ESPÉCIES CONHECIDAS COMO “MAÇARANDUBA” NO BRASIL

Nívea Maria Mafra Rodrigues1, Antônia Luzinete Romão2, Adam da Cruz Rodrigues3, Wanderson Luís da Silva e Silva4, Fernanda Ilkiu-Borges5

1Graduanda em Engenharia Florestal. Universidade Federal Rural da Amazônia. [email protected] 2Graduanda em Engenharia Florestal. Universidade Federal Rural da Amazônia. 3Granduando em Engenharia Florestal. Universidade Federal Rural da Amazônia. [email protected] 4Doutorando em Biodiversidade e Conservação. Rede de Biodiversidade do Norte (Bionorte). [email protected] 5Pesquisadora Embrapa Amazônia Oriental. Laboratório de Botânica. [email protected]

Resumo: Atualmente, na Amazônia, elata (Allemão ex Miq.) Monach. é uma das espécies de maior valor comercial, devido à qualidade físico-mecânica da madeira. Nesta região, o nome Maçaranduba é atribuído a várias espécies de Manilkara Adans. (). Assim, o objetivo do trabalho foi realizar um levantamento bibliográfico sobre a interação entre nomes científicos e o nome popular “maçaranduba”, bem como, seus entraves no momento da identificação. O estudo foi realizado com base em trabalhos científicos relacionados com o gênero Manilkara, seus respectivos nomes vulgares e usos, sendo estes listados em uma tabela resumo. Os resultados encontrados evidenciam a similaridade no uso entre as espécies de Manilkara relacionadas aos nomes populares, o que destaca a importância da ampliação dos estudos sobre identificação da madeira, visando constatar e validar as informações fornecidas. É necessário que estudos sobre a identificação botânica sejam propagados pelo meio social visando evitar e mitigar os impactos negativos ocasionados sobre a floresta.

Palavras-chave: identificação; Manilkara; Sapotaceae

SPECIES KNOWN AS “MAÇARANDUBA” IN

Abstract: Currently, Manilkara elata (Allemão ex Miq.) Monach. is one of the higher commercial value species in the Amazon region, because the physical-mechanical quality of its wood. At that region, the name “Maçaranduba” is given to a variety of Manilkara Adans. (Sapotaceae) species. So, the objective of this work was to perfor a bibliographical survey about interation between scientific names and the popular name “maçaranduba”, as well as its hindrances at the identification time. The study was based on scientific works related to Manilkara genus, its respective common names and uses, which are listed at a summary-table. The results found evinced similar uses among Manilkara species related to commun names, which showed the importance of more studies about wood identification to verify and validate the

provided information. It is necessary to divulge the studies about botany identification in the social environment, so as to avoid and mitigate negative impacts over the forest.

Keywords: identification; Manilkara; Sapotaceae

Introdução

Existem duas formas de designação nomenclatural de espécies exploradas pelo homem no setor florestal, uma vernacular, que diz respeito aos nomes que a população de cada região atribui às plantas; e outra científica, universal e singular. O grande impasse entre nomes vernaculares e nomes científicos acarreta consequências negativas para algumas espécies, pois a exploração pode ocorrer de forma errada sobre espécies diferentes com um mesmo nome vernacular e sobre uma mesma espécie com diferentes nomes veranaculares.

Na Amazônia, o nome maçaranduba é atribuído a várias espécies de Manilkara Adans., família Sapotaceae, contudo, Persea willdenowii Kosterm (Lauraceae), registrada na Mata Atlântica e no , também apresentam essa designação. Atualmente, Manilkara elata (Allemão ex Miq.) Monach., que passou a ser considerada como sinônimo de Manilkara huberi (Ducke) A.Chev., pois segundo Monachino (1952 apud Penninton, 1990) são coespecíficas e consideradas indistinguíveis, é uma das espécies de maior valor comercial, devido à qualidade físico-mecânica da madeira, podendo ser utilizada para várias finalidades, como para construção civil pesada e leve, embarcações, torneados, chapas, instrumentos musicais, entre outros (HIRAI et al., 2008).

O grande impasse entre nomes vernaculares e nomes científicos acarreta consequências negativas para algumas espécies de Manilkara, como Manilkara elata, conhecida como maçaranduba, uma das espécies mais exploradas no setor florestal na Amazônia. Ainda assim, algumas espécies exploradas como maçaranduba são botanicamente diferentes mas o nome popular é o mesmo, podendo levar a exploração predatória desse táxon.

As outras espécies de Manilkara que também são conhecidas pelo nome “maçaranduba”, são Manilkara bidentata (A. Dc. Chev) ssp. surinamensis (Miq.) T.D.Penn., M. cavalcantei Pires & W.A.Rodrigues ex T.D.Penn., M. excelsa (Ducke) Standl., M. inundata (Ducke) Ducke, M. longifolia (A.DC.) Dubard, M. maxima T.D.Penn., M. multifida T.D.Penn. e M. salzmannii (A.DC.) H.J.Lam., e possuem características físico-mecânicas semelhantes à Manilkara elata, portanto informações desse cunho devem ser veiculadas com o propósito de mitigar os impactos causados pela exploração

convencional. Assim, o objetivo do trabalho foi realizar um levantamento bibliográfico sobre a interação dos nomes científicos e o nome comercial “maçaranduba”, bem como seus entraves no momento da identificação.

