vida selvagem os da vida civilizada sem contrabalançá-los com nenhum estoque de virtudes dentista e aplicador de bichas e ventosas. O escrivão da fazenda - precursor do moderno guarda- livros - era outro homem importante, como importante era o chefe dos tropeiros, responsável 107. Luís Edmundo, op. cit. pela boa condução dos sacos de açúcar ou de café aos portos de embarque" (No tempo das 108. Vej a-se também Richard Burton, The highlands of the Brazil, cit. Burton refere-se a essas sauda­ sinhazinhas, Rio de Janeiro, 1944, p. 57-58). Não nos esqueceremos das mucamas escolhidas ções cantadas depois do jantar que devem ter sido uma das notas mais interessantes e alegres dos para damas de companhia das sinhás e sinhá-moças, da mãe-preta, das pajens, cujas funções jantares patriarcais de outrora. eram ainda mais importantes e que eram tratadas quase como pessoas de família. Na hierarquia da escravatura brasileira das grandes fazendas ou engenhos, o status do escravo ia desde o de 109. Manuel Querino,/! arte culinária na Bahia, cit. quase pessoa de família ao de quase animal ou quase bicho. De onde a necessidade - ponto já 110. Nina Rodrigues, O regime alimentar do norte do Brasil, Maranhão, 1881. destacado por nós em trabalho sobre o assunto - que experimentavam os anunciantes de distin­ guirem, nos anúncios de jornal, cabra-escrava, de cabra-animal. 111. Trabalho lido perante o Congresso Regionalista do Nordeste, Recife, 1925.

101. Perdigão Malheiro, ^4 escravidão no Brasil, cit. Convém notar que deste excelente ensaio - obra do 112. Vilhena, Cartas, cit. I, p. 131. Do médico sueco Gustavo Beyer, que esteve no Brasil nos começos do século passado - existe, mais recente, nova edição. O mesmo estão a merecer os notáveis ensaios de século XIX, informa o professor Afonso de E. Taunay que se impressionou, em viagem pelos arre­ F. L. C. Burlamaqui e Abreu e Lima, há muito esgotados, assim como memórias como as de Fernandes dores de São Paulo, com as plantações de cana (que ainda não haviam sido substituídas pelas de Gama sobre Pernambuco e as de frei João de São José sobre o Pará - para só falar nessas. café), tendo escrito: "Viajando pelos arredores deltué impossível não se notar que toda a gente da classe baixa tem os dentes incisivos perdidos pelo uso constante da cana-de-açúcar que sem cessar 102. Adolphe D'Assier escreve que encontrou às vezes no Brasil "lesplus granas noms du Portugal chupa e conserva na boca em pedaços de algumas polegadas. portes par des tropeiros [... ]". E acrescenta "Lexplication est cependant des plus simples: tout affrenchiprend à volontéle nom de sonpatron, de sonparrain ou de out autreprotecteur "Quer em casa, quer fora dela, não a larga, e é possível que esta também seja a causa de haver [..'.]" (AdolpheD'Assier, op. cit.). aqui mais gente gorda do que em outros lugares.

103. Parecem de origem africana os seguintes nomes de engenhos do Norte: Qualombo, Malemba, "A classe superior gosta igualmente de doce, pelo que recebeu a alcunha 'mel-de-tanque', isto Mamulunga, Inhamã; e o são com certeza os nomes de lugares ou engenhos: Zumbi, Macangano, é, o melhor melado produzido na fabricação do açúcar. Os próprios bois e burros também partici­ Catucá, Cafundó. Em Minas, o Sr. Nelson de Sena dá como africanos ou de origem africana, pam da mesma inclinação. Encontram-se eles tal qual seus condutores, mastigando cana. É um numerosos nomes de lugares: Angola, Bengo, Cabinda, Fubá, Mumbaça, Zungu etc. ("Toponímia refresco para todos durante o calor" {História do café no Brasil - No Brasil colonial, 1727- geográfica de origem brasílico-indígena em Minas Gerais", Rev. Ara. Púb. Min., ano X, 1924). 1822, Rio de Janeiro, 1939, vol. II, p. 311). O médico sueco se mostra mais complacente para com o gosto brasileiro pelo açúcar ou pelo melado do que o mestre português. 104. Os nomes indígenas de engenho são muitos: Tibiri, Una, Cacau, Catende etc. Africanos, alguns,

como Luango. Sousa Bandeira lembra vários casos de nomes de família absorvidos pelas denomi­ 113- Em Portugal ainda hoje é costume, em Bragança, por ocasião dos casamentos, fazerem-se dois nações das propriedades: Chico do Caxito, Casusa do Quisenga, loiô de Cursai, Joca de Pindobal bolos, um representando os órgãos sexuais masculinos e o outro os femininos. À saída da igrej a, o {Evocações, cit). Veja-se também a biografia do barão de Goiana, por João Alfredo Correia de noivo ergue o seu bolo, o mesmo fazendo a noiva. Os rapazes e as moças procuram então tirar das Oliveira {Rev. Inst. Arq. Hist. Geog. de Pernambuco, vol. XXVII), onde vem uma lista de nomes mãos dos noivos o bolo simbólico; quem o conseguir, casa breve. E em Azurei, próximo de Guima­ de senhores e propriedades. rães, vendem-se bolos com o nome de sardôes (termo popular dado ao órgão genital masculino);

105. Teodoro Sampaio, O tupi na geografia nacional, cit, Alfredo de Carvalho, Frases epalavras, cit. em outros pontos com o nome de passarinhas (órgão genital feminino). Vej a-se a este propósito o trabalho de Emanuel Ribeiro, O doce nunca amargou... {Doçariaportuguesa. História. De• 106. No século XTX, começa a quebrar-se a tradição dos nomes de santos indicados pela folhinha: e a coração. Receituárió), Coimbra, 1928. No Brasil já observamos que vários bolos e doces toma­ aparecerem os inspirados pela "História profana, pela mytologia, pelas novellas, e pela geographia" ram nomes de sugestões fesceninas. De doces e bolos reunimos algumas receitas de famílias do (Padre Gama, O Carapuceiro). Os nomes, na família de Félix Cavalcanti de Albuquerque Melo Nordeste em açúcar, Rio de Janeiro, 1939 (Livro de assentos, manuscrito) refletem esta tendência: Demócrito, Heráclito, Tales, Licurgo, Lisbela, Ranuzia etc. Sobre o assunto veja-se também Gilberto Freyre, Brazil: an interpretatkm, cit. U4. João Vampré, "Fatos e festas na tradição", Rev. Inst. Hist. de São Paulo, vol. XIII. 115. Da. Angelina Barros de Andrade Lima. Também sua irmã, Da. Angelita Ferraz. A receita é uma 124. Antônio José de Sousa, Do regime das classes pobres, e dos escravos, na cidade do Rio de tradição de família. Janeiro em seus alimentos e bebidas: qual a influência desse regime sobre a saúde? (tese apresentada à Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1851). 116. Manuel Querino. A arte culinária na Bahia, cit. Veja-se também Sodré Viana, Caderno de xangô, 50 receitas da cozinha baiana do litoral e do nordeste, Bahia, s.d. Quem está na 125. José Luciano Pereira Júnior, Algumas considerações sobre [...} o regime das classes abasta• obrigação de nos dar um guia completo da cozinha baiana é o Sr. Godofredo Filho, que a conhece das da cidade do Rio deJaneiro em seus alimentos e bebidas, cit. (tese apresentada à Faculda­ como ninguém e é, ao mesmo tempo, um artista genuíno e um pesquisador honesto. de de Medicina do Rio de Janeiro), Rio de Janeiro, 1850. Veja-se também José Maria Rodrigues Regadas, Regime das classes abastadas no Rio de Janeiro em seus alimentos e bebidas, etc. 117. Infelizmente a Bahia não tem restaurante à altura de suas tradições culinárias. Nenhum que se (tese apresentada à Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro), Rio de Janeiro, 1852, e Ferdinand compare com os afro-franceses de Nova Orleans. Digna substituta de Mãe Eva, foi Da. Valéria, à Dénis, Brésil (Coleção LUnivers), Paris, 1839. rua da Assembléia. Em algumas residências baianas mesa e sobremesa conservam-se ainda hoje à altura das melhores tradições patriarcais. Recordaremos aqui apenas a do ilustre baiano Sr. 126. Azevedo César de Sampaio Viana, Qual a causa da freqüência das ascites na Bahia? (tese Godofredo Filho, que é capaz de banquetear em sua residência o europeu de paladar mais exigen­ apresentada à Faculdade de Medicina da Bahia, Bahia, 1850). te com quitutes baianos de origem africana, destruindo no estrangeiro a impressão de faltar deli­ 127. Francisco Antônio dos Santos Sousa, Alimentação na Bahia - Suas conseqüências (tese apre­ cadeza aos pratos africanos. 0 mesmo foi certo da família Madureira de Pinho, hoje residente no sentada à Faculdade de Medicina da Bahia, Bahia, 1910). Rio, e das famílias do já falecido Pânfilo de Carvalho, da Senhora Costa Pinto e do hoje também residente no Rio, Luís Viana Filho. 128. Eduardo de Magalhães, Higiene alimentar, Rio de Janeiro, 1908. Koster observou entre os mora­ dores do sertão - a zona menos influenciada pelo negro - que quase não se comia legume verde: 118. Dampier, op. cit. "riem-se à idéia de comer salada", diz ele dos sertanejos (Traveis, cit, p. 154). 119. Manuel Querino, A arte culinária na Bahia, cit. Querino anota vários pratos afro-baianos além 129. Ao Ia Congresso Afro-Brasileiro do Recife (novembro, 1934) o Dr. Rui Coutinho apresentou inte­ dos que já mencionamos: o eran-patetê, o efun-oguedê, o ipetê, o ebó, o abará, o abarem. E ressante estudo sobre a alimentação do escravo negro no Brasil. muitos outros ainda. 130. Burton, The highiands of the Brazil, cit. Aliás Burton manifesta a opinião de ser a carne alimento 120. L. Pereira Barreto, "A higiene da mesa", O Estado de S. Paulo, 1 de setembro de 1922. de melhor digestão nos trópicos do que os vegetais. 121. John Casper Branner, "O que eu faria se fosse estudante brasileiro nos Estados Unidos" (El 131. Referimo-nos as "mãozinhas de cocar" de marfim, outrora muito usadas em Portugal pelas fa­ estudiante latino-americano, Nova Iorque, janeiro, 1921). Esse artigo do sábio geólogo norte- mílias aristocráticas, vítimas complacentes do piolho. (Visite-se o Museu Etnográfico Português.) americano foi escrito a nosso pedido. Deve-se também registrar o fato de que no Brasil senhores e senhoras das casas-grandes tiveram o 122. Sigaud, Le climat et les maladies du Brésil, cit. costume de deixar crescer em um dos dedos uma unha enorme, à chinesa, costume que Thomas Lindley observou nos colonos da Bahia, no século XVII Lindley, op. cit.). Evidentemente com o fim 123. Max Ridiguet, Souvenirs de lAmérique Espagnole, cit. Parece, entretanto, que o ilustre gourmet de aliviar a coceira dos piolhos e das sarnas. Ainda conhecemos velhos com essas unhas à chinesa. não teve ocasião de, em festa em um dos salões mais elegantes de famílias patriarcais com resi­

dência na Corte - como o da gente do barão de Pati do Alferes, "senhor feudal de 7 fazendas nos 132. "É um ponto, o da higiene", escreveu Afonso Cláudio no seu trabalho "As tribos negras importa­ áureos tempos da Província fluminense - experimentar um daqueles "desejos de moça", doce das" (Rev. Inst. Hist. Geog. Bros., tomo especial do Congresso de História Nacional, parte II), cuja receita é revelada pelo Sr. Sérgio D. T. de Macedo GVo tempo das sinhazinhas, Rio de Janeiro, "em que é preciso salientar o cuidado instintivo do africano, de maneira a evitar a invasão de 1944, p. 41) que a copiou de velho caderno de sua antepassada, a baronesa de São Diogo: "Quilo epidemias. Comparados sob esse aspecto de higiene preventiva não há dúvida que ele está muito e meio de farinha de trigo, 500 gramas de manteiga, 500 gramas de açúcar, 1 copo de leite. Depois acima do indígena da Oceania e da América." de tudo bem amassado, até estar em ponto de estender em rolo, corta-se em formas para irem ao forno em bandejas". 133. Manuel Querino, Bahia de outrora, Bahia, 1916. 134. Doce, alfenim e cocada os negros vendiam cantando: Janeiro, 1835. Vejam-se também Sigaud, op. cit.; Roberto Jorge Haddock Lobo, "Discurso recitado em presença de S. M. o Imperador na sessão solemne anniversaria da Academia Imperial de Me­ Chora, menino, chora dicina do Rio de Janeiro", Rio de Janeiro, 1847. Seguido de "Reflexões acerca da mortalidade da Chora porque não tem cidade do Rio de Janeiro", Rio de Janeiro, 1847; Resposta ao Inquérito da Câmara do Rio de Vintém. Janeiro entre médicos sobre o clima e a salubridade da corte dos vice-reis (1798), nü 5, vol. 2, de Fletcher viu no Rio enormes montanhas de café, movendo-se como que sozinhas: mas por 1846, dos Annaes Brasilienses de Medicina; Antônio Martins de Azevedo Pimentel, Quais os baixo delas verdadeiros gigantes negros. Os negros carregadores de fardos cantavam: melhoramentos que devem ser introduzidos no Rio de Janeiro etc. (tese apresentada à Facul­ Maria, rábula auê dade de Medicina do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1884). Calunga auê.

Sobre a influência do negro na música popular brasileira, veja-se Mário de Andrade, Compên­ dio de história da música, São Paulo, 1929. Também o seu Ensaio sobre música brasileira, São Paulo, 1928, e a História da música brasileira, de Renato de Almeida, 23 ed. Rio de Janeiro, 1942, livro de interesse não só técnico como histórico-social.

135. Maria Graham, Journal, cit, p. 282.

136. Esta loa é para pedir milho, feijão etc. nos festivais de fecundidade. Recolheu a música, junta­ mente com outras, nas festas da seita africana dirigida pelo negro Anselmo, uma auxiliar do Instituto de Assistência a Psicopatas de Pernambuco, cujo diretor, o professor Ulisses Pernambucano, tanto concorreu para que a polícia de Pernambuco reconhecesse de 1930 a 1935 como seitas religiosas, associações de negros indistintamente classificados como catimbó e injustamente per­ seguidas pelos delegados e subdelegados. Essa perseguição, porém, foi retomada com maior in­ tensidade do que nunca pelo governo atual de Pernambuco, segundo se diz sob a pressão dos jesuítas portugueses, muito poderosos hoje naquele Estado do Norte. Possuímos várias outras loas, umas recolhidas do "menino Elói", outras da seita dos "adoradores dos astros", trabalho em que tivemos a colaboração do Dr. Pedro Cavalcanti. Também recolhemos de Elói um vocabulário místico; o Instituto reuniu extenso vocabulário, ao que parece nagô, organizado com o auxílio de Anselmo. As palavras parecem muito estropiadas; algumas podem ser identificadas como de língua iorubana.

137. Segundo o professor Otávio de Freitas, em trabalho lido no ls Congresso Afro-Brasileiro do Recife (novembro, 1934), foram as seguintes as doenças trazidas ao Brasil pelos "negros bichados": bicho-da-costa, maculo, bouba, gandu, frialdade, ainhum, bicho-de-pé, filárias. O assunto - a origem dessas e de outras doenças outrora comuns no Brasil - pede estudo mais demorado, como já observou outro médico que se vem inteligentemente dedicando ao estudo de doenças e de medi­ cina no Brasil, o Dr. Eustáquio Duarte.

138. José Martins da Cruz Jobim "Discurso sobre as moléstias que mais affligem a classe pobre do Rio de Janeiro (lido na sessão publica da Sociedade de Medicina a 30 de junho de 1835) [...]", Rio de Bibliografia

As publicações e os documentos incluídos nesta bibliografia são, na sua quase totalidade, aqueles a que se faz referência no texto. Apresentam-se primeiro as fontes (manuscritos, documentos, litogravu- ras, fotografias, mapas, plantas de casas e engenhos etc.) e depois o material auxiliar ou subsidiário. Deste, primeiro os livros, depois os periódicos. As publicações de interesse particular e aos documentos e manuscritos que ofereceram ao autor material concreto e às vezes virgem e original, de informação, e da maioria dos quais são dadas, em notas ao texto, indicações tanto quanto possível exatas, precisando-se, no caso de publicações, as páginas citadas, acrescentam-se os livros e periódicos de interesse geral mais proveitosamente consultados, para fins de confirmação daquele material e de sugestões e interpretações esboçadas no presente ensaio. Também para fins de comparação sociológica.

1. Fontes: manuscritos, documentos etc.

Atas da Câmara de São Paulo, de vol. I a XXXII, publicações da Prefeitura do Município de São Paulo.

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SOUTO MAIOR, Mário. Cachaça, história, humor medicina empírica, proibições, religião, serenata, sinonímia, sociologia e outros aspectos da aguardente no Brasil, Rio de Janeiro, 1971. 1900 Nasce no Recife, em 15 de março, na antiga estrada dos Aflitos (hoje Avenida Rosa e Silva), TEJO, Limeira. Brasil, São Paulo, 1964. esquina de rua Amália (o portão da hoje residência da família Costa Azevedo está assinalado VALADARES, Clarival do Prado. Arte e sociedade nos cemitérios brasileiros, Rio de Janeiro, 1922. por uma placa), filho do Dr. Alfredo Freyre - educador, Juiz de Direito e catedrático de Econo­ mia Política da Faculdade de Direito do Recife - e Francisca de Mello Freyre. VALENTE, Waldemar. Serrinha, Recife, 1972.

VALLANDRO, Amélia. Doces de Pelotas, Rio de Janeiro, Porto Alegre e São Paulo, s.d. 1906 Tenta fugir de casa, abrigando-se na materna Olinda, desde então, cidade muito de seu amor e da qual escreveria, em 1939, o 2a Guia prático, histórico e sentimental. VERGER, Pierre. Les afro-americains, Dacar, 1953- 1908 Entra no jardim de infância do Colégio Americano Gilreath. Lê as Viagens de Gulliver com VIANA, Hélio. História diplomática do Brasil, São Paulo, s.d. entusiasmo. Não consegue aprender a escrever, fazendo-se notar pelos desenhos. Tem aulas WAGLEY, Charles. Amazon town, Nova Iorque, 1964. particulares com o pintor Telles Júnior, que reclama contra sua insistência em deformar os

WERNECK SODRÉ, Nelson. O que se deve ler para conhecer o Brasil, Rio de Janeiro, 1967. modelos. Começa a aprender a ler e escrever em inglês com Mr. Williams, que elogia seus desenhos. WILLEMS, Emílio. "Luzo-brazilian character", em Atas do Colóquio Internacional de Estudos Luso- Brasileiros, Vanderbilt University, 1953- p. 77-78. 1909 Primeira experiência da morte: a da avó materna, que muito o mimava por supor ser o neto retardado, pela dificuldade em aprender a escrever. Temporada no engenho São Severino do

a Nota do autor à 16 edição (out. 1973)* Ramo, pertencente a parentes seus. Primeiras experiências rurais de menino de engenho. Mais tarde escreverá sobre essa temporada uma das suas melhores páginas, incluída em Pessoas, (*) Os acréscimos feitos à bibliografia, para a presente edição deste livro, referem-se tão-somente a coisas & animais. ligações de material contido nessas novas obras, ou em suas novas edições, ou a obras não men­ cionadas até agora nas indicações bibliográficas, com os assuntos versados pelo autor nos primei­ 1911 Primeiro verão na praia de Boa Viagem, onde escreve um soneto camoniano e enche muitos ros volumes da sua Introdução à história social (ou sociológica) da sociedade patriarcal bra­ cadernos com desenhos e caricaturas. sileira. História a ser concluída com fazigos e covas rasas, ainda em elaboração. Daí não

aparecerem, entre os acréscimos, alguns estudos notáveis de sociologia, história, antropologia, 1913 Dá as primeiras aulas no colégio. Lê José de Alencar, Machado de Assis, Gonçalves Dias, Castro arte, literatura, aparecidos no Brasil, ou sobre o Brasil, nos últimos quinze ou vinte anos. Inclusi­ Alves, Victor Hugo, Emerson, Longfellow, alguns dramas de Shakespeare, Milton, César, Virgílio, ve, sobre assuntos tropicológicos, em geral - especialização do autor - ou da história comparada Camões e Goethe. - com áreas americanas, africanas, asianas, européias, como os do professor Sílvio Zavala, do México. Assim, haverá omissões para as quais o autor se antecipa em pedir desculpas aos omitidos. 1914 Ensina latim, que aprendeu com o próprio pai, conhecido humanista recifense. Toma parte ativa nos trabalhos da sociedade literária do colégio. Torna-se redator-chefe do jornal impresso do colégio: OLábaro. 1915 Lições particulares de francês com Madame Meunieur. Lê La Fontaine, Pierre Loti, Molière, 1920 Conhece pessoalmente, por intermédio do professor Armstrong, o poeta irlandês William Butler Racine, Dom Quixote, a Bíblia, Eça de Queiroz, Antero de Quental, Alexandre Herculano, Yates (ver, no livro Artigos de jornal, um capítulo sobre este poeta), os "poetas novos" dos Oliveira Martins. Estados Unidos: Vachel Lindsay, Amy Lowell e outros. Escreve em inglês sobre Amy Lowell. Como estudante de sociologia, faz pesquisas sobre a vida dos negros de Waco e dos mexicanos margi­ 1916 Corresponde-se com o jornalista paraibano Carlos Dias Fernandes, que o convida a proferir nais do Texas. Conclui, na Universidade de Baylor, o curso de Bacharel em Artes, mas não palestra na capital do Estado vizinho. Como o Dr. Freyre não apreciava Carlos Dias Fernandes, comparece à solenidade da formatura: contra as praxes acadêmicas, a Universidade envia-lhe pela vida boêmia que levava, viaja autorizado pela mãe e lê no Cine-Teatro Pathé sua primeira o diploma por intermédio de um portador. Segue para Nova Iorque e ingressa na Universidade conferência pública, dissertando sobre Spencer e o problema da educação no Brasil. O texto foi de Colúmbia. Lê Freud, Westermarck, Santayana, Sorel, Dilthey, Hrdlicka, Keith, Rivet, Rivers, publicado no jornal O Norte, com elogios de Carlos Dias Fernandes. Hegel, Le Play, Brunhes, Croce. Segundo notícia publicada no Diário de Pernambuco de 5 de Influenciado pelos mestres do colégio, tanto quanto pela leitura do Peregrino de Bunyan e junho, a Academia Pernambucana de Letras, por proposta de França Pereira, elege-o sócio- de uma biografia do Dr. Livingstone, toma parte em atividades evangélicas e visita a gente correspondente. miserável dos mucambos recifenses. Interessa-se pelo socialismo cristão, mas lê, como espécie 1921 Segue, na Faculdade de Ciências Políticas (inclusive as Ciências Sociais Judiciais) da Universi­ de antídoto a seu misticismo, autores como Spencer e Comte. dade de Colúmbia, cursos de graduação e pós-graduação dos professores Giddings, Seligman, É eleito presidente do Clube de Informações Mundiais, fundado pela Associação Cristã de Boas, Hayes, Carl van Doren, Fox, John Basset Moore e outros. Conhece pessoalmente Rabin- Moços do Recife. Lê ainda, nesse período, Rui Barbosa, Joaquim Nabuco, Oliveira Lima, Nietzsche, dranath Tagore e o Príncipe de Mônaco (depois reunidos no livro Artigos de jornal), Valle- Sainte-Beuve. Inclán e outros intelectuais e cientistas famosos que visitam a Universidade de Colúmbia e a cidade de Nova Iorque. A convite de Amy Lowell, visita-a em Boston (ver, sobre essas visitas, 1917 Conclui o curso de Barechal em Ciências e Letras do Colégio Americano Gilreath, fazendo-se artigos incluídos no livro Vida, forma e cor). Segue, na Universidade de Colúmbia, o curso do notar pelo discurso que profere como orador da turma, cujo paraninfo é o historiador Oliveira professor Zimmern, da Universidade de Oxford, sobre a escravidão na Grécia. Visita a Universi­ Lima, desde então seu amigo (ver referência ao primeiro encontro com Oliveira Lima no prefá­ dade de Harvard e o Canadá. É hóspede da Universidade de Princeton, como representante dos cio à edição de suas Memórias, escrito a convite da viúva e do editor José Olympio). Leitura de estudantes da América Latina que ali se reúnem em congresso. Lê Patrick Geddes, Ganivet, Max Taine, Renan, Darwin, Von Ihering, Anatole France, William James, Bergson, Santo Tomás de Weber, Maurras, Péguy, Pareto, Rickert, William Morris, Michelet, Barres, Huysmans, Verlaine, Aquino, Santo Agostinho, São João da Cruz, Santa Teresa, Padre Vieira, Padre Bernardes, Fernão Rimbaud, Baudelaire, Dostoievski, John Donne, Coleridge, Xenofonte, Homero, Ovídio, Esquilo, Lopes, São Francisco de Assis, São Francisco de Sales, Tolstoi. Começa a estudar grego. Torna-se Aristóteles, Ratzel. Torna-se editor-associado da revista El Estudiante Latino-Americano, membro da Igreja Evangélica, desagradando a mãe e a família católica. publicada mensalmente em Nova Iorque pelo Comitê de Relações Fraternais entre Estudantes

1918 Segue, no início do ano, para os Estados Unidos, fixando-se em Waco (Texas) para matricular- Estrangeiros. Publica diversos artigos no referido periódico. se na Universidade de Baylor. Começa a ler Stevenson, Pater, Newman, Steele e Addison, Lamb, 1922 Defende tese para o grau de M. A. {Magister Artium ou Master of Arts) na Universidade de Adam Smith, Marx, Ward, Giddings, Jane Austen, as irmãs Brónte, Carlyle, Mathew Arnold, Colúmbia sobre Social life um Brazil in the middle of the 19th Century, publicada em Pascal, Montaigne, Euclides da Cunha, Monteiro Lobato. Inicia sua colaboração no Diário de Baltimore pela Hispanic American Historical Review (v. 5, n. 4, nov. 1922) e recebida com Pernambuco, com a série de cartas intituladas "Da outra América". elogios pelos professores Haring, Shepherd, Robertson, Martin, Oliveira Lima e H. L. Mencken, 1919 Ainda na Universidade de Baylor, auxilia o geólogo John Casper Branner no preparo do texto que aconselha o autor a expandir o trabalho em livro. Deixa de comparecer à cerimônia de português da Geologia do Brasil. Ensina francês a jovens oficiais norte-americanos convoca­ formatura, seguindo imediatamente para a Europa, onde recebe o diploma, enviado pelo reitor dos para a guerra. Estuda geologia com Pace, biologia com Bradbury, economia com Wright, Nicholas Murray Butler. Visita a França, a Alemanha, a Bélgica, tendo antes estado na Inglater­ sociologia com Dow, psicologia com Hall, literatura com A. J. Armstrong, professor de literatura ra, demorando-se em Oxford. Demora na França, atravessa a Espanha e conhece Portugal, e crítico literário especializado na filosofia e na poesia de Robert Browning. Escreve os primei­ onde se demora. Lê Simmel, Poincaré, Havelock Ellis, Psichari, Rémy de Gourmont, Ranke, ros artigos em inglês publicados por um jornal de Waco. Divulga suas primeiras caricaturas. Bertrand Russel, Swinburne, Ruskin, Blake, Oscar Wilde, Kant, Gracián. Tem o retrato pintado pelo modernista brasileiro Vicente do Rego Monteiro. Convive com ele e com outros artistas incluído no livro Talvez poesia). Segue para os Estados Unidos como delegado do Diário de modernistas brasileiros como Tarsila do Amaral e Brecheret. Na Alemanha conhece o Pernambuco, ao Congresso Pan-Americano de Jornalistas. Convidado para redator-chefe do Expressionismo; na Inglaterra, o ramo inglês do Imagismo, já seu conhecido nos Estados Uni­ mesmo jornal e para oficial de gabinete do Governador eleito de Pernambuco, então vice- dos. Na França, o anarco-sindicalismo de Sorel e o federalismo monárquico de Maurras. presidente da República. Colabora (artigos humorísticos) na Revista do Brasil com o pseudô­ nimo de J. J. Gomes Sampaio. Publica-se no Recife a conferência lida, no ano anterior, na 1923 Continua em Portugal, onde conhece João Lúcio de Azevedo, o conde de Sabugosa, Fidelino de Biblioteca Pública do Estado de Pernambuco: "A propósito de Dom Pedro II" (edição áaRevis- Figueiredo, Joaquim de Carvalho, Silva Gaio. Regressa ao Brasil e volta a colaborar no Diário ta do Norte, incluída, em 1944, no livro Perfil de Euclydes e outros perfis). Promove no Recife de Pernambuco. Da Europa escreve artigos para aRevista do Brasil (São Paulo), a pedido de o l8 Congresso Brasileiro de Regionalismo. Monteiro Lobato. 1927 Assume o cargo de oficial de gabinete do novo Governador de Pernambuco, Estácio de Albuquerque Reintegra-se no Recife, onde conhece José Lins do Rego, incitando-o a escrever romances, em Coimbra, casado com a prima de Alfredo Freyre, Joana Castelo Branco de Albuquerque Coimbra. vez de artigos políticos (ver referências ao encontro e início da amizade entre o sociólogo e o Conhece Mário de Andrade no Recife e proporciona-lhe um passeio de lancha no rio Capibaribe. futuro romancista do Ciclo da Cana-de-Açúcar no prefácio que este escreveu para o livro Re­ gião e tradição). Conhece José Américo de Almeida através de José Lins do Rego. Funda-se no 1928 Dirige, a pedido de Estácio Coimbra, o jornal/i Província, onde passam a colaborar os escrito­ Recife, a 28 de abril, o Centro Regionalista do Nordeste, com Odilon Nestor, Amaury de Medeiros, res novos do Brasil. Publica no mesmo jornal artigos e caricaturas com diferentes pseudôni­ Alfredo Freyre, Antônio Inácio, Morais Coutinho, Carlos Lyra Filho, Pedro Paranhos, Júlio Bello mos: Esmeraldino Olímpio, Antônio Ricardo, Le Moine, J. Rialto e outros. Lê Proust e Gide. I e outros. Excursões pelo interior do Estado de Pernambuco e pelo Nordeste com Pedro Paranhos, Nomeado pelo Governador Estácio Coimbra, por indicação do diretor A. Carneiro Leão, torna- g Júlio Bello (que a seu pedido escreveria as Memórias de um senhor de engenho) e seu irmão se professor da Escola Normal do Estado de Pernambuco: primeira cadeira de sociologia que se % Ulysses Freire. Lê, na capital do Estado da Paraíba, conferência publicada no mesmo ano: estabelece no Brasil com moderna orientação antropológica e pesquisas de campo. 547 "Apologia pro generatione sua" (incluída no livro Região e tradição). 1930 Acompanhando Estácio Coimbra ao exílio, visita novamente a Bahia, conhece parte do conti- < nente africano (Dacar, Senegal) e inicia, em Lisboa, as pesquisas e os estudos em que se basea- ! Encarregado pela direção do Diário de Pernambuco, organiza o livro comemorativo do pri­ ria Casa-grande & senzala ("Em outubro de 1930 ocorreu-me a aventura do exílio. Levou- g meiro centenário de fundação do referido jornal: Livro do Nordeste, onde foi publicado pela z primeira vez o poema modernista de Manuel Bandeira "Evocação do Recife", escrito a seu me primeiro à Bahia; depois a Portugal, com escala pela África. O tipo de viagem ideal para os % estudos e as preocupações que este ensaio reflete", como escreverá no prefácio do mesmo livro). % pedido (ver referências no capítulo sobre Manuel Bandeira no livro Perfil de Euclydes e outros o perfis). O Livro do Nordeste consagrou, ainda, o até então desconhecido pintor Manuel Ban­ 1931 A convite da Universidade de Stanford, segue para os Estados Unidos, como professor extraordi­ deira e publica desenhos modernistas de Joaquim Cardoso e Joaquim do Rego Monteiro. Lê na nário daquela Universidade. Volta, no fim do ano, para a Europa, demorando-se na Alemanha, Biblioteca Pública do Estado de Pernambuco uma conferência sobre D. Pedro II, publicada no em novos contatos com seus museus de antropologia, de onde regressa ao Brasil. ano seguinte. 1932 Continua, no Rio de Janeiro, as pesquisas para a elaboração de Casa-grande & senzala em 1926 Conhece a Bahia e o Rio de Janeiro, onde faz amizade com o poeta Manuel Bandeira, os escri­ bibliotecas e arquivos. Recusando convites para empregos que lhe foram feitos pelos membros tores Prudente de Morais, neto (Pedro Dantas), Rodrigo M. F. de Andrade, Sérgio Buarque de do novo governo brasileiro - um deles José Américo de Almeida - vive, então, com grandes Holanda, o compositor Villas-Lobos. Por intermédio de Pmdente, conhece Pixinguinha, Donga dificuldades financeiras, hospedando-se em casas de amigos e em pensões baratas do Distrito e Patrício e se inicia na nova música popular brasileira em noitadas boêmias. Escreve um Federal. Estimulado pelo seu amigo Rodrigo M. F. de Andrade, contrata com o poeta Augusto poema longo, modernista ou imagista e ao mesmo tempo regionalista e tradicionalista, do Frederico Schmidt - então editor - a publicação do livro por 500 mil réis mensais, que recebe qual Manuel Bandeira dirá depois que é um dos mais saborosos do ciclo das cidades brasileiras: com irregularidades constantes. Regressa ao Recife, onde continua a escrever Casa-grande & "Bahia de todos os santos e de quase todos os pecados" (publicado no Recife, no mesmo ano, senzala, na casa do seu irmão Ulysses Freyre. em edição da Revista do Norte, reeditado, em 20 de junho de 1942, na revista O Cruzeiro e 1933 Conclui o livro, enviando os originais ao editor Schmidt, que publica em dezembro. 1934 Aparecem em jornais do Rio de Janeiro os primeiros artigos sobre Casa-grande & senzala, seminário sobre sociologia e história da escravidão. Publica-se no Rio de Janeiro (Serviço Grá­ escritos por Yan de Almeida Prado, Roquette-Pinto, João Ribeiro e Agrippino Grieco, todos fico do Ministério da Educação e Saúde) o livro Conferência na Europa. elogiosos. Organiza no Recife o lfi Congresso de Estudos Afro-Brasileiros. Recebe o prêmio da 1939 Primeira viagem ao Rio Grande do Sul. Segue, depois, para os Estados Unidos, como professor Sociedade Felipe d'Oliveira pela publicação Casa-grande & senzala. Lê na mesma Sociedade extraordinário da Universidade de Michigan. Publica-se no Rio de Janeiro (José Olympio) a conferência sobre "O escravo nos anúncios de jornal do tempo do Império", publicada na primeira edição do livro Açúcar e no Recife (edição do autor, para bibliófilos) Olinda, 21 guia revista Lanterna Verde (v. 2, fev. 1935). Regressa ao Recife e lê, no dia24de maio, na Faculda­ prático, histórico e sentimental de cidade brasileira. Publica-se em Nova Iorque (Instituto de de Direito e a convite de seus estudantes, conferência publicada, no mesmo ano, pela Editora de las Espanas en los Estados Unidos) a obra do historiador Lewis Hanke, Gilberto Freyre, vida Momento: "0 estudo das ciências sociais nas universidades americanas". Publica-se no Recife y obra. (Oficinas Gráficas The Propagandist, edição de amigos do autor, tiragem de apenas 105 exem­

