OS OITO ODIADOS de _ 14 de Abril de 2016

sinopse Wyoming (EUA), alguns anos após a Guerra Civil Americana (1861-1865). Oito estranhos encontram-se abrigados numa estalagem nas montanhas devido a uma terrível tempestade de neve. Aos poucos, os oito viajantes começam a descobrir os segredos sangrentos uns dos outros, levando a um confronto inevitável. Oitava incursão em cinema de Quentin Tarantino (o aclamado realizador de“Cães Danados”, “”, “Kill Bill - A Vingança (vol. 1 e 2)”, “Sacanas Sem Lei”, “Django Libertado”), um “western” sangrento protagonizado por Samuel L. Jackson, Kurt Russell, Channing Tatum, Jennifer Jason Leigh, Walton Goggins, Demián Bichir, Tim Roth, Michael Madsene e Bruce Dern, que reúne temas como a traição e a mentira, recorrentes no trabalho do realizador.

Título original: (EUA, 2015, 168 min.) Realização e Argumento: Quentin Tarantino Interpretação: Samuel L. Jackson, Kurt Russell, Jennifer Jason Leigh, Walton Goggins, Demián Bichir, Tim Roth, Michael Madsen, Bruce Dern Produção: Richard N. Gladstein, Shannon McIntosh, Stacey Sher Música: Ennio Morricone Fotografia: Robert Richardson Montagem: Fred Raskin Estreia: 4 de Fevereiro de 2016 Distribuição: Pris Classificação: M/16

O teatro segundo Tarantino. A não perder João Lopes, DN

De facto, The Hateful Eight não são Os Oito Odiados . O título original era, obviamente, ingrato para qualquer tradução, quanto mais não seja porque não parece possível preservar a rima sonora do inglês. Em qualquer caso, as oito personagens de Tarantino são seres "odiosos" e "detestáveis" - não há sequer quem os possa odiar porque, em boa verdade, quase não existem outras personagens. Isto para dizer que, retomando as obsessões que vêm da sua primeira longa-metragem ( Cães Danados , 1992), Tarantino nos oferece uma admirável arquitetura narrativa em tudo e por tudo visceralmente teatral: primeiro, porque o espaço é tão fechado quanto claustrofóbico; depois, porque a matéria primeira de todas as trocas, cumplicidades e traições é a palavra. Em cena está um confronto tenso, potencialmente sangrento, em paisagens clássicas do western, pontuadas pela partitura de Ennio Morricone - Tarantino consegue, finalmente, trabalhar com o seu compositor de eleição, recuperando a energia trágica dos westerns (de Sergio Leone) que ele musicou.

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Embalados pelo sangue Vasco Câmara, Público de 10 de Fevereiro de 2016

Este esplêndido Tarantino começa como ghost story, dá a volta a uma obra em carroça fantasma, inunda-nos com sangue e no final embala-nos, quer pôr-nos a dormir. Samuel L Jackson humilha Bruce Dern. Esse saloon às portas do inferno que é o Wyoming gelado no pós-Guerra Civil Americana só pode ser o paraíso que promete o cinema: huis clos que se fecha com toda a violência no seu interior. Samuel L. Jackson excita e humilha Bruce Dern: “starting seeing pictures?”. Há algo de demoníaco na forma como Tarantino excita a capacidade do espectador para “ver filmes” dentro deste filme e na precisão com que acerta as horas entre a cerimónia que se desenrola no ecrã e os rituais da sala. Na cópia em 70mm de Os Oito Odiados , a inesperada voz off que se faz ouvir a meio para nos dizer que passaram “15 minutos” desde a última vez que víramos as personagens, está de facto a aparecer 15 minutos depois do “intervalo”, essa coisa do passado que só existe nas sessões especiais que compõem o road show à antiga – com “cartão”, no início, no ecrã e introdução musical a inundar-nos com Ennio Morricone – que Tarantino desenhou para algumas salas, em algumas cidades, que tiveram capacidade de se (re)equiparem para os 70 mm (nenhuma sala portuguesa volta atrás, o digital manda nelas). É a ilusão de live show , as imagens do ecrã a estimularem a sala e a sala a prolongar o filme pela memória, pela imaginação para além dos limites do saloon. Chegado ao oitavo filme, Tarantino está a ser acusado de ser mais do mesmo. Também, contraditoriamente, de já não ser o mesmo. Já não há fun, é isso? Ouviram-se as vozes da ressaca, também, por alturas de Django Libertado (2012). Não por acaso, nesses dois filmes sobre a América (são-no todos, mas Django Libertado , o seu E Tudo o Vento Levou , e Os Oito Odiados propõem-se como “frescos” históricos, mesmo se o último se passa dentro de um saloon) Tarantino entrega-se de forma catártica às “suas” imagens: a América é um país de cinema, Tarantino é cidadão desse território, nesse sentido o seu cinema é político. Nunca utilizou de forma paródico-ensaísta a acumulação de citações e o pastiche como Brian de Palma, mas em Django Libertado e em Os Oito Odiados progride ainda para uma comunicação com o espectador (excitando-o) mais ritualística, mais fantasmagórica. Para além disso, Django Libertado e Os Oito Odiados são mais filmes de um filme só do que os outros, aqueles em que ele, bulímico, quis fazer vários ao mesmo tempo. No saloon d’Os Oito Odiados está toda a América, as divisões e ressentimentos sem fim - a personagem de Tim Roth às tantas divide o espaço em territórios. Está também “todo” o cinema de Tarantino: se ele se aproxima ou não da “reforma”, como apontam algumas das suas declarações, só ele o saberá, mas há algo que começa a fechar-se, com este regresso ao huis clos de Cães Danados (1992) e a alguns dos seus rostos, viagem em tom de síntese sem dar hipóteses ao sentimento de repetição de “número”. Mas neste saloon está sobretudo “todo” o cinema americano. E “todo” porque não se trata de adivinhar esta ou aquela citação, mesmo que se atire Carrie , de Brian de Palma, para ali, Veio do Outro Mundo , de Carpenter, para acolá, ou Altman, ou Polanski, ou os 70s ou os 90s, ou...; todo o filme parece - e estamos “a ver” daqui as grandguignolescas sequências finais - ser expelido pela memória do cinema americano. Este esplêndido Tarantino começa como ghost story e acaba como canção de embalar. Dá a volta a uma obra em carroça fantasma, inunda-nos com o sangue da sempre esburacada Jennifer Jason Leigh (a eterna vítima do cinema americano nos seus inícios de carreira faz aqui tresloucada ironia de si mesma), e no final, acertando as horas entre cerimoniais, manda-nos dormir. É isso, então...

