Os Anônimos Jogadores Do Futebol Brasileiro

Os Anônimos Jogadores Do Futebol Brasileiro

Pontifícia Universidade Católica de São Paulo PUC-SP Marina de Mattos Dantas Cartografias de um campo invisível: os anônimos jogadores do futebol brasileiro Doutorado em Ciências Sociais SÃO PAULO 2017 Marina de Mattos Dantas Cartografias de um campo invisível: os anônimos jogadores do futebol brasileiro Doutorado em Ciências Sociais Tese apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do título de Doutora em Ciências Sociais sob a orientação do Prof. Dr. Edson Passetti. SÃO PAULO 2017 Banca Examinadora ______________________________________ ______________________________________ ______________________________________ ______________________________________ ______________________________________ Agradecimentos Escrever agradecimentos após encerrar a tese me faz sentir como aqueles jogadores abordados dentro de campo, após uma partida importante, para conceder entrevista. Digo isso porque escalar toda a equipe que contribuiu para esse projeto se tornar realidade, sem apenas cumprir tabela, não é tarefa fácil, em um trabalho onde a conquista dos três pontos, apesar de importante, não é o principal. Dessa maneira, agradeço: Ao palmeirense e querido orientador Edson Passetti, pela atenção, envolvimento e paciência com o trabalho, sem o qual essa tese não teria o mesmo tom. Aos meus pais, Solange Missagia de Mattos e Geraldo da Silva Dantas, pela inspiração na luta, pelo amor e pela compreensão durante esses últimos 31 anos. Aos amigos e colegas do GEFuT (Grupo de Estudos sobre Futebol e Torcidas), principalmente ao Silvio Ricardo da Silva e à Priscila Augusta Ferreira Campos, por me lembrarem sempre a potência das diferenças. Às professoras Adriana Penzim e Heliana Conde pelo carinho e por incentivarem as minhas articulações entre os estudos de Michael Foucault e o futebol desde o início. Ao Nu-Sol (Núcleo de Sociabilidade Libertária), pelos bons encontros que a vida nos proporciona. Especialmente à professora Salete Oliveira, pelas aulas incríveis, ao palmeirense Acácio Augusto, pelas conversas inspiradoras de algumas páginas, e à Flávia Lucchesi, pelo apoio nos momentos finais. À Izabel Missagia de Mattos, avó querida, e à tia Sônia Missagia Matos, pelo carinho e ajuda nos momentos difíceis. À Pablo Alabarces e Verónica Moreira, que generosamente me receberam em Buenos Aires e possibilitaram o encontro com o futebol argentino. À Julio César Bonfim, Bruno Pivetti, Ricardo Urturi e aos anônimos jogadores, fundamentais no encontro com algumas realidades do futebol Brasileiro e Argentino e que, gentilmente, se dispuseram a contribuir com suas experiências de vida para esse trabalho, abrindo as portas de campos que são, muitas vezes, pouco acostumados à presença de mulheres, principalmente a de mulheres pesquisadoras. Aos amigos de longa data: André Tagliati, Bárbara Gonçalves, Luana da Silveira, Luiza Aguiar, Luiz Guilherme Burlamaqui, Marcelo Delboni, Maria Carolina Barbalho, Mariana Pereira, Pedro Marchezini e Raquel Zanatta, que sempre me acolheram em diversos momentos e lugares nesses últimos anos, e porque os agradecimentos que faço e a estima que tenho por cada um não caberiam nesta página. À Banca examinadora, que gentilmente aceitou o convite e se dispôs a contribuir com o trabalho. À Kátia Cristina da Silva e ao Rafael Diego Garcia pela solicitude em ajudar com as milhares de perguntas e de procedimentos institucionais, e diminuir as distâncias entre Belo Horizonte e São Paulo. À CAPES, pelo apoio à realização do curso e por viabilizar o Doutorado Sanduíche na Argentina. E a todos os outros amigos, de sempre ou de passagem, que fazem dessa vida algo mais interessante. Quando eu gostava de futebol, eu era Corinthians. Mas agora eu sei que futebol não é Deus. Os jogadores confundem muito as coisas. Como é que Deus pode fazer o Marcelinho marcar um gol? Se fosse Deus que ajudasse um time a ganhar os jogos, esse time nunca perdia. Se o Corinthians fosse Deus, o Corinthians ia ganhar todos os jogos. E o Corinthians não perde? O Marcelinho fica falando que é Deus que faz os gols. Mas não é Deus, não. É o Marcelinho mesmo, ele próprio. Os outros times também têm jogador que diz que é Deus que faz os gols. Então, como é que fica? Deus não pode torcer e fazer gol pra todos os times. Time é que nem Deus, que a gente só pode ter um, tem que escolher um e pronto. Deus não ia ficar mudando de time toda hora, que Deus tem uma palavra só, que é a certa. Se Deus fizesse gol pra todos os times que têm jogador que fala que é Deus que faz os gols, ia tudo terminar empatado [...]