SIQUEIRA, V.R. Ideações Suicidas do Dr. Bruce Banner: o Hulk: um Estudo de Caso Dr. Bruce´s Suicidal Ideation: Hulk: a Case Study Vinicius Reis de Siqueiraa* aFaculdade de Ciências Aplicadas de Cascavel, PR, Brasil *E-mail: [email protected] Resumo Este artigo realiza um pequeno estudo de caso da narrativa ficcional sobre a tentativa de suicídio do Dr. Robert Bruce Banner (mais conhecido por seu alter-ego: O Incrível Hulk), mostrada na revista em quadrinhos “BANNER” de Brian Azzarello e Richard Corben em dezembro de 2002. A metodologia utilizada foi à análise literária e sua discussão e análise baseadas numa perspectiva psicanalítica, além de teorias sociais da psicologia. Através de uma investigação ligeiramente mais profunda acerca dos motivos que levaram o Dr. Banner a atentar contra sua vida e uma breve revisão das teorias que tratam sobre suicídio, observa-se que podem existir razões que vão além daquelas primeiras impressões óbvias e conscientes. Observa-se, através deste estudo de caso, que muitas vezes podem existir varias razões inconscientes e latentes que podem interferir e explicar uma tentativa de suicídio. Palavras-chave: Suicídio. Hulk. Análise Literária. Abstract This article performs a small case study of the fictional narrative about Dr. Rober Bruce Banner´s suicidal attempt (better known for his alter-ego: The Incredible Hulk), shown in the comic book “BANNER” by Brian Azzarello and Richard Corben in December of 2002. The methodology used was that of literary analysis and its discussion and analysis based on a psychoanalytic perspective, along with social theories of psychology. Through an investigation slightly more profound regarding the motives that took Dr. Banner to attempt against his own life and a short revision on the theories that deal with suicide, it can be observed that there may bet reasons that go beyond those obvious and conscious first impressions. It can be observed in this case study that a lot of times several unconscious and latent reasons may exist that can interfere and explain a suicidal attempt. Keywords: Suicide. Hulk. Literary Analysis. 1 Introdução 2 Desenvolvimento Este artigo pretende realizar um breve estudo de caso 2.1 Referencial teórico sobre o suicídio, utilizando-se do personagem fictício Dr. 2.1.1 Hulk Robert Bruce Banner, mais conhecido por seu alter-ego, o Hulk, e tomando como referência a perspectiva psicanalítica e Pego no interior de uma explosão nuclear e vítima teorias sociais da psicologia. da radiação gama, Dr. Robert Bruce Banner se encontra Para tanto, o presente texto utiliza-se de uma “análise transformado durante horas de stress na personificação de literária” de uma historia e personagem fictícios para sua raiva e fúria, a criatura mais poderosa a andar sobre a demonstrar como tal metodologia é semelhante ao estudo face da Terra! O Incrível Hulk. de uma tentativa de suicídio, uma vez que, ambos procuram A mutação gama que transforma Dr. Banner em Hulk decompor as partes constituintes da vida (real ou fictícia) de é uma transformação tanto psicológica quanto física. um individuo visando perceber o valor e o relacionamento Aparentemente a radiação gama que criou o Hulk libertou que tais fragmentos guardam entre si, buscando ultimamente partes profundas de seu inconsciente, estimulando uma compreender e interpretar melhor a situação como um todo fúria reprimida, libertando assim uma criatura poderosa, completo e significativo (PALHANO, 1961). nascida da raiva, da dor e do medo – tais sentimentos do O personagem examinado neste artigo é notoriamente Dr. Banner serão esclarecidos em mais detalhe no decorrer conhecido, tendo versões de sua historia contadas em diversas deste artigo. mídias, tais como seriados de TV, desenho animado, filmes e Deve-se notar que o personagem em questão apresentou gibis. Este estudo, no entanto, se baseara especificamente na em sua historia nos quadrinhos pelo menos três identidades perspectiva contada pelas revistas em quadrinhos, a qual será distintas que podem ser expressos em termos Freudianos introduzida e analisada na seção seguinte. como: superego, o ego e o id (FREUD, 1993). Rev. Educ., v.18, n.24, p.30-33, 2015 30 Ideações Suicidas do Dr. Bruce Banner: o Hulk: um Estudo de Caso Dr. Banner representaria o superego, uma bem- Para Freud (1993) inconscientemente todos estão intencionada e rígida personalidade, quase despótica em sua convencidos de sua própria imortalidade. No entanto, consciência moral e razão. em circunstancias na qual uma pessoa se defronta com a O primeiro Hulk (apresentado no primeiro número do mortalidade de outra, é normal surgirem sentimentos de pesar gibi americano deste “herói”) foi um ser cinza com poder que Freud (1993) concebe como uma projeção da preocupação de vontade e decisão, no qual Banner projetava sua raiva, pela própria morte. Freud (1996) criou então o conceito podendo desta forma ser representado como ego. de instinto ou pulsão de morte para tratar dos conteúdos O Hulk verde representaria o id desenfreado de Banner, inconscientes que dão