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Cães ressentidos Luís Miguel Oliveira, Publico de 3 de Fevereiro de 2016

Os Oito Odiados vê-se como um filme que fala da América como um mar de ressentimentos não- resolvidos: os brancos e os negros, os mexicanos, as mulheres, os nortistas e os sulistas. Todos os sinais lá estavam, desde o Madonna rap que abria o seu primeiro filme, Cães Danados , mas foram-se intensificando, e hoje, em 2016, não se encontra no cinema americano nenhum outro cineasta que trabalhe, como Tarantino trabalha, a palavra dita, a oralidade, no que ela pode comportar em termos de um “significado” mas também enquanto ruído, mais ou menos musical. Questionou-se (e questiona-se) muito a dimensão frequentemente irrisória dos diálogos de Tarantino – o seu lado “pop”, o seu lado “ostensivo” – quando isso é o menos importante: o que conta é a maneira como eles condensam e depois descarregam a energia que alimentam partes substanciais dos seus filmes. É o ruído de um trovão, se quisermos, cheio de som e de fúria mas não necessariamente significando alguma coisa. Shakespeare, pois: em Os Oito Odiados , filme onde Tarantino se aproxima mais do “teatro” do que alguma vez, passamos boa parte do tempo a pensar nele, e certamente que Tarantino também, pela estrutura, pelos monólogos, pelo humor, por temas como o da vingança, e finalmente pela violência, guignolesca , sanguinolenta, sobretudo no clímax, que causa engulhos em muita gente mas que não é muito diferente, em termos de natureza, da de peças como Tito Andrónico , e a sua quase paródica carnificina final. (Não, não: ninguém está a comparar Tarantino a Shakespeare, apenas, o que parece inegável, que não há outro cineasta na actualidade onde Shakespeare esteja tão presente – cruzado com o século XX, com os monólogos delirantes e drogados de Burroughs, com as canções torrenciais de Dylan, com a raiva autista de um MC de hip hop). Os Oito Odiados é, pelo menos, o filme de Tarantino mais fácil de imaginar enquanto peça teatral. Há basicamente dois décores: a diligência, na sequência preambular, e depois a estalagem (a “retrosaria da Millie”) onde se passa o essencial da duração do filme. Há dois flash- backs (muito menos que nos Cães Danados , ainda assim o modelo mais próximo deste filme), mas um deles, a história da vingança da personagem de Samuel L. Jackson sobre o filho do general sulista (Bruce Dern) pode nem ser bem um flash-back, antes uma alucinação, a reconstituição visual que o general faz a partir do relato de Jackson (sequência, aliás, que o dedo de Tarantino para o tempero dramático apura genialmente, com a personagem que, ao piano, interpreta uma versão mais do que imperfeita de uma canção de Natal, a fazer de banda musical “diegética”). O outro flash-back, mais perto do fim, justifica-se pela narrativa, mas seria mero truque de “construção” se não servisse para relevar alguns detalhes até então omitidos (por exemplo, a cor de pele de Millie, personagem que na narrativa “em directo” é ausente, não vista). Tem-se falado da ironia – para alguns desapontante - do facto de Tarantino usar o ecrã largo (e os 70mm, que não serão vistos nas cópias da distribuição portuguesa) para encafuar as personagens em espaços fechados, sem horizonte, sem “paisagem”. Quanto a nós é uma das coisas brilhantes do filme, e nem sequer é inédita, o que não faltam são exemplos de grandes filmes e grandes cineastas que se serviram do scope para o contrariar, para sublinhar a negação do espaço mais do que para o oferecer (por exemplo John Carpenter, que, via Veio do Outro Mundo , até tem sido referido, com algum cabimento, a propósito de Os Oito Odiados ). Em todo o caso, a maneira como Tarantino faz sentir o espaço é brilhante: a sensação (para o espectador) é quase física, por exemplo quando, à chegada à estalagem, a escala de planos muda, e passamos dos campos/contracampos cerrados das cenas na diligência, para um espaço mais largo e horizontal, o décor da estalagem, dir-se-ia pensado para o formato do scope (com muito “lado” e pouca “altura”), espaço que a câmara de Tarantino percorre demoradamente nesses primeiros minutos, quer como “brinde” (uma oportunidade para desentorpecer as pernas, como se espectador também viajasse na diligência atravancada) quer como cuidadoso desenho e reconhecimento do espaço que será doravante o da acção. Cineclube de Joane 3 de 10

