Antônio Lima Dos Santos (Depoimento, 2012)

Antônio Lima Dos Santos (Depoimento, 2012)

FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS CENTRO DE PESQUISA E DOCUMENTAÇÃO DE HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA DO BRASIL (CPDOC) Proibida a publicação no todo ou em parte; permitida a citação. A citação deve ser textual, com indicação de fonte conforme abaixo. SANTOS, Antônio Lima dos. Antônio Lima dos Santos (depoimento, 2012). Rio de Janeiro, CPDOC/FGV, 2013. 62 pp. ANTÔNIO LIMA DOS SANTOS (depoimento, 2012) Rio de Janeiro 2013 Transcrição Nome do entrevistado: Antônio Lima dos Santos Local da entrevista: Memorial do Santos, Santos, São Paulo Data da entrevista: 13 de julho de 2012 Nome do projeto: Futebol, Memória e Patrimônio: Projeto de constituição de um acervo de entrevistas em História Oral. Entrevistadores: Thiago William Monteiro, Felipe dos Santos Souza e José Paulo NAD Cpdoc ! 21/1/15 14:45 Florenzano Deleted: a Transcrição: Liris Ramos de Souza Data da transcrição: 20 de agosto de 2012 Conferência da transcrição : Ana Luísa Mhereb Data da conferência: 26 de novembro de 2012 ** O texto abaixo reproduz na íntegra a entrevista concedida por Antônio Lima dos Santos em 13/07/2012. As partes destacadas em vermelho correspondem aos trechos excluídos da edição disponibilizada no portal CPDOC. A consulta à gravação integral da entrevista pode ser feita na sala de consulta do CPDOC. T.M. - Santos, Memorial do Santos, 13 de julho de 2012, depoimento de Antônio Lima do Santos para o projeto Futebol, Memória e Patrimônio, que é uma parceria da Fundação Getúlio Vargas e do Museu do Futebol. Participam desse depoimento os pesquisadores José Paulo Florenzano, Thiago Monteiro e Felipe Santos. Bom dia, Lima, muito obrigado por receber a gente aqui hoje, ter aceitado nosso convite. Hoje a gente está aqui para falar um pouco das suas lembranças da Copa que você teve oportunidade de participar e também da sua vida. E para começar a entrevista, gostaria que você se apresentasse falando seu nome, data de nascimento e também lembrasse um pouco a trajetória da sua infância. A.L. - Bem, meu nome é Antônio Lima dos Santos, conhecido sempre no futebol por Lima, da várzea, vamos dizer assim. Comecei a jogar no Clube Atlético Juventus, em 1958, logo depois da Copa do Mundo de 1958. Fiquei no Juventus por dois anos e meio. No próprio Juventus eu fui convocado para a seleção paulista, que na época, para 2 Transcrição quem não sabe, disputava o Brasileiro, o Campeonato Brasileiro era disputado através de seleção. Fui para a seleção paulista, fui campeão brasileiro pela seleção paulista, e justamente nessa época em que encontrei com nove jogadores do Santos que foram convocados também. Do Juventus fui eu e o Buzzoni1. Foi uma coisa interessante porque o Aymoré Moreira resolveu dar oportunidade aos bons jogadores que estavam nos times pequenos. Então levou jogadores do Juventus, levou do Taubaté, levou do Botafogo de Ribeirão Preto, da Ferroviária, e como eu, eles tiveram a felicidade de jogar lá com grandes jogadores que eram jogadores que iam do Santos, Corinthians, São Paulo e tal, Palmeiras e se sagrar campeão Brasileiro. Esse foi o início da minha carreira profissional, porque antes já tinha jogado no infantil, juvenil, mas passei tudo muito rápido. Comigo aconteceu tudo muito rápido. Eu cheguei no Juventus com quinze anos, com dezesseis eu já estava me tornando profissional, porque naquela época começou a correr boato de que eu seria convocado para seleção olímpica, que seria mesmo, e na seleção olímpica é diferente de agora, só poderia ir jogadores amadores. Então eles me profissionalizaram. Para mim foi ótimo. Foi ruim não ter participado da seleção, mas por outro lado foi muito bom. Com 16 anos me tornei profissional e segui minha carreira para frente. T.M. - Só voltando um pouco antes, início interessante, mas você nasceu em São Sebastião do Paraíso em Minas, uma cidade bem pequena, como era, antes de vir para cá você morava mesmo por lá, como foi sua infância? A.L. - Eu nasci lá, só que com seis meses meu pai faleceu. Praticamente eu não conheci meu pai. Eu brinco muito, meu pai chamava Geraldo, não é? Eu falava que eu gostaria muito de ter conhecido o seu Geraldo. Quando eu jogava, eu fazia muito isso, “ah, você vai jogar, tal, boa sorte”, eu falava assim: “eu queria boa sorte do seu Geraldo”, brincava com uma coisa que... era uma coisa minha que conheci somente por fotografia. A minha família que é toda de lá, a maioria já tinha vindo para São Paulo, só faltava minha mãe e meu pai. E eu com seis meses, quando morreu meu pai, minha mãe resolveu vir para São Paulo também. Aí nós viemos para São Paulo, fomos morar