origem a ideia de aniquilação da vida, lugar de seus instintos de sobrevivência e desejos infantis, dizendo que o próprio objetivo de toda vida é a morte. sempre fazendo tudo o que quer para alcançar seus desejos. A primeira contribuição sistemática para o estudo Este estado infantil narcisista resulta num ser simplório, que social do suicídio foi dada por volta do século passado pelo fala como um bebê, vendo o mundo como uma extensão de sociólogo francês Durkheim, ao tentar explicar os padrões si mesmo. estatísticos de suicídio. Ele dividiu os suicídios em três Banner sofre de uma psicose, já que quando se transforma categorias: egoístas, altruístas e anômicos. O suicídio egoísta sua mente cinde em outra personalidade, a do Hulk. Uma aplicava-se àqueles que não estão fortemente integrados a possível forma de curar Banner e acabar com o Hulk seria qualquer grupo social. O suicídio altruísta descrevia o grupo através de um tratamento terapêutico, no qual se pudesse cuja propensão ao suicídio derivava da excessiva integração facilitar que cada parte de sua personalidade se aproximasse em grupo. Finalmente o suicídio anômico referia-se àquelas uma à outra, chegando a termos com estas, algo que Doc pessoas cuja integração na sociedade estava perturbada, Samson (um psiquiatra super-poderoso do universo Marvel) privados das normas costumeiras de comportamento da tentou em várias ocasiões (Incredible Hulk # 141; Incredible sociedade (DURKHEIM, 1983). Hulk #227, entre outros). Um trabalho que poderia durar anos, O leigo, todavia, sempre busca uma explicação por demais já que casos de múltipla personalidade são reconhecidamente simplista para os motivos do suicídio. Explicações errôneas e muito difíceis (KLUFT, 2000). fáceis podem ser lidas e ditas através da análise popular nos Voltando-se ao foco deste artigo, pretende-se estudar a jornais, relatórios de seguro de vida e até mesmo em atestados história que foi publicada em dezembro de 2002, no número de óbito e levantamentos estatísticos (MENNINGER, 1970). 3 do gibi da editora Panini, “Marvel Apresenta” chamado: Pasra Kaplan (1997) o suicídio é o ato consciente “BANNER”. Escrita por Brian Azzarello e Richard Corben de aniquilação auto-induzida, uma enfermidade (este último, ganhador do prêmio Eisner Award) conta a multidimensional em um indivíduo, para a qual o ato é história de quando o Dr. Robert Bruce Banner tentou se percebido como a melhor solução. O suicídio é um ato de suicidar. Este artigo se foca mais na primeira parte deste gibi linguagem, de comunicação. Como a grande maioria dos dos quatro capítulos que o constituem. seres humanos vive numa rede de relacionamentos, a morte significa algo para outras pessoas. Constata-se pelos discursos 2.2 Discussão encontrados na maioria dos bilhetes suicidas que o suicida está muitas vezes num quadro de embotamento, como se estivesse 2.2.1 O suicídio afogado em suas próprias emoções. Ele frequentemente O primeiro exame psicológico importante do suicídio não aproveita os vínculos sociais para compartilhar seus provém de Freud. Ele descreveu apenas um paciente que sentimentos e normalmente vê o mundo de maneira muito realmente atentou contra sua própria vida, todavia viu muitos própria. O suicídio, então, torna-se um meio de expressão, pacientes deprimidos. Em seu artigo Luto e Melancolia, uma fala que não pôde ser dita (DIAS, 1991). Freud (1975) afirmou que a auto-aversão vista na depressão De acordo com a Organização Mundial de Saúde (WHO, originava-se da raiva contra um objeto de amor, raiva que 2013), sexo, métodos, idade, raça, religião, estado civil, as pessoas voltavam contra si próprias. Freud encarava o ocupação, clima, saúde física, saúde mental, pacientes suicídio como uma forma extrema deste fenômeno e duvidava psiquiátricos e comportamento suicida anterior são fatores que houvesse um suicídio sem o desejo anterior reprimido de associados ao suicídio. A partir de do conjunto acumulado matar outro alguém. de conhecimento referente a fatores de risco, com relação ao Teorizando a partir dos conceitos de Freud, Karl sexo, os homens cometem suicídio com uma frequência três Menninger (1970) em “Eros e Tanatos: O Homem contra vezes maior do que as mulheres. Com relação ao método, os si próprio” descreveu um instinto de morte autodirigido, suicídios mais bem-sucedidos são os cometidos por homens, o conceito de tanatos, concebendo o suicídio como um pois usam armas de fogo, enforcamento ou precipitação assassinato retroflexo, isto é, um homicídio invertido de locais altos enquanto as mulheres tendem mais a tomar resultante da raiva do paciente contra outra pessoa, raiva dosagens excessivas de substâncias venenosas. esta que o indivíduo voltava para seu interior ou a usa como O casamento é um fator que parece diminuir desculpa para uma autopunição. significativamente o risco de suicídio. Pessoas jamais casadas 31 Rev. Educ., v.18, n.24, p.30-33, 2015 SIQUEIRA, V.R. registram uma taxa de aproximadamente duas vezes a taxa radiação.
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