plares em papel especial e coloridos a mão por Luís Jardim) o Guia prático, histórico e senti• 1940 A convite do Governo português, lê no Gabinete Português de Leitura do Recife a conferência mental da cidade do Recife, inaugurando, em todo o mundo, um novo estilo de guia de (publicada no Recife, no mesmo ano, em edição particular) "Uma cultura ameaçada: a luso- cidade, ao mesmo tempo lírico e informativo e um dos primeiros livros para bibliófilos publica­ brasileira". Lê em Aracaju, na instalação da 2â Reunião da Sociedade de Neurologia, Psiquia­ dos no Brasil. tria e Higiene Mental do Nordeste, conferência publicada no ano seguinte pela mesma socieda­ de. Lê no dia 29 de outubro, na Biblioteca do Ministério das Relações Exteriores e a convite da 1935 A pedido dos alunos da Faculdade de Direito do Recife e por designação do Ministro da Educa­ Casa do Estudante do Brasil, conferência sobre Euclides da Cunha, publicada no ano seguinte. ção, inicia na referida escola superior um curso de sociologia com orientação antropológica e Lê, no dia 19 de novembro, na Biblioteca do Estado do Rio Grande do Sul, conferência por ecológica. Segue, em setembro, para o Rio de Janeiro, onde, a convite de Anísio Teixeira, dirige ocasião das comemorações do bicentenário da cidade de Porto Alegre, publicada em 1943. na Universidade do Distrito Federal o primeiro Curso de Antropologia Social e Cultural da Amé­ Toma parte no 3a Congresso Sul-Rio-grandense de História e Geografia, ao qual apresenta, a rica Latina (ver texto das aulas no livro Problemas brasileiros de antropologia). Publica-se pedido do historiador Dante de Laytano, o trabalho Sugestões para o estudo histórico-social no Recife (Edições Mozart) o livro Artigos de jornal. Profere, a convite de estudantes paulistas do sobrado no Rio Grande do Sul, publicado no mesmo ano pela Editora Globo e incluído, de Direito, no Centro XI de Agosto, da Faculdade de Direito de São Paulo, a conferência "Menos posteriormente, no livro Problemas brasileiros de antropologia. Publica-se em Nova Iorque doutrina, mais análise", tendo sido saudado pelo estudante Osmar Pimentel. (Colúmbia University Press) o oyxxmlo Some aspects ofthe social developmenteon Portuguese

1936 Publica-se no Rio de Janeiro (Companhia Editora Nacional, volume 64 da Coleção Brasiliana) America, separata da obra coletiva ConcemingLatin American culture. Publicam-se no Rio de Janeiro (José Olympio) os livros Um engenheiro francês no Brasil e O mundo que o o livro que é uma continuação da série iniciada com Casa-grande & senzala: Sobrados e português criou, com longos prefácios, respectivamente, de Paul Arbousse-Bastide e Antônio mucambos. Viagem à Europa, demorando-se na França e em Portugal. Sérgio. Prefacio e anota o Diário íntimo do engenheiro Vauthier, publicado no mesmo ano 1937 Mais uma viagem à Europa, desta vez como delegado do Brasil ao Congresso de Expansão pelo Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Portuguesa no Mundo, reunido em Lisboa. Lê conferências nas Universidades de Lisboa, Coimbra 1941 Casa-se no mosteiro de São Bento do Rio de Janeiro com a senhorita Maria Madalena Guedes e Porto e na de Londres (King's College), publicadas no Rio de Janeiro no ano seguinte. Regres­ Pereira. Viagem ao Uruguai, Argentinae Paraguai. Torna-se colaborador deLaNación (Buenos sa ao Recife e lê conferência política no Teatro Santa Isabel, a favor da candidatura de José Aires), dos Diários Associados, do Correio da Manhã zànA Manhã (Rio de Janeiro). Prefacia Américo de Almeida à presidência da República. A convite de Paulo Bittencourt inicia colabora­ e anota as Memórias de um Cavalcanti, do seu parente Félix Cavalcanti de Albuquerque ção semanal no Correio da Manhã. Publica-se no Rio de Janeiro (José Olympio) o livro Nor­ Melo, publicadas pela Companhia Editora Nacional (volume 196 da Coleção Brasiliana). Pu­ deste (aspectos da influência da cana sobre a vida e a paisagem do Nordeste do Brasil). blica-se no Recife (Sociedade de Neurologia, Psiquiatria e Higiene Mental do Nordeste) a con­ 1938 Nomeado membro da Academia Portuguesa de História pelo presidente Oliveira Salazar. Segue ferência "Sociologia, psicologia e psiquiatria", depois expandida e incluída no livro Proble­ para os Estados Unidos como lente extraordinário da Universidade de Colúmbia, onde dirige mas brasileiros de antropologia, contribuição para uma psiquiatria social brasileira que seria destacada pela Sorbonne ao doutourá-lo H.C. Publica-se no Rio de Janeiro (Casa do sa. Publicam-se em Buenos Aires (Espasa-Calpe Argentina) as primeiras edições, em espanhol, Estudante do Brasil) e em Buenos Aires a conferência "Atualidade de Euclydes da Cunha", de Nordeste e de Uma cultura ameaçada e a segunda, na mesma língua, de Casa-grande & (incluída, em 1944, no livro Perfil de Euclydes o outros perfis) Ao ensejo da publicação, no senzala. Publicam-se no Rio de Janeiro (Casado Estudante do Brasil) o Xmo Problemas bra­ Rio de Janeiro (José' Olympio), do livro Região e tradição, recebe homenagem de grande nú­ sileiros de antropobgia e o opúsculo Continente e ilha (conferência lida, em Porto Alegre, no mero de intelectuais brasileiros, com um almoço no Jóquei Clube, em 26 de junho, do qual foi ano de 1940 e incluída na segunda edição de Problemas brasileiros de antropologia). Publi­ orador o jornalista Dario de Almeida Magalhães. ca-se também, no Rio de Janeiro (Livros de Portugal) uma edição de A? farpas, de Ramalho Ortigão e Eça de Queiroz, selecionadas e prefaciados por ele, bem como a ¥ edição de Casa- 1942 É preso no Recife, por ter denunciado, em artigo publicado no Rio de Janeiro, atividades nazis­ grande & senzala, livro publicado a partir deste ano, pelo editor José Olympio. tas e racistas no Brasil, inclusive as de um padre alemão a quem foi confiada, pelo Governo do

Estado de Pernambuco, a formação de jovens escoteiros. Juntamente com seu pai reage à pri­ 1944 Visita Alagoas e Paraíba, a convite de estudantes desses estados. Lê na Faculdade de Direito de são, quando levado para "a imunda Casa de Detenção do Recife", sendo solto, no dia seguinte, Alagoas conferência sobre Ulysses Pernambucano, publicada no ano seguinte. Deixa de cola­ por interferência direta do seu amigo General Góes Monteiro. Recebe convite da Universidade borar nos Diários Associados eemLa Nación, em virtude da violação e extravio constantes de de Yale para ser professor de filosofia social, que não pôde aceitar. Profere, no Rio de Janeiro, sua correspondência. Em 9 de junho de 1944, comparece à Faculdade de Direito do Recife, a discurso como padrinho de batismo de avião oferecido pelo jornalista Assis Chateaubriand ao convite dos alunos dessa escola, para uma manifestação de regozijo em face da invasão da Aeroclube de Porto Alegre. É eleito para o Conselho Consultivo da American Philosophical Europa pelos exércitos aliados. Lê em Fortaleza a conferência "Precisa-se do Ceará". Segue Association. É designado pelo Conselho da Faculdade de Filosofia da Universidade de Buenos para os Estados Unidos, onde lê, na Universidade do Estado de Indiana, seis conferências pro­ Aires "Adscrito Honorário" de Sociologia e eleito membro correspondente da Academia Nacio­ movidas pela Fundação Patten e publicadas no ano seguinte, em Nova Iorque, no livro Brazil: nal de História do Equador. Discursa no Rio de Janeiro, em nome do Sr. Samuel Ribeiro, doador an interpretation. Publicam-se no Rio de Janeiro os livros Perfil de Euclydes e outros perfis do avião Taylor à campanha de Assis Chateaubriand. Publica-se em Buenos Aires (Comisión (José Olympio), Na Bahia em 1943 (edição particular) e a segunda edição do guia Olinda. A Revisora de Textos de Historia y Geografia Americana) a primeira edição de Casa-grande & Casa do Estudante do Brasil publica, no Rio de Janeiro, o livro Gilberto Freyre, de Diogo Melo senzala em espanhol, com introdução de Ricardo Saenz Hayes. Publicam-se no Rio de Janeiro Menezes, com prefácio consagrador de Monteiro Lobato. (José Olympio) o livro Ingleses e a segunda edição de Guia prático, histórico e sentimental da cidade do Recife. A Casa do Estudante do Brasil divulga, em segunda edição, a conferência 1945 Toma parte ativa, ao lado dos estudantes do Recife, na campanha pela candidatura do Briga­ "Uma cultura ameaçada: a luso-brasileira", proferida no Gabinete Português de Leitura do deiro Eduardo Gomes à presidência da República. Fala em comícios, escreve artigos, anima os Recife (1940). estudantes na luta contra a ditadura. No dia 3 de março, por ocasião do primeiro comício daquela campanha no Recife, começa a discursar, na sacada da redação do Diário de 1943 Visita a Bahia, a convite dos estudantes de todas as escolas superiores do Estado, que lhe pres­ Pernambuco, quando tomba a seu lado, assassinado pela Polícia Civil do Estado, o estudante tam excepcionais homenagens, às quais se associa quase toda a população de Salvador. Lê na de direito Demócrito de Sousa Filho. A UDN oferece, em sua representação na futura Assembléia Faculdade de Medicina da Bahia, a convite da União dos Estudantes Baianos, a conferência Nacional Constituinte, um lugar aos estudantes do Recife e estes preferem que seu representan­ "Em tomo de uma classificação sociológica" e no Instituto Histórico da Bahia, por iniciativa te sej a o bravo escritor. A Polícia Civil do Estado de Pernambuco empastela e proíbe a circulação da Faculdade de Filosofia do mesmo Estado, a conferência: "A propósito da filosofia social e do Diário de Pernambuco, impedindo-o de noticiar a chacina em que morreram o estudante suas relações com a sociologia histórica" (ambas incluídas, juntamente com os discursos pro­ Demócrito e um popular. Com o jornal fechado, o retrato de Demócrito é inaugurado na reda­ feridos nas homenagens recebidas na Bahia, no livro Na Bahia em 1943, que teve quase toda ção, com memorável discurso de Gilberto Freyre: "Quiseram matar o dia seguinte" (cf. Diário a sua tiragem apreendida, nas livrarias do Recife, pela Polícia do Estado de Pernambuco). de Pernambuco, 10 de abril de 1945). Em 9 de junho, comparece à Faculdade de Direito do Recusa, em carta altiva, o convite que recebeu para ser catedrático de sociologia da Universida­ Recife, como orador oficial da sessão contra a Ditadura. Publicam-se no Recife (União dos de do Brasil. Inicia colaboração no O Estado de S. Paulo em 30 de setembro. Por intermédio do Estudantes de Pernambuco) o opúsculo de sua autoria em apoio à candidatura Eduardo Go­ Itamaraty, recebe convite da Universidade de Harvard para ser seu professor, que também recu­ mes: Uma campanha maior do que a da abolição e a conferência lida, no ano anterior, em Maceió: "Ulysses". Publica-se em Fortaleza (edição do autor) a obra Gilberto Freyre e alguns no Ministério das Relações Exteriores, a convite do Instituto Brasileiro de Educação, Ciência e aspectos da antropossociologia no Brasil, de autoria do médico Aderbal Sales. Publica-se em Cultura (Comissão Nacional da Unesco) conferência sobre o conclave de Paris. Repete na Esco­ Nova Iorque (Knopf) o livro Brazil: an interpretation. la do Estado-Maior do Exército a conferência lida no Ministério das Relações Exteriores.

1946 Eleito deputado federal, segue para o Rio de Janeiro, a fim de tomar parte nos trabalhos da Inicia em 18 de setembro sua colaboração no O Cruzeiro. Em dezembro, profere na Câmara Assembléia Constituinte. Em 17 de junho, profere discurso de críticas e sugestões ao projeto dos Deputados discurso justificando a criação do Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas So­ da Constituição, publicado em opúsculo: "Discurso pronunciado na Assembléia Nacional ciais, com sede no Recife (incluído na 2a edição do livro Quase política). Lê no Museu de Arte Constituinte" (incluído na 2a edição do livro Quase política). Em 22 de junho lê no Teatro de São Paulo duas conferências: uma sobre Emílio Cardoso Ayres e outra sobre Da. Veridiana Municipal de São Paulo, a convite do Centro Acadêmico XI de Agosto, conferência publicada Prado. Lê mais uma conferência na Escola do Estado-Maior do Exército. Publicam-se no Rio no mesmo ano pela referida organização estudantil "Modernidade e modernismo na arte de Janeiro (José Olympio) o livro Ingleses no Brasil e os opúsculos O camarada Whitman política" (incluída, em 1965, no livro 6conferências em busca de um leitor). Em 16 de (incluído, em 1965, no livro 6 conferências em busca de um leitor), Joaquim Nabuco (in­ julho, lê na Faculdade de Direito de Belo Horizonte, a convite de seus alunos, conferência cluído, em 1966, na 2a edição do livro Quase política) e Guerra, paz e ciência (este editado publicada no mesmo ano: "Ordem, liberdade, mineiralidade" (incluída em 1965, no livro pelo Ministério das Relações Exteriores). Inicia sua colaboração no Diário de Notícias. 6 conferências em busca de um leitor). Em agosto inicia colaboração no Diário Carioca. 1949 Segue para os Estados Unidos, a fim de tomar parte, na categoria de ministro, como delegado Em 29 de agosto profere na Assembléia Constituinte outro discurso de crítica ao projeto da parlamentar do Brasil, na 4a Conferência Internacional da Organização das Nações Unidas. Lê, Constituição (incluído na 2a edição do livro Quase política). Em novembro, a Comissão de conferências na Universidade Católica da América (Washington, D.C.) e na Universidade de Educação e Cultura da Câmara dos Deputados indica, com aplauso do escritor Jorge Amado, Virgínia. Lê, em 12 de abril, na Associação de Cultura Franco-Brasileira do Recife, conferência membro da Comissão, o nome de Gilberto Freyre para o Prêmio Nobel de Literatura de 1947, sobre Emílio Cardoso Ayres (apenas pequeno trecho foi publicado no Bulletin da Associação). com o apoio de numerosos intelectuais brasileiros. Publica-se no Rio de Janeiro a 9 edição Em 18 de agosto, lê na Faculdade de Direito do Recife conferência sobre Joaquim Nabuco, na de Casa-grande & senzala e em Nova Iorque (Knopf) a edição do mesmo livro em inglês: sessão comemorativa do centenário de nascimento do estadista pernambucano (incluída no The masters and the slaves. livro Quase política). Em 30 de agosto, profere, na Câmara dos Deputados, discurso de sauda­

1947 Apresenta à Mesa da Câmara dos Deputados, para ser dado como lido, discurso sobre o centená­ ção ao Visconde Jowitt, presidente da Câmara dos Lordes do Reinos Unido da Grã-Bretanha e rio de nascimento de Joaquim Nabuco, publicado no ano seguinte. Em 22 de maio, lê no audi­ Irlanda do Norte (incluído em Quase política). No mesmo dia, lê, no Instituto Histórico e tório da Associação Brasileira de Imprensa, a convite da Sociedade dos Amigos da América, Geográfico Brasileiro, conferência sobre Joaquim Nabuco. Publica-se, no Rio de Janeiro (José conferência sobre Walt Whitman, publicada no ano seguinte. Trabalha ativamente na Comis­ Olympio), a conferência lida no ano anterior, na Escola de Estado-Maior do Exército: "Nação e são de Educação e Cultura da Câmara dos Deputados. Convidado para representar o Brasil no Exército" (incluída, em 1965, no livro 6 conferências em busca de um leitor). 19a Congresso dos Pen Clubes Mundiais, reunido em Zurique. Publica-se em Londres a edição 1950 Profere na Câmara dos Deputados, em 17 de janeiro, discurso sobre o pernambucano Joa­ inglesa de The masters and the slaves, em Nova Iorque a segunda impressão de Brazil: an quim Arcoverde, primeiro cardeal da América Latina, por ocasião da passagem do primeiro interpretation e no Rio de Janeiro, a edição brasileira deste livro em tradução de Olívio centenário de seu nascimento (incluído em Quase política). Profere na Câmara dos Deputa­ Montenegro: Interpretação do Brasil (José Olympio). Publica-se em Montevidéu a obra Gil­ dos, em 5 de abril, discurso sobre o centenário de nascimento de José Vicente Meira de Vas­ berto Freyrey la sociologia brasilena, de Eduardo J. Couture. concelos, constituinte de 1891 (incluído em Quase política). Profere na Câmara dos Deputa­ dos, em 28 de abril, discurso de "definição de atitude na vida pública" (incluído em Quase 1948 A convite da Unesco, toma parte, em Paris, no conclave de oito notáveis cientistas e pensadores política). Profere na Câmara dos Deputados, em 2 de maio, discurso sobre o centenário da sociais (Gurvitch, Allport, Sullivan, entre eles) reunidos pela referida Organização das Nações morte de Bernardo Pereira de Vasconcelos (incluído em Quase política). Profere na Câmara Unidas por iniciativa do então diretor Julian Huxley para estudar as "Tensões que afetam a dos Deputados, em 2 de junho, discurso contrário à emenda parlamentarista (incluído em compreensão internacional": trabalho em conjunto depois publicado em inglês e francês. Lê, Quase política). Profere na Câmara dos Deputados, em 26 de junho, discurso no qual trans­ 1954 Escolhido pela Comissão das Nações Unidas para o estudo da situação racial na união sul- mite apelo que recebeu de três parlamentares ingleses, em favor de um governo supranacional africana, como o antropólogo de qualquer país mais capaz de opinar sobre essa situação, visita (incluído em Quase política). Profere na Câmara dos Deputados, em 8 de agosto, discurso o referido país e apresenta à Assembléia Geral da ONU um estudo por ela publicado no mesmo a sobre o centenário de nascimento de José' Maríano (incluído em Quase política). Profere no em: Elimination des conflits et tensiom entre les races. Publica-se no Rio de Janeiro a 8 Parque 13 de Maio, do Recife, discurso em favor da candidatura do deputado João Cleofas de edição de Casa-grande & senzala, no Recife (Edições Nordeste) o opúsculo Um estudo do Oliveira ao Governo do Estado de Pernambuco (incluído na 2a ed. de Quase política). Em 11 prof. Aderbal furema e em Milão (Fratelli Bocca), a primeira edição, em italiano, de de setembro inicia colaboração diária no Jornal Pequeno, do Recife, sob o título "Linha de Interpretazione dei Brasile. Em agosto é encenada no Teatro Santa Isabel a dramatização de Fogo" em prol da candidatura João Cleofas ao Governo do Estado de Pernambuco. Profere, Casa-grande & senzala, feita por José Carlos Cavalcanti Borges. 0 professor Moacir Borges de em 8 de novembro, na Câmara dos Deputados, discurso de despedida por não ter sido reeleito Albuquerque defende, em concurso para provimento efetivo de uma das cadeiras de português para o período seguinte (incluído na 2a ed. de Quase política). Publica-se em Urbana do Instituto de Educação de Pernambuco, tese sobre Linguagem de Gilberto Freyre. (University of Illinois Press) a obra coletiva Tensions that cause wars, em Paris, em 1948. 1955 Lê, na sessão inaugural do 4a Congresso Brasileiro de Neurologia, Psiquiatria e Higiene Mental, Contribuição de Gilberto Freyre: "Internationalizing social sciences". Publicam-se no Rio de conferência sobre "Aspectos da moderna convergência médico-social e antropo-cultural" (incluí­ Janeiro (José Olympio) a primeira edição do livro Quase política e a sexta de Casa-grande & da na 2a edição de Problemas brasileiros de antropologia). Em 15 de maio profere no encerra­ senzala. mento do curso de treinamento de professores rurais de Pernambuco, discurso publicado no ano seguinte. Comparece, como um dos quatro conferencistas principais (os outros foram o alemão 1951 Publicam-se no Rio de Janeiro (José Olympio) as seguintes edições de Nordestee de Sobrados von Wreie, o inglês Ginsberg, o francês Davy) e na alta categoria de convidado especial, ao 3° e mucambos (esta refundida e acrescida de cinco novos capítulos). A convite na Universidade Congresso Mundial de Sociologia, realizado em Amsterdã e no qual apresenta a comunicação, de Londres, escreve, em inglês, estudo sobre a situação do professor no Brasil, publicado, no publicada em Louvain, no mesmo ano, pela Associação Internacional de Sociologia: Morais and mesmo ano, pelo Year book of education. Publica-se em Lisboa (livros do Brasil) a edição portuguesa de Interpretação do Brasil. social change. Para discutir Casa-grande & senzala e outras obras e idéias e métodos de Gilberto Freyre, reúnem-se em Gerisy-LaSalle os escritores e professores M. Simon, R. Bastide, G. Gurvith, 1952 Lê, na sala dos capelos da Universidade de Coimbra, em 24 de j aneiro, conferência publicada, Leon Bourdon, Henri Gouhier, Jean Duvignaud, Tavares Bastos, Clara Mauraux, Nicolas Sombart, no mesmo ano, pela Coimbra Editora: Em tomo de um novo conceito de tropicalismo. Mário Pinto de Andrade: talvez a maior homenagem já prestada na Europa a um intelectual Publica-se em Ipswich (Inglaterra) o opúsculo editado pela revista Progress de Londres com o brasileiro, os demais seminários de Cerisy tendo sido dedicados a filósofos da história, como Toynbee seu ensaio: Human factors behind Brazilian developmente. Publica-se no Recife (Edições e Heidegger. Publicam-se no Recife (Secretaria de Educação e Cultura) os opúsculos Sugestões Região) o Manifesto regionalista de 1926. Publica-se no Rio de Janeiro (Serviço de Docu­ para uma nova política no Brasil: a rurbana (incluída, em 1966, na 2a edição de Quase mentação do Ministério da Educação e Cultura) o opúsculo José de Alencar e (José Olympio) a política) e Em tomo da situação do professor no Brasil. Publica-se em Nova Iorque (Knopf) a 7a edição de Casa-grande & senzala em francês, feita pelo professor Roger Bastide, com prefá­ segunda edição de Casa-grande & senzala, em inglês: The masters and the slaves. Publica-se cio de Lucien Fèbvre: Maitres et esclaves (volume 4 da coleção La Croix du Sud, dirigida por em Paris (Gallimard) a primeira edição deNordeste em francês: Terres du sucre (volume 14 da Roger Caillois). Viagem a Portugal e às províncias ultramarinas. Em 16 de abril inicia colabo­ Coleção La Croix du Sud, dirigida por Roger Caillois). ração no Diário Popular de Lisboa. Inicia colaboração no Jornal do Commercio do Recife. 1957 Lê, em 4 de agosto, na Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Pernambuco, em sole­ 1953 Publicam-se no Rio de Janeiro (José olympio) os Xmçn Aventura e rotina (escritos durante a nidade comemorativa do 25a aniversário de fundação daquela escola, conferência publicada viagem a Portugal e às províncias luso-asiáticas, "à procura das constantes portuguesas de no mesmo ano: Arte, ciência social e sociedade. Dirige, em outubro, Curso sobre Sociologia caráter e ação") e Um brasileiro em terras portuguesas (contendo conferências e discursos da Arte na mesma escola. Volta a colaborar no Diário Popular de Lisboa, atendendo a insisten­ proferidos em Portugal e nas províncias ultramarinas, com longa "Introdução a uma possível tes convites do seu diretor, Francisco da Cunha Leão. Publicam-se no Recife os opúsculos Pala­ luso-tropicologia"). vras às professoras rurais do Nordeste (Secretaria de Educação e Cultura do Estado de Pernambuco) e Importância para o Brasil dos institutos de pesquisa científica (Instituto o opúsculo Sugestões em torno do Museu de Antropologia do Instituto Joaquim Nabuco de Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais); no Rio de Janeiro (José Olympio) a 2a edição de Socio­ Pesquisas Sociais, e no Rio de Janeiro (José Olympio) a 3a edição do livro Olinda. logia; no México (Editorial Cultural) o opúsculo^ experiência portuguesa no trópico ameri• 1961 Em 24 de fevereiro recebe em sua casa de Apipucos a visita do escritor norte-americano Arthur cano; em Lisboa (Livros do Brasil) a primeira edição portuguesa de Casa-grande & senzala e Schlesinger Júnior, assessor e enviado especial do Presidente John F. Kennedy. Em 20 de abril a obra Gilberto Freyres "luso-tropicalism", de autoria de Paul V. Shaw (Centro de Estudos profere na Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Pernambuco uma conferência Políticos Sociais da Junta de Investigações do Ultramar). sobre "Homem, cultura e trópico" iniciando as atividades do Instituto de Antropologia Tropi­ 1958 Lê, no Fórum Roberto Simonsen conferência publicada no mesmo ano pelo Centro e Federação cal, criado naquela Faculdade por sugestões sua. Em 25 de abril é filmado e entrevistado em das Indústrias do Estado de São Paulo: "Sugestões em tomo de uma nova orientação para as sua residência pela equipe de televisão e cinema do Columbia Broad-casting System. Em junho relações intranacionais no Brasil". Publica-se em Lisboa (Centro de Estudos Políticos e Sociais viaja aos Estados Unidos, onde faz conferência no Conselho Americano de Sociedades Científi­ da Junta de Investigações do Ultramar) o livro, com texto em português e inglês, Integração cas, no Centro de Corning, no Centro de Estudos de Santa Bárbara e nas Universidades de portuguesa nos trópicos/Portuguese integration in the tropics. Publica-se no Rio de Janeiro Princeton e Colúmbia. De volta ao Brasil, recebe, em agosto, a pedido da Comissão Educacio­ (José Olympio, a 9a edição brasileira de Casa-grande & senzala. nal dos Estados Unidos da América no Brasil (Comissão Fulbright), para uma palestra infor­ mal sobre problemas brasileiros, os professores norte-americanos que participam do II Semi­ 1959 Lê, em abril, conferências no Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais, iniciando e con­ nário de Verão promovido pela referida Comissão. Em outubro, lê, no Instituto Joaquim Nabuco cluindo Cursos de Ciências Sociais promovidos pelo referido órgão. Em julho, lê na Faculdade de Pesquisas Sociais, quatro conferências sobre sociologia da vida rural. Ainda em outubro e a de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais conferência publicada pela mesma Univer­ convite dos corpos docente e discente da Escola de Engenharia da Universidade Federal de sidade no ano seguinte. Publica-se em Nova Iorque (Knopf) New word in the tropics, cujo Pernambuco, lê na mesma escola três conferências sobre "Três engenharias inter-relacionadas: texto contém, grandemente expandido e praticamente reescrito, o livro (publicado em 1945 a física, a social e a chamada humana." Viaja a São Paulo e lê, em 27 de outubro, no auditório pelo mesmo editor) Brazil: an interpretation; na Guatemala (Editorial de Ministério de da Academia Paulista de Letras, sob os auspícios do Instituto Hans Staden, conferência intitulada Educación Pública José de Pineda Ibarra) o opúsculo Em torno a algunas tendências actuales "Como e porque sou sociólogo". Em Ia de novembro, lê no auditório da ABI e sob os auspícios de la antropologia; no Recife (Arquivo Público do Estado de Pernambuco) o opúscuh Apro- do Instituto Cultural Brasil-Alemanha, conferências sobre "Harmonias e desarmonias na for­ pósito de Mourão, Rosa e Pimenta: sugestões em tomo de uma possível hispanotropicologia; mação brasileira". Em dezembro, segue para a Europa, demorando três semanas na Alemanha no Rio de Janeiro (José Olympio) a primeira edição do livro Ordem eprogresso (terceiro volu­ Ocidental, para tomar parte, como representante do Brasil, no encontro germano-hispânico de me da série Introdução à história patriarcal no Brasil, iniciada com Casa-grande & senza­ sociólogos. Publica-se em Tóquio (Ministério da Agricultura do Japão, série de "Guias para os la, continuada com Sobrados e mucambos e a ser finalizada comJazigos e covas rasas, livro emigrantes em países estrangeiros"), a edição japonesa de Ato word in the tropics: Atsuitai nunca concluído) e O velho Félix e suas memórias de um Cavalcanti (que é a segunda no sin sekai. Publica-se em Lisboa (Comissão Executiva das Comemorações do V Centenário edição, aumentada, da introdução ao Mo Memórias de um Cavalcanti, publicado em 1940); da Morte do Infante D. Henrique) - em português, francês e inglês - o livro O luso e trópico: em Salvador (Universidade da Bahia) o livrou propósito de frades e o opúsculo Em tomo de les Portugais et les tropiques e The portuguese and the tropics (edições separadas). Publica- alguns túmulos afro-cristãos de uma área africana contagiada pela cultura brasileira; e se no recife (Imprensa Universitária) o livro Sugestões de um novo contato com universida­ em São Paulo (Instituto Brasileiro de Filosofia) o ensaio/l filosofia da história do Brasil na des européias; no Rio de Janeiro (José Olympio) a 3a edição brasileira de Sobrados e mucambos obra de Gilberto Freyre, de autoria de Miguel Reale. e a 10a edição brasileira (1 Ia em língua portuguesa) de Casa-grande & senzala.

