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DIRECTOR Pe. José Mario O. Mandía | ANO 71 | Nº 41 | 8 de MARÇO de 2019 | SEXTA-FEIRA PT EN CH EDIÇÃO TRILINGUE | TRILINGUAL EDITION | SEMANÁRIO CATÓLICO DE | PREÇO 12.00 Mop

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DESTAQUE PÁGs. 2 E 3

Procissão: acompanhe QUARESMA o Senhor dos Passos «Viagem de regresso ao essencial»

LOCAL PÁG. 6

Coro Perosi abrilhantou oração de vésperas

LOCAL PÁG. 5

Hoje é Dia Internacional da Mulher

ECLESIAL PÁG. 11 LITURGIA PÁG. 10 DESTAQUE O CLARIM | Semanário Católico de Macau | SEXTA-FEIRA | 8 de Março de 2019 2 PT

CARDEAL D. FERNANDO FILONI, PREFEITO DA CONGREGAÇÃO PARA A EVANGELIZAÇÃO DOS POVOS, EM ENTREVISTA A’O CLARIM «O contributo de Macau e de para a Igreja Universal é especial»

PE. JOSÉ MARIO MANDÍA

Macau recebeu no passado fm- de-semana o cardeal D. Fernando Filoni. O prefeito da Congregação para a Evangelização dos Povos abençoou as novas instalações da Universidade de São José, na Ilha Verde, numa cerimónia que reuniu mais de meio milhar de pessoas no auditório da instituição de Ensino Superior. Numa entrevista exclusiva a’O CLARIM, o antigo responsável pela Missão da Santa Sé na antiga colónia britânica elogiou o papel desempenhado por Macau e por Hong Kong em prol da abertura da , abordou as conclusões da cimeira sobre a protecção de menores, que decorreu no Vaticano no fnal de Fevereiro, e antecipou uma eventual visita do Papa Francisco à China. Sobre este última tema, assegurou que a vontade existe. Só falta mesmo o momento certo... centos anos, pelo Papa Gregório XIII, e por todos os povos. A nossa Congrega- minários, promovemos a formação de foi aperfeiçoada pelo Papa Urbano VIII. ção foi a primeira a actuar na América, sacerdotes. A propagação do Evange- Foi criada por incentivo papal porque a quando o continente americano foi des- lho é a principal prioridade, mas não Cúria Romana se apercebeu que, à épo- coberto. Foi a primeira a trazer a Boa- nos limitamos a propagá-lo. Costuma- ca, eram muitos os países que estavam a -Nova à Ásia, a África, à Oceânia, e isto é mos dizer que a evangelização caminha estabelecer colónias aqui e acolá e, por algo que encaramos como uma respon- com duas pernas: uma é o Evangelho e O CLARIM – Vossa Eminência é o prefei- vezes, utilizavam a religião para propó- sabilidade. Enquanto Congregação, so- a outra é a Cultura. Procuramos levar to da Congregação para a Evangelização sitos políticos. O Papa disse: «Não, não mos hoje em dia responsáveis por estes educação a todo o lado, apostamos na dos Povos. Quais são os principais ob- podemos permitir que se misture religião com grandes continentes: Ásia, África, Oceâ- formação e hoje contamos com a nossa jectivos deste organismo? propósitos políticos e comerciais». A evange- nia e partes da América Latina. Como o própria rede de estabelecimentos esco- D. FERNANDO FILONI – A Congre- lização é um dever primário da Igreja. A Concílio Vaticano II sublinhou, temos lares em varias localidades remotas de gação para a Evangelização dos Povos Igreja foi criada para evangelizar. Quan- de encorajar a evangelização, promo- África e em outras regiões. também é conhecida como “Propagan- do Jesus disse «Ide pelo mundo inteiro e ver a evangelização, organizar a evan- CL – No seu entender que desafos, da Fide”. Este foi o seu primeiro nome, anunciai a Boa-Nova» e criou um grupo – gelização e fazer com que os povos de que obstáculos, se colocam à actividade o seu nome em Latim. A palavra “pro- o dos Apóstolos – o que estava a fazer era todo o mundo ganhem consciência missionária? paganda” não tem nada a ver com a a incumbir a Igreja da missão de evange- de que, enquanto católicos, devem ser D.F.F. – Uma vez que criámos e instalá- conotação que lhe é assacada hoje em lizar. O Papa afrmou: «Propagar o Evan- missionários na sua própria terra e de- mos dioceses um pouco por todo o lado, dia. “Propaganda” em Latim signifca gelho é a nossa primeira missão. E queremos vem promover a inculturação da Igre- em todos os continentes, temos a respon- exactamente a Congregação que pro- que esta missão esteja nas nossas mãos e não ja nos respectivos países. Hoje em dia sabilidade de ajudar estas jovens igrejas a paga o Evangelho pelo Mundo. É este nas mãos de outros poderes». Essa foi a tare- temos sob a nossa égide mais de mil e crescer, a formar todos quantos são res- o verdadeiro signifcado do termo. A fa que desde então assumimos: propagar duzentas dioceses. Somos responsáveis ponsáveis por elas. É algo que temos que nossa Congregação foi criada há quatro- o Evangelho, espalhar a palavra de Deus por elas. Nomeamos bispos, criamos se- fazer a bem da evangelização propria-

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Universal é especial. Bem, é mais espe- os que são acusados, a ideia de justiça cífco do que especial, dada a sensibili- é muito importante. Não se pode, pura dade, a capacidade e as boas intenções e simplesmente, eliminar ou afastar al- que lhes são associadas. Os católicos em guém só porque outra pessoa disse “o Macau e Hong Kong sentem que podem senhor fez isto e isto”. O que não falta oferecer algo que os outros não podem são casos de pessoas que foram acusadas e esse contributo é especial. injustamente. A justiça é essencial. Se CL – O monsenhor Ante Jozic vai não existir justiça – seja em questões li- deixar a Missão da Santa Sé em Hong gados à religião ou ao próprio primado Kong. É errado presumir que o substi- da lei – o mais certo é que a sociedade tuto para uma posição tão importante já entre em colapso. Sobre esta questão foi escolhido? delicada, o que a cimeira permitiu foi D.F.F. – Bem, não me cabe a mim de- que os bispos, sacerdotes e membros fnir o que vai acontecer, mas a verdade das diferentes congregações religiosas é que a Missão já existe há muitos anos. ganhassem consciência de que é absolu- O monsenhor Ante foi promovido a tamente necessário defender os meno- arcebispo e a núncio apostólico. Fico res. O Papa no seu último discurso subli- feliz pelo contributo dado pela Missão nhou este aspecto: as principais vítimas, na abordagem à Igreja na China. O tra- os principais afectados são os menores, balho conduzido pela Missão é muito as crianças, os que nunca chegaram a importante para o Santo Padre e para nascer, os que estão doentes. Isto não é a Igreja Universal. Muitas vezes a Igre- algo que se cinge ao passado. É algo que ja espalhada pelo mundo interroga-se: ainda acontece nos nossos dias. É costu- Sede da Propaganda Fide, em Roma “E se os pudéssemos informar? E se pu- me dizer-se “se não há esperança, então mente dita. É absolutamente essencial lação, mas o problema de Taiwan subsiste. déssemos partilhar com eles todos os é melhor que se eliminem os proble- que diferentes grupos étnicos, como por A Santa Sé e a China assinaram recente- elementos que conhecemos em relação mas”. Este pensamento é inadmissível. exemplo em África, possam compreen- mente um acordo provisório e há quem à Igreja na China, em relação à Igreja Para nós é importante que os menores, der os Evangelhos através dos meios que pergunte se a visita que fez à Formosa não em Macau e em Hong Kong?”. Neste os que foram excluídos, sejam parte da estão ao seu dispor: a sua cultura, as suas pode comprometer este acordo... momento, obviamente, estamos a olhar nossa sociedade. Temos de fazer uma capacidades, os seus conhecimentos e as D.F.F. – O convite que me levou a para o futuro e a Igreja está a ponderar introspecção profunda, não apenas no sensibilidades que lhes são próprias. Não Taiwan não me foi endereçado. A Igre- qual é o próximo passo a ser tomado. seio da Igreja, mas fazer com que esta se trata apenas de lhes oferecer algo em ja em Taiwan convidou o Papa Fran- Certamente que a Santa Sé não vai es- introspecção também envolva o mundo. que possam acreditar. Não é sufciente. A cisco e o Santo Padre disse-lhes: «Vou quecer Hong Kong, Macau ou Taiwan, As mensagem que o Papa deixou à so- nossa missão é fazer com que o Evange- enviar-vos um enviado especial». Eu fui o da mesma forma que não esquece qual- ciedade e aos grupos que defendem as lho se torne carne entre os povos. Este é enviado do Santo Padre à celebração quer país, a China incluída. vítimas é clara: «Esta tomada de consciên- um aspecto muito importante, mas tam- do Congresso Eucarístico. O propósito CL – Hong Kong está também à espe- cia vai traduzir-se em decisões legais, numa bém muito delicado. Não nos queremos da minha visita foi meramente religio- ra de um novo bispo... postura rigorosa por parte da Igreja». Este impor, como o Papa Francisco fez ques- so. Não houve qualquer propósito polí- D.F.F. – A questão da nomeação de é um processo lento, mas no qual nós tão de assinalar inúmeras vezes. Não que- tico ou qualquer outra razão. Fico feliz um novo bispo para Hong Kong está nas estamos a trabalhar. remos impor nada. Queremos apenas pelo facto do Santo Padre me ter dado mãos da Providência. Temos de estudar CL – Os dois epíscopos chineses que propor a nossa fé. esta oportunidade, não só de o repre- todas as possibilidades, teremos de ver, participaram no Sínodo dos Bispos, em CL – Macau e Hong Kong deram um sentar, mas também de encorajar estas mas até ao momento nada está decidido. Roma, disseram que endereçaram um enorme contributo para a evangelização Igrejas a continuar a espalhar a Palavra CL – Liderou durante alguns anos a Mis- convite ao Papa Francisco para visitar na China. Que papel podem desempe- de Deus. Mantemos, obviamente, rela- são da Santa Sé em Hong Kong. Macau e a China. Acredita que uma tal visita se nhar as duas Regiões Administrativas ções com todos e, no meu entender, Hong Kong mudaram muito ao longo dos pode vir a realizar? Especiais no âmbito do acordo frmado esta foi uma boa oportunidade para últimos anos. A Igreja Católica ainda tem D.F.F. – No passado, já desde o pon- entre a Santa Sé e o Governo Central? demonstrar que a Igreja mantém uma uma presença importante em ambas as tifcado de João Paulo II, que foram fei- D.F.F. – Estava a trabalhar nesta zona posição de abertura a todos. Regiões Administrativas Especiais? tos convites a bispos chineses para que quando João Paulo II se pronunciou CL – Neste seu regresso a Macau tem D.F.F. – Sim, não vejo porque não te- participassem no Sínodo, mas tal nunca pela primeira vez sobre a abertura da alguma mensagem especial para os cató- ria. Conheço o passado e conheço o pre- se prefgurou possível. Finalmente par- China. Ele considerava que a Igreja em licos do território? Esteve reunido com o sente, e na minha perspectiva a Igreja ticiparam, conheceram os outros bis- Taiwan, em Hong Kong e em Macau clero. Também se reuniu com os leigos? mantém-se forte em ambos os lados. O pos, estiveram connosco e eu próprio devem servir de ponte; devem servir D.F.F. – Não me parece que seja ne- Bispo, os sacerdotes, as religiosas, os lei- tive a oportunidade de me reunir com de ligação entre os dois lados. Macau cessário devotar uma atenção especial gos... Todos eles estão a fazer um traba- eles. Sou testemunha da alegria que e Hong Kong são duas pontes que co- em relação a Macau e Hong Kong. Ma- lho extraordinário. É um trabalho que sentiram. Partilharam connosco o que locam a fé e o Evangelho ao serviço da cau e Hong Kong nada têm de especial. é admirado. Apesar de sermos uma mi- tinham para oferecer: amor, alegria e o comunidade católica da China conti- A única coisa especial sobre os dois é o noria, damos um grande contributo. É entusiasmo por poderem ser parte desta nental. É importante que durante mui- facto de estarem na órbita da Grande um contributo que se manifesta não só grande experiência de comunhão com tos anos Hong Kong e Macau tenham China e isso é algo bom. A Igreja em através da fé, mas também do trabalho os bispos de todo o mundo. Até agora aberto tantas portas, mas importa su- Macau e em Hong Kong deve permane- que desenvolvemos enquanto testemu- faziam parte de uma outra dimensão, blinhar que este trabalho foi sempre cer fel à Igreja Universal, e deve tirar nhas de Cristo. Tentamos dar o nosso mas depois desta primeira oportunida- feito da forma mais indicada. Devemos proveito desta capacidade de pertencer melhor em domínios como a educação de, sei que terão, porventura, interesse salientar também que a presença da à Igreja Católica para oferecer aos féis ou a assistência social e não agimos ape- em partilhar esta experiência com os Igreja na China já se faz notada. Nun- em Macau e em Hong Kong a possibi- nas de um ponto de vista académico. É outros e esta é uma dimensão maravi- ca desapareceu e tornou-se mais forte. lidade de viverem ao máximo a sua fé, algo que fazemos com alma e com amor. lhosa. Ainda que a presença deles entre Cresceu em termos de vitalidade, em de viverem ao máximo a sua comunhão. CL – Na cimeira que discutiu em nós se tenha limitado a um período de termos organizativos, na reconstrução É essencial que não se sintam à parte, Roma a protecção de menores foram duas semanas, foi algo maravilhoso. Foi de espaços que tinham sido destruídos porque são parcelas essenciais da Igreja tomadas medidas concretas em número o começo de algo importante. e de comunidades que quase tinham Universal. Este aspecto, no entanto, não sufciente? O Papa Francisco dizia que CL – Acredita que o Papa Francisco desaparecido. É necessário que se diga constituiu uma particularidade especial, é absolutamente necessário promover poderá ponderar o convite que lhe foi que estando a Igreja já presente na Chi- mas trata-se de algum comum no seio medidas concretas e não fcar apenas no feito e visitar a China? na, a Igreja tornou-se por ela própria da Igreja. Quando me desloco a África, plano das intenções... D.F.F. – Estou certo que é uma viagem uma ponte. Para que uma ponte exista não lhes digo: “Vocês são especiais”. São D.F.F. – Creio que se avançou para o que o Papa gostaria de fazer. Talvez esteja são necessários dois pilares. Um não é especiais apenas no sentido de que a fé encontro com expectativas muito eleva- apenas a aguardar pelo momento certo. sufciente, são necessários dois. Esta li- que nutrem vai contribuir para a uni- das em relação à adopção de medidas gação é de extrema importância. dade da Igreja Universal. O contributo práticas, mas quando se tem que se deci- Edição: José Miguel Encarnação e Jasmin Yiu CL – Menciona a importância desta re- de Macau e de Hong Kong para a Igreja dir sobre pessoas, especialmente contra Tradução: Marco Carvalho LOCAL O CLARIM | Semanário Católico de Macau | SEXTA-FEIRA | 8 de Março de 2019 4 PT

