Das Ist Headline in NL HUE 1

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BRASIL EM FOCO Análises & Comentários Humberto Dantas SETEMBRO 2015 Crise Política em cenário de incertezas O intuito desse texto é muito simples: políticos. A pesquisa de Confiança nas entender parte da crise política pela Instituições anualmente realizada pelo qual passa o Brasil. Max Weber diria Ibope desde, pelo menos, 2009, mos- que a compreensão sobre um dado ins- tra um quadro desolador. As institui- tante único – e todos os instantes são ções responsáveis pela representação únicos para o autor – é determinada política dos brasileiros gozam da mais por causalidades históricas e sociológi- baixa credibilidade do período, pior do cas. Assim, para apreendermos parte que o quadro pintado em 2013. Nos do que passamos hoje no país é neces- partidos políticos, por exemplo, apenas sário um olhar sobre a conjuntura e 17% afirmam confiar – lembrando que sobre os fatos históricos selecionados – esses órgãos são detentores do mono- a isso Charles W. Mills daria o nome de pólio das candidaturas eleitorais na na- Imaginação Sociológica. E é isso que ção. Em 2013, no ápice da efervescên- faz da Sociologia uma ciência capaz de cia, pois a pesquisa costuma ser reali- permitir a construção de cenários, ava- zada em julho, eles tinham 25%. O liações e análises tão distintas, a des- Congresso Nacional, tão ativo no pri- peito de estarem pautadas sobre uma meiro semestre, a despeito de sua mesma realidade. Escrevo esse primei- pauta polêmica, alcança 22%, sendo ro trecho, assim, com o claro intuito de que em 2013 eram 29%. A figura deixar claro que a interpretação aqui do(a) presidente da República, que em apontada é apenas uma sob um imen- 2010 alcançava 69% com Lula, hoje so leque de outras visões. tem apenas 22% de confiança com Dilma – que chegou a registrar 63% Quero partir da ideia central de que vi- em 2012. O sistema eleitoral, por sua vemos uma crise institucional das mais vez, que em 2010 atingiu seu ápice graves. Nada muito diferente do que com 56%, hoje tem 33%. Por fim, o tantos outros países atravessam, ou governo municipal, e ano que vem te- atravessaram, mas é relevante dizer mos eleições locais, tem os mesmos que em meio ao questionamento das 33%, diferente dos 53% de 2009. O instituições também passamos por que esperar de legitimidade política em uma grave crise econômica – o que meio a esse cenário? agrava sentimentos associados à crise geral. Não é intuito deste texto avan- Para além dessa ausência de legitimi- çar sobre esse segundo ponto (o eco- dade, pesquisadores e analistas falam nômico), mas vou me ater aos aspetos em uma imensa crise de liderança – as Konrad-Adenauer-Stiftung e. V. 2 BRASIL EM FOCO mais consistentes reflexões ficam a ção de ações iniciadas com Fernando SETEMBRO 2015 cargo do professor do Insper Carlos Henrique Cardoso. Somado a isso: Melo. Nesses instantes os riscos estari- uma posição oficial forte de evolução e www.kas.de/brasil am associados à aparição de uma figu- avanço simbolizada pelo bordão “nunca ra heroica, que costuma resgatar a ló- antes na história desse país”. O discur- gica do sebastianismo português per- so surtiu efeito, e a resposta tucana petuado sob as mais diferentes formas associada a uma ideia de que eram desse heroísmo? Ou apostas institucio- seus governos os pais de parte expres- nais pautadas num apego débil e pou- siva do que brotava não foi apreendido co democrático a hierarquias rígidas? pela sociedade. Nesse sentido, optou- Difícil encontrar respostas prontas, se então por visões e interpretações mas é fato que vivemos efetivamente pautadas exageradamente em pesqui- uma crise de legitimidade institucional sas eleitorais, e assim o PSDB perdeu associada a uma ausência de lideran- parte de seu semblante ideológico. Al- ças capazes de organizar o cenário guns de seus políticos, claros militan- presente. Não somos diferentes de tes de uma lógica de centro esquerda tantos países pelo mundo, mas certa- se ancoraram em portos mais conser- mente despertamos preocupações sig- vadores. Acuados na direita, e ao nificativas. mesmo tempo precisando captar votos. Foi assim que José Serra fez a campa- Diante de tal realidade, parece possível nha de 2010, por exemplo. Iniciou o tentar organizar o momento político do programa de rádio com um persona- Brasil em quatro partes a serem explo- gem chamado Ari, que tinha sotaque radas nesse texto de forma resumida. nordestino e a voz do então presidente Algumas delas resgatam pontos de da República. Na TV apelou para fotos nosso último texto, quando falamos ao lado de Lula, e insistiu que o Brasil sobre a reforma política, sob uma in- precisava trocar “o Silva”, “pelo Zé”, trodução associada ao protagonismo em alusão a uma simplicidade que não do Congresso Nacional em tempos atu- parecia existir. Serra tentou afirmar ais. que era tão carismático ou popular que Lula? Difícil