Djamila Ribeiro
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO ESCOLA DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM FILOSOFIA DJAMILA RIBEIRO SIMONE DE BEAUVOIR E JUDITH BUTLER: APROXIMAÇÕES E DISTANCIAMENTOS E OS CRITÉRIOS DA AÇÃO POLÍTICA 1 Guarulhos 2015 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO ESCOLA DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM FILOSOFIA DJAMILA RIBEIRO SIMONE DE BEAUVOIR E JUDITH BUTLER: APROXIMAÇÕES E DISTANCIAMENTOS E OS CRITÉRIOS DA AÇÃO POLÍTICA Dissertação apresentada ao programa de Pós- graduação em Filosofia na Universidade Federal de São Paulo como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Filosofia. Orientador: Prof. Dr. Edson Luís de Almeida Teles 2 Guarulhos 2015 “Assimilação, dentro de uma história unicamente européia, não é aceitável.” Audre Lorde “Quando os ventos de mudança sopram, umas pessoas levantam barreiras, outras constroem moinhos de vento”. Érico Veríssimo 3 FOLHA DE APROVAÇÃO Djamila Ribeiro Simone de Beauvoir e Judith Butler: aproximações e distanciamentos e os critérios da ação política Dissertação apresentada ao programa de Pós- graduação em Filosofia na Universidade Federal de São Paulo como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Filosofia. Aprovada em: ______________________________________________ Banca examinadora Prof. Dr. ____________________________________________ Instituição: ___________________assinatura:_____________ Prof. Dr. ____________________________________________ Instituição: ___________________assinatura:_____________ Prof. Dr. ____________________________________________ Instituição: ___________________assinatura:_____________ 4 Dedico essa dissertação à minha filha Thulane, nascida em 8 de março, me dando a certeza da continuação. Aquela que todos os dias me ensina a ter o coração meio amargo. 5 SUMÁRIO AGRADECIMENTOS ...........................................................................................................07 Resumo.....................................................................................................................................09 APRESENTAÇÃO.................................................................................................................11 INTRODUÇÃO.......................................................................................................................14 1. FEMINISMO EXISTENCIALISTA DE BEAUVOIR..................................................16 1.1 A mulher é o outro.....................................................................................................21 1.2 Ação política............................................................................................................. 24 2. OXÍMORO BUTLERIANO DA REPRESENTAÇÃO..................................................27 2.1 Política e representação........................................................................................28 2.2 Proposição interseccional de Butler e paralelos com Lorde................................31 3. ‘E EU NÃO SOU UMA MULHER?’..............................................................................36 3.1 Mulher negra: o outro do outro......................................................................43 3.2 Interseccionalidade.........................................................................................48 3.3 Feminismo negro............................................................................................53 4 - LIMITES DA TEORIA 4.1 Privilégio social/Privilégio epistêmico................................................................61 4.2 CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................. 64 ANEXOS...................................................................................................................69 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..............................................................................................102 6 AGRADECIMENTOS Primeiramente, agradeço à FAPESP – Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo – pelo apoio financeiro e institucional. Sem este, não teria sido possível a realização desta pesquisa. Ao meu orientador, Edson Teles, pela generosidade, parceria, escuta sempre atenciosa e por ter me possibilitado estar no caminho de atingir o que eu sempre quis ser e não sabia. Minha eterna gratidão. À Amelinha Teles, pelo acolhimento, solidariedade, empatia e amor. Ao meu companheiro Donald Verônico, pela paciência, apoio, amor e dedicação. Sem você, tudo teria sido mais difícil, mas você fez a jornada ser mais leve. À minha sogra Vera Oscar, por me ajudar nos cuidados com minha filha Thulane sempre com muito amor e generosidade. À minha irmã Dara Ribeiro, pelo amor e por ter sido a primeira a me acolher quando decidi