CARDEAL D. FERNANDO FILONI PEDIU AOS FIÉIS SENTIDO DE MISSÃO E AOS PROFESSORES UMA EDUCAÇÃO COM VALORES Sobre esta pedra, evangelizai!

JÁ AGORA! Visita de alegria

início da semana foi de terminar o períplo asiático, o cardeal enorme alegria para a Igreja disse explicitamente que ainda não O Católica em Macau. Faço há qualquer indicação quanto aos já aqui a primeira ressalva: Igreja sacerdotes que irão tomar as rédeas da Católica em Macau, e não “de” diocese e da missão diplomática em Macau. E porquê? Porque a Igreja Hong Kong. São decisões que cabe ao Católica é una e universal, pois é Espírito Santo tomar, segundo explicou governada pelo Papa e está presente ao nosso jornal. em todo o mundo, pelo menos onde Posto isto, é de crer e de prever que a sua presença não é proibida. não deverão ser anunciadas grandes Mas dizia eu: o início da semana mudanças nos próximos meses, sendo foi de enorme alegria para a Igreja que este adiar ou impasse (como JOSÉ MIGUEL ENCARNAÇÃO cego? (Lc., 6, 39-45)» – o prefeito da Católica em Macau. lhe quiserem chamar) só é hoje [email protected] Congregação para a Evangelização dos De facto, não é todos os dias Povos sublinhou o dever de quem «ama que o território recebe um cardeal os outros» em se «tornar missionário» e «di- e logo prefeito de uma das mais fundir o Evangelho». importantes Congregações do Estas declarações foram proferidas, Vaticano. A Congregação para no passado dia 3 de Março, durante a D. Fernando Filoni é prefeito da a Evangelização dos O cardeal D. Fernando Filoni pediu homilia da habitual missa dominical das Congregação para a Evangelização aos féis católicos de Macau que sejam 18 horas e 30 da Sé Catedral, que contou dos Povos. Para o comum dos Povos tem a seu cargo a «missionários» em suas casas, nos seus com a participação de largas centenas mortais, tal não lhe diz nada à empregos, na relação com os amigos e de féis das mais diversas nacionalidades. partida. E até os mais esclarecidos nomeação dos bispos de na vida quotidiana. O programa da visita de D. Fernando poderão apenas pensar que se trata Macau e Hong Kong, bem No entender do prefeito da Congre- Filoni, que esteve sempre acompanha- do organismo da Santa Sé que regula gação para a Evangelização dos Povos, do de D. Stephen Lee, bispo de Macau, a actividade missionária da Igreja nos como de todos os prelados o trabalho missionário não está apenas prosseguiu na manhã do dia seguinte quatro cantos do planeta. reservado às pessoas consagradas, sendo com a celebração de missa no Auditório Pois bem: nós levantamos mais um das chamadas Dioceses esta uma tarefa acessível a todos os que Centenário de Fátima, no Campus da pouco do “véu cardinalício”, desde que Missionárias. Os restantes vivem a Fé Cristã. Ilha Verde da Universidade de São José. prometa que não vai especular e/ou «Ser missionário não é propriamente per- Também durante a homilia, o car- fazer análises precipitadas, pois seria bispos são nomeados pela tencer a uma instituição, como é pertencer aos deal repetiu a ideia por ele transmitida fácil mas não gostamos de ir por aí. Franciscanos, Dominicanos e outros», co- na missa de Domingo, tendo dirigido a A Congregação para a Congregação para meçou por explicar D. Fernando Filoni, mensagem aos professores da instituição Evangelização dos Povos tem a os Bispos acrescentando: «Cada um de nós, por meio de Ensino Superior, mais concretamen- seu cargo a nomeação dos bispos do Baptismo, recebe a vocação missionária de te no que respeita ao papel dos docentes de Macau e Hong Kong, bem anunciar Jesus ao mundo». na formação dos alunos. «Não sejam pro- como de todos os prelados das O cardeal, que durante os dois dias fessores só para ensinar, sejam também trans- chamadas Dioceses Missionárias. Os que esteve em Macau fez inúmeras re- missores de valores», apontou. restantes bispos são nomeados pela possível porque as entidades católicas ferências ao Santo Padre, lembrou que Antes do encerramento da Eucaris- Congregação para os Bispos. presentes no Delta do Rio das Pérolas «a evangelização é actualmente a tarefa tia, D. Filoni abençoou as novas insta- Mais: a Congregação liderada têm recursos humanos e dinâmicas de mais importante da Igreja», uma ideia que lações da Universidade de São José na por D. Fernando Filoni é também funcionamento que há uma década tem marcado o pontifcado do “jesuíta” presença de D. Stephen Lee e do bispo responsável pela nomeação do chefe não existiam. Francisco. emérito de Macau, D. José Lai. Para o da Missão da Santa Sé em Hong Ah, é verdade: falta falar no Sendo o primeiro Papa não europeu efeito, foi inscrita numa pedra branca a Kong. E ainda tem o “pelouro” de acordo assinado entre o Vaticano e e proveniente da América Latina, Jorge seguinte frase: “Este CAMPUS DA ILHA Taiwan. a China (prefro do que dizer Santa Mario Bergoglio tem desde a sua eleição VERDE foi benzido por S.ª Emin.ª Rev.ª Antes de passar por Macau, D. Sé e Pequim). Mas também nesta defendido a evangelização das “perife- CARDEAL FERNANDO FILONI, Per- Filoni esteve na Formosa a participar matéria não há mais a revelar para rias”, sejam elas sociais, políticas ou geo- feito da Congregação da Evangelização num congresso eucarístico, e além do já noticiado. De acordo com gráfcas. Daí a necessidade, segundo D. dos Povos, tendo como testemunhas D. já cá agradeceu pessoalmente D. Fernando Filoni, trata-se de um Filoni, de «levar a Boa Nova aos pobres e STEPHEN LEE BUN SANG, Bispo de ao monsenhor Ante Jozic o seu acordo meramente religioso, social, àqueles que sofrem». Na prática, «é dar espe- Macau, Prof. Pe. PETER STILWELL, desempenho à frente da Missão da enfm, humano, e não político. Para rança a quem dela precisa», disse. Reitor da USJ, Doutor SAMUEL KIO SU Santa Sé em Hong Kong e confrmou pena dos analistas políticos.... Recorrendo à passagem da parábo- IONG, Director do CDSJ6. Macau, 4 de que este irá ocupar o cargo de núncio la do cego – «Poderá um cego guiar outro Março de 2019”. apostólico na Costa do Marfm. A José Miguel Encarnação O CLARIM | Semanário Católico de Macau | SEXTA-FEIRA | 8 de Março de 2019 LOCAL PT 5

CORO PEROSI ABRILHANTOU ORAÇÃO DE VÉSPERAS NA IGREJA DA SÉ CATEDRAL

«Morte, onde está a tua vitória?» (1 Coríntios 15:55)

