A Ocupação Indonésia E a Resistência Timorense (1975-2002)

A Ocupação Indonésia E a Resistência Timorense (1975-2002)

Escola de Sociologia e Políticas Públicas Departamento de História A Ocupação Indonésia e a Resistência Timorense (1975-2002) Domingos Francisco de Jesus de Sousa Tese especialmente elaborada para obtenção do grau de Doutor em História Moderna e Contemporânea Orientadora: Doutora Maria João Vaz, Professora Auxiliar ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa Julho de 2018 Escola de Sociologia e Políticas Públicas Departamento de História A Ocupação Indonésia e a Resistência Timorense (1975-2002) Domingos Francisco de Jesus de Sousa Tese especialmente elaborada para obtenção do grau de Doutor em História Moderna e Contemporânea Júri: Doutora Helena Carreiras, Professora Associada do ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa Doutor Rui Graça Feijó, Investigador Integrado, Instituto História Contemporânea da Universidade Nova de Lisboa Doutor Nuno Canas Mendes, Professor Associado do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas Doutor Pedro Aires Oliveira, Professor Auxiliar da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa Doutor Carlos Coelho Maurício, Professor Auxiliar do ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa Doutora Maria João Vaz, Professora Auxiliar do ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa Julho de 2018 Agradecimentos Numa página memorável, Fanon1 falava sobre o “descobrimento da igualdade” como um modo de insurreição anticolonial. Estamos seguros de que será possível demonstrar que o descobrimento da igualdade segue alimentando o novo tempo de movimentos sociais em que se definia como “O Terceiro Mundo: movimento que, ainda que vinculado com as lutas anticoloniais, é capaz de se situar conscientemente mais além do horizonte da derrota histórica sustentada pelos regimes nascidos daquelas lutas”; onde se declarou que a sujeição de povos à subjugação, exploração e domínio estrangeiros constituía uma negação dos direitos humanos fundamentais, contrária à Carta das Nações Unidas e comprometendo a causa da promoção da paz e cooperação mundiais. Todos os povos têm o direito à autodeterminação e, em virtude deste direito, podem determinar livremente o seu estatuto político e prosseguir livremente o seu desenvolvimento económico, social e cultural2. Quando a FRETILIN iniciou a sua política de luta pela independência imediata em Timor-Leste, em 1974, com a sua filosofia de mauberismo3, surgiram tensões sociais e políticas no seio da sociedade timorense – uma sociedade que vivia na letargia secular, e considerava este estado como um fatalismo natural, inevitável e inalterável: “nascemos assim, vivemos assim e morremos assim”. Era a aceitação do fatalismo como um destino inalterável. Contudo, em pouco tempo, as tensões entraram em ebulição, quando o “maubere” descobriu o significado da igualdade. Enfrentamos, hoje, um grande perigo e ele pode aumentar no futuro: a nova geração timorense começa a desconhecer a sua própria história. É necessário que a história da memória dos acontecimentos que se deram em Timor- Leste não seja esquecida entre os homens com o passar dos tempos, para que os feitos admiráveis dos heróis e os sacrifícios de todo o povo timorense e daqueles que lutaram pela libertação não caiam no esquecimento. Evitar o esquecimento de factos e feitos, evitar a desvalorização do que é valoroso e glorioso, bem como conhecer as razões dos conflitos, na condução da guerra até à sua total libertação, é uma luta contra a perda da memória. “Nada é durável na modernidade. Aquilo que é 1 Fanon, Frantz (1963), Los condenados de la tierra, Estudos Post Coloniales, p. 266. 2 Declaração sobre a concessão de independência aos países e povos coloniais – Assembleia-Geral das Nações – Resolução 1514 (XV), de 14 de dezembro de 1960. 3 Era a filosofia concebida por José Ramos-Horta, Mauberismo é uma palavra proveniente do dialeto Mambae, que significa “zé-ninguém”. Maubere era o timorense, pobre, mal nutrido e mal vestido, que andava de pés descalços e com feridas. i recém-criado, imediatamente torna-se envelhecido, cai no esquecimento” 4 , passando a ser característica da modernidade, portanto, uma questão de sobrevivência do homem moderno, num mundo em que há uma perda de memória. Hoje, mais do que nunca, sente-se que os timorenses devem escrever a sua própria história e falar sobre o seu próprio povo. Chegou o tempo de o timorense conhecer melhor e mais aprofundadamente o seu povo, o seu passado histórico, a sua identidade, a sua personalidade, o seu heroísmo e os seus fracassos, a sua afirmação como povo e como nação e resgatar factos que ficaram esquecidos. Através das histórias pessoais, devemos conhecer a história da guerrilha5, a história da clandestinidade, a história da luta diplomática, a história de mulheres que deram a sua contribuição para a libertação da sua pátria, o envolvimento da Igreja, de padres e de madres, que muito contribuíram para libertar o povo timorense e souberam conservar a sua fé e os princípios da sua vocação. O projeto da abertura de um Centro de Investigação Histórica, inserido na Universidade Nacional de Timor