1960 Viaja pela Europa, nos meses de agosto e setembro, lendo conferências em universidades france­ 1962 Em fevereiro, a Escola de Samba de Mangueira desfila, no Carnaval do Rio de Janeiro, com sas, alemãs, italianas e portuguesas. Publica-se em Lisboa (Livros do Brasil) o livro Brasis, Brasil enredo inspirado por Casa-grande & senzala. Em março é escolhido presidente do Comitê de eBrasília; em Belo Horizonte (Mçõtsáa Revista Brasileira de Estudos Políticos) aconferência Pernambuco do Congresso Internacional para a Liberdade da Cultura. Em 10 de junho, lê, no "Uma política transnacional de cultura para o Brasil de hoje", no Recife (Imprensa Universitária) Gabinete Português de Leitura do Rio de Janeiro, a convite da Federação das Associações Por- tuguesas do Brasil, conferência publicada, no mesmo ano, pela referida entidade: O Brasil em ção daquela Escola. Recebe em Natal, em julho, as homenagens da Fundação José Augusto

a face das Áfricas negras e mestiças. Em agosto reúne-se em Porto Alegre o I Colóquio de pelo 30a aniversário da publicação de Casa-grande & senzala. Recebe, em setembro, o Prêmio Estudos Teuto-Brasileiros, organizado por sugestão sua. Ainda em agosto é admitido pelo Pre­ Moinho Santista para Ciências Sociais. Viaja aos Estados Unidos e participa, em dezembro, sidente da República como Comandante do Corpo de Graduação da Ordem do Mérito Militar. como conferencista convidado, do seminário latino-americano promovido pela Universidade Por iniciativa do Banco Interamericano de Desenvolvimento, o professor Leopoldo Castedo pro­ de Colúmbia. Publica-se em Nova Iorque (Knopf) uma edição abreviada (Paperback) de TIK fere em Washington, D. C, no curso Panorama da Civilização Ibero-americana, conferência masters and the slaves. Publica-se em Madri (separata da Revista de la Universidad de sobre La valorización dei tropicalismo em Freyre. Em outubro, torna-se editor-associado do Madrid) opúsculo Be lo regional a lo universal en la interpretación de los complejos Journal of Interamericam Studies. Em novembro, dirige na Faculdade de Letras da Universi­ socioculturales; no Recife (Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais), em tradução de dade de Coimbra um curso de seis lições sobre sociologia da história. Ainda na Europa, lê Waldemar Valente, a tese universitária de 1922, Vida social no Brasil nos meados do século conferências em universidades da França, da Alemanha Ocidental e da Espanha. Em 19 de XLXe o opúsculo (Imprensa Universitária) O Estado de Pernambuco e expressão no poder novembro recebe o grau de Doutor Honoris Causa pela Faculdade de Letras de Coimbra. Publi­ nacional: aspectos de um assunto complexo; no Rio de Janeiro 0osé Olympio) a seminovela cam-se no Rio de Janeiro 0osé Olympio) os livros Talvez poesia e Vida, forma e cor, a 2a Dona Sinhá e o filho padre, o livro Retalhos de jornais velhos (2a edição, consideravelmente edição de Ordem eprogresso e a terceira de Sociologia; em São Paulo (Livraria Martins Edito­ ampliada, de Artigos de jornal), o opúsculo^ Amazônia brasileira e uma possível-luso ra) o livro Arte, ciência e trópico; em Lisboa (Livros do Brasil) as edições portuguesas tropicologia (Superintendência do Plano de Valorização Econômica da Amazônia) e a 11a de Aventura e rotina e de Um brasileiro em terras portuguesas. Publica-se no Rio de Janei­ edição brasileira de Casa-grande & senzala. Recusa convite do Presidente Castelo Branco ro (José Olympio) a obra coletiva Gilberto Freyre: sua ciência, sua filosofia, sua arte (ensai­ para ser Ministro da Educação e Cultura. os sobre o autor de Casa-grande & senzala e sua influência na moderna cultura do Brasil,

a 1965 Viagem a Campina Grande, onde lê, em 15 de março, na Faculdade de Ciências Econômicas, comemorativos do 25 aniversário de publicação desse livro). a conferência (publicada no mesmo ano pela Universidade Federal da Paraíba) Como epor­ 1963 Em 10 de junho, inaugura-se no Teatro Santa Isabel do Recife uma exposição sobre Casa- que sou escritor. Toma parte no Simpósio sobre Problemática da Universidade Federal de grande & senzala, organizada pelo colecionador Abelardo Rodrigues. Em 20 de agosto, o Go­ Pernambuco (março/abril), com uma conferência sobre a conveniência de introdução na verno de Pernambuco promulga a Lei estadual na 4.666, de iniciativa do deputado Paulo Rangel mesma Universidade, de "Um novo tipo de seminário (Tannenbaum)". Viagem ao Rio de Moreira, que autoriza a edição popular, pelo mesmo Estado, de Casa-grande & senzala. Publi­ Janeiro, onde recebe, em cerimônia realizada no auditório de O Globo, diploma com o qual o

a ca-se em Tbe American Scholar, Chapei Hill (United Chapters of Phi Beta Kappa e University of referido jornal homenageou, no seu 40 aniversário, a vida e a obra dos Notáveis do Brasil: North Caroline) o ensaio On the Iberian concept of time. Publica-se em Nova Iorque (Knopf) a brasileiros vivos que, "por seu talento e capacidade de trabalho de todas as formas invulgares, edição de Sobrados e mucambos em inglês, com introdução de Frank Tannenbaum: The tenham tido uma decisiva participação nos rumos da vida brasileira, ao longo dos quarenta mansions and the shanties (the making of modem Brazil); em Washington, D.C. (Pan anos conjuntamente vividos". Em 9 de novembro, gradua-se, in absentia, doutor pela Uni­ American Union) o livro Brazil; em Lisboa, a 2a edição do opúsculo Americanism and latinity versidade de Paris (Sorbonne), em solenidade na qual também foram homenageados outros Americaí (em inglês e francês); em Brasília (Editora Universidade de Brasília) a 12a edição sábios de categoria internacional, em diferentes campos do saber, sendo a consagração por

a obra que vinha abrindo "novos caminhos à filosofia e às ciências do homem". A consagração brasileira de Casa-grande & senzala (13 edição em língua portuguesa) e no Recife (Imprensa Universitária) o livro O escravo nos anúncios de jornais brasileiros do século XLX (reedição cultural pela Sorbonne juntou-se à recebida das Universidades da Colúmbia e de Coimbra e às quais se juntaram as de Sussex (Inglaterra) e Münster (Alemanha), em solenidade prestigiada muito aumentada da conferência lida, em 1935, na Sociedade Felipe d'Oliveira). O professor por nove magníficos reitores alemães. Publica-se em Berlim (Kiepenheur & Witsch) a primei­ Thomasjohn 0'Halloran apresenta à Graduate School of Arts and Science, da New York University, ra edição de Casa-grande & senzala em alemão: Herrenhaus undSklavenhútte (Ein Bild dissertação sobre The life and master writings of Gilberto Freyre. der Brasilianischen Gesellschaft). Publia-se no Recife (Imprensa Oficial do Estado de 1964 A convite do Governo do Estado de Pernambuco, lê na Escola Normal do mesmo Estado, em 13 Pernambuco) o opmc\úo Forças Armadas e outras forças; enoRio de Janeiro (José Olympio) de maio, conferência como orador oficial da solenidade comemorativa do centenário de funda­ o livro 6 conferências em busca de um leitor. 1966 Viagem ao Distrito Federal, a convite da Universidade de Brasília, onde lê, em agosto, seis con­ Oliveira Lima na Universidade do Rosário. Viagem à Alemanha Ocidental, onde recebe o título ferências sobre futurologia, assunto que foi o primeiro a desenvolver no Brasil. Por solicitação de Doutor Honoris Causa pela Universidade de Münster por sua obra comparada à de Balzac. das Nações Unidas, apresenta ao United Nations Human Rights Seminar on Apartheid (realiza­ Publica-se em Lisboa (Academia Internacional da Cultura Portuguesa) o livro em 2 volumes, do em Brasília, de 23 de agosto a 5 de setembro) um trabalho de base sobre "Race mixture and Contribuição para uma sociologia da biografia (o exemplo de Luís de Albuquerque, go• cultural interpenetration: the Brazilian example", distribuído na mesma ocasião em inglês, vernador de Mato Grosso no fim do século XWI). Publica-se no Distrito Federal (Editora francês, espanhol e russo. Por sugestão sua, funda-se na Universidade Federal de Pernambuco Universidade de Brasília) o livro Como eporque sou e não sou sociólogo; e no Rio de Janeiro o Seminário de Tropicologia, de caráter interdisciplinar e inspirado pelo seminário do mesmo (Gráfica Record Editora) as segundas edições dos livros Região e tradição e Brasis, Brasil e tipo, iniciado na Universidade de Colúmbia pelo professor Frank Tannenbaum. Publica-se em Brasília. Ainda no Rio de Janeiro, publica-se (José Olympio) as quartas edições dos livros Guia Barnet, Inglaterra, The racial factor in contemporarypolitics; no Recife (Governo do Estado prático, histórico e sentimental da cidade do Recife e Olinda, 2°- Guia prático, histórico e de Pernambuco) o primeiro tomo da 14a edição brasileira (15* em língua portuguesa) de Casa- sentimental de cidade brasileira. grande & senzala (edição popular, para ser vendida a baixo preço, de acordo com a Lei esta­ 1969 Recebe o Prêmio Internacional de Literatura "La Madonnina" por "incomparável agudeza na dual n" 4.666, de 20 de agosto de 1963); e no Rio de Janeiro (José Olympio) a 13a edição do descrição de problemas sociais, conferindo-lhes calor humano e otimismo, bondade e sabedo­ mesmo livro. ria", através de uma obra de "fulgurações geniais". Lê conferência, no Conselho Federal de

1967 Em 30 de janeiro, lançamento solene, no Palácio do Governo do Estado de Pernambuco, do Cultura, em sessão dedicada à memória de Rodrigo M. F. de Andrade. A Universidade Federal de Pernambuco lança os dois primeiros volumes do seminário de Tropicologia, relativos ao ano de primeiro volume da edição popular de Casa-grande & senzala. Em julho, viagem aos Estados 1966: Trópico & colonização, Nutrição, Homem, Religião, Desenvolvimento, Educação e Unidos, para receber, no Instituto Aspen de Estudos Humanísticos, o Prêmio Aspen do ano (30.000 cultura, Trabalho e lazer, Culinária, População. Lê no Instituto Joaquim Nabuco de Pesqui­ dólares e isento de imposto sobre a renda) "pelo que há de original, excepcional e de valor sas Sociais, quatro conferências sobre "Tipos antropológicos no romance brasileiro". Publica- permanente em sua obra ao mesmo tempo de filósofo, escritor literário e antropólogo". Recebe se no Recife (Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais) o ensaio Sugestões em tomo da o Nobel dos Estados Unidos na presença de Embaixador, enviado especial do Presidente Lyndon ciência e da arte da pesquisa social, e no Rio dejaneiro (José Olympio) a 15a edição brasileira B. Johnson que se congratula com Gilberto Freyre pela honraria na qual foi precedido por de Casa-grande & senzala. apenas três notabilidades internacionais: o compositor Benjamin Britten, a dançarina Martha Graham e o urbanista Constantino Doxiadis por obras reveladoras de "criatividade genial". Em 1970 Completa setenta anos de idade residindo na província e trabalhando como se fosse um intelec­ dezembro, lê na Academia Brasileira de Letras, no Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e tual ainda jovem: escrevendo livros, colaborando em jornais e revistas nacionais e estrangeiros, no Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais, conferências sobre Oliveira Lima, em ses­ dirigindo cursos, proferindo conferências, presidindo o Conselho Diretor e animando as ativi­ sões solenes comemorativas do centenário de nascimento daquele historiador (expandidas no dades do Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais, presidindo o Conselho Estadual de livro Oliveira Lima, Dom Quixote gordo). Publica-se em Lisboa (Fundação Calouste Cultura, dirigindo o Centro Regional de Pesquisas Educacionais e o Seminário de Tropicologia Gulbenkian) o livro Sociologia da medicina; em Nova Iorque (Knopf) a tradução da da Universidade Federal de Pernambuco, comparecendo às reuniões mensais do Conselho Fe­ "seminovela" Dona Sinhá e o filho padre: mother and son, a Brazilian tale; no Recife deral de Cultura e atendendo a convites de universidades européias e norte-americanas, onde é sempre recebido como o embaixador intelectual do Brasil. (Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais) a 2a edição deMucambos do nordeste e a 3a

edição do Manifesto Regionalista de 1926; em São Paulo (Arquimedes Edições) o livro O 1971 Recebe a 26 de novembro, em solenidade realizada no Gabinete Português de Leitura, do Reci­

a Recife, sim! Recife não! E no Rio de Janeiro (José Olympio) a 4 edição de Sociologia. fe, e tendo como paraninfo o Ministro Mário Gibson Barbosa, o título de Doutor Honoris Causa pela Universidade Federal de Pernambuco. Discursa como orador oficial da solenidade de inau­ 1968 Em 9 de janeiro, lê, no Palácio do Governo do Estado de Pernambuco, a primeira da série de guração, pelo Presidente Emílio Mediei, do Parque Nacional dos Guararapes, no Recife. A rai­ conferências promovidas pelo Governador do Estado para comemorar o centenário de nasci­ nha Elizabeth lhe confere o título de Sir (Cavaleiro Comandante do Império Britânico) e a mento de Oliveira Lima (incluída no livro Oliveira Lima, Dom Quixote gordo, publicado no Universidade Federal do Rio dejaneiro o grau de Doutor Honoris Causa em filosofia. Publica- mesmo ano pela Imprensa da Universidade de Recife. Viagem à Argentina e conferência sobre se aprimeira edição àaSeleta para jovens (José Olympio) e a obra Nós e a Europa germânica (Grifo Edições). Continua a receber visitas de estrangeiros ilustres na sua casa de Apipucos, Frente de Afirmación Hispanista do México, para distinguir, cada ano, uma personalidade dos devendo-se destacar as de Embaixadores do Reino Unido, França, EUA, Bélgica e as de Aldous meios culturais hispano-americanos. O cineasta Geraldo Sarno realiza documentário de cinco Huxley, George Gurvitch, Shelesky.John dos Passos, Jean Duvignaud, Lincoln Gordon, Roberto minutos intitulado Casa-grande & senzala, de acordo com uma idéia de Aldous Huxley. O Kennedy, a quem oferece jantar a pedido desse visitante. editor Alfred A. Knopf publica em Nova York a obra The Gilberto Freyre Reader.

1972 Preside o Primeiro Encontro Inter-regional de Cientistas Sociais do Brasil, realizado em Fazen­ 1975 Diante da violência de uma enchente do rio Capibaribe, em 17 e 18 de julho, lidera com Fernando da Nova, Pernambuco, de 17 a 20 de janeiro sob os auspícios do Instituto Joaquim Nabuco de de Mello Freyre, diretor do Instituto Nabuco, um movimento de estudo interdisciplinar sobre as Pesquisas Sociais. Recebe o título de Cidadão de Olinda que lhe foi conferido por Lei Municipal enchentes em Pernambuco. Profere, em 10 de outubro, conferência no Clube Atlético Paulistano tf 3.774, de 8 de março de 1972. Recebe, em sessão solene da Assembléia Legislativa do Estado sobre "0 Brasil como nação hispano-tropical". Recebe em 15 de outubro, do Sindicato dos de Pernambuco, a medalha Joaquim Nabuco, que lhe foi conferida pela Resolução tf 871, de Professores do Ensino Primário e Secundário de Pernambuco e da Associação dos Professores 28 de abril de 1972. Em 14 de junho profere no Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais do Ensino Oficial, o título de Educador do Ano, por relevantes serviços prestados à comunidade palestra sobre José Bonifácio. Profere, no Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais, as nordestina no campo da educação e da pesquisa social. Profere em 7 de novembro, no Teatro duas primeiras conferências da série comemorativa do centenário de Estácio Coimbra. Inau­ Santa Isabel, do Recife, conferência sobre o Sesquicentenário do Diário de Pernambuco. O gura-se na praia de Boa Viagem, no Recife, em 15 de dezembro, o Hotel Casa-grande & senzala. Instituto do Açúcar e do Álcool lança, em 15 de novembro, o Prêmio de Criatividade Gilberto 1973 Recebe em São Paulo o Troféu Novo Mundo, "por obras notáveis em sociologia e história" e o Freyre, para os melhores ensaios sobre aspectos socioeconômicos da zona canavieira do Nor­ Troféu Diários Associados pela "maior distinção anual em artes plásticas". Exposições de telas deste. Publicam-se no Rio de Janeiro suas obras Tempo morto e outros tempos (José Olympio), de sua autoria, uma no Recife, outra no Rio, esta na residência do casal José Maria do Carmo O brasileiro entre os outros hispanos (idem) e Presença do açúcar na formação brasileira Nabuco, com apresentação de Alfredo Arinos de Mello Franco. Por decreto do Presidente E. G. (I.A.A.). Mediei é reconduzido ao Conselho Federal de Cultura. Viagem a Angola, em fevereiro. A10 de 1976 Viaja à Europa em setembro, fazendo conferências em Madri (Instituto de Cultura Hispânica) maio, a convite da Assembléia Legislativa do Estado de Pernambuco, profere discurso no Cemi­ e em Londres (Conselho Britânico). Homenageado com a esposa, em Londres, com banquete tério de Santo Amaro, diante do túmulo de Joaquim Nabuco, comemorativo do Sesquicentenário pelo Embaixador Roberto Campos e esposa (presentes vários dos seus amigos ingleses, como do Poder Legislativo no Brasil. Recebe em setembro, em João Pessoa, o título de Doutor//o«orá Lord Asa Briggs). Em Paris, como hóspede do Governo francês, é entrevistado pelo sociólogo Causa pela Universidade Federal da Paraíba. Profere na Câmara dos Deputados, em 29 de novembro, conferência sobre "Atuação do Parlamento no Império e na República", na série Jean Duvignaud, na rádio e televisão francesas, sobre "Tendências atuais da cultura brasilei­ comemorativa do Sesquicentenário do Poder Legislativo no Brasil. Profere na Universidade de ra". Homenageado com banquete pelo diretor de Le Figaro, seu amigo e escritor e membro da Brasília palestra em inglês para o corpo diplomático, sob o título de "Some remarks on bow Academia Francesa, Jean d'0rmesson, presentes Roger Caillois e outros intelectuais franceses. andwhy Brazil is different". Em 13 de dezembro é operado pelo professor Euríclides de Jesus Em Viena, identifica mapas inéditos do Brasil no período holandês, existentes na Biblioteca Zerbini, no Hospital da Beneficência Portuguesa de São Paulo. Nacional da Áustria. Na Espanha, como hóspede do Governo, realiza palestra no Instituto de Cultura Hispânica, presidido pelo Duque de Cadis. Em Lisboa é homenageado com banquete 1974 Recebe em São Paulo o troféu Novo Mundo conferido pelo Centro de Artes Novo Mundo. Sua pelo Secretário de Estado de Cultura, presentes intelectuais, ministros, diplomatas. Em 7 de primeira exposição de pintura em São Paulo: 40 telas adquiridas imediatamente. A15 de mar­ outubro, lê em Brasília, a convite do Ministro da Previdência Social, conferência de encerra­

ço, o Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais comemora com exposição e sessão solene, a mento do Seminário sobre Problemas de Idosos. A Livrariajosé Olympio Editora publica as 16 os 40 anos da publicação de Casa-grande & senzala. Em 20 de julho profere no Instituto e 17" edições de Casa-grande & senzala e o IJNPS a 6a edição do Manifesto regionalista; 2a Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais conferência sobre a "Importância dos retratos para os edição portuguesa de Lisboa de Casa-grande & senzala. estudantes biográficos: o caso de Joaquim Nabuco". A 29 de agosto, a Universidade Federal de Pernambuco inaugura no saguão da Reitoria uma placa comemorativa dos 40 da Casa-gran­ 1977 Estréia em janeiro no Nosso Teatro (Recife) a peça Sobrados e mucambos, adaptada por de & senzala. A 12 de outubro recebe a Medalha de Ouro José Vasconcelos, outorgada pela Hermílio Borba Filho e encenada pelo Grupo Teatral Vivencial. Recebe em fevereiro, do em- baixador Michel Legendre, a faixa e as insígnias de Comendador das Artes e Letras da França. abrindo o Ia Seminário Internacional de Estudos Tropicais da Fundação Escola de Sociologia e Profere em março, no Seminário de Tropicologia, conferência sobre "O Recife eurotropical". Política. Publicação da obra Recife & Olinda, com desenhos de Tom Maia e Thereza Regina. A Profere na Câmara dos Deputados, em Brasília, conferência de encerramento do ciclo come­ Editora Nova Fronteira publicai/te & bugalhos. A Editora Cátedra publica Prefácios desgar­ morativo do Bicentenário da Independência dos Estados Unidos. Exibição, na Biblioteca Muni­ rados. A Ranulpho Editora de Arte publica^rte& ferro, com pranchas de Lula Cardoso Ayres. 0 cipal Mário de Andrade, de São Paulo, de um documentário cinematográfico sobre sua vida e Conselho Federal de Cultura publica Cartas do próprio punho sobre pessoas e coisas do obra - Da palavra ao desenho da palavra - com debates dos quais participam Freitas Brasil e do estrangeiro. A Editora Gallimard publica a 14a edição de Maitres et Esclaves, na Marcondes, Leo Gilson Ribeiro, Osmar Pimentel e Egon Schaden. Profere conferência na Câ­ coleção TEL. A Livraria Editora José Olympio publica a 19a edição brasileira de Casa-grande & mara dos Deputados, em Brasília, em 19 de agosto, sobre "A terra, o homem e a educação", no senzala. A Fundação Cultural do Mato Grosso publica a 2a edição áelntrodução a uma socio• Seminário sobre Ensino Superior, promovido pela Comissão de Educação e Cultura. Profere logia da biografia. conferência no Teatro José de Alencar de Fortaleza, em 24 de setembro, sobre "0 Nordeste visto 1979 0 Arquivo Estadual de Pernambuco, em março, a edição fac-similar do Livro do Nordeste. através do tempo". Lançamento em São Paulo, em 10 de novembro, do álbum Casas-grandes Participa, no auditório da Biblioteca Municipal de São Paulo, em 30 de março, da Semana do & senzalas, com guaches de Cícero Dias. Profere, no Arquivo Público Estadual de Pernambuco, Escritor Brasileiro. Recebe em Aracaju, em 17 de abril, o título de Cidadão Sergipano, outorga­ conferência de encerramento do Curso sobre o Sesquicentenário da Elevação do Recife à condi­ do pela Assembléia Legislativa de Sergipe. Homenageado pelo 44a Congresso Mundial de Escri­ ção de Capital, sobre "0 Recife e a sua autobiografia coletiva". Acolhido como sócio honorário do Pen Clube do Brasil. Inicia em outubro colaboração semanal na Folha de S. Paulo. A tores do Pen Clube Internacional, reunido no Rio dejaneiro, em julho, recebe a medalha Euclides livraria José Olympio Editora publica O outro amor do Dr. Paulo, seminovela, continuação da Cunha, sendo saudado pelo escritor Mário Vargas Llosa. Recebeu o grau de Doutor Honoris de Dona Sinhá e o filho padre. A Editora Nova Aguilar publica, em dezembro, a Obra escolhi­ Causa pela Faculdade de Ciências Médicas da Fundação do Ensino Superior de Pernambuco - da, volume em papel-biblía que inclui Casa-grande & senzala, Nordeste eNovo mundo nos Universidade de Pernambuco, em setembro. Viagem à Europa em outubro. Conferência na trópicos, com introdução de Antônio Carlos Villaça, Cronologia da vida e da obra e Bibliografia Fundação Calouste Gulbenkian, em 22 de outubro, sobre "Onde o Brasil começou a ser o que

a ativa e passiva, por Edson Nery da Fonseca. A Editora Ayacucho publica em Caracas a 3a edição é". Abre o ciclo de conferências comemorativo do 20 aniversário da Sudene, em dezembro, em espanhol de Casa-grande & senzala, com introdução de Darcy Ribeiro. As Ediciones Cul­ falando sobre "Aspectos sociais do desenvolvimento regional". Recebe em dezembro o Prêmio tura Hispânica publicam em Madri a edição em espanhol da Seleta para jovens, com o título Caixa Econômica Federal, da Fundação Cultural do Distrito Federal, pela obra Oh de Casa! de Antologia. A editora Espasa-Calpe publica, em Madri, Más allá de lo moderno, com prefá­ Profere na Universidade de Brasília conferência sobre "Joaquim Nabuco: um novo tipo de polí­ cio de Julián Marias. A Livraria José Olympio Editora publica a 5a edição de Sobrados e tico". A Editora Artenova publica Oh de Casa! A Editora Cultrix publica Heróis e vilões no mucambos e a 18a edição brasileira de Casa-grande & senzala. romance brasileiro. A MPM Propaganda publica Pessoas, coisas & animais, em edição fora do comércio. A Editora Ibrasa publica Tempo de aprendiz. 1978 Viagem a Caracas para proferir três conferências no Instituto de Assuntos Internacionais do Ministério das Relações Exteriores da Venezuela. Abre no Arquivo Público Estadual, em 30 de 1980 Em 24 de janeiro, a Academia Pernambucana de Letras inicia as comemorações do seu octogési- março, ciclo de conferências sobre escravidão e abolição em Pernambuco, fazendo "Novas mo aniversário, com uma conferência de Gilberto Osório de Andrade sobre "Gilberto Freyre e o considerações sobre escravos em anúncios de jornal em Pernambuco". Profere conferência trópico". Em 25 de janeiro, a Codepe inicia seu Seminário Permanente de Desenvolvimento, dedi- sobre "0 Recife e sua ligação com estudos antropológicos no Brasil", na instalação daXI Reu­ cando-o ao estudo da obra de Gilberto Freyre. 0 Arquivo Público Estadual comemora a efeméride, nião Brasileira de Antropologia, no auditório da Universidade Federal de Pernambuco, em 7 de em 26 e 27 de fevereiro, com duas conferências de Edson Nery da Fonseca. Recebe em São Paulo, maio. Em 22 de maio, abre em Natal a I Semana de Cultura do Nordeste. Profere em Curitiba, em 7 de março, a medalha de Ordem do Ipiranga, maior condecoração do Estado. Em 26 de em 9 de junho, conferência sobre "0 Brasil em nova perspectiva antropossocial", numa pro­ março, recebe a medalha José Mariano, da Câmara Municipal do Recife. Por decreto de 15 de moção da Associação dos Professores Universitários do Paraná. Profere em Cuiabá, em 16 de abril, o Governador do Estado de Sergipe lhe confere o galardão de Comendador da Ordem do setembro, conferência sobre "A dimensão ecológica do caráter nacional". Profere na Academia Mérito Aperipê. Missa cantada na catedral de São Pedro dos Clérigos do Recife, mandada celebrar Paulista de Letras, em 4 de dezembro, conferência sobre "Tropicologia e realidade social", pelo Governo do Estado de Pernambuco, sendo oficiante monsenhor Severino Nogueira e regente o padre Jayme Diniz. Inauguração, na redação do Diário de Pernambuco, de placa comemora­ 1981 A Classe de Letras da Academia de Ciências de Lisboa reúne-se, em fevereiro, para ouvir comu­ tiva da colaboração de Gilberto Freyre, iniciada em 1918. Almoço na residência de Fernando Freyre. nicação do escritor David Mourão-Ferreira sobre "Gilberto Freyre, criador literário". Encena­ ção, em março, no Teatro Santa Isabel, da peça-balé de Rubens Rocha Filho Tempos perdidos, Open housem vivenda Santo Antônio. Sorteio de bilhete da Loteria Federal da Praça de Apipucos. nossos tempos. Em 25 de março, recebe do embaixador Jean Beliard a rosette de Oficial da Desfile de clubes e blocos carnavalescos e concentração popular em Apipucos. Sessão solene do Légion d'Honneur. Inauguração de seu retrato, em 21 de abril, no Museu do Trem da Superin­ Congresso Nacional, em 15 de abril, às 15 horas, destinada a homenagear o escritor Gilberto tendência Regional da Rede Ferroviária Federal. Em 29 de abril, o Conselho Municipal de Freyre pelo transcurso do seu octogésimo aniversário. Discursos do presidente, Senador Luís Viana Cultura lança, no Palácio do Governo, um álbum de desenhos de sua autoria. Lançamento, em Filho, dos senadores Aderbal Jurema e Marcos Freire, e do deputado Thales Ramalho. Viagem a 7 de maio, no Museu Nacional da Quinta da Boa Vista, da edição quadrinizada de Casa-gran­ Portugal em junho, a convite da Câmara Municipal de Lisboa, para tomar parte nas comemora­ de & senzala, numa promoção da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Museu Nacional e ções do 4a Centenário da Morte de Camões. Conferência "A tradição camoniana ante insurgências Editora Brasil-América. Profere conferência, em 15 de maio, no auditório Benício Dias da Funda­ e ressurgências atuais". Homenageado, em 6 de julho, durante a 32a Reunião Anual da Sociedade ção Joaquim Nabuco, sobre "Atualidade de Lima Barreto". Viagem à Espanha, em outubro, Brasileira para o Progresso da Ciência, realizada no Rio de Janeiro. Homenageado, em 25 de para tomar posse no Conselho Superior do Instituto de Cooperação Ibero-americana, nomeado julho, pelo XII Congresso Brasileiro de Língua e Literatura, promovido pelas universidades esta­ que foi pelo rei João Carlos 1. duais do Rio de Janeiro e Universidade Federal do Rio de Janeiro. Em 11 de agosto, recebe do embaixador Hansjorg Kastl a Grã-Cruz do Mérito da República Federativa da Alemanha. Ainda 1982 Recebe em janeiro a medalha comemorativa dos 30 anos do Conselho Nacional de Desenvolvi­ em agosto, homenageado pelo IV Seminário Paraibano de Cultura Brasileira. Recebe o título de mento Científico e Tecnológico (CNPq). Profere na Academia Pernambucana de Letras confe­ Cidadão Benemérito de João Pessoa, outorgado pela câmara municipal da capital paraibana. rência sobre "Luís Jardim Autodidata?", comemorativa do octogésimo aniversário do pintor e Recebe o título do sócio honorário do Instituto Histórico e Geográfico da Paraíba. Em 2 de setem­ escritor pernambucano. Na abertura do III Congresso Afro-Brasileiro, em 20 de setembro, pro­ bro, homenageado pelo Pen Clube do Brasil com um painel sobre suas idéias, no auditório do fere conferência no teatro Santa Isabel. Em setembro, é entrevistado pela Rede Bandeirantes de Palácio da Cultura, Rio de Janeiro. Encenação, no Teatro São Pedro de São Paulo, da peça de José Televisão, no programa Canal Livre. Recebe do embaixador Javier Vallaure, na Embaixada da Carlos Cavalcanti Borges Casa-grande & senzala, sob a direção de Miroel Silveira, pelo grupo Espanha em Brasília, a Grã-Cruz de Alfonso, El Sábio (outubro). Profere no auditório do Palá­ teatral da Escola de Comunicação e Artes da USR Em 10 de outubro, conferência da Fundação cio da Cultura, em 9 de novembro, conferência sobre "Villa-Lobos revisitado". Profere no Nacio­ Luisa e Oscar Americano, de São Paulo, sobre "Imperialismo Cultural do Conde Maurício". De 13 nal Club de São Paulo, em 11 de novembro, conferência sobre "Brasil: entrepassados úteis e a 17 de outubro, Simpósio Internacional promovido pela Universidade de Brasília e pelo Ministé­ futuros renovados". A Editora Massangana publica Rurbanização: o que é? A Editora Klett- rio da Educação e Cultura, com a participação, como conferencistas, do historiador social inglês Cotta, de Stuttgart, publica a primeira edição alemã de Das Land in der Stadt. Die Entwicklung Lord Asa Briggs, do filósofo espanhol Julián Manas, do poeta e ensaísta português David Mourão- der urbanem Gesellschaft Brasiliens (Sobrados e mucambos) e a segunda de Herrenhaus Ferreira, do antropólogo francês Jean Duvignaud e do historiador mexicano Silvio Zavala. Recebe undSklavenhütte (Casa-grande & senzala). o Prêmio Jabuti, de São Paulo, em 28 de outubro. Recebe, em 11 de dezembro, o grau de Doutor Honoris Causa pela Universidade Católica de Pernambuco. Em 12 de dezembro, recebe o prêmio 1983 Iniciam-se em 21 de março - Dia Internacional das Nações Unidas Contra a Discriminação Moinho Recife. A Ranulpho Editora de Arte publica o álbum Gilberto poeta: algumas confissões, Racial - as comemorações do cinqüentenário da publicação de Casa-grande & senzala, com com serigrafias de Aldemir Martins, Jenner Augusto, Lula Cardoso Ayres, Reynaldo Fonseca e sessão solene no auditório Benício Dias, presidida pelo Governador Roberto Magalhães e com a Wellington Virgolino e posfácio de José Paulo Moreira da Fonseca. As Edições Pirata, do Recife, presença da Ministra da educação, Esther de Figueiredo Ferraz, e do Diretor-Geral da Unesco, publicam Poesia reunida. A Editora José Olympio publica a 20a edição brasileira de Casa-grande Amadou M'Bow, que lhe entrega a medalha "Homenagem da Unesco". Recebe em 15 de abril, & senzala, com prefácio do Ministro Eduardo Portella. A Editora José Olympio publica a 5a edição da Associação Brasileira de Relações Públicas, Seção de Pernambuco, o Troféu Integração por de Olinda. A Editora José Olympio publica a 3a edição da Seleta para jovens. A Companhia Editora destaque cultural de 1982. Em abril, expõe seus últimos desenhos e pinturas na Galeria Aloísio Nacional publica a 2a edição de O Escravo nos anúncios de jornais brasileiros do século XLX. A Magalhães. Viagem a Lisboa, em 25 de outubro, para receber, do Ministro dos Negócios Estran­ Editora José Olympio publica a 2a edição brasileira At Aventura e rotina. geiros, a Grã-Cruz de Santiago da Espada. Em 27 de outubro, participa de sessão solene da Academia de Ciências de Lisboa e da Academia Portuguesa de História, comemorativa do american intellectual life", promovida pelo Departamento de Línguas e Literaturas Românicas e cinqüentenário da publicação de Casa-grande & senzala. A Fundação Calouste Gulbenkian pela Comissão de Estudos Latino-americanos e Ibéricos. Realiza exposição na Galeria Metropoli­ promove em Lisboa um ciclo de conferências sobre Casa-grande & senzala (2 de novembro a tana Aloísio Magalhães do Recife: "Desenhos a cor: figuras humanas e paisagens". Recebe, em 4 de dezembro). Homenageado pela Feira Internacional do Livro do Rio dejaneiro, em 9 de agosto, o grau de Doutor Honoris Causa em Direito e em Letras pela Universidade Clássica de novembro. O Seminário de Tropicologia reúne-se, em 29 de novembro, para ouvir conferência Lisboa. Nomeado em setembro, pelo Presidente da República, para compor a Comissão de Estudos de Edson Nery da Fonseca, intitulada "Gilberto Freyre, cultura e trópico". Recebe em 7 de de­ Constitucionais. Recebe o título de Cidadão de Manaus, em 6 de setembro. Profere, em 29 de zembro, no Liceu Literário Português do Rio dejaneiro, a Grã-Cruz da Ordem Camoniana. A outubro, conferência na inauguração do Instituto Brasileiro de Altos Estudos (Ibrae) de São Pau­ Editora Massangana publica Apipucos: que há num nome? A Editora Globo publica lo, subordinada ao título "À beira do século XX". Em 20 de novembro, apresentação, no Cine a Insurgências e ressurgências atuais e Médicos, doentes e contextos sociais (2 edição de Bajado, de Olinda, do filme de Kátia Mesel Oh de Casa! Em dezembro viaja a São Paulo, sendo Sociologia da medicina). hospitalizado no Incor para cirurgia de um divertículo de Zenkel (hérnia de esôfago). A Editora José Olympio publica a 7a edição de Sobrados e mucambos e a 5a edição de Nordeste. 1984 Lançamento, em 20 de janeiro, de selo postal comemorativo do cinqüentenário de Casa-

