
COLEÇÃO POVOS & CIVILIZAÇÕES COORDENAÇÃO JAIME PINSKY OS AMERICANOS Antonio Pedro Tota OS ARGENTINOS Ariel Palacios OS CHINESES Cláudia Trevisan OS ESPANHÓIS Josep M. Buades OS FRANCESES Ricardo Corrêa Coelho OS INDIANOS Florência Costa OS INGLESES Peter Burke e Maria Lúcia Pallares-Burke OS IRANIANOS Samy Adghirni OS ITALIANOS João Fábio Bertonha OS JAPONESES Célia Sakurai OS LIBANESES Murilo Meihy OS MEXICANOS Sergio Florencio O MUNDO MUÇULMANO Peter Demant OS PORTUGUESES Ana Silvia Scott OS RUSSOS Angelo Segrillo Proibida a reprodução total ou parcial em qualquer mídia sem a autorização escrita da Editora. Os infratores estão sujeitos às penas da lei. A Editora não é responsável pelo conteúdo da Obra, com o qual não necessariamente concorda. O Autor conhece os fatos narrados, pelos quais é responsável, assim como se responsabiliza pelos juízos emitidos. Consulte nosso catálogo completo e últimos lançamentos em www.editoracontexto.com.br. Copyright© 2016 do Autor Todos os direitos desta edição reservados à Editora Contexto (Editora Pinsky Ltda.) Fotos de capa Foto editada de Petteri Sulonen (CC BY 2.0) e Library of Congress Prints and Photographs Division Washington (c. 1898-1914) Montagem de capa e diagramação Gustavo S. Vilas Boas Preparação de textos Lilian Aquino Revisão Fernanda Guerriero Antunes Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Angélica Ilacqua CRB-8/7057 Meihy, Murilo Os libaneses / Murilo Meihy. – São Paulo : Contexto, 2016. 208 p. (Povos e Civilizações) Bibliografia. ISBN 978-85-7244-933-5 1. Libaneses 2. Líbano – História 3. Líbano – Cultura 4. Líbano – Política e governo I. Título II. Série 15-1041 CDD 956.9 Índice para catálogo sistemático: 1. Libaneses 2016 EDITORA CONTEXTO Diretor editorial: Jaime Pinsky Rua Dr. José Elias, 520 – Alto da Lapa 05083-030 – São Paulo – sp PABX: (11) 3832 5838 [email protected] www.editoracontexto.com.br Para meu pai, Marcelo Bon Meihy: “Yaqub calculou que o silêncio seria mais eficaz do que uma resposta escrita.” Milton Hatoum SUMÁRIO “BRIMOS, BATRÍCIOS E HABIBS”: QUEM SÃO OS LIBANESES? Cada um tem o líbano que merece Mas... quem são os libaneses? QUEM PRECISA DE ASTERIX? O LÍBANO HISTÓRICO Fenícia: o comércio como herança cultural Uma terra, mil senhores: a região do Líbano até a Idade Média A chegada dos árabes e dos cruzados TURCO É A MÃE! AS RAÍZES DO LÍBANO Vidas cruzadas Os senhores da montanha A presença francesa CHAMPANHE EM BARRIL DE CEDRO: O LÍBANO CONTEMPORÂNEO Um brinde à independência Anos gloriosos: a Suíça do Oriente Anos dolorosos: a Guerra Civil A paz em pequenos tragos A GEOGRAFIA DA ALGAZARRA Uma montanha de problemas em um deserto de soluções Por que o Líbano não é apenas o país dos cedros? Os recursos naturais COMER, FUMAR, XINGAR: A CULTURA LIBANESA A comida como ferramenta de socialização A cultura do tabaco: onde o arguile é a lei As questões étnicas: quando xingar é uma arte OLHA O QUIBE! PROBLEMAS ATUAIS E DESAFIOS Muito sultão para pouca odalisca: a política e o Estado O pecado mora ao lado: os vizinhos e os interesses estrangeiros As maldições: água e turismo SER OU NÃO SER LIBANÊS, EIS A QUESTÃO DA POPULAÇÃO VULNERÁVEL! O que faz do Líbano o Líbano: um jovem país jovem A polêmica condição das mulheres libanesas Os “outros” libaneses: os refugiados AQUARELA LIBANESA: AS ARTES NO LÍBANO O que a guerra não apaga: a arquitetura libanesa contemporânea Muito além da caligrafia: a literatura libanesa Quem canta, seus males ressalta: a música do Líbano Entre o Cairo e Hollywood: a sétima arte no Líbano LÍBANO E BRASIL: A LÓGICA DA ESFIHA DE FRANGO Da imigração à hibridização cultural O Brasil como destino Quando a coalhada azeda: estigmas e conflitos da imigração libanesa no Brasil CRONOLOGIA BIBLIOGRAFIA O AUTOR AGRADECIMENTOS “BRIMOS, BATRÍCIOS E HABIBS”: QUEM SÃO OS LIBANESES? CADA UM TEM O LÍBANO QUE MERECE Pode parecer um exagero ou uma daquelas lembranças falsas e idealizadas, mas eu me lembro como se fosse hoje da primeira vez que ouvi a palavra “Líbano”. Na cozinha da minha casa de infância, tudo que era bom, gostoso e perfumado “vinha do Líbano”, ainda que em plenos anos 1980 as imagens que surgiam na televisão sobre a terra da minha família dissessem o contrário. Esse quadro complexo e instável, que misturava o sabor dos doces de pistache e os tiros da Guerra Civil deixava claro que o meu Líbano era melhor que o da vida real. Cresci atrás do balcão de uma loja de tecidos em Guaratinguetá, interior de São Paulo, sob a influência de frases de efeito que ajudavam meus pais e avós a venderem os panos e os armarinhos que vestiam as dondocas da elite urbana e a gente simples do mundo rural daquela pequena cidade. Na mesma praça principal de “Guará”, a loja concorrente que disputava conosco o interesse da freguesia era a “Casa Síria”, e essa era a nossa guerra