«ISTtADO f.M ClÍNCfAS SOCIAW ZÉLIA JESUS DE LIMA LUCAS EVANGELISTA: 0 LUCAS DA FEIRA ESTUDO SGBRE A REBELDIA ESCRAVA EM FEIRA DE SANTANA 1807-1849 Dissertação de Mestrado apresentada ao Departamento dé História da Fa- culdade de Filosofia e Ciencias Hu- manas da Universidade Federal da Bahia, sob a orientação do Pr43f. Dr RONALDO SALLES DE SENNA. SALVADOR - BAHIA 9 9 0 fHirtnitAiVDA tákíA FiCULDALt DB rãoSOFlA lOT Í. Ca .י • B I ?־ d• T«mk• ¡q Í 2 /5 א*0 X m em ora de 2acf1eu de Lima, meu pa•¿ PaAa TeAeza A¿vez Wogue-¿Aa L¿wa, mxn/itt mãe e Ed¿on Je¿u¿ de l.¿ma, meu Hã mil argumentos a favor da liberdade, nem um 8ó a favor da escravidão. (Sio Fidêlis, 17.12.1885 ־ A Sentinela) AGBADECIMEUTOS .Ao CNPq e ã CAPES^ pela oonoeeaào de auxílio financeiro a- travéa de boleae, durante a realização do ourao. .Ao Orientadorf Prof. Dr. RONALDO SALLES DE SENtíA^ amigOt oolega da Univeraidade Eatadual de Feira de Santana e ori- entador deeta diaeertaçãot a quem devo o incentivo e a co- laboração neatee anoa de eatudo. Ao prof. JOÃO JOSÉ REISt mestre querido, e ao colega BEN- RIQUE LYRAj que procederam ã leitura inicial do projeto e oujaa augeatõea foram extremamente valiosas. à profa. JOSELITA DE CASTRO LIMA, amiga de todaa ae horaa, pelo muito que me auxiliou no fichamento de livroa e pe- riódiooa. Âa profae. MARLY GERALDA TEIXEIRA e MARIA JOSÉ SOUZA AN~ DRADE, mestraa amigaa, pelaa críticas e augeatõea proferi- daa no papel da banca examinadora. Aos amigoa Monaenhor RENATO CALVÃO, HUMBERTO ARGOLO e FRAN KLIN MACHADO CERQJJEIRA, pelo apoio no fornecimento de fon- tes de peaquiaa mediante longaa conversaa aobre historias regionais. Ao colega e peaquisador JORGE ANTONIO DO ESPÍRITO SANTO BA TISTA, reaponaãvel pela difícil tarefa de tranacriçao doa Inventários e Correapondenciaa conaultadoa, noa Arquivos de Salvador, Feira de Santana e Cachoeira. . bibliotecária MARLENE DE DEUS MOREIRA, colaboradora de- dicada durante o levantamento bibliográfico. ,A JOSÉ TADEU pela ineatimável colaboração nos trabalhoa me canográficoa. . minha FAMÍLIA, e ã NALVA, pela compreensão e força que me proporcionaram neste período de trabalho árduo. s u m a r i o INTRODUÇÃO 01 CAPITULO I — A BAHIA EM QUE LUCAS VIVEO 28 1 FEIRA DE SANTANA ENTRE O RECONCAVO E O AGRES'PE 29 1.1 AS ORIGENS: FEIRA DE SANTANA X SÃO JOSÉ DAS ITAPOROROCAS 32 1.2 A SOCIEDADE 37 1.3 A ECONOMIA 4 4 1.3.1 A Fazenda "Saco do Llmao" 69 - A mão-de-obra escrava 6 a reação contra os castigos 72 1.4 POLITICA 76 1.4.1 A Vila e seu Termo 88 2 CRONOLOGIA DAS REVOLTAS DE ESCRAVOS E NÃO-ESCRAVOS ANTES DE 1849 100 CAPITULO II — LUCAS EVANGELISTA DOS SANTOS: LUCAS DA FEIRA 121 1 IDENTIFICAÇÃO. CARACTERÍSTICAS 123 2 A FAMlLIA. AS ATIVIDADES. AS MULHERES 127 2.1 A FAMILIA 127 2.2 AS ATIVIDADES 131 2.3 AS MULHERES 133 4 0 BANDO 155 4.1 OS PRENÜNCIOS DA ORGANIZAÇÃO 159 4.2 A COMPOSIÇÃO DOS BANDOS. UNIVERSO DE AÇÃO TRUQUES E TÃTICAS 165 5 ALGUNS ASPECTOS SOBRE CRIMINALIDADE E OS CRIMES DE ESCRAVOS DO BANDO DE LUCAS 179 5.1 OS CRIMES DE ESCRAWS E A LEI 184 5.2 CRIMES DO BANDO DE LUCAS 186 6 A CAPTURA. 