ALAIC 29.Indd

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RECRIAR E DIFUNDIR: PRÁTICAS DE CIRCULAÇÃO A PARTIR DO JOGO ARMA 3 RECREATE AND DISTRIBUTE: CIRCULATION PRACTICES FROM ARMA 3 GAME RECREAR Y DIFUNDIR: PRÁCTICAS DE CIRCULACIÓN DEL JUEGO ARMA 3 Edu Jacques 82 Pós-doutorando em Design na Unisinos. Doutor em Ciências da Comunicação pela Unisinos. E-mail: [email protected]. RESUMO O convite feito a consumidores de objetos midiáticos a uma produção derivada conduz a uma reinterpretação do processo de circulação. Antes justaposto entre os momentos de produção e recepção, o operador reveste-se atualmente de importância analítica. Diante desse desafio recorremos a relatos de pesquisa empírica a respeito da produção que jogadores elaboram sobre um jogo de ação, Arma 3. Nesse quadro de referência, com a aceleração das trocas simbólicas num processo que convencionou-se chamar de midiatização, investimos numa análise das práticas de recepção criativa ou cocriação. O foco dado no texto remete às dinâmicas de aprendizado e sobre o redirecionamento narrativo. PALAVRAS-CHAVE: RECEPÇÃO; MIDIATIZAÇÃO; JOGOS DIGITAIS; CIRCULAÇÃO ABSTRACT The invitation to consumers of media objects to a derivative production leads to a reinterpretation of the circulation process in communication studies agenda. Previously, the process was juxtaposed between production and reception stages, however current transformations argue for its analytical importance. In this context, with the acceleration of symbolic exchanges in a process that has been called mediatization, we proceed in an analysis of the practices of creative reception or co-creation. The focus given in the paper refers to learning dynamics and narrative redirection. 83 KEYWORDS: AUDIENCE; MEDIATIZATION; GAME STUDIES; CIRCULATION RESUMEN La invitación a los consumidores de los objetos mediaticos a una producción derivada conduce a una reinterpretación del proceso de circulación en la agenda de los estudios de comunicación. Previamente, el proceso se yuxtapuso entre etapas de producción y recepción, sin embargo, las transformaciones actuales argumentan por su importancia analítica. En este contexto, con la aceleración de los intercambios simbólicos en un proceso que ha sido llamado mediatización, procedemos en un análisis de las prácticas de recepción creativa o co-creación. El enfoque dado en el documento se refiere a la dinámica de aprendizaje y a lo redirecionamento narrativo. PALABRAS CLAVE: RECEPCIÓN; MEDIATIZACIÓN; JUEGOS DIGITALES; CIRCULACIÓN 1. Introdução alimentado pelo conceito possui diferentes abor- dagens, sendo as mais destacadas aquelas man- As mutações contemporâneas da comunica- tidas na América Latina e no norte da Europa. ção têm alimentado debates sobre um quadro No primeiro grupo, um dos pioneiros no enten- de referência em que ela não se apresenta ape- dimento da midiatização foi Eliseo Verón (1935- nas como uma função necessária à manutenção 2014). Interessado na construção de sentido nos da democracia e das relações sociais. A discussão processos de semiose da sociedade, o pesquisador sobre a midiatização põe em pauta a relevância legou-nos diferentes textos sobre a midiatização, de uma “cultura midiática” em ascensão com a dos quais uma parcela permanece de alcance res- disseminação das redes técnicas. Está ligada a trito em acervos locais, especialmente em seu país essa nova interpretação uma revisão do modelo de origem, a Argentina. No entanto, seu artigo analítico da comunicação baseado em produ- “Esquema para el análisis de la mediatizatización” ção-recepção, no qual o aspecto da circulação (1997) tornou-se uma das principais referências ocorria somente enquanto ligação. A circulação para estudos afins. Programas de investigação é ressaltada como aspecto do “levar adiante” as a partir desse marco seguiram-se no Brasil e na formações simbólicas. Argentina, cabendo ao primeiro a realização de Como análise empírica, a proposta contida duas edições do Seminário Internacional de Pes- aqui investe numa modalidade de construção de quisas em Midiatização e Processos Sociais. Já no sentido que se desenrola nas últimas décadas: os norte da Europa, em países como Alemanha, In- jogos digitais que, conforme seus agenciamentos glaterra e Suécia, o emprego da expressão obteve idiossincráticos, associam a característica digital popularidade a partir dos anos 2000, apesar de ao aspecto narrativo. Diante desses objetos, jo- manifestações anteriores serem percebidas desde gadores são convidados a atuar em práticas de a primeira metade do século XX (Averbeck-Lietz, recepção criativa, promovendo sentidos além do 2014). O desenvolvimento do termo entre pesqui- 84 curto alcance da vida cotidiana, desde que recom- sadores da região seguiu um percurso interessado ponham nos circuitos midiáticos as formações a inicialmente