UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA MESTRADO EM HISTÓRIA BALANÇA QUE O SAMBA É UMA HERANÇA SAMBA, PARTIDO ALTO, MERCADO FONOGRÁFICO E SAMBISTAS NAS DÉCADAS DE 1960 A 1980 LELLISON DE ABREU SOUZA Brasília 2020 LELLISON DE ABREU SOUZA BALANÇA QUE O SAMBA É UMA HERANÇA SAMBA, PARTIDO ALTO, MERCADO FONOGRÁFICO E SAMBISTAS NAS DÉCADAS DE 1960 A 1980 Dissertação apresentada ao Programa de Pós- Graduação em História da Universidade de Brasília como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em História Cultural. Orientador: Prof. Dr. Anderson Ribeiro Oliva. Brasília 2020 Para Maria do Socorro Araújo, minha avó materna, que apareceu em meus sonhos com boas notícias; Para Umberto Vassena, meu amigo que viveu quase um século e não poderá ler esta dissertação. AGRADECIMENTOS Para escrever esta dissertação contei com o apoio de muitas pessoas. Elas ajudaram de várias formas. E com satisfação e alegria quero aqui deixar registrado minha gratidão. Agradeço à minha esposa Carolina. Esteve junto durante toda a jornada. Ela já incentivava meu retorno à vida acadêmica muitos anos antes dele ocorrer. Foi uma fonte constante de apoio e ânimo durante os obstáculos enfrentados desde o começo de 2018 (quando o mestrado começou a tomar forma). Não foram poucos obstáculos. Cito entre alguns uma fratura no pé direito, uma demissão durante a seleção do mestrado, as cinco intervenções cirúrgicas que enfrentei entre o fim de 2019 e o começo de 2020, outros problemas de saúde, burocracias diversas, uma invasão ao nosso apartamento e uma pandemia que ainda está em curso enquanto escrevo estas palavras no começo de Agosto de 2020. À minha mãe Gilcelane, que fez todo o esforço possível para me criar bem e inculcar em mim o gosto pelos estudos, só me deixando ir brincar na rua após eu fazer o dever de casa. Seu exemplo influenciou meu gosto por leituras. Ao meu amigo e sogro Oswaldo, espécie de pai espiritual deste estudo. As incontáveis horas conversando e ouvindo música juntos ajudaram bastante a abrir caminhos e levantar questões. De certo modo tentei responder aqui coisas sobre as quais conversamos ao longo dos anos; À Tânia e Denise, minhas duas sogras. À Tânia pelo carinho e por sempre valorizar minhas conquistas e por lembrar-se do que eu estudava em cada viagem; à Denise pelo incentivo constante, pelas dicas, pelas piadas que ajudavam a distrair e pela hospitalidade. Ao meu orientador, Professor Anderson Ribeiro Oliva, por ter me apresentado um leque de leituras, indicado referências, ajudado a estabelecer enfoques, respeitar minhas escolhas e se mostrar solícito, tentando sempre mostrar o período no mestrado como um tempo de conhecimento e não de ansiedade e estresse; À professora Eloísa Barroso e ao professor Nelson Inocêncio, que integraram a banca de qualificação e banca de defesa de dissertação, por suas considerações e contribuições que muito me ajudaram; Das pessoas que conheci enquanto cursei a graduação na UFES, agradeço à Laisa, presença constante e alma gentil que desde 2007 tem me mostrado que uma vida sem ternura não é lá grande coisa; à Karol, pela amizade que nem mesmo a força do tempo irá destruir e pelas inúmeras dicas acadêmicas; à Ana Paula, que sempre disse que a vida acadêmica combinava comigo; à Mellina, pelas risadas e por compartilhar as agruras de ser pesquisador neste país; Dos colegas da pós-graduação em História da UnB, parcerias nesta travessia, agradeço à Vanessa, pela ajuda em muitas minúcias desconhecidas por este neófito em pós- graduação e pelas divertidas histórias; ao José, grande batalhador sempre disposto a ajudar e a compartilhar o que ia descobrindo; à Rebecca, que luta tanto que talvez nem saiba o quanto é forte e apoiou meu trabalho; ao Raian, pelo espírito agregador; à Cibele, que intermediou o contato com a EBC em Brasília; e aos funcionário da secretaria do PPGHIS, Rodolfo e Jorge, que com muita presteza e solicitude me ajudaram demais com as múltiplas burocracias universitárias. Do Espírito Santo agradeço ao meu compadre Renan, caboclo sábio e inspirador, que ouviu as histórias e deu conselhos; ao Luiz, irmão de caminhada que ainda carregarei para uma roda de samba; ao padrinho Rafael, músico e musical amigo que vem já há uma década mostrando o poder das canções; à Horrana, que de tanto querer aprender acaba por ensinar e me ajudou; No Distrito Federal agradeço às irmãs Rosa e Renata, amigas e sambistas que quando sambam evocam e encarnam profundamente a ancestralidade que muitos sequer conseguem perceber, agradeço à Rosa por não conseguir disfarçar seu espírito crítico diante de maltratos ao samba e agradeço à Renata pela grande ajuda mobilizando seus contatos no Rio de Janeiro; ao Ronan e Lorena, casal amigo que a música me apresentou e que são parcerias e interlocuções constantes, e ouviram várias vezes histórias desse mestrado; ao meu amigo Hugo, pelas animadas cantorias, pela delicadeza e pelas muitas risadas; ao Rogério, sempre disposto a uma história e pelas dicas musicais; Em Minas Gerais agradeço à Nívia, pelas observações e hospitalidade; Na