0 JULGAMENTO E A PONIÇÃO 191 6.1 A CAPTURA 191 6.2 O JULGAMENTO E A PUNIÇÃO 202 CAPITULO III — LUCAS E A SOCIEDADE ESCRAVISTA 1 A VISAO DE MUNDO DOS CONTEMPORÂNEOS DE LUCAS X ATUALIDADE 219 CONSIDERAÇÕES FINAIS 234 לPONTES E BIBLIOGRAFIA 23 ANEXOS 255 * * * INTRODUÇÃO .0 TEMA(*) A questão central de nosso trabalho prende-se às ra- zõcs que levaram o escravo Lucas Evangelista dos Santos a se- parar-se do dominio de seus três senhores e a formar um bando de salteadores, bem como ao motivo de ter-se mitificado tanto esse personagem, quando outros escravos, na mesma época e re- giSo, praticaram atos semelhantes. Dentre as foimas de rebeldia que o escravo, no Brasil, en- controu para demonstrar a sua insatisfação, destaca-se o fenô- meno do bandido negro(**). 0 aparecimento e a proliferação des- se tipo de bandido datam âa primeira metade do século XIX, mais precisamente após a Independência Política do País. Na oportu- nidade, as elites dominantes encontravam-se divididas em torno do processo de formaçao e consolidação do Estado Nacional, quando a Bahia, a exemplo de outras Províncias, foi sacudida por movi- mentos escravos e livres, desde o anti-lusltanismo até as ten- dências federalistas. (*) 0 escudo sobre o escravo Lucas é parte de um projeto de pesquisa deno- ninado "Memória Histórico Cultural do Município de Feira de Santana 1830- 1930", que objetiva o levantamento das fontes e documentos históricos desse município, como atividade das disciplinas do curso de História, na Universi* dade Estadual de Feira de Santana, desde 1985. (**) Estamos usando o termo bandido, tal como o poeta Castro Alves empregou na poesia — "Bandido Negro". In ALVES, Antonio de Castro — "Os .Editora Progresso, Salvador, 1936, p. A9 ,'יE8cravos 02 LucaS/ escravo e bandido (salteador de estradas), ê parte daquele momento^ e destaca-se pelas características e pro porções assumidas por sua atuação, aproxlmidam^te durante 20 anos. Trata-se de um período longo, se considerarmos a eficácia re- pressiva da época(*}, a importância que adquiriu política e juridicamente num fato de notabilidade nacional^, bem como o terror que causava aos habitantes da Vila de Feira de Santana e seu Termo, principalmente aos tipos de vítimas por ele prefe- ridos: vaqueiros, homens de negócio e feirantes. Por todas essas razões, o estudo do caso Lucas justi- fica-se na medida em que permite compreender a importância só- cio-econômica do escravo em Feira de Santana, na primeira meta- de do século XIX; oferece contribuições â história do bandido; e, ainda, propicia um ponto de partida para a elaboração de tra balhos intelectuais com novas abordagens de uma face do escra- vismo ainda pouco estudada. Analisando o contexto que propiciou o surgimento dos bandos vinculados âs conjunturas econômicas especificas sobre a região de Feira de Santana, três objetivos se definem: (a) as relações sociais entre os diversos grupos (senhores de currais, comerciantes, pequenos proprietários, trabalhadores e outros; (b) os fatores que contribuíram para a formação dos bandos, tam bém conhecidos como quadrilhas; (c) as características da lide- rança do escravo Lucas nas formas de resistência ao escravis- mo — individual e coletiva. (*) Referimo-nos à repressão que o Estado e 08 senhores de engenhos coloca vam em prSticd, para conter 08 impulsos dos escravos rebeldes em diferentes ntomentos do regime escravista. 