nas transformações da esfera pública, que dão origem. Trata-se de uma comunidade quando esta passa a ser afetada pela oferta e con- com alto grau de especialização, o que circuns- sumo dos meios de comunicação. Uma coletânea creve seu âmbito, mas demonstra o potencial de das contribuições desses pesquisadores foi organi- cocriação entre público e produtores midiáticos. zada por Lundby (2014). Na introdução da obra, o próprio Lundby propõe uma interpretação dos 2. Um traçado epistemológico da midiatização diferentes enfoques da pesquisa sobre a midiatiza- ção, sendo entendidas como sócio-construtivista, Do movimento concatenado entre oferta e usos materialista e institucionalista. assumidos a partir de novas Tecnologias da In- A perspectiva que adotamos parte do reco- formação e da Comunicação (TICs), sobretudo a nhecimento de transformações nos processos partir das últimas duas décadas, são desenvolvi- comunicacionais, que, ao atingirem uma nova dos igualmente novos quadros interpretativos no dimensão qualitativa, sugerem o aperfeiçoa- âmbito de pesquisa. Uma linhagem sustentada a mento dos modelos epistemológicos adotados partir da percepção de relações sociais permea- com referência a uma situação “anterior”. Sus- das pelo agenciamento de uma “cultura midiática” tentamos a emergência de uma abordagem de toma forma sob o termo midiatização. O debate recepção ciente das formas de manifestação que a comunicação contemporânea atinge. O traba- nas sociedades precedentes, sem que, todavia, di- lho legado pelos estudos culturais e de recepção ferentes referências interacionais deixem de existir na América Latina é constitutivo desse esforço, enquanto lógicas próprias e simultâneas. na medida em que consolidaram metodologias e percursos interpretativos como superação dos 3. O público faz circular programas de investigação funcionalista – cuja marca era a dicotomia entre resistência ou ali- A reconfiguração do quadro comunicacional nhamento ideológico dos públicos (Lopes, 1993). conduz a uma tematização distinta nas pesquisas Em âmbito anglófono, Couldry & Hepp (2013) sobre as TICs. A profusão dos discursos manti- discutem a prevalência do triângulo de pesquisa dos anteriormente dentro do escopo da “recep- composto por análise textual, economia política ção”, pressiona a uma reavaliação dos esquemas da produção e estudos de audiência ou recepção. descritivos da comunicação. Embora preexistisse Entretanto, os autores reconhecem a importância em outros modelos analíticos, como o de Shan- de duas contribuições para o avanço da discus- non (1948), essas visadas oriundas de abordagens são epistemológica. Tanto a trajetória de Roger cibernéticas não lograram tratar o processo da Silverstone, especialmente a partir de “Why stu- circulação segundo sua característica condicio- dy the Media” (1999), quanto a tradução de “Dos nadora das trocas comunicacionais. Antes rele- meios às mediações”, de Martín-Barbero, para o gada a leituras sobre “ruído” ou admitida gratui- inglês (1993) são reconhecidas como importan- tamente, a circulação desponta de uma zona de tes para a construção da midiatização enquanto passagem para instrumento analítico. conceito, emergente com as crescentes relações de internacionalização no campo. A construção das relações entre produção e re- De fato, o próprio Martín-Barbero (2008) deixa cepção repousava em torno da ocorrência de entrever os sinais dessa midiatização ao constatar um ato cujas complexidade e indeterminação que os desafios postos na atualidade não o leva- estavam colocadas fora de cena. Considerava-se 85 vam a pensar “das mediações aos meios”, mas da a ênfase ao aspecto consciencial dada por este cultura à comunicação. Essa reconsideração re- processo, pondo também fora da cena o âmbi- força o interesse na comunicação como produtora to da circulação. A existência de uma “zona” de uma inteligibilidade particular. Não obstante, no fluxo produção/recepção era naturalizada Martín-Barbero ainda contesta uma identidade como uma “passagem” automática neste circui- da comunicação nos meios e passa a considerar to – uma espécie de intervalo – sobre o qual di- como cerne as interações guiadas por uma hibri- ferentes tradições de pesquisa desconheceram a dização das linguagens e dos meios. O enfoque na sua existência. (Fausto Neto, 2010, p. 56) interação é compartilhado por Braga (2006), para quem tais interações mantidas a partir das TICs Apesar de não nos filiarmos diretamente às tendem a se tornar uma forma de “organizar a so- tradições de interpretação discursiva, é possível ciedade” a partir de lógicas próprias. A transição abstrair uma proposta metodológica subjacen- rumo e esse modelo dialógico encontraria lacunas te ao reconhecimento dos fluxos comunicacio- ou incompletudes, assim como outros modelos

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