RIO DO FOGO (RN) – HISTÓRIA E PATRIMÔNIO PEDRO PINHEIRO DE ARAÚJO JÚNIOR O Município Em Estudo, Rio Do Fogo, É Um Dos Ma
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RIO DO FOGO (RN) – HISTÓRIA E PATRIMÔNIO PEDRO PINHEIRO DE ARAÚJO JÚNIOR1 O município em estudo, Rio do Fogo, é um dos mais jovens dentre os 167 que integram o território do Estado do Rio Grande do Norte. Emancipado em 1995 do município de Barra de Maxaranguape através de um plebiscito realizado em 17 de setembro, data histórica para os moradores, foi criado através da lei estadual nº 6842, de 21 de dezembro de 1995 e instalado em 1º de janeiro de 1997. Faz divisa ao norte com Touros, ao sul com Barra de Maxaranguape, a oeste com o Oceano Atlântico e a leste com o município de Pureza. O território é dividido em seis distritos, sendo três litorâneos: Praias de Pititinga, Zumbi e Rio do Fogo (sede) e os interioranos: Punaú, Catolé e Canto Grande. Segundo o censo do IBGE 2010, a população ultrapassa um pouco mais de 10.000 habitantes. A justificativa para montar um material didático sobre a cidade litorânea, simplesmente é pela falta de materiais como livros, vídeos, contos, literatura e outros para uso nas aulas das disciplinas de História e Cultura do RN nas turmas do fundamental e médio das escolas das redes públicas municipal e estadual. Os alunos rio-foguenses não tem conhecimento de sua própria história, os professores da localidade usam apenas as informações contidas no IBGE que é muito resumido e deficitário, pois usa como referência o livro Terras Potiguares de Marcus César Cavalcanti de Morais que infelizmente tem muitas informações desencontradas sobre a cidade. Alguns alunos também não demonstram o menor interesse nos estudos em História, pensam que a história do município não tem vinculação com as Histórias do Brasil e Geral. Isso nos fez lembrar uma citação de um ilustre historiador: “quase todos os jovens de hoje crescem numa espécie de presente contínuo, sem qualquer relação orgânica com o passado público da época em que vivem.” (HOBSBAWM, 1995: 13). Por isso a necessidade e objetivo de produzir um livro didático para os alunos do município, fazer pensar o que é ser rio-foguense? Em qual contexto nacional e internacional esse município surgiu? Existem diferenças ou “rivalidades” entre 1 Professor da rede pública estadual do Rio Grande do Norte. Bacharel e licenciado em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e especialista em História do Brasil pela Universidade Potiguar. 2 moradores das localidades de Rio do Fogo? As suas crenças, quais são? Essas e outras tantas indagações foram as diretrizes para produzir o material didático sobre a história do município. Fizemos uma exaustiva pesquisa em documentos, jornais antigos, em sites de pesquisa histórica, relatos orais e fotografias. Catalogamos inúmeras informações sobre a história do município e fizemos um livro didático com capítulos que trabalham a formação histórica do município e seus patrimônios material e imaterial, além de uma atividade proposta sobre patrimônio e história para os alunos do ensino médio, da turma do 2º ano, do turno vespertino da Escola Estadual Governador Lavoisier Maia Sobrinho em Rio do Fogo. Nos primeiros capítulos trabalhamos a formação do território do município em estudo. Foi observado que no contexto da História do Brasil Colonial a região era considerada por alguns historiadores como um deserto populacional. São diminutas as fontes que registram localidades de moradores, principalmente nos primeiros séculos de colonização portuguesa (1500-1700). Como por exemplo, desde os princípios da colonização, a partir do século XVI, os viajantes europeus como corsários franceses, militares portugueses e holandeses citavam a região costeira entre os municípios de Maxaranguape, Rio do Fogo e Touros como os “baixos de São Roque” (nome originário da ponta geográfica batizada pelo navegador Américo Vespúcio, em uma expedição portuguesa na atual costa do nordeste brasileiro em 1501). Expedição realizada logo após a chegada do navegador português Pedro Álvares Cabral a Porto Seguro em 22 de abril de 1500, feito considerado marco primordial da colonização portuguesa no Brasil. Américo Vespúcio aportou no Brasil com a expedição de Gaspar de Lemos, assinalou a posse portuguesa das terras das costas do Rio Grande com um padrão de pedra, coluna fincada na atual praia do Marco, que, nos mapas antigos, designava área entre Barra de Maxaranguape e Guamaré. O Cabo de São Roque no atual município de Maxaranguape ou de Touros recebeu esse nome na expedição em 17 de agosto de 1501, dia dedicado àquele santo. Pode-se considerar o navegador florentino como primeiro cronista do litoral oriental do Rio Grande do Norte, pois descreveu a geografia da região e das 3 características físicas e antropofágicas dos índios da nação Potiguara, esse é o primeiro relato dos índios e da antropofagia na América recém-descoberta pelos europeus.2 Os primeiros moradores do lugar foram os índios da nação Potiguara que habitavam a orla entre o Rio Grande do Norte e a