Marina Reidel a PEDAGOGIA DO SALTO ALTO Histórias De

Marina Reidel a PEDAGOGIA DO SALTO ALTO Histórias De

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL Marina Reidel A PEDAGOGIA DO SALTO ALTO Histórias de professoras transexuais e travestis na Educação Brasileira Porto Alegre 2013 2 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL FACULDADE DE EDUCAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO ÁREA: EDUCAÇÃO, SEXUALIDADE E RELAÇÕES DE GÊNERO Marina Reidel A PEDAGOGIA DO SALTO ALTO Histórias de professoras transexuais e travestis na Educação Brasileira Dissertação apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Educação. Orientador: Prof. Dr. Fernando Seffner Porto Alegre 2013 CIP - Catalogação na Publicação Reidel, Marina A pedagogia do Salto Alto: Histórias de professoras Transexuais e travestis na Educação Brasilieira / Marina Reidel. -- 2013. 162 f. Orientador: Fernando Seffner. Dissertação (Mestrado) -- Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Faculdade de Educação, Programa de Pós-Graduação em Educação, Porto Alegre, BR-RS, 2013. 1. Educação. 2. Pedagogia. 3. Salto Alto. 4. Travestilidade. 5. Transexualidade. I. Seffner, Fernando , orient. II. Título. Elaborada pelo Sistema de Geração Automática de Ficha Catalográfica da UFRGS com os dados fornecidos pelo(a) autor(a). 3 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL FACULDADE DE EDUCAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO ÁREA: EDUCAÇÃO, SEXUALIDADE E RELAÇÕES DE GÊNERO A PEDAGOGIA DO SALTO ALTO Histórias de professoras transexuais e travestis na Educação Brasileira Marina Reidel Orientador: Prof. Dr. Fernando Seffner Banca examinadora: ___________________________________________________ Prof. Dr. Marcio Rodrigo Vale Caetano – FURG ___________________________________________________ Profª. Drª Rosimeri Aquino da Silva – UFRGS ___________________________________________________ Profª. Drª Jane Felipe de Souza – UFRGS Porto Alegre, 23 de agosto de 2013. 4 O Despertar da Cidadã! SOU a menina que nasceu ontem em um corpo de menino SOU a mulher que finge não ver o que está a minha volta SOU aquela que busca a luz na escuridão, sou solidão no meio da multidão. SOU o resumo de tantas vidas em minha própria vida. SOU simplesmente Eu em teus olhos e coração. Nasci como menino Cresci como um menino em um casulo feminino. Corri contra o tempo com botas de soldados armados. Combati leões e dragões no tempo que deveria ter observado a primavera da minhaidade. Foram muitos murros em pontas de facas afiadas. Menino! Comporte-se como menino! Na minha casa macho é macho! Homem não chora! Mulherzinhas choram! Eu já era uma mulher, menina, miúda. Corri contra o tempo e das pessoas. Sofri maus tratos físicos, psicológicos e resisti. Não sei se me fortaleci ou não, mas sobrevivi. Mamãe rezava e me benzia Papai batia e humilhava Irmãos xingavam e caçoavam. Irmãs escravizavam e excluíam Parentes condenavam, buliam e usavam como queriam. Vizinhos entre escárnio e tapas, risos e empurrões me apontavam como estranho. Tempos passaram e passei a ser não mais o estranho, mas sim a estranha, a coisa, a vergonha. Cresci e vi gerações crescerem também. Vi mortes, cortes e brechas no sistema social. Faceei o desabrochar de tantos “Eus” esfacelados. Marquei pontos nas esquinas da vida e nas filas dos aflitos. Fui no enterro de desconhecidas como eu. Proibiram-me de chorar pelos meus. Saudades não consigo guardar, nem as feias ou bonitas. Lamento os medos e alegrias que me proibiram na vida. Cresci com a coragem camuflada no terror. Tinha medos, tenho medos, terei medos. Durante todo o meu percurso de vida serei uma fugitiva de mim mesma Mas me encontrando todas as vezes que me perco, por que sou forte e rocha. Hoje quem sou? Travesti, mulher, sim Senhor! Re-visitei minhas entranhas e de lá tirei a minha Alma. 5 Incomodo? Te vasculho? Te embriago? Te seduzo? Te possuo? Te espelho? Não é o meu problema! Assim, eu sou! Livre como Fênix as duras penas do sistema. Meu nome? Social ou de luta? Suzette, Marilyn, ou como queiram me chamar na hora do prazer ou do deboche! Social Maria da Penha, Mulher, Cidadã, Brasileira tal qual você. Moralista, desarma-se e construa a sua própria vida. Como assim construí a minha. Você extremista, racista, homofóbico inconformado É um ser lamentável. Necessito ir, pois a vida continua. Não morro sem ver um Brasil que me respeite como travesti plena. Boa noite, Bom dia, Boa trajetória de vida. Sou travesti, sou o Despertar da Cidadã Brasileira. Vagner de Almeida 6 AGRADECIMENTOS Inicio meus agradecimentos aos meus Orisàs , forças que me remetem ao mundo espiritual, especialmente mãe Osùn , dona do meu Orì e cabeça que me rege, protege e me guia e Pai Osàlà , dono de meu corpo, Pai da sabedoria e dos livros. Ao professor Fernando Seffner, que conheci em Rio Grande, na