1922 1922 Sobre a ordem pública, vim encontrar o País melhor. Sobre a questão política, na mesma. Se as oposições tivessem um sucessor para dar ao António Maria da Silva já o tinham deitado abaixo. Assim, é de prever que se mantenha e consiga votar algumas ou alguma das propostas de finanças. Isso é absolutamente preciso para evitar a desorientação financeira que se acentua (Augusto de Castro, em carta a João Chagas) António Maria da Silva Desarmamento da GNR e governo de António Maria da Silva ●Fascismo no poder e criação da URSS – No ano da morte de Georges Sorel, da eleição do papa Pio XI e da fundação da URSS, destaque para ascensão de Mussolini ao poder, depois da marcha sobre Roma , desencadeada em 27 de Outubro, mas que efectivamente nunca atingiu a capital italiana, dada a nomeação do líder fascista como chefe do governo no dia 30. Os 15 000 squadristi mobilizados apenas chegam de comboio a Roma no dia 31, para uma parada da vitória. Em Moscovo, em Abril, Estaline é nomeado secretário do comité central do partido único. Saliente-se também a primeira travessia aérea do Atlântico Sul, por Gago Coutinho (1869-1959) e Sacadura Cabral. Surge, em edição póstuma, o tratado Wirtschaft und Gesellschaft , de Max Weber, assumido como um esboço de uma sociologia compreensiva . Em Fevereiro, o cardeal Achile Ratti, arcebispo de Milão é eleito papa, como Pio XI. Domingos Fezas Vital teoriza A Crise do Estado Moderno e emite as lições de Direito Político . O historiador diplomático António Viana estuda A Emancipação do Brasil e Fortunato de Almeida começa a editar a História de Portugal , em seis volumes, até 1929. Em 30 de Dezembro de 1922, funda-se a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas , uma confederação de federações de repúblicas que reunia a República Socialista Federativa dos Sovietes da Rússia , surgida em Julho de 1918, a República Socialista Federativa da Ucrânia, a República Socialista Federativa da Bielo-Rússia ou Rússia Branca , e a República Socialista Federativa da Transcaucásia , integrada pela Geórgia, a Arménia e o Azerbaijão. ●Candonga e neo-riquismo. Depois das crises de subsistências dos tempos de guerra, marcados pela irregularidade e pelo encarecimento dos géneros de primeira necessidade, o pós- guerra, incentivado pelo manto diáfano da inflação, levou ao extremo oposto da sobre-produção de géneros alimentícios e da consequente quebra dos preços. A economia de guerra gera a candonga do contrabando, a especulação, o açambarcamento e o consequente aparecimento de um neo-riquismo negocista, de intermediários sem escrúpulos e agiotas. Estátuas de pés de barro deglutidas pela subsequente crise, mas que vão arrastando na falência os próprios produtores, agrícolas e industriais, que lhes forneciam a matéria prima. Particularmente afectada foi a lavoura, que naufragou nas águas agitadas do pós-guerra, com os camponeses, 1922 marcados pela fome e pela peste de 1917-1918, a transformarem-se em soldados, emigrantes e migrantes para as grandes cidades, a mão-de-obra disponível para as frágeis e episódicas empresas criadas pela ilusão da riqueza. Despovoam-se os campos não só de trabalhadores braçais como até dos proprietários rurais, desde a resistente fidalguia do Ancien Regime aos próprios barões do liberalismo. Os notáveis locais passam a viver nas grandes e médias cidades, despovoando cerca de 70% das nossas freguesias rurais. ●Exército retira de Caxias Cunha Leal confederação patronal tinha subsidiado manda retirar as forças do Exército agentes da polícia e que os mesmos até concentradas no Campo Entricheirado (1 de haviam fomentado conspirações (10 de Janeiro). Janeiro). ●Ameaças de golpe de Estado – Conselho ●Aparecimento da conjunção – Surge em de ministros fala em ameaças de golpe de Lisboa uma conjunção de liberais, Estado (2 de Janeiro). Em 19 de Dezembro reconstituintes, socialistas, reformistas, de 1921 havia-se declarada nula a dissolução sidonistas e independentes, destinada a parlamentar de 6 de Novembro, do mesmo enfrentar os democráticos nas eleições de ano. Lisboa (21 de Janeiro). ●Novo adiamento do acto eleitoral – Em 3 ●Ameaça de lock out da Carris – No de Janeiro, acordo de Cunhal Leal com os próprio dia das eleições, ameaça de lock out partidos, para novo adiamento do acto da Carris de Lisboa (29 de Janeiro). eleitoral, que passa de 8 para 29 de Janeiro. Com o adiamento, o governo trata de Dem. 74 Rec. 17 C. Leal 12 organizar um rol de candidatos próprios, incluindo membros das chamadas forças Lib. 34 vivas . Esta atitude leva a que se desfaça a 156 dep. anterior combinação eleitoral entre democráticos, liberais e reconstituintes. Os democráticos, já reunificados com o regresso do grupo de Domingos Pereira, logo correm Mon. 10 a constituir listas próprias. ●Conflito com Gomes da Costa – Em 2 de Janeiro Cunha Leal considera desnecessário Ind. 