MIGUEL AUGUSTO À medida que cada fel se senta- com Jesus os que em Jesus adormeceram» va, colocava na sua frente uma vela (1 Tessalonicenses 4:14). acesa. Aos poucos, a igreja foi-se ilu- Reinava o silêncio entre os pre- minando com estes pontos de luz sentes, numa introspecção de senti- – simbólica presença do Senhor, a mentos elevados ao Céu, de forma verdadeira Luz do mundo. contemplativa, embalados pelas vo- A igreja da Sé Catedral convidou O evento teve início às vinte ho- zes harmoniosas que transcenderam os féis a juntarem-se à oração de ras, com breves palavras e uma ora- o espaço e o momento. Os aplausos, vésperas do passado dia 2 de Março, ção proferida pelo padre Cyril Law, esses, fcaram guardados para o fm, em comunhão com o Coro Perosi, e um canto introdutório. De segui- pois o Senhor recebia louvor pelo sob o tema “Vésperas Corais ‘Morte, da foi lido o Evangelho de São João: canto, leitura da Palavra e oração. onde está a tua vitória?’ (1 Coríntios «No princípio existia o Verbo; o Verbo esta- As vésperas fazem parte da “Litur- XV:55)”. va em Deus; e o Verbo era Deus. No prin- gia das Horas” – oração universal e O encontro foi presidido pelo pa- cípio Ele estava em Deus. Por Ele é que pública da Igreja – que é realizada ao dre Cyril Law, que também partici- tudo começou a existir; e sem Ele nada entardecer (vésperas), quando o dia pou no coro. Na ocasião, o sacerdote veio à existência. Nele é que estava a Vida declina para receber a noite. lembrou que este é um momento de de tudo o que veio a existir. E a Vida era São João Maria Vianney dizia: «O preparação para a Quaresma, época a Luz dos homens. A Luz brilhou nas tesouro do cristão não está na terra, mas litúrgica muito vivida e sentida pelos trevas, mas as trevas não a receberam» nos céus. Por isso, o nosso pensamento cristãos, que teve início na passada (João 1:1-5). deve estar voltado para onde está o nosso Quarta-Feira de Cinzas. Após a leitura da Palavra (que tesouro. Se rezais e amais, eis aí a felicida- À entrada da igreja os féis recebe- prosseguiu de modo intercalado nas de do homem sobre a terra». ram uma pequena vela electrónica e três línguas), o coro interpretou “Re- O mês de Março é dedicado a São um impresso (em formato A5) trilin- quiem Op. 48”, de Gabriel Fauré. A José, padroeiro da boa morte e da gue – Chinês, Português e Inglês – assembleia seguiu atentamente o Igreja Universal, celebrado liturgica- com o alinhamento das obras corais compasso do canto coral e das leitu- mente a 19 de Março. É o único dia e da liturgia que acompanhou o can- ras do Evangelho, que tocaram so- da Quaresma no qual os padres não to interpretado pelo Coro Perosi. A bretudo o tema da vitória do Senhor vestem roxo. organização teve assim em conta a – cordeiro imolado – sobre a morte e Para quem não pôde estar presen- diversidade cultural da comunidade a fé de todos os que morrem em Cris- te nestas vésperas corais, pode assis- católica de Macau, ao permitir que to, para uma ressurreição em Cristo: tir “online” através do link: https:// os presentes pudessem participar na «De facto, se acreditamos que Jesus morreu www.facebook.com/voiceofmary/ sua língua materna. e ressuscitou, assim também Deus reunirá videos/804335073262834?sfns=mo

CARTÓRIO DA SÉ ACOLHEU “WORKSHOP” SOBRE SAGRADA ESCRITURA Três dias com São Lucas O Evangelho de São Lucas Divina” e no modo de iniciar a antiga tradição da “Lectio Divi- juntou trinta pessoas – leigos, esta leitura orante – primeiro na”, a leitura assídua da Sagrada sacerdotes e religiosas – entre invoca-se o Espírito Santo com Escritura, acompanhada de oração os dias 27 de Fevereiro e 1 de a oração: “Vinde, Espírito San- que traz um diálogo íntimo em que Março para um “workshop” no to, enchei os corações dos vos- na leitura escuta-se Deus que fala e, Cartório da Sé, dedicado ao es- sos féis e acendei neles o fogo rezando, responde-lhe com confança tudo das Sagradas Escrituras. do vosso amor. Enviai o vosso a abertura do coração». O padre Armindo Vaz, dou- Espírito, e tudo será criado; e O Concílio Vaticano II pro- torado em Sagrada Escritura, renovareis a face da terra. Ó moveu, com toda a sua autori- foi convidado pela Diocese – Deus, que instruístes os cora- dade, a restauração da “Lectio aproveitando a sua passagem ções dos vossos féis com as lu- Divina”, que teve um período por Macau – para conduzir os zes do Espírito Santo, fazei que de esquecimento por vários sé- trabalhos, levando os partici- apreciemos rectamente todas as culos na Igreja. pantes a conhecer o Evange- coisas e gozemos sempre da sua São Jerónimo, nascido no lho de São Lucas. O sacerdote consolação. Por Cristo Nosso século IV, conhecido por ter falou da mensagem implícita e Senhor. Amém”. traduzido a Bíblia para Latim, dos pontos-chave para a leitura A “Lectio Divina” divide-se a qual fcaria com o nome de bíblica e sua exegese, tendo em em diferentes momentos: Lec- “Vulgata” – o texto mais utiliza- conta a contextualização histó- tio (Leitura); Meditatio (Medi- do pela Igreja nos séculos pos- rica e cultural da época, tanto tação); Oratio (Oração); e Con- teriores – afrmava que «ignorar do Antigo (AT), como do Novo tar ou reavivar o interesse pela datam do século III. Os monges templatio (Contemplação). as Escrituras é ignorar a Cristo». Testamento (NT). leitura da Palavra de Deus. católicos diziam que «a “Lectio A “Lectio Divina”, tradicional- Esta iniciativa foi organizada As palestras, que abordaram Entre outros aspectos, o pro- Divina” é a escada espiritual dos mente, é uma oração individual. no âmbito das actividades de alguns versículos do Evangelho fessor Armindo Vaz abordou monges, mas é também a de todo o Porém, pode-se rezá-la em gru- Formação Católica da diocese de Lucas, para além de darem a o método da “Lectio Divina” cristão». po. O Papa Bento XVI disse num de Macau. conhecer a mensagem bíblica, (do Latim “leitura divina”). Os O padre Armindo falou dos discurso em 2005: «Eu gostaria, serviram também para desper- princípios da “Lectio Divina” passos que pautam a “Lectio em especial, de recordar e recomendar Miguel Augusto LOCAL O CLARIM | Semanário Católico de Macau | SEXTA-FEIRA | 8 de Março de 2019 6 PT

CONHECER AS LEIS DE MACAU Regras respeitantes a tutor (segunda parte)

PROCISSÃO DE NOSSO SENHOR BOM JESUS Na semana passada, apresentámos as quando o tutor falte ao cumprimen- DOS PASSOS ENTRE AMANHÃ E DOMINGO regras sobre o tutor, incluindo direitos to dos deveres próprios do cargo ou e deveres do tutor e as formas de desig- revele inaptidão para o seu exercício, nação, entre outros conteúdos. Hoje, ou ainda quando por facto superve- continuamos a dar a conhecer outras niente à investidura no cargo, o tutor Tristeza reconfortante regras ligadas ao tutor. se constitua nalguma das situações que Nos termos do Código Civil, a tutela, impediriam a sua nomeação, como por A Procissão de Nosso Senhor Bom Je- Jesus Cristo, do Pretório ao Calvário, re- além de ser exercida por tutor, é tam- exemplo, se não cuidar bem do menor sus dos Passos tem lugar anualmente no ferido na Bíblia. bém exercida pelo conselho de família. ou não prestar boa educação ao mes- primeiro sábado e Domingo da Quares- A Procissão tem início na igreja de O conselho de família, em relação ao mo, pode ser decretada a remoção do ma, e é parte da “Novena católica e da Santo Agostinho e dirige-se à igreja da tutor, é um “órgão fscalizador”, com- tutor pelo tribunal, ouvido o conselho Festa em Honra do Senhor Bom Jesus Sé Catedral, cumprindo o percurso in- petindo-lhe vigiar o modo por que são de família, a requerimento do Ministé- dos Passos”. verso no segundo dia. Em designadas desempenhadas as funções do tutor. A rio Público ou de qualquer parente do Assim, amanhã, pelas 19 horas, as ce- estações da “via-sacra”, no percurso de fscalização da acção do tutor é exerci- menor, entre outros. rimónias têm início na igreja de Santo regresso, uma mulher interpreta o pa- da com carácter permanente por um Para além de remoção, a legislação Agostinho. E Domingo, estão agendadas pel de Verónica, entoando um cântico dos vogais do conselho de família, de- também prevê regras para a exonera- para as 16 horas, na igreja da Sé Cate- triste, enquanto um padre e os féis res- nominado legalmente protutor. Além ção do tutor. Nalguns casos, o tutor dral. pondem com preces e cânticos, criando de fscalizar a acção do tutor, compete pode, a seu pedido, ser exonerado do A Procissão conta com a participação uma atmosfera de pesar. ao protutor cooperar com o tutor no cargo pelo tribunal, tais como, sobre- de D. Stephen Lee, bispo de Macau, de A Procissão de Nosso Senhor Bom exercício das funções tutelares, bem vier alguma das causas de escusa após vários sacerdotes e de um grande núme- Jesus dos Passos tem uma longa história como substituir o tutor nas suas faltas, a investidura no cargo (por exemplo: ro de féis. É acompanhada pela Banda em Macau. Remonta a 1708, sendo um entre outros. não ser possível continuar a exercer as de Música das Forças de Segurança, to- evento religioso característico e repre- O conselho de família é constituído funções tutelares em virtude de doen- cando, entre outras composições, a mar- sentativo da cidade. por dois vogais e pelo agente do Ministé- ça ou difculdades económicas que cha fúnebre. Segue o caminho da “via rio Público. Os referidos dois vogais de- surjam depois de ser designado tutor). dolorosa”, que representa o percurso de Instituto Cultural – Texto editado vem ser escolhidos entre os familiares do Neste contexto, o tutor pode apresen- menor. Na falta de familiares apropria- tar junto do tribunal o seu pedido de dos, cabe ao tribunal escolher os vogais exoneração do cargo. do conselho de família entre os amigos dos pais, vizinhos ou outras pessoas que Obs.: O presente texto tem como referência possam interessar-se pelo tutelado. principal o disposto nos artigos 1781.º a 1790.º, Por outro lado, em caso de incum- 1804.º a 1816.º do Código Civil. primento, por parte do tutor, da sua responsabilidade de tutela, a legislação Texto fornecido pela Direcção dos Serviços prevê regras para a sua remoção. Assim de Assuntos de Justiça

MISSA DE QUARTA-FEIRA DE CINZAS EM MACAU – D. Stephen Lee no momento do rito da impo- sição das cinzas, por ocasião da missa que marca o início do período da Quaresma, celebrada pelo bispo de Macau na igreja da Sé Catedral. [FOTO: Jasmin Yiu] O CLARIM | Semanário Católico de Macau | SEXTA-FEIRA | 8 de Março de 2019 OPINIÃO PT 7

VATICANO E O MUNDO Ferir os pés no caminho...