03 .A METODOLOGIA O modelo metodológico para o estudo do caso Lucas, no ámbito da historia social, fundamenta-se na relação recíproca entre escravos e sociedade, ou seja, parte-se de uma condição sÕcio-econômlca específica que nos permite compreendê-lo dupla mente ñas categorias de escravo e bandido. Para tanto, buscou- se reunir as diversas versões e análises elaboradas por diferen tes autores, apresentando um roteiro das principais questões voltadas para aquelas categorias, analisadas ao longo do traba- lho. Prosseguindo, priori2a-se a base teórica e a utilização das fontes. .A BASE TEÓRICA 0 historiador João José Reis em "NEGOCIAÇÃO E CONFLI- TO" (*) (1989) danonstrou que durante um largo tempo a historiogra- fia nacional, acostumou-se a ver o escravo, acima de tudo, como um OBJETO: objeto de seus impulsos e desejos e, por fim objeto da própria disciplina que o privilegiava enquanto tema de refle xão. 0 escravo enquanto personagem histórico aparecia ana- lisado por meio de modelos rígidos que tendiam a representá-lo ora como vítima ora como herói, ora mitificado em seu caráter ora reificado em "peça" inerte frente às vicissitudes do siste- ma. No interior desses modelos não sobravam, portanto, espaços de indefinição nos quais pudéssemos perceber e recuperar as bar ganhas e os arranjos cotidianos empreendidos pelos cativos, e (*) Ver a seguir pagina 26, nota II. 04 mesmo a percepção de como entendi2un o 8eu VIVER, muito mais do que o mero SOBREVIVER. O escravo Lucas, 3 quesn consideramos personagem histó- rico, não fugiu à regra. Aparece analisado através de modelos conservadores que tendem a recriminá-lo por seus atos de re- beldia, despreocupando-se de associar tais atos às condições reais e específicas em que se desenvolve sua reação» preferin- do identificá-lo sob vários rótulos, como, por exemplo, crimi- noso, malfeitor, facínora, monstro e outras denominações nega- tivas, ou, em outros casos, positivamente como herói ou mito. Etimológicamente, bem como através de atitudes e com portamentos, não podemos duvidar de que o escravo Lucas foi um bandido(*). Fugitivo desde criança, aos vinte anos de idade ״conseguiu formar um bando, praticar vários tipos de "crimes e destacar-se como um líder, atuando num espaço grande durante longo tempo, se comparado à sobrevivência de líderes da mesma época e que viveram nas proximidades de Feira de Santana. Dadas as limitações em se estabelecer um modelo de bandido negro (1807-1849), tentaremos analisar duas formas de rebeldia: a de escravo e a de bandido, para justificar os momentos de atuação do personagem, aqui analisados. a) Por rebeldia escrava(**) entendemos toda e qualquer for- ma de contestação da massa negra ao sistema gerido pelo seg- (*) Abordaremos a categoria bandido como uma variante da rebeldia do catl- vo» analisada, no decorrer do Capitulo 1. (**) 0 termo rebeldia escrava está sendo tratado, da maneira como o empre- ga o historiador Joio José Reis, em seu Trabalho "REBELIÃO ESCRAVA NO BRA- SIL" (1986) onde ele identifica essa categoria com as insurreições urba- nas.
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