5+2 Cat. 5 que Gomes da Costa se desloque para Santarém e manda-o para Mafra (2 de ●Eleição nº 51 (29 de Janeiro). Regressa-se Janeiro). O governo conta com o apoio dos ao modelo da vitória democrática, com 74 democráticos e tenta usar o exército contra as deputados e 37 senadores. Nuno Simões é o forças da GNR. Assim, determina que controleiro eleitoral do governo. Mantém-se unidades do exército cerquem Lisboa e o modelo mobilizador das eleições de 1921, transfere o governo para Caxias. Mas não com candidaturas de monárquicos e acções nomeia Gomes da Costa como chefe das de propaganda das várias forças forças militares sitiantes de Lisboa (3 de concorrentes. Apesar disso, permanecem Janeiro), antes de promover a respectiva várias e significativas irregularidades nas condenação a 15 dias de prisão. descargas de votos e nas falsificações das ●Forças vivas – Cunha Leal, num discurso actas, bem como inúmeras violências, pronunciado na Academia das Ciências, principalmente contra eleitores católicos e apela para a participação das forças vivas monárquicos, com o lançamento de bombas e económicas (3 de Janeiro). ameaças de arruaceiros. Os monárquicos ●Patronato subsidia polícias – O jornal A conseguem, com 13 deputados e 4 senadores, Batalha transcreve uma entrevista dada por em Lisboa 35,3% e a nossa capital deixa de Damião dos Santos, da Polícia de Segurança ser a cidade mais republicana do mundo . do Estado, ao Século , onde se revela que a 1922 ●O pós-outubrismo . O regime político outubrista constitui um mero espaço de transição para as eleições de 29 de Janeiro de 1922. Depois de dois governos ainda dominados pelos outubristas, o de Manuel Maria Coelho e o de Maia Pinto, segue-se o de Francisco da Cunha Leal que, pelas atitudes impulsivas de 19 de Outubro, passa de radical de esquerda a líder dos conservadores. Só no dia 30 de Dezembro de 1921 é que os três grandes partidos, os democráticos, os liberais e os reconstituintes desistem de listas conjuntas, quando o governo, que tem no ministro Nuno Simões o controleiro eleitoral, pretende incluir nas listas independentes afectos ao governo. Em 3 de Janeiro de 1922, a cinco dias da primeira data marcada para as eleições, é que estas são adiadas para o dia 29, enquanto o governo entra em frenesim tratando de organizar listas próprias, desfazendo, assim, a prévia combinação eleitoral entre os então três grandes. Os democráticos, dispondo de implantação em todo o território, decidem logo concorrer autónomos, enquanto os liberais e os reconstituintes, mais frágeis em implantação e organização, decidem concorrer em conjunção em Lisboa, juntando sidonistas, reformistas e socialistas e, desta forma, acabam por favorecer a vitória dos próprios democráticos e até verificam, com surpresa, que o segundo grupo mais votado na capital é o dos monárquicos. E na província deparam com a inesperada aparição dos regionalistas. Com efeito, o partido democrático sabe gerir as consequências do outubrismo e, já livre dos radicais, integra os dissidentes de Domingos Pereira e adia o conflito entre os bonzos e os canhotos , emergindo a figura de António Maria da Silva, esse honesto mobilizador de desonestos que, depois de conseguir vencer partidariamente, trata de resolver os problemas de ordem pública, quando, apoiando-se no Exército, desmantela a capacidade da GNR. Apesar de tudo, os democráticos conseguem vencer as rasteiras do outubrismo, livrando-se dos radicais, integrando as desavenças do grupo de Domingos Pereira, adiando o conflito entre bonzos e canhotos e esperando sempre que Afonso Costa largasse a Europa e regressasse a Lisboa para chefiar um governo apoiado por um presidente Teixeira Gomes que ele tinha inventado, ofendendo as pretensões do seu amigo Bernardino Machado. ●A dinâmica dos governos . Depois de um governo de estabilidade de António Maria da Silva, de Fevereiro de 1922 a Novembro de 1923, apoiado numa maioria parlamentar conquistada nas eleições de Janeiro de 1922, e que vai garantir a ordem pública, chamando o Exército para cercar Lisboa e desarmando a GNR, isto é transformando o Exército na nova guarda pretoriana do regime, enquanto com Portugal Durão, Vitorino Guimarães e Velhinho Correia tenta encontrar uma linha de rumo quanto à necessária reforma das finanças públicas, há um mês de governo com a oposição nacionalista, sem maioria, sob a presidência de Ginestal Machado, e que faz com que o grupo de Álvaro de Castro saia dos nacionalistas, invocando a necessidade de um sistema de concentração. É assim que o chefe dos accionistas vai tentar concentrar algumas forças num novo governo que dura até Julho de 1924, com os seareiros, e com o apoio parlamentar dos democráticos, enquanto a oposição nacionalista
Details
-
File Typepdf
-
Upload Time-
-
Content LanguagesEnglish
-
Upload UserAnonymous/Not logged-in
-
File Pages13 Page
-
File Size-