X Simpósio de Pesquisa e Inovação 21 a 25 de outubro de 2019

CADEIA DE PRODUÇÃO DO MORANGO NO DISTRITO COSTAS DA MANTIQUEIRA, /MG SOB A PERSPECTIVA DA ECONOMIA DOS CUSTOS DE TRANSAÇÃO

BONIFÁCIO, Thatyelle Cristina 1 ; RIBEIRO, Carlos Henrique Milagres2; PEREIRA, Cláudia Maria Miranda de Araújo3; SOUZA, Júlio César Mendes de4.

1Estudante de Iniciação Científica – IF Sudeste MG – Campus Barbacena. [email protected] – IF Sudeste MG – CampusBarbacena. 3Orientador(a) – IF Sudeste MG – Campus Barbacena. claudia.miranda@ifsu destemg.edu.br 4Colaborador (a) – IF Sudeste MG – Campus Barbacena.

RESUMO: O cultivo do morango é importante na agricultura familiar, responsável por gerar emprego e renda. A Economia dos Custos de Transação (ECT), utilizada para analisar a cadeia agroindustrial permite avaliar cada ação ao longo da cadeia, como um contrato entre os agentes envolvidos, trazendo eficiência nas possibilidades contratuais. Objetivou-se caracterizar, compreender e identificar o funcionamento da cadeia produtiva do morango, no distrito Costas da Mantiqueira pertencente ao município de Barbacena - , bem como as relações contratuais existentes, sob a perspectiva da ECT. Aplicou-se um questionário aos produtores familiares de morango. Após análise do mesmo, observou-se que as transações ex ante envolvidas, apesar de serem informais, apresentam frequência recorrente, sendo realizadas com ativos mistos, a governança é bilateral e o contrato é classificado como relacional. Já as transações ex post possuem ativos não específicos, governança via mercado e contrato clássico.

Palavras-chave: Cadeia Produtiva, Economia dos Custos de Transação, Agricultura Familiar.

CATEGORIA: Nível Superior (PIBIC e PIBITI).

ÁREA: Ciências Agrárias e Ciências Ambientais.

INTRODUÇÃO: A produção de morangos no Brasil possui grande importância social e nos últimos anos está incorporando tecnologias que favorecem a produção de frutos de melhor qualidade (ANTUNES; JÚNIOR, 2007). Veiga Júnior (2006) destaca Minas Gerais como o maior produtor de morangos no Brasil, sendo que essa produção fica concentrada na região sul do Estado, respondendo pela produção de 58,5 % do mercado. Destaca também os produtores de Barbacena, Alfredo Vasconcelos e , localizados na mesorregião Campo das Vertentes, que representam a segunda, terceira e oitava maiores ofertas do estado de Minas Gerais, respectivamente, com uma participação de 41,5% do total no período de 2000 a 2004. Segundo Calegario et al. (2014), o morango é importante produto da agricultura familiar, responsável por gerar emprego, renda e manter o homem do campo na sua localidade, capaz inclusive de ajudar os municípios produtores a terem uma projeção positiva de sua imagem quando se associa o produto com uma X Simpósio de Pesquisa e Inovação 21 a 25 de outubro de 2019

boa qualidade. Considerando o enfoque sistêmico para o complexo agroindustrial, pode-se utilizar a Teoria da Economia dos Custos de Transação para analisar uma determinada cadeia agroindustrial. Segundo Williamson (1996) a Economia dos Custos de Transação (ECT) é uma teoria de enfoque microanalítico, que se constitui pela análise do arranjo institucional, no qual as firmas utilizam de diferentes estruturas de governança para coordenar suas transações (RODRIGUES et al., 2018). Vargas (2015) explica que o foco da teoria dos custos de transação é obter resultados eficientes, levando em consideração o comportamento dos indivíduos em uma organização e a relação da mesma com o meio ao qual está inserida. Portanto, as instituições são estratégias construídas socialmente, visando diminuir a incidência de comportamentos oportunistas de cunho egoísta. Azevedo (2000) citado por Vargas (2015) completa que ao conhecer os custos de transação ex ante e ex post é possível traçar meios de reduzi-los e, assim, aumentar a eficiência da firma.

OBJETIVOS: Caracterizar, compreender e identificar o funcionamento da cadeia produtiva do morango, no distrito Costas da Mantiqueira pertencente ao município de Barbacena em Minas Gerais, bem como as relações contratuais existentes entre os agentes envolvidos ao longo dessa cadeia produtiva.

