Fábio Baqueiro Figueiredo Entre raças, tribos e nações: os intelectuais do Centro de Estudos Angolanos, 1960-1980 Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Estudos Étnicos e Africanos da Universidade Federal da Bahia como requisito parcial para a obtenção do título de Doutor em Estudos Étnicos e Africanos. Orientador: Prof. Dr. Valdemir Donizette Zamparoni Salvador 2012 Biblioteca CEAO – UFBA F475 Fábio Baqueiro Figueiredo Entre raças, tribos e nações: os intelectuais do Centro de Estudos Angolanos, 1960-1980 / por Fábio Baqueiro Figueiredo. — 2012. 439 p. Orientador : Prof. Dr. Valdemir Donizette Zamparoni. Tese (doutorado) — Universidade Federal da Bahia, Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, Programa Multidisciplinar de Pós-Graduação em Estudos Étnicos e Africanos, 2012. 1. Angola — História — Revolução, 1961-1975. 2. Angola — História — Guerra civil, 1975-2002. 3. Nacionalismo e literatura — Angola. 4. Relações raciais. I. Zamparoni, Valdemir, 1957-. II. Universidade Federal da Bahia. Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas. III. Título. CDD - 967.303 Fábio Baqueiro Figueiredo Entre raças, tribos e nações: os intelectuais do Centro de Estudos Angolanos, 1960-1980 Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Estudos Étnicos e Africanos da Universidade Federal da Bahia como requisito parcial para a obtenção do título de Doutor em Estudos Étnicos e Africanos. Aprovada em 4 de dezembro de 2012 Banca examinadora: Valdemir Donizette Zamparoni Universidade Federal da Bahia Doutor em História (Universidade de São Paulo) Carlos Moreira Henriques Serrano Universidade de São Paulo Doutor em Antropologia Social (Universidade de São Paulo) Cláudio Alves Furtado Universidade Federal da Bahia Doutor em Sociologia (Universidade de São Paulo) Inocência Luciano dos Santos Mata Universidade de Lisboa Doutora em Letras (Universidade de Lisboa) Maria de Fátima Ribeiro Universidade Federal da Bahia Doutora em Comunicação e Cultura Contemporânea (Universidade Federal da Bahia) Ibi Oyà wà, ló gbiná. Òs̩oosì kì nwo igbó, kí igbó má mì tìtì. Yèyé olomi tútú, Opàrà òjò bíri kalee, o bá alágbára ranyanga dìde. Agradecimentos Para conseguir chegar ao fim deste trabalho, devo muito, a muita gente. Em primeiro lugar, agradeço a Valdemir Zamparoni, pelo incentivo desde o começo dessa caminhada, pela confiança demonstrada sempre, pelo sem-número de livros emprestados e presenteados, pelas valiosas sugestões e contribuições, pelo apoio, não apenas operacional, em todos os percalços burocráticos, em tantos momentos decisivos e em tantas escolhas difíceis, e pelas muitas e frutíferas trocas de ideias que tivemos ao longo de uma relação de orientação que, fazendo bem as contas, completou este ano uma boa década. Agradeço também a Inocência Mata, pela calorosa acolhida em Lisboa, pelo afinco em me disponibilizar os recursos da universidade, pelos livros emprestados e ofertados, pelos imprescindíveis contatos, sem os quais esse trabalho não teria sido escrito, pelas excursões por terras ibéricas, e pelos muitos momentos agradáveis, em torno de um bom vinho e sempre com boa companhia, que tornaram aquele curto exílio temporário muito mais fácil de suportar. Tive o privilégio de poder contar com o apoio de várias instituições, ao longo da lenta feitura deste trabalho. A Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia (Fapesb) concedeu-me uma bolsa de estudos que me permitiu desenvolver adequadamente o cronograma da pesquisa, desde 2007, quando fui admitido no mestrado, até a finalização da escrita do que se transformou em um doutorado, no meio do caminho. A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) financiou um estágio no exterior que deu a esta pesquisa uma outra dimensão e um outro alcance. A Fundação Clemente Mariani e a Casa das Áfricas concederam-me, também, desde a graduação, apoios diversos, na forma de bolsas de estágio, aquisição de bibliografia, passagens e amplas possibilidades de desenvolvimento acadêmico e profissional. A essas instituições, meu sincero agradecimento. A minha maior dívida é provavelmente com as pessoas que se dispuseram a falar sobre suas próprias vidas e a disponibilizar para este trabalho suas memórias, análises e interpretações: Adolfo Maria, Edmundo Rocha e Pepetela. Espero ter escrito um texto à altura de sua imensa generosidade. Um agradecimento especial é devido a Alexandra Aparício, do Arquivo Nacional de Angola, pelo empenho em confrontar os entraves burocráticos que, infelizmente, terminaram por inviabilizar minha visita aos acervos disponíveis em Luanda. Num tom mais pessoal, gostaria de relembrar os muitos professores que, de uma forma indireta, mas muito efetiva, também estão presentes nessa tese, desde os do Departamento de História, onde aprendi tanto, aos do Programa de