CARLOS FROTA a todas as comunidades humanas: esse mesmo desejo de felicidade individual e colectiva que irmana homens e mulheres de todas as raças e . Remexo-me culturas, de todos os idiomas e desconfortavelmente no dialectos, de todas as latitudes 1sofá, continuando a olhar e longitudes. fxamente para a televisão. Para além do modo de nos George Pell. O nome não vestirmos, de nos saudarmos, me diz nada, monólogo eu. de comermos, de organizarmos Cardeal. Australiano. Um o nosso espaço privado, de mundo, uma realidade de que trabalharmos, de rezarmos, conheço muito pouco. de educarmos os flhos – algo E depois o choque: nos irmana e é fundamental: pela primeira vez, um o desejo de nos realizarmos alto dignitário da Igreja é como seres humanos e de condenado e detido. sermos felizes. Vejo o prelado de cabeça Não importa o modo como baixa, no meio dos jornalistas, respondemos, diferentemente, barulhentos e ansiosos por lhe a esse apelo, mas ele existe no extorquirem algumas palavras. coração de cada um de nós. O seu sofrimento interior só ele Os princípios fundamentais o poderá avaliar. Do sofrimento desse objectivo universal das suas vítimas inocentes, comum estão plasmados na só cada uma delas poderá recente Declaração de Abu igualmente descrever o calvário. do Senhor D. Manuel Vieira a extrema coragem e lucidez religiosas no actual discurso Dhabi sobre a Fraternidade E, como brusca Pinto (o padre Manuel, muito de nos proporem uma leitura político, em países de tradição Humana, de que foi co- contraposição, pela minha simplesmente), que viria a do nosso tempo segundo os liberal democrática, não signatário o Papa Francisco. mente perpassaram imagens ser uma fgura carismática da Evangelhos. E de nos guiarem disfarça a vontade de algumas Mas é também o Santo de tantos sacerdotes que Igreja de Moçambique, como com o seu exemplo. forças sociais de reatarem Padre que sabe serem as falhas marcaram positivamente a bispo de Nampula. as suas relações com o humanas tão universais como minha formação como criança, Do seu testemunho 3. A nossa Igreja vive sobrenatural... à sua maneira. o desejo de felicidade. O seu como adolescente e como extraordinário, no contexto do momentos difíceis, é verdade. Noutro registo, imperam as discurso de encerramento jovem universitário. Gente “Movimento Por Um Mundo Poderá ela continuar a levar a diversas formas de luta pelo do Sínodo sobre a Protecção de bem, em todos e cada um Melhor”, colheria eu a lição de cabo a sua missão insubstituível? que muitos designam como de Menores é uma notável encontrei sucessivamente a como o sobrenatural se pode Não tenho qualquer dúvida. emancipação do homem lição sobre a persistência de abertura para a espiritualidade. inscrever no quotidiano o mais A Igreja, mesmo com os pés de valores caducos, de ética um mal de todos os tempos A informação lúcida anódino, se ousarmos abrir-lhe a feridos, caminha. Foi esse antiga, julgada discriminatória. e lugares, o abuso sexual de perante as difculdades do porta. Nem que seja ao de leve... o sentido que quis dar a E isto para além do velhíssimo crianças e adolescentes que, caminho a seguir. E, já na A Doutrina Social da Igreja, este texto. E essa é não só a combate pela erradicação de como disse, não desculpa Faculdade, neles identifquei por outro lado, constituiria esperança, mas a certeza de preconceitos multisseculares, nunca aqueles que, dentro os protagonistas do debate uma orientação decisiva para milhões de pessoas, em todo o desde o racismo a todos os da Igreja, abusam da sua riquíssimo sobre a Igreja, a as minhas futuras opções mundo. E, para desprazer de outros “ismos”. posição de poder, mas coloca Sociedade e o Homem, por políticas, onde a referência muitos, a Igreja está e estará Perante a degradação da o problema no seu contexto ocasião do encerramento do democrata-cristã se foi em todos os combates pela política, quer do discurso, mais lato. O das diferentes Concílio Vaticano II. consolidando, por oposição dignidade humana. Mas são quer da prática, em culturas e civilizações. E, no Todos esses homens da à tentação (para muitos) dos muito grandes os desafos hoje, nações consideradas até tempo actual, o que ocorre Igreja, pessoas boas e generosas extremos. não só para a Igreja, mas para o há pouco como faróis do em variadíssimas instituições que cruzaram a minha vida, O sentido social da mundo. desenvolvimento humano da sociedade, muito mais eram gente comum, heróis propriedade privada e da Continuando a refectir, e social, uma nova luta resguardadas pelo olhar só talvez das suas batalhas empresa, os direitos dos procuro uma imagem surge, impõe-se mesmo, falsamente pudico de tantos. interiores, como qualquer ser trabalhadores, a dignidade unifcadora do nosso planeta urgente e desesperada: a humano. Mas eram pessoas da mulher, a crítica global e só encontro paisagens da reabilitação do sentido 5. A uma sociedade inseridas completamente no de sistemas económicos fragmentadas, compostas dos de Dever e de Serviço, hiperinformada e por seu e nosso mundo, de modo desrespeitadores da Pessoa nossos infndáveis confitos. em prol da comunidade, isso hipercrítica tem que normal, isto é, conforme ao seu Humana, tudo isso se São as ambições que transpondo a mentalidade corresponder a total múnus de sacerdotes, naqueles inscreveu, em mim, não se chocam entre poderes tornada dominante, de auto- transparência. Só ela pode tempos e naqueles lugares. apenas através da leitura, mas mundiais. São nacionalismos engrandecimento e afrmação robustecer a fdelidade dos do debate com sacerdotes feridos no passado e que agora pessoal que muitos puseram no crentes, mas antes de tudo a da 2. No plano da minha esclarecidos. sentem ter chegado a sua hora lugar dos valores. Igreja em si própria. formação religiosa, mas Se aos Pontífces de toda a de dignidade e de afrmação. E sociedades sem valores, E com mais este grande também intelectual, o que minha vida consciente, desde São recentes hegemonias sabe-se, estão condenadas a desafo transposto, dos tantos me deram eles que me tenha Pio XII, devo referências que se vêem ameaçadas nas morrer. que já conheceu na História, a fcado como alicerces para a simbólicas (mesmo afectivas) suas posições de domínio, Igreja continuará a caminhar. construção do adulto em que fortes, aos três Papas mais julgadas até aqui de direito 4. Mas, depois, reparo Mesmo com os pés feridos, me tornaria? Vem-me de súbito recentes, João Paulo II, divino. Aliás, a frequente melhor e o que observo mesmo com os pés em chagas, à mente a fgura singularíssima Bento XVI e Francisco devo introdução de invocações constitui um traço comum mas continuará.... CULTURA O CLARIM | Semanário Católico de Macau | SEXTA-FEIRA | 8 de Março de 2019 PT 8

MEMÓRIA PORTUGUESA NO NORDESTE DA ÍNDIA E NO BANGLADESH – 4 Agostinhos e outros moradores de Tesgão

citado, intui-se que Campos terá vi- vido uma signifcativa temporada no Quénia, de resto como muitos outras goeses que naquele país e nos vizinhos Uganda e Tanzânia se distinguiriam em múltiplas áreas da actividade sócio-económica e cultu- ral. De facto, ao deparar na Internet com o sítio “Galeria dos Goeses Ilus- tres” fco a saber que nosso persona- gem, “formado pela Escola Médica de Bengala em 1916”, emigraria mais tarde para a África Oriental Inglesa (i.e., Quénia) tendo regres- sado a Goa em 1934. Nesse mesmo ano proferiu duas palestras acerca das antiguidades portuguesas na África Oriental no Instituto Vasco da Gama, “de que fora sócio desde 1925”. Acrescenta ainda o autor des- se blogue que Campos seria nomea- do cônsul de Portugal em Bangue- coque e Sião, “sendo-lhe cometido o encargo de pesquisas históricas e arqueológicas nessa região relacio- nadas com os feitos dos portugueses nessas paragens orientais”. Resta sa- ber se Campos escreveu algo sobre esse assunto, à semelhança do que fez na região do Golfo de Bengala. Homem extremamente culto – Fer- reira de Castro, no seu livro “A Volta ao Mundo”, refere-se a ele como um “prestigioso português de Goa, de JOAQUIM MAGALHÃES DE CASTRO cretado fcou, com selo real e tudo, posto português mostravam sinais mente a língua portuguesa e era com bondade infnita e vasta cultura” – [email protected] que nos seus domínios nada de mal de resistir à passagem dos tempos, ela que comandava a tropa nativa’. “o médico Joaquim de Campos foi lhes aconteceria. contrariamente aos congéneres ho- Houve portugueses que pereceram nomeado pelo Governo do Sião seu O viajante italiano Cesare Federi- landeses, franceses e até ingleses, há no Buraco Negro [infame prisão principal conselheiro adido à Re- ci, por exemplo, foi encontrar o na- muito já desaparecidos. A respeito de Calcutá]. Eram, na sua maioria, partição de Arqueologia do Sião”. babo de Daca em excelentes termos dessa ruína escrevera o seguinte Bra- aventureiros que se casavam com as Feito este interregno, franquemos com os mercadores lusos e, século dley-Birt, no seu livro “Dacca – The mulheres autóctones. Os missioná- o limiar da igreja de Nossa Senhora O estabelecimento dos mercado- e meio depois era a vez do francês Romance of an Eastern Capital”, pu- rios converteram muitos milhares de do Rosário, situada no bairro de Te- res portugueses em Daca, em cerca Tavernier entrar numa igreja dos blicado seis anos antes: “Tudo o que nativos à fé católica romana e bapti- jgaon, o Tesgão dos nossos cronistas. de 1580, surgiu como consequência Agostinhos, feita de tijolo e de “mui- resta das feitorias estrangeiras de zaram-nos com nomes portugueses. Estão lá dentro várias mulheres com natural da solidifcação da sua pre- to bom acabamento”. Ora, o templo Daca é um pedaço de uma casa que Podemos encontrar ainda em Ben- véus na cabeça. Umas, em pose de sença em Hugli, a poucos quilóme- ainda lá está. Trata-se da igreja de outrora serviu de sede comercial aos gala um número considerável de oração cantando de braços abertos; tros da actual Calcutá. O negócio Nossa Senhora do Rosário, edifca- portugueses. Era certamente, no seu descendentes dos casamentos mistos outras, acendendo velas. Todas estão maior ali eram os panos, sobretudo da em 1599, embora no frontispício tempo, um belo e cómodo edifício, (luso-Indianos) e dos nativos (ferin- descalças e prostram-se à maneira in- as apetecidas musselinas ainda hoje esteja a data de 1677 – provavelmen- porém, como tudo nesta cidade há ghis) cristianizados pelos portugue- diana antes de se sentarem. Cimen- tecidas ao ar livre por centenas de te a assinalar obras de melhoramen- muito adormecida, não passa agora ses. É de louvar o esforço da narrativa tadas nas paredes laterais, num gri- artesãos do linho e do algodão. Era to – e sobre ela já aqui falamos. É de uma ténue lembrança dos glorio- de Campos, que descreve em detalhe tante mas saudável contraste com os esse produto vastamente procurado porventura a única relíquia arqui- sos dias de antanho”. episódios notáveis da história das re- horríveis ladrilhos brancos, antigas tanto na Europa – fosse nos palácios tectónica de origem portuguesa na Joaquim J. A. Campos vai buscar lações europeias com a Índia”. lápides funerárias com dizeres em dos doges de Veneza ou na corte de capital do Bangladesh, já que das as suas raízes a Goa (a Arjuna, mais Um aviso geral emitido pela sec- Português, Arménio (ou nas duas lín- Lisboa – como em Malaca, Goa ou ruínas da nossa antiga feitoria nas propriamente), sendo portanto, à ção de administração e inventário guas em simultâneo) e também em até mesmo nos sultanatos de Sama- proximidades da igreja, ainda visí- época, tecnicamente português e do Tribunal Supremo do Quénia Inglês. Numa delas lê-se o seguinte: tra. Com os mercadores chegaram os veis nos primórdios do século XX, apresentava-se como editor conjun- (causa nº 114 de 1947), datado de “Aqui jaz Simão Soares. Morador de padres a quem o magnânimo Acbar como nos informa o investigador to da The Century Review , membro da 8 de Agosto de 1945, e publicado na Tesgão onde foi casado com Máxima prendaria com terras onde aqueles Joachim Joseph António de Cam- Sociedade Asiática de Calcutá, etc., “Offcial Gazette of The Protectora- do Rego, o qual faleceu em 20 de No- de pronto edifcaram as suas igrejas. pos (1893-1945) no seu “History of etc. A respeito da obra que nos le- te of Kenya”, informa-nos que a viú- vembro e se enterrou nesta igreja dos O processo teve os seus contratem- the Portuguese in Bengal” – obra de gou, dizia então a mui conhecida e va Matilde Campos autorizava o seu RR.PP. Agostinhos de Tesgão a 21 do pos, pois aos nativos recentemente referência que doravante servirá de ainda hoje existente revista The Spec- advogado a tratar naquele tribunal dito mês de 1725”. Mesmo ao lado, islamizados horrorizava o facto dos referencial bibliográfco e fonte de tator: “Campos recorda-nos, no seu de assuntos ligados ao património uma lousa no idioma de Shakespea- portugueses consumirem carne de informação a estes textos – nenhum interessante livro, que o Português predial deixado pelo seu marido re: “Here lies the body of Ritta Rebe- porco e beberem licores inebriantes. dos actuais paroquianos parece ter se tornou a língua franca dos portos “Joaquim Joseph A. Campos, resi- llo who departed this life on Thurs- Porém, uma vez mais, claramente o conhecimento. Contudo, no já dis- orientais e que [o major-general] dente em Nairobi, recentemente day the 25 of December 1806 aged imperador mogol se posicionaria ao tante 1919, ano da publicação da Clive ‘não conhecia nenhum idioma falecido em Banguecoque, no reino 35 years”. Placas mais recentes imor- lado dos seus amigos lusitanos e de- citada obra, os vestígios do entre- indígena, mas sabia falar fuente- de Sião, a 13 de Maio de 1945”. Pelo talizam, em Português, os nomes de | Semanário Católico de Macau | SEXTA-FEIRA | 8 de Março de 2019 CULTURA 9 PT

