
COMUNICACÕES, do ISER Ano 4 - N? 15 - Julho de 1985 * 15 ISSN 0102 -3055 SUMARIO • ARTIGOS Flávio Lenz Solidariedade aos irmãos Boff levou 2000 pe!;soas ao Bennett 3 Caio Fábio D'Araújo Filho O silêncio de Leonardo Boff 11 Rubem César Fernandes Sem fins lucrativos 13 Ivo Lesbaupin Da França, sobre o marxismo e o cristianismo 32 Caetana Damasceno e Micênio Santos "Sobrevivência" e identidade dividida 38 Zélia Seiblitz 459 Congresso Internacional de Americanistas 41 • Balanço do Ecumenismo no Brasil Apresentação 43 Antonio Gouvêa MendonÇa Os primórdios do Ecumenismo no Brasil 44 Edin Sued Abumanssur Ecumenismo no Brasil: do que estamos falando 58 • PUBLICAÇÓES RECENTES 63 • NOTfCIAS 68 ·~ vedada a reprodução total ou parcial dos textos sem prévia consulta aos autores. Comun!~ções do ISE R Comissão Editorial: Pedro A. Ribeiro de Oliveira Rubem César Fernandes Waldo César Pedro Celso Uchôa Cavalcanti Caetana Damasceno Secretário de Redação: Flávio Lenz Revisão: Flávio Lenz e Jorge Lima Moutinho Programação Visual: Cecflia Leal de Oliveira Composição: JP Composição e Artes Gráficas Ltda. Arte-final: Eduardo Chor ISER . Instituto de Estudos da Religião Rua lpiranga, 107 - Laranjeiras - Rio de Janeiro - RJ Fone: 265-5747- CEP 22231 -Caixa Postal 16011 Presidente: Joaquim Beato Vice-Presidente: Waldo César SecretAria: Maria José F. Rosado Nunes Tesoureiro: Zélia Seiblitz Vogais: Zwinglio Dias Vanilda Paiva Paulo Cesar Botas Secretaria Executiva: Pedro A. Ribeiro de Oliveira Rubem César Fernandes Artigo Solidariedade aos trmãos Boff levou 2.000 pessoas ao Bennett FLÁVIO LENZCESAR Jornalista, Sllcretário de redação do /SER Cerca de duas mil pessoas acompanharam palavras e opiniões de leigos, padres e - de dentro e de fora do auditório do bispos. Teve também a participação de Instituto Metodista Bennett, no Rio - o representantes de outras igrejas e de Ato Público de Solidariedade aos irmãos associações civis seculares. Foi um ato Leonardo e Clodovis Boff pela Liberdade ecumênico no mais amplo sentido, como de Expressão, realizado em 21 de maio. outros atos ecumênicos celebrados em Organizado pelo Instituto de Estudos da ar:'os recentes, em defesa dos direitos Religião (ISER), pelo Instituto Metodista humanos. Bennett, pelo Centro Ecumênico de Documentação e Informação (CEDI) e pelo Instituto Brasileiro de Análises Roteiro do Ato Sociais e Econômicas (I BASE) , o ato A platéia do Instituto Metodista Bennett contou com a participação de 73 jã estava lotada quando o jornalista entidades e 49 personalidades Roberto D'Ávila iniciou o ato público, representativas de vários setores da chamando ao palco os representantes das sociedade civil. entidades e as pessoas que haviam convocado a manifestação. Frisou a No palco, além dos representantes de impossibilidade da participação falada de entidades, entre elas o Sindicato dos todos, e leu uma longa lista de Jornalistas Profissionais do Municfpio do solidariedade, assinada por grande parte Rio de Janeiro, a Liga Brasileira de Defesa dos presentes, e por outros que não dos Direitos Humanos, a Ordem dos puderam estar ali. D'Ávila fez referência Advogados do Brasil (OAB) e a Sociedade ao Ato de Solidariedade ao Povo Chileno, Brasileira para o Progresso da Ciência que no mesmo momento se realizava na (SB PC), estiveram presentes intelectuais, Câmara Municipal do Rio de Janeiro, e escritores, artistas, poHticos, religiosos e apresentou os coordenadores: o pessoas ligadas à religião. psicanalista Hélio Pellegrino, a atriz Zezé Mota e o sociólogo Waldo Cesar, que Este ato não foi programado com um inicia a "liturgia": esp(rito anticlerical. Ao contrário, contou com a participação ativa de pessoas "Este é um ato de celebração da palavra confessadamente leais à Igreja porque a palavra não pode ser silenciada católico-romana. Lembrou, como se verã, compulsoriamente. Não é um ato contra a 3 Igreja e sua hierarquia, embora muitos O ato prossegue com o depoimento de aqui não se identifiquem com ela. O que Newton Carlos, jornalista, que conta da nos reúne aqui é uma celebração, a entrevista recente que fize ra com Hans celebração da liberdade, sem a qual não Kung, quando o teólogo alemão hã justiça ... E sem liberdade e justiça observava que a pressão da Ortodoxia os caminhos da abertura e da democracia da Igreja Católica não se limitava à ação não se concretizam". da Teologia da Libertação. E Carlos se refere, num tom mais pessoal, à Zezé Mota apresenta então o compositor impossibilidade de um jornalista aceitar Sérgio Ricardo, que interpreta Ponto de qualquer tipo de censura e de silêncio, Partida, dele mesmo e de G ianfrancesco impostos por quem quer que seja. Guarnieri. Um dos trechos da letra diz: A seguir, Jocimar Oliveira de Araujo, Não tenho pra minha boca do Movimento de Desempregados da sagrados pães tão somente Catedral de Santo Antonio de Duque de Tenho vogal consoante Caxias, fala sobre a luta dos Uma palavra entre dentes trabalhadores, destacando a necessidade de uma "sociedade mais justa, onde as O refrão é: oportunidades