A Frente Ampla De Oposição Ao Regime Militar (1966-1968)

A Frente Ampla De Oposição Ao Regime Militar (1966-1968)

MÁRCIO DE PAIVA DELGADO A Frente Ampla de oposição ao Regime Militar (1966-1968) Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em História da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal de Minas Gerais como requisito parcial para obtenção do título de Doutor em História. Linha de pesquisa: História e Culturas Políticas Orientador: Prof. Dr. João Pinto Furtado Belo Horizonte Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal de Minas Gerais 27 de setembro de 2013 981.063 Delgado, Márcio de Paiva D352f A frente ampla de oposição ao regime militar (1966- 2013 1968) [manuscrito] / Márcio de Paiva Delgado. - 2013. 77 p. Orientador: João Pinto Furtado. Tese (doutorado) - Universidade Federal de Minas Gerais, Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas. 1.Lacerda, Carlos, 1914-1922. 2. Kubitschek, Juscelino, 1902-1976. 3.Goulart, João, 1918-1976. 4.História - Teses. 5.Ditadura e ditadores – Teses. 6. Oposição (Ciência política)- Teses 7.Brasil – História – 1966-1968. I. Furtado, João Furtado. II. Universidade Federal de Minas Gerais. Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas. III.Título. Este trabalho é dedicado à memória de João Goulart, Juscelino Kubitschek, Carlos Lacerda e Wilson Fadul. AGRADECIMENTOS Apresentam-se aqui os resultados da pesquisa historiográfica que desenvolvi entre os anos de 2009 e 2013, tendo como objetivo a obtenção do título de doutorado pelo Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal de Minas Gerais, e aqui gostaria de expressar os seguintes agradecimentos. Primeiramente gostaria de agradecer a própria UFMG, em especial a Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (FAFICH), que abriu suas portas para o meu ingresso no programa, me oferecendo ótimas condições, acadêmicas e humanas, para realizar esse trabalho. Aos professores, funcionários e colegas, registro aqui o meu muito obrigado. Em relação ao acesso às fontes primárias e secundárias, seguem as instituições às quais gostaria de registrar meus agradecimentos: a Fundação Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, sobretudo a seção de periódicos e ao seu website “Hemeroteca Digital”; a Universidade de Brasília, principalmente em relação ao “Fundo Carlos Lacerda”, localizado em sua Biblioteca Central; ao Memorial JK em Brasília, referente ao “Inventário JK” e seu arquivo; a Fundação Getúlio Vargas, em especial o Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil (CPDOC), pelo acesso ao “Arquivo João Goulart” e ao seu banco de entrevistas; a Escola de Comando do Estado Maior do Exército, sobretudo o Arquivo Castelo Branco, localizado na Praia Vermelha, Rio de Janeiro; o Arquivo Público do Estado de São Paulo, pela digitalização e divulgação online de todo acervo referente ao jornal Última Hora ; a Câmara dos Deputados Federais em Brasília, pelo arquivo de “Discursos Parlamentares”, digitalizados e com acesso livre pela internet; e, finalmente, a empresa Google Inc., também pela divulgação online, de forma totalmente gratuita, de todo o acervo do Jornal do Brasil através do site Google News . A todos os funcionários envolvidos nesse excelente trabalho de preservação e divulgação da nossa memória e patrimônio histórico, meus sinceros e efusivos agradecimentos. Em relação aos entrevistados, gostaria de expressar minha profunda gratidão ao Dr. Wilson Fadul, à Professora Sandra Cavalcanti, à Sra. Maristela Kubitschek Lopes, ao Dr. Célio Borja e ao jornalista Hélio Fernandez. Foi uma grande honra passar algumas horas extremamente agradáveis e informativas em entrevistas que, a prejuízo da metodologia (por minha culpa), foram prazerosos “bate-papos” entre mestres e seu aluno. Registro meus eternos e respeitosos agradecimentos, sobretudo ao Dr. Wilson Fadul, que infelizmente faleceu poucas semanas após me receber em sua casa, por duas vezes, com todo carinho e entusiasmo. No meio acadêmico, agradeço a todos os professores do Departamento de História da UFMG, sobretudo aos professores Rodrigo Patto Sá Motta, Priscila Brandão e Eliana Dutra pelos substanciais comentários, críticas (algumas severas, todas construtivas) e orientações que foram de primordial ajuda para a realização do texto final. Ao meu orientador, mestre e amigo, Prof. João Pinto Furtado, dedico os mais sinceros agradecimentos pela confiança em minha capacidade, principalmente nos momentos mais difíceis e de desânimo de minha parte. Aos membros da banca examinadora, registro minha gratidão pelos comentários, correções e sugestões que enriqueceram este trabalho. Registro também o agradecimento aos professores Dr. Tiago Gil, Regina Salomão, Laura Assis e à Lívia Reis de Souza pelo apoio, suporte e amizade. Aos outros, embora não mencionados, mas que de alguma maneira ajudaram-me