Entrelinhas De Uma Rede. Entre Linhas Waiwai

Entrelinhas De Uma Rede. Entre Linhas Waiwai

Entrelinhas de uma rede. Entre linhas Waiwai. Carlos Dias Jr. Introdução|1 Entrelinhas de uma rede. Entre linhas Waiwai. Carlos Dias Jr. Tese de doutorado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. Orientadora: Profa. Dra. Dominique Tilkin Gallois. São Paulo, dezembro de 2005 Introdução |2 Resumo A presente proposta parte do pressuposto de que a noção de pessoa e a afinidade potencial, entendidos tais quais “princípio estruturador” e “esquema sociológico”, respectivamente, constituem caminhos básicos para uma compreensão adequada da organização social e cosmológica das sociedades ameríndias. Com auxílio destes instrumentais teóricos, proponho focar etnográficamente o domínio do político entre os Waiwai, grupo Caribe das Guianas. Nos últimos cinqüenta anos, o convívio permanente com não-índios (inicialmente com missionários norte-americanos da Unevangelized Fields Missions/UFM, posteriormente Missão Evangélica da Amazônia/MEVA), inaugurou um processo de aglomeração das muitas casas coletivas até então dispersas entre os dois lados da Serra do Acarai, divisa do Brasil com a Guiana. Como atesta a rica bibliografia que acompanhou de perto todo o processo, a chegada dos missionários em Yakayaka (uma das casas coletivas no rio Essequibo) e a “conversão” do jovem líder espiritual (Ewka), no início dos anos de 1950, proporcionaram um momento de “perplexidade” envolvendo os co-residentes locais e das demais casas coletivas dispersas entre os dois lados da Serra do Acarai. A partir daí, grupos diversos passaram a efetivar uma nova forma de aglomerado (Comunidade). Ao mesmo tempo, articulando um novo coletivo potencial (Waiwai). Nesse contexto, desenvolvo a hipótese de que a Comunidade (coletivo efetivo, provisório e representacional – posto pela morfogênese e dinâmica social) instituiu-se como o lócus do político entre os Waiwai (coletivo potencial e posicional – pressuposto pela lógica do ritual). Introdução|3 Abstract The present work originates in the presupposition of the notion of person and potential affinity, understood like “structural principle” and “sociological scheme”, respectively, constitute basics ways to an adequate understand of social organization and cosmological Amerindians societies. With the assistance of this theoretical instruments, I propose to focus ethnographically the political sphere among the Waiwai, Carib of Guianas group. In the last fifty years, the permanent living with non Indians societies (firstly with north- americans missionaries of Unevangelized Fields Missions/UFM, afterwards Missão Evangélica da Amazîonia/MEVA), opened a process of agglomeration of many collective houses that were disperses between the two side of Acarai mountains, political frontier of Brazil with Guiana. Like certifies the rich bibliography that nearby accompanied all the process, the missionaries arriving in Yakayaka (one of the collective houses in Essequibo river) and the “convertion” of the young spiritual lider (Ewka), in the beginning of the 1950s, provided an “bewilderment” moment envolving the local coresidentials and the other collective houses disperses that were around the two sides of Acarai moutains. Ever since, several groups started constructing a new agglomeration form (Community). At the same time, they articulate a new potencial collective (Waiwai). In this context, I develop a hypothesis that the Community (effective collective, temporary and representative – placed by morphogenesis and social dynamic) instituted like a locus of politics among the Waiwai (potencial collective and positional – presupposition by the logical of the ritual). Introdução |4 ao meu pai in memoriam Introdução|5 Agradecimentos Primeiro, agradeço aos Waiwai do Anauá, Jatapu e Jatapuzinho. A todos eles que me acolheram em suas aldeias e nunca mediram esforços para me ajudarem quando precisei. A generosidade desse povo foi o meu espanto maior. Agradeço à minha orientadora, Dominique Tilkin Gallois que depositou em mim toda a confiança e sempre me deu força e coragem para eu seguir e superar as dificuldades do caminho. Sua presença foi seguramente indispensável e confortadora, sem ela, estou certo de que eu não superaria os obstáculos. À CAPES que me financiou a bolsa para pesquisa. À FAPESP e à Pró-Reitoria de Pesquisa da USP que apoiaram a pesquisa de campo. Muitos são aos que devo agradecimentos na USP. À Ivanete, Rose, Edinaldo e Celso pelo apoio sempre preciso e pontual. Aos professores Aracy Lopes (em memória), Manuela Carneiro da Cunha e Beatriz Perrone pelas primeiras e inesquecíveis lições de etnologia, no curso de Antropologia IV em 1993. À Maria Lúcia Montes e Zé Guilherme pelos primeiros passos em campo urbano. Lilia Schwarcz, Sylvia