
Incursões Nórdicas no Ocidente Ibérico (844-1147): Fontes, História e Vestígios Hélio Fernando Vitorino Pires Tese de Doutoramento em História Medieval Março 2012 Tese apresentada para cumprimento dos requisitos necessários à obtenção do grau de Doutor em História Medieval, realizada sob a orientação científica de João Luís de Lima e Silva de Sousa e Maria da Graça Videira Lopes Apoio financeiro da FCT e do FSE no âmbito do III Quadro Comunitário de Apoio Aos meus Antepassados, em particular ao meu avô paterno, que faleceu quando eu estava na Galiza AGRADECIMENTOS A presente tese é fruto não só do trabalho individual do seu autor, mas também do contributo essencial de várias pessoas. A elas devo, por isso, a minha homenagem e profundo agradecimento. Em primeiro lugar, aos meus pais, que sempre me apoiaram e tornaram possível a minha ida para a Suécia, onde, pela primeira vez, estudei o tema das incursões nórdicas no ocidente ibérico. Ao meu querido amigo Ricardo Ferro, que, de Coimbra para Uppsala, forneceu-me informação vital para esse trabalho, assim como a Alexandra Sanmark, que foi cordenadora do meu Mestrado e tutora no estudo de vikingues. A ela agradeço também por me ter enviado cópias de documentos vitais para a presente tese e que não se encontram disponíveis em Portugal. O meu obrigado a Bernardo Vasconcelos e Sousa, que foi a primeira pessoa com quem contactei para elaborar o meu projecto de Doutoramento, e ainda aos meus dois orientadores, João Silva de Sousa e Graça Videira Lopes, cuja supervisão foi inestimável. Os meus agradecimentos vão também para os que, ao longo dos três anos de pesquisa, puseram ao meu dispor as suas bibliotecas pessoais, confirmaram referências bibliográficas em bibliotecas estrangeiras ou enviaram cópias de excertos de obras a que, de outra forma, eu não teria tido acesso célere. Obrigado, por isso, ao Mário Gouveia, ao Edmundo Rosa, ao Sérgio Folgueira e ao José Santos, que foi ainda o ombro amigo que se espera de um irmão afectivo. Obrigado ao Fernando Rodrigues, que não me deixou partir para a Galiza sem levar uma lista de conselhos, ao Angelo Meraio, que me acolheu na chegada a Santiago de Compostela, e à Maria Filomena Borja de Melo, que foi minha tutora em paleografia. E aos muitos funcionários de bibliotecas e arquivos documentais que foram meus guias por entre os catálogos, em Lisboa, Coimbra, Ourense e Compostela. Por último, ao Alexandre Vicente, que me aturou nos momentos mais chatos e partilhou comigo as gargalhadas saídas das aventuras de um terceiro calhau a contar do sol ou de um extraterrestre chamado Roger. Incursões Nórdicas no Ocidente Ibérico (844-1147): Fontes, História e Vestígios Hélio Pires RESUMO A Idade Vikingue, que teve início no final do século VIII, atingiu, inevitavelmente, a faixa ocidental da Península Ibérica, onde o primeiro ataque registado ocorreu em 844. O que se seguiu foram mais de duzentos anos de incursões, primeiro por piratas nórdicos e, a seu tempo, por cruzados do norte da Europa que viajavam rumo à Palestina. O presente trabalho analisa esse período da História no contexto maior da Idade Vikingue e das mutações ocorridas na Escandinávia da época. Começa por apresentar as fontes essenciais para o estudo do tema, incluindo aspectos críticos a ter conta na sua leitura, antes de entrar nos vários séculos de ataques e, no final, fazer uma recolha dos vestígios deixados pelos nórdicos. PALAVRAS-CHAVE: Portugal, Galiza, Escandinávia, nórdicos, vikingues, ataques, literatura, lendas, fortificações, cristianização, cruzados. Norse Incursions in Western Iberia (844-1147): Sources, History, and Traces Hélio Pires ABSTRACT The Viking Age, which started at the end of the 8th century, inevitably reached the western part of the Iberian Peninsula, where the first recorded attack took place in 844. What followed were more than two hundred years of incursions, first by Norse pirates and, in time, by northern European crusaders who travelled to Palestine. The present work analyses that period of History in the greater context of the Viking Age and the changes that took place in Scandinavia at the time. It starts by presenting the essential sources for the study of the topic, including critical aspects that need to be taken into consideration when reading them, before entering the several centuries of attacks and, in the end, recording traces left by the Norse. KEYWORDS: Portugal, Galicia, Scandinavia, Norse, Vikings, attacks, literature, legends, fortifications, Christianization, crusaders. Índice Introdução 1. Terminologia 1.1. Vikingue 1 1.2. Normandos 5 1.3. Nórdicos 5 1.4. Dinamarca, Noruega e Suécia 6 