Paraíba. Os homens Potiguara costumavam perfurar o lábio inferior, durante a puberdade, por onde transpassavam ossos, pedras ou madeiras, ás vezes também perfuravam as faces e orelhas para o mesmo fim; pintavam várias partes do corpo com desenhos e cores diversas, a predominar o negro, do suco de jenipapo, e o vermelho, extraído do urucum; utilizavam enfeites de plumas coloridas pelo corpo e cabelos, cordões de contas naturais e braceletes. Sua disposição física, com pouca sujeição às suas doenças e defeitos físicos sempre foi visto com interesse pelos cronistas que ressaltavam a vivacidade das crianças, a formosura das mulheres e a longevidade dos homens. (LOPES, 1998:49-50). Descrevendo os mesmos a partir de um texto de 1587 de Gabriel Soares de Souza, Esse gentio é de má estatura, baços de cor, com todo outro gentio; não deixam crescer nenhuns cabelos no corpo senão os da cabeça, porque em eles nascendo os arrancam logo; falam língua dos Tupinambás e Caytés; têm os mesmos costumes e gentilidades... Este gentio é muito belicoso, guerreiro e atraiçoado, e amigo dos franceses, a quem sempre faz boa companhia, e industriado d‟elles inimigo dos portugueses. São grandes lavradores dos seus mantimentos, de que estão sempre muito providos, e são caçadores bons e tais flecheiros, que não erram flechada que atirem. São grandes pescadores de linha, assim no mar como nos rios de água doce. Cantam, bailam, comem e bebem pela ordem dos Tupinambás, onde se declarara amiudamente sua vida e costumes, que é quase o geral de todo gentio da costa do Brasil. (LOPES, 1998: 46). O mesmo cronista português, que era senhor de engenho na Bahia descreveu em sua obra, Tratado Descritivo do Brasil de 1587, a costa do município de Rio do Fogo. Os topônimos de algumas localidades são diferentes dos atuais. Observam-se duas informações importantes no texto, são citados os Parrachos de Rio do Fogo que era rota de navios de corsário franceses que traficavam pau-brasil com os Potiguara na foz do rio 2 “A Ponta do Calcanhar, a 7 quilômetros de cidade de Touros, tem mil vezes mais jeito e porte de cabo do que a ponta Gorda, hoje apelidada de São Roque” em Maxaranguape. (PATRIOTA, 2000: 184). 4 Ceará-Mirim, como também a região do município em estudo era despovoada de índios potiguares devido a terra ser estéril e fraca. Fátima Martins Lopes, explica a raridade de colonos e/ou índios na região do Cerrado Potiguar3 citando uma carta do Governador Geral do Brasil, Diogo Menezes, ao Rei de Portugal em primeiro de março de 1612, reclamando dos “areais” das capitanias do Rio Grande e do Ceará, levando os colonos portugueses a terras mais produtivas. Segundo Tarcísio Medeiros, esses areais supostamente despovoados eram territórios dos índios Potiguara da taba do Igapó e até os dias atuais não existe documentação dizendo os nomes das diversas tribos espalhadas por toda esta zona. Nesse mesmo sentido, a historiadora Denise Mattos Monteiro informa que a pesquisa sobre os primitivos habitantes esbarra em uma grande dificuldade pela carência de vestígios dessas culturas, pois, nações indígenas inteiras foram desaparecendo física e/ou culturalmente devido ao contato com o homem branco. A Coroa Portuguesa, sendo detentora do território do Brasil, tentou a princípio colonizar a região com o sistema das Capitanias Hereditárias (1534), consolidando seu poderio posteriormente na região com o estabelecimento do Governo-Geral com a fundação da cidade de Salvador (1549). Assim, a povoação e a colonização portuguesa surgiram na então Capitania do Rio Grande a partir da Fundação da Fortaleza dos Reis Magos (1598) e da Cidade do Natal (1599). O norte da Capitania era praticamente inabitado por colonos entre o rio Maxaranguape e o atual município de Touros. As povoações mais distantes não chegavam a ter mais de três léguas ao norte do rio Potengi. Tavares de Lyra informava ainda que, em princípios do século XVII, podia-se atravessar o litoral, em dezenas de léguas, do forte dos Reis para o norte, com relativa segurança. O alargamento da colonização foi realizado com a concessão de vastas porções de terras, as sesmarias, aos interessados em participarem do processo de colonização. Os capitães-mores, autoridades máximas em cada capitania, competiam executar essas concessões que deveriam ser confirmadas pelo rei de Portugal (MONTEIRO, 2002:31). 3 O Cerrado Potiguar também é conhecido como “tabuleiros” ou “tabuleiros costeiros ou litorâneos”, formados por árvores tortuosas, esparsas, e intercaladas por um manto inferior de gramíneas, com elementos isolados ou em grupos formando ilhas de vegetação com a mangabeira, a lixeira e o cajueiro. Fazendo parte da paisagem da BR-101 Norte, nas entradas das localidades de Pititinga, Zumbi e Rio do Fogo e principalmente nos arrabaldes do distrito de Punaú. (FELIPE, 2006: 82). 5 A princípio, as primeiras datas de sesmarias foram concedidas pelo capitão-mor do Rio Grande, João Rodrigues Colaço, entre 1600 e 1603, para terras a 18 km do Forte para o norte e para o interior, as terras que margeiam os rios Potengi e Jundiaí.