Personagens Característicos: Os Estereótipos Presentes Nas Revistas De Tex Willer

Personagens Característicos: Os Estereótipos Presentes Nas Revistas De Tex Willer

PERSONAGENS CARACTERÍSTICOS: OS ESTEREÓTIPOS PRESENTES NAS REVISTAS DE TEX WILLER. RESUMO O presente trabalho pretende uma apresentação do personagem de quadrinhos italianos (fumetti) Tex Willer criado por Giovanni Luigi Bonelli (Gianluigi) e Aurelio Galepinni (Galep), responsáveis pelo roteiro e desenho, respectivamente, em 1948 e que perdura até os dias atuais por meio das publicações periódicas da Sergio Bonelli Editore, localizada em Milão, e reproduzidos no Brasil pela Mythos Editora (São Paulo). Aqui apresentamos o personagem (principal) e, além disso, damos prioridade à discussões mais centrais sobre os estereótipos gerais que aparecem nos enredos ao longo do desenvolvimento dos roteiros e histórias de Tex Willer, destacando a representação de grupos como “mulheres”, “negros”, “índios” e “chineses” bem como as características principais de Tex. Ao longo do texto iremos apresentar quem é este personagem, como ele é representado, qual seu rosto, bem como em que contexto ele está inserido, de criação e atuação (em seus enredos) para posteriormente, após esta caracterização da revista, das histórias, abordarmos como se dão representações outras de grupos que aparentam uma homogeneidade em diversas aparições, que são os já listados acima. É importante destacar que este trabalho foi apresentado com resultados parciais em 2013. Acreditamos que o mesmo contribui para as discussões acadêmicas sobre as produções Bonellianas de Tex Willer na área específica de História. Daí a proposta de divulgar as informações iniciais aqui contidas que enriquecem e abrem portas para mais pesquisas que tenham como objeto de pesquisa este personagem tão complexo e emblemático e suas relações com outros personagens tipicamente pensados, desenhados e caracterizados. PALAVRAS-CHAVE: Tex Willer; estereótipos; história em quadrinhos. INTRODUÇÃO Este trabalho é resultado de discussões realizadas durante a disciplina de História da América I, presente no currículo básico do curso de Licenciatura e Bacharelado em História da Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Incentivada pela professora da disciplina para elaborarmos um trabalho final que estivesse dentro do conteúdo ministrado, optei por trabalhar com a História em Quadrinhos (HQ) do personagem Tex Willer e sua contribuição para a divulgação de uma ideia de Estados Unidos da América, daí o surgimento deste texto como uma proposta inicial. Posteriormente o mesmo foi ampliado para um plano de trabalho vinculado ao PIBIC – Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica. É importante ressaltar que esta é uma das poucas produções que dizem respeito às histórias em quadrinhos sobre o personagem Tex (na área de história), portanto muitas observações são particulares, feitas a partir de uma leitura crítica dos gibis, e baseada em outros autores, inclusive historiadores com foco em História da América, bem como materiais que discutem a questão de estereótipos entendidos como uma construção histórico-social e a teoria de História em Quadrinhos, sobretudo retirada da área das comunicações por meio dos autores Waldomiro (2010), Priscila Pereira (2011), Márcio Rodrigues (2011) e Carlos Oliveira (2011), estes três últimos especificamente da área de História, o que muito contribuiu para melhor pensar as diversas hipóteses que esta pesquisa suscitou e pode suscitar. Como a publicação texiana é muito abrangente, sobretudo no que tange as histórias que se passam em território estadunidense, sua produção está intimamente relacionada à história deste país. É importante ressaltar que as produções do personagem estão disponíveis na maioria (para não dizer todas) as bancas de jornais e revistas das regiões do sudeste, centro-oeste e sul do Brasil e atualmente estão sobre a responsabilidade da editora Mythos. Para compreendermos Tex é preciso também compreendermos Bonelli e Galep, os criadores do personagem, bem como a inserção espaço-temporal destes (a Itália pós Segunda Guerra Mudial). Nosso objetivo neste trabalho é fazer um recorte da pesquisa geral, com foco em questionamentos sobre os estereótipos presentes nas HQ’s, de grupos de personagens que são tidos como uma unidade (apesar de não o serem), tais como índios, chineses, mulheres, negros, mexicanos, mestiços e os brancos, tidos como minoritários no estudo historiográfico, presentes em vários números publicados e, como isso contribui para a divulgação de uma identidade nacional estadunidense construída a partir [também] da Indústria cultural dos EUA. Não é objetivo aqui problematizarmos cada aparição destes, mas sim demonstrar como eles são constitutivos e construtivos dos território estadunidense, como estão presentes na formação deste território (de maneira conflituosa ou não) e como são percebidos por autores italianos que recriam os EUA no século XIX. Também não é nosso objetivo central abordar questões mais profundas acerca de Tex, uma vez que o recorte é temático, tendo como foco estereótipos presentes nas revistas, o que dificulta um recorte temporal. Entretanto é possível situar as histórias aqui selecionadas (os quadrinhos recortados) entre os períodos 1999 a 2007, no Brasil. Neste sentido focamos nos grupos a seguir: negros, índios e mexicanos. QUEM É TEX? Tex Willer1 é o nome dado ao ranger mais “temido” em território estadunidense, é também o agente da reserva indígena e o chefe navajo, também conhecido como Águia da noite (no dialeto indígena). Em geral Tex aparece nas sagas ao lado de seus companheiros: Kit Carson (Cabelos de Prata, no dialeto indígena), Kit Willer, filho de Tex (Pequeno Falcão, no dialeto indígena) e Jack Tigre (o navajo mestiço, que apesar de não ser ranger, está presente em muitas aventuras), todos lutando pelo senso de justiça próprio do quarteto: “olho por olho e dente por dente”. As características principais dos personagens que são construídas ao longo da trajetória dos mesmos podem ser observadas: no pessimismo incessante de Carson, na mudez de Tigre, nas brincadeiras e o humor sarcástico de Tex, e nas atitudes, ás vezes, um pouco imaturas de Kit Willer. Apesar de ser filho de roteirista e desenhista italianos, muitas histórias de Tex se passam nas pradarias e desertos dos Estados Unidos e todas em território americano (Canadá, EUA, Bolívia), mostrando muitas características geográficas, sociais, econômicas, políticas e culturais deste país em diversos momentos da história: desde a “marcha para o oeste”, o assassinato de Lincoln, e até mesmo a Guerra de Secessão, entre outros fatos históricos e culturais como por exemplo a “mania” de Tex e Kit Carson pedirem em salloons “bifes de três dedos de altura, sepultados sob uma montanha de batatinhas fritas acompanhados de um canecão de cerveja”.2 Tex também teve um filme estrelado por Giuliano Gemma na história Tex e o senhor do Abismo distribuído em 1985 no território brasileiro, mas que não faz parte da análise deste trabalho.3 TEX WILLER: CONTEXTO DE PRODUÇÃO 1 Para colhermos informações sobre o personagem, consideramos diversas fontes de informação tais como o livro de Mauro Boselli (2012), a entrevista de Gian Bonelli concedida a Decio Canzio, bem como o texto de Gianni Brunono (2004), disponível no blog da editora Bonelli. 2 Este é um pedido comum dos rangeres em sallons por isto está entre aspas, exemplificando a fala destes. 3TEX e o senhor do abismo. Direção: Duccio Tessari. Itália: Titanus, 1985. 1 dvd (94 min.), son., color. Tex Willer é uma criação de Giovanni Luigi Bonelli e Aurelio Galleppini (Galep) na Itália em 1948 e suas histórias eram publicadas em jornal e posteriormente foram compilados para o formato de gibi preto e branco. Este é uma das personagens mais antigas de westerns sendo publicado em diversos países do mundo, sobretudo, Itália, Portugal e Brasil. A editora Bonelli procura fazer uma pesquisa anterior para construir os enredos das histórias de Tex o mais próximo possível da cultura na qual o ranger está inserido (tanto no desenho, como no enredo). As histórias de Tex jovem se passam em sua maioria na década de 1860 nas quais o então fora-da-lei participava de rodeios e da guerra civil americana. Tex mais velho (“quarentão” como é conhecido) aparece em outros contextos históricos, no período de 1880 a 1890 da história dos EUA. Até 2011 a editora responsável pelas publicações de Tex, na Itália, estava sob a direção de Sérgio Bonelli, filho de G. L. Bonelli que também é responsável pelas publicações de outras personagens tais como Zagor, Ken Parker, Júlia, a criminóloga, Martin Mystere e Mister No (todos disponíveis no Brasil em bancas de jornais e revistas e todos da editora Bonelli) e atualmente está sob a responsabilidade de David Bonelli (filho de Sérgio). TEX WILLER: OS AUTORES Gian Luigi Bonelli, o “pai” de Tex, nasceu em Milão a 22 de dezembro de 1908, Bonelli iniciou carreira literária no início dos anos 30 do século passado para o Corrieri dei Piccoli, e passou por diversas outras empresas, criando outros personagens, até conseguir abrir a própria editora e em 1948 criar, em conjunto com Aurelio Gallepini o personagem Tex. Luigi Bonelli faleceu em Alexandria em 2001 e sua última história escrita foi publicada em 1991 na Itália. Tex ainda é “o livro italiano de quadrinhos com o maior número de vendas, tem resistido à crise do gênero western a partir da qual se inspirou”4. “Para sua criação Bonelli tomou como modelo de referência (e não poderia ser de outra 4 Disponível em: <HTTP://WWW.guiadosquadrinhos.com/artistabio.aspx?cod_art=2621>, acesso em 13 de julho de 2012. forma) o cinema ocidental e do período clássico, especialmente os filmes de John Ford. [..] e cria um imaginário que é agora considerado a marca registrada do Texas.”5 Aurelio Galleppini, ou simplesmente Galep, foi o pai de Tex no desenho. Nascido em 20 de agosto de 1917, na província de Grosseto, Casale di Pare, na Itália, teve formação profissional como desenhista. Antes de Tex, iniciou carreira com outros personagens e em outras editoras, mas teve seu trabalho interrompido pela segunda guerra mundial, na qual serviu no forte militar em Caligari. Ao final da guerra, tornou-se professor na mesma cidade e ao mudar-se para Milão, passou a dedicar-se, a partir de 1948, em parceria com Luigi Bonelli aos trabalhos da então editora Audace.

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