Loro Sa’e, e o estabelecimento do Arquivo e Museu da Resistência Timorense, fruto de cooperação entre o Governo de Timor e a Fundação Mário Soares, com o objetivo de investigar, resgatar, analisar e promover o conhecimento da História de Timor ao mundo, à sociedade timorense e, especialmente, à geração presente e vindoura foi uma decisão válida, há muito tempo aguardada. A tese que hoje se apresenta é o clímax de uma longa caminhada, do desejo fomentado ao longo de uma vida, iniciado com as leituras dos livros de Carlos Cal Brandão e dos Subsídios da História deTimor, 6 a par das aulas do Padre José Calisto Guterres, em Soibada. Ao chegar a Timor, no final dos anos 70, vivenciei os acontecimentos que aqui se relatam: surgiram os primeiros conflitos, a guerra alastrou por todo o país e a situação piorou com a invasão indonésia. Pensei que os acontecimentos experienciados e vividos deveriam ser escritos, sobretudo a tragédia que a ocupação indonésia causou. Comecei os meus escritos com um pequeno diário, 4 Walter Benjamin, apud Nunes, José Walter (2005), Património Subterrâneo de Brasília, S. Paulo, Anablume, p. 41. 5 Mao Tsé-Tung sintetizou a tática da guerrilha da seguinte maneira: "quando o inimigo avança, recuamos; quando para, o fustigamos; quando se cansa, o atacamos; quando se retira, o perseguimos". Obras escolhidas de Mao Tsé-Tung, Tomo II, pp. 151-153. 6 Capitão, A. Faria de Morais (1934), Subsídios para a História de Timor, Bastorá (Índia Portuguesa), Tipografia Rangel. ii “Olobai 75”, no qual é relatado o conflito entre a UDT e a FRETILIN, que acabou por me levar à prisão da FRETILIN. A nomeação para Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário na República Federativa do Brasil em 15 de setembro de 2008 ajudou-me a rentabilizar o tempo, dando-me oportunidade para começar a estudar História na Universidade Nacional de Brasília, como aluno especial, aproveitando o tempo depois do trabalho, primeiro no Centro de Pesquisa e Pós- Graduação (CEPPAC) – onde tive contacto com o conhecimento sobre História, Cultura e Identidade das Américas e depois na Faculdade de História, na mesma Universidade, onde tive contacto com matérias específicas, como Metodologia de Pesquisa, entre outras. Devido à falta de tempo para frequentar um curso de doutoramento, com as matérias adquiridas na Universidade de Brasília solicitei a possibilidade de me matricular no Instituto Universitário de Lisboa (IUL), por meio do Professor Doutor António Manuel Monteiro Cardoso, que esteve em Timor a fazer o lançamento do livro O Diário do Tenente Pires7. O encontro com o Professor António Cardoso em Timor, no lançamento do seu livro no Arquivo e Museu da Resistência Timorense, foi determinante para a elaboração desta tese. Com a ajuda do Professor António Cardoso, consegui matricular-me oficialmente como estudante de doutoramento na Faculdade de História e, desde Lisboa, foi-me orientando e indicando vários cursos na Universidade Nacional de Brasília (UNB), de modo a preencher os requisitos para a matrícula e dando-me bases para a elaboração da tese, tendo as matérias adquiridas servido para a minha matrícula no ISCTE-IUL. O encontro com o Professor António Cardoso foi o impulsionador para o início das pesquisas da História de Timor, essencialmente da época pós-Segunda Guerra Mundial. O Professor António Cardoso, a quem agradeço por todo o apoio prestado, é conhecedor da História de Timor e, por isso, o contacto com ele foi muito enriquecedor – em muitos aspetos, ele tinha mais conhecimento sobre Timor do que eu, timorense –, tendo-me encaminhado para o contacto com importantes autores, como, por exemplo, o Professor Moisés da Silva Fernandes, James C. Scott, Eric J. Hobsbawn, Benedict Anderson, e orientando-me no sentido de ter a atitude de um historiador: ser imparcial e neutro perante os factos. As sugestões orientadoras, bem como as questões colocadas, foram fundamentais no desenvolvimento da temática e, sobretudo, ajudaram a aprofundar o meu conhecimento sobre a História de Timor. Infelizmente, o Professor António Cardoso já não se encontra entre nós. Que Deus o receba na sua mansão. 7 Cardoso, António Monteiro (2007), Timor na II Guerra Mundial, o Diário de Tenente Pires, Lisboa, Centro de Estudos de História Contemporânea Portuguesa (CEHCP) ISCTE. iii Os meus agradecimentos vão também para a Professora Doutora Maria João Vaz, então Diretora do Departamento de História do ISCTE-IUL, que carinhosamente me ajudou na admissão como estudante no Instituto, tendo-me igualmente ajudado a criar um conceito sobre o que significa ser um historiador. Os meus agradecimentos ao meu amigo do Seminário de Nossa Senhora de Fátima, José Parada, que me pôs em contacto com os antigos combatentes e clandestinos, os quais me deram informações valiosas sobre a luta armada e a clandestinidade. Agradeço, ainda, a Gilman dos Santos, a primeira pessoa que entrevistei, permitindo, assim, a realização de outras entrevistas que foram compiladas no livro Vozes da Resistência Timorense 8 , publicadas pela Thesaurus Editora, em Brasília, do Sr. Victor de Alegria, um português incansável pela causa timorense.

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