A “SUSTENTABILIDADE TRILHEIRA” DO VALE DO CAPÃO – PALMEIRAS/BA

LUIZ COÊLHO DE ARAÚJO1

Resumo capãozeira, o artesanato, as artes, a gained position as one the main A partir da abordagem dos con- agroindústria, os serviços, o comér- places of the interest of thousand ceitos e resultados ligados à cio, os transportes e a agricultura visitors of the Chapada, and becom- globalização, desenvolvimento sus- local. ing the second entrance gate to the tentável, ecologia, sustentabilidade trails in the axis Lençóis / local e lugar, o presente artigo visa Palavras-chaves: globalização, / Palmeiras / Capão / Andaraí / explicar “A Sustentabilidade Chapada Diamantina, Vale do Mucugê, inside and at around of the Trilheira do Vale do Capão – Pal- Capão, sustentabilidade turística, National Park of Chapada meiras/Ba”, sintetizando a trajetória sustentabilidade local. Diamantina. A touristic place, the de 100 anos da Chapada Diamantina, Capão locality is also recognized as desde o fausto do diamante à sua in- Abstract a singular experience of one commu- serção no circuito do turismo ecoló- From the approach of the con- nity that, since the 80’s, was orga- gico, em que o Capão é hoje um dos cepts and results related to global- nized by itself to create local principais pontos de interesse para ization, sustainable development, sustainability, constructing from milhares de visitantes da Chapada, ecology, local sustainability, and lo- scratch the basic infrastructure and o segundo portão de entrada para as cale, this article aims to explain “The urban services that support the hiker trilhas no eixo Lençóis / Iraquara / Hiker Sustainability of the Capão tourism, promoting the internaliza- Palmeiras / Capão / Andaraí / Valley - Palmeiras/BA”, for the prac- tion of the tourism income, creating Mucugê, dentro e no entorno do Par- tise of hikings over tracks (Foot- jobs, protecting the environment, que Nacional da Chapada paths)”, synthesizing 100 years tra- stimulating and reactivating the Diamantina. Lugar turístico, o jectory of the Chapada Diamantina, “capãozeira” culture, crafts, arts, Capão é também uma experiência since the fortunate time of the dia- agribusiness, services, trade, trans- singular de comunidade que se or- monds up to its insertion into the cir- port and local agriculture. ganizou para criar a sustentabilidade cuit of ecologic tourism of nowa- local, desde os anos 80, construindo days, at which the Capão region JEL: O18; Q01;Q26; R11. do zero a infra-estrutura básica e de serviços urbanos que dá suporte ao turismo trilheiro, internalizando a receita turística, gerando empregos, protegendo o meio-ambiente, dina- 1 Professor Titular UEFS; Mestre em Economia – UFBA; mizando e reativando a cultura [email protected]

RDE - REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO Ano XIII Nº 22 Dezembro de 2010 Salvador, BA 73 mercadinhos, boate e pizzaria, com- ção via mídia e internet, orga- Esse lugar é putador, sites e mais sites na nização cooperativa de produ- “ internet, telefone residencial, correi- tores, entre outros aspectos particularmente os, moto táxi, coleta seletiva de lixo, pertinentes. vulnerável à influência pousadas e campings, agências de viagens,rádios FM, uma emissora de 1.1. O global e o local – o lugar do turismo de massa TV em fase de montagem, comuni- O lugar, visto por Frémont (1980, – ou individualizado, dades alternativas, alta qualidade de p. 116) apud Fonseca (2001, p. 98), vida, médicos, naturistas, psicólo- como “elemento essencial da estru- mas de forma massiva gos, professores de idiomas, advo- tura do espaço”, e por Santos (1988, e contínua -, na gados e economistas, engenheiros, p 77) como “expressão da singulari- administradores, tarólogos, astrólo- dade”, no contexto da globalização transformação dos gos, artistas e artesãos, agricultores, evidencia-se como: hábitos e costumes, produtores de mel, frutas passa, er- vas medicinais, café moído, “Universalização das trocas, da cultura e das esotéricos de muitas linhas de desen- universalização do capital e de seu volvimento espiritual, uma babel de mercado, universalização da merca- tradições das suas doria, dos preços e do dinheiro idiomas e habilidades que deu cer- como mercadoria-padrão, comunidades... to. universalização do modelo de uti- A imagem é a de Macunaíma, o lização dos recursos por meio de “O lugar deve ser entendido” por uma universalização relacional das herói brasileiro e universal, digerin- intermédio de uma dimensão inter- do globalização, desenvolvimento técnicas, universalização do traba- na, vinculada à sua história, e uma sustentável, turismo ecológico e lho, isto é, do mercado de trabalho dimensão externa, que se impõe, e do trabalho improdutivo, sustentabilidade local, transforman- universalização do ambiente das através do processo de globalização; do esses conceitos abstratos em uma firmas e das economias, no lugar a globalização se materia- concreta realidade de bons frutos, universalização dos gostos, do con- liza e do lugar é possível entender o centrada nos indicadores/ sumo, da alimentação” (SANTOS, mundo com suas variadas dimen- parâmetros de: 1988, p. 14). sões.” (F. A. Carlos, 1996:35, apud; - melhoria social – água FONSECA, Antônio – “A Emergên- encanada, energia, telefonia, saúde, Esse lugar é particularmente vul- cia do Lugar no Contexto da educação, serviços públicos comuni- nerável à influência do turismo de Globalização” – 2001, p. 102) tários, habitação, esgotamento sani- massa – ou individualizado, mas de tário, etc; forma massiva e contínua -, na trans- 1. Introdução formação dos hábitos e costumes, da A idéia central que move este tra- - melhoria econômica – geração cultura e das tradições das suas co- balho de pesquisa, a sua tese, é de- de empregos e renda, novas ati- munidades, porquanto, no dizer de monstrar o arco longo que unifica vidades produtivas, crescimen- Tuan (1983, p. 203) história e atualidade, os laços que to do mercado local, expansão Se faz de experiências, em sua mai- unem o global ao local, através da imobiliária, maior oferta de lei- análise da singular experiência de or parte fugazes e pouco dramáti- tos turísticos, etc; cas, repetidas dia após dia e atra- sustentação turística, social e - preservação ambiental – for- vés dos anos. É uma mistura singu- ambiental do Vale do Capão-Palmei- mação de guias, brigada con- lar de vistas, sons e cheiros, uma ras/BA, que em três décadas se tra “queimadas”, campanhas harmonia ímpar de ritmos naturais transformou de uma pequena vila educativas; e artificiais, como a hora do sol nas- cer e se pôr, de trabalhar e brincar. encravada entre as montanhas da - dinamização cultural – artesa- Sentir um lugar é registrado pelos Chapada Diamantina em um dos nato e culinária local, festas po- nossos músculos e ossos. points do turismo ecológico no Bra- pulares, eventos, formação de sil, mercê sobretudo das suas bele- grupos de teatro, esportes, cir- Isto é tanto mais verdadeiro zas naturais e da estratégica locali- co, capoeira, línguas, coral, atu- quanto menor e mais isolado o lu- zação no eixo de circulação das tri- ação de comunidades alterna- gar, e mais rico e variado o lhas turísticas entre Lençóis – Capão tivas/esotéricas, etc; e ecossistema regional em que se en- – Andaraí – Mucugê. - organização comunitária para contra incrustado, como um nicho Em 30 anos, o Vale perdido do o turismo – criação de entida- de humanidade em um espaço-ter- Capão se tornou urbano e global: des oficiais e ONG´s, participa- ritório ainda relativamente preserva- tem água encanada (por gravidade), ção em eventos sobre a do em seus aspectos naturais – qual esgotamento sanitário, luz elétrica, Chapada Diamantina, divulga- seja o caso da Chapada Diamantina

