Estudo Etnográfico, Cultural E Linguístico Da Cidade De Beja

Estudo Etnográfico, Cultural E Linguístico Da Cidade De Beja

UNIVERSIDADE DA BEIRA INTERIOR DEPARTAMENTO DE LETRAS Estudo Etnográfico, Cultural e Linguístico da Cidade de Beja MARIANA DO CARMO RIBEIRO CORREIA Covilhã, 2009 Estudo Etnográfico, Cultural e Linguístico da Cidade de Beja Orientadores: Professor Doutor António dos Santos Pereira Professor Doutor Paulo Osório Dissertação de 2 º Ciclo em Estudos Artísticos, Culturais, Linguísticos e Literários conducente ao grau de Mestre, apresentada à Universidade da Beira Interior. Resumo Este trabalho realizou-se no âmbito do Curso de Mestrado em Letras (Estudos Artísticos, Culturais, Linguísticos e Literários), e constituindo o estudo da cidade de Beja a partir do seu património histórico, cultural e linguístico. Apresentamos o conceito de património como o conjunto de elementos específicos que definem a personalidade e identidade cultural de um povo, comunidade ou região. Estas especificidades explicam-se pelos acontecimentos e condicionantes da sua história. Assim, começámos pelo estudo do património histórico que parte da investigação sobre a origem do nome da cidade que de Bágia passou a Bégia ou Beegia, e dos diferentes povos que a habitaram, numa sequência de ocupação e dominação: povos do sudoeste peninsular, romanos, visigodos, árabes que nos deixaram um rico património arquitectónico, desde o plano urbanístico às construções civis, religiosas e militares que foram estudadas e registadas. Após a Reconquista Cristã foi muito interessante conhecer o que, a pouco e pouco, foi sendo legislado, através do estudo dos forais que nos informam sobre a organização dos vários sectores de actividade das populações e da administração pública. No que respeita ao património cultural, partimos da definição de Cultura numa perspectiva global, sendo que cada cultura é uma unidade em si mesma; e estabelecemos as fronteiras entre costume e comportamento, compreendendo o costume como uma acumulação de condutas ditadas pelas tradições as quais, quando cristalizadas nas instituições e nos costumes são como uma linguagem através da qual se filtram os nossos conceitos filosóficos e perspectivas morais. As nossas concepções de verdadeiro e falso e os nossos valores individuais e colectivos são, igualmente, modelados pelo costume. No plano teórico, abordámos o conceito de integração de culturas, encarando o estudo da cultura não como uma colecção de costumes, tradições, ritos, celebrações, comportamentos ou ocorrências, mas como elementos culturais que formam um conjunto integrado e congruente. Partindo para o campo da aplicação prática daqueles conceitos, descrevemos as tradições de Beja e a análise da actividade económica mais importante que é a Agricultura. No aspecto linguístico, fizemos o levantamento das especificidades mais relevantes. Efectuámos uma abordagem sociolinguística e a análise do sociolecto bejense. Finalmente, por considerarmos relevante a sua inclusão na dissertação, apresentamos um estudo do Cante Alentejano. I Índice INTRODUÇÃO ..............................................................................................................3 O CHEIRO DAS CIDADES TORNA AS PESSOAS LIVRES.......................................3 CAPÍTULO I. PATRIMÓNIO HISTÓRICO.........................................................6 1. Uma Abordagem do Conceito de Património.................................................................. 6 2. História da Cidade de Beja ............................................................................................. 9 2.1. A Origem do Nome ........................................................................................................9 2.2. Os Povos do Sudoeste..................................................................................................10 2.3. Beja Romana................................................................................................................12 2.4. A Presença Visigótica ...................................................................................................16 2.5. A Arte Visigótica...........................................................................................................18 2.6. O Bispado Visigótico ....................................................................................................19 2.7. Beja Muçulmana ..........................................................................................................20 3. Os Foros Pacenses ........................................................................................................27 3.1. Os Forais Novos de D. Manuel I ...................................................................................31 4. Beja e a Infanta D. Beatriz.............................................................................................34 5. O Património Arquitectónico ........................................................................................35 5.1. O centro Histórico de Beja...........................................................................................35 5.2. A Mouraria...................................................................................................................40 5.3. A Judiaria......................................................................................................................41 5.4. Monumentos Religiosos ..............................................................................................44 CAPÍTULO II. CULTURA ................................................................................... 55 1. Uma Perspectiva Global................................................................................................56 2. Costume e Comportamento..........................................................................................56 3. Integração de Culturas..................................................................................................63 II 4. As Tradições Pacenses ..................................................................................................65 5. A Actividade Agrícola....................................................................................................72 5.1. A Agricultura e a Propriedade da Terra .......................................................................73 5.2. As Classes de Trabalhadores Agrícolas ........................................................................75 CAPÍTULO III. O FALAR DE BEJA .................................................................. 77 1. Uma Abordagem Sociolinguística ..................................................................................78 2. Análise do Dialecto Pacense..........................................................................................83 3. O Cante Alentejano.......................................................................................................87 CAPÍTULO IV. CONCLUSÃO............................................................................. 92 CAPÍTULO V. BIBLIOGRAFIA ......................................................................... 94 REVISTAS...................................................................................................................... 96 ARQUIVO DE BEJA...................................................................................................... 96 III Aos meus professores 1 Beja Outras terão talvez outro esplendor A cidade de Beja é mais discreta Sua beleza é interior Como de página secreta Em Beja não vereis o arrebique, A sua escrita é mais sem ornamento. Estética do recato. Poesia que Vem de dentro Onde outras serão excesso Beja é pouco Mais de sombra que sol é seu circuito. Procurai no recanto e no reboco Vereis então que Beja é muito (Manuel Alegre1) 1 - In Andrade E., Alentejo Não Tem Sombra, Antologia… 2 Introdução O cheiro das cidades torna as pessoas livres (Aforismo medieval de autor desconhecido) Vários factores influenciaram a escolha do tema Estudo Etnográfico, Cultural e Linguístico da Cidade de Beja. Os gregos viviam em comunidades urbanas onde cidadania era sinónimo de urbanidade. As civilizações progrediam e manifestavam-se, sobretudo, nas e pelas cidades, uma vez que o trânsito das mercadorias, das filosofias e das religiões tinha estas como suporte. A própria cristianização seguiu as vias da romanização, de cidade em cidade, e os espaços não cristianizadas eram chamados pagãos de pagus, com significado de rural (relativo ao campo). Com a concentração humana em cidades, elas transformam-se em sedes de decisão política e administrativa, centros de produção, troca e difusão de bens de consumo e bem assim pólos de desenvolvimento cultural e educativo. Os estudos demográficos indicam que mais de dois terços da população mundial vive nas cidades; elas são núcleos catalisadores de desenvolvimento através do turismo; competem umas com as outras na divulgação de indicadores de qualidade para atraír muitos visitantes e se tornarem centros de convivência cada vez mais agradáveis e humanizados, procurando satisfazer as exigências de natureza cultural, sanitária e estética, quer dos que nelas habitam, quer daqueles que as visitam. Independentemente de uma reduzida elite que procura no espaço rural a satisfação das suas necessidades de natureza cultural e espiritual, as cidades vão continuar a ser uma fatalidade para a maioria da população que apenas nelas encontra o seu posto de trabalho, pelo que só lhes resta melhorar a qualidade de vida no seu interior. Efectivamente, os seres humanos quando atraídos, solicitados ou forçados a viver juntos (conviver) conspiram (com-respirar) uns contra

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