POLÍTICA E OPINIÃO PÚBLICA A seção de Política e Opinião Pública deste mês trata da reconfiguração da base aliada do governo golpista, que deverá dar menos votos pró-Temer na votação da segunda denúncia. Também abordará a crise interna do PSDB, incluindo as disputas pela candidatura à presidência em 2018, e o movimento pela renúncia de Aécio Neves à presidência do partido após safar-se do afastamento no Senado. Por fim, analisa o cenário eleitoral para a próxima disputa presidencial. Rearticulação das forças na base do governo dos de modo a obter a menor baixa possível e evi- tar a perda de vinte a trinta votos, com um placar No dia 25 de outubro, o plenário da Câmara dos em torno de 240 votos, o que seria um resultado Deputados votou a segunda denúncia contra Mi- politicamente negativo, com base aliada inferior à chel Temer e os ministros Eliseu Padilha e Moreira metade do total de deputados (513) e insuficiente Franco, todos do PMDB, pelos crimes de formação para comandar o Legislativo. de organização criminosa e obstrução de justiça, em denúncia oferecida pelo ex-procurador-geral Para tentar reduzir a perda de votos e reforçar o da República Rodrigo Janot em 15 de setembro. placar favorável ao governo, na votação desse Segundo a denúncia da Procuradoria-Geral da dia 25 Temer exonerou dez ministros com man- República (PGR), os acusados receberam mais de dato na Câmara: Antonio Imbassahy (Secretaria quinhentos milhões de reais em propina e vanta- de Governo); Mendonça Filho (Educação); Bruno gens indevidas dentro da administração federal e Araújo (Cidades); Leonardo Picciani (Esporte); José da Petrobras. Sarney Filho (Meio Ambiente); Ronaldo Nogueira (Trabalho); Marx Beltrão (Turismo); Maurício Quin- A nova denúncia segue o mesmo rito da anterior, tella (Transportes), Fernando Coelho Filho (Minas precisa ser autorizada por 342 parlamentares, isto e Energia) e Raul Jungmann (Defesa). é, dois terços do total da Câmara dos Deputados. Temer precisa do apoio de 171 deputados, na últi- Prevalece certo clima de tensão entre o Planalto ma obteve 263 votos, mas continua negociando e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM- cargos e emendas parlamentares com os deputa- -RJ), que demonstra insatisfação com Temer des- 10 BOLETIM DE ANÁLISE DA CONJUNTURA - OUTUBRO 2017 de a votação da primeira denúncia, em que se mais espaço no governo, o Planalto trocou a ar- empenhou pessoalmente na conquista de votos ticulação política, antes com Antonio Imbassahy pró-Temer, mas não se sentiu devidamente re- (PSDB), por Eliseu Padilha (PMDB). Para a base compensado. Não se observa dessa vez o mesmo fisiológica que sustenta o governo, a pressão por empenho de Maia, e há quem diga que ele pode votos para barrar a segunda denúncia é mais uma dificultar o governo após a rejeição da segunda oportunidade de ganhar cargos na máquina pú- denúncia, obstruindo pautas impopulares propos- blica e verbas do orçamento federal. Ministros tas por Temer, como o adiamento do reajuste de e líderes partidários avisam que os que votarem funcionários públicos e a Reforma da Previdência. contra Temer serão retaliados, tratados como Na semana anterior à votação, Maia recusou-se oposicionistas e não terão acesso a cargos do go- a votar as prioridades do governo e tentou reas- verno federal em 2018. sumir seu protagonismo na Câmara, com agenda Mesmo assim, partidos da base como PR e PSD, focada nas pautas econômicas. Maia e seu grupo além do próprio PMDB, não fecharam questão mais próximo propõem a criação de um gabinete para a rejeição da denúncia, e os seis deputados composto por membros do governo e do Parla- do PMDB que votaram contra Temer na primei- mento logo após a votação da denúncia para dar ra denúncia devem repetir o voto, mesmo tendo sequência a essas pautas. A ideia é bem aceita por sofrido punições do partido. A recusa de apoio se parte dos deputados, que veem a proposta como justifica pela pressão dos eleitores, mas há recla- imprescindível para a aprovação de alguma eta- mações de cargos e emendas parlamentares pro- pa da Reforma da Previdência e cumprimento de metidas e ainda não liberadas. Temer liberou nas parte da agenda do golpe. últimas semanas, dezenas de nomeações em di- A indisposição entre Maia e o governo se eviden- versas instâncias do governo para atender as de- ciou em três episódios nos últimos dias que ante- mandas de parlamentares insatisfeitos. Além disso, cederam a votação da segunda denúncia: a recusa o governo pretende atrair a bancada ruralista - que à obstrução da sessão para impedir a votação da conta com mais de duzentos deputados - com um leniência dos bancos, pedida por Temer; a indispo- decreto que dá descontos no pagamento de multas sição com o advogado de Temer após a divulgação ambientais