74 Ano XIII Nº 22 Dezembro de 2010 Salvador, BA RDE - REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO como região e do Vale do Capão O Vale do Capão conforma hoje como lugar-destino turístico carac- com Lençóis um circuito turístico terizado como do tipo ecológico. . “Com característica particularmente dinâmico, em nú- Há escassos relatos sobre as ex- distinta do processo mero de visitantes, novos empreen- periências desses pequenos e emer- dimentos privados, melhoria e am- gentes lugares do turismo ecológi- turístico da sede de pliação dos serviços, ações públicas co, em que uma população local Lençóis, “trilheiro” voltadas para o turismo, desenvol- “globalizada” (pessoas de muitas vimento da consciência comunitária vivências, tanto nativos quanto alter- porém de base para a proteção da ecologia, novas nativos) se contrapõe aos efeitos da- urbana, a inserção do construções residenciais e atividades nosos do Turismo e à globalização de comércio e serviços, crescimento em si mesma, construindo em con- Vale do Capão no populacional intenso, etc., que reve- junto uma nova realidade local que turismo ecológico foi lam uma elevada circulação mone- se pretende conscientemente susten- tária na sede de Lençóis e no Vale tável. Muzio (1999), enfatiza exata- rápida e de maior do Capão, com geração de centenas mente essa possibilidade da existên- repercussão no viver de novos empregos no segmento do cia do lugar como contraponto ao turismo ecológico e cultura processo global, extraindo deste as local, “ocupada” por diamantina – guias turísticos, pesso- condições para afirmar a sua singu- al de hotelaria, prestadores de ser- laridade enquanto comunidade: alternativos de... viços (pedreiros, ajudantes, agricul- tores, garçons, doceiras), emprega- Qualquer iniciativa que tenda a for- apesar da existência cotidiana” de dos no comércio, artesãos, artistas, talecer as possibilidades de sobre- conflitos (SANTOS, 1994, p. 47). vivência do nível local, das cultu- apicultores, produtores de frutas in É onde são tecidas relações primá- natura e “passa”, pizzaiollos, produ- ras e estilos de vida locais é, em si rias, identitárias e cotidianas, pois mesma, uma possibilidade para ser pressupõe proximidade e contigüi- tores de leite e queijo, pessoal de lim- contraposta ao caminho de dade que favorecem o fortalecimen- peza urbana, etc. integração do planeta via o projeto to de laços de solidariedade, capa- Com característica distinta do de globalização, que de outro modo zes de gerar resistências contra a or- processo turístico da sede de Len- não enfrentaria nenhum obstáculo dem determinista global (SANTOS, significativo para afirmar sua domi- çóis, “trilheiro” porém de base ur- 1996, p. 118). bana, a inserção do Vale do Capão nação” (MUZIO, 1999, p. 161) Assim, o lugar, o singular, apesar de conter o universal (global) e ser no turismo ecológico foi rápida e de Milton Santos, em trabalhos dos duramente afetado por este, tam- maior repercussão no viver local, anos 90 do séc. XX, já contemplava o bém apresenta suas contingências, “ocupada” por alternativos de vári- panorama da inserção do lugar nas engendradas internamente, em vir- as linhas de atuação e todas as ori- redes da globalização, conforme re- tude do cotidiano e dos laços de so- gens, em um fluxo contínuo que se lidariedade que são estabelecidos mensura em milhares de chegadas, ferido por Fonseca (2001) entre os agentes. É dessa forma que a lógica de acumulação global pode aquisição de terras, construção de Os lugares,...que apresentarem mai- ser contrariada no moradias e integração econômica à ores virtualidades técnicas lugar”(FONSECA, 2001, p. 102). nova ordenação do lugar como um (infraestrutura, acessibilidade, nicho do turismo natural que expan- equipamentos), organizacionais 1.2 O Vale do Capão (leis, impostos, relações trabalhis- de seu poder de atração através das tas, mão-de-obra qualificada, etc.) e Situado no município de Palmei- trilhas garimpeiras da Chapada. naturais – hoje com menor impor- ras/BA, distante 500km de Salvador tância relativa dentro do processo pela BR-242 (Salvador-Brasília), a produtivo – estão mais aptos a atra- partir de 1982 o Vale do Capão trans- 2. Do Diamante ao Café, da ir investimentos externos., fazendo formou-se de um lugarejo com me- Agricultura de Subsistência com que se estabeleça uma acirra- nos de 500 habitantes, perdido entre da competição... onde alguns “ga- ao Turismo Ecológico – Um nham” e outros “perdem. Com isso, as montanhas da Chapada Século do Vale do Capão amplia-se a diferença hierárquica Diamantina – a Vila de Caeté-Açú, entre os lugares, pois, apesar de es- a 1.000m de altitude, em um dos cen- 2.1. Evolução Histórica e Momen- tarem unificados por intermédio de tros propulsores do turismo ecoló- to Atual múltiplas redes técnicas, nem todos gico nos eixos Seabra – Iraquara – A exemplo de muitas outras lo- são atingidos com a mesma intensi- Palmeiras – Lençóis – Capão e Capão dade pelo processo de globalização calidades e áreas da Chapada (FONSECA, 2001, p. 102). – Vale do Pati – Andaraí – Mucugê, Diamantina, a história econômica e No lugar ocorre a união dos homens no entorno e dentro do Parque Na- social do Vale do Capão, apropria- pela diferença e pela cooperação, cional da Chapada Diamantina. damente conhecido no passado pelo

