silvia saint poema inédito de alexei bueno • 20 10 3 rascunho NOVEMBRO/08 O jornal de literatura do Brasil curitiba, novembro de 2008 • ano 9 • www.rascunho.com.br • próxima edição: 5 de dezembro Arte: Ricardo Humberto • Fotos: divulgação e Matheus Dias/ Nume Comunicação DAS ENTRANHAS Relançamento de O ventre é fundamental para se entender a construção da obra de Carlos Heitor Cony • 3/5 “Acho escrever muito desconfortável. “ Realmente infernal. A VOLTA DO Tem gente que diz que tem muito prazer LOUCO quando escreve. Eu não tenho nenhum. A lógica da insanidade Tenho quando e o nonsense são marcas distintivas da obra de termino.” Campos de Carvalho JOÃO PAULO CUENCA • 6/7 Paiol Literário • 12/13” 2 rascunho 103 • NOVEMBRO de 2008 CARTAS TRANSLATO [email protected] Eduardo Ferreira o jornal de literatura do Brasil SÉRGIO SANT’ANNA fundado em 8 de abril de 2000 Tanta gente e coisas boas no Rascu- nho de agosto (edição 100): José Cas- Antoine Berman ROGÉRIO PEREIRA tello, Claudia Lage, as páginas de Mãos editor à obra, a entrevista do Paiol Literário... ÍTALO GUSSO Por que vocês deixaram o Sérgio e a tradução da letra diretor executivo Sant’Anna sujar as páginas do jornal [A pianista, trecho inédito do romance ARTICULISTAS Há teóricos e práticos da tradução que defendem uma tradução literal, ou, de Affonso Romano de Sant’Anna que autor está escrevendo]? Não o co- certa forma, literalizante. Antoine Berman se pode inscrever nessa categoria. O autor Cláudia Lage nheço, nem seu trabalho, mas isso é Eduardo Ferreira e teórico francês, de certa forma, cria uma classe especial dentro dessa categoria. Em Fernando Monteiro literatura, é arte? É pena, eu gostava um de seus principais textos, que pode ser conferido em português (A tradução e a Flávio Carneiro de emprestar o Rascunho aos ami- , José Castello letra ou o albergue longínquo Editora 7Letras, 2008), Berman desenvolve uma Luís Henrique Pellanda gos. Agora, fico constrangida. PS. Sou reflexão (não uma “teoria”, segundo ele mesmo frisa) bastante interessante sobre o que Luiz Bras de idade, sim, o que não me impede poderia ser uma tradução “literal”. Cria um conceito de “literal” que ele mesmo define Luiz Ruffato Rinaldo de Fernandes de reconhecer o bonito e o feio. como “poético” (e, portanto, criativo). Laurita Morelli Gentil Nada de traduzir palavra por palavra. Berman invoca uma literalidade distinta. ILUSTRAÇÃO São Paulo – SP Marco Jacobsen Não algo que possa lembrar o decalque ou a mera reprodução, mas aquela que tra- Osvalter Urbinati balha sobre a letra (e não apenas sobre o sentido) para tirar da letra a tradução. Refuta Ramon Muniz CARMEN LAFORET Ricardo Humberto a tradução “etnocêntrica” (em certo sentido, “naturalizante”), fundada na crença da Tereza Yamashita Há muito sou leitora do Rascunho. superioridade de uma língua (para a qual se traduz) sobre outra. Refuta a tradução Foi com o texto Caminhos tortos e mo- “hipertextual”, que gera textos por processos imitativos. Refuta, por fim, a separação FOTOGRAFIA Cris Guancino vediços, de Jo[e Castello (dezembro “platônica” entre letra e sentido, que, na corrente tradutória ocidental, teria produzido Matheus Dias 2006), que passei a guardá-lo com o desprezo pelo material (“letra morta”) em favor do espiritual (o “sentido”). entusiasmo e carinho. Desde então, SITE JOÃO UBALDO RIBEIRO O tradutor francês de Augusto Roa Bastos rejeita a idéia de que tradução é captação de Vinícius Roger Pereira Parabéns aos bons jornalistas Fá- quero agradecer-lhes. Hoje, me de- sentido, é desdenhar a casca para desfrutar a polpa. A letra não é casca, nem há polpa cidi, pois acabo de ler o romance EDITORAÇÃO bio Silvestre Cardoso e Rogério Pe- nenhuma a desfrutar, pois a fruta mesma, inteira, é a letra. Para Berman, a tradução deve Alexandre De Mari reira pelo oportuno e excelente ma- Nada, de Carmen Laforet, no origi- ser ética (e não etnocêntrica), poética (e não hipertextual) e pensante (e não “platônica”). nal, uma edição de l954. Obrigada PROJETO GRÁFICO terial sobre o ótimo escritor João Traduzir seria um exercício ao mesmo tempo ético, poético e pensante (ou “filosófico”). Rogério Pereira / Alexandre De Mari Ubaldo Ribeiro, publicado na edi- ao Rodrigo Gurgel por esta indica- O ético aqui pode significar a busca de vínculo o mais próximo possível com a ção. Aliás, obrigada a todos pelo jor- “verdade” (tal como expressa na letra do texto), enquanto o poético corresponderia ao ASSINATURAS ção 102 do Rascunho. Anna Paula Sant’Anna Pereira Luís Santos nal. Aproveito para contar-lhes algo elemento ao mesmo tempo criativo e fundamente calcado na materialidade das pala- Curitiba – PR que ocorreu comigo. Procurando um vras (é na poesia que letra e sentido criam vínculo o mais dificilmente dissolúvel). O IMPRENSA dia o jornal, entrei na Biblioteca Pú- Nume Comunicação pensante, para Berman, seria privilegiar a reflexão (e o trabalho) sobre o texto (como 41 3023.6600 www.nume.com.br A entrevista