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XIII Reunião de Antropologia do Mercosul 22 a 25 de julho de 2019, em Porto Alegre (RS)

GT: Políticas Indígenas: lutas, territórios, descolonizações, humanos e não humanos

A re-existência Juruna (Yudjá) na construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte

Rochelle Foltram Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR)

Porto Alegre 2019 2

Resumo: O objetivo neste trabalho, que ainda está em desenvolvimento é compreender como se deu a separação da etnia Juruna-Yudjá em dois grupos por volta de 1916. Cerca de 40 Yudjá seguiram para o sul do estado do Pará chegando às terras do atual Parque Indígena do Xingu, no estado do e 12 índios Juruna permaneceram no seu local de origem, na região da Volta Grande do Xingu, no estado do Pará. Para compreender como se deu esse processo de separação utilizarei do intercâmbio cultural que vem acontecendo entre os índios Juruna da Volta Grande e os Yudjá do Parque Indígena do Xingu, através da história, da mitologia, da memória dos mais velhos, de documentos do antigo Serviço de Proteção ao Índio (SPI) e documentos atuais será possível a construção das lacunas deixadas pelo tempo. Este trabalho se justifica, através do foco etnográfico da patrimonialização, necessário para acompanhar esse processo que está sendo pensado pelo Instituto Sócio Ambiental (ISA) e entrará em curso em breve. A patrimonialização da Volta Grande do Xingu ajudará na diminuição de futuros impactos causados pelo funcionamento de grandes empreendimentos na região como a Hidrelétrica de Belo Monte e a mineradora canadense Belo Sun.

PALAVRAS-CHAVE: Yudjá; Juruna; Intercambio Cultural; Aldeia Miratu; Terra Indígena do Xingu; Patrimonialização.

Introdução O ponto de partida dessa pesquisa são as recentes mudanças na vida dos Juruna (Yudjá) 1 impulsionadas a partir da construção da Hidrelétrica de Belo Monte2, mais especificamente, a recente aproximação entre dois agrupamentos Juruna (Yudjá) e Yudjá que se separaram por volta de 1916, quando cerca de 40 Yudjá seguiram para o sul do estado do Pará chegando às terras do atual Parque Indígena do Xingu, no estado do Mato Grosso e 12 índios Juruna (Yudjá) que permaneceram no seu local de origem, na região da Volta Grande do Xingu, no estado do Pará. A aproximação se estreitou a partir da elaboração de um projeto de intercâmbio cultural organizado pelos Juruna (Yudjá), que se iniciou antes da inauguração de Belo Monte e foi incluído no

1 Os Juruna (Yudjá) e Yudjá são a mesma etnia indígena, mas com o processo de separação os índios da Volta Grande do Xingu, se autodenominam Juruna (Yudjá) e os índios da Terra Indígena do Xingu, se autodenominam Yudjá. Nesse projeto utilizarei Juruna (Yudjá) para os índios da Volta Grande do Xingu e Yudjá para os índios da Terra Indígena do Xingu.

2 A Usina Hidrelétrica de Belo Monte foi construída na bacia do Rio Xingu e inaugurada pela então Presidente da República, Dilma Rousseff, no ano de 2016. Belo monte é a terceira maior hidrelétrica do mundo e a maior do Brasil. A construção e o funcionamento de Belo Monte afetaram e afetarão diretamente a vida das populações indígenas e ribeirinhas, da flora e fauna da Volta Grande do Xingu. (Disponível em: https://www.socioambiental.org/pt-br/dossie-belo- monte Acesso em: 30/05/18).

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Plano Básico Ambiental (PBA, 2012) 3, após a inauguração de Belo Monte. A exigência foi parte do acordo realizado com a empresa Norte Energia para diminuir os impactos na vida dos Juruna (Yudjá) e de outras etnias indígenas da região. A empresa comprometeu-se a colaborar com o intercâmbio através do acordo de compensação para as pessoas diretamente afetadas pela implementação da hidrelétrica. A pesquisa começou a se delinear a partir de uma viagem à campo em maio de 2018 para um primeiro levantamento etnográfico e mais especificamente de uma conversa com o prof. Natanael no prédio da escola da aldeia de Miratu. Nesta conversa, ele começou a me mostrar alguns livros e xerox de partes de livros sobre os Juruna (Yudjá), ele disse estar pesquisando sobre a história dos Juruna (Yudjá) e que estava interessado em escrevê-la. Segundo Natanael, sabe-se que os remanescentes da Terra Indígena Paquiçamba, da região da Volta Grande do Xingu4 resistiram às invasões de suas terras e ao genocídio. Nesse contexto, os Juruna (Yudjá) lutaram e resistiram pelo seu território, enquanto os Yudjá seguiram para o Parque do Xingu e resguardaram sua cultura. Contudo, ressaltou a existência de muitas lacunas sobre essa história e que sua pesquisa poderia contribuir para preenchê-las. Diante desse objetivo e levando em consideração minha formação em história e antropologia, houve prontamente um interesse mútuo em estabelecermos alguma pesquisa colaborativa que tenha como ponto convergente a escrita dessa história. Pretende-se com este projeto desenvolver uma pesquisa complementar e colaborativa com a pesquisa proposta pelo prof. Natanael. No caso deste projeto o objetivo é acompanhar essa história através não só da pesquisa do Prof. Natanael, mas também das atividades desenvolvidas no âmbito do programa de intercâmbio cultural, mais especificamente, através do acompanhamento das discussões sobre a

