UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM COMUNICAÇÃO CARNAVALIZAÇÃO E ANTROPOFAGIA NO METACINEMA DE CARLOS REICHENBACH Carlos Eduardo Pereira Orientador – Prof. Dr. João Luiz Vieira Tese de doutorado Niterói Março de 2013 Ficha Catalográfica elaborada pela Biblioteca Central do Gragoatá P436 Pereira, Carlos Eduardo. Carnavalização e antropofagia no metacinema de Carlos Reichenbach / Carlos Eduardo Pereira. – 2013. 325 f. Orientador: João Luiz Vieira. Tese (Doutorado em Comunicação) – Universidade Federal Fluminense, Instituto de Arte e Comunicação Social, 2013. Bibliografia: f. 259-269. 1. Reichenbach, Carlos, 1945-2012. 2. Cinema brasileiro; história e crítica. 3. Carnaval. 4. Antropofagia. 5. Sistema de hipertexto. I. Vieira, João Luiz. II. Universidade Federal Fluminense. Instituto de Arte e Comunicação Social. III. Título. CDD 791. 430981 AGRADECIMENTOS Agradeço a minha família e amigos pela compreensão e pela força, a meu orientador João Luiz Vieira, a Cinemateca do MAM, a Cinemateca Brasileira, a Tânia Regina da Cruz Nascimento, Luiz Villano, Gilberto Santeiro, Fabrício Felice, Hernani Heffner, Rafael Carvalho (Cinemateca Brasileira), João Roberto Costa, Sidney Mattos, Sílvia Campos (PPGCOM – UFF) e um agradecimento muito especial a Daniel Caetano por sua gentileza e generosidade, pois tendo também escrito uma tese sobre Carlos Reichenbach me disponibilizou algumas cópias de filmes e outros materiais, além das conversas. RESUMO Essa pesquisa analisa a carnavalização e a antropofagia na filmografia de Carlos Reichenbach, em seus filmes do final dos anos 1960 até 1983, produzidos na Boca do Lixo em São Paulo. O trabalho também estuda metalinguagem, anti-ilusionismo e hipertextualidade como principais características de sua obra única e proeminente no cinema brasileiro. Essa tese trabalha com campos conceituais e teóricos específicos para analisar onze de seus longasmetragens, inclusive três em episódios. Os principais autores utilizados como referências foram Roberto DaMatta, Mikhail Bakhtin, Oswald de Andrade, Gérard Genette, Robert Stam, Margaret A. Rose, Tzvetan Todorov, Jairo Ferreira e o próprio Carlos Reichenbach. O método empregado foi a revisão bibliográfica, pesquisa de críticas, de documentos como press-releases, entrevistas, materiais visuais como stills e publicidade encontrados em arquivos principalmente nos setores de documentação e pesquisa da Cinemateca do MAM e Cinemateca Brasileira. Revisando a fortuna crítica sobre Carlos Reichenbach e através da análise dos paratextos fílmicos, essa tese tem com objetivo trazer novas luzes e hipóteses acerca do trabalho desse influente cineasta. Palavras chave – Carlos Reichenbach, História do Cinema Brasileiro, Carnavalização, Antropofagia, Hipertextualidade. ABSTRACT This research analyses carnavalization and antropophagy in Carlos Reichenbach`s filmography from the late 1960s until 1983, produced at Boca do Lixo, São Paulo. The work also studies meta-language, anti-illusionism and hipertextuality as the main characteristics of this unique and outstanding body of work in Brazilian cinema. The dissertation structures specific conceptual and theoretical fields in order to investigate Reichenbach’s eleven features including three in episodes. The main authors used as reference here were Roberto DaMatta, Mikhail Bakhtin, Oswald de Andrade, Gérard Genette, Robert Stam, Margaret A. Rose, Tzvetan Todorov, Jairo Ferreira, and Carlos Reichenbach himself. Through the use of a revised bibliography, critical material, related documentation such as press-releases, interviews, visual materials such as film stills and publicity, mostly found at both Cinemateca do MAM and Cinemateca Brasileira documentation centers, and through close analyses of the films paratexts, the dissertation aims at revising the critical fortune surrounding Carlos Reichenbach, therefore shedding new light and hypothesis on the work of this influential filmmaker. Key words – Carlos Reichenbach, Brazilian Cinema History, Carnavalization, Antropophagy, Hipertextuality. SUMÁRIO 1 - INTRODUÇÃO.....................................................................................................1 2 – HISTÓRIA E CONTEXTO................................................................................. 