grande & senzala. Viagem a Salvador, em 14 de março, para receber homenagem do Gover­ 1986 Em janeiro, submete-se no Incor a uma cirurgia do esôfago para retirada de um divertículo de no do Estado pelo cinqüentenário de Casa-grande & senzala. Inauguração, no Museu de Zenkel. Regressa ao Recife em 16 de janeiro, reclamando: "agora estou em casa, meu Apipucos". Arte Moderna da Bahia, da exposição itinerante sobre a obra. Conferência de Edson Nery da Em 22 de fevereiro,volta a São Paulo para uma cirurgia de próstata o Incor, realizada em 24 de Fonseca sobre "Gilberto Freyre, Casa-grande & senzala e a Bahia". Convidado pelo Gover­ fevereiro. Recebe em 24 de abril, em sua residência de Apipucos, do embaixador Bernard Dorin, nador Tancredo Neves, profere em Ouro Preto, em 21 de abril, o discurso oficial da Semana a comenda de Grande Oficial da Legião de Honra, no grau de Cavaleiro. Em maio, recebe da da Inconfidência. Profere em 8 de maio, na antiga Reitoria da UFRJ, conferência sobre "Al- Empetur o prêmio Cavalo-Marinho. Em agosto, recebe o título de Cidadão de Aracaju. Em 24 fonso X, o sábio, ponte de culturas", Recebe da União Cultural Brasil-Estados Unidos, em 7 de outubro, reencontra-se no Recife com a dançarina Katherine Dunhm. Em 28 de outubro é de junho, a medalha de merecimento por serviços relevantes prestados à aproximação entre eleito para ocupar a cadeira 23 da Academia Pernambucana de Letras, vaga com a morte de o Brasil e os Estados Unidos. Em 8 de junho, profere conferência no Clube Atlético Paulistano Gilberto Osório de Andrade. Posse em 11 de dezembro na Academia Pernambucana de Letras. sobre "Camões: vocação de antropólogo moderno?", promovida pelo Conselho da Comuni­ Recebe, em 16 de dezembro, o título de Pesquisador Emérito do Instituto de Pesquisas Sociais dade Portuguesa de São Paulo. Em setembro de 1984, o Balé Studio Um realiza no Recife o da Fundação Joaquim Nabuco. Publica-se em Budapeste a edição húngara de Casa-grande & espetáculo de dança Casa-grande & senzala, sob a direção de Eduardo Gomes e com músi­ senzala: Udvarhãz es szolgaszãllãs. ca de Egberto Gismonti. Recebe a Medalha Picasso da Unesco, desenhada por Juan Miro em comemoração do centenário do pintor espanhol. Em setembro, homenageado por Richard 1987 Instituição, em 11 de março, da Fundação Gilberto Freyre. Em 30 de março, recebe em Apipucos Civita no Hotel 4 Rodas de Olinda, com banquete presidido pelo Governador Roberto Maga­ a visita do Presidente Mário Soares. Em 7 de abril, submete-se no Incor do Hospital Português lhães e entrega de passaportes para o casal se hospedar em qualquer hotel da rede. Participa, a uma cirurgia para introdução de marcapasso. Em 18 de abril, Sábado Santo, recebe de D. na Arquidiocese do Rio dejaneiro, em outubro, do Congresso Internacional de Antropologia Basílio Penido O.S.B. os sacramentos da Reconciliação, da Eucaristia e dos Enfermos. Morre no e Práxis, debatedor do tema Cultura e redenção, desenvolvido por D. Paul Poupard. Home­ Hospital Português, às 4 horas da madrugada de 18 de julho, aniversário de Madalena. Sepul- nageado no Teatro Santa Isabel do Recife, em 31 de novembro, pelo cinqüentenário do 1- tamento no Cemitério de Santo Amaro, às 18 horas, discursando o Ministro Marcos Freire. Em 20 de julho, o Senador Afonso Arinos ocupa a tribuna da Assembléia Nacional Constituinte Congresso Afro-Brasileiro, ali realizado em 1934. para prestar homenagem à sua memória. Em 19 de julho o \oma\ABC de Madri publica um 1985 Recebe da Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe) a Homena­ artigo dejulián Marias: "Adiós a um brasileiro universal". Em 24 de julho, missas concelebradas, gem à Cultura Viva de Pernambuco, em 18 de março. Viaja em maio aos Estados Unidos, para no Recife, por D.José Cardoso Sobrinho e D. Heber Vieira da Costa O.S.B., e em Brasília, por D. receber, na Baylor University, o prêmio consagrador de notáveis triunfos (Distinguished Achievement Hildebrando de Melo e pelos vigários da catedral e do palácio da Alvorada. Coral da Universida­ Award). Profere em 21 de maio, na Havard University, conferência sobre "My first contacts with de de Brasília. Missa mandada celebrar pelo Seminário, com canto gregoriano a cargo das Beneditinas de Santa Gertrudes, de Olinda. A Editora Record publica Modos de homem e mo­ das de mulher e as segundas edições de Vida, forma e cor; Assombrações do Recife Velho e Apêndice 2 - Edições Perfil de Euclydes e outros perfis. A Editora José Olympio publica a 25a edição brasileira de Casa-grande & senzala. 0 Círculo do Livro publica nova edição de Dona Sinhá e o filho de Casa-grande & senzala padre. A Editora Massangana publicaPemambucanidade consagrada (discursos de Gilber­ to Freyre e Waldemar Lopes na Academia Pernambucana de Letras). Ciclo de conferências pro­ movido pela Fundação Joaquim Nabuco em memória de Gilberto Freyre, tendo como conferen- cistas Julián Mariás, Adriano Moreira, Maria do Carmo Tavares de Miranda e José Antônio Gonsalves de Mello (convidado, deixou de vir, por doença, o antropólogo Jean Duvignaud). Edições brasileiras Ciclo de conferências promovido em Maceió pelo Governo do Estado de Alagoas, a cargo de 1933 Casa-grande & senzala, Formação da famãia brasileira sob o regime de econo­ Maria do Carmo Tavares de Miranda, Odilon Ribeiro Coutinho e José Antônio Gonsalves de mia patriarcal. \- ed. Rio de Janeiro, Maia & Schmidt. Prefácio do autor. Desenho de Mello. Homenagem do Conselho Latino-Americano de Ciências Sociais, na abertura de sua XPV Cícero Dias. Assembléia Geral, realizada no Recife, de 16 a 21 de novembro.

1936 2a ed. Rio de Janeiro, Schmidt. Prefácios do autor. Desenho de Cícero Dias.

1938 3a ed. Rio de Janeiro, Schmidt. Prefácios do autor.

1943 4a ed. 2 vols. Rio de Janeiro, José Olympio. Prefácios do autor. Ilustrações de Thomaz Santa Rosa. Desenho de Cícero Dias.

1946 5a ed. 2 vols. Revista pelo autor e acrescida de notas. Rio de Janeiro, José Olympio. Prefá­ cios de autor. Ilustrações de Thomaz Santa Rosa. Desenho de Cícero Dias.

1950 6a ed. 2 vols. Revista pelo autor e acrescida de notas. Rio de Janeiro, José Olympio. Prefá­ cios do autor. Ilustrações de Thomaz Santa Rosa. Desenho de Cícero Dias.

1952 1- ed. 2 vols. Rio de Janeiro, José Olympio. Prefácios do autor. Ilustrações de Thomaz Santa Rosa. Desenho de Cícero Dias.

1954 8a ed. 2 vols. Rio de Janeiro, José Olympio. Prefácios do autor. Ilustrações de Thomaz Santa Rosa. Desenho de Cícero Dias.

1958 9a ed. 2 vols. Rio de Janeiro, José Olympio. Prefácios do autor. Ilustrações de Thomaz Santa Rosa. Desenho em cores de Cícero Dias. (Obras Reunidas de Gilberto Freyre)

196l 10a ed. 2 vols. Rio de Janeiro, José Olympio. Prefácios do autor. Ilustrações de Thomaz Santa Rosa. Desenho em cores de Cícero Dias. (Obras Reunidas de Gilberto Freyre)

1963 1 Ia ed. Brasília, Editora Universidade de Brasília. Prefácios do autor.

1964 12a ed. 2 vols. Rio de Janeiro, José Olympio. Prefácios do autor. Ilustrações de Thomaz Santa Rosa. Desenho em cores de Cícero Dias. (Obras Reunidas de Gilberto Freyre) 1966 13a ed. 2 vols. Rio de Janeiro, José Olympio. Prefácios do autor. Ilustrações de Thomaz 1990 27a ed. Rio de Janeiro, Record. Prefácios do autor. Ilustrações de Thomaz Santa Rosa e Santa Rosa. Desenho em cores de Cícero Dias. (Obras Reunidas de Gilberto Freyre) Poty. Desenho em cores de Cícero Dias. (Introdução à história da sociedade patriar­ -1970 l4aed. 2vols. Recife, Imprensa Oficial. Prefácios do autor edejosé Antônio Gonsalves de cal no Brasil)

Mello (vol. 1) e Jordão Emerenciano (vol. 2). Ilustrações de Thomaz Santa Rosa. Dese­ a 1992 28 ed. Rio de Janeiro, Record. Prefácios do autor. Ilustrações de Antônio Montenegro. Dese­ nho em cores de Cícero Dias. nho em cores de Cícero Dias. (Introdução à história da sociedade patriarcal no Brasil) 1969 15a ed. 2 vols. Rio de Janeiro, José Olympio. Prefácios do autor. Ilustrações de Thomaz 1994 29a ed. Rio de Janeiro, Record. Prefácios do autor. Ilustrações de Antônio Montenegro. Dese­ Santa Rosa. Desenho em cores de Cícero Dias. (Obras Reunidas de Gilberto Freyre) nho em cores de Cícero Dias. (Introdução à história da soríedadepatriarcal no Brasil) 1973 16a ed. Rio de Janeiro, José Olympio. Prefácios do autor. Ilustrações de Thomaz Santa 1995 30a ed. Rio de Janeiro, Record. Ilustrações de Antônio Montenegro. Desenho em cores de Rosa e Poty. Desenho em cores de Cícero Dias. Cícero Dias. 1975 17a ed. Rio de Janeiro, José Olympio. Prefácios do autor. Ilustrações de Thomaz Santa 1996 31a ed. Rio de Janeiro, Record. Ilustrações de Antônio Montenegro. Desenho em cores de Rosa e Poty. Desenho em cores de Cícero Dias Cícero Dias. 1977 18a ed. Rio de Janeiro, José Olympio. Prefácios do autor. Ilustrações de Thomaz Santa 1997 32a e 33a eds. Rio de Janeiro, Record. Prefácios do autor. Ilustrações de Antônio Rosa e Poty. Desenho em cores de Cícero Dias. Montenegro. Desenho em cores de Cícero Dias. 1977 Casa-grande & senzala em Obra escolhida, introdução de Antônio Carlos Vilaça. Cro­ 1999 34a, 35a, 368 e 37a eds. Rio de Janeiro, Record. Prefácios do autor. Ilustrações de Antônio nologia e bibliografia de Edson Nery da Fonseca. Rio de Janeiro, Nova Aguilar. Montenegro. Desenho em cores de Cícero Dias. 1978 19a ed. Rio de Janeiro, José Olympio. Prefácios do autor. Ilustrações de Thomaz Santa 2000 38a, 39a, 40a e 41a eds. Rio de Janeiro, Record. Prefácio do autor (Prefácios na 38a ed.). Rosa e Poty. Desenho em cores de Cícero Dias. Ilustrações de Antônio Montenegro. Desenho em cores de Cícero Dias. 1980 20a ed. Rio de Janeiro, José Olympio. Brasília, INL. Apresentação de Eduardo Portella. 2000 Casa-grande & senzala em Intérpretes do Brasil, coordenação de Silviano Santiago. Prefácios do autor. Ilustrações de Thomaz Santa Rosa e Poty. Desenho em cores de Cícero Rio de Janeiro, Nova Aguiar, 3 vols. Dias. 2001 42a, 43a, 44a e 45a eds. Rio de Janeiro, Record. Prefácio do autor. Ilustrações de Antônio 1981 21a ed. Rio de Janeiro, José Olympio; Brasília, INL. Apresentação de Eduardo Portella. Montenegro. Desenho em cores de Cícero Dias. Prefácios do autor. Ilustrações de Thomaz Santa Rosa e Poty. Desenho em cores de Cícero Dias. 2002 Casa-grande & senzala em Intérpretes do Brasil, coordenação de Silviano Santiago. Rio de Janeiro, Nova Aguilar, 3 vols, 2a ed. 1983 22a ed. Rio de Janeiro, José Olympio. Prefácios do autor. Ilustrações de Thomaz Santa Rosa e Poty. Desenho em cores de Cícero Dias. 2002 46a ed. Rio de Janeiro, Record. Prefácio do autor. Ilustrações de Antônio Montenegro. Desenho em cores de Cícero Dias. 1984 23a ed. Rio de Janeiro, José Olympio. Prefácios do autor. Ilustrações de Thomaz Santa Rosa e Poty. Desenho em cores de Cícero Dias.

1986 24a ed. São Paulo, Círculo do Livro. Prefácios do autor. Desenho em cores de Cícero Dias. Edições estrangeiras

1987 25a ed. Rio de Janeiro, José Olympio. Prefácios do autor. Ilustrações de Thomaz Santa Rosa e Poty. Desenho em cores de Cícero Dias. ARGENTINA

a 1989 26 ed. Rio de Janeiro, Record. Prefácios do autor. Ilustrações de Thomaz Santa Rosa e 1942 Casa-grande y senzala, Formación de la família brasilena bajo el régimen de Poty. Desenho em cores de Cícero Dias. {Introdução à história da sociedade patriar­ economia patriarcal. 2 vols. Buenos Aires, Ministério dejusticia e Instrucción Pública. cal no Brasil) Prólogo de Ricardo Sáenz Hayes. Trad. de Benjamin de Garay. Desenho de Cícero Dias. 1943 2a ed. 2 vols. Buenos Aires, Emecé Editores. Prólogo do autor. ALEMANHA

1965 Herrenhaus und sklavenhütte, Ein bild der brasiliannischen esellschaft. Berlin, ESTADOS UNIDOS Kiepenheur & Witsch. Prefácio de Hermann Mathias Gôrgen. Trad. de Ludwig Graf von 1946 The master and the slaves, A study in the development of brazilian civilization. New Schônfeldt. York, Alfred A. Knopf. Prefácios do autor. Trad. de Samuel Putnam. Desenho de Cícero Dias. 1982 2a ed. Stuttgart, Klett-Cotta. Prefácio de Hermann Mathias Gôrgen. Trad. de Ludwig Graf 1956 2a ed. New York, Alfred A. Knopf. Prefácios do autor. Trad. de Samuel Putnam. Desenho von Schônfeldt. de Cícero Dias. 1990 3a ed. München, Klett-Cotta. Prefácio de Hermann Mathias Gôrgen. Trad. de Ludwig 1964 3a ed. New York, Alfred A. Knopf. Introdução do autor. Trad. de Samuel Putnam. Graf von Schônfeldt.

1986 4a ed. Los Angeles, University of Califórnia. Prefácios do autor. Introdução de David H. P. Maybury-Lewis. Trad. de Samuel Putnam. ITÁLIA 1965 Padroni e schiavi, La formazione delia famiglia brasiliana in regime dí economia FRANÇA patriarcale. Torino, Giulio Einaudi. Introdução de Fernand Braudel. Trad. de Alberto

1952 l3 e 2a eds. Maitres et esclaves. Paris, Gallimard. Prefácio do autor e de Lucien Febvre. Pescetto. Trad. de Roger Bastide. VENEZUELA 1974 3a ed. Paris, Gallimard. Prefácios do autor e de Lucien Febvre. Trad. de Roger Bastide. 1977 Casa-grande y senzala, Formación de la família brasilena bajo el régimen de la 1978 4a ed. Paris, Gallimard. Prefácios do autor e de Lucien Febvre. Trad. de Roger Bastide. economia patriarcal. Caracas, Biblioteca Aycucho. Prólogo e cronologia de Darcy Ri­ 1997 5a ed. Paris, Gallimard. Prefácios do autor e de Lucien Febvre. Trad. de Roger Bastide. beiro. Trad. de Benjamin de Garay e Lucrecia Manduca. Ilustrações de Thomaz Santa Rosa e Poty. Desenho em cores de Cícero Dias. PORTUGAL

1957 Casa-grande & senzala, Formação da família brasileira sob o regime de econo­ POLÔNIA mia patriarcal. Lisboa, Livros do Brasil. 1985 Panowie i niewolnicy. Warszawa, Panstwowy Instytut Wydawniczy. Ilustrações de Poty.

1968 2a ed. Lisboa, Livros do Brasil. Desenho de Cícero Dias. Trad. de Helena Czajka.

1976 3a ed. Lisboa, Livros do Brasil. Desenho de Cícero Dias. HUNGRIA 1979 4a ed. Lisboa, Livros do Brasil. Desenho de Cícero Dias. 1985 Udvarhãz es szolgaszãllãs, A Brazil család a patriarchális gazdasági rendezerben.

a 1983 5 ed. Lisboa, Livros do Brasil. Introdução de Luís Forjaz Trigueiros. Desenho de Cícero Budapest, Goudolat. Trad. de S. Tóth Eszter. Dias.