crer nisso àquela altura dos acontecimentos, quando o então presi- 1) A ausência de oposição dente gozava de mais de 80% de boas avaliações. Até 2014 o Brasil não conhecia parti- dos e discursos inflamados e eficientes Diante desse quadro, a ausência de de oposição. O PSDB não soube ocupar oposição se fez presente. Em março de esse espaço na cena política brasileira 2013, por exemplo, Dilma Rousseff ti- e a pergunta atual ainda está associa- nha mais de 60% de ótimo e bom em da à compreensão de saber se já está. avaliação periódica. O que esperar das Não foram poucas as declarações re- eleições de 2014? Uma recondução centes de membros do PT afirmando tranquila, apostavam muitos dos parti- que os maiores organismos de oposi- dos da base, apesar de algumas dife- ção ao governo Federal eram o Judiciá- renças internas que ameaçavam o bom rio e a imprensa. A despeito da nossa estado do apoio que a presidente tinha posição sobre tal afirmação, é relevan- no Congresso Nacional. Quantos políti- te destacar a ausência de um partido cos, àquela altura, apostavam efetiva- efetivamente oposicionista no país. mente nos manifestos de junho que Primeiro porque parte do que fez Lula findaram respingando em parte ex- em seus oito anos de governo esteve pressiva dos representantes e órgãos pautado numa continuidade ou amplia- políticos do país? Quando as massas Konrad-Adenauer-Stiftung e. V. 3 BRASIL EM FOCO foram às ruas assistimos a um movi- 2) Nasce uma oposição repetida SETEMBRO 2015 mento horizontalizado, sem represen- tação partidária e difuso. Para o gover- A partir da derrota de 2014, que foi www.kas.de/brasil no era motivo de preocupação, mas mais amarga por conta do equilíbrio e para a oposição também, pois ela não do vazamento de informações sobre a organizara e não estava representada apuração que aguçaram o sabor de vi- na insatisfação das ruas – a capitaliza- tória no PSDB, o discurso teve uma ção naquele instante foi mínima, para mudança expressiva. Primeiramente o não dizer nula. À ocasião a figura mais PSDB corrigiu um erro histórico e pas- reconhecida foi a anti-política Marina sou a dar mais espaço ao ex- Silva, que não conseguiu – claramente presidente Fernando Henrique Cardo- prejudicada – criar seu próprio partido so, que se tornou um crítico mais ácido e iniciou uma sucessão de erros e con- e mais ouvido. Segundo discursos, fusões que culminariam em nova der- mais convictos e menos responsáveis rota nas urnas. E a clara oposição? (utilizando termos weberianos) os tu- canos passaram a pedir recontagem de Entre junho de 2013 e junho de 2014 o votos, questionaram a urna eletrônica PSDB perdeu um ano. Não era reco- (algo que PT e PDT sempre fizeram), nhecido claramente como oposição e duvidaram dos resultados, inflamaram não encaixava um discurso alternativo parte do país conclamando ou buscan- para o país. O gabinete sombra, co- do liderar-apoiar alguns manifestos. mum aos parlamentarismos, e anunci- Mais adiante falaram em impeachment, ado em 2011 para servir de contrapon- cobraram “as mentiras de campanha” to à Dilma Rousseff, naufragou antes (levando imagens de Dilma prometen- de atingir mares abertos. O PSDB fez do em 2014 o que não cumpriria após oposição com pesquisas nas mãos, e as eleições para o próprio programa de não com a convicção de que o governo TV, enquanto o PT a escondia), apela- do PT poderia se desgastar. Em 2014, ram para a renúncia e utilizaram a jus- quando o país pedia mudança, não foi tiça para questionamentos acerca de capaz de se apresentar como alternati- uma série de irregularidades bastante va. Durante parte expressiva do pro- comuns às campanhas em geral. Por cesso eleitoral, cerca de 70% dos bra- fim, passaram a apostar e a pressionar sileiros afirmavam ao Ibope que dese- órgãos oficiais em busca de respostas javam muita ou absoluta mudança no a ações irregulares associadas às con- governo. E com o slogan “muda mais” tas públicas. A oposição, ácida como ou “mais mudanças, mais futuro” o go- em outrora, viva até 2002, renasceu. verno conseguiu se reeleger. Assim, o equilíbrio eleitoral não foi marcado por Ao governo coube uma defesa em tom um desejo pelo PSDB e seu plano opo- de vitimização, afirmando que a demo- sitor (que não existia), mas sim por cracia, simbolizada pela vitória nas ur- um voto contrário à Dilma e ao gover- nas, não podia ser desrespeitada. no do PT àquela ocasião. Não à toa as Chamou impeachment de golpe e igno- oscilações entre Marina Silva e Aécio rou a própria história. Esqueceu-se do Neves estavam associadas às chances que fez na década de 90 contra Collor de um ou outro derrotarem a presiden- e, em seguida, contra o governo de te no segundo turno. Fernando Henrique Cardoso. Em 1999, por exemplo, o país atravessou crise preocupante no campo político e eco- nômico com a moratória da dívida mi- neira e a alteração na política cambial.

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