MEMÓRIA PORTUGUESA NO NORDESTE DA ÍNDIA E NO BANGLADESH – 4 Agostinhos e outros moradores de Tesgão citado, intui-se que Campos terá vi- Elizabeth Cabral, nascida em 1869 e September MDCCLXXVIII (1728) vido uma signifcativa temporada falecida em 1901, e o do reverendo aged 3 years 8 months & 22 days”. no Quénia, de resto como muitos Pio de Souza, vigário de Dacca que Algumas destas pedras tumulares outras goeses que naquele país e faleceu em 1860, e ainda a memória obrigam-me a um esforço de decifra- nos vizinhos Uganda e Tanzânia se de Pascoal Floriano dos Anjos, “flho ção suplementar, o que me leva ao distinguiriam em múltiplas áreas da amado” do Dr. Clemente Francisco bancos da velha Faculdade de Letras actividade sócio-económica e cultu- dos Anjos que “partiu deste mundo a da Universidade do Porto e às aulas ral. De facto, ao deparar na Internet 5 de Novembro de 1846 com 52 anos de Paleografa. Torna-se assim legível com o sítio “Galeria dos Goeses Ilus- de idade e 5 meses”. Informa-nos um estilizado “Aqui está sepultado tres” fco a saber que nosso persona- ainda a placa de mármore ser aquele Mariano flho de Paulo e Anna Lobo gem, “formado pela Escola Médica um “tributo de afecto” da inconsolá- idade de quatro mezes e 22 dias. Fa- de Bengala em 1916”, emigraria vel viúva Catherina dos Anjos, da sua leceo Dacca 28 de Fev 1772”. mais tarde para a África Oriental “sobrinha adoptada” Eliza dos Anjos Para fnalizar, três pedras tumu- Inglesa (i.e., Quénia) tendo regres- e do cunhado Basil Demetrius. lares, por sinal, da mesma família. sado a Goa em 1934. Nesse mesmo As pessoas da época morriam com Uma delas está em muito mau estado ano proferiu duas palestras acerca frequência bastante jovens como o e só parcialmente consigo ler: “Aqui das antiguidades portuguesas na comprava a lápide “In memory Anne está sepultada (...) flha de Ambrosio África Oriental no Instituto Vasco D: Jaquena who departed this life the Joan e de Christina Dormieux. Fa- da Gama, “de que fora sócio desde 22 day of April Anno Doms, 1778 leceo idade de 2 anos (...) Dacca 25 1925”. Acrescenta ainda o autor des- aged 21 years”. A mortalidade infan- Feb. 1772”. Uns metros adiante, uma se blogue que Campos seria nomea- til, de tão comum, açambarcava par- da irmã, um pouco mais velha: “Aqui do cônsul de Portugal em Bangue- te signifcativa da área total das ne- jaz Christina Rosa Dormieux, flha de coque e Sião, “sendo-lhe cometido crópoles. A igreja de Nossa Senhora Ambrozio João Dorm. e de Christina o encargo de pesquisas históricas e do Rosário – no caso, na sua função Dormieux com a idade de 9 anos, arqueológicas nessa região relacio- de campo santo – não é excepção dois meses e 20 dias”. Há ainda um nadas com os feitos dos portugueses como comprova a seguinte inscri- terceira placa com dizeres em Latim nessas paragens orientais”. Resta sa- ção: “To the memory of Constancia, com o nome desta família Dormieux ber se Campos escreveu algo sobre infant daughter to Phillipe & Anna que devia ser bastante infuente e, esse assunto, à semelhança do que Leal, who departed this life on the 4 porventura, ter origem judaica. fez na região do Golfo de Bengala. Homem extremamente culto – Fer- reira de Castro, no seu livro “A Volta ao Mundo”, refere-se a ele como um “prestigioso português de Goa, de bondade infnita e vasta cultura” – “o médico Joaquim de Campos foi nomeado pelo Governo do Sião seu principal conselheiro adido à Re- partição de Arqueologia do Sião”. Feito este interregno, franquemos o limiar da igreja de Nossa Senhora do Rosário, situada no bairro de Te- jgaon, o Tesgão dos nossos cronistas. Estão lá dentro várias mulheres com véus na cabeça. Umas, em pose de oração cantando de braços abertos; outras, acendendo velas. Todas estão descalças e prostram-se à maneira in- diana antes de se sentarem. Cimen- tadas nas paredes laterais, num gri- tante mas saudável contraste com os horríveis ladrilhos brancos, antigas lápides funerárias com dizeres em Português, Arménio (ou nas duas lín- guas em simultâneo) e também em Inglês. Numa delas lê-se o seguinte: “Aqui jaz Simão Soares. Morador de Tesgão onde foi casado com Máxima do Rego, o qual faleceu em 20 de No- vembro e se enterrou nesta igreja dos RR.PP. Agostinhos de Tesgão a 21 do dito mês de 1725”. Mesmo ao lado, uma lousa no idioma de Shakespea- re: “Here lies the body of Ritta Rebe- llo who departed this life on Thurs- day the 25 of December 1806 aged 35 years”. Placas mais recentes imor- talizam, em Português, os nomes de LITURGIA O CLARIM | Semanário Católico de Macau | SEXTA-FEIRA | 8 de Março de 2019 10 PT

1º DOMINGO DA QUARESMA – Ano C – 10 de Março HORÁRIO DAS MISSAS (DOMINGOS E DIAS SANTOS) Jesus é tentado pelo demónio 7:00 horas — Fátima (C) 7:30 horas — S. Lourenço e St.º António (C) 7:30 horas — S. Lázaro (C) 7:45 horas — Sé (C) INTRODUÇÃO ÀS LEITURAS por Deus, que o tinha libertado da opressão. 8:15 horas — S. Francisco Xavier Este é o resumo da nossa fé cristã em Jesus — Mong-Há (C) 8:30 horas — N.ª Sr.ª do Carmo Taipa (C) O propósito da Quaresma é de nos ajudar a ressuscitado (SEGUNDA LEITURA: Rm., 10, 9:00 horas — S. Lourenço; Fátima (C); St.º António (C) viver com maior plenitude o mistério de Cristo 8-13); o mesmo Jesus que vemos manifestar- 9:15 horas — Penha 9:15 horas — Sé Catedral (C) (Oração da Colecta). Nesse mistério apenas Se como Filho de Deus (EVANGELHO: Lc., 9:30 horas — S. Lázaro (C); S. Agostinho (I); se pode entrar através da fé. Por isso, o livro 4, 1-13), não por que tenha o poder de fazer S. Francisco Xavier (Mong-Há) (C); do Deuteronómio (PRIMEIRA LEITURA: Dt., os milagres que o diabo lhe sugere, mas por S. José Operário (C) 10:00 horas — S. Francisco Xa vier 26, 4-10) fala-nos da fé do povo escolhido reivindicar as honras de Deus. — Coloa ne (I, C); N.ª Srª do Carmo — Taipa (I) 11:00 horas — Seminário S. José (Tagalog); St.º António (P) 11:00 horas — Sé (P); Hospital de S. Januário (P); 11:00 horas — S. Lázaro (I); S. Agostinho (Tagalog) Se fôssemos… a Quaresma seria… 11:15 horas — Instituto Salesiano (I); N.ª Sr.ª do Carmo Taipa (P) 12:00 horas — Fátima (I) Se fôssemos automóveis, a Quares- 16:00 horas — St.º António (K) ma seria o tempo de afinar o óleo e 16:30 horas — Fátima (Vietnamita) afinar o motor. S. Agostinho (I) Se fôssemos jardins, a Quaresma 17:00 horas — Sé (I) 17:00 horas — S. Lourenço (Bahasa Indonésio) seria o tempo para fertilizar o nos- 17:30 horas — S. José Operário (I); St.º António (P) (Terça) so terreno e dele arrancar as ervas 18:00 horas — S. Fr. Xavier Mong-Há (C); S. Lázaro (P) daninhas. 18:30 horas — Sé (I); S. Agostinho (I); St.º António (I) Se fôssemos tapetes, a Quaresma 20:00 horas — S. Lourenço (I) seria o tempo para lhes dar uma 20:30 horas — S. José Operário (M) boa aspiradela, ou uma boa sacudi- dela. MISSAS ANTECIPADAS Se fôssemos baterias (acumula- dizer que temos necessidade de fa- samos, pois, de recuperar a nossa vi- 17:00 horas — S. Domingos (P) dores), a Quaresma seria o tempo zer uma boa confissão. são das coisas e, daí, a necessidade 17:30 horas — S. Fr. Xavier Mong-Há (I) para recarregá-las. Somos pessoas que, muitas ve- de rezarmos. 18:00 horas — Sé (P) zes, nos deixamos levar pelo nosso Este é o sentido que nos é pro- 18:30 horas — N.ª S.ª do Carmo; St.º António (I) A verdade, porém, é que não so- egoísmo e que, por isso, precisamos posto para a vivência da Quaresma. — Taipa (I) 19:00 horas — S. Lázaro (C) mos nenhuma destas quatro coisas. de começar a pensar nos outros. O É por isso que, na oração colecta 20:00 horas — Fátima (C) que significa que temos de apren- da missa de hoje pedimos a Deus 20:00 horas — S. Lourenço (I) Somos pessoas, que muitas vezes der a dar esmola. que as práticas anuais próprias da ABREVIATURAS talvez tenhamos feito coisas más, Somos pessoas que, muitas vezes, Quaresma nos ajudem a progredir

C - Em Cantonense I - Em Inglês pelo que sentimos necessidade de podemos perder de vista o fim para no conhecimento de Cristo e a le- M - Em Mandarim P - Em Português K - Em Coreano nos arrepender delas, o que quer que fomos criados por Deus. Preci- var uma vida mais cristã.

QUARESMA «Viagem de regresso ao essencial»

O Papa Francisco presidiu à engano. Pois é como uma foguei- çantes, nunca iremos para diante. Missa de Quarta-feira de Cinzas, ra: uma vez apagada, fcam ape- Precisamos de nos libertar dos ten- em Roma, e afrmou na homilia nas cinzas», afrmou o Papa. «A táculos do consumismo e dos laços que os quarenta dias de prepa- Quaresma é o tempo para nos liber- do egoísmo, de querer sempre mais, ração para a Páscoa correspon- tarmos da ilusão de viver correndo de não nos contentarmos jamais, do dem a uma «viagem de regresso ao atrás de pó», acrescentou. coração fechado às necessidades do essencial», libertos de «pesos em- Na «viagem de regresso ao essen- pobre», sublinhou. baraçantes». cial», a Quaresma propõe «três Francisco lembrou que a «A Quaresma é o tempo para etapas» a «percorrer sem hipocrisia Quaresma começa com as cin- reencontrar a rota da vida», disse nem fcção»: «a esmola, a oração, o zas, mas leva no fnal «ao fogo da o Papa na igreja de Santa Sa- jejum». «A esmola, a oração e o je- noite da Vigília Pascal». «O mesmo bina, onde decorreu a celebra- jum reconduzem-nos às únicas três vale para nós, que somos pó: se vol- ção da missa no primeiro dia realidades que não se dissipam. A tarmos ao Senhor com as nossas fra- da Quaresma. oração liga-nos a Deus; a caridade, gilidades, se tomarmos o caminho Para o Papa, o rito da im- ao próximo; o jejum, a nós mes- do amor, abraçaremos a vida que posição das cinzas na cabeça é mos», explicou o Papa. não tem ocaso», concluiu o Papa «um sinal» que ajuda a «encon- Na homilia da Missa de Quar- A Quaresma é um tempo da trar a rota» e para fazer pensar ta-feira de Cinzas, o Papa acen- liturgia católica de preparação naquilo que cada pessoa traz tuou que a Quaresma «é tempo para a Páscoa, a maior festa na cabeça. de graça para libertar o coração das para os cristãos que celebra a Francisco referiu que os pensa- e os grãos de cinza dizem «com «A cultura da aparência, hoje nulidades» e de «de cura de depen- ressurreição de Jesus. mentos seguem muitas vezes «coi- delicadeza e verdade» que «nada res- dominante e que induz a viver para dências». sas passageiras, coisas que vão e vêm» tará» de tantas dessas coisas. as coisas que passam, é um grande «Carregados com pesos embara- In ECCLESIA O CLARIM | Semanário Católico de Macau | SEXTA-FEIRA | 8 de Março de 2019 ECLESIAL PT 11

TEOLOGIA, UMA DENTADA DE CADA VEZ (22) O que é o Método Histórico-Crítico?