1993 6a ed. Lisboa, Livros do Brasil. Introdução de Luís Forjaz Trigueiros. Desenho de Cícero ROMÊNIA Dias. 2000 Stãpâni sisclavi. Bucuresti, Univers. Prefácio de Olavo de Carvalho. Trad. de Despina 2001 7a ed. Lisboa, Livros do Brasil. Introdução de Luís Forjaz Trigueiros. Desenho de Cícero Niculescu. Dias. UNESCO índice remissivo 2002 Casa-grande & senzala. Edição crítica coordenada por Guillermo Giucci, Enrique Rodrigues Larreta e Edson Nery da Fonseca. Madrid, Barcelona, La Habana, Lisboa, Paris, México, Buenos Aires, São Paulo, Lima, Guatemala, San José. (Coleção Archivos, 55) A Alfabetização no Brasil método Valdetaro, 508 EDIÇÃO EM QUADRINHOS - P&B Abatiuí, 194 suas características, 508 Acalantes Algarve 1981 Casa-grande & senzala em quadrinhos. Rio de Janeiro, Brasil-América. Desenhos de afro-brasileiros, 410 conquista do, 274 Ivan Wasth Rodrigues. portugueses e brasileiros, 38, 39 Alimentação Acanijic, 194 nos climas quentes, tese de Sinval Lins, 139 1982 Primeira reimpressão da Ia ed. Rio de Janeiro, Brasil-América. Desenhos de Ivan Wasth Aclimatabilidade dos portugueses, 72 papel na diferenciação física e mental dos Aclimatação descendentes de imigrantes, segundo Franz Rodrigues. teoria de A. Osório de Almeida, 126 Boas, 35 1983 Segunda reimpressão da Ia ed. Rio de Janeiro, Brasil-América. Desenhos de Ivan Wasth Açorianos, 133 papel no vigor físico dos ingleses no séc. XVIII, 148 Açúcar Alimentação brasileira Rodrigues. base da riqueza colonial, 324 Amazonas, 140 conseqüências sociais de sua grande produção, 32 causas ecológicas e sociológicas do reduzido consumo de leite, ovos e vegetais, 105 EDIÇÃO EM QUADRINHOS - COLORIDA contraste entre as áreas açucareiras de Campos e do Nordeste, 134 críticas ao abuso de condimentos, 547, 549 2000 Casa-grande & senzala em quadrinhos. Rio de Janeiro, Brasil-América. Desenhos de moleza dos homens no Brasil, 517 criticas científicas, 140 papel assumido na História do Brasil e de Portugal deficiente e instável, 95, 104 Ivan Wasth Rodrigues. Colorização de Noguchi. no fim do séc. XVI, 275 dieta nutritiva dos paulistas, 94 europeização, 547, 548 2001 2a ed. Rio de Janeiro, Brasil-América. Desenhos de Ivan Wasth Rodrigues. Colorização de produção em Pernambuco no final do séc. XVI e começos do XVII, 516 influência na formação social do país, 96 Noguchi. "Afilhados" melhor qualidade dentro das senzalas (predileção por vegetais e legumes verdes), 549 a (filhos de padres), 533 2001 Primeira reimpressão da 2 edição em cores. Rio de Janeiro, Brasil-América. Desenhos África do Sul parecer de Josué de Castro e crítica de Gilberto Freyre, 149 de Ivan Wasth Rodrigues. Colorização de Noguchi. pesquisa da Comissão Camegie, 127 regiões onde houve maior influência africana, 543 Africanologia, 238 a séculos XVI e XVII, 101 2001 Segunda reimpressão da 2 edição em cores, patrocinada pela Companhia Hidroelétrica Afrodisíacos valor nutritivo, segundo Alfredo Antônio de de Pernambuco. Rio de Janeiro, Brasil-América. Desenhos de Ivan Wasth Rodrigues. afro-brasileiros, 408 Andrade, 148 condimentos africanos no Brasil, 547 Colorização de Noguchi. Alimentos brasileiros preparados por escravos macumbeiros, 408 críticas ao abuso de condimentos, 549 a Agradecimentos pessoais de Gilberto Freyre, 2001-2002 Terceira reimpressão da 2 edição em cores, patrocinada pela Companhia Energética de Ama negra 52, 53, 54 amolecimento das palavras da língua portuguesa Pernambuco, Grupo Iberdrola e Governo do Estado de Pernambuco. Rio de Janeiro, Agricultura colonial no Brasil, 414, 415 Brasil-América. Desenhos de Ivan Wasth Rodrigues. Colorização de Noguchi. dificuldades que o português encontrou, 77 contaminada de sífilis por aleitar os meninos Duarte Coelho e a, 86 brancos, 400 o que deve aos rios menores e regulares, 88 sua importância no Brasil, 444 razões de sua implantação no Brasil, 86 Amamentação Akpalô, 413 costume português das mães ricas confiarem-na a Albinágio, 273, 345 escravas, 443 Alcoolismo disgênico, 337 Amazônia Alemães conquista à espera do barateamento do pesquisa de 1900 sobre o seu enlanguescimento no ar-condicionado, 121 sul do Brasil, 74 culinária, 194 Bodoques de caçar passarinho, 224 Amendoí, 197 Azulejo espécie de Rússia americana, 114 América Inglesa origem e significado sociológico para Brasil e Bonecas de barro (indígenas) formação econômica e social: teoria de Ruediger procedência de seus escravos africanos, segundo Portugal, 300 e de pano (africanas), 204 Bilden, 397 UlrichB. Phillips, 388 Bororó formação histórica possível graças à colonização homossexualismo, 188 América Latina B latifundiária e escravocrata, 323 grupos de Ruediger Bilden, 159 pintura do corpo em cor encarnada, 175 formação inicial: ambiente de Botânica popular Analfabetismo no séc. XIX, 428 Bahia intoxicação sexual, 161 designação de grupos naturais no Brasil, 202 Anel de grau alimentação (falta de carne no séc. XVII), 147 formação social e cultural hispânica e católica Boxímanes reminiscência judaica, 307 centro de alimentação afro-brasileira mais (com forte influência mometana), 322 desprovidos de organização agrária, 392 Anglo-saxões importante, 543 formação social: processo de equilíbrio de em Pernambuco, no séc. XIX, 480 e os portugueses, 138, 157 comércio com cidades africanas, 391 antagonismos, 116, 231 Angola movimento de 1835,382, 393 nádegas salientes, 279, 396 "furor nativista" após a Independência, 540, 541 invasões e migrações que alteraram sua origem de seus negros, segundo George Gardner, Brasil História Social e Econômica: sentido a família rural por unidade básica, 85 que teria tomado segundo Varnhagen, população, 386 476 africanos: função civilizadora, 390 Animais sexo-mágicos, 408 sesmarias, 143 sem a escravidão, 323 antagonismos entre a atividade nômade e a "Anjinhos no céu" Baianos ideal de mulher gorda e bonita: fruto de influência agrícola, 99 moura, 299 origem jesuítica dessa superstição no Brasil biopsicologia, 372 árabes e moçárabes (contingentes que foram para influência moura sobre a colonização do Brasil, Colônia, 493 Baito, 188, 207 289 Antropogeografia, 72 Bananeira caauaçu, 193 o Brasil), 296 influências de culturas orientais (índia e China), Antropologia de Portugal, 118 Bananeira-de-são-tomé, 193 autocolonização do fim do séc. XVI em diante, 339 339, 340 Árabes Bandeirantes características do patriarcalismo, 435 "carta de paus puxada num jogo de trunfo em liberalidade em relação ao estrangeiro, 278 efeitos de sua invasão em Portugal, 288 fundadores de subcolônias, 88 forte presença no Brasil, 296,297,298,299 ouros", 275 língua falada nos dois primeiros séculos de origem racial, 42 miscigenação em Portugal, 287,292,293 clima no início do século XVI, 76 colonização, 219 Bandeirismo Arabu, 195 colonização comparada com a da América luta de classes na formação social do Brasil, 33 conquistas positivas e riscos a Áreas culturais Inglesa, 76 luxo asiático, 101 que expôs o Brasil, 89 africanas, 236, 237, 392, 393 comparação sociológica com Argentina e Estados maior civilização moderna nos trópicos, 267 estudos preliminares e definitivos, 137 da América, 369 Unidos, 77 moléstias cutâneas em princípios do séc. XIX, 401 Banho estudo de A. L. Kroeber, 369 condições de confraternização e de mobilidade mulheres, segundo Pyrard de Lavai, 513 de rio, 182 estudos de Melville J. Herskovits, 236,237, social peculiares, 117 "Nazaré das colônias portuguesas", 322 diário, 335, 340 369, 391, 392, 393 confraternização de valores e de sentimentos entre país americano onde mais se tem respeitado a frio, indígena, 181 Áreas culturais africanas, 392 a casa-grande e a senzala, 438 culturae os valores nativos, 231 Banzo, 553 Arianismo, 387 país de "clima adusto, provocativo de sensuais Beiju, 191 consangüinidade e incesto, 424 Arquitetura contraste com as possessões tropicais inglesas, torpezas", 515 Beneditinos e Carmelitas inovação representada pela casa-grande francesas e holandesas, 74 "país de Cocagne", 100 latifundiários no Brasil, 528 no Brasil, 35 culinária erotizada, 330 "país de cultura da floresta tropical", 212 Beribéri, 151 no Brasil, 36, 37, 38 culinária: origem dos doces de frutas, 315 "país de meninos armados de faca de ponta", 462 Bibliotecas, arquivos e museus pesquisados por Arte descobrimento, 83 política social prudente e sensata com relação ao Gilberto Freyre, 53 escravo, 439 de sangrar, 446 destinos do país como preocupação de Bicho povoamento: contraste biológico entre os origens, 188 Gilberto Freyre, 31 complexo brasileiro, 201, 211 colonizadores portugueses sulinos e os do Astrologia dos indígenas, 172 dificuldade de identificação da origem social a Astrologia médica em Portugal no séc. XVIII, 447 Biologia Norte, 298 partir do nome de família, 540 Atenas lamarckiana, 375, 377 propriedade: campo de conflito entre dispersão das propriedades com o passar das floração de gênios entre 530 e 430 a. C, 381 momentos em que serviu a política, 469 antagonismos violentos, 213 gerações, 338 Azeite weismanniana, 376, 377 protestantes convertidos ao catolicismo, 92 doçura nas relações de senhores com escravos importância sociológica do étimo árabe, 289 Biologia weismanniana, 374 religião: ponto de encontro e de confraternização domésticos, 435 Azeitona Blenorragia entre a cultura do senhor e a do negro, 439 enquadramento histórico, 275 importância sociológica do étimo árabe, 289 terapêutica no Brasil Colônia, 482 sécs. XVII e XVIII: depoimentos de ingleses e franceses sobre a vida no Brasil, 319 Caio Prado Júnior, 129 biopsicologia dos baianos, paraibanos etc, 372 Caligrafia senhoras coloniais, segundo François Coreal, 513 EmileBéringer, 109,151 constituição física: ação de doenças africanas, 399 importância na educação colonial, 508 senhores de engenho do séc. XVI, descritos por Euclides da Cunha, 137 costumes herdados dos indígenas, 162 Campos (RJ) Gabriel Soares de Sousa, 341 Francisco Adolfo de Varnhagen, 137 crença no sobrenatural, 212 importância sociológica da área açucareira, 134 G. S. Hall, 212 sifilização a partir do séc. XVI, 401 "culto faustoso de Vênus", 530 Cana-de-açúcar Gabriel Soares de Sousa, 144 sifilização acompanhando a civilização, 110 "descendentes dos comedores de rábanos", benção da Igreja na moagem, 524 Gilberto Amado, 141 solo: geologia, 77 segundo Clenardo, 528 conseqüências sociais da, 32, 93 HerbertSmith, 141 tendência favorável à ascensão diferentes dos reinóis, 36 efeitos para a saúde das pessoas que a consomem, Hermann Wãtjen, 143 social do negro, 503 duas metades confraternizantes, 418 J. E Normano, 136 569 terra da sífilis por excelência, 402 influência negra, 367 J.F.X. Sigaud, 152 fertilidade dos canaviais, 558 unidade política apesar da mobilidade naturalismo rude contrastado com as reticências James Bryce, 269 Canções de ninar, 204 dispersiva, 89 dos anglo-saxões, 331 João Ribeiro, 137 influência negra, 410 unidade política baseada no catolicismo, 92 notáveis, filhos ou netos de padres, 534 JohnWhitall, 277 norte do Brasil, 201 proximidade com a floresta tropical, 212 unidade política: papel do clima, 93 José Américo de Almeida, 150 portuguesas, 410 semelhanças entre os senhores brasileiros e os do unificação possibilitada pelo ódio aos hereges, 269 Josué de Castro, 149 Canudos Brasil Colônia sul do norte-americano, 519 Louis Couty e Joaquim Nabuco, 98 interpretação sociológica, 213 status: simulação de grandeza no vestuário, 529 administração (mecanismo), 92 Manuel Bonfim, 137 Capitalismo alimentação baseada na farinha de mandioca, 94 talentosos: origem fula, 386 Miguel Pereira, 140 divergências entre Max Weber e R. H. Tawney sobre contrastado com a África, 219 tipo físico: persistências mouras, 288 Morgado de Mateus, 141 filosofias e religiões, 242 cultura influenciada pelo Oriente, 123 vida íntima, 288 EJ.de Oliveira Viana, 105 Caráter português, 268, 285, 302, 321 cultura intelectual (focos de irradiação), 501 Bruxas portuguesas, 406 Oscar da Silva Araújo, 111 luxo de antagonismos, 68, 69 escassez de víveres frescos (animais padre Antônio Vieira, 101,149 Bugre modificado pelo contato com a África, 66 padre Baltasar Fernandes, 149 semântica da palavra, 189 e vegetais), 103 Caruru, 545 padre José de Anchieta, 101,149 escravidão negra: interesses a que atendeu, 389 Casa-grande generalização da vida pecaminosa, 100 padre Manuel da Nóbrega, 102 c ambiente no qual as sinhá-donas permaneciam maternidade: condições em que se efetuava, 443 Paulo Prado, 136 isoladas, 421 medicina indígena superior à portuguesa Pitirim Sorokin, 115 Cabeleira, 412 antro de perdição, 530 (depoimentos), 335 Pyrard de Lavai, 341 Cabidela, 364 arquitetura, 58 naus da índia aportadas no país René Ribeiro, 130 "Caboclas priápicas", 169 Sérgio Buarque de Holanda, 132 com salas de aula, 501 de 1500 a 1730,124 Caboclo Silveira Martins, 342 condições para sua construção, segundo pobreza no séc. XVI, 101 desconfiança e mutismo, 551 Sinval Lins, 139 saúde e alimentação, 98 exaltação lírica, 107 C. A Taunay, 60 Solidônio Leite Filho, 136 sistema econômico, 290 descrição de Louis Léger Vauthier, 58 Teodoro Sampaio, 135 inferioridade física e intelectual, 97 trabalho aos domingos, 527 pesquisa entre caboclos do Norte por deteriorização material por abandono e falta de Theodoro Peckolt, 141 conservação, 38 Brasil: depoimentos e/ou testemunhos históricos Viajantes médicos, 112 J. F. de Araújo Lima, 97 e a senzala A. Marcham, 143 Brasil e Estados Unidos semântica: mulato, 151 A. Osório de Almeida, 126 Caborés, 108 sistema econômico, social e político Abade Reynal, 102 comparação entre as respectivas cozinhas, 546 Cabra-cabriola, 199 no Brasil, 36 Alberto R. Lamego, 134 comparações entre os "estoques africanos", Cabras e a senzala: sistema socioeconômico adequado à Alberto Torres, 129 382, 387, 388, 391 nocividade à agricultura, 142 conjuntura, 323 Alfredo Antônio de Andrade, 148 comparações acerca da condição religiosa Café-mandingueiro e a magia sexual elogio de Pyrard de Lavai, 341 Alfredo Brandão, 130 dos escravos, 436 afro-brasileira, 408 existência verificada em várias regiões do Brasil, Alfredo Ellis Júnior, 106 Brasil Holandês Cafuzos, 108 43, 60 Antônio Martins de Azevedo Pimentel, 140 importância dos escravos negros, 385 Caiporismo, 172 expressão do caráter brasileiro, 45 Bispo de Tucumã, 102 trabalhos importantes de José Antônio Gonsalves Caju expressão do "poderio feudal" dos senhores, 38 Brandônio, 139 de Melo e de José Honório Rodrigues, 474 complexo alimentar, 196 habilidade para acolher um grande número de C.A.Taynay, 133 Brasileiros Calcanhar humano indivíduos, 435 C. F. P. von Martius, 106, 109 água (grandes bebedores), 547 calosidade: interpretação lamarckiana, 377 habitação de várias funções, 36,40 membros do clero tendo relações sexuais com hierarquia dentro dela, 43 depoimentos diversos sobre o comportamento ideal contrariado pela geografia brasileira, 87,88 higiene doméstica, 550 negras e mulatas, 530 sexual, 532 mestiços portugueses com duas cores de pêlo história social, 44 ordens latifundiárias, 528 elementos mais seletos e eugênicos na formação (elementos colonizadores do Brasil nos séculos hospitalidade, 37 procissão de quarta-feira de cinzas, 357 brasileira, 531 XVI e XVII), 281 influência arquitetônica sobre as igrejas, 57 santos militarizados, 304 fundamental no sistema de colonização, 284 minhotos, 281 mal-assombradas, 41,42 santos protetores do amor e do sexo que também padres amasiados ou amigados com negras e por indivíduos: caráter irregular e indefinido, 81 mobiliário, 560 se tornaram protetores da agricultura, 328 mulatas, 534, 535 portugueses: "Nação de homens mal parte do sistema de colonização e formação sob forte influência maometana, 394, 395 "vida pura e santa" de muitos, 533 nutridos", 313 patriarcal do Brasil, 440 totemismo primitivo latente, 200 vida sexual, pública e notória, 566 presença moura e moçárabe, 296, 297 substituta da Igreja no Brasil, 38,271 vitória da catequese: estratégia jesuítica, 200 "vida turca e debochada" de frades tendência dispersiva, 89 tipo novo de habitação, 35 Catolicismo luso-brasileiro e eclesiásticos, 530 traços feudais causados pelo sistema de capitanias tipo novo de habitação no Brasil, 43 militarização de alguns santos, 303 Clima hereditárias, 271 Casamento Catolicismo português e a sensualidade no Brasil, segundo D. Domingo Comadres parteiras, 446 dos homens, no Brasil patriarcal, 443 aculturação ao maometismo, 302 de Loreto Couto, 515 Complexo entre grupos, 240 modificações com a romanização da Península influência na formação e desenvolvimento conceito socioantropológico, 249 fato social na vida patriarcal, 432 Ibérica, 282 das sociedades, 75 Complexo brasileiro idade dos cônjuges: desproporção, 495 santos: erotização, 302 meios de lidar com seus efeitos, 75 bicho, 201, 211 idade em que casavam as moças brasileiras, 423 sécs. XVI e XVII: procissão de Corpus-Christi, 356 minimização antropogeográfica de seu papel, 152 Comunicação Casamentos sensualidade no culto ao Menino Jesus português, de Martone, 72 lei de, entre duas subculturas de níveis aristocráticos (critério de avaliação do noivo e à Virgem, 302 teoria de Leonard Williams, 374 diferentes, 202 baseado na sua capacidade procriadora), 559 Catolicismo sexual Clima tropical Comunismo do ameríndio e noção de propriedade consangüíneos no Brasil, 359,424, 425 "fricção sexual dos tempos pagãos", 328 correção de sua influência amolecedora, 66 privada do europeu, 213 precoces para as mulheres, 429, 430, 431,432 Cemitérios e casas-grandes Coca, 410 Consangüinidade no Brasil Colônia, 424 , 425 Casas-grandes mal-assombradas, 40, 41 reação dos higienistas, 526 Coco, 193 Couvade Catequese católica dos indígenas Cerâmica Código de Manu, 488 complexo de cultura característico das tribos Coimbra ação deletéria, 178 importância como arte indígena, 184 brasílicas, 186 "covil d'heréticos", 308 Catolicismo brasileiro Cérebro hipótese explicativa: bissexualidade, 186 Coivara, 165, 232, 261 artificialismo da catequese jesuítica, 225 peso e capacidade mental, 378 teoria sociológica, 246 Colégios de padres como os índios cumpriam as penitências, 208 Ceuta um dos traços culturais principais das tribos do co-educação de duas raças, 224 costume de padres benzerem engenhos, conquista de, 275 Nordeste e Brasil, segundo Whiffen, 165 corpo discente nos sécs. XVI e XVII, 501 Cozinha afro-brasileira 523, 524, 562 Chapéu-de-sol jesuítas: focos de irradiação de cultura no Brasil criminosos que freqüentam as igrejas, 485 generalização de seu uso, 364 analogias com a cozinha sulista norte-americana, Colônia, 501 546 culto dos santos: valor sociológico do estudo das Chinês: peso do cérebro, "Colônia de plantação", 79 depoimentos de seus defensores, 549 promessas, 485 Ciência Colonização doçaria de rua, 543, 544 culturação dos negros pelos brancos, 439 conseqüências do ceticismo em relação à, 376 agrária (papel dos portugueses, pontos de vista modos de preparo de quitutes, 544, 545 danças dentro das igrejas coloniais, 327 Cientificismo conflitantes), 56 nomes de grandes peritos, 545, 570 e a unidade política brasileira, 91 critica de Gilberto Freyre, 376 ajustamento de tradições e de tendências presença marcante do caruru e do vatapá, 545 enterros de negros, 527 Ciúme no Brasil Colônia, 421 no Brasil, 231 uso da pedra de ralar e da colher de pau, 544, 545 erotismo, 84 Clericalismo aristocrática no Brasil, 266 uso imoderado de condimentos, segundo Antônio fé católica como condição para ausência no Brasil, 271 autocolonização do fim do séc. XVI em diante, 339 José de Souza, 547 Clero brasileiro aquisição de sesmarias, 277 base: pureza de fé, 272 Cozinha brasileira castidade reduzida por causa do clima, segundo íesta de São Gonçalo do Amarante, 329 baseada na iniciativa particular, 80 arte refinada das pretas quituteiras, 55 franciscano: tipo de catequista ideal, 214 Richard Burton, 565 contraste entre a dos portugueses e a dos demais contato pessoal de Gilberto Freyre, 29 grande religiosidade dos senhores, 520, 521 comportamento sexual de padres e frades europeus, 73 depoimentos de críticos severos e de grandes jejum e abstinência: concessões comparado com o dos jesuítas, 532 equilíbrio de antagonismos, 69 entusiastas, 546 no Brasil Colônia, 523 contribuição liberal para o aumento da escassez de mulheres brancas no Brasil, 32, 61 exaltação dos pratos baianos por local de encontro entre brancos e escravos, 521 população, 534, 565, 566 fator vital, a família, 81 Gilberto Freyre, 30 heranças indígenas, 191, 192, 194, 196 degradação da cultura atrasada (nativa) causas sociais que afligiram as mães brasileiras no Engenho de moer cana modificação sofrida no séc. XIX devido à pelo contato com a cultura adiantada séc. XIX, 495 origem na azenha, 289 influência inglesa, 547 (européia), 177 depoimento de C. F. P. von Martius sobre as mais Ensino no Brasil processo de desafricanização no séc. XIX, heranças indígenas no Brasil, 162 freqüentes em São Paulo, 150 colégios de estrangeiros (depoimento de Lopes origens climáticas, 127 547, 548 hispânica, 322 Gama), 506 Criança indígena, 164 predominantes em 1835 no Rio de Janeiro, 553 colégios particulares após a Independência, 505 venéreas, 400 identificação sociológica com anjos, 203 moura no Brasil Colônia, 348 internatos depois de 1850, 506 Dolicocefalia e braquicefalia, 378 indígena, 218, 221, 222 raça e ambiente, 381 matérias lecionadas em 1858 em colégio Doutor na cultura primitiva, 198, 199 Culturas de Recife, 506 Enterros Criança brasileira "terremotos" ou explosões de sobrevivência, 213 mania luso-brasileira (reminiscência judaica), 307 de crianças, 450 doenças causadas pelo sistema econômico da Culumim, 198, 218 horários e rituais, 526 escravidão, 450 Cunha, 194 E modos de vestir os mortos, 526 fascínio pelos bichos, 201 Cuscuz, 299, 363 Cynotricbi, 387 "toalete dos defuntos", 526 histórias de bichos, 200 Economia Erisipela Crimes papel central no desenvolvimento das sociedades, tratamento com orações e óleo, 521 suas relações com o fator climático, 128 32 D Erotismo Criminalidade regime econômico de produção no sul a serviço do patriarcalismo, 456 identificação incorreta entre a de plebe urbana ou Danças eróticas norte-americano: escravidão e monocultura, 519 católico, 84 rural com a prática de feitiçaria, 484 relação com a sexualidade do homem indígena, Economia brasileira estudos etnológicos, I69 Cristãos e muçulmanos 169 circunstâncias que afetaram o desenvolvimento presença forte no cristianismo português, 302 influências mútuas, 118 relação inversa entre sua freqüência e sua da raça negra, 442 presente nos nomes de doces luso-brasileiros, 330 intensidade, 169 infiltração de cultura negra através Cristianismo no Brasil religioso, 328, 329 Datwinismo ortodoxo, 375 da culinária, 541 concessões aos negros, segundo João Ribeiro, 438 Escravas culumin como elo de contato entre o missionário Degredados intervenção do Governo Geral, 143 filhos amamentados por senhoras brancas, 539 razões pelas quais eram punidos, 82 patriarcal: prejuízo com a fácil dispersão da e o indígena adulto, 219,221 negras prostitutas, 538 versão de Azevedo Amaral e crítica de riqueza, 535 doméstico, lírico e festivo, 438 seleção das mais belas para amantes Gilberto Freyre, 82 sistema econômico da escravidão como causador escravos cristianizados à força, 436 dos senhores, 536 humano e lírico, por influência moura, 302 Degredo para o Brasil de vícios, 459 hipóteses a respeito, 83 Escravidão intimidade entre o devoto e o santo, 303 sistema econômico responsável pela deformação Democratização social do Brasil arquivos históricos (destruição por ordem liricamente social, 84 do negro, 403 dispersão fácil da riqueza no Brasil devido às de Rui Barbosa), 383 obra quase exclusiva dos jesuítas, 219 Economia colonial uniões de homens abastados com negras e atuante na deformação do negro, 397 sentimento dos senhores expresso nos testamentos divisão sexual do trabalho entre os indígenas, mulatas, 535 batismo em massa dos negros importados de de ternura pelos bastardos e negros, 524 183, 185 iniciativas de Minas Gerais, 554 Angola para o Brasil, segundo Henry Koster, 436 grande valor econômico e técnico da mulher Culinária possibilitada pela miscigenação, 33 Brasil e Estados Unidos: nível cultural dos negros indígena, 185, 189 africana (traço marcante na economia e na vida Diabo católico e o Jurupari indígena, 211 importados, 389 Economia portuguesa doméstica do brasileiro), 541 Diário de Pernambuco circunstâncias especialíssimas que modificaram papel da escravidão, 332 amazônica, 194 anúncios de 1825 a 1850 (valor antropológico), ou atenuaram os males do sistema no Brasil, Educação brasileira decadência das tradições culinárias no Brasil, 396, 479, 480 435 castigos infligidos aos alunos, 507 544, 547 anúncios de escravos fugidos, 529 comentário de Gilberto Freyre sobre experiência de Código do Bom-Tom, 509 portuguesa: abuso de açúcar, canela, especiarias Dieta José Bonifácio, 434, 435 de gema de ovos cozidos, 299 influência sobre o físico das populações, 95 no Brasil Colônia, em depoimento do costumes sociais que provocaram o aumento da Culto de Maria no Brasil, 407 , 485 Direito Canônico, 283 Padre Lopes Gama, 453 mortalidade infantil no Brasil, 450 Cultura Direito penal português nos séculos XV e XVI, 82 patriarcal: prejuízo e fácil dispersão da riqueza depoimento de José Bonifácio, em 1823,434 africana: presença na vida brasileira, 367 Direito português, 273 nos tempos coloniais, 453 depoimento de Montesquieu, 334 brasileira: riqueza dos antagonismos Doenças trabalho de Joaquim Jerônimo Serpa, 555 doméstica e a do eito: distinção necessária, 539 equilibrados, 418 advertência de L. W. Lyde sobre origens, 153 Èfeminados e a sexualidade de portugueses e dos brasileiros, de floresta tropical, 164, 166, 212 africanas no Brasil, 553, 572 papel sociológico nas tribos indígenas, 187 332 efeito de dispersão das propriedades após gerações protagonistas de assassinatos a mando de seus "figura boa da ama negra", 419 miscigenação com mulheres tupinambás, 346 ("pai rico, filho nobre, neto pobre"), 338 donos, 557 história íntima e sua documentação, 45 tentativas de fixação no Brasil, 74 efeito deletério, segundo o Padre Lopes Gama, 433 saudável regime de alimentos dos sombra do escravo negro, 368 Franceses do Sul, 374 elemento marcante na formação econômica e escravos negros, 549 Família colonial Franciscanos social do Brasil, 397 tamanho dos órgãos sexuais, 518 organização patriarcal, 435 perfil psicossociológico, 215 em Portugal: testemunho de tratamento doce recebido no Brasil: fruto de órgão da formação social brasileira, 85 preferência de Gilberto Freyre por eles em Alexandre Herculano, 399 influência moura, 298 patriarcal e semipatriarcal (unidade detrimentos dos jesuítas, 216 vestuário dos escravos domésticos, 529 estatística referente à Pernambuco, no séc. XVI, 365 colonizadora, 130 Fuero Juego, 283 Espanha exigência do meio e das circunstâncias rural, 80 Fulas precocidade sexual dos jovens no séc. XVII, 333 no Brasil, 322 variedade de funções, 85 fula-fulos, os "negros de raça branca", 387 regime alimentar deficiente (teoria de Pompeyo leis brasileiras, 51 Família patriarcal pretos de raça branca, 386 política social seguida no Brasil, 439 Gener), 317 constituição especial no Brasil, 84 relação com o clima, 335 sécs. XVI e XVII: tolerância em relação a formas de união de sexos e organização da, 130 relação direta com a depravação sexual, 399 mancebia, 325 Famílias extrapatriarcais e extracatólicas, 130 G Espanhóis semelhanças entre o sul dos EUA e o Brasil, 31 Faquires masoquistas, 187 análise da sua ação colonial, 122 Genealogia brasileira tráfico negreiro: intimidade entre Brasil e África, 391 Farinha de mandioca destruidores das culturas americanas, 157 superficialidade dos estudos no tempo transformação mórbida em Portugal com o exaltação mística, 148 Espanhol do Império, 337 mercantilismo, 332 fabricação indígena, 190 imagem de colonizador, 265 Genética clássica Escravos valor alimentício, 148 Estados Unidos debates com o mitchourianismo, 468 afeição entre mucamas e nhonhôs brancos, 437 Fazendas de café de São Paulo, 473 comparação entre o sul e o norte, 460 Genética do povo brasileiro africanos de cultura mais adiantada: elementos Feitiçaria doenças venéreas durante o séc. XIX, 400 ativos e criadores na colonização do Brasil, 390 afrodisíaca no Brasil, em associação com os santos híbridos de negros com índias, 108 o "deep South" e suas semelhanças africanos: predominância na cozinha, 541 católicos, 326 imbreedings no Nordeste, 336 alimentação boa, 96 com o Brasil, 30 suposta imunidade absoluta do sertanejo à opinião de Gilberto Freyre sobre nomes com crianças, 203 anúncios de escravos fugidos, 529 cultura indígena, 165 influência africana, 108 anúncios publicados em jornais do séc. XIX (valor de cidades, 485 Genética humana e a questão da procedência de seus escravos