MATERIAL E MÉTODOS: O presente trabalho foi realizado no distrito Costas da Mantiqueira, pertencente à Barbacena, Minas Gerais. A abordagem da pesquisa foi do tipo mista, pois incorporou elementos de origem qualitativa e quantitativa. Foi realizado um levantamento bibliográfico, documental e estudo de caso, aplicado aos agricultores familiares. Em campo foi realizada uma visita a cada agricultor familiar da amostra, onde os mesmos responderam questões abertas, fechadas e de múltipla escolha, onde suas respostas, analisadas em percentual, incluíam informações sobre as características da atividade, tipos e níveis de especificidade dos ativos, aspectos presentes nas transações, ambiente institucional e logística, a qualificação dos recursos humanos, a infraestrutura básica, qualidade do produto, tendências de mercado, acesso a informação, tecnologias adotadas, serviços pós-venda aos clientes, atores locais públicos e privados, capacitações em desenvolvimento do produto e políticas públicas que possam estimular o desenvolvimento dessas capacitações. A amostra escolhida para se aplicar o questionário seguiu critérios de acessibilidade e tipicidade, ou seja, facilidade de acesso aos agricultores familiares produtores de morango, e dos mais representativos dessa atividade produtiva, sendo composta por 10 agricultores.

RESULTADOS E DISCUSSÕES: A Economia dos Custos de Transação se baseia na análise dos atributos de especificidade da transação. De acordo com Williamson (1985) citado por Pereira (2006) existem seis: física, local, humana, dedicada, relacionada com a marca e temporal. Em relação aos atributos físicos, um dos maiores investimentos na produção X Simpósio de Pesquisa e Inovação 21 a 25 de outubro de 2019

de morango é o inicial. Dentre eles podem-se citar as instalações de túnel baixo ou estufas, que de acordo com a pesquisa, são utilizados respectivamente, por 60 e 40% dos produtores entrevistados. Desses 40% que utilizam estufas, 75% dos produtores adotaram o slab, “um saco de cultivo, muito resistente, dupla face, para atender uma nova necessidade do mercado atual. Pode ser cheio com o substrato de sua preferência” (MF RURAL, 2018). Os 25% restantes, ainda plantam no chão, utilizando mulching, que de acordo com Ueno (2014), citado por Vignolo (2015), é uma tecnologia que objetiva cobrir os canteiros de morangueiro, protegendo o solo, mantendo sua umidade, melhorando o aproveitamento de fertilizantes e qualidade do solo, reduz a infestação de plantas invasoras e evita o contato direto do fruto com o solo. Dos 60% entrevistados, que adotaram o túnel baixo, todos também usam o mulching. Apesar de estes equipamentos serem utilizados em outras culturas, para o morango se torna extremamente necessário o uso de estufas ou túnel baixo, pois de acordo com Vingnolo (2015) proporcionou maior qualidade às frutas do morangueiro comparadas ao cultivo em céu aberto, fazendo com tenha alta especificidade nesse atributo. A compra das mudas é um fator limitante para o sucesso da produção, e de acordo com os dados da pesquisa, provém em sua totalidade, de outros países, como o Chile. Porém os produtores compram em lojas nacionais da região, que revendem essas mudas importadas. Cada produtor possui galpões para o beneficiamento do produto (limpeza) e embalagem, dentro de suas propriedades, que é próxima ao local de plantio de morangos. O produto é levado em caixas até estes galpões em carrocerias de tratores ou se for muito perto, pelos próprios produtores. Devido ao fato desses galpões serem utilizados para beneficiar outras culturas plantadas pelos produtores, a especificidade local é baixa. O morango é um produto de alta perecibilidade e devido à distância do mercado, os produtores têm a preocupação com a qualidade do produto final. 100% da produção de morangos são destinadas para o CEASA de , que fica a 87,2 km do local da produção. Em casos de alta produção, o excedente é mandado para o CEASA de , neste caso perfazendo uma distância no total de 189,4 km. Em relação à qualidade, os produtores procuram fazer a colheita no início do dia (manhã) ou tardezinha, quando o tempo está mais fresco, realizando a colheita de duas a três vezes por semana. Embalam em galpões e deixam as cumbucas nos mesmos para serem transportados no dia seguinte, já que não possuem câmaras frias. O transporte é realizado em um caminhão não refrigerado, pertencente a um dos produtores da região, que por ter a produção pequena, completam a carga com a mercadoria dos outros. 100% dos produtores afirmam que desta maneira o produto chega ao ponto de venda em ótima qualidade. Outros cuidados são tomados, como aplicação de cálcio antes da colheita, conservando o fruto por mais tempo. E de acordo com esses dados, pode-se classificar a especificidade temporal como alta. Em relação à especificidade humana, pode ser caracterizada como alta, pois apesar da mão-de-obra ser 100% familiar, a mesma já está acostumada com os processos realizados na produção, tornando-se especialista. Devido à escassez de mão-de-obra, 90% dos produtores passam dificuldades quando a produção X Simpósio de Pesquisa e Inovação 21 a 25 de outubro de 2019