Acção que é, sobretudo, repetimos, a acção das palavras, conduzidas no limite da tensão. O bricabraque de Tarantino pega no ponto em que ficara no filme anterior ( Django Libertado ), com o tempo do western e a questão do racismo na superfície. Mas vai mais além, Os Oito Odiados vê-se como um filme que fala da América como um mar de ressentimentos não-resolvidos: os brancos e os negros, os mexicanos, as mulheres, os nortistas e os sulistas. A “retrosaria da Millie” é o caldeirão onde este ressentimento coze em lume brando durante duas horas e tal, e depois transborda. Se o compararmos com as notícias que vamos lendo sobre a América, as tensões que a pré-campanha presidencial tem acicatado, o estado de conflituosidade étnica (ver a polémica dos Óscares, por exemplo), não nos parece que, mesmo no seu modo teatral exacerbado, seja um filme contrariado pela realidade. Em todo o caso, também por isso, não nos parece um filme que seja possível ignorar.

The Hateful Eight (2015) de Quentin Tarantino Carlos Natálio, à pala de Walsh

Pouco após a estreia de 8½ (Oito e Meio, 1963) o que de mais comum se podia ouvir sobre o filme era que o divertimento autobiográfico de Fellini era brilhante à superfície mas no fundo desprovido de conteúdo significativo. Se essa mesma originalíssima ideia já vem perseguindo o Tarantino “fabricante de catálogos derivativos de citações” desde o início da carreira, agora que chegamos ao seu oitavo filme (sem meio), essas mesmas vozes voltam a tornar-se mais evidentes. E aparentemente a relação entre os dois filmes não termina aqui. É que se conta que na origem de 8½ esteve um esquecimento da ideia original para o filme por parte de Fellini, que depois derivou na história que conhecemos, de um realizador em bloqueio criativo. Não se pode propriamente falar em bloqueio de Tarantino em relação a The Hateful Eight (Os Oito Odiados, 2015) mas sabe-se como esteve prestes a desistir do projecto quando o argumento que escreveu se publicou na internet antes da rodagem. Assim como o mesmo viria a acontecer com o próprio filme, mesmo antes de se poder ver em ecrã grande o resultado dos gloriosos e coloridos 70mm que Tarantino escolheu para o formato do filme. Seria aliás interessante confrontar esse choque entre um filme que vive sob o signo do fechamento (das suas personagens numa pousada, abrigados do frio e de uma monumental borrasca lá fora) e essa “abertura” congénita a que esteve condenado desde as suas fases muito muito iniciais. Depois de matar nazis em (Sacanas sem Lei, 2009) e de colocar os negros a rectificar a história da escravatura americana em (Django Libertado, 2012), Tarantino resolve avançar uns anos até à ressaca da guerra civil norte-americana e jogar um xadrez sanguíneo a oito peças com os despojos humanos do conflito. Nas montanhas do estado do Wyoming, o bounty hunter John Ruth (Kurt Russell) leva de carruagem uma fugitiva, Daisy Domergue (Jennifer Jason Leight) até à cidade de Red Rock para lá ser enforcada e receber a devida recompensa. Na eminência de uma forte tempestade de neve resolve dar boleia a outro “colega” de profissão, o Major Marquis Warren (Samuel L. Jackson), ex-combatente pelo exército do norte, e a Chris Mannix (Walton Goggins), suposto novo xerife de Red Rock, pró Sul e homem pertencente às milícias da lost cause . Estes quatro vão encontrar outros quatro quando pernoitam na estalagem de Minnie. Entre estes está o habitual Michael Madsen como Joe Gage (o cowboy que vai ter com a mãe pelo Natal), o carrasco de Red Rock (Tim Roth), o mexicano Bob (Demian Bichir) e Sanford Smithers (Bruce Dern), um ex-general que lutou com o exército da Confederação. Estas duas equipas jogarão esse tal xadrez, que no cinema de Tarantino não é um jogo assim tão parado, mais perto da reencenação indoors da célebre batalha de Baton Rouge que opôs Norte e Sul. Claro que as equipas e as regras nunca são muito rígidas, ou não tivessem todos as suas