Caiuby, Paula Montero, pelos cursos de formação na graduação e na pós. Agradeço imenso ao Márcio Silva que acompanhou de perto toda minha trajetória, desde quando ainda na Unicamp, em 1997, nosso encontro sempre prazeroso pelo seu jeito inteligente de ser, mestre, amigo e por vezes parceiro de fina bossa. Catherine Howard foi uma interlocutora essencial. Seus textos, sua tese, nossas conversas informais e sua participação preciosa na banca de qualificação são contribuições que não sei medir e tampouco agradecer. Não posso deixar de citar o pessoal do Núcleo de História Indígena. Grupo que se reuniu pela coordenação precisa e preciosa de Dominique, Lux e depois Bia que veio acrescentar história e dar seqüência renovando temas, pesquisas e pesquisadores. Desde o começo, agradeço à Denise e Luís, Evelyn e Alfredo, Rogério e Silvia, Jú e Luizinho, Flora e Aloísio, Silvia, Eliane, Laércio, Antonella, Artionca. Agradeço a Helene e Gabriela. À Anna, Leandro e Majoi pela importante contribuição na organização do acervo do núcleo e, de quebra, acrescentando com suas pesquisas individuais. Agradeço ao meu pai que sempre deu todo o apoio que eu precisei. Nossa fala sem palavras, silêncio sem fim, que tanto comunicou. Nossa forma misteriosa de troca me faz Introdução |6 pensar e sentir que sua partida foi uma viagem definitiva para dentro de mim. À minha mãe que soube suportar o tempo necessário e superar de modo surpreendente o que eu ainda não pude cicatrizar. Aos meus irmãos Sandra, Claudia e Cristiano para os quais a distância, como o silêncio de nosso pai, nunca significou ausência. Aos meus sobrinhos, Sandrinho, Neto, Pedro, Carolina minha afilhada, Gabriela e João. Sem vocês eu não posso continuar e por isso agradeço tanto. Tia Eleuse e tio Élbio, tio Haroldo e tia Else. Duda o irmão maior, Nandinho o menor. Horoldinho, Chico, Betinho e tantos outros. Devo muito a vocês, serei sempre grato. Em São Paulo, onde vivi metade de meus anos, fui consanguinizado por pessoas magníficas. Gabriel e Renato. Sem eles tudo seria diferente. Com eles tudo ficou mais fácil, pois, tive o alento fraternal necessário de vó Tinhinha, tia Ana e Carol. Efraim, Fanny, Sarah e Lia. Guilherme, Vilma e André. Devo ainda agradecer a muitos outros que acalentaram minha condição de estrangeiro. Stélio sempre no meio bom do caminho com seu café fraco e suas composições fortes, gerais. André Viana que sabe viver para outros e com Joana trouxe Joaquim. Kikão & CIA que dispensa meus fracos adjetivos. Agradeço ao João que faz a música dessa travessia. As meninas da Sexta, mais uma vez demonstrando força e dando exemplos lindos. Val, Pauli, Sil, Paulinha, Florência, Evelyn, Rose e toda a criançada que com elas vieram renovar nossas vidas. À professora Amélia pela revisão parcial e Clarice pelo apoio total. Nossas descobertas na reta final que tanto me ajudou e inspira seguir um pouco mais. Agradeço ao pessoal do Conselho Indígena de Roraima, da Delegacia Regional da Funai de Boa Vista e Parintins. Sou muito grato ao Jorge Manoel do Museu Integrado de Roraima. Amigo que nunca faltou. Agradeço pelas conversas politizadas sobre nossos amigos Waiwai. Por fim, agradeço sem igual ao casal Ricardo e Kit que chegaram por último e mostraram-me outros horizontes, outros mares, outros saberes que me ajudaram a ser e estar. O conforto de vocês foi importante mesmo. Na hora mais difícil e necessária, quando a solidão da escrita se faz angustia, lá estavam para meu alento. Sou grato a todos vocês. Introdução|7 Índice Introdução 01 Cenário histórico: quantos são os Waiwai 02 Quem somos os Waiwai 05 “Somos todos misturados” 08 Estrutura da tese 14 I. Perplexidade 21 Trajetórias selecionadas 26 No circuito das lideranças 28 Alterando a ordem: a divisão das lideranças 33 O aglomerado, Ewka e os enîhnî komo no horizonte das relações 39 As vizinhanças, os enîhnî e os yana no horizonte das relações 44 A Comunidade, os yana e os Waiwai no horizonte das relações 55 No Anauá: os yana e a Comunidade 57 No Jatapuzinho: a Comunidade e os Waiwai 62 No Trombetas/Mapuera: os Waiwai e os Hixkaryana 70 II. Morfogênese 75 Entre os missionários 77 De grupos e parentes 82 De fogos e unidades 84 De comida e relações 87 Espaço e Terras indígenas: entre Outros Agentes 91 Quadro geral das Terras Indígenas 92 Na Terra Indígena Nhamundá/Mapuera 94 Na Terra Indígena Wai-Wai 98 Na Terra Indígena Trombetas/Mapuera 113 Espaço e Discurso: entre os Waiwai e os Yana 119 III. Hierarquia 131 Composição e hierarquia na Comunidade Waiwai do Jatapuzinho 132 O ambiente das trocas matrimoniais 135 Caso 1: entre lideranças e chefias 135 Caso 2: entre Waiwai e Caraiuá 140 Caso 3: entre tuxawa e pastor 141 Introdução |8 Caso 4: entre Waiwai, Mawayana e Karapawyana 143 A festa de Natal

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