SEGUNDA-FEIRA.26.MAR 2018 WWW.DIARIODOMINHO.PT 0,90 € Diretor: DAMIÃO A. GONÇALVES PEREIRA | Ano XCVIII | n.º 31712 Avelino Lima Avelino Arcebispo denuncia corrupção e mesquinhez que exploram RELIGIÃO P.04-05 o ser humano Ricardo Ribas e Filomena Costa REGIÃO P.13 vencem Meia Maratona de Braga Nuno Cerqueira Nuno Bombeiros de Guimarães precisam de autoescada RELIGIÃO P.18 D. ANACLETO EVOCA EXEMPLO DOS BEATOS PAULO VI E BARTOLOMEU WWW.AUTOFIX.PT AutoFix.lda DESPORTO P.20-21 DOS MÁRTIRES Ana Marques Pinheiro Marques Ana 02 DIÁRIO DO MINHO / SEGUNDA-FEIRA / 26.03.18 www.diariodominho.pt António sílvio couto paulo fafe [email protected] [email protected] Para não ser como um mocho! Ó Filhos o final da manhã, o vizinho estava a tas pessoas – ele dizia-o por experiência familiar stes filhos estão tão distantes dos outros que aqui sair de casa para levar a passear, mes- – se escondem e refugiam, evitando o contacto relatei há uma semana como o zénite está do na- mo em cadeira de rodas e por entre com os outros e podendo fecharem-se numa es- dir. É nos contrastes que se distinguem os bons alguma chuva, a mulher um tanto en- pécie de ensimesmamento… dos trastes. Passei por ele na rua. Ia tão mal vestidi- trevada desde há meses… Este ritual é, Há, no entanto, uma outra possibilidade de va- nho: sapatos deformados, casaco deformado, gra- nas palavras do marido, uma forma lorização de ‘não ser como o mocho’, na medida vata sem brilho e camisa pouco própria e pensei: Ade ter contacto com as outras pessoas, não sendo, em que as pessoas saindo da circulação como que Enão tem quem olhe por ele. Que longe estava dos tempos em na sua visão, alguém como o mocho, que viveria podem entrar num processo de pré-morte, sendo que o conheci! Tinha três filhos, tão seguidos uns aos outros, taciturno consigo mesmo e sem ligar aos demais… relegadas para um espaço onde (quase) perdem a que pareciam gémeos. Como ele lutou naquele quiosque pa- Num tempo em que as pessoas se vão fechan- sua identidade e marginalizadas, mesmo que in- ra os trazer asseados! No dia em que o mais velho entrou para do – ou talvez mais encerrando – em si mesmas, conscientemente, abdicam de incomodarem os a universidade, disse-me, também vai ser doutor. Depois fo- sem olharem aos outros, esta perspetiva de sair de mais próximos e até os familiares… Todo este pro- ram as duas, uma atrás da outra. Como ele poupou para lhes casa e de levar alguém ao contacto com os outros cesso pode deixar marcas irremediáveis, sobretu- dar a capa de estudante. Num dia, já mais tarde, orgulhoso dos é – ou devia ser – uma boa dose de abertura para do, se as pessoas que assim vivem, têm tendências três, disse-me, senhor fulano, posso morrer sossegado, todos com os mais próximos, podendo ser os vizinhos para o isolamento e a autoexclusão… os meus filhos estão bem na vida. Lembrei-me da satisfação muito mais do que a presença dos familiares di- Hoje há uma larga fatia da nossa população que do Tomé da Póvoa dos "Fidalgos da Casa Mourisca", quando retos… tão ‘ocupados’ andam com as suas vidas! vive isolada, passando uma boa parte do seu dia chegou a casa depois de ter adquirido a quinta que comprara votada a uma espécie de abandono… Não basta ten- com muitos sacrifícios e bateu nas árvores, bebeu da água dos tar fazer sair essas pessoas de casa, se não forem tanques, ouviu os chilrear dos passarinhos nas copas das suas Desejamos para todos valorizadas e atendidas às suas necessidades e po- árvores, e disse, tudo isto é meu. Também este pai deveria ter quantos nos possam ler tencialidades mais básicas e essenciais. dito, tudo isto é obra minha. Um pai dá e não espera nada em troca. A realização de um filho é a satisfação dum pai. Mas, ó que tenham um tempo = Vivemos efetivamente numa encruzilhada, on- filhos, lá porque ele não teve estudos, porque vocês casaram de vivência do mistério de a egolatria tem mais espaço e oportunidade do com gente doutra sociedade, as vossas vivendas não se parecem que a capacidade de repararmos no Cristo de bra- com o andarzito humilde onde ele continua a morar, sozinho, pascal com serenidade ços abertos e de coração trespassado na Cruz. Esta não merece ser abandonado; trata-se do vosso pai, o mesmo e simplicidade, com deverá polarizar a nossa atenção nos dias que se que tanto se sacrificou por vós! Lembram-se que ele fez de pai aproximam… de Semana Santa e de Páscoa. Com e de mãe, quando ficou viúvo? Não vos lembrais e esta ingrati- ousadia e com harmonia, efeito, quando andamos tanto a olhar para baixo – dão faz chorar as pedras. Se Deus fosse tão mau como eu sou, com fidelidade e até parece que perdemos