Cineclube de Joane 4 de 10 razões e não fossem todos hateful . Para arrumar de vez com as preocupações de encontrar seriedade em The Hateful Eight diga-se então que, entre o Cristo crucificado do início e o demónio que dança do fim, há essa preocupação de traçar tangentes entre o santo e o demónio, os bons e os maus, no whodunnit onde todos, mais ou menos, did it . E ainda no capítulo do revisionismo histórico, o poder redentor da ficção, que já vinha dos dois filmes anteriores, não deixa de ter eco na saída de sobrevivência para toda uma eminente matança. Uma saída que mais do que pôr a hipótese (para logo depois a falsificar, deixando os seus ecos a pairar) de Marquis Warren ser mesmo pen pal de Abraham Lincoln (incrível como Tarantino brinca com Spielberg no final do filme) esclarece esta possível união norte-sul, negro-branco, para escapar às tentações do “demónio” que pelo caminho vai perdendo os dentes e adquirindo tonalidades vermelhas… Aqui o western encontra o whodunnit e o filme de terror, com Jennifer Jason Leigh entre o burlesco e a vítima do terror mais sanguinolento. Embora estas camadas possam acrescentar algo aos filmes de Tarantino há depois que ter em conta aquela frase reveladora do carrasco quase na hora de filme quando diz que dispassion is the very essence of justice . Se no filme se quer falar num processo civilizacional que implica a administração impessoal da justiça contra as angry mobs , não há como não pensar no crítico como aquele carrasco que procura incessantemente uma justiça, uma seriedade no acto de dissecar os filmes de Tarantino. Pois bem, não há muita justiça a encontrar em felatios na neve, vómitos ao metro ou cabeças que explodem. Mas há justiça em determinar a violência gráfica (aliás nunca a violência foi tão inócua e caricatural como aqui, mostrando que esta não se mede pelos litros de sangue e vísceras), a misoginia ou o racismo das n words , como assuntos determinados pelo contexto, pela comédia que rejeita a fronteira entre os assuntos sacros e os temas permitidos. E justiça maior há também em ver como séria a reterritorialização dos géneros: aqui o western encontra o whodunnit e o filme de terror, com Jennifer Jason Leigh entre o burlesco e a vítima do terror mais sanguinolento, como uma menina saída de Carrie (1976) ou The Exorcist (O Exorcista, 1973). Das inúmeras filiações ressaltam à vista duas. A primeira, interna, que por virtude da compressão do espaço e dos jogos teatrais da infiltração e detecção do culpado, liga a oitava obra à primeira, (Cães Danados, 1992). Nessa relação com o espaço — o sul e o norte mas também o lá fora, frio e branco, e o cá dentro, quente e vermelho — The Hateful Eight escolhe o primeiro mas não como elogio do teatro. Se a profundidade de campo desmistifica essa hipotética relação, há qualquer coisa de depuração nesta escolha do interior como o espaço acolhedor onde se contam as histórias, um verdadeiro centro do cinema de Tarantino. O seu pólo de atracção sempre foram, de facto, as histórias contadas pelas personagens, em tom sarcástico e saboreando lentamente cada palavra. “You’re starting to see pictures, aren’t you?”, pergunta Marquis, olhando para a câmara, a meio de mais uma história rocambolesca. Sim, estamos. E essas imagens internas são o resultado da escrita de Tarantino, dividida em capítulos, ministrada de forma precisa sob o confortável calor da lareira (ou da sala de cinema), entre golinhos de cognac e tiros em slow motion . A outra filiação clara é à estrutura de The Thing (Veio do Outro Mundo, 1982) o “remake” que John Carpenter fez de The Thing from Another World (A Ameaça, 1951) de Howard Hawks. Não só ambas as histórias são sobre uma série de homens fechados num espaço com neve lá fora a adensar a paranóia, tentando detectar quais deles são os inimigos (ou numa versão mais literal, quem são os monstros, sendo que, como se vê, em Tarantino, todos são inglorious basterds ), como partilham o mesmo actor (Kurt Russel). E até algumas das músicas não usadas por Ennio Morricone para a banda sonora do primeiro fazem agora parte do ambiente acústico, algures entre o terror e o western spaguetti, que o italiano compôs para o filme. Entre as tradicionais escolhas do Dj Tarantino, que ajudam a completar a banda sonora, há uma peculiar. Numa sequência em que Joe Gage vem cá fora procurar uma pessoa, pode ouvir-se os

Cineclube de Joane 5 de 10 acordes suaves de “Now You’re Alone” de David Hess, actor e compositor da banda sonora de Last House on The Left (A Última Casa à Esquerda, 1972), o primeiro filme de Wes Craven. Esta escolha inusitada não só assume claramente a inspiração do terror de The Hateful Eight , como deixa a pensar se o nono e penúltimo filme de Tarantino entrará por esse terreno. Aí, seria curioso pensar na opção que fará entre o terror sério ou a paródia. Isto porque a grande seriedade de Tarantino é a de não se levar muito a sério.