. André Sant’Anna – Deus é bom nº6 (2003, p.303). Resumo O futebol profissional e seus efeitos na produção de subjetividades na profissão de jogador. É esta a temática que norteia a presente pesquisa que, partindo de pesquisas prévias acerca do sonho de ser jogador e da atuação da psicologia do esporte em categorias de base, objetiva compor uma cartografia da realidade do jogador que se profissionaliza, mas não ocupa as posições de maior destaque nas grandes “vitrines” do futebol nacional e internacional. São esses jogadores geralmente considerados pelos clubes, empresários e também pelo público como produtos de menor valor no mercado, porém necessários para manter o funcionamento das competições da máquina do futebol profissional que atrai torcedores e investidores enquanto circulam anonimamente pelo mercado futebolístico como coadjuvantes do futebol de espetáculo. Nesse sentido, pretende-se cartografar práticas do futebol contemporâneo, compondo com os estudos de Michel Foucault sobre o governo dos vivos, juntamente com os estudos de pesquisadores na área das ciências humanas e sociais sobre o futebol profissional. Busca-se assim compreender a governamentalidade do futebol de espetáculo; os efeitos disciplinares e de controles regulamentadores na produção de modos de vida dos jogadores de futebol profissionais anônimos; por onde estes circulam após a saída das categorias de base; as capturas, potencialidades e resistências que os mantêm na profissão e os efeitos político- sociais produzidos a partir dessa realidade. Palavras-chave: futebol, racionalidade neoliberal, jogador-empresa. Abstract The professional soccer and its effects in the production of subjectivities in the profession of player. This is the theme that guides this research which, on the basis of previous research about the dream of being a player and the performance of sport psychology in basic categories, aims to compose a cartography of the reality of the player who professionalizes, but does not occupy the positions of greater emphasis on large "shopping" of soccer nationally and internationally. Are these players generally considered by clubs, entrepreneurs and also by the public as products of less value in the market, but needed to maintain the operation of the competitions of the machine of professional soccer that attracts fans and investors while circulating anonymously by Australian soccer to as coadjuvants of soccer venues. In this sense, it is mapping practices of contemporary soccer, along with the studies of Michel Foucault on the government of the living, along with the studies of researchers in the area of humanities and social sciences about professional soccer. It seeks so to understand the governmentality of soccer venues; the effects of discipline and controls regulators in the production of modes of life of soccer players anonymous professionals; for where these circulating after the departure of the basic categories; catches, potential and resistance that keeps them in the profession and the effect socio-political produced from this reality. Keywords: soccer, neoliberal rationality, player-company. Sumário Introdução ................................................................................................................. 12 CAPÍTULO 1 – Famosos, anônimos e as tensões entre amadorismos e profissionalismos no futebol brasileiro..................................................................... 28 1.1 A Football Association: soccers e ruggers e os primeiros passos do futebol ...... 30 1.2 Capitains, estudantes, padres, marinheiros e infames: primeiros momentos do Association no Brasil .............................................................................................. 35 1.3 Industriais e operários: quem sustenta o futebol e quem faz do futebol o seu sustento ................................................................................................................... 46 1.4 O jogador profissional: a emergência dos “vira-latas” ........................................ 54 1.5 Uma nação se constrói transformando “vira-latas” em campeões ....................... 73 1.6. O jogador peça e a necessidade de se produzir atletas ....................................... 85 CAPÍTULO 2 – Futebol e racionalidade neoliberal: a liberdade para empreender- se e o jogador-empresa ............................................................................................ 105 2.1 Os Investimentos econômicos no futebol nos anos 1970 .................................. 106 2.2 A produção da CBF como elemento moralizador do futebol no Brasil ............. 112 2.3 Seleção do passe Livre .................................................................................... 115 2.4 A publicidade entra em campo ........................................................................ 116 2.5 O Clube dos Treze e a intensificação do investimento privado no futebol ........ 117 2.6 Jean-Marc ......................................................................................................

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