civil cotidiana. Se eles vendiam seda pura a 50 mil cruzeiros, nós vendíamos a 45 mil e esperávamos que o cliente fosse correndo contar aos nossos rivais que “nos libaneses era mais barato”. Entre uma negociação e outra, aquelas figuras docemente loucas, com traços marcantes e olhos amendoados que eu chamava de família, contavam-me histórias sobre casamentos, festas e brigas que envolviam nomes como Ibrahim, Sara, Elias e homus bi tahine (pasta de grão de bico). Aos domingos, pegávamos a Variant branca do meu pai para visitar os Samahá em Lorena, os Ghanen no Rio de Janeiro, ou esperávamos a segunda-feira para ir à Rua 25 de Março em São Paulo para comprar mais tecidos e munições para nossa guerra contra a “Casa Síria”. Tudo tinha cheiro de zaathar, gosto de esfiha, e vinha acompanhado de palavras como “balech”, “khele” e muitos “chufi heda”. O tempo foi passando e aquele pequeno Líbano de Guaratinguetá foi se estendendo para o Oriente Médio real. Em 1999, a “Casa Sebe” fechou suas portas, o que me permitiu trocar o balcão da loja pela universidade. Os livros de História Contemporânea passaram a servir de guias explicativos sobre aquelas esquisitices que eu podia observar nas ruas de cidades como Zahle, Beirute e Jbeil no verão do Líbano: fotos do aiatolá Khomeini, postos de comando do exército sírio e nativos libaneses usando palavras como “Bonjour”, “Ça va” e “Merci”. Eu poderia consultar amigos, parentes e até estranhos que facilmente puxavam conversa pelas ruas do país, mas as explicações sobre a situação do Líbano atual eram sempre insatisfatórias. Meu pai, por exemplo, tentava responder às minhas perguntas com a mesma sensibilidade de um camelo raivoso. Acho que, na verdade, eu é que não tinha delicadeza para perceber que aquelas perguntas eram impertinentes para os ouvidos de alguém que amava tanto o Líbano. Eu insistia: “Pai, aqui não tem semáforos?”, e ele respondia: “Não, isso é para os fracos!”. “Pai, como é o sufismo?”, e ele respondia: “Ah, é a macumba do islã!”; mas... “Pai, não tem cerveja aqui?”, e ele: “O que mais você quer? Uma porção de torresmos?”. Não quero ocupar o tempo do leitor deste livro com minhas memórias afetivas. Os exemplos que mobilizei anteriormente apenas ilustram um fato incontestável: ninguém é indiferente ao Líbano, mesmo quem não o conhece diretamente. Um livro sobre os libaneses pode estreitar a distância entre o leitor e o mundo criado por esses personagens, mas, nesse caso, reconheço os limites do meu texto, já que ainda não posso reproduzir todas as dimensões sensoriais da experiência de se conhecer e viver o Líbano. O sabor de uma amora colhida no quintal da casa de um parente, o som estridente das letras guturais da língua árabe, a vista do Mediterrâneo oriental e a alegria das mãos enganchadas nas danças tradicionais dos casamentos e celebrações somente podem ser sentidos quando vivenciados. Na outra ponta dessa gangorra sentimental estava o medo da guerra, a expectativa da próxima crise familiar, a diáspora e, principalmente, a certeza de que, em muitos casos, essa experiência sensorial de se viver o Líbano não pode ser mais sentida integralmente por milhões de libaneses espalhados pelo mundo. Por todas essas razões, este não é um texto ufanista, mas uma declaração de amor ao Líbano e aos libaneses, que se mostrará instável nas páginas seguintes, como o verdadeiro amor deve ser. De todas as sensações despertadas pelo amor, a que melhor representa o Líbano e os libaneses é, sem dúvida, a sedução. A escritora árabe Fatema Mernissi (que não é libanesa) chama a atenção para o fato de que a língua árabe possui mais de 40 definições distintas para o amor e, em algumas delas, a “sedução” é o ingrediente semântico fundamental. O próprio sentido de um dos termos em árabe para “sedução” é uma boa metáfora para o Líbano. A palavra al-fitna pode significar em contextos distintos: 1) “tentação ou prova enviada por Deus”; 2) “sedução, no sentido de ser atraído pelo charme alheio”; e 3) “sedição, no sentido de dissensão ou guerra civil”. As próximas páginas deste livro devem evidenciar como todos os significados dessa palavrinha árabe estão contidos no Líbano e nos libaneses. Arquivo pessoal da família Sebe Família Sebe no Brasil. Para o imigrante libanês, a família é a instituição que estabelece o vínculo com a terra de origem (primeira geração) e promove a assimilação com a terra que a acolheu (segunda geração). Arquivo pessoal da família Sebe O comércio urbano no Brasil foi o espaço de atuação de muitos imigrantes libaneses. Desde o século XX, os comércios com nomes árabes são parte da paisagem urbana brasileira, como a “Casa Sebe”, em Guaratinguetá- SP. MAS... QUEM SÃO OS LIBANESES? A filosofia é o estudo que analisa os problemas fundamentais da existência humana.
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