e a portaria que torna mais brandas as no site oficial da Câmara dos vídeos da delação do regras do trabalho escravo, para conter a denúncia. operador financeiro Lúcio Funaro; e o boato de que Com isso, o Planalto começa a contabilizar as setores do governo estavam insatisfeitos com o projeções finais para a votação. As previsões mais presidente do Banco Nacional de Desenvolvimen- otimistas são de que Temer tende a repetir o pla- to Econômico e Social (BNDES), Paulo Roberto de car da primeira denúncia, quando 263 deputados Castro, cujo cargo foi oferecido à Presidência da foram favoráveis ao presidente e barraram o an- Câmara na negociação de votos para barrar a pri- damento da ação. meira denúncia e ainda não foi cumprido. Na primeira denúncia, dos 39 deputados do PSD Além disso, o DEM disputa com o PMDB os dis- 22 votaram a favor de Temer para barrar a denún- sidentes do PSB, com o objetivo de ampliar a cia. Dessa vez, pode haver perda de três a sete vo- legenda e chegar a quarenta ou cinquenta depu- tos do partido de Kassab. O PR, que conta com 37 tados em 2018, viabilizando a reeleição de Maia deputados, teve 28 favoráveis a Temer na primeira à Presidência da Câmara e obtendo maior auto- denúncia e agora deve ter entre 24 e 26 votos. As nomia nas disputas presidenciais. A disputa pelo disputas internas no PSDB inviabilizam conjectu- centro-direita incomoda Temer, que quer para o ras sobre o apoio da legenda ao governo, por isso PMDB esse protagonismo, para evitar se tornar a votação do PSDB continua imprevisível; na vo- refém de uma Câmara comandada por um aliado tação da primeira denúncia, 22 deputados da sigla em quem não pode confiar. votaram a favor do arquivamento da acusação e Para conter a base aliada do centrão, que cobra 21 pela abertura do processo no Supremo Tribunal 11 POLÍTICA E OPINIÃO PÚBLICA Federal (STF). Temer terá o apoio dos deputados querda pra Valer, oposta ao MBL, Alckmin atacou ligados a Aécio Neves, a quem ajudou a manter o que chamou de “liberalismo completo” e o “lais- no cargo, mas ainda não garantiu o apoio da ala sez-faire”, defendidos, por exemplo, pelo MBL e ligada ao governador Geraldo Alckmin. por Doria. No entanto, a fraca gestão que faz em São Paulo, Disputas internas no PSDB com políticas polêmicas como a distribuição de ração humana feita a partir de alimentos quase O PSDB, principal força da direita, que executa e estragados, os índices cada vez menores de apro- controla a política econômica do governo Temer vação, a retaliação de setores do tucanato paulis- e responde às elites financeiras, midiáticas e de- ta, a vinculação do prefeito ao presidente golpista mais setores do capital, foi o partido responsável Temer e a habilidade do prefeito em desagregar por iniciar a campanha golpista que culminou na e atacar seus aliados parecem ter abortado, pelo derrubada da presidenta Dilma Rousseff, legiti- menos momentaneamente, os planos de Doria mamente eleita, ao não aceitar a derrota em 2014. para o Planalto. Não obstante, se uniu com o PMDB para executar o golpe e governar o país com um programa der- Apesar da votação que o livrou do afastamento rotado quatro vezes seguidas nas urnas. Unindo- no Senado, o novo alvo de críticas por parte dos -se com o que há de mais conservador no país, e tucanos é o presidente afastado do PSDB Aécio consequentemente estimulando o ódio ao PT, às Neves. O presidente em exercício, Tasso Jereissati forças do campo democrático-popular e às mino- (PSDB-CE), afirmou que Aécio não tem mais con- rias, hoje o PSDB colhe os frutos de sua campanha dições de presidir o PSDB. Segundo Alberto Gold- antidemocrática. man, Aécio e Jereissati são “coronéis”, e o senador mineiro tornou-se uma figura “extremamente É nesse cenário que as disputas internas do PSDB danosa” à imagem do PSDB. O senador Ricardo se acirram, de olho nas eleições de 2018. Apesar Ferraço (PSDB-ES) classificou a decisão do Se- do nome de Geraldo Alckmin figurar como o mais forte, pelo menos internamente, o prefeito de nado em favor de Aécio como um “deboche” que São Paulo, João Doria, tentou alçar um voo solo dialoga com a impunidade. Declararam-se a favor iniciando uma campanha pelo país. Doria admitiu de Aécio o prefeito João Doria e o governador de publicamente a possibilidade de deixar o PSDB e Goiás, Marconi Perillo. Alckmin adotou a cautela e afirmou que o candidato deveria ser o mais bem não entrou em polêmica contra Aécio. O gover- colocado nas pesquisas de opinião, postando-se nador de São Paulo e o ex-presidente Fernando como adversário de seu próprio padrinho político, Henrique Cardoso teriam sido procurados por Je- Alckmin. Após sofrer críticas de Alberto Goldman, reissati para tentar convencer Aécio a renunciar.
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