EBC de Brasília, agradeço à funcionária Carolina Paim. No Rio de Janeiro agradeço a Marquinhos de Oswaldo Cruz, grande partideiro e agitador cultural, pelas muitas histórias, indicações e pelo almoço naquela tarde de frente à praia; ao Adriano, conhecedor e frequentador das antigas rodas de samba e partido alto; ao disc jockey e colecionador de vinis Café, que vem há algumas décadas trabalhando com música e me deu acesso ao seu acervo; ao Onésimo Meirelles, pelas informações e por sua luta pelo samba e pela memória de antigos sambistas; ao historiador Luiz Antônio Simas, que vai espalhando saberes com suas pedrinhas miudinhas; Em Nova Iguaçu agradeço à Thais, que conversou muito sobre música e ajudou a tornar a jornada mais divertida. Na Alemanha, agradeço à Isabel, que desde os tempos do Museu de Arte do Rio é uma interlocução poética e constante e incentivou minha pesquisa. (Agora) No Goiás, agradeço à minha cunhada Juliana, que está na linha de frente no combate ao Coronavírus e sempre arruma tempo pra conversar e apoiar e pela hospitalidade; Agradeço à Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), pela bolsa que me concedeu durante o mestrado, que viabilizou a dedicação exclusiva à pesquisa; Por último, agradeço novamente à minha esposa Carolina, pois um agradecimento só seria pouco. Ela me ajudou em todas as etapas, buscou soluções e materiais, discutiu possibilidades, ouviu pacientemente incontáveis vezes anedotas e causos descobertos ou relembrados durante o mestrado, riu dos desencontros (e de alguns encontros) da pesquisa, cantou centenas de sambas comigo, foi fundamental para eu concluir o que tinha me proposto a fazer. Amo você e se eu fosse compositor lhe escreveria um samba, como não sou então deixo esses versos do Luiz Carlos da Vila, que retratam como fico quando você chega: Enfim / Um horizonte melhor me sorriu / Ao ver esperança no ar / Que dos seus lindos olhos luziu / Minha dor virou gota no mar / Sou feliz pois vejo o amor chegar. “A visibilidade de músicos negros nas Américas – e a forma como se projetaram no mundo artístico – não pode ser pensada apenas a partir do interesse de empresários do campo cultural, das plateias sedentas por novidades ou do apoio de intelectuais modernos e modernistas. Há de ser entendida a partir das ações que empreenderam na luta por sua visibilidade, pela subversão do racismo e pelo reconhecimento de sua cor, de seus gostos e estilos, em todos os espaços públicos” - Martha Abreu RESUMO Este estudo pretendeu analisar como um grupo de sambistas ligados a ideais de tradição do partido alto se inseriu nas disputas narrativas sobre a historicidade e as origens do Samba e do próprio partido alto. Nosso principal objetivo foi investigar como esses sambistas criaram estratégias discursivas na reelaboração das práticas culturais do passado no intuito de constituir uma ideia de tradição que servisse aos seus interesses e preferências. Considerado por muitos sambistas a vertente mais tradicional do samba e a principal via de ligação desse gênero musical com suas raízes afro-americanas, caracterizado fortemente pelo improviso dos versos, o partido alto não costumava ser gravado e raramente os partideiros conseguiam lançar discos próprios. Cenário que mudou a partir dos anos 1960 e ao longo dos anos 1970 e 1980, quando partideiros e sambistas que defendiam um ideal de tradição, como Candeia e Paulinho da Viola gravaram discos e lideraram iniciativas que visaram marcar posições em meio aos debates culturais e ao que acontecia nas escolas de samba. Uma das consequências foi o surgimento a partir da década de 1980 de grupos como Fundo de Quintal e nomes como Jovelina Pérola Negra e Zeca Pagodinho e outros que gravaram discos e participaram ativamente da consolidação de um estilo de samba fortemente influenciado pelo partido alto, o pagode. Analisaremos o funcionamento e importância das rodas de samba, as mudanças no mercado fonográfico brasileiro ocorridas a partir da década de 1960 e como se deu o uso de estratégias discursivas por parte dos sambistas visando interferir nos debates sobre tradição, historicidade e o papel do negro no samba e na sociedade. Palavras-Chave: Samba, Partido Alto, Tradição, Mercado Fonográfico, Identidade. ABSTRACT The aim of the present study was to analyse and understand how a group of sambistas which were tied to the partido alto’ ideals of tradition inserted themself in narrative disputes about the historicity and the origin of samba and partido alto itself. Our main goal was to investigate how those sambistas created discursive strategies to re-elaborate cultural practices from the past, in order to constitute an idea of tradition that fitted their interests and preferences. Regarded by many sambistas as the most traditional style of samba and the main connection of this musical genre with its African American roots, strongly defined by improvisation, the partido alto style was not regularly recorded; rarely the partideiros were able to release their own records.
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