RDE - REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO Ano XIII Nº 22 Dezembro de 2010 Salvador, BA 75 topônimo de Baixa Funda, abarca Decreto Estadual que simplificou o um período não muito superior a 100 seu nome para Palmeiras. anos em que sucederam-se épocas de Toda essa dinâmica de “Havia ainda uma grande prosperidade e profunda desbravamento e ocupação pelo di- reminiscência do decadência,atravessando os ciclos: amante, e posteriormente pelo café - do diamante – dos anos 80 do estancou-se também em dois mo- passado diamantino: século XIX até os anos 30 do mentos: em fins dos anos 30, o dia- .a cada temporal, século XX ; mante tornou-se escasso na - do café, que teve o seu apogeu Chapada; nos anos 50, no 2º gover- assim que a chuva entre os anos 40 e 50 do mes- no Getúlio Vargas, o Banco do Bra- mo século, mas ainda perma- sil foi encarregado de financiar a passava, a vila de nece como uma lavoura comer- erradicação dos cafezais, para garan- Caeté-Açu se agitava cial dependente das repercus- tir o preço no mercado externo abar- sões dos preços internacionais rotado de café ofertado pelo Brasil e e o lugar se na praça de Palmeiras; outros grandes produtores da Áfri- despovoava dos - dos cultivos de subsistência ca e América do Sul. (banana, frutas de estação, ver- Os produtores do Capão acredi- homens, que duras, mandioca) para abaste- taram, arrancaram e venderam seus grimpavam as serras cimento da sede municipal na pés de café ao Banco e jamais rece- feira-livre dos sábados, entre os beram o dinheiro, caindo o lugar em com suas bateias e anos 50 e 80; e extrema pobreza, o que obrigou os pés-de-cabra... - do turismo ecológico, que a jovens e adultos a migrarem para partir de meados dos anos 80 São Paulo e para o Centro-Oeste em estabelece-se como uma alter- busca de emprego, mensal com o Capão, quando os ”apo- nativa de transformação da Exatamente quando toda a sentados da vila desciam até a sede, base econômica local e de sua Chapada estava prestes a sofrer o em uma caminhonete fretada no iní- dinâmica social, vinculada ao segundo grande rude golpe em sua cio de cada mês, para receber os seus passado diamantino, à história economia, com o calote do Banco do proventos, que se constituíam na e cultura da Chapada e aos seus Brasil na erradicação dos cafezais, o única evidência de circulação de di- inúmeros atrativos naturais, Capão surge como um fato legal, nheiro em Caeté-Açu. dentro e no entorno do Vale. através da Lei n.º 328, de 30 de de- Havia ainda uma reminiscência Originariamente, a Baixa Funda zembro de 1953, que criou o distrito do passado diamantino: a cada tem- constituía parte indivisa do territó- de Caeté-Açu, com território corres- poral, assim que a chuva passava, a rio do Município de Lençóis, pondente ao Vale do Capão, a anti- vila de Caeté-Açu se agitava e o lu- recoberta de vegetação de grande ga Baixa Funda enfim reconhecida gar se despovoava dos homens, que parte da Mata Atlântica original, como uma realidade econômica e grimpavam as serras com suas adaptada às características do rele- social. bateias e pés-de-cabra, em busca dos vo montanhoso e do clima tempera- Atravessando os anos 60 e 70 em diamantes que certamente espera- do de altitude. completo esquecimento e abandono, vam por eles, entre as pedras. Quan- Com a descoberta dos diamantes à sua própria sorte, o Capão como do muito, se conseguia catar alguns na região, e em específico a partir da que “encolheu” : os jovens continu- “mosquitinhos” – diamantes sem localização de jazidas às margens do aram indo embora para o Sul, des- quilate, tal o seu pequeno tamanho riacho Lajedinho, na Fazenda Pal- povoando a minúscula vila de Caeté- –, mas o sonho de enriquecer de uma meiras, o afluxo intenso de aventu- Açu, com suas duas ruas, a praça da vez só no bamburrio renovava-se reiros, comerciantes e garimpeiros igrejinha e suas casas enfileiradas, com a chuva. fez criar um arraial que prosperou sub-normais, o cemitério que de raro Gente de fora era raro, raríssimo. rápido, graças à facilidade com que em raro recebia alguém para a eter- De vez em quando, alguém aventu- se faiscava o diamante no leito dos nidade – lá só se morria de velhice, reiro vindo de Lençóis chegava pela rios e às notícias da abundância das mordida de cobra e “mal de sete antiga trilha do garimpo, difícil de pedras, abrindo caminho para o dias”. O Capão “não contava”:a ci- encontrar porque o mato cobrira surgimento da Villa Bella das Pal- dade comercial de Palmeiras, apega- tudo e apagara os sinais. Nenhum meiras, desmembrada de Lençóis da ao passado, conservadora, estag- conforto da vida moderna: energia por Ato Estadual de 23 de dezembro nada, sequer tinha noção de onde fi- elétrica, água encanada, esgotamen- de 1890, constituindo-se cidade já cava Caeté-Açu. to sanitário, telefone, posto de saú- próximo ao fim do ciclo diamantino, Também a agência local do de, escolas, a falta de tudo acentua- em 13 de dezembro de 1930, por Bradesco tinha apenas um contato va o isolamento.

76 Ano XIII Nº 22 Dezembro de 2010 Salvador, BA RDE - REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO Em Palmeiras, os gastos dos re- nho atrás do largo da Igreja, na dire- Somando-se os sidentes no Capão – nativos e “alter- ção do cemitério e do acesso à Ca- “ nativos” – revigoraram o comércio choeira das Rodas, hoje em franco empregos diretos e da cidade, melhoraram o desempe- processo de ocupação por nho da agência do Bradesco, com loteamento de antigos terrenos, indiretos no comércio novas contas em valores acima da fracionados e vendidos a pessoas e serviços, as média local, e garantiram a praça de vindas de fora. Palmeiras na linha de ônibus Salva- Muito mais além chega hoje a ocupações por conta dor-Seabra, da antiga Viação Paraí- área de ocupação recente, com ma- própria, os so, em dois horários, graças ao gran- trizes de expansão/consolidação do de número de assentos comprados processo de urbanização do Vale em proprietários e pelos “capãozeiros”, em dias nor- várias direções, que se complemen- empregadores, não é mais e nas temporadas de férias, em tam: que se tornou comum a abertura de - no interior do Vale, mediante exagero dizer-se hoje horários extras e a contratação de a densificação urbana da Vila que não há ônibus por grupos fechados. de Caeté-Açu, a ocupação de Também as aquisições de terre- áreas de morros, os desemprego no nos no Capão, em ritmo e valores loteamentos e novas ruas sur- Capão, com a crescentes ao longo de mais de 20 gidos com a venda incessante anos, contribuíram para a de áreas pequenas e médias (de dinâmica do turismo monetização das transações econô- 1 a 20 tarefas*), e a construção micas no Vale, com um efeito de casas em todo o trajeto da ecológico e dos multiplicador que explica em gran- estrada, da ladeira dos Campos “nichos” de turismo... de parte as mudanças positivas até o rio que separa o Capão do ocorridas no lugar, a tal ponto que Bomba, em um percurso de hoje o Capão mantém uma economia cerca de 6km correspondente à comercial e turística independente dimensão linear do Vale, da . ” 2.2 A Chegada dos Primeiros “Al- de Palmeiras, bastante diversificada sua entrada ao norte à sua saí- ternativos”/O Efeito Multipli- em termos de produtos, empreendi- da ao sul, entre o Morro do cador da Nova Renda Externa. mentos e serviços. Candombá, a oeste, e os Mor- Nesse contexto, o Vale do Capão Somando-se os empregos diretos ros do Cruzeiro e Branco, a les- parece ter sido um lugar singular, e indiretos no comércio e serviços, te; em um momento específico – o iní- as ocupações por conta própria, os - nos espaços distantes da estra- cio dos anos 80, para onde convergi- proprietários e empregadores, não é da, com novos loteamentos a ram ao mesmo tempo, de diferentes exagero dizer-se hoje que não há de- partir da rua dos Brancos, lugares, falando idiomas variados, semprego no Capão, com a dinâmi- Gorgulho, Lagedo, rua de muitas pessoas e grupos afinados ca do turismo ecológico e dos “ni- Diga, na Mata de Licinha, no com tudo o que prometia a “Era de chos” de turismo esotérico/de saú- Juca e na rua das Mangas; Aquário” em seu alvorecer. de garantindo um elevado padrão de - na estrada de acesso ao Bom- Toda essa dinâmica gerou, des- ocupação dos residentes e uma am- ba, após o rio limítrofe, de ocu- de o seu início, um impacto monetá- pla circulação monetária. pação mais rarefeita, com pico rio de grande dimensão, não só no no povoado citado, onde a Capão mas principalmente em Pal- 2.3. Expansão Territorial/Amplia- melhoria do padrão sanitário e meiras. No Vale, a contratação de ção da Área de Influência construtivo – habitacional, a dezenas de agricultores, pedreiros e Progressivamente, em paralelo à chegada (ou retorno) de novos ajudantes, as compras de produtos ampliação do fluxo turístico-ecoló- moradores, com novas roças, da roça pela comunidade e pousa- gico no espaço compreendido por são um indicativo de das, os novos empregos e ocupações Lençóis – Palmeiras – Capão – Pati – repovoamento de um lugar no comércio, com o surgimento de Andaraí – Mucugê, o domínio que chegou a ter uma bomba novos bares, mercadinhos, padarias, territorial do Vale do Capão alargou- de gasolina, “nos tempos do lojas de material de construção, res- se para além dos vetores naturais de café”, e manteve apenas o taurantes, etc., e nos serviços, des- crescimento urbano/rururbano da nome, quando as cotações caí- pontando o segmento de transpor- Vila de Caeté-Açu, que são a estra- ram e o Banco do Brasil não pa- te, com dezenas de veículos para fre- da em direção ao povoado do Bom- gou as sacas e os pés que o go- te à disposição dos moradores e tu- ba, o trecho enladeirado entre a Vila verno obrigou a queimar; ristas. e o povoado de Campos e o cami- - em todo o percurso até Palmei-