ali no Belém, ali pertinho do Juventus. E ali foi toda a minha vida: de estudo, de trabalho, de tudo. Tudo que eu fui na minha vida eu aprendi justamente ali. Uma mulher que eu 1 Pedro Luiz Buzzoni 3 Transcrição prezo muito até hoje que foi minha mãe, que viúva, me criou, eu sou filho único, não é? Me criou, me deu estudo, me deu condição de eu ser hoje o que sou. F.S. - Durante essa sua infância no Belém, você já começa também a brincar com futebol, bater sua bola? A.L. - Comecei de uma maneira assim muito gozada porque não tinha time de futebol que eu pudesse jogar. Não que eu fosse o maioral, mas eu gostava de jogar futebol, e o futebol então entrou para preencher um vazio. Eu vinha da escola, fazia lição, almoçava, e de tarde não tinha nada para fazer, então a molecada se reunia na rua e jogava futebol e eu participava. Até que um dia, já estava com onze, doze anos mais ou menos, minha mãe, para não me deixar na rua o tempo todo, ela me colocou como congregado Mariano na Igreja São Paulo, no Belém. E como congregado Mariano eu fui ser coroinha, eu era congregado Mariano e coroinha, recebi fita, aqueles negócios todos que eles fazem; foi muito bom para mim isso no sentido de educação, no sentido de saber me comportar numa mesa, saber usar talheres, copos, essas coisas, que por incrível que pareça veio me ajudar quando eu vim aqui para o Santos. Aí os colegas começaram a se empolgar, que tinha um campo perto de casa, que era o campo do Fileppo2, do Lanifício Kedler, eles faziam casimira, roupa, essas coisas, e eles tinham um campo ali no Belém, então era o lugar onde a gente brincava, não jogava, brincava. Até que um senhor resolveu, falou: “poxa, essa molecada joga todo dia aqui na rua, e não sai disso, vamos formar um time”. E formaram. Não um time, formaram uns três ou quatro, e aí comecei. Jogava sábado de manhã, sábado de tarde, domingo de manhã, domingo de tarde, mas tudo na várzea, que foi aonde surgiu um ex-jogador que me viu jogando e me levou para fazer um teste no Juventus. T.M. - Você comentou da perda do seu pai e que sua mãe veio viúva para São Paulo e você jogava bola na rua. Como era esse lado, a sua mãe trabalhava com quê, você desde menino chegou a ter algum outro tipo de trabalho antes do futebol? A.L. - Ah, tive. A minha mãe era tecelã. T.M. - Nessa mesma fábrica? A.L. - Não. Ela era tecelã, e dado ao tempo que ela trabalhava na tecelagem se tornou como se fosse uma gerente da fábrica. Eu estudava de manhã, e de tarde para não ficar com muito tempo livre, eu tinha um primo meu que ele trabalhava com peças de 2 4 Transcrição laboratório, ele fazia pipeta, proveta, conta-gotas, na época de Natal ele fazia todos esses enfeites de Natal, e eu aprendi tudo isso, trabalhava com maçarico, fogo, essas coisas todas. Então isso preenchia meu tempo. Eu cheguei a fazer duzentos, trezendos mil conta-gotas, nem sei quanto fazia porque era alta produção, e eu sozinho. Pegava encomenda desses laboratórios e quem fazia era eu. Mas foi bom porque você sempre aprende alguma coisa a mais e não tem tempo de fazer tanta coisa errada na rua. Não que tivesse motivo para isso, porque eu não tinha. Tinha boa educação, tinha minha mãe que me levava ali no freio, e eu graças a Deus tive uma infância feliz, não foi uma infância de rico nem nada, mas nunca me faltou nada. Muito pelo contrário. Eu sempre tive de tudo. Estudei o que tinha que estudar, participei como congregado Mariano, como coroinha, durante uns quatro, cinco anos, fazia retiro no carnaval, uma coisa meio absurda porque eu adoro música. Sabe, aquela coisa de fazer retiro no carnaval e na volta chegar em frente a igreja: “meninas, cheguei...”, aquela coisa, já tomando dura do padre, do cara que orientava a gente, uma loucura. Mas foi uma passagem maravilhosa. F.S. - Sua mãe queria que você fosse contador? A.L. - Minha mãe queria, era o sonho dela. E nunca passou pela cabeça da minha mãe, por exemplo, que eu jogasse futebol, que eu fosse jogar futebol; embora muita gente chegava para ela e falava assim: “dona Isabel, deixa o Toninho, Antônio, Toninho jogar futebol...”, “Pelo amor de Deus...” porque a fama de jogador de futebol era muito ruim. E lá no bairro do Belém tinha vários ex-jogadores que todo mundo conhecia na rua e tal, e falava, “se seu filho for jogador de futebol vai ser que nem fulano”, dava essa pessoa como exemplo, que só queria saber da noite e de boate, de festa, e não sei o que lá, e minha mãe: “não, meu filho vai estudar...” mas todo mundo falava: “olha, deixa ele ter uma oportunidade porque ele joga muito bem”, e tal, mas eu não forçava a barra, mesmo porque ela não me dava espaço para forçar.

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