Daqui ninguém sai vivo (com entrevista a Quentin Tarantino) Joana Amaral Cardoso, Publico de 15 de Janeiro de 2016 2016, rentrée: vem aí mais um filme de Quentin Tarantino, Os Oito Odiados , em que há uma porta que só se abre ao pontapé e que se passa num tempo e num lugar que é… um filme de Quentin Tarantino. Citando-o, kick it down. Oito pessoas numa sala, oito personagens que fazem uma versão de si mesmas. De um ambiente tão rugoso quanto os espinhos dos diálogos, do meio da neve vem um novo filme de Quentin Tarantino. E isso (ainda) é um acontecimento? Ele, que basta ser nomeado para evocar todo um dicionário de ideias e imagens, parece estar fadado, na sua meia-idade – tem 52 anos para Os Oito Odiados , contra os seus 29 da estreia de Cães Danados – a fazer de ponte escorregadia, manchada de sangue e com uma ou outra tábua periclitante, entre o cinema de grandes audiências, de reconhecimento imediato, e o cinema de autor. E se um novo Tarantino, nome tornado adjectivo de subgénero cinematográfico, não é um acontecimento por si só, ele faz dele um evento. Os Oito Odiados , western com throwback para os anos 1990 e directamente para os seus Cães Danados de auspiciosa estreia, aterrou nos Estados Unidos no dia de Natal. Contra tudo e contra todos – especialmente contra todos os milhares de milhões que farão do sétimo Star Wars o maior filme de sempre e lhe terão comido parte da bilheteira, como o seu produtor e sempiterno parceiro Harvey Weinstein admitiu –, a estreia de Os Oito Odiados fez-se num formato quase extinto. E num modelo raro, mais uma vez expressão da sua retromania. Filmou e estreou em 70mm e num road show à antiga. Com introdução musicada, intervalo e duração de esmagadores 187 minutos. Cem salas dos EUA e Canadá receberam durante uma semana em exclusivo a maior distribuição de um filme feito e projectado em 70mm desde 1992. O 70mm, analógico, é conhecido pela clareza arrebatadora da imagem dada à sua alta-resolução e por permitir composições longas e profundas. A operação Tarantino fez com que alguns cinemas americanos se reequipassem – e até criassem mais espaço graças a uma ou outra parede deitada abaixo – com a Weinstein Company a financiar este retrofitting com opulentos e temperamentais projectores para as pesadas (90 quilos cada uma) latas com a película de Os Oito Odiados . (A 31 de Dezembro, o road show daria lugar às cópias digitais de mais ampla e fácil distribuição e exibição – 97% de ecrãs nos EUA são digitais.) Filmar em 70 mm nunca foi assim tão comum – sobretudo pelo seu preço, destinava-se a filmes de prestígio como Ben Hur , 2001- Odisseia no Espaço , Lawrence da Arábia ou West Side Story – e os seus dias de glória foram os anos 1960. E o Ultra Panavision 70 era o mais raro desses suportes. Que foi, claro, aquele que Tarantino escolheu para o seu oitavo filme, decisão prévia e infamamente registada no seu primeiro esboço do guião de The Hateful Eight que, para seu desagrado, começou a circular em Hollywood no início de 2014 – um filme “em gloriosos 70mm”, lia-se já no frontispício do documento alvo de uma fuga de informação. Todo um acontecimento, os 70 mm e as imagens das empilhadoras usadas para Cineclube de Joane 6 de 10 carregar os exemplares do filme. Ainda assim, não evitou, no final do ano, que Os Oito Odiados surgissem na Internet, desta feita por culpa de um DVD, outro formato a caminho da obsolescência, desta feita enviado para visionamento a um produtor e rapidamente pirateado mundo fora - de forma pouco usual, o grupo responsável pela disponibilização do filme, o Hive- CM8, veio pedir desculpas e apelou a que se veja o do filme em sala. Internet à parte, Os Oito Odiados são então a edição 2015/16 da gramática Tarantino, carregada de excesso na representação da violência, na música de Ennio Morricone ou nas trocas de frases com o tradicional cariz Pinteresco, como descrevia o crítico e editor Charles McGrath no New York Times em 2012. Faz parte da lenda pessoal de Tarantino a história do desistente do liceu que trabalhava no clube de vídeo de Manhattan Beach, em , onde lia e via filmes. Quando, no início da década de 1990, deixou que fosse de Harvey Keitel um dos primeiros pares de olhos a ver o guião de Cães Danados , o actor perguntou-lhe sobre como escrevera aquela história – tinha de ter crescido num bairro de rufias, tinha de ter algum durão na família. Não. “‘Então como raio é que acabaste a escrever isto?’ E ele disse ‘Vejo filmes’”. O seu primeiro filme seria um primeiro acontecimento. O futuro é vintage Em 1992, Tarantino ainda não era “alguém”. O seu primeiro festival de cinema via-o de t-shirt nas montanhas, “como um miúdo na sua festa de anos, sem saber o que atacar primeiro, mergulhando as mãos em taças de doces, rasgando os embrulhos dos presentes ou a encher a boca de bolo”. Estava “a surfar um rush de adrenalina”, era como “Martin Scorsese no corpo de Popeye”. Cães Danados “era um indie e isto era Sundance, o santuário do espírito indie”. Houve palmas e reprovação para Cães Danados em Sundance, tal como dois anos depois haveria um júri presidido por Clint Eastwood na entrega da Palma de Ouro ao seu segundo filme, acompanhado por um grito sobre como “ é merda” na cerimónia em Cannes. As recordações de Sundance 1992 do historiador e crítico de cinema Peter Biskind em Down and Dirty Pictures – Miramax, Sundance, and the rise of independent film misturam-se com os registos na imprensa de Cannes em 1994. A orelha que se lasca ao som de Stuck in the Middle With You motivou um coro de protestos dos acólitos do santuário indie – era “socialmente irresponsável”, descreve Biskind – e a injecção de adrenalina no coração de Uma Thurman ou os miolos estoirados por deslize no carro de Vincent Vega e Jules preocuparam a Miramax e a sua proprietária, a Disney. Mas o futuro era de Quentin Tarantino. E o futuro seria vintage. Depois do Grindhouse a meias com Robert Rodriguez, um road show a Oito. E pelo meio tantos regressos ao passado picando géneros, épocas e História, das artes marciais à II Guerra passando pelo Sul esclavagista de uma América relutante a olhar as suas próprias costas. A rentrée em 2016 é servida em Portugal com Tarantino como um dos pratos principais, que verá Os Oito Odiados a partir de 4 de Fevereiro e semanas antes dos Óscares (as nomeações aconteceram já após o fecho desta edição). Mas sem 70 mm. Sérgio Saruga, da distribuidora Pris, lamenta não poder exibir o western de salão com Samuel L. Jackson, Kurt Russell, Tim Roth ou Jennifer Jason Leigh em 70 mm (algo que, internacionalmente, vai acontecer em seis salas na Austrália, alguns ecrãs em França, Alemanha e Reino Unido), por ausência de projectores e salas preparadas para tal em Portugal, nem sequer em 35mm por indisponibilidade de laboratórios para tal. O avanço inexorável para o digital não permite road shows à portuguesa. (O próprio formato do road show é uma Tarantinice, um regresso aos anos 1950 quando a televisão começava a fazer mossa no cinema e se faziam digressões de duração limitada com filmes projectados em 70mm como Lawrence da Arábia , A Conquista do Oeste ou Volta ao Mundo em 80 Dias com orquestra no início, intervalos longos e programas especiais.) Como seria a experiência? O CinemaScope, o formato mais comum de wide screen, tem um rácio de 2.35:1 - ou seja, é 2.35 vezes mais largo do que alto; o Ultra Panavision 70 tem um rácio de 2.75:1. Como foi a experiência nos EUA? Depois de em 2014 Interstellar se ter estreado em 70 mm em 11 ecrãs e em 2012 O Mentor ter estreado em 16 – Christopher Nolan e , os seus autores, são também apologistas da película –, os primeiros relatos nas redes sociais foram de flop. O som não acompanhava a imagem, havia riscos, o formato é temperamental. Erik Loomis, responsável da distribuição da Weinstein Company, já montara uma