3 SEM AUTORIA. Perecer Técnico da FUNAI. Altamira-PA, 2012. Processo 08620.2339/00. Parecer nº 01/CGGAM/2012. Acervo FUNAI.

4 Em maio de 2018 passei 15 dias na aldeia Miratu para fazer o contato inicial com as lideranças da aldeia e negociar a viabilização dessa pesquisa. Nesse sentido, a presente proposta se coaduna com os interesses dos próprios Juruna (Yudjá) da aldeia de Miratu e foi a partir da conversa com o prof. Natanael que o recorte da pesquisa começou a delinear.

4 elaboração de um projeto de patrimonialização5 de lugares sagrados do povo Juruna (Yudjá) e Yudjá. Um dos objetivos da pesquisa é também acompanhar e compreender como os dois grupos têm elaborado suas perspectivas a respeito da separação e da aproximação entre os grupos dentro do contexto de elaboração do projeto de patrimonialização. De forma a adensar as informações a respeito dessa história pretende-se recorrer a pesquisas de documentos e registros que aludam a acontecimentos destacados pelos Yudjá e Juruna (Yudjá). Assim como deverá recorrer a uma investigação relacionada aos recentes eventos associados à construção da Hidrelétrica de Belo Monte na medida em que trouxe para os Juruna (Yudjá) da Volta Grande a necessidade de se afirmarem institucionalmente como indígenas, num processo de re-existência, no qual as pessoas devem ao mesmo tempo serem reconhecidas enquanto indígenas e se reconhecerem como Juruna (Yudjá). Uso o termo re-existência nesse projeto como um indicativo dos acontecimentos na vida dos Juruna (Yudjá), este povo indígena sofreu e sofre perseguição por parte do Estado e latifundiários, se reinventando para sobreviver. Os Juruna (Yudjá) resistiram e resistem para assegurar o local de origem, as suas terras onde estão seus mortos. Eles deixaram de falar sua língua, se espelharam e casaram-se com não índios como forma de proteção. Foi na última década que estes índios passaram a se declarar novamente como povo indígena e retornaram para suas terras de origem, na Volta Grande do Xingu. Anteriormente a inauguração da Hidrelétrica de Belo Monte, eles vêm se reinventando culturalmente para serem reconhecidos como índios. Neste caminho entendo que os Juruna (Yudjá) estiveram, estão e estarão num processo de re-existência6.

5 Esse projeto ainda está na fase inicial e além das lideranças dos Juruna (Yudjá) envolve também a parceria com o ISA (Instituto Socioambiental).

6 O termo foi retirado da ideia de fim do mundo, do perspectivismo ameríndio, do autor Viveiros de Castro (2017), num contexto, onde com o avanço da exploração, da colonização, das igrejas, o mundo indígena acabou. Para os índios, já aconteceu o fim do mundo, que se transformou, e, assim foi possível re-existir nesse novo formato de mundo.