RDE - REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO Ano XIII Nº 22 Dezembro de 2010 Salvador, BA 77 ra itinerante no trecho Rio municípios que formam o Circuito Grande-Capão, junto com ou- do Diamante, sendo ponto de parti- “Dois são os roteiros tros apicultores da Flor Nativa, da e chegada e, ao mesmo tempo, marca comercial do mel do lugar de passagem entre Lençóis, mapeados por GPS Vale; Palmeiras, Iraquara, Seabra, Mucugê que partem de - no caminho que segue para e Andaraí, dando acesso a dezenas Lençóis, onde se chega à comu- de pequenas vilas e lugarejos que Lençóis: para o nidade da Campina, um grupo resistem ao tempo e ao êxodo Capão, passando que se mantém vinculado ao populacional, cada uma com sua Capão e há mais de 10 anos “micro-cultura”, suas roças e ruínas, pelo Morrão ou Morro desenvolve atividades de re- seu povo pacato, a um só tempo ar- do Camelo; e para a cepção de grupos de turismo redio e hospitaleiro, seu isolamento ecológico e outras, ligadas à – Guiné, Pati, Igatu, Rio Grande, Cachoeira da Fumaça, vida natural e ao meio ambien- Conceição dos Gatos, Campos, Bom- a partir do lugarejo de te; ba, Rio Preto. Na própria cidade de Palmeiras, Campos, no chamado além de muitas casas alugadas ou de 3.1 As Trilhas do Ecoturismo propriedade de residentes no Capão, O mapeamento das trilhas da “caminho de cima”; evidenciam-se outras relações decor- Chapada é um trabalho que vem sen- ou para a Fumaça rentes da influência do turismo e da do feito por grupos ambientais, em- dinâmica urbana do Vale sobre a presas – agências e operadoras – e diretamente de economia da sede municipal, guias, constituindo-se um desafio à Lençóis, na trilha de notadamente nas áreas de transpor- capacidade dos pesquisadores, por- te, materiais de construção e abaste- que novos / antigos caminhos são baixo, onde se vê ... cimento alimentar. redescobertos e redesbravados a cada temporada, levando a novos/ 3. A sustentabilidade “trilhei- antigos lugares da Chapada – ora ras, como revelam os vínculos” ra” do Vale do Capã uma gruta, uma serra, um poço na- pessoais e de atividades econô- A expressão “Sustentabilidade tural no curso de um rio, uma praia micas do Capão com as locali- Trilheira” sintetiza toda a trajetória de rio deserta, uma cachoeira, um dades de: histórica da Chapada Diamantina, vale, o planalto sem fim..., - Campos, onde funcionam 2 desde a lavra dos diamantes do pas- Dois são os roteiros mapeados pousadas, armazéns e bares sado ao turismo ecológico do presen- por GPS que partem de Lençóis: para que dão suporte ao turismo na te, sempre nos caminhos que a natu- o Capão, passando pelo Morrão ou trilha para a Cachoeira da Fu- reza propiciou para vencer serras, Morro do Camelo; e para a Cachoei- maça; veredas e rios e chegar ao destino ra da Fumaça, a partir do lugarejo - Riachinho, onde duas comuni- almejado no menor tempo possível de Campos, no chamado “caminho dades mantêm e promovem para as pernas acostumadas a cami- de cima”; ou para a Fumaça direta- atividades esotéricas, receben- nhar. mente de Lençóis, na trilha de bai- do grupos para trabalhos e Para trilhar a Chapada em toda a xo, onde se vê o véu de noiva da ca- vivências, inclusive grupos de sua extensão, de sul a norte, de leste choeira de um belíssimo ângulo. jovens no projeto Acampamen- a oeste, penetrando inclusive no ter- Também mapeadas através de to Verde; ritório da Chapada Diamantina Se- GPS, as trilhas que partem do Capão - Rio Grande, o antigo povoado tentrional (região de Itaberaba) e do (Vila de Caeté-Açu) levam à Cacho- no sopé da montanha, porta de Piemonte da Diamantina / Chapada eira da Fumaça e ao Vale do Pati, entrada para o Capão, a 20km, Norte (região de ), basta atravessando os extensos Gerais do que aumentou a população apenas ao viajante as trilhas do ga- Vieira para alcançar as ruínas do nativa e as oportunidades de rimpo, que formam um sistema de passado na Ruinha e na “Prefeitura”, emprego, com novas constru- circulação interna complexo e efici- separadas por 2 horas de caminha- ções e o surgimento de empre- ente, levando até onde não chega o da; e daí até o Pati, encravado a 600m endimentos inéditos na área, a jipe, a toyota, a rural. de altitude, com sua densa floresta, exemplo do projeto de pecuá- A Chapada é um recorte de mui- morros íngremes e o Cachoeirão. ria leiteira do suíço Pedro, que tas trilhas e suas infindas variantes. Quem tiver pique de “trekking” cria gado de origem do seu país O Vale do Capão é um dos nódulos pode seguir adiante até Mucugê ou para a produção de leite e quei- dessas muitas trilhas, por sua loca- Andaraí, subindo e descendo serras jo, além de praticar a apicultu- lização central e estratégica entre os por até mais 4 horas e meia.

78 Ano XIII Nº 22 Dezembro de 2010 Salvador, BA RDE - REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO de Lençóis em banana, café e legu- mes do Vale do Capão. Os tropeiros vindos de Vitória da Conquista co- meçaram a utilizar esta nova via de comunicação para alcançar o norte da Chapada, Morro do Chapéu e Jacobina.

Trilha Capão – Andaraí Com cerca de 40km de extensão, esta trilha apresenta uma grande variedade de panoramas e permite conhecer uma comunidade isolada do resto do mundo. Pode ser feita de 3 a 4 dias para desfrutar do Gerais do Vieira e do Cachoeirão. A partir do Vale do Capão pode ser feito um circuito fechado passando pela ca- choeira do Calixto e voltando pela Ruinha em 3 dias. O trecho final é o da Ladeira do Império / Andaraí (4 horas); a “la- deira” é uma subida íngreme e cal- çada que permite sair do vale do Pati e alcançar a descida para Andaraí, que serpenteia no meio de antigos garimpos de diamante e rala vege- tação rupestre.

Trilha Capão – Mucugê Esta é a mais extensa trilha do Parque Nacional e pode ser dividi- da em 10 pontos,com os trechos en- tre cada dois deles se constituindo em uma travessia que exige muita vitalidade.Do trecho Capão / Gerais do Vieira até o córrego da Galinha chega-se ao ponto 1; daí até a ladei- ra do “quebra bunda”, que dá aces- Figura 1 – Mapa do Parque Nacional da Chapada Diamantina e so aos gerais do Rio Preto, alcança- as Trilhas do Ecoturismo. se o ponto 2. Fonte: Claude Samuel,2000; www.gd.com.br/candombá. A trilha acompanha a crista da serra, dominando os gerais do Vieira Trilha da Cachoeira da Fumaça so total é de 6 km,com os primeiros à esquerda e os gerais do Rio Preto à A trilha que leva até a mais alta 1.500 m em subida íngreme e o res- direita (ponto 3). Costuma-se fazer queda d’água do Brasil e 2ª do tante em uma caminhada fácil, pla- o primeiro acampamento nesta área, mundo,com 420 m de altura, tem sua na, nos gerais do Vieira. Ao final de na altura da Ruinha (ponto 4). Mas origem nos garimpos de diamante 2 horas chega-se ao córrego da adiante cruza-se a trilha Guiné / Pati do século passado espalhados nas Larguinha e à Cachoeira da Fuma- que passa no colo (ponto 5) e desce bacias hidrográficas dos rios ça. em direção a Ruinha e Pati do Alto. Capivara, Palmital, Capivarí e Cal- Segue-se na direção sul até o ponto deirão. Trilha Capão – Lençóis 6, entrada do vale que vai formar o O começo desta trilha se dá no Esta trilha foi aberta no século 19 rio do Cachoeirão.,onde se encontra povoado de Campos,antes da desci- pelos garimpeiros de diamante para a Toca do Gavião, antigo abrigo de da para o Vale do Capão. O percur- facilitar o abastecimento da cidade garimpeiros.