Pós-Graduação em Estudos Étnicos e Africanos, que me mostraram novos universos teóricos e empíricos, sem esquecer daqueles de cuja convivência pude me beneficiar, ainda que por curtos períodos, ao longo dos anos, em especial Rita Chaves, Marcelo Bittencourt, Paulo Farias, Jacques Depelchin, Ibrahima Thiaw e Elísio Macamo. Muitos colegas também fazem parte dessa história, e seriam precisas muitas páginas para nomear todos, mas não poderia deixar de evocar Marcos Dias Coelho e Fernanda Thomaz (além de tudo o mais, pelo tráfico de livros e artigos digitalizados), Fabiana Peixoto, Fabrício Mota, Sueli Borges e Nadja Ferreira (e nosso memorável afromóvel), Luiza Reis, Alyxandra Gomes, Artemisa Candé, Evaldo Barros, Viviane Barbosa, Tatiana Reis, Valdinéa Sacramento e Adriana Cerqueira. Meu muito obrigado também a Miguel Cruz, a quem atazanei a não mais poder com pequenos grandes favores sem os quais sequer teria chegado a Lisboa, muito menos completado a pesquisa, e a Cléria Ferreira, pelo artigo de Maria do Céu Reis. A Paulo e Marta de Jesus, agradecimentos muito especiais pelo livro de Henrique Abranches em tempo recorde. A Margarida Paredes, pelas muitas conversas, pelas informações privilegiadas, e pela boa companhia. Finalmente, gostaria de agradecer à minha família, que esteve sempre comigo, mesmo quando estava longe, mesmo quando eu desaparecia dentro da tese dias, semanas e meses a fio. Carla e Cristiane estiveram no começo disso tudo, e juntas me trouxeram de volta para uma universidade da qual eu alegremente fugira no início da juventude. Célia e Tiana, de longe, mas atentas e sempre prontas a me socorrer nos muitos percalços dessa minha longa e atribulada formação. Luan e Inaiê cresceram junto com essa tese, que roubou a eles (e a mim) muito do tempo que eu gostaria de ter dedicado às delícias e agruras da paternidade. E, com amor, a Scyl, que nas voltas do tempo me encontrou e reencontrou, e que ficou do meu lado no momento mais difícil de todos. — O inimigo são os outros, percebem? Estes, os nossos, têm fardas e armas parecidas, mas não são exactamente iguais. Eles sabem distinguir. Mas eu não aprendi, porque há fardas diferentes, embora todas parecidas e são todas parecidas com as do inimigo. Uma grande confusão. Mas os outros, os que não são os nossos, são o inimigo. […] — Mas então Kanda é dos nossos e o Luzolo do inimigo? — Penso que sim. Pelo menos o Kanda é dos meus nossos, não sei quais são os nossos dos outros. Pepetela, em Parábola do cágado velho Resumo Esta pesquisa parte da trajetória de um pequeno grupo de jovens reunidos em torno do Centro de Estudos Angolanos (CEA), criado em Argel, em 1964, para investigar as relações entre os esforços simbólicos de construção nacional — que marcam a literatura das independências e o discurso nacionalista em Angola, e na África de modo geral — e outras categorias de identificação coletiva, em especial etnia e raça, historicamente associadas à produção de saberes sobre o continente africano. Este trabalho inicia por um apanhado das relações teóricas entre nação e etnia, e de um inventário dos usos da etnia nos discursos nacionalistas africanos da época das independências, para acompanhar o pequeno núcleo ativo de jovens nacionalistas do CEA desde seu mergulho na agitação nacionalista até sua chegada a Angola. Finalmente, faz um experimento de leitura crítica dos primeiros romances do escritor angolano Pepetela (um dos principais membros do CEA), concentrando-se na sua mobilização das categorias de nação, raça e etnia (em seus aspectos descritivos e normativos), em relação com a produção intelectual do CEA e de seus membros ao longo do período estudado. Palavras-chave: Angola — História — Revolução, 1961-1975; Angola — História — Guerra civil, 1975-2002; Nacionalismo e literatura; Relações raciais; Identidade étnica. Abstract This research draws upon the path tracked by a small group of young nationalists gathered around the Center of Angolan Studies (Centro de Estudos Angolanos, CEA), established in Alger in 1964, in order to investigate the links between symbolic nation-building efforts — which shape independence-era literature in Angola as in the whole of the African continent — and other group-identification categories, namely ethnicity and race, which have been long associated with the production of knowledge about Africa. This work begins with an overview of theoretical relations between nation and ethnicity, as well as an inventory of the usages of ethnicity in African nationalist discourses around the age of independence, and then proceeds along the steps of the young nationalists which comprised the small active core of the CEA, from their first dive into anti-colonial agitation until their eventual arrival in Angola. Finally, it tries
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