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Quem são os Juruna (Yudjá)? Os Yudjá são popularmente conhecidos como Juruna, que significa “boca preta”- como se autodenominam os Juruna (Yudjá) da Volta Grande do Xingu - estes índios utilizavam uma faixa preta horizontal atravessando o rosto descendo desde os cabelos até o queixo, isso levou os não índios e outras etnias indígenas a chamar este povo de Juruna (VIEIRA, 2009). Os índios da Terra Indígena Xingu, se autodenominam como Yudjá, que significa donos do rio (FARQUETII, 1997). Representam um povo navegador, produtor de bebidas fermentadas e guerreiros (LIMA, 2005). Falam uma língua do tronco Tupi, de acordo com Nimuendaju (1993) era um Tupi impuro, pois a língua Yudjá teria sofrido influência das línguas Arawak e Caribe. No ano de 1916, 52 Yudjá ocupavam a região da Volta Grande do Xingu, onde 40 pessoas seguiram rio acima e 12 pessoas decidiram ficar no local de origem (NIMUENDAJU, 1993). A Cachoeira do Jericoá foi o local escolhido para esses 12 índios se instalarem, hoje, a cachoeira é sagrada para o povo Juruna (Yudjá) e Yudjá. Nessa perspectiva, a maior parte dos Yudjá, cerca de 40 índios subiu o Rio Xingu e se instalaram onde é hoje o Parque Indígena do Xingu (TIX), criado em 1961, no estado do Mato Grosso, e a outra parte permaneceu na Volta Grande do Xingu, estes deram origem as famílias remanescentes na Terra Indígena Paquiçamba. Desde o século XVII, os Yudjá, ou Juruna (Yudjá) ocupam o território que compreende a região da Volta Grande do Xingu e somavam uma população de cerca 2000 índios espalhados por nove aldeias (ADALBERTO,1977). Nessa região, da Volta Grande do Xingu, muitos conflitos territoriais aconteceram a partir da chegada dos portugueses que dispersaram a etnia. Os portugueses fundaram missões e o exército escravizou alguns Yudjá (ADALBERTO,1977). No século XIX, os seringalistas assassinaram parte dos Yudjá (NIMUENDAJU, 1993). Já no século XX e XXI vieram os ciclos de castanha e o garimpo (SARAIVA, 2005). Para se proteger alguns índios subiram o Rio Xingu e conseguiram refúgio no Parque do Xingu, onde puderam permanecer até os dias atuais. Os Yudjá, que hoje vivem na Terra Indígena do Xingu, somando aproximadamente 250 indivíduos, se dividem em quatro aldeias, de Tuba Tuba, Pequizal e existem outras duas aldeias chamadas de fazenda: Fazenda Novo Parque Samba e Fazenda Boa 6

Vista 7. Os Juruna (Yudjá) que ficaram na Volta Grande do Xingu, da família de Tuxaúa Muratu permaneceram por alguns anos na Cachoeira do Jericoá, e, posteriormente, como uma forma de proteção espalharam-se e se casaram com índios de outras etnias e não índios. Passaram a trabalhar no garimpo de ouro nos beiradões8, e, também como seringueiros. Esse sistema de exploração, tanto dos índios, como da biodiversidade da Volta Grande do Xingu fez os Yudjá migrarem para escapar da escravidão e da morte (LIMA, 2009). Houve algumas fases da migração Yudjá Rio Xingu acima até chegarem à Terra Indígena Xingu. A primeira fase, no século XVII diz respeito à fase do contato dos índios com os portugueses e a fuga pela resistência a catequização e a escravidão. Nesse período, os Yudjá chegaram ao Rio Iriri (LIMA, 2009). A segunda fase de deslocamento se deu no século XVIII, e os Yudjá chegaram à Volta Grande do Xingu, onde passaram a ter contato com algumas etnias indígenas que guerrilhavam e com missionários, estes acabaram sendo mortos e devorados pelos Yudjá (LIMA, 2009). Para terem menor contato com os povos inimigos, os Yudjá continuaram na região da Volta Grande, mas deslocaram-se para as cachoeiras. A terceira fase se caracteriza pela subida do Rio Xingu no século XIX, onde pararam na primeira metade do século na Cachoeira da Pedra Preta e no Tavaquara. Em seguida, na segunda metade do século XIX, os Yudjá seguem viagem até atingir o alto Xingu, na região em que se encontram hoje, na Terra Indígena Xingu, já a outra parte do grupo retorna para a Volta Grande do Xingu constituindo a Terra Indígena Paquiçamaba, a aldeia Boa Vista e alguns índios Juruna (Yudjá) foram viver na cidade de Altamira (LIMA, 2009). O estilo de vida dos Juruna (Yudjá) que permaneceram na Volta Grande ficou cada vez mais parecido com dos ribeirinhos da região. Com a urbanização de Altamira, muitos Juruna (Yudjá) dessa área se mudaram para as periferias desse município (SARAIVA, 2005). Houve um forte impacto em relação ao conhecimento cultural, como por exemplo, o abandono da língua e o