africanos, segundo motivação amorosa no Brasil, 406,407, 409 sociológico), 479, 480 consangüinidade, 359 Ulrich B. Phillips, 388 origem, 405 batizados e constituídos em família (nomes que Genética Soviética Estatura e alimentação, 373 Festas juninas adotavam), 539, 540 e a Sociologia biológica ocidental, 468 Esteatopigia, 279, 396 função sociológica no Brasil, 326 casamento entre eles (oposição de alguns Estradas de Ferro Figas Geofagia senhores), 539 conseqüências no séc. XK, 500, 506 origens, 203 métodos de tratamento do vício, 451 cristianização forçada no Brasil, 436, 437 Eugenia, 435, 468, 531, 533, 534, 535, 536 Folclore sexual, 409 vício adquirido pelos meninos brancos no contato defesa de seus senhores nas lutas entre famílias, 426 relação com as condições sociais e econômicas, 32 Frades com os moleques, 451 diferenças de tratamento dispensado entre os do Europeização do Brasil e o contato com as culturas alimentação regular e perfeita, 313 Gosto de mando, 114 eito e os domésticos, 539 indígenas e africanas, 115 donos de fazendas, 312 Gramática brasileira discussão sobre a área de cultura de procedência Europeus e padres acompanhados de "mulheres da vida", 533 influências africana, 417,418 dos escravos importados para o Brasil, degenerescência no Brasil, 338 e padres: grandes procriadores, 325 Guerras 381, 382, 383, 384, 385, 386, 387, 392, 393 Exercícios Espirituais elementos criadores e ativos no tempo dos contra os índios, 226,269 doenças africanas que foram para o Brasil, 553 críticas de Hermann Müller e de Houston S. afonsinos, 312 motivações religiosas, 269, 270 domésticos: melhor assistidos, 539, 567, 568 Chamberlain, 116 enredeiros e fofoqueiros, 510 estudo de Rui Coutinho sobre sua alimentação no Exogamia Brasil, 571 grandes agricultores, 312 totemismo, 171 H leitores do Alcorão na Bahia, 394 grandes proprietários de terras e de escravos, 528 negros dos "estoques" mais adiantados, mais histórias sobre as uniões deles com freiras, 331 Havaí importantes para a formação econômica e F polígamos, 292 análise sociológica de Andrew Lind, 144 social do Brasil que os indígenas, 370 senhores de engenho, 528 colonização anglo-americana, 74 ordens religiosas (como os tratavam), 528 Família brasileira Franceses Heré (ou chéchére), 395 organizações em que se reuniam, 439 estrutura patriarcal, 435 descendência com índias no séc. XVI, 162 Hereditariedade e ambiente, 380 índias brasileiras Homossexuais dizimados com o trabalho nas lavouras de cana- Hibridização masoquismo, 113 de-açúcar, 229 posição de mando nas sociedades primitivas, 187 papel na colonização do Brasil, 75 nuas nas casas-grandes no séc. XVII, 244 do Brasil: em estado de semicivilização quando Homossexual ismo Hierarquia social no Brasil Colônia Indígenas comparados aos indígenas da América depoimento de Frutuoso Pinto da Silva, esposa e filhos quase no nível dos escravos, 509 agricultura rudimentar, 26l Hispânica, 158 em 1864, 507 Higiene agricultura: plantio de amendoim, 197 doenças a que se expunham devido aos animais, freqüente em várias sociedades primitivas da escolar, 506 ao tempo do Descobrimento, 86 250 América, 188 infantil (campo doloroso de adaptação dos asseio do corpo, 181, 182 efeitos nocivos à saúde indígena resultantes do origens entre os indígenas, 207 contato com os europeus, 227 europeus aos trópicos), 448 práticas no séc. XVI, 248 asseio impecável, segundo Jean de Léry, 210 escravos: fracasso como tal, 230 sexual nos internatos, 507 Hotentotes ausência de castigo corporal e disciplina paterna expedições de captura deles, 226 Higiene corporal em Pernambuco, no séc. XIX, 480 ou materna, 208 falta de correspondência dos indígenas à catequese contraste entre a imundície dos cristãos e a especialistas na criação de gado, 392 aversão ao calor, segundo Henry Walter Bates, 370 limpeza dos maometanos, 301 berço para as crianças, 248 jesuítica, 214, 217 nádegas salientes, 279, 396 contrastes entre indígenas e europeus, 181 bibliografia etno-sociológica, 234 ginástica, 208 Higiene pré-natal e infantil nas casas-grandes e bonecas de barro, 204 higiene bucal, 197 senzala, 445 I brinquedos das crianças (aves amansadas servindo homossexualismo e pederastia, 188 História do Brasil de boneca), 166 importância das mulheres velhas, 184 laias solteironas, 458 documentos para o estudo da vida privada, brinquedos de barro feitos para as crianças, 204 inadaptabilidade do homem ao trabalho na Iconografia da escravidão e da vida patriarcal, 50, 62 45, 46, 47, 61 cantigas de ninar, 204 lavoura açucareira, I63, 230 Idolatria no Brasil Colônia, 241 forças sociais: "unionismo", 90 casas secretas dos homens, 207 indústria, 184 Igreja Católica Governo Geral (finalidade de sua criação), 92 castigos dados aos recapturados, 226 inferiores culturalmente aos africanos, 323, 355 comentário de Gilberto Freyre sobre a expressão luta de classes (teses conflitantes entre si de F. J. de como explicavam o nascimento da criança, 246 influência sobre a língua portuguesa, 220 "vá queixar-se ao bispo", 270 Oliveira Viana e Astrojildo Pereira), 355 comunismo tribal, 213 jogos e danças: intuito pedagógico, 206 conflito de interesses com senhores de escravos, nepotismo em choque com clericalismo, 85 conceito que tinham a respeito dos animais e dos jogos eróticos entre as crianças, 205 527 romances brasileiros como fontes para o estudo da homens, 166,167 jogos infantis, segundo padre Fernão Cardim, 205 cristianização forçada dos negros no Brasil, 436 vida privada, 49 contribuição da criança aos jogos infantis e liberdade, lenda da vida livre, 172 em Portugal: ordens religiosas com fins militares e medicina, 196, 197 ruralismo por imposição, 85, 86 esportes europeus (bola de borracha), 206 econômicas, 284 medo como ponto de apoio na pedagogia, 199 História social do Brasil contribuições para a formação da sociedade festas pomposas no Brasil Colônia, 529 moradias: ocas e respectiva população, 204 fontes para o seu conhecimento, 47 brasileira, 162, 163, 164, 166, 167, 175, heroísmo dos padres, 179 moral sexual: influência nas leis da Igreja, 170 Histórias portuguesas 190, 192, 193,194, 196, 197, 200, 206, influência deletéria sobre as culturas ameríndias, mortalidade infantil: aumento após o início da modificação no Brasil pelas negras velhas ou 211, 232, 263 catequese jesuítica, 203 amas de leite, 413 179 cor erótica das "mouras-encantadas", 125 mulher, base física da família brasileira, 162 Holanda papel socioeconômico na Reconquista, 311 crianças alegres, 209 poder desfrutado em Portugal e Espanha, após a mulher como elemento mais produtor que o imperialismo sucedido por fase de fabricação de crimes que reconheciam, 260 conversão dos godos arianos, 283 homem, 198 queijo e manteiga, 268 critério segundo o qual distinguiam entre si sombra matriarcal no Brasil Colônia, 100 mulher gentia: base da sociedade colonial, Holandeses no Brasil franceses e portugueses, 346 Igrejas 160, 161 carta de Henrique Dias, 384 culinária, 190, 192, 193, 194, 195, 196 centros de convivência profana no Brasil mulheres e os encargos domésticos, 182 estudos de José Antônio Gonsalves de Melo e de cultura moral, 167 patriarcal, 356 mulheres sexualmente superiores aos homens, 170 José Honório Rodrigues, 474 cultura: dissolução por efeito do contato com os "desinfetório" a serviço da saúde moral da nomes que davam aos filhos, 210 intenções de Nassau, 385 europeus, 158 Colônia, 277 "o Brasil é dos países americanos onde mais se tem pouca influência sobre a culinária, 146 culumins mestres dos próprios pais, 221 proteção aos criminosos, 271 salvo da cultura e dos valores nativos", 231 segundo Euclides da Cunha, 89 danças de diabo, 200 sepulturas "fedendo a podre", 526, 563 pajés: não aproveitamento de seus conhecimentos, uniões com mulheres brasileiras, 337 débitos dos portugueses em relação à cultura Imperialismo religioso 243 Homem tropical vegetal deles, 197 predecessor do econômico, 242 papel da educação moral e técnica do menino e pesquisa de A. Osório de Almeida sobre o "Direito público interno", segundo Clóvis Incesto onde se processava, 207 metabolismo basal, 126 Beviláqua, 260 indígenas brasileiros, 169 papel na formação econômica do Brasil Colônia, Homens èfeminados divisão de trabalho entre os sexos, 183 234 no Brasil Colônia, 424 teoria de R. Lowe Thompson, 247 parasitismo do homem, 186 ação dissolvente dos laços familiares, 242 segregação dos indígenas em missões: malefícios parte que cabe aos jesuítas em sua decadência, 178 adoção de métodos franciscanos, 216 distinção entre a falada na metrópole e a do Brasil do sistema, 224 parto das gestantes, 209 atitude desfavorável às relações sexuais entre os Colônia, segundo Alexander Caldcleugh, 415 segundo Alexander Chamberlain, 116 prática de pintar o corpo para evitar espíritos colonos e as mulheres africanas, 516 vácuo entre a escrita e a falada no Brasil, 220 sentimento favorável aos casamentos dos maus, 175 ausência de preconceitos de cor e de raça, 224 Língua tupi, 219, 220, 221, 222, 263 primeiros colonos com índios, 515 recém-nascidos: cerimônias com que eram "bons portugueses e talvez até bons semitas", 225 Lisboa sistema jesuítico: força de europeização cercados, 202 clericalismo conflitante com os políticos, 132 consumo de carne, 314 redução ao cativeiro e à prostituição, 515 comparados aos franciscanos, por técnica, 115 no séc. XVI, 352 relações sociais entre os sexos, 207 Gilberto Freyre, 216 "Jogo do beliscão", 452 Livro velho, 294 remédios e conhecimentos valiosíssimos para a conhecimentos de plantas e ervas absorvidos dos Jogo do bicho Livros de viajantes estrangeiros medicina oficial, 447 curandeiros, 335 dicas durante o sonho, 252 fontes importantes para o estudo da História Social saúde e alimentação: disenterias por abuso da contribuição para disparidade entre a língua origem, 206 do Brasil, 47 pimenta, 196 escrita e a falada no Brasil, 415 Jogos infantis e eróticos, 205 modo como Gilberto Freyre os considera, 62 sincretismo: diabo católico e Jurupari indígena, 211 contribuições para o processo de confraternização Judeus Loiros submetidos ao mercantilismo dos padres, 224 das raças no Brasil, 223 Brasil Colônia, 349 idealização deste tipo, 71 suor: meio de eliminar o demônio do corpo, 208 "donzelões intransigentes", 531 em São Paulo, 136 Lua superioridade sobre os europeus, no campo da e franciscanos como catequistas dos índios, 215 evolução de seu poder econômico em o luar e a saúde infantil, 447 higiene corporal, 180 e Inácio de Loyola, 115 Portugal, 285 vestuário à européia: conseqüências disgênicas de êxitos no Brasil, 115 grande força e sutil influência em Portugal, 306 sua imposição, 180 fracasso na América, 215 influência deseuropeizante no Brasil, 304 M violenta pedagogia para tratamento dos indígenas grandes escritores de cartas, 48 influência na História do Brasil, 34, 89 Macacos segundo padre José de Anchieta, 217 historiadores simpáticos e antipáticos a eles, 243 inimigos do trabalho manual, 307 lábios finos como os dos homens brancos, 378 índios e negros imitadores de muçulmanos, 116 mecânicos nas fábricas de açúcar, 80 Maçoca, 194 análises conflitantes entre si, 368 imperialismo religioso nos sécs. XVI e XVII, 242 mercantilismo: origens, segundo Max Weber, 305 Maconha comportamento contrastado, 371 imposição de uma gramática rígida miscigenação em Portugal, 293 denominações diferentes entre si, 479 Infância e adolescência no Brasil, 415 papel importante na formação do no Brasil Colônia, 457 depoimento pessoal de Gilberto Freyre, 479 influência do seu sistema de educação e de moral povo brasileiro, 69 segundo J.J. Rousseau, 198 Macumba, 409 sobre o Brasil, 90 papel na formação portuguesa, 120 Ingleses Mães-pretas, 435 influência letal sobre os indígenas brasileiros, na segundo João Capistrano de Abreu, 136 e franceses: contraste como narradores Magia negra avaliação de Gilberto Freyre, 179 "técnicos da usura": "especialização quase históricos, 513 influência puritana nos costumes sexuais, 178 estudo de Alfredo de Carvalho, 409 biológica", 305 recepção fraternal no Brasil, 276, 277 influência sobre os culumins, 218, 222, 223 estudos mal iniciados por Alfredo de Carvalho, 253 Juquitaia, 195 Iniciativa particular em Pernambuco, intelectuais da Igreja, 215 indígena, 202 no séc. XVI, 129 medidas sociais e morais que adotaram sexual afro-brasileira, 408 no Brasil, 179 L simpática, 247 menino indígena como veículo civilizador, Mal de sete dias, 445,450 J 198, 200, 218, 221 Ladinos, 440 Mal-assombração Japoneses mercantilismo, 224 Lamarckismo, 375, 377 causas de sua ocorrência nas casas-grandes, 40 grande desenvolvimento desde 1876,381 música, 223 Legumes verdes depoimento de Gilberto Freyre, 41, 42 Jê-Botocudo no Paraguai, 85, 255 desprezados pelos indígenas, 196 em Minas Gerais, 59 um dos grupos indígenas principais, 166 papel civilizador, segundo Joaquim Nabuco, 219 Lepra Mamelucos Jejum por vezes opostos ao familismo, 81 confusão com sífilis, 112 primeira geração em meados do séc. XVI, 162 abuso no Brasil Colônia, 104 presença física prejudicial à saúde dos indígenas, leucorréia, 495 Mandingueiros, 440 elemento de equilíbrio, 528 227 Leva-pancadas, 113 Mandioca em Portugal: razões políticas e econômicas, 316 racismo nas primeiras escolas no Brasil Língua portuguesa alimento fundamental do brasileiro, 191 Jesuítas combatidos no século XVII pelo rei de Portugal, africanização no Brasil, 416, 417 processo de preparo da farinha, 191 ação cultural no Brasil (interpretações 501 amolecimento no Brasil por influência africana, Mandonismo político no Brasil contraditórias), 254, 258 rivais dos senhores de engenho, 37, 272 414, 415 disfarces, 114 raízes, 113, 114 Monocultura Mantilhas Mineração e escravidão, 389 Mujanguê, 195 a propriedade monocultora foi elemento costume árabe no Brasil Colônia, 299 Minhoto Mujica, 249 fundamental na colonização portuguesa do Maracatus, 174 falta de higiene, 301 Mulata Brasil, segundo Caio Prado Júnior, 353 Máscaras demoníacas, 167 tipo físico português mais freqüente entre os ditado que comprova a preferência sexual do primeiros colonizadores do Brasil, 281 atuante na deformação do negro, 397 Masoquismo, 187 português, 72 conseqüências no Nordeste, 145 Miscigenação responsável pela antecipação de vida erótica do Mato Grosso debacle social conseqüente, 337, 339 ascensão social e econômica dos filhos bastardos rapaz brasileiro, 455 estudo da subárea de monocultura e latifúndio, e escravidão: confronto entre seus efeitos no Brasil, 537 tipo anormal de superexcitada genésica, 456 481 sociais no Brasil e noutras regiões colonos amasiados com negras no séc. XVII, 516 Mulatismo, 390 Medicina brasileira climáticas diferentes, 460 corretora das distâncias sociais no Brasil, 33 Mulato cor-de-rosa, 281 e o curandeirismo, 446 obstáculo à lavoura de alimentos, depoimento de Richard Burton e opinião de Mulatos indígena, 197 32, 33, 97, 149,342 Gilberto Freyre, 31 arrivismo dos portadores de bom nível cultural, de opinião de J.F.X. Sigaud, 196 depoimento do padre Manuel da Nóbrega, Monogamia, 167 Moquém, 194 poder e riqueza, 537 situação antes da segunda metade do se'c. XIX, 446 515, 516 Moral feminina brasileiros contrastados com os norte-americanos, teses de doutorado alarmistas sobre e sifilização no Brasil, 110, 111 442 consangüinidade, 336 eugenia dos filhos bastardos no Brasil, 536 a portuguesa e a indígena, 169 "caboclos", 151 Medos afro-brasileiros, 411, 412, 413 harmonia particular das relações raciais no Brasil, segundo John Mawe, 514 exaltados por José Américo de Almeida e Lafcadio Meios de transporte no Brasil, 160 sexual primitiva (interpretação de observadores), Hearn, 150 sécs. XVI a XVIII (palanquins de luxo, redes), 504 leis favoráveis e leis contrárias a ela no Brasil 170 Mulher brasileira Meninas brasileiras Colônia, 503 Moralidade brasileira conduta moral, 538, 539 conversas chulas, 433 séc. XIX, no Brasil, 390 opinião de Gilberto Freyre, 515 razão da sua submissão ao homem, 114 Meninas-moças suavizadora dos antagonismos existentes entre testemunho de Adolphe D'Assier, 559 sadismo em relação à negra, 420 educação e status no Brasil Colônia, 510 europeus e indígenas, 231 Mortalidade feminina no Brasil Colônia, 432 status no Brasil Colônia e no Brasil Império: Meninos brasileiros zonas de confraternização, 33 Mortalidade infantil mudança, 509 brinquedos e brincadeiras, 419, 452 Missionários abrandamento a partir da segunda metade do séc. Mulheres brasileiras comportamento diante dos adultos, 509 papel de comunicação, 137 XVI, 448 assassinadas por pais ou maridos, 511 conversas chulas, 433 simplismo, 218 Brasil Colônia, 203 aventuras amorosas das senhoras brancas, 513 depoimento de Alphonse Rendu, 499 Missões causas sociais no Brasil, segundo estudo de baianas, segundo Frézier e Froger, 513 depoimento dej. C. Fletcher, 499 critério funcional, 244 José M. Teixeira, 450 caracterizadas pela castidade, segundo Loreto iniciação sexual precoce nas zonas rurais, 495 jesuítas e franciscanas, 215 discussão sobre as suas causas no Brasil, Couto, 512 sadismo, segundo depoimentos, 453, 454 Mitchourinianismo, 468 no séc. XIX, 449, 450 estatística de 1822 a 1825,492 casamentos em idade precoce, 429, 432 séc. XIX: "homenzinhos à força desde os nove ou Mitomania, 336 Mitos brasileiros, 486 estatística de 1826,492 castidade conjugai: depoimentos, 513 dez anos, 499 Mixiria, 194 índice alto no Brasil Colônia, 448 diversos casos de negras virtuosas, 512 tristeza, segundo John Luccock, 500 Moçárabes, 286, 290, 291, 296, 298 mito do anjo que subia ao céu, 450 no séc. XVIII, segundo Mrs. Kindersley, 428 vestuário caseiro, 504 Modinha nas senzalas, 492 pureza das senhoras em virtude da prostituição Menstruação Morte de criança das negras, 538, 539 fatores raciais e climáticos, 334 origem, 222 Modinhas de engenho do Brasil, 424, 427 idealização, 202-204 sempre sentadas, segundo cronista holandês, 504 quando se inicia, em vários países, 358 Moleque brasileiro Mortos vestuário em dias de cerimônia, 504 Mestiços brasileiros função semelhante à do escravo púbere no enterro dentro de casa, 38 vivacidade: tendência para perda precoce desta, relação de alguns ilustres, 537 Império Romano, 113 Moura-encantada, 71, 125 Metabolismo basal do homem tropical 430, 431 papel sociológico, 419 Moura-torta teoria de A. Osório de Almeida, 126 Música primeiro companheiro de brinquedo, 367 origem da lenda, 71 Milho, 196 papel na catequese dos indígenas, 222 Moléstias venéreas Mourejar, 289, 320 Mimbaba, 167 Música brasileira orgulho dos rapazes no séc. XIX, 499 Mucamas Minas Gerais origem no conluio entre padres e culumins, 222 Monges invertidos prestígio na vida sentimental das sinhazinhas, iniciativas de democratização social no Brasil, 554 Musicalidade sublimação sexual, 187 423, 424 negros de traços delicados, 389 superioridade alemã, 381 tendência à braquicefalia no Brasil, 480 N mulheres frias, segundo Havelock Ellis, 398 O tipo antropologicamente inferior na condição de músicos no Brasil Colônia e no Brasil Império, 505 Negras escravos, segundo Oliveira Martins, 397 negros quilombos (ação europeizante, segundo Objetivos e metodologia do livro, segundo casos diversos de mulheres castas e virtuosas, 512 Negros Roquette-Pinto), 372 Gilberto Freyre, 50 conquista de respeito em relação aos senhores abrasileiramento, 441 predisposição biológica e psíquica para a vida nos Obscenidades brancos, 516 ação cultural no Brasil, 262 trópicos, 370 função, em Portugal, 331 doceiras, 543, 544 aquilombados, 108 professores, 503, 505 Ocas e mulatas: agentes da precocidade sexual dos cantos de trabalho e de festa, 551, 552, 572 protestantísmo: possível explicação da propensão casas-grandes de caráter comunista, 204 meninos, 455 cemitérios criados pelas Misericórdias, 563 para esta religião no Brasil, 394 Ordenações Filipinas condição escrava: explicação sobre a imoralidade e mulatas: degradação em virtude da escravidão, sepulturas nas praias, 527 sintonia com os interesses de procriação, 325 de seu comportamento no Brasil, 398 515 sexo e excitação artificial, 234 Ordenações Manuelinas conhecimento de árabe, 479 graça e beleza no séc. XIX, segundo testemunhos, superiores culturalmente aos indígenas, segundo pressionadas por preconceitos religiosos, 273 contraste com os índios, 229, 230 Afrânio Peixoto, 368 396 severidade, 82 contribuições (como escravos) para a formação da tipos raciais, 386 grandes contadoras de histórias, 413 sintonia com os interesses de procriação, 325 sociedade brasileira, 367,368,372,373, 392, traços físicos delicados observados por F.J de mulheres frias, segundo Havelock Ellis, Ordens religiosas e militares em Portugal, 283 397,399,402,408,409,410,411,413,414, Oliveira Viana, 389 "principais alcoviteiras" das aventuras amorosas 415,416,417,418,419,435,437,438,444, Negros e brancos dos senhores, 513 446,541,542,543,544,545,546,547,548, áreas de sudorese da pele, 370 P seminuas nas igrejas, 528 549,551 comparação a respeito das estruturas cranianas, Negro crueldades impostas aos moleques, 453 378 Padres agente patogênico na sociedade brasileira, 404 cultura: diferenças entre os que contribuíram para inteligência comparada, 379 e frades acompanhados de "mulheres da vida", 533 cristianização no Brasil: critica de Gilberto Freyre a formação histórica brasileira, 477 testes de inteligência com resultados elogio de Richard Burton, 565 ao parecer de Nina Rodrigues, 440 de ganho no Brasil: grande utilidade, 537 contraditórios, 380 filhos de padre e suas carreiras de sucesso, critério a partir do qual deve ser estudado no deformações físicas adquiridas no Brasil, 441 Negros e índios 535, 536 Brasil, 404 desafricanização no Brasil: métodos alimentação contrastada, 373 fundadores de famílias no Brasil, 533, 534, 566 deformado pela escravidão, 402 utilizados, 440 análises conflitantes entre si, 368 Padres "voadores" deformado pela escravidão e pela monocultura, diferenças de índole entre os grupos, 474 comportamento comparado por Alfred Russel referência aos missionários, 137 397 efeitos biológicos do tipo de vida levada Wallace, 371 Pajés estudos sobre a influência do negro na música no Brasil, 442 comportamento contrastado, 371 indivíduos efeminados ou invertidos, 186 popular brasileira, 572 eugenia: seleção para o serviço doméstico, 397 contraste como escravos, 322 Pamonha, 194, 329 estudos sobre o negro nas Américas espanhola e forças que atuaram sobre os recém-chegados, 440 danças contrastadas, 372 Pão francesa, 472 fugidos (papel cultural que desempenharam), 391 Neolamarckianos, 377 de gl andes, 314 estudos sobre o negro nos Estados Unidos, grandes mestres da cozinha brasileira, 542 Neolamarckismo, 375, 376, 467 de trigo e a farinha de mandioca, 190 471, 472 Guiné, 227 Nora, 288 Papagaio de papel, 224 higiene superior a dos indígenas da Oceania e da índice cefálico: estudos de Mariajúlia Pourchet, 480 Nordeste Papão América, 571 influência, na condição escrava, sobre a vida conseqüências nefastas da monocultura, 143 generalização entre todas as culturas homem fácil, plástico, adaptável, 371 íntima do brasileiro, 397 Nórdicos primitivas, 199 impossibilidade de separá-lo de sua condição de intermediários entre a cultura européia e a e sua adaptabilidade aos trópicos, 73 Paraíba escravo no Brasil, 398 indígena, 115 Norte-americano colonização, 519 influência amolecedora sobre a língua portuguesa libertos (profissões que exerciam), 550 obsessão pela situação dos problemas de sifilização crescente, 460 no Brasil, 414, 415 ligações espirituais morais e estéticas com a movimento, 248 Particularismo influência direta ou tênue em todo brasileiro, 367, família e com a cultura brasileira, 438 Nudez segundo Euclides da Cunha, 137 368 línguas faladas no Brasil, 385 origem do horror europeu à, 182 Passarinhos influência na formação do povo brasileiro, 106 línguas originais: dissolução no português Nutrição brasileira bodoques de caçar, 224 responsável pela alegria na "vida doméstica do brasileiro, 4l6 grande contribuição africana, 107 costume indígena de pegar, 205 brasileiro", 551, 552 maometanos: manutenção do contato com a precariedade e suas conseqüências, 34 Patriarcado monocultor e escravocrata superstição de sua maior proximidade com a África, 395 prejudicada pela monocultura, 34 existência verificada em diferentes partes do Brasil, forma ancestral do homem, 378 "metalurgistas natos", 476 qualidade nos primeiros séculos, 106 segundo vários autores, 145 Patriarcalismo Pernambuco casa: contraste entre as do sul e as do norte, 301 imperialismo: base na prosperidade adoção da cadeira de balanço, 519 depoimento do padre Fernão Cardim sobre casamento de juras, 325 dos judeus, 306 adoção de nomes fidalgos pelos escravos, 540 senhores de engenho que conheceu no séc. climática e geograficamente africano imperialismo: métodos, 330 amostra na preocupação de senhores com a "alma XVI, 341 e não-europeu, 72 importância dos jejuns, 316 do escravo de estimação", 527,563 foco de energia criadora, 73 colonização agrária do Brasil: esforço exigido indecisão étnico-cultural entre Europa e África, 67 choro dos negros pela morte de seu senhor, 526 opulência dos engenhos de açúcar, no séc. XVI, 147 superior às suas possibilidades, 325 interesses de procriação, 325 como se manifestava nos testamentos, 525 peste no séc. XVII, 447 colonização aristocrática e agrária no Brasil, 275 invasão árabe e suas conseqüências, 285, 288 como se manifestava nos testamentos dos riqueza e luxo nos sécs. XVI e XVII, 560 constituição social vulcânica, 278 invasões sofridas antes e depois do domínio senhores, 524 situação econômica antes da invasão contraste entre a influência árabe e a judaica, 289 romano, 282 destruído após a Abolição, 109 holandesa, 558 costume das mães ricas confiarem a judeus e a miscigenação, 293 do clero brasileiro, segundo Luís dos Santos terra favorável para a cultura do açúcar, 43 amamentação a escravas, 443 judeus: interesses econômicos, 305 Vilhena, 534, 535 Picaía ou cegonha crescimento demográfico motivado pelas leis, 325 latifúndio, 311 "figura boa da ama negra", 419 máquina para retirada da água dos poços, 288 cristianismo fálico, 326 legislação favorável aos filhos naturais, 325 marcado pela depravação sexual no Brasil, 456 Pigmentação cutânea e meio físico, 375 cristianismo marcado por sobrevivências pagas, 330 mania de grandeza, 268 moral sexual no Brasil, 538 Pimenta culinária afrodisíaca, 330 mercantilismo: origens e conseqüências, 321 ordem social amparadora dos escravos, 51 abuso do uso pelos indígenas, 195 culinária com influência mouras, 299 miscigenação árabe, 287, 292, 293 reclusão das antigas sinhá-donas, 421 Pintura profilática, 176, 177 culturas de base: a hispânica e a berbere, 321 miscigenação racial: invasão moura e berbere, 285 relação com as formas de tratamento no Brasil Piolho decadência econômica: causas, 319 mobilidade étnica vertical: judeus e mouros, 306 ("o senhor, a senhora"), 556 ocorrência comum no séc. XVI, 182 depoimentos de viajantes ilustres, 309, 312 mobilidade, segredo da vitória colonizadora, 70 sadismo nas relações entre senhores e escravos, 462 Pipoca direito penal severo, 82 mobilidade social, 286 semelhanças entre Brasil e Estados Unidos, 46l étimo, 194 distinção entre os banquetes e a alimentação nos senhores com numerosa prole, 443 Plantas medicinais indígenas, 335 monarquia e sua libertação do clero, 307 dias comuns, 315 sifilização, 401 Poder democratizador da miscigenação no Brasil, 33 nivelamento das classes sociais, 294 divisão em dois subpaíses (louro e moreno), 278 significado expressado pelas casas-grandes, 36 Poesia brasileira nobreza de "jõoes-sem-terra", 294 dolicocefalia e baixa estatura, 280 sistema de plástica contemporização, 35 origem no conluio entre padres e culumins, 222 nação decaída, 268 e Espanha: regiões de constante estado traço central da formação histórica brasileira, 34 Poligamia, 167, 334, 335 oceanidade e continentalidade, 321 de guerra, 333 união entre os moradores da casa-grande e os da Portugal papel das ordens religiosas, 283, 284 economia agrária: decadência propiciada pelo senzala, 435 aclimatabilidade, 72 pediatria no séc. XVIII, 447 mercantilismo, 320 Paulistas agricultura, 310 pesca durante a Idade Média, 316 elemento semito-fenício visto nas populações, boa dieta alimentar, 94 agricultura durante os tempos da dominação pestes no séc. XTV, 290 118, 120 potencialidade eugênica (diminuição por culpa da romana, 314 política colonial no Brasil: Governo Geral, 92 erotismo em todas as classes, 331 Igreja), 533, 534 agricultura: monocultura estimulada pela política de colonização constratada com a da escravidão: grande número de escravos, 318 Paxicá, 195 Inglaterra, 315 Espanha, 91 exagerado consumo de peixe seco e suas "Peças de Guiné", 227 agricultura: origem, 288 população ostentando falsa grandeza, 318 Pecuária brasileira alerta de Alexandre de Gusmão sobre a