Biodiversidade de Abelhas em Zonas de Transição no Maranhão Márcia Maria Corrêa Rêgo1; Patrícia Maia Correia de Albuquerque1 Resumo A fauna de abelhas no Estado do Maranhão é estimada em 640 espécies sendo, até o momento, apenas 23%, (153 espécies) reconhecidas. Nas áreas de Cerrado destacam-se os Meliponini e Cendridini. Nesse ambiente, os muricis, espécies do gênero Byrsonima são considerados, plantas-bandeira, por atrair às suas inflorescências uma grande diversidade de abelhas de diferentes guildas. Na região da Baixada Maranhense, ambiente com diversas formações vegetais, prevalecem as abelhas sociais especialmente os Meliponini e Apini. Nessa área, Mouriri acutiflora, uma espécie de Melastomataceae e espécies aquáticas da família Pontederaceae, principalmente, garantem os recursos florais para as Melipona e Apis que aí são criadas extensivamente. Nas áreas de restinga e dunas destacam-se os Xylocopini e Centridini cujos hospedeiros florais como espécies de Byrsonima, Myrcia, Cuphea, Caesalpinia, Anacardium, dentre outros, garantem a sobrevivência de suas populações. A fauna de abelhas no Sul do Estado, onde predomina o Cerrado é pouco conhecida. Há necessidade de inventários nessa região. Palavras-chave: abelhas, diversidade, hospedeiros florais. Biodiversity of Bees in Transitional Areas of Maranhão Abstract The bee fauna in the state of Maranhão is estimated at 640 species, but so far only 23%, 153 sp are recognized. In the cerrado areas, stand out the Meliponini and Centridini. In this environment the murici, 1Bióloga, D.Sc. em Entomologia, professora da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), São Luiz, MA, [email protected], [email protected] 37 Biodiversidade de Abelhas em Zonas de Transição no Maranhão. species of the genus Byrsonima is treated as plants flag, for attracting to their flowers a great diversity of bees from different guilds. In the Maranhão Lowland, environment with different vegetations, social bees are common, mainly the Meliponini and Apini. In these areas, Mouriri acutiflora, a Melastomataceae specie and water species, mainly from Pontederaceae family, ensure the floral resources for Melipona and Apis that there are raised extensively. In the restinga areas and sand dunes Xylocopini and Centridini are detached. Their floral hosts species, like Byrsonima, Myrcia, Cuphea, Caesalpinia, Anacardium, among others guarantee the survival of their populations. The bee fauna in the south of Maranhão, dominated by cerrado is little known. Bee surveys in this region is necessary. Keywords: bees, diversity, floral hosts. Introdução Os primeiros registros sobre diversidade da fauna de abelhas, no Norte e Nordeste do Brasil, foram feitos no começo do século por Ducke (1902, 1906, 1908, 1910), por ocasião de suas explorações botânicas e entomológicas. Inventários sistematizados no Maranhão, entretanto, aconteceram a partir da década de 1990, principalmente nos Cerrado e restinga, ambientes que predominam no Estado. Foram amostrados grupos típicos da região amazônica, outros com ampla distribuição no Neotrópico, além de elementos da região mais seca do Brasil Central, o que foi atribuído à transição que caracteriza o Estado do Maranhão entre a Amazônia, o domínio dos cerrados e das caatingas nordestinas (REBELO et al., 2003). Dentre as abelhas já inventariadas, os Centridini, “abelhas de óleo”, e os Xylocopini revelam-se como os principais polinizadores da flora típica, dos cerrados e da vegetação de dunas, respectivamente, no Maranhão (RÊGO et al., 2007; VIDIGAL, 2008). Outras guildas, a exemplo dos Meliponini, abundantes em ambientes heterogêneos como é o caso da Baixada Maranhense, destacam-se também como polinizadores mais frequentes das plantas dessa região (OLIVEIRA et al., 2010; VIDIGAL, et al., 2010). Considerando que o conhecimento da diversidade de polinizadores e das suas relações com a comunidade vegetal é fundamental para que ocorra a conservação da biodiversidade (RODARTE et al., 2008), o propósito deste trabalho é inferir sobre a diversidade de abelhas em Biodiversidade de Abelhas em Zonas de Transição no Maranhão. 38 áreas de transição, posição em que situa-se o Maranhão, destacando a ação desses polinizadores sobre algumas plantas consideradas “bandeiras” ou importantes sob o aspecto da sustentabilidade local. Material e Métodos O Estado do Maranhão tem uma superfície de 328,63 km2 ou 3,86% do território nacional e localiza-se no Nordeste Ocidental do Brasil, entre 01º 01´e 10º21´07”S e 41º48‘30” e 48º50‘51” W. Apresenta-se com várias fisionomias vegetacionais, considerando sua posição geográfica, com destaque para os cerrados. Os cerrados recobrem a região oriental e meridional do Estado, formando os chapadões e as chapadas. Ocupam uma área de 9.800 ha apresentando duas fisionomias distintas: cerrado e cerradão. A Baixada Ocidental Maranhense