7 Disponível em: https://pib.socioambiental.org/pt/Povo:Yudj%C3%A1/Juruna. Acesso em 31/05/18.

8 Beiradões é a palavra utilizada pelos Juruna (Yudjá) para classificar os índios ou não índios que vivem próximo ao Rio Xingu, na beirada do Rio Xingu. 7 do uso de nomes indígenas, isso se deu para se protegerem e se manterem vivos. Esse movimento começou a se transformar nos anos de 1990, quando os processos de demarcação das terras indígenas ganharam impulso a partir da Constituição de 1988. Muitos indígenas que viviam na cidade começaram a se declarar como Juruna (Yudjá) e iniciaram o retorno para a região que se tornou a Terra Indígena Paquiçamba. Nesse processo, muitas famílias dos beiradões e da cidade voltaram e começaram a construir uma aldeia indígena Juruna (Yudjá) (SARAIVA, 2005). O reconhecimento da Terra Indígena Paquiçamba, no ano de 1990, se deu porque a família de Corina, filha de Muratu e da índia Mandaú viviam no local com seus filhos. Muratu foi um índio reconhecido como Juruna por Coudreau (1977) em suas viagens, logo por Corina ser descendente direta de Muratu reconheceu-se a Terra Indígena Paquiçamba. Ela teve seis filhos com Dorico Juruna e mais duas filhas com o seringueiro Castelo, alguns de seus filhos vivem na Terra Indígena Paquiçamba, na aldeia de Miratu, como a Dona Ester, que tem mais de cem anos de vida e seus filhos Agostinho, Manuel, Dina e Irá. Mesmo após a demarcação da Terra Indígena Paquiçamba muitos Juruna (Yudjá) permaneceram morando em lugares dispersos pela Volta Grande do Xingu, nos beiradões do rio, como na Ilha da Fazenda e na cidade de Altamira. Esse movimento de moradia dos Juruna (Yudjá) e de casamento com não índios faz sua indigeneidade ser colocada à prova, por diversos seguimentos do Estado e até por pesquisadores (SARAIVA, 2005). Com a instalação e posteriormente a inauguração da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, os Juruna (Yudjá) intensificaram o processo de se reconhecerem e serem reconhecidos como índios. Passaram a retornar para a terra indígena demarcada e começaram a estudar sobre seu passado, onde se motivaram a conhecer seus parentes distantes, os Yudjá. Sem dúvida, a construção de Belo Monte está associada à intensificação desse processo de re-existência Juruna (Yudjá), mesmo que os Juruna (Yudjá) anteriormente ao PBA (2012) já estivessem estreitando relações com os Yudjá do parque, Belo Monte vai antecipar o processo de re-existência Juruna (Yudjá).

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A Usina Hidrelétrica de Belo Monte e os Juruna (Yudjá) A Usina Hidrelétrica de Belo Monte faz parte de um projeto que pretendia construir mais 26 usinas hidrelétricas na Amazônia nos próximos anos e em outros países como Peru e Bolívia (BERMANN, 2012). Esse projeto de “segurança energética” (BERMANN, 2012, p. 7) via a bacia amazônica como área de grande potencial hidrelétrico, além, da região, apresentar grandes jazidas de minérios9. Para o funcionamento de Belo Monte seria necessário à construção de mais três usinas hidrelétricas, rio acima, o que segundo Bermann (2012) impossibilitaria a vida de 19 etnias indígenas, mas durante consórcio10 esse número de três hidrelétricas mudou para uma hidrelétrica, a de Belo Monte. A história da Hidrelétrica de Belo Monte inicia-se com os estudos do Inventário Hidrelétrico do Rio Xingu, no ano de 1975 elaborado pelo grupo Camargo Corrêa (BERMANN, 2012). Desde a década de 1980, o projeto foi discutido e rejeitado pelos povos indígenas e ribeirinhos locais, porém foi retomado no ano de 2005, (BERMANN, 2012). No ano de 2016, após muitas discussões e debates, a usina acabou sendo inaugurada. A Hidrelétrica de Belo Monte ainda não está funcionando, suas turbinas se encontram paradas até o momento. Esse trabalho pretende acompanhar os processos de início de funcionamento da hidrelétrica e o impacto direto na vida dos índios Juruna (Yudjá) a partir dos intercâmbios culturais entre os dois grupos Juruna (Yudjá) e Yudjá, com especial ênfase na discussão sobre a elaboração de um projeto de patrimonialização como estratégia para conter a destruição de seu mundo. Desde a inauguração da Hidrelétrica de Belo Monte, no ano de 2016, a empresa responsável, a Norte Energia, através do PBA (2012) tem a obrigação de compensar as partes diretamente afetadas. Um dos projetos do PBA (2012) é o cultural, no qual o intercâmbio cultural entre aldeias dos índios Juruna (Yudjá) da Volta Grande do Xingu e os Yudjá da Terra Indígena do Xingu faz parte, esse intercâmbio modificou a vida dos índios Juruna (Yudjá) da Volta

9 A mineradora canadense Belo Sun está sendo construída na bacia do Rio Xingu. A mineradora pretende tirar cerca de 60 toneladas de ouro da região citada em 12 anos, esse projeto é o maior projeto de mineração de ouro a céu aberto. Ao final da exploração deixará duas pilhas de dejetos químicos. No momento Belo Sun encontra-se embargada pela justiça e perdeu a licença para garimpar. (Diponível em: https://www.socioambiental.org/pt-br/noticias- socioambientais/justica-derruba-licenca-de-belo-sun. Acesso em: 30/05/18).

10 É a venda de partes da hidrelétrica em leilão, chamadas de blocos. 9

Grande, pois se encontram num processo de re-existência cultural inspirados nos seus parentes Yudjá da Terra Indígena do Xingu. Nesse trabalho não será possível discutir todos os itens relacionados no documento PBA (2012), colocarei nas linhas a seguir um breve panorama das áreas mais interessantes a este trabalho. Nesse documento, PBA (2012) existiu uma discussão relacionada a diversos temas, dentre eles: programa de gestão territorial indígena; programa de educação escolar indígena; programa integrado à saúde indígena; programa de atividades produtivas; programa de patrimônio cultural material e imaterial; programa de infraestrutura; programa de realocação e reassentamento dos índios moradores de Altamira e da Volta Grande do Xingu 11. Nesse contexto de mudanças trazidas para a vida não só dos índios, mas das populações ribeirinhas da fauna e flora da região da Volta Grande do Xingu, a Norte Energia, ainda negou a existência da etnia Juruna (Yudjá), pelo modo de vida desses índios serem muito parecidos com o modo de vida das populações ribeirinhas (SARAIVA, 2005). Assim, os índios Juruna (Yudjá) tiveram novamente que demonstrar e provar que eram índios. Neste processo, a Norte Energia acabou por reconhecer os Juruna (Yudjá) da Volta Grande do Xingu, e como uma forma de diminuir os impactos da construção de Belo Monte ficou acordado que a empresa, através do PBA (2012), financiaria viagens de intercâmbio cultural entre os Juruna (Yudjá) da Volta Grande e os Yudjá da aldeia Tuba Tuba na Terra Indígena do Xingu, que se reconhecem como parentes. A construção da etnografia dos Juruna (Yudjá) e Yudjá a partir dos processos de intercâmbio cultural demonstra ser uma estratégia apropriada para investigar essas questões, na medida em que permitirá seguir o processo de transformação ainda em curso, tanto da vida dos indivíduos, ao serem reconhecidos como Juruna (Yudjá), quanto do meio em que vivem, como as mudanças causadas nas vidas dos Juruna (Yudjá) após a construção da Hidrelétrica de Belo Monte, e, mais recentemente, com a possibilidade preeminente da instalação de uma empresa mineradora canadense – Belo Sun.

11 SEM AUTORIA. Perecer Técnico da FUNAI. Altamira-PA, 2012. Processo 08620.2339/00. Parecer nº 01/CGGAM/2012. Acervo FUNAI. 10

Um processo importante que não poderá ser deixado de fora da pesquisa é a discussão sobre a possibilidade de patrimonilização de lugares sagrados na região da cachoeira do Jericoá que está sendo empreendida por organizações indígenas, o ISA e alguns pesquisadores. O tema sobre a patrimonialização tem se difundido e aumentado nas últimas décadas (CARNEIRO DA CUNHA, 2012) devido à existência de diversos processos acompanhados pelos pesquisadores nas suas regiões de estudo12. A Volta Grande do Xingu compreende uma região vasta, onde moram populações indígenas como os Juruna (Yudjá) e , além das populações ribeirinhas que detêm um grande conhecimento tradicional acerca da flora e fauna local. O processo de patrimonialização entra nessa pesquisa como objeto etnográfico para discussão da aproximação entre os índios Juruna (Yudjá) e Yudjá, e também como ferramenta que os une como etnia indígena, pois enquanto parentes compartilham histórias e lugares de origem comuns. A patrimonialização é um instrumento político utilizado por diversos povos indígenas, antropólogos e pesquisadores e vem ajudando a preservar os locais importantes para povos indígenas e comunidades tradicionais13.

O fim do mundo para os Juruna (Yudjá) O fim do mundo esta presente na mitologia de várias sociedades ameríndias, essa mitologia de fim de mundo pode ser vista como uma crítica à sociedade capitalista (DANOWSKI e VIVEIROS DE CASTRO, 2017). Para esses povos o fim do mundo já começou ou já aconteceu, o mundo conhecido

12 O IPHAN reconheceu como Patrimônio Imaterial da Humanidade o sistema agrícola do Rio Negro. Através do estudo relacionado ao cultivo de mandioca, as formas de produção cultural levando em conta a história das populações locais e seus conhecimentos tradicionais, tornou possível o tombamento desse sistema agrícola (EMPERAIRE, ALMEIDA, CARNEIRO DA CUNHA e ELOY, 2010). Neste mesmo caminho foi feito o pedido de registro pelos Wajãpi de seu grafismo e sua oralidade (GALLOIS, 2012). A materialização da cultura Wajãpi foi solicitada pelos índios e pela pesquisadora Gallois (2012) junto do IPHAN, para assegurar que os Wajãpi são detentores do seu conhecimento tradicional/intelectual. A partir desse pedido foi feito livros e CDs com o conhecimento desse povo, além desse material passam seus conhecimentos dos mais velhos para os mais novos através da oralidade.

13 Outros diversos trabalhos foram feitos no sentido de patrimonializar a cultura de um povo ou seus saberes tradicionais como em: Lima (2012), Carneiro da Cunha (2012), Brush (2003), Brown (1998), Kirsch (2004). De acordo com Carneiro da Cunha (2012), mesmo registrando e transformando os saberes tradicionais em patrimônio só teremos nesses registros as pistas de um pequeno mundo desses saberes, mas é impossível registrar sua totalidade. 11 por eles, já não existe mais. Nas mitologias indígenas existe a impossibilidade de um mundo sem gente, logo a destruição do mundo é a destruição da humanidade e a recriação do mundo é a recriação da vida, pois, a forma da vida é humana. O fim do mundo indígena é a desconfiguração do mundo existente, sendo assim, as populações ameríndias já tiveram seus fins de mundo, uma ou mais vezes, desde a colonização até os dias atuais através dos eventos que impactam diretamente em suas vidas, nesse sentido poderíamos aprender muito com os índios como viveram e se reconstruíram após seu fim de mundo. Desde a chegada dos portugueses, os Juruna (Yudjá) já experimentaram o fim do mundo mais de uma vez, primeiramente pelo contato forçado que os fez fugir para o alto Xingu, depois para se manterem vivos no tempo da exploração da borracha e agora viram seu mundo acabar novamente com a chegada de Belo Monte. Um novo fim do mundo acontecerá quando as turbinas da hidrelétrica começar a funcionar. No processo de grandes empreendimentos do capitalismo é corriqueiro que minorias sejam atingidas, o capital leva o argumento da existência de uma necessidade de desenvolvimento econômico regional e nacional, isso acaba por sacrificar populações, animais e o ecossistema como um todo. Os Juruna (Yudjá), em parceria com o Instituto Sócio Ambiental (ISA) e a Universidade Federal do Pará (UFPA) decidiram iniciar um projeto para comprovar por linhas diretas a forma com que foram e serão impactados diretamente pela construção e funcionamento da hidrelétrica. Desde o ano de 2016, os Juruna (Yudjá), iniciaram um monitoramento independente para avaliar os reais impactos da hidrelétrica, em suas vidas e no rio Xingu (PEZZUTI, CARNEIRO, MANTOVANELLI e GARZÓN, 2018). No ano de 2015, o rio Xingu foi barrado, desde então, a quantidade e a velocidade da água do rio depende da quantidade de água vazada pelos coordenadores da hidrelétrica, o licenciamento ambiental julgou que a hidrelétrica deveria passar cerca de 100 km água para vasão na região da Volta Grande do Xingu (PEZZUTI, CARNEIRO, MANTOVANELLI e GARZÓN, 2018). O maior problema, quando se muda o curso do rio e se coloca uma barragem muda-se o curso natural do ecossistema trazendo enormes prejuízos para a natureza e para as pessoas desse espaço. 12

Como uma alternativa feita através da negociação entre os índios e a Norte Energia será feito e iniciará nesse ano de 2019, o Hidrograma de Consenso, sendo esse uma solução para conciliar a quantidade de água que será escoada para garantir a navegação no rio e o ecossistema (PEZZUTI, CARNEIRO, MANTOVANELLI e GARZÓN, 2018). Mesmo com o hidrograma, a quantidade de água é questionada se será suficiente para garantir a vida na Volta Grande (PEZZUTI, CARNEIRO, MANTOVANELLI e GARZÓN, 2018). Para os pesquisadores envolvidos: “[...] não é simples chegar a uma fórmula que garanta a sustentabilidade socioambiental da Volta Grande do Xingu” (PEZZUTI, CARNEIRO, MANTOVANELLI e GARZÓN, 2018, p. 22). Isso acontece porque a quantidade de água escoada pela Norte Energia é muito menor que a necessária para garantir o ecossistema da região, o hidrograma ainda pretende tratar a sazonalidade do rio por mês e não por estação do ano, isso tende a dificultar ainda mais as vidas humanas, dos animais e da flora no rio Xingu. Para lutar pelo seu mundo os Juruna (Yudjá) iniciaram seu monitoramento independente. Esse povo afirma a existência de 26 espécies de peixes que só vivem na Volta Grande do Xingu, sendo assim, de dezembro a janeiro o rio começa subir e alagar, nesse cenário algumas espécies de peixes começam a se alimentar das frutas da época (PEZZUTI, CARNEIRO, MANTOVANELLI e GARZÓN, 2018). No mês de fevereiro os tracajás começam a entrar na floresta alagada (PEZZUTI, CARNEIRO, MANTOVANELLI e GARZÓN, 2018). Através do monitoramento nesses primeiros meses foi possível perceber que a quantidade de água escoada não foi suficiente para os peixes se alimentarem, seu Agostinho Juruna concluiu que no mês de dezembro de 2015, os pacus estavam doentes, “As frutas estão caindo no seco. Isso aconteceu de um jeito, já no ano de 2016 muitos peixes morreram e os tracajás estavam apodrecendo vivos, pois, nem com a maior vasão de água foi suficiente para alagar as florestas aluviais” (PEZZUTI, CARNEIRO, MANTOVANELLI e GARZÓN, 2018). Em julho a curimatã não conseguiu fazer sua desova, pois, sua área de desova não foi alagada (PEZZUTI, CARNEIRO, MANTOVANELLI e GARZÓN, 2018). No mês de setembro houve seca, isso prejudicou a navegação e, também, muitos peixes ficaram presos em poços sem conexão com rio, o acari-zebra é um peixe que 13 vive nos pedrais do rio Xingu, as vasões do hidrograma não garantem o alagamento dessas regiões, esse peixe corre grande risco de extinção (PEZZUTI, CARNEIRO, MANTOVANELLI e GARZÓN, 2018) e os Juruna (Yudjá) acreditam que quando eles forem extintos o povo Juruna (Yudjá) também será. O ano de 2016 foi batizado como o ano do fim do mundo para os Juruna (Yudjá), por consequência da pouca vasão de água do rio Xingu, isso pode transformar a Volta Grande num lugar seco e acabar com as vidas dependentes do rio (PEZZUTI, CARNEIRO, MANTOVANELLI e GARZÓN, 2018). Giuliard Juruna, o cacique da aldeia de Miratu fala sobre 2016, “As frutas estão caindo no seco. Isso aconteceu de um jeito muito intenso em 2016. As tracajás comem as ramas nas áreas alagadas e engordam, já o pacú é mais complicado porque ele só engorda se comer os frutos que caem. Se os frutos caírem no seco, os pacus nunca mais vão engordar e irão morrer todos” (PEZZUTI, CARNEIRO, MANTOVANELLI e GARZÓN, 2018, p. 28). O ano do fim do mundo, também está atrelado ao aumento de doenças para os Juruna (Yudjá), antes da barragem os índios se alimentavam principalmente de peixes, com a grande seca, o Plano Básico Ambiental (PBA, 2012) 14 garantiu uma quantia mensal para os índios irem até Altamira e comprarem produtos industrializados, isso acarretou num aumento significativo de doenças como azia, micoses, alergias e em longo prazo, pressão alta e diabetes. Com essa perspectiva, também aumentou o número de remédios consumidos na aldeia de Miratu (PEZZUTI, CARNEIRO, MANTOVANELLI e GARZÓN, 2018).

Metodologia Esse estudo será feito através da memória dos índios mais velhos, na aldeia de Miratu e, também, na Terra Indígena do Xingu, na aldeia de Tuba Tuba, assim se tornará possível compreender os acontecimentos que separou esta etnia no passado. Será feito trabalho de campo em ambas as terras indígenas durante o período de 15 meses, sendo 9 meses na aldeia de Miratu

14 Desde a inauguração da Hidrelétrica de Belo Monte, no ano de 2016, a empresa responsável, a Norte Energia criou o Plano Básico Ambiental (PBA, 2012) que tem a obrigação de compensar as partes diretamente afetadas. 14 e 6 meses na Terra Indígena do Xingu, na aldeia de Tuba Tuba. Documentos do antigo Serviço de Proteção ao Índio (SPI) sobre os Juruna (Yudjá) e Yudjá, que relatam a formação do Parque Indígena do Xingu constituirão parte dessa pesquisa, também serão utilizados documentos atuais da Norte Energia, FUNAI, IBAMA e do ISA15. Como metodologia será utilizada a memória indígena de sua história, das mitologias, das relações de parentesco e dos locais sagrados. A memória oral será utilizada como ferramenta necessária para atingir as lembranças dos mais velhos e conseguir traçar os caminhos feitos tanto em torno da Volta Grande do Xingu quanto da Terra Indígena do Xingu. Os conhecimentos e histórias, armazenados na mente dos indivíduos ajudam os sujeitos numa reinterpretação de seu passado e isso cria a memória coletiva ajudando a discutir a história de grupos (LE GOFF, 2003). Podemos utilizar da História16 como técnica para ajudar na construção da memória dos Juruna (Yudjá) e Yudjá, porque através da História é possível entender o passado pelo presente e o presente pelo passado (BLOCH, 2002). A mitologia dos índios Juruna (Yudjá) e Yudjá, também se fará importante para a pesquisa, pois é através dela que procurarei compreender os caminhos e os locais sagrados para os Juruna (Yudjá) e Yudjá, e a lacuna histórica deixada na separação. Por meio dos mitos tentarei entender o que os índios querem dizer e o que decidiram esquecer (LÉVI-STRAUSS, 2006). Através da mitologia é possível refletir como os mitos pensam nos homens, nos locais sagrados, nos animais e a sua revelia (LÉVI-STRAUSS, 2006). Os mitos podem trazer diversos assuntos como a relação de parentesco, comportamentos, relação dos homens com o universo, as passagens das estações, seus ritos e outros aspectos (LÉVI-STRAUSS, 2006). Gow (2001) observou em seu campo junto dos Piro, que a narração dos mitos é feita dos mais velhos para os mais novos, em momentos de tranquilidade onde se encontram juntos. Essas histórias são interessantes para o contador e para os jovens, que tem o prazer de ouvir. As histórias ou os mitos são contados de três formas pelos Piro: do próprio jeito do narrador, como a pessoa que contou

15 Já possuo parte dos documentos dessas instituições, porém será necessário uma maior busca e um maior estudo dos documentos.

16 Quando utilizo da palavra História com H maiúsculo faço referência a História científica. 15 a ele, ou como os mais velhos contavam tal história (GOW, 2001). Os Juruna (Yudjá) estão num processo de rescrever sua mitologia após a separação, pois se difere em partes da mitologia Yudjá. Lima (2005) escreveu a mitologia Yudjá, mas até o momento nenhum pesquisador ouviu, estudou e escreveu a mitologia Juruna (Yudjá). A pesquisa iniciada pelo prof. Natanael a respeito das histórias dos Juruna (Yudjá) e Yudjá tem o potencial de preencher um pouco essa lacuna e este projeto tem o objetivo de colaborar com o levantamento e registro dessas histórias. O meu ofício como Historiadora, nesse trabalho, não comporá a forma como a História ocidental é feita, através da análise documental, não é o objetivo usar dos modos de se fazer História, aquela escrita e, somente documental, o que me proponho a fazer é algo parecido com que Gow (2001) fez com os Piro, é fazer a história das pessoas antigas, a história relatada pelos mais velhos. Essa forma de se fazer História me trará as características dos acontecimentos históricos do ponto de vista dos Juruna (Yudjá) e Yudjá. O diferencial desse trabalho será a capacidade assim como de Gow (2001) de conectar o mito com a metodologia histórica, pela minha formação como Antropóloga e Historiadora17. Nesse sentido, minha proposta aqui é utilizar da Antropologia através da etnografia e o método histórico para análise documental e registros mitológicos, de forma a colaborar com a reescrita das histórias Juruna (Yudjá), através de suas perspectivas. Colaborar com essa reescrita é estratégico não só para conhecer as histórias Juruna (Yudjá), mas também para acompanhar os contextos políticos em que esse processo está associado e que são parte da re-existência Juruna (Yudjá). Nesse contexto, esse trabalho propõe seguir o programa de intercâmbio cultural que vem acontecendo entre os Juruna (Yudjá) da aldeia Miratu e os Yudjá da Terra Indígena do Xingu, da aldeia de Tuba Tuba. Esse intercâmbio possibilitou à vivência dos Juruna (Yudjá) e Yudjá em ambas as terras indígenas, numa primeira viagem foram quatro índios da Terra Indígena

17 Já utilizei de ambas as disciplinas, Antropologia e História para fazer minha dissertação de mestrado, onde trabalhei com a pesquisa documental e com relatos indígenas sobre as violações aos Direitos Humanos ocorridos durante a ditadura civil-militar de 1964. Dei ênfase maior sobre a discussão de dois reformatórios indígenas, o Reformatório Krenak e a Fazenda Guarani. Ver em: FOLTRAM, Rochelle. O Estado militar e as populações indígenas: Reformatório Krenak e Fazenda Guarani. Dissertação apresentada ao Programa de Pós- Graduação Interdisciplinar em Ciências Humanas da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri. Diamantina - MG, 2017. 167f. 16

Paquiçamba passar seis meses na Terra Indígena Xingu. Os índios que retornaram da Terra Indígena do Xingu, modificaram a rotina dos outros índios Juruna (Yudjá). Foram implantadas aulas da língua Yudjá; as mulheres começaram a fazer artesanato; em parceria com a Norte Energia foram feitos materiais didáticos diferenciados na escola; o professor Natanael Juruna começou a investigar o que poderia ter acontecido no processo de separação das etnias. Nesse caminho, esse trabalho como já mencionado é uma demanda levantada junto com o professor Natanael Juruna. Outras viagens foram feitas para a Terra Indígena Xingu com maior número de pessoas, porém com menos dias de estadia. Os Yudjá da Terra Indígena do Xingu estiveram na aldeia de Miratu por alguns dias. Essas visitações se mostram um locus etnográfico privilegiado, ainda mais se levarmos em consideração de que o prof. Natanael é uma das pessoas que mais visita a aldeia Tuba Tuba.

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