conseqüências, 316 população: "país em crise de gente", 325 expansão colonial: português como corruptor, e métodos de criação de gado de origem africana, 390 decadência, 318 potência marítima, 315 Pedagogia ameríndia, 199 alimentação: causas do empobrecimento do séc. não-vítima, 319 precoce ascendência da burguesia, 286 Pederastia XVII em diante, 315 formação agrária sólida, 310 presença moura e moçárabe, 297 libelo de 1864, de Frutuoso Pinto da Silva, 507 ambiente de luxúria entre militares nos frades: teoria de Ramalho Ortigão, 313 racismo dos jesuítas no Brasil: documento de nos baitos, 188 sécs. XV e XVI, 405 heranças moçárabes, 290 1686,501 Pediatria brasileira amor físico e anedotário obsceno, 331 higiene individual: cristãos e maometanos, 301 raízes judaicas do bacharelismo exagerado, 308 doenças da criança brasileira na escravidão, 450 antagonismos econômicos: coexistência de história étnica e política: interpretações falsas regime alimentar antes da ocupação romana, 314 estudo de José Maria Teixeira, em 1887,449 interesses agrários e comerciais, 320 sobre os judeus, 304 regime econômico após a Reconquista, 310 Peixe ao tempo da invasão romana, 282 história marcada pela miscigenação, reis e suas funções, 294 culinária indígena, 194, 195 bacharelismo exagerado, 308 279, 280, 281 reis enriquecendo com o tráfico de especiarias Perístase, 441 bruxaria, 406 histórico genético da população, 279 asiáticas no séc. XVI, 86 Pernambucanos burguesia marítima, 118 idealização errônea de Ramalho Ortigão sobre a relações comerciais (quando e com quem se atividade vertical, 126 carestia de vida, 318 alimentação, segundo Gilberto Freyre, 314 iniciaram), 274 remédios caseiros imundos transmitidos para o união de espírito de aventura ao de precaução, 119 Propriedade Recém-nascido Brasil, 447 vocação para a colonização agrícola discutida, campo de conflito no Brasil, 213 proteção mística, 409 retrato histórico traçado por Alexandre 351 Prostituição negra Recife Herculano, 67 xenófobo, segundo H. Handelmann, 272 e a moralidade branca, 538, 539 conto de ladainhas ao anoitecer, 520 sarracenos: conseqüências dos contatos xenofobia rara, 138 grande importância para o processo de vida marcada por vícios no séc. XVII, segundo com estes, 71 Português e espanhol miscigenação, 537 Pierre Moreau, 564 sociedade móvel e flutuante, 295 tese de Everett Stonequist, 121 no Rio dejaneiro do séc. XIX, 538 Rede testemunho de Clenardo sobre a alimentação no tese de Waldo Frank e posição de Proteínas "Brazil bed", 248 séc. XVI, 317 Gilberto Freyre, 119 classificação, 148 complexo da, 202, 251 testemunho lingüístico e semântico da influência Portugueses Psiquiatria brasileira elogio de Cristóvão Colombo, 248 árabe, 289 aclimatação no Brasil, 336 estudos sobre negros e índios, 464 estudo psicossociológico a ser realizado, 249 variedade de antagonismos, 278 alimentação no Brasil, 76,77 Puberdade função de berço, 202 rituais dos indígenas, 207 Portugal e Espanha ausência de preconceitos em relação aos indígenas no Brasil e nos Estados Unidos, 519 Puritanos, 74 diferenças e semelhanças, 321 (opinião de Henry Koster), 161 presença marcante no cotidiano dos senhores de Português colonização do Brasil: causas da vitória, 133 engenho, 518 capacidade de adaptação, 335 comparados com os colonizadores ingleses, 272 Reflexos pavlovianos, 376 colonização do Brasil: causa da sua vitória, 74 contraste entre as colônias africanas e o Brasil, 219 a "Reis do Congo", 439 colonizador contemporizador, 265 dualidade na cultura e no caráter, 285 Quibungo, 411 Remédios brasileiros contraste com o colonizador espanhol, 266 e os anglo-saxões, 138 Quinta medicina oficial e curandeirismo, 447 cosmopolitismo, 273, 274, 276 e espanhóis: ódio profilático aos hereges, 269 criação portuguesa, 352 Revolução Pernambucana de 1817 costumes e hábitos higiênicos no Brasil, 335 fundadores da agricultura brasileira: teses de no Brasil, 353 "a única digna desse nome", 213 "culto faustoso de Vênus", 530 Sérgio Buarque de Holanda e Gilberto Freyre, Revoluções brasileiras desamor pela terra e pela agricultura, 133 350 desordens propícias ao saque, 213 dificuldades encontradas na América tropical, 78 R liberais: interpretações de Sílvio Romero e de luxúria "no meio da indiada nua", 161 elogio da raça por Luís Pereira Barreto, 120 Gilberto Freyre, 212 miscibilidade, 70 Raça furor femeeiro, 113 Rio dejaneiro miscibilidade com árabes: contemporização social concepção neo-lamarckiana, 74 imoralidade no início do século XIX, segundo heterogeneidade étnica e cultural, 278, 280 entre vencidos e vencedores, 293 contatos entre as consideradas superiores e as idealização errônea de Ramalho Ortigão sobre a Alexander Caldcleugh, 558 ótimos lavradores e horticultores, 351 inferiores, 178 semelhanças com o Nordeste açucareiro, 482 alimentação, segundo Gilberto Freyre, 314 preferência pela mulher morena, 71 critérios de avaliação qualitativa, 377 imagem de colonizador: a meio caminho entre o Rio Grande do Norte sifilização no Brasil, 111, 113 degradação da raça atrasada (nativa) pelo contato inglês e o Espanhol, 265 colonização, 519 superioridade sobre os outros europeus, 73 com a raça adiantada (européia), 157 indecisão já pré-histórica entre Europa e África, Rio São Francisco teses conflitantes sobre a colonização agrária, 132 e clima (teoria de Leonard Williams), 374 278 e cultura (diferenciação proposta por Franz Boas), análise de Alberto Rangel, 135 vermelho no vestuário, 173 sua importância, 135 melancólico, 551 32 Povo brasileiro Rios brasileiros nacionalismo quase sem base geográfica, 274 e o meio social, 55 gosto pelo governo másculo e autocrático, 114 contraste entre os rios maiores e menores, 87 ódio ao espanhol, 268 "latino-americana", segundo Ernest Ludlow Povoamento do Brasil importância dos de pequeno porte, 135 ódio ao mouro, 269 Bogart, 77 baseado nos instintos de posse e de mando, 324 plasticidade social, 265, 278 nórdica: teoria lapougiana, 298 franceses no primeiro contingente, 162 plebeísmo, segundo Conde Hermann de Racismo Povos s Keyserling, 266 mito da superioridade nórdica, 471 apolíneos e dionisíacos, 372 predisposição para colonização híbrida, 66 nas escolas jesuíticas, 501 Sadismo brasileiro Pré-história nacional, 81 raça forte e adaptável a qualquer clima, 120 no Brasil em relação aos mestiços, 537 característico, 462 Pretos de raça branca, 385 romanização, 321 padres que se recusavam a casar branco com criado pela escravidão e pelo abuso do negro, 507 Prisão de ventre simulador de qualidades européias e imperiais, 268 negra, 503 das senhoras, 421 superioridade de raça: ausência deste sentimento, meio de compensação do homem introvertido, 246 Raquitismo, 148 dos senhores, 421 272 Professores Realismo econômico Samba tipo normal, dificuldades de definir, 68 "do tempo do Império", 509 herança portuguesa, 65 origem e deformação, 239 traços apontados por Montesquieu, 349 negros, 503, 505 sua função no Brasil, 70 sexualidade, 239 Santo Ofício brasileira: ambiente de intoxicação sexual no lingüística: verbo "comer" e outros, 357 "Sobrinhos" (filhos de padres), 533 em Portugal (origens do Tribunal), 284 início da colonização, l6l maricás (como era visto), 456 Sociedade colonial brasileira importância do estudo das confissões e denúncias brasileira: sombra do escravo negro, 368 masculina branca: "femeeiro", 456 no sentido de Sorokin, 126 reunidas pela visitação, 45 cantigas lascivas dos indígenas substituídas por masturbaçâo masculina, 455, 459 origem, 65 Santos hinos devotos, 205 medo que se fazia à criança que Sociedade portuguesa intimidade dos brasileiros com eles, 39, 303 casamento e concubinato em Portugal e no Brasil se masturbava, 493 dissolução moral após o séc. XV, 333 popularidade em Portugal, 326 Colônia, 502 o português e a mulher indígena, 168 Sociedades primitivas sexualização em Portugal, 326 causa da atração das índias pelos europeus, 160 órgãos genitais dos povos primitivos, 398 secretas, 188 São Paulo causas das rivalidades entre brancos e negros no preferência dos colonos por negras e mulatas no Sociologia genética e psicologia sexual aristocracia técnica colonial de origem moçárabe, Brasil, 444 início do séc. XVIII, 530 especialidades de Havelock Ellis, 168 298 clima tropical (ação intensificadora), 334 promiscuidade no Brasil, 131 Sodomia colonos amasiados com negras no séc. XVII, 516 foco de energia criadora, 73 pudor mórbido: casos de ato sexual praticado na Itália renascentista, 405 comentários sobre a lubricidade dos brasileiros, nobres exercendo ofícios mecânicos no séc. XIX, através de colchas, 490 no Brasil Colônia, 189,404 168 295 razões da superexcitação no Brasil, 334 Solo brasileiro comparações entre o português, o indígena e o núcleo brasileiro de maior contingente semita, 136 relações entre o conquistador europeu e a mulher pobreza de cálcio, 105 africano, 168 paulistas com características mouriscas, 288 índia, 113 Subcolônias dentro do Brasil, 88 comportamento do clero católico, 532 superioridade sobre o Rio de Janeiro e Norte, no relações entre sinhô-moços e mulatinhas, 424 Superstições contraste entre a prostituição doméstica e a dos campo da alimentação do povo, 105 relações sexuais entre brancos dos "melhores brasileiras, 250, 251 bordéis, 401 São Vicente estoques com escravas negras e mulatas", 531 no sul do Brasil, 412 contraste entre negros e europeus, 398 fundação, 129 semelhança entre a precocidade sexual observada Surrão, 413 contraste entre primitivos e civilizados, 171 Saúva, 323 no Brasil e no sul dos Estados Unidos, 461 criança, 113 sensualidade da mulher brasileira, segundo D. Semântica culto fálico, 240 Domingo de Loreto Couto, 514 T verbos trabalhar e mourejar, 320 "culto faustoso de Vênus" no Brasil, 530 uniões consangüíneas entre os indígenas, 169 Seminário das senhoras no Brasil, segundo John Mawe, 430 Tapioca, 192 vida sexual indígena marcada por tabus e de Olinda, 500 depoimento de Luís dos Santos Vilhena sobre "Tara étnica inicial", 81 impedimentos, 170, 172 de São José, no Rio de Janeiro, 500 "desordenada paixão sexual", 402 Tartaruga Senhores de engenho Sífilis depoimentos sobre o grau de excitação sexual dos complexo alimentar de herança indígena, 195 alcunhas de alguns, 36l como é vista no Japão, 112 negros, 456, 457 Taylorismo depoimento de Karl von den Steinen, 517 no Oriente, 112 depravação do menino brasileiro pela escrava arremedo brasileiro nos engenhos, 107 mais poderosos que vice-reis e bispos, 38 no sul dos Estados Unidos, no séc. XIX, 400 índia ou pela escrava africana, 399 Testes de inteligência, 379, 380 opulência e luxo, 340 proliferação na Europa, 182 ditado sobre brancas, mulatas e negras no Brasil, Tipóia, 202 pessoas quase feudais, 324 72 Sífilis no Brasil Tipologia psicológica e índios e negros, 371 testamentos, 524, 525, 526, 562 dos senhores no Brasil, segundo John Mawe, 514 ação sobre as negras, 400 Transporte maritimo vida morosa, 518, 519, 520 e bruxaria, 406 causadora do aumento da mortalidade infantil, 450 difusor de traços orientais no Brasil, 123 "vida de rede", 518 erotismo do português, 71 controvérsia sobre sua origem, 153 Senzalas europeus ilustres acusados de práticas estatísticas de crianças sifiléticas no séc. XIV, importância para Portugal, 122 alimentação de boa qualidade (predileção por homossexuais no Brasil, 404 estudos modernos sobre a, 483 interesses portugueses e brasileiros no séc. XVII, vegetais), 549 excessos sexuais dos degredados para o Brasil, 83 maior incidência entre brancos do que em negros 123 "corruptoras" da língua portuguesa, 417 grande incidência de gonorréia e sífilis no Brasil, e mestiços, segundo Oscar da Silva Araújo, 496 Tratado de Methuen, 315 escolas práticas de abrasileiramento, 400 "mulatos doentes", 34 Trigo índices consideráveis de mortalidade infantil, 492 homossexualismo no Brasil Colônia e o Santo origem francesa, segundo Oscar da Silva Araújo, vencido pela mandioca, 191 locais de culto islâmico, 393 Ofício, 405 111 Tupi presença de doenças africanas, 553 ibérica, 333 origem, segundo Milton Rosenau, 153 micção e defecção, 182 Sexualidade fndia: relação direta entre refinamento erótico e a terapêutica: depuração através de relações com sodomia, 189 abuso de negros por brancos no Brasil: causas, 404 categoria social superior, 403 negrinhas virgens, 400 um dos grupos indígenas principais, 166 associação do gozo do paladar com o gozo sexual, indígenas e o tamanho do pênis, 170 testemunho de J. F. X. Sigaud, 152 uniões incestuosas, 171 175,331 indígenas èfeminados ou invertidos (como eram testemunhos médicos do séc. XIX, 400 Tupinambá aventuras entre negros e sinhás brancas, 422 vistos pelos demais, 186 Sobrenatural no Brasil, 212 ausência de repressões dos pais aos filhos, 208 hipertrofia do pênis, 170 desleixo por parte dos portugueses, 301 homomixia, 188 dos escravos domésticos, descrito nos anúncios de índice onomástico "muitos bárbaros" de entendimento, 214 escravos fugidos, 529 repugnância pelas letras, 214 falta de adaptação ao clima no Brasil, 504 trabalho dos homens, 183 falta de adaptação no Brasil, 503 impróprio para o clima brasileiro nos sécs. XVI, Tutu de feijão mineiro, 549 XVII e XVIII, 503 A ALVES, conselheiro Rodrigues, 351 na Europa nos sécs. XVI e XVII, 340 AMADO, Gilberto, 141,481 ABBEVILLE, Claude d', 189, 245 AMARAL JÚNIOR, Amadeu, 486,627 U relação com a mortalidade infantil no Brasil, 450 simulação de grandeza no Brasil, 529 ABREU, João Capistrano de, 35,53,6l, 100,103,134, AMARAL, Amadeu, 410 Ulotrichi africani, 387 simulação de riqueza, 319 136,142,143,144,146,147,152,160,233,240, AMARAL, Azevedo, 81,82,83,89,110,111, Urucu Vida familiar no Brasil 242,243,244,476,554,578,579,587,590 131,137, 591 meio de proteção contra luz e calor tropicais, testemunho de Maria Graham, 425 ADORNO, Joseph, 430 AMARAL, Brás do, 475,627 173, 241 Vida sentimental das sinhazinhas, 422, 423 AGUIAR, Durval Vieira de, 135,575 AMARAL, F. P. do, 123,456,591 Vinagrada, 213 AGUIAR, Francisco Xavier da Costa, 534 AMARAL, Luís, 350, 591 Violão AGUIAR, Marquês de, 143,582 AMARAL, Vasquez, 262 V na vida musical patriarcal, 427 AINSWORTH, L, 497, 590 AMARANTE, São Gonçalo do, 84,302,326, Virgindade 327,328,329 Vatapá, 545 ALAFE, Pelágio Iban, 293 preconceitos em relação à, 429 AMORIM, coronel Paulo de, 359 Vermelho ALBUQUERQUE, Afonso de (o terrível), 405 AMORIM, padre, 566 cor comum no trajo das mulheres do interior, ALBUQUERQUE, Alexandre de, 351 ANCHIETA padre José de, 48,49,62,101,102,147, 173, 175 ALBUQUERQUE, Antônio José de Sáe, 362 z 149,161,168,169,171,205,214,217,221, preferência brasileira tem origem ameríndia, 175 ALBUQUERQUE, Catarina de, 360,494 240,244,247,256,260,365,429, 576,627 Vestuário Zoologia folclórica ALBUQUERQUE, Francisco Casado de Holanda ANDRADA, Martim Francisco de, 288,295,347 africano: sob forte influência maometana, 396 falta de designação de espécies animais, 202 Cavalcanti de, 61 ALBUQUERQUE, Jerônimo de, 110,132,36l, 425, 524, ANDRADE JÚNIOR, José Bonifácio Caldeira de, 507, 576 526 ANDRADE, Alfredo Antônio de, 141,148,627 ALBUQUERQUE, Manuel Cavalcanti de, 144 ANDRADE, Almirde, 133, 591 ALBUQUERQUE, Maria Maia de, 360 ANDRADE, Elói de, 473 ALEIJADINHO, 379 ANDRADE, Mário de, 239,572,627 ALENCAR, José de, 49, 50,590, 591 ANDRADE, padre Patrfcio Manuel Bueno de, 534 ALENCAR, padre Martiniano de, 566 ANDRADE, Rodrigo Mello Franco de, 54 ALIKHANIAN, S, 468,626 ANREP, G. V, 467 ALLPORT,GordonW.,465 ANSELMO (negro), 394,395,478, 552, 572 ALMEIDA A. Osório de, 126,241,463,626,627 ANTÃO, Santo, 181 ALMEIDA, José Américo de, 140,460,496 ANTÔNIA(escrava),437 ALMEIDA, Manuel Antônio de, 50,591 ANTONIL, padre André João, 142, 272,344,426,456, ALMEIDA, Miguel Calmon du Pin e, 61,576 474,487,490,496,517,530,539,567,577 ALMEIDA, Pires de, 224,257,262, 591 ANTÔNIO, Santo, 39,303,304,326,328,394,429, ALMEIDA, Renato de, 572, 591 480,492, 520 ALMEIDA, Tito Franco de, 475 APERT, 466,591 ALSTEIN, Pierre-Ignace-Liéven van, 617 AQUINO, Santo Tomás de, 248, 591 ALTAMIRA, Rafael, 118,591 ARAGÃO, Baltazar de, 362,364 ÁLVARES, Alberto, 344 ARAGÃO, Egas Moniz de, 456,496,591 ÁLVARES, Diogo, 110 ARAGON, 468,627 ÁLVARES, Siman, 147 ARAR1PE JÚNIOR, 389, 591 ALVAREZ, Fruitoso (Vigário de Matoim), 405 ARARIPE, Tristão de Alencar, 59,627 ÁLVARO Neto, 429,430 ARARUAMA Visconde de, 59 ALVES, Castro (Antônio C.A.), 473 ARAÚJO, André Dias de, 360 ARAÚJO, H. C. de Sousa, 191,249,627 BALLAGHEJ. C, 593 BECKFORD, William, 69, 267,312,354,408, BOULE, 345, 594 ARAÚJO, Oscar da Silva, 111,112,152,154,402,483, BANDEIRA, J. C. Sousa, 556, 568, 575, 593 427,488, 577 BOWMAN, Isaiah, 136,560,594 496,591,592 BANDEIRA, Manuel, 52,527, 545 BEDSFORD, Jay Barrett, 364,593 BRADFORD, 267 ARAÚJO, Rodolfo, 362 BANDEMBORG, 92 BEETHOVEN, 378 BRAGA, Teófilo, 119 ARCOVERDE, Dona Maria Espírito Santo, 425 BARATA, José" do Carmo, 54,355,492, 564, 593 BEJA, Sóror Mariana de, 59 BRAGANÇA, Mendes de, 293 ARGERIQUIZ, Egas Abdallah, 293 BARBALHO, coronel Fernão Bezerra, 511 BELL, Aubrey, 68,69,120,267,268,343, 593 BRANCO, Jorge de Castelo, 344 ARMITAGE, F. R, 34,56,139,373,466,592 BARBOSA, Clemente da Rocha, 361 BELO, Júlio, 52,151,361,577, 593 BRANDÃO JÚNIOR, F. A., 442,491,594 ARNOLD, Mathew, 485 BARBOSA, Francisco, 248 BENEDICT, Ruth, 56,238,354,372,466,469,593 BRANDÃO, Alfredo, 130,594 AROUCHE, General, 225 BARBOSA, Rui, 383 BENEDITO XV, 488, 541 BRANDÃO, Frei Caetano, 335,358 ARRAES, Monte, 637 BAREWEL, 92 BENGALA, Aragão, 362 BRANDÃO, Ulisses, 108,151, 594 ARRA1DE, Cristóvão de Mendonça, 137 BARLÉUS, Gaspar de, 54,384,428,474,488,577 BENTINCK, 92 BRANNEN, 0. C, 560,595 ARRAIDE, João Pais de Mendonça, 137 BARNES, Harry Elmer, 469, 593,603,610 BENTO, Padre, 541,566 BRANNER, John Casper, 546,570,628 ARROIO, Antônio, 119,592 BARRETO, Ana Delfina Pais, 36O BÉRINGER, Emile, 109,120,151,152,594 BRASIL, Moura, 483 ARROYO, Leonardo, 637 BARRETO, Antônio Alves Branco Moniz, 555 BERNARD.John, 465,559, 594 BRIFFAULT, Robert, 595 ARZAM,92 BARRETO, Antônio Francisco Xavier Pais, 362 BERNARDA, Maria, 52 BRITO PEIXE, 362 ASSiER, Adolphe d', 43,60,473,559,568,576 BARRETO, Carlos Xavier Pais, 359,360,488,627 BERNARDINELLI, W, 464 BRITO, Antônio Guedes, 99 ASSIS, Joaquim Maria Machado de, 49,453,495,537, BARRETO, Catarina de Mendonça Pais, 360,36l BERREDO, Bernardo Pereira, 146 BRITO, Lemos, 350,595 BARRETO, Cristóvão Pais, 359,362 592,613 BERTHELEMOT, 546 BROCE, P. A, 595 BARRETO, Estevão Pais, 359 ASTRUC, 112 BERTIOGA, Pascoal Barrufo da, 243 BROWN, Francis J, 138,352,595 BARRETO, Francisco de Paula Pais, 360,362,494 ATAÍDE, Tristão de, 138,592 BESTERMAN, Theodore, 239,597 BROWN, Isaac, 464, 595 BARRETO, João Francisco Pais, 360,362,489, 577 AULNOY, Mme. d', 333 BETHAM-EDWARDS, 556 BROWN, W. Langdon, 374,467,595 BARRETO, João Pais, 360,362, 512 ÁVILA, Bastos de, 480,592 BETHELL, Leslie, 637 BRÜHL, Levy, 256,595 BARRETO, José Carneiro Pais, 494 ÁVILA, Garcia d', 60,284 BEVILÁQUA, Clóvis, 232,260, 594 BRUNHES.Jean, 128, 595 BARRETO, José Maria Pais, 362 ÁVILA, Pires d', 41 BEYER, Gustavo, 150, 569 BRUNO, Emani Silva, 637 BARRETO, Luís do Rego, 559 AVILKINSON, Thomas, 277 BEZERRA, Alcides, lxvi, 62,589 BRYANT, A. T, 379,470,628 BARRETO, Luís Pereira, 120,570,627 AVIS, Mestre de, 118,275 BEZERRA, André, 63,628 BRYCE, James, 242, 269,343, 595 BARRETO, Manoel Xavier Pais, 359 AYALA, Francisco, 466,592 BEZERRA, Fernão, 511 BUCHANAN, 267 BARRETO, Maria Isabel Pais, 360 AZEVEDO, Belchior Mendes d', 483 BARRETO, Tobias, 537 BILDEN, Ruediger, 31,34,80,124,150,159,201,233, BUCKLE, 283,301,346,354,595,600 AZEVEDO, Fernando de, 592,637 BARROS, Francisco do Rego, 362 397,434,481,483,577,628 BURET, F, 154,595 AZEVEDO, João Lúcio de, 29,48,101,120,121,124, BARROS, Gama, 82,121,132 BURGESS,W,479, 577 146,226,256,259,260,270,274,286,289, BINGHAM, Hiram, 352,628 BARROS, J. Almeida, 566,627 BURITIS, 541 290,297,308,311,320,324,343,345,347, BOA VISTA, Barão da, 131 BARROS, J.J. Soares de, 121,593 BURLAMAQUI, F. L. C, 61,421,456,481,487, 568, 349,350,355,405,484,578, 592 BOAS, Franz, 31,32,34,35,55,57,377,378,379, BARROS, José do Rego, 362 577 AZEVEDO, Luís Correia de, 495,555,627 381,441,466,469,470,471,491,594,628 BARROS, Paulo de Morais, 593 BURTON, Richard F, 47,299,348,390,425,429,431, AZEVEDO, Pedro de, 91,138, 592 BOGART, Ernest Ludlow, 77,129,594 BARROSO, Gustavo, 459,496,593 BOLDRINI, M, 470 476,487,489,493,502,533,538,539,549, AZEVEDO, Tales de, 145,592 BARROW, John, 402 BOND,BeverleyW,628 559,564,565,567,569,571,577 BARTHOLIN, 409 BOND, Horace Mann, 472, 594 BYRON, 331 BASSET, John Spencer, 593 B BONFIM, Baronesa do, 490 BASTIDE, Roger, 251,481,637 BONFIM, Manuel, 85,89,90,132,137,161,164,233, BACALHAU, Seixas, 362 BASTO, Marquês de, 337,519 c 259,422,487,594 BACELAR, Manuel da Costa, 564 BASTOS, Silva, 118 BONIFÁCIO, José, 433,434,435, 594,637 BACO, 329,356 BATES, Henry Walter, 370,371,444,463, 577 CABELEIRA (O), 412 BOREY, Thomas, 277 BAENA, Antônio Ladislau Monteiro, 30,55, 577 BATISTA SãoJoão,302,303 CABO FRIO, Visconde de, 508 BORGES, Durval Rosa, 154,483,594 BAHIA, Arcebispo da, 434 BATISTA.V, 151, 593 CABRAL, padre Joaquim, 565 BAKER, John, 170,240, 593 BAUER, Erwin,468,470,471,593 BOSH,345 CABRAL, Pedro Álvares, 83,196,229,275 BAKER, Paul E, 472, 593 BAXTER, 34 BOTE, Mangue la, 341,364 CAETANO, Batista, 143 BAKER, Ray Stannard, 471,593 BEAN R, B, 378,593 BOTELHO, Adauto, 464 CAJU, Cel, 362 BALBI, Adrien, 121,577 BEARE, 0'Sullivan, 391 BOTELHO, Baltazar de Almeida, 359 CALABAR (Domingos Fernandes C), 337 BALFOUR, A, 125,627 BECKER, Jerônimo, 234,593 BOUDITCH, H. P, 55,628 CALADO, frei Manuel, 558, 577 CALDCLEUGH, Alexander, 415,432,486,489,558, CASCUDO, Luís da Câmara, 486,638 COMTE, Charles, 536,537,566,579 CUNHA, Euclides da, 89,107,108,135,137,249, 597 565, 577 CASEMENT.Sir Roger, 391 CONTENDAS, Baronesa de, 490 CUNHA, Francisco, 579 CALDERÓN, F. Garcia, 322 CASTELLANI, Aldo, 127,596 COOK,OF.,351,596 CUNHA, Higino, 576 CALHOUN, Arthur W., 368,461,463,482,496,497, CASTELO, Mana, 122,578,590 COREAL, François, 276,345,429,488, 513, 520,557, CUNHA, Mário Wagner Vieira de, 239, 597 561,579 531,595,605 CASTRO, Antônio Nobre de, 494 CUNNINGHAM, J. T, 467,468,597 CORNILLIJJ.J., 150,596 CALISTO (preto), 503, 505 CASTRO, Joaquim Manuel de Morais e, 489 CURINGA Maria, 52 CORREIA, A A. Mendes, 82,118,119,120,121,132, CALMON, Miguel, 351 CASTRO, Josué de, 141,144,145,146,149,596,629 CURSAI', Ioiôde, 568 CALMON, Pedro, 346,595,638 CASTRO, Luís Carlos Pereira de, 132,607 278,281,344,345,346,594,596,597 CATARINA, Da., 425 CORREIA, Alberto C. Germano da Silva, 121,597 CALÓGERAS, Pandiá, 351,476,502,554,595 D CALUGI, Vieiras de, 541 CAVALCANTI, Antônio Jerônimo de, 427 CORREIA C. Cunha, 344, 596 CORREIA, Ernani, 145,629 CALVERTON, 247 CAVALCANTI, Felipe, 336,405,483 D ABADIE, 47,513 CORREIA, Francisco Antônio, 124,131,597 CÂMARA, Faelante da, 451,495,628 CAVALCANTI, Joaquim, 52 DALGADO, D. G, 120,127,331,357,358, 597 CORREIA, Gaspar, 112 CAMARGO JÚNIOR, J. M, 475, 595 CAVALCANTI, Pedro, 572 DAMASCENO, Atos (A. D. Ferreira), 145,481, 598 CORREIA, Lindolfo, 566 CAMARGO, Pedro Ortiz de, 426 CAVALCANTI, Samuel Hardman, 172 DAMIÃO, 527,541 CORREIA, padre J. Alves, 255 CAMINHA, Pero Vaz de, 87,125,134,175,260,637 CAXITO, Chico do, 568 DAMPIER, William, 255,276,319,345,355, 516, 520, CORTESÃO, Jaime, 119,131,597,638 CAMÕES, Luís de, 49,321 CEDRO, Luís, 523, 561,629 545,558,570,579 COSME, 527, 541 CAMPOS, Barão, 492 CEPEDA, padre Bento José, 507, 532, 555, 578 DANIEL, padre João, 207,208,250,252 CAMPOS, João da Silva, 356,362,595,628 CEREJEIRA, padre M. Gonçalves, 343,354, 596 COSTA, Antônio Correia de Sousa, 141 DANTAS, José Cupertino, 576 CAMPOS, Murilo de, 112 CÉU, sórorViolantedo,302,348 COSTA, Bento José da, 42 DANTAS, Júlio, 349,406,443,484,491,598 | CAMPOS, Renato, 638 CHAMBERLAIN, Alexander Francis, 199,250,252, COSTA, Dante, 141 DANTAS, Pedro, 89,136 2 CAMPOS, Roberto de Oliveira, 641 253,596,603 COSTA, Domingos da, 147 DARWIN, Charles, 227,359 J CANANÉIA, Bacharel de, 129 CHAMBERLAIN, Houston Stewart, 116,154,307,349,596 COSTA, Emília Vioti da, 638 DAS, Rajani Kanta, 497,598 S COSTA, Henrique de Moura, 154,629 CÂNDIDO, Paula, 448,449 CHAMPLAIN, 199 DAUNT, Ricardo Gumbleton, 494 707 COSTA, Lúcio, 44,61, 560,629 — CANDLER, John, 479 CHAVES, Antíogenes, 487,629 DAVENPORT, C. B, 441,469,470,598 7~ COSTA, Pereira da, 365,485,597,629 CANNON,WalterB.,42,60, 595 CHAVES, Eurico, 541 DE SIMONE, Dr, 449 5 COTEGIPE, Barão de (João Maurício Wanderley), CAPAREBA, Voltaire, 541 CHAVES, Luís, 125,241,328,356, 596 DEBBANÉ, NicolasJ, 281,296,298,347,348, 598 1 CAPITAIN, L„ 259,350 CHAVES, Nelson, 358,629. 