2. A Idade Vikingue 7 3. Parâmetros geográficos e cronológicos 9 4. Estado da Arte 11 5. Estrutura e notas 16 I. Fontes Capítulo 1: Fontes norte-ibéricas 1.1. Origens e ideologia 21 1.2. Crónica Albeldense 25 1.3. Crónica Profética 26 1.4. Crónica de Alfonso III 27 1.5. Crónica de Sampiro 29 1.6. História Silense 30 1.7. Cronicão Iriense 31 1.8. Historia Compostelana 32 1.9. Chronica Gothorum 34 1.10. Outras Fontes Annales Complutenses 36 Vita et miracula Sancti Rudesindi 36 De expugnatione lyxbonensi 37 España Sagrada 38 Cartulários e colectâneas de documentos 39 Capítulo 2: Fontes árabes 2.1. Contexto histórico 40 2.2. Ta’rikh ibn al-Qutiya 42 2.3. Al-Muqtabis 44 2.4. Al-Bayan al-Mughrib 45 Capitulo 3: Fontes nórdicas 3.1. Origem e aspectos críticos 47 3.2. Morkinskinna 54 3.3. Fagrskinna 56 3.4. Heimskringla 58 3.5. Outras Fontes Historia Norwegie 60 Ágrip af Nóregskonungasögum 61 Orkneyinga saga 62 Knýtlinga saga 63 Capítulo 4: Fontes francas e britânicas 4.1. Anais de São Bertino 64 4.2. História dos Normandos 65 4.3. Fragmentos dos Anais da Irlanda 66 II. História Capítulo 5: Terras vikingues 69 5.1. Território e comunidades 71 5.2. Embarcações 74 5.3. Comércio 77 5.4. Religião 81 5.5. Causas das incursões 85 Capítulo 6: Os vikingues na Península Ibérica 6.1. Os motivos 90 6.2. Vikingues na Península no século VIII? 92 Capítulo 7: As incursões do século IX 95 7.1. Corunha, 844 99 7.2. Lisboa, 844 104 7.3. Galiza, 858 111 7.4. Lisboa, 858 114 7.5. Costa de Beja, 859 114 7.6. Costa ocidental, década de 860? 117 Capítulo 8: As incursões do século X 120 8.1. Tui, antes de 912 ou 934 127 8.2. Lisboa, Alcácer do Sal e Algarve, 966 129 8.3. Lugo, entre 951 e 985? 131 8.4. Expedição de Eiríkr blóðøx, depois de 954? 132 8.5. Guimarães, c. 968? 134 8.6. Galiza, 968-9 136 8.7. Rio Douro, Julho de 971 148 8.8. Sul do Douro, 971 151 8.9. Norte do Mondego, 972? 154 8.10. São João de Coba, antes de 974 ou 978? 155 8.11. São Estevão de Boiro, antes de 990 156 8.12. Bonimento e Colina, antes de 992? 157 8.13. Santa Eulália de Curtis, antes de 995 159 Capítulo 9: As incursões do século XI 161 9.1. Condado Portucalense, 1008? 168 9.2. Entre Douro e Ave, de Julho de 1015 a Abril de 1016 170 9.3. Vermoim, 6 de Setembro de 1016 175 9.4. Tui, antes de 1022 ou 1024 177 9.5. Santa Maria da Feira, c. 1026 187 9.6. Galiza, antes de 1032 190 9.7. Galiza, c.1055? 193 9.8. Galiza, antes de 1066 195 9.9. Sada, antes de 1086 197 Capítulo 10: As incursões do século XII 199 10.1. Galiza, c. 1108 206 10.2. Sintra, c. 1109 213 10.3. Lisboa, c. 1109 216 10.4. Alcácer do Sal, c. 1109 219 10.5. Galiza, c. 1112 222 10.6. Lisboa, 1147 225 III. Vestígios Capítulo 11: Lendas e festas 231 11.1. Batalha em Chantada 232 11.2. Ataque ao Cálogo 234 11.3. A ponte e o general Arnelas 236 11.4. A Torre de São Saturnino 236 11.5. A Pastorinha 237 11.6. A casa do normando 238 11.7. O milagre de São Gonçalo 239 11.8. A Romaria Vikingue de Catoira 241 Capítuo 12: Fortificações 243 12.1. Torre do Oeste, Catoira 245 12.2. A Lanzada, Sanxenxo 248 12.3. Muralhas de Santiago de Compostela 250 12.4. Castelo de São Mamede, Guimarães 251 12.5. Castelo de Citofacta, Pontevedra? 253 Capítulo 13: Colonos? 257 13.1. Os Gunderedos 258 13.2. A aldeia de Lordemão 260 13.3. Influência naval 261 Conclusão 265 Bibliografia 275 Anexos 297 Introdução 1. Terminologia As palavras têm os seus significados e, frequentemente, também ideias feitas e preconceitos associados. Isto é uma verdade que tem originado mal entendidos, erros de persistência variável e incontáveis recursos a dicionários. E é também o motivo pelo qual o presente trabalho deve abrir com uma explicação sobre o significado de termos essenciais da pesquisa. Caso contrário, corria-se o risco de a leitura ser, desde o início, enviusada pelos pressupostos populares sobre vikingues e ter como vítima final a compreensão dos dados aqui apresentados. Vikingue As enciclopédias e dicionários de Língua Portuguesa são um bom ponto de partida por constituírem depósitos óbvios de definições, etimologias e sentidos. Por exemplo, a Enciclopédia Luso-Brasileira de Cultura da Verbo contém o termo viking, que define como um “povo cuja vida, mais do que a de qualquer outro do seu tempo, estava ligada ao mar”, desenvolvendo “técnicas de construção naval, de navegação e de guerra marítima altamente eficientes” (Machado 2003, 516). A Focus - Enciclopédia Internacional da Livraria Sá da Costa remete para Normandos, que diz ser o “nome dos vikings a quem o rei de França cedeu em 911 a região francesa que passou a ser chamada Normandia” (Rocha et al.
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