PE. JOSÉ MARIO MANDÍA podem ser retiradas desse facto. A história pode ser por ele aprendida, mas um livro como este fala apenas de factos históricos e a exegese deixa de ser realmente teológica – antes se A 30 de Setembro de 1943, o transforma num livro puramente Papa Pio XII publicou a encíclica historiográfco, literalmente históri- “Divino Affante Spiritu” (“Ins- co. Esta é a primeira consequência. pirado pelo Espírito Santo”), a A Bíblia fca no passado; fala-nos qual aceita o uso da crítica tex- apenas do passado». tual para examinar não apenas A segunda consequência os conteúdos da Bíblia, mas tam- é ainda mais grave. Onde os bém a autoria, a sua cronologia e hermenêuticos da fé no “Dei outros detalhes técnicos de cada Verbum” desaparecem, surge um dos livros sagrados. outro tipo de hermeneuta, por A 18 de Novembro de 1965, necessidade secularista ou posi- o Papa São Paulo VI promulga tivista. Estes estão convictos que a constituição dogmática da Di- o Divino não aparece na Histó- vina Revelação – “Dei Verbum” ria da Humanidade. De acordo (“A Palavra de Deus”). Este do- com estes hermeneutas, quan- cumento confrma a necessida- do parece existir um elemento de do uso do Método Históri- divino, a origem dessa “impres- co-Crítico. E porquê? Porque são” deve ser explicada, redu- quando Jesus Cristo se tornou zindo assim tudo ao elemento homem (encarnou), Ele pas- TEOLOGIA, UMA DENTADA à Transfguração”, que a exe- Livro [Bíblia]». humano. O resultado é haver sou a fazer parte da História DE CADA VEZ (nº 20), já ha- gese canónica foi desenvolvi- E qual é o presente estado da espaço para interpretações que da Humanidade. Como disse o víamos visto como o Catecismo da por estudiosos americanos, exegese bíblica? O Papa Bento neguem a verdade histórica dos Papa Bento XVI, «a História da da Igreja Católica também nos para lerem textos isolados, no XVI explicou também na oca- elementos divinos. Hoje em dia Salvação não é um mito, mas sim relembra este ponto: “A Sagra- seio do conjunto da Escritura, a sião: «Enquanto que no primeiro a tendência principal, na Ale- uma história real, e por isso deve ser da Escritura deve ser lida e in- qual por si lança uma nova luz nível o trabalho exegético acadé- manha, por exemplo, é negar estudada conjuntamente com mé- terpretada à luz do mesmo Es- sobre todos os textos isolados. mico está a ser feito num padrão que o Senhor tenha instituído todos sérios de pesquisa histórica» pírito com que foi escrita (‘Dei Este método surge da Fé, e não extremamente elevado e proporcio- a Sagrada Eucaristia, e afrma (discurso aos Bispos, a 14 de Verbum’, 12)”. Por conseguinte da Ciência Humana. Podemos na-nos apoio real, o mesmo não se que o Corpo de Cristo continua Outubro de 2008). isto explica a forma tripartida chamar a isto de “método teo- pode dizer do outro nível. Muitas na sepultura. A Ressurreição, Conforme vimos anterior- da interpretação correcta da lógico”, sendo importante que vezes, este segundo nível, que con- neste ponto de vista, não foi um mente, em TEOLOGIA, UMA Bíblia, igualmente referida no seja usado em conjunto com o siste nos três elementos teológicos acontecimento histórico, mas DENTADA DE CADA VEZ (nº Catecismo da Igreja Católica. Método Histórico-Crítico. mencionados em “Dei Verbum”, pa- apenas uma visão teológica. Isto 20), o Catecismo da Igreja Ca- O primeiro destes critérios O Papa Bento XVI afrmou rece estar quase ausente. E isto tem acontece porque os hermeneu- tólica já reiterava a importância – ter em conta a unidade da no mesmo discurso aos bispos consequências bastante graves». tas da fé estão em queda. Por do Método Histórico-Crítico. Escritura (a Bíblia não se con- que «apenas quando dois níveis E continuou: «A primeira conse- outro lado, os hermeneutas f- “A Palavra de Deus”, no en- tradiz a si mesma) – é denomi- metodológicos, o histórico-crítico e o quência da ausência deste segundo losófcos profanos afrmam-se, tanto, veio enfatizar que a in- nado de “exegese canónica”. O teológico, são observados, é que al- nível metodológico é que a Bíblia o que reduz a possibilidade da terpretação histórico-crítica Papa Bento XVI salientou em guém pode falar de exegese teológi- se transforma num simples livro entrada e da presença do Divi- não é sufciente. De novo, em “Jesus de Nazaré. Do Baptismo ca; de uma exegese adequada a este de histórias. Consequências morais no na História.

DIA INTERNACIONAL DA MULHER (8 DE MARÇO) Recordamos Guadalupe Ortiz de Landázuri

SUSANA MEXIA (*) mento universal à santidade de todos leiga do Opus Dei que chega aos altares. os cristãos leigos. Mais tarde, lançou-se O Santo Padre aprovou o milagre prévio na travessia do Atlântico para levar esta à beatifcação, a qual terá lugar em Ma- mensagem de santidade até ao México. drid, sua cidade natal, no sábado, 18 de Regressada a Espanha, dedicando-se à Maio de 2019, aniversário da Primeira Uma mulher pioneira – Guadalupe Or- docência e à investigação, defendeu a Comunhão desta próxima beata. tiz de Landázuri foi sempre uma pionei- sua tese de doutoramento. Em tempos de conciliação entre a vida ra em vários aspectos da sua vida. Úni- No Círculo Eça de Queiroz, no Chia- profssional, a família, as exigências cul- ca rapariga da sua turma no colégio de do, em Lisboa, foi lançado, no dia 19 de turais, a sociedade e a vida espiritual, este Tetuán, foi uma das cinco que em 1933 Fevereiro, o livro “Livre para amar”, de exemplo poderá ser uma inspiração para se matricularam em Química na Uni- Cristina Abad, edição Lucerna (chan- conseguir alcançar metas mais abrangen- versidade Central de Madrid, e uma das cela da Principia). Trata-se de uma bio- tes, exigentes e complementares. primeiras a seguir São Josemaría Escrivá grafa breve de Guadalupe Ortiz de Lan- no seu empenho na difusão do chama- dázuri, a qual será também a primeira (*) Professora ECLESIAL O CLARIM | Semanário Católico de Macau | SEXTA-FEIRA | 8 de Março de 2019 12 PT

CISMAS, REFORMAS E DIVISÕES NA IGREJA – XCVII O Panteísmo – II VÍTOR TEIXEIRA (*) humanismo, o panteísmo recusa a exis- pre oferecem as melhores respostas ou mo não é feito de dogmas ou de prin- tência de uma entidade sobrenatural dis- congregam de forma plena. Por isso, as cípios absolutos, além de não terem tinta e separada do Universo. pessoas ou se afastam delas ou metamor- nenhum livro ou textos, constituições, de Mas se atentarmos, o ateísmo baseia-se foseiam-nas com novas formas de religião, carácter sagrado, revelado. Algumas “for- numa negação, da existência de Deus, não ou de crença, ou de recusa. E transfor- mas” de panteísmo não rejeitam a crença apresentando muitos mais argumentos se- mam nesse grande chavão universal ou numa alma que se mantém para além da O ser é em si portador de bem não este. Por seu turno, o humanismo, na saco sem fundo que é a expressão “flo- morte do indivíduo, mas a maioria dos sua confança total no ser humano, tem sofa de vida”. Como fazem muitos com o panteístas na actualidade defendem que e de mal, logo como pode ser procurado estabelecer uma flosofa posi- panteísmo. E tantos “ismos” mais. a mente faz parte do corpo. Este quando divino? Não será o Panteísmo tiva, mas toda ela tendencialmente centra- E outros “ismos” vão surgindo, confun- morre, dissolve ao mesmo tempo a men- uma forma camufada de Teísmo? da no homem e na sua suposta superiori- dindo, sobrepondo-se, aglutinando ou te, conceito no qual se pode encaixar a Estas e outras questões assaltam o dade. Já o panteísmo defende que se deve pretensamente dando respostas que não alma. O relativismo é para muitos uma ser humano quando se interroga ir mais além, numa perspectiva pretensa- são mais que novas perguntas, dúvidas e das marcas de defnição do panteísmo, mente mais positiva e espiritual em direc- até enganos. Muitos, por exemplo, con- que se multiplica em várias correntes e acerca do Panteísmo, dessa ção ao Universo e à Natureza. fundem panteísmo com panenteísmo. sensibilidades, sem princípios absolutos. presença de Deus em tudo ou do Panteísmo é quando Deus é o Universo O panteísmo é a opção por um cami- tudo que é Deus. A dúvida e a O PANTEÍSMO É UMA FILOSOFIA na mesma medida em que o Universo é nho que conduz o ser humano, intima- desorientação parecem dominar DE VIDA OU UMA RELIGIÃO? Deus. Já para o panenteísmo Deus com- mente, à aceitação da vida tal como ela é os indivíduos quando se deparam porta em si a totalidade do Universo, tudo de facto, sem mais do que a própria vida e A palavra “religião”, de forma simples o que nele existe, mas não a totalidade de esgotando-se nesta. Os panteístas encaram com estas interrogações. O ser e concisa, refere-se à crença e fé num Deus, pois Deus é maior que o Universo. a natureza de uma forma quase religiosa, humano procura alguma segurança ou mais deuses, ao culto que se presta a No todo do panteísmo, sobre um algo que mesmo sem o assumirem, enaltecendo o em relação ao que acredita, mas essa(s) divindade(s). Assim, o panteís- é a totalidade de Deus, maior que o Uni- seu poder, imensidão e mistério, toda a parece que quando tudo diviniza mo, à luz dessa ideia de religião, não se verso. Este Deus panenteísta está próximo sua complexidade e universalidade. Não a fca perdido e sem respostas. pode aí incluir. Mas naturalmente temos do teísmo, tendo também personalidade vêem como sinal da glória de Deus, ou de que entender a religião num plano mais e vontade própria, preocupando-se de for- deuses, de um criador. O mundo não é abrangente, para lá do culto, do ritual ou ma especial e carinhosa com o ser huma- apenas uma passagem para outra dimen- da mera submissão, ou seja, englobando no. Já o conceito de Deus no panteísmo são, é o zénite do panteísta. Lutar pela flosofa, ética e espiritualidade, moral en- acaba por ser apenas uma mera analogia, Terra e defendê-la é uma forma de luta, fm. Nesta asserção, os panteístas conside- quando nos referimos aos atributos e qua- de respeito e preocupação em relação ram que esta sua crença, o panteísmo, é lifcativos de divindade universal. a todos os que vivem na natureza, uma O ser não é divino, como o panteísmo uma religião, ou uma forma desta. Alguns Uma das conexões que se faz ao pan- forma de “ecologismo”, dir-se-ia. Muitos não é uma forma camufada de teísmo, assumem-na de forma plena e total. teísmo é com o paganismo. Este último chegam ao panteísmo precisamente pela respondendo de forma objectiva em pri- Mas claro, a religião hoje em dia é, defende, ou acredita, que o divino, ou via ecologia, mesmo sem saber de onde meiro lugar. Respondendo de forma ge- para muitas pessoas, algo que assume uma a(s) divindade(s) – o politeísmo é uma das vêm ou para vão. Os panteístas projectam ral, podemos começar por referir que o conotação negativa, seja por desconheci- marcas do paganismo –, se manifesta(m) a sua existência na vida e na Terra, na na- teísmo implica em si a crença numa en- mento ou ignorância, seja por acidente ou na Natureza, no Universo no seu todo. Os tureza, no lugar onde estão, o qual é o tidade que é maior e mais antiga que o memória trágica, seja por fadiga, ou seja, panteístas afastam-se do paganismo por objecto da sua “veneração”. Universo. Para o panteísmo, esta distin- simplesmente, por confundir a árvore causa dessa acção e principalmente do Mas, afnal, o que é que torna o panteís- ção não existe, esta dualidade, ou a cren- com a foresta, ou vice-versa, quando não facto de ser em múltiplo, politeísmo... Mas mo como uma “heresia”, ou quase, para ça em algo superior. Se usarmos a termi- por desinformação. O desencanto domi- muitos pagãos são panteístas, todavia, pois o Universo de muitas religiões estrutura- nologia teísta, podemos afrmar que Deus na, a vontade de fugir de tudo o que seja o politeísmo é considerado como uma es- das, na actualidade? Será o panteísmo um está no Universo, na mesma medida em religião ou religioso, distanciamento em pécie de metáfora da divindade universal. desvio para o ateísmo absoluto, enquanto que o Universo está em Deus, o que os relação ao espiritual que implique persis- Por falar em religião, será que os pan- forma de degradação, ou desvalorização torna um só. Não se pode considerar o tência, resiliência e sacrifício, renúncia e teístas crêem na vida após a morte? Ou do divino, do transcendente? panteísmo como uma forma camufada despojamento, alteridade e interioridade. mesmo na existência de “alma”? Respon- de ateísmo, pois tal como o ateísmo e o As correntes religiosas actuais nem sem- dem sempre os panteístas que o panteís- (*) Universidade Católica Portuguesa O CLARIM | Semanário Católico de Macau | SEXTA-FEIRA | 8 de Março de 2019 ROTA dos 500 ANOS PT 13 No céu estrelado encontro a paz suprema