aumenta. Portanto nessa hora, os produtores se empenham em contratar, não passando de um trabalhador por propriedade, que nem sempre sabe como realizar o processo, já que o morango é um produto sensível, necessitando de técnica e muito cuidado na hora de sua colheita, sendo este um dos motivos por restringir o tamanho da área plantada. Em relação à especificidade dedicada, neste caso pode ser classificada como baixa, já que todos os produtos têm destino ao CEASA, onde os produtores não possuem um comprador específico. Considerando à especificidade marca, 60% dos produtores entrevistados afirmaram que vendem para alguns compradores específicos, pois estão familiarizados com os produtores e o produto. Mas nenhum deles utilizam embalagens que proporcione aos compradores lembrarem a origem do produto adquirido, o que caracteriza a especificidade baixa da marca. Através do questionário aplicado, foi relatada a existência de uma associação no distrito, conhecida como Organização dos Amigos, Moradores e Produtores Rurais dos Costas – OMOPRUC. Foi criada em 2005, com intuito de desenvolver o cooperativismo, associativismo e expandir as relações comercias entre produtores e instituições. Inicialmente tinha a contribuição de 100% dos produtores entrevistados. Mas 30% deles saíram da mesma já que alegam haver seletividade dos contemplados com os benefícios trazidos por ela, o que gerou grande insatisfação entre os associados. E destes 30%, nenhum tem vontade de participar de outras.

Gráfico 1 – Ativos Ex ante e Ex post da Cadeia Produtiva de morangos no distrito Costa da Mantiqueira (Agosto 2018 a Julho de 2019). Fonte: dados da pesquisa.

CONCLUSÕES: Os contratos envolvidos na cadeia produtiva do morango relacionados às transações ex ante são informais, apresentam frequência recorrente e são realizados com ativos mistos, sendo classificados nesse caso como relacionais. A estrutura de governança é tipo bilateral, dando ênfase à necessidade de se lidar com imprevistos decorrentes da incompletude contratual. Já em relação às transações ex post, os contratos também são informais, a especificidade média encontrada foi baixa e a frequência recorrente, já que o produto é vendido de 2 a 3 vezes por semana no CEASA e é muito perecível, caracterizando os contratos como clássicos e a estrutura de governança via mercado. Porém, a cadeia produtiva do morango nos Costas da Mantiqueira ainda está em transformação, e seria interessante que a associação OMOPRUC tivesse maior X Simpósio de Pesquisa e Inovação 21 a 25 de outubro de 2019

participação, colaborando em favor do desenvolvimento de melhores relações contratuais entre os agentes ex ante e ex post da cadeia.

Agradecimentos: IF Sudeste MG – Campus Barbacena, CAPES.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: ANTUNES, L. E. C.; JÚNIOR, C. R. Caracterização da produção de morangos no Brasil. Disponível em: . Acesso em: 28 fev. 2019. CALEGARIO, F.F.; IWASSAKI, L. A.; SATO, M. E.; COSTA, H.; ZAWADNEAK, M. A. C. Produção integrada. Informe Agropecuário. Belo Horizonte, v. 35, n. 2 79, p.11- 21, mar./abr., 2014. Disponível em: . Acesso em: 12 abr. de 2018. MF Rural. Saco de cultivo slabsemi-hidropônico. Disponível em: . Acesso em: 22 jun. 2019. PEREIRA, C. M. M. A. Referencial teórico da nova economia das instituições. Pontilhão, 2006. RODRIGUES, A. K. S.; PEREIRA, C. M. M. de A.; SILVA, H. A. da; NOVÔA, N. F. Cadeia de produção de cenoura em Carandaí/MG sob a perspectiva da Economia dos Custos de Transação. Revista Sodebras. Disponível em: . Acesso em: 27 fev. 2019. VARGAS, L. C. de M. Economia Institucional: Uma Análise sobre os Custos de Transação no Brasil. Disponível em: . Acesso em: 19 Dez. 2018. VEIGA Júnior, W.G. de. O morango e sua evolução comercial. Belo Horizonte: CEASAMINAS, 2006. 14 p. Disponível em: . Acesso em: 15 de abril de 2018. VIGNOLO, G. K. Produção e qualidade de morangos durante dois ciclos consecutivos em função da data de poda, tipo de filme do túnel baixo e cor do mulching plástico. Pelotas. Disponível em: . Acesso em: 01 jun. 2019.