RDE - REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO Ano XIII Nº 22 Dezembro de 2010 Salvador, BA 79 O segundo acampamento pode gura. A trilha da margem esquerda Trilhas e Atrativos Naturais no ser feito no ponto 7 ,correspondendo passa pela toca do Caboclo (ponto interior e entorno do Vale: a dois terços da distância total. O en- 9) e suas pinturas rupestres. A parte contro com o rio se dá numa forma- final atravessa uma extensa caatin- Cachoeira do Riachinho ção geológica única na região (pon- ga até o encontro do rio Preto com o Situada no Distrito de Caeté-Açu, to 8), um poço de 8 quilômetros de rio Paraguaçu,de onde se alcança a na estrada Palmeiras-Vale do extensão com 20 a 30 metros de lar- estrada de asfalto para Mucugê. Capão,a cachoeira fica a cinco minu- tos à margem da estrada, sendo alcançada através de uma pequena trilha, muito íngreme. A água do rio despenca de uma altura de 12m, for- mando várias cachoeiras pequenas.

Queda d´Água das Rodas Localizada no Distrito de Caeté- Açu, apresenta várias quedas d´água e inúmeros pontos para banhos em piscinas naturais.

Morrão Um dos mais populares cartões postais da Chapada Diamantina, o Morrão ou Monte Tabor é um rema- nescente erosivo da Serra do Sincorá, medindo 1.418m de altitude, isola- do no meio do Vale do Rio Mucugezinho.

Morro do Camelo Localizado no povoado de Cam- pos de São João, em Palmeiras, este morro encontra-se a 1.090m acima do nível do mar e não dispõe de qual- quer trilha para subir e chegar ao seu topo

Morro do Pai Inácio Este morro alcança 1.120m de al- titude sendo um dos pontos de ob- servação mais visitados da Chapada Diamantina, localizado no povoado de Campos de São João.

Morro Branco Dominando o lado leste de Caeté- Açu, esta elevação com cerca de 1.545 metros e cume rochoso ofere- ce uma visão panorâmica do Vale do Capão. Altiplanos dos Gerais do Vieira Após a localidade do Bomba, su- bindo o Morro Branco alcança-se um vasto platô chamado de Gerais, um imenso cenário rodeado de morros Figura 2- Mapa da Trilha Capão-Mucugê que abriga as nascentes dos maiores Fonte: Claude Samuel, 2001; www.gd.com.br/candombá. rios da região.

80 Ano XIII Nº 22 Dezembro de 2010 Salvador, BA RDE - REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO Cachoeiras do Rio Preto Serra do Candombá e Poço do 3.2 A Construção da Nova O Rio Preto nasce no topo da Ser- Gavião Sustentabilidade Local ra do Esbarrancado, a 1.700 metros O poço do Gavião tem mais de Em paralelo à retomada das tri- de altitude, e segue vale abaixo jun- 100 metros de comprimento, uma lhas do garimpo pelo ecoturismo, tando todos os riachos da área, for- verdadeira lagoa no meio das mon- revitaliza-se a cultura local, com as mando cachoeiras entre as enormes tanhas. A volta pela crista da manifestações tradicionais do Vale pedras roladas para o seu leito. Candombá é um sobrevôo acima do renascendo na culinária típica, na Vale do Capão, com o Morrão e o Pai arquitetura, na música, nos costu- Vila do Bomba e Poço Angélica Inácio ao longe. mes, no artesanato, nas festas, lado Um passeio de 3 horas permite a lado com as manifestações de cul- descobrir o Vale acompanhando o Gruta da Torrinha e Pai Inácio tura dos que chegaram e foram bem rio do Capão,com a pequena vila do O Parque Espeleológico de recebidos – o circo, o teatro, o coral, Bomba no pé do Morro Branco. No Iraquara, distante 45km do Capão é a medicina naturalista, o esporte, a caminho pelo rio, o poço Angélica, uma imensa planície no sertão que música, o artesanato, as vivências uma bela piscina natural de uns 30 abriga um dos maiores sistemas de esotéricas, a agroindústria, a apicul- metros de comprimento, e a cacho- grutas e cavernas do Brasil e do mun- tura, a dança, o esporte, a culinária eira da Purificação, com suas três do. A caverna Torrinha apresenta cu- de outros lugares, sendo incorpora- quedas d’água sucessivas, a maior riosidades como agulhas de Gypsita da como parte da nova oferta turís- de sete metros de altura. de 60cm e flores de Aragonita. tica do Capão. Nesse diapasão, a aculturação mútua ocorrida no Capão a partir dos anos 80, entre o viver nativo e as novas alternativas de inserção do lugar no contexto mundial, pode ser vista quase como uma simbiose que pouco a pouco conformou um novo amálgama social no Vale, com im- plicações positivas de natureza eco- nômica, cultural e ambiental. Dois são os marcos organizacio- nais que comprovam a intencionali- dade das ações da sua comunidade e retratam os momentos distintos vividos pelo Capão desde a década de 80 do século XX: 1. O primeiro marco foi a cria- ção da Associação dos Produtores do Vale do Capão, na primeira me- tade dos anos 80, com resultados concretos mesmo antes do turismo evidenciar-se como uma realidade para o contexto econômico do Vale: implantou-se do zero toda uma infra-estrutura básica e serviços ur- banos essenciais, como água encanada, esgotamento sanitário residencial, energia elétrica, telefo- nia, transmissão de sinal de televi- são, correios, cartório, posto de saú- de, escolas de pré-escolar e 1º grau com novos programas, novas metodologias e professores capaci- tados, entre outros aspectos, a par- tir do Projeto Distrital de Emergên- Figura 3- Mapa Turístico do Vale do Capão e Região cia para Valorização Comunitária do Fonte: Claude Samuel, 2000; www.gd.com.br/candombá. Vale do Capão – março/abril-1986,