de João Ubaldo Ri- blica do Paraná e perguntei como unicidade, como letra) em detrimento da concepção (antifilosófica) de categorias beiro no Rascunho é, simplesmen- quem pergunta por um velho ami- estáticas e irremediavelmente separadas (“corpo” e “alma”, “letra” e “sentido”). go: — O Rascunho não veio? A fun- te, luminosa. As respostas são de Boa parte da argumentação do autor francês se encontra na definição de tipos de Colaboradores desta edição cionária olhou em volta, percebi que uma lucidez incrível e comprovam “deformação” provocados no texto pela forma “tradicional” de tradução na tradição oci- Alexei Bueno é poeta, tradutor e não sabia do que se tratava, mas para dental. São essas deformações (racionalização, clarificação, alongamento, enobrecimento, ensaísta. Autor de As escadas da por que ele é um dos grandes au- satisfazer a minha pergunta, disse: — torre, A vida estreita, entre outros. tores da literatura brasileira em to- empobrecimento, homogeneização, etc.) que a proposta de Berman procura contornar. Hoje ele não veio trabalhar... Não é tarefa fácil. Algumas vezes, até, pode-se não querer contorná-las (porque podem ser dos os tempos. Cida Sepulveda é escritora. Au- Silvana Helena Liz úteis a determinados propósitos ou estratégias tradutórias). Mas, para Berman, devem ser tora de Coração marginal. Joana de Assis Carvalho Curitiba – PR evitadas porque deformam a letra (que é justamente o que precisa ser traduzido). via e-mail. Fabio Silvestre Cardoso é jorna- Do texto, Berman elege a letra. Há algo no texto que não é letra? Não seria o lista e editor da revista Conhe- RESPOSTA A UMA LEITORA sentido a mera proliferação de letra em letra mesma? Letra sobre letra. Aí faz mais que cimento Prático Filosofia. COLUNA DO RUFFATO Cara Regina Machado, fico grato por sentido identificar a tradução à captação da letra, e não do sentido (sendo o sentido, Flávio Paranhos é Doutorando Ao ler a coluna de Luiz Ruffato so- seus elogios à minha crítica de A eter- letra ele mesmo, já uma espécie de deformação da letra, pela tendência proliferante do em Filosofia (UFSCar). Autor de bre a omissão ensaísta do nome de nidade e o desejo, de Inês Pedrosa, pu- texto). A letra seria o “original” do original, aquilo que ninguém pode falsear, algo que Epitáfio e coordenador da cole- Júlia Lopes de Almeida, na edição blicados na seção Cartas da edição ção de Filosofia & Cinema da nenhuma interpretação pode deturpar. Pobres do texto, da letra, e de todos nós (inclu- Nankin Editorial. 102 do Rascunho, fiquei pensan- 102 do Rascunho. Você pede a este sive de Berman) que da tradução (hipertextual) ninguém está livre. r do seriamente na literatura brasilei- “crítico tão exigente” que diga quais • Gregório Dantas é mestre em teo- ra, na vida, e em nós, as mulheres! escritores brasileiros lhe parecem os ria literária, com estudo sobre a obra de José J. Veiga. Atualmente, Primeiramente, ele nem cita o tra- melhores. Como este espaço é exí- é doutorando na área de literatu- balho de muitas pesquisadoras, guo demais para uma resposta con- ra portuguesa contemporânea. como o de Zhaidé Muzart, para re- clusiva, dou-lhe uma indicação mui- Igor Fagundes é poeta, jornalis- visão do cânone. Parece até que ele to particular: leia nossos grandes crí- ta e professor de Teoria Literária é o revelador da importância de Júlia. ticos, aqueles que, de gênero parali- na UFRJ. É autor, entre outros, Mas parabéns ao Rascunho e ao terário, tornaram o ensaio literário. de Transversais e Por uma gêne- se do horizonte. Ruffato por trazer à tona o assun- Leia História da literatura ocidental (ago- to. Gostaria de retificar as idéias ra reeditada em 4 volumes pela Li- Lúcia Bettencourt é escritora. de Rufatto sobre Rachel de Quei- Ganhou o I concurso Osman Lins vraria Senado) e Ensaios reunidos (v. de Contos, com A cicatriz de roz. Como estudiosa da obra da 1), de Otto Maria Carpeaux; Litera- Olímpia. Venceu o prêmio Sesc autora, gostaria de ressaltar a atua- tura e Civilização e A dança das letras, de Literatura 2005, com o livro lidade de suas leituras modernistas. de Franklin de Oliveira; O Elixir do de contos A secretária de Borges. Ora, com 16 anos, ela já escrevia e Apocalipse, de José Guilherme Mer- Luiz Horácio é escritor, jornalista estava em sintonia com os ares quior; A forma secreta e Ensaios escolhi- e professor de língua portuguesa e literatura. Autor dos romances modernos, sim, senhor Rufatto. dos, de Augusto Meyer; e Diário Crí- Perciliana e o pássaro com alma de Ora, precisamos ter estado no tem- tico (10 volumes), de Sérgio Milliet. cão e Nenhum pássaro no céu. po de Machado para apreciarmos Curiosamente, a língua portuguesa é Marcio Renato dos Santos é jor- a sua genialidade? Nem minha avó uma das melhores para se escrever nalista e mestre em literatura tinha nascido, e daí?! Os livros, as ensaios: nossos melhores críticos são brasileira pela UFPR.
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