na realização deste trabalho, Manifesto minha eterna gratidão. As qualidades desse texto são divididas com todos aqueles que me ajudaram a elaborá- lo. Mas acredito que seja importante dizer que a responsabilidade por quaisquer equívocos e erros na redação do texto deve ser atribuída exclusivamente a mim. De ordem pessoal, sou grato toda a minha família que sempre me estimulou a continuar estudando e acreditar na profissão de professor. Agradeço especialmente à Ana Paula, minha vida e meu norte, que entre carinhos e puxões de orelha, sempre esteve ao meu lado. RESUMO Nos anos seguintes ao Golpe Civil-Militar de 1964, boa parte dos principais líderes políticos formados no período da Experiência Democrática (1945-1964) ou estavam exilados (João Goulart, Leonel Brizola e Miguel Arraes) ou cassados (Juscelino Kubitschek, Luis Carlos Prestes, Henrique Teixeira Lott, Adhemar de Barros e Jânio Quadros). Apenas Carlos Lacerda, ex-aliado golpista de primeira hora e maior liderança civil da UDN naquele momento, se destacava como a principal liderança civil oposicionista nos primeiros anos de governo Castelo Branco, sobretudo após a prorrogação do mandato presidencial e, finalmente, após a decretação do AI-2. Enquanto trabalhistas, comunistas e juscelinistas iniciavam conversações a fim de organizar um movimento de oposição a ditadura, a partir de meados de 1966, Lacerda e Kubitschek, através de emissários, iniciam entendimentos em busca de um movimento voltado para a redemocratização do país. A partir deste momento, lacerdistas, juscelinistas, trabalhistas e alguns comunistas ligados a Luis Carlos Prestes buscaram efetivar uma “frente de oposição”, que nasce oficialmente no Manifesto da Frente Ampla em outubro de 1966. Em novembro, Lacerda e Kubitschek selam acordo ao divulgar a Declaração de Lisboa . No ano seguinte, Lacerda e Goulart formalizam a polêmica aliança com a divulgação do Pacto de Montevidéu em setembro de 1967. Apesar de heterogênea, a Frente Ampla apresentava-se sem viés antirevolucionário, distante da oposição guerrilheira ou estudantil. Com a entrada de Goulart, a partir de inícios de 1968, a Frente Ampla passa a um período de maior mobilização, com comícios e atos públicos, entrementes a radicalização, sobretudo com o movimento estudantil pelo país. Contudo, a cinco de abril de 1968, o Ministro da Justiça emite a Portaria nº177 proibindo a Frente Ampla e considerando ilegal qualquer manifestação em seu nome. Os meses seguintes conheceriam o fechamento total do Regime até o AI-5 e a cassação de praticamente todos os membros da Frente Ampla, dentre eles Carlos Lacerda. Apresentaremos a trajetória histórica da Frente Ampla, de forma narrativa, sob a perspectiva das Culturas Políticas presentes no período, destacando o gradual processo de fechamento do Regime Militar e o baixo comprometimento da sociedade brasileira – tanto direita quanto a “nova esquerda” – com a democracia representativa existente no pré-1964. Palavras-chave: Frente Ampla, Carlos Lacerda, Juscelino Kubitschek, João Goulart, Ditadura, Oposição, Culturas Políticas. ABSTRACT In the years after the 1964 Civil-Military Coup, many of the most important political leaders formed in the period known an Democratic Experience (1945-1964) either were exiled (João Goulart, Leonel Brizola and Miguel Arraes) or annulled (Juscelino Kubistschek, Luis Carlos Prestes, Henrique Teixeira Lott, Adhemar de Barros and Jânio Quadros). It was only Carlos Lacerda, ex-partner on the Coup and the main current civil leader of UDN (National Democratic Union), who raised as an opposing civil leader in the early years of Castello Branco’s government, especially after the prorogation of the Presidential term and the AI-2 enactment. While the working-class, the communists and the Juscelino’s political group started the conversations to organize an opposition to the dictatorship during the 1966s, Lacerda and Kubitschek, through his dealers, worked on agreements towards the process to redemocratize the country. From this moment on, Lacerda’s and Juscelino’s groups, some working-class members and some communists sided to Luis Carlos Prestes tried to carry out an “opposing front”, which was officially born in the Manifest of the Broad Front, on October 1966. In November, Lacerda and Kubitschek set an alliance and unveiled the Lisbon Declaration . In the following year, Lacerda and Goulart were connected in a polemic alliance as it was unveiled the Montevideo Pact on September 1967. Even though it was quite heterogeneous, the Broad Front had no antirevolutionary bias and it was very distant the opposing forces of the guerilla party or the student body. Along with Goulart’s term beginning and from the early 1968, the Broad Front stimulated a period of higher mobilization, with political rally and public acts,

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