Cineclube de Joane 7 de 10 operação 70mm para Paul Thomas Anderson, mas agora eram precisos mais projectores e lentes. “Entrámos na visão de Quentin”, recorda, e ou a fariam acontecer ou morreriam "a tentar”. Um ano e meio de garimpo depois – e com os preços a aumentar à medida que se sabia que eram para um “Tarantino movie” - tinha 120 projectores 70mm, 70% de todos os que existirão no mundo, recrutou os poucos projeccionistas com formação e montou uma operação de centenas de milhares de dólares a juntar aos 60 milhões que custou Os Oito Odiados . “Não é possível ter um argumento inteligente que ponha o digital, mesmo na melhor das situações IMAX, à frente dos 70 mm”, defendeu Tarantino no dia de estreia do filme, uma reacção também à ideia, que o deprime, de ver filmes em ecrãs de tablets ou telefones. “Pode ser a salvação da película, pode ser o último bastião da película, pode ser a última noite da película na arena... veremos”, diz, esperançoso na coexistência do digital e do analógico. A experiência de Os Oito Odiados será também de diálogo fervoroso e murros em várias partes de corpo e intelecto, o regresso do autor e de actores que gosta que existam no seu “próprio universo Quentin”. E que o vêem, como comenta Kurt Russell, mais maduro. “Já não ouvimos aquele puto espertalhão doido por filmes atrás do diálogo. Os seus ritmos são extremos e perfeitos. Informam o que ele quer que o público sinta, e as pessoas estão a ouvir a música quase mais do que as palavras, mas a música sobressai nas palavras”, disse há dias ao Guardian. Raça de homem Quando o seu director de fotografia, Robert Richardson, descobriu, numa visita à Panavision e num dos seus armazéns, a lente original anamórfica de 65mm usada para filmar Ben-Hur (1959) ou O Mundo Maluco , de Stanley Kramer (1963), o puzzle de Os Oito Odiados parecia estar a completar-se. Depois de quase ter desistido de o filmar, dizendo-se “traído” quando o guião lhe fugiu das mãos, uma leitura ao vivo num teatro em Los Angeles para fins de beneficência reaproximou-o do seu western. Queria também usar os 70mm fora do seu suposto meio ideal – “os travelogues”, como disse na Comic-Con de 2015. “Achei que seria muito cool nesta situação claustrofóbica”, oito fechados numa sala a tentar encontrar todos os sinónimos ofensivos possíveis para se referirem a negros ou mulheres; usar os 70mm para forçar a “intimidade” das cenas, disse à Variety. Fazer Os Oito Odiados foi um processo turbulento, mas “havia qualquer coisa de excitante nisto, e senti-o quando fiz Cães Danados , e quando estava na quinta francesa e na taberna da cave de Sacanas sem Lei ou à mesa de jantar em Django Libertado ”, disse ao site Deadline. O novo filme “é tudo o que eu poderia alguma vez ter esperado que fosse”, “é uma peça literária. Acho que pode ser o meu melhor guião e, consequentemente, acho que pode ser a minha melhor realização do meu próprio material. O que não quer necessariamente dizer que é o meu melhor filme”. A nova canção Tarantino, que quer marcar a temporada 2015/16, não deixou toda a gente satisfeita. Embora Richard Brody reconheça que Os Oito Odiados “exibe uma jovialidade narrativa que excede qualquer outra que mostrou desde Pulp Fiction ”, o crítico da New Yorker considera estar a assistir à involução de Tarantino, à substituição das “imagens altamente infectadas da sua carreira inicial” por “uma insipidez auto-imposta, uma entrega visual monótona dos seus próprios mecanismos de guião”. No fundo, acredita, Tarantino “tornou-se uma vítima do seu próprio gosto”. O enciclopedismo com grão de Tarantino afirmou-se primeiro em 1992, e depois em 1994, quando Pulp Fiction o tornou num herói do culto, num ícone desbragado, numa outra versão do film nerd e do genre movie geek. “Os seus primeiros dois filmes”, escreveu o romancista Bret Easton Ellis numa entrevista que lhe fez há meses para a T Magazine do New York Times, “estão, até hoje, entre as mais puras expressões de uma sensibilidade irónica da Geração X que existem na cultura cinematográfica norte-americana”. Foi nessa conversa com o amigo Ellis que disse uma frase que voltou a irritar aqueles que chama os “críticos sociais”: “Se [você] fez dinheiro sendo um crítico sobre cultura negra nos últimos 20 anos, tem de lidar comigo”, atirou, colocando-se sem pruridos num púlpito para falar de raça. Desde Cães Danados que a palavra nigger se mistura com a misoginia, Samuel L. Jackson e Uma Thurman são os seus amuletos mas o politicamente correcto não é com ele. Já com Django o tema da raça tinha estado na berlinda, não só por ser um dos temas do filme, mas também pela