de trabalho sejam iguai.s Tenho para minha vida a busca para todos". como medida a·encontro como chegada e como O psicanalista Hélio Pellegrino dá ponto de partida continuidade: "Agora leiamos juntos, todos, como representantes.que somos A seguir, Hélio Pellegrino chama Pedro da sociedade brasileira, com as suas Gonçalves ("Não podemos ouvir um diferenças e contradições, os artigos 18, clérigo: ouçam então um leigo catblico, 19 e 20 da Declaração Universal dos que é o presidente do Conselho Nacional Direitos Humanos". de Leigos"), que lê trechos de Mateus 20. O atar e diretor Buza Ferraz puxa a Fala depois o bispo Paulo Ayres, da leitura, acompanhada de viva voz pelos Primeira Região da Igreja Metodista do presentes. Segue-se a canção Senhora Brasil (leitura de Marcos 9, 38 a 41 e Liberdade, de Wilson Moreira e Nei Lopes, Lucas 9, 51 a 56) . interpretada por Zezé Mota. à ato prossegue. Waldo Cesar: "Hã O Hsico Enio Candoti, da SBPC, muitos membros da Igreja que não estão apresentado como "uma das vozes aqui. Queremos lembrar alguns deles, representativas da sociedade, numa cujas palavras tomam agora uma nova questão que ultrapassa as fronteiras da força e um novo poder, através das leituras Igreja", diz do seu desejo de "ler um de Beatriz Araújo (trechos do Gaudium texto famoso", a Abjuração de Galileu, et Spes). Herbert de Souza (Teologia do que é saldado com palmas pela Silêncio, de Dom Mauro More/li) e • assistência. Francisco Milani (Poema de Dom Pedro Casa/dá/ iga) : 4 Teologia do Silêncio Poema de O. Pedro Casaldállga - O silêncio em Deus é sempre fecundo. Bênção de São Francisco e frei Leonardo Princfpio de tudo, de tudo o fim. Boff. Que diria meu compadre São Na pt:imavera da criação, Francisco a seu filho Leonardo Boff nesta tudo era silêncio. hora de provocação? -"Irmão Leonardo, Aos embates das ondas, nasceram os cantos dos pássaros teólogo da graça libertadora, pelo e a palavra do homem. desfgnio do Pai: mesmo não sendo muito No outono da vida, conforme com o Evangelho da liberdade o silêncio torna·se a palavra do amor. dos filhos de Deus, esta maneira vaticana de tratar os irmãos da fé, irmão - Silêncio, fim de diálogo, tu, pri meiro disparo Leonardo, em memória e seguimento de na guerra entre irmãos. Nosso Senhor e Libertador Jesus Cristo, Silêncio do túm ulo de Abel I que se fez obediente até a morte e morte de cruz, obedece com humor de irmão do - Silêncio, arma da morte e do medo; Reino. Sê, por uns dias, em fecunda palavra da ignorância; esconderijo da apatia e da covardia I sementeira, teólogo do silêncio do Verbo. Véu imenso Partilha em profundidade o mistério dos vestindo a noite do vale da morte. pobres, que não têm voz, nem vez na Igreja". - No silêncio desta noite, a Palavra se fez Carne e habitou entre nós. Caminho do reencontro "Teu livro, tão temido, agora revestiu-se início do diálogo q ue conduz ao amor. de mais próximas razões. Escuta, em silêncio maior, o grito dos oprimidos que - No silêncio da Palavra, brota deste continente da morte e da o principio de tudo e de tudo o fim. Ao rufdo da mentira e da opressão, esperança e o canto novo que já rompe sucede o silêncio da libertação. das aldeias, dos campos e das cidades. A mulher, quando deu à luz, esquece as - Assi m. na eradacomunicaçãoedacomunhão, dores que sofreu no parto, feliz por ter o silêncio é belo caminho, terrfvel como imposição. entregado um novo filho ao povo. A noite vai passando e o dia se aproxima. Aponta, - O silêncio. na contemplação do monge, na vigflia, as vestes da nova luz. E o ven to é sabedoria de Deus; livre do mar de Tiberfades e as aves imposto ao frade, é estupidez do homem. evangelizadoras do monte das bem-aventuranças invadirão, para alegria Quebrar o silêncio, dos pobres, todo o âmbito da Igreja de em defesa de todos os licenciados; nosso salvador Jesus. " é anúncio da Palavra que liberta "Paz e bem, irmão Leonardo. Toda a e conduz ao amor. irmandade te acompanha, na oração da fé, - O silêncio é sempre bênção ou maldição I com as seres tas impacientes da esperança D. Mauro Morelli e na rebelde fidelidade dos adultos responsáveis pelo Reino de Deus. Profeta escolhido de tantas palavras luminosas, sê, por um pouco tempo, profecia calada . e o teu coração experimentará a perfeita 5 alegria. Para a glória do Pai que nos criou pelas coisas da religião. Sou, no entanto, livres, na Páscoa do Filho que com seu meio polonês, e é com orgulho e prazer sangue nos libertou de todo o cativeiro e que passo a vocês um fragmento das na consolação do Espfrito Santo, que é o idéias do padre Popieluszko: selo vivo da nossa liberdade, amém, aleluia." Eu não poderia mais limitar a minha ação pastoral ao espaço interno da minha O coordenador Hélio Pellegrino aponta igreja, ainda que tantos "conselheiros" então que esta é uma "ocasião para me digam que um verdadeiro padre lembrar pastores que deram a vida na luta polonês não deve ultrapassar os limites da pela liberdade e pela justiça", e introduz igreja.
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