Ano XVIII, n° 27, Dezembro/2006 49

Motrivivência Ano XVIII, Nº 27, P. 49-71 Dez./2006

O PREÇO DE UM SONHO: a realidade do esporte que não é mostrada pela mídia

Verônica Lima Nogueira da Silva1

Resumo Abstract

É comum o torcedor se emocionar ao It’s not unusual for the crowd to get testemunhar a premiação de um atleta, emotional when witnessing the coronation elevando seu esforço a ato de heroísmo of an athlete, praising its effort as an act of e bravura. Mas existe uma diferença heroism and bravery. But there is a entre a vida do atleta que é apresentada difference between the life of athletes as pelos meios de comunicação e sua vida shown in the media and their reality. This real. Este artigo discute tais diferenças, article discusses such differences, based com base em pesquisa acadêmica em on the findings of an academic research in que foram realizadas entrevistas com which interviews were carried out with atletas e profissionais do voleibol e uma athletes and professionals of análise da cobertura dos Jogos Olímpi- along with an analysis of the coverage by cos de Atenas feita pela imprensa the Brazilian media of the 2004 brasileira. Tendo como foco o indivíduo, Olympic Games. Focused on the individual, discute-se o papel da mídia na constru- it discusses the role the media plays in

1 Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais 50

ção de um discurso idealizado sobre o the shaping of an idealized image of atleta, em que ele é elevado à condição athletes, through which they are raised de herói, ser talentoso e dotado de to the status of a hero, a talented being capacidades sobre-humanas. Com base equipped with superhuman abilities. em suas experiências, atletas, médicos, Based on their experiences, athletes, treinadores e outros profissionais doctors, coaches, and others sport- apontam e avaliam os sacrifícios exigidos related professionals point out and pela competição em alto nível – contu- analyze the sacrifices that come with sões, abandono da escola e pressão high-level competition – injuries, psicológica por resultados – como dropping out of school, and possíveis fontes de problemas na psychological pressure for results – as possible sources of problems on the way formação humana dos jovens atletas for a more humanistic upbringing of brasileiros. young Brazilian athletes. Palavras-chave: herói, atleta e imagem Keywords: hero, athlete, media image midiática.

As imagens e relatos pro- A sociedade da Indústria duzidos pelos meios de comunica- Cultural é uma sociedade em que a ção de massa são representações da economia está “resolvida”, ou seja, sociedade que os produziu. Rocha é uma sociedade de abundância, bem (1995) defende a existência de uma sucedida economicamente. No espor- sociedade “dentro” da Indústria Cul- te, o exemplo mais explícito é o dos tural, que seria uma representação jogadores de futebol, cujos salários da sociedade moderna, criada por milionários são freqüentemente alar- ela mesma. Ele identifica quatro di- deados pelos noticiários esportivos. mensões que seriam comuns às Rocha (1995) defende ainda que, no duas sociedades – a real e a da repre- mundo dentro dos comerciais publi- sentação – mas que teriam caracte- citários, os resultados econômicos rísticas diversas em cada uma de- não dependem de trabalho ou de las: economia, Estado, individualis- esforço, como acontece na socieda- mo e temporalidade. O autor to- de capitalista. Pelo contrário, uma mou os anúncios publicitários como “lógica impecável” garante que de- objeto de estudo, mas suas idéias sejos e necessidades sejam sempre foram utilizadas, com as devidas satisfeitos. “Existe alguma instância adaptações, para caracterizar a so- – a magia do consumo, provavelmen- ciedade de representação do mun- te – que, na sua gratuidade, oferece do do esporte. à cultura da Comunicação de Massa Ano XVIII, n° 27, Dezembro/2006 51 a plena satisfação do que lá dentro va o mesmo par de tênis por um se define como ‘necessidade’”. (RO- ano, às vezes até dois anos segui- CHA, 1995, p.203). dos, não importa o quão surrados Entretanto, no esporte, e encardidos estivessem. Era tudo mesmo em sua representação mi- o que sua família no Macapá podia diática, em que salários astronômi- oferecer. O nadador afirma que cos são tratados corriqueiramente, nunca reclamou, mas prometeu existe espaço para a valorização do que mudaria tudo. Cumpriu a profecia. ‘Perdi a conta esforço. Mesmo porque se trata de de quantos tênis tenho. Com cer- atividade física em que o atleta exi- teza são mais de 15 pares’, diz o ge de seu corpo atuações que vão atleta de 22 anos, cujo melhor re- além do que um cidadão comum é sultado nos Jogos foi um 12o lugar capaz de realizar cotidianamente. no 4x100m livre. (ROSEGUINI, 22 Ainda assim, o esforço é visto de ago 2004, p.3). forma mitificada, como se a “lógica impecável” que é responsável pela Na sociedade dos comerci- solução dos nós econômicos da so- ais não há espaço para a configura- ciedade de dentro dos meios de co- ção do Estado, não há disputa de municação também agisse em favor poder, não há política. O vácuo de do atleta. Por essa lógica, ficaria vá- poder dispensa, conseqüentemente, lida a fórmula: dedicação é igual a a necessidade de hierarquia. “Numa sucesso, como se o fracasso não fos- palavra: naquela representação da se uma possibilidade. cultura projetada pela Comunicação Ao repetir as histórias de de Massa ninguém manda em nin- jovens que conseguiram ascensão guém e ninguém obedece a nin- social por meio do esporte, enfa- guém. Todos simplesmente aceitam tizando o passado pobre e as difi- o que deve ser aceitado”. (ROCHA, culdades superadas, a mídia colabo- 1995, p. 182). No universo esporti- ra na difusão da idéia de que a fór- vo dos meios de comunicação, o sis- mula acima é sempre verdadeira. tema hierárquico é construído em Como na matéria do jornal Folha de torno do atleta. Ele é a estrela prin- S.Paulo, que fala justamente da mu- dança repentina de status social: cipal. Em relação à estrutura real de poder, o atleta assume, também, Novos ricos posição privilegiada. Em arenas in- Nova era põe dinheiro no bolso dos ternacionais, ele aparece como uma atletas, que vão às compras espécie de diplomata, pois é por Tempos austeros. Jades Souza usa- meio de sua atuação que se fará su- 52 bir a bandeira nacional e soar o hino internacional de tênis, por exemplo, da pátria. Em seu momento de gló- do qual participam outros atletas. ria, ele parece ser mais importante Sua relação com eles, da qual advém do que o próprio presidente da Re- a vitória, é o que lhe confere valor. pública, que dispõe de seu tempo Uma diferenciação impor- para dar-lhe um telefonema de con- tante que deve ser feita é entre o gratulações ou para recebê-lo na “atleta-herói”, ser dotado de “talen- sede do Governo com honras de che- to e habilidades sobre-humanas”, e fe de Estado. Outra prática comum o “atleta-indivíduo”, ou seja, o ser é o desfile em carro aberto, coberto humano, aquele que tem necessida- pela bandeira nacional, evidencian- des, desejos e dificuldades. Muito do a condição do atleta de chanceler freqüentemente, as necessidades do e herói da nação. indivíduo são relegadas a um segun- Segundo Rocha, o indiví- do plano em prol dos objetivos es- duo é figura central e crucial na cul- tabelecidos para o atleta. Em sua tura moderna, uma vez que “sofisti- representação midiática, o atleta é camos as fórmulas, os métodos, as um ser emocionalmente resolvido ciências e os exercícios que visam cuja única preocupação ou necessi- alcançar, melhorar, conhecer, enten- dade é a de conquistar resultados der ou equilibrar nossos interiores positivos. Muito raramente os pro- e profundidades”. (ROCHA, 1995, blemas que afligem o indivíduo são p.165). Por outro lado, no mundo pauta para os noticiários esportivos, da Comunicação de Massa, o indiví- e, ainda assim, só o são quando in- duo passa a uma condição secundá- terferem diretamente no desempe- ria, em que seu valor depende de nho do atleta. Tais problemas envol- suas relações sociais, de seu vem aspectos cruciais da vida deste pertencimento ao todo. No caso do ser humano que se empenha em esporte, mesmo enfatizando a ima- atender às expectativas nele depo- gem de uma ou outra estrela, o atleta sitadas por técnicos, dirigentes e só tem valor por seu pertencimento torcedores, tais como saúde, rela- a uma equipe vitoriosa ou por sua ções familiares e sociais, educação participação produtiva em um tor- e vida pós-esporte. neio importante. Um atleta como o Segundo Rocha (1995), a tenista Guga só ganha notoriedade, publicidade trabalha com a idéia de centralidade nos noticiários, em fun- temporalidade cíclica. As sociedades ção de seus resultados, que são, por que utilizam esse conceito de tem- sua vez, equacionados dentro de um po o fazem na observância dos mo- contexto mais amplo, um torneio vimentos cíclicos da natureza, em Ano XVIII, n° 27, Dezembro/2006 53 que dois termos – o dia e a noite, a aos quais está associada a origem do seca e a chuva, o frio e o calor, etc. – evento, e comparação com os pró- se alternam indefinidamente. Já nas prios atletas; listagem dos grandes sociedades modernas capitalistas há campeões de todos os tempos, com a necessidade de se contar os dias, destaque para os brasileiros; repor- os meses e os anos, de modo a or- tagens especiais com os atletas con- ganizar os acontecimentos em um siderados com mais chances de con- sistema linear. Só assim é possível quistar medalhas na edição que se haver conceitos como passado, pre- aproxima; divulgação diária do qua- sente e futuro, que são interligados dro de medalhas; mesas-redondas pelo fio da continuidade. As duas com atletas, ex-atletas, técnicos e co- maneiras de se compreender o tem- mentaristas antes, durante e após as po não são excludentes. O que ocor- competições; curiosidades sobre o re é a dominância de uma delas, que país e a cidade-sede. se apresenta em uma determinada Como esta visão cíclica do sociedade de forma mais explícita e tempo não enfatiza a linearidade dos consciente. No caso da representa- fatos, “viagens no tempo” tornam- ção midiática do esporte prevalece se simples e corriqueiras. Como ex- a visão cíclica, em que anos de Olim- plica Rocha (1995), é possível trans- píadas se alternam com anos sem portar-se tanto ao futuro quanto ao Olimpíadas. passado e também reuni-los no pre- A linearidade existe e pode sente. Tais passeios pelo ontem, hoje ser percebida na contagem das edi- e amanhã são moeda corrente na re- ções dos Jogos – em 2004 foi reali- presentação midiática do esporte, zada a 25ª da era moderna – e na que não perde a oportunidade de evolução das marcas dos atletas e das achatar a linha do tempo. Os avan- tecnologias de transmissão dos even- ços tecnológicos dos veículos de co- tos. Mas, a cada nova edição, a abor- municação, por exemplo, tornam dagem dos veículos de comunicação possível o que seria inimaginável para a cobertura jornalística e para a dentro da linearidade da concepção exploração publicitária é praticamen- contemporânea de tempo. te a mesma. Alguns padrões são fa- A aproximação de campe- cilmente percebidos: história dos Jo- ões de diversas gerações é muito gos durante os meses que antecedem explorada por programas especializa- a competição; perguntas sobre temas dos em esporte. Em 2004, por exem- relacionados para incitar a plo, o maior adversário do nadador interatividade com o público; cons- norte-americano Michael Phelps não tante referência aos deuses gregos, foi o australiano Ian Thorpe nem o 54 holandês Pieter Van Den Hoogenband. reportagem sobre os possíveis cam- Tampouco foi o brasileiro Thiago Pe- peões dos Jogos de Pequim, a serem reira. Todos eram importantes com- realizados em 2008: petidores nos Jogos Olímpicos de Ate- nas. A impressão deixada pelos prin- Mas quem serão esses atletas? Tal- cipais jornais brasileiros era a de que vez o triatleta Thiago Vinhal, de 20 o nadador americano, de 19 anos, anos. Também o corredor Francis- competia mesmo contra o compatri- co Souza, de 22 anos, e o judoca ota Mark Spitz, ex-nadador que con- Mateus Seixa Costa, de 16. Ou até quistou sete medalhas de ouro e que- mesmo a nadadora Renata Favilla, de apenas 13 anos, que até lá já terá brou sete recordes mundiais em sete idade para competir entre os gran- provas disputadas. Tudo durante a des em Pequim, mas poderá repre- mesma edição dos Jogos, a de Muni- sentar o Brasil melhor nos jogos de que, na Alemanha, em 1972. As ex- 2012. (SILVA, 6 set 2004, p.4). pectativas eram de que Phelps conse- guisse, em Atenas, bater o recorde de O nivelamento entre passa- Spitz e vencer as oito provas das quais do, presente e futuro é indicativo das participaria. “Num esporte em que a características apontadas por Rocha maioria dos atletas ficaria feliz em se (1995) como determinantes da per- classificar para uma única modalida- cepção cíclica do tempo: a permanên- de, ele disputa oito medalhas em Ate- cia e a eternidade. Esse é também o nas – o mais fascinante é que seu ob- princípio que rege o mito do herói, jetivo é ganhar cada uma delas e, as- que eventualmente é imortalizado. sim, bater o recorde de seu A diferença é que a intervenção line- conterrâneo Mark Spitz”. (SCHELP, 18 ar da concepção capitalista de tem- ago 2004, p.93). po faz com que um ídolo seja ma- A aproximação de diferen- quinalmente substituído por outro, tes eras coloca o esporte, em sua representação midiática, em um es- com prejuízo apenas para o indiví- tado de eterno “presente”. Assim duo que é abandonado no passado. como personagens do passado po- É assim que a “Isabel do vôlei” é subs- dem ser “ressuscitadas” e trazidas tituída pela “Leila do vôlei” e esta para atuar diretamente no tempo pela “Mari do vôlei” ou pela “Fabiana presente, também “futuros campe- do vôlei” – citando duas atletas que ões” são precocemente idolatrados. no momento se destacam e podem O jornal Hoje em Dia, por exemplo, vir a se tornar ícones desta modali- publicou, apenas seis dias após o dade –, levando as Isabéis, Leilas e término das Olimpíadas de Atenas, Maris ao esquecimento. Ano XVIII, n° 27, Dezembro/2006 55

Discurso idealizado Scherer no início da década de 90, Thiago era o dono da terceira melhor marca da temporada até o início dos Em análise da cobertura das Jogos e a maior esperança de meda- Olimpíadas de Atenas, percebeu-se lha da equipe”. (DRUMMOND, 20 ago que o discurso produzido pelo jorna- 2004, p.3). lismo esportivo era pontuado por de- Vários atletas brasileiros terminados termos e expressões que, foram honrados com o título de he- repetidos à exaustão, conferiam “emo- rói durante os Jogos Olímpicos de ção” ao relato. Três desses vocábulos Atenas, em 2004: o iatista Torben ilustram o papel deste discurso dra- Grael, ao tornar-se o maior meda- matizado na construção midiática da lhista olímpico brasileiro (duas de imagem do atleta: sonho, esperança ouro, uma de prata e duas de ouro, e herói. O atleta jovem sonha em ser em seis participações em Olimpía- um grande campeão. O campeão so- das, de 1984 a 2004); o também nha em conquistar o título que lhe iatista , ao conquis- falta. O treinador sonha em levar sua tar o primeiro ouro de Atenas e igua- equipe ao lugar mais alto do pódio. lar o feito do saltador Adhemar Eles são depositários das esperanças Ferreira da Silva, até então o único de conquista de medalhas para o país. brasileiro bicampeão olímpico; a Sendo assim, após a vitória, tornam- seleção masculina de voleibol, ao se heróis nacionais. conquistar também o bicampeonato O sonho pode ser o da gi- em 2004 (havia vencido em 1992, nasta : “Em uma fi- nos Jogos de Barcelona). nal, a exigência das juízas é tão gran- O herói mítico possui duas de que Daiane ainda ficou em quinto virtudes básicas: a honorabilidade lugar, com sua nota de 9,375. O tão pessoal e a superioridade em rela- sonhado ouro foi para a estrela da gi- ção aos outros mortais. No atleta nástica em Atenas, a romena Catalina moderno, essa superioridade pode Ponor”. (DRUMMOND, 24 ago 2004, ser entendida de duas formas. A pri- p.6). Expectativas existem em relação meira é o talento. Para Helal (2003), à atuação de atletas jovens, como o o talento é tão valorizado atualmen- nadador , que, aos 18 te que chega a suplantar o esforço e anos, acabou em quinto lugar na dis- a determinação. Caracterizar um jo- puta dos 200m medley nas Olimpía- gador de futebol como “esforçado”, das de Atenas: “Principal revelação da por exemplo, pode ser uma grande natação brasileira, desde o apareci- ofensa, pois seria o mesmo que di- mento de Gustavo Borges e Fernando zer que ele não é talentoso. A se- 56 gunda é um biótipo adequado à mo- da mais orgulhosas de ser brasilei- dalidade esportiva escolhida, como o ras”. A fala de Giba, campeão e eleito do norte-americano Michael Phelps, o melhor jogador do torneio olímpi- que, segundo reportagem especial da co de vôlei, em 2004, revela que, revista Veja sobre o atleta, “tem to- muitas vezes, os atletas assumem, dos os atributos de um nadador ide- por si próprios, essa condição. “Mi- al”. (SCHELP, 2004, p. 95). nha emoção é que, a cada campeo- Em geral, o herói descende nato, vejo a bandeira do Brasil e pen- da alta nobreza, fruto da relação de so que somos um povo sofrido, que um deus com uma mortal ou o con- enfrenta muitas dificuldades. Rezo, trário. Nesta dualidade, ele se dife- converso com Deus, olho para a ban- rencia dos deuses por sua mortalida- deira e prometo fazer 100% para ela de e se afasta dos homens por sua subir ao lugar mais alto”. (NOGUEI- extraordinária capacidade de realizar RA, 30 ago 2004, p.6). feitos impensáveis a um ser huma- Depois de cumprir com no. Grandes guerreiros, os heróis suas “obrigações” de guardião e pro- eram guardiões das cidades e prote- tetor dos mortais, ao herói é geral- tores dos homens. No Brasil, é co- mente dada a benção da imortali- mum a vitória esportiva em compe- dade. Eliade (citado por BRANDÃO, tições internacionais ser vista como 1992) explica que a pós-existência a redenção de um povo que sofre com do herói depende dos restos, traços dificuldades de caráter socioeco- ou símbolos de seus corpos, que são nômico. Nesse contexto, os respon- impregnados de temíveis poderes sáveis por ela são içados ao posto de mágico-religiosos. Na modernidade, heróis nacionais e o sentimento na- também o atleta é imortalizado, cionalista e patriótico da população como aconteceu, por exemplo, com se torna mais evidente. Como com- o piloto de Fórmula 1 Ayrton Senna. prova o texto do anúncio do super- O local do acidente que o matou e mercado Pão de Açúcar, publicado no seu túmulo são ainda visitados por jornal Folha de S.Paulo do dia 30 de fãs do mundo inteiro. O que não sig- agosto de 2004, um dia após a ma- nifica que o atleta precise morrer ratona em que o corredor brasileiro para ser heroicizado. Ainda vivo, Pelé Vanderlei Cordeiro de Lima perdera foi mitificado como o melhor joga- a liderança devido à intervenção do dor de futebol de todos os tempos. fanático religioso irlandês Neil Horan, Mesmo longe dos gramados, ele a menos de seis quilômetros da li- exerce a função heróica de elevar o nha de chegada: “Vanderlei, 180 mi- nome de sua nação e de seu povo, lhões de pessoas acordaram hoje ain- uma vez que suas habilidades são Ano XVIII, n° 27, Dezembro/2006 57 reconhecidas em todas as partes do e lúdicos do esporte, tampouco os mundo. A morte de sua porção hu- relacionados ao bem-estar dos atle- mana, entretanto, é a “prova final” tas, que determinam isoladamente do herói e acontece, geralmente, de as escolhas da produção comuni- maneira traumática e violenta ou em cacional sobre ele, mas os interes- absoluta solidão. A carreira do atle- ses de vários outros grupos, tanto ta pode ter como causa mortis dife- públicos quanto privados. rentes fatores, como uma contusão Tendo em vista a necessida- grave, a idade ou o surgimento de de por parte da produção jornalística um novo herói, mais jovem e dis- de selecionar os acontecimentos que posto a substituí-lo, e será, via de serão noticiados, analisou-se o con- regra, difícil e tensa. teúdo publicado a respeito do espor- te no Brasil a fim de descobrir quais A representação do atle- têm sido as escolhas feitas pelos veí- culos nacionais a respeito do tema e ta na mídia seu respectivo enquadramento. Em outras palavras, quais aspectos da re- Em face da impossibilida- alidade do esporte foram seleciona- de de transformar em notícia tudo dos para receber maior destaque no que acontece no mundo, o jornalis- texto comunicativo. mo trabalha com o conceito de De acordo com o assunto noticiabilidade, que seria o conjun- principal de cada matéria, ou seja, to de fatores que guiam a escolha aquele expresso no título, bigode e de quais acontecimentos entrarão lead, foi possível organizar as 169 no noticiário. Além dos critérios de matérias e 206 notas publicadas relevância dos próprios jornalistas, entre os dias 12 e 30 de agosto de a escolha depende de processos e 2004 no caderno especial “Olimpía- práticas de produção jornalística e das 2004”, do jornal Estado de Mi- dos valores-notícia. Os aspectos in- nas, em quatro grupos: Factual – trínsecos do jornalismo não são, en- resultados das competições; progra- tretanto, os únicos a influenciar o mação: quem joga, contra quem, agendamento midiático. Os interes- quando e onde; chegada e partida ses de atores do universo esporti- de competidores de Atenas. Atua- vo, midiático e público estruturam ção – resultados, positivos ou ne- suas respectivas agendas, pressio- gativos, e expectativas quanto a re- nando as agendas uns dos outros sultados positivos, com ênfase na concomitantemente. Em outras pa- atuação de atletas e equipes; maté- lavras, não são os aspectos culturais rias especiais sobre atletas conside- 58 rados como possíveis vencedores gundo e terceiro lugares respectiva- nos Jogos. Curiosidades/Casuali- mente. dades – fatos e curiosidades sobre Os resultados mostraram- a realização e a organização dos Jo- se ainda mais coerentes com a hipó- gos; eventos imprevisíveis relacio- tese de que os meios de comunica- nados direta ou indiretamente às ção idealizam a imagem do atleta ao competições. Crítica – abordagem revelar que apenas 5% das matérias de problemas que afligem a realida- e notas evidenciaram algum aspecto de do esporte, posicionamento crí- correspondente à real situação dos tico-construtivo em relação a eles. atletas que competiam em Atenas, de A leitura das matérias e no- seus similares no Brasil e do esporte. tas revelou o direcionamento da co- Pode-se dizer, ainda, que não houve bertura dos Jogos Olímpicos daque- posicionamento crítico em relação le ano para a atuação dos atletas. aos dilemas que afligem os esportis- Tanto antes das competições, quan- tas nacionais. De fato, o mais perto do as reportagens falavam das expec- que se chegou de uma postura críti- tativas em torno de possíveis resul- ca foi em matéria sobre a equipe de tados positivos, quanto no momen- futebol feminino. Ainda assim, mes- to em que elas foram ou não corres- mo denunciando a condição de prá- pondidas, a ênfase dos relatos recaiu tica do esporte no Brasil, o objetivo sobre as habilidades e potenciali- real do texto parece ter sido mais o dades dos atletas e suas equipes. de exaltar o feito das jogadoras, que Pode-se perceber que 58% das maté- driblaram todas as dificuldades cita- rias se encaixaram na categoria Atu- das para chegar a uma final olímpi- ação. Em segundo lugar, vieram as ca: “É a modalidade nacional em pior situação, pois não tem qualquer es- matérias factuais (28,5%), designadas trutura e nem mesmo um campeo- a manter o leitor informado a respei- nato regular, e a medalha de ouro, to do andamento das competições. se conquistada, será um grande pas- Curiosidades e eventualidades fica- so para a realização do sonho maior: ram em terceiro lugar, representan- a sua afirmação no Brasil, podendo do 9,5% das reportagens. Dentre as assim receber o incentivo necessário”. notas, as campeãs foram as factuais (DRUMMOND, 26 ago 2004, p.3). (53%), o que é natural, dado que este Com base nos dados cole- formato visa, geralmente, a informar tados, concluiu-se que o foco da co- de forma rápida e objetiva. As cate- bertura jornalística dos Jogos Olím- gorias Curiosidades/Causalidades picos de 2004, em Atenas, na Grécia, (29%) e Atuação (17%) ficaram em se- realizada pelo jornal Estado de Mi- Ano XVIII, n° 27, Dezembro/2006 59 nas, foi a atuação heróica de atletas que atletas de alta performance têm e equipes que lutaram para alcançar muito mais lesões degenerativas do o sonho da vitória e, assim, sistema locomotor na idade adulta corresponder às esperanças da nação. do que o não-atleta, o indivíduo comum. A jogadora de vôlei Kely A face humana do atleta- Kolasco Fraga3 confirma o prog- herói nóstico:”Hoje eu tenho 29 anos, te- nho dois parafusos no ombro, três cirurgias (...) fratura por estresse nas A associação entre prática canelas, no halux, no alelo lateral. esportiva e saúde física e mental é Rompimento retro femural, cinco bastante comum e, de modo geral, centímetros”. (FRAGA, 2 jul 2004). pode ser tida como verdadeira. Vári- Contudo, é ainda no mo- os são os estudos que comprovam mento de formação do atleta que os benefícios para o corpo e para a problemas físicos começam a apa- mente da atividade física regular e recer. Segundo Nelson Biasi, lesões moderada. Todavia, segundo o mé- por esforço repetitivo, como tendi- 2 dico Nelson Biasi , o esporte compe- nites (inflamações nos tendões) e titivo de alto nível exige daqueles que fraturas por estresse, são comuns em se aventuram a praticá-lo esforços crianças e adolescentes atletas que que levam o corpo humano ao extre- são submetidos a grandes cargas de mo de suas capacidades. “O atleta de treinamento. Para evitar este tipo de alta performance, hoje em dia, o atle- lesão, o ideal seria, de acordo com ta de elite, esse joga no limite. Isso é o preparador físico Paulo César ponto pacífico. Porque o limite é que Vieira4, que se respeitasse a fase bi- vai dizer se ele vai ganhar um segun- ológica do atleta em relação à faixa do, se ele vai ser vencedor ou não”. etária em que se encontra e sua in- (BIASI, 28 jun 2004). dividualidade, pois cada um res- A “superação de limites”, ponde ao treinamento em um ritmo tão freqüentemente alardeada como diferenciado. Muitos profissionais obra corriqueira do atleta-herói, questionam a excessiva valorização pode causar fortes impactos na saú- do resultado nas categorias de base, de do atleta-indivíduo. Biasi explica mas “se o clube tem uma estrutura

2 Atleta profissional. Medalha de bronze nos Jogos Olímpicos de Sydney em 2000. 3 Oito anos de trabalho com equipes de voleibol profissionais e seleções de base. 4 Atleta da seleção brasileira juvenil em 2004. Atua profissionalmente. 60 muito boa e perde um jogo ou um Para vencer a dor, o atleta campeonato para uma equipe que deve aprender a superar não apenas tem uma estrutura inferior, isso para seus aspectos físicos, mas, principal- o clube, para quem está dirigindo, é mente, os psicológicos. Além do um absurdo”. (VIEIRA, 24 jun 2004). desejo de permanecer em quadra Para jogar “no limite”, o para não perder sua posição na equi- atleta precisa exigir muito de seu pe, entregar-se à dor pode ser um corpo. Ele freqüentemente sente sinal de fracasso. Quando jogava na dores brandas nas articulações e aca- categoria juvenil, Lira Bastos Moreira ba aprendendo a conviver com elas. Ribas6 operou o joelho direito e fi- Porém, submetido a pressões por cou dez meses em recuperação, lon- excelência e resultado, o atleta aca- ge dos treinos. Ao reiniciar as ativi- ba por estender seu limiar de dor, dades, sabia que ainda sentiria, por perdendo os parâmetros do que, para algum tempo, as dores do processo ele, seria insuportável. Um bom exem- pós-operatório. Mesmo assim, ela se plo é o de Mariana Alves Cassemiro5. lembra de que o treinador não lhe Em 2004, ainda na categoria infanto- deu trégua: mandou que ela repe- tisse um exercício várias vezes. Ela juvenil, mas participando de um tor- o avisou que sentia muita dor, mas neio com a equipe adulta do clube ele fez com que treinasse por mais em que jogava, passou a ser muito meia hora após o fim da sessão. exigida na função de atacante du- rante os treinos, por falta de outras jogadoras para revezar com ela na Nossa senhora, eu achei que o téc- posição. “Fiquei na pressão (...) en- nico ia me bater. Porque ele come- tão eu fui agüentando até o meu má- çou a juntar um tanto de coisa (...) ximo. Daí chegou um ponto que eu que todo atleta sente dor e que se não agüentava nem levantar o om- eu era fresca eu não tinha que jo- gar vôlei e começou a levar para o bro mais”. (CASSEMIRO, 9 out 2004). outro lado. Falou que eu era muito Mariana diz não ter revelado a dor baixa para jogar de meio. (...) Que antes de chegar ao ponto crítico por eu não conseguia jogar direito e dois motivos: medo de ouvir do téc- eu ainda com aquela dor, se eu não nico que ela não deveria reclamar treinasse mais do que todo mun- de uma “dorzinha” e o receio de fi- do, aí que eu não ia melhorar mes- car parada e perder uma oportuni- mo. Aí que eu não ia jogar. (RIBAS, dade de jogar. 13 jul 2004).

5 Sete vezes em seleções nacionais e estaduais de base. Atua profissionalmente. 6 Atleta da seleção brasileira juvenil de 2004. Atua profissionalmente. Ano XVIII, n° 27, Dezembro/2006 61

A partir de então, Lira de- Mineirinho, em cidiu que continuaria treinando, (MG). Tudo era feito ali mesmo: dor- mesmo sentindo dor, sem reclamar. miam no alojamento do ginásio, Desrespeitando o processo de recu- comiam no restaurante que fica no peração, o joelho não apresentava estacionamento e treinavam em um melhoras. “Cada vez que eu falava ginásio anexo. “Quando não estava que estava com dor, ele falava que treinando, a gente estava dentro do era frescura. Aí eu queria treinar alojamento, sem poder fazer nada. mais. Aí ele puxava mais meia hora Nem televisão não tinha. (...) A gen- depois do treino. Isso num excesso te não podia sair porque o nosso que eu levo até hoje no meu joe- técnico era meio ciumento. A gente lho”. (RIBAS, 13 jul 2004). não podia sair, não podia ficar com O regime de concentração ninguém. Namorar, nada disso”. utilizado nas seleções nacionais de (RIBAS, 13 jul 2004). base também é fator que gera ten- Além da “clausura”, a im- são nos atletas jovens. Quando se posição de certas regras de conduta trata de campeonatos sul-america- – não poder sair nem namorar, usar nos, que são realizados nos anos sempre o mesmo uniforme, fazer pares, os atletas ficam de três a qua- todas as atividades extraquadra tro meses na seleção. Nos anos ím- acompanhado do restante da equi- pares, quando da disputa dos cam- pe –, as restrições alimentares, a peonatos mundiais, o treinamento intensa rotina de treinamentos – dura de quatro a seis meses. A pre- cinco a seis horas diárias, em dois paração acontece no Centro de De- períodos, intercaladas com sessões senvolvimento de Voleibol de Saqua- de psicologia e fisioterapia, reuni- rema, um complexo com as instala- ões com o grupo e preleções –, e a ções e equipamentos necessários pressão por resultados são os fato- para o treinamento das seleções bra- res mais estressantes da preparação sileiras de todas as categorias, inau- do atleta. A privação de uma vida gurado em agosto de 2003, pela social “normal” na juventude, com Confederação Brasileira de Voleibol tempo livre para sair e se divertir, (CBV), em Saquarema (RJ). Até então pode contribuir para um sentimen- os atletas ficavam alojados em gi- to maior de estresse na vida adulta. násios ou hotéis. Lira Ribas começou a jogar aos 12 Em 1997, a preparação da anos de idade e enfrentou esta roti- equipe da categoria infanto-juvenil na de seleções (estaduais e nacio- para o campeonato mundial durou nais, em uma média de duas por oito meses e foi feita no ginásio ano) dos 14 aos 19 anos. Para a jo- 62 gadora, esta é a razão do estresse Abandonar a casa dos pais que ela diz sentir hoje. “Não é pos- pode ser um passo muito difícil e sível que eu tenho estresse tão nova, exige muita maturidade por parte com 23 anos. Se eu for jogar até os do jovem, um grau de responsabili- 30, faltam sete anos ainda. Eu não dade que nem eles sabem se estão quero mais sete anos desse sofri- prontos para assumir. Como mostra mento. (...) Acho que se eu não ti- o relato da jogadora de vôlei Nina vesse pego seleção, eu acho que eu Fernanda Afonso7: “Eu acho que não não seria tão estressada assim”. existe uma pessoa que tenha 16, 17 (RIBAS, 13 jul 2004). anos que faça o que a gente faz. Que Devido à concentração da é sair de casa, morar sozinha, tem economia brasileira nas regiões Sul que cuidar das contas, tem que cui- e Sudeste, a estrutura física e finan- dar do quarto, tem que lavar a rou- ceira para a prática do voleibol tam- pa, tem que fazer um monte de coi- bém converge para esses centros. sa”. (AFONSO, 9 out 2004). Apren- Dentre as 20 equipes (11 masculi- der a se virar sozinho pode não ser nas e nove femininas) que disputa- tão ruim, mas associada ao desgas- ram a temporada 2004/2005 do prin- te físico e psicológico do treinamen- cipal torneio profissional do país, a to, além da falta do afeto e apoio Superliga, sete eram de São Paulo, dos pais, a distância de casa pode quatro do Rio Grande do Sul, três do , três de Minas Ge- ser bastante estressante. Como ex- rais, duas de Santa Catarina e uma pressam as jogadoras da seleção de Brasília. Vale notar que todas as brasileira de voleibol juvenil Ana 8 equipes gaúchas e catarinenses Tiemi Takagui e Mariana Alves eram masculinas e todas as cario- Cassemiro. “Às vezes nada está dan- cas, femininas, o que leva a um qua- do certo, você fala meu Deus, eu dro ainda mais restritivo. Desta for- tenho 16 anos, por que eu tenho que ma, é inevitável, para um atleta jo- fazer isso aqui”? (TAKAGUI, 9 out vem que começa a se destacar no 2004) “Às vezes dá vontade de pe- vôlei, principalmente por meio de gar as coisas todas e ir embora para convocação para uma seleção brasi- casa. Ai, chega, eu quero ir embora, leira de base, que ele saia de sua ci- quero desistir disso aqui, muitas dade natal ainda na adolescência e vezes dá”. (CASSEMIRO, 9 out 2004). vá para um grande centro. O psicólogo Carlos Eduardo Pires e

7 Atleta da seleção brasileira de voleibol juvenil em 2004. Atua profissionalmente. 8 Psicólogo de seleções brasileiras de base em campeonatos mundiais em 1996 e em 2003. Ano XVIII, n° 27, Dezembro/2006 63

Albuquerque9 ressalta que, mesmo lista, preocupados em transmitir, responsáveis e capazes de cuidar de por exemplo, o valor de comunida- si mesmos em uma cidade distante, de, o valor de que nós temos que esses atletas não deixam de ser ado- trabalhar em conjunto, em socieda- lescentes que precisam de supervi- de para poder alcançar determina- são e orientação dos adultos. Ele ex- dos objetivos que vão atingir o bem- estar de todos. E de repente isso vai plica que, como são pessoas saindo de encontro, choca com os valores de uma fase de meninice para uma que são transmitidos hoje, princi- fase adulta – o atleta que entra em palmente no Brasil, que é você ga- uma equipe muito competitiva e de nhar dinheiro o mais rápido possí- alto nível, em que há muita cobran- vel. Então, quer dizer, o nosso es- ça, pode pular uma certa fase do porte tem até contribuído muito amadurecimento, caso o processo para isso. (LERBACH, 22 jun 2004). seja mal conduzido – eles têm mui- to medo e algumas questões emoci- “O segundo lugar é o pri- onais precisam ser bem elaboradas meiro dos perdedores”. “Ninguém se com a ajuda de uma figura paterna. lembra do vice”. “Eu prefiro ficar em E o treinador é quem acaba assumin- terceiro lugar do que em segundo, do o papel de pai para muitos deles. porque assim termino o campeona- Nesse contexto, o impor- to ganhando.” Essas frases, corriquei- tante é que o treinador não perca ramente repetidas no mundo do es- de vista sua função de educador. porte, são ilustrativas da cultura oci- Para o técnico Antônio Marcos dental que enfatiza a vitória. A im- Lerbach10, “o verdadeiro significado prensa também tende a valorizar do educar” é a transferência de va- apenas os melhores. De 1991 a lores, pois, quando o treinador 2004, as seleções brasileiras juvenis transmite valores positivos através de voleibol masculino chegaram ao de sua postura, ele conscientiza o pódio de todos os campeonatos mun- atleta e o prepara para contribuir diais disputados no período (aconte- para a discussão de questões impor- cem a cada dois anos), ficando, na tantes da sociedade em que vive. maioria das vezes, no primeiro ou segundo lugares. Segundo o técnico Quando a gente fala de valor, nós Antônio Marcos Lerbach, que esteve estamos aqui, num mundo capita- à frente de todas essas equipes, o

9 Treinador da seleção brasileira juvenil de vôlei masculino desde 1991. 10 Treinador de seleções brasileiras de base. Dirigiu a equipe adulta nas Olimpíadas de Barcelona, em 1992. 64 tratamento dispensado pela mídia que ela venha de fora. Ele mesmo se aos campeões era extremamente di- encarrega de se martirizar. Somando ferente do recebido pelos vice-cam- isso ao próprio desejo do jovem de peões. Em 2001, por exemplo, a equi- participar das principais equipes e pe foi campeã mundial juvenil. Na tornar-se um campeão, chega-se a edição seguinte do torneio, em 2003, uma competição pouco ética, em que os brasileiros ficaram com o segun- o atleta tenta sobreviver e conquis- do lugar, tendo perdido a final por tar seus objetivos sem se importar um placar apertado: 3 sets a 2. com os meios. “A vitória a qualquer custo, em toda a história do ser hu- Em 2001, tinha um batalhão de mano, foi sempre desastrosa. Então, repórteres nos esperando no ae- uma coisa fundamental na formação roporto. Em 2003, não tinha ne- desses jovens é entender que é im- nhum. Em 2001, esse pessoal ficou portante você perseguir os fins, mas ligando para a minha casa durante não é só o resultado que interessa”. uns 15 dias, eu participei de uma (ALBUQUERQUE, 24 jun 2004) Lon- série de programas de televisão, ge de casa, da influência formata- Rio, São Paulo, Belo Horizonte. dora dos pais, e exposto à moral da 2003, não fui chamado para ne- vitória a qualquer preço, a formação nhum deles. Só foi dada uma pe- do caráter desse jovem atleta fica quena nota, ‘Brasil vice-campeão seriamente ameaçada. mundial’. (LERBACH, 22 jun 2004). Ao analisar o quadro que Para o psicólogo Carlos leva o atleta adolescente a abando- Eduardo Pires e Albuquerque, a ên- nar a casa dos pais, percebe-se que fase no primeiro lugar vem de mui- há outra conseqüência desta mudan- tos séculos, desde as Olimpíadas ça: a evasão escolar. A transferência gregas, passando pelos conquistado- para uma equipe maior e melhor ge- res romanos. “E isso aí tem aspectos ralmente implica no início de uma psicológicos muito entranhados, relação financeira do atleta com o muito fortes. Desde pequeno você clube, seja por meio de uma simples vai aprendendo: papai e mamãe só ajuda de custo, seja pela assinatura vão gostar de mim se eu for primei- de um contrato profissional. Como ro lugar. Depois o técnico só vai gos- muitos desses atletas chegam para tar se eu for dos primeiros e aí vai”. integrar não apenas a equipe de sua (ALBUQUERQUE, 24 jun 2004). O psi- categoria, mas a adulta também, pas- cólogo explica que o grau de exigên- sam a treinar em mais de um perío- cia chega a tal ponto que, para cer- do. Equipes profissionais treinam de tos atletas, não há mais necessidade manhã e à noite. Geralmente, o atle- Ano XVIII, n° 27, Dezembro/2006 65 ta continua estudando, mas em perí- no Brasil não há diálogo entre espor- odos de muitas competições e via- te e educação, geralmente as escolas gens, ele acaba perdendo dias, sema- não se interessam nem se mobilizam nas ou meses de aula. Eventualmen- com a situação dos atletas. Também te, abandona totalmente os estudos. não são muitos os treinadores que Uma convocação para a estão dispostos a flexibilizar horári- seleção brasileira representa uma os de treinamento para que seus jo- estada de três a seis meses no novo gadores estudem. Conseqüentemen- centro de treinamento construído te, o atleta que insistir em continuar pela Confederação Brasileira de Vo- os estudos enfrentará muitas dificul- dades. São poucos os que chegam a leibol (CBV). O complexo é dotado 12 de toda a estrutura necessária à pre- tentar. Fabiana Marcelino Claudino , por exemplo, preferia não ter parado paração física, técnica e tática dos de estudar, mas não conseguiu adiar atletas, mas ainda não oferece a sua decisão. Saiu da escola assim que possibilidade de que estudem. O terminou o Ensino Fundamental. problema esbarra em questões le- “Para falar a verdade, ninguém falou gais, como explica o técnico Wadson nada. Ninguém falou para eu conti- 11 Lima : “Não há compatibilidade de nuar. E parar também, pelo que eu currículo e não há uma legislação estava vendo ali era a única solução. hoje que possibilite a elas levar o E depois começou a aparecer seleção resultado do período escolar que e ficava aquele negócio de oito me- elas por ventura façam aqui para ses treinando por conta de seleção”. continuar prestando o atendimento (CLAUDINO, 9 out 2004). ou a conclusão do seu curso ou do No momento de decidir seu ano escolar, quando retornar aos entre continuar a estudar e dedicar- clubes”. (LIMA, 13 jul 2004). A lei se integralmente ao esporte, a pers- só garante o direito ao abono de fal- pectiva de independência financei- tas. A recuperação do conteúdo per- ra é o fator que mais pesa a favor da dido depende do interesse e do es- segunda opção. “Porque eles me forço do aluno, da complacência do pagavam, eu lembro que eles me técnico e da boa-vontade da escola pagavam um salário mínimo. Então em repassar a matéria e flexibilizar com um salário mínimo eles calaram datas e métodos de avaliação. Como a minha boca. Que é mais ou me-

11 Atleta da seleção brasileira de voleibol que disputou, aos 19 anos, as Olimpíadas de Atenas em 2004. 12 Técnico de voleibol há 15 anos. Formado em Educação Física pela UFMG, pós-graduado em treinamento esportivo com ênfase em voleibol, técnico nacional nível II. 66 nos assim, você ganha um salário seis, trabalho como representante mínimo e deixa de estudar”. (FRA- comercial, tem mês que eu não tiro GA, 2 jul 2004). 500 reais. (ARNOT, 16 jun 2004). O discurso de que o jovem terá garantias de um futuro melhor Entretanto, se o esporte no esporte do que seguindo uma desse ao jovem a possibilidade de carreira acadêmica é corriqueiramen- estudar ao invés de retirar dele este te repetido para os jovens como for- direito, ele teria chances dobradas ma de incentivo a continuar no es- de conquistar seu lugar ao sol, seja porte. Como mostra a fala do trei- no esporte, realizando seu sonho de nador Emmanuel Arnot13: ser um campeão, seja em outra pro- fissão. E se isto parece impossível Vou dar o exemplo, não vou citar o devido às intensas rotinas de trei- nome, de um atleta que a gente ti- namento das equipes profissionais, nha do masculino. Eu me lembro é plenamente factível aos olhos do que na época ele ganhava acho dirigente Luiz Eymard Zech Coe- que 1500 reais, algo assim. E um lho14. “Se os clubes montassem suas dia ele disse: ah, estou cansado. Eu grades de treinamento de acordo falei com ele, cara, que é isso, você com a possibilidade de os atletas tem que valorizar o que você tem. estudarem, não teria problema”. Você não sabe o que é trabalhar no (COELHO, 27 out 2004). Ele defen- mercado hoje para ganhar 1500 de que, com formação acadêmica, reais. Vários profissionais hoje têm esses atletas teriam uma condição um nível de responsabilidade mui- muito melhor de iniciar novas car- to grande, entram cedo, saem tar- reiras profissionais após deixarem o de, têm que cumprir horário. Aqui esporte. Segundo ele, muitos técni- você vem, faz o que você gosta. E cos apóiam esse sistema, mas para você vem, treina, vai embora, tem os altos dirigentes, é interessante alimentação, tem casa, tem tudo. Tanto fez que saiu, tentou jogar em que o atleta seja um profissional outro lugar, não conseguir, parou exclusivo, fique à disposição e trei- de jogar. E um belo dia encontro ne o dia inteiro, por pensar que as- com ele. Ele falou, cara, não me sim ele vai render mais. esqueço de você me falando isso. Em sua dissertação de mes- Eu entro acho que nove horas, saio trado, o treinador Antônio Marcos

13 Ex-atleta de vôlei, disputou os Jogos Olímpicos de Munique, em 1972. Dirige equipes profissionais de voleibol desde 1988. 14 Seis vezes em seleções brasileiras e estaduais, de base e adulta. Ano XVIII, n° 27, Dezembro/2006 67

Lerbach buscou verificar as relações entre atletas que competem em alto entre o nível de escolaridade e o nível. De fato, eles viajam muito, desempenho tático de jogadores de mas a chance de conhecer um pou- voleibol de alto rendimento. A pes- co mais sobre outras culturas e civi- quisa concluiu que, além de auxili- lizações acaba sendo perdida por ar no desempenho dentro de qua- falta de tempo (o calendário de com- dra, o nível de escolaridade eleva- petições nacionais e internacionais do, ao promover o autoconheci- profissionais é muito apertado) ou mento, ajuda a neutralizar fatores por falta de interesse, principalmen- de ordem emocional que podem in- te por parte dos treinadores. terferir negativamente no desempe- nho esportivo do atleta. Da mesma Conseqüências para o fu- forma, os anos de freqüência esco- turo do atleta lar, em que o indivíduo adquire ex- periências sociais e conhecimentos Retomando a idéia de que, em diversas áreas, facilitariam, jun- na representação midiática do es- to a outros fatores ligados ao desen- porte, a fórmula “dedicação = su- volvimento da personalidade, o exer- cesso” é sempre verdadeira, duas cício da liderança. Ao discutir a evasão esco- observações se fazem necessárias, lar ligada ao profissionalismo pre- uma vez que se percebeu que ela coce de atletas, a falta de um diplo- está, de certa forma, presente tam- ma não é o ponto mais contunden- bém no discurso produzido sobre o te, mas, sim, a deficiência educacio- esporte pelas pessoas que fazem o nal em todos os seus aspectos. “Ele esporte. A primeira é a diferença na pode até concluir a escola, porque ênfase dada ao discurso. Enquanto infelizmente existem várias formas a mídia enfatiza mais a segunda de se fazer isso no Brasil, mas há partícula da equação, ou seja, o su- realmente um prejuízo muito gran- cesso, e confere ao esforço um lu- de na parte cultural, na parte de co- gar secundário no discurso, atletas, nhecimentos”. (LIMA, 13 jul 2004). técnicos e dirigentes não acreditam A primazia do resultado impede que em uma “lógica impecável” que leve ele tire bom proveito das oportuni- ao sucesso. Ele só é conquistado dades oferecidas pelo próprio espor- com muito suor e sacrifício. “O es- te, como a de viajar e conhecer ou- porte visa o resultado. E para você tras culturas. “Conheço todos os ter o resultado esportivo, o primei- aeroportos, hotéis e ginásios do ro passo que você tem que ter, além mundo”. A frase é muito comum do talento, é ter a determinação. É 68 se colocar o voleibol em primeiro pla- sucesso. Para que se tenha um exem- no na sua vida, acima da escola, aci- plo, a Superliga feminina de volei- ma da família, acima de tudo”. (LIMA, bol 2003/2004 contou com dez equi- 13 jul 2004). A lógica do sacrifício é pes, cada uma com 15 atletas, em tão naturalmente aceita no meio es- média. São 150 atletas, sem contar portivo que leva o atleta a tomar de- as que atuam no exterior, disputan- cisões que, independentemente de do 12 vagas na equipe nacional, que seu sucesso, podem ser prejudiciais à pode ser considerada o degrau má- sua saúde física e psicológica e à sua ximo do voleibol. É importante per- formação social e de caráter. As atle- ceber que essas 150 já fazem parte tas Mariana Alves Cassemiro, de 17 de um grupo de atletas de elite que anos, e Luciana Adorno Rodrigues do têm o privilégio de viver exclusiva- Nascimento15, de 24, não têm dúvida mente do esporte. Outras tantas ini- quanto a ela: “Desde quando você ciam suas carreiras ainda bem jovens escolheu essa carreira, você tem que (entre 10 e 12 anos, no caso do vô- abrir mão de muita coisa”. lei) e, após alguns anos de luta e (CASSEMIRO, 9 out 2004). dedicação, acabam por perceber que não terão espaço nesse meio. Eu mesma tenho um primo que foi jogador profissional e ele até hoje Conclusão é todo torto. Tem hérnia nas cos- tas, na coluna, por causa de exces- Ao contrário do atleta-he- so de salto e até hoje, o joelho é rói, que é imortalizado ao ter seu meio duro. Eu sei que muito atleta nome gravado no hall dos grandes fica com seqüela, sim, para o resto campeões e suas façanhas relembra- da vida pelo excesso de treinamen- to. Pelo excesso de exigência em das a cada nova edição dos Jogos, o cima das articulações, que eu acho indivíduo está sujeito à seqüen- que na verdade não são feitas para cialidade de eventos em sua vida. tamanha exigência. O atleta de alto Após um período de glória, ele en- nível precisa tanto do corpo para velhece e eventualmente abando- conseguir chegar em algum lugar na o esporte. Sua vida segue a e é o preço que se paga. (NASCI- linearidade baseada na objetivida- MENTO, 8 out 2004). de com a qual a sociedade moderna conta e operacionaliza o tempo. A segunda ponderação é Logo, mesmo bem sucedido e com que, também no meio esportivo, um bom “pé de meia” ao fim de sua não se questiona o fato de que es- carreira, o atleta sofrerá, em sua vida forço e dedicação não garantem o pós-esporte, com a deficiência em Ano XVIII, n° 27, Dezembro/2006 69