Material e Métodos

O estudo foi realizado com base em pesquisas bibliográficas. Foram consultados e analisados 37 trabalhos científicos relacionados com espécies conhecidas como “maçaranduba” no Brasil, principalmente o gênero Manilkara Adans. Destes, foram extraídos seus respectivos nomes vulgares e finalidade de uso da madeira para posteriormente elaboração de uma tabela.

Resultados e Discussão

Os resultados encontrados evidenciam a similaridade no uso entre as espécies do gênero Manilkara Adans. e seus nomes populares. Segundo Lima et al. (2015), as corretas identificações botânicas das espécies florestais auxiliam no melhor planejamento das ações madeireiras e, portanto, é necessário o conhecimento da variação dos diversos nomes científicos e vernaculares. Além disso, estes mesmos autores enfatizam a importância da ampliação dos estudos sobre identificação da madeira, visando constatar e validar as informações fornecidas.

Martins-da-Silva et al. (2003) enfatizam que a abundância de nomes populares na região amazônica dificulta demasiadamente a identificação precisa das plantas, de modo que existem diversos nomes populares para uma única espécie.

A maioria dos trabalhos consultados (Quadro 1) utilizava o nome popular maçaranduba correlacionada com o nome científico Manilkara elata (Allemão ex Miq.) Monach., o que, possivelmente, indica um dos motivos dessa espécie ser a mais explorada, visto que, provavelmente, os madeireiros não possuem o conhecimento sobre a possível semelhança das características físico-mecânica entre as outras espécies do gênero Manilkara. Vale ressaltar que, estudos com o objetivo de avaliar as diferenças físico- mecânicas entre espécies de Manilkara são escassos no meio acadêmico. Caso essas informações fossem difundidas no meio social, provavelmente, a exploração desordenada sobre a M. elata diminuiria, podendo se fragmentar entre as outras espécies.

A ação adequada para mitigar essas consequências ocasionadas pela exploração convencional e a falta de informação seria a utilização somente dos nomes científicos. Martins-da-Siva et al. (2003) ressaltam que, a nomenclatura científica é expressa em linguagem universal e designa a mesma planta

com um único nome proporcionando maior segurança. É importante a identificação correta das espécies, pois, problemas financeiros podem ocorrer devido à comercialização duvidosa do produto.

Tabela 1: Relação entre nome popular, seus respectivos nomes científicos e uso da madeira. N° de referências que relacionam Nome científico Nome comercial Uso este nome científico ao nome maçaranduba Manilkara bidentata Maçaranduba, (A. Dc. Chev) ssp. maparajuba e Uso não encontrado 1 surinamensis (Miq.) maparajuba-verdadeira T.D.Penn. Maçaranduba, Manilkara excelsa maparajuba-do-rio- Serraria 1 (Ducke) Standl. Tapajós Construção civil, naval, Aparaiú, Balata, móveis, tacos, cercas, postes, Maçaranduba, assoalhos, fruto, serraria, Maçaranduba-de-leite, Manilkara elata lenha, implementos agrícolas, Maçaranduba-da-terra (Allemão ex Miq.) dormentes, estacas, moirões, 26 firme, Maçarandubinha, Monach. torneados, cabo de Maparajuba, ferramentas, instrumentos Maparajuba-de-várzea e musicais, dormentes, vigas e parajú. mourões. Manilkara inundata Maçaranduba, Uso não encontrado 1 (Ducke) Ducke maparajuba-da-várzea Maçaranduba, aprajú, Manilkara longifolia maçaranduba – de – Construção civil 2 (A. DC.) Dubrad roseta e parajú. Estacas, vigas, mastros, Manilkara multifida Maçaranduba pontes, embarcações e T. P. Penn. 1 instrumentos musicais. Manilkara rufula Maçaranduba Uso não encontrado 1 (Miq.) H. J. Lam Manilkara salzmannii Maçaranduba Frutos 3 (A. DC.) H. J. Lam Abacateiro do mato, Persea willdenowii canela do brejo, canela Restauração, arborização 1 Kosterm rosa, maçaranduba, pau urbana Andrade

Conclusões

É evidente a inexistência de um padrão entre nomes populares e científicos, o que pode acarretar graves problemas para o meio ambiente e para a exploração florestal. É necessário que estudos sobre a identificação botânica sejam propagados e/ou que seja utilizada de forma mais frequente a nomenclatura científica correta de cada espécie, visando evitar e mitigar os impactos negativos ocasionados sobre a floresta.

Referências Bibliográficas

HIRAI, E.H.; CARVALHO, J.O.P.; PINHEIRO, K.A.O. Estrutura da população de maçaranduba (Manilkara huberi Standley) em 84 ha de floresta natural na fazenda Rio Capim, Paragominas, PA. Revista Ciências agrárias, n. 49, p. 65-79, jan./jun. Belém, 2008.

MARTINS-DA-SILVA, R.C.V.; HOPKINS, M.G.; TOMPSON, I.S. Identificação botânica na Amazônia: situação atual e perspectivas. Belém: Embrapa Amazônia Oriental, 2003.

LIMA, P.P.; ILKIU-BORGES, F.; FARO, B.L.S.O.; COSTA, P.A. Importância da identificação botânica na comercialização de espécies madeireiras. 19º Seminário de Iniciação Científica e 3º Seminário de Pós-graduação da Embrapa Amazônia Oriental, Belém- PA, 2015.

PENNINGTON, T.D. Sapotaceae. In: Flora Neotropica. The New York Botanical Garden, New York. V.52. 770p. 1990.

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