Cineclube de Joane 8 de 10 reacção adversa de Spike Lee ao “desrespeito” aos seus antepassados que considerara que o filme (que ele não viu) representava. “A escravatura não foi um western spaghetti!”. E “seis ou oito ou 12 anos depois da Guerra Civil” americana, como situam no tempo as notas de produção de Os Oito Odiados , o tema da raça e da escravatura não desaparecem. Muito pelo contrário. Nem Samuel L. Jackson. Nem recrudesceu o crepitar das tensões raciais na América. O autor que tem em Obama o seu Presidente favorito considera que o western enquanto género diz algo “sobre a década na América em que foram feitos” - “os westerns dos anos 1950 reflectiam a era Eisenhower”, nos anos 1970 “eram basicamente westerns anti-mito – westerns Watergate”, enumera numa entrevista ao site Vulture. Para Quentin Tarantino, o seu novo filme “tornou-se mais relevante do que alguma vez poderia ter imaginado”, como confessou ao britânico Telegraph há dias, com Ferguson ou o tiroteio de Charleston a acontecerem durante a produção. Não tentou fazer um western contemporâneo, mas já era um filme no tempo do “rescaldo racial”. Os temas de Ferguson ou Baltimore “já estavam no guião. Já estavam no que filmámos. Acontece ser oportuno neste momento. Não estamos a tentar torná-lo oportuno. É oportuno.” Uma nota: pela primeira vez, diz, Tarantino mudou o guião por causa do que se passava fora do mundo Tarantino, do mundo que não o dos filmes em que se passam os seus filmes. Um diálogo entre a personagem de Walter Goggins e a de Samuel L. Jackson envolve tiradas como “Quando os pretos estão com medo, é então que os brancos estão seguros”, diz uma das personagens no embate no meio da neve. A ideia tem uma resposta, mais tarde, uma rima solta no argumento – “A única altura em que os negros estão seguros é quando os brancos estão desarmados”. De fora ficou uma fala em que o partidário da Confederação, esclavagista, dizia algo sobre a insegurança dos brancos na Carolina do Sul – Charleston é na Carolina do Sul. Em Outubro e Novembro, o realizador e argumentista esteve num protesto da organização BlackLivesMatter e fez críticas à polícia, que por seu turno apelou ao boicote do filme e do trabalho em futuros Tarantinos. “Tarantino não faz filmes que são ‘sobre raça’, mas tenta sim escavar as entranhas do racismo americano com a sua câmara e caneta. Não há forma de o fazer e ficar limpo. Alguma da fealdade do filme é portanto um sinal de integridade, e de relevância”, escreve o crítico do New York Times A.O. Scott sobre Os Oito Odiados. Ética e artisticamente é traiçoeiro, “mas nas mãos de Tarantino nunca é desinteressante”. Nasceu no ano em que Kennedy foi morto e mudava-se com a mãe para a Califórnia para se tornar numa espécie de fora da lei acolhido pelo sistema, um bad boy que guia um Mustang amarelo e que em 2007 comprou o New Beverly Cinema, perto de sua casa, para programar filmes da sua colecção. Prefere sentar-se algures pela quarta ou quinta fila e há anos contempla publicamente a ideia da reforma. “Acho que tenho mais dez anos sendo um artista com a vitalidade que tenho agora e daqui a dez anos penso que se verá um cordão umbilical completo de Cães Danados até seja qual for o último filme que acabe por fazer”, dizia ao New York Times em 2012. Os Oito Odiados é um western mas também um mistério de salão tipo Agatha Christie, mais uma ideia da enciclopédica experiência de Tarantino do western - desta vez também televisivo, como o que via em Bonanza ou The Virginian, em que haveria sempre um episódio com bandidos a tomar o rancho de assalto. “Não podia senão dar numa situação tipo Cães Danados : fechá-los todos numa sala e [depois] deixa-me livrar-me de todas as personagens de herói até não haver um centro moral”, contou a Bret Easton Ellis. Também, mas sem nostalgia, “havia algo muito adequado no que toca ao ponto em que estou na minha carreira – uma qualidade de fechamento de um círculo. Para mim, algo neste filme gritava 90s” e daí vieram os seus actores 90s, Michael Madsen, Tim Roth, mas também Kurt Russell ou a solitária mulher deste “vasto épico quase numa só sala”, nas palavras do crítico Peter Bradshaw, a dorida e sardónica Jennifer Jason Leigh. Para Peter Biskind, no início da carreira “a sua rebelião era em grande medida cultural, uma estética de bad boy”; para o historiador David Thomson esse percurso inicial foi “suficiente para o pôr na mesma linha que os assombrosos jovens prodígios no cinema” como Lynch, De Palma, Scorsese e Welles. Mas em 2013 e a propósito de Django Libertado , pedia-lhe que crescesse ou deixasse os temas com gravidade histórica para os mais maduros. Cineclube de Joane 9 de 10

Django foi o Tarantino mais rentável, profusamente nomeado para os Óscares e batido por Argo de Ben Affleck na corrida ao Melhor Filme – ainda assim, deu a Tarantino o seu segundo Óscar de Argumento. O primeiro, por Pulp Fiction , não chegou para o manter no palco mais uns minutos – Forrest Gump levou-lhe o Óscar de Melhor Filme. Os Oito Odiados não estão a correr tão bem nas bilheteiras, mas a par das críticas insatisfeitas – “Tarantino também se está a repetir” na violência e no prazer orgiástico com o sangue que põe no seu cinema, defende A.O. Scott – há quem identifique ainda nele o charme inicial daquele que tem no criminoso o seu guia preferido até à fonte da moral, que vê em cada personagem um actor. “Brilhante e impiedoso”, “escritor de filmes superlativo”, elogia Peter Bradshaw no Guardian. Vem aí mais um filme de Quentin Tarantino, em que há uma porta que só se abre ao pontapé e que se passa num tempo e num lugar que é… um filme de Quentin Tarantino. Citando-o, kick it down.

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