
ELIANE TAFFAREL FAZENDA SÃO JOÃO: LIBERDADE CONDICIONADA, TESTAMENTO E TRAJETÓRIA DOS EX- CATIVOS Trabalho de conclusão de curso de graduação apresentado como requisito para a obtenção do grau de Licenciada em História da Universidade Federal da Fronteira Sul. Orientadora: Prof. Dra. Renilda Vicenzi CHAPECÓ 2016 À Idivane, Leonel, Lidiane, Danrlei e Ana Julia. AGRADECIMENTOS Agradecer. Como às vezes isso é difícil.... por onde começar? Bom, primeiro, agradecer a Deus pela vida e pela sabedoria para trabalhar com tantas atividades no mesmo semestre e chegar ao fim dele cumprindo as metas. Agradecer a minha família, minha mãe Idivane, meus irmãos Danrlei e Lidiane, pela paciência e companheirismo. Ao meu pai Leonel e a minha irmã Ana Julia, que mesmo de longe, sempre estão por perto. Aos colegas de trabalho, aos colegas da universidade, aos meus amigos e demais familiares, que esperam e cobram minhas visitas... Enfim, a todos que convivem comigo e sabem o que representou este trabalho. Meu agradecimento também aos mestres, todos os professores que contribuíram até hoje com minha formação, mas em especial minha orientadora Renilda, que além de incentivar esta pesquisa, esteve presente em todos os momentos do trabalho. Também agradecer as contribuições da banca, os professores Délcio e Natália. Enfim, agradecer a comunidade Invernada dos Negros, em especial ao Teco, a Roseli, a dona Nair, ao seu Nico, dona Angelina e seu Sebastião que nos receberam de braços abertos na comunidade. Espero que esse trabalho possa contribuir com a comunidade e retribuir a hospitalidade. RESUMO A busca pela liberdade esteve presente durante os quase quatro séculos de escravidão no Brasil, podendo ser alcançada de diversas formas, entre elas a alforria. Em nossa pesquisa, trabalhamos inicialmente com duas fontes primárias: a Carta de Alforria e o Testamento deixados pelo senhor Matheus José de Souza e Oliveira e sua esposa Pureza Emília da Silva. A Carta é datada de 20 de janeiro de 1866, e registra a alforria de forma condicionada aos seus escravos. No Testamento realizado em 1877, os senhores destacam a alforria de alguns libertos, dão liberdade a outros cativos e deixam a eles um terço das terras da Fazenda São João, Distrito de Campos Novos/SC. Através destas fontes evidenciamos as negociações em torno da liberdade. Além disso, através de fontes eclesiásticas e cartoriais reunimos informações dos descendentes de africanos que foram escravizados na referida fazenda e traçamos a trajetória de alguns de seus familiares ao longo do século XX. Palavras-chave: Escravidão; liberdade; trajetória; Fazenda São João. 7 ABSTRACT There were many ways to achieve freedom during the almost four centuries of slavery in Brazil. One of them is emancipation. On this work we focused on two main historical sources: The emancipation charter and the will left by Matheus José de Souza e Oliveira and his wife Pureza Emília da Silva. The charter was written on January 20th 1866 and registers a conditional emancipation to his slaves. On the will written in 1877 they highlight the emancipation of some of the freed slaves, set free other slaves and leave to them one third of the lands of São João farm, district of Campos Novos/SC. These sources reveal us the negotiations on freedom. Besides, by means of ecclesiastical and notarial sources we were able to gather information about the African descendants slaved on the mentioned farm and to trace the path of some of his family members along the 20th century. Key words: Slavery; freedom; path; São João farm. 8 LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1- Cemitério da Comunidade Quilombola Invernada dos Negros ..................................... 37 Figura 2- Cemitério da Comunidade Quilombola Invernada dos Negros ..................................... 38 Figura 3- Taipa de pedras no Cemitério da Invernada dos Negros ............................................... 39 Figura 4- João Manuel de Souza, filho do legatário Manoel......................................................... 48 Figura 5- Família de João Manoel e Conceição em 1935 ............................................................. 49 Figura 6- Antonio de Souza, conhecido como Nico Souza ........................................................... 50 Figura 7- Lápide de Cândido Manoel de Souza ............................................................................ 52 Figura 8 - José Maria Gonçalves de Lima, conhecido como Teco Lima ...................................... 56 Figura 9 - Angelina Fernandes da Silva Garipuna ........................................................................ 61 Figura 10 - Sebastião dos Santos ................................................................................................... 