algo e tentamos encon- não vos perdoaria nunca; não pode haver alegria no coração trá-lo avidamente – tornar-se num grande desafio dum filho quando rejeita um pai, quando o repudia e esquece espargindo a felicidade de essa atitude de olharmos para o Alto e de vermos só porque a outra família não o quer nas suas relações sociais. acreditarmos em Cristo no Crucificado quem responde às nossas aspira- Ele talvez não saiba uma palavra de línguas estrangeiras, tenho ções mais subtis e audaciosas. Enquanto não sou- a convicção firme de que não sabe nada do que vós estudastes, Jesus… bermos colocar o olhar na meta, andaremos a ti- mas sabe e sente a cada momento que passa, que sois filhos de- tubear por entre as quedas nas etapas… le e que seria capaz, mesmo escorraçado, vir morrer por vós à Quem melhor do que Jesus para nos ensinar a porta de vossa casa, como fez o cão de Guerra Junqueiro. Cus- = Como ave notívaga, o mocho encerra algu- percorrer o nosso caminho – nem sempre tão sa- ta-me passar por ele e vê-lo tão desprezado! Quem já viu o sol ma simbólica ambígua, tanto podendo significar cro quanto seria desejável – de cada dia e de toda acha a lua sem brilho. Um dia destes parou-me na rua e per- algo que tenha a ver com a sabedoria, a vigilância a vida: n’Ele, por Ele e com Ele aprendemos a não guntou-me se eu “ainda escrevia aquelas coisas no Diário do Mi- e a contemplação – aparece, por vezes, associado ficarmos tropeçados nas quedas, mas, com a aju- nho”! Pois, disse-me ele, os meus filhos também podiam escre- à representação da matemática – como ainda po- da dos outros e ajudando-os também, haveremos ver, são todos doutores, sabe? As lágrimas que já as tinha visto de ser interpretado numa vertente mais sombria, de ser capazes de vivermos em abertura àqueles/ brilhar de orgulho, agora afloravam-lhe aos olhos magoadas e associado a episódios portadores de más notícias, /as que Deus coloca no nosso caminho, confiando tristes como noite sem dia seguinte; naquelas faces morava a onde a morte seria um deles, e mesmo com um neles e sendo amparo uns para os outros. mágoa. Com um arranco reprimido, trouxe do fundo do seu sentido algo esotérico relacionado com a bruxa- Desejamos para todos quantos nos possam ler sentir, repetiu, agarrando com força o meu braço, “todos são ria e afins… que tenham um tempo de vivência do mistério doutores, sabe”. Falou alto para tentar abafar a voz do desgos- Em certos contextos socioculturais a alusão ao pascal com serenidade e simplicidade, com ousa- to que lhe brotava do fundo da alma. E foi-se embora, olhos mocho é algo mais alusivo ao prenúncio malévolo dia e com harmonia, com fidelidade e espargin- molhados, no chão, sem mais dizer. Tinha uma boca apodre- do que como portador de boas notícias… do a felicidade de acreditarmos em Cristo Jesus… cida a pedir tratamento dentário urgente, um casaco no fio a Porque vive e anda de noite, a sua visão é asso- O mocho foi entendido em certas épocas da cris- pedir um novo, uns sapatos cambados a solicitar substituição ciada a uma capacidade invulgar de ultrapassar as tandade como prefiguração de Cristo (Lc 1,79), co- e uma camisola desbotada e manchada de nódoas a pedir lim- dificuldades e mesmo entendido como uma ex- mo referência à capacidade de guiar as almas que peza; mas continuava, segundo ele, sem mendigar nada aos fi- pressão de sabedoria acima da média… sobretu- estavam nas trevas… para a paz! lhos. Ó filhos, quem espera que lhe peçam, na verdade não dá, do humana. empresta com usura. A sua dignidade suportava a pobreza, mas não aguentava a ingratidão dos filhos, por muito que tentasse = Quando o tal vizinho utilizou o recurso de disfarçar. É na adversidade que se conhece a nobreza das pes- ‘não ser como o mocho’ talvez tenha pretendido soas. Ele mais que cumpriu a sua missão de pai. Ele cumpriu. fazer sair da escuridão e da penumbra em que tan- E os seus filhos? 26.03.18 / SEGUNDA-FEIRA / Publicidade / DIÁRIO DO MINHO 03 www.diariodominho.pt PRÓXIMO DIRECTO PROCISSÃO DE NOSSA 28 SENHORA DA BURRINHA MAR Quarta-feira | 21h30 Transmissãomissão emem DIRECTO facebook/diariodominho.pt Procissões da Semana Santa Parceiros: Experiência e WƌŽĮƐƐŝŽŶĂůŝƐŵŽ INDÚSTRIA COMÉRCIO E REFRIGERAÇÃO, LDA •Cozinhas e Lavandarias Industriais • Mobiliário Inox •WĂŶŝĮĐĂĕĆŽͬWĂƐƚĞůĂƌŝĂ www.novafrio.pt /E/ůǀĂƌĄŶ͘ǑϱϰϬϴϯ •dĂůŚŽͬdƌĂƚĂŵĞŶƚŽĞWƌŽĐĞƐƐĂŵĞŶƚŽĚĞĐĂƌŶĞ •ZĞĨƌŝŐĞƌĂĕĆŽŽŵĞƌĐŝĂůĞ/ŶĚƵƐƚƌŝĂů •sĞŶƟůĂĕĆŽĞƌŽŶĚŝĐŝŽŶĂĚŽsĞŶƟůĂĕĆ ĂďĂŶĂƐ>ŽƚĞϰͲƵŵĞƌĂŐĂ •ƐƐŝƐƚġŶĐŝĂdĠĐŶŝĐĂƐƐŝƐƚġŶĐ T: 253 607 229 | [email protected]@novafrio.pt • EstudosEstudos e Projetos Bom Jesus RuaRua dee S. Frutuoso Frrutuutuosso s/n s DumeDuume S.S.