JOÃO SANTOS GOMES e de objectivos. Aliás, esta via- gem, assim como a nossa vida, vai-se adaptando ao que nos vai surgindo na frente. Se inicialmente planeámos uma volta ao mundo, com a Quando me perguntam por língua portuguesa e Macau na que escrevo, nunca sei bem o bagagem, acontecimentos hou- que responder. Por vezes, pen- ve que nos levaram a colocar o so que escrevo porque foi esse plano inicial de parte. Hoje, na o caminho que escolhi a nível essência, a iniciativa continua a profssional. Daí ter estudado ser a mesma, apenas muda a for- jornalismo. E tal leva-me a pen- ma de chegarmos ao destino. sar que escrevo porque é o meu Até ao momento o aconteci- trabalho. Assim foi durante al- mento mais marcante foi o pro- guns anos, mas agora – pensan- blema de saúde da NaE, que do melhor – concluo que a ra- em 2016 nos obrigou a repen- zão é outra. Talvez escreva, não sar a viagem e a nossa vida. Se por obrigação ou trabalho, mas inicialmente nos abalou e nos porque simplesmente preciso fez pensar em desistir de tudo, de escrever para que os meus depois de enfrentarmos o pro- leitores fquem a saber, pelas blema com os pés no chão sur- minhas palavras, aquilo que es- gimos ainda com mais certezas tou a viver. de que a nossa viagem é para Esta ideia, de vos transmitir continuar. Se não podemos dar emoções, não me sai da cabeça a volta do mundo – pelo menos durante a passagem nocturna por agora – por todas as condi- entre Long Island e Cat Island, cionantes já aqui referidas nou- nas Bahamas. Está a ser das via- tras crónicas, iremos até outras gens mais calmas realizadas até prestando um tom ainda mais escrevo a falar de locais ou de Já percorremos quase meio ca- paragens sempre com o objec- hoje [espero não me arrepen- místico a toda esta paisagem gentes. Escrevo a falar daquilo minho. Em breve deveremos tivo de levar a nossa cultura aos der destas palavras, visto que nocturna. Se me conseguisse que estou a viver neste momen- chegar ao destino. Se demorar mais variados locais. E, claro esta crónica está a ser escrita a abstrair da NaE e da Maria, que to e que sinto necessidade de mais do que o previsto, também está, sempre com o intuito de meio do trajecto e a altas horas dormem o sono dos justos – há convosco partilhar. não há qualquer problema. Se- encontrar raízes lusas e laços a da noite]. Velejamos a uma velo- muito merecido –, facilmente Desde a nossa saída de Aruba gundo a nossa flosofa de vida, Macau e à Igreja Católica. cidade constante de apenas dois conseguiria entrar em transe, que velejamos quase de forma a viagem é para desfrutar, sem De facto, tem sido uma via- nós, rumo ao destino que ainda ouvindo apenas os barulhos das tradicional, apenas recorrendo pressa de a concluir. gem e tanto. E muito mais está está a mais de trinta milhas. O adriças a esticar e a encolher a ajuda electrónica de navega- A foto de hoje em nada para acontecer. Temos ainda mar nem se sente; com o brilho com os pequenos sopros de ção. O piloto automático há transcreve ou se relaciona com muitas milhas náuticas pela do luar parece um lago eterno, vento, que gentilmente vão esti- muito que não trabalha (esta- o que estou a viver neste mo- frente, em busca de histórias bordejado de pequenas luzes na cando as velas e empurrando o va a consumir bateria a mais), mento. Por isso, peço-vos que para vos relatar. periferia de Long Island. Mas o Dee para o destino. O murmu- pelo que temos de estar sempre pensem numa noite estrelada, Gostaria de ter mais noites que realmente me cativa é olhar rar das ondas, tão baixinho que ao leme. Tal obriga a um esfor- numa qualquer aldeia ou vila como esta para vos tentar ex- para cima, para o céu, onde en- quase não se ouve, e ocasional- ço extra, especialmente em dias de Portugal, e com os olhos fe- plicar o que se sente quando se contro a paz suprema. mente o barulho das madeiras de mais vento ou de mau tem- chados imaginem o leve mur- está rodeado de água, no meio É difícil tentar explicar-vos o vindo do interior do veleiro, po. Nos restantes dias e noites múrio do mar e o suave sabor do nada, sem uma alma a mi- que se vê. São milhões e milhões num ranger que acompanha o quase não é preciso tocar no a maresia nos lábios. lhares de milhas da terra. Sob de pontinhos brilhantes num movimento do casco de fbra, leme. Com as velas balancea- A nossa viagem, que muitos um céu estrelado, mas tão es- fundo negro. Hoje, particular- são os únicos ruídos que me das, o Dee desliza no mar chão. acompanham desde Janeiro de trelado, que quase não se con- mente, com uma lua que surgiu mantêm acordado e lúcido. Estamos em direcção à costa 2014, já teve muitos altos e bai- segue distinguir onde começa e à meia-noite alaranjada, em- É certo que desta vez não vos da Flórida, nos Estados Unidos. xos, muitas alterações de rotas acaba o mar.

ESCOLHA SARDINHAS ESCOLHA PORTUGUESAS PORTHOS CADERNO DIÁRIO O CLARIM | Semanário Católico de Macau | SEXTA-FEIRA | 8 de Março de 2019 14 PT

Segunda 4 Terça 5 Petróleo 1 Corrupção

Ainda a questão da Venezuela. Pois é é o mesmo problema que tentaram Portugal, uma nação repleta de gente sé- fundo da Europa; a destruir um dos povos evidente. A preocupação dos Estados colmatar ao destruir a Síria: a ideia ria, honesta e competente! Parabéns pelo que mais marcaram, como poucos povos Unidos e da União Europeia não é a era através de oleodutos e gasodutos v\osso contributo para a nossa história. o conseguiram fazer, a História Mundial democracia! São as matérias-primas, transportar para a Europa e os Estados Mas há quem esteja a levar o País para o e a modernidade do Velho Continente. com particular destaque para o petró- Unidos em oito dias o petróleo e o gás leo, sendo que a Venezuela fca a tre- natural que, de barco, demora mais de zentos quilómetros das fábricas ameri- 45 dias. canas, contrastando com o Golfo que fca a mais de 16 mil quilómetros. Este Petróleo 2

A vice-Presidente da Venezuela, Del- cy Rodriguez, anunciou que a compa- nhia venezuelana de petróleos, PDV- SA, transferirá de Lisboa para Moscovo a sua sede europeia. Vai-se de Portugal, portanto, uma das maiores petrolíferas do mundo. Para quantos imaginavam que a subserviência a vontades estra- nhas não nos causaria dano, eis aqui, ças dos Estados Unidos e as carteiras novamente, a recordação dolorosa de de Berlim e Paris? À vontade, mas não que a independência nacional é inse- tenham depois a audácia de queixar- parável do interesse concreto, palpável -se das inevitáveis – e até justas – con- e imediato do País. Querem pensar sequências do nosso seguidismo. Sai uma política portuguesa com as cabe- muito caro não ser livre! Democracia Uma coisa sabemos: se a Direita por- guém passaria os portugueses em auto- Quarta 6 tuguesa se preocupasse tanto com a -confança e determinação. E se falasse democracia portuguesa, agrilhetada e com tanto vigor da Comunidade dos silenciada por Bruxelas, como com a Países de Língua Portuguesa como fala venezuelana, Portugal seria o mais livre da União Europeia, a CPLP seria mais Freita país do mundo. Se fosse tão patriota de que um centro ocupacional para diplo- Portugal como é patriota de Israel, nin- matas em fm de carreira. Localizada na Serra da Freita, a Fre- cha da Mizarela é considerada a maior queda de água de Portugal continen- tal, com as águas do Caima a despe- Quinta 7 nharem-se de mais de sessenta metros de altura. A cascata assenta num im- portante sistema de falhas e ocorre no Arte contacto geológico entre o granito e os micaxistos da Freita. A biodiversida- A “História da Arte de aqui presente é surpreendente. As nos Açores (cerca de rapinas aproveitam as correntes de ar 1427-2000)” é uma ascendente para o seu voo planado e obra imprescindível os espaços abertos para a caça. que convida a uma sa- borosa senda plural menda feita no sítio na sobre as especifcidades de descobertas. Este Secretaria Regional de das artes produzidas no livro, de novecentas Educação e Cultura do arquipélago, ou para Verdade páginas e profusamen- Governo Regional dos ela encomendadas e ad- te ilustrado, pode ser Açores. Sob coordena- quiridas, desde o fm da «Quem julga ter a verdade num bolso, vida mais sábia e em harmonia com adquirido (segundo foi ção de Delfm Sardo, Idade Média aos nossos tem sempre uma inquisição no outro», a Natureza, andemos desde a coloni- anunciado na muito João Vieira Caldas e Vi- dias. No dia 8 de Março, já dizia Agostinho da Silva. É triste zação a tentar convertê-los aos nos- concorrida sessão de tor Serrão, reúne textos na Casa dos Açores, em que, em vez de aprendermos com sos preconceitos culturais e civiliza- lançamento) por via de 26 autores que dão Lisboa, haverá nova ses- os indígenas de todo o mundo uma cionais. online através de enco- uma visão de conjunto são de lançamento.