RDE - REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO Ano XIII Nº 22 Dezembro de 2010 Salvador, BA 81 cultural do lugar, a organização da mas o Capão venceu de novo. No brigada contra as queimadas (forma- começo, a central telefônica dispu- “ da por moradores voluntários) e a nha de um aparelho, depois dois, Foi o caso do elaboração em 1998 do PRUA - Pro- depois quatro, mas sempre abaixo da grama de Referência Urbanístico- demanda. Com a rede e a torre da abastecimento de Ambiental de Palmeiras, em articu- antiga Telemar, hoje o Capão é um água, feito por lação da Secretaria de Turismo de exemplo de lugar integrado à Palmeiras com o IBAMA, o Gover- globalização, com as antenas para- gravidade a partir da no Estadual e as ONG’s locais, com bólicas captando o mundo pela TV, projeção das ações e normas a Internet divulgando as suas bele- Cachoeira do Batista ambientais para o período dos pró- zas em um número cada vez maior (a “mãe do Vale”, no ximos 25 anos. de sites, a quase totalidade das resi- Cada conquista do dia-a-dia se- dências com aparelhos que falam rio do Capão) e de guiu um longo processo de luta e por DDD e DDI. Os muitos telefo- outras mananciais, consolidação, mas em cada uma de- nes públicos espalhados pelas ruas las se evidencia a consciência dos sempre falam, porque no Capão não todos com acesso moradores em relação aos interesses há vandalismo. da comunidade, para além do turis- Também não há esgotos corren- estritamente proibido, mo. do a céu aberto, nem lixo espalhado para que a qualidade Foi o caso do abastecimento de pelas ruas. O lugar, neste particular, água, feito por gravidade a partir da é “de primeiro mundo, algo como das águas não seja Cachoeira do Batista (a “mãe do nos países escandinavos”, diz um Vale”, no rio do Capão) e de outras experiente hoteleiro do Capão, rela- comprometida pela mananciais, todos com acesso estri- tando que todos os estabelecimentos dinâmica turística, a tamente proibido, para que a quali- comerciais e a maioria das casas já dade das águas não seja comprome- praticam a coleta seletiva, separan- quem serve. tida pela dinâmica turística, a quem do o lixo orgânico para adubação, serve. As ligações eram feitas indi- plásticos, garrafas e latas em vidualmente, a princípio, e depois vasilhames separados, e o papel “se ” todas as casas foram integradas ao queima em buracos”. O resultado elaborado pelos próprios morado- sistema implantado pela Prefeitura, disso é limpeza, com o caminhão do res. com o apoio dos vereadores que re- GAP – Grupo Ambientalista de Pal- 2. Outro marco significativo foi presentam a localidade na Câmara meiras realizando a coleta final e a a organização da Comissão de Meio Municipal e a persistente separação dos materiais, em troca de Ambiente do Capão, reunindo do- mobilização dos residentes. O siste- uma simbólica taxa, que nas maio- nos de pousadas e campings ecoló- ma é amplo, com vazão superior às res pousadas não passa de vinte re- gicos, comerciantes, produtores ru- necessidades, e é gratuito. ais/mês. rais, guias turísticos, prestadores de A energia elétrica chegou ao Na área das comunicações, o serviços, representantes de comuni- Capão após 4 eleições municipais. Capão já dispõe de um jornal,( “Jor- dades alternativas, profissionais li- Em uma veio a promessa, na outra nal do Vale”), duas rádios FM, berais, artistas, artesãos e proprietá- os postes, na seguinte os fios e na (InterVale e JovemVale), mais de rios de terrenos, entre outros interes- última a ligação, para um trecho pe- uma centena de sites na Internet e de sados no ordenamento do turismo queno entre a Vila de Caeté – Açu e e-mails dos residentes, além de es- no Capão, já nos anos 90, com um a casa do então administrador da tar presente em reportagens dos redirecionamento das ações comuni- Prefeitura. Nova luta, pressão sobre grandes jornais e revistas tárias no sentido de uma subordina- a COELBA e a rede chegou até o fun- especializadas e nos guias editados ção da dinâmica turística do Vale aos do do Vale. Alguns anos mais e os sobre a Chapada Diamantina, com interesses da comunidade local. transformadores estão por toda a várias páginas de publicidade das Nesse novo período, mantive- parte, com a eletricidade propician- pousadas e prestadores de serviços ram-se a ampliaram-se as conquis- do as rádios, a TV, o computador e a turísticos.Em 2010,a TV do Capão tas dos anos 80, e novas metas foram Internet para o Capão, além de to- começou a ser implantada,por um alcançadas, como a implantação da dos os demais confortos da vida novo residente visionário. coleta do lixo domiciliar (pelo GAP moderna, a uma tarifa de eletrifica- A saga da educação no Capão - Grupo Ambiental de Palmeiras), a ção rural. não pode ser esquecida. Hoje, quan- formação da Associação dos Guias A telefonia e a torre de televisão do a rede educacional do Vale, do do Vale do Capão, a dinamização seguiram o mesmo ritmo eleitoreiro, pré-escolar ao 2° grau, já é uma rea-

82 Ano XIII Nº 22 Dezembro de 2010 Salvador, BA RDE - REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO lidade, e ninguém precisa sair do Em fevereiro/2005, uma surpre- Capão para completar os estudos sa pós-carnavalesca: os “Treslouca- pré-universidade, pouca gente lem- “O forró e o jazz se dos” Preta Gil (filha de Gilberto Gil), bra que há 30 anos a realidade não Davi Moraes (filho de Moraes podia ser pior: os estudantes eram encontram e dão Moreira) e Pedro Gomes (filho dos escassos, os prédios escolares esta- espetáculo no Capão: “Novos Baianos” Baby e Pepeu) che- vam fechados ou em péssimo esta- garam para descobrir o Capão e aca- do, não havia professores e a peda- em 2010, o baram dando uma “canja” de noite gogia era a da “palmatória” (quan- saxofonista Paulo inteira até o dia raiar na boate de do havia...) Caeté-Açu, para delírio da galera Foram três décadas de pequenos Moura foi a atração capãozeira e turistas. avanços, de experimentações, de re- maior do I Festival de O forró e o jazz se encontram e formas de prédios, construção da dão espetáculo no Capão: em 2010, Escola Brilho do Cristal, abertura de Jazz do o saxofonista Paulo Moura foi a atra- turmas no 1° Grau, contratação di- Capão,juntamente ção maior do I Festival de Jazz do reta de professores pela comunida- Capão,juntamente com Rowney de, reciclagem de métodos e currí- com Rowney Scott , o Scott , o Grupo Garagem e a banda culos escolares, e de viagens diárias junina formada por moradores do Capão – Palmeiras para os mais per- Grupo Garagem e a lugar. O circo Safir Maramas,que sistentes, os pioneiros estudantes banda junina formada tem sede e lona própria e a orienta- que concluíram o 2° Grau ainda fora ção técnica do Circo Picolino, de do Vale. por moradores do Salvador,já está em sua XXII Oficina Hoje, além de ter a rede educaci- lugar. O circo Safir em conjunto com integrantes do Lê onal completa, com uma escola do Cirque du Paris. pré-escolar à 4ª série,e duas escolas Maramas,... 3.1. Problemas a equacionar- a luta de 1° Grau, o Capão oferece também continua... o 2° Grau, à noite, dispondo ainda ” Apesar de parecer (e ser) “o me- dos telecursos de 1° e 2° Graus, tam- senvolvendo sustentabilidades espe- lhor dos mundos” para se viver, o bém à noite, no salão de eventos de cíficas nas associações dos produto- Vale do Capão ainda apresenta al- Caeté – Açu. res rurais, dos pais e professores, dos guns problemas, que os seus residen- Em Seabra, a 30 minutos de Pal- moradores, do comércio e serviços, tes lutam para equacionar. meiras, há o curso de Letras, da dos produtores de mel, dos O primeiro, e mais evidente, é a UNEB, e muitos estudantes do herbalistas, dos proprietários de estrada. Este é o único item do Diag- Capão já se formaram nesse curso de pousadas e campings, dos guias tu- nóstico de 1986 que permaneceu o nível superior. rísticos, dos condutores de veículos mesmo, em quase 30 anos de aban- Todo o avanço da educação no de aluguel, etc., cada uma das quais dono. Apesar do crescimento do trá- Vale girou em torno da Brilho do atuando na defesa dos seus interes- fego e da ação do tempo, nada foi Cristal, a primeira escolinha, que ses e do bem-estar comum. feito para melhorar as condições de hoje desenvolve projetos e ativida- Até os Correios no Capão é fruto acesso ao Capão, tarefa a cargo da des com o apoio da Fundação de ação coletiva, com a Associação Prefeitura Municipal, que insiste em ABRINC, treina e recicla professores de Moradores explorando uma fran- ignorar o distrito fora das épocas de da Chapada dentro da mais moder- quia da ECT. eleição. na pedagogia holística; através de A dinâmica cultural do Capão As pontes, dentro e fora do Vale, doações mensais da ONG Ágata Es- também se revitaliza nas fontes pri- não oferecem segurança em tempos meralda, com sede em Seabra, e de marias da sociedade da Chapada: de chuva, e o piso da estrada, de ape- voluntários do projeto “Adote um desde 23 de janeiro de 2005, no en- nas 28km, está intransitável. Há pro- Aluno”, cerca de 200 crianças das cerramento da festa do padroeiro – postas dos moradores para a sua escolas do Capão recebem diaria- São Sebastião – voltou a ser realiza- transformação em estrada parque, mente três refeições completas, à da anualmente a Festa dos Vaquei- mantendo o traçado original e recu- base de produtos orgânicos do pró- ros de Caeté-Açu, com participação perando o piso, mas até o presente a prio Vale. de mais de 100 vaqueiros, trazendo Prefeitura não se manifestou sobre A organização comunitária e a de volta uma tradição secular que essa possibilidade. O asfaltamento dinamização cultural são duas ou- havia sido quase esquecida, a do en- da estrada é idéia rejeitada por 100% tras áreas em que o Capão tem mui- contro dos vaqueiros que levavam o dos moradores do Capão, que vêem to a contar, com um crescimento gado no verão para o pasto verde nisso o fim do turismo sustentável exponencial, partindo do zero, de- dos gerais. no Vale.