Furg, durante um seminário e que, daquela data em diante, criamos laços de amizade e, depois, tivemos trocas de experiências, conhecimento e muito trabalho. Professor Fernando conheceu um pouco do mundo trans e eu aprendi muito mais sobre os temas da nossa linha de pesquisa em Educação. Não poderia deixar de lembrar-me do VI Encontro Sudeste de Trans e I Seminário da Rede Trans- Educ em Belo Horizonte onde ele teve que conviver com centenas de transexuais e travestis num Retiro Espiritual Católico. Foi muito maluco tudo... Também agradeço aos demais professores e professoras que conheci da UFRGS, ao longo deste tempo, como Jane Felipe, Dagmar, Guacira, Rosemeri, Henrique Nardi, Luiz Henrique, Gabriel, além das funcionárias da secretaria, como a Elza e Neuza. Ao longo destes anos, pude encontrar muitas pessoas amigas, ao mesmo tempo, rever as amigas mais antigas e, com isso, compreendi que amigos e amigas são aqueles que te estendem a mão, um livro, um convite, uma xícara de café ou até mesmo uma mesa de bafos. A todas e todos muito obrigado! Aqui lembro meus colegas das aulas e do grupo de estudo e pesquisa: Alice, Gustavo, Gustavo, Alessandra, Estela, Oscar, Yara, Claudião, Leandro, Gabriela, Michele. Agradeço às minhas colegas professoras Transexuais e Travestis colaboradoras desta pesquisa, bem como as outras que conheci ao longo deste período. Destaco, aqui, Adriana Lohanna, Adriana Sales, Adryana Souza,Carla Silva, Andréia Cantelli, Brenda Ferrari da Silva, Saionara Nogueira, Paulinha Cardoso, Samantha Brasil, Geanne Greggio e Giulia Geremias. Aos meus alunos da Escola Rio de Janeiro, Fundarte, Caps e Escola Esperanças, fiéis amigos e todas/os colegas profissionais de educação. Também agradeço a Marco Antônio, Marco Aurélio Prado, Paula Sandrini, Marcio Caetano, Neil, Tuta Mariano, Erick, Julie Viana (Dinda Jade), Mãe Nicole, Silvia, Maria Célia, Mara, Maria Regina, Anelise, Tiago, Nina, Paola, Celiza, Lélia, Gorete, Angela, Marinês, Fábulo, Marcely, Luisa, Joyce, Clô, Bruna, Jorge, Franco, Tigre, Tonho, Paulinho de Odé, Bob, Keila, Fernanda, Jovanna, Lili, Janaína, Indianara, Agatha e outras travas babadeiras. Por último, quero agradecer aos meus irmãos e familiares por terem me apoiado mesmo estando ausente em muitos momentos, inclusive durante o nascimento de minha sobrinha-neta Marlise, nascida em maio deste ano. Espero que este esforço sirva de exemplo para os meus sobrinhos e sobrinhas para que não desistam de construir seus sonhos, tornando-os realidade. Ah, enfim a todas e todos, inclusive quem esqueci, MUITO OBRIGADA! 7 RESUMO O presente trabalho de pesquisa traz uma nova abordagem e novos personagens dentro do contexto educacional. A pedagogia do salto alto é uma nova leitura que traz as histórias de professoras transexuais e travestis atuantes na educação brasileira como personagens que, por muito tempo, ficaram escondidas ou à margem da sociedade. A partir das histórias de vida apresentadas, analiso tópicos importantes e significativos, norteando o tema da Educação, transversalizando com outros temas como sexualidade, gênero, violência e preconceito. Também proponho, neste trabalho, apontar alguns caminhos possíveis na busca de uma educação possível, a partir destes novos sujeitos. Palavras-chave: Educação, Pedagogia, Salto Alto, Travestilidade, Transexualidadade. 8 ABSTRACT The present research provides a new approach and new characters into the educational context. The pedagogy of the high heels is a new point of view that brings the stories of transsexuals and transvestites teachers that work in Brazilian education as characters who had long remained hidden or placed on the margins of society. From these life stories I analyze important and significant topics driven by the theme of education traversed by other issues such as gender, sexuality, violence and prejudice. In this paper, I also suggest to point out some paths that aims a perspective of education possible from these new subjects. Key-words: Education, Pedagogy, High Heels, Transvestites, Transsexuals. 9 Lista de Figuras Figura 1 Lista de professoras e professores transexuais e travestis encontrados. ......................... 67 Figura 2: Professoras contatadas para entrevistas. ........................................................................ 68 Figura 3: Evento de lançamento da carteira de nome social. ........................................................ 88 Figura 4: Nove transexuais e travestis tiveram seus pedidos para troca de nome em registro civil protocolados. ................................................................................................................................. 90 Figura 5: As mulheres comemoraram a entrega das ações judiciais dentro do Foro Central. ....... 91 Figura 6: Imagem de uma professora

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