estudar Filosofia. Ao meu amigo Didz, pelo companheirismo, acolhimento e apoio incondicional. Por me abrigar em sua casa nos meus dias de aula de mestrado e por me fazer o melhor café. Às minhas amigas, Sueli Feliziani, Aline Djokic, Anna Carolina Gomes, Stephanie Ribeiro, Gabi Porfírio pelos inúmeros aprendizados sobre feminismo negro, pelos textos que gentilmente disponibilizaram no grupo Feminismo Negro Interseccional, as traduções, as conversas. Sem vocês e esse grupo eu não teria conseguido e não teria acesso a tantos materiais importantes. À Clara Averbuck, pela amizade, generosidade e por reconhecer em mim o que muitos tentaram apagar. À Sílvio Almeida, pela generosidade e por me fazer acreditar em união. À Margaret Simons, a querida Peg, por ter me acolhido quando participei pela primeira vez, em 2011, na Universidade do Oregon, da conferência da Beauvoir Society. 7 Nunca esquecerei sua generosidade em me dar seus livros e fazer com que outras autoras presentes também me dessem. Eu, ainda graduanda, me senti acolhida e amada. E, depois, em 2014, em minha segunda Beauvoir Conference, em Saint Louis, seguiu me abraçando. À Daniela Auad, por ter sido meu primeiro contato com o tema na Academia e ter me possibilitado aprofundar meus conhecimentos e ao professor Alexandre Carrasco por ter me orientado na graduação e me dado a oportunidade de começar. Ao professor Marcelo Carvalho, que sem saber me incentivou a estudar feminismo quando em 2011, ainda na graduação, ao me orientar sobre um trabalho de sua disciplina, foi atencioso, indicou bibliografias e me permitiu escrever meu primeiro trabalho acadêmico sobre o tema. E ao me dizer a seguinte frase depois de eu expor meus receios em estudar esse tema na Filosofia: “se é o que você quer, vai em frente”. À Marai Larasi, que ao fazer eu me desencontrar, possibilitou um lindo encontro comigo mesma. À Marília Salles, pela amizade, amor incondicional e por ser uma das poucas que me enxerga além de imagens. Aos meus amigos e amigas Douglas Rodrigues, Raquel Conceição, Juliana Oliva, Clara Guimarães pelos aprendizados, colos, conversas e desabafos. À Rodney William por ter permitido meu retorno à minha ancestralidade. À Fabio Mariano e Carla Cristina Garcia pelo carinho e a oportunidade de ministrar um curso sobre feminismo negro pela primeira vez. À equipe da Carta Capital, onde escrevo, pelo carinho e oportunidade, especialmente ao Lino Bochinni. A todas as feministas, que antes de mim lutaram tendo como princípio a verdadeira solidariedade entre as mulheres. E, por fim, a minha mãe e pai que já estão no Orun, mas me possibilitaram ser quem eu sou hoje. A vocês, meu amor eterno. 8 Resumo Quais os limites entre reflexão e a ação política quando falamos de feminismo? Haverá um fio condutor entre elas? Como perceber as impossibilidades de cada uma? Simone Schmidt (2004) diz que o feminismo é diverso, nesse sentido deve ser entendido “como uma arena, depois, como um campo teórico, uma prática interpretativa e, por fim, como um lugar político”. O problema da teoria e prática poderia estar atrelado a um entendimento de que a ciência é algo neutro, pois o feminismo, necessariamente, significa tomar um posicionamento. Guacira Lopes Louro defende que a pesquisa feminista não é desinteressada, pois ela fala de algum lugar, nesse sentido, pesquisar sobre feminismo é assumir que não existe uma ciência neutra ou desinteressada. A reflexão feminista sobre os problemas enfrentados pelas mulheres vem ganhando cada vez mais legitimidade e espaço. Há uma gama de trabalhos com diferentes abordagens epistemológicas, perspectivas e finalidades. O objetivo do nosso trabalho é mostrar as reflexões trazidas por Simone de Beauvoir e Judith Butler, em O segundo sexo e Problemas de gênero respectivamente para evidenciar como os conceitos apresentados pelas autoras nos ajudam a pensar os limites do lugar da reflexão em relação a ação política do feminismo. E, ao pensar esses limites, pensaremos sobre uma terceira via apresentando trabalhos de autoras negras, não somente como uma voz que causa disfonia, mas como alternativas de outras formas de se pensar a conexão teoria prática. Palavras chave: feminismo; universalização; ação política; feminismo negro 9 Abstract: What are the boundaries between reflection and political action when we talk about feminism? There will be a common thread among them? How to realize the impossibility of each? Simone Schmidt (2004) says that feminism is different in this sense must be understood "as an arena, then as a theoretical course, a performance practice and, finally, as a political place." The problem of theory and practice could be linked to an understanding that science is something neutral, because feminism necessarily means taking a position. Guacira Lopes Louro argues