RDE - REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO Ano XIII Nº 22 Dezembro de 2010 Salvador, BA 83 Outras questões são tópicas, re- Vale como o 2º pólo do turismo na latadas por diferentes pessoas, de Chapada Diamantina, atrás apenas Duas fortes diferentes áreas de atividade, mas o de Lençóis. “ benefício da sua superação é para O Capão ainda parece experi- preocupações: o todos: mentar a sua etapa de expansão tu- “banho desnudo” em - a melhoria do sistema de cole- rística e demonstra uma impressio- ta de lixo, com a ampliação do nante vitalidade ao longo da primei- locais públicos e o número de veículos e das resi- ra década dos anos 2000, seja quan- uso de drogas, coisas dências que fazem a coleta se- to às reservas nas pousadas para o letiva; verão (praticamente lotadas) e nos que já deram muito - instalação de um posto médi- aluguéis de casas para temporada, problema aos co-odontológico na Vila; seja quanto ao crescimento do co- - execução de planos específicos mércio, dos serviços e das constru- residentes e de manejo para áreas de aces- ções, que geram empregos e renda so aos roteiros turísticos, como para os nativos e já obrigam a im- acabaram levando ao forma de organizar o comércio portação de cerca de 100 trabalhado- Capão hordas e os serviços informais nesses res permanentes de outros lugares, trechos, de acordo com os ter- próximos (pedreiros, ajudantes) e passageiras de mos do PRUA – Programa Ur- distantes (pessoal de recepção e ge- “curtidores” da banístico Ambiental de Caeté- rência). Açu; A Vila de Caeté-Açu, conhecida natureza, que - reinstalação do Cartório da como a “Rua”, de há muito é total- acabaram indo... Comarca de Palmeiras, no Dis- mente comercial: todas as residênci- trito de Caeté-Açu; as se tornaram estabelecimentos de - instalação de um caixa automá- alguma forma ligados ao “boom” do postura e ética por toda a parte.” Na tico ou agência do Bradesco em turismo trilheiro, refletindo um pou- praça da Igreja, em frente ao coreto, Caeté-Açu, o que evitaria o des- co a origem e as habilidades dos que uma bem trabalhada inscrição em locamento de residentes e tu- chegaram. um lajedo informa aos visitantes so- ristas até Palmeiras, uma vez Há agências turísticas, restauran- bre a melhor maneira de viver e ser que o Distrito é o que reúne o tes, lojas de artesanato, galerias de no Capão; no quadro de avisos da maior número de correntistas arte, rádio FM, loja de CD, padarias, Associação Comercial e do Turismo e o que movimenta mais recur- pizzarias, lojas de material de cons- Sustentável de Caeté-Açu, normas sos mensalmente, em relação à trução, barzinhos, pousadas, consuetudinárias e a boa ética re- sede municipal. mercadinhos, etc., mostrando a gem, por escrito, o comportamento Mais que um problema antigo, integração da arquitetura capãozeira da classe e dos clientes. que o turismo não agravou no com as diferentes culturas dos novos Duas fortes preocupações: o “ba- Capão, prioridade é a luta contra a empresários : as casinhas simples, de nho desnudo” em locais públicos e fome. Há cerca de 70 famílias do Dis- pedra ou de adobe, foram recupera- o uso de drogas, coisas que já deram trito de Caeté-Açu abaixo da linha das e mantidas em seu aspecto ori- muito problema aos residentes e aca- de pobreza, inscritas no Programa ginal, mas abrigam agora, em seu baram levando ao Capão hordas pas- Bolsa Família, do Governo Federal, interior, uma decoração variada e sageiras de “curtidores” da nature- recebendo vale-alimentação, vale- cosmopolita, com posters, cartazes, za, que acabaram indo embora, a gás e bolsa-escola, além de doações objetos, produtos à venda, de algum cada temporada, ante a discreta mas de ONG’s para a merenda escolar e modo ligados à história pessoal dos firme atitude nativa-alternativa con- outras formas de apoio. novos donos. trária à perda da identidade que lu- As ruas e praças começam a ga- taram para construir. 4. Considerações Finais – O nhar nomes em placas – Largo de Entre os velhos moradores, qua- Capão por quem vive (u) o Capão. São Sebastião, Rua da Casa de Fari- se todos garimpeiros e donos de an- De tudo quanto se buscou evi- nha. O mais urbano atributo no mais tigas extensas roças de café, banana denciar, sobre a trajetória histórica rural ambiente: um táxi, com a e produtos da terra, há uma certeza do Capão e dos seus últimos 30 anos, plaqueta identificadora – e alguns e uma preocupação quando se fala restaria abordar o leque de sentimen- moto-taxis, além das tradicionais da história e do presente do Vale: tos e opiniões dos diferentes segmen- caminhonetes de aluguel, ao gosto e tos da comunidade local sobre as à necessidade da freguesia. O Capão já viveu muitos ciclos de transformações que presenciaram e Refletindo os novos tempos do prosperidade que acabaram: o ga- vivenciaram com a consolidação do turismo sustentável, há códigos de rimpo, o café e, agora, o turismo.