請把抽奬卷於抽奬前投入設於澳門大會堂之抽奬箱內 ENTREGUE ESTE CUPÃO NAS BILHETEIRAS DO CINETEATRO DE MACAU 抽奬日期:3月29日抽奬日期:3月14日 DATA DO SORTEIO: 2914 DE MARÇO DE 20182019 O CLARIM | Semanário Católico de Macau | SEXTA-FEIRA | 8 de Março de 2019 ENTRETENIMENTO PT 15

TDM Canal 1 EVENTOS www.icm.gov.mo/pt 13:00 TDM News (Repetição) 13:30 Telejornal RTPi (Diferido) 14:30 Festival da Canção 2019 - Final 16:45 Janela Indiscreta 17:20 Ritual Tejo ao Vivo em Macau 18:20 Animais Anónimos 18:50 Joker 19:35 O Mundo da Dança (Fim) 20:30 Telejornal Cinema: Paraíso Perdido. 21:15 Cinema: Paraíso Perdido Sábado, às 21:15 horas. 23:15 TDM News Sexta-feira 23:50 Cá Por Casa 13:00 TDM News (Repetição) 00:55 Telejornal (Repetição) 13:30 Telejornal RTPi (Diferido) 01:40 RTPi (Directo) 15:00 Água de Mar 15:50 Zig Zag Domingo 16:20 Quem Quer Ser Milionário 10:30 Animaizinhos Selvagens Exploradores 17:25 Arquitectarte 11:00 Missa Dominical 12:00 Madeira 600 Anos 17:55 Ministério do Tempo CONCERTO “DIÁLOGO ENTRE O ORIENTE 18:50 TDM Talk Show (Repetição) 12:30 Uma Mesa Portuguesa... Com Certeza! E O OCIDENTE” 19:25 Livros com João Guedes (Repetição) 13:00 TDM News (Repetição) 19:35 Os Nossos Dias 13:30 Telejornal RTPi (Diferido) 09/03 | Sábado | 20:00 horas 20:30 Telejornal 14:30 Top Chef Jr. CONFERÊNCIA “THE WOMAN TODAY” Centro Cultural de Macau 21:15 Sinais de Vida 15:15 Rat-A-Tat 22:00 Contentor 13 15:35 Míudo Graúdo 08/03 | Sexta-feira | 5:30 horas - 17:00 horas Nie Jiapeng, jovem violoncelista muito popular nos últimos 22:30 Motel Bates 16:15 Viva a Música Fundação Rui Cunha anos, foi convidado especialmente para conduzir um debate 23:15 TDM News 17:00 Brainstorm sobre instrumentos musicais do Oriente e do Ocidente. O 23:50 Resumo Liga Europa 2018/2019 17:45 Yolanda Soares - Metamorphosis O Dia Internacional da Mulher é, para além de um momento violoncelo, um instrumento musical ocidental, é usado para 00:10 Cinema: Incógnito 19:25 Bem-Vindos a Beirais de refexão e análise sobre o muito que já foi feito e o muito interpretar “O Capricho de Genghis Khan”, uma peça musical 01:35 Telejornal (Repetição) 20:10 Aqui Há História que ainda está por fazer, um tempo para celebrar a coragem de inspiração chinesa do mais infuente compositor da Ásia, e a determinação que tantas e tantas mulheres, um pouco Tang Jianping. Wei Qing, chefe do naipe de liuqin da Orquestra 02:20 RTPi (Directo) 20:30 Telejornal por todo o mundo, têm diariamente, ao desempenharem Chinesa de Macau, com os seus conhecimentos de liuqin e 21:15 Contraponto papéis extraordinários na história dos seus países e das sensibilidade musical, vai usar o belo e agudo som do liuqin Sábado 22:20 Coisas Curiosas de Saber suas comunidades. É, pois, como forma de inspiração e para interpretar a “Dança do Tambor de Bronze”, uma canção 22:45 City Folk - Gente da Cidade 10:30 Zig Zag encorajamento das novas gerações de mulheres em Macau, com elementos de minorias étnicas do Sudoeste da China e 10:50 Os Ursos Boonie e o Fantástico Outono 23:15 TDM News que a Fundação Rui Cunha aproveita a oportunidade e reúne composta pelo professor Zhang Zhao. No fnal há “Benção 11:20 Beo and Peno 23:50 TDM Reportagem (Repetição) à mesma mesa um grupo de convidadas, com diferentes Eterna e Auspiciosa”, um concerto de pipa encomendado pelo 11:30 Chai Chai 00:10 Magazine Liga Europa 2018/2019 percursos de vida mas com um elo em comum: sucesso e Departamento Publicitário da Província de Jilin a Zhao Cong, 12:00 Visita Guiada 01:05 Telejornal (Repetição) realização profssional e pessoal. A sessão será realizada em artista emergente e multi-talentosa, intérprete principal de 12:35 Culinária Portuguesa 01:50 RTPi (Directo) língua inglesa. A entrada é livre! pipa da Orquestra Tradicional Chinesa da China.

CARTOON TEMPO TAXAS DE CÂMBIO www.smg.gov.mo http://www.bcm.com.mo MOP AGUACEIROS USD 1 8.0798 14º Min. - 17º Máx. EUR 1 9.1377 GBP 1 10.629 JPY 1 0.07232 AUD 1 5.6915 Céu muito nublado. Aguaceiros ocasionais. NZD 1 5.4779 16 | ÚLTIMA | SEXTA - FEIRA | 08 - 03 - 2019 Vento: força 4 a 6 de Leste a Nordeste com rajadas. Rua do Campo, Edf. Ngan Fai, Nº 151, 1º G, MACAU Humidade relativa entre 80% e 98%. RMB 1 1.1988 O índice UV máximo previsto é de 2, classifcado de Baixo. TEL. 28573860 FAX. 28307867 HKD 1 1.03 www.oclarim.com.mo | www.facebook.com/oclarimweekly

JAVA MENOR – 9 Situs Semedo e a menina Ribero

JOAQUIM MAGALHÃES DE CASTRO demonstra a transmutação de cidade [email protected] fortifcada – o baluarte De Vijfhoek, de cinco bastiões, na margem do rio Sema- rang, ergueu-o a V.O.C – em cidade por- tuária internacional e cosmopolita. Demolida a muralha, em 1824, estabe- leceriam no miolo urbano as suas sedes Conduzir nas estradas indonésias é um várias frmas estrangeiras privadas. Sur- verdadeiro teste a todos os sentidos. Os gem assim os prédios de escritórios, os ar- veículos, sobretudo os biciclos motoriza- mazéns, as lojas, os bancos, os consulados dos, tanto nos aparecem pela esquerda estrangeiros. Desse período mantém-se como pela direita, aproveitando, todos intacto o edifício em tijoleira Marba, ou- eles, a mais ínfma nesga para se esguei- trora armazém de venda de tudo e mais rarem à menor desatenção do condutor alguma coisa, percursor dos modernos oponente. Na verdade, é um milagre re- supermercados. Uma ilustração de Frits gressar incólume após uma jornada de van Bemmel, datada de 1930, retrata bem várias centenas de quilómetros. Para com- este modelo de lojas implementado pelo pensar o caos, vá lá que as cidades indo- alemão Alfred Zikel e que depressa se es- nésias têm a agradável particularidade palharia pelas Índias Orientais. Noutro de nos fazer sentir num ambiente quase edifício recentemente recuperado desta- rural, mesmo que segundos antes tenha- co dois belos painéis de azulejos arte nova. mos saído de um horrendo congestio- Um deles representa uma mulher com a namento rodoviário – exemplo disso, as mão direita na cabeça de um leão e a es- pequenas vielas laterais de telhado-toca- querda pousada numa âncora – brasão de -telhado com mulheres à soleira da porta Semarang; o outro, um peixe e um croco- de casa vendendo ao longo do dia o que dilo com cauda de escorpião – brasão de confeccionaram de manhã bem cedo. É, Surabaia. Também exemplarmente reabi- aliás, devido a essa particularidade que litado o antigo armazém Spiegel, datado raramente temos o privilégio de degustar de 1775, é hoje estabelecimento comercial pratos quentes. Em desvantagem, nes- de sucesso e aí se podem degustar todas as te caso, os makam padang e os warung modalidades de café. Subtraídas estas ex- makan, por oposição aos volantes e práti- cepções, e umas quantas mais promessas cos nasi e mee gorengs, e aos baksos. de restauro em imóveis onde a arte-deco A caminho de Semarang aparece-me, se funde no estilo colonial holandês, o em jeito de intervalo, Tegal. Aqui surgiu que mais há são paredes degradadas com a indústria colonial de açúcar por inicia- vidros partidos e plantas a despontar dos tiva da Companhia das Índias Orientais, muros quais jardins suspensos à beira rio. servindo esta cidade costeira de porto de Após consulta cibernética descubro a exportação da cana produzida nas planta- existência de uma rua chamada (Jalan Pe- ções próximas. Avistadas de soslaio, a bo- res) nas imediações do bairro de Bongsari nita sede dos caminhos-de-ferro e o alun- para onde foi em tempos relocada a co- -alun. Localizo no mapa entretanto um munidade católica local. É prova disso, no tal “Museum Situs Semedo”, algures nas cemitério contíguo à igreja de Santa Tere- redondezas. É, na verdade, mais de que sa, a lápide de um túmulo em razoável es- um museu, sítio paleontológico onde fo- tado de conservação. Gravado no granito ram encontrados aqui há uns anos uma é visível um “Vasconcelos” bem português. série de fósseis. Motivo sufciente para A introdução do Catolicismo na re- dar nome também a um restaurante da gião ocorreu certamente algures no de- zona, o “Makam Semedo”. Os locais des- correr do século XVI, mas só seria “of- conhecem o signifcado da palavra, o que cializado” em 1640, quando dois padres só reforça a hipótese de se tratar de um dominicanos, Manuel de Santa Maria e apelido português. Talvez o de algum Pedro de São José, receberam um ter- mercador, soldado ou missionário que reno do sultão de Mataram, Agung Adi emprestaria o nome ao sítio. Como é que Prabu Hanyakrakusuma, destinado aos cá chegou é a questão a levantar. católicos locais, no fundo, comerciantes Tegal, onde também se produz chá de cidadezinha empenhada em produzir o nava-a o português “terra de Camaran”. portugueses de Jepara. Serão certamen- boa qualidade, ter-se-á desenvolvido a par- melhor dos “batiks”, facto por si só justif- Hoje, o seu centro histórico, o Kota te descendentes dessa gente muitos dos tir de uma pequena aldeia chamada Tete- cador do museu dedicado a essa forma de Lama – onde volto a encontrar riquexós actuais residentes de Bongsari e até algu- gual; isto, em 1530. Ora, é para mim tam- arte têxtil tão querida dos indonésios. a pedal – reúne um assinalável conjun- mas fguras públicas da cidade, como é o bém bastante familiar, na sua sonoridade, Fundada em 1547, Semarang assenta to de edifícios coloniais que nos últimos caso da muito jovem e promissora actriz este vocábulo. Uma meia centena de qui- num antigo porto mencionado por Tomé anos têm vindo a ser alvo de merecidas Aurora Ribero, protagonista do êxito de lómetros adiante espera-nos Pekalongan, Pires na sua “Suma Oriental”. Denomi- obras de restauro. A paisagem urbana bilheteira Susah Sinyal.