336,537 DEBRET, Jean-Baptiste, 50,58,64,156,264,498, 579 t CARAPEBA, Voltaire, 541 CHILD, C. N, 596 COTRIM, Eduardo, 351 DELAFAGE-BREHIER, Mme. Julie, 62, 598 | CARBIA, Rómulo D, 122 CHITTENDEN, 466 COUCH, William, 127,476, 597 DELPECHE, Adrien, 598 9 CARDIM, padre Fernão, 98,99,100,143,144,145, CHOCOLATE, Barão de, 361 COULANGES, Fustelde, 138 DEMMOLINS, Ed, 127 I 146,189,200,202,205,206,207,208,209, CHRICTON-BROWNE, 354 COUTINHO, Bispo de Azeredo, 428,500 DENDY, Arthur, 55, 56,377,467, 598,628 ° 228,229,244,251,252,253,260,341,355, CIANCIO, Nicolau, 152 COUTINHO, Rui, 141,148,151,354,467,478, 571, DÉNIS, Ferdinand, 349,579 365,429,507, 524,558,560,562,578 CIDADE, Hernani A, 638 591,597,609,629,634 DEODATO, Alberto, 356, 598 CARDOSO, Fonseca, 118,120,280,345,596 CINTRA, Assis, 557,596 COUTO, D. Domingo de Loreto, 511, 512, 514,515, DESSOIR, Max, 113,154 CARDOSO, Joaquim, 58,628 CLARA 512 527,557,563,630 DETLEFSEN.J.A, 598 CARDOSO, Manuel da Silveira Soares, 481 CLARK, Oscar, 483,596 COUTY, Louis, 140,141,597,630 DEWEYJohn, 465 CARDOSO, Manuel Soares, 245,629 CLÁUDIO, Afonso, 263, 571,629 COWAN, Andrew Reid, 99,142,597 DEXTER, Edwin Grant, 73,128,598 CARDOSO, Vicente Licínio, 154 CLENARDO, 317,318,343,354, 528 CRAWFORD, W. Rex, 262 DIAS, Carlos Malheiros, 82,122,129,351,598 CARLOS V, da Espanha, 206 COCKERAN, Martin, 277 CRAWLEY, Ernest, 168,239,240,398,481,483, 597 DIAS, Cícero, 52,54,253, 580,638 CARNEIRO, Edison, 596 CODRINGTON, Christopher, 388 CREARY, Reverendo, 331,332,357, 579 DIAS, Cristóvão, 137 CARNEIRO, José Fernando, 638 COELHO, Duarte de Albuquerque, 48,70,80,83,86, CRÉVAUXJules, 108,173, 579 DIAS, Gonçalves, 242, 598 CARPENTER, 187,248 132,284,298,425,559,578 CRISTÓVÃO FUMAÇA 362 DIAS, Henrique, 384 CARPENTIER, Servacios, 385 COELHO, Gonçalo, 346 CRULS, Gastão, 108,151,173,232,234,235,241, DIEGUES JÚNIOR, Manuel, 598 CARVALHO, Alfredo de, 233,253,356,409,485, 554, COELHO, Nicolau sargento-mor, 511 263,597 DOMINGUES, Edgar, 52 568,584,589,596,629 COIMBRA, Estácio, 52,62 CUNHA, Alberto da, 141,630 DONNAN, ELizabeth, 475,476,580 CARVALHO, padre Jacinto de, 259, 578 COLOMBO, Cristóvão, 248 CUNHA, Ambrósio Leitão da, 36I DOOD,W.E,598 CARVALHO, Pânfilo de, 570 COLTON, Walter, 432,489,579 CUNHA, Augusto Lassance, 401,483,579 DÓRIA, José Rodrigues da Costa, 479 CASAI., Manuel Aires de, 125,134,142,147,243,578 COMTE, Auguste, 536 CUNHA,D.Nunoda,406 DORNAS FILHO, João, 262,263,598,638 DOYLE, BertranW.,472, 598 FARIA, Otávio de, 154 FRANCO, Francisco de Melo, 491, 582 GILKSJ. L, 478,634 DREYS, Nicolau, 37,57,488,598 FARIA, padre, 507 FRANK,Waldo, 119,370,463,630 GILLESPIE,JamesE,364,602 DUARTE, Eustáquio, 572,638 FARIA, Sebastião de, 341 FRAZERJ. G, 256 GINSBERG, Morris, 465,602,604 DUARTE, José Rodrigues de Lima, 141,581 FAURE, E., 470,599 FRAZIER, E. Franklin, 130,472,600,630 GOBINEAU, Conde de, 471 DUBOIS.W.E. B, 471, 599 FAUX, William, 599 FREEMAN, E. A, 118,380,600 GODOFREDO FILHO, 570 DUNLOP, Raoul, 368,465 FAZENDA, José Vieira, 50,630 FREER, ArthurS. B., 215,254,600 GOELDI, Emílio, 204,257,631 DURHAM, 283,343,346 FEHLINGER, H, 170,239,599 FREIRE, Junqueira (LuísJoséJ. E), 473 GOETHE, 378 FELDMAN, Herman, 599 FREITAS, padre Antônio, 565 GOETZ,Walter,255,631 FERENZI, Imre, 131,600 GOIANA, Barão de (José Correia Picanço), 568,634 E FREITAS, João Alfredo de, 251,600 FERGUSON,J.,638 FREITAS, José Antônio de, 223, 258,600 GOLDENWEISER, Alexander A, 187,230,231,236, FERNANDES, Aníbal, 62 ECKARDT, Carl Conrad, 131,599 FREITAS, Otávio de, 572,630 247,248,260,380,397,470,471,481,631 FERNANDES, Antônia, 406 EDMUNDO, Luís, 358,447,493, 502,532,542,554, FREUD Sigmund,357,601 GOMES, Azevedo, 352,602 FERNANDES, padre Baltasar, 149 555,569,578,599,619,623 FREYRE, Alfredo, 52 GOMES, Bernardino Antônio, 402,403,448 FERNANDES, Florestan, 638 EDUARDO III da Inglaterra, 316 FREYRE, Gilberto, 58,119,122,132,134,138,146, GOMES, Lindolfo, 486 FERNANDES, Gonçalo, 241 EDWARDS, Miss Betham, 164, 556,599 253,262,343,345,355,363,487,493,560, GOMES, Luís Sousa, 134,602 FERNANDES, Gonçalves, 473,600 EGAS, frade, 292 568,601,603,631,639 GONCOURT, Irmãos (Edmond e Jules), 44 FERNANDO, D., 118,119,275,291,293,296,305,312 EGERTON, 350 FRÉZIER, 349, 513, 530,557, 56l, 564,582 GONDIM, Oliveira, 554 FERRAZ, Álvaro, 464 EHRENREICH, Paul, 164,236,599 FRIEDERICI, George, 131,601 GOODWIN, Philip L, 57,602 FERREIRA, Costa, 118,630 ELK1NGTON, 72 FRIGIDEIRA, Capitão, 458 GORDON, Eugene, 639 FERREIRA, Pedro Paranhos (Pedro Bode), 52,362 ELLIS JÚNIOR, Alfredo, 56,60,94,106,139,149,150, FROBENIUS, Leo, 164,236,238,239,369,392,602 GÕRGEN, Hermann M., 639 FERREIRA, TitoLívio, 639 233,297,298,347,480,533,534,565,599 FROGER, Sr., 147, 329, 513, 530, 532, 564,582 GOULD, 34 FIALHO, Dom Frei José, 327,328,355,428,488, 528, ELLIS, A. B, 413,486 FURTADO, Jerônimo de Mendonça, 362,427 GOUVÊA, Padre Cristóvão de, 205 530,563,564,586 ELLIS, EllenDeborah, 350,599 GOUVEIA, Diogode, 323 FIGUEIREDO, Fidelino de (F. de Sousa F.), 321,354, ELLIS, Havelock, 168,183,239,240,398,481,483,599 GRAHAM, Maria, 43,47,53,60,101,146,336,396, 355,600 ENGELHARDT, frei Zephyrin, 215,254, 599 G 425,431,432,459,474,487,489,492,496, FIRMINO, padre, 566 ENGELMAN, G.J, 358,630 514,520, 527, 532,552, 557, 564, 572,582 FISCHER, Eugen, 468,469,470,471,593,600 GAFFAREL, Paul, 127, 244,584,602 ENGRÁCIA, padrejúlio, 471, 599 GRAHAM, Richard, 639 FLANDERS, Ralph B, 476,497,600 GAINES, Francis R, 496,602 ERASMO de Rotterdam, 182 GRANT, Madison, 125,602 FLEIUSS, Max, 53 GALTON, Francis, 469,602 ESCHWEGE, 390,476,492 GRAY,LewisC,497, 560,602 FLEMING, E. K. Le, 148,600 GALVÃO, Fonseca, 541 ESCUDERO, Pedro, 34, 56,630 GRAYDON, Clint, 546 FLETCHER, J. C, 47,383,391420,473,487,499, GAMA, Padre Fernandes, 448,493, 568,602 ESPERANÇA, 541 GREGÓRIO, Papa, 360 554,572,581,583 GAMA, padre Miguel do Sacramento Lopes, 363,417, ESTÊVÃO, Carlos, 234 GREGORY, John W, 72,73,125,126,127,602,631 FLORÊNCIA, Maria, 359 421,422,433,434,453,454,457,486,490, ESTRABÃO, 314,354 GRIECO, Agrippino, 62,408,485,631 FONSECA FILHO, Olímpio da, 112 495,496, 506, 508,532, 555,582 ESTRELA, Baronesa da, 490 GRIFFING,JohnB.,494,631 FONSECA, Antônio A. da, 338,339 GAMA Vasco da, 112,275 ÉTIENNE, Abbé Ignace Brazil, 254,382,393,472, GUARINOS,Semperey,283 FONSECA, Borges da, 47,362,487,562,600,627 GANDAVO, Pero de Magalhães, 49,144, 228,253, 260, 478,630 GUATUSMUS, Patrício, 277 FONSECA, J. A.Aquino,362 365, 558,582 EVIN, Paul-Antoine, 599 GUERRA, Ramiro, 497,602 FONSECA, Joaquim Moreira da, 358, 581 GANIVET,Angel,321,602 EVREUX, Ives d', 125,181,189,244,245 GUEVARA, Francisco Maldonado, 233,234,603 FONSECA, L. Anselmo da, 421,487,600 GARCÍAJ. Uriel, 235 EWBANK, Thomas, 450,526, 563, 581 GUICCIARDINI, Francisco, 309,319 FONSECA, padre Manuel, 399,600 GARCÍA, Louis Pericot y, 234,602 EXPILLY, Charles, 47, 513 GUIMARÃES, Francisco Pinheiro, 49,603 FONSECA, Pedro P. da, 565, 581 GARCIA, Nunes, 449 GURVITCH, Georges, 639 FORMAN, Henry C, 497 GARCIA, Rodolfo, 53,6l, 139,143,240,250,364, 558, GUSMÃO, Alexandre de, 318 FRANÇA JÚNIOR, 50 578, 579,587 F GUYER, M. F, 377,467 FRANÇA Eduardo d'01iveira, 639 GARDNER, George, 47, 53, 348,391,476, 565, 582 FAITHFUL, Theodore J, 187,246,247,599 FRANCISCA, Margarida, 488 GASPAR, Frei, 296 FALCÃO, André Dias de Arruda, 52,54 FRANCISCO DE ASSIS, São, 215,216 GATTINA, Frei Miguel Ângelo de, 560 H FALCÃO, Gerôncio Dias de Arruda, 52, 54,62 FRANCISCO, Martim, 288,295,346,347,630 GENER, Pompeyo,317,354,602 FANFANI, Amintore, 242,599 FRANCO, Afonso Arinos de Melo, 134,252,254, 261, GIDDINGS, Franklin, 343 HADDON, A. C, 280,346,375,386,467,469,470,475, FARIA, Manuel de Severim de, 121,320,599 262,600 GIEDION, Siegried, 248,611,615 603,605 HAKLUYT, Richard, 138,147, 345, 575, 582,587 HRDLICKA, Ales, 55,153,373,466,605,632 JOSA Giy, 605 LANDMAN, G, 469,638 HALL, G. S„ 212,253,603 HUM BRASILEIRO, 555, 584 JOUSSET, A, 358 LANNOY, Charles de, 124,131,606 HAMBLY, Wilfrid, 238,244,463,475,477,603 HUNDLEY, D. R., 497,605 LAPA José Roberto do Amaral, 640 HUNT, 378 LAPOUGE, Vacher de, 469,471,533,534 HANDELMANN, H, 91,125,138,272,277,344,345, K 472,490,557,603 HUNTINGTON E, 72,73,127,128,148,380,404,605 IARA, Padre, José de Almeida, 556 HANKE, Lewis, 122,255, 603 HUXLEY, Julian, 469,470,603,605 KAMMERER, R, 377,467, 468, 605 LAS CASAS, Bartolomé de, 234, 596 HANKINS, EH, 470,471,603,632 KANT, Immanuel, 378 LATIF, Mirian de Barros, 145,481 LAVAL, Francisco Pyrard de, 341,362,364, 513,520, HANKINS, William, 277 I KARSTEN, Rafael, 125,167,173,175,176,208,210, HANNS,Julius,128,603 232,235, 239,242,247,252,263,606 529,557,606 HARING,C.H,639 IAGO, Santo, 356 KEITH, Arthur, 42,60,470,606,632 LAVOLLÉE, Charles, 357,490,606 HARMAND.Jules, 255,603 IBSEN, Henri, 378 KELLER, Albert Galloway, 127,144, 260,606 LAVRADIO, Barão de (José Pereira Rego), 448,449, HARRIS, A. L., 471,603,620 IMBERT, J. B. A., 140,444,445,446,448,491,492, KELLER, C, 127,606 483,583 HARTLAND, Edwin Sidney, 211,253,603 493, 518, 559, 582 KELSEY, Carl, 127,128,380,403,470,471,483,606 LAVRADIO, Marquês de, 584 HAYES, Ricardo Sáenz, 154,603 IRELAND, Alleyne, 127,605 KENNEDY, Louise Venable, 475,606,618 LAVRINHA, Joaquim, 541 HEAPE,W.,483 ISAÍAS, 307 KEYSERLING, Conde Hermann de, 67,119,266,268, LAYTANO, Dante de, 145,632 HEARN, Lafcadio, 150,603 ISIDORO, Santo, 304 632 LELANNON, Maurice,640 HELPS, Arthur, 122,604 IVANOVSKY,A.,55,632 KIDD, Benjamin, 73,126,606 LEAKES, H. Martin, 351,606 HENDERSON, James, 54,146,489,604 KIDDER, D. P, 47,420,473,487,554, 581, 583 LEAL, A Henriques, 132, 258, 607,633 HENRIQUES, Clara, 512 KINDERSLEY, Mrs, 428,429,430,488,520, 583 LEÃO, A. Carneiro, 152,607 HENRIQUES, Francisco da Fonseca, 444,447,491, J KIMPTON, Henry, 148,604 LEÃO, Duarte Nunes de, 121,607 KINSEY, 267 493,582 LEÃO, família Carneiro, 540 JACOBUS, 358,607 KLINEBERG, Otto, 465,470,606 HENRIQUES, Maria, 512 LEÃO, Fernando Carneiro, 557 JAMES, Preston, 640 KOCH-GRÜNBERG, Theodor, 164,176, 200, 235, 239, HERCULANO, Alexandre, 67,119,125,266,270, 287, LEÃO, Luís Filipe de Sousa, 494 JANSON, 400,482,605 242, 583 293,332,343,344,347,354,358,399,482, LEGENDRE, M, 155,607 JANUÁRIO, Antônio, 36O KOEMPFER, Engelbert, 112 590,604 LEITÃO, Antônio de Oliveira, 510,511 JARDIM, Luís, 52 KOPPERS, 619 HERNANDEZ, Pablo, 234,604 LEITE FILHO, Solidônio, 136,607 JENKS, LelandH.,497,605, KORDON, Bernardo, 235,606 HERRICK, A.J, 56,604 LEITE, Da. Verônica Dias, 510 JENNINGS, H. S, 56,605 KOSTER, Hemy, 47, 53,151, l6l, 277, 419, 420, 421, HERRMANN, Lucila, 632 LEITE, Dante Moreira, 640 JEQUITINHONHA, Visconde de, 541 436,438,439,451,472,474,487,490,495, HERSKOVITS, MelvilleJ, 233,236,237,238,369,39L LEITE, Padre Serafim, 254,259,607,633 JESUS, André de, 526 502,533,547,563,571,583 392,463,471,477,602,604,632 LEME, Apolinário, 339 JESUS, Francisca Joaquina de, 360 KRAUSE, Fritz, 164,173,235,236,583 HERTWIG, Oskar, 467,468,604 LEME, Cardeal D. Sebastião, 338 JESUS, Joana de, 512 KROEBER, A. L, 164,369 HERTZ,A.F,378,470,604 LENTZ, Fritz, 468,470,471,593 HESS, A. F, 148,604 JESUS, Manuel Tome de, 47, 54, 522, 523, 525, 526, LEONOR, Rainha D, 305 HINMAN,GeorgeW,255,604 561,562,585,589 L LEROY-BEAULIEU, Paul, 80,131,350,607 HIRSCHFELD, M„ 470,604 JOANA (escrava), 421 LÉRY, Jean de, 47,176,181,182,183,189,190, 209, HOBEY, C. W, 256,604 JOÃO BELEZA, 362 LA BARBINAIS, Le Gentil de, 147,327,329,356,529, 210,229, 244,245,248,249,251,252,260, HOBHOUSE,L.T,236,604 JOÃO III, Dom, 70,323 530,531,532,537,563,564,567,583 448, 584 HOEHNE, F. C, 146,604 JOÃO V, Dom, 406,445,554 LABOREIRO, Castro, 280 LESSA, Cláudio Ribeiro de, 561,633 HOLANDA, Arnau de, 359 JOÃO VI, Dom, 526,535,557 LABORIE, P. T, 497,606 LEVENE, Ricardo, 235,607 JOÃO, Bispo de Pernambuco, D, 523 HOLANDA, Sérgio Buarque de, 26, 52,131,132,134, LA CAILLE, Abade de, 307, 349,532, 564 LEWINSON, Paul, 472,607 139,254,350,351,353,604,605,620,638, JOAQUIM, Padre, 565 LACERDA, Carlos, 234,606 LEWIS, E.W,471,607 639 JOAQUINA, Dona Carlota, 557 LACOMBE, Lourenço L, 60,632 LEWIS, M. S, 497,607 JOBIM, José Martins da Cruz, 140,562,572, 583 LAET, João de, 384,385,583 HOLMES, 01iverWendel,55 LIMA JÚNIOR, Andrade, 464,600 JOHNSON, Charles S., 471,472,605,615,6l6 LAKHOVSKY, Georges, 470,606 HOLMES Jr. Urban Tigner, 352,605 LIMA JÚNIOR, Augusto, 145,481 JOHNSON, James W, 472,605 LALLEMANT, Dr, 449 HOLMES, S.J.,470,605 LIMA A. J. Barbosa, 506 LAMBERT, Jacques, 640 HOMEM, Dr. Antônio, 308 JOHNSON, John, 605 LIMA Abreu e, 481, 568 LAMEGO FILHO, Alberto, 6l, 147,606 HOOTON, E. A, 469,470,605 JOHNSTON,J.E,26l LIMA Da. Angelina Barros de Andrade, 570, 587 LAMEGO, Alberto Ribeiro, 59,134,147,578,606 HOSTÍLIO, Tulo, 226 JOHNSTON, Sir Harry H., 391,476,477,605,636 LIMA Da. Flora Cavalcanti de Oliveira, 487,490 LIMA, J. F. de Araújo, 97,140,192,193,195,249,633 MACEDO, Ribeiro de, 320,608 MARTINS, Luís, 481 MENDONÇA, Marcos de, 585 LIMA, Joaquim Barbosa, 506 MACEDO, Sérgio D. T, 356,357,491, 567, 570,608 MARTINS, Silveira, 342 MENDONÇA Pascoal Leite de, 137 LIMA, Manoel de Oliveira, 53,62,91,138,139,152, MACHADO FILHO, Aires da Mata, 262,473,608,633 MARTIUS, C. F. Phil von, 151,176,236,584,585 MENDONÇA Renato, 486,610 213,245,351,578,607 MACHADO, Alfredo, 54, MASON, O. T, 248,633 MENESES, Agrário de, 50 LIND.AndrewW, 144,607 MACHADO, Antônio de Alcântara, 106,137,149, 525, MATA, Filipa da, 430 MENEZES, Diogo de Melo, 493 LINDLEY, Thomas, 518,559,571,584 555,562 MATEUS, Morgado de, 141 MENEZES, Paula, 482 LINS, Leopoldo, 453,490,576 MACHADO, Brasílio, 258,608 MATHISON, Gilberto Farquhar, 520, 533,550,56l, MERCADAL, J. Garcia, 252,349,354,355,358,610 LINS, Sinval, 139,140,141,241,633 MACIVER, R. M, 608 566,567,585 MEREA, Paulo, 347,610 LIPPMANN,Edmundvon,607 MADUREIRAJ. M. de,608 MATOS, Gregóriode,50,476,591 MERRIAM, C. E, 469, 593,603,610 LIPPOMANI, 125,268,314,590 MAESTRI, R., 497,608 MAURO, Frédéric, 640 MESQUITA José de, 145,481,484,634 LISBOA João Francisco, 132,259,260, 554,607 MAFRENSE, Domingos Afonso, 284 MAWE, John, 47, 53,431,489, 514, 547,550, 557,585 MESSINA Plácido de, 130,131, 585 MÉTRAUX, A, 234,235,245,472,610,640 LITTLE,377,468 MAGALHÃES, Basílio de, 162,251,485,486,608,633 MAXIMILIANO, Príncipe, 53,549 MEY, Carmelo Vinas, 255,610 LOBATO, Vasco Rodrigues, 341 MAGALHÃES, Couto de, 191,223,246,249,257,608 McCARRISON, R, 354,467,609 MILLIET, Sérgio, 132,251,351,634 LOBO, A. Costa, 121,320,355,607 MAGALHÃES, Eduardo de, 141,549,571,608 McCAY, 56,354,466,467,609 MINAS, Marquês das, 501 LOBO, Roberto Jorge Haddock, 140,573,584 MAGALHÃES, Padre, 566 McCOLLUM, E.V.,56,354,609 MINDLIN, Henrique E, 640 LOCKE,Alain,472,621 MAIA, Antônio de Sá, 494 McDOUGALL, 370,371,376,464,465,467 MIRANDA Pontes de, 287,345,346,610 LOMBA Baltasar de, 248 MAIA, Manuel A. Velho da Mota, 584 McKAY, Claude, 472,609 MITINE,A.,468,634 LOPES, Cunha, 464,607,633 MAIA, Maria Soares, 361 MEAD, Margaret, 238 MOLINARI, Diego Luís, 235,610 LOPES, Renato Sousa, 141,607 MAIOR, A. Souto, 362 MEANS, PA, 234,609 MOLL, Albert, 113,154,358,610 LORIN, Henri, 259,350, 595,607 MAIOR, Mário Souto, 642 MECKLIN.J. M., 472,609 MONBEIG, Pierre, 134,136,481,610,640 LOS RIOS, A. Morales de, 363 MALHEIRO, Agostinho Marques Perdigão, 59,259, MEDINAJ. Ortegay,64l MONTEIRO,AP Maciel,362 526,539,563,567,568,578,608 MELO NETO, José Antônio Gonsalves de, 52,474,610 LOURO, Estanco, 301,348,607 MONTEIRO, Arlindo Camilo, 405,484,610 MALINOWSKI, Bronislaw, 252,608 MELO, André Vieira de, 511 LOVETUS,AS,604 MONTEIRO, Luís Vaia, 389,476 MANCHESTER, Alan R, 365,633 MELO, Antônio da Silva, 359,609 LOWIE, Robert H, 181,235,244,381,472,607,633, MONTEIRO, Tobias, 490, 556,610 MANDERE, Ch. G. J. van der, 497,608 MELO, Antônio Joaquim de, 359,610 634 MONTELLO, Josué, 640 MANSFIELD, Charles B., 251,332, 584 MELO, Cícero Brasileiro de, 62, 541, 584 LOYOLA, Santo Ignácio de, 115,116,154,155 MARCHANT, Alexander, 124,143,144,234,606,609, MELO, D. Cristóvão de, 425 MONTESQUIEU, (Charles de Secondat M.), 334,349 LUCCOCK, John, 146,430,450,489,494,495,500, 633 MELO, D. José Maria de, 427 MONTOYA padre Antônio Ruiz, 203,210,218,251, 550,554,584 MARCONDES, Moisés, 481,584 MELO, Da. Filipa de, 425 253,257,634 LUÍS XIV, 181 MARETT, 188 MELO, Félix Cavalcanti de Albuquerque, 61,493, MOOG,Vianna,640 LUÍS, Cristóvão, 359 MARIALVA, Marquês de, 408 568, 585 MORAES, Rubens Borba de, 640 LUÍS, Washington, 46,47,106,137,362 MARIANO FILHO, José, 37,57,633 MELO, Francisca de, 359 MORAIS FILHO, Melo, 394,478,6ll LUNA, padre-Mestre, Lino do Monte Carmelo, 562, 584 MARIANO, José, 348 MELO, José Luís Pais de, 359,360,362 MORAIS, Alexandre J. de Melo, 259, 555,610 LUSITANO, Anato, 282 MARICÁS, Santos, 362 MELO, José Maria Carneiro de Albuquerque e, 54, MORAIS, Eugênia Vilhena de, 258,634 LUTERO, 378 MARINEO, Lúcio, 319 361,593 MORAIS, Evaristo de, 482 LYCEL,Sir Charles, 497,607 MARINHO, Dr. Pena, 491 MELO, Luís José de Carvalho e, 514 MORAIS, Lucas de, 480,610 LYDE, L. W, 153,463,633 MARIZ, Celso, 565,566,609 MELO, Manuela Luzia de, 360 MORAIS, padre José de, 259,610 LYLE, Saxon, 497,607 MARKHAM, S. F, 121,126,609 MELO, Margarida Francisca Pais de, 359,488 MOREAU, Pierre, 564, 585 iySSENKO,T.D.,468,626,633,634 MARROQUIM, Mário, 609 MELO, Maria, 359 MOREIRA Nicolau Joaquim, 491, 585,634 MARTIAL, René, 470,609 MELO, Pessoa de, 53, 541,545 MORISON, Samuel Eliot, 248,6ll MORNER, Magnus, 640 MARTIN, Gaston, 475,602 MELO, Sebastião Antônio de Barros, 494 M MORSE, Richard, 641 MARTIN, PercyAlvin, 30 MELO, Ulisses Pernambuco de, 251,480,490 MOSCA Gaetano, 560,611 MAC LEAD, William C, 233,234,255,608 MARTIN, R, 470,609 MENCKEN, Henry L, 48 MOURA Paulo Cureino de, 484,6ll MACEDO JÚNIOR, Dr. João Álvares de Azevedo, 400, MARTINEAU, Harriet, 497,609 MENDES JÚNIOR, João, 259,610 MOZARÉ, Charles, 641 482,567,584 MARTINS JÚNIOR, J. Isidoro, 260,609 MENDONÇA Afonso Furtado de, 123 MOZART, 381 MACEDO SOARES, A. J, 486 MARTINS, Da. Amélia de Rezende, 481 MENDONÇA, Antônio Dinis de, 494 MACEDO, Ferraz de, 68,119,280,608 MARTINS, Francisco Gonçalvez, 382 MENDONÇA Heitor Furtado de, 61, 241,248,587 MUCKERMANN, S.J. H, 470,611 MACEDO, Joaquim Manuel de, 49,423 MARTINS, J. P. Oliveira, 121,129,320,323,355,481,609 MENDONÇA Jacinto Pais de, 488 MÜLLER, Hermann, 116 MULATINHO, Luís, 52 OLIVEIRA, Domingos de, 240 PEREIRA, J. M. Esteves, 288,311,346,347,352,613 PRADO, Paulo, 53, 58,6l, 83,106.110,111,132,136, MUNTZ, EarlEdward, 233,611 OLIVEIRAJ. B. de Sá, 359,383,442,473,491,612 PEREIRA, Juan Solórzano, 234,613 141,149,152,160,169,233,240, 587,614 MURCHISON, Carl, 237,463 OLIVEIRA, J. J. Machado de, 259,634 PEREIRA, Lúcia Miguel, 49,613 PRATT, Thomas, 277 MURRAY, 465 OLIVEIRA, João Alfredo Correia de, 568,634 PEREIRA, Manuel Duarte, 120, 594 PRESTAGE, Edgar, 131,615 MYERSON,A.,56,6ll OLIVEIRA, José Osório de, 56,612 PEREIRA, Miguel, 97,140 PRESTES, Júlio, 362 MYRDAL, Gunnar,472,6ll OLIVEIRA, Luís Camilo de, 562 PEREIRA, Sertório do Monte, 353,613 PRESTON, Valien, 471,472,605,615,6l6 OPPENHEIMER, Herta, 119 PERES, Heitor, 464,607 PRÉVILLE, A. de, 238 ORLANDO, Artur, 503, 505,554,612 PERESTRELO, Danilo, 154,613 PRICE, A. Grenfell, 126,127,615 N ORNELAS, Manoelitode,6l2 PERETTI, João, 139,613 PRIESTLEY, Herbert I., 127,234,615 ORR.J. B., 478,634 PERKING, Thomas, 277 PROUST, 44 NABUCO, Carolina, 490,611 ORTIGÃO, Ramalho, 313,314,352,354,364,612 PERNAMBUCANO, Ulisses, 613,634 PURSER, Thomas Grigs, 138,587 NABUCO, Joaquim, 41,98,141,219,258,338,363, ORTIZ, Fernando, 174,242,472,475,497,612 PFISTER, Oscar, 113,154,613 397,399,437,480,482,490,611 OTÁVIO, Rodrigo, 345,612 PHILLIPS, Ulrich Bonnel, 388,471,476,613,6l4 NABUCO, José Tomás, 362 PIACEZA, Dionísio, 560 a NASCIMENTO, Alfredo, 493,611 PICANÇO, José Correia, 562,586 NASH, Roy,63,124,132,611 P QUEIROGA, Bernardino José de, 489 PIERSON, Donald, 130,465,472,614,635,641 QUEIROGA, Maria Salomé Perpétua de, 489 NASSAU, Conde Maurício de, 99,103,336,385 PIMENTEL, Antônio de Barros, 359 QUEIRÓS, Eça de, 68,119,281,615 NAVARRA, Margarida de, 181 PADILHA, Francisco Fernandes, 141, 586 PIMENTEL, Antônio Martins de Azevedo, 140,148, QUEIRÓS, família, Pessoa de, 545 NEGREIROS, André Vidal de, 427 PAIS, Catarina Barreto, 36l PAIS, João, 361 563,573,586,614 QUEIRÓS, Frei João de São José, 481,615 NEIVA, Artur Hehll, 253,611 PIMENTEL, José Barros, 359 QUERINO, Manuel, 46,141,395,408,472,478,479, NETO, Álvaro, 429,430 PAIVA, Tancredo de Barros, 128,612 PALÁCIOS, Padre Asin, 155,612 PINHEIRO, cônego Fernandes, 137, 258,589,635 485,542,543,546,569,570,571,615,635 NEUVILLE, Henri, 470,611 PARETO,Vilfredo,465 PINHO, Péricles Madureirade, 133,134,614 QUETELET, Adolphe, 128,615 NEVES, Antônio José Pereira das, 482,586 PARK, R. E., 466,612 PINHO, Wanderley de, 614 QUISENGA, Casusa de, 568 NEVINS.Allan, 497,611 PASCUAL, A D. de, 332,358,612 PINTO, Estevão, 245 NEWTON, A. R, 127,131,611 PAVÃO, Sales, 362 PINTO, Fernão Mendes, 364 NICEFORO,A,6ll R PAVLOV, 376,467,612 PINTO, Luís Antônio, 384,489, 579, 584 NIEBOER, H. J., 560,611 PAYNE, E. George, 138,613 PINTO, padre, 566 NIETZSCHE, Friedrich, 304 RABELLO, Sílvio, 641 PAYNE, EdwardJ., 129,613 PISO, 54,448 NIEUHOF,John,448,493,586 RADIGUET, Max, 328,356, 547, 570,587 PEARSON, Karl, 378,469,470,613 PITA, Sebastião da Rocha, 127 NIMUENDAJÚ, Curt, 235,633,634 RADIN, Paul, 235,470,615 PEÇANHA, Nilo, 537 PITT-RIVERS, George Henry Lane-Fox, 177,179,242, NÓBREGA, padre Calisto, 566 RAGATZ,LowellJ.,497,6l5 PECK, E. P, 352,634 255,256,359,372,379,464,466,471,481 NÓBREGA, padre Manuel de, 102,128,129,146,169, RAIMUNDO,Jacques,486,6l5 PECKOLT, Theodoro, 107,141,150,196,249,261, PLEKHANOV, George, 56,614 RALEIGH,Walter,248,6l5 222,224,228,260,515,532,558, 586 481,613 PLOSS-BARTELS, 240,614 RAMALHO, João, 566 NOGUEIRA, João, 144 PEDRO I, D., 131,434,618,638 POINSARD, Léon, 316,320,350,354,355,6l4 RAMALHO, Sette, 615 NORDENSKIÕLD, Erik, 468,604,611 PEDRO II, D, 59,223,271,272,339,36l, 362, 538 POMBAL, marquês, 219,224,586 RAMIRES, Gonçalo, 68 NORDENSKIÕLD, Erland, 164,204,234,235,236, PEDROSO, Consiglieri, 125,613 POMPÉIA, Raul, 50 RAMOS, Artur, 233, 236,237,238, 262,463,472,473, 252,611 PEDROSO, Sebastião José, 299,613 POMPEU, Da. Joaquina do, 344 475,477,486,490,615 NORMANO.J. F, 136,350,560,612 PEIXOTO, Afrânio, 121,262,330,357,368,369,463, POMPEU, Tomás, 566 RANGEL, Alberto, 88,134,135,615,641 NORUEGA, Dr. Gerôncio de, 561,629 613,634 PONTES, Elói, 424 RAVIGNANI, Emílio, 235,6l6 NOVAIS, Américo, 222 PEIXOTO, Floriano, 114 POPIELOVO,Nicolasde,309 REBELO, Silva, 6l6 NUNES, Leonardo, 137 PEIXOTO, Guimarães, 585 PORTO, José da Costa, 641 RAVILA, Afonso, 641 NYSTROM, 378 PENA, Belisário, 97,140 PORTUGAL, D. Fernando José de, 384 REBOUÇAS, André, 587 PENA, Martins, 50 POST, Frans, 50 REDFIELD, Robert, 234,6l6 POURCHET, Mariajúlia, 480,614 REGADAS, José Maria Rodrigues, 141,571, 587 O PENTA, Pascale, 113,154,613 PERALTA, Juan Suárez de, 255, 613 PRADO JÚNIOR, Caio, 56,129,353,354,614,615, REGO, José Lins do, 53,253,413,486,496,616 OKAMURA, 112 PERDIGÃO, João de Purificação Marques, 528 641 REGO, José Pereira do, 482, 587 OLIVEIRA, Cândido Batista de, 555, 586 PEREIRA JÚNIOR, José Luciano, 547, 571, 586 PRADO, Eduardo, 61, 219,258, 587,614 REID, Ira de A, 471,605,615,616 OLIVEIRA, Carlos Estêvão, 234 PEREIRA, Astrojildo, 56,355 PRADO, Luís, 53 REIS, Artur, 145,481,616,638 REMBAO, Alberto, 262 239,251,252,372,391,441,466,480,491, SANTO ANTÔNIO, madre Rosa Maria de, 59 SILVA, O. B. de Couto e, 126,141,619 REMBRANDT, 378 581,588,617,635 SANTOS, Constantino José dos, 345,619 SILVA, Pirajá da, 112 RENDON, José Arouche de Toledo, 225,259,635 ROSA, Francisco Luís da Gama, 251,635 SANTOS, José Maria dos, 391,476,618 SIMIAR, Théophile, 470,619 RENDU, Alphonse, 47,140,457,499, 513,554, 588 ROSA, Joam Ferreira da, 447,493,618 SAPPER, Karl, 72,126 SIMKINS, Francis Butler, 31,619 RENIGAR, Robert, 277 ROSÁRIO, Sebastião do, 151 SARDINHA, Antônio, 322 SIMMONDS, Nina, 34,56,139,148,354,609 RENNEFORT, Urbain Souchu de, 462, 520,560, 588 ROSENAU, Milton J., 152,153,618 SARMENTO, Morais, 82,131,618 SIMÕES, J. de Oliveira, 347,619 RESENDE, Cássio Barbosa de, 576 ROSS, E. A, 351,618 SAY, Horace, 89,137, 588 SIMONSEN, Roberto, 475,619 REUTER, E. B., 470,6l6 ROSS, FrankA, 475,606,618 SCHAFFER, H, 138,618 SIQUEIRA, José de Góis e, 400,482,483,589 REVELLO, Jose'Torre, 235,6l6 ROSSELL, I Vilar, 470,618 SCHAFFER, Ritter von, 138,618 SMITH, Adam, 134 REYNAL, Abade, 103,588 ROSSI, Vicente, 472,618 SCHEIDT,W.,6l9 SMITH, E„ 377,467 RHEINGANTZ, Carlos G, 641 ROSTAND,Jean,470,6l8 SCHLAPPRIZ, L, 62,575 SMITH, G. E. Kidder, 57 RHOT, H. Ling, 635 ROTH, H. Ling, 247 SCHMALHAUSEN, 247,631 SMITH, Herbert S., 141,185,245,489, 589 RHOT,WalterE,635 ROTH, Walter E„ 247 SCHMIDT, Max, 164,236,262,390,476, 585, 588,636 SMITH, Lynn, 620,642 RIBEIRO, Darcy, 641 ROUCEK, Joseph Slabey, 138,352, 595,605,613 SCHMIDT, W., 235,470,619,636 SMITH, Mayo, 73,126,620 SMITH, William C, 351,620 RIBEIRO, Emanuel, 569,6l6 ROUSSEAUJ.J., 198 SCHMOLLER, G., 57 SNOW, A. H, 620 RIBEIRO, João, 90,137,263,416,418,438,463,474, RÕWER, frei Basílio, 254,255,618 SCHOPENHAUER, Artur, 378 SCHUBERT, 378 SOROKIN, Piritim, 55,115,126,358,363,373,380, 477,486,487,490,616,617,635 RUGENDASJ. M., 50,588 SCHULLER, R. R„ 246,247,636 466,472, 591 RIBEIRO, Joaquim, 146,6l6,617,635 RUSSEL, Robert, 128,618 SCHUMANN, 378 SOARES, A. J. de Macedo, 486,636 RIBEIRO, Júlio, 50,616 RUSSELL, Bertrand, 375 SCHWEINFURTH, Georg, 239,619 SODRÉ, Nelson Werneck, 56,129,620,642 RIBEIRO, René, 130,635 SEBINDA, Maria, 534 SOUSA Antônio José de, 141, 547, 571,589 RICARD, Robert, 254,6l6 s SELIGMAN, C. G., 379,470,628 SOUSA, Bernardino José de, 30,642 RICHARDING, Edmond, 363,6l6 SELLIN, A. W, 152,423,487,619 SOUSA, Francisco Antônio dos Santos, 148,548, 549, RICARDO, Cassiano, 131,616,641 SÁA, Mário, 304,348,349,618 SEMEDO, Curvo, 406.447,619 571, 589 RINCHON, Padre Dieudonne, 475,617 SACO,JoséAntônio,475,6l8 SEMPLE, Ellen Churchill, 74,75,127,128,619 SOUSA, frei Luís de, 620 RINGBOM, Lars, 418,487,617 SAIA, Luís, 57,635 SENA, Nelson de, 568,636 SOUSA Gabriel Soares de, 49,144,162,169,170,171, RIO,Joãodo,478,554,6l7 SAINT-HILAIRE, Auguste de, 47, 53,214,254,487, SEQUEIRA, Gustavo de Matos, 59,619 182,183,184,188,189,190,191,197,208,210, RIOS,A.Moralesdelos, 363,617 513, 547, 588 SEQUEIRA, padre Antunes de, 508,555, 556, 56l, 619, 214,216,229,231,233,234,240,245,246,248, RIOS, José Artur, 641 SALGADO, Francisca, 359 620 253,256,281,341,346,364,589,635 RIO BRANCO, Barão do, 52 SALGADO, José Luís, 359 SERGI, G, 469,619 SOUSA, Octávio Tarqüínio de, 353,605,620,638 RIPLEY, W. Z„ 280,345,358,617 SALGADO, Manoel, 360 SÉRGIO, Antônio, 118,274,275,345,346,352,355, SOUSA, Tome de, 298,324,363,589 ROBERTSON,W.R,6l7 SALGADO, Margarida, 359 SALGADO, Paulo de Amorim, 359,360 608,619 SOUTHEY, Robert, 79,129,160,161,222,233,245, ROCHA, Coelho da, 273 SALLEY,A.S.,497,618 SERPA, Joaquim Jerônimo, 335,555, 588 620 ROCHA Joaquim da Silva, 351,617 SALVADOR, frei Vicente do, 74,146,207,208,252,364, SERRA, Astolfo, 619 SPENCER, Frank Clarence, 199,250,636 RODRIGUES, Domingos, 300,617 588 SERRASSIM, D. Fifes, 293 SPENCER, Oswald, 34,36, 56, 57,620 RODRIGUES, Isabel, 406 SAMPAIO, AJ.de, 146,618 SESNANDO, conde de Coimbra D., 292 SPERO, S. D., 603,620 RODRIGUES, José Honório, 146,474,6l6,617,642 SAMPAIO, Alberto, 275,281,294,295,301,314,315, SESSA, Francisco José, 489 SPIX, J. B. von, 47,53,151,176,383,499,547 RODRIGUES, José Wasth, 59,617 320,345,346,347,348,350,354,355,618 SEVERO, Ricardo, 619 STAPES, Richard, 276 RODRIGUES, Nina, 29,53,175,237,262,383,384, SAMPAIO, LopoVaz de, 405 SHALER, Nathanael S., 233,619 STEINEN, Karl von den, 173,175,176,188,235,236, 385,387,391,393,394,398,440,456,462, SAMPAIO, Ribeiro de, 152 SHATTUCK, George C, 153 242,247,431,489, 517,589 466,473,475,477,478,479,485,486,490, SAMPAIO, Teodoro, 36,57,135,166,191,194,195, SIEMEN, Hermann Warner, 470,619 STEPHENS, H. M., 90,138,620 543,569,588,617 210,220,221,239,244,249,254, 257,258, SIGAUD.J. F. X., 112,140,152,181,1%, 197, 233, STEVENSON, T. E., 199,250,636 ROMERO, Silvio, 92,127,139,150,212,213,254, 263,568,618,635 244, 249,250,448,546,547,570, 573,588 STILES, Percy Goldthwait, 100,146,620 263,437,463,474,477,490,495,617 SANCHO 1,290 SILVA, Frutuoso Pinto da, 507, 588 STITT, F. R, 636 RONCIÈRE, Charles de la, 475,617 SANCHO II, 283 SILVA, Jorge R. Zamudio, 235,636 STODDARD, T. Lothrop, 620 ROQUETTEJ. I., 555,588 SANT'ANNA NERY, barão de, 251,618 SILVA, Luciano Pereira da, 485,619 STONE, Alfred Holt, 620 ROQUETTE-PINTO, Edgar, 31,34,107,108,151,164, SANTA CRUZ, Marques de, 434 SILVA, Manuel Carneiro da, 59 STONEQUIST, Everett V, 121,122,343,620 166,201, 202,204,206,234,235,236,238, SANTA TERESA, frei Luís de, 46, 277, 564,588 SILVA, Manuel Vieira da, 401, 562 SUMMER, William Graham, 244,620 VIANA Vítor, 133,134,623 WERNECKE,F.RL,6l,590 T V VIDAL, Ademar, 480 WERTENBACKER, T. J, 497,623 TAFT, Donald R., 351,620 VALADARES, Clarival do Prado, 642 VIEIRA, Fernandes, 427 WESTERMARCK, E. A, 154,168,187,188,189,239, TAQUES, Pedro, 47 VALDÉS, Gonzalo Férnandez de Oviedo y, 234,622 VIEIRA padre Antônio, 101,146,220,226,259,260, 240.244.246.247.483.623 TAUNAY, Afonso d'Escragnolle, 47,106,137,142,143, VALDÉS, Ildefonso Pereda, 235,472,622 623 WHEELER, G. C, 236,604 149,150,223,228,243,251,254,257,258, VALENTE, Waldemar, 642 VIEIRA, Pedro, 41 WHETHAM, Catherine Durning, 255,624 260,344,345,356,357,473,475,487,495, VALERA Juan, 62 VIERKANDT, Alfred, 465,623 WHETHAM, William Cecil Dampier, 255,469,624 556,557,560,567,569,576,621,636 VALLANDRO, Amélia, 642 MGIER, João, 447,623 WHIFFEN, Thomas, 164,210,236,238,252,624 TAUNAY, CA, 60,61,133,589 VAMPRÉJoão, 60, 569,637 VILHENA, Luís dos Santos, 401,402,403,427,456, WHITAKER, Herman, 497,624 TAUNAY, Visconde de, 50,453,495,621 VAN ALSTEIN, Pierre-Ignace- Van, 475,617 458,460,483,488,496,504,534,535,537, WHITALL, John, 276,277 TÁVORA Franklin, 50 VANCE,RupertB,26l,476,622 538,543,547,554,566,567,569,590 WHITEJohn, 514, 557, 590 TÁVORA, Miguel Fernandes, 359 VARGAS, Getúlio, 534 VILLEGAIGNON, Nicolas D. de, 74 WILCOX,E.V,497,624 TAVORA, Simão de Souza de, 123 VARNHAGEN, Francisco Adolfo de, 137,160,222,224, VIOTTI, Júlia Magalhães, 480,637 WILEY, Bali Irving, 472,624 TAWNEY, R. H, 242,621 233,257,258,305,307,323,349,355,364, VISTA, Machado da Boa, 271 WILLEMS, Emílio, 624,642 TAYDE, Fernão Cabral de, 240 385,475,589,635 VITERBO, Sousa, 357,364,623 WILLIAMS, Leonard, 374,467 TAYLOR, Griffith, 72,73,126,128,621 VÁRZEA Afonso, 61,622,637 VITÓRIA, Rainha, 332, 538 WISSLER, Clark, 35,57,164,166,167,186,235,236, TAYLOR, Paul S„ 234,621 VASCONCELOS, Cândida Joaquina Perpétua de, 489 VOEGELIN, Erich,470,623 238.246.250.256.377.624 TEGUACARI (Feiticeiro), 257 VASCONCELOS, Carolina Michaelis de, 343, 592 WOODSON, CarterG, 471,624 TEIXEIRA, Bento, 139,621 VASCONCELOS, Diogo de, 477,622 WOODWARD, James W, 465,637 TEIXEIRA, José Maria, 448,450,494,495,621 VASCONCELOS, el-Rei Diogo de, 160 w WOODWORTH, R. S, 465,624 TEJO, Limeira, 642 VASCONCELOS, Leite de, 53,118,125,241,348,486, WAGENER, Zacharias, 50,160 WOODY, Robert Hilliard, 31,619 TERMAN, L. M, 469,621 596,613,622 WAGLEY, Charles, 642 WORK, Monroe N, 475,624 THÉVET, frei André, 47,183,245, 513, 589 VASCONCELOS, Maria de, 489 WAIBEL, Leo, 131 THOMAS, W. I., 169,186,240,246,465,621 VASCONCELOS, padre Simão de, 137,215,216,221, WALLACE, Alfred R., 371,464,590 THOMAS, William H, 471,621 X 243,244,245,253,256, 257,258,260,430, WALLIS,WisonD,357,478,623 THOMPSON, Edgar T, 122,343,497,620,621 489,589 WALSH, Robert, 424,487,489,502, 554, 563, 590 THOMPSON, R. Lowe, 187,247,621 XAVIER, Francisco, 360 VÁSQUEZ, D. Garcia, 497,622 WANDERLEY, Francisca de Barros, 488 THORPE, M. R., 128,622 XAVIER, Manoel, 359 VÁSQUEZ, Guillermo Núnez, 234,622 WANDERLEY, João Maurício Cavalcanti da Rocha, 363 THURNWOLD, R, 238 VAUTHIER, Louis Léger, 58, 585, 590,601 WANDERLEY, Maria Rita, 359,360 TIOMNO, Mariam, 58 VAZ, Lopes, 147,575 WANDERLEY, Sebastião do Rosário, 151 Y TOLLENARE, Louis François de, 47,328,356,396, VEBLEN, T, 465,466 WARD, Robert D. Coursy, 76,128,623 428,488, 589 YOUNG, Donald R, 472,624 VELHO, Pedro Parente Dias, 566 WASHINGTON, Booker T, 472,623 TOMÁS, Pedro Fernandes, 241,622 VELOSO, frei José Mariano, 590 WÂTJEN, HERMANN, 52,120,143,337,474,623 TORRES, Alberto, 89,129,136,491,622 VENTURINO, João Batista, 333 WEATHERFORD, Willis Duke, 475,623 z TORRES, Heloísa Alberto, 185,234,246,636 VERA CRUZ, Barões de, 505 TORRES, João Camilo de Oliveira, 481,641 WEAVER, Ernest,31 VERGER, Pierre, 642 ZARAGOZA Justo, 255 TOYNBEE,AJ.,469,622 WEBER, Max, 242,305,349,623 VERÍSSIMO, Ana Flora, 587 ZAVALA, Sílvio, 122,235,578, 590,624,637,642 TREWARKA, Glenn, 72 WEBSTER, Hutton, 142,207,623 VERÍSSIMO, coronel Inácio José, 136, 587 ZIEGLER, E., 470,624 TROLLOPE, Anthony, 559,622 WEISMANN, 376,468 H. VERÍSSIMO, José, 419,462,487,497,622 TROLLOPE, Francis, 497,519,559,622 WERNECK, Américo, 50,623 ZIMMERMANN, Sir Alfred, 131,624 VESPÚCIO, Américo, 87,134,169,170,245 TURNER, FrederickJ, 261,622 VIANA FILHO, Luís, 473,601,623 TURNER, Lorenzo D, 477,636 VIANA, Araújo, 348,637 TYLOR, Edward B, 242,622 VIANA, Azevedo César de Sampaio, 548, 571, 590 VIANA, F. J. de Oliveira, 56,60,72,87,105,121,126,

U 132,281,296,298,355,387,389,464,476, 492,622 UCHOA, Samuel, 173,241,636 VIANA, Hélio, 642 UNAMUNO, Miguel de, 120,622 VIANA, Sodré, 570,623