84 Ano XIII Nº 22 Dezembro de 2010 Salvador, BA RDE - REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO Comparando essas épocas, eu con- de cima, dos Campos, a gente se dá lugar, em que apenas os mais velhos sidero que ainda não apareceu uma conta que o Vale já é uma cidade, e as crianças permaneciam. organização, um sistema, uma eco- cheio de pontos de luz da Coelba, e nomia mais solidária que a se estende do caminho do Bomba Com a consolidação do turismo garimpeira, porque a gente ia até o Riachinho.E esse movimento local, na medida em que crescia o flu- “bamburrar” na serra por meses e do turismo não dá sinal de recuar xo de visitação, as pousadas come- tínhamos a certeza de que nossas fa- não, a cada verão mais gente chega çaram a surgir em número suficien- mílias não iam passar dificuldade, para ficar ou cortar o Vale em todas te para atender parte da demanda na o dono do garimpo cobria todas as as direções, na procura de trilhas...” despesas, os imprevistos, mesmo (Ro, agricultor). alta estação, sofisticando os seus ser- porque quando se descobria as pe- viços para atrair os turistas de mai- dras era uma abundância muito As crianças dos anos 80, filhos or poder aquisitivo, vindos de Sal- maior, para todos, não fossem as ex- dos alternativos e nativos criados no vador e outras grandes cidades do travagâncias, as loucuras feitas com país, mas também para recepcionar o dinheiro que se ganhava. E esse Vale não têm dúvidas: “O Capão é o sistema veio dos nossos bisavós, a que há, é massa!” Vivendo hoje par- grupos oriundos do exterior. Chapada criou gerações e gerações te no Capão e parte em Salvador, Na atualidade, os campings pro- dessa forma, mas agora acabou. parte dispersa em outras cidades, liferam no Capão e garantem a per- (Seu João, comerciante, cafeicultor estados e países, os “filhos do manência dos aventureiros sem mui- e ex-garimpeiro). Capão” sempre estão em bandos, em to dinheiro para gastar, em geral jo- Me preocupa esse momento atual. É de grande progresso, não tenha grupos de oito a doze, e essa união vens estudantes que chegam em du- dúvidas, todo mundo tem emprego, que se mantém, independente dos plas ou em grupos, prontos para as os jovens agora têm perspectiva, es- lugares, dos cursos e das universi- escaladas e caminhadas mais duras. tudam, viajam, conhecem gente do dades em que estudem, está sempre Alguns desses campings oferecem mundo todo, não precisam sair para presente nas férias ganhar a vida, fazer negócios, pros- serviços de cozinha (com fogão e perar. Isso é bom. Mas, em compen- panelas), banheiro e chuveiro cole- Ter vivido e morado no Capão nes- sação, praticamente não há mais ro- tivos, café da manhã (cobrado à par- se período de chegada do ças de café e de banana no Capão, ecoturismo foi uma experiência úni- te), guias e produtos artesanais ou os salários altos do turismo atraíram ca, rica demais pra nós todos, e que pedras em bruto (com predominân- os agricultores, não dá para concor- ainda continua. A distância até o rer na diária e as famílias estão ven- cia dos blocos de cristais e pequenas Capão não existe, e nesses anos de dendo suas terras para quem chega jóias com cristais lapidados). idas e vindas a gente já se acostu- e paga qualquer preço por uma ta- As maiores pousadas, por sua mou: é comprar uma passagem, refa, ficando sem nada para o futu- estamos em casa, uma noite de sono vez, driblam o “paradeiro” da baixa ro, porque o dinheiro que se ganha na estrada e pronto, hora de voltar estação articulando-se com agênci- acaba logo, mas as terras já muda- às raízes e trilhar.(Maria, ram de donos. E aí? Se acabar o tu- as e pessoas em Lençóis, Salvador, psicóloga,que chegou com os pais rismo, como vai ser para quem ti- São Paulo e no exterior para a for- ao Capão com um ano de idade.). nha e já não tem? (Celino, agricul- mação de grupos que já chegam ao tor). Capão com roteiros definidos em Por falar em crianças, não passa detalhes, em termos das trilhas que despercebida aos olhos a dinâmica Para aqueles na faixa etária dos serão feitas, serviços oferecidos (sau- demográfica do Capão, a ser regis- 35/40 anos, que estavam na infân- na, caiaques, guias, etc.), datas e pro- cia quando os de fora começaram a trada no Censo 2010. Há uma verda- gramas para cada dia de permanên- chegar, a visão sobre o presente é deira “escadinha” de jovens cia. mais otimista, e o futuro um misto capãozeiros em formação, brincan- E assim vai vivendo o Capão, te- de esperança e cautela. do nas portas das casas e nas salas de aula, evidência não apenas do cendo sua teia cotidiana. E é assim “Todos nós conseguimos criar nos- processo natural, mas do incremen- que se conclui este relato de 100 anos sos filhos aqui mesmo, sem preci- to da população infantil com a che- de história do Vale, a vivência da sar sair para São Paulo ou o Oeste gada de novas crianças, filhas de radical transformação de um lugar do Brasil; nossos filhos estudaram, novos residentes. parado no tempo que se globalizou a minha mesmo é professora, está em 30 anos, através da sua inserção na universidade; e os jovens têm Este é um fato auspicioso, porque emprego, desenvolvem novas habi- o Censo deverá registrar com clare- no turismo ecológico mundial. lidades, são guias, apicultores, pro- za o repovoamento do Distrito de É uma história que ainda conti- dutores de frutas-passa, donos de Caeté-Açu, em todas as faixas nua. E que pelos sinais de vitalidade campings e pousada, participam de do lugar, a cachoeira do Batista jor- feiras e congressos, se especializam etárias, o que não se registrava até rando sem cessar as suas águas no em circo, artes, artesanato. E, o os anos 90, com o êxodo de homens Capão está tão grande, tão cheio de e mulheres, a partir dos 15 anos, dei- coração do Vale,é a verdadeira his- novas casas, que só de noite, vendo xando lacunas entre as gerações do tória sem FIM: O devir.

RDE - REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO Ano XIII Nº 22 Dezembro de 2010 Salvador, BA 85 Referência MILONE, P.C. (Org.). Turismo – teo- moderno. In: OLIVEIRA, Francisco; ria e prática. São Paulo, Papirus, 2001, PAOLI, Maria Célia (Orgs). Os senti- ARAÚJO, Luiz Coêlho (Org). Inventá- p. 80-84. dos da democracia: políticas do rio turístico de Lençóis – 2003. Feira dissenso e hegemonia global. de Santana: UEFS, 2004. FONSECA, Antônio Ângelo Martins. A Petrópolis: Vozes,1999, p. 133-161. emergência do lugar no contexto da , Secretaria da Cultura e Turis- globalização. Revista de Desenvolvi- NEVES, Erivaldo Fagundes, Dimensão mo. Guia cultural da Bahia-2002. Sal- mento Econômico – RDE, Salvador, v. histórico-cultural: Chapada vador: SCT, 2003. 3, n. 5, p. 97-104, dez. 2001. Diamantina. Salvador: CAR, 1997.

BAHIA. SEPLANTEC, CAR. Plano de FUNCH, Roy. Um guia para a RIFKIN, Jeremy. Vai custar caro. São desenvolvimento sustentável de Len- Chapada Diamantina. 3. ed. Cruz das Paulo, Exame, 06/09/2000, fl. 93-100. çóis – Salvador, 1997. Almas: Gráfica Editora Nova Civiliza- ção, 2002. RODRIGUES, Adyr Balastreri. Turis- ______, SPE. Quatro Cantos da mo e espaço. São Paulo: Hucitec, 1999. Bahia. Salvador:Superintendência de IRWING, Maria de Azevedo e AZEVE- Planejamento Estratégico, 2001. DO, Julia. Turismo: o desafio da STIGLITZ, Joseph. A globalização e BARRETO, Margarida. Manual de ini- sustentabilidade. São Paulo: Futura, seus malefícios. São Paulo: Futura, ciação à ciência do turismo. Campinas, 2002. 2002. Papirus, 1977. LAGE, Beatriz Helena; GELAS, Hele- SANTOS, Milton. Metamorfoses do BENI, Mário Carlos. Análise estrutu- na; MILONE, Paulo César. Economia espaço habitado. São Paulo: Hucitec, ral do turismo. São Paulo, Senac, 1998. do turismo. São Paulo: Papirus, 1999. 1988. ______, Política e Estratégia do ______;____. Técnica, espaço, tem- Desenvolvimento Regional. In. LAGE, LOULA, Rosali Conrado. Reflexões po. São Paulo: Hucitec, 1994. B. MILONE, P.C. (Org.). Turismo – te- sobre a mundialização da economia. oria e prática. São Paulo: Papirus, 2001, Revista de Desenvolvimento Econômi- ______;____. Natureza do espaço: p. 165-170. co – RDE, Salvador, v. 3, n. 4, p 91-99, técnica e tempo, razão e emoção. São jul. 2001. Paulo: Hucitec, 1996. DONAIRE, Denis. Considerações so- bre a Variável Ecológica, as Organiza- MÚZIO, Gabriele.A globalização como TUAN, Yi–Fu, Espaço & lugar. São ções e o Turismo. In LAGE, B; estágio de perfeição do paradigma Paulo: Difel, 1983.

www.unifacs.br Tel.: (71) 3273-8528

Programa em Sistemas e Computação (Mestrado Acadêmico e Mestrado Profissional)

Programa em Administração (Mestrado em Administração)

86 Ano XIII Nº 22 Dezembro de 2010 Salvador, BA RDE - REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO