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AS ARTES MARCIAIS E AS POLÍCIAS DE COMPETÊNCIA GENÉRICA – AUTODEFESA E O USO DA FORÇA

Fernando Viana Da Cruz Cardoso Colaço Mestrando em Direito e Segurança

RESUMO Partindo do enquadramento legal que consubstancializa a importância do respeito pelos direitos humanos e pela integridade de todos os cidadãos que deve pautar a atuação das forças de segurança, nomeadamente a Guarda Nacional Republicana, e considerando que os seus agentes se deparam frequentemente, no exercício das suas funções, com a necessidade de intervir para evitar ou pôr cobro a situações de violência, procura-se apresentar o como uma alternativa viável e eficaz na ação dos agentes da autoridade. Assim, apresentam-se sumariamente as características fundamentais desta arte marcial, faz-se uma breve resenha do que se passa em vários países no que toca ao uso do aikido por parte de forças de segurança e desenha-se um plano de formação modular destinado em primeira instância aos militares da Guarda Nacional Republicana, mas alargável a outras forças de segurança

PALAVRAS-CHAVE Aikido, imobilização, técnica.

CEDIS Working Papers | Direito, Segurança e Democracia | ISSN 2184-0776 | Nº 24 | 1 novembro de 2015

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ABSTRACT The performance of law enforcement agents, specially GNR agents, should respect human rights and the integrity of all citizens. Thus, and because GNR agents are confronted several times with violent situations, that must be stopped or prevented, aikido is presented as a viable and effective alternative to help law enforcement agents in their line of duty. So the fundamental features of this martial art are brieffly described as well as its use by law enforcement agencies in other countries. A training plan is also described, destined mainly to the GNR agents, but ultimately it can be extended to other security forces.

KEYWORDS Aikido, immobilization, technique.

LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E ACRÓNIMOS

CP Código Penal CPOS Curso de Promoção a Oficial Superior CRP Constituição da República Portuguesa GNR Guarda Nacional Republicana MC Medo do crime PC Preocupação relativa a crime p. Página pp. Páginas SCBS Social Capital Benchmark Survey TAG Trabalho de aplicação de grupo

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INTRODUÇÃO Abordar-se-á neste trabalho o tema da utilização do aikido nas forças de segurança. Numa época em que todos os cidadãos, todos os suspeitos, culpados ou não, têm direito à sua integridade e todos os agentes da autoridade têm o dever de atuar da forma mais eficaz possível e no respeito por todos os direitos humanos, o aikido apresenta-se como uma opção lógica para se concretizar esse desígnio, inclusivamente em circunstâncias em que se torna premente, para proteção de todos, colocar um termo a situações de violência, efetivas ou potenciais. A Lei n.º 63/2007, de 6 de novembro (lei orgânica da GNR), consigna como primeira atribuição desta força de segurança, no número 1, alínea a) do seu artigo 3.º, Garantir as condições de segurança que permitam o exercício dos direitos e liberdades e o respeito pelas garantias dos cidadãos. Também o Estatuto dos Militares da GNR, no Artigo 15.º do Decreto-Lei 297/2007, de 14 de outubro, atribui ao militar da guarda o especial dever de assegurar o respeito pela vida, integridade física e psíquica, honra e dignidade das pessoas sobre a sua custódia ou ordem. Cumprir este propósito no terreno, perante situações de perigo iminente, leva muitas vezes ao uso da força, ocasionalmente desproporcionada, o que pode resultar em ferimentos e/ou lesões, quiçá mesmo mortes, e eventuais procedimentos legais e /ou disciplinares na sequência desse tipo de ação. O aikido configura-se como uma alternativa viável e eficaz para intervir no respeito pela integridade e segurança de todos. Esta arte marcial de origem japonesa e caracterizada pela preocupação com o bem-estar de todos faz há décadas parte integrante da formação dos agentes de diversas forças policiais e militares em diferentes países, e é reconhecidamente uma mais-valia quer para a sua atuação profissional quer para o seu desenvolvimento pessoal. Assim sendo, propomo-nos agora explorar esta profícua relação, pelo que apresentaremos uma sumária biografia do fundador do aikido, , no Capítulo 1, logo seguida por uma breve história desta arte marcial, no Capítulo 2. Esta biografia torna-se necessária para se compreender devidamente a filosofia do aikido, resultado da longa vida dedicada às artes marciais e à meditação de um homem peculiar e carismático.

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No Capítulo 3 traçaremos um retrato do que tem sido a utilização do aikido por forças de segurança a nível internacional. No Capítulo 4 descreveremos um conjunto de técnicas do repertório que o aikido disponibiliza conducentes à imobilização segura de um oponente, que designaremos como técnicas não invasivas, e apresentaremos por fim (Capítulo 5), como culminar lógico deste percurso, um plano de formação de elementos das forças de segurança para a utilização destas técnicas. Este plano de formação será desejavelmente submetido à apreciação do Comando de Doutrina e Formação, no sentido de ser integrado na oferta formativa a que os militares da GNR têm direito, preferencialmente na modalidade de Instrução Complementar ou Treino, conforme previsto nos números 148.º e 149.º do respetivo estatuto.

CAPÍTULO I: O FUNDADOR DO AIKIDO Morihei Ueshiba, nascido em Tanabe a 14 de dezembro de 1883 e falecido a 26 de abril de 1969, era filho de um proprietário rural e é o fundador do aikido, sendo conhecido pelos praticantes desta arte marcial como o “Fundador” (Kaiso) ou “Grande Mestre” (O Sensei). Sendo um rapaz muito franzino e de compleição algo doentia, na sua juventude estudou variadas artes marciais por incentivo de seu pai. Em 1903 foi chamado ao serviço militar, mas não passou nos exames físicos por não atingir a altura mínima regulamentar (1,57 m). Para ultrapassar este óbice, Ueshiba alongou a sua coluna vertebral pendurando-se em árvores com avultados pesos pendentes das suas pernas, o que lhe permitiu passar numa segunda tentativa. Serviu no exército japonês durante a guerra russo-japonesa (1904-1905). Segundo a tradição, enfrentou na juventude, sobretudo no período do serviço militar, muitos adversários, não tendo perdido uma única luta. Após a sua dispensa do exército, ocorrida segundo umas fontes em 1906, segundo outras em 1907, liderou em 1912 um grupo de colonos originários de Tanabe na sua viagem para a ilha de Hokkaido, tendo sido fundamentais o seu carácter e a sua liderança

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para enfrentar as adversidades de uma ilha subdesenvolvida que oferecia severas condições de vida. Esta mudança para Hokkaido tornar-se-ia fulcral para Morihei Ueshiba, pois aí acabou por conhecer Sokaku Takeda, em 1915. Ueshiba, que até aí não tinha perdido nenhuma luta, ficou fascinado com as complexas técnicas do estilo Daito-ryu jujutsu. Tornou-se então discípulo de Takeda, tendo-o inclusivamente convidado a viver consigo para conseguir um ensino mais personalizado e acompanhando-o como assistente nas viagens que Takeda fazia pela ilha para ensinar a sua arte. Em 1919, Ueshiba abandonou a ilha de Hokkaido para regressar a Tanabe, pois havia recebido a notícia de que o seu pai se encontrava muito doente. Durante a viagem ouviu falar dos poderes curativos do líder da seita Omoto-kyo, Onisaburo Deguchi, e dirigiu-se à localidade de Ayabe para o conhecer. A seita Omoto-kyo advogava uma vida simples e ascética, regendo-se por uma doutrina que defendia a harmonia e a paz, e Ueshiba ficou muito impressionado sobretudo com o seu líder. Estes princípios haviam de se tornar fundamentais no desenvolvimento do aikido, a arte da harmonia. Após a morte de seu pai, Ueshiba mudou-se com a família para Ayabe e juntou-se à seita Omoto-kyo, tendo sido incentivado por Deguchi a ensinar artes marciais, pelo que abriu em sua casa um dojo privado em que passou a ensinar o sistema Daito-ryu. Em 1922, Takeda visitou Ueshiba em Ayabe e concedeu-lhe licença formal para ensinar o sistema Daito-ryu. Em 1924, Ueshiba acompanhou Deguchi numa tentativa de estabelecer uma nação utópica na Mongólia, mas esta foi uma tentativa que por pouco não culminou com as suas mortes às mãos das autoridades chinesas. Regressando ao Japão graças à intervenção do consulado nipónico, Ueshiba retomou a sua vida simples em Ayabe, onde teve como alunos algumas altas patentes da marinha, que acabaram por, impressionados pelas suas habilidades, organizar algumas demonstrações em Tóquio. Segundo , no seu livro Aikido (1985), foi após ter vencido desarmado um oficial da marinha empunhando um bokken (espada de madeira destinada ao treino) que Morihei Ueshiba passou por uma experiência de iluminação transcendental,

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tendo afirmado a propósito: “Senti uma agitação súbita no universo, e um espírito dourado surgiu da terra, envolveu o meu corpo e tornou-o num corpo dourado. Simultaneamente, o meu corpo tornou-se luz. Adquiri a capacidade de compreender o sussurro das aves, e tinha consciência clara da espírito de Deus, criador do universo. Nesse momento senti-me iluminado: a origem do budo é o amor de Deus – o espírito da amorosa proteção de todos os seres... o Budo não é a queda do adversário através da força, nem é uma ferramenta para a destruição do mundo através das armas. O verdadeiro budo consiste em aceitar o espírito do universo, manter a paz no mundo, produzir com correção, proteger e cultivar todos os seres na natureza.” Segundo a tradição, as capacidades marciais de Ueshiba tornaram-se muito superiores. Morihei Ueshiba acabou por se mudar para Tóquio em 1926, dedicando-se aí ao ensino de artes marciais sobretudo às elites militares. Aí, após um período em que ensinava em residências particulares, conseguiu abrir, em 1931, o Kobukan Dojo, atual sede da fundação aikikai. Neste período, continuou a ensinar o sistema Daito-ryu, embora se tenha afastado progressivamente dos ensinamentos de Takeda, mantendo no entanto no cerne dos seus ensinamentos um conjunto de técnicas que haviam de servir de base ao aikido. Por alturas da segunda guerra mundial, o número dos seus alunos em Tóquio reduziu drasticamente, o que levou Ueshiba a mudar-se para Iwama, onde havia ao longo de alguns anos adquirido cerca de 7 ha de terreno e dedicou-se à agricultura, ao treino intenso e à meditação, com o objetivo de desenvolver uma arte marcial cujo objetivo fundamental é a resolução pacífica dos conflitos. Na sua quinta fundou o Aiki Shuren Dojo, também conhecido como dojo de Iwama, e passou a parte final da sua vida dedicando-se à agricultura, à meditação e à divulgação do aikido, viajando profusamente pelo Japão e mesmo ao estrangeiro. Morreu de cancro no fígado a 26 de abril de 1969.

CAPÍTULO II: HISTÓRIA E FUNDAMENTOS DO AIKIDO

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O aikido é uma arte marcial desenvolvida por Morihei Ueshiba. É o culminar de uma longa vida dedicada ao estudo, ao treino e à meditação, com influências de várias artes marciais, princípios filosóficos e crenças religiosas. A palavra “aikido” corresponde à transliteração de três ideogramas kanji (sistema de escrita japonês baseado no sistema chinês): 合気道. 合 – ai – significa união, combinação, harmonia. 気 – ki – significa espírito, energia. 道 – do – significa via, caminho. Corresponde portanto o aikido a uma arte que almeja uma via para a harmonização da energia vital, um caminho para a harmonia espiritual, e a sua característica mais peculiar enquanto arte marcial é a importância dada à proteção do oponente, que deve ser submetido, numa situação de confronto, sem ser ferido. Não obstante, o objetivo maior de qualquer aikidoca é a resolução dos conflitos sem necessidade do confronto, centrando a sua energia no desenvolvimento espiritual e social, emulando o O Sensei, cujo objetivo era a paz, a harmonia universal. Embora a utilização do termo “aikido” se tenha formalizado em 1942, no âmbito de uma iniciativa governamental que visava o registo centralizado de todas as artes marciais japonesas, não existem indicações acerca de quando esta designação começou a ser utilizada. Certo é, todavia, que o próprio Ueshiba se referiu à sua arte, em momentos evolutivos distintos, usando diferentes denominações. Tendo praticado com afinco várias artes marciais na sua juventude (por exemplo Tenjin Shin'yō-ryū com o mestre Tozawa Tokusaburo, Gotoha Yagyu Shingan-ryu com o mestre Nakai Masakatsu de 1903 a 1908, e judo com o seu fundador, Kiyoichi Takagi), foi o estilo que estudou em Hokkaido com Sokaku Takeda (Daito-ryu jujutsu ou, posteriormente, Daito-ryu aiki-jujutsu), com as suas imbricadas e complexas técnicas, que se tornou reconhecidamente o cerne da arte marcial posteriormente desenvolvida por Ueshiba. Sokaku Takeda era o herdeiro de uma longa linhagem de samurais, mestre de uma arte algo obscura por via do secretismo que caracterizava a sua transmissão às novas gerações, estritamente reservada à descendência familiar. Esta arte caracterizava-se, no que toca às técnicas de mãos livres, por um conjunto de bloqueios, torções e chaves de imobilização aplicadas às articulações, bem como ataques (atemi) a pontos vitais do adversário, visando a vitória. Além disso, diz a tradição que Takeda era senhor de uma

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técnica, que designava por “aiki”, que lhe permitia uma espécie de domínio psicológico do adversário e lhe permitia, portanto, vencê-lo sem sequer se iniciar o confronto físico1. Ueshiba passou a ensinar o sistema Daito-ryu jujutsu, tendo-lhe incorporado técnicas com armas, principalmente a espada (ken), em cujos movimentos se baseiam muitas das técnicas do aikido. O encontro de Ueshiba com o líder religioso Onisaburo Deguchi influenciou muito o primeiro que, como vimos, se colocou ao serviço do segundo e se dedicou profundamente aos princípios pacifistas da seita Omoto-kyo, que preconizava o amor universal e a compaixão por aqueles que pretendem magoar os outros. Assim, Ueshiba distanciou-se progressivamente dos ensinamentos de Takeda, procurando desenvolver uma arte capaz de redirecionar harmoniosamente os ataques do oponente, de forma a garantir o bem estar tanto daquele que se defende como daquele que ataca. Este afastamento refletiu-se nas diferentes designações que Ueshiba deu à sua arte, até que se cristalizou o termo aikido, formalizado em 1942: aiki-jujutsu, Ueshiba-ryu, Asahi-ryu e aiki budo. Na fase final da sua vida, em Iwama, Ueshiba tornou o aikido numa arte mais suave, mais circular. Diminuiu o enfoque nas técnicas de ataque e deu mais ênfase às técnicas que usam o ataque do adversário para redirecionar a sua energia e o dominar sem o ferir. O aikido é também a arte da não resistência: se o atacante empurra, o aikidoca aproveita o impulso do ataque e gira sobre si mesmo, redirecionando a energia do ataque; se o atacante puxa, o aikidoca empurra e gira, tirando partido da força do adversário. Recorramos às palavras de Morihei Ueshiba para sintetizar a conceção que esteve na origem do desenvolvimento do aikido: “O Caminho do Guerreiro [Budo] foi mal entendido. Não é um meio para matar e destruir os outros. Aqueles que desejam competir e superar os outros cometem um erro terrível. Esmagar, ferir, destruir é a pior coisa que um ser humano pode fazer. O verdadeiro Caminho do Guerreiro é prevenir essa carnificina – é a Arte da Paz, o poder do amor”2.

1 O sistema Daito-ryu esteve também na origem do Hapkido, pois o seu fundador, Choi Yong-sool, foi discípulo de Sokaku Takeda

2 Hyodo, Rodger (2010). Adjusting Though Reflex: Romancing Zen. p. 76. (tradução nossa)

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Por isso não existem competições no aikido, e o único indivíduo que o aikidoca pretende superar é a si mesmo. O próprio Ueshiba defendia que cada pessoa devia descobrir o seu caminho, o seu estilo, no aikido, e acabaram por surgir diversos estilos, alguns dos quais ainda em vida do O Sensei, desenvolvidos por alguns dos seus discípulos diretos. Faz-se de seguida uma breve referência aos principais estilos de aikido:  A linha direta de Morihei Ueshiba é liderada presentemente pelo seu neto, o Doshu , que preside à Fundação Aikikai. Admitindo a diversidade técnica dentro da organização, este estilo foca-se na fluidez.  O estilo Iwama é uma nome dado ao estilo ensinado pelo O Sensei no dojo de Iwama e desenvolvido por Morihito Saito. Inclui o estudo combinado de técnicas com bastão, espada e mãos livres. Alguns dos praticantes deste estilo são filiados na Fundação Aikikai.  O estilo Shin Shin Toitsu, também conhecido por Ki-Aikido, caracteriza-se pela subtileza dos movimentos e no desenvolvimento do ki (energia vital).  O estilo Shodokan, fundado por Kenji Tomiki (daí ser tembém conhecido por Tomiki Aikido) é o único que admite competição, sendo por isso muitas vezes alvo de críticas pelos praticantes dos outros estilos.  Fundado por Gozo Shioda, o estilo concentra-se na eficiência em combate, razão pela qual é frquentemente visto como um estilo duro (hard style) em alternativa aos estilos concentrados na fluidez e na espiritualidade. É um dos estilos com maior projeção internacional e é ensinado à polícia municipal de Tóquio.  O estilo Korindo foi criado por Minoru Hirai, antigo discípulo do fundador no Aikikai Hombu Dojo em Tóquio. Minoru Hirai foi o representante do dojo perante o Butoku-kai, em 1942, e por isso considerado o responsável pela formalização da designação “aikido”. Em Portugal, existem inúmeras associações de aikido, sendo a modalidade supervisionada pela Federação Portuguesa de Aikido.

CAPÍTULO III: O AIKIDO NAS FORÇAS DE SEGURANÇA O aikido, não obstante a sua peculiaridade e especificidade advenientes das influências que o enformam como uma arte que tem como propósito a harmonia e a paz,

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tem as suas raízes nas vetustas tradições do budo dos samurais e continua sendo, sem sombra de dúvida, uma arte marcial. Foi durante o período de serviço militar que Morihei Ueshiba começou a distinguir- se como praticante de artes marciais. Já em Ayabe, na década de 20, por influência de Deguchi, Ueshiba teve como discípulos algumas altas patentes da marinha nipónica, e foi por intervenção destas que se organizaram as demonstrações em Tóquio que culminaram na mudança de Ueshiba para a capital, onde se dedicou a ensinar as elites militares até 1942, altura em que, devido ao envolvimento do Japão na Segunda Guerra Mundial, o número de alunos desceu drasticamente e ele se mudou para Iwama, onde viveu o resto da sua vida. Não é apenas na sua génese que o aikido se relaciona intimamente com as forças militares: basta uma rápida pesquisa na internet para se encontrarem referências à integração do aikido, ou pelo menos de parte do seu repertório técnico, no treino de várias forças armadas, especialmente de corpos de intervenção especial. Se alargarmos o escopo da nossa observação e considerarmos não apenas as forças armadas, mas também as forças de segurança, militarizadas ou não, encontramos em todo o mundo exemplos de aproveitamento do aikido para a formação de agentes da autoridade, sobretudo na perspetiva da preparação de profissionais capazes de zelar pela integridade de todos, incluindo os suspeitos que seja necessário colocar sob custódia. Um dos mais antigos programas de formação de agentes da autoridade em vigor foi concebido em 1957 por Gozo Shioda, discípulo de Morihei Ueshiba e fundador do estilo Yoshinkan, orientado para a eficiência em combate e caracterizado por uma certa rigidez e crueza dos movimentos. Esse programa, que continua em vigor, tem como destinatários os agentes do corpo de intervenção (polícia anti-motim) de Tóquio. Todos os anos, alguns dos elementos dessa força de segurança são selecionados para um curso intensivo de onze meses, do início de abril de um ano ao final de fevereiro do ano seguinte, do qual sairão qualificados como instrutores. É considerado um dos mais duros cursos de artes marciais do mundo, que desde o início dos anos 90 do século passado é aberto a alunos estrangeiros (num máximo de dez em cada ano), que treinam ao lado dos elementos do corpo de intervenção da polícia de Tóquio durante 11 meses, cinco dias por semana, das 7:30 às 15 horas.

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A violência dos treinos, que leva à desistência de muitos participantes logo nos primeiros meses, é motivo de relatos frequentes e é o tema central do livro Angry White Pyjamas, de Robert Twigger, publicado em 1997. Pese embora o elevado número de relatos sobre as dificuldades e a violência dos treinos, parece ser comummente partilhada a ideia de que é uma experiência que vale a pena e que proporciona significativas alterações na forma de ver a vida. É o caso, por exemplo, do relato britânico Andrew Carter, que podemos ler em http://www.japantimes.co.jp/community/2010/04/27/issues/battered-briton-survives-aikido- ordeal/#.VPzPSM2sWkB, e que aí afirma: “my year in the dojo has had a profound effect on me. It teaches you that you have to be focused, you have to predict what’s coming up and study it and you have to be aware constantly of your own movements”. Informações adicionais sobre este curso (International Senshusei Course), incluindo relatos de alunos de anos anteriores e instruções para eventuais candidaturas, podem ser encontradas em http://www.yoshinkan.net/03contentsE/course-sensyuE.html. Além deste curso, destinado ao corpo de intervenção de da polícia de Tóquio, esta fornece formação básica em aikido a todas as agentes do sexo feminino. O aproveitamento do aikido para formação de forças de segurança espalhou-se entretanto pelo mundo, existindo vários programas por exemplo no Brasil, nos Estados Unidos da América, no Canadá, em outros países da América Latina e mesmo no Qatar. O próprio Steven Seagal, quiçá um dos mais famosos aikidocas e o primeiro ocidental a ensinar a arte no Japão, deu formação a muitos elementos de várias forças de segurança norte-americanas, incluindo operacionais da CIA e agentes do FBI. O instituto Koga, com sede na Califórnia, é uma instituição orientada para a formação de agentes da lei e profissionais da segurança e oferece módulos de formação de 40 horas, destacando-se o de técnicas de imobilização (nível 1 e nível 2), o de táticas de defesa e o de técnicas com bastão. No Brasil, o instituto Takemussu fomenta um programa de formação sob o lema “eficiência sem violência” baseado em aikido que disponibiliza em todo o país para polícias militares, polícias civis e profissionais de segurança “que necessitem aprisionar pessoas sem causar lesões corporais”. É “um curso que permite aos participantes, em um tempo relativamente curto (aproximadamente 6 meses [aulas de uma hora e meia, três vezes por semana]), conseguir dominar técnicas de aprisionamento e controle que

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possibilitam o completo domínio e controle de um agressor ou um suspeito, sem causar- lhe dano físico ou moral”. Este curso, designado “Programa Básico de Defesa Pessoal e Técnicas de Imobilização, Controle e Aprisionamento Policial”, versa sobre os seguintes tópicos: • Atitude Mental do Agente de Segurança • O Que são as Técnicas de Controle e Aprisionamento Policial • Aplicação de técnicas de defesa contra apreensão dos pulsos • Aplicação de técnicas de defesa contra aprisionamento dos ombros pela frente e pelas costas • Alavancas e projeções • Técnicas de controle e condução • Defesa contra ataques laterais com objetos contundentes • Defesa contra ataques frontais com objetos contundentes • Defesa contra ataques com Armas brancas • Defesa contra Armas de fogo em contato e curtas distâncias • Estratégias de confrontação com parceiros • Aspectos da Legislação Brasileira quanto ao uso da força que podem responsabilizar os policiais e agentes de segurança • Aspectos da Medicina Legal que envolvem golpes traumáticos causados pelos policiais e agentes de Segurança • Avaliação Se excetuarmos os tópicos diretamente relacionados com a realidade legal brasileira, todos os tópicos deste curso incidem sobre técnicas do aikido. Sob o mesmo lema (eficiência sem violência), o Aikidojo de Curitiba oferece aos profissionais de segurança o curso TAKEPOL, uma formação modular que compreende os seguintes módulos: MÓDULO I – Capacitação BÁSICA de Imobilização e Algemação; MÓDULO II – Capacitação AVANÇADA de Imobilização e Algemação; MÓDULO III – Algemação Tática e Condução; MÓDULO IV – Formação de Instrutores. Ainda no Brasil, o Instituto Tachibana, como forma de contribuição voluntária para o desenvolvimento social, oferece desde 2012 aos corpos de polícias militares, civis e

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federais aulas gratuitas e periódicas de DEFENSE, um programa orientado para as forças de segurança desenvolvido pelo Instituto Maruyama de Aikido, do qual é filiado. Estes são apenas alguns exemplos de programas de formação em aikido destinados a agentes de segurança, entre outros que se poderiam referir. No entanto, parece-nos ser mais pertinente agora questionarmo-nos: porquê aikido? Porque não outra arte marcial? Que razões levam à proliferação de programas de formação baseados nesta arte? A resposta a todas estas questões encontra-se no cerne daquilo que é o aikido, a via pacífica para a resolução dos conflitos, que procura proteger a integridade física do próprio praticante e dos possíveis adversários, promovendo o desenvolvimento do equilíbrio harmonioso entre todos. Numa sociedade que se quer evoluída, respeitadora dos direitos humanos, a velha ideia do agente da autoridade que recorria à força bruta para aprisionar os suspeitos, culpados ou não, já não tem lugar. Nos tempos que correm, as próprias normas legais são claras quanto às atribuições do agente da autoridade, e penalizar os suspeitos sob que forma for não está entre elas: perante a necessidade de controlar ou mesmo aprisionar um suspeito, o agente da autoridade deve usar apenas da força necessária e proporcional ao seu objetivo, de forma não só a proteger-se a si próprio e aos outros (incluindo os suspeitos) como também a evitar possíveis consequências indesejadas, como ferimentos e até processos criminais e cíveis por uso desproporcionado da força. Perante a certeza de que a realidade leva muitas vezes os agentes da autoridade a enfrentar situações de perigo iminente, mesmo de vida, da sua própria pessoa ou de outros (vítimas ou perpetradores), torna-se necessário prepará-los para enfrentar essas situações de forma eficaz, o que implica o desenvolvimento da capacidade de observação e interpretação do que o rodeia, da aptidão para decidir e agir, do talento para manter a calma e da habilidade para aplicar técnicas que lhe permitam enfrentar vários adversários e subjugá-los sem os ferir. A prática continuada do aikido promove o desenvolvimento de todas essas valências: desenvolve a forma física (especialmente a resistência, a agilidade e a flexibilidade); possui um reportório de técnicas eficazes para enfrentar múltiplos atacantes, armados ou não, e diferentes tipos de ataques; aumenta a auto-estima dos

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praticantes e, sobretudo, proporciona um desenvolvimento pessoal que permite ao aikidoca aprimorar a sua capacidade de auto-controlo: o aikidoca é capaz de enfrentar os desafios com confiança, sem necessidade de recorrer à brutalidade ou à violência. Além disso, a prática do aikido não exige qualquer forma física especial, nem força, nem qualquer capacidade acrobática: os seus movimentos são todos naturais e qualquer pessoa pode praticá-lo, não importando se é alta ou baixa, gorda ou magra, nova ou velha, homem ou mulher. Mesmo o curso Senshusei, com a fama de ser um dos cursos mais difíceis de aikido, não tem como pré-requesito qualquer prática em artes marciais nem qualquer limite de idade (embora seja destinado a adultos e os candidatos necessitem, portanto, de ter no mínimo 18 anos).

CAPÍTULO IV: TÉCNICAS NÃO INVASIVAS DE IMOBILIZAÇÃO No início desta parte, impõe-se um aviso à navegação: proceder-se-á aqui a uma descrição sucinta de algumas técnicas do repertório do aikido e da sua forma de execução, mas em momento nenhum deve o presente ser tomado como um guia de treino. O que se pretende é apenas registar e transmitir algumas ideias básicas acerca de algumas técnicas, procurando demonstrar que estas poderão facilmente ser adequadas ao contexto de um trabalho policial moderno e consciente dos direitos de todos os cidadãos, almejando a segurança de cada um. O treino deve sempre, essencialmente por razões de segurança e integridade, ser orientado por profissionais certificados. A essência do aikido enquanto prática é o equilíbrio. O aikidoca aspira desenvolver em si a capacidade de se manter calmo em qualquer situação, em completa harmonia com o que o rodeia e, nessa medida, o equilíbrio físico não é senão uma manifestação visível do equilíbrio interior, da harmonia espiritual. Não que o equilíbrio físico seja mero produto do equilíbrio interior: são duas faces de uma moeda só, e desenvolvem-se a pari passu. No que toca à prática, o aikidoca procura, estático ou em movimento, uma posição de equilíbrio, bem assente no solo através de dois (normalmente os pés) ou mais pontos de apoio (os pés e os joelhos, quando em suwari waza). Associa-se vulgarmente a ideia de equilíbrio do aikidoca à figura de esfera, que representa também o seu mundo, o seu universo. A figura circular assume no mundo do aikido uma simbologia muito especial, pois associa-se à harmonia, à totalidade, à perfeição. Grande parte das técnicas do

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repertório do aikido socorre-se de movimentos circulares, que permitem o redirecionamento da força do oponente e dominá-lo sem o magoar. Outra figura geométrica importante neste mundo é o triângulo: quando de joelhos, as pernas do aikidoca assumem a posição triangular (os pés, juntos, formam um dos vértices, enquanto cada um dos joelhos corresponde aos outros dois); a movimentação do aikidoca, principalmente no que toca às esquivas, é feita seguindo as linhas do triângulo. Embora um aikidoca experimentado esteja preparado para enfrentar vários oponentes, a sua formação deve começar numa situação de um para um, e neste contexto vamos cingir-nos a essa realidade. Na verdade, a designação mais adequada para aquele que enfrenta o aikidoca não é oponente, nem adversário, mas colaborador, pois sem ele o aikidoca não pode executar a técnica. Além disso, é importante por diversas razões que o aikidoca passe tanto tempo de treino a executar a técnica como a servir de colaborador para o outro praticante aplicar a técnica em si. Desta forma, o aikidoca pode tomar perfeita consciência da eficácia da técnica, que pode ir aprimorando. Designa-se “tori” aquele que executa a técnica e “uke” aquele que ataca, permitindo ao seu parceiro a execução da técnica. Ao longo do treino, os praticantes devem alternar o seu papel como tori e uke. Ambos os praticantes podem treinar em pé (tachi waza), ou ambos de joelhos (suwari waza), ou ainda o tori de joelhos e o uke em pé (hanmi handachi waza). Parte integrante do conceito de equilíbrio e harmonia é a distância de segurança que deve ser mantida no início, meio e fim de cada técnica (mahai). O uke pode atacar de diversas maneiras: de mãos vazias ou com objetos cortantes ou contundentes. No treino, usam-se normalmente três armas de madeira: o bokken (sabre), o jo (bastão/vara com cerca de 1,28 cm) ou o tanto (punhal). O ataque pode ser vertical, de cima para baixo, em direção à cabeça do tori (shomen uchi); lateral, no sentido descendente, em direção à parte lateral da cabeça; frontal, sobe a forma de murro – com mão vazia – ou golpe de arma direto (tsuki), que pode ser executado a diversos níveis (da zona ventral à zona do rosto). O ataque pode concretizar-se também com o uke, posicionado frente ao tori, agarrando um pulso deste (em espelho – katate dori – ou cruzado – katate kosa dori),

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agarrando ambos os pulsos do uke (ryote dori), agarrando um dos pulsos do uke com ambas as mãos (katate ryote dori ou morote dori). Todos estes ataques, que implicam a preensão dos pulsos, podem ser executados sobre diversos pontos das mangas, ao nível dos ombros e ao nível do peito, agarrando as abas do casaco, e também podem ser executados por trás. Podem ainda ser aplicados ataques combinados, por exemplo agarrando com uma mão ao nível do ombro e com a outra aplicando um ataque vertical descendente dirigido à cabeça. Além disso, são ainda possíveis os ataques sob a forma de pontapé. Para fazer frente a cada um destes ataques, o tori pode recorrer a diversas técnicas de imobilização e de projeção do uke, a maior parte das quais implica a ida ao tapete deste último, pelo que é importante que o uke domine as técnicas de amortecimento da queda e os rolamentos (mae ukemi – rolamento à frente – e ushiro ukemi – rolamento atrás). Do conjunto de técnicas ao dispor do aikidoca, centrar-nos-emos agora naquelas que terminam com a imobilização do uke e que facilmente podem ser adaptadas para a algemação segura de um suspeito – segura tanto para o agente da lei como para o suspeito. Enfrentando um ataque, o aikidoca deve antes de mais nada preocupar-se com a esquiva, saindo da linha de kensan (linha de trajetória do ataque) ou interceptando-o numa fase incipiente, antes que se torne perigoso, através da antecipação. A antecipação, fruto de um treino continuado que permite o aprimoramento da atenção do aikidoca ao que o rodeia, pode tornar-se num elemento decisivo para a resolução de uma potencial situação de conflito sem deixar contretizar-se o confronto. Boa parte das técnicas conducentes à imobilização de um atacante (e mesmo do seu desarme, caso a situação o exija), baseia-se num conjunto de cinco princípios organizados por Morihei Ueshiba designados, com muita propriedade, como primeiro, segundo, terceiro, quarto e... quinto (mais simples era impossível)! Ou, no equivalente transliterado do japonês, ikkyo, nikyo, sankyo, yonkyo e gokyo. Assentes no princípio da não-resistência e no aproveitamento do impulso ou da força do atacante, estas técnicas permitem a imobilização articular do mesmo a partir de diversos tipos de ataques e podem ser executadas de duas formas, ambas implicando o seu desequilíbrio: rompendo o centro de gravidade do uke para a frente (omote) ou

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rodando sobre o seu eixo para trás de si (ura). Dependendo do lado de que provém o ataque, a técnica pode ser executada tanto para a direita como para a esquerda. Para efeitos de exemplificação, embora como já ficou registado cada uma destas técnicas possa ser usada como resposta a diversos tipos de ataque, passaremos a descrever sumariamente cada técnica em relação a um ataque. À falta de melhor ordenação, comecemos pelo primeiro: 1. Ikkyo (primeio principio – ressecção dum ataque direto com desvio lateral e consequente imobilização do oponente) 2. Nikyo (segundo principio – receçao de um ataque com consequente imobilização do pulso com torção do oponente) 3. Sankyo (terceiro principio – receção dum ataque direto com desvio lateral e consequente imobilização do oponente com bloqueio do cotelo da mão desviando da linha de ataque) 4. Yonkyo (quarto principio – receção dum ataque direto com desvio lateral e consequente imobilização pulso do oponente na zona do radio/cubito) 5. Gokyo (primeio principio – receção dum ataque direto com desvio lateral e consequente imobilização do oponente pressupondo a utilização duma faca/punhal libertando esta da poder ser utilizada) 6. Hiji Kime Osae (libertação dum ataque de agarro lateral na roupa junto ao ombro por forma a permitir, não só a libertação e imobilização do oponente como também o controlo do mesmo) 7. Ude Garami (imobilização com ataque de braco (agarro ou não) e consequente controlo do oponente até este ficar com p eito no chão) 8. Kote Gaeshi Osae (receção de um ataque com consequente torção do pulso com bloqueio da mão pressupondo a existência dum punhal e torcendo até a mesma caia para o solo mantendo a mao sempre imobilizada) 9. Shiho Nage Osae (receção de qualquer ataque recebendo-o frontalmente e controlando o oponente passando por baixo do braco dele e imiblizando-o ate chegar ao solo sem que o mesmo consiga escapar-se) 10. Irimi Nage Osae (receção de qualquer ataque com imobilização do pescoço do oponente)

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CAPÍTULO V: PLANO DE FORMAÇÃO Apresenta-se de seguida um plano de formação modular de elementos das forças policiais destinado ao desenvolvimento de competências de atuação harmoniosa e segura perante a necessidade de imobilizar e apreender um suspeito, atuando no respeito pelos direitos humanos e pela integridade física de todos os envolvidos. A modularidade deste plano, baseado no espírito e técnicas do aikido, permitirá uma calendarização flexível, adequada às necessidades e disponibilidade de formandos e formador, calendarização essa que poderá concretizar-se quer de forma intensiva e concentrada em alguns dias sucessivos, quer de forma mais prolongada no tempo, por exemplo em horário pós-laboral ou em dias específicos da semana ou fim-de-semana. Prevemos neste plano três módulos distintos de formação, para os quais se definem os destinatários, a duração, os pré-requisitos, uma súmula dos conteúdos e o material necessário. Neste contexto, consideramos adequada a dispensa de apresentação das razões justificativas para este plano de formação, uma vez que isso é feito de forma copiosa em momentos anteriores do trabalho. O perfil do formador deve compreender a habilitação e a experiência de treinador de aikido e conhecimentos aprofundados do funcionamento das forças de segurança.

MÓDULO I – Formação básica em técnicas não invasivas de imobilização – Nível 1

Destinatários Agentes da autoridade / elementos das forças policiais

Duração 40 horas

Pré-requisitos Nenhum

Conteúdos . Atitude mental do agente de autoridade . O que são técnicas não invasivas de imobilização

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. Aplicação de técnicas contra preensão dos pulsos . Aplicação de técnicas contra preensão dos ombros pela frente e pelas costas . Aplicação de técnicas contra ataques sem armas

Sob os seguintes ataques (efetuados sem armas): - Katate dori - Katate kosa dori - Morote dori - Ryote dori - Katadori - Shomen uchi - Yokomen uchi - Tsuki

aplicar estas técnicas: - Ikkyo (omote e ura) - Nykyo (omote e ura) - Shiho nage osae (omote e ura) - Irimi nage osae - Kote gaeshi osae

Material necessário . Sala espaçosa (ginásio ou similar) . Tatami . Roupa confortável, adequada à atividade física / dogi . Algemas

MÓDULO II – Formação básica em técnicas não invasivas de imobilização – Nível 2

Destinatários Agentes da autoridade / elementos das forças policiais

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Duração 40 horas

Pré-requisitos Frequência, com aproveitamento, do Módulo I

Conteúdos . Aplicação de técnicas contra preensão dos pulsos . Aplicação de técnicas contra preensão dos ombros pela frente e pelas costas . Aplicação de técnicas contra ataques sem armas

Sob os seguintes ataques (efetuados sem armas): - Katate dori - Katate kosa dori - Morote dori - Ryote dori - Katadori - Shomen uchi - Yokomen uchi - Tsuki

aplicar estas técnicas: - Sankyo (omote e ura) - Yonkyo (omote e ura) - Gokyo (omote e ura) - Hiji kime osae - Ude garami osae

Material necessário . Sala espaçosa (ginásio ou similar) . Tatami

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. Roupa confortável, adequada à atividade física / dogi . Algemas

MÓDULO III – Formação avançada em técnicas não invasivas de imobilização Destinatários Agentes da autoridade / elementos das forças policiais

Duração 40 horas

Pré-requisitos Frequência, com aproveitamento, do Módulo II

Conteúdos . Aplicação de técnicas contra ataques com objetos contundentes . Aplicação de técnicas contra ataques com armas brancas . Aplicação de técnicas contra armas de fogo em contacto e em curtas distâncias

Material necessário . Sala espaçosa (ginásio ou similar) . Tatami . Roupa confortável, adequada à atividade física / dogi . Algemas

CONCLUSÕES Cremos ter conseguido atingir os objetivos que nos propusemos no início do trabalho: apresentámos sucintamente o aikido, demonstrámos a pertinência da utilização desta arte como instrumento dos agentes das forças de segurança quer pelas suas características intrínsecas, centradas na harmonia e no bem-estar de todos, quer pela análise feita às experiências dessa utilização em diversos países, e propomos um plano de formação que, embora ambicioso, consideramos exequível, sobretudo pela sua

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modularidade, que lhe confere uma flexibilidade que permite a sua adaptação a diferentes exigências, principalmente as de disponibilidade de calendário. Tendo em consideração a pertinência desta arte marcial poderá ser implementada em qualquer força de segurança pois defende os ideias dos dias de hoje em qu o menor uso da força prefere á força bruta na detenção e controlo de um individuo agressivo ou que necessite de ficar imobilizado por um período de tempo.

BIBLIOGRAFIA Bull, Wagner. Aikido O Caminho da Sabedoria - A Técnica. Editora Pensamento, 2004. Hyodo, Rodger (2010). Adjusting Though Reflex: Romancing Zen. Pranin, Stanley (2008). "Ikkyo". Encyclopedia of Aikido. (disponível em http://www.aikidojournal.com/encyclopedia) Ueshiba, Kisshomaru. A arte do aikido. Editora Pensamento-Cultrix, 2006. http://en.wikipedia.org/wiki/Aikido http://en.wikipedia.org/wiki/Morihei_Ueshiba http://en.wikiquote.org/wiki/Morihei_Ueshiba http://www.aikidobc.com/tokyo-riot-police/ http://www.aikidocwb.com.br/aikido_policial_14.html http://www.aikidojoinville.com.br/defense.php http://www.japantimes.co.jp/community/2010/04/27/issues/battered-briton-survives- aikido-ordeal/#.VS6_lXXd-kB http://www.kogainstitute.com/about/sensie/ http://www.santosaikikai.com.br/oque-e-aikido http://www.yoshinkan.net/03contentsE/course-sensyuE.html https://antoniogalrinho.wordpress.com/aikido/tecnica-e-pedagogia/

ANEXO I (descrição pormenorizada das técnicas base deste modelo de treino)

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Ikkyo (primeio principio – receção dum ataque direto com desvio lateral e consequente imobilização do oponente) Perante um ataque vertical dirigido à cabeça (shomen uchi) executado com a mão direita, o tori, mantendo os braços esticados, com as mão abertas, desvia o golpe do uke para a sua direita empurrando o pulso direito do uke com o seu pulso direito, descrevendo um arco no sentido horário com as mãos, ao mesmo tempo que se desvia da linha de kensan para a direita, avançando um passo com o pé direito. Chegando com a mão direita sensivelmente à posição entre as quatro e as cinco horas, esta coloca-se por trás do pulso do uke, puxando, ao mesmo tempo que a mão esquerda agarra o braço logo atrás do cotovelo, empurrando, formando assim um efeito de alavanca, com o cotovelo do uke abaixo do nível da sua mão. Então, mantendo os braços esticados, de forma a ser o corpo a trabalhar e não a força braçal, rompe-se o centro de gravidade do uke avançando um passo com o pé esquerdo na sua direção e, logo a seguir, sempre numa movimentação triangular, dá-se um passo com o pé direito, para a direita, baixando ao mesmo tempo o centro de gravidade, para forçar o uke a ir ao tapete. Este conjunto de movimentos, executados de forma sequencial e fluida, permitem o completo desequilíbrio do oponente que, nesta altura, se encontra no solo, de barriga para baixo, submetido ao peso do tori colocado estrategicamente sobre o seu cotovelo. Esta é a variante omote, com execução pela frente do uke. Na versão ura, perante o mesmo tipo de ataque, o tori deve interceptá-lo um pouco antes, avançando um passo com o pé esquerdo, segurando o pulso direito do uke com a mão direita e agarrando logo atrás do cotovelo com a mão esquerda, de forma que o seu próprio cotovelo esquerdo se aproxime das costelas do oponente. De seguida, com fluidez, deve rodar para fora (recuando o pé direito), ao mesmo tempo que, aplicando uma ligeira torção no pulso do uke e colocando peso no seu cotovelo, faz descer o seu braço, de forma progressiva, até ao chão. A imobilização final é semelhante à da versão omote, com, o peso do corpo estrategicamente colocado sobre o cotovelo do uke. Nikyo (segundo principio – receçao de um ataque com consequente imobilização do pulso com torção do oponente) O princípio da movimentação circular, com as mãos abertas e os braços esticados, prescrito para o primeiro princípio está presente nos restantes quatros, que se distinguem

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do primeiro e entre si essencialmente pelos pontos articulares sobre os quais é exercida a pressão para imobilizar. Assim, perante o mesmo tipo de ataque, a execução omote do segundo princípio distingue-se da execução omote do primeiro pelos seguintes pormenores: quando a mão direita chega, no seu movimento circular horário, ao tal ponto entre as quatro e as cinco horas, em vez de se colocar por trás do pulso do uke, deve agarrar a mão direita do uke por trás, pressionando na direção uma da outra as articulações da base da falange do mindinho e do polegar, ao mesmo tempo que força a mão do uke para dentro, formando um ângulo de cerca de 90 graus da mão em relação ao braço; a imobilização final, ao invés de ser executada com o braço do uke esticado no chão, é executada com o braço na vertical, pelas costas do uke, e pressionando as articulações do pulso e do cotovelo para dentro. Na forma ura, em vez de se agarrar o braço direito do uke pelo cotovelo com a mão esquerda, deve levar-se esta ao pulso direito e, aproveitando o movimento descendente do braço do uke para o desequilibrar, agarrar a mão direita por fora com a mão direita, conforme descrito para a versão omote. Depois, deve subir-se a mão direita do uke e aplicar uma adução ao pulso, provocando uma compressão do osso pisiforme (pequeno osso da mão) e a ulna (osso do antebraço), o que pode ser feito simplesmente com as mãos ou com o apoio do tronco ou mesmo da cabeça. Esta é generalizadamente reconhecida uma das pressões mais dolorosas a que o uke pode ser sujeito, pois estimula os nervos periostais, e pode mesmo conduzir a lesões, especialmente se executada por quem não saiba o que está a fazer e sem supervisão. A dor resultante dessa pressão provoca o desequilíbrio do uke (e é apenas isso que o aikidoca deve procurar, e não infligir dor), o que é aproveitado para o submeter, levando-o ao tapete com rotação por trás, e para o imobilizar conforme descrito para a forma omote. Sankyo (terceiro principio – receção dum ataque direto com desvio lateral e consequente imobilização do oponente com bloqueio do cotelo da mão desviando da linha de ataque) Sankyo, ou terceiro princípio, pode também ser executado como resposta a vários ataques. Suponhamos que o ataque consiste em o oponente agarrar o nosso pulso direito com a sua mão esquerda: neste caso, devemos, ao mesmo tempo que saímos da linha de ataque ligeiramente para a a nossa direita, descrever um círculo em sentido antihorário

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com a mão direita, aberta, e mantendo o braço esticado. Chegando com a mão sensivelmente à posição das nove horas, podemos segurar na mão esquerda do uke com e nossa mão esquerda, pressionando a base do seu polegar com o nosso polegar esquerdo e a base do mindinho com os restantes dedos, o que nos permite libertar a mão direita, com a qual podemos segurar na mão do uke, colocando o polegar direito sobre a base do polegar esquerdo do uke e os restantes dedos sobre a sua palma, o que nos permite aplicar uma torção para dentro e, descrevendo um arco como quem corta com a espada, entrar para a frente e levar o uke ao tapete, imobilizando-o torcendo a mão para dentro e para cima. A versão ura distingue-se da anterior pelo facto de, ao invés de entrar para a frente do uke, se rodar para trás deste, após provocar-lhe o desequilíbrio fazendo-o recuar com a rotação do nosso corpo para a direita e, eventualmente, aplicar-lhe um atemi (golpe) com a mão esquerda em direção à cara, apenas com o propósito de o desequilibrar. Yonkyo (quarto principio – receção dum ataque direto com desvio lateral e consequente imobilização pulso do oponente na zona do radio/cubito) Enfrentando uma situação, por exemplo (pois a técnica pode ser aplicada como resposta a outros ataques), em que o atacante segura com a sua mão direita a nossa mão direita (katate kosa dori), a aplicação do quarto princípio concretiza-se através da descrição de um círculo no sentido horário com a nossa mão direita, mantendo o braço esticado e por ação da cintura, o que permite a exposição do flanco direito do uke e a utilização da nossa mão esquerda para, segurando por trás do cotovelo direito do uke e mantendo o seu braço dobrado, o submeter, o que permitirá que avancemos para ele e seguremos com a nossa mão esquerdo o interior do seu pulso direito, aplicando a base do nosso indicador, esticado, sobre o nervo radial do uke. A imobilização pode ser feita, mantendo a pressão sobre o nervo radial, encostando o cotovelo do oponente ao chão e colocando o peso do nosso joelho esquerdo sobre o ombro do uke. A versão ura desta técnica distingue-se apenas da descrita no parágrafo anterior (omote) pelo facto de se proceder a uma rotação para trás do uke, em vez de avançar para a frente rompendo a seu centro de gravidade. Gokyo (primeio principio – receção dum ataque direto com desvio lateral e consequente imobilização do oponente pressupondo a utilização duma faca/punhal libertando esta da poder ser utilizada)

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Gokyo, o quinto princípio, é particularmente útil para imobilizar um atacante armado, por exemplo com punhal. Supondo que enfrentamos um ataque frontal comum golpe de punhal dirigido à altura do peito executado com a mão direita, saímos da linha da ataque recuando e rodando o pé direito, enquanto desviamos o braço atacante encostando o nosso pulso ao interior do pulso do aponente. Segura-se de seguida com a mão direita a mão direita do uke, pressionando a base do polegar direito com o nosso polegar e a base do mindinho com os restantes dedos, faz-se uma rotação no sentido horário e, segurando por trás do cotovelo direito com a nossa mão esquerda, mantendo os braços esticados, avançamos, rompendo o equilíbrio do uke e levando-o ao tapete, após o que se procede à imobilização dobrando o seu cotovelo e encostando as costas da mão ao chão. Esta posição, com uma ligeira pressão sobre o cotovelo, obriga à abertura da mão, o que proporciona o desarme. A versão ura distingue-se da anteriormente descrita por uma rotação para fora do oponente, em vez de se avançar em diração ao seu centro de equilíbrio, após a preensão do seu braço logo atrás do cotovelo. Hiji Kime Osae (libertação dum ataque de agarro lateral na roupa junto ao ombro por forma a permitir, não só a libertação e imobilização do oponente como também o controlo do mesmo) Perante, por exemplo, um atacante que nos agarra com a mão esquerda na roupa junto ao ombro direito, recuamos rodando o pé direito, enquanto, para o distrair, executamos um golpe em direção à sua cara com a mão esquerda, recuando-a logo de seguida ao longo do braço esquerdo do uke até agarrarmos a sua mão pelo lado de fora, pressionando o polegar sobre a base do seu polegar e os restantes dedos sobre a base do mindinho e desenhando um movimento circular no sentido antihorário, auxiliando esse movimento com a nossa mão direita empurrando logo atrás do cotovelo esquerdo do oponente. No final dessa rotação, a nossa mão direita desliza para o pulso esquerdo do uke, enquanto colocamos o seu braço entre o nosso corpo e o nosso braço direito. A imobilização é feita através da elevação da mão, com a articulação do pulso fechada, e a descida do nosso centro de gravidade, com inclinação do ombro direito, o que obriga à submissão do oponente. Ude Garami (imobilização com ataque de braco (agarro ou não) e consequente controlo do oponente até este ficar com p eito no chão)

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Mediante um ataque consistindo numa preensão de ambos os pulsos, por exemplo (a técnica pode aplicar-se como resposta a outros ataques), avançamos o pé de trás (suponhamos o esquerdo) e a mão do mesmo lado por baixo do braço oposto do uke, subindo a mão, dobrando o cotovelo e puxando para nós, provocando o estiramento do braço do oponente (o esquerdo, neste exemplo). Este movimento provoca desconforto no uke, desconforto esse que deve ser aproveitado rodando o braço direito no sentido antihorário, recuando e rodando o pé esquerdo e envolvendo o braço do uke, que é levado com esse movimento ao chão e imobilizado de ventre para baixo. Kote Gaeshi Osae (receção de um ataque com consequente torção do pulso com bloqueio da mão pressupondo a existência dum punhal e torcendo até a mesma caia para o solo mantendo a mao sempre imobilizada) Supondo que nos encontramos numa posição de alerta com o pé esquerdo à frente e enfrentamos um ataque direto à nossa região abdominal, rodamos sobre o nosso pé esquerdo para fora, o que nos permite agarrar com a mão esquerda o pulso do atacante e desequilibrá-lo aproveitando o impulso da rotação de esquiva para o empurrar. Saímos então com o pé esquerdo para fora e, usando a mão direita sobre os dedos esquerdos do uke descrevendo uma onda para lhe enrolar a mão, entramos para ele, empurrando o seu cotovelo em direção ao seu umbigo, o que provoca a sua queda de costas. Sempre sem largar o seu pulso, mantemos o seu braço dobrado e empurramos com a mão direita o seu cotovelo em direção à sua orelha, o que o força a virar-se sobre a sua barriga. Depois, podemos imobilizá-lo simplesmente colocando o nosso joelho esquerdo sobre o início do seu antebraço. Shiho Nage Osae (receção de qualquer ataque recebendo-o frontalmente e controlando o oponente passando por baixo do braco dele e imiblizando-o ate chegar ao solo sem que o mesmo consiga escapar-se) Perante um ataque lateral dirigido à nossa cabeça – yokomen uchi – , por exemplo (pois esta técnica pode também ser aplicada como resposta a outros tipos de ataques), executado com a mão esquerda, devemos responder avançando e erguendo o braço direito de forma a desviar o braço atacante empurrando o seu pulso com o nosso pelo interior, ao mesmo tempo que aplicamos um atemi dirigido à face do atacante com a nossa mão esquerda, apenas para o distrair. O nosso pulso direito, que iniciou o movimento afastando o pulso esquerdo do uke, deve descrever um círculo no sentido

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horário, ao mesmo tempo que a nossa mão esquerda deve agarrar o interior do pulso esquerdo entretanto exposto do uke. Mantendo os nossos braços esticados, devemos então passar por baixo do braço esquerdo do uke e rodar sobre os nossos pés para inverter a direção da nossa posição, o que nos permite segurar o pulso do uke dobrado sobre o seu ombro. Resta-nos puxar em direção ao nosso centro de gravidade, o que provoca a ida ao tapete do atacante, que podemos imobilizar mantendo o seu pulso dobrado junto do seu ombro. Irimi Nage Osae (receção de qualquer ataque com imobilização do pescoço do oponente) Quando um atacante nos agarra o pulso direito com a sua mão esquerda (de novo, é apenas um exemplo, pois a técnica pode ser aplicada contra outros ataques), podemos aplicar esta técnica saindo da linha de ataque e aproveitar o impulso do ataque para, colocando o nosso pulso direito sob o nosso pulso esquerdo e sobre o pulso direito do atacante, puxar o braço direito do atacante, ao mesmo tempo que, colocando-nos ao lado dele, usamos a mão esquerda, entretanto liberta, para puxar a sua cabeça para junto do nosso ombro direito. Invertendo entretanto o sentido do nossa rotação, fechamos o braço direito sobre o pescoço do uke, sobre as costas do qual entretanto nos colocámos, imobilizando-o com uma pressão lateral no rosto.

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