é considerada, um ecossistema heterogêneo, sob influência do domínio amazônico, constituindo-se de litoral atlântico, reentrâncias e manguezais; lagoas e terras alagadas durante o período chuvoso formando várzeas; terrenos altos com capoeiras, babaçuais e mata (MARANHÃO, 1978). Na parte setentrional do Estado destaca-se a vegetação litorânea, com a presença de mangues, dunas e principalmente das restingas. As áreas de restinga possuem uma vasta extensão, complexidade estrutural e diversidade biológica. Entretanto, diversos impactos ocorrem nesse ecossistema, os quais são provenientes da ocupação humana e turismo. Desta forma, gradativamente a composição florística e a fisionomia vegetal se alteram, propiciando assim, a perda de biodiversidade e a introdução de outras guildas não comuns ao ambiente. Os sítios específicos dos estudos realizados nesses ecossistemas encontram-se descritos na Tabela 1. Os métodos de amostragem das abelhas, nesses sítios foi baseada no método utilizado por Sakagami et al. (1967) e Camargo e Mazucato (1984), coletando-se, também, indivíduos em voo (marcando território, por exemplo). Como método de coleta, também foram utilizados iscas de cheiro e ninhos-armadilhas, além de rede entomológica. As coletas foram realizadas com intervalo de 25 a 30 dias entre si, durante 12 meses, por dois coletores das 12h às 18h; e nos estudos específicos de caso, por apenas um coletor, durante o período de floração das plantas estudadas. 39 Biodiversidade de Abelhas em Zonas de Transição no Maranhão. As abelhas foram identificadas em parte pelos autores e também pelo Prof. Dr. J. M. F. Camargo (FFCLRP, USP), Prof. Pe. J. S. Moure e Profa. Dra. Danúncia Urban (Departamento de Zoologia, UFPR) e Prof. Dr. José Manuel Macário Rebelo (UFMA). Os espécimes testemunhos encontram-se na coleção de referência do Laboratório de Estudos sobre Abelhas (LEACOL), do Departamento de Biologia, da Universidade Federal do Maranhão. Resultados e Discussão Nos campos inundados, ambiente conhecido como Baixada Maranhense, um total de 1.265 indivíduos e 61 espécies foram identificadas (Tabela 1). Na comunidade de abelhas/plantas das dunas secundárias (30 m de altura) da Praia de S. Marcos, São Luis, MA, foram coletados 1.517 indivíduos de abelhas, pertencentes a 29 espécies de abelhas. Posteriormente, foi realizado outro inventário, em outra área de restinga (Curupu), uma ilha muito próxima de São Luís (1.000 m). Nesse estudo, 29 espécies de abelhas (787 indivíduos) foram capturadas. As abelhas de dunas na Praia de Panaquatira, situada em frente à Ilha de Curupu, também foram estudadas, totalizando 3.238 indivíduos de 28 espécies de abelhas amostradas (Tabela 1). No Cerrado, no Município de Barreirinhas, considerada a área de Cerrado mais próxima do litoral brasileiro, um total de 954 indivíduos, pertencentes a 38 espécies de abelhas foram encontradas (Tabela 1). O Cerrado mais arbóreo – cerradão, no Município de Chapadinha, entretanto, revelou uma fauna mais abundante com 1.444 indivíduos e 41 espécies de abelhas. Nessa área predominaram as abelhas sem ferrão (RÊGO, 1998). A grande densidade de Meliponini foi atribuída à abundância de ninhos encontrados na área amostrada (RÊGO; BRITO, 1996). Na Tabela 1 encontra-se uma lista atualizada das espécies inventariadas especificamente nos ambientes de cerrado, dunas, restinga e na Baixada Maranhense. A seguir, um resumo retratando o status das abelhas que ocorrem nesses ambientes. Biodiversidade de Abelhas em Zonas de Transição no Maranhão. 40 Apidae Apini Apis mellifera, assim como em outros estados brasileiros, é comumente amostrada nos mais variados ecossistemas do Maranhão. Em áreas de cerrado do Estado (BRITO, 1994; RÊGO, 1998) era pouco abundante, até a década de 1990, quando comparada a outros táxons, de outras localidades do Brasil (CARVALHO; BEGO, 1996; MARTINS, 1990; PEDRO; CAMARGO, 1991). Em vários municípios foi introduzida a criação racional dessa espécie, o que a longo prazo, deverá mudar os índices de abundância da mesma no Estado. Seu papel como polinizador a de várias culturas é incontestável (CRUZ; OLIVEIRA, 2007; FREITAS, 1998), porém, seu comportamento de forrageamento, mais competitivo (ROUBIK, 1980) tem sido estudado para verificar seu efeito sobre as abelhas nativas e/ou outros polinizadores (CARMO; FRANCESCHINELE, 2000; CUNHA, 2005; JACOBI, 2002; OLIVEIRA; ROUBIK, 1978). Na região da Baixada Maranhense e Alto Turi tem coexistindo com as abelhas nativas em processo de extensas criações racionais. Alguns estudos sobre essa espécie, no Maranhão, estão sendo realizados, a princípio, para determinar suas fontes de pólen na região (MENDONÇA et al., 2008). Bombini Esse grupo de abelhas é mais diversificado
Details
-
File Typepdf
-
Upload Time-
-
Content LanguagesEnglish
-
Upload UserAnonymous/Not logged-in
-
File Pages22 Page
-
File Size-