8 2.1 – Carlos Oscar Reichenbach Filho................................................................8 2.2 – A Boca do Lixo.........................................................................................21 2.2.1 – Mitos e desmistificações........................................................................28 2.2.2 – Boca, produção e mercado.....................................................................31 2.2.3 – Mais forte são as alegrias do povo – sexo, psicologismo e o público....36 3 – METACINEMA, ANTI-ILUSIONISMO E HIPERTEXTUALIDADE..........40 3.1 – Cinema metalinguístico, autorreflexivo e anti-lusionista...........................40 3.2 – Intertextualidade e o ocaso da autoridade do discurso monológico...........47 3.2 – Os palimpsestos e a hipertextualidade.......................................................52 4 – CARNAVALIZAÇÃO – O IMPĖRIO DO DESEJO DEMOCRÁTICO.........59 4.1 – O Ridículo restaurador – A Paródia.....................................................70 4.1.1 – O Pastiche..........................................................................................82 4.2 – Assa Fada! Questões da alegoria...........................................................85 4.3 – Alegres trópicos, ou o matriarcado de Pindorama – A antropofagia....96 4.3.1 – Lá vem minha comida pulando para o caldeirão carnavalesco..........110 5 – ANÁLISES.........................................................................................................116 5.1 – "Alice e seus companheiros nos pais do sol" – As Libertinas................116 5.2 – Os Picaretas do sexo no esplendor do cânhamo e do celulóide..............124 5.2.1 – O abacaxi do cinema brasileiro.............................................................134 5.3 – Corrida em busca do amor.......................................................................135 5.4 – Lilian M. Relatório confidencial..............................................................140 5.5 – Capuzes negros.........................................................................................151 5.6 – Vamos explodir o ocidente e o paraíso!....................................................159 5.7 – A boceta de Pantha; ou ninguém é de ninguém; ou o anarquismo exaltado, devorado e rebaixado..........................................................................................171 5.7.1 – Posse, propriedade e apropriação............................................................193 5.7.2 - O corpo como propriedade?...................................................................200 5.7.3 - Pela dioptria da nouvelle vague do sexo.................................................202 5.8 – A quarta-feira de cinzas do operariado e suas existências malbaratadas..209 5.9 – O Ėden desinterditado, apesar de Kierkegaard – O Paraíso permitido.....224 5.10 - A Rainha do Fliperama, as novas tecnologias e o ocaso dos cinemas de bairro....................................................................................................................232 5.11 – Sodomia na Sibéria. Entre algum recôndito gélido da alma e os extremos do prazer do corpo..............................................................................................238 5.12 – Outras brevíssimas considerações.............................................................247 6 – CONCLUSÃO.......................................................................................................249 Referências..................................................................................................................259 Anexo 1 – Manifestos .................................................................................................270 Anexo 2 – Fichas técnicas dos filmes de Carlos Reichenbach.................................279 Anexo 3 – Fichas técnicas dos filmes citados.............................................................291 1 1 – INTRODUÇÃO Este trabalho analisa a obra do cineasta Carlos Reichenbach do início de sua carreira até 1983, através de seus filmes produzidos na Boca do Lixo em São Paulo. Nesse período, o cineasta realizou um cinema metalinguístico e autorreferencial. Fato que pode ser constatado inclusive por suas entrevistas em jornais diários (Jornal da Tarde de 11/03/1996, Folha de São Paulo de 19/10/1996, Estado de Minas de 09/06/1987). Esta pesquisa tem como hipótese que realizando um cinema autorreflexivo e algumas vezes anti-ilusionista, dentro da realidade cultural brasileira, isto se dê de forma carnavalizada e antropofágica. Depois dessa fase há uma mudança em seus filmes se direcionando para um realismo poético, como em Anjos do Arrabalde. Ele também migra do esquema de produção da Boca do Lixo se valendo inclusive da coprodução com a EMBRAFILME, como no caso de Filme Demência. Meu primeiro interesse pela obra do cineasta se deu no início dos anos 1980, ainda na graduação, durante o curso de Pornochic, ministrado por João Luiz Vieira, orientador desta pesquisa. Naquela época, sua obra ainda não havia sido descoberta por boa parte da crítica cinematográfica. Foi-nos uma rica surpresa o contato não apenas com alguns de seus filmes, como também com o de outros diretores da Boca do Lixo, que realizavam interessantes trabalhos que se destacavam
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