64 9 LISTA DE TABELAS Tabela 1- Distribuição (%) da população no termo de Lages, por freguesias, segundo condição social e sexo (1861 e 1862) ........................................................................................................... 19 Tabela 2 - População escrava em Lages ........................................................................................ 23 10 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 11 CAPÍTULO I ............................................................................................................................... 16 2. FAZENDA SÃO JOÃO: A LIBERDADE CONDICIONADA, O TESTAMENTO E OS LEGATÁRIOS ............................................................................................................................ 16 2.1 A região e a Fazenda São João ................................................................................................ 17 2.2 Alforria condicionada .............................................................................................................. 23 2.3 O testamento e inventário ........................................................................................................ 31 2.4 Os legatários ............................................................................................................................ 33 CAPÍTULO II .............................................................................................................................. 46 3. TRAJETÓRIA DOS FILHOS E NETOS DOS LEGATÁRIOS NO TERRITÓRIO ..... 46 3.1 Trajetória genealógica dos descendentes de Josepha e Domingos de Souza .......................... 46 3.1.1 Manoel de Souza .................................................................................................................. 47 3.1.2 Margarida de Souza .............................................................................................................. 54 3.1.3 Damásia Maria de Souza ...................................................................................................... 57 3.2 Trajetória genealógica dos descendentes de Francisco de Souza ............................................ 62 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................................. 66 5. REFERÊNCIAS ...................................................................................................................... 69 11 1. INTRODUÇÃO Por muitos anos, a historiografia brasileira ficou silenciada sobre o período do pós- abolição. A História ensinada nas escolas encerrava com a assinatura da Lei Áurea, em 1888, pela Princesa Isabel. No entanto, essa parte da historiografia começou a ser questionada ao longo do século XX. Assim, iniciam os estudos da história das comunidades quilombolas1, mobilidade social e trajetórias dos ex-cativos no período após a abolição. Ao mesmo tempo, quando falamos da escravidão, a percepção de muitas pessoas é de que ela esteve distante da realidade do Sul do país. Isso ocorre porque na maior parte da literatura o tema era invisível. Além disso, o pouco estudo da escravidão em sala de aula e a pouca divulgação dessa história faz com que muitos desconheçam que houve escravidão no Sul e, especialmente, em Santa Catarina. Assim, desconhecem também que hoje existem comunidades quilombolas em nosso estado. Porém, aos poucos vão surgindo pesquisadores que se dedicam a estudar o tema, como Raquel Mombelli (2015), que por um viés mais antropológico, tem contribuído para a divulgação da existência de diversas comunidades quilombolas no Sul do Brasil, onde a presença negra escravizada se dava tanto nas áreas urbanas como nas rurais e em diversas atividades econômicas. 1 Há divergências com relação à definição do termo quilombo. E para compreendermos a forma como ele é visto nesta pesquisa utilizaremos a definição descrita por Raquel Mombelli (2015). Ela explica que no senso comum, permaneceu a definição histórica de que quilombo é o acampamento de africanos fugidos da escravidão. Essa definição foi dada pelo Conselho Ultramarino, da administração colonial portuguesa de 1740. “Nessa definição quilombo era assim definido 'toda habitação de negros fugidos, que passem de cinco, em parte despovoada, ainda que não tenham ranchos levantados e nem se achem pilões nele'” (MOMBELLI, 2015, p. 137). A autora destaca que essa ideia de quilombo permaneceu e permanece sendo usada até hoje, estando presente inclusive em materiais didáticos. Também está presente nos discursos de segmentos que se manifestam contrários aos direitos quilombolas. “A superação dessa noção de quilombo se faz urgente, porque ela sustentou as práticas de racismo e de violência contra os africanos
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