áreas como saúde e educação, que onais, companheiros de equipe, fa- foram sobrepujadas durante sua vida miliares e torcedores –, tem-se uma adolescente e jovem. sociedade que ameaça, com o isola- O dinheiro costuma ser mento, os atletas desviados, que utilizado para justificar todo e qual- experimentam, então, um medo con- quer tipo de exagero a que se ex- tínuo de serem isolados. No espor- põe o atleta. Em uma sociedade ca- te, o isolamento pode ser compre- pitalista, o argumento é válido e endido como desde uma desconfi- coerente. Entretanto, do ponto de ança por parte de treinadores e co- vista de uma formação holística e legas em relação ao comprometi- voltada para a cidadania, ele é defi- mento do atleta para com os propó- citário e superficial. Primeiramente sitos da equipe até seu completo porque nem todos os atletas que se desligamento desta. O medo faz dedicam inteiramente ao esporte, com que os indivíduos procurem submetendo-se a todas as suas exi- não questionar métodos e objetivos, gências, conseguem ter um salário mesmo que sejam sabidamente pre- suficientemente alto que o permita judiciais a vários aspectos de sua aposentar-se aos trinta e poucos vida. A manutenção do clima de anos em uma situação financeira opinião acaba por influenciar o com- estável. Em segundo lugar, porque, portamento da mídia, que se pro- muitas vezes, o atleta vem de uma põe reflexo da realidade, fazendo família cuja estrutura socioeco- com que ela reproduza o discurso nômica o permitiria alcançar uma prevalecente no meio esportivo. boa qualificação profissional, mas O processo tem impacto deixa de persegui-la para dedicar-se sobre a opinião da sociedade, que ao esporte. tende a aceitar a opinião passada A conformação dos atletas pelos meios de comunicação como frente à “necessidade” de sacrificar representativa da opinião da maio- aspectos físicos, afetivos e acadêmi- ria. Como membros da sociedade cos de sua vida em nome da busca não envolvidos ou apenas indireta- pela vitória ajuda a compreender a mente envolvidos com o esporte – imagem do atleta que é promovida torcedores e familiares – não conhe- pela mídia, se analisada à luz dos cem a realidade do meio, acabam por pressupostos da teoria do Espiral do perpetuar a “opinião da maioria” Silêncio. Considerando como socie- divulgada pelos meios de comuni- dade as pessoas direta ou indireta- cação. Em um processo parecido mente envolvidas com a carreira do com o da serpente que devora o pró- atleta – treinadores e outros profissi- prio rabo, o ciclo se fecha entre o 70 que a mídia divulga e é aceito pela mundo da publicidade e do comércio, sociedade como verdade e o que a o esporte se transformaria em um pro- sociedade produz, com base em sua duto vendável de entretenimento e ignorância dos processos do espor- que, portanto, devem ter expostas ape- te, como sendo opinião da maioria nas suas características mais dignas. e é reproduzido pela mídia. Como as imperfeições só são revela- Não se pretende, com esta das ao consumidor após a efetivação ponderação, isentar a mídia de sua da compra, no caso do esporte, o con- responsabilidade para com a socieda- sumidor seria o jovem aspirante a atle- de da qual se diz interlocutora. Resta, ta, que se encanta com as imagens de então, a tarefa de apontar as razões seus ídolos e sonha em ter uma vida dos meios de comunicação ao ocultar gloriosa como a deles. As imperfeições, aspectos “sombrios” do esporte em ou seja, as dificuldades só lhe são re- favor de outros mais glamourosos. O veladas depois de seu completo que parece mais coerente é relacioná- envolvimento com o mundo da com- las ao processo de espetacularização petição, quando pode ter sua saúde, do esporte. Em uma analogia com o educação e futuro comprometidos.

Referências CASSEMIRO, Mariana Alves. Entre- vista realizada em São Paulo em AFONSO, Nina Fernanda. Entrevista 9 out 2004. realizada em São Paulo em 9 out CLAUDINO, Fabiana Marcelino. Entre- 2004. vista realizada em São Paulo em ALBUQUERQUE, Carlos Eduardo 9 out 2004. COELHO, Luiz Eymard Zech. Pires e. Entrevista realizada em Entrevista realizada em Belo Belo Horizonte em 24 jun 2004. Horizonte em 27 out 2004. ARNOT, Emmanuel. Entrevista DRUMMOND, Ivan; MEIRELES, realizada em Belo Horizonte em Leonardo. Abaixo da expectativa. 16 jun 2004. Estado de Minas, Belo Hori- BIASI, Nelson. Entrevista realizada zonte, 20 ago. 2004. Olimpíada em Belo Horizonte em 28 jun 2004, p.3. 2004. DRUMMOND, Ivan; MEIRELES, BRANDÃO Junito de Souza. Mito- Leonardo. Duplo twist frustrado. logia Grega, volume III. Estado de Minas, Belo Horizonte, Petrópolis: Vozes, 1992. 24 ago. 2004. Olimpíada 2004, p.6. Ano XVIII, n° 27, Dezembro/2006 71

DRUMMOND, Ivan; MEIRELES, RIBAS, Lira Bastos Moreira. Entrevis- Leonardo. Muito mais do que ta realizada em Belo Horizonte ouro. Estado de Minas, Belo em 13 jul 2004. Horizonte, 26 ago. 2004. Olim- ROCHA, Everardo. A sociedade do píada 2004, p.3. sonho: comunicação, cultura e FRAGA, Kely Kolasco. Entrevista consumo. Rio de Janeiro: Mauad realizada em Belo Horizonte em Ed., 1995. 2 jul 2004. ROSEGUINI, Guilherme. Novos ricos. HELAL, R. Mídia e esporte: A cons- Folha de S.Paulo, São Paulo, 22 trução de narrativas de idolatria ago 2004. Atenas 2004, p.3. no futebol brasileiro. In: XXVI SCHELP, Diogo. A aposta do homem Congresso Brasileiro de Ciên- anfíbio. Veja, São Paulo, ano 37, cias da Comunicação. Belo nº33, 18 ago 2004, p.92-95. Horizonte, 2003. SILVA, Valeska. Jovens atletas sonham LERBACH, Antônio Marcos. Entre- com Pequim. Hoje em Dia, Belo vista realizada em Belo Horizonte Horizonte, 6 set 2004. Esportes, p.4. em 22 jun 2004. TAKAGUI, Ana Tiemi. Entrevista reali- LERBACH, Antônio Marcos. O nível zada em São Paulo em 9 out 2004. de escolaridade e o desem- VIEIRA, Paulo César. Entrevista reali- penho tático de jogadores zada em Belo Horizonte em 24 de voleibol de alto rendi- jun 2004. mento. 2002. 229f. Dissertação (Mestrado em Educação)– Univer- sidade Vale do Rio Verde de Três Contato: Corações – Unincor. [email protected] LIMA, Wadson. Entrevista realizada em Belo Horizonte em 13 jul 2004. Recebido:set/2005 NASCIMENTO, Luciana Adorno Aprovado:mar/2006 Rodrigues. Entrevista realizada em São Paulo em 8 out 2004. NOGUEIRA, Cláudio; LEON, Maura Ponce. Louvação ao sofrido povo brasileiro. O Globo, Rio de Janeiro, 30 ago 2004. Olimpíadas 2004, p.6.